Você está na página 1de 18

HIDRÁULICA

UNIDADE 7. GOLPE DE ARIETE

PROF. DR. ELIEZER SANTURBANO GERVÁSIO


ENGENHARIA DE ÁGUA NA AGRICULTURA
CENAAMB - UNIVASF
GOLPE DE ARIETE

Denomina-se Golpe de Ariete ao choque violento que se produz sobre as


paredes de um conduto forçado quando o movimento do líquido é
modificado bruscamente. Em outras palavras, é a sobrepressão que as
canalizações recebem quando, por exemplo, se fecha um registro,
interrompendo-se o escoamento.

Se o fechamento do registro fosse instantâneo (t = 0) e, ainda, se a água


fosse incompressível e a canalização inelástica, a sobrepressão teria um
valor infinito. Na prática, o fechamento sempre leva algum tempo, por
pequeno que seja, e a energia a ser absorvida transforma-se em esforços
de compressão da água e deformação das paredes da tubulação.

____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
MECANISMO DO FENÔMENO
No momento em que se modifica bruscamente a velocidade de um fluido
em movimento numa canalização, acontece uma violenta variação de
pressão. Ondas de sobrepressão e depressão se propagam a uma
velocidade C, chamada velocidade de onda (celeridade).

Os golpes de ariete podem acontecer também nas canalizações por


gravidade. Podemos destacar como causas do golpe de ariete:
- A partida e a parada de bombas,
- O fechamento brusco de válvulas ou registros

____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
CELERIDADE
A velocidade de propagação da onda pode ser calculada pela fórmula de
Allievi:

9900
C=
D
48,3 + k
e

C = celeridade da onda, m s-1;


D = diâmetro da tubulação, m;
e = espessura da tubulação, m;
k = coeficiente que leva em conta o módulo de elasticidade;

para tubos de aço: k = 0,5


para tubos de ferro fundido: k = 1;
para tubos de concreto: k = 5;
para tubos plásticos: k = 18.

____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
FASE OU PERÍODO DA CANALIZAÇÃO
Denomina-se fase ou período da canalização o tempo que a onda de
sobrepressão leva para ir e voltar de uma extremidade à outra da
canalização.

2L
τ=
C
L = comprimento da canalização, m;
C = celeridade, m s-1

____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
DURAÇÃO DAS MANOBRAS DE FECHAMENTO
O tempo de fechamento da válvula ou registro é um importante fator. Se o
fechamento for muito rápido, o registro ficará completamente fechado
antes da atuação da onda de depressão. Por outro lado, se o registro for
fechado lentamente, haverá tempo para atuar a onda de depressão antes
da obturação completa.

Daí a classificação das manobras de fechamento:

2L
Se t< tem-se manobra rápida
C
2L
Se t> tem-se manobra lenta
C

____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
MANOBRA RÁPIDA – CÁLCULO DA SOBREPRESSÃO
A sobrepressão máxima ocorre quando a manobra é rápida. Essa
sobrepressão pode ser calculada pela expressão:

Cv
ha =
g

v = velocidade média da água, m s-1;


ha = aumento de pressão, m

MANOBRA LENTA – CÁLCULO DA SOBREPRESSÃO


No caso de manobra lenta, pode-se aplicar a fórmula aproximada de
Michaud:
2Lv
ha =
gt

L = comprimento da tubulação, m
____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
GOLPES DE ARIETE EM LINHAS DE RECALQUE
O caso mais importante de golpe de ariete numa linha de recalque de bombas
acionadas por motores elétricos é o que se verifica logo após uma interrupção de
fornecimento de energia elétrica.

Nesse caso, devido à inércia das partes rotativas dos conjuntos elevatórios, a coluna
líquida continua a subir pela canalização de recalque, até o momento em que a
inércia é vencida pela ação da gravidade.

A corrente líquida, ao retornar para a bomba, encontrando a válvula de retenção


fechada, ocasiona o choque e a compressão do fluido, dando origem a uma onda de
sobrepressão (golpe de ariete).

Se a válvula de retenção funcionar normalmente, fechando-se no momento preciso,


o golpe de ariete não atingirá o valor correspondente a duas vezes a altura
manométrica.

Se, ao contrário, a válvula de retenção não se fechar rapidamente, a coluna líquida


retornará, passando através da bomba, e, com o tempo, ganhará velocidades mais
altas, elevando-se consideravelmente o golpe de ariete, no momento em que a
válvula funcionar (podendo atingir a 300% da carga estática, dependendo do tempo
de fechamento).
____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
MEDIDAS GERAIS CONTRA O GOLPE DE ARIETE
O golpe de ariete é “combatido”, na prática, por várias medidas:

- limitação da velocidade nos encanamentos;


- fechamento lento de válvulas ou registros;
- emprego de válvulas ou dispositivos mecânicos especiais;
- fabricação de tubos com espessura acrescida, tendo em vista a
sobrepressão admitida;
- construção de chaminés de equilíbrio ou tubos piezométricos;
- instalação de câmaras de ar comprimido que proporcionam o
amortecimento dos golpes;

____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
CARNEIRO HIDRÁULICO
O carneiro hidráulico ou aríete hidráulico é uma máquina simples e de
grande utilidade para elevação de água nas fazendas, desde que se
disponha de um pequeno curso de água que permite uma queda de certo
caudal e que se deseja elevar somente uma fração deste.

A queda, ou diferença de nível, é, em geral, produzida artificialmente por


meio de pequenas barragens, canal de irrigação, etc.

O carneiro hidráulico, uma vez


instalado, trabalha dia e noite,
não necessitando de força
motriz para funcionar, pois
utiliza como energia, a própria
queda de água, elevando
automaticamente parte desta.

____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
CONSTITUIÇÃO E PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO
Consta, o carneiro hidráulico, essencialmente do seguinte:
- Um tubo adutor ou de alimentação AB;
- Uma válvula de escape E, que dá saída, durante algum tempo, à água de
alimentação. Esta válvula se fecha de baixo para cima;
- Uma válvula de recalque F, que deixa a água penetrar na câmara de ar G, a
cada golpe do aríete. Esta válvula se fecha de cima para baixo;
- Uma câmara de ar, ou campânula, G, que recebe a água que penetra pela
válvula F;
- Um tubo de elevação ou de recalque CD, que recebe a água da câmara G e
a eleva até o reservatório superior;

____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
DIMENSIONAMENTO DE UM SISTEMA DE BOMBEAMENTO DE
ÁGUA COM O USO DO CARNEIRO HIDRÁULICO
A capacidade do carneiro, isto é, a descarga recalcada q, é calculada pela
fórmula:

Qhα = qH

onde:
Q = vazão recebida pelo carneiro, L min-1;
h = altura de queda do reservatório de alimentação até o carneiro, m;
α = rendimento do carneiro, decimal;
q = vazão elevada pelo carneiro, L min-1;
H = altura de elevação do carneiro ao reservatório superior, m.

O rendimento α depende da relação h/H e da perfeição com que é fabricado


o aparelho. Como dado geral e considerando-se as boas condições de
instalação e ajuste, especialmente quanto ao número de batidas por minuto,
apresenta-se os valores aproximados do rendimento de um carneiro.
____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
VALORES APROXIMADOS DO RENDIMENTO DE UM CARNEIRO

Relação h/H Rendimento (%)


Até 1:4 75 a 70
1:5 a 1:20 70 a 60
1:21 a 1:30 60 a 50

Da fórmula dada, os elementos de campo fornecem os valores de altura de


queda h e de elevação H, com os quais determina-se pela Tabela, o valor
do rendimento α. Fica, portanto, somente com os valores de Q e de q que
são determinados um em função do outro, isto é:
- tendo-se a vazão a ser elevada q, ou seja, conhecendo-se a demanda de
água de uma propriedade, determina-se Q e verifica-se se a vazão do
riacho que vai alimentar o carneiro é suficiente. É com a vazão Q que é
definido em tabelas o tamanho do carneiro;
- tendo-se a vazão Q, determina-se a vazão q a ser recalcada para o
projeto.
____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
A vazão q, necessária ao consumo de uma propriedade, pode ser
determinada por meio de tabelas.

Especificação Litros por dia


Sede da fazenda – por pessoa 70 a 100
Aves – 10 cabeças 2a3
Caprinos – por cabeça 4a5
Suínos – por cabeça 5a8
Bovinos – por cabeça 30 a 35
Eqüinos – por cabeça 35 a 50
Suínos + higiene – por cabeça 12 a 15
Hortas e jardins – por m2 3a6

____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
Para selecionar o tamanho do carneiro, recorre-se às casas especializadas
ou às fábricas para se ter as tabelas com as características e tamanhos do
carneiro que melhor se adapte às condições que se tem em vista. Entra-se,
de modo geral, com a vazão Q que o carneiro deve receber para se ter o
seu tamanho nas tabelas.

Vazão necessária
Diâmetro (in) ao funcionamento Queda
Peso
Tamanho (L/min) mínima
(kg)
(m)
Entrada Saída Mínima Máxima
3/ 3/ 3 10 1,5 12
2 4 8

3 1 1/
2 6 15 1,5 15

4 1 1/2 1/
2 10 25 1,5 30

5 2 3/
4 20 50 1,5 45

6 2 1/2 1 45 90 1,5 75

7 2 1/2 1 1/4 80 140 1,5 90


____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES
a). Tubo de alimentação:

O comprimento do tubo de alimentação LA poderá ser calculado pela


seguinte expressão:

H
L A = H + 0,3
h
O tubo de alimentação deverá ser o mais reto possível, evitando-se o uso
de curvas e joelhos;

O tubo de alimentação deverá estar mergulhado pelo menos 30cm abaixo


do nível da água para evitar a sucção de ar e deverá possuir uma tela para
evitar a entrada de objetos estranhos;

Na tubulação de alimentação, usar preferencialmente tubos de aço


galvanizado. O uso de PVC ou outro material menos rígido diminui a
eficiência do carneiro hidráulico.
____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF
RECOMENDAÇÕES IMPORTANTES
b). Tubo de recalque:

O comprimento do tubo de recalque LR deverá ser:

LR ≤ 10L A

Se LR > 10 LA, aumentar o diâmetro do tubo de recalque.

No tubo de recalque também deverá ser evitado o uso de joelhos e curva,


para minimizar as perdas. Recomenda-se o uso de uma válvula de retenção
logo no início do tubo de recalque.

____________________________________________________________________________________
Prof. Dr. Eliezer Santurbano Gervásio - Engenharia de Água na Agricultura - CENAAMB/UNIVASF

Você também pode gostar