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A nota específica: “As ideias fora do lugar” e o problema da crítica

da ideologia no Brasil

Leonardo Octavio Belinelli de Brito (USP)1

Introdução: “As ideias fora do lugar” e a ensaística de Schwarz nos anos 1970
Em 1973, no terceiro número da Estudos Cebrap, Roberto Schwarz publicou “As ideias fora
do lugar”, o ensaio que viria a marcar a sua produção intelectual. O texto seria a introdução de
sua tese de doutoramento apresentada na Universidade de Paris III em 1976, editada em português
no ano seguinte. Entre os ângulos possíveis para sua interpretação, está aquele – adotado daqui
em diante– que percebe tal contribuição como uma síntese original do legado cognitivo do
Seminário Marx, grupo de estudos que reunia jovens professores e alunos da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFCL-USP). O grupo, que
se reuniu entre 1958 e 1964, foi composto, entre outros, por José Arthur Giannotti, Bento Prado
Júnior Fernando Henrique Cardoso, Fernando Novais, Octavio Ianni, Ruth Cardoso, Paul Singer,
Michael Löwy, e Roberto Schwarz. Entre os principais livros debatidos pelo conjunto, estavam
os volumes de O capital e outras obras que pudessem auxiliar uma compreensão renovada a seu
respeito, como História e consciência de classe e Questão de método.
Depois dos primeiros textos das lavras de Schwarz (2014) e de Paulo Arantes (1992; 1994)
sobre os aspectos teóricos e históricos envolvidos nas obras dos seminaristas, essas, bem como as
trajetórias dos participantes do grupo, se tornaram objetos de atenção de acadêmicos brasileiros
orientados por diversos pontos de vista e interesses intelectuais (LAHUERTA, 2001; 2008;
RODRIGUES, 2011; LIMA, 2015; SANTAELLA GONÇALVES, 2018; BELINELLI, 2019;
HELLAYEL, 2019). Dadas as diversidades teórico-metodológicas e interpretativas da bibliografia
mencionada – aspecto que testemunha a complexificação do debate a respeito do objeto –, seria
impossível sequer esboçar os traços do debate. O que se pretende, a seguir, é tratar de apenas uma
das questões levantadas por tais trabalhos: aquela referente à originalidade do ponto de vista
desenvolvido pelos seminaristas para intepretação sócio-histórica brasileira.
A hipótese foi formulada pelo próprio Roberto Schwarz (2014). Na sua interpretação,
formou-se naqueles encontros uma “intuição nova do Brasil”, cuja novidade, em síntese,
“consistiu em juntar o que andava separado, ou melhor, em articular a peculiaridade sociológica
e política do país à história contemporânea do capital, cuja órbita era de outra ordem”

1
Bolsista de pós-doutorado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 44º
Encontro Anual da ANPOCS, GT 32 Pensamento social no Brasil.
1
(SCHWARZ, 2014, p.113). Esta “forma de pensar”2 a dinâmica histórica brasileira ter-se-ia
expressado em diversos trabalhos doutorais de seus autores. Colocada a hipótese dessa maneira,
não surpreende que a “teoria” da dependência identificada com Fernando Henrique Cardoso desde
Dependência e desenvolvimento na América Latina (CARDOSO; FALETTO, 2010) seja vista,
pelo menos por parte de seus críticos (RICUPERO, 2013; PALTÍ, 2020), como o principal produto
desse enfoque. Segundo o seu autor, de fato, “As ideias fora do lugar”, é, em parte, tributário do
raciocínio desenvolvido por Cardoso (BOTELHO; SCHWARCZ, 2008) – indicação apoiada por
análises recentes (BELINELLI, 2019; HELLAYEL; BRASIL JR., 2019).
Mais complexa é a outra faceta do ensaio, aquela que diz respeito à sua originalidade no
bojo do conjunto da produção científica e política dos seminaristas. Em conexão com a “intuição
nova do Brasil” derivada do Seminário Marx, o ensaio acabava por condensar uma série de
problemas com os quais o seu autor se havia há algum tempo, os quais permitem compreender
sua novidade. Como introdução, convém fazer algumas indicações a respeito das demais questões
subjacentes à formulação do texto.
Um primeiro conjunto delas diz respeito aos assuntos que serão tratados na ensaística de
Schwarz, a literatura e, em plano mais amplo, a própria cultura brasileira. Enquanto membro do
grupo, o crítico já escrevia ensaios sobre literatura na grande imprensa, alguns dos quais reunidos
em A sereia e o desconfiado (1965). Outro conjunto de problemas estava relacionado às posições
políticas do autor, que havia publicado, em anos anteriores, intervenções polêmicas, como “Notas
sobre vanguarda e conformismo”, na revista Teoria e Prática, uma publicação que contou com
apenas três números e se configuravaa como um desdobramento prático de outro grupo de estudos
dedicado à obra de Marx, iniciado em 1963 (RODRIGUES, 2016;2019). Depois de fechada a
revista e já exilado em Paris, Schwarz continuaria sua profissão de fé revolucionária-vanguardista
no seu ensaio mais representativo daquele período, “Cultura e política, 1964-1969”, aparecido na
Les Temps Modernes em 1970.
Os escritos do período entre 1966 e 1978 foram reunidos em O pai de família e outros
estudos (1978), coletânea que marca tanto uma nova etapa tanto na ensaística do autor, como no
seu posicionamento político. Esse último aspecto, por exemplo, é indicado na nota explicativa que
abre a edição em livro de “Cultura e Política” (SCHWARZ, 2008, p.70), na qual se lê que o ensaio
acabava apoiado em um “prognóstico [que] estava errado, o que não as recomenda” (SCHWARZ,
2008, p.70). Já o primeiro aspecto pode ser percebido pela aproximação à teoria estética

2
Uso o termo na acepção que lhe dá Gildo Marçal Brandão, segundo quem o termo corresponde a “estruturas
intelectuais e categorias teóricas, com base nas quais a realidade é percebida, a experiência prática elaborada e a ação
política organizada” (BRANDÃO, 2007, p.30).
2
vanguardista/modernista de matriz frankfurtiana – em especial, a formulada por Theodor Adorno3
– em detrimento daquela inspirada em Lukács.
É nesse caldo cultural e político que devemos situar a empreitada desveladora de Schwarz
sobre Machado de Assis, da qual “As ideias fora do lugar” é parte destacada. Com base nos
aspectos destacados, pretende-se iluminar como o autor refletiu sobre o problema da ideologia e
da sua crítica no Brasil. Trata-se, claro, de um problema estético, mas não só, pelo menos para os
que adotam a perspectiva materialista de “forma”, como se verá.
A fim de explorar tão profundamente quanto possível a questão, privilegiaremos o ensaio
de 1973. Embora se possa alegar, com razão, que o crítico escreveu diversos outros ensaios sobre
o assunto, parece-nos que este é o texto que, por assim dizer, “organiza” sua reflexão desde então.
Além disso, panoramas muito qualificados de sua produção já foram feitos (ARANTES, 1992;
QUERIDO, 2019), situação diante da qual a reprodução de uma estratégia que vise examinar
textos diversos poderia resultar numa redundância sem contribuição significativa. Além disso, e
fundamentalmente, como o que se quer analisar são os raciocínios teóricos subjacentes ao ensaio,
convém tomá-lo como objeto privilegiado.
O eixo do que se tentará mostrar é o seguinte: a combinação entre o “enfoque dependentista”
produzido pelo seminário e a orientação crítica da ideologia de matriz frankfurtiana permitiu ao
autor reinterpretar os papéis e as funções da ideologia no Brasil.4 Até onde percebemos, esses
elementos, embora aludidos nas análises da obra do crítico literário, são frequentemente menos
explorados desde o ponto de vista que se procurará destacar aqui. Trata-se, enfim, de trazer à tona
os investimentos teóricos feitos pelo crítico no exame dessa questão, numa análise que poderíamos
chamar de “vertical” (GUÉROULT, 2015). Se a empreitada for bem sucedida, estaremos em
condição de indicar uma contribuição do pensamento brasileiro ao plano global das teorias da
ideologia. Como decorrência desse aspecto, procuraremos ressaltar a forma como a qual essa
contribuição questiona alguns supostos da tradição marxista em que se apoiava sobre a relação
entre crítica e emancipação.
Iniciaremos a exposição dando um passo atrás, o que nos permitirá retomar, em linhas muito
gerais, uma parcela do debate marxista sobre ideologia, com destaque para alguns autores que
teriam influenciado a teorização de Schwarz, a saber: Marx, Lukács e Adorno (SCHWARZ,

3
No final de 1961, desde a condição de bolsista de mestrado em teoria literária na Universidade de Yale, Schwarz
chegou a escrever a Theodor Adorno demonstrando interesse em acompanhar um possível curso de teoria literária a
ser ministrado pelo filósofo alemão. Para a troca de cartas entre ambos, bem como uma sugestiva análise sobre a
relação entre eles, ver Silva (2019).
4
A problematização e a sua forma de expressão (em especial, a ideia de função) adotadas aqui são livremente
inspiradas nas discussões empreendidas por Florestan Fernandes nas partes 1 e 2 de A revolução burguesa no Brasil
(FERNANDES, 2020) e na orientação interpretativa adotada por Gabriel Cohn (1986) em suas análises sobre o
pensamento do sociólogo..
3
2008b, p.13). Em que pese o risco de frisar o já dito e sabido, é por contraste a ele que, na seção
seguinte, poderemos indicar como a estrutura e a dinâmica sociais brasileiras do século XIX
impunham reformulações à questão, o que permitirá bem captar a originalidade do raciocínio do
ensaísta. Por fim, indicaremos algumas dificuldades que ela coloca para o vínculo entre crítica e
emancipação no Brasil do período de que trata – e aqui, pelas razões expostas adiante, nos veremos
impelidos a ultrapassar o objeto privilegiado no texto. Em razão do cosimento muito próprio da
ensaística de Schwarz, partes do argumento serão mencionadas, retomadas e especificadas em
distintas partes do artigo.

A crítica da ideologia/crítica da dominação


Sabe-se que o termo “ideologia” é extraordinariamente polêmico e polissêmico
(EAGLETON, 1997). Seu surgimento data do início do século XIX e, por vias tortuosas, acabou
sendo incorporada, em sentido negativo, pela tradição sociológica composta, entre outros, por
Karl Marx e Friedrich Engels. Ao criticarem os jovens hegelianos em A ideologia alemã (1844),
seus autores denunciam que “mesmo em seus mais recentes esforços, a crítica alemã não deixou
o terreno da filosofia” (MARX; ENGELS, 2007, p.7, grifo nosso). Alterar esse quadro exigiria
reformular o próprio ponto de vista a partir do qual se refletia sobre a Alemanha. Como se vê,
desde esses escritos dos anos 1840, Marx remete o problema da “ideologia” (identificada com a
filosofia) à “crítica”, que, insuficiente, deveria ser radicalizada. Sobre o sentido deste conceito,
Reinhart Koselleck recorda que, na modernidade da Europa ocidental, “a crítica é uma arte de
julgar. Sua atividade consiste em interrogar a autenticidade, a verdade, a correção ou a beleza de
um fato para, a partir do conhecimento adquirido, emitir um juízo que [...] também pode se
estender aos homens.” (KOSELLECK, 2009, p.93).
Desde as “Críticas” elaboradas por Kant no século XVIII, algumas das principais questões
da filosofia passaram a se referir às formas, potencialidades e limites da “crítica” (FOUCAULT,
2000, p.341). Participante notório dos problemas levantados por tais problemas, Marx se
notabilizará por aprofundar, em livros como Contribuição à crítica da economia política (1859)
e O capital: crítica da economia política (1867), sua interpretação crítico-materialista da
sociedade moderna. Entre as manifestações mais conhecidas dessa forma de pensar, está a célebre
tese do “fetichismo da mercadoria” com a qual é aberto O capital. Ali, Marx procura revelar o
“segredo” da forma mercadoria, “que aparenta ser, à primeira vista, uma coisa óbvia, trivial”
(MARX, 2015, p.146, grifo nosso). O filósofo alemão indaga: de onde surge “o caráter
enigmático” – também chamado por ele de “caráter místico” – dela? A resposta é conhecida: da
sua própria forma. “O caráter misterioso da forma-mercadoria consiste, portanto, simplesmente

4
no fato de que ela reflete aos homens os caracteres sociais de seu próprio trabalho como caracteres
objetivos dos próprios produtos do trabalho, como propriedades sociais que não naturais a essas
coisas [...].” (MARX, 2015, p.147, grifo nosso). É por essa razão que “uma relação social
determinada entre os próprios homens que aqui assume, para eles, a forma fantasmagórica de
uma relação entre coisas.” (MARX, 2015, p.147, grifo nosso). Nessa explicação está em jogo o
próprio desvelamento da produção social de uma percepção invertida da realidade: uma relação
social é interpretada como um vínculo entre as coisas produzidas por ela própria. A própria forma
mercadoria impele à percepção ideológica.
Como se sabe, em História e consciência de classe (1922), Lukács tomou a crítica de Marx
ao fetichismo da mercadoria como ponto de partida para a sua polêmica com as orientações
teóricas (cientificistas) e políticas (reformistas) da Segunda Internacional. De acordo com o
filósofo húngaro, ali ter-se-ia conformado um núcleo teórico a partir do qual seria possível
exprimir um método de compreensão mais adequado da dinâmica da vida capitalista e da força
revolucionária que lhe seria inerente (MUSSE, 2015). Assim, método e política se uniriam na
dialética adequadamente compreendida, utilizada por Lukács para examinar as relações entre
reificação, ideologia e totalidade. O filósofo acentua um aspecto que, se estava presente no
raciocínio de Marx, ganha um renovado tratamento teórico em seu escrito: ao vincular dialética e
revolução, História e consciência de classe acentuava o fato de que o diagnóstico de Marx sobre
a coisificação oriunda do fetichismo da mercadoria incide sobre a dominação.5
A teoria do fetichismo da mercadoria de Marx indicaria a existência de uma percepção
inevitavelmente ideológica dos sujeitos a respeito da sociedade em que vivem – compreensão que
estaria assentada no próprio processo de reprodução da sociedade capitalista coisificadora da sua
substância fundamental, o trabalho humano. Porém esse mesmo processo permitiria sua
superação. Se a “falsa consciência” seria um “aspecto da totalidade histórica a qual pertence, como
etapa do processo histórico em que age” (LUKÁCS, 2003, p. 140), trata-se compreender sua
passagem para a “consciência adequada”. Não haveria, pois, apenas oposição entre as duas formas
de consciência. Apesar das profundas raízes e fortes efeitos da coisificação, haveria possibilidade
de que esta fosse superada, a depender da condição social em que estão situados os sujeitos. A

5
Ultrapassaria, em muito, nossos objetivos discutir como essa noção, em geral tomada da sociologia de Max Weber,
foi incorporada pela tradição marxista alemã. É suficiente notarmos que, se partirmos da definição weberiana de
“dominação” – “dominação [...] [é] uma situação de fato em que uma vontade manifesta (“mandado”) do
“dominador” ou dos “dominadores” quer influenciar as ações de outras pessoas (do “dominado” ou dos “dominados),
e de fato as influencia de tal modo que estas ações, num grau socialmente relevante, se realizam como se os dominados
tivessem feito do próprio conteúdo do mandado a máxima de suas ações (“obediência”)” (WEBER, 2009, p.191) –,
perceberemos que ela própria remete ao processo de universalização de uma vontade singular, traço que a aproxima
da ideologia.

5
localização social poderia facilitar ou dificultar a ultrapassagem dessas “distorções” –
possibilidade representada, na filosofia de História e consciência de classe, pela capacidade de
compreensão da totalidade social em que se insere. Se o “proletariado partilha a reificação de
todas as manifestações de vida com a burguesia” (LUKÁCS, 2003, p.309), a sua posição social
lhe permitiria totalizar a compreensão das determinações capitalistas, do que decorreria sua
capacidade para superá-las. Por isso, “o autoconhecimento do proletariado é, ao mesmo tempo, o
conhecimento objetivo da essência da sociedade (LUKÁCS, 2003, p.308). Dialética, totalidade e
revolução se imbricam no raciocínio de Lukács, interessado em identificar as raízes sociais da
ideologia e no modo como a qual essa pode ser ultrapassada por meio de uma dinâmica interna
ao próprio movimento de reprodução social.
Adorno segue a trilha aberta por Marx e Lukács no que se refere ao entendimento da
necessidade da ideologia como consequência da prevalência do princípio da troca de equivalentes
que serve de base para a reprodução da ordem social capitalista Porém, reformula os horizontes
da crítica da ideologia herdados de seus predecessores a partir da experiência nazifascista europeia
e do seu vínculo com a fase monopolista do capitalismo. Sobre ela, afirma: “A concepção de que
as forças produtivas e as relações de produção formam hoje uma identidade e de que, portanto, se
poderia construir a sociedade diretamente a partir das forças produtivas constitui a configuração
atual da aparência socialmente necessária. [...] Produção material, distribuição e consumo são
administrados conjuntamente” (ADORNO, 1986, p.74, grifo nosso).
De forma correspondente, Adorno identifica uma alteração no próprio papel da ideologia.
À expansão indiscriminada da prevalência do valor de troca sobre o valor de uso e a administração
unitária da produção, distribuição e consumo, ocorreria uma consequente universalização da
ideologia. O que seria específico desse processo de expansão é o apagamento de elementos
singulares, produzidos mediatamente em favor de conjuntos abrangentes que aparecem de modo
imediato. Ancorado na troca de equivalentes e na transformação do trabalho concreto em abstrato,
esse obscurecimento produz uma “experiência falsa”, no entanto, fundamental para a reprodução
da sociedade. Na síntese de Gabriel Cohn, “a ideologia [para Adorno] é o processo que assegura
o primado do geral abstrato e formal sobre o particular concreto e substantivo, da identidade sobre
a diferença. Criticar a ideologia implica assumir o partido da diferença, da particularidade, contra
a primazia da identidade e da generalidade” (COHN, 1986, p.12). À universalização e
radicalização da ideologia, Adorno contrapõe, a partir dos anos 1960, o que denominava de
“dialética negativa”, uma forma de pensar que recusa a “síntese” suposta no modelo hegelo-
marxista6 para radicalizar o seu momento crítico-negativo. Trata-se de forma de pensar que retira

6
Sobre o assunto, ver Adorno (2013), especialmente o segundo estudo.
6
sua força da sua consciência a respeito da diferença entre o conceito e o objeto. Consciência, aliás,
que impactará a forma de exposição (Darstellung) de Adorno (JAMESON, 1997, p.38),
inspiradora do ensaísmo de Schwarz, como veremos.
Para esquematizar o que foi visto nessa brevíssima reconstituição do tema da crítica da
ideologia numa certa tradição marxista, vale a pena recorrer à síntese de seus principais aspectos
oferecida por Rahel Jaeggi (2008), de acordo com quem a “crítica da ideologia é crítica da
dominação. Crítica da ideologia nesse sentido é um ataque àquilo que se pode designar como
mecanismos da “autonomização” ou “naturalização”, mecanismos portanto que causam a
impressão de inevitabilidade de condições sociais como se fossem relações espontâneas”
(JAEGGI, 2008, p.140, grifo da autora). O meio mais adequado para realizá-la, por consequência,
é a imersão nelas a fim de extrair – e revelar – as suas contradições internas. Por isso, a crítica da
ideologia é regida por uma orientação sustentada por uma suspeita permanente e propõe a
vinculação entre “análise” e “crítica” no sentido de transformar o exame da situação em tela no
próprio procedimento crítico que se procura estatuir.

Reformulando o problema da ideologia/da dominação no Brasil


À luz do exposto na seção anterior, a abertura de “As ideias fora do lugar” ganha singular
importância. “Um dos princípios da Economia Política é o trabalho livre. Ora, no Brasil domina
o fato “impolítico e abominável” da escravidão. Este argumento[...] põe fora o Brasil do sistema
da ciência (SCHWARZ, 2012, p.11). A indicação, retirada de um panfleto que circulava no Brasil
do XIX, sugere que, se o Brasil estava fora do “sistema da ciência” da “economia política”, não é
abusivo pensar que o mesmo vale para a sua crítica. O tema já havia sido explorado por Fernando
Henrique Cardoso (2003) em seu doutorado, trabalho no qual enfrentava o desafio de
compreender a dinâmica da formação da sociedade patrimonial gaúcha a partir de seu vínculo
com os mercados nacional e internacional. Como o trabalho é central para o raciocínio
desenvolvido em “As ideias fora do lugar”, vale sumarizar três pontos importantes de sua
argumentação.
O primeiro é a formulação de que a instituição da escravidão no Rio Grande do Sul era
produto do avanço do processo de acumulação de capital. Se, em determinado momento, ela
tornou-se um óbice ao mesmo objetivo – em razão da “flexibilidade” da organização capitalista
dos saladeros argentinos –, o fato é que o raciocínio acabava por desmentir a tese de que a
escravidão, em si mesma, era uma instituição arcaica. Sua avaliação deveria ser feita segundo
cada momento histórico significativo. A sugestão já se encontrava no capítulo 25 do primeiro
volume d’O capital (MARX, 2013, p.835 e ss), como se sabe, mas passou despercebida pela

7
tradição marxista europeia, que continuava a pensá-la segundo os modelos da sociedade antiga
(LUKÁCS, 2003, p.206-7). No caso em questão, como sugere o próprio Cardoso, o raciocínio foi
sugerido pelos trabalhos de Caio Prado Jr. Seu desenvolvimento no debate brasileiro complicava
o problema da transição da sociedade “arcaica” para “moderna”, por um lado; por outro, acabava
por indicar que, do ponto de vista da totalidade da reprodução capitalista global, a economia
política liberal era compatível com a escravidão.
O segundo aspecto está ligado ao anterior, na medida em que se refere ao problema que a
dinâmica econômica, social e política escravocrata impunha ao cálculo capitalista. Alinhando-se
à matriz explicativa de História e consciência de classe, Cardoso afirmava que os senhores
gaúchos tinham uma consciência apenas “limitada e parcial” das causas efetivas das oscilações
econômicas de sua região. Os charqueadores “acertavam” ao entender o sentido capitalista de suas
empresas, mas não percebiam que a escravidão lhes impunha uma racionalidade que obstaculizava
a concorrência com a produção argentina, baseada no trabalho-livre. Ou seja, “o oposto exato do
que era moderno fazer”, na síntese de Schwarz (2012, p.14). Essa dificuldade se manifestava pela
adoção de ideias variadas, muitas delas opostas, para manter esse sistema – agora, sim, arcaico
por comparação-concorrência – em funcionamento (CARDOSO, 2003, cap.4). A questão
colocada, no entanto – e nesse ponto a ensaística de Schwarz dá um passo adiante em relação ao
trabalho de Cardoso, como será indicado adiante–, é mais profunda, uma vez que a dificuldade
dos senhores gaúchos em perceberem a sua situação parecia ser de ordem diferente daquela
suposta no esquema de Lukács, que pautava-se pela combinação da análise da reificação (Marx)
em consonância com a racionalização (Weber). Já se manifesta aqui o que, adiante, designaremos
como “ironia estrutural”.
O terceiro aspecto também está relacionado aos dois anteriores e diz respeito ao uso das
categorias marxistas para o exame das relações de produção no Brasil oitocentista. Naquela
quadra, vale recordar, o escravo era, por inteiro, mercadoria. Por consequência, o seu “estágio de
reificação”, por assim dizer, era muito mais avançado do que o do proletariado europeu formado
pelo campesinato, referência das teorizações de Marx e Lukács. Por essa razão, esses aportes
estavam despreparados para fornecer, ao menos diretamente, balizas interpretativas a respeito do
fenômeno. Esse aspecto talvez seja o que menos esteja explícito no argumento de “As ideias fora
do lugar”, centrado na relação entre sujeitos livres e pobres e os senhores e não na relação dos
últimos com os sujeitos escravizados. Porém, uma contraparte dele articula a visada do crítico
literário, uma vez que essa forma da reificação completa é a responsável por tornar o trabalho
livre de menor importância, fato com diversas consequências, como se verá.
Todos esses elementos aparecem no ensaio de Schwarz, que parte da sensação comum –

8
ideológica, porque naturalizada– do período: aquela que dizia que as normas liberais não se
adequavam à realidade do país. Como vimos, entretanto, na tradição marxista, a ideologia
carregaria sua força justamente pela sua aderência à realidade. Para piorar, aqueles que
radicalizavam a crítica dessa condição no Brasil eram os conservadores, interessados na
manutenção do status quo. O resultado paradoxal era, para dizer numa expressão, que a crítica da
ideologia se convertia em ideologia. Esse era o enigma que exigia ser desvendado. Por que a
própria crítica da ideologia se tornava ideologia no Brasil? Como fazer uma crítica autêntica da
ideologia, para retomarmos um dos termos utilizados por Koselleck? Esses são os problemas que
convergem para o foco do livro do qual o ensaio faz parte seja: a crítica da forma romance oriunda
do conservadorismo do jovem Machado de Assis – ele próprio, portanto, representante dessa
forma de crítica da ideologia ideológica.
Se colocadas as questões dessa maneira, torna-se mais claro que sua resposta passava por
compreender a natureza da ideologia produzida pelas relações sociais brasileiras no século XIX.
Nos conhecidos termos do ensaio, estaríamos em plena “comédia ideológica, diferente da
europeia” (SCHWARZ, 2012, p.12, grifo do autor). O ponto está em compreender o que significa
a “diferença” assinalada pelo crítico. O caráter cômico residiria na incapacidade das ideias
modernas em descrever, como na Europa, a realidade de uma maneira aceitável; pior, não apenas
não a justificava plenamente, como a tornava ainda mais rebaixada, pois serviam de referência
comparativa. Nessa situação, a ideologia liberal seria carente de um elemento de verdade – se
entendermos essa tese na sua acepção clássica. Tal qual vimos, e veremos, o problema se
articulava diretamente ao próprio problema da reificação – leia-se escravidão – no Brasil. Trata-
se, pois, de uma diferença que poderíamos designar “qualitativa”.
Diante esse quadro, era preciso repensar os supostos marxistas – iniciativa tomada, como se
viu, por Cardoso em seu doutoramento. Mas nem todos os aspectos a serem examinados foram
rediscutidos pelo então assistente de Florestan Fernandes. Um deles, central para o problema de
Schwarz – uma vez que a forma romance, tal qual historiada por Lukács (2009), é a forma literária
das relações entre sujeitos burgueses livres –, dizia respeito ao modo como o qual se articulavam
as relações entre os sujeitos não-escravizados no país. Como se sabe, é nesse registro que Schwarz
incorpora um dos principais achados da tese de doutorado de Maria Sylvia de Carvalho Franco
(1997): a centralidade do favor na dinâmica social do país. É nessa forma de relação social que
residem as especificidades da natureza da ideologia brasileira no período de que o crítico literário
trata. “O escravismo desmente as ideias liberais; mais insidiosamente, o favor, tão incompatível
com elas quanto o primeiro, as absorve e desloca, originando um padrão particular”
(SCHWARZ, 2012, p.17, grifo nosso). Embora ambos tenham um elemento de identidade – o fato

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de se estabelecerem entre sujeitos livres – para bem compreender suas distintas naturezas, vale
contrastarmos a ideologia liberal com a ideologia do favor.
A primeira supõe a conexão entre trabalho e direitos da cidadania – ao menos, na sua faceta
civil, garantidora da liberdade dos que vendem “livremente” sua força de trabalho. Essa conexão
permite a universalização da ideia de que os participantes da vida social são igualmente livres.
Porém, no Brasil do final do século XIX, em razão da escravidão, trabalho e cidadania estavam
dissociados. Quem era livre não trabalhava (senhores) e quem trabalhava não era livre (escravos).
Entre uns e outros, os sujeitos livres e pobres não tinham lugar na produção porque precisavam
trabalhar, mas não eram escravos. O resultado era que exerciam outras funções de modo incerto;
e é justamente nessa incerteza que se radicava a centralidade do favor, do qual dependiam para
reproduzir suas condições de vida. Ou seja: sua liberdade civil (autonomia) ficava relativizada
pelo fato de que ela não poderia ser materialmente garantida pela venda da força de trabalho – a
rigor, potencialmente desnecessária para os seus possíveis compradores em razão da escravidão
vigente. Em plano mais estrito, flagra-se que o direito (a liberdade civil) sem a sua dimensão
material gerava uma situação específica diante dos supostos do capitalismo europeu moderno. Em
plano mais amplo, flagra-se o vínculo entre favor e escravidão, que permite o entendimento de
ambos como mecanismos específicos de dominação social – ainda que o primeiro aparente ser o
inverso, dada sua manifestação “simpática”. Se é assim, entende-se a razão pela qual o enigma a
ser desvendado reside na relação peculiar entre “favor” e “liberalismo”, combinação sobre a qual
se assenta volubilidade da elite brasileira, figurada nos romances maduros de Machado segundo
o crítico.7
Na tradição teórica de Marx, a troca entre força de trabalho livre e salário, que caracteriza o
capitalismo moderno, é falsa, porque não significa troca de equivalentes de fato; porém, o
princípio que a rege carrega em si, de forma latente, a “promessa de uma verdadeira equivalência,
em outras relações sociais” (ROUANET, 1987, p.33). Ou seja, nele há um princípio interno da
igualdade que serviria de parâmetro para a análise crítica da efetividade da relação. Porém, se não
há tal troca, não há o princípio mencionado e a contradição superadora – o ponto de verdade da
ideologia – fica desarmada. Daí que ninguém acreditasse, segundo Schwarz, no liberalismo no
Brasil enquanto forma de descrição da sociabilidade local. Portanto, a ideologia do favor supõe a
desigualdade entre o “donatário” e o “favorecido” que é assentada na falta da troca de
equivalentes. Um capitalismo sem a necessidade da troca entre capital e trabalho, eis a

7
Sobre o vínculo entre volubilidade e falta de necessidade de trabalho da elite local, vale mencionar um trecho
pequeno, mas ilustrativo: “É conspícua a ausência do trabalho e mais geralmente, de qualquer forma de esforço
sustentado ou de compromisso ideológico. Assim, os passos que mencionamos, e que mal ou bem são repositórios
do valor da vida moderna, aparecem somente enquanto objetos de capricho[...]” (SCHWARZ, 2012b, p.122).
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peculiaridade local. É a partir desse ponto, alheio às teorizações marxistas que vimos na seção
anterior, que o problema assume feição própria no país, uma vez que relativiza a ideia de que a
reprodução do capital se ancora exclusivamente sobre o trabalho livre.
Nesse ponto, acreditamos que vale destacar a diferença de Schwarz em relação ao
diagnóstico teórico-crítico de Adorno, com o qual costuma ser aproximado em razão de sua
inspiração. A distinção é importante porque a falta de necessidade da troca entre capital e trabalho
se articula à aos dois princípios que regem a sociedade – a escravidão e o favor –, cuja existência
impede que algum deles possa ser universalizado como elemento próprio à condição humana
(universalização, que sob o signo da “falsidade”, encontra-se nos escritos do autor de Dialética
negativa, como vimos rapidamente na seção anterior). Nos termos do crítico, “[...] ninguém no
Brasil teria a ideia e principalmente a força de ser, digamos, um Kant do favor, para bater-se contra
o outro” (SCHWARZ, 2012, p.17).
Como não poderia deixar de ser, essa situação trazia consequências. Uma delas é que as
ideologias burguesas deixavam de enganar, como vimos; outra é a de que saíam igualmente
desqualificadas do seu encontro tenso com a ordem social brasileira, na medida em que
demonstravam impotência na sua efetivação. Ao se revelarem como ideologias, elas próprias
perdem parte de sua força, que deriva da sua aderência (descritiva) da realidade. Porém, nem por
isso as ideias liberais modernas deixavam de ter efeitos, os quais não decorriam da sua opacidade
– como supunha a tradição sintetizada na seção anterior, baseada no encobrimento da falsidade
da troca de equivalentes (mais-valia) –, mas da sua dimensão especular. Esse é um elemento da
originalidade da reflexão de Schwarz sobre a ideologia. Se é verdade que Marx, Lukács e Adorno
rompiam com o dualismo imediato entre “verdade” e “ideologia”, é certo que os seus horizontes
críticos se articulavam na contraposição, ainda que prevista para o futuro, entre ambos.8 Tal como
Schwarz formula o problema, essa contraposição ficava desarmada em razão do fato de que as
ideologias não descreviam as aparências. Daí a ironia contida no título do ensaio (SCHWARZ,
2012c, p.167).
Este, portanto, o passo mais complexo do ensaio: mostrar que as ideias, usualmente
percebidas como deslocadas, não o estavam. Por esse ângulo compreendemos a polêmica com as
críticas conservadoras – também ideológicas – que apontariam as ideias como as responsáveis
pelo desencontro com a realidade (BRANDÃO, 2007; RICUPERO, 2013). Por um lado, essas
críticas emulariam a inversão do “determinado” como “determinante”, como também suporiam,
inadequadamente, que existe tal descompasso e ele é completo. Ou seja, seriam críticas idealistas

8
O caso de Adorno é diferente em razão da sua desconfiança quanto à suposta existência do “sujeito revolucionário”.
Para um diálogo que manifesta o “acerto de contas” entre Adorno e Lukács, ver o verbete Novissimum Organum em
Minima moralia (ADORNO, 2005).
11
– embora pretensamente ancoradas de modo mais firme à realidade do que o pensamento liberal
doutrinário – e parciais (avessas à totalidade). Portanto, seriam “mistificadoras”, para usarmos os
termos d’A ideologia alemã. Daí que ensaio deva ser lido como uma crítica da crítica da
ideologia. Propomos, portanto, que vale para o ensaio aquilo que Schwarz diz sobre Machado de
Assis: “Trata-se de uma posição antimítica e duas vezes negativa, isenta de ufanismo conservador
bem como de abdicação do juízo diante da Europa e do progresso, uma posição racional e sem
absolutos [...].” (SCHWARZ, 2012b, p.125, grifo nosso). Aprofundemos o raciocínio.
A raiz do equívoco idealista da “crítica ideológica” seria a crença de que haveria estrita
oposição entre a realidade local e a europeia, inspiradora das propostas liberais. Na verdade, o
Brasil seria um momento diferente de um processo universal de expansão do capitalismo, do qual
faria parte. Aqui se revela a matriz “seminarista” do raciocínio:
Era inevitável, por exemplo, a presença entre nós do raciocínio econômico burguês- a
prioridade do lucro, com seus corolários sociais – uma vez que dominava no comércio
internacional, para onde a nossa economia era voltada […]. Além do que, havíamos
feito a Independência há pouco, em nome de ideias francesas, inglesas e americanas,
variadamente liberais, que assim faziam parte de nossa identidade nacional (SCHWARZ,
2012, p.13, grifo nosso).

Porém, cabe repisar que, ao contrário do que quereriam os supostos “autênticos liberais
brasileiros”, seria igualmente inevitável a prevalência da escravidão no Brasil (SCHWARZ, 2012,
p.13) em razão da forma pela qual o país se inseria na expansão capitalista global – como
explicavam Prado Jr. (2011) e Cardoso (2003). Ou seja: raciocínio moderno e realidade
escravocrata seriam fatores combinados e igualmente necessários. Daí que a estrutura social
brasileira fosse marcada pelo que propomos designar como “ironia estrutural”, manifestada,
empiricamente, pelo consumo inveterado, porém sempre insuficiente, das ideias europeias
modernas, sempre incapazes de condensar a experiência social brasileira. Assim, o descompasso
inevitável entre conceito (ideias) e realidade (Brasil) estrutura um tipo de dialética negativa
(ARANTES, 1992) – com a especificidade explicada acima –, o que explica a razão pela qual a
ironia tenha sido um recurso utilizado por Schwarz no título de seu ensaio e tenha sido igualmente
recurso chave para os romances maduros de Machado de Assis. Há uma afinidade entre dialética
negativa e ironia.
É que, conforme assinalamos na seção anterior, as dialéticas de Marx e Lukács, na medida
em que são tributárias da sua congênere hegeliana, pressupõem sempre algum grau de
reconciliação entre o conceito e a realidade, nem que seja de forma aparente – isto é, falsa. Mas
quando essa reconciliação se revela impossível, a ironia se torna um recurso importante para a
figuração da situação porque pressupõe a reconciliação entre o conceito e o real. Segundo Vladmir
Safatle, “ironização significa [...] ruptura entre expectativas de validade e determinações
12
fenomenais, […].” (SAFATLE, 2011, p.59, grifo do autor). Se cabe reconhecer que ambas
compartilham algumas características estruturais – a internalização de clivagens, a inversão das
“determinações fixas” e a formalização das “experiências de negatividade” (SAFATLE, 2011,
p.38) –, vale insistir na diferença radical que estabelecem entre o conceito e a realidade.
Essa angulação permite, por exemplo, precisar o papel que a ironia tem nas formulações de
Marx, um escritor virulentamente polêmico e sarcástico. Em seus escritos, a ironia parece como
mecanismo de desmistificação, que visa justamente denunciar a falsa reconciliação entre as ideias
e a realidade. No caso do Brasil, a situação era diferente, pois essa reconciliação era
aparentemente inexistente, do que decorria o que designamos “ironia estrutural”. Porém,
paradoxalmente, ela desarmava a própria ironia, que ficava sem assunto – situação que impunha
sua reformulação enquanto recurso estilístico, uma espécie de ironização da ironia, se se quiser –
, precisamente um dos feitos de Machado de Assis, segundo Schwarz. Aludindo ao assunto, teoriza
o crítico, “A Machado não interessava a sua síntese, mas a sua disparidade, a qual lhe parecia
característica [...]. Nesta convivência irreconciliada, em que se pode ver a cifra de uma situação
histórica e cultural, os termos se ridicularizam reciprocamente” (SCHWARZ, 2012b, p.170, grifos
do autor). Podemos sugerir, a título de hipótese interpretativa dos ensaios de Schwarz sobre o
Machado de Assis da maturidade, que o escritor fluminense teria adotado duas formas extremas e
contrapostas de ironia em Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro.
A escrita irônica exige máxima atenção em sua exposição e, por consequência, no seu
desvendamento. O resultado é uma forma expositiva (Darstellung) que, como bem sintetizada por
Flora Sussekind, é assentada em “opção por frases que muitas vezes contêm sua própria negação,
por uma escrita extremamente concisa […] por uma prosa que, colando o método dialético à
própria sintaxe e fazendo da elipse verdadeiro paradigma estilístico, parece testar todo tempo seu
interlocutor, tirando-lhe qualquer possibilidade de relaxamento” (SUSSEKIND, 1988, p.98, grifo
da autora).9 Dialética negativa potencializada pela organização formal dos descompassos da
matéria brasileira propiciada por Machado de Assis. Assunto fascinante que, no entanto, ultrapassa
o objeto desse artigo. Ainda assim, vale retermos um dos momentos do assunto: a relação entre
crítica e emancipação, consequência do problema da crítica da dominação que acabamos de
examinar.

9
“A exposição dialética tem problemas particulares. De maneira muito genérica, penso que a exposição dialética
pressupõe a estruturação do objeto. Uma vez o objeto estruturado, você começa a expor o movimento dele, dentro, é
claro, das suas possibilidades. Os escritores dialéticos mais interessantes – aí eu estou pensando no Marx, no Adorno,
no Sartre, no Benjamin – desenvolveram uma espécie de disciplina, que consiste no seguinte: cada frase tem que
conter, de alguma maneira, a contradição de que você está tratando, e os termos da contradição estão dentro da frase,
de maneira que você de certo modo interioriza no estilo a contradição que está tentando descrever” (SCHWARZ,
2019, p.96),
13
As dificuldades: conformismo, crítica e emancipação

Nesta seção, queremos acentuar a análise das dificuldades que o ensaio apresenta, ainda que
indiretamente, para a relação entre crítica e emancipação a partir do exposto na seção prévia. Para
tanto, precisamos retomar, em termos breves, o visto até aqui: a tarefa da “crítica” no Brasil era
diferente da europeia em razão de que sua estrutura social, calcada na escravidão, revelava as
ideologias liberais como tais. Como implicação, o favor seria a ideologia dessa espécie particular
de “antagonismo dissolvido” entre senhores e os sujeitos livres e pobres, que estavam além e
aquém da exploração do trabalho. Por isso, a relação entre os dois grupos era completamente
favorável aos proprietários de grandes terras, donos de escravos, o que fazia com que a tensão
social latente entre as duas classes de sujeitos livres fosse “sufocada”. Surge o que poderíamos
chamar de déficit de negatividade, termo que se refere à frágil capacidade dos dominados
exercerem ações que permitam a superação da dominação. Revelar tal déficit é um dos paradoxos
da perspectiva radicalmente negativa de Schwarz. Essa questão se relacionava de modo direto às
dificuldades da forma romance no país, uma vez que o exercício da autonomia é um ponto
decisivo para a figuração do romance realista oitocentista.
Vimos também que o diagnóstico de Schwarz, ao constatar os bloqueios emancipatórios dos
subalternos brasileiros e o uso arbitrário da razão como ideologia não inteiramente falsificada,
está mais próximo da crítica racional da razão de Adorno do que do ímpeto revolucionarista de
História e consciência de classe – o que nos remete à posição política reformulada do crítico
literário no período em que escrevia o ensaio
Sendo assim, vale destacar o paralelismo possível entre a situação do Brasil do século XIX
com uma das características típicas do estágio monopolista do capitalismo. Escrevendo em plena
Segunda Guerra Mundial sobre o papel da “teoria de classes” no momento em que vivia, Adorno
teoriza que “a diferença entre exploradores e explorados não se apresenta de tal modo que ponha
à vista dos explorados a solidariedade como sua ultima ratio: a conformidade é para eles mais
racional” (ADORNO, 2004, p.351, grifo nosso). Ainda que por motivos distintos, pode-se notar
que a ideologia do favor também constitui um nexo ideológico que torna a conformidade mais
racional aos dominados que a revolta. A “dissolução” do antagonismo e o consequente
conformismo (não completo) – como manifestado pelos primeiros romances de Machado de Assis
analisados em Ao vencedor as batatas – se relaciona diretamente com a forma da desigualdade
oriunda da forma predominante das relações sociais no país. É sobre ela que se assenta a natureza
singular da ideologia no Brasil. Compreendê-la exige não apenas um exame das articulações dessa

14
“razão conformada”, mas, sobretudo, das formas sociais com as quais se vincula.
Já mencionamos que, segundo “As ideias fora do lugar”, ninguém acreditava propriamente
na ideologia liberal no Brasil do século XIX – o que contrariava o suposto universalismo inscrito
na própria noção de ideologia tal como formulada por Marx e Lukács. O problema é que essa
percepção não dava azo a movimentos que pusessem, de fato, em risco a ordem social – como
sugeria a própria teoria marxista, a qual nesse plano, projetava alguma conexão entre “razão” e
“revolução”, para usarmos termos de Herbert Marcuse (2004). Ao contrário, prevalecia a
dissonância entre os dois elementos.
Aqui é o lugar de explorar o fato, já mencionado, de que o favor não desmentia
completamente a ideologia liberal, como faziam as relações escravocratas, pois preservava a
imagem de uma relação livre entre sujeitos formalmente iguais. Tratava-se, claro, de um vínculo
tênue, na medida em que não estavam dadas as condições sociais para a afirmação dos direitos
civis que podiam igualar, ainda que de modo bastante parcial, os sujeitos. O trabalho livre
remunerado, essencial para a efetivação, estava “bloqueado” como forma social predominante.
Socialmente fragilizados, cabia aos sujeitos livres procurar alternativas de sobrevivência
disponíveis, as quais passavam, via de regra, pela conformação à ordem existente. O potencial
igualitário inscrito na retórica liberal ficava completamente desarmado, combinando-se, pois, com
uma ordem social avessa à igualdade humana preconizada por seus advogados. Daí a sua
dimensão “ornamental”, para usarmos o termo do crítico.
É nesse plano que o crítico insere a ideia de “ideologia de segundo grau” – termo,
curiosamente, abandonado em seus escritos posteriores. “Nesse contexto, portanto, as ideologias
não descrevem sequer falsamente a realidade, e não gravitam segundo uma lei que lhes seja
própria – por isso as chamamos de segundo grau” (SCHWARZ, 2012, p.18-9, grifo nosso). A
função do liberalismo não era “esconder a realidade”, impossível em um país escravocrata, mas
sim estatuir o reconhecimento da “intenção louvável, seja do agradecimento, seja do favor”
(SCHWARZ, 2012, p.18). Portanto, o liberalismo tinha uma função específica: lustrar o favor, o
que era feito por meio de gestos de reconhecimento, de boa intenção. Aí o seu “lugar”. “Lugar”
que é “especular”, conforme se disse acima, porque não ofusca o sentido verdadeiro das relações
capitalistas, como nos países centrais, mas as dignifica. Isto é: o liberalismo acabava por ter uma
função diferente no Brasil, pois não visava legitimar a exploração por meio de seu
obscurecimento, mas legitimá-la pelo seu esclarecimento. O raciocínio apimenta, por exemplo, a
tese adorniana de que “crítica cultural compartilha com seu objeto o ofuscamento” (ADORNO,
1998, p.17).
Dando um passo adiante, cabe notar que, dialeticamente, o excesso de luz também produz

15
impossibilidade de percepção. Ao comentar Dialética do esclarecimento, Gabriel Cohn observa
que “a razão privada da sua capacidade reflexiva [...], gera luzes, sim, mas que ofuscam e levam
à cegueira” (COHN, 2016 p.17). Nesse espírito, a situação brasileira, embora mais clara no que
tange à exploração, tornava-se ainda pior; a dificuldade está em que o momento “negativo” –
supostamente impulsionador da emancipação - era como que “congelado”, pois a forma da
desigualdade impedia que desencadeasse seus efeitos, embora sua verdade fosse reconhecida.
Mais do que uma nova síntese, o que se tem é uma espécie de anulamento do negativo, que nesse
caso equivale a uma espécie de bloqueio social da razão. Esse é o papel difícil da crítica no país,
uma vez que a sua suposição “desmistificadora”, de raiz iluminista, era incorporada pela própria
lógica da reprodução social que nem por isso se alterava. Sendo assim, é lícito indagar: quais as
consequências dessa situação para o exercício da crítica no plano propriamente social? A questão
é complexa porque remete ao lugar do indivíduo crítico na sociedade.
As pistas que nos ajudam a pensar a resposta à pergunta devem ser colhidas de modo indireto
porque este não é o problema que o ensaio se coloca. Ao seu autor interessava ressaltar as
complexidades que a situação trazia à formação da forma romance no país, tema com o qual
encerra seu texto. Ainda assim, o ensaio procura não perder de vista a relação entre os dois planos,
ao mesmo tempo em que se apoia, e reforça, a autonomia relativa da obra de arte. Vejamos:
Sem avançarmos por agora, digamos apenas que, ao contrário do que geralmente se
pensa, a matéria do artista mostra assim não ser informe: é historicamente formada, e
registra de algum modo o processo social a que deve a sua existência. Ao formá-la [...] o
escritor sobrepõe uma forma a outra forma, e é da felicidade desta operação, desta relação
com a matéria pré-formada [...] que vão depender profundidade, força, complexidade dos
resultados. [...] e sentado à escrivaninha num ponto qualquer do Brasil, o nosso
romancista sempre teve como matéria, que ordena como pode, questões da história
mundial: e que não as trata, se as tratar diretamente (SCHWARZ, 2012, p.31).

Portanto, em razão de sua autonomia, a forma literária pode atingir elevado grau de acuidade
a despeito da má-formação social (RICUPERO, 2008). Nesse plano, a lógica própria da obra
literária garante ao artista a possibilidade de uma adequação formal que não encontra
correspondente na sociedade em que se situa. Essa fratura entre as possibilidades da obra e da
sociedade existe, mas é apenas um momento. Dialeticamente, aqui parece haver uma indicação
que nos permite retomar o problema da “política” nos termos acima porque, se literatura é forma,
convém recordar que sua existência demanda disposição, embora nem sempre os seus efeitos
resultem como planejado pelo artista – para o bem ou para o mal. Eis um elemento, por vezes não
inteiramente ressaltado, na expressão – talvez imprecisa, portanto - “forma literária e processo

16
social”10. Há, sim, – e o próprio crítico não nos deixa esquecer (SCHWARZ, 2012b, p.157) – uma
disposição individual envolvida no processo, que pode ser crítica ou não. Desse prisma, a
autonomia da obra fica relativizada, ao mesmo tempo em que é essa mesma disposição que parece
lhe garantir sua face independente. Há aí uma tensão produtiva, da qual interessa-nos uma de suas
facetas: aquela relacionada à ação do crítico no plano social. Para completarmos o raciocínio sobre
o impacto da forma de dominação existente no país no comportamento de seus críticos, seremos
forçados a extrapolar nosso objeto de exame porque, como se viu acima, “As ideias fora do lugar”
termina em momento no qual se afirma a autonomia da obra – orientação que culminará no exame
da sua forma eminentemente negativa nos romances maduros de Machado de Assis.
A esse respeito, no entanto, é sintomática a forma como a qual o crítico encerra Ao vencedor
as batatas. No seu último parágrafo, ao aludir à mudança do ponto de vista dos romances maduros
de Machado de Assis, observa-se: “É claro que esta nova posição é compreensível somente se o
arbitrário não for sentido como humilhação. De fato, Machado completava a sua ascensão social.
Em seus romances maduros o arbitrário será encarado com a intimidade humorística de quem se
confessa praticante, e já não tem o que temer” (SCHWARZ, 2012, p.231, grifo nosso).
Note-se que entre a primeira frase e a seguinte (na qual a individualidade, “Machado”,
aparece e é central), flagramos a vinculação de uma orientação ética determinada – arbítrio
percebido sem humilhação – com a transformação de classe. É significativo que a passagem de
um livro ao outro seja feita por uma remissão à posição social do autor. Somos levados a crer que
ela, em alguma medida, importa para a confecção da obra literária. A articulação entre posição
social e certo modo de perceber as relações sociais parece remeter ao problema lukacsiano da
totalidade que mencionamos antes. A sofisticação cognitiva de uma forma artística será
beneficiada se o seu autor estiver situado em posição que lhe permita compreender (e figurar) a
totalidade em exame. Portanto, esse argumento de Schwarz implica uma reprodução, no plano da
relação entre escritor e sociedade, daquele referente ao fato de que a situação burguesa-
escravocrata brasileira teve como um dos seus resultados estéticos, nos romances da maturidade
de Machado, à atribuição exclusiva das ações responsáveis pelo dinamismo das tramas aos
senhores. Ao menos nesse ponto, a forma estética mais do que depender, reproduziria, a forma
social. De modo mais direto: a posição de Machado reproduz a de seus narradores maduros, o
que, aliás, relativiza, num certo momento, a importância do próprio autor.
De passagem, caberia notar que o argumento toca, mas não resolve em sentido forte, a
potencial tensão entre análise de formas literárias em si mesmas (o que sugeriria a análise

10
Em favor do argumento, registre-se que não nos parece acaso que Adorno se ponha, por exemplo, a examinar a
figura do “crítico cultural” em “Crítica cultural e sociedade”. (ADORNO, 1998)
17
exclusiva das faturas das peças) e outra, que se vincula à trajetória social de seus autores. A questão
não se coloca no caso de Machado de Assis, pois Schwarz parece sugerir que há uma radical
coerência entre mudança de disposição pessoal e fatura artística – embora a primeira não cause a
segunda. Sendo assim, vale discutir, de modo muito breve, o argumento de um ponto de vista
interessado na relação entre escritor, obra e sociedade.
Como matéria para essa reflexão, vale chamarmos a atenção para a segunda das “Duas
notas sobre Machado de Assis”, texto escrito por Schwarz para a introdução de Quincas Borba
feita pela Biblioteca Ayacucho. Nela encontramos sua interpretação sobre o vínculo entre
trajetória social e obra do escritor fluminense. Como não poderia deixar de ser, o crítico enfatiza
o pertencimento de Machado à dinâmica social por ele mesmo figurada em seus romances – não
se furtando a afirmar que a figuração simpática do paternalismo “esclarecido” dos primeiros
romances tem relação direta “porque o seu problema, obviamente biográfico, permite definir
melhor a posição de Machado” (SCHWARZ, 2012b, p.176). Arte e política, como se vê, andavam
conectadas numa disposição individual que procurava reformar os costumes de feição autoritária
reinantes no seu período. Na disposição ética do Machado da primeira fase encontramos, portanto,
a reprodução da função do liberalismo assinalada em “As ideias fora do lugar”. No plano prático,
Schwarz a caracteriza da seguinte maneira na trajetória do jovem Machado: nela, “a preocupação
dominante está na aquisição de técnicas e formas, num sentido que está nos antípodas do que
modernamente se entende por arte. Em lugar de intenção crítica, a aplicação do bom aluno,
merecedora de aplausos” (SCHWARZ, 2012b, p.177, primeiro grifo do autor, segundo nosso). A
disposição ética (e política) conformista – ideológica – afetava a qualidade estética (avaliada pelo
ângulo crítico da arte moderna, supostamente radicada na procura pela “verdade” do mundo
burguês).
Aos quarenta anos de vida, Machado teria alterado sua orientação ética e política, avaliada
nos seguintes termos pelo crítico:
Seria simpático, mas simplório, ver a transição da primeira à segunda fase [...] como a
passagem do conformismo à crítica. Se em seu segundo período Machado é um escritor
sem ilusões, capaz de percepções terríveis, não é na qualidade de crítico, mas na de
homem que nada esconde. Em certa ocasião teria dito: ‘Tudo! Meu amigo, Tudo! Menos
viver como um perpétuo empulhado!”, frase que define bem o seu novo compromisso
com a verdade. [...] Depois de encarar a sociedade brasileira pelo ângulo do dependente
pobre, que brilha pelo discernimento com que sabe manifestar o seu apreço pela ordem,
desdobrando talento a fim de ser reconhecido e cooptado pela elite dirigente, o escritor
iria encarar a mesma sociedade pelo ângulo de quem está instalado (SCHWARZ, 2012b
, p.177, grifos nossos).

18
A descrição é significativa. Machado teria estabelecido um “novo compromisso com a
verdade”, que lhe teria possibilitado compreender o que chamamos de “anulamento do negativo”,
do qual teria tirado consequências estéticas e políticas máximas, por meio de uma “intimidade
humorística de quem se confessa praticante”. Curioso notar, entretanto, que o novo compromisso
crítico do autor não gerou uma nova maneira (crítica) de agir na sociedade em que se situava,
embora procurasse nada esconder. Valeria indagar: a coincidência postulada entre mudança de
classe e de programa crítico se interrompe aqui? Não há, também, uma espécie de continuidade
social oculta entre o primeiro e o segundo momentos de Machado? Ou seja, a “liberdade” crítica
não seria uma consequência, talvez imprevista, da “cooptação” lograda? Qual a relação entre
“nada esconder” e afastamento crítico?
As questões colocadas acima não visam “cobrar” ou “denunciar” uma suposta dimensão
conformista na prática social de um escritor tomado como crítico radical, mas ao contrário:
acentuar como um raciocínio crítico, a despeito de sua justeza radical, pode não ultrapassar certos
limites impostos pela sociedade. O resultado da combinação é a de que houve uma estranha
correspondência entre crítica e distanciamento – “distância que os contemporâneos notavam, para
lamentar ou para achá-la insuportável, nunca para aprová-la, mas que estranhamente não os
impediu de reconhecer a primazia do escritor” (SCHWARZ, 2012b , p.178). E o crítico arremata:
“Passados os anos, esta distância aparece como a expressão mesma de sua superioridade, da
finidade profunda de Machado com o processo brasileiro” (SCHWARZ, 2012b, p.178, grifo
nosso). O exato oposto, portanto, da relação entre “razão” e “revolução” que presidiu o
Iluminismo (Koselleck) e que estimulou o pensamento filosófico alemão do século XIX
(Marcuse).
No caso de Machado, a crítica torna-se possível em razão do distanciamento, ao mesmo
tempo que este parece ser consequência (necessária?) dela. Cabe especificar, porque a crítica de
Machado não está ligada à intervenção pública em assuntos igualmente públicos, mas numa
disposição de revelar-se como pode e ao mesmo tempo se distanciar.
Trata-se, claro, de distanciamento que precisa ser matizado. No seu bojo, a cópula
autorrevelação/distanciamento parece se transmutar na combinação entre ascensão de classe
combinada à traição. Combinação, é certo, muito singular, pois implica simultâneo pertencimento
e rompimento de classe. Só quem pertence pode trair. Temos, assim, dois elementos que,
combinados, se relativizam e permitiram ao escritor manter sua posição (dominante). O resultado
do conjunto? Uma espécie singular de silêncio crítico – o que não deixa de ser um resultado
inesperado e desolador para um esforço radicalmente esclarecedor, cujo complemento pareceria
ser, à primeira vista, a disseminação da razão, da “verdade”. Silêncio, é certo, relativo, pois

19
Machado teria encontrado uma “solução”: dizer pelas obras o que calava como cidadão. Essa
arquitetura muito própria fez com que sua “solução” passasse desapercebida ou, pior, fosse lida
ao contrário. A posição “duas vezes antimítica” de Machado incorre no risco de tornar-se, no
plano de seus efeitos sociais, matéria de anti-esclarecimento.
É certo, claro, que este recuo permite, ao menos, a emissão de mensagens em garrafas
lançadas ao mar – imagem que poderia ser tomada como ilustradora do desvendamento crítico de
Schwarz sobre os “bilhetes” machadianos. Porém, ela não elimina a fratura entre a denúncia da
dominação (crítica) e a ação transformadora para sua superação (emancipação). Como tentamos
mostrar, aspecto que confere originalidade ao raciocínio de Schwarz, problematizador de um dos
supostos chaves da tradição marxista a que pertence (e que talvez supere). A crítica totalizadora
sem suporte social é capaz de grande acuidade, sem que implique, de fato, em transformação,
mesmo no plano individual, pois Machado se tornou o romancista maduro depois de ascender
socialmente – estratégia que também é estranha aos supostos teóricos e políticos marxistas
clássicos, aos quais a combinação entre cooptação (ascensão de classe) e crítica (traição) soaria
mal. Se esta questão extrapola o âmbito de preocupação do crítico literário, voltado para o
desvendamento da lógica interna dos romances, nem por isso deixa de existir enquanto problema
político.
Nessa altura, nos permitimos retomar o ponto levantado nas primeiras páginas desse texto,
uma vez que o diagnóstico do crítico literário a respeito da relação entre crítica e emancipação, se
excedia seu problema de pesquisa, não era alheio às suas atividades políticas pessoais. Para dizer
numa fórmula algo sumária, a atuação de Machado de Assis refletiria também os impasses sociais
e políticos da vanguarda em solo nacional. Desse prisma, pode-se assinalar o vínculo entre as
reflexões de Schwarz sobre Machado como um momento do seu acerto de contas com a política
de vanguarda.

Considerações finais
Percorrido o caminho, cabe retomá-lo e aliá-lo com algumas considerações mais amplas
com a expectativa de que, nesse processo breve algo do exposto ganhe novo relevo.
Fossemos destacar as duas ideias principais que se procurou sustentar, diríamos que: a) a
originalidade da crítica da crítica da ideologia feita por Roberto Schwarz – uma espécie de crítica
“ao quadrado”, na acurada formulação de Fábio Querido (2019) – , no que se refere ao Brasil
oitocentista, reside na percepção da dificuldade de que naquele contexto histórico o capitalismo
escravocrata brasileiro se assentava numa espécie de desnecessidade da troca entre capital e
trabalho. Disso decorreria a falta da universalidade da ideologia do liberalismo na sociedade

20
nacional. Em que pesem os pontos de contato entre o diagnóstico de Schwarz a respeito do Brasil
com aquele desenvolvido por Adorno sobre o capitalismo monopolista, como se procurou
assinalar, parece-nos essencial sublinhar que a marginalidade do trabalho livre no processo de
reprodução social brasileiro daquele contexto confere uma especificidade à teorização do crítico
brasileiro em relação às suas inspirações europeias.
Dialogando com essa problemática, Carlos Nelson Coutinho (1976), em um dos primeiros
textos a tratar de “As ideias fora do lugar”, chegou a sugerir que o fim da escravidão e a
consequente instalação de um regime político e econômico assentado sobre o trabalho livre
acabaria por estabelecer uma sincronicidade ideológica entre o Brasil e os países hegemônicos.
Em contraste, parece-nos que o raciocínio de Schwarz, lido em consonância com os trabalhos que
dialogam com a noção de “dependência”, pode ser tomado como uma chave interpretativa que
permite compreender as especificidades ideológicas da sociedade brasileira, cujo
desenvolvimento se diferencia dos moldes europeus. Há, pois, uma peculiaridade à condição
periférica que, para nos valermos dos termos de Florestan Fernandes, exige “uma verdadeira
rotação ótica do estudo sociológico do regime de classes” (FERNANDES, 2008b, p.34), do que
resultam novos ângulos interpretativos que permitem a relativização de supostos teóricos tidos
previamente como “universais”.
A pertinência dessa visada parece se confirmar em trabalhos de sociologia contemporânea.
Em prefácio à edição mais recente de A revolução burguesa no Brasil, André Botelho e Antonio
Brasil Jr. (2020) chamam a atenção para o cosmopolitismo11 do livro ao recordar a noção de
“brasilianização” do mundo, tal como formulada por Ulrich Beck. A partir de raciocínio similar,
André Singer observa como a recente bibliografia da ciência política internacional dedicada ao
estudo da representação política percebe a sua crise, de modo que “determinadas excentricidades
brasileiras se aproximaram do contexto mundial” (SINGER, 2018, p.135). Uma das implicações
teóricas dessa reflexão é a inversão da hipótese lançada por Marx no prefácio à primeira edição
d’O capital, segundo a qual “o país industrialmente mais desenvolvido não faz mais do que
mostrar ao menos desenvolvidos a imagem de seu próprio destino.” (MARX, 2013, p.78).12 Dito
de outra maneira, o pensamento social brasileiro e as ciências sociais vinculadas a ele possuem
conteúdos, hipóteses e perspectivas mais “universalizáveis” do que os supostos dos pensamentos

11
“Cosmopolitismo sociológico talvez seja, então, antes de tudo, um tipo de relação descentrada de convivência com
o universal a partir da diferença local – que no caso da sociologia e, especialmente, na de Florestan, nunca é
demais acentuar, sempre implica na consideração das desigualdades –, que envolve movimentos e aberturas em
várias direções” (BOTELHO; BRASIL JR., 2020, p.19).
12
Nos últimos anos, houve uma importante recuperação dos escritos tardios de Marx em que o evolucionismo dessa
tese sai relativizado. A observação, no entanto, se mantém porque tais formulações do filósofo alemão tiveram
pouca influência no pensamento social (incluído aí o marxismo) do século XX. Tal recuperação, aliás, segue
sentido similar ao proposto neste artigo.
21
europeus, tidos ideologicamente como universais.
De modo mais preciso, a partir do exposto anteriormente, caberia lançar a hipótese de que,
com as devidas variações, o raciocínio examinado é acoplável à discussão sobre o problema da
ideologia do “subproletariado”, definido, nos termos de Paul Singer, como aqueles que “oferecem
sua força de trabalho no mercado sem encontrar quem esteja disposto a adquiri-la por um preço
que assegure sua reprodução em condições normais.” (SINGER apud SINGER, 2012, p.77, grifo
nosso), estrato que ocupa lugar decisivo no debate político nacional. Isso porque o
“subproletariado”, como o sujeito livre que depende do favor e o escravo, também não possui
condições de reprodução social garantidas. Esse ângulo, entre outros, permite vincular a
discussão sobre as classes sociais brasileiras às novas classes precarizadas no restante do mundo.
Retomando o fio expositivo: em vínculo com o problema da ideologia acima assinalado, a
relação entre crítica e emancipação, igualmente suposta na tradição marxista, também é
problematizada. Isto é, assim como o liberalismo dignificava as relações sociais entre sujeitos
livres no Brasil, a forma da desigualdade local impedia que a sua crítica se convertesse em uma
atitude verdadeiramente transformadora. Essa desconexão entre disposição crítica e
transformação social – um dos pontos de honra da modernidade – ficava desarmada, uma vez que
os sujeitos supostamente mais suscetíveis à defesa da alteração da ordem eram carentes de meios
materiais – entendidos em sentido amplo – que lhes possibilitasse efetivá-la. Sem essa alternativa,
restava o silêncio, às vezes tomado como sinal de adesão. A forma da tentativa do autor de
Memórias póstumas de Brás Cubas de escapar dessa situação – expor seus confrades de classe,
ao mesmo tempo que adotava comportamento discreto como cidadão – é igualmente iluminadora
dos impasses a que se chegava. Se uma perspectiva crítica deve procurar “confrontar o objeto com
o seu conceito e cobrar dele a realização de tudo o que está contido neste” (COHN, 2016, p.22),
o ponto que interessa levantar é: que fazer quando não estão colocadas as condições materiais que
permitem a plena cobrança mencionada e, ao mesmo tempo, escapar de uma perspectiva política
elitista? A pergunta incide em diversos planos, entre os quais aquele referente ao vínculo entre
intelectuais e sociedade – não à toa, objeto constante de reflexão dos pesquisadores dedicados ao
estudo do pensamento social e político brasileiro.

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