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Viviane Giombelli
Florianópolis – SC
2003
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Viviane Giombelli
Florianópolis – SC
2003
AS PESSOAS QUE FAZEM PARTE DESSE “TRABALHO”,
CUJOS NOMES NÃO É POSSÍVEL COLOCAR NA CAPA
RESUMO.................................................................................................................................... vii
ABSTRACT........................................................................................................................ ....... viii
1. PERCEPÇÃO DE PESSOAS DE UM GRUPO DE PSICOTERAPIA
PSICODRAMÁTICA SOBRE ASPECTOS ENVOLVIDOS NO PROCESSO
PSICOTERAPÊUTICO.......................................................................................................... 9
1.1. Psicoterapia como forma de manter a saúde...................................................................... 10
1.2. Recursos e função do trabalho psicodramático para modificar percepções e
comportamentos das pessoas............................................................................................. 15
1.3. O uso do jogo como um dos recursos caracterizadores do psicodrama............................. 21
1.4. O grupo como condição terapêutica................................................................................. 22
1.5. Preparo profissional do psicoterapeuta............................................................................. 28
1.6. As exigências de formação e de preparo profissional do psicodramatista...................... 30
1.7. Determinantes que podem manter as pessoas num grupo de psicoterapia
psicodramática.................................................................................................................. 36
v
5. “AQUECIMENTO” COMO CONDIÇÃO NECESSÁRIA PARA
DESCONTRAÇÃO INICIAL E COMO POSSIBILIDADE PARA APRENDER
COM COMPORTAMENTOS E REAÇÕES DOS OUTROS............................................... 76
a) Descontração como condição facilitadora para aumentar a interação entre os
integrantes do grupo............................................................................................................. 78
vi
RESUMO
Saber que o psicoterapeuta é “gente boa”, que utiliza técnicas diferentes nas sessões podem
ser aspectos que levam as pessoas a participar de um grupo de psicoterapia. No entanto,
talvez sejam razões insuficientes para manter as pessoas fazendo psicoterapia por tempo
relativamente longo, ou por tempo suficiente. O psicoterapeuta precisa conhecer os
determinantes que favorecem as pessoas a fazer psicoterapia por tempos relativamente
prolongados, haja vista ser essa condição fundamental para possibilitar a ocorrência de
mudanças significativas nas relações de vida das pessoas que procuram ajuda profissional.
Para ser possível identificar com clareza quais são os fatores, dentre os múltiplos
envolvidos num processo psicoterapêutico, que mais influência tem sobre a permanência
das pessoas em um grupo de psicoterapia, torna-se necessário responder a pergunta de
pesquisa: quais as percepções das pessoas de um grupo de psicoterapia psicodramática
sobre aspectos envolvidos no processo psicoterapêutico. Participaram 12 pessoas de dois
grupos psicoterapêuticos psicodramáticos existentes numa clínica de psicologia privada,
localizada no Vale do Itajaí–SC, e dirigidos pelo mesmo psicoterapeuta: grupo matutino,
composto por sete participantes e um grupo noturno, composto por cinco participantes. Os
participantes foram entrevistados cujas perguntas se referiram aos aspectos que chamaram
atenção no primeiro dia e chama atenção no presente em relação ao psicoterapeuta, as
terapeutas auxiliares, aos próprios participantes, as etapas de uma sessão psicodramática e a
percepção das mudanças a partir da psicoterapia em grupo. Os participantes foram
divididos em três subgrupos, de acordo com o tempo em que faz psicoterapia em grupo.
Dentre os resultados obtidos, o preparo específico do psicodramatista é um dos aspectos
que fazem as pessoas participarem no primeiro dia e as mantêm fazendo psicoterapia em
grupo. Os participantes citaram o preparo do psicoterapeuta no primeiro dia e o
evidenciaram no presente como algo que mais gostam nele. O manejo adequado das
situações parece deixar os participantes satisfeitos com os benefícios oriundos desse tipo de
psicoterapia. Outro determinante, percebido como preponderante pelos participantes, é a
mediação feita pelo psicoterapeuta para entrosar o novo participante no grupo constituído e,
reforçar constantemente a proximidade, a cumplicidade de todos os participantes entre si.
A proximidade e cumplicidade entre as pessoas que participam do grupo parecem constituir
um fator motivador para as pessoas iniciantes continuarem participando. Aprender com as
situações vivenciadas no grupo nas três etapas da sessão (aquecimento, dramatização e
compartilhar) constitui um aspecto importante para a permanência delas no grupo. Desde o
primeiro dia, os participantes indicam perceber a utilidade da dramatização. No presente,
essa utilidade se confirma pelos relatos de benefícios usufruídos na vida cotidiana. A
finalidade da psicoterapia em grupo psicodramática, segundo as pessoas que participam, é
uma espécie de “laboratório” para experimentar novos comportamentos. É possível
concluir que, embora a situação de grupo seja favorecedora de construção de situação de
ajuda e de aprendizagens de novas maneiras de lidar com as situações da vida de cada
pessoa, esses benefícios são possíveis de serem usufruídos se conduzidos apropriadamente
pelo psicoterapeuta. A formação psicodramática do terapeuta parece ser um fator que ajuda
esse profissional a desempenhar melhor sua função junto ao grupo. O conjunto dos dados
possibilita concluir que, apesar das facilidades criadas pela organização em grupo, pelas
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técnicas do psicodrama, sem um preparo de boa qualidade do psicoterapeuta dificilmente
essas condições, por si, garantiriam uma intervenção eficiente e eficaz.
ABSTRACT
Knowing that the psychotherapist is " cool " , that he / she uses different techniques in the
sessions can be aspects that make the people participate in a psychotherapy group.
However, perhaps, they are insufficient reasons to maintain the people making
psychotherapy for a long period of time or for enough time. The psychotherapist needs to
know the determinants that please the people to do psychotherapy for a long time, being a
fundamental condition to facilitate the occurrence of significant changes in the relationship
of the people's life that look for professional help. In order to be possible to identify which
are the factors, among the multiple ones involved in a psychotherapy process, that has
more influence on the people's permanence in a psychotherapy group, answering the
research question becomes necessary: which are the people ‘s perceptions of a group of
psychodramatic psychotherapy about aspects of process. Twelve people divided into two
psychodramatic psychotherapy groups in a clinic of private psychology, located in Vale
do Itajaí ( A city in the State of SC ) were guided by the same psychotherapist: the
morning group, made up of seven participants and a night group, made up of five
participants. The participants were interviewed , and the questions made referred to the
aspects that called their attention in the first day and that keep on calling their attention in
the present in relation to the psychotherapist, the auxiliary therapists and to themselves, the
stages of a session and the perception of the changes starting from the psychotherapy in
group. The participants were divided in three minor groups according to the time that they
have been involved in group psychotherapy. Among the obtained results, the technical
preparation of the psychotherapist is one of the aspects that make the people participate in
the first day and keep on making psychotherapy in group. The participants mentioned it (
the preparation of the psychotherapist ) in the first day and they evidenced it in the
present as something that they most like in him. The good way of handling the situations
seems to make the participants satisfied with the benefits originated from this kind of
psychotherapy .Another determinant, noticed as preponderant by the participants, is the
mediation done by the psychotherapist to join the new participant in the constituted group
and, to reinforce the proximity constantly ,and all the participants' complicity to each other.
The proximity and complicity among the people that participate in the group seem to
constitute a motivating factor to the beginners in order to continue participating. Learning
with “life “situations in the group in three stages of the session (warm – up , role – playing
and sharing ) constitutes an important aspect for their permanence in the group. Since the
first day, the participants have shown to notice the role – playing usefulness . In the present
this usefulness is confirmed by the reports of benefits got daily .The purpose of group
psychotherapy, according to the people that participate, is a type of " laboratory " to try new
behaviors. It is possible to conclude that, although the group situation is favoring the
construction of a situation of help and learning in new ways of working with the situations
of each person's life, these benefits are possible of being acquired if managed adequately
by the psychotherapist. The therapist's background knowledge seems to be a factor that
helps the professional to carry out a better function close to the group. The data facilitates
to conclude that, in spite of the facilities created by the organization in group, by the
viii
techniques of the psychodrama, without a psychotherapist with good quality these
conditions by themselves would not guarantee an efficient and effective intervention.
ix
1
“Foi a minha salvação, eu não sei o que seria de mim se não tivesse encontrado esse
tipo de trabalho” . Esta foi a resposta dada por D. Felícia, sexo feminino, 40 anos, casada,
classe média, cinco anos de psicoterapia individual, quatro anos de psicoterapia em grupo.
Talvez para um amigo a resposta dada a pergunta: “Porque você continua fazendo
psicoterapia?”, fosse suficiente ou mesmo satisfatória. No entanto, para as pessoas cujo
objetivo é descobrir quais são os aspectos relacionados a permanência de pessoas durante
períodos de tempo relativamente prolongados em grupos de psicoterapia, com o propósito de
explicitar, dentre os múltiplos aspectos envolvidos em situação de psicoterapia, especialmente
aquelas realizadas em grupo, influenciam a permanência das pessoas nesses grupos,
certamente a resposta seria insuficiente. A pergunta de pesquisa que, ao ser respondida,
poderá possibilitar a descoberta desses determinantes é: “Quais são as percepções de pessoas
de um grupo de psicoterapia psicodramática sobre aspectos envolvidos no processo
psicoterapêutico?” Dessa forma, fica evidenciada a relevância científica de encontrar
respostas para essa pergunta.
A abordagem utilizada pelo psicoterapeuta nas sessões grupais pode ser um aspecto
que influencie na permanência das pessoas no grupo. Os dois grupos psicoterapêuticos, cujos
membros foram participantes da pesquisa que originou esse trabalho, são conduzidos por um
psicoterapeuta que utiliza o psicodrama. O psicodrama como recurso terapêutico tem
despertado o interesse das pessoas, talvez pelo caráter lúdico, teatral ou ainda pelos resultados
serem satisfatórios. Lück (2002) afirma que o psicodrama é um recurso que produz resultados
satisfatórios para as pessoas que dele se utilizam. No entanto, as razões pelas quais as pessoas
escolhem o psicodrama como forma terapêutica, ou mesmo se mantêm durante longos
períodos em grupos de psicodrama nem sempre são claras.
Quando um profissional utiliza o psicodrama uma única vez, numa situação específica,
os participantes tendem a permanecer no local talvez por curiosidade e talvez por saberem que
não haverá continuidade na utilização do recurso. Fica difícil, no entanto, precisar as razões
pelas quais as pessoas se mantêm em sessões psicodramáticas quando são contínuas. É
preciso conhecer mais sobre as condições que permitam aumentar a eficácia e a aceitação
desse recurso num processo contínuo e que objetive a mudança de comportamento. As
pessoas podem continuar fazendo psicoterapia psicodramática em grupo pela forma do
psicoterapeuta conduzir o trabalho, por gostarem do método, por se identificarem com o
método, pelos resultados em curto prazo que proporciona, por gostarem de dramatizar, por
estarem precisando de auxílio psicoterapêutico, etc.
Segundo Pessotti (1996), a psiquiatria se institui na França, no século XIX, como área
específica do saber médico que cuida das doenças mentais e doenças do espírito. O “louco”
era denominado “alienado” e ficava enclausurado em asilos sob cuidados de religiosos que
tinham algum conhecimento médico, embora não o suficiente para proporcionar um
tratamento médico como ocorreria mais tarde nos manicômios. Nas grandes cidades
européias, durante esse século, havia hospícios mantidos por religiosos que somente
permitiam a entrada de médicos para fins de observação e para tratar os casos mais agudos. O
hospício era destinado às minorias marginalizadas, incluindo os “insanos da mente”, diferente
dos hospícios do século XX destinados somente para “loucos”. Alguns “alienados” eram
cuidados nas suas casas por médicos práticos1. Laignel-Lavastine e Vinchon (citado por
Pessotti, 1996) comentam que esses médicos práticos tiveram muito trabalho porque há
registros de ocorrências de alienações coletivas como neuroses e manifestações psicopáticas.
2
As manifestações psicopáticas, segundo concepções da época, eram causadas por
desarranjos funcionais do encéfalo que poderiam ser vistas mediante erros de raciocínios,
alucinações, ilusões e delírios. O delírio era indicativo de “loucura” (Pessotti, 1996). O
raciocínio errôneo, alucinações e ilusões poderiam ocorrer em pessoas “normais” vez ou
outra, mas se ocorresse delírio, a pessoa seria considerada “louca”. Essa maneira de classificar
o “louco” e o “não louco” sistematiza um modo de ação: tratar a doença, ao invés da pessoa.
Somente eram tratados os doentes mentais. Um homem “normal” não tinha motivos para
procurar um médico, mesmo que tivesse tido uma alucinação por não ser considerada doença
de acordo com os referenciais médicos do século XIX.
A terapia foi entendida, no século XIX, como tratamento moral de "afecções morais”
ou “paixões morais”. A loucura é excesso e desvio, a ser corrigido2 pela mudança de
costumes, mudança de hábitos” (Pinel citado por Pessotti, 1996, p.91). A loucura precisa ser
corrigida, a terapia é um instrumento para corrigir seja por meio medicamentoso ou por
palavras (moral). Se é preciso corrigir, pressupõe-se que haja um defeito que está aquém do
que é feito regularmente pela maioria das pessoas. Nesse sentido, quem é “normal” não
precisa procurar psicoterapia, na medida que somente é funcional para “perturbados mentais”.
O diagnóstico e o tratamento de doenças mentais caracterizam a prática médica que
está relacionada com a prática de psicólogos e psiquiatras. A concepção, tanto de psicólogos,
quanto de médicos, de que as pessoas somente os procuram mediante problemas, tem
direcionado seus esforços para identificar sinais e sintomas presentes, distribuídos em
categorias de problemas rotulados, organizados e uniformizados em compêndios médicos,
psiquiátricos ou psicológicos. A prática desses profissionais de saúde fica limitada a
identificar em qual categoria os sintomas do paciente se encaixam e, dado o rótulo
(esquizofrenia, psicose, neurose, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo etc.), indicar o
tratamento apropriado para a doença identificada. Por exemplo, Carezzato (1999), ao
categorizar as dificuldades que uma pessoa apresentava ao lidar com as possibilidades de
morrer após ter vivenciado um acidente automobilístico, como síndrome do pânico, está de
certa forma colaborando para a manutenção da concepção de que psicoterapia é para aqueles
que tem “problemas mentais”, ou problemas que estão além da compreensão e da intervenção
dos profissionais que cuidam estritamente da saúde do corpo.
1
Médicos práticos eram pessoas que exerciam a medicina por aprenderem com o pai ou algum amigo da família.
No século XIX ainda não existia curso universitário para médicos.
2
Grifo nosso.
3
As imagens do psicólogo veiculadas pelos meios de comunicação também auxiliam na
manutenção da concepção de que psicoterapia é destinada a “perturbados mentais”. No filme
“Gênio Indomável”, o menino “agressivo” fora enviado ao psiquiatra porque ele deveria ter
algum distúrbio para agir daquela forma. Em outro filme, “Silêncio dos Inocentes”, a
personagem interpretada pela atriz Jodie Foster atuava como psicóloga cujos serviços eram
requisitados para tratamento de pessoas consideradas perigosas como “psicopatas”. Esses
casos, e muitos outros mostrados em diferentes filmes, embora plausíveis de
acompanhamento psicológico, demarcam uma atuação do psicólogo (muitas vezes confundida
com a do psiquiatra) como aquele profissional que trata de "agressivos", "psicopatas",
"loucos", quando não é o próprio psicólogo o "louco". A pessoa que se sente angustiada ou
que, simplesmente, gostaria de agir de outro modo em situações específicas, pode ficar
intimidada para procurar um profissional, em virtude dessa imagem veiculada pela mídia,
mesmo em dias do século XXI.
4
impacto da epilepsia infantil na dinâmica familiar e no comportamento da criança, afirmam
que as idéias errôneas a respeito da doença e a qualidade da interação pais e filhos dificultam
o tratamento da doença.
Alguns trabalhos como de Maffei e cols., 1990, Pereira Lima, 1990, Giannotti 2002,
Minayo-Gomez e Barros, 2002, tem permitido mostrar o quanto um acompanhamento
psicológico é útil pelo benefício produzido para as pessoas envolvidas e para aquelas com as
quais convivem. É sabido que, quando o sistema imunológico está debilitado, é mais provável
que o organismo sucumba à doenças. Há alguns fatores conhecidos que tem interferência
sobre as condições imunológicas como, por exemplo, descuidos na alimentação, excesso de
trabalho, nervosismo, falta de lazer etc. Alguns cuidados para que as pessoas possam ter, na
grande maioria do tempo, boas condições de saúde, tem relação direta com esses fatores, ou
seja, tem relação com o "modo de vida" dessas pessoas. Lidar de maneira diferente com as
exigências decorrentes das relações de trabalho, afetivas, sociais de maneira geral, constitui
um requisito fundamental, que exige aprender a se relacionar de outra maneira com as pessoas
e consigo mesmo, ainda que em graus variados.
5
pressão arterial, e à longo prazo, produzem a aterosclerose (placas de gordura que entopem as
artérias que levam sangue ao coração)
Uma analogia pode ser feita entre situações relacionadas à obesidade com a situação
das pessoas “viciadas” em trabalho e predominantemente estressadas. Para Fonseca (2000,
p.262) “a solidão do mundo de hoje é virtuosa em criar neuroses viscerais, doenças
psicossomáticas, angústias, depressões e toxicomanias” A preocupação exagerada, sem o
devido tempo de lazer pode desencadear ou acirrar doenças como infarto, úlceras, gastrite,
câncer, principalmente se houver uma predisposição do organismo para desenvolver estas
doenças. Quando pessoas com essas características se submetem a um processo
psicoterapêutico há uma mudança nos hábitos prejudiciais à saúde em direção à hábitos mais
saudáveis. Ao começar um processo psicoterapêutico a pessoa está dando um tempo para
cuidar de si, pelo menos durante a sessão, ao focalizar seus próprios processos de interação
com o mundo. A pessoa aprende a estabelecer horários para si de acordo com suas
necessidades. As características de uma sessão de psicoterapia e as decorrências delas podem
funcionar como um treino, se for considerado que faz parte do contrato com o psicoterapeuta
chegar no horário e permanecer na sala até o término da sessão, por exemplo.
Considerando os efeitos nocivos de curto e longo prazos que a submissão à situações
de estresse vividas pelas pessoas podem desencadear, desde leves mal-estares, falta ou
excesso de apetite, descuidos na alimentação, ansiedade, até anemia e obesidade, Pereira
Lima (1990) realizou um estudo com alunos do último ano de graduação de Medicina,
caracterizando sua condição de estresse, por meio de experiências psicoterapêuticas. Foi
constatado que os alunos estavam abandonando as horas de lazer, o contato com os amigos e
familiares em virtude das exigências acadêmicas e profissionais. Nas sessões
psicoterapêuticas aos quais esses alunos, como sujeitos da pesquisa, participaram possibilitou
que percebessem os sacrifícios desnecessários e prejudiciais à saúde a que estavam se
expondo.
As possibilidades do uso da psicoterapia como forma de manter a saúde (tanto
biológica, física e psicológica), apesar das demonstrações, ainda é uma concepção pouco
difundida na comunidade em geral. A percepção que as pessoas tem sobre o psicólogo e sobre
seu trabalho ainda está permeada de idéias como "cura", "doença mental", "problemas",
"desvios de conduta", "anormal", "patológico", que tem raízes num modelo médico do século
XIX. Essa concepção da função do psicólogo afasta as pessoas do trabalho do psicólogo e
6
torna mais difícil o acesso aos benefícios que a psicoterapia produz ao interferir diretamente
sobre os processos de aprender das pessoas e modificar comportamentos, percepções,
sentimentos e disposições, em situações do dia a dia.
7
psicoterapeuta, mesmo que a história seja completamente fictícia. As cenas (situações
específicas que compõem as histórias) representadas são um modo de operacionalizar os
sentimentos, os desejos do protagonista (pessoa que conta a estória). A operacionalização é
função do diretor ou psicodramatista, na medida que ele transforma em cena a história que a
pessoa contou. Todos as pessoas presentes na sessão, quando a intervenção é feita em um
grupo, podem participar da dramatização por meio de opiniões, idéias para continuar a
história ou para terminá-la. Sobre isso, Aguiar (1998, p. 19) afirma:
“Terapeuta e cliente trabalham juntos na pesquisa sobre os conflitos que estão presentes
na rede de relações de que o paciente é centro (operacionalmente convencionado). O mero
trabalhar sobre esses fatos proporciona ao cliente a oportunidade de liberar sua
espontaneidade e de realizar uma ação co-criativa. Tal experiência é, em si, terapêutica,
independentemente do conteúdo das conclusões a que se cheguem, bem como do caráter
final da criação conjunta”.
É por meio da experiência relatada pelas pessoas que o psicoterapeuta atua. Giombelli
e Machado (1999), numa pesquisa cujo objetivo foi o de ensinar comportamentos e atividades
ecologicamente apropriadas à empregados de uma empresa industrial para obter o certificado
de preservação ambiental, utilizou de situações vivenciadas em contexto dramático
produzidas pelos integrantes do grupo. Utilizar situações cotidianas comuns aos participantes
daquele grupo mobilizou a participação de forma perspicaz e atenta, possibilitando a
apreensão dos conceitos ambientais. Partir da própria vivência é uma forma de encontrar
novas maneiras de agir e aprender outras possibilidades, pela apresentação de
comportamentos que na vida fora do contexto do grupo psicoterapêutico, as pessoas
dificilmente apresentariam ou ousariam apresentar.
Numa sessão de psicoterapia psicodramática, não há uma preocupação em expor para
a pessoa as suas características ou as causas das suas ações de maneira direta pelo
psicoterapeuta. As histórias reais ou fantasiosas relatadas pelos participantes do grupo
constituem o instrumento do psicodramatista para estruturar, organizar ou clarificar as
relações entre as pessoas. Ao modificar condutas, os participantes muitas vezes desenvolvem
expectativas diferentes nas relações cotidianas. No entanto, para fazer com os participantes
transformem novas percepções em novos comportamentos ou para fazer com que eles
aumentem a percepção dos múltiplos determinantes de uma situação, o psicodramatista dispõe
de algumas técnicas (solilóquio, espelho, inversão de papéis, interpolação de resistência,
3
Mais informações sobre as características do Psicodrama (tipos, técnicas, procedimentos, princípios, funções
8
duplo), de observações que pode fazer quando necessário, do auxílio do grupo principalmente
quando ao compartilharem contam suas próprias experiências ao protagonista. A mudança se
efetiva quando a pessoa percebe suas ações e as conseqüências das mesmas, treinando
cotidianamente uma nova forma de agir até se tornar capaz de apresentar um novo
comportamento que mais provavelmente trará melhores benefícios para si e para outras
pessoas com as quais convive.
No psicodrama há possibilidades de alterar a conduta das pessoas por auxiliá-las a se
perceberem, e perceber melhor o outro. Esta afirmativa foi constatada por Borsato e Andrade
(2000) ao assessorar uma professora de uma escola que tinha dificuldade em perceber o
impacto de suas ações sobre o aluno e em perceber o que o aluno sentia. Foram realizadas
dramatizações com as situações trazidas por ela referente ao aluno. Aos poucos, ela começou
a observar o aluno e a se observar. Por meio dessa observação percebeu que suas aulas eram
realmente muito “chatas” e que o aluno apresentava comportamentos inadequados em virtude
das aulas serem “chatas”. O diretor (psicodramatista que conduziu os trabalhos) utilizou-se,
por várias vezes, da inversão de papel professor-aluno no contexto dramático. A inversão de
papéis auxiliou na percepção, no lugar do outro, dos sentimentos do outro. Ao final do
processo a professora mudou sua forma de dar aula por ter percebido a forma como agia, bem
como passou a agir diferente com o aluno e a considerar suas disposições e sentimentos.
O psicodramatista, por sua vez, auxilia a pessoa para encontrar um comportamento
adequado à situação dela. A pessoa sabe que precisa mudar, percebe os malefícios de seu
comportamento para si mesmo e para outros, mas continua fazendo do mesmo jeito por não
conseguir comportar-se de modo diferente. Nesse sentido, dizer para o cliente o que fazer não
propicia um aprendizado porque a pessoa ficará dependente das orientações do
psicoterapeuta, ao invés de desenvolver um novo modo de se relacionar. No psicodrama, um
novo modo de se relacionar é desenvolvido por meio das dramatizações. Orientações são
úteis, contudo, tem sido insuficientes para mudar o comportamento. Efetivar a mudança de
comportamentos envolve, dentre muitas coisas, a necessidade de mudar a maneira de pensar,
maneira de fazer as coisas, mudar os sentimentos e percepções das pessoas.
Amaro (1987) e Andaló (2001) definem orientações dadas pelo psicoterapeuta como
aconselhamento, de acordo com seus referenciais de “certo” e “errado”, delimitando as
atitudes que o cliente deve tomar frente a situações conflitivas. Não faz parte do modo de ação
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do psicodramatista o aconselhamento assim definido, porque este funciona somente como
informação ao cliente e porque condutas consideradas adequadas para o psicoterapeuta podem
ser inadequadas no contexto da vida do cliente. Mudar a maneira de pensar, os sentimentos,
as percepções como condições necessárias para mudar comportamentos, talvez sejam, as
razões pelas quais o psicodramatista evita o aconselhamento. A pessoa que procura auxílio
psicoterápico precisa encontrar uma maneira própria de agir no seu contexto, considerando
seus valores, suas necessidades.
10
comportamentos já conhecidos, em vez de apresentar novas formas de se comportar que o
deixem mais satisfeito.
De acordo com Capra (1996), há um limiar de estabilidade, no qual pode haver uma
decomposição ou imergir novos estados de ordem. Cita-se, como exemplo, um senhor que
fora atendido no Programa Papai em Pomerode4, cuja queixa foi o abuso de álcool. Ele
freqüentava um grupo terapêutico aberto e também individualmente. Seis meses depois de
iniciar o tratamento ele estava bem, os filhos haviam voltado a estudar e estavam ajudando a
reconstruir a casa. Essa mudança de comportamento é justificada pelo aumento do cuidado
consigo mesmo, pela necessidade de estar bem para cuidar dos filhos, pelo desenvolvimento
da autoconfiança. Durante esses seis meses em que estava buscando apreender novos
comportamentos para substituir os antigos, consumiu álcool abusivamente duas vezes, por
problemas inesperados. Esses episódios de reincidência do comportamento de beber indicam
que a aprendizagem de novos comportamentos implica em muito mais coisas do que
simplesmente deixar de beber. O consumo está associado a outras situações além daquela de
ingerir bebidas alcoólicas. A pessoa que bebe abusivamente precisa alterar as relações com os
amigos, lugares específicos que freqüentam, horas e situações específicas e as conseqüências
advindas de cada uma dessas situações que interferem na auto-imagem, nas emoções e
sentimentos em relação à família, ao trabalho. O “ponto de equilíbrio” encontrado por esse
senhor em questão foi limitar-se a tomar uma cerveja no final de semana.
Manter o mesmo comportamento em situações novas que resultam em pouco ou
nenhum benefício, em geral produzem insatisfação nas pessoas. Agir de maneira uniforme ou
muito semelhante em situações diferentes, revelando pouca capacidade discriminativa de
quem age, caracteriza comportamentos pouco adaptados e podem ser fontes de frustrações,
brigas, informações desencontradas, discussões que poderiam ser evitadas. Borsato e Andrade
(2000), ao fazer uso do método psicodramático, modificaram a forma de agir e pensar de uma
professora que mantinha comportamento uniforme com todos os alunos. Ela não prestava
atenção nos alunos, não permitia que fossem ao banheiro no horário de aula, independentes da
situação que se apresentasse. O comportamento rígido da professora gerou discussões e brigas
na sala de aula. O comportamento de dar ordem da professora era mantido por crenças, por
aprendizado, por insegurança, necessidade de manter o controle dos alunos. Por meio da
4
Programa de Atenção Preventiva ao Menor Infratado,coordenado pelo psic. psicodramatista Claudemir Casarin, em Pomerode (SC).
11
dramatização foi possível a professora aprender novos comportamentos, modificando o modo
de pensar e sentir os alunos.
A manutenção de comportamentos muito semelhantes em diferentes e novas situações
torna-se desvantajoso em alguns momentos, na medida que as outras pessoas com as quais
interage a situação conflitante continua sempre a mesma. No psicodrama os participantes
aprendem a ser espontâneos e criativos para responder adequadamente a novas situações,
minimizando o mal-estar das brigas, discussões e desentendimentos. A capacidade de criar
novas respostas é desenvolvida no psicodrama, tanto intelectual quanto emocionalmente.
Para Rosinha (1997, p.67): “este estado de espontaneidade localiza-se entre o imaginar fazer e
o próprio fazer e, em sendo uma condição psicofisiológica, mobiliza a mente e o corpo para se
concretizar. Os conceitos/objetos serão incorporados e associados a movimentos/ações
concretas, podendo ser facilmente lembrados quando forem necessários”. Quando uma das
pessoas envolvidas em uma relação modifica sua resposta as situações semelhantes, a outra
pessoa tende a modificar sua resposta e, assim mudar a relação entre ambos.
Fazer com que as pessoas se comportem diferentemente em situações semelhantes é
um dos princípios existentes no método psicodramático O psicodramatista visa possibilitar
aos participantes novas possibilidades de comportamento, aprimorando o modo de viver
desses participantes. Para Costa (1999) e Andaló (2001), por meio do método
psicodramático, é possível os indivíduos inovarem as interações, expressando-se
criativamente e espontaneamente. Costa (1999) realizou uma pesquisa numa comunidade,
utilizando o psicodrama. Ao findar o trabalho, os participantes criaram novas maneiras de se
relacionar com as respectivas famílias, encontrando possibilidades diferentes e produtivas de
comunicação. Nas dramatizações os participantes enfrentaram situações inesperadas e
precisaram dar respostas improvisadas no local destinado para representar (palco). Essas
improvisações prepararam os participantes para serem capazes de apresentarem
comportamentos diferentes no cotidiano, comportamentos estes que melhor se adaptassem às
situações e que os fizessem mais felizes.
No psicodrama, as histórias contadas e a interação grupal são os meios utilizados para
que os participantes modifiquem ou mantenham o modo de se relacionar com as pessoas,
consigo mesmo, com o trabalho, com suas coisas. Os participantes aprendem a ser
espontâneos e criativos para responder de modo novo e adequado as situações cotidianas. O
psicodramatista facilita a percepção dos participantes, no que se refere ao modo como se
12
relacionam com as pessoas com quem convivem, consigo mesmo e com as coisas. Diante das
situações trazidas (contadas ou dramatizadas) pelas pessoas, é vista as perspectivas dos
demais participantes do grupo e, também do psicoterapeuta. Os participantes, na psicoterapia
psicodramática, são levados a se perceber, perceber as outras pessoas ao seu redor, as
situações para que possa decidir qual o modo mais adequado de agir.
13
psicodrama é o jogo do faz-de-conta que permite às pessoas participantes e, em especial, ao
protagonista criar seu próprio jogo, vivenciar as coisas que imagina, dar vazão a fantasia
reprimida por comportamentos determinados culturalmente. O psicodrama é considerado um
jogo por ser metódico e sistemático, permitindo a improvisação, a criação num espaço
determinado (Moreno, 1974). É necessário um contexto propício para o jogo que pode ser
utilizado como meio para desenvolver a aprendizagem de comportamentos de maneira
descontraída.
O jogo, de acordo com Brenelli (1996), foi negligenciado na escola por ser visto
apenas como descanso, descontração. Há estudos que permitem demonstrar que a utilização
de jogos facilitam a aprendizagem tanto de conceitos relacionados às diferentes áreas do
conhecimento como de novos comportamentos (Benjamin, 1984; Sparling e cols., 1984;
Kishimoto,1996; Nascimento, 1998). Justamente por proporcionar descontração o jogo pode
ser utilizado para as crianças aprenderem de maneira mais relaxada, minimizando a
preocupação em estar sendo testado ou observado. Tanto crianças quanto adultos podem
experimentar, falar o que tem vontade, fazer sem receio de errar. Há uma liberdade para criar
e experienciar justamente por fazer parte das regras do jogo. No contexto de jogo o
importante é a participação, a descontração, o querer, a vontade de estar junto sem precisar
seguir determinadas regras que não fazem sentido no contexto grupal do psicodrama. Talvez,
aí se encontre uma das razões pelas quais as pessoas relatem efeitos benéficos do uso do
psicodrama em períodos de tempo relativamente curtos.
A criação do método psicodramático não tem um marco definido, mas sim, situações
vivenciadas por Jacob Levy Moreno que foram delineando uma forma de atuação, cuja
denominação posterior foi psicodrama. Moreno, seu criador, em uma obra de 1984, afirma
que o psicodrama tem quatro berços. O primeiro berço foi sua primeira apresentação pública
na Komoedien Haus, na Viena pós-guerra, num teatro dramático existente na cidade, em 1o de
abril de 1921. Viena não tinha rei, imperador e governo estável por ter ocorrido a guerra. O
teatro foi uma tentativa de curar o público da revolta por não ter um governo estável. Moreno
já era psiquiatra nesse período e durante o curso de medicina tinha feito experiências teatrais
improvisadas com as crianças nos jardins de infância de Viena (terceiro berço). Ele estava
sozinho no Komoedien, sem atores profissionais. No palco se encontrava uma poltrona
14
vermelha. A platéia se compunha de 1000 pessoas aproximadamente de estados europeus e
não-europeus. Os atores de Moreno, foram então, as pessoas da platéia que se dispuseram a
sentar na poltrona. A peça foi constituída dos acontecimentos históricos que estavam
vivenciando. As pessoas foram convidadas a subir ao palco e sentar na poltrona para tentar
uma forma de ser rei a partir da própria perspectiva. O público era o júri. Ninguém
desempenhou o papel de rei a contento do público.
O segundo berço que, em ordem cronológica seria o primeiro, por ter acontecido
quando Moreno tinha quatro anos. É considerado o segundo berço por Moreno ter analisado a
influência da situação, acontecida na sua infância, após ter vivenciado a experiência no
Komoedien Haus. A situação está relacionada com a religião judaica hassidíaca que a família
do menino Moreno freqüentava. Ele tinha quatro anos quando numa das brincadeiras criadas
por ele e seus amigos, resolveu brincar de Deus no porão da sua casa, subiu numa pilha de
cadeiras, por que Deus está no alto. As cadeiras eram seguradas pelos amigos que
representavam anjos. Após determinado tempo, “os anjos” não agüentaram o peso das
cadeiras e Moreno caiu, quebrando o braço. O criador do psicodrama analisando a situação
quando adulto, afirma que
O terceiro berço foram os jardins de infância de Viena, quando Moreno ainda era
estudante de medicina por volta de 1910. Reunia as crianças e formava grupos para
representações improvisadas. Incentivá-las a brincar de Deus, criar um Deus a seu modo,
motivado pela brincadeira que ele mesmo vivenciou quando criança. Os pais e professores das
crianças vendo os efeitos do teatro improvisado nos filhos, incentivaram Moreno a abrir um
teatro para eles (Moreno, 1984). Desse modo, foi criado o teatro improvisado para adultos,
cujas instalações foram patrocinadas pelo irmão de Moreno.
O quarto berço ocorreu no Teatro para a Espontaneidade, próximo a ópera de Viena.
Prédio patrocinado pelo irmão de Moreno, Willian para realização dos teatros improvisados,
aproximadamente em 1922. Nesse período contava com atores do teatro convencional para
auxilia-lo. O publico era adulto. Bárbara era a atriz principal, desempenhava adequadamente e
15
a contento do público os papéis solicitados, em especial, papéis ingênuos, heróicos e
românticos. Numa das sessões Bárbara anunciou seu casamento com George, que sempre
estava na platéia. Ele havia se encantando pelo jeito dela representar os papéis. Após o
casamento, George procurou Moreno para falar que a Bárbara doce e romântica, em casa não
existia. Ela era agressiva e chegava até a esmurrá-lo. Moreno (1984) afirma que solicitou a
partir daquela noite que Bárbara representasse papéis agressivos, evidenciando a ela que a
vida também tem situações ruins e isto precisaria ser mostrado para o público. A
representação desses papéis no palco possibilitou que Bárbara mudasse seu comportamento
em casa. George mantinha contato com Moreno fora das sessões para informá-lo do
comportamento da sua esposa. Afirmou para Moreno que tratava-se de uma terapia,
utilizando as seguintes palavras: “é como se cada um de nós visse o outro num espelho
psicológico”. Estava criado o Teatro Terapêutico.
16
podendo desencadear mudanças na forma de ver o mundo, nesse sentido passa a agir frente a
ele de forma a favorecer uma saudável integração intra e interpessoal.
A utilização do método psicodramático no grupo possibilita uma representação
próxima das vivências do contexto social. O grupo parece amplificar os afetos, levando o
protagonista a sentir-se protegido e amado pela força impulsionadora dos integrantes. Essa
força é o que Moreno denomina de catarse:
17
O auxílio das pessoas do grupo tendem a confortar, a fortalecer, a se solidarizar com o
sofrimento da pessoa que está precisando. Há um auxílio também quando a pessoa não está
tendo problemas na relação. É importante para o grupo saber quando os seus membros estão
bem, sentindo-se fortalecidos pela ajuda ter resultado no bem-estar da pessoa. Há membros do
grupo mais dispostos a ajudar, há outros que se mantêm afastados, tal como fora da sessão
psicodramática: há pessoas que estão prontas para ajudar, outras não querem ou não
conseguem ajudar.
No grupo as pessoas sentam de maneira que podem ver, se perceber e falar uns com
os outros (Moreno,1974, De Lima, 2002 ). As pessoas do grupo se observam, percebem-se
entre si. Esta percepção permite que o grupo, além do terapeuta, fale, opine e compartilhe as
situações que vivencia. Na medida que o grupo se conhece mutuamente, confiam uns nos
outros, aumenta a empatia entre as pessoas. O grupo oportuniza novas possibilidades de
comportamentos por dar sentidos e significados variados para a mesma situação.
Os participantes do grupo também falam de seus sentimentos e comportamentos,
embora em determinadas situações somente uma ou duas pessoas estejam recebendo a
atenção do grupo (protagonista), num dado momento. A finalização da sessão denominada
compartilhar é o mais adequado e explícito momento em que os outros contam suas
experiências e sentimentos relacionados com a situação relatada e vivida pelo protagonista.
Durante a dramatização, quando alguns participantes atuam como atores coadjuvantes,
também, expressam seus sentimentos por meio de seus comportamentos. Assim, o
protagonista (pessoa em foco) desenvolve uma confiança no grupo, identifica-se e percebe
que não é o único a ter determinadas dificuldades. Ramos (1994) afirma que a intervenção
realizada com os meninos de rua somente foi possível porque as estagiárias, integrantes da
equipe de pesquisa, demonstraram seus sentimentos de afeição e companheirismo por meio de
histórias que contaram sobre si, por trabalhos que ensinaram a eles e também estavam
dispostas a aprender com eles. Nesse sentido, quando as estagiárias contaram sobre as
vivências, “enturmaram-se” com eles, conquistaram a confiança dos meninos, possibilitando
quisessem participar das sessões de psicodrama.
O estabelecimento da confiança e o sentimento de segurança coletiva são assegurados
pela relação de troca de experiências propiciadas pelo psicodramatista ao desenvolver as
sessões. Moreno (1974, p.103) afirma: “os membros do grupo durante o tratamento através do
desempenho de papéis, análise e outros métodos, em momentos propícios, sejam orientados
18
paulatinamente a compreender sua responsabilidade recíproca e a atuar em decorrência dela”.
No psicodrama não é permitido que apenas o protagonista (“paciente”) expresse seus
sentimentos, os outros participantes dividem com ele as dificuldades, angústias, alegrias,
tristezas. Dessa forma, a pessoa que se expôs para o grupo não se sente desprotegida.
O adequado desempenho do psicodramatista garante a confiança mútua entre os
participantes do grupo e a interação entre eles. O psicodramatista para assegurar a interação
entre os participantes e, conseqüentemente a manutenção deles no processo psicoterapêutico
grupal, precisa fazer a mediação adequada das situações que ocorrem no grupo. Mediar o
grupo quer dizer perceber o modo pelo qual cada um dos participantes interage uns com os
outros e a repercussão dessa interação no processo grupal. A interação do grupo tende a ser
intensificada quando o psicoterapeuta faz o grupo se perceber. Os participantes podem criar
meios para não demonstrar suas fragilidades e dificuldades, o psicodramatista por sua vez
precisa possibilitar a emergência dessas dificuldades, para depois, resolvê-las.
Os participantes podem criar códigos entre si, fazer um contrato implícito que, se não
percebido pelo psicodramatista pode dificultar a manutenção do grupo. Bittencourt (1994)
afirma que percebeu no grupo em que dirigia a existência de uma harmonia superficial,
traduzida pelo silêncio quando os participantes falavam das situações, ninguém criticava ou
fazia perguntas. O contrato implícito parecia ser “ninguém magoa ninguém” e, desta forma,
não havia interação grupal para promover a transformação dos participantes do grupo. Havia
uma resistência em dramatizar, as pessoas diziam não gostar e, a forma que preferiam era
conversar sobre as situações. Enquanto psicodramatista que dirigia o grupo, Aniram
Bittencourt percebeu que ao conversar tinham controle sobre o que falavam, tinham cuidado
para não falar das dificuldades para o grupo. Ao dramatizar os participantes perderiam esse
controle, as dificuldades “vergonhosas” ficariam visíveis a todos do grupo e, principalmente
para si mesmo. O psicodramatista, ao perceber situações como essa, pode utilizar o próprio
método psicodramático para que o grupo resolva esse conflito.
Conhecer as dificuldades do outro, exigir que o outro participante se veja, relembrá-lo
no decorrer das sessões das situações que já passou tanto dificultosas quanto prazerosas é
condição para a interação grupal e a manutenção do grupo psicoterapêutico. O
psicodramatista possibilita essa interação quando atua como facilitador das relações grupais,
viabilizando que a comunicação entre os participantes ocorra. Aquecer os participantes, isto é
deixar o campo relaxado, descontraí-los facilita a interação. Dramatizar também é superficial
19
se as pessoas não estiverem relaxadas e não torna condição para a interação grupal. A
dramatização potencializa que as pessoas expressem as suas dificuldades se forem
devidamente aquecidas como aconteceu com o grupo dirigido por Aniram Bittencourt, que os
participantes reduziram o estado de tensão no aquecimento, o que facilitou a expressão por
meio da dramatização do conflito vivenciado no grupo. Quando as pessoas do grupo
conhecem mutuamente suas dificuldades e estiverem participando há algum tempo do
processo psicoterapêutico grupal a comunicação verbal pode proporcionar a interação e a
transformação das pessoas. Os participantes tendem a falar o que estão vendo do outro,
mostrando, além das dificuldades, o grau de desenvolvimento e suas potencialidades.
Para Aguiar, numa sessão psicodramática a interação grupal,“tem a ver com a
capacidade de criar uma forma comunicacional que vá “direto ao ponto” para propiciar uma
experiência emocional intensa, que signifique um contato profundo com algum aspecto novo
da realidade que todos fazem parte” (1999, p.5). O psicodramatista precisa criar meios para
que ocorra a interação entre os participantes com elevado grau de intensidade. A percepção do
modo pelo qual os participantes estão se relacionando entre si é indicativo das necessidades
do grupo para se manter como grupo. A adequada percepção e a utilização de meios eficazes
para a interação grupal está relacionada com o preparo profissional e psicológico do
psicodramatista.
20
grupo de psicoterapia deve ser considerado o contexto do grupo, os objetivos e a organização
do tempo.
21
mediadores, facilitadores das relações entre os participantes. O sigilo, o respeito com as
pessoas, o tempo que cada um fala, determinação do início e fim da sessão são atribuições de
todos os psicoterapeutas.
5
O propósito não é discutir exaustivamente se o psicodrama é um método ou não, embora, pelas razões expostas
no texto, o psicodrama foi considerado como método por ser caracterizado por um conjunto de procedimentos,
técnicas, princípios que produz resultados satisfatórios para as pessoas que participam.
22
hospital etc.) No entanto, dificilmente uma sessão será igual a outra, embora seja feito no
mesmo lugar e com as mesmas pessoas.
O psicodrama é tido como autocorrigível porque quando a técnica utilizada não está
dando certo é modificada no mesmo momento. Considerando que as pessoas são diferentes, as
técnicas são adaptadas às diferentes pessoas em diferentes situações. Por exemplo, o diretor
solicita que o protagonista pense alto (técnica do solilóquio), mas ele continua mudo. Neste
momento, o diretor pode colocar um ator no lugar do protagonista para que este se perceba
(espelho).
A possibilidade de criar novas técnicas ou de adaptar as já conhecidas a novas
situações é um dos aspectos que caracteriza o método psicodramático. A repetição das
técnicas sem considerar o contexto e as pessoas presentes descaracterizam a atuação do
psicodramatista. O psicodramatista relaciona princípios técnicos e teóricos, considerando as
características, comportamentos dos participantes e o momento.
Os princípios do psicodrama não representam leis, mas consistem em orientações para
que o psicoterapeuta conduza um grupo adequadamente e com responsabilidade. O
psicodramatista, ao trabalhar com grupos, precisa obedecer aos princípios que caracterizam o
psicodrama. Isso não significa que todos os problemas possam ser resolvidos por esses
princípios. Ele precisa conhecer os princípios teóricos para manejar adequadamente as
técnicas, considerando que estas por si só não garantem o manejo adequado do grupo. Os
princípios (vide anexo 1) são, de certa forma, flexíveis, pois podem ser adaptados as
necessidades específicas de um grupo. Fonseca (2000) afirma que os princípios do
psicodrama foram postulados por Jacob Levy Moreno considerando a sua aplicação em
grupos abertos. O profissional que utiliza o método precisa saber que as relações entre os
participantes e o psicoterapeuta em grupos que se encontram semanalmente são diferentes das
relações estabelecidas num grupo de curta duração.
O psicodramatista, além de conhecer o método, precisa conhecer como se forma um
grupo em tese e também por ter experienciado como participante. Nesse sentido, psicoterapia
e supervisão do trabalho constituem quesitos fundamentais para entender o funcionamento e a
dinâmica dos grupos psicoterapêuticos. É coerente que o psicoterapeuta utilize em si o que
acredita ser útil para os outros. Ele poderá entender e agir acertadamente se tiver vivenciado o
psicodrama, mesmo em situações diferentes das vividas pelo cliente. Nesse sentido, Rosinha
(1997, p.104) afirma: “os maiores problemas, entretanto, ocorrem nas condições pessoais do
23
profissional docente que aplica o psicodrama. (...) Aplicar o psicodrama exige vivência
pessoal psicodramática”. O profissional que faz uso do método psicodramático precisa
conhecer suas próprias características para que tome conhecimento quanto estas estiverem
interferindo no processo psicoterapêutico do cliente. Caso o psicodramatista não vivencie o
psicodrama poderá impor verdades morais, ao invés de “abrir” possibilidades para o cliente.
Fazer psicoterapia em grupo possibilita que o psicoterapeuta vivencie o que aplica aos
outros e que perceba o impacto dos seus comportamentos nas pessoas. Precisa aprender a lidar
com a condição humana, para conseguir utilizar o método do modo adequado, embora
algumas vezes ele possa falhar. No entanto, um profissional bem formado saberá transformar
suas falhas ocasionais em fontes de novas aprendizagens para aprimorar sua intervenção. O
psicodramatista que faz psicoterapia tende a apresentar facilidade para tratar de todas as
pessoas que precisarem de seus serviços, inclusive, familiares e cônjuge. Ao participar de
processo psicoterapêutico grupal aprende a atuar adequadamente nos diferentes papéis.
6
A Febrap – Federação Brasileira de Psicodrama é o órgão que regulamenta sobre a formação específica do
psicodramatista.
24
como terapeuta era parte do curso de formação em psicodrama, exigindo definir com
antecedência o prazo de término do grupo. O trabalho era gratuito e as pessoas que queriam
fazer psicoterapia se inscreviam, aguardando serem chamadas por algum dos terapeutas-
estagiários. Eles delimitaram em dez o número das pessoas, sendo cinco homens e cinco
mulheres, que fariam psicoterapia no grupo. Selecionaram os primeiros da lista disponível na
clínica-escola e realizaram uma entrevista inicial individual com possíveis participantes.
Algumas entrevistas foram realizadas pelos dois terapeutas juntos, outras pessoas eram
entrevistadas por apenas um dos psicoterapeutas, de acordo com a disponibilidade de tempo
dos profissionais. O critério utilizado para a inserção das pessoas no grupo era profissão, sexo,
idade, grau de instrução, diagnóstico do paciente. Após o início do grupo houve a inserção de
outras pessoas no grupo sem a utilização desses critérios. Nesse trabalho não foi considerado
o desejo das pessoas participarem ou não como critério para constituir um grupo. Elas se
sujeitaram participar de um grupo pela necessidade de fazer psicoterapia. Não foi um convite
a participar, houve uma seleção seguindo critérios técnicos (sexo, idade, etc.), minimizando o
critério mais utilizado pelos psicodramatistas8: afinidade entre as pessoas que constituem um
grupo. Afinidade diz respeito a semelhança das histórias de vida, sentimentos, percepções. Os
critérios gênero, idade, grau de instrução não garantem proximidade entre as pessoas,
conseqüentemente não garantem que as pessoas permanecerão num grupo psicoterapêutico.
O grupo, em questão, terminou três meses antes do previsto por abandono gradativo
dos participantes. A duração máxima seria de doze meses. Perazzo (1980) pesquisou os
fatores que propiciaram o abandono da psicoterapia pelo grupo antes do tempo previsto, fez
análise de todas as sessões, das entrevistas iniciais e coletou informações dos integrantes após
terem deixado o grupo. Ele constatou que as três pessoas que permaneceram mais tempo no
grupo foram as mesmas com que o psicoterapeuta interagiu, se envolveu e confiou. A
aceitação e a qualidade da interação com o terapeuta e com os demais integrantes foram
fatores que, mais do que o tipo de profissão, sexo, idade, grau de instrução, diagnóstico do
paciente, foram responsáveis pela manutenção das pessoas no grupo terapêutico. Além disso,
a realização de uma entrevista inicial individual foi insuficiente e dificultou o estabelecimento
de confiança entre terapeuta-cliente; a falta de um contrato inicial em que fossem sinalizados
situações e comportamentos como horário de início e término, faltas, compromisso com o
7
Grupo de terapia fechado consiste num número limitado e determinado de participantes. As mesmas pessoas se encontram semanalmente
para fazer psicoterapia.
25
grupo, postura fora do contexto terapêutico ao encontrar colegas do grupo que ficaram para
ser definidas por cada um; houve comportamentos de afastamento por parte do terapeuta em
relação ao cliente, ocasionados pela preocupação em utilizar a técnica, cumprindo as três
etapas da sessão (aquecimento, dramatização e compartilhar). Essa preocupação em cumprir
os critérios da escolha inicial dos participantes e da sessão, não permitiu que o
psicodramatista visualize as pessoas como foco principal.
É fundamental no psicodrama o relacionamento entre as pessoas que precisa ser
considerado na escolha das pessoas que participarão de um grupo psicoterapêutico, na
condução da sessão, mesmo que as técnicas precisem ser re-criadas. Nesse contexto,
confirma-se a necessidade do próprio terapeuta fazer psicoterapia, reconhecendo suas
limitações e influência das mesmas no seu trabalho, além de conhecer teórica e tecnicamente
o método, buscando orientação por meio de supervisão do seu trabalho.
A eficácia do método psicodramático não é garantida pela aplicação das técnicas. As
técnicas (solilóquio, espelho, duplo, inversão de papéis, interpolação de resistência) são
eficazes em determinados contextos e situações, sendo utilizadas com finalidades específicas.
A utilização das mesmas desvinculadas da situação e dos princípios teóricos pode
descaracterizar os resultados. Para Aguiar (1996, p.6): “na dramatização essas técnicas visam
a pesquisa do sub-texto para que o texto possa ser enriquecido com novos elementos
conseguidos através desses procedimentos”. As técnicas facilitam que o psicodramatista
perceba as crenças que originam o relato e os comportamentos aos quais o relato faz parte.
Esses procedimentos enriquecem a encenação, possibilitando que o protagonista perceba os
próprios sentimentos, os próprios comportamentos e suas relações.
O psicodramatista José Fonseca adaptou a técnica do sonho dirigido, desenvolvida em
grupo, para o atendimento individual, em que solicita que o paciente imagine-se em
determinada cena e verbalize o que está acontecendo consigo próprio (Aguiar 1996). A
técnicas e as modalidades do psicodrama podem ser adaptadas pela psicodramatista de acordo
com o contexto, com as características do grupo. As modificações realizadas pelos
psicodramatistas requerem conhecimento aprofundado das técnicas na sua forma tradicional e
experiência para não descaracterizar o método. Para Bustos (1999, p.19) “o portador da
mensagem moreniana deve ser capaz de recriar o próprio universo”. A proposta desenvolvida
por Jacob Levy Moreno, criador do psicodrama, pressupõe que os profissionais dispusessem
8
Há vários critérios que podem ser utilizados pelo psicodramatista para seleção de pessoas que irão participar
26
de um método de trabalho que pudesse ser recriado de acordo com as necessidades específicas
de um grupo. Os procedimentos psicodramáticos utilizados isoladamente constituem um fim
em si mesmo, uma vez que precisam ser recriados, adaptados a cada situação, a cada pessoa.
As modificações e adaptações técnicas feitas pelos psicodramatistas estão relacionadas
com a percepção do grupo. Não existem técnicas específicas para o psicodramatista perceber
os participantes do grupo e a dinâmica existente entre eles, contudo, há facilitadores dessa
percepção: aquecimento do psicodramatista preliminar ao do grupo; a experiência de vida, a
psicoterapia pessoal e, também a comunicação com os terapeutas-auxiliares (ego-auxiliar,
ator-auxiliar). O psicodramatista, na função de diretor do grupo, precisa perceber o grupo
para conduzi-lo à dramatização, se houver, e a transformação das relações das pessoas.
Existem técnicas de aquecimento descritas de acordo com o desenvolvimento dos grupos
(Yozo, 1996). As técnicas descritas no livro podem ser utilizadas como possibilidades a serem
adaptadas nos grupos. O psicodramatista precisa saber utilizá-las de acordo com a dinâmica
grupal específica, não considerá-las em si mesmas. É interessante que conheça um cabedal de
técnicas, mas simplesmente aplicá-las no grupo sem a clareza das necessidades específicas
dele, outras vezes significa fracasso no processo psicoterapêutico. O grupo tende a demonstrar
de uma forma ou de outra se está se adaptando ao aquecimento, se está sendo válido ou não,
se está demorando ou demasiadamente rápido. O diretor –psicodramatista precisa estar
sintonizado com o grupo para perceber o que está acontecendo e que rumo seguir.
Para dirigir um grupo, é necessário que o psicodramatista (na função de diretor) se
prepare, se aqueça para ficar descontraído, natural, espontâneo, podendo “sentir” o grupo
com mais facilidade (Bustos, 1999). Quando o psicoterapeuta percebe o grupo, confia nele e
em si próprio, ele fica desprendido da obrigação de usar a técnica pela técnica, concentrando-
se na relação com o grupo. O psicodramatista deve ser o primeiro a confiar no grupo, a
expressar os sentimentos, para que este responda reciprocamente. As técnicas e a teoria não
desenvolvem, por si só, a confiança dos participantes no psicoterapeuta. Ë preciso que o
psicoterapeuta conheça a teoria e as técnicas, mas sobretudo que as utilize em momento
adequado, recriando-as quando necessários, que perceba e se preocupe com o bem estar das
pessoas presentes
A formação do psicodramatista é contínua, a troca com os colegas de profissão.
Poucos são os psicodramatistas que trabalham sozinhos. Aparentemente podem estar
27
sozinhos, mas participam de grupos de discussão, utilizando recursos disponíveis para isso (
grupo de estudos na internet, congressos, seminários). Aguiar e Tassinari (1994) afirmam
que o processamento de sessões psicodramáticas, onde os psicodramatista utilizam os
acontecimentos da sessão para discutir e compreender a atuação do diretor, dos atores
auxiliares, do protagonista e o impacto causado no grupo, cuja finalidade é produzir
coletivamente conhecimento relacionada a prática psicodramática.
As exigências da formação do psicodramatista são conhecimento técnico, supervisão,
grupos de discussão contínuos com outros colegas psicodramatistas e psicoterapia. A razão
pela qual são feitas tais exigências encontra-se na necessidade de conduzir adequadamente as
sessões, de modo que os resultados sejam a médio e curto prazo. O psicodramatista que dirige
as sessões precisa perceber-se para perceber o impacto das suas ações nas pessoas e,
conseqüentemente fazer as alterações técnicas que se ajustem aquele momento. Fazer
psicoterapia auxilia o psicoterapeuta a se perceber e perceber os outros. Ao perceber os
participantes, precisa ter conhecimento técnico, obtido por meio do curso de formação em
psicodrama e, aprimorado em grupos de discussão e supervisão, para saber como utilizar essa
percepção de modo a cumprir com os objetivos para os quais foi contratado.
9
Moysés Aguiar. Teatro Espontâneo e Psicodrama à Deux. O texto foi parte integrante do curso de formação em
psicodrama realizado na Companhia do Teatro Espontâneo e Psicodrama, em Campinas-SP.
28
“Todo terapeuta sabe que seu conhecimento científico é limitado e é apenas instrumental e
que, a rigor, o que conta é mesmo suas inspiração, a sua disponibilidade, a magia que se
instaura na sua relação com o paciente a partir da afinidade, da confiança e da aceitação
mútuas e um coquetel de condições muito mais ligadas à subjetividade do que ao cabedal de
conhecimentos.”
29
abandono num grupo de psicoterapia. (Perazzo, 1980, Fleury 2002 ). Delinear a situação do
trabalho do psicodramatista na clínica indica as circunstâncias em que as pessoas abandonam
o processo psicoterapêutico, ou se mantém por períodos relativamente prolongados. A partir
desse conhecimento é possível o psicoterapeuta ter indícios das novas percepções e
disposições a serem adotadas, para reduzir o número de evasão dos grupos psicoterapêuticos e
aumentar os benefícios de sua intervenção. O psicoterapeuta -psicodramatista precisa ser
capaz de identificar os aspectos e fatores que interferem na situação de psicoterapia para atuar
de maneira a corrigir as deficiências.
Dada a complexidade da situação em que uma psicoterapia se desenvolve (interação
com outras pessoas em grupo, características do psicodramatista e dos terapeutas auxiliares,
funções e papéis de cada envolvido ao processo psicodramático, conjunto de técnicas e
procedimentos, natureza dos assuntos objeto de discussão e experiências, tipo de contrato
etc.), é importante responder a pergunta de pesquisa quais as percepções dos integrantes de
grupos psicoterapêuticos psicodramáticos sobre os vários componentes do processo. A
construção da resposta à pergunta possibilitará descobrir que aspectos estão sendo, mais
provavelmente, os responsáveis pela permanência dessas pessoas em grupo de psicoterapia
psicodramática.
30
1.7. Determinantes que podem manter as pessoas num grupo de psicoterapia
psicodramática
“Todo terapeuta sabe que seu conhecimento científico é limitado e é apenas instrumental e
que, a rigor, o que conta é mesmo suas inspiração, a sua disponibilidade, a magia que se
instaura na sua relação com o paciente a partir da afinidade, da confiança e da aceitação
mútuas e um coquetel de condições muito mais ligadas à subjetividade do que ao cabedal
de conhecimentos.”
2.1. Participantes
1
Terapeuta auxiliar é entendido como sinônimo de atriz-auxiliar, instrumento do método psicodramático.
TABELA 2.1
Características gerais dos 12 participantes de dois grupos psicodramáticos, organizados por tempo que fazem psicoterapia em grupo
Grupo 1 A Noturno 26 F 3o. 4 Psicologia Psic. Empresa 1600 5000 Italiana Blumenau
Maior ou igual B Matutino 47 F 3o. 26 Música Prof. Música 2.000 30.000 Portuguesa Florianópolis
40
TABELA 2.2
Intervalo de
Psicoterapeuta Tempo
Tempo de Tempo de Individual entre
Psicoterapia Psicoterapia Diferente do experiência
Grupo por Sujeitos Anterior *em Atual Psicoterapeuta anterior e
tempo de meses) Concomitante Grupal atual (em
psicoterapia meses)
Individual Grupo Individual Grupo
Grupo 1 A 30 - 36 54 Não 7
maior ou
igual a 36
meses B 54 - - 44 ------- 144
C 5 - - 36 ------- 36
D 24 6 36 31 Não 18
Grupo 2 E 8 1 - 31 ------- 0
19 à 31
meses F 7 - - 24 ------- 12
G 8 - - 20 ------- 2
H 4 - 33 19 Não 48
Grupo 3 I 16 4 4 Não 2
1 à 4 meses J 1 - 4 3 Não 1
L 17 - 3 1 Sim 108
M - - 2 1 Não 0
a) Informações gerais
As sessões são realizadas uma vez por semana no período matutino e no período
noturno. O tempo da sessão é de uma hora e 30 minutos, podendo ser acrescido 15 ou 30
minutos caso o psicoterapeuta julgue necessário. O pagamento pelas sessões é mensal,
independente se durante o mês forem realizadas quatro ou cinco sessões grupais. O
participante tem direito a uma sessão individual quando for necessário. O custo da
psicoterapia grupal é R$ 140,00 por participante mensalmente. Caso o participante faça
41
psicoterapia individual, uma vez por semana, esse valor é diminuído. Esse valor pode ser
negociado, caso a pessoa esteja com dificuldades financeiras.
b) Ambiente físico
Na sala em que são realizadas as sessões grupais de psicoterapia estão disponíveis
almofadas e cadeiras para os participantes sentarem. Os participantes escolhem livremente
onde sentar. O psicodramatista e as terapeutas auxiliares sentam, na maioria das vezes, entre
dois participantes.
2.5. Procedimento
a) Escolha dos sujeitos
42
de a pesquisadora ser próxima ao psicoterapeuta e trabalhar diretamente com o grupo poderia
dificultar a obtenção de algumas respostas por constrangimento das pessoas, foi escolhido um
segundo grupo (Noturno) com menos familiaridade com a pesquisadora.
43
j) O que chamou a atenção (agradável ou desagradável) na primeira vez em que participaram
da sessão em grupo , em relação aos aspectos:
1. Dinâmica da psicoterapia
2. Psicoterapeuta
3. Terapeutas Auxiliares
4. Participantes
5. Aspectos do ambiente físico
6. Aquecimento
7. Dramatização
8. Compartilhar
1. Psicoterapeuta
2. Terapeutas Auxiliares
3. Participantes
4. Aquecimento
5. Dramatização
6. Compartilhar
7. Intensidade do envolvimento no grupo
44
d) Realização da entrevista
45
a) Elaboração de listagens contendo verbalizações do total dos sujeitos a
respeito de cada um dos tópicos de investigação;
b) Reorganização (agrupamento) dessas verbalizações, feitas a partir dos
assuntos de que tratavam (definição de categorias de assuntos como critérios
de organização de informações);
c) Tabulação dos dados por meio da indicação das freqüências em que ocorreu
cada tipo de verbalização e cálculo das correspondentes proporções e médias
por participante. A média foi calculada pela divisão da quantidade total de
indicações pela quantidade de sujeitos de cada grupo.
46
3
Em termos das médias das indicações feitas por cada um dos três grupos no primeiro dia,
os “antigos” indicam em maior média (3.3) as características pessoais do psicoterapeuta. A
categoria menos indicada, em comparação às outras duas, é a que diz respeito ao preparo do
psicodramatista (1.6). Os “intermediários” atribuíram 3.0 das indicações, em média, para as
características pessoais como o que mais agradou no psicoterapeuta no primeiro dia, e em menor
média (0.8) indicaram o preparo do psicodramatista. Os “novatos” apresentaram, em média, 3.0
indicações por participante para o preparo do psicoterapeuta, e quantidade inferior (0.3) de
indicações para duas categorias: características pessoais do psicoterapeuta e preparo da formação
do psicoterapeuta..
No que se refere ao presente, os “antigos” atribuem à categoria preparo do
psicodramatista maior média (3.0), e indicam em menor média (1.3) as características pessoais.
Os “intermediários” referenciam em maior quantidade de indicações, com média de 4.2, o
preparo do psicodramatista, e apresentam média de 0.4 para as características pessoais do
psicoterapeuta. Os “novatos” indicam com maior média (7.0) o preparo do psicodramatista,
apresentam média de 1.2 para as características pessoais do psicoterapeuta e não fazem referência
ao preparo do psicoterapeuta.
No que diz respeito às categorias elaboradas a partir das informações dos 12 participantes
de dois grupos psicodramáticos, no primeiro dia, o item das características pessoais do
psicoterapeuta obtém média semelhante dos “antigos” e “intermediários”, em torno de 3.0
indicações; os “novatos” referenciam a categoria com média de 0.3. Este último grupo foi
também o que indicou com menor média (0.3) a categoria que obteve maior média no grupo dos
“antigos”: preparo técnico da formação do psicoterapeuta. A categoria preparo do
psicodramatista recebe maior média dos “novatos” (3.0), e é a menos apresentada, com 0.8 das
indicações, pelos “intermediários”.
Quanto aos aspectos indicados no presente, o das características pessoais recebeu maior
média (1.3) dos “antigos” e é referenciado pelos “novatos” com diferença de apenas 0.1,
enquanto se constitui como o item com menor média entre os “intermediários” (0.4). A
categoria preparo do psicoterapeuta recebe média de 0.8 dos intermediários e recebe menor
média (0.3) dos mais antigos. O preparo do psicodramatista é a categoria apresentada com 7.0
indicações, em média, pelos novatos, e os “antigos” a citam com média de 3.0 indicações por
participante.
Na Tabela 3.2 estão apresentados os aspectos dos quais os participantes não gostaram no
psicoterapeuta no primeiro dia da sessão em grupo e os que não os agradam no presente. As
indicações foram categorizadas em “nenhum” quando os participantes verbalizaram não haver
aspectos que os desagradaram no psicoterapeuta, em preparo do psicodramatista, grau de
exigência maior do psicoterapeuta no grupo em relação à terapia individual e características
pessoais do psicoterapeuta.
48
TABELA 3.2
Há, no total, 18 indicações no presente para os aspectos que não agradaram, e no primeiro
dia são feitas 14 indicações. A categoria mais indicada no primeiro dia (0.50) foi a de
inexistência de aspectos desagradáveis no psicoterapeuta. O grau de exigência do psicoterapeuta
49
no grupo com relação à psicoterapia individual foi identificado na proporção de 0.22 como
desagradável. Não houve indicações, no primeiro dia, relacionadas às características pessoais. No
presente a teimosia, o jeito de afirmar e bocejar do psicoterapeuta, agrupados na categoria
características pessoais do psicoterapeuta, são indicados em maior quantidade (0.62) pelos
participantes. O preparo do psicodramatista recebeu 0.05 das indicações, sendo o aspecto menos
apontado como desagradável no psicoterapeuta no presente. No primeiro dia os três grupos
(antigos, intermediários e novatos) fizeram indicação de aspectos agrupados em duas das três
categorias apresentadas na Tabela 3.2: preparo e grau de exigência. No presente, todos os grupos
indicam aspectos agrupados em duas categorias: preparo e características pessoais.
Em relação às médias de indicações, os “antigos” indicaram em maior média (0.4) o
preparo do psicodramatista como um aspecto que não os agradou no primeiro dia, e uma pessoa,
o que corresponde a uma proporção de 0.3, negou a existência de aspectos desagradáveis. No
presente, esse grupo apresenta uma média de 0.6 e 0.3 das referências ao preparo do
psicodramatista.
No que se refere ao primeiro dia, os “intermediários” apresentam média de 0.8 para a
categoria nenhum e uma indicação (0.2) na categoria grau de exigência do psicoterapeuta no
grupo. Esta última atualmente não foi citada, enquanto que a mais indicada no primeiro dia
(ausência de aspectos desagradáveis), foi a menos indicada no presente (0.4). As características
pessoais foram apresentadas como fator que desagrada na proporção de 1.8 pelos intermediários.
“Novatos” e “intermediários” também indicam no presente características pessoais como
desagradáveis no psicoterapeuta, com média de 0.5. A média 0.5 das indicações foi atribuída
pelos novatos à categoria nenhum, também no presente. A uniformidade mantida nas indicações
no presente pode ser visualizada nos três aspectos indicados no primeiro dia com média de 0.6:
nenhum, preparo do psicodramatista e grau de exigência maior do psicoterapeuta em relação aos
participantes, se comparado com a psicoterapia individual..
Em termos das indicações das categorias, no primeiro dia, nenhum foi o aspecto citado
com média 0.8 pelos “intermediários”, enquanto que em menor média foi citado pelos “antigos”
(0.3). No presente ocorreu uma inversão entre antigos e “intermediários” na categoria nenhum,
citada pelos “antigos” com maior média (0.6) e pelos “intermediários” com média de 0.5.
50
A categoria preparo do psicodramatista recebeu média de 0.6 dos “novatos” e foi indicada
com diferença de 0.2 pelos mais antigos, no primeiro dia. No entanto, o aspecto foi indicado
pelos “antigos” com média de 0.3 hoje. Os “intermediários” e “novatos” não fazem referência à
categoria no presente.
“Intermediários”, “novatos” e “antigos” não mencionam, no presente, a categoria grau de
exigência maior do psicoterapeuta em relação aos participantes. Os “antigos” já no primeiro dia
não citaram esta categoria, que obteve maior média (0.6) dos “novatos” e foi citada pelos
“intermediários” como desagradável com média de 0.2. Quanto à categoria características
pessoais do psicoterapeuta, não obteve indicações no primeiro dia. Enquanto que no presente os
“antigos” não a citam, os “intermediários” atribuem média de 1.8 das indicações e os “novatos”
se referem à teimosia, ao jeito do psicoterapeuta falar e bocejar como aspectos que os
desagradam com média inferior aos “intermediários” (0.5).
O exame dos dados da Tabela 3.1, na qual estão apresentadas as proporções e as médias
das indicações dos 12 participantes em relação aos aspectos que agradaram no primeiro dia de
contato no grupo e que agradam atualmente nesse mesmo grupo, permitem concluir que o
preparo do psicodramatista é um fator que as pessoas, com o passar do tempo, tendem a indicar
como mais agradável em detrimento das características pessoais do psicoterapeuta. No presente, a
categoria que os participantes mencionam em maior proporção como agradáveis no
psicoterapeuta (0.78) é o preparo do psicodramatista, ou seja, a capacidade de adaptar as
técnicas à situação do momento, criando novas possibilidades. No primeiro dia, os componentes
dos três grupos (antigos, intermediários e novatos) indicam em maior proporção (0.43) as
características pessoais do psicoterapeuta como o aspecto que mais agradou. No primeiro dia,
concentram mais sua atenção na figura do psicoterapeuta por ser a pessoa na qual confiam e com
a qual tinham contato antes de participarem do grupo, haja vista que é necessário pelos menos um
atendimento individual para participar do grupo.
O sentimento de confiança que o psicoterapeuta inspira nas pessoas é decisivo para a
condução profícua do processo psicoterapêutico. O psicoterapeuta, ao relatar experiências
próprias (compartilhar), abraçar, convidar as pessoas para participar de um grupo de psicoterapia,
51
torna-se próximo delas. O respeito pelas pessoas e pelos aspectos formais, como cumprir horários
dos atendimentos, vestir-se de modo adequado, possibilitam o desenvolvimento da relação de
confiança. Para Andaló (2000), a confiança no psicoterapeuta grupal está relacionada ao sigilo, à
não imposição de seus valores e expectativas ao grupo, ao respeito pelas características e ritmo
dos participantes, à sua capacidade de acolher e conter as necessidades e angústias dos membros
do grupo, de colocar-se no lugar de cada um do grupo, de “entrar dentro do clima grupal”
(empatia), de expressar os próprios sentimentos em relação às situações vivenciadas no contexto
grupal. .
As indicações no presente para as características pessoais atingem proporção de 0.15,
notadamente menor do que no primeiro dia. Provavelmente, porque o psicoterapeuta faz a
mediação entre as pessoas do grupo, como parte do método psicodramático, comparando as
situações dos participantes, solicitando que uma fale diretamente para a outra, citando um dos
participantes como exemplo. O preparo do psicodramatista é um aspecto mais observado no
presente do que no primeiro dia pelos participantes, quando já têm percepção dos benefícios
obtidos por meio de determinadas técnicas e modos de condução das sessões pelo
psicodramatista.
Rosinha (1997) ao fazer uma pesquisa em duas turmas de graduação em biologia,
utilizando numa delas o método psicodramático para dar aula, e aulas expositivas na outra,
constatou que o preparo do psicodramatista foi fundamental para a eficácia das aulas
“psicodramáticas”. Na turma experimental, que utilizou o psicodrama, a maioria dos alunos
considerou o psicodrama um método ideal de aprendizado, por perceberem resultados imediatos,
e julgaram a matéria como fácil, enquanto que os alunos submetidos às aulas expositivas
indicaram a mesma matéria como difícil. Os alunos com os quais foi utilizado o psicodrama
definiram o professor-psicodramatista como um facilitador e até indutor da participação nas
aulas. A entrevista com os participantes foi feita ao final do semestre, quando já tinham
participando de inúmeras sessões psicodramáticas e tinham claros os benefícios produzidos em
curto espaço de tempo.
A observação do preparo do psicodramatista pelos participantes é feita depois de um
tempo considerável de psicoterapia grupal, quando já ocorreram situações diferenciadas nas quais
foram criadas novas técnicas ou adaptação das técnicas já conhecidas a novas situações. Os
52
participantes provavelmente perceberam que o psicoterapeuta-psicodramatista ao aplicar as
técnicas considerou o contexto, as características, os comportamentos das pessoas. Bustos (1999),
afirma que a mera utilização da técnica pela técnica pelo profissional que dirige grupos ocorre em
profissionais despreparados, que encontram segurança na aplicação das técnicas por não
conseguirem perceber as pessoas do grupo. Para dirigir um grupo, é necessário que o
psicodramatista se prepare, se aqueça para ficar descontraído, natural, espontâneo, podendo
“sentir” o grupo com mais facilidade.
Perceber o grupo e adaptar as técnicas são características relacionadas à vivência pessoal
psicodramática do psicoterapeuta-psicodramatista, (Rosinha, 1997). O psicodramatista ao fazer
psicoterapia conhece suas próprias características, suas limitações, e esse conhecimento é
essencial para não impor suas verdades morais, suas crenças aos participantes. Ser participante
de um grupo de psicoterapia lhe possibilita vivenciar o que aplica nos participantes dos grupos
dos quais ele é psicoterapeuta e perceber o impacto dos seus comportamentos nas pessoas.
Precisa, num exercício contínuo, aprender a lidar com a condição humana. Nem sempre
conseguirá utilizar o método do modo adequado que gostaria, e isto não o invalida como
psicoterapeuta, nem como pessoa.
Em relação às médias de indicações para as três categorias, no que se refere ao primeiro
dia, os “antigos” e “intermediários” apresentam uma semelhança maior em termos das
distribuições das indicações para as três categorias. Os “novatos” apresentam uma discrepância
maior em termos das médias de indicações, fazem 3.0 indicações por participante para o preparo
do psicodramatista, no primeiro dia, e atribuem média de 0.3 para as categorias características
pessoais do psicoterapeuta e preparo técnico que caracteriza a formação do psicoterapeuta. O fato
dos “novatos” ingressarem em grupos com pelo menos dois anos de funcionamento, cujos
participantes estavam familiarizados com o método de trabalho utilizado pelo psicoterapeuta,
provavelmente, possibilitou que observassem mais as características profissionais do
psicodramatista do que as características pessoais. Os “antigos” e “intermediários”, pelas
oportunidades que tiveram de vivenciar as situações propiciadas pelo modo do psicodramatista
conduzir as sessões, foram, talvez, a condição para “transmitir” aos “novatos” essa percepção.
Esta afirmativa é resultado da observação das médias de indicações em torno de 3.0, feitas pelos
53
“antigos” e “intermediários” para as características pessoais do psicoterapeuta e média em torno
de 1.5 para a categoria preparo do psicodramatista.
No que se refere ao presente, a média (7.0) do grupo dos “novatos” para o preparo do
psicodramatista reforça a idéia de influência do tempo de psicoterapia do grupo sobre a
percepção dos novatos que ingressam. Os “antigos” (3.0) e “intermediários” (4.2) indicaram, nos
dias atuais, em maior média a categoria que os novatos já referenciavam como o aspecto que
mais os agradou no primeiro dia em relação ao psicoterapeuta. Essa discrepância verificada dos
“novatos” em relação aos “antigos” e “intermediários”, provavelmente, se deve ao fato dos
“novatos” serem inseridos em grupos psicoterapêuticos com um tempo de existência superior a
três anos. O psicoterapeuta e os participantes “antigos” e “intermediários” tiveram oportunidades
para criar uma dinâmica própria de funcionamento do grupo, conheceram-se melhor e já estão
familiarizados com a utilização do método psicodramático. Os “novatos”, ao inserirem-se nesses
grupos, estão em condições de perceber com maior facilidade e intensidade as características que
se referem ao preparo do psicodramatista.
A análise dos dados da Tabela 3.2, onde estão apresentadas as proporções e as médias de
indicações em relação aos aspectos que os participantes não gostaram no psicoterapeuta no
primeiro dia e os que não os agradam no presente, possibilita verificar que a categoria mais
indicada, com metade das indicações, é a de ausência de aspectos desagradáveis no
psicoterapeuta. Nenhum participante faz referência às características pessoais do psicoterapeuta,
no primeiro dia. Nos dias atuais, contudo, a teimosia, o jeito de afirmar e bocejar do
psicoterapeuta (características pessoais) são apresentados na proporção de 0.62. No começo as
pessoas, provavelmente, estavam propensas a perceber as qualidades do psicoterapeuta, pois ele
era o seu referencial no grupo. Atualmente é provável que, além do psicoterapeuta, outras pessoas
do grupo sejam referência umas para as outras, por terem sido estabelecidas relações no grupo.
As relações com os demais participantes começam a ser criadas logo no primeiro dia, para depois
serem fortalecidas no transcurso dos encontros posteriores.
Considerando a análise dos dados, a categoria grau de exigência maior do psicoterapeuta
em relação aos participantes comparativamente com a psicoterapia individual, é indicada na
proporção de 0.22, e no presente não é citada. Os participantes a percebem o grau de exigência
maior por advirem de psicoterapia individual, na qual o psicoterapeuta precisava adquirir a
54
confiança das pessoas e as tratava de modo suave. No momento em que começam a participar da
psicoterapia grupal essa confiança no psicoterapeuta já está estabelecida, e agora são as pessoas
do grupo quem se encarregam de acolher o novo participante, auxiliá-lo, ampará-lo, funções estas
que, na psicoterapia individual, eram cumpridas pelo psicoterapeuta.
O psicodramatista é um facilitador da participação das pessoas, incentiva as pessoas a
participarem nas atividades. Moreno (1974, 1984) afirma que o psicodramatista promove o
encontro entre as pessoas, o qual não se resume a reunir as pessoas num local comum, mas
significa que se respeitam mutuamente, compreendem as dificuldades, se aproximam,
auxiliando-se uns aos outros e de modo intenso.
No que se refere às médias de indicações, os “antigos” não fazem referência às
características pessoais como elementos que os desagradam no presente, provavelmente, por
terem aprendido que os benefícios oriundos do trabalho do psicoterapeuta são mais importantes
que o jeito dele. Os “intermediários” citam a categoria com maior média (1.8); eles se irritam
com o jeito do psicoterapeuta, pois ainda necessitam da sua aprovação diante das situações. Os
novatos fazem referência à categoria com média de 0.5. Essa percepção dos participantes, talvez,
possa ser entendida dada a evolução das mudanças propiciadas nesse processo. Os participantes
passam por três momentos diferenciados: ao entrarem no grupo os participantes têm uma relação
de dependência com o psicoterapeuta e, conseqüentemente, não percebem aspectos desagradáveis
na sua pessoa. Num segundo momento, mudam a relação com o psicoterapeuta, passam a
questionar e a criticá-lo, mas ainda necessitam da sua anuência em relação às situações que
vivenciam e, portanto o “jeitão” do psicoterapeuta tende a incomodá-los mais. Os “antigos”, que
estão no terceiro momento, têm uma segurança maior a respeito do que querem, e percebem o
psicoterapeuta como um profissional especializado em analisar a situação sob uma perspectiva
mais elaborada, sentem-se capazes de discutir, contrapor, argumentar com ele os diferentes
modos de perceber as próprias situações. A necessidade do consentimento do psicoterapeuta para
tomarem uma decisão está minimizada para os “antigos”.
O preparo do psicodramatista é citado como um aspecto que desagradou no primeiro dia e
desagrada no presente. Especificamente, os participantes dos três grupos se reportaram às
interrupções propositais na fala feitas pelo psicodramatista. No primeiro dia o aspecto é citado
pelos “antigos” (0.4) e “novatos” (0.6), pois estes grupos são compostos por pessoas que tendem
55
a contar as estórias em detalhes e a falar ininterruptamente, por ser a fluidez na fala necessária a
sua profissão. O grupo dos “antigos” é composto por um advogado, uma professora e uma
psicóloga. O advogado e a professora precisam utilizar-se da retórica, do convencimento no
exercício profissional. Quanto ao grupo dos “novatos”, entre os participantes estão uma pessoa
com 62 anos e uma representante comercial. A representante comercial faz uso do discurso e da
persuasão para vender seus produtos. A senhora de 62 anos, pelas oportunidades que teve de
vivenciar mais experiências que as pessoas mais jovens, tem mais estórias a contar. As
interrupções feitas pelo psicoterapeuta, provavelmente, tiveram o objetivo de fazer com que essas
pessoas percebessem o inadequado do seu comportamento, pois ele conhecia de antemão as
características pessoais dos participantes. No presente, a interrupção na fala é um aspecto que
continua desagradando uma pessoa do grupo dos “antigos”, coincidentemente a pessoa que sente
gosto por contar as estórias em detalhes e apresenta dificuldade para ouvir as estórias dos outros
participantes do grupo.
A Tabela 3.3 apresenta as indicações e as proporções feitas pelos componentes do grupo
que freqüenta as sessões pela manhã, dado que não há participação de terapeutas auxiliares no
grupo da noite. A classificação por grupos de acordo com o tempo de permanência é B – antigo,
D – intermediário, J, L e M – novatos. As respostas fornecidas a respeito dos aspectos referidos
às terapeutas auxiliares foram classificadas nas categorias: características pessoais das duas
terapeutas auxiliares, preparo profissional de ambas, não percebeu que elas estavam no grupo
com objetivo de trabalhar e uniforme e modo de falar.
Em relação ao primeiro dia, há maior número de indicações (0.64) para o preparo
profissional das duas terapeutas auxiliares, ou seja, os participantes atentaram para o modo delas
utilizarem as técnicas e adaptá-las a situações momentâneas. Não houve indicação para as
características pessoais de ambas. Foi uniforme a proporção das indicações das demais categorias
(0.18).
Os aspectos mais observados pelos participantes no presente são, em ordem crescente, as
características pessoais na proporção de 0.29 e 0.71 para o preparo profissional de ambas. As
categorias não percebeu que eram auxiliares, vestimenta e modo de falar não obtiveram
indicações. Tanto no primeiro dia quanto no presente o preparo profissional das terapeutas
auxiliares é o aspecto que mais indicações recebe.
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TABELA 3.3
Categorias
Quantidade de Pro Quantidade de Pro
indicações por indicações por
ção cão
Características pessoais de ambas - - 9 0.29 *Pergunt
Preparo profissional de ambas 7 0.64 22 0.71 a feita
somente
Não percebeu que eram T**.auxiliares 2 0.18 - - aos
Uniforme (vestimenta) e modo convicto de falar 2 0.18 - - integrante
s do
Total Geral 11 1.00 31 1.00
grupo da
manhã (B,D, J, L,M), considerando que nesse grupo há duas terapeutas auxiliares.
**T : terapeuta
57
ambas foi a categoria que recebeu maior número de indicações tanto no primeiro dia como no
presente.
TABELA 3.4
Distribuição das quantidades e proporções de indicações sobre aspectos que gostaram no
primeiro dia e gostam no presente nas terapeutas auxiliares indicados por cinco
participantes do grupo matutino de psicoterapia psicodramática *
Primeiro Dia Presente
A Tabela 3.5 apresenta os aspectos que os participantes indicam não gostar no primeiro
dia e no presente em relação às terapeutas auxiliares. Esses aspectos foram categorizados como
características pessoais da terapeuta auxiliar com menos tempo de trabalho no grupo (T2) , da
terapeuta auxiliar que trabalha há mais tempo (T1) e nenhum se refere à verbalização de ausência
de aspectos dos quais os participantes não tenham gostado nas terapeutas auxiliares.
O jeito de falar, de abraçar, o modo distante da T2 foi a categoria mais indicada (0.57)
como não agradável no primeiro dia. Na proporção de 0.43 indicaram que não houve aspecto que
os tivesse desagradado em relação às terapeutas auxiliares. Na proporção de 0.56 as
características pessoais da T2 foi a categoria mais indicada, e a das características pessoais da T1
recebeu 0.11 das indicações, no que se refere aos aspectos que não gostam no presente em
relação às profissionais. A categoria que recebeu indicações em proporção menor (0.33)
comparativamente com a média do primeiro dia foi a que não há aspectos que não gostam
atualmente.
58
TABELA 3.5
Distribuição das quantidades e proporções de indicações sobre aspectos que não gostaram
no primeiro dia e não gostam no presente nas terapeutas auxiliares indicados por cinco
participantes do grupo matutino de psicoterapia psicodramática*
Na Tabela 3.3 estão indicados os aspectos das terapeutas auxiliares que mais atraíram a
atenção nos participantes do grupo da manhã. No primeiro dia e nos dias atuais a categoria que
mais recebe indicações é o preparo profissional das duas terapeutas auxiliares, com 0.64 e 0.71,
respectivamente, ou seja, atentaram para o modo de utilizarem as técnicas e adaptá-las às
situações momentâneas. Não houve indicação, no primeiro dia, para as características pessoais de
ambas, que no presente são referenciadas na proporção de 0.29. As categorias não percebeu que
eram terapeutas auxiliares, uniforme e modo de falar estão referenciadas no primeiro dia na
proporção de 0.18. O psicoterapeuta não ter falado de antemão que o grupo disporia de duas
psicólogas além dele, pode ser um fator que contribuiu para que os participantes não percebessem
59
sua função de terapeutas auxiliares e, portanto, não reparassem nelas especialmente. Um segundo
fator que contribuiu para a não observação das características pessoais dos participantes - e em
especial das duas terapeutas auxiliares é que, no primeiro dia, muito provavelmente a atenção dos
participantes está centralizada no psicoterapeuta. Os dados possibilitam demonstrar que os
participantes repararam no modo de interação das terapeutas auxiliares no primeiro dia, apesar do
psicoterapeuta não ter falado a respeito do trabalho delas e os participantes não terem
considerado especialmente as características pessoais de ambas. A função desempenhada pelas
terapeutas auxiliares é a atuação por meio da dramatização, da técnica do duplo, do espelho . É
provável que os participantes tenham percebido os benefícios do trabalho delas em si próprios já
no primeiro dia, pois segundo Aguiar (1998, p.86) o ator auxiliar (terapeuta auxiliar):
A atuação da terapeuta auxiliar, em geral, é rápida e pontual para que as atenções não se
voltem para ele. O objetivo é demonstrar, por meio dos personagens ou de técnicas como duplo, o
que percebem da situação, com a finalidade de auxiliar os participantes do grupo a visualizar o
próprio modo utilizado nas suas relações. O terapeuta auxiliar atua diretamente, estimula as
pessoas a falar, a interagir, motivo pelo qual os benefícios da sua atuação podem ser percebidos
no momento da intervenção. A utilização da técnica do duplo se caracteriza pela verbalização do
terapeuta auxiliar, que se coloca próximo da pessoa para indicar que está falando no lugar dela.
O resultado dessa intervenção, geralmente, acontece no momento, quando o terapeuta auxiliar
pára de falar: a pessoa continua a fala do terapeuta auxiliar ou verbaliza sua concordância ou
discordância.
Na Tabela 3.4 estão dispostas as indicações e as proporções dos participantes em relação
aos aspectos que agradaram no primeiro dia e agradam no presente nas terapeutas auxiliares. Os
aspectos citados por eles estão classificados nas categorias preparo das terapeutas auxiliares, não
atentou para elas, características pessoais da terapeuta auxiliar que trabalha há mais tempo no
60
grupo e da que atua há dois anos, respectivamente, T1 e T2. O preparo profissional de ambas é o
aspecto que recebe maior proporção de indicações (0.84) no primeiro dia e no presente (0.87). É
provável que o modo de atuação das terapeutas auxiliares tenha trazido benefícios para os
participantes desde o primeiro dia. A expressão corporal e atuação delas quando desenvolvem os
personagens durante as dramatizações, a sua intervenção por meio da técnica do duplo,
verbalizando o que a pessoa estava sentindo e tinha dificuldade de expressar por meio da fala,
proporcionam perspectivas diferenciadas das situações que os participantes vivenciam no
contexto terapêutico e fora dele.
As características pessoais das terapeutas auxiliares não são identificadas como algo que
gostaram na primeira vez que participaram.do grupo. Atualmente, os participantes indicam as
características pessoais da T1 na proporção de 0.09 e da T2 na proporção de 0.04. No primeiro
dia os aspectos que contemplaram e, conseqüentemente, os aspectos que os agradaram estão,
quase sempre, relacionados com o papel do psicoterapeuta, na medida que as pessoas o
conheceram antes de entrar no grupo e, provavelmente, desconheciam o fato de existirem outros
psicoterapeutas trabalhando no grupo. As características pessoais da T1 são identificadas,
atualmente, em maior proporção que as características pessoais da T2, o que pode ser atribuído ao
fato de sua experiência no papel profissional ser maior e, em virtude disto, ter desenvolvido
habilidades específicas manifestas no trabalho as quais, possivelmente, estão sendo confundidas
com as características pessoais.
Comparando os dados apresentados nas tabelas 3.1 e 3.4 referentes aos aspectos que mais
agradaram no psicoterapeuta e nas terapeutas auxiliares no primeiro dia e no presente, é possível
observar que a atenção, no primeiro dia, tende a estar voltada para o psicoterapeuta, inclusive
duas participantes das cinco que freqüentam o grupo da manhã em que há duas terapeutas
auxiliares, indicaram que não atentaram para elas, não perceberam sua função. O psicoterapeuta
foi a única pessoa que os participantes tiveram algum contato e sabiam que estaria naquele
espaço. No primeiro dia, não consideraram a possibilidade de conhecerem de antemão algum
outro participante ou a existência de terapeutas auxiliares. Ao começar a freqüentar um grupo
psicoterapêutico, o fazem pelo intermédio do psicoterapeuta, precisam acreditar que é capaz, logo
isso explicaria porque ele foi o centro das atenções para os participantes que estavam iniciando.
61
As características pessoais como jeito de falar, de rir, modo de se comportar do
psicoterapeuta e das terapeutas auxiliares são aspectos passíveis de observação num primeiro
momento, enquanto que o preparo profissional tende a ser facilmente observado quando for
possível perceber os efeitos da atuação. Na Tabela 3.1 os participantes indicam terem gostado
das características pessoais do psicoterapeuta na proporção de 0.43, enquanto que em relação as
terapeutas auxiliares, as características pessoais são indicadas (Tabela 3.5), no primeiro dia, como
o aspecto que não gostaram, na proporção de 0.57 .
No primeiro dia as características pessoais do psicoterapeuta foram o aspecto indicado
como aquele que mais agradou os participantes. No presente, essa categoria foi indicada na
proporção de 0.15 como aspecto que agrada os participantes e, na proporção de 0.62 como o
aspecto que mais desagrada os participantes no presente (Tabela 3.2). Apesar de não gostarem
das características pessoais do psicoterapeuta no presente, eles permanecem fazendo psicoterapia.
Tendo em vista esses dados, conclui-se que as características pessoais não constituem
determinantes fundamentais da permanência das pessoas nos respectivos grupos
psicoterapêuticos.
O preparo específico do psicodramatista parece ser um aspecto que influencia na
permanência das pessoas, tanto no que se refere ao psicoterapeuta quanto às terapeutas auxiliares.
Na Tabela 3.1, os participantes indicam no primeiro dia gostar do preparo do psicodramatista na
proporção de 0.35 e no presente na proporção de 0.78. Algo semelhante pode ser constatado ao
observar a Tabela 3.4, onde os participantes indicam na proporção de 0.84 e 0.89,
respectivamente no primeiro dia e no presente, o preparo específico do psicodramatista como o
aspecto que mais os agradou e os agrada nas terapeutas auxiliares. É provável que os
participantes evidenciam gostar desse preparo do psicodramatista por terem percebido os efeitos
das intervenções realizadas pelo psicoterapeuta ou pelas terapeutas auxiliares, em si próprio. O
método psicodramático se baseia na ação, na dramatização, fatores facilitadores para as pessoas
perceberem os benefícios da atuação dos profissionais envolvidos logo no primeiro dia. O
preparo adequado desses profissionais em relação ao uso do método provavelmente é um dos
fatores que facilita essa percepção e, conseqüentemente, a permanência das pessoas no processo
psicoterapêutico.
62
Na Tabela 3.5 estão apresentados os aspectos, com as respectivas proporções, que os
participantes indicam não terem gostado no primeiro dia e não gostam atualmente em relação às
terapeutas auxiliares. O jeito de falar, de abraçar, o modo distante da T2 foi o aspecto indicado
em maior proporção (0.57) no primeiro dia e no presente (0.56). As características pessoais da T1
recebem proporção de 0.11 das indicações no que se refere aos aspectos que não gostam no
presente. A T2, por estar atuando há dois anos, ainda não tem seu papel profissional
desenvolvido, tende a cometer mais erros e, conseqüentemente, desagradar os participantes
mesmo no primeiro dia. A T1, por ter mais experiência no papel profissional de terapeuta
auxiliar, não desagrada no primeiro dia, mas os aspectos que desagradam os participantes são
indicados atualmente por já terem sido mostrados de algum modo durante as sessões.
A categoria correspondente à inexistência de aspectos desagradáveis recebe indicações em
proporção maior (0.43) no primeiro dia em relação aos dias atuais, em que apresenta proporção
de 0.33. À medida que os participantes freqüentam mais sessões, percebem os aspectos que os
desagradam. Alguns aspectos em relação às terapeutas auxiliares no primeiro dia, provavelmente,
passaram despercebidos por desconhecerem a função delas no grupo. Aguiar (1998) afirma que o
ator auxiliar (terapeuta auxiliar) deve atuar de modo discreto, exercer suas funções sem atrair
para si a atenção dos participantes. As terapeutas auxiliares e suas funções no grupo matutino
passaram despercebidas por fazer parte do seu trabalho a discrição.
63
4
Nas Tabelas 4.1, 4.2 e 4.3 estão apresentados os aspectos referentes ao grupo, indicados
pelos participantes dos dois grupos de psicoterapia psicodramática. As quantidades, proporção e a
média de indicações feitas dos aspectos para os quais os participantes atentaram no primeiro dia e
atentam no presente em relação aos outros participantes de seus grupos psicoterapêuticos estão
apresentados na Tabela 4.1. Os aspectos indicados como motivo pela qual determinada pessoa
chamou e chama a atenção no grupo estão apresentados na Tabela 4.2. Na Tabela 4.3 os aspectos
indicados pelos participantes dizem respeito ao que perceberam como função do grupo no
primeiro dia.
São 63 indicações no primeiro dia, 369 quando se referem aos aspectos que chamam
atenção no presente. A categoria mais indicada no primeiro dia (0.39) foi o grau de acolhimento,
as brincadeiras, as conversas descontraídas. Na proporção de 0.02 os participantes se referem à
predominância no grupo de psicólogos e estudantes de psicologia.
Em termos das médias de indicações feitas por cada um dos grupos (antigos,
intermediários e novatos), no primeiro dia é notável a maior média (4.0) apresentada pelo grupo
dos “antigos” na categoria grau de acolhimento e proximidade elevado entre os participantes, em
comparação com o grupo dos “intermediários” (2.0) e “novatos” (0.7) Verbalizações que se
referem às características pessoais dos participantes são apresentadas pelos entrevistados do
grupo G2 (1.2) e G3 (1.7). Receptividade dos participantes é a categoria referida pelos grupos dos
“antigos” (1.0) e “novatos” (1.7) e encontrar pessoas conhecidas pelos componentes do grupo
“antigo” e “intermediários”. As três categorias restantes (características físicas, identificação
recíproca e constituição do grupo predominantemente por psicólogos) são referidas por um grupo
de cada vez, com média igual ou inferior a uma indicação por pessoa.
No presente se atribui maior proporção (0.33) ao grau de identificação com os
participantes. A preocupação por agradar aos demais participantes é a categoria menos indicada
(0.01). Em segundo lugar se coloca a categoria características comportamentais que servem como
TABELA 4.1
Distribuição das quantidades e proporções de indicações sobre aspectos que chamaram a
atenção dos participantes no primeiro dia e chamam atenção no presente, indicados pelos
12 integrantes de dois grupo de psicoterapia psicodramática, organizados segundo critério
de tempo de permanência nesses grupos.
Primeiro dia
Quantidade de Pro
Categorias Indicações Por
G1 G2 G3 T ção
Grau de acolhimento, proximidade (por conversarem descontraidamente, 12 10 3 25 0.39
Fazerem brincadeiras incluindo o novo participante) (4.0) (2.0) (0.7)
Características pessoais dos participantes (carinho, jeito de falar, jeito - 6 7 13 0.21
de se vestir etc) (1.2) (1.7)
Receptividade dos participantes 3 7
(1.0) - (1.7) 10 0.16
Encontro com pessoas conhecidas 3 3 6 0.09
(1.0) (0.6) -
Características físicas dos participantes 5 5 0.08
- (1.0) -
Identificação com participantes por viverem situações 3 3 0.05
semelhantes - - (0.7)
Constituição do grupo predominantemente por psicólogos ou - 1 - 1 0.02
estudantes de psicologia (0.7)
Total 18 25 20 63 1.00
Presente
Grau de identificação com os participantes (situações que elevam ou 33 54 36 123 0.33
Situações que diminuem o grau de identificação) (11.0) (10.8) (9.0)
Características comportamentais que servem como aprendizado 21 47 32 100 0.26
(modelo) (7.0) (9.4) (8.0)
Mudanças nas características físicas e comportamentais e grau 34 18 9 61 0.17
de confiança denotado pela assiduidade às sessões (11.3) (3.6) (2.2)
Vivência das situações (seja dramatizando ou no próprio contexto de grupo) 29 16 14 59 0.16
como recurso para aumentar o grau de proximidade e sinais (9.6) (3.2) (3.5)
próprios de comunicação
Habilidade de representação de alguns participantes (seja por - 10 2 12 0.04
conhecimento técnico ou por elevado grau de percepção do outro) (2.0) (0.5)
Admiração das características físicas e pela iniciativa do partici- - 7 3 10 0.03
pante masculino de fazer psicoterapia (1.4) (0.7)
Preocupação por agradar os participantes 2 2 4 0.01
- (0.4) (0.5)
65
aprendizado, com 0.26 das indicações no conjunto dos três grupos de pessoas, seguida pelas
categorias que se referem às mudanças nas características físicas e comportamentais e grau de
confiança denotado pela assiduidade às sessões (0.17) e vivência das situações como recurso para
aumentar o grau de proximidade e sinais próprios de comunicação (0.16) . As categorias
habilidades de representação de alguns participantes e admiração das características físicas e pela
iniciativa do participante masculino de fazer psicoterapia receberam 0.04 e 0.03 indicações,
respectivamente, no cômputo total das indicações.
Comparando as quantidades de indicações em média feitas pelos componentes dos três
grupos de entrevistados, é possível notar que os “antigos” concentram suas indicações nas quatro
primeiras categorias (grau de identificação com as demais pessoas que fazem psicoterapia em
grupo, características comportamentais que servem como aprendizado, mudanças nas
características físicas e comportamentais e grau de confiança denotado pela assiduidade às
sessões e vivência das situações como recurso para aumentar o grau de proximidade e sinais
próprios de comunicação) com 11, 07, 11.3 e 9.6 das indicações em média por pessoa,
respectivamente. Foram os “antigos” quem sinalizaram quase sete vezes mais (11.3) as mudanças
nas características físicas e comportamentais e grau de confiança denotado pela assiduidade às
sessões, que os “novatos” (2.2).
Os entrevistados dos dois outros grupos dos “intermediários” e “novatos”, apresentam
indicações distribuídas nas sete categorias. As quantidades de indicações em média feitas pelos
sujeitos desses dois grupos (G2 e G3) são próximas para as quatro primeiras categorias (10.8 e
9.0; 9.4 e 8.0; 3.6 e 2.2; 3.2 e 3.5, respectivamente) e para a última categoria, preocupação em
agradar os participantes, 0.4 e 0.5 respectivamente, sendo que diferem mais notadamente nas
categorias habilidade de representação (2. e 0.5, respectivamente) e admiração das características
físicas e iniciativa do participante masculino de fazer psicoterapia).
Na Tabela 4.2 estão apresentados os aspectos que foram indicados como motivos que
chamaram e chamam atenção em relação a determinada pessoa ou pessoas que fazem parte do
grupo psicoterapêutico. No primeiro dia, as indicações dos “antigos”, “intermediários” e
“novatos” foram divididas em três categorias: conhecer a pessoa e ter afinidade com ela fora do
contexto terapêutico, características pessoais e físicas dos participantes e identificação das
situações semelhantes. O total de indicações feitas foi 41 em relação ao primeiro dia, e 75
66
indicações no presente. Em relação ao primeiro dia, conhecer a pessoa e ter afinidade com a
mesma fora do contexto terapêutico é o motivo mais relatado com 0.39 do total de indicações,
sendo que o menos indicado (0.27) foi a semelhança das situações vivenciadas entre os
participantes como fator que possibilita a identificação.
Em relação às médias de indicações, a categoria que obteve maior número de indicações
no total foi a única indicada pelos “antigos”, com média de 1.6. Os “intermediários” também
indicaram essa categoria com mesma média (1.6), contudo o aspecto mais indicado (2.0)por eles
refere às características físicas e pessoais. O motivo que obteve menor quantidade de indicações
pelos “intermediários”, com média de 0.4, foi identificação pela semelhança das situações entre
os participantes. Essa mesma categoria foi a que mais recebeu indicações em média por pessoa
dos “novatos” (2.2), e conhecer a pessoa e ter afinidade com ela fora do contexto terapêutico foi a
categoria menos indicada (0.7).
As informações dadas pelos pesquisados em relação ao presente foram categorizadas e
organizadas em ordem decrescente, segundo quantidade de indicações recebidas, em primeiro a
categoria situação específica relacionada a um participante em particular com 0.65, em segundo,
com 0.15, a categoria situação específica relacionada ao grupo como um todo, em terceiro lugar
situação específica relacionada à própria participante, com 0.12, em penúltimo lugar, com 0.05
das indicações, situação geral relacionada a um participante em particular e, por último,
orientações dadas pelo psicoterapeuta em situações específicas relacionadas ao próprio
participante (0.03).
Os integrantes dos grupos G1 e G2 fazem indicações agrupadas nas quatro primeiras
categorias, sendo que os “intermediários” apresentam indicações na última categoria (situação
geral relacionada a um participante em particular) da Tabela 4.2. Os participantes do grupo dos
“novatos” fazem indicações em uma única categoria (situação específica relacionada a um
participante em particular). Comparando as médias de indicações por participante de cada um dos
três grupos para cada uma das cinco categorias, é possível notar que o grupo que mais indicações
faz é o grupo dos “intermediários”, sendo que na categoria situação específica relacionada a um
participante em particular há 5.2 indicações por pessoa. O G3, grupo dos “novatos”, faz alusão a
essa categoria com 4.5 indicações e o G1, dos “antigos”, apresenta a mesma média de indicações.
67
TABELA 4.2
Primeiro dia
Quantidade de
Categorias Indicações Proporção
G1 G2 G3 T
Por conhecer a pessoa e ter afinidade fora do contexto 5 8 3 16 0.39
psicoterapêutico
(1.6) (1.6) (0.7)
Pelas características físicas e pessoais - 10 4 14 0.34
(2.0) (1.0)
Identificação pela semelhança das situações entre os - 2 9 11 0.27
participantes (0.4) (2.2)
Total 41
5 20 16 1.00
Presente
Situação específica relacionada a um participante particular 5 26 18 49 0.65
(1.6) (5.2) (4.5)
Situação específica relacionada ao grupo como um todo 3 8 - 11 0.15
(1.0) (1.6)
Situação específica relacionada à própria participante 6 3 - 9 0.12
(2.0) (0.6)
Orientações dadas pelo psicoterapeuta em situações 2 2 - 4 0.05
específicas relacionadas ao próprio participante (0.6) (0.4)
Situação geral relacionada a um participante em particular - 2 - 2 0.03
(0.4)
Total 16 41 18 75 1.00
( ): Média de indicações calculada pela divisão da quantidade total de indicações pela quantidade de sujeitos de
cada grupo.
*G1 (tempo de psicoterapia em grupo igual ou maior que 36 meses)
G2 (tempo de psicoterapia de 18 a 35 meses)
G3 (tempo de psicoterapia inferior a 18 meses)
São também os “intermediários” quem mais referenciam o motivo situação específica
relacionada a um grupo com um todo, com média de 1.6 e com menos indicações em média por
pessoa dos “antigos” (1.0). Os “antigos” foram os que mais indicações fizeram à categoria
situação específica relacionada à própria participante (2.0), comparada com os outros motivos e
68
também em relação aos “intermediários” (0.6). Citada somente pelos “intermediários”, com
média de 0.4, encontra-se a categoria situação geral relacionada a um participante em particular,
embora dentre as categorias citadas por eles esta apresente menos indicações. Além desta, o G2
indicou em menor média (0.4) as orientações dadas pelo psicoterapeuta, entre as categorias e em
comparação aos “antigos” (0.6).
Constituem a Tabela 4.3 as categorias que dizem respeito da percepção que os
participantes tiveram da função do grupo no primeiro dia. Como nas demais tabelas, as
indicações foram agrupadas em subgrupos de acordo com o tempo de psicoterapia. A disposição
das categorias está na ordem da mais indicada para a menos indicada: espaço seguro e sigiloso
para dividir os problemas (0.49), simulações propiciam a aprendizagem de novos
comportamentos (0.33) e, com proporção igual, (0.06) percepção de que as pessoas sofrem por
problemas semelhantes, efeito placebo do grupo, não atentou para a função do grupo.
Em termos das médias das indicações apresentadas na Tabela 4.3, entre os “antigos” a
categoria que se refere à aprendizagem de novos comportamentos por meio das simulações foi a
que obteve média mais alta (1.3), e a que menos indicações recebeu foi não terem atentado para a
função do grupo (0.3), ou seja, não há referência à percepção de que as pessoas sofrem por
problemas semelhantes como função do grupo. Espaço seguro e sigiloso foi a função que recebeu
mais indicações dos “intermediários” (1.8). Esse grupo manteve uniformidade ao indicar duas
categorias em menor média (0.2): pessoas sofrem por problemas semelhantes e não atentaram
para a função do grupo. Não atentar para a função do grupo também foi o aspecto menos
indicado pelos “novatos”, com 0.2, e as simulações (dramatizações e as situações de grupo)
propiciam a aprendizagem de novos comportamentos é a categoria mais apontada (2.2).
Espaço seguro e sigiloso para dividir os problemas, cujo efeito é a diminuição do
sentimento de solidão, recebe maior número de indicações dos “novatos” (2.0), menos indicações
(0.6) dos “antigos” e 1.8 dos “intermediários”. Referenciada em menor média (0.2) pelos
“intermediários” e “novatos” (0.5), a categorias as pessoas sofrem por problemas semelhantes. Os
“antigos” não citaram esse aspecto, contudo foram os únicos a expor a função do grupo como
efeito placebo na proporção de 1.0. Todos os grupos indicam a última categoria, não atentaram
para a função do grupo, os “intermediários” e “novatos” com média de 0.2 e os “antigos” com
0.3.
69
TABELA 4.3
Quantidade de Pro
Categorias Indicações Por
G1 G2 G3 T ção
Espaço seguro,sigiloso para dividir os problemas, diminuindo o 2 9 8 24 0.49
sentimento de solidão (0.6) (1.8) (2.0)
As simulações (dramatizações ou situações de grupo) propiciam a 4 3 9 16 0.33
aprendizagem de novos comportamentos (1.3) (0.6) (2.2)
Percepção de que as pessoas sofrem por problemas semelhantes - 1 2 3 0.06
(0.2) (0.5)
Efeito placebo: as pessoas acham que o grupo funciona, mas 3 - - 3 0.06
é decisiva a vontade delas mudarem (1.0)
Não atentou para a função do grupo 1 1 1 3 0.06
(0.3) (0.2) (0.2)
A análise dos dados da Tabela 4.1, em que estão apresentadas as proporções e as médias
das indicações dos aspectos para os quais os 12 participantes atentaram no primeiro dia e atentam
no presente em relação aos outros integrantes do grupo, permite concluir que no primeiro dia a
atenção estava voltada para a natureza das relações entre os participantes. A categoria que obteve
maior proporção (0.39) no primeiro dia é o grau de acolhimento e proximidade elevado,
evidenciado na conversa descontraída. No presente, eles atentam para o modo pelo qual se
relacionam com os demais integrantes: o aspecto grau de identificação com os participantes é
70
indicado na proporção de 0.33. É possível que, no primeiro dia, eles estivessem tentando
conhecer as pessoas e o lugar para certificarem-se sobre o grau de segurança e confiança para
permanecer no grupo. Nos dias atuais conhecem as pessoas, vivenciam semanalmente situações
durante as sessões, são mediados pelo psicoterapeuta, conjunto de condições que lhes possibilita
perceber as características de cada participante por perspectivas diferentes das suas.
As características comportamentais dos demais participantes que servem como
aprendizado é a categoria referenciada na proporção de 0.26, nos dias atuais. Esse dado reforça a
idéia de que as situações vivenciadas no grupo psicoterapêutico possibilitam a distinção das
relações entre os participantes, o que evidencia os diferentes graus de identificação que as
pessoas estabelecem entre si. Para conhecer o modo pelo qual as pessoas se comportam, os
participantes, no primeiro dia, indicam ter observado, na proporção de 0.21, as características
pessoais dos participantes. Provavelmente o jeito de falar, de se vestir, o carinho, são
características que indicam aos participantes algumas semelhanças que favorecem uma
identificação suficiente para faze-los voltar ao grupo na segunda sessão. Moreno (1974) afirma
que os membros do grupo se mantêm no tratamento quando orientados paulatinamente, pelo
psicodramatista, para compreender sua responsabilidade recíproca e a atuar em decorrência dela.
Em relação às médias de indicações dos 12 participantes no primeiro dia apresentadas na
Tabela 4.1, os “antigos” ingressaram em grupos psicoterapêuticos nos quais os integrantes eram
amigos de infância, colegas de faculdade ou trabalho, e isto, talvez os tenha levado a perceber e
indicar com maior média (4.0) o grau de proximidade e acolhimento entre os participantes, no
primeiro dia. Diferente dos “novatos”, que apresentam média 0.7 para a categoria, considerando
que pertencem ao grupo dos “novatos” três participantes do grupo psicoterapêutico matutino,
cujo número total de integrantes é cinco, ou seja, tem duas pessoas que participam há mais de
dois anos. Provavelmente, estes três “novatos” tiveram dificuldades para perceber o grau de
proximidade e acolhimento no primeiro dia, por se tratar de dois participantes mediados pelo
psicoterapeuta e, geralmente, intercalados pelas terapeutas auxiliares, que procuravam integrar as
duas participantes antigas e as três novatas.
O grupo ser constituído predominantemente por psicólogos ou estudantes de psicologia é
aspecto citado por uma pessoa que pertence aos “intermediários”. Esse aspecto, provavelmente,
foi foco de atenção para a participante no primeiro dia por ela própria ser também estudante do
71
curso de psicologia, e pela coincidência do seu ingresso com um momento do grupo no qual, dos
seis participantes, cinco eram psicólogos ou estudantes de psicologia.
No que se refere às médias de indicações nos dias atuais, as mudanças nas características
pessoais e comportamentais e o grau de confiança denotado pela assiduidade às sessões recebe
média de 11.3 dos “antigos”, enquanto que os “intermediários” e “novatos” indicaram a categoria
com média em torno de 3.0. Os “antigos”, por freqüentarem o grupo há mais tempo, é possível
que tenham aprendido a perceber, além das mudanças nas relações mais evidentes, pequenas
mudanças como modo de abraçar, de sentar, de olhar. Os “intermediários” e “novatos” atentam
para mudanças nas relações familiares, conjugais e consigo mesmos, geralmente as verbalizadas
pelo psicoterapeuta. A média apresentada (9.6) pelos “antigos” na categoria vivência das
situações eleva o grau de proximidade e cria sinais próprios de comunicação é um dado que
confirma o refinamento da percepção relacionado com as oportunidades propiciadas pelo tempo
em que fazem psicoterapia.
As três categorias referentes a características técnicas e físicas dos participantes
(habilidade de representação de alguns participantes, a preocupação em agradar os participantes,
admiração das características físicas e iniciativa do participante masculino em fazer psicoterapia)
não são indicadas pelos “antigos”, atitude relacionada com o refinamento da sua percepção, fruto
do tempo prolongado de psicoterapia. Embora seja muito possível que também observem a
habilidade de representação de alguns participantes, as características físicas do participante
masculino, esses aspectos têm importância minimizada, pois eles se ocupados com aspectos sutis
que ocorrem entre os participantes, seja durante a dramatização, seja no contexto grupal.
A partir das observações das proporções da Tabela 4.2, em relação aos motivos indicados
pelos 12 participantes que chamaram atenção no primeiro dia e chamam atenção atualmente, é
possível verificar que, no primeiro dia, os motivos estavam relacionados com o grau de
proximidade e afinidade fora do contexto psicoterapêutico e com as características físicas e
pessoais, categorias indicadas com proporções superiores a 0.34. Contudo, nos dias atuais, os
participantes indicam a situação específica relacionada a um participante em particular, na
proporção de 0.65, como o motivo para o qual atentam em determinado (s) integrante (s) do
grupo. Os participantes dos três grupos (“antigos”, “intermediários” e “novatos”) atentam no
primeiro dia para a proximidade e afinidade com a pessoa fora do contexto psicoterapêutico,
72
bem como para as características físicas e pessoais por se tratar de aspectos que provocam uma
identificação imediata. A identificação no contexto psicoterapêutico psicodramático, segundo
Aguiar (1999, p.5) “tem a ver com a capacidade de criar uma forma comunicacional que vá
“direto ao ponto” para propiciar uma experiência emocional intensa, que signifique um contato
profundo com algum aspecto novo da realidade que todos fazem parte” Após conhecerem as
características comportamentais por meio das histórias vivenciadas, os participantes ficam
propensos a se identificar com outras pessoas do grupo pelas situações comuns que vivenciam
fora do contexto psicoterapêutico.
Em relação às médias de indicações do primeiro dia, os “antigos” somente indicaram a
categoria conhecer a pessoa e ter afinidade com ela fora do contexto psicoterapêutico com média
de 1.6. Duas pessoas pertencentes a esse grupo começaram a participar da psicoterapia em grupo
com pessoas que faziam parte da sua rede de relações e por isto, provavelmente, sua atenção
estava voltada para esses participantes. O outro integrante dos “antigos” manifestou estar atento a
identificar a existência de pessoas conhecidas por querer garantir sigilo e discrição fora da
psicoterapia. As características físicas e pessoais são motivos de observação quando há pessoas
desconhecidas no grupo, como indicam os “intermediários” (2.0) e “novatos” (1.0), que
desconheciam alguns participantes no primeiro dia.
Os “novatos”, no primeiro dia, já evidenciaram com média de 2.2 a identificação com as
situações como o motivo pelo qual determinada pessoa chama a atenção, enquanto que os
“antigos” não se referiram a essa categoria e os “intermediários” apresentaram média de 0.4. Essa
disparidade entre os grupos G1 e G2 talvez esteja relacionada ao fato dos “novatos” terem
ingressado na psicoterapia grupal em grupos cujos participantes tinham um tempo de
permanência de aproximadamente dois anos, fator esse que contribui para que as pessoas
falassem das próprias situações, identificando as semelhanças uns com os outros e, se houver
oportunidade, fazendo comparações entre eles próprios e o novo participante. Moreno (1974),
ao definir os princípios do método psicodramático, afirma que o grupo constitui-se
gradativamente, as pessoas começam a participar de acordo com a necessidade. Podem se
conhecer de outros contextos, podem ser familiares, inclusive do terapeuta. O grupo
psicoterapêutico pode ser homogêneo (somente mulheres, crianças etc) ou heterogêneo (pessoas
variadas: homens, mulheres, crianças, adolescentes, brancos, negros, etc.). A formação gradativa
73
do grupo possibilita que as pessoas que participam há mais tempo integrem as outras no grupo,
independentemente do grau de dificuldade da situação que está sendo tratada.
Nos dias atuais, os “novatos” continuam atentando para as situações específicas
relacionadas a uma pessoa por percebê-las com maior nitidez, o que pode facilitar as semelhanças
com o participante, tanto que indicam a categoria situação específica relacionada a um
participante em particular com média 4.5. Os “intermediários”, a semelhança dos “novatos”,
apresentam maior facilidade, apresentando a categoria com média de 5.2, para perceber as
próprias situações por meio das situações específicas dos outros participantes. As situações,
gerais ou específicas, vivenciadas pelo grupo, pelo próprio participante, e as orientações dadas
pelo psicoterapeuta são aspectos percebidos por volta de um ano de psicoterapia, o que pode
estar indicando que os “intermediários” também atentam para eles, além das situações específicas
relacionadas a um participante em particular, que obteve maior média. Os “antigos” por fazerem
psicoterapia há mais tempo, evidenciam com maior média (2.0) situação específica relacionada à
própria participante, por terem aprendido a se ver nas próprias situações e por meio do próprio
referencial se identificam com outros participantes.
A análise dos dados da Tabela 4.3, onde estão apresentadas as proporções e médias das
indicações dos participantes em relação à percepção que tiveram, no primeiro dia, da função do
grupo, possibilita verificar que os participantes “antigos”, “intermediários” e “novatos”
perceberam, na proporção de 0.49, a função do grupo como de propiciar espaço seguro e sigiloso
para dividir os problemas, o que produz como efeito a diminuição do sentimento de solidão. A
percepção manifestada pelos participantes a respeito da função do grupo depende das garantias
do psicoterapeuta para os participantes no momento de ingressarem no grupo psicoterapêutico.
As pessoas falam das dificuldades, angústias, medos quando se sentem protegidas e asseguradas
pela qualidade do trabalho do psicoterapeuta, conforme proporção de 0.33, atribuída pelos
participantes à categoria simulações como meio para a aprendizagem de novos comportamentos.
Os participantes, ao serem assegurados da confiabilidade do espaço e das pessoas, tendem a
aceitar todas as atividades propostas pelo psicoterapeuta, o que facilita a aprendizagem de novos
comportamentos e, conseqüentemente, a modificação de suas condutas em períodos breves de
tempo.
74
Os três grupos perceberam, de modo geral, a função do grupo como local que propicia a
aprendizagem de novos comportamentos por meio de simulações e espaço seguro e sigiloso para
dividir os problemas. Os “novatos” apresentam maior média, em torno de 2.0, para as duas
categorias em relação aos “antigos” e “intermediários”. O exame dos dados permite concluir que
os grupos de psicoterapia apresentam modo próprio de funcionamento quanto maior é o tempo de
existência, motivo que contribui para os novatos terem percebido o grupo como um espaço
seguro e sigiloso e, conseqüentemente, que a função da psicoterapia grupal é propiciar a
modificação de comportamentos. Os “antigos”, por terem ingressado num grupo cujos
integrantes se conheciam fora do contexto psicoterapêutico, apresentaram a percepção da função
do grupo como um espaço seguro e sigiloso minimizada (0.6), pois confiavam uns nos outros
pelos laços de amizade externos ao grupo, o que, muito provavelmente, os levou a indicar com
média de 1.3 as simulações como aprendizagem de novos comportamentos.
A confiabilidade do espaço como função do grupo também é percebida pelos
“intermediários” (1.8), no entanto indicam com menor média (0.6) a categoria simulações
propiciam a aprendizagem de novos comportamentos, pois ao ingressarem nos respectivos grupos
estes estavam em processo de reestruturação (umas pessoas estavam saindo, outras entrando), e o
tempo de atividades nos mesmos era inferior a dois anos . Para Moreno ( em Holmes e Karp,
1992, Cardoso, 2002 ) não importa a verdade do fato em si, mas o significado, o sentido, o valor
e a verdade para a pessoa. A questão primordial é propiciar um espaço onde as pessoas possam se
perceber e se experienciar uns aos outros, podendo desencadear mudanças na forma de ver o
mundo e de agir frente a ele, de forma a favorecer uma saudável integração intra e interpessoal.
75
5
“AQUECIMENTO” COMO CONDIÇÃO NECESSÁRIA PARA
DESCONTRAÇÃO INICIAL E COMO POSSIBILIDADE PARA APRENDER COM
COMPORTAMENTOS E REAÇÕES DOS OUTROS.
Na Tabela 5.1 estão expostas as indicações dos participantes em relação aos aspectos
que chamaram atenção no primeiro dia e chamam atenção no presente no início da sessão. O
primeiro dia em relação ao presente tem menos quantidade de indicações no total,
respectivamente 53 e 68. No primeiro dia, os “antigos” se abstêm em duas categorias, os
“intermediários” em três e os “novatos” em duas. No primeiro dia, a dinâmica de funcionamento
da psicoterapia, ou seja, o modo de apresentação, as conversas, as piadas é a categoria indicada
em maior proporção (0.60). Não foi apresentada ao grupo nem o grupo se apresentou obteve 0.04
das indicações. Dois aspectos são indicados na proporção de 0.07: a influência do comportamento
do psicoterapeuta no comportamento dos participantes e o preparo do psicoterapeuta grupal. A
categoria preparo do psicodramatista recebe 0.16 do total de indicações.
No primeiro dia, os “antigos” indicam a categoria dinâmica de funcionamento da
psicoterapia com duas indicações por participante, em média. O preparo do psicodramatista
obtém menos indicações por participante (0.3). Eles se abstêm em relação aos aspectos
características pessoais e físicas do psicoterapeuta e não foi apresentada ao grupo, nem se
apresentou. Os “intermediários” citam com maior média (3.4) o modo de apresentação, as
conversas entre os participantes, piadas para descontração, como o aspecto que mais chamou
atenção. As características pessoais e físicas do psicoterapeuta recebem menos indicações por
participante (0.6). O aspecto mais citado pelos “antigos” e “intermediários” é também o mais
citado pelos “novatos”, com média de 2.2. A influência do comportamento do psicoterapeuta no
comportamento dos participantes é indicado com média de 0.2.
Em relação aos aspectos que chamam atenção no presente no início da sessão, os
participantes indicam na proporção de 0.37 a descontração inicial como condição para promover
a própria descontração para falar das dificuldades e entrosamento do grupo. A segunda categoria
mais indicada , com diferença de 0.06 em relação a primeira, é os
TABELA 5.1
Distribuição das quantidades e proporções de indicações sobre aspectos que chamaram a
atenção no primeiro dia e chamam atenção no presente no início da sessão (aquecimento),
indicados pelos 12 participantes de dois grupos de psicoterapia psicodramática,
organizados segundo critério de tempo de permanência nesses grupos.
Primeiro dia
Quantidade de Pro
Categorias indicações Por
G1 G2 G3 T ção
Dinâmica de funcionamento da psicoterapia (o modo de 6 17 9 32 0.60
apresentação, as conversas entre os participantes, piadas servem como (2.0) (3.4) (2.2)
descontração para falar sobre os problemas )
Total 18 25 25 68 1.00
( ): Média de indicações calculada pela divisão da quantidade total de indicações pela quantidade de sujeitos
de cada grupo.
*G1 (tempo de psicoterapia em grupo igual ou maior que 36 meses)
G2 (tempo de psicoterapia de 18 a 35 meses)
G3 (tempo de psicoterapia inferior a 18 meses)
77
comportamentos e reações dos participantes consistem em simulações do contexto social e
possibilitam o aprendizado (0.31). Eles fazem menos referencia (0.04) ao modo diferenciado
usado pelo psicodramatista para conduzir cada situação.
A descontração inicial induz a falar das próprias dificuldades e ao entrosamento do grupo
é a categoria mais indicada, em média, pelos “antigos” (2.6). Citam com média idêntica (1.3) as
categorias: comportamentos e reações dos participantes consistem em simulações do contexto
social e possibilitam o aprendizado e as situações contadas. Fazem menos indicações a dois
aspectos: disputa para falar e modo diferenciado usado pelo psicodramatista para conduzir cada
situação (0.3). Os “intermediários” não referem a categoria que recebe mais indicações no total: a
descontração inicial como promotora da própria descontração e entrosamento do grupo. Indicam
com mais intensidade (2.8) para os comportamentos e reações dos participantes como
facilitadores do aprendizado. Com a média de 0.4 indicação por participante é referido, pelos
intermediários, o modo diferenciado usado pelo psicodramatista para conduzir cada situação. Os
“novatos” dão para a categoria descontração inicial e entrosamento do grupo maior número de
indicações por pessoa (4.2) e 0.2 das indicações para a disputa para falar. São eles que
estabelecem uma diferença maior (4.0), entre a categoria mais indicada e a menos indicada, em
relação aos “antigos” e “intermediários”.
A apreciação dos dados da Tabela 5.1, em que estão expostas as proporções e as médias
de indicações dos 12 participantes em relação aos aspectos para os quais as pessoas atentaram no
primeiro dia e atentam no presente no início da sessão de psicoterapia psicodramática,
possibilitam verificar que a descontração produzida por meio de conversas entre os participantes,
piadas e brincadeiras tem como conseqüência, tanto no primeiro dia quanto nos dias atuais, o
entrosamento entre os participantes e a exposição das dificuldades pessoais. No primeiro dia a
proporção de indicações é maior para a categoria descontração inicial do que no presente (0.37),
sinalizando que os participantes e o modo de funcionamento da psicoterapia eram desconhecidos
no primeiro dia e, por isso levando as pessoas que estavam atentas e tensas a perceber o efeito das
piadas, conversas, brincadeiras em si próprias.
78
No presente, os participantes dos três grupos (“antigos”, “intermediários” e “novatos”)
continuam atentos e estão acostumados com os efeitos produzidos pela descontração inicial. A
sua atenção também está direcionada, em proporção semelhante (0.31), para os comportamentos
e reações dos participantes que servem como aprendizado por serem simulações do que acontece
em suas vidas diariamente. Moreno (1984) afirma que o grupo psicoterapêutico psicodramático é
um microcosmo do macrocosmo, é como se fosse uma sociedade em miniatura que possibilita
que as pessoas treinem novos comportamentos. No contexto do dia a dia é comum encontrar
pessoas que falam demais, sem se importar com os outros, ou pessoas que quase não falam. No
contexto psicoterapêutico também são encontradas pessoas com esses comportamentos. Para
Aguiar (1998), no contexto psicoterapêutico psicodramático é feita uma pesquisa sobre os
conflitos que estão presentes na rede de relações das pessoas. Tal experiência é, em si,
terapêutica, independentemente do conteúdo das conclusões a que se chegue, bem como do
caráter final da criação conjunta. Devemos considerar que no contexto psicoterapêutico há a
mediação do psicoterapeuta, a qual cria meios para que os participantes percebam a situação e
aprendam a lidar nas sessões e cuja finalidade é que transponham o aprendizado para as relações
sociais.
A análise das médias de indicações apresentadas na Tabela 5.1, em relação ao primeiro
dia, possibilitam verificar que os “intermediários” atribuem média maior para as categorias
dinâmicas de funcionamento da psicoterapia e preparo do psicodramatista, em comparação aos
“antigos” e “novatos”. Pertencem ao grupo dos “intermediários” três pessoas interessadas em
estudar psicodrama, razão de importância para as participantes atentarem para o modo pelo qual
é conduzido o início da sessão pelo psicodramatista e a reação das pessoas, além de terem
indicado com média 0.6 as características pessoais do psicoterapeuta, como as físicas, o modo
de falar, o jeito de rir.
Em relação às médias apresentadas no presente, os “intermediários” estão atentos para os
aspectos relacionados com o aprendizado de lidar com as reações das pessoas. Indicam com
maior média as categorias comportamentos e reações dos participantes (2.8) e disputa para falar
(0.8). Ao se interessarem pelas situações contadas pelos outros participantes, provavelmente
constataram os benefícios da psicoterapia e querem usufruir dessa oportunidade. A empolgação, a
preparação deles para o início da psicoterapia pode estar acontecendo antes da sessão, na medida
79
em que não fizeram referências à categoria a descontração inicial promove a própria descontração
para falar. Os “antigos” e “novatos”, diferentemente dos “intermediários”, manifestam a
necessidade de descontração inicial para falar, indicam a categoria com médias de 2.6 e 4.2,
respectivamente. Os “novatos” a indicam com maior média (4.2) em relação aos “antigos” por
estarem se inserindo no processo psicoterapêutico grupal há menos tempo e precisar habituar-se a
falar das situações que vivenciam. A preparação do grupo por meio do aquecimento, ou seja,
criar exercícios para deixar as pessoas relaxadas, também promove a interação e confiança entre
elas. Segundo Moreno (1984), o adequado aquecimento possibilita às pessoas o encontro mútuo
e, conseqüentemente, a catarse que proporcionará a transformação nas relações.
80
6
A UTILIDADE DA DRAMATIZAÇÃO VISLUMBRADA PELOS
PARTICIPANTES DESDE O PRIMEIRO DIA E CONFIRMADA PELOS
BENEFÍCIOS USUFRUÍDOS NO PRESENTE
Na Tabela 6.1 é possível observar que no primeiro dia a utilidade da dramatização para a
própria vida é a categoria indicada (0.50) como um dos aspectos que os participantes gostam na
dramatização. O comportamento do protagonista, a interação do grupo e o respeito pelas
dificuldades das pessoas recebem indicações na mesma proporção (0.14). A inversão de papéis
como técnica utilizada pelo psicoterapeuta obtém proporção 0.08, do total de indicações.
Utilidade da dramatização é o aspecto citado por dois grupos (“antigos” e “novatos”). Os demais
aspectos são referenciados por um grupo específico
Os “antigos” indicam a utilidade da dramatização para a própria vida como o aspecto
que chamou a atenção na dramatização no primeiro dia, com média 0.6. Os “intermediários”
atribuem maior média para o comportamento do protagonista (0.4) e média 0.2 à inversão de
papéis como técnica utilizada pelo psicoterapeuta. A utilidade da dramatização recebe mais
indicações (1.2) por participante novato, sendo que as categorias interação do grupo e respeito
pelas dificuldades das pessoas têm quantidade menor de indicações (0.5).
No que se refere aos aspectos para os quais os participantes atentam no presente, as
informações estão apresentadas nas categorias dos efeitos benéficos que a dramatização
proporciona, cujas indicações são feitas em maior média (0.56), perceber-se e perceber a outra
pessoa a partir de diferentes perspectivas (0.34), possibilidade de auxiliar as pessoas do
grupo(0.06) e, com a proporção de 0.04, a expressão corporal da terapeuta auxiliar 2 (T2). As
duas primeiras categorias recebem indicações dos três grupos.
Em termos das médias de indicações por participante, no presente, os “antigos” fazem
3.0 indicações para o aspecto perceber e perceber o outro a partir de diferentes perspectivas por
meio das técnicas inversão de papéis e espelho. Apresenta menor quantidade de indicações (0.3)
a possibilidade de auxiliar as pessoas do grupo. Os “intermediários” citam os aspectos efeitos
benéficos da dramatização com maior média (1.8), e perceber-se e perceber a outra pessoa com
0.4. Os “novatos” fazem indicação para todas as categorias. São feitas 3.0 indicações em média
por participante para a primeira categoria (efeitos benéficos da dramatização) e com média de
0.5 estão a possibilidade de auxiliar as pessoas do grupo e a expressão corporal da terapeuta
auxiliar.
TABELA 6.1
Primeiro dia
Quantidade de Pro
indicações* por
Categorias G1 G2 G3 T ção
82
Os participantes do grupo dos “novatos” indicam atentar para os efeitos benéficos da
dramatização (3.0), mais do que os “intermediários”, que apresentam média 1.8. Perceber-se e
perceber o outro é o aspecto que tem 3.0 indicações, em média, por participante do grupo dos
“antigos”, e é referenciado em menor quantidade pelos “intermediários”, com média de 0.8.
A análise da Tabela 6.1, referente aos aspectos que participantes de dois grupos de
psicoterapia psicodramática indicaram como aqueles que atentaram no primeiro dia e atentam
atualmente em relação à dramatização, possibilita concluir que, desde o primeiro dia, perceberam
a utilidade da dramatização fora do contexto psicoterapêutico (0.50) e atualmente percebem, além
da utilidade, os benefícios que a dramatização proporciona, indicado na proporção de 0.56. Nos
dias atuais tendem a atentar para as especificidades da dramatização e o que cada técnica
utilizada possibilita, tanto que se referem à categoria perceber-se e perceber a outra pessoa a
partir de outras perspectivas, por meio das técnicas psicodramáticas espelho e inversão de papéis,
numa proporção considerável de 0.34.
Em relações às médias de indicações do primeiro dia, considerando que houve
dramatização para um participante do grupo dos “antigos”, para um dos “intermediários” e para
três dos “novatos”, a utilidade da dramatização foi percebida de modo semelhante pelos “antigos”
(2.0) e “novatos” (1.6). Provavelmente, o modo pelo qual foi conduzida a dramatização tenha
tido interferência minimizada na percepção dos participantes em relação aos seus
comportamentos. O modo de condução do psicodramatista é influenciado pela experiência
adquirida desde que os “antigos” ingressaram até o ingresso dos “novatos”, ao lidar com
situações diferentes, em função da dinâmica e da constituição do grupo. Apesar dos múltiplos
fatores que poderiam influenciar na percepção em relação à dramatização, os “antigos” e
“novatos” percebem a utilidade das encenações para a própria vida logo no primeiro dia. As
médias de indicações apresentadas pelos participantes “intermediários” nas categorias
comportamento do protagonista (2.0) e técnicas utilizadas pelo psicoterapeuta (1.0) vêm a
confirmar que também notaram a utilidade da dramatização para a própria vida, restrita, talvez,
83
para o papel profissional que futuramente pensaram desempenhar. O participante que presenciou
a dramatização é estudante de psicodrama e, pelas categorias indicadas, estava atento aos
aspectos técnicos da dramatização para utilizar futuramente em seu trabalho.
Nos dias atuais, no entanto, o tempo de existência do grupo faz a diferença na
percepção dos “novatos” acerca dos efeitos benéficos que a dramatização proporciona. Eles
apresentam maior média (3.0) para a categoria, em relação aos “antigos” e “intermediários”. O
fato de terem ingressado em grupos constituídos há pelos dois anos pode ser um fator que levou
os “novatos” a indicarem no presente essa categoria mais que os dois outros grupos. Os
“intermediários” indicam a categoria em menor média (0.8), percebem em menor grau os efeitos
benéficos da dramatização. A média apresentada pelos “novatos” é semelhante à apresentada
pelos “antigos” (2.6): embora os “novatos” tenham tido menos oportunidades de vivenciar
experiências no palco psicodramático, percebem mais que os outros os benefícios do trabalho. Os
participantes tendem a falar dos resultados que estão conseguindo fora do contexto
psicoterapêutico, associando à alguma situação vivenciada no palco psicodramático, geralmente
da sessão anterior. Nem todos os integrantes do grupo dos “novatos” tiveram a oportunidade de
protagonizar no palco, o que não os impossibilita de usufruir e perceber os efeitos benéficos da
dramatização. Fleury (2002) afirma que os benefícios percebidos pelas pessoas que participam do
processo psicoterapêutico está relacionado com a apreensão da experiência produzida pelas
intersubjetividades presentes na sessão. Nesse sentido, pode-se dizer que os “novatos”
ingressaram nos respectivos grupos (matutino e noturno) e já foram inseridos no contexto do
grupo, nos medos, dúvidas, alegrias vivenciados pelos integrantes, apreendendo a experiência do
grupo.
Depois de determinado tempo de psicoterapia em grupo, os participantes tendem a estar
atentos a perceberem-se a si próprios e perceber o outro. Perceber o modo pelo qual o próprio
comportamento repercute no comportamento de outrem parece ser o foco da atenção dos
“antigos”, mais do que para “intermediários” e “novatos”. Contudo, é inegável que, além do
tempo de psicoterapia, a faixa etária - e conseqüentemente as experiências de vida - são fatores
que influenciam, sendo que “intermediários” apresentam média menor (0.8) em relação aos
“novatos” (1.2) na categoria perceber-se e perceber a outra pessoa a partir de outras perspectivas.
Dos que constituem o grupo dos “novatos”, uma participante tem idade inferior a 30 anos e não
84
tem filhos. No grupo dos “intermediários” três das cinco participantes apresenta faixa etária
inferior a 23 anos e não têm filhos. A experiência de ser mãe, de cuidar de outra pessoa, auxilia
no aprendizado de perceber-se e perceber o outro, logo isto se transpõe para o modo de se
relacionar no contexto psicoterapêutico e para a escolha dos aspectos que chamam sua atenção.
Em relação as proporções de indicações apresentadas na Tabela 6.1, no que se refere ao
primeiro dia, sete dos 12 entrevistados indicaram que não houve dramatização na primeira sessão
que participam do grupo. A decisão de participar da segunda sessão, para esses sete participantes,
não está relacionada a utilidade da dramatização para a própria vida como indicaram os demais
participantes na proporção de 0.50. Provavelmente a dramatização não tenha sido o único meio
de integrá-los ao grupo e motivá-los para uma próxima sessão.
Ao comparar as categorias indicadas no primeiro dia e no presente, é possível concluir
que as experiências proporcionadas nas sessões ao longo do tempo de psicoterapia, possibilitaram
que os participantes aprendessem a elaborar a partir das situações que vivenciam de modo a
atentar as generalidades e os detalhes das situações. A percepção deles referente a dramatização
mudou do primeiro dia em relação ao presente. No primeiro dia eles indicaram aspectos que
foram categorizados como utilidade da dramatização para a própria vida (percepção dos
sentimentos e de outras perspectivas), comportamento do protagonista, interação do grupo,
respeito pelas dificuldades dos outros e a técnica utilizada pelo psicoterapeuta. No presente os
aspectos citados se referem as especificidades das situações, com um grau de percepção mais
elevado. Percebem os efeitos benéficos da dramatização para mudar o comportamento, ao invés
de restringir a utilidade da etapa para notarem outras perspectivas.
Outra diferença é que, no primeiro dia, citam que observaram o comportamento do
protagonista, a interação do grupo. No presente não se vêem como meros observadores, mas
como participantes do processo, percebem as situações e criam possibilidades para modificá-las.
No presente, citam a possibilidade de auxiliar as pessoas do grupo e no primeiro dia se
restringiam a respeita-las, ouvir suas dificuldades atentamente sem intervir.
Há outro fator que pode ter influenciado nas generalidades dos aspectos citados e na
observação feita pelos participantes no primeiro dia de sessão: as pessoas que estão chegando
num grupo, tendem a observar, reconhecer o espaço para depois expor o modo prelo qual
percebem as situações. Em alguns casos, o novo participante pode ser o protagonista no primeiro
85
dia e, de certa forma, demonstrará para o grupo um pouco do modo como se relaciona. No
entanto, ele irá falar e representar as situações que para ele são mais fáceis. É pouco provável que
no primeiro dia ele consiga sair do contexto psicoterapêutico e mudar seus comportamentos fora
da situação de psicoterapia. Antes precisa perceber o modo como está se relacionando e outras
perspectivas da situação para depois ser capaz de mudá-la. O fato dos participantes terem citados
aspectos gerais como aqueles que chamaram sua atenção no primeiro dia, está relacionado ao
próprio contexto de grupo. Moreno (1974) afirma que o grupo é uma sociedade em miniatura.
Sendo como uma sociedade em miniatura as pessoas se cuidam ao entrar em um novo espaço e
ao estarem em contato com novas pessoas, não somente os ingressantes, mas as pessoas que já
fazem parte do grupo. No primeiro dia tendem a perceber que dramatizar é útil mais por
possibilitar a visualização de outras perspectivas, por se sentirem aliviados e relaxados, e menos
como subsídio para mudar uma situação.
86
7
FUNÇÃO DO COMPARTILHAR COMO ASPECTO QUE MAIS CHAMA
ATENÇÃO DOS PARTICIPANTES
Na Tabela 7.1 estão expostos os aspectos citados pelos participantes em relação à etapa
final da sessão psicodramática, denominada compartilhar. No primeiro dia, os dados estão
distribuídos em quatro categorias; em maior proporção (0.63) é apresentada a função do
compartilhar e, na proporção de 0.06, indicam que não atentaram se houve ou não compartilhar.
A função do compartilhar é a categoria mais indicada, com média de 1.3, pelos
“antigos”, em relação à dificuldade para falar de si e o preparo do psicodramatista, que são
referenciadas em 0.6 das indicações. Os intermediários apresentam, em média, 2.0 indicações por
participante para a função do compartilhar, e com menor média (0.2), citam que não atentaram se
teve ou não compartilhar no primeiro dia. Os “novatos” referenciam com menor média (0.25) a
categoria não atentou se teve ou não compartilhar, com média de 2.0 indicações à função do
compartilhar.
A categoria função do compartilhar é a que recebe maior número de indicações pelos
três grupos: é indicada igualmente pelos “intermediários” e “novatos” (2.0) e com média 1.3
pelos “antigos”. A segunda categoria mais indicada (preparo profissional do psicodramatista) é
referenciada com maior média (0.8) pelos “intermediários” e em menor quantidade (0.6) pelos
“antigos”,e não é citada pelos “novatos”. A dificuldade para falar de si é o aspecto mais indicado
(0.7) pelos “novatos” e menos indicado pelos “antigos” (0.6), enquanto que não é citado pelos
“intermediários” .
No presente há quatro categorias relacionadas aos aspectos para os quais os participantes
atentam no compartilhar. Na proporção de 0.75 está o aprendizado que a etapa proporciona como
o aspecto com maior número de indicações. O psicoterapeuta fala de si é o aspecto que aparece
na proporção de 0.05.
Dividir com o grupo os sentimentos, sensação de vivenciar situações semelhantes,
acolhimento mútuo, aprender com a experiência do outro, é a categoria que os “antigos”
referenciam com maior número de indicações, em média, 2.6. Indicam com menor média (0.6) o
aspecto formas diferentes do compartilhar. Os “intermediários” apresentam o aprendizado que a
etapa proporciona com 4.0 indicações por participantes e com 1.0 indicação em média se referem
às formas diferentes de compartilhar. Os “novatos” citam em maior quantidade (3.5) o
aprendizado que a etapa proporciona e, com menor média (0.7) apresentam a categoria
psicoterapeuta fala de si.
TABELA 7.1
Distribuição das quantidades e proporções de indicações sobre aspectos que chamaram a
atenção no primeiro dia e chamam atenção no presente no compartilhar indicados pelos 12
participantes de dois grupos psicoterapia psicodramática, organizados segundo critério de
tempo de permanência nesses grupos.
Primeiro dia
Quantidade de Pro
indicações por
Categorias G1 G2 G3 T ção
4 10 8 22 0.63
Função do compartilhar: exprimir por meio de palavras e/ou (1.3) (2.0) (2.0)
do corpo (abraços, toque, sentar próximo) as próprias situações
Preparo profissional/psicológico do psicodramatista 2 4 - 6 0.17
(0.6) (0.8)
Dificuldade para falar de si 2 - 3 5 0.14
(0.6) (0.7)
Não atentou se teve ou não compartilhar - 1 1 2 0.06
(0.2) (0.25)
Total 8 15 12 35 1.00
Presente
Aprendizado que a etapa proporciona (dividir com o grupo os 8 20 14 42 0.75
sentimentos, sensação de estar com, situações idênticas, acolhimento mútuo, (2.6) (4.0) (3.5)
aprender com a experiência do outro)
88
O aprendizado que a etapa proporciona é o aspecto que recebe 4.0 indicações, em média,
dos “intermediários”, e é referenciada com menor média (2.6) pelos “antigos”. Esta é a categoria
que recebe indicações dos três grupos. Formas diferentes de compartilhar obtém, em média, 1.0
indicação por participante pertencente aos “intermediários”, e recebe quantidade menor (0.6) dos
“antigos”. Os “novatos” não a citam. Os “antigos” indicam com média de 1.3 a categoria
mudança nos dispositivos (baixa iluminação, sentar próximos) como facilitadores da função do
compartilhar, enquanto que “intermediários” e “novatos” não fazem referência a esta categoria.
O exame das proporções e das médias da Tabela 7.1, onde estão expostos os aspectos
citados pelos 12 participantes como aqueles que chamaram a atenção no primeiro dia e
atualmente em relação à etapa final da sessão psicodramática denominada de compartilhar,
possibilita constatar mais claramente que o aprendizado que o compartilhar proporciona fora do
contexto psicoterapêutico é percebido nos dias atuais. No primeiro dia, os participantes
perceberam a função do compartilhar na sessão psicoterapêutica, sem perceber os efeitos desta
etapa em si e também fora da psicoterapia. É provável que os participantes se sintam próximos,
se abracem, falem de si por intermédio do psicoterapeuta, mais do que levadas pela facilitação
dada pelo próprio compartilhar, o que é confirmado por terem indicado o preparo do
psicoterapeuta na proporção de 0.17. É comum que os participantes apresentem dificuldades para
falar de si, das situações que vivenciam, e por isto o psicoterapeuta psicodramatista a interrompe
a fala dos participantes que não estiverem cumprindo com o objetivo de compartilhar. O preparo
do psicodramatista, talvez, tenha contribuído para que os participantes entendessem e atentassem
para a função do compartilhar logo no primeiro dia, e por esta razão foi o aspecto indicado por
todos os participantes na proporção de 0.63.
O preparo do psicodramatista pode ser percebido quando ele conta suas próprias estórias
como forma de se aproximar das pessoas. Ramos (1994) afirma que a intervenção realizada com
os meninos de rua somente foi possível porque as estagiárias psicodramatistas, integrantes da
equipe de pesquisa, demonstraram seus sentimentos de afeição e companheirismo por meio de
89
estórias que contaram sobre si, por trabalhos que ensinaram a eles e por estarem, também elas,
dispostas a aprenderem com eles. Quando as estagiárias contaram sobre as vivências,
“enturmaram-se” com os meninos, conquistaram sua confiança, possibilitando que quisessem
participar das sessões de psicodrama.
Nos dias atuais, os participantes dos três grupos (“antigos”, “intermediários” e
“novatos”) incorporaram a função do compartilhar na sessão de psicoterapia e indicaram que a
atenção está direcionada para a função dessa etapa fora do contexto psicoterapêutico. A categoria
o aprendizado que a etapa proporciona é referenciado na proporção de 0.75. Comportamentos de
dividir com o grupo os sentimentos, sensação de estar com, acolhimento mútuo, aprender com a
experiência do outros, são “treinados” no contexto psicoterapêutico, especificamente no
compartilhar. Viver experiências por diversas vezes numa espécie de laboratório que lhes
possibilita arriscar comportamentos e perceber as reações comportamentais das pessoas, garante
o aprendizado a ser utilizado fora do contexto psicoterapêutico.
Em relação às médias de indicações feitas pelos participantes no primeiro dia, é possível
observar que a interação do grupo de psicoterapia facilita a compreensão do funcionamento do
compartilhar. Os “antigos” apresentam menor média (1.3) para a categoria função do
compartilhar, enquanto que “intermediários” e “novatos” atribuem médias uniformes (2.0).
Quanto maior o entrosamento do grupo, como conseqüência do tempo prolongado de
psicoterapia, menos interrupções por parte do psicoterapeuta para explicar e relembrar o objetivo
desta etapa. O preparo do psicoterapeuta é menos perceptível no compartilhar quando os
participantes conhecem o objetivo do compartilhar e estão familiarizados com os procedimentos.
Os “novatos” não fazem referência ao preparo do psicoterapeuta como um aspecto que tenha
chamado sua atenção no primeiro dia. Na etapa final, no entanto, os “antigos” apresentam média
0.6, e os “intermediários” 0.8.
No presente, os “antigos” parecem estar mais acostumados com o aprendizado que o
compartilhar proporciona do que os “intermediários” e “novatos”. Pelas oportunidades de
convívio que o tempo lhes possibilitou, os “antigos” já incorporaram comportamentos do
compartilhar no seu cotidiano, embora ainda estejam atentos a este aprendizado, pois indicam
média de 2.5 para a categoria, e direcionam também a atenção para a interferência de fatores
externos a esta etapa.
90
São feitas três indicações pela integrante dos “novatos” que faz psicoterapia individual
com outro psicólogo da mesma clínica, para a categoria psicoterapeuta fala de si. Os outros três
integrantes do grupo dos “novatos” que fazem psicoterapia individual concomitante ao processo
psicoterapêutico grupal com o mesmo psicoterapeuta do grupo não fizeram referência a essa
categoria, pois seguramente o psicoterapeuta também compartilha na psicoterapia individual,
fator que possibilita que os novos integrantes já estejam acostumados com o fato do
psicoterapeuta falar de si. A função do compartilhar é acolher a pessoa ou as pessoas que
dramatizaram ou contaram suas estórias. O acolhimento tanto ocorre na condução da psicoterapia
de abordagem psicodramática individual como grupal. Para Moreno (1984) o psicodramatista
deve deixar claro ao grupo que o objetivo desta etapa não é falar sobre a dramatização, de
conceitos abstratos, dar conselhos ou fazer interpretações sobre quem protagonizou ou contou sua
estória, e sim para cada um falar de si, da própria experiência, com o objetivo de acolher e se
aproximar das outras pessoas.
91
8
MEDIAÇÃO DO PSICOTERAPEUTA COMO FATOR PREPONDERANTE
PARA PERMANÊNCIA DAS PESSOAS NO GRUPO.
TABELA 8.1
Distribuição das quantidades e proporções de indicações sobre aspectos que os
participantes percebem que modificaram a partir da psicoterapia em grupo indicados pelos
12 participantes de dois grupos psicoterapia psicodramática, organizados segundo critério
de tempo de permanência nesses grupos.
Quantidade de Pro
indicações Por
Categorias G1 G2 G3 T ção
Relação consigo mesmo (busca da própria satisfação, fazer coisas para o 16 28 21 65 0.45
próprio bem estar, cuidado consigo mesma etc.) (5.3) (5.6) (5.2)
Compreensão e consideração a partir das necessidades das 10 22 2 34 0.23
pessoas com quem se relacionam. ( aprender a ouvir, a compreender (3.3) (4.4) (0.5)
a perspectiva do outro, a dividir)
Relacionamento familiar 8 12 3 23 0.16
(2.6) (2.4) (0.7)
Aceitação das próprias limitações e da condição humana (erros, 4 9 - 13 0.09
Imperfeições) (1.3) (1.8)
Relacionamento com o cônjuge 1 - 4 5 0.03
(0.3) (1.0)
Respostas novas e diferentes diante de situações. - 4 - 4 0.03
(0.8)
Nenhum - - 1 1 0.01
(0.2)
93
TABELA 8.2
94
em maior proporção (0.90). Em seguida, a categoria sensação de frustração permanente (0.07) e
por último, a categoria nunca ocorreu frustração (0.03).
TABELA 8.3
Quantidade de Pro
Indicações por
Categorias G1 G2 G3 T ção
Sensação de frustração momentânea (percebida como parte do processo 12 20 8 40 0.90
psicoterapêutico, cuja função é o aprendizado e a motivação para mudança e pedido de (4.0) (4.0) (2.0)
auxílio ao grupo )
Sensação de frustração permanente (sem vislumbrar benefícios futuros) - - 3 3 0.07
(0.7)
Nunca ocorreu frustração - - 1 1 0.03
(0.2)
95
Em termos das médias de indicações, os “antigos” e “intermediários” indicam a
categoria simulação de situações ensina a lidar adequadamente com as situações fora do contexto
psicoterapêutico com maior média (7.6 e 3.8, respectivamente) e em menor média a qualidade de
vida, 0.3 e 0.4, que recebe maior média dos “antigos” e “intermediários”. A categoria simulação
de situações ensina a lidar adequadamente com as situações fora do contexto terapêutico também
é indicada em maior média (5.5) pelos “novatos”. Eles apresentam uma indicação, cuja média
correspondente é 0.2, para a categoria espaço para falar.
TABELA 8.4
Quantidade de Pro
indicações por
Categorias G1 G2 G3 T ção
Simulação de situações, por meio de dramatização ou no próprio 23 19 22 64 0.76
relacionamento com o grupo, ensina a lidar adequadamente com
situações fora do contexto psicoterapêutico (7.6) (3.8) (5.5)
Desenvolvimento pessoal e autoconhecimento 2 5 7 14 0.17
(0.6) (1.0) (1.7)
Qualidade de vida (prevenção de doenças) 1 2 2 5 0.06
(0.3) (0.4) (0.5)
Espaço para falar das situações que vivencia - - 1 1 0.01
(0.2)
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ter mudado a partir da psicoterapia em grupo, assim como as proporções dessas indicações,
categorizadas em sete conjuntos. A partir do exame dos dados é possível concluir que,
independentemente do tempo de psicoterapia, a relação consigo mesmo é o que mais muda
(0.45), segundo o relato dos participantes dos três grupos (“antigos”, “intermediários” e
“novatos”). Em um processo psicoterapêutico o foco principal reside no quanto as pessoas se
tornam capazes de modificar suas relações consigo mesmas e, dessa forma, alterar outras relações
que estabelecem, num crescente de melhoria da qualidade das interações para si e para outros. O
aprendizado do cuidado consigo mesmo, num primeiro momento, se caracteriza pela busca da
própria satisfação, pela percepção contínua dos próprios comportamentos, pela compreensão de
que sempre há mais coisas para aprender em relação a si mesmo. A continuidade do processo de
aprendizado sobre si mesmo está evidenciada nas médias semelhantes apresentadas pelos
“antigos”(5.3), “intermediários” (5.6) e “novatos” (5.2) para a categoria relação consigo mesmo.
Resta considerar ainda que, apesar da relação consigo mesmo ser o foco das mudanças
nos participantes parece que, com o tempo de psicoterapia, as pessoas tendem a considerar as
outras pessoas, a ouvi-las, a compreender a perspectiva do outro, como aspectos a serem
aprendidos, considerando as médias das indicações feitas pelos participantes do grupo dos
“antigos” (3.3) e dos “intermediários” (4.4) e comparando-as com aquela apresentada pelos
“novatos” (0.5). É possível conjeturar que os “novatos” estão num processo de aprendizado da
percepção de si próprios, de suas qualidades e do que precisa ser melhorado. Perceber e
considerar as outras pessoas que se relacionam com eles é conseqüência de uma melhor
percepção de si mesmos, pois esta ajuda a perceber também as conseqüências do seu
comportamento sobre o comportamento das pessoas com as quais se relacionam..
Outro efeito a médio e longo prazo da mudança na relação consigo mesmo é a mudança
no relacionamento familiar. Os “antigos” e “intermediários” percebem esse efeito em maior grau,
tanto que indicam, respectivamente, 2.6 e 2.4 em média, enquanto que os “novatos” atribuem
média de 0.7. Algum grau de mudança na relação com a família os “novatos” percebem, mas não
chega a constituir foco principal da sua percepção. No entanto, a efetividade desse tipo de
percepção tende a ocorrer depois de algum tempo de oportunidades de aprendizagens
proporcionadas pelo processo psicoterápico.
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É possível concluir que aceitar as próprias limitações é um comportamento aprendido
pelos “antigos” e “intermediários”, como conseqüência do processo psicoterapêutico,
aprendizagem essa que os novatos ainda terão que desenvolver, dado que não houve nenhuma
indicação desse grupo para a categoria aceitação das próprias limitações e da condição humana.
As pessoas com pouco tempo de psicoterapia e, conseqüentemente, com menos oportunidades de
aprender novas relações de maneira assistida, precisam perceber-se melhor, estarem seguros das
suas características consideradas positivas e negativas, como condição para aceitar suas próprias
limitações.
Fonseca (2000) afirma que faz parte do aprendizado psicodramático treinar, copiar,
imitar modelos e o exercício dos aprendizados nos papéis que se desempenha leva ao
aperfeiçoamento, troca de informações para continuar a crescer, encontrando novas formas de
aprender. As pessoas que estão no início do aprendizado, por receberem diferentes influências e
se identificarem com diferentes pessoas no grupo , acabam por ficar confusas em relação a sua
identidade. Os “novatos”, por exemplo, são os que menos indicações fazem para a categoria
mudança na relação consigo mesmo. Eles estão no início do aprendizado, estão imitando ainda,
pois não estão seguros de qual seja seu próprio jeito. Estão, ao que parece, experimentando novos
jeitos. Esse dado é reforçado quando eles não se referem à categoria aceitação das próprias
limitações e da condição humana, pois para aceitar as limitações precisam se conhecer, e
conhecer seus defeitos e qualidades.
A categoria nenhum foi apresentada pela participante que faz psicoterapia individual
com outro psicoterapeuta. É provável que o psicoterapeuta que conduz o processo
psicoterapêutico individual não esteja aproveitando as experiências vivenciadas pela participante
no grupo nas sessões individuais, e por essa razão ela foi a única a indicar que não percebeu
nenhum benefício da psicoterapia grupal. As outras três participantes do grupo dos “novatos”
fazem psicoterapia individual concomitante à psicoterapia grupal com o mesmo psicoterapeuta e
já percebem os benefícios do processo psicoterapêutico grupal.
A análise das proporções e das médias de indicações da Tabela 8.2, onde estão
apresentados os aspectos que os participantes identificam como os que chamam atenção em si
próprios após as sessões semanais, pode-se concluir que os comportamentos dos participantes
oscilam entre sensação de bem-estar e necessidade de introspecção por estarem relacionados com
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o tipo de experiência que tiveram no contexto psicoterapêutico. As proporções para as duas
categorias são semelhantes, a sensação de bem estar é indicada na proporção de 0.49 e a
necessidade de introspecção é referenciada na proporção de 0.46.
As médias de indicações apresentadas pelos “antigos” e “intermediários” estão
praticamente invertidas para a sensação de bem-estar e necessitada de introspecção. Os
“intermediários” indicam maior média para a categoria sensação de bem-estar (3.4) e os
“antigos” indicam para a necessidade de introspecção (3.6). Pode-se afirmar que os “antigos”
vivenciando a experiência de mudar comportamentos que estão habituados a desenvolver, e é
precisamente essa característica de ser habituais a que imprime nessas mudanças um grau de
dificuldade elevado. Os “intermediários”, diferentemente, estão sendo reforçados para mudar
comportamentos cujo grau de dificuldade é médio. Esta hipótese se confirma ao analisar as
médias de indicações dos “novatos”, que é semelhante para as duas categorias. Eles fazem, em
média, uma indicação por participante para a sensação de bem estar e 1.2 para a necessidade de
introspecção. Isto se deve ao fato de estar mudando comportamentos com baixo grau de
dificuldade e estar sendo reforçados na mesma medida, sendo assim, a oscilação entre a sensação
de bem estar e necessidade de introspecção é quase uniforme (1.0 e 1.2, respectivamente).
A média apresentada pelo grupo dos “antigos” para a necessidade de introspecção é de
3.6, maior que dos “intermediários” (2.2) e dos “novatos” (1.2). O decréscimo das médias nessa
categoria pode ser indício de que o recurso de "ficar sozinho" seja utilizado para permitir melhor
elaboração daquilo que foi vivenciado e, portanto, alvo de reflexão, na medida em que os
participantes vão se tornando mais experientes no grupo psicoterapêutico. Os “novatos”, por
estarem modificando comportamentos com baixo grau de dificuldade, apresentam,
provavelmente, menos necessidade de introspecção do que os outros dois grupos. A partir do
decréscimo das médias é possível inferir que, quanto maior o tempo de permanência num grupo,
mais oportunidades os participantes têm de alterar comportamentos com elevado grau de
dificuldade, pois esse é, em geral, o caminho natural de um processo psicoterápico: lidar primeiro
com os "problemas" mais "fáceis" e gradualmente passar a lidar com os mais "difíceis" para cada
uma das pessoas do grupo.
Na Tabela 8.2, igualmente à Tabela 8.1, aparece uma categoria somente apresentada
pelo grupo dos “novatos”, cujas três indicações para a categoria restrição a pensar na psicoterapia
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no contexto psicoterapêutico, foram feitas pela participante que faz psicoterapia individual com
psicoterapeuta diferente do que conduz a psicoterapia grupal. As indicações feitas pela
participante para esse aspecto, talvez, estejam relacionadas com o despreparo do profissional que
conduz as sessões individuais, quem, provavelmente, não utiliza as situações vivenciadas no
grupo pela participante como recurso de trabalho no processo psicoterapêutico individual. A
participante apresenta uma percepção diferente dos outros três novatos nos aspectos relacionados
a percepção da psicoterapia grupal.
Os dados analisados a partir da Tabela 8.3 se referem às proporções e às médias de
indicações em relação aos benefícios que os participantes perceberam a médio e longo prazo após
o término das sessões de psicoterapia em grupo. Na proporção de 0.90 os participantes percebem
a sensação de frustração como momentânea, com a função de promover o aprendizado e o
processo de mudança de comportamento. As categorias sensação de frustração permanente e
nunca ocorreu frustração são citadas somente pelos “novatos” (proporções respectivas de 0.07 e
0.03). Eles não tiveram, ainda, tantas oportunidades quanto os intermediários e antigos para
perceber que a sensação de frustração é momentânea, nem que essa sensação traz benefícios, o
que justifica a percepção da frustração como permanente somente por eles.
A partir do terceiro mês de participação no grupo a sensação de frustração passa a ser
percebida como momentânea, provavelmente, este é o tempo necessário para os participantes
visualizarem que aprenderam algo com aquela sensação. Ao se frustrarem, num primeiro
momento, percebem a situação como permanente e esta percepção talvez seja a condição que
promova a vontade de mudar para minimizar e até eliminar essa sensação. Os “novatos” que já
percebem a frustração como parte do processo psicoterapêutico estão fazendo psicoterapia há
mais de três meses. A frustração é percebida como momentânea pelas possibilidades propiciadas
pelo tempo dos participantes vivenciarem como passageiras as situações que num primeiro
momento pareciam permanentes.
Aguiar (1998) afirma que nas vivências psicodramáticas há uma tensão permanente
entre o individual e o coletivo, entre o membro que está sendo protagonista e o grupo como um
todo. Essa tensão, num primeiro momento, pode traduzir-se em conflitos pontuais e
posteriormente é uma força propulsora dos objetivos psicoterapêuticos . Essa tensão é necessária
nas sessões psicodramáticas, cabe ao psicodramatista utilizar esses aspectos para que os
100
participantes percebam os benefícios que esse estado produz. Os participantes “antigos” e
“intermediários”tiveram mais oportunidades de perceber os benefícios produzidos pela sensação
de frustração, que pode ser entendida como um estado de tensão.
O psicoterapeuta, na psicoterapia individual concomitante à psicoterapia grupal,
demonstra para o participante os benefícios posteriores da sensação e o modo de proceder para
minimiza-la. O psicodramatista, quando na psicoterapia individual obtém a informação de que
determinado participante está frustrado, faz intervenções na psicoterapia grupal para promover a
percepção que todos os participantes vivenciam ou vivenciaram sensação semelhante. Fonseca
(2000) afirma que o psicoterapeuta psicodramatista, ao perceber a situação do cliente, pode
utilizar os recursos psicodramáticos para facilitar as relações entre os participantes do grupo, do
cliente consigo mesmo e com o psicoterapeuta.
O auxílio do psicoterapeuta para que os participantes novatos lidem de modo adequado
com a sensação de frustração é facilitado quando é o mesmo psicoterapeuta na psicoterapia
grupal ou individual, ou quando são psicoterapeutas diferentes e o psicoterapeuta individual
utiliza as situações vivenciadas no grupo no processo individual. A participante novata que faz
psicoterapia individual com outro psicoterapeuta é a única a indicar não ter experimentado esta
sensação de frustração, embora seja mais provável que tenha tido essa experiência mas não a
tenha identificado como tal, por não ter a mediação adequada do psicoterapeuta no processo
individual.
A análise dos dados da Tabela 8.4, em que estão apresentadas as proporções e as médias
de indicações dos 12 participantes, possibilita constatar que a sua definição em maior proporção
(0.75) consiste na finalidade primeira do método psicodramático. Os participantes dos três grupos
percebem que a dramatização e o próprio relacionamento entre os participantes auxiliam na
preparação para lidar com as situações a que estão expostos fora do contexto psicoterapêutico,
pois visualizam o processo psicoterapêutico grupal psicodramático como um laboratório, onde
podem fazer suas experiências em relação à repercussão do próprio comportamento em si e nos
outros.
101
Em relação às médias de indicações, é possível concluir que os “antigos” definem,
predominantemente, a psicoterapia em grupo como o espaço que ensina a lidar com as situações
cotidianas. Eles percebem que o desenvolvimento pessoal, o autoconhecimento e a qualidade de
vida são efeitos da aprendizagem que adquirem para lidar com as situações cotidianas, e por isso
se referem a estas categorias com médias inferiores aos “intermediários” e “novatos”. A categoria
desenvolvimento pessoal recebe média 0.6 dos “antigos”, enquanto que os “intermediários”
atribuem 1.0 e os “novatos” 1.7. Quanto maior o tempo dos participantes no grupo, maior o grau
de percepção de que o desenvolvimento pessoal e o autoconhecimento são resultados advindos
das experiências vivenciadas na psicoterapia psicodramática em grupo. Este dado se confirma nas
médias de indicações na categoria qualidade de vida, à qual os “novatos” atribuem média 0.5,
enquanto que a categoria é citada por uma participante dos “antigos”.
A categoria espaço para falar foi apresentada pela participante que faz psicoterapia
individual com outro psicoterapeuta. É provável que o psicoterapeuta que conduz o processo
psicoterapêutico individual não aproveite as experiências vivenciadas pela participante no grupo
nas sessões individuais, pois as outras três participantes do mesmo grupo (“novatos”) definiram a
finalidade da psicoterapia nas categorias também definidas pelos “antigos” e “intermediários”:
simulação de situações, por meio de dramatização ou no próprio relacionamento com o grupo,
ensina a lidar adequadamente com situações fora do contexto psicoterapêutico, desenvolvimento
pessoal e autoconhecimento e, por último, qualidade de vida. O psicoterapeuta é mediador da
percepção da finalidade da psicoterapia tanto em grupo quanto individual, considerando que dois
participantes dos “antigos” e três dos “intermediários” não fazem psicoterapia individual e
mesmo assim definem a finalidade da psicoterapia de modos semelhantes. Todos os “novatos”
fazem psicoterapia individual concomitante à grupal para que o psicoterapeuta possa fazer essa
mediação, facilitando a percepção adequada das situações vivenciadas no grupo. A participante
que faz psicoterapia individual com outro psicoterapeuta percebe apenas uma das possibilidades
da psicoterapia grupal: espaço para falar.
102
9
ASPECTOS RELACIONADOS A PERMANÊNCIA DE PESSOAS NUM GRUPO
PSICOTERAPÊUTICO: CONFIANÇA NO PSICOTERAPEUTA E NOVAS
APRENDIZAGENS QUE O GRUPO POSSIBILITA
Uma análise dos dados obtidos por meio do relato de integrantes de dois grupos
psicoterapêuticos de orientação psicodramática, possibilitou identificar aspectos presentes na
situação de grupo uns relacionados à formação do profissional, outros à dinâmica propiciada
pelo grupo e outros às características próprias da orientação psicodramática, que em conjunto,
parecem interferir aumentando a probabilidade de permanência dessas pessoas num grupo
psicoterapêutico. As evidências obtidas por meio do relato dos entrevistados possibilitam
identificar que confiança no psicoterapeuta e as novas aprendizagens possibilitadas pelo grupo
dependem fundamentalmente do preparo que caracteriza a formação do psicodramatista.
Num primeiro momento, as pessoas podem fazer psicoterapia com determinado
psicoterapeuta, indicadas por alguém. A princípio confiam nele, sem talvez conhecer a
qualidade do seu trabalho. No entanto, para aceitar participar de um grupo psicoterapêutico e
se manter nele parece ser necessário que a confiança seja mantida. Um psicoterapeuta
preparado adequadamente para o exercício profissional, está mais apto a suscitar a confiança
dos participantes, pela facilitação das relações grupais, das novas aprendizagens nas relações
sociais, familiares, e consigo mesmo, de trabalho das pessoas que o procuram. O preparo do
psicodramatista, muito provavelmente, é o que está mantendo as pessoas num grupo de
psicoterapia psicodramática.
Uma das razões fundamentais pelas quais as pessoas se mantêm na psicoterapia em
grupo é o preparo do psicodramatista. Os participantes precisam perceber que o grupo é um
espaço seguro e percebem isto por meio da atuação do psicoterapeuta nas sessões individuais,
antes de freqüentar o grupo. O jeito de falar, de rir, transmitir calma do psicodramatista,
categorizados na Tabela 3.1 como características pessoais do psicoterapeuta, foram os
aspectos mais indicados pelos participantes como aqueles que mais agradaram no primeiro dia
(0.43). A indicação de características pessoais do psicoterapeuta como o aspecto que mais
agradou no primeiro dia, pode estar evidenciando um dos motivos pelos quais confiaram nele
no início do processo psicoterapêutico grupal e, muito provavelmente, o que possibilitou a
decisão de freqüentar o grupo. Outro provável motivo que levou os participantes ao grupo foi
o preparo do psicodramatista, haja vista a indicação feita pelos participantes, na proporção de
0.35, para essa característica já no primeiro dia de sessão grupal. Considerando que todos os
participantes passaram por ao menos uma sessão individual com esse psicoterapeuta, antes de
começarem a freqüentar o grupo, possivelmente perceberam, já na sessão individual, o modo
dele atuar, aspecto este que provavelmente deve tê-los levado a confiar no psicoterapeuta. De
acordo com as citações de uma participantes:
104
A condução adequada do processo psicoterapêutico tanto grupal quanto individual é
assegurada por uma formação do profissional de qualidade. Essa formação deveria ocorrer
ainda nos cursos de graduação em Psicologia, para que o profissional não dependesse de fazer
especialização nas diferentes abordagens para aprender a trabalhar adequadamente. A
adequada preparação do psicoterapeuta parece ter implicações para as pessoas beneficiárias
das intervenções psicoterápicas que poderiam apresentar maior qualidade e eficácia,
assegurando o cumprimento do papel social de uma profissão e a dimensão ética do trabalho
do psicólogo.
O conhecimento técnico do psicoterapeuta, a concepção que tem sobre a utilidade da
psicoterapia para as pessoas e para si mesmo (se ele mesmo faz psicoterapia) influenciam no
modo pelo qual esse profissional conduz o processo psicoterapêutico . O psicólogo, quando
não conhece as técnicas e conceitos que utiliza, tende a repetir o que aprendeu na graduação,
sem adequar as situações em que atua. Botomé (1996, em Dimenstein, 2000) afirma que,
começa na universidade, a adesão cega a teorias, técnicas, modelo e ritual profissional que
condicionam determinadas classes de respostas consideradas insuficientes e inadequadas para
explicar os problemas, independentemente de quem os apresenta e de suas características.
A concepção que o próprio psicoterapeuta tem da utilidade da psicoterapia para as
pessoas pode ter influenciado a percepção que os participantes tem da psicoterapia como
forma de manter a saúde. Os participantes dos três grupos (antigos, intermediários e novatos)
indicam, no presente, a finalidade da psicoterapia como melhorar a qualidade de vida,
prevenindo doenças. Giannotti (2002) afirma que as doenças no corpo podem ser provocadas
pela maneira como as pessoas se comportam, levam a vida, como reagem as situações. Essa
concepção que os participantes tem da psicoterapia, talvez esteja relacionada com o preparo
do psicodramatista, considerando que ele faz a mediação entre as situações vivenciadas no
contexto psicoterapêutico e as situações cotidianas. Quando os participantes se referem a
relação consigo mesmo como o aspecto que percebem terem modificado por estarem fazendo
psicoterapia em grupo, parecem estar confirmando que percebem no presente a psicoterapia
como forma de manter a saúde. Eles indicam aprender a buscar a própria satisfação, o bem
estar, o cuidado consigo mesmo, com o corpo. A percepção de que essas mudanças em si
mesmo, melhoram a qualidade de vida, o bem estar, a saúde parece ser um estímulo para que
continuem participando dos grupos de psicoterapia psicodramática.
105
Uma das decorrências da formação inadequada do psicólogo é interferência sobre a
percepção de maneira errônea que o cliente ou participante (quando se refere a grupo) tem do
processo psicoterapêutico. Uma participante que faz psicoterapia individual com outro
psicoterapeuta apresenta percepção diferenciada dos demais participantes a respeito da função
e finalidade da psicoterapia em grupo. Na Tabela 8.1, essa participante, do grupo dos novatos,
relata que faz psicoterapia individual com outro psicoterapeuta e é a única a indicar que não
percebeu ter modificado comportamentos a partir da psicoterapia. É também a única a indicar
que se restringe a pensar na psicoterapia em grupo somente no contexto grupal. Ela também
indica que nunca ocorreu frustração desde que entrou no grupo, diferentemente dos três
participantes novatos, que indicaram terem vivenciado a sensação de frustração. A finalidade
da psicoterapia em grupo para essa participante se restringe ao espaço para falar.
O acompanhamento por meio de psicoterapia individual concomitante ao processo
grupal pode estar facilitando que as pessoas se mantenham no grupo. No entanto, o
psicoterapeuta, nessas sessões individuais, precisa possibilitar que as pessoas percebam as
situações que vivenciam no grupo e a utilidade das decorrências das discussões sobre essas
situações para a própria vida. Alguns participantes ao serem inseridos no grupo, não fazem
psicoterapia individual concomitante. O psicoterapeuta grupal possibilita que os participantes
percebam a função do grupo nas sessões grupais. Esse dado se confirma, pois uma
participante dos “intermediários” fez uma sessão individual e foi inserida no grupo. As
respostas dadas por ela, com referência ao primeiro dia e no presente, foram semelhantes aos
dos outros participantes. Essa participante ao falar do modo como percebeu o grupo no
primeiro dia:
“No grupo eu vejo mais resultado, além de ter mais comprometimento e.....eu não
sei, eu acho que já é um fato que te exige mais do que na (psicoterapia)
individual”. (F. 22 a)
A resposta dada por essa participante do grupo dos intermediários indica que no grupo,
o psicoterapeuta-psicodramatista reforça a finalidade, as mudanças os benefícios do processo
psicoterapêutico grupal.
O preparo que caracteriza a formação do psicodramatista parece ser um dos
determinantes que mantêm as pessoas fazendo psicoterapia em grupo. Esse “exigir mais” do
grupo que a participante se refere, a princípio, poderia ser motivo para que ela deixasse o
grupo. No entanto, é ao contrário. Ela afirma gostar mais do grupo por ver mais resultados,
106
por ser exigido mais comprometimento. Quem exige comprometimento, provavelmente, é o
psicodramatista, mais do que as pessoas que participam do grupo. É ele que dirige o grupo. A
formação técnica e psicológica do psicodramatista possibilita que ele exija e faça com que as
pessoas percebam a importância dessa exigência. Tecnicamente, dispõe de vários recursos
psicodramáticos para isso. Além de fazer parte da formação do psicodramatista, é o preparo
psicológico que, muito provavelmente, leva-o a exigir com um determinado “jeito”.
Outro possível determinante da permanência das pessoas no grupo, relacionado com o
preparo do psicodramatista podem ser os recursos e função da intervenção psicodramática.
Um dos recursos psicodramáticos utilizados é o jogo do faz de conta que tem regras
definidas, como horário para começar e terminar, é constituído por três etapas : aquecimento,
dramatização e compartilhar. Para Motta :
Nesse jogo do faz de conta, as pessoas podem vivenciar suas fantasias, podem se ver
na situação quando utilizadas as técnicas do espelho, inversão de papéis, sem que o
psicoterapeuta-psicodramatista precise falar diretamente para a pessoa. Ele facilita, por meio
dos recursos psicodramáticas, que a pessoa se perceba e perceba os outros. Quando fala algo,
orienta, o faz por meio do modo como a pessoa vivenciou a situação. Ao vivenciar as
situações que aconteceram, ou mesmo as fantasiosas, desenvolve um novo modo de se
relacionar a princípio no espaço seguro do grupo, e depois na sua vida do dia-a-dia, como é
esperado. Quando são dados conselhos, ou feitas interpretações são os conceitos, fantasias do
psicoterapeuta que podem ser difíceis da pessoa “incorporar”. A utilidade dos recursos e
função da intervenção psicodramática, segundo dois participantes:
“Na hora que tem um monte de peso das costas dela. Na verdade não são pesos, é
uma pessoa que está fazendo força nas costas dela simbolizando os afazeres dela.
Ela pede para eu representar o peso. A cena tinha haver comigo porque eu também
assumo um monte de coisas e chega a doer minhas costas.” (A, 26 a)
107
“O que eu gosto na dramatização é que.... ajuda, só que eu não consigo muito bem
exprimir o que eu acho, assim, porque eu não quero, assim, isso faz parte deste
problema (de um problema pessoal dele).” (C, 23 a)
Nas verbalizações desses dois participantes está expresso que eles mesmos perceberam
as situações em que estavam. A. percebeu que assumia muitos afazeres quando representou o
“peso” de outra pessoa que estava sendo protagonista no momento. C. percebeu que não
conseguia expressar o quer na dramatização por ser uma dificuldade que tem no cotidiano e se
“reflete” no jogo do faz-de-conta. Ambos se perceberam e puderam vivenciar as situações,
muito provavelmente não foi a primeira vez. Essa percepção que tiveram, talvez tenha sido
demarcada pelo psicoterapeuta psicodramatista, em outras situações que foram vivenciadas
por esses participantes. Sendo assim, os recursos e a função do psicodrama não teriam sentido
se não fossem facilitados pelo adequado preparo do psicodramatista.
As supervisões periódicas, os processamentos das sessões discutidas em grupos de
estudo, a psicoterapia fazem parte da formação do psicodramatista. Aguiar e Tassinari
(1994) afirmam que o processamento das sessões psicodramáticas visa destacar os “pontos”
significativos, levantar o que deve ser repetido, o que deve ser evitado, compreendendo o
fenômeno para aprimorar a atuação do diretor, dos atores auxiliares (terapeuta auxiliar), do
protagonista, da temática e da dinâmica grupal. Discutir, vislumbrar outras possibilidades de
atuação profissional, adequar os recursos psicodramáticos as diferentes situações são
características da formação do psicodramatista que parecem ser fundamentais para manter as
pessoas fazendo psicoterapia psicodramática em grupo.
Os participantes indicam gostar das técnicas psicodramáticas que o psicoterapeuta
também compartilha, que ele abraça, senta no chão junto com eles. Mas, também os
participantes indicam não gostar das interrupções propositais da fala (Tabela 3.2 – categoria:
preparo técnico do psicodramatista: relacionado ao modo de condução da sessão) que
caracterizam o preparo técnico dele. Embora não gostem, vêem como necessário. As
interrupções estão relacionadas com uma das características do método psicodramático que é
de “laboratório”, fazer com que as pessoas valorizem o que estão falando, que percebam
quando precisam aceitar as interrupções em que se for necessário, briguem, reclamem,
mantendo o respeito à autoridade (nesse caso, o psicoterapeuta). Duas participantes
respondem sobre o que não gostam no psicoterapeuta:
108
“Não gosto quando ele corta, mas tem que cortar ( no sentido de interromper)1
se tá falando demais. Quando, as vezes queria escapar (começava a falar de
outro assunto com intuito de não pensar sobre as coisa importantes que estava
falando) de algum assunto, sabe, alguma coisa assim (risos).” (G, 21a)
No caso dos relatos dessas duas entrevistadas, elas dizem não gostar das interrupções
feitas pelo psicodramatista talvez por gostarem de falar, mas percebem a importância das
interrupções que ele faz quando se referem aos benefícios: aprender a interrompe-lo e a
ficarem quietas, atentas ao que ele está falando. É provável que, ao interromper, faça de um
modo adequado a situação: em alguns momentos contando as próprias histórias, em outros
momentos em tom de brincadeira e, também “cortando”, ou seja, solicitando que a pessoa
fique quieta. Conduzir de modo adequado o momento de “cortar”, de limitar determinados
comportamentos na sessão parece ser parte do preparo profissional e psicológico do
psicodramatista que, mesmo sendo “desagradável” para as pessoas que participam, ainda
assim as mantêm fazendo psicoterapia. De maneira geral, é possível dizer que as pessoas
percebem o objetivo das interrupções como sendo, não o garantir a autoridade no grupo, mas
sim um meio para que aprendam a conviver de um modo adequado no grupo para que o façam
fora dele.
O preparo do psicodramatista também é importante no caso de desempenhar papel de
terapeutas auxiliares, em complementando de modo adequado a atuação do
diretor/psicodramatista. Essa importância pode ser vislumbrada nas respostas dadas pelas
participantes do grupo matutino, onde trabalham com o psicoterapeuta –psicodramatista duas
terapeutas auxiliares. A atuação delas possibilita uma percepção diferenciada, complementar
das situações que ocorrem no grupo, sem contradizer a atuação do psicoterapeuta. Tanto que,
no primeiro dia, chamou atenção (Tabela 3.3 - proporção de 0.64) o preparo de ambas e, no
presente é um aspecto que continua chamando a atenção (proporção de 0.71). Além de ser o
aspecto que mais chamou a atenção, é o aspecto que as participantes do grupo matutino
indicam ter gostado mais nelas no primeiro (0.84) e no presente (0.87). As participantes
1
Destaque em negrito nosso
109
percebem a utilidade da atuação delas, em geral, já no primeiro dia, pois apenas duas
participantes indicaram que elas não chamaram a atenção. No presente, não houve indicação
para essa categoria. Provavelmente, as terapeutas auxiliares com as situações que vivenciam
no grupo, com as participantes, possibilitam que utilizem as informações recebidas para se
aproximar do grupo e aprimorar o modo que atuam.
Por outro lado, duas participantes novatas não perceberam a atuação das terapeutas
auxiliares no primeiro dia, provavelmente pela discrição que a função delas exige. Elas
precisam atuar de modo a auxiliar as pessoas do grupo, sem chamar a atenção para si. Desse
modo auxiliam as pessoas e complementam, enriquecem a atuação do psicoterapeuta. Se o
psicoterapeuta tiver que se preocupar com a atuação delas, estão criando dificuldades
desnecessárias para ele. Aguiar (1998) afirma que o ator auxiliar (terapeuta auxiliar) deve
atuar de modo discreto, exercer suas funções sem atrair para si a atenção dos participantes.
Ao se referirem que o preparo de ambas chama atenção e é o aspecto que gostaram no
primeiro e mais gostam no presente, as participantes estão se referindo as expressões
corporais nas cenas das terapeutas auxiliares, ao modo como atuam nas cenas, as
verbalizações, ao modo delas compartilharem, abraçarem, estarem próximas. Duas
participantes do grupo matutino definem o que chama atenção nas terapeutas auxiliares da
seguinte forma:
“Ela (a terapeuta auxiliar) não fez nada, nem falou. Mas prá ela (para a
protagonista) eu acho que foi marcante o corpo” (a expressão corporal).
(D, 38 a)
“Ah, eu acho que elas dão uma sustentação, é. É na hora do grupo, assim né
porque é... ã... porque, elas tem mais facilidade prá enxergar (visualizar) de
uma maneira mais profissional o que tá sendo colocado(falado).” (B, 47 a)
110
criatividade, guiando-os por meio das técnicas disponíveis, representando no palco o que
sentem (Semensato, 2003). O terapeuta auxiliar tende a perceber mais rapidamente quando
um participante está chorando, ou está querendo falar, mas não está conseguindo. O
psicoterapeuta que está dirigindo o grupo tende a perceber com mais facilidade o todo,
quando pode dispor de terapeutas auxiliares. No grupo noturno, que não tem terapeutas
auxiliares, provavelmente o psicoterapeuta precisa prestar atenção no grupo e em cada um dos
participantes.
As terapeutas auxiliares são importantes no grupo, enriquecem a intervenção do
psicoterapeuta quando demonstram outras perspectivas das situações, facilitam a atuação do
psicoterapeuta. A importância delas é inegável para o aprimoramento da intervenção
psicoterapêutica, no entanto, parece não ser um determinante para que as pessoas se
mantenham no grupo. As participantes do grupo matutino reconhecem o preparo delas e
evidenciam os benefícios que tiveram por meio de atuações delas. O fato das terapeutas
auxiliares não constituírem uma razão fundamental para as pessoas se manterem no grupo,
provavelmente está relacionado com a discrição com que precisam atuar nesse papel. E, por
outro lado, senão fossem importantes, elas poderiam constituir uma das razões para as pessoas
abandonarem o grupo.
O desempenho adequado da função de terapeuta auxiliar facilita a atuação do
diretor/psicoterapeuta e qualifica o trabalho desenvolvido em grupos psicoterapêuticos. Os
cursos de formação em psicodrama, em geral, preparam mais os alunos para desempenhar o
papel de diretor, sem enfatizar tanto quanto deveriam a função de terapeuta auxiliar ou ego-
auxiliar. Uma conseqüência dessa formação é que os profissionais psicodramatistas tendem a
trabalhar sozinhos, sem equipe. Optar por mais um terapeuta num grupo pode ser mais
dispendioso em termos financeiros, mas também o trabalho é mais qualificado. Outra
conseqüência é que o diretor/psicoterapeuta aprende a perceber o grupo num contexto amplo,
as experiências de terapeuta auxiliar facilita o desenvolvimento da percepção individual num
grupo, qualificando o psicodramatista quando exercer a função de diretor.
Se as vivências das situações de terapeuta auxiliar são uma espécie de laboratório para
a qualificação do papel de diretor, vivenciar situações em contexto psicodramático também
pode aprimora o modo de viver das pessoas que se utilizam deste tipo de recurso
psicoterapêutico. Ao experienciar, por diversas vezes, numa espécie de laboratório que lhes
possibilita arriscar comportamentos e perceber as reações comportamentais das pessoas,
111
parece garantir o aprendizado a ser utilizado fora do contexto psicoterapêutico – nas três
etapas e em diferentes situações na sessão. Na Tabela 5.1, que se refere aos aspectos que
chamam atenção no presente na etapa inicial da sessão denominada de aquecimento, os
participantes indicam na proporção de 0.31 a categoria comportamentos e reações dos
participantes consistem em simulações do contexto social e possibilitam o aprendizado.
Durante toda a sessão, estão aprendendo. É como se fosse um laboratório do início ao fim. No
primeiro dia, os participantes atribuem essa função de aprendizado e simulação a
dramatização, tanto que indicam na proporção de 0.50 (Tabela 6.1) a categoria utilidade da
dramatização para a própria vida. Com a vivência de diversas situações no contexto
psicoterapêutico passam a indicar esse tipo de experiência nas duas outras etapas:
aquecimento e compartilhar.
Os dados referentes aos aspectos que chamam atenção no compartilhar no presente,
(na Tabela 7.1), confirmam que as situações vivenciadas no grupo possibilitam que os
participantes percebam as experiências do compartilhar como aprendizado a ser utilizado fora
do contexto psicoterapêutico. A categoria aprendizado que a etapa proporciona é indicada
com proporção de 0.75. Nas falas dos participantes esse dado se confirma:
“Tanto que eu não estou só abraçando o pessoal daqui (do grupo). Eu chego no
escritório eu abraço a Fulana quando ela tá com problema, (...)se eu sinto que você tá
precisando daí eu quero te abraçar ou seu eu tô precisando quero um abraço.(H, 36 a)
“Ajuda a compreender um ao outro, a saber que nós não, não estamos sozinhos
naquele problema”. (J, 62 a)
Os abraços, pedir auxílio, perceber que o outro está precisando de abraço, de carinho,
perceber que outras pessoas podem ajudar, que o problema não precisa ser enfrentado sozinho
são alguns comportamentos vivenciados no compartilhar e também em outras partes da sessão
que são, após algumas tentativas, vivenciados no cotidiano. A eficácia das vivências
psicodramáticas para o cotidiano são ilustradas por Jacob Levy Moreno no Caso Karl
(Moreno, 1984). Karl pensava que era Hitler, vestia-se como uniforme militar semelhante ao
do líder nazista, usava bigode como Hitler usava. Moreno falou com ele como se realmente
fosse Hitler, inclusive dispôs dois de seus terapeutas auxiliares, para serem os militares e
estarem continuamente com ele nos lugares onde fosse. Ao experienciar diversas situações
112
envolvendo Hitler, percebeu o quão difícil era sustentar esse personagem no cotidiano e, após
determinado tempo tirou o bigode e vestiu roupas diferentes das usadas por Hitler.
O grupo psicodramático tem o propósito de reunir diferentes tipos de pessoas que
compõe a sociedade, é como se fosse uma sociedade em miniatura (Moreno, 1974). Essa
característica de sociedade em miniatura dos grupos psicoterapêuticos psicodramáticos é para
garantir que o grupo funcione como uma espécie de grande laboratório. As reações, os
comportamentos das pessoas no contexto psicoterapêutico são uma espécie de exemplo do
que acontece fora desse contexto. A vantagem é que essas reações e comportamentos são
mediados pelo psicoterapeuta psicodramatista. Certos modos de conduta no convívio social
quando rejeitados, em geral, não há uma segunda possibilidade de tentar. No grupo, há
possibilidades de fazer novas tentativas, mediadas pelo psicoterapeuta, que servem como
aprendizado a ser utilizado, a princípio no contexto psicoterapêutico e incorporado
gradativamente, também fora da psicoterapia.
Os psicodramatistas em início de carreira e os estudantes de psicodrama, sejam eles
psicólogos ou não, tendem a não perceber as situações de aquecimento e do compartilhar
como possibilidades para modificar comportamentos. Em geral, a dramatização é percebida,
pelos iniciantes em psicodrama, como única possibilidade de modificar comportamentos nos
participantes. Semensato afirma que:
113
se hábil em ouvir os outros, pelas diversas vezes que vivenciou situações que teve que ouvir
no início da sessão e no compartilhar. É importante evidenciar que as situações no início na
sessão e no final criaram mais possibilidades para o aprendizado de ouvir, não constituíram o
único meio de adquirir esse aprendizado. Perceber que no aquecimento e no compartilhar
também ocorrem situações que possibilitam o aprendizado, auxilia que o psicodramatista
fique atento para explorar e utilizar todas as situações que forem possíveis.
A qualidade do preparo profissional do psicodramatista possibilita o manejo adequado
das situações que ocorrem no grupo. Esse preparo profissional parece ser um dos
determinantes da permanência das pessoas, por períodos de tempo relativamente prolongados,
num grupo de psicoterapia. Manter as pessoas num grupo pelo tempo necessário exige que o
profissional tenha um preparo, além da graduação ou da formação. A utilização das técnicas
psicodramáticas parecem não garantir o manejo adequado dos grupos. A adequada formação
do psicodramatista abrange supervisões contínuas, psicoterapia, processamentos de sessões
em grupos de estudos. Decorar as técnicas psicodramáticas não garante o sucesso do
profissional para conduzir o grupo. É preciso que o psicodramatista tenha adquirido os
conhecimentos e habilidades necessárias (e os aprimore continuamente) para adaptar o
método psicodramático nas diferentes situações que ocorrem num processo psicoterapêutico.
É preciso conhecer, para criar e re-criar as técnicas conforme as situações, ao invés de adaptar
as pessoas nas técnicas e procedimentos psicodramáticos. O adequado preparo profissional do
psicoterapeuta parece facilitar, também, a desmistificação da idéia que psicoterapia é para
“loucos” e reforçar as pessoas que o procuram que psicoterapia é uma forma de manter a
saúde e melhorar a qualidade de vida. As pessoas tendem a se manter nos grupos quando
percebem a utilidade da psicoterapia para si, cuja mediação dessa percepção é feita pelo
psicoterapeuta. A possibilidade que os participantes de grupos de psicoterapia psicodramática
tem de experimentar novos comportamentos, de “testar” numa espécie de “laboratório” as
reações em si e nos outros das mudanças comportamentais, monitorados por um profissional
parece ser um dos determinantes da permanência. A partir das informações dadas pelas
pessoas e a análise feita os psicoterapeutas, psicodramatistas ou não, podem fazer uso desse
conhecimento para qualificar a sua atuação profissional, facilitando o modo das pessoas, que
usufruem da suas intervenções, viverem.
114
REFERÊNCIAS
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Companhia do Teatro Espontâneo p.1-6
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116
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tratamento multidisciplinar da obesidade infantil abordagem psicodramática. Anais do
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São Paulo: Àgora,
Naffah Netto, A. (1997) O psicólogo clínico. Em: S. T. M. Lane & W. Codo (Orgs).
Psicologia social: o homem em movimento. 13.ed São Paulo: Brasiliense, p. 181 -194
117
Ramos, E. (1994) Meninos de rua: problema sem solução? Revista Brasileira de
Psicodrama p. 87-93.
Rebelatto, J.R. e Botomé, S.P. (1999). Fisioterapia no Brasil: fundamentos para uma ação
preventiva e perspectivas profissionais. São Paulo: Manole.
Sparling, J.W., Walker, D.F. e Singdahlsen, J. (1984). Play techniques with meurologically
impaired preschoolers. The American Journal of Occupational Therapy, 38 (9), 603-612.
Yozo, R. Y. (1996) 100 Jogos Para Grupos: Uma Abordagem Psicodramática Para
Empresas, Escolas e Clínicas. São Paulo: Ágora, 7.ed.
118
ANEXO 1
O psicodrama foi iniciado por Jacob Levy Moreno, psiquiatra vienense, por volta de
1910 como um teatro improvisado para crianças nos jardins de Viena. Tendo em vista a
aceitação dos pais neste trabalho, Moreno propôs um teatro improvisado, também
denominado de Teatro Espontâneo, para os adultos, em que percebeu o caráter terapêutico
desse tipo de teatro. Sendo assim, o denominou de psicodrama.
No psicodrama é utilizada a representação para que os participantes desempenhem os
papéis, simulando as relações que estabelece fora desse contexto teatral. O teatro improvisado
constitui um instrumento para a transformação das relações. Considerando que na concepção
psicodramática o homem se faz nas relações que mantém, sendo um ser social, pois, já ao
nascer, é inserido numa sociedade e necessita dos outros para sobreviver. O homem nasce
espontâneo, criativo e sensível. No entanto, no desenrolar de suas relações, essas condições
que favorecem a vida, tendem a ser prejudicadas "Toda a teoria moreniana parte dessa idéia
do Homem em relação, e, portanto, a inter-relação entre as pessoas constitui seu eixo
fundamental" (Gonçalves, 1988:41).
A simulação das relações interpessoais por meio do teatro improvisado em grupo foi a
forma encontrada por Moreno para criar uma sociedade em miniatura num espaço delimitado,
inicialmente num teatro e, posteriormente para consultórios, praças, hospitais, empresas etc.
Sendo o grupo psicodramático uma sociedade em miniatura torna-se possível preparar as
pessoas para enfrentar as dificuldades do cotidiano. É como se fosse um ensaio para viver.
No psicodrama são valorizados os sentimentos, as experiências e as vivências, as
expressões corporais e faciais pelo caráter pessoal que as mesmas proporcionam. As
explicações intelectuais, bem como a utilização da técnica pela técnica são descartadas das
sessões psicodramáticas, por impossibilitarem a vivência das situações.
A aplicação das técnicas psicodramáticas complementa a eficácia do método se forem
empregadas mediante os conceitos teóricos do psicodrama. As técnicas utilizadas por si só
tendem a contrariar os princípios psicodramáticos, na medida em que o psicodramatista
precisa perceber as necessidades do grupo para adaptar a técnica ao momento, sendo
espontâneo-criativo. Segundo Moreno (citado em Fonseca, 2000:286,) “sê espontâneo!
Anima-te a criar ! não tomes a minha obra como dogma , porque estará traindo a tua essência;
1
toma-a como encontro, transforma-a, não a deixes morrer nas garras da conserva cultural.”
A diferenciação entre teatro convencional e psicodrama se evidencia por este último
propiciar um espaço onde as pessoas possam se perceber e experienciar, podendo desencadear
mudanças na forma de ver o mundo, neste sentido passam a agir frente a ele de forma a
favorecer uma saudável integração intra e interpessoal. De acordo com Moreno (1974) a
eficácia do psicodrama somente é assegurada mediante a consideração dos princípios,
conceitos teóricos e as técnicas.
São considerados princípios do trabalho psicodramático2
• Situação do grupo: os primeiros encontros devem ser com o terapeuta que
dirigirá as sessões e este definirá a possibilidade de encaminhar para o grupo.
• Interação terapêutica: os pacientes se sentam em círculo ou semi-circulo de
forma que possam se ver e interagir entre si.
• Sessão: cada sessão é única e não se repete.
• Duração de uma sessão: em média 1 hora e 30 minutos. O tempo não é
rígido, deve ser adaptado de acordo com as circunstâncias.
• Duração do Tratamento: variável de acordo com as pessoas que freqüentam
e a necessidade pela qual fazem psicoterapia.
• Estrutura do Grupo: o grupo constitui-se gradativamente, começam a
participar de acordo com a necessidade. As pessoas podem se conhecer de
outros contextos, podem ser familiares, inclusive do terapeuta. Pode ser
homogêneo (somente mulheres, crianças etc) ou heterogêneo (pessoas
variadas: homens, mulheres, crianças, adolescentes, brancos, pretos etc.).
• Tamanho do Grupo: o grupo inicia com três pessoas: dois clientes e o
terapeuta, constituindo-se gradativamente até no máximo oito ou nove
participantes.
• Grupos Abertos ou Fechados: o psicodrama tanto pode ser aplicado em
grupos de encontro semanal que não admitem a entrada de novos participantes,
como em grupos semanais que admitam a entrada de novos participantes.
1
José Fonseca Psicoterapia da Relação: Elementos de psicodrama contemporâneo SP: Agora,2000.
2
Vide Jacob Levy Moreno. Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. SP: Mestre Jou, 1974.
121
• Sessões Abertas: o psicodrama pode ser realizado em sessão singular, onde as
pessoas se encontram apenas uma vez.
• Problemas de Prestígio: é fundamental a igualdade das pessoas que
participam do grupo, sem considerar o “status” fora do grupo.
• Liberdade: As pessoas do grupo podem sentar onde quiserem e posicionar-se
da forma que quiserem. Esta liberdade permite que o terapeuta visualize a
forma com se constituem as relações no grupo.
• Verdade: não importa a veracidade do fato em si. Importa o significado do
fato para a pessoa em psicoterapia.
• Durabilidade e Coesão do Grupo: são asseguradas pela tele (sincronia,
percepção mútua) desenvolvida entre os participantes do grupo
• Terapeuta como membro do Grupo: o terapeuta faz parte do grupo,
permitindo que as pessoas também conheçam um pouco da sua intimidade.
• Supervisão e psicoterapia do Terapeuta: é necessária a supervisão para
psicoterapeuta iniciantes e indispensável a psicoterapia pessoal. O terapeuta
precisa tomar consciência dos próprios juízos de valor, preconceitos e crenças
e suspendê-los durante a sessão.
3
Alfredo Naffah Neto.Psicodrama: Descolonizando o Imaginário. São Paulo: Plexus, 1997.
Jacob Levy Moreno. Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. SP: Mestre Jou, 1974.
Jacob Levy Moreno. Psicodrama. SP: Cultrix, 1984.
122
Na dramatização cada ator assume um papel denominado de personagem e deve
comportar-se de acordo com o que conhece do papel. Se o ator não for o protagonista,
precisam levar em conta as expectativas do protagonista em relação ao papel. A
modificação do personagem exige que os outros personagens alterem também suas
atuações para garantir o andamento adequado da encenação.
123
• Matriz de Identidade: é o lugar preexistente ao nascimento do bebê, e que vai
ser ponto de partida para a formação do indivíduo. Este lugar fundamenta da aprendizagem
emocional da criança permeado pelo momento do nascimento, pelas expectativas e condição
emocional dos pais, dos irmãos, pela situação econômica, social e cultural do país no
momento e que de certa forma tendem a influenciar, mesmo que indiretamente as relações
com a criança através da coexistência, a co-ação e a co-experiência.
• Átomo social: é a configuração social das relações interpessoais que são
desenvolvidas a partir do nascimento. È todas as relações, agradáveis ou desagradáveis,
próximas da pessoa, por exemplo, familiares, amigos, namorado, colegas de trabalho.
• Tele: é o encontro recíproco entre duas pessoas, somente existe em relação.
Estimula a comunicação nos dois sentidos de maneira natural. “É a mútua percepção íntima
dos indivíduos” (Almeida, 1982, p.28). A percepção mútua tanto se refere a sentimento de
proximidade como de afastamento com a pessoa.
• Encontro: é uma relação recíproca e espontânea. Abrange o respeito, o amor
mútuo, o contato, a participação. Moreno (1974) afirma que encontro não é simplesmente
uma reunião de pessoas, mas é a intensidade das suas vivências, se compreendendo cada uma
com todo o seu ser.
• Co-consciente e co-inconsciente : são aqueles estados que os participantes de
um grupo produzem ou experimentam em conjunto. Naffah Neto (in Lane e Codo, 1995)
afirma o co-incosnciente e co-consciente é possível em grupos intimamente ligados. Neste
sentido, os indivíduos são capazes de entender e sentir o que o outro sente, simplesmente pela
convivência com o outro.
• Catarse de Integração: são as vivências espontâneas psicodramáticas e
terapêuticas, possibilitando transformações, ao passo que o protagonista sente o grupo como
uma força presente e viva . Conforme Moreno (1974) é o encontro, a união do grupo
terapêutico. A catarse de integração ocorre raramente por ser necessário uma relação
recíproca entre todo o grupo.
Técnicas Psicodramáticas 4:
4
Jacob Levy Moreno. Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. SP: Mestre Jou, 1974.
Moysés Aguiar. Teatro Espontâneo e Psicodrama. SP: Agora, 1998.
124
• Duplo: O papel do duplo é representado por um ator-auxiliar que expressa
aquilo que o protagonista não é capaz de realizar por si próprio. A finalidade desta técnica
consiste em clarificar o que o protagonista quer falar, mas não está conseguindo, não tem
coragem para faze-lo. É usar palavras para expressar os pensamentos e sentimentos que o
protagonista está expressando pelo corpo, mas não de forma verbal e clara para os outros, bem
como para si mesmo.
• Espelho: O ator-auxiliar representa o protagonista e, este fica fora do palco
observando e percebendo a sua maneira de comportar-se em determinadas situações. Neste
sentido o protagonista é um observador de si mesmo, na medida em que “se vê” perante a
tomada do seu papel pelo ator-auxiliar.
• Inversão de papéis: Consiste em o protagonista tomar o papel de outro
personagem da representação e este o seu lugar. O objetivo desta técnica é ampliar a
percepção do protagonista em relação aos outros personagens, é vivenciar a estória segundo a
perspectiva de um outro personagem. De acordo com Aguiar (1998) esta técnica auxilia o
protagonista a “ver as coisas que estão acontecendo com os olhos dos outros”.
• Solilóquio: técnica em que o cliente fala consigo mesmo em voz alta. São suas
reflexões e sentimentos que, normalmente, as outras pessoas de seu convívio não tomam
conhecimento em outro espaço, somente no psicodramático. A finalidade da técnica consiste
em levar o sujeito a explicitar seu pensamento durante determinado diálogo ou atuação,
principalmente quando ele está resistente para produzir o diálogo e entrar devidamente no
papel.
• Interpolação de Resistências: É a modificação da cena por meio da inserção de
um novo personagem na dramatização, afim de tirar a cena da estagnação. A finalidade é
propiciar no aqui e agora circunstâncias e desafios semelhantes a vida real.
• Auto-Apresentação: quando o sujeito se representa a si mesmo, ou representa
os outros papéis afim de que o diretor, os egos-auxiliares e o público tomem contato com o
papel que ele irá tomar. Este papel, por exemplo de mãe, será representado pelo ego-auxiliar e
ele precisa conhecer como esta mãe age.
• Realidade Suplementar: é a criação de cenas que, na verdade, nunca existiram.
Moreno (in Holmes e Karp, 1992) afirma que cenas, relações e eventos que nunca ocorreram,
na realidade concreta, freqüentemente servem como fonte de catarse do protagonista,
permitindo que o mesmo elabore alguns sentimentos e situações para “sarar”. Na realidade
125
suplementar pode-se personificar coisas inanimadas, representar pessoa morta, ausente ou
imaginária. Por exemplo, Deus pode ser um dos personagens ou um cachorro, uma fada etc..
Modalidades do Psicodrama 5
• Sociodrama: a situação dramatizada é comum a todo o grupo, é escolhida uma
pessoa para protagonizar. O sociodrama pode ser realizado por meio do jornal vivo e teatro
espontâneo. O jornal vivo também é uma técnica, tendo a finalidade de dramatizar notícias
veiculadas por jornais e revistas. O teatro espontâneo se caracteriza pela representação de
estórias criadas pelo grupo.
• Psicodrama: a situação dramatizada se refere a dificuldades vivenciadas por
uma pessoa especificamente. Por exemplo: dificuldades no relacionamento com o marido.
• Role-Playing ( jogo de papéis): Através de brincadeiras e dramatizações
desenvolve-se a espontaneidade e criatividade dos participantes, permitindo que assumam
seus papéis sociais de maneira a não estereotipá-los ou cristalizá-los. O intuito do jogo de
papéis é preparar as pessoas para executarem seus papéis sociais de acordo com as variáveis
emergentes no cotidiano, sendo que há um protagonista que traz a situação para o grupo que é
dramatizada no cenário.
• Axiodrama: É a dramatização de conflitos relacionados a justiça, verdade,
beleza, bondade, morte, cidadania, ética etc, vivenciados pela população em geral.
• Psicodrama Pedagógico: é a utilização da dramatização com a finalidade de
ensinar alunos em universidades e escolas.
• Psicodrama Interno: Aplicado em situações individuais em que o terapeuta
não dispõe de atores auxiliares e nem do grupo. O terapeuta induz o cliente ao relaxamento
corporal para diminuição do fluxo de pensamento, iniciando o processo de visualização de
imagens internas. Estas imagens podem ser cenas passadas ou criadas, paisagens,
movimentos, objetos, figura humana etc. Esta modalidade foi adaptada para os atendimentos
individuais pelo psicodramatista José Fonseca Filho.
• Onirodrama: é a dramatização dos conflitos relacionados ao sonho.
• Hipnodrama: geralmente utilizado em clientes psicóticos, esquizofrênicos
durante os delírios e surtos. O cliente vivencia o próprio deliro na dramatização, por exemplo
um cliente que considera-se Hitler e insiste em dizer que tem duas pessoas querendo mata-lo.
5
Jacob Levy Moreno. Psicoterapia de Grupo e Psicodrama. SP: Mestre Jou, 1974
126
Esta situação é dramatizada como se estivesse acontecendo. O psicodramatista confirma as
crenças do cliente, até que ele mesmo perceba que não é Hitler e não está sendo perseguido.
• Bibliodrama: é a dramatização de trechos da bíblia com o objetivo de vivenciar
conflitos de ordem religiosa ou espiritual, compreendendo melhor as palavras de Deus.
• Protagonista: Personagem central da estória. Pode ser a pessoa que conta a estória ou o
ator que é escolhido para representa-la.
• Diretor: é o terapeuta, especialista em psicodrama, que coordenará a sessão. Sua função
básica é estabelecer e implementar os procedimentos e as regras da sessão. É o catalisador
das comunicações entre as pessoas que estão representando e a platéia.Traduz as
127
manifestações corporais e verbais dos participantes e, em especial do protagonista em
cena. Identifica a representação com a maneira pela qual a pessoa se relaciona fora do
contexto dramático.
• Público: formado pelos demais participantes do grupo que estejam atuando no palco.
• Palco: espaço destinado para a dramatização demarcado por um tapete ou por fitas
adesivas ou ainda por um tablado. No palco será criado o cenário.
128
ANEXO 2
ROTEIRO DE ENTREVISTA
ANEXO 2
ROTEIRO DE ENTREVISTA
a) Faixa etária
b) Nível de escolaridade
c) Nível sócio-econômico
d) Tipo de ocupação profissional (renda mensal dos participantes)
e) Custo da sessão (possibilidades de pagamento por ser em grupo)
f) Origem dos participantes (etnia, localidade de origem)
g) Condições de saúde física
2.Você falou sobre o motivo pelo qual foi convidada a participar do grupo?
No caso da resposta ser afirmativa: Você falou espontaneamente sobre o motivo ou foi
solicitada a falar?
Em caso da resposta ser negativa: Você não falou porque não quis ou por não ter sido
solicitada a falar?
3.O que aconteceu na sua apresentação ao grupo? (Teve alguma dinâmica/ Houve alguma
encenação nesta primeira vez?)
Teve algo que você não conseguiu fazer (não entendeu como fazer)? Porque?
Teve algum aspecto do psicoterapeuta que você não tenha gostado? Qual(is)?
De que forma o terapeuta conduziu a sessão grupal ? (tem semelhanças com a sessão
individual?)
5. O que te chamou mais atenção nas terapeutas auxiliares ? (O que sentiu quando viu, na
primeira vez, mais duas terapeutas? )
Alguma delas interagiu (conversou, tocou, olhou, sorriu etc.)com você na primeira vez? Que
tipo de interação foi essa?
Qual foi a tua percepção da relação das terapeutas com o grupo? Quais foram as coisas que
elas fizeram que te deram indício que as terapeutas eram próximas das pessoas do grupo ou
não?
Nesta primeira vez, você iniciou alguma interação com as terapeutas auxiliares? Que tipo de
interação?
131
O que você percebeu em relação a receptividade do grupo para com você? Porque?
Houve alguma situação, trazida por algum dos participantes, com a qual você tenha se
identificado? Qual foi esta situação? Você manifestou esta identificação para o grupo?
Qual a percepção que você teve no primeiro dia da função do grupo? (grau de percepção)
132
- se sentiu bem
Você percebeu se essas brincadeiras e conversas iniciais (te deixaram mais descontraída?)
influenciaram sua disposição em relação a sessão? Em caso afirmativo, de que maneira?
O que você gostou neste momento inicial? Porque?
Teve aspectos desta etapa inicial que você não tenha gostado? Quais?
Teve algum aspecto que você não tenha gostado na dramatização? Quais?
Em caso de resposta negativa, você se sentiu excluída por não ter participado? Porque?
Em caso de resposta afirmativa: você gostou de participar da dramatização? Porque?
11. O que te chamou atenção ao terminar a dramatização? (As pessoas no final da sessão
falaram de si próprias, fizeram o que você conhece hoje como compartilhar?)
Você falou nesta etapa final da sessão? Você se lembra o que você falou?
Você classificaria esta última etapa como: fácil, difícil ou indiferente? Porque?
Quais palavras você utilizaria para definir o seu primeiro dia no grupo?
133
- Nas coisas que ele fala para você a respeito da situação que você está
vivendo? a) considera a sua dificuldade mediante a tua perspectiva ?
b) Ou ele exige coisas “impossíveis” para você?
- O que te chama atenção nas coisas que ele fala? Porque?
13. Quais situações /momentos os auxiliares mais atuam? (no início da sessão, durante a
dramatização ou no compartilhar ) O que elas fazem?
Você lembra de alguma situação, na qual se sentiu envolvida, que tenha sido fundamental a
atuação de alguma delas (qual delas?) Em caso afirmativo qual situação e no que auxiliou?
Quais aspectos você gosta nas auxiliares hoje? Em relação a qual delas? Porque?
Quais aspectos você não gosta atualmente? Em relação a qual delas? Porque?
14. O que lhe chama a atenção hoje em relação as pessoas que participam de seu grupo?
- Identifica quem está precisando urgentemente da ajuda do grupo?
- Forma que o grupo recebera a suas novidades? Você se decepcionou alguma
vez em relação a isto?
- Proximidade deles em relação a você? Tem algum mais próximo? Quem?
Porque?
- Em relação aos comentários deles a respeito da situação que você leva ao
grupo: pertinente/auxilia ou não? Alguém em específico você gosta de ouvir?
Porque?
Quando você está vivenciando, fora do contexto dramático, as situações que vivenciou ou de
algum modo contou ao grupo: você lembra das palavras, comentários, expressões do grupo?
Em caso afirmativo: qual situação específica? Você lembra de alguém do grupo? Porque?
Quais aspectos você gosta/ não gosta em relação aos participantes? Porque?
15. Quais são os aspectos que lhe chama a atenção no início da sessão?
134
- O que as pessoas vão falar/ que situações vão trazer
- Qual estória será dramatizada?
- Será escolhida a estória de quem?
- De que forma será escolhida?
- O que irão fazer/falar quando você expor a própria situação?
Em alguma situação você postergou para falar seu problema? Qual a situação? O que
aconteceu (alguém falou antes e você não conseguiu espaço para falar)?
Em algum momento você se sentiu desconfortável para falar do seu problema? Qual (is)?
Porque?
Quando está com dificuldades para lidar com alguma situação, de que forma você procede
na sessão?
16. Quando você dramatiza a própria situação (protagonista) para quais aspectos você
atenta?
- identificar as pessoas adequadas para representar os personagens da história
(incluindo as auxiliares)? Você escolhe sempre as mesmas pessoas? Porque?
- Disposição mais adequada dos objetos no palco?
- Identificar coisas vivenciadas no palco que podem auxiliar nas situações
cotidianas que você vivencia. Quais as situações dramatizadas que mais te
auxiliaram? Porque?
Quais são os aspectos que leva em conta para escolher as pessoas para representar os
personagens da situação trazida por você?
Quando você é convidado (a) a atuar na cena para quais aspectos você atenta?
- O que precisa falar
- Forma de desempenhar o papel
- Considerar as dicas dadas pelo protagonista para o papel
- Dicas dadas pelo terapeuta (diretor) para desempenhar o papel.
- Identificar coisas vivenciadas no palco que podem auxiliar nas situações
cotidianas que você vivencia. Quais as situações dramatizadas que mais te
auxiliaram? Porque?
- Tipo de ajuda que pode dar para a pessoa que traz a situação
135
Quando você assiste a dramatização (sem entrar na cena) quais aspectos mais te chamam
atenção?
- Utilidade da encenação para as suas situações diárias
- Agradável/desagradável?
- Confortável/desconfortável assistir?
- Semelhanças /diferenças entre você e o protagonista?
Qual é a sua preferência em relação as funções que pode desempenhar numa dramatização:
personagem, platéia, protagonista?
18. Em relação ao envolvimento do grupo na sessão, para quais aspectos você atenta?
136
- As pessoas pedem ajuda ou não para os problemas? Alguém sempre pede?
Alguém nunca pediu?
- Dividem ou não as experiências? Tem alguém que nunca fala de si? Quem?
Não há cobranças para com esta pessoa?
- Proximidade/distância/cumplicidade do grupo
- Há ajuda mútua ou não?
Quais situações você percebeu mudança? Você contou para o grupo? O que eles disseram?
Teve algum tipo de dificuldade para justificar suas faltas? Se sim, qual (is) dificuldades?
137
Tem alguém que você não goste no grupo? Quem ? Porque?
(você preferiria que esta pessoa não viesse mais ao grupo? )
21.Quais aspectos você percebe que modificou a partir da sua participação no grupo?
- Relacionamento com os colegas do grupo deste o início até agora
- Relações que se transformaram na sua vida diária após a participação no grupo.
- Confiança no terapeuta (aumentou/diminuiu, está igual)?
Qual foi a última vez que alguém fez comentários sobre mudanças que ocorreram com
alguma pessoa de seu grupo?
Na perspectiva das pessoas que convivem contigo diariamente: eles dizem que você mudou?
O que mudou?
Eles gostaram/não gostaram /indiferente às mudanças percebidas
22. Após o término das sessões de psicoterapia semanalmente o que te chama mais
atenção em você?
- Sensação de alívio/frustração/ incapacidade/ confiança?
- Observação/percepção dos próprios comportamentos?
- Policia-se para mudar as situações tratadas em psicoterapia?
Quando você sai frustada ou desanimada de uma sessão de psicoterapia, você consegue
vislumbrar algum benefício a médio e a longo prazos?Dê exemplos.
Quando você sai aliviada, confiante da psicoterapia, isto lhe dá segurança para enfrentar os
momentos ruins da psicoterapia? Conte alguma situação que isto tenha acontecido.
23. Qual (is) definição (ões) você daria para explicitar a finalidade da psicoterapia
psicodramática em grupo ?
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- Não se restringe a pessoas loucas e com problemas
- Todos precisam fazer alguns ajustes nos relacionamentos e a psicoterapia pode
ser uma forma
- Psicoterapia é investimento em si
- Prevenção
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