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DA BI
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VERSI
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DA BARRA DO T
IJUÍ
PE-BA
VOL
UME2
I
NVERT
EBRADOST
ERREST
RES
Programa de Conservação da Biodiversidade da Barra
do Tijuípe – Relatório Final
Equipe Técnica
Coordenação
Andrezza Bellotto Nobre – Bióloga e Mestre em Recursos Florestais
Camila Cantagallo Devids – Ecóloga e Mestre em Geociências e Meio Ambiente
João Gabriel Ribeiro Giovanelli – Ecólogo e Doutorando em Zoologia
Rodrigo de Almeida Nobre – Biólogo e Mestre em Ecologia Aplicada
Ecologia da Paisagem
Camila Cantagallo Devids – Ecóloga e Mestre em Geociências e Meio Ambiente
João Gabriel Ribeiro Giovanelli – Ecólogo e Doutorando em Zoologia
Luís Vicente Brandolise Bufo – Engenheiro Florestal e Mestre em Ecologia Aplicada
Rodrigo de Almeida Nobre – Biólogo e Mestre em Ecologia Aplicada
Simone Beatriz Lima Ranieri – Engenheira Agrônoma e Doutora em Agronomia
Yuri Forte – Ecólogo e Mestre em Recursos Florestais
Organismos Aquáticos
Tubarões e Raias
Santiago Montealegre-Quijano – Biólogo e Doutor em Oceanografia Biológica
Cristiana Neves Ferreira – Bióloga e Mestre em Oceanografia Biológica
Leandro Yokota – Biólogo e Doutor em Zoologia
Macroinvertebrados aquáticos
Lívia Maria Fusari – Bióloga e Doutora em Entomologia
Carolina Ferraz Bellodi - Bióloga e Mestre em Entomologia e Conservação da Biodiversidade
Suzana Cunha Escarpinati - Bióloga e Doutora em Entomologia e Conservação da
Biodiversidade
Invertebrados Terrestres
Abelhas
Guaraci Duran Cordeiro – Zootecnista e Doutorando em Entomologia
Amanda Alves Barreto Souza – Bióloga
Caren Queiroz Souza– Bióloga e mestranda em Ecologia e Biomonitoramento
Aranhas
Janael Ricetti – Biólogo e Doutor em Zoologia
Besouros-de-esterco
Mateus Fernando de Souza – Biólogo e Mestre em Ecologia
Rafael Vieira Nunes – Biólogo e Doutorando em Ecologia e Conservação da Biodiversidade
Bruno Ferreira – Ecólogo e Mestre em Zoologia
Formigas
Mônica Antunes Ulysséa – Bióloga e Doutoranda em Sistemática, Taxonomia Animal e
Biodiversidade
Lívia Pires do Prado – Bióloga e Mestranda em Ciências Biológicas
Bruno Ferreira – Ecólogo e Mestre em Zoologia
Borboletas
Bruno Ferreira – Ecólogo e Mestre em Zoologia
Marcio Uehara Prado – Ecólogo e Doutor em Ecologia
Vertebrados Terrestres
Anfíbios
Juliana Zina Pereira Ramos – Bióloga e Doutora em Zoologia
Juliete Costa de Oliveira – Bióloga e Meste em Ecologia e Evolução
Arhetta Cristina Almeida de Oliveira – Bióloga
Gabriel Novaes e Fagundes - Biólogo
Répteis
Juliana Zina Pereira Ramos – Bióloga e Doutora em Zoologia
Juliete Costa de Oliveira – Bióloga e Meste em Ecologia e Evolução
Arhetta Cristina Almeida de Oliveira – Bióloga
Gabriel Novaes e Fagundes - Biólogo
Thales de Souza Barbosa - Biólogo
Aves
Julio Cesar da Costa – Engenheiro Florestal e Mestre em Recursos Florestais
André Cordeiro de Luca - Biólogo
Morcegos
Paul François Colas Rosas – Biólogo e Mestre em Zoologia
Rodrigo de Almeida Nobre – Biólogo e Mestre em Ecologia Aplicada
Pequenos Mamíferos
Fabiana Rocha Mendes – Bióloga e Doutora em Ciências Biológicas
Gledson Vigiano Bianconi – Biólogo e Doutor em Ciências Biológicas
Paul François Colas Rosas – Biólogo e Mestre em Zoologia
Colaboradores
José Ricardo Falconi – Biólogo
Edimilson Figueiredo - Apoio Técnico
Edney Santos dos Reis – Apoio Técnico
Adenildo Quinto Xavier – Apoio Técnico
Robenilton Silva da Cruz – Apoio Técnico
Luís Francisco Dias – Apoio Técnico
Favízia Freitas de Oliveira - Taxonomistas de abelhas da UFBA
Maxwell Silveira – Taxonomista de abelhas da UFBA
Sylvio Fraga Neto – Músico e Poeta
Citação sugerida:
SELEÇÃO NATURAL. 2015. Programa de Conservação da Biodiversidade da Barra do Tijuípe -BA;
Invertebrados Terrestres, volume 2 – Relatório Final. Piracicaba, 185 pp.
Língua: Portuguesa
Licença:
Este documento está licenciado sob uma licença "Creative Commons Atribuição Não
Comercial Sem Derivações 4.0 Internacional".
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/
Coordenadores > João Gabriel Ribeiro Giovanelli é ecólogo,
com mestrado e doutorado em andamento em
Zoologia pela UNESP de Rio Claro. Desenvolve estudos
em ecologia e história natural, biologia da conservação
da fauna de vertebrados e modelagem da distribuição
geográfica potencial de espécies, principalmente em
questões relacionadas às mudanças climáticas,
reintrodução, espécies ameaçadas de extinção e
invasão biológica. Foi consultor do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD e da
Deutsche Gesellschaft für Internationale
Zusammenarbeit - GIZ em projetos de criação de UCs,
atual lista brasileira dos anfíbios ameaçados de
extinção e sistematização de demandas de
monitoramento de biodiversidade em Unidades de
Conservação federais.
CONTEXTUALIZAÇÃO......................................................................................................................................1
APRESENTAÇÃO E DESTAQUES ......................................................................................................................4
1. ABELHAS ..............................................................................................................................................6
1.1. Introdução ...........................................................................................................................................8
1.2. Métodos .............................................................................................................................................12
1.3. Resultados e conclusões....................................................................................................................16
1.4. Referências ........................................................................................................................................30
2. ARANHAS ...........................................................................................................................................35
2.1. Introdução .........................................................................................................................................37
2.2. Métodos .............................................................................................................................................42
2.3. Resultados .........................................................................................................................................48
2.4. Conclusões .........................................................................................................................................59
2.5. Referências ........................................................................................................................................60
3. FORMIGAS .........................................................................................................................................64
3.1. Introdução .........................................................................................................................................66
3.2. Métodos ................................................................................................................................................70
3.3. Resultados .........................................................................................................................................76
3.4. Conclusões .........................................................................................................................................96
3.5. Referências ........................................................................................................................................97
4. BESOUROS-DO-ESTERCO ................................................................................................................ 103
4.1. Introdução ...................................................................................................................................... 105
4.2. Métodos .......................................................................................................................................... 110
4.3. Resultados ...................................................................................................................................... 115
4.4. Conclusões ...................................................................................................................................... 129
4.5. Referências ..................................................................................................................................... 131
5. BORBOLETAS................................................................................................................................... 136
5.1. Introdução ...................................................................................................................................... 138
5.2. Métodos .......................................................................................................................................... 142
5.3. Resultados ...................................................................................................................................... 149
5.4. Conclusões ...................................................................................................................................... 157
5.5. Guia de observação de borboletas na Barra do Tijuípe ................................................................ 158
5.6. Referências ..................................................................................................................................... 166
RECOMENDAÇÕES E FUTURAS AÇÕES...................................................................................................... 170
CONTEXTUALIZAÇÃO
1
identificação de indicadores biológicos; 2) O programa incluiu também nesta
conservação e manejo de populações e primeira etapa análises de ecologia da
comunidades de interesse. paisagem local e regional visando
mensurar métricas relevantes para
A primeira linha de atuação se
compreensão dos resultados encontrados
propôs a caracterizar a riqueza da
no inventário.
comunidade dos grupos biológicos de
fauna selecionados; descobrir espécies O Programa de Conservação da
novas; identificar novas populações, Biodiversidade da Barra do Tijuípe iniciou-
especialmente para espécies com números se no ano de 2013 e em dezembro de 2015
restritos de indivíduos; redesenhar áreas encerra a etapa de inventário de fauna e
de distribuição pela determinação de estudo da ecologia da paisagem.
novos pontos de ocorrência e, com base na O inventário de fauna buscou
espécies levantadas, avaliar a viabilidade e levantar em campo a máxima riqueza de
racionalidade da utilização de guildas espécies de 13 grupos biológicos. Foram
ecológicas, populações e comunidades avaliados seis grupos de vertebrados
biológicas como indicadores para questões terrestres (mamíferos de médio e grande
a serem selecionadas na segunda linha de porte, pequenos mamíferos, morcegos,
atuação. anfíbios, répteis e aves), cinco de
invertebrados terrestres (abelhas,
Nessa etapa de inventário, a pedido
besouros-de-esterco, borboletas, formigas
dos interessados no programa, focou-se
e aranhas) e dois aquáticos dulcícolas
em alguns grupos biológicos de fauna. A
(peixes e macroinvertebrados). Foi
escolha destes para o estudo utilizou
realizado também um estudo baseado em
premissas como: disponibilidade de
informações secundárias (sem ter ocorrido
informação taxonômica e ecológica,
atividades em campo) de elasmobrânquios
disponibilidade de especialistas,
(tubarões e raias).
prioridades de conservação e
Esses estudos contaram com o
metodologias de amostragem de fácil
envolvimento de 44 profissionais (35
implementação em campo e consagradas
pesquisadores especialistas e 9
em literatura especializada. Buscou-se
colaboradores). A etapa de inventário
também, sempre que possível, o
contou com três ciclos de amostragens,
envolvimento de pesquisadores regionais.
2
uma por ano para cada grupo biológico de inventário realizadas na área. Ele foi
(2013, 2014 e 2015). As campanhas de organizado em quatro volumes, sendo o
campo tiveram duração de cinco dias de primeiro relativo aos estudos de ecologia
amostragem efetivos por ano, da paisagem e organismos aquáticos
contemplando épocas que segundo os (tubarões e raias, peixes dulcícolas e
especialistas potencializassem o registro da macroinvertebrados aquáticos), o segundo
maior riqueza de espécies de cada grupo aos invertebrados terrestres (aranhas,
biológico selecionado. abelhas, besouros-de-esterco, formigas e
A etapa de inventário de campo borboletas), o terceiro aos vertebrados
registrou um total de 986 táxons, contando terrestres (mamíferos de médio e grande
com 17 espécies ameaçadas de extinção. porte, morcegos, pequenos mamíferos,
Somado a esse total, o estudo realizado de anfíbios, répteis e aves) e o quarto volume
elasmobrânqueos identificou a possível reuniu os anexos dos relatório técnicos,
ocorrência de 83 espécies para o litoral sul contemplando na maioria das vezes, os
da Bahia, contando com 7 espécies bancos de dados das espécies registradas
ameaçadas de extinção. Ou seja, o estudo ou com ocorrência potencial na área
contou com um total de 1.069 táxons avaliada.
registrados, sendo 24 espécies ameaçadas. A seguir são apresentadas as
O documento final da primeira fase informações relativas ao Volume 2 desse
do programa integra os resultados de documento.
todos os estudos e de todas as campanhas
3
APRESENTAÇÃO E DESTAQUES
4
abundância e atividade das espécies todo o detalhamento do projeto, porém
encontradas, considera-se que existe em uma linguagem apropriada para
prestação dos serviços ecológicos do grupo diferentes públicos.
biológico nos ambientes amostrados.
Ações de reintrodução de grandes
primatas e outros mamíferos de maior
porte podem ampliar a oferta de recursos
específicos, reestabelecendo as interações
besouros-grandes mamíferos locais.
5
1. ABELHAS
6
Autor do capítulo de
Abelhas
7
1.1.Introdução
8
localidades e que os valores mais altos (Pinheiro-Machado et al., 2002). A
estão entre 100-300 espécies. Entre os dificuldade de detectabilidade das espécies
trabalhos realizados com abelhas em área imposta por estes biomas também pode
de Mata Atlântica, Wilms (1995), na gerar conclusões equivocadas nos padrões
Estação Biológica de Boracéia (Salesópolis- de riqueza existente no Brasil. Enquanto
SP), detém o recorde de espécies nos campos e savanas as abelhas são
registradas na região Neotropical, com facilmente detectadas e capturadas nas
aproximadamente 300 espécies. flores da vegetação baixa, nos ambientes
Particularmente, as áreas de Mata florestais a maioria delas forrageia longe
Atlântica no Estado da Bahia foram pouco das vistas e fora do alcance dos coletores
amostradas para espécies de abelhas (Silveira et al., 2002).
(Neves e Viana, 1997; Gonçalves e A maioria dos estudos que
Brandão, 2008; Nemésio, 2011a; 2013a, b). contemplam inventários de abelhas adota
As amostragens existentes foram feitas a metodologia proposta por Sakagami e
com metodologia restritiva, colaboradores (1967) que utiliza rede
principalmente com o intuito de entomológica para capturar as abelhas em
inventariar apenas as abelhas Euglossini, o flores. Entre os métodos adicionais de
que reforça a necessidade de inventários amostragem estão incluídos os ninhos-
com diferentes metodologias que armadilha, que consistem na oferta de
intensifiquem os esforços de coleta na cavidades artificiais para nidificação de
Mata Atlântica da Bahia. espécies solitárias (Serrano e Garófalo,
O número de espécies de abelhas no 1978), a oferta de essências aromáticas
Brasil deve ser bem maior do que já é para captura de machos da tribo Euglossini
conhecido pela ciência, pois a Mata (Campos et al., 1989), e os pratos-
Atlântica e Amazônia, que são armadilha que capturam alguns grupos
considerados os ecossistemas mais seletivos (Cane et al., 2000). Segundo
diversos em espécies de abelhas, Pinheiro-Machado e Silveira (2006), nos
permanecem pouco amostrados. Além levantamentos de apifauna deveria ser
disso, não existe uma estimativa do utilizada uma combinação entre estas
número de espécies de abelhas que metodologias. As abelhas são os agentes
ocorrem na extensão destes biomas polinizadores mais eficientes, já que as
9
interações abelhas-plantas exibem um alto de polinizadores (Biesmeijer et al., 2006;
grau de intimidade e são compostas por Dupont et al., 2011) principalmente pela
espécies com adaptação morfológica e ou crescente fragmentação de habitats e a
comportamental entre elas (Bawa, 1990). intensificação do uso de defensivos
O processo biológico da polinização é agrícolas nas práticas de cultivo (Fletcher e
fundamental para garantir o sucesso Barnett, 2003; Steffan-Dewenter et al.,
reprodutivo de espécies botânicas 2006; Freitas et al., 2009, Freitas e
fanerógamas (que apresentam flores), Pinheiro, 2010), o que pode gerar impactos
favorecendo a mobilidade dos grãos de ecológicos e econômicos negativos, como
pólen, o fluxo e a variabilidade genética o declínio de plantas nativas e a queda de
destas populações. A interação abelha- produção de alimentos (Allen-Wardell et
planta é tão estabelecida, que muitas al., 1998; Sala, 2000).
plantas deixariam de existir na ausência de A utilização de serviços de
seus agentes polinizadores, e da mesma polinização agrícola visando suprir essa
forma alguns táxons de insetos, carência de polinizadores do meio natural
especialmente as abelhas, não é comum nos Estados Unidos, onde é usada
sobreviveriam sem os recursos florais em larga escala a abelha Megachile
(Costanza et al., 1997). Se uma espécie- rotundata para a polinização da alfafa
chave de planta perder seus polinizadores, (Pitts-Singer e Cane, 2011). Na Europa,
toda a estrutura da comunidade poderá abelhas mamangavas (Bombus terrestris)
mudar drasticamente (Kearns e Inouye, são comercializadas para polinização de
1997). tomate (Velthuis e Van Doorn, 2006). No
Este serviço ecossistêmico da Brasil o aproveitamento de nossas espécies
polinização prestado pelas abelhas é nativas também é desejável, mas ainda
essencial para os ecossistemas tropicais e incipiente. Os primeiros trabalhos
áreas agrícolas, pois as abelhas são começam a surgir neste sentido apontando
polinizadoras de até 80% das espécies para a eficiência de algumas espécies de
vegetais em florestas tropicais (Ollerton et abelhas na polinização de plantas de
al., 2011) e cerca de 75% das espécies interesse econômico, como: acerola, caju e
agrícolas cultivadas no mundo (Klein et al., maracujá (Freitas e Paxton, 1998; Camillo,
2007). Porém, há claros indícios da perda
10
2003; Freitas e Oliveira-Filho, 2003; et al., 2008), o que torna interessante
Oliveira e Schlindwein, 2009). conhecer as espécies de abelhas nestes
ambientes devido à intrínseca relação
Com o declínio de polinizadores, a
abelha-planta. Nesta região, as espécies de
preocupação com a manutenção do serviço
abelhas ainda são pouco amostradas,
ecossistêmico de polinização tem ganhado
porém, nestes poucos trabalhos realizados,
destaque junto às sociedades científicas e
novas espécies de abelhas foram descritas
órgãos ambientais. Em 1998, uma reunião
(Nemésio, 2011b, c, d, e; Nemésio, 2012).
organizada no Brasil promoveu a
Diante deste cenário, o objetivo deste
elaboração da “Declaração de São Paulo
inventário na Barra do Tijuípe foi gerar
sobre os Polinizadores”, que sugeriu a
novos registros de espécies de abelhas na
formulação de um programa global de
Mata Atlântica do Estado da Bahia e
proteção e uso sustentado de
ampliar o conhecimento deste grupo de
polinizadores (Dias et al., 1999). Este
insetos neste bioma.
documento foi apresentado na Convenção
sobre Diversidade Biológica (CDB) e
impulsionou as discussões que deram
origem, em 2000, à Iniciativa Internacional
de Polinizadores (IPI), com o objetivo de
promover ações coordenadas para
monitorar o declínio de polinizadores. Com
isso foram criados fóruns nacionais e
internacionais à respeito da discussão do
tema “conservação de polinizadores e
sustentabilidade das práticas agrícolas”
(Kevan e Imperatriz-Fonseca, 2002).
11
1.2.Métodos
12
Figura 1: Equipe de amostragem de abelhas executando método de coleta ativa em flores com redes
entomológicas.
13
(Figura 2). Os insetos coletados nos pratos- A metodologia de iscas aromáticas
armadilha foram armazenados em foi adicionada na segunda campanha. Esta
recipientes contendo álcool 70% e metodologia consiste em oferecer iscas
posteriormente triados em laboratório. O aromáticas sintéticas em chumaços de
ponto positivo desta metodologia é a algodão pendurados nas árvores, e, com a
coleta passiva, ou seja, não há viés do aproximação das abelhas, estas são
coletor. O ponto negativo é a amostragem coletadas com auxílio da rede
restrita, coletando principalmente as entomológica (Figura 3). As iscas oferecidas
abelhas da família Halictidae. No total, com foram: Eucaliptol, Eugenol, Salicilato de
as três campanhas, os pratos-armadilhas Metila e Vanilina. Esta metodologia é
ficaram disponíveis por 15 dias. utilizada para a coleta exclusiva de machos
da tribo de abelhas Euglossini (Apidae). As
abelhas Euglossini são chamadas de
“abelhas-das-orquídeas”, pois os machos
destas espécies coletam essências nas
orquídeas como forma de atração sexual e
acabam polinizando estas flores (Dressler,
1982). O ponto positivo da metodologia de
iscas aromáticas é a coleta passiva de um
grande número de indivíduos. O ponto
negativo é a amostragem restrita de
apenas uma tribo de abelhas (Euglossini).
No entanto, a estratégia de utilização desta
metodologia foi satisfatória para ampliar o
Figura 2: Disposição dos pratos-armadilhas
para a amostragem de abelhas. registro de espécies. Em duas campanhas
as iscas aromáticas foram oferecidas por
nove dias (Figura 4).
14
Figura 3: Iscas aromáticas oferecidas em chumaços de algodão para atração das abelhas que são
coletadas com auxílio da rede entomológica.
15
Nas discussões relacionadas à especialistas. Os taxonomistas de abelhas
ocorrência e distribuição das espécies são professores de universidades e a
utilizou-se informações obtidas de Moure e identificação de material externo não é a
colaboradores (2007) e do projeto única tarefa a que se dedicam. Além disso,
speciesLink do Centro de Referência em a taxonomia da maioria dos grupos de
Informação Ambiental (CRIA) abelhas neotropicais necessita de revisão e
(http://splink.cria.org.br/). Os nomes muitas vezes não é possível conseguir a
populares das espécies de abelhas foram identificação de todas as espécies. Porém,
consultados no Catálogo de Abelhas Moure os taxonomistas de abelhas do Brasil são
(Moure et al., 2007). sempre receptivos em receber material de
coleta, principalmente se esse material
O material coletado foi submetido à
puder ser doado para as coleções de suas
identificação pelos taxonomistas Favízia
respectivas universidades. É o caso da
Freitas de Oliveira e Maxwell Silveira e,
taxonomista Favízia de Oliveira da
posteriormente, depositado na coleção de
Universidade Federal da Bahia (UFBA) que
Hymenoptera do Museu de Zoologia e
prontamente se dispôs a receber o
História Natural da Universidade Federal
material coletado na Barra do Tijuípe.
da Bahia – MZUFBA. No Brasil a sistemática
(taxonomia) de abelhas é problemática,
pois possui um número baixo de
1.3.Resultados e conclusões
abelhas de quatro das cinco famílias que restam ser identificados muitos são da
ocorrem no Brasil (Tabela 1). Apidae foi a família Halictidae (16 espécies e 112
16
não existe taxonomista especialista neste aromáticas. A terceira campanha
grupo de abelhas no Brasil. Além de acrescentou 11 novas espécies as
Halictidae, as outras abelhas que ainda não campanhas anteriores. No final da terceira
estão identificadas estão sendo melhor campanha a curva de acumulação de
avaliadas pela taxonomista responsável, espécies, considerando os dados de todos
pois podem se tratar de espécies novas. os métodos utilizados, alcançou uma leve
Durante a primeira campanha estabilização, indicando que as
(2013) foram coletados 215 indivíduos, amostragens podem ter capturado a
pertencentes a 39 espécies de abelhas maioria das espécies locais de abelhas
representantes de quatro famílias. Na (Figura 5). Porém, segundo Santos (2003), a
segunda campanha (2014) 311 abelhas captura de todas as espécies de uma área é
foram amostradas de 52 espécies de três virtualmente impossível (visto também a
famílias. A terceira campanha (2015) teve grande riqueza do bioma da Mata
274 abelhas de 41 espécies coletadas de Atlântica), portanto a curva de acumulação
três famílias. Sete espécies foram comuns de espécies sempre tende a ser crescente
as três campanhas. Na segunda campanha quando as coletas continuam,
houve um aumento de 31 espécies em principalmente se as mesmas forem
relação à primeira campanha, influenciado realizadas em épocas com condições
pelo acréscimo da metodologia de iscas climáticas distintas.
17
Figura 6:Curva de acumulação de espécies de abelhas (com erro padrão) durante 15 dias de
amostragem entre os anos de 2013-2015.
O método de busca ativa com rede capturaram abelhas. A metodologia de
entomológica foi responsável pela captura iscas aromáticas amostrou muitos
majoritária de indivíduos, com 55% das indivíduos, e membros da tribo Euglossini
abelhas capturadas e 61% das espécies (45 estariam sub-representados caso não
espécies exclusivas), seguido pelos houvessem sido capturados nas iscas.
métodos de iscas aromáticas, com 41% Pinheiro-Machado e colaboradores
indivíduos de 28% das espécies (22 (2002) classificaram as comunidades de
espécies exclusivas), e pratos-armadilhas, abelhas brasileiras com riqueza alta
com 4% indivíduos de 11% das espécies (3 aquelas acima de 100 espécies. Nessa
espécies exclusivas). Nenhuma espécie foi classificação, a riqueza local de espécies de
comum as três metodologias e houve um abelhas encontrada da Barra do Tijuípe (81)
número considerável de espécies não pode ser considerada alta. Em
exclusivas em cada uma delas, contrapartida, a riqueza de espécies na
evidenciando que as metodologias Barra do Tijuípe é bem maior quando
adotadas atingiram a função comparada ao estudo de Gonçalves e
complementar desejada no início do Brandão (2008) que amostraram três
inventário. Entre as iscas aromáticas o localidades no sul da Bahia (Reserva de
Eucaliptol foi a mais atrativa, e os pratos- Sapiranga em Mata de São João, Mata
armadilhas amarelos foram os que mais Esperança em Ilhéus e Estação Ecológica
18
Pau Brasil em Porto Seguro), com esforço Eulaema atleticana, Trigona spinipes
amostral de três dias por localidade e a Trigona braueri, Euglossa liopoda,
maior riqueza atingida foi de 14 espécies Scaptotrigona xantotricha, Scaptotrigona
em Ilhéus. sp.1, Tetragonisca angustula e Euglossa
As 10 espécies de abelhas mais cordata (Figura 7).
abundantes na Barra do Tijuípe foram: Apis
mellifera, Euglossa crassipunctata,
Figura 7: Espécies de abelhas mais abundantes amostradas na Barra do Tijuípe entre os anos de 2013-
2015. A. Euglossa crassipunctata; B. Eulaema atleticana; C. Trigona spinipes (arapuá); D. Trigona
braueri (abelha-cachorro); E. Euglossa liopoda; F. Scaptotrigona xantotricha (abelha-trompeta); G.
Scaptotrigona sp.1, H. Tetragonisca angustula (jataí); I. Euglossa cordata.
19
dividem as tarefas do ninho. As colônias de Gutierrez, 2009), o que reduziria a
Apis mellifera são perenes e extremamente diversidade local. Estudos têm
populosas chegando a 60 mil abelhas. A demonstrado que a invasão de uma
abundância de Apis mellifera na Barra do espécie generalista exótica, como a Apis
Tijuípe deve ser averiguada com atenção, mellifera, pode afetar interações
por poder acarretar uma alta sobreposição específicas entre planta e seus outros
do nicho alimentar usado pelas abelhas polinizadores (Roubik, 1996).
nativas, promovendo impacto negativo por
meio da competição na utilização de
recursos (Sommeijer et al., 1983; Roubik e
Figura 8: Apis mellifera, abelha exótica no Brasil, popularmente conhecida como abelha-do-mel.
Outras espécies abundantes foram angustula (jataí) (Figura 9), que pertencem
Trigona spinipes (arapuá), Trigona braueri à tribo de abelhas Meliponini. O
(abelha-cachorro), Scaptotrigona conhecimento popular caracteriza bem
xantotricha (abelha-trompeta), esta tribo de abelhas, visto que geralmente
Scaptotrigona sp.1 e Tetragonisca tem a coloração preta, são pequenas,
20
enrolam no cabelo e beliscam a pele como subnuda (jataí-da-terra), Friseomelitta
forma de defesa do ninho. doederleini e Friseomelitta meadewaldoi
Estas espécies de Meliponini que se (moça-branca). As abelhas Meliponini,
mostraram abundantes na Barra do Tijuípe, principalmente do gênero Melipona,
também são sociais, vivem em colônias produzem um mel muito apreciado e por
perenes e populosas (Figura 10). Outros esse motivo suas colônias são muito
representantes de Meliponini amostrados predadas. Além de serem menos agressivas
na área de estudo possuem colônias menos que a Apis mellifera.
populosas, como as espécies Paratrigona
21
Figura 10: Espécie social e populosa da tribo Meliponini aglomerada no entorno do recurso floral.
22
Figura 11: Eulaema niveofasciata sendo atraída pela isca aromática e carregando uma polínia de
orquídea na cabeça. Polínia é a estrutura onde são armazenados os grãos de pólen das orquídeas.
23
polinizando as flores de maracujá (Figura frontalis apresentam distribuição ampla,
14). abrangendo estados nas diversas regiões
Dentre as espécies registradas, brasileiras. Exceções a esta distribuição
algumas como Apis mellifera, Centris generalizada são Centris caxiensis, Eulaema
analis, Euglossa cordata, Tetragonisca niveofasciata e Trigona braueri, que são
angustula, Trigona spinipes e Xylocopa endêmicas ao bioma Mata Atlântica.
Figura 12: Centris caxiensis visitando e provavelmente polinizando as flores de murici (Byrsonima
crassifolia).
24
Figura 13: A abelha Eufriesea sp. promove visitas frequentes nas flores de Clitoria sp. para a coleta de
néctar, porém há contato com as anteras e deposição de pólen do tórax o que favorece a polinização
nas próximas visitas da mesma espécie.
25
Registros de destaque termiteiros e entrada ornamentada com
na Barra do Tijuípe já tinha sido registrada (Camargo e Pedro, 2003) (Figura 15).
O registro de Partamona
Figura 15: Ilustração da entrada do ninho de
nhambiquara na Barra do Tijuípe merece
Partamona nhambiquara em termiteiro ativo em
grande destaque, pois é o primeiro registro oco de árvore viva. A grande massa de estruturas
tubulares (35 cm de altura), abaixo da entrada, foi
dessa espécie no bioma Mata Atlântica. P. construída pelas abelhas; Serra dos Pacaás
nhambiquara é uma espécie da tribo Novos, Guajará Mirim, RO, Brasil. Fonte: Camargo
e Pedro (2003).
Meliponini, vive em colônias perenes e
Outro registro importante na Barra
populosas e tinha registros apenas nos
de Tijuípe é a ocorrência da espécie
Estados do Centro-Oeste e Norte, nos
Scaptotrigona sp.1 (Figura 7G). Os
biomas Cerrado e Amazônia (Camargo e
taxonomistas apontaram que certamente
Pedro, 2003; Moure et al., 2007). Os ninhos
esta é uma espécie que ocorre apenas no
de P. nhambiquara não foram avistados na
litoral nordestino e ainda não está descrita
Barra do Tijuípe, mas sabe-se que os ninhos
para a ciência. Com as novas revisões
desta espécie são construídos em ocos de
taxonômicas desse gênero essa espécie
árvore, associado com
será descrita.
26
As abelhas-das-orquídeas Euglossini na extensão total da Mata
(Euglossini) foram abundantes na Barra do Atlântica e 45 na porção do Nordeste.
Tijuípe, com 328 indivíduos de 25 espécies,
No sul da Bahia cinco localidades já
indicando uma boa situação da dos haviam sido amostradas quanto à fauna
remanescentes de Mata Atlântica local das abelhas-das-orquídeas (Euglossini):
quanto à superfície conservada, visto que município de Valença (Neves e Viana,
este grupo de abelhas é sensível à ausência 1997), Parque Estadual da Serra do
de extensas áreas de florestas para manter Conduru (Nemésio, 2011a), Reserva do
suas populações (Brosi, 2009). Nemésio Una (Nemesio, 2013a), Parque Nacional do
(2009) listou 54 espécies de Euglossini que Pau Brasil e RPPN Estação Veracel
ocorrem em toda a extensão da Mata (Nemésio, 2013b). Com os dados destes
Atlântica e 37 espécies na região nordeste trabalhos soma-se 37 espécies de
deste bioma. Este número já está Euglossini no sul da Bahia. Com as 25
ultrapassado, pois o próprio autor já espécies coletadas, a Barra do Tijuípe
descreveu novas espécies que ocorrem abriga 55% das espécies de abelhas-das-
neste bioma (Nemésio, 2011b, c, d, e; orquídeas que ocorrem na Mata Atlântica
Nemésio, 2012; Nemésio e Engel, 2012). do Nordeste e 67% das espécies deste
Restam algumas dúvidas sobre a bioma do sul da Bahia.
sobreposição de nomes das espécies
descritas, dessa forma estima-se que
ocorram em torno de 60 espécies de
Tabela 1: Números de indivíduos das espécies de abelhas coletadas nas três campanhas (2013/2014/2015)
na Barra do Tijuípe, município de Itacaré (BA). Pratos-armadilhas: Amarelo (Am), Azul (Az), Branco (Br).
Iscas aromáticas: Eucaliptol (Ec), Eugenol (Eu), Salicilato de Metila (Sm), Vanilina (Va).
27
Rede Pratos-armadilhas Iscas aromáticas
Espécies
entomológica Am Az Br Ec Eu Sm Va
Centris spilopoda Moure, 1969 0/4/0 0/1/0
Ericrocidini
Mesocheira sp. 1/0/0
Eucerini
Thygater analis 0/0/1
Euglossini
Eufriesea sp.1 5/0/0
Eufriesea sp.2 1/0
Euglossa aratingae (Nemésio, 2009) 1/0
Euglossa carinilabris Dressler, 1982 2/0
Euglossa cordata (Linnaeus, 1758) 19/1
Euglossa crassipunctata Moure, 31/5 0/1 1/0 0/5
1968
Euglossa despecta Moure, 1968 4
6/1
Euglossa fimbriata Moure, 1968 4/0
Euglossa ignita Smith, 1874 3/6 5/0
Euglossa imperialis Cockerell, 1922 12/0 6/0
Euglossa leucotricha Rebêlo e 0/2
Moure, 1996
Euglossa liopoda Dressler, 1982 1/42 0/1 2/0
Euglossa pleosticta Dressler, 1982 1/1
Euglossa roubiki Nemésio, 2009 0/3
Euglossa securigera Dressler, 1982 2/5 0/1
Euglossa stellfeldi Moure, 1947 0/4 0/6
Euglossa townsendi Cockerell, 1904 0/10 0/3 0/7
Euglossa sp.1 9/0 1/0 0/1
Euglossa sp.2 3/0
Euglossa sp.3 1/0 1/0
Euglossa sp.4 1/0
Euglossa sp.5 1/0/1
Eulaema atleticana Nemésio, 2009 0/0/1 22/5 14/0 0/1
Eulaema cingulata (Fabricius, 1804) 0/0/1 2/1
Eulaema nigrita Lepeletier, 1841 2/1 1/0
Eulaema niveofasciata (Friese, 1/0/0 5/0
1899) frontalis (Guérin, 1844)
Exaerete 1/1 4/2
Meliponini
Frieseomelitta dispar (Moure, 1950) 0/1/0
Friseomelitta doederleini (Friese, 2/0/1
1900)
Friseomelitta meadewaldoi 2/0/0
(Cockerell,mondury
Melipona 1915) Smith, 1863 0/1/0
Oxytrigona sp. 0/4/0
Paratrigona subnuda Moure, 1947 4/0/1
Paratrigona sp. 0/0/3
Partamona nhambiquara 1/5/0
Pedro&Camargo,
Partamona sp.1 2003 1/5/0
Plebeia droryana (Friese, 1900) 0/1/0
Scaptotrigona xantotricha Moure, 14/27/0
1950
28
Rede Pratos-armadilhas Iscas aromáticas
Espécies
entomológica Am Az Br Ec Eu Sm Va
Scaptotrigona sp.1 13/9/0
Scaptotrigona sp.2 0/1/0
Scaura aff. latitarsis 0/0/3
Schwarziana sp. 0/1/0
Tetragonisca angustula (Latreille, 5/3/13
1811)
Trigona aff. fuscipennis Friese, 1900 2/0/0
Trigona braueri Friese, 1900 26/8/13
Trigona hyalinata (Lepeletier, 1836) 2/6/8
Trigona spinipes (Fabricius, 1793) 29/8/20
Tetrapediini
Paratetrapedia sp. 3/1/0
Xylocopini
Ceratina (Ceratinula) sp.1 0/1/3
Ceratina (Ceratinula) sp.2 0/0/3
Ceratina (Crewella) sp. 1/0/0
Xylocopa frontalis Olivier, 1789 1/1/0
COLLETIDAE
Hylaeus sp. 3/0/0
HALICTIDAE
Augochlora sp. 0/0/1
Augochlorela sp.1 1/2/1 0/2/0 0/2/0 0/2/0
Augochlorela sp.2 0/1/0
Augochlorela sp.3 0/1/0
Augochloropsis sp.1 0/0/9
Dialictus opacus (Moure, 1940) 2/2/0 0/1/4 0/0/3 0/3/2
Dialictus sp.1 1/2/10
Dialictus sp.2 3/4/0 0/1/0
Dialictus sp.3 4/3/0
Dialictus sp.4 3/4/0
Dialictus sp.5 2/1/0
Pseudaugochlora graminea 0/0/3
Halictidae sp.1 15/0/0
Halictidae sp.2 9/0/0 0/2/0 1/0/0
Halictidae sp.3 4/0/0 0/5/0 0/2/0
Halictidae sp.4 2/0/0 1/0/0
Halictidae sp.5 1/0/0
Halictidae sp.6 9/0/0 1/0/0
MEGACHILIDAE
Megachile sp.1 2/0/0
Megachile sp.2 1/0/0
TOTAL de indivíduos 214/123/100 1/11/ 1/7/3 1/5/2 118/ 9/15 36/0 1/14
(2013/2014/2015)
TOTAL de indivíduos 437 5 35 135 328
Número de espécies 40/29/20** 1/5/2 1/5/1 1/2/1 17/1 5/7 7/0 1/4
(2013/2014/2015)
TOTAL de espécies 56 10 4 25
29
1.4.Referências
30
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34
2. ARANHAS
35
Autor do capítulo de
Aranhas
36
2.1.Introdução
37
até mesmo entrar em formigueiros e em ambientes construídos pelo homem,
caçarem sem serem notadas (Foelix, 2010). sendo assim denominadas aranhas
sinantrópicas. Essa situação facilita o
Todas as aranhas possuem
encontro com pessoas, aumentando o
glândulas de veneno, com poucas
risco de acidentes por picada. Porém, é
exceções. Através das picadas, usando as
possível evitar que estes animais sejam
quelíceras, o veneno é injetado na presa
atraídos para dentro de moradias
para digerir seu corpo, que depois de
humanas. Atitudes simples como a limpeza
liquefeito é sugado através da boca da
de quintais, não acumular lixo ou entulhos,
aranha. As aranhas também podem picar
manter a casa limpa e sem insetos que
para se livrar de ameaças, nos casos em
sirvam de alimento para aranhas,
que são pressionadas contra a pele ou
diminuem as chances de colonização por
injuriadas durante o manuseio ou contato
aracnídeos perigosos.
acidental. Contudo, poucas espécies
possuem substâncias tóxicas importantes Até o momento já foram
para o corpo humano. catalogadas cerca de 45.700 espécies de
aranhas em todo o mundo, classificadas
Dentre as poucas espécies de
em mais de 3.900 gêneros e 114 famílias
aranhas que figuram na lista de interesse
(World Spider Catalog, 2015). Para o Brasil
médico-sanitário, as principais causadoras
foram catalogadas mais de 3.200 espécies
de acidentes no Brasil são a aranha-
em 72 famílias (Brescovit et al., 2011),
armadeira (gênero Phoneutria, família
sendo que a Mata Atlântica possui a maior
Ctenidae), a viúva-vegra (gênero
quantidade de registros, devido ao
Latrodectus, família Theridiidae) e a
acúmulo de conhecimento faunístico ao
aranha-marrom (gênero Loxosceles,
redor das capitais localizadas dentro deste
família Sicariidae). Estes gêneros ocorrem
bioma (Brescovit et al., 2011).
em todo o território nacional e, segundo os
estudos sobre a epidemiologia de Apesar dos avanços das últimas
envenenamentos na Bahia (Brazil et al., décadas nas pesquisas sobre aranhas
2009), há poucos registros oficiais de casos brasileiras, a fauna das regiões tropicais e
no estado. Um fator agravante para a sub-tropicais ainda não pode ser
importância médica dessas aranhas é que considerada bem conhecida. Há
algumas espécies têm a habilidade de viver estimativas de que existam mais de 80.000
38
espécies de aranhas no planeta, sendo a A vegetação e o clima são fatores que
maior parte habitante das áreas tropicais afetam de maneira conjunta a riqueza e
(Huber e Rheims, 2011). Ao passo que distribuição de espécies de aranhas
também se estima que entre 20% e 60% (Macnett e Rypstra, 2000; McReynolds,
das espécies de aranhas do mundo ainda 2000; Finch e Schuldt, 2008), o que faz do
sejam desconhecidas (Brescovit et al., grupo um bom modelo para estudos
2011). Poucos estudos sobre aranhas da ecológicos e promissor na busca por táxons
Bahia estão disponíveis em forma de bioindicadores. As influências climáticas
literatura científica. Alguns inventários podem ser indiretas, alterando o substrato
foram feitos em remanescentes de Mata vegetal do qual a araneofauna é
Atlântica densa do sudeste da Bahia, na dependente (Figura 18), mas também
região de Salvador; no sul, em Ilhéus e Una diretas, quando variações de temperatura,
(Melo et al., 2014) e no interior, na umidade e pluviosidade limitam a
Chapada Diamantina (Souza-Alves et al., atividade dos indivíduos ou seus processos
2007), evidenciando a pouca difusão do fisiológicos (Foelix, 2010; Wagner et al.,
conhecimento sobre a araneofauna 2003; Lensing et al., 2006).
baiana. Nesse contexto, o ecossistema de
Restinga é destacado como um dos menos
conhecidos em relação à diversidade de
aranhas (Brescovit et al., 2011).
39
Figura 16: Aranha errante da família Lycosidae, subordem Araneomorphae, encontrada a noite
em áreas de restinga.
40
Figura 18: A aranha-lince Peucetia flava (Oxyopidae) protege sua bolsa de ovos, aproveitando a
estrutura de plantas pilosas, que produzem secreção pegajosa, na restinga da Barra do Tijuípe.
Assim como acontece com a maior O estado da Bahia concentra oito dessas
parte da fauna brasileira, a maior ameaça espécies, como a aranha-formiga Ianduba
à conservação da diversidade de aranhas é paubrasil endêmica da Mata Atlântica
a perda do hábitat causada pelo baiana, a aranha errante Celaetycheus
desmatamento. Com base nos dados sobre mungunza somente registrada em
endemismo de espécies, no Brasil, no ano Camacan no sul do estado, a aranha-de-
de 2008, oito espécies de aranhas pernas-longas Metagonia diamantina de
figuravam na lista de espécies ameaçadas cavernas no semiárido baiano, as aranhas-
(Machado et al., 2008). Contudo, no ano de caranguejeiras arborícolas Avicularia
2014, a lista disponibilizada pelo Ministério diversipes, endêmica do sul da Bahia, A.
do Meio Ambiente (MMA, 2014) apontou gamba somente registrada no município
20 espécies ameaçadas no território de Elísio Medrado, Typhochlaena
nacional, passando a incluir espécies seladonia da costa norte da Bahia e Sergipe
recentemente descritas, com muitas e as aranha-caranguejeiras Pterinopelma
espécies cavernícolas, principalmente na sazimai, de campos rupestres da Bahia e
região norte, nordeste e sudeste do Brasil. Minas Gerais e Tmesiphantes hypogeus de
41
cavernas da Chapada Diamantina. As na Mata Atlântica, o estudo na Barra do
aranhas-caranguejeiras arborícolas e P. Tijuípe representa uma iniciativa
sazimai além de serem ameaçadas pela importante, uma vez que permite a
alteração do hábitat, também são alvo do descoberta de novas espécies, o aumento
tráfico de animais silvestres (MMA, 2014). de informações sobre distribuição e
Frente aos diversos desafios para endemismos, assim como a divulgação da
amplificar o conhecimento e consequente importância do grupo nesse bioma
a preservação da diversidade de aranhas ameaçado.
2.2.Métodos
42
Assim, um dos métodos O tempo de ação da armadilha foi de
padronizados mais eficazes para encontrar quatro dias consecutivos. Ao final do
uma grande diversidade de aranhas, tempo de ação, o material coletado nos
possibilitando a comparação entre locais copos foi transferido para frascos
de estudo, é a coleta manual limitada por identificados previamente por um código
tempo (Figura 19). Este método consiste na de amostra. Considerou-se como unidade
coleta de animais após o acaso, enquanto amostral o material obtido por uma
um coletor movimenta-se lentamente armadilha.
procurando no solo, serapilheira, troncos Na última campanha o inventário foi
caídos, buracos no solo, vegetação rasteira incrementado com a utilização do método
e sub-bosque até a altura de dois metros, de coleta batedor (guarda-chuva
com o auxílio de um frasco coletor e uma entomológico). Este método captura
lanterna de cabeça. As coletas realizadas aranhas que utilizam a vegetação do sub-
foram limitas em uma hora de esforço, ao bosque (arbustos e ramos de árvores ao
longo de uma transecção de 30 m de alcance do coletor, com no máximo dois
comprimento por quatro de largura, metros de altura).
demarcado com barbante de algodão.
43
O aparato consiste em uma estrutura de espécies que não foram representadas
de dois bastões fixados em cruz (80 cm x 80 por um único indivíduo, de forma que
cm) coberta por um lençol de algodão quanto maior o valor do índice mais
branco. Utilizando um bastão, a vegetação completo é considerado o inventário
é batida de forma que os animais caiam (Coddington et. al., 1996). As análises
sobre o lençol e possam ser apanhados ecológicas, para comparar a distribuição de
manualmente ou com um pincel pelo espécies de aranhas entre os tipos de
coletor (Figura 21). Cada amostra teve uma vegetações, foram realizadas através da
hora de esforço, sendo aplicada uma Análise de Agrupamento (UPGMA, índice
amostra por tipo de vegetação, totalizando de Bray-Curtis) (Magurran, 2011; Valentin,
quatro amostras na área 1 e duas na área 2000). Para esta análise foram utilizadas
2. A localização dos pontos de coleta, o apenas as espécies com mais de três
esforço de amostragem por campanha e indivíduos. As análises foram realizadas
fitofisionomia estão ilustrados na Figura 22 através do programa computacional PAST
e detalhados na Tabela 2 e na Tabela 3. 3.1 (Hammer et al., 2001) e EstimateS 9
(Cowell, 2013).
44
Tabela 2: Quantidade de amostras por métodos de coleta e fitofisionomias ao longo de três
campanhas. FTB: Floresta Ombrófila Densa Terra Baixas; FSM: Floresta Ombrófila Densa Submontana;
RES: Restinga.
Fitofisionomia Campanha Método
CN AS BT
2013 1 10
FSM 2014 1 10
2015 1 10 1
Área 1
2013 2 20
FTB 2014 2 20
2015 2 20 2
2013 1 10
RES 2014 1 10
2015 1 10 1
2013 1 10
FTB 2014 1 10
Área 2
2015 1 10 1
2013 1 10
RES 2014 1 10
2015 1 10 1
Total 18 180 6
45
Tabela 3: Pontos de coleta de aranhas na Barra do Tijuípe, nos municípios de Uruçuca e Itacaré, BA.
AS: Armadilha de solo; BT: Batedor; CN: Coleta noturna; FTB: Floresta Ombrófila Densa Terra Baixas;
FSM: Floresta Ombrófila Densa Submontana; RES: Restinga.
46
Figura 22: Localização das áreas de amostragem e cobertura florestal da região de Barra do Tijuípe,
Bahia.
47
2.3.Resultados
48
além do que se deve levar em conta empregados nos estudos de outras
variações na metodologia e esforço localidades.
Tabela 4: Riqueza de aranhas obtida nas vegetações da Barra do Tijuípe, através dos métodos coleta
noturna (CN), armadilha de solo (AS) e batedor (BT); FTB: Floresta Ombrófila Densa Terra Baixas; FSM:
Floresta Ombrófila Densa Submontana; RES: Restinga.
CN AS BT Total
FTB 42 17 21 80
Área 1 FSM 30 16 8 54
RES 13 2 7 22
FTB 25 8 13 46
Área 2
RES 14 2 8 24
Tabela 5: Riqueza de aranhas obtida nas vegetações da Barra do Tijuípe, através dos métodos coleta
noturna (CN) e armadilha de solo (AS) ao longo das três campanhas. FTB: Floresta Ombrófila Densa
Terra Baixas; FSM: Floresta Ombrófila Densa Submontana; RES: Restinga.
Coleta Noturna
Área 1 Área 2
FTB FSM RES FTB RES
Campanha 1 21 17 2 13 5
Campanha 2 22 9 5 9 5
Campanha 3 14 12 6 12 7
Armadilha de solo
Área 1 Área 2
FTB FSM RES FTB RES
Campanha 1 8 7 2 3 2
Campanha 2 6 4 1 5 1
Campanha 3 6 6 0 4 1
49
com os dados da Barra do Tijuípe. Contudo adultos muito maiores, como Ricetti e
nota-se que a riqueza alcançada aqui é Bonaldo (2008) com 1.393, Podgaiski e
importante, visto que, mesmo com um colaboradores (2007) com 2.946,
esforço de captura pequeno, foram BRESCOVIT e colaboradores (2004) com
listadas quase 150 espécies em 465 cerca de 4.000 e Raub e colaboradores
indivíduos adultos, enquanto que os (2014) com 4.495 indivíduos.
estudos citados obtiveram quantidades de
Figura 23: A aranha tecedora orbicular noturna Parawixia sp. (Araneidae), constrói uma grande teia
após o anoitecer para interceptar insetos voadores em áreas de floresta ombrófila.
50
Figura 24: A aranha tecedora orbicular Micrathena fissispina (Araneidae) repousa na vegetação à noite
na Floresta de Terra Baixas.
Figura 25: Riqueza de aranhas obtida por todos os métodos de coleta, ao longo das três campanhas
nas áreas 1 e 2.
51
Inventários menores realizados na encontradas na Barra do Tijuípe. Na lista de
Mata Atlântica da Bahia apresentaram espécies de Salvador (Melo et al., 2014),
riquezas variadas conforme os métodos de dos 164 táxons encontrados, apenas 23%
coleta utilizados nos estudos e o esforço foi identificado até o nível de espécie,
amostral. Há registro de 93 espécies de sendo que dessas, apenas 13 também
aranhas com armadilhas de solo em áreas ocorreram na Barra do Tijuípe.
de cabruca, capoeira e florestas nos A diferença de táxons entre as listas
municípios de Ilhéus e Una do Sul (Dias et de espécies levantadas reflete a variação
al., 2005). Na região de Salvador foram na distribuição de espécies de aranhas ao
registradas 30 espécies com armadilhas de longo da mudança da paisagem e tipos de
solo (Benati et al., 2010), 60 espécies vegetação (Wise, 1993; Mcnett e Rypstra,
obtidas por coleta manual em florestas 2000). Tal condição encontrada entre essas
alteradas e restingas (Benati et al., 2005) e localidades sinaliza que os trechos do
80 espécies dentro da floresta do Parque litoral do sul da Bahia podem manter
Metropolitano de Pituaçu, coletadas assembleias de aranhas diferentes.
manualmente e com batedores (Oliveira- O método que permite as
Alves et al., 2005). comparações mais acuradas entre
Uma lista de espécies de aranhas da inventários é através do cálculo da curva
Estação Experimental Lemos Maia, da de rarefação (espécies/indivíduos), no
Comissão Executiva do Plano da Lavoura entanto nenhum dos inventários
Cacaueira (CEPLAC), no município de Una, araneológicos citados anteriormente
reúne os dados de araneofauna mais apresenta rarefação. Ainda assim, para
próximos geograficamente da Barra do permitir que pesquisas futuras utilizem os
Tijuípe, distante cerca de 90 km. Embora dados do presente estudo, uma curva de
não tenham sido publicados, a Coleção de rarefação foi confeccionada para a
Arachnida das Coleções Taxonômicas da taxocenose de aranhas da Barra do Tijuípe,
UFMG (UFMG-ARA) disponibilizou os feita com o banco de dados montado com
dados através da rede SpeciesLink, listando amostras (coleta noturna, armadilha de
29 táxons identificados em espécies e 33 solo e batedor) em que ocorreram aranhas
até o nível de gênero, de forma que apenas adultas (N=80), mostrando que mesmo
12 das espécies do CEPLAC foram com a coleta de mais de 400 indivíduos a
52
riqueza continuou em ascensão (Figura 26). amostras. Porém é importante salientar
A estimativa de riqueza, calculada com o que os números podem estar
mesmo banco de dados, foi de 192 superestimados devido à baixa
espécies (ACE – Estimador de cobertura de completude do inventário, com matriz de
abundância - Figura 27), com 55 espécies a dados composta de muitos táxons com
mais do que a riqueza acumulada em 80 apenas um indivíduo.
Figura 26: Curva de rarefação mostrando o aumento da riqueza de espécies com o aumento do
número de aranhas coletadas na Barra do Tijuípe.
Figura 27: Curva de acumulação da riqueza de observada (linha contínua) e riqueza estimada (linha
tracejada) ao longo da repetição de amostras da fauna de aranhas da Barra do Tijuípe.
53
Durante todas as campanhas do estudo, foi Essas duas espécies de aranhas
registrado visualmente a presença de podem ser diagnosticadas facilmente na
espécies diurnas de aranhas saltadoras em localidade devido ao seu padrão colorido,
bromélias da restinga da área 2. Apesar de com cores chamativas e iridescentes.
serem animais sensíveis e de fuga rápida Estudos sobre interações entre plantas e
com da presença humana, portanto, de aranhas apontam associação desses dois
difícil coleta, foi possível diagnosticar a gêneros com bromélias terrestres (Romero
ocorrência comum de Eustiromastix sp. e e Vasconcellos-Neto, 2004). Pesquisas
Psecas sp. (Figura 28 e Figura 29), sobre aranhas do gênero Psecas
pertencente à família Salticidae. As duas comprovaram a existência de associação
espécies de aranhas da localidade ainda com bromélias, ocorrendo mutualismo
não foram descritas (G.R.S. Ruiz, J. Ricetti, facultativo (Romero et al., 2006), situação
obs. pess.), contudo sabe-se que esta em que há maior crescimento de bromélias
família possui hábito diurno, utilizando sua em que a aranha Psecas chapoda utiliza
grande capacidade de visão para saltar para viver, por disponibilizar mais
sobre suas presas. nitrogênio para a planta.
Figura 28: A aranha saltadora Eustiromastix sp. (Salticidae) passa o dia em busca de presas em uma
bromélia de solo na Restinga.
54
Figura 29: A aranha saltadora Psecas sp. (Salticidae), observada em bromélias de solo na Barra do
Tijuípe pode ser reconhecida por apresentar o corpo com cores vivas e metálicas.
55
Apesar de se conhecer pouco sobre sua e de ampla distribuição no país, P.
história natural, P. bahiensis tem sido bahiensis ocorre em áreas preservadas de
apontada como indicadora de qualidade floresta ombrófila e de restingas da costa
ambiental, pois diferente das outras da Bahia até a costa norte do Espirito Santo
espécies do gênero, que são sinantrópicas (Dias et al., 2011).
Figura 30: A espécie Carapoia rheimsae (Pholcidae), comum na floresta de terras baixas da Barra do
Tijuípe, utiliza teias horizontais em forma de lençol para caçar.
Figura 31: Uma fêmea de aranha-armadeira Phoneutria bahiensis (Ctenidae), registrada à noite
próximo do arraial da área 2.
56
A vegetação da Barra do Tijuípe contribui para que a fauna de aranhas
apresenta diferentes fisionomias e em tenha maior diversidade do que áreas de
diferentes graus de conservação. Essa vegetação uniforme. Esse é um atributo
variação no ambiente pode influenciar a importante da área de estudo, que
distribuição de aranhas (Wise, 1993), seja demonstra a influência de variações
naturalmente, por se tratar de variações ambientais sobre a fauna e a importância
intrínsecas ao bioma de Mata Atlântica da preservação dos diferentes ambientes
como diferenças de altitude e das locais.
condições naturais do solo, ou A exuberância na diversidade de
artificialmente, devido ao desmatamento, aranhas da Barra do Tijuípe expressa a
fragmentação e uso do solo pelo homem. capacidade das florestas costeiras do Brasil
O dendrograma confeccionado a em abrigar quantidades significativas de
partir da análise de agrupamento (UPGMA espécies, permitindo a descoberta de
– Bray-Curtis) mostra uma similaridade de novos táxons, a observação das relações
apenas 10% das restingas em relação às intrincadas entre organismos e entre
florestas (Figura 32), enquanto que estas ecossistemas em escalas geográficas
fisionomias florestais são menos menores. Por outro lado, essa situação
divergentes quanto à composição de realça a necessidade emergencial de
espécies. Apesar disso, observa-se melhorar o conhecimento sobre esse
também que os agrupamentos formados grupo animal, uma vez que a Mata
entre as florestas tiveram menos que 50% Atlântica litorânea e suas restingas figuram
de similaridade. entre os ecossistemas mais ameaçados
pela expansão da atividade humana
A ocorrência das diferentes
(Gonçalves-Souza et al., 2014).
fisionomias vegetais na Barra do Tijuípe
57
Figura 32: Dendrograma confeccionado a partir da análise de agrupamento (UPGMA) mostrando
grupos de vegetações baseado na similaridade de espécies de aranhas coletadas na Barra do Tijuípe.
Índice de similaridade Bray-Curtis (coeficiente de correlação: 0,87). FTB: Floresta Ombrófila Densa
Terra Baixas; FSM: Floresta Ombrófila Densa Submontana; RES: Restinga. Números 1 e 2 referem-se
às áreas de estudo.
58
2.4. Conclusões
59
2.5.Referências
60
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63
3. FORMIGAS
64
Autoras do capítulo de
Formigas
65
3.1.Introdução
66
2007; Resende, 2010), somente para o a um cotovelo; e cintura, ou a separação
sudeste do estado são reconhecidas, pelo entre tórax (mesossoma) e abdômen
menos, 300 espécies de formigas. (gáster), geralmente feita por um
As características morfológicas que segmento estreito chamado pecíolo ou por
definem as formigas são: antenas do tipo dois segmentos, pecíolo e pós-pecíolo
geniculado, isto é, com dobra semelhante (Figura 33).
cabeça
tórax
pecíolo
pós-pecíolo
abdômen
antena
Figura 33: Partes do corpo de uma operária de formiga, espécie Sericomyrmex saussurei. O gênero
Sericomyrmex pertence à tribo Attini, que reúne as formigas cultivadoras de fungos. As espécies deste
gênero nidificam no solo; o ninho não é muito profundo (até 60 cm abaixo da superfície) e se estende
horizontalmente; constroem pequenos caminhos no solo que servem como galerias para
forrageamento em busca de excrementos de lagartas, pedaços de frutos, flores e folhas para
cultivarem o fungo do qual dependem para se alimentar; as colônias são relativamente grandes, com
cerca de 200-1.600 indivíduos, dependendo da espécie (Baccaro et al., 2015).
67
encontrados por causa dos murundus, que constroem seus ninhos em aglomerados de
são montes de terra que ficam depositados raízes e folhas; há espécies que constroem
sobre o solo ao redor das entradas do seus ninhos em gravetos e frutos secos da
ninho; existem também espécies serapilheira como espécies dos gêneros
totalmente arborícolas que habitam Strumigenys e Hylomyrma (Figura 34)
diversos tipos de cavidades disponíveis nas (Baccaro et al., 2015).
copas das árvores, como galhos podres, ou
Figura 34: Operária de Hylomyrma immanis. Maior espécie do gênero Hylomyrma, como pouco mais
de 5mm, é bastante comum em áreas de Floresta Amazônica e mais rara em região de Mata Atlântica.
Tende a ficar imóvel quando ameaçada. Sua biologia é desconhecida, mas como praticamente todos
os exemplares conhecidos são provenientes de amostras de serapilheira provavelmente as colônias
estejam localizadas nas camadas superficiais do solo ou na própria serapilheira. Esta é a primeira
imagem obtida de um exemplar vivo dessa espécie.
Geralmente nos ninhos de formigas estéreis e sem asas que realizam diversas
encontramos apenas fêmeas, sejam funções para a manutenção da colônia. Os
rainhas - espécimes aladas capazes de se machos podem ser encontrados nos ninhos
reproduzirem, ou operárias - espécimes apenas na época de reprodução. Eles
68
possuem asas, olhos grandes, antenas não orgânica (Hölldobler e Wilson, 1990;
geniculadas e normalmente não possuem Wagner, 1997; Lobry de Bruyn, 1999).
sistema digestivo completamente Possuem diversos modos de vida, podendo
desenvolvido - a grande maioria nunca ser predadoras, coletoras de sementes, de
chega a se alimentar, pois vivem apenas líquidos e cultivadoras de fungos
por um curto período voltado à (Hölldobler e Wilson, 1990). Devido à sua
reprodução. Após o voo nupcial, abundância, fácil amostragem, alta
independe de copularem ou não, os diversidade, relações com outros grupos e
machos morrem (Baccaro et al., 2015). sua participação em diversos processos
As formigas são consideradas os funcionais dos ecossistemas, as formigas
insetos eussociais mais abundantes e são consideradas essenciais na
diversificados do planeta em termos de conservação da biodiversidade e bons
quantidade de espécies e comportamento indicadores biológicos (Andersen et al.,
(Kaspari, 2005; Brandão et al., 2009). 2002). A composição e estrutura funcional
Podem ser encontradas em quase todos os da comunidade de formigas responde
ecossistemas, de tundras às florestas principalmente ao tipo vegetacional e à
tropicais (Kaspari, 2005), representando cobertura florestal, incluindo a serapilheira
um dos grupos animais de maior biomassa (Neumann, 1992 Matos et al. 1994).
e dominância praticamente em todos os A Lista das Espécies da Fauna
ambientes que estão presentes (Hölldobler Brasileira Ameaçadas de Extinção
e Wilson, 1990). Elas apresentam inúmeras (Portarias MMA nº 444/2014 e 445/2014)
interações com outros organismos, contem treze espécies de formigas, sendo
mantendo, por exemplo, relações 6 com status vulnerável, 5 em perigo e 2
simbióticas com uma quantidade enorme criticamente em perigo. Já a International
de espécies de plantas (Hölldobler e Union for Conservation of Nature - IUCN
Wilson, 1990) e são modelos de identifica 149 espécies de formigas
mimetismo para mais de 2.000 espécies de majoritariamente como vulnerável à
artrópodes (Grimaldi e Engel, 2005). São extinção. Ambas as listagens avaliam
fundamentais nos processos funcionais dos principalmente questões como
ecossistemas, figurando entre os principais distribuição, tamanho populacional,
responsáveis pela reciclagem da matéria habitat e ameaças para identificar estas
69
espécies suscetíveis. O fator (Hooper et al., 2005). Consequentemente,
preponderante para a extinção de espécies torna-se cada vez mais urgente a realização
e a conservação da natureza é a perda de de estudos relacionados à conservação de
habitats causada por ações antrópicas, que espécies (Wilson, 2000) visando o
afeta diretamente a dinâmica das desenvolvimento de ações e políticas de
comunidades, as quais são determinantes combate aos impactos ambientais.
para o funcionamento dos ecossistemas
3.2. Métodos
70
foi posteriormente colocada em potes de individualizados, respeitando as unidades
vidro contendo álcool 96%, rotulados e amostrais.
Figura 35: Sete pontos de coleta de formigas nas áreas das fazendas na Barra do Tijuípe, Uruçuca e
Itacaré, Bahia.
71
a b
c d
e f g
h i
Figura 36: Técnica de Winkler; a-b: retirada de 1m2 de serapilheira; c: agitação de 1m2 de serapilheira;
d-g: amostra de 1m2 colocadas em sacos de tecido e penduradas no extrator; e h-i: triagem das
amostras em busca de formigas.
72
2. Isca atrativa - Para capturar as
espécies mais comuns, de comportamento
dominante e até mesmo arborícolas
(espécies encontradas nas árvores e
arbustos), foram colocadas 4 iscas atrativas
de sardinha, distribuídas em diferentes
estratos da vegetação, separadas uma da
outra em 10 metros, em cada ponto de a
73
96% e rótulo de dado do local de captura. espécimes que possuem pouca chance de
Este tipo de metodologia foi utilizado para serem capturados por outras técnicas,
enriquecer a lista de espécies e amostrar devido a características de sua biologia.
a b
c d
Figura 38: Busca ativa de formigas; a: em frutos e folhas da serapilheira; b: no solo arenoso abaixo de
fruto seco de palmeira; c: em tronco de árvore; e d: na vegetação herbáceo-arbustiva.
74
de aranhas em 2013 foram triadas em Para estimar a riqueza de espécies de
busca de formigas, totalizando 6 amostras. formigas que deve existir na área e
As 160 amostras, compreendendo as também em cada tipo vegetacional
quatro técnicas empregadas durante o estudado, avaliamos o conjunto dos dados
estudo, foram triadas em laboratório e quantitativos a partir do estimador de
parte dos espécimes foram separados para primeira ordem CHAO através do programa
montagem, enquanto outra parte foi EstimateS 8.2.0 (Colwell, 2009), e
mantida em via úmida com álcool 96%. apresentamos o resultado em gráfico com
Posteriormente, as formigas montadas o auxílio do programa Excel.
foram etiquetadas e identificadas com o
auxílio de microscópio estereoscópico, Imagens das espécies de formigas
chaves taxonômicas para gênero (Palacio e As imagens realizadas em laboratório
Fernández, 2003) e espécies (Kempf, 1963, foram obtidas com auxílio do
1973; Watkins, 1976; Brandão, 1990, 2003; estereomicroscópio Leica M205C®
Mackay, 1993; Kugler, 1994; Lattke, 1997; acoplado a uma câmera Leica DFC295® e do
Andrade e Baroni-Urbani, 1999; Mayhé- programa Leica Application Suíte V3.Ink®
Nunes e Brandão, 2002, 2005, 2007; para formar uma só imagem multifocal a
Fernández, 2004; LaPolla e Sosa-Calvo, partir de uma série de imagens, cada uma
2006; Baroni-Urbani e Andrade, 2007; com o foco em determinada região do
Longino e Fernández, 2007) e também por corpo do espécime. Por fim, esta imagem
meio de comparação com as espécies da multifocal foi editada no programa
Coleção de Formicidae do Laboratório de PhotoShop CS3® para ajustes nos
Sistemática, Evolução e Biologia de parâmetros de brilho e contraste.
Hymenoptera do Museu de Zoologia da Na última campanha de campo o
Universidade de São Paulo/MZUSP. O fotógrafo e biólogo Fabiano F. Albertoni
material proveniente das coletas está realizou uma série de imagens das espécies
depositado nesta coleção e uma réplica das das formigas encontradas nas áreas das
formigas em via seca foi depositada na fazendas em seu habitat natural e também
Coleção de Formicidae do Laboratório de em estúdio (Figura 39a-b).
Mirmecologia do Centro de Pesquisas do
Cacau em Itabuna/BA.
75
a b
Figura 39: a: Fotografia das formigas em hábitat natural; e b: formiga Campontus sp. 11 em folha de
bromélia.
3.3.Resultados
1
Morfoespécies são tipos morfológicos de um
gênero, reconhecidamente distintos, para os quais
não foi possível a identificação em nível específico.
76
2013), e que carecem de boa bibliografia A proximidade entre número de
para identificações específicas, como os gêneros e espécies registrados para
gêneros Brachymyrmex, Crematogaster, Ponerinae e Formicinae, após Myrmicinae,
Hypoponera, Nylanderia, Pheidole e tem sido usualmente encontrado em
Solenopsis (Tabela 5 – Volume 4 - Anexos). diversos estudos realizados tanto em Mata
Essas espécies, depositadas na coleção de Atlântica (Santos et al., 2006; Liberal et al.,
formigas do MZUSP, estão disponíveis para 2007; Vargas et al., 2007; Rosumek et al.,
estudos e poderão ser identificadas em 2008; Cereto et al., 2009; Resende, 2010)
nível específico quando estes gêneros quanto nos demais ecossistemas
forem alvo de revisões taxonômicas ou brasileiros, como Caatinga (Nunes, 2010;
quando bibliografia apropriada estiver Nunes et al., 2011; Ulysséa, 2012), Cerrado
disponível. (Ramos et al., 2003; Silva et al., 2004) e
A subfamília mais rica tanto em Amazônia (Carvalho e Vasconcelos, 2002).
número de gêneros quanto de
espécies/morfoespécies foi Myrmicinae,
com 21 gêneros e 106
espécies/morfoespécies, seguida de
Ponerinae (6/29) e Formicinae (4/27).
As demais famílias foram
representadas com números
consideravelmente mais baixos –
Pseudomyrmecinae, com 1 espécie e 14
espécies/morfoespécies, Dolichoderinae
(5/11), Ectatomminae (2/6), Dorylinae
(3/4) e Proceratiinae (1/1) (Figura 40 e
Figura 41).
77
1 1 5 N° de gênero(s) por subfamília
6
3 Dolichoderinae
Dorylinae
2 Ectatomminae
Formicinae
4 Myrmicinae
Ponerinae
Proceratiinae
Pseudomyrmecinae
21
Figura 40: Número de gênero (s) de formigas distribuídas pelas subfamílias amostradas em duas
fazendas em Uruçuca e Itacaré, Bahia (2013-2015).
14 11 N° de espécie(s)/mofoespécie(s)
1 4
6 por subfamília
29 Dolichoderinae
27
Dorylinae
Ectatomminae
Formicinae
Myrmicinae
Ponerinae
Proceratiinae
Pseudomyrmecinae
106
78
Este número expressivo de espécies todos, por cortarem as plantas
compreende uma grande diversidade de rapidamente, por suas trilhas longas e seus
maneiras de interagir com o ambiente e ninhos grandes. As cortadeiras fazem parte
também de forma. Por exemplo, espécies da tribo Attini, que reúne formigas
diminutas do gênero Strumigenys, que cultivadoras de fungos. Formigas desta
apresentam mandíbulas lineares e longas tribo coletam folhas, frutos, galhos, partes
(Figura 42a-b) ou triangulares e curtas de flores, carcaças de pequenos insetos e
(Figura 42c), dificilmente são vistas, pois excrementos de lagartas para utilizar como
além de serem muito pequenas, constroem substrato no cultivo de seu alimento: um
seus ninhos principalmente em pequenos fungo (Baccaro et al., 2015). Na Fazenda
gravetos caídos no chão da mata. Este Barra do Tijuípe, próximo ao ponto de
gênero é bastante comum na Mata coleta 3 (Floresta Ombrófila Densa
Atlântica e foi amostrado em todos os Submontana), há um grande ninho de Atta
pontos de coleta. cephalotes, popularmente conhecidas
Formiga tartaruga é o nome comum como saúva, iça ou tanajura (Figura 44a-b).
para as espécies do gênero Cephalotes por Esta espécie possui polimorfismo
serem relativamente lentas e terem o acentuado, isto é, as formigas operárias
corpo achatado dorso-ventralmente. São apresentam diferentes tamanhos que
espécies arborícolas, construindo seus estão relacionados com as funções que
ninhos em cavidades ou fendas na cada indivíduo exerce para a manutenção
vegetação, mas podem também forragear da colônia:
na serapilheira em busca de alimento, Soldados - são as maiores operárias,
como: secreções açucaradas produzidas tem a cabeça bastante aumentada que
por membracídeos e nectários extraflorais, comporta a musculatura ligada à
matéria orgânica em decomposição, fezes mandíbula que é bem desenvolvida,
de animais e grãos de pólen (Baccaro et al., protege o formigueiro e a trilha de
2015). Cinco espécies foram coletadas nas forrageamento dos invasores, além de
áreas amostradas (Figura 43a-b). cortar folhas.
Já as cortadeiras, espécies dos Cortadeiras - seu tamanho varia, sendo
gêneros Atta e Acromyrmex, são as menor que um soldado e maior que
formigas mirmicíneas mais conhecidas por
79
uma enfermeira, carregar as folhas Enfermeiras - ficam o tempo todo
para o formigueiro. dentro do ninho cuidando dos
Lixeiras - fazem a limpeza da colônia, ovos, larvas, pupas e também da
carregam o lixo para uma galeria mais rainha.
funda e longe de todas para não
transmitir doenças.
a b
Figura 42: a: Operária de Strumigenys denticulata carregando a rainha entre suas mandíbulas lineares;
b: operária de Strumigenys subedentata com as mandíbulas abertas em posição de defesa ou
predação; e c: operária de Strumigenys sp. 4 cuja mandíbula é triangular e curta. As espécies deste
gênero forrageiam lentamente e tendem a ficar imóveis quando ameaçadas; são predadoras e utilizam
suas mandíbulas especializadas para predar pequenos artrópodes, especialmente ácaros e colêmbolos
(Baccaro et al., 2015).
80
Ponerinae compreende quase 1.200
espécies, cerca de um terço destas são
encontradas na região Neotropical (Lattke,
2003). Os seguintes gêneros englobam
quase 70% das espécies conhecidas:
81
amostrada em todos os pontos de coleta e como arma de defesa e para captura de
observada alimentando-se de líquido presas (Lach et al., 2010; Baccaro et al.,
açucarado em frutos de cajueiro em área 2015). A subfamília abriga gêneros
de Restinga (Figura 45b). bastante abundantes e facilmente
coletados, cujos representantes
neotropicais mais importantes são
espécies dos gêneros Camponotus e
Brachymyrmex (Brandão, 1999; Baccaro et
al., 2015).
Figura 45: a: Operária de Anochetus inermis; e operárias forrageiam durante dia e noite,
b: Operária de Odontomachus bauri. As com algumas espécies mais ativas no
espécies destes gêneros também usam suas
mandíbulas como mecanismo de fuga de período noturno. Boa parte das espécies é
predadores. Neste caso as mandíbulas são
rapidamente fechadas contra o solo resultando onívora. Dezesseis espécies deste gênero
em um forte impulso que projeta a formiga foram registradas nas áreas estudadas e,
para longe da ameaça (Baccaro et al., 2015).
com exceção de duas, a maior parte foi
aproximadamente 3.600 espécies (Figura 46). Enquanto que das sete espécies
e cujo ferrão é reduzido, de modo que, ao capturar formigas com hábito hipogéico
82
Figura 46: Operária de Camponotus sp. 11 em posição de defesa - a formiga curva-se posicionado o
gáster abaixo do tórax e projetando-o para frente. O gáster termina em um orifício por onde são
liberados os excrementos e também o ácido fórmico.
83
andam com o gáster voltado para cima, baixa. Esta espécie tropical de origem
além disso, podem ser reconhecidas pelo ainda indeterminada pelos mirmecólogos
odor característico que liberam quando (Smith, 1965) apresenta alto potencial
pressionadas (Baccaro et al., 2015). Nas invasor, sendo amplamente distribuída
áreas de estudo pode ser facilmente devido às transações comerciais.
observada na vegetação em área de Atualmente é considerada praga em
Floresta de terra baixa e Restinga. ambientes hospitalares, habitações e a
Algumas espécies desta subfamília áreas agrícolas em diversas partes do
chegam a constituir pragas em diferentes mundo (Clark et al., 1982; Baccaro et al.,
regiões do mundo, como é o caso de 2015), sendo muito abundante em áreas
Tapinoma melanocephalum, a formiga urbanas no Brasil. Wheeler em 1910
fantasma, com apenas um indivíduo discute que a origem pode ser Africana ou
coletado em área de Floresta de terra Oriental.
a b
84
As formigas de correição são suas relações mutualísticas com uma série
caracterizadas pelo grande número de de espécies de vertebrados e
indivíduos em suas colônias, hábito invertebrados (Rettenmeyer et al., 1983;
nômade, ausência de ninho em local fixo e O'Donnell e Kumar, 2006).
forrageamento em massa, o qual resulta Registramos três gêneros - Eciton
em um forte efeito ecológico nas (Figura 48), Labidus, Neivamyrmex - e
comunidades por serem predadoras muito quatro espécies desta subfamília
eficientes. Notavelmente, há uma família exclusivamente na área da Fazenda Barra
de aves nas Américas do Sul e Central do Tijuípe (A1). Uma característica
especializada em seguir correições importante é o fato destes gêneros
(Thamnophilidae), capturando insetos e possuírem rainhas permanentemente sem
outros organismos que fogem das enormes asas e com o abdômen fortemente
massas de formigas que se deslocam aumentado. Além disso, em algumas
continuamente em busca de alimento espécies como Eciton burchellii as
(Baccaro et al., 2015). Cabe ressaltar que as operárias são polimórficas, sendo a
formigas com hábitos nômades são operária maior ou soldado facilmente
consideradas indicadoras de boa qualidade diferenciada das demais por suas
do ambiente, pois por serem predadoras mandíbulas longas em forma de gancho e
de topo nas cadeias tróficas são bastante por apresentar coloração distinta.
sensíveis a variações climáticas locais e por
Figura 48: Destaque para as mandíbulas do soldado de Eciton burchellii. Foto: Guilherme Ide, acervo
Laboratório de Hymenoptera, MZUSP.
85
Ectatomminae é formada por quatro e também são facilmente observadas
gêneros - Ectatomma, Gnamptogenys, coletando líquidos açucarados secretados
Typhlomyrmex e Rhytidoponera, e 266 por hemípteros, nectários extraflorais
espécies, sendo cerca de 50 presentes no (Figura 49b), e exsudatos de flores e frutos.
Brasil. Espécies de Ectatomminae nidificam Os ninhos são estruturalmente simples,
no solo, na serapilheira, em troncos em normalmente no solo, com poucas dezenas
decomposição ou mesmo no estrato ou centenas de operárias que tem o hábito
arbóreo e arbustivo de florestas, incluindo de forrageamento solitário no solo e
copas de árvores. São normalmente arbustos, podendo recrutar outras
predadoras generalistas, com algumas operárias para fontes alimentares (Baccaro
espécies consideradas especialistas em et al., 2015).
determinadas presas (miriápodes, por As espécies de Gnamptogenys são
exemplo) (Baccaro et al., 2015). Os encontradas preferencialmente em
membros desta subfamília tendem a florestas úmidas, onde nidificam no solo,
apresentar o corpo coberto por em madeira em decomposição ou na
esculturações e ornamentos. Como os serapilheira. Os ninhos são geralmente
tubérculos presentes no dorso do tórax de pequenos, possuindo em torno de 100-200
Ectatomma tuberculatum (Figura 49a-b), e operárias. Algumas espécies do gênero
as cóstulas que recobrem o corpo da possuem hábito generalista, mas restos
espécie Gnamptogenys striatula (Figura mortais das presas depositadas próximos
49c), ambas coletadas em mais de um ao ninho sugerem que algumas espécies
ponto amostral deste estudo (Tabela 5 – são especializadas em predar formigas,
Volume 4 - Anexos). besouros e diplópodes. Na maioria das
As formigas Ectatomma são espécies o forrageio é individual e no solo,
encontradas em diversos tipos de sob a serapilheira e na vegetação herbácea
ambientes, de florestas a savanas; são (Baccaro et al., 2015).
generalistas, predam diversos artrópodes
86
a b
87
restrito com predileção por ovos de variando entre 1,3-3mm e olhos vestigiais
pequenos artrópodes de solo, em especial ou muito pequenos. As fotos abaixo,
aracnídeos (Feitosa, 2015). tiradas em laboratório, mostram a
Discothyrea sexarticulata (Figura 50), diminuta D. sexarticulata sobre a cabeça
única espécie amostrada desta subfamília de uma das espécies do gênero
e apenas na área da Fazenda Barra do Dinoponera que reúne as maiores formigas
Tijuípe (pontos 1 e 2), possui tamanho que conhecemos, com cerca de 4cm.
Figura 50: Operária de Discothyrea sexarticulata sobre a cabeça de Dinoponera sp. Fotos: Guilherme
Ide, acervo Laboratório de Hymenoptera, MZUSP.
88
168,88ha (54,08%) da propriedade (Tabela para 22. Desse modo, observamos que na
5 – Volume 4 - Anexos). Como o número de realidade a fitofisionomia com a maior
amostras em cada fitofisionomia não foi o riqueza de formigas é a Floresta ombrófila
mesmo, a comparação da riqueza das densa submontana, com 86 de
mesmas apenas pode apenas ser feita espécies/morfoespécies (Tabela 6, Figura
quando rarefazemos o número amostral 53).
Tabela 6: Pontos amostrais, número total de amostras, riqueza observada e riqueza esperada para 22
amostras nas quatro fitofisionomias estudadas em duas fazendas em Uruçuca e Itacaré, Bahia (2013-
2015).
50
N° de espécies/morfoespécies
40
30
20
10
0
Pontos de coleta
Winkler Busca Ativa Isca Pitfall
Figura 51: Número de espécies/morfoespécies de formigas amostradas nos sete pontos de coleta em
duas fazendas (A1/A2) em Uruçuca e Itacaré, Bahia (2013-2015). "Re": Restinga; "Ftbm": Floresta de
terra baixa estágio médio; "Fsm": Floresta submontana estágio médio.
89
90
80
N° de espécies/morfoespécies 70
60
50
40
30
20
10
0
Restinga Floresta de terra baixa Floresta submontana
Fitofisionomias
120
110
N° de espécies/morfoespécies
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60 64 68
N° de amostras
90
Parte da comunidade de formigas A importância de se preservar os
que habita determinada área varia de biomas e suas diversas fitofisionomias está
acordo com as características justamente na necessidade de se manter
vegetacionais da área já que há espécies os microclimas e os microhabitats
que ocorrem em apenas um tipo de necessários àquelas espécies mais
formação vegetacional enquanto que sensíveis a variações ambientais, e com
outras apresentam ampla distribuição. comportamento alimentar especializado,
Áreas que sofreram com o impacto como formigas do gênero Leptogenys,
antrópico decorrente de quaisquer tipos Myrmicocryta e Thaumatomyrmex, todas
de atividade humana não apresentam mais com apenas um indivíduo coletado em
sua conformação original em termos de área de Floresta submontana (A1_P3). As
microclima e microhabitats, e desse modo espécies de Leptogenys são predadoras de
as espécies de formigas que viviam nestas isópodos (pequenos crustáceos terrestres,
áreas e que são mais sensíveis as como o tatuzinho-bola), fazem ninhos no
alterações sofridas pelo ambiente, e por solo e em galhos caídos, e dificilmente são
isso ditas raras, tem sua população coletadas durante o dia (Lattke, 2011).
reduzida ou até mesmo podem deixar de Myrmicocrypta faz parte do grupo das
existir no local. Um grande número de formigas attíneas conhecidas por
espécies que, por terem necessidades cultivarem fungos, e não existem estudos a
ambientais mais flexíveis, permanece respeito de sua biologia (Sosa-Calvo e
naquele ambiente pouco alterado. Há, Schultz, 2010). Já Thaumatomyrmex atrox
porém, algumas espécies de formigas que é predadora de diplópodos da ordem
conseguem sobreviver em ambientes Polyxenida cujas cerdas são preenchidas
muito antropizados, e que ainda tem uma por substâncias não palatáveis. Com suas
capacidade de dispersão e dominação da mandíbulas de dentes longos, a formiga
comunidade já estabelecida. Exemplos segura sua presa e realiza uma série de
bem claros disso são as formigas manobras de modo a retirar todas as
Strumigenys denticulata e Wasmannia cerdas da presa, para em seguida
auropunctata, ambas amostradas em alimentar-se (Brandão et al., 1991) (Figura
todos os pontos de coleta (Wetterer e 54a-b).
Porter, 2003).
91
a b
Figura 54: a: Destaque para as mandíbulas da formiga Thaumatomyrmex atrox (Foto: Guilherme Ide,
acervo Laboratório de Hymenoptera, MZUSP); e b: detalhes do modo como esta espécie preda sua
presa (Brandão et al., 1991).
92
260 258,55
240
N° de espécies/morfoespécies
220
200 198
180
160
140
120
100
80
60
N°
40 observado
20
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
N° de amostras
Figura 55: Curva de acumulação das espécies/morfoespécies de formigas registradas em 160 amostras
coletadas em duas fazendas em Uruçuca e Itacaré, Bahia (2013-2015).
de 300 espécies para a região deve-se aos Delabie et al., 1998, 2007; Resende, 2010).
nos estudos acima citados possam ser stigma, Pseudomyrmex viduus, Rogeria
93
blanda, Sericomyrmex saussurei, oralmente de geração em geração estão a
Strumigenys villiersi, Wasmmania rochai e cada dia perdendo-se pelo tempo devido a
Thaumatomyrmex atrox (em negrito na distintos fatores que interferem na sua
Tabela 5 – Volume 4 - Anexos). transmissão. As mudanças
Coletamos também duas espécies socioeconômicas pelas quais passam uma
novas de formiga. Uma do gênero comunidade, o não uso dos
Cyphomyrmex do grupo rimosus em área conhecimentos, a falta de interesse e
de restinga na Fazenda Barra do Tijuípe curiosidade das gerações mais jovens, a
(A1_P1), e uma pertence ao gênero massificação e dominação de uma cultura
Strumigenys. Ambas as espécies já foram sobre a outra, e a perda de biodiversidade
registradas para outras localidades de são os principais fatores que levam à perda
Mata Atlântica, no entanto nosso registro das tradições (Santos-Fita et al., 2006).
ampliou a distribuição geográfica das Durante nossas coletas, conversando
mesmas. Cyphomyrmex grupo rimosus com cinco moradores da região,
está sendo estudada pela doutora Emília identificamos alguns nomes
Albuquerque do Museu Paraense Emilio tradicionalmente utilizados para se
Goeldi e Strumigenys é tema do estudo referirem a certas espécies de formigas, o
desenvolvido pelo doutorando Thiago que na etnobiologia chamamos de
Sanchez Ranzani da Silva na Universidade taxonomia popular:
Federal do Paraná. Formiga estalo ou formiga estralo - são
nomes utilizados para designar as
94
caçarema é a formiga Azteca chartifex, da espécie Pachycondyla villosa, que
que na Bahia são frequentemente provavelmente são conhecidas como
encontradas nos cacaueiros, e cujos onça pela coloração dos seus pelos,
ninhos feitos em árvores são amarelo dourados, ou devido a sua
semelhantes a ninhos de cupim ferroada dolorida. Esta denominação
(Delabie, 1988; Lenko e Papavero, não havia sido registrada
1996). anteriormente na literatura para esta
Pixixica ou pichichica - é conhecida por espécie. Em vários locais do Brasil, o
este nome principalmente na Bahia. nome formiga onça é utilizado para
Em outras regiões do Brasil e do designar vespas que não possuem asas
mundo a espécie Wasmannia do grupo Mutillidae (Nomura, 2001).
auropunctata também é conhecida
como formiga de fogo. São muito Embora possam ser temidas por uma
pequenas e amareladas, podem parcela da população, de modo geral as
ferroar e chegam a causar incômodos formigas apenas representam algum risco
quando se tornam praga em alguma para aquelas pessoas que têm alergia a
monocultura (Delabie, 1988; Souza et picadas de insetos, não sendo um animal
al., 2006) (Figura 56). peçonhento de importância médico
Formiga onça - na região este nome é sanitária.
usado para designar formigas grandes,
Figura 56: Operárias de Wasmannia auropunctata, formiga pixixica, cuidando dos imaturos no ninho
(larvas e pupas).
95
3.4.Conclusões
96
3.5.Referências
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102
4. BESOUROS-DO-
ESTERCO
103
Autor do capítulo de
Besouros-de-esterco
104
4.1.Introdução
105
Figura 57. O élitro (Elit) é uma estrutura comum a todos os Coleoptera e evoluiu exclusivamente nesse
grupo de insetos. (A) Callipogon armilatus (fam. Cerambycidae) evidenciando élitros e antenas (Ant)
do tipo filiforme; (B) Amerhynus sp. (fam. Curculionidae) evidenciando élitros e antenas do tipo
monoliforme; (C) um besouro rola-bosta do gênero Canthidium (fam. Scarabaeidae) evidenciando os
élitros e antena do tipo lamelada (desenho da estrutura quadro destacado).
106
Figura 58. (A) modos de utilização das fezes e (B) ciclo de vida básico dos besouros da família
Scarabaeidae. O ciclo de vida é caracterizado como holometábolo e passa pelas fases de ovo, larva,
pupa e adulto (adaptado de Halffter e Matthews 1966).
Tabela 7. Principais famílias e subfamílias, nome popular, número de espécies no mundo, número de
espécies no Brasil, hábito alimentar predominante (na região neotropical), método de coleta e
aplicação dos besouros Scarabaeoidea tratados no presente estudo.
Importância
Família e nº sp. nº sp. Hábito Método de
Nome popular ecológico-
Subfamílias mundo Brasil alimentar coleta
econômica
Scarabaeidae rola-bostas, vira bioindicadores,
pitfall com
(Scarabaeinae, bosta, besouros do 7000 800 fezes serviços
isca, FIT
Aphodiinae) esterco ambientais
Geotrupidae - 5000 +- 250 fungos FIT desconhecida
Melolonthidae Madeira,
escaravelhos, Algumas pragas
(Melolonthinae, frutos,
rinocerontes, 12000 3000 Luz agrícolas,
Dynastinae e folhas e
besouros de chifre polinização
Rutelinae raízes
107
A subfamília Scarabaeinae da outros besouros (Halffter e Edmonds,
família Scarabaeidae, foco principal deste 1982). É importante ressaltar que esses
estudo, é representada pelos besouros comportamentos são descrições básicas e
conhecidos como rola-bostas, vira-bostas que vários comportamentos derivados
ou besouros-do-esterco. Eles são evoluíram nessa família (Halffter e
importantes prestadores de serviços Edmonds, 1982). As fezes (quase sempre
ambientais como a ciclagem de nutrientes, de mamíferos) servem de substrato para
revolvimento do solo, aumento da alimentação da larva e para construção de
fertilidade do solo, controle de pragas em uma câmara que abriga as fases
fezes bovinas no pasto e, em alguns casos, subsequentes do ciclo de vida do rola-
dispersão primária e secundária de bosta (Figura 58).
sementes (Nichols et al., 2008, A dependência de fezes de
observações pessoais). A prestação desses mamíferos para a sobrevivência da maioria
serviços está intimamente ligada ao hábito das espécies, a relativa facilidade de coleta
de vida dos rola-bostas, que utilizam fezes e identificação, ampla distribuição e alta
para alimentação e construção de túneis e diversidade são fatores que tornam os rola-
galerias onde serão alocadas pelotas de bostas importantes bioindicadores
fezes que servirão de abrigo e alimento ambientais (Halffter e Favilla, 1993;
para a prole (Figura 58) (Halffter e Spector, 2006). Evidências publicadas
Edmonds, 1982). Existem diferentes sugerem que existem relações específicas
estratégias de construção de ninhos entre com a comunidade mamíferos - portanto
as espécies de Scarabaeinae: os algumas espécies de rola-bosta indicariam
telecoprídeos (roladores) rolam pelotas de a presença de algumas espécies mamíferos
fezes para depois enterrá-las; os (Culot et al., 2013). Nas comunidades de
paracoprídeos (escavadores) cavam túneis rola-bosta da Mata Atlântica algumas
e galerias logo abaixo da massa fecal
espécies deixam de ocorrer em ambientes
enquanto os endocoprídeos põe seus ovos perturbados enquanto o aumento na
na própria massa fecal (Figura 58) (Halffter abundância de outras pode estar associado
e Matthews, 1966). Existem ainda espécies com a própria pertubação em si
que são cleptoparasitas de ninhos, isto é,
(Hernandéz e Vaz-de-Mello, 2009). Rola-
se apropriam do ninho construído por bostas também são surrogates da
108
diversidade em ambientes tropicais, ou Neste estudo, nosso objetivo
seja, os valores de riqueza e abundância de principal foi realizar um levantamento de
rola-bosta são preditores de aspectos da besouros rola-bosta (Coleoptera:
diversidade de outros grupos (Caro e Scarabaeidae: Scarabaeinae) nas fazendas
Doherty, 1999). Barra do Tijuípe, municípios de Itacaré e
Uruçuca, Bahia, Brasil.
Existem cerca de 7.000 espécies de
rola-bosta descritas no mundo das quais Secundariamente, tivemos como
800 são catalogadas para o Brasil e objetivo: 1) acessar propriedades
seguramente mais de 200 podem ser bioindicadoras da fauna de besouros
atribuídas à Floresta Atlântica (Vaz-de- Scarabaeinae; 2) inventariar outras
Mello, 2000; Vaz-de-Mello, 2015 espécies de Scarabaeoidea com interesse
comunicação pessoal). Pode-se considerar ecológico, zoológico e/ou conservacionista
que existe um bom nível de conhecimento 3) sugerir tópicos de estudos envolvendo a
acerca de Scarabaeinae nos domínios de coleopterofauna e escarabeidofauna da
mata atlântica (Vaz-de-Mello, 2000). A região.
evolução desse conhecimento na forma de
publicação de estudos (em livros e
periódicos científicos) nos permite ter
bases para comparar essa família de
besouros em diferentes regiões da Mata
Atlântica, inclusive com a condição de usar
essa informação para inferir e interpretar
processos ecológicos. Além disso, um
levantamento de Scarabaeinae também é
uma possibilidade estender o
conhecimento básico sobre outros
Scarabaeoidea, visto que vários métodos
de coleta são coincidentes para os grupos e
que as espécies da superfamília têm
potencial para aplicações ecológicas,
agrícolas e conservação.
109
4.2.Métodos
110
Figura 59. Métodos de amostragem de besouros Scarabaeoidea nas fazendas Barra do Tijuípe,
Uruçuca, Itacaré/BA: (A) desenho esquemático do pitfall com iscas; (B) exemplo de pitfall com isca
montado em campo; (C) montagem de armadilha de interceptação de vôo; (D) exemplo de coleta em
luz utilizando foco e pano branco.
111
Figura 60. Mapa dos locais de amostragem de Scarabaeoidea nas fazendas Barra do Tijuípe (Áreas 1 e 2),
Uruçuca, Itacaré/BA.
112
Tabela 8. Tipo, número de réplicas, horas por réplica e horas de amostragem totais dos métodos utilizados
para coleta de Scarabaeinae nas Fazendas Barra do Tijuípe, Uruçuca, Itacaré-BA.
Tipo do método Nº de réplicas Horas por réplica Horas totais
Pitfall - fezes humanas 90 48 4320
Pitfall - coração bovino em
5 50 250
decomposição
Interceptação de vôo 10 96 960
Armadilhas de luz 8 3 24
Armadilhas com banana 10 40 400
Transectos 5 2 10
Total de horas de amostragem 5964
Entretanto, o pitfall com isca de de luz em alguns pontos da área (Figura 59;
fezes tem abrangência limitada para alguns Tabela 8). Besouros capturados em
Scarabaeinae e para todos os Geotrupidae armadilhas foram conservados em Álcool
e Melolonthidae. Para tentar capturar 100%, e besouros obtidos vivos foram
outros elementos da fauna de mortos utilizando-se câmara mortífera
Scarabaeoidea, foram instaladas com acetato de etila.
armadilhas de interceptação de vôo, que Para as coletas com pitfall e algumas
consiste de uma tela de 1,20 m de altura coletas ativas e com interceptação de voo
por 2,00 m de comprimento que captura foram estabelecidos nove linhas de
insetos que estejam se deslocando por voo. amostragem em diferentes tipos de
Quando bate na tela, o besouro cai em uma ambientes (Figura 60). Coletas ativas, em
bandeja com substância conservante focos de luz e utilizando fígado e banana
(álcool 70%) (Figura 59). em decomposição foram conduzidas em
Coletas ativas em cadáveres de diversos locais indicados na Figura 60.
animais, fígado em decomposição e busca
Processamento e análise de dados
em frutos podres também foram
Depois de depositados no setor de
conduzidas (Tabela 8). Para tentar capturar
Entomologia da Coleção Zoológica da
representantes de Melolonthidae e
Universidade Federal de Mato Grosso
Scarabaeidae foram feitas coletas em focos
[CEMT]
113
(http://splink.cria.org.br/manager/detail?r Em relação à inferência de
esource=CEMT), todos os indivíduos foram propriedades bioindicadoras dos besouros
contados e inseridos em um banco de rola-bosta, ressalta-se que a identificação
dados eletrônico. Para os rola-bostas correta da espécie é um passo inicial na
(Scarabaeidae, Scarabaeinae), a reunião das evidências que permitem
identificação foi baseada na chave de desenhar conclusões sobre essa fauna e
gêneros do continente americano (Vaz-de- suas propriedades indicadoras. Esse
Mello et al., 2011) e outras bibliografias. Os processo depende de uma identificação
Geotrupidae foram identificados com a segura e comparativa com exemplares
chave de Howden (1985) para o gênero devidamente depositados em uma coleção
Neoathyreus. Especificamente, essas entomológica e que possam ser acessados
identificações foram confirmadas pelo por qualquer pesquisador (Schilthuizen et
especialista Dr. Fernando Z. Vaz-de-Mello, al., 2015). Nesse sentido, apenas as
curador da coleção onde os exemplares espécies de rola-bosta identificadas
estão depositados (CEMT). A identificação seguramente serão tratadas e discutidas
de Melolonthidae procedeu, quando nesse âmbito. Em outras palavras, o nome
possível, utilizando-se Endrödi (1985). da espécie carrega diversas informações
Também foram conduzidas comparações com ele, daí ressalta-se a importância de
entre as identificações pelas chaves e o identificações criteriosas e que possam ser
acervo da CEMT. acessadas por qualquer pesquisador.
114
amostras subsequentes. Esse método não A relação da altitude com riqueza
foi estendido para outros tipos de coleta, dos ambientes foi testada utilizando-se
pois eles não foram padronizados em uma regressão linear simples com valores
termos de esforço amostral e por (de riqueza e altitude) transformados em
ambiente. (Log10)+1.
4.3.Resultados
115
Tabela 9. Lista de espécies de Scarabaeinae coletados em maio de 2013 (C1), abril de 2014 (C2) e junho de 2015 (C3) nas Fazendas Barra do Tijuípe, Itacaré-
BA e Uruçuca-BA. Nome e descritor da espécie; abundâncias nos pitfalls com fezes em nove áreas amostrais (consultar mapa – Figura 60); (res) restinga, (tb)
floresta de terras baixas, (sub) floresta submontana. Modo de utilização de recurso: (Tel) telecoprídeo, (Par) paracoprídeo, (End) endocoprídeo, (Opc) opcional,
(Des) desconhecido; distribuição geral da espécie, (AM) América do Sul, (MA) mata atlântica sensu lato, (MB) mata atlântica ao norte do Rio Doce, Espírito
Santo, (BA) restrito ao estado da Bahia, (SI) sem informações; métodos em que a espécie foi capturada (Pf) pitfall com fezes; (Pb) pitfall com restos bovinos,
(Luz) armadilha de luz, (Inv) interceptação de vôo, (Ba) banana, (Tr) transecto (coletas ativas). *registro próximo ao ponto
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Espécie, Autor C1 C2 C3 Total Ninho Distr. Método
res tb tb sub tb tb res tb res
SCARABAEIDAE: SCARABAEINAE
Ateuchus oblongus (Harold 1883) 10 18 2 2 8 20 30 End MA Pf,Inv,Ba,Tr
Ateuchus sp.1 3 2 1 3 1 2 6 End Pf
Canthidium pullus (Felsche 1910) 1 1 2 4 4 Par Des Pf
Canthidium sp.2 3 2 1 3 Par Pf
Canthidium sp. 3 1 1 1 Par Pf
Canthidium sp. 4 1 2 8 1 10 11 Par Pf,Fit
Canthon nigripennis Van Lansberge 1874 1 1 1 Tel MB Pf
Canthon curvodilatatus A. Schmidt 1820 2 2 2 Tel AM Pf
Canthonella barrerai (Halffter e Martínez Pf,Fit
100 208 2 1 1 68 5 48 207 130 385 Des MA
1968)
Coprophanaeus dardanus (MacLeay 1819) 5 9 10 2 1 14 11 26 Par MA Pf,Pb,Fit
Deltochilum brasiliense (Castelnau 1840) 1 1 1 Tel MA Pf
Dichotomius mormon (Ljungh 1799) 90 2 30 57 5 92 Par MA Pf
Dichotomius gp. sericeus (Harold 1867) 23 222 33 195 75 142 256 473 Par MA Pf,Pb,Fit,Tr
Dichotomius geminatus (Arrow, 1913) 26 1 1 22 4 27 Par MA Pf, Pb, Luz
116
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Espécie, Autor C1 C2 C3 Total Ninho Distr. Método
res tb tb sub tb tb res tb res
117
A curva de rarefação mostra que o bosta da Barra do Tijuípe é intermediário
número de espécies observado pode mesmo que tenhamos utilizado métodos
crescer com a repetição de mais amostras mais variados do que trabalhos que
de pitfall, o que é refletido no valor registraram números de espécies superior
estimado, estatisticamente diferente do (Tabela 10). A análise das espécies dessa
valor observado (Figura 61). A exploração comunidade (nas próximas seções desse
de mais amostras em diferentes estudo) indica a perda de espécies
ambientes, principalmente os mais ricos e relacionadas a mamíferos primatas e/ou
diversos, pode eventualmente obter mais que não suportam fortes perturbações.
espécies. Em pontos alagadiços (5 e 6), Entretanto, de antemão não se pode
como nas florestas de baixada, o esforço foi considerar a perda de serviços ambientais
comprometido pela perda de armadilhas por parte da comunidade biológica dos
pelo alagamento. ambientes amostrados, visto a alta
abundância de espécies capazes de
Em comparação com os valores de
processar quantidade expressiva de
riqueza obtidos em outras comunidades de
recursos, como observado em campo e
Scarabaeinae nos domínios da mata
descrito nas próximas seções.
atlântica, o número de espécies de rola-
Figura 61. Curva de rarefação para amostras de Scarabaeinae coletas em pitfall com isca.
118
Tabela 10. Comparação entre o número de espécies e o esforço amostral de coleta de besouros rola-bosta
(Scarabaeinae) em diferentes localidades da mata atlântica brasileira utilizando diferentes métodos de
captura em diferentes ambientes e referências para os inventários.
* localidades amostradas dentro de unidades de conservação. **apenas ambientes de restinga arbórea
foram amostrados. ND = informação não disponível.
Localidade, Estado Riqueza Esforço (h) Referência
Bertioga-SP 3 2.280 Seleção Natural 2015
Lauro-Müller-SC 7 1.440 Bett et al. 2014
Recife-PE* 11 5.760 Filgueiras et al. 2009
Bagé-RS 13 ND Silva 2011
Guriri-ES* 13 3.072 Vieira et al. 2008
Serra do Tabuleiro - Bogoni e Hernandéz 2014
17 2.280
SC*
Desterro (UCAD)-SC* 17 1.104 Silva 2015
Serra do Mar-SP* 19 20.160 Uehara-Prado et al. 2009
Viçosa-MG 21 9.216 Louzada e Lopes 1997
Florianópolis e prox.-SC 21 3.840 Silva e Hernandéz 2014
Barra do Rio Tijuípe- presente estudo
21 5.964
BA
Londrina-PR 27 6.912 Lopes et al. 2011
Silveira Martins-RS 28 11.520 Silva e Di Mare 2012
Missiones-ARG 28 3.840 Peyras et al. 2013
Parque das Neblinas- Seleção Natural 2015
28 1.444
SP*
Mamanguape-PE 29 10.368 Endres et al. 2007
Londrina-PR 29 60.480 Korasaki et al. 2013
Rio dos Sinos-SC 29 6.912 Viegas et al. 2014
Nordeste (várias Filgueiras et al. 2011
30 36.480
localidades)
Santa Maria-RS 33 93.912 Silva et al. 2013
Campos Novos-SC 33 9.600 Campos e Hernandéz 2013
Costa do Cacau-BA 35 ND Clarissa P.M. Leite com. Pess.
Serra do Japi-SP* 39 13.824 Hernández e Vaz-de-Mello 2009
Igarassú-PE* 40 27.684 Silva et al. 2010
Serra do Mar-SP* 58 6.720 Culot et al. 2013
119
Diversidade de rola-bostas por Coprophanaeus dardanus, Phanaeus
ambientes splendidulus). Algumas espécies como
Em relação aos ambientes Canthon curvodilatatus e Deltochilum
amostrados, a riqueza variou de uma brasiliense estão restritas à floresta
espécie, no ponto 1 (restinga) até 14 submontana (Figura 62; Tabela 9).
espécies nos pontos 3 e 4 (floresta de Streblopus opatroides, Canthidium sp.3 e
terras baixas e submontana, Uroxys sp.1 foram encontradas apenas em
respectivamente) (Tabela 9; Figura 62). fisionomia de floresta de terras baixas
Quando se leva em conta tipos de (Figura 62; Tabela 9). Dichotomius mórmon,
ambientes, observamos que a fauna da Canthon nigripennis e Eurysternus hirtellus
barra do rio Tijuípe é em grande parte são exclusivas de ambientes de restinga
formada por espécies generalistas de enquanto Canthonella barrerai ocorrem
ambientes florestais ocorrendo tanto nas tanto em restingas quanto em florestas
florestas de terras baixas quanto em (em maior número nessas) (Tabela 9).
submontana (Onthophagus haematopus,
Canthidium pullus, Ateuchus oblongus,
120
Figura 62. Tipos de ambientes amostrados na barra do Tijuípe, respectivos valores de riqueza, relação
com altitude e espécies típicas e/ou exclusivas dos tipos de ambientes.
121
em outras regiões tropicais (Estrada e haematopus (as três mais abundantes),
Coates-Estrada, 2002; Shahabudin et al., Canthon nigripennis, Coprophanaeus
2005) sendo que nas fazendas da Barra do dardanus, Deltochilum brasiliense,
Rio Tijuípe, os plantios antigos de cacau Pseudocanthon xanthurus e Dichotomius
sombreados podem favorecer o aumento mormon (Figuras 63 e 64). Essas espécies
da diversidade de Scarabaeinae, são comuns em diversos levantamentos e
promovendo um ciclo de produção de não possuem exigência de qualidade de
serviços ambientais, o que permitiria a habitat para ocorrerem, estando presentes
entrada e manutenção de mais espécies na desde ambientes altamente perturbados
comunidade. Em longo prazo isso poderia até áreas preservadas (Almeida e Louzada
favorecer, além dos Scarabaeinae, outros 2009, Silva et al. 2011, Silva e Di Mare 2012,
taxa e a saúde geral dos ecossistemas da Campos e Hernandéz 2013, Culot et al.
Barra do Rio Tiujípe. O ponto 4 também foi 2013, Peyras et al. 2013, Silva et al. 2013).
o único a registrar uma espécie de Isso também se estende a Dichotomius
Scarabaeinae em frutos em decomposição: geminatus em ambientes de restinga
Ateuchus oblongus, que foi encontrado (Louzada et al., 1996, Vieira et al. 2008-
tanto em banana em decomposição Figura 63). A alta abundância dessas
quanto em frutos podres de jaca, durante espécies indica que os sistemas
coletas ativas nesse ambiente. amostrados possuem os serviços
ambientais ativos havendo ciclagem e
O quer espécies de besouros-rola- processamento de matéria orgânica.
bosta podem indicar Algumas dessas espécies, como Phanaeus
A escarabeidofauna do Tijuípe é splendidulus, Coprophanaeus dardanus, e
dominada por elementos amplamente Dichotomius gp. sericeus foram observados
distribuídos em Floresta Atlântica, isso se removendo massas fecais e/ou arrastando
estende a Dichotomius gp sericeus, carcaças em decomposição (Figura 64).
Canthonela barrerai, Onthophagus
122
Figura 63. Besouros rola-bosta das fazendas Barra do Tijuípe. (A) Dichotomius mormon, (B)
Coprophanaeus dardanus, (C) Phanaeus splendidulus, (D) Ateuchus oblongus, (E) Ontherus zikani, (F)
Dichotomius gp. sericeus, (G) Canthidium pullus, (H) Onthophagus haematopus, (I) Dichotomius
geminatus, (J) Canthon nigriceps, (K) Deltochilum brasiliense.
123
Figura 64. Besouros rola-bosta das fazendas Barra do Tijuípe. (A) Canthonella barrerai, (B) macho de
Phanaeus splendidulus, (C) Dichotomius mormon, (D) Dichotomius gp. sericeus, (E) fêmea de Phanaeus
splendidulus em massa fecal.
124
Nota-se de imediato na et al., 2008). Algumas espécies de rola-
escarabeidofauna da Barra do Tijuípe a bosta apresentam relações ecológicas tão
ausência de elementos que sejam restritos intrínsecas com grandes primatas a ponto
ou endêmicos da região do sul da Bahia, de buscar a região anal destes mamíferos
tido como um refúgio de diversidade atual para ter primeiro acesso às fezes (Jacbos et
e histórico (Carnaval et al., 2008; 2009), al., 2008). Relações extremamente
com alto relato de endemismos, inclusive específicas com fezes de anta e espécies
para rola-bostas (observações pessoais). que vivem em pelagem de preguiças
Apenas Phanaeus splendidulus é atribuído (gênero Bradypodidium Alarcón et al.,
a áreas mais preservadas principalmente 2009) são exemplos de quanto a fauna de
em UC's (Silva et al., 2011). Tampouco, mamíferos é um fator determinante para a
registraram-se espécies que possuam fauna de Scarabaeinae.
relações específicas com mamíferos, como
é usualmente relatado para alguns habitats
Dynastes hercules paschoali
originais Mata Atlântica (Culot et al., 2013).
Uma fêmea de Dynastes hercules
Como quadro geral, essa composição de
paschoali foi coletada em ponto de luz nas
Scarabaeinae aponta para habitats
proximidades do ponto 5. Dynastes
perturbados e com pouca disponibilidade
hercules paschoali pertence à família
de recursos providos por mamíferos chave
Melolonthidae, subfamília Dynastinae
como os primatas. Contudo esses habitats
(alguns autores consideram como família
estão ecologicamente ativos e, portanto,
Scarabaeidae) e é uma das maiores
em condições de restauração de processos
espécies de Coleoptera da Mata Atlântica
ecológicos e sucessão de espécies.
sendo também considerada uma espécie
A ausência de grandes primatas é
brasileira ameaçada de extinção, na
considerada como um importante fator
categoria vulnerável (VU) e criticamente
que reduz a riqueza de espécies
ameaçada (CR) no estado do Espírito Santo
especialistas de Scarabaeinae em
(Figura 65) (Grossi et al. 2008). Ocorre em
ambientes de Mata Atlântica (Culot et al.,
florestas abaixo de 150 metros de altitude
2013), além de ser amplamente relatada na
e a maioria dos registros se encontram em
Amazônia brasileira (Vulinec, 2002; Jacobs
municípios baianos relativamente
125
próximos à área de estudo (Una, Itabuna, obras de arte visual, esculturas e
Porto Seguro, Ilhéus e Alcobaça) (Grossi et souvenires (Figura 65) e, portanto, pode ser
al., 2008). Este registro é extremamente considerada uma espécie bandeira – uma
importante, pois caracteriza as áreas de espécie que representa uma causa de
florestas das fazendas como mantenedoras conservação ambiental e cuja conservação
das populações dessa espécie. D. hercules auxilia direta e indiretamente na
é uma espécie muito apreciada por conservação de outras espécies (Primack e
colecionadores e criadores, tendo inclusive Rodrigues, 2002). A admiração e
guias completíssimos para criação em importância desse inseto contrasta com a
cativeiro (Amat et al., 2005). Também é falta quase completa de conhecimento
uma espécie com alto valor simbólico, visto sobre sua história natural em ambientes de
que é constantemente retratada em selos, Mata Atlântica (Grossi et al., 2008).
126
Figura 65. Dynastes hercules paschoali: uma espécie ameaçada vulnerável e com alto valor
conservacionista e simbólico. (A) macho de Dynastes hercules, fonte: www.bioligado.com.br; (B) selos
postais contendo desenhos da espécie; (C) fêmea de Dynastes hercules paschoali coletada em
armadilha de luz na barra do rio Tijuípe, Itacaré-BA; (D) símbolo do grupo de um dos mais respeitados
grupos de pesquisa em Coleoptera, Scarabaeoidea na Universidade de Nebraska; (E) escultura de
Dynastes hercules; (F) colar feito com élitros de machos de Dynastes; (G) Edward Wilson, um dos
maiores naturalistas vivos com um macho de Dynastes hercules, Wilson tratou de parte do
comportamento desse gênero no aclamado livro Sociobiology; (H) souvenires com a temática da
espécie, fonte: www.inkart.net; (I) representação artística de um Dynastes antropomorfo, feito por
Yuri Y. em http://empty-can.deviantart.com/.
127
Melolonthinae Rio Tijuípe, as três espécies registradas
espécies, com muitas a descrever (Endrödi, aparenta ser muito rara, visto a sua quase
extremamente importante de duas formas, ainda não havia sido depositada em uma
128
Figura 66. Outros escaravelhos pertencentes à superfamília Scarabaeoidea. (A) Neoathyreus
purpureipennis e (B) Neoathyreus anthracinus, ambos da família Geotrupidae, coletados com
armadilha de interceptação de voo em floresta submontana. (C, D, E) três espécies pertencentes ao
gênero Cyclocephala, um dos mais diversos do reino animal. Barra de escala = 5 mm.
4.4.Conclusões
129
habitats preservados. Entretanto, dada a Linneniano, que pode ser definido como a
abundância e atividade das espécies, impossibilidade de se extrair dados de
considera-se que existe prestação de história natural de muitas espécies
serviços ecológicos do grupo biológico nos simplesmente porque não as conhecemos,
ambientes amostrados. e se conhecemos, elas ainda são
superficialmente descritas (Cardoso et al.,
Ações de reintrodução de grandes
2011). Nesse sentido, iniciativas que
primatas e outros mamíferos podem ser
estimulem a coleta de dados primários
monitoradas pela fauna de rola-bostas
envolvendo Coleoptera e outros
cujas espécies podem indicar a
invertebrados podem gerar informações
disponibilidade de recursos desses
valiosas como catálogos em nível de
mamíferos. Além de ser um estudo com
famílias, descrição de novas espécies,
abordagem inédita, é possível coletar mais
inventários e estudos ecológicos mais bem
dados importantes acerca de espécies de
detalhados e úteis.
rola-bostas na região, principalmente no
que tange à inferência de informações de Nesse sentido, esse levantamento,
bioindicação. A amostragem em áreas de apesar de ser focado em besouros de uma
significância biológica que estejam família, coletou dados importantes para as
próximas a área de estudo, como a Serra do famílias Geotrupidae e Melolonthidae.
Conduru, podem fornecer dados que Para essa última, o registro de Dynastes
permitirão entender ainda melhor alguns hercules paschoalli é de importância
aspectos dos ambientes aqui tratados. conservacionista em vários aspectos. Assim
como para todas as outras espécies, saber
Concomitantemente, a
acerca de aspectos naturais básicos dessa
continuidade de estudos envolvendo
espécie in situ pode ser decisivo para a
Coleoptera na região é de grande
conservação de suas populações (Cardoso
significância zoológica e taxonômica.
et al, 2011).
Apesar de a taxonomia ter sido iniciada em
1759 pelo sueco Carl Linnaeus, uma
enorme porção da diversidade de
Coleoptera existente ainda não foi
catalogada e nem sequer descrita. A esse
fenômeno damos o nome de impedimento
130
Agradecimentos coletou um indivíduo de Dichotomius
4.5.Referências
131
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135
5. BORBOLETAS
136
Autores do capítulo de
Borboletas
137
5.1.Introdução
138
do semiárido baiano e da região da Serra 1984; Diniz e Morais, 1995; Uehara-Prado
da Jibóia. Com exceção de estudos focados e Fonseca, 2007). O tempo de
em um único táxon, até o presente desenvolvimento até a fase adulta (Figura
trabalho não houve nenhum levantamento 67b) pode ser de algumas semanas até
Forestiero, 1985; DeVries, 1987; Brown e Heliconius vivem em média três a quatro
parte das espécies de borboletas possui poucos indivíduos esparsos até agregações
específica, ou seja, borboletas com apenas animais mortos (DeVries, 1987; Brown e
uma espécie de planta hospedeira (Ehrlich Freitas, 1999; Freitas et al., 2006) e são
e Raven, 1965; Vane Wright e Ackery, conhecidas como frugívoras. Grande parte
139
das borboletas e mariposas diurnas Borboletas em programas de
complementa a sua dieta sugando sais conservação
acumulados nas margens de rios, poças ao Podemos afirmar que praticamente
sol e areia úmida (DeVries, 1987; Tyler et qualquer espécie é capaz de servir como
al., 1994). indicadora para um determinado conjunto
de condições ecológicas às quais se
adaptou durante o processo evolutivo e
que seriam próximas às ideais em seu
habitat original. Os impactos ambientais
levam à perturbação deste conjunto das
condições ideais para muitas espécies, as
quais podem ter diferentes respostas,
como indiferença, declínio ou até aumento
populacional (Brown, 1991; Meffe e Carrol,
A 1997).
Figura 67: Exemplos dos estágios de Pelo fato da maioria das borboletas
desenvolvimento de borboletas: (A) larvas e
serem grandes, coloridas e de fácil
(B) adulto.
identificação, o grupo tem sido eleito um
dos melhores organismos para serem
utilizados como bandeiras para programas
de conservação e como bioindicadores
140
para monitoramento ambiental (Brown, Recentemente, a organização GEO BON
1991, 1996a, 1996b, 1997, Brown e Freitas, (Group on Earth Observations –
1999; Kremen, 1992; New, 1997, Costa- Biodiversity Observation Network)
Pereira et al., 2013, Nobre et al., 2014). publicou diretrizes globais para o
Medições de diversidade e técnicas de monitoramento padronizado de
avaliação da integridade nas comunidades borboletas (van Swaay et al. 2015),
de borboletas encontram-se bem baseado em parte no programa brasileiro
descritas, e um monitoramento pode ser de monitoramento, o que amplia ainda
efetuado com confiança satisfatória (New, mais a possibilidade de utilização desse
1997). Além disso, borboletas possuem um grupo de insetos em programas de
grande carisma, e foram utilizadas com conservação em todo o planeta.
sucesso em programas de conservação que
Status de Conservação
envolveram a população leiga e
A despeito do enorme potencial,
comunidades tradicionais (Pollard e Yates,
pode-se dizer que os insetos tem sido um
1993; Brown e Freitas, 2002; Raimundo et
dos grupos menos visados em programas
al., 2003). As borboletas das famílias
de conservação no Brasil, e foram muito
Nymphalidae, Papilionidae e Pieridae
pouco utilizados até o momento para
(grupo “NPP”) estão entre as mais
subsidiar o manejo de áreas protegidas
estudadas e são fáceis de reconhecer no
(Lewinsohn et al., 2005). Por outro lado,
campo, e, portanto, são muito úteis na
alguns insetos (em especial borboletas,
elaboração de levantamentos locais
libélulas e besouros) são coletados e
(Brown e Freitas apud Uehara-Prado et al.,
criados há mais de 200 anos
2004).
(especialmente no sul do Brasil) para uso
Dada a importância de alguns grupos em artesanato, o que levou a uma
de borboletas, e sua facilidade em serem exploração intensa de algumas espécies,
amostrados e identificados, eles foram como as borboletas azul-metálicas do
recentemente incluídos como grupo chave gênero Morpho (Nymphalidae) (Carvalho e
no monitoramento in situ da Mielke, 1971; Brown, 1992). No entanto,
biodiversidade em unidades de todas as borboletas que constam na lista
conservação federais no Brasil (Costa- de espécies ameaçadas apresentam tal
Pereira et al., 2013; Nobre et al.; 2014).
141
status devido à perda de seus habitats espécies de 233) dos invertebrados
(MMA, 2014). terrestres incluídos na última lista
vermelha de espécies ameaçadas (MMA,
A borboleta Parides ascanius
2014), sendo que maior parte dessas
(Papilionidae) foi o primeiro invertebrado
espécies pertencem ao bioma Mata
listado como ameaçado de extinção no
Atlântica.
Brasil (IBDF, 1973). Após isso, diversas
listas estaduais e nacionais de espécies Dentre as borboletas que constam na
ameaçadas foram produzidas incluindo um "listas das espécies da fauna brasileira
número crescente de borboletas: 25 ameaçadas de extinção" (MMA, 2014), no
espécies em 1989 (IBAMA, 1989), 57 "livro vermelho da fauna brasileira
espécies em 2003 (MMA, 2003) e 63 em ameaçada de extinção" (Machado et al.,
2014 (MMA, 2014). Como resultado de sua 2008), e em Freitas et al. (2011), oito
relevância e conspicuidade entre os espécies apresentam possível ocorrência
invertebrados, em 2014 a ordem na região (Tabela 11).
Lepidoptera representava mais de ¼ (63
5.2. Métodos
142
matas, pontos com areia ou rocha úmida). requererem mínimas restrições
Além disso, a utilização conjunta de metodológicas (Royer et al., 1998), as
diferentes técnicas de captura (buscas amostragens maximizadas são bastante
ativas e armadilhas), e da cobertura do flexíveis, dando possibilidades para a
maior número possível de fatores tomada imediata de decisões em situações
favoráveis (recursos, ambientes e horários inesperadas que influenciem a presença ou
do dia) pode proporcionar a maximização ausência de borboletas (chuvas e ventos
dos dados obtidos num breve período de fortes, surgimento de clareiras em mata,
tempo (Brown, 1972; Tyler et al., 1994; poda de flores em jardins).
Uehara-Prado e Ribeiro, 2012). Por
Categoria de
Espécie Habitat Ocorrência Observações
ameaça
Nymphalidae
matas quentes e
Eresia erysice criticamente úmidas em
sul da Bahia -
erysice ameaçada altitudes baixas
(até 400 m)
matas de transição planta hospedeira:
Heliconius
vulnerável em serras acima de sul da Bahia Tetrastylis ovalis
nattereri
600m (Passifloraceae)
transições de
Hyalyris criticamente sem registros há mais de
serras baixas em BA, ES e RJ
fiammetta ameaçada 50 anos
altitudes médias
baixadas próximas ovos colocados em folhas
Mcclungia cymo
ameaçada a matas alagadas Itamaraju (BA) de Cestrum spp.
fallens
(até 300 m) (Solanaceae)
matas de cabruca e
Melinaea mnasias criticamente florestas bem
sul da Bahia -
thera ameaçada preservadas (entre
400 a 500 m)
Napeogenes rhezia adultos se concentram em
vulnerável matas de baixada Itamaraju (BA)
rhezia bolsões de umidade
Papilionidae
florestas abertas
Heraclides himeros criticamente até matas mais Caitité (BA),
-
baia ameaçada secas (de 300 a 900 Palmares (BA)
m)
Pieridae
criticamente florestas primárias ES e sul da
Perrhybris flava -
ameaçada de Mata Atlântica Bahia
143
Figura 68: Localização das áreas de amostragem e cobertura florestal da região de Barra do Tijuípe,
Bahia.
144
Seguem abaixo os detalhamentos agitado na ponta de uma vareta (Figura
das duas principais técnicas utilizadas para 69b). Na amostragem maximizada, plantas
o presente inventário de borboletas: hospedeiras são inspecionadas na busca
por lagartas (Figura 69f). Algumas
- Busca Ativa
modificações a partir do método original
O método de busca ativa é o mais foram utilizadas para maximizar a
usado para o estudo de populações e possibilidade de captura de novas
comunidades de borboletas, onde as espécies, explorando todo o potencial de
espécies são contadas ao longo de vias de hábitos e habitats que esses grupos
acesso existentes na área de estudo possam ter. Espécies com picos de
(trilhas e estradas). As espécies avistadas atividade em horários diferentes da
são registradas, fotografadas (Figura 69e) maioria dos grupos, como alguns
ou, se necessário, capturadas para Brassolinae (Nymphalidae) crepusculares
identificação com o auxílio de uma rede (Freitas et al., 1997), foram amostrados
entomológica (veja Iserhard e próximos ao pôr do sol, com o auxílio da
Romanowski, 2004) (Figura 69a).
lanterna de um veículo acesa (Figura 69d).
Complementarmente algumas espécies de Outra prática associada à busca ativa é
Papilionidae e muitas espécies do gênero espalhar ao longo dos trechos a serem
Morpho (Nymphalidae) podem ser atraídas percorridos iscas atrativas (normalmente
por uma técnica relatada por D’Almeida alimento, ver Armadilhas, abaixo), para
(1966) e descrita por Uehara-Prado e
que as chances de que borboletas ocultas
Ribeiro (2012), onde borboletas cujos ou longe da trilha sejam atraídas para o
machos possuem hábito agressivo e campo de visão do pesquisador (Figura
territorial são atraídos por um lenço 69c).
145
A B
C D
E F
Figura 69: Método de busca ativa com (A) rede entomológica, (B) técnica do lenço, (C) iscas atrativas,
(D) coleta crepuscular, (E) fotografia e (D) busca por lagartas em folhas de Cecropia (embaúba,
Urticaceae).
146
- Armadilhas isca (Figura 70). A armadilha VSR (sigla para
Van Someren-Rydon; DeVries, 1987) (Figura
Algumas guildas de borboletas podem ser
70a) é o método mais usado para estudar
capturadas com armadilhas contendo
borboletas por captura passiva.
frutas fermentadas, fezes e plantas como
A B
C D
147
E F
Figura 70: Armadilhas: (A) instalação da armadilha Van Someren-Rydon (VSR); (B) isca de banana
fermentada; (C) Pharneuptychia sp. atraída pela isca; (D) armadilha de solo; (E) revisão da armadilha
de solo; (F) armadilha em dossel.
148
5.3.Resultados
Floresta Floresta de
Rótulos de Linha Área Aberta Restinga Total
Submontana Terras Baixas
Nymphalidae 253
Adelpha aff. cocala 1 1
Adelpha plesaure 1 1 2
Agraulis vanillae 3 3
Anartia jatrophae 1 1
Antirrhea archaea 1 1 2
Archaeoprepona demophon 1 1
Caligo idomeneus 1 1
Caligo illioneus 1 1 1 3
Catonephele acontius 1 1
Catonephele numilia 2 2
Chloreuptychia agatha 1 1 2
Chloreuptychia arnaca 4 2 6
Chloreuptychia chlorimene 2 2
Chlosyne lacinia 1 1
Cissia myncea 1 2 3
Cissia terrestris 7 1 7 15
Colobura dirce 1 1 2
Dione juno 2 1 3 6
Dryadula phaetusa 1 1 2
Dryas iulia 2 1 3
Dynamine athemon 5 5
Eresia perna 1 1
Erichthodes antonina 8 3 11
Eueides isabella 2 2 1 5
Euptoieta hegesia 1 1
Eurema nise 1 1
Haetera piera 1 2 3
Hamadryas amphinome 1 1
Hamadryas arinome 1 1
149
Floresta Floresta de
Rótulos de Linha Área Aberta Restinga Total
Submontana Terras Baixas
Heliconius cf. numata 5 1 1 7
Heliconius erato 3 2 10 15
Heliconius sara 4 2 1 7
Hermeuptychia sp. 5 15 2 9 31
Historis acheronta 1 1
Hypothyris sp. 1 1
Junonia evarete 2 2
Magneuptychia libye 2 4 6
Magneuptychia sp.1 2 2
Marpesia chiron 1 1
Mechanitis lysimnia 1 1 2
Mechanitis polymnia 2 2
Morpho helenor 1 2 7 10
Myscelia orsis 6 2 8
Ortilia ithra 1 1
Pareuptychia ocirrhoe 1 4 1 2 8
Paryphthimoides poltys 2 1 3
Paryphthimoides sylvina 1 1 2
Peria lamis 3 3
Pharneuptychia cf.
romanina 1 6 14 5 26
Philaethria wernickeii 1 1 2
Pierella lamia 1 4 5
Pseudodebis celia 3 3
Pyrrhogyra neaerea 1 1
Taygetis cleopatra 3 3
Taygetis echo 6 6
Taygetis laches 1 1
Taygetis virgilia 1 1
Yphthimoides manasses 1 1 2
Yphthimoides renata 1 1 1 3
Papilionidae 1
Heraclides astyalus 1 1
Pieridae 22
Anteos clorinde 1 1
Ascia monuste 1 1 2
Dismorphia amphione 1 1
Eurema agave 1 1
Eurema albula 1 1
Eurema elathea 2 2
Leucidia elvina 2 2
Phoebis argante 2 2
Phoebis philea 2 2
Phoebis sennae 3 3
Phoebis statira 2 2
Pseudopieris nehemia 1 1
Pyrisitia nise 1 1 2
Total geral 62 102 38 74 276
150
1ª campanha (2013) 2ª campanha (2014) 3ª campanha (2015)
118
107
51 48
39
33
Abundância Riqueza
Figura 71: Abundância e riqueza de borboletas ao longo das campanhas no programa de conservação
da biodiversidade da Barra do Tijuípe (BA).
Papilionidae 1 19 4 3 2
Pieridae 13 25 13 12 9
Nymphalidae 59 218 82 60 54
Barra do Tijuípe Linhares (Norte do ES) Chapada Diamantina (BA) Serra da Jibóia (BA) Serra da Fumaça (BA)
Figura 72: Número de espécies de borboletas registradas em campo e obtidas através de dados
secundários.
151
Os cinco taxa mais abundantes gênero Phoebis (Pieridae), apesar de
(Figura 73) foram Hermeuptychia sp., contarem com poucos registros, foram
Pharneuptychia cf. romanina, Heliconius visualizadas com grande frequência em
erato, Cissia terrestris, e Erichthodes toda as áreas.
antonina. Outras borboletas, como as do
152
35
30
25
20
15
10
Figura 73:Abundância de borboletas registradas na Barra do Tijuípe. As espécies listadas como "outras" possuem abundância igual a um.
153
A curva do coletor para as espécies alta probabilidade de inclusão de novas
de borboletas, que ilustra quantas novas espécies mediante aumento de coletas. Os
espécies são adicionadas com o aumento ambientes florestais, principalmente a
do esforço de amostragem, mostra pontos floresta ombrófila, possuem o potencial de
específicos de crescimento acentuado abrigar um número grande de espécies, as
(Figura 74). O gráfico indica baixas quais precisam de novas amostragens para
perspectivas de estabilização, ou seja, a serem detectadas.
80 73 73
70
67
70
59 61
60
Número de espécies
49 50 51
50 42
37 39
40 33
30 25
19
20
11
10 6
1
0
10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180
1ª campanha 2ª campanha 3ª campanha
Horas de amostragem
Figura 74: Acúmulo de espécies de borboletas registradas na Barra do Tijuípe ao longo das três
campanhas.
borboletas (Figura 75) foi bastante restinga, com apenas 12 espécies. Isso
154
diversidades de alimento (flores, frutos e abertas (22%) e das florestas de terras
plantas hospedeiras) e abrigos. baixas (27%). Nenhuma borboleta foi
registrada nas áreas de mangue, e de fato
O maior número de indivíduos (Figura
são esperadas apenas visualizações
76) também foi encontrado nas florestas
ocasionais nesse ecossistema uma vez que
submontanas (37%), seguindo das áreas
ele é inóspito para maioria desses insetos.
Floresta de
Terras Baixas Área Aberta
31 35
Restinga
12
Floresta
Submontana
42
Figura 75: Distribuição da riqueza de borboletas nas diferentes fitofisionomias da Barra do Tijuípe.
Floresta
Restinga Submontana
14% 37%
Figura 76: Distribuição da abundância de borboletas nas diferentes fitofisionomias da Barra do Tijuípe.
155
Foi possível elaborar uma lista Pereira et al., 2013; Nobre et al.; 2014),
(Tabela 13) contendo 38 borboletas focando recursos e mão de obra em um
consideradas boas bioindicadoras de único grupo com respostas garantidas. O
mudança no estado de conservação de um monitoramento contínuo com espécies
determinado local, que são as borboletas bioindicadores permite compreender o
que se alimentam de frutos (frugívoras) ou estado de conservação de um bioma como
borboletas da tribo Ithomiini. um todo, e acompanhar ao longo do tempo
Conhecer quais são as espécies o crescimento e/ou redução de processos
indicadoras, seus hábitos e os locais em de recuperação e/ou degeneração
que elas ocorrem, permite utilizá-las florestal, que por sua vez abre
diretamente em programas de possibilidades mais rápidas de intervenção
monitoramento da biodiversidade (Costa- ou manejo.
Hábito Status de
Espécie Nome popular
alimentar conservação
Biblidinae
Ageroniini
Hamadryas amphinome estaladeira frugívora não preocupante
Hamadryas arinome estaladeira frugívora não preocupante
Catonephelini
Catonephele acontius borboleta frugívora não preocupante
Catonephele numilia borboleta frugívora não preocupante
Myscelia orsis borboleta frugívora não preocupante
Epiphilini
Peria lamis borboleta frugívora não preocupante
Pyrrhogyra neaerea borboleta frugívora não preocupante
Charaxinae
Preponini
Archaeoprepona demophon borboleta frugívora não preocupante
Danainae
Ithomiini
Mechanitis lysimnia borboleta nectarívora não preocupante
Mechanitis polymnia borboleta-tigre nectarívora não preocupante
Nymphalinae
Coeini
Historis acheronta borboleta frugívora não preocupante
Nymphalini
Colobura dirce borboleta-zebra frugívora não preocupante
Satyrinae
Brassolini
Caligo idomeneus olho-de-coruja frugívora não preocupante
Caligo illioneus olho-de-coruja frugívora não preocupante
156
Hábito Status de
Espécie Nome popular
alimentar conservação
Haeterini
Haetera piera borboleta frugívora não preocupante
Pierella lamia borboleta frugívora não preocupante
Morphini
Antirrhea archaea borboleta frugívora não preocupante
Morpho helenor capitão-do-mato frugívora não preocupante
Satyrini
Chloreuptychia agatha borboleta frugívora não preocupante
Chloreuptychia arnaca borboleta frugívora não preocupante
Chloreuptychia chlorimene borboleta frugívora não preocupante
Cissia myncea borboleta frugívora não preocupante
Cissia terrestris borboleta frugívora não preocupante
Erichthodes antonina borboleta frugívora não preocupante
Hermeuptychia sp. borboleta frugívora não preocupante
Magneuptychia libye borboleta frugívora não preocupante
Magneuptychia sp.1 borboleta frugívora desconhecido
Pareuptychia ocirrhoe borboleta frugívora não preocupante
Paryphthimoides poltys borboleta frugívora não preocupante
Paryphthimoides sylvina borboleta frugívora não preocupante
Pharneuptychia cf. romanina borboleta frugívora desconhecido
Pseudodebis celia borboleta frugívora não preocupante
Taygetis cleopatra borboleta frugívora não preocupante
Taygetis echo borboleta frugívora não preocupante
Taygetis laches borboleta frugívora não preocupante
Taygetis virgilia borboleta frugívora não preocupante
Yphthimoides manasses borboleta frugívora não preocupante
Yphthimoides renata borboleta frugívora não preocupante
5.4.Conclusões
De modo geral, os dados coletados dados obtidos, recomenda-se
até o momento indicam que a Barra do primeiramente a continuação do
Tijuípe possui um potencial muito grande inventário de espécies, o qual pode,
de ocorrência de espécies de borboletas, inclusive, ser executado em parceria com a
visto que as maiores taxas locais de riqueza própria comunidade local (ver Costa-
deste grupo se concentram no bioma da Pereira et al., 2013, Nobre et al.; 2014 e
Mata Atlântica, principalmente nas Santos et al., 2014).
florestas ombrófilas densas. A partir dos
157
5.5.Guia de observação de borboletas na Barra do Tijuípe
Nas próximas páginas você Utilizando algumas das dicas descritas nos
encontrará um guia fotográfico exclusivo "métodos" nas suas buscas e caminhadas,
para a Barra do Tijuípe, que permitirá a a observação de borboletas pode ser
identificação da maioria das espécies de tornar um passatempo prazeroso e
borboletas encontradas neste estudo. contagiante.
Família Pieridae
Mechanitis polymnia
158
Família Nymphalidae - Subfamília Biblidinae
159
Peria lamis (ventral) Peria lamis (dorsal)
160
Dryas iulia (ventral) Dryas iulia (dorsal)
161
Heliconius erato (ventral) Heliconius erato (dorsal)
162
Colobura dirce Junonia evarete
163
Antirrhea archaea Haetera piera
164
Magneuptychia libye Pharneuptychia romanina
Taygetis virginia
165
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RECOMENDAÇÕES E FUTURAS AÇÕES
170
1.1.Manejo de abelhas
1. Abelhas
Meliponini
2.1. Continuidade do
inventário
3.2.Elaboração de
material para divulgação
da fauna
4.1.Continuidade do
inventário
4. Besouro-do-esterco
4.2.Biomonitoramento
com uso da fauna de
besouros-do-esterco
5.1.Monitoramento com
5. Borboletas participação da
comunidade
171
Detalhamento das ações propostas:
1. Abelhas
Manejo de abelhas Meliponini em colmeias racionais. A. Abelha jataí (Tetragonisca angustula) em colmeia
racional; B. Potes de mel da abelha jataí.
172
diretamente para a polinização de importantes plantas cultivadas, tais como
morango, cupuaçu, tomate, abacate, pepino e outras, aumentando a produção
e melhorando a qualidade dos frutos (Roubik, 1995; Kevan e Imperatriz-
Fonseca, 2002; Contorpassi-Laurino et al., 2006; Slaa et al., 2006). Com isso, a
comunidade de Serra Grande também pode alugar as colônias manejadas das
abelhas Meliponini para a polinização agrícola como outra forma de geração de
renda.
Diante de estudos prévios que comprovem a eficiência de polinização destas
abelhas para cultivos agrícolas importantes da região (cacau, café, cupuaçu,
dendê, etc), as colônias podem ser inseridas nestes cultivos aumentando a taxa
de polinização e consequentemente gerando maior produtividade para os
agricultores.
2. Aranhas
173
2.3.
Ainda sob a mesma avaliação de que há grandes indícios de que existam
espécies de aranhas endêmicas não descritas, principalmente àquelas
associadas às bromélias da restinga da barra do Tijuípe, seria interessante o
desenvolvimento de pesquisas sobre interações ecológicas (aranhas e
bromélias) e da cadeia trófica de restinga. Assim, estudos futuros voltados à
taxonomia, ao grau de endemismo da região e ecossistemas de fitotelmatas
bromelícolas (micro-ecossistemas formados por estruturas de plantas) podem
gerar novas informações para subsidiar a conservação da biodiversidade.
3. Formigas
174
3.2.
Elaboração de material para divulgação da fauna: Nos dias onde celulares,
computadores e vídeo games são a tríade sagrada de muitas crianças, o brincar
com insetos ou a curiosidade sobre estes normalmente pequenos invertebrados
não é mais tão comum. Porém, a existência dos insetos e outros invertebrados
é fundamental para manutenção da Terra como o ambiente que conhecemos.
Este novo quadro de desenvolvimento e de apego ao universo tecnológico
possibilita a utilização de mídias eletrônicas para a divulgação da biodiversidade.
No entanto, ainda sim, uma das melhores maneiras de se ensinar algo é
contextualizar e aproximar o tema à realidade de seus estudantes. Aulas
práticas e trilhas guiadas são ótimas possibilidades para ensinar. Em cidades ou
regiões em que a natureza está constantemente próxima às pessoas, unir a
divulgação através de mídias eletrônicas com práticas no meio ambiente em
questão, pode funcionar com grande eficácia para desenvolver o interesse e na
aquisição de conhecimentos da diversidade biológica.
As possibilidades para serem desenvolvidas na região são:
a) Confecção de insetários com espécimes secos e também preservados em
álcool utilizando animais provenientes de nossas coletas associados à coleta de
exemplares de espécies chaves, caso necessário;
b) Confecção de insetários digitais (formato de aplicativo) para serem
utilizados em tablets e celulares;
c) Capacitação dos professores para a realização de trilha guiada como
ferramenta para o ensino de ciências e biologia;
d) Elaboração de materiais para divulgar os dados do projeto (fauna e flora),
como:
- Cartazes/folders informativos e ilustrados com fotos ou desenhos. Tanto em
veículo digital como impresso;
- Placas informativas sobre a biodiversidade da região podem ser colocadas na
praça, em postos turísticos, ou centros educacionais de Serra Grande;
- Produção de “curtas”, vídeos de alguns segundos ou minutos, abordando tema
específico a ser determinado. Por exemplo: as formigas cortadeiras; o ambiente
de restinga; a ciclagem da matéria orgânica; o universo das bromélias; os
besouros rola-bosta; entre outros.
175
4. Besouro-do-esterco
4.1. O levantamento realizado nessa etapa inicial revelou uma fauna dominada por
elementos amplamente distribuídos em Floresta Atlântica e que não
apresentam exigência de habitats preservados para ocorrerem, exceto por
Phanaeus splendidulus. Nota-se a ausência de espécies associadas à primatas ou
à habitats preservados, por exemplo.
A amostragem em áreas de significância biológica que estejam próximas a área
de estudo, como a Serra do Conduru podem fornecer dados que permitirão
entender ainda melhor alguns aspectos dos ambientes aqui tratados.
Concomitantemente, a continuidade de estudos envolvendo Coleoptera na
região é de grande significância zoológica e taxonômica. Apesar de a taxonomia
ter sido iniciada em 1759 pelo sueco Carl Linnaeus, uma enorme porção da
diversidade de Coleoptera existente ainda não foi catalogada e nem sequer
descrita. Nesse sentido, iniciativas que estimulem a continuidade de coleta de
dados primários envolvendo Coleoptera e outros invertebrados podem gerar
informações valiosas como catálogos em nível de famílias, descrição de novas
espécies, inventários e estudos ecológicos mais bem detalhados e úteis.
Portanto, propõe-se a continuidade do inventário desse grupo e de outras
famílias, haja visto que, apesar desse inventário ter sido focado em besouros de
uma família, coletou dados importantes para as famílias Geotrupidae e
Melolonthidae. Para essa última, o registro de Dynastes hercules paschoalli é de
importância conservacionista em vários aspectos. Assim como para todas as
outras espécies, saber acerca de aspectos naturais básicos dessa espécie in situ
pode ser decisivo para a conservação de suas populações (Cardoso et al, 2011).
176
estudo, como a Serra do Conduru podem fornecer dados que permitirão
entender ainda melhor alguns aspectos dos ambientes aqui tratados.
5. Borboletas
5.1. De modo geral, os dados coletados até o momento indicam que a Barra do
Tijuípe possui um potencial muito grande de ocorrência de espécies de
borboletas, visto que as maiores taxas locais de riqueza deste grupo se
concentra no bioma da Mata Atlântica, principalmente nas florestas ombrófilas
densas. A partir dos dados obtidos, recomenda-se primeiramente a
continuação do inventário e monitoramento de espécies, o qual pode,
inclusive, ser executado em parceria com a própria comunidade local (ver
Costa-Pereira et al., 2013, Nobre et al.; 2014 e Santos et al., 2014).
177