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Bases biofísicas da eletroterapia Apostila 1

Bases Biofísicas dos agentes eletrofísicos


Ao final deste capítulo você terá capacidade de:
• Descrever os conceitos básicos relacionados à corrente elétrica;
• Identificar e explicar os gráficos de intensidade x tempo;
• Elaborar um raciocínio lógico e coerente sobre a passagem da corrente elétrica sobre os tecidos biológicos;

Breve histórico sobre as correntes elétricas.


O uso da corrente elétrica para alívio das dores e sintomas físicos
foi verificado em relatos desde 2750 a.c. Desde então, marcos históricos
delineiam os avanços ocorridos na eletroterapia em diversas civilizações.
As descargas de peixes elétricos encontrados no mar mediterrâneo eram
usadas pelos egípcios para minimizar as dores do corpo1. Em 200 a 130
a.c., Galeno também recomendou a utilização deste peixe elétrico para
reduzir o quadro álgico. Entre 10 e 54 a.c., um médico romano chamado
Scribonius Largo utilizou o mesmo peixe para tratamento de demência. Em
1789, Luigi Galvani experimentou uma corrente que produzia contração no
músculo da perna de uma rã. A partir de então, iniciou-se a eletroterapia
como ciência. Avanços importantes para a ciência começara, a surgir
neste período. O cientista Hans Christian Oerstad, em 1820, descobriu a
relação entre eletricidade e magnetismo. Ainda neste século, Michael
Faraday descobriu que um campo magnético pode induzir uma corrente
num fio condutor, sendo possível idealizar equipamentos que emitiam
correntes elétricas no corpo humano2 (figura ao lado).
Estas descobertas proporcionaram avanços importantes no uso da
eletricidade. Uma vertente importante foi a aplicação das correntes
elétricas para fins terapêuticos que começou a desenvolver no século XVIII
com um pico de crescimento no final do século XX.

Conceitos Importantes em Eletroterapia


Corrente Elétrica
Fluxo ordenado de elétrons que se produz quando existe uma diferença de potencial (DDP) entre os
extremos de um condutor. Para que os elétrons se movimentem de um lado para o outro, é necessária uma força
que os impulsionem. A essa força chamamos de Força eletromotriz (FEM), e ela ocorre quando em determinado
material possui um dos pólos com falta e o outro com excesso de elétrons. Esta diferença de potencial é
mensurada em Volt, mas como estamos falando de tecidos biológicos os campos elétricos atuam com
milivoltagem (mV)3.

Pólo Negativo Pólo positivo


(-) (+)

Na figura não lado é possível ver o fluxo de


elétrons em um metal e a movimentação dos íons
numa solução salina. Este fluxo ocorre de um pólo a
outro do material. Estes pólos foram
convencionalmente denominados de negativo (-) e
positivo (+)3,4.
O fluxo de elétrons ocorre mais fácil em
materiais que possuem apenas um ou dois elétrons de
valência em sua última camada (Ex. metais). Estes
materiais nós chamados de condutores. Mas, os
materiais que possuem suas camadas de valência
quase completas tendem a ser mais estáveis com
poucos elétrons livres, sendo chamados de isolantes.
Os nossos tecidos possuem característica
condutores de isolantes, sendo considerado um
estado intermediário denominado semicondutor.

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Lembrem-se que toda corrente elétrica se propaga no material através de movimentos ondulatórios.
Considere o exemplo abaixo como uma oscilação elétrica em um determinado material.

Fase positiva (+)

Fase Negativa (-)

Resistência
Dificuldade oferecida pelo condutor a passagem da corrente elétrica. Quanto maior a
resistência, maior será o calor gerado pelo maior atrito entre os átomos. A unidade de medida
é ohm (Ω). A resistência gera trabalho devido ao atrito imposto. Este atrito gera calor e quando
isto ocorre chamamos de efeito joule. Portanto, o trabalho imposto pode ser quantificado em
joule (J), mas como estamos falando de tecido biológico, a resistência oferecida por estes
tecidos é mensurada em milijoule (mJ)3.
A figura da lâmpada ao lado representa muito bem a resistência e o trabalho gerado pela passagem da
corrente elétrica. O filamento de tungstênio no interior da lâmpada superaquece devido ao elevado atrito dos
elétrons passando por este material. O calor gerando é tão intenso que permite a emissão de feixes luminosos.

Frequência
É uma característica dependente do tempo e é mensurada em Hertz (Hz). Ela refere-se à frequência
com que os elétrons passam na corrente ou ao número de pulsos existentes durante um segundo. Como descrito
anteriormente, podemos notar que as correntes terapêuticas são classificadas de acordo com sua faixa de
frequência4.

1 segundo

Largura de Pulso
Corresponde ao tempo de passagem dos elétrons nos tecidos. Mensurado em milisegundos (ms) ou
microssegundos (µs). Existe um conceito importante relacionado à largura de pulso, que é a cronaxia. Este
termo corresponde à largura de pulso mínima capaz de evocar a estimulação de nervos, ou seja, só haverá
potencial de ação se a largura de pulso da corrente aplicada for igual ou superior ao mínimo necessário para
desencadear o estímulo5.
Duração do pulso

Intervalo interpulso
No exemplo 1 não há intervalo, mas no exemplo 2 há. Percebam que quanto maior for a distância do
intervalo, menos pulso teremos.
Exemplo 1 Intervalo interpulso
Exemplo 2

Intensidade
Corresponde a quantidade de elétrons que passa por um condutor. Isto depende da largura e da
amplitude do pulso. A quantidade do fluxo de elétrons ou intensidade da corrente corresponde a área sob o pulso
elétrico. A intensidade é mensurada em ampere (A). Entretanto, como estamos falando de tecidos biológicos,
utilizaremos miliamperagem (mA) ou microamperagem (µA)3.
Verifiquem que no exemplo 1 a área sob o pulso é menor quando comparado a área sob o pulso do
exemplo 2. Isto significa que houve aumento da intensidade.

Exemplo 1 Exemplo 2

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Formato do Pulso
A carga de cada fase pode variar, gerando formato de onda distinto para cada corrente.

Onda retangular:
• Tempo de subida e descida instantâneo

Onda triangular:
• Tempo de subida e descida gradual

Onda trapezoidal:
• Tempo de subida e descida gradual com tempo de sustentação

Onda quadrada:
• Tempo de subida e descida instantâneo.

Onda senoidal:
• Tempo de subida e descida gradual.

Representação gráfica das correntes


Conforme dito anteriormente, cada corrente elétrica pode ser representada por um gráfico, através desta
imagem é possível identificar as principais características biofísicas das correntes como, intensidade, largura de
pulso e o formato do pulso. O eixo vertical representa a intensidade ou amplitude expressa em miliampere (mA)
e a linha horizontal expressa o tempo em milissegundos (mS)3–5.

Frequência = quantidade de pulsos em 1 segundo

mA Altura do pulso =
amplitude

mS

Largura do Intervalo entre os


pulso (mS) pulsos (mS)

Classificação das correntes

a) Corrente Contínua:
Quando a corrente é unidirecional, ou seja, seus elétrons se deslocam
numa única direção (isto ocorre quando um gerador pode manter os extremos de
um circuito carregados negativo e outro positivo) seu gráfico possui apenas uma
fase e possui efeitos polares.

b) Corrente Alternada:
Quando a corrente é bidirecional, ou seja, seus elétrons ora se deslocam
numa direção ora em outra (isto acontece quando um gerador de corrente
alternada origina uma troca contínua de polaridade nos extremos de um circuito),
seu gráfico possui duas fases (positiva e negativa) e não possui efeitos polares.

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Descrição qualitativa das correntes
As correntes diretas podem ser descritas quanto a sua classificação, pulsação e formato do pulso.
Baseado nestes conceitos descrevam as correntes abaixo:

_____________________ _____________________ _____________________


_____________________ _____________________ _____________________
____________________ ____________________ ____________________
_

Já as correntes alternadas possuem mais características além das que já foram descritas para as
correntes diretas. A principal diferença entre ambas é que a alternada possui a fase negativa:

Fase positiva (+)

Fase negativa (-)

Ao compararmos a fase (+) com a (-) podemos verificar se as mesmas são simétricas ou não.

simétrico assimétrico

Outra possibilidade de análise nas correntes alternadas é o balanceamento das correntes, ou seja, a
alturas das fases (+) e (-).

balanceado
desbalanceado

Descrição qualitativa da Corrente

Corrente Monofásica Corrente Bifásica


ou Direta ou Alternada

Pulsada Não Pulsada Pulsada Não Pulsada

Simétrica Assimétrica Simétrica Assimétrica

Equi- Desequi- Equi- Desequi-


librada librada librada librada

FORMA DO PULSO

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Em resumo;

MODULAÇÃO DAS CORRENTES


Corresponde a qualquer alteração que se faz na corrente original com o objetivo de eliminar o
efeito da acomodação. Pode ocorrer devido a variações na largura de pulso, amplitude e frequência da
corrente5.

Modulação quanto a frequência Modulação quanto a Amplitude

Modulação quanto a Largura de


Pulso

Classificação quanto à frequencia


Existem diversos tipos de correntes terapêuticas, sendo que estas são classificadas de acordo com a
sua faixa de frequência. Podemos dizer que as correntes são divididas em:
1. Eletroterapia de Baixa Freqüência: 1 a 1000 Hz
• Corrente Galvânica;
• Correntes Diadinâmicas;
• Correntes Ultra-excitantes;
• Correntes Exponenciais; Pouca penetração na
• FES; derme
• TENS;
• Microcorrentes

2. Eletroterapia de Média Freqüência: 1000 Hz a 100.000Hz


• Correntes Interferenciais;
• Corrente australiana; Penetra mais na derme
• Corrente Russa.

3. Eletroterapia de Alta Freqüência: Acima de 100.000 Hz


• Diatermia por Ondas Curtas – DOC;
• Diatermia por Microondas – DMO. Alto poder de
penetração na derme

DICA: QUANTO MAIOR A FREQUÊNCIA, MELHOR ATINGIRÁ OS TECIDOS PROFUNDOS.

Referências bibliográficas:
1. Basford JR. A historical perspective of the popular use of electric and magnetic therapy. Archives of
Physical Medicine and Rehabilitation 2001; 82: 1261–1269.
2. Bussel B. History of electrical stimulation in rehabilitation medicine. Ann Phys Rehabil Med 2015; 58: 198–
200.
3. Robertson V. Eletroterapia Explicada: Princípios e Prática. 4°. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
4. Karen W. Hayes Roger M. Nelson Dean P. Currier. Eleteroterapia Clínica. Barueri: Manole, 2003.
5. Kitchen S. Eletroterapia - Prática Baseada em Evidências. 11°. Barueri: Manole, 2003.

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