Você está na página 1de 331

Odontologia Legal

e
Antropologia Forense

Jorge Paulete Vanrell


Doutor em Ciências.
Pndéssor Dout.or de Odontologia /,<if:al na Universidade Paufüta (UNIP).
Profe.Hor Doutor di! Medicina l.egal nos Cursos de Direito da Univ('rsídade Paulista ( UNIP).
Professor de Medicina Legal e de Criminologia na Acad,imia di! Polícia Civil de Sao Paulo.
!:.'.>.:-Médico Legista da Superímendi1ncia da Polícia Técníco-Ciem(fica da
Secretaria da Segurança Pública di! São Paulo

GUANABARA~KOOGAN
r . ._.

. '. , ... - ............


i ... ~; •.: . . ··::·:::. · -})~l~ L ;r~}'T'[ ( ~ :'.-. ;.:.• [ f·.~ ·~ :··· ·'., i. :

i., Q L': .·~· .


.• ./f:;-·z;1 ~.?LÇ,i.
.',;OT..\ DA EDITORA: A área da saúde é um campo em constante mudança. As normas ~I.N. f .:JúitJ
d;; ,cgurança padronizadas precisam ser obededdas: contudo, à medida que as novas \ ..•.•.. .... ··-·· -···· ... ,./.. .. .. ···-· ..... _...
pcsquí:.a~ ampliam nossos conhecimentos, tomam-se necessárias e adequadas modificações
t:rapêuticas e medicamentosas. O auwr desta obra verificou cuidadosamente os nomes
genéricos e comerciais dos medicamentos mencionados, bem como conforiu os dados
referentes à posologia, de modo que as infom1açõcs fossem acuradas e de acordo com os
padrões aceitos por ocasião da publicação. Todavia, os leitores devem prestar atenção às
informações fornecidas pelos fabricances. a fim de se certificarem de que as doses
preconi:rndas ou as contra-indicações não sofreram modificaçf>cs. Isso é importante.
sobretudo em relação a substâncias novas ou prescritas com pouca freqüência. O autor e a
editora não podem ser rcsponsabili:r.ados pelo uso impróprio ou pela aplicação incom~ta do
produto apresentado nesta obra.

No interesse de difusão da cullura e do conhecimento, o autor e os editores envidaram o


máximo esforço para localizar os detentores dos direitos autorais de qualquer material
utilizado, dispondo-se a possíveis acertos posteriores caso, inadvc1tidamente. a identificação
de algum deles tenha sido omitida.

Obras publicadas pefo Autor

• Swtf:lU'. Texto cm Instrução Programada. São José do Rio Preto: Depto. de Morfologia FARME. 1971.
• Histolngia: Tecidn F:µitelial. São José do Rio Prelo: Depto. de Morfologia FARME, 1972.
Ci10logia. Texto em Instrução Programada. São José do Riü Preto: Depro. de Mrnfologia FARME, 1972-1975.
• Sinopse de Anatomia Microscópica. São José do Rio Preto: Depto. de Morfologia FARME. 1975.
'/'écnic:as de Citoln,:ia e Histologia. Rio de Janeiro: LTC Li,To Técnico-Científico. 1976. Em parceda com Willy Beçak
Cada11os de Medicina Legal. Tanazolngia. São José do Rio Preto: Edição Particular, 1992.
• Manual de Medicina Legal: Ta11aiologia. São Paulo-Leme: LED-1.ivraria Editora de Direito, 1996.
. Sexologia Forense. Montes Claros (MG): Editora L:nimontes, 2001.

Cap(I: Sílvio Carlos Dutra

Direitos exclusivos para a língua portuguesa


Copyright© 2002 by
EDITORA GL'ANAKARA KOOGAN S.A.
Tra,cssa do Ouvidor. 11
Rio de: Janeiro, RJ -CEP 20040-040
Te>:. 21-2221-9621
:..:\. ~1-2221-3202
.,. ·,;. ·.,..eJi tnraguanaha ra.com. br

:=.=·e:· ~..:,,, todos os direitos. É proibida a duplícaç,'ío


.. ·~:: · -.::J,·iio deste volume. no todo ou cm parte,
·· • -: --'· -~ .i~r formas ou por quaisquer meios
. ::it,únic:o. gravaçfü,. fotocópia,
~ · .. • - ·; :. ~.l \\·,~b. ou outros) . UNJME-BIBLIOTECA CENTRAL
.., - --=- --> ~,pressa da Editora.
li li 111111111111111111111111
032956
Nota do Autor

O presente livro é uma tentativa de preencher uma lacuna na Apenas ficou exduída, nesta primeira edição, a parte de Deon-
disciplina que ministramos junto ao Curso de Odontologia da tologia Odontológica, porquanlo a mesma. entre nós, é ministrada
Universidade Paulista (UNIP). junto a outra área do Curso.
Não se crata de que não existam outras obras, clássicas, anti- Dessa maneira, depois de vinlc anos de convivência diuturna
gas e modernas, e de valor, neste campo. Oc01Te, entretanto, que no Instituto Médico-Legal do Estado de São Paulo, estamos a
as mesmas, ora se apresentam obsoletas, porquanto publicadas oferecer material onde estudar ou consultar, e acreditamos estar
há muiLo tempo, ora nem sempre se apl ieam a todas aquelas exi- colaborando, principalmente. com o futuro profissional, ora alu-
gências estabelecidas pela Resolução CF0-185, de 26 de abril no, para que o mesmo não se perca nos sinuosos meandros da
de 1993 (publicada no DOU de 02.06.93 ), na sua Seção IV, que inter-relação de sua /,ex i\rtis com o Direito.
estabelece a área de atuação da Odontologia Legal. in verbis: É curial que, se o estudanle de Odontologia gostasse de direi-
Lo, estaria cm um Curso de Ciências Juiídicas. e não no de for-
''Art. 54. Odontologia Le,?al é a e.~pecialicúule que tem como mação de cirurgíôes-dcnlistas. É por isso que decidimos esten-
objetivo a pesquisa de.fenômenos psíquicos, físicos, quími- der bastante a parte desta obra dedicada a mostrar alguns con-
cos e biológicos que podem atingir ou ter atingido o homem, ceitos de Direito Comum, das implicações da Odontologia com
vivo, 11wrto ou ossada, e mt!smo.fragmento:; ou ve.~tígios, re- o Direito Penal e com o Direito Civil. e dos problemas que sur-
sultando lesõt!S parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis." gem ao dentista - recém-formado ou graduado há tempo -
quando tem que freqüentar, por contingências muitas vezes alhei-
"Pará.grafo único. A atuação da Odontologia Legal res- as i\ sua vontade, um ambiente totalmente diferente do consultô-
tringe-se a análise, perícia e avaliação de eVtmtos relaci· ' rio ou da clínica, como é o F6rum.
onados com a área de competh1cia do cirurgião-dentista Eslreitamentc rnrrelacionada com a atuação forense do cirur-
podendo, se as circunstâncias o exigirent, estender-se a gião-dentista, está a função pe1icial, que poderá ser chamado a
outras áreas, se disso d<1p<mder a busca da verdade, no desempenhar, na qual todos os esforços hão de ser envidados pelo
esirito interesse da justiça e da admínistraçào. ,. profissional para auxiliar à Justiça. na busca da verdade real. Sem
paixões mas com denodo, sem corporativismo preconcebido mas
O artigo 55, do mesmo diploma legal, fixa as áreas de com- com a isenção de quem tem nas suas mãos a orientação necessá-
petência para atuação do especialisla cm Odontologia Legal: ria para a distribuição da Justiça. É por isso que vários capítulos
foram dedicados a esmiuçar a prova.
"Art. 55. As áreas de compe1<1ncía para atuação do espl'· A Odontologia Legal, deve ser dito, não é mais uma disciplina
cialista em Odontologia Legal incluem: que exige profissionais enciclopedistas. antes exige profissionai:,,
a) ident{ficação humana; capazes de trabalhar em equipe. Isso porque a Odontologia Legal
b) perícia em.foro civil, criminal e trabalhista: deixou bá muito de ser um ucamoado cognitivo "in /urris eb1m1ea ··
e) perícia em área administrativa; para transfonnar-se. talvez até pela prôpria globalização. em um
d) perícia, avaliaçilo e planejamento em in,f<1rtuníslica; emaranhado mullíprofissional, onde conhecimentos d' antes ..::on-
e) tanatologia forense; scrvados em compartimentos estanques, hoje se imbricam. se en-
.f) elaboração de: Lrelaçam, se permeiam, para constituir um auxílio muito ma.is pn-...
1. autos, laudos e f>"H1caes; fícuo para mitigar os sofrimentos dos menos aquinhoados. na ~ua
2. relatórios e atestados; parte curativa, promovendo açôcs que minimizem a rcpeüti,ichie
g) traumatologia odonto-legal; e agravamento dos fatos, na sua paite preventiva.
h) balística f oren.~e: A Anlropología, por sua vez, parece ter sido transformada em
i) perícia logí.Hica ,iu viro, no mono, íntegro m1 em .mas uma cinderela, nos meios forenses. Poucos conhecem. a ri!zor.
partes emfragmemos; qual é sua área de abrangência. Menos, ainda. os que a prof~s-
.i) perícia (!m vestí,?íos correlatos, inclusive de manchas ou sam no quotidiano. Ínfimo o número dos que a aplicam. É natu-
líquidos oriundos da cavidade bucal ou nela presentes; ral. o adágio francês já no-lo afirma: On trmm' ce qu ·on cherche
k) exames por imagem para fins periciai.~: d ... on d1erche se qu'on connaft!
l) deontologia odmttoló,?ica: O~ que dedilham as músicas apenas de ou,·ido acham que
m} orientação odonto-legal para o exercício profissio11al, e técnicas sofisticadas e dispendiosas, como. por exemplo. o per-
. n) t!Xames por imagem pura jtns odonto-legais. " fil do D'.'JA, são a panacéia, que tudo resoh·e. Ledo· engano .
.~1,,ra a identific ação do gene da amcloge nina, como teimam e faz.cm por resistir e se opor à essa tendência ao desa-
c:i~.:,.:-rerizador de sexo uníversuhnencc usado e aceito, todos os parecimen to de uma ciência tão anliga, quanto o é a Antropologia.
('utro, resu ltados sempre hão de fic ar na dependência de haver Quando aparece uma vala comum, como aconteceu não há
~·.xamcs prévios da própria pessoa, de a mesm a contar com as- muito, e.g. em Perus (SP). com numeroso s esqueletos (ossadas).
cendente s o u descendentes supérstite s, que possam oferecer alguns ensacados, outros simplesm ente amontoad os. o prob le-
mate riais para confronto. Não existindo bancos de dados conten- ma se toma medonho , porquanto. com o número de profissio-
do informaçõ es fidedigna s, até o exame de DNA será supért1uo. nais com que se conta, podem se passar anos antes de que todos
Programa s de identifica ção computa dorizado s, como o fiquem definitiva mente identificados, cm nível de ccrtez.a.
C APMI ( Computa Assisted Postmort,im ldentijica tion System), T anto na Odontolo gia Legal quanto na Antropolo gia Foren-
na sua Versão 4 . utili7.ado na identifica ção de restos ou ossadas se, acreditam o!> que se faça necessári o come.çar a pensar, urgen-
de vítimas da guerra do Vietnã, só foram utilizados (e nem sem- temente, nas Universid ades e nos Institutos de Pesquisa, em pro-
pre com êxito completo) porque os perfis de DNA dos soldados mover a realivação de algumas áreas, bem como a incentivar o
constavam de um banco de dados das Forçar; Armadas. desenvolv imento de outras. Dentre esta.~ últimas, no campo ex-
Saindo dessas sofisticaç ões, ainda o compasso antropol6 gi- perimenta l, com pesquisa aplicada, e não ··cte mentirinha", como
co, as réguas, os paquímet ros e os gorúômet ros são os instrumen - fonte de ganhos fáceis para ajudar a fixar docentes que, afi nal,
tos que melhores resultados nos oferecem . se limitam a fazer relatórios , semestrais ou anuaix, ralos, fa ltos
E aí, aqui e acolá, como ínsulas rebeldes, ora em Belo Hori- de conteúdo e de resultados , aprovado s por comissõe s que p are-
zonte, com o Dr. José Frank Wiedrcke r Marotta e colaborad o- cem sequer lê-los, em um lastimoso e oneroso jogo de faz-de-
res; ora no Museu Nacional do Rio de Janeiro, com os Profs. Drs. coma de que se está investigan do alguma coisa.
Hilton P. Sil va e Oau<lia Rodrigue s-Carvalh o; ora em São Pau- També m no campo didático-pedagógico . com a formação de
lo, capital, com o Prof. Dr. Moacyr da Silva e colaborad ores, na profission ais para ministrar as aulas, tanto curriculares como de
FO-USP. ou com o Prof. Dr. Daniel Romero Muõoz, no Institu- pós-grado (aperfeiç oamento e especializ ação. pelo menos) de
to Oscar heirc; ora, com singular ênfase, cm Pirac icaba (SP). Odontolog ia Legal. Aproveitando aqueles que tenham, também,
com o Prof. Dr. Eduardo Darugc e colaborad ores. que conseguiu vivência no Fórum, nos IMLs ou Institutos congêner es, para que
estrl.lturar um Curso de Pós-gradu ação. com Mestrado e Douto- possam transmiúr conteúdo, sim. mas carregado de vivências e
rado; mais recenternentc, em Salvador (BA). com o Prof. Dr. Luís não como meras lições de " maftre r épét iieur" .
Carlos Cavalcant c Galvão, discípulo insigne da FOP/UNICAMP-
Pi racicaba, e em alguns outros Serviços, excelentes profission ais
Jorge Paulete Vanrell
Prefácio

Surpreso, emocionado mas desvanecido, rec:cbo do eminente sua competência. Uruguaio de o rigem e brasileiro por opção.
mestre e amigo Prof. Dr. Jorge Paulece Vanrcll convite para pre- como sempre é apresentado. vem ccmquis1ando as audiências com
faciar sua obra: Odontologia Le[!,al e Antropolof!,ia Forense. sua expressiva atuação nos Eventos de Medicina Legal e Ciên-
A tarefa solicitada por um mestre em Ciências demanda imen- cias Afins. mercê <lc sua modéstia. simpatia e da mais expressi-
sa responsabilid ade, por se tratar de publicação de tal magnitu- va comunicação de seus conhecimentos. A Obra com que nos
de que, por certo, terá lugar de destaque e tomar-se-á obrigató- brinda sintetiza assuntos encontrados e parcialmente exposto~ em
ria em qualquer bibJiotec:a especializada ; marcará, sem dúvida, tantas outras; ademais, introduz conheciment os outros. citados
uma nova etapa no aprendizado da Odontologia Legal e da An- só evenLUalmentc, assim facilitando enormemente a pesquisa:
tropologia Forense; aqui, com atenção especial ao estudo do crâ- senão vejamos: da História aos atuais procedimentos no estudo
nio, como deveria ser. do DNA e sua importância pericial; da Fotografia, aplicação e
Pudéssemos os " autodidatas daqueles tempos'' contar com técnicas; despcna a atenção para o necessário conhecimento do
publicação desse ''naipe··, que abrangesse tão ampla gama de Estatuto da Infância e J uvcntude, quando se deparar com maus-
conheciment os, como se lê, proporc:ionando uma rara oportuni- tratos à criança e com as providências que deverá tomar; orien-
dade de orientação àqueles profissionais participes de perícias. tação necessária até mesmo aos Colegas cuja atividade diuturna
mesmo complementa res, que poderão oferecer melhor adequa- exige um impecável c:omportamc nto ético: da mesma forma.
ção no auxílio à j usliça ! veri/ica-se, por exemplo, nos Caps. 20 a 26. uma ''trilha" plena
Não há tanto tempo. os interessados na matéria, odontolegistas de instruções para que o Odontologist a possa enfrentar proble-
ad hoc (não havia legalmente a Especialidade ...), necessitavam mas que advirão face aos complexos meandros do Dire ito: por
recorrer a consultas aos então clássicos da Medicina Legal. onde, isso que não é comum esse ensinamento aos Profissionais dos
por analogia, encontravam resposta s às pesquisas e/ou dúvidas: Cursos de Saúde. Completa agora o conceituado Cientista o que
destacamos, entre os autores nacionais. os mais wnsultados até poderíamos chamar de uma "Trilogia Preciosa": o Manual de
pessoalmente, alguns por tê-los como companheiros de Congres- Medicina Legal - Tanato/,ogia íSP, 1996 J; a Sexologia Forense
so: A. J. Souza Lima: Afrânio Peixoto: Flamínio Favero; Hilário !Montes Claros, MG, 2001 J, que, na apreciação do Médico-
Veiga de Carvalho; Estácio de Lima; Hélio Gomes; Simas Al- Advogado e Consultor de Medicina Legal, Dr. Dcmercindo
ves: o criminólogo Arnaldo Amado Ferreira e, atualmente, o Prof. Brandão '.'ieto LBH-MGJ. é das obras mais completas <lo gênero e
Genival Veloso de França, talvez o mais consultado pelos uni- com sucesso já previsto; e a Odontologia Legal e Antropologia
versitários. No ramo da Odontologia Legal, a dificuldade se Forem;e, o que se infere pela iluminada competência e felicidade
manifestava pela ausência de bibliQgrafia: Luiz Silva publica na escolha dos Colaboradore s na redação do texto. Ao encerrar.
Odontoloiü1 Legal. cm 1924 (SP); Moacyr da Silva ( 1997), o quero di vulgar mais uma qual idade do autor-cientista: a coragem.
mais atual. Compêndio dl1 Odontologia Legal; entre as duas pu- ao convidar para prefaciar sua obra um ilusa·e desc:onhecido. cu-
hlíca~ões, a Introdução ii Odontolo{?ia Legal, por Guilherme jas únicas e, tal vez, maiores virtudes sejam a de conhecê-lo e
Oswaldo Arbenz ( 1959), e, na Bahia, a Odmzt.ologia l(tgal de admirá-lo; como amigo, como mestre, como exemplo, o que não
Waldemar da Graça Leite ( 1962). · impede de subsl.abelecer ao Professor Jorge a n.:sponsabilidade
Em outras publicações, inclusive nas estrangeiras, a Odonto- deste Prefácio e a admirnção por seu destemor, que exacerbou J
logia Legal apresentava-s e como caudatária da Medicina Legal; vaidade. e que deixou muilo honrado o seu admirador.
em algumas, apenas com reduzidas citações. Toda essa divaga-
ção se fez necessária e pertinente para que se saiba da dificulda- Jorge de Sousa Lima
de e-m conseguir as infom1aç<1cs, somente encontradas se con- R<;pccialista em Odontologia Legal
sultássemos inúmeras obras. muitas vezes rafas e esgotadas. Eis Doutor em Odontologia pela
que vem a lume Odontologia Legal e Amropofoiia Forense, de Faculdade de Odontologia da
autoria do insigne mestre Professor Doutor Jorge Paulete Vanrell. Unive rsidade redera! de \linas Gerai:;.
Seu curríc ulo. aprescmado de início. não traduz a realidade de He lo Horizonte. 12.10.01
Conteúdo

ODONTOLOGIA LEGAL

I O CAMPO DA ODONTOLOGIA LEGAL Sete Princípios Técnicos Elementares, 23


Bibliografia, 24
1 CONCEITOS E NOÇÕES HISTÓRICAS EM
ODONTOLOGIA LEGAL, 3
Jorge Paulete Vanrell III NOÇÕES DE TRAUMATOLOGIA
FORENSE. ....
Introdução, 3
A Denominação e o Campo de Atuação, 3 4 ENERGIAS LESIVAS, 27
A Odontologia Legal nos Seus Primórdios, 4 Jorge Alejandru Pauleie Scaglia
A Odontologia Legal nos Tempos Atuais, 5 Conceito, 27
A Preparação para o Exercício da Odontologia Legal, 5 Agentes Lesivos, 27
Bibliografia, 6 Bibliografia, 28
·,.
2 A ODONTOLOGJA LEGAL E SUAS RELAÇÕES 5 LESÕES CONTUSAS, 29
COM O DIREITO, 7 Jorge Pau/e1e Vanre/1
Jorge Pauleie Van,-ell Jorge Aleja1uim Paulete Scaglia

Introdução. 7 Definição, 29
Com o Direito Penal, 8 Modalidade das Lesões, 29
Com o Direito Civil, 8 Localização, 29
Com o Direito Processual (Cívíl e Penal), 9 Traumatismos de Crânio, 31
Com o Direito Previdenciário, 9 Lesões por Explosão, 3 1
Com o Direito Administrativo, 1O Bibliografia, 34
Com o Direito Comercial, 10
Com o Direito do Con:a;umidor, 10 6 LESÕES POR ARMA BRANCA, 3S
Jorge Alejandro Pauleui Srnglia
Com o Direito do Menor e do Adolescente, 10
Com o Direito Trabalhista, 10 Instrumentos Lesivos, 35
Com o Direito Penitenciário, 11 Características das Lesões. 35
Com o Direito dos Desponos, 12 Caracteres Diferenciais, 38
Bibliografia, 12 Bibliografia. 38

Il FOTOGRAFIA APLICADA À 7 LESÕES POR ARMA DE FOGO, 39


Jorge Alejandro Paulete Sc:aglia
ODONTOLOGIA LEGAL
Introdução à Balística, 39
3 FOTOGRAFIA FORENSE, 15 Bibliografia, 44
Jorge Paulete Vanrell
Introdução, 15 8 LESÕES POR MElOS FÍSICO-QUíMICOS:
Noções Básicas de Fotografia, 15 ASFIXIAS, 45
Jorge Paulete Vanrrel
Equipamento Fotográfico para Odontologia Legal, 17
O Protocolo Fotográfico Padrão, 19 Introdução. 45
O Deslocamento do Foco, 21 Classificação das Asfixias, 45
A Utilização da Prova Fotográfica, 23 Classificação Médico-Legal das Asfixias, 45
~~~~~~~~~--~~--------------------------........._,.
:-1.~i (,",,11ttúdo

Fisiopatologia das Asfixias. 46 O Diagnóstico dos Maus-tratos, 9 1


Sinais Anatomopato lógicos Gerais das Asfixias, 47 Condutas a Seguir, 95
Sinais Anatornopatológicos Especiais das Asfixias, 47 À Guisa de Conclusão, 96
Bibliografia. 55 Bibliografia. 97

9 F.NERGIAS DE DIVERSAS ORDENS, 56


Jorge Pau/,efe Va11rell VII NOÇÕES DE TANATO LOGIA
Jntrodução, 56 14 NOÇÕES DE TANATOLO GJA, 101
Lesões por Meios Térmicos, 56 Jorge l'a11lf.le Vanrdl

Lesões por Pressão Atmosférica, 59 Conceito de Morte, 101


Lesões por Eletricidade. 59 Provas de Cessa~ão da Vida, 104
Efeitos da Eletricidade Artificial (Industrial), 60 A Morte Cerebral e os Transplantes de Órgãos. l05
Efe itos da Eletricidade NaLural. 61 Mecanismo da Morte, l 07
Lesões por Radiatívidade, 61 Fenômenos Cadavéricos, 108
Lesôes por Meios Químicos. 62 Cronotanatognose, 109
I .esões por Agentes Biológicos, 62 Bibliografia, l 13
Bibliografia, 63
15 HOMTCIDI O, SUICÍDIO OU ACIDENTE'!, 115
Jorge Pauleze Vanrell
IV O ESTUDO DAS MORDEDURAS Jorge Al( imidro Paulete Scuglia

10 O ESTUDO OAS MORDEDU RAS, 67 Introdução. 115


füiginaldu lnojusa Cameiro Campello A Forma de Apresentação do Cadáver, 116
Paloma Rodrigues Grnú
O Instrumento Utilizado, 116
Introdução. 67 Sinais de Violência no Cadáver. 116
Mecanismo de Produção das Mordeduras, 68 Características dos Feri menlos, 116
Técnica de Exame das Mordedun1s, 68 Lesõc." de Defesa. 118
Roteiro pará o Exame Sistemático das Mordeduras, 70 Espasmo Cadavérico, 118
Critérios para Identificação Através de Mordeduras, 71 Identificação da Arma. 11.8
Bihl iografia. 72 Exame do Acusado, l 19
Quadro Sin6ptico das Diagnoses Jurídicas da
11 LAUDO PERICIAL SOBRE MORDEDU RA, 73 Causa Mortis, l l 9
Jorge Pau/ele Vanrell
Bibliografia, 120
Modelo, 73
Laudo de Exame de Corpo de Delito Post-mortem . 73 VIII A SOBREVIVÊNCIA EM UM MUNDO
DIFEREN TE: O FÓRUM
V ESTOMA TOLOGIA DO TRABALH O E
16 PERÍCIAS E PERITOS, 123
INFORTU NÍSTICA Jorge Paulete Vanrell
,, 12 ESTOMATO LOGIA DO TRABALHO E Perícia, 123
INFORTUN ÍSTICA, 79 Bibliografia, 124
Jorge Pau/ele Vanrell

J. Estomatologi a do Trabalho, 79 17 DOCU1\fEN TOS ODONTOLE GAIS, 125


II. lnfortunística, 80 Jorge Panlete Vanrell
Bi bliografia, 82 Classificação dos Documentos Odontolegais . 125
Tipos de Documentos Odontolegais. l25
\·1 O PAPEL DO DENTIST A NA Notificação ou Comunicação Compulsória, 125
PREVENÇ ÃO DOS MAUS-TRATOS Modelo, 126
I~FANTIS Notificação Compulsória, 126
Atestado. l26
J _~ O PAPEL DO DENTISTA NOS CASOS DE Modelo, 127
'-1.-\.l"S-TR<\TOS JNl<'ANTIS, 87
· ·" F'.:11/ere Vanrell Atestado Odontológico, 127
Relatótio. 127
::>:~:·:: i.1~ Cri,tnças Maltratadas, 88 Modelo, 127
?- : -:·: . ~,,, -\utores dos f\faus-tratos, 89
Laudo de Exame de Corpo de Delito:
-:-·:::::.., j,,, \lous-tratos. 89
Lesão Corporal, 127
Conre,ído xvii

1. Preâmbulo, 127 IX RESPONSABILIDADE: O


li. Histórico. 127 ENVOLVIMENTO COM O DIREITO
Ili. Identificação. 127 CIVIL E O DIREITO PENAL
IV. Exames Realizados, 127
V. Resultados, 128 21 NOÇÜES ELEMt:NT ARES DE DIREITO. 151
Jm'fie Paulere Vanrell ·
VI. Discussão, 128
VII. Conclusão, 129 l. Introdução, 15 l
VIH. Respostas aos Quesitos Legais. 129 2. Nonnas Incidentes Sohre a Conduta dos
IX. Respostas aos Quesitos Específicos, 129 Profissionais. 152
Parecer. 130 3. Direitos e Obrigações, 153
Modelo, 131 4. Deveres do Profissional da Área Odontológica. 154
Parecer Odomolegal, 131 ... 5. Erros Profissionais. 155
1. Preâmbulo. 131 6. Da Culpa como Fundamento da Obrigação de
II. Exposição de Motivos, 131 Indenizar, 156
III. Consulta, 13 l 7. Da Relação de Causal idade entre a Conduta e o
IV. Exame e Discussão, 132 Resultado Danoso, 157
V. Conclusão, 132 -s. Natureza Jurídica da Responsabilidade do
VI. Respostas à Consulta, 132 Cirurgião-dentista. 158
Depoimento Oral. 132 9. Liquidação do Dano Odontológico, 159
Consulta, 132 Bibliografia, 159
Bibliografia, 132
22 A DOCUMENTAÇÃO ODONTOLÓGICA, 161
Jorf(e Pau/ele Vanrell
18 A PERÍCIA EM ODONTOLOGIA
LEGAL, 133 Introdução, 161
Ma,ia de l,ourdes B0rhorertU1 Campos A Documentação 4uc Deve Constar do Prontuário, 161
Introdução. 133 Código de Processo Ético Odontológico, 162
Ficha Odontológica para a Identificação Forense, 134 O Código de Defesa do Consumidor, 162
Sistemas de Numeração das Peças Dentárias, 134 O Conselho Federal de Medicina. 163
Formulário de Achados Dentais, 136 A Guarda das Informações, 163
Peculiaridades da Perícia em Odontologia. 136 A Relação Profissional/Paciente, 163
Valor Estético. Fonético e Mastigatório dos Parecer Técnico, 164
Dentes, 136 Tempo de Guarda do Prontuário Odontológico, 164
Bibliografia, 139 l. Prcâmhulo, 164
2. Legislação, 164
l9 ASPECTOS CLÍNICOS DO ERRO 3. Discussão, 165
ODONTOLÓGICO, 140 4. Conclusão, 166
Maria de Lourdes Borhorema Campos
5. Sugcstües, 166
-O que é Erro em Odontologia?, 140 Hihliografia, 166
Como Caracterizar a Culpa. 141
Freqüência dos Casos de Erro. 142 23 A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
À Guisa de Conclusão: Possíveis Causas do Erro, 142 .JURÍDICA E O CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR, 167
Bibliografia, 142
Ricardo Gariha Silva

20 A PARTICIPAÇÃO EM AUDIÊNCIAS: Generalidades, 167


O CIRURGIÃO-DENTISTA COMO Das Pessoas Naturais e das Jurídicas, 167
TESTEMUNHA, 143 Do Princípio da Autonomia Patrimonial. 167
Jorf(e Paulete Vanre/f
Desconsideração da Personalidade Jurídica -
Introdução, 143 Conceitos e Origem do Instituto. 168
Os Profissionais da Saúde e a Justiça, 144 Teorias da Desrnnsideração, 168
Como Sobreviver no Papel de Testemunha Aplicação das Teorias da Desconsideração, 168
Técnica, 144 Do Código de Defesa do Consumidor -
Os Objetivos dos Advogados, 146 Generalidades. 169
Os Truques Sujos, 146 Da Desconsideração da Personalidade Jurídica no
Bibliografia, 147 Código de Defesa do Consumidor, 169
u;ii Cn111eúdo

Aspectos Processuais da Teoria da 25 CONSENTIMENTO ESCLARECIDO NO


Desconsideração, 169 TRATAMENTO ODONTOLÓGICO, 178
Ricardo Gariba Silva
Bibliografia, 170
Requisitos do Termo de Consentimento
24 O CIRURGIÃO-DENTISTA E O CÓDIGO DO Esclarecido, 180
CONSUMIDOR, 171 Exceções ao Princípio de Necessidade do
Ricardo Gal'iba Silva
Consentimento. 181
Introdução, 171 Modelo, 182
Consumidor e f'omccc<lor, 171 Termo de Consentimento Esclarecido, 182
Produtos e Serviços, 172 Revogação, 182
Fornecimento de Serviços Gratuitos, 172 Bibliografia, 182
O Relacionamento Paciente/Profissional, 172
O Profissional, as lnfonnaçõcs e as 26 O CONTRATO DE HONORÁRIOS DE
Novas Técnicas, 173 PRESTAÇÃO DE SRRVIÇOS, 183
Ricardo Gal'íha Silva
As Pessoas Jurídicas Relacionadas com o Exercício da
Odontologia, 174 A Capacidade dos Contratantes, 184
Os Prazos para Reclamar, 174 A Licitude do Objeto do Contrato, 184
As Prátkas Abusivas. 174 A Forma do Contrato. 184
O Orçamento e o Contrato de Prestação de Serviços, 175 Modelo, 184
Rccomendaç<1cs Úteis.. 176 Contrato de Prestação de Serviços Profissionais, 184
Algumas Conseqüências, 176 Testemunhas, 186
Bibliografia, 176 Bibliografia, 186

ANTROPOLOGIA FORENSE

X ANTROPOLOGIA FORENSE 30 RUGOSCOPTA PALATINA, 212


Maria de Lourdes Borborema Campos
27 O PAPEL DA ANTROPOLOGIA FORENSE -
UMA INTRODUÇÃO, 189 Bibliografia, 213
Jorge Paulete Vanl'ell

Bibliografia, 191 XII TÉCNICAS AUXILIARES


31 TÉCNICAS AUXILIARES, 217
XI IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO .Jorge Paulete Vanrell

28 IDRNTIDADE F. IDENTIFICAÇÃO, 195'( Finalidades, 217


Jorr.e Paulete Vanrell ' Manchas de Saliva, 217
Identidade, 195 Manchas de Sangue, 218
Identificação, 195 Presença de Esperma, 218
Identificação Crinúnal. 196 Manchas de Esperma. 219
fundamentos da Prosopometria. 197 Manchas de Secreções Vaginais, 219
Fundamentos da Daüloscopia, 198 Bibliografia, 220
O Sistema Datíloscópico de Vucetich, 198
Bibliografia, 202 XIII OS PROCEDIMENTOS
CONVENCIONAIS EM
~9 OS ARCOS DENTÁRIOS NA IDENTIFICAÇÃO, 203 ANTROPOLOGIA DO CRÂNIO
\f,11·ia de Lourdes Borborema Campos

1-!.:ntitica<;ão pelos Dentes. 203 32 IDENTWICAÇÃO CRANIOMÉTRICA, 223


Maria de Lourdes Rorlmrnna Campos
E,x.::ic ~03
.::::-J:-..' Racial. 204 Introdução, 223
Pontos Craniométricos, 223
:..:_:-.a. .: 4 Estimativa do Sexo, 224
::-....::: .:;_,_::-1.:ide. 205 Estimativa do Grupo Étnico, 226
3:~:: r:::::.::.. .:11 Estimativa da idade, 230
Comeúdo xix

Estimativa da Altura, 231 Orientações para o Exame Antropológico Forense. 259


Bibliografia, 23 l Bibliografia. 260

33 DETERMINAÇÃO DA IDADE PELO EXAME XV A IDENTIFICAÇÃO PELO DNA EM


DOS DENTES, 232
Maria de Ú>urdes Borborema Campos ODONTOLOGIA LEGAL
Introdução, 232 35 IDENTIFICAÇÃO PELO DNA EM
A Erupção Dentária, 232 ODONTOLOGIA FORENSE, 265
.Jorge Paulete Vanrell
A Involução Dentária, 233
As Modificações na Mandíbula, 233 Introdução, 265
O Ângulo Mandibular. 233 A Molécula de DNA, 266
O Desgaste dos Dentes, 234 Glossário, 269
Bibliografia, 235 Métodos para Exame do DNA, 27l
A Responsabilidade do Odontolegista, 272
XIV AS PESQUISAS NACIONAIS EM DNA Salivar Recuperado das Mordeduras
ANTROPOLOGIA FORENSE Humanas, 273
Biblíografia, 274
34 ANTROPOI.OGIA FORENSE, 239
l.uís Carlos Cava/cante Galvão
XVI OS DESASTRES EM MASSA
Introdução, 239
Espécie, 240 36 OS DESASTRES EM MASSA, 279
Jorge Pauleie Vanrell
Sexo,240
A Metodologia Estatística. 241 Introdução. 279
Diagnóstico do Sexo pelo Exame Quantitativo Conceituação de Desastre, 279
do Crânio, 242 O Gerenciamento de um Local de Desastre, 280
Diagnóstico do Sexo pelo Exame Quantitativo O Gerenciamento de um Desastre, 280
de Vértebras, 246 A Participação da Odontologia Legal, 281
Diagnóstico do Sexo pelo Exame Quantitativo Protocolo de Trabalho do Odontolcgista em um Local
da Mandíbula, 247 de Desastre. 282
Diagnóstico do Sexo pelo Exame Quantitativo Check-list em Odontologia Forense Prática. 282
da Pelve, 248 Bibliografia, 283
Diagnóstico do Sexo pelo Exame Quantitativo
dos Ossos Longos, 249 APÊNDICES, 285
Úmero, 249 l. Regulamentação do Exercício da Odontologia no
Ulna, 250 Brasil (Lei N.º 5.081, de 24 de agosto de 1966), 287
Rádio. 250 2. Código de Ética Odontológica (Resolução
Fêmur (Cabeça do), 250 CF0-179, de 19 de dezembro de 1991). 289
Tíbia, 251 3. Consolidação das Normas para Procedimentos nos
Diagnóstico do Sexo pelo Exame Quantitativo Conselhos Regionais (Resolução CFO- 185, de 26
dos Ossos do Pé, 25 l de abril de 1993), 294
Tálus. 251 4. Código de Defesa do Consumidor, 328
Calcâneo, 251 5. CID-10 (Classificação Internacional de Doenças de
O Fen6tipo Cor da Pele, 252 Interesse Odomológíco), 342
Estimativa da Estatura, 254
Estimativa da Idade, 258 ÍNDICE ALFABÉTICO, 357
.. ·· .··.
. . .. . . . .. : . .

O CAMPO DA
ODONTOLOGIA LEGAL

•o.•••--,.,,...,,.._..,.,,,,,n•""•-•-..,-•••••••••-•••••••-,•-••Hoo., .. ,,,,,,,.,,,.,. ,,,...,,,......,,,,,..,,,,_.,, ....-••••.,•-••••••• ,,_.. ...- - - - - - - - - · " - ·


1

Conceitos e Noções Históricas


em Odontologia Legal
-·-·-······················-·-----·----·----
Jorge Paulete Vanrell

INTRODUÇÃO A DENOMINAÇÃO E O CAMPO


DE ATUAÇÃO
Não é possível estudar uma parte dissociando-a de um lodo.
Assim sendo, vê-se que não se pode estudar. digamos, oco- Luiz Lustosa Silva, Prolcssor Emérito paulista, de acordo com
ração sem examinar o resto do corpo: não se pode examinar o o entendimento aceito. nas Américas, foi o criador da denomina-
rim, sem analisar as mo<lificaçf>es que a sua disfunção tem acar- ção Odontologia Legal. Com efeito. o Prof. LL Silva é o autor
retado no organismo como um lodo. Algo análogo acontece com da primeira obra - sua "Odontologia Legal"-, publicada nos
a Odonlologia. idos de 1924, que refere à disciplina com esse título e estabelece
Com efeito, não há como negar que a Odonlologia é, de fato,
os plimeiros limites do seu campo de ação.
uma especialidade dcnlro da Medicina. Assim como o Outros autores nacionais, em seguimento. continuaram a usar
oftalmólogo examina, diagnostica, planeja e trata dos olhos e seus
citada designação que, destarte, se consolidou. Entre eles mere-
anexos; assim como o otorrinolaringólogo segue o mesmo ro-
cem destaque especial o Dr. Guilherme Oswaldo Arbenz. Pro-
teiro clínico para as orelhas, nariz e garganta; assim também o
fessor da Faculdade de Odontologia da USP, com a sua "Intro-
odontólogo que, a bem da verdade, deveria chamar-se estomató-
dução à Odontologia Legal'' ( 1959). A seguir, cm 1962, o ilus-
logo, estuda a boca, a arcada dentária e as peças que nela se in-
tre mestre baiano Prof. Dr. Waldemar Graça Leite. lançou a sua
serem, os dentes. além das partes moles, e até a articulação tem-
"Odontologia Legal". Por derradeiro, em 1997. foi o Prof. Dr.
poromandibular. Ratificando esse conceito, bastará deitar os
Moacyr da Silva, Titular de Odontologia Legal da Faculdade de
olhos sobre o ClD-1 O(Apêndice 5) que lista lodas as patologias
Odontologia da U.SP/SP. quem. comandando vasta lista de cola-
possíveis de citada região. Somem-se a isso, ainda, as manifes-
boradores. apresentou o seu atualizado "Compêndio de Odonto-
tações de patologias de oulros órgãos, sistemas e aparelhos que,
logia Legal".
a distância, rêm manifestações na cavidade oral e seus anexos.
A inclusão obrigatória da Odontologia Legal ou Odontologia
Acresçam-se, por derradeiro, aqueles casos em que se observam
Forense nos curricula mínimos de Odontologia. a panir de 193:!.
P,ato1ogias orais. sem qualquer etiologia aparente a embasá-las.
tem auxiliado a difundir o seu estudo entre os futuros profissio-
E a vasta e promissora área das docrn;as psicossomáticas de
nais. lnfclizmenle. estes nem sempre lhe devotam o interesse
manifestação estomatológica: alterações quanlítativas, do aspecto
devido, e só lembram de que existe logo na primeira \ cz que se
físico e do aspecto químico da saliva, distúrbios gustativos, trans-
dcfroncam com um problema na área judicial...
tornos pe1iodonlais, cáries. transtornos de má-oclusão, lm1ítose
A Odontologia Legal. pelo menos é o que pode parecer aos
etc. (Vianna, 2001. 2002).
menos avisados. tem três áreas pn.:cípuas de atuação, a saber:
Não podemos deixar de lembrar que isso já cxislc cm diver-
sofoi países, e.~. Portugal e Estados Unidos, onde os cirurgiões- );;- Exame diagnóstico e terapêutico, bem como avaliação dos
dentistas (e-.tomat<ÍlogosJ, de fato, são médicos especialistas. danos de maxila, mandíhula, dentes e tecidos moles da
Acompanhando a mesma linha de raeíocínío, é ccdíço que a hoca.
Odontologia Legal constituí. a rigor, um dos ramo!-. da Medicina » A identificação de indivíduos achados em investigações
Legal, com a qual colabora, fazendo ou complementando exa- crinúnais e/ou em desaslres em massa.
mes especializados relativos à arcada dentária e anexos; trata- ;.. A identificação. exame e avaliação de mordeduras que
memos executados; peças dentárias e/ou protéticas; vestígios da aparecem, com freqüência. em agressões sexuais, maus-
ação lesiva provocada por demes (mordeduras) etc. cratos infantis e em situações de defesa pessoal.
~ C,>11('(!i10s e Noçiks Hi.m5rh:as em Odontologia T,egal

Todavia seu campo de atuação é bem mais amplo. entre a última década do século XIX e o primeiro quartel do sé-
Por definição, a Odontologia Legal seria a disciplina que ofe- culo XX. cm acontccírnenlos que conLribuíram para que se fir-
rece à Justiça os conhecimentos da Odonlologia e suas diversas masse c pudesse mostrar a sua importância como auxiliar
especialidades. Nos Institutos Médico-Legais, o campo de ação inconteste da Justiça. Senão. vejamos:
é o mesmo da Medicina Legal, restrito à regionalização da cabe- Em 1897, em Paris, irrompeu violento incêndio no "Bazar de
ça e pescoço, abrangendo as perícias no vivo, no morto, nos es- la Charité", local freqüentado pela alta sociedade francesa da
queletos (ossadas). em fragmemos. trabalhos encontrados, peças época. Esse evento informnístico resultou na morte de aproxi-
dentárias isoladas e/ou vestígios lesionais. madamente uma cenlena de pessoas. Todas as vítimas morreram
Acontece que, afora os Instituto:- Médico-Legais. onde os carbonizadas e, af'inal, as cham:cs de que pudessem ser identifi-
odontolegistas. via de regra. têm a sua atividade mais atrelada cadas eram mínimas. A dificuldade ou impossibilidade de iden-
ao Direito Penal. os cirurgiôcs-dentistas podem auxiliar à Jusü- tificação. como é curial. acarretaria severos prohlemasjurídicos,
': .~·.
·,.
ça aLuanc.lo, ainda,junto üs Varas Cíveis e Trabalhistas, como será notadamente na esfera civil. Conforme os relatos históricos, o
visto no capítulo seguinte.
O Conselho Federal de Odonlologia, órgão normatizador
então cônsul do Paraguai em Paris lançou a sugestão de que se
solicitasse a colahoração dos Cüurgiões-Dentistas da Cidade Luz.
f1.,
. .
·::

máximo dentro da profissão. na Seção IV, da Resolução n.º 185. Afinal, as pessoas vitimadas pelo incêndio pertenciam à alta 1· ·
de 26 de abril de 1993 (publicada no DOU de 02.06.93), no arti- sociedade e, via de conseqüência, submetiam-se a cuidados ...

I
~

go 54. define os o~jctivos da especialidade, in verbis: odonlológkos e tratamentos de dentístíca. Esse procedimento,
rapidamcnlc esposado pelas auloridades, possibilitou que fossem
A1t. 54. Odontologia Legal é a especialidade que tem como idcnlil'icados.cm lomo de 90'n dos corpos carbonizados. É ine-
objetivo a pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, quími- gável que esse resultado. além de animador, fo1taleceu bastante
cos e biológicos que podem atingir ou ter atingido o homem, a credibilidade e confiabilidadc dos métodos da Odontologia
vivo, morto ou ossada. e mesmo fragmencos ou vestígios. re- Legal como auxiliar na identificação.
sult,mdo lcsf>es parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis. Em 1909. o Consulado da Legação Alemã em Santiago do
Chile foi consumido por um voraz incêndio, de aspecto cri-
Parágrafo único. A atuação da Odontologia Legal minoso, que destruiu boa parte do prédio. Quando os bombei-
restringe-se a análise. perícia e avaliação de eventos relacio- ros procediam ao rescaldo das ruínas. foram ennmtrados res-
nados com a área de competêm:ia do cirurgifto-dentista po- tos de um corpo que, ap<Ís as primeiras tentmivas de identifi-
dendo. se as circunstâncias o exigirem, estender-se a oulras cação, pareceria pertencer a Wí lly Guillermo Bccker, Secre-
áreas. se disso depender a busca da verdade. no escrito inte- tário do Consulado, que estava desaparecido. Foi solicitado o
resse da justiça e da administração. auxílio do Círurgião-Dcnlista Germán Valcnzuela de
Basterrica. o qual. após percucicnte exame. provou cientifi-
Jl.íât> se deve pensar 4ue a Odontologia Legal. ainda 4ue rotu- camente que os restos mortais não eram do funcionário do
lada com qualquer outro nome, desde os seus primeiros passos, Consulado. ames do porteiro da Representação Diplomática.
f'oi sempre igual à fom1a com 4ue se apresenta hoje cm dia. Ezequiel Tapia. A partir desse momento, começou a busca do
Secretário desaparecido, que acabou sendo capturado ao ten-
tar atravessar a fronteira Chíle - Argentina, usando disfarce
A ODONTOLOGIA LEGAL NOS de padre. Willy Guillermo Becker f'oi julgado e enforcado em
julho de 191 O. Os resultados obtidos impressionaram tão po-
SEUS PRIMÓRDIOS sitivamente as autoridades que concederam ao Dr. Gennán
Valcnzucla de Basterrica. como recompensa, a aprovação do
O registro mais anligo, isto é, a primeira publicação ofici- projeto de criação de uma Escola de Odontologia no Chile.
al na qual a Odontologia Legal foi caractcrízacla como uma Conforme relata Sousa Lima (comunicação pessoal), ainda
ciência capaz de auxíliar à Medicina Legal, data de 1898 e é exístc. no saguão da Faculdade de Odontologia de Santiago,
da lavra de Oscar Amoedo, dentista, cubano de nascimento e "um nicho onde repousa o cn1nio semicarbonizado de Ezequiel
radicado na Cidade Luz. e l'oi publicada em Paris, que. ü épo- Tapia", testemunho silencioso da importância que teve tanto
ca. era considerada como o ''centro mundial do conhecimen- para a Justiça quanto para a Odontologia chilena.
to científico". Todavia, o termo Odontologia Legal não tinha Em 1912. o cransatlâmiw "Titanic" naufragou. duranlc a sua
sido cunhado (como vimos. apenas o foi em 1924). e Amoe- viagem inaugural, após chocar-se contra um iceberx. Ao todo,
do, i1 época, usou o termo "Arte Dentária". É uma das primei- dos 2. 200 passageiros que transporlava, 1.513 foram a óbito.
ras obras que exibem radiografias - técnica bastante "mo- Ao serem recolhidos diversos corpos. mesmo alguns recupera-
(krna" c novedosa, à época ·-, mostrando uma panorâmica dos algum tempo depoís, começou o drama da identificação dos
dl· uma mandíbula de adolescemc, de muito boa qualidade, cadáveres, para as devidas implicações de direito. Muitos des-
ma~ que, não se dispondo da aparelhagem atual, foi montada ses corpos foram reconhecidos através do exame das arcadas
por segmentos. dentálias.
O trahalho de Amoedo foi de um valor inestimável. porquan- Na década de 1940, durante a 2." Guen-a Mundial, navios hra-
to ahriu o caminho para a novel disciplina. çSLabelecendo, desde si leiros que transportavam soldados foram torpedeados, ao que
,, ~L·u hL·r,~·o. o liame fundamental entre a Ciência Odontológica se supf>e, por quatro submarinos alemães. Mais uma vez. a iden-
e' 11 Direito. a primeira no auxílio do segundo. tificação odontolcgal, usando as arcadas dentárias do cadáveres,
É fato ele sobejo conhecido que, ainda que a evolução técn.íco- foi um subsídio decisivo, de grande utilidade.
-:iL·ntífo.:a <.e faça em um "crescendo" exponencial_ sua curva, Acontecimentos dessa espécie, pela sua extensão e repercus-
kingc de ser ~unve. apresenta sallos. Fatos marcantes, tragédias são inLcmacionaL ainda que puntiformes e esparsos no tempo.
, ign iticat i, as. grandes contlítos armados, parecem impcl ir a van- firmaram, de forma inquestionável, a importância da Odontolo-
,;o, bruscos. Também a Odontologia Legal viu-se envolvida. gia Legal no cenário científico moderno.
Conceitos e Noçiies Histórir.as em Odo1110/ogía Legal 5

histologia dentária. na estimativa de idade de restos ós~cos não


A ODONTOLOGIA LEGAL NOS identificados.
TEMPOS ATUAIS A necessidade de poder conhecer a identidade de origem de
ossos esparsos (inclusive crânios) ou ossos misturados. como
acontece no achado de valas comuns ou cemitérios clandestino~.
H não mais carecendo <le demonstrações grandiloqüentes ou
de acontecimentos fatais de grande envergadura, a Odontologia levou a desenvolver procedimentos de natureza analítica. Den-
Legal tem continuado a oferecer seus préstimos à Justiça. fazen- tre esses métodos, a análise da relaf.;iio proporcional de certos
do-o mais no dia-a-dia, na labuta silenciosa <los gabinetes dos metais tem se mostrado aplicável como critério de classificação.
TMLs ou de institutos congêneres, sem que. contudo. os nomes É o caso, por exemplo. dos índices magnésio/zinco (que é o
dos denodados cirurgiões-dentistas apareçam nas manchetes. na melhor), zinco/sódio, magnésio/sódio e cromo/sódio (que podem
complementar ao primeiro). É óbvio que esse procedimento com-
mídia. nos lablóides do quotidiano. E isso até que nem é neces-
plementar não deve substituir os métodos antropológicos con·
sário, porquamo o profissional que se embrenha no cipoal da
Justiça deve cumprir a missão que lhe foi cometida sem preocu- vencionais, antes <leve complementá-los.
A sorolvgia .forensi\ como não poderia deixar de ser. já foi
par-se com o reconhecimento do seu trabalho.
At.ualmcntc: para casos problemáticos de idenlificação, o aplirnda em pesquisas odontolcgais. Trabalha-se com as polpas
odontolcgista conta com uma série <lc subsídios que não existi- dcnlürias, onde podem ser caractcriLados os grupos sangüíneos do
am a começos do século XX, quando tudo era feito de maneira Sistema ABO, as proteínas sérica~ Gm, Km e Gc e, pelo menos.
oito enzimas polimórficas: PGM. PGD. ADA, AK, EsD, Fuc.
quase que artesanal.
Com efeito, hoje cm dia conta-se com tecnologia de pont;, DiA3 e transfenina. Puhlicações recente-. exibem métodos sim-
plificados para a identificação fenotípica da alfa-2-HS glicoprote-
de acesso relativamente fücil. mesmo que nem sempre exista nas
dependências públicas cm que se desenvolvem as perícias. Nes- ína. tanto cm soro como cm polpa dentária. Mesmo na atualidade,
em que as técnicas i.orológicas t.êm sido um tanto quanto desloca-
~a linha podem utilizar-se:
das pdo exame do DNA. há de se considerar que. em muitos ca-
, estudos de raccmizaçâo de aminoácidos. notadamcnte do sos, notadamentc para desastres cm massa, quando o acesso às
ácido aspárlico: pesquifias de DNA não é fácil ou tem longas filas de espera, o que
>" estudos histológicos das estrias de Retzius (linhas de ten- implica um retardo significativo cm face dos desdobramentos ju-
são) e das linhas de deposição: rídicos de uma identificação tardia. ainda os métodos sorológicos,
', microscopia eletrônica de varredura, com ou sem análi-.e mais difundidos, mais simples e mais fáceis de realizar em laho-
de difração de rnios X: ratórios menos sofisticados, podem ser de grande utilidade.
'r análise comparativa de proporções de metais em ossos e Para o trarado dos perfis de DNA, para um mínimo de 16 /ocí,
dentes; utilizando procedimentos como a análise dos polimorfismos dos
', estudos sorol6girns para tipagem sangüínea, proteínas sé- fragmento~ de restrição (RFLP) e. quando La) não for possível,
ricas e polimorfismos enzimáticos; face à degradação do DNA, poderá utilizar-se a reação cm ca-
>" análise <lo perfil de DNA. deia da DNA-polimerase (PCR) para amplificar áreas específi-
Os estudos de racemiz.arão de amínoâcído:;. técnica usada cas de fragmentos. de modo a possibilitar o exame (ver Cap. 35 ).
há mais tempo cm paleontologia, têm se mostrado útil, em es-
pecial o ácido aspártico, que é um integrante da dentina. tem
sido utilizado para estimar a idade. Sabe-se que a maior parle A PREPARAÇÃO PARA O EXERCÍCIO
<los aminoácidos que compõem as proteínas do corpo são do
tipo óptico L-aminoácidos, ao passo que os O-aminoácidos se DA ODONTOLOGIA LEGAL
encontram nos ossos, <lentes. cérebro e cristalino do olho. Os
D-aminoácidos são considerados possuidores de um baixo A Odontologia Legal. que até há alguns anofi não passava de
turnover metabólico e, conseqüentemente, um baixo índice de uma ulopia do-. sonhadores, ou de uma visão de contornos difu-
decomposição. O ácido aspártico é o aminoácido qu<i tem o sos. aos poucos foi fie consolidando. cristalizando-~c através da
maior índice de racemizarão. Foi demonstrado, que comparan- orientação de mestres incansáveis e de Serviços que acreditaram
do os índices D/L-ácido aspártico nos dentes, é possível ter uma cm uma nova especialidade dentro da Odontologia.
boa estimativa da idade das pessoas. Os valores mais elevados Assim, começaram a ser ministrados Cursos de Especializa-
do índice D/L foram ohservados cm pessoas mais jovens, sen- ção, sendo os mais tradicionais o da Faculdade de Odontologia
do certo 4uc os mesmos índices diminuem com a idade, quiçá da USP, cm São Paulo, orientado pelos Professores Doutores
por cau:c;a de fatores ambientais. Esse método se com,titui na Moacyr da Silva e Dalton Ramos; o da Faculdade de Odontolo-
tecnologia mais acurada de determinação da idade. quando gia da UFRJ. no Rio de Janeiro, dirigido pelo Prof. Dr. Sérgio
nllnparado com os métodos convencionais. Augusto Wanderley Pinto Oliveira: e o da Faculdade de Odon-
O estudo histológico das estrias di' Retz.ius, descritas cm 1837, tologia da UNICAMP, em Piracicaba (SP). orientado pelo Prof.
que se observam no esmalte dos dentes e que representam o efeito Dr. Eduardo Daruge, onde já se conta com os nh eis de Mestra-
de fatores tensionaís sobre os prismas, pode ser utilizado do e Doutorado. Outros estão em fase de planejamento e progra-
roborando os padrões de erupção, pelo menos cm populações mação, sendo certo que. ~m Alagoas e ~m Y1ínas Gerais (BH-
jovens. Algo análogo pode ser obt.ido com o número das linhas Itaúna), já est.ão programados em nível de Especialização.
de deposição do cemento dos dentes humanos, que apresentam E pode-se perguntar: por que será necessário um número tão
correlação positiva com a idade. Existe a ressalva. apenas. de que elevado de odontolciústas'!
a aderência é menor para as amostras de idades mais avançadas. Ú que. em que pc;e a opínifto popular de que os odontolcgis-
A confaf,iem microscôpica de sistemas de Havers ou Ofiteo- tas apenas limitam suas perícias a exame de carbonizados (aci-
nas, cm osso cortical. aplicada a sccç<'ícs por desgaste da man- dentes) e/ou de cadáveres vítimas. p. ex .. de acidentes cm mas-
díhula, já foi reconhecida de utilidade, cm combinação com a sa, esta não é a realidade.
6 C011ceiros e Noçàes Hisrórica:; em Odomulugia Le.gal

Com efeito, além das possíveis atividades já elencadas em Muito embora essa possa parecer uma hipótese sedutora, como
parágrafos precedentes, ainda pode acontecer a participação do forma de minimizar os transtornos que o profissional poderia vir
cirurgião-dentista e. melhor ainda, do odontolcgisra nas ativida- a sofrer, a verdade é que pouco resolve, já que, por um lado, os
des forenses. fora dos limites dos IMLs e Institutos congêneres, cirurgiões-dentistas, sentindo-se "protegidos" pelo seguro, não
na função de Peritos ou de Assistentes Técnicos, cm casos da área teriam tanta preocupação em manter sua atualização técnica, ci-
cível, ísto é, civil e trabalhista. entífica ou, mesmo, de procedimentos que caractc1izam o padrão
Observam-se elementos como: mínimo exigido para o exercício profissional. Por outro lado,
• Profissíonais com formação heterogênea, oriundos de es- quando um cliente sabe que o seu dentista tem um polpudo se-
colas que têm proliferado indiscriminadamente, que. com guro, sentir-se-á mais disposto a promover uma ação por mala
prevalência acima do nom1al, cometem erros (culposos. é praxis, no intuito de se locupletar ilicitamente, com a certeza de
claro, não-propositais, mas os cometem); que não prejudicará demaís ao profissional. na medida em que
• Pacientes descontentes. até nem tanto com os maus resul- este terá a cobertura da seguradora no res~arcimento.
tados quanto pelo desajuste ou pela quehra da relação pro- O problema afigura-se-nos um tanto diferente, porquanto, no
fissional - paciente; nosso entender, é mais de formação que de resultados, apena!\.
• Situação econômico-financeira do entorno, que exacerba O importante é que o cirurgião-dentista, quando aluno e, depois,
a susceptibilidade para quaisquer perdas, ainda que míni- quando graduado, invista na sua formar;ão, atualização perma-
mas, que os erros possam sígnificar. nente e aprimoramento, e na conscientização de sua ativiaade
como profissional da saúde. O dilema não é como safar-se de um
Pois bem, esse já um caldo de cultura pronto para que as problema judicial, ames como não dar azo para que esse proble-
propositw·as das ações por mala praxis eclodam. ma se instale ou, se o for. que não seja pelo que tange à paite
A melhor prova é a quantidade de processos abertos con- técnico-científica ou ética do profissional.
tra profissionais que hoje se aeu~nulam nos CROs, foros ci-
vis, criminais e até trabalhistas. E o sentimento dos profissi-
<mais e professores mais experientes, de Mestres como o Prof.
Dr. Jorge de Sousa Lima e a Prof.• Dra. Anna Astrachan. no BIBLIOGRAFIA
3.º Encontro Científico acontecido no Rio de Janeiro (Rio
Centro, 2001 ), que o novel cirurgião-dentista teria de ser mais Abreu, H.T. Medicina frguf Aplícada à .!\ne De111ária. Rio de Janeiro:
bt;m protegído, mercê às orientações que deveriam rêceber, F..<l. Francisco Alves, 1936.
ainda durante o Curso de Graduação, justamente na discipli- Amoedo, 0.1:Arr Denluire em Médecine Legal. Paris: Masson & Cic..
na de Odontologia Legal, o que, infelizmente. nem sempre 1898.
acontece. Arbenz, G.O. lnrroduçlio à Odomologia Legal. São Paulo: F..dição do
Autor, 1959.
Por outras palavras, quando o cirurgião-dentista está adequa- Briiíon, N.N. Oduntulogía /.,egal y Prâctica Forense. Buenos Aires: Lív.
damente preparado, a probabílidade que tem de ser alvo de um A., 1983.
processo desse tipo é pequena. Todavia, quando se trata de um Corrca. R.L E.womarologia Forense, 5." cd. México: Trilías, 1990.
profissional cuja atuação é inadequada para os padrões exigidos Flern;r, E. En.fc,que Crímina/ísiico de la Estomaro/ogía Forense. Cuba:
pela técnica, pela ciência e pelos preceitos éticos, realmente suas sem tlados, 1994.
chances <.erão bem maiores. Gustafson, G. f'orensic Odonwlogv. Londres: States Prcss, 1976.
Isso tem feito crescer o interesse por seguros de Respon- Leílc, W. G. Odo1110/ogia Legal, Salvador. Ed. Nova Era, 1962.
sabilidade Civil que acenam com a cobertura financeira dos Pefialver, J. Odo11tologiu Legal y Deontologica. 1." cd. Cara(;as: Ed.
Continente, 1955.
profissionais segurados, caso eles venham a sofrer condena-
Peiíalvcr, J.O. Odontologia l.ega/, lJeontologia Odontoló8ica, 2.• ed.
,·ões judiciais em pecúnia (indenizações, reparações de danos Vene:wela: Ed. Continente. 1981.
etc.) em casos de lesões corporais, de danos materiais ou de Silva, L.L. Odontologia Legal. São Pauk1: Editora Mctodísta, 1924.
danos morais. Silva, M. Comµê11dio de Odontologia Legal. Rio de Janeiro: MEDSl, 1997.
2

A Odontologia Legal e Suas


Relações com o Direito
................,.,...._.._..,,..
,,... _____
Jorge Paulete Vanrell

nas verbal, ou à emissão de singelos "Atestados" ou


INTRODUÇÃO "Declarações''.
+ Acredita que o Direito é uma ciência cm extremo complí-
Considera-se que a finalidade prccípua da Odontologia Le- cada - afinal, ele sempre se preparou para uma área téc-
gal seja a aplicação dos conhecimentos da ciência odontológica nica - e que, de um modo ou de outro, sempre u·ará pre-
a serviço da Justiça. juízos econômicos, quer por obrigá-lo a ausentar-se por
:-.ra realidade. essa com:eituação apresenta contornos bastan- longos períodos do seu consultório, quer por acenar-lhe
te nebulosos, talvez até pela falta de difusão da disciplina e, via com a possibilidade de ter perdas financeiras, quando co-
de conseqüência. cio conhecimento da real extensão do seu cam- locado na posição de réu.
po de ação.
Com efeito, fazendo um questionamento genérico sobre o É obvio que, conquanto muitas das razões alevantadas pos-
campo de ação da Odontologia Legal, suas finalidades e sua uti- sam ser verdadeiras, o que mais existe é pouca informação e
lidade, mesmo entre profissionais, invariavelmente, ohtcr-se-iam comunicação a respeito. Associa-se isso, cm muitas escolas su-
respostas que apontariam para: periores, à conivência com docentes improvisados, ora pela fal-
ta de formação jurídica, ora pelo interesse em não comprometer
+ Trabalhar como odontolegísta cm um Instituto Médico sua imagem com a emissão de juízos de valor, ora, enfim, pela
Legal (lML).
tendência comodista - "laissez faire, laissez passer'' - de
+ Ser testemunha no fórum ou no CRO, por solicitação de
quem pontifica em uma disciplina com carga horária exígua e
colegas.
considerada. por muitos, apenas complementar na formação do
+ Atuar junto aos advogados, cm casos de erro odontológi-
co de outros colegas. profissional.
+ A Justiça é algo muito complicado, e é preferível manter- Acreditamos, pois, que o que realmente falta é vontade de
se sempre longe dela. compreender os objetivos mais específicos dessa inter-relação
envolvendo a Odontologia e o Direito. Quer nos parecer que a
Esta estreita gama de respostas pareceria mostrar que o cirur- melhor forma de suprir essa carência é escancarar para o futuro
gião-dentista: profissional esse vasto campo de ação. O conhecimento cabal do
+ Tem uma visão utílítária da Odontologia Legal. uma vez mesmo é a única fonna que acreditamos seja apta a possibilitar
que tâo-someme a cogita como forma de tomar-se funcio- que o aluno, aos poucos, crie o seu espaço e estabeleça os seus
nário público de carreira. limites, respcilc e ensine a ser respeitado na sua especialidade.
+ Sente o peso da obrigatoriedade de comparecer no fórum Dois ramos do Direito parecem ter maior difusão entre os
e participar de audiências ou outras atividades forenses, ou, profissionais, como campos de inter-relação obrigatória da Odon-
pior ainda, ter que aparecer no ConseJho Regional de Odon- tologia: o Direito Penal e o Direito Civil. E. mesmo dentro des-
tologia, para depor, por mero coleguismo. tes, com campos de ação que parecem bastante limitados.
+ Vê a possibilidade de uma fonte de ganhos, erigindo-se Quiçá isso seja uma conseqüência, tão-somente, de uma fa-
e.orno assessor dos advogados. quer como acusador, quer lha de informação ou de uma falta de imaginação sobre os reais
i.:omo defensor, nos casos de suposta mala praxis pro- campos de atuação do cirurgião-dentista ao se relacionar com as
fissional de outros colegas. Todavia, limitando a expo- diversas áreas do Direito. Com efeito, e sem pretendermos ser
siçào de sua participação. se possível, à orientação ape- exaustivos clencaremos, a seguir, as principais inter-relm,:ões:
'f ..:, .-- ·. ·.;: :_; L.: ;:_;l, S,,.;., Rd<1r1i<'s com o Direito

e autêntico, mas cujo conteúdo não se coaduna com a verdade.


CO:\·I O DIREITO PENAL isto é, é falso.
O cirurgião-dentista, em casos desse jaez, pode ser solicitado
O ..: 1rurgiào-dentisca, odontolcgista ou não, poderá ser solíci- para constatar a veracidade ou congmência dos fatos odontoló-
:.;J,:, em .:asos de: gicos narrados no documento, com a queixa ou com a clínica
e:xihida pelo paciente.

:,. Imputabilidade
(verificação da idade) (art. 26 e seguintes do CP) >" Falsidade de Documento Público/
A detenninar;ão da idade é fator fundamental para verificar a Privado
imputabilidade do agente no cometimento de um crime e no seu ( arts. 300 e 301 do CP)
apenamento. A maioridade penal, até há pouco considerada a part.ír
dos 18 imos e agora reduzida para os 16 imos, tem de ser cabalmen- A falsidade se caracteriza rnmo a apresentação de fatos dife-
te demonstrada como pressuposto processual. Via de regra, a carac- rentes daquilo que eles são na realidade. O instrumento cm que
terit.ação etária se dá em furn;âo da certidão de nascimento e/ou dos tais fatos mentirosos ou falsos são lançados, tanto poderá ser um
documentos que dela se originam ou nela se cmhasam, como a documento público como um documento privado (e{. Cap. 17.
Cédula de Identidade policial. É curial, entretamo, que um adoles- ''Documentos Odontolegais'").
cente infrator, principalmente quando de corpo franzino e de haixa A falsidade material de documento público ou privado pode
estatura, não entregará sua Cédula de Identidade para demonstrar a acarretar a falsificação, por exemplo. da assinatura do suposto
idade. antes tentará fazê-la desaparecer, alegando a falta de docu- emitente. É o que acontece quanuo a funcionária (recepcionista,
mentos. A partir de entfüJ, não dispõe a Polícia Judiciária de outra auxiliar de consultório etc.) de uma clínica se apropria de folhas
forma de caracterizar a idade que não seja através do processo de do receitmfrio ou do hloco <le atestados, retira algumas folhas e
ossificação metafisária, por meio elos raios X, e das fases de minc- as preenche, imitando a assinatura do profissional. apondo o seu
rali:tação e de erupção dentária. É jm,tamente nesse ponto que a carimbo para aumentar o ar de crcdihilidade.
Odontologia concorre com os seus préstimos. podendo, com uma O cirurgião-dentista, na função de perito, terá, quando cha-
margem de e1To assaz pequena, detem1inar a idade do agente. mado. que esclarecer à autoridade requisitante a falsidade técni-
ca do conteúdo documental, no que tange à Odontologia e suas
especialidades. bem como examinar os wgistros odontológicos
)o' Lesões Corporais (prontuários) do emiLentc, para ver o que deles consta em rela-
(an. 129 do CP) ção ao suposto paciente e se existe arquivada a cópia ou segun-
da via do documento.
Na oconência de lesões cmporais que atinjam a região oral.
os elementos da cavidade bucal, a região têmporo-mandihular e
o pescoço, muito embora o médico legista possa fazer o exame ;.., Atestado Médico Falso
na ausência de um odontolcgista, é obvio que a pessoa maü, in-
(art. 302 do CP)
dicada para fazê-lo seria o cirurgião-dentista. Vê-se. mai~ urna
vez, que o estomatólogo terá também esse campo de ação e a Muito embora o caput do artigo refira, especificamente a
Odontologia contribuirá com essa seara do Direito Penal. médico. a torrente jurisprudcncial dominante tem estendido sua
aplica~·ão para os cüurgiões-dcntistas. Trata-se de um caso de
fabüdade qL1c se torna mais grave na medida em que seu execu-
,, Estelionato tor é um profissional uni vcrsitário, e se destina a um fim especí-
(art. 171 do CP) fico, que é o do usuá1io tirar algum proveito ou vantagem ilícita.
Corresponde ao fornecimemo. pelo profissional. de declaração
O crime de estelionato (do !ai. stelio-onis. camaleão) é tipifi- atestando um fato odonto16gico com repercussão administrati-
cado pela fraude, pelo embuste do agente, que ilaqueia, median- va, e trata-se de uma afirmação menúrosa.
te ardil. a hoa-fé do cliente. Assim. o profissional pode prometer O cirurgião-dentista ~cní requisitado para verificar se o paci-
(e cohrar. como tendo feito) uma ponte móvel em ouro, por exem- ente que recehcu o atestado apresenta a patologia relc1ida nomes-
plo. entregando para o cliente uma ponte feita. apenas, de um mo e se. no seu prontuário odontológico, c-;tá arquivada a cópia
metal amarelo, de custo inferior. Enquanto não se caracterizar ou segunda via do atestado. Essa constacação, desde que gozando
qL1c. realmente. referido melai não é ouro, não estaní provada a de fé pública. se constitui na prova da mat.erialicladc do/ai.mm.
materialidade do crime e, desde logo. a típílícaçiío do ilícito.
O cirurgião-dentista. funcionando como perito, pode ser so-
li~·itado para avaliar o tipo de trabalho realizado cm um pacicn-
k'. hem como os materiai~ utilizados. Es~a perícia torna-se ne- COM O DIREITO CIVIL
.:.:.,sJriu para ver o grau de congniência e de verossimilhança entre
,1, anolaçües no prontuário odontológico. a versão passada para O círurgião-dentista, odontolegí~ta ou não. poderá participar
.·, J'~H:il~ntc e a realidade constatada in loco. na análise de:

-, Falsidade Ideológica ;;.- Capacidade


(art. 299 do CP) (art. 6.º e/e arts. 154 a 156 do CC)
. \ labiuade ideológica rnmpreende o crime em que o agente A determinação da idade é fator decisivo em termos de de-
, 1frr~·,.;(: um documento que é estrutural ou formalmente correto terminação da capacidade civil Ja pessoa e dos atos por ela
.4 Odontologia Legal e Suas Rdarnes com o Direilu 9

pratícados, conforme determinam os artigos 154 a 156 do Es-


tatmo Substantivo Civil vigente. A maiori<la<le civil só se com- COM O DIREITO PREVIDENCIÁRIO
pleta aos 21 anos (arl. 6.º. Ido CC). sendo certo que. a partir
dos 16 anos e até os 21 anos, a incapacidade é relativa e, abaixo O cirunzião-dentistu, odontolegísta ou não. poderá funcionar
dos 16. a incapacidade é absoluta. para a prática de quaísquer como perito em casos de:
mos da vida cívil (art. 5.0 , 1 do CC). O documento legal a ca-
racterizar a idade é a certidão de nascimento expedida pelo
Canório de Registro Civil cm que se efctl1<n1 o regístro do nas- ~ Concessão de Benefícios
cimento e/ou dm documentos que dela se originam. como a O Sistema Previdenciário dispõe de uma séríe ele benefíci-
Cédula de Identidade policíal. Na ausência dessa documcn-
os socioeconômicos que visam a minimizar o sofrimento e/
ta1.;ão. soh qualquer alegação, a forma de caracterizar a idade
ou a incapacidade do acidentado, nota<lamenLc com a consc-..
se bascía cm exames do estágio do desenvolvimento corporal
cução de proventos alimentares nas suas vá:ias modalid~dcs.
que têm seus resultados tabulados. Isto pode ser feito anali-
Na avaliado de citada incapacidade do acidentado, o c1rur-
sando o processo de ossificação mctafisária ou dos ossos do gião-denti,sta pode ser chamado a realizá-la. Esses ~cnefíci-
carpo. por meio dos !aios X. e das fases de mincral.izaç~~ e
os, que incluem os a seguir clencados e omros que toram re-
de erupção dentária. E justamente neste ponto que o cuurg1ao- tirados do rol por serem inaplicáveis à espécie, nem sempre
dcntista poderá funcionar como perito, de modo a poder de-
podem ser considerados integralmente aos limites do ca1!1Pº
terminar a idade do indivíduo, com uma margem de erro as-
da Estomatologia. Dcstarte, sua interpretação deve ser cuida-
saz pequena. dosa. somente pinçando aquilo que possa interessar como
componente ou hasc odontológica:
>" Identificação Individual • Auxílio-doença (importância que é paga ao segura~o,
(art. 1Oe/e 481 e 482 do CC) mensalmente. cnquamo padece de uma doença que o im-
pede de trabalhar, e até a resolução. quer pelo restabeleci-
Juan Cbaldo Carrea. da Argentina, dizia, quando interpelado mento. quer pela aposentadoria por invalidez. Seu valor
a respeito da importância da Odontologia na identifica~ão: equivale a um percentual - cm wmo de 70% - do que o
•· Dadme un dieme; yo fijaré la versona." Esta é uma das fun- trahalhador recebia quando cm alividade. antes de adoe-
ções precípuas e univcrsahnentc aceitas da OdonLologia Lega!, cer). Aplica-se a m(1sicos de instrumentos de sopro,
mui Lo antes mesmo de que recebesse tal nome, dada a sua possi- sopradores de vidro. canLores etc., quando desenvolvem
bilidade. quer através do estudo dos arcos dcnLários. quer dos quadro patológico que atinge a boca e seus anexos. parte
trabalhos de dentísúca e de prótese realizados nos dentes. de re- inferior da face e superior do pescoço.
alizar a identificação precisa de uma pessoa viva ou de restos + Auxílio-acidente (importância que é paga ao segurado,
mortais ((j: Caps. 29 e 36). mensalmente, enquanto se recupera de um acidente que o
impede de trabalhar em plenitude, e até que se encontre
apto a reintegrar-se ao mesmo trabalho ou a .um outro d~
)"' Avaliação do Dano nas Indenizações mesmo nível ou de nível inferior de complexidade. ou ate
(arts. 159 e 1.545 do CC) fazer jus a aposentadoria por invalide;,. acidentária. Seu
valor ~qui vale a 100% do que o trahalhador recebia regis-
Nas ações indenizat<írias ou de reparação de dano - materi-
trado à data do acidente). Aplica-se a cantores, músicos de
al, estético, fonético e/ou funcional-, na área cível, a avaliação
instrumentos de sopro. sopradores de vidro etc., quando o
da extensão do mesmo deve ser feita ou tem que contar com a
trauma acídentário atinge a hoca e seus anexos, pa11e infe-
participação de um cirurgião-dentista (de preferência odontolc-
rior da face e superior do pescoço.
gista, se tal profissional for acessível na Comarca). Esse profis-
sional é o único que poderá afirmar, cm grau de certeza. o '·an
+ Aposentadoria por invalidez (importância que é paga
mensalmente ao segurado, que se encontra inválido, i.e..
dehl'llfl1r·· que servirá para o Magistrado cmhasar seu decisório
inapto para qualquer tipo de trabalho. Quando essa
sobre o ·'quantum debea111r·.·.
invalidez decoffcu de acidente de trabalho. fala-se cm apo-
sentadoria por invalidez acidentáría. Seu valor cm geral
sempre é menor do que o u·abalhador recebia registrado à
COM O DIREITO PROCESSUAL data do acidente, porquanto o cákulo se faz com base na
média dos salários de um período: atualmcmc. os último~
(CIVIL E PENAL) 36 meses).
O cirurgião-dentista, oclontolcgista ou não, poderá manifes-
+ Ahono especial ll3." salário! (importância que é paga ao
segurado já aposentado, uma vez por ano. na época das
tar-se em casos de:
fcsLas natalinas - donde o nome inicial de .. Abono de
Natal" - e cujo valor é próximo ao que recebe mensal-
mente cm virtude da aposentadoria).
;;;- Identificação Individual • Assistência odontológica (prestação da assistência odon-
(j. supra . ..Com o Direito Civil". Identificação Individual. tológica básica: extraçôes, moldagens e trabalhos de pní-
tcse totais, padronizados). .
+ Reabilitação profissional (inclusão do trabalhador aciden-
tado em programas de reaprendizado ou de aprendiz~cl~ de
};> Capacidade Processual novas profissões, compatíveis com as seqüelas morlotun-
Cf supra. "Com o Direito Civil". Capacidade. cionais exihidas. de modo a adquüir outra atividade que.
1O A Odo11tnlogia l.ega/ e Suas Relaçõe.s com o Direito

complementada com o auxílio acidente, lhe garanta a sub- Adquire o pacieme produtos quando. por exemplo, compra
sistência). próteses, placas miorrelaxantes, aparelhos ortodôntícos, docu-
• Próteses e órteses (programa que cobre a aquisição e adap- mentação fotográfica e/ou ortodôntíca, implantes etc.
tação para o uso de peças mecânicas ou eletromecânicas Por outro lado, adquire o pacicnlc serviços quando o profis-
- próteses - que substituem pmtes do co1,:,o perdidas cm sional executa diagnósticos. planejamentos, realiza tratamentos,
eventos infortunísticos - e.,:. membros, superiores ou trahalha executando as documentaç<ies fotográficas e/ou
inferiores. ou ~egmentos dos mesmos. ou objetos mecâni- onodôncicas. dentre inúmeras atitudes praticadas no ambiente do
cos - ôrteS<fS - que auxíliam na execução de certas fun- consultório odontológico e/ou hospitalar. sob a responsabílida-
ções. notadamente da deambulação, e.g. muletas, muletas de do cirurgiào-dencísta.
canadenses, bengalas etc.). Tem aplicação odontológica
apenas na forma de próteses.
COM O DIREITO DO MENOR E DO
COM O DIREITO ADMINISTRATIVO
_________________
ADOLESCENTE ________
,,

O cirurgião-dentista. agindo como pelito nomeado ou como


O cirurgião-dentista part.icípará por ocasião do: odontolcgista. poderá ser solicitado para analisar casos de:

'r Exame Admissional ao Serviço Público >' Cuidados do Menor


Veríficando as condições clínicas de higidez bucal, tratamen- Em geral, traia-se de casos de maus-tratos por ação (lesôes
tos executados, peças colocadas etc. Esta é uma exigência que orais por castigos, aplicação de cáusticos. ablação de peças den-
existe no Regulamento do Funcionalísmo Público, que, dessa tárias, ruptura de frênulo labial etc.), ou por omissão (falta de
maneira, pretende se precaverem relação ao estado de saúde com higiene crônica. abscessos periodontaís. cáries atingíndo a câmara
que seus funcionários ingressam no quadro funcional. A inocor- pulpar, abscessos apícaís etc.).
rência de quaisquer moléstias nesse exame admissional represen-
tará, desde o ponto de vista legal e da ,frea, que o trabalhador nada
apresentava. Daí em diante, qualquer patologia que possa ser
constatada, certamente. terá ocorrido na vigência do pacto laboral. COM O DIREITO TRABALHISTA
O cirurgião-dentista. agindo como pcriLO louvado, poderá ·
uvaliar o nexo de causalidade eficiente cm casos de:
COM O DIREITO COMERCIAL
O cirurgião-dentista, agíndo como perito ad hoc ou como ~ Doenças do Trabalho
Assistente, poderá ter de agír em casos de:
Verificará as doenças desencadeadas ou adquiridas em fun-
ção das condições especiais cm que o trabalho é realizado e que
>- Perícia Sobre Bens de Consumo com ele se relacionam diretamente (mcsopatias). desde que cons-
tem da relação do Anexo li do Decreto n.º 357/91. Há algumas,
Trata-se de perícías que abrangem produtos de uso odontoló- entretanto, que passaram a ser consideradas como tais apó~ a
gico de venda ao público (clentíhfrios. escovas, fio <lentai, solu- cmí.ssão de citado decreto, e outras que ainda não são considera-
ções detergentes etc.), para verílicação da sua aderência à com- das mesopalias, exigindo, freqüentemente, que os portadores
posição e proporções declaradas. quantidade e efeitos esperados, devam socorrer-se da Justiça para poderem achar guarida, por
garantidos pelo fahrícante. analogia, com a legislação vigente.

COM O DIREITO DO CONSUMIDOR >- Doenças Profissionais


O perito deverá examinar o histórico e a clínica do dístúrhio
O cirurgião-dentista, agindo como períto nomeado. poderá ter que o portador apresentara durante o pacto lahoral, a doem;a pro-
que funcionar analisando rnsos de: duzida ou desencadeada pelo exercício de trahalho peculiar a
deterrrúnada atividade (tecnopatia), e desde que conste da rela-
ção do Anexo TJ do Decreto n.º 357/91.
',- Perícia Sobre Aquisição de Bens e Entre as doenças pndi.1·símwís a que está sujeito o cirurgião-
Serviços dentísta, sem lugar a dúvidas, o grupo mais importante é o que
compreende as lesões por esforços repetitívos (LER, denomina-
O pacienk do consultório odoncológico é uma pessoa física. ção esta que se tenta evitar), que nada mais são que uma vurie-
Ou ,eja. o profissional executa o seu tratamento para uma pes- dade especial de distúrbios osteomusculares relacionados ao tra-
:-oa física. representada pelo próprio pacicnlc. fate, por sua vez, balho (DORT) que acontecem ap<mas para determinadas espe-
está adquirindo ou utilizando um produto ou serviço, destinado <:ialidades ou tipos d,f trabalho, como, por exemplo, os endodon-
a ~i próprio ou a terceiros, que estão ou não sob sua responsabi- tistas (operações de preparação de canais. limado, obturação etc.)
lidade I e g. filhos). e os períodmuistas (trabalhos extensos com cureta etc.).
A Odontologia Legal e Suas Relaçries com o lJireito 11

:,, Acidentes de Trabalho Ação Térmica


Os provadores de café, em função da peculiaridade do seu
Acontecimento casual, fortuito, imprevisto, que ocorre pelo trabalho e de como o mesmo é executado, podem desenvolver
exercício da atividade profissional, a serviço de uma Empresa reações térmica.~. quer na mucosa das bochechas, quer na do
ou como trabalhador aulônomo, provocando: palato (duro e mole).
+ mrn1e,
+ lesão corporal, Ação Química
• perturbação funcional, A ação química não produz perdas ou traumatismos do esmal-
• perda da capacidade de trabalhar, temporária ou pcnnaneme, te, como o fazem os fatores mecânicos; antes provocam colora-
• redução da capacidade de trabalhar, temporária ou per- ções características do esmalte e da dentina pelo produto quími-
manente. co com o qual o trabalhador tem um contato duradouro e diutur-
Resulta evidente que o cirurgião-dentista, no desempenho no, a saber:
de suas atividades, está propenso a sofrer acidentes específi- • manchas acinzcnladas no colo dos incisivos e dos caninos,
cos com uma freqüência maior que a de qualquer pessoa, mas pelo chumbo;
dentro da freqüência com que podem aparecer cm outros pro- • coloração cinzenta global, pelo mercúrio;
fissionais da saúde. • manchas esverdeadas com reborda azul, pelo cobre;
• manchas acastanhadas na borda livre dos incisivos. pelo
ferro;
)o>' Insalubridade • manchas amarelas, pelo cádmio etc.
A insalubridade é caraclerizada pela ação de diversos agen- Outras vezes, podem ser os vapores corrosivos - nítrosos e
tes, cujos resultados são de efeito cumulativo e que, gradaci- su(furosos - que provocam destruição dos tecidos dentários e
vamente, acabam por minar a saúde do trabalhador de forma do periodonto, de forma progressiva. ensejando o amolecimen-
insidiosa. to e perda dos dentes, afora um maior índice de cáries nas coro-
Em virtude disso, o odontolegista ou o c.:irurgião-dcntista de- as clínicas.
verá examinar e verificar a ocorrência de nexo causal entre le- Por derradeiro, podem citar-se as cáries dos confeiteiros e
sões orais e trabalho, neslas circunstâncias: pessoas que lrabalham nasfábricas de doces, caracterizadas cli-
nicamente como manchas de forma circular, de cor amarela ou
ESTIGMAS RESULTANTES DE PROFISSÕES preta dos tecidos desvitalizados, e localizadas, exclusivamente.
Certas profissões podem produzir marcas permanentes nos na região do colo das peças <lcnlárias. É que, nesses trabalhado-
dentes por raz<ies meramente mecânicas, que introduzem des- res, acúmulos de açúcares (glicose, sacarose, frutose, maltose
gastes sucessivos e perdas mínimas de esmalte, em face dos trau- etc.) no sulco periodontal, associados mm maus hábílos de higi-
matismos reiterados. Outras atividades laborais que expõem o ene bucal de não removê-los durante o dia, acabam sendo degra-
trabalhador a substâncias químicas. quer na forma de produtos, dados pelas enzimas salivares e pelas bactérias saprófitas, for-
quer na forma de íons, provocam alterações progressivas, ora pelo mando á<:idos locais que atacam, de maneira puntiforme, os te-
depósito dos íons. ora pela ação destrutiva, direta ou facilitadora, cidos dentários, ensejando estigmas de natureza patológica. de
das substâncias químicas. cunho estritamente laboral.

Ação Mecânica
Nessa esteira, encontramo-nos com certos trabalhadores que };- Higiene do Trabalho
têm por hábito segurar tachas ou pregos entre os dentes. Nesse
O cirurgião-dentista deverá promover ações responsáveis para
grupo, por ex~mplo, encontram-se os sapaieiros, bem como os
estofadores. E habitual que, entre esses operários, se enéoncrcm, garantir que o ambiente de trabalho não se tome agressivo para
não raro, reentrâncias ou chanfraduras na borda incisai dos inci- o trabalhador, no que tange à área estomatológica. Semelhantc-
sivos centrais (dentes de Hutchinson falsos). mcnle, ao periciar um local de trabalho. poderá identificar agen-
Entre os colchoeiros, estofadores, a(faiaies e costureiras, tam- tes capazes de provocar insalubridade, quantificá-los, bem como
bém se observam irregularidades ou pequenas fissuras na borda seus efeitos.
incisai ou livre <los incisivos centrais, resultantes do hábito de
puxar o fio e. quando na medida, cortá-lo com o auxílio dos den-
tes cm vez de usar tesoura.
Os músico.i que executam com instrumentos de uma palheta COM O DIREITO PENITENCIÁRIO
(saxofones. clarineta, oboé etc.), em razão dos repetidos traumas
com a boquilha, podem apresentar perdas de substância no es- O cirurgião-dentista, participará do processo de readaptação
malle dos incisivos superiores centrais. e reeducação wm seus cuidados profissionais no:
Algo semelhante pode observar-se com os sopradores de vi-
dro, quando então o lrauma se d,í com a boquilha da cana ou vara,
sobre os incisivos, tanto superiores como inferiores. » Tratamento do Encarcerado
Afora as alterações nos dentes. alguns músicos podem apre-
sentar le,;ões nos lábios (queilites e lesões contusas), provoca- Promovendo o bem-estar do apenado através de ações preven-
das pelos traumas mecânicos repetidos, no uso dos instrumencos tivas, sessões clínicas de diagnóstico e de tratamento. sedando
de sopro, de bocal, quando ainda não desenvolvera a denomina- dores, fazendo trabalhos simples de dcntística, exodontia e
da '"embocadura". periodontia.
12 \ ()dontuhigi(l /.t'gal e S11as Relaçôes ,0111 n Direito

Cam~a. J.L E11.rnrn:s Odonrométrícos. Buenos Aires: Universidade


C01\1 O DIREITO DOS DESPORTOS :\acional de B~enos Aires. 1920 (Tese de Doutorado).
Caí\alho de \tem.lon,;a. J .X. Trawdo de Direito Comercial Brasileiro,
O cirurgião-dentista, agindo rnmo perito nomeado, poderá ter -1! cd. Rio dé Janeiro: forense, 1956.
Casillo. J. Dano i1 Pe.uoa e sua lndeniwção. São Paulo: Revista dos
(iUe a\aliar casos de:
Tribunai~. 1987.
Chanier. Y. Úl Réparation du Préjttdice. Paris: l)alloz. 1983.
Cha\CS. ,\ TrawJu de Direito Civil - Responsabilidade Civil. São
., Lesões Culposas e/ou Dolosas Paulo. RT. 198:'i. \ ..\
Fnmco. A.S. er ai. CúdigCl Pt11al e sua lnterpretaçiío Jurisprude11<:ial.
Somente na ocorrência de lesões corporais durante o exercí- 4." ed. São Paulo: RT_ l 99~.
cio do esporte e que atinjam a região oral. Vê-se, mais uma vez., Gonçalves. C.A. Respomubilidadt Civil, 6." ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
que o cirurgião-dentista poderá ter também esse campo de ação Grecco Filho, V. Direito Pro,·e.rnwl Cfril Brusileiro, 5.ª cd. São Paulo:
('OlllO estomatólogo a contribuir com a Justiça. Saraiva, 1992.
Cirimivcr, A.P. et ai. Código Brmíleim dt· L>efesa do Consumidor. 6:
ed. Rio de Janeiro: Forense L' ni ,·ersitária, .1999.
Kfouri Neto, M. Respo11fübilidade Ciril do Médico, 3.8 ed. São Paulo:
BIBLIOGRAFIA RT, 1998.
Lcnz, LA.T.F. Dano moral contra a pessoa jurídica. Revista do.~ tribu-
Aguiar J)ias. J. de. Responsabífidade Civil em Ddmre. Rio de Janeiro: nais. São Paulo, dez. 1996. \ .7.q. p. 56-65.
Forense. 1983. Lópe:t., J.A. l.os Medicos y La Respm1.rnbifidad Cívil. Montevideo:
Aguiar Dias. J. de. Rewonsubilidade Ch1il. 7.' cd. Rio de Janeiro: Fo- Montecorvo, 1985.
rense, 1983. p.799. Mam1itt A. Perdas e Danos, 2.ª ed. Rio dé Janeiro: A ide. 1992.
Akântara. H.R. Deontologia e Dice.ologia. São Paulo: Andrei. 1979. Mémeteau. G. & Méle11nec. L. 'f'rnité de Droit Médical. Paris: Maloinc,
Almeida, J.R. ,1 Proteção Jurídica do Cons11rnidor, 2: cd. São Paulo: 1982. t. 2.
Saraiva, 2(X)O. Monteiro. W.B. Cttno de Direiw Cfríl: Pwu Geral. 28." cd. São Pau-
Alpa, G. & Bessone., M. La Rt·sµon:.abilità Cii·ile, 2.• ed. Milano: lo: Saraiva, 1989.
Giuffre, 1980, V. 2. Montenegro, A.L.C. Do Res.rnl'dme11to de Danos. Rio de Janeiro:
Alvim. A. Da biexecução das Obrigações e suas Conseqüências, s.• ed. Âmbito Cultural. 19~4.
São Paulo: Saraiva, 1980. Negrão, T. Código de Processo Civil e 1-egisla,Jio Processual em Vi-
Arruda, A.F.M.f. Dano Moral Pum 011 Psíquico. São Paulo: Juarez tle gor. 31.• ed. São Paulo: Saraiva. 2000.
Oliveira, 1999. Nunes, L./\.R. O Código de D4esa do Consumidor e .ma h1te17Jretu-
Azevedo. A.V. Teoría Geral da.1· Obrigaçi'íes, 8.' ed. São Paulo: Revis- çüo Jurisprudencial. São Paulo: Saraiva. 1997.
ta dos Trihunais, 2000. Pereira. C.M.S. Responsabilidade CiFi!. 9.3 cd. Rio de Janeim: Foren-
Barbosa Moreira. J.C. O NoM Pr<>c't'SS() Cívil Bmsileim. 11.~ ed. Rio se, 1998.
de: Janeiro: forense, 1991. p.12. Rodrigues. S. Dirdro Ci, 1il: Parte Gernl, 16.• ed. São Paulo: Saraiva.
Belli. M.M. For Your Malpmctice De/t!11se. 2nd ed. Oradell, New Jersey: 1986. v.1.
Metlícal Econtm1ics Bouks, 1989. Santos, A.J. Dano Moral lndt!ni::.ável, 2.• ed. São Paulo: Lejus. 1999.
Benjamin, A.H. V. er ui. Comentários ao Código de I'mteção ao Con· Santos. M.C.C.L. Transplante de Ôrgiíos e Jratamenws Médico-Cirúr- ,
s11midor. São Paulo: Saraiva, 1991. f(ico:s. Coimbra: C()imbra Ed .. 1986.
Bevilaqua. C. Código Ci,,if Comentado, 11." ed. Rio de Janeiro: Forc11- Silva Filho. A.M. Rcspon~ahilidade civil dos médi~t~s nas cra~sfus?~~
sc, 1956. de sangue. TIi: Blllar, LA. lCoord. ). Respo11:;abtluiade Ctv1l Medi.-
Billar. C.A. Reparação Civil por Danos Aforais. Siio Paulo: RT, 1999. cu, Odo11tológica t· Hospiwlar. São Pauk1: Saraiva. 1991. ·
Brcbia, R.II. E/ Dlíno Morul. 2: cd. Rosario: Orbir, 1976. Silva, W.M. O Dano Moral e .ma Reparaçiío, 3.' ed. Rio de Janeiro:
Bueres. A.J. Responsahilidad Civil de las Clinicas v F.stablecimh!l1IOS Forense. 1983.
Mediw.1. Buenos Aires: .Á.baco, 1981. · Stoco, R. Responsabilidade cívil e sua intcrprctar.;ão jurisprudencial. 4.ª
Bussada, W. Código Cívil Rrasileim fllterpretado pelos Tribunaü. Rio ed. Revista dos Tribunais. São Paulo, 1999.
de Janeiro: Liber Juti~. 1983. Valler. W. A Reparaçc7o do Dano Moral nu Direiro Brasitdro. Campi-
Rustamante Alsina, J. Teoria General de la Respon.W1bilidad Civil. 8.' nas: E.V., 1994.
ed. Buenos Aires: Aheledo-Penot, 1993. Varela, J.M.A. Das Obrigações em Geral, 4.° ed. Coimbra: Almcdina,
Cahali. Y.S. Dano e Indenização. São Paulo: Revista dos Trihunais, ]982, V. 1.
1980. Zenun, A. Dano .ttoral e sua Re/)ararão. Rio de Janeiro: forense, 1994.
. . ' • , : .. . ..
. . .
. .
. . . . . ·. . .
. ,• . . . . _:.:·
•, .·
.
. ..:·: ._ -./<·'· : :.:· ·:. :·.:\
• =: . ,' . . . .

. FO TO GR AF IA APLICAÔA À
OD ON TO LO GI A LE GA L .

UNIME- BIBLIOTECA CENTRA L ~..~ N I ,-1-.,


~ ,::
· li llIli 1111111111111111 11111
0 329 5.S
~
..... +·
~ º:
! / _(.
' J ( ' •;: "(
í
1 -·-··- - ---- ·-- ·- - ---- -- ---·-
Fotografia Forense
.,..,_____ , ........... ___
___......... ,,_, ...........----··--·····"···"·------ ----·----------------
Jorge Paulete Vanrell

·-·----·-------------------- 2) a polícia pode não cslar treinada ou equipada para realizar


~~~~I~TRODUÇÃO as folografias em close:
3) a corrente de cuslódia da prova é mais curta: e
Habitualmente, o odontólogo, na prática clínica, costuma re- 4) a ilustração produzida diretamente por um denlista ofere-
gislrar fotograficarnenle alguns dos tratamenlofs que realiza ou ce uma interpretação muito mais correta dos achados odon-
alguns dos resultados que ohLém, bem como situações que, pela tológicos que a obtida por um t.crceiro, apenas diiigido para
sua ~arid~de ou evenlualidade, merecem perpetuar o seu regis- lirar a fotografia
u·o. E assim que o profissional pode reoistrar fotograficameme a
e - A maioria das lesões que se evidenciam em um paciente ou
qualidade de adaplm;ão de uma prótese, o ajuste perfeito de uma
sobre uma vítima não são duradouras. Com efeito, trata-se de
restauração. o anles e o depois de um procedimento estético (e.g.
lesões perecíveis, quer pelo efeito natural de cura, com ou sem
um _claremnento), ou a condição em que recebeu um paciente para
''r!!S(itutío in illl(igrum '', quer pela desinlcgração, qmmdo é O caso
registro "ad perpetuam rd memoriam".
de pessoa falecida.
Neste capílulo. ao nos referirmos à fotografia forense, não
Nessa linha de raciocínio, uma boa fotografia é fundamental
e~taremos fazendo um estudo desse tipo de fotografia do dia-a-
na investigação forense como forma de preservar a prova, docu-
cha do consultório ou da clínica. Contrariamente, estaremos sa-
mentando-a cm filmes. Nesses casos, a fotografia acaba por cons-
lientando alguns conceitos que se relacionam com as técnicas
tituir-se em uma implacável testemunha silenciosa, incorruplívcl
fotog~áf~c~s gerais que m!1
profissional deve conhecer, partindo
e imarcescível, dos fatos.
do pnnc1p10 que o odontologo não pode nem deve limitar o seu
Este capíllllo, como é curial, não se direciona a principiantes
campo de ação it cavidade oral. mas antes estendê-lo ao indiví-
absolutos, antes exige alguns conhecimentos básicos prévios,
duo (I?aciente) como um todo. Não se trata de aprofundar-se no
relacionados com a técnica fotográfica elementar.
estudo de uma cavidade ornl "avulsa", com suas estruturas e
acidenlcs, anles de ver que ela se encontra í.nteurada cm um in-
divíduo. Daí que ele necessite saber um mínimc~dc wmo fazer o
registro desses achados extrabucais. NOÇÕES BÁSICAS DE FOTOGRAFIA
_ Pode parecer evidente que muito do que se exporá neste ca-
pitulo é da alçada mais específica do odomolegisla. Isso pode ser Todos os processos fotográficos, independcmemente dos
verdadeiro "se" e ··quando" há odontolegista, o que não é a situ- meios utilizados, consistem na captação de radiações eletromag-
ação n~ais freqüente. Na maior parte dos casos, sequer há como néúcas (luz) de comprimentos de onda específicos. que são me-
encaminhar o pacienle-vítima para uma repartição policial ou didos em nanômet.ros (nm), sobre filmes fotossensíveis (fotográ-
para uma dependência do Instituto Médico Legal ou do Instituto ficos).
de Criminalística, onde pudessem ser efemadas as tomadas fo- Os l'ilmes fotográficos utilizados para registrar as imagens têm
tográficas de interesse processual. sensibilidade para os comprimentos de onda entre 250 e 900 nm.
. ~~ 1973, Luntz & Luntz listaram três razões mínimas que Dentro dessa c8cala, o olho humano apenas tem capacidade para
JUstttJcam por que o odontólogo deve ser auto-suficiente cm fo- ver aquelas radiações eletromagnéticas cujo comprimemo de
tografia. A estas, Bem~tein ( J977) acrescentou uma quarta. As onda se encontra na faixa entre 400 e 760 nm. Nessas condições,
razões são: o filme da câmara fmográfica registra a imagem igual àquela que
1) a polícia pode não ser alcançável ou não eslar disponível está sendo observada pelo olho através da lente quando estafo-
para realizar as fotografias pretendidas; caliza a imagem.
16 f, >t()grc~fiu Forenw

Como já mencionamos. é possível registr ar image ns ilumin


a- Contrario sensu, uma lente com distân cia focal longa, e.g.
das por radiaç ões ultrav ioleta de compr imento de onda 75
muito mm ou mais, habitu almen te design
cu1tos (entre 210 e 400 1101) ou radiaç ões infrav e rmelha ada como tele., conseg ue c.:aptar
s com menos luz ou um campo mais reduz ido,
comp rimem os de onda bem longos (entre 750 e 900 nm). fazend o com que o cam-
Como po captad o seja bem mais estreito, elimin
refe ridos compr imento s de onda não são visívei s ao olho ando os objetos que se
huma- encon trclll mais perife ricame nte. Todav
no, são denominados como ·' tu._ i11visfre/ '' ou "tu<. nào-vi ia, para acomo dar esse
sívef". campo na mesm a área de 1,0 por 1,5 polega da (l:/ supra
Quand o os proced imentos fotogr áficos são di recion ados ) dis-
para ponível no filme , não have rá dificu ldade, e,
captar image ns com esses compr imento s de onda extrem ainda, os objeto s
os, o serão vistos como mais prôxim os sem, contud
proces so fotográfico e xige técnic as mais espccíJieas, o, serem ampli-
hem como ficado s .
ajuste s <le focaliz ação, que se destin am a corrig ir as propri
eda- As lentes denom inadas z.oom são compo stas por di versas
des das lemes: e estas, em geral , são constr uídas para len-
fotografar tes cuj a comhi naçào permi te obter uma ampla
com luz visíve l (e.ntre. 400 e 760 mn de compr imento varLação de dis-
de onda). tância s focais que podem ser interc::imbiad as
Em um ato tão simple s quanto é o deitar uma luz sobre manua lmente. A
um aproximação ou dístan ciame lllo da cena a ser captad a
ohjeLO. e.g. a pele. uma mucos a etc., ocon cm quatro fenôm pode vari-
enos ar. sem necess idade de o fotógr afo ou a câmar a mudar
primários relacio nados com o destino das r::idiaç ões lumin de posi-
osas, ção no espaço.
conhe cidos, cm óptica, como reflex ão, absorç ão. transm
issão e A maiori a das lentes comun s conseg ue variar a posi~·ào
fluo rescên cia. do foco
para captar nitidam ente um campo de até 10 X 15
Reflex ão. Ocorre quand o uma radiaç ão eletro magné tica (aprox. polega das
25 X 37.5 cm).
lumíni ca que atinge a -.uperfícic corporal é devo! vída
por esta. As denominadas lentes de ap roxim ação (close -up tens)
Cada estrutu ra pode devolv er a luz. compl eta. branca . po-
pela soma dem aproxi mar-se mais do ohjero a ser fot.ografado e, com
das cores, ou apen::is a lguma s das radiaç ões: é graças is:,o,
a esse fe- captar image ns de até I X 1,5 polegada, isto é. do mesm o
nômen o que o olho human o conseg ue perceb er as cores. tam::i-
nho do campo do filme de 35 mm, que se denom inam
Absor ção. D iz-se que ocorre quand o ne m toda a radiaç de tama-
ão é nho rea l. fa!';a!; image ns têm uma relaçã o (raâo ) de reprod ução
refleti da. sendo parte dela relida pelo corpo. A parte de
um cam- (RR) da ordem de 1: l. Seguindo o mesm o racioc ínio, as lentes
po a ser fotografado que absorve a lu:L aparec erá nas fotogr
afias conve nciona is. confo rme já menci onado. possue m um limite de
como preta.
aproxi mação de foco, RR de 1: 1O.
Trans missã o. É ::i disper são da lu1, nas sucessi vas camad A par de que as lentes oferec em grande s chance s <le obter boas
as
celula res ou não, da pele e mucosas, até que a sua energi
a se dis- imagens, elas podem ser. també m. as "vilãs"' respon sáveis
sipe por compl eto por
algum as dis torc.;ôes e prejuí zos nas ímage ns. Cúmo:
fluor escência. Ocorr e quando a luz que atinge o corpo é
capaz de provoc ar a excita ção de algum as moléc ulas. Curva tura de Camp o. É a d istorção que permi te que ape
o que faz -
com que as mesm as emitam uma tênue e fugaz lumino
sidade que nas o centro da fotografia esreja focaliz.ado, ao passo
perdur a até pouco s im,tantes após a cessação da ilumina que as
c.;ào. É partes perifé ric.:as ficam desfoc adas. Essa é uma conse qüênc
semel hante ao que se observ a com os mostradores de ia
relógio e das imper feiçõe s geomé tricas das lentes que lhes imped em
interru ptores de luz que. de pois de ilumin ados. c.:ontin de
uam por e nfei xar unifor me mente todos os raios ql1 e recebe m. Como
algum tempo oferec endo uma luminosidade difusa e
de escass a vimos antes, a utiliza ção de a bertur as de diafra gma peque
intens idade. Em condiç ões norma is, ::i fluores cência da nas.
pele não do tipo f22/12, aj uda a elimin ar o proble ma, pelo menos desde
é vis ta em raLàO de sua fugaci dade, já que energi a se dissipa
em q ue a lente esteja suficie nteme nte bem talhad a 11a sua
torno de 100 nm. além do fato dt' que a energia lumín parte
icu refleti- centra l.
da é muito mais intens a. ultrap assand o a capac idade
do olho Difraç ão. É um dos fatores ffsicos que ::icarretam pe rda
human o para ca ptar qt1alqu cr tl uorese êncía. da
nitidez da image m. Quand o a abertú ra é mui to ampla
1:-".sses evento s ocorre m Lodos. simulcaneam ente. sempr , e. g. f2.8.
e que uma boa quanti dade de ondas lumino sas que atinge
uma luz ati nge a superf ície cutâne o-muc osa. Em depen m a pcrifetia
dência do do diafra gma sofre m det1e xão extern a ao invés
compr imento de o nda da fonte de luz incide nte, e das de serem focali -
possib ili- zadas. Isso é o que traz como conseq iiência a perda
dades ou rnnfig uraçôe s da câmar a focográfíca usada (lemes da resolu -
. fil- ção.
tros etc.). cada urna das reaçõe s da pele à energi a l umínic
a pode Profu ndida de de C ampo . Quand o se fotogr afa um ohjeto
ser registr ada individ ualme nte.
tridim e nsiona l, é ôhvio que essa condiç ão não poderá
ser inte-
gralme nte re produ:L ida no filme, que é apenas hidime n:;íona
l. Isso
faz com que a image m que se forma sobre o fiJ me (e, depois
, sohre
Lentes o papel) seja nítida apena s em um plano estreit o. que inclui
o da
A lente é a peça do sistema l"otográfic.:o encanegada <le focaliz pelícu la e algo aqué m e além des ta. A partir daí, nos outros
ar nos antece dentes e nos sucess pla-
toda a luz conver gente em detenn inado ponto do espaço ivos, a nitidez fica paulat iname nte
, dcnomi- prejud icada, e a image
nado.fáco. A distânciafocaf de uma lente é considerada. cm <íptica m se desfoc a. Todav ia, essa ocorrê ncia
, pode ser corrigi da modifi cando-
.:omo a distânc ia cncre o centro da lente e o seu foco. Esse se a abeltu m da lente. Com efeito.
fato ex- q uanto menor es as abertu
plica por que a dis tância focal das lentes é inversamente ras, e.g. fl 6 ou f22, tanto maior es se-
proporá)- dio a.~ espess uras <.los planos
11:11 :i convex idade <las mesma s. Por outras . anterio res e poster iores ao filme.
pal::ivras. quanto mais que ficarão
.:,)n \-..: '\a a lente, tan to menor seni a sua distânc.:ia focal. nítidos . Habitu almen te . as lentes profiss ionais têm
l·ma lente com distân cia focal curta. e.g. interio r a 40 indica dores que, çe manei ra muito simples, mostra m desde
mm, e até o nde os planos sucess ivos onde
.:•fa.:-.:e a possib ilidad e de registr ar um campo muito amplo ficarã o cm foco. Esta é a deno-
. min::id a profundidade de campo,
.-\ " im. para acomo dar todos os eleme ntos desse campo que, como vimos , aumen ta em
em uma razão invers a à abertu ra.
:.irea Je 1.0 por 1.5 polega da (que é a i;uperf ície dispon
fvcl de Distân cia de Traba lho. É n distân cia que medei a emre
um (li me de ~S mm), eles deverã o ser dimin uídos. a lente
e o objeto a ser fotogr afado. Essa d istância depende, basica
men-
Fo/ogrt~fia Forense 17

te, do tamanho de ampliação que se pretenda (RR ou razão de Citada lente tem de apresentar algumas características ideais ou
reprodução) e da distânc(a focal da leme. É comezinho que a que se aproximem destas. como:
distância de trabalho deve ser adequada de modo a facilitar, de + Distâncíafvcul de 90, 100 ou 105 mm. Isso permitirá uma
um lado, pela proximidade que o operador (fotógrafo) possa boa distância de trabalho entre a lente e o objeto. com dis-
manipular e iluminar o objeto e, de outro que, pela distância, não torção de perspectiva mínima para superfícies curvas.
ocorram distorções de perspectiva. A distância de trabalho (WD • Variação de abertura do diafra!t11u1 de .f2.8 a .f22 011
ou wm·king dista11c<?) ideal pode ser calculada pela f6nnula: .(12. As aberturas menores - e.g. f22 ou f32-, ainda
que deixem entrar uma menor quantidade de luz na
WD =distância focal [--~-----
mnphaçao
+ 1] câmara, são as que ensejam as maiores profundidades
de foco. A profundidade de foco é a que possihi I ita que
objetos que estão em planos diferentes apareçam ''cm
Quando se trata de fotografar objetos de grande tamanho. é
foco" ou nítidos. Esse dado é de extrema importílncia
conveniente diminuir a distância de trabalho, utilizando lentes
quando se pretende registrar imagcn!-. de aproximação,
que tenham uma distância focal pequena - chamadas de gran-
de materiais biológicos, onde a focaliz.ação pode ser
de angulares - e que, destartc. possam oferecer um ângulo de
ba~tantc <li fíci 1.
visão maior. Ao rnntrá1io, quando se trata de fotografar objetos
menores cm tamanho "retrato", ampliação l/10, as lentes com
+ Foco variável desde injiníto até 1: l. Devem-se evitar as
lentes que necessitem de adaptadores ou anéis de aproxi-
distância focal de 50 a 100 mm !-.ão mais recomendáveis.
mação, para obter essa amplitude de variabilidade de foco.
São preferíveis as lentes de "foco contínuo" que não utili-
zam adaptadores.
Exposição • Evitaras lentes "macro'' wo111quepermile111.foca/ização
Em essência, a imagem fotográfica se forma quando certa em "dos(?". :-.la sua maioria não conseguem focalizar
quantidade de luz é focalizada pela lente sobre o filme aquém de J :4.
fotossensível, que. dcstartc. fü:a "exposto" à energia lumínica.
Citada exposirão é determinada por quatro variáveis que se
encontram sob o controle direw do operador (fotógrafo), a sa- Flash Eletrônico
hcr:
Tan10 pode ser avulso como incorporado à câmara. O flash
• Intensidade da luz oferece a possibilidade, quando se utiliza uma abertura de dia-
• Duração do tempo que a luz incide sobre a emulsão do fil- fragma pequena - tipo f1 1, fl 6. f22 ou f32 - de ''congelar'·
me (velocidade de disparo) qualquer movimento, dando ·imagens extraordinariamente níti-
• Tamanho da abe1tura pela qual passa a luz dentro <la lente das.
(ahertura) O .flash circular ( ao redor da lente) não é recomendável para
• Scnsihilidade do filme à luz (variação ASA/ISO) fotografia científica do tipo da odontológica. justamente porque
• "achata" as imagens.
• não provoca sombras e
EQUIPAMENTO FOTOGRÁFICO + provoca reflexos circulares com objetos brilhantes (e.}/.
PARA ODONTOLOGIA LEGAL esmalte dos dentes).
O ideal é umjlash que permita direcionar o fluxo luminoso
Câmara sobre o objeto de modo a dar der.a lhe de lu7.es-e-somhras, tex tu-
ra e dimensionalidade. É conveniente que seja móvel e não se
Deve ser escolhida sempre uma câmara: incorpore ao corpo da câmara, de tal sorte que possa ser mudado
de posição livremente, inclusive cm relação a objetos pequenos
• de 15 mm com lente única,
e pr6ximos. A versão comercial sofisticada é point.flash, ainda
• de sistema rcflex (SLR ou Síngle Lens R<;tlex).
que seus efeitos possam ser supridos c {:Onscguidos pela habili-
• com possibilidade de intercambiar lentes e
dade do fotôgrafo.
• visão TTL (thmu~h-tll<?-lens)
As câmaras com visor autônomo ( view~(inder windmv), mes-
mo as de melhor qualidade, rnusam erro de paralaxe que se Filmes
amplia quando as fotogralias a !-.erem tomadas são cm dose ou
com dbtãncias de trabalho pequenas. Todos os filmes consisr.em, basicamente, em uma tira de
Alguns dispositivos opcionais que cenas câmaras apresentam acetato de celulóide. sobre uma de cujas faces é depositada
e que ckvam exponencialmente os seus preços podem ser úteis, uma camada da emulsão de um sal, que é haleto de prata
mas não são absolutamente necess,írios, porquanto podem ser fotossensível. Essa sensibilidade à luz é determinada pelo ta-
supridos manualmente nas câmaras tradicionais e mais simples. manho dos grãos do sal. Os filmes que possuem granulação
fina e uniforme, ainda que possam requerer maior quantida-
de de luz ou exposição por tempos maion!s, são os que pcr-
Lentes mítem fotografias com maior e melhor resolução. A sensi-
bilidade dos filmes à luz é padronizada através de .Hondards
A lente mais importante, tanto em odontologia legal quanto internacionais (ASA ou ISO), e os utilizáveis cm fotografia
para fotografia intra-oral. é a denominada "macro", que permite odontolegal ou forense, em geral, variam entre 25 e 160 ASA
obter fotografias de grande nitidez e qual idade a cmta distância. (ISO).
Para fotografias preto-e-branco, o filme mais recomendável absorve, isto é, subtrai a cor complementar (que aparecerá mais
~o Panatnmic X (ASA 36). Para fotografias coloridas, dispõe-se escura na foto impressa).
dos filmes tipo Kodachrome e Ektachrome. além dos filmes tipo Ainda que os filtros possam ser utilizados para fotografias em
Ektar 25 e Kodacolor 100. cores, o seu maior uso se dá com as fotogmfias em preto-e-branco.
Os filmes Kodachromc oferecem grânulos suficientemen- Os filmes preto-e-branco a serem utíJizado-., conforme os re-
te pequenos, nocadamente nas suas versões 25 e 64 ASA. mas sultados desejados (ver quadro abaixo), podem ser:
exigem boa iluminação luz-do-dia ou a utilização de umjlash
• Filmes Panchromatic (T-MAX, PLUS-X etc.): são sen-
potente. O seu revelado nem sempre é comercial, exigindo,
síveis ao azul, ao verde e ao vermelho. As cores são repre-
em geral, remessa aos laboratórios da fábrica, com o que se
sentadas rnmo diferentes tonalidades de cinza.
introduz uma demora no processamento das imagens. Isso
já não acontece com os filmes tipo Ektachrome, cujo reve- + Filmes Orthochromatic (KODALITH): são sensíveis
apenas ao azul e ao verde, O vermelho aparecerá como
lado comercial é industrial e se completa cm torno de 1 (uma)
hora. preto na fotografia prcto-c-hranco impressa.
Outro fator que pode ser levado em consideração é a dura-
bilidade. no arquivo, das fotos e transparências (slides). Os
slides Kodachrome retêm as nuanças de suas cores por um
mínimo de 100 anos, ao passo que as transparências Ektachrome Resultado Com Filme Com Filme
mantêm cores garantidas somente por 20 a 25 anos. Todavia, Desejado na Foto Panchromatic Orthochromatic
as transparências Kodachrome são sensíveis a uma degradação
cromática quando expostas, durante meses, a luz ambiente con- Azul Vem1clho Verde (58, 61)
tínua. como Preto (25, 29)
Azul Azul Azul (47, 47B)
como Branco (47, 47B)
Filtros
Azul-Verde Cian Cian (50C)
São representados por peças coloridas de vidro, gelatina ou como Branco (50C)
outro material transparente, que apenas deixam passar certa fai-
xa de radiaçiícs eletromagnéticas (luz). Dependendo das cores, Azul-Verde Vem1elho Azul (47, 47B)
os filtros podem ser utilizados para acentuar ou realçar o con- como Preto (25, 29)
traste entre cores próximas ou contíguas, de um mesmo o~jeto.
Verde Verde Verde (58. 61)
que deveriam aparecer com a mesma tonalídadc de cinza usan-
como Branco (58, 61)
do filme preto-e-branco.
Verde Vermelho Azul (47, 47B)
Lei de Transmissão da l.uz. O filcro transmite a sua própria como Preto (25, 29) ou
cor (que aparece como mais ''iluminada" na foto impressa) e Azul (47. 47B)
Laranja Azul (47, 47B) Nihil
como Preto
Cor do Nome do Absorve Transmite Laranja Amarelo fmpossíveJ
Filtro Filtro (escurece) (ilumina) como Branco (15) ou
Vermelho
Vermelho 25A. 29 Azul e verde Vermelho (25, 29)
-Cian Vermelho Vermelho Impossível
Azul 47, 47B Vermelho Azul como Branco (25, 29)
e verde Vennclho Azul Nihil
como Preto (47, 47B)
-Amarelo
Violeta Azul Azul (47, 47B)
1 Vereie 58,61 Vennelho
i Verde como Branco (47, 47B)
e azul
-Magenta Violeta Verde Verde (58, 61)
como Preto (58, 61)
.... ...
.Y1agenta CC50M Verde Vermelho
1-

Amarelo Azul Azul (47. 47B)


e azul
-Magenta como Preto (47, 47B)

Cian CC50C Amarelo Amarelo Verde (11)


Vem1elho Verde
como Branco ( 15)
e azul
r -Cian
,.
Amarelo-Verde Verde Verde (11)
como Branco (Jl, 13)
~~:..::.:"~: ...., 8, 15 Azul Vennelho
e verde Amarelo-Verde Azul Azul (47, 47B)
-Amarelo como Preto (47,478)
..
Fotografia Forense 19

De todos os filtros mencionados, aqueles utilizados com maior


freqüência são:

• Filtro verde - para incrementar o contraste de tons de


vermelho ou marca" vermelhas na peça a ser fotografada.
• Filtro amarelo - para acentuar o contraste de nuanças
de azul a roxo nas equimoses ou outras formas de contu·
são (e.g. mordeduras)
..
• Filtro Ultravioleta (UV l•ilter) - não são lentes para fo.
togrnfar, mas sim para proteger as lentes. Deve-se cuidar de
,. .,
retirá-lo antes de tomar fotografias com luz ultravioleta.
r.
• 1''iltro Ultravioleta Wratten ISA (ISA UV Filter)- fil.
tro específico para as tomadas com luz ultravioleta.
• Filtros Vermelhos Wratten 87 o 87C (Red Filtcrs) -
para a captação específica de fotografias na faixa das radi-
açf>cs infravennelhas. Há aqueles de nuanças diferentes
(mais claros e mais obscuros), devendo a escolha s~r feita
mais em função de experiências prévias.

Com exceção do UV Filter. supramencionado, que é privati· Fig. 3.1 Escala de Hyzer-Krauss adotada pelo /\merican Board of
vo para proteção das lentes, os filtros tanto podem ser utilizados Forcnsic Odontology (ABFO) n.º 2. (Desenho de Eduardo Perioli. Ce-
antepostos à lente - quer rosqueados no anel de montagem des- dido corno co11csia.)
tas. quer em suportes próprios e vedados - quanto antepostos
ao.flash. de modo tal que a luz que promana deste somente seja
de certa faixa do especu·o eletromagnético, que é a que corres- > iluminação ultravioleta e
ponde ao l'iltro. ', iluminação infravermelha.
Deverão ser tiradas diversas fotografias, ou até vários rolos
de filme de cada caso, levando em consideração que o material é
O PROTOCOLO FOTOGRÁFICO perecível e/ouª" circunstâncias fugazes, de tal forma que cada
PADRÃO fotografia será insubstituível e única.

Inexiste um único lipo de fotografia para fins forenses. Cada


ca8o é um caso: logo. cada caso apresenta suas peculiaridades. Fotografia com Luz Visível
Todavia, na maioria das vezes. de modo a preservar todos os É o tipo de fotografia mais largamente usado, tanto em cores
detalhes de uma lesão, da mesma deverão ser tomadas diversas como em preto-c-bram:o. Em primeiro lugar, porque os filmes
fotografias que se constituirão no protocolo padrão de cada se adaptam à maioria dos equipamentos fotográficos que se en·
serviço. cootram no mercado. Em segundo termo, porque cobrem uma
Referido protocolo padrão deverá contar com: grande amplitude do espectro eletromagnético, com otimização
• Fotografias de orientação, a distância média, para mostrar entre os 400 aos 760 nm, com o que o trabalho dos fotógrafos
em que paite do corpo a lesão oco1Teu. e fica bastante facilitado.
• f-,otogrnfías de aproximação, para registrar os detalhes, nas Todavia, alguns problemas ainda persistem e outros são fru-
quais serão feitas tomadas com diferentes posições da fonte to do próprio avanço tecnológico. Com efeito, os filmes e as
luminosa (e.g . .flash) para salientar detalhes de relevo. câmaras comerciais são manufaturados para captação de imagens
dentro do espectro visível. Quando se pretende utilizar fontes
Nestas últimas, é recomendável que pelo menos uma série seja
luminosas que emitam nos extremos do espectro - ultravioleta
tomada utilizando uma escala no cmnpo, de modo a registrar,
ou infravermelho-, via de regra aparecem distorções ou alte-
como referência, as dimen.,<ies relativas das lesões que se des-
rações (fog, dos autores saxões).
crevem. Existem várias formas de utili7.ar objetos que possam
Com a luz ultravioleta, obtêm-se distorções indesejáveis para
servir de csc;ala, como podem ser moedas circulantes ou outros
o azul, ao passo que a utilização de radiações infravermelhas o
objetos de tamanhos conhecidos.
faz para o vermelho. Todavia, as lentes dos equipamentos foto·
Na prática odontolcgal, é muito utilii',ada a escala de Hyzer-
gráficos modernos dispõem de uma cobertura que age c:omo "fil-
Krauss, adotada pelo American Board of Forcnsic Odomology
tro". limitando ao espectro visível as radiações eletromagnéti-
( ABFO) n." 2 (Fig. 3.1 ). que exibe uma escala monocromática
cas que atingem o filme.
de preto. branco e cinza, três círculos perlcitos e duas escalas
Outro inconveniente que apresentam as câmaras mais moder-
milimétricas.
nas - iípo 35 mm SRL- é o automalismo. Com efeito, o obje-
O uso de uma escala, independentemente de qual seja, visa
to a ser fotografado se vê através da lente. e a câmara. automatí·
minimizar as distorções fotográficas, bem como garantir a exa-
camentc, estabelece o foco, e faz as correções de tempo de ex-
tidão das medições, ao servir como referencial.
posição do filme.
No mesmo protocolo, ainda constarão: Destarte. essas câmaras oferecem sérias limitações técnicas
• fotos colmidas; para fins de fotografia profissional, notadamente quando se pre·
• fotos preto-e-branco; tende obter ··efeitos especiais". ora acentuando. ora suavizando
• ambas tiradas com lm: visível, bem como usando detalhes. ~ão bastasse isso, as câmaras tipo poínt-a11d-sho1 como,
10 Fotogrq/ia Forense

ali.h. ocorre com todas as câmaras 35 mm, oferecem problemas só a lesão, mas também o segmento todo (e.g. face, pescoço, mem-
de ampliação , face às suas li111.i1açôes no que tange à área tola! bro superior etc.). Essas fotos prdiminar cs .servem para fixar a lo-
do filme que será exposta. calização e orientação da lesão. Somente após essas Lomadas de
Com efeilo. uma ve7. que a suped "ícic exposta do filme resu- oriemação é que se poderá partir para fazer as fotografia." em cluse.
me-se a um retângulo de 24 mm X 35 mm, potH.:os serão os ob- Um fato deve sempre ser levado em considera ção: há casos
jetos, instrumen tos ou Iesôes que irão caber integralm ente nessa em que apenas haverá uma oportunid ade para fotografar. Logo,
área, pelo que sempre será necessári a certa ampliação para levar nessas circunstân cias, deverão ser feitas várias fotografia s - às
as imagens ao tamanho natural. Deve-se cuidar para que essa vezes até um rolo preto-e-b ranco e um rolo colorido - , com ilu-
ampl iação seja feita :-.em perda dos detalhes . fundamen tais para m inação desde ângulos d iferentes, com di versas velocidad es de
as c:omparaçf>es. e sem o aparecim ento de um granulado que
exposição e variaçôcs de abertura do diafrngma .
prejudiqu e a imagem, cri,mdo imprecisõ es de contornos .
:É curial que, salvo depois de adquirir uma boa experiênc ia cm
fotografia . será impossível. na primeira vez, conseguir um bom
registro, face ao grande número de variáveis que têm de ser con-
Fotografia em Preto-e-Branco com Luz
trohuJas simultane amente. Daf que se recomende, antes de pre- Visível ·
tender e nfrenuu· um serviço de porte, "queimar " muitos rolos de
O ollio humano tem uma tendência natural a ver melhor as ima- ,,.,... -
filme, de modo a familiariz ar-se com os "segredos " da arte fo- /
gens coloridas. uma vez que lhe oterecem maior quantidad e de de- I
tográfica.
talhes em destaque. Essas informações "coloridas" são processad as
Hodierna memc, têm aparecido , e têm se desenvolv ido com
diretamente pelos cones da retina e podem encobrir ou ofuscar ou-
baslante rapidez e boa qualidade , as denomina das câmara.~di-
tros detalhes. Quando a mesma lesão é fotografada em preto-e-bran-
gitai.~, capazes de captar e arma1.ena r as imagens sob a forma de
co, o olho não se distrai com a composiç ão de cores da lesão e das
infom1 ações digita.is . Dentre as vantagens que apresenta esse tipo
áreas adjacentes. Dcstarte, a ausência de cores penn ite ao observa-
de fotografia , incluem-se:
dor ver um maior número de detalhes na área afetada.
• Visão imediata da imagem, quer no ,isor da câmara. quer Para proceder a fotografar em preto-e-b ranco, de vem ser se-
na tela do computad or; guidas as mesmas orientaçõe s gerais que são consideradas me-
• Impressão imediata em papel: todologia padrão (cf supra) e que foram estudadas a respeito
• Possibilid ade de transferir a imagem para filmes conven- das fotografias coloridas , compreendendo:
cionais, como positivos (transparê ncias) ou como negati-
vos; • Seleção do filme;
• Possibilid ade de excelente s resultado s. quer para fotos • Iluminação;
preto-c-hranco, quer para fotos coloridas . • O rie ntação;
• Variações (bracketi1ig, dos saxões)
Todavia, no atual estado da técnica. esse tipo de fotogralia )'- de diafragma (f-szops)
ainda oferece alguns problema s, como: :l,>, de velocidad es de disparo
• Necessida de de uti lização de chips de computad or espec i- )> de fí ltros.
ais, para fotogralia s com luz não-visíve l: • Tomadas em close. com e sem escala.
• Limitaçõe s na ampliação das fotografias. para o ta manho Os fotógrafos forenses profission ais opta m por utilizar dois
natural ou além, pela corpos de câmara, um carregado com filme preto-e-branco, ou-
~ imprecisã o de contornos e tro com filme colorido. com lentes intercamb iáveis, o que facili-
>" pelo apareci mento dos pi:rels, como quadriculado. na ta o manuseio.
imagem.
hí existem máquinas qL1c estão minimizando e%es problema s,
cm função de uma maior definição , avaliada através do número Fotografia em Cores com Luz Visível
de pixel:; por campo (e.J?. 380 X 600. 1.500 X 2.800 e tc.). e .
A fotogmfia em cores com lu1, visível é. de longe, a técnica
depois, pela delinição da impressora. avaliada através do núme-
fotográfic a mais largmn ence empregad a, pois as câmaras já são
ro de ponlos por polegada quadrada (dpí).
fabricadas e con figuradas para e fetuar tomadas com a luz visí-
À época de elaborn'rão deste u-a balho, as duas câm aras digi-
vel. lne,.istem exigências ambientai s especiais ou peculiarid a-
tais mais sofi.sticad as e que ofereciam os melhores recursos eram
des da câmara, desde que exista energia suficienle da luz visíve l
os modelos DSC S8 5, 4.1 m egapixel s, e DSC F707. 5,2
para possibilit ar o registro da ímagem sobre a emulsão do film e.
megaf)ixe f.s , da Sony. com sensibil idade variando de lOO a 400
As câmaras 35 mm têm condições para fotografar objetos com
ISO. com uma imagem de alta resolução de 2.272 X 1.704 pixel:;,
grande precisão e com detalhes extremos de cor. Os revestime n-
a primeira. e de 2.560 X 1.920 pi.wls, a segunda, com Me mory
tos das lentes, bem como os filtros aplicáveis à iluminaçã o com
S ti c k de 1(i MH, pode ndo co mun icar-se diretam ente ao
flas h. pe rmitem direciona r apenas luz do espectro visível sobre
m icrocompu tador, via cabo üSl3
o filme. Assim. as únicas duas vari.-íveis que devem ser conside-
Os cL1stos das câmaras digitais, enlretanto, ainda são hastan1e
radas, quando se fotografa com filme colorido. são:
alto~. principalm ente para o profission al q ue não vai dedicar-se
L':<dusiva mcnte à fotografia . m as que apenas fará trabalhos es- • tipo do filme, e
ponidicos para registrar casos c línicos e/ou fore nses de maior • a intensidade da luz presente durante a exposição do filme.
,ignificaç ão. Na escolha do film e, deve-se utilizar sempre o fil me 4ue te-
C ma última ohservação deve ser feita para reforçar a necessida - nha a menor velocitkul e de exposição para a luz com que. se ccm-
de de semp11.· fazer uma ou mais fútos de o,icntaçãú do local. com ta. Deverão ser fe itas fotos de orientação , di recionand o-se, de-
.:erta distância que. entretanto. pennita ver, ainda que pequena, não pois, para o local da lcsfü> .
Nas fotos habituais ou de rolina. iluminadas por.flash, geral- Fontes de Luz Ultravioleta (UV)
mente um filme de ASA 100 é suficiente para fotografia em close.
Desde que se ulilize a tfrnica padrão, poderão assim ser capta- • Luz solar. É uma fonte excelente de luz UV. mas pouco
dos todos os detalhes de uma lesão. Em anéscimo, deverá soli- prática para interiores e impossível de usar em fo1ografias
ólar-sc ao laboratório fotográfico que, ames de proceder à im- noturnas.
pressão das fotografias, providencie a correção da temperatura • Tuhosfluore.~centes. Utilizados habiLualmente para ilumi-
da cor do negativo, até a composição da cor real da imagem que nação interna, sendo os melhores os conhecidos como ..luz
vai ser impressa. negra", que emitem uma boa radiação LJV, esta tanto me-
lhor quanto mais brilhante.
• Luz de vapor de mercúrio. Muito útil para iluminar inten-
Fotografia com Luz Não-visível samente áreas pequenas. São lâmpadas de difícil aquisi-
ção e que exigem cc,10 tempo até estabilizar a emís<.ào.
Um dos maiores problemas, se não o maior, na tomada de • Flashes. As unidades mais antigas oferecem u)na boa
fotografias com luz não-visível é o fato de que o objeto ilumina- emissão de luz UV; entre as mais modernas, há algumas
do mm tais tipos de IU7. não é visível. como tal, ao olho humano. que oferecem até uma emissão mensurável, mas exigem
Será necessário fotografar, revelar e imprimir a fotografia para. bastante experimentação até que se consiga dominar a uti-
atinai. verificar o que dela constou com a luz visível. lização adequada.
Para tanto - aliás, como em quaisquer outros casos de imagens • Combinação de luz.fluorescente e "luz negra". Tamhém
com iluminação alternativa (ALI ou Altemative Light lmaging) - , conhecida como lâmpada de Wood, e a luz emitida inclui
essas técnicas exigem a utilização de filtros, que serão colocados uma luz. composta por duas fontes cm um mesmo equipa-
entre o objeto eo filme (de regra. na frente da lente). Deve-se recor- mento.
dar. cnlrclanto, que os filtros apenas delimitam o comprimento de
onda da luz. que incide sobre a lesão ou objeto. Em razão disso, de-
vem ser tomadas algumas prccauçües prévias. como: Fontes de Luz Infravermelha (1 V ou IR)
+ Típo do.filme usado. Cl~a emulsão deve ser "sensível" ao • Flashes. A maioria dos.fla~hes emitem lu:z infravermelha
tipo de luz utilizado, isto é. ao seu comprimento de onda. suficiente. mas é necessário que o fot<Ígrafo os experimente
+ Variantes de exposição da câmara - incluindo a abertu- para poder utilizá-los na fotogralia IV.
ra (/) e a velocidade do disparador - . que deverão ser • Lâmpadas incandescentes (de tungstênio). São muito
corrigidas. utilizadas em laboratório e melhores quanto mais brilhan-
+ Font(i de iluminaf,;ão que emita uma suficiente quantidade tes.
de luz do comprimento de onda desejado • Lâmpada.-; de quartzQ-halogênio. De fácil aquisição e
+ Grau de deslocamento do foco, para dar uma fotografia manejo. A sua luz não deve ser filtrada para evitar que se
nítida. percam as radiações ultravioleta.
No quadro a seguir são indicados os pontos de partida de cada
uma das variáveis, para a fotografia com luz ultravioleta e com luz
infravennclha. Deve-se ter presente a variabilidade que há entre O DESLOCAMENTO DO FOCO
as diferentes câmaras, de tal forma que não se pode esperar, a par-
tir desses dados, logo na primeira vez. que se consigam boas to- Ao atravessar uma lente composta. as luzes de comprimen-
madas. Daí recomendar-se que se façam testes múltiplos, alteran- tos de onda não-visíveis não seguem os mesmos caminhos que
do uma variável de cada vez, até dominar completamente a técni- aquelas de comprimento de onda visíveis. Por isso, a distância
ca, antes de partir para casos reais. Não é lügico - sob pena de focal das lemes varia de acordo com os comprimemos de onda
perder o material - pretender que, da primeira vez que se traba- das fontes utilizadas.
lhe com um certo tipo de radíação, com o acréscimo de todos os Atualmente, muitas lentes já são acromáticas, isto é. corrigi-
estressores do momento e do local, se obtenham boas fotografias. das para trabalhar com comprimentos de onda entre 400 e 700
Daí a recomenda~ão: experimente nn1itas vezes primeiro! nm, que correspondem it luz visível. A lente acrnmátíca caracte·
riza-sc por agir fazendo com que dois comprimentos de onda
diferentes sejam levados a um único foco coincidente. As lentes
Variável Ultravioleta Infravermelha não-acromáticas, que ainda são muitas, podem necessitar de um
deslocamento do foco para os comprimentos de onda de fontes
Sensibilidade ASA 100-400 ASA 25-64 fora do espectro visível.
do filme Quando isso ocorre. o mét.odo mais fácil e recomendável para
(ASA/ISO) ser tentado para as fotografias ultravioleta pode consistir em um
simples incremento na profundidade de campo. Para tanto. re-
Diafragma (J-stop) 1'4.5 alé fl 1 f8 até f22
comenda-se diminuir a abertura do diafragma!}), pelo menos dois
Velocidade de 1/125 até 2 s 1/125 até 2 s pontos. O único problema a ser considerado é que a modifica-
disparo ção da profundidade de campo acancta modificações necess,fri-
as sobre os tempos de exposição, iluminação e escolha tia velo-
Filtro ( na lente) Kodak Wratten Kodak 87 gel cidade do filme em ASA.
18A É cediço que todas es~as preocupações diminuem quando são
utilizadas lentes compostas acro1rníticas modernas de alta quali-
Comprimento de 200a 390 nm 700-960 nm dade que já dispõem de uma cotTeção de foco para cor, permi-
onda (nm) tiI)do obter for.os nítidas. Da mesma maneira, nenhuma cotl'eção
22 Forograjia Forense

ou deslo came nto de foco será neces sário ao


se utiliz arem lente s
própr ias para UV (e. g. Niko n Nikk or lJV 105). Fot ogr afia de Luz Infr ave rme lha
Ref leti da
Fot ogr afia de Luz Ult rav iole ta Ref leti da O objet o pode ser ilumi nado por ..lu:t. branc a··
e o filtro a ser
utilizado - Wrat ten 87, 87C ou seme lhante
(UVA) - , se coloc a na lente
da câma ra. rosqu eado no seu anel.
Essa técni ca é útil para realçar, fotog rafic amen Trab alhan do em um ambi ente escur o, o filtro
te. exan tema s. pode ser colo-
erupçôes ou outro s trans torno s de pele e muco cado sobre a fonte de ilumi nação:jlas h ou
sas. ret1etor. Nem semp re
O objet o ou peça a ser fotog rafad a é ilum os filtros são neces sários. Assim, quan do uma
inada por uma luz chap a de ferro ou
"bran ca... e o filtro Wrat ten l8A é colocado um ferro de passar roupa, aque cidos , são usado
e ntre o objet o e a s como fonte de
<.:âma ra, geral ment e rosqu eado no anel da radia ção infra vermelha (IR) e as toma das estão
lente. sendo k itas em
um quart o escur o, os filtros são desn ecess
• Fonte de ilum inaçã o suge rida: .f7ash eletrô ários .
nico. Há fotóg rafos que usam um filtro *25 :-obre
• Filtro sobre câma ra: Wrat ten 18A. a lente d as câma -
ras SLR. princ ipalmente para pode rem visua
• F ilme apro priad o: q ualqu er filme prcto lizar e fo<.:al izar a
·c -bran co com imagem no visor. As câma ras digitais mais
mode rnas - (do tip<,
emul são o mais lenta possí vel. DSC f707 , <la Sony )- já o ferecem avanços
• Leme : tem de ser capa z de trans milir UV. técni cos que dis·
A maio ria das pens.un 4ualquer filtro ou fonte radia nte acres
objet ivas são adeq uada s, desd e que assoc iadas cida.
com a uti- Essa té<.:nica 6 útil para o regis tro de extra vasam
fü.aç ão do filtro Wrat ten l 8A. entos subcu -
tâneo s e/ou subm ucosos, bem como para
a detec ção de adult e-
• Tem po de expo sição: geral ment e é decid raçõe s ou falsifica~ões de docu ment os etc.
ido alrav és de
expe riênc ias prévi as.
• Foco : o foco da câma ra de ve ser ajusta do • Fonte de ilumi nação suger ida: jlash eletrô
segu ndo expla- nico, reflet ores
nado anter iorm en te. ou luz-d o-dia.
• Filtro s suge ridos: Wrat ten 87 o u 87C coloc
ados sobre a
objetí va da câma ra.
Fot ogr afia da Flu ore scên cia Exc itad a pel • Film e aprop riado : Kodak alta veloc idade
infra verme lha.
a • Expo sição: deve ser deter mina da atrav és
de expe riênc ia<;.
Luz Ult rav iole ta • f oco: deve ser ajust ado para resul tados
c1iticos.
O princ ípio hásic o é que o objeto a ser fo togra
fado será ir-
radia do p or lu:t. ultra viole ta ( UV ), e as áreas
ou regiõ es com Fot ogr afia da Flu ore scên cia Exc itad a pel
fluor escê ncia " brilh arão" na regi ão visív
el do espectro. O a
objet o ou a regiã o pode rá apres entar fluor
escên c ia de vária s
Luz no Infr ave rme lho (Lu min escê ncia )
cores .
Com o algun s dos raios ulcra violc ta são reflet Assim como vimo s que, na fluorescên cia e
idos pe lo ohje· xcita da pelas radi-
to (corno vimo s que acon tecia no tipo de fotog ações ultrav íoleta (U V), certa s estruturas
rafia menc ionad a do objet o ou da peça
na seção anter ior). essas radia ções refle tidas de exam e trans form am comp rime ntos de onda
são barra das com o curto s cm outro s
uso de um liltro. Esse filtro limita-se a elimi mais longo s, que, nessas circu nstân cias, se
nar da cnern ia inci- enco ntram na regiã o
dente sobre o filme uma faixa espec tral que visível. algo seme lhant e ocorr e com as radia
corre spo~ deria à ções infra verm elhas .
excit adora cio fi ltro. Com efeit o, quan do tal acon t.ecc, estam os
em prese nça da
Essa técni ca é útil, em parti cular, para a ident de nomi nada ·'lum inesc ência " , e o objet
ificaç ão de cer- o irrad ia luz vcrde -
tos minerais e resi nas sintéticas polem izáve awla da, sem qualq uer vestí gio de infra verm
is. Em Criminalística elho (IR) nos raios
é usad a para "colher impr essões digitais'' laten que emite .
tes sobre docu - Para fazer uma separação , po<le-se coloc ar
ment os, selos de con-cio e sobre notas de dinhe um filtro que per-
iro. Isso tamb ém mita passa r para a câma ra cão-s omen te os eomp
se utiliz a no traba lho foren se de ident ificaç ri ment os de onda
ão de impressüe s la- recém -criad os pela radia ção lR. Para obter
tl'nte s com pós fluor escen tes na visualizaç melh ores resultados,
ão. recomenda -se trabalhar cm um amhi ente obscu
• Font e de ilumi nação sugerida:.flash eletrô ro, prefc rente men-
nico ou lâmp a- te lívre de radia ções infra vermelhas (TR).
da.:; d.e emis são de UV funcionan do em um E ssa técni ca é parti eular meme útil para o
ambiente es- estud o das tintas
curec ido. utilü adas em porce lanas de resta urações vesti
• Piltro de excit ação suge rido: quan do se bulares, hem como
usam lâmpadas na detec1i'.ão de falsif icações na fotog rafia
forense.
própr ias, esse filtro não é neces sário. Usan
do.fl ash eletrô - + Font e de ilum inaçã o suge rida: lâmp ada de tungs tênio
nico. o mesm o deverá ser usado com um fil tro ou
Wratten 18A flash eletró nico.
no flash .
• Filtro de batTagem sugerido: Wrat ten 2A • Filtro de excitação sugerido: Corni ng 9788
ou 2E. sobre a fonte
• Film e aprop riado : o Jilme tipo lu:t.-d o-día de ilum inaçã o mais um filtro Corn ing 3966
, de inversão de , que abso rve
cores , parec e ser o de melh or desem penh o. o calor coloc ado entre a fonte e o fi lcro 97 88
O efeito para a já menciona-
difen.:nciação de cores atrav és de nuan ças de do, quando se usa fonte de tungstênio. Certo
cínza, no fi 1- s lasers awis.
me preto-e-bn mco, é meno s marc ante que
ou azul-esver dead os t.amhém pode m ser w;ado
o obse rvado na s, nesse caso,
,eção anlt'r íor. sem quais quer filtros . J
• E \pos ição: pode ser obtid a atrav és de • Filtro de ba011mento suge rido: Wratten
experiênc ias, mas a 87. 87C ou 88A. 1
e,-.;-asse7.. <le lu1. na fotog rafia revel a-se muit • Fí lme: Koda k de aha velocidade , para infra
o meno r que a • Exposição: é dcte1minada geral ment e atrav
verm elho. 1
'iue ~e capta visua lmen te. és de expe ri- 1
• Fo.:-o : \ isual. ment ação prévi a. Em geral . o temp o de expo
sição é bas- J
tante longo.

f'otograjta Forense. 23

• Foco: deve ser ajustado para resultados críticos. exatidão a cena ou o objeto tal como foi visto pela própria teste-
• Nota: Quando a fotografia de luz infravermelha refletida munha.
é feita com o.filme de cores infravermelho, a luz "branca" É óbvio que o fotógrafo forense, associado ao odontolcgista.
mais o infravermelho (IR) devem incidir sobre o objeto. deverá conhecer, se não todos os recursos da computação gráfi-
Para wnlomar isso, um filtro Wrallen * 12 pode ser utili- ca (que seria o ideal). pelo menos o maior número possível. Dessa
Lado frente à objetiva da câmara para eliminar da radiação forma, poderá usar essa térnica quer como instrumento pericial
incidente a luz azul à qual as três camadas do filme em cores de busca de convencimento, quer como mero recurso de demons-
para IR são sensíveis. tração.

, ,
A UTILIZAÇÃO DA PROVA SETE PRINCIPIOS TECNICOS
FOTOGRÁFICA ELEMENTARES
Oto Henrique Rodrigues (op. cit.). célebre e.xpert gaúcho.
Quando as imagens digitalizadas são utilí:tadas para fins fo.
esboça alguns plincípios técnicos elementares, válidos para qual·
renses, o problema em admitir esse tipo de prova deve ser
quer tipo de pericia e perito que possa fazer uso da computação
alevantado. O fato de as fotografias digitais serem mais ·'alterá-
gráfica como, no caso, seriam as fotografias digitais. Eís os "prin-
veis" que as conservadas cm filmes - negativos ou positivos -
cípios'':
é o argumento mais citado. Há uma corrente jurisprudencial,
inclusive, que não admite as fotngralias digitais para fins pro-
P,imeiro: Ter presente que trabalhamos com matéria fisica-
cessuais.
mente visível, palpável, mensurável, isto é, trabalhamos sobre
Esta seção foi concebida no sentido de esdarccer esse campo
peças originais.
tão confuso, o que. via de regra. resulta de rnnfusões conceptuais
e informações errôneas a respeito do tema.
Segundo: Não posso mudar a peça original através da com-
putação gráfica.
A Legislação Brasileira Terceiro: Os equipamentos de captura de imagens somente
Tanto os Estatutos substanúvos -Códigos Civil, Penal e do retratam o que vêem seus olhos eletrônicos (CCD).
Consumidor. e Estatuto da Criança e do Adolescente, para citar
os que mais se relacionam com a matéria - como os Estatutos Quarto: Nosso trabalho é, todo ele, baseado cm imagens.
adjetivos - Códigos de Processo Penal e Civil- e outras nor-
mas subsidiárias que legislam sobre matéria de prova foram ela- Quinto: As imagens virtuais somente são cargas elétricas ar-
borados muito antes de a fotografia digital ser difundida e, as- mazenadas em um meio apropriado e praticamente não têm
matéria, sendo seu valor avaliado em função do ..quantum'' de
sim, incorporada ao conjunto probatório.
Destarte. quando o Código de Processo Civil cita. no seu art. realidade mantêm com o documento físico original.
429, in 11erbis:
Sexto: Citadas imagens eletrônicas podem refletir fielmente
o objeto original ou podem ser modificadas parcialmente ou cm
''Art. 429. Para o desempenho de sua função podem o
perito e os assistentes técnicos utilizar-se de todos os meios sua totalidade. Todavia. o mais elementar é que qualquer pes-
necessários. ouvindo testemunhas. obtendo infonnações, so- soa, expert ou não, poderá distinguir entre um e outro. Aliás, isso
licitando documentos que estejam em poder de parte ou em é irrelevante, uma vez que o desenho foi e ainda é largamente
repartições públicas, bem como instruir o laudo com plantas, utilizado como demonstração em relatórios periciais. sem que
desenhos,.focngr~fias e outras quaisquer pe.r,;as.'· ninguém nunca questionasse que o desenho modíf'ica a realida-
ro grifo é nossol de.

Ora. uma vez que não foram vedadas expressamente e. ain- Sétimo: É pueril não empregar algo tão simples e produtivo
da, que as fotografias digitais são apenas uma forma de registro, para fazer um trabalho de vcrifica~ão e demonstração de seme-
além do que poderiam ser incluídas no genérico ilimitado ''ou- lhanças e diferenças apenas porque há parles interessadas em
tras quais,1ua peças", inexiste qualquer proibição para que seu alevantar suspeitas cm tomo da honestidade e bom carácer dos
uso seja admitido nas coites. peritos.
Nessa esteira, a mais avançada jurisprudência admite que a
fotografia pode ser armazenada digitalmente em um computa-
dor. que esta é considerada um original e que qualquer c6pia exata Procedimento Padrão
que dela tenha sido feita pode ser admitida como elemento de
É necessário desenvolver um proccdimcnco operacional pa-
prova em juízo.
dronizado, para garantir que uma fotografia digital seja admiti-
A principal exigência para que isso aconteça - tanto para
da em juízo. Esse procedimento inclui:
fotos digitais como para fotos obtidas sobre filmes - são a
pertinência e a autenticidade e, exceto quando a fotografia é aceita • Em que opo11unidades se utilizam imagens digitais;
por ambas as prutes. Caso contrário. a parte que pretenda fazer • Concme ou seqüência de cu'it6dia;
prova com uma foto deve, soh compromisso, afirmar que a foto- • Segurança das imagens;
grafia é uma reprcsenlação fiel da cena ou do material. Por ou- • Realce das imagens;
tras palavras, está a testemunhar que a fotografia retrata com • Liberação e disponibilização das imagens.
b ~.: procedimento de rotina, como é curial, não se aplica Couone, J.A. and Standish, S.M. Outline of Forensic Dentistry. Chica-
.:.penas às fotografias digitais, mas tamhém às fotografias con- go: Year Book Medical Publishcrs, lnc., 198::?. .
,·cncio nais sobre filmes e fitas de vídeo Culignola, L. and Bullough, P .G ., Photograph ic repro<luclion of
O mais importante. cm todos os casos, é conservar a imagem anatomic specimcns using ultraviolel ilumination. Am. J. Surg. Pa-
digi1al original. Isso pode ser feito de diversas formas. levando tholo f?Y, 1096· 1097, 1991.
em consideração : David, T.J. an<l Sobe!, M.N. Rccapn1ring a fivc month old bile mark by
m~ans of refledi vc ultra violec pho tography . J. Frm111sic Sei.,
• Fa;,.er a gravação (sai•ing) do arquivo de imagem em disco 36(6): 1560-1567, 1994.
rígido ou cm CD. Dawson. J.B. A Theorctical and Experimental Study of Light Absorption
• As imagens digitaís devem ser preservadas nos formatos anti Scattcring by in Vivo Skin. Phys. M ed. Biol.. 25(4): 1980.
originais dos arquivos. A regravação em certos formatos DcVore, D. Ultraviolct Absorprion anti Fluorescencc Pheno rnena
Associatecl with Wound Healing. Thesis for Docwr o/ Philosophy.
pode fazer com que a imagem perca compressão. Quando
t:ni versity of London. Dept. of Oral Pathology, Oct. 1974.
se emprega a perda de compressão, infonnações vitais da
DeYorc. D.T. Ratliology and Pholography in Forcnsic Dentistry. Dem.
imagem podem ser perdidas e podem ser introduzidos ar- Clin. Nortfu1m., 2/:69, 1977.
tefatos. 1::::astman Kodak Co. Medirnl lnfrared Plwto!{raphy. Ko<lak l'ubl. N-1 .
+ Se as imagens são mantidas em um computador central ou Rochcstcr. New York: Eastman Kodak Co., 1973.
em um servidor, onde di versas pessoas podem ter acesso t::astman Ko<lak Co . Ultraviol,it & Fluorescence Photogruphy. Kodak
aos arquivos de imagens, estes devem ser disponibiliza dos Publ. M-27. Rochcstcr, J\'ew York: Ea.~lrnan Kodak Co.. 197::?..
apenas como arquivos para simples lei tura. de modo a que Easrman Kodak Co. Usin1: Pho1ography to }'reserve J:::,•idellu M-2.
ninguém, dolosa ou culposamente. possa modificar, detetar Rochester, New York: Eastman Kodak Company, 1982.
ou regravar citados arquivos. Easlman Kodak Co. Kodak Filters. Publication B-3A KIC. Rochcster.
New York: Easunan Kodak. Co.. pg. J . s.d.
• No caso de que uma imagem tenha de ser analisada ou Easunan Kodak Co. Kodak Guide to 35-mm Phorugraphy, 6'hed. Ro-
realçada. deverá ser feita uma cópia do arquivo e trabalhar chester. Ncw York: Eastman Kodak Co., 1989.
sobre essa c<'ipia, que será "salvada" (gravada) com outro freche, C.L. Symposium on Dental Photography. Dent. Cfin. North Am..
nome de arqui vo. 27( 1). 1983.
• Arquivo oliginal, em hipótese alguma. será substituído ou rri ar . J.A., Wcst. M.H., Davics, J.E. A new fil m for ultra\·iolet
regravado (overwrillen) como um arqui vo novo. photography. J. Forensic Sei.. 3./(1):234-238 , 1989.
Fuji Pholo Film Co. Pr~/ession(I/ F11jiclrrome, F1tiicolor/Neop an Data
Alguns cuidados complementa res devem ser tomados, para C uide. ver. A, Tokyo. foji Photo Jiilm Co., 1994.
evitar que um trabalho técnico de primeira qualidade não ven ha Go ldc.n, G. Use oi' Altcrnative Light Source mumination in Bite Mark
a ser prejudicado face à má interpretação das partes e/ou de ter- Photography. J. Furemic Sei., 39(3), 1994.
ceiros. Guilbault. G. Pranical Fl1wre.w:,mce. New Y~lrk: Marcel Dckker, 1973.
Oto Henrique Rodrigues (2001 ), um dos mestres nacionais no 1lyze r. W.G. and Krauss, T.C. The Bitc Mark Standard. Ref<;rcncc Sca-
tratament<> de imagens e cm computação gráfica forense , assim lc - ABH) N.º 2. J. Forensic Sc:í., 33(2):498-506, 1988.
resume os cuidados fundamentais : Lun non, R. Rejlecied Ufmn:iolet Phorvgraphy in Medir:i11e . M . Phil.,
1..: ni versiLy of London, 1974.
1. ~unca tratar urna imagem ao ponto de produzir uma mo- Luntz, L.L. an<l Luntz, P . Ha11dbuok for Dental lde11t(fkation :
dificação signiticati va. É eticamente aceitável que se faça Techniques in Forensic De11tistry. Philade lphia: J.B. Lippincott Co.,
um processame mo artificial da imagem mediante coman- 1973.
dos específicos orientados pe la visão do objeto ou peça M,L~ tcrs, N .. Shipp, E. and Morgan. R. DrO, Jts Usagc and Resulls -
original. a título de demonstração, se espelham a realida- A Stmly ofVarious Papcr Subslr<1tcs and lhe Rcsulting Fluorescence
llnder a Varicry of Excilation Wavelengths. ./. Fore11.1k l dem{/ica-
de.
tio11. 410):1991.
2. Não fazer comparações de tamanhos entre duas image ns, Miron. r. Photographie. Paris: Dunod, 1925.
se i1ão foi feito o controle da proporção e dimensão desde ~ieuwenhuis, G. Lcns foc us shi ft for re ílcctcd ultra,;iolct anti infrarcd
a capturn da imagem. N unca fazer a redução ou amplia- photography. J. Binl. Photog r., 59:19. 199 1.
ção nas <limensôcs mediante o emprego de um software l\ucbarl, 1. The Photugrapfiers Cuide to F.xpusure. l\'cw York: Billboard
gráfico. Publications, 1988.
3. Não é fácil fazer uma demonstração da distinção de cores Ray. B. Use of Ahemate Light Sourccs for l)etcccion of Body Fluids.
emrc o padrão e o questionado, tendo o máximo cuidado South Western Assoe. Forensic Sei. J.. 14(1 ):30, 1992.
se há essa intenção. Lembrar sempre que: a consciência é Rcgan, l. D. ánd Panish, J.A. The Scie,u:e ofPhotomediâ ne. l'iew York:
Plenum Prcss. 1982.
o senhor do perito.
She rrill. C.A. P ro fcssional Tcc hniques in Dental Pho lography:
Biorncdical PhotogrJphy. A Kodak Semil!ar in Print. Rochesler, New
York: Eastman Kodak Company, 1976.
BIBLIOG RAFIA Shillaber. C.P. P/u,tomicrogm phy in 111Rnry and Praccice. New York:
fohn Wilcy & Sons, lnc., 1947.
Stoilovic, M. Dctcction of Semcn and Blood Stains Using Polilight as a
·, ::.:ri,·,111 floartl offorensic OdonLology. lnc. Guitlclines for Bi'te Mark Lighc Som-ce. Forensic Sei. lnt.. 51:289-2%. 1991.
\::,1l ys is. J. Am. Dtnl. Assoe., / /:?(3):383-386. J 986. Williams, A. R. and Williams, G.P. Tbe invisiblc imagc-a tutorial on
:.:-: :.1. R.S. Applied Phorographr. New York: roca! Press, 197 1. photography wilh invisiblc radiation. I. lmroduction anti rctlcctcd
=:· -:-.-:~:::. \-l.L. Thc Applicarion of Photography in Forcnsic Dcnrisrry. ultra viole{ lechniqucs J. Biol. Phorogr., 61(4): 119-1 24, 1993.
: : ·· · C!i11. North Am.. 21:69. 1977. Williams, A. R and Williams, G.E. The invisible irnagc - a tutorial
=: · - · - : . S 1-.: .• Creer. K.E. e1 ai. L'ltravioler Luminesccnce From LatenL <.>n phoLOgrap hy wirh in vis iblc radi ati on. II. Fl uorcs ccncc
- ; ~:-:-:::11,. Forem i<: Sei. l11t., 59:3- 14, 1993 . photography, ./. Biol. Plwtog r .. 62( 1):4, 1994
---

... ,', ·. >.: ..: :.... .... ·. . .·.


. .. . . .
.... ·.

"""
NOÇOESDE
TRAUMATOLOGIA
FORENSE

--·---·-- ·--·---·--··- - -··-~·-------· ··---


--- ....,.,...,,.
/

....

Energias Lesivas
·-----··· -------- ----·--- ---- ·-----· ------
Jorge Alejandro Paulete Scaglia

Em todos os casos, quando uma fo rma de energia entra cm


CONCEI TO contato com o corpo (ou o corpo entra cm contato com ela), no
ponto em que ocorre a transferênc ia de. energia para aquele, pro-
A matéria pode apresentar-se de diversas maneiras, consti- duzem-se alterações das estruturas superficiais (cutfrneas e mu-
tu indo os denominados estad-Os da matéria na natureza: sólido, cosas) e/ou profundas. internas (músculos. ossos etc.), ou, ain-
líquido, x asosu, p/asmátiw (em reatores nucleares) e "conden - da, modificações das atividades ou funções de tecidos. 6rgãos e
=
sado'' (resultante da BEC Rose-Einstein Co,uiensation). sistemas. A alteração morfológica oufímcimial do corpo no lo-
A energia nada mais é que uma das formas de existênda da cal em que ocorre uma transferência de energia é o que se deno-
matéria. pois é equivalente a ela e interconversí vel com ela. mina ln.âJl.,
segundo a relação expressa pela equação de f;instein, Daí que.se denominem energias lt:sivas quaüquerfor mas de
energia capa-:.es de provocar lesões, ou. e ntão, energias
E=mc2
vulnerantes todas aquelas jórmas de energia capazes de
onde E é a energia equivalente à massa m , e e a constante eletro- vulnerar o organismo.
magnética (velocidade da luz, igual a 3 X 101' m/s).
i\ energia existe sob diversas form as. podendo passar de uma
para outra. sendo a tendência natural converter-se na forma mais
simples. mais comum, que é a energia ténnica. Todavia, nenhum AGENTES LESIVOS
processo de inlerconvcrsão ocorre com 100% de rendimento, uma
vez que parle ela energia rotai de um sistema se dissipa. Isso cons- São todos aqueles capazes de provocar lesões, podendo ser
tituí a ''dex radação da energia" ou tendência ao aumento de agrupados em: instrumento s e meios.
<tntropia.
A guisa de exemplo, podemos tomar a energia cinética ou
de movimento, que é uma das fonnas mais comuns e freqüenr.es. Instrume ntos
e reside nos pr6p1ios corpos. Dessa maneira, quando estes se
deslocam com certa velocidade V, tornam-se capazes de produ- São objetos ou estrutmas que transferem energias cinétiças
=
:t.ir um trabalho. i\ fórmula dessa energia cinética é F, I/2mvz. (mecânicas), como se observa no quadro a seguir.

INSTRUMENTO APLICAÇÃO DA MECANISM O FERIMENT O EXEMPLO


ENERGIA sobre (LESÃO)

Perfurante um ponto pressão- penetração punuório alfinete , agu lha, sovela.


prego, estilete

uma linha dcslii.arnento inciso navalha, gilete


Cortante

Contundente área+ massa pressão-esma gamento contuso cassetete.. chão. muro,


pressão + es garçamento lácem-contus o pára-choque, pau
..
28 Energia:, Lesivas

INSTRUMENTO APLICAÇÃO DA MECANISMO FERIMENTO EXEMPLO


ENERGIA sob1·e (LESÃO)
Pérfuro-codante ponto+linha pressão-deslizamento pérfuro-inciso peixeira, faca, bisturi
Pérfuro-contundente ponto+massa prcssãt>-pcnccração pérfuro-conl uso projétil de anna de fogo,
chave de tenda
Corto-contundente linha+rnassa pressão-esmagamento corto-contuso machado, dente, foice,
unha, facão
Lacerante Jinha+massa esgarçamento laceração serra, motosserra,
serrote. trançador

Meios câuslicas (soda. potassa), substâncias corrosivaJ (,kidos. e.g.


como no caso da vitriolagem) entre outras.
São todas aquelas situações que transferem quaisquer ou!J'as
formas de energia d{ferentes dajúrma cinética (mec,1nica).
Dividem-se em: MEIOS FÍSICO-QUÍMICOS
Em que há um somatório de energias, como. por exem-
MEIOS FÍSICOS plo, a enngia mecânica + a enagia química, no caso da
asfixia.
Diferentes dos mecânicos e que compreendem energias sob
a forma de vibrações. sendo ce1to que a avaliação da energia total
do sistema pode ser calculada pela fórmula MEIOS BIOQUÍMICOS
E=hv Inanição.

onde h = constante de Planck (6,6256 X 10-;, J) e v = a fre-


qüência BIODINÂMICOS
Coma, estado de choque.
Sonora: instantânea (explosão, impacto) ou contínua (ruído
h1boral. música com potência)
Elétrica: cósmica (queroaurântica: raio. centelha) ou artifici- PSÍQUICOS (PSICOSSOMÁTICOS)
al (eletricidade industrial) Estresse, ansiedade.
Ténnica: frio (geladura), calor (queimadura. intermação, in-
solação) MISTOS
Luminosa: solar. artificial Fadiga.
Radioativa ou actínica: raios X, radium, cobalto, raios o:, /3 e -y
Barométrica: pressões hiperbáricas (escafandros, caixões)

_..\\1HOS QUÍMICOS BIBLIOGRAFIA


Nos quais a energia é liherada pelo sistema durante uma rea-
ção química, a exemplo do que acontece com as substâncias As referências esrão incluídas no final do Cap. 9.
- . ----- -----
·,·

Lesões Contusas
Jorge Paulete Vatirell
Jorge Alejandr o Paulete ScCtglia

3) Tração, que pode produzir arrancamen tos e laceraçõe.s.


DEFINIÇÃO Quando a tração se exerce sobre uma víscera, pode ocasio-
nar ruptura do aparelho suspensor da mesma. dos ligamen-
Designam- se lesões contusas as provocadas por instrumen- tos e/ou do pe.dículo va~cular, obviamente além das pro-
tos eontut1dentes. cuja classifi cação se dá por exclusão: duzidas na própria víscera nas inserções;
4) S11q·iio, que determina uma depressão circunscrita ;
1. A cabeça e as extremidad es do homem e dos animais.
5) 1-;xplosiio, que de.corre do aumento primário ou secundário
2. Tnsuumcntos próp1ios para o ataque e a defesa (e.g. "soco-
da pressão interna. Também por deformação compressiv a:
inglês", hordu na, cassetete, nu11tchako).
para esta última, lem brar a forç a necessária para quebrar
3. Ferramentas de trabalho (e.,:. martelo, marreta e utensíli-
uma noz~
os. desde que utilizados por impacto).
4 . Objetos no seu estado natural (pedras. paus etc.).
5. Objetos dos mais variados : qualquer estrutura, pouco im-
. - --··· portando se é ela que vem de encontro ao corpo da vítima
ou se é este que vai se chocar contra ela (l1.g. paredes, solo
LOCAL IZAÇÃ O
etc.i.
Superficiais
Com n e xcq:ão da escoriação, .mmente ocorrem em corpos
com vida. ·
MODALIDADE DAS LESÕE S
Os instrumento s contundentes, animados da necessária ener- RUBF..FAÇÃO
gia cinética, sào capazes de provocar soluções de continuidade e A pressão libera histamina, que dá vasodilatação. Hd m1to/'l's
lacerações, mais ou menos cxte-nsas. dos tecidos moles, dos va- que 1tão u consideram lesüo porque niio hâ saída do sangue d<>S
sos, das vísceras e das estruturas ostcoartícu lares. vasos. Encontram -se nas compressões e nas irritações agudas ou
crô nicas.

Formas Lesivas El>RMA TRAli.M/\ TJCO


Decorrem em função da massa. da força viva de que os cor- Aumento do líquido extracelula r e cxtravasc:ular, provocan-
pos estão animados, da direção na qual se movem. da duração do distensão com limites nítidos. por vezes com a forma do ins-
do contato, da elastic idade dos tecidos golpeados, da maior ou trumento.
menor moleza do local e da presença de resistências subjacen-
tes. J\. ação contundent e sobrevém como conseqüência de: BOSSAS UNt'ÁTIC AS E SANGÜÍNEAS
1) Comp re.ç.wio, que determina esmagame nto. mormente Produzidas pelo acú mulo de linfa (.. galo d 'água'') ou de
quando há uma resistência subj ace nte; .w11gue, quando há um plano sutJjacem e resistente e imper-
2) Coma.to tangencial, por atrito: · meável.

-~
1 11 +· ! /1 1\ll:1
1
j \1
,
! J 1! 1,
,! 1 ,,
' !
30 lesõeJ Conlusas

em chapa, asfalto; apergaminhadas, no sulco de enforcamen-


to).
Pela sua localização, orientar sobre o tipo de crime: em torno
do nariz, na sufocação; em torno do pescoço, na esganadura; nas
coxas, ,iâdegas e mamas, no estupro e no atemado violento ao
pudor; esparsas pelo corpo, no alropelamen10.

LACERAÇ,\O (LESÃO I.ÁCERO-CONTUSA)


À semelhança da anterior, resulta da ação mais ou menos
tangencial do instrumento. que. pela força de arrasto ou de tra-
ção, acaba por provocar esgarçamentos ou dilacenu;ões dos te-
cidos, gerando lesões: e estas, pelas suas características gerais,
podem parecer-se com as corto-contusas sem, contudo, exibir
Fig. S. 1 Mecanismo de fonnação de bossas e hematomas: 1) coleção a relativa nitidez provocada pelo impacto do gume do ins!.fu-
líquida (linfa ou sangue): 2) c6rion; 3) tecido mais resistente e imper- mento sobre o corpo: suas bordas são irregulares face à di lace-
meável. (Apud Gilbert Calabuig, 1998, modífic:ado.) ração.
As lesões lácero-contusas mostram as seguintes carac-
terísticas:
HEMATOMA
Lago sangüíneo, localizado, formado pelo rompimemo de
vasos. Além de superficial. pode .o;;cr em profundidade, em plena
massa de órgãos (hematomas exlradural, subdural, intramuscu-
lar), e em espaços teciduais (retropcritônio, mediaslino).

EQUIMOSE
Sufusão hemorrágica dijt,sa que se infiltra na espessura dos
tecidos, ocasionada pelo rompimento dos vasos em face da ação
do instrumento contundente. do qual pode guardar a fomw. A
transformação química da hemoglobina fora do vaso leva a mu-
danças cromáticas na evolução: espectro equimótico de Legrand
du Saulle: avermelhado, vermelho-violáceo, azulado, - 3
esverdeado, amarelado. Podem assumir a forma de suft1s(1es _ _ _ _L4
(lençóis), <le víbices (estriações, ··cobrinhas..), de sugilações (em
grão de areia sobre uma área) ou de petéquias (pontos de I mm
ou mais de diâmetro).
Fig. 5.3 Desenho esquemático de uma lesão contusa: 1) irregularidade
das bordas, em geral amplamente laceradas e franjadas: 21 contusões
ESCORIAÇÃO das margens que, àf.. vezes. são pouco perceptíveis: 3) presença de pon-
Resulta da ação mecânica langencial do instrumento, que tes de tecido 4ue se estendem entre as margens do ferimento: 4) fundo
deixa a derme ao descoberto por arrancamenlo da epiderme. Não irregular, contuso e hemorrágico. (ApudGilbert Calabuig, 1998. modi-
havendo seção das papilas, apenas flui serosidade. que forma ficado.i
crosta amarelada (melícéríca) quando seca. Quando há seção das •
papilas, existe mistura de sangue na serosidade. e a crosta que se
fom1a ao secar é castanha ou amarronzada. Ao se destacar a cros- Profundas
ta, pode ficar uma mancha hípocrômica temporária. No cadáver,
por não haver circulação, ainda que possam ocorrer escoriações, ENTORSES E l,UXAÇÜES
não se fom1arão crostas. Tracionamentos e contusões que distendem ligamentos (en-
torses). Quando as superfícies articulares perdem contato. ainda
que seja temporariamente, fala-se em luxaç:âo.

FRATURA
3 É a solução de continuidade do osso. Pode ser fcdrnda ou
exposta; completa ou incompleta; única, múltipla ou cominutiva:
4 "em galho verde'', transversa, oblíqua, longiludinal. espiral ou
em mapa-múndi.
fii.. ~-= R,•rnlho arrancado da epiderme; 2) direção da força
RUPTURA VISCERAL
=-··- ·. .::.. 3, ~piderme; 4) derme.
Em geral, resulta de aumento de pressüo, mais ou menos lo-
calizado, que faz explodir vísceras ocas com conteúdo líquido
~ =·.:. , --'forma. podem indicar o instrumento (lineares es- (hcxiga, vesícula, estômago) ou dilacera de vísceras maciças por
, - - ~::-..:::ientos pontiagudos; lineares largas, estigmas tracionamcnto (arrancamentos esgarçamcntos). ou por penetra-
- - : _~ '-,. ::..-:-.:.:-:h,"•6: semilunares, unhas: pit1Cl'ladas, cascalho; ção ( perfuração, transfixação, seção).
Ll!sõei ConJu.m.t 31

A B

e D

E F

e fratura por ex-


Fig. 5.4 Algumas das formas mais freqüentes de fraturas: A) fraturas incompletas; 8) fraturas múltiplas; C) fratura comínutiva
fratura por compressão; F) fratura "em galho verde". (Apud Baima Bollone & Pastore
plosão; J)) fratura por torçlio; E ) fratura por arrancamento e
Trossello. Medicina Lega/e. e dei/e Assicurazioni. Torino: Giappiche(Jj, 1989, modificado.)

ESMAGAMENTO Abertos. quando o instrumento com ação cQntundente aplica


Provocados por compressões violentas de grandes massas sua energia diretamente sohrc o crânio, em forma tangencial ou
(desabamentos, acidentes de trânsito com prisão entre as ferra- de maneira perpendicular, com afundamento (lesão ··em mapa-
gens) ou por ondas de pressão/deco mpressão alternadas (nas mundi"), de Carrara.
explosões, e,f infra).

LESÕES POR EXPLOS ÃO


TRAUMATISMOS DE CRÂNIO
A explosão é uma manifestação da transfonnação violenta e
Fechados. quando a massa encefálica móvel se desloca den- brusca de energia, que se acompanha de modificações físicas e
tro do crânio, chocando-se contra as paredes (lesões de desa- de mudanças quínúcas de ordem molecular. Citada transforma-
celeração) , ou quando o trauma provoca lesões vasculares que ção caracteriza-se pela passagem instantânea da energia poten-
levam a um dctTame sangüíneo, por extravasamento, como nos cial a outras fom1as de energia: cinética, ca16ríca, lumínica, di-
traumatismos crânio-encefá licos (l'CE) que provocam aciden- nâmica, ténníca. Blast (rajada, explosão) é a denominação inglesa
tes vasculares cerehrais hemorrágicos (hemorragia extrodural; que mais se usa para caracteri1.ar esse evento.
hemorragia subdum[; hemorragia intracerebra l ou intracap- O blast pode ocorrer na terra, no ar ou na água. em espaços
sular). abertos ou fechados, exibindo efeitos vulnerantes difere ntes.
32 Le.w,es Contusas

,,...--
(

Fig. S.5 Lesões contusas. fechadas. do cnçéfalo produzidas. indiretamente, por contrachoque: por aceleração. por dispersão de forças e por
desaceleração. (Apud Gilbert Calabuig. 1998. modificado.)

A
Fig. 5.6 Acidentes vasculares cerebrais hcml•rrágirns. que podem resultar de traumatismos crânio-encefálicos (TCE), mostrados em um coite
frontal da metade posterior do crânio: A J ht·mwragia e.wradural: B) hemormgia suhdura/; CJ hemmn,gia imracerehral ( intraeap.sular). (11pud
Gilbert Calahuig, 1998. modificado.,

Fig. 5.7 Lesões c:ontusas provocadas por traumas diver-


sos: indireto (concussão cerehral por contrachoquc) e
direto: com afundamento (por instrumento contundente),
com perf"ura~·ão (por instnuncnto périitro-contundente) e
com penetração (por in~trumento pérfuro-conante ). (Apud
Gilben Calabuig. 1998. modificado.)
(norma horizontal): no cen-
Fig. 5.8 Esquema das lcsôes com afundamento da calota craniana. À esquerda: lesão em ''mapa-múndi". de Carrani
de Strassmann (c~quema em corte); à direita: lesão "em terraço., , de Hoftinann (esquema em corte).
tro: lesão "em vazador",

Fig. 5.9 f-."ratura craniana cm "mapa-mundi'º. provocada pela queda de


um tijolo. (i\pud Spitz & rishcr, 1980, p. 146.)

Fig. S.11 Mecanismo traumático compressivo das fraturas de hasc do


crânio; as seras i nc.fü;am. cm A e B. os ~cnlidos da~força!; que agem como
potCncia e como resistência. A, longitudinal: R, transversal; C, na~que-
das, o intenso impacto da coluna vertebral contra a base do crânio pro-
voca a fratura em volta do l'oram c magno. (ApudTcixc ira op.c-it., modi-
fi cado.)

outros casos, podem ser vasos soh pressão (e.g. caldeiras). ~ os


casos homicidas ou bélicos, em geral trata-se de artefatos ad lwc.
como granadas de mão. m inas ou bombas de fabricação ca<,eira
ou comercial. podendo conter explos ivos de poder dc~t rutivo
vmiado: pólvora, dinami te, irotyl etc.
A explosão provoca uma onda de expansão. de pressão posi-
Liva. de fortíssimo empuxo/co m deslocamen to de um grande
volume gasoso. de milésimos de segundo de du ração. seguida
de uma onda de pressão negativa, de vácuo relativo, de menor
violência e intensidade , de ocupação do espaço esva:ôado no
Fig. 5.10 Lesão "em wnador". de Strassmann. provocada por ma11elada. momento anterior, que pode an·ancar a-; vestes das vítimas.
As lesões dcc(mentes da explosão (/Jlast i11jury) cncontmm-
se relacionadas com a proximidade das pessoas ao local do even-
e potência da carga explosiva. Trata-se. cm
Preqücntem enlc é acidental, mas também pode ter caráter homi- to. local atingido
cida. suic ida ou bé lico. Os a<:identes são, freqi.icnie.m cnte, por todos os casos, de. lesões contusas generali1.adas. de grande ex-
os (e. g. tensão. às quais podem acrescer-se queimadura s de graus diver-
explosão de botijões. balões ou tubos de gases comprimid
GLP ou gás liquefei to de petróleo, a<.:ctíleno, oxigênio etc .): c m sos cm face da deflagração do explosivo.
34 Lesôes Contusas

As lesões mais freqüentes ocorrem nas cavidades naturais do balins, esferas metálicas etc.), que se destinam a funcio-
tronco (tórax e abdome), que podem ser abertas e com sinuii; de nar como projéteis secundários, e
cventração, ou no crânio. Os globos oculares podem explodir, e • das oca-;ionadas por desabamento s de estruturas de .alve-
as membranas timpãnicas, perfurar-se; são muito freqüentes as naria de prédios, seguidas de esmagamento s etc.
fraturas expostas e as explosões ou rupturas viscerais.
No exame deve ser feíta, desde logo, uma distinção entre as
lesões produzidas pela explosão propriamente dita daquelas :
BIBLIOGRAFIA
• decnrrentes da ação de instrumentos contundentes coloca-
dos no interior do artefato (parafusos, pregos, porcas, As referências estão incluídas no final do Cap. 9 .


.

b

'
t
l
······6{i

Lesões por Arma Branca


Jorge Alejandro Paulete Scaglia

central (corpo). supcrficializando-sc nos extremos (cahe~a e


INSTRUMENTOS LESIVOS cauda, ou cauda de entrada e cauda de saída).

A caractetística mais comum, daí o nome armas brancas, é o fato


de que, historicamente, na sua maioria brilhavam, principalmente à
noite (pareciam ser "brancas"), à diferença das annas de fogo da épo-
ca. que, além de não reluzirem, projetavam fogo quando do seu --------- ~ - - - - - - ·
acionamento. Podem ser agrupados conforme o quadro abaixo.

CARACTERÍSTICAS DAS LESÕES


Lesões Punctórias
Produzídas por instrumentos per.furantes. Embora círculares,
podem ser deformadas pelas líl1has de força das fibras elásticas
~e::; ,,,.,- ----------- ---- ...........--:-==-----.
-- ' , - - ~ _________ - -
Cauda ele --- Cauda de
e musculares subcutâneas (ferída oval, triangular, em seta, cm Entrada Sai da
quadrilátero), seguindo as Leis de Filhos e Langer, que não .fe
cumprem no cadáver, mus apenas no vivo. Fig. 6.1 Vísta lateral e superior de uma lesão incisa.

Lesões Incisas A lesão íncisa exibe bordas e vertentes regulares que se


São típicas dos instrumemos conames. Chama-se incisão coaptam perfeitamente. Margens sem escoriações ou equimoses.
apenas quando é cirúrgica. Apresenta-se mais profunda na parte 1"undo sem trabéculas.

INSTRUMENTO APLICAÇÃO DA MECANISMO FERIMENTO EXEMPLO


ENERGIA sobre (LESÃO)

Perfurante um ponto pressão-penetração punctório alfinete, agulha,


sovela, prego
._
Cortante uma linha deslizamento inciso navalha, gilete

Pérfuro-cortante ponto+ linha pressão-deslizamento pérfuro-ínciso faca, peixeira

Corto-contundente línha + massa pressão--csmagament<> corto-contuso machado, dente,


foice, unha. facão
36 Lesões por Arma Branca

• Lesões de defesa: localizadas cm antebraços (face dorsal


e horda ulnar) e palma das mãos. ·

Lesões Pérfuro-incisas
Provocadas pelos instrumentos pérfuro-crntantes com um ou
dois gumes (faca-peixeira, adaga). Feridas mais profundas do que
largas, que têm a maioria dos elementos das lesões incisas (hor-
das, margem;, vertentes, fundo). Assumem forma de botoeira,
com uma comissura aguda (gume) e outra arredondada (costas),
ou as duas em ângulo agudo (ínstrumentos com doi~ gumes) ou
estreladas. quando a "lâmina" tem mais de dois gumes.
Fig. 6.2 1J Borda ou lábio; 2) vertente; 3) fundo. (Apud Gilbert Calabuig, Por vezes. há defonnação do orifício de entrada, face à movi-
l 998, modificado.) mentação da mão que empunha o instrumento, quer alargando
ou ampliando a lesào. quando há inclinação maior na saída, quer
mudando a forma, quando há rotação depois de fincada no cor-
Elementos especiais podem ser observados em alguns tipos po.
de lesões incisas:
• Sinal do espelho (de Bonnct): borrifo ou respingos de
sangue no espelho nos casos de esgorjamento suicida.
• Inclinação da lesão de esgorjamento: para diferenciar
suicídio (oblíqua) de homicídio (hori:.vmal).
q;i!'fff:;".~?ito'. .
_.. ·.:.:~:-~····· .,; :~:.:

•·:f;,;·~·.:.>,~:.:.;~-.;~-'~·.:_i::·~j~~t.:f~~~~trg·:· .,_
A B
., - -~-. ~

f!!'
.1:·
1:. ·:~:~

J/·:t,~ikiJJ:iff{
e
Fig. 6.S Lâmina com um gume (A), lâmina com dois gumes (8) e com
três gumes (C). (Apud t\lmcida Jr. & Costa .Ir., modificado.)

A B

Fig. 6.3 Esgorjamcnto suicida: A, contralateral (Qbscrvar a inclinação

t-
do corte, as hesitações e as retomada.~); B, ipsolateral, incisão vertical
rraro).

,·, / ,
.. ...
,. ,
'
·/ ./
I

:
:
,.,
,/
I I

V"
Fig. 6.6 Modificaçôcs da lesão pérfuro-incisa pelo movimenw da mão
qu~ empunha o instrumento. À esquerda: alargamento por inclinação; à
direita: rotação da mão. (Apud Veiga de Carvalho e/ ai., modificado.)

Um caso especial dessa modificação é a denominada lesão


"em cauda de andorinha", que aparenta o crnzamento de duas
frz. '>.4 ::. ·; :-_ .:::;çmo homicida: observar a direção do corte. que seria lesões diferentes. quando de fato ambas foram provocadas sem
-., . ,.- •.. ·: e:-'.-: ::':poj,ível de ser realizado pela própria vflíma. retirar o instrumento.
Lesões por Arma Branrn 37

Fig. 6. 7 "Cauda de andorinha". modí ficação da lesão pé1furo-incísa pelo


movimcnlo da mão do agressor. \·

As lesôes pérfuro-im:isas podem ser: .,


• penetra'"iiies: entram cm cavidades preexistentes: pleural,
pericárdica. peritoneal;
• perji,rantes: penetram numa pane maciça do corpo, sem
saída;
• tram,fu:antes: atravessam um órgão ou uma parte do cor-
po; Fig. 6.8 Lesão "cm sanfona·· de Lacassagnc. (Apud Veiga de Carvalh(>
• cmfundo-de-1~aco: quando perfuram, atingem umobs- et ai.. modificado.)
tárnlo resistente e não penetram além do comprimen-
to;
• em acordeão ou em sanfona: (de Lacassagne): 4uando a
superfície do corpo é deprcssí vel (parede de ahdome ), a
lâmina produz uma lesão mais profunda que o seu próprio
comprimento.

Lesões Corto-contusas
São lesões mistas, com algumas das características dos feri-
mentos incisos (efeito de cunha). mas produzidas pelo mecanis-
=
mo das contusas pressão sem deslizamento. Quando o instru-
mento. em acréscimo. tem um gume afiado. pode provocar le- 4
,,.······ sões que se assemelham mais com as incisas. As lesões costu-
mam ser muito devastadoras, decepando segmentos. fraturando Fig. 6.91) Equimoses em tomo da lesão; 2) tr.ihéculas no fundo: 3) borda
ou seccionando ossos etc. irregular; 4) fundo anfractuoso. (A1md Gilbert Calabuig, modificado.)

ELEMENTOS PUNCTÓRIAS INCISAS PÉRFURO-INCISAS CORTO-CONTUSAS

Bordas romhudas nítidas nítidas anfnu:tuosas

Contusão rara ausente rara presente


··-

Caudas ausentes presentes presentes auscmes

Ahcrtura deformada por função da extensão função da extensão fünção da c,tensão e ~


traçôes e outras lesões outras lesões

Perfil da lesão cilíndrico triangular à base variável triangular à base


cutânea

~
cutânea

Trajeto igual ou superior reto ou quebrado reto reto


à lâmina
Ve11cntcs ausentes lisas lisas (eventuais) irregulares

Fundo cego ou aberto liso cego ou aberto anfractuoso ··.~

Trabéculas ausentes ausentes ausentes presentes ·,


38 Us(ies por Anna Branca

ELEMENTOS PUNCTÓRIAS INCISAS PÉRFURO-INCISAS CORTO-CONTUSAS


Dimensão maior profundidade compLimento comprimento e profundidade
profundidade
Hemorragia externa ausente/mínima abundance variável abundante
Hemorragia interna grande ausente de média a grande variável
Tendência a infecção grande escassa variável grande
Seqüelas nulas ou raras freqüentes variáveis freqüentes e extensas

CARACTERES DIFERENCIAIS BIBLIOGRAFIA


No quadro acima são mostradas as principais caractc,ísticas As referências estão incluídas no final do Cap. 9.
morfológicas. funcionais e de evolução diferenciais das lesões
por arma branca.

,/
t
1
Lesões por Arma de Fogo
Jorge Alejandro Paulete Scaglia

dia, isso só se vê nas armas de caça: espingardas,


INTRODUÇÃO À BALÍSTICA escopetas), ou raiada, apresentando cristas inlcmas lon-
gitudinais (raias), dispostas de forma helicoidal. ora giran-
A Balística é uma parte da Física Aplicada que estuda os pro- do para a direita (dextrógiras), ora para a esquerda
jélcis (sua trajetória, os meios que atravessam etc.) e as armas (sinistrógíras), que imprimem ao projétil, quando do per-
de fogo. curso ao longo do cano, um movimento básico de rotação
sohrc o seu eixo. que sen'e para manter a trajetória, a dire-
ção e outorgar-lhe maior força de penetração.
Armas de Fogo
As armas de fogo são instrumentos que utilizam a grande
quantidade de gases produzidos pela queima instantânea de uma
carga, constituída por um combustível seco (pólvora ou suce-
dâneo) como forma de propulsão dos projélcis. Essa queima so-
mente ocorre na presença de "chama viva" (que era como se
delonavam as armas de fogo antigas: canhões, bombardas,
arcabuzes, hacamartcs, garruchas etc., com o auxílio de um
pavio aceso). Daí a necessidade de existir. nos cartuchos, uma
segunda mistura combustível, capaz de se acender (inflamar)
quando golpeada. Essa mistura forma parte da espoleta ou
escorva. COM5 RAIAS
As armas de fogo são compostas de três partes fundamentais: DEXTRÓGIRAS

1. A que se destina a segurar a arma: coronha (cabo) e arma-


ção (corpo).
2. Os mecanismos: o de disparo, constituído pelo percutor
(agulha). acionado pelo gatilhfl (tecla), e o de extra-
ção, para expulsar a cápsula (estojo) uma vez defla- Fig. 7.1 O raiado do cano e a medição do (;alibrc. Upud Rabelo. modi-
grada. fícadQ.)
3. O cano, que é a peça essencial, conslituída por um cilin-
dro metálico, fechado em uma de suas extremidades e aber-
to pela outra. A extremidade fechada pode sê-lo pela pró- CI.ASSIFICAÇÃO DAS ARMAS DE FOGO
pria fabricação (e.g. pica-pau e armas antigas) ou pelo car- A classificação da.ç arma.'> de fogo pode ser feita de acordo
tucho quando este se aloja na câmara (parte de diâmetro com o seu uso (de caça, de esporte. de defesa). com o compri-
ligeiramente maior). A cxtreri1idade do cano que dá conti- mento do cano (curtas e longas), segundo o acabamento intc·
nuidade à câmara é conhecida como "boca de carga", ao rior do cano (lisas e raiadas), seu calibre (0.22. 0,38, 6,35. 7 ,65.
passo que a outra extremidade, aquela através da qual o 12. 16, 36 etc.), seu funcionamento (de repetição. automáticas,
projétil abandona a arma, recebe o nome de "boca de semi-automáticas) e velocidade do projétil (de baixa velocida-
fogo··. A supe1fície interna do cano pode ser lisa (hoje em de, de alta velocidade). Em Criminal ística, também são classifi-
"'6) /.,,;,.;,,s por Arma de Fogo

cadas em armas de mão (revólvel', pistola etc.) e armas de ou jaquetados (encamisados), quando o núcleo de chumbo-
ombro (fuzil, carabina etc.). antímônio é revestido por uma delgada camada de laLão, que
facilita o deslocamento dentro do cano aquecido. Essa jaquew
Calibre (camisa) de latão pode ser comp1cta, isto é, cobrir intcgrnlmcnte
O calibre para as armas de caça ou armas de alma lisa é de- o núcleo, ou incompleta, isto é, deixando exposLa a extremidade
terminado pelo número de esferas de chumbo (balins), de diâ- do núcleo.
metro igual ao do cano, que pe1fazem uma libra de massa(~ Por razões de ordem física (aerodinâmicas), os projéteis ten-
454 g) (e.g. calibre 12 significa que 12 esferas de chumbo do dem a ser ogivaís na extremidade que se constitui na freme de
diâmetro do cano pesam 1 libra). O calibrt1 para as armas rai- avanço. Todavia, de modo a aumentar o seu poder vulnerante,
adas é dado pela medida do diâmetro do cano no fundo de duas os projéteis podem apresentar modificações que facilitam sua
raias opostas da alma. O calibre pode ser expresso em milíme- deformação, multiplicando o seu poder devastador quando
tros (Bélgica: 9 mm, 7,65 mm), em milésimos de polegada (In- impactam contra o alvo (e.g. o corpo da vítima). Essas modifi-
glaterra: 0.303, 0,380)oucm centésimos de polegada (EUA: 0,45, cações visam aumentar o diâmetro da extremidade anterior do
0,38 ). projétil:
• quer utilizando uma aleação mais male,ível ou menos dura
Munição que o resto do núcleo (projélâs ".w4i nose''),
Um cm1ucho é composto por diferentes partes: a cápsula ou • quer com modificac,;ões estruturais que l'ací I itam a sua rup-
estojo, a espoleta ou escm,,a, a carga (pólv<1ra), as buchas e o( s) tura/expansão (pr(déteis ponta 0 oca, ·'hollow pvitil" ou
projétil(ei.'~). dum-dum).
A cápmla ou estojo apresenta uma extremidade techada - a
base ou culote - e uma extremidade aberta. onde se encontra( m)
o(s) projétil(cis). A base ou culote pode aprc'.cntar um diâmetro
algo maior que o estojo - a orla saliente (ressalto ou talão)-
ou simplesmente ser desprovula de (Ir/a., mas apresentando um
gargalo estrangulado. O culote impede que a dpsula entre cm
profundidade na câmara e, ao mesmo tempo, serve para o cartu-
I--·)
cho ser empolgado pela garra do extrator nas armas de repetição
sem tambor. A forma da cápsula pode ser cilíndrica. tronco- Fig. 7.3 Seqlicncia da forma de agir de um projétil ".m/1 nose". Os 4/5
cônica ou semelhante a uma garrafa, podendo c;er totalmente posteriore.~ do núcleo são revestidos por jaqueta de latão (rraçado mais
grosso, no esquema), que visa limitar a deformação. por esmagamento
metálica ou com um cu lote de latão, e o corpo do estojo, de pa-
contra o alvo. da extremidade livre (anterior).
pelão ou de plástico. ·
A espoleta ou escorva pode <;er anular ou central, conforme
o local em que o percutor deve golpeá-la. A sua finalidade é in-
cendiar a pólvora que constitui a carga do cartucho. Esta, ao
tiucimar, desprende um grande volume de ga<;es ( 2.000 mi/=
g), que, ao saírem pelo cano, forçam a expulsão do projétil. As
buchas. presentes principalmente nos cartuchos de projéteis
múltiplos próprios das armas de caça ou de alma lisa, apenas
l
servem para conter a pólvora na cápsula (estojo;. separando-a dos
Fig. 7.4 Seqüencia da forma de agir de um projétil de ponta oca, au-
balins de chumbo. mentando a pressão na t·avidadc anterior, possihilitando que a extremi-
Os projéteis podem ser únicos ou múltiplos (bagos de chum- dade ~e fragmente e que os pedaços se abram, facilitando a ampliação
bo, nas armas de caça). Os primeiros, por sua vez. podem ser nu~ da frente de ataque.

Projétil Vedação

Cápsula Chumbos
ou
estojo

Cápsula ou
estojo
Espoleta

Fig. 7.2 Tipos de cartucho. Aesquerda, de projétil único; à direita, de caça a projéteis rníilliplos.
lesiies por Arma de For:o 41

:\1ecanismo de Disparo equimose cuja extensão e intensidade estarão em relação não


O mecanismo de disparo de um projétil segue, basicamente, apenas com o impacto do projétil, mas também com a Lextura
as quatro etapas esquematizadas na Fig. 7.5: dos tcddos da região: mais ampla, quando os tecidos são mais
laxos; mais estreita e menos evidente. quando mais firmes ou
consistentes.

O cm~jtmto dessas irês orlas é denominado pelos autores


saxões como anel de .Fisch.
Já nos tiros li curta dis1iJ.ncia ou disparos à "queima-rou-
pa'' - isto é, aqueles desferidos contra o alvo situado dentro
dos limites da região espacial varrida pelos gases e pelos re-
2. A espoleta 3. A queima 4. O projétil é
síduos da combustão do explosivo propelente expelidos pelo
1. O percutor
bate na inflama a libera empurrado cano da arma-, ocorrem a ação e deposíção de alguns ou de
espoleta pólvora gases no cano todos esses elementos sohrc o corpo ou sobre as vestes da
vítima, constituindo-se, por contraposição. nos efeitos secun-
Fig. 7.5 Mecanismo de disparo de um projétil.
dários do tiro.
Assim sendo, designam-se efeito.5 secundári(I.~ do tiro aque-
les que se relacionam com a ação ou com o dcp<Ísito de produtos
LESÕES PÉRFURO-CONTUSAS. Tamo do ponto de vis- residuais da comhwaâo dos explosivos, iniciador e propcleme.
ta forense quanto do ângulo criminalístico, os disparos podem bem como com corpúsculos metálicos provenientes da abrasão
ser efetuados a distâncias variáveis entre a boca de fogo <lo cano do(s) projétil(eis) na alma do cano.
da arma e a vítima. Os e.feitos secundários do tiro podem ser utilizados para aqui-
latar a di.çtância entre a bom de fogo do cano da arma e o alvo,
I) Disparos (tiros) apoiados ou encostados. a distância zero:
e, eventualmente, a direçüo do cano da arma com relação à víti-
2) Disparos (tiros) próximos, a curla distância ou à "queima-
ma. Esses cfciLOs estão sujeitos a uma grande variação relacio-
roupa"; e nada com o tipo e estado de conservação da am1a. com a quali-
3) Disparos (tiros) a distância.
dade da munição. bem como com a natureza e/ou região do alvo
atingido.
Projéteis de Baixa Energia. Com velocidades de 100 m/s até
Esses efeito.5 .,;ecundários do tiro compreendem as zonas de
500 m/s na saída do cano.
Ferimento de Entrada do Projétil. É variável segundo a
cont11rno, a saber:
distância do disparo e conforme o projétil seja único ou múlti- l. Zona de chamuscament<,:
plo. Existem elementos que são comuns a todo lipo de tiro, · É p;duzida pelos gases superaquecidos resultantes da com-
independendo da distância entre a arma e a vítima: são os deno- bustão do explosivo propelente e -.e forma nos tiros encostados
minados efeitm; primários do tirn. (di.li..~'::iª-zero) e até disiâncias de 15 m dos revólveres. É uma
Designam-se l:OlllO efeitos primáritH do tiro as ações me- zona rnrnct.erística do orifício de entrada do projétil, sendo
cânicas do proíétíl sobre~> alvo e que, em regra. são próprías verificada pela ocorrência de queimaduras dos pêlos e da pele
do orifício de entrada. E misler lembrar que esses efeitos da vítima (bem como de tecidos, podendo-se dar a combustão
independem da distância do disparo. ou seja. da distância entre das vestes quando estas se interpõem no local atingido e são de
a hoca de fogo do cano da arma e o ponto de impacto sobre o fios sintéticqs.).
ah•o (corpo da vítima). Os efeitos primários do tin1 compreen-
dem: 2. Zona de es umaçame11tu:·
a) o ferimento pérfum•c,mtuso ou lácero-contuw, e É constituída por granu os e fuligem resultantes <la combus-
b) as orlas, a saber:
tão da carga propelente. sendo superficial e depositando-se ape-
nas sobre a pele e/ou vestes interpostas, em tomo do orifício de
1. Orla de enxugo ou ,1rla de alimpadura: entrada, deprimido, sendo facilmente removida da região por
É produzída pela limpeza dos resíduos existentes no cano lavagem com hucha, água e sab_ijp.
da arma (pólvora, ferrugem, partículas etc.) que o projétil Aumentando a distância entre a hoca de f~g_o e o alrn. crcsl:e
transporta e que deixa ao atraves~ar a pele ou as ve!;tes, fi- o dií\!nctro da zona de e.~fitmaçam,mto, na medida em que ,-;isc
cando sob a forma de uma auréola escura em volta do orifício tornarido cadã vennais Cên~Trtepmtção-dos resídµos. cuja
de entrada. concentr~Ç!9..~@ímri-do cen{fo pái:ãi.i" pcrltcif~: com crescente
perda d~.!~~~s limfi:~
2. Orla de escoriação:
Corresponde a uma delicada área, localizada cm torno do fe- ,,3. Zq_na de tatuagem:
rimento pért'uro-contuso de entrada, em que a epiderme é arran- É composta por partículas degi:v~pólvora combusta) e de
cada pelo atrito do projétil. quando penetra, deixando exposto o grânulos de pólvora incomhusta:dispersos em tomo do orifício
côrion: vermelha e brilhante, quando recente: mate e escura, após de Cr.l![@ª:_dc bordas deprimid~s_. cujo diâmetro cresce progres-
algumas horas. sivamente alé perder-se a energia cinética de cada corpúsculo.
assim como a aceleração de qlÍc cst-á anímado.--······· ...
3. Orla equimótica ou orla de contusão: Com o cresccme alargamento <lo cone de disper.wio. vcrífica-
É produzida pelo projétil quando impacta sobre o rnrpo, quan- se que. a uma distância de 35 cm entre a boca de fogo do cano da
do se comporta apenas como um instrumento contundente (in- arma e o alvo, os pontos de tatuagem que se espalham sobre este
clusive ao longo do túnel de trajeto). Evidcnda-se como uma último já são poucos e bastante dispersos. seus efeitos pratica-
.a2 f~,:,6es por Arma de Fogo

biombo): sínal do <lcsfiamento "em cruz", sinal do cocar e


sinal do decalque.
• Sinal do funil de Bonnct: nos ossos, no!adamente os pla-
nos. mostrando uma escariação cm forma de funil, cuja
·'boca" aponta o lol:al cm que o projétil saí do osso.

Fig. 7.6 Orlas e zonas de contomo.1. Orla de enxugo ou de alimpadqra;


2.'~rla de contusão; 3. i'ona de csfumaçamenw; 4. zona de tatuagem.

mente cessando de ser assinaláveis. ol>servando-sc que o contorno 2


dessa área ou ama perde totalmente a sua regularidade e nitidez.
Fig. 7.9 Sinal do funil de Ronnet: 1. Escariação evidente na t,füua ós-
Casos especiais podem ser observados em alguns tipos de sea do lado con1rário à entrada do projétíl. 2. Esquema mostrando, no
disparo:
orifício de saída do crânio, a perfuração da táhua interna e a avulsão da
• Câmara (boca) de mina de Hoffmann: orifício de gran- tábua externa.
de tamanho. estrelado, de bordas laceradas, evertidas e ir-
regulares, com descolamento dos tecido~ do crânio, apre-
sentando o aspecto da cratera de uma mina nos disparos
encostados ou apoiados no crânio: • J,csão cm "buraco de fechadura": ocorre nos ossos da
• Sinal de Benassi: e.~fumaçamemo da tábua externa dos abóbada craniana, quando o projétil atinge a calota bem
ossos do crânio. cm casos de tiro encostado: tangencíalmente, mas com inclinação mínima sufi.cienlc
• Sinal de Puppe-Werkgarten: queimadura pela estampa para poder entrar. O mecanismo é mostrado no seguinte
do cano da arma. no disparo apoiado. c~qucma:

1 2
Fig. 7.7 Sinal de Puppe-Werkgarten. 1. Marca do cano. com a massa
de mira, em volra do orifício de entrada. 2. Esquema de marca deixada
por arma de cano duplo. na qual disparou apenas o cano da esquerda.
B
• Sinal do telão de Raffo: zonas, decorrentes da combus-
tüo da r.arga do carcuclto e do.\· gases produ;_idos, obser-
vadas sohr<' as vestes, que servem de anteparo (telão ou

e D

Fig. 7.10 Esquema de formação da le.<.ão em ''buraco de fechadura". A.


3 Início da penetração do projétil quase tangencial; B. a ponta do prtijétil
começa a levantar um fragmento do osso da calota craniana: C, o frag-
F~. -.~ Sinal do telão de Raffo: 1. Sinal do desflamento ··em cruz''. mento, forçado, fa1. charneira na borda oposta à penetração; D, o frag-
- - >:-.:.: ,, ~::,,:•,tado.~: 2. sinal do cocar; 3. ,5inal do decalque. (Apud mento se destaca e fica retido pelo couro cabeludo até que. durante a
é.;, .-:- .i..:. \\ ~:-:r.Jn. modificado.) necrúpsia, se solta completamente.
l .,e.wíes por Arma de Fogo 43

fície do corpo, ou pelo halo henw rrágico visceral de Bonnct ,


nas vísceras internas, ensejando a hemo rragia em "'T" de
Piedel icvre. ·
Cavidade Permanen te. É o orifício ou túnel permanent e
deixado no alvo pela passagem do projétil. É produzido pelo
efeito esmagador (pressão) e cortante (laceração) do projétil.
Dependend o do ·'desenho" do projétil. a cavidade permanente
pode ser bastante larga em diâmetro ou díficil de ser vista. Os
menores orifícios são produzidos pelos projéteis ogivaís ou ar-
redondados não-expans ivos e que não apresentam grande pre-
cessão e nutação.
Cavidade Temporár ia ou Temporal. É o limite do desJo.
camcnlo temponhio dos tecidos pelo efe.ito hidrostático. quan-
do da passagem do projétil .
.Ferimento de Saída do Projétil. Independe da distância do
disparo. Em geral:
l<'ig. 7.1 1 Fotogrnfia de uma lesão de entrada em "btiraco de fechadura··. • orifício maíor que o de entrada (face aos fragmentos ar-
no centro; à esquerda. um orifício de entrada comum, grosseiramente: cir· rastados pelo projétil),
cular, cmhnra se tenha deformado, 4uando da recolocação das partes. por • orifício de forma irregular,
eiaar logo no local da seção 1íssea para abcruu-.1 da cavidade crânica.
• bordas evertidas,
• sem orla de enxugo nem de escoriação.
• mas que pode apresentar orla equim6tíc:a ou orla de cvn·
fusão.
Trajeto do Projétil. D e.ve &er diferenciad o da trajetória
do projétil (que pertence à balístic;a ex.terna: fora da arma,
mas também fora do alvo). O trajeto representa o caminho, PROJÉTE IS DE ALTA ENERGIA . Com veloc idades de
reto ou não, seguido pelo projétil dentro do corpo. Não ha- 500 a 1.200 m/s na saída do cano.
vendo orifício de saída, estende-se de-sde o orifício de en- Ferimento de Entrada do Projétil. É variável , podendo
trada até o fundo-de-s aco onde se aloja o projétil. Pode ser ser congruente com o diâmetro (cali bre) do projéti I ou ass u·
único ou múlliplo (quando o projétil ú nico se fragmenta , ou mir um diâmetro muito maior, uma forma estrelada que lem·
quando o cartucho apresenta projéteis mú l!iplos, e.g. cartu- bra mais um orifício de saída ou uma câmara de mina de
chos dt;1 caça, 1n.zmição "Glaser"). p erfurante, penetrante ou Hoffmann (~em ter suas características, porquanto não se tra·
tram:fü:anüi (re ver esses conceitos cm "Lesões por Armas la de disparos enc:ostados). Essas modificaçõ es se relacionam
Brancas''). com a quantidade de energia transferida no momento do im-
Trata-se de um verdadeiro túnel csc:avado pelo prqjétil, du- pacto.
rante a s ua penetração. a expensas <la energia transferida aos Em geral, resultam de disparos (tiros) a distância, originários
tecidos ao seu redor. Estes são primeiro comprimidos centrifu- de am1as de fogo curtas (revólveres ou pistolas com munição
gameme, criando uma cavidade temporária , que volta ac) nor- =
THV tri?s haute vitC?S!,e, para defesa) ou longas (fuzis), orígí·
mal após a passagem do projétil ao longo do seu perc urso, e nariamente de uso apenas bélico, para ataque. No quadro a se·
que se traduz como um túnel equim6tico ou hemorrági co. que guir são apresentada s algumas das velocidades disponíveis no
se inic ia com a orla de comusão ou orla equimótica, na super· momento.

......,.,·-=~
. . \ ; . -.....
~-... Cavidade Permanente
: ... : . .... . : ' : .. : .... _:" ~·~;~ .....
~
..
.,.; .. ., ,~· - .~: -l"'~'··11
'

llli~~..-~ :..· . • .

. _:

... ... ~
' ·
...: : • ·:~..:: ... : . : :.:••');.

.. ~- ,..,.
~
· •
! . ·.
••
. ,;.. ., .
••
-#
... _;.__
• ·'!!(-
- ~ ~ . ; ; . (• •

. ~ J , 1 . ~ v .. . __,:~~·:,.i..:.:.,.,,,._~.~'I;..._ t-t-
.

~
!

• __J_
22 mm

.... ;,..:..;; _. .. .;· ~ ./::. /·.·· ·~·-._\;,;... -.;, t '


·,.-~ ••. ·.. : , .:...:.:,,.. ---...Cavidade Temporária i;
•"'i , ., • .e..,. .•

i
l

i
Ocm 5 10 15 20 25

Fa<:kler. apud Fr. 1-'rog. 1999.)


Fig. 7.12 Formação das t:avídadcs temporária e pcmiancntc com um projétil de haixa energia. (De
44 Lesões por Arma de Fogo

Arma Velocidade de saída Alcance Calibre


Revólver com munição THV 922,35 m/s IOOm 0,357 MAG

1 A R-1 O (Assault Riflc-10) 880.00 m/s 3.000 m 0,308 NATO (7,62 mm)
AR-15 (Assault Rifle-15) 991,00 m/s 3.500 rn 0,223 NATO (5,56 mm)
FN-FAL (Fahríque Nationale - 835,00 m/s 3.000m 0,308 NATO (7,62 mm)
Fuzil Automatique Léger)
SIG-Sauer 550 1. 100,00 m/s 4.000 m 0,220 NATO (5,50 mm)
AK-47 (Assah Kalashníkov) 710,00 m/s 3.000 rn 7,62 X 39 mm

Cavidade Permanente
Cavidade Temporária
., \,,
~
\
\
. ·\ \

o...
1
15
1
!D 25
1 1
30
1
35
1
'10
1
~s
1
SD
1
ss ,~
Fig. 7.13 Formação das ca\idadcs remporal e temporária com projétil de alrn energia. (De Fackler. apud rr. rrog. 1999.)

Tra,jeto do Projétil. O caminho, reto ou em ziguezague. de- da pelo projétil ao atravessar o corpo, que será tanto mais eleva-
pendendo do ricochete, seguido pelo projétil dentro do corpo da quanto maior a velocidade do projétil.
encontra-se rodeado por uma zona de necrose e laceração. por Esse mecanismo explica a elevada lesividade dos projéteis
fora da qual há uma intensa infiltração hemorrágica. de alta energia (alta velocidade), sendo certo que os tecidos
A grande quantidade de energia Iiberada no sencido centrífu- mais próximos ao trajeto sofrem, de forma mais direta. os
go leva a uma aceleração radial dos tecidos atravessados. forman- efeitos da pulsação, gerando a ;,ona de Lar.eraçüo ou z.ona de
do-se, assim, a cavidade temporal, cujo diâmetro instantâneo é esfacelo, ao passo que os tecidos mais afastados e. em regra,
muito maior que o diâmetro do trajeto definitivo. Esse mo, imcnto menos afetados, ensejam a formação da zona de hemorragia
centrifugo persiste até o exaurimcnto por transfom1ação de toda periférica.
a energia cinética em energia l'láJtica, quando a rnvidade tem- Ferimento de Saída do Projétil. Em geral, é um orifício que
poral atinge seu diâmetro máximo. tanto pode ser maior que o de entrada ou menor, o que pode le-
Logo a seguir, a energia elástica se transforma. novamente, var a conclusões errôneas quanto à direção elo disparo. Pode ser
cm energia cinética, e os tecidos. agora. são acelerados cm sen- regular ou de forma irregular, bordas evertidas. em geral, com
tido centrípeto, o que dclc1mína o colabamcnto da cavidade tem- orla equímólica ou orla de contusão.
poral. Gera-se, assim. uma nova pressão positiva, ao longo do
trajeto, repetindo-se, novamente, o processo todo, sob a forma
de ondas pulsáteis: fases sucessivas de expansão e colabamento
da .:-;ividade temporal ("pulsação da cavidade'"), de amplitude BIBLIOGRAFIA
~.rnlatinarnente decrescente ao longo do trajeto. O volume da
.:.:, idade temporal é proporcional à quantidade de energia cedi- As referências estão incluídas no final do Cap. 9 .
8

Lesoes por Meios Físico-químicos


Asfixias
Jorge Paulete Vanrell

};>- asfixia por substituição do 0 2 por outros gases (gás natu-


INTRODUÇÃO ral, anidrido carbônico);
};>- asfixia por confinamento, em decorrência da consunção
Em que pese a sua etimologia - do grego, a, falta, privação progressiva do 0 2, como acontece nos encerras herméti-
+ mpuç,tÇ, pulso-, o termo asfixia designa um estado fisiopa- cos da vítima.
tológico, caracterizado pela supressão do fenômeno respirató-
rio, na vigência da circulação. Por outras palavras, é a supres-
são da absorção de oxigênio e da eliminação do anidrido carbô-
nico, por parte dos tecidos, sem que ocorra parada da função CLASSIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL
circulatória. DAS ASFIXIAS
Considerando, pois, que a/alta de oxigênio é o pivot central
CLASSIFICAÇÃO DAS ASFIXIAS da causa mortis por asfixia; a maneira como tal diminuição ocorre
permite distinguir:
Reconhecem-se as asfixias clínicas, como as produzidas por
ventilação pulmonar insuficiente resultante de doenças; asfixias 1. Asfixias por Falta de Suprimento de
tóxicas, em cuja produção participam substâncias venenosas ou
gases tóxicos; e asfixias mecânicas, de singular importância em Oxigênio
Medicina Legal. (sin.: asfixias de aporte, asfixias mecânicas ou anóxias
As asfixias mecânicas comportam: anóxicas):
};>- mecanismos de sufocação, que é a obstrução dos orifíci- };>- Por oclusão mecânica das vias respiratórias superiores:
os naturais (boca, nariz) ou da traquéia, ou dos brônquios,
por qualquer elemento obstrutivo; EXTERNA:
};>- mecanismo de compressão externa do pescoço (enforca- + Por oclusão dos orifícios respiratórios externos (travessei-
mento, estrangulamento e esganadura); ros, sacos plásticos etc.): sufocação direta.
};>- mecanismo de aspiração de líquidos para o sistema res- + Por constrição do pescoço:
piratório (submersão ou imersão); e • Pela força física do agente (com as mãos. pregado co-
};>- mecanismos de alteração biomecânica músculo-res- tovelo, pés): esganadura.
piratória (compressão tóraco-abdominal; crucifixão; sus- • Com laço acionado pelo peso da própria vítima: enfor-
pensão pelos antebraços etc.). camento.
• Com laço acionado por força diversa do peso da víti-
As asfixias gasosas podem resultar de: ma: estrangulamento.
};>- intoxicação por monóxido de carbono ( CO ), constituindo
anóxia anêmica; INTERNA:
};>- intoxicação por cianuretos, compreendendo a anóxia his- + Corpos estranhos, tamponamento com lenços, toalhas etc.:
totóxica; engasgo.
.,16 :....,: , ..' ..-; :,or .\leio., Fúico-químicos. A.~t,xias

, P0:- impedimento mecânico da excursão torácica: Nos casos de asfixia mecânica. reconhecem-se diversas fases,
• Compressão torácica (por ferragens, em acidentes, por de duração variável, segundo o mecanismo:
entulhos. em desabamentos); limitação da excursão respi-
racória (crucifixão, suspensão pelos antebraços}: sufocação I j fase amrstésica: quando se verificam acúfenos, fotopsias.
indireta. dores, ccfaléias e perda da consciência;
, Por alterações qualitativas da mistura gasosa inspirada: 2) fase convulsiva: apresenta características semelhantes às
• Por meios gasosos que deslocaram o oxigênío: anídrido de uma crise epiléptica; inicialmente, com convuls<ics tô-
carhôníco. monóxído de carbono, metano etc.: rarefação. nicas e, depois, com convulsões clônicas;
• Por meios líquidos (asfixia por submersão): afogamento. 3) jii~e agônica: observam-se alguns movimentos incoordena-
• Por meios sólidos - subscâncias granuladas (areia, terra, dos, de tipo automático ou reflexo; o coração lem sístoles
grãos, "palha.. de arroz ou de café etc.) ou cm pó ( talco, isoladas, espaçadas, oco1Tendo incominência de esfíncteres:
farinha, cauJim, cimento etc.): soterramento. 4j fase terminal: com parada cárdio-respiratória, arreflexia,
'j, Por alterações quantitativas da mistura gasosa inspirada, em-
dilatação pupilar e morte.
pobrecimento ou rarefação do oxigênio da mistura gasosa: No campo da medicina legal, dois lipos de asfixias têm real
diminuição da Po2 : significação: as asfixias mecânicas e as asfixias gasosas.
• Em ambientes fechados: confinamento.
• Em grandes altitudes: rarefação.
• Em perda de pressão cm cabinas (avião): descompressão. I. Asfixias Mecânicas:
A) POR SUFOCAÇÃO:
2. Asfixias por Diminuição do Transporte 1) obstrução dos orifícios oronasais; obstrução faringea. la-
· de Oxigênio no Sangue ríngea ou traqueal por corpo estranho;
(sin.: a.sjixias de lransporte ou anóxias anêmicas) 2) espasmo ou edema de glote:
3) comprcsi.ão pela hipertrofia do limo ou da tireóídc:
» Por diminuição da quantidade de hemoglobina: anemia agu- 4) asfixia posicional (hipcrflexão do pescoço sobre o l<'írax,
da traumática. contenção de obesos algemados. cm viaturas de transpor-
>" Por alteração química da hemoglobina, que perde a capaci- te de presos);
dade de transportar oxigênio: 5) obsm1çâo faringolingmil pós-ictus ou durante o coma.
• Por monóxido de carbono (Co): intoxicação ou
• Por substâncias meta-hemoglobinizantes: envenenamen-
to. B) POR COMPRESSÃO EXTERNA DO PESCOÇO:
1) por enforcamento;
2) por esganadura;
3) por estrangulamento;
3. Asfixias por Diminuição do Oxigênio 4) por compressão ântcrn-poste1ior do pescoço (enlrc dois
Circulatório bastões. garrote etc.);
(sin.: asfixias de libaação) 5) por compressão bilateral (dispositivo automático de fecha-
mento. e.i. porta de elevador);
>- Alçalose gasosa por exces!so de ácido carbônico + sódio =
6) por compressão anterior (cnforquilhamento passivo).
exc~sso de bicarbonato que facilita a captação de oxigênio por
aumento da Pco1 mas que dificulta a libera~ào do o~ a nível
celular (jibrose e esclerose pulmonares. asmáticos. t•11fisema- C) POR ASPIRAÇÃO DE LÍQUIDOS PARA O
tosos ). SISTEMA RESPIRA TÓRIO:
1) asfixia por submersão (completa ou incomplcla);
2) asfixia por aspiração inspiratória (vômica, hematêmese.
4. Asfixias por Diminuição do Oxigênio hemorragias. cistos pulmonares, hemorragias cervicais no
esgo1jamenLO ele.)
Tissular
(sín.: asfixia de utilização ou anóxia hiswtôxical
D) POR ALTERAÇÃO .IUOMECÂNICA
),' Impedimento da utilização do oxigênio, que se encontra em MÚSCULO-RESPIRATÓRIA:
concentrações n01mais, por inibição enzimática da cadeia de 1) poliomielite bulhar ou anterior aguda; curarização;
aceptorcs de hidrogênio ao ní vcl das mitocôndrias: intoxica- 2) crucifixão. suspensão pelos antebraços:
ção cianídrica (por cianuretos). 3) compressão tóraco-abdominal;
4) contração muscular violenta (tétano, epilepsia etc.).

FISIOPATOLOGIA DAS ASFIXIAS


II. Asfixias Gasosas:
O, .,intomas, como é curial, dependem da forma de aprcsen- a) Intoxicação por monóxido de carbono (CO).
ta,;ào e.: produção: o cérebro, o coração e a retina são os órgãos b) Intoxicação por cianctos (cíanuretos).
mai5 ~~n~Í\cis à falta de oxigênio. O sintoma objetivo maís ca- e) Asfixia por substituição do 0 1 (gás natural, dióxido de car-
ra.:-terísti.:-o da hipúxia é a cianose, que ocorre quando existem bono).
mai~ de 5 g de hemoglobina não-ox(gcnada por 100 mi de san- d) Asfixia por confinamemo (consumo progressivo do oJ.
gue capilar. e) Asfixia pela altura (pressão parcial do o>, diminuída).
Lesões por Meios Físico-químfr.·os. Asfixias 47

eia de movimentos respiratórios, mesmo que inefü:azes, com


SINAIS ANATOMOPATOLÓGICOS extravasamento de secreções protéicas para o interior da luz da
GERAIS DAS ASFIXIAS árvore respiratória.
Escoriações ungueais típicas: como lesão de "defesa··. nos
casos de constrição do pescoço.
A síndrome geral das a.~fixias permite reconhecer:

a) Sinais Externos: b) Sinais Internos:


Cianose: cor am,xeada (quando a quantidade de oxigênio é Encéfalo: pontilhado hemorrágico difuso.
inferior a 13,4 mi%, 1': = 20) bem nítida no-. láhios, pavilhões Pulmões: congestão intensa e mancha~ de Tardieu dissemi-
auriculares, leitos ungueai-. e conjuntivas, de roxo a azul-escu- nadas sobre as pleuras.
ro. A cianose cérvico-facial de Le Dentut e torácica, conhecida Coração: com estase venosa, ventrículo esquerdo vazio e di-
como ''máscara equimótií'a de Mores!Ín" ( 1911 ). de observa- reito repleto de sangue; petéquias subepicárdícas, relacionadas
~ão mais freqüente na asfixia por compressão tóraco-abdominal. com o aumento de pressão no sistema da veia cava superior.
é acompanhada de equimoses externas ou petéquias amplamen- Vísceras abdominais: congest.'ío generalizada. observada tan-
te disseminadas no rosto, pescoço e tórax superior. to na superfície como na profundidade do fígado e do baço, como
Equimose.,; subconjuntivais: decorrentes da estase venosa, conseqüência do aumento <la pressão nos sistemas das veias ca-
levando ao aumento da pressão capilar local. vas, superior e inferior.
Otorragias (pouco freqüentes): por cstase venosa. No peritô,iio: que reveste os órgãos abdominais e nos
Petéquia.~ hemorrágicas de Caspcr ou manchas de Tardieu: mesentérios, é possível observar manchas de Tardíeu pequenas.
pontilhado externo nítido pela fa<:e, pescoço e tronco superior. do tamanho de uma cabeça de alfinete, mas. por vezes, verifi-
l'rotrusão da língua: pode ser por causa mecânica exlema, como cam-se de1Tames mais importantes. de até 0.5 cm de diâmetro,
nos ca1,os de asfixia por constrição do pescoço, notadamente o en- conhecidos como manchas de PalLauff. mais freqüentes nos ca-
forcamento. ou por cdemapost-mortem (como nos afogamentos). sos de afo2amento.
C(}g1tmehJ de e.~puma externt>: nos orifícios oral e nasais, mais Sangu;: muito escuro, insaturação oxigenada, com fluidez
freqüente nas asfixias por suhmcn,ão; mas não é patognomônico, aumentada. Poliglobulía por contração do haço, hiperglicemia e
porquanto encontradiço em outras formas. Resulta da cocxistên- aumento da fosfatase alcalina sangüínea, das plaquetas e das
granulações azurófilas dos leucócitos.
Glândula tireóide: apresenta sinais de hipe1tunção com gran-
de dilatação dos folículos.

SINAIS ANATOMOPATOLÓGICOS
ESPECIAIS DAS ASFIXIAS
Além das características genéricas e sinaís inespceíficos pró-
prios, em maior ou menor grau. comuns a todas as asfixias. cada
uma das modalidades tem também peculiaridades - os sinais
anatomopatológicos especiais - - que servem para idemificá-
las. Como é cedíço, cada um desses sinais tem relaçào direta
quer com o modo, quer com a condição cm que cada asfixia
ocorre.
Fig. 8.1 Mecanismo de fonnaçào do cogumelo de espuma. (Apud Basile
& Waisrnan.)
Asfixia por Enforcamento:
O enforcamento é uma ronna de asfixia mccànica que con-
siste na suspensão completa ou incompleta do corpo. com a cons-
trição do pescoço por meio de um la\o sujeitado a um ponto fixo
(prego, galho de árvore, madeiramento do telhado. cano do chu-
veiro etc.). O enforcamento, via de regra, é suicida. sendo muito
raramente acidental ou homicida.

MECANISMOS DO ENFORCAMENTO
Aceitam-se dois mecanismos: um aéreo e um vascular, que
concorrem para o resultado morte por asfixia. A primeira - uma
ação aérea-, cm face da compressão que o laço exerce sobre a
laringe. traquéia e base da língua, dificultando ou impedindo a
passagem de ar.
A segunda - uma ação vascular-, quando a compressão
Fig. 8.2 Cogumelo de espuma ín loco. produzida pelo laço faz a oclusão dos vasos do pescoço. primei-
48 Les<ies por Meios Físfr:o-químfr:os. Asfixias

origem \'.agal. No enforcamento por lesão neural exclusiva-que


es1á excluído das a.tj'ixias. provocando aspecto pálido (enforca-
dos brancos)-, ocorre franira da apófise odontóide <lo áxis, com
lesão da medula oblonga (bulbo raquidiano) ou deslocamento das
vértebras cervicais por ruptura de ligamentos e/ou luxação, com f,
lesão alta da medula espinhal, seguida de choque medular e morte
instamânea. Isso somente acontece no enforcamento convem:io-
nal, na modalidade judicial.

FORMAS DE ENFORCAMRNTO
Denomina-se mforcamento por suspensão completa a posi-
ção totalmente suspensa do corpo da vítima sem apoio em obje-
to algum, e designa-se como enforca,nento por suspensiio incom-
pleta aqueles casos em que alguma parte do corpo da vítima se
apóia sohre o solo ou qualquer outro objeto (mobiliário, estrutu-
Fig. 8.3 Esqw.:ma mostrando a rerropulsão da língua e ohlireração das
coanas pelo palato mole, e projeção da língua ao exterior. todas cm ue- ras de alvenaria etc.).
corrcncia da compressão do laço. (Apud Basile & Waisman.) A posição do nó do laço tem grande importância: quando
aparece na nuca. denomina-se enforcamento 1ípico, ao passo que
::;e <lcnomina enforcamento atípico quando o nó se encontra em
quaisquer outras posiçiks (lateral. submentoniano etc.).
O cadáver do enforcado pode mostrar-se "pálido" (enforca-
dos brancos) ou <lc aspecto arroxeado, cianótico (enforcados
azuis). Esses achados assim se explicam: ·
1) enforcados brancos: cm geral deco1Tentes de um enforca-
mento típico, com lesão hulhar ou medular, ou de um efeito
inibitório com parada cárdio-respiratória:
2) enforcados azuis: é o aspecto mais freqüente que se ob-
serva, na cahcça e pescoço, nos enforcamentos atípicos,
quando existe oclusão incompleta da artéria car6tida do
lado em que se encontra o nó, levando a intensa congestão
passiva ci'ânio-faciaL podendo chegar até os extremos de
uma máscara equimótica de Morestin. O aspecto aprazível
e róseo por vezes observado nos enforcamentos típicos
resulta da compre8sào análoga dos vasos cervicais de am-
bos os lados, impedindo o fluxo sangüíneo hilatcrahncn-
te. '"'----.
Fig. 8.4 Oclusão das artérías carótidas e das artérias vertebrais pela cons-
trição do laço. (Apud Rasile & Waisman.)
EXAME DO CADÁVER
O exame deve iniciar-se no local da ocorrência, verificando
todas as circunstâncias específicas do local. Somente depois é
ro veias, depois artérias, dificultando, até interromper. a oxige- que se poderá passar à perinecroscopia (exame externo).
nação ccrehral. Os livores hipostáticos serão mai-. freqüentes na parte distal
Pode acrescer-se, ainda, uma ação neural, por compressão do dos membros ou nas áreas de maior declive, de acordo com a
nervo pneumogástrico (X par) ou das tem1inações nervosas do posição do corpo, e acima do cinturão ou de qualquer peça que
seio carotídeo, que provocaria parada cardíaca, por inihição, de faça rnnst1ição do corpo. Não raro se observam exoftalmia e/ou

fig. 8.5 Enforcamentos. À esquerda, por suspensão completa; à direita, várias modalidades por suspensão incompleta. (Apud Gisbcrt Calahuíg.)
[.esões por Meios Fisico-q11ímicns. AV ixi,H ~9

Fig. ~.6 A posição do nó. À c~querda. enforcamento típico; no centro e


à direita. enforcamentos atípicos.

Fig. 8.8 Livorcs hipostáticos na morte por suspensão.

por baixo das bordas. Também podem observar-se livorcs em


placas (sinui de Pon.l'ofd), e. no fundo do sulco (leito). costuma
ha ver vesículas serosas ou serossanguinolcntas (Jinal dt• Lesser).
!\os casos em que a <.:orda é muito fina (e..x. corda de varal,
tio elétrico), ou quando se utiliza um fio de arame. o tecido celu-
lar subcutâneo é fortemente comprimido. sendo certo que o sul-
co assume um aspecto prateado, hem visível, quando a pele <lo
pescoço é dissecada. retirada e observada por transparência . Face
Jo"ig. 8,7 tnforcamemos. A esquerda: enforcamento típít:o (enforcado a essas cara(;terística s. Thoinot o designou como sinal da linha
branco): no centro e à direita: enforcamentos atípicos (enforcados a:l.uis). argentina ou como placa argê.ntica. e Lacassagne, como trans-
parência ,wcarada.

protrusão da língua além dos límites da ar<.:ada de ntária. A face


mostra-se vultuosa e cian6tica (máscara equimótica de Morestin
ou cianose cérvico-Jacia l de Le D,intut). Cíanoi,e <los leitos
ung ucaís, equimoses subconj unti vais, petéquia~ de face e do
pescoço, otorragia, escoriações (de rntovelos e joe lhos). A ani-
socoria é um sinal bastante encontradiço , ainda que nem sem-
pre procurado pelos legistas. A cab eça sói estar caída e
enrijecida para o lado. Escoriações ungucais podem ser encon-
tradas na margem <lo sulco , como evidências de defesa instinti-
va e ínefica.: da vítima para salvar a própria vida.
A característica mais importante do enforcamento é a presença
do s ulco, provocado no pescoço pela ação do laço. Quando a sus-
pensão leva bastante tempo (horas) e/ou quando o matc1ial utili-
Fig. 8.9 Sinal de Thoinot: formação dos livores no borda ~upe rio r Jo
1.ado para fa1.er o laço é muito duro (fio de arame, fio elétrico etc.), sulco.
o sulco pode ser profundo e bem marcado. Todavia, se o laço foi
elaborado CQm tecido ou se há roupas interpostas entre o laço e a
pe le (como nas asfixias auto-eróticas) , o sulco pode ser pouco vi-
sível ou mesmo estar ausente. Quando se utilizam cordas grossas
e de material áspero, o decalque <lo laço pode ficar sobre a pe.le,
no fundo e nas vertentes do sulco. A direção do sulco é sempre
oblíqua, de baixo para c ima, da alça para o nó, o que pem1ite
diferenciá-lo do sulco de estrangulame nto, que, de regra, é reto,
horizontal. perpendicular ao eixo maior do pescoço.
Um dos detalhes perecíveis que não podem ser esquecidos é
:.i procura de sinais indicativos de reação vital. Estes serão úteis
p,mt <líferenciar se a vítima morreu enforcada ou fo i depcndura-
J;t após ter sido morta alhures e por outro meio. O sinal de Thoú1ot Fig. 8.10 Sinal da transparência nacarada tLacassagne) ou da linha ar-
~xihc. nas áreas justapostas ao sulco, cor arroxeada por cima e gentina (TI1oínot). (Apud Basilc & Waisman.)
=-- ~ !-."~; .::--.•r \/,;>i(I~ Fúico-quimicos. Asfixias

:\a à\ ali ação do pescoço, o exame deve direcionar-se no sen- opor. Semelhantcmente, em casos de crimes sexuais, é haslante
tiJo de procurar possíveis equimoses do tecído celular subcutâ- freqüente o homicídio da vítima por esganadura, como fom1a de
neo e dos músculos cervicais, fraturas do osso hióide ou da car- evitar a delação e/ou a identificação poscerior. Nos parto8 sem
tilagem tireóidc. bem como esgarçamentos ou rupturas das cor- assistência médica (auto-assistidos), com apresentação cefálica,
das vocais na laringe; na traquéia podem ver-se fraturas dos anéis a morte pode ser por esganadura acidental, durante o período
cartílagíneos. A procura da equimose retrofaríngea de Brouardel, expulsivo. quando a mãe tenta auxiliar-se. Todavia, em casos
pela compressão dos hióides sohre a faringe, é de extrema im- desse jaez - hoje em dia cada vez mais raros - , não se deve
portância, porquanto serve como elemento diferencial (sua au- deixar de lado a hip6Lese de infanticídio.
sência indica que o cadáver foi suspenso ap6s a morte). Nas O exame do pescoço deverá levar em consideração, além dos
carótidas primitivas, ohscrvam-se esgarçamcntos da camada elementos gerais clcncados nas asfixias mecânicas por enforca-
externa ou túnica adventícia (sinal de Etienne.-Martin) ou da mento, os seguintes:
camada interna ou túnica íntima (sinal de Amussat). Em ambos
},- ausência de sulco;
os sinais, observam-se esgarçamentos lineares, perpendiculares
);>- equimoses por pressão das polpas digitais:
ao eixo maior do vaso. Pode observar-se infiltração hemorrági- ~ estigmas ungueais (contusões semilunares. escoriações li-
ca da bainha dos vasos (sinal de Martin). Nas veias jugulares
neares ou em faixa).
podem observar-se lesões análogas com descolamento da ínti-
ma (sinal de Otto). As ü•sões da coluna cervical podem incluir A cianose cérvico-facial (máscara cquimcítica de Mon:stin) é
framras, luxações e ruptura de ligamentos. um importante sinal vital que, somado aos outros mencionados,
oferece a certeza de que a vítima estava viva quando teve o seu
pescoço comprimido pelas mãos do agressor. A protru.wio da
língua, bem como o cogumelo de espuma, é rara. Em contrapar-
tida, a exoftalmia é freqüente.
Excepcionalmente se encontram fraturas do osso hióide ou da
cartilagem tireóidca pela compressão ou hematomas retrofaríngeos
(equimose rerrofaringea de Brouardd) por contusão dessas estru-
nuas sobre as pmtcs moles da faringe e áreas retrojacentes. Não se
observam lesões cxLCmas na carótida primitiva. Todavia, pode ser
encontrada a marca de França, consistente em ruptllras longitudi-
nais, em fonna de meia-lua. da túnica íntima da carótida comum.

Fig. 8.11 Lesões de enforcamento que aparecem na carótida prinútiva. Asfixia por Estrangulamento
À esquerda, sinal de Etienne-Martin; à direita. sinal de Amussat.
O estrangulamento é uma variedade de processo asfíctiço
provocado pela constrição do pescoço por um laço acionado pe){l
força das mãos do agente. A tisiopatología do estrangulamentà
Nas serosas (pleura, pericárdio) podem observar-se manchas é semelhante a que foi descrita para o enforcamento. Como acon-
de Tardieu, pequenas, variando em tamanho desde uma cabeça tece com a esganadura (vide infra), e à diferença do que se ob-
de alfinete até 5 mm de diâmetro. serva no enforcamento (cf supra). um detalhe ímpo1tante é dado
Os pulmões têm uma consistência discretamente enfisema- pelo animus de que está dotado o agente, haja vista o tempo ne-
tosa nos -.cus ápices, mas exibem intensa congestão nas hases, cessário de constrição ininterrupta exigido para alcançar o obje-
não apenas do cstmma como com extravasamento de líquido tivo - cm geral. em torno de I Ominutos.
scrossanguinolento no interior do parênquima. O coração mos- Em regra, o estrangulamento é de natureza homicida, excep-
tra no seu interior sangue fluido e escuro. cionalmente suicida. Este último se vê quando o agente aplica
um tonúquete cervical cm si pr6prio e. após perder a conscíên-
cia (em torno de 90 segundos ou um minuto e meio), este se tra-
Asfixia por Esganadura va na mandíbula ou no ombro da vítima, e não se desenrola.
Outras vezes pode acontecer que o material que constitui as duas
A esganadura é um processo asfíctico provocado pela com-
ou três voltas do laço (em geral fio de ferro de passar roupa. fio
pressão do pescoço pelas mãos ou por algum outro segmento dos
de conexão de vídeo etc.), não deslize sobre si, impedindo que
membros (antebraço, cotovelo. "gravata", perna. pé). A fisiopa-·
as circulares se desfaçam. Destarte, o arrependimento do agente
tologia da esganadura é a mesma descrita no parágrafo preceden-
suicida é ineficaz na medida em que, ao não relevar a pressão
te. Uma diferença significativa e importante qualificadora do
constritiva. acaba por levar ao óbito.
animus do agente é o tempo necessário para atingir o objetivo
Nas mulheres e nas crianças, o estrangulamento homicida é
letal, em geral bastante maior que no enforcamento e no estran-
bastante fácil, notadamente quando existe o elemento surpresa.
gulamento.
uma vez que. geralmente, a vítima é atacada pelas costas.
A esganadura, habitualmente, tem origem homicida, sendo
A ectoscopia cervical deverá considerar, além dos elementos
extremamente raros os mecanismos acidentais. A esganadura
elencados nas asfixias mecânicas, em geral:
praticamente é imposr-.ívcl de ser observada em casos de suicí-
dio. uma vez que o aperto das mãos sobre o pescoço cede, na ,- a presença constante de sulco horizontal, duplo ou uiplo,
medida cm que a vítima perde a consciência, deixando assim de abaixo da caiti lagem tircúidca. complcLo cm volla do pes-
manter a compressão local. coço, de profundidade uniforme;
:'.'Jas pessoas debilitadas ou nas crianças, é mais fácil a esga- ), estigmas ungueaii (contusões semilunares, escoriações
nadura homicida. em face da baixa resistêncía que a vítima pode lineares ou cm faixa), na margem do sulco, principalmen-
l.esões pnr Meios Físico-químicos. A.~fixias 51

te próximo à horda superior, como defesa instintiva da completo e gratificante. Além de não alcançar seus o~jetirn.;. ('
vítima para salvar a vida: perve11ido freqüentemente paga com a vida a ilusão popular.
> face vultuosa e cíanótica (máscara equimótica de Momrtin O mecanismo asfíctico da sufocação é puro. excluindo toda e
ou cíanos<' cérvico~facial de Le /Jemu1); qualquer pa11icipação neural ou circulatória, limitando-se a uma
>" protrusão da língua e cogumelo de espuma (menos in- acidosc respiratória com acúmulo progressivo de co 2 no sangu('.
ll'nso que no enjórcamemo); Os achados mais característicos, no exame perinecroscópico.
, exoftalmia; nos casos de sufocação, são:
, cianose dos leitos ungueais, equimoses suhconjuntivais,
>, cianose da face, pescoço e tórax supcríor (máscara
petéquias de face e pescoço, equimoses puntiformes nos
equimótica dt' Morestin ou cianose cérvicoJacial de Le
láhios (raras no enforcamento);
Den.tut). podendo essa cianose complementar-se com
)ó' linha argentina: linha brilhante no fundo do sulco. ade-
• equimoses subconjuntivais;
rente aos planos subjacentes;
• petéquias de face e pescoço;
)>- equimose retrofaríngea de Brouardel (muito rara);
• equimoses puntiformes nos lábios.
>- Rupturas de músculos da região cervical. dependendo da »" estigma.~ u11gueais, como escoriações lineares e ferimen-
dísparidade física em favor do agressor;
tos co110-contusos, nos casos homicidas;
> Sinal de Amussat: descolamento transversal da íntima da )Ó" equimose.,; digitais, na região periorifícial da face, Í!-.to é,
arté1ia carótida (raro);
em torno da boca, regiôcs bucinadoras e asas do nariz,
,... Sinal de Otto: descolamento transversal da íntima da veia quando a obstrução da entrada de ar se deu com o auxílio
jugular (raro); da mão;
, Sinal de Eticnne-Martin: infiltração hemorrágica da >" sa11gramento pelos orifícios nasais;
bainha dos vasos (raro).
>" exoftalmia;
A cianose cérvico-facíal (máscara equimótica de Morestin) é >" fratura do nariz;
um importante sinal vital que, somado aos outros mencionados, )> epistaxe;
oferece a certeza de que a vítima estava viva quando teve o pes- ', equimoses ou les{ies corto-contu.ms na mucosa da face
coço comprimido pelo laço acionado pelas mãos do agressor. A vestibular dos lábios, pela pressão contra as peças dentais:
protrusão da língua e o cogumelo de espuma são evidentes. :;.. fratura de dentes;
Podem encontrar-se fraturas da caiti lagem tireóidea pela com- »'" ferimentos da língua.
pressão ou hematomas rctrofaríngeos (equimose retr<daríngea Na abertura das cavidades. observam-se os seguintes achados:
de Rrouardei) por contusão dessa cstnuura sobre as paites mo-
les da retrofaringe. Observam-se lesões na adventícia e na ínti- )> Crânio
ma da car6tida comum. A marrn de França, na íntima da caró- • congestão meningoencefálica intensa.
tida primitiva, não é encontrada.
',- Tórax e abdome
• congestão dos pulmões;
Asfixia por Sufocação + podem encontrar-se manchas de Tardíeu;
+ edema agudo de pulmão;
A sufocação é uma variedade de asfixia mecânica aguda cau- • secreçf>cs abundantes e explosão alveolar com extrava-
.sada pela obstrução das vias respiratórias, ora na sua entrada, ora samentos sanguinolentos:
no seu percurso - quando se denomina engasgo, razão pela qual • congestão de vísceras abdominais (baço, fígado etc.).
os diversos tipos de obstrução serão estudados separadamente-,
por um corpo estranho ou, patologicamente, pela oclusão larín-
gea. traqueal ou bronquial. Asfixias por Engasgamento ou Engasgo
~o caso de sufocações criminais, como, por exemplo, visan-
do a ocultação de crimes sexuais, o mais encontradiço é que se- É uma fom1a ele asfixia, geralmente acidental, que resulta do
jam provocadas pela oclusão das vias respiratórias superiores com encravamento de um corpo estranho na vía aérea (faringolaringe.
travesseiros, cohe11ores, toalhas, papel úmido, esparadrapo uti- laringe. traquéia, brônquios). Embora seja mais freqüente c:m
lizados para amordaçar a vítima. crianças, com bolinhas de gude, chupetas, botões, bala~. moe-
Os orifícios oronasais podem ser tamponados manualmente das ou bolos alimentares, também pode ohscrvar-sc cm adulto5..
e com maior facilidade nos recém-nascidos (infanticídio) e nas Nesse caso, a obstrução ocon-e com fragmentos de alimentos de
l'.rianças de primeira idade. Uma vez que a ação é manual, é fre- tamanho avantajado ou mal mastigados. com um quadro clínico
qüente o achado de estigmas ungucais no contorno da boca ou que se assemelha a um distúrbio vascular agudo de origem car-
das narinas. díaca, donde o nome dos autores americanos "co}/é coronary''
Em crianças, durante brincadeiras de "astronauta". a sufocação ("infarto de restaurante"). Em pessoas de idade. pode acontecer
é produzida ao enfiar a cabeça em sacos de phlstico (polieti lcno ). o engasgo com próteses dentárias móveis. arrastadas durante a
Em certo momento, a criança perde a consciência, e as demais deglutição.
crianças que pai1icipam da brincadeira não ímaginam a gravida- A simulação de um outro quadro que não o de asfixia muitas
de do caso, porquanto apenas pensam que o colega "se finge de vezes é responsável pelo óbito do paciente, uma ve7. que retarda
morto". Este. inconsciente, não mais consegue retirar o capuz, e o atendimento ou a retirada do objeto que produz a obstrução.
o processo asfíctico se agrava, levando ao óbito. Em crianças de pouca idade. a demora em pôr em prática mano-
Em certas pe1versõcs sexuais, a motivação erótica - asfixia bras simples (colocação dacríança em inversão ou com a "cabe-
twto-erôlica - que leva o adullo a colocar a cabeça dentro de um ça para baixo", estimulação simultânea da tosse etc.), substitu-
~acode plástico é a falsa idéia de que. ocasionando um início de indo-as por complexos procedimentos de ressuscitação, pode ser
a~fíx ia, aumenta a excitação genésica e atinge-se um orgasmo um fator decisivo e vital.
:::~ !..- ,,,,·, por .\feios Físico-químicos. A.~fixias

Sot-reúndo o óbito, os achados mais conspícuos, no exame };> manchas de Tardieu em quase todas as localízações conhe-
perincc:roscópico, nos casos de engasgo, são: cidas;
);> hemutôra.x e hemoperítônio;
, cianose da face. pescoço (máscara equímótica de Morestin
;;> rupturas de Fr:ado e baço.
ou cianose cén1i<.·o-fúc:ial de Le Dentut), podendo essa ci-
a,wse complementar-se com:
• equímoses subconjuntívais;
• petéquias de face e pescoço. Asfixia por Soterramento ou
:,.. presença de corpo estranho na boca ou na garganta; Sepultamento
;,;, esgarçamentos e sufu.fries hemorrágicaJ na mucosa oral e
na língua; É uma modalidade de asfixia, em regra addcntal, que decor-
;;;:- face vultuosa e cianótica: re da queda da vítima no interior de silos, reservatórios, porões
;;;:- ex<4tafmia (freqüente). de navios, onde existem grãos de ccrcaís (trigo, cevada, arroz).
cascas resultantes do bencfieiamcnLo de cereais ou outros grãos
Na abertura das cavidades, observam-se os seguintes achados: ("'palha", de arroz, de café etc.) ou substâncias em pó (farinha,
cimento, caulím, areias finas ccc.). Tanto pode ser vista em cri-
~ CRÂNIO anças, como em adultos.
• congestão mcningoencefálica intensa; O exame perinecroscópico evidencia:
+ presença de cm7Jo l'stranho na orofaringe, na glote ou na ;... vestes impregnadas de areia, grãos, "palhas", pós, farinha etc.;
traquéia. ;... boca e or(f'icios nasais arrolhados pelos mesmos materiais;
;... escoriaçôes e equimoses típicas na face e no Lórax;
;;;,.sinais comuns iis a.~f'ixias;
>- TÓRAX E ABDOME
;;;,.esmagamento do tórax, face e membros (eventual);
• presença de corpo estranho na glote, na traquéia ou nos );> escoriações característkas para cada meio;
brônquios;
:i.- pós, "palha'' ou outras substâncias, conforme o caso, aderen-
• edema da parte alta da árvore respiratória;
tes às feridas;
• congestão dos pulmões;
:, .fraturas de arcos costaís e esterno:
+ podem encontrar-se manchas de Tardieu (raras): >" hematomas no tórax;
• edema agudo de pulmão (raro):
>" rupturas de fígado e baço;
+ secreções abundantef-i e explosão alveolar com extravasa- >' explosão de estômago, alças intestinais e bexiga. \ \
mentos sanguinolentos (raros).

Asfixia por Afogamento


Asfixia por Compressão
Tóraco-abdominal O afogamento - submersão ou imersão asfícticas - repre-
senta uma fom1a de mo11e violenta cm decorrência da substitui-
É uma forma de asfixia devida à alteração da biomecânica da ção do ar a ser respirado. por ligua ou algum outro líquido, que
musculatura, primária e secundária, responsável pela respiração, penetra em grandes quanlidadcs nas vias aéreas.
que resulta no impedimento extrínseco da mobilização desses À diferença de outras li.)rmas asticticas já analisadas. o afo-
grupos musculares durant.c o processo rcspiratúrio. gamento tanto pode ser acidental como suicida, ou mesmo eri-
Essa forma de asfixia se observa pela compressão tóraco-ab- mínal. sendo certo, contudo, que a forma acidental é a mais fre-
dominal cm vítimas de desabamentos. episódios de pânico em qüente. Quando ocorre sob a forma de homicídio, geralmente é
multidões, compressão entre ferragens em grandes acidentes de por surpresa ou como ato final. depois de ter espancado a vítima
veículos, deslizamentos de terra ou lama com cobertura parcial e achar-se esta inconsciente. O suicídio por afogamento nunca é
da vítima (expressamente excluidos os casos de soterramento) uma reação de ímpeto, antes o coroamento de um longo proces-
etc. so preparatório, cm que o suicida tira os sapatos, deixa-os arru-
Na maioria das veze.s, trata-se de um mecanismo acidental, mados, com as meias dentro, tira pane das roupas, a qual dobra
sendo certo que, na necropsia, se encontram traumatismos diver- com esmero. para, por último, caminhar Jcntamcn1e para dentro
sos, cujo somatório contribui para o evento mone por essa cau- d' água, até desaparecer. Esse ritual é válido tanto para água doce
sa. (lagoa, açude, rio) como para água salgada.
Os elemento<. necroscúpicos mais cncontradiços são: Reconhecem-se três formas fisiopatológicas principais da
submersão asfíctica:
', másrnra equimôtíca d(i Moresti1t, na face, ou cianose
cérvico-faciat de l..e Dentt1t;
>" otorragia; A) SUBMERSÃO COM INIBIÇÃO
';, equirnOS(!S subcm;;untivais: Quando a morte ocorre por falha circulatória, predominante-
>" petéquias hemorrágica.\· de Caspcr; mente; também é conhecida como "hidroeussão". Quando a ví-
,., equimoses e escoriaçlies: retratando o objeto que produ- tima entra no meio Iíquído, pode desencadear-se um reflexo i ni-
Liu a compressão; bidor das funções rcspirat6ria e/ou circulatória em razão do con-
, fi'muras de arcos costaís e/ou esterno: tato brusco e inesperado com a água. notadamente se esta apre-
, sinais de hemorragia aguda traumátíca; senta uma diferença a menor, significativa. Os receptores dessa
; Ju,matoma do mediastino anterior; via reflexa encontram-se na superfície cutânea e na mucosa das
-;.- ruptura dos pulmões; vias respiratórias superiores ou do ouvido médio, onde podem
>" equimoses de pericárdio; ser atingidos pela água em contato através da membrana
--------------------==·=:·. ===---
Le.w1e.s por Meios Físico·químkos. Asfixias 53

Limpânica. A interrupção do processo digestivo pela menciona- do corpo, aparecem inchados, e os globos oculares exi-
da ação reflexa pode ensejar ainda um choque neurovascular. com bem exoftalmia ("olhos de peixe'°), dando ao cadáver um
perda da consdêncía, inihição respiratória e queda da pressão aspecto monstruoso. por vezes até irreconhecível peran-
arterial. com a vítima dentro d'água, oportmúdade em que esta te os familiares e amigos. A hemoglobina. transforman-
pode entrar. ainda que em pequenas quantidades, nas vias aére- do-se em sulfo-hcmoglobina, passa a ter uma cor esver-
as. A morte aconcece em estado sincopal, dando lugar aos deno- deada, conferindo. pela sua infiltração, uma cor peculi-
minados ajógados brancos. ar aos tecidos.

3. Com resgate tardio (até 20 dias)


B) SUBMERSÃO COM ASFIXIA
Ocorre des1ruíção quase completa das partes moles do rosto
É responsável pela produção dos denominados afogados azuis. e das mãos e das partes expostas à ação da água e da fauna;
uma vez que a morte é uma conseqüência, notadamente, da fa-
existem manchas esverdeadas de putrefação no tronco: o
lha do processo respiratório. Trata-se de um verdadeiro esLado
cabelo se desprende quase na sua totalidade, e pode haver
de asfixia que apresenta obstrução da via aérea e da superfície
perda de peças dentárias.
de hematose em face do preenchimento da árvore brom:orrespi-
ratória pela coluna líquida; há anóxia anóxica por privação do
4. Com resgate muito tardio (até 2 me.<;es ou mais)
suprimento de 0 2, hipercapnia, lesão tecidual pulmonar aguda e
Há destruição quase total das partes moles, com desapare-
importante hidremia por passagem da água ao espaço interstici-
cimento total de pêlos, unhas e dentes. Pode haver ampu-
al e ao sangue circulante.
taçào espontânea de membros. por desarticulação, hem
As vítimas afogadas em água doce vão a óbito por fibrilação
como explosão das grandes cavidades pela pressão dos
ventricular. -.cguida de parada cardíaca; já nos afogados em água
gases da putrefação. Nesses casos, a identificação é difí-
salgada - que é hipertônica-, o deccsso decorre de edema
cil, podendo-se fazer. de forma tentada, pelas vestes e. de
sobreagudo de pulmão.
forma irrctorquível, pelo DNA.

C) AFOGAMENTO INTERNO Na pcrínecroscopia das necropsias de afogados, devem ser


É uma variedade de asfixia que resulta de um mecanismo hí- verificados alguns elementos imp011antcs. como:
drico, oportunidade em que os líquidos ou suhstâncias próprias
:,. temperatura cutânea. que baixa rapidamente. provocando
do organi-.mo, ou nele contidos, chegam a provocar a asfixia
horripilação e
(aspiração de hematêmese, hcmoptisc ou vômicas).
);:- pele anserina;
O levantamento do cadáver nas formas de asfixia por submer-
>"' pele corrugada em escroto, aréola mamfüia e pênis:
são inclui va1iáveis - segundo Basile e Waísman ( 1991) -
relacionadas com o tempo de pem1anência do corpo no meio lí-
» ''mão.de
7
lavadeira":
)> des-éolarnento da epiderme palmar e plantar ("luvas");
quido. Esses autores assim diferenciam as quatro modalidades:
~ destruiçôes cutâneas parciais por animais aquáticos:
1. Com resgate imediafo ',, fácil maceração da pele por embebição;
,- cogumelo de espuma esbranquiçado (só pre~cnte logo após
a) Com sobrevivência da vítima. Quando a vítima é retirada
a retirada do corpo da água):
da água com vida e não ocorre óhito, aparecendo apenas
);;> petéquias subconjuntivaís e da face;
os sinais de asfixia frustra. A morte, entretanto, pode so-
}.- cianose azul-clara nos leitos ungueais, lábios e pavilhões
hrcvir pouco tempo após, ainda que sejam aplicadas todas
auriculares;
as medidas adequadas.
};> livores cadavéricos de cor r<'ísea;
b) Sem sobrevirência da vícima. A superfície do corpo pode
:..- ''cabeça-de-negro", por onde se inicia a putrefação;
estar recobe1ta pelo material cm suspensão na água (areia,
lama etc.); o rosto pode estar pálido ou cianótíco e. às ve-
>" escoriações, equimoses, hematomas e teridas, pelo impal·to
com obstáculos do fundo.
zes, podem ver-se nas conjuntivas petéquias de origem
asfíctica, que também podem aparecer nas esderóticas.
Podem observar-se escoriações ou outras lesôes contusas
(hematomas. equimoses etc.) decorrentes do contato do
corpo com irregularidades do fundo, durante o arrasto pela
correnteza. Aparece, com freqüência, o cogumelo de es-
puma. interno e externo, um sinal vital importante, mes-
mo que não seja patognomônico da asfixia por submersão:
a pele anserina pode ver-se cm quase todos os casos e so-
mente desaparece quando Lem início a putrefação.

2. Com resgate mediato (até 8 dias)


Podem ohservar-se perdas de substância nas partes mo-
les (geralmente provocadas por peixes ou crustáceos),
descolamento parcial da epiderme e do cabelo. O rosto
aparece com a configuração cm "cara de negro" de
Lccha-Marzo. sendo certo que, no tronco. progride o Fig. 8.12 Locais mais freqüentes de aparecimento de lcsôcs por atrito
processo destrutivo por putrefação. As pálpebras e os contra ob~táeulos do fundo, no arrasto do corpo pela eorrenteza, atin-
lábios ( se não foram destruídos previamente pela gindo prcfcrem:íahnente: fronte, cotovdos, dorso de antebraços e mãos,
ictiofauna). o escroto e a vulva, à semelhança do resto joelhos e dorso dos pés.
54 Lesiies por Meios Físico-químfr:os. Asfixias

No exame necroscópico podem ser observados: potensão artc1ial. sendo o quadro lerminal a parada cárdio-res-
píratória. Outrossim. observa-se uma ação local irritante com la-
;., os sinais comuns às asfixias em geral;
crí mcjamento, tosse, transpiração profusa, mal-estar geral,
»- hemorragias de cor azulada cm ambos os lados da apófise cefaléias, vertigens, náuseas e estado sincopal, logo antes do
crista galli, no andar superior da base do crânio (sinal de óbílo. A sudorese sói ser acompanhada de sede intensa. resul-
Vargas A/varado):
tante da perda de líquidos. sensação de opressão precordial, fa-
)ô-> hemorragias azuladas no rochedo do temporal, no andar
diga, sufocação, aumento da temperatura e estupor letárgico ou
médio da base do crânio;
delírio.
,. líquidos e corpos estranhos nas vias respiratórias superio-
O achado habitual é o de um cadáver, cm ambiente confina-
res: do e úmido. transpirado e com as roupas molhadas pelo vapor
,.. enfisema aquoso suhpleural ou hiperaéría de Cw.per, dei-
de água gerado; existem deposiçôes fecais e urinárias no espaço
xando marcas das costelas nos pulmões;
confinado. como conseqüência <lo aumcnlo do pe1istaltismo e da
::,;;, manchas de Tar<licu (raras no afogado):
excitação; as lesões autoprovocadas pela vítima. nas suas tenta-
;.., manchas <lc Paltauff (freqüentes no afogamento);
tivas de chamar a atenção ou no -.cu desespero para tentar achar
);;- sangue mais diluído nas cavidades esquerdas do coração;
uma saída, são quase constantes. Eslas lesões se localizam, pre-
);;- estômago cheio de líquido;
ferencialmente, nas mãos, joelhos e pés, e sempre apresentam
J.> congestão de vísceras torácicas e abdominais.
sinais vitais. O corpo pode apresentar cianose. e. no sangue, a
Alguns elementos só podem ser verificados cm médio ou lon- espectroscopia põe em evidência o acentuado aumento da
go prazo. como: carboemog lobi na.
-,.. cadáver flutua mais precocemente na água do mar;
).- a fase enfísematosa da putrefação é mais precoce; AS}'IXIAS GASOSAS
:;... ocorre saponificação, quando o cadáver fica muito tempo Embora possa existir um elevado número de asfixias gasosas,
na água (de 3 meses a I ano); à guisa de exemplo apenas faremos referência às duas formas
>" encontram-se incrustaçôcs calcárias. na pele das coxas, mais freqüentes: a intoxicação por monóxido de carbono (co) e
com mais de I mês no meio líquido. o envenenamento por gás cianídrico (HC.:>l).
A pesquisa de plancto não pode deixar de ser feita nas
necropsias de afogados, uma vez que o plancto existe em todas Monóxido de Carbono
as águas, doces ou salgadas. exceção feita da água destilada. É um gás gerado a partir da combustão incompleta do carbo-
Trata-se de pequenas partículas de sílica (geoplancco) e elemen- no (C), constituinte de diversas matérias orgânicas e que, cm
tos vivos de tamanho microscópico, como as dialomáceas certas cidades como, por exemplo, São Paulo e Rio de Janeifo.
que utilizam o gás encanado obtido a partir de carvão min9Í'al:
(zooplancto) ou restos de algas (filoplancto). Para que as partí-
culas <le plancto atravessem a harreira alvéolo-pulmonar. seu integra a mistura do mesmo.
No processo respiratório habitual, durante a hematose, o
tamanho deve ser inferior a 150 µ,. O plancto pode ser pesquisado
oxigênio molecular (0 2) combina-se com a hemoglobina (Hb)
lanto em sangue cardíaco como em fígado, medula óssea etc. Essa
contida nas hemácias, para formar a oxicmoglobina (HboJ.
dclenninação não deve serapenas qualitativa. mas também quan-
Caso esse processo respiratório seja bloqueado pela presença
tilaliva, já que. cm moradores ribeirinhos. pode, eventualmente,
no. ar de óxido de carbono (CU). ainda que o volume de san~ue
enconlrar-se plancto cm pequenas quantidades. mesmo cm ca- õ
seJa normal acaba por produzir-se uma anóxia anêmica, uma
sos de óbito não relacionado com asfixia por submersão.
vez que oco é 200 vezes mais firme na sua combinação com a
Hb que o 0 2 • O produto dessa combinação - a carboxiemo-
globina (COHh)- não é utilizado na rc-.piração, produzindo-
Asfixia por Confinamento se a morte por incoxicação com mon6xido de carbono. Como
A asfixia por confinamenco ocorre quando o consumo do esse gás é imperceptível para os scnlidos - incolor. inodoro
oxigênio de um ambiente fechado dá azo ao aumento progressi- - , a vítima não reconhece a sua presença, nem percebe a sua
vo do dióxido de carbono e do vapor d' água gerados pelo meta- inalação.
bolismo respiratório, levando à mo1te. Os acidentes costumam ocorrer cm locais fechados com bra-
Essa forma de asfixia pode ser acidental, em crianças, como sói seiros acesos no inverno, bloqueios de saídas durante incêndios,
acontecer quando, nas brincadeiras infantis, elas se encenam den- aquecimento do motor de canos cm garagens com escassa ven-
tilação etc. Todavia, há casos cm que a morte pode ser suicida,
tro de geladeiras oufreezers desativados, dentm de baús ou outros
como, por exemplo, vedando as frescas de portas e janelas de uma
ambienlcs ~nálogos, cuja saída se veja dificultada ou, até, impedida
cozinha e abrindo os regislros do gás de cozinha, ou pela igni-
por mccamsmos de fecho difíceis de abrir desde o interior.
ção e aceleração do motor de um automóvel dentro de uma ga-
Em relação aos adultos, o confinamento pode resultar do dc-
ragem previamente vedada. Com grandes concentraçiícs de co,
:-,1barnento de túneis e galerias, em submarinos, sinos ou caixões,
a morte é sincopal.
i:-to é. em compartímentos estanques, quando são impossibilíta-
:'Ja perinecroscopia. é possível observar:
,.!,i~ de r~novar o ar, ou cm encerros acidentais ou forçados em
,·. ,:·rr::- bancários, câmaras frigoríficas ele. ,.. aspeclo aprazível do cadáver;
A. m,ine é causada pelo excesso de dióxido de carbono e di- ::,;;, pele e mucosas aprcscncam cor carmim característica ou
·:·.:::..;;~·.l,, ,fa concentração de oxigênio. Sobrevém, então, uma uma nuança levemente cianótica;
:"'..;-:;-r:i::.:. r0r estímulo do centro respiratório bulhar, bem como -,. manchas de Tar<licu nas serosas pleurais e/ou pc1icárdíca
~ ,..:::.:..~ .i,: r~ic,1mo10ra e sensação de embriaguez. À medida que (raras);
,, ~ ,:•:)~ n,r .i-;à~· d~ dióxido de carbono aumenta, surgem depres- >" amostras de sangue deverão ser recolhidas para realizar a
<:.... ::~:,::::,i..:. ;.;.rrdlr::xia. r~laxamento muscular. anitmia e hi- espectroscopia;
Lesões por Meios Físico-químicos.•4.sjhias 55

JÓ" a espectroscopia mostrará as bandas de absorção caracle- Durante a perinecroscopia e a necropsia, observam-se:
rísticas da carboxicmoglobina, da oxiemoglobina. bem ~ cor da pele e manchas de hípóstasc de r6seas a ligeiramente
como de outras eventuais combinações. cianólicas, quando a pequena dose manteve a vítima em
coma por certo tempo;
Ácido Cianídrico » cogumelo de espuma caso tenha havido tempo de m:orrer
A intoxicação pela inalação de gás cianídrico é a que provo- edema agudo de pulmão (raro):
ca o decesso em menos tempo. }.> odor característü:o de amêndoas amargas no ambiente e no
Já com a ingcsta de sais do ácido cianídrico - cíanuretos de hálito da vítima, se estiver ainda viva e em coma, bem como
s(i<lio ou de potássio-, que são os de uso industrial mais freqüente. do cad,ívcr e de suas cavidades, quando aberto, notadamen-
a morte leva alguns minutos, porquanto o gás cianídrico começa a te o estômago.
desprender-se apenas quando o cianeto chega ao estômago da ví-
Em casos de exumação, passado certo tempo, é possível que
tima e cnlra em contato com o ácido clorídrico. Nessas circuns-
sejam encontrados restos de cianatos, que não teriam como
tâncias, ocorre a reação estequiométrica mostrada a seguir:
formar-se na ausência da intoxicação exógena, resultantes de
NaCN + HCI ~ NaCI + HCN processos de biodegradação durante os processos degenera-
Trata-se de um veneno de escol para suicidas convictos, ain- tivos do cadáver. Da mesma forma. análises realizadas na terra
da que também possa ser ministrado com finalidade homicida. de inumação e nas áreas cm lomo do cadáver podem apresen-
O ácido cianídrico inibe a transformação do íon férrico em tar, longo tempo depois, reação positiva para o radical cianeto
ferroso e, na intimidade celular. bloqueia o sistema cito- (CN).
cromo-citocromooxidase, grande responsável pelo passo derra-
deiro da respiração aeróbia dos tecidos.
A pesquisa do ácido cianídrico, afora o odor caraclerístíco que
exala o cadáver, que lembra o de amêndoas amargas, pode ser BIBLIOGRAFIA
feita através da reação de Schonbein, com o reagente homôni-
mo, guaiacocúp1ico. As referências estão incluídas no final do Cap. 9.
Energias de Diversas Ordens
Jorge Paulete Vanrell

é o que permite diferenciar, na ação dos meios térmicos, as


INTRODUÇÃO termonoses das queimaduras.

Este capítulo abrange uma miscelânea limitada da lesionologia


resultante da ação de diversas energias lesivas sobre o corpo TERMONOSES ·
São quadros resultantes da ação do calor difus~bre o cor-
humano. Trata-se da ação quer de meios menos freqüentes, quer
po. Encontraremos:
de energias que não se observam com habitualidade no trabalho
profissional do odontolcgista. Daí que não se trate de um estudo • a insolação, em que a fonte de calor é natural, o sol, e
exaustivo, antes meramente exemplificativo. • a intermação, em que a fonte de calor é artificial (forna-
Nessa esteira estarão incluídas algumas variedades de e,wrxias lha. caldeira. cadinho etc.)
de ordemj(sica, como temperatura, pressão atmosférica, elellicida-
A ação térmica estimula os mecanismos de homemla!se
de, radioatividade, luz e som; l'naxias de ordem química. como
do corpo, que estimulam os processos fisiológicos de con-
cáusticos e venenos; energias de ordem bioquímica. como pertur-
trole térmico, provocando vasodilatação, sudorese, perda de
bações alimentares, auto-intoxicações e infecções; energias de or-
água e eletrólitos. Paralelamente, em especial no caso da
de111 biodinlimir.a, como choque e síndrome da falência múltipla dos
insolação. ocorre a ação das radiações ultravioleta sobre as
órgãos; lmer,?ias de ordem mista, como a fadiga. doenças parasitá-
camadas basais da epiderme e nos diversos estralos do côri-
rias e sevícias: e energias de ordem psic:ossomárica.
on.
As lesôes. quando não há supressão do agente, são resultan-
tes da agressão ultravioleta e do desequilíbrio hidroeletrolítico
LESÕES POR MEIOS TÉRMICOS e, quando mais graves, de eventuais queimaduras de segundo
grau.
A ação dos meios térmicos sobre o organismo produz reações A temperatura ambiente torna-se agressiva quando ultrapas-
de magnitude variável, mas que podem ser tão intensas a ponto sa os 30ºC, mormente quando se acompanha de uma umidade
de levarem ao óbito. A capacidade orgânica de manter a relativa do ar superior a 60- 70%. na ausência de ventilação ou
homeotennía. isto é, a temperatura corporal quase que constan- com esta sendo deficiente. Esses elementos colaboram para a
te, variando em condições normais, está reduzida a uma peque- ínibição da dispersão calórica através da transpiração e da respi-
na faixa de não mais de 3ºC (três graus centígrados). ração.
Destmte. a exposição corporal a temperaturas muito altas ou . Além dos fatores subjetivos. devem ser levadas em conside-
muito baixas, e que superem a capacidade adaptativa do orga- ração, ainda, a idade (infância, velhice), a gravidez, a fadiga, a
nismo para manter a sua homeotermia, acabará por provocar al- obesidade, as eventuais doenças sistêmicas (cardíacas, renais,
tcra~·iks nos processos metabólicos e/ou lesões teciduaís que. se hepáticas) e as intoxicações crôníúts (alcoolismo).
mantidas. poderão tornar-se irreversíveis. Podem assumir grande importância os costumes e vestes que,
em prol da moda ou da elegância, sacrificam o indivíduo, crian-
do verdadeiras ''câmaras úmiclas". na medida cm que inibem a
A Ação do Calor dispersão ténnica.
A sintomatologia das termonoses é característica, inician-
A ação das temperaturas elevadas pode dar-se quer de forma do-se com um aumento da temperatura corpórea, que pode
sistêmíca. ou seja. sobre o corpo inteiro, quer de forma local. Isso atingir valores de 43 a 44ºC. Esse quadro cursa com taqui-
F.nergias de. Diversas Ordem 51

cardia, aumento da pressão sistólica e aumcnlo da pressão de jaguatirica". Do ponto de vista médico-legal, a formação de
diferencial por diminuição da diastólíca. Há congestão cutâ- flictenas é um sinal de reação vital, isto é, somente ocorre quan-
nea (hipercmia), secura de pele e mucosas, distúrbios visuais do a pessna está viva: nunca se )ln-ma tw cadáver.
e audilívos, vertigens. taquipnéia e, por último, extra-sístoles
e convulsões. 3.0 Grau - Escarificação (11ecrose)
As 1ermonoscs podem assumir diversas formas clínicas, a Ocorre quando a temperatura atinge os l 80ºC. A área
saber: · necr6tica exibe uma consislência firme e maior que a <los teci-
• t'ulminante, com queda abmpta da pressão anerial, coma dos vizinhos não queimados, discretamente deprimida, de cor
e morte; castanha. Quando a pessoa sobrevive, as e!-.caras se delimitam e
• sincopal, precedida de distúrbios neurovegetativos (cefa- a parte necrótica se destaca. ensejando uma chaga úmida, de
léia, náuseas. vômitos) e de colapso; granulação e transudante, com ·'re.çtitutío" demorada. com ci-
• hiperpirética, por aumento da temperatura corporal além calrizes amplas, retráteis. Por vezes, há fom1ação de que ló ides e
dos 45ºC: de epiteliomas.
• asfictica, com cianose. dispnéia e esfriamento <las extre-
midades; 4." Grau - Carbo,iização
+ congestiva, com vermelhidão cutânea, congestão Observa-se combustão até dos lcddos mais profundos.
poli visceral e edema pulmonar; e Deve-se lembrar que, quando a carbonização é parcial. podem
+ urêmica, com sL1dorese. insuficiência renal. parestesias, encontrar-seregiôes vizinhas com outras formas de queimadura
distúrbios sensoriais. convulsão e morte. relativamente mais leves. como a necrose coagulativa e a for-
No caso específico das insolações, afora o efeito sistêmico. mação de fliclenas. O calor produz a calcinação dos ossos. que
ocorre um aumento local da Lemperatura intracraniana. Podem se transformam em um material branco-acinzentado. bastante
distinguir-se Lrês grandes formas: friável.
Essa classificação das queimaduras em quatro graus é útil
• fulminante. com perda de consciência, choque e mo1te; do ponto de vista médíco-Jcgal. Todavia. do ponto de vista
+ grave. com sintomatologia neurológica (inquielação psi- clínico, o elemento mais importante não é a profundidade da
comotora, convulsões, alterações da coordenação motora
área lesada, antes a extensão da mesma. Com efeito. nas quei-
e da linguagem. mcningismo e vertigens), febre e poliúria;
maduras de 2." grau e de certa extensão, por exemplo 20% da
• leve, com mal-estar geral. obnubilação, febre. distúrbios
superfície corporal, instala-se uma síndrome complexa e gra-
sensoriais, cefaléia e vertigens.
ve.
As forma leves são complclamcme reversíveís. sem seqüelas. Os sintomas imediatos incluem agitação psicomotora, dor e
As outras formas - grave e fulminante-. além de poderem ser sensação de sede intensa. Se a queimadura é ainda mais extensa
fatais se não tratadas tempcstivamente, deixam seqüelas cm face - metade da superfície corporal - , a vítima entra em choque
dos inúmeros focos de hemorragia meningocnccfáhca. de imedia10. Com o correr das horas, ocorre um choque sccun-
dárip, hipovolêmico, resultante da perda de água e eletrólitos,
querlitravés das áreas desprovidas de pele, quer através de ede-
QUt:IMADURAS
É a ação do calor por comato direto com o corpo, através de ma visceral. Há diminuição da função renal, com oligúria ou
chama, de sólido. de gás ou de líquidos quentes. Com a exposi- anúria. e instalação de um estado urêmico. Caso o choque hípo-
ção a temperaturas de 45 a 50ºC. ocorrem vasodilatação, hipc- volêmico seja superado, pode observar-se insuficiência renal pelo
remía e rubor. ü.1fri"35ºC,ocorrem alterações celulares, com aumento da massa líquida circulante, dada a reabsorção dos ede-
transudação. serma. Além'd~s 70ºC, observam-se necrose mas. A mortalidade é bastante elevada, alcançando cm tomo de
coagulativaé desnaturação das 'l;pbstâncias protéícas dos tecidos. 30% quando a superfície corporal atingida é da ordem de 40 a
Scgund~ a c/assfficação das)queímaduras em profundidade, 45%.
de Ht~~inann e Lussena, t~r~inós queimaduras de quatro graus, O (>bilo ocorre um ou dois dias depois. como reação tardia
a saber: · ao choque, ou mais tardiamente. enlrc 5 e 8 d.ias, por insufi-
ciência renal. pelo aparecimento de Lílceras gastroduodenais
(úlcera de Curling), por insuficiência hepatorrenal, por esgo-
l." Grau - Rritema (rubor) tamento supra-renal ou por coagulação í ntravascular dissemi-
Provocado pela hiperemia dos capilares superficiais, com nada.
vermelhidão da pele. A recuperação é total. depois de um perío- Na prática, a área da superfície queimada pode ser facilmen-
do variável de descamação epidérmica. 1e caJculada através da "regra dos noves", idealizada por Wallace,
em que cada segmento do corpo represcnLa 9%, ou um múltiplo
2." Grau - Flictena ("b,,lha") ou submúltiplo de 9%, da superfície corporal total:
Formações cheias de líquido seroso, que levantam o estrato Cabeça e pescoço 9<k
córneo da epiderme, podendo variar em número e volume. A base Face anterior do tronco 18<:t
de cada ílíctena está rodeada por um halo hiperêmicQ. O líquido Face poslerior do tronco 18(}
que contêm é rico em albumina e cloretos (originando o sinal de Cada membro inferior 18%
CJuimhen positivo). Quando o "teto'' da 11ictena se rompe. ficam Cada membro superior 9%
exposlas as camadas basais da cpidcnne, ou mesmo a derme, o Períneo e genitália 1%
que origina a cor avermelhada do "fundo" das lesões. Quando a
a1;ão térmica se prolonga, o "lcto•· das flictenas sê carboniza, Pulaski e Tennisson deram uma configuraçfto mais gráfica e
enquanto a sua inserção permanece aderente, de cor enegrecida. objetiva à referida "regra dos noves", como se vê no diagrama a
Isso gera o aspecto conhecido como "pele de leopardo" ou "pele seguir: ·
9%

Fig. 9.1 Diagrama de Pulaski e Tcnnisson da "regra dos noves" de Wallacc. (Apud Bonnet.)

A Ação do Frio Nessa s:qüência de evolução clínica ~xiste uma pri.'~cira fase
de adaptaçao-chamada de compens(l(,;au -, caractenzhda pelas
RESFRIAMENTO OU HIPOTERMIA modificações circulatórias vasoconstrítivas periféricas, que se
É a denominação do quadro anatomoclínico provocado pela acompanham de aumento da tensão arterial e da freqüência car-
exposição ao frio além dos limites da compensação homeotér- díaca. Logo a seguir, instala-se uma segunda fase, chamada de
mica biológica. A atividade tcm1orreguladora do corpo reage descompensação, inicialmente reversível e, afinal, irreversível.
de modo a repor as perdas calóricas decorrentes da ex.posição quando começa a ficar comprometida a atividade bulbar.
a baixos níveis térmicos ambientais, dentro de certos limites.
· Admite-se que a compensação espontânea se dá. automatica-
mente, até a temperatura retal alíngir 30°C e. por vezes, até GRLADURAS
25ºC. A constrição vascular e conseqüente isquemia que o frio cau-
Obviamente, a tolerância ao frio é uma fun~ão que depende sa nos tecidos, em um primeiro momento. evita a dissipação do
da duração da exposição e das condições personalíssimas da ví- calor. Todavia, esse mecanismo torna-se ineficaz. caso a ação do
tima. Crianças e anciãos, pessoas extenuadas ou fatigadas têm frio continue, em virtude da ocorrência da vasodilatação paralí-
escassa tolerância às baixas temperaturas, à semelhança dos in- tica. O resultado é uma hipóxia periférica com trombose vascu-
toxicados. Jsso se vê, com bastante freqüência, quando uma pes- lar, aumento da permeabilidade capilar e edema. A fase temli-
soa alcoolizada fica exposta ao relento, tendo, durante a madru- nal consiste em um quadro de gangrena úrnida, se a oclusão vas-
gada, grandes chances de morrer por hipotermia. cular é incompleta, ou de gangrena seca, se a trombose vascular
Já é fato conhecido que o resfriamento do corpo inicialmente é completa.
reduz e, a certos níveis, inibe a cessão do oxigênio. por parte das Não se trata de um fenômeno exclusivamente intrínseco ao
hemácias, aos tecidos. Esse fenômeno se comporta como uma indivíduo, antes fatore.s externos e biológicos numerosos se
verdadeira anóxia hístotóxíca, o que explica por que o sistema coadunam de modo a compor o quadro clínico. Com efeito, a
neural central, particularmente sensível às carências de oxigê- ventilação e a umidade relativa são diretamente proporcionais
nio, se ressente precocemente pela ação do frio. ao dano, ao que se somam as constrições produzidas por pe-
A sintomatologia é característica, iniciando-se por uma pro- ças de roupa ou por calçados. Outros elementos potencializam
funda sensação de frio, acompanhada de vasoconstrição perifé- a ação do frio, como cansaço, fadiga e certos estados emocio-
rica. que determina intensa palidez. As funções <lo sistema neu- nais que reduz.cm a resistência à ação local da baixa tempera-
ral central sào afetadas cm razão inversa à sua complexidade. Os tura.
!-.cntidos se emhotam, o conhecimento se compromete, a vítima As lesões provocadàs pelo frio dividem-se em graus. Segun-
entra em coma e morre. do a classijicação de Calissen, temos:
1.• Grau - Eritema (rub,,r) áreas de montanha. Verificam-se transtornos auditivos (zunidos,
Lesôes mais freqüentemente localizadas na extremidade dos acúfenos), ccfaléias, náuseas, ve11ígcns, dispnéia e taquicardia,
ucdos, na ponta do nariz e nos pavilhões auriculares. Observam- como conscqüêncía da anóxia, especialmente cerebral. Com o
se regiões de coloração roxo-violácea. cdcmawsas, frias e dolo- correr do tempo, ocorre uma adaptação fisiológica à altura. com
rosas. Podem ocorrer lesões cpidénnicas, com aparecimento de poligloh11/ia. que facilita o tran-.po11c do oxigênio mais escasso,
fissuras sangrantes. e fatores que facilitam o melhor aproveítamcnto tecidual.

2." Grau - Vesicação (bolhas oujlictenas)


O edema torna-se maís marcante, dando ensejo à formação
Hiperpressão Atmosférica
de tlictenas. cheias de líquido viscoso, seroso ou serossanguino- (doença dos "caíxlies". síndrome de Pvll e Wa1el/ej
lento. A pele ao redor das flictenas mostra um halo cianótico. A O hiperbarísmo é freqüente nos escafandros ou pessoas que
ruptura do ·'teto" das flictenas, deixa exposta a dcnnc. averme- mergulham a certas profundidade-., notadamente quando não se
lhada pela congestão. observam a~ medidas de segurança aconselhadas. O dano por
hiperbarísmo tanto pode ocorrer durante o processo de compres-
3.º Grau - Gaugre11a (necrose) são como depois, durante a descompressão.
A nível dérmico, fom1a-se uma série de escaras circunscritas, Com efeito, durante a compres.w'io é afetado, com freqüên-
que atíngem o celular subcutâneo e os tecidos mais profundos cia. o aparelho auditivo. não raro c:om perfuração timpânica.
(músculos e ossos). A necrose origina. ao se delimitar, lesões de hipoacusia, dor. he;morragías mucosas e, por vc:1.cs. congestão dos
evolução tórpida que resolvem em cicatrizes retráteis. Por vezes. seios paranasais. E a denominada aerootitc média, característica
ocorre a gangrena seca ou úmida de uma parte da extremidade. o da síndrome.
que pode originar mutilações espontâneas. de extensão variável. Duranle a descompressão. se a mesma não se realiza lenta-
As lesões; por congelamento são pouco dolorosas. Todavia. mente, aparecem dores musculares e articulares, lesões
quando se tenta o reaquecimento, origina-se uma exacerbação ostcoartículares, vertigens, cefaléias, paralísías musculares e si-
da sintomatologia dolorosa. Os congelamentos e as lesões que nais de ínsuficiência cardíaca. com óbito próxímo. As embolias
decorrem dos mesmos soem recuperar-se com severas seqüelas gasosas são comuns, pela fom1ação de bolhas ou borbulhas de
anatomofuncionaís, caracterizadas por atrofias, distrofias, pig- nitrogênio, oriundas do ar que se cnconu·a dissolvido no sangue.
mcntaçôes, dístúrbíos vasculares e neurites.

LESÕES POR ELETRICIDADE


LESÕES POR PRESSÃO
A eletricidade é um agente natural poderoso, que se manifes-
ATMOSFÉRICA ta por atraç<ics ou repulsões, por faíscas m1 descargas lumino-
sas, pelas comoções que provoca no organismo animal e pela
A pressão atmosterica é uma ação constante do meio sobre o
decomposição química que produz nos tecidos.
indivíduo. Como é curial, resulta da maior ou menor pressão exer-
No presente momento. considera-se a eletrícidade como a
cida pela ·'coluna de m·'' que age sobre o corpo de cada indivíduo.
concentração eleu·ônica de determinado corpo. dependendo sua
Em tennos habítuaís, admite-se como nível normal o do indivíduo
carga elétrica - positiva ou negativa - do número de prótons
que se encontra ao 1úvel do mar. Assim, à medida que esse indiví-
ou elétrons contídos em seus átomos. Os elétrons, ao passarem
duo ascende a certa altura, por exemplo, I .OCX) m sobre o nível do
de um átomo para outro, geram uma corrente elétrica.
mar, a mi una de ar sobre ele tcn\ I .O<X) m menos de altura e, con-
As fontes produtoras de eleu·icidade podem ser naturais (rai-
seqüentemente, pesará menos. Contrario st'nsu, se esse indívíduo
estiver cm um nível de 1.000 m abaíxo do 1úvel do mar, a coluna
os. relâmpagos). biológicas (peíxe-torpedo, lampreia, poraquê =
flectrophorus electriC11s) ou geradas pela ação do homem ( ele-
de ar terá l .000 m a mais de altura e, obviamente. pesará mais.
tricidade industrial). Todas elas podem provocar le-.<ies orgâni-
O primeiro caso se observa em síruações em que o indivíduo sobe
cas SU!-ic.:etíveis de exibir efeitos localizados. circunscritos ou
a cena aln1ra ou, ainda, reside em cidades elevadas, como La Paz,
generalizados.
na Bolívia. ou México. DF. no México. para límitanno-nos às
As correntes elétricas naturais (4ucraurfüllicas ou cósmicas)
Américas. O segundo caso é mais difícil de encontrar. naturalmen-
e biológica-. sempre são contínuas, mas as correntes de origem
te. porquanto inexistem grandes deprcss<ics, verdadeiros poços que
industrial tanto podem ser contínuas quanto alternadas.
tenham tal profundidade com ação direta do peso da coluna de ar.
Nas correntes contínuas, o fluxo é numa única direção: os
Todavia. há de se ter prc-.cnte que o efeito lesíonal não de-
elétrons dirigem-se sempre no mesmo sentido: nas correntes al-
corre tanto do "peso da coluna de ar" cm si, mas das decorrênci-
ternadas, os elétrons fluem oscilando ora para um p<Ílo (fase
as desse peso menor na pressão parcial dos gases cuja mistura
positiva) e. Jogo a seguir, para o pólo oposto (fase negativa). A
constituí o ar atmosférico rcspírndo, conforme estipulado pela
soma de ambas as fases constitui o ciclo, e o número de ciclos
lei de Boyle & Mariotlc.
por segundo indica a freqüência.
A intensidade de uma cmTcnte mede-se em amperes. A força
impulsora de uma corrente elétrica é a sua força eletromotriz ou
Hipopressão Atmosférica tensão elétrica, e a sua unidade <lc medida é o volt..
(mal das alturas. síndrome de Cnu:het e Mouliner) Todo condutor elétrico oferece uma resistência à passagem
Observa-se, de forma mais abrupta. em determinadas ativi- da cotTente elétrica: os bons condutores. muito pouca. e os maus
dades, como pilotos de avíão. alpinistas etc. O dano, entretanto, condutores, muito mais. Alguns; corpos. absolutamente. não per-
instala-se de forma mais lenta nos trabalhadores que operam em mitem a passagem da corr.,,nte e, por isso, são utilizados como
60 J::nergias de Diw?.rsas Ordens

isolantes (madeira, bon·acha, plásticos). Essa resistência à pas-


sagem ela corrente elétrica mede-se em ohms ou Ohmios.
EFEITOS DA ELETRICIDADE
A intensidade de uma com:ntc eJé!ríca é diretamente proporcio- ARTIFICIAL (INDUSTRIAL)
nal à diferença de potencial ou voltagem e inversamente propor-
cional à resistêm.:ia, conforme a lei de Ohm, segundo a fórmula: Eletroplessão
I = ~ Síndrome desencadeada pela eletricidade artificial. Dentre as
R lesões produz.idas pela corrente, observam-se lesões localizadas,
donde que, para diminuir a intensidade de uma con-ente, há de cutânea~ ou internas, além de efeitos gerais sobre o organismo.
se reduzir a voltagem ou aumentar a resistência.
A passagem de uma corrente elétrica através de um condutor MARCA ELÉTRICA DE .JELLINEK
gera calor, e este será tanto maior quanto maior seja a resistên- Deve-se procurar, sempre. a marca que deixa a entrada da ele-
cia oferecida a essa passagem. Esse é o denominado efeito Jou- tricidade na pele ou mucosa, por vezes até com o auxílio de uma
le. Do ponto de vista médico-legal. as correntes elétricas são mais lupa, quando a lesão é puntiforme, e que se designa como mar-
perigosas quanto maior a sua intensidade. ca eletme.~pecífica de Jellinek.
As correntes elétricas (contínuas ou alternadas) podem ser de
baixa, mediana ou alta tensão. As alternadas, por sua vez, classi-
ficam-se em monofásicas ou poli fásicas. Diz-se que são corren-
tes de baixa tensão quando não passam de 120 volts; de mediana
tensão, entre 120 e 1.200 V: acima deste úllimo valor. conside-
ram-se de alta tensão. A corrente da rede domiciliar é, na maior A
parte do território brasileiro, de l lO V, muito embora existam B
alguns Estados que usam vollagens de 220 V.
A resistência do organismo à passagem da coll"ente elétrica
~-----
depende de muilos fatores, tanto externos como internos. É muito
importante o estado da pele: quanto mais espessa e seca. menor e
será sua condutividade (ou seja, maior sua resistência). A pele Fig. 9.3 Lesões por eletricidade artificial ou industrial: A. queimadura
úmida. transpirada ou mal enxugada favorece a passagem da de'.?..º grau (tliclenaJ; B. queimadura elétrica; C, marca eletroespecílica
co1Tente, e mais ainda se a vítima se encontrar sobre um chão de Jellinek. que indica o ponto de entrada da corrente elétrica. (Apud
molhado. Para ter uma idéia. basta lembrar que a pele sadia opõe Basile & Waisman, 1991.)
uma resistência de 12.000 ohms, valor que se reduz para 1.000
ohms, ou menos, se está úmida, e é dc apenas cm tomo de 300
ohms nas mucosas (boca, vagina, reto etc.). Trata-se de uma lesão de contornos nítidos, arredondada ou
Quando a conente entra no organismo, ela não segue o trajeto elíptica, de cor acinzentada, castanha ou rósea, dura ao tato e,
mais curto. antes dirige-se através dos tecidos que têm melhores freqüentemente. de centro encovado (umbi licada). Eventualmen-
condições de condutividade, isto é. menor resistência elétrica. A te. pode haver. também. uma "marca de saída''. mas é de maior
conente circulatória é o maior condutor.já que os centros bulhares, amplitude e de consistência mole, contrastando com a de entra-
cárdio-respiratóríos, são atingidos de forma instantânea. da. Quando a "saída'' da eletricidade ocorre cm uma extremida-
Intensidades de l mA (um miliampere) produzem apenas de que está imer!-ia na água, diretamente inexiste "marca de saí-
cócegas quando aplicados sobre a pele seca; abaixo de l O mA, da··. pois a área de difusão é muito grande.
causam contrações musculares, mas ainda é possível ··soltar-se"
do condutor: acima de 1O mA e com voltagem suficiente, ocor-
rem contrações tetaniformc-. que impedem a separação do con- ~FEITO JOUI,E
dutor, podendo-se produ7.i r parada respiratória, quando o trajeto Na zona de entrada da corrente pode haver queimadura elé-
inclui o tórax. trica de magnitude diversa, no que diz respeito à sua extensão e
profundidade. Em regra é de cor cinza-ardósia ou pardacenta.
anfractuosa, com bordas bem delimitadas e elevadas, "de
vazador", seca e quase indolor, sendo auibuídas ao efeito Joule.
As queimaduras elétricas podem deixar cicatrizes, em geral
quelóides ou outras seqüelas traumáticas. Caso o condutor entre
cm contato com superfícies 6sscas, podem produ7.ir-se as "péro-
las ósseas" de Jellinek, de fosfato de cálcio.

MF.T ALIZAÇÃO OU SALPICOS .METÁLTCOS


Na zona de entrada da corrcme. o eletroduto metálico pode
impregnar a pele do fundo da lesão com partículas de metal fun-
dido (metalização). Às vezes, só é possível observar essas partí-

,
culas com o auxílio do microscópio estereoscópico.
A I B e I D
t LESÕES NERVOSAS
Fig. 9.2 Possíveis trajetos da ektricidade dentro do corpo humano: A. As síndromes neurológicas (ofta]mia elétrica, neurites.
mão-mão: B, mão-pé; C, cabeça-mão; D. caheça-pé. parestesias, paralisias) ou psiquiátricas, as atrofias orgânicas
Energias de Vi vasas Ordem 61

( musculares) e os Lranstornos cardiológicos são eventos frcqüen- pendendo da distância Iinear entre a vítima e o ponto da descar-
Lcs nas pessoas que sofrem ektroplessão. ga, o efeito da corrente elétrica induzida pelo facho elétrico pode
provocar lesões - fulguração - não-letais.

Eletrocussão
Fulguração
É a ação sistêmica ou fetal provocada pela energia elétrica
artificial. A corrente da rede domiciliar pode provocar fibrilação Lesões localizadas, não-letais, produzidas pela clctl'icidade
ventricular, tetanização muscular do diafragma e inibição do~ cósmica ou querauranográfica, sendo a mais caracteríslica o:
centros bulboprotuberanciai~. sede dos centros cardio-respiratô-
rios. O aspecto do cadáver sói ser um indiealivo cio mecanismo SINAI. DE UCHTENBERG OU CUTTFVI.GURITE
da morlc: o "rosto branco" é mais comum nos casos de fihtilação Observa-se na pele como lesões de aspecto arborifonne ou
ventricular, e o "rosto azul" (arroxeado) é mais freqüenle quan- serpíginoso (em ''folha de samambaia''), de cor avennelhada,
do ocmTe tetanização respiratória. que resultam da paralisia vascular ou da dffusão elétrica pela pele.
A perinecroscopia permite, ainda, observar o "falso cogume-
lo de espuma·· (o verdadeiro é o que aparece nos casos de asfixia
por submersão), bem como lesf>es i.:orporais secundárias. decor-
rcnles das convulsões tet.anífonncs agônicas ou da queda após a
Fulminação
perda de con-.ciência. Lesões .üstêmicas, fetais, produzidas pela eletricidade cósmica
Honório Piacentino (apudBasile & Waisman) descreveu, ain- ou querauranográfíca. Ocorrem mais amiúde em locais descam-
da. o aparecimento de petéquias nas laterais do tórax e na região pados, ahenos. pela diferença de tensão elétrica entre as nuvens
dorsal. Esse mesmo autor, outrossim. observou um pontilhado mais baixas e a terra. As roupas são arrancadas violentamente e,
hemorrágico típico. na área subependímária do assoalho do 4.º outras vezes, queimadas pela ação da descarga elétrica.
ventrículo, na área de transição entre o hulho e a protuhcrânciu Quando a vítima carrega objetos metálicos, estes podem che-
(vide Fig. 9.4). gar a fundir-se, total ou parcialmenle, e, de regra, são imantados
pela ação eletromagnética da descarga cio raio ou centelha. As
queimaduras disseminadas são freqüentes, abrangendo tanto a
pele como as massas profundas. Na pele pode observar-se de-
pilação por carbonização de todos os pêlos do corpo. e não ape-
nas os da cabeça. É freqüente a perda da transparência da cór-
nea e do cristalino por coagulação protéica. Mãos, orelhas e pênis
soem ser as áreas de entrada da corrente c6smica, podendo, cm
conseqüência, observar-se lesões lraum,íticas, ou mesmo
arrancamento ou carbonização. Podem encontrar-se fraluras
ósseas, cm vi11Ude do ·'efeito martelo" da descarga cósmica, bem
como ruptura de tímpanos, explosões viscerais e/ou cvisccração
das grandes cavidades do corpo (tórax e abdome). O roslo pode
apresentar-se de cor arroxeada ou mesmo branco. A decompo-
sição (putrefação) do cadáver opera-se muito mais rapidamen-
te que o hahítual.

LESÕES POR RADIATIVIDADE


O uso. cada dia mais freqüente, da radiativida<le com finali-
dades terapêuticas tem, também, aumentado o número de ..:a~os
de reações adversas decorrentes das radiações ionizante:!.. E!'sas
lesões são. cm regra, produ:,,idas pela exposição cxcessi\·a ou ~em
controle a fontes emissoras de radíatividadc, como: raios X.
radium. bombas de cohallo. aceleradores lineares. reatores nu-
cleares, sincrotones ele._ destinados à produção de radioisótopos
Fig. 9.4 Sinal de Píacenlino, por clctrocussfü1: esquema mostrando, ll() ou à geração de energia termonuclear.
assoalho do 4.º ventrículo, no bulho raquidiano. a presenç·a de hemor- O mecanismo de ação da radiatividacle resulta da ioniza~ão
ragias suhcpendimárias. (Apud Ba~ilc & Waisman, 1991.) dos tecidos orgânicos. provocando mudanças histoquímicas ime-
diatas ou tendo repercussão tardia (e.g. radionccrose de arcos
dentais). segundo a quantidade de radiação absorvida e o tempo
de exposição. As lesões citadas tanto podem ser externas como
EFEITOS DA ELETRICIDADE ínlcmas ou generalizadas. !'\essa linha. até podem ser encontra-
NATURAL das síndromes de radiação aguda ou diferida (subcrônica).
Quando se aplicam doses pequenas. as le8ões externas limi-
As lesões provocadas pela eletricidade atmosférica - tam-se. nos primeiros dias, a critcmas fugazes. Ao contrário.
fulminaçã" - são, na maioria das vezes, mortais. Porém, de- quando as dosagens são maiores, o c1itema torna-se persistente.
e .;.;:"'" :<é'~ca de duas semanas. podem aparecer flíctenas e des- Efeito Oxidante
,eca e acentuada. que, cm geral. regridem nos 30 dias
.:-.;_,'T•.1..;- :il,
~ .:t-~.;pienics. • ácido nítrico, escaras amarelas; por causa da reação
Quando se aplicam doses maiores, sohrevêm ulccraçiíes de xantoprotéica ao alterar as proLcínas teciduais:
t-ordas cndurecídas, cortadas abruptamente, de evolução tÓl])ida, + ácido clorídrico, escaras cinza a roxas;
~om áreas teci duais profundas, necrosadas, que podem atingir aLé • ácido fênico, escaras esbranquiçadas;
05 ossos. + ácido crômico, nitrato de prata. escaras marrom-escu-
Outras vezes, trata-se de aparelhos de radioterapia ou de ras a prct.as.
radiodiagnóstico, mal ísolados, que provocam lesões nos opera-
dores, ensejando querelas atinentes à responsabilidade profissio-
nal e periculosidade maior. Efeito Fluidificante
Das /esiies externas, as radiodennitcs crônicas tardam de 5 a
lO anos para aparecer, caracterizando-se por lesões depilatórias, + soda cáustica, cm solução, lesões esbranquiçadas.
telangiectasias e pele de aspecto marmúreo, que sangra com fa- + ácido aeético, amoníaco- formam escaras moles e úmi-
cilidade; as unhas tomam-se quebradiças, com desaparecimento das, de csbranquic,;adas a amareladas.
das lúnulas, a lâmina deixando ver. no leito ungueal, pontos
enegrecidos. A pele assume uma tendência à hiperceratosc, com
propensão ao desenvolvimento de epiteliomas. Efeito Coagulante
As le.wJes infernas são representadas por uma síndrome que
+ sais de mercúrio, zinco, cobre, chumho- lesões esbran-
incluí componentes cerebrais, gastrointestinais e hematopoélicos. quiçadas, por coagulação das proteínas, em geral. ·
O organísmo tem uma resistência capaz de absorver até 200 rads,
sem que ocorra a morte, mas, acima desses valores, as doses
podem ser letais, estando relacionadas com a <listríbuiçào no Efeito Irritante
organismo e mm a iterativídade das exposições. Alguns tecídos
e órgãos são mais sensíveis que outros às radiações, como, por + gases bélicos (iperíta. lewisila)- líhcram ácido clorídrico
exemplo, as gônadas, as células linfóides e a medula óssea, don- intra-hístico (dentro dos próprios tecidos), provocando le-
de as manifestações hematopoéticas mencionadas. Os tecidos sões teciduais internas e universais. isto é, na economia
mais resistentes são o muscular e o conjuntivo, nas suas diver- toda.
sas modalidades.
Menção especial merece o ácido sulfúrico, até por um valor
O mecanismo de ação da radioatividade se exerce diretamen-
mais histórico, porquanto. ao produzir a corrosão dos tecidos até
te, por ionização, sobre o DNA nuclear, onde enseja imcrligação
a sua destruição total. foi usado, com cc11a freqüência, nas últi-
entre nucleotídeos diferentes dos pares convencionais T-A e G-C,
mas décadas do século XIX e no primeiro quartel do século XX,
facilitando, dcstarte, rupturas da molécula. evidenciadas como frag-
mentações cromossômicas. como forma intencional de produzir lcsücs irreversíveis. Essa
forma de agressão era conhecida como ·'vitriolagem ". nome
advindo da antiga designação do ácido sull'úrico ( v itríolo ou azei-
te de vihíolo ). Assim, o agente químico era lançado sobre o ros-
LESÕES POR MEIOS QUÍMICOS to. pescoço e tórax superior da vítima, ou sohrc seus órgãos ge-
nitais (vitriolagem sexual) como forma de vingança pessoal, com
Também denominadas queimaduras por cáusticos, nome de o fito de provocar marcas indeléveis.
todas as substâncias químicas que provocam desorganização ou As substâncias com efeito desidratante e t1uidificante. como
necrose dos Lccidos. a soda e a potassa cáusticas, podem agir não apenas sobre o cor-
· Essa designação de "queimaduras" não é técnica, antes po- po da vítima, mas também sob a forma de íngesta suicida, quan-
pular, cm função das características que as lesôes externas cau- do as lesões, como é curial, ocoll'crão sohre os segmentos supe-
sadas por substâm:ias químicas adquirem. semelhantes às pro- riores do sistema digestório. Nesses casos, mesmo havendo so-
duzidas. cm alguns casos. pela ação <lo calor. brcvida ao processo de intoxicação aguda, via de regra se insta-
Em Medicina Legal, distinguem-se as substâncias químicas lam atresias, notadamente da faringe, do esôfago e do cárdia.
pelo efeito, em geral soh a forma de escaras, cuja coloração é
indicativa da ação e, assim, da substância química.
LESÕES POR AGENTES BIOLÓGICOS
Efeito Desidratante
Essas lesões podem ser provocadas por substâncias de origem
• ácido sulfúrico (vitrío/o ou azeite de vitríolo), escaras animal ou vegetal que agem quer localmente, por contato com a
roxas, pretas ou castanho-escuras, secas e endurecidas, que, peJc ou mucosas, ou por inoculação. quer por ingestão.
ao ~ercm arrancadas, provocam hemorragia. A cor é devi- No primeiro caso, encontramos produtos vegetais de certas
da à decomposição da hemoglobina do sangue extravasa- plantas ornamentais de uso doméstico. como o Crotton, a
Jo. É o mais corrosivo, provocando desidratação dos teci- Dic1J'enbachía pictaf (aningaparn ou "comigo-ninguém-pode"),
a Datura ("saião") e outras. :'llo segundo caso, temos substânci-
• cal ,irgem, soda em escamas (soda cáustica), potassa as que são tóxicas per se e são ingeridas. como é o caso das tox í-
E-m escamas (potassa cáustica), escara vermelha a bran- nas bacterianas (<'.g. toxina holulínica, botufümo) ou outras cm
• .:. r,,r hidratm;ão celular. São suhstâncias de uso domés- alimentos em mal estado de conservação (e.g. maioneses, cm
::~ .., -iue. ~om as proteínas, formam proteinatos e, com as testas), onde há proliferação de bactérias que provocam intoxi-
;: .::., .. ,. ,abôe;,. cações ai imentares. Por derradeiro, pela ingcsta de certo~ alimen-
Energias de Diversas Ordens 63

tos. como, por exemplo, as favas, que podem provocar fo11es Fram:híni, A. Medicina Legale. 10." ediyão. Pádua: CEDAM. 1985.
reações alérgíeas/anafiláticas nos sujeitos hipersensívcis Galvão, L.C.C. F.studos Médico-Legai.~. Porto Alegre: Sagra-Luzzarto.
(favismo); por reações anormaís graves consecutivas à ingcsta 1996.
Gísbert Calabuíg. J.A. Medicina Legal y Toxicología. s.• edição. Bar-
de frutos-do-mar (malacotoxiwses), ou por ingesta de produtos
celona: Masson, 1998.
(e.g. tiramína, nos queijos duros) que, isoladamente ou combi- Gomes. H. Medicina Legal, 32.4 edição. Rio de Janeiro: Freitas Bastos.
nados (e.g. com vinho), podem desencadear crises hípertensivas 1997.
em algumas pessoas mais sensíveis. Guzmán, C.A. Manual de. Criminalíslica, Buenos Aires, La Rocca.
Em outros casos, as lesões são decorrentes da ação tóxica de 1997.
produtos naturais de animais peçonhentos, como certas aranhas Laeassagne. A. Questions générale1, relatives à la mort. au cadavre et
(e.g. u1trodectus mactans, a "viúva-negra"), algumas espécies aux taches. ln: Précís de Médecine féiale. Masson Ed.. Paris, 1909.
de escorpiões (e.g. gêneros Tytius e Huthus) e de anfíbios (e.g. pp. 249-330.
gênero Bufo), cujas peçonhas podem ser mortais para os seres Mello. J.A. Medicina Legal. Ed. Fitipaldi Ltda., São Paulo, 1985.
O' Hara. C.E. & Ostcrburg, J.W. lntmduçt'io à Criminaffçtica. Ed. Fun-
humanos.
do de Cultura S.A., Rio de Janeiro/São Paulo, 1956.
Em especial, as mordidas de cobras peçonhentas podem oca- Pataro, O. Medicina Legal e Prálica Formse. Saraiva, São Paulo, 1976.
sionar danos graves ou a morte da vítima. Os sinais gerais mais Paulete Vanrcll, J. Ma1iual de Medicina Legal: Tanatologia. São Pau-
sígníficativos incluem, dependendo das cspé<:ics. ação lo-Leme, LED Livraria .Editora de Direito, 1996.
coagulante, bemol ítíca e/ou ncurotrópica. Polson, C.J. '11,e Sc:ientijic 11spects of Forensic Medicine. Edínburgo:
Oliver & Royd, 1969.
Ponsold, A. Manual de Medicina Legal. Barcelona: Editorial Científi-
co Médica. 1955.
BIBLIOGRAFIA Prévost. L.: Boulanger, P. & Lauzon, A. Éléments de Crimi11alfatique
Apliquée. 2.• edição. Québec: Modulo Éditcur, 1990.
;\lcàntara. H.R. Perícia Médica Judicial. Ed. Guanabara Dois, Rio de Puppo Touriz, H.: Mesa Figueras, G.; Soil.a Larrnsa. A.; Reyes Cíbils.
Janeiro, 19ll2. J.'.\1. & Garcia Delfanle. A. Medicina Legal. Libreria Médica Edito-
Almeida Jr., A. & Costa Jr.. J.H.0. Liçl,es de Medicina Legal. Editora rial, Moncevidéo, 1985.
i'<a<:ion..11, São Paulo. 1977. Rabello, E. Balística Frmm.rn, 2 vols .. 2.' edição. Porto Alegre: Sulina.
Amado Ferreira. A. Da Técnica Médico-l.egal na lnvestigaçiio Foren- 1982.
se, 2 vols. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1962. Rahello. E. Curso de Crimúialístir:a. Porto Alegre: Sagr,L-Lunatto.
Baima Bollone, P. & Pastore Trossello, F. Medicina [,egale e dei/e 1996.
Assicurnzio11i. Torino: Giappü:helli Ed., 1989. Rao, N.G. Te.xtbook,f Forensic Medicine a,u/Toxicology. Nova Delhi.
Rasílc, /1.. & Waisman, lJ. Fundamentos de Medicina Legal, 2.• edição. Jaypee. 2000.
Buenos Aires: Atcneo, 1991. Renroul, E. & Smith. H. Claister·s Medical Jurisprudence a11d
Bonilla. C.E. La Perida en la Jnvestigación. Buenos Aíre~: Editorial Toxicology. Churchill Livingstone, Edímhurgo, 1971
Univcrsidad, 1996. Rojas, N. Medicina Legal, 8! edição. Bueno~ Aires: Ateneo, 1964.
Bonnet, E.F.P. Medicina l.ega/, 2." edição (3.ª reimpressão), Buenos Símonin, C. Medicina Legal Judicial. 2.ª edição. Barcelona: Jl~S. 1966.
Aires: Lópcz Libreros Editores. 1980-1993. Spit:t., W .U. & Fisher, R.S. Medicolegal lnvestigatirm <l Death, 2.• edi-
Borges, J.F. /.,evantamienlo dd Cadáver. Fuego (Montnidéo). 6:53-57, ção, C.C. Thomas Publisher. Springfield, 1980.
1982. Teixeira, W.R.G. Medicina Legal. 2 vols., Mogi das Cru1.es: edição
Campos, M.S.; Mendo:t.a, C.: '.'vfoura, G. & Bezerra de Melo, R. Com- particular. 1978.
pêndio de Medicina Leia/ Aplicada. Redfc: RDUPE. 2000. Thoinot, L. f'récis de Mr!decine Légale. Paris: Baillicrc, 1913.
Castro. D.A. & Dickerman, A.R. Compendio de Medicina Forense, Toc:hetto, D. et ai. Tratado de Perícia.f C,-iminalísticas. Porto Alegre:
Tcgucigalpa, Honduras: Alin Editora, 1995. Sagra-Lu1.zatto, 1995.
Croce, D. & Croce Jr.. D. Manual de Medicina Legal. São Paulo: Sa- Veiga de Carvalho, H.: Scgrc. M.; Meira, A.R.: Almeida, ~.; Russi
raiva. 1995. Salaru. N.N.; Romero Muiioz, D. & Cohen, C. Compêndio de Me-
Depanamento de Medicina Legal, Medici11a l.egal. Montevidéo: Facul- dicína Legal. São Paulo: Saraiva. 1987.
dade de Medicina de Monlevídéo, 1989. Vibe1t, Ch. Préds de Médecine Légale. Paris: Bailliere, 1900.
Favcro, r. Medidna Legal. 1o.• edição, Belo Horizonte: Livraria Itatiaia Zacharias. M. & Zacharias, E. Vicionârio de Medicina l,egal. F.DtC..\-
Editora Ltda.. 1975. F..ditora L."niversit.1ria Campagnat, Curitiba, 1988.
França, G.V. de Medidrw Legal. 6.' edição Rio de Janeiro: Guanabara- Zangani. P.; Sciaudone, G.; Palmierí, V.M. el ai. Medicina úgalt· e ddle
Koogan, 2001. Assicura?,ioni. Nápoles: Morano, 1990.
. . .
. . .
:.·:: ..... :
.. ·.·. ·:· . . .·.:: ...
. . ... . . : ·:

. . .~ .
. . . ....

O ESTUDO DAS
MORDEDURAS

•••••n""""'"""""'"'"',..,._.,""",,_,.,,"',n••n••••••••••••••,...•H••••""*""*'''"**'""*'*"''"',."*'*'"''''"'''"''...""..,.,._, ......... ,0,.,-...,•• ......,.,,,.,,_,.,..,.,, .......... ,,,,,.,,.,_n,.,••••••••-• ,.,,., ...,.,..__ _ __


O Estudo das Mordeduras
.. ·"·-----···-"·········-----....·-·-----·-·--.., ....,_,_...._______________..,.........
Regina/do Jnojosa Carneiro Campello
Paloma Rodrigues Genú

,., .
..-.·,

,.,
~~ .

Os arcos dentários têm fundamental importância. pois possu-


INTRODUÇÃO em os requisitof-i biológicos básicos (unii.:idade. perenidade e
imutabilidade), além dos requisitos técnico!-. (praticabilidade e
O processo de identificação humana no campo da Odontolo- classificabílidade), necessáríos para a realização da identifica-
gia Legal é considerado de suma ímportância, devído à grande ção. Essa peculiaridade e índi vidualídadc dos elementos dentais
quantidade de subsídios oferecídos pelos arcos dentários, possi- e a singularidade da mordedura conferem a possibilidade de iden-
hilicando, cm muitas ocasiões, chegar a resultados indutáveis tificações criminais. conforme salienta Melani (ap11d Silva, 1997).
diance da justiça. ldentíticar é rnmparar as ímagens sucessivas A análise das marcas de mordidas de gêmeas monozigôticas,
de urna pessoa, ou suas marcas deixadas, e referir-se aos relatada por Sognnaes ( 1982). determinou que as mesmas apre-
caracteres de semelhança. sentavam variaçf>es quanto à oclusão e posicionamento dos den-
lJma das possibilidades de identificação humana no campo tes, o que reforça a idéia de arcadas dentárias com caracteres
da Odonto]ogía Legal é aquela relacionada ao estudo das mar- individuais.
cas de mordidas. Denominam-se mordidas, em Odontologia As marcas de mordidas podem ser freqüentemente obser-
Legal, as marcas deixadas pelos dentes, humanos ou de animaís. vadas cm homicídios. nimcs sexuais e casos de violêncía do-
na pele de pessoas vivas. de cad,ivcrcs ou sobre objetos inani- méstica. Usualmente, o agressor morde a vítima. mas, ocasio-
mados de consistência relatívamcnte amolecida. nalmente, a vítíma pode se defender mordendo o agressor
Através de observações e análises, as marcas de mordidas (Sweet, 1998).
podem constituir uma prova de grande importância médico-ju- Nas perícias traumatológícas, a presen<;:a das marcas de
diciária em alguns casos de delitos, auxiliando na exclusão de mordidas indica a necessídade de atuação de um odontolegista
suspeir.os ou apomando elementos de culpabilidade. As marcas que tem a tarefa de colaborar com a perícia médico-legal. A
ou impressões deixadas pelos dentes ou outros elementos duros ausência desse profissional nesse tipo de perícia implica uma
da boca (por exemplo: pontes móveis. aparelhos onodônticos avaliação deficiente. seja na identificação. seja na exclusão
etc.), sobre um suporte, possuem características individualiza- de suspeitos, para apontar elementos de culpabilidade e de
doras ineontroversas. que podem ser utilizadas na identificação gravidade da lesão.
ela pessoa que provocou a lesão, partindo-se do pressuposr.o que Araújo< 1995) salientou a importância da análise de mor-
a demadura é única para cada indivíduo. didas nos casos de estupros, em que os criminosos costumam
A preocupação com esse estudo não é recente. Reis. em 1926, morder as vítimas cm várias partes do corpo. Nos Estados Uni-
durante a apresentação de sua.tese no lnstítuto de Medicina Le- dos, as evidências das marcas de mordidas têm sido estuda-
gal Oscar Freire. salientou que a impressão dos dentes é, sob o das nos casos de abuso sexual em crianças. quando autorida-
ponto de vista médico-legal, uma figura produzida pela ação dos des judícíárías solicítam cn!âo a presença de odontolegistas
arcos dentários sobre uma superfície e, quando encontrada, pode para uma análise mais detalhada da arcada do suspeíto, com-
constituir importante elemento para o esclarecimento da verda- parando-a com as diversas marcas no corpo da vítima (Raw-
de. Ressaltando sua importância pericial, Tanner de Abreu ( 1936) scm, 1989J.
verificou que as marcas de mordídas assinalam caracteres que Há. na líreratura nacional e ínternacional, diversos relatos
com,títucm verdadeira impressão dentária capaz de permitir o de ide~tíficação utilizando lesões produzidas por mordidas com
reconhecimento da pessoa a que pertence, ou, pe]o menos. a subsídío. Gomes ( 1985) registrou a identificação de um ladrão
exclusão da pessoa a que se quer ahibuir o ato da mordída. pela Odontologia Legal. O professor Luís Silva narrou a perí-
68 O E.<tudo das Mordf·duras

,:ia feita em um pedaço de mortadela de 8,5 cm de comprimen-


to e 12 cm de difunetro, reconhecido pelo proprietário de um TÉCNICA DE EXAME DAS
restaurante como sendo das coisas subtraídas do seu estabele- MORDEDURAS
cimento comercial. O pedaço de mortadela. devidamente exa-
minado, apresentava três dentadas. e duas delas correspondiam A técnica básíca para estudo das mordeduras consiste no e~
exatamente aos dentes e demais características do arco dentá- me cuidadoso da lesão (ferimento) e cm medições e cotcjos mi-
rio do infrator. nuciosos. de modo a estabelecer uma comparação com as carac-
Outro epís(Ídio clússico foi citado por Reis. em 1926. publi- terísticas próprias dos ari.:os dentais do(s) suspeito(s).
cado na revista espanhola La Odontologia, no qual a polícia ale-
mã. durante a invcstigm.;ão de um crime, encontrou no local do
delíto uma pêra com impressões de dentes mostrando algumas Análise das Impressões de Mordidas
anomalias e, através de:r,se vestígio, conseguiu identificar o au-
tor. que. posteriormeme. confessou o crime. Inicialmente. deve-se investigar se a lesão encontrada é uma
Araújo ( 1995) descreveu casos í nvestígados por professores mordedura. Posteriormente, se essa mordida é humana. À ins-
de Odontologia Lega] da Faculdade de Odontologia da Univer- peção, uma marca de mordida humana característica estaria com-
sidade <le São Paulo. Um exemplo é o caso da goiabada com posta das seguintes zonas, de fora para dentro:
queijo ou romeu-c-julicta, cm que um dos autores de um homi- 1. Equimose em área difusa, mais ou menos intensa, limi-
cídio deixou as marcas das impressões dentárias nesse alimento tando externamente a ,frca, provocada pela pressão dos
e, após caírem suspeitas sobre ele. acabou confessando o delito. lábios.
Refere, ainda, o caso da maçã. segundo o qual um assaltante, após 2. Escoriações ou lesões corto-contusas: marcas deixadas
fu1tar objetos e dinheiro em um supermercado no interior de São pelos dentes antc1iores -- incisivos e caninos. excepcio-
Paulo, pegou uma maçã, mordeu-a e jogou no chão. Apús rcco- nalmente pré-molares - ou pela superfície do palato, nas
lh.ída e analisada. a ftuta tornou-se prova fundamental no julga- quais poderão ser observadas as características individu-
mento, que levou o indivíduo à prisão. ais dos dcntcs.
Um cpisôdío mais recente aconteceu na cidade de São Pau- 3. Equimoses de sucção: provocada-. pela língua ou pelo
lo, divulgado pela mídia como o "Caso do .Maníaco do Par- vácuo criado pelo agente.
que'·, no qual o assassino cm série, além de matar e atear fogo
cm suas vítimas, mordia-as, deixando suas impressões As mordeduras humanas produzem lesões com caracteres
demárias em várias regiões dos corpos. Na fase de investiga- individuais que são classificadas por alguns detalhes, como as
particularidade~ anatômicas descritas por Silva ( 1997) e as ano-
ção, os policiais possuíam um suspeito. e, diante das dificul-
dades encontradas em conseguir provas, as mordeduras encon- malias dentá1ias de interesse pericial. Essas anomalias podem ser
tradas nos corpos das vítimas foram de grande utilic..la<lc na de volume, número. forma, posição, erupção e de altcraçücs de-
identificação do agressor. Procedeu-se à moldagem do sus- vidas aos hábitos.
peito com a finalidade de compará-la com as marcas de mor- A fmma circular ou elíptica da marca da mordida humana,
didas encontradas nas vítimas (Jornal Folha dt' São Pa11lo. 07/ resultante do somatório dos arcos superior e inferior, é outro
08/1998). parâmetro levado em considcra\ão. Geralmente pode ser acom-
Além da identificação do agente. outros pontos fundamemais panhada por equimoses puntiformes de sucção e por escoriações
na investigação forense podem ser elucidados pela análíse das superficiais.
marcas de mordida: A marca deixada pelos incisivos con-espondc a um retângulo
alongado, para cada um, ao passo que as marcas dos caninos são
• violência da agressão; de forma triangular ou estrelada. Em geral. pré-molares e mola-
• precedência ou seqüência na produção das mordidas, quan- res não deixam marrns, exceto em casos excepcionais. Nesse8
do mais de uma; rnsos, as marcas têm forma de largos retângulos com pressões
• reação vital das lesões, para determinar se foram produzi- variadas cm função das cúspides.
das intra vifllm ou post-mortem; As mordidas de-animais domésticos (canídeos, felídeos etc.)
• data aproximada das mesmas, isto é, tempo transcorrido têm características próprias:
cmrc sua produção e o exame.
• são mais alongadas, tendo fonna de "V",
• nunca têm vestígios de sucção,
• maior profundidade das Jesôcs pérfuro-contusas,
MECANISMO DE PRODUÇÃO DAS • maior profundidade das lcsôcs produzidas pelos caninos,
MORDEDURAS • apresentam lacerações frcqücmcs.
• ex ihcm marcas dos diasternas, próprios e naturais, de cada
Os arcos dentários podem atuar como instrumentos contun- espécie animal.
Jcntcs, bem como instrumentos corto-conlundcntes (Arbenz.
Após a inspeção, deve-se proceder ao registro fotográfico com
1988). podendo produzir, sobre a pele humana. lesões de forma
o intuito de documentar a mordida. A técnica deve ser cuidado-
t gra\'idade diversas.
sa para evitar distorções. Recomenda-se:
O mecanismo de ação dos arcos dentários foi descrito por
H~.:k ,t,:ad. Rawson & Giles ( l 979) como sendo o rnnjunto a) manter o paralclísrno emre o filme e a marca:
~e' :·,\r-.·a~ a que ~e dá início através do fechamenro mandibu- b) incluir sempre uma escala ou régua milimctrada;
:.!r. ,.:~uinJo-sc a suc<;ào (pressão negativa) da pele e a ação e) fazer fotografias:
J ..· ti:n:.1 !(•r,·a no sentido contrário. impulsionada pela língua: ~ com luz namral;
::e:,.inh" J,,im ,;.ua projeção nas superfícies incisais e linguais ~ comjlash:
J,-,_ Jcn1.:,. ~ em cores;
O Esmdo das Mordt'duras 69

~ cm preto-e-branco: e co, que poderá ser mantido cm posição com 4 a 6 ponto~ de


~ com filme para infravermelho (quando possível) sutura na pele. Dentro dessa retenção poderá ser distribuído
d) começar sempre por tomadas "panorâmicas" para, depois, o material de moldagem e, após a presa, a peça inteira deYe
centrar-se nos detalhes au·avés de fotografias ''cm dose"; ser retirada e fixada, como indicado, para seu posterior exa-
e) tirar fotografias cm dias sucessivos. principalmente entre me no laborat.órío.
o 3.0 e o 5.0 dias.
A coleta de saliva deve ser a próxima etapa. Seu e8tudo per- SOBRE OBJETOS
mite uma análise genétíco-molecular, visando a identificação do \1arcas de mordidas podem ser encontradas sobre ohjctm
ag~nlc através das seguintes determinações: inanimados perecíveis (frutas, queijos etc.), que deverão ser
con8ervados. cm sacos de pláslit:o herméticos, no refrigera-
• O estudo do grnpo sangüíneo do agressor (sistema ABH). para dor a 4 ºC. Salienta-se que a coleta de saliva deve ser pré,,ia
os indivíduos secretores (em torno de 80% da população). à manipulação.
• A pesquisa <lc amilasc salivar em torno da lesão, o que Para proceder a um exame comparativo posterior das marcas
confirmará tratar-se de uma mordida. de mordida achadas, estas deverão ser fotografadas usando a
• A identificação do DNA, o qual é ex.traído a partir <las mesma técnica mencionada a respeito do lcvanlamemo cadavé-
células orais do agressor que existem na saliva em torno rico. Depois de fotografadas. faz-se a tomada de impressões das
da lesão e multiplicado através da técnica <la PCR. mordidas sobre o objeto inanimado, com material de moldagem
Antes de proceder aos curativos, deve-se tentar colher o má- de precisão (por exemplo: silicone). Se a cornervação tem de ser
xirno possível de células orai$ vindas na saliva e que tenham feita por tempos longos (semanas, meses). recomenda-se a
permanecido no local. A p1i01idadc deve-se ao fato de que os imersão em uma mistura fixadora contendo:
\ estígios são perecíveis. fom1ol a 40% 5 mi
O material para extra<ião e amplificação do DNA em amos- ácido acético glacial ............................. . 5ml
tras de saliva sobre a pele oferece os melhores resultados utilí- álcool a 709b ......................................... . 90ml
Lando dois cotonetes (swahs) sucessivos:
• o primeiro cotonete umedecido em água destilada, fazendo-
ºgirar cm toda a região e deixando-o. depois, secar ao ar; Coleta de Amostras do(s) Suspeito(s)
• o segundo cotonete seco, passando-o na mesma área cm Para possibilitar a comparação das marcas. toma-se necessária
que passou o primeiro; a coleta de amostras do(s) suspeito(s), caso existam, incluindo:
• colocar ambos os cotonetes, sem contato manual, em en-
velopes de papel secos e encaminhá-los ao lahoratório; • mordidas em lâmina de cera;
• enviar ao laboratório que pesquisa o DNA uma pequena • moldagem dos arco~ dentát'ios superior e inferior;
amostra de sangue da vítima. • coleta de saliva ou de células da mucosa oral;
• coleta de sangue.
Essa amostra é importante para estabelecer o peti'il de DNA
da vítima. uma vez que suas células cutâneas ou sangüíneas Os modelos dos arrns demais superior e inferior deverão ser
t quando houve sangramento) poderão contaminar a saliva reti- montados no articLtlador. verificando se a mordida na cem se
rada pelos cotonetes. adapta aos mesmos.

Moldagem da Mordida Comparação das Marcas de Mordida


~O VIVO
com as Moldagens do(s) Suspeito(s)
Em todos os casos em que a mordida provoca lesões co1to-con- O cotejo entre as marcas de mordida colhidas sobre a vítima
tusa:c, ou lacerações na superfície cutfmea, a moldagem de tais le- ou objeto inanimado e as moldagens obtidas a partir do suspeito
,;õcs pode 8er leita com o auxílio de materiais de moldagem de alta inclui duas etapas:
precisão, como o silicone, o vinilpolissiloxano e os políssulfetos.
O material é aplicado sobre as lesões. deixando-se tomar pre-
1. análise métrica da mordida na vítima, e
2. a associação e comparação da forma da lesão com a forma
,a. Deve-se evitar a retirada precoce, o que levaria a uma distor-
dos dentes do(s) suspeito(s).
\':à<) da impressão. Esse material de moldagem de precisão pode
,cr reforçado pela aplica\ão sohrc ele de um material mais duro A análíse métrica deverá ser feita sobre as fotografias que cem
e rígido, como o gesso e, por vezes, até uma malha metálica, para a régua graduada. sobre os moldes ou sobre os modelo~. e sobre
e\'itar que a impressão sofra deformações. O positivo da impres- as mordidas em cera, e deverá repetir-se sobre o material da ví-
,:io original deverá ser executado com um material adequado tima e o material do(s) suspeiLo(s). Compreende:
r gesso). de modo a reproduzir a mordida no articulador.
a) medida da largura e comprimento de cada dente:
b) avaliação do tamanho comparativo dos dentes:
'10 CADÁVER e) distância entre as peças dentárias: e
Em casos de levantamento de lcsôcs de mordida em cadáve- d) tamanho geral das arcos.
res. pode dissecar-se a pele na área da mordida ou fazer uma . A associação e a comparação de padrões representam a se-
retirada. em bloco, da área da mordida. seguida de fixação pelo
gunda fase do procedimento. e incluem:
iormol tamponado.
Para tanto, antes de proceder à retirada do material ''cm blo- a) a comparação l'ísíca da forma da lesão com a dos dentes
co ... faz-se, em volta da lesão, um aro usando cera ou plásti- do suspeito;
-o f ·, E ,1:,.Ju das .',fordedurns

h. l orientaçào da marca, diferenciando a parte do arco superi- 1. Descrição da Marca de Mordida


or daquela do arco inferior;
e) análise das rotações dentárías; O odontolegista deverá proceder a uma descrição minuciosa
d) verificação das posições relativas de cada peça no respec- da lesão, ohedecendo à seguinte seqüência:
tivo arco;
e) registro de:
1.1 DADOS DE~JOGRÁHCOS
+ ausência de dentes:
a) Nome da vítima
+ distância entre os dentes; b) :"Júmero do caso
• curva1ura dos arcos;
e) Data do exame
• outras carac1erís1icas, como fraturas, restaurações etc
d) Pessoa para contato
De modo a conseguir essa associação entre as marcas e os e) Idade da vítíma
padrões ck confronto, pode-se utilizar técnicas fotográficas f) Sexo da vítima
( usando transparências) ou radiográficas ( depositando mate- g) Nome do examinador
rial radiopaco no interior das marcas. seguido da radiografia
da pc\a).
1.2 LOCALIZAÇÃO DA MORDIDA
A análise das mordidas requer técnicos com habilidade no a) Localização anatômica
manejo dos procedimentos periciais; todavia. salienta-se que, h) Superfície de contorno: liso, curvo ou irregular
antes de qualquer procedimento mais rnmplexo ou sofisticado,
c) Características tcó<luais: estruturas subjacentes ( osso, car-
a observação morfológica cuidadosa das marcas ele mordida é, tilagem. músculo e gordura) e pele (fixa ou móvel)
em regra. o procedimento que dá melhores resultados. De nada
adianta ír para os detalhef-i. quando a simples morfologia gernljá
excluí o suspeito. l.31"0RMA
Com efeir.o, o grande número de caracte1ístirns individuaís que Descrição da forma da marca da mordida (circular, oval. cres-
aparecem na~ peças demais. e o seu exame combinado e simul- cente ou írregular)
tâneo. habitualmente é o que permite determinar o caráter pcr-
~onalíssímo de rnda mordida quando objetivamente comparada 1.4COR
com outra~. Registro da coloração da lesão ( vermelha, roxa, amarela etc.)
A Odontologia Legal poden\ lançar mão. ainda, de diversos
meios tecnol<Ígicos para avaliação das mordidas. entre eles: len-
1.5TAMANHO
te~ de aumento, microscópios eletrônicos. registros dimensionais
As dimensões verticais e horizontais devem ser anotadas. de
e a enterometria gráfica em planos. E~ta úhima permite o regi)-
preferência utilizando o sii.:tcma métrico padrão
tro das marcas de mordidas cm trê<; dimensõe~ (Bang, 1976).
Algumas técnicas preconizada<; podem ser de muito valor no
auxílio dos métodos convencionais de in1crpretaçiio e análise de 1.6 TIPO DE LESÃO
mordeduras, como a técnica da tramiluminação. utilizada para a) Hemorragia púrpura
evidem:iar as marcas de mordidas atraYés do posicionamento b) Equimose
direto de um forn de luz branca na área de interesse pericial c) Abrasão
(Dorion, 1988). d) Laceração
Outra técnica recomenda o uso de luz ultra\'ioleta. que. se- e) Avulsão
gundo Barslcy ( 1990), pode contribuir para mostrar algum deta- O odontolegísta deve avaliar detalhadamente a fim de eviden-
lhe que lenha passado despercebido pelo obser\'ador. ciar a posição dos arcos dentários maxilar e mandibular. locali-
MC Kinsry (1995) apresentou uma técnica propondo o uso zação e p<>'-ição de dentes individualmente e características
de resina dental para a análise das marcas de mordidas e um pro- intradentais. Essas anotações podem ser feitas nessa etapa ou cm
grama de computador desenvolvido especificamente ("SClP") etapas posteriores.
para a análise do estudo.

2. Coleção de Evidências da Vítima


ROTEIRO PARA O EXAME Ao examinar-se uma lesão por mordida. primeiro deve-se
SISTEMÁTICO DAS MORDEDURAS observar se foi afetada por água (lavagem), contaminação.
-· · · · - - · · - - - - ------------------
embalsamamento. dccomposíção ou mudança de po~ição. Apôs
Em 1984, o Conselho Americano de Odontologia Legal esta- tal exame. realizam-se os seguintes procedimentos:
beleceu as normas de procedimentos para a an.tlise de marcas de
mordída wm a finalidade de padronizar o exame e. principal- 2.1 FOTOGRAFIA
mente, a descrição. Tais norma" não contêm métodos de análise
• Poderão ser utilizados diversos equipamemos fotográficos
específicos para comparação. Entretamo, a qualidade da inves-
e filmes. Os mais utilizados são as câmeras de 35 nuncom
tigação e as conciL1sões obtidas tomam-se superíorcs àquelas sem
flash eletrônico e lentes planas.
qualquer padronização.
O exame é dividido cm três etapas básicas:
+ A re<;olução fotográfica deve ser de alta qualidade.
+ Se o filme utilizado for colorido, deve-se verificar o ha-
I. Descrição da marca de mordida lanco de cor.
2. Coleção de evidências da vítima + As ·tomadas da lesão devem ser feitas utilizando uma es-
3. Coleção de evidência~ <lo suspeito cala de referência, que deve ser posicionada no mesmo
O Estudo das Mordeduras 71

plano ou adjacente à marca. A escala permite que a lesão ser realizadas de acordo com a necessidade. Poderão ser úteis
seja medida e preparada como representação do tamanho tomadas em intercuspidação máxima.
verdadeiro. A régua de referência n.0 2 (vcr Fig. 3.1 da Parte
IT) foi desenvolvida pelo Conselho Americano de Odon- 3.2 EXAME EXTRABUCAL
tologia Legal para uso nesse tipo de fotografia. Tal instru- Esse exame inclui o registro de significantes fatores de teci-
mento contém <luas escalas métricas, sendo uma na cor dos duros e moles que podem imluencíar na dinâmica da mordi-
cinza, símbolos circulares e grades para com~çõcs. Cada da, como o estado da articulação temporomandibular. assimetria
um <lesses componentes é utíl izado para ex pi i<:ar possíveis facial, tônus muscular e balanceamento da mordida. A medida
distorções nas fotografias que podem anular o valor <la da abertura intcrincísal máxima é importante, bem como ore-
evidência fotográfica. gisu·o de algum desvio na abertura ou fechamento ou outras de-
• Outras fotografias deverão ser teitas, dessa ve1. sem a es- sannonias oclusais. A presença de cicatrizes ou cirurgias na face
cala <le referência para que nenhuma área da lesão seja deve ser anotada.
eswndida.
• No caso de vítimas vivas, realizam-se fotografias em seqüên-
cia durante vários dias. Esse procedimento documenta as 3.3 EXAME INTRABUCAL
mudanças de coloração associadas à cicatrização da lesão. No caso de haver evidências de saliva da vítima, deve-se cole-
tar. também, uma amostra de saliva do suspeito. A língua deve ser
examinada com referência ao tamanho e função. Anormalidades
2.2 COLETA DE SALIVA como anquiloglossia são passíveis de registro. As condiçf>es
Sempre que possível. deve-se coletar os vestígios de saliva. períodontais devem ser observadas com particular referência a
confonne as normas laboratoriais. mobilidade, áreas de inflamação ou hipertrofia. Se dentes anterio-
res foram perdidos ou fralurados, o odontolcgista deve determi-
2.3 IMPRESSÕES nar há quanto tempo essas condições estão presentes. Além disso,
Deverão ser tomadas impressões da superfkie da marca de o perito deve confeccionar um odontograma do suspeito.
mordida. Não há uma indicação específica de qual material deve
ser usado para a impressão. O Conselho recomenda que seja um 3.4 IMPRESSÕES
mate1ial aprovado pela Amcrícan Dental Association (ADA) e Pelo menos duas impressões de cada arco dentário devem ser
que seja registrado no relato. Os vinílpolissíloxanos são materi- realizadas, Lambém empregando materiais de precisão recomen-
ais dímensionalmente estáveis e que têm uma boa indicação nes- dados pela Amerü:an Dental Association. O registro da relação
ses casos. Materiais hídrocolóides, como alginato e poliéster, não interoclusal e da mordida do suspeito é importante.
são recomendados devido a problemas relacionados à estabili-
dade por longos períodos.
Os materiais de modelos ortopédicos e as resinas não- 3.5 MODELOS DE ESTUDO
exotérmicas têm sido usados para criar moldeiras rígidas para a Os modelos de gesso devem ter qualidade, reproduzindo to-
impressão dessas lesões. Todas as moldeiras com impressões e das as características bucais presentes. Eles serão duplicados e
moldes precisam ser devidamente etiquetadas. Para obter o mo- etiquetados para o arquivamento.
delo, deve-se utili;,.ar um mate1ial (gesso) de alta precisão que
reproduza sem falhas todos os detalhes do molde. Os moldes e
modelos de trabalho devem ser duplicados a pat1Ír do original. 4. Análise das Evidências
Diversos métodos de análise poderão ser utilizados na com-
2.4 AMOSTRAS DE TECIDO paração entre os achados. Após a análise, os resultados poderão
Amostras de tecido podem ser retiradas dos cadáveres. A ser apresentados em uma tabela onde os escores serão expostos.
derme, o músculo e o tecido adiposo adjacente podem ser remo-
vidos para análise transílumínativa. Antes da excisão, um anel
de acrílico deve estar firme a 1 polegada das bordas da amostra 4.1 GUIA DE PONTUAÇÃO PARA A ANÁLISE DE
do tecido lesionado, utilizando fio de sutura ou cianoacrilato. Esse MORDIDAS
prrn:cdimento previne a contração e distorção da amostra, quan- O Conselho Americano de Odontologia Legal elaborou uma
do colocada numa solução de formo! a 4%: para fixação. ficha-padrão na qual serão atribuídos pontos para as coincidên-
cias existentes.
As características a serem registradas variam desde peculia-
ridades dos arcos dentados ou desdentados até características de
3. Coleção de Evidências do Suspeito posicionamento dental e intradentais.
Antes de proceder à coleta. o perito deve obter o consentimen-
to judicial para recolher todo o material necessário à análise. Uma
cópia desse documento deve ser arquivada pelo perito. CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO
O odontolegista deve investigar se foi realizado algum traca-
mcmo dentário no suspeito após a data da marca de mordida. ATRAVÉS DE MORDEDURAS
Na maioria dos Institutos Médico-Legais, a análise das mar-
.ti FOTOGRAFIA cas de mordida pode oferecer problemas práticos para sua etetí-
hnografias extrabucais e intrabucais devem .ser de boa quali-
vação, como:
Jade. As tomadas cxtrabucais devem ser de frente e perfil. As
imrahucais <levem incluir uma visão frontal, duas visões laterais, a) A dificuldade de reconhecimento das mordidas durante a
uma visão oclusal de cada arco e outras adicionais que poderão perinccroscopia.
:.2 O F:..111,do das /vlorded11ms

h1 As lesões se alteram com o tempo, o lapso u·ansc.:orrido Bang. G. Analy~ís of toolh marks in a homicide case: obscrvations by
clllre a produção da lesão e o exame e coleta do matc1ial mcans of visual dcscription, slereo-pholography, scaníng electron
pode ser de vital importância. microscopy anti stt:reomctricgraphic plothing. Acta Odom. Scand.,
e) Os padrões das mordidas são bastante variáveis, visto que
Oslo. 3.J( 1):1-11, 1976.
Barsley, R.E. Fon:nsic photography, ultravíolel imaging of wounds 011
se trata de uma ação entre dois instrnmcntos móveis: a
skín. Am. J. ForemÍt" ,1'1ed. l'ai!tnl .. Kcw York, / lí4 ):300-30ll. 1990.
mandíbula (os arcos demais) e a pele (o c01vo da vítima).
Heckstcad. .1.W., Rawson. R.D. anel Gíles, W.S. Rcview of bite mark
d) A pele não é um suporte adequado para conservar as mar- evidence. ./.A.D.A .. Chicago. 99( 1):69-74. 1979.
cas de mordida. nem para facilitar a coleta de imprcssücs. Crikclair. G.r. and Bates. S.G. Human biles of hcad anel neck. Ameri-
Dessa forma. o rcconhecimemo rápido das mordidas, uma boa can .loumal ofSurgery. <'10(6):645-648, 1950.
Croce, D. e Croce. D.J. Manual de Medicina Le,?al. 2.º ed. Sfüi Paulo:
técnica de coleta das impressões e uma avaliar;ão minuciosa de
Saraiva. 1995.
todas as evidências disponíveis serüo elementos imprescindíveis Dailey, J.C. et ai. Aging ofbite marks: a litcrature review. J. F,m~nsic
para minimizar as divergências. Sei., Philadclphia, 42(5 J:792-795. 1998.
O procedimento de identificação através das marcas de mor- Donkor. P. et ai. A study oi primary dosure of human bitc injuries to
didas é semelhante ao que acontece com as impressões digitais. the face. J. 0ml .4-f<lâltlacial Surgery. Philadclphia, 55(5):479-481,
implicando três fases sucessivas: 1998.
Dorion, R.H.J. Transíllumination in hitc mark cvidence. ./. Forensit· Sei.,
1. Reconhecimento da mordida e coleta do material, por Philadclphia, 32(3 ):690-697. 1988.
moldagem, para análise posterior. Douglas. c;.A. l'ratical Starüticsfor Medical Researsh. Great Britan:
2. Coleta de amostras do(s) f-iuspcito(s) e moldagem. Chapnrnn and Hall, 1991.
3. Confronto das marcas de mordidas com as amostras obti- Earley, M.J. anel Bardslcy, A.F. Human hiles: a rcview. J. Plastic S1tr-
das do(s) suspcitos(s). gery, Edinburgh, 37(4 ):458-462, 1984.
J-,"ávcro. f. iHedicina L<·gal. 12.° eu. Belo I lorinmtc-Rio de Janeiro: Yilla
As mordida~ humanas são identificadas pelo tamanho das Rica, 1991.
ks<ies produzidas e, também. pelo seu formato, apresentando França. G. V. ,Wedicina Legal. 4." cd. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
caractnísticas elíptica ou ovóide. Deve-se observar a distância 1995.
entre os caninos dos maxilares. que deverá medir entre 2,5 e 4,5 Gornt:s. H. ;\rledicina l.e:,:al, 24." cd. Rio de Janeiro: hei tas Bastos, 1985.
cm. Se a medida for inferior a 3,0 cm, provavelmente pertencerá Jornal Folha de Siio Paulo. 07/08/1998. Caderno cotidiano São Paulo.
a uma criança que possui dentição decídua de acordo com Silva MC Dowcll . .I.D. Oiagnosing and trcatíng vit·tíms of domcstíc víolence.
(1997). N.Y.S.D ..I.. New York, 62(41:36-42, 1996.
MC Kinsrv. R.E. Resin dental casts as an aid ín bite mark identifíca-
Em todos os casos de mordeduras a serem ve.rificados pelos
lion. ./. 'Fore11sit· Sei .. Philadclphia, 40(2):300-::102. 1995.
examinadores:
Oliveira, R.L.. Daruge, E. e Galvão, l ,.C.C. Contribuição da Od(mlologia
• Observar se a mordedura é humana ou animal. Legal para ;.i identificação post-mort,m1. Reio. Brasileira de
• Não dcscai1ar a possibilidade de uma mordedura simula- Odontologia, Rio de Janeiro. 55(2): 117-122. 1998.
da. Prcttv, LA. and Sweet. D. The scíentilic basis forhuman hilemark analy-
s~s -... a c;rilical rcvicw. Sei. Jus/ice, 4/(2):85-92. 2001.
• Localização topográfica <lo corpo da vítima ou do suspei-
Rawson, R.D. foren~k Denli~try. J. Am. Dent. Assoe., Chil·ago,
to. 119:355-364, 1989.
• Observar f-iC a marca de mordida representa os dois arcos Rawson. R.D. n ai. lncidcncc ofbitc marks ín a selcctcd juveníle popu-
dentários ou apenas um arco. latíon: a prelírninary report. J. Fore11sic Sc:i., Philadelphia, 29( 1):254-
• Se há continuidade ou não dos elementos <lentais. deno- 259, 1984.
tando a falta destes. Reis. A. A De11wda na lde11tificaçiio: Tese inaugural l.M.L "Oscar
• Realizar o diagnóstico quanto à pot.ência da mordedura Freire.". São Paulo: Irmãos heirc, 1926.
(superficial ou profunda). Rojas, N. ,Wedici1w Let?al. 8: ed. Buenos Aires: EI Ateneo, 1964.
• Diagnosticar se as lcsf>cs foram produzidas cm vida ou RohtwelL H.R. Bi1e marks in forensic dencislry: a rcview of legal scí-
posl-monem. cmific. issues. J. Am. De11t. Assor., Chicago.126(2):223-232, 1995.
Silva, M. Compêndio de Odontologia Legal. São Paulo: Ml::DSI, 1997.
Sweet. D. and Pretty I.A. A look at forensic dentistry - Part. 2: Teelh
as wcapons of violence - identification of bitemark pcrpctralors.
BIBLIOGRAFIA Br. Dent. J .. /90(8):415-418, 2001.
Swcet. D.e.tal. Accuracy of bile mark ovcdayr,: a comparison ovcrlays.
J. Forensic Sei., Philadelphia, 43(5): 1050-1055, 199ll.
Ak~u, M.N. and Gobeui, .I.P. Thc pasl and present legal weíght of bile Sognnaes. R.F. et ai. Computer compari~on of bitc mark patterns in
marks as evidcncc. Am. ./. Forensic Med. Pathol., l\ew York. idcntical twins . ./. Am. Dmt. Assoe., Chicago. /05:449-451, 1982.
/7(4):352-354. 1996. Strom, F. lnvcstígat.ion of bite marks . .1. nt~III. Re.1 .. Washington.
1\merican 8oard ofForensic Odontology, lnc. Guídelincs for bite mark ,t2í[):312-Jl6. 1963.
analysis . ./. Am. Der//. i\ssoc .. Chicago. //2(3):384-386. 1986. Tanner de Abreu. H. ,11,frdicina Legal Aplicada à Arte Dentária. Rio de
Amoedo, O.. Ramos, D.G. e Prugolí, U.0. Reconhecendo ~la boca. Rev. Janeiro: Franci~co Alves. 1936.
/\.P.C.D., São Paulo. 50(6):464-473, 1996. Vale. G.L. and Noguchí. T.T. i\natom.ical distrihu1ion Qf human bite
Araújo. L.Z.S. e Lima, J.S. A busca du mistério. Rf~·. 11.B.O. Nac., Rio marks in a scric.s of 6 7 cases. J. Forn1sÍI: Sei., Philadelphía. :?X( 1):61-
de Janeiro. 2l6):3~4-390. 1995. 69. 1983.
A.rbcnz. G.O. Mt'.dicina Legal t~ Antropologia Forense. São Paulo: Wri!.!ht, F.D. and Dailcv, J.C. Human bitt" marks in forcnsic demisrry.
,\thcncu, 1988. l)ent. Clin. North A~1., ./5(2):165-:~97. 1001.
11

Laudo Pericial Sobre Mordedura


---·----..........,_..
,_,

Jorge Paulete Vanrell

MODELO 2. Vestes
A vítima. no momcmo cio exame perinecrosc6pico e
Repartiçfü) - DDM de I• Laudo N." _ _ _,/00 necrosc6pico, jazia nua.
B.0./ I.P./T.C. n.º l. l l l /00

3. Realidade da Morte
LAUDO DE EXAME DE CORPO DE Foi constatada pelos Médicos Legistas do Núcleo de Perícias
Médico-Legais de F (SP).
DELITO
POST-MORTEM 4. Material Examinado
Trata-se de uma fotografia, de tamanho natural. de uma lesão
Aos 00/00/00. nesta Cidade de S, a fim de atender à requisi-
corto-contusa, entrecortada, com as características de mordedu-
ção da Dra. Delegada de Polícia Titular da Delegacia de Defesa
ra humana, localizada na face dorsal do terço médio <lo braço
da Mulher der, os infra-assinados Médicos Legistas do Jnstítu-
direito, ligeiramente elíptica a eixo maior acompanhando o lon-
to Médico Legal, com o auxílio da Assistente de Antropologia e
go eixo do segmento (hraço).
Odontologia Legal. procederam, nas Dependêntías do Núcleo O limite lesionai da elípse é constituído por uma seqüência
de Perícias Médíco-Legais de S (SP), ao exame de corpo de de- ideal de lesões c0110-contusas. gros-.eiramente acompanhando o
lito, mediank confronto. entre os registros fotográficos coevos perímetro, mas com pequenos desalinhamentos entre si. e sepa-
ao homicídío (00.00.00) e os materiais colhidos do acusado, nesta radas por hiatos.
data, para responder aos seguintes quesitos: A fotografia evídencia. ainda, que a lesão corto-contusa
1.0 - Trata-se <le mordida (mordedura) humana'! entrecortada original apresenta-se rodeada por uma importante
2." - A mesma aconteceu intra viram ou post-monem? ,frea de equimose arroxeada, sendo cc110 que, na área interna.
3." - Pode-se identificar a autoria da lesão'! delimitada pela lesão, observa-se uma área escoriativo-contusa,
4." -A mordida (mordedura) representa meio insidioso ou cru- ligeiramente avermelhada.
el'! (Resposta especificada). )la imagem da mordedura sobre a vítima, nenhum dos dois
arcos se encontra completo. Algumas peças dentárias. quer pela
Realízada a perícia, passaram a oferecer o seguinte LAUDO: sua configuração, quer pela sua localização no hemiarco, quer
pela posição da boca do agressor no momento da mordedura. aca-
baram por deixar lesões maís profundas. algumas corto-contu-
1. Histórico sas, outras péd'uro-contusas. ao passo que outras não chegaram
a produzir lesões.
Segundo refere a Aur.oridade Polícia], o mate1ial fotográfico
O arco .rnpi1rior ou arco maxilar deíxou impressos:
remetido para confronto foi colhido pelo Fotógrafo Técnico Pe-
ricial "C.C •. por ocasião da perinecroscopía realizada no cadá- • ângulo distal díreito da borda incisai. do íncisívo cemr;:.:
ver de NO. vítima de homicídio. na cidade de F, no dia 00.00.00. superior direito ( l 1):
174 Laudo Pericial Sobre Mordedura

Fig. 11.1 Área parcial da fotografia colhida pelo Fotógrafo Técnico


Pericial do Núcleo de Perícias Criminalísticas do Instituto de
Criminalística em F, no dia 00.00.00.
Fig. 11.2 AmpHação fotográfica da mordedura que se destina a mostrar
as alterações provocadas pela modificação de posição real do arco den-
tário superior do agressor, com discreta rotação de referido segmento
• a borda incisai do incisivo lateral superior direito (12); para a esquerda. 1. Escoriações e contusões lineares provocadas quan-
• a cúspide única do canino superior direito ( 13), sob a for- do a epiderme deslizou beliscada pelos espaços interdcntais. 2. Lesão
ma de uma lesão pérfuro-contusa; corto-contusa provocada pela borda incisa! do incisivo superior lateral
• outras impressões não podem ser identificadas com a pre- direito (12). 3. Lesão contusa provocada pela cúspidc vestibular do pri-
cisão exigível. meiro pré-molar superior direito (14).

O arco inferior ou arco mandibular deixou impressos:


• a somatória das bordas incisais, dos incisivos centrais e
laterais inferiores, direitos e esquerdos (31, 32, 41, 42); 5. Técnica
• as cúspides, transformadas pelo desgaste em "bordas oclu- Após autorização de VO, procedeu-se à moldagem de seus
sais", dos caninos inferiores direito e esquerdo (33 e 43); arcos dentários, maxilar e mandibular, seguindo-se a técnica
• as cúspides vestibulares, transformadas pelo desgaste e habitual consistente em:
cisalhamento em "bordas oclusais", dos primeiros pré-
molares inferiores direito e esquerdo (34 e 44); • escolha de moldeiras, superior e inferior, grandes, para
• outras impressões não podem ser identificadas com a pre- adulto;
cisão exigível. • preparação de massa homogênea de alginato;
• enchimento de cada uma das moldeiras, sucessivamente,
As impressões e lesões deixadas pelas peças dentárias do arco
com a massa de alginato;
superior demostram que, após um primeiro momento de maior
• obtenção dos moldes dos arcos dentários superior e infe,ior;
pressão - quando se produziram as lesões supra-elencadas - ,
• controle de qualidade da moldagem;
houve um abrandamento relativo desta, de tal sorte que os den-
• vazado dos moldes em gesso especial, para detalhes finos;
tes do arco superior deslizaram sobre a pele, com uma discreta
rotação da cabeça do agressor para a esquerda, em relação ao eixo • controle de qualidade das peças vazadas;
maior da mordedura. Ao deslizarem, deixaram vestígios de re- • recorte dos excessos das bases;
ferida mobilização. • secagem ao ar livre.
Esses vestígios são caracterizados como escoriações lineares A seguir, foi colhida a mordida habitual do Indiciado, sobre
- (ver n.º l na Fig. 11.2) - que se coaptam com os espaços lâmina de cera rosa, de modo a verificar o desenho deixado pe-
interdentais respectivos, e que terminam abruptamente, em um las peças dentárias, bem como orientar a articulação precisa de
novo ictus de pressão - notadamente do hemiarco superior di- ambos os arcos.
reito-, que acabou por provocar uma segunda série de lesões,
mais internas que as primeiras, em relação ao perímetro da mor-
dedura, provocadas pelas bordas incisais ou pelas cúspides ves- 6. Resultados
tibulares da face oclusal (ver n.º' 2 c 3 na Fig. 11.2).
Pesando a alegação de que taJ conjunto lesivo poderia ter sido Os confrontos foram realizados seguindo a metodologia pre-
infligido na vítima por seu marido, VO, foi solicitada a colheita conizada pela "American Society of Forensic Odontology" (cf.
de material do mesmo para os necessários confrontos anatômi- Bowers, C.M. and Bell, G.L. Manual o.f Forensic Odontology,
cos. 3rd ed. Saratoga Springs: Am. Soe. Forensic Odontology, 1997).
laudo Pericial Sobre Mordedura 75

Fig. 11.3 As principais concordâncias do arco superior. Fig. 11.4 As principais concordâncias do arco inferior.

Conforme se dessume das fotografias anexadas nas páginas gou o agente a comprimir fortemente o seu nariz e o seu quei-
seguintes, foi verificada uma perfeita congruência entre os ar- xo, pois que, caso contrário, não conseguiria o efeito lesivo
cos dentários do Indiciado, VO, e as lesões deixadas pelo observado.
agressor da vítima, NO, na face dorsal do terço médio do braço A lesão mostrada pela vítima não foi produzida de forma ins-
direito. tantânea ou rápida, sendo certo que a ação do agente se prolon-
De modo a facilitar a interpretação dos dados nas figuras apre- gou durante, pelo menos, um minuto, tempo esse necessário para
sentadas, foram traçadas linhas auxiliares que interligam as mar- conseguir morder e readaptar a mordida. Eis que, dos indícios
cas de mordida na vítima, com a mordida do Indiciado, VO, em deixados na mordida, evidencia-se que o agente, após uma mor-
cera, e com a moldagem dos respectivos arcos em gesso. dedura de grande intensidade - provocando contusões e lesões
Foram obtidas doze (12) concordâncias, em doze (12) variá- corto-contusas - , abrandou a pressão exercida, provavelmente
veis possíveis, e nenhuma (0) discordância (vide fotos anexa~). por mobilização do braço da vítima, o que ensejou um desliza-
mento dos tecidos abocanhados, ao que se seguiu nova pressão
intensa por parte do agente. Essa nova pressão ensejou um se-
7. Discussão gundo grupo de lesões, algo mais centrais, conforme foi demons-
trado nas fotografias antecedentes.
A lesão analisada, caracterizada como uma mordida huma- Mister enfatizar que o tipo de lesão observada enseja uma dor
na, foi prod'uzida na vítima quando ela se encontrava com vida, intensa, mesmo assumindo as situações em que a vítima anui com
haja vista a reação vital que exibe, quer nas áreas escoriativas, a agressão, como, por exemplo, nos rituais sadomasoquistas.
periféricas e centrais, quer na orla de contusão ou orla equimótica As imagens observadas na parte central da mordedura, in-
que a rodeia. cluindo contusão com início de escoriação, justificam-se e
Causa espécie a posição anômala do agressor. que colocou mostram perfeita concordância com as observações do Prof.
o eixo maior do sua face paralelo ao eixo maior do braço da Moacyr da Silva (Compêndio de Odontologia Legal, São Pau-
vítima. Com efeito, tal posição contraria aquilo que é habitual, lo: MEDSI, 1997, p. 476), como tendo se originado de um
ou seja, que a mordedura se dê perpendicularmente ao longo misto entre a pressão central da língua (área mais clara) e a
eixo do membro. A posição em que a mordedura foi praticada sucção no espaço linguopalatal (área em meia-lua, mais aver-
na vítima, para que pudesse abocanhar os tecidos moles, obri- melhada).
76 L.rndu Pericial Sobre Mordedura

8. Conclusões no caso sub examine., é extremamente dolorosa, em face da re-


gião e do tempo necessário para provocá-la com as nuanças que
Em face do que foi exposto e de tudo quanto foi descrito. pode- apresenta.
mos inferir as seguintes conclusões: 8.1-A marca de mordida que
a \'Ítima :\J"O exibe na face dorsal do terço médio do braço direi-
to corresponde a mna mordida humana. 8.2 - Referida mordida 9. Respostas aos Quesitos
humana foi desferida quando a vítima ainda estava viva. 8.3 - A
lesão de mordedura toda foi produzida de wna única vez. 8.4- 9.1 - Ao 1.0 - Sim. 9.2 - Ao 2.0 - A lesão ocorreu intra
0 ato de morder revestiu-se de com:iderável violincia. 8.5 - A viram. 9.3 - Ao 3.0 - Sim. A mordida originou-se da arcada
ação de morder não foi de ímpeto, mas prolongou-se durante um dentária de VO. 9.4- Ao 4. 0 - Sim. Insidioso, porquanto reali-
1em1>0 n<io inferior a um minuto. 8.6 - Durante a mesma ação de zado na parte dorsal do corpo da vítima, o que obrigava o agente
morder, o agressor readaptou a mordida. 8.1 - O mírrwrv de con- a postar-se por trás da mesma; cruel, uma vez que a mordedura,
mrdâncias entre a lesão de mordedura presente na vítima, NO, e a e com a intensidade do caso sub examine, é extremamente dolo-
moldagem da arcada dentária do lndícíado, VO, e sua mordida em rosa. em face da região e do tempo necessário para provocá-la
cera, é de doze (12). 8.8- Há ausência de discordâncias na mesma com as nuanças que apresenta.
compan1ção apontada em 8.7. 8.9- Houve insídia, porquanto a ação Nada mais havendo a relatar, encerramos o presente Laudo.
foi praticada na parte dorsal do corpo da vítima. próxima do
ombro e do tronco, o que dificulta à vítima safar-se e o que obri- Perilo Executor Perito Revisnr
ga o agente a postar-se por trás da mesma. 8.1O- Trata-se de meio
cruel. uma vez que a mordida, e com a imensidade da observada Assistente em Antropologia e Odontologia Legal
. . . . . .. : .: ·. . .
. .· .. : . : ·:. :

.·. .
. . . .

..........
. . . .··.···· .·

ESTOMATOLOGIA DO
TRABALHO E
INFORTUNÍSTICA

___________··--·····-········-
........,.,,, __....._ ____
... ........- ..., ...,.,---·-···•·---- --
·1··2::.
. . .

Estomatologia do Trabalho e
Infortunística
_____.
,,................................... ...,...,... ...,...,.,.,, .,_,,., ______-·---··------·•w--•-••-•----
Jorge Paulete Vanrell

Afora as alteraçües nos dentes. alguns músíws podem apre-


I. ESTOMATOLOGIA DO TRABALHO semar lesf>es nos hfüios (queilítes e lesões contusas). provoca-
das pelos traumas mecânicos repetidos no uso dos instrumentos
Conceito de sopro, de bocal. quando ainda não se desenvolvera a denomi-
nada ''embocadura".
É o capítulo das Ciência.~ Forem;es que estuda as manifestações, -,
alterações e estigmas que ocon-cm na lmca. em geral. como rcsul-
Ação Térmica
tad<, do exercício de dctcnninadw; profiss<ies ou atividades laborais.
Os provadores tl<t café, em função <la peculiaridade do seu
trabalho e de como o mesmo é executado, podem desenvolver
ESTIG\tlAS RESUJ, T ANTES DE PROFISSÕES reaçlies térmica:;, quer na mucosa das bochechas. quer na do
Certas profiss<ies podem produzir marcas permanentes nos gaiato (duro e mo)i:).
dentes por razf>es meramente mP.<:ânicas, que introduzem des-
gastes .l'Ua.uivos e perdas mínimas de esmalte, em.face dos u·au- Ação Química
matismos reiterados. Outras atividades lahorais. que expõem o A ação química não produz perdas ou traumatj&roN €1@ @n~l-
trabalhador a substâncias químicas, quer na forma de produtos. te, como o fazem os fatores mecânicos; antes provocam colora-
quer na fonna de íons. provocam alterações progressivas. ora pelo ções caracleristícas do esmalte e da dentina pelo produto quími-
depósitos dos íons. ora pela ação desu·utiva. díreta ou facilirndora, co wm o qual o trabalhador tem um contato duradouro e diuturno.
das substâncias químicas. ..a.S.ab~r; · - - - · · - ·--
• manchas acinzentadas no colo do~ incísivos e dos caninos.
Ação ~lccânica pelo t:}túírib~; · ·· ·-.
Nessa esteira. encontramo-nos com ce1tos trabalhadores que
• coloração dnzenta global, pelo !'t~c,ítjq;\
têm por hábito segurar tachas ou pregos entre os dentes. Nesse
• manchas esverdeadas com reborda a-iul, pelo cobre;
grupo, por exemplo, encontram-se os sapateiros. bem como os
• manchas amarronzadas na borda livre dos incisivos, pelo
l'stof'adores. É habitual que, entre esses operáríos, se encontrem.
ferro:
reentrâncias ou chanfra<luras na borda íncisal dos incisivos cen-
• manchas amarelas. pelo câdmi~,ytc.
trai:', (dentes de Hutchínfion falsos).
Entre os colcho<'iros. esf(fadore~. a({aiates e costureiras, uun- Outras vezes, podem os vapores corrosivos - nitrosos e S11l·
bém se observam irregularidades ou pequenas fissuras na horda furosos - provocar destruição dos tecidos dentário~ e do
incisai ou livre <los incisivos centrais, resultantes do hábito de pe1iodonto, de forma progressiva, ensejando o amolecimento e
puxar o fio e, quando na medida, cortá-lo com o auxílio dos den- perda dos dentes. afora um maior .índice de cáries nas coroa~
tes em vez de usar tesoura. clínicas.
Os músicos que executam com instrumentos de uma palheta Por derradeiro, podem citar-se as cáries dos ,l_'onfeiteiro., e
(saxofones. clarineta. oboé etc.). cm razão <los repcti<los traumas pessoas que trabalham nasfâbrica.~ de doces. caracterizadas cli-
com a boquilha. podem apresemar perdas de substâncía no es- nkamence como manchas de forma circular, d~or amarela ou
malte do:- incisívos superiores cenrrnis. e
preta dos tecidos desvítalizaiJ,;s, locaJízãcías. excfüs'mrmeme.
Algo semelhante pode ohservar·sc com os sopradores de ví- oa região do colo das peças dentárias. E que. nesse~ trabalhad"°
dro, nos quais o trauma se <lii com a boquilha da cana ou vara res. acúmulos de açúcares (glicose, sacarose. fruwse. malr~
sobre os incisivos. tan10 superiores como ínteríores. etc.) no sulco pcriodontal, associados com mau:; hál'>it0~ d.e bi-
;:.:-:.~ 1:-u.: :11. por não rcmm é-los durante o dia. acabam sendo de- Doença Profissional
;~.;.:.:J,1~ jX"la:-. enzimas salirnres e pelas bactérias saprófitas,
: :·~.::-:j,, i~·i<l<'~ locais que atacam, de maneira puntiforme, os Doença produzída ou desencadeada pelo exercício de u·aba-
'.~"~ :.:, " J~ntirios. ensejando estixmas de naftlre::.a patológirn. de lho peculiar a determinada âtividade (tecitopatiri), e desde-que
• ~:-.~,,, ~,tritamente laboral. consfouãicfaçâõ do Aiiexo ir,·ao·occreto n.º 357/91 .
Entre as domças profissionais a que está sujeito o cirurgião-
dcntista. sem lugar a dúvidas. o grupo mais i1T'P.!)11iU1te é o que
compreende as lesões por esforços repetitivos (LERj denomina-
II. INFORTUNÍSTICA ção esta que se tenta evitar), que nada mais são que uma varie-
dade especial de distúrbios ostcomusculares relacionados ao tra-
Conceito balho (DORT). que acontecem apenas para determinadas esp<'·
cialidwfrs ou ripo.~ de trabalho, como, por exemplo, os
É a pane das Ciências Forenses que estuda os acidemes de endodontislas (operações de preparação de canais, limado. ob-
trabalho e as doenç:as profissionais., · · ·· ·· ···
. ··--·-· ~..... ... ... . --.... turação etc.) e os periodoruistas (trabalhos extensos com cu reta
etc.).
ACIDENTE DE TRARAI.HO (ACIDENTE-TIPO) As LER representam um grupo heterogêneo de quadros clí-
Acontecimento c ~ ÍO,!:!!,!j~i, iri_:iprevisto, q~corre pelo nicos, alguns deles bem definidos, como tcnossinovite, sinovite
exercício da atividade profissional, a serv1çoãe uma empresa ou ou epicondilitc. e outros mais difusos. Daí que se entendam as
como truhalhador autônomo. provocando: lesões por esforços repetitivos (LER) como uma "síndrome clí-
nica'". caracterizada por dor crônica, acompanhada ou não por
• m011e,
alteraçr,<'s objeliPas (detectáveis aos raios X. ao ultra-som, à
• lesão corporal,
ressonância magnética nuclear etc.) e que se manifesta p1inci-
• perturbação funcional,
palmcnte no pescoço, cintura escapular e/ou membros superio-
• perda da capacidade de trabalhar. temporá1ia ou permanen-
res cm denmêncía do trabalho.
te.
O desenvolvimento das lesôes por esforços repetitivos, hem
• redução da capacidade de trabalhar. temporária ou perma-
como o caso mais amplo e gcné1ico dos DORT, é multicausal,
nente.
sendo importante anali!-ôar os fatores de risco envolvidos direta
Resulta evidente que o cirurgião-dentísra. no desempenho de ou indiretamente. A expressão ':fator de ris à>., designa, de ma-
suas aci vidades, está propenso a sofrer acidentes específicos com neira geral os fatores do trabalho reiacíonados com as LER. Os
uma freqüência maior que a de qualquer pessoa, mas dentro <la fatores foram estabelecidos. na maior pat1e dos casos, por meio
freqüência mm que podem aparecer em outros profissionais <la de observações empíricas e. depois, confimmdos com estudos
saúde. epi<lcmíológicos.
Nesse sentido, os acidentes são. na sua maioria, mecânico- Os.fatores de rísco (ver no ílem seguinte: Doença do Traba-
/Jioló~ícos. isto é. nos quais há inicialmente uma.fase 1raumâ1i- lho) não são indcpcn_~!S'}K"· Na prática, há a interação desses
i:a. exclusivamente mecânica, provocando soluç<ies de conúnui- fatores nos l_o_<-2,<!is. ~~-- tral!_,~.hu, Na identificação tj~~ fatores de
<ladc, no revestimento cutâneo-mucoso do profissional, que se ris~o. d~ve~se inte_~r..~_r__<t,~ ~'.'..~~infonnações\ - - - · ···--
transformam em portas de entrada de núcroorganísmos (\'..ÍIU-.S 0

bactérias, protozoários etc.), os quais ensejam, por sua vez. o


estabelecimento da fase biológica. infecciosa. local ou sistêmi- Doença do Trabalho
ca, a partir da área traumatizada.
À guisa de exemplo de fos{ies tra11mâtica~, mecânicas, na área É qualquer das doenças desencadeadas ou adquiridas em fun-
de Odontología. lcmbnu· que o profü,sional manuseia instrumen- ção das condições especiais cm quê·o· fraõitlliéiereâlizado e · n
tos, <lc re~ra, com cxtrcmidad~s aguça~as'. corno: ex:e!ora~orcs, etc se relacionam <l1retamcnte (mesopahas . que constem
a ~ . 1~. grampos de proteses moveis etc .. bem como que da r ~ o ~~~~1_exo_IT, ito l~r~to n.º 35_7./9 J. ~1r~-ifüis;·e.n-
trabalha com brocas de alta rotação que, inadvertjdamentc. po- treTamo. que passaram a ser conslderamis como tais apos a enus-
dem escapar do dente cm tratamento, provocando lesões na mão são de citado decreto, e outras que ainda não são consideradas
auxiliar. mesopatías. exigindo. freqüememente, que os portadores devam
Em geral. não é do conhecimento do profissional - e, por socon-er-se da Justiça para que possam achar guarida, por analo-
vezes, t~111pouco do paciemç - se o mesmo é portador de doen- gia, com a legislação vigente.
rus in.fécto-contâgiv~aJ 1ransmissíveis por inoculação, isto é. que Despontam nesse grupo das mesopatías - e, por vezes, é
carecem da efração da pele ou das mucosas para ingressar no difícil separá-las das tccnopatias - aquelas que constilllem um
organismo de outrem. grupo mais amplo. o dos distúrbios osteomusculares relacio-
Nesse gmpo enquadram-se com destaque. cm face de sua nados ao trabalho - DORT.
gravidade, dificuldade de tratamento e/ou seqüelas, entre outras: O tcm10 LER é genérico, e o médico deve sempre procurar
determinar o diagnóstico específico. Como se refere a diversas
• a sífilis ou lues,
patologias disríntas, torna-se difícil estabelecer o tempo neces-
• a hepatite B.
sário para uma lesão persistente passar a !-.er considerada como
• a Síndrome da Imunm.lcficiência Adquirida (SIDNAIDS).
crônica. Além disso, até a mesma patologia pode se instalar e
evoluir de forma diferenre, dependendo dos fatores etiológicos
Para fins previdenciários e securitários. as doenças e da resposta que cada organismo apresenta aos estímulos de uma
profis s ianuiJ. as doenças do trabalho e os acidentes de per- mesma noxa. Com todas essas li mítações, o que se pode dizer é
cur.so l"itt itinere''), equiparam-se aos acidentes de traba· que as lesões causadas por esforços mantidos. duradouro1Luu_
lho. repetitivos são patologias. manifcstaçiícs ou síndromes palolô-
Estomatologia do Trabalho e llifómmí.vtica 81

.,:icas que se instalam insidiosamente cm determinados segmen- d. l) de uma tensão (por exemplo. a tensão do bíceps J:
tos do corpo, em conseqüência de trabalho reali;,ado de forma d.2) de urna pressão (por exemplo, a pressão sobre o canal do
inadequada., - · · carpo):
· A~~ífri~ o nexo é parte indissociá_yel do diagnóstico, que se d.3) de uma fricção (por exemplo, a fricção de um tendão
tUnclarnenta ~uma b~)~ ~11'.!~~1!::S~~~acjonal e em relatórios de. sobre a sua bainha);
profo;sionais conhecedores da situação de tr~l!_aj)Jo, permitindo d.4) de uma irrirnção (por exemplo. a irritação de um ncn o).
a correlação do qÜadi-o"cifo.ico com a atividade ocupacional efc-
Entre os fatores que iníluenciam a cllrga tJstemnuscular. en-
ti vamente desempenhada pelo trabalhador. donde a proposta da
contramos: a força. a repetilividacle, a duração da carga, o tipo
nova tcm1inologia di.~t.úrhios osteomuscularcs rdadonados ao
de preensão, a postura do punho e o método de trabalho.
trabalho - DORT.
Contrariamente ao que se previa há alguns anos, quando as e) a carga estática
atividades técnicas se pretendiam suavizadas em face das A carga estática cst,\ presente quando um membro ou segmen-
melhorias tecnológicas, a incidência dos DORT vem aumentan- to é mantido numa posição que vai contra a gravidade. J\:es~es
do no mundo moderno. Isso acontece cm todos os locais de ope- casos, a atividade muscular não pode se revencr a zero ("esfor-
ração cm que as características da organização do trabalho. de ço cstá1íco"J. Três aspectos servem para caracterizar a presença
forma geraL privilegiam os paradigmas da alta produtividade e de posturas estáticas: a fixação postural observada. as tensões
da boa qualidade do produto final, em detrimento da preserva- ligadas ao trabalho. sua organização e conteúdo.
ção do u·abalhador (no rnso. do cirurgião-cientista). As princi- Isso pode ser facilmente exemplificado analisando o trabalho
pais causas são a in,llcxibilidade e alta intensidade de ritmo. a desempenhado pela auxiliar de consultório quando deve ficar cm
grande quantidade e alta vdõdl.iadc dos movinientos"feoeiiiívos. pé. por longos períodos, sustentando um instrumento (afastador,
a faffâ"cte-iiüfocoi1trole sobre o modo e rit111o·aeirabalho. m11í- sugador etc.) cm uma posição adversa, com torção dos segmen-
lüírío e eq_uipam~I!.!:~~gQ~Qº}_ic,!m<,:ntç i~~ados e!c.JEnfirn. tos do tronco entre si. ou destes sobre a hacia. Em geral, no fim
esses clement.os acaban1põr sõi"fíar-"sciilista dos ·'jmores de ris- da sessão. ou no fim do cxpcdicmc. isso será umsignado como
co .. dqs DORT. uma ''dor nas cosias" (dorsalgia) ou uma ''dor na cintura"
Sohre o plano conceituai, ··os mecanism11s de le.5ão dos ca- (lombalgia), que se repetirá cada vez com maior freqüência e com
sus de DORF.~ão cmtsidaados como um acúmulo de influênci- os mesmos esforços ainda, que de menor duração.
as que ultrt1pas.mm_!J í:apaddade de adaptarão de um tecido,
mesmo se o.fimcionamentofisio/ógico deste é mantido parcial- 1) a invariabilidade da tarefa
meme ''. A invariabilidade da tarefa implica monotonia fisiológica e/
Na carac1e1ização da exposição aos fatores de risco, algun:-: ou psicológica. Isto é válido tanto para as um'./<ts dinâmicas, isso
elemento) silo importantes, tfonlre outros: é. em que há movimentação repetitiva dos mesmos grupos mus-
culares. quanto para as tarefas estáticas. como as mencionadas
• a região anatômica exposta aos fatores de risco; no item anterior.
• a intensidade dos fatores de risco;
• a organização temporal da ath•idade (por exemplo, a du- g) as exigências cognitivas
ração <lo ciclo de trabalho, a distrihuição das pausas ou a As exigências cognitivas podem ter um papel no surgimento
cstrntura de horários\; das DORT. quer causando um aumento de tensão muscular. quer
• tempo de exposição aos fatores de risrn. causando uma reação mais generalizada de estresse.

Os grupo~ de fatores de risco das DORT podem ser elenca- h) os fatores organizacion(tis e psicossociai.~ lixados ao tra-
dos como: · ·-- balho
a) o grau de adequação do posto de trabalho à zona de aftm- Os fatores psicossocíaís do trabalho são as percepções subje-
çüo e à visão tivas.-€fae o trabalhador tem dos fatores de organização do traba-
A <limcnsão do posto de trabalho pode forçar os indivíduos a lho. Como exemplo de fatores psicossocíais, podemos citar: con-
adotarem posturas ou métodos de trabalho que causam ou agra- siderações relativas à carreira, à carga e ritmo de trabalho e ao
vam as lesücs osteomusculares. ambiente social e térnico do trabalho. A "percepção'' psicoló-
gica que o indivíduo tem das exigências do trabalho é o resulta-
b) o frio, as vibrap1es e as pressõe.'i locais .sobre os lticídos do das características físicas da carga, <la personalidade do in-
A pressão mecânica localizada é provocada pelo contato físi- divíduo, das expcriêm:ias anteriores e da situação social do tra-
co de cantos rdos ou pontiagudos de um ohjeto ou ferramentas balho.
com tecidos moles do corpo e trajetos nervosos.

c) as postura.li inadequadas Acidente de Percurso


Em relação à postura, existem três mecanismos que podem
(ACIDE\ITE DE TRAJETO ou ACIDE.KTE IN ITINERF.)
causar as LER:
c. l > os limites da amplitude articular;
Acidente que ocorre no percurso da re!'lidêm.:ia m~abalho e vice-
c.2) a força da gravidade oferecendo uma carga suplementar
VÇ[fu"'l, independentemente do meio de transpo11e e desde que não le-
sobre as articulações e músculos;
nha havido alteraçfics sígnificatí~~t~~-~ itíncrá.r~:<> parn f~s-~!soaisJ
c3) as lesões mecânicas sobre os <li ferentes tecidos.

d) a carga osteomuscular CARACTERJZAÇAO


A carga osteomuscular pode ser entendida como a carga me- Os elementos que caracterizam o acidente de trabalho (e as
cânica decorrente: doenças a ele equiparadas) são:
82 F.sl<•mawlogia do Trahalho e ln/ó1tuní.çt/ca

• existência de uma lesão pessoal; SIMULAÇÃO


• incapacidade. de algum tipo, para o trabalho: Com a concessão de benefícios, surgem novas oportunidades
• temporâria (até I ano de duração); para que indivíduos inescrupulosos:
• pnmanente:
~ parcial • aleguem pc11urbações inexistentes = simulação;
~ total (invalidez, seguida ou não de morte):
• enriqueçam o 4uadro, acrescentando outros sintomas ""'
parassimulação:
• nexo de causalidade entre ambas.
• exagerem as perturbaçües que realmente têm = metassi-
mulação:
RENEFÍCIOS • omitam as perturbações de que -.ão portadores = dissimu-
O .Sistema Previdenciário dispõe de uma série de benefícios lação.
sociocconômicos que visam minimizar o sofrimento e/ou a in-
capacidade do acidentado, notadamente com a consecução de
proventos alimentares, nas suas várias modalidade-.. Esses be- INVESTIGAÇÃO
nefícios incluem: Em geral, a investigação que deve rodear esses casos de frau-
de é mais fácil quando a queixa da perturbação é objetiva: perda
• Auxílio-doença (importância que é paga ao segurado, men- de segmento, imobilidade articular, perda de função de órgão etc.
salmente, enquanto padece de uma doença que o impede de Para as pcrturbaçf>es objetivas, a caracterização da fraude, cm
trabalhar, e até a resolução, quer pelo restabelecimento, geral. apenas exige uma boa capacidade de ohservação do pro-
quer pela aposentadoria por invalidez. .Seu valor equivale fissional e certa dose de malícia para aceitar e interpretar as per-
a um percentual -em torno de 70% - e.lo que o trabalha- turbações morais e socioeconômicas que. em geral, se encontram
dor recebia quando cm atividade, antes de adoecer). na base desses cornp011amcntos.
• Auxílio-acidente (imp011âncía que é paga ao segurado, Bem mais difícil é quando a queixa da perturbação é subjdi-
mensalmente. enquanto se recupera de um acidente que o va, como, por exemplo. a ocorrência de uma dor. É que. nesses
impede de trabalhar em plenitude, e até que se encontre casos, não há como mensurar a queixa, não há como quantificar
apto a reintegrar-se ao mesmo trabalho ou a um outro do a dor relatada. É certo que. no estudo da dor, devem-se levar em
mesmo nível ou de nível inferior de complexidade, ou até conta fatores como:
fazer jus a aposentadoria por invalidez acidemária. Seu
valor equivale a 100% do que o trabalhador recebia J'cgis- • sexo.
trado à data do acidente). • idade.
• Aposentadoria por invalidez (importância que é paga • trabalho,
mensalmente ao segurado, que se encontra inválido. i.e., • fadiga e
í naplo para qu alq ucr tipo de trabalho. Quando essa • perturbações mentais.
invalidez decorreu de acidente tfo trabalho. fala-se em apo- Todavia, paralelamente, devem ser pesquisados sinais o~je-
sentadoria por invalidez acidemáría. Seu valor, em geral, tivos, sem alertar o examinado de que serão feitos ou da maneira
sempre é menor do que o trabalhador recebia registrado à como serão fe.itos. Esses testes, cm geral, estribam no fato de que,
data do acidente, porquanto o cálculo se fa7, com base na ao se provocar uma dor intensa. ocorre uma liberação instantâ-
média dos salários de um período: atualmente, os últimos nea de adnmalina na torrente circulatória. Logo. para pesquisar
36 meses). a c.lor, realmente o que se pesquisa é o aumento instantftneo de
• Pecúlio (importância que é paga uma única vez à família adrenalina, observando os efeítos gcraí1, desta, como as:
do i-iegurado, por ocasião de sua morte, principalmente
• alterações da freqüência cardí.aca, avaliada através do pulso
quando esta oconeu em virtude de acidente laboral).
(sinal de lmbert):
• Abono especial í 13.º salário] (importância que é paga ao
• alterações do diâmetro pupilar (sinal de Levi), e
segurado já aposentado, uma ve:;: por ano, na época das
• alterações da sensibilidade dolorosa no ponto (sinal de
festas natalinas - donde o nome inicial de ''Abono de
:\füller).
Natal" - e cujo valor é próximo ao que recebe mensal-
mente cm virtude da aposentadoria). Na prátka, tão grave corno a simulação e a metassimulação.
• Assistência odontológica (prestação da assistência odon- quanto aos seus efeitos prejudiciais para o empregador, é a dis-
tológica básica: extraçôcs, moldagens e lrabalhos de simulação. Assim, se, quando e.la admissão, a dissimulação pas-
pníteses, lotais, padronizadas). sou ínadve11ida no exame admissional, o aparecimento da quei-
• Reabilita~ão profissional (inclusão do trabalhador aciden- xa, posteriormente. recairá como responsabilidade exclusiva do
tado em programas de reaprendizado ou de aprendizado de empregador do momento. Esse fato costuma acarretar sérins pro-
novas profissf>cs. compatíveis com as -.eqüelas morfofon- blemas laborais e securitários para empresas. microempresas e/
cionais exibidas, de modo a adquirir outra atividade que, ou empmgadores autônomos. como sói ser o caso dos consultó-
complementada com o auxílio-acidente, lhe garanta a sub- rios ou clínicas odontológicas.
sistência).
• Próteses e órtese.s (programa que cobre a aquisição e adap-
tação para o uso de peças mecânicas ou eletromecânicas
·-1wá1eses-quc substituem partes do corpo perdidas em
BIBLIOGRAFIA
e, entos infortunísticos - <\g. memhros superiores ou in-
Almeida, E.H.R. et al. Correlação entre as Lesões por Esforços Repetiti-
feriores. ou segmcnlo-. dos mesmos, ou objetos mecânicos
vos - LER e as funçõe~ exercidas pdos trabalhadores. Segundo En-
- drte.1t>s-quc auxiliam na execução de certas funções, contro Carioca de Ergonomia, Rio de Janeiro: Anais, 427-438, 1994.
nütadamenre da deambulação, e.g. muletas, muletas cana- Bcnsoussan. E. e Alhieri, S. Manual de flif(iene, Segurança e Medici-
den-.~·:,,. h~ngala~ etc.). na do Trabalho. São Paulos: Atheneu, 1997.
Estonuuologia do Tmbalho e /nfortuníxtica 83

l::lrandao Neto, D. LER/DORT .1spec1os Médico-Legais e o Fenômeno Moreira, C. e Carvalho, M.A.P. Noçliel· Prúticas ele Re11mawlogia. Belo
Lt:R no Brasil. São Paulo: Merck. Sharp & Dohme, 2000. Horizonte: Livraria e Editora Health, 19%.
Cohen E. et ai. The Relewmce of Co11cep1s o.f Hiperalgesia to R.S./. Oliveira, C.R. de et al. Manual Prátic:o ele LER. 2.º ed .. Belo HoriLon-
.'.',!acional Ccntcr for Epidemiology and Populational Heallh. Austrá- te: Hcalth, 1998 .
lia, 1992. Pires do Rio. R. et al. LERIDORT Ciência e Lei. Belo Horizonte: Hcalth.
França, G. V. Medicina Legal. 6." ed. Rio de Janeiro: Guanahara-Koo- 1998.
gan. 2001. Quintner e Elvery. The N~~i,rogenic: Hypotesis of R.S.J. :Sation:i.l
Hagberg et al. Wurk Relmed Musculoskeletal Disorders: A Refuence Cenler for Epidcmiology and Populatíonal Health. Austrália.
Bookfor Prel'enzion. Londres: Taylor & Francis. 1995. 1991.
LER · - Lesões por Esforços Repetitivos. Normas técnicas para avalia- Russel.1.J. et a/. l\curohormonal Aspeets ofFibromyalgia Syndrom~.
ção da incapacídadc. Brasília: MPS-INSS. 1993. Clín. Rheum. Dis. N. Am., 15:149-168, 1989.
Lima. M.E.A. et al. LER - Dimensões Ergonômicas e Psicológicas. Sato, L. et ai. Atividade cm grupo com portadores de LER e achado~
Belo Horizonte: Hcalth. 1998. sohre a dimensão psícossocíal. Revisra Brasileira Saúde OrnpClcio-
1.iss, G. M. Dl1puytren' s Cnntracture: A Systematic Review of the Evidence 11al, 79(21):49-62, 1993.
of Work-Relaredness, Sccond Intcmaúonal Scientific ümference on Swanson. D.H.W. Chronic Pain as Third Pathologic Emoli<.m. Am. J.
Prcvcntion ofMusculoskeletal Disorders, Canadá: Anais. 54-56, 1995. P.~ychiarry, /4/:210-214.1984.
\.1erskt'y, H. e Spear. F.G. Pain: Psycvlvgical cmd Psychiairic Aspects. Yunus, M.l::l. Síndrome da dor miofascial e injúria por esforços rep~li-
Londres: Tindall & Cassel. 1967. tivos. Rheuma, l :4-6, 1996.
: ··. . .

. .
. . .... ::--:.:· ...

O PAPEL DO DENTISTA
,,.., NA
PREVENÇAO DOS
MAUS-TRATOS INFANTIS

··-···---·--······-·--·---- ----·-···------------------------------------------------
O Papel do Dentista nos Casos de
Maus-tratos Infantis
---·-······-···----------·-----------
Jorge Paulete Vanrell

''Homo homini lupus, 1ion homo" prolongada a temperaturas extremas, que incluem forçar os in-
lTitus Macei Plautus, Asinaria, TI,4,881 fantes a ficarem sentados, nus. sobre blocos de gelo: castigos
térmicos diversos, indo desde a queimadura com brasa de cigar-
ros, ou a obrigatoriedade de "secar" as calças "molhadas··, -.cn-
A incomensurável capacidade que o ser humano tem de ser tando encima de uma estufa, ou mergulhando em água fervendo
desumano é levada aos piores limites quando este se toma capaz a mão sinistra que, ob~tinadamente, tenta segurar o lápis para
de ksar - maltratar e alé matar - não só seus próprios seme- escrever. no caso de uma criança canhota...
lhantes, mas, notadamente. os seus descendentes. Uma mãe ou Já houve casos cm que a morte se deu por inalação de pó de
um pai que assim age demonstra ter perdido um dos mais ele- pimenta-do-reino e outra por pó de pimenta-malagueta, minis-
mentares instintos. o de conservaçao da prole. Basta deitar uma trados por razôes ''disciplinares··, sem contar com os casos, que
olhada sobre os registros da história para verificar que a asseve- não são poucos. de crianças falecidas por inanição. à espera de
ração de Plauto não era uma mera figura poétíca. que, mantidas sem comer. mudassem seus comportamentos ...
Os maus-tratos têm sido racionalizados, através dos tempos. Estatísticas dos Estados Unidos estimam que o número de
pelas mais variadas justificativas conhecidas, desde práticas e c1ianças encaminhadas para os serviços de proteção da infância.
crenças religiosas, motivos disciplinares e educacionais e, cm anualmente, oscilava entre 250.000 e 500.000, já em 1966. Esse
amplo grau, com fins econômicos. número cresceu para 1.200.000 casos em 1986. duplicando para
As rcaçf>cs evocadas não somente nas classes dominantes, mas 2.400.000 atendimentos por ano, cm 1996.
também no povo cm geral têm oscilado entre o mais absoluto No Brasil, não temos estatísticas nacionais fidedignas. ape-
abandono e cvilamento dos castigos físicos, até seu uso amplo e nas registros esparsos de serviços isolados ou de núcleos de aten-
repetido cm níveis selvagens. dimento, que estão longe de espelhar a realidade atual no País.
As referências de abusos físicos extremos nos menores para antes apenas de microrregíões.
conseguir retomo econômico dos seus asccm.lcn1cs foram fre- Infelizmente. longe de se tratar de esporádicos registros his-
qüentes durante a Revolução Industrial, mesmo cm países tidos tóricos que apenas ocorrem em outros países, quase que adiá-
como mais desenvolvidos à época, como a Grã-Bretanha e os rio vemos as telas dos nossos lares invadidas por figuras de tenra
btados Unidos_ idade - 4 a 6 anos-, labutando para obter "pingues·· ganhos.
Os abusos cujo alvo são as crianças, ao longo do tempo, têm de centavos por dia, trabalhando, muitas vezes acorrentadas -
provocado ondas periódicas de simpatia, evocando a indignação por grilhões materiais ou simplesmente morais - . ora nas pe-
pública, que não tarda em se acalmar até o próximo período de dreiras, ohlendo cascalho manualmente, ora nas "plantações''.
provocação. cortando. carregando e alimentando as moenda-. para extrair
A literatura especializada, quer médica, quer jurídica, tem sisai, ora nos fornos de carvão, ora nas calçadas elegantes da
deixado claro que, praticamente. não existem formas de desu- orla marítima, prestando-se ao ·'jogo·• dos interesses maiores
manidade com crian,·as que jií não tenham sido documcm.adas. do lurismo sexual, figuras amorfas. formando uma fantasma-
As diversas formas de imprensa vez por outra registram, com górica legião de esquecidos, de crianças sem hoje e sem ama-
vívidos detalhes. casos de crianças deixadas acorrentadas em nhã.
d,modos escuros, diariamente, por semanas ou meses; crianças Ao menos em tese. pensa-se na criança como um ser inserido
dl: tenra idade que são .limitadas ao pr6prio berço por dias e dias; no seu mcío familiar, do qual dc1ivam. de forma natural e espon-
crianças que são dependuradas pelos punhos cm canos de chu- tânea, todas as atenções afetivas e materiais de que necessita para
, ciro ou suportes semelhantes: c1ianças que sofrem exposição o seu normal desenvolvimento.
88 O Papel dv Demisw ,w.~ Ca.w.t dti Mam-tratos Infantis

Todavia, há ocasiões cm que esse mesmo núcleo famil iar se "On lrouve ce que l'on cherche et on cherche ce que l'on
torna hostil para com o meno r, resuilundo no abandono, nos conuait... !"
maus-lratos, de palavra e de fa lo. nos abwms sexuais e. muitas
vezes. alé na morte . [ "F)zcontra-se o que se husca, mas só se procura aquilo que Sl'
!\ão resta dúvida quanto ao fato de que as lesões que apare- conhece... !·· J
cem nas pequenas vílimas são, de certa fonna, iguais às que se
observam nos adultos. o u têm escassa,; difercnr;as com estas. En tre nós, tanto entre os médicos (clínicos, p edia tras,
Contudo, característica s pníprias. como a idade, a etiologia, a o rtopedistas, cirurgiões etc.). quanto entre os cirurgiões-de n-
ocoffência de ce11as lesões específicas ele., justificam que se faça tistas e os próprios médicos legistas, referida síndrome é pou-
um estudo separado das formas de violência em todos aqueles co conhecida. O pri meiro caso foi noticiado por Canger Ro-
casos cuja vítima é um a criança. dri gues el af. , em 1974, sendo logo segu ido por três obser-
O objeto deste estudo, entretanto. longe de ser um lema mo- vaç f>es de Teixeira ( 1978, 1!)80), um <los pesquisadore s que
derno ou local, é um prnhlcma que se observa cm todas as épo- mai s têm dado a devida ate nção que esse quadro merece,
cas e cm todos os países. designando- o como "SIBE - síndrome do bebê espanca-
Com efeito, Zacchia, em 1626. levantou os problemas médi- do ·'' .
co-legais dos maus-tratos na iníância ao ter que efetuar algumas Essa design ação decom: de que a agressão mais freqüente-
necropsias em casos desse. jaez. Mais de du7,entos anos depois, mente é a mecânica. isto é, tapas, soco~. chutes, por vc1.cs den-
cm 1879, Tardieu. uma das figuras exponenciais da Medicina tadas, terminando por jogar o bebê no chão. ou girá-lo pelo ar.
Legal francesa, dedicou um longo trabalho ao ''Estudo médico- preso pelos pés. às vezes escapando das mãos ... balcndo a ca-
legal sohre as se vícias e os maus-tratos exercidos sobre as cri· beça na parede , em móveis etc. Todavia, outras vezes a agres-
Wlfa.~". Anos após. Parissot e Caussade ( 1929) publicaram. nos são é ténnica : us agentes queimam as crianças com água fer-
Anrwle.1·de Méder.i,w Lé?,ale de Paris. um amplo trabalho sobre vente ou com <.:igarros, quando não é com a chapa do fogão... !
''As Sl' l'l<:ias nas crianças". Em alguns ca!iOS, a agressão é sexual: os pais pratícnm alos
Vê-se , pois. que, nos séculos passados. ainda que esparsas as sexuais com os íi lhos; para outros, a agressão é química , dan-
publicações. o ass unto sempre se manteve e m um plano de in- do drogas, bebidas alcoólicas ou mcdicarnentoi; para a criança
formação relativa. como corresponde aos lemas que a sociedade dormir sem incomodar: e outros. enfim, negam a limentos e
tem pouco ( ou nenhum) interesse cm abordar e escancarar. Como água. deixando a criança morrer de fome e de sede. não raro
se o esconder a cabeça, no procedimento que segt1e o avestruz, agredindo-a ta mbém.
fosse capaz de ocultar seu corpo .. . ! De uma forma propedêutica e de modo a sintetiwr o quadro.
Não restam dúvidas de que o trabalho de Caffey ( 1946). fa- os m aus-tratos podem ocorrer:
moso radiólogo infantil amcrirnno. representou um marco defi-
nitivo na pe~qui:,a atual sobre o assunto. Com efeito, foi cm 1946 1. Por omissão. incluindo
que publicou os achados de fraturns múltiplas de ossos longos,
junto com hematoma subdural. cm seis lactemes c ujos pais não 1. Carên cias físicas: abandono, falt a de hig iene mínima, falta
conseguiam explicar de forma razo{tVel a gênese das lesões. de suprimento de alimcnlos, falta de proteção às inclemênci-
Logo a seguir, Silverman apontou, por sua vez, a origem trau- · as climáticas (intempéries, frio, desidratação etc.).
mática das lesões, o que acabou sendo ratificado por Woolley ~· 2. Carências afeti1Jas: de gravíssimas proporções no desenvol-
e
Evans ( 1955), insistindo na sua origem não apenas traumática, vímento da criança.
mas também inlcncional. Em 195 7, ainda, o próprio Caffey
( 1957), agora com uma casLtística muito maior. pôde afirmar. sem ll. Por ação, que compreendem
rebuços, que citadas lesões eram resultado inequívoco de maus- 1. Mau.o;-tratos físicos: ~oh a forma de romusiJes (tapas,
mur-
u:atos nas crianças por parte de adultos. ros, chutes, empurrões); le.t/ies mecânica.ç: punctôrias, incisas
Kempe, Silverman, Steelc et ai. ( 1962) consolidaram o qua- e pérfuro-incisas; queiTTU1duras , por súlidos ou líquidos quen-
dro clínico que foi designado como síndrome da criança mal- tes. ou com objetos específicos (cigarros): inr.oxfr:oçiies por
tratada ou síndrome de Cqf/'ey (em homenagem ao precursor álcool, sedativos (drogas psicolépticas ) ou gás de cozinha,
dessas investigações). e que compreende um conjunto de lcsôes e11U'e outras.
diversas, para as quais devem atentar ta nto os pediatras como os 2. Abuso sexual.
médicos de famíl ia e os m édicos legistas. e que sempre devem 3. Maus-tratoJ psíquicos: gritos, encerros ou encarceramen
to
fazer pensar em agressões resultantes de um ambiente familiar prolongado. abuso emocional. coação. amcaça5 de castigos
inadequado. severos ele.
Outros aurores de língua inglesa, nos períodos seguintes, de-
ram novas designações ao quadro. tais como " bauered-bah y
\ vndrome·", "battered-ch ild .l'yndrome", "P.LT. - parent-in-
fant-tramna " e ''failure to thrive syndrome". PERFIL DAS CRIANÇ AS
A partir de então, diversos fo rani os países que começaram a
,e· interessar pelo assunto. A ·'síndrom e de Caffey" é mui lo bem
MALTRATADAS
:,111hecida nos Estados Unidos, onde foram realizadas as obser-
., .,~·t,e, "pri11reps". no Canadá e na Europa Ocidental, onde exis- Idade
:.:-:~1 11 i.:111e1\1sas publicações científicas sobre o tema. Já é mal Os dados obtidos em nossas observações mosu-am que a maior
.:,,:ihe,·ida e· pouco <livulgada n.1 América Latina, na Europa proporção de t"asos ocorre na faixa etária
de O a 6 anos (60% ),
(ke:itjL 11:1 ..i.sia e n.:1 África, conforme ficou claramcnteeviden- ao passo que. nas faixas de idade de 7 a
12 anos (25%) e de 13 a
,·:..:J,, íl \' Ili Cnnf!resso t-.1undial dt: Medicina Legal (São Paulo, 18 anos de idade ( 15%). encontra-se uma diminuição progressi-
. •;.;tu"r,1 Je l 4%,. va e compreensíve l dns agrcssf)es.
O l'apel do 1Je11/isft1 nus Casos de Maus-lra/OJ lni'antis 89

70~~~~~~~~~~~~

60

50

40 ::;; Respons.
30 ~ Mãe
E Pai
20
;11,1 Mãe-pai
10
o+-....i.;.c....:L---.--===-----.--"---'---.----
Oa 6 7 a 12 13 a 18 anos

Fig. 13.l Freqüência de agressões por faixa dária.


Fig. 13.2 Auturcs dos mau~-tratos.

Sexo
ela pode achar tão ou mais importantes. como: olhar televisão,
;IJo que tange ao sexo das vítimas, não se observa nenhuma
ver novelas. conversar com as vizinhas, "namorar" etc.
distribuição preferencial. enconlrando-se valores praticamente
Às vezes, principalmente se ela é ignorante ou má ( ou as duas
idênticos para ambos os sexos, pelo menos no grupo de Oa 6 anos
coisas ao mesmo tempo), a mãe agride a criança imaginando,
dt· idade. Os casos de cunho sexual - estupros e atentados vio-
assim, "educá-la", que a está ensinando. por exemplo. a não su-
kntos ao pudor - são achados, com maior freqüência, no sexo
jar as roupas. ou puni-la por atrapalhar as "chances" de sua vida
feminino e nos grupos de 6 a 12 e de 13 a 18 anos.
etc.

Classe Social
CLÍNICA DOS MAUS-TRATOS
Tampouco a condição sodocconômica parece iníluenciar
de forma significativa. A aparente distorção que se observa no
noticiário, na mídia, mais se relaciona com o fato de que os
Atitude da Criança
casos que ocorrem nas classes mais favorecidas (A e B) soem O procedimento clínico mais simples - a observação, silen-
t~r -.ua divulgação censurada. quer cm um primeiro momento, ciosa e desarmada - geralmente é suficiente para ohter a maio-
pela Autoridade Policial (censura do Boletim de Ocorrência). ria dos suhsí<lios necessários para, na suspeita de maus-tratos,
quer, cm uma segunda fase, quando a morosidade da Justiça já estabelecer sua realidade e pcnnilir sua caracterização.
acalmou o "clamor popular... lançando um manto de esquecí- Com cfcilo. dados como a dcsnuuição e o retardo pondcroes-
memo sobre assunto tão rumoroso. Dessa maneira, apenas se tatural. <le aparecimento freqüente, apontam para deficiências
registram os rnsos de gravidade extrema, ou quando seguidos nutricionais e/ou hipoalímenlação, bem como para privação
de morte. afcliva.
Isso é ex.atamente o contrário do que aconlccc com os grupos Quando a criança é examinada pelo médico, tanto no ambu-
sociais menos af"onunados (classes C, D e E) que, com maior lalôrio quanto no domicílio. ou quando comparece no nosocômio.
facilidade (em face da insignificância de sua representatividade apresenta-se com atit.ude ind1fáente, apática ou !riste. Outras
política, em face da dificuldade "'natural'' para que seus direitos vezes. mostra-se receosa ou francamente ll'merosa, protegendo
~cjam respeitados. em face do silêncio que se impõe para os ca- o rosto com as mãos e antebraços ou fechando os olhos quando
sos oriundos das classes mais favorecidas - A e B - . conu·as- o médico se aproxima. como forma espontânea de defesa peran-
tando com a puhlicidade às escâncaras que se outorga aos caso8 te situações que imagina semelhantes àquelas em que lhe é im-
provenientes das classes menos aquinhoadas). ocupam as man- posto o castigo ou em que tenha recebido os traumas.
chetes da imprensa oral, e'>críta e televisa<la. Por vezes, s6i apresentar uma atenção fixa. quase paralisada,
acompanhando os movimentos do médico. que foi denominada
frost vi!(ilance (vigilância fria ou gelada) pelo autores saxões.
PERFIL DOS AUTORES DOS Em oulros casos, a criança de lcnra idade só pode manifestar
seu receio através do choro insistente, à aproximação de deter-
MAUS-TRATOS miimda pessoa (mãe, pai, babli, enfermeira etc.), deixando em
evidência, por meio desse único mecanismo de defesa social que
Em geral, com relação aos bebê~. o agressor mais freqüente é possui, que atribuí a essa pessoa a causa do seu infortúnio ou a
a própria mãe. Os motivos são os mais diversos e, em geral. fú-
autoria dos maus-tratos.
teis. Os mais comuns podem resumir-se na queixa de ser ela quem
tem que cuidar do bchê: trocar e l.avar as fraldas (porque não tem
condições econômicas para usar fraldas descarláveis ou para fazer Lesões
face ao salário de uma lavadeira). dar banho, dar de comer. fa-
zendo. enfim, várias tarefas de grande responsabilidade, que to- O segundo procedimento clínico a ser colocado cm prática.
mam muito tempo e que concorrem com ouu·as atividades que complementando o primeiro mas S<?lll substiluí-lo, é o exame fí-
90 O Papel do Dentista nos Casos de Maus-tratos Infantis

sico externo ou ectoscopia, que poderá ser complementado, i,r- 8. Estigmas w1gueais ou arranhões, constituídos por escoria-
tra vitam e conforme as necessidades, por exames não-invasivos ções lineares ou semilunares, em qualquer parte do corpo,
mais sofisticados: radiografia, tomografia computadorizada. res- sem localização específica. mas freqüentes no pescoço (ten-
sonância magnética etc. Quando ocorre o óbito, obviamente e tativa de esganadura) e tronco.
como corresponde a qualquer caso de morte violenta ou de mor- 9. Defonnidade s da orelha externa ("orelha de boxeador" ou
te suspeita, o exame necroscópico é uma imposição legal, ex-vi "orelha em couve-flor''), resultante de rupturas traumáticas
do que dispõem os arts. 158 e seguintes do Estatuto Adjetivo da cartilagem que. cm geral, não sofrem reparação espontâ-
Penal. nea adequada.
Como é curial, de acordo com o tipo de maltrato aplicado, as 1.0. Ferimentos de arma branca: punctórios, incisos e pérfuro-
lesões que decorrem, obviamente, poderão ser de natureza assaz incisos, em geral com requintes de tortura e não com finali-
diversa: umas, superficiais. de partes moles; outras, mais profun- dade letal.
das, de estruturas esqueléticas ou de órgãos internos. 11. Queimadura s ténnicas. que soem reproduzir a fonna do
objeto aquecido que as produziu (linhas paralelas ou
entrecruzadas, nas grelhas e tostadores; áreas puntiformes,
A- LESÕES DE PARTES MOLES na brasa dos cigarros; área extensa c plana, no fetTo de pas-
(CUTÂNEO-MUCOSAS) sar ou na chapa do fogão).
A.1- De Interesse Odontolói:ico 12. Lesões genitais. incluindo lacerações, esgarçament os,
1. Lacerações do lábio superior, com an-ancamento do frênulo. equimoses e outras, nos casos de abuso sexual.
2. Escoriações da mucosa oral, resultantes da tentativa de in- 13. Lesões anais que, por vezes. se estendem ao períneo, com-
trodução da colher para alimentar crianças inapetentes ou preendendo rágades, laccrações, rupturas esfincterianas etc.,
anoréxicas. nos casos de atos libidinosos.
3. Mordeduras ht1manas, localizadas preferencialm ente nas
bochechas, tronco anterior (tórax e abdome), nádegas eco- B- LESÕES ESQUELÉT lCAS
xas. l. Fraturas de crânio, acompanhadas de hematoma extradural
4. Queimaduras qt1ímicas, freqüentes em tomo dos orifícios e das seqüelas; por vezes assumem a forma estrelada ou "em
bucal e nasal, nos lábios e língua, resultantes de esfregar mapa-múndi", centrada no ponto de aplicação da força do
pimenta (malagueta) ou soda cáustica. impacto, ou a fonna "cm terraço", com afundamento na área
de impacto.
A.2-De Interesse Geral 2. Fraturas dos ossos próprios do nari.; que, por falta de trata-
5. Equimoses múltiplas e hematomas, que podem localizar-se mento adequado, podem consolidar-se , perpetuando uma
em qualquer pane do corpo, mas com preferência pela re- deformidade.
gião cefálica. Soem ter as mais variadas formas e dimensões, 3. Fraturas diafisárias de ossos longos, em geral múltiplas (sín-
e, via de regra, encontram-se cm estados evolutivos diferen- drome de Sifrernu111), com estádios diferentes de consolida-
tes ("espectro equimótico" de Legra,rd de Saulle), por te- ção e com freqüentes malformações por consolidações defei-
rem se originado em momentos diversos. tuosas, face à ausência de tmtamentos ortopédicos adequados.
6. Equimoses elipsoidais, produzidas por dedos, que se locali- 4. Fraturas metafisárias, com graves repercussões no cresci-
tam, preferencialmente, nos braços e antebraços, resultan- mento, que pode chegar a tornar-se assimétrico.
1es de sacudidas violentas. 5. Arrancament os epifisários, descolamcnLos de fragmentos
7. Áreas de a/opecia, nas regiões frontal e parietais. decorren- ósseos das epífises, notadamente cm relação a pontos de
tes de arrancamento de mechas de cabelo. inserção músculo-ligamcntar.
6. Fraturas de costelas, evento de rara produção espontânea
em crianças, exceto quando da queda ou projeção sobre pla-
nos resistentes ou por impactos diretos (e.g. chutes).

fig. 13.3 Lesões químicas linguais, labiais e periorais. produzidas pela


capsicafoa, após e~fregar pimenta malagueta crua na região. para
~msmá-lo a não repetir 'nomes-feios"'. (Fotografia cedida pelo Prof.
Dr. Wilmes R.G. Teixeira, Mogi das Cruzes, SP.) Fig. 13.4 Lesões por manipulação digital em genitália de menor.
O l'apel do De11tista nos Casos de Muu.Hraws Jnfamis 91

7. Fraturas de raque e de bacia. muilo raras em crianças, ex- b.6- Ht'matoma retroperitoneal: constituído por uma colei;ào
ceto quando da aplicação de traumas diretos de extrema vi- de sangue no tecido conjuntivo, algo mais laxo. que ~e:: :;i-
olência. tua por trás do peritônio, na parede dorsolombar do abdo-
8. Calcificação de hematoma.~ periostais, resultanles na demo- me. Em geral resulta de uma hemorragia por ruptura de
ra da reabsorção de grandes volumes. donde resultam ima- vasos sangüíneos, de calibre médio. da região. ou por le-
gens radiográficas caracteristicas. sões traumáticas de órgão maciços retroperitoneais (rins 1.
9. Involução cortical traumática, ocorrendo na camada corti- b.7- Esgar~·wnento e lesiks do mesenlério: resultantes de tra-
caL suhperió!-.tica, dos ossos longos, resultame da involução ções exercidas pelas próprias vísceras ligadas ao mesenté-
do potencial regenerativo do osso periostal face às agressões rio, quando sobre elas são aplicadas, indiretamente e de
múlliplas. forma abrupr.a, forças mecânicas externas.
10. Hipernsteose cortical, hipe11rofia óssea resultante de cres·
cimento desorganizado ou de reabsorção inadequada dos
sucessivos calos ósseos.
O DIAGNÓSTICO DOS MAUS-TRATOS
Longe de ser uma tarefa específica de especialistas, realizar
Lesões Internas ou Viscerais o diagnóstico da ocorrência de maus-lratos é uma tarefa/dever
de qualquer pessoa, no exercício de sua cidadania.
A-CABEÇA
a.1- Hematoma suh~aleat, configurando bossas hemáticas de
difícil reabsorção, alocadas sob o couro cabeludo, na gálea
aponeurótica, e alcançando o períósteo da tábua externa dos
Quando Ter a Suspeita
ossos da abóbada craniana. Talvez uma atitude expectame e uma acendrada capacidade
a.2- Hematoma subdural. descrito inicialmente porTardicu, em de observação sejam ferramentas suficientes para pôr mãos à
1879, constituído por um extravasamento de sangue, após obra. Nessa linha de raciocínio, deve-se suspeitar de tudo e de
ruptura das esuucuras vasculares durais e aracnóideas, que todos - uma verdadeira dúvida si:stemútica - , mas, principal-
se acumula no espaço entre os fólhetos parietal e visceral mente, das lesões esquisitas ou mal aclaradas, mormente quan-
<la aracnóide ou sohre a pia mátcr, acarretando compres. do não se coadunem com as "explicações·· dadas pelos familia·
são cerebral lornlizada, bem como transtornos neurol6gi· res ou tutores para:
cos, convulsões, ohnubilação da consciência e/ou hemiple-
l. Equimoses (manchas arroxeadas) múltiplas, cm várias re-
gia. Nos recém-nascidos e nas crianças duranle os p1imei-
giões do co1po, com cores diferentes ("espcclro equimóti-
ros meses de vida, esse tipo de hematoma pode provocar
co").
ht•nwrragia retiniana e aumento dt• tensão, ao nível das
2. Equimoses com a forma <lc "marcas de dedos" (de pegar)
fontanclas.
nos braços e no tórax.
a.3- Hemorragia subararnôide pós-traumática, resultante da
3. Hematoma orbitário ("olho roxo").
ruptura de estruturas vasculares finas, em decorrência da
4. Equimoses em locais pouco expostos, como sulco nasoge-
ação direta do agente mecânico.
niano, ou sem estruturas resistentes subjacentes, como pá).
a.4-- Confusão cerebral, que é uma lesão provocada por ener- pebra inferior, bochechas etc.
gias mecânicas, aplicadas direta ou indiretamente (lesões
de contracheque) sobre a massa encefálica, notadamente
o córtex cerebral, em profundidade. com um aspecto visu-
al amílogo ao de uma equimose.

D-TRONCO
b.1- Hemotôrax: derrame sangüíneo na cavidade pleural, resul-
tante de um trauma, de violência aprecüivcl, aplicado so-
bre o tórax.
b.2- Hemopericárdio: derrame sangüíneo entre os dois folhe-
tos do pericárdio, em geral decorrente de traumas violen-
tos aplicados na região precordial, que podem produzir
pcrtuitos ou lacerações do próprio coração.
b.3- Rupturas viscerais (fígado, baço, rim etc.): decorrentes de
lcsf>es diretas ou indiretas, fechadas, provocadas pela apli-
cação de força-. externas (e.i. socos, chutes etc.) sohre a
parede abdominal.
h.4- Contusí'Jes de duodeno,jejuno e pâncreas: resultantes do
esmagamento desses órgãos contra o plano resistente da
coluna vertebral. quando forças mecânicas são aplicadas
sobre a parede anterior do abdome.
b.5- Hemoperitônio: derrame sangüíneo na cavidade peritone-
al, cm regra resultante de lesf>es traumáticas indirelas de
vísn:ras maciças intracavitárias (e.g. baço, fígado ele.) por Fig. 13.5 Lesões <le panes moles: Â, equimoses elipsoidais (pegada para
aplicação de traumas externos (chutes, -.ocos etc.). sacudir): B. impres~ões de mà0s: C, golpes de ponta de dedos.
92 O Papel do Dentista nos Casos de Maus-tratos Infantis

Fig. 13.8 Hematoma orbitário à direita após espancamento a socos ("si-


nal de boxer"). (Fotografia gentileza de Prof•. Kátia S. De Aquino e Dr.
Hélio Oliveira, Campinas, SP.)

Fig. 13.6 Equimose orbitária após espancamento. com fratura de base


de crânio, seguida de derrame extradural e óbito. (Fotografia gentileza
ões escolhidas e cobertas (genitais, mamilos, sola dos pés
de Prof". Kátia S. De Aquino e Dr. Hélio Oliveira. Campinas. SP.) etc.) e geralmente não sendo únicas, mas várias, produzidas
em série.
10. Queimaduras por escaldamento em regiões diferentes do
corpo: gJúteas, pés e pernas (queimadura em "formato de
meias") ou em outras regiões.
11. Equimoses precisas, implimindo o formato dos objetos que
as produziram: marcas de fio dobrado, paus, fivelas, corren-
tes etc.
12. Lesões de órgãos genitais: pênis (lesões por amarrações do
prepúcio, para evitar que, urinando, a criança "molhe" as
fraldas), vulva etc.
13. Fraturas de ossos longos com diferente cronologia de con-
solidação: umas, atuais, em geral desalinhadas; outras, com
calo ósseo formado; outras, já consolidadas mas em posi-
ção viciosa. Esse dado permite concluir a existência de agres-
sões intensas e repetidas.
14. Referências hospitalares de traumatismo crânio-encefálico
(TCE), com hematoma subdural, ou de traumatismos abdo-
minais com lesões graves (rupturas) de órgãos internos (fí-
gado, baço etc.), que só podem ser tratadas através de cirur-
gia de alto risco.
15. Estado de desnutrição, demostrado por caquexia intensa.

Fig. 13.7 Equimose orbitária bilateral por espancamento. (Fotografia


gentileza de Prof'. Kátia S. De Aquino e Dr. Hélio Oliveira, Campinas, A E
SP.)

_/ ., ~
I
~ ,L~)/
5. Lesões atuais e/ou deformações cicatriciais nas orelhas
("orelha de boxeador" ou "orelha cm couve-flor").
6. Marcas de mordeduras, atribuídas a um excesso de carinho,
atentando-se para a localização (bochechas, queixo, abdo-
me. nádegas). D~
. -1
7. Contusões na região frontal ou no queixo.
8. Lacerações de lábios (freio labial e/ou gengivas), às vezes B~
/ ~e
com arrancamento de peças dentárias (dentes decíduos). Fig. 13.9 Lesões de partes moles: A, equimoses orbitárias unilaterais;
9. Queimaduras por cigarro, atentando para o aspecto típico e B, equimoses mentonianas; C, mordeduras humanas em bochechas e
para as localizações que não se mostram acidentais (por queixo; O, equimoses em bochechas; E, lacerações e deformidades de
esbarrar a brasa de um cigarro). antes propositais em regi- pavilhão auricular (hélix).
O Papel do Dentista nos Casos de Maus-tratos Infantis 93

Fig. 13.10 Ruptura do frênulo em decorrência de um tapa materno.


Fig. 13.13 Mão esquerda de criança com queimaduras de 2. 0 grau
(fliclenas) provocadas por imersão em água fervente, para "coJTigir" a
tendência a ser canhota. (Fotografia cedida pelo Prof. Dr. Wilmes R.G.
Teixeira.)

Fig. 13.11 Lesões de partes moles: A, edema orbitário (palpebral) uni-


lateral; B, equimoses de bossas frontais; C, equimoses de bochecha; D,
equimoses labiais e subnasais; E, equimoses e escoriações periorais.

Fig. 13.14 Queimaduras de 2.0 e 3.0 graus. em ambas as nádegas, após


sentar a criança sobre a chapa quente de um fogão, para "educá-la a não
rnjar as fraldas" . (Fotografia cedida pelo Prof. Dr. Wilmes R.G.
Teixeira, Mogi das Cruzes. SP.)

Fig. 13.15 Lesões de partes moles: A, equimoses paralelas (contusão


Fig. 13.12 Imersão da mão direita de um bebê de 8 meses em água fer- com instrumento roliço); B, equimoses em alça (contusão com fio elé-
vente. As setas apontam o nivel da água quando da imersão. (Gentileza trico): C, equimoses em faixa (contusão com instrumento plano:
do Prof. Dr. Wilmes R.G. Teixeira, Mogi das Cmzes, SP.) cinturão).
94 O Papel do Dentista nos Ca.ros de Maus-tratos Infantis

coço; são as lesões intrabucais, do palato, dos lábios, do as-


soalho da boca, das mucosas, dos frênulos labial e lingual,
podendo observar-se, outrossim, lacerações e/ou queimadu-
ras provocadas por instrumentos diversos (como garfos eco-
lheres), substâncias químicas (capsicoína) ou líquidos quen-
tes, fraturas nos ossos da face, fraturas dentárias, ablação de
peças dentárias e necrose pulpar, decorrente de lesões trau-
máticas.
Segundo pesquisas norte-americanas, realizadas na década de
90, quando o profissional foi treinado para o reconhecimento de
sinais de abuso infantil, durante uma consulta odontológica clí-
nica, sua probabilidade de perceber sinais de maus-tratos infan-
tis é de aproximadamente 2: 1 em relação aos profissionais que
não foram treinados.
Fala-se, sempre, que o conhecimento e a denúncia dos casos
de algum tipo de abuso contra as crianças podem ser representa-
dos por um iceberg, no qual a parte emergente representa ape-
nas 1/10 do volume, ao passo que os 9/10 restantes ficam sub-
Fig. 13.16 Caquexia por desnutrição. (Fotografia da Folha de São Pau- mersos. Por outras palavras, a proporção entre casos denuncia-
lo.) dos no universo de casos reais é de l : 10.
Todavia, no Brasil, segundo estatísticas do Centro Brasileiro
de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, para cada
situação de violência contra criança registrada, pelo menos ou-
Quando o Cirurgião-Dentista Deve tras 20 ficam ignoradas. Em outras palavras, a proporção seria
de J :20, ou seja, o dobro da geral. Segue-se, daí, que a violência
Redobrar a Atenção contra a criança e o adolescente é, entre nós, sem sombra de
O profissional deve desconfiar, quando da ocorrência dessas dúvidas, muito maior do que os números que mostram as esta-
lesões esquisitas, notadamente nas situações em que: tísticas de atendimento em unidades especializadas, multidisci-
plinares.
1. Existam relatos diferentes dos responsáveis, interrogados iso- A violência dentro da farm1ia não é um assunto de fácil abor-
ladamente e sem comunicação entre si, sobre a origem das dagem e compreensão, uma vez que os seus limites refogem das
lesões. noções convencionais, socioculturais, do rela~ionamento humano
2. Exista demora inexplicável dos responsáveis em procurar o interpessoal, dentro do grupo familiar. Com efeito, no Brasil, ao
atendimento médico cuja necessidade, o mais das vezes, é menos - e talvez isso possa ser estendido e aplicado a outros
evidente até para os olhos leigos, face à gravidade das lesões. países - , a violência contra crianças e al!olescentes segue um
3. Exista incongruência entre as explicações simplistas sobre a padrão comportamental associado a quatro noções socioculturais
origem das lesões e a multiplicidade e/ou gravidade dos acha- fundamentais, a saber:
dos clínicos, traumáticos e radiográficos.
4. Tenha havido procura por atendimento médico através de • de proteção à infância,
profissionais diversos ou hospitais diferentes, nos distintos e • do entender castigo como um instrumento pedagógico,
sucessivos episódios traumáticos (visando evitar o cruzamento • de manter a hierarquia familiar e
das informações dos registros ou dos prontuários médicos). • de dominação do mais forte.
5. Seja apresentada uma criança ou bebê desnutrido e descuida- Como resulta cectiço, uma das maiores dificuldades em diag-
do, configurando a sindrome da criança negligenciada. nosticar o problema de violência na família é o fato de que as
Deve-se considerar a importância do cirurgião-dentista no pessoas tendem a considerar, em face do exposto, a maioria das
diagnóstico precoce e rápido desse problema. Infelizmente, en- agressões normais, entendendo-as como parte do processo edu-
tretanto, não são todas as escolas de Odontologia que dispõem cacional dentro da farm1ia (Rodrigues, 1996). Isso leva a uma
de programas de treinamento ou cursos de educação continua- outra dificuldade, qual seja a de comunicação do fato às autori-
da, para os seus alunos e ex-alunos, de modo a facilitar-lhes a dades policiais, haja vista que se não considera como crime den-
detecção de casos de crianças maltratadas. Muitas, até, nem abor- tro da cultura popular.
dam esse problema nas diversas disciplinas do curso de forma- A OMS ( l 997) apontou que "cada setor da sociedade tem um
ção (Odontopediatria, Odontologia Preventiva etc.), inclusive em importante papel e pode ajudar na prevenção da violência.físi-
Odontologia Legal. ca, sexual ou abuso emocional e negligência em crianças; apoi-
Mouden, em 1996, já afirmava que os cirurgiões-dentistas se ando e promovendo o desenvolvimento de programas educacio-
encontram em uma situação privilegiada para caracterizar sinais nais e de saúde para crianças e adolescentes, compreendendo
de maus-tratos em crianças.já que cerca de 65% de todos os trau- as necessidades das crianças durante seu processo de desenvol-
mas físicos associados ao abuso oco1Tem nas áreas da face, ca- vimento e reconhecendo sua vulnerabilidade e .fortalecendo os
beça e pescoço. Ratificando esses dados, levantamento realiza- laços de família".
do pela ADA (American Dental Association), publicado em Como é óbvio, a Odontologia também pode e deve contribuir
1999. refere que, em l :3 crianças maltratadas, observam-se le- com o diagnóstico fechado ou a hipótese diagnóstica de casos
sões na região cefálica. de maus-tratos e conseqüente notificação compulsória aos órgãos
Como mencionado, as lesões mais encontradiças pelo ci- responsáveis, porquanto se trata de norma cogente que promana
rurgião-dentista localizam-se na região da face, cabeça e pes- do ordenamento jurídico em vigor.
O Papel do De.ntis10 nos Casos de Maus-tratos /njaTllis 9S

reito à vida. à saúde, à alimentação, ao lazer, à pro.fissionali::a-


CONDUTAS A SEGUIR f,;iio, à cultura, à di;?nidade, ao re.~peíto, à liberdade e à comi-
- --------------------------- n1nciafamiliar e 1·0111wtitária, além de colocá-los a salrn de toda
O Aspecto Legal ftm11a de ne;:lígência, discriminw;;ão, exploração. rioléncia.
crueldade e opre.~.w7o.
Chaim ( 1995) e Chaim et al. (2000) verificaram a inc.xislên-
cia de uma conduta padrão dos cirurgíões-dcmistas ao se defron- § I." O Estado promoverá programas de assistência integral
tarem com casos de maus-tratos em crianças. mas apenas alguns à saúde da cria11ça e do adolescente. admitida a participaçào
conceitos éticos básicos, alicerçados na análise perfunct6ria da de entídad(tS não governamentais e ohedecendo os seguintes ;~.
personalidade do cntrcvisLUdo. Essa falta de uma conduta padrão preceilOs.
não tkveria ser admitida.
A piorar o quadro. ainda. o mesmo autor (Chaim, 1995). es-
tudando as alitudes de cirurgiões-dentistas e de acadêmicos de § 4. "A lei punirâ sei·eramente o abuso, a vioWncia e a explo-
Odomologia perame casos de maus-tratos. verificou que a enor- ,w.;ão sexual da criança e do adolescente.
me maioria dos entrevistados é pmtidária de uma atitude conci-
liadora, de negociação, junto aos agressores. Assim, constatou
Art. 229. Os pais 1lm v dever dtt assistir, criar e educar os.fi-
que 55c;'i1 dos entrevistados consideravam mais adequado, antes
lhos menores, ........................................................-...................... ··
da denúncia às autoridades. um diálogo com os pais ou respon-
s,ivcis. 12% acreditavam que devessem apenas conversar com
o:-. pais ou responsáveis e somente 18% consideraram que a de- CÓDIGO PENAL E LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR
núncia fosse o mais adequado. No Código Penal. ve1ificamos que esle dispõe sobre os maus-
Visando vitalizar esse procedimento conciliat<írio e incemi- tralos. especificando, inclusive, o seu significado no seu art. 136.
' ar os ci rurgiões-dentístas e os acadêmicos de Odonlologia, já a in verhis:
ADA (Amerícan Dental Assocíation), cm 1994, nos Estados
Cnidos. determinou que fosse incluída, no Código de Ética, a ",\rt. 136. Expor a perigo de vida ou a saúde dti pessoa soh sua
obrigatoriedade para que os dentistas que detectassem casos sus- autoridade, guarda ou vigilância. para.fim de educação, ensino,
peitos de ahuso infantil fizessem a sua notificação. tratamento ou custádia, quer privando-a de alimentos ou cuida-
Chegou-se a sugerir que, no Brasil. o Conselho Federal de dos indispensá1•eis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo m, ina-
Odontologia (CFO) poderia incluir, no Código de Ética Odon- dequado, quer abusando de meios de coer</io ou disciplina".
tológica, um artigo que tratasse exclusivamente desse assunto.
determinando a obrigatoriedade dos t:irurgif>es-dentistas cm re- No Arl. 224 do mesmo Codex Substantivo PcnaL verifica-se
falar casos de abuso infmltíl. o que. até a versão mais moderna uma consideração especial que se tem para com os menores ao
de dtado diploma legal -Código de Élica Odontológica vigente prc~umir a violência. abaixo de certo limite de idade, i11 verbis:
no País desde 19.12.1991, com as alterações regulamentadas cm
05.06.1998 - , não aconteceu. ·'Art. 224. Presume-se a viollncia, se a vítima:
Acreditamos que qualquer atitude em tal sentido seria muito a) não é maior d<' 14 ( qumor::.e) anos;
elegante. mas seria letra morta ab inilio. h) ................................................................................................
e) ...............................................................--............ ,-... ,............ ..
Primeiro: porque profissional algum segue uma letra impres-
sa que se não coadune e afine com a sua própria consciência e
personalidade. As normas surgem como uma necessidade de Esse artigo é complementado, exacerhando a pena. pelo art.
regulamentar aquilo que já se faz ou se vivencia. não como uma 9." da Lcí 8.072/90 (Lei <los Crimes Hediondos), in verhis:
imposição a ser cumprida.
''Art. 9.0 • As penasjixadas no art. 6. "para os crimes capituladas
Segundo: porque. no próprio Código de Ética Odomológica,
nos arts. 157, § 3. ", 158, § 2. ". J5<), caput e seus §§ l. ", 2." i' 3. ".
l'apítulo lll. que trata dos deveres fundamentais, no art. 4.0 , inciso
2/3, caput, e sua combinaçao com o art. 223, "caput" e parâ-
Ill. já está esculpido, entre os deveres do cirurgião-dentista:
,:rafo ,ínico, 214 e sua combinação com o art. 223, ''caput .. e
"III - 7,dar pela saúde i' dignidade do pacieme '' paráxra.f<, único. todos do Cúdigo Penal, são acrescidos de
metade, respeitado o limite superior de 1ri111a anos de recl11süo.
isso dá a certeza de que não notificar um caso de maltrato signi- estando a vítima em qualquer das hipóteses rlferidas 110 arr. 224
ficaria contrariar o pr6prio C6dígo de Ética. também do Código Penal."
Terceiro: porque. na ordem jurídica, acima das Leis
Puntiformes (Federais, EstadHais ou Municipais) e/ou dos De- ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
cretos-Leis ou dos Decretos, cnconLram-se as leis mais abrangen- Por derradeiro, no Estatuto da Criança e do Adolescente. en-
les - os Códigos Penal e Cívil, e o Estatuto da Ciiança e do contraremos alguns artigos muito significativos sohre a matéria
Adolescente (1 .eí 8.069. de 10.07 .1990)-e, por sobre elas, ainda em tela:
a "Lex Maior''. isto é. a Constitui<;ão da República ( 1988).
"Arl. 5.0 • Ni'nhuma criança 011 adoh!scente snâ ol~jero de qual-
CONSTlTlllÇÃO FEDERAL quer.f<H111a de 11egligê11<:ia, discriminação. exploraçüo. violên-
A Conslituição da República Fedcraliva do Brasil. contem- cia, crueldadti e opres.w7o, punido na forma da li'i qualquer aten-
pla o assunto sub i'xamine no seu a11. 227. in ral>is: ,ado. por ação ou omissão. aos Sttus direitos fundamentais."

"Art. 227. É dit11erdajúmílio. da sociedade e do l!·.1·tado assegu- '"Arl. 13. Os casos de suspeita ou r.m~firmação de maus-tratos
rar à criança e ao adolesceme, com absoluta prioridatfo, o tli- contra a crianra ou o adoles,:nlle sercio ohri1:atoriamente r.o-
,,, :111it"c11/os ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem A Abordagem da Criança Maltratada
1•rej11í:;o de outras providências legais:·
Nesses casos, a conduta deve ser rápida. cm caráter de urgên-
"Arl. 245. Deixar o médit:o, professor ou responsâvel pores- cia. e incluir:
tabefl,címento de atenção à salÍde e de ensino fundamental, 1) Levar a criança para o hospital (pronto-atendimento, emer-
pré-escola ou crl1che, de comunicar à aworidade compl'fl'n- • gência etc.).
t(t os c:asos de tfUl! fl'nha conhecimento, envolve11do suspdla
2) Radiografar o corpo inteiro.
ou co,~firrnaçi'io de m,rns-/.ratos contra criança ou adoles- 3) Efetuar umajunta com médicos (pediatra, ortopedista,
cente. radiologista e legista). cirurgião-dentista, psicólogo e as-
Pena: multa de três a vintt! salários de rl:/érência, aplicando-se sistente social.
o dobro em caso de reincidência." 4) Institucionalizar (quando confirmado o diagnóstico de
SIBE ou maus-tratos).
Verifica-se. pois. que não se pode alegar falta de legisla- 5) Convocar ou comunicar a Autoiidade Policial, que enca-
ção pertinente ao assunto e que o cirurgião-dentista em qual- minhará o caso para o Instituto Médico-Legal (IML).
quer lugar, "a forliori .. no seu consultório, como ··responsâ- 6) Comparecer no Instituto Médico-Legal (lML). quando
vel por estabeleci11wnto de atenção à saúde" que é, tem o solicitado, lemhnmdo que o Médico Legista ou o Odonto-
dever de cumprir e não negligenciar, não deixando de notifi- legista (quando há) são os únicos profissionais que, por se
car o caso. Sua omissão, cm ocorrendo. pode transformar-se tratar de caso de lesão mediante violência, poderão regis-
em um encobrimento do crime, auxiliando. inconscientcmenle e trar as lesões ou realizar os exames ou a necropsia, e for-
na sua medida, a manter os níveis de violência conlra crianças e necer a Declaração de Óbito, o primeiro nos casos falais.
adolescentes que são retratfü.los a diário pela mídia, isso sem 7) Comunicar, se possível. à Autoridade Judicial (Promotor
contar que. legalmente, se acumplü:ia com o agente. conve11en- Púhlíco, Curador de Menores. principalmcnlc cm face do
do-sc cm co-autor do crime, ficando sujeito às mesmas Estatuto <la Criança e do Adolescente).
reprimendas legais. 8) Comunicar ao Conselho Tutelar do Município ou da área
Daí que a denúncia do fato. no nosso entender, é o caminho de competência, por força da letra do Estatuto da Criança
mais recomendado e que deve ser de escolha. Não apenas para e do Adolescente.
não incoffer c:m ilícito penal de, tendo comado conhecimento de
um crime. não comunicá-lo à autoridade competente, constitu-
indo-se em verdadeiro em:obridor do crime, mas p1im:ipalmcn-
te para cvir.ar o agravamento da situação. À GUISA DE CONCLUSÃO
Referida denúncia, cm face da legislação retromencionada, Observe-se que não estamos ,l(JUi nos referindo a uma palmada
<leve ser feita perante o Conselho Tutelar do Município. que ou a uma chinelada que. vez por outra. depois de uma traquina-
abram,e a área de moradia do menor. :--Ia ausência do Conselho gem, a mãe ou o pai podem aplicar na criança. Não, não é isso 1
Tutelir. naquelas localidades em que ainda não se tiver organi- Trata-se. ao contrário. de um problema bem mais sério, de uma
zado, a comunicação deve ser feita junto ao Juizado da Infância agressão inacreditável da mãe (ou do pai, madrasta, padrasto,
e da Juventude ou junto à Delegacia de Polícia. companheiro) sobre a criança. o bebê, e, o que é pior, cl'cluada
Via de regra, os serviços especializados de atendimento a esse dentro da própria casa. assumindo, pela repetição, o aspecto de
1.ipo de casos. a prclexto de proceder a uma "acomodação" psí- uma verdadeira tortura e transformando, dessa maneira, o que
cossocial da família. optam por fazer emrevislas, analisar, acon- deveria ser o lar, numa prisfio, numa annadilha sem escapatória!
selhar e, afinal. pouco faz.cr. Por outras palavras. parecem acre- E por que falar em armadilha sem escapató1ia?
ditar que essas mães malvadas e esses pais cruéis vão se emen- É simples: o bebê não anda e não fala. Como conseqüência:
·dar pelo simples fato de aconsclh,í-los ou de acenar-lhes com uma
comínação de pena. futura e evemual. a) não reage, nem se defende, por não possuir condição fí-
Não são poucos os casos em que crianças que consullarum sica suficiente;
na Emergência Hospitalar, até mais de uma vez na mesma se- h) não escapa, já que não anda. nem corre; e
mana, por supostos acidentes domésticos, acabamos por c) não denuncia, uma vez que não fala.
conhecê-las no necrotério. sobre a mesa de autópsia. Há um Daí que afirmamos anteriormcnle que, para uma mãe ou para
grande número de pequenas vítimas encaminhadas para esse um pai malvados, para uma mãe ou para um pai que têm perdido
tipo de serviço q uc, logo no primeiro ano subseqüente, acabam os mais elementares instintos de conservação da prole, o bi,bé é
cm óhilo. uma 11ítima "ideal": apanha freqüentemente, sem poder escapar
Isso. de maneira alguma, visa desacreditar a tarefa e as fun- ou denunciar seu agressor, o que torna ainda mais fácil a repeti-
ções increntes a psicólogos e assistentes sociais. Antes. enfatiza ção da agressão, que, assim. permanece oculta.
a necessidade de que outras autoridades, inclusive as que cons- E isso não é apenas com os bebês. mas acontece de maneira
tam do Estatuto da Criança e do Adolescente, também partiâ- semelhante com as crianças de tenra idade e mesmo em idade
pnn de uma maneira ativa. não no ,:onhl·cimento do problema, escolar.
mas na tentativa de solucioná-lo, ainda que as medidas que de- A finalidade deste capítulo é apenas divulgar, de maneira sim-
\ am ser adotadas possam parecer drásticas ou odientas ao pri- ples, esse gravíssimo quadro u-aumálico de maus-lralos a cdan-
mi:iro olhar. ça.s e bebês. pouco conhecido, excetuando alguns casos n~ais
...\!lir de outra forma se1ia engajar-se cm um te1riveI jogo de rumorosos. e tem por o~jeúvo fazer questionamemos. suscitar
"faz-<lc-rnnta" em que cada elo dessa corrente médico-:jurídíco- toda uma problemática, com vistas a alertar aos profissionais, bem
p,i.:u,,u..:ial acaba por se autoconvenccr de que está fazendo o como a toda pessoa que possa assumir liderança na sua comuni-
"politi.:-amcnte correto" na sua área. quando não passa de uma dade, parn esse grave problema de modo a integrá-los na forma-
mi:ra fachada. ção de uma consciência coletiva.
O Papel do Demista nos Ca.ms de lvfam-iraros lnji:mris 97

Segue-se. daí, que. nesses casos, a conduta deverá consistir Brasil, Lt:is. Decretos. etc. Esiatuto da Criança e do Adole.1cenre. Br:i·
na prestação de um atendimento multidisciplinar, efetuando uma ~ília: :Ministério da Ação Social, 56 p., 1990.
vcrdadeirajunta. incluindo médicos (pediatra, ortopedista. ra- Bratu, M .. Dowcr. .I.C., Siegel. B. er ai. Jej1111a/ hematoma, chi/d C1bt1jf
and Fel.wm 's sign. Conn. Med., 34:261. 1970.
diologista e legista), cirurgião-dentista, psicólogo, assistente
Caffey. J. Multipk fractures in the long bones of infants suffering from
social e autoridades ( policiais e judiciais). Nesse contexto, o papel
chrnnic subdural hematoma. Am. .1. Roentg., 56(8): 163-173. 19.«'>.
do psic6Jogo. como fator de nucleação. análi-.e e transfonnação, Caffoy. J. Some rraumatic lcsions in growing bones other that fracture~
será de singular importância, mostrando-se pedra angular, cm and <lislocations. Clinicai and radiological reatures. Brit. J. Radio!..
face de sua possibilidade não só de amalgamar áreas do conhe- 30:225. 1957.
cimento tão díspares, como de promover transfonnações nas Chaim, L.A.F. Odontologia versus criança maltratada. Revista da .1PCD.
partes envolvidas. 49(2): 142-144. 1995.
Sô que essa junta multidisciplinar deve ser de açiio rápida e Chairn. I..A.F., Darugc, E. & Gonçalves, R.J. Crian~:a Mahrwada e a
imediata. '.\Tão se trata de fazer projetos. tecer políticas, ficar à Odmitología: Conduta. l'err:epçlío e l'erspee1ivas. Uma Visão Crí·
espera dos acontecimentos. marcar e marcar reuni<ies... sem so- tirn. http:/lodontologia.com.br/ artigos/crianea-maltratada.hcml.
Conselho Federal de Odontologia. Código de Érica Odontológica. Re-
luções práticas. Cada mcmhro deve estar comprometido com o
solução n." 179, de 19 de De:i:emhro de 1991 (Alterado pelo regula-
seu papel e descmpcnh,t-lo com a presteza necessária àquilo que mento n.º OI de 02 de Junho de 1998). Rio de Janeiro: CFO. 1999.
é fugaz e irreversível. O mais das vezes. minutos de indecisão Croll, T.P. et ai. Prímary idenlílication of an ahused chíl<l in dental office:
ou morosidade podem representar um dano irreparável, uma se- a case rcport. Ped. Delll., J(4J:339-342, 1981.
qüela irreversível ou uma vida perdida. E. afinal. todos serão Curran, W. l .aw-medieine notes. Failure to diagnose battcred-ehild syn-
responsáveis. inclusive o cirurgião-dentista que, por mero como- tlrorne. Med. lntell., 296:795. 1977.
dismo ou infundado t.emor, tenha negligenciado daquilo que ju- Davies, G.R. et ai. Thc demist's role in ehild abuse and neglect. Js5ues.
rou quando da sua colação de grau. idcntilicalion and managcmcnt. J. Dent. Chi/d.. 46(3): 17-24, 1979.
De Pena. ~. & Curbelo, M.C. Maltrato infantil. Marco teôrico. /11:
Baraibar, R. l.a Salud en la lnfimcía y la i\dolC'scencia. Montevideo:
Arena, 1999, pp. 151-165.
BIBLIOGRAFIA Derobert, L. Viol. ln: Encyclopedie Mé.dico-Chimrgicale. Médeci11e
Léga/e. Paris: Flammarion, 1974, pp. 549-550.
ADA (American Dental t\ssociarion). Trained Denlist.\· More Like/y to Eisenstein, E.M., Delta. B.G. & Clifford, J.H. "JeJunal hematoma: An
Nulice Sigm rf Chi/d Abuse. !\DA New~ Rdeascs, Abril de 1996. 1111us1wl ma11[fes1ation <if lhe baf/ered-child .\J;ndrome.'' Cli11. Pedi-
ADA (American Denral As~ociation). ADi\ Afow:'s to t:xpand t:ducati- at1·., 4:436, l ':165.
onal t:Jj,Jrts to R1•cogni::.e Sigm rf Fami/y Violence. ADA News favero, f. Medicina Legal. 10: ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975.
Rdeases. Dezembro de 1996. Fernandes. N. & Fernandes. V. Criminologia integrada. São Paulo:
Aguiar. A. de. Sexologia Forense. Lisboa: Empre~a Universidade Edi- Revista dos Tribunais, 1995.
tora, 1941. Fernandez. M. El menor maltratado - víctima social. Med. For. Arg ..
Alcantara. H.R. de. Perícia Médica Judicial. Rio de Janeiro: Guanaba- 18(38):2-5, 1997.
ra Dois, 1982. frança. G.V. de. Medicina Legal. 6." etl. Rio de Janeiro: Guanabara
Annon. J.S. Tratamenw Comporramuual dos l'roblenws Sexuais. São Koogan. 2001.
Paulo: Manolc, 1980. Françhini, A. Medicina /.egale, 1O." ed. Padova: CEDAM, 1985.
Arzuaga, J. Violaôón. IH: Câr~~dra de Medir-ina l.egal: Temas de Medici- Galvão, L.C.C. t:swdo.v Médico-Legais. Porto Alegre: Sagra-1.unallo.
na l.egal. Montevideo: AEM -- Departamento de Puhlica~·iies, 1970. 1996.
ílaima Bollone, P. & Pastore Tros~ello, r. lvlediâna Lega/e e dei/e Gauderer. C. Alm.m sexual de crianças e adolescente.v. ln: Gauderer, C.
i\ssirnraz.ioni. Torino: G. Giappichelli. 1989. Sexo e Sexualidade da Criança e do Adole.w:e111e. Rio de Janeiro:
Baraibar. R. T.t, Salud e11 la hifwu:ia v la Adolesr:enr:ia. Montevideo: Rosa dos Ventos. 1997.
Arena. 1999: 177. · • Gisbcrt Calabuig, J.A. Medicina l.egal y Toxicologia, 5." ed. Barcelo-
l:lecker. D.B. el ai. Chíld Ab1m? mui Dentist1y: Or1.~facial Tra11ma and na: Ma~son-Salvat. 1998. ·
ils Recog11itío11 by Demisls. J. Am. Dc11t. Assoe., 97( 1): 24-28. 1978. Goldstein. S.I ,. The So:ual Explorution <fC:hildren. A Practícal G11ide
Berro, G., Balhela, B., de Pena, M. & Curbdo. M .C. Síndrome de nino to A.vsesment. J,11,estigation a,uf /11tervenrion. :"llcw York: Elsevicr.
maltratado cn e! ámbito familiar. Mtdicina u?ial. 2." ed., tomo J. 1986.
Monlevideo: Oficina dei Libro AEM. 1995. Gomes. 11. lvfí?didna l.er;af. Rio de Janeiro: Freita~ Bastos, 1997.
B.:rro. G .. Balbela, H., de Pena, M. & Curbelo, :\1.C. Viole11cía y Familia. Jenny, C. One i11 Three Child Almse Head Injuries Missed. .'\DA :'.'lc-w~
Ili · Sí11drome dd ni1)0 maltratado eu e/ rímbito ji:uni/iar. Rei'. lirug. Daily.17.0:2.1999.
Der. Familia (Montcvideot F.C. U., 4(6): 101-108. 1991. Kempe, C.11 .. Silverman, F.N., Sreelc, B.f. el al. The ballen·d chi/d
Bem>. G.. de Pena, M.. Balhela. R.. Berro. G. & Curhelo. M.C. Vio/encia syndmme . ./. Am. Med. Assoe.. 18/(7): 17-24, 1962.
y Familia. 1-Síndrume de l'i0Íl•11f:ia infr<!familiar. Rev. Urug. Da. Lopes. C.R. du Silva. Guia de Perícias Médico-Leiaís, 7: ed. Porw:
Familia (Mont.:vidco), F.C.U., 4(6):9:-1-96, 1991. edição particular. 1982.
Berro, G. & Rueco, M.C. Viole11cia contra e/ menor. Rn. Fac. Der. Mandaux. M. & Straus~, P. l.es enji:mts maltrailés. Encyel. Médi.: ..
Cienc. Soe (Montevideo), 30(3-4): 141-186. I 989. Chirurg. Pédiatric, 41:26, A 10, Paris, 1986.
Berro, G. Jncesto: dí.1:funâó11fi1miliar. Revista de J111•estigaciá11 Crimi- Mira y L(>pe,-.. E. 114mtuaf de Psícolo;?ia Jurídírn. São !'auto: Me~tre Jou.
nal, 3( 1):53-66, 1989. · 1967.
Bonnet. E.FP. Mt•dicina Legal. 2: ed. Buenos Aires: Lúpez Libreros Mouden, L. Pre,•t>nt i~buse and Neglecl lhrough Dental A1rnre11e.H.
Editores. 1980-1993. ADA 's Council on Acc.:ss. Prevention and Inrcrprofr.:ssional
Borges, J .Í'.. Mercall!. .\1. & Lornhardi. E. tbpectos medícolega/es del Rclations. ADA. 1996.
niiío maltratado. ln: Departamento de Medicina Legal de la Farnltad OMS (Organit:ação Mundial da Saúde). Chi/d Abuse wul Negl,?o. h1..:1
de \1cdicina de Montevideo. Medicina Lt>gal. Montevideo: Oficina Shect N 150. março ele 1997.
dei Livro, AEM, 1989. wmo II. pp. 118-124. Passmor.:, R. & Robson, J.S. (Org.J. O Companhdro du t.wulo11re de
Brasil. Constituição. 1988. Comiituit;Jio: República /<àleratim do Bra- Medicina. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 1974.
sil. Centro Gráfico. Brasília, Senado federal. 292 p.. 1988. Paulctc Vanrell. .1. Mau.ç-fraws rw ln.fa11âa. Càebm ,~ Mente ( 4 J [hup:i
Brasil. Leis, Oenetos, ele. Código Penal IJrasi/eiro. São Paulo: Etl. I ww w. cpu b .org. br/cm/n04/doenca/infancia/pa~ona.hrmJ dez/97 -
Rideel. 237 p .. 1991. Fcv/98.
98 O Papel do Dentista nos Casos de Mau.HralOS lr!fantis

Paulete Vanrcll, J. Manual de Medicina Legal. Tunawwgia . São Pau- Schimin, 8.D . Types of 1:hild abuse and neg.lcct: an overvicw for dcntist,.
lo-Leme: Livraria Editora de Direi lo, 1996. l'ed. Dent., 8:67-71, 1986.
f'aukte Vanre ll, J. Sexologia Foren.H·. Monte~ C laros: Ed. lJ nimontc~. Silva, C.G. Síndrome da criança espancada. ln: Marcondcs, E. Ptdia-
2001. . iria Básica, 8.ª cd.. v. 1. São Paulo: Ed. Sarvier. 1999, pp. 829-831.
Paulcte Vanrell, J. & Scaglia de Paulete, S. Aspeclo~ de Ia violência Silverman, r.N. n,e rocmgen manifcstaJ.Ít)ns of unrec.ogniz.cd skeletal
contra cl nino. Meti. For. Arg., 18(38):6- 11, 1997. trauma in iníants. Am. J. Roentg., 69(3):413-4 27, 1953.
Paulcte Vanrell, J., Scaglia de Pault:le. S. & Paulctc Scaglia, J.A. Vio- Sims, B. & Camcron , J. Bitc-marks in the "Battcrcd Bahy Syndrome".
lência conf.ra a criança: /evantwnenr.o na regiii.o de Siio José do Rio Med. Sei. Law, 13:207, 1973.
Prew. SP. Ili: Jomada de Medicina Le8al d.o Nordeste, 11. 06-09 de Solóu.ano 1',ifío, R. Psiquiatda Clínica y Forense. Bogotá: Temis, 1990.
Agosto, 1997, Porto Seguro <BA). Spitz, W.U., Fisher. R.S. Medicolegal lnvestigation of lJeath. 2.° cd.
Pietcrsen, J.J. & Van L"rk, H. Maltrcatmen t oí clúldrcn in the Netherland. Sptingfield: C.C. Thomas, 1980.
An update aftcr ten years. Chi/d A buse N egf., J3:263-269, 1989. Tedesco. J.f. & Schnell, S . V. Childre n' s reacti o n to scx ahuse,
Polson. CJ. The Scientijic Aspec:1:,· of Foremic Medicine. Edinburg(): investígation and litigalíon. Cl1ild Ah11.1·e Negf., / / (2):267-272. 1987.
Oliver, Boyd. 1969. Teixeira, W.R.G. Medicina !.egal. Traunwtolog ia. Mogi das Cruzes:
P<.>nsold. A. Manual de Medicina Legal. Barcelona: Editorial Científi- edição particular. l 978.
co-Médica. 1955. · Ten Bensel. R.W. & King, KJ. Neglect and ahuse of childre.n: historical
Rodrigues, A.A. Violência Doméstica cvnl ra Crianças e Adolescente s aspects. identiticatio n and managemem . J . Dem. Chi/d.. 42(5): 16-
no Distrito Federal. Departamen to de Serviço Social, Universidade 26. 1975.
de Brasília, 1996, 153 p. Vasconcello s. J. G.M. et ai. i\ Violência Comm Crianças e Adolescentes
Rodríguez. H., de Pena, M. & Mesa. G. Lcy de Seguridad Ciudadana: no Esptrilo Santo de 1994 a 1996. Núdeo de Estudos da Criança e do
innovaciom: s de íntcrés médico-legal. Nolicias (SMU), 76:66-67, Adolescente , Universidade Federal do Espírito Santo. 1997. 94 p.
1995. Vieira. A .R. e, ai. Avaliação dos casos de abuso infantil do Hospital
Rod rígue z, li. Abuso sexual en 11ifíos: enfoque m edico -le8al . ln: M un icipal S0u1.a Agui ar (Rio de Janei ro) e sua relação com o cinir-
Baraihar, R. la Salud en la lnfam:ia y laAdolescen cia. Montevi<leo: gião-dentista. Ped. Atual., 11:2 1-32, 1998.
Arena. 1999, pp. 141- 149. Woo!ley Jr., P.V .. Evans Jr., W.A. Significance of skeletal lcsions in
Sangcr. R.G. Oral facial injuri es in physical abuse. ln: Sanger, R.G. & infanL~ reSCmhling those of traumatic origin. J. AnL Med. Assoe..
Bross. D.C. Clinicai Manaf?emen t of Chi/d Abuse tmd Nef? lec1. A /58(6):539-5 43. 1955.
Guide/ór thf! Denlal Pmfessionu l. I.ª cd. C hicago: Q uintessence Zacharias. M. & Zacharias, E . Dicionário de Medicina Legal. Curitiba:
Puhlishing Co., 1984, pp. 37-4 ·1. EDCCA. l 988
.. ··
... ·· .·· . . . ·. . . .

,,.,.,
NOÇOESDE
TANATOLOGIA
Noções de Tanatologia
--------- - ------·-··- ----- -·
Jorge Paulete Vanrell

É curial que, como parte dessa instabilidade, na ausência do


CONCEITO DE MORTE suprime nto energético necessário, o c am inho inv ers o é
inexoravelmente percorrido, levando ao progressivo aumento de
Por ve1.es, as coisas mais simples e óbvias são as mais difí- entropia, isto é, à disgregação e à desorganização total.
ceis de conceituar e definir. Tal é o que acontece com a mo1tc. Um organismo vivenlC libera a energia necessária à manuten-
Tão difícil é defini-la como conceituar a sua antítese, a própria ção do seu nível de o rganização através do rompimento sucessi-
vida. vo das ligações qufmiem; dos nutrientes que 1:apta do me io, ao
A maior parte das definições que têm sido feitas com relação longo do procer..<;o de re.~piração que aproveita e exige o oxigé-
à morte podem ser chamadas de definições negativas. porquan- nio como aceptor fi nal da cadeia metabólica.
to se expressam pela via da exclusão. Por outras palavras, diz-se Segue-se daí que a integridade das fun ç<ies de captação e in-
que ocorre morte toa'a ve~ que não ocorrem certos e determin a- tercâmbio de oxigênio - atribuições do Sistema Respiratório
dos fenômenos ditos vitais (Scigliano et al., 1989). - deve se considerar um dos fenômenos vit,tis, isto é, capazes
Do ponto de vista estritamente jurídico, até que conceituar a de caracterizar a vida, e. mur.ati.s mutandi, sua ausência como um
morte não é difícil : "é a extim,;iio do sujeito de direif.o ". Ou. como dos dementas a conceituar a morte.
nô-lo di z Rojas (1966): "é o termo legal da existência civil da Paralelamente, em face do taman ho e do grau de J escnvolvi-
pessoa". mento adquirido pelo ser humano, o oxigênio resultante da cap-
Tampouco o é do ângulo médico: morte é a cessaçã(J da vida. tação e intercâmbio que é feito apenas numa área restrita - o:,
Há de se ter presente. contudo, que isso, mais que uma defini- pulmões - carece ser distribuído pelo corpo todo. Tal di.m-ibui.
ção, é um simples prognóstico de irreversibilid ade de. um pro- ção é cometida ao sistema circulatório.
cesso: a vida não mais há de retornar. De tal sorte, a higidez e integridade funcional do sistema cir-
E assim podc-r;e. licitamente, questionar cm que consiste ei,sa
culatório se poderá com,íderar ouu·o dos fenô menos virais mia
vida que não mais há de retornar? E, por conseguinLe, qual é o co;,_
ausência. certamente, servirá também para complementar <>
instante em que o caminho se torna unidirecional e sem retorno,
ceito de morte.
podendo-se falar em morte?
Por derradeiro, devemos considerar que ambas as estruturas
Preliminarme nte, mister esclarecer, ainda que dcspiciendo de
mo11'ofuncionais e iludas - Sistemas Respi rat6rio e Circulacó-
necessidade, que, pelo próprio contexto da matéria que estamos
1io - existem em função de atender às necessidades de um com-
ana lisando, nos referimos à vida no caso do homem, isto é, do
plexo conjunto de células cuja atividade comdcna todo o urga-
ser humano. Não é que esta seja diferente dos demais sistemas
nismo e, ainda, possibilita toda a sua vida de relação. Referimo -
viventes na sua essência: todavia, ela oferece um inegável plu:,
nos ao Sistema Nervoso ou Sistema Neural.
de sofisticação intelectiva que lhe permite relacionar-se com os
demais seres congêneres. Assim sendo, resulta que a própria ali vidade do Sistema :\eu-
É dessa maneira que, como qualquer sistema vive.nte, o ser ral se constitui em um fenômeno vital princeps. porquamo as
humano exibe intensa negantropia, isto é, é capaz de estabele- outras duas previamente elencac.las - respir(llória e circ:11/ató-
cer a sua ordem ou. por outras palavras, lutar contra a tendência ría - acabam por ser subservicntcs a esra.
natural do Universo a aumentar a entropia, a l'Xp<msas do con.ç- Conquanto já enunciamos que a maior grau de complexidade
1ante suprimemo de energia. Isso é o que lhe permite ser mais
se segue, sempre, um maior grau de instabilidade, não resulta
organizado e, ao me-smo Lempo, é isto, também. o que, na medi- difíc il compreender que as células do Sistema Nervoso - os
da em que aumenta a sua complexidade, o toma mais instável neuriJnios - hão de ser, por força do seu próprio grau de sofis-
(Paulete Vanrell, 1973). ticação. as mais susceptíveís às variações nos teores de oxigênio
102 .\'oçiies de Ta11atologia

necessários à mantença de sua elevada organizaçào. É por isso Mas. e quiçá por isso mesmo, é a nível neurológico que ocor-
que baixas com:emraçõcs de 0 2 , ou a ausência do mesmo, acar- rem os mais variados e sutis estados intc1mcdiários entre a vida
retam prejuízos irreversíveis na sua organização, caracterizados e a morte, denominados "estados fronteiriços".
como morte celular (morte neurona{). Alguns desses ·'esiadosfromeiríços'' se encontram mais pró-
Para complementar o raciocínio. basta lembrar que os avan- ximos da morte, como aqueles chamador; "l'stados d(! ,,ida par-
ços técnicos muito têm conseguido no que tange a suprir al- eia/''. como os "comas ultrapassados" (carus ou "coma
guns desses fenômenos vitais, pela ação de aparelhos que ·'res- dépassé''), com desaparecimento da vida de relação e conserva-
piram'' pelo indivíduo ( facilitando as trocas gasosas e o apor- ção da vida vegetativa; de duração variável, como os subcrônicos
te de oxigênio) e que fazem o sangue ''circular" (mecanica- ou ''prolongados", com duração superior a três .,;;emanas, e os
mente). Todavia, inexiste qualquer engenho eletromecânico crônicos ou in-eversíveis. Outras formas, contrariamente. encon-
capaz de ··pensar'', "agir'' e "teremoçôes··. que seja aplicável ao tram-se mais próximas da vida, como os denominados estados
organismo humano. para suprir-lhe a falha dos neurônios mor- de "morte aparem e··.
tos ...
É por is!io. que com a destruição do nível de complexidade 2. Morte Aparente
mais elevado - os neurlinim~ ou a sua somatória. o Sistema
A morte aparente pode ser definida como um estado tran-
Neural - acabamos por verificar uma verdadeira desintegração
sitório em que as funções vitais "aparentement('" estão abolidas,
da personalidade, aumento de entropia do sistema, que se
cm conseqüência de uma doença ou entidade mórbida que simula
trm:untará na sua morte.
a morte. Nesses casos. que também podem ser provocados por
acidentes ou pelo uso abusivo de substftncias depressoras do sis-
tema nervoso central (SNC). a temperatura corporal pode cair
Classificação das Formas de Morte sensível mente e ocorre um rebaixamento das l'unç<ies cardiorres-
pirntórias de tal envergadura que oferecem, ao simples exame
+ QUANTO À REAl,IDADE: clínico, a aparência de morte real.
=>morte real É incomeste que, nesse quadro. a vida cm1tin11a sem que,
~ morte aparente contudo, se manifestem sinais externos: os batimentos cardíacos
são imperceptíveis. os movimentos respiratórios praticamente
1. Morte Real não são apreciáveis. ao tempo que inexistem elementos de
O conceito de morte, interessando a áreas tão diversas das motricidade e de sensibilidade cutânea.
ciências hiológicas, jmidicas e sociaís. está longe de ter um con- Assim, a denominada tríade de Thoinot define, clinicamen-
senso quanto ao momento real de sua ocorrência. É que a morte, te, o estado de morte aparente: imobilidade, aushicía aparmte
observada do ponto de vista hiológico, e atentando-se para o da respiraçüv e au.w1ncia de circulaçc7o.
corpo como um todo, não é um fato único e instantâneo, antes o A duração <lesse estado foi um dos elementos que mais agu-
resultado de uma série de processos, de uma transição gradual. çaram a curiosidade dos pesquisadores. Historicamente. surgi-
Com efeito, levando-se cm consideração a diterente resistên- ram opiniões das mais díspares, indo desde alguns minutos até
cia vital das células, tecidos, ürgãos e sistemas que integram o dias de morte aparente.
corpo it privação de oxigênio. forçoso é admitir que a morte é A causalidade permite distinguir as seguintes formas de mor-
um verdadeiro "processo incoa1ivo ". que passa por diverso<. te aparente:
estágios ou etapas no devir do tempo. Sincopal. É a mais freqüente das causas. resultando, em ge-
Cada campo do conhecimento e cada ramo da medicina aca- ral, de uma perturbação cardiovascular central e/ou periférica.
baram por tomar um momento desse pron·sso, adotando-o como bem como por perturbações encefálicas e/ou metabólicas.
critério definidor de morte. A Medicina Legal teve de adotar uma Histérica (let(trgia e calalepsia). As crises histéricas ocupam
determinada etapa do citado processo como o seu critério de o segundo lugar em freqüência na produção de estados de morte
mo11e e. para tanto, optou pela etapa da m(lr/e clínica. aparente. O termo genérico letargia desígna lodos os estados de
Até não há muito tempo, uma das grandes questões era poder sopor de longa duração. acompanhados de perda de movimen-
determinar se uma pessoa. realmente, estava morta ou se se en- tos, sensibilidade e consciência, que podem ser confundidos com
contrava cm um estado de morte aparente. Tudo is-.o visando a morte real.
evitar a inumação precipitada, que seria fatal nesta última situa- A.~fíctica. É tamhém uma das causas as-.az freqüentes de morte
ção. O fato assumiu tal impo1tância que chegou a influenciar ao'> aparente. ~fanilcsta-sc sob duas fomrns: mecânica. quer com via
legisladores. que acabaram por colocar, na legislação adjetiva aérea livre. quer com via obstruída. e não-mecânica, asfixia de
civil. pra7.0f> mínimos para a implementação de certos procedi- utilização ou histotóxica (absorção de co. cianuretos e venenos
mentos como a nl!Crup.üa e o Sl'Jmltamentn. metemoglobinizantes).
O aparecimento das modernas técnicas de ressuscitação e de Tóxica. Compreende a anestesia e a utilização de morfina ou
manutenção ai1ificial de algumas funções vitais, como a respi- outros alcalóides do ópio (heroína) em doses tóxicas.
ração ·- respiradores mecânicos. oxigenadores - e a circula- Apopléctica. É causada pela congestão (ingurgitação) e he-
ção - homba de circulação ex1racorpôrea - , mesmo na vigên- morragia no territó1)0 de uma artéria encefálica (em geral. a
cia ela perda total e ilTeversível da atividade encefálica. criou a lcntículo-estriatal). E mais freqüente em paciemes com antece-
necessidade de rever e readaptar os c1ité1ios de morte. dentes de hipertensão arlcrial essencial, mas também pode ob-
A atividade neurológica é a única das funções vitais que, até servar-se cm outros quadros.
o presente momento. não teve condiçõe'>. em que pesem os avan- Traumática. Que ocorre em casos em que se produzem ou-
.;o~ tecnológicos, de ser suplementada nem de ter suas funções tros efeitos gerais simultâneos, como:
mantidas por qualquer meio anífícíal. Daí que os seus prejuízos, Elétrica (por eletroplet,t,ão ou .fulguração). Pode observar-
,ua irrecupi.:rabilida<lc ou a sua extinção sejam. praticamente, se nos atingidos por descargas de eletricidade comercial e que
5inônimo~ da própria extinção da vida. sobrevivem, quedando em um estado de morte aparente. Pode
NoçiJes de Tanatologia 103

ser vista também em pessoas afetadas pela indução de descargas processo agônico. gasto este que se não observa, dada a rapidez
de clcuicidade natural ( qucroaurântica)-.fu/guração - em uma do processo, na morte súbita.
área de 30 a 60 m de diâmetro, cm tomo do ponto da faísca.
térmica (termopatias e criopatias). A m011e aparente, nes- • QUANTO À CAUSA:
$eS casos, sobrevém quando falham os mecanismos de rcgula- => Morte natural
c,·ão da temperatura corporal decorrentes de um desequilíbrio no => Morte violenta: homícídio, suicídio, acidente
nível de combustão intra-orgânica. As termopatias soem ocor- => Morte duvidosa: súbita, sem assistência, suspeita
rer nos casos de ··golpes de calor" hipertérmicos ou de
hiperpirexia, com retenção calórica. É uma ocorrência mais fre-
qüente no verão ou em regiões com altas temperaturas e elevada
5. Morte Natural
É aquela que sobrevém como conseqüência de um processo
taxa de umidade relativa ambiente, em pessoas com patologias
esperado e previsível, como, por exemplo, com o decorrer do
preexistentes ou sem elas, velhos e crianças. mais sensíveis ao
tempo, quando é de prever que o envelhecimento natural, com o
calor. Também podem observar-se, com freqüência, em certas
esgotamento progressivo das funções orgânicas, que se acom-
atividades ou profis-.ôes submetidas à intermação (mineiros,
panham de processos de involução, esclerose e atrofia de órgãos
foguistas, caldeireiros, cozinheiros etc.) e na intoxicação
e sistemas, levará à extinção da vida.
anfetamínica.
Em outros casos. o óbito é um corolário de uma doença inter-
A mo11e aparente por crfopatia ocorre quando há hipocem1ia
na, aguda ou crônica. a qual pode ter acontecido e transcorrido
global aguda. Observa-se. com freqüência. em ébrios que dor-
sem a intervenção de qualquer fator externo ou exógeno. É evi-
mem ao relento, nos quais a vasodilatação periférica aumenta a dente que, stríctu senso. a causa do óbito não é ··natural'' e, sim,
perda calórica, facilitando a hipocermia; também nas crianças
patológica. isto é, como conseqüência de urna doença ou de uma
desabrigadas na época invernal; nos acidentes com queda das degeneração. Todavia. o uso habitual do termo, considera esse
vítimas ao mar (pilotos, náufragos); e acé por causa iatrogênica
tipo de morte como "natural", uma vez que tanto a sua causa
ccransfusões de sangue frio). O estado de morte aparente pode
quanto o seu desenlace soem ocorrer de forma espontânea, como
instalar-se quando a temperatura central diminui abaixo dos 32ºC. evolução natural e previsível do processo m6rbido.
Causas gerais. A mo11e aparente pode observar-se em algu-
mas fonnas termínais de cólera, na eclâmpsia durante o período
comatoso. e em algumas formas de epilepsia. 6. Morte Violenta
No extremo diametralmente oposto das mortes naturais, en-
contramos as mortes de causa violenta: homicídios, suicúlios e
• QUANTO À RAPIDEZ: acidentes. Nesses casos, muito embora a causa final do dccesso
=> morte rápida possa ser previsível, e.g. anemia aguda por hemorragia aguda
~ morte lenta traumática, na gênese do processo e como causa primeira, existe
a violência (lat. violentía, e este de vis, força), isto é. um fenô-
3. Morte Rápida meno no qual, de uma ou outra forma, ínterveio a fon.;o como
Denomina-se morte rápida ou súbita aquela que, pela bre· causa desencadeante.
vidade de instalação do processo - desde segundos até horas Estas são também denominadas m,>rtes médic,,-legais, por-
- não possibilila que seja realizada uma pesquisa profunda e quanto, no seu estudo e apreciação, deve mediar a intervenção
uma observação acurada da sintomatologia clínica. hábil a ensejar médica e judicial. ambas agindo em benefício da segurança co-
um diagnóstico com certeza e segurança, nem poder instituir um lcci va e como tutela dos bens jurídicos da sociedade.
tratamento adequado e, muitas vezes, sequer elidir se houve ou
não violência. 7. Morte Duvidosa: Morte Súbita
Muita polêmica tem sido criada cm torno da valoração da Como já vimos, denomina-se morte súbita aquela que. pela
duração do período pré-mortal, isto é, do lapso transcorrido en- brevidade de instalação do processo - desde segundos até ho-
tre a ação da causa desencadeante e a morte propriamente díta. ras-, não possibilíta que seja realizada uma pcsquísa profunda
e uma observação clínica mais demorada. hábil a ensejar um
4. Morte J.cnta diagnóstico com certeza e segurança. Tampouco oferece clum-
Recebe o nome de morte lenta ou agônica aquela que, cm ces para poder instituir um tratamento adequado, e é por isso que
geral, vem de maneira esperada, devagar, significando a toma ao paciente, sua família e relações, de surpresa. O termo
culminação de um estado mórbido, isto é, de uma doença ou da morte sr,bita tem uma dupla conotação:
evolução de um traumatismo. l) objeiiva. a rapide::. com que ocorre o óbito,
Afora as {:araeterísticas e dados que eventualmente aflorem 2) subjeliva, caráter inesperado, inopinado, com que se dá o
do exame pc1inecroscópico. alguns dos quais podem apontar para decesso.
morte rápida - e.g. espasmo cadavélico - outros também po·
Existem três critérios hábeis para definir uma morte como
dem orientar no sentido de uma morte lenta, demorada, ponto
inopinada, a saber:
final de uma longa agonia. tal o caso da emaciação. da caquex.ia,
da presença de extensas escaras de apoio, entre outros exemplos. l. Período pré-mortal - ou seja, a rapidez entre a cau~a
Contudo. do ponto de vista médico-legal, e cm persistíndo desencadeante e o óbito - , estimado de minutos a hora~.
dúvidas, o diagn6stico diferencial entre morte rápida e morte lenta é aquele que, por sua brevidade, não permite idcnlifi..:;:a
baseia-se em docima.~iat,; químicas ou lti.~toquímicas, isto é, na uma sintomatologia clínica utilizável para um díagnó$1Íú'
pesquisa do glicoMênio e da glicose, no fígado. e na constatação seguro, nem realizar um tratamento de acordo ou des..:.:ir-
da adrenalína ou do pigmento féocrômíco nas supra-renais. As tar uma violência.
vfüias provas que existem em tal sentido se embasam no maior 2. Estado de saúde prério ou curso de uma doença 11úu-11ra·
consumo ou gasto de citadas substâncias durante o demorado ve. incapaz de levar ao úhito cm prazo hrcvc. A m~.
104 S,,\'iie.1 de Twwtologia

assim. é inesperada. O .,inopinado,.. do fato é o que levan- ou cm pessoas que moram sozinhas, ou, pelo menos, que, no
ta a dúvida. momento da morte, não estavam acompanhadas por ninguém na
3. Aspecto de morte natural, sem elemencos de violência. residência, e que tampouco procuraram por auxílio.
Destane, a morte súbita ou inesperada í mplica a morte de um Nessas circunstâncias, não há qualquer oriema\ão diagnósti-
sL~jcilo em bom estado de saúde aparentc, c:om agonia breve e ca e, em conse4iiência. deverá proceder-se à nccropsia como
que. pelo seu caráter inopinado, desperta dúvidas médico-legais fomw possível de determinar a cauMi 111onis, ramo médica quanto
quamo à sua causa jurídica. ju1ídica. cluddando se se trata de morte de causa natural ou pro-
Como se vê, pois, a morte pode ser súbita. mas esperada. isto duzida mediante violência.
é, pode encontrar-se dentro das previsües de quem conhecesse o Por essas razões, a medida rnai8 correta é proceder ao exame
real estado de alguma patologia da qual a vítima fosse portado- necroscópico, incluindo o exame toxícolôgico das vís{:eras, des-
ra, e.g. úlcera péptica, não tratada. que se perfura causando he- de que nenhuma outra causa de morte natural exsur:ja. quer da
mon-agia fulminante. Tal caso, muito embora possa ser rotulado pcrínecroscopia, quer da pnípria necropsia.
de mortl' súbita, também foge, completamente, da alçada médi-
co-legal. 9. Morte Duvidosa: Morte Suspeita
Todavia, $e a patologia do paciente fosse desconhecida pelos Rotula-se como morte smpeita aquela que, mesmo {:Om tcs-
seus familiares, então essa morte súbita deixalia de ser um/mo lcmunhas. e com alguns dados de orientação diagnóstica, se
previsível, esperado pelas relações, para transformar-se cm um mostra duvidosa quanto à sua origem. logo desde a investigação
fato in<!Sperado e inexplicável que. destarLe, tornará a morle .rns- policial sumária, quer por atitudes estranhas do meio ambieme.
peita para eles. exigindo (o 4ue seria totalmente prescindível e quer por indícios que impedem descartar de plano a violência
desnecessário) a intervenção do médico legista. (possibilidade de intoxicação, presença de felimentos etc.).
É evidente que a conotação ele inesperado ou inexplicável de Sua freqüência é bastante elevada. de acordo com estatística
um óbíto é diferente para os populares leigos do que é para o realizada na cidade de São Paulo. onde foi observada uma inci-
médico assistente. Com efeito. eis que, para este último, a mor- dên{:ia da ordem de 69.41 % de mortes de causa natural definida
te, em que pese aos tratamentos instituídos, pode acontecer cm e de 18,53 % de mortes de causa violenta, sendo os restantes
questão de umas poucas horas, face à gravidade do quadro. As- 12.06% casos de morte de causa indeterminada.
sim, para a família, essa morte poderá ser súbiia e inesperada, A necropsia deve ser pre{:edida da colheita de informações.
não assim para o médico assistente. para quem o decesso pode- anamnese familiar. exame das vestes e dos documentos, onde
ria ser esperado e, muito em hora ocorrido em curto lapso, isto é. podem encontrar-se dados de valor diagnóstico (e.g. carta de
de forma rápida, não será súbito. suicídio, bilhetes anônimos, contas a pagar etc.) que ajudam a
Em algumas condições. pois, proceder-se-á à perícia médi- orientar se estamos em presença de um caso de morte súhita, de
co-legal, da qual poderá resultar o diagrnístico final soh a forma causa natural ou violenta.
de uma das i.;cguintes hipóteses: Essa diagno~e da causa mortis - natural ou violenta - . em
1. Causa, com Certeza, da Morte: Quando os achados da nosso meio. tanto mais se aproximará da realidade quanto maior
necropsia são absolutamente incompatíveis com a vida seja o número de informações que se possam coligir no exame
(l'.g. ruptura de aneurisma de aorta). necroscópico lato sensu e que implicam o exame do estado das
2. Caw;a SuKestiva da Morle: Os achados da necropsia não vci,tes, os vestígios de cabelos ou pêlos, as manchas de líquidos
são. necessariamente, incompatíveis com a vida. mas, na e secreçf>es humanas (sangue, espenna. saliva). o exame das le-
ausência de outros dados, explicam o ühíto (e.g. hipe11ro- sões corporais mínimas (escoriações em volta do pescoço. nari-
fia concêntrica do miocárdio. pneumonia lobar). nas e boca. petéquias palpebrais ou subconjuntivais, lesões peri
3. Causa Compatível com a i}:l.orte: Decorre mais da anáfüe ou intra vaginais ou anais). a minudcntc autÍlpsia acompanhada,
conforme o caso, de exames toxicológicos (dosagem alcoólica.
das infonnac,;ões clínicas colhida$ na anamnese familiar.
venenos nas vísceras e secreções), seguida dos exames micros-
existindo ou não achados da necropsia ou nos exames com-
cópicos ou ourros exames complementares, incluindo a pesqui-
plementares que possam ser correlacionado\ com os da-
sa de reação riwl, macro e microscópica, nas lesões.
dos obtidos sobre a doença (e.1;. um paciente com epilep-
sia, no qual, evemualmemc. poderá ser encontrado um tu-
mor cerebral compatí1,el com o óbito).
4. Cau.',a lndetenninada.daMorte: São aqueles casos em que PROVAS DE CESSAÇÃO DA VIDA
nem as informação colhidas. nem os achados da necropsia
apontam para uma causa provável que determinou a mor- O diagn6sticn da morte não é subjetivo, mas bascía-se no
te. Daí que se diga que a morte resultou de causa estudo de uma série de fenômenos objetivos, mais ou menos
indetaminada. Corresponde às denominadas coloquial- imediatos, que ocorrem no corpo. Esses fenômenos podem ser,
mente de autópsias brancas. esqucmatirnmeme. divididos cm dois grandes grupos, a saber:
5. Causa Violenta da Morte: Quando os achados da
nccropsia, realizada em um supos.to caso de 1norte natural a) Sinais de cessação da vida ou sinai.'í abiáticos;
súbita e inesperada, demonstram que, mesmo na ausên- h) Sinais positivos de morte oufenômeno.'í cadavéricos.
cia de dados de anamnese ou de sinais externos de violên-
cia, o exame necroscópico acaba revelando uma causa vi-
olenta. Sinais A bióticos
É com apoio nesses dois tipos de fenômenos que se estabele-
8. Morte Duvidosa: Morte sem Assistência ceram, desde a allligüidadc, os critérios de realúlade da morte
As maiores dúvidas que suscita esse tipo de ôhir.o se relacio- (provas da morte). que podem ser circulatórios, respiratórios,
nam com o fato de ocorrer sem testemunhas, cm locais isolados químicos, dinamoscópicos e neurológicos:
Noçõe.~ de Tanawlogia l05

+ PROVAS CIRCULATÓKIAS É possível estabelecer um critério estatístico diferencial para


Baseiam-se na pesquisa da parada circulatória: pela auscul- identificar as principais causas etiológicas que levam um indiví-
ta (Bouchut), pelo fundo de olho, pela oscilação de uma agulha duo a entrar cm quadro de tamanha gravidade. Refere-se que, nos
implantada no coração (Middeldorff), pela cianose ao ligar um jovens. a causa mais freqüente são os traumatismos - 30 a 40%
dedo (Magnus); pela falta de batimentos na radioscopia de t6rax - , enquanto, nas pessoas idosas. são os acidentes vasculares
(Píga), pelo clctrocardíograma (Guérin e Fache), pela sucção com cerebrais - 50?i: - . compreendendo o resc.o uma série de pato-
ventosa escarificada (Boudirnir e Lavasseur). pela hiperemia logias tumoraís, metab<Ílicas, carenciais etc.
conjumival pelo éter (Halluin) ou pela dionina (Terson), pelo não--
aprecimento de flictcna pela aproximação de uma chama (Ott).
pela não-distribuição da.fluoresceína injetada intravenosa (lcard). • Método para o Diagnóstico de Morte
pela perda da turgência dos globos oculares (Stcnon-Louís), pela
medição da radioatividade no clearance de Xc 111 no có11ex cere-
Cerebral
bral. (para maiores de 5 anos)
a) Pré-requisitos
• PROVAS RESPIRATÓRIAS • Sujeito em respirador e cm coma profundo.
Ba.\'eÍam-se na pesqui:;(I da parada respiratória: pela ausên- • Ausência de hipotcrmia p1imá1ia.
cia de murmúrio vesicular na ausculta, pela ausência ele mohi I i- • Ausência de efeitos atuais-demonstrados-de dro-
dade de uma superfície líquida, pela ausência de embaçamento gas paralisantes, anestésicos, depressores do SNC.
de um espelho colocado na frente da hocaou narinas (Winslow). • Ausência de dcscquilíbtios hidroeletrolítícos (hipo e
hipernatremia). transtornos met.abólicos (hípoglícemia
+ PROVAS QUÍMICAS etc.), alterações hernodínâmicas (hipovolemia ou cho-
Baseiw11-S(' na pesquisa de substâncias ou mod(flcarões que que) ou outros fatores que podem agravar o coma (hi-
se originam das.fases iniciais da decomposição cadavh-ica: pela póxia).
eliminação de ácido sulfídríco gasoso (Icard), pela oxidação ou • Causa do coma bem conhecida e demonstrada.
fosqueamento de uma agulha de metal (Cloquet-Labordc). pelo b) Diagnóstico de coma arreativo e apnéico (CAAl
aumento da acidez tecidual (Ascarelli, Silvio Rebello, Lecha- • Coma profundo com ausência total de movimentos es-
Marzo, De Dominicis). pontâneos.
• Ausência de resposta cm territórios dos nervos crania-
nos ante eslímulos adequados em qualquer zona do
+ PROVAS DINAMOSCÓPJCAS corpo.
Bas<tiam-se na ausência de movimentos ou respostas dinâmi- • Ausência <lc rigidez de descerehração, de decorticação
cas ele defesa: pela ausência de vibração pulsátíl (Collongest), ou de convulsõe~.
pela falta de reação à injeção subcutânea de éter (Rehouillat), • Ausência específica dos seguintes reflexos cefálicos:
deformação persistente <la pupila pela compressão ocular fotomolor. corneano, nauseoso, tussígeno, óculo-
( Ripauld), aproximação de uma haste quente na planta do pé cefalógiro e óculo-vcstihular.
( Lam:isi), ''mancha negra da esderôtica" ('' livor scleroticae • Apnéia demonstrada mediante um teste de apnéia.
nigrescens ,. , de Sommer e Larcher). pela ausência de contração
rnusrnlar ao choque elétrico (Roger e Reis).
• Declaração de Morte por Critério
• PROVAS NEUROLÓGICAS Cerebral
Uaseimn-.H' na ausência dii atividade cerebral: assim sendo,
a morte cerebral po<le considerar-se, justamente. como o ponto Há duas formas de coma capazes de levar ao óbito: os Cflmas
de irreversibilidade, porquanto, ao se perderem, de forma defi- estruturais e os comas não-estruturais. Para ambas as modali-
nitiva, as funçôes cerebrais. o indivíduo deixa de possuir aquilo dades, desde que cumpridos todos os requisitos supra-referidos,
que o caracteriza como ser humano, qual seja a atividade psí- pode proceder-se a declarar a mo11e. Todavia, a fomm de fazê-
quica. lo difere para cada um <los dois tipos.
Nos comas estruturais, isto é, aqueles que apresentam altc-
raç<ics macroscópicas do encéfalo, tipo injúria pós-traumática,
vascular ou p<ís-neurocirúrgica, o diagrnístico é relativamcnle
A MORTE CEREBRAL E OS fácil e confiável. Deverão, contudo, realizar-se 2 (dois) exames
TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS clínicos completos, com um intervalo de 12 horas emre os mes-
mos, sendo certo que ambos deverão ser positivos e concordan-
~o Brasil, a partir de 1997, e seguindo os critérios eslabclc- tes ou congruentes. Em quadros desse jaez, não serão necessári-
ddos pelo Conselho Federal de Medicina através da Resolução os mais exames complcmenlares.
n.<> 1480/97./oi adotada a caracteri._açlio da morte encefálica Já os casos de comas nãt>-estruturais. a situação é bem mais
comv critério de morte, e111 suhstituir,:tio ao critério cardíorres- difícil de definir. Como premissa. há de se aguardar que o <lcsc-
piratório, para todos os médicos de sua judsdição. quílíbrio, a intoxicação ou a noxa, enfim, tenham desaparecido
Considera-se que um paciente se encontra em nwrte cerebral por completo <lo organismo. Nesse momcnlo, há de se realizar o
quando. mesmo conservando atividade cardíaca na vigência de primeiro exame clínico. Passadas 24 horas. como mínimo, reali-
assistência respiratória mecânica, apresenta um coma arreativo zar-se-á o segundo exame, sendo certo que cada um deles deve-
e apnéico (CAA) de causa bem conhe<:ída e apto a provocar le- rá contar com um eletroencefalograma (EEG) isoclétrico, is10 ~.
sôcs tolais e definitivas do encéfalo. sem atividade elétrica. Eventualmente. poder-!ie-á recorrer .;.
r ••
outros exames mais sofisticados, como, por exemplo, estudo dos popular. o prohlema é muito mais sério. É que, na conceituação
potenciais evocados e angiografia (artedografia) ccrehral com- popular, ainda prevalece o critério cardiorrespiratório de
pleta. Não se deve esquecer que, de acordo com as demonstra- morte. Logo. para um cidadão comum. antes de ver que um fa-
ções e trabalhos de Wertheimer et ai. ( 1959), nos casos de morte miliar ou um amigo teve a completa parada de suas funções respi-
cerebral ocorre a cessação da circulação cerebral. ratórias e circulatórias, este não estará morto. Como conse-
qüência, qualquer material que se pretendesse retírar. na condi-
ção de doador de órgãos, seria inaproveitável do ponio de vista
• O Problema dos Transplantes de do transplante.
Órgãos Segue-se, daí, que as campanhas de conscientização deveri-
am começar. justamente, não pelo incentivo à captação ele órgãos,
Os transplantes de órgãos vêm provocando 1numeros mas sim pela formação de uma consciência coletiva em tomo do
questionamentos éticos acerca da origem e da forma de obten- critério encefálico ou da morte encefálica, como equivalente
ção do material a ser transplantado (Goldím - Ética Aplicada de óbito. substituindo a idéia de que a morte apenas ocorre quando
aos Tran~plantes de Ôrgãos). ocorre a parada cardimre.1piratória. absoluta e irrew!rsível, isso,
A obtenção de órgãos de doador vivo - talvez por ser empre- pelo menos, do ponto de vista dos interessados cm transplantes.
gada há mais tempo e ser ainda útil - su:,cita menores
questionamentos. do ponto de vista ético, mormelllc quando exis-
te relação de parentesco entre doador e receptor. /\ doação de ór- • Um Sério Entrave Jurídico
gãos por parte de amigos. ou até mesmo de terceiros de!-.conheci-
dos. tem sido fortemente evitada. As questões envolvidas são a O Código Civil em vigor. no seu arl. IO, diz que: "A existên-
autonomia e a liberdade do doador ao dar seu consentimento e a cia da pessoa natural termina com ti morte.''
avaliação de risco/benefício associada ao procedimento, espcci- Já o novo Código, no art. 6." do Projeto recentemente apro-
almcllle com relação à não-maleficência (mutilação) do doador. vado pelo Senado, diz:
A realização de transplantes com doador morto tem sido a
solução mais promissora para o problema <la demanda excessi- "Art. 6. "A exi!,tência da pessoa física termina c"m a m,,rte.
va. O prohlema inicial foi o estabelecimento de critérios para Presume-se esta. quanto aos ausenle~, nos casos em qw~ a !(,j
caracterizar a morte do indivíduo doador. A mudança do crité- autoriza a abertura da sucessão definilirn."
rio cardiorrespiratório para o encefálico possihi I itou um gran-
de avanço nesse sentido. Os critérios para a caracterização de Pois bem. a ''Lei'", ao regular o caso, refere-se à existência
morte encefálica foram propostos, no Brasil, pelo Conselho Fe- da pessoa natural. no Código de 1916, e da pessoa tísica, no
deral de Medicina através da Resolução n." 1480/97. Na doação novo, o que, afinal. significa o mesmo, cm lato sentido. A Lei.
de órgãos por cadáver. mu<la-sc a discussão da origem para a portanto, rcfcrc•sc à pessoa, na sua integralidade. e nào às suas
forma de obtenção: doar<io voluntária, consentimento presumi- partes.
do. man(feslaçüv compulsória ou abordagem de mercado. ~- do entendimento do eminente Prof. Eulâmpio Rodrigues
Em 16 de janeiro de 1997. foi aprovada pelo Congresso Na- Filho (2001), figura exponencial das leu-as jurídicas nacionais,
cional, apé>s uma longa tramitação. a nova lei de transplantes (Lei que, ao C. Conselho Federal de Medicina, através de mera Re-
9434/97), sancionada em 4 de fevereiro de 1997. que altera a solução. não se auibui o poder de regulamentar a morte, medi-
fonna de obtenção para consentimenw presumido. A legislação ante proccdímento que implica re.~tringir a letra da Lei.
anteriormente vigente (Lei 8489/92 e o Decreto 879/93) estabe- A nüs, daca venia - continua o i lusr.re Professor-, não ín-
leciam o critério da doação 110/unrária. tcressa se antes o critério era um, que depois foi mudado, pois.
A alocação dos 6rgãos para transplante. assim como de ou- parece que em amhos os casos o pensamento do CFM é dcspre-
tros recursos escassos. deve ser feita em dois estágio-.. O primei- zíve.l, porque o Código não disciplina que a morte decorre da
ro estágio deve ser realizado pela pr6pria equipe de saúde. con- falência desta ou daquela atividade, mas define o caso em que
templando os critérios de elegibilidade, de probabilidade de su- ocorre o término da existência da pessoa física, sem definir
cesso e de progresso à ciência, visando a beneficência ampla. O morte, por desnecessí1rio, e nào admitir mitigaçôes no ato de
segundo estágio, a ser realizado por um Comitê de Bioética, pode considerá-la, pois não haveria como admitir meia morte. morte
utilizar os critérios das probabilidades estatísticas envolvidas no parcial, morte necessária, morte suficiente. mone cientificamente
caso, da necessidade de tratamento futuro, do valor social do considerada etc. pois !-óe trata de um fenômeno natural tão intangí-
indivíduo receptor. da dependência de outras pessoas. entre ou- vel quanto os efeitos da gravidade, das idéias de ftio, de calor etc.
tros critérios mais, no dizer de Goldim. Daí a sua manifestação, in verbis:
O problema, entretanto, longe de estar resolvido, parece es-
tar apenas começando. No primeiro semestre seguinte à vigên- "O direito é uma ciência humana, e como tal. não contempla
cia <la nova Lei, o número de doações e de doadores para trans- morte onde ela não exista. \tfortc é fim. Não é morto. na
plantes caiu quase que pela metade (50% ). Numerosas pessoas acepção jurídica. quem tenha cm funcionamento, ainda que
que, nos primeiros momentos, procederam à renovação de suas forçado, atividade circulatória e respiral<íria, a despeito da
Carteiras de Identidade ou de suas Carteiras Nacionais de Ha- falência da atividade cerebral. Juridicamente, a perda da
hilitaçâo, a fim de que nelas se registrasse sua intenção como atividade cerebral conduz à incapacidade, não à mflrte." (op
"DOADOR DE ÓRGÃOS", voltaram atrás na sua intenção ou, cil. fl. 50)
pelo menos, mostraram o sell an-cpendimento. lo grifo é nosso 1
Freqüentemente, as campanhas de divulgação e consciemi-
zação, além de não atingirem seus ohjetivos. por vezes provo- O raciocínio é de uma simplicí<ladc cristalina e de uma clare-
cam reações adversas. Uma vez qoe a discussão sai da esfera za meridiana e. o que é mais impo11a111e. C<;ht estritamente corre-
estritamente cient.ífico/acadêmica para alcançar a consciência to do ponto de vista jurídico.
Noçi5es de 1'a11atología 107

Surge aí um severo entrave jurídico sobre o qual será neces-


,jriü reiletir demoradamente. porquanto há de chocar os interes- MECANISMO DA MORTE
'~' dos grupos de transplantes que se encontram sempre preocu-
;:,.1dos com "o problema de desperdício de órgãos". O mecanismo da morte é a seqüência quer de allcrações
fisiopatológicas, quer de desequilíbrios bioquímicos, que são
desencadeados peJa causa da morte ("causa mortis" médica) e
• O Problema do Desperdício de Órgãos que se tornam incompatíveis com a vida.

:'\o Brasil. o desperdkio de órgãos é de 70%. Com efeito, o


Br:isil aproveitou. em 1999. apenas 30qf. dos órgãos de doado- + Causa Mortis Médica
~.:, em potencial, apesar do número recorde de transplantes con-
uh.ilizados pelo Governo federal. O término ínexonívcl da vicia há de ter, sempre, uma causa
O desperdício de 70% de órgãos é resultado, principalmente, médica, válida e plausível. Os mecanismos da mone podem
j,i falta de estrutura para a captação, três anos depois da aprova- manifestar-se das formas mais variadas, mas, afinal e fatahncn-
~ào da lei de doação, além dos casos de contra-índicações médi- te, sempre deverá alcançar como denominador comum a uma das
..:a~. seguintes entidades nosológicas básicas:
F.m 10 Estados brasileiros. nem sequer existe estrutura para • Anenúa aguda
notificação ou captação. O Rio Grande do Korte, que tem cerca • Asfixia
Je 300 pacientes renais crônicos, não capta nenhum rim por fal- • Assistolia/fibrilação ventricular
ta de estrutura em sua rede hospitalar. • Choque mecabólico
Das 2.871 pessoas com registro olicial de morte encefálica • Choque toxêmico
no ano 1999, 31.2% são de pessoas que não aceitaram doar, o • Choque traumático-neurogêníco
qu.: reduz para 1. 974 o potencial de doadores. Em cima desse • Depressão ou paralisia respiratória
número, chega-se ao índice de aproveitamento de 30%. Um ano • Envenenamento
antes. os médicos usaram 32,6% das pessoas com mo11e encefá- • Síncope
lica que se declararam doadoras. • Traumatismo crânio-encefálico (TCE)
Os dados são da ABTO (Associação Brasileira de Transplan-
1es de Órgãos) e reúnem informes do Ministério da Saúde. Para
a enlidade, o aproveitamento foi menor, 20,8% no ano passado, + Causa Mortis Jurídica
porque o número do transplantes é comparado com o total de
doadores disponíveis, independentemente daqueles que não se
(de Causa Violenta)
manifestaram pda Joação. • Homicídio - Morte de um indivíduo cm mãos de outro,
A pesquisa abrange o período de vigência da lei de doadores, em forma dolosa, culposa ou preterintencional.
aprovada em fevereiro de 1997. A estatística reúne números dos • Suicídio - Morte de um indivíduo pelas lesôes que se
15 Estados que tinham centrais <le captação no ano 1999. Esse auto-intlige com o objetivo de pf>r fim à pr6pria vida.
aproveitamento é considerado abaixo do desejável. Na média • Acidente - Diz-se da morte que sofre um indivíduo por
mundial, de cada 100 casos, 70 a 80 são doadores efelivos. causas fortuitas e não-previsíveis, ou que, em sendo pre-
visíveis, não o foram por ignorância, negligência ou im-
prudência, isto é. por culpa.
• O Volume das Perdas
O elevado desperdício de órgãos mostra a precariedade no Lesões Intra Vitam e
setor de transplantes: há falhas na captação, falta de infra-estru-
lura para comprovar a morte encefálica e para manter o coração Post-mortem
do paciente batenclo/tí.mciommdo até o instante da cirurgia. + Reação vital
O Estado do Rio de Janeiro, por exemplo. perdeu um quarto + Sinais macroscópicos
dos doadores potenciais identificados no ano passado por falta • Hemorragia
de aparelhagem para comprovar o diagnóstico de morte encefá- • Coagulação sangüínea
lica. Quadro semelhante foi observado na Bahia. cm Minas Ge- • Retração de tecidos
rai:-.;, em Santa Catarina, no Pará e no Paraná, <le acordo com a • Reação inflamatória
ABTO. • Reação vascular
A situação de perda é maior do que se imagina. Há doadores =:> erítema e flictenas
em potencial que nem sequer são notificados ao Governo, prin- =:> arbores<.:ências de Lichtenbcrg, nas descargas de ele-
cipalmente por falhas de diagn6slico médico: é a subnot(ficaçüo. tricidade natural
Estudo feíto por José Osmar Medina Pestana. vice-presiden- =:::> marcas de Jcllinek, nas descargas de eletricidade
te do Hospital do Rim e Hípe1tensão cm São Paulo, identificou industrial
<.:erca de seis doadores potenciais por dia no município, a partir • Miscelânea
de um levantamento no I ML (Instituto Médico Legal) e em hos- =:::> cogumelo de espuma
pitais da capital. Mas. desses, apenas um ou dois foram cadas- =:::> fuligem nas vias respiratórias. aspiração de materi-
trados. '·O Brasil deveria ter cerca <le 5.000 a 6.000 transplantes ais
de rim por ano··. diz. Em 1999, entretanto, apenas foram realiza- =:::> embolias gordurosas e gasosas
dos 2.050 transplantes de rim, incluindo füJueles que tiveram =:::> bossas linfáticas. cu no sangue
pacientes vivos como doadores. =:::> espasmo caclav,~rico
108 .\vçál:'s de Tanatoloxia

• Provas microscópicas: pelo afluxo de leucócitos (Vcrde- a. Autólise


rau), pela histoquímica (Rackallio), pela ferriúna em gân- Processo autodeslrutivo de células e tecidos. que se opera sem
glio línfático regional. interferência externa, decorrente do aumento da permeabilidade
das membranas plasmáticas, possihilitando a liberação de cm:i-
mas proteolítícas contidas nos lisossomas ( "suidde bags "). Isso
leva a uma acidez temporária que, pela putrefação. se neutraliza
FENÔMENOS CADAVÉRICOS e inverte pela alcalinização progressiva, com valores <lc pH da
ordem de 8,0 a 8,5.
Fenômenos Abióticos Imediatos.
• parada cardiorrespiratória.
• inconsciência,
r b. Putrefação
É o processo de decomposição da matéria orgânica por bactéri-
• i mobílidade, a.<; e pela fauna macroscópica, que acaba por devolvê-la à condição
• insensibilídadc, de matéria inorgfuúca. A putrefação <lo corpo não é um processo
• palidez, resultante do evento morte, apena.<;, É llffl'ssâria a particípaçilo atim
• midríase ou dilala\ão pupilar, de bactérias cujas enzimas, e111 cmuiíçiíl1s.fámráveis, produzem a
• abolição do tônus muscular. desintegração do material orgânico. Daí 4uc, nas condições tér-
micas que impeçam a proliferação bacteriana, ou pela ação de
substâncias antissépticas. o cadáver não se putrefaz. As bactéri-
Fenômenos A bióticos Mediatos as encai.regadas da putrefação do cadáver, na sua maioria. são as
(Consecutivos) mesmas que. em vida. fonnam a flora intestinal do indivíduo.
Algumas das substâncias int,mnedidrías fonnadas clurame o
+ DESIDRATAÇÃO CADAVÉRICA processo de decomposição das profdnas si'io altamn11e fétidas,
Perda de peso devida à perda de água. que é da ordem de 8.0 tornando-se as rt•sponsáveis J>elo chl'iro característico dos cor-
g/kg de pe.w por dia, em fetos e recém-nascidos, e de 10,0 e 18.0 pos em putrefação. A decomposição catalítica <los glúcides e dos
g/kg de peso por dia. em adultos lípides praticameme niio l'xala odores 1wuseab111u/os.
Fs.se processo de decomposição paulalina é bastante lento. As
larvas de insetos. todas com atividade nccrofágica, se deixadas
+ ESt'RJAMENTO DO CADÁVER
agir lívremente. podem destruir o cadáver em um tempo bem
A perda de calor do corpo se dá por: cm1vecçüo, radiaçüo,
menor: de 4 a 8 semana.ç.
condução e evaporação. A queda da temperatura do corpo é da
Com efeito, em um cadáver exposto à intempérie, a putrefa-
ordem de 0,8 a /,O ºC por hora, nas primeiras 12 horas, e de 0,3
ção se vê acelerada, sendo certo que os c(1rpos enterrado.~ têm a
a 0,5 ºCpor hora, nas 12 horas seguintes. Na práti'Ca; admite-se
sua decomposíção retardada até cm oito vezes com rcla~ão am.
que o esfriamento se faz de maneira mais célere. cm uma média
primeiros.
de /,5 ºCpor hora.
Fases da putrefação. A putrefação se desenvolve em quatro
fases ou períodos distintos e consecutívos, a saber:
• LIVORESHIPOSTÁTJCOS
Manchas arroxeadas. que ~e iniciam como um fino pontilhado l. "- Período cromático (períodtJ de coloração, período das
(sugilação hipostática) que, por coalescência, se transformam em manchas). Tem ínícío, cm geral, de 18 a 24 horas após o
manchas maiores e que resultam do sangue acumulado, por conges- óbito. com uma duração aproximada de 7 a 12 dias. de-
tão passiva. naquelas regiões que ocupam a posição mais decli- pendendo das condições climáticas. Inicia-se pelo apa-
ve. Isso tanto é válido para a pele quanto para os órgãos internos. recimento de uma mancha esverdeada na pele da fossa
ilíaca direita (mancha verde abdominal). cuja cor é de-
vida à presença de sulfometaemoglobintL. Nos r,~cém-
t RIGIDEZ CADAVÉRICA:.._--: nas<:idos e nos l{/o~ados, a mancha verde é torácica, e
Substituí a flacídcz inicial e começa a instalar-se entre 30 não abdominal.
mint11os e 6 horas após o óbito. Trata-se d~ um processo progrcs- 2. "-Período enfiumato.w (período gasoso, períodt)
si vo que segue uma marcha descendente (ld de Nysten): múscu- deformativo). lnícia-sc durante a primeira semana e se
los mandilmlares; músculos do pesco\o; músculos do tórax: estende, aproximadamente, por 30 dias. Os gases produ-
músculos dos membros superiores; músculos do abdome; e zidos pela putrefação (notadamcnte gás sulfídrico. hidro·
músculos do~ memhros inferiores ..pru:.Jillimo. O processo inverso gênio fosforado e amônia) infiltram o tecido celular sub-
- resolução da rigidez - ocorre entre as 24 e 36 horas seguin- cutâneo, modificando, progressivamente, a fisionomia e
tes ao óbito, cm média. a forma externa do corpo. Essa distensão gasosa é mais
evidente no abdome e nas regiões dotadas de tecidos
arcolares. como face. pescoço, mamas e genitais exter-
Fenômenos Transformativos do Cadáver nos. Os próprios gases desLacam a epiderme do córion,
formando extensasflictenas putrcfmi vas. cheias de líqui-
São 0:5. processos abióticos que transformam o cadáver, quer
do transudado.
pela sua destruição, quer pela conservação.
3. "- Período coliquatívo (período de redução dos tecidos).
h1ícía-se no fim do primeiro mês e pode estender-se por
• FE:\Ô'.\IEM)S DESTRUTIVOS meses ou até 2 ou 3 anos. Caracte1iza-sc pelo amoleci-
= ...\utôlisc. mento e desintegração dos tecidos, que se transfom1am
~ Putrefação. cm uma massa pasLosa, semilíquida. escura e de íntensa
~ \ 1açera(,'.ào. f'ctidez. que recebe o nome de putrila~em.
No~-tíes de J'ana1ulogia 109

A atividade das larvas da fauna cadavérka (miase h) temperatura elevada. acima dos 40 ºC;
cadavlrica) auxilia grandemente na destruição total dos c) abundante ventilação.
restos de matéria. Como mencionado. os insetos e suas O processo tem início desde logo, uma vez que é impedida a
larvas podem desuuír a matéria orgânica do cadáver mm
putrcfa;ão e se completa entre seis meses e um ano. Todavia. em
excrema rapidez (4 a 8 semanas). climas propícios, a mumificação pode ocoITer cm poucas sema-
4. "- PeríodtJ ,te esqueletfr.ação. No final do período
nas.
wliquati vo. a putrilagem acaba por secar. desfazendo-se
Tomo decorrência da perda de água. a pele fica coriácea. re-
em pó. Dessa maneira. exsurge o esqueleto ósseo. que fica
trai-se, enruga e endurece, adquirindo uma coloração terrosa.
descoberto e poderá conservar-se por longo tempo.
entre marrom e preto. O processo tem início na parte distal dos
quirodáctilos e dos pododáctilos, nos lábios e no dorso e ponta
e.Maceração do nariz. A perda da água de constilui~ão faz com que o corpo
É o processo de transformação destmti va durante o qual ornrre diminua notavelmente de peso. chegando a atingir valores da
o amolecímento dos tecidos e órgãos quando os mesmos fkam ordem <le 1O a 5 kg, ao todo.
submersos em um meio líquido e nele se embebem. O maís fre-
qüente é que aconteça com a água e o líquido amniótico.
e. Petrificação
Na maceração, a pele toma-se esbranquiçada. friável, corruga-
Trata-se de um processo transfonnalivo cada vez mais raro. em
se e faz com que a epiderme se solte da derme e possa até seras-
que ocorre a inliltração dos lecidos do cadáver por sais de cálcio.
gar em grandes fragmentos. Isso é bastante evidente nas mãos,
os quais acabam por prccipilar cm meio às estruturas celulares e
onde a pele de desprende a modo de "luvas''. Externamente, a
teciduais. Assume o aspecto de uma verdadeira ·'calcificação"
derme, pelas razf>es supracitadas. lica exposta, mostrando-se em
generalizada. Sói encontrar-se, quase que exclusivamente. nos
geral vermelho-brilhante, luzidia. por causa <lo pr6p1io edema que
embriões ou fetos mortos, por vezes intra utero e, mais frcqüen-.
a embebe e a toma túrgida.
temente. nos resultantes de gravíde7.es ectópicas, tubárias ou pe-
ritoneais, retidos. nos quais, até pelas próprias características in-
+ FENÔMENOS CONSERVADORES dividuais do meio ou do local, o corpo asséptico. em vez de en-
Nem sempre o destino do cadáver é a sua trnnsfommção des- trar em maceração, sofre uma incrustação por sais calcários. O
trutiva. Muitas ve7.cs, as l'onnas macrosc6picas ou anatômicas resultado desse processo é a formação <le um litopédio (criança
podem ser relati vamenle conservadas pela ocorrência <lc proces- de pedra). somente passível de retirada cirúrgica.
sos bio16gicos ou físico-químicos, naturais ou artificiais, que
incluem a .mp,mij'icação. a mumificação, a petrificação e a
d. Coreificação
ctJre(ficaçãtJ.
Representa uma modalidade de processo transformativo que
::::} Saponificação, ocon-e cm cadáveres conservados em urnas metálicas - nota-
::::} Mumificação, damente de zinco galvanizado - hermeticamente seladas. O
::::} Corei fieação, amhicntc assim criado dentro da urna inibe parcialmente os fe-
=:;. Petrificação. nômenos de decomposição. A pele do cadáver assume o aspec-
to, a cor e a consistência unifonne de couro recentemente curtí·
a. Saponificação do. Começa a ohscrvar-se no primeiro ano de colocação doca-
Trai.a-se de um fenômeno cadavérico que ocorre quando o dáver na urna metálica, atingindo o seu 1míximo no segundo ano.
corpo. ou parte dele, é colocado cm um meio que obedeça a duas Excepcíonalmente, pode completar-se cm apenas dois ou três
exigências: meses.

a) ambiente muito úmid11 (pântano, fossa séptica, alagado ou


terra argilosa); e
b) ausência de ar ou e.<1ctissu ventilação. CRONOTANATOGNOSE
O processo tem início por volta de dois meses após a
inumação. completando-se cm tomo de um ano. A putrefação 11 o capítulo da Tanatología que estuda os meios de determi-
sofre um desvio, pára. e algumas enzimas microbianas provo- nação do lcmpo transcorrido entre a mo11e e o exame necroscó-
cam mudanças nas estruturas moles. que se lransfonnam em pico.
sabões de baixa solubilidade. conhecidos pela denominação ge- Como é cediço, essas determinaçfü:s se haseiam nos prazos
nérica de adipocera. Esta é uma substância, de início, branco- cm que se processam os diversos fenômenos transformativos,
amarelada, de consistência mole, com aspeclo caractciistico de dcsu·utivos ou conservadores que podem ser encontrados no ca-
sabão ou de queijo, e com um cheiro próprio. rançoso. sui gene.- dáver. Todavia, é fácil compreender que a maioria das avalia-
ris. Com o passar do tempo. essa massa passa a apresentar uma ções possíveis possuem valor apenas aproximativo.
cor mais escura. amarelo-pardacenta, tornando-se mais seca, Com efeito, Lo<las elas inlegrarn um grande número de variá-
dura, friável e quebradiça. veis, a maioria das quais dependentes de valores mesológicos
zonais, de características do próprio indi\'íduo cujo cadáver se
pretende examinar e atreladas a um sem-fim de circunstâncias
b. Mumificação que influenciam. ora acelerando, ora retardando, ora apenas al-
Essa modalidade de fenômeno cadavérico, que é uma terando, a marcha natural dos fenômenos cadavéricos.
dessccação rápida, parn ocorrer depende, exclusivamente, das Desnecessário enfatizar que, quanto maior o tempo escoado
condições em que o corpo é colocado: enu·e o óbito e o exame. tanto maior será a dificuldade na deter-
a) ambiente muito seco. em torno de 6% de umidade relati- minação precisa do lapso transcorrido. em horas ou dias, de!-.<lc
va do ar; o decesso.
J10 ,-~-,ôt'} de Twwrologia

Dt\ cr~us calendários de cronotanaiognose têm sido cla- Duas regras podem ser usadas a seu respeito:
ri,,rados. tomando como base as transformações "quod ple-
a. Quanto ao aparecimento- surgem na primeira meia hora
ru111q11e accidit" nos cadáveres e através das quaís é possível
após o óbito. mas apenas se tomam evidentes entre a 2." e
uma \'eríficação, ainda que aproximada, dos tempos transcor-
ridos. 3." horas, e podem não aparecer nas regiões comprimidas.
h. Quamo àfixaçiio - tornam-se fixas. isto é, não mudam
de localização quando se muda a posição do cadá.ver. após
6 a 15 horas.
Técnicas Cronotanatognóticas
Os livores cadavéricos:
Compreendem a observação de modificações e lcnômenos que
se ínstalam progressivamente no cadáver, bem como exames • são difíceís de observar nas pessoas melanodermas:
complementares que permitem datar, com relativa precisão den- • podem não ser observáveis mesmo em lcuco ou xamodcr-
tro de uma faixa temporal, o momento do óhito. mas, quando, nessas pessoas, o óbito ocorre em condições
de anemia aguda após hemorragias macü;as, e
• podem observar-se ainda cm vida, na fase agônica ou ter-
+ ESTIMATIVA DO MOMENTO DA MORTE minal, em pessoas extremamente debilitadas e com hipo-
RECENTE tensão arterial.
Esfriamento do Cadáver (Algor Mortis)
O e.~fria11wn10 do cadáver é um fenômeno ahiótico imediato Crescimento do Pêlo
que pode ser utilizado, com ,:randes ressalvaJ. e que sói ser útil, Mesmo após a morte, alguns fâneros, como pêlos e unhas.
pela sua praticidade, na cstimati va aproximada do momento da continuam a crescer. Os primeiros crescem à razão de 2 / micra
morte. por hora, daí sua medição poder ser utilizada para determinar a
Com efeito, sabe-se que o corpo, uma vez cessadas as fun- hora do óhito.
ções vitais, pa<;sa a perder calor, por diversos mecanismos - con-
vecção, condução, irradiação e evaporação - à razão de 1,0 ºC NÍ\'el de Potássio no Humor Vítrt\,l
a 1,5 ºC por hora. igualando em temms gerais. a temperatura do A quantidade de potássio. avali;da em miliequivalentes por
ambiente, no máximo, até a 24." hora apcís o decesso. litro, aumenta, progressivamente. à medida que transcorre o tem-
Não é necessiírio lembrar que numerosos fatores, como a tem- po ap6s a morte, sendo os valores progressivos confütveis, ao
peratura ambiente, o arejamento do local, a temperatura do cor- menos para os climas quentes, apenas para as primeiras 12 ho-
po no momento do cíhito, o estado nutricional. a camada de ras após o óbito. Contrariamente, em climas frios, a precisão pode
panículo adiposo, as vestes que cobrem o cadáver etc .. podem estender-se por 24 horas.
modificar os tempos supra-referidos. Assim, foi possível construir uma tabela que permite, a partir
das avaliações do teor de potássio no humor vítreo do olho8.
Rigidez Cadavérica (Rigor Morlis) calcular o tempo transconido desde o decesso:
Também a rigidez cadavérica poden1 ser utilizada para aqui-
latar o tempo transcorrido desde o óbíto, lembrando que, à se-
melhança do que acontece com o esfriamento do corpo, nume- HORAS DESDE MÁXIMO MÉDIO MÍNIMO
rosos são os fatores que podem ora acelerá-la (frio), ora retardá- A MORTE mEq K/1 mEq K/1 mEq K/1
la (calor), donde que nunca deverá ser assumida como valor ab-
soluto. mas apenas de oriemação. 1a 3 5,ó 4.70 3,0
Algumas regras foram estabelecidas, por diversos autores,
para permitir a sua estimativa em relação ao momento da mor-
3a5 7.2 5.66 4,3
te: 5a7 7,8 6.58 5,3
a. Regra de Bonnet - A rigidez se inicia logo ap6s a morte, 7a9 9.6 7.45 6,2
atingindo o seu lotai desenvolvimento até a 15.ª hora, de-
saparecendo depois lentamente. Acaba quando se instalam 9a ll 12,9 9.()2 6,8
os fenômenos destrutivos de putrefação.
b. Regra de Fávero - O processo se inicia logo na primeira 1 a 13 12.6 10,31 8,8
hora e generaliza-se entre 2 e 3 horas, atingindo o seu
> 13 12,6 10,41 9,0
máximo após 5 a 8 horas.
e. Regra de. Nide.rkom -Considera-se precoce a rigidez que
ocorre até a 3.ª hora; é normal entre a 3." e 6." horas; diz-se
Alterações Oculares
tardia quando sobrevém entre a 6.ª e 9." horas. e chama-se
Já foram alvo de estudo em outras parles deste trabalho a~
de muito tardia quando ocorre depois da 9! hora.
seguintes:

\fanchas de Hipóstase (Uvor M,>rtis) • midríase (dilatação pupilar);


Começam a aparecer sob a forma de um pontilhado • tela viscosa da córnea (tela albuminosa da córnea);
1.rngilaf(>es) cujos elementos coalescem para formar placas de
• segmentação da coluna sangüínea dos vasos oculares: e
cor \ ariávcl, dentro das nuanças vermelho-arroxeadas, em de- • perda da !urgência dos globos oculares.
pendência da causa mortis. Desaparecem pela compressão, in- Entre nós, Rodrigues aprimorou técnica de tonometria ocu-
clusi\ e digital. elemento este que serve para diferenciá-las das lar capaz de avaliar essa perda estabelecendo uma correlação
equimoses. que são rnnstanles. confiável entre a saída de líquido (desidratação) e o tempo trans-
No<;oes ,fr Tmwtofogia I J1

...wrido desde o decesso. Trata-se de uma lécnica simples, rápi- verde-enegrecida ao corpo todo até o fim da primeira se-
J;1. de fácil execução e de ínfimo custo. A tonvml'lria ocular mana.
,)terece uma margem de erro de apenas uma hora. quando o es- • Período enjisematoso: inicia-se por volta da 24." hora. sen-
tudo é realizado nas primeiras 24 horas. do cerco que os edemas de face, genitália e circulação pós-
tuma de Brouardel aparecem entre as 48 e 72 horas.
Conteúdo Gástrico • Pedodo coliquatiJJo: tem início no fim da primeira sema-
O tempo de esvaziamento do estômago varia de indivíduo para na e prolonga-se de maneira diversa, conforme o local em
indivíduo. em parte pelo tipo dos alimentos ingeridos, em pane que se encontra o cadáver.
pelas ídíossincrasias normais ou patológicas de cada pessoa. • Período dti esqueletizaçãn: começa entre a 3.ª e 4.' sema-
Destane, o estudo do conteúdo gástrico do cadáver pode ser de nas, podendo ocorrer muito mais rapidamente nos cadá-
utilidade. de modo a verificar cm que estado de digestão se en- veres expostos.
..:ontram os alimentos.
Com efeito, eis que as principais substâncias constituinles dos Cristais de WESTENHÕFER - ROCHA - VALVERDE
:il imentos. bem como os reflexos hommnais autônomos, entre o Trata-se de cristais incolores, de forma prismlitíca ou lami-
estômago e o duodeno, são decisivas para influenciar o tempo nar, de tamanho variável. facilmente quebradiços, que aparecem
,ie permanência dos alimenlos na câmara gástrica. Assim. os no sangue do cadáver e que resultam da decomposição das he-
~lúcides ou hidratos de carbono são os que aprcscnlam uma per- mácias. Tingidos pelo ferrocíaneto de potássio. adquirem cor
manência mais breve e, em contraparlida. os lípides os que ofe- azulada. em face do seu conteúdo férrico. enquanto, pelo trata-
recem um trânsilo mais demorado, sendo certo que as proteínas mento com iodo. assumem cor castanha.
,1eupam um lugar intermediário. Seu valor cronotanatogné>tico reside no fato de que esses cris-
Algumas palologias tanto do estômago como do duodeno - tais aparecem no sangue do cadáver somente por volta do 3.0 dia
ksôes do plexo de Auerbach. estenoses duodenais pós-ulccro- da morte, e sua presença não maís é achada após o 35.º dia após
~.ts ele. - podem aumentar bastante esses tempos. ao passo que o óbito.
frnômcnos como o dumpiug, podem diminuí-los.
Quando o conteúdo do estômago do cadáver exibe ali mcnlos
não digeridos, pode-se aventar a hipótese de que alguma refci- Fauna Entomológica
..;ào foi realizada nas últimas duas horas antes do óbito. O estágio da metamorfose dos dípteros cujas larvas têm ati-
Já foi apresentada uma rela\·ão de alimentos que podem ser vidade necrofágica pcm1ite cslahelecer uma cronologia da mor-
encontrados no estômago e cujo achado pode servir como índí- te. Existem estudos adaplando as observações dos aulOres euro-
..:io cronológico do lapso transcorrido desde a sua ingestão, con- peus para o Brasil. mas são pouco msados .
forme relacionado. com adaptações. no quadro a seguir:
• ESTIMATIVA DO TEMPO DE MORTE FETAL
INTRA UTERO
TEMPO DE Utiliza-se apenas para os casos de morte fetal recente e ba-
PERMANÊNCIA NO seia-se na evolução do processo de maceraçao. Assim. podem
ser cnconlrados os seguintes estágios:
ESTÔMAGO DO
VIVO, EM HORAS TIPO DE AL™ENTO a) Grau O: caracteriza-se pela pele de aspecto bolhoso e in-
dica um tempo de óhilo de menos de 8 horas.
1 a2 água. chá, café, leite
b) Grau /: identifica-se pelo início do descolamenlo da epi-
2a3 massas, ervilhas, carne de derme e aponta para um tempo que oscila entre 8 e 24 horas.
ave, carne bovina, bolachas. e) Grau 2: exibe grandes áreas de descolamento cutâneo, e.
laranjas nas cavidades serosas, verifica-se a ocorrência de derra-
... mes serossanguinolentos (avermelhados), o que indica
3a4 pão, arroz, carne assada, óbilo de mais de 24 horas.
verduras cozidas. presunto d) Grau 3: caracteriza-se pelo fato de os derrames das cavi-
dades serosas se tornarem turvos e o fígado assumir colo-
4a5 carne de porco. legumes,
ração amarelo-amarronzada; aponta para uma cronologia
couve
de morte cm tomo de 48 horas.

Paralclamcnle, e desde que conhecidos os hábitos alimcnta- • ESTl'.\.1ATIVA DA SOBREVIVÊNCIA FETAL


r~s da vítima, e.g. horários de refeições, tipos de alimentos inge- No encontro de cadáver de recém-nato, a estimativa do tem-
ridos etc., os achados do conteúdo gástrico poderão auxiliar. ainda po de sohrcvivêncía fecal até o óbito pode ter interesse. Todavia.
mais, na avaliação do momento do óhito. é mister cnfaliLar as dificuldades práticas com que se defronta o
legista. lendo em vista fatores mesológicos, variahilídadc indi-
vidual e condições do local e do corpo (e.g. vestes). Apenas como
Estimativa do Momento da Morte .Não-recente orientação geral, apresentamos a enumeração a seguir. cx.u:aída
de diversos autores, que deve ser utilizada atentando para as res-
Putrefação salvas já mencionadas:
Algumas regras podem ser estabelecidas de modo a utilizar o Mintans 011 poucas horas no post-parto - Tumor do par-
avanço do processo putrefalívo na cronotanatognose: co acentuado: sangue materno sobre o corpo; pele avermelhada
• Período cromático: tem início com a mancha verde. entre coberta por vérníx caseoso; cordão umbilical branco-azulado,
a 18." e 24." horas. e a sulfomctcmoglobina confere cor com perda progressiva do hrilho e turgência; cslômago com
.:;_:. ~:-iliva e muco: pulmões com áreas de expansão e atdecca- verificar o comportamento de cada um deles: se afundam, o
pulmão não respirou; caso flutuem, houve respiração.
''ª·\ 'd rias horas até 24 horas -Tumor do pano em fase de ab- 4." t,·mpo - os fragmentos sccionados no tempo anterior
.,orção: vérnix caseoso res!-.ecado; cordão umbilical achatado e são espremidos. sempre sob a água, contra a parede do
com início da orla de eliminação; evacuação de mecônio; míeli- recipien1e, observando-se a saída de pequenas holhas de
nização do nervo óptico. ar junto com sangue: ahandonados os fragmentos, estes
24 a 48 horas- Tumor do parto mais reduzido; descamação também vêm à superfície. quando, então, a prova se consi-
epidérmica, cordão umbilical bastante dessecado, com orla de dera positiva.
eliminação quase completa; maior quantidade de medmio eli-
Podem existir causas de erro na realização dessa prova,
minado.
como: putrefação, insuflai.;ão, respiração imra mero, con-
48 a 72 horas - Tumor do parto quase desaparecido; cordão
gelação. cocção. hcpatização, atelectasia secundária. asfi-
umbilical coriáceo: aumento da descamação epidérmica:
xias mccânirns internas etc. Nesses casos, o exame histo-
inocorrência de mecônío.
lógico <lo órgão pode esclarecer eventuais dúvidas, ao ve-
4. º ao 5. º dias - Tumor do parto desaparecido: cordão um-
rificar o aspecto histológico do pulmão, cujo epitélio de
bilical mumificado; intensa descamação epidérmica: mieliniza-
monoes1rntificado cúbico, quando o <Írgão não respirou,
ção completa do nervo óptico.
passará a monoesu·acificado plano apôs as primeiras ins-
6." dia - Queda do cordão umbilical; redução da descama-
pirações (Paulete Vanrcll. 1975).
ção epidérn1ica; início da obliteração e fibrose dos vasos umbi-
2. Tátil de Rojas: quando <la palpa<;ão interdigital, o parên·
licais intra-abdominais.
quima pulmonar dá a sensação de fofura e crepitação. caso
Acima de 8 dias - Diminuição maior da descamação
tenha havido respiração.
epidérmica; oblíteração completa dos vasos umbilicais incra-
3. Óptica de Rouchut & Casper: consiste na ohservação da
abdominais e fechamento da CJA (foramen Ro1alis).
supertkie do pulmão que. de um aspecto parenquimato-
so. quando não há respiração, assume um aspecto de mo-
• PROVAS DA VIDA EXTRA-UTERINA saico. em face de ocoITercm mudanças circulató1ias que
Em situações especiais. como, por exemplo. nos casos de circunscrevem os lóbulos pulmonares.
suspeita de infanticídio, torna-se necessário verificar, preliminar-
mente, se estamos em presença de uma figura dei ituosa possível Numerosas outras provas têm sído descritas para estabelecer
ou, simplesmente, de um crime impossível. a ocorrência de vida extra-uterina com base na respiração feLal.
Com efeito, eis que se faz necessário saber se a vítima do Todavia, a maioria delas. pela sua complexidade ou pelo seu
suposto infanticídio leria vivido ames do cometimento do ilkito primitivismo, tornaram-se obsoletas e seu valor é meramente
ou se, apenas, se tratava de um natimorto, cuja condição não lúst<Írico.
chegou a ser constatada pela mãe antes da prática de seu ato.
As provas destinadas à verificação da vida fetal extra urero b. Dodmasias Respiratórias Indiretas
- designadas como docimasias - podem ser divididas em três Denomina-se assim o umjunto de provas que visa vc1if'icar
grandes modalidades, a saber: se o rccém-nasddo respirou, utilizando para 1anto outros órgãos
que não os pulmões. As mais utilizadas são:
a) respiratórias diretas e indiretas;
b) não respiratórias; e l. lJocimasia gastrointestinal de Breslau: baseia-se na exis-
e) ocasionais. tência de ar no tubo digestivo, ingres:sado por deglutição toda
vez que o feto tenha respirado. Após forte ligadura acima
a. Docimasias Respiratórias Diretas cio cárdia e na ampola ileocecal. scc:iona-sc o tubo digesti-
· Todas as provas respiratórias da vida exrra-t11erino se apói- vo, que é, então. retirado e colocado cm um recipiente com
am, basicamente, em um princípio estatuído por Galeno há qua- ,ígua. Se houver llutuação, é porque o feto respirou; se afun-
se 2.000 anos: darem. é porque não houve vida extra-uterina. Nos casof> cm
que, durante as manobras de ressuscitação. houve insufla-
.;Substantia pu/monalis per respirationem ex rubra ~ra1 i 1
ção de ar no estômago do feto, apenas esse órgão flutuará,
dt•11sa in alha111 lerem ac raram transfertur'' enquanto o resto do tuho digestivo afundará na água.
2. Docimasia auricular de Wreden-Wettdt-Gelé: hascia-se
1. Prova hidmstática de Galem,: é realizada em quatro tem- na ocorrência de ar na cavidade do ouvido médio, pene-
pos, iniciando-se pela ligadura da traquéia logo ap6s a trado através da tuba timpânica (trompa de 1-~u.uáquio)
abertura do corpo e preparando-se um recipiente grande desde que o recém-nascido tenha respirado. Consiste na
contendo água abundante: punção da membrana tirnpânica. com a caheça do feto
mergulhada na água; caso ele tiver respirado, surgir:í uma
1." Wmpo- mergulha-se o bloco das vísceras torácicas na holha de ar que sobe a14 a superfície do recipiente.
água: havendo flutuação, houve respiração: logo. houve
vida, porquanto o próprio Galeno já afirmava: "respirare
vívere esl ". e. Docimasias Não-respiratóJ"ias
2. '' rempo - sem retirar o bloco da água. separam-se os Trata-se de provas que não se haseíam na respiração fetal, mas
pulmões e, após secionar os hilos dos órgãos, observa-se cm outras atividades vitais desenvolvidas pelo recém-nascido
como a deglutição. Existem várias, mas as mais utilizáveis são:
se há flutuação: a interpretação é a mesma do prüneíro
ternpo. 1. Docimasia siálica de Dfoit.z-Souza: consiste na pesquisa
3." tempo - ainda sob a água, .separam-se os lobos pulmo- de saliva no estômago do feto. A reação posili va é um in-
nanes. cortando-os a seguir cm pequenos fragmentos, para dicativo de que existiu vida extra-uterina.
Noçiies de Tanato/ogia 113

2. Oocimasia alimentar de B<1thy: consiste na pesquisa de plicando problemas de Direito Civil, e principalmente de heran-
leite ou outros alimentos no estômago do feto; referidos ça. morrem.
elementos não existem no natimrnto. Premoriência é a ordem cronológica dos óbitos das diversai-
3. Docimasia bacteriana de Malvoz: os fenômenos pmrefa- vítimas em um me-.mo evento. De regra, nesses casos, é de ex-
ti vos, no feto natimorto, começam pelos orifícios da hoca. trema importância tentar determinar a seqüência dos óbitos, no-
nariz e ânus. Nos casos em que o feto teve vida extra-ute- radamente por problemas patrimoniais, de herança.
rina, a pucrefação se inicia pelo tuho digestivo e pelo si-.- Não se trata de um problema fácil de resolver. É necessária
tema respírató1io. boa habilidade do legista, grande poder de ohservação e uma
avaliação global do quadro como um todo para, poste1iormente,
d. Docimasias Ocasionais levando cm consideração:
Não -.e trata. a rigor. de provas técnicas, mas de observações • natureza da lesões.
para cuja ocorrência se toma necessário que o feto tenha tido vida • local dos ferimentos,
extra-uterina.
• intensidade das lesües,
1. Corpos estranho.'/: a presença de corpos estranhos nas vias • condições físicas das vítimas e
respiratórias do cadáver implica. necessariamente, que o • idade das vítima-.,
feto tenha feito a sua inspiração, donde que tenha respira-
poder chegar a uma conclusão diagnóstíca. rnnsiderando, afora
do.
a diferelllc gravidade dos ferimentos, que os mais tentes preva-
2. Sinais de sobrevivência: como descamação cutânea; orla
lecem. pela lógica natural, sohre os mais fracos e os mais jovens
de eliminação periumbilical: dessecamento e mumificação
sobre os mais idosos.
do cordão umbilical etc
3. Le.w1es traumátictts: quando o feto apresenta lesões trau-
m,íticas com características inequívocas de terem sido pro-
duzidas intra vitam, é irretorquível que ele teve vida ex- BIBLIOGRAFIA
tra-uterina.
Adjutantis, G. Estimation or lhe lime of death hy potassíon levei in
+ SOBREVIVÊNCIA. HIPERMORTALIDADE, vitreous humor. Forensic Sei., /:55-56. 1972.
PREMORIBNCIA I!: COMORJF.NCJA Alcântara, H.R. Eutanásia. /11: Deonwloiia e Diceolor:ia. Normas t.'/i-
cas e L,egais para o Exercício da Medit".ina. São Paulo: LTr Editora.
S0brevivê11da é a condição, pouco freqüente, cm que um in- 1979, pp. 153-154.
divíduo é capaz de permanecer vivo a contar do momento cm Akântara, H.R. Perícia Médira Judicial. Rio de Janeiro: Ed. Guanaha-
(Jue recebeu lesões de tal magnitude que poderiam ser responsá- ra Dois, 1982.
veis pela sua morte. Almeida Jr.. A. & Costa Jr., J.B.O. Líçi,es de 1Hedici11a {,eia/. São Pau-
Durante esse lapso. emhora letahnentc ferida, a vítima pode lo: Editora Nacional, 1977.
locomover-se, executar movimentos. enfim, cumprir atos que, Arroyo Urieta. G. & Conzálc7, M.L. l'lanteamicnto medicolegal dei
depois, parecem impossíveis em face das lc-.ões que apresenta e çoma sobrcpasado. Rev. F.sp. 1Wed. legal. /0:51-68, 1983.
que, por isso, soem provocar grandes dúvidas ou levam a esta- Arroyo t:ricta. G. Muerre cerehral. Esmdio comparativo de a~pectos
belecer hipóteses completamente errôneas que, não raro, preju- legales y eritcrios clínicos. Rev. F.sp. lvled. Leia!. J l :40-81, 1984.
dicam e retardam bastante as investigações. Baccino, E. er ai. Outcr car rcmperature and time of dealh. Fore11sic Sei.
lnt., 83(2): 133-146. 1996.
Assim, lesões encefülicas graves. por exemplo por projéteis
Bcçak, W. & Paulete Vanrell.J. Técnirns de Ciwlogia e Hiswloiia. Rio
de arma de fogo, desde que não atinjam centros vitais. podem de Janeiro: Lívro Técnico Científico IL'l'C), 1976.
permitir que a vítima revide a agressão sofrida, po-.sa lutar com Bcncsch. K. Aspectos legales de la çcrtificacíón de la mucrtc cerebral y
seu vilimário e. por vezes. até provocar-lhe forimcntos ou matá- de la suprcsi(m dei aporte 11ilal. ln: Schocmecker. W. Trmado de
lo. Medicina Critica y Terapia 111/ensirn. Buenos Aires: Ed. Panamcri-
É conhecido, tamhém. o caso das lesões cardíacas de peque- cana. 1985, pp. 1240-1250.
no tamanho que, ora pela sua incidência oblíqua, ora porque Berro. G. & Balbela, B. !-õenómcnos cadavéricos. ln: f1,frdicina Legld.
podem ser obliteradas por pequenos coágulos. lentificam oure- l\1ontcvidéo: Dcpto. de .Medicinal .cgal. Faculdade de \.kdícina de
tardam a hemorragia. que acabará sendo letal, quer por anemia. Monlevidéo. 1989. pp. 136-140.
quer por tamponamento. Berro. G., Ü(mLalez . .I.C. & :'vicsa, G. Oíagmístiço de muerle. Ili: /1.•frdi-
ci,w Legal. Monlevidéo: Ocpto. de :vtedícina LcgaL Faculdade de
Hir,ermortttlülade é a condição em que uma situação atual é
Medicina de Montevidéo, 1989, pp. 127- 11:i.
capaz de provocar um agravamento. muitas vezes terminando em Bonnct. E.í-.P. TanatodiagnúsLico. ln: iWedicina l.egal. 2." cd. Buenos
óbito. de uma moléstia que a vítima já porh)va. Aires: Lópcz Libreros Editores. 1980, pp. 282-294.
fa-.c conceito é de grande importância para a Medicina Le- Borges. .l.f. Levantamícnto dei cadáver. F1wgo (:vtonll:vidéo ). 6:53-:'í7,
gal aplicada à lnfortunística. porquanto é n'esse ramo das ciênci- 1982.
a~ que, com maior freqüência. se dá a ocorrência de agentes trau- Borges. J.F., Mesa, G. & Lombardi. E. Levanlamicnto dei cad,íver. ln:
máticos agirem sohre o organismo da vítima, já núnado por uma ll1edicina Legal. MomevidéQ: Ocpto. de Medicina Legal, Faculda-
doença consumplÍ va, infecto-contagiosa. profissional ou do tra- de de Medicina de Montevidéo, 1989, pp. 156-161.
halho. Nessas condic.;õcs. aquele mal que por si próprio levaria o Borri, P. apud Scigliano. H., Berro, G. & Soi;:a, A. formas ele muerte.
trnhalhador ao óbito, vê-se agravado pelo traumatismo sofrido. Ili: Medídna Legal. l\.fonrevídéo: Depto. d<.' Medicina Legal, Facul-
dade de Medicina de Montcvídéo. 1989, pp. 141-155.
somando-se e, destarte. acelerando a superveniência da morte.
Brouardcl. P.C. L · íncertitudc: des signcs de la nwrt et le~ inhumatíons
Cmnoriência é uma figura jurídica, e não um conceito médi- prémat.urécs. ln: Lu Mort et la Mort Subi/e. I'" ed. Paris: Ed. J. B.
"o-lcgal, criada para dar cabo de situações ambíguas na-. quais, Bailliêre. 1895. pp. 15-35.
em decorrência de um mesmo evento infort.unístico, dum; ou mais Correa, H. Concc:plo y diagnóstico de muene cerebral. !111es1 .. Analg..
pe~soas que têm nexos familíares, jurídicos ou comerciais ím- Reanim .. 3:12-15, 1986.
114 Noçlies de Tanatologia

Cunha, M.S. Cronologia dos fenômenos cadavéricos em São Paulo. Tese. Ponsold. /\. Manual de Medicina Legal. Barcelona: Editorial Ciemíli-
São Paulo. 1925. co Médica, 1955.
Derobert, L. Signcs ct diagnostic d~ la mort. ln: Médecine. Légale. Pa- Prévost, L., Boulanger, P. & Lauzon, A. tlémenis de Crimínalistique
ris: E.M.C. Plammarion, 1974. pp. 155-161. Aplíquü. 2." cd. Québcc: Modulo Éditcur, 1990.
Derobert. L. Estimation du moment de la mort. Examcn de lahoratoirc. Puppo Touriz. H .. Mesa Figucras, G .. Soiza Larrosa. A., Rcycs Cibils,
ln: Méd,!cít1e l.éxale.. Paris: E.M.C. Flammaríon. 1974, pp. 204-207. J.M. & Garcia Delfante. A. Medicina Legal. Montevidéo: Librcria
De Saram. G. Estimation oi' death hy medical criteria. Foremic MP.d. Médica Editorial, 1985.
J., 4:4, 1957. Reycs Cibils, J.M. Diagnóstico de muerte. ln: Puppo Touriz, H. e./ ai.
Favcro, F. Medicina Legal. 10." ed. Belo Horizonte: Livraria Itatiaia Medicina l.egal. Montcvidéo: Ed. l .ibreria Médica, 1979, pp. 95-100.
Editora Lula., 1975. Raekallio, J. Detennination ofthe age of wounds by histochemical and
Fiddcs, F. and Palten. T.A. Pcrcentage method for representing the fali hiot'hcmical mcthods. Forensic Sei .. /:3-ló, 1972.
in hody rcmperature afler death. Forensic: Med. J., 5:2-15. 1958. Raekallio, J. Bim:hemica\ distinction hctween ante-mortem and post-
!-'rança, G. V. de. Tanatologia ~edicolegal. Conceito atual de morte. ln: mortcm skin wounds hy isoclcctric focusing in polyacrylamide gel.
Medicina Legal. 6." ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan. 2001, 1. Experimental Investigalíon on arylaminopcptídases. 7.acchia.
pp. 235-237. 7:281-293. 1971.
Gaches. J. Contribuitíon á l'étude du coma dépassé ct de la mort Rainy, H. On the coolíng of dead bodie~ as indicatíng the lenghtoftirne
eércbrale. Sem. Hop. Paris, 22:1487-1497, 1970. sínce death. Glasgow Med. .!., l :323-330, 1868.
Grcnvik, A. Muerte cerebral y pérdida permanente de la concíem:ia. ln: Rcntoul, E. and Smith, H. Glai.vter's Medical .lw'isprudence and
Schoemeckcr. W. Tratado de. Medicina Crírica y Terapia J111ensiva. Toxicology. Edimburg: Churchill Livingstone, 1973.
Buenos Aires: Ed. Panamcricana, 1985, pp. 1222-1240. Rodrigues, A.C. Comribuiçào para o estudo do temp<.l de morte através
Hensley. B. Experiments on the temperature of hodies after death. The da tonometria ocular. Tese. São Paulo. 1963.
Medic:al Examirwr (Philadelphia), 2: 149-152. 1846. Rodrigues Filho. E. Código Ci,,if A1101r1do. 3." ed. São Paulo: Síntese,
Hiraiwa. K. e/ ai. Estimation of postmonem imcrval from rcctal 2001, p. 50.
temperaturc wíth the use of computer. Med. Sei. l.aw, 20: 115-125, R,~jas, X Medicina Legal, 8." ed. Buenos Aires: El Aleneo Editores,
1980. 1964.
Hirsch. C.S., Morris, R.C. and Moritz, AR. Handbook of Legal Medi- Scaglia de Paulete. S.M. & Tramonte, R. l,aborarório. Fundwnentos.
r:ine. 5 1h ed. London: The C. V. Moshy Company, 1979, pp. 16-21. São José do Rio Preto: Ed. Facsimile. 1977.
Icard. S. La Mort Réelfo et la Mor! Apparell/e. Paris: Ed. felix Alcan, Scigliano, H .. Berro, G. & Soiza, A. Formas de nrnerte. ln: Mediâna
1897. Lega/. Montevidéo: Depto. de Medicina T.egal. Faculdade de Medi-
kard, S. Le Sigt1e de la lv/ort Réel/e en l'!\bse.nce du Médeci11. Pari::;: cina de Montevidéo. 1989. pp. 141-155.
Ed. A. Maloine, 1907. Scllíer, K. Detcnnination of the .tirot'>f dcath by extrapolation of thc
James. W. and Knight. B. Errors in estímating time since death. Med. temperature decrease curve. /\era Med. /,eg. Soe., 2:279-JO 1, 1958.
Sei. Luw, 5: 111-116. 1965. Shoemcker. W. Muerte cerebral. forrnulario para e! diagnôstico de la
Joseph, A. and Schiekelc, /\. l\ general method for assessing fal·tors muerte l:erehral de la Prcsbyterian t;nivcrsity of Piushurg. /11: 'J'ra-
controlling post-monem cooling. Foren.úc Sr:i. J., J5:364-391, rado de Medicina Crítica y Terapia lmensiva. Buenos Aires: f.d.
1970. Panamerieana. 1985. pp. 1215.
Knight., R. The evolution of mcthods for estímating the time of death Shapiro. H. Medico-legal mythology: the time of death. Forensíc Med.
from hody tcmperature. Forensir Sei. lnr., 36:47-55, 1988. J., ]: 1-159. 1954.
Lacassagne, A. Questions générales relativcs à la mon. au cadavrc et Simonin, C. Diagnóstico de la muerte. ln: Medicina Legal Judicial; 2:
aux tachcs. /11: Préds de Médecint' Légale. Paris: Masson Ed.. 1909, ed. Barcelona: Ed. JIMS, 1966, pp. 731-735.
PP· 249-.no. Simonsen. J.V. Dctermination of the time of death by continuous
Leclerc, ~. Enromoloiie et Mé.decine LégafP. Paris: Masson F.d.. 1978. postrnortem temperature measurement. Med. Sei. Law, 17: 112-121,
l .ylc. B. and Cleveland. F. Detennination ofthe time sincc death by heal 1977.
loss. Forensíc Sei. J., 1:11-24, 1956. Soi:t.a Lain>sa, /\. & Berro Rovira. G. Eutanásia. Rev. Psiq. Urug .. 49:29-
McDowall. K.L. et ai. The rn;c of absolu1e refractory period in thc 34. 1984.
estimation of carly postmortem interval. Foremic Sei. lnr .. 91: 163- Spit,.. W.U. & Fisher. R.S. Medir:olegal ln,•estigatirm nf T>emh. 2.• ed.
170. 199!l. Springfield: C.C. Thomas Publisher. l l)80.
\,follaret. P. & Goulon. M. Le coma dépassé. Rev. Neuro/., /0/:3-15, Teixeira, W.R.G. Medicina Le~al. 2 vols., edição particular. Mogi das
1959. Cruzes. 1978.
O'Hara, C.E. & Oslerhurg, J.W. Jmrodução à Crimi11alfatic:a. Rio de Thoinot, L. Diagnostic tle la mort.. ln: Précis de Mé.du·ine Légale. Pa-
Janeiro/São Paulo: Ed. l-1undo de Cultura S.A., 1956. ris: fal. Baíllicrc. 1913. Tome/: 156-171.
Pai aro. O. Medicina T.egal e Prrítirn Forense. São Paulo: Saraiva, 1976. Tomassino, A. La muertc desde cl pumo de vista jurídico-penal. Rev.
Paulete Vanrell. J. Fundamentos de Hi.swfugia. São José do Rio Preto: Psiq. Urug .. 49:35-40, 1984.
Depto. de Morfologia da Faculdade Regional de Medicina. 1972. Vaillanl, C.11. Un nouveaux procédé de tliagnostíe de la mort réellc par
Paulerc Vanrell, .1. Citologia (Curso em lnsm1çiio Programada): Or- J'examen radiographique dcs organs abdominaux. Paris: Revue de
,i?(lnizaçiio e Termodinâmica: F.nergia da Célula, 3." cd. São José do Médceinc Légale. 1908. pp. 55-56.
Rio Preto: Depto. de Morfologia da Faculdade Regional de Medici- Veiga de Carvalho. H .. Scgre. ~ .• Meirn, A.R., Almeida. M., Russi
na, 1973. Salaru, N.:--.1 .. Romero Mufíoz. D., & Cohen, C. Compêndio de Medi-
Paulde Vanrcll. J. Sinopse de Anatomia Microscrípica. São José do Rio cina l.ega/. São Paulo: Saraiva, 1987, pp. 219-284.
Preto: Deplo. de Morfologia da Faculdade Regional de Medicina. Venosa, S. de S. Direito Civil. Teoria Geral. São Paulo: Atlas. 1984,
1975. V(]]. 1, p. 142.
Paulete Vanrell. J. Manual de Me.dicilw Legal-Tanarologia. São Pau- Viberl, Ch. Signes et rnnstatation de la mort. /11: Pré.eis de Médecine
lo-Leme: Livraria Editora de Oircíto, 1996. l,égale. Paris: Bailliêre, 1900. pp. 37-65.
P.rnh:te \'anrclLJ.. Scagliade Paulete, S .. Tsc, H.G., Backes, A. &Fleck. Vigournux, M.R. Nouvcl cssai de classi firntion dcs états fronticrcs en-
C Ci:1ia ele Técnica Micrusc:ú1,ica. São Leopoldo: Faculdade de Fi- tre la víe et la mort. Neum-diir., 18:53-56. 1972.
:,,-.,f1a. Ciências e Letras, 1967. Werthcimcr, P., Houvct, M. & Descattes, .l. /\ propos du tliagnostic de
P, : ,,'n C .J. Tlie Scie111ific A.~pecrs rl Fore11sic Medicine. Edinburgo: la mort du systeme nerveux dans les comas avec arrêt respiratoire.
o::, e~ ,\:. !:lo> d. J %9. Presse Med., 67:87-88, 1959.
p,,: ,,,n. CL Ge~. D.J. and Knight. 8. Thr I':ssenrials of Fore11sic Medi- Zachar.ias, M. & Zacharias, E. Dicionrírio de Mridicina Legal. Curitiha:
':,:,. ,l. • <'J. (hford: Pi:rgamon l'ress. 1985. pp. 3-17. EDUCA-Editora t.:niversitária Campagnat, 1988.
15

Homicídio, Suicídio ou Acidente?


-·····--···--···--..---·------
Jorge Paulete Vanrell
Jorge Alejandro Paulete Scaglia

$.

Mas. também. tudo deverá ser analisado em conjunto, de modo


INTRODUÇÃO a avaliar a verossimilhança dos dados, a coerência dos resulta-
dos e a consistência das conclusões.
Convcncionalmcnte. designa-se por maneira da morte o Nessas cin:unstâncias, toma-se necessário estabelecer algu-
modo ou a forma como agiu o agente responsável pela causa da mas delinições úteis: assim. entende-se por:
morte. A importância do seu estudo é indiscutível, justamente Ht1micúlio - Morte de um indivíduo cm mãos de outro, cm
por implicar a diagnose jurídica da causa da morte. forma dolosa, culposa ou preterintencional.
Com eleito. distingue-se assim enu·c a morte nah1ral, quando Suicídio - Morte de um indivíduo pelas lesões que se auto-
esta é detern1inada, e.g. por uma doença, e a m,)rte violenta ou não- int1ige com o objetivo de pôr fim à própria vida.
natural. toda vez que a sua causa seja um traumatismo ou uma Morte acidental - Diz-se da que sofre um indivíduo por
lesào, de origem homicida, suicida ou. mesmo, acidental. Pouco causas fortuitas e não-previsíveis, ou que, em sendo previsíveis.
í mporta, no caso. que o decesso da pessoa tenha se dado imediata- não o foram por ignorância, negligência ou imprudência, isto é.
mente ou depois de ter transcorrido certo tempo, por vezes até dias por culpa.
ou semanas, a contar do início do processo que provocou o óbito. Durante as investigações, a existência de uma dessas tr.:s
Essa diferenciação é de extrema importftncia, uma vez qt1c, modalidades de mo11e violenta deverá ser cuidadosammte pes-
se a morte for natural. não haverá responsabilidades criminais quisada, sendo o raciocínio balizado por certos elementos. que
ou civis a apurar. analisaremos a seguir.
Em caso de mo11e violenta. incluindo-se nessa rubrica até os O exame do local em que o cadáver de uma pessoa é encon-
óbilos decoLTentes de eventos infortunísticos - acidentes do tra- u-ado constitui a pedra angular da investigação. Daí a importân-
balho - , resulta cediça a necessidade de esclarecer largamente cia que tem a preservação desse local, para não prejudicar a~ pes-
as circunstâncias em que ela aconteceu, princípalmeme pelas quisas.
implicações jurídicas, tanto no campo civil quanto no âmbito da É óbvio que nem todos os casos exigem a presença do legista
legislação acidentária pnípria. na cena do evento. Todavia, há síluaçf>es em que o seu chamado
Contudo, os casos qt1c mais conclamam a atenção do médico poderá ser de utilidade para que, no local. Pº""ª arnliar n mm.lo
legista são aqueles cm que a morte pode ter sido ocasionada pela proviível cio óbito (homicídio. suicídio ou acidente). com base
pnípria vítima - suicídio. suicídfo.ç a d,,is e h(}micídi()s-suicí- em indícios peculiares. Será, também. a melhor forma de esta-
dios - ou aqueles outros em que a morte é o resultado da ação belecer uma razoável aprnximai.;ão <lo momento ou honírio da
de uma outra pessoa sobre a vítima: homicídios, nas suas diver- morte. O legista, muitas vezes. pode auxiliar na reconstituição
sas modalidades. do incideme graças aos aportes médico<. ou de ciências afins que
Nessas situações, torna-se importante efetuar um preciso diag- poderá fornecer. Deve-se levar cm consideraçf10 que o legista.
n6stíco diferencial, de modo a estabelecer o ';erdadeiro nexo de por força de sua formação, vê uma cena de crime com olhos di-
causalidade entre as aç<ics e os resultados. E, nesse momento, ferentes daqueles dos peritos criminais. e que as hip6tcscs que
que se inter-relacionam e se entrelaçam as múltiplas informações levante no im:al tanto poderão ajudar nas pesquisas subseqüen-
que se colhem e os dados semiológicos que se apuram, quer no tes. quanto no pi:óprio Juízo, uma vez que o médico legista po-
local, quer sobre a própria vítima. derá ser chamado.à prestar esclarecimentos cm audiência.
Tudo é importante: os antecedentes, a investigação policial. Assim, ao estudar o local do crime, a constatação da desor-
o levantamento do local e do cadáver e o exame necrosc6pico. dem de mâveis, móvei.ç quebrados ou desarranjo de objetos é
116 Homicídio, Suicídio ou Addi•11te?

um fo11e indício de que, no local. houve luta, perseguição ou Contrariamente, a asfixia por imersão (submersão) é urna
,~nrativa de fuga, comuns aos homicídios. Todavia. quando ci- característica frcqiientc de suicídio ou acidente e, muito mais
lada desordem se limita apenas à vizinhança imediata do cadá- raramente, de homicídio.
\'cr, não permíte descartar a hipótese de um suicídio e sua pro- Quando o cadáver se nos apresenta com lesões de desacelera-
vocação durante a fase agônica da vítima. ção ou de impacto ocasionadas por veículos. ínclusivc composi-
Outras condições do local, como, por exernplo,jechamento ções .têrreas, o raciocínio deve ser orientado, em primeiro lt1gar,
das portas por deutm, calafetamento de portas ejauclas, achado para acide111e de zrânsito ou suicúlio,já que. por razões de freqüên-
de cartas ou bilhetes, encontro de embakigens de mcdicamen- cia, são raros os homicídios perpetrados por esse método.
tm;, copos com re.11tm; de bebidas, podem ser extremamente úteis
para direcionar a pesquisa no sentido de detcnninada forma de
violência.
A presença de manchas de sangue e outros líquidos orgâni-
O INSTRUMENTO UTILIZADO
cos é de grande interesse. porquanto dados referentes à sua loca-
lização, distância em relação ao cadáver. afora sinais de arrasto, A variedade do instrumento que provoca as lesões encontra-
que obrigam a pensar na posterior mobilização da vílÍma, podem das no corpo da vítima tamhém serve para orientar quanto à
trazer subsídios i nesti máveis à investigação. Além disso, o estu- diagnose jurídica da causa mortis.
do do grupo sangüíneo das manchas, comparando-o ao da víli- Com efeito, as armas de fogo, por exemplo, costumam ser
ma, poderá esclarecer, ainda, se esse sangue lhe pe11ence ou se é L1sadas intencionalmente, tanto por lwmiddas quanto por .rnici-
oriundo do homicida, porventura ferido durante o cometimento das, sendo mais raros os acidentes provocados por imperícia ou
do seu ato. negligência no seu manuseio. Já as armas brancas, conquanto
As mancha... de e!iperma, cm geral. orientam no sentido de também possam ser usadas da mesma maneira dolosa. proporcio-
se estar em prcsen~a de um crime de conota<;ão erótica. Porém, nalmente mof-itram uma menor incidência de acidentes fatais.
cm algum; casos de asfixia, não é infreqücnte a ejaculação tardia As lcsõe1, que apresenta um cadáver provocadas por instru-
da vítima. o que, como é curial, nada tem a ver com violência mento contundente orientam mais facilmente no sentido de um
sexual. Nesses casos, pode ser de imeresse avc1iguar se o tipo homicídio ou de um acidente sem que, contudo. se pos~a descar-
de sêmen corre1;ponde ou não ao da vítima, já que isso pode le- tar a priori um suicídio, como. por exemplo. nos casos de preci-
var a estabelecer diferenças entre suicídio e homicídio. pitação ou ,hj(•nestmme,uo. ·
A ocorrência de impressões e pegadas pode ter interesse ao
se caracterizar se originárias da vítima ou não. Nesta segunda
hipótese, o seu levantamento cuidadoso. por fotografia e/ou por SINAIS DE VIOLÊNCIA NO CADÁVER
moldagem, poderá auxiliar não apenas na determinação de sua
origem, c.:omo também no número de pessoas que participaram No exame da vítima, as vestes em desalinho. com eventuais
do evento. Quando a,; impressões ou as pegadas apresentam ves- rasgões ou esgarçamentos dos tecidos, associadas com lesões
tígios de sangue, é c.:omczinho que a identificação ou tipagem corporais, tais como as resultantes de agressões sexuais. ou
deste :;erá útil ao esclarecimento de sua origem: se da vítima ou equimose,;, e,;coriaçõcs, mordidas, estigmas ungueaís, queima-
do vitimário. duras, ferimentos punct<Írios. entre outras, topograficamente
O achado da arma no local do crime poderá servir, eventual- (~fàJtadas das les,les letai.11. são um forte indício de homicídio
mente. para a idemificação dactiloscópíca da pessoa que a utíli- precedido por luta entre o agence e a vítima e, eventualmente,
zara. Sua presença nas proximidades do cadáver. cm geraL ori- intentos de defesa desta última.
enta o raciocínio para o suicídio, enquanto os.eu desaparccirnemo Nenhuma das oua·as duas cau:;as jmidícas de morte - suicí-
é um forte indício de homicídio. dio e acidente - tem o condão de apresentar tão protcifom1e
· Todavia, além dos dados criminalístícos de índole geral quadro lesionai.
supramcncionados, para o médico legista poderão aparecer. logo
numa observação pcrfunct{)ria do cadüvcr, elementos mais espe-
cíficos que, muito embora não lenham um valor definitivo, orien-
tarão sobre a diagnose jurídica da causa mortis mais prov,ívcl. CARACT~RÍSTICAS DOS
FERIMENTOS
A FORMA DE APRESENTAÇÃO DO O aspecto macroscópico que apresentam as lesões no cadá-
ver também pode oferecer uma série de informações silenciosas
CADÁVER sobre os acontecimentos que envolveram sua produção. O local
cm que se situam, o seu número e variedade, a direrão do seu
Esse dado pode ser útil. Assim, quando se encontra um cadá- trajeto, entre outros elementos, poderão ser utilizados para al-
ver suspenso (enforcamento), a primeira impressão que se tem cançar os fins colimados.
~ade estannos em presença de um suicídio. Todavia, não se pode
~xcluir que se mne de um acidnue, de um homicídio ou, até, de
uma simu!açüo. em que o agente esteja tentando ocultar uma Local do Ferimento
,:>utra forma de morte violenta, fazendo-a aparecer, aos olhos do
in\·esrigador, como suicídio. A topografia do local em que se intlígiu o ferimento é de
Quando a vítima apresenta sinais de estrangulamento ou de grande importância para auxiliar na caracterização da diagnose
esganadura, a orientação mais cocn.:ntc é no sentido de estar- jurídica da causa mor1is.
1110~ cm presença de um homicídio, porquanto essa forma de Lesões homicidas. Caracterizam-se por uma completa ausên-
morte é pratinuncntt' impossível em forma aciclemal ou suicida. cia dtr lvcal de escolha, afora o instrumento utilizado. à exce-
Homicídio, Suicídio ou Acide11ie :' 117

~-:;l,. como é cediço, das asfixias mecânicas por compressão do ;'lesses casos, havendo ferimentos múltiplos. apenas um de-
;:'l'SCOÇO. les, que de regra é v úhímo, tem eficítcia para tirar a vida da ví-
Lesões suicida.~. Identificam-se por se situarem em locais de tima, e o legista deverá levar em consideração esse fato para poder
, ,t·olha que se relacionam, em todos os casos. com áreas vitais elaborar sua conclusão ~obre a rnu.w mortis jurídica.
.::e, alcance da~ mãos do agente. Em contrapartida, quando se encontram no cadiíver dois ou
.'Jcssa característica se haseia a manohra tradicional de colo- mais j(!rimentns mortais. há de se considerar, em primeiro ter-
...::tr na mão da vítima uma arma semelhante à utilizada para a mo, a hipótese de homiddio .
..utoquíria, mobilizando o segmento até a posição necessária para Por derradeiro, ainda nessa fase inicial. o legisla deverá ob-
poduzir os felimentos observados, analisando. então, a compa- servar a cronologia das lesões. de modo a caracterizar se todas
:11'ilidadc dos mesmos, o que enfatizará a noção de suicídio. elas foram produzidas no mesmo momento, ísto é. durante o tem-
A prescm.;a das vestes no local do felimento pode, também. po cm que o agente agrediu a vítima, ou se algumas delas foram
Ju:xilíar na diferenciação entre suicídio e homicídio. Com efoi- ocasionadas antes, inira i·ilarn. ou seja, com a vítima ainda viva.
w. em geral o suicida desabotoa e abre as roupas no local em que e outras foram infligidas posi-monem. i-.to é, quando a vítima já
~'re1ende infligir o ferimento mortal. .Tá o ferimento homicida ou estava morta. O diagnostico diferencial entre lesôcs imra vitam
:1:idental costuma acontecer através das vestes. e pos1-morte111 será ohjcto de um estudo separado, no final desta
Segundo o tipo de instrumento utilizado, também sofrerão seção.
;dt.:raçües os locais de escolha do suicida.
Assim, para as armas de fogo. a regü7o temporal e a bo,·a,
c',;tatisticamentc, são os locais prefe1idos, enquanto a região Direção dos Ferimentos
;)r<.'cordial é mais raramcnle utilízada.
É inconteste que a análise <la direção dos ferimentos - fato
Quando são usadas armas brancas. os locais eletivos são o
e~se que constará sempre de discussão do Laudo Necroscópico
;w~cuço. ajáa anterior do amehraço desde o punho alé a prega
- resultará <lc singular importâncía na rcconslituição da cena,
do cutovdo e o precôrdio. Excetuando-se o suicídio ritual japo-
auxiliando, outrossim, muitas vezes no esclarecimento da
ncs - sepp11ku ou hara-kiri - . excepcionalmente o abdome é
diagnose jurídica da causa da mo11e.
;1tingi<lo pelo instrumento com finalidades de auto-eliminação.
Com efeito. as lesões cuja direção é de trás para/rente prati-
Tanto é verdade que, quando se encontram lesões incisas ou
camente excluem a hipótese de suicídio, exceto nos raros casos
pérfuro-incisas no abdome, deve-se pensar sempre. em primeiro
em que o agente monta uma parafernália mecânica para efetuar
lugar. em homicídio ou acidente.
um disparo a distância.
Já os casos de homicídio não oferecem direções preferen-
ciais, sendo certo que, muitas vezes. se encontram lesões na
Número de Ferimentos parte dorsal do corpo produzidas por surpresa ou cmhosca<la.
Como regra geral, deve-se considerar (afora o local. como já à traição, ou mesmo quando a vítima tenta fugir do seu agres-
foi mencionado em outra parte deste trabalho) que o número de sor.
ferimentos permite orientar o legista quanto à causa jurídica da Nos ferimentos de arma de fogo. a direção da trajetória do
morte. projétil, frcqiientcmente, permite reconstituir a posição relativa
Eis que, estalislÍcamente. as lesões únicas ou duplas e oriun- do atirador com relação à vítima e a própria posição desta. bso
das de uma única variedade de am1a são mais freqüentes no-. casos sem comar outros dados que poderão ser obtidos. como o tipo
de .middio. É evidente que essa regra, como qualquer outra, de projéteis, seus calibres e suas cargas. Além de ve1ificar quais
admite exceções e. na literatura especializada. encontram-se re- as lesões letais, entre diversas produzidas, e a eventual identifi-
latos de casos excepcionais, geralme/Lle nn psicopatas, em que cação dos instrumentos que as produ1,irum.
a vítima se lesa múltiplas ve7.es, mas geral mente em regiões muito Quando há vários ferimentos de arma de fogo, há de seca-
pníximas. racterizar qual o que foi mais letal. para assim poder identificar
Nos casos de lwmiddio, não apenas o número de ferimentos qual a arma que disparou o projétil, lahor este que estará akto
costuma ser maior, como também é mais freqüente a assm:iac,:ão ao lahoratório de balístíca.
de métodos. Refere-se o caso de que, na vigência de ferimentos Nos ferimentos por arma branca, nos casos de homicídio. a
homicidas múltiplos, diferentemente do que acontece no .micí· direção da trajetória da lesão será útil para determinar a.fim11a
dio, estes não se situam próx.ímos entre si, nem têm topografia como o agente empunhava o insuumento. qual (1111,'io domilllm-
preferencial. exceção feita ú~ lcsücs de defesa (l.f infra). te (se destro ou canhoto) ou. pelo menos. a que se~urava a arma.
e a pu:;içüo relatim com relação à vítírna (dt· frente. pelas cos-
tas, de lado etc).
Variedade dos Ferimentos Todos esses dados serão fornecidos pda oh~cn açào cuida-
dosa da lesào. norndamentc pela posição que assume a '"cauda..
Além do número e sede das lesões, como elementos passíveis da mesma. i8to é. uma verdadeira escoriação linear que indica o
de diferenciar as três formas jurídicas de mo11e violenta, ainda local cm que o instrumento se superficialízou abandonando o
contamos com a profundidade dos ferimentos. Assim, as lesões corpo da vítima.
provocadas pelos suicidas. em geral. costumam ser mais super- Nos casos de esgorjamento - lesão esta que tan10 pode ser
ficiais que as decorrentes de homícídio. suicida quanto homicida-, deve-se prestar bastante atenção às
O emprego de armas d(ferlmtes é quase sempre um forle ele- suas característ.icas direcionais. Isso porquanto. em se tratando
mento para fazer pensar cm homicídio, muito embora seja ver- de um suicídio, a direção predominante é a oblíqua. de cima para
dade que, por ve7.es, o suicida. notadamente quando falha o seu haíxo e variando da esquerda para a direita (nos indivíduos dcs-
intento com certo instrumento. sürvc-se de outro para conseguir lros) e da direita para a esquerda (nos indivíduos canhotos e, fre-
seu objetivo. qüentemente, nos ambidesu-os). Nos suicidas deslros, a inci:;ão
118 Nu111iddio. Suicídio ou Acide11fe?

Fig.15.1 Formas de esgorjamento. Em A, suicida (pessoa destra, modificado de ílasilc & Waisman, 1991 ); cm B. ~uit·ida (raro): em<.;, homicida.

pode ser ve11ical à direita, auto-infligida após ter voltado a cabe-


ça para a esquerda (ver Figura 15.1). ESPASMO CADAVÉRICO
Quando o esgorjamento resulta de homicídio, em que, de
regra, o agente se posta por trás da vítima, a direção predomi- Nada mais é do que um caso particular de rigidez cadavéiica,
nante é a horh:.ontal, na pa.r1e média anterior do pescoço, sendo de instalação instantânea e ainda em vida. cuja principal cant('-
certo que a incisão acaba superficializando-se, de maneira oblí- terística é uma contratura muscular que faz persístír, após a morte,
qua, na parte lateral do segmento, variando apenas e indicando a posição ou a atitude que a vítima apresentava no momento do
qual a mão dominante do agressor: para a direita (se é destro) ou óbito.
para a esquerda (se é canhoto). A principal diferença que apresenta o espasmo cadavérico
Nos doí-. tipos de ferimento que caracterizam o esgorjamento em relação à rigidez cadavérica propriamente dita é que esta úl-
e que acabamos de descrever - suicida e homicida-, a regu- tima se instalajâ no cadáver como pa11e dos fenômenos conse-
laridade das bordas do ferimento poderá ter importüncia com- cutivos e é sempre precedida de relaxamel!fo do u,nus muscu-
plementar üquela decorrente da direção, para melhor rohorar a lar, coisa que não ocorre no primeiro.
diagnose jurídica da causa mortis. É um fcn6meno rnro e que. pela própria característica de sua
Com efeito, no suicídio, o agente por vez.e-. foz algumas pe- instalação - relacionada com lesües extensas e súhitas de cen-
quenas escoriações superficiais com o gume do instrumento. tros neurais superiores ( cerebrais, ccrcbelosos e do tronco ence-
próxima" ao início da futura lesão e que sào ilttcqJretadas como fálico) ou após fadiga muscular intensa-, sorneme pode apare-
"experiências'' ou "í11decis(1l'S ,. sohrc o ato que vai praticar. cer nos casos de morte violenta ou súbita.
Depois, quando decide realizar o corlc, as bordas do ferimento O foto de o corpo ou de um segmento do mesmo fíxar-sc, de
provocado são lisas e nítidas, indicando que foram produzidas forma rígida e de maneira abrupta, na última posição que as-.u-
de uma sô vez, de ímpeto, em um único ictus. mira ou no derradeiro gesto que efetuara em vida, com:edc ao
Contratiamente, no homicídio. as bordas são in-egulares, e. não estudo do espasmo cadavérico, quando prescmc, importância
raro, os ferimentos são pequenos e múltiplos, já que a vítima se médico-legal.
movimenta, esboçando reação de defesa contra o agressor. Ex- É clantque o achado de um cadáver ernpunhapdo uma anna,
ceção a essa regra são os casos em que a vítima é atacada en- por exemplo, cm hora faça logo pensar em suicídi,\, nem sempre
quanto dorme ou é surpreendida por um ataque repentino, à trai- deverá ser hábil a realizar tal diagno-.c jurídica da causa mortis.
ção. Outros elementos, como a topografia lesiona! e as rnracterísti-
cas do próprio ferimento (cfünara de mina de Hoffmann, zonas e
orlas em torno do orifkío produzido pelo projétil e trajeto de<;te)
ou da mão do cadáver (salpicos de sangue ou substância neural,
LESÕES DE DEFESA teste residuográtko positivo), deverão ser relacionados mm a
arma empunhada para aquilatar a coerência da afirmação.
Recebe esse nome o conjunto de ferimentos que pode ser A importância supracitada do espasmo cadavérico se vê re-
encontrado na vítima nos casos de homicídio e que não se rela- forçada, ainda mais, pelo fato de ser impossível ··-.ímular"' ou
ciona diretamente com as lesões dolosas provocadas pelo agen- .. remedar" esse e-.pasmo.
te. Antes, trata-se de lesões que se originam incidentalmente, Com efeito, mesmo que a arma seía colocada na mão fechada
quando a vítima, de forma instintiva, trata de defender-se. Daí da vítima. aguardando-se até que sobrevenha a rigidez cadavéri-
que a local izaçào desses ferimentos siga padrões mais ou menos ca como fenômeno consecutivo pvst mortem, esta nunca ofere-
característicos. cerá uma pressão tão completa e firme quanto a elo próprio es-
A topografia mais frcqiiente das lesõe.s de defesa se relacio- pasmo (l ,acassagne, 1909).
na com a face dorsal das mãos. borda .ulnar e face dorsal dos
anlcbraços, nas tentativas de proteger a cabeça e o tronco; no
mcnto e laterais da face, quando "e evitam agressões sobre o
pescoço: e. também, na face palmar das mãos e dos dedos, quan- IDENTIFICAÇÃO DA ARMA
do a \·írima tenta segurar a arma do agressor. Em se tratando ·----
de arma de fogo, pode ser encontrado esfumaçamento, Essa é uma parte do levantamento que não compete, especí-
chamuscamento e tatuagem da palma, notadamente nas regi- ficamente, aos legistas, antes aos peritos criminais. Contudo,
ücs tenar e hipotcnar, com exame residuográfico positivo da desde que se tenha acesso ao instrumento que ocasionou a mor-
r~giào. te. é mister do legista avaliar a concordância entre este e as le-
Homicídio, Suicídio ou Acide11te? 119

~ões que se observam no cadáver, de modo a verificar a viabili- quer natureza. que permitam caractc1izar a ocorrência de luta ou
Jade de tê-las produzido. reaç<ies de defesa da vítima.
Isso é de singular importância nos ferimentos produzidos por O segundo - exame psíquico - deve realizar-se para avali-
armas brancas e por inscrumentos contundentes, já que, nas ar- ar o estado mental do agente, caracterizar se é porcador de algum
mas de fogo, a contribuição dada pelos e~tudos de balística ter- desvio comportamental ou psicopatia capaz de modificar sua
rn inal ou de balística forense, realizados pelo Instituto de imputabilidade ou de explicar a violência. as lesões de on•rki/1
Criminalística, o mais das vezes acabam por identificar compre- ou outras que possa cer íntligido na vítima.
.:isão a arma utilizada, permitindo, inclusive, distingui-la entre
\·árias.
QUADRO SINÓPTICO DAS
DIAGNOSES JURÍDICAS DA CAUSA
EXAME DO ACUSADO MORTIS
Deve ser realizado do ponto de vista físico e psíquico. O pri- No quadro a seguir, modificado de Yametti Sassi ( 1985), pode
meiro visará a verificação da oernTência de rasgões nas roupas. ser vista, em fonna sumária, a orientação que permitem os acha-
existência de vestígios (manchas de sangue ou outros líquidos dos lesionais na perinecroscopia, no que tange às mais prováveis
orgânicos, pêlos etc.), oriundos da vítima e/ou de lesões de qual- maneiras da mo11e da vítima.

SINAIS HOMICÍDIO SUICÍDIO ACIDENTE

Formas de morte
i freqüeme po-.sível
Enforcamento muito raro

Esganadura típica impossível muito rara

Estrangulamento típico muito raro muito raro

Imersão/submersão rara freqüente freqüente

Acidente de trânsito raro freqüente freqüente

Tipo de arma
Arma branca freqüente freqüente rara
Arma de fogo freqüente frcqiiente freqüente
··-
Instrumento contundente freqüente raro freqüente
-
Violência externa
Violência externa freqüente inexiste inexiste

I.ocal da lesão
Região temporal possível de eleição possível

Região preeordial possível de elei\'ão possível

Prega do cotovelo possível de eleição posSÍ\eJ ~

Punho/antebraço possível de eleição possí\el

Pescoço possível de eleição possí,·d

Abdome freqüente raro pOSSÍYel


i
Número de ferimentos
;

Umou dois freqüentes possíveis raros


··-
Múltiplos freqücmes muito raros frcqüemes

Variedade de ferimentos
Instrumento único freqüente freqüente freqüente
1
1.20 Humicídio. Suicídio ou Aciderue?

SINAIS HOMICÍDIO SUICÍDIO ACIDENTE

Instrumentos diferences freqüentes rnu ito raros raros


Dois ferimentos graves freqüentes muíro raros raros
Direção do ferimento
Esgorjamcmo horizontal ohlíquo/vcrtícal raro
"Cauda" da lesão pequena grande inexislc
.-
Regularidade de bordas
Regularidade de bordas rara freqüente rara
Lesões de defesa freqüentes íncxistcm raras
Espasmo cadavérico muito raro freqüente possívd
Outros sinais
Profundidade da lesão freqüente rara possível
Salpicos ou borrifos inexistem frcqiícnlcs pos•.íveis
Estigmas ungueais freqüentes incxislcm inexistem

Polson. C.J .. Gee. D.J. and Knighl. l:l. Th1• F:sse11tial.~ of Forensic Medi-
BIBLIOGRAFIA cine, 4'" cd. Oxford: Pcrgamon Pres.<., 1985. pp. 3-17.
Ponsold, A. :'vlamwl de Medír:ina l,egal. Barcelona: Editorial Científi-
Alcàntara, H.R. Perícia ;Wàlica .ludicial. Rio de Janeiro: Ed. Guanaba- co Médica. 1955.
ra Dois. 1982. Prévost. L.. Boulanger. P. & Lauwn. A. Úéments de Crimi11alis1ique
Barbcrá. F.A. & Turégano. J. V.L. Manual de Téc11ica Policial. Valen- i\pliquée. 2.• ed. Québec: ~fodulo Éditeur, 1990.
cia: Tirant lo Blanch. 1991. Pupp<J Touri7, H., \1csa Figucras. G., Soil.a Lam,sa. A., Reyes Cihils,
Bonílla. C.A. La f'erída en la l1m•srigación. Buenos Aires: Editorial J.M. & Garcia Delfante, A. Medicina !.eia/. Montevidéo: Libreria
Universidad. 1996. Médica Editoríal. 1985. ·
Bonnet. E.F.P. Medíci11a Legal.'.!: cd. Bueno~ Aires: L6pcz Librcros Rahelo, E. Curso de Criminalísríca. Porto Alegre: Sagra-Lu7.Zallo. 1996.
Editores. 1988. Raekallio. J. Biochemical distínction hetwccn antc-mortem and post-
Borges. J.F. Lcvamamicnto del cadá\ er. Fuego ( Mont.cvidéoj. 6:53-57. mo1tcm skin wounds hy isoclcctric focusing in polyac1ylamide gel.
1982. l. Experimental lnvesligation on arylaminopeplidases. Zacchia,
Borges, J.F., Mesa, G. & Lombardi. E. Le1a11tamicnto del cadáver. ln: 7:281-293. 1971.
Mt!didna T,egal. Montcvidéo: Depto. de \1edi<:ina l .cgal, Faculda- Raekallio, .1. Detcrmination of thc age of wounds by histochemical and
de de Medii.:ina t!e :vlonlevidfo, 1989. pp. 156-161. bíochemical method.<.. Foremfr.· Sâ., I :3-16. 1972.
Di Maio, D.J. & Di Maio. V.J.M. Forensic Parhology. J! ed. !:loca Reycs Cibils, J.M. Diagnóstico de muerk. /11: Puppo Touriz. H. et ai.
Ratón: CRC. 2000. Medicina Le~al. Monlevidéo: Ed. l .ihrcría Médica, l 979, pp. 95-100.
Derobcrt. L. Blessure~. /n: Médeâne Lé~ale. Paris: E.:vl.C. Hammari- Rojas, ~. Mfdic:ina frgal. 8.ª ed. Buenos Aires: El Atcnco Editores. l 964.
on, 1974, pp. 442-458. Santos, R. de los. Crimi11alís1ica de Campu. Montevidéo: Dirccción
Dorea, L.E. A.1 Manchas de Saflgue como indício de Local de Crime. Nacional de Policia Técnica. 2000.
Po1to Alegre: Sagra-Luzzatto, 1995. Scigliano, H., Berro. G. & Soiza. A. Formas de mue1tc. Ili: lvledicina
França, G.V. de. Medicina l.~~gal. 6.' cd. Rio de Janeiro: Guanabara- Legal. \tlonlevídéo: Dep10. de Medicina Legal. Faculdade de Medi-
Koogan, 200 l. cina de Ylontcvidéo. 1989, pp. 141-155.
Guimán, C.J\. Manual de Crimi11ulís1irn. l:luenos Aires: Ed. La Rocca, Sirnonin, C. Medicina Legal Traumatológica. /n: iHedidna /.f·,:al Judi-
1997. daL; 2: ed. Barcelona: Ed. JIMS. 1%6. pp. 67-381.
Hirsch. C.S., Mo11is, R.C. and :vlrnill.. A.R. Hamlbouk o( Le!!al Medi- Spitz, W.U. & i-;isher. R.S. Medi<'olegal fm,esfigation tl Deaih. 2.• ed.
ci1w. s.• cd. Lllndon: The C.V.Mosby Company. 1979. pp.
16-21. Springficld: e.e. Thomas Publisher. l 980.
Lacassagne, A. Questions générales rdativcs à la mort. au cadavre eL Thoinor, L Rlcssures. liz: Précis de Médel'ine Légalc. Paris: Ed.
aux taches. ln: Pricü de Médec:i11e Légale. Paris: Masson Ed .. 1909, Bailliêrc, 1911. Tome .?:308-320.
pp. 249-330. Tochetto, D. (Coordenador) e/ ai. Tratado de Perícias Criminais. Porto
:.1oritz., /\. & Stetler, C. Handbm,/.: of u,gaL 1\,fedecine, 2.• ed. Saint Alegre: Sagra-Luzzatto, 1995.
Louis: C.V. Mosby, 1964. Vibcrt, eh. Signes et constarntion de la morl. /n: Précis de Médecíne
CrHara. e.E. & Osterhurg, J.W. lmrod11rão à Crimi11ulistír:a. Rio de Légalc. Paris: Raillierc, 1900, pp. 37-65.
Janeiro/São Paulo: Ed. Fundo de Cultura S.A .. 1956. Yarnelli Sassi, L. Diagnóstico diferencial entre suicídio. homicídio v
Paui<:le Vann:11 . .l. Mmmal de Medíârw 1,e8al- Tanatologia. São Pau- accidentc. 111: Puppo Touriz. H. e/ ai. ,Wedicina l.~·ga/. Ylonlevidé,;:
lo-Lcn1<': Livraria Editora de Uireilo. l 996. Libreria Médica Ed.. 1985, pp. 107-114.
Polson. C.J. The Sâe,u{fic i\~pec1s of Forensic Medicine. Edinburgo: Zacharia~. M. & Zacharia~. E. Dicio11Jrio d<! Medicí11a Legal. Curiliba:
Olin:r & l:loy<l. 1969. EDUCA-Editora Universitária eampagnat. l 988. ·
:: ·:.: .. ·: .·.. . ; . . . .
. . . .
. ·. · ..
.. . ..

. . . . . . . . . ·. . .. ~ .
. . . .. . .. :· ....:: :· . . . :

A SOBREVIVÊNCIA EM UM
MUNDO DIFERENTE:
O FÓRUM

--··---....... __ , - - , - - - · - · - · · · · · - · · · · · · · · · · - - - -
............- ...,.,_. ...
Perícias e Peritos
·······--·-···-·-------· --··---·-------·---
Jorge Paulete Vanrell

Para esse fim, são escolhidos, de preferência, pessoas legal-


PERÍCIA mente habilitadas para o exercício de uma profissão que se coa-
dune com o exame que se tem em vista (peritos habilitados), ou,
É um procedimento especial de constatação, prova ou demons- na falta destes, pessoas outras dotadas de um grau de experiên-
lracão científica ou técnica relacionado com a veracidade de uma cia que lhes possibilite o atendimento à requisição legal (peritos
sitt~ação ou análise/É a p;ocura ele elementos que formem uma leigos).
opinião segura e adequada do fato que se pretende provar e que, Os peritos não-oficiais, antes de realizarem a perícia, prestam
por isso, se constituem na prova desse fato. o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo que
Perito (do lat. peri111s, a. um, experimentado, que sabe pOI' lhes é confiado, devendo assinar. juntamente com a autoridade
experiência, hábil, instruído, versado). que estiver presente, o auto de exame lavrado pelo escrivão. No
Pessoa a quem incumbe a realização de exames técnicos de foro criminal. os exames periciais são realizados. em regra, por
sua especialidade ott competência, para esdarecimento de fatos dois peritos. Todavia. por resolução da autoridade judicial e sob
que são objeto de ínqué1ito policial ou de processo judicial. determinadas circunstâncias previstas no C<'>digo Processual, esse
+ PBRJTOS OFICIAIS são chamados os que exercem c'>se número poderá ser aumentado para três ou, mesmo, mais, es-
mister por atribuição de cargo públíco. como, por exem- clarecendo-se que. cm nenhum caso, intervirão as partes para
plo, os médirns legistas, os odontolcgistas, os peritos cri- indid-los.
minais etc. Têm eles por missão efetuar os exames de cor- Nas ações cíveis, funciona apenas um perito. podendo cada
po de delílo e outras perícias requisitadas pela autoridade litigante indicar um assistente técnico, que participará do exa-
ao diretor da reparúçâo cm que desempenham suas ativi- me ou o acompanhará, assinando, em caso de concordância. o
dades. cabendo-lhes a elaboração e assinatura do laudo laudo elaborado pelo perito. Havendo divergência de opiniões.
concspondente. A par de reconhecida probidade e amplo o assistente técnico oferecerá, nos 10 dias suhscqiícntes à en·
tirocínio profissional, devem primar, também, pelo conhe- trega do Laudo Oficial, seu parecer, em separado, à luz do que
címcnto de toda a legislação e formalídadcs jurídicas per- lhe faculta o arl. 433, Parágrafo Único, do Estatmo Adjetivo
tinentes à função, de modo a assegurarem cabal execução Civil.
das tarefas que lhes forem cometidas. O Laudo (do lat. ego laudo, maftl'ÇO, exalto, saliemo) é o
• PERITOS NÃO-OFICIAIS são aqueles designados pela inslrumento legal que recolhe. à guisa de relatório. tudo quanto
autoridade para suprirem a falta de peritos oficiais, ou o Períto viu e achou importanle registrar sobre o material objeto
para '>Ubstítuí-los. quando, por qualquer motivo. estiverem da perícia (cf. capítulo seguinte).
esks impedidos ou impossihilítados de fum:ionar. Os peritos nomeados não podem, injustificadamente. esqui-
var-se ao encargo para o qual são designados. sob pena de lhes
Perito Nomeado ou Perito Louvado, também chamado Peri-
serem impostas as sanções previstas cm lei. Podem. em contra-
to "ad hoc ··, é lodo expen em determinado assunto, que não o
partida. estar impedidos de atuar, por qualquer uma das seguin-
sendo de ofício, é nomeado por uma autoridade, para atuar como
les razões:
perito, em determinado caso.
Denomina-se Perito "louvado" (do lat. laudo-are, enafu,cer, a) pelos mesmos motivos que impedem o juiz de exercer ju-
gabar, exaltar. elogiar. e. daí, louvado = enaltecido, exaltado, risdição cm um processo ou que levantem suspeição con-
elogiado) aquela pessoa que não é e.xpert oficial, mas a autori- lra sua pessoa:
dade, judiciária ou policial, o enaltece, o exalta ou o elogia. cha- b) pela interdição de direitos mencionada nos incisos I e IV
mando-o para exercê-la. do artigo 69 do Código Penal. ou !-.eja, pela incapacidade
temporária para investidura em função pública, ou pela Campos, M.L.R. Aspectos Clínico de la Mala Proxis en Odontología.
incapacidade temporária para profissão ou atividade cujo ln: Rodiíguez Almada, H. JJerecho Médico, Buenos Aires: B de F
exercício depende de habilitação especial, ou de licença ou Ed., 200!, pp. 108-113.
autorização do poder público. Castro, D.A & Dickerman, A.R. Compendio de Medicina Foreme,
Tegucigalpa, Honduras: Alin Editora. 1995.
Não podem funcionar como peritos, ainda, os que tiverem Cmcc. D. & Croce Jr.. D. Manual de Medicina Legal. São Paulo: Sa-
prestado depoimento ou opinado anteriormeme sobre o objeto raiva, 1995.
da perícia, hem como os analfabetos e os menores de 21 anos. A frança. G.V. Medicina l.e1al, 6." cd., Rio de Janeiro: Guanahara Koo-
legislação concernente aos peritos. sua nomeação. atuação, de- gan, 2001.
veres etc., está compreendida nos artígos 159 e 160. 178 a 182 e franehini. A. Medicina [,egale. 10.ª cd .. Pádua: CEDAM. 1985.
Gishert Calahuig, J. A. Medicina Legal y Toxico/ogía, 5.ª ed.. Barcelo-
275 a 280 do Código de Processo Penal e nos artigos 138 (inciso
na: Masson. 1998.
Ili), 145 a 147 e 420 a 439 do Código de Processo Civil. Gra~·a Leite, W. Odontologia Legal, Salvador: Era Nova, 1962.
Paulete Vanrell, J. foµicos de Odo11tologia Legal. hllp:l/www.pericias-
forcnscs.eom.br/publicacQcs/olcgal.htm
Silva, M. da Compêndio de Odontolnr;ia l.egaf. São Paulo: MEDSI,
BIBLIOGRAFIA 1997.
Stimson, P.G. e \.1e1tz, C.A. Forensíc Dentistry, Boca Ratôn: CRC Press,
Baima Bollone. P. & Pastore Trossello, F. M~~dicirw Legaü• e dei/e 1997.
A.tsíctll'aúoni. Torino: Giappichclli Ed., 1989. Veiga De Carvalho, H.; Scgrc. M.: Mcira. A. R.: Almeida, M.; Russi
Basik, A & Waisman, D. f'u11damento.f de Medicina Legal. 2." cd., Salaru, l'-.N.: Romero Muiíoz, D. & Cohen, C. Compêndio de Me-
Buenos Aires: Ateneo, 1991. dicina Legal. São Paulo: Saraiva, 1987.
Bonnet, E. F. P. Medicina Legal,:'.!." ed. CP reimpressão). Buenos Aires: Zacharias. M. & Zac;harias, E. Dicío1uírio de Medicina Legal. EDUCA-
1,opcs Ed .. 1980-93. Editora Universitária Carnpagnat, C:uritiha. 1988.
Bowers. M. e Bcll, G.L. Manual of Forensic Odontology, Ontarío: Zangani. P.: Sciaudone, G.; Palmicri, V.M. e1 al. Medic:i11a l.ef?a/e (t delle
t\SfO, 1997. Assicura-;.ioni. :-Jápoles: Morano. 1990.
Docuntentos Odontolegais
···---------·-··-----·····-·-·----
]<Jrge Paulete Vanrell

Compreendem o conjunto das declarações, orais ou escrita-., fir- tado, para justificar ausência de te-.tcmunha em audiência:
madas por cirurgião·demísta, no exercício da profissão, para ser- parecer, para alicerçar ação indcnizatúria etc.).
\ ir como prova, que podem ser utilízadas rnm finalidade jurídica.
Quanto ao seu conteúdo:

+ Verdadeiro
CLASSIFICAÇÃO DOS Diz-se daquele documento emitido por cirurgião·dentista e
DOCUMENTOS ODONTOLEGAIS cujo texto é a mera expressão da verdade, isto é. contém da-
dos técnic1ls de fatos que realmente foram constatados no
Os documenlos odontolcgais podem ser classificados de di- paciente.
fi.:rentes formas. confonnc <.e utilizem critérios diversos. As clas-
sificações mais utilizadas são: • Falso
Quanto à sua procedência: É todo documenlo cujo conteúdo difere da realidade ou não é
a expressão da verdade. Seu autor eslá sujeito às penas que a
+ Oficial lei impõe para tanto.
É aquele oriundo de uma rcparlição ou dependência oficial,
como o Centro de Saúde, o Instituto Médico Legal (]ML), ou
de um profissional que, no momento de expedi-lo, esteja em
uso e gozo de cargo ou função públü:a. TIPOS DE DOCUMENTOS
ODONTOLEGAIS
+ Oficioso
e todo documento promanado de profissional odontólogo. cm
consultórío particular ou cm qualquer local ou instituição,
desde que não esteja submetido ao vínculo do cargo ou fun- NOTIFICAÇÃO OU
ção pública. COMUNICAÇÃO
Quanto à sua finalidade:
COMPULSÓRIA
+ Administrativo É um documento que relataj,lfos, de índoll• odontológica ou
É o documento produzido por cirurgião-dentisla, e que se 11ão, obsen,ados ou constatados no exercício da pro}lssâo, e que,
destina a ser apresentado perante qualquer pessoa, empresa, por força de lei, o cirurgião·dentista tem ohrígação de comuni-
car. Incluí a comunicação de:
inslítuíção ou repm1ição. mesmo que dependa direta ou indi-
retamente do Poder Judiciário, mas desde que venha a ser en- t acidentes de trabalho (Decreto n." 357/91)
tranhado cm processo judicial. Compreendem. essencialmente, os acidentes.tipo, mas,
para fins previdenciários e securiláiios. as doenças profis-
+ Judicial sionais (tecnopatías). as doenças do trabalho (rnesopali-
É qualquer documento da lavra de cirurgião·dcnlista que se as) e os acidentes dit percurso ( '·tn itinere'') equiparam-
destina a ser utilizado nos amos de processo judicial (e.M. ates. se aos acidentes de trabalho.
1.26 Documenrvs Odomolegais

• moléstias infecto-contagiosas de notificação compulsória Sr VO, RG n2 00.000.000·X, domiciliado na rua das Amoreiras,
(CP, art. 269); nº 9999, bairro dos Frutais, desta cidade, que apresenta manifesta·
ções clínicas de CID-10 n9 B06 (rubéola)
• doenças profissionais (tccnopatias) e doenças do trabalho
(mesopaLias) (CLT, art. 169): São José do Rio Preto, 00 de junho de 2002
+ morte encefálica comprovada em cstahelecimento de saú-
de (Dec. 2.268/97, arl. 18); Assinatura:
• crimes de ação pública (LCP. an. 66). Carimbo
Essa comunicação deve ser feita, por escrito. à autoridade
competente, para que sejam tomadas as providências sanitárias,
judiciárias ou sociais cabíveis. A autoridade competem.e, como
é curial, variará de caso para caso. Assim, em se tratando de cri·
mes de aç-ão pública (LCP, art. 66), como, por exemplo, maus-
ATESTADO
tratos infantis ou agressões. as notificações devem ser feitas.
perante a Autoridade Policial,junto ao Minisrério Púhlico (Pro- É uma declaração particular sucinta em que se afirmam a
moto1ia da Infância. Adolescência e Juventude) ou ao Conselho vaacidade de certo.fato ndontnlôgico e as conseqüências deste
Tut.elar da Infância, Adolescência e Juventude da região em que que implicam providências administrativas,judiciárias ou (>fici-
o fato tenha sido constatado. osas, relacionadas com o clieme.
As notificações de l\cidenies de Trabalho são feitas atra· É mister lembrar que ao cirurgião.dentista só é permitido ates.
vés de documento próprio, a CAT (Comunicação de Acidcn· tar, certificar, testemunhar ou declarar, para qualquer fim. o que
lc de Trabalho), cm seis vias. a primeira das quais deve ser tenha examinado ou verificado pessoalmente.
encaminhada, inconlinenti, à Agência local do Inslituto A competência do cirurgião.dentista para atestar. no setor de
Previdenciário. sua atividade profissional, estados mórbidos e outros e, inclusi-
Pode ser o caso da Autoridade Sanitária. como. por exemplo, ve. para justificação de faltas às tarefas haNtuais. é conferida pela
Diretor do Centro de Saúde I a cuja jurisdição esteja submetido. Lei Federal n.º 26.215. de 30.06.75. que altera a redação do item
Em toda localidade em que exista pelo menos um Centro de III do ai1igo 62 da Lei Federal n." 5.081, de 24.08.68. que regula
Saúde. este será o Centro de Saúde I. A essa autoridade dírígir- o exercício da Odontologia.
se-ão a:s notificações referentes a moléstias inf(?cto-contagiosas De modo a que cumpra suas finalidades legais. e a fim de que
de notijkarãn compulsória (CP, art. 269). o cirurgião-dentista tenha sua responsabilidade resguardada, o
A notificação odontológica. para que cumpra suas finalida· atestado odontológico deverá conter:
des legais, e a fim de que o cirurgião-dentista tenha sua respon- + a identificação do paciente: nome, R_(L e endereço
sabilidade resguardada. deverá conter: (opcional);
• a identificação do paciente (nome, R.G., endereço); +a finalidade para a qual foi expedido (fins trabalhistas.
+ a informação acerca do alo profissional realizado ou da escolares. despo11ivos etc.; não se deve utilizar o chavão
constatação que foi feita duranlc o atendimento, sem risco "para os devidos fins");
de cometer infração fttica por revelação de segredo (m1. 9.", + horário e a data cm que o pacieme foi acendido;
~ 1." do Código de Etica Odontológica, 11ide Apêndice 2): • se for recomendado repouso. este será indicado em horas
sendo certo que poderá ser ulilizada a CID· l O(Classifica. (24 horas. 48 horas etc.);
ção Internacional das Doenças, versão lü. vide Apêndice + quando houver necessidade de revelação do diagnóstico ou
5); da intervenção praticada, utilítar a CID- l O(Classificação
• horário e a data em que o paciente foi atendido; Internacional das Doenças, vJrsão IO, vide Apêndice 5),
+ local e data do atendimento: recomendando.se que o paciente assine a rodapé do ates-
• assinatura do cirnrgião·dentista que está realizando a no- Lado anuindo com a puhlicidade do seu diagnóstico, evi-
tificação: tando-se o cometimento de infração ética por revelação de
+ carimbo esclarecedor do círnrgião-dentista, com nome e segredo (art. 9.", § I .º do Côdigo de Ética Odontol6gica,
número do CRO. mesmo quando for utilizado o impresso i•id<? Apêndice 2):
do receilmírio. • local e data da expedição;
+ assinatura do cirurgião-dentista responsável pela declara-
ção;
MODELO + carimbo esclarecedor do cirurgiâo·dentista, com nome e
número do CRO, mesmo quando for utilizado o impresso
do receituário.
A emissão de atestado odontológico falso avilta a classe
NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA Odontológica e infringe normas do Código de Ética Odontoló-
gica, sujeitando o infrator às penas previstas no Art. 22. do re-
D· NONONO NONONONO ferido Estatuto (vide Apêndice 2). Além disso. considerando
que o c:irurgíão·dcntista é quem medica a cavidade bucal, o
C ·urgião,Dentista - CRO·SP nº 00000
profissional que fornecer. de favor. ou vender um atesuido odon-
~ua dos Cocos, nº 00- São José Rio Prelo-SP tológico falso. praticará o crime capillllado no Art. 301 ou 302
s- D retor do Centro de Saúde 1: do Código Penal: ·'Falsidade de atestado médico•·. Caso a
Odontologia não fosse considerada uma ciência médica, como
NOTIFICO a V" S" para fins sanitários. que, no dia de hoje, consultei de fato é, aplicar-se-ia o A11. 299. do refe.rido Diploma Legal:
o oacie.,te:
"Fais idade ideoló~ica ".
Documen1os Odo11wfogais 127

MODELO MODELO

ATESTADO ODONTOLÓGICO LAUDO DE EXAME DE


CORPO DE DELITO
LESÃO CORPORAL
Dr. NONONO NONONONO
Cirurgião-Dentista - CRO-SP nQ 00000
Rua dos Cocos. nº oo - São José Rio Preto-SP I. PREÂMBULO
ATESTADO
Examinamos. a partir dos três (03) dias do mês de maio (05) do
ATESTO, para fins escolares (trabalhistas ou desportivos), que, no ano de mil novecentos e noventa (1990), no Setor de Perícias Médi-
dia de hoje, o paciente: co-Legais de XXX, Estado de São Paulo. atendendo requisição da
Exma. Sra. Dra. Delegada de Polícia Titular da Delegacia de Defesa
Sr. VO, RG nº 00.000.000-X, domiciliado na rua das Amoreiras, nº 9999, da Mulher local, para proceder ao exame médico-legal, clínico e radi-
bairro dos Frutais, desta cidade, esteve sob meus cuidados profissi-
onais em virtude de CID-10 nº K04.8 (cisto periapical), tendo sido sub·
ográfico, da situação atual de implantes dentários agulheados realiza-
metido a procedimento cirúrgico das 14:00 às 16:00 horas, sendo- dos na vítima N. N., de modo a responder aos quesitos Qferecidos pela
lhe recomendado repouso por 48 (quarenta e oito) horas, além da me- DD. Autoridade Policial. Assim, tendo realizado os exames possíveis
dicação prescrita. julgados necessários. passamos a dar o seguinte LAUDO PERICI-
AL.
São José do Rio Preto, 00 de junho de 2002

Assinatura do CD:

Carimbo
II. HISTÓRICO
De acordo: Tratam os amos de um INQUÉRITO POLICIAL (B.0. No. 55555/
91 ). instaurado pela Sra. Dra. Delegada de Polícia Titular da Delegacia
Assinatura do paciente: de Defesa da :vt:ulher de XXX (SP). que apura Lesões Corporais e em
que figura como vítima N. l\.

RELATÓRIO III. IDENTIFICAÇÃO


É um documento que exige compromisso prévio, que obede- Acompanhando a Requisição. compareceu na sede deste Setor de
ce a determinada formalidade, minucioso e que deve contribuir Perícias Médico-Legais:
corno esclarecimento de um ou mais fatos de ordem odontoló- N. N., RG n.0 0.000.000, filha de N. O. e de A B. J.. brasileira, sol-
gica. O Odontolegísta é dispensado desse ato, porquanto tem teira. do lar, natural de V (SP), com 44 anos de idade, residente e
compromisso permanente, enquanto no exercício de sua função, domiciliada nesta cidade na rna Projetada Noventa e Nove, Nli. 001.
junto à Secretaria de Segurança Pública ou assemelhada. Jardim Santa Apolônia.
O Relatório denomina-se laudo quando é escrito pelo próprio
perilo (e.g. Laudo de Exame de Corpo de Delito): designa-se
como auto quando é ditado pelo perito ao escrivão kg. Ata de IV. EXAMES REALIZADOS
Exumação).
Do Relatório devem constar, nece.r;.mriame11te, as seguintes Na seqiíência de exames realizados, a metodologia seguida. confor-
partes: me as reeomendaçües habituais, foi a seguinte:
a) PreâmbultJ, que é a introdução: refere-se ao local, à data e a) exame clínico, médico-odontológi<:o. da vítima não apenas da
à hora da perícia, à autoridade requisitante, aos peritos região onde se locali:t.am os implantes agulheados. mas das dife-
designados, à identificação da pessoa a ser periciada, ao rentes regiões de cabeça e pescoço como um todo:
exame a ser realizado e aos quesitos a serem respondidos. b) estudo radiográfico do crânio, em nom1a frontal e lateral. por raios
b) Histórico ou Comemorativo, que é um relato sucinto, ain- X simples, de alta re1,olução;
da que completo, do fato justificador do pedido de pe1ícia. <:) estudo radiográfico das mticulaçücs têmporo-mandibulares, bi-
lateralmente, visando verificar eventual seqüela de comprometi-
e) Descrição ("vis um et repertum"), que contém, com lodos mento morfofuncional:
os detalhes, os achados objetivos e suhjetívos dos exames d) estudo radiográfic.:o, panorâmiw, orloplanátic:o. de ambas as
realizados. arcadas den1á1ias, superior ou maxilar. inferior ou mandibu-
d) TJiscussão. que é o debate, a confrontação de hipóteses, as lar:
controvérsias possíveis de cada caso. e) estudo radiográfico por chapas periapicais, das utilizadas em
e) Conclusão. que é a ilação tirada com a análise dos dados odontologia. cfeLuado com equipamento convendonal, para ve-
descritos e discutidos. a posição final procurada pelo re- rific;ar detalhes da inter-relação dos tecidos da vítima com as
querente da perícia. hastes metálicas utilizadas para os implantes.
f) Respostas aos Quesitt1s, o que permite a formação de juízos Todos os exames radiográficos foram realizados cm Serviços habi-
de valor, quer pelas partes, quer pelo Magistrado. litados e por Profissionais radiologistas.
128 Documnuo.~ OdonwLegais

um conjunto de três ou trípmlc. locali;tado na projeção


V. RESULTADOS do segundo pré-molar e primeiro molar esquerdos.
a.2- as hastes ela maxila dispôem-se em três conjuntos de três
Reali:.mdos os exames supra-referidos, foram ohtidos o~ seguintes elementos ou trípodes, 101,;alízados. aproximadamente:
n:sultados: na projeção dos caninos superiores, bilateralmente; e
na projeção do primeiro pré-molar à esquerda (é a haste
bucopalatina dessa trípode a que fa7, protrusão no as-
soalho da fossa nasal csquerdai, e
V.1 - Exames Clínicos um conjunto de quatro, na projeção do primeiro ao
Vítima de sexo feminino, leuco para xantodcrma, de fenótipo segundo pré-molar, à direita.
mongolóidc. cabelos castanho-es,'.uros, líssótricos, ligeiramente a.3- Diversas hastes que ~e (01,;alizam nu arcada superior atra-
emaciada para a idade e caracteres SQtnatocutàncos. vessam os antros maxilares, fixando-se tão-somente em
Na cavidade oral. a vítima exibe duas próteses provisórias. comple- dois pontos exíguos da cortical da cavidade: um inferior,
tas, fixadas temporariamente nas extremidades dos implantes inseridos que transfixam, e um oucro superior. no qual se inserem.
nos arcos, contendo 14 elementos a superior e também 14 dememos a b) Reabsorção do osso malar, ao nível da in.<.erção das próteses, mais
inferior. todos de resina sintética. mostrando ampla abrasão na face evidente à csql1crda:
oclusal das peças médio-postc:riores. com desgaste instrumental, que c) Ausência de material de ostcogênese junto aos implantes;
aboliu eompletamente a escultura dos tubérculos mamilares dos mola- d) Espessamento da mucosa dos antros maxilares, de maneira mais
res e pr.5-molares. de ambos os lados. acentuada il esquerda;
Mobilidade real, relativa e absoluta, das próteses. a expensas de e) Conservação da eqrutura e funcionalidade das articulações
mobilidade das hastes metálicas implanr.adas, mais evidente para os têmporo-mandibulares. bilaternlmentc.
movimentos de htteralidade ( vestíbulo-lingual e vestibulo-palatinaJ.
produzidos pela mão do examinador.
Queixa referida de pan:stesia espontânea. sob a forma de fo1miga-
mento. no triângulo do nervo mentoniano. no lábio inferior, à esquerda.
V.3 · Avaliação Psicológica
Dores referidas, "em choque··. na mesma região supramencionada. A avaliação psicológica clínica. perfunctória, mostra alterações
do lábio. inclusive com o contai() lingual e dos próprios alimentos du- reacionais manifestas da dinâmica emocional da vítima, que acabam por
rante a mastigação. perturhar seu relacionamento ínterpesso.il, e que apresentam. como ponto
Dores referidas à pressão da oclm,ão, na borda interior da mandíbu- de partida referido e manifesto:
la, na projeção da localização anatômka dos caninos inferiores e que.
do lado e.~querdo. se corresponde com a borda inferior da rcgiào de • a efetivação dos implantes:
parestcsia .supra-referida. a realização objetiva de custos elevados. com acentuada diminui-
Dores referidas quando da mastigação. que levam à impossibilida- ção patrimonial:
de de ingestão ele alimentos sólidos. desde a data da intfüvenção cinír- inkio e manutt·nção de um quadro doloroso crônicQ com
gica bucal, levando a um regime alimentar exclusivamente líquido, agudizações funcionais: e
semilíquido e pastoso. Emaciação evidente, que a vítima informa ter sido aparecimento progressivo de manifestações que se relacionam
em tomo de dez í I O) kg no prazo de um ano. com o insucesso sulljctivo, cm tese. do método escolhido, como:
Dores referidas mm hiperestesia cutânea, quando da deambulação dores,
e à palpação. nas regiões malarc~. bilateralmente, mas com predomínio quadro intlarnatório e infeccioso imediato,
à esquerda, com as características da~ que se observam nas sinusitcs, mobilidade progrc~siva das pníteses,
agudas e crônicas, e o achado clínico dep,mde de comprovação radio- alterações precoces da odusão.
gráfica. abrasão empírica das superfícies oclusais,
Oisanria para a emissão de algumas vogai~ que exigem maior aber- dores nas artirnlaçõcs têmporo-mandibulares.
tura. atribuída pela vítim,1 às dores que sente, hilatcralmente, ao nível restrições funcionais da mastigação.
das arlicu\ações têmporo-mandibulares. emaciação com perda de peso progressiva,
Telangiectasias periorificiais na narina esquerda. sinusite crCmi1,;a,
Edema da mucosa nasal, mais imponante à esquerda. receio de contaminação pela haste exposta.
Elemento de consistência metálica, de 2,0 111111 de comprimento.
protruindo do assoalho da fossa nasal esquerda. perceptível pda obser-
vação direta. com espéculo nasal. e pela percussão com instrumentos
metálicos. VI. DISCUSSÃO
Alteraçôes psíquicas reacionais, com significativa iníluência no com-
portamento social. O implante selecionado é o dQ tipo agulheado, idealizado pelo pro-
fissional francês Jacques Scialom, por vezes também grafado Seialom.
A recomendação principal do autor rnnsiste cm cuidar de aplicar as
V.2 - Exame Radiográfico agulhas de tântalo. de tamanho adequado a cada sirua~:liu. à direção dt
implanU! e à área dt.fi.wçlio. de preferência em númera de três - ex-
A observação dos numerosos filmes radiográficos obtidos pelas ceto nas loca)i;taçf>es cm que tal seja imprat.ic.:.ívcl- de modo a formar
:1,(>dalidades técnicas supra-referidas põe em evidência que a vítima uma trípode ou tripé que equilibre e dispers.: a distribuição de forças
~'.'Tt',t'llta: através de cada uma das hastes.
.: , .\ ! últiplas hastes, de densidade radiográfica metálica, implanta- Quanto à direção da~. agulhas:
J,1, na mandíbula (em ntímero de 09) e no maxilar supe1ior (e.m a) No maxilar superior. wm osso remodelado. duas hão de ~er
:1ti111ero de 13): hucopalatinas - urna rnesiodistal e outra diswmesial - e uma
.J .• - as ha~tes da mandíbula dispõem-se em três conjuntos de terceira. palatobucal. de modo a formar a trípode já referida .
Jua,. localizados. aproximadamente, a saber: b) Na mandíbula. com osso remodelado, mm os devido!. cuidados
na projeção do incisiv<J lateral esquerdo; nas regiões posteriores aos fcmuncs mentonianos, em vütudc da
na projeçã(I do canino direito e topografia do 11nvu dentário inferior e da fossa da glá11dula
na projeç,'ío do ~egundo pré-molar a primeiro molar subma11dihular, duas serão colocadas na direção linguobucal -
Jin:ic.1,: e uma no senlido mesiodístal e outra no sentido distmnesial ·- e
Documemos Odonrolegais 129

uma terceira. mais cuna, de direção bucolingual. Eventualmen- Ao 2.º - Quais os tipos de irnplanle demário indicados para a vítima
te. em casos tle desdentados totais mandibulares, as três agulhas, especificamente?
de cada lado, podem ter a direção li11g1wb11cal. RESPONDEMOS: Pela segurança. biocompatíbilidaclc e boa incor-
poração ao organismo tio paciente, os mais modernos, tlilos de rosca ou
Quanto à profundidade de inu·odu~ão das aguU1ill!:
parafu~o.
a) No maxilar, a ponta ativa da agulha deve lerminar: Ao 3.º -Quais os critérios seguitlos para intlicar esse tipo tle implan-
a.1- na cortical da fossa nasal; tes'!
a.2- na co1tical do seio maxilar; RESPONDEMOS: Os critérios gerais para a indícac;ão de implan-
a.3- na junção das tluas corticais da fossa nasal e do seio: tes são:
a.4- na rafe palatina;
a) desdentados totais:
a.5- na espinha nasal ântero-infcrior; ou
b) desdentados parciais:
a.6- no processo pterigóide.
c} com estahiliLadores endodônticos intra-ósseos:
b) l\a mandíbula, a ponta at.iva da agulha deve ten11inar ~ernprc na
d) reimplantes; e
cspes~ura do osso.
e) frat.uras do maci~·o facial.
c l Em todus os ca~os, deve-se evitar atingir ou aproximar-se dos
revestimentos mucosos. porquamo. se isso aconcecer. a extremi- Ao mesmo lcmpo, tlevem inocorrer as contra-indicaçôes, quer de
dade da agulha poderá transformar-se quer cm um ·'corpo estra- ordem geral (definitivas ou temporárias), quer de ordem local.
nho''. quer em uma fome de irritação local, qm:r em poita de Os peritos signatários não dispõem de elementos para inforrnar quais
entrada de eventuais infecções, porquanto é criada uma solução os critérios seguidos pdo profissional. no caso sub examine.
tle continuidade n<.l isolamento cutâneo-mucoso. '."lo caso tia Ao 4.º - Qual a margem de segurança oferecida por esse tipo de
mandíbula. em particular, deve evitar-se a proximidade da ponta implante? Em que se baseia?
at.iva das agulhas com o periósteo. por ser esta a parte incrvatla. RESPONDEMOS: A margem de segura1u;a oferecida é boa, desde
sensível às pressf>es e tli~tcnsõcs. que ,realizado dc:mro tias normas que regem a sua opcral'Íonalizay,'io.
Quanto à posição do vh'tex 011 dpice dus lrípodes .... os pilares-, Es.sas normas baseiam-se cm um estudo clínícQ prévio do pacícntc. de
a recomendação é escolher, de preferência e bilateralmente, a pn.>jcção preferência multitlisciplinar, visando analisar suas condiçôes físicafo.
equivalente aos caninos e entre os primeiros/segundos molares. de for- gerais na procura de alguma das causas de contra-indicação, sua adap-
ma il possibilitar um conveniente apoi<.i mcciinico da meso e da supra- tabilidade à técnica dr. implante e ao uso da supra-estrutura final, sua
estrutura. hiocompatibílitlade individual com relação ao material do qual é com,-
tiluído o implante I tântalo. vanádio, carbono-vítreo etc.). avaliação das
condições psíquicas gerais.
Ao 5." .. Qual o percentual comprovado, pela literatura científica,
VII. CONCLUSÃO da eficácia desse trabalho frente ao controle do tempo? Qual o prog-
nústiço'?
RESPONDEMOS: Segundo os critérios da Conferência de Harvard.
Oo exposto. rnnduímo~ que a vítima sofreu lesões corporais de cm 1978 - citados por Constantino, A. Integração dos Tecidos a Im-
natureza grave, com incapacidatlc para as funções habiluais por mais plantes Orais. Rei•. Assoe. Paul. Cir. Dnu.,45(1):373-nS, l 991 - , que.
de trinta (30) dias. pelo tipo tle irnplanle usado na vítima. seriarn os aplicáveis. dever-se-ia
esperar uns 75% de êxito com pcnmmcncia do sistema cm funçãQ. pelo
menos. durante 5 (cinco) anos, defo.cle que tenha sido correta a indica-
------------·-----·
ção, .idcquacla a escolha da técnica e tios materiais e inexistam quais-
VII. RESPOSTAS AOS QUESITOS LEGAIS quer causa~ gerais, locais ou individuais de contra-indicação. Dadas
todas as contlicionantes, o prognóslico sói ser bom.
Ao 1." - Há ofensa ã integtidade corporal ou à saúde da paciente? Ao 6. 0 - O implante selecionado eMá corretameme colocado'?
RESPONl>EMOS: Sim. RESPONDEMOS: No caso .rnh <'xwnin~, no conjunto do trabalho
Ao 2.º - Qual o instrumento ou meio que a produziu'! e considerando cada gmpo de hastes, muito embora tenham sido utili-
RESPONDE.MOS: Instrumento perrurantc. zados implantes agulheados tio tipo Scialom, tanlo o número de agu-
Ao 3.º-1-'oi protlu,.itla por meio de veneno, fogo, explosivo. asfixia lhas quanto a direção das agulhas. bem como a profundidade de in-
ou torlura, ou por outro meio insitlioso ou .:mel? .~erçãt1 das agulhas, o cmnprime11ü> constante e o pt1.~idonamen"1 d,>.t
RESPONDE\.'IOS: Prejudicado. pilares. parece 11ãa estarem de acordo com ,,s princípios do método,
/\o 4.º - Re~ullará incapacidadc para as ocupações habituais por mais nem com as diretrize.~ da técnica recmne11dada.~ pelt1 seu idealizador.
de l1inta (.10) dias; ou perigo de vida: ou debilidade permanente de ór- Quanto ao critério de "correção", o mesmo, porquanto subjetivo.
gão. sentido ou funçfao? extrapola tia objetivitlade exigida de: um Laudo pericial, que se cinge.
RESPONDEMOS: Sim: resultou, pelo menos, im:apacitlade para apenas, ao visum et repertum dos falos.
as ocupações habituais por mais de trinta <30) dias. Ao 7." - As reações adversas apresentadas são comuns nes~e tipo de
!\o 5.º - Resultará incapacid,1dc permanente parn o trabalho, ou en- implante'!
fermidade incurável. ou perda ou inutilização de membro, sentido ou RESPOKDEMOS: Sim: encontram-se no rol tias reaçôes que po-
função; ou deformidade permanente? dem ser previstas para o implante agulheado de Scialom.
RESPONDEMOS: Depende de exame complementar. Ao 8." O quatlrn tlolomso, a prcsença de sinusite .intromaxilar, a
perfuração da mucosa nasaL a parestesia parcial do láhio inferior. são
dccorrêndas normais nesses tipos de implante!.'?
RESPO~DEMOS: l\'ão. desde que se tenham scguitlo à risca as
VIII. RESPOSTAS AOS QUESITOS diretrizcs técnicas e as recomendações do idealizador, dentro dos pa-
tlrões habituai~ e mínimos da profi~sào de otlontülogo. Com efeito, o
ESPECh"'ICOS quadro doloroso, afora aquele oriundo da sinusite. é tlernrrência do
contalo direto da ponta ativa de algumas agulhas com estruturas sensí-
Ao I ." - i\ vítima tem indicação segura para ser implantada (implanle veis, e.g. o pcríósteo mandibular ou a mucosa palalina. A .ü1111sire
dcmário)? wllromarulilm/w· parece re1,ultar tia invasão dos antros maxilares pelas
RESPONDEMOS: Sim. em virtude da idade. do sexo e deserdes- agulhas que, ora como corpos estranhos. ora como vi.is de facilitação,
dentada completa, de longa data. cm razão de acitlente. com osso remo- propcndcm a criar e manter a infecção no local. A perfiuw.;iio da muco-
delado. sa nasal pare<·e resultar de uma penetração excessiva tio implante
130 D0c1111u!11tos Odontolegaís

..igulheaJo além do plano recomendado pela técnica. A parestesia par- Ao 17.0 - Os prnhlcmas advindos à vítima com o início dos implan-
áal du lábio in/àior. ainda que possa ter origens múltiplas. não pode tes, especialmente o estado doloroso, são passíveis de incapacitá-la para
descartar-se que resulte de lesão irritativa ou compressiva do nervo suas atividades habituais? Em caso de resposta afinnaliva, durante quan-
111e11/múario. to tempo? Houve incapacidade para as atividades normais no período
Ao 9.º - Quais os danos que desse tipo de implame podem advir? compreendido entre o início do tratamento até a presente data?
RESPONDEMOS: /\forn outros que possam ser detectados. indi- RESPONDEMOS: Sim. Desde a efetivação dos implantes e até a
vidualmente. os implames agulhel!dos podem ocasionar (e/: Lemos, completa res1itu1io in integrwn. física e emocional da vítima. Sim. total
J.L.R. et ai. Rev. A.~.rnc. Paul. Cir. Dent., 44(6):349-352. 1990): e pemmnc:nte no lapso questionado.
a J osteoporose: com Ao 18.º - Há "lixamento·· nas próteses provisórias?
b) reabsorção óssea periimplantar: RESPONDEMOS: Preliminarmente, mister esclarcc·cr que, em lin-
c) ullrapas&agem do assoalho das fossas nasais: guagem técnica, não há se falar em ·'[ixamento" e, sim, em ''desgaste",
d) ultrapassagem da cortical dos antros maxilares; uma vc;: que a abrasão não é feita por ·'lixa'', antes por instrumentos
e) uhrapassagem da tábua externa da mandíbula: rotatórios, de alta ou baixa velocidade. No caso, sim. há desgaste por
t) ultrapassagem da tábua interna da mandíbula; e abrasão instrumental das superfícies oclusais dos elementos prnvisóri-
g) agressões ao nervo mandihular ou alveolar interi<lr ou a seus ra- os. Citado desgaste foi efetuado mm instrumental próprio. de baixa
mos. rotação. de tipo odontológico - provavelmente broca, pedra. esmeril
e/ou .. borracha··-, porquanto. nas bordas de junção da face odusal com
Ao 10.º - O trahalho de implame está concluído? as outras circundantes (distal, mesial. vestibular e lingual/palatina), ve-
RESPOl\DEl\10S: O implame propriamente dito, isco é, a inser- rificam-se arredondamemos, que somente poderiam ter sido produzi-
ção das agulhas ou hastes metálicas. sim. Não o trabalho como um todo. dos por instrumentos apropriados, cuja flexibilidade de movimenh.,s
porquanto falta a colncaçao elas meso-estruturas e das supra-estruturas possibilitaria esse tipo de acabamento.
definitivas (próteses fixas ou pontes fixa~. superiores e inferiores). Ao 19.º - No caso de '·Jixamcnto" na pr<'itcsc provisória. esta pode
Ao 11.º - O implante realizado foi bem-sucedido? acarrelar, cm c-onscqüência, uma disfunção na ATM (articulação
RJ.:SPONDEMOS: Não. O sucesso do implante, pelo menos e.la lêmporo-mandihular)"!
parle já c<mcluída, ou seja, da inserção das agulhas metálicas, só pode IU;SPOl'i'DEMOS: Poderia, cm tese. Todavia, nào dispõem os Pe-
ser avaliado através da biocompatibilidadc do material das hastes com ritos signatários de elementos comparativos - pré e pós-desgaste --
os tecidos da vítima, evocando uma adequada osteogê11ese jllntt> ao.~ para concluir.
implante.~. e das próprias agulhas como elementos mecânicos. não ge• Ao 20.º - Esse lixamemo pode provocar dores?
ra11da reaçi'iex nas estruturas que perfuram ou que transfixam. RESPONDEMOS: Não nas prôkses provisórias. como é curial.
Ao 12.º - A dor g.encrali:.rnda, :1prcsentada pela vítima duranle a porquanto são de material plástico (próteses provisórias de acrílico).
mastigação, é normal? Todavia, elementos como: as modilicaçõcs da oclusão, a ocorrência de
RESPONDJ.~MOS: Não. e muito menos depois de tr.mscorrido mai.~ eventuais neoponlos de trauma, as necessárias rnicrovaiiaçtics da dimen-
de um am, do inÍl:io do procedimento. Referida dor pode resultar da são vcnical e o eventual aumento dos movimentos de lateralidade po-
proximidade da ponta ativa das agulhas implantadas com o periósteo, dem, ao serem mantidos no tempo, provQçar dores musculare& e/ou ar-
na mandíhula, e do c{mtato das ha.~tcs metálicas com a mucosa nasal. ticulares conseqüentes. tanto na fonação como na mastigação.
mucosa dos antros maxilares e. eventualmenle. elementos musculares Ao 21." - Havendo lixamento, o conseqüente desgaste feito na pró-
ou outros da fossa ptcrigóidea. à direi ta. ou de suas adjacências. tese provisória modifica a dimensão vertical e os movimentos de
Ao 13." - As pníteses instaladas sobre os implantes estão correta- lateralidade?
mente adaptadas'! A oclusão das próteses está perfeita? RESPONUE.\.10S: Sim. Quanto à dimensão vertical, obtida pelas
RESPOl'i'DEMOS: ~ão. A oclusão das próteses é imperfeita ou moldagen1, sucessivas e reproduzida pelo protético no a1tículador, é
parcial. evidente que qualquer desgaste por abrasão. notadamente importante,
Ao 14.º- No entendimento dos Senhores Peritos, o implante resul- como o observado na vítima - onde foi retirada lotai mente a escultura
tou eficiente? Ou deve ser conservado, removido ou receber algum tra- das cúspides na superfície oclusal dos elementos posteriores: molares e
tamento acessório? Por quê'! pré-molares-, acabará por modificar. a menor, isto é, diminuindo-a, a
RESPONDEMOS: Não. As agulhas ou hastes metálicas devem, s. dimensão vertical. Quanto aos movimentos de lateralidade. eles são
m. j .. ser removidas, im:ontinenti, de preferência cm amhicnces hospi- possibilitados, favorecidos ou aumentados pelo desgaste. uma vez que
talar. c.:irúrgico e SQb anestesia geral. de modo a possibilitar uma assepsia tal procedimento elimina os pomos de interferência das superfícies oclu-
adequada, a realizar toda a remoção em uma única se:-são, e com o menor sais cotTespondentes.
trauma, e a evitar comaminações. Em vi1tude dos processos reacionais Ao 22.º - É possível que um profissional qualificado faça tal des-
que já se desenvolveram- osteoporose--. bem como pelo desconfor- gaste a ponto de provocar uma disfunção na ATM'J
to funcional a que est,i submetida a vítima. chegando até a provocar RESPONDEMOS: Não, cm tese, mormente se se trata de um ''pro-
alterações reac.:ionais manifestas da sua dinâmica emocional, que aca- fissional qualificado'·. pois que, se tal fosse. caso verificasse nofóllow-
bam por perturbar seu relacionamento interpessoal. e que apresentam, up da vítima um desgaste excessivo cm algum ponto, poderia, inconti-
como pomo de partida evidcme. afora outro.~ subjetivos. a efetivação nenti, conigi-lo, justamente por tratar-se c.lc um trahalho provisório e
dos implantes c:: o início e manutenção de um quadro doloroso crônico cm acrílico, mcdiame reemhasamcmo, suplementação ou outro acrés-
com agudizaçõe1, funcionais. cimo, de modo a impedir que a disfunção da AT!\1 se instalasse. já que
Ao 15.º - Caso seja indicada a remoção dos implantes. há necessi- esta é um processo 4ue leva c-erto tempo para se estabelecer.
dade de tratamento a posteriori'! Quais? l\"ada mais havendo a relatar. foi encerrado o presente Laudo.
RESPONDEMOS: Sim. Odontológicos, para adaptação de próte-
~c:: môvel; clínirns gerais. odontológicos e médicos: psicocerúpicos, como São José do Rio Preto, IO de junho de 1991.
técnica de apoio para conciliar a accüaçào de suas frustraçôes c.:om o
inqiçc5so da téçnica em fac·c do elevado custo material e emocional <la Dr. Jorge Pault'te Vanrell Dr.----- - - - - -
1cma1iva. Perito Executor Perito Subscritor
..\o 16.'" - Restou ou há possihilidade.<; de restar alguma modalidade
d<' ,c>qüt'.la à vítima em virtude dos implantes? Em c·aso alinnativo. esta
.: ;-;;-\·cr-.í,·cJ ou niio?
RESPO~DF.MOS: Sim. a reabsorção óssea. bem como a sim11;ile PARECER
,fr,, .intn" maxilares. além de alterações graves da dinâmica emocio-
nal. Toda, :1, três podem ~er reversívcis, mas nenhuma espontaneamente. É a resposta escrita a uma consulta formulada com o intuito
e.\igindc, tr;m1mc::ntos espcciali,.ados, dispendiosQs e duradouros. de esclarecer questões de interesse jurídico. feita pela parte ou
Documer1.1os Odontolegaís 131

pelo advogado de uma das panes em processo judicial


(consulente), procurando interpretar e esclarecer dúvidas levan- li. EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS
tadas em relação a um relatório odontolegal. Em regra, é ende-
reçada a um profissional que tenha competência especial sobre A 1. Consulente formulou ao signatário algumas dúvidas térnica<
e preocupações que a assaltaram após ler sido submetida a procedi-
o assumo, quem dará a sua opi11iiio pessoal sohre a matéria. sen-
mento odontológico pelas Dras. E. M. M. e L. H., com o escopo de!
do esse parecer passível de juntada nos autos do processo judici-
colocar prótese dentária fixa que incluiria os incisivos centrais supe-
al. riores, bilateralmente (11 e 21). e o incisivo lateral direito superior ( 121.
O valor e credibílídade do parecer dependerá do prestígio. bom feitas as moldagcns de praxe e confeccionados os núcleos, estes fo.
conceito, renome científico e moral usufruído por aquele que o ram cimentados, cm caráter definitivo, no~ respectivos canais previa-
emite (parecerista). Trata-se de dornmcnto pm1íeular, unilate- mente preparados. Foi colocada uma prótese provi&ória, que incluía
ral, que não exige compromisso legal do parecerista, donde que as três coroas unidas em uma só peça, cimentada de forma temporá-
nunca se possa enquadrar como falsa perícia. ria.
O parecer não tem fonna fixa, seguindo, aproximadamente. No dia em que deveria ser feita a prova das comas definitivas. a pró-
tese provisória não soltou às manohras habituais. porquanto estaria ade-
a mesma seqüência do rclat6rio, com as seguintes partes:
rida muito finnemenle aos núcleos. Por mais que a Ora. E. M. ~t. reria
a) Preâmbulo. que é a introdução, onde devem constar, além forçado a retirada, não conseguiu seu intento. Foi-lhe sugerido pela
do nome, todos os títulos do parccerista e o nome do Examinada que a prc;ifissional inutilízassc a prótese provis6ria, promo·
con8ulente, bem como a forma como foi feita a consulta. vendo a sua retírada;após coitá-la com broca ou com disc:o diamanlado.
:r;e por escrito ou oralmente. A Dra. E. M. M. preferiu utilizar alavanca. servindo de escopro, e mar-
telo. e, com grande violência, conseguiu a retirada da prótese provisó-
b) Expt>sição de Motivos, que é um histórico do caso. onde
ria, .uTanrnndo, no mesmo ato, os núcleos que já se enconu·avam cimen-
são relatados os motivos da consulta e transcritos os que- tados, de. maneira definitiva. A I. Consulente refere que, no momento.
sitos (caso lenham sido propostos). sentiu muita dor.
e) Db,cw,sãtJ, que é a parte mais importante do parecer, onde Os núcleos armncadüs teriam sido recimentados, logo a seguir, e
é feita a análise de fatos e documentos, formuladas hipó- cimentadas as coroas defütitivas, sendo certo que a Examinada refere
teses plausíveis, feitas as deduções fundamentadas. que que, nesse momento, o incisivo çcntral superior direito ( 11) ficou com
servirão de alicerce para a elucidação das questões propos- mobilidade ("balançando". si('). lnicíalmenle, a região leria ficado muito
tas. Nessa parte cabem citações e referências bibliográfi- dolorida e, com o correr dos dias, apareceu uma fístula na mucosa vcs·
tibular da gengiva superior. na ~m~jcção da rai,. <lo incisivo central su-
cas que orientem o consulente para a compreensão e en-
perior direito ( 11), que aumentou progressivamente.
tendimento da opínião do parcccrista a respeito da ques- A 1. Consulente que teria voltado ao consultório de citadas profissi-
tão proposta. onais, opo1tunidadc cm que a Dra. 1.. H. disse-lhe ser especializada para
d) Conclusão é a pane cm que o parecerista colocará, de fazer o tratamento do canal e que. com auxílio de um "medicamento
maneira concisa, a sua maneira de ver e interpretar os fa- moderno". promoveria a rcçupcração da raiz e do alvéolo <lo osso ma-
tos. xilar. Esse medicamento, confonne. lhe teria sido noti(:iado, calcificaria
e) Re1;pm,tas ao.~ Quesitos, que permitirão a formação de o osso e linnaria novamente a raiz móvel.
juízos de valor, pelo consulente. O processo infeccioso, conu·ariamentc. piorou após a manipulação
da Ora. L. H., razão pela qual a profissional lhe re;:ccicou doses maciça[>
de antibióticos. Esses antihi6tirns acabaram por produzir uma intoxi-
cação medicamentosa, que exigiu tratamento médic:o, sendo certo que.
MODELO na oportunidade, a Ora. L. H. teria se negado a dar quaisquer esclareci-
mentos, pessoal ou telefonicamente, ao médico assistente.
Debelado o processo inkccioso, a Ora. L. H. teria informado à
Consulente que "o pino (núcleo) ultrapassou o âpír:e, sendo encrumdu
no os.m, promcando a reaçiíu óssea. e que a rai::., além de ji·awmdc1.
PARECER ODONTOLEGAL agoru estava perjiirada" (sir.),
As profissionais. Dras. E. M. M. e L. H., a partir de emào, teriam se
negado a cominuar u·atando da l. Consulente, bem cotfül a dar qualquer
solução definitiva ao caso de sua prótese.
I. PREÂMBULO
Eu.JORGE PAl/LETI<; VANRELL.Médico (CRMSPn.º30.697);
Doutor em Ciência.~; fapecialista em Medicina ugal: fapecialista em III. CONSULTA
Medicina dt, Trabalho (Reg. SESMT/MTb n.º 14.049); Ex-Professor
Assistente de Genética Médica e de Evolução da faculdade de Medi- A 1. Consulente solicitou que fossem respondido~ os seguintes que·
cina de Catanduva, SP; Ex-Profe,\·s11r Titular de Psicojisiologia e sitos oficiais:
P~ic11pat11/agia junto ao Curso de l'<,icologia Clínica da faculdade
Riopretense de Fikisofia. Ciências e Letras; l'mfessor de Medicina 1.0 - Há ofensa à integridade corporal ou à saúde do examinado'!
Poreme junto ao Curso de Direito da Univen,ída<le Paulista (C.:NIP), 2.º - Qual a natureza do agente, instrumento ou meio que a produ-
Sfio José do Rio Preto (SP); Pmfessor de Odontologia Legal junco ao 1.iu'!
Curr.o de Odontologia da U'.\llP. Campus JK São José do Rio Preto (SP), 3.º - Foi produzida por meio de veneno, fogo. explosivo, asfixia ou
e Professor de Medici11a Legal e de Crimi,wlogia junto à Academia de tortura, ou por outro meio insidioso ou cruel'! ! resposta especificada)
Polícia de São Paulo, tendo sido solicitado pefa Sra. C. A. para emitir 4.º - Resultará incapacidade para as ocupações habímais por mais
opinião sobre os documentos médico-legais que se encontram encartados de trinta (30) dias, ou perigo de vida. ou debilidade permanente de
nos autos do I.P. n.º l. l l l/01 - 4.º D.P. de XXX (SP), instaurado cm membro. sentido ou função, ou antecipação de parto?
desfavor das Dras. E. M. M. e 1,. H .. tendo realizado as observa~·õcs 5." - Resultará incapacidade permanente para o trabalho, ou enfer-
julgada~ necessárias sobre o material fübmctido à nossa consideração. midade incurável. ou perda ou inutilizaçfü, de membro, ~cnrido ou fun·
passo a dar o meu PARECER. çào, ou deformidade permanente, ou ab01tamcnto?
13~ Oci, Wlll!lltos Odomo/eg(lis

RESPONDEMOS: Sim, debilidade permane.nte da fun~·ão


IV. EXAME E DISCUSSÃO mastigatóría ( 1 %). da função fonétka (8%) e da função estética (6%J.
i\o 5.º- Resultará incapacidade pc:rmanente para o trabalho. ou en-
Além do exame médico legal. e p()r tratar-se de caso especializado. fermidade incurável, ou perda ou inutilização de membro, sentido ou
a Examinada foi encaminhada à Faculdade de Odontologia da Llniver- função, ou defonnitlade permanente, ou abortamento?
~idade Paulista, de modo a que fosse foíta mna avaliação pelos docen- RESPONDEMOS: J\"ào.
tes das respectívas disciplinas. Assim sendo, a vítima foi examinada por: Este é. s.m.j .. o nosso Perecer, sub censura.
Prof. Dr. n. E. C. de T .. Professor Titular de J>eriodontologia da XXX, 01 de abril de 2000.
Faculdade de Odonwlogia da UJ\"ESP, em Araraquarn (SP), e
Profc~sor da mesma Disciplina no Curso de Odontologia da
Prof. Dr. .Jorg~ Paulele Vanrell
Universidade Paulista. Campus JK em XXX; e
Prof. Dr. C. B.. Professor Titular de Prótese üemária da Facul-
dade de Odontologia da t:SP, em Ribeirão Preto cSP), e Protes-
sor da mesnrn Disciplina no Curso de Odontologia da t:nivcrsi-
datlc:: Paulista. Campus JK em XXX.
DEPOIMENTO ORAL
Foram realizadas numerosas rndiogral1as periapicai,- e urna panorâ- É uma informação prestada, de viva voz, coramj11díce, peJo
mica e discutido o caso pelos profíssionaii; odontólogos. oportunidade perito, perante a autoridade policial ou judiciáda, que o registra
cm que. associando a clínica e os dados radiográficos, foi rnnstatada:
por termo, cm asscnlada. 1

• ausência do núcleo mc:tálico no canal radicular do incisivo cen-


tral superior direito (11):
reabsorção do osso no alvéolo do incisivo central superior direi-
to ( 1 1), que apenas recebe a metade a picai da rai:l; CONSULTA
• aumento do cspa,;o perírradicular de rel.:rido elemento dentário;
mobilidade aumentada da raiz elo incisivo central superior direi- É um esclarecimento prestado à Autoridade. em conseqüên-
to (1 l ):
cia de dúvidas ou omis~ücs <lc ordem odontológica.
• tlehilitamento universal das inserções dos ligamentos radieularcs
do incisivo central superior direito ( 11 ).

BIBLIOGRAFIA
V. CONCLUSÃO
Baima Bollone. I'. & Pastore Trossello, ,-;. Medidna l.,egale e ddle
Do observado e exposto. e com base na opinião dos profüsionai~ t1ssicurazioni. Torino: Giappichclli Ed .. 1989.
<.1dontólogos especíalist,L, na área. somos. de parecer 4uc a I. Consulente so- Bonnêl, E.FP. Medicina Legal, 2." ed. (3." reimpressão). Bueno~ Aires:
freu lesões rnrporais de nature.:a grave, t'Om debilidade permanente, na Lopes Ed .. 1980-93.
prática, da função nta<;tig-c1tória. da fi.mção fonética e da ti.mção estética. Bowers. M. e Bcll, G.1.. l'.tan11al of' Forensic: Odontology, Ontario:
A avaliaçào da perda da fun,;ão do incisivo central superior direito ASl:'0. 1997.
(11) da Consulente, de acordo com os critérios habitualmente aceitos. Campos. M.L.B. 1hpeelfü Cl/11iw de la Mala Prmú 1!11 Odo,1folngía.
nacionais e internacion,üs (d. Louis .\1élenncc. Valoraciô11 de las ln: Rodríguez Almada. 11. T>erecho 1'\rlédico, Buenos Aires: B de F
discapacidades y dei dano corporal. llaremo !nt<?nwcio,wl de Ed .. 2001. pp. 108-113.
lnvalidece.1. Masson, Barcelona. 1997). representa uma: Castro. D.A. & Dickcrman, A.R. Compendío de Medidna Forl'nse,
Tegucigalpa, Honduras: Alin Editora, 1995.
perda da função mastigatória de 1 % (um por cenw); Croce, D. & Croce Jr., O. lHanual dl' MN/idno l.egal. São Paulo: Sa-
perda da função fonética da ordem de H% (oito por cento): e raiva, 1995.
perda da função estética da ordem de 6% !.seis por cento). Fran~·a, Ci. V. Medicina Legal, 6." ed.. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
gan. 2001.
- ..- - " · · - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - rranchini. A. Medicina l,egale, 10: cd., Pádua: CEDAM. l 985.
Gisbert Calahuig. J.A. Medicina Legal y Toxicologít1. 5.ª ed .. Barcelo-
VI. RESPOSTAS À CONSULTA na: Masson, 1998.
Graça Leite. \V. Odontologia l.egal. Salvador: Era !\ova. 1962.
Ao !.º- Há ofensa à integridade corporal ou à ~aüdedoexaminado? Paule1e Vanrell. J. Tópícos de Odomo/ogia !.ego/. http://www.pericias-
RESPONDEMOS: Sim. forcnscs.eom.br/publicacoes/olegal.hun
Ao~."· Qual a nature.:a do agente, instrumento ou meio que a pro- Silva, M. da Compêndio dl' Odonwlogia legal, São Paulo: MEDSI,
duziu? 1997.
RESPONDEMOS: Instrumento ,'.onhmdc:nrc. Stimson, P.G. e :\1c1tz. C.A. Forensic: Dentisrry. Boca Ratón: CRC Prcss.
Ao 3.º · Foi produzida por meio de veneno. fogo. explosivo. a,-lixia 1997.
ou tortura, ou por outro meio insidioso ou cruel? ( respo~ta c::spcci ficada) Veiga De Carvalho .. H.: Segre, M.: Mcira, A.R.: Almeida, M.: Russi
RESPO~DEMOS: Sim. meio cruel, em face do arrancamento dos Sahlrn, N.K; Romero Muiíoz, D. & Cohen, C. Compê,u/io de Me-
núcleos. sem anestesia, deixando mohilidade das peças dentárias. nola- did,ia Legal. São Paulo: Saraiva, 1987.
cbmentc do incisivo central superior direito ( 1 J ). Zacharias. M. & Zacharias, E. Dicionário de Mediâria lexal. EDUCA
..\o 4.'' · Resultará incapacidade para as ocupações habimais por mai.~ ·- Edilora IJnivcrsitária Campagnat.. Cuririba, 1988.
Jt' trinta UO) dias, ou perigo de vida. ou debilidade permanente de Zangani. P.: Scíaudonc. G.: Palmieri. V.M. et ai. Medíâna /.,egale e ddle
:11--nJl,ro. ~t'.nLido ou função, ou antecipação de parto'! A.vsicura-;:.imli. Nápoles: Moram,, 1990.
A Perícia ent Odontologia Legal
___
. ___________ ...............
,,,_,,, , ,_,, _____ .. .._._
________, ,, ,,_ ..,......----····-·"""'" .............----·-···-..···------
Maria de Lourdes Borborema Campos

Para obter os arcos ó1;seos limpos:


INTRODUÇÃO
• ferver os arcos assim retirados em água, contendo dclcr-
gente e, em querendo. alguns c1istai:s de soda çfüistica;
Para obter a identifica,·ão de um indivíduo através da Odon-
• realizar, então. a limpeza manual, com rugina (legra) e
tologia l .egal, não resta dúvida de que o mais importante é po-
pinça. dos restos de partes moles;
der fazer um estudo minucioso da denr.adura questionada. de
• proceder, por fim, ao bn1114ucamento dos ossos com água
modo a poder captar o maior número de informações que permi-
oxígenada (30 volumes), onde podem ser deixados 24 ho-
tam a sua caracterização. ·
ras:
Em se tratando de uma ossada, é muiLO mais simples, por-
• secar as peças.
quanto podem se estudar ambos os arcos. superior e inferi-
or. separadamente. Já quando se trata de um cadáver fresco, Com os 01;sos assim preparados, realiza-se. com facilidade, o
completo. ou de uma cabeça decepada - coisa freqüente estudo minudente de ambos os arcos e de cada uma das peças
quando o homicida prclcnde que não se identifique o cadá- dentárias, de modo a obter todas as informações de interesse
ver-, dever-se-á proceder à retirada do arco maxilar e do odontolcgaL para que possam ser tram.feridas para a respectiva
arco mandibular. para facilitar o manuseio, obtendo Ioda a ficha odomológica.
informação dental, inclusive permitir a tomada de radiogra- Uma vez completado esse estudo das peças isoladas.
fias. rearticulam-se os arcos com o auxílio de massa plástica, e toma-
Essa relirada, de forma sistemática, pode ser cf'ctuada pela se uma radiografia panorâmica. a que complementará às primei-
técnica de Luntz: ras, mostrando um grande número de pontos de grande valor na
ídentificação, sendo certo que a documentação radiográfica pos-
• duas incisões bilaterais, nas bochechas, formando um ân- sibilitará um amplo cotejo com qualquer outra radiografia pano-
gulo de aberturn posterior, a partir da comíssura labial de râmica, feita in vivo, ou com as radiografias pcriapicais soladas
cada lado: que tenham sido ohtidas cm consultai-i clínícas prévias.
• a incisão superior prolonga-se até o arco zigomálico: No caso específico dos cadáveres carbonizados. tant(i os den-
• a íncisão interior prolonga-se até o ângulo mandibular ou tes sadios como aqueles que tenham sido alvo de tratamentos
gônio; restauradores resistem bastante i1 ação do calor, quando perma-
• retirar as partes moles da mandíbula (inserções dos mús- necem ín situ. a boca com os lábios lechados (o que é raro). for-
culos mastigadores); mando uma câmara úmída protetora.
• desarticular a articulação têmporo-mandíbular: Dos materiais protéticos, a amálgama é o mais frágil ao ca-
• realizar uma incisão. em ferradura, acompanhando. inter- lor. Já as porcelanas, os compostos (resinas + minerais), os
namente. o rebordo inferior da mandíbula; cementos e o ouro são resistentes ao calor (fundem-se entre 800
• aprofundar essa incisão de modo a alcançar o assoalho da e 1.400 "C),
hoca, secionando wdas as inscrçôcs musculares, até isolar Os f'otopolímeros. cuja cor se assemelha à <los dentes, podem
completamelllc a mandíhula; ser facilmente reconhecidos com o auxílio da luz ultravioleta,
• O arco maxilar ou superior é isolado através de um corte com a qual apresentam lluorescência entre hranco-azulada e bran-
horizontal, feito com auxílio de serra e escopro: co-esverdeada.
• o corte se ínida na espinha nasal anteríor. prolongando-se Nas peças dcnláiias submetidas. cm fnnua isolada, diretamen-
até atingir as lâminas ve11icais dos ossos palatínos e pro- te à aç,fo do fogo. podem produzir-se fissuras _já a 150 ºC Com
cessos pterigôideos do csfcnôidc. temperaturas ele 270 ºC, as raízes tomam-se de cor negra: com
1J..i oi Perícia em Odomologia Legal

A B

e D

Fig. 18.1 A. Passo 1: incisão cutânea, perioral e facial. para delimitar os retalhos (Moditkado de Stimson & Mertz, 1997.) B. Passo 2: retirada dos
retalhos. superior e inferior. deixando exposto o complexo alveolar (arcos dentais) e o ramo ascendente (cérvlco-fatial) da mandíbula. (Modifica-
do de Stimson & Mertz. 1997.) C. Passo 3: Linhas pontilhadas apontando seção transversal dos ramos ascendentes (cérvico-facíais) da mandíbula
(bilateralmente) e incisão profunda paralela à superfície do osso. acompa11hando a horda inferior da mandíbula. de gônion a gôníon, para sci:ionar
as inserções do músculo milo-hióideo. (Modificado de Stimson & Merl:L. 1997.) D. Passo 4: luxação do ramo mandibular sccionado e incisão,
através desse espaço, para secionar o~ músculos pterigóideos. (Modificado de Stimson & Mc11z, 1997.)

400 ºC ocorre a queda espontânea da coroa, quando o dente está ~ falta de peças dentárias;
sadio, ou, então. a coroa se pulveriza quando existem cáiies ou => alterações, congênitas ou adquiridas, das peças dentá-
infiltrações. das remanescentes;
· A 800 ºC, carboniza-se o esmalte, que se toma azul, sendo a => restaurações odontol6gicas:
denlina mais resistem.e ao fogo. As raízes dos demcs calcinados => obturações:
mostram-se curvadas. podendo facilitar a confusão com as dos ~ próteses, lixas e móveis;
animais. => radiografias obtidas etc.
lJma boa ficha odontológica, para fins de identificação foren-
se, teria de contar. ao menos, com os seguintes tópicos:
FICHA ODONTOLÓGICA PARA A
• sistemas de numeração das peças dentárias;
IDENTIFICAÇÃO FORENSE • diagrama para o registro das particularidades morfológi-
cas das coroas de rnda dente; e
A ficha odontológka que se utili7.a para a identilieação fo- • um local para rcgi,;trar, se necessário, algumas outras ca-
rense é algo diferente da que se utiliza no Prontufuio Odontoló- racterísticas odontológicas de especial interesse, e.g. radio-
gico da clínica. Com efcílo, a ficha de identificação deve conter grafias. pr<Íteses, obturações, restaurações etc.
um número maior de informações que facilitem a identificação
de urna vítima.
Existe uma ampla vmicdade de modelos, sendo difícil índi-
,·ar qual é o melhor. O que se pode indicar são as características SISTEMAS DE NUMERAÇÃO DAS
que uma ficha deve preencher para ser funcional:
PEÇAS DENTÁRIAS
• tem que 8er fácil de usar:
• <lcH: contar com espaços suficientes para recolher lodos Existem numero,;os sislem.as de numera~·ilo. todavia. o mais
os dado~ identificadores, como: aceito e utilizado é o da Federação Dental Internacional (1-Dl),
A Perícia em Odontologia l,egal 135

Dentição Permanente Diagramas

D
6ILl E
Existem, outrossim, diverso-. modelos de diagramas onde se
podem registrar as diferentes particularidades presentes nos

18 17 16 15 14 13 12 11
~ 21 22 23 24 25 26 27 28
dentes. Não obstante, toda essa variedade de diagramas pode
ser reduz.ida a dois tipos fundamentais: o sistema lincal e o sis-
tema em forma de arco. Em ambos os casos, representam-se,
48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38 de forma esquemática. as faces oclusais dos diferentes dente'>.
e é nelas que st: registam, nos respectivos lugares. os tratamen-
tos odontológicos: obturações. restaurações. coroas, próteses
Dentição Decídua
etc.

D ~ E
Na Fig. 18.4 est.á repro<luzído um dos diagramas mais utili-
zados - é o que usa a lntc11ml - , de fácil uso e bastante pn\tico

\$) para realizar os confrontos de achados que possam levar à íden-


tificação de uma pessoa. Como se vê, é formado por desenhos
55 54 53 52 51 61 62 63 64 65 hem simplificados e numerados. que se agrupam cm quatro qua-
<lranLes superpostos.
85 84 83 82 81 71 72 73 74 75

Fig. 18.2 Sistemas de numeração das peças dentárias. Seção para Características
Especiais
conhccído t:omo ''sistema de dois algarismos", no qual se re- Por derradeiro, reserva-se na ficha uma parte que permite
presentam os dcmes por um par de números, o primeiro deles anotar, para cada caso. trahalhos odontológicos de interesse
í.ndicando à qual dos hemiarcos pertence a peça dentária. e o especial para a identificação, bem como fazer constar radio-
segundo, qual é o dente. grafias apicaís, panorâmicas (ortopantomografia), íntra vitam
:--la dentição definitíva, o primeiro dígito vai do I ao 4, repre- e post mortem, e/ou outras informações que se tenham levan-
'>entando os quadrantes seguindo-se sentido horárío. O segundo tado.
dígito - de 1 a 8 -, representa a peça correspondente desde o Com essas indicações, pode-se elaborar uma ficha odontoló-
incisivo central até o molar distal. Na dentição temporária, os gica que permita ao períto recolher adequadamente, no caso con-
quadrantes rcpresenLam-se com os números de 5 a 8. e as peças creto, os dados passíveis de serem empregados no procedimt:n-
dentfüias, de 1 a 5. to de ídcntificação odontológit:a.

Vig.18.3 Diagrama alternativo, de uso na Interpol. onde as duas fileiras centrais representam os dentes pennanentes do adulto, e as fileiras exlrc:-
mas. superior e inferior, a <lenli~·ão decídua ou infantil.

18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28

LINGUAL

48 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 38

Fig. 18.4 Diagrama simplificado. de uso da Interpol, representando apenas os dcmes permanentes do adulto. por quadrante dos arcos dentais.
136 A f'enda em Odontoloiia Legal

~~~~~-.~~----,-~~~~~~~~~~~~~~-

Hcntze, in Michcllis, apud Penna, para os IOOºk da integri-


FORMULARIO DE ACHADOS dade dafwu,;tio mastigatória de cada dente, estabelece os seguin-
DENTAIS tes percentuais para um hcmiarco (que representa apenas 25%
do total da arcada dentá1ia. o total -.endo 25% X 4 '"" 100% ):
Um bom exemplo de ficha dental é o ''.formulário de acha-
dos dentais,., que consta do prontuário para identificação de ví-
% FUNCIONAL
timas, em uso pela lnterpol e de utilização simples, anotando
PEÇA DENTÁRIA M~STIGATÓRIO
todas as observaç<ies, seguindo instruções precisas quanto à
marcação. Incisivo central 1%
Nessa esteira. as peças de111á1ias perdidas in l'ivo marcam-se
com um X grande. ao passo que as perdidas depois da morte Incisivo lateral 1%
e--·-··-
marcam-se com um círculo. Quanto às restauraçiíes, usa-se: Canino 29~,
• cor prer.a, para marcar amálgamas; cor vermelha. para in-
dicar trabalhos feitos em ouro: e 1.0 pré-molar JC}'í:
...
• cor verde, para os materiais polimcrizados. 2." pré-molar YYc
As cáiies marcam-se com ''x" pequenos, grifados. sobre a face
1." molar 5%
atingida pelo processo.
2:' molar 5%
---
3.0 molar 5%
PECULIARIDADES DA PERÍCIA EM
ODONTOLOGIA Alvaro Dó1ia, in Raimundo Rodrigues. apud Arbcnz, para os
100% da Jimçlio estética, propõe os seguintes valore~ para um
A perícia. em Odontologia, reveste-se de algumas caracterís- hemiarco (que representa apenas 25'11. do total da arcada dcnt.iria):
ticas próp1ias que vão além da mera constatação anatômica da
lesão, adentrando pelos caminhos funcionais. Pela sua clareza.
permitimo-nos transcrever trecho do rexto do Prof. Genival Ve- PEÇA DENTÁRIA PERCENTUAL ESTÉTICO
loso de França <2001), uma vez que sintetiza, de maneira muito
Incisivo central 6%,
clara, esses conceitos.
Quamo aos dentes, há necessidade de que a perícia venha a Jnci~í vo lateral 6%
distinguir com sutileza o valor de cada peça, levando em conta
as suas funções masligatória, e:stétíca e fonética, de acordo com Canino 6%
o intercs~c de cada exame (ver Quadro).
l." pré-molar 5%
2." pré-molar 2%

VALOR ESTÉTICO, FONÉTICO E ) .ºmolar 09,,


MASTIGATÓRIO DOS DENTES 2." molar ()t;t

(Duefias, in Betran, ap11d Arbenz) 3." molar 0%

PEÇA VALOR E quanto àjimção fonérica, avalia-se em cada peça dentária


VALOR VALOR
DEN- uma perda percentual nos seguintes índices para um hemiarco
ESTÉ- FONÉ- MASTIGA·
TÁRIA (que representa apenas 25% do lotai da arcada dentária):
TICO TlCO TÓRIO
Incisivo 100 100 40
central
PEÇA DENTÁRIA PERDA FONÉTICA
Incisivo central 8<;;,.
Incisivo 90 40
lateral
90 -
Tncisi vo lateral 8%
Canino 80 80 70 Canino 6%

i I .º pré-molar 70 50 60 l ." pré-molar 2%


..
2." pré-molar 60 40 70 2." pré-molar l',Jf,
l ." molar 50 - 100 I." molar ovJ,
--
~.º molar 40 - 90 2.º molar 09,,
~" molar -·- - - 3.0 molar O'k
.-
11 Perícia em Odomolof{ia LeRal 137

YIC'11M IOENTIACA'IION FGRM


(Apptoved by the lnternationel Crimin•I Police Organization - lnterpo4)
J
l
DEAD IIOOY • DUITAL FWIIDING8
11 21
12 22
13 23
14 24
15 25
16 26
17 27
18 28

18 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 28

L.lttGUAU.y ___,_____, ________


48 45 44 43 42 41 31 32 33 38

48 38
47 37
48 36
45 35
44 34
43 33
42 32
41 31
Speclflc descriptio11 of crown1, bridgn end dentures

Further findings (Occlusion, .Urition, 1nom1líe1. ateining, c.tlcukls. periodentítil, etc.)

Radiographic examination of

Supplememary examination

Age evatuatíon {Method1)

Fig. 18.5 Fac-símile do anvcrso da ficha de Interpol pennitindo registrar. de forma cxtrcmamcme simples, o.<. achados na vítima.
138 .-\ Perícia t·m Odonrologia l-e,;al

V1C1W IDENIIACATION FOIIII

J
PART
(App,0ved by tn• lntemetionel Criminel Police Oroanízetíon · lnterpoll

1 fw.NO.
DEAD BODY • DENTAL 1Wm•a1

PoHce Agenc:y

::
Fregmentary
remelna. ........
·~ Aemoved
Removecl
No

No
~ngfe teelh ....... .. Remov«f No

~ ........ Removed No

Slgnature

fig. 18.6 F;H:-~ímik do verso da lícha de i<lcntitica.:;ào odonwlógica da Imerpol, onde po<lem ser registrados caractt:rístieos complementares.
r~e,enti> na vítima.
A Perícia em Odontologia Legal 139

Há outros que ainda consideram um coeficienw de antago- piasia do esmalte, malfonnação radicular, retardo ou ausência da
11is11w,como sendo um percentual de perda em relação à dimi- erupção, oclusão defeituosa, malformação da coroa, retardo ou
nuição da função do dente que fica em seu sentido oposto, em parada na formação da raiz, entre outros."
face da redução de sua função. Para eles, esse valor chega a 50%
daquele mesmo dente que falta.
Por outro lado, observa-se, na prática, que os peritos, quando
respondem aos quesitos relativos à debilidade e à perda funcio- BIBLIOGRAFIA
nal. nesse particular, levam em conta apenas os índices
mastigatórios relativos às peças dentárias lesadas, omitindo os Basile. A. & Waisman, D. Fundamemos de Medicina Legal, 2.ª ed.,
coeficientes estéticos e fonéticos da vítima. Buenos Aires: Ateneo, 1991.
Assim, Moreira (Paraíba) propõe um coeficíence integral para Bonnet, E.F.P. Medicina Legal, 2.ª ed. (3.ª reimpressão), Buenos Aires:
Lopes Ed., 1980-93.
as lesões dos dentes, que ele chama de Índice Geral de Lesões
Bowen,, M. e Bell. G.L. Manual l!{ Foremir. Odontology. Ontario:
Demárius (IGLD). onde são compulsados todos os valores, re- ASFO, 1997.
ferentes a cada uma das funções das peças dentárias, nas seguin- Campos. M.L.B. Aspecr.os Cltnico de la Mala Pnuis en Odonrologta.
tes proporções: ln: Rodríguez Almada, H. Derecho Médico, Ruenos Aires: B de i--;
Ed., 2001. pp. 108-113.
IGLD = 14423434143432441 Croce. D. & Croce Jr .. D. Manual de Medici1w LE·gal. São Paulo: Sa-
24423433133432442 raiva, 1995.
frança, G. V. Medicina Legal, 6.ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
Justifica as perdas atribuídas aos terceiros molares, não valo- gan, 2001.
rizadas cm alguns índices. em face das disponíhilidades de no- Galvão, M.F. Pareceres, in http://www.ibemol.com.br
vas tecnologias onde esses elememos dentários possam merecer Gisben Calabuig. J.A. Medicina Legal y Toxicología, 5.' e<l., Barcelo-
certo destaque na preservação das arcadas dent.frias e na possi- na: Masson, 199!!.
bilidade do uso de próteses. Graça Leite, W. Odontologia legal, Salvador: Era !\'ova, 1962.
:'.\lo que se refere aos prejuízos produzidos por agressão cm Paulete Vanrell, J. Tópicos de Odontologia Legal.http://www.pericias-
próteses ou em dentes destas, pensamos tratar-se de um dano à forenses.com.br/publícacoes/(>legal.hun
coisa material, intcre,;sando tão-só às questões de direito patri- Silva, M. da. Compêndio de Odontologia l..egal, São Paulo: MEDSI,
monial (prejuízo cconfnnico). 1997.
Stimson, P.G. e Mertz. C.A. Forensic Denr.isiry, Boca Rat(m: CRC Press,
Outro fato relevante: um traumatismo sobre a dentição tem- 1997.
porária, que se completa em torno de dois ano,; e meio, quando Veiga De Carvalho, H.; Segre, M.; Meira, AR.; Almeida, M.; Russi
traumatizada em uma de suas peças, pode acarretar graves re- Salaru, N.N.; Romero Mufioz. D. & Cohen, C. Compêndio de Me-
percussões sobre o deme que está se formando, tais como hipo- dicina Legal. São Paulo: Saraiva, 1987.
Aspectos Clínicos do Erro
Odontológico
----··-·---·-·-------....·---......-..........___.._______________..______..______.......... ____............._
,

Maria de Lourdes Borborema Campos

À <;emelhança do que acontece com a :\-tedicina Legal. na~ Fa- Dessa duplicidade <lc conceitos - se bem que em campos
culdades de Medicina. onde a disciplina é considerada apenas tuna dívcrsos - surge a necessidade de ver a qual nos ateremos no
das ·'menores'', no Brasil também temos um problema semelhante ten-eno prático. E que não se entenda isso como qu~rcr menos-
com a Odontologia Legal nas Faculdades de Odontologia. Profes- preLar uma área cm benefício de outra.
sores desanimados, que nem sempre Lêm vontade de transmiLir, e
alunos desimeressados, que nem sempre têm vontade de ouvir.
Há pouco tempo, como exemplo. foi triste para nói, vcnnos, na O Critério Meramente
biblioteca de uma das maiores Universidades da América Latina,
no Estado de São Paulo, um faro insólito: depois de mais de 70 anos,
Odontológico
uma obrn valiosa para a relação jurídico-profissional guarda o eter- Ocorre que. no terreno odontológico prático, os fatos atribu-
no mistério de sua<; páginas virginalmente fechadas de origem. íveis à mala praúç são muito mais amplos, ainda que de contor-
Se o aluno, primeiro, e o profissional, depois, parecem outor- nos maís difusos, menos precisof>. Com efeito, tudo o que acon-
gar tão pouca importância a e<;<;e ramo da Odontologia, não é de teça a um cliente, por obra e graça da ação e/ou da omissão do
estranhar que o número de gafcs profissionais cometidas pouco Cirurgíão-Demista. já se1ia uma mula praxis.
a pouco cresça, se estenda, se agrave. E isso nem sempre é verdade.
Lamentavelmente, o Cirurgião-Dentista somente percebe Muito vai depender da escola que o dentista perfilhe: uma mais
esse "ponr.o cego" de sua fom1ação no dia cm que recehc a ci- intervencionista. outra mais expectante: uma mais clínica, oulra
tação do Fórum dando-lhe ciência daquela ação que lhe foi mais cirúrgica; uma respeitando mais a evolu\;ão biológica do
proposta por mala pra.üs. quer na área Penal. quer na área Ci- organismo frente aos procedimentos, oulra mais rápida e que
vil, c que poderá fazer curvar sua altiveL profissional ou min- sacrifica, cm aras da celeridade, os ritmos biológicos de cada
guar o palrimfmio que, com tanto esforço, conseguiu amealhar paciente.
ao longo dos anos. E cxístem fatos, ainda. que podem causar acidente.s
imprevisíveis: falha de fübrica na resistência do~ materiais usa-
dos. reaçôcs idiossincráticas a fármacos, sensibilidade pessoal
exacerbada à presença de bimetais; e, assim. a lista poderia es-
O QUE É ERRO EM tender-se muito mais.
ODONTOLOGIA? Esses "casos de mala praxis'' realmente são fatos esc11.wívl1Ís.
desde que o profif-isional haja utilizado. concLa e oportunamen-
Quiçá o mais importante seja deíxar bem claras. desde oco- te, os conhecimentos e regras da ciência odontológica atual. ha-
meço. algumas idéias que. por terem outra conotação na lingua- vendo exístido, tão-somente. um fato realmente imprevisível. Daí
gem coloquial, podem criar equívocos fatais. Uma delas é a de que muitos autores, quer no âmbito nacional como no internaci-
mala pra.xís odontológica. onal, nem os consideram c1T0:5. profissionais no sentido de mala
Com efeito. a mala praxis - segundo a cih1cia odvntolúgica praxis.
- é o resultado adverso ocorrido durante um ar.o odontológico e Todavia, lul casos em que os Conselhos Regionais de Odon-
resultanlc de uma ação ou omi~são do profissional. tologia, acionados pelos padentes, chegam a promover con-
Segundo o Direito, a mala pra.xis cm Odontologia é o resul- tra o profissional um prm:edirnento administraLivo, sempre
tado adverso ocorrido durante um ato odonlo16gico e causado por com conseqüências no seu prontuário ck antcccdcnLcs profis-
imperícia. imprudência ou ncgligêm:ia do profo.sional. s10mus.
Aspec/os Clínic:os do t:rro Odonwlúgico 141

O Critério Jurídico :.- grau de satisfm;ão do paciente com o trabalho que lhe foi
realizado.
Sem sombra de dúvidas, o critério jurídiw que caracteriza a
2." passo: consiste na identificação dos Erros de Diagnósti-
mala praxis proÍis-.ional do dentista é muilo mais resuito, mas
também muito mais bem definido. co:
Com efeito. constatado o falo - que poderá ser mala praxis
A, Por Ação
ou não - , o foco da atenção se dirige. específicamente, ao
animus, à intenção do profissional ao propor seu trabalho; ao >" semiologia realizada com técnica defeituosa, com des-
mod11s operandi, isto é, à qualidade pessoal de seu trabalho; à caso ou com imprudêm:ia.
sua condívão de prudens, isto é, de respeitar prudentemente os > interpretação equivocada dos dados semiológicos, ain-
limites impostos pela ciêm:ía; à sua constante cura et vigilantia, da que tenham sido corretamente obtidos.
no tratamento, e seus resultado-. imediatos e mediatos.
É assim que um fato odontológico, juridicamente. transfor- B. Por Omissão
mar--.e-á em mala pra.xís apenas se ficar comprovado. de maneira ~ Quando se deixa de usar um recurso indispensável (raios
ínc4uívoca, que o dentista agiu com imperícia, imprudência ou X, isolamento absoluto etc.).
negligência, isto é. com pelo menos um dos três comportamen-
tos que identificam a culpa. 3." passo: é con-.tituído pela verificação de Erros de Plane-
jamento:

A. Por Ação
COMO CARACTERIZARA CULPA
);.- Planejamento errôneo de um tratamento.
A carnderização da culpabilidade é um fato fundamental, uma );:, Recomendação de um tratamento sem medir suas corl-
vez que será aquilo que fará com que um mc-.mo fato pos-.a ser seqiíências.
visto, analisado e julgado de pontos de vista diferentes.
Na verdade, não podemos esquecer que, mesmo quando ana- B. Por Omissão
lisamos um caso do ponto de vista admínistrali vo e, a .fortíori, > Falta de planejamento quando o mesmo é imprescindí-
quando o fazemos penal ou civilmente. além da mera descrição vel (por rnziks sociais, econômicas, financeiras etc.).
elas lesôes o que interessan, ao Conselho. no p1imciro caso, e ao );>- Falta de comunicação ou discussão com especialistas
Magistrado, no segundo. é saber se temos conseguido ver. no ato e/ou com o paciente.
analisado, indícios de imperícia. imprudência ou negligência do
profissional. 4." passo: consiste na constatação de Erros de Execução
.l\"ão existe a menor dúvida de que se trat:1 de uma tarefa que (Erros de Tratamento):
nada tem a inv~jar aos 12 trabalhos de Hércules. F. é por isso
mesmo, que temos que redobrar nossa atenção e nosso esforço, A. Por Ação
para não nos índinarmos, instintivamenle, para o lado de um >" Escol.ha de um tratamento impróprio.
corporativismo proh.x:ionista que tudo justifica. nem tampouco ', Utilização de instrumentos inadequados, remédios con-
para o lado de uma intransigente perseguição sistemática. tra-indicados. má técnica nos procedimentos.
Se, por um lado. somos humanos e, como tai-.. falíveis, temos
que lembrar que, no momento, somos auxiliares da Justiça e, R. Por Omissão
conseqüentemente, nosso relatório terá que ajudar o Magistrado
a decidir.
> Falta de tratamemo quando o mesmo é imprescindível.
).- Falta de conselhos ou orientação indispensável.
Para facilitar a compreensão sobre a forma como procedemos
nesses casos, acredito que seja importante mostrar os passos 5." passo: consiste na detecção de Erros de Prognóstico:
sucessivos dc-.-.a ··investigação sui generis".
I ." passo; consiste no exame clínico-radiográfico para veri- A.Por Ação
lkar, pelo menos:
)" Avaliação incorreta da possível evolução após o trata-
-, congruência entre queixa e tratamento; mento.
j;. existência de lesões; >- Realização de exames complementares (e.g. histopato-
}.- existência de seqüelas lesionais: logia, exames de laboratório etc.), sem preocupar-se
', etiologia das lesões e das seqüelas; com os resultados dos mesmos.
', tipos de procedimentos ou trabalhos realizados;
:,.. coerência entre o quadro clínico e os procedimentos segui- R. Por Omissão
dos:
).- Abandono do paciente.
'r congruência entre os procedimemos seguidos e os proce-
dimentos recomendados; >" Falta de orientação do paciente sohre as possíveis for-
mas de evolução do quadro .
.,, qualidade dos materiais utilizados:
Jóó" Falta de conhecimentos sobre a evolução natural do
;.;. biocompatíbilídade do-. materiais:
processo patológico do paciente.
', ajustes materiais adequados;
',- relação custo-benefício entre os procedimentos adotados 6." passo: representado pela elaboração do Relatório, enca-
e os resultados obtidos: minhando-o à Autoridade Requerente, ou diretamente ao Magis-
> grau de informação oferecido ao paciente antes de submetê- trado. dependendo dos ritos processuai-. e da área cm que o pro-
lo ao tratamento: ce~so tramita.

~ ......................................................................
142 .4spectos Clínicos do Erro Odontológico

}o> Falta de boa comunicação social com os pacientes


FREQÜÊNCIA DOS CASOS DE ERRO >- Submissão a condições de trabalho inadequadas e/ou pre-
cárias
Infelizmente, a mala pruxis não é tão rara como poderia pa- ~ Anomia ou quase certeza de impunidade para os resulta-
recer, nem Lão afastada de nós, como seria de desejar. dos adversos
É verdade que, na vertiginosa celeridade dos tempos atuais, };> Autoconfiança no corporativismo que se espera dos peri-
na última década e, mais especialmente, no último lustro, os ca- tos e dos Conselhos Regionais
sos de mala praxis têm aumentado de fonna alarmante.
Em síntese, tudo quanto foi exposto prenuncia tempos de
borrasca, indica-nos que caminhamos por sendas cada vez mais
tortuosas e cheias de valhacoutos, onde os profissíonaís, ao in-
À GUISA DE CONCLUSÃO: vés de se aperfeiçoarem, procuram escudar-se em práticas amí-
quadas para não serem alcançados pelos procedimentos que põem
POSSÍVEIS CAUSAS DO ERRO em xeque sua responsabilidade profissional.

E vendo esse aumento na freqüência dos casos de mala praxis,


em contraste franco mm a evolução tecnológica, que, pelo me-
nos em tese, deveria fazer com que houvesse uma tendência a BIBLIOGRAFIA
diminuí-las, é lógico que venha à cabeça uma pergunta: quais são
as causas que estão no fundo desses erros técnico-profissionais? Bittar, C. A Reparação Ci11i/ por Danos Morais. São Paulo: Revista dos
Tribunais. 199.t
Já cm 1962, Graça Leite propunha, pelo menos, quatro falo-
Bowers, M. e Bel!. G.L. Manual of Forensic Odontology. ASFO:
rcs que, isolados ou em conjumo, poderiam explicar os casos - Ontario, 1997.
felizmente raros, naqueles tempos - de erros profissionais. Bussada. W. Erro Médico. lnterprerado pe·los Tribunais. São Paulo:
Nesse sentido, o autor apontava quatro fatores precípuos: Síntese Ed., 2000.
', Pressão do fator econômico Campos, M.L.B. Aspectos dínicos de la mala praxis cn Odontología.
111: Almada, H.R. Dereclw Médico. Buenos Aires: 8 de F Ed., 2001.
'r Fragilidade moral
pp. 108-113.
', Falta de vocação profissional França, G. V. Medicina Legal, 5: cd. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
-;, Omissão de regras científicas básicas gan. 1998.
Graça Leite, W. Odollfologia Legal. Salvador: Era Nova. 1962.
Hoje cm día, quatro décadas após, poderemos acrescentar
Mirio, C. e femandes, R. Erro Médico \listo pelos Tribunais. Sào Pau-
alguns outros, até como desdobramento destes, dadas algumas
lo: falípro, 1992.
circunstâncias peculiares do País e que, quiçá, não se apliquem Montalvão. A.S. Erm Médico. Campinas, São Paulo: Julcx Ed., 1998.
alhures. Assím, teríamos estes oulros fatores, também: Silva, M. da Compêndio de Odonzologia Legal. São Paulo: MEDSI.
>" Aumento indiscriminado do número de Faculdades de 1997.
Stimson, P.G. and Mertz, C.A. Forensic: De11tistry. Boca Ratón: CRC
Odontologia
Prcss, 1997.
;> Massificação do ensino em uma profissão que ainda é arte Valle. C.A. do. Dano Moral. Rio de Janeiro: Aidc Ed., 1993.
e, como conseqüência. exige um regime tutorial Yázque:z Ferreyra. R. Da,ios y Perjuicios e11 e.l Ejercido de la Medici-
» Defeitos na formação profissional na. Buenos Aires: Hammurahi. 1992.
A Participação e1n Audiências:
O Cirurgião-Dentista como Testemunha
___ ______ __ _______________________________
....,_.. ,, , .. ..

.Jorge Paulete Vanrell

• cometeu furto. apropriando-se do ouro enlregue pelo


INTRODUÇÃO paciente para fazer determinado crabalho de prótese.
utilizando um metal de cor amarela, mas de valor bem
Se o Cirurgião-Dentista sentisse prazer cm freqlicntar os meios inferior;
forenses, decerto teria estudado Direito, e não Odontologia.
• praticou estelionato, por exemplo, entregando-lhe um
Esse fato nos leva a pensar que participar de qualquer atividade no
produto no lugar de outro (e.g. duracast por ouro, resi-
Fónnn. ou relacionada com a Justil;a. sempre representa uma situa-
na por porcelana, provisório por definitivo etc.), exe-
ção dcsagradüvcl ou, quando menos. discômcxla para o profissional.
cutando um serviço diferente do avençado (e .g. restau-
E, o que é pior, são váiias as situaçôes em que o Cimrgião-
ração sem o prévio preparo endodôntico combinado
Dcntista pode ser chamado perante a Autoridade Judicante. Se-
não vejamos: etc.);
Como autor: É, quiçá. a forma mais cômoda, porquanto se • cometeu crime de falso, ora emitindo atestado ideolo-
trata de defender seus interesses, em gemi, quer acionando al- gicamente falso, ora fornecendo atestado, oficíal ou
oficioso, que não espelha a verdade.
guém que não honrou, tempcstivamcnte, os honorários
avençados, quer uma Empresa que não entregou as mercadorias )Ó" No Administrativo, o Cirurgião-Dentista é conclamado
solicitadas em tempo hábil e, com isso, acarretou prejuízos fi- pelo seus pares para ser submetido a processo ético-disci-
nanceiros ou morais para o profissional. plinar, no âmbito da competência do respectivo Conselho
Como Réu: É, talvez. a forma mais desagradável, porquanto Regional.
alguém o levou às barras do tribunal. reclamando, com base no Como Testemunha: Solicitado para emitir seu ponto de vis-
Código de Defesa do Consumidor, no Código Civil ou no Códi- ta profissional. sobre a pessoa ou o procedimento de um colega.
go Penal, que o profissional não adimplíu com uma ohrigação podendo ser a favor ou contra. segundo seja testemunha do Réu
de fazer, ou. o que é mais grave, que o fez de maneira incorreta ou do Autor, respectivamente, como parecerista das partes, ou
ou inadequada, agindo com dolo ou com culpa. fazê-lo. imparcialmente, como expert do juízo.
)- No Cível. pelo inadimplemento de sua parte contratual, o Jô> No Cível, o profissional é requerido pela Autoridade, in-
Cirurgião-Dentista é acionado para reparar em pecúnia o dícado por uma das partes ou a pedido do Juiz. para referir
dano- material. funcional. estético ou moral - que, even- os dados de que disponha em relação aos fatos sobre os
tualmente, renha provocado no seu cliente. quais versa o processo, em relação à pessoa do Autor ou
»- No Penal, quando o Ministério Púhlico a<.:iona a máquina do Réu (testemunha de referência). ou manifestar sua opi-
judicial para perseguir o profissional que, pelo menos in nião técnica. como Perito ou Parece1ista, quer sobre a in-
thesis, infringiu alguma das normas tipificadas no Estatu- dicação. quer sobre procedimentos efetuados, quer sobre
to Repressivo cm vigor: influência nos resulcados obtidos, como resultado da im-
• praticou lesiio corporal no paciente; plementação contratual.
• provocou a morte do mesmo; );;> No Penal, o prolissional é chamado para servír de testemu-
• induziu o suicídio de seu paciente ou lhefimten•u mei- nha referencial ou como testemunha técnico-profis-.ional, de
os para que o praticasse; modo a manifestar coramjudice o que é de seu conhecimen-
• abandonou seu paci<mte incapaz, sem deixar aos seus to. na área para a qual foi indicado. Muito eventualmente, o
responsáveis as indicações necessárias e o seu substi- Cirurgião-Dentista pode ser inlimado a participar do Tribu-
tuto normal. durante irna au.,;;ência; nal do Júri, quando se trate de julgamento de crime doloso
1+& .-\ Participação em A11diências: O Cirurgião-Dentista como Tesifmunha

contra a vida. A única diferença é que seu depoimento não LO, usam terminologia enigmática. tentam explicar demais e, após
mais será na sala de audiências fechada, de freqüência res- seus depoimentos, deixam Juízes e Advogados tanto ou mais
trita, antes no Plenário do Júri, cm sessão pública. confusos que antes de começar a audiência. .
)- No Administrativo, o Cirurgião-Dentista, em regra. é in- Por derradeiro, estão os Completamente Desasfrados: são os
dicado por um colega, de modo a exaltar suas qualidades profissionais jovens, tão cuidadosos para não tropeçar nas racha-
técnicas ou morais, excepcionalmente a explicitar algo na duras da calçada, que pisam direto cm cima das '·cascas de ba-
área técnico-profissional, haja vista que o depoimento de- nana"... A única razão para que esses jovens profissionais sobre-
veria ser dado para os Membros do Conselho, seus pares. vivam no ambiente forense está, em grande parte, relacionada
que haverão de dispensar aquilo que para eles já é de so- com a compaixão pública que seu desempenho evoca. (Os odon-
bejo conhecido. tolegistas experientes, bem como os médicos forenses, se exclu-
em porque habitualmente têm uma classe própria; todavia, se
Os Tribunais - .Juizados, Varas, Téíbunais do Júri, Câmaras
constrangidos, podem cair cm uma das duas primeiras categori-
ou Conselhos - são locais regidos por regras procedimentais
as elencadas: os Bons e os Ruins.)
bastante 1ígidas, onde, infelizmente. atloram as paixões e podem
A maioria dos profissionais são reluLantes para converter-se
ser vistos os comportamentos mais complexos, tudo sob o pálio
cm testemunhas. Não obstante, quando ::;ão forçados a tal. os seus
da ausLcridade do Poder Judiciário.
depoimentos deixam muito a desejar ou dão um triste espetácu-
Sem dúvida, o Plenário do Jú1i, para um Cirurgião-Dentista.
lo de cíentistas instruídos. contradizendo tudo e todos, inclusive
é o ambiente mais inóspito. Em primeiro lugar. por tratar-se de
os seus colegas, e muitas vezes a si próprios, negando todos os
uma sessão pública, onde. ao falar, deverá fazê-lo de modo a qm.~
conhecimentos dos princípios científicos solidamente estabele-
todos o ouçam. Em segundo tcmm, pelo tempo que insumc, uma
cidos.
vez que o profissional fica incomunicável duramc o tempo todo
Já ale11amos p,mt o faio de que os Cirurgiões-Dentistas não
que dure a sessão do júri (horas ou dias). Em terceiro lugar. em
gostam do Fórnm, até porque. detiu-o de suas salas e corredores,
face da siLuação singular em que o depoente tem de se manifes-
se vêem jogando um ''jogo paralelo". Além do mais, encontram-
tar perante os membros do Conselho de Semença, sete juízes de
se longe de suas clínicas e de suas cirurgias, sem qualquer ajuda
falo nem sempre motivados ou interessados, escolhidos, e an-as-
disponível dos seus assistentes. estagiários e cnfcm1ciras. Pari
tados contra suas vontades. denu·e os mcmhros da comunidade
pa:s:rn, do outro lado, os operadores do direito estão "jogando em
local. para participarem desse rilual atávico. ainda que constitu-
seu próprio campo e com as suas próprias regras". Por exemplo,
cional.
no seu ambíeme, médicos e dentistas falam o seu jargào técnico.
Quem esperar encontrar a atmosfera dos uibunais america-
mas. dentro do Fórum. são forçados a definir condições
nos que aparece nos seriados ou nos filmes de Hollywood. verá
estomatolôgícas e falar em português escorreito.
suas esperanças frustradas, porquanto eles não terão a imponência
dos tribunais britânicos, nem permitirão o uso de máquinas fo-
tográficas. nem de holofotes e câmaras de televisão ou de vídeo.
Será apenas um s6hrio e singelo tribunal para analisar um drama COMO SOBREVIVER NO PAPEL DE
da vida real.
Assegurar o imcrcsse da audiência nessa participação, conhe- TESTEMUNHA TÉCNICA
cida como Prova Técnica, é atirar-se nela de corpo inteiro, sa-
bendo de antemão que pode ser o ato que leva o profissional e Não há nada melhor que reconhecer os componentes do que
sua especialidade a dar com a cara no chão. se poderia considerar um kit hásico de sobrevivência.

1. Preparar-se para a Audiência


OS PROFISSIONAIS DA SAÚDE E A
A maior parte das testemunhas parece ignorar um dos mais
JUSTIÇA comezinhos princípios de uma boa testemunha: ler seu Laudo ou
seu Parecer antes de entrar na Sala de Audiências ou no Plenário
Cirurgiões-Dentistas e Médicos, em regra, são péssimas tes- do Júri.
temunhas, justamente porque os profissionais da área da saúde Eis o momento cm que descobrirá que a sua secretária pode
detestam o Fórum. Qmmr.o mais experiente (idoso) e mais pre- ter errado no português ou atravc-.saram sua mente pensmnen-
parado seja um profissional, tamo mais provável que se torne uma tos pornográficos em:1uanto digitava ~cu Relatório, fazendo-a
testemunha pobre ou inconseqüente para os fins forenses. referir-se a "'orgasmos bacterianos'', no lugar de despretensio-
Os Profissionais da Saúde, como testemunhas, geralmente sos "organismos..." ou, simplc-.mcntc, lemhrando que o zero à
podem ser classificados em três grandes categorias: os Bons. os esquerda da vírgula decímal não tem valor, confundir 0.5 cm com
Ruins e os Completamente Desastrados. 5cm.
Os Bons coslL1mam ser excelentes no seu campo profissíonal; Sempre havcni tempo suficiente para rnnigir enganos hanais
em geral, são até renomados e muito honrados. Infolizmente, eles antes de entrar em audiência. Para 1an10, não esqueça de levar
não desempenham bem o papel de testemunhas. Nada mais tris- sempre suas anotaç<ies ou fichas na pasta.
te 4uc ver o espetáculo de um Profcssor-Domor, Livre-Docente,
nas rampas escon-cgadías, cm grande parte cobertas pelas "cas-
cas de banana" que ele próprio iem deixado cair. durante seu 2. Manter uma Boa Aparência
depoimento.
Temos tamhém os Ruins. Estes, normalmente, são profissio- 2.1. VESTIR-SE CORRETAMENTE
nais nào muito honestos ou que trabalham cm especialidades ou Os operadores do direito t.êm que avaliar as testemunhas e suas
campos onde poucas coisas parecem fazer senLido. Falam mui- provas, mas eles só vêem as tcstcmunhafi de uma forma fugaz e
t\ Panidpação em Audi/lndas: O Cimrgião-Dentisw como T1!stemu11ha 145

em uma situação artificial, muito especial. Dcstarte. quando se 3.1. FALAR EM VOZ AilfA E CLARA
deparam com uma nova testemunha, eles tiram suas conclusões Mesmo os profü.sionais mais competentes sofrem uma inibi-
sempre a partir de seus estereótipos. ção particular, quando são inquiridos e têm que responder, quer
Assim sendo. ainda que a moda ou a forma de vestir tenham para o Juiz. quer para os Jurados. Aí a voz transforma-se cm um
mudado consideravelmente, durante os últimos anos. o ambien- sussurro. o Magistrado não escuta, o escrevente não entende. e a
te forense, nesse sentido. parece ter ficado quase parado no tem- parte eontníria usa a crítica desse comportamento para irritar ao
po. Os operadores de direito vestem temos ou taitleurs. quando depoente. Tampouco é necessário gritar. nem ficar balbuciando
não becas; não há lugar para roupas espo11ivas. A idéia popular ou murmurando quando o clima <la audiência ''esquenta". Não
de como é que os doutores - médicos e dentistas - deveriam se deve deixar que a voz do Cirurgião-Dentista depoente demons-
apresentar-se perante a J usli<;a está, em grande parte, baseada em tre que se encontra em um estado de ânimo do tipo "gostaria de
filmes e novelas da televif-ião. Não lente parecer um ''doutor'' da não estar aqui". O depoimento com fala pausada, firme e pertei-
televisão: vista-se bem, de terno ou de branco. mas de forma tal tamente audível no recinto é o único adequado.
que. afinal, pelo menos pareça um profo.sional, sério e respon-
sável. Calças jeans apertadas, mínissaias justas. camisetas on
bustiers podem parecer hoas indumentárias na te linha, mas nun- 3.2. RESPONDER À PERGUNTA
Não M grande vantagem em responder a uma pergunta que
ca o serão na Sala de Audiências ou no Plenário do Júri.
gostaria que lhe fosse J'cita, e não foi. Por outras palavras, é de
péssimo resultado que s~ja feita uma pergunta, e que o depoente
2.2. RELAXAR responda algo que tem in meme ma~ que não tem nada a ver com
Isso é muito mais fácil de dizer do que de conseguir. Não tra- o questionamento. Um bom hábito. em audiências. é escutar
te de parecer muito convencido. Ninguém gosta de alguém que primeiro a pergunta i111eira. Não se trata de um programa de
pare~a inteligente demais. Ande de cima para baixo, fume tan- lelevbão em que se est.á competindo contra outro participante,
tos cigarros quantos quiser, mas tudo isso antes de entrar em onde é importante saber quem é capaz de apertar primeiro o bo-
audiência. Uma vez dentro, mantenha-se firme e creio. Não fi- tão da campainha.
que irrequieto, não se mostre evasivo e não evite devolver os
olhares. Reconheça que o Juiz é quem está presidindo os traba-
3.3. NÃO RESPONDER NADA ALÉM DO QUE LHE
lhos, olhando para ele rapidamente de tanto cm tanto, mas rnm-
FOR PERGUNTADO
ca trate de parecer familiar. Dentro da Sala de Audiências. ele
Entender o assunto e, Jogo, responder à pergunta. mas não indo
sempre será "Sua Excelência.. , e você nunca poderá dirigir-se ao
além dos limites desta. Exceto quando se considere estar sendo
Magistrado como "Oi, meu chapa!'". nem que todos os sábados
exigido por um questionamento, em especial, que carece de uma
participe de um "racha'' de futebol com ele.
resposta mais ampla e demorada (e/ inji·a). Não se deve ofere-
Segurar o seu Relatório com as mãos é a melhor coisa que
cer mais munição do que o necessário, lembrando: pare de ca-
possa fazer com elas. J\'unca ponha as mãos nos bolsos. Se per-
voucar quando já se encontrar em um poço. Curiosa e infeliz-
ceber que sua garganta pode secar. pode pedir que tragam um
mente, as pessoas ficam subitamente tagarelas quando ~cntcm
copo d'água, mas antes de que seja a sua vez de entrar na Sala
que estão cm apuros.
de Audiências ou no Plenário. Nunca se deve pedir um copo
Nessas situações, tanto a Acusação quanto a Defesa podem
d'água quando o interrogatório ou a acareação se complícmn.
permitir ou, até, encorajar o profissional para que use corda bas-
Pouco importa que morra de sede se não consegue resistir à ''tem-
tante para se enforcar.
peratura" de um interrogatório ou de uma acareação.
Se li ver dificuldades para relaxar, tenha presente que, embo-
ra profissional, não se encontra nesse momento no rol dos acu- 3.4. ~ÃO ADE~TRAR EM SEARA ALHEIA
sados, e que suas chances de ~cr levado para a cadeia são míni- Se for um Radiologista experiente, limite-se às suas radiogra-
mas. fias. e não especule, no seu depoimento, aquilo que o E.ndodon-
tista deveria ter achado ou não. Até mesmo com boas técnicas
radiológicas, uma fratura radicular longitudinal pode passar inad-
2.3. MOSTRAR-SF. IMPARCIAL
vertida. mas ela não escapará da argúcia do Endodomista. que.
Ser imparcial é algo realmente encomiável, não somente quan-
dece1to, a achará.
do da apresentação das provas. mas também no comporlamento
Da mesma maneira. o Endodontisla deveria limitar-se aos
e na aparência. É recomendável tratar de estabelecer contato vi-
procedimentos endodônlicos praticados, sem se manifestar se as
sual -olho-no-olho-com algum dos Jurados ou dos integran-
radiografias obtidas pelo profissional especialista são de boa
tes da audiência e, depois, manter suas atenções sempre volta-
qualidade ou não. Esse é um problema a ser debatido pessoal-
das para ele. Para tanto. não pode esquecer que os esclarecimen-
mente com o Radiologista. nunca ao longo de um <lepoimento
tos ou depoimentos são prestados ao Juiz e, cm regra. sempre se
em audiência.
deve assegurar 50% da alcnção para o Magistrado.
Acusação e Defesa podem tentar agrad,l-lo, mas todos sabe-
mos que isso pode não passar de um componamento utilitário e 3.5. EVITAR PALAVRAS DE USO JURÍDICO E/OU
passageiro. Olhar ao Advoga<lo adversário como um assunto de EXPRESSÕES PE.JORA TIVAS
cortc~ía. rnas é só. A todo o custo, há de se evitar o uso de termos que tenham
conotações legais próprias, diferentes das utí Iizadas. por exem-
plo. em Odontologia. Assim, à guisa de exemplo, deve-se evi-
3. Falar Tudo de uma Só Vez tar falar em ''.1·t!qiies1ro '', sendo preferível usar um circunl<Íquío
quiçü menos preciso, mas também menos ambíguo, dizendo:
!-<ale agora, ou cale-se para sempre ... ou, pelo menos, até ser ··o.ti·agmento ,ísseo da maxila que.ficou f<!lÍ<Ío na região da ci-
reinquirido. rurgia .. .''
1-16 .-\ l'arrif'ipaçiio t'lt/ ltttdihu:im: O Cirurgião-De.mista conw Te.mmtunha

1~ que o termo seqüestro.juridicamente, tem um sentido bas- depende dos seus alicerces e, cm regra, dos tijolos e dos pedrei-
tante diferente daquele usado cm palologia. Os operadores de ros. Atualmente, a maioria desses alicerces consta só do papel,
direito, assim que ouvirem tal termo, automaticamente e de for- sem a presença dos pedreiros. Todavia. mnhas as partes gostam
ma reflexa, vão canalizar a atenção e o raciocínio para o sentido de manter seus "pedreiros" de prontidão. à espera, até como uma
que estão acostumados a dar-lhe, e não para aquele que a teste- ameaça pairando sobre o adversário.
munha pretendia lhe oulorgar. Um dos modos preferidos de estabelecer alicerces bastante
füincs é montar um cenário (enredo) diferente. seguindo as li-
nhas: ''Eu lhe digo, Doutor. .. " ou "É correto, Doutor, que eu
4.As Provas pense ... ·· Essas já são velhas conhecidas. A aproximação hoje
em dia é um pouco mais sutil: ''Dr. Fulano, como odontolegista
4.1. A SUA IMPARCIALIDADE experiente, estou certo de que. seguramente, o senhor concorda-
Afinal de comas, esse é o motivo da presença do profissional rá que este é um caso claro de ... " Esleja alerta para perguntas,
na audiência. Quão preparado está sobre a base científica, a pre- aparentemente lisonjeiras. desse tipo. Sempre é bom lembrar o
cisão e a imparcialidade da prova que vai apresentar? Está segu- vetusto brocardo latino: ln cauda est vl'l!enum!
ro? Foi avaliado pelos seus pares? Seus pomos de vista estão Ouça uma vez. reflita duas e pense crês. antes de responder.
baseados em fatos científicos e na sua própria experiência? Não ;'l°unca o faça de ímpeto, nem na emoção...
será que, como simples profissional clínico, estará sofrendo um
fugaz dei írio de grandeza? Não será que, ao se manifestar contra
seu colega, esta1ia discordando das atitudes técnicas dele para
angariar mais um clienlc? Daria o mesmo depoimento se seus OS TRUQUES SUJOS
próprios amigos e parentes estivessem clamando por Jusliça? roi
pressionado. subtilmente ou às cseâncaras, pela Polícia ou pela Os truques e a prestidigitação vcrhal podem variar de forma
Promoto1ia para dar determinado depoimento? Os advogados de considerável. Os itens seguintes são apenas um roteiro básico:
Defesa já lhe mosrrnram algum envelope contendo o vil metal?
Algum Editor já entrou em commo com você?
Ora, casn se sentir incômodo com alguns desses aspectos da 1. Guerra Psicológica
prova odontológica, deceno estará no lugar errado e na hora er-
rada. Por favor, deixe esse lugar agora. já, neste minuto ... ! Este realmeme é o mais sujo do leque de rrnques sujos. É
verdade que uma testemunha com experiência o ignora. mas.
quando é um novato... Se for Testemunha de Acusação, o assom-
4.2. SUAS PROVAS S,\O CLARAS E INSOFISMA VEIS'? bro tomará conta do Defensor, na medida cm que o ignora desde
Sua..; provas são cristalinas e seria capaz de expressá-las em um que dá o primeiro passo na Sala de Audiências, dando-se de ocu-
português simples e escorreito? Sente-se com capacidade para ex- pado, revisando suas anotações etc_ No instante cm que a Teste-
plicar assuntos anatômicos. funcionais, palológicos e instrumentais munha de Acusação começa a folar. o Advogado de Defesa se
ao Juiz ou aos Jurados? Você pode descrevem ew-so do nervo man- virará. ~justará seu-. pequenos óculos, o encarará com zombaria
dibular de tal forma que os operadores do direito que se encontrem e discreto de-.prezó como pensando: "Olha a peça que trouxe-
na Sala de Audiências ou no T rihunal do Júri possam enlcndcr? ram para nós ... !".
Outros truques. nessa linha de ação, compreendem olhar e
balançar a cabeça, negatívamcnte, como que dissentindo. ou es-
OS OBJETIVOS DOS ADVOGADOS palhar, ostensivamemc, vários livros de odontologia e de pato-
logia na sua frente.
Os o~jcti vos básicos dos advogados são estabelecer e fo1taJecer O remédio para elidir essa reação é olhar para o Juiz ou para
os alicerces, organizar as perguntas de modo que as respostas se os Jurados, e não para a delesa, nem para a acusação.
tornem sim pie<; disjuntivas- tipo sim/não-, misturar ou confun-
dir os a%untos e desmoralizar as testemunhas do lado contrário.
Essas estralégias são todas legítimas e vi{tveis. Todavia. não 2. Jogo Rápido
podem ser vislas como princípios inamovíveis. Assim, desmo- Esta é uma série râpída de perguntas e respostas. na esperan-
ralizar o testemunho de um especialista apenas no escopo de eli- ça de desconcertar a testemunha. A mesma pergunla pode ser feita
minar uma testemunha pode ser mal visto pelo Juiz ou ler um e os mesmos anrnmentos oferecidos. uma e oulra vez. de um
efcílo negativo cm face dos Jurados, mormente se a testemunha modo lígeírame~te diferente. Às vezes. o Juiz percebe o lance e
seguiu, à risca, Iodas as recomendações supra-clcncadas. lembra ao Advogado de Defesa que ele já fez a mesma pergunta
É bom lembrar que os advogados s<Í fazem perguntas para as umas tantas vezes e que a testemunha deu sempre a mesma res-
quais já sahem as respostas. Não apreciam respostas inespera- posta. 1sso, muitas vezes, é visto com surpresa por parte da tes-
das. porque com elas correm o risco de perder o controle da situ- temunha. porque, no fragor do questionamento, não percebe que
ação. Por isso, niio tenle ludibriar os advogados com respostas já fora perguntada mais de uma vez sobre o mesmo assunto.
maroras e inesperadas. Pode ser tão perigoso como segurar o O remédío é simples: fazer uma pausa e pensar antes de res-
goleiro para evitar que pegue a bola. Como técnicos, não pode- ponder a cada pergunta.
mos esquecer que os jogadores desse time são eles e que o árbi-
tro da partida - o Juiz - lamhém é um Bacharel em Direito.
Deixe que eles marquem. por todos os meios, seus próprios go- 3. Pergutas Confusas ou Muito Longas
les. mas não tente segurá-los.
Ambos os lados fazem os alicerces do prm:csso, usando as Há perguntas cão longas que, até que o advogado acabe de fazê-
testemunhas como pedreiros. Toda a sustentabilidade de um caso las, a testemunha, provavelmente. já terá esquecido o começo.
A Participação em Audiências: O Cirurgião-Denti.fta como Tesrem1mha 147

!':esses casos. a testemunha deve pedir que a pergunta lhe seja situação. Todavia, o erro da leslemunha é não fazer qualquer
repetida. Terá chances de que o próprio advogado já tenha es- ressalva e responder, logo à primeira questão. de forma enfática,
quecido sua própria pergunta ou de que o Juiz. que, afinal. é quem sem abrir alternativas. A seguir, não terá como dizer, entre um
deve, na sistemática processual brasileira, repetir a pergunta para valor dado e out.ro. como deter e interromper esse aumento ou
a testemunha. possa interromper para dizer que ele mesmo não a decremento dos tempos.
entendeu. A forma para evitar ser atrapalhado nessa saia justa pelos
O remédio é simples: quanto mais longa for a pergunta, tan- advogados, quer da defesa, quer da acusação, é fazer anteceder
'° maior o tempo que a testemunha deverá levar antes de à primeira resposta uma ressalva, uma digressão explicativa,
respondê-la. mostrando que não há valores absolutos e que qualquer tempo
calculado, de fato, ainda que relalivo, será possível. Cada um para
uma eventualidade ou circunstância diferente.
4. Perguntas com Dupla Intenção ou
Perguntas com Observações Preliminares
6. A Resposta Disjuntiva: Sim ou Não
Nesse tipo de pergunta, a mesma é prefaciada por uma obser-
vação ou por uma declaração afirmativa. Se a testemunha res- Os advogados - acusadores ou defensores - muílas vezes
ponder simplesmente "sim" à pergunta final, estará concordan- exigem do profissional que cstü testemunhando uma resposta
do com a observação primeira. também. taxativa: sim ou não. Em algumas situações, responder sim ou
Por exemplo: "Doutor, estou cc1to de que o Sr. leu atentamente não a determinada pergunta seria dar uma resposta enganosa. A
e concorda com os artigos do Prof. Dr. Luiz Soares Vianna so- testemunha deverá tentar dar uma resposta de tipo explicativo.
hre Medicina Psicossomática em Odontologia, publicados no Caso os advogados insistam em que seja dada uma resposta
Boletim Semanal Eleu·ônico do Medcenter.com - Odontologia, disjuntiva, tipo sim/não, bastará manifestar que. dando uma res-
cm dezembro de 200L. Agora. diga-me: A trcpanação provoca- posta simples, poderia induzir em erro ao Juiz ou aos Jurados.
da pelo Réu durante o tratamento endodôntico é passível de cura Isso. cercamente. chamará a atenção do Magistrado.
com um mínimo de seqüelas?" Se o odontolegista, dcscuidada- E ... finalmente
menle, responde ''sim", isto é, responder afirmativamente à per- Quanto mais se faça presente nos meios forenses, tanlo mais
gunta finaL estará tacitarncnlc concordando com os artigos refe- experiente se tornará o Cirurgião-Denlista, no caso de ter que
ridos no enunciado inicial, mesmo que não os tivesse lido ou que testemunhar no futuro. Scní de grande utilidade, também. que
não concorde. específicamente, mm o conteúdo. possa assistir o teslcmunho de outro perílo, mostrando provas ou
O modo para evitar isso é dividir as duas partes da pergunta e evidências. Lembre-se: acostumando-se a mostrar provas. em
responder, separadamente, a cada um dos dois enunciados da audiência, e a discutir evidências, em plenário, compreenderá que
mesma. essas ali vidades são das mais gratificantes do odontolegista.

5. Rampas Escorregadias ou Saias Justas


BIBLIOGRAFIA
Esla é mesmo uma situação bastante comum e difícil de evi-
tar. Barros. O.B. Código do Consumidor (t ou1ras leisj Aplicado à Odon-
Pode o odontolegista, durante uma audiência, ser solicilado a tologia. São Paulo: Raízes, 1998.
fazer um comcnhírio sobre o tempo que leva para se desenvol- Bittar. (\A. (Coord.). Respomahilídade Civil Médica. Odontológicu e
ver um abscesso de ápice. Se a testemunha responder cm torno Hospitalar. São Paulo: Saraiva, 1991.
Calviclli, I.T.P. Responsabilidade Civil e l'enal do Cimrgião-Delllis-
de dois dias, enl.ão ser-lhe-á perguntado se pode1ia ser menos,
ta. São Paulo: Brasil Expodonto, 1989.
por exemplo, um dia e meio. Se o odontolegista concorda. a Calvíelli, l.T.P. Responsabilidade profissi<mal do cirurgiiio-dcnt.ista. /11:
repergunta volta como sendo um dia, e assim por diante; o advo- Silva, M. Compêndio de Odontologia Legal. São Paulo: MEOSI.
gado poderá ir diminuindo esse tempo em questionamentos su- 1997. pp. 399-411.
cessivos. Ora, antes que a testemunha possa pensar, já terá con- Iadecola, G. lf Médico e la/,egge Penale. Pa,.k,va: Cedam, 1995
cordado com uma hora, ou com meia hora ou. até, com minutos. Knight, B. Legal Aspects ofMedical l'ractíce. 3cu ed. London: Churchill
O Cirurgião-Dentista estará, agora, verdadeiramente na rampa Livingstonc, 1982.
escorregadia ou em uma saía justa. Outra situação análoga é Knight, B. Forensic Paihology. 3'J ed. L(mdon: Arnold. 1996.
quando se pergunta qual o tempo que se leva para estagnar um Morris, W .O. The Denti.~t ·s Legal Advi.mr. Saint Louis: .\foshy. 1995.
Oliveira, M.L.L. Responsabilidade Civil Odo11tolâgirn. Belo Horizon-
sangramenlo, por exemplo, após uma cirurgia estomatológica de
te: Dei Rcy, 2000.
médio porte. Alguns minutos? Cinco minutos? Dez minutos? Silva, Moacyr da. Compêndio de Odontologia l.egal. Sàn Paulo:
\feia hora'? lima hora? MEDSI. 1997.
Obviamente que cada caso é um caso. e que existem diversas Vázquc,. Ferreira, R. Daiios y I'erjuicio.1 e11 el Ejercicio de la Medici-
vari,íveis que devem ser ponderadas em cada pacienle e em cada na. Buenos Aires: Hammurabí. !992.
.. . . . : . .·
. .
··:: ·: _::· .. . . . . .
. ··. .

. ·... .
.· . . . . . ·. ·... . ·. . .
. .. . . . . .. . .. .. . .

RESPONSABILIDADE:
O ENVOLVIMENTO COM O
DIREITO CIVIL E O
DIREITO PENAL

.... - - . . - - - · · · - - · •••Ho ...,,...................... - · - • - • • • • " " " , , _ .. ,o,o... _ , . . . . . ••••·---••• ,.., .......... .._.,. .•• - • + • •
21

Noções Elementares de Direito


----··---------·---·-----·------· ·------······----···-··--·--------------·....·---..-·-
Jorge /'aulete Vanrell

todos os memhros do corpo social. é condição essencial para a


1.INTRODUÇÃO existência da própria sociedade.
Toda sociedade, para existir, se organíza politicamente sobre
De um modo geral, resulta extremamente difícil para o cirur- uma hase territorial, e o Poder Público (fruto da organízação po-
gíão-dcntísta que apenas atua na área dínirn-cirúrgíca entender lítica) estabelece esse conjunto de regras.
o porquê da necessidade de "gastar o seu precioso tempo" tendo O Direito, no sentido que será utilizado neste tópíco, deve ser
que abordar área tão distante como é o Direito, por que estudar entendido como o ordenamtmto Jurídirn que vigora em detn-
sobre a perícia e as suas técnicas. mi11ado paú 011 l'l'gião. Ordenamento sugere a idéia de ordem. e
Esquece o profissional, com demasiada freqüência, que. entre essa é a verdade. O Direíto estabelece ordem na medida cm que
centenas de intcrvençôes que realiza, alguma pode estar fadada impõe regras r.tija conduta de observância l obrigatória por pane
ao insucesso e. o que é píor, pode chegar a erigir-se em um aro de todas as pessoas de determinado país ou região.
odontológico. Quando se afirma que o Direito impõe niRrt1S de cond11ta
'.'Jessa esteira, acontece que a compreensão do tema erro vdv11- obrigatória quer se dizer que tais regras não podem ser desobe-
tnlógico e .mas comeqüéncias para os profissionais da saúde, em decidas, sob pena de se aplicarem sanções (punições em sentido
regra, não é possível sem que tenha, pelo menos, algumas no- vulgar) aos que não as cumprirem.
</>cs elcmcnLarcs de direito. Na prática, na quase totalidade das situações juridicamente
Como erro odontológico, considera-se: o fatn física ou psi- relevantes, seus atores cumprem, naturalmente, as regras impos-
quicamente danoso a um padente, resultado de um agir culpá- tas pela lei. Assim, quando se atrasa o pagamento de alguma
vel do címrgü7v-dentis1a. dívida, normalmente o devedor, ao saldá-la, concorda com a
A expressão genérica culpável, na definição citada. pode evi- multa e eventuais juros devidos pelo atraso.
denciar os díversos tipos de culpa e dolo. O dolo é o elemento Entretanto. nem sempre o infrator da regra de conduta ohri-
revelador da vontade deliberada e consciente do profissional de gatúria, espontaneamente, aceita e cumpre as sanções que lhe são
violar a norma jurídica. impostas pela violação de tal regra.
É. justamente, esse agir culpável o que fundamentará a ob1i- Ora, para garantir a obrigatoriedadti das regras ou normas. a
gação de indenização. socíedade humana. organizada politicamente na fonna de Esta-
As conseqüências mencíonadas somente se efetivarão atra- do. díspõe de mecanismos próprios para tornar efetivas as san-
vés de processos legais que tramitam perante a Justiça, os que, çües (punições) que os infratores das regras de\'em sofrer. Tais
quando declarados procedentes. concretizarão as puníções que mecanismos víahilizam-se através do exercício da atividade dos
devem ser aplícadas. Diz-se que um processo é procedente quan- juízes. Com efeito. cabe aos juízes dízer se uma ou várias regras
do o lesado - Autor - consegue provar. cm juízo, que foi víti- foram violadas pelo infrator e qual a gra\'idade da violação. Ao
ma da prática de um erro odontológico. íulgarem a conduta do suposto infrator. os juízes. basicamenlc.
Assim. torna-se necessário. ínicialmente, fixar um com:eíto estarão desenvolvendo suas atividades com vistas a determinar:
operacional de Direito para dele extraírmos os demais conceitos
de interesse ao desenvolvimento deste tópico. a) se a conduta a11ibuída ao suposto infrator é lícita ou ílíci-
O Direito existe e é necessárío. porque o homem vive em so- ta. quer dizer, se a conduta do acusado foi concta (confor-
ciedade. E viver cm sociedade implica conviver. Ora, todo con- me as regras ohrigalôrias) ou não (contrariando tais regras);
vívio exige um conjunto de regras para que a convivência setor- b) se existem provas de que o suposto infrator. efetivamente,
ne possível. Esse conjunto de regras, aceitas e observadas por pratícou a conduta contrária às regras;
] ~, \, \ ,;t'S Elememares de Díreiro

dentre as punições previstas nas regras (no Direito), qual


.: J
a punição mais adequada a ser imposta ao suposto acusa-
2.1. Normas Sobre Profissões Ligadas à
do. Saúde
Porlanto, quando os infratores não aceitam espontaneamente Alé agora temos comenlado sobre regras de conduta. Pois
realizar as condulas previstas nas regras obrígat6rias. ou. ainda, bem, a expressão norma é sim)nimo da expressão re1:ra de cmi-
nào aceitam cumprir as penalidades resultantes da violação das d11za e é de uso mais corrente no Mundo .Jurídico. Norma é a
regras, os juízes, através de um processo legal regular, apnram expressão de um dever: dever de agir ou dever de ahst.er-se de
os fatos e, sobre os fatos apurados. aplicam a regra legal (o di- agir. A idéia de nomia é maís precisa do que a idéia de regra
reito) cabível ao caso concrelo (a devida punição). porque, quando se fala cm norma, automaticamente se evoca a
Fica fácil, agora, entender a expressão: cabe avs órgãos do idéia de dever.
poder judiciário (juízes ou tribunais) aplicar as regras (as leis) Norma jurídica é a que expressa um deverjLiridícamcnte re-
às condUlas das pessoas (.físicas ou jurídicas) em cada caso con- conhecido. Por ser juridicamente reconhecido Lal dever, di;r,-se
creto. que a norma tem força obrigatória capaz de compelir o seu des-
Tendo presente os objetivos desta obra, podemos exemplifi- tinatário a c:umprir tal dever sob pena de punições. Daí que se
car: diga que as normas jurídicas são normas cogences.
Cab(i aos órgãos do poder judiciário (íuíws ou tribunais), As normas jurídicas são expressas através de Leis. Assim, é
diante de um suposto erro odontológico, indagar sobre ele tt na lei que devemos buscar as regra::; d!! conduta tornadas obri-
responder às sl'guintes qtutsliies: l,!lllórias pela força do Direito.
1. O fato se constituí em um erro odontológico? A Constituição da República Federativa do Brasil. 110 seu an.
2. Quem é ou quem são os responsávcís? 6.º, relaciona a saúde entre os direitos sociais; no art. 21, IL atri-
3. Existe(m) prova(s) do fato? bui à lnião, aos Eslados, ao Distrito Federal e aos Municípios
4. Exíste(m) prova(s) de que o(s) acusado(s) é(são) efetiva- competência para cuidar da saúde púhlica. bem como para ado-
mente autor(es) do foto? tar medidas que visem a garantir prolcção aos portadores de de-
5. Em sendo provada a ma1e1ialidade do fato e sua autoria, ficiências. Aos Municípios, o a11. 30, VII, auibui competêm:ia
qual a extensão (gravidade) do dano sofrido pela vítima? para prestar, em cooperação Lécnica e financeira da União e do
6. Qual o valor da indenização devida pelo(s) autor( es.) do fato Estado, servi<;os de atendimento da saúde pública. O art. 200
à vítima ou seus herdeiros? estabelece a competêncía, para tanto. do Sistema Único de Saú-
de.
Será a partir das respostas a tais questões qt1e os órgãos do Historicamente, o exercício profissional da Medicina, da
poder judiciário detenninarão ou não a sanção ou sam,~ões a se- Odontologia. da Medicina Vete1inária. bem como das profissões
rem aplicadas ao(s) autor(es) do c1To odontológico. de farmacêutico, pancira e enfermeira no Rrasil, foi regulamen-
Finalizando esta hreve introdução, é oportuno lembrar que, tado pelo Decreto 20.981, de I l de janeiro de 1932. Todavia. foi
para efeitos práticos. o Direito se divide em Direito Público e apenas cm 1951. através da Lei n." 1.314/51. que se reservou o
Direilo Pril'ado. Enquanto o Direito Públiw cuida das relações monop<Ílio do exercício da odontologia apenas para os portado-
dos particulares com o Estado, ou dos entes estatais entre si, o res de diploma obtido em Curso de Odontologia. oficial ou re-
Díreíto Privado disciplina as relações entre os particulares. conhecido .
.ISo Brasil, o Direito é revelado através de Leis. cabendo ao O Conselho f-ederal de Odon1ologia e os Conselhos Regio-
Congresso Federal, em conjunto com o Prcsideme da Repúbli- nais de Odontologia foram instiluídos pela Lei n." 4.324, de 14
ca, a sua edição.
de abril de 1964, que dispôs sobre sua escrnturação auibuindo a
cada um deles personalidade jmídíca de direi to público- como
aularquias - . gozando de autonomia administrativo-financeira.
· 2. NORMAS INCIDENTES SOBRE A Os Conselhos, cmrc outras atribuiçües, nos lermos do art. 2.0
da lei suprarnencionacla, têm funçào de supervisão sohre o com-
CONDUTA DOS PROFISSIONAIS po1tamcnto ético do~ profissionais. cabendo-lhes o papel de jul-
gadores e disciplinadores da classe odontológica. zelando e tra-
A atividade profissional do drurgião-dcntista encontra-se halhando, por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito de-
cercada por normas de comportamento que balizam todas as ati- sempenho ético da Odontologia. pelo preslígio e bom conceito
vidades desenvolvidas pelo profissional. Esse conjunto norma- da profissão e dos que a exerçam legalmente.
tivo é composto por Leis e DecreLos diversos, uns de ordem ge- A Regulamcmação da profissão ele cirurgião-dentista no Brasil
ral, outros de cunho específico.
é regida pela Lei n." 5.081, de 24.08.66. :-.J~sse corpo normativo
Assím, dentre as normas gerais. no âmbito civil e penal, en- específico, as infrações das normas reguladoras da profissão
rnntram-se, respectivamente. o Oídigo Civil e o Código Penal. acarretam sanções que serão aplicadas pelo <írgão de classe, após
Acrescendo-se, ainda, o Código de Defesa do Consumidor, por-
regular processo administrativo, de acordo com a gravidade da
quanto as relações estabelecidas entre o profissional e o pacien-
infração. No caso. as penas aplicáveis vão desde a simples cen-
te. em ce110 aspecto, são meramente comerciais, onde o profis- sura até à cassação do direito de exercer a profissão.
,i,mal é um prestador de serviços, e o paciente. um tomador dos
mc,mo:-..
Já dentro da normatizaçâo específica, essencialmente de cu- 2.2. Normas Civis
nlw :.1dminis1rativo e exr.rajudicial, encontram-se as disposições
J,1 Con,clho Federal e dos Conselhos Regionais de Odontolo- O Código Civil Urasileiro comém normas a respeito das rela-
gi:1 ~ o Código de Ética Odontológica (Resolução CFO 11.º 179. çôcs entre os panicularc-; em geral (parliculares aqui tomados no
de 19.1.:!.91. depois alterado pelo Regulamento n.º l, de sentido de que não se trata de agentes ou órgãos governamen-
f1:-J16.W-l. tais). Dentre essas nonnas, algumas são de caráter específico.
Noçiies l::lementare.s de Direito 153

rnmo, por exemplo. o art. 1545, que dispõe que os médicos, trar o animal corresponderá o dirdto de exigir o pagamento da
cirurgíões, farmacêuticos, parteiras e <fontistas são ohrigados a recompensa, enquanto a mim corresponderá a obrigaçüo di! pa-
satisfazer o dano, sempre que, da imprudência, da m·glígência 1:ar a recompensa prometida.
ou da imperícia em atos profissionais, resu1tar mone, inabilila- Assim, direitos e ohrigações nascem quase que concomitan-
~i'ío de servir. ou 1crímento. Outros. como o art. 159, detenni- temente. Os direitos. permitindo que seus titulares exijam res-
nam que o causador de dano. s~ja por dolo ou por culpa, está peito aos mesmos; as ohrigaçõcs, impondo aos obrigados o de-
obrigado a indenizar o lesado. ver de cumpri-las.
Uma modalidade de relacionamento entre pessoas, através da
qual se estabelecem direítos e ob1igaçõcs. são os c1111tratos.
2.3. Normas Penais
Já as leis penais compreendem normas que são mais ligadas
à profissão da saúde e que:
3.2. Noções Gerais sobre Contrato
1. proíbem o exercício ilegal da odontologia e prfüicas como O contrato é o ato resultante do acordo de vontades entre duas
o charlatanismo; ou mais pessoas, a respeito de certo e deternrinado assunto. Pode
2. tratam ela omissão de socorro (que pode incluir também ser um acordo em que uma das pessoas dá uma importância em
cirurgiões-dentistas): dinheiro e. em contrapartida, recebe alguma coisa da outra (obri-
3. tratam do abandono de doentes (que, na condição de inca- gação de dar com caráter recíproco): pode também ser um acor-
pazes, podem ter sua situação piorada). do em que uma das pessoas se ohriga afazer alguma <.:visa em
benefício de outra (obrigação de fazer). ou, finalmente, pode ser
Além dessas normas, de caráter mais geral, estão as que pu- um acordo pelo qual alguém se obriga a não Jaza alguma coisa
nem o homicídio - praticado com dolo ou culpa - , o aborto cm prejuízo de outrem (obrigação de não-fazer).
criminoso. o induzimento ou instigação ao suicídio, as ll·siil'S Todo contrato pressupõe:
corporais leves, graves e gravíssimas.
É certo que tais normas penais, embora originariamente não 1. pessoas contratando. as quais o Direito chama de agentes:
fossem niadas, especificamente. cm relação aos cirurgiões-den- 2. um lema, uma finalidade, um objetivo a ser cumprido por
tistas, muitas vezes poderão ser aplícadas a estes cm casos de erro força do contrato, ao qual o Dírcilo chama de oh,jeto;
odontológico ou em situações tais que a atuação do profissional, 3. finalmente. quando for o caso, o emprego de uma forma
a medicação ministrada ou os procedimentos utilizados possam ou fónnula exigida por lei.
enquadrar-se em alguma das tipificações do Estatuto Penal vi- Ainda, referindo-nos aos agentes, devem ser os mesmos ca-
gente. paze,ç. isto é. devem estar no pleno gozo de suas faculdades fí:.,i-
E é interessante assinalar que, no caso de condenação crimi- cas e mentais de modo a poderem manítestar. validamente. sua
nal - por homicídio culposo ou lesão corporal grave, por exem- vontade a propósito do acordo que o contrato encerra.
plo-, a obrigação de indenizar a vítima ou seus herdeíros tor- Quanto ao objeto, deve o mesmo ser lícilo, isto é, pe1mitido
na-se automática. A eventual discus1,ão posterior, no Juízo Cível. ou não proibido pelo Direito. Como exemplo de objeto ilícito,
sen, apenas quanto ao valor da indenização (quantum debeatur), podemos citar alguns procedimentos cirúrgicos exodônticos,
e não se a mesma é ou não devida (an debl'atur), porquanto é desnecessários, para instar à realização de implantes.
devida automaticamente. J-iinalmentc, <Juanto à forma. os contratos podem ser de for-
ma livre ou <lc fonna preestabelecida cm lei.
Na maioria das vezes. os contratos estabelecem direitos e
3. DIREITOS E OBRIGAÇÕES obrigações recíprocos. J.\'.a compra e venda, por exemplo, o com-
prador tem a obrigação de pagar o preço pela coisa objeto do
contrato e o direito a receber a coísa objeto do contrato; o ven-
3.1. Generalidades dedor tem a obrigação de entregar a coisa ao comprador e o
A vida cm sociedade, como vimos, cm função de implícar, direito de receber o valor correspondente ao preço ajustado.
necessariamente, um relacionamento entre as várias pessoas que Como já assinalado aqui, as obrigações dividem-se basica-
a compõem, gera expectativas de comportamentos por parle de mente cm obrigação de fazer, obrígação de não-fazer e obriga·
todos. muitos dos quais regulados por normas legais. como cita- ção de dar. Nos contratos profissionais, em geral. estamos dian-
do. te de uma obrigação de fazer ( ou de prestar um servic;o ), no qual
Dependendo do ponto de vista do observador, ele pode estar o contratado tem o dever de usar todo o seu conhecimento e toda
na condição de exigir o respeito a um direito de que é titular(todo a sua habilidade para executar o trahalho pretendido pelo con-
direito individual corresponde a uma situação de fato juridica- tratante.
mente protegida pela lei) ou na condição de ter que dar ou fazer Esses contratos para execução de trabalhos profissionais po-
ou não fazer alguma coísa em benefício de outrem. dem ser de dois tipos:
Nestas últimas hipóteses, diz-se que a pessoa está na condi- a) contratos nos quais a obrigação seja obrigação de resul-
ção de cumprír uma obrigação. tado: o contrato só se considera cumprido se o fim alme-
jado pelo contratante foi atingido. Se o contratante contra-
A CADA OBRIGAÇÃO CORRESPONDE UM DIREITO. ta um pintor de paredes para pintar sua casa, tal contrato
A CADA DIREITO CORRESPONDE UMA só se perfaz com a integral pintura das paredes da casa do
OBRIGAÇÃO contratante, com a qualídade previamente ajustada;
Assim, se prometo uma recompensa em dinheiro a quem en- h) contratos nos quais a obrigação não pode ser de resulta-
contrar meu animal de estimação perdido, obriguei-me a dar uma dos, poís exístem fatores fora do alcance do contratado que
importância em dinheiro àquele que o encontrar. Ao que cncon- impedem que ele possa garantir o êxito absoluto do seu
154 S oçiJes Elememares de L>ireito

servíço. São os contratos que estabelecem uma obrigação luação na qual, aínda que ,uio se possa fala r em contrato pro-
de meios. Isto é, o contratado se compromete a utilizar-se priamente dito , a responsabiIidade dos profissionais é idêntica à
de lodos os meios ao seu 3.lcancc para realizar os objeli- responsabilid ade contratual.
vos previstos no contrato. E o caso típico do contrato mé- Em qualquer contrato. direitos e obrigações são gerados en-
dico pelo qual, embora o médico não possa garantir 100'%: tre as partes contralantcs e resumem-se aos seguinccs:
a cura do pacícnte, assume a ohrígaçâo de colocar ao ser-
viço daq uele paciente tudo quanto aprendeu e sabe de sua a) ohrigações do contratame (paciente ou seu respo nsável):
ciência e a11e. pagar o preço pelos serviços profissionais contratador, e
seguir as instruções (ou as prescri<;ões) cstahelecidas pelo
Assim, para os fins desta introdução jmídica, basta saber que, cont.ratado (cirurgião-den tista):
nas relações entre os particulares cm geral, em regra surgem. b) obrigações do contratado (cirurgião-de ntista): desenvolver
desenvol vem-se, exti nguem-se, a todo momento, direitos e obri- todos os esforços necessários ao diagnóslico das palo logi-
gações recíprocas resultantes de contratos regulannente cumpri- as orais que afligem o contratante (o paciente), bem como
dos. T ais obrigações, por serem reconhecidas pelo Direito. con- prescrever os medicamento s e ações terapêuticas (trata-
ferem ao seu credor o direito de exigir-lhes o respectivo cumpri- mentos), em geral, necessátias à cura do contratante ou,
mento. Na negativa do devedor em c umprir sua obrigação, o pelo menos, à díminuiç!io de seu sofrimento .
D ireito coloca à disposição do credor mecanismos j udic iários
através dos quais o Juiz, cuja atuação é provocada pelo credor, É sempre oportuno lembrar que, desde que o profissional
deternúnará ao devedor o cumprimento da obrigação. tenha agido de acordo com as normas e regras de sua profis-
são, tomando todas as providências razoavelmen te exigíveis,
vistas à melhoria da saúde oral do paciente, não se lhe pode-
rá atribuir a prática de quaJ,qucr conduta passível de cen,m ra.
3.3. Dos Contratos Odontológicos E. ainda que o paciente não melhore ou venha mesmo a piorar
O contrato que se estabelece e.ntre o cirnrgião-den tista e o ou falecer, não se lhe poderá atribuir qua lquer responsabilid ade
paciente. ou entre o cirurgíâo-dcn tista e o responsável pelo paci - ou erro.
ente (caso este último seja incapaz), é um contrato que, em ge- 8 . ao contrário. se o profissi onal infringi u normas e regra., de
ral. tem por objeto uma obrigação de meio e não de resultado. sua profissão , não tomando todas as providências que o caso
Todavia, há dctcmlinadas circunrn1ncias em que o contrato exigia, com vistas à melhoria da saúde. do paciente. poderá ser
que se estabelece entre o cirurgião-den tista e o pacíente tem por responsabilizado pela prática de erro odontológico .
objeto uma obrigação de resultado e não apenas de meio. É o Na medida cm que, por s ua conduta, não conseguiu a cura e/
caso da relação obrigacional que se estabelece, por exemp lo, entre ou melhoria do paciente que esteve sob seus c uidados, quando
o ortodontista e o paciente. tal cura e/ou melhoria eram a ltamente prováveis, desde que ado-
Com efeíLo. o especialista em 011odontia, ao aceitar o trata- tadas as providências terapêuticas adequadas e de conhecimen-
mento de um paciente. obriga-se, mesmo com as ressalvas de a to exigível do profissional. incorrení ern conduta censurável e
Odontologia não ser uma ciência exata. atingir detenninados passível de:
resultados convencionad os, através de um planejamento prévio, • responsabilid ade profissional (perante o Conselho Regio-
com o seu paciente, como. por exemplo. indicação, aplicação e nal de Odontologia).
controle de aparelho mecanoterápi co para voltar maloclusôcs às • responsabilid ade cívil (com a obrigação de pagar ínúení-
re laçücs oclusais normais. 'l.ação ao paciente ou à sua fam íl ia) e, at~,
Tnna-se de um caso singular em que o profissional apenas e • responsabilid ade penal (que implica até mesmo a aplica-
somente cumpre sua obrigação quando atinge aquele resultado ção de pena criminal ao profissional se, no desempenho de
a que se Linha compro metido. No exemplo referido, restituir as suas atividades. culposamellle (ver adiante). provocar a
relações oclusais normais. Esses tipos de contratos, entretanto, morte ou lesões corporais no pat:iente sob seus cuidados).
são excepcionais, sendo certo que os mais freqüentes são os que
foram aqui primeiro mencionados .
É por isso que. na grande maioria dos casos, pelo contrato o
cirurgião-de ntista não se obriga a restituir a saúde oral do paci- 4. DEVERE S DO PROFISSIONAL DA
ente, até porque a própria Odontologia não é uma ciência exata,
ma, obriga-se, sim, a desenvolver suas atividades profissiona is
______________________
ÁREA ODONTO LÓGICA .,_ .. __ _
conduzindo-s e com atenção. cuidado e diligl~ncia na aplicação A seguir, enumeramos os deveres m ínimos dos profissionais
dos conheciment os de sua Ciência. para atingir o objetivo de da área odonto16gica :
restaurnr ou restituir a saúde oral do paciente, no limite do pos- 1. Com o diag nóstico da patologia que acomete o paciente. o
sível. cirurgião-dentista deverá orientar o cliente:
Apesar dos aspectos ligados à Saúde Pública em geral, visto
tratar-se de atividade mediante a qual o profissional atua no cam- 1.1 sohre o tratamento ou eventual intervenção cirúrgíca que
po da saúde, restituindo-a ou prevenindo doenças, o contrato que o rnso recomende;
se estabelece entre o cirurgião-de ntista e o pacie nte é de nature- l.2 sobre a apresentação de alternativas de tratamento ou
73 pri vada. caracteri'.l.llndo-se pela confiança do paciente na ha- intervenção, quando existentes, esclarecendo, o quanto
bilidade do cirurgião-den tista, que.. por sua ve'L., tem livre esco- possível. no que consiste cada a\t.ernali va para que opa-
lha e lit.,erdadc de fixação do preço do serviço. ciente possa, livremente e com conhcdmento de causa.
Em determinadas circunstânci as, quando o cirurgião-den tis- optar por uma delas:
ta socorre o paciente vítima de acidente, por exemplo, sem que a '2. Uma vc:l aceito o tratamento pelo paciente, o profissional
própria , ·íti ma ou seu responsável tenham solicitado seus servi- indicará, de preferência por escrito (cm letra legível). a dosagem
ço~. por impo~sibilidade de faiê-lo, estamos diante de uma si- e o modo de tomar o medicamento prescrito. bem como infor-
NoçtJes F:h~nu.mtares dt L>irâto 155

:nar,i ao paciente das possíveis reações alérgicas. cuidando, pre- • Erros de planejamento-comprometendo. pela falta de
·. i;unente e dencro dos limites do possível, para que tais reações visão global e pela ausência de previsão, estruturas e
não ocorram; funções orais; ·
3. Recusará a assistência ao paciente se não conseguir persu- • Eirns de execução - comp011ando resultados mecâni-
.iJi-lo a respeito do lratamenco ou da intervenção que julga rcco- ca ou funcionalmente incorretos ou inadequados;
1ll:'ndávcís, salvo na hipó1esc de ser o úníco profissional díspo- • Erros de prognóstico - orientando inadequadamente
:ii,el e que. com sua recusa, deixaria o paciente absolutamente os pacientes sobre os passos evolutivos de uma patolo-
,,·m assistência: gia ou tratamelllo realizado:
~. 1ndicará a realização de intervenção cirúrgica somente nos • Erros específicos de especialistas (ortodomista, endo-
.:.bos indispensáveis; donlistas, periodonlistas etc.):
5. Assumirá os riscos increntes à profissão. nos casos de ur- • Faltas relativas ao tratamento decorrentes à utilização
;;éncia, praticando todos os atos necess,irios à cura do paciente, de instrumentos ou remédios inadequados ou imprópri-
.:ientc de que nem o pacienlc nem a família terão condições de os;
~edamar, demonstrada a díligêncía em casos dessa natureza; • Falhas por ocasião da realização de procedimentos ou
6. Obterá o prévio consentimento do paciente ou de seu res- intervençücs cirúrgicas;
ponsável, antes de proceder a qualquer tratamento de risco ou • Falta de higiene.
intervenção cirúrgica, salvo se, em caso excepcional. a decisão
,obre o tratamento deva ser 1omada pelo cirurgião-dentista em Outra forma de abordagem do tema parte do conceito dares-
·,i11t1de do estado de perigo em que se encontra o paciente, quando ponsabilidade odontológica: responsabilidade pelos prejuízos
,) tratamento é legalmente compulsório, ou quando o paciente causados a outrem quando o profissional deixa de amar, cm seu
manifeste propósitos suicidas; ofício. com os cuidados a ele increntes.
7. A realização de tratamentos ou transfusões sangüíneas com Devemos disLinguir erro odontológico do acidente impre-
rins terapêuticos, contra a vontade do paciente, só é admissível visível e do mau resultado. Genival Veloso de França (l 995)
,:m casos excepcionais; ensina que. ín vubis:
8. É estritamenle vedado ao profissional da área o<lontológi-
s:a agir com abuso de poder, realizando experiência sobre o cor- "o aro odomvlôgico, no campo da respon.mhilidad(i, pode
p(• humano do pacicme; ser de ord(!III. pessoal ou de ordem esmaural. É de ordc!m
9. Cabe ao cirurgião-dentista infonnar o paciente dos riscos a pessoal quando o ato lesivo se deu na ação vu omissão. por
que está sujeito em caso de tratamentos e intervenções que en- despreparo técnico<' intelecwal, por grosseiro descaso ou por
\ olvam perigo para o doente; motivos ocasionais refen•ntes às condiçiJesfisicas 011 emoci-
10. É legítimo ocultar ao enfermo a informação relativa a um onai.\". Pode ser também procedeme (fo falhas eslruturais.
mal incunivcl, ou sua comunicação com a maior cireunspecção, quando os meios m, condíçiíes de irabalho são ín.mjkientl'S
ou inejka:.es para uma resposta satisfatúria. ''
confonne as circunstâncias. Em todo caso, se as condições psí-
quicas impedem de instruir o paciente compleLamente, o cirur-
gião-dentista deve dizer toda a verdade aos memhros mais pró- O acidente imprevisível, embora s~ja um acontecimento
:-; imos de sua família; danoso ao ato odontológico, foge ao controle do profissional, por
resultar de caso fortuito ou de força maior e que não podia ser
11. Atender aos chamados, bem como receber os pacientes
previsto ou evitado pelo odontólogo.
ao seu cargo. na medida das necessidades e do convencionado,
soh pena de comcLcr o dei ito de abandono; O mau resultado, segundo o mesmo 1ratadista, seria o resul-
12. Providenciar substituto à altura para o atcndimenLo às tado danoso proveniente da própria evolução da doença.
i.:onsultas dos pacientes quando. por qualquer motivo, se veja Da referida distinção. resultam importantes conseqüências:
impmisibilitado. enquanto o erro odontológico implica responsabilidade de seu
autor, o acidente imprevisível e o mau resultado, quando não
decon-eme de erro odontológico. não ensejam nenhuma respon-
sabilidade ao profissional.
5. ERROS PROFISSIONAIS
RF:SPONSABILIDADE POR FALHAS ESTRUTURAIS
O erro é apenas o insucesso culpável de uma ação ou omissão.
Diz respeito à insuficiência ou ineficácia dos meios e condi-
[nicialmente, já vimos que o erro odontológico. em particular.
</>cs de trahalho dos cirurgiões-dentistas em muitos pontos do
nada mais é que o fato física ou psíquicamente danoso a um
Brasil.
paciente, resultado de um agir culpável do cirurgião-dentista.
Com o evidente sucateamcnto e conseqüente de-.crédi10 do
Os erros dos profissionais podem ser divididos em duas gran-
des categorias, a saber: serviço público de sa~de, as falhas estruturai:; Lornaram-se evi-
dentes e recorrentes. E o aparelho de raios X que eslli quebrado,
a) Erros decorrentes da.falta aos deveres de humanidade: é o reaproveitamento de material descartável. é a falta de instru-
• Recusa de socoffcr um paciente cm perigo; mental e materiais de prôLcse nos almoxarifados dos Hospitais e
• Abandono do pacienle; Ambulatórios Públicos. tudo isso conduz, inevitavelmente, a si-
• Falta do dever de instruir o cliente sobre seu estado e tuações danosas aos pacientes que necessitam de tais serviços.
obter o respectivo consentimento; Ora, quando o erro odontol6gico for decon-ência dessas cha-
• Falta do dever de salvaguarda: madas falhas estruturais dos estabelecimentos do setor públi-
• Violação do segredo profissional. co, o profissional da odontologia, assim como o profissional da
h) Erros relativos à técnica odontológica: medicina, não poderá ser responsabilizado visto que não concor-
• Erros de diagnóstico - acarretando tratamento errado, reu para o fato. Eventual indenização deverá ser pleiteada da
com conseqüências graves para a saúde oral do paciente; União, do Estado, do Distrito Federal ou do Município a que
156 .\oçc,es Elenwnrares de Direito

pertencer o Estabelecimemo Hospitalar, o Pronto-Socorro ou o depreende da leitura do art. 1545 do Códígo Cívil, deriva da
Ambulatório onde se deu o evento danoso. ne~li1:ência, ilnperícia ou imprudlncía. ,:
Júlio Cezar Meirclks Gomes (2001 ), discorrendo sobre o En-o Ora, o erro odontológico deriva, portanto; das condutas cul-
Médico, afirma que se crata do mau resultado ou resultado ad- posas cm scnlido estrito e, por es.sa razào, convém examinar.
verso decorrellte de ação ou da omissilo do médico. detalhadamente, em que con-.iste cada uma dessas modalidades.
Esclarecendo melhor esse conceito, afirma que o em) odon-
tológico pode ocorrer por três via!-. principais, a sahcr, pela:
• imperícia, que se caracteriza pelajalta de nbservaçiiv das 6.2. Negligência
normas técnicas. por d,ispreparo prático ou por insuj1ci- É o descaso. a desatenção, a inércia. Caracteriza-se pela ina-
ê11cia de conhecimento; ção, pela indolência, inércia, passividade. É um ato omi.uivo. O
• imprudência, quando o profissional. por ação ou omis- abandono do paciente, a omissão de a-atamento, a ncglígêncía
são. assume procedimentos de risco para o paán1te sem de um cirurgião-dentista pela omissão de oua·o: um profissional,
re.waldo cíent(fico 011, sobretudo, sem esdarecünentos à confiando na pontualidade do colega, deixa o plantão, mas o
parte inle/'l1s.mda; suhstituto não chega e um paciente. pela falta de profissional, vem
• negligência. s.e decorre do desca.ço, do pouco interesse a sofrer graves danos. É a negligência vicarianlc.
quanto aos deveres e compromissos éticos com o paciente A prática ílegal. por estudanlc-. de odom.ologia sem supervi-
e até com a instituição. são, acarretando a responsabílidade, por negligência. do rcspon-
s,hel pelo estágio: à prática ilegal por pessoal técnico (auxiliar
de consultório que realiza o aju-.te de um aparelho ortodôntico.
6. DA CULPA COMO FUNDAMENTO advindo complicações e danos) responde o cirurgião-denli-.la; a
letra do profissional (receita indecifrável - cm geral, vê-se que
DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR os médicos e os den1isla-. têm letra ruim - . levando o farma-
cêutico a fornecer remédio diverso do prescrito) lambém con-
6.1. Generalidades duz à responsabilidade por negligência.
Miguel Kfoury Neto (1998, p. 78 e scgs.) traz numerosos
A culpa, na doutrina clássica, consiste no desvio de um mo- exemplos de conduta ncgligcnlc, a saber:
delo ideal de conduta, representado. às vezes. pela boa fé, outras
pela diligência do bom pai de família (paterfamilias). a) clínico que deixa de dar o devido encaminhamento a paci-
Uma melhor compreensão do tema é oblida através da afir- ente que necessita de urgente intervenção cirúrgica;
mação de que o indivíduo, em sociedade, deve estar atento à b) erro grosseiro por negligência de clíniw que, sem identí-
realidade do convívio social, evitando quaisquer práticas que fícar os sinlomas de um grave abscesso periapical. descon-
possam, de quaisquer modos, causar danos a outrem. sidera sintomas evidentes e revela absoluto dcsca-.o pelo
Todavia, se nos limilásscmos a esse conceito. reduziríamos a paciente, dispensando-o;
questão da rnlpa a uma abstenção de açôcs potencial ou efetiva- e) clínico que, diante de caso grave. permanece fechado no
mente perigosas para outrem. Entretanto. tamhém, quando o in- seu gabinete, límítando-sc a prescrever medicamcnlo alra-
divíduo em sociedade se vê compelido a agir, a desempenhar vés de sua auxíl iar de consultório, sem contato direto com
alguma atividade, haverá de fazê-lo considerando as regras ou o paciente;
lécnicas a ela increntes, bem como empregar sua atenção e cui- d) negligência reconhecida dos cirurgiões-dentistas de Pron-
dado em toda atívidadc ou tarefa da qual possa potencialmente to-Socorro que subestimaram a gravidade dos fcrimenlos
resultar riscos à vída, saúde ou patrimônio de tcn:ciros. buco-mandíbulo-faciais sotiidos por um paciente. vítima
O art. 159 do Código Cívil Bra!-.ileíro trata da obrigação de de atropelamento, que o examinam superficialmente, pres-
indenizar por pa11e de quem, por ação ou omissão voluntária, ou crevem medicação insuficienle ou realizam atos técnicos
por negligência, imprudência ou imperícia, tenha causado dano inadequados ou incempestivos e, algun!-. dias depois. o pa-
a outrem. cienle cxihe extensas áreas de necrose de estruturas que
Temos, assim. que as condutas que provocam dano a outrem poderiam ter sido salvas se tratadas oportunamente.
e geram, cm conseqüência, a obrigação de indenizar. por parte Ainda emulando a lição de Miguel Kfoury l\'cto (op. cii. p.
de seus agentes, podem ser classificadas da seguinte forma: 80), os casos de negligência são numero1;os na jurisprudência,
a) Condutas dolosas -quando o agente. voluntária e consd- posto que a distração foz parte da natureza humana e vão do e1rn
ememcntc, pratica o ato. contrário à Lei, por querer-lhe o do profissional desatento que prescreve um remédio por outro
resultado, ou assumir o ri!-.co de produzi-lo. Por exemplo: - digestivo enz.ímátíco cm vez. de antiinflamat.ório com enzi-
quem, sabendo que o pacienlc é sensível à penidlina, ino- mas - até o esquecimento de uma gaz.e ou algodão em uma ci-
cula-lhe o produto, visando matá-lo. está praticando homi- rurgia periapical, ao fechar o retalho e obturar o canal.
cídio doloso; na mesma situação está quem, não conhecen-
do o comportamento reacional do paciente, aplica-lhe uma
inícção de penicilina sem fazer nenhum teste de sensibili- 6.3. Imprudência
dade prévio, assumindo o risco de matar o seu paciente e,
Consiste no agir precipitado, sem cautela, sem preocupação.
efetivamente, o faz.. Na primeira hipótese, lemos o dolo
É o agir pelo qual o agente, tendo possibilidade de prever a ocor-
direto; na segunda, o dolo eventual.
rência de cvenlo danoso, não o faz. provocando. assim, a ocor-
h l Condutas culposas em sentido estrito - caracterizadas
rência lesiva. A prel'ísihílidade da ocorrénr.ia do evimlO Ü'.Üvo
pela ação ou omissão negligente, imperita ou imprude11t(1.
é característica dessa modalidade culpo-.a.
A responsabilidade civil dos cirurgiões-dentistas, de forma No campo médico. a dificuldade pode residir cm distinguir a
genérica, está fundada na leoria da culpa. A culpa, pelo que se imprudência da imperícia. Todavia, na Odontologia, a difícul-
NoçlJes Elementare.v de Vireiro 157

dade se afigura rnenor. porquanto os dois tipos de ação/omissão e) a conduta deve ser atribuída subjetivamente ao cimrgião·
,ào bas1ame diferentes. Com efeito. o cirurgião-demista, ao se dentista, a título de dolo ou culpa, isto é. que a conduta
definir por dctenninado procedimento inadequado para o caso, tenha ocorrido seja porque o profissional quis o resultado
:1gc com imperícia, pois não conhece a fundo o risco que ele danoso, seja porque, emhora não o quisesse. agiu de modo
envolve, ou porque, tendo perfeita consdência do risco, resolve a produzi-lo;
j\ançar a sua ação além dos limites da liciLudc. d) e.leve existir relação de causalidade eficiente entre o ato
Para Basilcu Garcia (p. 259), consiste a imprudência em odontológico e o dano sofrido pelo paciente.
-:nfrcntar. prcscindivelmente. um perigo: a negligência, em não
...:urnprir um dever, um desempenho da conduta; e a imperícia,
na falta de habilidade para certos misteres.
A título de exemplo. erro odonto16gico decorrente de condu- 7. DA RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
lJ imprudente é quando o profissional resolve realizar em meta- ENTRE A CONDUTA E O RESULTADO
de do tempo cirurgia que, pela sua complexidade. é realizada em
mais tempo e, com tal pressa, acarreta dano ao paciente.
DANOSO
Não basta que a ação culposa. que se revela através da práti-
ca do erro odontológico, tenha ocorrido. Há absoluta necessida-
6.4. Imperícia de de que. entre a ação culposa e o resultado danoso, exista uma
É a falta de habilitação efetiva e de conhecimento técnírn relação de causa-e-efeito. Assim, o efeito danoso deverá ser de-
necessário e suficienlc para a realização <la ação que os supõe con-êncía da ação culposa.
ou os exige. É a ação empreendida por quem não possui conhe- Para identificar, claramente, se o resultado pode ser atribuído
(iinento técnico específico a respeito do modo de realizá-la, e. a determinada ação, hasta que se elimine a ação para verificar se
ainda assim, a realiza. Se dessa ação resultar dano, o agente por o resultado ocon-eria. Se, com a eliminação hipotética da ação. o
ele responderá a título <le culpa por imperícia. resultado não se verilicaria, evidentemente deve-se atribuir à ação
Permitimo-nos trazer à colação alguns exemplos de erros a causa eficiente do resultado.
odontol6gicos devidos à imperícia: Melhor exemplificando: se determinado paciente falalrnente
perderia determinada peça dentária, da forma e no tempo em que
a) é imperito o implantologista que, colocando implantes a perdeu, independentemente da ação ou omissão do círurgião-
<Ístco-integrados bilaterais na mandíbula de paciente des-
dentista, ao profissional não se poderá atribuir nenhuma respon-
dentado há longo tempo. não atenta para a aproximação do
sabilidade, pois, entre o evento - perda do dente - e a sua ação
canal neural da borda alveolar, e provoca lesão no nervo
ou omissão, não existiu um nexo de cawsalidade. ou melhor. a
mandibular:
ação ou omissão e.lo facultativo não foi determinante para a cau-
h) é impcrito o implantologista que. colocando implantes
sa da perda do dente do paciente.
agulhados de Scialon, transfixa o seio maxilar, deixando a
Contrariamente. se, por ação ou omissão do cirurgião-dentis-
extremidade <le uma ou mais hastes a emergir no assoalho
ta, o paciente veio a perder certas peças dentárias. é de se lhe
da fossa nasal ipsolateral;
imputar responsabilidade na medida cm que o resultado - per-
c) é imperito o clínico que, ao realizar uma prótese total, mo-
da das peças <lentfüias - decorreu da ação ou omíssào do pro-
difica a din1ensão ve1tícal e, como conseqüência, provoca
fissional.
alterações na mímica, na superfü:ic do rosto do(a) paciente
Essa relação de causalidade é estabelecida. cm regra. através
ou disfunção da articulação têmporo-man<libular (ATM).
da perícia. [sso porque ao julgador faltam conhecimentos es-
pecíficos de áreas estranhas ao Direito. Por tal motivo é que,
dentre os auxiliares do Juiz. estão os peritos: pessoas que. por
6.5. Culpa Civil e Culpa Penal seus conhecimentos técnicos específicos, produzem relatríríos
Conquanto semelhantes, a culpa civil e a culpa penal apre- (sob a forma de auios ou de laudos) contendo suas opiniões fun-
sentam. entre si, distinções importamcs. Casabona (p. 97-98) damentadas a respeito de fatos técnicos. A atua<;ão dos pc1itos e
aponta as distinções. a saber: os documentos que elaboram são objeLo de estudo em outra par-
te desta ohra.
a) a culpa penal se caracteriza por sua tipicidade; a conduta O nexo de causalidade. para que se possa considerar como tal,
proihi<la deve encontrar-se descLita na lei penal - o que carece preencher ce11os critérios de juízo necessários. conforme
não ocorre com o mesmo rigor na culpa civil; estipulado por Paulete-Vanrell ( 1999), a saher:
b) as conseqüências de uma e outra são distintas: a r:ulpa penal
pressupõe a comi nação de uma pena. enquanto a culpa civil • critérfo crono/ágico, caracterizando a existência de um
gera o direito à reparação ou recomposição do dano; liame temporal entre o resultado danoso e o ato profissio-
e) no ten-eno da responsahi lida<le. a penal é estritamente pes- nal ao qual se atribui a responsabilidade pelo evento;
soal, ao passo que a cívil poderá estender-se a oumts pes- • critério topográfico. compreendendo a relação espacial de
soas. proxinúdade entre o local <la lesão e o local de ação da
energia lesiva:
Os pr<'ssuposios para que se rnnl'igurc a responsabilidade ci-
• critério de adequação le.~iva, exigindo uma coerência en-
vil do cüurgião-dentísta são os seguintes:
tre o tipo de lesão ohservada e os possíveis resultados que
a) comportamemo pr6prio, ativo ou passivo. isto é, compor- surgem da ação da energia lesiva utilizada pelo ageme;
tamento enquanto profissional da odontologia; • critério de continuidade fenome11ológica, caracterizando
b) que tal comportamento viole o dever de atenção e cuidado a seqiíência inintenupta de fenômenos biológicos ocorri-
próprios da profo;são, tornando-se antijurídico, isto é, con- dos na vítima. que mostram um 1'ontinuum em cuja origem
trário ao direito; -.e localiza a ação do agente agressor;
158 Sorr"ies Elementares de Direito

• critério de exclusão de outras causas, que exige seja tei- má veis. que se lhe confiam, no pressuposto que os zelem: e esse
to um exame profundo do resuHado lesionai, excluindo que dever de possuir a sua arte e aplicá-la, honesta e cuidadosamen-
o mesmo possa ter se originado a partir de outras açôes te, é tão imperioso, que a lei repressiva lhe pune as infrações.
lesivas que não aquela que se atribui ao ageme; Em suma, a concepção geralmente aceila é a que lhe confere
• critério estatístico. compreendendo um estudo quantitati- natureza cont.ratual. É o critério seguido pelo C6dígo Civil Bra-
vo da freqüência com que determinado resultado lesionai sileiro, embora regulando tal responsabilidade cm dispositivo co-
é pmvocado por certa energia le!-.íva. locado entre os que dizem respeito à responsabilidade aquiliana
Daí a importância rnpital do!-. laudos periciais que verifica- (arl. 1.545): na verdade. o fato de provir de qualquer falta, resul-
rão, nos casos concretos, a existência ou não de nexo entre a tame de ignorância, imperícia ou negligência, não nega a exis-
conduta do profissional e o resultado danoso ao paciente. tência de um contrato sui g<meris.
De forma mais simplificada. podemos também conceituar a Haja ou não contrato escrito. não se pode ignorar a existência
relação de causalidade como o nexo causal entre o ato culposo de um acordo de vontades como pressuposto. direto com o paci-
realizado pelo profissional e a pn1du\·ão do dano. ente, ou indireto com qualquer pessoa de sua família, ajuste de-
corrente da simples consulta e conseqüentes retornos, como causa
do vínculo obtigacional recíproco, e que dá os limites da ativi-
dade do profissional. embora o ato ilícito possa configurar-se
8. NATUREZA JURÍDICA DA independente de que se tenha estabelecido o conu-ato.
RESPONSABILIDADE DO
CIRURGIÃO-DENTISTA 8.2. Responsabilidade Profissional e o
8.1. Teorias sobre a Responsabilidade Código do Consumidor
São várias as teorias sobre a natureza da respon!-.abilidade do O Código de Defesa do Consumidor, Lei n.º 8.078, de 11 de
médico, conhecidas pelos juri-.tas. No RrasiL a tcrnia adotada pelo setembro de 1990, no seu arl. 14, dispõe sobre a responsabilida-
Código Cívil nos arts. 159 e 1.545 evidencia que aqui se adotou de pelos danos causados aos consumidores, por serviços presta-
a teoria subjetiva, uma vez que se exige que a vítima ou seu rc- dos de maneira defciluosa. Esse artigo consagra a responsahíli-
presentame legal provem o dolo ou a culpa, em senlido estrito, dade. objetfra do:, fornecedores ou prestadores de serviço, isto é,
do agente, para obter a respecúva reparação do dano. não se exige prova de culpa do responsável pelo serviço para que
Ao lado da teoria subjetiva. que exige da vítima a prova do ele seja obrigado a reparar o dano:
dano e do agir doloso ou culposo do profissional, existe a teoria
objetiva; nesse caso não se exige prova de culpa do agente para ··o fornecedor de serviços responde, independentemente da
que ele seja obrigado a reparar o dano: ou a culpa é presumida existência de culpa, pela reparação dos danos nmsados aos
pela lei ou, simplesmente, se dispensa sua rnmprovação. consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços.
O conhecimento dessas duas posições teôricas tem efeitos bem como por informações insuficientes e inadequadas so-
práticos importantes na apuração do c,rn odontológico. Geral- bre sua fruii;ão e risco-.."
mente, no caso de en-os provenientes de profissionais da área
odontológica e/ou paramédica, que trabalham na elaboração de Todavia, cm relação aos profissionais liberais, entre os quais
exames para facilitar e/ou auxiliar diagnósticos (exames radio- se incluem os cirurgiões-dentistas. o§ 4. 0 <lo art. 14 da lei supra-
lógicos, tomográficos. ressonâncias magnética-., anatomopato- citada, mantém, corno pressuposto da re-.ponsabilidadc, a veri-
logia). bem como nos casos de cirurgia estética propriamente dita ficação da culpa. Vale dizer que, relativamente aos cirurgiões-
(cosmetológica ou embelezadora) e de ortodontia, inverte-se (I dentistas. por serem contralados com base na confiança que ins-
ônus da prova. cahcndo ao causador do dano a tarefa de demons- piram aos seus clientes e respec.:tivos familiares. não sr. aplica a
trar que não agiu culposamente, visando ex imír-se ela obrigação teoria da respon.mbílídade ohjeti1'a esposada pelo Código do
de indenizar. Consumidor.
Em outras especialidades odontológicas, entretamo. em regra.
prevalecerá a obrigação da vítima ou de seu repre-.cntante legal "Assim, estes profissionais somente serão responsabilizados
de comprovar o dano e a conduta dolosa ou culposa do profissi- por danos quando ficar provada a ocon-ência de culpa subje-
<mal. tiva, cm quaisquer de suas modalídadcs: negligência. impru-
O art. 1.545 do C<'ídigo Civil Brasileiro dispõe: dência ou imperícia.''
(Denari, Zclmo e outros - Código Brasileiro de Dejésa do
"os médícos, cirurgiões, farmacêuticos, parteiras e dentistas Consumidor Comentado pelos Auturtrs do Anteprojeto, p. 95.)
são obrigados a satisfazer o dano, sempre que a imprudência,
negligência ou imperícia, em atos profissionais. resull,ll' morte, Entretanto, se, para os profissionais liberais. enquanto pres-
inabilitação de servir, ou fe1imento.'' tadores pessoais de serviços, diretamente, aos seus clientes e/ou
pacientes, a rc-.pon-.ahi lidade pelos danos eventualmente causa-
Comentando tal disposição, o prüpri(, autor do Código Civil dos dependerá de comprovação de suas culpas subjetivas. o
Yigentc - Clovis Bevilaqua - assinala que o artigo 1.545 tem mesmo não ocon-e relativamente aos servi~o..1, profissionais pres-
por finalidade afastar a escusa, que poderiam pretender invocar, tados pelas p~ssoas jurídicas, seja sociedade civil. seja asso-
de ser o dano um acidente no exercício de sua profissão: o direi- ciação profissional.
to exige que esses profissionais exerçam a sua arte segundo os E como ficaria a situação na qual o cirurgião-dentisla, traba-
preceitos que ela estabelece. e com as cautelas e precauções ne- lhando como funcionário de uma Clínica ou Hospital. tivesse
cessárias ao resguardo da vida e da saúde dos clientes, bens inesti- provocado dano a um paciente? Oe acordo com a doulrína do-
Noções F.lememares de Direito 159

minante, a responsabilidade do profissional somente será é devida até a data cm que o filho menor viesse a comple-
admitida depois de apurada e provada sua cul1>a; já a res- tar 25 anos de idade,já que se presume que o filho contri-
ponsabilidade do Hospital ou Clínica será apurada objetiva- buiria para a economia doméslica até essa idade. passan-
mentt.- (Benjamim. Antonio Hermann Vas<.;onccllos e outros: do a constituir sua própria família (RTJ 83/642).
Comelltários ao Códixo de Proteção ao Consumidor, p. 79-80.)
LESÕES CORPORAIS
Nesse caso, o culpado indenizará o ofendido nas despesas de
9. LIQUIDAÇÃO DO DANO tratamento (dano emergente) e lucros cc<.santes. até o fim de sua
convalescen\·a, atualizado monetariamente o débito.
ODONTOLÓGICO
a) Se do tratamento odonlol6gico resultar alefjtio ou defor-
lJ ma vez estabelecida a obrigação de indenizar em virtude do midade permanente, a sorna indeni1,atória deverá ser du-
Jano provocado pelo erro odontológíco, cuida-se, em seguida, plicada (parágrafo 2, art. 1.538 do Código Civil).
de se determinar o quantum, isto é, o valor dessa indenização. b) Se do erro odontológico resultar inabilitação para o traba-
Em linguagem jurídica, liquidar o dano é escabelecer quanto o lho ou diminuição de sua rnpacidade laborativa, além das
.·~m:;ador do dano deverá efetivamente pagar. cm dinheiro, ao despesas de tratamenLO e lucros cessantes, a vítíma fará jus
k~ado. a uma pensão correspondente à importância do trabalho
O C6digo Civil estabelece alguns clité1ios para a determina- para o qual restou inabilitada ou da depreciação que ela
~·:10 do valor da indenização devida ao lc-,ado ou à sua família, -,ofrcu. Essa pensão por invalidez tolal e permanente, ou
:,as diversas hipóteses. a saber: parcial e permanente. deve ser vitalícia e cessará apenas
Morte: despesas de tratamento+ funerais+ luto da fanu1ia + com a mo11e do lesado pelo erro.
pagamento de alítnentos a quem a vílima prestava.
1. Despesas de tratamento: compreende as despesas com DANO ESTÉTICO
médicos, remédios, internação, a que foi ohrigada a vúi- A maioria dos autores considera o dano estético como moda-
ma em virtude do erro odontológíco: lidade de dano moral, resultando daí a assinalada dificuldade em
1 Despesas com funerais: incluem gastos com o velório, fixar o valor a ser indenizado. Alguns critérios, entretanto. po-
féretro, transporte, aquü,ição de Lcrrcno em cemitério, edi- derão oricnlar o julgador na sua fixação, a saber:
ficação de túmulo adequado à condição social da vítima; a) a idade, o sexo, a posição social da vítima e as regiões buco-
3. Luto da família: equivale, hoje. ao dano moral. Kão se mandíbulo-faciais deformadas, com realce à face e pescoço;
Lnua de Larcfa fácil a estimação do valor a ser pago a e~te b) a gravidade da lesão com vistas à extensão e profundidade
Lílulo, já que não existem critérios uniforme'> para umstanle da prova técnica;
determiná-lo. A fixação desse valor fica ao ''prudente ar- e) os rendimentos, o cargo. o trabalho ou a atividade do lesa-
b{trio" do juiz, isto é, em cada caso concreto, tendo cm do e a sua situação econômico-financeira:
vista as condições socioeconômícas da vítima, bem como d) os dano~ emergentes, os lucros cessantes, os juros compos-
as do causador do dano. Na falta de critérios, os juízes e tos, os honorários. tudo corrigido até o efetivo pagamenco;
tribunais procuram clemenLos para estabelecer o valor do e) outros requisitos que o caso concreto recomendar.
dano moral, havendo autores que vão buscar no Código
Brasileiro de Telecomunicações bases para sua fixação.
Assim, no art. 84. parágrafo primeiro. daquele C6digo,
existe previsão para o ressarcimemo de dano moral no-,
BIBLIOGRAFIA
casos de crimes contra a honra, limilado aquele ao valor
Aso Escario, J. & Coho Plana, J.A. Valomciân de Jus l.esiones Causa-
de 100 salários-mínimos, valor este utilizado para a fixa-
das a las Pe.rsonas mAccidentes de Cir(·11/ació11. Barcelona: Masson,
ção da indenização por dano moral. 1998.
4. Pensão alimentícia: chefe de família: o cálculo da pen- Baima Bollone. P. & Paslore Trosscllo. F. /1,/ec/icina Lega/e e delle
são alimenLkia devida à família da víúma baseia-se na 1\ssicurai.ioni. Turin: Giappichdli Editore. 1989.
cslimali va de que, da renda auferida pelo chelc de rarru1ia, Barmt, R. /.R Dmnmage Corpore/ er sa Compensmio11. Park Lítec, 1988.
um Lcrço é con-,umido com suas próprias despesa'>. A pen- Bofill Soliguer, J. Jn1egraci(111 de /0.1 Crirerins de Sir 1~usci11 Brfü((urd
são mensal será. portanto, calculada à hasc de 2/3 da ren- Hill a los Crilaios Urili::.adOJ fradicionalmente para el Esmdio de
da líquida da vítima, devidamente comprovada, à épm:a do lu Camalidad en Valorar.ión dei Dm1o Corporal. http://www.la-
plaza.com/vdc/rcvisiones/Hifüimo.html, 1999.
evento. Por questões de ordem prálirn, a pensão será sem-
Campos, M.L.B. Aspec10.1 clínicos df' la Mala Pra.tis en Odontologia.
pre estabelecida em número cerLo e determinado de salá- Conferência pronunciada nas IV Jornadas Uruguayas de Rcsponsa-
rios-mínimos. sobre os quaís im:idem os reajustes perió- bilidad Médica. Montcvidco, '.!8-30.09.2000.
dicos, evílando-se, assim. a ncce-,sídade de atualizações Campos, :W.L.B. Aspectoi> clínicos de la mala praxís cn 0(kmcologia.
constanLes. 111: Almada, H.R. (coord.). Dereclw Médico. Buenos Aires: E<l. B
5. :\·:forte de filho menor: Lambém é bastante conu·overtida de F.2001, pp. 108-1 13.
a questão do valor e do tempo durante o qual a pensão ali- Carnelmti, F. Vww e Realo. Pádua: CEDAM. 1930, pp. 39 e scgs. e 65.
mentícia deve ser paga à família da vítima. Entrclanto, a Corte-Real, F. O estado anterior na avaliação do dano corporal de natu-
melhor posição é encontrada em decisão do Superior Tri- rel.a cível. Rev. Port. Dww Cmp .. 5(7):83-100, 1998.
Courtat, P. e Elba7. P. Reparation du Dommage Corporel en
bunal de Justiça, publicada na RTJ 119/1.221, que estabe-
Otorhhwlaryngologie. Paris: lnfasson, 1992.
lece: ··o valor da pensào por morte de filho menor deve Criado del Rio, M. Va/oració11 ,ttédico L<'gal dei Dal1o a La T'er.rnna
corresponder a uma conuibuição média de 2/:, do saláiio por Respmisahilídad Civil. Maclri: Furnlación Mapfre de Medicina,
mínimo" e. ainda, fixa o limite do Lcmpo em que a pensão 1994.
160 Noções Elemenr ares de Direito

l
Oliveira Sá, F. Clínica Médico- Legal da Reparaçti.o do Dano Corpora
França. G. V. D irt?ito Médico. São Paulo: Fundaçã o Editorial Byk. 1995.
em Direi10 Civil. Coim bra: AP,"\DAC, 1992.
Franç a. G.V. Medicin a Ler;al, s.• ed. Rio de Janeiro: Guanaha ra-Koo- dano
Paulete- Van reli. J. As seqüelas nas lesões corporai s. Ava liação do
gan, 1998.
corporal de naturc7.a civil. Rev. .lurídica Publi/(!x , 2(33): 1 ·1-17, 1999.
Franchin i. A. M edici1w T.egale, 10.' ed. P.idua: CEDAM , 1985. :
Piganiol, G. et Marin, A. L 'évaluation du dom mage du lom balgique
Gisbert CaJabuig . J.A. M edicina /,egal y Toxir:ologia, 5." ed., Rarcelo-
réflcxions sur l'IPP. Re.v. Fr. Dom. Corp ., /: 143- 160, 1990.
na: Masson, 1998. Re,.
sua Razcmo n, J.P. Evaluali on de la valcur fonction nelle de la main.
Gomes. J.C.M. e França, G .V. Erro Mt!díco . Um Er!f"oque sobre
Fr. Dom . Corp .. 4:391-40 6, 1983.
Orir;em e suas Conseqü ências, 3: ed. Momes Claros: l:id. U ni montcs, gal~
2001. Rogicr, A. Gui<le d' lltilisatío n de la Fiche d ' Evalualion M édico-U
de.,; Sequdle s Grnves. Paris, Are<ioc: Diffusio n Soulissc-Casscg rain.
Hcrná nde z Cueto. C. Va forru:ión Médirn dei Daiío Cnq,ora l. Duía
1990.
f'ráctit:a para La t:xplora cíón y t:i•aluacíó11 de l.esionadoJ . Barce- me
lona: .Masson, 1996. Société de Médecin e Légale et de C rimino logie de Françe. Bart~
!ndica tif des Dt!Jici ·
t.1 Fonctio nnels Séque llaire ,
.· en Droir
Hill, A.B. e Hill, l.D. Principi es of Medical Stati.,·1ics. Londres : Edward
Amold, l 99 l.
Commu11. Paris: Lc Conco urs Medical et Akxan dre Lacassa gne.
s de 1993.
Hi nojal Fonseca , R. Dano Corporal: Fundam entos y Mé!odo s
Sociélé de Médccin e Légale et de C riminologie de Fmnce. l.es Sequelle
Valoraci ón Médica. Oviedo: Ed. Arcano Medicina, 1996.
f en Trauma1 iques. El'aluaticm Médico- l.egale des hu:apad tf..1· Perma-
Jonqueres, J. e Foels, A. Répara rion du D ommage Corpore
Ophtalmolngie. Paris: Masson. 1990.
nentes en Droir Cmnnwf l. Paris: 1.e Conc<>urs Medical ct Alexandre
Lacassag nc, 199 1.
Kfoury N"cto, M. R~spons ahilidad e Civil do Médico. 3." ed. São Paulo:
Ed. Revista dos Tríbunais, 1998. Trabalhos da Comís~ão de Rc tlexão sobre: Doutrina e Metodol ogia da
Avaliaç ão do Dano Corpora l no Direito Comum . Rn . Fr. Dom.
Lamhert -FaivTe, Y . ú Droit du Dommag e Corpnrel. Paris: Dalloz, 1990.
Léi. Corp ., 4:412. 1985; 2:181. 1986: 3:?.57, 1986: /:73, 1987: 2: 179.
M argeat, H. L'état antérie ur révé lé par l'accide nt. Rui/. Méd.
1987 et suppl.
Toxico/., 22(2): 193, 1979.
. Zangan i, P. Medicin a Lega/e e de fle Assicurai.ioni. Nápoles : Morano
Mélennec, L. Valoraci ón de las d iscapaci dades y dei daiio corporal
Editore, 1990.
Baremo fn1ernacio11al de Ini-alide.ces. Barcelona: Masson. 1997.
A D0cu01entação Odontológica
...--·····--···-·····..--·-------·-------··--·--··----------··--·-···-·----..-----·--··--·--------------
Jorge Paulete Va11rell

INTRODUÇÃO A DOCUMENTAÇÃO QUE DEVE


CONSTAR DO PRONTUÁRIO
Como herança direta do pensamento grego. notadamente
aristotélico, nossa ciência nasceu. cresceu e amadureceu sempre Exsurge. de pronlo, a necessidade de esclarecer sobre qual o
ohservando, classificando, organizando, arquivando. típodedocumemação adequada e que pode ser exigida, para fazer
Assim, não deve causar qualquer sobressalto o fato de que, prova em juízo, que deve compor o Prontuário Odontológico.
na Odontologia, tamhém, aliás como acontece na Medicina e em Despontam, desde logo. em primeiro lugar e como compo-
outras ciências correlatas. o profissional cuide do registro gráfi- nentes naturais, os seguintes:
co. radiográfico e. mesmo, documental de todos os procedimen-
tos odontológicos realizados nos seus pacientes. Isso não ape- • Ficha clínica odontológica;
nas representa uma constante. mas sempre tem sido objeto da • A documentação radiográfica;
orientação esmerada das escolas. • .A. documentação fotográfica (opcional), mas necessária em
Ultimamente, entretamo, temos assistido a urna verdadeira certas especialidades. como, por exemplo, Ortodontia.
histeria coletiva, que se iniciou mm a carnclcrízação do erro Dcmística Embelezadora. Cirurgia Ruco-:vtandílmlo-Faci-
médico e que, aos poucos, lem invadido os consultórios na ten- al, entre outras):
tativa de fazer grassar uma verdadeira epidemia de "caça às bru- • A documentação histopatológica (quando existente):
xas··. onde as vítimas. como é curial, seriam os cirurgiões-den- • Traçados ortodônticos:
lisl~s. pelo cometimento de erros odontológicos. • Instruções de higicnizm;âo:
E nesses momentos que surge uma preocupação crescente, por • Fichas de índice de placa;
parte dos cirurgiões-dentistas, no sentido de melhor guardar as • Recomendações pós-operatórias:
suas informações técnico-profissionais. bem corno e porque tem- • Esclarecimentos sobre limitações para a realização de de-
po guardar a documentação odonlológíca. terminados trabalhos, técnicas e/ou procedimentos;
Quem milita na docência sabe que. por mais que os professo- • C6pia do Tcm10 de Consentimento Esclarecido;
• Cópia do Contrato de Prestação de Serviços Profissionais:
res se esforcem, durante o curso, cm incutir nos alunos certos
princípios. nem sempre são atendidos pelos discentes. que, a essas • Cópia de quaisquer documentos fornecidos ou emitidos cm
alturas do curso, ainda não atinam a compreender a gravidade e favor do paciente (atestados, declarações. recibos etc.).
cada um com a assinatura de conhecimento ou anuência
alcance das repetidas observações que recebem.
:'-lão ohstante, uma vez formados e já no mercado de traba- deste:
• Cópia dos orçamentos, devidamente anuídos pelo pacien-
lho, os odont<Ílog<?s percebem que chegou a hora de registrar ludo
te;
quanto acontece. E hem verdade que numerosos profissionais não
• Cópia das moldagens em gesso, eventual mente tomadas do
tomam certas providências por mero desconhecimento. Nem
paciente.
sempre há desleixo ou negligência profissional.
Todavia, no •·cre<;ccndo" do número de processos por respon- Como se vê, o prontuá1io sensu la10 não é um documento.
sabilidade profissional, ohservamos que, com freqüência. o ci- antes urna coletânea de documentos e peças - um verdadeiro
rurgião-dentista nem sempre consegue provar que u·abalhou cor- curriculum vitae odontológico do paciente, materializado - ,
retamente, uma vez. que, no dia-a-dia, não se resguardou. con- todas elas com valor probante. em caso de processos judiciais.
feccionando a documentação adequada e exigível. Muito embora na posse e sob a guarda do cirurgião-dentista. o
162 A Dornmt>marüo Odrmlológica

real proprietário do prontuário é o pacíente, quem. se necessá- que uma relação contracual escrita existe, esta se sobrepõe, ju-
rio, poderá obter cópia autêntica do mesmo para utilizar como ridicamente, a 4ualquer relação consuetudinária baseada na con-
prova em qualquer juízo ou instância. Não esquecer que. na pró- fiança.
pria ficha clínica. constam. princípalmente, o díagnóscíco e tra-
tamento realizados, assim como o prognóstico e eventuais imer-
corrências, aparentemente sem importância, à época, ou míni-
mas (como negativa do paciente em submeter-se a determinado
CÓDIGO DE PROCESSO ÉTICO
exame complementar, altercação com o cirurgião-dentista etc.). ODONTOLÓGICO
Um prontuário bem montado c adequadamellte conservado
por anos pode assumir, não raro, valor decisivo em circunstân- O Código de Processo Ético Odontológico (Resolução CFO
cias especiais. Até não há muito tempo. era uma raridade o en- n.". 183/92), define. cm seu art. 4.". que:
contro de cadáveres ou de ossadas que exigissem o -.cu reconhe-
cimento ou sua identificação. Todavia, essa situação tem se al- " ...... constituem deveres fundamentais dos profissionais ins-
terado rapidamente. critos a elaboração de fichas clínicas dos pacientes. conser-
Infelizmente, assistimos a cada dia um atual "crescendo·· de vando-as cm arquivo próprio."
crimes violentos, unitários ou múltiplos. pessoais ou coletivos.
com abandono ou ocultação de cadáveres ou, até. catástrofes Verifica-se. pois, que obriga o profissional a conservar as fi-
naturais. desastres aéreos, acidentes viá1ios ou naufdgios. que chas sem, contudo, definir por qual período.
nos mostram a necessidade de os achados ou registros odontoló· O mesmo Código de Processo Ético Odontológico define o
gicos serem submetidos a um tratamento especial, incluindo o prazo para prcscLição de infrações éticas como sendo de cinco
;rquivmnento organizado. por parte dos profissionais da Odon- ano-;, entretanto, não define nem considera as situaçôes de "ví-
tologia. cio oculto", abordadas no Código de Defesa do Consumidor. que
A identificação da(s) vítima(s), embora o mais das vezes não é quase o seu coetâneo.
seja pressuposto fundamental para levar à condenação do(-;) Em seu soco1To, o Parecer CFO n.". 125/92 indica como sen-
autorfos). porquanto a materialidade estaria provada, independen- do de JO anos. após o último atendimento, o prazo mínimo de
temente da detcnninação da identidade, facilitaria no sentido da guarda do prontuário. cm maiores de 18 anos. Esse parâmetro
propositura, pelos interessados, <la(s) competcnte(s) açâo(ões) excede os cinco anos para prescrição das ínfraçôes éticas e fica
civil(is) <le reparação de dano ex deli<:to (arts. 63 a 68 do Código hem aquém dos prazos civí-; e criminais, que são determinados
de Processo Penal). por Diplomas Legais hierarquicamente superiores.
Ouu·as vezes, uma ossada encontrada pode ser atribuída a uma
pessoa desaparecida muitos anos antes. sendo ce110 que a ma-
neira mais fácil e processualmente mais econômica seria a iden-
tificação odontológica. Para tanto, a investigação procurará lo-
O CÓDIGO DE DEFESA DO
calizar o profissional que tratava da suposta vítima. de modo a CONSUMIDOR
obter com ele a ficha odontológica. para efetuar os necessários
cotejos. Nos tennos do Código de Defesa do Consumidor, os servi-
Sem pretender priorizar uns documentos sobre outro'>, não ços odontológicos são considerados duráveis. Nesse contexto, a
cabe dúvida que há três, dentre eles, que merecem ser destaca- figura do denominado ''vício oculto" é uma situação assaz fre-
dos. Referimo-nos aos seguintes: qüente cm odontologia, como, por exemplo, trepanaçõcs dentá-
1ias durante a instrumentação de um canal; núcleos mecanica-
• Ficha clínica odontológica:
mente impróprios, como, por exemplo, com comprimentos ex í-
• Termo de Consentimento Esclarecido;
guos, bem aquém dos 2/3 do comprimento total do canal; omis-
t Contrato de Prestação de Serviços Profissionais.
sôe-. diagnóst1cas com ocultação de exames complementares etc.
A primeira - Ficha clínica odo11tofógica - porque é um O prazo decadencial. nesses casos, inicia-se no momento em
perfil. não apenas odontol6gico, mas geral do paciente. por oca- que ficar evidenciado o defeito. Mas de se lembrar que essa cons-
sião de sua primeira consulta. tatação de impropriedade técnica pode ocorrer em qualquer época
O segundo - Ta11w de Cvnsentimentu Esclar<'cido - da vida de um indivíduo. anos depois, através de reações orgâni-
porquanto. sendo elaborado na forma preconizada e seguindo os cas (reabson,;ões ósseas. básculas com fratura), por vezes muito
preceitos do Cap. 27. servirá como elemento de prova da com- além dos 20 anos previstos pelo art. 109 do Estatuto Substantivo
preensão e outorga do paciente em relação aos procedimentos Penal ou pelo mt. 177 do Código Civil vigentes.
que lhe foram indicados e sua exeqüibilidade. Ratificando essa orientação jurisprudencial, o próprio mi. 27
O terceiro - Contrato de Presiaçào de Serviços Profissio- do Código <le Defesa do Consumidor reafirma e-;-.a idéia, consi-
nais - por ser o instrumento ao qual os cirurgiões-dentistas es- derando o dies a quv, para início da contagem do prazo, aquelc
tão se adaptando lenta mas maciçamente, descobrindo que, em do conhecimento do dano e de -.ua autoria. in verhis:
que pese a burocracia que representa, é uma garantia, uma pro-
teção para ambas as partes - profis-.ional e paciente. "Art. 27. Prescreve cm 05 (cinco) anos a pretensào à repara-
Com efeito. eis que. perante uma eventual desavença. resul- ção de danos causados por fato do produto ou do serviço ....
1a muito mais ffü:il provar o contratado por escrito do que aqui- iniciando-se a c,mtagem do prazo a partir do conhecimento
lo que tivesse sido apenas "contratado de palavra'' ou "combi- do dano e de .'ma autoria."
nado verbalmente". Não porque o contrato verbal não tenha força ro grifo é. nossol
ou valor. antes porque "verba volant, scripla mane,u ,.. Ou seja.
quando da propositura de um procedimento judicial. de qual- AI iás, é o mesmo raciocínio estabelecido pelo Estatuto Subs·
quer ordem, as palavras voam e só os escritos ficam ... Toda vez tamivo Civil. em seu art. 177, in verbís:
A Documemaçãn Odomológica 163

"Art. 177. As ac.;õcs pessoais prescrevem on.linariamence em neíra de proteção do profissional e do próprio paciente. Durante
vinlc anos, se reais em dez entre presentes e, enrre ausentes. a consulta inícíal, na qual se colhem essas informações, é de sin-
em quin7.e, contados da data em que poderiam ter sido pro- gular imp011âncía transmitir ao paciente a idéia da necessidade
postas." de que as ínformações que passe ao profissional devam ser fide-
lo grifo é nossoJ dignas quanto à sua saúde geral. e não apenas bucal, para o me-
lhor tratamento odontológico e eventual neces-.idadc de prescri-
Ora, quem não tem conhecimento do defeiLO não pode acio- ção de medicamentos.
nar a outrem propondo a reparação do mesmo. Por essa razão. toda vez que o profissional prescrever uma
receita ou emitir um atestado ou declaração - objetiva e com
letra legível-. sempre deverá ser com cópia, de tal sorte que.
nesta, o paciente deverá apor a sua assinatura, como sinal de re-
O CONSELHO FEDERAL DE cebimento ou de anuência com o con1cú<lo, documentando, en-
MEDICINA fim, o falo de ter recebido a primeira via. idêntica. Muito embo-
ra essas providências possam parecer um exagero, um excesso
Ainda que apenas possa ser utilizado por analogia, o Conse- de zelo, os casos ocorridos (e que não são poucos) comprovam a
lho Federal de Medicina (Resolução CFJ\.1 n.º 1.331/89). definiu utilidade desses procedimentos administrativos.
que o prontuário médko é documento de manutenção permanente Não resta dúvida de que os pacientes, a cada dia. mais estão
pelos estabelecimentos de saúde, e que, após decorrido prazo não esclarecídos. A maioria das vezes, não falam mas observam.
inferior a 10 (deZ) anos, a fluir da data do último registro de aten- Constai.ando a organização da documentação - algo que os prô-
dimento do paciente. o prontuário pode ser substituído por rné- prios pacic111cs percebem com facilidade - , atualmente esta
1odos de regisu·o capazes de assegurar a restaurm;ão plena das acaba transformando-se cm um fator de diferenciação do profis-
infonnações nele contidas. sional.
A mencionada Resolução do CFM está completamente cm De mais a mais, quando um paciente, visando locupletar-se
harmonia com o Decreto n. 0 1. 799, de 30.01.96, que regulamen- indevidamente, decide acionar um cirurgião-dentista, sempre
ta a Lei n.º 5.433, de 08.05.68, que regula a mícrofiJmagem de escolherá um profissional do qual tenha a impressão de que seja
documentos oficiais, e obriga a guarda dos microfilmes originais, maís desorganízado e menos documentado. Por ouu·as palavras,
os filmes cópias resultantes de microfilmagem de documentos escolherá um profissional que lhe pareça que lenha piores con-
sujeitos à fiscalização, pelos mesmos prazos de prescrição a que diçf>cs de provar a adequação e correção do seu atendimento ou
esta1iam sujeitos os seus respectivos orígínais. de sua oricntm;ão terapêutica (tratamento).
O drurgião-dentista é um profissional da saúde e, como tal, De tudo quanto foi exposto, dessumc-sc existir um consenso
essa orientação procedimental se lhe pode aplicar. por extensão no sentido de que a documentação odonto16gica deve ser guar-
(.' por analogia. Nessas condições, apôs transcorridos 10 (dez) dada de forma perpétua. pela forma e mecanismos que sejam mais
anos do último atendimento, aqueles prontuários que praticamen- adequados para o profissional, não devendo ser descanada.
te constituiriam o denominado "arquivo morto" do consultôrio
ou da clínica poder-se-iam transformar em microfilmes ou em
regístros digitais após scanning dos documentos e guarda em
disco rígido com capacidade suficíente. A RELAÇÃO PROFISSIONAL/
PACIENTE
Ainda que possa parecer um assunto fora dos limites da do-
A GUARDA DAS INFORMAÇÕES cumentação odontológica. faz-se mister lembrar que a maioria
dos processos judicias "de boa-fe" - descartando expressamente:
Ainda que a infonnatização dos consultôrios seja algo a cada
aqueles promovidos por pessoas "de má-l'é" que procuram ape-
día mais corriqueiro. até pela "sedução" que oferecem os dite-
nas se locuplctar ü custa de um profissional - se iniciam por
renlcs programas (.w4iwares ) - vistosos e impressionantes para uma história de mau relacionamento, uma quchra da relação pro-
o pacíente - . transmitindo a idéia errônea, para os menos avi-
fissional/paciente.
sados, de que neles se encontra o "saber mais". a maior qualida-
ElTos profissionais podem acontecer, e ninguém está isento
de e a melhor técnica do profissional, a verdade é que os mes-
de incorrer neles. Como afirma Serra (2001 ): ''Quando ocorre
mos não substituem, nem descartam os velhos arquivos ou os
efetivamente o ert'o. mas o mesmo é reconhecido e af(Nufido pelo
prontuários tradicionais.
profissional. as chances dct Jal q,.wstâo chegar aos Tribunais siio
É certo que a impre-.são das fichas odontológicas eletrônícas
menores."
po<lcní ser acrescida e guardada no prontuário. Todavia. não há
A airngância e a teimosia do profissional em reconhecer sua
wmo eliminar o velho arquívo. Com efeito, eis que há necessi-
falha. quando de fato existe. e a impertinência do paciente que,
dade de colher a assínatura de anuência ou de recepção do paci-
sabendo-se vítima de um erro. não admite que o cirurgião-den-
ente em díversos documentos, e estes carecem ser conservados.
tista possa não -.er totalmente responsável pelo acontecido, agra-
À guisa de exemplo, lembremos que a ananmese do consulente,
vam bastante a questão.
com o seu questionário de saúde. deve ser realizada por esc,ito e
O mai-. das vezes, vemos que a lide judicial não é decorrente
com a assinatura do paciente e/ou de seu representante legal.
de falhas 1écnicas, mas de falhas de comunicação, como, por
Não há como o profissional se responsabilizar por fatos omi-
exemplo:
tidos pelo paciente, negados ou não revelados ou, até, otereci-
dos de forma deturpada. + falta<lc informação sobre as várias tentativas terapêuticas;
Nessa csteíra, o documento esclito e assínado pelo paciente • falta de esclarecimento sobre as lirnítações do tratamento;
interessado ou por seu representante legal ainda é a melhor ma- • falta de troca de idéias sobre alternativas de tratamento;
1~ A Donm1enraçiin Odo11tofót?ica

• falta de discussão sobre os montantes financeiros exigidos de cntcndimcn!o sobre o assunto de pessoa jurídica que mantém
por cada opção de tratamento, entre outras. seus arquivos há 20 anos e alega indisponibilidade de espaço.
Por vezes, o profissional, visando ser mais convincente com
o paciente, cnfuna as expectativas dos mesmos com vãs promes-
sas de resultados. Outras vezes é o paciente que, valorizando o 2. LEGISLAÇÃO
que julga seu "poder econômico". que lhe permite submeter-se
a determinado procedimento, não aceita o comportamento dis-
plicente do profissional.
2.1. Código de Ética Odontológica
O paciente. em regra. quando chega ao consulr.ório, sente-se Resolução ci-;0-179, de 19 de dezembro de 1991
infeliz. carente e abrumado por um quadro doloroso. por vezes Alterado pelo Regulamento n.º OI, de 05.06.98
no limite do insuportável, aberto a receber orientação e suges-
tões e, ante tudo. a sentir que o profissional é solidário com o Art. 4. ". Constituem deveres .fimdamnuais dos projis.~io-
seu estado de ânimo. Se se depara com um cirurgião-dentista nuis ímcritos:
altivo, que lhe demonstra falta de atenção. desinteresse e um
pseudoprolissionalismo mercantilista. é claro que já tem todos V - guardar sejtredo pn~/1.ssional:
os ingredientes para um mau relacionamento profissional/paci- VI - l'laborar as.fichas clínicas dos pacienws. Cflnserva,i-
ente, com grandes chances de, afinal, acabarem nas barras do do-as e,n arquivo próprio: (o gr(f'o é no.çso)
Tribunal.
Por isso é que sugerimos que, toda vez que exista uma ocor-
rência de altercação com o paciente, um atrito. uma discordância. Art. 9. º. Constitui i4ração ética:
isso deva ser registrado no prontuário, no andamento ou seguimen- I - re!'dar, sem justa causa, fmo sigiloso de que tenha
to da ficha clínica. da mesma forma que se faria constar: "queixa- conhecimento em ra;:.iiu do exercício de sua prt?fisst1o;
sc de dor pulsátil" ou "o dente 24 passou a ter mobilidade''. /J · nef?IÍf?(mciar na oril•ntação de seus colaboradores
Somente os cirurgiões-dentistas que tenham como rotina de quanto ao sixilo profissional.
SCLIS consultórios a correta con fcq:ão da documentação odonto-
lógica e o regístro de toda e quaisquer íntcrcorrêncías, terão § I. '~ Compreende-se como justa causa, principafmentl1:
melhores chances de sobreviver às tempestades que se avizinham. a) not!ficw.;ão compulsória dl' doença;
Infelizmente. as escolas ensinam técnica. nem sempre pro- b j colaborarão cmn a jusliça nos casos preJJÍstos em lei;
fessam arte mas não conseguem transmi1ir sentimentos. sensi- e) perícia odontolóRü:a nos seu exatOJ limites;
bilidade. insights do profissional. gestos singelos. mas de grande d) l'slrila d4esa de interesse Ü'gÍtimo dos Pr<!fissionais
repercussão afetiva: um aperto de mãos. ao receber o cliente; o inscritos;
olhar nos olhos. quando lhe esclarecer sua proposta de trata- e) rel'elaçiio de fato siiilo.w ao responsável pelo incapaz.
mento: o apoio de uma mão no ombro. quando sair do consul-
tório. § 2. ". Não co,islitui <Juebra de sigilo pro.f1ssiona/ a ti<?cfi-
Decerto, a conservação e guarda da documentação odontol6- nação do tratamento empreendido, na cobrança judicial de
gica por tempo indefinido, mesmo quando o cirurgião-dentista honorários profissionais.
abandone a profissão ou o atendimento cm consultório, poderá
ser extremamente útíl e rccomendá\'el. Art. 19. 1\s clinicas, cooperativas, empresas l' demais n,-
tidades prestadoras e/011 comratantes de serl'içus odontoló-
gicos aplicam-se as disposiçi'ies destl' Capítulo e as do Con-
sl!lho Federal.
PARECER TÉCNICO
2.2. Código de Processo Ético
TEMPO DE GUARDA DO Odontológico
PRONTUÁRIO ODONTOLÓGICO Resolução CFO 183/92

Art. 60. Prescrevem em 5 (ci11co) anosª·" infrações éti-


Parecer Técnico ao MS
cas praticadas pdos inscritos em Conselho de Odomología,
Área Técnica de Saúde Bucal do Ministério da Saúde
interrompendo-se <?SI<' prazo pela pmposilura da competen-
te ação. (o grifo é nosso)
Emitido em 18 <le fevereiro de 2000
Dr. Malthus Fonseca Galvão 2.3. Código de Processo Civil
Lei n.º 5.869, de 11 de janein? de 1990
"'
1. PREAMBULO Art. 177. As açôes pessoais prescrel'em, ordinariamente.
lmt 20 (vinte) anm;, as reais em 10 (dez), entre presentes, t!
A 1endcn<lo à solicitação da coordenadora da Área Técnica de e11tre ausen.tl1s em 15 (q11i1ize), contados da data em que po-
Saúde Rucal do Ministério da Saúde. Ora. Sônia Maria Dantas deriam ter sido proposta.~. (o grifo é nosso)
de Souza. para emitir parecer técnico sobre "prazo de arquiva-
mento de documentos cm odontologia", a fim de subsidiar do- Art. /79. Os casos de prescri~·tío 1uio previstos ne.~tt! Câdigo
cumento a ser enviado ao PROCON-GO, que rccehera pedido serão re1:uladm, quanto ao prazo, pelo art. 177.
11 Dowmenrar,10 Odonrológica 165

2.4. Código de Defesa·do Consumidor te, o prontuârio pode ser suhstituído por méwdos de registro
capazes de assegurar a restauração plena das informações
Lei n. 0 8.078, de 11 de setembro de 1990 nele contidas. (o grifo é nosso)

An. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou 2.7.2. Prontuário Eletrônico
de fácil constataçilo caduca em: Parecer CFM - Consulta n.º 1443/95
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de
produto não durdveis; A Lâ ,i." 8.934/94, em seu art. 57. prevê preservação da
ll - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serl'iço imagem d,i documentos por meios tecnológicos "mais arnn·
e de produto duráveis; çados".
A Lei n." R. 934/94, mi s<ius arligos 41 t' 46, prevê arma.,e-
namento de documentos em sislemas de computação "edis-
§ 3. '' - Tratand,>-se de vício oculto, o prazo decadencial ini- cos óticos''. Em síniese, não cousútui ilícito ético a cópia da
cia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito. (o grifó documentaçao de pacientes soh guarda da instituição pelos
é nosso) meios propostos, preservado o sigilo por parte dos operado-
res dos sistt?mas e o amplo direit1J do paciente à sua docu-
Art. 27. Prescreve em cinco anos a preiensão à reparação mentação em toda ti qualquer hipótese. (o grifo é nosso)
pelos danos causados por fato do produto ou do serl'iço previs-
ta 11a Seçlio ll deste Capítulo. iniciand<J•se a contagem do pra-
:,o a partir do conheciment<J d11 dano e de .ma autoria. (o grifo
2.8. Conselho Federal de Odontologia
é nosso) Parecer CFO n.º 125/92

2.5. Código de Processo Penal 5. O tempo de guarda do prontuário odontológico, por


parte dos projtssionais e clínicas parúculares 011 públicas, é
Decreto n.º 1.799, de 30 de janeiro de 1996
de dez anos após o últim1> comparecimento do pacient('. ou.
Regulamenta a Lei n.º 5.433, de 8 de maio de 1968
se o paciente tiver ídade i1l{níor aos·dez.oíto anos à época do
último contato pndissíonal, dez anos a partir do dia que o
Art. 18. Os micmfilme.1· ori~inais e os.f!lmes cúpias resul-
paciente tiver completado ou vier a completar os dezoit,>
tante.1· de micn~f'ilmagem de documentos sujeitos àflscali-:_a-
anos. (o grifo é nosso)
(ão, ou necessários à prestarão dt• comas, deverão ser man-
tidos pelos prazos de prescrição a que estariam sujeito.,;; os
seus respectivos originais. (o grifo é nosso)
3. DISCUSSÃO
2.6. Código Penal
Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940 O prontuário é documemo singular para o conhecimento, a
qualquer tempo. do diagnóstico e tratamento realizados, assim
Art. 109. A prescrü.;ão, antes de transitar em julgado a como do prognóstico e eventuais intcrcorrêncimi. É composto de
sentença jl.nal, salvo o disposto nos §§ 1." e 2." do art. 1JO toda a documentação produzida em função do tratamento
desll> Código, regula-se pelo mâximo da pe11a privativa de dentário, t:omo fichas clínicas, radiografias, modelos, traçados
liberdad,i cominada ao crime, verijicando-s,!: etc. Sua posse é do paciente, sendo apenas sua guarda da insti-
1 - em 20 (vinte) anos, se o máximo da pena é superior a tuição. O prontuário é um direito inalienável do paciente. As
12 (doze); radiografias, por exemplo, não podem ser consideradas peças
li - em 16 (dez<isseis) anos, se o máximo da pena é superi- meramente administrativas, pois só devem 8er obtidas quando a
ora 8 (oito) anos e não excede a 12 (doze); indicação clínica supera os eleitos radioativos deletérios, ainda
Ili - em 12 (doze) anos. se o má.rimo da pena é .rnperíor a que mínimos.
.J (q11atro) anos e não excede a 8 (oito); O diagn<ístirn e prognóstico de diversas patologias de longa
IV - em 8 ( oilo) anos. se o mâximo da pena é superior a 2 evolução podem depender de informaçõés passadas para serem
(dois) anos e não excedt• a 4 (quatro): comparadas com as atuais. Uma radiografia obtida h,\ mais de
V - em 4 (quatro) anos. se o máúmo da pena é igual a I 20 anos poderia apresentar sinais patológicos discretos. que. hoje.
(um) ano ou, sendo superior, ,u1o excede a 2 (dois); seriam importantes.
\li - em 2 (dois) anos. se o máximo da pena é inferior a 1 A violência atual crescente, honúcídios seguidos de oculta-
(um) ano. (o grifo é nosso) ção de cadáveres, cat.ístrofcs naturais e artificiais. como aciden-
tes aéreos, criam a necessidade de um arquivamento organizado
2.7. Conselho Federal de Medicina dos registros odontológicos. Nos casos de homicídios. a identi-
ficação <la vítima é quase pressuposto fllndamental para obter a
2.7.l. Tempo de Guarda do Prontuário condenação. Eventualmente. a vítima desaparecida só se torna
Resolução CFM n." 1.331/89 suspeita de ser alguma ossada encontrada muitos anos ap(,s o
crime, e, então. as ínvcstigaçües irão tentar localizar a ficha odon-
Art. /. ". O pronluário médico é documento dt• manute11- tológica para confrontação.
ção permanente pelos estabelecimentos de saúde. As demanda-. judiciais contra clínicas odontológicas e cirur-
gif>es-dentistas têm sido uma constante, sendo o prontuário o
Art. 2. ". Apôs decorrido pra-:.o niio i11férior a JO(dez.) anos, único e mais p~rf'cito instrumento de defesa. O tempo de guarda
a.fluir da data do último n'gÍstro dti alemlimemo do pacien· do prontuá1io necessário à defesa do prof'issional no fórum cri-
166 .--\ Docwrie11rariío OdomolóRica

minai, considerando uma acusação de lesões corporais, é hem


inferior ao exigido por outras legislações. e por isso não merece S. SUGESTÕES
ser discutido.
O Código de Processo Ético Odontológico, Resolução CFO A documentação poderia, por analogia ao disposiri vo do CFM.
n.º 183/92, define o prazo para prescrição de infrações ética ser integralmente microfilmada ou digitalizada, assegurando-se
como sendo cinco anos. entretanto, não define as situações <le a recuperação plena dos dados. Modelos de gesso podem ser
"vício oculto", abordadas no código de defesa do consumidor. arquivados através de sua imagem, que pode ser obtida cm má-
O Parecer CFO n.º 125/92 indica como sendo de IO anos após quinas de reprografia simples. ou scanners, reduzindo drastica-
o úlcimo atendimento, o prazo mínimo, em maiores de 18 anos. mente o volume de armazenagem. A legislação atual, com rela-
Esse parâmetro excede os cinco anos para prescrição das in- ção a imagens, exige a presença dos negativos originais; enu·c-
frações éticas e fica bem aquém dos prazos civis e criminais. tanto. as imagens digitais não os possuem. O tema é controverso
Trata-se apenas de uma orientação emanada do CFO, pois este e aguarda regulamentação.
não pode restringir direitos definidos por Lei maior. O próprio Uma solução administrativa seria entregar aos pacientes, ou
relator do Parecer CFO n.º 125/92, Casimiro Abreu Possante, responsáveis legais, sua documentação mediante recibo discri-
rec<~nhece a impropriedade atual desse dispositivo. O C6digo minado. Caso o profüsional. ou a Instituição. necessitasse do
de Etica Odontol6gica define, em seu art. 4.", que constitui prontuário para comprovar,judicíalmentc, sua conduta, apresen-
deveres fundamentais <los profissionais inscritos a elaboração taria o recibo e. ao paciente, recaitia a obrigação da apresenta-
de fichas cJínicas dos pacientes, conservando-as em arquivo ção do prontuário. Essa solução apresenta melhores resultados
próprio. Obriga o profissional a conservar as fichas, sem defi- em longo prazo, após sua implementação. pela <li ficuldadc e custo
nir por qual período. de localização dos pacientes e entrega dos materiais, posterior-
O Conselho Federal de Medicina, Resolução CFM n.º 1.331 / mente à finalização dos tratamentos.
89, definiu que o prontuário médico é documento de manuten- Eventualmente, a instalação e administração <lc um arquivo
ção permanente pelos estabelecimentos de saúde, e, após decor- morto convencional remoto pode ser uma opção economicamente
rido prazo não inferior a 10 (dez) anos, a fluir da data do último mais vant~josa que todas as alternativas já referidas aqui.
registro de atendimento do paciente, o prontuário pode ser subs- Em qualquer circunstância, as instituições devem guardar o
tituído por métodos de registro capazes de assegurar a restaura- sigilo do prontmírio.
ção plena das informaçôes nele contidas. Certamente, a odonto- Um levantamento de custos poderá demonstrar a viabilidade
logia situa-se ao lado da medicina. e persegue os mesmos pro- econômica das altemalivas apresentadas, para a manucenção eter-
pósitos de cuidar. na dos prontuários. ·
A resolução do CFM está acorde com o Decreto n.º 1.799, de
10 de janeiro de 1996. que regulamenta a Lei n.º 5.433, ele 8 de Brasília - DF, l 8 de fevereiro de 2000
maio de 1968. que regula a rnicrofil magem de documentos ofi-
Dr. Malthus Fonseca Galvão
ciais, que ohriga a guarda dos microfilmes 01iginais dos filmes
cópias resultantes de microfilmagem de documentos sujeitos à
fiscalização pelos prazos de prescrição a que estariam sujeitos
os seus respectivos originais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Os serviços odontológicos são considerados duráveis. e o
Código de Defesa do Consumidor considera a figL1ra cio "Ví- Basile. A. & Waisman. D. Fundamentos de Medicina Legal. 2.ª cd.,
cio oculto" situação muito comum cm odontologia, como nú- Buenos Aires: Ateneo, 1991.
cleos mecanicamente irnpróptios, trcpanações d1.mt,írias, omis- Bonnct, E.F.P. Medicina Legal. 2." ed. (3." reimpressão). Buenos Aires:
sões diagnósticas etc., e, nesses casos. o prazo decadcncial ini- Lopes Ed .. 1980-93.
Rowers, M. e Hei!. G.L. Manual o{ Foremíc Odontolo."/y. Ontario:
cia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito. Essa
!\SFO. 1997.
constatação de impropriedade técnica pode ocorrer cm qual- Campos. M.L.B. A.1pectos Clínico de la Mala Praxís tn Odontología.
quer época da vida de um indivíduo, excedendo em muito os ln.: Rodríguez Almada, H. Derecho Médirn, Bm:nos Aires: B der
20 anos previstos pelo art. 109 do C6digo Penal ou pelo art. faL, 2001. pp.108-113.
177 do Código de Processo Civil. O art. 27 do Código de De- Croce, O. & Croce Jr., D. Ma11ual de. Medicina Legal. São Paulo: Sa-
fesa do Consumídor reafirma essa idéia, estipulando o início raiva, 1995.
da contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de Fran~·a, C.V. Medicina l.~!gaf, 6.ª cd., Rio di: Janeiro: Guanahara Koo-
sua autoria. Seguindo o mesmo raciocínio, o Código de Pro- gan. 2001.
cesso Civil, em seu art. 177, define que a contagem da prescri- Galvão, M.F. Pareceres in http://www.ihemoLcom.br
Gisbert Calabuig, J.A. Medicina l.egal y Toxico/o~(a. 5: cd .. Barcelo-
ção inicia-se a partir da data cm que poderiam ter sido propos-
na: Masson, 1998.
tas. Quem não tem conhecimento do defeito não pode propor Graça Leite. W. ()domoloiia l.egal, Salvador: Era Nova. 1962.
sua reparação. Paulete Vanrell. J. Tópicos de O,Úmrologia Legal. h1tp://www.pcricias-
fQrcnse);.eom.br/p11blicacoes/olegal.htm
Sílva, :vt. da. Compêndio de OdontoloRia legal. São Paulo: MEDSI, 1997.
4. CONCLUSÃO Stimson. P.G. e Mc11z, C.A. Foremic Dentiwy, Roca Ratôn: CRC Prcss.
1997.
Veiga De Carvalho, H.; Segre. M.; Meira. ;\.R.: Almeida, M.: Russí
'.\ão existe prazo mínimo definido para inexigibilidade de Salaru, N.'.\I.; Romero Mufíoz. O. & Cohen, C. Compêndio de Me-
guarda de prontuário odontológico. dicina Legal. São Paulo: Saraiva, 1987.
.· . . iD~Scrifisid~f;ção·· <la·.·Personalidade
Jurídica e o Código de Defesa do
Consumidor
-----·------·----·------ ·----·-·--·--·-----·--··-·--------·----·-·----
Ricardo Gariba Silva

TI. Teoria do patrimônio de afetação ou Zweckvermiigen:


GENERALIDADES afirma ser preciso ver a realidade e constatar que as
ditas pessoas jurídicas nada mais são que patrimôni-
A falta de nonnas específicas, no Díreito pátrio, e a indevida os destinados a um escopo ou fim, e a fü:ção nada
atuação empresarial, situação esta que permeia o cotidiano do cria.
cidadão, como se pode observar ao analisar o notic.:iário diário, III. Teoria orgânica ou da realidade: diz que não só os ho-
pemutem que as pessoas sejam vítimas da simulação. fraude, mens são sujeitos de direitos, havendo organismos ::;o-
abuso de direito e, até mesmo, de má-fé. ciaís e entes coletivos reais, capazes de vonLade e de
Dessa fonna, ao desamparo do ordenamento jurídíco, o indi- ação, que perseguem seus próprios fins. representando
víduo se vê vitimado pela realidade que se lhe apresenta como formas diversas da vida individual e que, por isso, go-
desfavorável. zam de personalidade jurídica.
Com o intuito de diminuir ou, até mesmo, eliminar distorções [V. Teoria individualista ou de Jhering: estabelece a redu-
existentes na realidade dos brasileiros. é que se inslituiu a J..ci 8.078/ ção das pessoas jurídicas sempre a homens, sócios ou
90, o Código de Defesa do Consumidor, que trouxe consigo ino- administradores ou destinatários, mas sujeitos são sem-
vações, tais como a desconsideração da personalidade jmídica. pre as pessoas naturais.
Porém. para a correia análise do instituto da desconsideração. V. Teoria institucional ou da organização: contesta o
neccssMio de faz entender o mecanismo pelo qual se dá a consi- paralelismo entre pessoas naturais ou jurídicas. Afirma
deração da personalidade jurídica. que as pessoas jurídicas nada mais são do que institui-
çiíes, organizaçiícs voltadas para a consecução de ser-
viço público ou p1ivado.

DAS PESSOAS NATURAIS E DAS A técnica da personificação. por ser original, procede da
dualidade de suas funções 4ue, apesar de estarem ligadas entre
JURÍDICAS si. conservam certa dependência. Do aspecto externo. é modo
de expressão da coletividade; do interno, aparece como proces-
Pessoas naturais (físicas) e jurídicas apresentam diterenças so privado de adaptação e de transformação de direitos indivi-
nítidas e contrapostas. As primeiras são os homens, entes duais.
corpóreos dotados de intelecto. vomade e conhecimento: as se-
gundas têm existência puramente ideal, criação que são do or-
denamento jurídico (Sztajn. 1999).
Segundo Sztajn ( 1999), a explicação da pessoa jurídica en- DO PRINCÍPIO DA AUTONOMIA
contra amparo em várias teorias, com diferentes pontos de ori- PATRIMONIAL
gem e de chegada, a saber:
l. Teoria da ficção ou <la entidade: di7. que pessoa é só o O princípio da autonomia ou separação do patrimônio resulta
homem, dotado de vontade e inteligência. e que as pes- do reconheci menlo da personalidade jurídica. e constitui o retlexo
soas jurídicas são apenas criaçf>cs legais. do indivíduo no terreno econflmico.
168 A Descon.videração da Personalidade Jurídica e o Cúdigo de Def~!Su do Cmuu.midor

Esse princípio não tem o mesmo conreúdo de ligação entre Esse foí o primeiro caso. e, a partir de então, as cortes norte-
pessoa e patrimônio no caso das pessoas jurídicas. Nesse caso, o americanas e inglesas passaram a admitir a transposição do véu
que interessa é a utilidade, e não o significado, e é isso que per- da pessoa jurídica para impor a responsabilidade aos sócios, es-
mite que uma massa de hens adquira movimento próprio a fim condidos sob esse manto.
de que, segundo o caso, os direitos individuais relativos a esses
bens se mantenham íntegros ou aumentem seu valor.
Devido à sua importância fundamental para a economia ca-
pitalista, Coelho ( 1999) afinna que o princípio da personalização TEORIAS DA DESCONSIDERAÇÃO
das sociedades empresárias. com sua repercussão quanto à limi-
tação da responsabilidade patrimonial dos sócios, não pode ser Existem duas teorias de desconsideração da personalidade
descartado na disciplina da atividade econômica. jurídica no Direito brasileiro.
Em conseqüência do exposto. a desconsideração. segundo o Uma delas, chamada maior. é mais elahorada. possui maior
autor, levando-se em consideração os princípios civilistas e consistência e ahstração. e condiciona o afastamento episôdico
comercialistas. deve ter natureza necessariamente excepcional, da autonomia patrimonial <las pessoas jurídicas a determinadas
cpis6dica, e não pode servir ao questionamento da subjetividade situações, como a manipulação fraudulenta ou abusiva do insti-
própria da sociedade. tuto.
Não se justifica, continua o doutrinador, o afastamento da A outra. por sua vez menos elaborada, refere-se à desconsi-
autonomia da pessoa jurídica apenas porque algum credor não deração em toda e qualquer hipótese de execução do patrimônio
pôde satisfazer o crédito que titulariza. sendo indispensável a de sócio por obrigação social, cuja tendência é condicionar o
indevida utilízaçào, deturpação do instituto. afastamcn10 do princípio da autonomia à simples insatisfação do
crédito perante a sociedade.
Resumindo. pela teoria maior, o Juiz é autorizado a ignorar a
autonomia patrimonial das pessoas jurídicas como fomia de coi-
DESCONSIDERAÇÃO DA bir fraudes e abusos praticados por meio dela, e, pela menor. o
PERSONALIDADE JURÍDICA - simples prejuízo do credor já possihilita afastar a autonomia
CONCEITOS E ORIGEM DO patrimonial (Coelho. 1999:35).

INSTITUTO
A teoria da desconsideração da personalidade jurídica só pode APLICAÇÃO DAS TEORIAS DA
ser aplicada quando se considera a personalidade juridica da DESCONSIDERAÇÃO
sociedade como distinta da de seus mcmhros (Silva. 1999).
Outro requisito importante para a aplicação da teoria da des- Sztajn ( 1995) manifestou a sua preocupação cm relação à
consideração é a existência de responsabilidade limitada. aplicação da desconsideração da personalidade jurídica. Segun-
Assim, a aplicação da teoria restringe-se apenas a dois tipos do a autora, ato~ da sociedade que causem prejuízo ao consumi-
societários: as sociedades anônimas e as sociedades por cotas de dor devem ser imputados à sociedade. De outro lado, se o ato é
responsabilidade lími tada. praticado com violação do estatuto ou contrato social, o s6cio
Os outros tipos de sociedade, em que os sócios respondem que lhe der causa será pessoalmente responsável. por força de
limitada e ilimitadamente, não são de interesse.já que o~ sócios regras já previstas no ordenamento jurídico.
diligentes sempre são responsabilizados de forma ilimitada. Por outro lado, Hentz, ao abordar a desconsideração, enfatizou
A doutrina da desconsideração foi dcsen\·oJ ,ida e amplamente a necessidade de adequa,·ão do modelo legal à realidade amai. e
d.ifundida nos países da common lw1·. principahnemc nos Esta- aponta o não-esclarecimento da natureza e pressupostos da des-
dos Unidos. Contudo. atribui-se a sua origem na Inglaterra, no consideração, afinnando que nem mesmo se sabe se é imprcs-
famoso caso Salomon v. Salomon & Co. Ltd., julgado pela Housc cindí vcl ~ua imposição legal para aplicação prática. ou se hasta
ofLords em l 897. O seu fundador, Aaron. fundou a empresa cm a invocação de normas gerais integradas no ordenamento jurídi-
1892, tendo como sócios fundadores ele próprio, a mulher e os co pátrio.
filhos, perfazendo o total de sete sócios. Mulher e filhos tinham Na realidade, para que a aplicaçào do instituto não dê mar-
uma ação cada um, e o re~tante, 20.001. do total de 20.007, cou- gem ao surgimento de injustiças e ilegalidades, a teoria da des-
be a ele, Aaron, sendo 20.000 delas imegralizadas com a trans- consideração revela-se pertinente, para uso prático, apenas quan-
ferência, para a sociedade. do fundo de comércio que Aaron já do a responsahilidade não pode ser diretamente imputada ao
possuía como detentor único, individualmente. sócio, controlador ou representante legal da pessoa jurídica.
Posteriom1ente, Salomon transferiu seus negócios para a so- Se a imputação pode ser direta. se a existência da pessoa jurí-
ciedade e concedeu a esta cmprésúmo com garantia (<lchênture dica não é obstáculo à responsabilização de quem quer que seja,
com garantia flutuante). não há por que cogiwr <lo superamento de sua autonomia.
A sociedade entrou cm insolvência, e Salomon exerceu seu Quando alguém, na qualidade de sócio. controlador ou repre-
direito de debentmisla, o que deixou os demais credores sem o sentante legal da pessoa jurídica, provoca danos a terceiros. i n-
devido pagamento. clusive conf-iumidores, em virtude de compmtamcnto ilícito, res-
Em p1imeira instância, o Juiz entendeu que o crédito não de- ponde pela indenização con-cspondentc.
\·eria ser privilegiado. uma vez que Salomon e a empresa se con- Outro aspcuo a ser considerado, autorizador do emprego do
fundiam. Em grau recursai (House of Lords), houve reforma da instituto em exame. são os cn-os do administrador na conduta dos
sentença. sob o argumento de que as formalidades legais havi- negócios sociais. bem como no caso de descumprimento, pelos
am sido observadas e que Salomon e a companhia eram pessoas empresários, de norma protetiva dos consumidores (Coelho,
distintas. 1999:52). assunto que será abordado cm tópico a seguir.
li. Descomideração da Personulidade Jurídica e o Código de ntfe.w do ConJumidor 169

Há que se lembrar, ainda, dos casos previstos na Lei 9.605/ atividades das pessoas jurídicas, provocados pela má admini~-
98. que. no seu ai1igo 4.º. disp<ie sobre a responsabilidade por tra1.;ão.
lesões ao meio ambiente. Deve-se salientar. no entanto. que a aplicação do presente
instituto é uma faculdade do Juiz, qnc, após exame preliminar,
aferiçào de pressupostos e prudente arbítrio, poderá conceder a
medida extrema.
DO CÓDIGO DE DEFESA DO
A análise inicial do§ 5 .º <lo mesmo artigo 28 merece atenção
CONSUMIDOR - GENERALIDADES cm separado, pois pode levar a entendimentos diversos daquele
prclcndido pelo legislador. Pode-se pensar, desavisadamente, que
As nom1as instituídas pela Lei 8.078/90, o Código de Defesa o simples prejuízo patrimonial do consumidor daria azo à des-
do Consumidor, são de ordem pública e inlcresse social. Isso consideração da personalidade jurídica.
equivale a dizer que são indcrrogáveis por vontade dos interes- Não é verdade. Se assim o fosse. o institulo da desconsidera-
sados em determinada relação de comumo (Grinover et ai., ção se1ia, na realidade, um desrespeito à auconomia patrimonial
1999:24). entre sócio e sociedade, e não para ser aplicado nos casos já ci-
O caráter cogente está marcado. ainda mais, na Seção 11 do tados de coibii.;ão a fraudes ou abuso de direito.
Capílulo VI - Título I, quando aborda as chamadas cláusulas Por outro lado, segundo Coelho ( 1999:51 ). essa ação desme-
abusivas, fulminadas de nulidade, ou anteriormente, nos artigos surada, de quebra <la personalidade jurídica da empresa de modo
39a41, que versam sobre as práticas abusivas. a atingir o patlimí'lnío dos sócios, r.ornaria letra morta as previ-
Muito embora a introdução do presente código tenha sido sões do caput do artigo 28. Tal procedimenlo implicaria o
impulsionada pela necessidade de proteção aos consumidores, banimento do instituto da pessoa jurídica no campo do direito
que são a part.e vulncr~vel do mercado de consumo. o 4uc justi- do consumidor.
fica um tratamento desigual para parles manifestamente desiguais
(Grínovcr et ai .. 1999: 18), e que estahelece até mesmo a inver-
são do instituto clássico do Direito, ou seja. a inversão do ônus
da prova, o estabelecimento de posições que visem à proteção ASPECTOS PROCESSUAIS DA
da patte hipossuficiente das relações de consumo não encontra TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO
unanimidade na doutrina.
Zenun ( 1999:2) discorda da postura dos idealizadores da A desconsideração da personalidade jurídica. pela teoria mai-
codificação em 4uestão. e afinna que a defesa do consumidor e or, 4ue tem como pressuposto o uso fraudulento ou abusivo da
do fornecedor caminham juntas. equilibram-se mutuamente, pois aulonomia patrimonial da pessoa jurídica, não pode ocorrer se-
não há hierarquia entre eles, predominância de um sobre o ou- não por meio de ação judicial próp1ia. de caráter cognici vo, mo-
tro, de sorte que só podem ser tratados com absoluta igualdade, vida pelo credor da sociedade contra o sücío e seus controladores,
em perfeito equilíbrio, ao passo que o legislador brasileiro força na qual deve ser demonstrado o pressuposto fraudulento.
o desequilíhrio, separando-os, distanciando-os. Além disso, já que se pretende a abstração da personalidade
Vale dizer. continua o dtado autor, que a ham10nia apontada jurídica, não se deve demandar contra a sociedade, mas sim contra
já é negada no artigo l.º da Lei 8.078/90, e configura o desequi- as pessoas que se quer responsahilizar. Já 4ue se pretende ares-
líbrio entre fornecedor e consumidor. prática condenada e con- ponsabilização de s<Ícíos ou administradores, então a sociedade
denável que fere o princípio constitucional da isonomia. é parte ilegítima para figurar no pólo passivo da açào. e o pro-
Tal disscnso entre os doutrinadores e lratadislas repete-se em cesso deve ser extinlo sem julgamento do mérito, caso a socie-
relação à desconsideração da personalídade jurídica prevista no dade seja apontada como ré.
Código de Defesa do Consumidor. Concluí-se. então, que a desconsideração da personalidade
jurídica não pode oco1Ter por simples despacho jLtdicial. em pro-
cesso de execução, sendo indispensável a prova em procedimento
processual adequado.
DA DESCONSIDERAÇÃO DA Existem casos. porém, que o lesionado deve incluir a socie-
PERSONALIDADE JURÍDICA dade e o agente fraudador como litisconsorces passivos. Isso deve
NO CÓDIGO DE DEFESA DO ocorrer naquelas si luações em que se verifica temor de eventual
frustração do direito que pleiteia contra uma sociedade empre-
CONSUMIDOR sária, devido à manipulm;ão fraudulenta da autonomia patrimo-
nial no decorrer do processo.
A desconsideração ela personalidade jurídica é mais uma ino- Para aqL1clcs julgadores que esposam a teoria menor da des-
vação trazida pela legislação consumerisla, para garantir o ressar- consideração da personalidade jurídica. esta pode ocorrer medi-
cimento dos prejuízos que os consumidores possam ter, vítimas ante simples despacho no processo de execução, determinando
de empresários que utilizam a pessoa jurídica como obsláculo à a penhora de bens do s6cio ou administrador.
satisfação dos direi los dos consumidores (Nunes: 1997 :305). Nesse caso, a discussão sobre a questão se dá em sede de
O artigo 28 da Lei 8.078/90 reproduz todas as hipóteses ma- cmhargos de terceiro, com o inconveniente ele. pelo fato de não
teriais de incidência 4uc possibilitam a aplicação da desconsi- terem participado do processo de conhecimento, e não poderem
deração da personalidade jurídica. de modo a alcançar o patrí- rediscutir a matéria abrigada pela coisajulgada, os cmhargantes
mfmio dos sócios. acabam sendo responsabíiizados, em ofensa aos princípios cons-
São elas o abuso de direito, excesso de poder, infração da lei. titucionais do devido processo legal, do contraditório e da am-
falo ou ato ilícito e violação dos estatulos ou contrato social. pla defesa.
Há também, como hipótese material que autoriza a aplicação Assim. para que haja o respeito aos princípios constitucionais
cio instituto em tela, a falência, insolvência ou encerramento das e aos direitos dos cidadãos, qualquer 4ue seja a teoria da def.icon-
170 A Desc:omideração da Personalidade Jurídica e o Código de Defesa do Consumidor

sidcração da personalidade juridica adoLada pelo _julgador, a maior Grinover, A.P. et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Co-
ou a menor, necessário se faz a realização do processo de conhe- mentado pelos Autores do ,1nteprojeto. 6.ª ed. Rio de Janeiro: Fo-
cimento, com a participação, no seu p61o passivo, daqueles que rense Universitária, 1999. 1014 p.
se quer responsabilizar. tanto pela conduta fraudulenta, adotada Hentz. L.A.S. Notas sobre a desconsideração da peP.ionalidade jurídica:
a expcriêm.:ia portuguesa. Re,,ista de Direito Mercantil, 101: 109-113.
pela teoria maior, como pela insolvabilidade da pessoa jurídica.
Nunes, L.A.R. O Código de Defesa do Consumidor e s11a lnte1preta-
adotada pela menor. ção Jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 1997. 540 p.
Silva. A.C. Aplic:açtio da De.w:onsideração da Personalidade Jurídica
no Oireilo Brasileiro. São Paulo: LTr, 1999, 183 p.
Szta,ín, R. Desconsideração da personalidade jurídica. Direito do Co11-
BIBLIOGRAFIA .mmidor, 2:67-75, 1995.
Sztajn, R. Sobre a Desconsideraçc7o da Personalidade Jurídica. RT, ano
Coelho, F.U. Desconsideração da Personalidade Jurídica. ln: _ __ 88. Abril, 1999, vol. 762, pp. 81-97.
Curso de Direi/o Comercial. São Paulo: Saraiva, 1999. vol. 2, pp. Zenun, A. Comenlários ao Ccídigo elo Consumidor, 3.• ed. Rio de Ja.
31-56. neiro: forense, 1999, 188 p.
O Cirurgião-dentista e o Código do
Consumidor
---·------·-------
Ricardo Gariha Silva

as partes dessa relação no sentido de afastá-la da situação real.


INTRODUÇÃO Deve ser ohrigmoriamente ohservada, não podendo ser afasta-
da.
Há pouco mais de IOanos, mais precisamente em 1988. foi É o que arnntece no relacionamento paciente/profissional na
promulgada a "nova" Constituição Federal, em vigor até apre- Odontologia.
sente data. Examinaremos, a pmtír de agora. essa relação e faremos com-
Trouxe a Lei Maior várias inovações e avanços. chegando paração com o tcxw legal, no sentido de orientar o odontólogo a
mesmo, em alguns tópicos, a ser considerada uma das maís avan- se posicionar corretamente perante os ditames legais.
çadas <lo mundo. Tampouco se pode alegar o desconhecimento da lei, como
Dentre as inovações trazidas pelo novo texto constitucional fonna de defesa. O Decreto-Lei número 4.657. de 04 de sctem-
de então, está a proteção do consumidor. O legislador constitu- hro de 1942, conhecido como Lei de lntrodu\·ão ao Código Ci-
cional atrihuiu tanta importância ao assunto que resolveu colocá- vil Bra-.ileiro, prevê, no seu artigo 3.º, que nin~uém se escusa de
lo no texto da própria Constituição Federal de 1988. cumprir a lei. alegando que n<io a co11hece. Dessa forma, a ig-
Ao examinar a Carta Magna. verifica-se, no seu Título li - Dos norância do texto legal, mesmo sendo alegado por pessoas lei-
Direitos e Garantias Fundamentais, Capítulo I - Dos Direitos e gas no assunto - como no caso sói acontecer com o círurgíão-
Deveres Individuais e Coletivos. artigo 5.", inciso XXXII, que o dentista - . não serve como defesa. nem melhora a posição do
Fs1ado promoverá, 1,a forma da lei, a dejésa do cmtsumidor. odontólogo na situação çoncreta.
Dando continuidade à análise do texto constitucional, que trata Dessa forma, a única e melhor saída para o profissional, é o
da organização do Estado brasileiro. pode-se encontrar, no seu conhecimento da lei e das suas obrigaçôcs, de modo que pos,;a
Título VII - Da Ordem Econônúca e Financeira, Capítulo 1- se posicionar corretamente perante os seus pacientes e socieda-
Dos Princípios Gerais da Atividade Econômica, artigo 170, inciso de como um todo. Essa é a única e melhor defesa para os nossos
V. que a ordem econômica nacional. fundada na valorização do colega,; que militam no exercício da arte da Odontologia.
trahalho humano e na lívre iniciativa. tem por fim assegurar a Passemos ao exame da lei.
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social.
observados, dentre vários outros princípios. a defesa do consu-
midor.
Percehe-se, pois, que, por detcnninação constitucional, dcvcr- CONSUMIDOR E FORNECEDOR
se-ia editar uma lei que atendesse üs determinações apontadas.
Foi o que aconteceu com a edição <la Lei 8.078, de 11 de se- O artigo 2.0 do CDC estabelece:
tembro de 1990, tJUC recebeu a denominação de Código de De-
fesa do Consumídor, modo este como é mais conhecida. Consumidor é roda pessoa ffoca ou jurídica que adquire ou
Vale dizer que as normas instituídas pelo Código do Consu- utiliza produto ou serviço como desúnatârio final.
midor são de ordem pública e interesse social, o que, traduzindo
de outra forma. são inderrogávcis por vontade dos interessados A tradução da definição supra para o jargão popular e odon-
em determinada relação de consumo. São de carMcr cogcntc, de tológico revela que o paciente, no seu perfil jurídico. adapta-se
observância obrigatória. e não podem ser afastadas. perfeitamente ao conceito citado. Vejamos.
Assim, cm determinada relação jurídica, uma vez constatada O paciente do consultório odonto16gico é uma pessoa física.
a sua aplicação no caso concreto, pouco impo1ta o acordo entre Ou seja, o profissional exer.uta o seu tratamento para uma pes-
172 O Cirurgião-denlisw e o Códiio do Consumidor

soa física. representada pelo próprio paciente. Este, por sua vez.
cst,~ adquirindo ou utilizando um produto ou serviço. destinado PRODUTOS E SERVIÇOS
a si próprio ou a terceiros. que estão ou não sob sua responsabi-
lidade (filhos, por exemplo). Não há dúvida: o profissional da Odontologia é um fornece-
Adquire o paciente produtos quando. por exemplo. compra dor de produtos ou serviços.
próteses, placas miorrelaxantes. aparelhos ortodôntícos, docu- O parágrafo I ." do já citado a11igo 3.0 elucida:
mentação fotogrMica e/ou ortodôntica, implantes etc.
Por outro lado, adquire o paciente serviços quando o profis- Produ10 tf qualquer bem, móvel ou imóvel. mmerial ou
sional executa diagnósticos, planejamentos, realiza tratamentos. immerial.
trabalha executando as documentações fotográficas e/ou
onodônticas, dentre inúmeras atitudes praticadas no ambiente do Assim, os produtos vendidos pelo cirurgião-dentista são bens,
consultório odontológico e/ou hospitalar. soh a responsabilida- às vezes materiais (os tratamentos, próteses, implantes). ora
de do odontólogo. imateriais ( diagnóstico). Neste último caso. embora o diagnósti-
Quanto à exigência legal de que o consumidor deva ser desti- co possa ~er aposto em um papel ou ficha <lo paciente. trata-se
natário final dos serviços e/ou produtos adquiridos para ser con- de uma série de operações intelectuais pelas quais o profissional
siderado consumidor, isso não representa grandes dificuldades. examina o paciente, coleta dados e os compara com aqueles ar-
Como dito anteriormente, o paciente recebe para si o produto mazenados no seu intelecto, mediante estudo prévio.
ou serviço. Não funciona ele como intermediário, que adquire Por seu turno, o parágrafo 2." do artigo 3.0 eslahdcee:
os itens mencionados, para destiná-los a terceiros, como forma
de intem1cdiação comercial. Snviço é qualquer otiridade Jórnecida no mercado de cmt-
Ve1iliea-sc, pois, que a definição de consumidor, como esta- sumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza ban-
belecido legalmente, adapta-se perfeitamente ao perfil do pacien- cária.financeiro. de crédito e ser.uritária, salvo m decorr<mtes
te do consult61io odontol6gico. É, pois. rnnsumidor o paciente_ das relaçôe.1· de carâter trabalhista.
Mas apenas a caracterização apontada não é suficiente para o
enquadramento da relação paciente/profissional como sendo de Ora, o cirurgião-dentista, quando prestador de serviços, o faz
consumo. :,.;recessita-se de mais elementos. com o pcrfeito enquadramento na definição citada.
O attigo 3." da já citada lei prevê:

Fomec<,dvr é roda pessvajísirn 011 jurídica, pública ou pri-


vado, nacional 011 estrangeira. bem como enu·.~ despersona-
FORNECIMENTO DE SERVIÇOS
li.,ados, que d<tsem olre111 atii·idade s de produçiio, montagem. GRATUITOS
criação, construção. 1ra11.~formaçüo. imporlaçüv, exportação,
di.\'tríbuição ou comerciali:_açlfo de produtos ou prestaçiio de Uma 4uestão que lreqéientemente surge é se, naqueles casos
serviços. cm que o tratamento odontológico foi realizado gratuitamente,
portamo, sem remuneração, seriá considerado servii;o. e se o
A análise da definição de fornecedor é enriquecedora. Este é relacionamento paciente/profissional seria de consumo, como
toda pessoa física ou jurídica. púhl ica ou privada. Melhor escla- acontece em ação entre amigos.
recendo: é todo cirurgião-dentista I pes5oa fí~ica) ou empresa de A resposta que se impõe é sim! O Código de Ética Odontoló-
convênio (pessoa jurídica). pública (prefeituras municipais, pos- gica. de 1998, no seu artigo 7 .º, estabelece que, no relacionamen-
tos de saúde etc_) ou privada (o profüsional atuando cm consul- to do cirurgião-dentista com outros memhros da equipe de saúde.
tório próprio, alugado, trabalhando como empregado, ou até constitui infração ética a prática de concorrência desleal. Existe
mesmo a sede de uma empresa de com·ênioJ. práúca mais desleal do que a diminuição do preço, a ponto de su-
Por seu turno. o fornecedor deve cxcrcer uma série de ativi- portar o profissional os ônus econômicos da prática profissional'!
dades que se adaptam perfeitamente ao exercício profissional na :,;ião! Quando há a ausência do preço, piora ainda mais a situação.
Odontologia. Com pouca imaginação. e sem maiores problemas. Além do mais. na questão dos honorários profissionais, o mesmo
pode-se constatar que o odomólogo realiLa. dentre outras coisas üídigo de Ética prevê. no seu artigo 11.", que constitui infração ética
destinadas aos seus pacientes, a comercializa(_:ào <le produtos (os oferecer serviços gratuitos a quem possa remunerá-los adequadamente.
já citados aparelhos ortodônticos. próteses etc.) dou prestação Situação semelhante acontece quando o trabalho gratuito ocorre
<le serviços (tamhém citados o~ trabalhos de diagnó~tico, exames, por incentivo das entidades prestadoras de serviço, como as em-
prognósticos, planos de tratamento, realização de tratamentos presas de convênio, por exemplo. O artigo 22, do mesmo diploma
clínicos ou cirúrgicos. elaboração de políticas de prevenção à ético, estabelece que constitui infração ética executar e anunciar
cárie ou doença periodontal, implantes, prótese~ etc.). trabalho gratuito com a finalidade de aliciamento de pacientes.
Nota-se, pois, que o rol de atividades do cirurgião-dentista é Ora. é da essência natural de quem trabalha a remuneração,
imenso. As citações servem apenas de exemplo, para ilustrar a até mesmo como meio de subsistência.
argumentação e tornar o raciocínio mais inteligível. Algumas
situações estão citadas como sendo venda de produto e presta-
ção de serviços. Melhor esclarecendo: o cirurgião-dentista ven-
de um produto quando, por exemplo, o faz cedendo um aparelho
O RELACIONAMENTO
ortodôntico extra-oral ao seu paciente. É prestador de serviços PACIENTE/PROFISSIONAL
quando faz operações mentais e documentais de diagnóstico,
elabora plano de tratamento, e faz a instalação do dispositivo na Estabelecida. pois, a colação dos conceitos consumidor, for-
boca do seu paciente. bem como realiza o acompanhamento e necedor, produto e serviço com a realidade atinente àquela
manutenções posteriores. vivenciada pelos profissionais da Odontologia no relacionamento
O Cimrgião-de11tis1a e o Código do Co11s111nidor 173

com seus pacientes. aplica-se a ela a Lei 8.078/90, o Código de pacientes sobre o desenvolvimento do tratamento e os riscos que
Defesa Jo Consunúdor. oferece.
Verificada, pois, a aplicação das detcrmínaçf>es do direito Só há uma fonna de alcndcr ao que determina o texto legal:
consumcrista na órbita do relacionamento paciente/profissional, fazendo com que o pacieme assine o tem10 de consentimento line
cabe-nos agora a tarefa de estahelecer os contornos desse relaci- e infonnado, abordado em tópico separado nesta obra.
onamento à luz da citada lei. Esse termo de consentimento deve conter todas as informa-
O rutigo 14 da lei em questão prevê: ções, de forma clara e em linguagem acessível ao paóente. so-
bre como se desenvolverá o tratamento. bem como os riscos que
O fornecedor de se,viços responde, independentemenle da ele u-az. para o paciente.
existência de culpa. pela repararão dos danos causados aos Diz. ainda, o parágrafo 2. 0 do artigo em análise que o serviço
consumidores por defeitos relativos à pre.~taf.;ão de suviços, não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
hem como por i,~f'ormaçiJi'!i insujicímtes ou inadequadas so- Nesse particular, o cirurgião-dentista tem o dever ét.ico de
bre .mafruiçlio l! riscos. manter atualizados os conhecimentos profissionais e culturais
necessários ao pleno desempenho do exercício profissional.
Mas o profissional não é livre para trabalhar da fonna 4uc hem
Parâgnifo 2." O sen,iço não é considerado dejl!ituoso pela entender. Trabalha ele com m, técnicas e materiais devidamente
adoçiio dl' novas técnicas. testados e recomendados pela comunidade acadêmíco-cicntffi-
ca. Não cabe, pois. ao cirurgião-dentista inovar em termos de
Parágrajó 3 . ., O fornecedor de se111iços sô nlio será respon- materiais e técnicas, sob pena de ser responsabilizado por qual-
sabilizado quando provar: quer resultado indesejado.
/ - qu<\ tendo prestado o serl'iço. o defeiw inexiste; Não se deve entender tal posição como entrave à liberdade
li - a ,:ulpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. criadora do profissional, nem à sua liberdade de convicção. Ao
contrário. Deve ele ater-se à manifestação das suas potenciali-
Parágrafo 4." 1\ responsabilidadl1 pessoal dos pn4issionais dades quando do diagnóstico e da rcaiização do tratamento. que
liberais .~erâ apurada mediante a Ferificarão de culpa. devem revelar todo o seu conhecimento. habilidade e potencial.
Porém, a execução desses atos deve compo1tar apenas técnicas
O cirurgião-cientista. como profissional liberal que é, será rcs- e materiais devidamente aceitos pela comunidade acadêmico-
ponsabiliL.ado perante os erros ou danos que der causa em dccor- científica.
rêncía da sua ação ou omissão, quando do exercício profissional. Se a aceitação pela comunidade de pesquisadores não neces-
Porém. a caracterização da culpa do odontólogo será verilicada sita de unanimidade, devem-se evitar aqueles materiais e técni-
mediante a verificação da sua culpa. Esse tipo de responsabilida- cas hegemonicamente afastados por todos. ou cujos usos sequer
de é denominada, no âmbito jurídico, como subjetiva. são preconizados.
A culpa do profissional, por sua vez, pode ocorrer cm uma Explicamos melhor: determinada escola <lo pensamento
das suas modalidades: negligência, imprudência ou imperícia. endodôntico afirma ser melhor usar o hipoclorito de sódio a 0,5%
Negligência seria a falta de determinada ação, quando se faz para a inigação do canal; outra preconiza a mesma substância a
necessário, ou por imposição da técnica. ou por segurança, até 2,5'k; uma terceira. a 5.0%. E assim por diante. Pode-se, com
mesmo por exigência legal, praticá-la. liberdade de convicção. adotar qualquer uma delas,já que todas
Exemplo-. claros disso seria o caso de um paciente que de- são defendidas e defensáveis pelos pesquisadores que as espo-
glutiu uma lima cndodôntica quando se realizava tratamento sem saram. O que não se pode aceitar é a inigação do canal com ga-
o uso de i-.olamento absoluto, ou mesmo a ocorrência de um solina, por exemplo. que, no prcsence momento, não é preconi-
choque anafílático em paciente que foi submetido a tratamcmo zada como solução auxiliar da instrumentação dos canais
sem a realização da necessária e indispensável anamnesc e ele radiculares por nenhuma escola de que se tenha conhecimento.
possuía histórico anterior de choques, dentre outras situações de Quando o defeito incxi-.Lc, não há como falar cm responsabi-
falta de determinado cuidado essencial. lização profissional. É o que prevê o parágrafo 3." do artigo em
A imprudência, de modo grosseiro, seria o oposto. O excesso. análise. Ou seja, o dano tem que ser efetivo, real, comprovado.
quando a situação recomendava ou deternúnava menos ação. No Não pode ficar no campo das hipóteses. dms conjectura-..
caso de anestesias. seria a sua ministração em dose excessiva ou A mesma isenção de responsabilidade se verifica quando o
em velocidade de injeção acima da recomendada, por exemplo. dano ocorre por culpa exclusiva do paciente ou de terceiro.
Já a ímpericía ocorre mediante a realização de tratamentos para os No caso ele culpa exclusiva do paciente. e-.te, por exemplo,
quais o profissional não cst~ja perfeitamente adestrado. A imperícia não dc-.tinou ação ou cuidado essencial para o sucesso do trata-
vai desde aqueles casos em que o cirurgião-dentista possui defeito de mento. Exemplo: paciente com péssima higiene oral faz com que
formação. com desenvolvimento psicomotor e treinamento inadequa- o resultado de cirurgia pcrio<lontal se perca. A questão difícil aqui
dos. até aquelas situações que denumdmn treinamento maior e mais é a ela prova.
c-.pecíali7.ado, como a realização ele cimrgías maiore:-, implantes etc. ::,,Jesses casos, como orientação. sugerimos sempre que os
odontólogos se documentem com fartura. Mas como fazer isso'!
Por meio,de fotografias. com algum elemento distintivo da dara
O PROFISSIONAL, da sua tomada (jornal. por exemplo, rnm evidência de determi-
nada data ou manchete), registros aos excessos na ficha clínica
AS INFORMAÇÕES E AS NOVAS do paciente. com a devida rubrica deste.
TÉCNICAS Cabe ao profissional fazer valer aqui, também, a sua
criatividade, e tentar, cm cada caso concreto, estabelecer regis-
O caput do artigo cm questão determina que o profissional tros que podem servir de eventual prova da sua con-eta atitude
deve fornecer infonnações claras. compJetas e adequadas aos profissional. nas mab variadas situaçf>e'> que compõem o dia-a-
174 O Cirurgião-dentista e o Código do Comumidor

dia do cirurgião-dentista. Salientamos: as radiografias, fichas A questão que surge é a seguinte: de que data se começa a
dínicas, fotografias, cópias de modelos de gesso, enfim, tudo o contar esse prazo? A resposta é simples: a partir da entrega efe-
que puder registrar a atitude do profissional, bem como a situa- tiva do produto ou do término da execução dos serviços.
ção do paciente. deve ser preservado. Porém, o mais difícil está na caracterização des.o;;a situação.
Quando se pode considerar, do ponto de vista prático, o início
desse prazo'! A resposta tmnhém é simples: da alta do paciemc/
consumidor.
AS PESSOAS JURÍDICAS Agora, a questão complicada: como caracterizar a data da alta,
RELACIONADAS COM O EXERCÍCIO se os cirurgiões-dentistas não mantêm o Mhito de dar alta por
DA ODONTOLOGIA escrito aos seus pacientes. fazendo-os assinar cópia de que rece-
beram tal comunicação, ou mesmo n1hricar suas fichas clínicas
no local onde c.:ontcnham tais informaçfü~s?
Questão controversa abrange a situação das pessoas jurídicas
Cabe ao odontólogo repetir o que fazem os hospitais: os pa-
que estão relacionadas com o exercício da Odontologia (clíni-
cientes ou seus responsáveis devem assinar as suas altas. de modo
cas, empresas de convênio etc.).
a caracterizar a contagem do prazo final de responsabilidade dos
Elas. as empresas prestadoras de serviços de saúde não são
profissionais. Caso contrário, em juízo, o paciente pode alegar
profissionais liberais: estariam sujeitas, por isso, aos preceitos
que determinada prótese. por exemplo. ainda está em fase de
do artigo 14, caput, cuja responsabilidade civil independe da
testes, mesmo após dois anos. O que poderá o profissional ale-
verificação da culpa, cm vi1tude de. nesse caso, não estar pre-
gar diante de um caso <lestes, se não possui a documentação da
sente a natureza intuitu personae dos serviços prestados pelos
alta e o ônus da prova cabe a ele?
profissionais liberais. A responsahilidade civil prevista no capul
Nossa primeira orientação, nesses casos: alta por escrito e
do artigo 14 é dita objetiva.
assinada pelo paciente.
Melhor esclarecendo, ocorrido determinado erro, dano, a
O parágrafo 3.º do ai1igo em comento fala de vício. defeito
empresa teria que inde1úzaro paciente. Verifica-se, apenas e tão-
oculto. O prazo inicia-se no momento em que ficar evidenciado
somente, a ocorrência do erro para se estabelecer a responsahili- o defeito.
zação da pessoa jurídica envolvida no caso.
Nesses casos. os cuidados a serem tomados são os mesmos
Mas alguns tribunais têm aplicado às empresas prestadoras
que aqueles para os defeitos aparentes. Porém. a questão se tor-
de serviços de saúde os preceitos do artigo 14, parágrafo 4. 0 • com na mais complicada.
a justificativa de que, nesses casos. o que vale é a natureza da O defeito oculto. e um exemplo claro disso é um canal mal
prestação dos serviços, que é igual à de um prolis<;ional liberal. obturado. em flagrante dcsohcdiência aos preceitos técnico-ci-
e não devem prevalecer os preceitos aplicados à responsabiliza- entíficos que norteiam a profissão, e que se revela mediante a
ção civil das pessoas ju1ídicas. de modo a afastar os postulados agudização de uma lesão crônica. assintom,ítica, imperceptível
da responsabilidade objetiva e aplicar. nesses casos, os da res- para o paciente até então, terá o seu prazo de rcclamaçào de 90
ponsabilidade subjetiva. dias contados a partir da agudização da lesão, situação esta que
pôde ser constatada pelo paciente por meio de dores. exsudatos.
edema etc.
OS PRAZOS PARA RECLAMAR Como não se sabe quando uma lesão vai agudizar, recomen-
da-se aos odont6logos que mantenham os registros dos seus pa-
O Código de Defesa do Consumidor estabelece, no seu arti- cientes. e os respectivos materiais de prova (radiografias. foto-
go 26: grafias, modelos etc.) por toda a sua vida profissional, e até
mesmo depois do encerramento da atividade profissional, como
O direito de !'(!clamar pelos vícios aparemes ou de.fácil cons- o fazem os hospitais.
taiação caduca em: No presente momento. o consultório odontológico padecerá
de um mal, assim chamado pelos profissionais: a necessidade de
li - noventa dias. 1ratando-se tÜ! fornecimento ,fo Sl'rvi(o e burocratização, de pcrcnização de registros, que assumem cada
produtos dur,freis. vez mais importância capital para a defe!ia dos direítos dos pro-
fissionais.
ParáMrafo l." Inicia-se a contagem do pra._o decadenciat a
partir da emrega e.felira do produzo ou do término da execu-
çâo do.~ serviços. AS PRÁTICAS ABUSIVAS
Em relação às práticas abusivas vedadas nas relações de con-
Parágrafo 3." Tratando-se de dcio oculto, o pmw decaden- sumo pela Lei 8.078/90, temos o artigo 39. que estabelece:
cial inicia-se no momento em que ficar evide11ciado o defei-
to. É vedado ao.fornecedor dt! produws ou sen:iros. dn,tre ou-
tras práticas abusivas:
Percebe-se, pela análise do texto ~upra, que o paciente/con-
sumidor tem prazo para manifestar a sua insalisfa,·ão diante de IV- prevafocer-se da fraqueza ou ignorância do co11.rnmidor.
um vício, defeito do tratamento. l<mdo em vista sua idade, saúdl'. conhecimemo ou condiçao
Sendo o defeito aparente ou de fácil constatação. e aqui se deve social. para impingir-lhe seus produtos ou serl'iços;
entender como aqueles defeitos visíveis. e que o ser humano com
grau médio de discernimento possa constatar como algo en-ado, VI - executar servíços sem a prévia elaboraçlio de orça-
deve ele reclamar em 30 dias. mento e autorizariio expressa do consumidor. ressalva-
O Círurgião-demisia f o Código do Consumidor 175

das as decorrentes de práticas anteriores entre as par- final do contrato. Lembre-se que, no início do tratamento, quan-
tes; do se faz a previsão da sua duração. deve-se levar cm conta o
número de sess<ics semanais destinadas ao atendimento dopa-
ciente, hem como o número de sessões ncce.o;;sárias para a rea-
O odontólogo deve. pois, como detentor do conhecimento lização do lratamento. Faça isso com bastante margem de se-
técnico, evitar abusos no sentido de impor tratamentos ou pro- gurança, de modo a garantir que cumprirá com folga o pactua-
dutos aos seus pacientes, debilitados pela doença que eventual- do entre as partes, em termos de tempo para a realização do
mente estejam sofrendo, ou mesmo inferiorizados pelo menor tratamento.
conhecimento ou fraqueza e idade. Na prática, tais exigências são contempladas pela adoção de
Outra prática abusiva, a ser evitada pelo profissional, é o não- um autêntico contrato de prestação de serviços odontológicos a
fornecimento de orçamento prévio ao tratamento. bem como a ser estabelecido entre as parles, que tenha como aditivos
realização deste sem a autorização expressa do paciente. contratuais um memorial descritivo do tratamento e o consenti-
Tais práticas são evitadas por meio da assinatura do con~cn- mento livre e infonnado para a sua realização.
timento lívrc e infomrndo pelo paciente, e pela assinatura do Oulra questão que surge no presente artigo é a data do início
contrato de prestação de serviços profissionais entre o dentista e e término do tratamento. questão esta que é resolvida também
o seu paciente. pelo conrrato de prestação de serviços, que tem, entre os seus
Sabemos, também. que. em detenninadas condições, o plano elementos, o dia do início e o do fim da prestação dos serviços.
de tratamento se modifica, ficando mais caro ou harato para o Quanto a eventuais alterações do quanto estabelecido, con-
paciente. A modificação da situação deve ser de comum acordo forme já salientado, somente diante de novo pacto entre as par-
entre as partes. e deve ser estabelecida tão logo o momento prá- tes, paciente e profissional.
tico o permita. Às vezes. no caso concreto, o profissional pro- Vejamos o que diz o artigo 51 do C6digo de Defesa do Con-
pôc, e cobra do paciente, a realização da remoção de tecido sumidor:
cariado do dente do paciente e a sua subseqüente restauração.
Porém, no transcurso do tratamento. ocorre exposição pulpar São nulas de plnw direito, entre outras. as clâu.mlas
por cárie, o que determina que o profis!sional realize o tratamen- contratuais relativas ao fornecímemo dli produtos e serviços
to cndodfmtico. Não deve ele parar no meio da sessão de trata- que:
mento porque houve divergência entre o pactuado entre as par- 1- impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilídad,!
tes e o que cfeli vamcnte ocorreu. Conduz nommlrncntc a sessão. do júrnecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos
:\o final. explica e esclarece ao paciente o ocorrido. faz novo e St!rl'iços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos...
consentimento infom1ado, de modo a contemplar a nova situa-
ção. e faz o novo ajuste de preço. VI - estabeleçam inver.wio do ôm,s da prova em prejuízo do
Se o paciente não concordar com o proposto, acertam-se as consumidor;
pendências até então, e ele é liberado para procurar novo profis-
sional. O importante é ressaltar que o cirurgião-dentista não é X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente. varia-
ohrigado a trabalhar contra a sua liberdade de convicção. çtio de preços de ma11eira unilareral.

As nulidades de pleno direito. aqui traz.idas pelo artigo cm


exame, podem ser arguidas judicialmente cm qualquer tempo ou
O ORÇAMENTO E O CONTRATO DE grau de jurisdição.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Aqueles contratos ou declarações que os pacientes assinam,
exonerando o profissional de qualquer responsabilidade, bem
O artigo 40 da lei em exame estabelece: como infom1an<lo que o paciente, diante daquela assinatura, ab-
dica de qualquer direito a reclamações posteriores, estão previs-
O jlm1ecedor de serviço serâ obrigado a entregar ao consu- tos no inciso J do artigo 51, e são afastados pelo Poder Judiciá-
midor orçamento prévio discriminando o valor da mão-de- rio. nulos que são.
obra, dos materiais e equipamentos a serem empregados. as O Código de Processo Civil pátrio estabelece. no seu artigo
condições de pagamentv, bem como as datas de início e tér- 333, que ao autor incumbe o ônus de provar fato constitutivo do
mino dos serviros. seu direito. Essa é a regra geral que se aplica a quem litiga em
juízo. Porém, o Código de Consumidor estabelece que o Juiz
Parágrafo 2." - Uma V<!Z aprovado pelo consumidor. o orça- poderá, se entender adequado ao caso. aplicar a inversão do ônus
ml·ntv obriga os contraentes e somente pod<i ser alterado da prova ao caso concreto. Na prática, isso significa que não cahc
mediante livre negociaçâo das partes. ao paciente provar em juízo que está certo, que o dentista agiu
incorretamente, como pressuposto para fazer valer o seu direito.
Cabe ao profissional provar que agiu corretamente. e que o pa-
Alguns aspectos já foram comentados. O que vale comentar ciente está errado.
agui é a discriminação dos valores dos materiais e mão-de-obra Por disposição do inciso VI do presente artigo em rnmcnto,
a serem empregados no tratamento, bem como as datas de início qualquer disposição que altere tal situação é nula de pleno direi-
e término do tratamento. to.
Porém. aqui vai outra orientação: cm cada scs.,ão clínica, O inciso X traz disposição semelhante às já comentadas nos
após a sua realização e anotação na fícha clínica do paciente, artigos 39, VI e 40. parágrafo 2. 0 • e que dispensam maiores co-
entendemos que esta deve ter um campo que sirva de controle mentários, para se evilar redundância. Em síntese: variação de
da presença do paciente no consultório, já que a sua falta deve preço sú pode ocorrer mediante o estabelecimento de novo pac-
ser entendida wmo uma autorização para a prorrogação da data to entre os envolvidos.
176 O Cinu,?ião-de.ntislu eu Código do Consumidor

Por fim, deve-se salientar 4 uc a relação consumidor/presta-


dor de serviços, que. no presente caso, travestem-se de pacien- ALGUMAS CONSEQÜÊNCIAS
te/profissional, respecLivamcnte, é rnultifária. e comporta inú-
meras análises, que se vão proliferando à medida que o tempo O Código de Defesa do Consumidor impüc, ainda. algumas
passa e ocorre o apcrfoiçoamemo das instituições, tanto do conseqüências aos prestadores de serviços. Vejamos:
ponLo de vista jurídico como daquele do cidadão e dos profis- a. Serviços defeituosos devem ser refeitos.
sionais.
b. Contratos de servi\'º ou de compra com cláusulas em lin-
Essa análise inicial será aperfeiçoada com o tempo. de modo guagem técnica demais ou em letras miúdas. que limitem
a contemplar novas versões e interpretações das questões de fato seus direitos. podem ser anulados.
e dos inslilutos jurídicos. c. Inversão do ônus da prova.
d. Indenização por danos morais ou físicos provocados por
mercadoria ou serviço.
RECOMENDAÇÕES ÚTEIS
Como orientação final. faremos algumas abordagens. que tra-
duzem nos~a experiência do exercício da Odontologia, do rna-
BIBLIOGRAFIA
gístérío da Odontologia e, agora, do exercício da Advocacia,
Aguiar Dias, J. Rrsprmsahilidade Civíl em Dehme. Rio de Janeiro: Fo-
sempre com o foco na proteção dos profissionais cirurgiões-den-
rense. 1983.
1jstas.
Aguiar Dias. J. Respomabilidade Cii•il. 7."cd. Rio de Janeiro: Forense.
1. As radiografias devem ser hem processadas e armazenadas. 1983. p. 799.
São excelentes meios de prova de que o cirurgião-dentista Alcântara, H.R. Deonwlogiu e Dfr·eologia. São Paulo: Andrei. 1979.
pode lançar mão para provar a correção da ~ua atitude. Por Almeida. J.B. A Proteção Jurídica do Cnnsumidor. 2.• ed. São Paulo:
Saraiva, 2.000.
isso, sua qualidade deve ser excelente, e sua imagem
Alpa, G. & Ressone. M. La Respmmihilirà Cii·ile. 2." cd. Milano:
perenizada mediante correto processamento e armazena- Giuffre. 1980. vol. 2.
mento. Alvarenga, :\1.A.F.P. O quantum da indenização por dano moral. Re-
2. Os documentos que são emitidos pelos profissionais e/ou vista Jundica da U11i1•asidade. de Franca, ano 2. n.'' 2. 1999.
clínicas, lais como receitas, atesLados, documentos, sem- r\lvarenga, M.A.1-'.P. & Ros.i, M.V.F.P.C. Aponlamcnros de Metodo-
pre devem ser feitos em duplícata, com o paciente dando logia para a Ciência e Técnicas de Rcdaçào Cienlílica. Porto Ale-
vista de retirada na cópia, que deve permanecer arquivada gre: fabris. 1999.
no seu prontuá1io, com a anotação da respectiva data da Alvim, A. LJa lnexec11çiio das Obrigações e s1ws Cm1seqi.iê11cias, s.• etl.
retirada. São Paulo: Saraiva, 1980.
Arruda. A.F.M.f. Dano Moral Puro uu P.~íquico. São Paulo: Juare:t. de
3. Cópias de modelos de gesso. que devem ser armazenadas, Oliveira. 1999.
quando o caso clíníco o permitir. São, também, pela sua Azevedo, A. V. Teoria Geral das Obriguçcies. 8! cd. São Paulo: Revis-
durabilidade, excelentes meios de prova em favor do pro- ta dos Tribunais. 2000.
fissional. Barbosa Moreira. J.C. O Num Pmcesso Civil Rra.rileíro, 11." cd. Rio
4. Contrato de prestação de serviços. No nosso modesto en- de Janeiro: 1-'orense. 1991, p. 12.
tendímento, o relacionamento paciente/profissional é con- Belli, M.M. For Your Malpractü·e Dejimu. 2'"1 cd. Oratlell, New Jersey:
tratual. e eleve ser reduzido a termo e~crito, assinado pelas Medirnl Economic:s Books. 1989.
pmtes e duas testemunhas. e deve prever direitos e obriga- Benjamin. A.H.V. et ui. Come11táríos ao Código de f'rore~iío uo Co11-
ções recíprocas. .fumidor. São Paulo: Saraiva, 1991.
Bcvilaqua. C. Código Civil Comeruado. 11.• ed. Rio de Janeiro: hiren-
5. Ficha odontológica rica cm detalhes. Deve-se salientar que sc, 1956.
até mesmo uma folha de papel sultite branco é uma exce- Biliar. C.A. Repamção Civil por Danos Morais. SàQ Paulo: RT. 1999.
lenLe ficha. A riqueza de dcLalhcs se dá pela atenção, dedi- Brcbia, R.H. EI Dãno Moral. 2." ed. Rosario: Orbir, 1976.
cação e importância que o profissional dedica a ela. É ape- Bueres, A..I. Respnnsabilidad Ci,•il de las Clinicas y t:su1hlecimíe.11tos
nas um reposit6rio de dados, que precisa ser conclac con- Medicos. Bueno~ Aires: Ahaco, 1981.
veniememente abastecido. !fossada, W. Côdif?O Cii,i/ Brasileiro Interpretado pelos Trib1111ais. Rio
6- Plano de tratamento esclarecído, com alternativas de Lra- de Janeiro: Lihe.r Julis, 1983.
lamemo, todas estas em consonância com o melhor esLado Bustamantc. A.J. J'euriu General de la Respon.wi/Jilidad Ci,,il. 8.ª ed.
Buenos Aires: Ahclcdo-Pcrrot, 1993.
da arte e da ciência, mas dando opção de escolha ao paci-
Cahali, Y.S. Dano e buieniz.ar.;ão. São Paulo: Revista dos Tribu-
enlc, que poderá optar, quando possível, pelo tratamento nais, 1980.
que melhor lhe convier. Deve ser escrito, e conter a rubri- Carvalho de Men<l<m~·a, .I.X. Trmado de Diffito Comercial Brasileiro.
ca de ciência do paciente, bem corno o exercício da opção 4: cd. Rio de Janeiro: Forense. 1956.
livre que foz, quando foro caso. É exigência do Código de Casillo. .1. Dano à Pessoa e sua Indenizac,:ão. São Paulo: RevisLa dos
Defesa do Consumidor. Tribunais. 1987.
- Anamnese preenchida e assinada pelo pacieme ou res- Chartier. Y. /.,a Réparmion du Pn:iudia. Paris: Oalloz, 19H3.
ptlnsável. Como item obrigatório de qualquer ficha clí- Chaves. A. Tratado de Direiro Civil - Respo11.rnbiüdade Civil. Sãu
nka. e absolutamente imprescindível como fonte de in- Paulo, RT, 1985. vol. 3.
Cristiano. R. Obrigaçr>es de Mdos e Obriguçtíes de Resultado. RT. 554/
(,.1nnução prévia à realização de qualquer atendimento
28.
(•j,,nrológico. e levando-se em conta o fato de que o
Croce. D. & Crncc J. Erro Médirn e o Direito. São Paulo: Oliveira
;:-;:.::en1e pode omitir informações a respeito do caso Mende~. 1997.
,:,:•n,Tcw e do seu estado de saúde, faça-o assinar tudo Gonçalves, C.R Respo11sal>i/idade. CiFil, ó! ed. São Paulo: Saraiva.
.;;;.;:;::1<, informou. 1995.
O Cirurgiiio-t!e111isw e o Código do Consumidor 177

Grecrn Filho, V. Dil'dro Pmce.rn,a/ Cii•il Brasileiro. 5. 0 ed. São Paulo: Pereira, C.M.S. Respon.wbilídade Civil. 9: cd. Rio de Janeiro: Foren-
Saraiva, 1992. se, 1998.
Grinover. A.P. et ai. Código Brasileiro dt~ TJefe·sa do Comwnídor. 6.ª Rodrigues, S. Direito Civil: Parte Geral, 16.ª ed. São Paulo: Saraiva.
ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 1999. 1986, vol. 1.
Hentz, L.A.S. er ai. Obrigaçi'íes t:mpresariaís. Franca: Unesp. 1998. Santos. A.J. Dano Moral huie11i::.áve/, 2.ª ed. São Paulo: Lcjus. 1999.
Kfouri Neto, M. Respon.mhilidade Civil do Médico, 3.ª ed. São Paulo. Santos. M.C.C.L. 1i·ansplante de Órgãos t! Tratamentos Médico-Cinír-
RI. 1998. gims. Coimhra: Coimbra Ed., 1986.
Len;i. L.A.T.F. Dan() moral contra a pessoa jurídica. Re,•ista dos Tribu- Savarier, R. 'J'raité de la Responsabilité Cii:ile en Droít Français. ::?.•
nais (São Paulo). 734:56-65. 1996. cd., Paris, Libraíric Générale, 1951.
L6pe1., J.A. Los Medicos y Lo Re.1pm1.rnhilidad Civil. Momevidco: Segre. M. et ai. Cmnpêndio de A,fodici11<1 Legal. São Paulo: Saraiva. 1987.
Monlec:orvo, 1985. Silva Filho, A.M. Responsabilidade civil dos médicos nas transfusões
Marmitt. A. l:'erdas e Danos, 2! ed. Rio de Janeiro: Aide, 1992. de sangue. ln: Respo11sabilidade Cii'íl Médica, Odo111ológica e Hos-
Mémeteau, G. & Mélcnncc, L. Traitr!de Droit Médica/. París: Maloíne. pitalar (Coord. Carlos Alherto Bírtar). São Paulo: Saraiva. 1991.
1982. t. 2. Silva. W.M. Dano estético. ln: t)iâdopédia Saraiva de Vín~iio. São
Miranda, P. Tratado de Direito Pril'ado. 2: cd. Rio de Janeiro: Foren- Paulo: Saraiva, 1977. vol. 22.
se, 1958. Silva, W.:M. O Uww Moral e sua Reparaçiiu, 3.• ed. Rio de Janeiro:
Monteiro. W .B. Curso de Direito Civil: Pane Geral. 28: etl. São Paulo: Forense, 1983.
Saraiva, 1989. Stoco, R. Responsabilidade Cii'il e sua Jn1e1pretação Ju,úprudencial.
Montenegro. A.I..C. Do Ressarcimento de Danos. RíQ de Janeiro: 4.ª cd. São Paulo: Revista dos Trihunais, 1999.
Âmbito Cultural, 19!l4. Ya\ler, W. A Reparação do Dww Moral no Direim Rrasilâro. Campi-
Negrão. T. Côdi1ço de Processo Civil e Legislaçiio Processual em Vi- nas: E.V., 1994.
gor, 31." ed. São Paulo: Saraiva, 2000. Varela. J.M.A. Das Obrigaçiies em Geral. 4.ª cd. Coimbra: Ahnedina,
Nunes. L.A.R. O Código de Defesa do Consumidor e sua Interpreta- 1982. vol. 1.
ção Jttrisprudencia/. São Paulo: Saraiva, 1997. Zenun. A. Dww Moral e sua Repamçiio. Rio de Janeiro: forense, 1994.

~ ...................................................................
Consentimento Esclarecido no
Trata01ento Odontológico
--------·------..··--·-·--·-·-
Ricardo Gariba Silva

No presente momento, vivemos a conjunção de dois fatores, timento Pós-infommdo, Consentimento Após-informação, Con-
de origens diferentes, porém que confluem para uma mesma si- sentimento Livre e Esclarecido.
tuação: a relação paciente/profissional. Seja na pesquisa ou no exercício profissional, o consentimento
De um lado, temos o Código de Defesa do Consumidor, que nada mais é do que a manifestação livre do paciente, após rece-
impõe suas previsões e int1uencia a relação, cujas repercus- ber todas as í nfonnaçôes sobre os riscos, benefícios etc. relacio-
sões ahordamos cm momento oportuno. De outro. está a nados com o tratamento que irá receber ou pesquisa de que irá
Bioética, que, cm linhas gerais. trata as questões da morali- fazer parte, no sentido de, respeitada a autonomia da sua vonta-
dade e da racionalidade da conduta humana nas ciências bio- de, querer submeter-se ou não ao que lhe é proposto.
lógicas e da saúde, princípalmcnte na experimentação, na J\"o Di<.:ionário Aurélio Eletrônico, esr.á a definição:
pesquisa que envolve, direta ou indiretamente, os seres hu-
manos. Consentimento íDe Consentir+ -mento.J S. m.
Deve ser feira aqui uma distinção: o Ccídígo do Consumidor 1. Ato de consentir. 2. Permissão, licença. 3. Anuência. apro-
tem abrangência mais ampla, aplicando-se it maioria das situa- vação. acordo. 4. Aprovação t.ácita; tolerància.
ções clínicas em que, de um lado, temos o paciente e, ele outro, o
cirurgião-dentista. A Bicética, rnja composição do vocábulo nos Ora, pela própria definição da palavra consentimento. verifica-
leva, de modo grosseiro, a entendê-la como a aplicação dos pre- se e determina-se o que será o seu comeúdo. Além disso, no relaci-
ceitos éticos à Biologia, estende seus tentáculos para a região da onamento paciente/profissional. o primeiro será livre, infonnado,
pesquisa. esclarecido. de acordo com as denominações que rccehe, e que re-
Essa nova ciência possui princípios fundamentais que tam- fletem. cm seu conjunto. a forma como ele deve desenvolver-se, v.g .•
bém se aplicam à atividade dos profissionais da saúde, cm geral, de fonna livre, infom1ada, esclarecida, de modo a não comportar
e do odonlôlogo, em particular: qualquer tipo de dúvida sobre o tratamento ao qual irá suhmetcr-se.
1. Renelicência: por esse princípio. a atividade deve se de- Lembramos, ainda. que a realização de serviços sem a auto-
senvolver comprometida com o máximo de benefícios para rização do paciente é prática ahusiva na relação de consumo, e,
o paciente e o mínimo de danos e riscos: do ponto de vista econômico, o serviço prestado é considerado
amostra grátis.
2. Não-maleficência: por c-.sa causa, os danos previsívci~
devem ser evitados; Vejamos o que di:;; o artigo 39 da Lei 8.078/90. o Código de
Defesa do Consumidor:
3. Autonomia: nessa sede está o livre-arbítrio, a vontade pró-
pria de reger seus próprios atos, opiniões, de modo que o
desejo do paciente sobrepuje, sempre. o do próprio pesqui- "É JJedado ao .fórneador de produtos ou serviros dentre
sador; outras práticas abusivas:
..J.. Juqiça: visa dar às pessoas aquilo que é seu de direito e
IV -prevalecer-se dafraqueza ou ignorância do co11swnidor.
j~ir com cqliidade na distribuição <los bens e benefícios.
tendo em vista a sua sa(ull•, <:011hecimento 011 condiçiio soci-
P,.,rém. tanto na área da pesquisa como na do exercício pro- al, para impingir-lhe sn,s produtos ou S<'rviros;
~:" ,,:ui. at(: mesmo como decorrência do princípio da autono-
·:::.:. .:..: \t)rHadc do paciente. surgiu, com objetos diferentes e VI - executar serviços sem a prévia elaborarão de orçamen-
::::?-:::·.' "im. ,:, Cl•ns.:mimento Esclarecido. também chamado de to e autoriz.arlio expressa do consumidor. r<!ssall'adas a.s
C. ::-a·:-.timênW \·liluntário. Consemimenlo ln formado, Consen- deconn11es de práticas anteriores nitre a.~ partes;"
Con.wmtimenlv Esclarecido ,w Traramemo Odomolôgico 179

O inciso IV é comentado por Grinover el ai. ( 1999:313-4) da ressalva que se faz é que, embora repetidas, as infonnaçôcs nào
fonna como se segue. O consumidor é, reconhecidamente, um ser sejam contraditórias e sejam absolutamente verdadeiras. cm con-
vulnerável no mercado de consumo (art. 4.", I). Só que. entre to- sonância com a realidade do relacionamento paciente/profissio-
dos os que são vulneráveis. há outros cuja vulnerabilidade é mai- nal e com as questões atinentes ao paciente.
or que a média. São os consumidores ignorantes e de pouco rn- Se, por um lado, o cirurgião-dentista deve ínfonnar ao seu pa-
nhecimento. de idade pequena ou avançada. de saúde frágil, bem ciente todas as circunstâncias que podem influir de forma razoá-
como aqueles cuja posição social não lhes permite avaliar com vel na sua decisão sobre sua submissão ou não a determinado tra-
adequação o produto ou serviço que estão adquirindo. Em re~u- tamento odontológico, ou mesmo sobre qual escolher dentre a!;
mo: são os consumidores hipossuficientes. Protege-se, com esse várias opções que lhe são fornecidas - todas elas igualmente de
dispositivo. através de tratamento mais rígido que o padrão. o con- acordo com os preceitos do estado da arte e da ciência odontoló-
sentimento pleno e adequado do consumidor hípossuficíente. gica, com seus planos de tratamento e prognósticos relacionados.
A vulnerabilidade é um traço universal de todos os consumido- e previsões sohre como cada tipo de tratamento irá desenvolver-
res. ricos ou pohrcs, educados ou ignorantes, crédulos ou espe11os. se - , existem limites para o consentimento do paciente.
Já a hipossuficiêneia é marca pessoal, limitada a alguns- até mes- O consentimento <lo paciente estender-se-á, do pomo de vis-
mo a uma coletividade - , mas nunca a todos os consumidores. ta da sua validade e eficácia, até os limites da informação que
Sohre a questão do orçamento prévio, os citados autores es- rcccheu. Dessa fonna, a informação fornecida ao paciente assu-
crevem: "A prestação de serviço depende de prévio orçamento'' me importância qualitativa e quantitativa: deve ser acessível, na
(art. 40). Só que a simples apresentação do orçamento não im- questão da linguagem. ao universo cultural do paciente, de modo
plica autorização do consumidor. Para que o fornecedor possa que este possa compreender tudo aquilo que lhe está sendo pos-
dar início ao serviço, mister é que tenha a autorização expressa to, e possa decidir de acordo com a sua autonomia e convicção.
do consumidor. A esta equivale a aprovação que o consumidor Por outro lado. a informação deve esgotar toda a questão envol-
dê ao orçamento (artigo 40. parágrafo 2.º). desde que expressa. vida com o paciente, de modo a não deixar pontos omissos ou
Se o serviço, não obstante a ausência de aprovação expressa obscuros, dando-lhe condições de avaliar o que lhe é instruído,
do consumidor, for realizado, aplica-se, por analogia, o disposto em toda a sua extensão.
no parágrafo único do art. 39, ou seja, o serviço. por não ter sido Como manifestação de vontade, o consentimento está relaci-
solicitado. é considerado amostra grátis. onado com o hrocar<lo latino: "Nihil voliium quem p,·mrcogni-
Em existindo pntlicas anteriores entre o consumidor e o for- lum" (''Nada é querido sem antes ser conhecido"').
necedor, aquelas, desde que provadas por este, regram o relaci- O momento da elaboração do consentimento é aquele em que já
onamento entre as pm1cs. se sabe o que deve ser infonnado ao paciente. O profissional já tem
Percebe-se, pois, que o fornecimento de orçamento prévio, conhecimento do alcance da intervenção que terá que realizar, das
como forma de conhecimento prévio ao paciente, é prática im- possibilidades de resultados desfavoráveis, de riscos e de que o rc-
prescindível que deve ser praticada pelo profissional. sulcado de sua ação seja parcialmente diferente do programado.
Em outra oportunidade. já havíamos destacado a previsão do Outra questão já abordada quando se analisou a relação paci-
,U1igo 14: ente/profissional à luz do Código de Defesa do Consumidor é o
for.o de se apresentarem várias possibilidades de trntamento para
"O fornecedor de serviços responde, independentemente da o mesmo caso clínico de que o paciente é portador. '.\!essas situ-
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos ações, cada uma delas deve ser abordada no termo de consenti-
consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços, mento. para que o paciente exerça a sua opção.
bem como por informaçiíes insuficientes ou inadequadas so- Se todas as possibilidades estão no mesmo nível do ponto de
hre a sua fruição e riscos.'' vista de custo/beneticío para o paciente, isso lhe deve ser dilo.
Caso contrário, deve o profissional estabelecer uma hierarquia
Logo, o fornecimento de informações suficientes e adequa- de opções, ressaltando o que há de bom e de ruim em cada uma
das sobre o desenvolvimento da prestação de serviços e seus ris- delas, abarcando, inclusive, o aspecto econômico.
cos é ob1igação do profissional. Porém, em quaisquer casos, apresentem eles alternativas
O artigo 40 do Código de Defesa do Consumidor prevê, ainda: múltiplas ou únirn de tratamento. deve-se lcmhrar do que diz o
Código de Ética Odontológica, no seu artigo 3.0 :
"O fornecedor de serviço está obrigado a entregar ao consu-
midor orçamento prévio discriminando o valor da mão-de- "CAPÍTULO JJ - DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
obra, dos materiais e equipamentos a serem empregados, as art. 3.0 : Constituem direitos fundamentais dos profissionais
condições de pagamento. bem como as datas de início e tér- inscrito~, segundo suas atribuições específicas:
mino dos serviços.
í - diagnosticar, planejar e executar tratamentos. com liber-
dade de convicção, nos limites das suas atribuições. observa-
Parágrafo 2." - Uma vez aprovado pelo consumidor, o orça- dos o estado atual da ciência e sua dignidade profissional:
mento obriga os contraentes e somente pode ser alterado
mediante livre negociação das partes.
Como exposto. o odontólogo tem o direito fundamental de
exercer a profissão dentro ela sua liberdade de convicção. É ób-
vio que tal direito não é absoluto: sua convicção deve situar-se
Como conduta do profissional diligente, recomenda-se que o nos estreitos limites das técnicas e conhecimentos aceitos pela
Termo de Consenlimcnto lnfom1ado seja o mais completo pos- comunidade acadêmico-científica, hem como estar de acordo
sível. sob risco de repetir informações que j,í constam do orça- com o ordenamento jurídico, os princípios gerais de direito. a
mento e contrato de prestação de serviços profissionais. A única moral e os usos e costumes profissionais e da comunidade.
180 Consentimento l!sc/arecido no Tracamellto Odo11folóf{ico

Significa essa liberdade. antes de tudo, que o profissional • Benefícios esperados pela implcmen1ação do tratamento.
possui;dcntro <los limites já citados, o que se chama a suprema- • Moléstias previsíveis, decorrente<. do procedimento.
cia do conhecimento técnico. Não deve ele se curvar ante às • PossÍ\'eis rísl'os: riscos típirns e conscqüêncías certas
vontades do paciente, se estas forem contra a sua convicção. + Espaço em branco para riscos personalizados.
Segundo Galán Cortés (2000:35-6), quando se vai informar • Procedimentos alternativos.
o paciente. devem ser feitas considerações de caráter subjetivo e • Efeitos esperados caso não se faça nada, i~to é, nenhum
objetivo. Quanto ao aspecto subjetivo, devem ser ponderados, tratamento.
entre outros, o nível cultural, a idade, a situação pessoal, famili- • Disposição do profissional para aclarar dúvidas ou
ar, social e profissional do paciente. Na questão objetiva. devem- ampliar a informação.
se considerar a urgência do caso, a necessidade de tratamento. a • Comunicar a possibilidade de mudar sua decisão a
periculosidadc da intervenção. a novidade do trat;unento, a gra- qualquer momento.
vidade da enfermidade e a possível renúncia do paciente ao tra- • Dados do paciente.
tamento após receber a informação. • Dados do profissional que prestou as infom1açõcs.
Na questão da ohlcnção do consentimento informado, o pro- • Declaração do paciente expressando seu consentimen-
fissional revela também a sua habilidade no trato com os paci- to e satisfação com a informação, e que todas as suas
entes. Manifesta a sua adequada capacidade de interação, de dúvidas estão csdarecidas.
moáo a obter a confiança do paciente, e que o consentimento • Assinatura do profissional.
obtido seja realmente o informado. e não o assustado. • Assinatura do paciente.
• Local e data.
• Espaço para o consentimento obtido por meio de re-
REQUISITOS DO TERMO DE presentante legal em caso de incapacidade do paciente.
• Espaço para a revogação do consentimento.
CONSENTIMENTO ESCLARECIDO
Recomcn<la-1>e realizar um documento únirn para cada pro-
cedimento. A família deve estar presente no momento de passar
O Termo de Consenlimcnlo Informado é um instrumento de
as informações. quando isso for possível. Deve-se permitir. se
um processo que deve ser gradual e l'.:ontínuo dentro da relação
possível, que o paciente leve o documento para casa, de modo a
pmfissíonal/pacientc. O seu pníprío nome implica as suas duas
estudá-lo, exibi-lo para terceiros e. finalmente, dcddir.
principaís caractcrístirns: a rnluntariedade e a informação.
A apresentação da informação deve ser feita levando em con-
sideração alguns fatore<;;
A Voluntariedade • MOMENTO AI>EQU ADO: evitando que o paciente es-
teja sedado. dolorido, cm preparação para um exame. exa-
A voluntariedade é definida wmo u realização de uma esco- tamente antes de um exame, aborrecido. Dessa forma, a
lha sem a inlluêncía modificadora de qualquer ímpulso externo. manifestação de vomade do paciente será mais livre, so-
Está em função da percepção :;ubjetí va de cada paciente e de sua frerá menos interferências emocionais. ou de qualquer
próptia escala de valores. Trata-se ele rc:-peitar sua autonomia. outra ordem, cm virtude da si luação que o acomete.
Podem existir algumas distorções ou perversões no consenti- • LOCAL ADEQUADO: se possível, cm uma sala ou es-
mento informado. levando a não se respeitar a vontade do paci- critório. Evitar dar infomiaçõcs nos corredores. na sala de
ente. As perversões mais freqüentes siio as seguintes: espera, na sala de exames etc., j,l que o pudente pode se
• PERSUASÃO: quando não se lhe dâ esrnlha cnlre vários sentir incomodado. até mesmo constrangido.
procedimentos existentes: • A PESSOA ADEQUADA: quem fornece a infonnação
• COAÇÃO: quando são feitas ameaças, explícitas ou irn· ao paciente há de ser sempre um profissional representati-
plícítas, tlagrantes ou veladas: vo para o paciente. Tanto pode ser quem indica o procedi-
• MANIPllLAÇi\O: quando se distorcem as informações, mento (pois conhece melhor o paciente e lhe inspira con-
devendo evitar-se informaçôcs oblíquas. fiança), t·omo quem vai realizá-lo (pois conhece melhor o
procedimento e suas complícaçôes). Este é um passo es-
sencial para estabelecer uma relação de confiança entre o
A Informação profissional e o paciente. ·
• TEMPO PARA MEDITAR: recomenda-se dar, pelo
As informações fornecidas pelo profissional ao paciente o são, menos, 24 horas ao paciente, pc1milindo-lhc levar o docu-
na sua maioria. oralmente, fato este que se dá tendo em vista a mento para rnnsultá-lo com a família. de forma que possa
natureza da prestação do serviço odontológico. :-.Jão seria razoá- expressar melhor a sua vontade.
vel pensar que. a todo momento, o cirurgião-dentísta interrom- • PERGUNTAS AO PACIENTE: para assegurar-se <leque
pesse os pnKedimentos profissionais para ler ou dar ciência ao compreendeu.
padcnte sobre o teor de um verdadeiro compêndio odontol6gi-
-:o ou de saúde. É recomendável, entretanto. recorrer. sempre que Os riscos devem ser amplamcnle inf'om1ados. notadamente:
i,~o for possível, a um documento escrito. principalmente quan-
• AS CONSEQÜÊNCIAS CERTAS: aquelas que resulta-
J(, -,e trate de procedimentos invasivos e que comportam riscos
rão do proccdimcnlo cm lodos os casos.
~,. ident.:, ou de resultado duvidoso. É recomendável que o do-
• OS RISCOS TÍPI~QS: são aqueles que se esperam em con-
~umcnto tenha. necessariamente, estes itens:
<liçfx:s nrnmais, de acordo com a expe1iência ou com o estado
• Dados suficientes sobre a ~atureza e Origem do proces- atual da dênda. Deverão incluir-se, também, aqueles riscos que,
,o patológico. embora sejam ilúreqüentes mas não excepcionais. têm resul-
• ~orne. descrição e ob,jetÍ\'OS do procedimento a ser encetado. t.adof; clínicos de extrema gravidade (elevada mortalidade).

l
Conse111íme.11to F.sclareddo no J'ratamenro Odomológico 181

+ RISCOS PERSONAUZADOS: segundo as circuns- renúncia ao mesmo não seja contrária aos interesses de ordem
tâncias pessoais do paciente: estado de saúde, idade etc. pública, não prejudique a terceiros, donde que seja admissível a
Esses riscos devem estar inclusos em um espaço em renúncia à informação, quer de forma tácita, quer de forma ex-
branco que deve existir no documento, justamente para pressa. Todavia, deve-se cuidar de deixar constância da renún-
esse fim. cia:
• em um documento específico;
• no próprio tcm10 de consentimento informado. ou
EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DE • na própria ficha clínica.
NECESSIDADE DO O exercício, por parte do paciente, do direito a não saber cer-
CONSENTIMENTO tas circunstâncias referentes à sua saúde não se considera um
óbice à validade do consentimento, por exemplo, a uma inter-
venção cirúrgica. Com efeito, pode-se consentir validamente com
Existem situações que se constituem em exceções do re-
a cx.ércse de uma massa tmnoral da boca, sem querer saber quanto
quisito da exigência do termo de consentimento informado.
à sua natureza benigna ou maligna.
Trata-se de situações - excepcionais em odontologia - em
que a não-intervenção acarrete um risco para a saúde públi-
ca, qHando o paciente não está capacitado para tomar decisões,
sitmu;ão em que o direito passará a ser dos familiares ou res-
A Revogação do Consentimento
ponsáveis. ou quando a urgência não permita delongas. quer A revogação do consentimento concedido pode ser feita a
porque possam acontecer lesões irreversíveis ou existir risco qualquer momento, como conseqüência de seu caráter persona-
de vida. líssimo: "A qualquer tempo a pe:;füa direlamlmt,i ímeres.wda
A primeira dessas exceções relaciona-se com a faculdade poderá retirar livremente o seu consentimento".
das autoridades ~anitárías competentes para adotar medidas Essa possibilidade deixa clara a autonomia do paciente na sua
de reconhecimento. tratamento, institm:ionalização e contro- relação com os profissionais da saúde. como um todo, e não so-
le dos doentes e/ou de pes,;oas que tenham estado em contato mente com os odontólogos, res11inginc\o a postura paternalista
com eles e com o meio ambiente próximo. quando exi~tam que pode1ia ignorar o desejo do paciente.
indícios que autorizem a supor a existência de um risco para Como vimos. decorre da própria liberdade de consentir o falo
a saúde da população, noladamente nos casos de moléstias de que o consenLimento possa ser retirado a qualquer momento,
Lransmissí veis. e que se deva respeitar a decisão do paciente uma vez que ele
Nesses casos. pois, a limitação encontra-se na preferência, nos seja completamente informado sobre a~ conseqüências da deci-
casos exu·emos. da saúde coletiva sobre a liberdade individual, sã·o tomada. Todavia, esse princípio não significa. por exemplo,
e em pressupostos lcgilimados por nt7.Ões sanitárias, e.l{ciusiva- que a retirada do consentimento do paciente, durante a execução
mente. de um procedimcmo, deva ser respeitada sempre. Com efeito, as
Nos casos cm que o paciente não tem capacidade para tomar nonnas de condHla e as obrigaç<1cs prof'issíonais. bem como as
decisões, quer por razões jurídicas (e.~. sentença de interdição, regras aplicáveis em tais casos, podem obrigar o profissional a
menor de idade, surdo-mudo -.em intérprete), quer por razões de continuar com a intervenção de modo a evitar que a saúde do
fato (e.g. paciente inconscicnlc ou cm coma), o consentimento paciente seja exposta a um grande ri:-co.
deve ser obtido dos familiares rcspons,\veis. O consentimento do paciente considera-se livre e informado
Uma siluação ímpar é a do paciente incapaz de tomar deci- se foi outorgado a partir de uma informação ohjetiva do profis-
sões e do qual não se conhecem os famílíares capazes de suprir sional incumbido de <lá-la, sobre a natureza e possíveis conse-
o seu consentimento. Nesses casos. o profissional poderia su- qüências da intervenção prevista ou de suas alternativas, sem
prir o consentimento até que o pac!~nte ou um famílí_ar do pressões de ninguém.
mesmo pudesse assumir a responsab1l1dade pelo procedimen- O termo intervenção, no caso, entende-se no seu mais amplo
to. Isso. aliás, é o que se aplica nos casos de urgência. Caso
sentido, isto é, compreende todos os atos e procedimento~ prati-
exista uma negativa por parte dos parentes em consenlir um
cados com fins preventivos. de diagnóstico, de tratamento.
tratamento e isso prejudique a saúde do paciente. o profissio-
reabilitadores ou de pesquisa.
nal ou a diretoria clínica do estabelecimento de saúde poden\
Os aspectos mais importantes que devem preceder a interven-
solicitar autorização judicial. Em casos mais graves, em que o
ção e que devem constar do termo de consentimento informado
paciente esteja correndo risco de vida, as decisões serão tom~-
não se constituem cm uma listagem exaustiva: o consentimento
<las, parcimoniosamente, pelo próprio profissional, como fana
informado pode exigir, segundo as circunstâncias, elementos
cm um caso de emergência. Nos casos de urgência e de emer-
aência. o consentimento do paciente não é exigível. Mister res- adicionais.
Para que o consentimento seja válido. o paciente deverá Ler
:altar, ~ntretanto, que a mencionada possibilidade de interven-
sido informado sobre todos os dados relevantes do procedimen-
ção limita-se, exclusivamente, aos procedimcnLos necessári~>s
e que não possam ser retardados. Todos aqueles ctqa to. Essa informação deverá incluir:
postergação seja possível, ficam excluídos. • a finalidade da intervenção:
• a natureza da mesma:
• as conseqüências que resultarão, e
O Direito a Não Saber • os riscos que compo11a.
A lei considera que a informa<;ão é um direito dos pacientes A infonnação sobre os riscos que a intervenção pode acarre-
mas que. como todos os direito,;. o direito à inl'onnação é renunci- tar, bem como suas allcrnalivas. deve compreender não apenas
ável desde que não esteja estabelecido o conlnírio. e desde que a os riscos inerentes ao tipo de procedimento. mas também os ris-
182 Comentimento F:sclarecído no Tratamento Odo11to/ógico

cos relativos às característícas idiossincráticas de cada paciente,


derivados da idade ou, até, da ocorrência de outras patologias. Assinatura do paciente Assinatura do Profissional
Todas as solicitações de informações adicionais por parte do (RG n.º ............................ ) (CROSP n." .......................... )
paciente devem ser respondidas pelo profissional, de fomm ade- Em caso de incapacidade:
quada e pormeno1izada.
Essa informação, por sua vez, deve ser clara e formulada de
maneira simples para a pessoa que vai se suhmeter à interven- Assinatura do paciente Assinatura do Profissional
ção. Dessa forma. o paciente deve estar em condições, por meio (RG n.º ............................) (CROSP n.º ..........................)
do emprego de palavras que possa entender. de avaliar a neces-
sidade ou utilidade das metas propostas, bem como os métodos Em caso de negat.iva por parte do paciente cm firmar o Termo
da ímervenção em face dos riscos, da dor e dos encargos que a de Consentimento:
mesma pressupõe.

Assinatura da l .ª testemunha Assinatura da 2." testemunha


MODELO (RG n.º ............................. ) (RG n.º .......................... )

TERMO DE CONSENTIMENTO REVOGAÇÃO


ESCLARECIDO
Nesta data, REVOGO O MEU CONSENTIMENTO para que me
Para satisfação dos Direitos do Pacíente. como ínstrumento seja realizado o procedimento diagn6stico/terapêutico ........... ..
favorecedor do uso correto dos Procedimentos Diagnô.<;ticos e ......................................................................,
Terapêuticos, e em cumprimento da legislação aplicável, Eu, Respondendo pela-; conseqüências da presente revogação.
.................................................................................... , con10 pa-
ciente (ou como seu/sua representante legal). cm pleno gozo de Ribeirão Prelo (SP), aos ....... de ........................... de 2002.
minhas faculdades mentais, livre e voluntariamente,

DECLARO: A<;sinatura do paciente Assinatura do Profissional


(RG n.º ............................) (CROSP n.º ..........................)
Que tenho sido devidamente INFORMADO/ A pelo(a) Dr.
....................................... ,em entrevista pessoal realizada no dia
..... 1 ..... / ..... ,ele que é necessário que me seja realizado o proce- BIBLIOGRAFIA
dimento diagnóstico/terapêutico denominado :····· .................. ..
Bclli, M.M. For Your Malpractíce Defeme. 2"ded. Oradell. :-Jew Jersey:
Medical Economics Books, 1989.
Que tenho recebido explicações, tanto verbais como escritas Benjamin. A.H. V. et ai. Comemârios ao Código de Proteçiio ao Ccm-
(Anexo), sohre a natureza e propósitos do procedimento, bene- sumidm·. São Paulo: Saraiva, 1991.
fícios. riscos, alternativas e meios com que coma o Consultório/ Buercs, A.J. Respon:mbilidfüf Cil'il de las C/inica.f y Esr<1blecimimtos
Clínica para sua realização, tendo Lido ocasião de esclarecer to- Midírns. Buenos Aires: Abaco, 1981.
das as dúvidas que me surgiram. üielho, F.U. Manual de Direiro Comercial. 12.' ed. São Paulo: Sarai·
va. 2000, 480 p.
Cristiano. R. Obrigaç6es de iWeios e Ohrígaç6es de Res11/1ado. ln: RT
DECLARO:
554/28.
Estrela, C. Metodologia Científica. !:::mino l! Pesquisa em Odmuología.
Que tenho entendido e estou satisfeito com todas as explicações São Paulo: Artes Médicas.2001, 483 p.
e esclarecimentos rccchidos sobre o procedimento odontológi- Galán Cortés, J.C. 1lsr,ectos Legales de la Rdaci(Íll Clínica. Madrid:
co mencionado. Jarpyo. 2000. 166 p.
Grinover, A.P. et al. Código Brasileiro de Defesu do Consumidor, 6.ª
Assim sendo. OUTORGO O MEU CONSENTIMENTO para ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 1999.
que me seja realizado o procedimento diagnósúco/tcrapêutico Lópe:l, J.A. Los Médicos y !.a Rt~spon.rnbilidad Civil. Montevideo:
:\1omecorvo. 1985.
:::-Junes. L.A.R. O Código de Defesa do Consumidor e sua Interpretação
Jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 1997.
Deixo claro que este consentimento poderá ser revogado por mím
Rodrigues. S. Direito Civil: Pane Geral, 16." ed. São Paulo: Saraiva.
a qualquer momento e antes da realização do procedimento. 1986. vol. 1.
Santos, AJ. Dano l'vloral /11deni;-.âvel. 2! ed. São Paulo: Lc:jus. 1999.
E. para que conslc. assino o presente documento, em duas vias Segre, M. et ai. Compêndio de Medicina Legal. São Paulo: Saraiva, 1987.
de igual teor. em Ribeirão Preto (SP), aos ....... de ......................... .. Varela, J.M.A. Das Ohrigaçlíes em Geral. 4." cd. Coimbra: Almedina.
de ~uo~. 1982. vol. 1.
O Contrato de Honorários de
Prestação de Serviços
- -··--------···- ----·---··-·- - -----··- --··--·-· ···------··-- -···--·----··--·-··------- ··,.·-
Ricardo Gariba Silva

Em outras oportunidades, esposamos a tese de que o relacio- tos, elaborar prognósticos, ministrar au las de prevenção para
na mento paciente/prof issional é contratual, e deve ser reduzido determinada comun idade etc.). com o direito a determinada
a termo escrito, assinado pelas partes e duas testemunhas, deven- contraprestaç ão estipulada que, normalmente , consiste cm rece-
do prever di reitos e obrigações recíprocas. ber certa quantia em dinheiro.
A partir desse ponto de vista, tentaremos fornecer aos nossos O paciente, por outro lado. assume a obrigação de pagar ao
leitores algumas noções jurídicas sobre o direito contratual e suas profissional os serviços prestados, e tem o direito à recepção do
repercussões e implicações no relacionamen to odontólogo/p aci- servic.;o contratado. que deve ser realizado de acordo com o esta-
ente. do da arte, segundo técnica aceita pela comunidade acadêmico-
D e início, conforme ensina Coe.l ho (2001 :399), deve-se cicntífica, como decorrência do que preceitua o Código de Ética
afastar a confusão que normalmente se instala entre as pesso- de 1998, que estabe.Jecc deveres fundamentais para o cirurgião-
as, principalmen te aque las que não es tão ligadas ao mundo dentísta.
jurídico, de tender a mislurar os conceitos do vínculo que une Nas situações em que ambas as partes do contrato assumem
duas ou m ais pessoas e que as auto riza a exigir, umas das obligaçt>cs recíprocas, ele é chamado hilaleral ou sinalagmático
outras. a prática de determinada prestação com o documento (Monteiro, 1991 b:23} As obrigações criadas pelo contrato bi la-
comprobat<Írio desse vínculo . Melhor esclarecendo : confun- teral recaem sobre ambos os contratantes. Como já citado, é o
de-se a pr6pria obrigação (realizar um tratamento odontoló - que acontece na realidade da prestação de serviços odontológi-
gico, pagar por alguma coisa em determinada data) com o cos.
instrumento escrito (yue as pessoas entendem ser o "contra- O citado autor salienta que é da essência desses contratos a
to"). reciprocidade das prestaçôes. O compromisso ass umido por uma
Assim, o citado autor define contrato corno sendo um a das pat1es, paciente ou profissional, encontra s ua exata con-es-
das modalidades da obrigação, ou seja, uma espécie de vín- pondência no compromisso da outra. Esses compromissos ,ão
c ulo entre as pessoas. em virt ude do qual são exigíveis pres- cmi-elativos e intimamente ligados entre si. Cada um dos con-
taçües . tratantes se obrig a a executar o que lhe compete. porque o outro
Monteiro ( 199 1b: 5) destina definição diferente do que seja um se obriga uo mesmo.
contrato. Para de, trata-se de um acordo de vontades que tem por A conseqüência dessa bilateralidade é que aquele que não
Jim criar, modificar ou extinguir um direito. satisfez a própria obrigação não tem o direito de reclamar o
Qualquer q ue seja a definição, é da essência do contrato a implemento. a rcali:t.ação. da pane do outro. O paciente. quando
livre mani fcstação da vontade das partes. O vínculo jurídico não paga o combinado, não pode exigir do profissio nal que aca-
deve ser eslabelecido de forma li vre, sem víc ios. dolo, coa- be o tratamcnlo, se assi m foi o pactuado. Este . por sua vcl. não
ções. pode exigir o pagamento <lo pacie nte. se não realizou, no pra1.0
A ob1igação, por seu turno. c.;onsiste na conseqüência que o combinado, a obrigação que lhe competia, ou seja, o tratamento
ordenamento jurídico atrihui a determinado fato. que deveria realizar.
Na relação paciente/prof issional , C<.lrno j á exaustivamen te Exislcm exceções ao exposto yue não são objeto da presente
salícniamos, uma vez e~tabelccido o vínculo contratual entre as abordagem, pertencendo mais apropriadame nte ao mundo jmi-
partes, ou seja. o contrato - que não necessita ser escrito, con- dico, e não ao âmbito odontolôgico .
fom1e veremos adiante - . estabelecem-se as obrigaçücs de par- O contrato, porém, possui elementos que o tomam válido: a
te a parte. O cirurgíão-dcnt.ista assume a ob1igação de prestar os capacidade dos contratantes, o objeto lícito c l'or111a prescrita em
seus serviços ao paciente (fazer diagnóstico. reali1.arproce dimen- lei, ou não proibida por esta.
1~ O Contrato de Honorários de Pres1açlío de Serviços

desenvolve rá em termos do relacionanie1110 entre amhos, é um


A CAPACIDADE DOS contrato expresso. que pode ou não ser reduzido a escrito. Acon-
CONTRATANTES selhamos que o seja, tendo cm vista, num eventual dissenso en-
tre as partes, as dificuldades ern provar o que foi efctivame.utc
Quanto à capacidade dos contratante.s. para que haja a certe- contratado.
za jurídica da sua validade p lena, o contrato deve ser estabeleci- O acordo tácito é aquele que se verifica quando ambos, paci-
do entre partes plenamente capazes. Observada essa questão, o ente e profissional. praticam atos compatívei s com o estabeleci-
profissiona l cstar{1evitando problemas futuros . mento de um contrato, sem, poré m, nada pactuarem. É fonte de
O contrato esta belecido por pessoas menores de 16 anos. pe- confu são certa, tendo t.'111 vista que ambos os lados da relação
los loucos de todo o gênero. pelos surdos-mudos que não pude- podem alegar que ajustaram de forma diferente daquilo que efe-
rem exprimir a s ua vontade e pelos ausentes declarados por ato tivamente ocorreu. M as, segundo o Código de Defesa do Con-
do Juiz é nulo, conforme preceitos do Código Civi l (artigo 145, sumidor, já abordado em capítulo à parte , cabe ao profissiona l
l e artigo 5). Já aquele pactuado pelos relativamen te incapazes. elaborar orçamento prévio e por escri to para ser dado ao seu
ou seja, pelos maiores de 16 anos e menores de 2 1, pelos pródi- paciente. Ademais, se invertido o ônus da prova, como o cirur-
gos e pelos silvícolas, é anulável (artigo 147, 1). gião-dentís ta vai provar o seu direito?
Salientamo s: desencoraja mos a pnítica de acordos expressos
não-escritos e os tácit<>s. Recomenda mos que o relacionam ento
entre o pacie nte e o profissiona l se adstrinja ao previsto em um
A LICITUDE DO OBJETO DO contrato de prestação de servíços profissiona is escrito.
CONTRATO Ao se vincularem por um contrato. a<; partes a...sumem obri-
gações e p(.)r elas se obrigam. Para que delas se livrem, devem
A licitude do objeto do contrato deve estar presente. Além fazer o distrato. que segue a mesma forma do contrato.
disso, a obriga'ião deve ser possível e suscetível de ap reciação
econômica . Deve, ainda, estar de acordo com a moral, e<i m a
ordem pública e os hon~ costumes.
Essa questão não traz muita complicaçã o para o cirurgião-
MODELO
den tista regularme nte inscrito e com au torização para trabalhar.
Mas. por exemplo, irregular scni o contrnto estabelecid o entre
um paciente e um estudan te de Odontologi a. tendo cm vista que CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE
a obrigação assumída por este não é possí vcl no mundo jurídico, SERVIÇOS PROFISSIONAIS
já que ele não 11ossui autoriz.ação para o exercício prnfissional.
Situação idêntica acontece com aqueles profissionais cassados. Pelo presente instn.1111ent o particular de prestação de serviços
cuja cassação foi referendad a pelo Conselho Federal de Odon- profissíonais, sendo como CONT RATADO o DR. XXX, bra-
tologia. sileiro, casado, CPF número 123.456. 789-1 O, inscrito no CROSP
O objeto do contrato deve, ainda, ser certo ou determinável. sob o número 00.000, com consultório profi ssional na cidade e
Nesse caso, o contrato deve conter os elementos necessários à Comarca de Ribeirão Preto - SP, na Avenida YYYY. número
detennínaç ão do objeto. No caso dos odontólogos. não se contra- 0.000, CEP 00.000-00, e como CONTRAT ANTE. ZZZZ. bra-
ta, por um valor X , um tratamento odontológico qualquer. e sim. sileira, viúva, comerciante , portadora do RG núme.ro 00.000.000 -
por um valor determinado, o tratamento odontológic o discriminad o 00, residente e domiciliada na Rua HHH, 11 2 1, Vila 1TI, CEP
no contrato, que será realizado cm detenninad o tempo. 1 l.l 1 1-11 1, Telefone 000-0000, nesta cidade e comarca, têm
entre si justo e contratado, por esta melhor forma de direito. o
seguinte:
A FORMA DO CONTRATO Comentário: Nessa parte inicial do contra/o. é IWCl's.wírin
qualificaras panes. contratante (paciente) e contratado (pro -
A fom1a do contrato é ou u-c> requisito para a sua validação, e jissimial). com a maior riquern de CÚ.ttalhes possível. de mudo
ela deve ser a legalmente prevista.
a ncio ensejar dú vidas.
Na falta dos requisitos contratuais mencionad os, como, por
exemplo. capacidade dos contratante:,;, objeto I feito e forrna pres- 1. O CONTRA TADO obtiga-sc aprestar à CONTRA TANTE
crita ou não proibida por lei, ele será nulo, nos termos do artigo seus serviços profissiona is sob a forma de trabalho odontológi-
145 do Código C ivil. co (tratamento clínico ou Assistênr.ia Técnica. em perícia judi-
Monteiro ( 199 1b:8) esclarece sobre a questão que traz. con- cial, ou oln e11çãu de amostras durante exumarão) . a seguirdes-
fusão ao leigo . Além dos requisitos gerais dos contratos, nessa crito (ou descrito no orçamento anexo):
mat~ria deve estar presente , conforme j á citado, o acordo de
\ ontadcs. o consentime nto recíproco. Segundo o autor, é o clc- Descrir(iu do serviço a ser execurado
menlO essencial, o mais característi co dos contratos.
Pode ser expresso ou tácito: expresso é aquele dado verbal- Comentário: Na hipótese de desr:re ver o tratamn1to 1w con-
mente ou por escrito; tácito é aquele decorrente de. certos fatos trato, o 1m~(issiona l pode inyerir aqui um odom ograma, para
que lhe autori7.am o rc<.:onhecimento. Sua eficácia pode ser afe- auxilior a descriçâo e faóliw r o entendimen to pdo contra-
l;idJ pelos\ ú:ios comuns a todos os atos jurídicos: erro ou igno- tcmtelpade nte. Se Jize r a opç<1o por anexar o orçamento, este
r:. n.: in. d()IO. roac;ão. simulação e fraude . deve ser assinado pelo paciente. como forma de prova de que
..~qui , e instala a confusão: aquele relacionam ento entre o dele está ciente. Vale di:.er que qualquer rra/amento pode ser
p..tl·i..:nt..:..: o profissional. cm que acordam verbalment e o que se comral<)(ÍO pelo ndonlólogo. desde qul' esteja no sua área de
O Contrato de Honorários de Preslaç(ío de Serviços J85

atuaçt1o: desde procedimentos de diagnóstico, plano de tra- Comentário: Devido ao equilíbrio e igualdade entre as par-
tamento, prognóslicos. tratamentos, palestras, elaboração de tes contratantes, não pode uma parte ter que pagar, se faltar
planos de prevenç-ào de cárie. perícias, funcionar como as- às cmt.rnltas, e a outra ter a faculdade de não atender ao
sís!ent(! técnico em prol'(!SSO judicial etc. paciente .\'em nenhum ônus. Para evitar confuslJes, seria me-
lhor inserir uma clâu.mla contraiual d<'SCrevendo o que se-
2. Pelo trabalho supradescriLo (ou que consta no orçamento ane- ria justificativa aceita de parte a parte, que autorizasse o não-
xo), o CONTRATADO recebel'á a quantia de R$ 1.000,00 (um comparecim<mto à consulta previamente agendada. bem co,r,o
mil reaís), que deverá ser paga no dia 00/00/2002 (ou ser paga o 11iio-atendime1110 do paciente, sem causar o ônus de ter que
em 10 parcelas, vencendo a primeira cm 00/00/2002, e as demais pagar qualquer i•alor à parte contrária.
a cada trinta dias, consecutivamente).
9. A parte que pretender rescindir o presente contrato deve noti-
Comentário: As condições pO(fom ser o mais variadas possí- ficar a outra, por escrito, com antecedência de 30 dia-..
vel, desde que acertadas pelas partes.
10. Se a rescisão ocorrer por iniciativa do CONTRATANTE,
3. Os pagamentos serão pagos em dinheiro, contra recibo, no este se compromete a comparet:er às sessões para a realízação
consultcírio do CONTRATADO. de procedimentos necessá1ios à manutenção da sua saúde oral,
até que ajuste novo tratamento com outro profissíonal. Este de-
Come11tárfo: A forma de pagamento também pode ser ajus- verá comunicar ao CONTRATADO, por escrito, que está
tada a critério das panes, desde que permitida pela lei, cos- recepcionando o CONTRATANTE cm seu consultório. O não-
tumes e Código de Ética Odomológica. cumprimento da presente cláusula desonera o CONTRATADO
de qualquer responsabilidade sobre decorrências inadequadas
4. O não-adimplemento do pagamento na data pactuada impli- devido ao tempo decorrido entre a realização dos seus serviços e
cará a íncídêncía de multa de 2% sobre o valor da parcela, hem o ajuste do novo profissional.
como juros moratóríos na razão de 1% ao mês e atualização
monetária, na forma da lei. 11. O CONTRATANTE se obriga, ainda, no caso de rescisão
do presem.e contraLo, a pagar o t:quivalente aos servíços contra-
Comentário: Os juros não podem ser compostos (íuros so- tados e já realizados.
bre juros). Rstes são vedados pda lei.
12. Se a rescisão ocorrer por iniciativa do CONTRATADO, este
5. Para a realização do serviço, o CONTRATADO se obriga a se compromete a realizar os procedimentos necessários à manu-
atender o CONTRATANTE durante n sessões semanais. duran- tenção da saúde oral do CONTRATANTE, até que ajuste novo
te n meses. tratamento com outro profissional. Este deverá comunicar ao
CONTRATADO. por escrito, que está recepcionando o CON-
Comefllário: O profissional deve.fazer uma média de atendi- TRATANTE em seu consultório. O CONTRATADO fornecerá
mento semanal. Além disso, deve descrever o tempo que du- ao novo profissional todas as informações e documentos para que
rará o tratamento. baseado nessa médía. o tratamento se desenvolva com regularidade, visando sempre
ao bem-estar e manutenção e recuperação da saúde oral do
6. O tratamento prestado pelo CONTRATADO desenvolvcr-se- CONTRATANTE.
á em duas fases: na primeira. serão feitas duas intervenções ci-
rúrgicas para a realização de enxertos ósseos na região dos den- 11. O CONTRATADO se obriga, aínda, no caso de rescisão <lo
tes 16 (primeiro molar superior direito) e 26 (primeiro molar presente contrato, a devolver imediatameme a quantia já paga
superior esquerdo). Apó-. a c:icatri7.ação e verificação do suces- pelos serviços contratados e não realizados.
so da primeira fase, será realizada a segunda, constituída da im-
plantação de implantes nas regiões. Comentário: Ninguém é obrigado a comratar ou a manter
contrato com outra pessoa, ainda mais ,w relacionamentu
Comentárú,: A cláusula .rnpraciladajc)i colocada para exem- paciente!pn~fissimwl, em que pode haver intolerância 011 in-
plfficar t:nmo o profissional pode e deve adequar o contraio compatibilidade de parte ou de aml>as as partes, o que
de acordo com a necessidade e caracterfstíc:a do e.xerc{cio inviabiliz.a a continuidade do tratamento. De posse d(!ssa
pn~fissional. n•a/idade, é conveniente que o contrato preveja a .ma disso-
lução, de forma dara e precisa, presnvando-se o direito de
7. Caso o CONTRATANTE não compareça às consultas todas as partes envolvidas 1w relacionamento jurídico.
agendadas prevíamente, sem justificativa, nem se comunique com
o CONTRATADO para desmarcar as consultas com 48 horas As partes contratanlcs elegem o foro de Ribeirão Preto-SP,
de antecedência, aquele pagará a este a quantia de RS 100,00 (cem para dirimir qualquer dúvida oriunda deste contrato.
reais) por consulta.
Come11tário: Norrrwlmente, as partes podem ajustar o local
8. Caso o CONTRATADO deixe de atender. semjustificativa, em que querem resolver as pendéncias decorrentes do con-
ao CONTRATANTE sem comunicá-lo previamente, com 48 trato. Poràn, como se trata de uma rdaçüo de consumo, l
horas de antecedência, este terá direito ao abatimento no valor comp('teme o domicílio do consumidor awor (ar1igo 101, /.
de R$100,00 (cem reais) por consulta nas prestaçf>cs futuras a do Código de Defesa do Consumidor).
serem pagas ao CONTRATADO. Se o CONTRATANTE nada
mais dever ao CONTRATADO, este receberá a quanlia na pri- E para firmeza e rnmo prova de assim haver contratado, fize-
meira consulta em que retomar ao consultório daquele. ram este instrumento parLícular. datilografado, cm <luas vias <lc
186 O Co11trato de Hmwrârios de Prestação de Serviços

igual, assinado pelas partes contratantes e pelas testemunhas


assinadas, a tudo presentes. BIBLIOGRAFIA
Riheirão Preto, 27 de dezembro de 2001. Alvim. A. Da Jnexecução das Obrigarões e suas Conseqiiê.ncias. 5.ª ed.
São Paulo: Saraiva. 1980.
Azevedo, A.V. Teoria Geral das Obrigaçcie.1·, 8.ª ed. São Paulo: Revis-
zzzz ta dos Tribunais, 2000.
CONTRATANTE Belli, M.M. Por Your Malpmctice Defense. 2"J ed. Ornde\l. New Jersey:
Medical Economics Roüks, 1989.
XXX Benjamin, A.H. V. et al. Comentários ao Código de Proteçi'io ao Con-
CONTRATADO swnidor. São Paulo: Saraiva. 1991.
Rueres. A.J. Responsabilidad Civil de las Clinicas v Es1ablecimie11ws
Medicos. Buenos Aires: Ábaco. 1981. ·
Coelho, J-1.L:. Manual de Direi10 Comercial. 12.• ed. São Paulo: Sarai-
TESTEMUNHAS va, 2000. 480 p.
Cristiano. R. Obrigaçiies de Meios e ObrigaçiJes de Res11ltado. ln RT
554/28.
Estrela, C. Mtiodolo,:ia Científica. Ensino e Pesquisa em Odonwlo.(!ia.
São Paulo: Artes Midicas. 2001, 483 p.
Grinover, A.P. et ai. Código Rrasilâro de Dtfesa do Comwnídor. 6."
ed. Rio de Janeiro: forense Universitária, 1999.
Comentário: As te.~temunhas devem ser qualificadas como as Lópe7., J.A. Los Médicos y La Re.~ponsabilidad Cívil. Montevi<leo:
partes o foram. no início do contrato. Montecorvo. 1985.
Miranda, P. Tratado de Direito Privado, 2." ed. Rio de Janeiro: Foren-
se. 1958.
Salientamos que o presente modelo é apenas cxcmplificativo,já que Monteiro, W.B. Curso de r>ireito Cfril: Parte Gaaf. 28.º ed. São Pau-
as situações práticas são inúmeras. Reproduzi-la<; aqui, além de impossí- lo: Saraiva, 1989.
vel, demandaria trabalho sobre-humano. ~ão temos a prclcnsão de, Monteiro, W.B. Curso de Dirâto Civil: Direito das Obrigaç<ies - I !
nem conseguiríamos, pois, esgotar as possibílidades de exemplos. parte, 25.' cd. São Paulo: Saraiva, 1991. vol. 4. 350 p.
Dessa forma, compete ao profissional ajustá-lo às suas neces- :'v1onteiro, W.B. Curso de Direito Civil: Direito das Obrígaçiies - 2:
sidades e peculiaridades do seu exercício profissional, da sua parte. 25.' ed. São Pauk,: Saraiva, 1991, vol. 5. 424 p.
especialidade. Por exemplo, aqueles que trabalham com prótese '.'fones, L.A.R. O Código de Defesa do Consumidor e sua fltterpreta-
podem prever que o paciente pague o trabalho do protético c!ire- ção .lurísprude11cial. São Paulo: Saraiva, 1997.
Rodrigues, S. Direito Civil: !'arre Geral. 16! ed. São Paulo: Saraiva.
tamente a ele (recordar que isso não lhe tira a responsabilidade
1986, vol. 1.
sobre o trabalho realizado pelo técnico). Santos, A.J. Dano Moral l1uienizârel, 2." cd. São Paulo: Lcjus. 1999.
Assim. orçamentos podem fazer pmtc do contrato como aditivos, Segrc. M. et ai. Compêndio de Medicina Legal. São Paulo: Saraiva,
desde que previ.<;.10 coniratual exista e eles tcnhmn sidl >a<;sinad< is pelo 1987.
pacíente. As páginas do concrato devem ser rubricadas pelas par- Varela, J.M.A. Das Ohrígaç(kç em Geral. 4i' ed. Coimhr:i: Almedina.
tes, com exceção da última, que recebe as assinaturas dos mesmos. 1982,vol. 1.
.... ;.,· .

. .' . ~
. .......
·

·. :>·:· .:· _::· ·:.


. .. . .·. . . .· .·
. . . .

ANTROPOLOGIA FORENSE

·-···-····............................-.................. ..,.., ..... _ , _ , ..,...........................................-....- ....,............ -........ .............., -.........


27
. . . .

·O Papel da Antropologia Forense -


Uma Introdução
Jorge Paulete Vanrell

Na nossa cultura ocidental - e esse falo é singularmente A ação permanente da seleção natural sobre os indivíduos de
notório nas ciências biológicas-, aprendemos a pensar cm for- uma espécie e um conjunto de razões levam a um balanço rela-
ma descontínua: classificamos. organizamos, arquivamos e. as- tivo das populações, que sói produzir diferenciações que, final-
sim, observamos a realidade sob essa percepção. mente, podem levar a um isolamento reprodutivo e à geração de
Nosso cérebro nunca vê um filme completo e contínuo, antes uma nova espécie.
apenas slides ou diapositivos da realidade. Ao longo desses processos, intervêm razões geográficas. eco-
É dessa forma, própria do pensamento grego. notadamente lógicas, sazonais, etolÍ>gicas, motfológícas, fisiológicas etc .. sem-
mistotélico, que se originou toda a nossa cosmovisão ocidental. pre panindo do princípio de que o
que nasceu toda a nossa ciência, sempre classificando, organi- ' Fenótipo = genótipo + inftuências do meio
zando, arquivando.
Destru1e, as populações carregadas de polimorlismos dão ori-
Isso ensejou fantásticas controvérsias históricas, especial-
gem a grupos diferenciáveis que, classicamente, têm se denomi-
mente fecundas nos séculos XVIII c XIX, uma vez que o frag-
nado raças e. potencialmente. a subespédes, segundo o grau de
mento de realidade que cada um percebia podia ser diferente
diferenciação - de acordo com diferences critérios que podem ser
daquele que um outro captava e, sobretudo, os intervalos que
adotados - e segundo o progressivo isolamento reprodutivo.
separavam as percepções podiam dar azo à formação de outra
As populações humanas distinguem-se entre si, desde épocas
imagem da continuidade com a qual pretendiam explicar os
remotas, por uma série de u-aços - morfológicos, funcionais e!
fenômenos.
ou psicolí,gicos -que. cmhora variados, se distribuem com uma
Os estudos da genética clássica souberam reconhecer o com-
tendência central - a média - e freqüências menores que se
plexo caminho da especiação quando ainda era desconhecido o
afastam da primeira (Rodríguez, 2001).
código genético. Em todas as espécies com reprodução sexual e Foí assim que nossa espécie - Homo sapi.ens sapiens - tem
fe11ilização cruzada, existe um fluxo permanente de mutações, sido dividida e subdividida cm suhc-.pécies ou raças. sempre com
geradas por agentes físicos, químicos e, mesmo, por erros na a finalidade de sistematizar os dados de que se dispunha. com o
duplicação do ONA. escopo de conseguir facilitar o seu estudo.
A própria recombinação rneiótica é a fonte mais importante Todavia, os limites de todas essas classificações são ambí-
de reordenamento gênico e variabilidade. uma vez que se pro- guos e, freqüentemente, alicerçam-se sobre pressupo5tos ine-
duz, de forma impositiva e irretorquível, cm, pelo menos. um xatos que, corno é curial, apenas podem induzir a erros e. o que
ponto ou local para cada um dos cromossomas de cada gameta, é pior, o mais das vezes, encontram-se envolvidos embrumo-
isto é, das únicas células de um indivíduo que darão origem a sos sentimentos e/ou em duvidosas posi1.;ões morais e econô-
um novo ser (com a exceção, óhvia, da reprodução vegetativa micas, totalmente afastadas dos mais comezinhos princípios
cm plantas). científicos.
Os mecanismos de reparo do DNA constituem um dos me- Na opinião de Rodríguez (op. cit.):
canismos permanentes do halanço entre a organização a que
tende o programa informático que constitui o genoma de una "en la medidade su hipotética realidad. las razas deben
espécie e a tendência natural à desorganização. ao aumento ser consideradas a lo sumo como conglomerados de
de entropia, ao caos. A deterioração progressiva da eficiên- poblaciones que comparten una historia biológica
cia desses mecanismos é uma das razões mais conspícuas do eomún cn virlud de los proccsos evolutivos de mutaci-
envelhecimento. ón, selección natural, deriva genética y ílujo génico".
190 O Papd da AmropoloRía Forense - Uma 1111.rodução

Considerando a importância e a significação da globaliza- espanhóis, holandeses e outros, com os indígenas e com os
,;-ão paulatina a que assistimos nos últimos séculos, o proces- negros africanos trazidos como escravos, entre os séculos
:-o de fluxo gênico ou migração gênica tem se convertido no XVII a XIX, acabou por produzir um país com uma alta taxa
cerne da transforn~ação da estrutura genética das populações de mestiçagem.
contemporâneas. E por isso que. do ponto de vista evolutivo. Pesquisas esparsas, levadas a efeito no Brasil, põem em evi-
uma raça não é uma concep[jãO pétrea, antes é uma categoria dência que o País. como um todo, tem uma (;omposição genética
transicória. dinâmica, que muda de forma e de freqüência. ao triétnica. Os diferentes genes caucasóides. mongolóides e negrói-
sahor das condições históricas. geográficas, morfológicas e des têm lido uma distrihuição diferencial pelas distintas regiões
etológicas. brasileiras, isso mais em vittude de proce-.sos históricos, o qL1c
Com o fito de elidir as dificuldades inerentes ao estudo da tem levado pesquisadores alienígenas ao conceito de que a cul-
variabilidade das populações humanas, as mesmas têm sido agru- tura con11ibui para a segregação dos genes, co,mariando o que
padas - seguindo o critério organizador antes mencionado - os geneticistas do século XIX aceitavam como verdades incon-
cm grandes troncos geográfico-raciais, cognominados caucasói- testes, desprezando, entre outros, os elementos socim:ulturais.
de, mongolóide e ne~róide. econômicos etc., como capazes de inlluenciar nos resultados da
Esses grandes troncos, afinal, agrupam tendências no conjunto miscigenação preferencial.
de traços anatômicos. mais do que uma real origem geográfica: Apesar de a população brasileira, em geral, compo1tar a grande
a cor da pele, os caracteres prosopográficos, a fonna do crânio maioria dos genes. o que faz a diferença enu·e regiões ou entre
ou a forma do cabelo. populaçõcfs é a maior ou menor freqüência com que aparecem
Os Caucasóíde.~ encontram-se dispersos por todo o mundo, distribuídos esses genes.
desde a Europa até a América, na África, na região tropical nor- Ce1tos Estados. inquestionavelmente, são mais caucasóidcs
te (Saara) e no extremo sul. na Austrália e na Ásia (regíão da Si- (rnmo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná); outros são
béria). Os Mvngofôides encontram-se originalmente na mais mongolóides (como os da Região Norte ou Amazônica):
Mongólia, no nordeste da Ásia. mas também são achados nas por último. a costa atlântica do Nordeste, dcs<lc a Bahia alé a
Américas aborígenes. Por derradeiro, os Ni'grúides, por sua vez, Parafüa, concentra o maior contingente negróide.
são encontrados na África central ou tropical, no sul da Índia Pelo ex.posto pode vc1ificar-se que a definição de raças ou gru-
(vedas), na Austrália selvagem e formando os grnpos afro-ame- pos raciais, pelo menos até o século passado, estava emhasada ape-
ricanos, a pattir da difusão da escravidão. nas em características fenotípicas, e não cm características
Os pesquisadores cada vez mais - notadamente no século genotípica<;, seguindo os mesmos critérios como se definiam outras
XX, como enfatiza Le Gros Clark, 1976 - , preocuparam-se por raças animais: dos caninos. dos bovinos, dos eqüinos, do" suínos etc.
caracterizar e fixar os principais traços que constituem o padrão Todavia, o problema suscitado pelas dassificações não resi-
morfológico integral de uma população. Por outras palavras, de nesse ponto. mas na utilização social e política da noção fe-
dete1minar o conjunto de traços morfokígicos que permitirão notípica de raça na espécie humana.
Com efeito, os geneticistas têm denominado raças. com um
identificar seus membros.
critério evidentemente operativo, a agrupamentos de populações
Nessa linha de raciocínio, vários elementos são considerados,
de espécies animais ou vegetais. que podem·~er separadas scgun-
cm face de sua função adaptativa. como:
do critérios muito diferentes.
• as características morfológkas diagnóstico-diferenciadoras. Nas primeiras fases, como vimos. essas separações foram
• a distribuição geogrática compacta, isto é. com elevada feitas tomando como base ciitérios mo1fológicos. Posteriormente,
densidade populacional em determinada área territorial, e incorporaram-se caracteres metabólicos, bioquímicos ele., sem-
• a profundidade temporal, isto é. até onde é possível fa- pre caracterizados pela freqüência ou predominância de deter-
zer retroagir os registros pré-históricos (que, na prütica, minados alelos.
remontam ao Período Paleolítico Superior. em tomo de Dessa maneira. o número e as características das ·'raças"'
35.000 anos atrás). de uma espécie. animal ou vegetal, podem diferir bastante, se-
gundo os critérios que se empreguem para efetuar a separa-
Estes são, pois, os elementos que se constituem em traços
ção. ~o caso concreto da espécie humana, esta tem sido cata-
seguros e consistentes para poder diferenciar os chamados tron-
logada como uma espécie ''politípica•·, isto é. bem diferenci-
cos raciais: caucas6idc, mongolóide e negróidc.
ada geograficamente.
Estudos populacionais, realizados por antropúlogos no es-
Toda a triste história do uso do conceito de rai.;as aplicado à
trangeiro (Woo et ai., 1934; Krogman & Jscan, 1986;
espécie humana (afora o uso da palavra como termo operativo
Rodríguez, 1987). põem em evidência que os principais tra-
empregado pelos geneticistas no estudo da evolução) é que tem
ços raciais diferenciadores são as medições craniométricas e
sido utilizada para justificar exploração, eugenia, exclusão. no
faciais de projeção, cujos valores podem ser obtidos de uma
marco de uma exploração do homem pelo homem que não te-
maneira bastante fácil com o auxílio do compasso de abcrlu-
mos sahido nem conseguido superar.
rà (compasso de coordenação ou simômetro) e o goniômctro. l\ão se pode nem justificar nem emhasar esse tipo de com-
Os resultados dessas medidas permitem quantificar o tipo do
portamento cm diferenças que formam parte da biodiversidade
crânio, bem como o grau de saliência ou projeção do esque-
em nossa própria espécie, e que constituem parte da riqueza que.
ldo facial, dos ossos nasais, dos malares, do maciço alveolar como espécie biológica, nos caracteriza e nos tem diferenciado
superior ou maxilar, e do complexo mandibular, como se ven\
na evolução da vida na Terra.
no capítulo seguinte. Nesta análise poderemos encontrar alguns conjuntos de pro-
Os parâmetros já mencionados podem utilizar-se. com fa- blemas diferentes, a saber:
cilidade, para delimitar os grandes grupos geográfico-raciais.
Todavia. esse procedimento pode ver-se dificultado cm um • biológicos,
país como o Brasil, onde o processo de miscigcnaçf10 dos con- • sociais,
quistadores europeus, notadamente portugueses, mas, depois, • epistemológicos.
O Papel da Amrnpnlogia Forense - Uma flllrodução 191

Biologicamen te, verificamos, pelo menos. dois fatos interes- tido na lslfmdia, na Letônia e cm algumas cidades dos Estados
santes: Unidos (Wettstcin, 2001).

>"'" a definição fenotípica de raça, que antecede à noção genô- Socialmente, cxsurgc um outro problema:
mica. e
;..,. a dificuldade para encontrar "marcas" genômicas no pa- > fa, sentido falar em raças humanas?
cote fenotípico que define uma raça. , Obs~rva-se que, do ponto de vista social e político, a resposta
e negativa, mormente p<1rque se uti Ii zam as diferenças fenotípi-
É importante confirmar que o estudo do genoma humano
cas como critérios de valor.
completo, baseado cm amostras de DNA provenientes de 10
Pari passu, os argumentos genotípicos evidenciam que a va:
pessoas. oriunda.'> de grupos étnicos diferentes, demonstrou
riabilidade genômica entre grupos de característica s fenolíp icao,;
que é significativa mente maior a variabilidade gên ica, is to é,
homogé:ncas é tão grande quanto entre aqueles de caracterí.sti-
as dife renças entre indi víd uos de um mesmo grupo, que a
cas fcnotípicas difc rente5, o que põe por ten-a u noção de dife-
ex istente entre indivíduos provenientes ele grupos étnicos
diferentes. rença dentro dos critérios genotípicos.
A s diferenças fenotípirns, quiçá, não deveriam ser chamadas
É mis ter esclarecer que. no eslado atual do conhecimento da
"diforenças" , mas qualidades ou expressões diferenciais dos
?enética molecular, não é possível separar, nas suas bases de
mesmos genes, isso sem contar mos que, talvez. o problema nem
m_f~rmação, um caráter fcnotíp ico de sua origem genotípica. Com
esteja no genoma, mas na sua regulação, a qual a inda está m uito
e~e.1to. qualquer caráter fenotípico que seja usado é conseqüên-
longe de ser compreendid a.
cia da expressão de um ou mais genes que codificam as molécu-
Por outra\ palavras, qual o significado do crescimento de um
las efctoras desse caráter.
dado osso, do depósito preferencial de gorduras em determina-
Outro <los grandes aportes dessa etapa da ·'década da «e-
das regiões o~ do aparecimento de ceita pigmentação cutânea,
n_ôm ica'·, especialmen te da análise do genoma humano, t;m
do ponto de vista genômieo? Como isso se relaciona e engrena
sido a confirmação de que somos não somente um "saco" de
com as demais variáveis no entorno da regulação da tradução,
várias dezenas de milhares de genes, mas que convivemos com
da expressão. do transporte. ou das mais complexas regulações
uma enorme diversidade e m nossos próprios genes, e que o
provocadas por estímulos externos e pelas mudanças contínuas
grau de polimorfis mos (muitos dos quais inócuos) é extrema-
de adaptação':
men te alto.
F.pistemnlngi cwnentl', em terceiro termo. uma vez que, com
Na medida cm que os estudos genômicos individuais setor-
grande pmha hilidadc, o problema tampouco esteja apenas nes-
nem populacionai s, poderemos quantificar com maior exatidão
ses fatos . mas na "arbitrariedad e.. com que esses conceitos fo-
essa variabilidade natu ral na nossa bagagem genética. :Muitas
:ªm esta_belecidos. associados aos conhecimento s disponíveis e
dessas mutações determinam uma maior susccptihilida de a de-
a necessidade de uma classificação descontínua, própria do pen-
sen~olve~· patologias, espontâneas ou induzidas por agentes
amb1enta1s. samento aristotélico que rege a nossa cosmovisão ocidental, como
mençionamos logo no início deste capítulo.
As condições que pode m ter gerado esses agrupamento s
A história das raças. certamen te, não escapa a essa .. necessi-
populacionais podem ser reversíveis: pensemos na espécie hu-
dade .. particular do pensamento ocidental. donde sua explicação
mana, nos grupos étnicos, provenientes de um tronco ancestral
atra\'és de fenótipos que não estão perfeitamente correlaciona-
comum, dif~r:enciados por razões geográficas, migratórias etc ..
dos com a leitura genotípica.
e que. modificadas atualmente as condições, pela mobilidade
O passo seguinte, que consistiu em outorgar valores a essas
presente de nossa espécie, pelas no vas correntes migrat6rias e
dassificações fenotípicas, hipotéticas e arbitrárias, é um mérito
pela globalização cultural, de monstram elas a capacidade de rein-
exdusivo da imb_eci lidadc humana, cm um grau superior àquele
tegração de citados grnpamentos , sendo fatores importantes de
que gerou o cammho da visão cósmica ocidental, den1ro das li-
s~paração ou segre.gação o s fatores culturais, religiosos ou
nhas do pensamento grego, do qual ainda somos incapazes de
simp lesmente de costumes locais (e não um verdadeiro isolamen-
nos liheram1os.
to reprodutivo).
~or derradeiro, é impossível excluir que essas classificações
Os estudos de gcnômica comparada já nos têm feito compre-
esteJam rnmpletame.nte desprovidas do desejo de identificar o
ender que pouco nos separa dos grandes macacos (1 ,5%) e, ain-
outro não como uma parte idêntica de mim, meu próximo. mas
da, de outros mamíferos cujo genoma apenas estamos conhecen-
de buscar-lhe a diferença atra vés da qual possamos expressar o
do (como o camundongo e o rato, com os quais compartimos um
nosso desejo de opressão, de submissão e de incorporá-lo a mim
percentual muito ímpo11ante de nosso genoma). Esses estudos
já vencido, como fonna de compensar a minha fragilidade, o me~
também nos permitirão ra<;trear, com alta eficiência, a trajetória
temor à vida, a minha falsa ilusão de poder. de imortalidade e de
das migrações dos hominídeos e a origem atual dos grupos étni-
infinita pequenez, cm face da enorme dimensão do Universo
ços de nossa espécie.
(Lema, 2001}.
Em um futu ro próximo, em termos genéticos. cada vez sahc-
rcmos mais claramente que mutações e que alelos predominam
na~ populaçôe).; de diferentes partes do planeta, com os conse-
gu111tes benefícios para a medicina preventiva. BIBLIOGRAFIA
Também poderemos te r dara a quantificação da variabílída-
de interindividu al, em di ferentes populaçf>es, caso, finalmente. Dobzhansky. Th.. Ayala. F.A., Lcdyard Stcbbins, G. e Valeminc, .I.W.
algumas sociedades aceitem a confecção de bancos <le dados de F.voluciân . Barcelona: F.d. Omega.. 1980.
DNA de populações completas, tema este em plena disrnssão, Dunn. L.C. and Dobzhansky, Th. Hert•dily. Race anti Societv. 3rd ed.
pelas suas implicações éticas e pelos riscos que para o indivíduo New York: New Amcr. Lib r. of Worltl Lit.. 1957. ·
tem a açessi.bi.lidad e a essa informação, como vem sendo discu- Herskowit7., H. Geneiir:s. 2nd ed. Little, Brow~ and Co .. 1965.
192 O Papel da Antropologia Forens~~ - Uma Introdução

Kroeman, W.M. and lscan, M.Y. The Human Skeleton ín Forensíc Rhine, J.S. e Campbcll, H.R. Thickness of facial tissues in american
i\fedicine. Springficld, Tllinois: Charles C. Thomas Puh., 1986. blacks. .loumal of Foremic Sciences, 25(4 ):847-858. 1980.
Le Gros Clark, W.E. t:l Testimonio Fósil de la Hi:olución Humana. Rodríguez J. V. La (hteología Etnica. Algunos A.1pectos Metodolôgico,-
México: Fondo de Cultura l:::conómica, 1976. Técnir:os. Bogotá, Cuaclemos de Antropología, Dpto. Antropología.
Lema. F. Comunicação pessoal, através da lista de discussão ''Clínica- lJniv. Kal. Col., 12, 1987.
L", 2001. Sinnott. E. W., Dunn, L.C. and Dohzhansky, Th. Principie.~ ofGenefics.
Mayr, E. •4.11imal Specíes and Evolutim1. Cambridge: Harvard L"niv. McGraw Hill Rook Co.. 1950.
Press, 1963. Stent. G.S. Genética Molecular. Barcelona: Ed. Ome!.!a. 1973.
Mayr, E. Systemalic~ and thc Origin of Species. New York, 1942. Wettstein, R. Comunicação pessoal. através da lista d; discussão "Clí-
Ramos, O.F.. Yunis, E. e Yunis, J. J. Aplicaciones de la genética mole- níca-L", 2001.
cular en la práclica forense. Va. Fac. Med. Univ. Na/. Col .. Woo, T.1 .. and Morant, G.M. A hiometric study of the "ílal-ne.ss'" of the
4/(4):191-199, 1993. facial skeleton in man. Biometrika Q.ondon). 26( 1-2): 196-250, l 934.
IDENTIDADE ,,.,,,E
IDENTIFICAÇAO

___ ,.,, .........,_,,, _____ · - - - - - ...-..................--·-··-----·------


28

Identidade e Identificação
....... _______ .........__ .....,----·--··------·--·----------------·----···------·--·----
, ,

Jorge Paulete Vallrell

E observava esse autor que "o nome cívil q,u•. simholicame11-


IDENTIDADE te, sintetiza a personalidade de alguém, reprôenta tlio som<mft'
a indívidualidade jurídica da pessoa que o traz. e nüo a nat11ral.
A Identidade é o conjunto de caractne sjfocos, fimcionaís <' É um atributo artificial. alterável, mutável pelo indivíduo físi-
psíquicos, natos ou adquiridos, porém pennanentes, que torna co".
urna pessoa díferenlc das demais e idêntica a si mesma. O ar1. E, à procura de referido nome antropolôgíco de cada pessoa.
307 do Estatuto Penal vigente define a identidade assim: "O os povos. as autoridades, as nações conceberam processos de
conjunlv de caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa". identificação dos mais diversos e variados, dos mais simplório~
Isso, em sentido estrito. refere a identidade como sendo a aos mais esdrúxulos, até descobrirem o dactilograma.
··identidadeffrica". É que. no sentido amplo, além da identida-
de física, incluí todos os elementos que possam individualizar
uma pessoa. como: estado civil, filiação, idade. nacionalidade.
condição social, profissão etc. E. a ratificar essa asserção. veri- IDENTIFICAÇÃO
ríca-se o enorme número de dispositivos legais que exigem a
identificação civil para o exercício de direitos. Basta comparar o Identificação já é o processo que compara esses caracteres,
número de pessoas identificadas civilmente pelo processo procurando as coincidências entre os dados preYiamcnte regis-
datiloscópico com relação ao número de c1iminosos identifica- trados e os obtidos no prc-.ence. Por outras palanas. Identifica-
dos pelo mesmo processo. ção é um conjumo de procedimentos diversos para indíviduali-
Todavia, ocorre que o nome dado a uma pessoa, bem como o t.ar uma pessoa ou objeto.
estado civi 1, fil iaçào. idade. nacionalidade, condição social, pro- Em virtude da infinidade de arranjos genéticos possíveis, cada
füsão e outros, não deixa marca indelével na sua estrutura físi- indivíduo tem os seus caracteres próprios. desde a concepção até
ca, podendo ser modificado a qualquer instante. muito depois de seu decesso.
Daí a afirmação de Leonídio Ribeiro. um dos baluartes da
identificação civil no Hrasil. sobre as exigências que deveriam
ser feitas a um sistema de identidade: ··Ao lado da identidade Requisitos Técnicos
f)OSitiva. que confere um IÍníco nome a dnaminada P<'Ssoa, com Para que um processo de identificação seja aplicável. é ne-
direitos e ohri{!.açôes a ela inerentes, dev<1-se considerar a iden- cessário que preencha cinco requisitos técnicos elementares, a
tidade negaih-a, que impedl' atribuir ao indivíduo o u:w de nome -.aber:
que lhe não cabe, anulando os aios que o mesmo. porventura,
lenha pralicado indevidamente. comjins ilícitos ou criminosos." • Unicidade ou individualidade - é a condição de não ver
Afirmava Amacio Ferreira ( 1948), que "para sefalarde iden- repetido em outro indivíduo o conjunto do-. caracteres pesso-
tidade pessoal inconteste, indeléFel. nos indivíduos de vida jurí- ais. isto é. apenas um único indivíduo pode tê-los.
dica. tnn-se de.fixar o nexo de identidade entre o nome (perso-
nalidade juridica) e o homem (pessoa física). Este nexo de iden- •Imutabilidade-é a condição de inaltcrabil idade por toda a
tidade luí de ser esiável, inallerâvel, permanmte, derivado dos existência dos caracteres: por outras palavras, são caracteres
rnraC'taes.fisicos do homem<' que reúna todas essas condições. que não mudam com o passar do tempo. O peso do corpo é
lem-se de procurar, para cada homem, niio um nome civil, mas um dos caracteres mais mutáveis <la pessoa: sua altura, ainda
11111 nome inapagável. natural. um nome antmpoló,:ico''. que bem menos mutável. varia etc.
1% ldentidi.1de e /de111![icuçlío

• Perenidade - é a capacidade de certos elementos de resistir MÉTODO DE BERTILLON (bertillonage)


à ação do tempo. Idealizado por J\lphonse de Hertillon, em Paris, e aplicado
desde 1879. Baseado na fixidez e na variedade do esqueleto:
• PraticabiJidade - é a condição que toma o processo apli- medem-se os diâmetros transverso e ântero-poste1ior do crânio;
cável na rotina pericial. É, enfim, a qualidade que permite que a estatura; a envergadura e os comprimentos do antebraço, do
certos caracteres sejam utilizados, como: custo, facilidade de pé, dos dedos médio e mínimo do lado esquerdo. Consta de:
obtenção, facilidade de registro etc. Métodos há que podem
• Assinalamento antropométrico: medi~t"'>es corporais
ser de excelente qualidade em tcmms de identificação, e.g.
• Assinalamento descritivo = fotografia sinalética = foto
perfil de DNA, todavia o seu elevado custo, bem como adi-
freme e perfil direito de 5 X 7 cm
ficuldade material de aplicação, dificulta sua utilização de
• Assinalamento segundo marcas particulares ~ manchas,
forma rotineira.
marcas, cicatrizes etc.
• Classificabilidade - é a condição que torna possível guar- O método de Bertillon foi utilizado no fim do Brasil Impé-
dar e achar, quando prcci-.o, os conjuntos de caracteres que rio e no começo da fase republicana, trazido pelos penalistas
são próprios e identificadores das pessoas. Isto é, a possibili- que visitavam a i-;rança e ficavam maravilhados com os seus
dade de classificação para facilitar o arquivamento e a rapi- resultados. E isso era possível, à época, porque a carceragem
dez de localização em arquivos. de Paris conta, a apenas com uns 200 condenados. Sua aplica-
bilidade nos termos cominentais do Hrasil, bem como para um
número infinitamente maior de detentos, fez com que seu uso
se tornasse bem mais restrito. e a euforia inicial cedesse a uma
IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL realidade diferente. :\"ão obstante, o ranço da hcrtillonagcm se
encontra. aqui e acolá. em diversos documentos de identidade
Por óbvio, a identificação criminal. ainda que, como mencio- em que se colhem. além dos dados da identificação civil (nome,
mívamos antes, seja menos freqüente que a civil, sempre prco- filiação. idade. nacionalidade, estado cívil, profissão etc.), ele-
i.:upou mais aos povos. Com efeito, eis que havia a necessidade mentos que correspondem aos antigos assinalamentos
de caracterizar, desde logo e a distância, os agentes criminosos, antropométriro (altura e peso), descritivo (as fotografias
até como forma de facililar a sua segregação do grupo social. sinaléticas usadas nos passaportes até a dérnda passada) e se-
:'.'l'essa esteira, os procedimentos concebidos. através dos tem- gundo nwrrn} parJiculares (tipo e cor de cabelos, cor de olhos
po8. para a identificação criminal foram os mais diverso~. mas pela íris esquerda, manchas congênitas, cicatrizes etc., como
sempre deixando marcas evidentes. com,ta\·a de algumas carteiras de identidade, e.g. as fornecidas
Nesse sentido. civilizações mais antigas t.êm utilizado a~ pelo Exército, anteriores à uniformizaçào nacional dos centros
mutilações como fonna de punir e, ao mesmo tempo, identificar de identificação pela Polícia Civil).
o criminoso. Tal o que acontece, de acordo com a lei islâmica.
com o ladrão que, após um julgamento sumário, tem a mão di- .\IÉTODO GEOMÉTRICO DE MA THF.IOS
reita amputada por desarticulação. Consiste na confrontação de medidas, sobre fotografia, da
A marcação com ferrete (ten-o cm brasa), por queimadura. foi face. Esse método é a essência do exame pro:-.opográfico e
bastante utilizada, tanto na Europa quanto no Brasil. Por exem- prosopomélrico (cf infra), em uso até a década passada em al-
plo, no reinado dos Capelos, marcavam-se com ferrek represen- guns laboratórios e/ou a pedido de detenninadas autoridades.
tando a ilor-de-lís da Casa de Bourhon, na regiilo deltóidca ou
na região escapular, oi, criminosos, depois de julgados e conde- .MÉTODO ODONTOLÓGICO DE AMOEDO
nados. quer à prisão, quer às galeras. As prostitutas eram marca- Consiste no lcvantamemo dos dentes de ambos os arcos den-
das com fcnete em um dos quadrantes superiores da mama es- tais, superior e inferior, com o assinalamento das particularida-
querda, de modo que o uso dos decotes ousados da época não des de cada dente.
lhe permitissem esconder a marca.
Estes se constituíram cm métodos de identificação empíricos. MÉTODO OTOMÉTIUCO DE FRJGÉIUO
Mais modernamente, a evolução da~ legislações ocidentais Baseado nas formas e nas medidas dos pavilhões auriculares.
não deu mais guarida a esse tipo de marcações empíricas. pas-
sando a se procurar outras formas de individualizar as pessoas MÉTODO CRANIOGRÁFICO DE ANFOSSO
menos cruentas e mais práticas que. afinal. atendessem aos cin- Determinação dos perfis cranianos e dos ângulos formados
co critérios já aqui elencados. pelo l ." e 3." quirodáctilos direitos.
Dessa forma começaram a aparecer os denominado-. métodos
científicos, que, por sua vez. podem ser divididos em três gran- MÉTODO ONFAJ,OCR.,\t'ICO DE BERT E VIAMA V
des grupos. a saber: Constituído pelo levantamento gráfico da cicatriz umbilical.

• os métodos antropométricos: hertillonage, método geo- MÉTODO FJ,EDOGRÁFICO DE TAMASSIA


métrico de Matheios, método odontológico de Amoedo, Representado pelo levantamento das ramificações venosas do
método otométrico de Frigério; dorso da mão.
• os métodos antropográticos: método craniográfico de
Anfosso, método onfalográfico de Ben e Viamay, méto- MÉTODO FLEBOGRÁFTCO l>E AMEUIU,E
do flebográfico de Tamassia. método flcbográfico de Consiste no levantamento fotográfico das veias da fronte.
Ameuille, método radiográfico de Levinsohn, método
oflalmoscópico de Lcvinsohn; ::\1ÉTOl>O RADIOGRÁFICO DE LJ:<~VlNSOHN
• os métodos dermopapiloscópkos: impressões digitais, Constituído pelo levantamento radiográfico minudente dos
impressf>cs palmares, impressões plantares e poroscopia. metacarpianos e metatarsianos.
Identidade. e lde11t/(irnçâo 197

A A
FUNDAMENTOS DA F
1----+-~--+-...---1-----<F

PROSOPOMETRIA
Consiste na decomposição analítica das proporções do rosto,
segundo a metodologia gcométrim-matcmátíca proposta por Ghika
D
( 1939). que verificou que citadas propon;õcs obedecem à regra do
"número de ouro" ou cânon pitagôrico. de acordo com a fórmula:
E
E
)5 + 1
<I> = - - H H
2
Na prática. decompondo-se o rosto, sohrc a fotografia em
norma frontal, traçadas as linhas auxiliares, é possível analisar
as proporções conforme se evidencia na figura a seguir:
e
"~,
B e
A
-~, B

F
.~............,..........,.~.......--~...~-~, A
. '' 1
..
, '
'' .•1
1

I
'

'
. '•

' \

..
1

I ,,
.
',\
1

~-=~ ~ .. - :l
' .. .. -
H •••••• J-------,iii--lí-ti-~:..._--..r,._~:..._____....D ..... -... ~:
. ~ .
'
l•ig. 28.2 Decomposição analítica das proporções do m:>lO da mãe rncima. à
\ ........ ,
esquerda). do suposto pai (acima. à clircíta) e da c.:rian~·a (abaixo. ao centro).
''
\
\

.
'
Os valores obtidos no estudo analítico podem ser \·istos. com-
\
.. I ' parativamente, no quadro a seguir:
1

' .
1 Proporção E.C.S. (m) F.J.S. (t) J.C.S. (sp)
'
AB
BC 1.59 1.60 1.54
Fig. 28.1 Traçado das linhas auxiliares de modo a inscrever o rosto no
dodecaedro platônico (Timeo). paradigma geométrico da harmonia AD '
rPrancha XX de Ghyka, 1939). f [) l.36 1,43 1,29

DB
' 1,41 1,49
EB 1.52
Na figura mostrada, pode-se verificar que as seguintes pro-
porçücs respeitam a seção dourada (<I>): FD
ED 1.74 2.53 l.86
AB _AD_ DB _...., DH
- - - - - - - - -· w
BC FD EB DE 1,76 2,09 1.82
EB '
FD = OH = EB = <'t> '
HB 1,65 1,81 ' 1.63
DE DE HB 1
CB
CB aa' bb' a a' 1,44 1.47 1,40
-=-=-=<J)
aa' bb' cc'
a a'
t, t,· 1,68 1.89 1.53
Como exemplo prático, ilustraremos um caso real de aplica-
~·ào cm comparação de fotografias cm investigação de vínculo
-
b t,'
genético, na década de 1980. quando o método estava em voga cc' 1,50 1,53 1,62
nos pretórios pau fütas. ·-
198 Jclentidade e Identificação

CLASSIFJCAHJLJl)Al)B
FUNDAMENTOS DA DATILOSCOPIA Tanto o sistema de Vucetich como o de Gallon-Henry permi-
tem, sem maior trahalho, a classificação de milhões e milhões
Conquanto a datiloscopia, como processo científico, seja de de indíviduais datiloscópicas em pequenos espaços, que, depois,
uso relativamente recente, suas vantagens já tinham sido desco- podem ser achadas com a maior facilidade. notadamente no pre-
bertas pelos chineses no século XII a.C., quando, para que os sente. com os processos informatizados.
contratos tivessem valor oficial, deviam levar aposta. além da
a~sinamra e dos cmimhos habituais na região, a impressão de um
dedo, geralmente polegar ou indicador dos sígnatários. Esta é uma
prova que os chíneses intuíam existir nos desenhos formados O SISTEMA
pelas cristas papilares das polpas digitais. característicos de in- DATILOSCÓPICO DE
dividualidade. Essa utilização empírica, pela proximidade, foi
adotada também pelos japoneses, no século Vll da nossa era.
VUCETICH
As ohscrvações realmente científicas iniciaram-se com o
anatomista italiano Marcelo Malpighi. estudando as cristas Vucetich observou, nos desenhos daliloscópicos, três grandes
papilarcs. sendo continuadas por Purkinje, que.já em 1823. ela- conjuntos de cristas papilares que fomiam os sistemas:
borou a primeira classificação dos desenhos dessas papilas. Sur- • central ou nuclear, o mais importante, em tomo do qual

•,;,•
giram, depois, os estudos de William J. Herschell, datados de -.e localizam dois outros.
1858, efecuados em Bengala (Índia), quando lá se encontrava a • basal e

-•..
serviço da Coroa Britânica, e, por fim. os de Sir Francis Galton. • marginal.
que apresentara sua classificação, em 1888, logo a seguir aper-
feiçoada por Richard Henry. resultando no sistema de ídenlifi-
caçào adotado pela Índia ( 1897), pela Inglaterra e pelos Estados
Unidos da América ( 1901 ).
Todavia, e sem qualquer somhra de dúvidas. o marco mais
significativo são os trabalhos desenvolvidos por Juan Vucetich.
um dálmata que migrara para Argentina e que, em 1891. sendo
Chete da Polícia da Província de Buenos Aires. na cidade de La
ti~ ....
Plata. elaborou um sistema extremamente simples e altamente

~~
eficaz que, publicado em 1901. logo foi aceito pela Argentina e
pelo Brasil ( 1905).
O processo está baseado na observação das figuras formadas
pelas cristas papila.res das polpas digitais. Essas cristas são for-
madas pelas ondulações da derme. que aparecem entre o 6.º e o
7, 0 meses da vida intra-uterina e que são revestidas pela epider-
-~
--~- -- --
me da área.
A datiloscopia preenche todos os requisitos de um proce~so
infalível de identificação, isto é: variedade. imutabilidade.
praticabilidade e dassificabilidade.
Fig. 28.3 Os três sistemas de cristas papilares que podem ser encontra-
dos cm um datik1grama.
...
IIIIIÍ

-....-
••
VARIF.DADE
Os ammjos dos desenhos papilares são incontá\eis. le\andoem Esses três sistemas de cristas dermopapilarcs podem variar em
consideração os elementos: qualitativos (fonnas do~ desenhos): suas dimensões - notadamente o nuclear, que se incurva, pau-
quantitativos (número de cristas entre dois pontos do desenho); latinamente, no sentido axial para. depois. tornar-se assimétrico
acidentais (cicatrizes): e topográficos (localização das figuras). para um ou outro lado. No local da existência de ponto(s) de
confluência entre os três sistemas, cria-se uma figura típica de-
nominada delta (.l) ou trirrádio. Em função dessa figura, as 1
IMUTABILIDADE
i mpressõe-. poderão:
Aproximadamente do sexto ao sétimo mês de ,ida intra-ute-
rina. até que a putrefação as destrua. as cristas papilares são in- ==> não ter delta ou trirrádio;
variavelmente as mesmas no mesmo indivíduo. Elas resistem, ao ==> ter um delta ou trirrádio, à direita ou à esquerda do obser-
passar dos anos, à ação dos agenlcs físico-. e químicos desde que vador;
não destruam a camada germinativa, dirctameme apoiada sobre :::::) ter dois deltas, um de cada lado.
a derme através da membrana basal ou basilar. Quando ce11os Um passo adiante, esse autor observou as suas liuatro fi-
processos patológicos atingem a derme papilar, como é o caso guras básicas: arco. presilha inlerna, presilha externa e verti-
da hanseníase avançada ou da doença de :Melcda, provocam de- cilo, !-.egundo: não apresenta delta, apresenta um delta à di-
formações das cristas papilares, com desarranjos e, até. ilcgihi- reita ou à esquerda e apresenta dois deltas (bilateral), respec-
lida<le dos dermatóglífos. tivamente.
As configurações que aparecem nos dedos. para fins de clas-
PRA TICABil,IDADF. sificação. dividem-se em quatro formas fundamentais. que se
A datiloscopia é técnica segura. de baixo custo, de fácil exe- designam por ll'tras, quando se encontram no polegar, e por
cução, não sujeita ao subjetivismo dos profissionais que reali- números, quando se encontram cm qualquer um do~ outros de-
zam as coletas. dos, exceto no polegar:
Identidade. t lde11tificaçâo 199

Configuração No polegar Em outro dedo Deltas Dt.>signação

Arco A l o Adéltico
Presilha Interna I 2 l Monodéltico à direita
Presilha Externa E 3 l Monodéltico à esquerda
Vertidlo V 4 2 Bidéltico (didélúco)

Algumas situações especiais recebem notações próprias: lindo da direita. vão ao centro do desenho, curvam-se e voltam
~ Ausêm:ia de falange (0) ou tendem a voltar ao lado de origem, formando uma ou mais
laçadas de perfeita inflexão.
==> Cicatriz que impede a classificação (X)
Denomina-se desenho digital ao desenho formado pelas cris-
VERTICILO
tas papilares da polpa digital da falange distal de cada
É o datilograma que se caracteriza pela presença de um delta
guirodáctilo, tal como aparece no dedo. Reserva-se o termo
à direita e outro à esquerda do ohservador, e um núcleo de for-
datilograma ou impressão digital à reprodução do desenho di-
ma variada. apresencando pelo menos uma linha curva à frente
gital quando impresso sobre um suporte.
de cada delta.
Vale lembrar que, em um datílograma, as linhas impressas
correspondem às cristas papilares, e os intervalos que as sepa-
ram, aos sulcos interpapilares. Apontam-se, ainda, os sistemas Fórmula Datiloscópica:
de linhas, deltas. linhas diretrizes e pontos característicos como Também denominada individual datiloscópica, é representa-
elementos construtivos do datilograma. da por uma fração em cujo numerador se colocam os datilogramas
Qualquer que seja o acidente (trípode, bifurcação, ângulo. dos dedos da mão direita (série) e, no de1;1ominador, as configu-
ponta de linha, ilhota, ponto) que constitua o delta. este deve ser rações de cada dedo da mão esquerda (secção). Em ambos os
localizado, tanto quanto possível, no ponto de divergência das casos, a seqüência dos datilogramas é a mesma (polegar, indica-
linhas diretrizes, ou à sua freme. o mais próximo desse ponto. dor, maior, anular e mínimo):
FD = ID = Série = __F_u_1_1d_a_m_e_n_t_al_-_D_i_v_is_ã_o_
ARCO Secção Subclassificação - Subdivisão
É o datilograma adéltíco constituído de linhas mais ou me- por exemplo:
nos paralelas e abauladas que atravessam ou tendem a atraves-
sar o campo digital, podendo muitas vezes apresentar, ao cen- l:<D = 1D = V 13 4 2
tro, as linhas angulares ou que se verticalizam, ou, ainda, assu- E 2 322
mir configurações semelhantes a uma presilha.
Atos de Identificação
PRESILHA INTERNA Para proceder ao exame datiloscópico, é necessária uma se-
É o datílograma que apresenta um delta à direita do observa- qüência de passos e atividades que podem ser esquematizados
dor e um núcleo constituído de uma ou mais linhas que, partindo como:
da esquerda, vão ao centro do desenho, curvam-se e voltam ou • Tomada (registro de caracteres): exige a mesa datiloscó-
tendem a voltar ao lado de origem, formando uma ou mais la~a- pica, com tampo de aço inoxidável ou mármore: placas de
<las de perfeita inflexão.
vidro. ou mármore, para receber a tinta que será espalhada
sohre o dedo do identificando: prancheta de madeira com
PRF.SILHA EXTERNA cinco canaletas para receber a ficha datiloscópica. rolo
É o datilograma que apresenta um delta à esquerda do obser- datiloscópico para espalhar a tinta sobre a placa: tinta pre-
vador e um núcleo constituído de uma ou mais linhas que, par- ta tipográfica da melhor qualidade e fichas datiloscópícas.

1 2 3 4
Fig. 28.4 Os quatro datilogramas básicos de Vucctich: 1. arco; 2. presilha interna: 3. presilha externa: 4. verticilo.
100 f,fouidade e lde111ificaçãn

do datiloscopista, ampliadores de imagem (lupas. micros-


cópios eskreosc6pic os) e dos arquivos de fichas datilos-
cópicas.

• Recolhiment o e transporte de suportes de datilogrania-..


> evitar encostar ou Locar nas superfícies portadoras das
impressões (podem ser feitos engradados de madeira,
de modo a proteger certos objetos - copos, garrafas
etc.-. evitando auitos que apaguem as impressões. Os
pontos de apoio devem ser feitos aproveitando as ex-
tremidades tio objetü).
);o. usar 1u \·as para evitar contaminação com i mpressõcs es-

tranhas ao suporte.
• Comparação entre os caracteres obtidos na ce.na do cri-
me e os que se encontram nos arquivos datiloscópicos .

Revelação dos Datilograma s


Nos suportes podem encontrar-se vá1ios tipos de datilogramas,
Fig. 28.5 Técnica parn tnmada de impressões digitais. (Aprui A Ama- como:
do ferreira: Da Técnirn Médico Legal na J,1vesri1:açiio Forense.)
• lmprcssõc'.'. digitais positivas e visíveis, e.g . mãos sujas de
graxa. de sangue. de tinta e tc .. são fotografadas, buscan-
do-se o melhor foco. isto é., a nítitle:t. mais absoluta. Poste-
Das várias formas como podem ser colhidos os datilogramas riormente. as fotografias po<lc,Jo ser ampliadas para faci-
- impressão na prancheta, impressão rolada e impressão pou- litar as comparações .
sada-. a que oferece melhores resultados, isto é, a que melhor • Impressôe<; digitais positivas e latentes: podem ser encon-
permite observar todos os pontos característico s, é a impressão tradas em superfícies lisas de objetoi:; metálicos, de vidro,
rolaâa. de madeira, de fmtas, de papel etc. Muitas delas podem ser
fotografadas com iluminação espec ial; outras serão inici-
• Verificação desses caracteres e classificação: a da.u(fi- al mente (a menos que a superfície esteja empoeirada) " re-
cação e comparaçtio d,i datilogramas necessita da 1111.:sa 1·('/adas".
• 1mpre:-sões digitai~ negativas, e. g. impressões sobre massa
• de vidraceim ou massas plásticas. Estas podem ser foto-
grafadas com precisão, isto é. com equipamento de apro-
ximação, ou usadas como "negativo" para obter u imagem
inversa com silicone de alLa qualidade (o mesmo utilizado
para moldagens de pr~isão, em pr6tc.<;es).
Para ·'revelar" impressões latentes, torna-se necessário o uso
de subs tâncias que desempenhem essa função. As substfmcias
reveladoras podem ser:
• PulveruJcntas, em geral pós fi níss.imos, que revelam a
impressão ck duas maneiras:
;,;,.. co111binando- .1·t' com o cloreto de sódio, eliminado pelo
suor, ou ,
::,;.. alleri,uio mecanicamen te à umidade e oleosidade das
impressôcs.
A cor do pó a ser empregado pode ser bem diferente: hrnnco,
prelo, vem1elho etc. A escolha da rnr dependerá da cor do rn-
porte onde se encontram as impressões. Os p6s mais usados são:
);... Sudâo lll (vermelho para revelação em documentos e ob-
jetos de superfícies lisas) e o sclwr/ach rotou vem1elho-
escarlate: ambos revelam as impressões quimicament e.
uma vez que coram a secreção oleosa que impregna as
impressões deixadas no local;
l:,,, a cerusa ou alvaiade de chumbo branco. para supoites es-

curos e opacos;
»-- peróxido de mal!gam~s. a plurnbagina. o negro-de-fumo, o
1onner (para suporte.s claros) e
Fig. 18.6 :\ mesma impressão. Acima: i\ esquerda, impressão na prnn-
-~. :::., . ..: ~ireita. impres~iio rolada. Abaixo: impressão pousada: nesta :;;.- amido iodado ou iodeto de amido tqu,mdo o suporte é te-
.. ·.:. :;·...:. J1\·,:r,üs t'i<!mt:nH)S não aparel;elll. cido).
Identidade e Jdemirirn\·ão 201

Também podem ser empregadas as seguintes fórmulas, segun-


do Alcântara ( 1982):
a) Pó branco:
óxido de zinco
b) Pó pardo ou cinza:
óxido de zinco ............................ 98 g
alumínio em pó .......................... 2 g
c) Pó amarelo:
óxido ferroso .................................................. 99.75 g
alumínio metálico (pó) ................................... 0,25 g
d) Pó.fluorescente:
antraceno fínamentc pulverizado
e) Pós negros ou pretos:
pcr6xido de manganês.......................... 85 g
Fig. 28.7 Alguns pontos característicos mais comuns: 1. cortada; 2. hi-
fosfato cm pó .................................... 15.75 g f urcação (forquilha): .t delta; 4. ilhQta: 5. desvio: 6. enceno: 7. conflu-
• líquidas. sendo corances dispersos em um solvente. As ência; 8. fim de linha: 9. inkio de linha.
substâncias reveladoras líquidas mais usadas sào: a solu-
ção alcoólica (70º) saturada de sudão 11 l, quando o supor-
te é de vidro (depois de 24 horas as impressões aparecem iodo metalóide. Por cima <los vapores desprcndidoi-i, coloca-
cm vermelho), e o nitrato de prata. se o suporce. que assim vai exibir a impressão latente.
Utilizando-se o nitrato de prata. este se combina com o
cloreto de sódio. dando nitrato de sódio e cloreto de prata. Interpretação
O suporte é, depois de receber o nitrato de prata. banhado A identificação se faz verificando os pontos característicos de
em água, ficando o cloreto de prata. insolúvel. aderente às cada uma das impressões: a "problema'' achada no local e a de
impressões. Toda ,is.w efapa éfeíta. l'agarosamente, em um suspeito. Os pontos característicos consistem em particula-
câmara escura. Depois. leva-se it luz de 100 wmts durante ridades que apresentam as I inhas papílares no seu percurso atra-
15 minutos, para só então receber a última lavagem e ser vés da polpa digital. its vezes imerrompídas, de modo a formar
exposto ao ar. As impressões reveladas em banho fotográ- certos desenhos ou figuras distintas, inconfundíveis, de fácil
fico apresentam-se com a coloração amarronzada. pesquisa e peculiares a cada desenho.
• gasosas, dentre as quais se destacam: • O!-. pontos característirns são apontados cm ambas as impres-
s<ics (de preferência ampliadas) por selas numcrndas. inici-
;... os vapores de iodo (para suportes de papel e de pano).
ando-se pelo fmgulo inferior direito e progredindo. circular-
:;... os vapores de ácido ósmico (para qualquer tipo de su-
mente, no sentido dos ponteiros do relógio até completar um
porte) e
ou mais giros. de acordo mm o número de coincidêm:ias.
> os vapore-. de ácido fluoridrico (apenas quando o su-
• A coincidência de cada ponto característico represcma uma
porte é de vidro).
probabílídadc de 4". onde 11 = n.º de pontos caracteristicos.
Para revelar uma impressão digital numa folha de papel. • Quando há de 12 a 20 pontos característicos coincidentes
coloca-se, numa cápsula de porcelana, areia para ser aquecida. entre a impressào ·'problema" e a de um suspeito, a iclenti-
Sobre a areia quente, deita-se tímura de iodo ou palhetas de ticação é considerada positiva.

11 11 14

15 65 4 3 2 15 6 54 3 2

Fig. 28.8 Verificação dos pontos característicos entre duas impressões digitais: à direita. a encontrada no local de crime: à esquerda. a colhida c..111
suspeílo.
-. .. .. ..
~~
...........~-----------------~~
ldt•mi dade e ldent/fir:açáo

D. Tratado d<~ Períc ias


Galan te Filho. H. Datiloscopia . ln: Toche tto,
e: Sagra OC-L uzzatt o, 1995.
BIB LIO GR AFIA Crimi nalfatica.1·. Porto Alegr
Paris: Galli nwd, 1939.
Gbyk a, M.C. Le Nomb re d'Or.
: Ed. Escol a de Polí-
dcJan cim: G uanab ara Kehdy , C. Manu al de ffJcai.t de Crime . .São Paulo
Alcân tara, H.R. <le. Perfcia Médic a Judicial. Rio cia de São Paulo . Coletâ nea Ackio Nogue ira. 1957.
Dois, 19X2. , C. t.xe rcícin s d11 Dactil oscop ia. São Paulo: S ugestõ es Literári-
nolog ia e Medic ina Kehdy
,\mad o Ferreira, A. A Perfc:ia Técni ca em Crimi as S.A., 1968.
: Melho n1me ntos, I 948. quée, 2! c<l. Québec:
Legal. São Paulo
na lnvestigaçlio Foren - Prévo st, L. F..léments de Crimin.alist ique Appli
Amado Ferrei ra, A. l>a Técnica Médico-Leg al Modu lo, 1990.
: F,d. Revi.vra dO.\" Trihun ai.v, 1962. J. Necroidem/ficac:ió11.
se. São Paulo
: Escola de Políci a de Rodri guez Andal uz, .1.M.. e Manu gón Burgos.
Araúj o, A.P. Manu al de Dac1iloscop ia. São Paulo Madri d: Di reccitín Gener al de la Policí a, 1981.
aulo, Coletâ nea Acáci o Nogue ira, 1957. ticas . Porto Alegr e:
São P
rsidad de Valcncia, 1990. Toch ctto , D . Trmado de Períc ias Crimi n alú
Barberá, F. A Polid a Científica. Valcncia: Univc Sagra OC-L uzz.att o, 1995.
ina 1-egal para h1 Ensefia 111.a de la Odom olngía l.egal . San José (Costa Rica) :
Beltran. J.R. Medic
Vargas Alvarado. E. Medicina f,r.yal , 5.º ed
y Social, 2.' ed. Buenos Aires: El Atene o, 1944.
Foren se. Bueno s Aires: Lehm an. 1983.
Brinó n, E.N . Odon tología Le~al y Práct ica Vucet ich. J. V ac,ilosr:opía Comparada. E! Nuevo
Sistem a Arge.mirw.
Purizó n. 1982. La Plata: Ed. Peu!i<! r. 1904.
d : Wrigh t, 1992.
Clark , D.H. Practical fioren.vic Odon tology . Oxfor Willia m. J. C urrnn _ J.D. and Hyc, S.M. Thc
forens ic inves tigatio n
. Paris: Plamm arion, 1974. 315: 107 1-107 3,
Derob crt. L. Médicine l .égale of the dea1h of Josef Mcng elc. N. Rngl. J. Med..
ina Fo rense, 4.• ed.
Ferná ndcz Pérez, R. Eleme ntos Básicos de Medic 1986.
Méxic o: EI Autor, 1980.

••
~

4

ÍI

j


i

s
1

f
(

1
e
J
'
1
f
29

Os Arcos Dentários na Identificação


··-·······.... ___ ___ ____
.. , ........-·-··--.........-----··------------···------...,.............................-----·-···---
Maria de Lourdes Borborema Campos

É que as infonnaçües obtidas pelo exame dos dentes não se


IDENTIFICAÇÃO PELOS DENTES limitam a checar os achados no cadáver com os registros nas fi-
chas odontolôgic<1s. , erifícando tratamentos dentários ou outras
Não existem duas pessoas com a mesma dentadura. i nformaçf>c-. clínicas.
Esta é uma verdade resultante das numerosíssimas variáveis Mesmo quando nada se tem, mesmo quando a vítima nunca
individualizadoras que oferecem as peças dentárias e que tornam realizou tralameotos dentários, mesmo quando sequer consultou
impossível o fato de duas pessoas terem dentaduras idênticas. Daí com um profissional, as informm.;õcs que se podem ohtcr do
existir uma tendência crescente. em Medicina Legal e Forense, exame dental dos restos encontrados, conquanto seja uma ossada
de aplicar procedimentos odontológicos para auxiliar nos pro- ou fragmentos dos ossos do esplancnocrânio (viscerocrânio).
hlcmas de idcntif'icaçâo. podem até orientar sobre dados úteis na investigação policial.
Atualmente, os dentes se erigem cm elememos singulares na Além de identificar se se u·ata de ossos e dentes da espécie hu-
identificação odontolegal. Talvez sua importância nesse sentido mana. o mesmo estudo pode fornecer informações a respeito da
seja decorrente da extraordinária resistência das peças dentárias vítima que possihilitem a individualização, mormente quando há
às silum,;ôes que, em regra, produzem a destruição das partes noticiados casos de desaparecimentos. Nessa esteira. os dentes
moles, como a putrefação e as energias lesivas (agentes traum,í- podem oferecer dados sobre o cadáver, como:
ticos, energias físicas, energias químicas etc.).
• espécie.
L:ma das situaçf>cs cm que a identificação dos dentes oferece
• grupo racial,
singular importância são os casos de grandes catásu·otes ou de-
• sexo.
sastres coletivos, infelizmente assa:,. freqüente~.
• idade.
Nesses eventos ínfortunísticos. os cadáveres sofrem ações
• altura.
destruídoras. quer pela fragmentação. quer pelo ineêndio do lo- • dados particulares,
cal, o que impede que se ponham em prática os procedimentos • determinadas profissões.
maÍ<; elementares de reconhecimento, como os traços fisionômi-
co;,, a identificação papiloscópica ou outros análogos.
No Brasil, um dos casos mais momentosos em que a con-
tribuição da odontologia legal foi decisiva, deu-se em 1985. ESPÉCIE
e foi a identificação dos rcslos mortais <lo médico alemão
Josef Meogele, cognominado o ..Anjo da Morte", responsá- É óhvio que ninguém questiomuia o diagnósLico da espécie à
vel pela morte de rni Ih ares de pessoas, confinadas no cam- qual pcrcencem certas peças dentárias. quando as me~mas se
po de concentração de Auschwitz, durante a 11 Guerra Mun- encontram fixadas nos respectivos alvéolos. Basta analisar su-
dial. perficialmente o crânio ou a mandíbula para detectar que aquele
Em catástrofes aéreas. como as acontecidas com o grupo ou esta é ou não humano.
musical "Mamonas Assassinas", em 02.03.1996, ou entre os 99 De fato. o diagnóstico da e<;pécic só se constitui em proble-
passageiros do avião da TAM que caiu cm São Paulo. em ma quando apenas temos uma ou mais pe1.;as denláiias isoladas.
31.10.1996, a identificação. cm grau de certeza, somente foi O que interessa, nesses casos, é saber se referidos dentes perten-
possível com base nos dados oferecidos pelo exame odontológi- cem ou não à espécie humana. Caso não :r;ejam humanos. de re-
co em 75 dos casos, e s<'í nos casos restantes a ídentifica~ão foi gra, falece o interesse do Odontolegist.a, a menos que existam
possível pelo exame de DNA ou otmos procedimentos. razões supervenientes.
21M Os Arcos Dentários na /denti/irnçào

A característica morj<Jlógicafundamental, privativa dos den- Índice dentário = 1D Grupo étnico


Tipo
tes humanos e que os toma diferentes de quaisquer outras espé-
cies animais, é que, nos dentes humanos, a coroa e a raiz se Microdontes <41,9 Caucasóides
encontram em um mesmo plano, apresentando-se como segmen-
tos de hastes retas. Mesodontes 42,0 a 43,9 Ncgróidcs,
Contrariamente. nos animais, a raiz sempre descreve curvas, mongolóidcs
exibindo uma grande angulação. Apenas os macacos antropóides
'.\1cgodontes >44,0 Austral6idcs
mosu·am certa semelhança, mormente nos incisivos e caninos.
l'íesses raros cmms. tão-somente será necessário um exame mais
minudente e, por vezes, será preciso recorrer à Zoologia (Ana-
tomia Comparada). l'íão dispondo de todas a-. peças dentárias, de modo a poder
Em se tratando de fragmentos de peças dentárias. o exame fazer a medição proposta por Flower, pode utilizar-se esta outra
microscópico pode reafü:ar-sc através de um corte sagítal e ob- fórmula para estabelecer o índia demário:
servação por cpi-iluminação. usando um microscópio igual ao [Comprimento de um dos incisivos médio, supcriorc~ íl I nu 21)1 X 100
utilizado cm metalurgia. Com essa técnica, os cientes humanos
mosu-am características exclusivas, tais como: Distância básio - násio
Ou1ra f6rmula usada é a que considera a altura do indivíduo:
• os prismas do esmalte são ondulados.
• referidos prismas são paralelos e perpendiculares à dentina. Comprimento médio de lodos o~ ,kntcs
• esses prismas têm uma largura média de 5 J.J e um compri-
i\Jrura do indivíduo
mento de 2 mm,
• os prismas apresentam estrias escuras transversais a inter- Os resultados obtidos pela aplicação de qualquer uma das
valos regulares cm torno de 4 /..1, fórmulas alternativas antes mencionadas devem ser confronta-
• a linha de união entre o esmalte e a dentina cxihe um a:s- do~ com os índices do quadro anterior.
pecto em guirlanda.

SEXO
GRUPO RACIAL Com referência à morj'ofogia dos dentes, verif'ica-<;e que os
incisivos superiores são as peças dentárias que exibem maior
/\.s principais características raciais encontram-se presemc~.
dimorfismo sexual, e, em regra, os dcnlcs que podem oferecer
especialmente, nos mo/are.~. através dos quais é possí,el dife-
dados relacionados com o sexo de um crânio ou de uma vítima.
renciar as raças ortognata.~ (brancos ou caucasóides }. prognatas
fsso. obviamente, é um fator limitante.
(negros. melanodermas e faiodermas) e as denominada:) raça1
Sabe-se que os incisivos centrais superiores são mais volu-
primilivas (aborígenes australianos, da Oceania etc.1 que. em
mosos nos indivíduos de -.cxo masculino que nos de sexo femi-
geral, se caracterizam por apresentarem prognatis.mo ma\ilar
nino. Todavia, as difercm;as são milimétricas.
variável mas expressivo. Outra díferenciação morfológica refere-se à relação entre o
Nessa esteira, as raças vrfog11atas apresentam: diâmetro mesodistal do incisivo central e aquele do incisivo la-
• nos molares superiores, as cúspides palatinodiqais muito teral do maxilar superior. Esse diâmetro é menor na mulher do
pequenas, quando comparadas com as cú<,pidc.:s mc.:sopa- que no homem, uma vez que. na mulher, os cientes têm uma rc-
latinas. :'Jão obstante. ambos os grupos de cúspidcs encon- gulaiidade maior que no homem, isto é, são mais semelhantes
tram-se separados pelo sulco principal. constituído por uma entre si.
depressão bem marcada. Quanto à cronologia de erupção, verifica-se que, no sexo
• o primeiro molar infc1ior conservando apena~ uma marca feminino. a erupção da dentição definitiva é mais precoce que
leve da soldadura da cúspide posterior. no sexo masculino, sendo certo que a diferença entre amhos é da
• o segundo e terceiro molares inferiores ,u'io têm cúspides ordem de aproximadamcnk quatro (4) meses.
poste1iores diferenciadas.
As raças prognatas. por f>Ua vez. têm:
ALTURA
• nos seus molares superiores. as cúspides palatinodistais de
bom tamanho, e Existe um método matemático que permite o cálculo da altu-
• nos molares inferiores. urna cúspide posterior diferencia- ra do indivíduo a partir das dimensões dos dentes. A fundamen-
da. tação do método reside no fato de que existe proporcionalidade
As raças primitivas exibem molares inferiores semelhantes entre os diâmetros dos dentes e a altura do indivíduo. Esse pro-
aos dos macacos chimpanzés. cedimento foi criado e aperfeiçoado pelo professor argentino
O índice dentário se calcula utilizando-se fórmulas, sendo uma Carrea.
das mais difundidas a de Flower: Mede-se. cm milímetros, o ·'arco" de circunferência, consti-
tuído pelo somatório. 110 arco in.fàíor, dos diâmetros mesodistais
cCom1,i·imenlo em reta i:,nlre borda m::~.al de I .º pm ~ bonla (lisral do'.\."~~') X 100 do incisivo central, do incisivo lateral e do canino inferiores (31-
Djstância básio - m~sin 32-33 ou 41-42-43). A ·'corda" desse ''arco". geometricamente
O índice de flowcr é útil para estahclccer diferenças entre falando, é medida trm,;ando-se a linha reta enu·e os pontos inicial
grupos humanos, segundo a distrihuição a seguir: e final (borda mcsial elo incisivo central até a borda distal do
Os ;\rcos Demários 11u íde.nt!firnçlío 205

canino ipsolareral) do "arco". Carrea deu a essa medida o nome to singular e importante que. caso seja encontrada, por si só pode
de ··rai<r-eorda inferior". ser o elemento discriminador no diagn6stico. Isso se vê com as
A altura humana deve enconrrar-se entre essas duas medidas, incnistações de ouro e/ou pedras preciosas nas faces vestibulares
que hão de ser consideradas proporcionais, uma máxima, à me- dos incisivos cemrais superiores, rebaixamento do esmalte e subs-
dida do arco, e outra mínima, à medida do ''raio-corda inferior". tituição por coroas de ouro. como sinal de riqueza, entre outro~.
As fórmulas para fazer a esrimativa ela altura cm milímetros É curial que. para poder proceder a uma correta e profícua
são as seguintes: identificação odontológica. é fundamental contar com a infor-
mação dental prévia do indivíduo que se pretende identificar.
, . ( ) arcoX6XlOX3.1416 Com efeito, deve-se ter presente que esse procedimento de iden-
1• 1\ 1tura max1ma cm mm ~ ·
2 tificação, tal como os outros que já foram abordados neste capí-
tulo. chegará a seus resultados, essencialmente, através de con-
, . ( ) raío-cor<laX6XIOX3,14\6
2. AI mra numma em mm :.: - - - - - - - - - - - ,, frontos. Esses confrontos sempre hão de oconer entre os acha-
dos no material pesquisado, devendo esses achados ser coteja-
dos com os existentes na ficha odontológica do consultório do(s)
prolissional(ais) que trataram. cm algum momento. a pessoa que
se pretende ídenlifü:ar.
Como acontece com os pontos característicos nas impressões
digitais, também nas comparações entre os dentes do material
questionado e os das fichas odontológicas é exigido um número
suficiente de coincidhzcías para poder fazer um díagn6stico
identifícarórío de certeza.
Contrariamente, a ocorrência de um ou mais pontos discor-
dantes, rea/menl(! i11compatfreis emre si, podem permitir a ex-
clusão durante o procedimento de identificação por confronto.
Todavia, é necessário enfatizar que os pontos que não sejam in-
arco compatíveis não permitirão ciladas afirmações de certeza.
À guisa de exemplo, podemos citar a ausência de dentes por
Fig. 29.1 Esquema do traçado do "arco.. e da ··corda·· entre a face mesial extração, a realização de implantes e/ou colocação de pinos em
do primeiro incisivo interior e a face distal do canino inferior domes- datas posteriores às dos registros na ficha odontológica de que
mo lado, que possíhililarú as medições necessárias para calcular a altu- dispomos, e. até por serem, às vezes, trabalhos realizados por
ra conforme a fórmula de Carrea. outros profissionais que nos são desconhecidos, retirando possí-
veis pontos característicos ou de coincidência, 11t'io inrnlidam a
ident(fic(l(.;ao, quando esta é possívl'l nos dentes que .mhsis1em.
A altura masculina estará mais próxima da altura máxima Por outro lado, quando, na licha odon1olôgica de uma pessoa
calculada, ao passo que a altura mínima será mais próxima da desaparecida, por exemplo, contamos com a informação cena de
altura mínima calculada. que determinada peça dentária foi extraída - e.!,/. ausência do
Esse procedimento possihilita o cálculo da altura nos ca- l." pré-molar do hemiarco superior esquerdo. i::.toé. 2-l-e que.
sos de fragmentação ou esquartejamento, acidental ou crimi- ao mesmo tempo, possui um trabalho em determinado deme -
nal, dos cadáveres ou nos casos cm que o Odontolegista dis- e.1<. uma obturação em amálgama. no colo. na face \'estibular do
põe de restos humanos nos que foram preservadas as peças dcn- 2. 0 pré-molar inferior esquerdo. istü é. 35 - resultará mais fácil
t.irías. Esse índice apenas avalia a altura mais provável do indi- o cotejo. Assim. se, realizando o exame <la dentadura do crânio
víduo e não guarda qualquer relação com a causa médica ou ju- que se pretende identificar. , erifü:amos que o I .º pré-molar do
rídica da morte. hemiarco superior esquerdo está presente, e que inexiste qual-
quer obturação ao ní vcl do colo da face , estihular do 2.0 pré-molar
inferior esquerdo. poderemo~ afimmr, com certeza. que ambas
as dentaduras não pertencem à mesma pessoa.
INDIVIDUALIDADE Por outras pala nas. a retirada. ou eliminação ou desapare-
ciml'nto. de pontos C(tr(ICtt'rísticos não impossibilita nem inm-
Contando com uma dentadura completa de um indivíduo, lida a idemijicaçâo. Já a incongruência entre trabalhos realiza-
poderemos proceder à sua identificação cm grau de certeza. por- dos ou extraçôes efetuadas, com o achado dessas peças intactas
quanto. t:omo já afirmamos no início. não existem duas pessoas e presentes na dcmadura a ser cotejada, exclui a ide111Uicaçiiv ou
com a mesma dentadura. toma a idemiticarlio m·gatirn.
Com efeito, eis que cada indivíduo possuí pm1icularidades cm Os pontos característicos que podem ser utilízados para indi-
quantidade e qualidade tais. na sua dentadura. que por si sós vidualizar as pessoas não se restJ.ingem, como pode1ia parecer.
permitem estabelecer sua correta identidade. Entretanto, quan- a extrações ou obturações. Conu·a1iamentc. os estudos das den-
do não se conta com a dentadura completa, antes apenas com taduras para fins de identificação são muito mais abrangentes e
algumas peças dentária:-, devido a extraçf>e'>. avulsões, fraturas. são elementos das mais diversas naturezas. a saber:
perdas post-mortem etc., por vezes apenas contando com um
único dente, é evideme que o problema tornar-se-á tanto mais
dif'ícil quanto menor 8eja o número de infom1açõcs de que se Elementos Congênitos
dispõe.
Mesmo assim, por vezes, ainda que dispondo de um número As peça-; dcnlárias são estruturas cuja gênese, tal como a da
exíguo de dentes. pode-se contar com alguma peculiaridade mui- maioria das outras do organismo, é condicionada geneticamen-
206 Os Arcos Dentários na Identificação

Fig. 29.2 Anomalias dentárias congênitas: à esquerda, displasia do esmalte; à direita, hlpoplasia dentária com dentes cônicos. (Apud Bergsma, D.
Birth Defects Compendium, 2•.ied. New York: Alan R. Liss, 1979. pp. 16-17.)

Fig. 29.3 Anomalias dentárias: à ~uenia, congênita (marcador genético), dentes ''em pá de escavadeira"; à direita, linhas horizontais, mais evi-
dentes nos incisivos superiores centrais., devidas a empuxos sucessivos da doença de base (porfiria = distúrbio do metabolismo das porfirinas).
(Apud Bergsma, D. Birth Defects Comperulium, 2 00 ed. New York: Alan R. Liss, 1979, pp. 16-17.)

te. Não obstante, a expressividade de certas características ge- • normal: em forma de "arco de elipse,"
néticas pode ser variável. • trapezoidal,
Existem algumas anomalias dentárias que se transmitem de • triangular,
forma hereditária, isto é, geneticamente. Nesse grupo se encon- • redonda: em "arco de ferradura" (arco de círculo) e
tram a hipoplasia dentária, a inclusão de peças, o desenvolvimen- • assimétrica.
to rudimentar dos caninos, entre outras.
Todavia, além dessas anomalias geneticamente condiciona- Paralelamente, a abóbada palatina pode apresentar-se, no
das, os dentes podem mostrar peculiaridades anatômicas, que plano frontal, sob uma das três formas fundamentais, confor-
auxiliam grandemente na identificação. Dentre estas, podemos me o grau de elevação de sua parte central, a rafe mediana, a
elencar: saber:
• número: ocorrência de peças supernumerárias, • em "alça de balaio", quando menos acentuada a elevação
• tamanho: micro e macrodontia, e arredondada,
• forma: quadrada, retangular, triangular, ovóide, caninos em • ogival ou "em arco gótico", com elevação central muito
agulha, dentes de rato, acentuada,
• volume, • pla no, quando o arco da abóbada é praticamente inexis-
• disposição peculiar: rotação, desalinhamento, dentes agru- tente.
pados,
, • separação: diastemas etc. O exame das irregularidades de superfície do palato - ru-
gas pala tinas - , que também pode ser identificado como
""-oa mesma maneira, a forma dos arcos dentários, na norma palatoscopia, será analisado em outra parte desta obra (cf Cap.
horizontal, pode exibir variações de forma características como: 30 "Rugoscopia Palatina").
Os Arcos Dentários na Idenrijicação 207

11 4 12

9 6 15 3

Fig. 29.4 Arco dentário superior em nom,a horizontal (vista inferior, esquemático): à esquerda, em "arco de elipse"; à direita, "triangular". Na
figura à esquerda, a numeração aponta detalhes anatômicos que independem do formato do arco. Na figura à direita: 1. forame palatino anterior;
2. forame palatino posterior esquerdo; 3. espinha nasal posterior; 4. toruspalatinus. (ApudTestut e Latarjet. Anatomia Humana, Barcelona: Salvat,
1947, vol. 1, pp. 299 e 300.)

caucasóide negróide mongol óide

Fig. 29.5 Formas de palato e arco superior e sua relação com os principais grupos étnicos: triangular, no grupo caucasóide; retangular, no grupo
negróide, e em ferradura, no grupo mongolóide. (Apud Teixeira, 1975.)

Fig. 29.6 Abóbada palatina em corte frontal (vista posterior, esquemático): à esquerda, em "alça de balaio"; à direita, ogival ou '·em arco gótico".
Na figura à esquerda: 1. seio maxilar di reito; 2. seio maxilar esquerdo; 3. fossa nasal direita; 4. septo nasal. Na figura à direita: J. ..eio maxilar
direito; 2. fossa nasal esquerda; 3. septo nasal desviado e com esporão. (ApudTestut e Latarjet. Anatomia Humana. Barcelona: Salvai. 19-47. vol.
4, pp. 24.)

Estigmas Resultantes de Profissões e AÇÃO MECÂNICA


Assim, por exemplo, entre os sapateiros ou estofadores, en-
Hábitos Pessoais tre os quais é habitual segurar tachas ou pregos entre os dentes,
Certas profissões podem produzir marcas permanentes nos encontram-se, não raro, reentrâncias ou chanfraduras na borda
dentes por razões meramente medlnicas, que introduzem des- incisa] dos incisivos centrais (dentes de Hutchinson falsos).
gastes e perdas mínimas de esmalte em face dos traumatismos Entre os colchoeiros, estofadores, alfaiates e costureiras, tam-
reiterados. bém se observam irregularidades ou pequenas fissuras na borda
208 Os Arcos Dentários na Identificação

os dentes dos fumantes cm geral apresentam uma coloração es-


cura, em razão do alcatrão que forma parte da fumaça da queima
do fumo.
Os músicos que executam instrumentos de uma palheta (sa-
xofones, clarineta, oboé etc.), em razão dos repetidos traumas
com a boquilha, podem apresentar perdas de substância no es-
malte dos incisivos superiores centrais. Algo semelhante pode
observar-se com os sopradores de vidro, quando o trauma se dá
com a boquiJha da cana ou vara sobre os incisivos, tanto superi-
ores como inferiores.

AÇÃO QUÍMICA
Os vapores corrosivos - nitrosos e sulfurosos - provocam
destnúção dos tecidos dentários, de forma progressiva, ensejando
o amolecimento e perda dos dentes, afora um maior índice de
Fig. 29.7 Reentrâncias na borda incisai dos incisivos centrais, resultan- cáries nas coroas clínicas.
te do hábito de segurar pregos com os dentes. A ação química não produz perdas nem traumatismos does-
malte. como o fazem os fatores mecânicos, mas provocam colo-
rações características do esmalte e da dentina pelo produto quí-
incisai ou livre dos incisivos centrais, resultantes do hábito de mico com o qual o operário tem um contato duradouro e diuturno,
puxar o fio e, quando na medida, cortá-lo com o auxílio dos den- a saber:
tes em vez de usar tesoura. • manchas acinzentadas no colo dos incisivos e dos caninos,
As pessoas que têm o hábito de fumar cachimbo acabam por pelo chumbo;
provocar um desgaste e até deslocamento da~ peças dentárias em • coloração cinzenta global, pelo mercúrio;
que se costuma apoiar a piteira. Não se deve esquecer, ainda. que • manchas esverdeadas com reborda azul, pelo cobre;
• manchas amarronzadas na borda livre dos incisivos, pelo
ferro;
• manchas amarelas, pelo cádmio etc.
T
acid
ças
Estigmas Patológicos A
Detenninadas profissões provocam estigmas de natureza gu1d
patológica, como, à guisa de exemplo, as cáries dos confeiteiros das
e pessoas que trabalham nas fábricas de doces, de forma circu-
lar, de cor amarela ou preta dos tecidos desvitalizados, e locali-
zadas, exclusivamente, na região do colo das peças dentárias.
Algumas culturas primitivas praticam mutilações ornamen-
tais dos dentes para identificar os indivíduos pertencentes a
Q
ooer
determinado grupo étnico. Este é um costume enraizado nas doe o
comunidades aborígenes australianas e polinésias, observan- etc.
do-se, outrossim, entre habitantes da Malásia e da África,
ções
Fig. 29.8 Desgaste das faces incisais e oclusais do~ inci-,hos, canino e quando realizam um afilamento em cunha das coroas, por li- a det;
pré-molar superiores direitos. mado.

Fig. 29.9 Desgaste dos incisivos e caninos inferiores, acompanhado de Fig. 29.10 Jncmstação dentária em ouro amarelo, que facilita a identi- Fig.2'
reabsorção óssea da parede anterior dos respectivos alvéolos. ficação. (Fotografia cedida pelo Prof. Wilmes R.G. Teixeira.) seta a1
Os Arcos Dentários na ldenr, 209

Fig. 29.13 Coloraçã o congênita dos dentes por bilirrubina (verde a azul,.
em caso de doença hemolític a do recém-na scido, por incompat ibilida-
de de fator Rh.

Fig. 29.11 Ação traumátic a, por soco, das coroas clinicas dos incisivos
centrais superiores. De regra consiste m em impregn ações pelos produtos cromá-
ticos. como é o caso da bilirrubina (ver Fig. 29.13), ou erosões
ou linhas horizontais. que às vezes fonnam verdadeiros degraus.
A forma como se distribuem essas erosões ou esses depósitos
Outros fazem o engaste de pedras preciosas ou de metais (ouro
traduz épocas em que houve empuxo , surto ou agravam ento da
amarelo ) como forma de demonst rnr status ou posses. Esse cos-
tume está bastante difundid o entre as comunid ades rurais brasi-
leiras das Regiões Norte e Nordeste.

Traumas Dentários
Toda vez que a dentadur a sofre traumas, por exemplo, em
acidentes ou em agressõe s. podem encontrar-se fraturas das pe-
ças dentária s, seu deslocam ento (luxação ) e/ou queda (ablação).
A análise das superfíci es de fratura possibilita avaliar a anti-
güidade das lesõe~, em face da tendênci a espontân ea que as bor-
das têm de arredondar-se pelo desgaste do dia-a-dia.

As Patologias Fetais e da Infância


Qualquer transtorno sistêmico ou doença grave que se instale
no embrião da 6.ª semana de desenvolvimento até a infância, como Fig. 29.14 Dentes marcados pelo uso de tctraciclinas durante a fase de
doenças infecciosas ou parasitárias (rubéola, sífilis, tuberculose formação intra-uterina. (Ap11d Bergsma, D. Birth Dcfects Compend ium,
ele.) ou doenças metabólicas (porfiria), pode provoca r modifica- zn.1 ed. New York: Alan R. Liss, 1979, p. 16.)
ções no de~envolvimento do broto dentário (capuz), atingindo tanto
a dentina como o esmalte (ver Figs. 29.12 e 29. 13).

Fig. 29.15 Fenda alveolar mediana anterior da maxila por falta de fusão
Fig. 29.12 Dentes de Hutchinso n, caracterís ticos da sífilis congênita . A dos núcleos de calcificaç ão da pré-maxi la durante a embriogê nese ini-
seta aponta as reentrâncias na borda incisai. cial da região.
210 Os Arcos Dentários na Identificação

patologia crônica de base. Isso tanto pode observar-se nos den-


tes decíduos como nos definitivos.
A utilização de certos produtos medicamentosos pela mãe,
durante a gravidez, ou pela criança antes da erupção da dentição
permanente, faz com que os brotos dentários sejam atingidos
durante o seu desenvolvimento, ficando marcas cromáticas in-
deléveis da iatrogenia, como acontece, por exemplo, com o uso
das tetraciclinas para debelar quadros infecciosos.
As malformações congênitas, resultantes de modificações da
seqüência embriológica de desenvolvimento, são manifestações
que, quando presentes, caracterizam de forma irretorquível um
indivíduo, identificando-o. É o caso, por exemplo, da malforma-
ção resultante da fusão incompleta dos brotos palatinos do ma-
xilar, que enseja a formação de uma fenda palatina interdentária.

Os Tratamentos Odontológicos
A cárie é, sem dúvida, a patologia mais freqüente nas peças Fig. 29.17 Radiografias ante-mortern (superior) e post-mortem (inferi-
dentárias, em qualquer idade. Mesmo não tratadas e, principal- or).aparecendo em ambas uma restauração identificadora. O fato de
aparecer mna segunda restauração na radiografia post-mortem não pre-
mente, quando tratadas, as cáries serão marcos identificadores
judica o diagnóstico de identificação, haja vista que se trata de um pro-
da maior importância, desde que as peças dentárias não sejam cedimeruo realizado posteriormente aos raios X ante-mortem que estão
extraídas. O tratamento das cáries mediante restauração - sendo uúlizados para confronto.
amálgama, resinas, metais - desponta, por sua vez, como pon-
to característico para a identificação do indivíduo.
Algo análogo se observa com a aplicação de procedimentos
terapêuticos, corno, por exemplo, a endodontia, pela qual a ca-
vidade pulpar e radicular é recheada com substâncias radiopacas
de fácil visualização radiográfica (obturação).
Os trabalhos de prótese podem ser de importância deci,in
na identificação, assim como coroas, pontes fixas e remO\ h"eh.
implantes, pinos, blocos, restaurações etc.
Da mesma maneira se comportam as iatroge~ - culpo,as
ou dolosas - quando o profissional realiza trabalho, não reco-
mendados ou procedimentos como. no exemplo a -.eguír. com
abrasão proposital das faces oclusais. de modo a con..eguir. nas
próteses, a adaptação da mordida que não conseguiu obter quando
da moldagem e escultura próprias.
Considerando que todas as variáveis apontada, podem acon-
tecer em qualquer uma das 32 peças dentánas definitivas. tem-
se um enorme leque de possibilidades cruzadas ou de combina-
Fig. 29.18 Coroas metálicas -em ouro e em metal branco - que pos-
ções que dão uma base de credibilidade enorme ao permitirem a sibilitam, com relativa facilidade. a identificação.
identificação, em grau de certeza, com a utilização do exame dos
dentes.
Para que fosse realmente possível utilizar. no dia-a-dia, os
característicos individualizadores da dentição na identifica-

Fig. 29.16 Caso Joseph Mengele. Identificação pelos trabalhos deres-


tauração realizados no 2.0 molar superior esquerdo (27): à esquerda, ra-
diografia ante-mortem; à direita, radiografia post-mortem. durante os Fig. 29.19 Ponte fixa de três elementos suspensos que, pela engenhosi-
trabalhos que se seguiram à exumação. (Extraído do Informativo ML. dade do seu deboche, toma extremamente fácil o trabalho do odontole-
5(13): 1.) gista.
Os Arcos Dentários na Identificação 211

ção de pessoas, seria necessário contar com 4fqUJ\ os que per-


mitissem - à semelhança do que acontece com as amprc õe,
digitais - realizar o confronto que leva à idcncificação mdi-
vidual.
No presente momento, inexiste um arquivo odontolog1co que
registre as características dentárias de uma população. como ~
conseguiu, ao longo do século passado, com as impre sóe
papiloscópicas. É por isso que, quando surge necessidade de co-
tejo, recorre-se aos prontuários clínicos dos dentistas, na ua dí-
nica particular. Todavia, há casos especiais, em determinadas pro-
fissões, em que esses registros realmente existem, como acontece
com o pessoal brevetado para voar (pilotos), civil e militar, como
medida preventiva, em face da exposição a um risco maior.

BIBLIOGRAFIA
Fig. 29.20 Abrasão iatrogênica da face oclusal dos molares que permi-
te uma fácil caracterização do resultado do trabalho odontológico e, em As referências serão apresentadas, em conjunto, no final do Cap.
regra. da vítima. 30.
Rugoscopia Palatina
____ ________
·····--·---,.... _ ,, .......
·----------·--·-----·--
Maria de Lourdes Borborema Campos

A mucosa oraL para facilitar as suas próprias funti=ôes. apre- p:m.:cc:ndo à medida que a concavidade da abóbada palatina al-
senta-se cssencialmenlC lisa. Há, contudo, algumas exceções. Por cança a região alveolar ipsolaternl.
exemplo. uma delas é a supcrfkie dorsal da língua. onde apare- Carrea, na sua sistematização das rugosidades palatinas. con-
cem as papilas delomorfas (filiformes. füngiformes. , alada,,. ~iderou quatro categorias diferentes, a saber:
Outra exceção, diferente de quaisquer outras panes. porquanto
fixa, é a mucosa do ccr~:o anterior do palaco. que se apre-.entã • Tipo I - com rugas direcionadas mediaimente (dos lados
corrugada por um verdadeiro sistema de prega-; ou (k ruga-;. for- para o centro) e discretamente de trás para frente ( conver-
gindo na rafe palatina);
temente aderentes ao plano ósseo subjacente. De fato. e~~a~ pre-
gas são originárias do tecido conjunti, o den~o da sut,mu.:0~;1. • Tipo li - com rugas direcionadas perpendicularmente à
linha mediana;
fortemente fibroso, que re\·este o osso. confundindo-se .:'L•m <•
• _Tipo Ili - com rugas direcionadas mediaimente (dos la-
periósteo, sendo certo que essas pregas. conjumi,·a~ são apena,
dos para o centro) e discretamente da frente para trás (con-
recobertas pelo epitélio estratificado.
vergindo na rafe palatina);
J\ sistematização do estudo de referida~ prega~ . .;-,.,m a finali-
• Tipo TV - com rugas direcionadas em sentidos variados.
dade de constituir-se em elementos capaze~ de ..:ontrit>uir para o
processo de identificação, é apalatoscopia ou rugoscopia pala- Bri n(m ( 1982), continuam.lo os trabalhos de Carrca, foi um
tina. pouco além na sistematização das rugosidades, dividindo-as, à
Resulta de interesse que esse procedimento de identiiicaçào semelhança do que se faz com os impressões digitais, em funda-
- a rugoscopia - tanto pode aplicar-se no cadá, er re.:ente como mentais e caracterísúca~.
no indivíduo vivo. Todavia. pela sua coerência, a das!iificaçào prfüica proposta
Os relevos que o palato apresenta constituem·~c em um con- por Martins dos Santos (1946) facilita cm muito a caracteriza-
junto de cristas lineares - as rugosidades palatinas - dispos- c.;ão individual rugosc<'ípica de um indivíduo, ao dividir as rugas
tas de forma semelhante às nervuras de uma folha, egetal. Esses palatinas, conforme a sua localização. cm:
relevos ou cristas aparecem no 3." mês do período embrionário, • Inicial, con-espondente à ruga palatina mais anterior, à di-
permanecendo invariáveis por toda a vida do indiYíduo e. inclu- reita. sendo sempre representada por uma letra maiúscula;
sive, persistindo vários dias apôs a morte.
Na espécie humana. esse conjunto de cristas é assimétrico, isto
é. não é simétrico, no que se diferencia de outras espécies de li Ili IV
mamíferos, cm que é simétrico.
A rugoscopia palatina foi proposta pelo pesquisador espanhol
Trobo Hermosa ( 1932), tendo sido. depois. a1'·o de estudos pro-
' • o •
fundos por parte do pesquisador argentino t;baldo Carrca (1937),
que estabeleceu os critérios da "rugveste11ografic1 palatal".
Em todos os casos, sempre há um sulco central, ântero-pos-
tetior, estreito, acompanhado a cada lado por uma crista suave:
é a n{le mediana ou rafe palatina. Originando-se nas laterais de
citada rqfe, observa-se uma série de cristas transversais, mais ou
menos perpendiculares ou oblíquas cm relação à primeira, que
}ti!
Fig. 30.l As quatro catcgorías fundamentais das mgas palatinas, con-
forme Carrca. (i\pud de Brinôn, E.I\. Ot/01110/ogía Legal y Prâcrica Fo-
se direcionam lateralmente, tornando-se evanescentes ou desa- rense. Buenos Airns: Purízón. 1982, moclifiçado.)
. , . . , .. ,..._ 213

• Complementar, co1Tespondente às demaís rugas, à direi-


ta, sendo certo que cada papila é assinalada por um núme- BIBLIOGRAFIA
ro, confonne mostra o quadro a seguir;
• Subinicial, correspondente à ruga palaúna mais antc1ior, Arbenz, G.O. Mediôna Legal e Antropologia ForenM. Rio dr 1-:ilOf
São Paulo: Atheneu, 1988.
à esquerda, sendo representada também por uma letra
Belrran. J.R. Medicina l.,eial pam la Emefian:a de la O~~
maiúscula: y Social, 2." ed. Buenos Aires: EI Ateneo. 1944.
• Subcomplemcntar, correspondente às demais rugas, à Rergsma, D. Birth Defects Compendium. 2.• ed. Ncw York: A!an R. ~
esquerda, em seqüência à subinicíal, sendo cada papila 1979, pp. )(~17.
assinalada por um número. Be1.ymenski, L. The Death of 1ldolph Híiler. New York: Har Brace
World. 1968.
Assim, as configurações das cristas que aparecem no palato.
Bonnet. E.F.P. Medicina Legal. 2.' ed. Buenos Aires: Lópe:i: LibrerO!>
para fins de classificação, dividem-se cm 10 fomu,s fundamen- Editores, 1980.
tais que se designam pelas letras iniciais das figuras (P, R, C, A, Brinón, E.N. Odontología Legal y Prâctíca Forense. Buenos Aires:
CL S. B, T, Q, An), quando se enrnntram na primeira posição, e Purizón, 1982.
por números (de O a 9), quando se encomram cm qualquer outra Cam, S.M., Lewis, /\.R. and Polached, D.L. Yariahility of wmh
posição. formation. J. Dent. Res., 38: 135, 1959.
Carrea, J.U. La identificación de las rugosídadcs palatinas. Rn·.
Ortodoncia (Buenos Aires), 2, 4, 1940.
Figura Na posição mais Em outras Careca. J.t.:. l\ueva lécnica de identificación humana: la rugoestcnografia
anterior posições palatal. ln: Bcltran. J.R. (dír.). Medicina Legal para la F.nse.fianw
de la Odontolof:(a Le~al v Social. 5.• ed. Buenos Aires: EI Ateneo.
Ponto p o 1944.
Clark. D.H. e Ruddick, R.F. Post-mortem deleclion of toolh coloured
Reta R 1 dental restoralions by ultra víolet radiarion . .1cta Med. Leg. Soe ..
35(1): 278-284, 1985.
Curva e 2 Clark. D.H. Pracrica/ Foremic Odontology. Oxford: Wright. 1992.
Cleland, J.B. Teeth and bites in hístory, lítcraturc. forensic mcdícine and
.Â.ngulo A 3 olherwi~e. Ausr DeW I. 48: 107, 1944. ·
Clement, J.C. and Sri-Skanda, S. The conrribution of dental histology
Curva fechada Cf 4
to Forensic Medicine. 1laa ,11,frd. l.eg. Sne., 35(1):300-309. 1985.
Dechaume, M.. Dcrobc1t. L. et Payen. D. De la valeurde la detennination
Sinuosa s 5 de J'âgc pour rexamen des dents cn coupes minces. A1m. ,Wed l.ep. .•
Bifurcada B 6 ~: 165-168. 1960.
Derobert, L. Médicíne Légale. Paris: Flammarion, 19i4.
Trifure ada T 7 Femández Pérez, R. J:.1ementos Rásícos de ll4edicina Fore11se. -1." ed.
México: EI Autor. 1980.
Quebrada Q 8 França, G.V Medicina Legal. 6.º cd. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
gan. 2001.
Anômala An 9 Fry. W.K. The Raptisl churc.:h cellar case. Br. Dem. L.. 75: 15-1. 19-H
'
Furncss, J. A new method for thc ídcntific.:ation of tccth marks in case~
of assault and homicide. Br. Del!f. l., 124:~61. 1968.
ruruhata. T. ,rnd Yamamoto. K. Forensic O,hmro/ogy. Springfidd:
Como elementos idcntificatórios, as cristas palatinas preen- Thomas, 1967. pp. 99-102.
chem características que pemütem utilizá-las para tanto. como: Gisbert Calabuíg, J.A. Medicina Legal y To.ricol,,f!frt. 5: cd. Barcelo-
na: Masson S.A, 1998.
l. Unicidade: apenas um único indivíduo pode tê-las. Gustafson, G. and Johanson. G. The values of cenain characteristics in
2. Imutabilidade: não mudam nunca de fonna, nem mesmo dental ídcntiftcalion. Acta (Jdontol. Scand.. : l :367. 1963.
após a morte. Gustafson. G. Fore11sic Odo,110/ogy. 1.ondon: Staplcs Press, 1966. pp.
3. Individualidade: são absolutamente diferentes de uma pes- 30. 111. 118-131, 140-165.
soa para outra. Gu~tafson, G. Odonto-Stomarologie Méclico-l.égale. Bruxelle~: S.C.
4. Classificabilidade: possibilidade de classificá-las para faci- Editinn et Imprímcric. 1969.
litar sua localização racional em arquivos. Keiser-1\'íc\sen, S. Porensic odontology - Cases and comments. ln:
Wecht, C.H. (cd.). l.egal Medicim· .4mwal 1970. Ncw York:
5. Praticabilidade: utilização facilitada pelo baixo custo, faci-
Applcton. 1970, p. 31.
lidade de coleta etc. Laylon, J.J. Idcntifiea1ion from a bite mark in chccsc . .!. Foremic Sei.
Soe .. 6:76, 1966.
A colheita das amostras tanto pode ser feita através de Luntz. L.L. Denlal radiography and Photography in idenlitication. Dem.
moldagem de precisão, com alginato ou com silicone, como por Radiogr. Phoro~r., 40:83, 1967.
fotografia do palato com o auxílio ele um espelho. Os resultados Luntz, I..L. and Luntz. P. Handl>ook fór De11tal ldenl/ficarion. Phila-
obtidos seriam os palatogramas (Carrea, 1937). delphia: l.ippincotl, 1973.
De modo a possibilitar um cotejo entre o material de arquivos e Maplcs. W .H.. Trauma analysis hy lhe forensic Anthropologist. ln:
Rei eh. K.J. ( ed. J. f'oren.tic Os1eology. Advam·es i11 f'orensic
o material do identificando, bastaria que se procedesse ao confronto
.1ntliropology. Springfícld: Charles C. Thomas. 1986, pp. 218-
das fotografias do material problema com os palatogramas con-
228.
servados. sistematicamente, nos arquivos de identificação. Mima, H. The role of dental identification in mass disasters . ./. lr. nem.
Uma prova da viabilidade desse procedimento de identifica- Assoe., 20:Sl-62, 1974.
ção é que o Ministério de Aeronáutica exige a identificação da Rawson, R.D., Oúrnten. RK., Kinard. S .. Johnson. J. and Yfantís. A.
rugoscopia palatina dos pilotos. como forma de facilitar a sua Statislical evidencc for rhc individualily of the human dentition . ./.
identificação em casos de acidentes aéreos. Forensic Sei., 29:245-253, 1984.
2U R11goscopía Palatina

Rodríguez Andaluz, J.M. e Manugón Burgos, J. Necroídentificación. Simpson, K. Dental evidcnce in thc rcconstruction of crime. Br. Dent.
Madrid: Dirección General de la Policía, 19!!3. J., 9/:229, 1951.
Rogers, A.P. Idenrifü:ation by dental mcans. .1. Am. Dent. f\ssuc., 23: 181, Sophcr. J.M. Forensic De.ntiJtry. Springfield: Thomas, 1976, cap. ]X.
1936. Tcstul e l.atarjet. Anaiomia Humana, 4 vols. Barcelona: Salvai,
Rosenbluth, E.S. A legal idcntificarion. Dent. Cosmus, 44:1029, 1902. 1947.
Schour, I and Massler, M. The devclopment of rhe human denticion. ./. Vargas Alvarado. E. Medicina Legal, 5.ª cd. San José (Costa Rica):
Am. Dent. Assoe., 38: 1153, 1941. Lehman. 1983.
Simpson, K. "Rex vs. John George Haigh": The acid·bath murder. Med. William. L Curr.i.n. J., D., aml Hye, S.. M. The forcnsic invcslígation of
Leg. J., 18:38. 1950.
the death of Josef Mengcle. N. E11il. ./. Med., 315: 107 J. 1073. 1986.
. . ·. ·...
. ,.. · ·:

\ .·... :: :·1·::;_.j ~. ·.

. . ..... .

:.. . . ·:· ;.·.. : ·.. :;

. . .
. . ..
. .. . .

TÉCNICAS AUXILIARES

·····------·-·····--··········-···------------·--- -·--·----·-···-··· ......-------------------·····----- ----·-·------·-


31

Técnicas Auxiliares
·----- ·~···-~·-----------··~-·..---·-------·-·-----
....

Jorge Paulete Vanrell

de de mordidas, já que, cm regra, toda vez que alguém morde.


FINALIDADES escapa, até involuntariamente, saliva que fica e seca nas proxi-
midades da lesão. Dentre os vários métodos químicos já propos-
Nos locais de ocorrências criminais, bem como cm outras si- tos. somente dois têm interesse prático: são os que detectam
tuaç<1cs, geralmente formando parte do Corpo de Delito, isto é, su(focianeto de potdssiv (produto praticamente exclu-.irn da sa-
do conjunto de elementos que constituirão a prova do fato liva) e os que detectam amilast! salil'ar.
delituoso, freqüentemente aparecem restos de líquidos orgâni-
cos. ora formando acúmulos ou depósitos sohre objetos, ora for-
mando manchas, ora infiltrando tecidos ou outros objetos (e.g. a) Pesquisa do Sulfocianeto de Potássio
"hítucas·· de cigatTos).
Nesses casos, forçosa a colheita para análise desses vestígios • REAÇÃO DE EUCÁRIO NOVAIS.
de modo a submetê-los a exames laboratoriais. Os exames laho- sobre o macerado
ratoriais de líquidos orgânicos e c.le manchas deixadas têm por • macerar. por duas horas. Ltm fragmento de tecido com a
finalidade complementar perícias feitas sobre pessoas, cadáve- mancha com 5 a 10 gotas de água destilada:
res ou coisas, visando: • colher parte do líquido em uma cápsula de porcelana/vi-
dro de relógio;
a) identificação de pessoas ou cadáveres:
b) determinação da ocasião da morte; • acrescentar 1 gola de ácido cloridrico diluído a 50<k;
• acrescentar 2 a 3 golas de solução a 10q de percloreto de
c) identificação de líquidos e manchas em casos criminais:
d) investigação de vínculo genético; ferro:
e) verificação de contágio venéreo. • colorido avermel/Jado indica resultado positivo para
saliva.
Os exames de líquidos orgânicos que podem formar man-
chas ou ser encontrados depositados sobre o corpo ou inlilmmdo
• REAÇ.~O DIRETA DE El.iC..\.RIO NOVAIS,
objetos, abrangem um grande número de materiai:- pcridáveis.
sobre- o tecido
Esse número se vê um tanto reduzido no campo da Odontolo-
• colocar o panu manchado ou um fragmento sobre um vi-
gia Forense, haja vista que os líquidos orgânicos que se podem
dro de rclcíi!io:
relacionar com as lesões estudadas pelo odontolegista, em ter-
• deitar sohr; o pano uma gota de ácido clorídrico a 50'.1i,;
mos gerais, podem reduzir-se a: saliva, sangue. esperma e se-
• pingar no local 2 a 3 gotas de solução a 5% de percloreto
creções vaginais.
de ferro:
• coloridoavermelhadl,, notadamcntc na horda ou periferia
da mancha, indica resultado positivo para saliva.
MANCHAS DE SALIVA
• REAÇÃO INDIRETA DE COLOSSANTI.
Em diversos crimes, principalmente nos de conotação sexu- sobre o macerado
al, podem encontrar-se manchas. quer sobre o corpo da vítima, • macerar, por duas horas. um fragmento de tecido com a
quer sohrc suas vestes. Sobre o corpo, em geral, nas proximida- mancha com 5 a IO gotas de água destilada;
118 Térnirnx Aztri/iares

• colher parte <lo líquido em uma eiípsula de porcelana/vi- • TÉC~ICAS MICROQUÍ MICAS OU
dro de relógio; CRISTALO GRÁFICAS
• acrescentar 5 golas de solução de su lfato de cobre a 2%; - Cristais de Teichmann (1853) - identificam hematina:
• colorido verde-esmeralda indica resultado positivo para - Cristais de Lccha-Marzo ou de Takayama - identifi-
.l'aliva. cam hemocromogê11io:
- Cristais de Guarino - ídcnliíic::im hematoyorfirina.

b) Pesquisa da Amilase (Diástase) e) Diagnóstico de Espécie Animal pelo


• REAÇÃO DE BOETTGER , Sangue
sobre o macerado:
• macerar, por duas horas, um fragmento de tecido com a • TÉCNI CAS HISTOLÓG ICAS
mancha com 5 a IO gotas de água destilada; As hemácias podem ser vistas por microscopia, observando-
• colher parte do líquido em uma cápsula de porcelana/vi- se a forma das hemácias e a presença ou ausência de núcleos.
dro de relógio; Deve-se lembrar que, no sangue de répteis, anííbios e aves, as
• acrescentar 5 golas de solução alcoólica satu rada de resi- hemácias são de forma elíptica e possuem núcleo.
na de guáiaco;
• agregar 5 gotas de solução aquo~a a O.OSCk de sulfato de
• REAÇÃO DE CHLE:SHUT H
cobre;
Utiliza soros antiespécie (ex.: anti-humano etc.).
• uma cor azul indica resultado positfro para saliva;e.,-;a cor
desaparece pelo acréscimo de clorofómlio.
d) Diagnóstico Regional do Sangue
e) Diagnóstico de Procedên cia Individua l • DE EPL~TAXE (sangramcnt o do nariz)
do Sangue (Tipagem) Células da mucosa nasal e vibrisas.

• PROVAS DE JSOAGLUT INAÇ..\O • DE MENSTRUA ÇÃO


Pesquisa aglutininas e/ou aglutinogênios dos sistemas ABO. D ifíci l de coagular: presença de muco, bactérias e células
Rhe.m.ç (Rh) e MN, nas pessoa~ ··secretoras... vaginais.

• PROVAS GENÉTICA S (de certeza 1 • OE LÓQUlOS


[dcntiíicaçâo comparativa do D:'.\A. total ou fragmenlado, e Células do colo ute1i no e células da decídua.
ampliado pela técnica da PCR. identifi.:-ando -se MTRs e STRs.

+ OF. CA VIOAOE ORAL


Células da mucosa oral e saliva.
MANCHAS DE SANGUE
• DO CADÁV.ER
Existem diversos métodos. que podcm ~er agrupados como:
Cristais de Westcnhõfer-Rocha-Va lyerde desde o 3.º ao 36.º
dia após a m011e.
a) Provas de Orientaç ão
Hastante sensíveis. mas pouco cspccífü:a~:
e) Diagnóstico de Procedên cia Individua l
do Sangue (Tipagem )
+ REAÇJ\.O DAS OXIDASES
• PROVAS DE ISOAGLUT INAÇÃO
Água oxigenada sohre a mancha suspeita cdá ..cícrvescência "
Pesquisa aglutininas e/ou aglminogênio s dos sistemas ABO.
quando positivo).
Rh(•sus (Rh) e M~. nas pessoas "secretonis".

• PROVA DA QUJ!\.11LU MJ~JSCÊ1'C U


O reativo (L uminol) adere à mancha d..-: sunguc. tomando-a • TÉCNICA DE LA TTF.S
fluorcsccnle à luz ultravioleta. ~ · Pesquisa as aglutinina'l/aglutinogênios em r.mstn.,·(sangue seco).

• PROVAS GENÉTICA S (de certeza)


b) Provas de Certeza Tdcntificação comparativa do DNA, total ou fragmentado e
ampliado pela técnica da PCR. idemificando -sc MTRs e STRs.
Específicas quanto à presença de elementos ou propriedades
do sangue:

PRESEN ÇA DE ESPERM A
• TÉ<.."NICAS HISTOLÓG ICAS
As hemácias podem ser vistas por microscopia com ou sem Após ataques sexuais, nor.adamcnte no~ ca!->os cm que ocor-
corar. rem ::itos lihidínosos que podem acabar c,im ejaculação oral. no
Ucnica.f A1uiliares 219

vivo ou no cadáver, a pm1icipação do Odontolegista pode ser b) Provas de Certeza


fundamental por ocasião da colheita de amostras úteis. Existem
variantes. conforme a vítima esteja viva ou m011a. Observam-se os e~pemuitv.~óide.s ao núcrosc6pio, identificandC>-
os pela forma, que poderá sofrer mocliticações confonne o tempo
1• Com a vítima viva, deverá ser colhido material da cavidade oral: transcorrido entre o depósito e a colheita, e o grau de desidrntação.
• por raspado da mucosa vestibular de lábios e bochechas,
dando importância maior aos sulcos labiogengivais, e, no
sulco de transição vestíbulo-jugal,
e) Provas Biológicas
> com espátula e, na impossibilidade, face à escassez do Reação de Uhlenhuth. com soro antiespermático.
material,
:,.. com .nvab (cotnncte).
d) Provas Imunológicas
• confecção de esfregaços. com o primeiro material colhi-
do, e Permitem det.enninar o grupo sangüíneo (apenas o sistema ABO).
• cluição em salina do restante material, para posterior
centrifugação e separação do sobrcnadante (para reações
hioquímícas) e do centrifugado (para exames cito)ógicos e) Provas Genéticas (de Certeza)
e de ONA);
Identificação comparath·a do DNA, total ou fragmentado e
• lavagem da cavidade oral. através de bochechos, com
ampliado pela técnica da PCR. identificando-se MTRs e STRs.
colheita do líquido de lavagem e procedimento análogo ao
referido no item anterior;
• colheita de material entre os dentes;
• colheita de material na orofaringe. MANCHAS DE SECREÇÕES
"'> Com a vítima morta. deverá ser colhido material: VAGINAIS
}a,- da cavidade oral
Na identificação podem ser utílízadas:
+ por raspado da mucosa vestibular de lábios e boche-
chas. dando importância maior aos sulcos labio-
gengivais. e. no sulco de transição vestíbulo-jugal, com a) Provas de Orientação
Jwab (cotonete).
• confecção de esfregaços, com o primeiro material co- • PELA CONSISTÊNCIA
lhido, e Trata-se de manchas que impregnam os tecidos, dando-lhe
• eluição em salina do restante material. para posteri- uma consis1ência "engomada''.
or cenllifugação e separação do sobrenadamc (para re-
ações bioquímicas) e do centrifugado (para ex.ames • PELA FLUORESCÊNCIA
citológicos e de DNA). Não apresenta fluorescência quando a mancha é iluminada
pela lâmpada de Wood.
»-- do seio piriforme, procedendo à confecção de esfregaços
e eluição do material restante;
, dos hrfmquios, procedendo à confecção de csfregaços e
eluição do material restante: b) Provas de Certeza
::,;.. do esôfago, procedendo à confecção de esfrcgaços e Específicas quanto à presença de elementos da vagina.
eluição do material restante.

e) Provas Biológicas
MANCHAS DE ESPERMA Reação de Uhlenhuth, com soro antiespermático.
Na identificação podem ser utilizadas:
d) Provas Imunológicas
a) Provas de Orientação Pennitern detenninaro grupo sangüíneo (apena-; o sistema ABO).
• PELA FLUORESCÊNCIA
Intensa fluorescência branco-azulada quando a mancha é ilu- e) Provas Genéticas (de Certeza)
minada pela lâmpada de Wood.
Identificação comparativa do DNA. total ou fragmentado e
• CRISTAI,OGRÁFICAS ampliado pela técnica da PCR, identificando-se MTRs e S1Rs.
• Reação ou cristais de Florence - baseada na utilização
de iodo. • TÉCNICAS HISTOLÓGICAS
• Reação ou cristais de Barbàio - baseada na reação fren- Os esfregaços mostram células vaginais, caracterizadas pelo
te ao âcido pícrico, fonnando-se cristais de picrato de tamanho. formato e presença de glicogênio, bem como bacilos
cspcrmina. de Dõderlein, Gram-po~itivos, característicos da flora vaginal.
220 Técnicas Auxiliares

• TÉCNICAS MICROQUÍMICAS e) Prova Genética (de certeza)


a) Pesquisa de Glicogênio Identificação comparativa cio DNA, total ou fragmentado_
e ampliado pela técnica da PCR, identificando-se MTRs e
Identifica, através do reativo de Wicgmrum, a presença de glico~
gênio (grânulos castanhos ou marrons no interior do citoplasma). STRs.

+ REAÇÃO DE WIEG.MANN ( 1. 910), sobre macerado ou t) Pesquisa de PSA ou de Antígeno P30


material fresco:
Para identificar se houve intercurso na vagina que deixou sua
• macerar, por duas horas ou mais, em uma cápsula de por- secreção sobre o corpo ou tecidos.
celana/vidro de relógio, um fragmento de tecido com a
mancha com 5 a I O gotas de água destilada ou salina;
• colher parte do líquido concentrado, com uma pipeta;
• deítar 1 a 2 gotas sobre uma lâmina de microscopia;
BIBLIOGRAFIA
• acrescentar I gota do reagente de Wiegmann:
Amado Ferreira. A. ;\ Perícia 1êrníca t!m Criminologia e Medicina
lodo metalóídc ............................................. 0.20 g Le-.:al. São Paulo: Melhoramentos, !948.
ls)deto de potássio ........................................ 0.30 g Amad'o Ferreira. A. Ua Técníc:a Médico-Legal na Jm·estigação Foren-
Agua destilada .............................................. 45 mi se. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais. 1962.
Arbcnz, G.O. Medicina Legal e A111ropolugia Forense. Rio de Janeiro/
• cob1ir com uma lamínula; São Paulo: /\thcneu, 1988.
• observar ao microscópio: verifica-se o citoplasma das gran- Rcltran, J.R. Medicina l.egal para la b1se1ianza de la Odontología Le-
des células poligonais vaginais repleto de grânulos de cor gal y Social, 2.3 ed. Buenos Aires: EI Ateneo. 1944.
castanha a mogno: positivo para glicogênio: Brínón. E.~. Odrmrolo[!,ía Legal y Prártica Forense. Buenos Aires:
• se a lâmina for tratada com uma gota de sali\·a, os grânu- Purizón, 1982.
los paulatinamente descoram pela ação da amilase salivar. Clark. D.H. Pracricul Furensic Odo11tology. Oxford: Wright. 1992.
Clement, J.C. am.1 Sri-Skanda, S. The contrihution of dental histology
to rorcnsic Medicine. Acta Med. Leg. Soe., 35< 1):300-309. 1985.
b) Pesquisa de Bacilos de Dõderlcin Dernhert; L. Médicir1e Liga/e. Paris: Flammaríon, 1974.
Parte integrante da flora bacteriana da rngina: utiliza-se a téc- Fcrnánde:i: PéreL, R. F.le,~emos Bdsico.v de lvfrdiâna Forense, 4. 0 ed.
nica de Gram, quando esses bacilos (Gram - } se vêem cm gran- México: EI Autor, 1980.
de número. Kehdy. C. Manual d~~ Locais de Crime. SP: Ed. Escola de Polícia de
São Paulo. Coletânea AcáciQ Nogueira. 1957.
Pauletc: Vanrcll, J. Se.wlugia Forense. \fontes Claros: Ed. Unimontes.
e) Pesquisa de l<'osfatasc i\.cida 2001
Enzima que se encontra em grande quantidade na secreção Smith. B.C., Sweet. D.J., Holland. M.M. and Díz.inno, J. DNA and thc
prostática e cuja presença em valores elevados é um indicador Forensic odonrologist. 111: Bowers. C.M. (dir.). Manual of'Foremic
de que, no interior dessa vagina. houve ejaculação. Mesmo que o Odo11tology. Colorado Springs: American Sockty of forensic
agressor seja vasectomizado. a reação -.erá positiva. A pesquisa Odontology. 1995.
pode ser meramente qualitati\'a ou quantitativa. Sweet, D..I. ldentificacíón de manchas de saliva humana mediante
cl análisis dei Aül\. Tesi.s Doe/oral. Universidad de Granada.
199.'5.
d) Pesquisa de Espermatozóides Vargas Alvarado, E. Medicina L{!gal. 5." ed. San José (Costa Rica):
Útil para caracterizar que houve ejaculação intravaginal. Lchman, 1983.
. . .
.. ..

OS PROCEDIMENTOS
CONVENCIONAIS EM
ANTROPOLOGIA DO
A

CRANIO

----·-·-·-- ·--·····--- ----


Identificação Craniométrica
- ---- ··-·--····-- ···----- --·--- ·-·-·-- -- -- - ·--- - - ·-- ·- --
Maria de Lourdes Borborema Campos

..:::.

viscerocrân io (esplancnocrânio) ou seus fragmentos que, às ve-


INTRO DUÇÃO zes, são os ún icos elementos com 4.ue se conta. Dessa manei ra.
o Odontolegista, em todos os casos, utilizando os dados objeti-
" A Antropolog ia é a biologia comparativ a dos grupos huma- vos da Craniometria, assume um papel de.cisi vo na identificaçã o
nos. encarados do ponto de vista do sexo , da idade, da constitui- indi vidual.
ção e da raça'' (Fr6cs da Fonseca e Ro4uette Pint<). !929, 1953).
Dentre us diversas divisões da Antropolog ia-Antropologia
:oo/ôgir:a, Anlropolng ia racial, Antropotip ologia e Antropogê-
11ese ou Palentolog ia humana - a Antropotipologia, escudan- PONTOS CRANI OMÉTR ICOS
do os tipos cons titucionais. consoante o sexo, a idade, os carac-
terísticos individuais e os característi cos profissionais, é a que São determinad os locais do crânio ósseo que se tomam como
melhor se presta para permitir a identidade médico-leg al ou a pontos de referência para seu escudo e medição.
identidade judiciária ou policial dos indivíd uos. Deve salientar-se que ne m todos os pontos craniométricos
Ainda, dentro da Antropoti pologia, despontam dois grandes correspond em ao neurocrânio , uma vc1. que se encontram a lguns
métodos de estudo. Um, a Antroposco pia, de uso mais popular e pontos no maciço facial (csplancnocrânio ou viscerocrân io).
menos cie ntífico, que engloba o estudos dos característicos des- Os pontos craniométr icos dividem-se, pela sua posição ana-
critivos subjetivos e que não são passíveis de mensuração. O se- cômieu, em:
gundo método, a Antropome tria. é mais objetivo, baseando-s e
na tomada de medidas, ângulos e projeções das diferentes partes • pontos med ianos ou ímpares, cm número de 16. e
do corpo ou dos seus característi cos mensurávei s. • pontos laterais ou pares, em número de 24 ( L2 X 2 ou 12
Resulta evidente que, dentro dos I imites a que se propõe este pares).
trabalho. a amplitude da Identificaçã o Antropomé trica deverá ser 1. O s pontos enmiométricos medianos, da frente para trás. são:
menos amhiciosa e, ao invés de estudar o corpo todo. limitar-se- + ponto mentoniono, no centro da eminência mentoniana:
Íl à Craniometria, isto é, à realização e exame das medições an- • pomo alveolar inferior, na borda alveolar inferior:
tropométric as apenas das <li versas partes do crânio, sempre vi- • ponto alveolar superior. na borda alveolar superior:
sando estabelecer identidade quanto à constituição, ao sexo, à raça + pnmo espinhal nu subnasal, no centro da espinha nasal
~ à idade do indivíduo. anterior;
É 4ue, com relativa freqüência, são encaminha das ao Núcleo + rínío. no extremo inferior. li vre, da sutura intcmasal:
de Perícias Médirn-Legais do TML local, oriundas da Região. • násio. sobre a s ut ura frontonasa l;
ossadas ou partes delas, para que se proceda à sua identificaçã o. • glabela. no cencro da protuberân cia frontal média;
Trata-se, em gemi, de um trabalho demorado, um diálogo i:;i- • ófrío. no c;cntro do diâmetro frontal mínimo;
lcncioso que o pesquisado r estabelece com os restos que lhe são • bregmo, no ponto onde se encontram as sutu ras coronal e
encaminha dos, visando achar informaçõe s. obter dados fidedig- sagital;
nos e inequívoco s, objetivand o conseguir respostas materiais. • ohélio, sobre a sutura sagital, ao nível dos dois orifícios
Nesses casos, e quando o ossada está completa, o Médico parietais, ou de um só se o outro está ausente (se faltarem
Legista trabalha principalm ente com os ossos do esqueleto axi- ambos os orifícios. o ponto correspond e à porção menos
al, dos me mbros e dos cíngulos. O Odontolegi sta, por sua ve7., denteada da sutura):
pesqui sa os dentes. as p eças ósseas do neuroerân io e do + lambda. no ponto de união das suturas sagital e lambdóide;
224 /dentfficaçiío Craniométrica

Estefaniou ---- ---------,,,

Pterion --------,. , .-------- Obelion

Ofrion ·---- •••...,

r..------- Lambda

Daerion- - -------- Asterion

'-·· lnion
Punto espinal ~

~
j
1
1 ---------------------- - -- Opistion
1
1
1 1
1 1
1 ---------------------- - --- ---- - --- - -- Punto yugular
1
1
l
' ----- - --- - --- - - ---------- - -----------· Basion
•,
'·--------- -------------------- ------------- -· Gonion

Fig. 32.1 Prin,ip;;i, p,.lntii- .::raniom~tricos. (~odifü:ado de Tcsrnt & Latarjct.)

• ínio, no centro da protuherância cx:cipital c:xtema: + <?Slejanío.na interseção da sutura coronal e a linha curva
• npí:stío. na horda posterior do forame c":'-·ipital: temporal superior;
• hásio. na horda anterior do forame ma!!no <forame • dâcrio, onde se encontram o frontal, a apófise ascendente
occipital): • do maxilar superior e o unguis, na parede interna da cavi-
dade orbitária;
há dois pontos que co1Tespondem a locai~ não-fixos da abóhada:
• astérín. onde se encontram o occipital, o parietal e a por-
• opisiocrânín ou occipúcio. no extremo posterior do diâme- ção rnastóidea do temporal;
tro longimdinal máximo do crânio. ~obre a porçüo cerebral + pthío, que. mais que um ponto, é uma zona. onde i-;e en-
da escama do occipital, e contram quatro ossos: o frontal, o parietal. o temporal e o
+ 11é11ex. na pane mais alta do crânio. esfenóidc:
• éurio. no extremo do díâmetro transverso máximo do crâ-
2. Os pontos craniométricos laterais s,io em número de 12 de nio. sobre a protuberância parietal; e
cada lado. a saher: + pôrio, na pane mais alta da horda superior do orifício do
• gônio, no lado externo do vértice do ângulo do maxilar conduto auditívo externo.
inferior;
• ponto condíleo, na parte mais alta do côndilo da mandíbu-
la; ESTIMATIVA DO SEXO
• ponto glenóíde, no centro da cavidade glenóide do tempo-
ral;
+ ponto jugular. sobre a sutura mastóidco-occipital. ao ní-
Pela Constituição do Crânio
vel da horda posterior da apófise jugular do occipital; Em 77% dos casos, o diagnóstico diferencial do sexo pode
• ponto malar. na parte mais saliente da face externa do osso ser feito utilizando os elementos que fornece a inspeção do crâ-
malar (zigoma); nio e da mandíbula. apenas.
• ponto.fi-<mto-temporal, sobre a crista lateral do frontal, no Os elementos que se compulsam para fazer o diagnóstico di-
extremo do diâmetro frontal mínimo; ferencial são mostrados no seguinte quadro:
ldem/ficação Cra11io111étrirn 225

Mulher Homem Pelas Mensurações Convencionais


Fronte Fronte Depois da bacia. que, sem dúvidas, é a melhor estrutura para
Mais vcrlical. Mais inclinada para trás. fazer diagnóstico diferencial de sexo, o crânio ocupa o segundo
lugar. Utilizando dados objetivos (dimensões dos côndilos
Glabela Glabela e arcos ocdpitaís) e cákulo1; matemáticos relativamente simples. é pos-
superciliares sível obter valores de discriminação do dimorfismo sexual su-
Não saliente; .Salientes. pc1iores a 90%.
continuação do
perfil fronto-nasal.
Articulação fronto-nasal Articulação fronto-nasal
Curva. Angulosa.
Rebordas supra-orbitárias Rebordas supra-orhitárias
Cortante-.. Rombas.
Apófises mastóides Apófises mastóides
Menos desenvolvidas. Proeminentes, servindo de
Quando o crânio é pontos de apoio, tomando
colocado sobre o crànio mais estável
um plano, ele quando colm:ado sobre
ap<Íia-se no maxilar um plano.
e no occipital. 1
com menor
estabilidade.
Peso Peso
Crânio mais leve. Crânio mais pesado.
Mandíbula Mandíbula Fig. 32.3 Diagrama da base do crünio (face externa) para mostrar a for-
Menos robusta, Mais robusta, com cristas ma de medição dos diâmetros condílíos e do forame magno.
cristas de inserções de inserções musculares
musculares menos mais acentuadas. Muilo
pronunciadas. Muilo arqueada (peso médio O ÍNDICE DE BAUDOIN
mais achatada 80 g). Ctíliza af> dimensõe~ dos côndilos occipitais. Já, subjetivamen-
(peso médio 63g). te, os côndilos aparecem longos e estreitos, no sexo masculino:
curtos e largos. no sexo feminino.
Côndilos occipitais Côndilos occipitais
O índice de Baudoin é obtido pela relação entre a largura do
Curtos e largos. Longos e estreitos.
- ·---·· côndilo e o seu comprimento máximo, relacionados pela lúmmla:
Apófises mastóides e Apófises mafitóidcs e
, ct· e·, d'I largura do côndilo x 1()O
cstilóidcs estilóides 1n ice .on 1 eo =
Menores. Maiores. comprimento do côndilo
Os valores do índice são interpretados como discriminantes
do dimorfismo sexual. da seguinte maneira:

Parte dessas características di fereneiaís pode ser observada nos Índice Sexo do crânio
diagramas comparativo'> mostrados na seguinte figura:
> 55 feminino

entre 50 e 55 crfmio de detenninaçào du\ idosa

< 50 masculino

Por si só, o índice de Baudoin ofcn.:ce uma percentagem de


ace110, ísto é, de discriminação sexual. considerada estali~lica-
mente baixa, da ordem de 60%.

o ÍNDJCJ<: nos DIJ\"l\.U:TROS DO FORAME ~JAGNO


O í11dice dos diâmetros do foram<! magno (buraco occipital)
é obtido pela rela\'ão entre a largura do mesmo ( distância ]átero-
Fig. 32.2 Diagramas comparativos: à esquerda. crânio feminino: à di- lateral) e o seu comprimento m,tximo (distância ântcro-posteri-
reita, crânio masculino. or), relacionados pela fórmula:
226 Identificação Craniumétrica

, . . largura do forame • índices cranianos (formatos das normas cranianas):


Ind1ce do toramc ma 0 no = X 100 ~ horizontal
º c-omp1imento do foramc
~ sagital (vertical lateral ou perfil)
Os valores do índice são interpretados como díscriminantes ~ transversal (vertical posterior)
do dimortismo sexual, da seguinte maneira: • índice fadai superior
• índice nasal
• índice de prognatismo (do perfil facial ou ângulo facial)
Índice Sexo do crânio
> 35,0 masculino
Índices Cranianos
entre 30,0 e 35.0 provavelmente mascu lino São correlações percentuais, segundo as fóm1ulas estahelecidas
28,5 e 30,5 por Retzius. entre diâmetros ou distâncias máximas, medidos entre
Cnli'C determinação duvidosa
pontos craniométricos ou anatômicos dctcm1inados. que constam
entre 25.0 e 28,5 provavelmente feminino do rol apresentado no início deste capítulo (c:.f supra). a saber:

< 25 feminino • hregma


• básio
• lambda
• metalambda
• glabela
ESTIMATIVA DO GRUPO ÉTNICO • násio
• espinhal (subnasal)
Conquanto a miscigenação dos grupos étnicos seja um fator • próstio
inquestionável , a ponto de, cada vez, ser mai s difícil encontrar • malar
" rnças puras", é inegável que há traços morf'o16g icos que perdu- • éurio
ram. resistindo a essa mistura racial.
Muito embora grande número de referidos traços sejam mais Os esquemas de suporte foram modil'icados de Ve iga de Car-
encontradiço s nas partes moles do corpo, notadamente na pele valho <tt ai. ( 1987) e de C roce & Croce Jr. ( 1995).
e na região cefálica, constituindo objeto de estudo da Amro-
pologia Racial, como vimos no início deste capítulo, muitos ou- ÍNDlCE CEFÁLICO HORIZONT AL (ÍNDICE
tros podem ser encontrados no esqueleto. Alguns destes. como é HORIZONTAI.)
o caso, por exemplo, dos ossos longos das extremidades, esca- Relaciona, no plano horizontal, a latitude (largura máxima)
pam dos limites deste trabalho, que é de votado essencialmen te com a longitude (comprimento ) do crânio:
aos achados no crânio, de maior interesse para o Odontolegisla.
Índice cefálico horizontal =
Assim .sendo, neste item, seguindo a Simonin, nossa atenção
será centrada nos caracteres étnicos do crânio que podem ser largura máxima (éurio - éurio) X
calculados através de: 100
comprimento máximo (glahela - metalambda)

1
1
~---,..--~
1
1

Dollcocrânio Mesocrânlo Braquicrânio


74,9 74,9-80 80

Índice cefálico horizontal (índice horizontal)

Índice horizontal Tipo de crânio Grupos étnicos


<74,9 dolicocrânio caucasóides nórdicos (escandinavos, ingleses),
negróides africanos, berberes. austral6ídes
·-
74,9 - 80.0 mcsocrânio mongolóides
> 80.0 braquicrânio caucasóides (eurnpcus centrais)
14.ilifi t-.-c,w · tu ?Z7
hTIICE SAGITAL f\"ERTICAL LATERAL OlJ
Índice vertical lateral =
PERFIL !
Relaciona. perc:entu almente e no plano sagital, a altura máxi - altura máxima (básío - bregma) X
ma do aânío com o seu comprim ento máximo : 100
comprim ento máximo (glabela - metalambda)

Hipslcrâ nio Mesocrâ nio


>75
Platlcrânio
75-69 < 69

Índice sagital (vertical lateral ou perfil)

Índice · vertical Tipo de crânio Grupos étnicos

> 75,0 hipsícrân io mongoló ídes, ncgróide s

75.0 - 69,0 mesocrãnio caucasói des

< 69,0 platicrân io crânios fósseis -~

ÍNI>ICE T RANSVERSAL (VERTI CAL POSTERIOR)


, . . altura máxima (básio - bregma)
Relacion a, percentu almente e no plano frontal, a altura má- l nd1ce vert1ca1 1atera1= X 100
xima do crânio com o seu comprimento máximo : largura m áxima ( éurio - éurio)

Estenocr ãnio Metriocrâ nio Tapínocr ânio


>98 98-91 ,9 <91 ,9

Índice transversal (vertical posterior)

Índice vertical 'Iipo de crânio . Grupos étnicos


> 98.0 estenocr ãnio caucasói dcs (europeu s do centro)

~98,0 - 91,9 metriocrânio mongoló idcs

j . < 91.9 tapi nocr ân io ncgróide s, caucasói des (europeu s do norte e do sul)
-
!!8 fJ,r.:~fi,ação Craniométrica

Í~"DICE F ACIAI. SUPERIOR (ÍNDICE Índice facial superior =


PROSOPOMÉTRICO) .
Relaciona, percentualmente e no plano frontal, a altura máxi- = altura máxima da face (násio- prósúo) X
100
ma do maciço fadai com a largura máxima ela face: largura máxima da face (malar - malar)

Dolicofacial Mesofacial Braquifacial


55,0 55-49,9 49,9

Índice facial superior (índice prosopométrico)

Índice facial Tipo de face 1


Grupos étnicos
> 55.0 dolícofacial ;
caucasôides (europeus nórdicos. escandinavos), polinésíos, árabes

55,0-49,9 mesofacial negróides africanos

<49,9 hraquifacial australóides. mongolóides (lapiíes), crânios fósseis

ÍNDICE NASAL largura nasal máxima


Relaciona, percentualmente e no plano frontal. a largura na- Índice nasal = ~ X 100
altura nasal (násio -espinhal)
sal máxima com a altura do nariz:

Leptorrlno Mesorrino Platirrino


47,9 47,9-53,0 53,0

Índice nasal

Índice nasal Tipo de face Grupos étmcos

<47,9 leptorrino caucasóides

47,9- 53,0 mesorrino mongolóides

> 53,0 platírrino ncgróides africanos, australóides, crânios fôsseis


Jden1/ficação Cra11iométrica 229

ÂNGULO FACIAL Tipos de Prognatismo


É formado entre o plano frontal. passando rente ao esplacno- Intimamente ligado com o ângulo facial (l.f. supra), que seria ape-
crânío, e o plano horizontal, que, passando pelo centro do meato na,; a sua quantificação, encontra-se o gmu ou tipo de pmgnatismo.
auditivo externo (MAE), intersecta o anterior quer na espinha Com efeito. "o prognatismo - projeção anterior do maciço
nasal inferior (EN), ângulo de Jacquart, quer no ponto pr6slrion, ósseo facial- é do tipo alveolar (facial baixo), pronunciado nos
ângulo de Cloquel. quer na reborda incisai dos incisivos centrais negros, nos quais a boca salícnta para a frente do rosto".
superiores. ângulo de Cuvier: "Nos amarelo-.. o prognatismo é do tipo facial alto, projetan-
do para a frente não só o maciço facial. como também, especial-
mente, os ossos malares...
"Nos brancos o prognatismo é pouco pronunciado ou inexis-
tente, e o crânio apresenta o perfil ve11íca1. com projeção ante-
rior dos ossos próprios do nariz." (Teixeira, 1975.)
Tudo o que foi exposto pode ob-.crvar-se na figura compara-
tiva seguínce:

1 - ~ngulo de Jacquart
2 - ~ngulo de Cloquet \
3 - Angulo de Cuvier \
\
\
\
\

Fig. 32.4 Ângulos faciai~ segundo Jacquart, Cloquet e Cuvier. a b

Fig. 32.5 Variá,eis de prognatismo racial: a} orlognatismo. na rar_:a bran-


ca (caucasóides 1: h, pmgnatismo mandibular. na raça negra (negróidcs ):
Na prática. o ângulo mais usado é o de Cloquet, que oferece e) prognatismo maxilar ou facial. na ra~·a amarela (mongnl6idcs). (:'\1o-
variações bem caracterizadas: dificado de Teixeira. 1975)

Prognatos Mesognatos Ortognatos


< 83° 83° > 83º

Ângulo facial de Cloquet

Ângulo facial Perfil da face Grupos étnicos

< 83º Prognato Negr6ides africanos, australóídes

83º Mcsognato Mongolúides mcrídíonais

> 83º OrLognalO Caucasóídes (brancos)


2JO /demijicaçào Cra11io111étrica

Não obstante. a margem de cm> no diagnóstico da idade com base


ESTIMATIVA DA IDADE no estudo do apagamento das suturas cranianas é bastamc grande
(30%, segundo Bonnet). Com efeito, em média é de 10 anos, às vezes
Pelas Suturas Cranianas atingindo até limites maiores e que não se consegue precisar.
A observação cuidadosa das suturas cranianas oferece um bom Quando o crânio mostra, ainda, todas as sucuras presentes, não
auxílio quando se pretende efetuar o cálculo aproximado da ida- apagadas, grosso modo pode-se calcular que a pessoa tinha menos
de, ou melhor, da faixa etária possível do indivíduo. de 30 anos ao falecer. Quando todas as suturas estão apagadas, te-
Com efeito, as craniossinostoses, com o decorrer do tempo, ria, provavelmente. mais de 80 anos. Uma vez que esses dados -.ão,
passam a ler suas interdigilaçües atravessadas por pomes de te- em regra, bastante variáveis, o perito, ao fazer uma pericia de idade,
cido ósseo. Esse processo é incoativo. isto é, ocorre lenta e ine- tem que tomar muitas precauções e compulsar todos os outros ele-
lutavehnente, em épocas diferentes da vida, mas guardando cer- mentos de diagnóstico possíveis. antes de relatar o caso, quer for-
ta constância, de forma tal que as suturas coronária. sagital e mulando uma hipótese, quer dando o seu diagnóstico definitivo.
lambdóide podem ser divididas, cada uma delas. em três setores O apagamento das suturas cranianas se faz, primeiramente,
diferentes, cm face da cronologia dessa ossificação articular. na superfície interna do crânio, onde a sua apreciação é menos
Conforme autores abalizados, como, por exemplo, o mestre sujeita aos já possíveis erros. e, apenas depois. na face externa.
Bonnet, a margem de equívocos ou dubiedades é grande. uma
vez que, em 30% dos casos, não há coincidência entre os valo-
res etários calculados pelo apagamento das suturas cranianas e a Pela Mandíbula
idade real do indivíduo.
Os sinais de "envelhecimento" começam a aparecer nos os- 1. O ÂNGULO MANDl8ULAR
sos, logo após o término da soldadura das epífiscs às diáfises. No exame da mandíbula pode interessar o gf'Jnio, ângulo
em geral por volta dos 25 aos 28 anos. Assim, quando se dispõe mandibular ou ângulo goniônic(}. que é aquele formado pelo
de um crânio para ser analisado, a idade pode ser estudada. acom- ramo ascendente (cérvico-cranial) e pelo ramo horizontal
panhando as alterações nas suturas entre os ossos cranianos (isto (cérvico-facial) da mandíbula.
sem concar com outros referentes a alterações degenerativas de De acordo com Martín, cs-.e ângulo mandibular, no re-
escápula e de vértebras). cém-nascido. varia de 160 a 170º. Com a evolução etária, ele

Fig. 32.6 Idades da soldadura das suturas cranianas: à esquerda, face ex tema; à direita, face interna. Os números indicam a idade .:manos em que
se processa a si nostose.

fi~. J.?.7 \ aria.;ôe, do ;ingulo mandibular. conforme a idade: da esquerda para a direita, recém-nascido, adulto. velho.
ldent(/icaçilo Crcmiométrica 231

diminui paulatinamente até atingir, no adulto, entre 95 e 100º;


após esse estágio, aumcma à razão de 0,186" a cada ano, alcan- ESTIMATIVA DA ALTURA
çando, no idoso, entre 130 e 140°.
Existe um método matemático que permite o cálculo da altura
Determinação da Idade pelo Ângulo .Mandibular do indivíduo a partir das dimensões dos dentes. A fundamentação
(segundo Ernestino J.opcs) do método reside no fato de que existe proporcionalidade entre os
diâmetros dos dentes e a altura do indivíduo. Esse procedimento
foi criado e aperfeiçoado pelo professor argentino Cam~a.
Mínimo Máximo Médio Idade (anos)
Mede-se, cm milímetros, o arco ele circunferência, constituí-
110º 135º 130º 5 a lO do pelo somatório, no arco inferior, dos diâmetros mesodistais
do incisivo cencraL do incisivo lateral e do canino inferiores (31-
110" 130º 125º 11 a 15 32-33 ou 41-42-43). A "corda·· desse "arco", geometricamente
falando, é medida traçando-se a linha reta entre os pontos inicial
110° 125º 120º 16 a 20 e final (borda mesial do incisivo central até a borda distal do
canino ipsílateral) do ··arco". Carrea deu a essa medida o nome
J JOº 120º 115º 21 a 25
de ·'raio-corda inferior''.
105º 120º 110º 26 a 35 A altura humana deve encontrar-se entre essas duas medidas,
que hão de ser consideradas proporcionais, uma máxima, à me-
105° 120º l 10º 36 a 45 dida do arco. e outra mínima, à medida do "raio-corda infc1ior".
As fórmulas para fazer a estimativa da altura cm milímetros,
são as seguintes:
A simplicidade e praticidade desse método faz rnm que al-
guns autores ainda prefiram usá-lo, no vivo, cm vez de empregar , . . arco X 6 X I O X 3. 14 16
1. Altura max1ma (em mm)= ·
medidas e técnicas mais complexas. Com efeito. no vivo. a de- 2
posição de sais calcários e de dentina secundá1ia pode ser ohser-
vada. com nitidez, nas radiografias periapicais. . raio-corda X 6 X 10 X 3.1416
2 . Altura mínima ( em mm) = ·
2
2. O FORAME MENTONIANO
Paralelamente, observa-se a aproximação progressiva do fo- A altura masculina estará mais próxima da altura máxima
ramc mcntoniano à reborda alveolar. Isso ocorre em conseqüên- calculada. ao passo que a altura mínima será mais próxima da
cia da reabsorção óssea que acompanha a perda das peças dentá- altura mínima calculada.
ria e o fechamento dos alvéolos.

3. A REDUÇJ\O DA CAVIDADE PULPAR


O estudo da redução da cavidade pulpar, na perícía de deter-
minação da idade, apresenta fortes críticas:
a) porque carece extrair a peça dentária que se utiliza. para
poder estudá-la adequadamente;
b) porque a seção longitudinal do dente estraga, definitiva-
mente, a peça estudada.
É por isso que, do ponto <lc vista pericial, considera-se mais
prático realizar a análise do gúnio ou ângulo da mandíbula.
arco

Fig. 32.9 Esquema do tra~·ado do "arco" e da "corda'' entre a face mcsial


do primeiro incisivo inforior e a face dístal do canino inferior do mes-
mo lado. que possibilitará as medições necess,:'Lrias para calcular a ahu-
ra conforme a fórmula de CaiTea.

Esse procedimento possibilita o c,Hculo da altura nos casos de


fragmentação ou csquanejamento. acidental ou criminal. dos ca-
' \~:.:. . ::~ ~:.-:.~:;:::::::·::.:
~; ..... dáveres, ou nos casos em que o odontolegísta dispõe de restos
'•
.•.l,, ::;
4;
.i.. humanos em que foram preservadas as peças dentárias. Esse índi-
ce apenas avalia a altura mais provável do indivíduo e não guarda
5 ... /· ',,..... ' .. nenhuma relação com a causa médica ou jurídica da morte.
,:.~. ·-·----~-:.--~~-~~~~~_.,;;
4 3
BIBLIOGRAFIA
Fig. 32.8 Posição relativa do forame mentoniano (3) em relação à hor-
da alveolar da mandíbula (4). marcada pelo traço. (Apud Testut & As referências bihlíogníficas serão apresentadas, em conjun-
Latarjet, modif.) to, no final do Cap. 33.
Determinação da Idade pelo
Exante dos Dentes
-----------.... ---······------·-·-··-····-"--·-
Alaria de Lourdes Borborema Campos

lação ou tabicamento dos maxilares também pode ser útil para


INTRODUÇÃO oferecer o cákulo de idade.
O processo de scptação ou tabicamento dos maxilares faz com
A partir do 65.º dia da vida intra-uterina. quando aparecem que, no feto de termo. existam quatro (4) septos hem visíveis em
os folkulos denláiios. e até a erupção dos terceiros molares, na cada hemimandíbula. que delimitam cinco cavidades - alvéo-
adolescência ou idade jovem - entre os J6 e os 25 anos de ida- los-, nas quais se alojam os correspondentes esboços dentá1ios
de-. ocorre uma sucessão de estágios que se encontram perfei- (signo de Billard).
tamente identificados e caracterizados. Isso torna possível o cál-
culo da idade com uma escassa margem de erro, isto é, com boa
precisão
,.\ prox imadamente na 13." semana da vida intra-meri na, é que A ERUPÇÃO DENTÁRIA
o.;oorre a cakificaçãodos germes dentários. Paralelamente, a sep-
A erupção dentária é um processo contínuo que ocon-e entre
o 7." e o 30.º meses da vida. para a dentição caduca. e entre o 6. 0
e o 25." anos, para a dentição permanente. Ainda que possa ha-
ver vmiaçõcs individuais, por volta dos I O meses as crianças já
~j lêm 4 dentes; ao fazerem um ano. 6 dentes: aos 2 anos. 18 den-
tes; e, ao completarem 2 anos e meio. 20 dentes. Em tomo dos 6
~. anos, tem início a cmpção dos dentes perrnanemcs. que paulati-
namente vão substituindo aos caducos, até que a dentição defi-
nitiva esteja completa, quando da erupção do 3." molar. o "dente
do siso".
A cronologia da erupção dentária da dentição temporária
(caduca) sói ser muito mais precisa que a da dentição defini-
li va. Assim sendo, os valores temporais que constam do pa-
rágrafo precedente devem ser tomados apenas como valores
médios. Ris que, com freqüência, se ohservam irregularida-
des na erupção. resultantes de causas diversas, corno: o esta-
do nutricional, o tipo de alimentação. deficiências e carênci-
as alimentares, agente8 ambientais, transtornos do crescimen-
to, doenças metabólicas etc. Os prazos de erupção infantil
Fig. 33.1 Mandíbula de um foto de termo. borda alveolar. L Duas referem, sempre, a crianças amamentadas com leite materno,
metades do osso, aínda não soldadas. 2. Côndilo. 3. Processo pois que a lactação artificial pode chegar a atrasar a erupção
coronóide. 4. Alvéolo dos incisivos. canino e primeiro pr~-rnolar. S. dos dentes em meses.
Alvéolo do segundo pré-molar e primeiro molar ainda não separados. De modo a calcular a idade em um caso concreto, o trabalho
(.4pudTestut e Lalarjet. Anatomia Humana. Barctlona: Salvar, J 947. pode ser !sim pI ificado ui iI izando-se uma tahc Ia cronológica corn-
vol. l. p. 271.) plela, como a seguinte:
Determinaçiiu da idade pelo t:xame dos Delllt'S 233

Tabela cronológica de mineralização dos dentes permanentes no Brasil


(Nicodemo, Moraes e Médici Filho apud Crocc e Crm;e Ir.)

DENTE Primeira 1/3 da 2/3da Coroa Início 1/3 da 2/3 da Ténnino


evidência de coroa coroa completa da formação raiz raiz a picai
mineralização radicular

SUPERIORES
Incisivo central 5-7 8-15 19-30 36-57 60-78 75-90 87-108 100-116
Incisivo lacerai 9-15 24-30 33-57 54-72 72-88 84-102 96-112 105-117
;
Canino 5--6 12-33 36-60 60-78 76-87 90-114 111-141 126-156
Primeiro pré-molar 27-36 48-66 57-75 78-96 87-108 102-126 117-133 129-159
Segundo 36-54 51-66 66-84 78-102 93-117 105-129 117-144 141-159 l
pré-molar !
:

Primeiro molar 1--6 6-16 18-30 36-48 54-66 66-84 75-96 90-104
Segundo molar 39-57 52-66 69-84 81-102 102-126 120-135 129- 153 150-162
Terceiro molar 90-132 96-138 102-156 138-174 162-193 180-204 192-234 216-246
INFERIORES
[ncisivo central 3,9-61 9-12 18-27 28-45 48-68 60-78 76-96 90-102
Incisivo lateral 4,6-58 7-12 18-30 18-66 54-78 68-88 80-99 92-102
Canino 4-7 8-30 24-54 51-72 69-93 84-108 105-135 129-156
Primeiro 27-36 45-60 51-72 69-90 84-102 102-126 114-141 132-156
pré-molar
Segundo 33-54 48-63 66-81 78-96 93-144 108-132 117-144 141-159
'
pré-molar

1-6 6-12 18-28 18-45 '1 54-ó6 57-81 78-96 90-104


; Primeiro molar

i Segundo molar 39-60 51-66 72-87 84-105 102-126 117-135 129-153 150-165
Terceiro molar 90-132 96-138 102-156 138-174 162-198 180-204 192-234 216-246

A INVOLUÇÃO DENTÁRIA AS MODIFICAÇOES NA MANDIBULA


- ;

No indivíduo adulto, o csludo dos dentes permite verificar as Com efeito, o forame mentoniano, que se encontra eqüidis-
modificações que sofrem. e que podem ser de ulilídade para a tante das bordas superior e inferior da mandíbula. por efeito desse
deLem1inação da ídade do indivíduo. Reterida involução dentá- processo de reabsorção fica cada vez mais próximo da borda
ria, inieía-sc por mudanças da cor, quando o esmalte, de branco, superior.
toma-se amarelado. O processo de reabsorção da borda alveo-
lar. tanto da maxila quanto da mandíbula, vai, aos poucos, dei-
xando em evidência o c.:olo dos dentes e, por vezes, até parte da
raíz, o que foz com que os dentes pareçam mais compridos. O ÂNGULO MANDIBULAR
Não apenas os dcnles tcmporáiios caem com a idade, mas os
chamados <lcfinilivos também o fazem, em idades mais avança- Da mesma maneira. o ângulo formado pela linha que ac.:om-
das do indivíduo. Com efeito, a queda dos dentes definitivos por panha a borda posterior do ramo ascendente da mandíbula com
efeito da idade começa pelos pré-molares superiores, seguidos a linha que acompanha a horda inferior do ramo horizontal de
pelos incisivos inferiores. Os caninos superiores mostram-se as citado osso, aumenta paulatinamcnlc. scn<lu c.:crto que. dos valo-
peças mais resistentes à queda espontânea. Com o desapareci- res entre 95º e l00º. prüprios do homem adulto. o ângulo aumenta
mento dos dentes, tem início a reabsorção dos alvéolos, o que, gradatívamenlc, passando a medír entre 130º e 1400. A perda
como é óbvio, introduz modificU(,'.<>es significativas na mandíbula. precoce <los dentes e a não-colocação da respectiva pr6tese são
!..~ De1en11i11ação da Idade pelo Exame dos Dentes

O DESGASTE DOS DENTES


Ponsold <1955) estabeleceu que: "Na mastixaçâo normal, até
os 30 mws, sô o esmalte nonnal sofre di•sgaste. Aos 40 anos, a
dentinaj1ca <Íl'scoberta, porém a própria mastixação l!Slimula
aformaçüo de 11vva dentina - a demina sernndária ····, a qual
protege a polpa. Esta dentina de reação dú um colorido mais
escuro à superfície triturante. Até o.,; 50 anos, esse desgaste vai
'
l aumentando. Ao chegar aos 60 anm, pode es/ar afetada toda

''•
.··\
. ,'

5.··e ~ ...... . _..., ___ _


a secção tranwersa/ dos dl'nfl!S. Entlio, a cor da dentina se-
cundária muda de castanho-clara a castanho-escura. Estas in-
dicações para a de1ermi11açüo da idade são sempre aproxima-
·./:>. - ..... _
das."

4 3
""""1'1'-"'lr-----30
Fig. 33.2 Mandíbula de idoso vista pela face lateral direita. 1. Côndilo. Determinação da idade. 40
2. Processo coronôide. 3. Fora me mentoníano. 4. Borda alveolar. 5. Ân- pelo grau de desgaste da
gulo mandibular (gônio). As linhas pontilhadas indicam o contorno da coroa, acima dos 30 anos, _,..,,..~~~~~60
mesma mandíhula na idade adulta. Vê-se. claramente. que, devido à re- segundo Ponsold
absorção. a aln1ra do corpo do ossQ tem se reduzido à metade; que o
ângulo da mandíbula é mais obtuso; que a procnúnência do mcnto é mais
pronunciada: que o forame mentoníano localiza-se quase na borda al-
veolar do osso. A linha indica o tanto que o forame mandibular tem se
"marginalizack,". (Aµud Testut e Lataijet. Anatomia Humana Ban:dona:
Salvar. 1947, vol. 1. p. 272. modificado.)

Fig. 33.4 Esquema. modificado de PonsQ!d, para determinação da ida-


de pelo desgaste da ,;oroa. acima dos 30 anos de idade.

Gustafson ( 19501. seguido por Dalitz ( 1962) e Miles ( 1963),


estabeleceu critérios múltiplos que levam cm consideração não
Fig. 33.3 Variaçôes do ângulo mandibular em função da idade. Da es- apenas o fenômeno do desgaste sofrido pelos dentes, como tam-
querda para a direita: no recém-nascido, no adulto e no velho. bém as estruturas e tecidos circunvizinhos.
No seu trabalho princqJs, Gustafson fixou seis processos
evolutivos, que de,·em ser considerados simultaneamente ou em
elementos que podem fazer com que as modificações manclibu- conjunto. Estes. como pode observar-se na figura. são:
lares senis já se façam presentes antes mesmo <los 50 anos ele
idade.
A.O. A.1. A.2.
Determinação da Idade pelo Ângulo
Mandibular
(Ernestino Lopes apud Croce e Crocc .Jr.) S.1.

Mínimo Máximo Médio Idade


(anos)
110º 135º 130º 5 a 10 P.1.

110º 130° 125º 11 a 15


110º 125º 120º 16a20
110° 120º 115º 21 a 25 '-C.1.
!

105º 120º 110º 26a 35


!
Fig. 33.5 Esquema de quatro estágios dos seis propostos por Guslafson:
105" 120º 110° 36a45 A, abrasão; S, dentina secundária; P. paradontose; C, aposição de
-····- cemento,
Detenninação da Idade pelo E.xame dos Dentes 235

1. Abrasão: das bordas incisais ou das superfícies oclusais, Quando é conhecida a idade dos dentes examinados. é possí-
como conseqüência da mastigação. vel correlacionar ambas as variantes através de um dia21'3Jtla de
2. Paradontose: mudanças que se ob.o;;crvam nos tecidos de dispersão e o final trnçado da reta de regressão. Atta;.és dess.a
suporte dos dentes. correlação, é possível determinar a idade com um erro de =5
3. Dentina secundária: a cavidade pulpar vai aos poucos anos.
sendo preenchida, concentricamente, por um tecido duro, Quando contamos com um caso real, os dentes podem ser
que se origina da própria parede dentinária interna da raiz. analisados por esse método e, finaJmente, verifica.se a idade lan-
4. Aposição de cemento: o cemento é o tecido responsáveJ çando os valores obtidos sobre o diagrama preestabelecido. in-
pela fixação do dente no alvéolo. É certo, contudo, que o clusive não tendo dados locais. com o dos próprios Frykholm e
cemcnto aumenta progressivamente em densidade à me- Gustafson:
dida que ocorrem mudanças de posição dos <lentes.
5. Reabsorção da raiz: observam-se, na raiz, áreas onde o
cemento e a dentina são reabsorvidos por células especi- Anos
ais, os osteoclastos, sob a influ~ncia de fatores hormonais.
nutricionais ou psicossomáticos diversos. 70
6. Transparência da raiz: é decorrência do preenchi-
mento e mineralização dos canais dentínáríos que, as- 60
sim, se tornam invisíveis, aumentando a transparência
da raiz. 50
Cada um desses seis processos, em função de sua intensida- 40
de, pode marcar pontos de O a 3, de acordo com o quadro a se-
guir, sendo certo que o somatório dos pontos omorgados a cada
dente acaba por oferecer um valor numérico.
20

10
AO Ausência de desgaste.
AI Desgaste leve atingindo o esmalte. o 2 4 6 8 10 12 Pontos
A2 Desgaste que atinge a dentina.
Fig. 33.6 Diagrama de F,ykholm e Gustal:~on: Nas ordenadas, variações
A3 Desgaste que atinge a polpa. da idade: nas abscissas. número médio de pontos obtidos enrre os den-
PO Ausência de periodontose. tes examinados. Para um número de pontos obtidos, traça-se uma orde-
nada auxiliar até que intersecte a reta de regressão. traçando uma linha
PI Início de periodontose. paralela às abscissas: o ponto em que esta cortar o eixo das ordenadas
P2 corresponderá à idade da vítima.
A periodontose atinge mais de l/3 da raiz.
P3 Atinge mais de 2/3 da raiz.
so Ausência de dentina sernndária. A técnica original propõe que os dentes em estudo sejam cor-
tados longitudinalmente (desgastados), com o auxílio de um re-
SI Início de formação da dentina secundária.
bolo de esmeril, <le ambos os lados para a parte central. até atin-
S2 A dentina secundária preenche metade da gir transparência que permita observar a lâmina do dente no
cavidade pulpar. microscópio.
S3 A dentina secundária preenche quase Como esse procedimento faz desaparecer as peças dentárias.
completamente a cavidade pulpar. nos casos forenses e criminais, prefere-se observar o dente intei-
ro, isto é, sem desgastar, procedendo apenas à sua diafanizaçào
co Apenas cemento normal. por repetidas passagens em xilol e, finalmente, -.endo pincelado
Cl Dcp6síto de cemento maior que o normal. por bálsamo de Canadá. O único inconveniente é que se trata de
C2 Grande camada de cemcnto. um procedimento algo mais demorado mas que oferece os mes-
mos resultados e, ainda, não altera nem destrói as peças dentári-
C3 Ahundante camada de cemcnto. as examinadas.
RO Inexistência de reabsorção.
Rl Pequena reabsorção em manchas isoladas.
R2 Grau mais adiantado de reabsorção.
BIBLIOGRAFIA
R3 Grande área de reabsorção de dentina e de Abreu, 11.T. Medicina legal Aplicada à Ane r>emária. São Paulo: Fran-
cemcnto. cisco Alves, 1922.
Alvarado, F..V. Medicina Legal. 3.' ed. Costa Rica: Lehmann, 1983.
TO Ausência de transparência. Arhem:. G.O. Medicina l.e.fta/ e A11tropologfa Foren.se. São Paulo:
TI Transparência visível. Librnría Atheneu. 1988.
A vila. J.B. Anrropología Física. Rio de Janeiro: Agir, 1958.
T2 Transparência atinge 1/3 da raiz. Briiion. E.~. Odo11tología Legal y Prâctica Forense. Buenos Aires:
T3 Transparência atinge 2/3 da raiz. Purin:wn, 1982.
.Bonnet, E.F.P. Medicina Lega!, 2.ª cd. Buenos Aires: Lopez. 1980.
236 Vetenni11açiio da Idade pelo Exame dos Dentes

Careca. J. U. Ensayos ndontornétrirns. Tese de Doutorado. Buenos Aires: Machado, S. R. ei ai. Vcrifieação da apl icahi Iidade do índice '·B audoin ''
Universidade Nacional de Bueno1, Aires, 1920. para dererminaçâo do sexo. ln: Congresso Brasileiro de Medir:ina
Croce, D. & Croce Jr., O. Manual de Medicina Legal São Paulo: Saraiva, l,ega/, 15. Salvador, 1998.
1995 Melani. R.1-'.M. Contribuição para o estudo do comporlamento dos ân-
França, G. V. Medicina legal, 6.• ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo- gulos craniométricos de Rivet, Jacavard, Cloquct c Welcker através
gan, 2001. de anülise cefalométrica cm brasileiros. Piracicaba. 1995. Disserta-
Galvão, I ..C.C. fatudo.ç Médico-Legais. Port<, !\lcgre: Sagra de Luzzatto, ção de lvfes1rado. l-'aculdade. de Odontologia de Piracicaba, C..:niver-
1996. sidade Estadual de Campinas.
. ldenrificação do sexo através de medidas cranianas. Oliveira, R.'.'/. Estimativa do sexo através de mensurações mandibula-
Piraciçaba, 1994. Disserração de Mestrado em Cíêndas. 1Írea de res. Piracicaba. 1996, 105 [!. T>isserwçlío de i',frstrado. Faculdade
Odontologia Legal e Deontologia. Faculdade de Odontologia de de Odontologia de Piracicaba, Universídade Estadual de Campinas.
Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas. Paulerc Vanrell. J. Manual de Medicina Legal. São Paulo: Liv. Editora
_ _ _ _ _, Detem1inação do sexo através da curva frontal e apófise de Direito. 1996.
mastóidea. Piracicaba. 199R. Tese de T>ou/orado em Ciências, Área Pereira, C.B. e Alvim, M.C.M. l'vlanual para Estudos Craniométrirns f
de Odonwlogia Le~af e Deomologia. Faculdade de Odontologia de Cm11io:scápicos. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Ma-
Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas. ria, 1979
_ _ _ _ _ et al. Dcterminaçã() do sexo por análise quantitativa da Pompa. C.C. et al. Aspecws das cúspides do \." molar inferior em
mandíbula. ln: Cmi[?resso Bra.~íleim de Medicina Ler:al, 5. Salva- lcucodcrmas. faiodermas e me.Janodermas. /n: Co11gresso Rrasilei-
dor. 1998. ro de Odnmnlorúa [,egal, 5. Recife, 2000. Salvador: lnstítuto Bahiano
______ . • & Conceição Filho, A.M. Esrimacíon de de Ensino. Pesquisas e Períl'ias em Ciêm:ias Forenses. 2000. pp. 44-
la estatura humana: evaluacion dei método de Juan Carrea. Boi. 49.
Assoe. Med. Foremes Repub. Argefll. (Rosário), 37(17): 2-7. 1996. Ramírez, A.I.C. F.s1omarologia Forense. 8: cd. Méxirn: Tríllas. 1990.
Gílcs. E. Sex deknnination by discriminant funcrion analysis of lhe · - - - - - · Jdemifkaton Forense. México: Trilias. 1990.
mandihlc. Am. ./. Phys. Anthrop. (}';ew York), 22: J29-136. 1964. Silva. M. Compé11diu de Odontologia l,eJ?al. Rio de Janeiro: MEDSI,
Giles, E. and Elliot, O. Race idemific:atíon from cranial measuremenL 1997.
Jounwl of Foremic Scít11ces, 7(2): 147-157. 1962. Teixeira. W.R.G. .'vfedicina Legal. (s.11.t.) 19R2, 2v.
Lagunas, Z. l ,a Determi11ació11 Sexual em Mandíbulas por Medio de las Tcstul, L.M. & l.atarjct. A. El cráneo desde el puntode vista amropolú·
Funciones Discriminante.~. México: Analcs dei INAH. 1974, pp. 171- gico: deterrnina,·inn dei sexo de un cráneo. ln: Trufado ,k A11ato-
174. mia Humana. 9!ed. Barcelona: Salvai. 1954. v. 1, pp. 302-303.
Gisbert Calaburg, J.A. Medicina Legal e Toxicologia. 5.ª ed. Barcelo- Veiga de Can alho. H. eraf. Compendio de Medicina Legal, São Paulo:
na: Masson. 1998. Sarai\'a. 1987.
. 1'·. ~·

. . . ··.·: ... · : . ··.:


. .. . ~ . . .
. .. . .: .

. .. . ...
. . .
~ . . .. · ..
. .. . . . .
. . . .

AS PESQUISAS NACIONAIS
EM ANTROPOLOGIA
FORENSE

-·--·-----·-······-···--·-·-···------------ ··---------
Antropologia Forense
,, ...
_,.,..,..,..~ __ ...._,________.,,..__________ .~--------
.........,... ............ _.

Luís Carlos Cavalcante Galvão

No entamo. quando não se dispôe do esqueleto completo, mas


INTRODUÇÃO de um grupo de o~so:;. de um osso isolado ou pmte dele, o pro-
cesso identificatório toma-se progressi vamentc mais difícil e, às
A Identificação confunde-se com a própria história da huma- vezes, ímpossí,·el de realizar.
nidade. foram os erros. os acenos e a coragem de homens como Cc-
O homem sempre necessitou identificar coisas, animais e seu sare Lombroso. Aphonse Bertillon, Paul Brocca, Juan Carrca.
semelhante. Oscar Amoedo. dentre muitos outros, que viabilizaram o desen-
Na verdade, diz-se que identificar é determinar a individuali- volvimento <la Antropometria.
dade, ou é provar, por meio técnico e científico, que aquela pes- ~o Brasil. inega\elmente, o Prof. Virgílio Climaco Damá-
soa é ela e não outra. sio. escolhido pela Congregação <la Faculdade de Medicina
Jl,;ão se deve confundir a identificação com o reconhecimen- da Bahia para formar a "Comissão de Estudos na Europa em
to, que nada mais é que um procedimento empírico. baseado em 1883". foi quem promoveu a transformação científico-cultu-
conhecimento anterior. cuja base de sustentação é puramente ral que conduziu à "Escola Médico-Le,:al da Bahia,. e pro-
testemunhal. porcionou. uma década depois, ao seu assistente, o jovem
Fritz Müller (ap11d Luiz Silva. l 936) afirmava que '' O smie- Raymundo ~ina Rodrigues, a criação da Antropologia Brasi-
fhante produz o semelhame. mas mio o idc1ntico ''. Cada indiví- leira. com a publicação. em 1894. do seu livro ·'AJ raças hu-
duo tem características próprias\ O DNA e as impressões digi- manas e a responsabilidade penal no Brasil''. Nina, através
tais são provas incontestáveis desse dogma.\ de seus discípulos, Afrânio Peixot.o (RJ). Oscar Freire (SP) e
A Bíblia diz que as impressões nas cristas papilares represen- Augusto Lins e Silva (PE). difundiu sua escola Médico-Le-
tam o selo de Deus colocado nas mãos dos homens: ·'fll manum gal c Antropométrica para todo o Brasil. Outros nomes. como
omníum hominium signat." Henrique Tanner de Abreu e Luiz Silva, deram os primeiros
Assim se aplica a frase atribuída a Demócrito: ·wa realida- passos <la Odontologia Legal Brasileira.
de. nãn conh<?<·<imos coisa alguma por tê-la visto. pois a verda- É justamente nessa busca constante que a Medicina e a
d<' está nculla no abismo." Odontologia Legal aliaram-se para o desenvolvimento de me-
A curiosidade humana é intrínseca à sua própria natureza e todologias para o diagnóstico preciso da identificação de da-
existência. dos biotipológicos,,: Nos casos de identificação em ossadas,
No princípio, o homem conheceu os elementos básicos: a segmentos do esqueler.o ou ossos isolados. temos dois tipos
água, a te1Ta, o fogo e o ar e. através de sua curiosidade, apren- de investigação: primeiro, a investigação "nãn dirigida",
deu a conviver com eles, utilí:Lando-os em seu proveito. quando não M suspeitos desaparecidos; segundo, a ''dirigi-
:-.Jum estágio superior, começou a questionar-se, buscando da". quando há uma suspeita de que aquela ossada tenha per-
conhecimento sobre s~u próprio corpo. tencido a certo indivíduo,.
A Antropologia, que na verdade represenca o estudo do ho- Nos rnsos de investigação dirigida, busca-se também proce-
mem nos seus aspcc:los motfológicos, funcionais e psíquico-so- dimentos auxiliares como a "prososcopia" ou superposição de
ciais, busca, até hc~jc, explicações para questões que se deparam imagens e, posteriormente, o D:\JA.
com variáveis biotipolôgicas: alimentares. meteorológicas e só- Nos dois tipos. deve-se buscar o diagnóstico dos dados bioti-
cio-<>rgm1ízacíonais. pológicos, começando-se por aqueles que apresentam menos
A identificação humana não é tarefa difícil, quando se trata do variáveis: espécie, sexo, fenôtipo cor da pele, idade, estatura e
indivíduo vivo ou de cadáver cronologicamente recente e íntegro. peso.
240 Anrropologia Forense

A cintura pélvica masculina apresenta os seguintes aspecto~


ESPÉCIE morfológicos:
)Õ" estreitos superior e inferior menores e elípticos,
A espécie pode ser investigada através de exames macroscó-
picos e microscópicos; assim. podemos diferenciar a espécie )., ângulo isquiático mais fechado.
).> superfície anterior do púbis de aspecto aproximadameme
humana de outros animais pelos ossos, sangue. pêlos, pele, den-
tes, fezes e pelo DNA. triangular.
Um dado macroscópico importante é a forma da clavícula ;;, ângulos subpubianos mais agudos.
};> borda medial do ramo ísquio-púbico convexa.
humana em "S'' itálico alongado. Nenhum outro animal, nem os
);a- osso ilíaco mais espesso.
primatas, tem clavícula nesse formato, o que nos leva a afirmar
;;;,. sacro mais estreito. pouco mais alongado.
que este é o osso mais humano do nosso corpo. O uso dessas
:;., promontório proeminente e
metodologias leva, sem dúvida, ao diagnóstico diferencial da
espécie humana. .,. acctábulo com diâmetro médio de 55 mm.
Dois trabalhos nm:ionais de autoria de Saturnino Apareci- O ângulo .rncrovertebral. que corresponde a duas retas. na
do Ramalho - dissertação de Mestrado e tese de Doutorado vertical, urna que desce da coluna até o promont6rio e outra do
- apresentados à f'OP-Unicamp em 199-4 e .2000 respectiva- promontório prolongando-se até o sacro; oscila cm torno de 11 oc
mente: "A imp11rtância pericial do esmdo comparativo his- no sexo masculino e em torno de 107º no feminino.
tomorfológico d,, esmalte, dentina e cemento de dentes O índiCl' úquio-púbirn. representado pela relação cente-
humanos e de outros animai!/' e --,1 importâ1tcia pericial do simal entre o comprimento do púbis e o comprimento do ís-
estudo comparativo histomorfolágico do osso lruman" e de quío. nos dois casos, a partir do acetábulo ou cavidade coti-
outros gêneros··. merecem dc~taque. O au1or conclui pela lóide. é, no sexo mascu1ino, de 84 a 89 mm. nos lcucodcr-
validade e segurança d~s~as m('todologia~ na diferenciação da mas. e de ar.é 84 mm, nos melanodermas. No sexo feminino
espécie. é acima de 95 mm, nos lcucodermas, e entre 89 e 95 mm nos
A radiologia também traz inestimá\ el ajuda para a di5tinção melanodermas.
entre o osso humano e o o~~o animal. acra\ é, da análise da den- O á11g11!0 de inclina~·t7o pélvica. formado por duas retas. uma
sidade da trama óssea. partindo do promontório, cm direção à espinha ilíaca ântero-su-
pcrior. e a outra ao 1rabéculo púhico, é de 58° no sexo feminino.
O comprimento do cm7Jo esternal mais o manúbrio é igual
ou superior a 149 mm. no sexo masculino. e menor que 149 mm
SEXO no sexo feminino (Asley).
A propurçüo enlrct o manúbrío e o corpo do esterno, segun-
o sexo não arresema <!ific~ldades para o seu diagrnístico, do Hirtl. Strauc e outros (apud Almeida Júnior e Costa Júnior).
quando estudamos um cadaver mtcgro e recente. Mesmo que se tem valor na determinação do sexo. O índice percentual é repre-
trate de hermafrodita. o exame macroscópico e microscópico sentado pelo comprimento do manúbrio multiplicado por 100
apurado certamente apresentará um resultado satisfatório e in- (cem), dividido pelo comprimento do corpo. O índice feminino
questionável. médio é de 54.3, e o masculino, de 45,2.
Nos carbonizados, devemos procurar identificar o útero e a Os osso.1· lonios também se prestam à diferenciação sexual
1mhtata, por serem os 6rgãos que mais resistem à ação ténnica, através de sua morfologia e dimensf>es.
devido a estarem anatomícamente protegidos na caixa pélvica. As caberas dos fêmures e dos úmaos são maiores e mais
Os raios X, nestes casos, são de extrema necessidade. grosseiras no homem.
Os aspectos morfológicos e métricos do esqueleto permitirão O ângulo formado pelo eixo do fêmur e um plano horilontal.
o diagnóslico do sexo com segurança. Quanto mais mensurações onde se apóiam os côndílos, mede cm torno de 76º na mulher e
e dados forem obtidos, mais confiável será o resultado. 80º no homem.
A peln!. cintura pélvica ou hacia, é o segmento do esqueleto Pearson e Bell, em 1919 (apud Arbcnz, 1988), estudando di-
que apresenta maior dimorfismo sexual. mensões lineares retas do fêmur. conc:luíram que: quando o di-
A pelve humaua pode ser das~ifü:ada em f,!inecóide (t.ipica- âmetro da cabeça do fêmur for menor que 41.5 mm, o osso será
mente feminina). mulrôidt· (tipicamente masculina) e platípelúide de pessoa do sexo feminino; quando maior que 45,5, será de
(chamada de imenncdiúria por aparecer numa freqüência baixa pessoa do sexo masculino; entre 41,5 e 43.5, provavelmente será
em ambos os sexos). de mulher; entre 43,5 e 44,5 é duvidosa, porquanto não define
por si o sexo. O diâmetro vertical do colo do fêmur é de cerca
de 29,5 mm na mulher e 34.0 mm no homem. Os autores exa-
Aspectos Morfológicos minaram outras medidas como as que se seguem. Comprimen-
to poplíteo (distância que vai do fim da crista femoral até a parte
A cimura pélvica fe111i11i11a apresenta os seguintes aspectos
morfológicos: superior da chanfradura intcrcondíliana, cujos resultados foram:
até 106 mm. feminino: acima de 145 mm, masculino; entre 106
).> estreitos superior e inferior maiores. e 114.5 mm. provavelmente feminino; entre 142 e 145 mm, pro-
);, de fom1a aproximadamente circular. vavelmente masculino; entre 114,5 e 132 mm, sexo i ndcfini -
-,. ângulo subpubiano menos agudo, do. Largura bicondília: 72 mm, no sexo feminino: acima de 78
>" borda medial de ramo ísquio-púbico côncava, mm, sexo masculino; de 74 a 76 mm, sexo indefinido. Com-
);. osso ilíaco menos espesso. primento trocantérico oblíquo (distância que vai da borda su-
',- sacro mais achatado e largo, perior do grande trocanter acé o plano horizontal dos côndilos.
» promontório menos proeminente e devendo o osso estar colocado cm posição anatômica com os
);. acetábulo com diâmetro médio de 46 mm. côndilos apoiados num plano horizontal): até 390 mm. sexo
Antrnpologia Fure11se 241

feminino: acíma de 450 mm, sexo masculino: de 405 a 430 mm,


sexo indefinído.
Dwight (apud Lopez Gomes e Calaburg. 1967), estudando as
dimensões da cabeça do úmero, verificou que o diâmetro vertí-
cal oscila em torno de 48.5 mm no sexo masculino e de 42,6 mm
no feminino.
Na região cervical. deve ser estudada a primeira vértebra ou
atlas. que. junto com os côndilos occípilais, forma a articulação
m:cipitoatlóidca. Esta apresenta suas superfícies anículares mais
longas e estreitas. geralmente com estrangulamento central ou
paracentral no sexo masculino, sugerindo, em alguns casos, a
forma de uma sola de sapato. sendo mais curtas e largas, freqüen-
temente renifom1es, no sexo feminino.
Fig. 34.2 Crânio feminino.
Entretanto, não raro, dispomos apenas do crânio com ou sem
mandíbula.
A maíoría dos autores falam da determinação do sexo pelo
estudo do crânio, através de observações morfológicas dos aci- amostra nacional por Galvão ( 1974) e Machado et ui. (1998), que
dentes anatômicos cranianos; outros referem os estudos quanti- encontraram índice de ace110 de 60 e 58,I %.
tativos ou métricos. Giles & Elliot (apud Teixeira. s. n. t.) estudaram 5 medidas
Os c,5ndilos dv ocdpítul apresentam suas superfícies articu- crnnianas, a saber: glabela-occipital - GO, básio-mísio - BN, bi-
lares mais alongadas e estreitas, com freqüente estrangulamento zigomático - BZ. básio-próstion - BP e próstion-mísío - PN. Por
central ou paracentral no sexo masculino, sugerindo a fmma de análíse de função discriminante. chegaram à seguinte fórmula:
uma sola de sapato. No sexo feminino. essas superfícies são mais
rnrtas e largas, frcqiicntemente reniformcs. Sexo= 11.16 X GO) + (1,66 X BN) + (3,98 X BZ) -
A capacidade craniana no homem é de 1.400 cm·' ou mais, ! 1.0 X BP)+ (1,54 X PN)
sendo de 1.300 crn1 na mulher. A mandíhula apresenta peso Quando o resultado dessa equação está acima de 891.12. o
médio de 80 g no sexo masculino e de 63 g no feminino (Bon- crânio em estudo. muito provavelmente, pc11cnceu a indivíduo
net. 1980). do sexo ma~culino i.:. abaixo desse valor, ao sexo feminino.
No homem. as emínências supra-orbitárias são mais proemi- Lagunas. cm 197~ (apud Ramíre1,, 1990). desenvolveu me-
nentes, o ângulo nasofrontal apresenta curva angulosa, a glabela todologia para o diagn<Ístico do sexo por mensurações mandi-
é pronunciada. as apófises mastóideas são mais desenvolvidas hulares. chegando à seguinte fórmula:
ou proeminentes, a mandíbula apresenta forma angulosa ou tri-
angular e retangular. Sexo = 10.27 X ARM + 8.10 X LMRM + 2,00 X LB +
'.\la mulher, as eminências supra-ol'hitárias são discretas. o CTM
ângulo nasofrontal apresenta curva suave, glabela discreta. as Onde:
apófises mastóideas são discretas ou pouco desenvolvidas, a
mandíbula apresenta fonna curva ou ovóidc (Teixeira, s. n. t.). ARM = altura do ramo mandibular
As apMises estílóidcs são mais longas na mulher. A fronte LMRM = largura máxima do ramo mandibular
é mais inclinada para trás nos crânios masculinos e. nos fe- LB= largura bigoníaca
rninínos, tende à vertícalízaçâo. Os côndilos mandibulares são CTM = comprimento total da mandíbula
mais delicados na mulher e mais robustos no homem (A rhcnz, Quando o resulcado é acíma de 1.200.88 mm, muito prova-
1988). vcln1entc a mandíbula cm estudo pertenceu a individuo do sexo
O ''Índice condílico de Baudoin" é calculado pela largura masculino e. abaixo desse número, ao sexo feminino. A proba-
máxima do ctmdilo do occípital vezes 100. dividido pelo com- bilidade de erro foi de 18,41 %.
primento máxímo. Quando o resultado é abaixo de 50, o crânio Devemos ter consciência de que metodologias de~envolvidas
é do sexo masculino; acima de 55, do sexo feminino; e, entre 50 a partir de amostras estrangeiras devem :ser vistas com ce11a re-
e 55, indefinído ou duvidoso. Esse índice foi pesquisado em serva. até que sejam testadas cientificamente cm amostra nacio-
nal.
Com efeito, fatores como clima, alimentaçào. costumes e
condições sócio-organizacionais interferem na ossatura huma-
na. Não podemos esquecer que a antropomctría baseia-se em
métodos estatísticos e que, por isso. sempre haverá uma margem
de erro, maior ou menor, a depender da metodologia e mensura-
ções realizadas.

A METODOLOGIA ESTATÍSTICA
Na última década, pesquisadores brasileiros desenvolveram
processos científicos de identificação do sex.o através das seguin-
tes metodologias: regressão logística, média e intervalos de con-
Fig. 34.1 Crânio masculino. fiança. e análise da função discriminante.
242 Alllropologia Foreme

Regressão Logística Exemplo:


FEMlfüNO = - 148.406981 + 2,()4927 X CF + 1,64316
A fô1mula da Regressão Logística é representada pela equação: X APOMAST
ellúgituj MASCULIKO = - 168,22068 + 2.14787 X CF + J.89742
Sexo= . X APOMAST
1 + eº"gnr.,~
CF = curva frontal
onde:
APOMAST = apófise mastóidea
e = constante nep<tríana de Euler, cujo valor é 2, 71828
Diante dessas breves explicações sobre as metodologias des-
Resuilado da equação - indica o grau de probabilidade do
critas, apresentaremos métodos quanütativos de diagnóstico do
osso ter pertencido a indivíduo do sexo feminino.
sexo idealizados e realizados. pesquisados em amostra nacional
por estudiosos hrasilciros.
Exemplo: DYCF = diâmetro vertical da cabeça do fêmur=
Essas metodologias foram desenvolvidas a partir de ossos e
47 mm; e= 2,71828
crânios secos que per1enceram a indivíduos com mais de 20 anos
C e~,l,JQ,2 1.2711 "< DVC'l'I
Sexo=-------- de idade. com sexo e idade conhecidas com absoluta segurança.
1+ eC54.40.'l 1)711 X LlVCfj A maioria dos trabalhos realizados por pesquisadores brasilei-
e' 54.4(n2 -1):IJJ >'. 47 t
ros que aqui serào apresentados foram desenvolvidos no Servi-
ço de Antropometriae Odontologia Legal da raculdadc de Odon-
l + eí54.•0.lZ - I.Z71 I <47/
tologia de Piracicaba (FOP- Unicamp), do Prof. 1:1-duardo Daru-
e(54.4o.n -~!>.141,1 ge. e nas di:-ciplina~ de Medkina e Odontologia Legal da facul-
Sexo = ------- dade de ~tedicina IFAMED) da Universidade Federal da Bahia.
1+ e\54:10~2 s~.,411i

2, 718281 -s.m~i
Sexo = ------ -
! + 2,71828(- ..1-'~
5 51 DIAGNÓSTICO DO SEXO PELO
Sexo= 0,004803087 = 0,004803087 EXA~IE QUANTITATIVO DO CRÂNIO
1+ 0,00480387 1,00480387
Método de GALVÃO (1994 - 1)
= 0,0047801277 = 0.48%

Resultados:
Logito = negativo_ O osso muito prow1velme111e pertenceu 11
individuo do sao masculino
Hâ 0,48% de probabilída,fo de pertencer ao sexo feminino
Há 99,52% de probahilidad<t <Í<' pertencer ao sexo mas,·11/i110

Pela Média e Intervalo de Confiança


É uma metodologia baseada na média e ~ua Yariància. sendo
calculado um intervalo de valor inferior e :;uperior. e~timando-
sc que se situa aí. com pro habilidade predefinida. a média, cr-
dadcira ou populacional.

Exemplo:
C11n·a Ji·omal I di~túncia <'Ili ,ir<'(' (Í{, ,ui ,i(, ao hregma J [me- Fig. 34.3 O naniômctro de Galvão.
dida em mm]
Cálrnlo para 9Yc de t'("lnmiça

SEXO Limite Inferior Limite Superior


1

Feminino 121.6-1 : 125,25


Masculino 127.64 110,85 op

Por Análise de Função Discriminante


De posse da lista de infomiações básicas a respeito do arquivo e
da variável que classifica as observações na amostra, é possível a gn
rnnstmção de duas fru1ções lineares discriminantes para a estimati- Fig. 34.4 Distância de ponws craniomécrkos mediais ao meato auditi-
va do sexo em observações futuras. O maior resultado indica o sexo. vo exrerno (MAE).
A1ttropofogia Forense 243

Análise discriminante: foi possível estabelecer as seguinte-.


equações com índice de acerto de 82,62%:
FE:vtJNINO = - 408,96624 + 0,33048 X MAE/PR +
2, l 3823 X MAE/ENA + 0.08234 X MAE/G + 1, 96220 X
MAE/B + l,28333 X YIAE/V + 1,50687 X MAE/L + 0.34850
X MAE/OP-0.03034 X MAE/L-0,10337 X MAE/MS.
MASCCLINO = - 438,89224 + 0.30651 X MAE/PR +
2,31312 X MAE/ENA -t- 0,3219 X MAF/G + 2,03385 X MAF/B
+ 1, 19775 X \1AE/V + 1,59790 X MAE/L + 0,38323 X
MAE/OP-0,00244 x MAE/L - 0,19234 x MAE/MS.
O maior resultado indica o sexo do crânio cm estudo.

Método de GALVÃO (1998 - II)


Fig. 34.5 Uístâm:ia entre o meato auditivo ~xtcrno (MAE) e o ponto
lamhda (()e a e~pinha nasal anll:rior (ENA).

····;:.,:.:-
.-;..
:,

glabela

"·'

apófise mastóidea Fig. 34.7 A curva frontal.


Fig. 34.6 A glahcla e a apófise mastóídca.

O autor estudou as distâncias cranianas entre o centro do meato


acústico externo e 11 pontos craniométricos: gnatio. próstio,
espinha nasal anterior, glabela. breg11w, vértex. lambda. opisto-
<Tánio, ínio. mastóideo e gônio. Ohservou ainda os acidentes
anatômicos: glabela, arco superciliar. apófise mastôidea e curva
nasofrontal.
Chegou à conclusão de que as distâncias MAE-ENA (meato
acústico externo à espinha nasal anterior) e MAE-L (meato acús-
t.ico externo ao lambda) e os acidentes anatômicos. glabela e
apófise mastóidea, foram os que apresentaram diferenças mais
estatísticamente significantes. Transfonnou os dados em quan- Fig. 34.8 Distância entre o pório (limite superior do meato auditin>
tidade, e. assim, a glabela ou a apófise mastóidea proeminente externo) e a extremidade inferior da apófise maslóidea).
passou a valer zero (O) e a discreta um ( 1).
O estudo pcrm ítiu estabelecer a seguinte fümmla, por regres-
Jào logística, com índice de acerto de 93,8%: O autor estudou o comprimento da curva frontal ( distância do
C(.~~.111~ ~~.,~·l~ 'Ü 1 :.7•).15, APOMA,$T MAE/f,t<A -'.li!Aí-.!L> násio ao bregma) e da apófise mastôidca (distância entre o teto
Sexo=~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ do meato acústico externo e o pólo inferior tia apófise).
f + cd6.III~ • \.'ô41, '(; ' 2,:fm • Al~)~1AST · MAF.ir.!l:A -MAí.il. l
Foi possível estabelecer metodologias para o diagnóstico do
onde: sexo cm avaliações futuras por:
e ~ 2.71828 ( constante neperiana)
APOMAST = apófise mastóidea: discreta = I; proeminente Regressão logística - índice de aceito 80.3'!<
=O c!~O,,r:(19 ... ,),!65~ /. Al'OMAST 1uo; 1 '< C:f)
MAE--ENA = dístâncía meato acústico externo à espinha Sexo= - - - - - - - - - - - - - -
1+ ç!10,-17fJ9 ·!l.~6:J, MO~I..\ST O.W5J ;('f)
nasal anterior
MAE-L = distância meato acústico externo ao lambda onde:
Para padronização das medidas. foi constiuído um craniôme- e "' 2.71828 (constante neperiana)
tro, que hoje é fabricado pelo Prof. An<lriotta, no SE:-.JAJ de Pi- APOMAST = ap6fisc mast<Íidca
racicaba/SP. CF= curva frontal
244 Antropolo,<ia For1!11Se

Análi.se de função dif.;crimiuante - índice de acerto 69, 15%


FEMl.NlNO = - 148,40698 + 2J)4927 X CF + 1,64316 X
S1z D/Sfz E
APOMAST
MASCULINO= - 168,22068 + 2,14787 x CF + 1,89742
X APOMAST
O maíor resultado indica o sexo do crânio cm estudo.

Intervalo de confiança com 95% de probabilidade de encon-


sutura
trar-se na média verdadeira ou populacional. fronto-
zigomática
Cllrva Fmntal
f<EMININO = 121,24 a 125,25 mm
MASCCLINO = 127.64 a 130.85 mm

Apâfise Maslóidea
FEMININO= 25,85 a 28,01 mm
MASCCLTNO = 30,20 a 31,82 mm
Fig. 34.11 Distânl"ia entre as suturas fronrozigomálicas direita e es-
querda.
Método de ADAS SALIBA (1999)

PaLMD/PaLME

bregma

Fig. 34.9 Distància entre os forames palatinos maiores direito e cs- Fig. 34.12 Distância bregma-lambda.
4ue.rdo.

A autora estudou quatro medidas cranianas: distfu1cia en-


tre as suturas frontozigomáticas direita e esquerda; distância
emre os forames "palatino maior'' direito e esquerdo; distân-
cia entre a fossa incisiva até a espinha nasal posterior; e dis-
tância entre os pontos craniométricos bregma e lambda. Foi
pos:,,ível estahclecer as seguintes metodologias para o diag-
nóstico do sexo:

RegreJ:.ão logística - índice de acerto 71,25%


e<33,96~Cl -ClJ:'22 X fii!::op l).2iJ6 ,~1,.f>i.',11.r. - 0,')480 '<, nil. l
Sexo= -
1+-e- ---------------
(33,9~~0 -fi. !522 X l'ii J:inp <I.Z!.<6 X Si,Tl/Si,f,, - 0.04RO x B/L >

onde:
e= 2,71828 (constunle neperiana)
H/Enp = distância da fossa incisiva à espinha nasal posterior
StzD/StzE = distância entre as sucurns frontozigomáticas di-
reita e esquerda
~:._ :-,;.A .. · ._1,.·,, :- ::~ _ - ,-~ :::. :-: ._ .: :: :, .-~;:-inha na,al postc:rior. 8/L = distância do hregma ao lamhda
Antropologia Forense 245

Análise de funçiío discriminante


FEMININO = - 245,31922 + 2,19388 X PaLMD/PaLME
+ 2,52270 X Fi/Enp + 2,12090 X StzD/StzE + 1,02936 X B/L
MASCULINO = - 247 ,00980 + 2,37371 X PaLMD/PaLME
+ 2,40740 X Fi/Enp + 2,23445 X StzD/StzE + l,06889 X B/L
onde:
Fi/Enp = distância da fossa incisiva à espinha nasal posterior
StzD/StzE = distância entre as suturas frontozigomáticas di-
reita e esquerda
PaLMD/PaLME = distância entre os forames palatinos mai-
ores direito e esquerdo
O maior resultado indica o sexo do crânjo em estudo.

Intervalo de Confiança com 95% de probabilidade de situ- Fig. 34.15 Distância próstio-násio.
ar-se na média verdadeira ou populacional.

Distância entre os forames pa/atinos maiores


FEMININO = 33,22 a 34,47 mm
MASCULINO = 35,38 a 36,51 mm

Distância da fossa incisiva à espinha nasal posterior


FEMININO = 40,43 a 42, 10 mm
MASCULINO = 43,09 a 44,72 mm

Distância entre as suturas frontozigomáticas


FEMININO= 91,74 a 94,58
MASCULINO= 97,30 a 99,11

Distância do bregma ao lambda


Fig. 34.16 Distância espinha nasal posterior-básio.
FEMININO = 120,00 a 125,70
MASCULINO = 125,67 a 129,22

Método de SAMPAIO (1999)

Fig. 34.17 Distância próstio-básio.

A autora estudou dimensões da abertura piriforme na face e


Fig. 34.13 Largura nasal. medidas cranianas: altura ou comprimento máximo da abertura
piriforme - CM, largura máxima inferior da abertura piriforme
- LMI, distância básio-próstio - BP, distância próstio-násio -
PN, distância básio.-...espinha nasal posterior - BE. O estudo per-
mitiu estabelecer metodologias para o diagnóstico do sexo atra-
vés do crânio e da face.

Regressão logística - índice de acerto 77 ,8%


e(ll,4098 - 0.1042 X CM - 0,0496 X BP-0,0656 X PN)
Sexo= -1 +- e(- -- - - -- - - -- - -
l2,4098 - 0.1042 X CM - 0,0496 X BP - 0,0656 X PN)

e= 2,71828 (constante neperiana)


CM = comprimento máximo da abertura pirifonne
BP = distância básio-próstio
Fig. 34.14 Altura nasal. PN = distância próstio-násio
246 Antropologia Forense

Análise de função discriminante - índice de acerto 68,5%


FEMININO= - 128,11489 + 2,53033 X LMI + 0,62516
X CM+ 0,93761 X BP+ 0,96431 X PN + 0,55984 X BE
MASCULINO = - 138,26436 + 2,50591 X LMI +
0,66956 X CM+ l,99051 X BP+ 1,03469 X PN + 0,55308
X BE
O maior resultado indica o sexo.

Média e intervalo de confiança com 95% de probabilidade


de situar-se na média verdadeira ou populacional.

Comprimento máximo da abertura piriforme Fig. 34.20 Diâmetro transverso do canal raquidiano.
FEMININO = 29,98 a 31,97 mm
MASCULINO = 33,91 a 35,12 mm

Distância próstio-násio
FEMININO = 90,21 a 93,79 mm
MASCULINO = 94,26 a 97 ,57 mm

Distância próstio-násio
FEMININO= 62,16 a 65,19
MASCULINO = 66,15 a 69,22

DIAGNÓSTICO DO SEXO PELO


EXAME QUANTITATIVO DE
VÉRTEBRAS
Fig. 34.21 Diâmetro ITansverso máximo.
Método de VITÓRIA (2001)

A autora estudou a I .ª vértebra cervical ou atlas através das


seguintes mensurações: diâmetro ântero-posterior do atlas - DAP,
diâmetro ântero-posterior do canal raquidiano - DAPCR, diâme-
tro transverso do canal raquidiano - DTCR, diâmetro transverso
máximo do atlas - DTM, chegando às seguintes metodologias.

Regressão logística - índice de acerto 76,96%


e (21.6140- 0,1573 X DTM - 0.2306 X DAP)
Sexo = - - - -- -- -- - - -
! + e(2 1,6L40 - 0,J573 X OTM -0.2306 x DAP)

Fig. 34.18 Diâmetro ~posterior da vértebra. Intervalo de confwnça com 95% de probabilidade de situar-
se na média verdadeira ou populacional.

Distância ântero-posterior do atlas


FEMININO = 42,42 a 43,42 mm
MASCULINO= 45,16 a 46,23 mm

Diâmetro ântero-posterior do canal raquidiano


FEMJNTNO = 28,90 a 29,80 mm
MASCULINO = 30,86 a 31,80 mm

Diâmetro transverso do canal raquidiano


FEMININO = 26,31 a 27,36 mm
MASCULINO = 27,40 a 28,38 mm

Diâmetro transverso máximo do atlas


FEMININO = 70,14 a 72,09 mm
Fig. 34.19 Diâmetro ântero-postcrior do canal raquidiano. MASCULINO = 75,54 a 77,29 mm
Antropologia Forense 241

Método de POMPA & GALVÃO (2000) Regressão logística - Índice de acerto 74,97%
e(l6,3148 -0.1419 X LBIGO - 0,3336 X LMA)
Esses autores estudaram as dimensões comprimento ântero- Sexo= - - -- - -- - - - --
posterior - CAP. largura -LCV e altura-ACV do corpo da 5.ª 1 + e(l6.3148 -0.1419 X LBIGO - 0,3336 X LMA)
vértebra lombar, obtendo resultados satisfatórios.
onde:
Regressão logística - índice de acerto 78,9% e= 2,71828 (constante neperiana)
LBIGO = largura bigoníaca
e\14,9672 - 0.2946XCAP - 0.1851 XACV) LMA = largura mandibular anterior
Sexo= -1 +-e(l4,9672
- - -- -- - - - -
0,2946 XCAP - 0.185 1 X J\C\I\

Análise de função discriminante Método de GALVÃO & SILVA (2000)


FEMININO= - 121,21991 + 1,27740 x CAP+ 5,31946
X ACV + 1,16951 X LCV Os autores estudaram as distâncias: gônio-gônio (bigoníaca)
MASCULINO = - 135,87212 + 1,56219 X CAP + 5,50244 - GG, gônio direito-mento - GDM, gônio esquerdo-mento -
X ACV + 1, 17046 X LCV GEM, apófise condilar direita à apófise condilar esquerda ou
O maior resultado indica o sexo da vértebra em estudo. distância bicondilar da mandíbula - DBCM (medida pela face
externa das apófises). A área triangular da base da mandíbula
Média e intervalo de confiança, com probabilidade de 95% também foi mensurada. Foi possível estabelecer metodologias
de situar-se entre a média verdadeira ou populacional. para avaliação do sexo em observações futuras.

Comprimento ântero-posterior Regressão logística - Índice de acerto 80,5%


FEMININO = 31,73 a 33,02 mm eOS.7997 -0.0839 >< DIICM -O.OOJ02 X AreaJ
MASCULINO = 34,89 a 36,43 mm Sexo= -
1 +-e(IS.7997
- --- 0,0839
-- - -- --
XOIICM - 0.00302 XÁrea)

Altura do corpo vertebral


FEMININO = 25,82 a 26,76 mm onde:
MASCULINO = 26,95 a 27,83 mm e = 2,71818 (constante neperiana)
DBCM = distância bicondilar da mandíbula
Largura do corpo vertebral Área = área triangular formada pelas distâncias bigoníaca,
FEMININO= 51,21 a 53,43 mm gônio direito ao mento, gônio esquerdo ao mento, sendo calcu-
MASCULINO = 54,59 a 56,97 lada pela fórmula de Heron:
S2 = s (s - a) X (s - b) X (s - c) ou, alternativamente,
..Js x (s - a) x (s - b) x (s - c)
DIAGNÓSTICO DO SEXO PELO Onde: a, b e c = comprimento dos lados de um triângulo
EXAME QUANTITATIVO DA S 2 = área do triângulo ao quadrado
MANDÍBULA . ,
s = se011penmetro =
a+b+c
2
Método de GALVÃO et ai. (1998)
Análise de Junção discriminante - Índice de acerto 77%
FEMININO= - 10472 + 129,79031 X GG + 174,73696
X GDM + 192,08163 X GEM + 2,01182 X DBCM - 6,82701
X Área
MASCULINO = - 10494 + 129,85893 X GG + 174,80534
X GDM + 192,05000 X GEM + 2,07602 X DBCM - 6,82701
X Área ·
O maior resultado indica o sexo.

Média e intervalo de confiança com 95% de probabilidade


de situar-se entre a média verdadeira ou populacional.
Fig. 34.22 Mensurações mandibulares. 1. Profundidade do corpo da
mandíbula; 2. Largura bicondiliana; 3. Largura mandibular anterior; 4. Distância bigoníaca - GG
Largura bigonfaca. FEMININO - 84,62 a 86,60 mm
MASCULINO - 89,92 a 92,53 mm

Distância gônio direito ao mento - GDM


Os autores estudaram as seguintes mensurações mandibula- FEMININO - 76,84 a 78,47 mm
res: profundidade do corpo da mandíbula - PCM, largura bi- MASCULIN0 - 81,19 a 83,4 mm
condiliana da mandíbula - LBM, largura bigoníaca - LBIGO e
largura mandibular anterior - LMA. Selecionaram duas variá- Distância gônio esquerdo ao mento - GEM
veis, LBTGO e LMA, e estabeleceram metodologia para o diag- FEMININO - 77 ,29 a 78,89 mm
nóstico do sexo em observações futuras: MASCULINO - 81,46 a 83,80 mm
JJistância bic,mdilar da mandíbula - DBCM
FE\11NINO - 114,36 a 117,20 mm
MASCULIN0-119,92 a 122,34 mm

Área do triângulo mandibular -Área


FEMININO - 2731,92 a 2825.77 mm
MASCULINO - 3054,91 a 3205,95 mm

Método de OLIVEIRA (1995)


O autor estudou a mandíbula, baseando-se no trabalho de
Lagunas 1974 e selecionou duas variáveis: altura do ramo
{{ii ~.
mandibular -ARM c largura bigoníaca - LB, e chegou às se- {. .
guintes metodologias para investigação do sexo em observa-
ções futuras.

Regressão lt>gística - Índice de acerto 8 l ,2(k fig. 34.24 o~so ilíaco: dimensões do forame ohturado (comprimento e
largura).
e<21.9466 -0.2.1-~,l ,.~N.li.1 ··O.O~ u., Ls·,
Sexo=
·/- ei.21.9466 -(,.bl44 XARM -(l.ú81.! >-LR/

onde:
c = 2.71828 (constante neperiana)
ARM = allura do ramo mandihular
LB = largura hígoníaca

Análise de função discriminante


FEMININO = - 147,64631 + 2,66118 X LB -t 1.6220 x
ARM
MASCULINO= - 170.59003-'- 2,34845 X LB + 1.8750 x
ARM ::.
·(:/'~.-~~.., ,~:
.
. ·,
.
..
., ,,
: .:
•:
.
\vi,
......;-.~.
. .
O maior resultado indica o sexo da mandíbula ..:m e~rudo.
··4,,.,...,. ·:~
.··

DIAGNÓSTICO DO SEXO PELO


. .

EXAME QUANTITATIVO DA PELVE


Fig. 34.25 Osso ilíaco: incisura isquiática maior (corda e profundi-
Método de RABBI (2000) dade).

:('/'~/~~~-::(;.
; . ·'.: . :,y:
·'-v\,
. '. ····~.
. '
; .
~: /'.

,•.•;:······

Fi,z. 3-'.23 Osso ilíaco: difüncrro vertical do acetáhulo. Fig. 34.26 Osso ilíaco: distância ilíaca ântcro-superior/tubérculo púbirn.
Antrnpologia Fore11se 249

O maior resultado indica o sexo da pelve em estudo,

Média e interl'alo de confiança com 95% de probabilidade


de situar-se entre a média verdadeira ou populacional.

Intervalo Intervalo
Inferior Superior
Variáveis Sexo 95% 95%
;
feminino 28,63 30,18
pvs-1
ma~culino 30,91 32,77
feminino 46,85 48,74
dva-d : masculino 51.83 54,32
feminino 46,61 48,44
dva -e
masculino 51,72 54.07
Fig. 34.27 Largura superior do sacro. comprímentn e largura da l.• vér-
tebra sacra. feminino 47,74 50,78
dfo-d-c
masculino 52,00 54,25
feminino 48,12 51,43
O autor estudou quantitativamente a pelve e chegou a meto- dfo- e-e
dologias para o diagnóstico <lo sexo em observações futuras: masculino 52.36 54,75
foram mensuradas as seguíntes medidas: 37,11
feminino 34,68
L- dva - d: diâmetro vertical do acctáhulo direito iím-d- p
2 -dva - c: diâmetro vertícal do acetábulo esquerdo masculino 37,78 39,94
3 -dfo-d - c: dimensão do forame obturador direito, com- feminino 34,14 36.83
primento iim-e-p
4 -dfo-e -c: dimensão do forame obturador esquerdo, com- masculíno 37,85 40.12
primento
5 -dfo-d-e: dimensão do forame obturador direito, largura p <0,001
6 -dfo- e -e: dimensão do foramc obturador direito, largura
7 - iím - d - e: incisurn isquiálica maior direita - corda
8 - iim - c - e: incisura isquiática maior esquerda - corda DIAGNÓSTICO DO SEXO PELO
9 - íím - d - p: incisura isquiátíca maior direita - profundidade
1O- iim - c - p: incísura isquiátíca maior esquerda- profun- EXAME QUANTITATIVO DOS OSSOS
didade LONGOS
11 -deias/tp - d: distância espinha ilíaca ântero-superior dí-
reita ao tubérculo púbico direito
12 -<lcias/tp - e: distância espinha ílíaca ântcro-supcríor es- ÚMERO
querda ao tubérculo púbico esquerdo
13 - pvs - e: primeira vénchra sacra), comprimento Método de GALVÃO & ROCHA (2000)
L4 - pvs - 1: primeira vértebra sacra}, Largura
15 - lss - Largura superior do sacro Os autores estudaram as seguintes medidas do úmero: compri-
mento total- CTU. diâmetro ,enical da cabeça- DVCU, espes-
Regressão logística - índice de acerto 79,959é sura central - ECC e largura condilar- LCU, Desenvolveram três
e'12.:!l)l)j ·-0,6560 / d\:ac - 0.)l77 >< ctfo<il 1
metodologias para diagnóstico do sexo em observações futuras:
Sexo=~~~~~~~~~~~~
)+
el22,2(~)5 0,6561) Xti»,c +0,31)1 '>.dlodl!
Regressão logística - Índice de acerto 94,5%
e' .,:.:•8) -0.0462 '- r.n: - 0.2271 x DVCI: 0,4425 >. J::CL)

Análise de função discriminante - Índice de acerto 85,3'.té S e xL o = - -o.0462


+ ecni•s3- - -x- -----------
CT!I - n,2)11 x nvr.11- o,4425 x r.c:tn
FEMININO = - 197,36903 - pvsc X 0, 12923 + pvsl X O, LL346
+ lss X 1,30157 + dvac X 3,59539 - dvac X 1,02302 + dfodc X onde:
4.59145 - dfocc X 3,45995 - clfod x 0,03791 + dfocl X L,33566 e= 2,71818 (constante neperiana)
+ iimdc X 0,58469- íimcc X 0,01318 + iimdp X 5,1700- iimcp DYCL' = diâmetro vertícaJ da caheça do úmero
x 5.05129 - dciastpd X 0.23285 + deia~tpc x 0,09183 ECU = espessura central <lo úmero
MASCULINO= - 215.35660 - pvsc X 0,16440 + pvsl X CTC = comprimento Lotai do úmero
0,20985 + Iss X l,283622 + dvad X 3,67917 - dvac X 0,57249 +
dfodc X 4,81868 - dfocc X 3,56082 - dfodl X 0.40499 + dfocl Aná/ü;e de função discriminante - Índice de acerto 85%
X 1.37792 - íímdc X 0,35403 + iímcc X 0.17 L74 + ü X 5, 1808 FEMININO = - 161.65964 + 0,086965 X CTU + 0.36363
- iimcp X 5.083507 X deiastpd X 0,027467 + deiastpc X O, 12488 X DVCC + 2.47889 X ECU + 0,14415 X LCU
250 Amropolo;?ia Forense.

MASCULINO= - 200,45054 + 0,91490 x CTU + 0,58090


X DVCl! + 3,01876 X ECU + 0,23228 X LCU RÁDIO
O maior resultado indica o sexo do osso em estudo.
Método de GALVÃO & AZEVEDO (2000)
Média e i11ter11alo de confiança com 95% de probabilidade
de situar-se na média verdadeira ou populacional. Os autores estudaram as seguintes dimensões do rádio: com-
primento total - COM, espessw-a central - ESP e diâmetro da
Comprimento total do úmem cahcça - DIA «:onsidcrando-sc a superfície articular). estabele-
FEMININO = 293,3 a 301.6 mm cendo metodologia para o diagnóstico do sexo.
MASCULINO = 321,7 a 329,0 mm
Regre.fsão ltJgí.~tica - Índice de acerto 92, l %
Diâmetm vertical da cabeça do úmero
e(~ó.9961 0,0669 x COM - 0,641 O , í>IA ·,
f-E:vt !NINO = 37 ,6 a 40.3 mm
MASCULINO= 45,4 a 47, 1 mm Sexo = 1+ e(2~.'i'J61 -o.01,n9 xco:-..1 -o.M,o xLJ1A1

Espessura central do úmero onde:


e= 2,71818 (constante neperiana)
FEMININO= 16,4 a 17.6 mm
MASCULINO = 19,8 à 20,7 mm COM = comprimento total do rádio
DIA= diâmetro da cabeça do rádio
lArgura condilar do úmero
FEMININO = 55,5 a :'58,3 mm Análise de Junção discriminante - Índice de acerto 86.3191:
MASCULINO= 63.1 a 65.6 mm
FEMINIJ',;0 = - 132,36474 + 1,01322 X COM+ 2,10801
X ESP + 0,45877 X DIA
:\tlASCULINO = - 164,06221 + 1,08795 X COM +
2,35675 X ESP + 0,95673 X DIA
ULNA O maior resultado indica o sexo.

Média e intervalo de confiança com 95% de probabilidade


Método de GALVÃO & CASTRO (2000) de situar-se na média verdadeira ou populacional.
Os autores estudaram as seguintes mensurações da ulna: com-
Comprimento total do rádio
primento total da ulna - CTUL. comprimento da corda da arti-
culação (úmero-ulna) - CAUL e espessura central da ulna -
FEMININO= 221.89 a 228,40 mm
MASCULINO= 246,35 a 252,l l rrun
ECUL. e estabeleceram metodologias para o diagnóstico do sexo
em observaçücs futuras. Espessura central do rádio
FEMININO= 12.89 a 13,51 nun
Regre.uão logística - Índice de acerto 93.9'11:
MASCULINO= 14,73 a 15.49 mrn
eC~R.40R6 -1.~ 112 < 1:'CL"L -•l_,-·, · C.-',l"L 1
Sexo= -
1 +-c,2s
-..1os6
-- -------
-1.~11: . r-.c:n -r,.,--~ . c,1:c.1 Diâmetro da cabeça do rádio
FEMININO = 18,76 a 19,46 mm
onde: MASCULINO = 21,70 a 22,51 mm
e ~ 2.71818 (constante neperiana)
ECUL = espessura central da ulna
CAUJ, = comprimemo da corda da anicula~ào (úmero-ulna) FÊMUR (CABEÇA DO)
Análise de função di.,·criminante - Índice de acerto 90,62%
FEMININO= - 136.90536 + 0.71056 x CTCL + 3.05777 Método de GALVÃO & VITÓRIA (1994)
X ECUL + 3,31035 X CAUL
a
MASCULINO = - 172.44733 + 0.74655 x CTUL + /
4.44237 X ECUL + 3,74987 x CAUL
O maior resultado indica o sexo do osso cm est.udo.

Média e inter11alo de confiança com 95% de prohahilidadc


de situar-se na média verdadeira ou populacional.

Comprimento total da ulna - CTUT.,


FEMININO = 241,05 a 248,49 mm
MASCULINO = 265.57 a 272,64 nun b--

Comprimento da c11rda da arliculaçã(J úmero-ulna- CA U/,


rE.MlNI~O = 19,55 a 2031 nun
\-1ASCULINO = 22,04 a 22,92 mm
E.we1m1ra central da ulna - ECUL
FE.\-111\'INO = 10,88 a 11,29 mm J<'ig. 34.28 Diâmetro da cabeça do fêmur: a. diàmetro vertical da cabe-
.\IASCl.'.Ll\fO = 13,13 a 13,73 mm ça do fêmur; h. diâmetro transversal da cabeça do fêmur.
Amropologi a Foren.si- 251

Os au tores estudaram o diâmetro vertical d a cabeça do fê -


mur e chegaram a um número d iscrim inante de co11e, ou seja: DIAGNÓSTICO DO SEXO PELO EXAME
quanto m aior que 4 2,8 mm for o diâmetro vertical da cabeça QUANTITATIVO DOS OSSOS DO PÉ
<lo fêmu r, maior será a probabilida de de que o osso tenha per-
tencido a indivíduo do se-xo masculin o; q uanto menor que esse
número, maior a p ro habilidade de ter pertencido a indivíduo do TÁLUS
sexo fem inino.
Método de GALVÃO, ALMEIDA
Regressão logística - Índice de acerto 95.1 %
JÚNIO R & ROCHA (2000)
e <.S4,4();1 - l.27 11 , T)VCrJ
SexQ = - - - - - - - - Os autores estudaram o tálus nas suas dimensões: altura - A,
1 ..1.. e(~•-~.m 1,27 1l X DVCf'l comprimento - C e largura - L. Padronizar am o lado direito e
estabelecer am metodologi as com índices de acertos elevados.
onde:
e= 2.7 1828 (constante neperiana) R egressão logística - fndice de acerlo 82.7%
DVCF = di fun etro vertical da cabeça do fêmur
e <lt.11!19 - Q,l!lQí, , e O,ISI I Xl.>
Sexo = -1 +- e<- -- - - - - -
IS,1 189-0.1~J8X C: - 0.1 8J l '< L )

onde:
TÍBIA e = 2 ,71828 (rnnstan te neperiana)
C = comprimen to do tálus
Método de GALVÃO, ALMEIDA L "" largura do tálus
JÚNIO R & ROCHA (2000)
A11álise de função discrimina nte - Índice de acerto 78.61 %
Os autores estudaram as seguintes mensuraçõe s da tibia: com- FEMININO = - 93,47824 + 1,29371 X C + 0,71 994 X A
primento r.otal- CTOT. largura condilar - LARCON e espessu- + 2,44459 X L
ra central - ESPECEN , e estabelecer am metodologi as para o MASC ULINO = - 112 ,5 1806 + 1,45300 X C + 0,840 14
diagnóstico do sexo por esse osso. X A + 2,59863 X L
O maior resultado indica o sexo do osso em esludo.
Regres.~ão logística - Índice de acerto 82, 1%
M édia e intervalo de co11,fiança enm 95% de probabi lidade
e' 11,9311 o.o~~:\~ CTOTl l(SQUF.1(1)() O.IOO'I X L..\RCOK:T'SQt;!,Kl)A) de situar-se na média verdadeira ou populacion al.
Sexo =! --
+ e l-l 7.~J-11 -· 0,07.R5
- - -- -- - - - - - --
CTOTlf-~Qt'.t:Rl)
,< {l - íi,ll)WX 1.AR('Ol\i.t:SQL:l::IWI\)

onde:
Comprimento Largura Altuna
e = 2.718:ig (constante neperiana) do tálus do tálus do lálus
CTOT/ESQ = comprimen to total da tíbia esquerda Sexo (emmm) (em mm) (emmm)
LARCO N/ESQ ,.,.. largura condilar da tíbia es4.ue rda
Masculino 57,28 a 59,36 j 39,00 a 40.29 32.43 a 33,86
Análise de fun ção discrimina nte - Índice de acerto 78,5%
FEMIN INO -= - 90,151 9 1 + 0 ,27 896 x CTOT/ESQ + .Feminino 51,95 a 53,8'.! 42.2 1 a~.02 29,43 a 30.59
1,2180 1 X LARCON/ESQ - 0, 1948 1 X ESPECEN /ESQ
MASCUL11'0 =- - 107.4837 + 0,3(){)20 X CTOT/ ESQ +
1.33081 x LARCO:K/ESQ - O, 13805 X ESPECEN /ESQ
O maior resultado indica o sexo do osso em estudo. CALCÂ NEO
M édia e intervalo de confiança com 95% de probabilida de Método de SOARES (1999)
de ~ituar-sc na média verdadeira ou populacional.

Comprime nto total da tíbia esquerda


f-EMININO = 350.50 a 361,46 mm
MASC ULINO = 380.70 a 396,05 mm

1 Largura condilar Espessura central


da ôbia esquerda da tfüia esquerda
Sexo (em mm) (cmmm)
1
M as(;u l ino 74,84 a 77,72 21 ,36 a24, 19
1
l_Ferninino 68,34 a 70,86 18,82 a 19,99
Fig. 34.29 Comprimento.
252 Antropologia Forense

O autor estudou o calcâneo direito e o esquerdo, medindo


as dimensões altura - A, largura - L e comprimento - C, e o
comprimento da articulação subtalar em eixo paralelo à arti-
culação talo-calcâneo-navicular - SAA e a corda referente ao
arco formado pela articulação talo-calcâneo-navicular - SAB.
O estudo permitiu estabelecer as seguintes metodologias para
o diagnóstico do sexo. As mensurações foram realizadas com
uma minitábua osteométrica de Brocca e um paquímetro di-
gital.

Regressão logística (usando-se os dois calcâneos)- ÍOdicede


acerto 95%
e<4 1,2814 - 0.5346 XIID - 0,6466 XSSA csq)
Fig. 34.30 Largura. Sexo =~- - - - -- - - -- ~
l + e(41.2814 - 0,5346 XAD - 0,6466XSSJ\ esq)

onde:
e = 2,71828 (constante neperiana)

Regressão logística (usando-se o calcâneo esquerdo) - Índi-


ce de acerto 93,7%
e (33.9594 - 0.3192 X A esq - 0,72 10 X SAA esq)
Sexo = - - - - -- - - - -- - -
! + e (33.9594 - 0,3 19i X A osq -0,72JOX SAA esq)

Regressão logística (usando-se o calcâneo direito) - Índice


de acerto 93,0%
e (35.5393 - 0,5709 X A dtr - 0 .3821 X SAA dir)
Sexo= - - - -- - -- -- - --
1 + e<35,5393 - 0,5709 X A dtr - 0,3821 X SAA dir )
Fig. 34.31 Altura.
Média e intervalo de confiança com 95% de probabilidade
de situar-se na média verdadeira ou populacional.

Comprimento direito
FEMININO= 74,09 a 76,19 mm
MASCULINO = 80,97 a 83,20 mm

Comprimento esquerdo
FEMININO = 74,36 a 76,51 mm
MASCULINO = 80,67 a 82,88 mm

Largura direita
FEMININO= 39,91 a41,28 mm
MASCULINO = 43,58 a 45,97 mm
Fig. 34.32 Diâmetro da articulação subtalar.
Largura esquerda
FEMININO= 40,24 a 41,78 mm
MASCULINO = 44,43 a 46,29 mm

Altura direita
FEMININO= 40,57 a 41,78 mm
MASCULINO = 45,34 a 46,80 mm

Altura esquerda
FEMININO = 40,47 a 41 ,99 mm
MASCULINO = 45,14 a 46,67 mm

O FENÓTIPO COR DA PELE


O "fenótipo cor da pele" é, sem dúvida, uma difícil perícia
Fig. 34.33 Medida da corda da articulação talo-calcânco-navicular. médico-legal, sobretudo em nosso País, onde os tipos básicos
Antropologia Forense 253

leucodermas (hram:os), mclanodcrmas (negros), xantmkrmas Os ângulos de Jacquart. de Cloquct e de Cu vier são os rnaí~
(índios e asiáticos). faiodermas (mulatos) cruzaram-se entre si. usados para a estimativa da cor da pele. Variam em brancos e
produzindo uma grande miscigenação. negros. segundo o quadro a seguir:
Ao longo do tempo. os pesquisadores usaram as palavras raça.
grupo étnico. etnia e. hodíernamente, usam o termo fenótipo cor
da pele.
FENÓTJPO COR DA PELE
ÂNGULOS
LEUCODERMAS MELANODERMAS
Pelo Estudo do Esplancnocrânio
JACQUART 76.5° 70,3º
Morfologicamente, a ahertura pi ri forme, o prognatismo.
o formato da órhita e do maxilar superior auxiliam na bus- CLOQUET 62º 58º
ca diagnóstica. Índices e ângulos nânio-faciais aliados a da- CUVIER 54º 48º
dos morfológicos permitem a estimativa do fenótipo cor da
pele.
Krogman (1939) preconiza a estimativa por três índices:
Índice
lmcmlemhral = comp. do úmero+ comp. do rádio x 100
comp. do fêmur + comp. da tíhia

Índice braquial= comp. do rádio X 100


comp. do úmero
Negros> 80
Brancos< 75
França G.Y. de

Índice Crnral = comp. da Hbía X 100


comp. do fêmur

Negros> 83
Brancos< 83
França G.V. de

Índice úmero-femoral "" comp. do úmero X I OO


comp. do fêmur 1 - Ângulo de Jacquart

Modi ( 1957) encontrou os seguinte-. valores para os índices 2 • Ângulo de Cloquet


citados por Krogaman: 3 - Ângulo de Cuvier

!ndice intermembral = 70,4 para brancos e 70,3 para negros.


!ndice braquial = 74.5 para brancos e 78,5 para negros. ~íg. 34.34 .'\ngulos ma!s usados para a estím~liva da cor da pele. 1.
~ndicc crural = 83.3 para brancos e 86,2 para negros. /\ngulo de fac:4u,tr1: 2. Angulo de Cloquct; 3. Angulo de Cuvicr.
lndice úmero-remoml = 69.0para brancos e 72,4 para negros.
Não há estudos recentes desses índices em amostra nacional.

Ouu-o índice usado é o "índice facial'', representado pela fór- Os ângulos aurículo-crânio-faeiais são descritos por Arbenz
mula: e podem ser utilizados na estimativa da cor da pele.

IF = altura facial m,hima X 100 = AFM X 100 Ângulo Aurícul<r-Facial - (aurícuh}--prústio, aurículo--násioi
Leucoderma - cerca de 50º
largura hizigomátíca LBZ
Melanoderma -- cerca de 45º
Altura facial máxima -AFM = distância entre os pontos cra-
niométricos gnálio e násio. Ângulo Aurículo-Fronlal-(auriculo-nüsio. aurículo-bregma)
Leucodenna - cerca de 56º
Largura bizigomática - LBZ = distância entre os pontos mais Melanoderma - cerca de 54º
saliemes dos arcos bizigomáticos.
Ângulo Auriculo-Parietal -(aurículo-bregma, aurículo-Jambda)
Desconhecemos estudos recentes em amostra nacional sobre Leucodenna - cerca de 60º
esse índice. Melanoderma - cerca de 66º
254 Antropologia Forense

Através dos Dentes


O fcn<Ítipo cor da pele pode ser estimado através dos den-
tes. mais precisamente pela forma das cúspides do 1.0 molar
inferior.
Pompa e cols. (2000), sob a orientação de Galvão. estudaram
·, esse aspecto em 15 leurndcrmas, 15 faiodem1as e 15 mclanoder-
mas. através de modelos cm gesso pedra especial.
De acordo com o formato, as cúspides foram classificadas em:
~:s:5liv~'~ mamelonadas. intermediárias e estreladas.

Fig. 34.35 Ângulo~ auriculares.

A B e
Ângulos Aurículo-cranianos Fig. 34.36 Forma da face oclusal da coma do I .º molar inferior esquer-
do: a. forma mamdonada: h. forma ~strelada; e. fonna inte1111ediária.
Nesse tipo de perícía. <leve-se realizar um somatório dos re-
sultados morfológicos e métriws, cuja predominância estimará
o fenótipo wr da pele.
No Brasil, MelanL em 1995. estudou os ângulos de Jacquart 0:s. autores chegaram aos seguintes resultados:
(básio-espinha nasal anterior, espinha nasal anterior - glabela 1. :'\enhum leucodenna apresentou forma estrelada e nenhum
Cloquet (Msio-próstio, próstio-glahela), Rivet (básio-pró~1io. melanoderma apresentou forma mamelonada.
pr6stio-násio), Welcker (básio - centro da sela turca. centw da ;\Os faiodcm1as, 35, 7 l % apresentaram forma mamelonada.
sela turca - násío) cm relação aos fenótipos leucodenna. mela- 14.29r;- forma estrelada e 50% forma ímcrmediária.
nodcrma e xantoderma, através de radiografias ccfalométri..:a., Oii,·eíra Júnior e1 ai., em 2001, sob 01ientação de Galvão.
Concluiu que é possível a estimati,·a do fenótipo cor d.a pel~ estudaram o formato das cúspidcs do 1.0 molar inferior numa
pelas seguintes metodologias: amostra de 60 modelos cm gesso pedra especial. realizados a
partir da arcada inferior de 20 leucodermas, 20 melanodcnnas e
Regressão logística - Índice de aceno 9-i..:c;. .:!O faiodcmias. Chegaram à seguinte conclusão:
~os indivíduos lcucodermas, 70%, apresentaram a forma
e: .. -.·:_ -:~f: ·~-.·-;1.1(~ ·-:.:.~.·!·
mamelonada e 30% a forma intermediária. mas nenhum apresen-
\IELA~ODERMAS == - - - - - - - - - - -
1 - e : -..' · -'< • ..· •.•_a, - - :, · "··" tou a forma estrelada.
Nos indivíduos melanodermas, 65<Jf) apresentaram a forma
O ,aJor final da equação indi.:-a a peninência ou probabilida- estrelada e 35% a fonna intermediária, mas nenhum apresentou
de de o crânio em 6tudr, ter penencido a indi,iduo com fenóti- a fonna mamelonada.
po mclanodemu. Nos indivíduos faiodermas. 70 apresentaram a forma inter-
Exemplo: mediária, 25% a fonna estrelada e 5% a forma mamclonada.
e .:~.· ., , . "l'' I""'
M=----
1 - e ,,.,,,
---·__
,f_l(__
.'_
..'_lM_ -
- Ü.6·97,,'
-~- _,j)C_J,3,3 Jó-1

Resultado: A probahilidad~ de o ..:r:ini<, ter sido de indivíduo ESTIMATIVA DA ESTATURA


melanoderma é de 69.73'€.
A estatura humana é um dado biotipológico difícil de estimar.
Regressão logística sobretudo no Brasil. Não há parâmetros comparativos para a
el-16.:1.:.. ,,.;-:: · \\t:.:;.~: -1·1.l"t;•,(I, J.:.L·quarl)
realização de pesquisas cm ossos. Nos documentos de identida-
J,EUCODERMAS =- ----------
1 + C' - ~ó.]1~ - .·,.1";: • w~:..:L•r - íl.)760-" fa,:q11~r1 :, de deveria estar contida a estatura de pessoas acima de 20 anos.
Só encontramos esse dado nos homens, quando se alistam no
Análise de função discriminante Exército aos 16 ou 17 anos, ainda cm idade de crescimento. Es-
LEUCODERMA = - 485.31 + 3.28 x WELCKER + 3,55 peramos ver, um dia, esse dado ser de assinalamento ohrígatório
X JACQl!ART + 2.21 X CLOQUET + 1.11 X RIVET para wdas as pessoas que tirarem carteiras de identidade acima
MELANODERMA = - 452,14 + 3.18 x WELCKER + de 20 anos de idade.
3.35 X JACQUART + 2,33 X CLOQUET + 0.98 x RIVET Um dado que não pode nem deve ser desprezado é que a média
XANTODERMA = - 452,57 + 3,15 X WELCKER + 3,40 da estatura dos brasileiros tem crescido nos últimos 20 anos.
X JACQCART + 2,33 X CLOQUET + 0,98 x RIVET Vários autores europeus e americanos estudaram essa ques-
tão e elaboraram tahelas e fórmulas a partir dos ossos longos.
Nesta equação, introduzimos o valor encontrado para cada Assim, existem rabeias de Eticnne Martin, Eticnne Rollet, Or-
ângulo do crânio cm estudo, e o maior resultado indicará, por fíla, Manouvricr, Pearson, Telkkã. Dupcrtuis & Haddcn. e ou-
estimaciva. a cor da pele. tros.
Antropologia Fure11se 255

TABELA DE ORFILA

ESTATURA FÊMUR TÍBIA FÍBULA ÚMERO ULNA RÁDIO


(m) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm) (cm)

1,38 32 27 26 24 19 17
1,43 38 31 30 27 22 19
1,45 40 32 31 29 22 20
1,47 38 32 31 26 21 19
1,49 38 32 31 29 22 20
1,54 40 33 32 29 24 21
1,60 45 38 37 32 26 24
1,64 44 36 35 30 26 24
1,65 45 38 37 32 27 25
1,67 45 38 37 31 37 24
1,69 44 36 35 31 ; 25 22
1.70 44 38 37 32 27 25
1,75 46 ' 39 38 32 26 23
L77 46 38 37 33 28 25
l.78 46 37 36 33 26 24
l,79 46 38 37 33 27 24
1,80 1
46 40 39 33 27 25
1,83 46 39 38 34 28 25
1.85 47 43 42 33 27 25
1,86 47 39 38 33 27 25

TABELA DE ETIENNE ROLLET (1888)

Membro Inferior Membro Superior


Estatura (cm) Fêmur Tíbia Fíhula Úmero Rádio Ulna

HOMENS
152 41.5 33,4 32,9 29.8 22.3 23,3
154 42.J 33,8 33,3 30.2 .22.6 23,7
156 42,6 34.2 33,8 30.7 22.8 24,0
158 43.1 34,8 34,3 31.3 23.1 24,4
160 43.7 35,2 34,8 31.5 23,4 24,8
162 44.2 35.7 35,2 31.9 23.6 25,2
164 44,8 36,1 35,7 ! 25,5
32.7 23.9
166 45,3 36,6 36,2 32,8 24.2 25,9
i
168 45,8 36,9 36,6 33,1 24.4 26,1
170 46,2 37.3 36,9 33,5 24.6 26,4
172 46,7 37,6 37,3 33,8 24.9 26,6
174 47,2 38,0 37.7 34.2 25,1 26.9
176 47,7 38,3 38,0 34,5 25,3 27.1
178 48,l 38,6 38,4 34,8 25,5 27,3
180 48,6 39,0 38,8 35,2 25,8 27,6
256 1\ntropologia Forense

TABELA DE ETIENNE ROLLET (1888) (cont.)

Membro Inferior Membro Superior


Estatura (cm) Fêmur Tíbia Fíbula Úmero Rádio Ulna
MULHERES
140 37,7 29.9 29,4 27,l 20,0 21,4
142 37.9 30.4 29,9 27,5 20,2 21.7
144 38.5 30,9 30.5 27,8 20,4 21,9
146 39,l 31 ,4 31,0 28.1 20,6 22,1
148 39,7 31,9 3L5 28.5 20,8 22,4
150 40,3 32,4 32,0 28,8 2U 22,6
152 40,9 32,9 32,5 29,2 21.3 22,9
154 41,5 33,4 33,0 i
29,5 21.5 23,L
156 42,0 33,8 33,4 29,9 21.7 23,4
158 42,4 34.3 33,9 30,3 2L9 23.6
160 42.9 34.7 34.3 30,7 22,2 23.9
162 43,4 35.2 34.8 31.1 22,4 24,2
1
164 43,9 35.6 35.2 31.S 22,6 24,4
1
166 44,4 36.0 35.7 1 31.9 22,8 24,7
1
168 44.8 36.5 36.1 32.3 23.0 25,0
170 45.3 36.9 36.5 1 32.7 23,2 25,3
172 -45.8 37...t
r 37.0
i 33,1 23,5 25.6

ESTATURA HUJ\tlANA - Metodologia Tabela de Dupertuis & Hadden (1951)


proposta por PEARSON FÓRMULAS PARA RECONSTRUÇÃO DA ESTATURA A
(fórmula regressiva) PARTIR DE OSSOS LONGOS
HOMENS HOMENS
(aJ E= 81,306 + 1,880 F a) E= 69.089 + 2,238 F
(h) E= 70,641 + 2.894 U b) E= 81,688 + 2,392 T
(e) E = 78,664 + 2.376 T (:)E= 73,570 + 2,970 P
(d) E= 85,925 + 3,271 R d) E = 80,405 + 3,650 R
(e) E= 71,272 + 1,159 (F + T) e) E= 69,294 + 1.,225 (F + T)
(t) E= 71,443 + J,220 F + 1,080 T f) E= 71,429 + 1,728 (U + R)
(g) E = 66,855 + 1,730 (lJ + R) g)E = 66.544 + 1,422 F + 1,062 T
(h) E= 69.788 + 2,769 U + 195 R h)E = 66,400 + l,789 U + 1,841 R
(i ) E =- 68.397 - 1,030 F -:- 1,557 U i) E= 64.505 + 1,928 F + 0,568 U
(j) E= 67,049 + 913 F + 600 T + 1.225 U + 187 R j) E= 78,272 + 2,102 T + 0.606 R
k)E = 56.006 + 1,442 F+0.931 T+ 0,083 U+ 0,480 R
MULHERES
(a) E = 72,844 + 1,945 F MULHERES
(b) E= 71,475 + 2,754 li a) E= 61,412 + 2,317 F
(e) E = 74,774 + 2,352 T b) E= 72,572 + 2.533 T
(d) E= 81.224 + 3,343 R e) E= 64,977 + 3,144 F
(e) E= 69,154 + 1,126 (F + T) d) E = 73.502 + 3,876 R
(t) E= 69,561 + 1.117 F + 1.125 T e) E= 65.213 + 1,233 (F + T)
(g) E= 69.911 + 1,628 (lJ + R) t) E= 55,729 + 1,984 (U + R)
(h) E = 70,542 + 2,582 U + 281 R g)E = 59,259 + 1,957 F + 0.879T
(í ) E = 67.435 + l.339 F + 1.027 U h) E = 60,344 + 2,164 U + 1,525 R
(í) E= 67,469 + 782F + 1,120T + l,059U + 711 R i) E = 57.600 + 2,009 F + 0.566 U
j) E = 65,354 + 2,082 T + 1,060 R
E = estatura U = úmero T = tfüia R = rádio F = fêmur k) E= 57,495 + 1.544 F +. 0,764T + O, 126U + 0,295 R
Antropologia Forense 251

Equação de Telkkã para Determinar a . .


Estatura m1mma =
RC X 6 X 3,1416
= RC X 94.148
Estatura a Partir de Ossos Longos 2

HOMENS EsJa~ura = ARCO X 6 X 3,1416 = ARCO X 94 248


E= 169A + 2,8 (U - 32,9) ± 5,0 cm maxuna 2 · '
E = 169.4 + 3,4 (R - 22,7) ± 5,0 cm Raio-Corda - RC = Distância mésio-distal do incisivo cen-
E = 169,4 + 3.2 (Un - 23,l) ± 5,2 cm tral, lateral e canino inferiores vezes a constante 0,954:
E= 169,4 + 2, 1 (F - 45,5) ± 4,9 cm
E = 169.4 + 2,1 (T - 36,2) ± 4,6 cm RC = Dmd (IC + IL + C) X 0,954
E= 169,4 + 2,5 (Fí - 36, 1) ± 4,4 cm Arco -A= somatório das distâncias mésio-distais do incisi-
vo central. lateral e canino inferiores:
MULHERES
E= 156,8 + 2,7 (U - 30,7) ± 3.9 cm ARCO= Dmd (lC + lL + C)
E= 156,8 + 3,1 (R - 20.8) ±4,5 cm As medidas são efetuadas em modelos de gesso pedra espe-
E= 156,8 + 3,3 (Un-21,3)±4.4cm
cial, depois de afastados os casos de apinhamento dentário, cári-
E= 156.8 + 1,8 (F-41,8)±4.<)cm
es em ângulos etc. São reali7.adas 5 (cinco) medidas de cada.
E= 156,8 + 1,9 (T- 33.1) ±4,6 cm
processa-se a média aritmética e aplica-se a fórmula.
E = 156,8 + 2.3 (Fi - 32,7) ± 4,5 cm
Moacyr da Si! va encontrou índice de acerto bastante satisfa-
U = úmero R = rádio Un = ulna F = fêmurT = u'biafi = fíhula tório, em tomo de 70%. Outros autores encontraram resultados
que variam de 26,3 a 45lJf1.
Topinard, baseando-se nos dados de Ort1la e Humphrey, mon-
Galvão et ai.. cm 1996, medindo diretameme nos dentes de
tou a seguinte equação para estima li va da estatura humana:
indivíduos vivos. encontraram índíce de acerto de 28,7%. Nu-
R
-=-
L nes et ai., em 2001, sob orientação de Galvão, encontraram índi-
100 X ce de acerto de 28,3%.
Em 1960, Fully e Pineau idealizaram um método que repre-
R = relação centesimal do osso na estatura dada cm percen- senta o somatório dos seguintes segmentos:
tual
L = comprimento do osso cm estudo ~ altura do crânio (básío-bregmática)
X = estatura estimada pela equação ,.. espessura de cada corpo vertebral
;.. altura da 1.• vértebra sacra
Valor de R: 20% Úmero - 14,3% Rádio - 27,3% Fêmur - );>- comprimento do fêmur em posição anatômica
22, 1<;4, Tíbia , comprimento da tíbia (excetuando-se a espinha)
,.,. altura do calcâneo
R L 27.3 412 412 X 100 .., altura do tálus
E xemp Io: - X - =- -X - = = LSO
100 X IOO X 27,3
Observação - Em estatura superior a 1,65 m, acrescentam-se
Desconhecemos trabalhos em amostra nacional que tenham 115 mm: às inferiore-. a 1,54 m, acrescentam-se 100 mm; e às
testado esta equação. compreendidas nesse intervalo, 105 mm.
A estatura humana pode ser estimada através dos dentes. Juan Berto Freire. em 2000, estudando medidas de ossos de cadáve-
Ubaldo Carrca, cm 1920, apresentou tese à Faculdade de Ciên- res necropsiados no IML de Hragança Paulista, estabeleceu os se-
cias Médicas da Universidade de Buenos Aires sob o titulo En- guintes modelos para a estimativa de idade cm oh-.crvações futuras.
sayos odontoméiricos.
Aceitando como princípio a simetria que esse osso apresenta, Sexo masculino
supôs que os pontos do lado direito e seus correspondentes esquer- Úmero: Estatura= 123.03 + 0,1606 X Comp. do úmero
dos fossem sempre eqüidistantes. Sendo assim, reproduziu o tri- Rádio: Estatura= 108,31 + 0,2417 X Comp. do rádio
ângulo eqüilátero de Bonwíll. destinado à dctcnninação da curva Fêmur: Estatura= 77,67 + 0,2019 X Comp. do fêmur
dental. Esse triângulo é estabelecido partindo-se dos côndilos de Tíbia: Estatura = 102,62 + O, 1807 X Comp. da tíbia
Bonwill (côndilos médios), indo até o vértice, incisivos centrais Sex,J feminino
infe1iorcs, sohre a linha mediana sagital. O valor médio de seu lado
Úmero: Estatura= 91,22 + 2,2495 X Comp. do úmero
é de 92 a 100 mm, variando de acordo com os grupos étnicos.
Rádio: Estatura= 101,61 + 0,2549 X Comp. do rádio
Desse modo, analisou, matemática e geometricamente, as
Fêmur: Estatura = 62,89 + 0,2385 X Comp. do fêmur
rela~f)es mésio-distais dos incisivos centrais. Laterais e caninos
Tíbia: Estatura= 94,03 + 0,2001 X Comp. da tíbia
inferiores com o osso mandibular. detenninando que o valor da
corda é igual à sexta parle da circunferência. cslahelcccndo as Para avaliação dos modelos ajustados. foram calculados o
seguintes fórmulas para o cálculo das estaturas máxima e míni- coeficiente de determinação (i) em relação a cada osso e para
ma. À estatura média, chega-se obtendo-se a média aritmética os sexos masculino e feminino.

SEXO ÚMERO RÁDIO FÊMUR TÍBIA

MASCULINO r2 = 0.2239 r 2 = 0,3487 1.2 = 0,5662 r2 = 0,4916

FEMININO ... = 0.3592 r2 = 0,3669 r 2 = 0,4656 r 2 = 0.3288


-
l

258 Aniropologia Foref/se

Quando se dispõe de uma ossada que se supõe pertencer a


um indivíduo Y. após ínvesligar-se a e-.pécie. o sexo e o fenó- DIÂMETRO MÉDIO DOS l
tipo cor da pele, pode-se entrevistar a família ou responsáveis IDADE ESTIMADA CANAIS DE HA VERS
1
legais pelo desaparecído e indagar se eles dispõem de uma foto
de co11}0 inteiro do suspeito e da roupa com que este aparece Rccém-nasddo 27,5 a 30 µm
vestido na foto. Tendo-se a sorte de encontrar esses dados, pode- Vinte anos 30 µm !
se estabelecer a estatura de forma indireta pelo método do ..ín-
díce de redução fowgráfica··. Cinqüenta anos 40 µm
Esse método consiste cm estipular um parâmetro ou referên- Ancião 45 µm
cia na roupa. que pode ser a distância entre botões. uma letra
de um monograma. uma figura de estamparia etc. Mede-se a
referência estipulada na foto e na roupa, hem como a estatura
do indívíduo na foto. O estudo físico-químico do osso revela que há um aumento do
Em seguida. divide-se o valor da referêncía na foto pelo va- carbonato à medida que a idade avança. Há. também, aumento da
lor da mesma referência na roupa. Acha-se assím o índice de descalcificação e a conseqiiente diminuição da densidade óssea.
redução fotográfica (IRF). Depois, multiplica-se o IRF pela es- Existem caracteres morfológicos que devem ser apreciados
tatura do indivíduo medida na foto, encontrando assim a esta- isoladamente cm alguns ossos. Assim, a mandíbula atrofiada por
tura humana. perda dentária sugere tratar-se de indivíduo de idade avançada.
'.'J"o entanto. o apêndice xil'óide apresenta ponto de ossificação
VALOR DE REFERÊNCIA NA FOTO aos 3 ou 4 anos de idade; o manúbrio solda-se ao corpo em tomo
IRF =
VALOR DE REFERÊNCIA NA ROUPA dos 50 anos: e o apêndice xífóíde, entre 50 e 60 anos.
A omoplata. após os 50 anos, apresenta lâmina cada vez mais
ESTATCRA = IRF X ESTATURA DO INDIVÍDUO !';A
delgada. ~o sacro. geralmente. os corpos vertebrais superiores
FOTO X 100
fundem-se aos 16 anos. os inferiores aos 18 anos e o conjunto
cerca de 30 anos. mas há casos em que n separação persiste.
O úmero e o fêmur apresentam, com o passar da idade. a ca-
ESTIMATIVA DA IDADE beça mais e,;ponjosa. Soto lsquierdo ( 1989), em Cuba, esmdou
o .J\an-;o do canal medular no úmero como parâmetro para a
A IDADE é um dado biotipológico freqüencemente que;;iio- ~~timaci,a da idade.
nado em diversas situações: .-\ medida que o indivíduo envelhece, as suturas cranianas vão
~e ~olda.ndo 1sinostose). resultando no apagamento destas, sen-
~ cm relação à responsabilidade penal e .:-i,il.
J.:i um parâmetro a considerar na estimativa da idade.
;.., cm pessoas que nunca foram regi:;trada:; ..:i\'ilmente. A Radiologia de~empenha papel importantíssimo nessa esti-
', cm questões pre\ idcndária~. mati \a. atra, és dos centros epifísários de ossifica\·ão, cujo estu-
, em vítima<. de carboniLaçào nà<l identiii..:a1.fa5. do tru uma maior confiabilídade.
, em os<.adas ou panes dela. ~o ieto a termo. em aproximadamente 97% dos casos. nas
\'a e:-.timali\·a da idade. a Radiologia e a 0Jont0lofia Legal dua5 últimas semanas de vida intra-uterina, pode-se notar o "pon-
prcslam ine~timá\el contribuição. to de ossificação de Béclard", que aparece na epífise cartilagi-
\'o indidduo \ i,o. a pele, rugas e man.;ha~ ~eni, l. o, .:a1't>- nosa inferior do fêmur. medindo de 4 a 7 mm. de coloração ano-
lm (coloração). a cahfrie. o<. olhos larco senil e .:atarata ~e- xcada ou achocolatada. A união dos corpos e arcos vertebrais
nil), os pêlos pubianos e axilares (coloração 1. a mandíbula <re- geralmente acontece apüs os 4 anos.
absorção e perdas dentárias). as limitaçôes (do :)istcma ós1eo- Algumas doenças <Ísseas, como a espondiloartrose e a osteo-
articular e muscular). são todos parâmetros imponantes para porose. auxiliam na estimativa da idade. Assim, o "bíco de pa-
essa eslÍmati va. pagaioº' aparece com maior freqüência cm indivíduos com ída-
Durante a vida, o tecido ósseo vaí desenvolvendo-se, cres- de acima de 45 anos.
cendo e maturando. partindo dos centros de ossificação até o Em 1958. Samíco estudou as modificações dentárias em in-
seu completo desenvolvímento. Esse processo é contínuo. e. dí\"íduos acima de 20 anos de ídade e chegou à~ seguintes con-
com a fusão das epífiscs, completa-se plenamente o seu cresci- clusões:
mento.
;.. Ao tempo de erupção, a câmara pulpar representa, aproxi-
Esse desenvolvimento é acompanhado e estudado pelara-
madamente, metade do diâmetro da coroa.
diologia, permitindo o encontro de mctodologías para identi-
)- Em tomo dos 20 anos. a câmara mede, aproximadamente.
ficação da sua cronologia, possibilitando a estimatíva da ida-
de. l/3 da coroa.
-,.. Em tomo dos 30 anos. os diâmetros da câmara, p1incipal-
A relação da idade óssea com a idade cronológica depende
de variáveis relacionadas com o organismo do indívíduo e com mente o longitudínal, representam de 1/4 a 1/5 da coroa.
)ô> Em torno dos 60 anos. o início do conduto está um pouco
o meio ambiente; isso explica a taxa de erro maior ou menor, a
depender da metodologia aplicada. além da zona imaginária cio colo. sendo lotalmente ohs-
Lruído, na maioria dos casos, cm torno dos 80 anos.
Nesse tipo de perícia, devemos lançar mão de todos os recur-
sos disponíveis e solicitar auxílio ao Radíologi-.ta e ao Círurgião- Os dentes oferecem uma extraordinária contribuição para o
Dentista para que tenhamos um rc-.ultado satisfatório. diagnóstíco estimado da idade humana, através da erup\·ão dos
A anatomia patológíca dá uma grande contribuição à estimati- decíduos, erupção do 3." molar, da mineralização da coroa e da
va da idade óssea. O diâmetro médio dos canais de Havers aumen- raiz, da relação área do dente/área da câmara pulpar, pelo des-
tam com a idade. Coma, cm 1991, relata as seguíntes medidas: gaste e perdas dentárias.
Antropologia Fore11se 259

Pela mineralização da coroa e da raíz dentária, pode-se esti- com cola de pistola elétrica ou com cera sete. muito usada
mar a idade, através dos métodos de Nolla, Gustafson, Nicodc- pelos cirurgiões-dentistas, preenchendo-se espaços yazios.
mos, ~ornes e Médici, e Salíba. permitindo a sua reconstituição. Procede-se ao e!'.tudo para
Bosqueiro ( 1999) estudou a maturidade esquelética através de investigação diagnóstica dos dados biotipológicos atra,·és
radiografias carpaís, estabelecendo, com ajuda de programa com- de metodologias morfológicas ou qualitativas e métricas
putadorizado, o cálculo da área entre a epífise e a diáfise do rá- ou quantitativas.
dio em indi \IÍduos de 7 a 18 anos, tendo chegado às seguintes t Não preconizamos um protocolo-padrão. Este deve ser
equações: montado pela equipe de Antropologia do TML, adaptando-
Meninas - Idade = 204,9375 - 1239,2669 X área + º
à.;; suas condiçf>es técnicas, disponibilidade de equipamen-
3345,2548 X área2 tos e metodologias. No entanto, deve o legista ter humil-
Meninos - idade = 208,9738 - 464,2035 X área dade para buscar recursos tecnológícos extramuros quan-
do necessários. Hoje, alguns colegas têm criado softwares
Foi estabelecido um coeficiente de detcnninação (r2) igual a que resolvem fórmulas e escores de dados morfológicos,
80,20c.ii, para o sexo teminino e de 57,75% para o masculino. obtendo uma rápida resposta.
t O local indicado para esse tipo de perícia é o serviço de
antropologia forense do IML, nunca o interior de delega-
ORIENTAÇÕES PARA O EXAME cias, quartéis, prisões etc.
1 Os laudos devem ser explicativos. fundamentados, mos-
ANTROPOLÓGICO FORENSE trando as coincidências e discordâncias encontradas e es-
clarecedores quanto ao índice de acerto das metodologias
Quando recebemos uma ossada ou parle dela para exame, usadas.
devemos procurar efetuar alguns procedimentos: t Quando houver coincidência dos dados biotipológicos e
havendo um suspeito desaparecido, pode-se realizar a
"prososcopia" ou superposição de imagens. Consiste cm
Planejar a Perícia a Partir de Dados superpor, por computação gráfica ou videocassete, 2 ima-
gens (crânio c fotografia do suspeito desaparecido) ou 3
Disponíveis imagens (crânio, fotografia e radiografia do crânio), mar-
Qual o tipo da perícia que deveremos efetuar? Há suspeita de cando-se previamente os pontos craniométricos com esfe-
que aquele malc1ial tenha pe1tencido a um indivíduo desapare- ras de chumbo coladas. As imagens são superpostas com
cido? Há como entrar cm contato com os familiares do desapa- auxílio de uma mesa de mixagem. Esta é uma metodolo-
recido? Que tipo de informações queremos ohterdos familiares? gia auxiliar e que deve ser vista com certa reserva, pois,
Em que circunstâncias se deu esse desaparecimento? Foi encon- isoladamente. não identifica o indivíduo.
trado junto à ossada objetos ou materiais outros? Estava esse e Deve-se. quando se dispuser de radiografia dos seios da
material de exame inumado ou semi-inuma<lo'? Há quanto tem- face (maxilares e frontais) tirada em vida e fornecida pela
po a pessoa suspeita desapareceu? O local onde a ossada foi en- família, proceder ao exame comparativo com a radiogra-
contrada conúnua preservado? fia do crânio cm estudo. Os seios frontais obedecem ao
critério de unicidade.
t Raios X de ossos longos, fornecidos pela família, também
Exame Seqüencial se prestam para a identificação pela comparação morfoló-
gica e de proporcionalidades; outro dado importante é a
"A pressa é inimiga da perfeição··. Nesse tipo de perícia, esse identificação através de próteses ôsseas metálicas.
dogma torna-se mais verdadeiro. Devemos fotografar e exami- 1 A solicitação do prontuário odontológico é um procedi-
nar o material do jeito que nos foi enviado. Depois. procedemos mento obrigatório
ao exame das vestes com fotografias das mesmas. Em seguida, t Pode-se coletar um segmento de osso, para que se faça
os ossos deverão ser limpos. as vestes lavadas, reexaminadas, DNA nos casos de haver um suspeito desaparecido para
novamente fotografadas e, posteriormente, acondicionadas cm compará-lo com um parente próximo (filho, pai, irmão
sacos plásücos hem1cticamente fechados. etc.).
Para exame e limpeza dos ossos, recomendamos a seguinte
seqüência: Podemos, para auxiliar a busca diagnóstica, estabelecer nos-
so check-list para pericias em Antropologia Forense, ou seja,
t Colocação em recipiente plástico com solução de hipocJo- o que não devemos esquecer.
rito de sódio na proporção de 1: 10 litros de água, por 24
horas.
e Retirada do material, lavagem e escovação para retirada Check-list em Antropologia Forense
de eventuais aderências de tecidos moles.
t Colocação em recipiente plástico com solução de peróxi- Prática:
do de hidrogênio (água oxigenada) 120 volumes na pro- >" Examinar e fotografar os ossos e vestes do jeito que nos
porção de 500 ml: 10 litros de água, por 24 horas. foram encaminhados.
t Retirada do material e secagem ao sol, quando se dispõe »- Reexaminar e fotografar, com calma, após a lavagem das
de área privativa, ou em esmfa a aproximadamente 60º. vestes e limpeza dos ossos.
t Depois de secos, os ossos devem ser montados numa mesa , Colar e reconstituir ossos fraturados de interesse pura a
antropológica, com o desenho de um esqueleto de 1,70 m perícia.
de altura. Jsso ajuda na verificação de ossos ausentes e );.>- Usar metodologias morfológicas ou qualitativas e métricas
facilita o manuseio. Ossos fraturados podem ser colados ou quantitativas no diagnóstico dos dados biotipológicos.
.260 .4.mmpnloiia Forn1se

,. Havendo suspeito desaparecido, obter da família dados de _ _ _ _ _, Almeida Jr., E. e Rocha, S.S. Investigação do sexo por
interesse para a perícia: prontuârio odontológíco, fotos, mensurações da tíbia. ln: Congresso Bra.tileim de Odontologia Le-
número de manequim (vestes e calçado). radiografias, en- gal, 5. Recife. Salvador: Instituto Bahiano de Ensino, Pesquisas e
dereço e telefone de parentes próximos (pai, mãe, Perícias em Ciências Forenses. 201XI. pp. 56-64.
esposo(a), filho, irmã) etc. _ _ _ _ _ , Almeida Jr.. E. de e Rocha, S.S. Investigação do sexo
por mensuraçôes do lálus. ln: Congresso Brasileiro de Odnntnlngia
', Buscar dados, lesões ósseas ou sinais que ajudem a esta- Legal. 5, Recife. Salvador: Instímto Bahiano de Ensino, Pesquisas e
belecer a causa da morte, quando possível. Pericias em Ciências Forenses. 2000, pp. 119-27.
, Buscar. com humildade, auxílio extramuros, na Universi- _____ , Freitas Neto, R.S. de e Silva, T.G.O. Clavícula, o mais
dade ou empresas de tecnologia de ponta, quando neces- humano dos ossos. ln: Congresso Brasileiro de Medicina Legal, 15.
sário. Salvador. 1998.
};> Guardar material para exame de DNA. _ _ _ _ _,e Rocha, S.S. Diagnóstico do sexo por mensurações do
}.> Momar laudo com linguagem clara, explicativo. ilustrati- úmero. ln: Congresso Bra.tileiro de Odomologia Legal, 5. Recife.
vo (fotografias, croqui~ e gráficos), com esclarecimento Salvador: Instituto Bahiano de Ensino, Pesquisas e Perícias em Ci-
ências Forenses, 2000. pp. 7• 19.
sobre as metodologias empregadas apontando coíncidên- _____e Vitoria. E.M. Delenninação do sexo através da cabeça do
cías e discordância~. com conclusão justificada e rnnsis- úmero e fêmur. Saiídt~, Ética & Justiça (São Paulo), l(l):67-75, 1996.
tcntc. --·--- e Conceição Filho, A.M. Estimacion de la
O importante é termos consciência de que, mesmo com a estatura humana: evaluacíon dei método de Juan Carrea. Boi. As.me.
Med. Forenses Repub. /\rgcnt. (Rosário), 37( 17):2·7, 1996.
melhoria das metodologias de extração, fragmentação e leitura
Giles. E. Sex detennina1ion hy discriminant function analysis of the
do DNA, a antropologia terá ainda, por muito tempo, seu valor mandible. Am. J. Phys. Alllhmp. (New York). 22:129-136, 1964.
como método diagnó~tico. Giles. E. and Ellim. O. Racc Idenrification from Cranial Mcasurement.
Jmmwl o( Foremic Scie11ces. 7(2): 147-157, 1962.
Lacassagnc. ·:\. ct ~a11in. E. Medicine Légale, 3." cd. Paris: Masson,
1921.
BIBLIOGRAFIA Lagunas. Z. Ll1 De1en11i11ació11 Sexual em M,md,1,ufas por Medio de Las
F1111riones T>iscriminanres. México: Anales dei INAH, 1974, pp. 171-
Ahrcu, 11.T. Medídna l.egal Aplicada à Arte De11tál'ia. São Paulo: Fran- 17--1.
cisco Alves, 1922 Lentin. J.P. Penso, logo me engano. 2: ed. São Paulo: Ática, 1996.
Almeida Jr. e Costa Jr.. J.B. de O. Uçé'íe.s de Medici11a Legal. 15: ed. Lopt:z Gomes. L. e Gisbe1t Calaburg. J.A. Trauuio de Medicina Legal,
São Paulo: Ed. Nacional. 1978. 1.• ed. Valência: Saber, 1967, vol. 1.
Alvarado. .E.V. Medicina Legal. 3: cd. Co~ta Rica: Lehmann. 1983. Machado, S.R. e1 al. Verificação da aplicabilidade do índice "Baudoin"
Amoedo, O. L'Art De111uire en ;Hédiri11e Li!!ale. Paris: Masson. 1898. para determinação do sexo. ln: Co11gre.sso Brasileiro de Medicina
Arbenz, G.O. Medicí11a l.egaf t' A111ropolngía Foreme. Sào Paulo: Li- LeRal, 15. Salvador, 1998.
braría Athencu. 1988. :\-felani, R.F.M. Contrihuição para o estudo do comportamento dos ân-
A vila, J.B. 1111tmpolngia Fíúca. Rio de Janeiro: Agir. 1958. gulos craniomécricos de Rivel. .lacavard, Cloquet e Wclcker através
Azevedo, P.B. e Galvão. L.C.C. Diagnóstirn do sexo por mensurações de análise ccfalométrica em brasileiros. Piracicaba, 1995. Disserta-
do rádio. 111: Congresso Brasíleim de Odo11tologia l.,egul, 5. Recife. ção de Mestrado. Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Univer-
Salvador: Institlllo Bahiano de Ensino, Pesquisas e Perícias cm Ci- sidade Estadual de Campinas.
ências Forenses, 2000, pp. 6X-78. Morales. G.L.F.. Turizo, R.R.A. & Posada, M.G. Dctcrminación dei sexo
Briiíon, E.N. Odontologia Legul y Práctica Forense. Rucnos Aires: por medidas antropométricas. Amioquia Med. (Mcdcllín), 3(32): 123-
Purinzon, 1982. 1:n, 1983.
Bonnet, E.F.P. Medici11a Legal. 2.• ed. Buenos Aires: Lopez, 1980. Oliveira, J.8.S. Craniometria Comparada das Espécies Humanas na
Bosqueiro. M.R. Determinação da maturidade esquelética e estimativa Rahia, sob o Po11to de Vista Evolucioni.vra e Médico-Legal. Salva-
da idade através de radiografias carpais. Piracicaba, 1999: 95p. Dis- dor: J.G. Tourinho, 1895.
sertaçiio de Mestrado. Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Oliveira Jr. J.C. de et al. Identificação do fenótipo cor de pele através
Universidade Estadual de Campinas dos aspectos das Clhpides do I .º molar inferior. ln: Seminário da
Camps, F.E. Gradwohl's Legal Medicine, J•Jed. Bristol: J. Wright, 1976. Disciplina de Odo11tologia Legal. Feira de Santana: t.:nivcrsídade
Carrea. J.U. Ensayos odontométricos. Tese de Doutorado. Buenos Ai- Estadual de reira de Santana. 2001.
res: Universidade Nacional de Buenos Aires, 1920. Oliveira, R.K Estimativa do sexo através de mensuraçôes mandibula-
Castro, C.M.P. e Galvã<J. L.C.C. Diagnóstico do sexo pelo estudo quan- res. Piracicaha, 1996, 105 p. Di.~sertação de Mestrado. Faculdade
titativo da ulna. 111: Congresso Brasileiro de Odo11t0Logia Legal, 5. de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas.
Recife. Salvador: Instituto Bahiano de Ensino Pesquisas e Perícias Paulete Vanrcll. J. Manual de Medicina Leia/. São Paulo: Uv. Editora
em Ciências Forenses, 2000, pp. 23-30. de Direito, 1996.
Pávcro. F. Medici11a Legal, 12.ª ed. Belo Horizonte: Vilfa Rica. 1991. Pereira, C.B. e Alvim, M.C.M. Manual para Estudos Cmniométricos e
FRANÇA, G. V. Medicina Legal, ó.ª cd. Rio de Janeiro: Guanabara- Cra11ioscópicos. Cidade Universitária: Universidade Federal de Santa
Koogan, 2001. Maria, 1979.
Galvão, L.C.C. F:studus Médim-l,egais. Porw Alegre: Sagra de Luz- Pompa, C.C. e, ai. Aspectos das cúspides do 1.0 molar inferior em leu-
zalto. 1996. codermas. faiodcrmas e melanodennas. ln: Congresso Rrasíleiro de
_____ . ldcntifica~·ão do sexo através de medidas cranianas. Pi- Odonwlogia Legal, 5, Recife. Salvador: Instituto Bahiano de Ensi-
racicaba, 1994. f>isserlaçiío de Afrstrado em Ciências, ,Írea de. no. Pesquisas e Perícias em Ciências Forenses, 2000, pp. 44-49.
Odontologia Legal e Dtomologia. Faculdade de Odontologia de Pompa, e.e. & Galvão, L.C.C. Investigação do sexo por mensuraçf>es
l'iracicaha, Universidade Estadual de Campinas. da 5." vértebra lombar. /11: Congresso Brasileiro de Odon1oloiia
_____ . Determinação do sexo :itravés da curva frontal e apófise Legal, 5, Recife. Salvador: lnstítuto Bahiano de Ensino, Pesquisas e
:na~tóicka. Pirac.;icaba, 1998. Te.l"e de Doutorado em Ciências, Área Perícias cm Ciências Forense,r,, 2000, pp. 109-18.
,f,, Odmirnlogia Legal e Deontologia. Faculdade de Odontologia de Ramírel., A.J.C. Estmnawlngia Foref/.se. 8.' ed. México: Trillas. 1990.
f';::,.:i,'aba. Universidade Estadual de Campinas. ____. Jde111//ication Forense. México: Trilias. 1990.
_ _ _ _ _ el ai. Detenninação do sexo por análise quantitativa da man- Rojas, Nerio. Medicina Legal, 7.ª cd. Ruenos Aires: Librería EI Ateneo
Jit-ula. ln: Ccmxresso Brasileiro de Medicina legal, 5, Salvador, 1998. Editorial, 1958.
Antropologia Forense 261

Saliba. C.A. Conlribuição ao esludo do dimorfismo sexual. alravés de me- f ,egal. 5, Recife. Salvador: [nstituto Bahiano de Ensino, Pesquisas e
dídas do crânio. Piracicaba. 1999, 132p. Tese de Vouiorado. J-iacul- Perícias cm Ciências Forenses. 2000, pp. 85-95.
dade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Cam- Silva, L. Odontologia Legal. São Paulo: Imprensa Mcthodista. 1936.
pi nas. Silva. '.'vi. Compêndio de Odomologia Legal. Rio deJmleiro: J\.1EDSI. 1997.
· - - - - - · Estimativa da idade pela mineralização dos dentes atra- Simonin, C. Medicina Legal .Judicial, 2: cd. Barcelona: Ed. IMS. 1966.
vés de radiografias panorâmicas. Piracicaba, 1994. Dissertação de Soto. H .. Castellanos, R. & Torihio, L.R. Estudio métrico dei canal
Mestrado. raeuldadc de Odontologia de Píracicaba, Uníven\idade medular dei húmem como indicador de la cdad. ln: Esrudios de
Estadual de Campinas. .111tropología Biológica. Editorial Umah, 1989, pp. 143-48.
Saliba. T.A. Estudo das medidas lineares e angulares dos arcos dentári- Teixeira, W.R.G. Medicina Legal. (s.n.t.) 2vol. 1982.
os superiores e inferiores e sua imponfmcia pericial. Piracic:aha. 1998, Telkkà. A On the prediction ofhuman staturc frnm thc long bones. Acta
92 p. Dissertação de Meslrado. Faculdade de Odonlologia de Pira- Anatómica, 9: 103-117, 1950.
cicaba, Universidade Estadual de Campinas. Ten. C.Y. Estimativa da idade pela míncralização dos ossos do carpo
Samico, A. Contribuição para o estudo da delerminação da idade aci- através de radiografias padronizadas. Piracicaba, 1994. Dissertaçt'ío
ma dos 20 anos. fo: Congres.fo Brasileiro de Medicina Legal e de Mestrado. Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universida·
Crímino/ogia. 2. Recife. Anais: Recife, Imprensa Universítária, de Estadual de Campinas.
1956. Testut. L.M. & Latarjet. A. EI cráneo desde el punto de vísta antropoló-
Silva, C.S.A. Contribuição para o esludo da estimativa da idade pela gico: dctcrminacion dei sexo de un cránco. ln: _ _ _ _ _ &
mineralização dos dentes através do mélodo radiográfico, 76 f. - - - - - · Trmado de ,lnatomia Humana, 9. 0 ed. Barcelona:
Monografia (F:speâalização). Faculdade de Odontología, Univer- Salvar. 1954. vol. 1. pp. 302-303.
sidade Estadual de Feira de Santana, 1999. Vitoria, E.M. A im·estigaçào do sexo pela primeira vértebra cervical.
Silva. C.M. da e Galvào, L.C.C. Investigação do sexo através da área Piracicaba. 2001. Díssenaçiio de Mestrtulo. 1--'aculdade de Odonto-
do triângulo mandibular. Ili: Congresso Brasileiro de Odontologia logia de Piracicaba. Universidade Estadual de Campinas.
..
. . ~. ·.. . : .. : : : :: ·::. :·... :. :.·..
. ·.:· ·. · .
.· : . . . ..:. ·.

,..,
A IDENTIFICAÇAO PELO
DNA EM ODONTOLOGIA
LEGAL

--·---·---·····- -···---·····--··-----···-·-·--·---···---·-·------·-
35
Identificação pelo DNA /

ent Odontologia Forense


-----·----·------·---···--··------------------------
Jorge Paulete Vanrell

Por outro lado. os polimorfismos na molérnla de DNA, que.


INTRODUÇÃO aliás, se encontram na base de todas as caracteristicas herdadas,
não mudam ao longo do tempo, permanecendo idênúcos duran-
Como já vimos cm capítulo anterior, a identificação forense te toda a vida.
baseia-se no achado de semelhanças ou de diferenças entre indi- Há entre n<Ís um conhecido adágio que diz que, se "o médico
víduos diferentes. Essas diferenças são denominadas polimorfis- legista é o único que pode afirmar de que morreu um indivíduo,
mos. o dentista é o IÍ11ico que pode dizer quem era o indil'íduo''. A
Esses polimorfismos ou diferenças podem assumir as formas identificação odontológica leva a vantagem de examinar polimor-
mais variadas. ora somáticas ou corpóreas (como no bertillon- fismos sobre as estruturas mais resistentes do corpo e que, por
nage), ora faciais (como na prosopografia e na prosopomctria). isso, são as que se enconu·am. com maior freqüência. para fins
ora digitais (como na datiloscopia), ora dentais ( como na odon- idencificatórios.
tologia legal), para somente citar algumas elas mais conspú:uas. De fato, a identificação odontológica é um procedimento ex-
Alguma.s dessas variações são únirns, ao passo que outras não o celente; todavia. oferece algumas limitações. Com efeito, a iden-
são. tificação dentária exige:
Muitas dessas vmiaçõcs individuais não passaram de fugazes
modismos biológicos ou não respeitaram alguns dos cinco p1in- • dispor de radiografias dentais de boa qualidade e relativa-
cípios básicos exigíveis de qualquer sistema ou procedimento mente recentes;
identificatório: unicidade = individualidade. imutabilidade, + encontrar o profissional (clínico. ortodontísta etc.) que te-
perenidad(i, praticabilidade e classificahilidade. Outras, no en- nha nos seus arquivos as radiografias;
tanto, se firmaram, como aconteceu com as impressões digitais • lembrar que, em face da íluorctização da água. o número
e com a dentição, porquanto pcmütem uma i<lentificaçào preci- de cáries e conseqüemes restaurações é menor nos jovens
sa, por serem diferentes de indivíduo para indivíduo/ Nessa mes- (não e~;quecer que as restaurações eram as grandes auxili-
ma esteira veio, mais recentemente, a análise da molécula de ares na maioria das identificações radiográficas);
DNA, haja vista que suas características são únicas para cada + os traumatismos crânio-encefálicos graves podem tomar
indivíduo. com exceção dos gêmeos idêntkos ou uni vitelinos. impossível a identificação odontológica;
Nem todos os polimorfismos são herdados, como poderia + a decapitação, proposital ou acidental, da vítima faz desa-
fazer pensar o falo de termos mencionado o DNA. Existem po- parecer os arcos dentários e. como conseqüência. a possi-
limorfismos que são adquiridos ao longo da vida do indivíduo e bilidade de identificação pelos dentes.
que, a partir de ent.'i.o, se erigem em marcas diferenciadoras (l'.~. Segue-se. daí, que nem todos os restos humanos podem ser iden-
cicatrizes, amputações etc.). Estas eram as denominadas "mar- tificados através das técnicas odontológicas de cotejo ou confronto.
r.as e sinaí.~ individuais" nas fichas de hertillonnagli. Ainda que as estruturas dentárias sejam mais resistentes às al-
Não resta dúvida de que os dermatóglifos têm um evidente terações traumáticas ou aos processos putrcfativos que outros
rnmponente genético cuja expressividade e penetrância, entre- meios de identificação perecíveis (cicatrizes, impressões digitais
tanto. podem ser bastanremodilicadas durante o desenvolvimento etc.), mesmo assim o DNA lem maiores chances de sobrevivên-
fetal por fenômenos ontogênicos intra-ute1inos. Esta é a razão cia. Qualquer resto de tecido orgânico, qualquer fragmento de osso,
que permite qL1e gêmeos univitclinos tenham diferentes impres- à exceção dos carbonizados ou dos que sofreram imersão prolon-
sões digitais. Alguns desses polimorfismos adquiridos, que po- gada em água salgada, pode ser utilizado para pesquisa de DN A.
dem ser utilizados para a identificação, podem mudar ao longo Um dos obstáculos mais intransponíveis, ao se proceder às
do tempo, como. e.g .. os tratamentos odontológicos podem in- técnicas de identificação pelas imprcssõc~ digitais ou pelos ar-
troduzir modilicaçf>cs nas peças dentárias. cos dentários, é a ausência de dados fidedignos para servir como
266 lden1({icação pelo DNA em Odontologia Foreme

mate1ial de confrouto . No DNA, por sua vez, a disponibi lidade Q uando alinhavad os vários n ucleotíde os entre si, o .fosfato
de famílias inteiras que podem oferecer material de referência é assume a forma de orto~fo~játo. O nucleotídeo, por sua vez, está
um fato altamente positivo. integrado por um carboidrato (pen tose) e uma base nitrogenada.
Ademais , os procedim entos de identifica ção. quer para As penloses que se encontram nos ácidos nucléicos são a ribose
dermatóg lifos. quer para arcos dentais, quando se trala de desas- e a desox irriho.çe, ambas apresent ando formas cíclicas e
tres cm massa, são demorados. Já os procedim entos de tipificação d iferencian do-se e ntre si pela presença ou ausência, res pectiva-
do DNA permitem realizar rapidamen te os exames. mesmo quan- mente, de um grupo oxidrila no seu carhono 2'.
do numeroso s e a haixo custo. Este s6i ser um fator crítico e As bases nitrogenad as podem pertencer ao grupo da$ pirimidi-
decisório nos desastres em massa, situação em que a velocidad e nas com um anel 1útrocarbonado na sua molécula. Timina e citosi-
na obtenção de resultados é fundamental. na são duas bases pirimidíni cas presentes no DNA, diferindo entre
Não resta dúvida de que a identificação pelo DNA tomou ob-
si apenas pelo conteúdo de hidrogênio, que é maior na tintina por
soletas quaisquer outras téc1úcas prévias. Com efeito, todas elas
apresentar um grupo metila onde a citosina possui um grupo oxidrila.
- sistemas eritrocitários (ABO, Rh etc.). isoenzima s e sistemas
Integram os ácidos nucléicos bases nitrogena das do grupo das
le ucocitários (HLA) - acabam por ser meras manifes1,içõcs
purinas que aprc~enta m dois anéis niu-ocarhcmados na sua mo-
fenotípicas das mensagen s annaz.cna das, sob a forma de genoma,
lécula. Guanina e ade11ina são a:, duas bases púricas que se en-
no DNA. Í~por isso que o poder discri minador do DNA é tão sig-
contram cm todo tipo de ácido nucléico. Entretanto, das bases
nificativo. superando os marcador es tradicionais. inclusive as ti-
pagens de HLA. Os marcadores tradicionais oferecem probabili- pi rimidínica s. apenas a citosina é comum para DNA e RNA. A
dades da orde m de I em milhares, ao passo que os testes de DNA timina é exclusiva do DNA. sendo substituíd a no RNA pela
oferecem probabilidades da ordem de I em núlhõcs. Os testes de uracila. Ti mina e uracila só diferem entre si porque a timina
DNA podem ser reali.1.ados com qualquer tecido ou líquido orgâ- apresenta um grupo metila que está ausente na uracila.
nico, o que oferece um leque de opções muito mnis amplo. Esses nuclcotfd eos que form a m os ácidos nucléico s se
poli merizam por esterificaç ão entre o grupo 5' -fmfato e o grupo
3' -oxidriu, cm presença de 5' -cri-fo lfo-nucleo túfeo-poli merases.
Estas variam conforme o açúcar presente nos nuclcotídeos a se-
A MOLÉ CULA DE DNA re m polimerizados. Por isso temos a 5' {04"0- DNA -polimerase
e a 5' -fo.~fo-RNA-polimerase.
O DNA Nuclea r (DNA) O modo como as polimeras es efetuam os enlaces covalente s
fosfo-di -éster obrigam a presença de um grupo fo sfato livre no
Estrutura lmente, os ácídos nucléicos encontram -se constituí- e.rtremo 5' do polinucle otídeo e de um grupo oxidrila ligado ao
dos por polímeros , isto é, longas cadeias de 1111denrfdeos liga- corbono 3' da pcntose. também livre, na extremida de final da
dos entre si por um enlace 3 '-5 '~fo.~fc>·diéster. Cada um desses cadeia. Essa ohrigatoriedadc na seqüência é de extre ma impor-
nucleotídeos, quando isolado, é fonnado por um grupo fo.çflllO. tância para garantir a polaridad e funcional dos ácid(1s nucléicos
i;ob a fom1a pirofosfat o, e um nucleosideo.
ao longo do eixo Jo~fo.to- peniose.

p.,.p.... p
o o o /
oH - t-o
1
OH
- i-
1
o- ~
1
OH
-o ~
o ·
OH
4. 1
.
'()BASE
o o

3· 2' OH
l4-- nucleosldeo -J
i . . - - - - - - NuCleotfdee> - - -- ---+I
ltrifostatoJ

l:iiR. 35.1 t;m nudeoli(k o Hrifosfaro de adenina) e sua representação esquemática.

P"' P -..P O
P " - P " P vO ~

Ü' "'
HO
5·.tritoslo·
HO
__\ _ / BASE

+ DNA-polimerase
{(/!
PVO~ //
lp.,.pj,·..·P
P'I. P ..

.. ~ B A SE
HO
r2 DBASE
HO
O

Fig. 35.2 Mecanism o de ação da cn:r.ima 5'-trífosfo- DN A-polimer ase.


/ den1ificação pelo DNA em Odontologia Forense 267

p
Com o auxílio da difração de raios X, Watson e Crick consegui-
/ p ram evidenciar que ambos os eixos paralelos dos polinudeotideo!>
s· O\{O ~BASE
J o se encontram em uma disposiçãn tridimensional lrelicoidal. A mo-
lécula de DNA ainda apresenta, conforme demonstrado por cs~
\µ/ º B A SE técnica, duas periodicidades no seu comprimento: uma de 3-1 A.que
OH 5~
representa o passo da hélice, e uma 10 vezes menor, de 3../ A. que
o corresponde à distância entre duas base.-; nitrogenadas justaposta,.
I p
p
Ambos os eixos penlose- fosfato apresentam polaridade no , ,
p I o sentido 5' ~ 3'; entretanto, os eixos lêm suas polaridades cm _

°'O""'
/ antipara/do. Ainda, a molécula de DNA apresenta a caracterisci- ~,~
S' O v .O~ BASE 5~ ca de autuduplicar-se, que lhe é exclusíva. Essa característica. -
entre ouuos fatores, provém das qualidades da enzima 5' · ~
~
OH
.fosfo-DNA-p ulimerase, que é capaz de polimerizar nucleot{deos /')
OH
de DNA mesmo in vitro.
Fig. 35.3 Ligação esrn belecitla entre o íon fosfato 5' de um nuclt:olítleo Além da própria disposição dos nucleotídeos de conferir con-
w m o íon oxidrila 3' da pentose tle um outro nucleotí'deo. dições para que se estabeleça a dispos ição helicoidal do DNA,
esta é mantida pelas hiszonas, que poderão suprimir sua ação
quando mcti ladas. Este é, precisamente . o primeiro evento que
acontece quando da duplicação de DNA.
Uma das características diferenciais mais importantes do DNA A .rnpre.~são da ação hístônica permite o afastamento dus
é encontrar-se formado por duas cadeias de pulinucleotídeos, eixos en1.re si, com a subseqüente cisão das pontes de hidrogê-
sendo o paralelismo entre ambos os eixos pcntose-fosfa lo ga- nio, o que deixa expostas as bases púricas e pirimidínica s.
nmtido pel a aposição excl usivamente de bases púrica.1· e Nucleotídeos de desoxirribosc li vres estabelecem, pelas suas
pirimidínicas, o que sempre interpõe entre os eixos três anéis hases, pontes de hidrogê1úo com as bases nitrogenadas do eixo
nltrocarbonados. Entre as bases púricas e pirimidínicas defron- o u fil amento preexistente. A DNA -polimera<;c catalisa a ligação
tadas se estabelecem ligações eletromagnét icas fracas. chama- fosfo-di-éster entre os nucleotídeos. e forma-se um novo eixo.
das pmues de hidrogênio. Diferenteme nte do DNA, o RNA complementa r ao preexistente. Isso, entretanto, apenas aconte-
apresenta-se sempre como umjilamemu único. ce no eixo cuja polaridade é 3' ~ 5'.

,...._ 2,85 A -..,

para a para a Fig. 35.4 Enlace, alravés de ponLes de hidrogênio, entre a timina
desoxirribose desoxlrríbose e a adcnina.

H ,_
H \ 2.83A ~

H >-{~";~~ '2..~ t
~
N~H
\ _ ) ... ,.::::::;H- N /

/ \ ,_N \

, _ 2.84A ~H

1 10,8 À - -- - ---
~- w
- --- - - ----- ---
para a para a Fig. 35.5 f:.nlacc, através tle pontes de hidrogênio, entre a
desoxlrribose desoxirribose guanina e a citosina
168 lde111ificação pelo DNA em Odonrologia Forense

Molde Cópia Cópia Molda

i E·:
5' 3' 3'
<I>

i ~ !
~
.§ SELASE~S'
&
3' 5' i 3' 5'

DNA-polimerase + selase

Fig. 35.R Mecanismo da ação da se/ase para juntar os fragmentos de


DNA replicado <lo filamento cm antiparalelo. 3' ~ 5'.

bases nitrogenadas expostas às vezes têm tendência a formar


pontes ele hidrogênio entre si, o que pode levar o RNA a adquirir
uma estrutura semelhante a um grampo ou a umaj"lha de tre\'o.
além das fonnas cm 4uc é apenas linear (RNA-m).
Fig. 35.6 Modelo cstcreoquímiço da molécula de DNA. (Segundo Conhecendo os eventos que se sucedem quando da duplica-
Watstm & Crick, 1953.) ção do DNA. toma-se simples compreender como se opera a
replicação sob a fonna de RNA. A seqüêncía dos fatos poderia
ser c-.quematizada assim:
l. D<'Sespirali:.ar<io de um pequeno segmento do DNA.
~- Cisão das pontes de hidrogênio entre purinas e pirimidinas
complementares.
J. Aposíçâo de tri-fosfo-nucleotídeos da ribose pelas suas bases
nitrogenadas. conforme as regras de complementação, isto é:
TIA: A/U: GIC; CIG.
4. Esterificação dos tri-fosfo-nucleotídeos de ril>ose mediante
ligações fosfo-di-éster, com a catálise enzimática da
RNA-polimerase.
5. Polarí-:.arão da estcrificação no sentido 5' '"""7 3', com cópia
exclusiva, em conseqüência do filamento 3' '"7 5 '.
6. Cisão das pontes de hidrogênio DNJ\-RNA.
7. Reespirali-:.ação do DNA com reparo das pontes de hidrogê-
nio independendo do tipo de RNA a ser formado. isto é, men-
sageiro, transferidor, riboss.ômico. Apena-. o comprimento dos
polinucleotídeos formado!s, além da se4üência de bases nitro-
genadas, será diferente.
Ao longo de uma molécula de DNA. ou de um cromossoma.
há inúmeros segmentos repetitivos que codificam RNA-t, mas.
Fig. 35.7 Polaridade no sentido .5' ~ 3' no eixo pentosc-fo1.fato. em condições normais, há apenas um segmento por genoma que
codifica cada RNA-m específico, indo transformar-se em mol-
de para a síntese de proteínas estruturais ou funcionais. Numa
célula diplóide (2n). face ao código ser duplo, é necessário que.
O eixo que apresenta a polaridade 5' ~ 3' Lambém duplica.
no mínimo. um dos genes - e, em muitos casos, os dois - pas-
mas. sua duplícaçiio é intermitente, necessitando que a
se grande parte da vida inativado ou inibido.
desespiralização mii~ja determinados locais chamados ''hinding
points'', nos quais a DNA-polímerasl' consegue começar a esta·
belcccr os enlaces covalentes. Os fragmemos assim fom1ados
inLcrligam-se imediatamente depois pela ação de outra enzima,
O DNA Mitocondrial (mtDNA)
a sela.'íe. Uma vez que as mítocôndrias são organelas ou organóides
~lima célula normal, a partir do DNA, formam-se, no míni- extremamente dinâmicos, e que não poderiam estar submetidas
mo. três tipos <liferemes de RNA: o RNA-r, o RNA-t e o RNA-m. ao retardo, à distância da cópia. transferência, leitura.
E.,sa~ variedades do RNA serão encontradas tanto no núcleo polimerização das proteínas enzimáticas etc., elas necessitam de
quanto no citoplasma. Afora as dítercnças químicas, a diferença mecanismos próprios e fisicamente mais próxímos de modo a
mais n0tável entre o DNA e o RNA é que este último se em:on- acelerar os processos metabólicos de gênese de energia. Para
tra :-empre como uma cadeia simples de polinucleotídeos. As tanto, as mitocôndrias possuem DNA próprio, capaz de suprir-
ldentificaçüo pelo DNA em Odontologia Forense 269

lhes, largamente, as necessídades in loco: é o DNA mitocondrial de DNA, permitindo traçar o perfil do DNA de múmias egípcias
(mtDNA). de mais de 5.000 anos. bem como de insetos conservados em
O DNA mi1ocondrial. embora, em essência, esteja constituí- âmbar, com mais de 30 núlhões de anos.
do por moléculas de DNA. tem diferenças múltiplas com o DNA Assim, resulta fácíl compreender que tanto ossos como ou-
nuclear ou cromossômico que vimos no parágrafo precedente, tros tecidos que têm ficado cntcffados no solo por longos perío-
como pode ser visto no quadro a seguir: dos, por vezes não permitem fazer a ídentificaçào pelos meios
convencionaís, mormente quando o solo é úmido. Todavia. mes-
mo os restos de esqueletos amigos podem dar boas seqüências
informativas de Dl\'A mítocondrial (mtDNA).
DNA Nuclear DNA Mitocondrial

no núcleo no citoplasma celular


Polimorfismos do DNA
nos cromossomas limitado às mitocôndrias
Já salientamos que a identificação de polimorfismos é. em
dupla hélice linear dupla hélíce circular essência, a pesquisa da própria identidade de determinado indi-
víduo. Os polimorfismos de DN A, pelo seu grande número e pela
rnntém 6 X I O'> pares contém 16.569 pares sua enorme variabilidade, são os que melhor se prestam para esse
de hases de bases mister.
Os polímortismos do DNA podem ser baseados quer no com-
herança paterna e herança exclusivamente
primento dos segmentos. quer na seqüência de bases. Os primei-
materna materna ros - polimorfismos baseados no comprimento dos segmentos
permite a identificação permite a identificação - são uma das características do DNA repetítivo, aquele que não
somente de gerações através de gerações codifica nenhuma proteína (chamado jtmk DNA pelos saxões).
próximas de amhas as distantes na linha Os fragmentos de DNA variam bastante de tamanho entre os
linhas materna indivíduos devído à presença de um número variável de seqüên-
cias repetitivas. em série ( variabfe. numbers of tandem repeats
somente duas cópias em centenas de cópias em cada ou VNTRs.). Por exemplo, um núcleo de 7 bases pode ser repe-
cada célula célula tido 5 vezes cm um indivíduo e 12 vezes cm outro. O polimor-
fismo tradicional. baseado na análise do comprimento dos frag-
somente em células presente em células mentos resultantes da ação das enzímas de restrição (rescríction
nucleadas anucleadas desde que fragmmt length pofrmor7Jhism ou RFLP), é largamente utíliza-
tenham mitocôndrias do na pesquisa de DNA em criminalística e implica os fragmen-
tos cortados (restrictio1tfra1:ments) que íncluem toei (regif>es
não se pode localizar pode-se localizar cm internas dos VJl,;TR). que, conseqüentemente, são variáveis no
em hemácias hemácias em sangue comprimento dos fragmentos. Quando necessário, os fragmen-
total e em urina tos de VNTR podem ser ampliados. cm vez de cortados, donde
os amplijil,d ji'agment length polymorplúsms (AmpFLPs).
pequenas quantídades abundante cm restos
Os segundos - polimorfismos baseados na scqüêncía de
em restos humanos humanos (e.x. pêlos sem
bases - oferecem as ínformaçôes sobre a identidade do DNA
(e.g. ossos, dentes) bulbo píloso
em face da seqüência de fragmentos de DNA de tamanhos se-
= hastes pílosas)
melhantes. Os polimorfismos de seqüência consistem cm mudan-
ças diferentes em uma ou mais bases. em um segmento de D'.\IA
que ocupa detenninado local no genoma. A variação de seqüên-
Utilidade do DNA cias pode manifestar-se como regiões de alelos alternativos ou
de substituição de bases, adições ou deleções. A maioria dos
A maior utilidade do modelo de pareamento de bases e sub- polimorfismos de seqüência são apenas mutações pontuais, que
seqiicnte polimerização é que uma metade da molécula de DNA tanto podem ser achadas em DNA codíficante quanto naqueles
pode ser produzída a partir da outra metade. Assim. a scqiiêncía sem sentido (non sense). Os polimorfismos de seqüência podem
de bases em um lilamento pode ser utílizada para determinar a ser detectados quer através de sondas (prob<!S) de DN A, quer por
seqüência de bases do filamento oposto. ou para criar um DNA seqüencíação direta.
específico que possa ser usado corno sonda (prohe) de híbrídí-
zação.
GLOSSÁRIO
Estabilidade do DNA
A seguir são listados alguns tcmlOS de uso freqüente não ape-
A molécula ele DNA é extremamcnLc resistente, tolerando uma nas nos laboratórios hiol6gicos, mas também em artigos e citações.
larga variação de temperatura, pH. saís e outros fatores que seri- Temos tratado de usar termos genéricos que não passem a idéia
am fatais para qualquer outro dos marcadores genéticos soroló- de que somente determinada marca ou produto é válido, com ex.-
gicos. Já têm sido feitas experiências submetendo o DNA a de- clusão de outros. Alguns termos ou siglas foram mantidos em in-
tergences. solventes e outros produtos que poderiam agredir a glês por se tratar da fonna como são conhecidos há longo tempo:
molécula, mas os resultados não evídencíaram alterações nas
características de típagem do D1'A. Essa enorme estabilidade é ale/o - cada uma das duas formas que pode assumir um gene
o que parece ter facilir.ado a "longevidade" de certas moléculas ou VNTR cm determinado cromossoma. Uma vez que os
270 lde111{/ic:aç(io pelo DNA e.m Odnnwlogia Foren.w!

cromossomas autossômicos existem aos pares. todos os alclos gene - unidade funcional da herança que ocupa um local
estão duplicados, com exceção daqueles que se alocam nos seg- específico (locus) ao longo de um cromossoma e consiste em um
mentos diferenciais dos cromossomas sexuais ou gonossomas. segmento de DNA definido que contém a seqüência de bases
Quando ambos os alelos são iguais, diz-se que o indivíduo é correta para codificar uma série de amínoácídos necessários para
homozigoto para esse locus. ao passo que, se os dois alelos que sintetizar um peptídeo específico.
ocupam o locus são diferentes entre si, o indivíduo é considera-
do heteroz.ígnto. length specific typing - análise baseada no número de pa-
res de bases em um segmento específico de uma molécula de
amostra de referência (sin.: amostra conhecida) - fonte de DNA, que se traduz como tamanho ou diferenças de comprimen-
DNA com a qual se compara a amostra questionada. como. por to.
exemplo. amostra de sangue de um acusado suspeito de estupro,
amostra de sangue dos pais de uma criança raptada etc. locus - (plural loci) - uma posição específica cm um cro-
mossoma onde, de regra, se aloca um gene.
a,n(lsfra que.i;tionada (sin.: amo.~tra desconluicida)- fonte
de DNA a ser identificada, como, por exemplo. dente retirado microssatélite (short tandem repeais - STR) - repetiçf>es
de restos humanos desconhecidos ou sêmen retirado de uma ví- seqüenciais de fragmentos curtos.
tima de estupro.
minissatélite (ftmg tandem repeais - LTR) - repetições
auto-radiografia- procedimento pelo qual um filme de rai- seqüenciais de fragmentos longos.
o-. X é colocado diretamente em contato com uma membrana
coherta com gel de cletroforese, pernútindo que radioisótopos oligonucleotúleos - pequenos fragmentos de DNA que, logo
marcadores produzam áreas luminosas sobre o filme. O brilho após, irão Iígar-se com uma porção complementar do genoma.
dos pontos é diretamente proporcional à quantidade de DNA Quando os oligonucleo1ídcos estão marcados por uma suhstân-
marcado, e sua locação sohre a membrana depende do peso cia radioativa ou fluorescente. podem ser utilizados como "son-
molecular de cada fragmento. das .. (pmhe.q para revelar seqüências específicas do DNA.

core repeat- pequeno segmento de DNA que é repetido para PAGE lpnlyacrylamide gel electrophoresís) - procedimen-
produzir uma YNTR. to semelhante à cletroforese cm gel de agarose, mas a
poliacrilamida oferece melhor resolução.
crnmossoma - estrutura nudear pareada que contém os
filamentos lineares de DNA onde se encontra a infonnacão 2e- PCR (polymaase chain reactiun)- técnica laboratorial pela
nética. O núcleo das células somáticas humanas contém..:.: pa- qual um segmento da molécula de DNA é duplicado. Através
res de autossomas e dois cromossomas se.xuai-,. que podem ser desse procedimento, umas poucas cópias de uma seqüência de
iguais - XX (na mulher) - ou ser um cromossoma X e um Y D~A podem ser amplificadas em um grande númern que
- XY (no homem). \'iabiliza a análise.

degradação do DX.rl - ..:orre~punde à de~agregação da mo- polimorfismo - cada uma das regiões de variabi]idadc ge-
lécula. geralmente por ruptura d0 filamento. modificação das nética que servem como base para a distinção entre indivíduos.
base~ ni1rogi:nada~ ou por t'roH-lin/.:ing encre a:s bases entre Algumas seqüências são altamente variáveis, ao passo que ou-
si ou ..:0111 proteína,. A quebra do D~A pode :ser causada por tras o são menos.
facores ambii:nrais . ..:<>m0 ::.ti\ iJade de endonucleases ou for-
ças de frngmcmação. l-m;; degradação 5igniticaci va pode resul- purijicação do DNA - "limpeza" do DNA, visando elimi-
tar em fragmenc,,~ tã.:• pcqueno5 que não contenham sequer se- nar inibidores da PCR ou da atividade das enzimas de restrição.
4 liências polimórfo:.h impre~.:indh eis para a individualiza- A purificação se realiza por:
ção. 1) lise da membrana celular
2) retirada das proteínas
enzima de restrição - um..1 endonudease utilizada como "te- 3) uma das seguínt.cs:
soura biológica.. que hidwli,a o D:\:\ de duplo filamenco em a) precipitação do DNA da solução pelo etanol
locais específicos. donde re,ultam fragmentos de tamanhos va- b) diálise da solução de DNA. com grandes quantidades
riados. de hujfer, ou
e) ultrafiltração.
fluorófiJros - marcadore~ químicos que fluorescem quando
expostos a diferentes comprimentos de onda, transformando-se qualidade do DNA - determinação da íntegridade dos
no instrumento apto a distinguir entre nucleotídeos e, assim, "ler'' filamentos de DNA e a pureza da amostra relacionada com a
a seqüência do DNA quantidade de proteína ou contaminação pelo fenol.

gel para eletroforese - camada de um colóide firme (geral- quantidade de DNA - quantificação do total de DN A em uma
mente de agarose), colocada em um campo elétrico que serve amostra. Tratando-se de quantidades muico pequenas, os resul-
como suporte para separar fragmentos de DNA de tamanhos tados soem registrar-se em nanogramas (ng) ou microgramas (µg)
variados. Em um campo elétrico e para uma mesma polaridade. por mililitro (mL).
os fragmentos se deslocam com velocidade inversamente pro-
porcional a seu tamanho. Assim, os fragmencos menores sedes- radiaisi'Jtopo - isótopo instável de um elemento que dimi-
locam mais rapidamente que os fragmentos maiores. nui seu nível energético para estados mais estáveis, emitindo
ldent/ficação pelo DNA em Odun/ología Fnreme 271

radiação que pode ser mostrada sobre um filme ou chapa de rai- Há uns 2ovk de casos cm que, por serem as quantidades de
os X. Os radioisótopos podem ser usados quer para detectar DNA. DNA de alto peso molecular exíguas(< de 100 nanogramas).
quer para auxiliar na determinação quantitativa ou na locali7.a- pode ocmTcr uma análíse de RFPL insuficiente, assim como um
ção das bandas de DNA, após eletroforesc na técnica de man- perfil incomplelo das amostras.
chado (blotting) ídealiz.ada pelo Prof. Southern (Southern
blotting ).
A Técnica da PCR
RFLP (restrictíon fi·agment leng1h polymorphism) - frag-
mentos de comprimento varíável da molécula de DNA. Para Quando não se coma com volumes apreciáveis de DNA -
poder separá-los durante a análise. usam-se endonucleases (en- como, por exemplo, no caso de haver somente vestígios de san-
z.imas de restririio ). que "cortam" o DN A em locais predetermi- gue sobre um substrato; poucas células do epitélio de transição
nados e que se transformam, assím, cm fragmentos da molécula do lábio no filtro de uma bituca: a saliva deixada ao passar a lín-
de comprímentos diferentes. gua no selo ou no envelope para colá-los: na borda de um boné
cnschado; cm algumas peças dentárias de restos esqueletizados:
sequence-spet:ific typing (ti pagem de seqüências específicas) achados em cemitérios clandesúnos, como cm Perus (SP) ou no
- análise baseada na seqüência em que diferentes pares de hases Araguaia (TO)-. a técnica da PCR é o procedimento de esco-
esuio ligados dentro de uma sci,:ão específica da molécula de DNA. lha.
Com efeito. a técnica da PCR permilc ter milhões de cópias
VNTK (variahle n11111her iandem repeats) - são segmenLos de um locus específico e. em face do seu alto nível de scnsihili-
curtos de DNA que são repetidos em série. O número de unída- dade, conseguir operar ªmilagres.. em termos de idenúficação.
des repetidas difere e,me os indivíduos, sendo um dos principais Para elidir os problemas resultantes <la degradação de grandes
polimorfismos estudados. moléculas de Dl',;A. a técnica da PCR optou por trahalhar com
fragmentos menores dos toei VNTR, ainda. da molécula de DNA:
os STRs ({ocí dos microssatélites) e os LTRs (loc:í dos minissa-
télites ).
MÉTODOS PARA EXAME DO DNA Os toei dos microssatélites, ou STRs (short tandem repeats),
possuem 100 a 350 pares de bases de comprimento, com uma
Obviamente, esse tema se afasta dos limites que balízam este unídadc de core repeat de 2 a 5 pares de bases. Os toei dos minis-
trabalho. Como conseqüência, elencarcmos apenas alguns dos satélites, por sua \'eZ. ou LTRs (long tandem repeats), possuem
métodos mais comumente usados na resolução dos problemas 400 a 1.500 pares de base, com uma unidade de core repeat de
diários que surgem cm crimínalística, cm odomologia legal ou 16 até 70 pares de bases. Os produtos de multiplicação durante o
em áreas afins. e.g.: pré-tratamento pela PCR-AmpFLP (ampl{fiedji·agmem lenglh
• As manchas de sangue que se cncontrnm sobre o ínstru- polymorphi.wn) - podem ser separados usando o método de
mento pc11cncem à vítima, ao vitimário ou a uma terceira clctroforcsc cm gel de poliacrilamida (PAGE = polyacrylamide
pessoa? !>:el electroplwresi.\); A detecção dos fragmentos pode ser feita
• Pode identificar-se esse resto de arco dentário como per- por fluorescência ou por coloração pela prata. Embora o segun-
tencendo à vítima NN? do método seja bastante usado nos laboralórios forenses, a de-
• A mancha de sêmen encontrada nas vestes da vítima per- tecção atra\'és de fluorescência vem ganhando terreno. Ocone
tence ao acusado? que cada locus, após uma corrida de eletroforese, pode ser mar-
cado por um fluoróforo colorido diferente, facilitando assim o
As análises realizadas nesses casos tamo podem revelar vari- reconhecimento, com auxílio de tecnologia de laser, cm tempo
ações nos comp1imentos de fragmentos como vm·iações nas se- real. Com esse processo de detecção, com a avaliação de 4 a 8
qüências de bases específicas. A escollta do método dependerá loci AmpFLP. tem-se um poder de discriminação semelhante ao
da qualidade e quantidade de DNA que possa ser recuperado do que se teria com a análise das RFLPs.
material de prova e da amosu·a de referência.

A Seqüenciação do DNA Mitocondrial


A Detecção dos RFLPs
A análise da scqiiência do DNA mitocondrial é pouco infor-
O procedimento mais largamente usado é a técnica de detec- mativa. Embora possam ser altamente informativas, as possibi-
ção dos RFLPs (restricfio11fragment length polymorphism). cuja lidades de polimorfismos individuais não podem ser multiplica-
capacidade para dífcrcnciar indivíduos foi descrita em 1980. Essa das entre si. Com ísso. o poder de discriminação do exame de
técnica usa o processo de mapeamento de Southern, para detec- mi D NA resulta melhor do que a análise de vários testes de locus
<;ão dos fragmentos de DNA. usando oligonuclcotídeos marca- único, mas é menos ínfonnatívo que a pesquisa multilocus de
dos com radioisótopos, e que serão as sondas (probes) capazes RFLP ou que o teste de AmpFLP.
de reconhecer um par entre milhares de fragmentos de DNA.
O lamanho desses fragmentos é extremamente variável de uma
pessoa para a outra em razão do número varí,ivel de repetições Em Síntese
em seqüência (VNTR) que se encontram em cada fragmento.
Observando séries de diterenles locações (/ocí) de VNTS. pode- Usando de fomm combinada os métodos aqui elcncados. não
se traçar o pe1fil do indivíduo. A congruência entre o pert:il dos resta dúvida de que o perfil de DNA é um poderoso método de
achados na cena do crime, o perfil do suspeito, apresentando identificação humana. Pesquisando uma amostra problema acha-
concordâncias em quatro ou mais desses loci de VNTR, permite da no local do cri me, deve-se atentar para que tipo de interrogante
inferir a identificação do agente. está sendo proposta. Se a pergunta se limitar a solicitar a infor-
171 lde111{fh:açi'ío pelo DNA em Odonwlogia Forense

rnação sobre se a amostra biológica pertence ao suspeito ou à Nem sempre a colheita de vestígios ou de peças dentais de
\·ítima. isto é. se se deve testar apenas se a amostra pertence a restos humanos é feita, como seria desejável, pelo odontolegista
um dos dois, enlâo qualquer um dos métodos poderá ser utiliza- ou por um cirurgião-dentista, mas por um representante da Polí-
do. porquanto amhos irào oferecer informações úteis e suficien- cia Civil ou Militar. Todavia, isso não impede que o profüsío-
tes. nal, posteriormente e depois de receber o material, venha a pes-
Em um segundo passo, dependendo da quantidade e qualida- quisar. nos autos, toda a documentação cm que constem indica-
de do DNA extraído da amostra e se este for superior a 50 ng de ções sohrc a forma como a colheita foi realizada.
DNA de alto peso molecular. poderá processar-se um teste de Elementos que. por vezes, não interessam ao médico forense
RFLP. podem ser de extrema importância para um cirurgião-dentista e
Se tiver ocorrido degradação do DNA, como sói acontecer são (ou deveriam ser) da competência da Crimínalística que te-
com os tecidos cadavéricos, um teste AmpFLP será a saída. Caso nha atuado no caso. Reterimo-nos ao que se poderia considerar
a degradação do DNA for maior ou a quantidade recuperada for como circunstâncias "adverbiais'· de tempo, de modo e oulras.
muito pequena, o teste de mtDNA será a única alternativa viá- como: temperatura. umidade, eventuais fontes de contamínação
vel. etc. Entre esta últimas. devem-se considerar:
Quando se deseja identificar uma única pessoa e se coma com
• Sangue;
familiares próximos (pais e/ou filhos). os métodos nucleares são
• Saliva;
de escolha. Quando inexistem familiares próximos, ou quando a
• hmtes de contaminação bacteriana:
quantidade e a qualidade do D!',IA extraído se mostram fracas. ;.... Fezes;
isto é, o DNA apresenta baíxa qualidade, deve-se optar pela aná- > Tecidos em vias de destruição;
lise da seqiíência do mcDNA nos parentes por linha materna. :;... Vômitos;
:;.,... Pêlos humanos ou arúmais.
Esses tipos de comaminantes são de grande importância, uma
A RESPONSABILIDADE DO vez que podem agir como inibidores de alguns procedimentos.
ODONTOLEGISTA como, por exemplo, atividade das enzimas de restrição e da PCR.
podendo também resultar em inexplidveis fontes de DNA. To-
Conhecimento do Laboratório dos esses materiais devem ser conservados em envelopes pró-·
1 • prios para guardar provas (sacos de papel pardo, grosso), sendo

Nunca deixar que o caso apareça para. sô então. sair à procu- hrnntida a cadeia de cust6dia habitual para amostras de local dé
ra de alguém que conheça um laboratório em que se faça pes- crime ou de corpo de delito.
quisa de DNA. O odontolegista deve estar preparado. como pro- Como se vê, tudo deve ser feito para conservar o DNA o mais
fissional consciente. para colher as amostras e encaminhá-las ao intacto possível, de modo a não pôr em risco. nem até perder, a
laboratório competente. qualidade de uma prova desse jaez, em função de condições
Destanc, o odontolegista. ou quem as sua~ wzes fizer. de\c ambientais que podem ser evitadas. Com efeito, a molécula de
estar famíliarizado com os laboratório:;. que pr(1ce~,cm exames DNA pode sofrer:
de D:--rA, de preferência próximos de sua :uca geográfica de atu- + desnaturação por temperaturas elevadas;
ação, para conhecer, minudentcmente. as diferentes técnicas de • desnaturação porpHs extremos (l'.g. pH <4 ou pH > 13):
colheita. os materiais que eles processam. as técnícas que desen- + impedimento, pela desnaturação. de fazer uso das técnicas
volvem. os controles de qualidade que aplicam ao:<. resultados de RFLP:
oferecidos, os cuidados para evitar ou elidir contaminações "in- + ruptura molecular por nucleases, facilitada cm ambientes
tra-lab"' ele. O odontolcgista não é um mero captador e úmidos ou molhados;
encaminhador de materiais, antes deve ser um profosional com- + dano molecular por radiações ultravioleta ou outras.
pleto na sua área de atuação.
Pari passu, o odontolegista tampouco dc,·e se considerar um
mero recehedor de laudos ou resultados laboratoriais para DNA de Tecidos e Estruturas Orais
encaminhá-los às autoridades requisitantes. Antes de elaborar o
seu relatório. deverá fazer a análise interpretatirn dos resultados Os processos de identificação cm caso algum são de tal emer-
ohtidos pelo laboratório de D'.\IA, contactando. sempre que pos- gência que não possam ser adiados. Assim é que será sempre
sível, os técnícos que realízaram o exame até para dirimir dúvi- possível, antes de iniciar qualquer procedimento de identifica-
das, trocar impressões. familíarizar-se com a linguagem própria ção, realizar um planejamento adequado, vísando evitar compli-
e encontrar-se apto a defender, perante os Tribunais. aquilo que cações ulteriores que, em geral. não têm mais conserto.
afirmara no seu Laudo de Perícia. Com efeito, eis que, quando se trata de tecidos moles da boca.
como, por exemplo. gengiva, língua. tonsílas, coágulos .sangüí-
neos etc., bem como amostras de saliva, os materiais podem ser
Manuseio das Provas encaminhados ao laboratório Jogo depois de serem cuidadosa-
mente rotulados.
É curial que o odontolcgista ou quem as suas vezes fizer, de- Todavia, quando o material deve ser ex.traído do interior de
vení participar cm Jodos os casos que impliquem provas de tipo uma peça demáría, o cirurgião-dentista que opera o caso deve
dental ou salivar. E claro que isso dependerá. em grande parte. sempre participar das decisões sobre a melhor forma de acesso
do hom relacionamento do cfrurgião-dentísta com o mé<líco fo. ao DNA. Isso, fundamentalmente, porque os dentes. além de
rense (médico legista). por um lado, com a Autoridade Policial, oferecerem a possibilidade de extrair DNA, têm outras utilida-
durante a fase de inquirição, e com o representante do Ministé- des em Odontologia Legal, permilindo estudos radiográficos.
1io Público ou o pr6prio Juiz, durante a fase de instrução. bioquímicos etc., daí não poderem ser destruídos arbitrariamen-
ldentificação pelo DNA em Odontologia Forense 273

te. Percebe-se , assim, como j á foi mencionad o, a necessidad e de oclusal do dente e dependerá dos interesses de seu uso par.s
somente agir após cuidadoso planejamen to. outras finalidades . Essa manipulaçã o. \'ia de regra. permi-
Em primeiro termo, é necessário considerar o caso como um te ohtcr urna quantidade suficicnlc de pulpa de modo a
todo e, a seguir. a seqüência hierárquica dos interesses em cada proceder à caracteriza ção do perfil do Dl\A. Caso o deote
procedimen to futuro. Por essa razão é. que devemos verificar se: não esteja intacto, apre.sente cáries graves ou !'.e mostre
profundam ente dessecado, ir para o passo seguinte 141.
• o denlc será usado para outras pesquisas, ou 4. Cortar o dente. por um plano horizontal (perpendic ular ao
• o dente não mais será utilizado, não necessitand o perma- seu m aior eixo) passando teoricamen te ao nível da ~u.a
necer intacto. porção cervical. Isso possibilita amplo acesso à câmara
Na p1imeira hipótese, a abordagem deve ser exclusivamente pu lpar e aos canais radiculares, sem alterar as restauraçõe~
conservado ra; no segundo caso, poderão ser utili7.adas técnicas <las faces da coroa clínica, nem a mo1fologia bá-;ica. O cone
mais ''agressivas ". pode ser feito tanto com cinzel como com disco de cort~.
O tecido mais rico em D:'JA, como é cediço, é a polpa dental, acionado por motor de baixa rotação. O risco do primeiro
que se encontra distribuída pela câmara pulpar da coroa, canais - cin7.cl - , em se tratando de peças muito dessecadas. é
radiculares e eventuais canais acessórios. Os molares. além de que o dente todo fragmente. O risco do segundo - disco
mais bem protegidos pela sua própria posiçüo. Lêm as maiores - é o aquecimen to da peça pelo atrito, o que pode preju-
câmaras pulpares. donde que sejam sempre as peças de escolha. dicar o DNA, mas pode ser e vitado pela paciência, sem
Quanto maior o número de peças dísponíveis, tanto maiores as tentar corlar a peça imediatame nte.
chances de obter DNA apto para exame. Somente cm ca<,os even- 5. Curetar as paredes da câmara pulpar, recolhendo o tecido
tuais, ínfi mm; porções de DNA podem ser rccuperacht'i e.la dentina da polpa e o pó da abrasão em um recipiente de boca lar-
ou do cemento, mas nunca do esmalk:. ga. Nos dentes dessecados , a polpa pode apresentar- se
mumificad a, pergaminác ea ou reduzida a feixes de tecido
contraído grudado nas paredes d a cârnara. Após a
Como Extrair Materia l para Estudo de inslrumentaç.10, a câmara deve ser irrigada com uma solu-
ção tampão (Tr.: ln~ffer). A ultrafiltraçã o posterior, já no
DNA dos Dentes laboralório , permitirá retirar o material celular necessário
para a análi-.c. Os materiais encaminha dos de locais dis-
A extração de malelial dentário para o estudo de DNA não é
lantes devem ser mantidos úmidos e. refrigerado s com gelo
tarefa difícil. mas está cercada de algumas exigências, como:
seco. Os restos do dente, depois que se retirou a polpa,
• trabalhar cm ambiente estéril, de modo a preservar o ma- devem ser manlidos em free:.er a -20 º C, já que podem
terial contra as contaminaç ões; ser necessários novos procedimcn los para recuperar alguns
• usar paramento cirúrgico completo: · restos de DNA que perdurem.
• trabalhar, prcferencia lmcnlc, em câmara estéril, compres- 6. Finalmente, como último recurso, pode ser necessária a
são positiva (a111bicn1c adiabático) ; trituração do dente. Es-.a operação é simples, mas irrever-
• manter a câmara no laboratório de genética que reali7.a os sível. Fornece. uma amostragem completa do dente e. por
proce.dimen tos de exame de DNA; vezes, é a melhor forma de cúleta, quando as condições do
• evitar a remessa ou envio de materiais entre o local de dente são tão pobres que nenhuma das o utras técnicas de
coleta e processame nto preparatóri o e até o laboraLório c m manipulaçã o e instrument ação ofereça resultados satisfa-
que se. processará o exame de DNA. tórios. Todavia, quando for imponame conservar a coroa.
Vencidas essas exigências gerais de procedimen to, é possí- o dente deve ser cortado horil.ontalm enle ao nível da tran-
vel proceder à extração do material. seguindo seis passos funda- sição esmalte-de ntina. lnstrumenl ar cuidadosam ente a
mentais. a saber: metade superior. que contém a cfür1ara pulpar da coroa. de
modo a remover Lodo o tecido pulpar e até um pouco da
1. Remover sangue ou restos de tecidos da superfície exter- dentina. O capuz de esmalte, que já não conlém DN A. ..:
na do dente. opdonal mente, reservando -os e m tubo esté- deixado de lado. tendo apenas valor morfológic o e radit,-
ril e mantendo-os à temperatur a de 4 ºC, caso o exame seja gráfico. Instrument ar a mewdc inferior. constitu ída pela,;
feito em menos de 6 horas. Caso contrário. manter em raízes, para, logo a seguir. tritu rá-la e.rn condições es1..:rei,.
freezer a - 20 º C. Caso se observe dessccação pulpar, ir
para o passo 4. Caso não opte por examinar o sangue e
te.cidos moles retirados. passe imediatame nte ao passo 2. Relatór io
2. Retirar da superfície externa do dente, com cureta, qual-
quer vestígio de placa bacteriana ou de cálculo. Lavar. lnclcpenden tcmente d(1 procedimen to seguido. o odonwlegi~-
cuidadosam ente. com água ox igenada e, depois, com ta. ou aque.!e que suas vezes fizer, ad hoc, den~rá apre~enrar o
etano l. Dessa forma se reduz a contaminaç ão por fonlcs relatório. sob a fomrn de laudo. de tudo quanto tenha úb~ef\ ado
extrínsecas de D;'I/A e a degradação pelas nucleascs bac- no exame: os mélodos seguidos e os resu ltados obtido~. nos
terianas. A li mpeza deve ser mais leve na proximidad e dos moldes referidos no C ap. 2.
ápices radiculares, ou de cáries profundas. de modo a não
introduzir produtos químicos na câmara pulpar. Lavar cui-
dadosamen te o dente com água de ionizada. estéril.
3. Se o dente estiver íntacr.o ( sem restaurações, sem cá1ies e DNA SALIVAR RECUP ERADO DAS
sem fraturas) e foi retirado recentemen te do alvéolo, pode MORDEDURAS HUlVIANAS
ser feita urna abordagem endodôntic a convencion al com
instrument ação de câmara e canais radiculares. Deve-se De há muito tempo. as células desprendidas da mucosa oral
atentar para o falo de que esse procedimen to destrói a faceta têm se mostrado uma excelente fonte de DKA de alto peso mole-
274 identificação pelo DNA em Odontologia Forense

cular. Nessa esteira, numerosos laboratórios de genética que pro-


cessam DNA utilizam as amostras de saliva e de escovação da
mucosa oral como meio substitutivo, muito mais simples e me-
nos traumático, notadamente com crianças de curta idade, de
coleta de material para extrair DNA nos casos de investigação
de vínculo genético. Esse procedimento tem substituído, com
vantagens, a menor custo e com a mesma confiabilidade, as com-
plexas venopunções (e.g. em recém-natos).
Paralelamente, as amostras de saliva encontradas em local de
crime e que já foram usadas como fontes de indícios - antíge-
nos do sistema ABO em indivíduos secretores, enzimas etc. -
a fortiori, também podem ser usadas com esse escopo. Afinal,
no que tange ao DNA, o princípio é o mesmo em ambos os ca-
sos: a utilização que se dê, a posteriori, aos resultados é um pro-
blema meramente especulativo.
A saliva recuperada de materiais colhidos no local do crime
tem permitido isolar, analisar e comparar dados com aqueles
Fig. 35.9 Coleta, com swab, de vestígios de saliva ao redor do local de
obtidos dos suspeitos. O DNA tem sido isolado da saliva encon- mordedura.
trada em escarros, bitucas de cigarro, selos de correio e abas de
envelopes, locais esses em que os agentes, por uma ou outra ra-
zão, passaram a língua e, assim, deixaram restos de sua saliva.
Por outro lado, a moderna tecnologia possibilita a localização, te, cuidando de lavar e recolher os vestígios de saliva no al-
sobre a pele e sobre as vestes da vítima, utilizando a luz ultravio- godão do cotonete.
leta filtrada (lâmpada de Woods), de manchas produzidas por lí- 3. Deixar secar completamente, ao ar livre.
quidos orgânicos deixados na cena do crime, como saliva, sêmen 4. Utilizando um segundo cotonete (swab) seco, esfregar sobre
e sangue. O depósito de saliva é uma constante na pele que cir- a área e enxugar toda a "umidade", deixada pelo primeiro
cunda as mordeduras, uma vez que o agente, ao tentar abocanhar cotonete, que ainda persista sobre a pele.
a área, automaticamente segrega e deixa escapar bastante saliva 5. Deixar secar completamente o segundo swab, ao ar livre.
seromucosa. A coleta desse material, ainda que não exista um 6. Colocar juntos os dois cotonetes resultantes da coleta, enca-
suspeito potencial, é de extrema importância por se tratar de ma- minhando-os para:
terial perecível, que poderá ser destruído ou removidÕ. a) analisar imediatamente no laboratório de DNA;
Em síntese, pode-se afirmar que: b) conservar nofreezer a -20 ºC;
• A saliva humana é uma fonte importante de DNA para uso c) guardar em um envelope do tipo utilizado para conservar
forense. provas para transferência quer para o laboratório, quer para
• Sobre o cadáver, o DNA se mantém estável e, em regra, umfreezer.
pode ser recuperado até 48-60 horas após a salivação so-
bre a pele. Esse tempo estará em dependência das condi-
ções ambientais e da manipulação que tenha sido feita so-
bre o cadáver. Depois desse lapso, os produtos resultantes
BIBLIOGRAFIA
da autólise celular contaminam a superfície cutânea, de-
Calabrez, M.C.T. and Saldanha, P.H. A Pesquisa de DNA em Odonto-
gradando o DNA.
logia Forense. ln: Da Silva, M. Compêndio de Odontologia Legal.
• Sobre a vítima viva, a remoção dos depósitos de saliva em São Paulo: MEDSJ, 1997, pp. 167-221.
regra acontece precocemente, quer porque a vítima se lave, DeGusra. D., Cook, C. and Sensabaugh, G. Dentin as a source of ancient
quer porque seja higienizada no Serviço de Emergência ou DNA. Ancient DNA Newsletter, 2(1): 13, 1994.
de Pronto Atendimento. Deve-se lembrar que o DNA da Fisher, D.L.• Holland, M.M., Mitchell, L., Sledzik, RS., Wilcox, AM..
saliva seca pode ser recuperado por mais de 72 horas. Wadhams, M. and Weedrí, V.W. Extraction, and amplification of
• A contaminação da saliva pode ser um problema, sendo os DNA from decalcified and undecalcified United States Civil War
contaminantes mais habituais o sangue (da própria vítima Bone. J. Fore11sic Sei, 38(1):60-68, 1993.
ou alheio) ou as células desprendidas da pele da vítima. Gaensslen, R.E., Berka, KM, Pagliaro, E.M., Ruano, G., Messina, D.
Para elidir esse inconveniente, colhe-se paralelamente, por and Lee, H.C. Studies on DNA polymorphisms in hurnan bone and
soft tissues. Anal. Chim. Acta, 288:3-16, 1994.
venopunção, uma amostra de sangue periférico da vítima
Hagelberg, E., Gray, l.C., and leffreys, A.J. ldentification of the skeletaJ
que permita estabelecer o seu perfil, de modo a acautelar- rernains of a rnurder victim by DNA analysis. Nature, 352:427-429.
se contra resultados ambíguos ou duvidosos. 1991.
Holland, M.M., Fisher, D.L., Lee, D.A., Bryson, C.K. and Weedrí, Y.W.
Short tandern repeat loci: Application to forensic and hurnan remains
Técnica identification. ln: Pena. S.D.J., Chakraborty, R., Epplen, J.T. and
Jeffreys, A.J. (eds.). DNA Fi11gerprinting. Sta te oftlze Science. Base!.
A técnica para colher material para pesquisa de DNA em Switzerland: Birkhauser Yerlag, 1993, pp. 267-274.
Holland, M.M., Fisber, DI., Mitchell, L.G., Rod1iguez, W.C., Canik, J.J.,
manchas de saliva (notadamente ao redor de mordeduras) é a
Menil. C.R. and Weedn, V.W. Mitochondrial DNA sequence
seguinte:
analysis of human skeletal remains: Identification of remains from
1. Molhar um cotonete (swab) em água destilada estéril. the Yietriam War. J. Forensic Sei., 38:542-553, 1993.
2. Rolar a extremidade do cotonete, deitado sobre a superfície Kirby, L.T. (ed.). DNA Fingerpri11fing. A11 Jntroduction. New York:
da pele, na área da mordedura e na área adjacente, circundan- Stockton Press, 1990.
Identificação pelo DNA em Odontologia Forense 275

Kobílinsky. L. Recovery and stability of DNA in samples of forensic Smith, B.S., Holland, M.M., Sweet, D.L. and Dízinno. J.A. D:--A and
scicnce sígniticance. Forensíc Sei. Rev.. 4:67-87, 1992. the Forensíc Odontologist. ln: Michael Bowers, C. (ed.). The Jfa.
Lcc. H.C.. Gaensslen. R.E., Bígbce, P.D. and Keamey, J.J. Guidelínes nua/ of Forensic Odontology. Chicago, IL: American Society of
for collection and prescrvacion ofDNA evidencej. Forensíc Idem., Forensic Odontolngy, 1995.
4/:344-356. 1991.
Smith, B.C., Holland, M.M., Sweec, D.L. and Dízzino, J.A. D~A and
Lec. H.C., Pagliaro. E.M., Berka, K.M., Folk, N.L., Anderson, D.T., Forcnsic Odontologist. ln: Michael Bowers. C. and Bell, G.L. 1eds. 1.
Ruano, G .. Kcíth, T.P., Phípps, P., Herrin, G.L., Garner. D.D. The Manual of Forensic Odontology, 3'd ed. Chicago. IL: American
and Gacnsslen. R.E. Genetic markers in human bone. L Deo- Society ofForensic Odonto!ogy, 1997, pp. 283-298.
xyribonudeic acid (DNA) analysís, J. Foren.~ic Sei., 36:320-330, Smith, 8.S., Weedn, V.W., Warnock, G.R. and Holland. M.~1.
1991.
Hístologic consideracions in the sampling of dental source Dl\"A. J.
Paulcte Vanrell, J. Citologia. Ácidos Nucléicos, 2.• ed. São José do Rio Forensíc Sei., 38(4): 1194-1209, 1993.
Preto: Depto. de Anatomia Microscópica, 1972. Weedn, V. W. and Roby, R.K. Forensic DNA testíng. Arch. Pathol. wb.
Shibata, D., Kurosu, M. and Noguchi, T.T. Fixed human tíssues: A Med., 117:486-491, 1993.
resource for thc identífication of individuais. J. Forensíc Sei., Weedn, V.W. DNA identification. /n: Stimson, P.G. and Mertz, C.A.
36:1204-1212, 1991.
(cd.). Forensic Dentistry. Boca Raton: CRC Press, 1997, pp. 37-46.
OS DESASTRES EM
MASSA

......·--·····------····-·-- ···------·------- -------·--·---·----


Os Desastres em Massa
·····-··.. --········-·······-·---··-·--·-·--···-····---·-·--··-·-------------
Jorge Paulete Vanrell

graves problemas legais para os familiares supérstites, que po-


INTRODUÇÃO dem perder anos até obtê-la.

Ar.é o século retrasado, a rnotte, em regra, parecia apresentar- O intuito deste capítulo é:
se como um foto unitário. O decesso, pouco importando a sua
causa jurídica, acabava com a vida de uma ou mais pessoas. to- • conceimar a extensão de um desastre.
das conhecidas e fáceis de identificar. • detalhar o papel do odontolegista na identificação de res-
A exceção eram, aqui e acolá, os conf1itos bélicos que, de tos humanos em desastres em massa e
tempos cm tempos, arrehatavam centenas ou milhares de vidas • sugerir um protocolo que integre o trabalho do odontole-
em comhat.es regionais, localizados. ou de extensão universal. E gista com os outros segmentos forenses cm ação.
aí, o mais das vezes, os mortos nem eram reconhecidos, ficando
tão-somente como ··mortos em combate.,. '· desaparecidos em
m.;ão ., , "desaparecidos no campo de batalha·· ou outros eufe- CONCEITUAÇÃO DE DESASTRE
mismos que tais.
Todavia, a partir da segunda metade do século XX. temos O desastre é um evento infortunístico que, independendo de
assistido a um grande número de desastres cm massa. quer natu- sua gênese, surge de inopino. colocando cm ação diversas equi-
rais - vendavais. inundações, deslizamentos de encostas, erup- pes de trabalho que. ames de mais nada, devem integrar-se hie-
ções vulcânicas. terremotos, tufões-. quer produzidos direta- rarquicamente. Essa integração deve ser administrativa e funcí-
mente pela ação ou pela influência humana, como: acidentes de <mal. de modo a isolar a área. visando não prejudicar o local ou
trán!\ito, acidentes de avía<;ão. naufrágios, incêndios, acidentes cena de crime. nem a colheita de provas ou vestígios.
indw,triais, alentados tctToristas e conflitos ammdos. Nessa esteira, o primeiro procedimento a ser definido é. com
As Ciências Forenses. em gernl, e a Odontologia Legal. em base nas características peculiares. de alçada jurisdicional: se o
particular, vindo em socorro da Medicina Forense, passaram a caso é de competência estadual ou requer a partícipação federal;
desempenhar um papel significativo, cuja importância. como é se a investigação exigirá especificamente a intervenção da Ae-
curial, varia de país para país, de acordo mm a sistemática pro- ronáutica, da Marinha ou do Exército. Muito embora essas dife-
cessual de cada um. Paralelamente, a reação perante um desas- rentes jurisdições, cm essência, tenham os mesmos procedimen-
tre também sói ser bastante diversa. Fatores como a estrutura tos. até porque, com ligeiras variantes, eles sào universais. cada
social, a religião, a estrutura política. a legislação, os recursos uma tem o seu próprio modus opaandi. Definida a competência
humanos e materiais disponíveis. dentre outros, podem direcio- jurisdicional, as diferentes equipes forenses deverão agir de for-
nar os procedimentos e as atitudes a serem assumidas. ma integrada. e coordenadas por uma autoridade. civil ou mili-
A identificação dos restos humanos em desastres cm massa tar, que assuma a chefia do local ou ele campo. Nesse cenário da
permite aos familiares sobreviventes resolver as situaç<ies que tragédia é que começarão a desempenhar as suas funções, den-
resultam diretamente do óbito, hem como continuar com a vida tro dos limites de sua especialidade técnico-científica. conser-
de cada um. Um fato, contudo. é objecivo: a documentação for- vando provas, preservando indícios. coletando restos.
mal da morte requer uma identificação positiva e in1.;ontrovcrsa, Não existindo vítimas com vida que, no caso, teriam priori-
que é essencial à declaração do término legal da existência. com dade na salvação e no atendimento. as diferemes equipes, que
as implicações que acarreta, notadamente na área civil. A falta somente se aterão a restos materiais. deverão, agindo de manei-
de uma declaração de ühito, na maioria dos países, resu.lta cm ra integrada, vasculhar a área de maneira organizada e de forma
::?80 Os Desastres em Massa

,uccsl'>iva: primeiro, os perílos criminais ou forenses; a seguir, esta deve ser rotulada, colocando-se-lhe uma etiqueta, com nu-
os médicos legistas em conjunto com os odontolcgistas. meração arábica simples: 1, 2, 3, ... n. As etiquetas podem ser
As situações qt1e se podem apresentar em um desastre de pro- numeradas com antecedência, para evitar as duplicidades ou
pon;f>cs podem ser muito diferente!-., como. por exemplo: outros erros no lrahalho de campo. Havendo mais de uma Equi-
1. EsU11luras intactas: prédios, navios, aeronaves etc.: vítimas pe de RccupcraçãO-l!.g. Equipe A, Equipe B, Equipe C-, as
intactas (e.g. naufrágio do ''Balcau Mouche··. no Rio de etiquetas deverão ser numeradas como: A-1, A-2, A-3 ... B- 1, B-
2, B-3 ... C-1, C-2, C-3.
Janeiro, na passagem 1988-1989).
Os restos humanos que foram expostos ao fogo exigem uma
2. Esu·uturas intactas: prédios, navios. aeronaves ele.: vítimas
atenção especial para sua remoção. Em regra, a identificação
intensamente queimadas. fragmentação e dispersão dos
odontológica poderá ser a única metodologia de identificação
corpos (e.g. incêndio do Edifício '·Andraus'', na cidade de
disponível, cm casos de grandes queimados. Assim, nesses ca-
São Paulo, em 1972).
sos, as cabeças deveriam, antes da remoção dor-; corpos. ser em-
3. Corpos boiando em águas abertas (e.g. desastres com em-
brulhadas por plásticos e bandagens ehíslicas. de modo a prote-
ban:a\·ões no Rio Amazonas, o mais recente em fins de
ger as evidências dentais, que, de outra fonna, poderiam ser per-
setembro de 2001).
didas. Feito esse preparo da cabeça, o corpo todo será colocado
4. Corpos em espaços abertos e inractos (e.g. depois de uma
cm saco de plástico próprio, fechado com zíper. Esses restos
cm:hente ou de um dcslizamenco. como cm Petrópolís, RJ,
devem ser removidos para a Central de identificação, onde, in-
nu passagem 2001/2002).
continenti, deveriam ser mantidos refrigerados pelo menos en-
:5. Corpo& em espaços ahertos dispersos em uma grande área.
tre Oe 4ºC. Em casos de grande número de corpos, poderão ser
6. Destruição parcial das estruturas. com alguns c:o1vos des-
requisitados caminhõcs-f1igoríficos, o que permitirá que as Equi-
truídos (e..g. acidente aéreo dos '\\1amonas Assassinas". em
pes de Recuperação de evidências possam trabalhar em campo.
1996).
com tranqüilidade, haja vista que trahalham com evidências pe-
7. Destruição total das estruturas. com destruição completa
recíveis. Uma vez todos os corpos tenham sido retirados. é pru-
dos corpos (e.g. at.entado lc1Torista ao World Trade Cen-
dente que seja feita uma segunda busca, mais detalhada, verda-
ter, cm New York. em 2001 ).
deira "operação pente-fino". na mesma área. Um grande núme-
ro de pertences pessoais, além de fragmentos corpóreos, ainda
poderá ser encontrado nesse segundo esforço.
O GERENCIAMENTO DE Ul\'I
LOCAL DE DESASTRE
-····-·..· - · - - - · - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
O GERENCIAMENTO DE UM
A primeira providência é estahclecer um cordão de isolamento
da área que delimite. com folga, o local de desastre. Essa ..fol-
DESASTRE
ga.. pode variar entre 100 e 500 m, dependendo das característi-
cas do lornl e do tipo de acidente. O mais importante para ter ín mente é a previsibilidadl! de que
É requisito básico cstahclecer um ponto de controle de acesso o desastre possa acontecer. Os tempos passam, mas os proble-
mas
:t ,ín:a restrita. delimitada pelo cordão de isolamento, organi- impo11antes paradosuma
em torno desastres não mudam. Os prohlemas mais
Central de identificação. como se dessume
zando-se uma listagem com os nomes das pessoas com acesso
do que foi explicado aqui. em caso de desastre cm massa, são:
franqueado, contando com uso ele crachá obrigatório, ou outro
distintinl de identificação. demro da área res11ila. Essas provi- 1. grande número de restos humanos:
dên.:-ia, são necessárias para proteger as provas do desastre. 2. restos fragmentados. díspersos e queimados:
C ma \ e L tenha sido o local declarado fechado pelo pessoal de 3. dificuldade para determinar quem podiacstarenvolvido no
!,egur:111,;a. de\·er-sc-á dar início à procura de evidências: res- desastre;
to~ hum,tn<'- ou fragmentos. A fragmentação e a dispersão dos 4. obtenção de registros médicos e odontolôgicos significa-
corpo~. cm regra. ,ào os problemas mais imponamcs nos de- tivos e de radiografias:
saslrcs de alta éncrgia. como explosf>cs e acidentes aéreos. Nes- 5. assuntos de índole legal. jurisdicional, organizacional e
ses caso~. o, rctalho:-: e fragmentos de pele serão os achados política:
mais freqüentes. Todo o ma1erial recolhido. desde corpos a frag- 6. documentação inLcma e externa e problemas de comuni-
mcnlm,. pelas Equipes d<! Recuperação, devení ser encaminha- cação.
do a uma Central de ld~mifica.:;üo 111on1ada paralelamente ao Para proceder à identificação de restos humanos, praticamente
local do acidente.
de forma universal, utilizam-se quatro metodologias:
O treinamento e coordcna.;ão da(;,) Equipes(s) de Recupera-
ção é fat.or fundamental e crítico para o cxito da Central de Iden- + identificação visual.
tificação. Com efeito. há de se considerar que o pessoal lotado + impressões digitais ou idenlifica~ão de pegada.
na Central de ldentifícação. que apenas recebe materiais. estará + identificação odontológica e
limitado às irnas perícias. à fidedignidade ou confiabilídade da • perfil do DNA (impressão digital do DNA).
colheita de provas pelo pessoal de campo. Para tanto. os prolis- Cada uma dessas quatro metodologias tem graus crescemes
sionais que atuam cm campo deverão marcar as localizações onde de complexidade na sua feitura, mas cada uma pode ser comple-
são achados os restos humanos ou os fragmentos. O sistema de mentar da precedente, tornando-se sucessivamente excludences.
localização por quad1iculado se afigura o mais simples. Consis- A metodologia da identíjicação viJttal é, sem dúvida. a me-
te cm quadricular a área de preservação, dividindo-a assim cm nos confiável, devido a fatores subjetivos decorrentes da situa-
setores, e cada setor rccchc um número. Quando, em um setor, ção de estresse cm que o identificador - parente ou an1igo da
se rcrnpcra alguma evidência material (corpo. fragmento ele.), vítima - é colocado.
Os Desastres em Massa 281

A técnica da üfent(ficaçiio datíloscópica, conquanto de gran- Dissecadas maxila e mandíbula, o que é absolutamente ,w-
de imponànciae credibilidade. nem sempre conta com as impres- cessário nos cadáveres carbonizados, pode efetuar-se com mai-.
sücs ante-mortem disponíveis no local ou no Estado. Além dis- comodidade o estudo radiográfico completo de ambos os arcos
so, o trauma acidentárío, bem como a ação do fogo, acontecimen- dentais. com o auxílio de um aparelho de raios X portátil. lem-
tos comuns nos desastres em massa, não raro destroem as im- brando que, nesses casos, o tempo de exposição deve ser reduzi-
pressões digitais. donde que resulte impossível obter as comadas do de uns 25 a 50% cm virtude da desidratação do corpo. Para
po~t-mortl'm. facilitar o caso, a revelação deve ser feita Íll loco, com um siste-
As estruturas demárias são altamente resistentes à dcsLrui- ma de revelado à luz do dia, devendo-se proceder apenas ao exa-
~ão. mas a identificação odontológica dependerá, também, de me de um caso de cada vez. para evitar confusões, rotulando as
contar com odontogramas anfr'-mortem e radiografias. As ra- chapas de imediato.
diografias periapicais, bem como as radíografías panorâmi- A utilização da radiologia dental, nos casos de odontologia
cas obtidas ante-mortem, podem ser facilmente comparadas legal, é uma necessidade absoluta. Essa técnica oferece evidên-
com os mesmos Lipos de radiografias obtidas post-mortem. cias objetivas que são de fundamental importância, tanto em ter-
Deve-se salientar que as radiografias, notadarnente as pano- mos científicos como jurídicos. Quando se dispõe de radiografi-
râmicas, mesmo na ausência de trabalhos de dentística ou de as ante-mortem, as radiografias dentais post-mortem prestam-se
prótese, oferecem detalhes anatômicos que são penmnalíssi- à identificação positiva e incontestável das vítimas, uma vez que
mos. permitem visualizar radiograficamente:
Há países, inclusive, em que todas as pessoas alistadas nas
• a anatomia de estruturas orais,
forças annadas são submetidas a uma radiografia panorâmica da
• as restauraçõe5. existentes,
boca que é guardada permanentemente nos arquivos das respec-
• os materiais utilizados,
tivas armas. mesmo depois de o indivíduo ter dado baixa. Por
• as patologias preexistentes,
derradeiro, os padrões individuais e únicos das rugas palatinas
podem ter um papel decisivo na identificação, como já foi sali- • os tratamentos endodônticos,
• os procedimentos cirúrgicos prévios,
entado no Cap. 29.
• as fraturas prévias e
Os perfis de DNA, sem dúvida, são os elementos mais confi-
t as próteses. fixas ou móveis, em uso.
áveis para identificação. Certas limitações podem surgir, em
função dos cusLos elevados, na maioria dos laboratórios e, por Nos raros casos em que a dentição é normal e sadia, sem res-
ve7.es. na dificuldade de localizar parentes próximos (pais, ir- taurações. a própria condição de higídez permitirá concluir pela
mãos, filhos, tios etc.) que possam ser utilizados para efetuar os identificação positiva. desde que se tenham radiografias ame-
cotejos e esr.abelecer o vínculo genético com a vítima, que servi- mortem.
ria. afinal, para identificá-la. A radiografia é uma técnica de exame tão precisa que permi-
É necessário ter presente que, em Ciências i:-;orenses, não exis- te a identi fícaçào de fragmentos de arco, por vezes contendo
tem emergências nem urgências. A única urgência é colher ma- apenas um dente. desde que uma restauração, um tratamento de
terial suficiente para provas e contraprovas, uma vez que se canal ou uma característica anatômica singular esteja presente.
trata quase sempre de materiais perecíveis, e, quando não. exigi- Findos os exames radiográficos dentais, procede-se ao
riam realizar uma exumação. Os peritos podem levar dias ou odontograma. realizado por três profissionais sucessivos. Os
meses para chegar a uma identificação positiva ou negativa, mas desenhos devem ser feitos sempre com caneta, e não com lápis.
o trahalho deve ser de qualidade. Os achados a serem registrados durante o exame post-mortem
Não esquecer que. mesmo que se obtenha a identificação com incluem:
o primeiro exame, o mais simples, esta deve ser confirmada por
outros meios. até para evitar contestações judiciais futuras que • restaurações dentais,
apontem justamente para a falta de ratifü:ação. Se há dúvidas, o • dentes perdidos,
momento para <l~sfazê-las é este: antes da emissão da declara- • próteses.
ção de idemidadc. • patologias aluais,
• anatomia singular (e.g. torus(íi)).
• estimativa de idade e
• referências para eventual reconhecimento de sexo ou de
A PARTICIPAÇÃO DA grupo étnico.
ODONTOLOGIA LEGAL Sempre é recomendável obtcr,junLo aos dentistas das vítimas.
prontmírios (fichas odontológicas). radiogralias e/ou modelos em
É óbvio que o Setor de OdonLOlogia Legal deverá estar sem- gesso. Esses elementos fornecem inestimáveis <lados ante-mvr-
pre preseme na organização da Central de identificação em um tem referentes ao formato dos arcos, seu tamanho. padrões das
desastre. ruga-. palatinas e anatorrúa oral, em geral.
O papel desempenhado pelos odontolegistas nos exames den- Desde que se disponha de microcomputadores, todos os
tais post-11wrtem, clínicos e radiográficos, é extremamente ob- dados obtidos post-mort,!m deverão ser lançados e arquiva-
jetivo. Deverá contar cnm um fotógrafo forense. afora os instru- dos. inclusive com odontogramas padronizados, de tal sorte
mentos odontológicos habituais em clíníca. que possam ser facilitadas as comparações, quando obtidos
O primeiro procedimento a ser encetado consiste na disseca- elementos históricos unte-mvrtem. Dessa forma se reduzem
ção que permita a visualização da cavidade oral e a obtenção de equipamentos, pessoal, custos e tempo. Mas essa já é maté-
radiografias, segundo a técnica de Luntz, como foi mosu-ada no ria que refoge dos objetivos meramente informativos deste
Cap. l 7. A retirada da maxila e <la mandíbula não é recomenda- capítulo.
da. exceto em casos excepcíonaís. em viitude do tempo que Existem pelo menos três grandes programas de compu-
insume. tador que podem ser utilizado-. cm odontologia legal: o
282 Os Desastres em Massa

CAPMI, o da Northwestern University e o de Mertz e Purtílo. > radiografia simples do crânio, em norma frontal e la-
De lodos, quiçá o mais conhecido seja o CAPMJ (Computer- teral;
Assisted Poslrnortcm ldentification System). hoje na sua ver- ~ radiografia panorâmica;
são 4.0. > radiografias periapicaís.
Jnfelizmente, todos exigem uma hase de dados com infonna-
\'Õcs referentes à população contra a qual será feito o cotejo ou • exame clíníco. minudente, dos arcos dentais superior e
confronto. Esse procedimento funcionou com excelentes resul- · inferior, registrando todos os acidentes e intercorrências
lados na identificação de ossadas proveniemcs de soldados mor- odontológkas presentes, tanto por fotografia de apro-
tos na Guerra do Vietnã, porquanto existiam dados odontol6gi- ximação como por desenho esquemático:
cos de todos os mililares nos arquivos das forças annadas ame- • exame especial de tratamentos odontológicos realiza-
ricanas. Quanto a populações civis, não existem grandes hancos dos (trabalhos de dentística, próteses, implames etc.).
de dados, razão pela qual a sua apli<:ahilidade tornar-se-ia pouco + O local indicado para esse tipo de perícia é o serviço de
útil. antropologia forense do IML ou o Gahíncte de Odontolo-
Pretender utilizar esses programas no Brasil é mera utopia, gia Legal. nas faculdades.
porquanto não se dispõe de bancos de dados. embora, em fi- + Os laudos devem ser explicativos. fundamentados, mos-
chas. se mantenham informações, as quais tampouco estão cen- trando as coincidências e discordâncias encontradas, e
tralizadas. Quiçá, no futuro, no âmbito militar, esses procedi- esclarecedores do índice de ace110 das metodologias usa-
mentos possam ser-usados com êxito; já no âmhito civil, nem das.
como o passar do tempo há esperanças de que se chegue a tal • Deve-se, quando se dispuser de radiografia dos seios da
grau de sofisticação idcntificat6ria, quando no País há carên- face (maxilares e frontais) tirada em vida e fornecida pela
cias bem maiores, como, por exemplo, de resgistrar os recém- família. proceder ao exame comparativo com a radiogra-
nascidos para que passem a existir juridicamente. ou que os fia do crânio em estudo. Os seios frontais obedecem ao
adultos consigam algo tão simples e elementar como a Cartei- critério de unicidade.
ra de Identidade.
+ A solicitação do prontuário odontológico é um procedi-
mento obriga1ório.
• Pode-se coletar um fragmento de osso ou algum dente (de
PROTOCOLO DE TRABALHO DO preferência molar), para fazer estudo de DNA nos casos
ODONTOLEGISTA EM UM LOCAL em que, após os três primeiros passos, ainda persistirem
dúvidas, e em que os fam íliares próximos se disponham a
DE DESASTRE oferecer material para confronto.
Para auxiliar a pesquisa diagnóstica sistemátirn, é recomen-
Em se Tratando de Ossadas dável estabelecer um check-list para perícias de 1)d11nfl)/ogia
(e.g. cemitérios clandestinos, valas comuns. desastres cujos forense, notadamente em desastres em massa. de modo a não
locais são achados muito tempo depois, como aviões desapare- esquecer itens fundamentais.
cidos na selva etc.)
+ Limpeza dos crânios e, ao ensejo, dos demais ossos, com
a seguinte seqüência: CHECK-LIST EM ODONTOLOGIA
+ Colocação em recipiente plástico com solução de FORENSE PRÁTICA
hipoclorito de sódio na proporção de 1:10 litros de água.
por 24 horas.
• Retirada do material, lavagem e escovação para retirada > Examinar e fotografar os ossos e o conjunto que o acom-
de eventuais aderências de tecidos moles. panha da forma como foram encaminhados.
+ Colocação em recipiente plástico com solução de pcr6xi- > Reexaminar e fotografar, novamente. após a limpeza do
do de hidrogênio (água oxigenada) 120 volumes. na pro- crânio.
porção de 500 mi: 1O litros de água, por 24 horas. > Colar e reconstituir ossos fraturados de interesse na perícia.
• Retirada do material e secagem ao sol. quando se dis- > Usar metodologias morfológicas ou qualitativas. e métri-
põe de área privativa ou em estufa a aproximadamente cas ou quantitativas, no diagn6stico dos dados biotipoló-
60ºC. gicos.
• Depois de secos, os crânios devem ser encaminhados ao > Conhecendo os nomes dos desaparecidos provavelmente
odontolegista, e os demais ossos, para o setor de Antropo- relacionados com o desastre, obter da família dados que
logia Forense. para onde o crânio também irá após esgota- possam interessar à perícia: prontuário odontológico, fo.
dos os estudos de suas peculiaridades. tos, radiografias de crânio etc.
• Os ossos cranianos fraturados podem ser colados com cola > Buscar dados, lesões ósseas ou sinais, no crânio, que aju-
de pistola elétrica ou com cera sete, muito usada pelos ci- dem a estabelecer a causa mortis médica, quando possí-
rurgiões-dentistas, preenchem.lo-se espaços vazios, permi- vel.
: indo a sua reconstituição. Procede-se ao estudo para in- ;.... Realizar exame clínico odontol6gico pormenorizado, re-
·. t,1igaçâo diagnóstica dos dados biotipológicos au·avés de gistrando-o em ficha própria.
:::;;>wJologias motfológicas ou qualitativas e métricas ou > Realizar radiografia panorâmica e radiografias periapicais
•. ~..;r.1itativas. das peças existentes in Loco.
• ~· ;'~,.1t,1t·olo padrão deve incluir, sucessivamente: > Identificar e relacionar todos os trahalhos de dentística e
• ~·-:udo radiográfico incluindo: de prótese que se encontrem na arcada dentária.
Os Desas1res em Massa 283

);>Realizar moldagem; de precisão de ambos os arcos, supe-


rior e inferior, e montá-las no articulador, para fazer todos BIBLIOGRAFIA
os exames necessários e possíveis.
Grant, E.A., Pendergast, W.K. and White, E.A. Forensic denlal
> Buscar, sempre que necessário, auxílio fora, na Universi- ídentítication in the Noronic disaster. J. Can. Dent. Assoe., 18:3. 195:!.
dade ou em empresas de lccnologia de ponta. Haines. D.H. Dental identífication in thc Stockport air disaster. Br. Dem.
>- Guardar material, ósseo e dentário, para eventual exame .1., /23:336, 1967.
de DNA. Knott, N.J. Jdentificatíon by the teeth of casualtics in the Aberfan
> Montar laudo com linguagem clara e explicativa, ilustra- disaster. Br. Dem. J., 122: 144, 1967.
do com fotografias. croquis e gráficos, em número sufici- Maples, W.R. Trauma Analysis by the Forensíc Anthropologíst. Reichs.
ente, sem excessos. K.J. (cd.). Forensic Osteology. Advance.Y in Forensic Anthropology.
Springfield: Charles C. Thomas, 1986, pp. 218-228.
> Esclarecer as metodologias empregadas. Mima. H. The role of dental ídentification in mass disaslers. J. Ir. Dent.
> Apontar coincidências e discordâncias que levem a con- Assoe.. 20:51-62, 1974.
clusões justificadas e consistentes. Singleton, A.C. The roentgenological identification of victims of the
> Não esquecer que, cm laudos antropológicos e/ou de odon- Noronic disaster. Am. J. Roemgenol. Radium Tller. Nucl. Med.,
tologia legal, não há pressa! 66:375, 1951.
Stevens, P.J. and Tarlton, S.W. ldentification ofmass casualitícs: Ex-
perience, in four civil air dísasters. Med. Sei. Lato, 3: 154, 1963.
É importante ter sempre presente que é preferível uma demo- Stevens, PJ. and Tarhon, S.W. Medical investígation in fatal aírcrafl
ra incômoda na entrega de um laudo certo a uma celeridade ser- accidents. Br. Dent. L., 120:263,1966.
vil para entregar um laudo tempestivo mas inconclusivo, ou, pior Van Wyk, C.W., Kemp, V.D. and Burkofzer, H. The role of
ainda. errôneo. ídentitication ín the Wíndhoek aircrash. Med. Leg. J.. 37:79. 1969.
·.·... ·• >. ·.· .•.•

. A ·.

APENDICES

--··-----···--· •« • ·- - - - · - - - - · - - -
·--------------------·-----·

LEI n.º 5.081, DE 24 DE AGOSTO DE 1966


(Publicada no DOU de 26/8/66)

Regula o exercício da Odontologia Art. 6.° Compele ao cirurgião-dentista:

O Presidente da República, I - praticar todos os atos pertinentes à Odontologia, decorren-


tes de conhecimentos adquiridos em curso regular ou cm cursos
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a de pós-graduação:
seguinte Lei: fl - prescrever e aplicar especialidades fannacêuticas de uso
interno e externo. indicadas em Odontologia:
Art. 1." O exercício da Odontologia no território nacional é TlJ - atestar. no setor de sua atividade profissional, estado-. mór-
regido pelo disposto na presente Lcí. bidos e outros. inclusive para justificação de faltas ao empregado.

* inciso com redaçiio dada pelo lei n." ó. 215. de 3().06. 75.
DO CIRURGIÃO-DENTISTA IV - proceder à pericia odontolegal em foro civil. criminal,
trabalhista e em sede administrativa:
An. 2. 0 O excrcício <la Odontologia no te1Titório nacional só V - aplicar anestesia local e uuncular;
é permitido ao cirurgião-dcnti-.ta habilitado por escola ou facul- VI - empregar a analgesia e a hipnose, desde que comprova-
dade oficial ou reconhecida, após o registro do diploma na Dire- damente hahililado, quando constituírem meios eficazes para o
toria do Ensino Superior. no Serviço Nacional de Fiscalização tratamento:
da Odontologia, na repartição sanitário estadual competente e
inscrição no Conselho Regional de Odontologia sob cuja jmis- "'v. Resolução CFO n. 0 /72, de 25.01.91.
dição se achar o local de sua atividade.
VH - manter, anexo ao consultório, laboratório de prótese,
Parágrafo único. Vetado. aparelhagem e instalação adequadas para pcsqui-.a:. e análises
clínicas. relacionadas com os casos específicos de sua especiali-
Art. 3.0 Poderão exercer a Odontologia no território naci- dade. bem como aparelhos de Raios X. para diagnóstico, e apa-
onal os habilitados por escolas estrangeiras. após a revalidação relhagem de fisioterapia:
do diploma e satisfeitas as demais exigências do artigo ante- VIII - prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de
rior. acidentes graves que comprometam a vida e a saúde do paciente;
IX - utilizar, no exercício da função de pcrito-odont61ogo, em
Art. 4. 0 É assegurado o direito ao exercício da Odontologia. casos de necropsía. as vias de acesso do pescoço e da cabeça.
com as restrições legais, ao diplomado nas condições mencio-
nadas no Decreto-Lei n." 7.718, de 9 de julho de 1945, que regu- Art. 7." É vedado ao cirurgião-dentista:
larmente se tenha habilitado para o exercício profissional. somen-
te nos limites territoriais do Estado onde funcionou a escola ou a) expor cm público trabalhos odomológicos e usar de artifí-
faculdade que o diplomou. cios de propaganda para granjear clientela;
b) anunciar cura de determinadas doenças, para as quais não
Art. 5." É nula qualquer autorização administrativa a quem nã'o haja tratamento eficaz;
for legalmente habilitado para o exercício da Odontologia. e) exercício de mais de duas especialidades;
288 Apêndíce 1

d) consultas mediante correspondência. rádio, televisão ou


meios semelhantes; DISPOSIÇÕES GERAIS
e) prestação de serviço gratuito em consultórios particulares;
{) divulgar benefícios recebidos de clientes; Art. 12. O Poder Executivo baixará decreto. dentro de 90 (no-
g) anunciar preços de serviços, modalidades de pagamento e venta) dias, regulamentando a presente Lei. · ·
outras fomrns de comercialização da clínica que signifi-
quem competição desleal. Art. 13. Esta Lei entrará cm vigor na data de sua publicação.
revogados o Oecreto-Leí n.º 7.718, de 9 de julho de 1945, a Lei
n.º 1.314, de 17 de janeiro de 1951, e demais disposições cm
contrário.
DOS PERITOS-ODONTOLÓGICOS
OFICIAIS Brasília. 24 de agosto de 1966; 145.º da Independência e
78." da República.
Art. 8." I e II (Vetados).
H. Castelo llrancu - Raymundo Moniz de Aragüo
L. G. do Nascimnito e Silva - Raimundo de llrito
DOS DENTISTAS PRÁTICOS
LICENCIADOS
Arts. 9. 0 a 11. (Vetados).
2

·----·-····---·--- ·---------·····----····--·-·-·--···•"•""•--·-··-

CÓDIGO DE ÉTICA ODONTOLÓGICA


(Aprovado pela Resolução CFO - 179) de 19 de dezembro de 1991 e alterado pelo
Regulamento n.º 1, de 5 de junho de 1998)

;
1 - exercer a profissào. mantendo compo1tamento digno:
CAPITULO] 11 - manter atualízados os conhecimentos profissionais e cul-
turais necessários ao pleno desempenho do exercício profissio-
Disposições Preliminares nal;
A11. l ." - O Código de Ética Odontológica regula os direitos e lIJ - zelar pela saúde e peJ·a dignidade do paciente:
deveres dos profissionais e das entidades com inscrição nos TV - guardar segredo profissional;
Conselhos de Odomologia, segundo suas atribuições específicas. V - promO\·er a saúde coletiva no desempenho de suas fun-
ções. cargos e cidadania, independentemente de exercer a pro-
Art. 2.0 - A Odontologia é uma profissão que se exerce, cm fissão no '>etor público ou prívado;
beneficio da saúde do ser humano e da coletividade, sem disc1i- VI - elaborar as fichas clínicas dos pacientes. conservando-as
minação de qualquer forma ou pretexto. em arquívo prcíprío:
VII - apontar falhas nos regulamentos e nas nonnas das insti-
tuições em que trabalhe, quando as julgar indignas para o exer-
CAPÍTULO II cício da profissão ou prejudiciais ao paciente, .<Jévendo dirigir-se.
nesses casos. aos órgãos competentes:. -.....
Dos Direitos Fundamentais Vlll - propugnar pela harmonia na classe;
A.ri. 3.0 - Constituem direitos fundamentais dos profissionais IX· abster-se da prática de atos que impliquem mercantiliza-
inscritos. segundo suas atribuições específicas: ção da Odontologia ou sua má conceituação;
X - assumir responsabilidade pelos atos praticados:
l - diagnosticar, planejar e executar tratamentos, com liber- X[ - resguardar a pri vacídade do paciente durante todo o :iten-
dade de convicção. nos limites de suas atribuições. observados dimcnlo.
o estado atual ela ciência e sua dignidade profissional; .
li - resguardar o segredo profissional;
lIJ - contratar serviços profissionais de acordo com os precei-
tos deste Código; CAPÍTULO IV
IV - recusar-se a exercer a profissão em âmbito público ou
privado. onde as condições de trabalho não sejam dignas. segu- Das Auditorias e Perícias Odontológicas
ras e salubrcs.
Art. 5." - Constitui infra,:ão ética:
I - deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para
CAPÍTULO Ili servir como perito ou auditor, assim como ultrapassar os limites
de suas atribuições e de sua competência:
TI - intervir, quando na qualidade de auditor ou perito. nos atos
Dos Deveres Fundamentais de outro profissional, ou fazer qualqL1er apreciação na presença
0
Art. 4. - Constituem deveres fundamentais dos profissionais do examinando, reservando sua!\ observações, sempre fundamen-
inscritos: tadas. para o relatórío sigiloso e lacrado.
190 .4péndice 2

,;

CAPITULO V CAPÍTULO VI
Do Relacionamento Do Sigilo Profissional
0
Art. 9. - Constitui infração ética:

SEÇÃOI 1- revelar, sem justa causa, fato sigiloso de que lenha conhe-
cimento em razão do exercício de sua profissão;
Com o Paciente ll - negligenciar na orientação de seus colaboradores quanto
ao sigilo profissional.
Art. 6." - Constitui infração ética:
§ l .º Compreende-se como justa causa, principalmente:
I - exagerar em diagnóstico. prognóstico ou terapêutica;
11 - deixar de esclarecer adequadamente os propósitos, riscos, a) notificação compulsória de doença:
custos e alternaLivas do tratamento; b) colaboração com ajustiça nos casos previstos em lei;
lil - executar ou propor tratamento desnecessário ou para o c) perícia odontológica nos seus exatos limites:
qual não esteja capacitado; d) estrita defesa de interesse legítimo dos profissíonais ins-
IV - abandonar paciente, salvo por motivo jusLificávcl, cir- critos;
cunstância em que serão conciliados os honorários e indicado e) revelação de fato sigiloso ao responsável pelo incapaz.
substituto;
V - deixar de atender paciente que procure cuidados profissio- § 2.º Não constitui quebra de sigilo profissional a declinação
nais cm caso de urgências, quando não haja outro cirurgião-den- do tratamento empreendido, na cobrança judicial de honorários
tista em condições de fazê-lo; profissionais.
V 1 - iniciar tratamento de menores sem autorização de seus
responsáveis ou representantes legais, exceto em casos de urgên-
cía ou emergência:
VH - desrespeitar ou pennilir 4ue seja desrespeitado o paci-
CAPÍTULO VII
ente:
vrn - adorar norns técnicas ou materiais que não tenham efe- Dos Honorários Profissionais
tiva comprovação científica:
An. 10 - :--la fixação dos honorários profissionais, serão con-
IX - fornecer atestado que não corresponda à veraddadc dos siderados:
fatos codificados (CID} ou dos que não tenha participado.
1 - a condição sócío-ecoríôrníca do paciente e da comunidade:
li - o conceito do profissional;
SEÇÃO II III - o costume do lugar:
IV - a complexídade do caso:
V - o tempo utilizado no atendimento;
Com a Equipe de Saúde VI - o caráter de pem1anência, temporariedade ou eventuali-
A11. 7.º - No relacionamento entreº" membros da equipe de dade do trabalho;
saúde, serão manúdos o respeito, a lealdade e a colaboração téc- VII - a circunstância cm que tenha sido prestado o tratamento:
nico-científica. Vlll - a cooperação do paciente durante o tratamento;
IX - o custo operacional.
Art. 8.º - Constitui infração ética:
Art. 11 - Constitui ínfração ética:
1- desviar diente de colega;
II - assumir emprego ou função sucedendo o profissional l - oferecer serviços gratuitos a quem possa remunerá-lo~
demitido ou afastado em represália por atitude de defesa de adequadamente;
movímento legítimo da categoria ou da aplicação deste Có- ll - receber ou dar gratificação por encaminhamento de paci-
digo; ente;
TIi - praticar ou permitir que se pratique concorrência des- lII - instituir cobrança através de procedimento mercantilista:
leal; IV - abusar da confiança do paciente submetendo-o a trata-
TV - !\Cr conivente em erros técnicos ou infrações éticas; mento de custo inesperado:
V - negar, injustificadamente, colaboração técnica de emer- V - receber ou cobrar honorários complementares de pacien-
gência ou serviços profissionais a colega; te atendido em instítuições públicas;
VI - criticar erro técnico-científico de colega ausente, salvo VI - receber ou cobrar remuneração adicional de cliente aten-
por meio de representação ao Conselho Regional; dido sob convênio ou contrato;
Vil - explorar colega nas relações de emprego ou quando VU - agenciar, aliciar ou desviar, por qualquer meio, pacien-
cornpaitilhar honorá1ios; te de instituição pública ou privada, para a clínica particular:
VIII - ceder consultório ou laboratório. sem a observância da VIII - cobrar ou receber honorários inferiores aos da Tabela
legislação pertínenLC; Nacional para Convênios e Credenciamentos ou outra que a subs-
IX - utilizar-se de !\crvíços prestado!\ por profissionais não titua, desde que aprovada por todas as entidades nacionais da
habilitados legalmente. Odontologia.
Apê11dice 2 291

III - manter auditorias odontológicas constantes. atran:s de


CAPÍTULO VIII profissionaís capacitados;
IV - restringír-se à elaboração de planos ou programa-; de saúde
Das Especialidades bucal que tenham respaldo técnico, administrativo e financeiro:
V - manter os usuários informados sobre os recursos disponí-
An. 12-0 exercício e o anúncio das especialidades em Odon- veis para atendê-los.
tologia obedecerão ao disposto neste Capítulo e às normas do
Conselho Federal. Art. 22 - Constituí infração ética:

Art. 13 - O especialista, atendendo paciente encaminhado por I - apregoar vantagens irreais visando a estabelecer concor-
cirurgião-dentista. atuará somente na área da sua especialidade. rência com entidades congêneres;
li - oferecer tratamento abaixo dos padrões de qualidade re-
Parágrafo único- Após o atendimento, o paciente será devol- comendáveis;
vido com os informes pertinentes. 111 - executar e anunciar trabalho gratuito com finalidade de
aliciamento;
Arl. 14 - É vedado intitular-se especialista sem inscrição no IV - anunciar especialidades sem as respectivas inscrições de
Conselho Regional. especialistas no Conselho Regional;
V - valer-se do poder econômico visando a estabelecer con-
Art. 15 - Para fins de diagnóstico e tratamento, o especialista corrência com entidades congêneres ou profissionais individu-
poderá conferen<:iar com outros profissionais. almente;
VI - propor remuneração pelos serviços prestados por profis-
sionais a ela vinculados em bases inlcriores à Tabela Nacional
CAPÍTULO IX de Convênios e Credenciamentos;
VII - não manter os usuários informados sobre os recursos
disponíveis para o atendimento e deixar de responder às recla-
Da Odontologia Hospitalar mações dos mesmos.
Art. 16 - Compete ao cirurgião-dentista internar e assistir
paciente em hospitais públicos e privados, com e sem caráter
filantrópico. respeitadas as normas técnico-adnúnistrativas das CAPÍTULO XI
instituições.

Art. 17 - As atividades odontológicas exercidas em hospital


Do Magistério
obedecerão às normas do Conselho Federal. A11. 23 - No exercício do magistério, o profissional inscrito exal-
tará os princípios éticos e promoverá a divulgação deste C6<ligo.
Art. 18 - Constitui infração ética, mesmo cm ambiente hospita-
lar, executar intervenção cirúrgica fora do âmbito da Odontologia. Art. 24 - Constituí infração ética:

1- utilizar-se do paciente de fonna abusiva em aula ou pe~quisa;


,,. 11 - eximir-se de responsabilidade nos trabalhos executados
CAPITULO X em pacientes pelos alunos; ·
JIJ - utilizar-se da influência do cargo para aliciamento e/ou
Das Entidades Prestadoras de Atenção à cm:aminhamento de pacientes para clínica particular.
Saúde Bucal
Art. 19 - Às clínicas. cooperativas, empresas e demais enti-
dades prestadoras e/ou contratantes de serviços odontológicos,
CAPÍTULO XII
apfü:am-se as disposições deste Capítulo e as normas do Conse-
lho Federal. Das Entidades da Classe
Art. 25 - Compete às entidades da classe, através de seu pre-
Art. 20 - Os profissionais inscritos. quando proprietários, ou sidente, fazer as comunicações pertinente-. que sejam de indis-
o responsável técnico responderão solidariamente com o infra- cutível interesse público.
tor pelas infrações éticas cometidas.
Parágrafo único - Esta atribuição poderá ser delegada. sem
Art. 21 - As entidades mencionadas no artigo 19 ficam obri- prejuízo da responsabilidade solidária do titular.
gadas a:
Art. 2tí - Cabe ao presidente e ao infrator a responsabilidade
1- manter a qualidade técnico-cíentífica dos trabalhos reali- pelas infraç<'ícs éticas cometidas em nome da entidade.
zados;
li - propiciar ao profissional condições mínimas de instala- Art. 27 - Constitui infração ética:
ções, recursos materiais. humanos e tecnológicos definidas pelo
Conselho Federal de Odontologia, as quais garantam o seu de- 1- servir-se da entidade para promoção pr6pria ou vantagens
sempenho pleno e seguro, exceto em condições de emergência pessoais;
ou iminente perigo de vida; II - prejudicar moral ou materialmente a entidade;
292 Apendice 2

Ili - usar o nome da entidade para promoção de produto!'> co- VIJJ - induzir a opinião públíca a acreditar que exista re!'>er,a
merciais sem que os mesmos renham sido testados e comprova- de atuação clínica para dctcmiinados procedimento!'>;
da sua eficácia na forma da Lei; rx - anunciar especialidade odontológica não regulamentada
TV - desrespeitar entidade, injuriar ou difamar os seus diretores. pelo Conselho Federal de Odontologia:
X - divulgar ou permitir que sejam divulgadas publicamente
obscrvaçf>es dcsabonadoras sobre a atuação clínica ou qualquer
manifestação relativa à atuação de outro profissional.
CAPÍTULO XIII
A11. 32 -Às empresas que exploramos vários ramos da Odon-
Da Comunicação tologia, tais como clínicas, cooperativas, planos de assistência à
saúde, convênios, credenciamentos, administradoras. intermedi-
Art. 28 - A comunicação cm Odontologia obedecerá ao dis-
adoras, seguradoras de saúde e congêneres, aplicam-se as nor-
posw neste Capítulo e às especificações dos Conselhos Regio-
mas deste Capítulo.
nais, aprovadas pelo Conselho Federal.

SEÇÃO I SEÇÃO II

Do Anúncio, da Propaganda e da Da Entrevista


Publicidade Arl . .33 - O profissional inscrito pode utilizar-se de veículos
de comunicação para conceder entrevistas ou divulgar palestras
A11. 29 - Os anúncios, a propaganda e a publicidade poderão públicas sobre assuntos odontológicos de sua atribuição, exclu-
ser leitos au·avés dos veículos de comunicação, obedecidos os si \ amente com finalidade educativa e interesse social, assumin-
preceitos deste Cúdigo e da veracidade, da decênda, da respei- do inteira responsabilidade.
tabilidade e da honestidade.

Art. 30 - Nos anúncios, plm:as e impressos deverão constar:


SEÇÃO III
- o nome do profissional;
- a profissão: Da Publicação Científica
- o número de inscrição no Conselho Regional.
Art. 34 - Constituí infração ética:
Parágrafo único - Poderão ainda constar:
l - aproveitar-se de posição hierárquíca para fazer constar seu
r - as especialidades nas quais o cirurgiào-dentis.ca esteja ins- nome na co-autoria de obra científica;
c1ito: fl - apresentar como sua, no todo ou em parte. obra científica
U - os títulos de formação acadêmica srricro H'11m e! do ma- de outrem, ainda que não publicada:
gistério relativos à profissão; [)l - publicar, sem autorização, elemento que identifique o
Ill - endereço, telefone, fax, endereço decrônko. horário de paciente;
trabalho. convênios e credenciamentos: [V - uti lizar-sc, sem referência ao autor ou sem sua autoriza-
IV - instalações, equipamentos e técnicas de tratamento: ção expressa, de dados, infonnaçôes ou opiniões coletadas cm
V - logomarca e/ou loiotipo; partes puhlicadas ou não de sua obra;
VI - a cxpressào "CLINICO GERAL... pelos profissionais V - faiscar dados estatísticos ou deturpar sua interpretação.
que exerçam atividades pe1tinentes à Odontologia decorrentes de
conhecimentos adquiridos em curso de graduação.
CAPÍTULO XIV
l\rt 31 - Constitui infração ética:

l - anunciar preços e modalidade de pagamento:


Da Pessoa Científica
li - anunciar títulos que não possua: A1t. 35 - Constitui infração ética:
111 - anunciar técnicas e/ou tratamentos que não tenham com-
provação científica: I - desatender às normas do órgão competente e à legislação
[V - criticar técnicas utilizadas por outros profissionais como sobre pesquisa em saúde;
sendo inadequadas ou ultrapassadas; II - utilizar-se de animais de experimentação sem objetivos
V - dar consulta, diagnóstico ou prescrição de tratamento por claros e honestos de enriquecer os horizontes do conhecimento
meio de qualquer veículo de comunicação de massa, bem como odontológico e, conseqüentemente, de ampliar os benefícios à
pemlitir que sua participaçào na divulgação de assuntos odonto- sociedade;
lógicos deixe de ter caráter exclusivo de esclarecimento e edu- III - desrespeitar as limitaçôcs legais da profissão nos casos
caçào da coletividade; de experiência in anima nobili;
V1- dí vulgar nome, endereço ou qualquer outro elemento que IV - intiingir a legislação que regula a utilização do cadáver
identifique o paciente, a não ser com o seu consentimento livre e para estudo e/ou exercícios de técnicas cirúrgicas;
esclarecido, ou de seu responsável legal: V - íntiingir a legislação que regula os transplantes de órgãos
V 11 - aliciar paciente~; e tecidos posl-mortem e do "próprio corpo vivo";
.4pêndice :? 293

vr - realizar pesquisa em ser humano sem que este ou seu IV - ocupar cargo cujo profissional dele tenha sido afastado
responsável. ou representante legal, tenha dado consentimento, por motivo de movimento classista;
por escrito, após ser devidamente esclarecido sobre a natureza e V - exercer ato privativo de cirurgião-dentista, sem estar para
as conseqüências da pesquisa; isso legalmente habilitado;
VI 1- usar, experimentalmente sem autorização da autoridade VI - manter atividade profissional durante a vigência de pe·
compelente, e sem o conhecimento e o consentimento prévios natidade suspem,iva;
do paciente ou de seu representante legal, qualquer tipo de tera- Vll - praticar ou ensejar atividade torpe.
pêutica ainda não lihcrada para uso no país.
Ar1. 39 - A alegação de ignoráncia ou a má compreensão dos
preceitos deste Código não exime de penalidade o infrator.
CAPÍTULO XV Art. 40 - São circunstâncias que podem atenuar a pena:

Das Penas e suas Aplicações I - não ter sido ames condenado por infração ética:
Art. 36 - Os preceitos deste Código são de observância obri- li - ter reparado ou minorado o dano.
gatória e sua violação sujeitará o infrator e quem, de qualquer
modo, com ele concorrer para a infração, às seguintes penas pre- Art. 41 - Além das penas disciplinares previstas, também
vistas no artigo 18 da J,ei n.º 4.324, de 14 de abril de 1964: poderá ser aplicada pena pecuniária a ser fixada pelo Conselho
Regional, arbitrada entre 5 (cinco) e 25 (vinte e cinco) vezes o
1- advc1tência confidencial, em aviso reservado; valor da anuidade.
li - censura confidencial, em aviso reservado;
JIJ - censura pública. em publicação oficial; Parágrafo único - Em caso de reincidência, a pena será apli-
TV - suspensão do exercício profissional até trinta (30) días: cada em dobro.
V - cessação do exercício profissional ad ,·lferendum do Con-
selho Federal.

Art. 37 - Salvo nos casos de manifesta gravidade e que exi-


CAPÍTULO XVI
jam aplicação imediata de penalidade mais grave, a imposição
das penas obedecerá à gradação do artigo anterior. Disposições Finais
Art. 42 - O profissional condenado por infração ética às pe-
Parágrafo único - Avalia-se a gravidade pela extensão do dano
nas previstas no anigo 18daLein."4.324,de 14dcabrilde 1964,
e por suas conseqüências.
poderá ser objeto de reahilítação. na forma prevista no Código
Arl. 38 -Considera-se de manifesta gravidade. principalmente: de Processo Etíco Odontológico.

I · imputar a alguém fato antiético de que o saiha inocente, Art. 43 - As alterac;ôc.s.deste Código são da competência ex-
dando causa a instauração de processo ético: clusiva do Conselho Federàj, ouvidos os Conselhos Regionais.
· II - acobertar ou ensejar o exercício ilegal da profissão;
111 - exercer, após ter sido alertado, atividade odontológica cm A11. 44 - Este Código entrará cm vigor no dia 1.0 de janeiro
entidade ilegal. inidônea ou itTegular; de 1992.
,,,
·,

RESOLUÇÃO CFO - 185, DE 26 DE ABRIL DE 1993


(Publicada no DOU de 02.06.93)

Aprova a Con.w/idaçt'io das Normas para Procedimentos nos Cun· e)os técnicos em higiene dental;
selhos d(i Odontologia e revoga a Resolução CFO n. º J55!R4. dJ os atendentes de consultório dentário;
e) os auxiliares de prótese dentária;
O Presidente do Conselho Federal de Odontologia. cumprin- f) os especialistas, desde que assim se anunciem ou intitulem:
do deliberação do Plenário, no exercício de suas atribuiçõc:. le- g) as entidades prestadoras de assistência odontológica;
gais, resolve:
h) os laboratórios de prótese dentária:
Art. l ." Fica aprovada a Consolidação das !\onna.~ para Proce- i) os demais profissionais auxilia~es que vierem a ter suas
dimentos nos Conselhos Regionais, que integra esta Resolução. ocupações; ,
j) as atividades que vierem a ser,(sob qualquer fo1ma, vincu-
Arl. 2.º Revogam-se as disposições em contrário. ladas aos Conselhos de Odontblogia.

Art. 3.º Esta Resolução entra em ,·igor nesta data. indepen- Parágrafo único. É vedado o registro e a inscrição em duas ou
dentemente de sua publicação na [mprensa Ofü·ial. mais categorias profissionais, nos Conselhos Federal e Regionais
de Odontologia sem a apresentação dos respectivos diplomas ou
Joifo Hildo de Canalha certificados de conclusão de curso profissionalizante regular.
Furtado. CD.
Presidente Art. 2. º Os Conselhos Federal e Regionais estabelecerão. obri-
gatoriamente, nos processos de tramitação, prazo máximo de 90
(noventa) dias, para cumprimento de suas exigências.
CONSOLIDAÇÃO DAS NORI\ilAS
§ l .ºCaso os interessados não atendam às exigências nos pra-
PARA PROCEDIMENTOS NOS zos estabelecidos. o pleito deverá ser indeferido e o processo
CONSELHOS REGIONAIS arquivado. ·

§ 2.0 O processo somente poderá ser dcsarquivado mediante


requerimento específico e novo recolhimento de taxas.
TÍTULOI
DO EXERCÍCIO LEGAL Art. 3." Somente poderão ser deferidos registro e inscrição de
pessoas físicas e jurídicas que atendam aos requisitos mínimos
estabelecidos nestas normas.
Capítulo I
Disposições Preliminares
Art. 1.º Estão obrigados ao registro no Conselho Federal e à
Capítulo II
inscrição nos Conselhos Regionais de Odontologia cm cuja ju- Atividades Privativas do
risdição estejam estabelecidos ou exerçam suas atividades: Cirurgião-Dentista
a) os cirurgiões-dentistas: An. 4. 0 O exercício das atividades profissionais privativas do
b) os técnicos em prótese dentária; cirurgiào-dentisLa só é permitido com a observância do disposto
:\pé1Ulice 3 295

nas Leis n.º 4.324, de 14/4/64 e 5.081, <le 24/8/66, no Decreto § 8." O cirurgião-dentista deverá exigir o número de in~1.:ri-
n.º 68.704, de 3/6/71; e. nestas normas. ção no Conselho Regional ao técnico em prótese dentária nos
documentos que lhe forem apresentados, sob pena de instaura-
§ I ." Compete ao cirurgião-dentista: ção de Processo Ético.

1- praticar todos os atos pc11inentes à Odontologia decorren- § 9. 0 Responderá eticamente, perante o respectirn Conselho
tes de conhecimentos adquiridos em curso regular ou em cursos Regional, o cirurgião-dentista que, lendo técnico em higiene
de pós-graduação; dental e/ou atendente de consultório dentário sob sua supen i-
li - prescrever e aplicar especialidades farmacêuticas de uso são. permitir que os mesmos. sob qualquer forma, extrapolem
interno e externo, indicadas em Odontologia; suas funções específicas.
III - atestar, no setor de sua atividade profissional, estados
mórbidos e outros, inclusive para justificação de falta ao empre- § 10. O cirurgião-dentista é obrigado a manter ínfonnado o
go: respectivo Conselho Regional quanto à existência, em seu con-
IV - proceder à perícia odontolegal cm foro civil, criminal. sultório particular ou em clínica sob sua responsabilidade, de
traballústa e cm sede administrativa: profissional auxiliar.
V - aplicar anestesia local e troncular;
§ 11. Da informação a que se refere o parágrafo anterior. de-
* v. Resolução CFO n." 172, de 2 ////91. verão constar o nome do auxiliar. a data de sua admissão. a sua
profissão e o número de sua inscrição no Conselho Regional.
Vl - empregar a analgesia e a hipnose, desde que comprova-
damente habilitado, quando constituírem meios eficazes para o Arl. 5. 0 Para se habilitar ao registro e à inscrição, o profissio-
tratamento; nal deverá atender a um dos seguintes requisitos:
VII - manter, anexo ao consultório. laboratório de prótese.
aparelhagem e instalação adequadas para pesquisas e análises a) ser diplomado por curso de Odontologia reconhecido pelo
dí1úcas, relacionadas com os casos específicos de sua especiali- Ministério da Educação e Cultura;
dade. bem como aparelhos de Raios X, para diagnóstico, e apa- b) ser diplomado por escola estrangeira, cujo diploma tenha
relhagem de fisioterapia; sido revalidado e/ou ob1igatoriamente registrado para a
YTJT - prescrever e aplicar medicação de urgência no caso de habilitação ao exercício profissional em todo o terrít6rio
acidentes graves que comprometam a vida e a saúde do pacien- nacional:
te; c) ser diplomado por escola ou faculdade estadual. que tenha
IX - uúlizar, no exercício da função de perito-odontológico, funcionado com autorização de governo estadual, quando
em casos de necropsia, as vias de acesso do pescoço e da cabe- beneficiado pelo Decreto-Lei n.º 7.718, de 9 de julho de
ça. ; 1945 e comprovada a habilitação para o exercício profis-
sional até 26 de agosto de 1966;
d) ser licenciado nos termos dos Decretos n.º 20.862, de 25
§ 2.0 O cirurgião-denústa poderá operar pacientes subm~Li-
de dezembro de l 931: 21.703, de 22 de fevereiro de 1932;
dos a qualquer um dos meios de anestesia geral, desde que se-
ou 22.501, de 27 de fevereiro de 1933: e.
jam atendidas as exigências cautelares recomendadas para o seu
e) ter colado grau há menos de 2 (dois) anos da data do pedi-
emprego.
do. desde que seja possuidor de uma declaração da insti-
tuição de ensino, firmada por autoridade competente e da
§ 3.0 O cirurgião-dentista somente poderá executar trabalhos
qual con-.tc expressamente, por extenso: nome, nacionali-
profissionais em pacientes sob anestesia geral quando a mesma
dade. data e local de nascimento. número de cédula de iden-
for executada por profissional médico especialista e cm ambi- tidade e data da colação de grau.
emc hospitalar que disponha das indispensáveis condições co-
muns a ambientes cirúrgicos. § l .º O diploma do estudante-convênio sumente poderá ser
aceito para registro e inscrição, quando dele não constar apostila
§ 4." Os direitos e os deveres <lo cirurgião-dentista, bem como restritiva ao exercício profissional no Brasil ou tiver sido ames-
o que lhe é vedado. encontram-se explicitados no Código de Ética ma cancelada.
Odontológica.
§ 2. 0 No caso da alínea c, o exercício profissional ficará res-
§ 5. É permitido o anúncio de convênios mantidos entre clí-
0
trito aos limites lenitoriais do Estado onde tenha funcionado a
nica dentária e entidades, respeitadas as disposições do CfO. escola.

§ 6. 0 Poderão constar de impressos, placas. ou anúncios as § 3.0 No caso da alínea d, o exercício profissional ficará res-
seguintes formas de atendimentos: trito aos limites territoriais da localidade para a qual tenha sido
expedida a I icença.
a) atendimento domiciliar; e.
h) atendimento a pacientes especiais. § 4. 0 Na hipótese prevista na alínea e, a autorização para o
exercício da profü-.ão será pelo prazo improrrogável de 2 (dois)
§ 7 ." É permitido o uso dos termos "prevenção" e "reabili- anos. contado da data de sua colação de grau.
tação" a todo drurgiâo-dentista que desejar registrar e inscre-
ver sua clínica, usando o<. mesmos nas respectivas denomina- § 5." O registro e a insciição dos profissionais registrado~ nos
ções. órgãos de Saúde Pública até 14 de abril de l 964, poderão ser
.:% Apendice 3

:-~Íl(•~ independente mente da apresentação dos d iplomas. medi- e) possuir registro no Serviço de Fiscalização do Exercício
., m~ .:-crtidão forn ecida pelas repartições competentes. Profissional, em data anterior a 6 de novembro de 1979:
d ) possuir prova de que se encontrava lcgalme1tte autorizado
Arl. 6. 0 Está obrigado a registro e inscrição o cirurgüio-dcn - ao exen.:ít:io profissional, em 6 de novembro de 1979.
tbta no desempenho:
Art 9_º O técnico em prótese dentária deverá, obrigatoriamen-
a) de sua aúvidade na condição de autônomo; te, colücar o número de sua inscrição no Conselho Regional nas
bi de cargo, função ou emprego público, civil ou militar, da notas fiscais de serviços, nos orçamentos e nos recibos apresen-
administraçã o direta ou indireta, de âmbito federal, esta- tados ao cirurgião-dentista sob pena de instauração de Processo
dual ou municipal, para cuja nomeação. designação, con- Ético.
tratação, posse e exercício seja exigida ou necessária a
condição de profissional da Odontologia;
e) do magistério, quando o exercício decorra de seu diploma
de c imrgião-dentista;
Capítulo IV
d) de q ualquer outra atividade, através de vínculo emprega- Atividades Privativas do Técnico em
tício ou não, para cujo exercício seja indispensável a con- Higiene Dental
dição de cirurgião-den tista. ou de graduado de nível supe-
tior, desde que, neste caso, somente possua aquela q uali- Art. 1O. O exercício das atividades privativas do técnico em
ficação. higiene dental só é pcm1itido com a observância do disposto
nestas nomias.

Capítulo III Art. 11 . Para se habilitar ao registro e à inscrição, como téc-


nico cm higiene dental, o interessado deverá ser po1tador de di-
Atividades Privativas do Técnico em ploma ou ce,tif.ícado que atenda. integralmente, ao disposto no
Prótese Dentária Parecer n.º 46 .005. aprovado pela Câmara de 1.º e 2. 0 graus, do
Conse-lho Federal de Educação.
Art. 7 .º O exercício das atividades privati\'as do técnico cm
prótese dentária só é pennilido com a obser\'ância do disposto § l." Poderá exercer, também, no tcITit(>rio nacional, a profis-
na Lei n.'' 6_710, de 5 de novembro de 1979 : no Decreto n." são de THD. o portador de diploma ou cettificado expedido por
87.689. de 11 de outubro de J982; e, nesras normas. escola estrangeira. devidamente revalidado.

§ l.º Compete ao técnico cm p rótese dentária: § ~-º A inscrição de cirurgião -denústa cm Conselho Regio-
nal. como THD, somenle poderá ser efctivu(,lá mediante apresen·
a) executar a parte mecânica dos trabalhos odontológicos : tação de certificado ou diploma que compfove a respectiva titu-
h) ser re.sponsável, perante o Sen·iço de Fiscalização respec- lação.
tivo, pelo cumprimento das disposiçõc:-. legais que regem
a matéria; Art 12. Compete ao técnico cm higiene dental, sempre sob
c) ser responsável pelo treinamento de auxiliare~ e ser;eme:. supervisão com a presença física do cirurgião-dentista, na pro-
do lahoratório de prótese odontológica . porção máxima de 1 (um) CD para 5 (cinco) TH D's, além das
de atendente de consultório dentário. as seguintes atividades:
§ 2.0 É vedado aos técnicos em prÓIC.'.e dentária:
a) participar do treinamento de atendentes de consultórios
J- prestar, sob qualquer fo rma, assistência direta a clientes; dentátios;
li - manter, em sua oficina, e.quiparnento e instrumental es- b) colaborar nos programas educativos de. saúde bucal;
pecífico de consultório dentário: c) colaborar nos levantamento s e estudos epidemiológi cos
III - fa:lcr propaganda de seus serviços ao público em geral. como coordenador, monitor e anotador;
d) educar e orientar os pacientes ou grupos de pacientes so-
§ 3.0 Serão permitidas propagandas cm revistas. jornais ou bre prevenção e tratamento das doenças bucais;
folhetos especializados, desde q ue dirigidas aos cirurgiões-den- e) fazer a demonstração de técnicas de escavação:
tistas, e acompanhada s do nome da oficina, do seu responsável e t) responder pela administraçã o de clínica;
do número de inscrição no Conselho Regional de Odontologia. g) supervisionar, sob delegação, o trabalho dos atendentes de
consultórios dentários;
Art. 8." Para se habilitar ao registro e à inscrição. como técni- h) fazer a tomada e revelação de radiografias intra-orais:
co em prótese dent.1ria. o interessado deverá atender a um dos í) realizar teste de vitalidade pulpar;
seguintes requisitos: j ) realizar a remoção de indutos, placas e cálculos suprngen-
givais:
a) possuir diploma ou certificado de conclusão de curso de 1) executar a aplicação de subslâncias para a prevenção da
Prótese Dentária, a n ível de 2.0 grau, rnnferido por estabe- cárie dcntul;
lecimento oficial ou reconhecido; m) inserir e condensar substâncias restauradoras:
h) possuír diploma ou certificado, devidamente revalidado e n) polir restaurações, vedando-se escu ltura;
registrado no País. expedido por instituíçf>es estrangeiras o) proceder à limpeza e à antissepsia do campo operatório_
de ensino, cujos c w-;;os sejam equivalentes ao menciona- antes e após os atos cirúrgicos;
do na alínea a; p) remover suturas;
Apêndice 3 297

q) confeccionar modelos; a) orientar os pacientes sobre higiene bucal:


r) preparar moldeiras. b) marcar consultas;
e) preencher e anotar fíchas clínicas;
A11. 13. É vedado ao técnirn cm higiene dental: d) manter em ordem arquivo e fichário;
e) controlar o movimento financeiro;
a) exercer a atividade de forma autônoma; t) revelar e montar radiografias intra-orais;
b) prestar assistência, direta ou indiretamente, a paciente, sem g) preparar o paciente para o atendimento;
a indispensável supervisão do cirurgião-dentísLa; h) auxiliar no atendimento ao paciente:
c) realizar, na cavidade bucal do paciente, procedimentos não i) instrumentar o cirurgião-dentista e o técnico em higiene
discriminados nas alíneas do art. 12 destas normas; e, dental junto à cadeira operatória;
d) fazer propaganda de seus serviços, mesmo em revistas, j) promover isolamento do campo operatório;
jornais ou folhetos especializados da área odontológica. 1) manipular materiais de uso odontológico;
m) selecionar moldeiras:
An. 14. O técnico cm higiene dental poderá exercer sua ati- n) confeccionar modelos cm gesso;
vidade, sempre sob a supervisão com a presença física do cirur- o) aplicar métodos preventivos para controle da cárie dental;
gião-dentista, na proporção de 1 (um) CD para cada 5 (cinco) p) proceder à conservação e à manutenção do equipamento
THD· s, em clínicas ou consultórios odontológicos, cm cstabele- odontológico.
ci mentos públicos e privados.
Art. 21. É vedado ao atendente de consultório dentário:
Art. 15. O tempo de duração e as disciplinas do curso de THD,
para fins de habilitação profissional. nos termos destas normas, a) exercer a atividade de forma autônoma;
será compatível com o cumprimento da carga horária, na depen- b) prestar assistência, direta ou indiretamente, a paciente, sem
dência do curso integral, suplência ou qualificação, de acordo a indispens,ivcl supervisão do cirurgião-dentista ou do téc-
com a Lei n.º 5.692/71 e os pareceres n.º 460175 e 699, do Con- nico cm higiene dental;
selho Pcdcral de Educa~ão. e) realizar. na cavidade bucal do paciente, procedimentos não
discriminados nos incisos do art. 19 destas normas; e,
A,1. 16. A carga horária mínima do curso de técnico cm higi- d) fazer propaganda de seus serviços. mesmo em revistas,
ene dental é de 2.200 horas, incluindo o núdco comum integral jornais ou folhetos especializados da área odontológica.
de 2. 0 grau (Educação Geral) e a parte cspcdal (Matérias
Arl. 22. O acendente de consultório dentário poderá exercer
Profissionalizantes), e estágio, dispondo-se os estudos de forma
sua atividade. sempre sob a supervisão do cirurgião-dentista ou
a obedecer ao que prescreve o art. 23, da Lei n.º 5.692171.
do técnico em higiene dental. em consultórios ou clínicas odon·
tológicas, em estabelecimentos públicos ou privados.
Art. 17. O mínimo de disciplinas profissionalizantes, para o
curso de técnico em higiene dental, é:
! Art. 23. O curso de atendente de consultório dentário cobrirá parte
do currículo de formação do técnico cm higiene dental. com carga
a) Higiene Oental;
horária nunca inferior a 300 horas. após o 1.0 grau completo.
h) Odontologia Social:
c) Técni<:as Auxiliares de Odontologia;
d) Materiais. Equípamentos e lnsLrumcntal; e.
e) Fundamentos de Enfermagem.
Capítulo VI
Atividades Privativas do Auxiliar de
Capítulo V Prótese Dentária
Atividades Privativas do Atendente de An. 24. O exercício das atividades privativas do auxiliar de
prótese dentária, s<Í é permitido mm a observância do disposto
Consultório Dentário nestas normas.
Arl. 18. O exercício das atividades privativas do atendente de
consultório dentário só é permitido com a observância do dis- Art. 25. Para se habilitar ao registro e à inscrição, como auxi·
posto nestas normas. liar de prótese dentária, o interessado deverá ser portador de cer-
tificado expedido por curso que atenda integralmente ao dispos-
A11. 19. Para se habilitar ao registro e à inscrição, como aten- to no Parecer n.º 540/76 do Conselho Federal de Educação.
dente de consultório dentário, o inLeressado devcn1 ser portador
de certificado expedido por curso ou exames que atendam, in- An. 26. O exercício profissional do auxiliar de prótese den-
tegralmente, aos dispostos na Lei n." 5.692171 e nos pareceres tária ficará restrito ao8 linútes tenitoriais da jurisdição do Con-
n.º 460175 e 699/72 do CFE. selho Regional que deferir a inscrição. sendo vedada a transfe-
rência para a jurisdição de outro Conselho Regional.
Parágnifo único. Poderá exercer, também, no território nacionaL
a profissão de atendente de consultório dentário, o portador de di- Art. 27. Compete ao auxiliar de prótese dentária, soh a super-
ploma expedido por escola estrangeira devidamente revalidado. visão do técnico cm prótese dentária:

Arl. 20. Compete ao atendente de consultó1io dentário, sem- a) reprodução de modelos;


pre sob a supervisão do cirurgião-dentista ou do técnico cm hi- b) vazamento de moldes em seus diversos tipos;
giene dental: c) montagem de modelos nos diversos r.ipos de articuladores;
298 Apêndice 3

d) prensagem de peças proféticas em resina acrílica; Art. 35. Para efeito de controle e fiscalização do exercício
e) fundição em metais de diversos tipos; profissional com referência aos estagiátios de Odontologia, as
f) casos simples em inclusão; instituições de ensino deverão comunicar, ao Conselho Regio-
g) confecção de moldeiras individuais no material índicado; nal da jurisdição. os nomes dos alunos aptos a estagiarem, de
h) coragem, acabamento e polimento de peças protéticas. conformidade com estas normas.

§ l ." As instituições de ensino deverão comunicar, também.


Capítulo VII ao Conselho Regional, os locais de estágio conveniados.
Estágio de Estudante de Odontologia
§ 2." A pedido do interessado, o Conselho Regional. sem qual-
Art. 28. É lícito o trahalho de estudante de Odontologia. obe- quer ônus. fornecerá um documento de identificação de estagiá-
decida a legislação de ensino e, como estagiádo, quando obser- rio, renovável anualmente, e que somente terá validade para es-
vados, integralmente, os dispos ili vos constantes da Lei n.º 6.494, tágio. na forma destas normas, e nos locais que mantenham con-
de 7 de de1.embrode 1977. no DeereLo n.º 87.497, de 18 de agosto vênio com as instituições de ensino.
de 1982, e, nestas normas.
§ 3.º O documento a que se refere o parágrafo anterior será
Art. 29. O exercício de atividades odontol6gicas por parte de de modelo padronizado pelo Conselho Federal de Odontologia.
estudantes de Odontologia, em desacordo com as disposições
referidas no artigo anterior, configura exercício ilegal da Odon-
tologia, sendo passíveis de implicações éticas os cirurgiões-den-
tistas que pem1itirem ou tolerarem tais situações.
Capítulo VIII
Anúncio do Exercício das Especialidades
Art. 30. Os estágios curriculares dos estudantes de Odontolo- Odontológicas
gia são atividades de competência, única e exclusiva. das insti-
tuições de ensino de graduação. as quai-. devem regular a maté- Art. 36. A especialidade é uma área específica do conheci-
ria e dispor sobre: mento. exercida por profissional qualificado a executar procedi-
mentos de maior complexidade, na busca de eficácia e da eficiên-
a) inserção do estágio curricular no programa didáüco-peda- cia de suas ações. ·
gógico;
b) carga horária, duração e jornada do estágio curricular. que An. 37. O anúncio do exercício das especialidades em Odon-
não poderá ser inferior a um semestre letivo; tologia obedecerá ao disposto nestas normas.
c) condições imprescindíveis para caraccerização e definiçào
dos campos de C'-tágíos curriculares referidos na Lei n.º Art. 38. Para se habilitar ao registrp e à inscrição, como espe-
6.494. de 7 de dczemhro de 1977: cialista, o cirurgião-dentista deverá ;j.lendcr a um dos seguintes
d) sistemática de organização. oríencaçào. ~uper,isào e aYa- requisitos:
liação de estágio curricular.
a) possuir título de livre-docente ou de doutor. na área da
Art. 31. As atividades do estágio c:urrkular poderão ser reali- especialidade;
zadus. na comunidade cm gi.:ral ou junto a pe~~ua~ jurídicas de h) possuir título de mestre, na área da especialidade. conferi-
dircilo púhlico ou priYado. ,,ub rc:,;pon,at-ilidadc e coordenação
do por curso que atenda às exigências do Conselho Fede-
direta da instituição de cn~ino na qual esteja o aluno matricula- ral de Educação;
do. atendida;; a;; e:xigênci;1~ contida~ no art. 5." do Decreto n.º
c) possuir certificado conferido por curso de especialização
87.497. de IS de ago:;todc 1982.
em Odontologia que atenda às exigências do Conselho
Federal de Odontologia:
§ J .º O estágio somente poderá, erificar-se em unidades que
d) possuír diploma ou certificado de curso de especialização
tenham condiçôes de proporcionar expt.·riência prática em linha
registrado pelo extinto Serviço Nacional de Fiscalização
de formação. devendo o e$tudante. para esse fim. estar em con-
dições de estagiar. da Odontologia;
e) possuí r dí pio ma ex pedido por curso regulamentado por Lei.
§ 2.º A realização do estágio curricular. por parte do estudan- realizado pelos serviços de Saúde das Forças Armadas. que
te, não acarretará vínculo empregatício de qualquer natureza. dê direito especificamente a registro e insc1ição:
f) possuir diploma ou certificado conferido por curso de
A.tt. 32. Ajomada de atividade cm estágio. a ser cumprida pelo especialização ou residência na vigência das Rernlu-
estudante, deverá compatibilizar-se com o seu horário escolar e çõcs do Conselho Federal de Odontologia ou legis;la-
rnm o horário da parle em que venha a ocorrer o estágio. ção específica anterior, desde que atendidos todos os
seus pressupostos e preenchidos os seus requisitos le-
Art. 33. Somente poderá exercer a atividade, como estagiá- gais.
rio, o aluno que esteja apto a praticar os atos a serem executa-
dos, e, no mínimo, cursando regularmente o 5.0 semestre letivo § 1.0 O certificado de curso referido na alínea e deste artigo
de curso de Odontologia. somente dará direito a registro, caso o profissional o tenha inicia-
do após 2 (dois) anos de inscrito cm Con-.elho Regional.
Art. 34. A delegação de tarefas ao estagiário somente poderá
ser levada a efeito através do responsável pelo estágio perante a § 2.0 São vedados o registro e a inscrição de duas especialida-
ínstítuíção de ensino. des com base no mesmo curso realiLado.
Apêndice J 299

§ 3.0 Quando se tratar de curso de mestrado e doutorado, com do em equipe de oncologista: e, de distúrbio neurológico.
área de concentração cm duas ou mais especialidades, poderão com manifestação maxi lo-facial, cm colaboração com neu-
ser concedidos registro e inscrição em apenas uma delas. desde rologista ou neurocirurgião.
que:
Parágrafo úníco. Em caso de acidentes cirúrgicos, que acar- ·
a) no certílicado expedído conste a nomenclatura correta da retem perigo de vida ao paciente. o cirurgião-dentista poderá
especialidade pretendida; lançar mão de todos os meios possíveis para salvá-lo.
b) a carga horária na área seja igual ou superior ao número
de horas previsto para a especialidade: e, Art. 43. É vedado ao cirurgião-dentista o uso da via cervical
c) a soma dos alunos das diversas áreas não ulu·apassc o nú- infra-hióidea. por fugir ao domínio de sua área de atuação, hem
mero estabelecido nestas normas, para cada especialida- como a prática de cirurgia estética, ressalvadas as estético-fun- --
de. cíonais do aparelho mastígatório.

Art. 39. Os registros e as inscriçôes somente poderão ser fei- Art. 44. Os cirurgíões-dentístas somente poderão realizar ci-
tos nas seguintes especialidades: rurgias sob anestesia geral, cm ambiente hospitalar. cujo diretor
técnico seja médico e que disponha das indispensáveis condiçücs
a)Cirnrgía e Traumatologia Buco-Maxílo-Faciais; de segurança comuns a ambientes cirúrgicos, considerando-se
b)Dentística Restauradora; prática atentatória à ética a solicitação e/ou a realização de anes-
c)Endodontia; tesia geral em consultório de cirurgião-dentista, de médico ou em
d)Odontologia Legal: ambulat<Írio.
e)Odontologia cm Saúde Coletiva;
f) Odontopcdiatria; Art. 45. Somente poderão ser realizadas, em consultórios ou
g) Ortodontia; ambulatórios, cirurgias passíveis de serem executadas sob anes-
h) Patologia Bucal; tesia local.
i) Pcriodontía;
j) Prótese Buco-Maxilo-Facial; Art. 46. Quando o êxito letal for atingido como resultado do
1) Prótese Dentária; ato cirúrgico odontológico, deverá ser o atestado de úbilo forne-
m)Radiologia; cido pelo médíco que tenha participado do ato cirúrgico ou pelo
n) Implantodontia; e, Instituto Médico Legal.
o) Estomatologia.
.Art. 47. ~os casos de enxertos autógenos, cuja região doado-
Art. 40. O exercício da especialidade não implica a obrigato- ra se encontra fora da área buco-maxilo-facial, os mesmos deve-
riedade de atuação do profissional cm todas as ,íreas de compe- rão ser retirados por médicos.
tência, podendo ele atuar. de f01ma preponderante, em apenas
uma delas. An. 48. !\"os casos de doenças das glândulas salivares. com
expansão ou comprometímento que atinjam regiões fora da área
buco-maxilo-facial, de tumores malignos da cavidade hucal e de
Seção I distúrbios neurológicos com manifestação maxilo-facial, é im-
prescindíYel que o cirurgíão-dentista atue integrado com o mé-
Cirurgia e Traumatologia dico.
Buco-Maxilo-Faciais
An. 49. Em lesi°les de interesse comum à Odontologia e à
Art. 41. Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais é a Medicina. referidas no ai1igo anterior, a equipe cirúrgica deverá
especialidade que tem como objetívo o clíagnóstico e o tratamento ser obrigatoriamente constituída de médico e cirurgião-dentista.
cirúrgico e coadjuvante das doenças, traumatísmos, lesões e ano- para a adequada segurança do resultado pretendido, fü:ando en-
malias congênitas e adquiridas do aparelho mastigatório e ane- tão a equipe sob a chefia do médico.
xos. e estruturas crânío-faciais associadas.
Parágrafo único. As traqueostomias eletivas deverão ser rea-
Art. 42. As áreas de competência para atuação do especialis- lizadas por médico!-i.
ta em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais incluem:

a) implantes, enxertos, transplantes e reimplantes;


b) biópsias; Seção II
e) cirurgia com finalidade protética: Dentística Restauradora
<l) cirurgia com finalidade ortodôntíca;
e) drurgia ortognática: e, Art 50. Dentística Restauradora é a especialidade que tem
f) tratamento cirúrgico de cistos; afecçõcs radiculares e como objetivo o estudo e a aplicação de procedímentos
perirradiculares; doenças das glândulas salivares; doenças educativos, preventivos, operatórios e terapêuticos para preser-
da artículação têmporo-mandibular, lesões de origem trau- var e devolver ao dente íntegridade anátomo-funcional e estéti-
mática na área buco-maxilo-facial; malformações congê- ca.
nitas ou adquirí<las dos maxílares e da mandíbula; tumo-
res benignos da cavidade bucal: tumores malignos da ca- Art. 51. As áreas de competência para atuação do especialis-
vidade bucal, quando o especialista deverá atuar integra- ta em Dentística Restauradora incluem:
300 Apêndice 3

a) diagnóstico e prognóstico das doenças dentárias; Seção V


b) procedimentos estéticos, educalivos e preventivos;
c) procedimentos conservadores da vitalidade pulpar; e, Odontologia em Saúde Coletiva
d) tratamcnlO <las lesões dentárias passíveis de restauração. Art. 56. Odontologia ern Saúde Coletiva é a especialidade que
inclusive a confecção de coroas índívíduais e restaurações tem como objetivo o estudo dos fenômenos que interterem na
metálicas fundidas. saúde hucal coletiva, por meio de análise, organização, planeja-
mento, execução e avaliação de serviços, projetos ou programas
de saúde bucal, dirigidos a grupos populacionais, com ênfase nos
Seção III aspectos preventivos.
Endodontia
Art. 57. As áreas de competência para atuação do especialis-
Arl. 52. Endodontía é a especialidade que tem como objetivo ta em Odontologia em Sa(tdc Coletiva incluem:
a preservação do dente por meio de prevenção, diagnóstico, prog-
nóstico, tratamento e controle das alterações da polpa e dos teci- a) análise sócio-epidemiológica dos problemas de saúde bu-
dos perirradiculares. cal da comunidade:
b) elaboração e execução de projetos. programas e/ou siste-
Art. 53. As áreas de competência para atuação do especialis- mas de ação coletiva ou de saúde pública visando à pro-
ta em Endodontia incluem: moção, ao restabelecimento e ao controle da saúde bucal:
c) participação, em nível administrativo e operacional de
a) procedimentos conservadores da vitalidade pulpar: equipe multiprofíssional, por intcnnédio de:
h) procedimentos cirúrgicos no tecido e na cavidade pulpares; 1. organização de serviços;
c) procedimentos cirúrgicos para-cn<lodônticos: e. 2. gerenciamento em diferentes setores e níveis de admi-
d) tratamento dos traumatismos dentá1ios. nistração cm saúde púhlica;
3. vigilância sanitária:
4. conu-ole das doenças:
Seção IV 5. educação em saúde púhlica; e,
d) identificação e prcrcnção das doenças hucais oriundas
Odontologia Legal exclusívameme da ~tívidade lahoral.
Art. 5.4. Odontologia Legal <! a especialidade que tem
como objetirn a pe~quisa de fenômenos p:-íquicos. físicos.
químicos e biológico~ que podem atingir ou ter atingido o Seção VI
homem, vivo, morto ou o~:.ada.-.: me~mo fraiZm-.:nto~ ou ,es- Odontopediatria
tígios, resultando lesões parciai-:; uu totais r~\·ersív~i:-, ou ir-
reversíveis. Art. 58. Odontopcdiatria é a especialidade que tem como
objetivo o diagnóstico, a prevenção. o tratamento e o controle
Parágrafo único. A atuação da Odontologia Legal rc:-,tringe- dos problemas de saúde bucal da criança, a educação para a saú-
se a análise, perícia e avaliação de ewntos relacionado-:; .:om a de bucal e a integração desses procedimentos com os dos outro<,
área de competência do cirurgião-dentista. podendo. se as cir- profissionais da área da saúde.
cunstâncias o exigirem, estender-se a outras área~. se disso de-
pender a busca da verdade, no estrito interesse da ju:-,tiça ~ da Art. 59. As áreas de competência para atuação do especialis-
administração. ta em Odontopediatria incluem:

Art. 55. As áreas de competência para atuação do especialis- a l educação e promoção de saúde bucal, devendo o especia-
ta em Odontologia Legal incluem: lista transmitir às crianças, aos seus responsáveis e à co-
munidade. os conhecimentos indispensáveis à manutenção
a) identificação humana; do estado de saúde das estruturas bucais;
b) perícia cm foro civil. criminal e trabalhista; h l prevenção em todos os níveis de atenção, devendo o espe-
c) perícia em área administrativa; cialista atuar sobre os problemas relativos à cárie dentá-
d) perkia, avaliação e planejamento cm infortunísfü:a; ria. à doença pcriodontal, às maloclusües, às malformações
e) tanatologia forense; · congênitas e às neoplasias;
f) elaboração de: e) diagnóstico dos problemas buco-dentários:
l. autos, laudos e pareceres: d) tratamento das lesões dos tecidos moles, dos dentes. da1,
2. relatórios e atestados: arcadas dcntá1ias e das estruturas ósseas adjacentes, decor-
g) traumatología odonto-legal; rentes de cáries, traumatismos. alterações na odontogênese
h) balística forense: e malformações congênitas; e.
i) perícia logística no vivo, no morto, íntegro ou em suas e) condicionamento da criança para a atenção odontológica.
partes em fragmentos;
j) perícia em vesLígios correlatos, inclusive de manchas ou
líquidos oriundos da cavidade hucal ou nela presentes; Seção VII
l) exames por imagem para fins periciais; Ortodontia
m) deontologia odontol6gica:
n) orientação odomo-legal para o exercício profissional: e. Are. 60. 011odontia é a especialidade que tem como objcti voa
o) exames por imagens para fins odonto-legais. prevenção, a supervisão e a orientação do de~envolvímenro do
/\.péndice J 301

aparelho mastigatório e a correção das estmturas dento-faciais, meio de substitutos aloplásticos. de regiões da maxila. da man-
incluindo as condi1.;ões que requeiram movimentação dentária, bem díbula e da face ausentes ou defeituosas, como seqüelas da ci-
como harmonização da face no complexo maxilo-mandibular. rurgia, do traumatismo ou em razões de malformações congêni-
tas ou de dístúrhios do desenvolvimento.
Art. 61 . As .ireas de competência para atuação do c-.pecial is-
ca em Ortodontia incluem: Art. 67. As áreas de competência para atuação do especialis-
ta em Prótese Buco-Maxilo-Facial incluem:
a) diagnôstico, prevenção, interceptação e prognóstico das
rnalodusões e disfunções neuromusculares; a) diagnóstico. progn6stico e planejamento dos procedimen-
b) planejamento do tralamento e sua execução mediante in- tos cm Prótese Buco-Maxilo-Facíal;
dicação. aplicação e controle dos aparelhos mecanoterá- b) confecções. colm:iu,:ão e implantação de Prótese Buco-
pic:os e funcionais, para obter e manter relações odusais Maxílo-Facial: e,
nonnais em ham10nia funcional, estética e fisiológica com e) confecção de dispositivos auxiliare-. no tratamento
as esU1lturas faciais; e, emanoterápico das regiões Buco-Maxilo-Faciais.
c) inter-relacionamento com outras especialidades afins ne-
cessárias ao tratamento integral <la face.
Seção XI
Prótese Dentária
Seção VIII
Patologia Bucal 1
Are. 68. Prótese Dentária é a especialidade que tem como
objetivo o restabelecimento e a manutenção das funções do sis-
Art. 62. Patologia Bucal é a especialidade.que tem como ob- tema estomatognático. visando a proporcionar conforto, estéti-
jetivo o estudo laboratorial das alteraçf>cs da cavidade bucal e ca e saúde pela recolocação dos dentes destruídos ou perdidos e
estruturas anexas. visando ao diagn6stirn final e prognóstico dos tecidos contíguos.
dessas alterações.
Art. 69. As áreas de competência do especialista em Pr6tcsc
Parágrafo único. Para o melhor exercício de sua atividade, o espe- Dentária incluem:
cialista deverá se valer de dados clínicos e exames complementares.
a) diagnóstico. prognóstico, tratamento e controle dos distúr-
Are. 63. As áreas de competência para atuação do especialis- bios crânio-mandibulares e de oclusão, através da prótese
ta em Patologia Bucal incluem a execução de exames laborato- fixa. da prótese removível parcial ou total e da prótese sobre
riais microsc<Ípicos, bioquímicos e outros, bem como a interpre- implantes:
tação de seus resultados. b) atividades de laborat<Írios necessárias à execução dos tra-
balhos protéticos: e,
c) pro(;edimemos e técnicas de confecção de peças, aparelhos
Seção IX fixos e removíveis parciais e totais como substituição das
Periodontia perda:; de substàncías dentárias e paradentárias.

Art. 64. Perio<lontía é a especialidade que tem como objetivo


o csludo, o diagn6stico, a prevenção e o u·atmnento das doenças Seção XII
gengivais e pe1iodontais. vi-.ando à promoção e ao restabeleci-
mento da saúde periodental. Radiologia
Art. 70. Radiologia é a especialidade que tem como objetivo
Art. 65. As áreas de competência para atuação do especialis-
a aplicação dos métodos exploratórios por imagem com a finali-
ta em Pcriodontia incluem:
dade diagn6stica buco-maxilo-facial.
a) avaliação diagnóstica e planejamento do tratamento;
A11. 71. As áreas de competência para atuação do e~pecialis-
b1 controle de causas das doenças gengivaís e pcriodontais;
c) controle de seqüelas e danos das doenças gcngivai-. e ta em radiologia incluem:
periodontais;
d) procedimcmos preventivo,, clínicos e cirúrgicos para re-
a) ohtcnção e interpretação de imagens das estruturas buco-
maxilo-faciais e de outras relacionadas com a Odontolo-
generação dos tecidos pcriodontais;
e) outros procedimentos necessários à manutenção ou à com- g1a; e.
plementação do tratamento das doenças gengivais e b) auxiliar em diagnóstico, para elucidação de problemas
passíveis de solução, mediante exame pela ohtenção de
pcriodontais; e,
f) colocação de implantes e enxertos ósseos. imagens.

Seção X Seção XIII


Prótese Buco-Maxilo-Facial Implantodontia
Art. 66. Prótese Buco-Maxílo-Facial é a especialidadequc tem Art. 72. Implantodontia é a especialidade que tem como ob-
como objetivo a reabilitação anatômica. funcional e estética. por jcti voa implantação, na mandíbula e na maxila, <lc materiais
302 Apêndice 3

aloplásticos destinados a suportar próteses unitárias, parciais ou e) os serviços odontológicos mantidos por empresas. para
removíveis e próteses totais. preslação de assistência a seus empregados:
d) as clínicas médico-odontológicas:
Art. 73. As áreas de competência para atuação do espcdal is- e) as clínicas mantidas por sindícatos;
ta em implantodomia incluem: f) as clinicas mantidas por entidades beneficentes;
g) as cooperativas de prestação de serviços odontológicos: e.
a) diagnóstico das estruturas ósseas dos maxilares; h) os consultórios de propriedade de cirnrgiões-dentístas que
b) diagnóstico das alteraçf>es das mucosas bucais, e das es- empregarem ou não colegas para trabalhar, desde que:
truturas de suporte dos elementos dentários;
c) técnicas e procedimentos de laborat6rio relativos aos di- 1. anunciem-se como "clínica", "clínica dentária ou odon-
ferentes tipos de prótese a serem executadas sobre os im- tolôgica", odontoclínica, "Pol.iclínica dencáría ou odon-
plantes; tol6gica", ou outro designativo que os identifique como
d) técnicas cirúrgicas específicas ou usuais nas colocações de organização de prestação de serviços odontológicos;
implantes: e 2. exista contrato individual ou coletivo registrado ou su-
e) manutenção e controle dos implantes. jeito a registro na Junta Comercial. ot1 em Cartório de
Registro Especial:
3. sejam cadastrados no JSS como entidades referidas no
Seção XIV § I." deste artigo; ou,
4. mantenham qualquer tipo de convênio cm grupo que os
Estomatologia caraccerizcm como clínica.
Art. 74. Estomatologia é a especialidade que cem como obje-
tivo a prevenção, o diagnóstico, o progn6stico e o tratamento das Art. 77. Para se haefiiitar ao registro e à inscrição, a entidade
doenças próprias da boca e suas estruturas anexas. das manifes- prestadora de assistência odontol6gica deverá atender a u_m dos
tações bucais de doenças sístêmicas. hem corno o diagnóstico e seguimes requisitos: '.
a prcvcn\'ão de doenças sistêmícas que possam e\cntualmentc
interterir no tratamento odontológico. a) ter, na rnnstituíção da sociedade, a participação de, pelo
menos, um cirurgião-dentista:
Art. 75. As áreas de competência para atuação do especialis- h) integrar serviço de assí~tência odontológica de estabeleci-
ta em Estomatologia incluem: mento hospitalar, desde que. no mesmo serviço. a respon-
sabilidade técnica seja exercida. com exclusividade e au-
a) promoção e execução de procedimentos pre\entirns em tonomia. por cirurgião-dentista;
nível individual e coletivo na área de saúde bucal: e) ser mantida por empresa para prestação de assistência ex-
b) obtenção de informações necessárias à manutenção da saú- clusivamente a seus empregados. sem finalidade lucrativa:
de do paciente. visando à prewnção. ao diagnóstico. ao d) ser mantida por Sindicato, atendidas as exigências quanto
prognóstico e ao tratamento de altera,;ões estruturais e fun- à responsabilidade técnica;
cionais da cavidade bucal e das estruturas anexas: e. e) ser clínica médico-odontológica. onde haja participação de
c) realização ou solicitação de exames complementares. ne- cirurgião dentista na prop1icdade e na qual a parte técnica
cessários ao esclarecimento do diagnóstico. odontológica esteía sob a responsabilidade de círurgião-
dentista;
f) ser mantida por entidade beneficente ou filantrópica, aten-
Capítulo IX didas as exigências quanto à responsabilidade técnica.
Funcionamento de Entidade Prestadora § l .º A participação do círurgião-dentísta, na sociedade, de-
de Assistência Odontológica verá ser superior a 50% (cinqüenta por cento) do capital social.
exceto nas entidades prese.adoras de assistêncía odontol6gica
Art. 76. O funcionamento de entidade prestadora de assistên- referidas nas alíneas b a f deste artigo.
cia odontológica obriga ao registro no Conselho Federal e à ins-
crição no Conselho Regional cm cuja jurisdição esteja estabele- § 2.n Quando a sociedade exercer outras atividades ligadas à
cida ou exerça sua atividade. área da saúde, além da parte odontol6gica, não se aplkará a exi-
gência do parágrafo anterior, desde que, além do responsável
§ 1.º Entende-se como entidades prestadoras de assistência técnico. haja pelo menos um cirurgião-dentista ocupando cargo
odontológica, as clínicas dentárias ou odontológicas. policlíni- de direção na mesma.
cas ou quaisquer outras entidades, estabelecidas ou organizadas,
como firmas individuais ou sociedade.o;;, para a prestação de ser- Art. 78. Não estão obrigadas a registro e inscrição as clínicas
viços odontológicos.
sujeitas à administração direta ou indireta, federal, estadual ou
municipal e as pertencentes a instituições de ensino.
§ 2.º Entre as emidades referidas neste artigo incluem-se:
Parágrafo único. Da mesma forma, não ~ão obrigados a re-
a) além de suas matrizes ou sedes, as filiais e aliadas, inde- gistro einscríção, como clínica odontológica, os consultórios que
pendentemente das designações que lhes sejam atribuídas. apenas anunciem especíalidades.
ainda que integradas em outras entidades ou organizações
de cunho não odontológico;
Art. 79. É obrigatória a existência, cm quaisquer das entida-
b) os '-erviços de assistência odontológica dos estabelecimen- des prestadoras de serviços odontológicos, de um responsável
tos hospitalares; técnico.
Apb1dic-e 3 303

§ 1." Necessariamente, o responsável lécnieo deverá ser um § 3.º É permitido o uso dos termos "prevenção" e ··reabilila-
cirurgião-dentista com inscríção principal no Conselho Regio- ção'' a todo cirurgião-dentista que desejar registrar e insere, er
nal da ju1isdíção, quite com sua tesouraria e domiciliado na re- sua clínica usando os mesmos nas respectivas denominações.
gião metropolitana do munidpio onde se encontrar instalada a
clínü:a sob sua responsabilidade. Art. 82. As entidades prestadoras do serviço odontológico
deverão apresentar como condiçfics mínimas em suas instalações.
§ 2." Admíle-se. nos casos das alíneas e e d do art. 76. ores- as seguintes:
ponsável técnico ser domiciliado fora da região melropolitana do
município, quando o mesmo for o único cirurgião-dentista a 1- paredes revestidas ou pintadas até o mínimo de 2 (dois)
exercer atividade profissional na clínica. metros de altura, com material liso e impermeável;
II - piso liso e impermeável:
§ 3." O cinirgião-dentista somente poderá ser responsável téc- lll - lavabo com água corrente nas salas operatórias;
nico por urna única clínica, sendo vedada, inclusive, a acumula- IV - iluminação e ventilação adequadas.
ção de responsabilidade de filial.
§ l." Quando o serviço se utilizar de aparelhos de radiodiag-
0
§ 4. Admite-se como exceção ao parágrafo anterior a acu- nóstico, as dependências onde os me,;mos estiverem instalados
mulação de rc-.ponsabilidade técnica por 2 (duas) clínicas, quando deverão ohedecer às normas municipais, estaduais e federais de
as mesmas não tiverem finalidade lucrali va e o cirurgião-de9tista vigilância sanitária.
seja o (mico a exercer atividade profissional cm ambas, ot/. ain-
da, quando houver outro cirurgião-dentista, mas que esteja im- § 2.º As entidades referidas neslc artigo deverão apresentar
pedido por estas nonnas. · também condições de recursos materiais. tais como:

§ 5 :' No caso de afastamento do cirurgião-dentista responsá- l - materiais de proteção para a equipe de saúde compatíveis
vel técníco, o mesmo deverá ser imediatamente substituído. e essa com a proposta da especialidade a que se propuser, capazes de
alteração enviada. dentro de 8 (oito) dias, ao Conselho Regio- assegurarem total proteção, tanto aos profissionais da equipe de
nal, sob pena de instauração de processo ético. saúde quanto aos pacientes;
li - material de consumo adequado ao bom desempenho da
§ 6. 0 Será considerado desobrigado o cirurgião-dentisla que proposla do serviço a ser executado e que esteja dentro daf> nor-
comunicar, por escrito, ao Conselho Regional, que deixou de ser mas e padrões atualmente aceitos.
responsável técnico da entidade.
§ J.º Deverão ainda as entidades prestadoras de serviço odon-
§ 7.º O não-cumprimento do estabelecido no panigrafo ante- tológico possuir recursos. humanos adequados e compatíveis com
rior. implicará a continuidade da responsabilidade do cirurgião- sua proposta de atividade e que satisfaçam as exigências das re-
dentista pelas infrações éticas cometidas pela entidade. soluções próprias do Conselho Federal de Odontologia.

A11. 80. As clínicas que, sob qualquer forma, anunciem espe- § 4." Quanto aos recursos tecnológicos. de\'erão as entidades
cialidades odontológicas, ou que induzam a esta interpretação, prestadoras de serviço odontológico apresentar. no mínimo:
deverão ter, a seu serviço, profissi<mais inscritos nas correspon-
dentes especialidades. I - equipamentos e inslrurnentos capazes de propiciar à equi-
pe da saúde e aos pacientes adequadas condições de proteção,
segurança, ergonomia e o satisfatório desempenho das ativida-
§ 1.º É vedado constar do nome da clínica, o de espedalidade
des propostas;
não reconhecida pelo Conselho Federal, ainda que a mesma seja
li - equipamenlo de esterilização que ofereça total segurança
apenas induzida.
à equipe de saúde e aos pacientes com, no mínimo, uma estufa
§ 2.º É vedada, também, a referência, direta ou indireta, à esterilizada ou autoclave;
modalidade de pagamento. Ili - fichário e arquivo para o registro e guarda das fichas in-
dividuais com o registro dos atendimentos de cada paciente.
Art. 81. A publicidade das clínicas reger-se-á pelas disposi-
Art. 83. Os serviços de Odontologia que funcionarem em
ções do Código de Ética Odontológica, sendo vedados:
ambiente hospitalar obedecerão ao disposto no artigo anterior,
a) ,múncio, placas. súnbolos ou denominações vulgares, pa-;síveis no que couber, e ao disposto nas leis muni{:ipais, estaduais e fe-
de comprometer o prestígio e o bom conceito da pmfissão; e, derais de vigilância sanitária, como também as resoluções espe-
b) anúncios e impressos que não mencionem o número de cíficas. emanadas do CFO.
inscríçfto no Conselho Regional.

§ I .º É permitido o anúncio de convênios mantidos entre clí- Capítulo X


nica den1ária com entidades, respeitadas as disposições do C6-
digo de Ética Odontológica. Funcionamento de Laboratório de
Prótese Dentária
§ 2." Poderão constar de impressos, placas, ou anúncios as
seguintes formas de atendimento. Art. 84. O funcionamento de laboratório de prótese dentária
ohriga ao registro no Conselho Federal e à inscrição no Conse-
a) atendimento domiciliar; e. lho Regional em cuja jurisdição esteja estabclc{:ido ou exerça sua
h) atendimenlo a pacientes especiais. alividade.
304 Apêndice 3

A11. 85. Como laboratório de prótese dentária sujeito a regis- a) ter personalidade jurídica; e,
tro e inscrição, entende-se: b) congregar em seus quadros. exclusivamenLc. cirurgiões-
dentistas e acadêmicos de Odontologia.
a) qualquer entidade com designativo que a identifique como
organização de prestação de serviços de prótese dentária; Art. 92. A entidade representativa da classe interessada em
b) laboratúrio de propriedade de dois ou mais sócios: se registrar no Comielho redera! deverá solicitar seu registro.
<:) laboratúrio de propriedade individual que empregue téc- através do Conselho Regional em cuja jurisdição esteja radicada.
nirn em prótese dentária sujeito a inscrição cm Conselho fazendo acompanhar seu requerimento de:
Regional;
d) laboratório de propriedade individual que empregue mais a) cópia do estatuto regístrada cm Cartório;
de dois funcionários auxiliares, ainda que não quaJífica- b) relação e comprovação, através de alas e outros documen-
dos; tos. das atividades desenvolvidas, ininterruptamente, nos
e) laboratório mantido por sindicato ou por entidade benefi- últimos S (cinco) ano!>, na qual deverão constar. necessa-
cente ou filantrópica: e, riamente. o número de reuniões científicas realizadas. con-
1) além das matrizes ou sedes, suas filiais ou filiadas, inde- ferências. conclaves promovidos, cursos ministrados e
pendentemente das designações que lhes sejam atribuí- honrarias dístribuídas.
da!>, e ainda que integradas noutras entidades ou organi-
zações. § 1.u O Conselho Federal pod{rá exigir outra documentação.
quando assim achar conveniente.\
Art. 86. Para se habilitar ao registro e à inscrição, o laborató-
rio de prótese dentária deverá: ~ 2.º o~ Conselhos Regionais manterão, pennancntcmente .
.:adastro atualiLado das entidades regisu:adas pelo Conselho Fe-
a) apresentar contrato social, se o laborató1io possuir mais de deral.
um proprietário ou declaração firmada pelo mesmo. sob
as penas da lei, de que é o único proprietário: e. § 3.u O registro das entidades não lhes acarretará quaisquer
h) ter um técnico em prótese ou um cirurgião-dentista como ónus de caráter financeiro.
responsável técnico.
Art. 93. '.'Ião poderá ser deferido registro de entidade cuja atu-
Art. 87. O propricLário ou o responsável técnico pelo larora- a~ào principal seja a difusão de processos de tratamento ou de
tório de prótese dentária responderá pelas ínfraç<"'les éticas ..:-ome- técnica não reconhecidos como especialidades pelo Conselho
tidas em nome da entidade. Federal.

Parágrafo único. No caso de suhstituição do re~ponsán::I téc-


nico, deverá ser a mesma comunicada ao C ons.dh0 Rel?ional. . Capítulo XII
dentro de 8 (oito) días. sob pena de ins1aura.;:io de proce;so éti-
co.
Reconhecimento de Honraria
Odontológica
:\rt. 88. É ,edado ao labora1óri<.• de prótese dentária fazer
propagand;t de seus ser, iços a0 pút-li.:o cm geral. sendo permi- Art. 94. As ordens honoríficas. os títulos de benemerência. as
tidas apena~ propagandas em re,istas. jomai~ ou folhe1os espe- medalhas, os diplomas de mérito e outras dignidades odontoló-
cíalizados. Jc,de que dirigidas ar>~ .:irurgit>es-dcntistas e acom- gicas dependem de prévio registro do respectivo regnlamcnto no
panhadas do nome do laroratóri0 e do seu número de inscrição Conselho Federal, para fins de reconhecimento.
no Conselho Regional.
Art. 95. O registro de honraria somente poderá ser concedido
Art. 89. Não estão obrigados a inscrição os laboratórios su- quando:
jeitos à administração díreta ou índireta. federal, estadual ou
municipal; os pertencentes a ím,títuições de ensino: e os manti- a) ficar distribuída por entidade oficial ou representativa da
dos por cirurgião-dentista em ane.,o ao seu consultório. para seu classe registrada no Conselho Federal;
atendimento exclusivo. b) constar do respectivo regulamento a vedação de conce~-
são de honraria a cirurgião-dentista que esteja no cumpri-
mcnlo da penalidade imposta por Conselho de Odontolo-
g1a~
Capítulo XI e) constar do respectivo regulamento vedação expressa à
Reconhecimento de Entidade cobrança de taxas ou quaisquer despesas, bem como a ofer.
Representativa da Classe ta de donativos, por pm1e do agraciado, inclusive adesão a
ágapes; e,
Art. 90. A entidade representali va da classe odontológica, para d) constar do respectivo regulamento que a honraria somen-
ser reconhecida e poder se habilitar a ministrar curso de especi- te poderá ser concedida uma única vez à mesma pessoa.
alização credenciado, deverá requerer registro no Conselho Fe-
deral. § 1.0 Os dispositivos da presente norma não abrangem a ou-
torga de prêmios cm dinheiro, concedidos cm decorrência de
Art. 91. Para se habilitar ao registro no Conselho Federal. a concurso para apresentação de trabalho científico, ou medalha e
entidade deverá: diploma comemorativos de eventos odontológicos.
Apé11díce 3 305

§ 2. 0 O número de honrarias anuais deverá, obrigatoriamen- Art. 100. Das dccisôcs denegatórias dos Conselhos Regionais
te, ser vinculado ao número de sócios da entidade, não ultrapas- caberá recurso ao Conselho Federal.
sando, conforme abaixo especificado, sob pena de cancelamen-
10 do rcgiscro: a) até 500 (quinhentos) sócios. a 3 (três) pessoas; Art. 1O1. Deferido o pedido pelo plenário. será a documenta-
b) até 1.000 (mil) s<ícios, a 6 (seís) pessoas; e) até 2.000 (dois ção encaminhada ao Conselho Federal, para registro, atnl\ é~ de
mil) sócios, a 12 (doze) pessoas. despacho firmado pelo Presidente ou por outro Conselheiro ou
-.crvidor, de ordem. no próprio corpo do processo.
A11. 96. Para o registro de honraria, a entidade encaminhará
ao Conselho Federal. através do Conselho Regional da jurisdi- Art. 102. Após receber o processo. o Conselho Federal fará a
ção, requerimento, instruído com a seguinte documentação: análise da documentação.

a) estatuto da entidade: § l." O Conselho f-cdcral poderá pedir complementação, <.lc


b) regulamento de concessão da honraria: e, documentação. e ainda promover diligência ou exigêm:ia.
c) relação elas pessoas ou entidade-. que integram a comissão
julgadora ou órgfto equivalente, quando não constar do ( § 2.0 O Conselho Federal poderá restituir o processo ao Con-
regulamento. · \. se lho Regíonal para nova análise ou mesmo determinar a
'reformulação da decisão do Plenário do Regional. caso a docu-
Parágrafo único. O Conselho Federal poderá exigir outra do- mentação não esteja enquadrada nestas normas.
cumentação, quando achar conveniente.
Art. 103. Todas as anotaçücs e assinaturas cm livros de regis-
tro e inscrição, em caneirns de identidade, cédulas de identida-
de, diploma8 e certificados serão. ohri.gatoriamentc, feitas cm
TÍTULO II tinta nanquim, na cor preta.
DO PROCEDIMENTO PARA
§ 1.0 No documento em que for possível. a anotação poderá
REGISTRO E INSCRIÇÃO ser feita a máquina.

Capítulo I § 2." Os registros e as inscrições serão lançados em livros


Disposições Preliminares específicos. de modelos aprovados pelo Conselho Federal. o
mesmo ocorrendo em todos os cancelamentos, quaisquer que
Art. 97. As pessoas físicas e jurídicas, com exceção das enti- sejam os motivos que os determinem.
dades representativas da classe, vinculam-se àjurísdi~ão de um
Conselho Regional através da inscrição, que é efetivada após o
registro no Conselho Federal. Capítulo II
Art. 98. A secretaria do Conselho Regional processará a do- Registro
cumentação comprobatória apresentada pelo interessado e, so- Art. 104. O Conselho Federa] efetuará o registro mediante
mente após devidamente instruído o processo, e quitadas as ta- transcrição em livro próprio, dos documentos de i<.lcntificação
xas devidas, o encaminhará ao Presidente para designaçf10 de um do diploma ou do certificado, no caso de pessoa física, ou da
Conselheiro Efetivo ou de uma Comissão, da qual faça parte pelo entidade. no caso de pessoa jurídica.
menos um Conselheiro Efetivo, para a emissão de parecer ou
relatório conclusivos. § l .º No corpo do diploma, <lo certificado, do título ou do
documento apresentado, será feita a anotação relar.iva ao regis-
Art. 99. O processo. caso haja manifestação conclusiva do tro, da qual constará o seu número de ordem e a identificação do
Relator ou da Comissão, será obrigatoriamente incluído para livro e da página cm que tenha sido averbado.
julgamento na primeira reunião ordínáóa do plenário.
§ 2." Concc<.lido o registro pelo Conselho foderal, retornará
§ 1.° Caso o Relator ou a Comissão sugira alguma diligência o processo ao Conselho Regional para que este proceda à ins-
ou exigência no processo. o mesmo será levado ao Presidchte para crição.
despacho.

§ 2.0 O Presidente, aceitando a sugestão referida no parágra- Capítulo III


fo anterior. determinará o cumprimento da diligência por parle
do setor competente, ou. no caso de exigência a ser cumprida por Inscrição
parte do interessado, aplicará o disposto no art. 22 destas nor-
mas. Seção I
Disposições Gerais
§ 3.º Atendida a diligência ou a exigência, o processo será
incluído para julgamento na primeira reunião ordinária do ple- Art. 105. O Conselho Regional. no prazo máximo de 3 (três)
mirio. dias úteis, contados da data cm que tenha recebido <lo Conselho
Federal o proce-.so de inscrição, comunicará o fato ao interes-
§ 4.0 Na hipótese do Presidente não concordar com a suges- sado para pagamento da anuidade devida. dentro de 15 (quin-
tão, submeterá o processo à apreciação do plenário. ze) dias.
306 Apêndice 3

.'\n. 1O<i. A inscrição somente será efetivada após o pagamento cm relevo a seco, do sínele de segurança do Conselho Regional
da anuidade devida pelo imeressado. respectivo.

Art. 107. O Conselho Regional procederá à inscrição cm li- § 3.0 Na caneira de identidade profissional a ser expedida para
vro próprio, de modelo aprovado pelo Conselho Federal. cirurgiões-dentistas cm serviço ativo nas ~orças Armadas, como
integrantes dos respectivos Serviços de Saúde, constará. além das
§ l." A inscrição, em Conselho Regional. poderá ser: indicações referidas neste artigo, a qualificação "cirurgião-dentista
militar", feita através de carimbo. na folha n.º 5 (cinco), na parte
a) principal; destinada a observações.
b) provisória:
e) temporária; § 4. 0 Ao cirurgião-dentista com inscrição provisória será for-
d) secundária; necida cédula de identidade provisória, confonnc modelo apro-
c) remida. vado pelo Conselho Federal. /
1
§ 2.º A in!-.crição de pessoajurídíca será sempre principal. § 5." As inscrições principais terão numeração cronológica
infinita, e as inscrições temporárias e provisórias terão numera-
Art. 108. Efetivada a inscrição de pessoa física, será feita no ção cronológica anual obrigatoriamente seguida ela dezena cor-
corpo do título e na carteira ou na cédula de identidade profissi- respondente ao ano civil, ligada por urna barra oblíqua.
onal, a anotação respectiva, autenticada pelo Presidente e pelo
Secretário do Conselho Regional, da qual constará, no mínimo. § 6.º Procedida a inscrição como especialista, na folha do livro
o número de inscrição atribuído ao profissional. a indicação do onde se encontra lançada a inscrição principal do cirurgião-dcn-
livro e da página em que tenha sido averbada e a data da reunião cista, deverá ser anotada a observação, constando, além da especi-
na qual tenha sido aprovada. alidade. o livro e folha do livro de inscrição de especialidades.

§ I .º A cada inscrição será atribuído um número de ordem, Arl. 109. O Conselho Regional fornecerá certificado de re-
somente por ocasião da efetivação. por lançamento. no liHo pró- gistro e inscrição a clínica dentária e a lahoratórío de prótese
prio, na forma seguinte: dentária que úverem deferidos seus pedidos.

a) o número de ínsc1ição principal atribuído a cirurgião-dentista Parágrafo único. A clínica dentária e o laborat6rio de prótese
será precedido da sigla do Conselho Regional: dentária são obrigados a manter em local visível o certificado
b) o número de inscrição principal atribuído a técnico em concedido pelo Conselho Regional.
prótese dentária será precedido da sigla do Conselho Re-
gional, ligada por hífen às lclras ·TOP.. : Art. 11 O. As inscrições aprovadas e as indeferidas deve rã<, con~
c) o número de inscrição acribuí<lo a técnico em higiene den- lar de suplicações oficiais dos respectivos Conselhos Regionais.
tal será precedido da sigla do Conselho Regional, ligada
por hífen às letras "THD.. :
d) o número de inscrição atribuído a atendente de consultó- Seção II
rio dentário será precedido da sigla do Conselho Regional,
ligada por hífen às letras "ACD"':
Inscrição Principal
e) o número de inscrição atribuído a aux i Iiar de prótese den- Art. 111. Entende-se por inscrição principal aquela feita no
tária será precedido da sigla do Conselho Regional. ligada Conselho Regional. sede da principal atividade profissional.
por hífen às lecras '·APD'';
f) o número de inscrição ahibuído a clínica dentária será prece- Art. 1 12. A inscrição principal habilita ao exercício perma-
dido de sigla do Conselho Regional. ligada por hífen às letrns nente da atividade na área da jurisdição do Conselho Regional
"CLM", quando se tracar de matriz, e "CLF'. quando filial; respecúvo e. no caso de pessoa física, ao exercício eventual ou
g) o número de inscrição atribuído a laboratório de prótese temporário da atividade de qualquer parte do território nacional.
dentária será precedido da sigla do Conselho Regional, li-
gada por hífen às letras "LPM''. quando se tratar de ma- § l .º Considera-se exercício eventual ou temporário da ati\'i-
triz, e "LPF', quando filial; dade aquele que não exceda o prazo de 90 (noventa) dias conse-
h) o número de inscrição pmvisóría atribuído a cirurgião-dentista cutivos, exigindo-se, para tal, o visto na carteira de identidade
será precedido da sigla do Conselho Regional, ligada por profissional, pelo Conselho da jurisdição.
hífen às letras "PV";
i) o número de inscrição temporária atribuído a cirurgião-dentista § 2.0 No caso de transfonnação de inscrição secundária em
será precedido da sigla do Conselho Regional, ligada por hí- inscrição principal, o interessado continuará com o mesmo nú-
fen à letra 'T'; mero suprimidas as letras "IS", anotado o falo no livro próprio.
j) o número de inscrição secundária atribuído a profissional parte destinada a observações.
será feita na forma, respectivamente, das alíneas a e b, sen-
do o conjunto seguido das letras "JS", ligadas por hífen; e, Art. 113. Nos requerimentos serão expressamente declarados..
k) o número de inscrição remida será o mesmo da inscrição no mínimo, os seguintes dados:
principal, seguida da letra "R", ligada por hífen.
1 - Para cirurgião-dentista, técnico em prótese clenh'íria, técni-
§ 2.º A carteira e a cédula de identidade conterão a fotografia co em higiene dental, atendente de consultório dentário e auxili-
do profissional, fixada por colagem e autenticada pela gravação ar de prôtcsc dentária:
.4phidice 3 307

a) nome completo: b) título de meslre. na área da especialidade, conferido por


b) filiação; curso que atenda às exígêncías do Conselho Federal de
c) nacionalidade; Educação:
d) data, município e estado do nascimento; e) certificado conferido por curso de especialização cm Odon-
e) estado cívil; tología que atenda às exigências do Conselho Federal de
t) sexo: Odontologia:
g) número do cartão de identificação do contribuinte (CPF); d) diploma ou certificado de curso de especialização regi:.-
h) número, data de emissão e órgão emitente da ca1teira de trado pelo extinto Serviço Nacional de Fiscalização da
identidade civil; Odontologia:
i) número, zona e seção do título de eleitor, e a data da últi- e) diploma expedido por curso regulamentado por Lei, reali-
ma eleição cm que tenha volado; • zado pelos serviços de Saúde das Forças Armadas. que dê
1
j) número, data e órgão expedidor de documento militar; • direito especificamente a registro e inscrição; ou

1) 6rgão expedidor do diploma ou certificado; f) diploma ou certificado conferido por curso de especiali-
m)data da conclusão do curso ou da colação de grau; e, zação ou residência na vigência das Resoluções do Con-
n) endereço da residência e do local de trabalho. selho Federal de Odontologia ou legislação específica an-
terior. desde que atendidos todos os seus pressupostos e
li - Para especialista: preenchidos os seus requisitos legais.

a) nome completo; § l." O certificado de curso referido na alínea e deste artigo


b) número de inscrição no Conselho Regional; somente dará direito a registro, caso o profissional o tenha inici-
c) título da especialidade; e, ado após 2 (dois) anos de inscrito cm Conselho Regional.
d) alínea e artigo destas normas, base do direito pretendi-
do. § 2.º São vedados o registro e a inscrição de duas especialida-
des com base no mesmo curso realizado.
Ili - Para entidade prestadora de assistência odontológica e
laborat6rio de prótese dentária: § 3.º Quando se tratar de curso de mestrado e doutorado. com
área de concentração em duas ou mais especialidades, poderão
a) nome e/ou razão social: ser concedidos registro e inscrição em apenas uma delas, desde
b) nome e número de inscrição do responsável técnico; e, que:
c) endereço.
a) no certificado expedidu conste a nomenclatura correta de
Art. 114. Os requerimentos, que só poderão ser processados especialidade pretendida;
se estiver completa a documentação, serão instruídos com: b) a carga horária na área seja igual ou superior ao número
de horas previsto para a especialidade: e,
1- Para cirurgião-dentista: c) a soma dos alunos das diversas. áreas não ultrapasse o nú-
mero estabelecido nestas normas, para cada especialidade.
a) original e cópia do diploma;
b) prova de revalidação do diploma, quando se tratar de pro- JV - Para entidade prestadora de assistência odontológica.
fissional amparado pela alínea b, do art. 72;
c) certidão fornecida por repartição pública, quando se tratar 1. Clínica de propriedade exclusiva de cirurgião:
de profissional registrado em órgão de Saúde Pública até
14 de abril de 1964; a) Contrato Social ou outro documento que o substitua. quan-
d) prova de se encontrar em serviço ativo nas Forças Anna- do for o caso;
das, como integrante do Servíço de Saúde, fornecida pe- b) comprovante de quitação do(s) proprictário(s) para com o
los órgãos competemes dos Ministérios da Marinha, do Conselho Regional;
Exército ou da Acromfotica, quando se tratar de cirur- c) cópia do alvará de localização ou, na falta deste, uma de-
gião-dentista militar: · claração sob as penas de Lei, firmada pelo(s) propric-
e) 2 (duas) fotografias recentes em formato 3 (três) por4 (qua- tário(s), de que a clínica não iniciou suas atividades. e
tro). · encontra-se na dependência da inscrição, para obtenção do
alvará: e,
II - Para técnico em prótese dentária, técnico em higiene den- d) declaração firmada por cirurgião-dentista, como respon-
tal, atendente de consultório dentário e auxiliar de prótese den- sável técnico perante o Conselho Regional.
t{u·ia:
2. Cooperativa de prestação de serviços odontológicos:
a) original e c6pia de diploma. certificado ou qualquer outro
documcmo que habilite o requerente, nos termos da legis- a) documento comprobatório da condição de cooperativa,
lação, ao exercício profissional: registrado no órgão competente;
b) 2 (duas) fotografias 3 (três) por4 (quatro). h) declaração firmada por cirurgião-dentista, como respon-
sável técnico perante o Conselho Regional: e,
lll - Para especialista: c) relação dos cirurgiões-dentistas que integram a cooperati-
va, com os respectivos números de inscrição no Conselho
a) título de livre-docente ou de doutor, na área da especiali- Regional. anotada a condição de especialista de cada um,
dade; se for o caso.
308 1\pbulic:e 3

3. Serviço de assistência odontológica de estabelecimen- h) declaração firmada pelo proprietário, sob as penas da lei.
to hospitalar: de que é o unico proprietário, quando for o caso.

a) documento que comprove a condição de hospiwJ, através § )." Quando as atividades das entidades prestadoras de as-
de regimento ou estatuto, publicado e devidamente regis- sistência odontológica não forem exercidas exclusivamente por
trado. no qual conste. pelo menos, as três divisões básicas seus proprietários, e sim com a participação de terceiros, isto é.
de um hospital: médica. fécnica e administrativa; de cirurgiào-dentísta. técnico cm prótese dent{1ria, técnico em
b) declaração firmada por cirurgião-dentista, como respon- hígicne dental e atendente de consult61io dentário, deverão ser
sável técnico perante o Conselho Regional; e, os requerimemos instruídos. ainda, com cópia dos respectivos
e) relação dos cirurgiões-dentistas que trabalham no serviço contratos de trahalho.
odontológico, com os respectivos números de inscrição no
Conselho Regional, anotada a condição de especialista de § 2.º Quaisquer alterações nos contrat9S·relcridos no parágrafo
cada um, se for o caso. anterior ou a celebração de novos !éontratos. deverão ser
comunicadas ao Conselho Regional dájurisdíção.
4. Clínica médico-odontológica:
§ 3.º Poderão ser exigidos outros documentos, a ctitério dos
a) c6pia do alvará de localização ou protocolo de seu pedido: Conselhos Regionais de Odontologia. em qualquer época.
h) c6pia do contrato social ou cópia dos estatutos registrados
cm cart6rio;
d declaração firmada por cirurgião-dentista. como respon- Seção Ili
sável técnico perante o Conselho Regional: e.
d) relação dos cirurgiões-dentistas que trabalham na clínica.
Inscrição Provisória
com os respectivos números de inscrição no Conselho :\n. 115. Por in-.crição provísória entende-se aquela a que está
Regional, anotada a condição de especialista de cada um. 0rorigado o cí 111rgiâo-dentista recém-formado, ainda não possui-
se for o caso. J0r de diploma, para exercer atividades odontológicas.

5. Serviço odontológico mantido por empresa para rre~- :\n. 1 16. Ao recém-formado. com inscrição provisó1ia, será
tação de assistência exclusívamcnte a seus empregados: fornecida cédula provisória. que lhe dará direito ao exercício da
profissão pelo prazo improrrogável de 2 (dois) anos, contados
a) cópia do alvará de localização da empre:5,.1: da data de sua colação de grau.
b) declanH,:ão firmada por cirurgião-den1is1a ..:orno re,;p.:in~-
vel técnico perante o Clmsclho Regional. e infonn:rnJo Art. 117. A inscrição provisória será solicitada ao Presidente
ainda as finalídadeS U() :,.en í.;-o. inclusi, e -iuanto :w faw do Conselho Regional através de requerimento contendo a indi-
de não ha, cr fins lunatín~s: e. cação. no mínimo, dos dados referidos no inciso Ido art.111, acom-
e) relação dos -:irurgiôe:---Jentisia., que tral:lalham no sen i.;0 panhado do original de declaração da instituição de ensino odon·
odontolôgi.::o. ,om t):,. rcspc.:-tin,, númeT1h de in~.içà0 no tolúgico onde se tenha formado, finnada por autoridade compe-
Conselhü RcgiünaJ. anotada a ..:ondiçãc> de es~ialis1a de tente e da qual conste, expressamente, por extenso: nome, nacio-
~·aJ:1 um. ;.e for (1 ,·.bo. nalídade. data e local de nascimento e data da colação de grau.

6. Clínica maniida por sindicato: Art. 118. O Conselho Regional, com autorização e)(pressa do
Presidente. inscreverá o recém-fonnado cm livro pr6prio, apó~
a) cópia da cana sindical: o pagamento das obrigações financeiras, comunicando o fato ao
b) declaração finnada por cirurgião-dentista como respon~á- Conselho Federal. para fins de controle.
vel técnico perante o Conselho Regional: e.
c) relação dos cirurgiões-dentistas que trabalham na clínica. An. 1 19. Quando da caducidade da inscrição provisória. o
com os respectívos números de inscrição no Conselho Conselho Regional providenciaria, de ímediato, o recolhimento
Regional. anotada a condição de especialista de cada um. e o cancelamento da respectiva cédula e, bem assim, a interrup-
se for o caso. ção das atividades profissionais de seu titular, comunicando o fato
ao Conselho Federal.
7. Clínica mantida por entidade beneficente ou filantrópica:
Parágrafo único. Quando da inscrição principal, na vigência
a) cópia do alvará de localização;
da pro\·ísória, será recolhida a cédula provisória antes da entre-
b) cópia do estatuto social;
ga da carteira de identidade profissional, cancelada a inscrição
e) declaração fimiada por cirnrgião-dcntista como responsá-
provisória e comunicado o fato ao Conselho Federal, vedada a
vel técnico perante o Conselho Regional: e.
cobrança de nova taxa de inscrição.
d) relação dos cirurgiões-dentistas que trabalham na clínica,
com os respectivos números de inscrição no Conselho
Art. 120. O gozo da inscrição provisória sujeita seu
Regional, anotada a condição de especialista de cada um,
beneficiário ao pagamento, ao Conselho Regional. da anuidade.
se for o caso.
das taxas e de outras obrigações financeiras exígiclas dos demais
cirurgiões-dentistas nele inscritos.
V - Para laboratório de prótese dentária:
a) contrato social, se o laboratório possuir mais de um pro- Art. 121. Quando o recém-formado, portador de inscrição
p1ictárío; provisória. se transferir, de modo permanente, para jurisdição de
outro Conselho Regional, este poderá conceder-lhe nova inscri- Conselho Regional, além daquele a que se acha \'inculado ~la in~-
ção pelo prazo complementar ao da primeira, após o recolhimento crição principal, cxt:cto no caso a que se refere o § 1.0 do art. 1l O.
da cédula provisória, a qual será devolvida ao Conselho Regio-
nal de origem. observadas as exigêncías para transferência. Parágrafo único. O anúncio de especialidade. na jurisdição do
Conselho da inscrição secundária. obriga o profissional a ter tam-
bém inscrição secundária como especíalista. que deverá ser requerida.
Seção IV
Art. 128. '.'Jo requerimento de inscrição secundária. além dos
Inscrição Temporária dados, exigidos no inciso Ido art. 111, serão ainda declarado:--:
Art. 122. Entende-se por inscrição temporária. aquela que se
destina a cirurgião-dentista estrangeiro com "visto temporário" ...-·--1- número e origem da inscrição principal; e,
ou "registro provísórío". desde que não haja restríçào ao exercí-
cio profissional no País. 11 - endereço onde irá exercer a ali vidade profissional.

Parágrafo único. A inscrição temporária será sol icítada ao Pre- Art. 129. O requerimento será instrnído com a carteira de idcn-
sidente do Conselho Regional através de requerimento contendo ti dade Profissional fornecida pelo Conselho de origem,
a índicação, no mínimo, dos dados referidos no íncíso 1, do art. complementada a documentação com a prova de quíta<;ão das
1 l 1. acompanhado dos documentos a que se refere o inciso I, do obrigações financeiras para com o Conselho onde o profissional
ar1. 112. no que couber, além de t:ópia da t:arteira de identidade. lenha sua ínscriçào principal.

A1t. 123. O cirnrgião-dentista portador de "visto temporário" § 1." O Conselho solicitará de imediato ao Conselho que de-
deverá juntar, por ocasião do seu pedido de inscrição tcmporá- tém a inscrição principal, uma cópia completa do prontuário do
ría, cópia do contrato visado pelo Ministério do Trabalho ou interessado, onde t:onstarão anolaçiks de punições éticas porven-
comprovar prestação de serviço ao Governo Brasileiro. tura existentes.

Parágrafo único. A inscrição temporária, deferida na l'onna § 2. 0 O Presidente do Conselho Regional poderá expedir au-
deste artigo. será cancelada ao ténnino do prazo concedido para torização para o exercício das atividades do requerente, até a
a estada do profissional no terrítórío nacional, o qual será verifi- concessão, pelo Plenário. da inscrição pleiteada.
cado pelo contrato.
Art. 130. A ínscrição secundária ohriga ao pagamento, também.
Art. 124. Ao cirurgião-demísta portador de '·regisu·o proví- das taxas e anuidades ao Conselho cm que a mesma seja deferida.
sório'' no Ministério da justiça, será concedida a inscrição tcm-
porá1ia, pelo prazo de 2 (dois) anos, a contar da data do referido § l." A inscrição secund,íria receberá número seqüencial àque-
registro. les concedidos para a inst:rição p1incipal. seguido das letras "IS..
ligadas por um hífen, e será lançada no mesmo livro das inscri-
A11. 125. Ao círurgião-dentistacom inscrição temporária, será ções prindpais.
fornecida cédula de identidade profissional, de modelo aprova-
do pelo Conselho Federal. § 2. 0 No caso de transformação de inscrição principal, cm
ínscrição secundária, o interessado continuará com o mesmo
§ l." Da cédula a que se refere este artigo. deverá constar, número seguido das letras ·'IS'' ligadas por um híten, anotado o
obrigatoriamente, a círcufüLância de se tratar de inscrição tem- fato no livro próprio. na parte destinada a observaçücs.
porária e a advertência de que, escoado o prazo de validade, a
insc1içâo se torna compulsoriamente ineficaz. Art. 131. O Conselho Regional que conceder inscrição secun-
dária t:omunicará o fato ao Conselho onde o profissional tenha
§ 2.º Do prontuário do profissional deverá constar a observa- sua inscrição principal, no prazo máximo <lt: 15 (quinze) dias. a
ção de se tratar de inscrição temporária e o prazo de validadt:. contar da data <la aprovação da inscrição.

Art. 126. Ao obter a transformação do "visto temporário" em § I ." No ofício cm 4uc fizer a comunicação referida neste
"pcm1anência definitiva,., o cirurgião-dentista estrangeiro deverá artigo, o Conselho Regional solicitará as informações que julgar
solicítar ao Conselho Regional a transformação de sua ''inscri- necessárias. as quais serão fornecida!-; no prazo í mpronogávcl de
ção temporária" em "inscrição principal". 30 (trinta) dias.

Parágrafo único. O Conselho Regional procederá ao cancela- § 2." Caso a resposta às infonnações solicitadas revele a exis-
mento da inscrição temporária e processará a inscrição princi- tência de irregularidade no Conselho da inscríção principal e que
pal, que será concedida após o novo registro do diploma no Con- constitua impedimento à concessão da inscrição secundário, esta
selho Federal. será cancelada.

Seção V Seção VI
Inscrição Secundária Inscrição Remida
An. 127. Entende-se por inscrição secundária aquela a que está Arl. 132. Entende-se por inscrição remida aquela concedida,
obrigado o profissional para exercer a profissão na jurisdição de outro automaticamente, pelo Conselho Regional. ao profissional com
310 Apêndice 3

70 (setenta) anos de idade, que nunca tenha sofrido penalidade Art. 139. A transferência será requerida ao Presidente do Con-
por infração ética. independendo da entrega do cc11ificado. selho para cuja jmisdição pretenda se lnmsfcrír o profissional.

§ 1." Parn obter inscrição temida, o profissional deverá estar Art. 140. O requerimento será instruído com o diploma ou
quite com todas as obrigações financeiras perante a Autarquia, certificado. a carteira e a cédula de identidade profissionais, com
inclusive quanto à anuidade do exercício cm que a mesma seja as respectivas anotações atualizadas no Conselho de origem.
concebida, sendo neste caso liberado da anuidade quando atin-
gir o limite de idade antes de 31 de março. § 1.º Não será deferida a transferência ele profissional em
débito.
§ 2." O profissional com inscrição remida ou dispensado do
recolhimento das anuidades. § '.!." Os débitos parcelados, ainda que de anuidade do exercí-
cio. e mesmo que não vencidos, deverão ser quitados, antes da
§ 3.º Na hipótese da não concessão automática da transfonna- concessão de transferências.
ção de que trata este artigo, por motivo de ordem administrativa. /"
poderá o interessado requerê-la a qualquer tempo, ficando isento Art. 141. No proccssamcntlde transferência, compete ao
do pagamento das anuidades, a partir da data em que tenha com- Conselho Regional para cuja jurisdição pretenda se transferir o
pletado os 70 (setenta) anos, observado o disposto no § l .º. profissional:
Art. 133. A transformação a que se refere o artigo anterior a) requisitar ao Conselho de orígem o prontuário do profissio-
deverá ser aprovada cm Reunião Plenária, após Parecer Conclu- nal;
sivo de Conselheiro-Relator.
b) determinar ao profissional para que recolha diretamente ao
Conselho de origem, através de ordem de pagamento ou
Parágrafo único. Após a aprovação pelo Plenário. o faco de-
outro meio, qualquer débito existenle; e,
verá, de imediato, ser comunicado. por escrito. ao interessado e
e) devolver ao Conselho de origem, para fins de cancelamen-
ao Conselho Federal.
to, a carteira e a cédula de identidade profissionais.
An. 134. O Conselho Regional procederá à inscrição remida.
Art. 142. Compete ao Conselho Regional de onde se lransfe-
mediante transcrição cm li,To próprio. padronízado pelo Conse-
re o profissional:
lho federal.

§ l.º Na folha do li\'ro onde se encontrar lançada a inscrição a) verificar a regularidade da situação do requerente junto à
principal, deverá ser anocada a ob~er"Yação de que foí a mesma Autarquia, inclusive no que se refere a seus compromis-
cancelada, por transfonnaçào em in~rição remida. indicando a sos financeiros;
data, o livro e a folha da no\·a inscrição. b) cancelar a inscrição, a cédula e a carteira de identidade
profissionaís do transferido, inclusive a inscrição como
§ 2.º O profissional permanecerá com o mesmo número da especialista. se for o caso, encaminhando ao Conselho
inscrição principal, seguido da letra ··R .. ligada por hífen. Regional requisitante, no prazo máximo de 15 (quinze)
dias, desde que não exista débito a quitar, o prontuário do
A11. 135. Efetivada a transformação. ~erá feita. na carteira profissional a ser transferido; e.
profissional, a anotação respecti, a. autentk:ada pelo Presidente c) anolar, na folha do livro de inscrição. todos os dados refe-
e pelo Secretário do Conselho Regional. da qual constará a indi- rentes à transferência. inclusive o Conselho Regional de
cação do livro e da página em que foi lançada a inscrição remida destino.
e a data da concessão.
Parágrafo único. O cancelamento da inscrição poderá ser efe-
An. 136. Ao cirurgião-demísta com inscrição remida é facul- tuado pelo Presidente ad referendum do Plenário.
lado o comparecimento a eleições da Autarquia. podendo, no
entanto. votar, ser votado e participar de Assembléias-Gerais do Art. 143. O prontuário mencionado no artígo anlcrior. com-
Conselho Regional. preende o original do processo de insc1ição com lodas as suas
peças e o niaís que conste no Conselho Regional de origem a
Art. 137. O Conselho Regional fornecerá cenificado. confor- respeito e.lo profissional a ser transferido, inclusive os processo~
me modelo aprovado pelo Conselho Federal. ao profissional com de inscrição como especialista e os éticos que tenham tramitado
ínsc1ição remida. em nome do profissional, se for o caso.

Parágrafo único. O Conselho Regional de,·erá fazer a entrega Parágrafo único. O Conselho Regional para o qual tenha sido
do certificado a que se refere este artigo, em sessão solene, de pre- requerida a transferência, poderá exigir do interessado a docu-
ferência, comemoraliva do Dia do Círurgião-Dentisca Brasileiro. mentação complementar que julgar necessária.

A11. 144. Somente apús a comunicação do cancelamento da


Seção VII inscrição pelo Conselho Regional de origem, poderá ser efetiva-
Transferência da a transferência requerida.

Alt. 138. Entende-se por transferência a mudança da sede da A11. 145. Das anotações a que se refere o art. 106 deverá cons-
principal atividade exercida pelo profíssionaL de modo perma- tar, expressamente, que a nova inscrição é em virtude de trans-
nente, para jurisdição de outro Conselho Regional. ferência, anotado também o Conselho de origem.
1\pêndir.e 3 311

A1t. 146. No caso de ser o transferido cirurgião-dentista ins- § 5.º Na ocorrência da hipótese na alínea e, o processamento
crito como especialista no Conselho de origem, deverá o Conse- será promovido por solicitação de familiares, herdeiros. ou ou-
lho Regional proceder também a sua inscrição como especialis- tra qualquer pessoa, instruída com a certidão de óbito ou sua
ta, independentemente de requerimento. cúpia, autenticada.

Art. 147. Somente poderá ser concedido trlnsfcrência a pro- § 6." Tamhém, na hipótese referida no parágrafo anterior. o
lissional quite em todas as obrigações financeims, inclusive quan- Conselho Regional poderá providenciar o cancelamento, desde
to à anuidade do exercício em que esteja sendo requerida. que o falecimento tenha sido levado a seu conhecimento por
pessoa nele inscrita.
Parágrafo único. É vedada a cobrança de taxa de inscrição,
ao transferido, pelo Conselho Regional para o qual se transferir. § 7.0 Em caso de falecimento do profissional. seus herdeiros
e sucessores ficam isentos de recolher à Autarquia os débitos não
liquidados pelo mesmo.
Seção VIII
§ 8.0 Nas aposentadorias por invalidez, ficarão automatica-
Suspensão Temporária mente cancelados os débilos existentes, a partir da data do início
Art. 148. Poderá o profissional requerer a suspensão tempo- da enfermidade, devidamente comprovada.
rária de sua inscrição, quando ficar comprovadameme afastado
do exercício de suas atividades profissionais, sem percepção de § 9. 0 Quando se tratar de inscrição secundária, o cancelamen-
qualquer vantagem pecuniária delas decorrente, por motivo de to deverá ser feito pelo Conselho Regional que a conceder,
doença ou por ocupar cargo eletivo. anotando-se o fato na carteira profissional, na página onde a
mesma tenha sido anotada.
§ l." A carteira e a cédula de identidade profissionais deve-
rão ficar arquivadas no Conselho Regional até o restabelecimento § 1O. No caso de não quitação dos débitos para com a Autar-
da inscrição, que continuará com o mesmo número. quia, por período de 5 (cinco) ou mais anos, csgoladas todas as
providências administrativas cabíveis. o Conselho Regional po-
§ 2.º Somente será defe1ido o pedido de suspensão temporária derá cancelar a inscrição do devedor, mediante processo especí-
de profissional quite com todas suas obrigações financeiras para fico, ad referendum do Conselho Federal. desde que o inadim-
com a Autarquia e que não esteja respondendo a Processo Ético. plente não tenha sido localizado.

§ 11. O Plenário do Conselho Regional deverá também cance-


Capítulo IV lar, provisoriamente. a inscrição de pessoa física ou jurídica, cm
débito para com a Autarquia, com anuidades de 3 (três) ou mais
Cancelamento de Inscrição exercícios.
Art. 149. O cancelamento de inscrição será efetuado nos se-
guintes casos: § 12. Quicado o débito referido no parágrafo anterior, será
considerado sem efeito o cancelamento provisório, sendo
a) mudança de categoria; restabelecida a inscrição. com o mesmo número anterior.
b) encerramento da atividade profissional; e
e) tram;fcrência para oulro Conselho; § 13. As inscrições canceladas deverão constar de publica-
d) cassação do direiLo ao exercício profissional; ção oficial e ser comunicadas aos interessados, inclusive aos ór-
e) falecimento; e, gãos empregadores, se for o caso.
f) quando de não quitação dos débitos para com a Autarquia,
por período de 5 (cinco) ou mais anos, na forma do§ 10 § 14. Quando do cancelamento de inscrição. nos Conse-
deste artigo. lhos Regionais de Odontologia. a carteira de identidade
profissional poderá, após anotado por çarimbo no corpo do
§ 1.0 O cancelamento da inscrição será aprovado em reunião documento o respectivo cancelamento, ser devolvida ao pro-
do Plenário do Conselho Regional e constan\, expressamente, da fissional.
ata respectiva.
§ 15. A devolução referida no parágrafo anterior. será fei-
~ 2.0 Só será deferido o cancelamento da inscrição de pessoa ta mediante pedido formulado, por escrito. pelo interessado,
física ou jurídica devidamente quite com suas obrigações finan- ou quando de cancelamento por falecimento, por seus famili-
ceiras, inclusive quanto à anuidade do exercício em que seja ares.
requerida.

§ 3." Pica liberada do pagamento da anuidade do exercício a Capítulo V


pessoa que requerer o cancelamento da inscrição até 31 de mar-
ço, exceto para efeito de transferêi:icia. Apostilamento de Diplomas,
Certificados e Certidões
~ 4. 0 O cancelamcmo da inscrição pelo motivo referido na
alínea a. poderá ser requerido pelo interessado, instmído o pedi- Art. 150. A retificação e o aditamento de qualquer dado cons-
do com uma declaração. sob as penas da lei, do encerramento da tante de diploma, certificado ou certidão. deverão ser consigna-
atividade prolissional. dos cm apostila lavrada nos miginais daqueles documentos.
~ l:? Apé11dia 3

.-\rt. 15 l. A retificação e o aditamento de documento expc<li- por sua vez, não poderão ultrapassar a 2/3 (dois terços) das co-
Jo pelos Conselhos poderão ser processados: bradas ao cirurgião-dentista.

a) ex officin, quando do interesse da administração; e, § 3." Na realização da receit.a será utilizada unicamente a via
h) a requerimento do interessado, instruído o pedido com a bancária, sendo vedado expréssamcnle o recebimento de qual-
documentação comprobatória da pretensão. quer valor que não seja pelfrefe1ida via, mesmo que o seja atra-
vés de cheque nominal, crúzado ou visado.
Art. 152. A averbação de alteração de nome obedecerá à se-
guinte seqiíência: § 4." A pa11e da receita dos CRO's que por lei corresponda ao
CFO, e que não tenha sido creditada no ato do pagamento por
a) cnrnmínhamento, pelo Conselho Regional, ao Conselho
meio do sistema de biparticipação de receitas, deveni ser u-ans-
Federal, do processo contendo o requerimento do interes-
fcrida até o 10.º dia útil do mês subseqüente.
sado. documentação comprobatória, ou sua cópia autenti-
cada, e o original do documento a ser apostilado;
b) lavraLura da apostila, pelo Conselho Federal, no original § 5.0 O não cumprimento do disposto no parágraío antelior
do documenlo e sua transcrição no livro de registro com- implican1 na atualização do valor devido, pelo índice de corre-
petente; ção utilizado para anuidades e taxas.
e) devolução do processo ao Conselho Regional para
averbação da aposLila no livro de inscrii.;ào competen- § 6. 0 A cada transferência da parte da receita devida ao CFO,
lc; deverá o CRO encaminhar o respectivo mapa de arrecadação.
d) anotação na carteira de identidade profissional:
e) rcsLituição do documento ao interessado. Art. 155. Quando da primeira inscrição, desde que a mesma
seja efetivada em data posierior a 31 de março, serão devidas.
Art. 153. As apostilas de retificação ou aditamemo da lavra apenas, as parcelas da anuidade relativas ao período não venci-
de terceiros serão averbadas nos livros de rcgi-.tro do Conselho do do exercício. desde que:
Federal e nos livros de inscrição dos Conselhos Regionais. me-
diank a transcrição em seu inteiro teor. l. no caso de pessoa física, seja ela portadora de diploma ou
cc11ificado expedido há menos de 1 (um) ano da data de
entrada do rcquerimenlo no Conselho Regional ou com-
prove o não exerckio da profissão no período compreen-
TÍTULO III dido cnlre a data da expcdii.;âo do diploma ou do certifica-
DA ARRECADAÇÃO DA RECEITA do e a do requerimento;
-, no ca~o de pessoa jurídica, não possua ela alvará expedi-
Capítulo I do há mais de I (um) ano da dala de enlrada do requeri-
mento no Conselho Regional.
Anuidades e Taxas
§ l.º A comprovação referida no item 1 deste artigo deverá
Art. 154. Os valores das anuidades de\idas ao!- Conselhos
ser feita a critério do Conselho Regional.
Regionais e das taxas correspondentes aos :;eniços e atos indis-
pensáveis ao exercício da profissão serão fixados pelo Conselho
§ 2.º O pagamento da primeira anuidade, se for efetuado até 15
Federal, ouvidos os Conselhos Regionais. conforme determina-
(quinze) dias após o recebimento da comunicação da aprovação da
ção da lei. mravés de decisão específica.
inscrição, sení com desconto de 10% (dez por cento) ou em até 3 (três)
0 parcelas, mensais e con~ccutivas, desde que dentro do exercício.
§ 1. São as seguintes as taxas correspondentes aos servic;os e
atos indispensáveis ao exercício da profissão:
§ 3.0 Após o prazo estipulado no parágrafo anterior, a anui-
1. taxa de inscrição de pessoa física (círurgiào-dentísta. téc- dade será corrigida e acrescida de multa de I O'N) (dez por cento 1
nico cm prótese dentária, tfrnico em higiene dental, e juros de I % ( um por cenLo) ao mês. calculados sobre o valor
atendente de consultório dentário, auxiliar de prótese den- corrigido.
tária e especialista);
2. taxa de insc1içâo de pessoa jurídica (clínica dentária e la- Art. 156. O cirurgião-dentista militar, que não exerça ativi-
boratório de prótese dentária); dade profissional fora do âmbito das Forças Armadas, estará isen-
3. taxa de expedição de carleira profissional (formato livrei.o to do pagamento da anuidade.
e formato cédula);
4. taxa de substituição de eaneira profissional ou 2.ª via; e, Parágrafo único. A isenção não se estende às demais taxas.
5. taxa de expedição de certidão ou cenificado.
Art. 157. As clínicas e os laboratórios de prótese dentária
§ 2.º Os valores das anuidades devidas aos Conselhos Regio- mantidos por sindicatos, por entidades beneficentes ou filantr6-
nais pelo técnico cm higiene dental e pelo atendente de consul- pica-. e por empresas para prestação de assistência odontológica
tório dentário e das taxas correspondentes aos serviços e atos exclusivamente a seus empregados e ainda as cooperativas de
indispensáveis ao exercício das mesmas profissões não poderão serviços odontológicos estarão isentas das taxas e da anuidade.
ultrapassar, respectivamente, 2/3 (dois terços) e 1/10 (um déci-
mo) daquelas cobradas ao cirurgião-dentista, e aquelas devidas Art. 158. Entende-se como profissional quite com as obriga-
pelo auxiliar de prótese dentária não poderão ultrapassar a 2/3 ções financeiras junto ao Conselho Regional, inclusi vc para fins
(dois terços) das cobradas ao Lécnico em prótese dentária, que, eleitorais, aquele que, permanecendo inscrito, tenha regulariza-
.J.phtdiu 3 313

da a sua situação correspondente ao exercício anterior. e ainda


disponha do prazo estabelecido para quitação das obrigações
TÍTULO IV
relativas ao exercício em curso. DOS CURSOS DE ESPECIAL17AÇÃO
Parágrafo único. Será, também, considerado quite: Capítulo I
a) o profissional beneficiado com parcelamento de dívida, Disposições Gerais
desde que não tenha parcelas vencidas, exceto para efeito
de transferência; e.
Art. 168. Serão considerados pelo Conselho Federal de o.se.-.
tologia, como formadores de especialistas. os cursos mini.stn-
b) o profissional com a inscrição remida.
dos por:

a) estabelecimento de ensino de graduação em Odontologia


Capítulo II reconhecido pelo Ministério da Educação, que já tenha
Cobrança Judicial formado, pelo menos. uma turma de cirurgiões-dentistas.
quando sediado na área do respectivo CRO;
Art. 159. Em:c1rndo o exercício financeiro e persistindo o b) escola de Saúde Pública. que mantenha cursos para cirur-
débito, o Conselho Regional inscreverá o devedor, no prazo giões-dentistas;
improrrogável de 60 (sessenta) dias, no livro de dívida ativa e e) 6rgão oficial da área de Saúde Púhlica e das Forças Anna-
iniciarí1 processo de cobrança executiva.
das;
d) entidades registradas no Conselho Federal de Odontolo-
Art. 160. A cobrança e o pagamento de anuidade correspon-
gia: e,
dente ao exercício independem da quitação dos déhitos em co-
e) entidade estrangeira, rnjo curso seja de comprovada ido-
brança judicial.
neidade.

Parágrafo único. Os cursos ministrados no estrangeiro. para


Capítulo III fins de reconhecimento, deverão atender ao disposto nestas nor-
Parcelamento de Débitos mas quanto à carga horária, e ter os cc1tificados revalidados na
forma de Resolução específica do Conselho Federal de Educa-
Att. 161. A critério do Conselho Regional poderá ser autori-
ção.
zado o pagamento parcelado de débito de anuidades cm atraso.
A11. 169. Entende-se por curso de especialização. para efeito
Parágrafo único. É vedado o parcelamento de débito relativo de registro e ínsc1ição. aquele ministrado a círurgião-demista que
às taxas de inscrição. de expedição de carteira, de cédula de iden- Lenha, pelo menos, 2 (dois) anos de inscrito cm Conselho Regio-
tidade profissional. e de certificado. nal de Odontologia e carga horária que atenda ao disposto nes-
tas normas.
Art. 162. O número de parcelas será estipulado pela Direto-
ria do Conselho Regional. Art. 170. Exigir-se-á uma carga horária mínima de 1.000 (mil)
horas-aluno para as especialidades de Cirurgia e Traumatologia
Art. 163. )lo cálculo do débito serão computados os juros ele
Buco-Maxilo-Faciais, de Ortodontia e de Implantodontia: de 750
mora, à razão de 1% (um por cento) ao mês, as multas e a corre-
(setecentas e cinqüenta) horas-aluno para a especialidade de
ção monetária.
Prótese Dentária. e de 500 (quinhentas) horas-aluno para as de-
Art. 164. O parcelamento para pagamento no I ." (primeiro) mais especialidades.
trimestre cívil. obrigará o interessado a quitar-se relativamente
§ 1.0 Da carga horária mínima, à área de concentração espe-
à anuidade do exercício em curso. no ato da assinatura <la con-
cífica da especialidade corresponderá um mínimo de 80% (oi-
fissão da dívida.
tenta por cento) e à conexa de 10% (dez por cento). exceto para
Att. 165. O parcelamento concedido após o prazo estahclcci- os cursos de Odontologia em Saúde Coletiva. que terão 40%
do no artigo ante1ior, abrangerá. tamhém, a anuidade correspon- (quarenta por cento) para a Área de concentração e 40% (qua-
renta por cento) para área de domínio conexo.
dente ao exercício em curso.

Art. 166. O não pagamento da parcela no prnzo previsto im- § 2.0 Da área de concentração ex igir-sc-á um mínimo de I Olif.
plicará. automaticamente. no cancelamento do parcelamento (dez por cento) de aulas teóricas e de 80% (oitenta por cento) de
concedido, com o vencimento simultâneo das parcelas seguin- aulas práticas.
tes. obrigando o interessado à liquidação do valor total a elas
correspondentes. de uma s6 vez. § 3." Os cursos poderão ser ministrados em uma ou mais eta-
pas, não excedendo o prazo de 18 (dezoito) meses consecutivos
Parágrafo único. Não atendido o pagamento, o Conselho Re- para o cumprimento da carga horária nos cursos de 500 (quinhen-
gional promoverá, no prazo de 10 (dez) dias, a cobrança a que se tas) horas. 24 (vinte e quatro) meses nos de 750 (setecentas e
refere o an. 159. cínqííenta) horas, e 36 (trinta e seis) meses para os demais.

Art. 167. O benefício do parcelamento poderá ser concedido Art. 171. É vedada a coordenação, por uma mesma pessoa.
mais de uma vez à mesma pessoa, em casos especiais. analisa- de mais <.k um curso ao mesmo 1empo. mesmo que cm horários
dos e deferidos pelo Plcm1rio do Conselho Regional. diferentes.
314 Apêndice .'I

§ 1." A qualificação exigida do Coordenador de qualquer dos c) carga horária total com a dístribuíção das horas teóricas e
cursos de especialização é o tilulo de professor titular, livre-do- práticas;
cente, doutor, ou mestre, na área, ou ainda, docente de gradua- d) aprovação.
ção com pelo menos 10 anos de experiência na área específica. .1'
Art. 177. O CFO conccderireconhecímento a cnrso de espe-
§ 2.º O título de professor titular referido no parágrafo ante- cialização. promovido por ín~títuição de ensino supe1ior e cre-
rior é aquele obtido por concurso público federal ou estadual, ou denciamento a curso de especialização promovido por entidade
ainda. o provido por lei. de classe registrada no CFO.

§ 3.0 Necessariamente o Coordenador deverá ter inscrição no Art. 178. O registro no Conse.lho Federal de Odontologia dos
Conselho Regional que jurisdicionc o local onde estiver sendo certificados de cursos de especialização, expedidos por Escola
ministrado o curso. de Saúde Públit:a e por órgão oficial da área de Saúde Pública.
somente será processado se a carga horária for compatível com
§ 4.º O Coordenador do curso é o responsável didático-cien- o estabelecido no art. 168 destas normas.
tífico exclusivo pelo curso, cumprindo e fazendo cumprir ª"
normas regimentais. Parágrafo único. O curso somente dará direito a registro e
a inscrição na especialidade de Odontologia em Saúde Cole-
Art. 172. A qualificação mínima exigida do corpo docente tiva.
na área de concentração de qualquer curso de especialização é
o título de especialista na área rcgi-.trado no CFO obedecida a Art. 179. O credenciamento e o reconhecimento dos cursos
seguinte proporção: num grupo de cada 3 (três), 1 (um) deverá terão a validade correspondente a uma turma.
ser portador do título de mestre ou ter efetiva atuação docente
na especialidade por mais de 10 (dez) anos. Os outros 2 (dois) § l .º !\a hipótese de allerações introduzidas na programação
deverão ter pelo menos o rírulo de especialista na área especí- ou na estrutura de curso em andamento, serão as mesmas
fica. comunicadas ao Conselho Regional. devendo o processo seguir
idêntica tramitação do pedido original.
§ 1. 0 Após 3 <três) cursos de efeci\'a atuaçfio o especialista se
t:redcncia para subslituir o mestre na relação do rnput do anigo. ~ ~.ºPara efeito de funcionamento do curso com nova turma.
no caso de ocorrência de alterações em relação à montagem ori-
§ 2." Os professores da área de concentr:.11.;ào de\ erão p0~suir ginal de\'erá ser requerida a renovação do reconhecimento ou
inscrição no Conselho Regional que jurisdicione o lo.:al onde ~redenciamento, na forma do parágrafo anterior.
estiver sendo ministrado o curso.
§ 3.0 Após a conclusão do curso, para renovação do reconhe-
Art. 173. Para efeito de regi suo e inscri,;ãü Je especialista nos cimento ou credenciamento. sem alterações na montagem origi-
Conselhos, os cursos penincntes a sua forma.;ào só poderão tl!r nal. deverá ser feito um simples requerimento com informações
início após cumpridos os requisitos es~cificados nc:.tas nonnas. sobre as novas datas e listagem dos docentes, bem como dos alu-
nos, no prazo previsto nestas normas.
Art. 174. Nas condições do artigo anterior. a instituição ou
entidade só poderá iniciar curso de uma e:)~cialiJade. após a
condusâo do curso anterior.
Capítulo II
Parágrafo único. Não será permitido o ingresso de aluno com Cursos de Especialização Ministrados por
o t:urso já cm andamento, mesmo em caso de ~ubstituíção. Estabelecimentos de Ensino
Art. 175. Os cursos de especialização somente poderão ser Art. 180. Os ce1tificados de especialização, expedidos por
reconhecidos, quando forem realizados em local situado na área instituições de ensino superior. somente poderão ser registrados
do município onde se lot:aliza a sede da entidade credenciada. no Conselho Federal de Odontologia, se tiverem sido atendidas.
além daquelas estabelecidas no Capítulo anterior, as seguintes
Att. 176. A instituição responsável pelo curso emitirá certifi- exigências:
cado de especialização a que farão jus os alunos que tiverem fre-
qüência de pelo menos 85% (oitenta e cinco por cento) da carga a) o número máximo de alunos matriculados cm cada turma
horária prevista, além de aproveitamento aferido em processo for- é de 12 (doze), exceto nos cursos de Odontologia cm Saú-
mal de avaliação e equivalente a, no mínimo. 70'k (setenta por de Coletiva, cm que esse número pode chegar a 30 (trinta)
cento). alunos;
b) a denominação do curso constante no certificado deverá
Parágrafo único. Os certificados expedidos deverão conter o coincidir com a de uma das especialidades relacionadas no
respectivo histórico escolar ou serem acompanhados do mesmo, art. 39 destas normas:
contendo, obrigatoriamente: c) encaminhamento ao Conselho Regional, antes do ínício do
curso. pelo estabelecimento de ensino, da documenta<;ão
a) nome completo sem abreviatura. nacionalidade. naturali- a seguir enumerada, o qual deverá instruir o processo e
dade e data de nascimento do portador; encaminhá-lo dentro de 30 (trinta) dias ao Conselho Fe-
b) período de duração, assinaladas, expressamente, as datas deral, que terá 60 (ses-.enta) dias para julgar e decidir so-
de início e de término do curso; bre o processo:
Apêndin~ 3 315

1. documentos comprobat6rios da aprovação do curso de a) a entidade deverá estar registrada no Conselho Federal de
especialização pela ins!ituição dt Ensino Superior; Odontologia;
2. relação do corpo docente acomp,1~-~da das respectivas b) a ínscalação e o funcionamento do curso deverão ter sido
titulações; ··· previameme autorizados pelo Conselho Federal de Odon-
3, comprovação da exigência de uma relação professor/ tologia, para credenciamento e supervisão, obserYado o
aluno compatível com a especialidade; disposto no art 168;
4, relação das disciplinas, por área de concentração e c) Antes do início do curso, deverá a entidade requerer cre-
conexas, e de seus conteúdos programáticos: denciamento do mesmo, através de pedido. encaminhado
5, carga horária total. por área de concentração e conexas, ao Conselho Federal, por intcm1édio do Conselho Regio-
inclusive distribuição entre parte teórica e prática, com- nal, que disporá de 30 (trinta) dias para instruir o processo
patível com o art, 168 destas normas; e remetê-lo ao órgão central, contendo. expressamente,
6. cronograma de desenvolvimento do curso em todas as com relação à organização e ao regime didático, no míni-
suas fases; mo, indicações sobre:
7. critério de avaliação;
8, sistema de seleção de candidatos; L Período de realização (data. mês e ano):
9, número de vagas, 2, Número de vagas fixadas;
3, Sistema de seleção de candidatos;
d) encaminhamento ao Conselho Federal de Odontologia, 4, Relação do corpo docente acompanhada das respecti-
através do Conselho Regional, 30 (trinta) dias ap6s a con- vas titulações:
clusão do curso, pelo estabelecimento de ensino, das se- 5, Comprovação da exigência de uma relação professor/
guintes informações: aluno compatível com a especialidade;
6. Relação das disciplinas, por área de concentração e
I, rclat6rio anual, com inclusão do histórico escolar dos conexas. e de seus conteúdos programáticos;
alunos; e. 7, Carga horária total, por área de concentração e conexas,
2. relação dos alunos aprovados, acompanhada dos con- inclusive distribuição entre parte teórica e prática;
ceitos ou notas obtidas. 8, Cronograma de desenvolvimento do curso em todas as
suas fases:
e) a jornada semanal de aulas obedecerá o limite máximo de 9, Critérios de avaliação,
30 (trinta) horas e o mínimo de 12 horas,
d) comprovação de disponibilidade de local, instalações e
§ 1.° Cada instituição de ensino só poderá manter cm funcio- equipamentos adequados ao funcionamento do curso. por
namento um curso de especialidade, meio de fotografias e plantas autcntü:adas. Essas poderão
ser substituídas por verificação direta nos locais. proces-
§ 2," O aluno reprovado, no máximo, em duas disciplinas, sada por Comissão de 3 (três) membros designados para
poderá repeti-las no curso seguinte, sem prejuízo do número de esse fim pelo Plená1io do Conselho Regional de Odonto-
vagas pré-fixado, logia respectivo;
e) comprovação da capacidade financeira para manutenção
§ 3.º A relação dos candidatos, com os rcspcdivos números do curso, demonstrada pelos seus orçamentos globais, com
de inscrição em Conselho Regional. deverá ser encaminhada ao destaque das dotações reservadas à manutenção do mes-
Conselho Federal, até 30 (trinta) dias do início do cur-.o. mo;
f) a jornada semanal de aula!-ô obedecerá o limite máximo de
A11, 181, Em quaisquer dos cursos de especialização são obri- 30 (trinta) horas e o mínimo de 12 horas; e,
gatórias as inclusões das disciplinas de ética, com um mínimo g) o número máximo de alunos matriculados cm cada luima é de
de 15 (quinze) horas e de metodologia de ensino e pesquisa, com JO(dez), exceto nos cursos de Odontologia cm Saúde Coleti-
um mínimo de 60 (sessenta) horas, de confom1idade com a Re- va. em que esse número pode chegar a 30 (trinta) alunos.
solução n,º 12/83, <lo Conselho Federal de Educação. h) encaminhamento ao Conselho Federal de Odontologia,
através do Conselho Regional, 30 (trinta) dias após a con-
§ l." A carga horária referida neste artigo não será wmputa- clusão do curso, pelo estabelecimento de ensino. das se-
da para complementação <laqueia referida no art. 170, gt1intes informações:

§ 2. 0 O disposto neste artigo vigorará a prutir de I .º de janeiro l, Relat6rio final; e,


de 1994, 2, Relação dos alunos aprovados acompanhada dos con-
ceitos ou notas obtidas,

Parágrafo único, A relação dos candidatos. com os respecti-


Capítulo III vos números de inscrição em Conselho Regional, deverá ser
Cursos de Especialização Ministrados por encaminhada ao Conselho FederaL até 30 (trinta) dias do início
Entidades de Classe do curso,

Art. 182. O registro no Conselho Federal de Odontologia de Art 183. O Conselho Federal de Odontologia, por indicação
certificado de curso de especialização expedido por entidades de do Conselho Regional respccti vo, designará um observador para
classe someme será processado se tiverem sido atendidas, além cada curso de especialização, no ato da concessão do credencia-
daqt1clas estabelecidas no Capítulo J. as seguintes exigências: mento. reconhecimento m• de sua renovação,
316 Apêndice J

§ l .º O observador deverá ser, obrigatoriamente, especialista f) carteira de idcntid~de profissional de técnico em prótese
na área do curso credenciado, registrado como tal no Conselho dentária;
Federal de Odontologia. g) cédula de identídatl~. profissional de técnico cm higiene
dcnlal; ·,
§ 2. 0 O observador deverá, no transcorrer do curso, verificar h) cédula de identidade profissional ele atendente de consul-
o cumprimento <la carga horária, a freqüência dos alunos e a t6rio dentário:
execução do programa proposto. comunicando, imediatamente, i) cédula de identidade profissional de auxiliar de prótese
ao Conselho Regional, qualquer irregularidade verificada. dentária;
j) cédula de idenúficação de es1agíário; e,
§ 3." O observador deverá estar presente durante os exames 1) cc1tificados de registro e inscrição fornecidos aos cirurgiões-
.tinais. dentistas qualificados como especialistas, às firmas e às
entidades inscritas.
§ 4. 0 No final do curso, o obser\'ador deverá encaminhar ao
Conselho Regional o seu relatório. que. por sua vez. o remeterá Art. 187. Os documentos de identificação profissional só po-
ao Conselho Federal de Odontologia. derão ser emitidos ap<Ís a aprovação da inscrição no Conselho
Regional.
Art. L84. Em quaisquer dos cursos de especialização são ob1i-
gatórias as inclusões das disciplinas de ética. com um mínimo Parágrafo único. A cédula de identidade profissional de
de 15 (quinze) horas e de metodologia de ensino e pesquisa, de cirurgião-dentista não poderá ser concebída a profü;;sional com
conformidade com a Resolução n.º 1::!/8~ do Conselho Federal inscrição secundária.
de Educação.
Arl. 188. A carteira e a cédula de identidade profissionais
§ l .º A carga horária referida neste artigo não será computa- gozam de fé pública e são dotadas de capacidade comprobatória.
da para complementação daquela referida no an. 170. tamhém, de identidade civil, nos termos da lei.

§ 2.º O disposto neste artigo \·igorará a partir d..: 12 de janeiro Art. 189. A cédula de identidade profissional de cirur-
de 1994. gião-dentista não suhslilui a carteira de idemidadc profissional
e é expedida e fornecida cm caráter facultativo. a requerimento
do interessado.
TÍTULO V Alt. 190. As cspccil'icações das caitciras e das cédulas de iden-
DOS DOCUMENTOS E DOS tidade profüsionais, assim como dos certifícadof> de regístro e
PROCESSOS inscrição constituem, respectivamente, os anexos l. II. lll. IV.
V. VI, VII, VIH, IX e X, que integram estas normas.
Capítulo I Art. 191. Serão feitas com tinta nanquím todas as anotações a
Documentos serem lançadas na carteira de identidade profissional de
cirurgião-dentista. quando de sua emissão. inclusive as assina-
Seção I turas do Presidente e do Secretário.
Documentos de Identificação Profissional Art. 192. Serão feitas por datilografia, cm cor preta, as anota-
An. 185. Os documentos de identificação profosional se- ções da cédula de identidade profissional de técnico em prútese
rão expedidos.exclusivamente, pelos Conselhos Regionais. ca- dentária, técnico em higiene <lentai, auxiliar de consultório
bendo ao Conselho Federal a confecção. a distribui.,:ào e o con- dentário e auxiliar de prótese dentária, das cédulas de identidade
trole. profissional e dos cc11il'icados de registro e inscrição.

§ l.º Para a execução do controle a que se refere es1e artigo. § 1.0 As assinaturas serão com tinta nanquim.
os estoques respectivos constarão dos registros contábeis do
Conselho Federal e <los Conselhos Regionais. § 2. 0 É autorizado o uso de assinat.ura por chancela, nos re-
gistros e inscrições processadas pelos Conselhos Federal e Re-
§ 2.º Serão guardados cm local seguro. sob cha\ e. os docu- gionais de Odontologia, bem como nos documentos de identi-
mentos de ídentificaçào profissional. dade profissional e nos demais documentos emitidos pela
Autarquia.
Art. 186. Constituem documentos de identificação profissio-
nal: § 3.º A assinatura por chancela referida no artigo anterior
somente podcnl ser utilizada quando o volume de assinaturas
a) carteira de identidade profissional de cirurgião-dentista; justifique a sua adoção e a critério da auto1idade que dela se uti-
b) cédula de identidade profissional de cirurgião-dentista: lizar.
c) cédula de identidade profissional provis<Íria de cirur-
gião-dentista; § 4.<> A utilização de métodos mecânicos de autenticação de-
d) cédula de identidade profissional temporüria de cirur- ven, ser precedida de medidas que garantam a sua aplicação em
gião-dentista: documentos reais, preservada a sua fidelidade, e soh inteirares-
e) cédula de idenüdade profissional de prático-licenciado; ponsabilidade do agente que ordenar tal procedimento.
Apé,ulice _? 317

§ 5." Responderá. civil e criminalmenle, a pessoa que, sem a Seção li


devida autorização, fizer uso indevido da chancela. Organização
A11. 193. É vedada a anotação de penalfdade nos documentos Art. 199. Na organização dos processos deverão ser obedeci·
de identificação profissional. .... ./ das as seguintes prescrições:

Ar!. 194. O encerramento das atividades, volumário ou dc- a) todos os papéis que devem ser processados receberão nú-
correnlc de sarn;ão legal, e a transferência da sede principal das mero de prnlocolo no sclor de origem;
atividades importad em imediata restituição, ao Conselho Re- b) os processos encaminhados pelos Conselhos Regionais ao 'v
gional, para cancelamento, do Documento de identificação pro- Conselho Federal, receberão neste um novo número de.
fissional. protocolo, que será aposto imediatamente depois do últi· <
mo despacho do órgão de origem; ....
Art. 195. O cancelamento e a substituição de documento de e) os dm:umentos serão dispostos em forma de caderno. de - t·
identificação profissional extraviado. destruído ou inutilizado acordo com a ordem cronológica do recehimento, sendo .)
será promovido por requc1imento do interessado. que a folha 1 (um) deverá corresponder à petição inkial
ou itquela que caracterizou o assunto do processo;
Parágrafo único. A emissão de segunda via ficará condicio- d) não poderão ser incluídas folhas em hram:o, no processo,
nada, apenas, à declaração de perda. inutilização ou extravjo de e tleverão ser inutilizados os espaços cm branco, porven-
documento anteriormente emitido. firmado pelo inleressado. sob tura existentes. em traços verticais ou carimbo;
as penas da lei. e) todas as folhas do processo serão numeradas. a partir de 1
( um), ruhricadas. por quem as numerar e escrito o número
ArL 196. Anualmente, os Conselhos Regionais promoverão a do processo. em cada uma delas. A capa não receberá nú-
destruição dos documentos de identificação protissíonal cancelados. mero e nem será considerada sua peça inicial;
f) quando a ~eqüência numérica tiver falhas. deverá ser fei-
§ l ." A dcslruição poderá ser feita por corte ou incineração. ta, sempre, devida ressalva, pelo setor destinatário; e.
g) qualquer setor poderá suhslituir as capas que se encontra-
§ 2.º Sení lavrado um termo, cm 2 (duas) vias, da destruição rem cm mau estado de conservação. transcrevendo, para a
processada, no qual serão especificados e relacionados os docu- capa nova, as anotações da capa inutilizada, de modo a
mentos dcstrnídos. permitir a perfeita idenlifícação do processo.

§ 3.º O termo mencionado no parágrafo anlcrior servirá de ele-


mento auxiliar pam a execução do controle a que se refere o art. 183. Seção III
Petição
Capítulo II Art. 200. A petis·ão, também chamada de requerimento. é o
documento pelo qual alguém pede algo a uma autoridade públi-
Processos ca e deverá obedecer às seguimes prescrições:

Seção I a) tratar de um só assunto;


Disposições Preliminares b) conter a identificação do requerente. com nome e endere-
ço. a exposição fundamentada do ohjetivo, o pedido, o
Art. 197. Todos os assuntos ahrangidos pela competência ou fecho e a assinatura; e,
compreendidos nas alribuíções dos órgãos da Autarquia e perti- e) declarar, no final e conclusivamente, se se trata de pedido
nentes à sua admínislração serão compilados, para tramitação e inicial. de reconsideração ou de recurso.
guarda, cm autos ou processos protocolizados, com suas folhas
numeradas e rubricadas.
Seção IV
~ 1.0 Os autos ou processos. após estarem decididos dcfiníti- Informações e Pareceres
vamcnle. considerada a relevância dos assuntos tratados. a cri-
tério da Diretoria, serão microfi hnados ou arquivados após tom- Art. 201. As informações, pareceres e outros quaisquer des-
hamento feito au·avés de registro no livro próprio ou destruídos pachos. exarados cm processos, deverão conter:
após anotas·ão dos despachos que autorizem a providência.
a) órgito ou pessoa ao qual se destina;
§ 2.º Os processos éticos e os de registro e inscrição não po- h) data; e,
derão. cm hipótese alguma. ser destruídos. permitindo-se, no e) assinatura e, datilografados ou a carimbo, nome e cargo ou
entanto, a microfilmagem <los mesmos. desde que, no caso de função do responsável.
transferência de profissional, o Conselho Regional os restabele-
ça no lamanho e forma originais, inclusive as capas. para remes- § 1.(1 As informações, pareceres e outros despachos deverão
sa ao Conselho de destino. ser exarados cm ordem cronológica, evitando-se deíxar linhas cm
branco.
Art. 198. Verificado o extravio 011 a deterioração de proces-
so, será ele restaurado segundo as disposiçf>cs do Código de Pro- ~ 2.(1 As folhas destinadas a infonnações, pareceres ou outros

cesso Penal sobre a matéria. despachos deverão, sempre que possível. ser totalmente aprovei-
318 Apêndice 3

tadas, no anverso e no verso, só havendo inutilização nos casos e deverá ter, na face que ficar voltada para quem manusear, a
de juntadas. discriminação dos documentos nele contidos.

Arl. 203. As desanexações de papéis deverão ser efetuadas


Seção V observando-se as seguintes fases:·· .... _ - . ·
Anexação e Desanexação a) retirar os documentos que devem ser desanexados;
Art. 202. Considera-se anexação ou juntada a inclusão de um b) colocar, no lugar dos documentos retirados, uma folha de
papel em um processo, passando a constituir parte integrante informações e nele consignar o seguinte:
deste.
1. no ângulo superior direito, o número ou números que
§ I .º As fases para realização de anexação ou juntada de um tenham as folhas dos papéis desanexados;
papel são as seguintes: 2. na primeira linha, a espécíc ou espécies de documentos.
número de protocolo e número de folhas retiradas. bem
1. Retirar a capa do processo ao qual vai ser feita a anexa- como a folha onde será declarada a desanexação; e,
ção; 3. a assinatura, o nome e o cargo do servidor que efetuar a
2. Verificar se na última folha do processo existe espaço su- desanexação: e,
ficiente para a declaração de anexação ou juniada e, se não e) declarar na última folha de info1mações existente no pro-
houver, juntar uma folha destinada a esse fim: cesso a desanexação efetuada, da seguinte forma:
3. Colocar os papéis, a juntar, após a última folha do proces-
so; 1. número do protocolo e especificação dos papéis retira-
4. Anex.ar, após os papéis juntados, no\a folha em branco, dos; ·
destinada a informações, pareceres ou outros despachos: 2. motivo que determina a desanexação; e,
.5. Numerar os papéis juntados e inutilizar. com um traço len!. 3. a assinatura e, datilografado ou a carimbo, nome e car-
a numeração, porvemura existente. naqueles documentos: go do funcionário que efetuou a desanexação.
e.
6. Declarar o fato na folha que antecedeu os papéis anexa- Parágrafo único. Só podei:á ser retirado do processo o docu-
dos. mento protocolado que lhe tenha dado origem, quando esta pro-
\·idência for julgada indispensável para aprescnta\·ão em juízo
§ 2.º Da declaração referida no item 6 do parágrafo anterior ou outro fim semelhante, devendo o referido documento ser subs-
deverá constar o seguinte: tituído por cópia autenticada, no verso da qual conste o destino
do original.
1. referência dos números atribuídos às folhas juntadas e dos
inutilizados, se for o caso. citando-se apenas o primeiro e
o (1ltímo número, quando se tratar de mais de um documen- Seção VI
to juntado;
.., número do protocolo do documento juntado ou, se não ti- Apensação e Desapensação
ver. declarar sua especificação. de modo a ficar expressa a Art. 204. As apensações de processos deverão ser efetuadas
sua identidade: e. observadas as seguintes fases:
3. assinatura e. datilografados ou a carimbo. nome e cargo ou
função do responsá\cl pelo ato. a) manter o processo cm estudo ou principal na frente do pro-
cesso apcnsado;
§ 3." Cancelar. após a declaração de juntada. com um traço b) prender o processo apcnsado por meio de grampos à
vertical no meio. o espaço que ficou cm branco. no seu verso e contracapa do processo principal com o cuidado de não
anverso. procedendo i~uahnente em todas as folhas de informa- prender as folhas deste último; e,
ções, cm branco. rnn~tante~ da do.:-umcmaçào que estiver sendo c) declarar a apensação na tíltima folha existente do proces-
juntada. so principal e no qual está apensado ou em todos eles, se
for mais de um, o seguinte:
§ 4.º As ínforn1ações. pareceres e outros despachos serão da-
dos na folha de informação anexada após o último documento 1. no principal, o número ou números do protocolo ou dos
juntado, não podendo em hipótese alguma. ser milizada para o processos apensados;
citado fim a folha em que for declarada ajuntada dos documen- 2. no apensado ou nos apensados, o número de protocolo
tos. do principal: e.
3. assinatura e, datilografado ou a carimbo, nome e cargo
§ 5.º No caso de juntada de documentos de diferentes tipos ou função do servidor que efetuou a apensação.
que não possam ser perfurados ou numerados ou que tenham de
ser devolvidos, posteriormente, aos interessados. tais como: car- Panígrafo único. As novas informações, os pareceres e des-
teiras profissionais, cheques, cm1ões, certidôcs, laudos, fichas. pachos somente poderão ser exarados na folha de informações
diplomas e outros, cujos textos, fommtos ou espessuras não per- do processo principal.
mitam a sua perfuração, serão eles colocados cm envelopes de
tamanho correspondente, que serão presos pela extremidade ao Art. 205. Deverá ser promovida a desapensação do processo
processo, tomadas as necessárias providências para evitar a per- tão logo sejam produzidos os efeítos desejados, obedecendo-se
da do conteúdo. O envelope será numerado como folha comum às seguintes fases:
,tpendiu 3 319

a) desprender o processo apen~ado; e. Capítulo II


b) fazer a declaração da desapensação na última folha do pro-
cesso principal e do processo apensado ou dos processos
Eventos Odontológicos
apensados. fazendo-s,e a referência do a pen ~a~o ou Art.21 l. Para a inscrição em congressos, jomadas. concla\e~
ape~sados e nestes o numero de protocolo do prmctpal e e outros Eventos odontológicos realizados no País, fica obriga-
ao f'.11al de todas elas a assmatura, o nome e o cargo do-- -dó"<> profissional a apresentar prova de inscrição no Conselho
servidor que desapensou. Regional respectivo.

Parágrafo único. Quando se Lratar de profissional que não da


Seção VII Odontologia, é obrigatória a apresentação de inscrição no res-
Arquivamento e Desarquivamento pectivo Conselho de Fiscalização Profissional.

Art. 206. O arquivamento do processo deverá ser registrado Art. 212. No requerimento de inscrição de evento odontoló-
na última folha do mesmo, constando o nome e o cargo de quem gico deverá existir local apropriado para a anotação do número
o determinou. de inscrição em Conselho Regional.

Art. 207. O desarquivamemo será feito da mesma fomrn que


o arquivamento.
Capítulo III
Serviços Relevantes Prestados à Classe
TÍTULO VI Odontológica
DAS EFEMÉRIDES Art. 213. O serviço prestado aos Conselhos de Odontologia,
durante o exercício de mandato de Conselheiro, é considerado
ODONTOLÓGICAS, DOS EVENTOS de natureza relevante.
ODONTOLÓGICOS E
DOS SERVIÇOS RELEVANTES Art. 214. O Conselho Federal, concluído o mandato federal
ou regional de Conselheiro e desde que este o Lenha exercido
PRESTADOS À CLASSE integralmente. expedirá o respectivo diploma, certificando a pres-
ODONTOLÓGICA tação dos servíços relevantes.

Capítulo I § 1." Para efeito do disposto neste artigo. considera-se como


efetivo, o tempo de exercício ou afastamento por motivo de do-
Efemérides Odontológicas ença. ou licença regimental.
Art. 208. São efemérides magnas da Odontologia Brasileira:
§ 2." l\o caso de renúncia ou perda de mandato, não será con-
a) Semana da Odontologia, comemorada, anualmente, no siderado válido, para efeito destas normas, o tempo de exercí-
período de 14 a 21 de abri 1, considerando que a primei- cio, qualquer que ele seja, ressalvados os casos de cxígência le-
ra data e a da promulgação da Lcí n.º 4.324, criadora gal.
dos Conselhos de Odontologia, e a segunda é aquela em
que é reverenciada a figura de Joaquim José da Silva § 3.º O Suplente que houver exercido o mandalo de Conse-
Xavier, o Tiradentes, Patrono Cívico da Nação Brasi- lheiro por mais de 6 (seis) vezes. em caso de falta ou impedi-
leira; e, mento, ou aínda cm caráter permanente, cm caso de vaga. fará
b) Dia do Cirurgião-Dentista Brasileiro, comemorado, anu- jus ao diploma.
almente, em 25 de outubro, dia no qual. no ano de 1884,
foram criados os primeiros cursos de Odontologia no Bra- Art. 215. Os Conselhos Regionais, no prazo de 30 (trinta)
sil nas Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da dias a contar da expiração do mandato de seus Membros, en-
Bahia. viarão ao Conselho Federal a relação dos mesmos, esclarecen-
do. com referência a cada Conselheiro, nome, filiação, núme-
Art. 209. Durante a Semanada Odontologia. as solenidades e ro de inscrição, e elementos comprobatórios do cumprimento
eventos comemorativos e as homenagens cívicas promovidas do mandalo ou atendimento do disposto no§ 3.0 do artigo an-
pelos Conselhos de Odontologia e pelas entidades representati- terior.
vas da classe. legalmente constituídas. gozarão de cunho oficial
odontolcígico. Art. 216. Os diplomas. cuja expedição é de exclusiva com-
petência do Conselho Federal, serão assinados pelo Presi-
Art. 21 O. Os Conselhos Regionais deverão, anualmente, pro- dente e pelo Secretário-Geral. e entregues pelo Conselho
mover solenidade comemoraliva do Dia do Cirurgião-Dentista Federal ou pelos respectivos Conselhos Regionais, em ses-
Brasileiro. são solene.

Parágrafo único. A entrega de cerlificados de inscrição temi- Art. 217. O disposto nesta seção poderá ser estendido, a cri-
da aos profissionais será feita, ohrigawriamente, na solenidade tério único e exclusivo do Plenário do Conselho Federal, a qual-
referida neste artigo. quer pessoa que. no desempenho de atividades públicas, tenha
320 Apêndia 3

prestado, de alguma fom1a, serviços relevantes à classe odonto-


lógica. TÍTULO VIII
DAS COMPRAS E DOS SERVIÇOS

TÍTULO VII iCapítulo I


DA REALIZAÇÃO DA Disfosições Gerais
DESPESA NOS CONSELHOS DE \ Seção I
ODONTOLOGIA Princípios
Art. 218. O pagamento de despesa, nos Conselhos de Odon- A11. 222. As ohras, serviços, compras e alienações, quando
tologia, obedecidas as normas que regem a execução orçamen- contratadas com terceiros, serão necessaiiamente precedidas de
tária. far-sc-á mediante ordem bancária ou cheque nominativo, licitação, ressalvadas as hipóteses prcvístas no Decreto-Lei n."
contabilizado pelo órgão competente e ob1igatoriamente assina- 2.300/86.
do pelo ordenador da despesa (Presidente) e pelo encarregado
do setor financeiro (Tesoureiro). * Este Decrerv-lei foi revogado e substituído pela Leí 11. •
8.666, de 2116/93.
§ 1." Para as despesas miúdas de pronto pagamento, 4ue
não sejam atendíveís pela via hancária, poderão ser autoriza- An. 223. A licitação destina-se a selecionar a proposta mais
dos suprimentos de fundos, de preferência a agentes afiança- vantajosa.
dos. fazendo-se os lançamentos contábeis neccss,írios e
fixando-se prazo máximo de 60 (sessenta) dias para compro- § l ." É vedado aos agentes públicos admitir, prever, incluir.
vação dos gastos, vedada a acumulação de 2 (dois) suprimen- ou tolerar. nos atos de convocação, cláusulas ou condições que:
tos.
1 - comprometam, resuinjam ou frustrem o caráter competici-
§ 2.º As despesas feitas por meio de suprimentos serão escri- vo do procedimento lieitat6rio;
turadas e incluídas na tomada de contas do ordenador, desde que n - estahclcçam preferências ou distinç<'ícs cm razão da natu-
não impugnadas por ele; quando impugnadas, o ordenador de- ralidade. da sede ou do domicílio dos licitantes.
verá determinar imediatas providências administrativas para a
apuração das responsabilidades e imposição das penalidades § 2. 0 Em igualdade de condições, à vista do c,itério ou julga-
cabíveis, sem prejuízo do julgamento da regularidade das con- mento estabelecido no instrumemo convocató1io, será assegura-
tas pelo Tribunal de Contas da União. da preferência aos bens e serviços produzidos. no País, por em-
presas nacionais.
§ 3.º Quem receber suprimento de fundos é ohrigado a pres-
tar contas de sua aplicação, procedendo-se. automaticamente. à § 3.0 A licitação não será sigilosa. sendo públicos, e acessí-
tomada de contas se não o fizer no prazo assinalado. veis ao público, os atos de seu procedimento, salvo quanto ao
conteúdo das propostas, até a respectiva abertura.
§ 4.º Cahe aos detentores de suprimento de fundos prestar
contas até 31 de dezembro, quaisquer que sejam os prazos fixa-
dos pelo ordenador de despesas. tendo cm Yista o encerramento Seção li
do exercício.
Definições
Art. 219. Quando se verificar que detcm1inada conta não te- Art. 224. Para os fins destas nonnas, considera-se:
nha sido prestada, ou que tenha ocorrido desfalque, desvio de
bens ou outra irregularidade de que resulte prejuízo para a 1- obra: toda construção, reforma ou ampliação, realizada por
Autarquia, o Presidente do Conselho. sob pena de co-respon- execução direta ou indireta:
sahilidade e sem embaraço dos procedimentos disciplinares. ll - serviço: toda atividade destinada a obter detenninada uti-
dcvcn1 tomar imediatas providências para as.segurar o respecti- lidade concreta de interesse da administração, tais como demo-
vo ressarcimento e instaurar a tomada de contas, fazendo-se as lição. fabricação, conserto, instalação, montagem. operação.
comunicações a respeito ao Conselho Federal, que a!-. transmiti- conservação, reparação, manutenção. transporte, comunicação ou
rá ao Tribunal de Contas da União. trahalhos técnicos profissionais;
JJJ - compra: toda aquisição remunerada de bens para forn~-
Art. 220. Os hens móveis. materiais e equipamentos cm uso cimento de uma sé vez ou parceladamente;
ficarão sob a responsabilidade dos chefes de serviço. IV - alienação: toda transferência de domínio de bens a ter-
ceiros; (
Parágrafo úníco. O ordenador de despesa deverá proceder V - execução direta: a que é feita pelos pr6prios 6rgãos e en-
periodicamente a verificações dos bens móveis, materiais e equi- tidades da administração;
pamentos em uso no respectivo Conselho Regional. VI - execução indireta: a que o órgão ou entidade contrata com
a
terceiros, sob qualquer das seguintes modalidades:
Arl. 221. Os estoques serão obrigatoriamente contabili-
d
zados, fazendo-se a tomada anual das contas dos responsá- a) empreitada por preço global - quando se contrata a exe- p
' eis. cução da obra ou do serviço, por preço ce1to e total; o
"'
Apàulin- 3 321
/

h) empreitada por pre\·o unitário -quando se contrata a exe- § I ." É pennitida a participação do autor do projeto ou da
cução da obra ou subcontratado, bem <:omo servidor ou da empresa a que se refere o inciso IL na licitação de obra ou sen i-
obra ou do serviço. por preço ce110 de unidades determi- ço ou na sua execução. como consultor ou técnico. exclusi \·amen-
nadas: te a serviço da administração interessada.
c) administração contratada - quando se contrata a exccL1-
ção da ohra ou do serviço, mediante reembolso das despe- § 2." O disposto neste artigo não impede a licitação ou con-
sas e pagamento da remuneração ajustada para os traba- tratação por obra ou serviço. que inclua a elaboração de projeto
lhos de administração: executivo como encargo do contratado ou pelo preço prcvíamenw
d) tarefa - quando se ajusta mão-de-obra parn pequenos tra- fixado pela administração.
balhos, por preço certo, com ou sem fornecimento de ma-
teriais. § 3.º O órgão ou entidade que elaborou o projeto a que alude
este artigo podcní, excepcionalmente, a juízo do Plenário da
VTT - projeto básico - o conjunto de elementos que defina a Autarquia competente, presentes razões de intere:;8e público,
obra ou serviço, ou o complexo de obras ou serviços objeto da qualificar-se para a execução <lo projeto.
licitação, e que possibilite a estimaúva de seu custo final e prazo
de excrnção; Art. 228. As obras e serviços poderão ser executados nos se-
VIII - projeto executivo - o conjunto dos elementos neces- guintes regimes:
sários e suficientes à execução completa da obra:
IX - rnntratante: a Autar4uia signatária do contrato: 1 - execução direta;
X - contratado: a pessoa física ou jurídica signatária de con- li - execução indireta, nas seguintes modalidades:
trato com a Autarquia.
a) empreitada por preço glohal;
b) empreitada por preço unitário:
Seção III c) administração contratada; e,
Obras e Serviços d) tarefa.

Art. 225. As obras e os serviços só podem ser licilados quan- Art. 229. As obras e serviços destinados aos mesmos tlns te-
do houver projeto básico aprovado pela autoridade compctemc, rão projetos padronizados por tipos. categorias ou dassef>. exce-
e contratados somente quando ex istír previsão de recursos orça- to quando o projeto-padrão não atender às condições peculiares
mentá1ios. do local ou às exigências específicas do empreendimento.

§ l ." O disposto neste ai1igo aplica-se aos casos de dispensa e Arl. 230. Nos projetos hásicos e projetos executivos de obras
de inexigibilidade de licitação. c serviços serão considerados principalmente os seguintes requi-
sitos:
§ 2." A infringêncía do disposto neste m1igo implica a nulida-
de dos atos ou contratos realizados e a responsabilidade de quem 1- segurança:
lhes tenha dado causa. 11- funcíonalidade e adequação ao interesse público:
III - economia na execução, conservação e operação;
Art. 226. A cxernção das obras e dos serviços deve progra- IV - possibilidade de emprego de mão-de-obra. materiais,
mar-se sempre, cm sua totalidade, previstos seus custos atual e tecnologia e matérias-primas existentes no local para execução,
final e considerados os prazo~ de sua execução. rnnservação e operação;
V - fací I idade na execu~ão, conservação e operação, sempre-
§ I .º É proibido o parcelamento da execução de obra ou de juízo da durabilidade da ohra ou do servi1.;o;
serviço, se existente previsão orçamentária para sua execução VI - adoção das nmmas técnicas. adClJuadas.
total, salvo insuficiência de recursos ou comprovado motivo de
ordem técnica.

§ 2. 0 Na execução parcelada, a cada etapa ou conjunto de Seção IV


etapas de obra ou serviço. há de con-esponder licitação distin- Serviços Técnicos Profissionais
ta.
Especializados
§ 3.º Em qualquer caso. a autorização da despesa será feita Art. 231. Para os fins destas normas. consideram-se serviços
para o custo final da obra ou serviço pr~jetado. técnicos profissionais especializados os trabalhos relativos a:

Art. 227. Não poderá participar da licitação ou da execução 1 - estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou cxe-
de obra ou serviço: cuti vos;
II - pareceres. perícia::; e avaliação em gemi;
I - o autor do projeto, pessoa física ou jurídica, contratado por m - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias finan-
adjudicação direta; ceiras:
IJ - empresa, isoladamente ou em cons6rcio. da qual o autor IV - fiscalização. :supervisão ou gerenciamento de obras ou
do projeto seja dirigente, gerente, acionista ou controlador, res- serviços:
ponsável técnico ou subcontratado, bem como servidor ou diri- V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativa-.:
gente do órgão ou entidade contratante. VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal.
322 Apêndice 3

Parágrafo único. Considera-se de notória especialização o comprovem possuir os requisitos mínimos de qualificação exi-
profissional ou empresa cujo conceito no campo de sua especia- gidos no edital para a execução de seu objeto.
lidade, decon:cnte de desempenho anterior, estudos, experiênci-
as. publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica, ou § 2. 0 Tomada de preços é a modalidade de licitação enlre in-
de outros requisitos relacionados com suas atividades, permita teressados previamente cadastrados, observada a necessária qua-
inferir que o seu trabalho é o mais adequado à plena satisfação lificação.
do objeto do contrato.
§ 3.° Convite é a modalidade de licitação entre, no mínimo, 3
(três) interessados do ramo pertinente ao !seu objeto, cadastrados
Seção V ou não, escolhidos pela Autarquia.
Compras § 4." Concurso é a modalidade de licitação entre quaisquer
Art. 232. Nenhuma compra será feita sem a adequada carac- interessados para escolha de trabalho técnico ou artístico, medi-
terização de seu objeto e indicação dos recursos financeiros para ante a instituição de prêmios aos vencedores.
seu pagamento.
§ 5.º Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer inte-
Art. 233. As compras, sempre que possível e conveniente, deve- ressados para a venda de bens inservíveis para a administração a
rão atender ao princípio da padronização, que imponha compatibili- quem oferecer maior lance. igual ou superior ao da avaliação.
dade de especificações técnicas e de desempenho. observadas, quan-
do for o caso. as condições de manutenção e a,sistência técnica. Art. 237. As modalidades de licitação a que se referem os itens
Ia JJJ do artigo anterior serão determinadas em função dos limi-
tes fixados em atos da autoridade competente.
Seção VI
Parágrafo único. As compras eventuais de gêneros alimentí-
Alienações cios perecíveis poderão ser realizadas diretamente com base no
Art. 23.+. A alienação de bens dos Conselhos Federal e Regio- preço do dia.
nais de Odontologia. será ">emprc precedida de a,·aliação e obe-
decerá às seguintes nonnas: Arl. 238. É dispensável a licitação:

I - quando imóveis, dependerá de a\·afiação pré\"ia e concor- r - para obras e serviços de engenharia até o estabelecido na
rência, dispensada esta nos seguintes casos: legislação vigente na época da aquisição:
n - para outros serviços e compras até o estabelecido na le-
a) doação no âmbito da própria Autarquia: e gislação vigente na época da aquisição;
b) permuta. IH - nos casos de guerra, grave perturbação da ordem ou ca-
lamidade pública;.
II - quando móveis, dependerá de avaliação prévia e de licita- IV - nos casos de emergência, quando caraclerizada a urgên-
ção, dispensada esta no caso de doação no ambito da própria cia de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou
Autarquia. comprometer a segurança de pessoas. obras. serviços, equipa-
mentos e outros bens, públicos ou particulares;
V - quando houver comprovada necessidade e conveniência
Capítulo II adnúnistratirn na contratação direta, para complementação de
obra, serviço ou fornecimento anterior, observado o limite pre-
Licitação visto no artigo anterior:
VI - quando nào acudirem interessados à licitação anterior. e
Seção I esta não puder ser repetida sem prejuÍ7.o para a Autarquia, man-
Modalidades, Limites e Dispensa tidas neste caso as condições preestabelecidas;
VII - quando a operação envolver concessionário de scn·i-
Art. 235. As licitaçücs serão cfcluadas preferencialmente no ço público e o objeto do conlrato for pertinente ao da conces-
local onde se situar a repartição inlercssada. são;
VIII - quando as propostas apresentadas consignarem preços
Parágrafo único. O disposto neste arligo não impedirá a habi- manifestamente superiores aos praticados no mercado;
litação a interessados residentes em outros locais. IX - para a aquisição de materiais. equipamentos ou gêneros
padronizados ou uniformizados, por órgão oficial, quando não
Art. 236. São modalidades de licitação: for possível estabelecer critério objetivo para o julgamento das
propostas.
l - concorrência;
li - tomada de preços; Art. 239. É inexigível a licitação quando houver inviabilidade
Ili - convite: de competição, em especial:
IV - concurso;
V - leilão. 1- para a aquisição de maleriais. equipamentos ou gêneros que
só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou rcprcsentan-
§ l .º Concorrência é a modalidade de licitação entre quais- le comercial exclusivo, vedada a preferência de marca;
quer interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, 1T - para a contratação de serviços técnicos;
Apêndice 3 323

III - para a contratação de profissional de qualquer setor ar- sem objeção, venha a apontar, depois do julgamenco. falhas ou
1ístico, diretamente ou através de empresário; irregularidades, que o viciariam, hipótese em que tal comunica-
[V - para a compra ou locação de imóvel destinado ao serví- ção não terá efeito de recurso.
ço púhlico, cujas necessidades de instalação ou localização
condicionarem a sua escolha; Parágrafo único. A inabilitação do licicance ímpona pr~clusão
V - para a aquisição ou restauração de ohrns de arte e objetos do seu direito de participar das fases subseqüentes.
históricos, de autenticidade certificada, desde que compatíveis
ou inerentes às finalidades do órgão ou entidade. A1t. 246. A concorrência será processada e julgada mm ob-
servância do seguinte procedimento:

Seção II I - abertura dos envelopes ''documentação'' e sua apreciação:


IJ - devolução dos envelopes "propostas", fechados, aos con-
Habilitação correntes inabilitados, desde que não lenha havido recurso ou
Art. 240. Para a habilitação nas licitações. exigir-se-á dos in- após sua denegação;
teressados, exclusivamente, documentação relativa a: III - abertura dos envelopes "proposta" dos concorrentes ha-
bilitados, desde que transcorrido o prazo sem interposição de
I - capacidade juridica; recurso, ou tenha havido desistência expressa, ou após o julga-
II - capacidade técnica; mento dos recursos interpostos;
III - idoneidade financeira; IV - classificação das propostas;
IV - regularidade fiscal. V - deliberação pela autoridade competente.

A11. 247. No julgamento das propostas, a Comissão levará em


consideração os seguintes fatores: ·
Seção III
Registros Cadastrais J - qualidade:
II - rendimento;
A1t. 241. Para os fins destas normas, os Conselhos que reali- III - preço;
zem freqüentemenlc licitações manterão regisu·os cadastrais para l V - prazo;
eleito de habilitac,;ão, atualizados pelo menos 1 (uma) vez por ano. V • outros previstos no edital ou no convite.
Parágrafo único. É facultada a utilização de registros cadastrais Art. 248. O julgamento das propostas sení objetivo. devendo,
de outros órgãos ou entidades federais. a Comissão de Licitação ou o responsável pelo convite, realizá-lo
em conformidade com os tipos de licitação, os critérios previa-
An. 242. A qualquer tempo poderá ser alterado, suspenso ou mente eslabelccídos no ato convocatório e de acordo com os
cancelado o registro do inscrito que deixar de satisfazer as exi- fatores exclusivamente nele retcridos.
gêncías da legislação.
Art. 249. O Conselho poderá revogar a Iicitação por interesse
público. devendo anulá-la por ilegalidade. de ofício ou median-
Seção IV te provocação de terceiros.
Procedimento e Julgamento
§ I .º A anulação do procedimento licitatório, por motivo de
Are. 243. O procedimento da licitação será iniciado com a ilegalidade. não gera obrigação de indenizar.
abertura de processo administrativo, devidamente autuado,
protocolado e numerado, contendo a autorização respectiva, a in- § 2.0 A nulidade do procedimento licitatório induz à do contrato.
dicação sucinta de seu objeto e do recurso próprio para a despesa.
Art. 250. As propostas serão processadas e julgadas por uma
Art. 244. O edital conterá, no preâmbulo, o número de ordem comissão, permanente ou especial, de:no mínimo, 3 (três) mcrn-
cm série anual, o nome da Autarquia, a finalidade da licitação, o hros.
local, dia e hora para re<:ehimento da documentação e proposla,
bem como para início da abertura dos envelopes, contendo indi- § l .º l\o caso de convite, a comissão julgadora poderá ser
cações específicas da licilac,;ão. substituída por servidor designado pela autoridade competente.

§ 1.º O original do edital deverá ser datado e assinado pela § 2." A investidura dos membros das Comis8ões Pem1anen-
autoridade que o expedir, permanecendo no processo de licita- tes não excederá de 1 (um) ano, vedada a recondução, para a
ção, e dele extraindo-se as cópias integrais ou resumidas, para mesma Comissão, no período subseqüente.
sua divulgação.
Art. 251. O concurso deve ser precedido de regulamento pró-
§ 2.0 O prazo mínimo de divulgação será de 30 (trinta) dias prio, do qual deverá constar:
para concorrência e concurso, de 15 (quinze) dias para tomada
de preços e leilão, e de 3 (u·ês) dias úteis para convite. I - a qualificação exigida dos participantes:
II - as diretrizes e a fomm de apresenlac,;ão do trabalho;
A1t. 245. Decairá do direito de impugnar, perante o Conse- (1( - as condições de realização do concurso e os prêmios a
lho, os termos do edital de licitação aquele que, tendo-o aceito serem concedidos.
324 Apêndice 3

A1t. 252. O leilão pode ser cometido a leiloeiro oficial ou a nistração em Estado ou Território, 4ue não o de sua -.cde, mas
servidor designado pelo Conselho. procedendo-se na forma da que, por disposiçãúdo CFO, esteja sob sua responsabilidade. ou.
legislação pertinente. no próprio terriÍório de um Conselho Regional desde que abran-
ja, pelo meno< 5 (cinco) munidpios.

§ 2.º As Delegacias Regionais são unidades criadas para


TÍTULO IX
-
UTILIZAÇAO DE AUTO MOVEIS
/
intermediar o relacionamento com o Conselho Regional. dos
profissionais, fomas e entidades da classe de mais de um muni-
PELOS CONSELHOS DE cípio do Estado onde estiver situada a sede do Conselho Regio-
nal.
ODONTOLOGIA
§ 3.º O-. Representantes Municipais são cirurgiôes-dentistas
Arl. 253. Os automóveis de prop1icdade dos Conselhos de designados para intermediar no relacionamento com o Conselho
Odontologia destinam-se exclusivamente ao serviço. Regional, dos profissionais, firmas e entidades da classe de seu
município.
Art. 254. O uso dos automóveis de propriedade dos Conse-
lhos só será pem1itido a quem tenha necessidade impe1iosa de § 4.0 Os Representantes Distritais são cirurgiões-dentistas que
afastar-se repetidamente, em razão do cargo ou da função, da sede exercem as mesmas atribuições referidas no parágrafo anterior,
do serviço respectivo. para fiscali7.ar, inspecionar, diligenciar, cm áreas específicas nas grandes concentrações populacionais.
executar ou dirigir trabalhos que exijam o máximo de aproveita-
mento de tempo. Art. 259. Os membros da Delegacia Seccional, o Delegado
Regional, o Representante Municipal e o Representante Distrital
Art. 255. É rigorosamente proibido o uso dos automóveis de serão, obrigatoriamente, cirurgif>es-dcntistas inscritos no Con-
propriedade dos Conselhos: selho Regional respectivo e poderão ser demitidos a qualquer
tempo, a juízo da autoridade que os nomeou.
a) por chefe de scn·iço ou serYidor. cujas funções sejam
meramente burocráticas e que não exijam transporte de tal
natureza:
h) para transporte de familiares de C onsclhciros e servidores
Capítulo II
ou de pessoas estranhas aos Conselhos: e. Delegacia Seccional
c) em passeio, excursões ou trabalho estranho ao serviço do
Art. 260. A criação de Delegacia Seccional processar-se-á.
Conselho.
observados os seguintes critérios:
Art. 256. A aquisição de automóveis para o sen·iço dos Con-
selhos Regionais deverá ser precedida de justificati,·a da neces- a) características próprias das áreas regionais (distância.
sidade de compra. explicitando a natureza do sen·iço e depende- meios de comunicação, transporte, e de outras);
rá de dotação orçamentária própria, já devidamente apro,·ada pelo h) condições mínimas para o estabelecimento de infra-es-
Conselho Federal. trutura adequada ao funcionamento de Delegacia Seccio-
nal: e,
Art. 257. Os automóveis destinados ao serviço dos Conselhos c) necessidade de descentralizar serviços para melhor aten-
deverão. obrigatoriamente, ser dos tipos mais econômicos. Ye- dimento dos profissionais e cumprimento dos objetivos do
dada a aquisição de carro de luxo. Conselho Regional.

§ l ." A criação de Delegacia Seccional não implica, necessa-


riamente. a existência de todos os critérios referidos no presente
TÍTULO X artigo.
DA CRIAÇÃO E DO
§ 2.º O ato criador definirá, expressamente, a área de jurisdi-
FUNCIONAMENTO DE DELEGACIAS ção da Delegacia Seccional.
E DA DESIGNAÇÃO DE
REPRESENTANTES MUNICIPAIS E Art. 261. A Delegacia Seccional sent subordinada financeira
e administrativamente ao Conselho Regional e terá a seguinte
DISTRITAIS composição:

Capítulo I a) 1 (um) Delegado-Seccional;


Disposições Gerais b) J (um) Secretário; e.
c) 1 (um) Tesoureiro.
Art. 258. ~as jurisdiçôcs dos Conselhos Regionais de Odon-
tologia poderão existir Delegacias Seccionais. Delegacias Regio- § 1.0 Os membros da Delegada Seccional serão designados
nais ou Rcpresentanlcs Municipais e Distritais. de acordo com o por Decisão do Conselho Regional, na qual será fixado o man-
estahclecido nestas normas. dato.

§ l." As Delegacias Seccionais são unidades a quem o Con- § 2. 0 O mandato dos membros das Delegacias estender-se-á
selho Regional delega atribuiçôes visando a dinamizar a admi- até 30 (trinta) dias apôs o final da gestão da Diretoria do Conse-
Apêndia 3 325

\
lho Regional que outorgado, permitida a recónd.11ção, a critério Art. 267. Na ocorrência da necessidade de provisão de recur-
da nova direção. sos financeiros a uma Delegacia. pa.rn qualquer fim, o suprimento
será feito pelo Conselho Regional, de conformidade com as dis-
§ 3.0 Os cargos a que se refere este artigo serão meramente posições legais cm vigor, através de adiantamento. fixado cm 90
honoríficos, sem qualquer remuneração. (noventa) dias o prazo máximo para a comprovação dos gastos.
cm processos de prestação de contas.
Art. 262. Compete a Delegacia Seccional, em sua jurisdição:
Parágrafo único. O suprimento <los recursos será feito por
a) divulgar o Código de Ética Odontológica; cheque nominativo ou ordem bancária, sendo que somente po-
b) zelar pelo bom conceito da profissão; derá ser concedido novo suprimento, após a aprovação da pres-
e) orientar e fiscalizar a observância às normas legais que tação de contas do anterior.
regulamentam o exerdcio da profissão;
d) receber os pedidos de inscrição dos profissionais, das fir-
mas, clínicas e entidades da classe de sua jurisdição e pro- Capítulo III
ceder ao encaminhamento dos mesmos ao Conselho Re- Delegacia Regional
gional;
e) funcionar como úrgào consultivo do Conselho Regional: Art. 268. A criação da Delegacia Regional processar-se-á atra-
f) organizar e manter atualizados cadastros dos profissionais, vés de Decisão do Conselho Regional imcressado.
das firmas, clínicas e entidades da classe de suajuri!,dição,
comunícando ao Conselho Regional as alterações ocorri- Parágrafo único. O ato criador definirá, expressamente, a área
das; de jurisdição da Delegacia Regional.
g) elaborar, anualmente, para a apreciação do Conselho Re-
gional. o relatório de -.uas atividades e a programação de Art. 269. O Delegado Regional será designado por Portaria
trabalho para o ano seguinte; e, do Presidente do Conselho Regional. na qual será fixado o seu
h) cumprir e fazer cumprir as deliberações do Conselho 1-ie- mandato.
deral e do Conselho Regional.
Parágrafo único. O mandato do Uclegado Regional, cujo car-
Art. 263. São atribuiçücs do Delegado Seccional: go será honorífico, estender-se-á até 30 (t1inta) dias ap<ís o final
da gestão do Presidente do Conselho Regional que o tenha ou-
a) administrar a Delegacia e representar o Presidente do Con- torgado, permitida a recondução, a critério <lo novo Presidente.
selho Regional:
b) convocar reuniões e determinar as respectivas pautas; Art. 270. Sào atribuições do Delegado Regional:
e) dar posse ao Secretário e ao Tesoureiro; e,
d) autorizar o pagamento de despesas. a) representar o Conselho Regional, na área de sua jurisdi-
ção. sendo certo que essa representação não envolve dele-
Art. 264. São atribuições do Secretário: gação de poderes que a Lei confere privativamente ao pró-
prio Conselho, nem a prática de atos que não estejam indi-
a) coordenar as atividades da Delegacia. a fim de oferecer cados expressamente nestas normas:
meios ao Delegado Seccional. para o atendimento de sua b) divulgar o Código de Ética Odontológica e zelar por sua
programação de trabalho; observância;
h) colidir dados e elaborar, sob orientação do Delegado Sec- c) intermediar no relacionamento com o Conselho Regio-
cional. o relatório anual das atividades da Delegacia; nal, dos profissionais, das firmas. clínicas e entidades da
e) coordenar as atividades da Delegacia no que tange à fisca- classe de sua jurisdição quando solicitado pelos interes-
lização de anúncios. programas, noticifüios. pronunciamen- sados:
to, entrevistas ou quaisquer outras manifestaçôcs vincula- d) colaborar com o Conselho Regional no combate ao exer-
das, direta ou indiretamente. à Odontologia. através de cício ilegal da profissão e às infrações do Clídigo de ~~tica,
órgãos leigos de comunicai,:ão: comunicando ao Conselho Regional qualquer irregulmi-
d) secretariar as reuniões, elaborando as atas; e dade que ocorrer dentro da área de sua jurisdição; e,
e) substituir o Delegado Seccional, em suas faltas e em seus e) fazer o levantamento de todos os profissionais e entidades
impedimentos. da ,frea de sua jurisdição, inclusive com referência a ende-
reços, comunicando à autoridade imediatamente superior
A11. 265. São atribuiçf>cs do Tesoureiro: qualquer alteração que ocona a respeito.

a) assessorar o Delegado Seccional para o regular processa-


mento de arrecadação das rendas do Conselho Regional na Capítulo IV
jurisdição da Delegacia; e,
b) substituir o Secretário em suas faltas e cm seus i mpedimen- Representantes Municipais e Distritais
tos.
Art. 271. A critério do Conselho Regional poderão ser desig-
Art. 266. Os bens de qualquer natureza só poderão ser adqui- nados Representantes Municipais ou Distritais.
ridos ou recebidos pelas Delegacias Seccionais, mediante auto-
ri7.ação expressa do Conselho Regional e constituirão parte in- § l." A nomeação para qualquer um dos cargos refc,idos nes-
tegrante do patrimônio deste. te artigo, processar-se-á através de Portaria do Presidente do
326 Apêndice 3

Conselho Regional, onde, além do mandato, deverá ser definida '"-,,, . do bastão, respectivamente, tendo na paitc superior e in-
a área de jurisdição. ferior do bast.ão a distância de 240 do diâmetro do círculo
de cada extremidade. Ostentará na boca a sua língua bífide.
§ 2. 0 Os mandatos dos Representantes, cujos cargos são guardadas as mesmas proporções.
honoríficos, estender-se-ão até 30 (trinta) dias após o final da e) a largura do traçado do círculo terá 1/ 1Odo seu interno e
gestão do Presidente do Con:o;elho Regional que os tenha outor- os craços ex temos do bastão e da serpente terão largura de
gado. permitida a recondução a critério do novo Presidente. l/20 do referido diâmetro.

§ 3.º O Presidente do Conselho deverá comunicar às autori- li - Anel: uma grande pedra engastada cm arco de ouro, re-
dades competentes a designação do representante. solicitando presentando duas cobras emrclaçadas.
apoio para o melhor desempenho de :mas funções. UI - Bandeira: cor grená com um círculo branco no centro e
no meio do mesmo o caduceu com a cobra entrelaçada; com as
Art. 272. O Representante Municipal ficará subordinado ad- seguintes dimensões: largura de 2/3 do seu comprimemo e o di-
ministrativamente ao Delegado Seccional ou Regional, se o seu âmetro externo do círculo deverá ter o comprimento de 2/3 da
Município pe11encer a área de jurisdição de Delegacia Regional. largura da bandeira.

A1t. 273. O Representante Distrital ficará subordinado dire-


tamente ao Conselho Regional.
TÍTULO XII
Art. 274. São atribuições dos Representantes Municipal e DOS PAPÉIS DE EXPEDIENTE PARA
Distrital: USO NA AUTARQUIA
a) colahorar com a autoridade hierarquicamente superior:
Art. 276. O formato fundamental dos papéis de expediente
b) 01ientar os profissionais de sua jurisdição para o fiel cum-
para uso nos Conselhos de Odontologia será 297 X 21.0mm. os
primento da legislação odontológica:
seus múltiplos e submúltiplos.
e) comunicar à autoridade imediatamente superior qualquer
irregularidade que ocorra dentro da área de sua jurisdição.
Arr. 277. Os envelopes. para uso nas condições do artigo an-
com referência às leis que regem o e~ercício da Odontolo-
terior. terão os seguintes formatos: 229 X 324mm, 162 X 229mm
gia e, especialmente. ao Código de Etica:
e 114 X 162mm.
d) intermedíar no relacionamento com o Com,elho Re~ional.
dos profissionais e das entidades da classe de sua }Ürisdi-
Art. 278. Nos mencionados papéis e envelopes figurarão uni-
ção, quando solicitado pelos interessados: e.
camente, como emblema, as Armas Nacionais e o nome do Con-
e) fazer o levantamento de todos os profissionais e entidades
selho respectivo.
da área de sua jurisdiçào. inclusi \ e com referência a ende-
reços, comunicando à autoridade imediatamente superior
Parágrafo único. É permitido o uso de papéis para ''conti-
qualquer alteração que ocorra a respeito.
nuação" de ofícios, pareceres, relatórios, etc., apenas com o
nome do Conselho respectivo colocado no canto superiores-
querdo.
TÍTULO XI
Art. 279. Os envelopes de formato 110 X 229mm e 114 X
DOS SÍMBOLOS DA ODONTOLOGIA 162mm, impressos cm preto. quando destinados a uso nos servi-
ços postais, deverão observar as características indicadas na Nor-
Art. 275. O Símbolo, o Anel e a Bandeira da Odontologia têm ma de Padronização de Envelopes e de Papéis de Escrita, para
as seguintes especificações e características: uso nos Serviços Postais - PB - 530177 da Associação Brasileira
de Normas Técnicas.
1 - Símholo: conterá o Caduceu de Esculápio, na cor grená.
com a serpente de cor amarela com estrias pretas no sentido di- A11. 280 .. O modelo da capa do processo adotada pelos Con-
agonal, enrolando-se da esquerda para a direita e o conjunto, selhos de Odontologia é o aprovado pelo Conselho Federal.
circunscrito em um círculo também na cor grcná, contendo as
seguintes dimensões e proporções:

a)o bastão lerá o comprimento de 9/10 do diâmetro interno TÍTULO XIII


do círculo. tendo na parte superior a largura de 2/10 do DA PUBLICIDADE EM PUBLICAÇÃO
referido diâmetro e, na parte inferior, l/10 do diâmetro
citado. Seus traços laterais serão retos. Apresentará, ain- DOS CONSELHOS FEDERAL E
da, alguns pequenos segmentos de reta, no sentido verti- REGIONAIS
cal, para conferir-lhe caráter lenhoso. Suas extremidades
lerão linhas curvas e seu traçado externo, a largura de Art. 281. É permitida a publicidade nos boletins, jornais, in-
l/20 do diâmetro interno do círculo. formativos, e em quaisquer outras publicações dos Conselhos de
b) a serpente, em sua parte mais larga. terá 111 Odo diâmetro Odontologia, a saber:
interno do círculo e largura zero. na cauda. Enrolar-se-á
no bastão de cima para baixo de forma elíptica, passando a) anúncios e propagandas de instituições ou empresas púhlí-
pela frente, por trás, pela frente e parte superior e inferior cas ou privadas, não ligadas à Odontologia, criteriosamente
Apéndice 3

selecion adas dentro d as diret rizes do Código de Ética até 2 (dois) anos após o ténrúno do mandato para o qual tenha
Odontológica; e sido eleito ou nomeado .
b) an úncios e propagan das de indústria~ fabrican tes de equi-
pamentos odontoló gicos. Art. 286. O Conselh o Federal não poderá prestar qualquer
auxílio ou emprést imo para atende-r situação financeira de ficitá-
§ l." Em hipótese alg uma será permitid a a promoçã o de pes- ria dos Conselh os Regiona is, ocasiona da por excesso de despe-
soa física. sas, supérflu as ou adiáveis, sobre as receitas.

§ 2.0 É vedada a publicid ade de medicam entos, materiai s de Parágraf o único. Aplica-s e o disposto neste artigo aos Con- ..,.,,
consumo e de empresas que comerci alizem tais produtos e equi- se lhos Regionais que efetuem pagamen to de jdton a seus Con- .~?
pamento s. sclheíros, ou que não estqjam em dia com a cobranç a da dívida ,....,
ativa.
§ 3.0 O Presidente do Conselho responde rá, eticamente, pe-
los abusos cometid os na publicid ade de suas publicaç ões. Art. 287. Os Conselh os Regiona is deverão manter permane n-
temente atualizad os cadastro s de cirurgiõe s-dentistas, especia-
listas.pr áticos-lic enciados, técnicos em prótese dentária. técni-
cos em higiene dental, atendente de consultó rio dentário , auxili-
TÍTULO XIV ares de prótese dentária, clínicas de ntárias e laboratórios de pró-
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS tese dentária inscritos cm seus respectivos quadros; de entida-
des associativas da classe registrad as no Conse.lh o Federal: dos
Art. 282. Os profissio nais ministra dores de cursos de forma- cursos de especial ização reconhecidos ou credenc iados pelo
~º de técnico em higiene dental e de atendent e de consultó rio Conselh o Federal; das ordens honorífi cas reconhe cidas pelo
dentário deverão , obrigatoriamente , se limitar aos atos práticos Conselh o Federal; e, dos cursos de gmduaçà o em Odontologia
específicos de tais auxiliares, sob pena de instauraç ão de processo existente s no país.
ético, pelo respectiv o Conselh o Regiona l.
Art. 288. A omissão ou a negligên cia no atendim ento das
Art. 283. Quaisquer docume ntos redigidos em língua estran- exigênci as e pra:c.os prev istos nas leis e nos atos do Conselh o
geira somente serão admitido s quando autentica dos por consu- Federal e dos Conselh os Regiona is, acarreta a responsa bilidade
lado brasileir o no país de origem e acompan hados. quando ne- adminis trativa, ética e/ou criminal, do age nte e de quem, por
cessário , de tradução oficializ ada. qualque r forma. tenha conu·íbuído para a infração.

Art. 284. Não podem os Conselh os de Odontol ogia concede r, Arl. 289. A critério do Plenário do CFO, o Presidente poderá,
sob qualquer forma, bolsas de estudos ou auxílios semelha ntes. a qualquer tempo, promove r concurso, para efeito de regisu-o e
inscrição como espc<..ialista, para quem estiver há mais de 8 (oito)
An. 285. É expressa mente vedado aos Conselhos de Odontolo- anos no exercício da docência.
gia contratar serviços, de qualquer espécie e sob qualquer fmma.
Art. 290. Todos os pnizos de datas estabelecidos nestas normas
w m cônjuges ou parentes consangüíneos ou afins, até 3." grau. ou
por adoção, de Conselhe iros, d.e membros de Delegacias Seccio- que coincidirem com sábado, domingo ou fc1iado, serão automa-
nais e Regionais e de Representantes Municipais e Distritais. ticament e prorroga dos para o primeiro dia útil subseqüe nte.

Parágraf o único. A vedação rcfe.rida neste artigo atinge, in- A 1t. 291. Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselh o
clusive, cônjuge ou parente. de ex-Cons elheiro. e de ex-Mem bro, Fedem!.
--------···..-·--·····-·----------- -··-·-----····---·----

CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


Atualizado até a alteração introduzida pela Medida Provisória n.º 1.890-63, de 29.06.99

LEI N." 8.078, DF. 11 DE SETE'.\-tBRO DE 1990 § 1.0 - Produto é qualquer hem, móve} ou imóvel, material ou
imaterial.
DispÔt' sobre a proteção do c011.111midor e dá nwras provi-
dh1cias. ~ 2. 0 - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de
consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza ban- ,.
O PRESIDENTE DA REPl'BLICA cária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
Faço saber que o Congresso Kacional decreta L' cu sanciono a relações de caráter trabalhista.
seguinte Lei:

TÍTULO I CAPÍTULO II
DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR DA POLÍTICA NACIONAL DE
RELAÇÕES DE CONSUMO
Ar!. 4. 0 - A Polúica Nacional de Relações de Consumo tem
CAPÍTULO I por objetivo o atendimento das necessidades dos rnnsumídores.
DISPOSIÇ{)ES GERAIS o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria ele sua qualidade de vida, bem
Art. l ." · O presente Código estabelece nomia, de proteção e rnmo a u·ansferência e harmonia das relações; de consumo, aten-
defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social. nos ter- didos os seguintes princípios:
mos dos artigos 5.0 , inciso XXXII, 170, inciso\", da Constitui-
ção l•ederal, e artigo 48 de su3s Disposições Transitórias. l - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no
mercado de consumo; j.

Art. 2." - Consumidor é toda pessoa físic:a ou jurídica que II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente
adquire ou utiliza produtos ou serviço como destinatário final. o consumidor:

Parágrafo único - Equipara-se a consumidor a coletividade ele a) por iniciativa direta;


pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intcn·índo nas re- b) por inecntí vos à criação e desenvolvimento de associações
laç<ies <lc consumo. representativas;
e) pela presença do Estado no mercado de consumo:
Art. 3.º - Fornec:cdor é toda pessoa física ou jurídica. pública d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequa-
ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes desper- dos de qualidade, segurança, durabi Iidade e desempenho.
sonalízados, que desenvolvem atividades de produção, monta-
gem, criação. consu·m.;ão, transformação. importa"°ão, exporta· III . hannonização dos interesses dos participantes das rela-
çâo, distrihuiçiio ou comercialízaçào de produto$ ou prestação ções de c:onsumo e compatibilização da proteção do consumi-
de serviços. dor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tec-
Apêndice .J 329

nológíco. de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam
ordem econômica (artigo 170, da Constituição Federal), sem- prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
pre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumi- supervenientes que as tornem excessivamente onerosas:
dores e fornecedores; VJ - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
IV· educação e infonnação de fornecedores e consumidores. morais, individuais. coletivos e difusos;
quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do Vll - o acesso aos <írgãos judiciários e administrativos. com
mercado de consumo; vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais.
V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficien- individuais. coletivos ou difusos. assegurada a proteção juridi-
tes de concrole de qualidade e segurança de produtos e serviços, ca. administrativa e técnica aos necessílados;
assim como de mecanismos alternativos de solução de conllitos VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
de consumo; inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo cívil. quan-
VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos prati- do, a critério do juiz. for verossímil a alegação ou quando for ele
cados no mercado de consumo, inclusive a conc<mêncía desleal hipossuficíente, segundo as regras ordinárias de experiências:
e utilização indevida de inventos e criações índustríaís das mar- IX - (Vetado.)
cas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em
prejuízos aos consumidores; geral.
VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos:
VIII - estudo constante das modificações do mercado de con- Art. 7. 0 - Os direitos previstos neste Código não excluem
sumo. outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de
que o Brasil seja sígnat.írío. da legislação imerna ordinária, de
A11. 5.º - Para a execução da Política Nacional das Relações regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas com-
de Consumo, contará o Poder Público com os seguintes instru- petentes. bem como dos que derivem dos princípios gerais do
mentos, entre outros: direito. analogia. costumes e eqüidade.

T- manutenção de assistência jurídica. integral e gratuita para Parágrafo único · Tendo mais de um autor a otensa, todos
o consumidor carente; responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos
li - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Con- nas normas de consumo.
sumidor, no âmbito do Ministério Público;
III - criação de delegacias de polícia er,;pecializadas no aten-
dimento de consumidores vítimas de infrações penais de consu-
mo; CAPÍTULO IV
TV - c1i.ação de .Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas DA QUALIDADE DE PRODUTOS E
Especializadas para a solução de litígios de consumo;
V - contessão de estímulos à criação e desenvolvimento das SERVIÇOS, DA PREVENÇÃO E DA
Associações de Defesa do Consumidor. REPARAÇÃO DOS DANOS
§ 1.0 - (Verado. l

§ 2.0 - (VNado.) SEÇÃO, I ;


DA PROTEÇAO A SAUDE E
SEGURANÇA
CAPÍTULO III
Art. 8.º - Os produtos e serviços colocados no mercado de
DOS DIREITOS BÁSICOS DO consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos con-
CONSUMIDOR sumidores, exceto os considerados nonnaís e previsíveis em
decorrência de sua natureza e fruição. ohrigando-se os fornece-
Art. 6.º - São direitos básicos do consumidor: dores, em qualquer hipôtcse, a dar as informações necessárias e
adequadas a seu respeito.
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos pro-
vocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços Parágrafo único - Em se tratando de produto industrial, ao
considerados perigosos ou nocivos; fabricante cabe prestar as informaç<'ícs a que se refere este arti-
ll - a educação e divulgação sobre o rnnsumo adequado dos go. atravé8 de impressos apropriados que devam acompanhar o
produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igual- produto.
dade nas contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes pro- An. 9. º - O fornecedor de produtos e serviços potencialmente
dutos e serviços. com especificação correta de quantidade, ca- nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá infonnar, de
racterísticas. composição, qualidade e preço, bem corno sobre os maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou
riscos que apresentem; pcriculosidade. sem preíuízo da adoção de outras medidas cabí-
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, veis cm cada caso concreto.
métodos comerciais coercitivos ou desleais. bem corno contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de Art. JO - O fornecedor não poderá colocar no mercado de
produtos e serviços; consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresen-

llllllllliitlll. .Ti.Tillllllllllllllll...111111111111111111111111111111111111......................,
330 Apêndice 4

tar alto grau de nocividade ou periculosídade à saúde ou segu- Parágrafo único - Aquele 4uc efetivar o pagamento ao preju-
rança. dicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais
responsáveis, segundo sua participação na c.:ausaçâo do evento
§ 1." - O fornecedor de produtos e serviços que, posterionnente danoso.
à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento
da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato ime- Art. 14 - O fornecedor de serviços responde, independente-
diatamente às autoridades competentes e aos consumidores. mente da existência de culpa, pela reparação dos danos causa-
mediante anúncios publicitários. dos aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos ser-
viços, bem como por informaçf>es insufü:icntes ou inadequadas
§ 2.º - Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo sobre sua frnição e riscos.
anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão. a
expensas do fornecedor do produto ou serviço. § 1.º - O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança
que o consumidor dele pode esperar, levando-se cm considera-
§ 3.º - Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade ção as circunstâncias rclcvances, entre as quais:
de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumido-
res, a União, os Estados, o Distrito Pederal e os Municípios de- J - o modo de seu fornecimento:
verão informá-los a respeito. n - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se espe-
ram;
Art. 11 - ( Vetado.) IH - a época em que foi fornecido.

§ 2. 0 - O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de


novas técnicas.
SEÇÃO II
DA RESPONSABILIDADE PELO § 3.º - O fornecedor de serviços só não será responsabilizado
quando provar:
FATO DO PRODUTO E DO
SERVIÇO 1 - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste:
TI - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Art. 12 - O fabrican1e. o produtor. o construtor. nacional ou
estrangeiro, e o importador respondem. independentemente da § 4. 0 - A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais
exisLêncía de culpa. pela reparação dos danos cau5ados aos con- será apurada mediante a verificação de culpa.
sumidores por defeitos decorrentes de projeto. fabricação. cons-
tmção, montagem, fórmulas, manipulação. apresentação ou acon- Art. 15 - (Vi!tado.)
dicionamento de seus produtos, bem como por infonnações in-
suficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Art. 16 - (Vetado.)

§ l.º - O produlo é defeituoso quando não oferece a seguran- Art. 17 - Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos con-
ça que dele legitimamente se espera, levando-se em considera- sumidores todas as vítimas do evento.
ção as circunstâncias relevantes, enlre as quais:

1 - sua apresentação: SEÇÃO III


11 - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
,
111 - a época em que foi colocado em circulação. DA RESPONSABILIDADE POR VICIO
DO PRODUTO E DO SERVIÇO
~ 2.º - O produto não é considerado defeituoso pelo fato de
outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. Art. 18 - Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou
não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade
§ 3.º - O fabricante, o com,tlutor. o produtor ou importador ou quantidade que os tomem impróprios ou inadequados ao con-
só não será responsabilizado quando provar: sumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor. assim como
por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações cons-
1 - que não rnlocou o produto no mercado; tanles do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem pu-
li - que, embora haja colocado o produto no mercado, o de- blicitária, respeitadas as variações decon-emcs de sua natureia.
feito inexiste; podendo o consumidor exigir a substituição das pat1es viciadas.
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ l." - Não sendo o vício sanado no prazo máximo de 30 (trin-
Art. 13 - O comerciante é igualmente responsável, nos termos ta) dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua es-
do artigo anterior. quando: colha:

I - o fab,icante, o construtor, o produtor ou o importador não I - a substituição do produto por outro da mesma espécie. em
puderem ser identificados; perfeitas condições de uso:
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu lJ - a reslituiçào imediata da quantia paga, monetariamente
fabricante, produtor, construtor ou importador: atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
lJl - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. III - o abatimento proporcional do preço.
Api1ndice -1 331

§ 2." - Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamen1e
<lo prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferi- atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos:
or a 7 (sete) nem superior a 180 (cento e oitenta) dias. Nos contra- III - o abatimento proporcional do preço.
tos de adesão, a dáusula de prazo deverá ser convencionada em
separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. § l ." - A reexecução dos serviços poderá ser confiada a 1er-
ceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.
§ 3.0 - O consumjdor poderá fazer uso imediato das alternati-
vas do§ l." deste artigo sempre que, em razão da extensão do § 2." - São impróprios os serviços que se mostrem inadequa-
vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a dos para os fins que razoavelmente deles se esperam, hem como
qualidade ou características do produto. diminuir-lhe o valor ou aqueles que não atendam às normas regulamentares de
se tratar de produto essencial. prestabilidade.

§ 4." - Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso A11. 21 - No fornecimento de serviços que tenham por o~jeti-
1 do§ 1.° deste artigo, e não sendo possível a substituição do vo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a
hem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição
modelo diversos. mediante complementação ou restituição de originais adequados e novos, ou que mantenham as especifica-
eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos ções técnicas do fabricante, salvo. quanto a estes últimos, auto-
li e III do§ 1." deste artigo. rização em contrário do consumidor.

§ 5.º - No caso de fornecimento de produtos ín natura, será Art. 22 - Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, con-
responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exce- cessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de
to quando identificado claramente seu produtor. empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados.
eficientes, seguros e, quanto aos essenciai~, contínuo~.
§ 6. 0 - São impróprios ao uso e consumo:
Parágrafo único - Nos casos de descumprimento. total ou
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas
11 - os produtos deteriorados, alterados. adulterados, avaria- jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados,
dos, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à na forma prevista neste Código.
saúde. perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as nor-
mas regulamentares de fab1icação, distribuição ou apresentação; A,1. 23 - A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qua-
111 - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inade- lidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de
quados ao fim a que se destinam. responsabilidade.

Art. 19 - Os fornecedores respondem solidariamente pelos Art. 24 - A garantia legal de adequação do produto ou servi-
vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as va- ço independe <lc termo expresso, vedada a exoneração contratu-
1ia1,:f>es decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for al do fornecedor.
inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor Art. 25 - É vedada a estipulação contratual de cláusula que
exigir, alternativamente e à sua escolha: impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar pre-
vista nesta e nas Seções anteriores.
1 - o abatimento proporcional cio preço;
1l - complementação do peso ou medida: § I .º - Havendo mais de um responsável pela causação do
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, dano. todos responderão solidariamente pela reparação prevista
marca ou modelo, sem os aludidos vícios; nesta e nas Seções anteriores.
IV - a restituição imediata da quantia paga, monctmiameme
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. § 2." - Sendo o dano causado por componente ou peça incor-
porada ao produto ou serviço. são responsáveis solidários seu
§ l." - Aplica-se a este artigo o disposto no§ 4!' do artigo fabricante, construtor ou importador e o que realiwu a iúcorpo-
anterior. ração.

§ 2.0 - O fornecedor imediato será responsável quando fizer a


pesageri1 ou a medição e o instrumento utilizado não estiver ate- SEÇÃO IV
rido segundo os padrões oficiais.
DA DECADÊNCIA E DA
Arl. 20 - O fornecedor de serviço~ re~ponde pelos vícios de PRESCRIÇÃO
qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes dimi-
nuam o valor. assim como por aqueles deco1Tentes da dísparidade Art. 26 - O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de
com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitá- fácil constatação caduca cm: ·
ria, podendo o consumidor exigir. alternativamente e à sua es-
colha: 1 - 30 (trinta) dias, tratando-se de fornecimento <le serviço e
de produto não duráveis:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando 11 - 90 (noventa) dias, tratando-se de fornecimento de serviço
cabível: e de produto duráveis.
332 Apêndice 4

§ l ." - Inicia-se a contagem do prazo dccadcncial a partir da en-


trega efeliva do proouto ou do ténn.ino da execução dos serviços. SEÇÃO II
DA OFERTA
§ 2. 0 - Obstam a decadência:
Art. 30 - Toda informação ou publicidade, suficientemente
1 - a reclamação comprovadamente formulada pelo consunúdor precísa, veiculada por qualquer fo,ma ou meío de comunicação
perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negaàva com relação a produtos e servíços oferecidos ou apresentados, •,,

l
correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e in-
II - (Vetado.) tegra o contrato que vícr a ser celebrado.
III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
Art. 31 - A oferta e apresentação de produtos ou serviços de-
§ 3.º - Tratando-se de vícío oculto, o prazo decadcncial ini- vem as-.egurar ínformações corretas. claras, precisas, ostensivas
'•
cia-se no momento em que ficar evidencíado o defeito. e cm língua portuguesa sobre suas características, qualidade,
quantidade. composição. preço, garantia, prazos de validade e
Art. 27 - Prescreve cm 5 (cinco) anos a pretensão à reparação
origem. entre outros dados. bem como sobre os riscos que apre-
pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista
sentam à saúde e segurança dos consumidores.
na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a
partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
Art. 32 • Os fahricanie" e imporrndorcs deverão assegurar a
oferta de componentes e peças de reposíção enquanto não ces-
Parágrafo único - (Vetado.)
sar a fabricação ou importação do produto.

Pará!!rafo único - Cessadas a produção ou importação. a ofena


SEÇÃO V de,er.:í ~r mantida por período razoável de tempo, na formada lei.
DA DESCONSIDERAÇÃO DA ...\rt. 33 - Em caso de oferta ou venda por telefone ou reem-
PERSONALIDADE JURÍDICA bolso postal. deve constar o nome do fabricante e endereço na
embalagem. publicidade e em todos os impressos utilizados na
Art. 28 - O juiz. poderá desconsiderar a personalidade jurídi- tr.msaçào comerc íal.
ca da sociedade quando. cm detrimento do consumidor. hou,a
abuso de direíto. excesso de poder. infração da lei. fato ou ato ...\rt. J-t - O fornecedor do produto ou serviço é solidariamen-
ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. :\ de~con:;i- te responsável pelos aios de seus propostos ou representantes
derw;ão também será efetívada quando hoU\ er falência. estado autônomos.
de insolvêncía. encerramento ou inati, idade da pes~oa jurídica
provocados por má administração. Art. 35 - Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar
cumprimento à oferta. apresentação ou publicidade, o consumi-
§ L." - (Vetado.) dor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:

§ 2.º - As sociedades integrantes dos grupos societário-5, e as 1- exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da
sociedades controladas são subsidiariamence responsá\eis pelas ofe,ta, apresentação ou publicidade;
obrigaçücs decorrentes deste Código. li . aceitar outro produto ou prestação de servi.ço equivalen-
te:
§ 3." - As sociedades consorciadas são solidariamente respon- TJJ - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia
sáveís pelas obrigações decorrentes deste Código. e eventualmente antecipada. monetariamente atualizada, e a per-
das e danos.
§ 4." · As sociedades coligadas só responderão por culpa.

§ 5.0 - Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica


sempre que sua personalidade for. de alguma forma. obstáculo SEÇÃO III
ao rcs.,arcimento de prejuízos causados aos consumidores. DA PUBLICIDADE
Art. 36 - A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o
CAPÍTULO V consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.
DAS PRÁTICAS COMERCIAIS Parágrafo único - O fornecedor. na publicidade de seus pro-
dutos ou serviços. manterá cm seu poder, para infom1ação dos
legítimos interessados. os dados táticos. técrúcos e científicos que
dão sustentação à mensagem.
SEÇÃOI
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 37 - É proíbida toda publícídade enganosa ou abusiva.

Art. 29 - Para os fins deste Capítulo e do seguinte. equipa- § 1.º - É enganosa qualquer modalidade de informação ou
ram-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não. comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa.
expostas às práticas nele previstas. ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão. capaz de in-
Apê11dice .J 333

duzir em erro o consu midor a respei to <.la natu reza.


caruc tcdstí- * inciso Xl/ acres centado pela Lei n."9.008, de 21 de março
iedad es, origem , preço e quais- de 19.95.
cas, qualida<.le, quant idade , propr
quer outro s da<.los sobre produ tos e serviç os. tos reme-
Parág rafo único - O s serviç os presta dos e os produ
previs ta no inciso
minatória tidos ou entreg ues ao consu midor , na hipóte se
§ 2.0 - É abusiv a, <.!entre outras , a public idade discri UI. equip aram- se às amost ras grátis , inexis tindo obrig ação de
incite à vioJê nda, explo re o medo
de qualq uer na1ure1.a. a que pagam ento.
, se aprov ejte da defici ência de julga mento e
ou a super stição
ntais, ou que
experiência da crianç a. dcsres pe-it.a valore s ambie Art. 40 - O fornec edor de serviç o será obriga do a
entreg ar ao
de forma pre-
seja capaz. de indu7.ir o consu midor a se comp ortar consu midor orçam ento prévio discri minan do o valor da mão-d c-
judici al ou perigo sa à sua saúde ou segura nça. amen tos a serem emp regad os, as con-
obra, dos maler iais e equip
início e témtin o dos
osa diçõe s de pagam ento, hem como as dai.as de
§ 3.0 - Para os efeito s deste Códig o. a public idade é engan serviç os.
essencial do
por omiss ão quand o deixar de infonn ar sobre dado
o terá
produ to ou serviç o . § I ." - Salvo estipulação em co nlrâri o, o valor orçad
conta dos de seu recebi mento
validade pelo prazo de JO(dez) dias.
§ 4.0 - ( Vetudo.) pelo consu midor .
da infor- obri-
Ari. 38 - O ônus da prova da veraci dade e correç ão § 2.º - Uma vez aprov ado pelo consu midor, o orçam ento
nicaç ão public itária cabe a quem as patroc ina. somen te pode ser altera do media nte livre
mação ou comu ga os contra entes e
negoc iação das partes .

(>nus ou
SEÇ ÃO IV § 3." - O consu midor não respo nde por quaisq uer
da conlra taçâo de serviç os de tercei ros.
acrésc imos decorrentes
DAS PRÁTICAS ABUSIVAS não previs tos no orçam ento prévio .

Art. 39 - É ve<lado ao fornec edor de produ tos ou serviç


os: de serviç os
Art. 41 - No caso de Íúrnec iment o de produ tos ou
de contro le ou de tabela mento de preços, os
sujeitos ao regim e
serviç o ao pena de.
l - condicionar o fomec iment o de produ to ou de fornec edore s dever ão respei tar os limite s oficia is sob
o, bem como , setn j us ta da quant ia recebi da
fornec iment o de outro produ to ou serviç não o fazen do, respo ndere m pela restituição
zada, poden do o consu midor
causa , a Hmite.s quant itativo s: em exces so. mone taríam enlc atuali
es, na m preju íw
lJ - recusar atend imento às de mand as dos consumidor exig ir, à sua escolh a. o desfaz iment o do negóc io, se
de suas dispo nibili dades de estoq ue, e, ainda . de es cabív eis.
exata m e.dida de outras sançõ
confo rmida de com os usos e costumes;
pré-
Jíl • envíar ou entreg ar ao consu midor, sem solici tação
via, qualq uer produ to. ou fornec er qualq uer se rviço:
midor . SEÇ ÃO V
IV - preva lecer-se da fraq ueza ou ignor ância do consu
tendo em vista sua idade . saúde , conhe cimen to ou condi ção so- DA COB RAN ÇA DE DÍVIDAS
cial, pant impingi r-lhe seus produ tos ou serviç os;
excessiva: plcnte
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente A1t. 42 - Na cobra nça de débitos, o consu midor inadim
tar serviç os sem a prévia elabo ração de orçam ento a ridícu lo, nem será subme tido a qualq uer tipo
VI - cx.ecu não será expos to
vadas as decor ren-
e autori 1..ação expre ssa do consu midor, ressal de constr angim ento ou ameaç a.
tes de prátic as anteri ores entre as partes ;
VII - repas sar infon nação depre cíali va refere nte
a ato prati- ia indev ida
Parág rafo único - O consu midor cobra do em quanl
consu midor no exerc ício de seus direito s; o à repeti ção do indéb ito, por valor igual ao dobro uo
cado pelo tem direit
uer produ to ou tária e juros
rrr -
V coloc ar, no merca do de consu mo, qualq
idas pelos órgão s
que pagou e.m exces so, acresc ido de correç ão mone
serviç o e m desac ordo com as norma s exped legais, salvo hipóle se de engan o justifi cável.
existirem, pela
oficiais comp etente s ou. se norma s específicas não
entida de
A ssociação Brasi leira de Nom1as Técnicas ou outra
Metro logia. Nonn aliza-
crede nciada pelo Conse lho Nucional de SEÇ ÃO VI
ção e Quali dade Indust rial - CONM ETRO ;
IX· deixa r de eslípu lar praw para o cump rimen to de sua
obri- DOS BANCOS DED ADO S E
l a seu exclusivo
CADASTROS DE CON SUM IDO RES
gação ou deixa r a fixaçã o de seu lermo inicia
critér io;
serviç os;
X - elevar sem jw;ta causa o preço de produ tos ou no artigo
la ou índice de reajus te di verso do legal ou Art. 43 - O consu midor, sem prejuí zo do dispo sto
X f - aplica r fórmu existe ntes cm cadas tros, fichas ,
86, terá acesso ài; inform ações
contr atualm ente estabe lecido ; pesso ais e de consu mo arquiv ados sobre ele.
registros e dados
0
bem como sobre as suas respec tivas fontes .
inciso XI com redaç ão dada p ela Meàula Provisória n.
J. 890-63, de 29 de junho de 1999. ser oh,ic-
§ 1.0 - Os cadas tros e dados de consu midores devem
deiros e em lingua gem de fáci I comp reensã o.
to de sua li vos, claros, verda
XII - deixa r de estipu lar pra7.0 para o cump rimen ntes a períod o
o de seu termo inic ial a seu exclus i- não poden do conte r inform ações negat ivas refere
obriga ção ou deixa r a fixaçã
super ior a 5 (cinco ) anos.
vo critério.
;: :: •
0
- A abertura de cadastro. ficha, registro e dados pessoais Parágrafo único - Se o consumidor cxcn.:itar o direito de arre-
.: Jc .:onsumo deverá ser comunicada por escrito ao consumidor, pendimento previsto neste artigo. os valores cventua!mcnt.e pa-
<-!llando não solicitada por ck. gos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devol-
vidos, de imediato, monetariamente atualizados.
§ 3." - O consumidor. sempre que encontrar inexatidão nos
seus dados e cadastros. poderá exigir sua imediata correção, de- Art. 50 - A garantia contratual é ccnnplcmentar à legal e será
vendo o arquivista, no prazo de 5 (cinco) dias úteis, comunicar a conferida mediante termo escrito.
alteração aos eventuais destinatários das informações incon-ctas.
Parágrafo único - O termo de garantia ou equivalente eleve ser
§ 4. 0 - Os bancos de dados e cadastros relativos a consumido- padronizado e esclarecer, de maneira adequada, em que consis-
res, os serviços de proteção ao crédito e congêneres são consi- te a mesma garantia, bem como a forma. o prazo e o lugar em
derados entidades de caráter público. que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor. de-
vendo ser-lhe entregue. devidamente preenchido pelo fornece-
§ 5." - Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos dor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual de in-.tru-
do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas ção, de instalação e uso de produto em linguagem didática, com
de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam im- ilustrações.
pedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedo-
res.

Art. 44 - Os órgãos púhlicos de defesa do consumidor mante-


SEÇÃO II
rão cadastros atualizados de reclamaçües fundamentadas contra DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS
fornecedores de produtos e serviços. devendo divulgá-lo-. públi-
ca e anualmente. A divulgação indicará se a reclamação foi aten- Art. 51 - São nulas de pleno direito. entre outras. as cláusulas
dida ou não pelo fornecedor. contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

§ l ." - É facultado o acesso às informações lá constantes para 1 - impossibilitem. exonerem ou atenuem a responsabilidade
orientação e consulta por qualquer interessado. do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e
serviços ou impliquem rcnú1icia ou disposição de direitos. Nas
§ 2.º - Aplicam-se a este artigo, no que couber. as mesmas relaç<,es de consumo entre o fomecedor e o consumidor-pessoa
regras enunciadas no artigo anterior e as do parágrafo único jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situaçõe-. justifi-
do artigo 22 deste Código. cáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quan-
Art. 45 - (Vetado.) tia já paga, nos casos previstos neste Código;
UI - transfiram responsabiJídades a terceiros;
JV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas.
que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou se-
CAPÍTULO VI jam incompaúveis com a boa-fé ou a eqüidade;
DA PROTEÇÃO CONTRATUAL V - (Vetado.);
VI - estabeleçam inversão do ônus ela prova em prejuízo do
consumidor;
VII - determinem a utilização compulsória .de arbitragem:
SEÇÃOI VIII - imponham representante para concluir ou realizar ou-
DJSPOSIÇOES GERAIS tro negócio jurídico pelo consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o con-
Art. -+6 - Os contratos que regulam as relações de consumo trato. embora obrigando o consumidor;
não obrigarão os consL1midores. se não lhes for dada a oportuni- X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, varia-
dade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os ção do pre\·o de maneira unilateral;
respectivos instrumen1os forem redigidos de modo a dificultar a X 1 - autmizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateral-
compreensão de seu sentido e alcance. mente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor;
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobran-
Art. 47 - As cláusulas contratuais serão inte11wctadas de ma- ça de sua obrigação. sem que igual direito lhe seja conferido
neira mais favorável ao consumidor. contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o
Art. 48 - As declarações de \'Ontade constantes de escritos conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração:
paiticulares, recibos e pré-concratos relativos às relações de con- XIV - infrinjam ou pos~ibilitem a violação de nomms ambi-
sumo vinculam o fornecedor. ensejando inclusive execução es- entais:
pecífica, nos termos do artigo 84 e parágrafos. XV - estejam cm desacordo com o sistema de proteção ao
consumidor.
Art. 49 - O consumidor pode desistir do contrato, no pram de XVI - po-.sibililem a renúncia do direito de indenização por
07 (sete) dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimen- benfeitorias necessárias.
to do produto ou serviço, sempre que a contratação de forneci-
mento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento § 1.0 - Presume-se exagerada, enu·e ouu·os casos, a vantagem
comercial, especialmente por telefone ou a domicílio. que:
Apêndice 4 335

I - ofende os princípios fundamcnlais do sistema jurídíco a


que pertence;
SEÇÃO III
II - restringe direitos ou obrigações fundamcnlais inerentes à DOS CONTRATOS DE ADESÃO
natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu o~jeto ou o equi-
líbrio contratual; A1t. 54-Comrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumi- aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateral-
dor, considerando-se a nalureza e conteúdo do contrato. o mente pelo fornecedor de produtos ou serviços. sem que o consu-
interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao midor possa discutir ou modificar ~uhstancialmente seu conteúdo.
caso.
§ 1.0 - A inserção de cláusula no formulário não desfigura a
§ 2." - A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não natureza de adesão do contrato.
invalida o contrato. exceto quando de sua ausência, apesar dos
esforços de integração. decorrer ônus excessivo a qualquer das § 2.º - Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória.
pm1es. desde que alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressal-
vando-se o disposto no§ 2." do artigo anterior.
§ 3." - (Vetado.)
§ 3." - Os contratos de adesão escritos serão redigidos em ter-
§ 4." - É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o mos clarns e com caracteres ostensivos e legíveis, de modo a
represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a compe- facilitar sua compreensão pelo consumidor.
tente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual
que contrarie o disposto neste Código ou de qualquer forma não § 4.º - A-. cláusulas que implicarem limitação de direito do
assegure o juslo equilíbrio entre direitos e obrigações das par- consumidor deverão ser redigidas com destaque. permitindo sua
tes .. imediata e flicil compreensão.

Art. 52 - No fornecimento de produtos ou serviços que en- § 5. 0 - (Vetado.)


volva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao con-
sumidor. o fornecedor deverá. entre outros requisitos, informá-
lo prévia e adequadamente sobre:
CAPÍTULO VII
I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; DAS SANÇÕES ADMINISTRATIVAS
II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros:
III - acréscimos legalmente previstos: Art. 55 - A União. os Estados e o Distrito Federal. em caráter
IV - número e periodicidade das prestações; concorrcllle e nas suas respectiva-. áreas de atuação administra-
V - soma total a pagar, com e sem financiamento. tiva, baixarão normas relativas à produção. industrialização, di-.-
tribuição e consumo de produtos e serviços.
§ 1.0 - As multas de mora decorrentes do inadimplemento de
obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por § I .º - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípi-
cento do valor da prestação. os fiscalizarão e controlarão a produção, industrialização, dístri-
buíção. a publicidade de produtos e serviços e o mercado de
§ 2.0 - É assegurada ao consumidor a liquidação antecipada consumo. no interesse da preservação da vida, da saúde, da se-
do déhilo. total ou parcialmente, mediante redução proporcional gurança. da informação e do hem-estar do consumidor, baixan-
dos juros e demais acréscimos. do as normas que se fizerem necessárias.

§ 3.º - ( Ve1ado.) § 2.º - (Vetado.)

Art. 53 - Nos contratos de compra e venda de móveis ou im<Í- § 3." - Os 6rgãos federais. estaduais, do Distrito Federal e
veís mediante pagamento em prcstaç<'ícs, bem como nas aliena- municipais com alribuições para fiscalizar e controlar o merca-
çiíes fiduciárias em garanlia, consideram-se nulas de pleno di- do de con-.umo manterão comíss<'ícs perrnanemes para elabora-
rnito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações ção, revisão e atualização das normas referidas no § 1.'', sendo
pagas cm benefício do credor que, em razão do inadimplemento, obrigat6ria a panicípação dos consumidores e fornecedores.
plcilcar a resolução do conlrato e a retomada do produto ai iena-
do. § 4. 0 - Os órgãos oficiais poderão expedir notificações aos
fornecedores para que, sob pena de desobediência, prestem in-
§ 1.0 - (Vetado.) fom1ações sobre questões de interesse do consumidor, resguar-
dado o segredo industrial.
§ 2.º - Nos contratos do sistema de consórcio de produtos
duráveis, a compensação ou a restituição das parcelas quitadas. Art. 56 - As infraçf>cs das normas de defesa do consumidor
na forma deste artigo. terá dcscomada, além da vantagem eco- ficam sujeitas, confom1e o caso, às seguintes sanções adminis-
nômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou trativas, sem prejuízo das de natureza cívil, penal e das defini-
inadimplente causar ao grnpo. das em normas específicas:

§ 3.0 - Os contratos de que trata o caput deste artigo serão 1- multa;


expressos cm moeda corrente nacional. II - apreensão do produto:
336 Apindíce 4

III - inutilização do produlo: § 1.º - A contrapropaganda será divulgada pelo responsável


IV - cassação do regislro <lo produto junto ao órgão compe- da mesma forma. freqüêncía e dimensão e preferencialmente no
tente; mesmo veículo, local, espaço e horário, de forma capaz de des-
V - proibição de fabricação do produto; fazer o malefício da publicidade enganosa ou abusiva.
VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviço;
VII - suspensão temporária de atividade; § 2." - (Vetado.)
VIII - revogação de concessão ou pemüssão de uso;
LX - cassação de licença do estabelecimento ou de atividade; § 3.0 - (Veiado.)
X - interdição, lolal ou parcial, de estabelecimento, de obra
ou de atividade;
XI - intervenção administrativa;
XII - imposição de contrapropaganda. TÍTULO II
DAS INFRAÇÕES PENAIS
Parágrafo único - As sanções prevista, neste anigo serão aplica-
das pela autoridade administrativa, no âmbito de sua atribuição, Art. 61 - Constituem crimes contra as rclaçf>es de consumo
podendo ser aplicadas cumulativamente, inclusi\'e por medida previstas neste Código. sem prejuízo do disposLO no Código Pe-
cautelar anlcccdente ou incidente de procedimento administrativo. nal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos seguintes.

Art. 57 - A pena de multa. graduada de acordo com a gravi- Art. 62 - (Verado.)


dade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica
do fornecedor, será aplicada mediante procedimento admini-.tra- Art. 63 - Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade
tivo nos termos da lei. revertendo para o Fundo de que trata a ou periculosidade de produtos nas embalagens, nos invólucros,
Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985, sendo a infração ou dano recipientes ou puhlicidade:
de âmbito nacional. ou para os fundos esLaduais de proceção ao
consumidor nos demais casos. Pena - Dclenção de 6 (seis) meses a 2 (<lois) anos e multa.

Parágrafo único - A multa será em montante nunca inferior a § l .º - Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar,
300 (trezentas) e não superior a 3.000.000 llrês milhões; de \'e- mediante recomendações esciitas ostensivas, sobre a periculosi-
zes o valor do Bônus do Tesouro :'\acional - BT\'. ou índice dade do serviço a ser prestado.
equivalente que venha substituí-lo.
§ 2.º - Se o crime é culposo:
Art. 58 - As penas de apreensão, de inutilíLaçào de produtos.
de proibição de fabricação de produtos. de suspensão do forne- Pena - Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa.
cimento de produto ou serviço, de cassação do registro do pro-
duto e revogação da concessão ou permissão de uso serão apli- Art. 64 - Deixar de comunicar à autoridade competente e aos
cadas pela administração. mediante procedimento adminístraci- consunúdores a nocív.idade ou periculosidade de produtos cujo
vo, assegurada ampla defesa. quando forem constatados \ ícíos conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado:
de quantidade ou de qualidade por inadequação ou insegurança
do produto ou serviço. Pena - Detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e mulla.

Art. 59 - As penas de cassação de alvará de licença, de inter- Parágrafo único - Incorrerá nas mesmas penas quem deixar
dição e de suspensão lemporária da ativídade, bem como a de de retirar do mercado. imediatamente quando determinado pela
intervenção administrativa, serão aplicadas mediante procedi- autoridade competente, os produtos nocivos ou pe1igosos, na
mento administrativo. assegurada ampla defesa, quando o for- forma deste artigo.
necedor reincidir na práLica das infrações de maior gravidade
previstas neste Código e na legislação de consumo. f\rt. 65 - Executar serviço de alto grau de periculo:-,idade.
contra1iando delenninaçâo de autoridade competente:
§ l." - A pena de cassação da concessão será aplicada à con-
cessionária de serviço público, quando violar obrigação legal ou Pena - Detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
contratual.
Parágrafo único - As penas deste artigo são aplicáveis sem
§ 2.º - A pena de intervenção administrativa será aplicada prejuízo das correspondentes à lesão corporal e à morte.
sempre que as circunstâncias de fato desaconselharem a cassa-
ção de licença, a interdição ou suspensão da atividade. Art. 66 - Fazer afirmação falsa ou enganosa. ou omitir infor-
mação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quan-
§ 3.<' - Pendendo ação judicial na qual se discuta a imposição tidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia
de penalidade adnúnislrati va, não haverá rcim:idência até o trân- de produtos ou ~crviços:
sito em julgado da sentença.
Pena - Delenção de 3 (lrês) meses a 1 (um) ano e multa.
Art. 60 - A imposição de contrapropaganda será cominada
quando o fornecedor incorrer na prática de publicidade engano- § I .º - Im:orrcni nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.
sa oU abusiva, nos termos do artigo 36 e seus parágrafos, sem-
pre a expensas do infrator. § 2." - Se o crime é culposo:

............................................................~
.4péruiia -1 337

:! 1 - serem cometidos em época de grave crise econômica oo


Pena - Detenção de I (um) a 6 (seis) meses ou mulla.
por ocasião de calamidade;
Art. 67 - Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria II - ocasionarem grave dano individual ou coleti,·o:
saher ser enganosa ou ahusiva: III - dissimular-se a natureza ilícita do procedimento:
IV • quando cometidos:
Pena - Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.
a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econô-
Parágrafo único - (Vetado.) mico-socíal seja manifcslamente superior à da vítima:
b) em detrimento de operário ou rurícola: de menor de 18
Art. 68 - Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria (dezoito) ou maíor de 60 (sesscnla) anos ou de pessoas
saber ser capaz de induzir o consumidor a se comportar de for- portadoras de deficiência mental, interditadas ou nào:
ma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança:
V - serem praticados cm operações que envolvam alimentos.
medícamentos ou quaisquer outros produtos ou serviços essenciais.
Pena - Detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
A11. 77 - A pena pecuniária prevista nesta Seção será fixada
Panigrafo único - (Verado.) cm dias-mulla, con-espondente ao mínimo e ao máximo de dias
de duração da pena privativa da liberdade cominada ou crime.
Art. 69 - Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e cienú-
Na individualização desta multa. o juiz observará o dispost<> no
ficos que dão base à publicidade: artigo 60, I.", do Código Penal.
Pena - Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa. Art. 78 - Além das penas p1ivatívas de liberdade e de multa,
podem ser impostas, cumulativa ou alternadamente, observado
Art. 70 - Empregar, na reparação de produtos, peças ou com- o disposto nos artigos 44 a 47 do Código Penal:
ponentes de reposição usados. sem autorização do consumidor:
I - a interdição temporária de díreítos;
Pena - Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa. II - a publicação em órgãos de comunicação de grande circu-
lação ou audiência, a expensas do condenado. de notícia sobre
Art. 7 I - Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, os faws e a condenação;
constrangimento físico ou moral, afirmaçües falsas, incorretas ou Ili - a prestação de serviços à comunidade.
enganosas ou de qualquer ou1ro procedimento que exponha o
consumidor. injustificadamente. a ridículo ou interfira com seu Arl. 79 - O valor da fiança, nas infrações de que trata este
trabalho, descanso ou lazer: Código, será fixado pelo juiz, ou pela autoridade que presidir o
inquérito, entre LOO (cem) e 200.000 (duzentas mil) vezes ova-
Pena - Detenção de 3 (três) meses a I (um) ano e multa. lor do Bônus do Tesouro Nacional - BTN, ou índice equiva-
lente que venha substituí-lo.
Art. 72 - Impedir ou dificultar o acesso do consumídor às in-
formações que sohre ele conslcm em cadastros. banco de dados, Parágrafo único - Se assím recomendar a sítuação econômica
fichas e registros: do índiciado ou réu, a fíança poderá ser:

Pena - Detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano ou multa. a) reduzida alé a metade de seu valor mínimo;
b) aumentada pelo Juiz alé 20 (vinte) vezes.
Art. 73 - Deixar de corrigir imediatamente informação sobre
consumidor constante de cadasu·o, banco de dados, fichas ou Art. 80 - ~o processo penal atinente aos crimes previstos neste
registros que sabe ou dcvcría saber ser inexata: Código, bem como a outros crimes e contravençf>cs que envol-
vam relações de consumo, poderão intervir, como assistentes do
Pena - Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa. Ministério Públíco, os legilimados indicados no artigo 82, incisos
III e IV, aos quais também é facultado propor ação penal subsi-
Att. 74 - Deixar de entregar ao consumídor o tenno de garan- diária, se a denúncia não for oferecida no prazo legal.
tía adequadamente preenchido e com especificação clara de seu
conteúdo: ,,
TITULO III
Pena - Detenção de J (um) a 6 (seis) meses ou multa. DA DEFESA DO CONSUMIDOR EM
Art. 75 - Quem, de qualquer forma, concorrer para oc; crimes JUÍZO
referidos neste Código incide nas penas a esses cominadas na
medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, administra- ,,
dor ou gerente da pessoa jurídica que promover, pem1itír ou por CAPITULO!
qualquer modo aprovar o fornecimento, oferta, exposição à venda
ou manutenção em depósíto de produtos ou a oferla e prcslação DISPOSIÇÕES GERAIS
de serviços nas condições por ele proibidas.
Art. 81 - A defesa dos interesses e díreítos dos consumídores
Art. 76 - São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados
neste Código:
e das vítimas poderá ser exercida cm juízo individualmente, ou
a título coletivo. ---
338 llpê11dice 4

Parágrafo único - A defesa coletiva será exercida quando se § 5." - Para a tutela específica ou para a obcençâo <lo resulta-
tratar de: do práúco equivalellle, poderá o Juiz detenninar as medidas ne-
cessárias, Lais como busca e apreensão, remoção de coisas e pes-
1 - interesses ou direitos difusos, assim encendidos, para efei- soas, desfazímcnto de obra. impedimento de atividade nociva.
tos deste Código, os transindi vi duais, <le natureza indivisível, de além de requisição de força policial.
que sejam titulares pessoas indctem1inadas e ligadas por circuns-
tâncias de fato: Art. 85 - (Vetado.)
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para
efeitos deste Código, os transindividuais de natureza indivisível Al'l. 86 - (Vetado.)
de que seja titular gmpo. categoria ou classe de pessoas ligadas
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica-base; Art. 87 - Nas ações coletivas de que trata este Código não
llI - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim haverá adiantamento de custas. emolumentos, honorários peri-
entendidos os <lemo-entes de origem comum. ciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associa-
ção autora. salvo comprovada m,í-fé, cm honorário de advoga-
Art. 82 - Para os fins <lo art. 81, parágrafo único. são legiti- dos, custas e despesas processuais.
mados concorrentemente:
Parágrafo único - Em caso <le litigância de má-fé, a associa-
J - o :Vlinístério Público; ção autora e os diretores respon~áveís pela propositura da ação
li - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal; serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e
lJI - as enúdades e órgãos da Administração Púhlica, Dircla ao décuplo <las custas, sem prejuízo da responsabilidade por
ou Indireta, ainda que sem personalidade jurídica. especificamen- perdas e danos.
te destinados à detesa dos interesses e direitos protegidos por este
Código;
Art. 88 - Na hipótese do artigo 13, parágrafo único. desce
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos l
Código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo au-
(um) ano e que incluam e1me sem, fins institucionais a defesa dol'>
tônomo, facultada a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos
interesses e direitos protegidos por este Código. dispensada a
autos. vedada a dcnuncia~ão da lide.
aut01ização assemblear.
Art. 89- (Vetado.)
§ 1." - O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo
Juiz, nas açf>es previstas no artigo 91 e seguintes. quando haja
manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou caracterís- Art. 90 - Aplicam-se às ações previstas neste Título as nor-
tica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido. mas do Código de Processo Civil e da Leí n.º 7.347, de 24 de
junho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, na-
§ 2." - (Vetado.) quilo que não contrariar suas disposições.

§ 3." - (Vetado.)
CAPÍTULO II
A11. 83 - Para a dcl'esa dos direitos e interesses protegidos por
este Código são admissíveis todas as espécies <lc ações capazes DAS AÇÕES COLETIVAS PARA A
de propiciar sua adequada e efetiva tutela. DEFESA DE INTERESSES
Parágrafo único· ( Vnado.) INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS
Art. 84 - Na ação que tenha por objeto o cumprimento da Art. 91 . Os legitimados de que trata o art. 82 poderão pro-
obrigação de fazer ou não faLer, o Jui:1. concederá a tutela espe- por, cm nome próprio e no interesse das vítimas ou seus suces-
cífica da obrigação ou determinará providências que assegurem sores. ação cívil coletiva de responsabilidade pelos danos indi-
o resultado prático equivalente ao do adimplemento. vidualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos se-
guintes.
§ l ." - A conversão da ob1igaçào em perdas e danos somente
será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tute- Art. 92 - O Ministério Público, se não ~juizar a ação, atuará
la específica ou a obtenção do resultado prático correspondente. sempre como fiscal da lei.

§ 2." - A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo Parágrafo único - ( Vetado.)
da multa (artigo 287 do Código de Processo Civil).
A11. 93 - Ressalvada a competência <la.Justiça Federal, é com-
§ 3.º - Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo jus- petente para a causa a Justiça local:
tificado receio de ineficácia <lo provimento final. é lícito ao Juiz con-
ceder a tutela liminannente ou após justificação prévia, citado o réu. I - no foro do lugar onde ocorreu ou <leva ocorrer o dano.
quando de âmbito local;
* -+.º - O Juiz poderá. na hipôtese do§ 3." ou na sentença, im- li - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal.
por multa diária ao réu. indcpcn<lcntcmeme de pedido <lo autor, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as
se for ~uficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo regras do Código de Processo Civil aos casos de competência
razmÍ\ l'I para o cumprimento do preceito. concorrente.
i\pbulice .J 339

A11. 94 - Proposta a ação, será publicado e<lítal no 6rgão oficial, I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor:
a fim de que os interessados possam intervir no processo como II - o réu que houver contralado seguro de responsabilidade
lítíscons011cs. sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de poderá chamar ao processo o segurador, vedada a integração do
comunicação social por parte dos órgãos de delesa do consunúdor. c.:ontraditório pelo Instituto de Resscguros do Brasíl. Nesta hi-
pótese, a sentcm;a que julgar procedente o pedido condenará o
Art. 95 - Em caso de procedência do pedido, a condenação réu nos termos do artigo 80 do Código de Processo Civil. Se o
será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos réu houver sido declarado l'alído, o síndico será intimado a in-
causados. formar a existência de seguro de responsabilidade facultando-se.
cm caso afirmativo. o ajuizamcnto de ação de índcnização dire-
Art. 96 - (Vetado.) tamente contra o segurador, vedada a denunciação da lide ao
Instituto de Rcsscguros do Brasil e dispensado o lítisconsórcio
Art. 97 - A liquidação e a execução de sentença poderão ser obrigatório com este.
promovídas pela vítima e seus sucessores, assim como pelos le-
gitimados de que trata o artigo 82. Art. 102 - Os legitimados a agir na forma deste Cüdigo pode-
rão propor ação visando compelir o Poder Público competente a
Panígrafo único - ( Vetado.) proibir. em todo o Territ6rio Kacional, a produção. divulgação,
distribuição ou venda, ou a determinar alteração na composição.
Arl. 98 - A execução poderá ser coletiva, sendo promovida estrutura, fórmula ou acondicionamento de produto, cujo uso ou
pelos legitimados de que trata o artigo 82, abrangendo as víti- consumo regular se revele nocivo ou perigoso à saúde pública e
mas cujas indenizações já tiverem sido fixadas em sentença de à incolumidade pessoal.
liquidação, sem prejuízo do ajuizamcnlo de outras execuções.
§ \." - (Vetado.)
§ l ." -A execução coletiva far-sc-á com base em ce11ídão das
sentenças de liquidação, da qual deverá constar a ocorrência ou § 2." - ( Verado.)
não cio trânsito cm julgado.

§ 2." - É competente para a execução o Juízo:


CAPÍTULO IV
1- da liquidação da sentença ou da ação condenatüria. no caso
de execução individual;
DA COISA JULGADA
li - da ação condenatlÍria, quando coletiva a exec.:ução.
Arl. 103 - '.'Jas ações coletivas de que trata este Código, a sen-
Art. 99 - Em caso de concurso de créditos decorrentes de con- tença fanl coísa julgada:
denação prevista na Lei n.º 7.347. de 24 de julho de 1985. e de
indenizações pelos prejuízos individuais resultantes do mesmo I - erga mmies. exceto se o pedido for julgado improcedente
evento danoso. estas terão preferência no pagamento. por ínsuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitima-
do poderá intcnlar outra ação. com ídêntico fundamento. valen-
Parágrafo único - Para deíto do disposto neste artigo, a destinação do-se de nova prova. na hip6tesc do inciso J do parágrafo úni-
da impo11âncía recolhida ao tundo criado pela lei n." 7.347. de 24 co do artigo 81 ;
de julho de 1985, ficará sustada enquanto pendentes de decisão de li - ultm panes, ma:rs limit.adamenle ao grnpo. categoria ou
segundo grau as açôcs de indenização pelos danos índividuais, sal- classe, salvo improcedência por insuficiência de provas. nos Ler-
vo na hipótese de o patrimônio do devedor ser manifestamente su- mos do inciso anterior. quando se tratar da hipótese prevista no
ficiente para responder pela integralidade das dívidas. inciso li do parágrafo único do artigo 81;
III - erga omm!s. apenas no caso de proccdênda do pedido.
Art. 100 - Dcconido o prazo de 1 (um) ano sem habilitação para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores. na hipótese
de interessados cm número compatível com a gravidade do dano, do inciso IH do parágrafo único do artigo 81.
poderão os legitimados do artigo 82 promover a liquidação e
execução da indenização dcvi<la. § 1.0 - Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos l e 11
não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integran-
Parágrafo único - O produto da indeniz.ação devida reverterá tes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
para o fundo criado pela Lei n:' 7 .347, de 24 de julho de 1985.
§ 2." - Na hipótese prevista no inciso III. cm caso de impro-
cedência do pcdído, os interessados que não tiverem intervindo
no processo como litisconsortcs poderão propor ação de indeni-
CAPÍTULO III zação a título in<lividual.
DAS AÇÕES DE RESPONSABILIDADE
§ 3.º - Os efeitos da coisa julgada de que cuida o artigo 16,
DO FORNECEDOR DE PRODUTOS E combínadocom o an. 13 da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
SERVIÇOS não prejudicarào as açf>es de indeniza~âo por danos pessoal me me
~oli.idos, propostas individualmente ou na forma prevista neste
An. 101 - Na ação de responsabilidade cívíl do fornecedor de Códígo, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e
produtos e serviços. sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e seus ~ucessores, que poderão proceder à liquidação e à execu-
ll deste Título. serão observadas as seguintes normas: ção, nos termos dos artigos 96 a 99.
340 Apêndice 4

* 4." - Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à senten-


ça penal condenatória. TÍTULO V
DA CONVENÇÃO COLETIVA DE
Ar1. 104 - As ações colcli vas, previstas nos incisos I e II do
parágrafo úmco do artigo 81, não induzem litispendência para CONSUMO
as ações individuais. mas o-; efeitos da coisa julgada a1:a omnes
ou ultra panes a que aludem os incisos II e III do artigo ante- Art. 107 - As cmidades civis de consumidores e as associações
rior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for de fomeccdorcs ou sindicatos de categoria econômica podem re-
requerida sua suspensão no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da gular, por convenção escrita, relações de consumo que renham por
ciência nos autos do ajuizamcnto da ação coletiva. objetoestabcleccrcondiç<ics relativas ao preço, à qualidade. à quan-
tidade. à garanlia e caracteristicas de produtos e serviços, bem como
à reclamação e composição do conflito de consumo.
TÍTULO IV § l.º - A convenção tornar-se-á obrigatória a partir do regis-
DO SISTEMA NACIONAL DE DEFESA tro do instrumento no cartório de títulos e documentos.
DO CONSUMIDOR § 2.º · A convenção somente obrigará os filiados às entidades
signatárias.
Arl. 105 - Integram o Sistema Nacional de Defesa do Consu-
midor - SNDC - os órgãos federais, estaduais. do Distrito § 3.º - Não se exime de cumprira convenção o fomccedorque
Federal e municipais e as entidades privadas de defesa do con-
se desligar da entidade em data posterior ao registro do instm·
sumidor.
mento.
A1t. 106 - O Departamento Nacional de Defesa do Com,umi-
Art. 108 - ( Vetado.)
dor, da Secretaria Nacional de Direito Econômico - ~U. ou
órgão federal que venha substituí-lo, é organismo de coordena-
ção da política do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor.
cahcndo-lhe:
TÍTULO VI
1- planejar, elaborar, propor. coordenar e executar a política DISPOSIÇÕES FINAIS
nacional de proteção ao consumidor:
II - receber, analisar, avaliar e encaminhar consultas. denún- Art. 109 - (Vetado.)
cias ou sugestões apresentadas por entidades represcntati rns ou
pessoas juridicas de direito público ou prhado: Art. 11 O - Acrescente-se o seguinte inciso TV ao artigo l .º da
IH - prestar aos consumidores orienta<;ào pem1anente sobre Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985:
seus direitos e garantias;
IV - informar. conscientizar e moti,ar o consumidor através ''IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo:·
dos diferentes meios de comunicação:
V - solicitar à Polícia Judiciária a instauração de inquérito Are. 111 · O inciso II do artigo 5." da Lei n.º 7.347, de 24 de
policial para a apreciação de delito contra os consumidores, nos julho de 1985, passa a ler a seguinte redação:
termos da legislação vigente;
Ví - representar ao Ministério Público competente para fins "11 - inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção
ele adoção de medidas processuais no âmbito de suas atribuiç<'íes; ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico. esté-
VII - levar ao conhecimento dos órgãos rnmpecentcs as ín- tico, histórico. turístíco e paisagístico, ou a qualquer outro inte-
fraçôes de ordem administrativa que violarem os interesses di- resse difuso ou coletivo:'
fusos, coletivos. ou individuais dos consumidores:
VIII - solicitar o concurso de órgãos e emidades da União. Art. 112 - O§ 3.0 do artigo 5.0 da Lei n.º 7.347. de 24 de julho
Estados, do Distrito Federal e Municípios, bem como auxiliar a de 1985, passa a ter a seguinte redação:
fiscalização de preços, ahastecimento, quantidade e segurança de
bens e serviços: "§ 3.º - Em caso de desistência infundada ou abandono <la ação
IX - incentivar, inclusive com recursos financeiros e outros por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legiti-
programas especiais. a formação de entidades de defesa do con- mado assumirá a títuJaridade ativa."
sumidor pela população e pelos órgãos públicos estaduais e
municipais; Art. 113 - Acrescente-se os seguintes§§ 4.0 , 5.º e 6. 0 ao arti-
X - ( Velado.); go 5. 0 da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985:
XI - ( Vetado.);
XJJ - (Vdado.); "§ 4. 0 - O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado
XJJI - desenvolver outra5. atividades compatíveis com suas pelo Juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela
finalidades. dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem
jurídico a ser protegido.''
Parágrafo único - Para a consecução de seus objetivos. o
Departamento Nacional de Defesa do Consunúdor poderá soli- § 5." - Admitir-se-á o lilisconsórcio facultativo entre os Mi·
citar o concurso de órgãos e entidades de notória especialização nistérios Públicos da União. do Distrito Federal e dos Estados
técnico-científica. na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei .

....................................................................1..
Apêndice ../ 3"' 1

"§ 6.º - Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos quer outras despesas. nem condenação da associação autora.
interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado. custas
exígências legais, medianLe cominação, que lerá eficácia de tí- e despesas processuais".
tulo executivo extrajudicial".
Art. 117 - Acrescente-se à Lei n.º 7.347, de 24 de julho de
Art.114-0rutigo 15 <la Lei n.º7.347. de24<lejulhode 1985, 1985. o seguinte dispositivo. renumerando-se os seguintes:
passa a ter a seguinte redação:
"A11. 21 - Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difu-
"Art. 15 - Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julga- sos. coletivos e individuais, no que for cabível. os disposíLi-
do da sentença condenatória, sem que a associação autora lhe vos do Título III da Lei l}UC instituiu o Código de Defe~a do
promova a execução, deverá fazê-lo o Minístério Público, Consumidor''.
facultada igual iniciativa aos demais legitimados".
Art. 118 - Este C6<ligo entrará em vigor dentro de 180 (cento
Art. 115 - Suprima-se o caput do artigo 17 da Lei n.º 7 .347, e oitenta) dias a contar de sua publicação.
de 24 de julho de 1985, passando o parágrafo úníco a constituir
o caput, com a seguinte redação: Arl. 119 - Revogam-se as disposiç<ics cm contrário.

"Arl. 17 - Em ca'>O de lítigância de má-fé, a associação autora e Brasília, li de setembro de 1990; 169.º da Independência e
os diferentes responsáveis pela propositura da ação serão solida- 102.º da República.
riamente condenados em honorário-. advocaticios e ao décuplo
das custas. sem prcj uízo da responsahilídadc por perdas e danos'·. FERNANDO COLLOR DE MELLO

Art. 116- Dê-sc a seguinte redação ao art. 18, da Lei n.º7.347, Bernardo Cabral
de 24 de julho de 1985: Zélia M. Cardoso d(t Mel/o

"Art. 18 - Nas ações de que trata esta lei, não haverá adianta- Ozires Si/lia
mento de custas, emolumentos, honorários pcricíaís e quais-

IIII. .L
[ .illlllllllllllllllllllllliilif. .I•·-:n•r:.... . .lllllllllllllllllllllllllllllllllllllll..1111111111111111111
r.·······111111175
··---------·-··---- --------------- ---·-·--·----·-··--- ·------·---

CID-10
(CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS)

• Doenças epidêmkas
DE INTERESSE ODOI\"TOLÓGICO • Doenças localizadas
• Doenc;as localizadas dispostas por local de acometimento
NOÇÕES PRF,Ll.MINARF.S
• Doenças de desenvolvimento
A CID (Classificação Internacional de D0ença~ 1 é um -:-on-
• Traumatismos
junto de códigos alfanumérirns que se utiliza para traduzir diag-
rnísticos de doenças ou problemas de saúde (disfunçôes 1. permi- Essa idéia original tem sido mantida, com discretas variaçôes.
tindo assim o arquivamento, a recuperação e a análise das infor- nas sucessivas versões da CID, o que de certa forma demonstra
maçôcs de interesse sanitá1io. a sua utilidade para os fins colimados pela classificação.
O seu uso tem se difundido de forma tal que, atualmente. é A estrutura básica da CID compreende uma lista de c6digos
considerada a classificação diagnóstica padrão internacional para d..: categorias de três caracteres. cada uma das qm1is pode ser
a maioria dos propósitos epidemiológicos e administrativos que sutidi\ idida em até IO subcategorias de quatro caracteres. A
envolvem problemas de saúde. Facilita, outrossim, o prccnchi- Décima Re\'isão - ClD-1 O- diterenlcmente das anteriores, que
mcnlo de fichas e quaisquer outros registros relacionados à saú- eram cxclusi, amente numéricas, introduziu códigos alfanumé-
de, a partir dos qL1ais possam ser derivadas estatísticas e outros ricos. c:om uma letra na primeira posição, seguida de números
proccdímentof> estociísticos. na segunda. terceira e qum1a posições subseqüentes. O quarto
Em Odontologia, afora as utilidades assinaladas, a CID é útil caractere (número) é antecedido por um ponto decimal.
na medida em que pcrm ite garantir o segredo profissional em di- Os números dos códigos possíveis estende-se desde AOO.O até
versos documentos odonto-legais (atestados, declarações etc.), Z99.9. sendo certo que a letra L" não é utilizada.
notadamente quando envolvem o díagnúst.ico clínico ou instru- Os dados cncontram-~c agrupados cm volumes. que se divi-
memal. com conseqüências técnico-administrativas. dem cm capítulos.
A idéia de classifü.:ar alfanumerícamente os estados mórbi-
dos surgiu há mais de 40 ano<;, tendo sido encampada pela OMS
Volumes
(Organização Mundial da Saúde), até pelo seu próprio cunho de
Os volumes da CID-1 Osão três, a saber:
difusão intemacional. Periodicamente, a CID é reformulada,
• Volume 1, com as principais classificaçõefi (que é o mais
sendo ce,10 que cada nova versão, denominada revisão, inclui
utilizado):
rntcgorias novas ou estabelece mudanças decorrentes das neces-
• Volume 2, com oricntaçiíes para os usuários da CID, e
sidades evidenciadas pelo uso da versão anterior. Hoje em dia já
se encontra vigente e em uso, a décima revisão - CID-10 - • Volume 3, com o Índice Alfahético da classificação.
publicada pela OMS em 1993. ·P.
Paralelamente, encontra-se em elaboração pela própria OMS Capítulos
[
"t
a Cfass(ficaçilv Internacional de Doenças aplicada à Odontolo- Os capítulos que compõem a classificação do primeiro vo- 1
gia e Est011wtolo[,/ia: a CID-OE. Esta CIO aplicada completará, lume são, ao r.odo, 21 (vinte e um). Como já vímos, o primeiro ·•,i
:igora. recém a sua terceira versão. caractere do código de um estado mórbido é uma letra. sendo ;f
certo que coincide que cada letra est,\ associada com um capí- ,.,,.,i,
ESTRUlTRA BÁSICA DA CID tulo. Fazem exceção à regra a letra D, que é usada tanto no Ca-
Parre do princípio de que os dados estatísticos sobre doenças pítulo TI como no Capítulo III, e a letra H, que é utilizada tanto
ou estado~ mórbidos devem ser agrupados da scgllinte maneira: no Capítulo VIJ quanto no Capítulo VIII. Outra exceção é que

................................................_J..
,\póufia 5 J43

quatro capítulos - I. II, XIX e XX - usam mais do que uma rentes situações, a CID utiliza convenções especiais. atra,és. de:
letra na posição inicial dos seus códigos. parênteses, colchetes e abreviaturas, como "SOEºº e ··~cop··.
Os capítulos J a XVII referem-se a doenças e outros esiados
mórhidos do!>. diferentes Sistemas da economia. Jl\ o Capítulo Parênteses
XVIII incluí sintomas, sinais e achados clínicos e de laboratório Os parênteses ( ) são usados cm duas situações, a saber:
anômalos. que não se encontram classificados em outra parte. O
Capítulo XIX refere-se a causas exógenas de morbidade como: a) para incluir palavras suplementares que podem qualificar
traumatismos. envenenamentos e alguns outros quadros com tal um tem10 diagnóstico sem. contudo, afetar o número de
gênese. O Capítulo XX, que nas Revisões anteriores era dedica- código. Por exemplo:
do a "Causas Externas de Morhidade e Mortalidade". já a pmtir
da nona Revisão da CID - CrD-9 - . tem tido um conteúdo a-.- K06.0 • Retração gengival
senielhado com o do Capítulo XIX antes mencionado. Por <lcn-a- ~etração gengival (generalizada), (localizada), (pós-
deiro. o Capítulo XXI foi destinado à classificação de dados que infeccím.a), (pós-operatória)
explicam o motivo de consulta nos Serviços de Saúde por pa11c de
pessoas não atualmente doentes. hem como de outra-. circunstân- Nesse caso. o código K06.0 é genérico para todos os ca-
cias que levam o pacicnlc a receber assistência naquele momento. sos de ''Retração gengival". Os termos entre parênteses -
(generalizada). (localizada). (pós-infecciosa), (pós-ope-
ratória) - servem apenas para qualificar o tipo de retra-
Agrupamentos de Categorias
ção gengival em cada caso concreto.
Os diferentes capítulos elencados subdividem-se em agrupamen-
tos de categorias representadas por três caracteres numéricos. A arn-
b) para incluir o código ao qual se refere um termo de exclu-
pl itude de categorias para cada agnrpamento é apresentada entre pa-
são. Por exemplo:
rênteses, após cada título do agnrpamcnto, como por exemplo: "Do-
enças da Cavidr.t!e Ora~ das Glândula.-. Salivares e dfls Maxilares K03.7 - Alterações pós-eruptivas da cor dos tecidos
(KOO-K14)". No ca'io referido. a amplitude das: categorias - KOO a duros dos dentes
K 14-fixa desde onde e até que c(x.ligo "nuclear'' se c-.tende o rol. fü:dui: depósitos nos dent.es (K03.6)

Categorias de Três Caracteres No caso concreto, estão excluídos os depósitos nos dentes
Em meio a cada agmpamcnto dos assinalados no parágmfo pre- cujo rol j,í consta. cm separado, no código KOJ.6, in ver-
cedente. de categorias de três caracteres. observa-se que algumas são his:
utilizadas para estados mórbidos que, quer pela sua freqüência, quer
pela sua gravidade ou outras razões, têm maior significação, ao passo K03.6 - Depósitos nos dentes
que outras são utilizadas para classificar outros tipos de doenças Depósito dentário (de): alaranjado. matéria alba, negro, por
que têm alguma característica cm comum entre si. Exemplo: betel. tabaco, verde tártaro (dentário): subgengival.
supragengíval
COI - Neoplasia maligna da base da língua .Ylanchas nos dentes: SOE, extrínseca SOE

C02 • Neoplasia maligna de outras partes e de partes não- Colchetes


especificadas da língua Os colchetes l J são utilizados na CID-1 O, nas seguintes três
C02.0 • Face dorsal da língua situações:
C02.1 - Borda da língua
Ponta da língua a) Para incluir sin(lnimo-.. palavras ou frases explicativas.
C02.2 - Face ventral da língua como consta. por exemplo:
Freio lingual
C02.4 • Amígdala lingual B02 - Herpes Zoster LzonaJ
C02.8 • l,esão invasiva da língua
C02.9 - I .íngua, não-especificada Este caso denota que o "Herpes Zoster'' pode ser designa-
do, também. como "zona". isto é. são sinfmimos
A primeira categoria (COI), pela sua freqüência da neoplasia
em tal localização - base da língua-, mereceu uma categoria b) Para referir-se a notas prévias como, por exemplo:
de três caracteres isolada.
II: Neoplasias (Tumores]
.lá a categoria seguinte (C02), pela variabilidade de localiza- Seoplasias [tumores] henignas(os)
ções possíveis. e pela clínica em comum ou semelhante. possi-
hil ita ser desdobrada cm várias subcateg01ias. Neoplasia benigna da boca e da faringe
CIO.O - Lábios

Porquanto em notas prévias já foi esclarecido que as neo-


ALGUMAS CONVENÇÕES USADAS plasias, ou crescimentos tu morais, tanto podem ser hcnig-
NA CID nas como malignas.

A CID compreende uma listagem tabular que apresenta termos e) Para referir-~e a um conjunto de subdivisões de quatm
dei nclm:ão e termos de exclusão. De modo a caracterizar as dife- caracteres já enunciados, comuns a várias categorias.

Você também pode gostar