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16 J Assist Farmac Farmacoecon, v.6, n.2, p.16-28, abr. 2021. doi:10.22563/2525-7323.2021.v6.n.2.p.16-28
Vidal JR, Capucho H, Floriano FR
18 J Assist Farmac Farmacoecon, v.6, n.2, p.16-28, abr. 2021. doi:10.22563/2525-7323.2021.v6.n.2.p.16-28
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rados demandantes internos aqueles órgãos e insti- cio à análise da demanda, elaborando um relatório
tuições que são do SUS, tais como as áreas técnicas técnico contendo a avaliação das evidências cientí-
do Ministério da Saúde, das Secretarias Estaduais e ficas sobre a eficácia, a acurácia, a efetividade e a se-
Municipais de Saúde, os Hospitais de Universidades gurança do medicamento, produto ou procedimento
Federais ou Estaduais de ensino, entre outros. objeto do processo, bem como a avaliação econômica
Conforme legislação, para que seja possível ava- comparativa dos benefícios e dos custos em relação
liar uma tecnologia no SUS, é necessário que ela às tecnologias já incorporadas no SUS.
tenha um número de registro válido na Agência Na- Conforme determina o Decreto nº 7.646/2011,5
cional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, no caso de se a documentação entregue não estiver completa, a
medicamentos, o preço fixado pela Câmara de Regu- SE deve emitir um Relatório de Não Conformidade
lação do Mercado de Medicamentos (CMED).7 que informe os itens faltantes ou inadequados, que
Para a realização de pedido de avaliação de tecno- será encaminhado ao demandante, após a ciência e
logias ao SUS, o demandante deverá preencher um anuência do Secretário da SCTIE. Nessa situação, a
formulário de solicitação de avaliação no Sistema de demanda é considerada não conforme e nova submis-
Gestão Eletrônica de Processos de Incorporação de são poderá ser feita, desde que seja apresentada toda
Tecnologias no SUS (e-GITS), que fica disponível a documentação, de acordo com a legislação citada.
no sítio eletrônico da Conitec. É disponibilizado um O sítio eletrônico da Conitec tem sido utilizado
formulário para submissão de demandas externas como o principal instrumento de comunicação e
(órgão/instituições não vinculados ao SUS e pessoas participação social. As divulgações das informações
físicas) e um para demandas internas (órgão/institui- relativas aos processos de ATS no SUS têm o papel
ções do SUS). Também é necessário que o deman- de comunicar e informar a sociedade e vêm fortale-
dante apresente os seguintes documentos: 1- ofício cendo o mecanismo de publicidade e transparência
original, datado e assinado, contendo os dados do das ações desenvolvidas pela Comissão. Nesse sen-
demandante, do destinatário (Conitec/SCTIE/MS) e tido, por meio do acesso às informações divulgadas
o assunto (nome da tecnologia e indicação solicita- pela Conitec, é possível perceber a dinâmica dos pro-
da); 2 - documentação do demandante (a depender se cessos de submissão de ATS no SUS ao longo dos
for pessoa física ou jurídica); 3 - formulário e-GITS anos. Esse conhecimento é fundamental para a ges-
devidamente preenchido; e 4 - documento principal tão de tecnologias em saúde e, consequentemente,
(dossiê) que deve conter: a) descrição da doença/ para subsidiar as ações da Conitec.
condição de saúde relacionada à utilização da tec-
nologia; b) descrição da tecnologia; c) descrição das
Objetivo
evidências científicas da tecnologia comparada à (s)
disponibilizada (s) no SUS - Revisão Sistemática ou
Caracterizar e descrever o perfil das avaliações de
Parecer Técnico-Científico; d) estudo de avaliação
ATS apresentadas à Conitec, no período de 2015 a
econômica na perspectiva do SUS; e) análise de im-
2020.
pacto orçamentário; f) referências bibliográficas; e
g) anexo (cópia da bula ou instrução de uso aprovada
na Anvisa). Além desses documentos, é solicitado ao Metodologia
demandante que apresente em meio digital os textos
completos dos estudos científicos referenciados. Realizou-se um estudo de série histórica, explo-
Quando uma demanda é protocolada, é aberto o ratório, descritivo e retrospectivo das submissões de
processo administrativo e realizada a análise de con- ATS feitas à Conitec durante o período de 2015 a
formidade, para que a SE verifique a existência de 2020. Para descrever e caracterizar as demandas de
todos os documentos elencados conforme o § 1º, do ATS recebidas pela Conitec, foram consideradas
art. 15, do Decreto nº 7.646/2011e na Portaria GM/ como variáveis de interesse: ano (2015 a 2020); nú-
MS nº 2.009, de 13 de setembro de 2012.5,8 Caso a mero de demandas submetidas à Conitec; conformi-
documentação esteja completa, o DGITIS dará iní- dade das demandas (sim e não); categoria da deman-
da (interna e externa); tema da saúde para o qual a O programa Microsoft Excel® 365 e o software
tecnologia foi solicitada; tipo de tecnologia (medica- SPSS Statistics® versão 22 foram utilizados para ta-
mento, procedimento, produto/equipamento); nome bulação e análise dos dados. Para a análise descritiva,
da tecnologia; condição clínica (indicação de uso da utilizaram-se as frequências absoluta e relativa para
tecnologia); natureza da solicitação (incorporação, as variáveis categóricas e o valor de média para a va-
exclusão, alteração, restrição e ampliação de uso); riável contínua (tempo do processo de avaliação). Na
recomendação final da Conitec (favorável e desfavo- comparação das variáveis categóricas, foi utilizado o
rável à solicitação); e tempo médio do processo de teste de qui-quadrado de Pearson, sendo considera-
avaliação (da submissão à decisão final do Secretário do como nível de significância um p-valor menor ou
da SCTIE no DOU). igual a 5%.
Cabe ressaltar que os PCDT são tecnologias em Todos os dados utilizados neste estudo estão
saúde, conforme definição do Decreto nº 7.646/2011.5 disponíveis no sítio eletrônico da Conitec e são de
Os PCDT são documentos que estabelecem orien- acesso público e livre, não sendo necessária a apre-
tações para o diagnóstico da doença ou do agravo à ciação e aprovação prévia por Comitê de Ética em
saúde; o tratamento prescrito, com os medicamentos Pesquisa.
e demais produtos pertinentes, quando couber; as po-
sologias recomendadas; os mecanismos de controle Resultados
clínico; e o acompanhamento e a verificação dos re-
sultados terapêuticos, a serem seguidos pelos gestores Observa-se que, no período do estudo, a Coni-
do SUS. Devem ser baseados em evidência científica e tec recebeu e analisou 408 pedidos de incorporação,
considerar critérios de eficácia, segurança, efetividade sendo 213 internas e 195 externas. Desse total, fo-
e custo-efetividade das tecnologias recomendadas. A ram analisados conforme os requisitos necessários
partir do momento que se inclui ou exclui algum me- 347 (85,05%) dossiês. No que se refere ao deman-
dicamento para determinada doença após avaliação dante interno, a SCTIE foi responsável por 52,1%
da Conitec, o PCDT é atualizado. Entretanto, neste (n=111) das solicitações de tecnologias avaliadas à
estudo os PCDT não foram considerados para análise, Conitec, seguida pela Secretaria de Vigilância em
pois não são objetos de demandas de ATS. O processo Saúde (SVS), com 24,9% (n=53) e pela Secretaria de
de elaboração e/ou atualização dos PCDT possuem ca- Atenção Especializada em Saúde (SAES), com 8,0%,
racterísticas diferentes da ATS realizada pela Conitec. (n=17) sendo todos eles demandantes internos.
As demandas de ATS submetidas à Conitec po- Dos demandantes externos, a Novartis Biociências
dem conter mais de uma tecnologia, assim como S.A. foi responsável por 7,2%(n=14) das solicita-
uma dada tecnologia pode ser demandada em mais ções, a Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos
de um momento no tempo, seja para a mesma in- S. A. por 5,6%(n=11), a AbbVie Farmacêutica Ltda.
dicação terapêutica ou não. Além disso, a recomen- por 3,6%(n=7) e o Laboratórios Pfizer Ltda. por
dação da Conitec para uma demanda que possui a 4,1%(n=8). Quando classificamos as demandas de
solicitação de ATS para mais de uma tecnologia – acordo com os temas de saúde, a Infectologia foi a
por exemplo, duas – pode ser favorável para uma tec- área com mais solicitações (20%; n=70). Em segun-
nologia e desfavorável para a outra. Nesse sentido, do lugar, tem-se a Neurologia e Oncologia (8% cada
cabe esclarecer que para este estudo foi considerada uma) e a Pneumologia vem em seguida (5%) (Grá-
como unidade de análise a tecnologia específica, ou fico 1). A tecnologia mais demandada foi o secu-
seja, de forma individualizada, exceto para a descri- quinumabe (1,5%) e a segunda mais requisitada foi
ção das variáveis: número de demandas submetidas o molgramostim (1,25%), seguido pelo bortezomibe,
à Conitec e conformidade das demandas. certolizumabe pegol, bevacizumabe e adalimumabe,
Também cabe esclarecer que foram consideradas com 1,0% cada.
para análise todas as tecnologias contidas nas de- A condição clínica mais solicitada foi a inconti-
mandas conformes e finalizadas durante o período nência urinária de urgência, responsável por 2,51%
do estudo. das avaliações, em seguida tem-se a hepatite viral C
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crônica (1,25%) e a brucelose humana, sífilis, doença a conformidade documental, as demandas internas
pulmonar obstrutiva crônica e retinopatia diabética, se apresentaram com 100% de conformidade, exceto
com 1% cada uma. nos anos de 2018 e 2019 e observou-se uma alternân-
Considerando a distribuição das solicitações de cia de maior prevalência entre as categorias ao longo
avaliação de acordo com a categoria da demanda e dos anos (Gráfico 2).
Gráfico 1. Distribuição percentual das solicitações de ATS à Conitec segundo temas de saúde, 2015 a 2020.
Gráfico 2. Distribuição das solicitações de ATS à Conitec segundo categoria da demanda e conformidade
documental, 2015 a 2020.
Dos processos de ATS conformes (347) de acor- incorporação, a Conitec emitiu recomendação favo-
do com a categoria da demanda, observou-se que, rável para a maioria das demandas (85,05%; n=347),
de modo geral, foram dadas mais recomendações em todos os anos.
favoráveis as solicitações internas (provenientes de Todas as demandas analisadas, em média, cum-
departamentos do Ministério da Saúde e de outras priram o prazo legal de no máximo 270 dias para
instituições do SUS) em comparação com as solicita- avaliação, considerando a data de protocolo até a
ções externas (da indústria farmacêutica, de socieda- data de publicação da portaria no DOU. Entretanto,
des médicas, associações de pacientes e de órgãos do no ano de 2018, observou-se que o prazo médio de
Sistema Judiciário), ao longo dos anos (Gráfico 3). avaliação das demandas foi maior do que o prazo le-
Os dados apresentados no Gráfico 4 evidenciam gal, em média 346,9 dias.
que o medicamento foi o tipo de tecnologia mais De 2015 a 2020, a Conitec avaliou 347 solicitações
avaliada durante todos os anos, seguido pelo proce- conformes. Destas, 60,5% (n =173) foram demandas
dimento, exceto no ano de 2017. A recomendação da internas, 83,9% foram pedidos de incorporação e
Conitec foi, em sua maioria (85,05% n=347), favo- 77,8% (n =173) corresponderam à avaliação de me-
rável à solicitação feita para cada tipo de tecnologia, dicamentos. Observou-se que as demandas internas
exceto para produtos no ano de 2015. obtiveram mais recomendações favoráveis quando
O Gráfico 5 apresenta o quantitativo de recomen- comparadas com as demandas externas com signifi-
dações finais da Conitec (favorável e desfavorável) cância estatística (p-valor=0,000). Quanto à nature-
segundo a natureza da solicitação (incorporação, za da solicitação e ao tipo de tecnologia, ressalta-se
exclusão, alteração, restrição e ampliação de uso). A que a Comissão também emitiu mais recomendações
Comissão emitiu recomendação favorável a todas as favoráveis do que desfavoráveis, para todas as cate-
solicitações de exclusão, alteração, restrição e am- gorias, sendo esses resultados estatisticamente signi-
pliação de uso, exceto no ano de 2017 para a avalia- ficantes, com valor de p=0,000 e valor de p=0,002,
ção de exclusão. No que se refere às solicitações de respectivamente (Tabela 1).
Gráfico 3. Distribuição das solicitações conformes segundo categoria da demanda e recomendação final da
Conitec, 2015 a 2020.
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Gráfico 5. Distribuição das solicitações conformes segundo categoria da demanda e recomendação final da
Conitec, 2015 a 2020.
Tabela 1. Distribuição da recomendação final da Conitec referentes às demandas conformes segundo catego-
ria da demanda, natureza da solicitação e tipo de tecnologia, 2015 a 2020.
Recomendação da Conitec
Favorável Não-Favorável Total p-
Características da demanda
(237) (110) (347) valor*
Categoria da demanda
Externa 64 46,7 73 53,5 137 39,5
0,000
Interna 173 53,3 37 17,6 210 60,5
Natureza da solicitação
Incorporação 182 62,5 109 37,5 291 83,9
Alteração/ampliação/restrição de uso 25 100 0 0 25 7,2 0,000
Exclusão 30 96,8 1 3,2 31 8,9
Tipo de tecnologia
Medicamento 173 64,1 97 35,9 270 77,8
Procedimento 51 87,9 7 12,1 58 16,7 0,002
Produto/equipamento 13 68,4 6 31,6 19 5,5
*valor de p do teste do qui-quadrado de Pearson com nível de significância p-valor ³ 0,005
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SUS. Conforme o artigo 29.º do Decreto nº 7.646, Para subsidiar as demandas por exclusão de tec-
os procedimentos administrativos podem ser simpli- nologias no SUS é de fundamental importância a
ficados, no contexto do interesse público relevante, existência do monitoramento da utilização das tec-
quando envolverem a ampliação do uso ou exclusão nologias incorporadas, a fim de analisar o processo
de tecnologias de baixo custo e impacto orçamentá- de obsolescência e a necessidade de abandono do uso
rio, ou relacionados à elaboração ou atualização de e do financiamento delas.14 Além disso, esse moni-
PCDT.5,6 toramento também pode auxiliar na reavaliação das
Com relação ao tipo de tecnologia, observou-se incorporações. Nesse sentido, novas análises emba-
que o medicamento é majoritariamente mais deman- sadas em dados de vida real devem ser conduzidas
dado. O enfoque prioritário por medicamentos nas após um período definido de uso da tecnologia, de
solicitações de ATS, também apontado por outros modo a possibilitar a comparação e a reavaliação dos
estudos,10,11 pode estar relacionado com o aspecto benefícios inicialmente esperados, com base nos da-
curativista da prática de assistência à saúde, ainda dos dos estudos empíricos.
muito vinculado à prescrição de medicamentos ten- As demandas internas, quase em sua totalida-
do como fim último a obtenção da cura de toda e de, foram conformes. Entretanto, observou-se uma
qualquer condição clínica. redução de demandas externas não conformes ao
É pertinente também salientar a ocorrência de longo do período de estudo. Esses achados também
solicitação de avaliação de um mesmo medicamento são referidos em outros estudos.10,11 A redução de de-
para diferentes indicações, sendo que ocorre uma mandas externas não conformes ao longo dos anos
“restrição de uso” ao longo das consecutivas pode representar uma curva de aprendizado junta-
solicitações. O estudo de Caetano et al.10 também ob- mente com o esforço de maior divulgação e clareza
servou esse padrão de submissão de demandas reali- quanto às exigências formais dos processos de ATS.
zadas pelas empresas e considerou como sendo uma Quanto à existência de tratamento aparentemen-
possível estratégia para a incorporação de alguns te diferenciado no que se refere à conformidade de
medicamentos, à medida que as recusas se sucedem. demandas internas e externas,10 cabe ressaltar que
O baixo número de demandas por exclusão de a não conformidade se refere ao não cumprimento
tecnologias no SUS evidencia a dificuldade de re- da documentação formal, sendo nesse primeiro mo-
moção, ou até mesmo de substituição, de tecnologias mento dissociada da análise de mérito do pedido.11
já disponíveis no sistema de saúde. Essa dificuldade Dos processos de ATS conformes avaliados du-
pode se dever a questões metodológicas, visto que rante o período deste estudo, a maioria das solici-
o processo de exclusão ou desinvestimento de tec- tações internas recebeu recomendação favorável da
nologias em saúde se apresenta mais complexo do Conitec, sobrepujando esse resultado nas solicita-
que o de incorporação, mas também à compreensão ções externas. Tal achado também corrobora o que
equivocada de que a exclusão de tecnologias incor- foi percebido em outros estudos.10,15
poradas possa representar uma “perda do direito ad- Ele pode ser melhor compreendido quando se co-
quirido”.14 loca em evidência a constatação de que as demandas
Cabe ressaltar que a exclusão de tecnologias in- internas são originadas da necessidade do SUS, na
corporadas ocorre quando existe o entendimento (e medida em que são oriundas de áreas do MS ou de
a evidência científica subjacente) de que essas tecno- secretarias estaduais de saúde e podem também estar
logias são obsoletas, ou seja, geradoras de pouco ou relacionadas ao processo de atualização e elaboração
nenhum ganho em saúde, causando alocação inefi- de um dado PCDT.
ciente de recursos. Dessa forma, a desincorporação é Dito de outro modo, o processo de ATS e os crité-
de fundamental importância para a sustentabilidade rios de recomendação são os mesmos utilizados tan-
do SUS, pois possibilita a realocação de recursos em to para as demandas internas quanto para as exter-
outras tecnologias que apresentem maior benefício, nas. O fator que diferencia as demandas e que pode
também contribuindo para a utilização racional dos interferir em mais recomendações favoráveis para as
recursos financeiros destinados à saúde pública. demandas internas é a “motivação” da solicitação de
avaliação. Enquanto as demandas internas são moti- tência de um prazo legal e o seu cumprimento por
vadas pela necessidade real do SUS, as demandas ex- parte da Comissão possibilitou que o processo admi-
ternas são majoritariamente motivadas por interesse nistrativo se tornasse mais ágil e eficiente, o que tam-
das empresas em comercializar e ofertar seu produto bém foi observado por Nunes e colaboradores.11
pelo SUS, o que pode não corresponder a uma neces- Além disso, a Conitec vem melhorando os meca-
sidade real do sistema de saúde. nismos de publicidade e transparência de suas ações.
Cabe ressaltar que nem sempre as empresas sub- Desde junho de 2019, a Comissão passou a divulgar
metem seus produtos para avaliação da Conitec, ou as datas de submissão das demandas, os dossiês dos
seja, nem todo medicamento produzido é de interes- demandantes externos e, a partir de julho de 2020, as
se, por parte da empresa, em ser ofertado pelo SUS. reuniões passaram a ser gravadas e disponibilizadas
Isso é observado por meio dos processos judiciais na no sítio eletrônico da Comissão. Também foi criado
área da saúde. Existem medicamentos judicializa- no mesmo portal o painel “Conitec em Números”,
dos, que são pagos pelo MS via demanda judicial, e que apresenta em tempo real o acompanhamento das
que nunca foram submetidos à avaliação da Conitec demandas de tecnologias em saúde submetidas à Co-
pela empresa, pois as empresas sabem que o preço é nitec com a possibilidade de realização de análises
muito alto, visto que os benefícios são pequenos e as pelo público em geral. Todas essas ações reforçam as
evidências são ruins. propostas da PNGTS e sua implementação.
Nesses casos, a judicialização se torna uma estra-
tégia adotada pela indústria farmacêutica para pro- Conclusão
mover a venda de seus produtos, sendo uma via de
acesso desregulado a novos medicamentos. Assim, Com a criação da Conitec, a ATS se tornou uma
não submeter a tecnologia para avaliação da Conitec prática institucionalizada que consolidou o uso das
é de interesse da empresa, visto que a recomendação ferramentas de gestão de tecnologias em saúde no
da Conitec, seria contrária a incorporação e poderia SUS. O cumprimento das exigências legais por parte
interferir negativamente no processo judicial, pois dos demandantes e da Conitec tornaram o processo
o juiz ao consultar a Conitec, constataria no relató- administrativo mais transparente, democrático, cé-
rio os motivos da não incorporação da tecnologia ao lere e eficiente.
SUS e instruiria o processo negando a solicitação.16 As ações desenvolvidas pela Conitec subsidiam
Observou-se que a Comissão emitiu mais reco- a tomada de decisão sobre a incorporação de tecno-
mendações favoráveis para a maioria das demandas, logias em saúde no SUS, orientam a utilização dos
em todos os anos. Este achado também foi encon- recursos financeiros destinados à saúde pública e
trado no estudo de Caetano et al.,10 entretanto, con- possibilitam a concretização da PNGTS.
trapõe-se aos resultados obtidos por Nunes et al.,11 Os resultados do estudo apontam que a Conitec
talvez devido aos diferentes períodos avaliados. Esse emitiu mais recomendações favoráveis e que a maio-
resultado comprova a atuação da Conitec na execu- ria das demandas foram solicitadas pelas áreas téc-
ção da PNGTS, visto que o maior número de reco- nicas do Ministério da Saúde. Considerando que o
mendações favoráveis indica a expansão da capaci- processo de avaliação é realizado com base em cri-
dade resolutiva do SUS, e a garantia do princípio da térios idênticos para a recomendação das demandas,
integralidade, visto que privilegia a incorporação de sejam elas internas ou externas, é possível perceber
tecnologias eficazes e seguras, cujos danos ou riscos que o fato de as demandas internas representarem a
são inferiores aos benefícios e não prejudicam a ofer- necessidade real do SUS e não o interesse comercial
ta de outros serviços.2 contribuiu para o maior número de recomendações
Apesar de ter ocorrido, em média, o descumpri- favoráveis.
mento do prazo legal para a avaliação das demandas Apesar dos avanços alcançados, a Conitec precisa
no ano de 2018, a Conitec realizou em todos os outros investir no monitoramento das tecnologias incorpo-
anos as avaliações dentro do prazo legal estipulado, radas tanto para subsidiar as demandas por exclu-
considerando a prorrogação de mais 90 dias. A exis- são de tecnologias no SUS, quanto para auxiliar na
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