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MINHA QUERIDA RELIGIÃO –

EO CORPO GOVERNANTE

R.J. FURULI PH.D

1
© Rolf J. Furuli 2020

ISBN: 978-82-92978-12-2

Publicado por:

Awatu Publishers

Larvik

Noruega

Todos os direitos reservados. Exceto para citações breves incorporadas


em resenhas impressas ou artigos críticos, nenhuma parte desta
publicação pode ser reproduzida, armazenados em um sistema de
recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio
(impressa, escrita, fotocópia, visual, áudio ou de outra forma) sem a
permissão prévia por escrito do editor.

A figura na capa mostra alguns edifícios das Testemunhas de Jeová em


Brooklyn, Nova Iorque.

Edição 1.0, 2020

As perguntas podem ser dirigidas ao autor Rolf J. Furuli:

E-mail: rolf.furuli@sf-nett.no

2
Nota do Tradutor
Este livro contém uma tradução literal, muito próxima ao idioma
original, com poucas adaptações linguísticas. Quando o autor faz
citações da Tradução do Novo Mundo (TNM) em inglês, não há
tradução direta a partir do livro, mas a TNM em português é usada.
Quando outras traduções da Bíblia, tais como a NVI são citadas, o
mesmo acontece, a menos que a versão em português não transmita o
sentido idealizado pelo autor. A mesma regra é aplicada às citações das
publicações da Torre de Vigia. Quando a versão em português
transmite plenamente o sentido abordado pelo autor, a tradução original
é usada. Quando a versão em inglês da publicação transmite melhor o
sentido abordado pelo autor, então uma tradução direta do inglês é feita
neste livro, seguida da nota (em inglês).

3
ÍNDICE (As páginas não estão corretamente
numeradas)
INTRODUÇÃO …………………………….........……………………...…………8
Capítulo 1 ………………...................……………………..............……………………15
A RELIGIÃO DA BÍBLIA ..................................................................................................15
Minha fé e meu histórico ...................................................................................................16

Como lidar com a Bíblia de maneira inteligente...........................................19

Existe apenas uma religião verdadeira....................................................20

Como podemos identificar a religião verdadeira? ...........................................21


Aceitar a Bíblia inteira como a palavra inspirada de Deus.........................................21
Pregar o Reino de Deus em Todo o Mundo...................................................................22
Não fazer parte do mundo (João 17:16) .....................................................................22

As doutrinas únicas das testemunhas de Jeová .............................................................24


Duas esperanças diferentes de salvação...............................................................26
O uso do nome Jeová ............................................................................30
A Santidade da Vida e do Sangue ...................................................................................32
O Reino de Deus ...............................................................................................40

As profecias da Bíblia e as testemunhas de Jeová .................................................45


Os tempos designados das nações .............................................................45
O Cálculo dos Tempos Nomeados das Nações .............................................................55
As 70 semanas em Daniel, capítulo 9, e a permanência de Jesus na Terra ........................58
Períodos Proféticos no Tempo da Conclusão (Fim) ....................................................61
A restauração de todas as coisas .........................................................................62

Capítulo 2 .............................................................................................................65

O ESCRAVO FIEL E DISCRETO ...................................................................................65

A nova visão da “vinda” de Jesus mostra que não há “escravo fiel e discreto” ...........66

4
“O escravo fiel e discreto” no contexto ...............................................69
O contexto maior de Mateus 24: 45-47 ...................................................................69
Uma comparação entre Lucas 12: 42-44 e Mateus 24: 45-
47 ..............................................70
O “escravo fiel” e a grande profecia de Jesus ....................................................................73
A identidade do escravo fiel e discreto baseado em Lucas 12: 35-44 ........................77
As Palavras Sobre o Escravo Ímpio .........................................................78
“Alimento no tempo apropriado”..........................................................................81

Capítulo 3 .................................................................................................84

O CORPO GOVERNANTE ..........................................................................................84

Não havia Corpo Governante no século I d.C. .....................................................85


Características do Corpo Governante nos séculos 20 e 21 .......................................85
O que o livro de Atos diz sobre os apóstolos e os anciãos ..................................87

O Espírito Santo Versus um “Corpo Governante” .............................................91


Inspiração e direção do Espírito Santo .....................................................................92
A reunião em Jerusalém em 49 EC. .......................................................................94
O Espírito Santo e não um “corpo governante” dirigia a pregação .................................96
As congregações e os anciãos no século I dC .......................................................97

“O Corpo Governante” nos séculos 20 e 21 .....................................................99


Excursão sobre a visão da organização em 1946. ...................................................101
Excursão ao "Corpo Governante", "o escravo" e a visão da organização em 1946..105
A organização nos anos de 1919 a 1971 ................................................................113
O primeiro órgão de governo foi criado em 1971 ..........................................................117
O atual órgão de administração .................................................................122

A nova visão da solicitação de dinheiro .....................................................124


As etapas a seguir para adquirir a propriedade dos salões do reino ..................................125
De solicitar dinheiro ao “dízimo” ..........................................................................127

Conclusão .............................................................................................133

5
ESPAÇO DESTINADO AO ÍNDICE

6
7
8
9
10
ABREVIAÇÕES
TJs: Testemunhas de Jeová.
CG: O Corpo Governante.
AT: As Escrituras Hebraicas (O Antigo Testamento).
NT: As Escrituras Gregas Cristãs (O Novo Testamento).
LXX: A tradução da Septuaginta.
TNM50: Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs
(1950).
TNM86: Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas com
Referências
(1986).
TNM13: Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, revisada
em 2013.

O NOME DE DEUS
Em conexão com o nome de Deus, existe uma forte evidência no
hebraico e acadiana em favor da pronúncia ye-ho-wa. No entanto, neste
livro, uso a forma latinizada “Jeová”.

11
INTRODUÇÃO
Este livro não é um ataque às Testemunhas de Jeová. Pelo
contrário! Minha religião amada é a religião das Testemunhas de Jeová.
E eu investi toda a minha alma nesta religião por 59 anos. No entanto, o
livro representa uma forte correção daqueles que foram membros do
Corpo Governante das Testemunhas de Jeová no século XXI.
Durante todos os meus anos como Testemunha de Jeová, tentei
ser fiel à organização e a seu CG. No entanto, também fui treinado
como ancião e pastor, e as ovelhas que foram “feridas” e também os
pequenos do rebanho tocaram meu coração. O presente CG fez um bom
trabalho em várias áreas espirituais. Muitos artigos têm sido
encorajadores nas revistas, as pequenas e grandes assembleias são
edificantes, e o site jw.org é excelente para o ensino da Bíblia. O CG
também está dirigindo a enorme obra de pregação por toda a terra,
como cumprimento da profecia em Mateus 24:14.
Na primavera de 1965, comecei como servo de circuito
(superintendente) e quatro anos depois, havia um curso para servos de
circuito na filial. N.H. Knorr, presidente da Sociedade Torre de Vigia
de Bíblias e Tratados, enviou uma mensagem para nós. Ele escreveu:
“Se você enxergar algo na organização que está errado, ou se você tem
uma sugestão de como algo pode ser feito melhor, não hesite em enviar
uma carta.” Nós também éramos incentivados sempre a sermos
corajosos. Se houvesse uma situação difícil, jamais deveríamos recuar,
mas deveríamos tomar as medidas necessárias que são exigidas, mesmo
que isso nos afete negativamente e pessoalmente. (Salmo 15:4)
Embora o CG tenha feito um bom trabalho, ele também causou
graves problemas para milhares de TJs. A maneira mais fácil para mim
teria sido olhar para outra direção e não dizer nada. Mas no meu
trabalho como ancião, tentei seguir o conselho de Knorr e nunca recuar.
12
Eu cheguei a enviar várias cartas para a sede, incluindo a maior parte
do capítulo 4 deste livro, sobre ensino superior, e apontei os erros nas
publicações. Não sei se minhas cartas chegaram ao CG. Mas, caso
tenham chegado, foram ignoradas. Visto que os erros que apontarei
estão relacionados até o âmago da organização, agora dou um passo
sem precedentes ao escrever este livro.
O problema fundamental é que, em 1972, quando o arranjo dos
anciãos foi implementado, a organização era teocrática, mas durante os
48 anos desde então, a organização foi gradualmente se transformando
em uma organização autocrática, onde as decisões e as palavras do CG
não podem ser questionadas.1 Esta é uma situação que contradiz a
Bíblia! Eu não questiono a sinceridade dos membros do CG. Mas
parece-me que eles são mantidos em cativeiro por crerem que são
escolhidos por Deus como “o escravo fiel e discreto” e que foram
designados sobre as Testemunhas de Jeová como um governo com
poder ilimitado.
No capítulo 2, demonstrarei que esta ideia está errada e que as
palavras de Mateus 24:5–47 sobre o escravo fiel e discreto não se
relacionam com um pequeno grupo que fornece alimento espiritual
durante a presença de Cristo. Mas as palavras se referem a cristãos
individuais, que são como um escravo fiel que dá comida literal aos
outros escravos na hora marcada, e que estão vigilantes quando Jesus
vem como juiz na grande tribulação.
No capítulo 3 demonstrarei que não havia um corpo governante
no primeiro século EC e que não havia arranjo nas congregações cristãs
que se assemelhe ao que o corpo governante das TJs é hoje. Durante
um curto tempo, os apóstolos e os anciãos em Jerusalém assumiram a
liderança entre as congregações cristãs. Mas quem governava os
cristãos era Jesus Cristo. (Colossenses 1:13)
A situação hoje pode ser ilustrada com algumas informações
fornecidas em um processo judicial na Califórnia em 2012. O pano de
fundo desse caso foi que três anciãos na congregação de Menlo Park,
1
Definição de “autocrático”: “Controlado por um líder que tem poder total, e quem
não permite que mais ninguém tome decisões. (Dicionário Cambridge;
https://dictionary.cambridge.org/us/dictionary/english/autocratic>).
13
nos EUA, foram removidos como anciãos. Eles levaram a questão ao
tribunal, e Calvin Rouse, o representante das TJs disse, de acordo com
a transcrição do tribunal:
E eu digo “organização”. Sou consultor jurídico da Organização
Nacional das Testemunhas de Jeová no Brooklyn, Nova York.
Normalmente, eu não estaria aqui, mas essa é uma das nossas 13.000
congregações nos Estados Unidos. Somos uma religião hierárquica,
estruturada como a Igreja Católica. E quando o pedido do Papa chega
à igreja desordenando um padre e chutando-o fora, ele não tem mais
nada a dizer sobre nenhum assunto sobre o padre da paróquia local
[sic.] - na paróquia. A situação aqui é a mesma.2
O apóstolo Paulo escreveu a Tito que ele deveria fazer
nomeações de anciãos em cidade após cidade. (Tito 1:5) Esses anciãos
foram designados por outros anciãos que revisaram suas qualificações,
e não por voto da membros da congregação. Esse foi o arranjo nas
primeiras congregações cristãs. E esse arranjo foi seguido pelas TJs.
Contudo, o verdadeiro problema ilustrado pelas palavras de Rouse é
que toda a organização hoje, também em todos os outros aspectos além
da nomeação de anciãos, está estruturada como a Igreja Católica e é
hierárquica e autocrática. Hoje, os membros do CG têm todo o poder
em conexão com as doutrinas, os ativos e o dinheiro. Ninguém tem o
direito de questionar suas decisões ou suas palavras. E isso colide
frontalmente com as palavras de Paulo em Gálatas 5:1 (TNM13):
Para tal liberdade é que Cristo nos libertou. Portanto, mantenham-se
firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão.
Em grande parte, nas congregações, as Testemunhas individuais
hoje não são “livres”, porque, em muitas situações, os pontos de vista
dos membros da CG anulam as consciências das Testemunhas de
Jeová. E o CG criou muitos mandamentos humanos que não têm base
na Bíblia. Um exemplo do poder que os membros do CG deram a si é
uma carta às Comissões de Ligação com Hospitais em 2018 sobre
transfusão de sangue. A situação é a seguinte: As TJs não usam tabaco
e não vão comer sangue ou fazer uma transfusão de sangue. No entanto,

2
O Tribunal Superior do Estado da Califórnia em e para o Condado de San Mateo.
Processo nº CIV508137, fevereiro de 2012, página 4.
14
existem situações em que uma Testemunha de Jeová pode entrar em
contato com o tabaco e sangue. Uma Testemunha de Jeová que trabalha
em um supermercado pode ser solicitada por um cliente para apanhar
um maço de cigarros ou um pedaço de chouriço para ele. Essa é uma
pequena parte do trabalho da Testemunha de Jeová no supermercado, e
a consciência da maioria das Testemunhas de Jeová lhes permitirá
apanhar o tabaco ou o chouriço.
Existe uma situação semelhante em um hospital. O trabalho de
uma enfermeira que é Testemunha de Jeová é cuidar dos pacientes e
dar-lhes os medicamentos que lhes são prescritos pelos médicos. Em
algumas situações, os médicos podem prescrever uma transfusão de
sangue e a enfermeira é solicitada a administrar essa transfusão. Fazer
isso ou não será baseado na consciência da enfermeira. Administrar
uma transfusão de sangue é uma pequena parte do trabalho da
enfermeira e, portanto, sua consciência pode permitir que ela faça o que
o médico lhe pediu para fazer.3 A carta de 15 de junho de 2018 alterou
essa situação:
Gostaríamos de informá-los sobre uma política atualizada em relação
a se um cristão pode administrar uma transfusão de sangue se for
direcionado para fazê-la por um superior. A política anterior era de
que seria uma questão de decisão pessoal e de consciência obedecer a
essa ordem. No entanto, depois de analisar cuidadosamente o assunto,
o Corpo Governante determinou que a administração de uma
transfusão está tão intimamente ligada com uma prática antibíblica
que a pessoa se torna inquestionavelmente um cúmplice em uma
prática errada. Portanto, não seria apropriado para um cristão
administrar uma transfusão de sangue sob qualquer circunstância. -
Gen. 9: 4; Atos 15:28, 29. 44
Esta carta mostra que os membros do CG acreditam ter o direito
de ditar regras para as Testemunhas de Jeová quando acharem

3
Várias enfermeiras me contaram que não veem problemas em administrar uma
transfusão de sangue, porque faz parte do trabalho delas, e a transfusão não é
prescrita por elas. Mas os médicos ou enfermeiras testemunhas não prescrevem
uma transfusão de sangue. Além disso, os judeus não podiam comer a carne de um
animal que não foi sangrado, mas eles poderiam vender essa carne a um não-judeu.
4
Essa nova política também foi comunicada aos membros da congregação.
15
conveniente, e até de anular as consciências das delas. Mas isso é um
ataque à liberdade cristã que Paulo mencionou em Gálatas 5:1. Nenhum
ancião tem tal direito.
Em 1971, um estudo do significado bíblico de “ancião” e
“superintendente” foi apresentado ao N.H. Knorr, presidente da
Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados da Pensilvânia e pelo
vice-presidente, F.W. Franz. Eles homens eram humildes e aceitaram as
conclusões do estudo. Por causa disso, Knorr e Franz concordaram que
não tinham mais o poder de líderes da organização, e um corpo
governante foi formado pela primeira vez. Na minha opinião, é
novamente necessária uma grande mudança estrutural e organizacional,
incluindo a remoção do lado militante da organização. Precisamos nos
livrar do atual sistema autocrático e voltar ao arranjo teocrático que
existia em 1972. Também é necessário um grupo independente de
anciãos para revisar todos os mandamentos humanos que o CG
inventou e remover aqueles que não são baseados na Bíblia, e que
causaram danos a Testemunhas de Jeová individuais. Vou discutir dois
grupos de mandamentos humanos neste livro.
O capítulo 4 trata do ensino superior. Existem milhares de
jovens Testemunhas que foram pressionadas a não seguir o ensino
superior, o que teria beneficiado a eles e as suas famílias no futuro,
particularmente em países com alta taxa de desemprego e após a crise
de Corona. E muitos outros deixaram suas congregações para nunca
mais voltar, porque eles sabem que muito do que o CG disse e escreveu
sobre educação superior não é verdade, mas é uma caricatura da
realidade. Outros, que estão estudando em uma universidade ou
faculdade, foram embora porque sua congregação foi influenciada pela
visão extrema do CG, e eles sentiram que não mais eram bem-vindos na
congregação.
O Capítulo 5 é particularmente importante porque discuto os
pecados de desassociação. Ser desassociado da congregação cristã é
uma medida muito forte, e Paulo diz que somente aqueles que são maus
(1 Coríntios 5:13) merecem ser removidos da congregação. Em 1
Coríntios, capítulos 5 e 6, Paulo não mostra quais ações são pecados de
desassociação. Mas ele descreve personalidades, isto é, pessoas que são

16
permeadas por ações más, que são perversas e devem ser removidas das
congregações. Além de ações perversas mencionadas nesses dois
capítulos, o CG inventou muitos outros pecados de desassociação que
não são baseadas na Bíblia. Com base nesses mandamentos humanos,
milhares foram, e outros milhares serão desassociados de suas
congregações. Aqueles que acreditam na Bíblia e não em humanos não
podem aceitar que os mandamentos de homens sejam usados para
desassociar os membros da congregação. O capítulo particularmente faz
uma análise linguística e contextual detalhada das duas palavras
asēlgeia (“Conduta desenfreada”) e akatharsia (“impureza”), e mostra
como os textos bíblicos com essas palavras foram mal interpretados e
mal utilizados pelo CG.
O capítulo 6 também é essencial porque discute a nova visão
bíblica expressa pelo presente CG. A visão que se originou na década
de 1870 e foi realizada pelos Estudantes da Bíblia e pelas Testemunhas
de Jeová por 120 anos era de que toda palavra na Bíblia é inspirada por
Deus, todas as nuances são importantes, e cada relato é incluído com
uma finalidade específica.5 A interpretação bíblica significa analisar o
texto original de um relato para encontrar o seu significado.
Os membros do presente CG não apoiam essa visão. Eles
acreditam que as nuances e sutilezas do texto bíblico não são
importantes. Isso é mostrado pela idiomática e interpretativa TNM13.
Eles afirmam que um grande número de relatos que foram considerados
como tipos proféticos não é profético. A consequência para a literatura
da Torre de Vigia é que vários livros e centenas de artigos em A
Sentinela são simplesmente falsos; as aplicações proféticas nestes são
ficção. O resultado para o texto bíblico é que muitos relatos no AT,
como o Cântico de Salomão, não possuem nenhum significado em si;
eles são apenas “conteúdo não-essencial”. Eles foram apenas incluídos
para sustentar o quadro geral e dar alguns conselhos morais. Um novo
método subjetivo de interpretação da Bíblia também foi introduzido:

5
A visão não é que Deus ditou todas as palavras. Os escritores escolheram as
palavras enquanto eles foram movidos pelo espírito santo. (2 Pedro 1:21, TNM84)

17
Em um número elevado de casos, o CG não pergunta sobre o
significado de um relato bíblico com base na análise linguística. Mas
pergunta sobre o que um relato lembra o CG. E não o relato em si, mas
seus lembretes são apresentados aos leitores. Essa é uma abordagem
altamente subjetiva que leva a interpretações alegóricas.
Por exemplo, a muralha do perímetro do templo na visão de
Ezequiel (Ezequiel 42:20) “nos lembra que não podemos deixar que
nada contamine nossa adoração a Jeová.” E os altos portões exteriores e
os portões internos nos lembram “nos lembram que Jeová tem altos
padrões de moral para todos os seus adoradores.” (A Adoração Pura de
Jeová é Restaurada! p. 152) É óbvio que não há nenhuma relação entre
muralhas e portões e altos padrões de conduta e não trazer nada de
corrupto perante Jeová. Essas são explicações alegóricas tipificadas.
Estou muito preocupado com esta nova visão da Bíblia e os
novos métodos de interpretação, porque minam a própria inspiração da
Bíblia, como foi ensinada pelos Estudantes da Bíblia e pelas
Testemunhas de Jeová por 120 anos.
O capítulo 7 discute como a organização pôde deixar de ser
teocrática para se tornar autocrática e apresenta algumas importantes
conclusões.

A SITUAÇÃO ATUAL E A ANTERIOR


Se uma Testemunha estuda a Bíblia com um homem católico, e o
homem deixa a Igreja e torna-se membro de uma congregação de
Testemunhas de Jeová, o homem se torna parte de uma organização
que é mais hierárquica e mais ditatorial do que a Igreja Católica. Essa
é uma situação que viola vários princípios bíblicos. Se um católico se
tornasse Testemunha em 1972, quando o arranjo dos anciãos foi
implementado, ele se tornava parte de uma organização que
acalentava a liberdade cristã para todos - uma organização que em
todas as áreas importantes era o oposto diametral da Igreja Católica.
As Sentinelas de 1º de novembro de 1946 e 1º de fevereiro de 1952
condenam uma estrutura organizacional como a atual.

18
O requisito do presente CG para aceitar um
relato como um tipo profético é “uma base
bíblica clara” Este é um excelente princípio
que é a base de todas as discussões deste livro.
Vou mostrar que os membros do CG violam
esse princípio quando afirmam ser “o escravo
fiel e discreto”, em sua função como “o Corpo
Governante”, em seu aviso contra o ensino
superior e em sua desassociação prática.
Se alguém faz algo errado com você, você deve abordar ele com
amor e consideração, tentando resolver o problema. Se a pessoa não
escuta, você pode trazer outras pessoas para a situação. (Mateus 18:
15-17) Eu segui esse princípio em conexão com o CG.

O Corpo Governante recebeu o livro e os membros foram informados


que se os problemas básicos discutidos no livro pudessem ser
resolvidos dentro da organização, o livro não seria publicado. O CG
se recusou a se comunicar comigo e, portanto, o livro foi publicado.

19
Capítulo 1

A RELIGIÃO DA BÍBLIA
- REVISÃO -
De acordo com 2 Timóteo 4:3, 5 e 1 Timóteo 3:15, existe apenas
uma religião verdadeira. Os requisitos para ser a religião verdadeira são
cumpridos apenas pelas Testemunhas de Jeová. Eles acreditam que toda a
Bíblia é a Palavra inspirada de Deus (João 17:17), eles pregam o Reino de
Deus em todo o mundo (Mateus 24:14), e eles não participam de guerras
nem tomam lados políticos. (João 17:14) Nenhuma outra religião atende a
esses requisitos. Algumas doutrinas de TJ são encontradas em outras
religiões, mas muitas são únicas para as TJs. Este capítulo contém uma
análise detalhada de algumas dessas doutrinas exclusivas.
Duas esperanças diferentes de salvação. Hebreus 2:5 e 3:1 falam
sobre a “futura terra habitada” e sobre a “chamada celestial”. O número
daqueles com um chamado celestial é encontrado em Apocalipse 7:4 e
14:1, e Romanos, capítulo 11, mostra que o Israel espiritual tem um
20
número (“o número completo”).
O nome Jeová. O nome de Deus foi usado pelos primeiros
Estudantes da Bíblia na década de 1870, e ainda é usado pelas TJs. Há
fortes evidências de que o nome de Deus fora escrito nos manuscritos
originais do NT e, portanto, o uso do nome no AT e no NT na Tradução
do Novo Mundo é justificado. A forma “Javé” é usada por muitos. Mas as
regras fonológicas no hebraico mostram que essa forma é impossível. Há
muitas evidências sugerindo que a pronúncia original era “Yehowa”.
Abstenção de sangue. O sangue representa a vida e é sagrado. O
único uso legítimo de sangue foi como sacrifício no altar. Depois que Jesus
sacrificou sua carne e sangue, não havia mais uso legítimo de sangue. A lei
em Atos 15:28, 29 diz que devemos nos abster de sangue. As TJs
entendem os textos da Bíblia em um sentido literal e absoluto se o contexto
não mostra o contrário. Não há exceções em Atos 15 e, portanto, as
Testemunhas de Jeová abstêm-se de todos os tipos de sangue, incluindo
uso médico.
O reino de Deus. De acordo com o Salmo 110:2, Jesus sentava-se à
direita de Deus até que seus inimigos fossem colocados como escabelo
para seus pés. De acordo com Hebreus 10:12, 13, isso ainda não havia
acontecido quando a epístola foi escrita. O Apocalipse foi escrito no final
do primeiro século d.C., e o livro descreve eventos que ocorreriam no
futuro. Apocalipse 12: 9–12 mostra que Satanás seria expulso do céu “por
um curto tempo” antes de ser lançado no abismo. No início deste “curto
período de tempo”, o reino de Deus foi estabelecido, de acordo com o
texto.
Os tempos designados das nações. Jesus mostrou que seus
seguidores entenderiam sua grande profecia (Mateus 24:32–34). Isso inclui
“os tempos designados das nações” (Lucas 21:24). Várias vezes em sua
grande profecia, Jesus se referiu ao livro de Daniel. O único local em que
a palavra grega kairos (“tempo determinado”) está conectada a números
específicos é em Daniel. Existe um paralelo linguístico e temático entre
Lucas 21:24 e Daniel 4:10–17 e, portanto, os sete tempos designados
devem ser idênticos aos tempos designados das nações. Os sete tempos
representam 2.520 anos com o ponto de partida em 607 AEC. Isso
significa que os tempos designados das nações terminaram em 1914 EC e
depois começou o “curto período de tempo” antes que Satanás fosse
jogado ao abismo.

21
Períodos proféticos no tempo da conclusão. Os períodos de 1.260,
1.290, 1.135 e 2.300 dias seriam cumpridos na história do povo de Deus.
Existem eventos particulares na história das Testemunhas de Jeová desde
1914, que podem ser cumprimentos desses períodos proféticos.
A restauração de todas as coisas. Estamos ansiosos pelo momento
em que o paraíso será restaurado na terra. (Atos 3:20, 21) As pessoas que
vivem hoje podem sobreviver à futura grande tribulação, e eles podem
viver no paraíso restaurado para sempre.

Antes de discutir a religião da Bíblia, vou dizer algo sobre mim.


Como pessoa, sou apenas um dos servos de Jeová e não sou importante.
Mas minha formação e minha experiência podem ter alguma
importância em conexão com minhas análises da Bíblia e da
organização das TJs.

MINHA FÉ E MINHA HISTÓRIA


Quando eu era criança, minha mãe e minha avó frequentavam
regularmente as reuniões de uma congregação pentecostal. Eles me
ensinaram que a Bíblia era a palavra inspirada de Deus. Quando jovem,
eu tinha um grande respeito pela Bíblia. Mas eu não lia a Bíblia nem
participava de reuniões de nenhuma religião.
Quando conheci as Testemunhas de Jeová aos 18 anos, logo
percebi que eles pregaram a verdade porque eu acreditava na Bíblia, e
eles usavam a Bíblia. Eu tinha começado a estudar em uma escola
técnica para me tornar um engenheiro. Mas abandonei a escola e, seis
meses após meu batismo, comecei como um ministro em tempo
integral. Continuei neste serviço por 15 anos até tive que parar por
causa da saúde da minha esposa.
Quando paramos nosso serviço de tempo integral, minha esposa
e eu nos instalamos em Oslo, Noruega. Agora eu tinha a oportunidade
de fazer algo que sempre quisera, ou seja, aprender o grego do Novo
Testamento. Eu não era aluno, mas tinha permissão para participar de
todas as palestras por um ano. Cerca de dez anos depois,

22
acidentalmente, entrei em contato com o professor de hebraico bíblico
na Universidade de Oslo. Eu ainda não era aluno. Mas eu estava
autorizado a participar em todas as palestras por um ano. Meu trabalho
secular me deu um pouco de problemas e tive que mudar de profissão.
Eu vi minha possibilidade na universidade, e eu recebi meu diploma de
Letras em línguas semíticas em 1995, e meu Doutorado em Letras em
2004.6
Depois de concluir meu curso em Letras, comecei a ensinar
línguas semíticas na Universidade de Oslo. Eu estudei 12 antigos
idiomas, e ministrei cursos em sete deles: acádico, aramaico, etíope,
hebraico, fenício, siríaco e ugarítico. As outras cinco línguas são árabe,
grego, latim, egípcio médio e sumério. Eu fiz um exame em linguística
aplicada (tradução). Eu escrevi dois livros sobre cronologia antiga
relacionada à Bíblia, três livros sobre tradução bíblica e quatro livros
sobre diferentes assuntos bíblicos. Eu também já traduzi muitos
documentos de línguas semíticas e sumérias para norueguês e inglês.
Cada um dos nove livros que escrevi foi escrito principalmente
para mim e para minha própria fé. Por causa da minha natureza e meu
treinamento em filosofia da ciência, sou uma pessoa cética. Para
acreditar em algo, eu preciso ir até o âmago da questão e encontrar a
evidência real. Isto é o que fiz em relação aos livros que escrevi.
Minha educação secular e meus 59 anos como Testemunha
aumentaram minha crença na Bíblia e em nosso Criador. Quando nos
instalamos em Oslo, além do grego, estudei geologia histórica, biologia
e química para testar as informações no relato da criação, nos capítulos
1 e 2 de Gênesis. Fiz um estudo muito detalhado da célula viva e a
complexidade de cada a célula mostra claramente que a vida deve ter
sido criada por um ser vivo. Isso fortaleceu minha fé em Deus.
Eu estava muito interessado em entender o texto original da
Bíblia. E minha tese de doutorado foi baseada em uma análise de todos
os 80.000 verbos na Bíblia Hebraica, nos Rolos do Mar Morto, Ben
Sira e nas antigas inscrições hebraicas. Os verbos foram estudados em
6
O grau em Letras exigiu mais um ano de estudo em comparação com o Mestrado
Americano em Letras. O doutor Artium exigiu mais dois anos de estudo comparado
com o Ph.D.
23
seus contextos, e esse estudo levou dez anos.7 Esse estudo fortaleceu
minha fé na Bíblia como a palavra inspirada de Deus.8
Existem três assuntos que são particularmente importantes para
nossa crença na Bíblia: 1) O relato da criação em Gênesis é
cientificamente correto? 2) Temos evidências de uma inundação
mundial há menos de 4.400 anos atrás? e 3) O livro de Daniel foi
escrito no sexto ou no segundo século AEC, e contém profecias
genuínas?
O livro de Daniel contém declarações sobre o futuro. A maioria
dos estudiosos acredita que tais palavras são históricas e disfarçadas, e
que foram escritas depois que aconteceram. Eu fiz extensos estudos
sobre as diferentes questões relacionadas ao livro de Daniel. E em
2017, meu livro When Was the Book of Daniel Written? A Philological,
Linguistic, and Historical Approach (331 páginas) foi publicado. Ele
contém evidências que apóiam que sua escrita ocorreu no sexto século
a.C. e que contém profecias reais.
A maioria dos estudiosos acredita que o relato da criação e os
relatos sobre o dilúvio mundial são mitos. Ao longo dos anos, fiz
muitos estudos e reuni muito material sobre esses assuntos. E meus
primeiros estudos em geologia histórica e assuntos relacionados foram
de grande ajuda. O resultado desses estudos é o livro Can We Trust the
Bible? With Focus on the Creation Account, the Worldwide Flood, and
the Prophecies (2019). Está no formato Epub, possui 1.500 páginas e
1.100 fotografias. Ele contém muitas evidências que apóiam o relato da
criação como um relato científico e real, e que uma inundação mundial

7
Em conexão com o capítulo sobre ensino superior e se essa educação impede
alguém de participar integralmente das atividades da congregação, gostaria de
enfatizar o seguinte: Enquanto eu era estudante, e mais tarde quando me tornei
professor universitário, eu estava presidindo superintendente e coordenador em uma
congregação de 120–140 membros. As horas que eu costumava pregar as boas
novas eram mais de três vezes a média da congregação, e eu era um membro muito
ativo do Comitê de Ligação do Hospital. Não tínhamos televisão em nossa casa.
8
Minha dissertação é intitulada: Uma nova compreensão do sistema verbal do
hebraico clássico Uma tentativa de distinguir entre fatores semânticos e
pragmáticos (506 páginas; 2004).
24
realmente ocorreu. Os três livros mencionados dão forte apoio à minha
crença de que toda a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada.
Minha formação como Testemunha de Jeová é a seguinte:
comecei como servo de circuito (superintendente) em 1965 e, quando o
arranjo de anciãos foi introduzido em 1972, eu era servo de circuito no
circuito de Oslo. Era meu dever ser o presidente das discussões em cada
congregação sobre quem era qualificado para ser ancião. De 1972 a
1974, servi como superintendente de distrito de toda a Noruega e dei
palestras nas assembléias do circuito. Em conexão com cada
assembleia, passei uma semana junto com o superintendente do
circuito, servindo uma congregação no circuito. Minha tarefa era
discutir sobre as congregações no circuito e como o arranjo dos anciãos
estava funcionando. Um curso de duas semanas para todos os anciãos
da Noruega começou em 1974, e fui designado para ser o instrutor
deste curso. Durante os 30 cursos que ministrei, eu tive contato
próximo com os anciãos e tive conhecimento em primeira mão de como
as congregações estavam funcionando.
A história das Testemunhas de Jeová na Noruega apareceu no
Anuário de 1977. Passei alguns meses na filial em 1972, quando a
história foi escrita. Foi-me dada a tarefa de ler todos os documentos nos
arquivos das filiais, incluindo todas as cartas da sede, a fim de procurar
algo que pudesse ser usado na história. No final de 1975, tivemos que
interromper nosso serviço de tempo integral por causa da saúde de
minha esposa. Instalamo-nos em Oslo e, por 35 anos, até o final de
2010, eu era o superintendente presidente e o coordenador de uma
congregação de 120 a 140 membros.9 Por causa dessa experiência
minha, tenho visto de dentro o desenvolvimento da organização. E vi
como a organização se desenvolveu, de teocrática a autocrática.

LIDANDO COM BÍBLIA DE FORMA INTELIGENTE


9
Durante os 35 anos, houve uma pausa na minha posição como superintendente
presidente. Um pioneiro que havia terminado a Escola de Serviço de Pioneiros veio
à nossa congregação. Eu deixei o cargo de superintendente presidente para deixá-lo
obter mais experiência em questões teocráticas. Doze meses depois, quando ele foi
enviado para outra congregação, novamente me tornei o superintendente presidente.
25
Quando abordamos a Bíblia, devemos ter em mente que nela
existem dois tipos de material. Primeiro, temos o material onde tudo o
que precisamos concluir é encontrado em diferentes lugares da Bíblia.
O que precisamos é reunir todo esse material e fazer uma síntese dele.
Segundo, temos o material em que apenas metade do que precisamos é
encontrada na Bíblia e precisamos encontrar por nós mesmos a outra
metade. Isso inclui particularmente as profecias sobre o futuro.
Obviamente, o segundo tipo de material é muito mais
problemático que o primeiro. Jesus Cristo proferiu várias profecias
sobre os últimos dias e sua vinda como juiz. Através dos séculos,
muitas pessoas tentaram aplicar essas profecias aos eventos de seus
dias. Muitos deles eram sinceros que buscavam a verdade. Mas eles
erraram porque essas profecias só poderiam ser entendidas quando
chegasse a hora da conclusão (fim). Quando distinguimos entre o tipo
de material que estudamos, lidaremos com o texto da Bíblia de maneira
inteligente.
Ter em mente os dois tipos de material na Bíblia nos ajudará
quando eu apresentar abaixo algumas das crenças das TJs.

EXISTE APENAS UMA RELIGIÃO VERDADEIRA


A primeira pergunta que devemos fazer é: Pode haver mais de
uma religião verdadeira? O apóstolo Paulo responde à pergunta em 2
Timóteo 4: 3, 4 (NVI em inglês).
Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário,
sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos
juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à
verdade, voltando-se para os mitos.
De acordo com Paulo, há apenas uma coisa certa: “a verdade”, “a
doutrina sã (ou ‘saudável’)”. Essa verdade não atenderia aos desejos de
muitas pessoas. Portanto, eles ouviam os instrutores que diziam o que
eles gostavam de ouvir. O resultado seria que eles acreditariam em
mitos, e não na doutrina sólida ou sã. O fato de haver apenas uma igreja
ou congregação verdadeira também é mostrado por Paulo em 1
Timóteo 3:15 (NVI):
26
mas, se eu demorar, saiba como as pessoas devem comportar-se na
casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da
verdade.
A palavra “igreja” é traduzida da palavra grega ekklēsia, que na
maioria das vezes é traduzida por “congregação”. Existe apenas uma
“congregação do Deus vivo” e é a “coluna e fundamento da verdade”.
Se acreditarmos que a Bíblia é inspirada por Deus, existe apenas uma
conclusão possível: de todas as igrejas ou congregações com diferentes
doutrinas e práticas diferentes, apenas uma pode ser a verdadeira
congregação do Deus vivente.
A mesma doutrina é encontrada nas Escrituras Hebraicas. No
livro de Daniel encontramos a expressão “os santos, o povo do
Altíssimo”. (Daniel 7:27, NJB em inglês) No último capítulo de Daniel,
lemos que suas profecias sobre o tempo da conclusão (fim) devem ser
seladas até esse momento. (Daniel 12: 10–12) O anjo que falou com
Daniel também mostrou que Deus teria um povo. Nós lemos:
Ele levantou a mão direita e a mão esquerda para o céu e jurou por
aquele que vive para sempre: ‘um tempo, e dois tempos e meio tempo;
e todas essas coisas se tornarão realidade, assim que o poder do povo
santo tiver acabado.’ (12: 7, NJB em inglês)
É óbvio que, se o poder do povo santo for esmagado, ele deve ser
um grupo unido que possa ser distinguido de todos os outros grupos e
que possa ser identificado.
Um animal simbólico é descrito em Apocalipse, capítulo 13. Este
animal recebeu “autoridade para agir por 42 meses”, que é o mesmo
tempo mencionado em Daniel 12: 7, e deveria “travar guerra com os
santos e vencê-los”. (Apocalipse 13: 5, 7, TNM15)  O dragão “foi
travar guerra com o restante da descendência dela, [a mulher simbólica
mencionada em 12: 1–2], os que obedecem aos mandamentos de Deus
e têm a obra de dar testemunho de Jesus.”. (Apocalipse 12:17, TNM15)
As referências acima mostram que existe apenas uma religião
verdadeira, que é um povo unido que pode ser identificado em contraste
com todos os outros povos. Mas quem são eles?

27
COMO PODEMOS IDENTIFICAR A RELIGIÃO
VERDADEIRA?
Os seguintes pontos servirão como uma identificação das
Testemunhas de Jeová como a única religião verdadeira:

ACEITAR A BÍBLIA INTEIRA COMO A PALAVRA INSPIRADA DE


DEUS
Todas as denominações cristãs usam a Bíblia, umas mais, outras
menos. Mas apenas uma delas aceita a Bíblia inteira como a Palavra de
Deus, o que implica a crença de que tudo na Bíblia está correto no
sentido científico e factual. Pode haver alguns grupos menores, por
exemplo, o Cinturão da Bíblia nos EUA, onde todos os membros
acreditam que a Bíblia é a palavra de Deus. Mas a religião verdadeira
deve ter muitos membros porque deve ser representada em todo o
mundo.
As Testemunhas de Jeová acreditam que todas as palavras da
Bíblia são inspiradas por Deus e que cada relato é incluído com um
propósito. Isso inclui que os dois primeiros humanos foram criados há
cerca de 6.000 anos. Essa crença é baseada na genealogia completa de
Jesus Cristo em Lucas 3:23–38 e na idade dada a cada pessoa em
Gênesis. Também inclui a crença de que o relato da criação em
Gênesis, capítulo 1, é cientificamente correto e que houve um dilúvio
em todo o mundo quando toda a Terra estava coberta de água há menos
de 4.400 anos. Além disso, inclui a crença de que, em um futuro
próximo, Deus intervirá nos assuntos do homem. Ele removerá todas as
nações da terra e fará desta terra um paraíso onde os humanos poderão
viver para sempre.

PREGAR O REINO DE DEUS NO MUNDO INTEIRO


Em sua grande profecia sobre sua presença futura e sua vinda
como juiz no final de sua presença, Jesus fala com seus verdadeiros
seguidores, usando o pronome “vocês”. (Mateus 24: 4, 33) Um lado do

28
sinal composto da presença de Jesus é encontrado em Mateus 24:14
(NVI):
E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como
testemunho a todas as nações, e então virá o fim.
A única denominação que cumpre essa profecia são as
Testemunhas de Jeová. Em 2019, 8.683.117 Testemunhas usaram
2.088.560.437 horas para pregar as boas novas do Reino. E essa
pregação ocorreu em 240 países.10 Isso representa uma enorme
campanha de pregação, onde as boas novas do Reino se espalham
sistematicamente em todos os países.
Em outras denominações cristãs, os sacerdotes pregam de seus
púlpitos em suas igrejas e outros edifícios. Mas não há outro grupo
religioso em que todos os membros sejam pregadores e participem de
uma campanha mundial de pregação.

NÃO SER PARTE DESSE MUNDO (JOÃO 17:16)


A palavra grega traduzida por “mundo” é kosmos. Esta palavra
pode se referir a toda a família humana a quem Deus ama (João 3:16), e
pode se referir à família humana fora da verdadeira congregação cristã.
Esta última referência deve ser aplicada em 17:16, porque Jesus diz que
“o mundo” odiaria seus seguidores. (João 17:14)
Quando Satanás tentou Jesus, ele mostrou-lhe todos os reinos do
mundo e disse de acordo com Lucas 4:6 (NVI em inglês): “porque [o
mundo e suas nações] me foram dados, e eu posso dar a quem eu
quiser.” Jesus falou sobre Satanás como “o príncipe deste mundo”
(João 14:30, NVI em inglês), e Paulo chamou Satanás de “deus desta
era”. (2 Coríntios 4:4, NVI em inglês) O apóstolo João escreveu: “todo
o mundo está sob o controle do maligno.” (1 João 5:19, NVI em inglês)
A única conclusão que podemos tirar dessas passagens é que todos os
governos e instituições deste mundo são influenciados por Satanás, o
Diabo. Isso não significa que os membros dos governos sejam maus. A
maioria deles são pessoas sinceras que tentam fazer o bem. Mas obter
paz mundial, dar a todos os seres humanos comida suficiente, resolver o
10
https://www.jw.org/en/library/books/2019-service-year-report/2019-grand-totals/.
29
problema do clima e tratar todas as raças como iguais, é impossível
porque Satanás tem o controle de todo o mundo até que o Reino de
Deus crie um paraíso na terra.
Os dados e as conclusões do último parágrafo são muito radicais,
e essa pode ser uma das razões pelas quais a maioria dos membros das
denominações cristãs não acredita em todas as palavras da Bíblia.
Lembramos as palavras de Paulo citadas acima: “juntarão mestres para
si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para
os mitos.” (2 Timóteo 4: 3, 4, NVI em inglês)
O que significa não fazer parte do mundo? Paulo fala de si
mesmo e de seus companheiros cristãos: “Portanto, somos
embaixadores de Cristo”. (2 Coríntios 5:20, NVI em inglês) Um
embaixador em um país estrangeiro seguirá as leis do país anfitrião, e
as Testemunhas de Jeová trabalharão duro para obedecer as leis do país
em que vivem, seguindo Romanos 13:1–7. Mas um embaixador não
fará parte das forças armadas do país anfitrião. E as TJ são o único
grande grupo de pessoas no mundo em que todos se recusam a prestar
serviço militar. Este é outro sinal dos verdadeiros cristãos, pois Jesus
disse: “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês
se amarem uns aos outros”. (João 13:35, NIV) Quando membros da
mesma denominação cristã lutam entre si em uma guerra, mostram que
não se amam e não são discípulos de Jesus.
O embaixador não participará da política do país anfitrião, e as
Testemunhas de Jeová são o único grande grupo politicamente neutro
em qualquer país e que não vota para algum partido político em
específico. Não fazer parte do mundo também significa que as
Testemunhas de Jeová não têm as aspirações e objetivos do mundo, por
exemplo, de se tornarem ricos e influentes. As Testemunhas não são de
forma alguma ascetas. Elas vivem vidas normais; gostam de boa
comida; gostam de ter tempo livre e de férias. E o que são na vida
cotidiana, não podem ser distinguidas das outras pessoas. Mas elas
tomam cuidado para não se envolver nas buscas do mundo que
contradizem os princípios bíblicos. E elas esperam ansiosamente pelo
tempo em que Deus criará um paraíso na terra.

30
Os pontos discutidos acima mostram claramente a diferença entre
TJ e outras denominações cristãs. E tais pontos identificam as
Testemunhas de Jeová como a única religião verdadeira.

AS DOUTRINAS EXCLUSIVAS DAS TESTEMUNHAS DE


JEOVÁ
Eu já mencionei os dois tipos de material na Bíblia, o material
em que tudo o que precisamos é encontrado espalhado nos diferentes
livros, e o material em que apenas metade é encontrada na Bíblia, e
devemos encontrar por conta a outra metade. O primeiro diz respeito a
doutrinas básicas e o segundo a profecias.
Os primeiros Estudantes da Bíblia na década de 1870 vieram de
diferentes denominações com diferentes crenças. A razão pela qual
cada indivíduo se uniu aos Estudantes da Bíblia foi que eles
descobriram que sua religião não seguia a Bíblia e queriam aprender a
verdade da Bíblia. O grupo seguiu um ensinamento de cada vez, tentou
descobrir o que a Bíblia inteira dizia sobre esse ensinamento e então
eles chegavam à conclusão.
Em 1965, a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados
publicou o livro Certificai-vos de Todas as Coisas; apegai-vos o que é
bom. Ele contém uma visão geral das doutrinas básicas das
Testemunhas de Jeová e quais passagens da Bíblia podem ser usadas
para defender essas doutrinas. Quando comparamos o conteúdo deste
livro com o conteúdo da Torre de Vigia de Sião do século 19, e os seis
volumes de Estudos das Escrituras de C. T. Russell, encontramos a
maior parte das doutrinas do livro Certificai-vos nos escritos de Russell
e a Torre de Vigia de Sião.
O outro tipo de material, onde apenas metade é encontrada na
Bíblia, criou mais problemas para os estudantes da Bíblia. De certa
forma, eles tiveram que começar do zero. Isso significa que eles
tiveram que tomar como ponto de partida os entendimentos das
profecias que outras pessoas religiosas haviam apresentado. E
considerar e testar esses entendimentos levaria muito mais tempo do
que estabelecer as doutrinas básicas da Bíblia.
31
Além disso, um anjo disse a Daniel que “a parte final (’aharit)
dessas coisas” (de suas profecias) não seria compreendida antes de “no
tempo da conclusão (fim)”11. (Daniel 12:9, 10) Posteriormente,
argumentarei a favor da visão de que “o tempo da conclusão” começou
em 1914 d.C. Se isso estiver correto, Russell e os Estudantes da Bíblia
não conseguiriam entender as profecias de Daniel sobre as últimas
coisas, independentemente de quão sinceros eles fossem e de quanto
tempo eles usassem para estudar a Bíblia. Eu uso o livro Certificai-vos
em minha obra de pregação há muitos anos e, com base no meu estudo
da Bíblia, concordo com todas as doutrinas desse livro. A seguir,
discutirei algumas doutrinas que são exclusivas para as Testemunhas de
Jeová e mostrarei por que acredito nessas doutrinas.
Estudo doutrinas cristãs há 59 anos, grande parte desse tempo
com base nas línguas originais da Bíblia, e não há dúvida de que o
único grupo (religião) que tem doutrinas inteiramente baseadas na

11
Em Daniel 12: 8, TNM15 e muitas outras traduções vertem: “Qual será o
resultado dessas coisas?” TNM86 tem a tradução: “Qual será a parte final dessas
coisas”? Esta é uma melhor renderização. O significado básico da palavra 'aharit é
“fim”. Mas também pode se referir ao resultado de alguma coisa. Em Daniel 8:19,
refere-se à “parte final da denúncia”; em 8:23, refere-se à “parte final do seu reino”;
em 10:14 refere-se à “parte final dos dias”; e em 11:4 refere-se a “sua posteridade”.
No construto (uma relação genitiva), 'aharit refere-se à parte final. Em 12: 7, ela
tem uma relação genitiva com “essas coisas” ('ellæ). O que são “essas coisas”? Em
12:7, somos informados de que, quando as arremetidas do povo santo chegarem ao
fim, “todas essas coisas (kol 'ellæ) chegarão ao seu fim”. E a expressão “todas essas
coisas” se refere ao que é descrito em 11:1-45 e 12: 1–3 e, possivelmente, também
a outras profecias. Assim, “essas coisas” ('ellæ) em 12:8 também devem se referir a
11:1–12: 3. Portanto, a pergunta de Daniel deve ser qual será a parte final dessas
“coisas” em 11:1–12: 3 e outras possíveis profecias. Em 12:4, Daniel é instruído a
“fechar as palavras e selar o pergaminho até o momento da conclusão”. Isso deve se
referir às palavras de 11:1–12: 3 e outras possíveis profecias anteriores, e não ao
livro inteiro de Daniel. Em sua grande profecia, Jesus se referiu ao livro de Daniel
várias vezes. Em Mateus 24:15–16, Jesus diz que quando seus seguidores viram a
abominação causando desolação em um lugar santo, eles deveriam fugir para as
montanhas. Lucas 21:20–21 mostra que a abominação era os exércitos romanos.
Isso mostra que Daniel 9:27, onde a abominação foi mencionada, deve ser
entendido. E mostra que as 70 semanas, que também são mencionadas no capítulo
9, e outras profecias que foram cumpridas antes do tempo da conclusão (fim)
devem ser entendidas.
32
Bíblia é as TJs. Isso confirma uma das chaves para o entendimento das
profecias, a saber, a identificação do “povo santo”. Abaixo darei
exemplos do fundamento bíblico da fé das Testemunhas de Jeová.

DOIS TIPOS DIFERENTES DE SALVAÇÃO


Nenhuma outra religião acredita nas mesmas doutrinas que as
Testemunhas de Jeová. Mas doutrinas singulares semelhantes a uma
doutrina das Testemunhas de Jeová podem ser encontradas em uma ou
mais das outras religiões. Mas há uma doutrina que eu nunca vi em
nenhuma outra religião, a doutrina que, baseada no sacrifício de resgate
de Jesus, um grupo de 144.000 reinará com ele no céu, e bilhões
viverão como humanos no paraíso restaurado nesta terra.
Qual é a base dessa doutrina? Tanto no AT quanto no NT, há
referências a novos céus e uma nova terra. Mas o destino futuro das
pessoas que servem a Deus não está diretamente conectado aos novos
céus e à nova terra nos textos. Há também passagens que, em conexão
com o futuro, se referem a casas, árvores de vinho e animais (Isaías
65:21–25), e há passagens que se referem à vida celestial. (Fil. 3:20)
Mas como o céu e a terra são mencionados em diferentes passagens,
essas passagens não podem ser usadas como prova da doutrina de que
duas classes diferentes serão salvas, uma no céu e outra na terra. Para
provar isso precisamos de passagens nas quais os dois grupos são
mencionados ao mesmo tempo ou onde o contexto de duas passagens
mostra claramente que existem duas classes.

A chamada celestial e a vindoura terra habitada.


Hebreus 2:5 fala sobre “a próxima terra habitada” (oikoumenē
“terra habitada”; mellō “para ocorrer em um ponto no tempo no
futuro”). Quem governará a vindoura terra habitada é Jesus.
Os termos “filhos de Deus” ou “irmãos de Cristo” são vistos em
Mateus, capítulo 25, e Romanos, capítulo 8. Esses termos também são
vistos em Hebreus 2:11, 12. Os irmãos de Jesus têm “o chamado

33
celestial.” (3:1) Com base em seu resgate, Jesus abriu caminho para
seus irmãos no lugar santo, que se refere ao céu. (10:19)
As duas classes que serão salvas:
“A vindoura terra habitada” (Hebreus 2: 5)
“A chamada celestial” (Hebreus 3: 1)
Mais tarde, no livro de Hebreus, as duas esperanças diferentes,
uma para a vindoura terra habitada e outra para o céu, são expressas de
um ponto de vista diferente. (11:39, 40, TNM15)
39
 Contudo, embora todos esses tenham recebido testemunho favorável
por causa da sua fé, não alcançaram o cumprimento da promessa,
40
 porque Deus havia previsto algo melhor para nós, a fim de que eles
não se tornassem perfeitos à parte de nós.
A expressão “todos estes” refere-se a todos os servos fiéis de
Deus que viveram no passado, mencionados por nome ou que se
encaixam no capítulo 11. O pronome “nós” deve se referir aos irmãos
de Jesus que governarão com ele em céu. Essa esperança é melhor do
que a esperança da vindoura terra habitada. Mas ambos os grupos se
tornarão perfeitos juntos. Isso é o mesmo que é visto em Hebreus,
capítulos 1 e 2, e corresponde às palavras de Paulo em Efésios 1:10 de
que as coisas no céu e na terra serão reunidas em Cristo.

“Conhecidos antes da fundação do mundo”


De acordo com Lucas 11:50, 51, a fundação (katabolē) do mundo
(a família humana) foi lançada na época de Abel quando as crianças
nasceram de Adão e Eva. Hebreus 11:11 confirma que katabolē está
conectado com a procriação de crianças. Efésios 1:3 e 2:6 mostram que
a esperança dos membros daquela congregação era celestial.
Em conexão com a compreensão dos céus e da Terra
mencionados, há duas palavras cruciais. Uma é a preposição pro
(“antes”) em Efésios 1:4. Esses cristãos com uma esperança celestial
foram escolhidos “antes (pro) da fundação do mundo”. Podemos
comparar essas palavras com a ilustração de Jesus em Mateus 25:31–
34
46. Dois grupos de pessoas que serão salvas são mencionados, os
irmãos de Jesus e as ovelhas. A identidade desses irmãos não é
mencionada. Mas em conexão com as ovelhas, é dito no versículo 34
que elas herdarão o reino que está preparado para elas “desde a (apo) da
fundação do mundo”. Como os cristãos efésios foram escolhidos
“antes” da fundação do mundo, e o reino das ovelhas foi preparado
“desde” a fundação do mundo, os efésios e as ovelhas devem pertencer
a duas classes diferentes que serão salvas. Os irmãos de Jesus
mencionados à parte das ovelhas naturalmente pertencem à mesma
classe que os irmãos de Jesus com o chamado celestial mencionado em
Hebreus 2:11,13; 3:1.

Os filhos de Deus e a criação


Em Romanos, capítulo 8, os filhos ou filhos de Deus são
mencionados várias vezes. Dizem que os filhos são herdeiros de Deus e
herdeiros em conjunto com Cristo (v. 17), e Jesus é o primogênito entre
muitos irmãos (v. 29). Esses irmãos são chamados, declarados justos e
glorificados. Isso se refere apenas a pessoas com a esperança celestial.
Romanos 8:19 (TNM15) diz: “Pois a criação está esperando com
viva expectativa a revelação dos filhos de Deus”. Dois grupos
diferentes são entionados, os “filhos de Deus” e a “criação”. Visto que
os filhos de Deus são herdeiros do reino, eles têm uma esperança
celestial. Os versículos 20 e 21 dizem: “Porque a criação foi sujeita à
futilidade, não de sua própria vontade, mas pela vontade daquele que a
sujeitou, à base da esperança de que a própria criação também será
libertada da escravidão à decadência e terá a liberdade gloriosa dos
filhos de Deus.”
A criação poderia ter esperança e, finalmente, estaria livre da
corrupção da qual todos os pecadores são escravos. Não é dito que a
criação é filha de Deus. Mas eles terão a gloriosa liberdade dos filhos
de Deus. Novamente, lemos sobre dois grupos diferentes e duas
esperanças diferentes.

Unidade em Cristo nos céus e na terra


35
Eu já mostrei que os cristãos em Éfeso tinham a esperança
celestial e que eram diferentes das ovelhas na ilustração de Jesus no
capítulo 25 de Mateus. As duas classes são mencionadas também em
Efésios.
No capítulo 1, versículo 10 (TNM15), lemos: “para reunir no
Cristo todas as coisas, as coisas nos céus e as coisas na terra”. Isso
acontecerá “quando se completassem os tempos determinados”, isto é,
no futuro, relacionado ao tempo da escrita de Efésios. O que se entende
por “as coisas” nos céus e “as coisas” na terra não é expresso. Mas a
referência não pode ser coisas inanimadas, porque o artigo no plural
neutro acusativo também pode ser traduzido como “aquilo que”.
Portanto, seres humanos vivos devem ser incluídos. Enquanto o mundo
de Satanás existir, não haverá unidade. Portanto, a unidade final deve
ocorrer nos novos céus e na nova terra que Deus criará. (2 Pedro 3:13)
O céu e a terra também são mencionados em Colossenses 1:20
(TNM15). O sacrifício de resgate de Jesus é discutido, e o que
acontecerá é: “e, por meio dele, reconciliar todas as outras coisas
consigo mesmo, tanto as coisas na terra como as coisas nos céus,
estabelecendo a paz por meio do sangue que ele derramou na estaca.”
O sacrifício de resgate e o sangue de Jesus se relacionam apenas
aos seres humanos que são pecadores e não aos anjos no céu. Assim,
“as coisas na terra” devem se referir àqueles que herdarão a terra, e “as
coisas nos céus” devem se referir àqueles humanos que herdarão o
Reino de Deus nos céus.

O número finito daqueles que tem esperança celestial


Em Apocalipse 7: 9–10, 13–14, uma grande multidão sem
número é vista. São eles que sairão (erkhomai, particípio médio
presente, “vindo”: ek “de, fora de, de”) da grande tribulação. Como a
grande tribulação ocorre na terra, a grande multidão sairá (sobreviverá)
da grande tribulação e continuará a viver na terra.
Em contraste com a grande multidão, há um grupo com 144.000.
(Rev. 7:1–9) O mesmo grupo é visto em 14:1 (TNM15), e o versículo 4
diz que os membros desse grupo “foram comprados dentre a
36
humanidade como primícias para Deus e para o Cordeiro”. Eles estão
de pé no céu de Sião (Hebreus 12:22) e são idênticos aos irmãos de
Jesus que têm o chamado celestial. O monte Sião representava o poder
dominante.
Um número finito de um dos grupos que serão salvos também
está implícito no capítulo 11 de Romanos. O versículo 26 (TNM86)
diz: “e dessa maneira todo o Israel 12 será salvo.” Podemos perguntar:
“De que maneira?” O número completo (plērōma) dos judeus (v. 12) e
o número completo (plērōma) do povo das nações (v. 25) serão
reunidos e, dessa maneira, “todo Israel será salvo”. O fato de haver um
número fixo de “Israel” que será salvo é visto pelas palavras “número
completo” e pela ilustração da oliveira. Não há um tronco infinito no
qual judeus e pessoas das nações possam ser enxertados. Mas há uma
árvore com um número finito de galhos. Antes que uma pessoa possa
ser enxertada no tronco, um ramo deve ser quebrado.
As passagens discutidas acima mostram claramente um grupo de
144.000 que conta com a esperança de reinar com Jesus nos céus, e um
grupo que não pode ser numerado com a esperança de viver na próxima
terra habitada. A única religião com essa crença são as Testemunhas de
Jeová.

O USO DO NOME JEOVÁ


O nome “cristão” (khristianos) foi usado pela primeira vez em
Antioquia, de acordo com Atos 11:26. Esse nome foi dado porque as
congregações eram seguidoras de Jesus Cristo. O foco do Novo
Testamento está na pessoa Jesus Cristo, e Apocalipse 19:10 (TNM86)
diz: “dar-se testemunho de Jesus é o que inspira o profetizar”. Isso
mostra que também no AT há um foco em Jesus, embora indiretamente,
porque as profecias apontam para ele.

12
O nome “Israel” é usado em dois sentidos diferentes em romanos. Isso é visto em
2:28, 29. Em 9:6–9, o “Israel espiritual” é mencionado e em 11:1–12, “Israel
carnal” é mencionado. A referência em 11:26 deve ser o “Israel espiritual”, e a
questão é como todo o Israel espiritual será salvo.
37
O importante papel de Jesus foi entendido por C. T. Russell e
pelos estudantes da Bíblia. Mas eles também entenderam que Jesus era
um servo de seu Pai, e usaram o nome do Pai, Jeová. (Atos 3:13) Visto
que a doutrina da trindade foi rejeitada pelos Estudantes da Bíblia, eles
não tiveram problemas com o uso de dois nomes: “Jeová” para o Pai e
“Jesus” para o Filho. Em A Sentinela de agosto de 1892 [em inglês],
página 3, havia uma pergunta sobre o nome de Deus, se ele era aplicado
a Jesus. A resposta foi: “Afirmamos com confiança que o nome Jeová
nunca é aplicado nas Escrituras a ninguém, exceto ao Pai.” No entanto,
quase todas as denominações cristãs acreditam na doutrina da trindade
e, portanto, a maioria delas não usa o nome pessoal de Deus. As
Testemunhas de Jeová usam livremente o nome de Jesus e o nome de
Jeová, e essa é uma situação única para as Testemunhas de Jeová em
comparação com outras denominações.
O ponto principal da discórdia é se o nome Jeová tem um lugar
certo no Novo Testamento. A Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e
Tratados da Pensilvânia publicou a Tradução do Novo Mundo das
Escrituras Gregas Cristãs em 1950. Esta tradução tem o nome “Jeová”
em 237 lugares no texto e 72 vezes nas notas de rodapé. Isso foi
fortemente criticado por líderes religiosos e tradutores da Bíblia, que
usavam o apelativo “Senhor”, às vezes com letras maiúsculas, em vez
do nome de Deus.
O argumento era que o nome “Jeová” não ocorre nos manuscritos
gregos mais antigos do NT; portanto, é errado incluí-lo no texto do NT.
Mas há um problema com esse argumento, a saber, que a palavra kyrios
(“senhor”) não ocorre nos manuscritos gregos mais antigos do NT. Nas
citações do AT, onde yhwh ocorre, os manuscritos mais antigos do NT,
do final do segundo século EC, têm a abreviatura ks. Não temos os
manuscritos originais do NT e, portanto, não sabemos seu conteúdo.
Mas é impossível que os os manuscritos originais contivessem
abreviações como ks. Isso significa que, em algum momento em que os
manuscritos do NT foram copiados, as palavras originais referentes a
Deus foram excluídas e a abreviação ks foi escrita.
Há um tipo de evidência que pode esclarecer esse problema, a
saber, fragmentos antigos da tradução da Septuaginta para o grego

38
(LXX). Em todos (os poucos) fragmentos desta tradução de AEC e no
manuscrito de 50 EC, o nome de Deus é encontrado, tanto em letras
hebraicas antigas quanto em aramaico de letras quadradas ou como as
letras gregas iaō. É interessante notar que os manuscritos mais antigos
da LXX na era comum, do final do século II d.C., têm a abreviação ks,
enquanto o fragmento de 50 d.C. tem yhwh em antigas letras hebraicas.
Quando o nome de Deus foi excluído dos manuscritos LXX e
substituído por ks, é lógico que, ao mesmo tempo, o nome também foi
removido dos manuscritos do NT e substituído por ks também. Isso
sugere que o nome de Deus, yhwh, ocorreu nos manuscritos originais
do NT.
Escrevi o livro The Tetragram—its History, Its Use in the New
Testament, and Its Pronunciation (2018). (O Tetragrama - sua história,
seu uso no Novo Testamento e sua pronúncia). O livro inclui um estudo
detalhado de como o nome foi usado. Apresenta evidências de que o
substituto 'adōnāi (“senhor”) para yhwh não foi usado em AEC, e que a
primeira evidência desse substituto é de cerca de 70 EC. Isso significa
que, de acordo com as evidências, o nome de Deus foi usado livremente
nos dias de Jesus, e o argumento de que a palavra grega kyrios
(“senhor”) foi usada no NT porque os judeus usaram o substituto
'adōnāi (“senhor”) não tem fundamento. O livro também contém um
estudo detalhado das evidências internas do NT, e essa evidência indica
fortemente que o nome de Deus foi usado no NT.
No capítulo do meu livro sobre a pronúncia do Tetragrama,
demonstro que a pronúncia Yahweh é linguisticamente impossível.
Também mostro que, com base nas evidências da Bíblia hebraica e nos
nomes judaicos escritos nos documentos cuneiformes acadianos, há
fortes evidências a favor da pronúncia original Yehowa.
Eu enviei três cartas para a sede sobre o nome de Deus,
apontando detalhadamente vários erros no Apêndice A4 no TNM15.
Mas, evidentemente, essas cartas foram ignoradas.
Há fortes evidências a favor da pronúncia
Yehowa e de que esse nome ocorreu nos
manuscritos originais do NT.
39
A SANTIDADE DA VIDA E DO SANGUE
Uma área em que as crenças das Testemunhas de Jeová são
únicas em comparação com todas, ou a maioria das outras
denominações cristãs, é a recusa de levar sangue para o corpo por via
oral ou por transfusão de sangue. Fui membro do Comissão de Ligação
com Hospitais de Oslo, Noruega, desde 1990, quando esse arranjo
começou. Portanto, tenho um conhecimento detalhado dos antecedentes
bíblicos e da aplicação prática da visão do sangue na Bíblia.

O sangue representa a vida e é sagrado


A razão de nossa visão única do sangue é o texto da Bíblia.
Como testemunha, tomo o texto da Bíblia de maneira literal, se o
contexto não mostrar o contrário. E não aceitarei nenhuma exceção a
uma lei de Deus quando o contexto não mostrar claramente que há uma
exceção. A Bíblia mostra que o sangue é santo e que não deve ser usado
para nada, exceto como sacrifício no altar. A lei de Moisés é encerrada
com suas ofertas de animais. E a oferta perfeita da qual os sacrifícios
judaicos eram uma sombra, a saber, a carne e o sangue de Jesus, foi
sacrificada de uma vez por todas. (Hebreus 7:27) Portanto, não há mais
uso legítimo de sangue.
Antes do dilúvio mundial, os humanos não comiam animais. Isso
mudou após o dilúvio, e Gênesis 9: 3–6 (TNM86) diz:
Todo animal movente que está vivo pode servir-vos de alimento.
Como no caso da vegetação verde, deveras vos dou tudo. 4 Somente a
carne com a sua alma — seu sangue — não deveis comer. 5 E, além
disso, exigirei de volta vosso sangue das vossas almas. Da mão de
cada criatura vivente o exigirei de volta; e da mão do homem, da mão
de cada um que é seu irmão exigirei de volta a alma do homem.
6
 Quem derramar o sangue do homem, pelo homem será derramado o
seu próprio sangue, pois à imagem de Deus fez ele o homem.
Com essas palavras, entendemos que 1) o sangue representa a
vida (a alma) dos seres vivos, 2) o sangue não deve ser comido e 3) o
sangue não deve ser derramado tirando a vida de alguém. A razão para
40
os três pontos é que o sangue tem valor, que é solicitado novamente se
o sangue for mal utilizado. Deus criou criaturas viventes e seu sangue
que representa suas vidas. Com ele está a fonte da vida. (Salmo 36:9)
Portanto, somente ele tem o direito de decidir como a vida e o sangue
devem ser usados.
A lei de Deus para Israel continha vários mandamentos sobre
sangue. Levítico 17:11, 13 (TNM86) diz:
 Pois a vida de uma criatura está no sangue, e eu mesmo o dei a
11

vocês para que façam expiação por si mesmos no altar. Pois é o


sangue que faz expiação por meio da vida que está nele.
 “‘Se algum israelita ou algum estrangeiro que mora entre vocês, ao
13

caçar, apanhar um animal selvagem ou uma ave que se pode comer,


ele terá de derramar o sangue e cobri-lo com pó.
As passagens mostram que o único uso de sangue está no altar
como sacrifício. Quando um animal é abatido, ele deve ser sangrado.
Ao derramar o sangue no chão e cobri-lo com pó, a vida volta
simbolicamente a Deus, que é a fonte da vida. A palavra “sagrado”
refere-se a algo puro, que é reservado para apenas um propósito. As
afirmações acima mostram que o sangue é sagrado.

A reunião em Jerusalém em 49 EC e seus quatro


mandamentos
A congregação cristã foi instituída no dia de Pentecostes no ano
33 EC. Naquela época, a lei de Moisés, incluindo seus mandamentos
sobre o sangue, não era mais válida. No ano 49, surgiu a questão de
saber se as pessoas das nações deveriam ser circuncidadas. Esta questão
foi discutida na reunião dos apóstolos e dos anciãos em Jerusalém. E
influenciados pelo espírito santo, a seguinte decisão foi tomada, de
acordo com Atos 15:28, 29 (TNM86):
28
 Pois, pareceu bem ao espírito santo e a nós mesmos não vos
acrescentar nenhum fardo adicional, exceto as seguintes coisas
necessárias: 29 de persistirdes em abster-vos de coisas sacrificadas a
ídolos, e de sangue, e de coisas estranguladas, e de fornicação. Se vos

41
guardardes cuidadosamente destas coisas, prosperareis. Boa saúde
para vós!”
De acordo com BAGD, a forma do grego intermediário do verbo
apekhō com um objeto genitivo tem o significado de “manter distância;
abster-se de”. Como a forma verbal está presente no infinitivo
intermediário, o TNM86 fornece corretamente ao verbo a renderização
imperfeita, “persisti em abster-vos”. Na tabela 1.1, vemos quatro
exemplos de apekhō no meio com o seguinte objeto no genitivo. Não
há dúvida de que o significado de todos os exemplos é não ter nada a
ver com ou manter-se completamente afastado das ações e estados
referidos pelos objetos. O mesmo deve ser verdade com o uso da forma
intermediária de apekhō com objetos genitivos em Atos 15:29.

Tabela 1.1 Exemplos do uso de apekhō ("abster-se de") na NVI

1 Tessalonicenses 4:3 A vontade de Deus é que vocês sejam


santificados: abstenham-se (apekhō) da
imoralidade sexual.

1 Tessalonicenses 5:22 Afastem-se (apekhō) de toda forma de mal.

1 Timóteo 4:3 [em Eles proíbem as pessoas de se casar e


inglês] ordenam que se abstenham (apekhō) de
certos alimentos.

1 Pedro 2:11 Amados, insisto em que, como estrangeiros


e peregrinos no mundo, vocês se
abstenham (apekhō) dos desejos carnais

Um argumento que foi usado é que os mandamentos foram dados


por um certo tempo e que mais tarde foram cancelados. Em relação às
“coisas sacrificadas a ídolos”, foi argumentado que Paulo permitiu isso
em sua primeira carta aos coríntios. A visão luterana do uso de sangue é
vista abaixo.

42
65 Os apóstolos ordenaram aos cristãos que não comessem carne com
o sangue ainda presente (Atos 15:20). Quem obedece a esse comando
em nossos dias? E, no entanto, as pessoas que não o obedecem não
estão pecando. Pois nem os próprios apóstolos desejavam
sobrecarregar a consciência das pessoas com tais correntes. Para evitar
ofender, eles baniram por um tempo o consumo de carne com o
sangue ainda nele.
66 Pois esse decreto deve sempre nos lembrar qual é o propósito do
evangelho.
67 Quase nenhuma lei da igreja é mantida exatamente. Todos os dias
muitos costumes não são utilizados, mesmo entre as pessoas que mais
apóiam as tradições.
68 Nem as consciências podem ser adequadamente cuidadas, a menos
que esses costumes sejam alterados da seguinte maneira: As leis da
Igreja podem ser obedecidas se isso for feito sem que se ensine que
são necessárias. E as consciências não devem ser prejudicadas, mesmo
quando as tradições mudam.13
As palavras da Confissão de Augsburgo são uma negação das
claras palavras da Bíblia. A decisão dos apóstolos e dos presbíteros foi
colocada na categoria “Leis da Igreja que não são necessárias para
cumprir”. Nenhuma evidência é dada para a alegação de que as leis
foram dadas “para evitar ofensas” e de que foram dadas “por um
tempo” e depois foram abolidas. Mas vou considerar dois argumentos
que são usados.
O primeiro argumento é que essas leis foram dadas apenas aos
cristãos das nações e não eram obrigatórias para os cristãos de
ascendência judaica. É verdade que os cristãos das nações foram o foco
das discussões. (Atos 15:20) E a razão disso era que os cristãos de
Antioquia haviam levantado a questão de se as pessoas das nações
deveriam ser circuncidadas ou não. Se for usado o argumento de que as
leis se referem apenas aos cristãos das nações, devemos restringir a
aplicação apenas aos cristãos das nações em Antioquia, porque a carta
lhes foi endereçada (versículo 23). No entanto, Atos 16:4 (TNM15)

13
Confessio Augustana, artigo 28;
https://www.stpls.com/uploads/4/4/8/0/44802893/augsburg-confession.pdf
43
mostra que Paulo e Timóteo visitaram diferentes congregações cristãs,
e “eles entregavam a eles por observância os decretos que haviam sido
decididos pelos apóstolos e anciãos que estavam em Jerusalém”. E
quem foram os objetos dessa libertação? A palavra grega autois
(“eles”), plural dativo masculino, é usada. Portanto, todos em cada
congregação deveriam guardar esses decretos. E nas congregações
havia judeus e cristãos das nações, como 16:3 indica.
As palavras de Atos 15:21 (TNM86) também são usadas por
aqueles que se opõem à lei sobre o sangue:
Pois, desde os tempos antigos, Moisés tem tido em cidade após cidade
os que o pregam, porque ele está sendo lido em voz alta nas sinagogas,
cada sábado.
O argumento é o seguinte: Como os judeus que conheciam a lei
de Moisés não deveriam ser ofendidos, era necessário que os cristãos
das nações mantivessem algum tempo algumas das leis de Moisés. Se
os judeus não deveriam ser ofendidos, a lei mais importante de Moisés
que deveria ter sido seguida era a circuncisão. Por exemplo, Paulo
circuncidou Timóteo, para que os judeus não se ofendessem (16:3).
Mas a circuncisão foi rejeitada pelos apóstolos e pelos anciãos.
Mas por que Tiago se referiria a Moisés no versículo 21? Uma
explicação natural é a seguinte: A expressão “cidade após cidade” deve
se referir a todas as cidades com sinagogas em Israel e nos países ao
redor. Em Israel, alguns povos das nações eram judeus prosélitos que
depois se tornaram cristãos. (Atos 2:5–12) Nos países fora de Israel,
muitas pessoas das nações frequentavam às sinagogas judaicas, como
mostram Atos 17:1–4, 17. O ponto de Tiago pode ter sido que, visto
que Moisés era lido regularmente nas sinagogas, tanto para judeus
quanto para o povo das nações, esses quatro mandamentos sugeridos
não são algo completamente novo. Mas muitas pessoas das nações já
estavam familiarizadas com os mandamentos por causa dos escritos de
Moisés.
Outro argumento sugerindo que as quatro leis seriam válidas
apenas por um curto período de tempo, baseia-se nas palavras de Paulo
sobre sacrifícios a ídolos em 1 Coríntios, capítulos 8 e 10: A carne de
animais sacrificados a ídolos poderia ser comida se ninguém fosse
44
ofendido (10:25), e isso mostraria que o mandamento contra coisas
sacrificadas aos ídolos não era mais válido.
O contexto mostra que esse argumento é inválido. Em Corinto
havia templos para ídolos. Animais eram abatidos e partes de cada
animal eram oferecidas aos ídolos, e outras partes eram comidas por
adoradores de ídolos que jantavam nos templos dos ídolos. Após a
oferta e a ingestão no templo dos ídolos, ainda sobrava muita carne, e
essa carne era vendida no dia seguinte no mercado. Portanto, a questão
era se os cristãos podiam comprar a carne de animais que no dia
anterior havia sido sacrificada aos ídolos. Essa era uma decisão que
cada cristão teria de tomar, de acordo com Paulo. Mas jantar no templo
dos ídolos não seria correto, como Paulo diz em 1 Coríntios 10:18–21.
Isso mostra que o mandamento contra o consumo de carne oferecida
aos ídolos ainda estava em vigor. Muitos anos depois que as cartas aos
coríntios foram escritas, João escreveu: “Guardai-vos dos ídolos”. (1
João 5:21, TNM86) Portanto, o mandamento da reunião em Jerusalém
em 49 EC ainda era válido.
Também devemos ter em mente que um dos quatro mandamentos
era contra uma porneia (“imoralidade sexual”). Esta lei é mencionada
muitas vezes em livros diferentes no NT, e muitos membros das
denominações cristãs aceitam que essa lei ainda é válida. Seria
inconsistente argumentar que duas das leis da reunião em 49 EC ainda
são válidas, mas outras duas foram dadas por um tempo para que os
judeus não se ofendessem.
Em oposição a esse argumento, há uma coisa que une todas as
quatro leis. Uma lei é baseada em um ou mais princípios, que são
verdades básicas. Curiosamente, as quatro leis que estamos discutindo
são baseadas no mesmo princípio, a saber, o princípio da santidade da
vida. O sangue representa a vida de todas as criaturas, e o sangue não
deve ser usado para nenhum propósito, exceto no altar. Colocar sangue
em nosso corpo, o que significa usá-lo, é uma violação da santidade da
vida. Comer carne de animais estrangulados é o mesmo que comer
sangue porque esses não são sangrados. Os seres humanos podem, por
ter relações sexuais, transmitir vida a uma nova geração. Deus quer que
os recém-nascidos tenham o melhor ambiente possível onde possam

45
crescer e se tornar adultos. O melhor ambiente é o casamento, onde
homem e mulher se comprometem um com o outro e com seus filhos.
Ter relações sexuais fora do casamento, com a possibilidade de
transmitir a vida a uma criança em um ambiente incerto, é uma violação
da santidade da vida da criança. Gênesis 9:3, 4 e Levítico 17:11–14
mostram que os animais só podem ser mortos por comida ou como
sacrifício a Jeová Deus. Quando um animal é morto para se tornar um
sacrifício por um ídolo, a santidade de sua vida é violada. A lei contra
as coisas sacrificadas aos ídolos também se baseia nos princípios: “Só
existe um Deus verdadeiro” e “Somente Jeová Deus merece ser
adorado”. O fato de todas as quatro leis se basearem no mesmo
princípio essencial indica que essas são leis fundamentais de Deus e
que não foram abolidas.

O uso do sangue para fins medicinais


Os mandamentos de abster-se de sangue e animais estrangulados
estão relacionados à comida. A partir de meados do século 20, o sangue
também tem sido utilizado para fins medicinais. Será que esses
propósitos estão debaixo do decreto da reunião dos apóstolos e anciãos
em Jerusalém, em 49 EC?
Quando consideramos as razões por trás das leis que tratam do
sangue, a resposta deve ser Sim. O sangue representa a vida, e a fonte
da vida é Deus. (Salmo 36:10) Portanto, ele tem o único direito de
decidir como a vida, representada pelo sangue, deve ser usada. Como
vimos, se uma pessoa matou um ser humano e derramou seu sangue,
ele próprio foi considerado culpado e, portanto, seria punido por ter seu
próprio sangue derramado. Se um animal foi morto por comida, seu
sangue deve ser derramado e coberto de terra. Isso indica que o sangue
não deve ser usado para nada; o único uso legal estava no altar como
sacrifício. Isso ocorreu quando a lei de Moisés foi validada, e esses
sacrifícios apontavam para o sacrifício perfeito da carne e do sangue de
Jesus. Visto que o sangue é santo e não há uso legal de sangue, o uso
médico moderno é uma violação da lei de Deus, tanto quanto ingerir o
sangue pela boca como comida ou bebida.

46
Além disso, visto que os cristãos crêem na Bíblia, tomamos as
palavras da Bíblia em um sentido absoluto se o contexto não mostrar
que há uma exceção. As palavras da lei são: “abster-se de sangue”, e
nenhuma exceção é listada. Portanto, nos absteremos de sangue de
todas as formas.
No entanto, há uma questão relacionado à ciência médica
moderna que deve ser abordada. Foram desenvolvidos métodos para
fracionar o sangue, e essas frações são frequentemente usadas no
tratamento de pacientes. Será que receber essas frações é uma violação
da lei de abster-se de sangue? Isso depende se uma fração específica é
“sangue” (grego, haima e hebraico dama) no sentido bíblico da palavra.
O CG decidiu que o sangue total, o plasma sanguíneo e os três
componentes básicos do sangue, a saber, eritrócitos, glóbulos brancos e
plaquetas, devem ser incluídos no termo “sangue”. Mas se
componentes como albumina, imunoglobulinas e fatores de coagulação
são “sangue” ou não são “sangue” é incerto. Portanto, aceitar ou não
esses fatores é uma questão de consciência de cada Testemunha.
Nos capítulos 4 e 5, eu critico fortemente o CG porque seus
membros criaram muitos mandamentos humanos que não têm base na
Bíblia e que causaram danos a milhares de Testemunhas de Jeová. A
definição do que está incluído no termo “sangue” também é um
mandamento humano, ou melhor, uma definição humana. Mas há uma
diferença entre este mandamento e os outros que eu critico. Os
mandamentos relativos ao ensino superior, e alguns pecados que levam
à desassociação e muitas outras questões são desnecessárias e não
deveriam ter sido feitas em primeiro lugar. Mas ter uma definição do
que é “sangue” é necessária. Concordo com a definição do CG de que
os componentes básicos do sangue são “sangue” no sentido bíblico da
palavra. Mas como a Bíblia não define, não posso criticar outras
pessoas que têm uma visão diferente.14

14
O ponto aqui é que, quando algo não é explicitamente dito ou definido na Bíblia,
nenhum cristão tem o direito de fazer uma definição que seja obrigatória para os
outros. Isso significa que, quando a Torre de Vigia faz uma definição do que está
incluído no dām e no haima, isso é de valor indicativo e não de valor obrigatório. (1
Coríntios 4:6) Se outros cristãos, como os membros da CG, tivessem o direito de
tomar decisões obrigatórias para os outros no que tange a questões de fé que não
47
Mas e quanto a vida que é sagrada? Se um médico disser que eu
preciso de sangue para sobreviver, a manutenção da vida não será mais
importante do que manter uma lei de Deus sobre o sangue? Mateus 16:
24–26 (TNM86) diz:
Jesus disse então aos seus discípulos: “Se alguém quer ser meu
seguidor, negue a si mesmo, apanhe sua estaca de tortura e siga-me
sempre. 25 Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá, mas quem
perder a sua vida por minha causa a achará. 26 Realmente, de que
adianta o homem ganhar o mundo inteiro, se ele perder a sua vida? Ou
o que o homem dará em troca da sua vida?
Essas palavras mostram que seguir as leis de Deus é mais
importante do que preservar a alma (a vida). Ilustrarei a questão da
seguinte maneira: Nos dias do imperador romano Nero, os cristãos
foram perseguidos. Considere uma família com marido, esposa e filho,
que foram presos e levados para o anfiteatro. Lá no meio, havia um
altar com fogo ardente, e ao lado do fogo havia um receptáculo com
incenso. O pai recebeu um ultimato: ou ele deveria derramar um pouco
de incenso no fogo, fazendo uma oferenda ao espírito protetor do
Imperador, ou ele e sua família seriam mortos. Como os cristãos não
violariam a lei de Deus, mesmo que a ação exigida fosse apenas um
sinal e pudessem salvar suas vidas, os cristãos não o fariam. Portanto,
temos a palavra “mártir”. O mesmo se aplica à lei de Deus sobre o
sangue. Os cristãos não violarão essa lei, mesmo que possam salvar a
vida.
O Novo Testamento proibe qualquer uso de
sangue para qualquer propósito, incluindo
propósitos medicinais.
Os inimigos das Testemunhas de Jeová às vezes alegam que um
grande número de pessoas morreu porque recusaram transfusões de
sangue. Na Noruega, os doentes com os casos mais complicados são

são mencionadas na Bíblia, o resultado seria uma coletânea de leis extra-bíblicas,


semelhante ao Talmud. Infelizmente, existem várias dessas decisões que foram
tomadas pelo CG. Não estou falando de procedimentos organizacionais necessários
em uma grande organização, mas de regras e regulamentos relacionados à nossa fé
e vida cristã. Nessas áreas, ninguém tem o direito de ditar para os outros.
48
enviados para os grandes hospitais de Oslo. E a COLIH, da qual sou
membro, ajudou centenas de Testemunhas doentes na área de Oslo e
nos distritos ao redor de Oslo. Uma vez por mês, temos uma reunião,
onde discutimos os casos em que assistimos e, nesta reunião, também
discutimos a melhor maneira de ajudar aqueles que pedirão nossa ajuda.
Durante os 29 anos em que tenho sido membro da COLIH,
conheço apenas duas pessoas que morreram após uma operação, mas
que provavelmente poderiam ter sobrevivido se tivessem recebido
sangue de alguma forma. A literatura médica mostra que, em contraste
com esses dois, várias pessoas na Noruega morreram devido a
complicações causadas por transfusões de sangue, e há centenas de
outras pessoas cujas vidas foram encurtadas devido a reações
imunológicas causadas por transfusões de sangue. As Testemunhas de
Jeová acreditam que as leis de Deus são boas e podem ajudar as pessoas
a evitar problemas e levar uma vida boa. Em casos raros, as
Testemunhas de Jeová foram torturadas [a fim de] abandonar sua fé e,
em outros casos, morreram porque não violariam as leis de Deus. As
Testemunhas de Jeová querem viver e tomam medidas razoáveis para
continuar vivendo. Mas se houver uma situação em que elas devam
morrer para cumprir as leis de Deus, eles sabem que, no futuro, terão
uma ressurreição dentre os mortos.

O REINO DE DEUS
O Reino de Deus com Jesus Cristo como rei é a doutrina bíblica
que, mais do que qualquer outra, faz as TJs serem diferentes de outras
denominações cristãs. Se eu não acreditasse que Jesus é rei, no sentido
literal e pleno da palavra, minha vida teria sido totalmente diferente do
que é.

A influência do Reino de Deus sobre os debaixo dele


Visto que eu acredito que Jesus Cristo está atuando como rei, eu
me considero embaixador do Reino. (2 Coríntios 5:20) Por causa dessa
posição, eu prego as boas novas do Reino, pedindo às pessoas que se
reconciliem com Deus. Eu me comporto como embaixador e não farei
49
parte do estabelishment do país em que moro, nem votarei em um
partido político. Mas tentarei obedecer as leis do estado, ser um bom
vizinho e contribuir para um ambiente agradável.
Acreditar que Jesus é rei tem uma forte influência na vida dos
cristãos. Por isso, recusam o serviço militar, não votam e não fazem
parte do mundo.
Não compartilho dos objetivos da maioria das pessoas ao meu
redor. No entanto, eu gosto de ter bons amigos para passar um tempo;
Gosto de boa comida e bebida e gosto de experimentar coisas novas
quando tenho férias. Mas, ao mesmo tempo, prezo valores que a
maioria das pessoas ao meu redor não cultiva. E minhas crenças são
muito diferentes das crenças de outras pessoas. Para colocar a situação
na perspectiva correta, cito algumas palavras do livro de Daniel. No
capítulo 2, ele descreve a grande imagem de uma pessoa que consiste
em diferentes metais. Esses metais representam potências mundiais que
iam e vinham, uma após a outra. A última potência mundial é
simbolizada pelos pés constituídos por ferro e barro. Uma grande pedra
atingiu a imagem nos pés e toda a imagem foi esmagada. No capítulo 2,
versículo 44, Daniel explica o significado da pedra que esmagou a
imagem. Cito a TNM86.
E nos dias daqueles reis o Deus do céu estabelecerá um reino que
jamais será arruinado. E o próprio reino não passará a qualquer outro
povo. Esmiuçará e porá termo a todos estes reinos, e ele mesmo ficará
estabelecido por tempos indefinidos
As palavras de Daniel mostram que o Reino de Deus esmagará a
Noruega, os EUA, a Rússia, Israel e todos os outros países. Então o
Reino de Deus reinará sobre toda a terra e trará a paz. A maioria das
pessoas que se dizem cristãs não aceita a ideia de que todas as nações
atuais serão removidas pelo Reino de Deus. Mas se acreditarmos que a
Bíblia é a palavra de Deus, não podemos escapar dessa conclusão.
Não sei exatamente quando o Reino de Deus esmagará as nações
deste mundo, embora haja fortes evidências de que isso acontecerá em
um futuro não muito distante. Mas por acreditar em toda a Bíblia, o que
inclui essas palavras, optei por promover os interesses do Reino de

50
Deus, em vez de trabalhar para obter uma posição elevada neste mundo
ou tornar-me materialmente rico.

A cronologia do Reino de Deus


A mensagem básica de Jesus quando ele estava na terra era sobre
o Reino dos céus. Muitas vezes ele dizia: “O Reino dos céus está
próximo”. (Mateus 4:17) O significado disso era que Jesus, o rei do
Reino, estava entre eles. Lucas 17:21 (NAB em inglês) diz: “O reino de
Deus está entre vocês.” Mas quando Jesus voltou ao céu, o Reino não
estava mais entre eles.
Os apóstolos aguardavam o estabelecimento do Reino dos céus.
Em uma ocasião, quando estavam perto de Jerusalém, “eles pensaram
que o reino de Deus apareceria lá imediatamente”. (Lucas 19:11, NAB
em inglês) Em conexão com isso, Jesus contou uma ilustração que
começou com as seguintes palavras (versículo 12): “Um nobre partiu
para um país distante para obter a realeza e depois voltar”. Isso indica
que Jesus voltaria para o céu e, quando ele voltasse, o Reino de Deus
seria estabelecido.
A profecia do Antigo Testamento que é citada na maioria das
vezes no NT é o Salmo 110:1, 2 (TNM15). Esses versículos lançam
alguma luz sobre o assunto que estamos discutindo:
Jeová declarou ao meu Senhor: “Sente-se à minha direita, Até que eu
ponha os seus inimigos debaixo dos seus pés.”  2 Jeová estenderá
desde Sião o cetro do seu poder, dizendo: “Domine no meio dos seus
inimigos.”
A própria profecia mostra que, em determinado momento, o
Senhor mencionado governará no meio de seus inimigos, e eles se
tornarão um banquinho para seus pés. Pedro mostra em Atos 2:34–36
que o Senhor, que governará, é Jesus Cristo. Quando o seu domínio
entre seus inimigos começaria? A epístola aos Hebreus foi escrita
muitos anos depois que Jesus voltou ao céu, e em 10:12, 13 (NVI em
inglês) lemos:

51
12
Mas quando este sacerdote ofereceu para sempre um sacrifício pelos
pecados, sentou-se à direita de Deus. 13 Desde então, ele espera que
seus inimigos sejam apoiados por seus pés.
As palavras citadas mostram que Jesus não governou no Reino
de Deus, no meio de seus inimigos, quando ele estava na terra. E várias
décadas depois desse tempo, quando Hebreus foi escrito, ele ainda
aguardava o início de seu governo. O livro do Apocalipse foi escrito no
final do século I d.C., e o primeiro versículo diz que o livro foi escrito,
“para mostrar aos escravos o que deve acontecer em breve”. 15 O cenário
do Apocalipse é um período antes de Jesus vir como juiz. (2
Tessalonicenses 1:7–10) O julgamento dos inimigos de Deus é descrito
nos capítulos 17–20 de Apocalipse. Antes deste julgamento final, um
grande número de coisas acontecerá. Duas passagens de Apocalipse nos
ajudam a saber algo sobre quando o Reino de Deus seria estabelecido
em relação ao julgamento final:
Então o sétimo anjo tocou sua trombeta, e vozes puderam ser ouvidas
gritando no céu, chamando: ‘O reino do mundo se tornou o reino de
nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre’...
Damos graças a ti, Deus Todo-Poderoso, Aquele que é, que era, por
assumir o seu grande poder e começar o seu reinado.’ (11:15, 17, NJB
em inglês)
9
O grande dragão, a serpente primitiva, conhecida como o diabo ou
Satanás, que havia desviado o mundo todo, foi lançada à terra e seus
anjos foram lançados com ele. 10 Então ouvi uma voz gritar céu, ‘A
salvação, o poder e domínio para sempre foram conquistados por
nosso Deus, e toda autoridade por seu Cristo, agora que o acusador,
que acusou nossos irmãos dia e noite diante de nosso Deus, foi
derrubado... 12 os céus se alegram e todos os que vivem lá; mas para
você, vocês e mar, o desastre está chegando - porque o diabo desceuu
a vocês com raiva, sabendo que ele tem pouco tempo.” (12:9, 10, 12,
NJB em inglês)

15
A palavra "breve" (takhus) tem os significados "rapidamente; rapidamente; sem
demora; em breve; Em breve; muito antes." Pode se referir ao curto intervalo entre
duas ações ou a ações que se desenrolam rapidamente. Em um contexto profético, o
conceito "em breve" pode ser muito mais longo do que esperamos. (1 Pedro 3: 8)
52
As palavras em 11:15 mostram que o Reino pertence a Deus, e
Jesus Cristo é o rei no Reino de Deus. O significado básico da palavra
traduzida por “assumir” em 11:17 é “tomar”. Deus é agradecido porque
ele tomou seu grande poder e começou a reinar. Visto que o Apocalipse
lida com as últimas coisas antes de Jesus vir como juiz, ele deve
começar a reinar neste momento em que seus inimigos se tornaram
descanço para seus pés
As palavras em 12:9 mostram que o diabo e seus anjos foram
expulsos do céu. Desde então, o poder e o Reino pertencem a Deus, e a
autoridade pertence a Cristo. A cronologia deste evento é mostrada em
12:12: O Reino de Deus é estabelecido “por um curto período de
tempo”16 antes que o Diabo seja acorrentado e jogado no abismo.
(Revelação 20:1–3) Não sabemos quanto tempo dura esse “curto
período de tempo”. Mas o ponto importante é que existe “um curto
período de tempo” depois que o Reino de Deus é estabelecido e antes
de Jesus vir como juiz para remover todos os inimigos de Deus.
O Reino de Deus é estabelecido “um curto
período de tempo” antes do julgamento final.
Esse tempo corresponde intimamente à grande profecia de Jesus
nos capítulos 24 e 25 de Mateus, Marcos 13 e Lucas 21. Em Mateus
24:30 a 25:31, a vinda (erkhomai) de Jesus como juiz para remover os
inimigos de Deus é mencionada oito vezes. Mas antes dessa vinda,
várias coisas aconteceriam.
De acordo com Mateus 24:3, os discípulos perguntaram sobre o
sinal da presença (parousia) de Jesus. A palavra parousia aparece em
muitas traduções da Bíblia como “vinda”. Mas isso é enganoso. Alguns
léxicos dão o significado de “vinda”, em vez de “presença”. Eu
verifiquei todas as referências à literatura grega em dez léxicos, onde
parousia também deveria significar “vinda”, mas nenhuma das
referências mostra claramente esse significado instantâneo. Em
Filipenses 2:12, a parousia (“presença”) é contrastada com a apousia

A palavra traduzida como “tempo” é kairos, que se refere a “uma hora marcada,
16

uma hora específica”. Portanto, a renderização “um curto período de tempo” da


TNM15 é excelente.
53
(“ausência”). E todas as ocorrências de parousia no NT se encaixam
muito bem na tradução “presença”. Em Mateus 24:3, synteleias tou
aiōnos (“a conclusão do sistema de coisas”) é paralelo à parousia
(“presença”. Na parábola de Jesus em Mateus 13:24–30, 36–43,
synteleia aiōnos (“uma conclusão de um sistema de coisas”) é
considerada a colheita (therismos) onde muitas coisas acontecerão
(verso 39). O fato de que “colheita” é paralela a aiōn (os) (“um sistema
de coisas”) e aiōn (ou) paralela a parousia (“presença”), indica que a
parousia não é uma “vinda” instantânea, mas representa um período de
tempo em que Jesus está presente. Que essa parousia é um período de
tempo também é confirmado por Mateus 24:37–39. Nesses versículos,
a parousia é considerada similar aos dias de Noé, ou seja, a um período
de tempo. No final da parousia de Jesus, ele virá como juiz e destruirá
todos os inimigos de Deus. Assim, a presença de Jesus é igual a “o
curto período de tempo” mencionado em Apocalipse 12:12.
O sinal da presença de Jesus consiste em vários eventos, o
primeiro sendo “guerras e relatos de guerras” porque “nação se
levantará contra nação e reino contra reino”. O fato de muitas nações e
reinos participarem de uma guerra se encaixa na Primeira Guerra
Mundial, iniciada em 1914. Esse também é o caso do cavalo vermelho
em Apocalipse 6:4 que “tiraria a paz da terra”. As outras partes do sinal
também foram vistas desde 1914, incluindo a pregação mundial sem
precedentes das Testemunhas de Jeová. (Mateus 24:14)
Jesus mostrou que no momento de sua parousia, o cumprimento
do “sinal” seria entendido por seus seguidores. Ele disse: “Então, com
vocês, quando virem todas essas coisas: saibam que ele está próximo,
bem aos portões.” (Mateus 24:33, NJB – em inglês) Na verdade, o que
significa a palavra “próximo”? A explicação vem nos versículos 34 e
36 (NJB):
Na verdade, digo a vocês, antes que essa geração tenha passado, todas
essas coisas tenham acontecido... Mas quanto a esse dia e hora,
ninguém sabe disso, nem os anjos no céu, nem o Filho, ninguém senão
somente o Pai. ”
Essas palavras de Jesus mostram que, no “tempo da conclusão”,
eventos particulares constituindo um sinal aconteceriam. Quando esses

54
eventos fossem vistos, seus seguidores saberiam que o fim chegaria na
geração daqueles que viram o sinal. Mas o dia e a hora do julgamento
final, nenhum ser humano saberia. Devido a todos os pontos e
passagens discutidos acima, acredito que Jesus reinou como rei no
Reino de Deus desde 1914 EC. E essa é a razão pela qual me comporto
como embaixador do rei e de seu Reino.

AS PROFECIAS DA BÍBLIA E AS TESTEMUNHAS DE


JEOVÁ
Iniciarei esta seção repetindo que a Bíblia tem dois tipos de
material: 1) o material em que tudo o que podemos saber sobre um
assunto está espalhado pelos livros da Bíblia, e precisamos fazer uma
síntese desse material, e 2 ) o material onde apenas metade é encontrada
na Bíblia, e devemos encontrar a outra metade. O primeiro material
mencionado refere-se às doutrinas fundamentais da Bíblia e, na última
seção, discuti várias doutrinas ensinadas pelas Testemunhas de Jeová e
por mais ninguém. O segundo tipo de material refere-se às profecias da
Bíblia, e discutirei esse material nesta seção.

OS TEMPOS DESIGNADOS DAS NAÇÕES


Na última seção, citei as palavras de Jesus, mostrando que seus
seguidores entenderiam sua grande profecia. (Mateus 24:33–36;
Marcos 13:29–32) Nesta seção, discutirei uma parte da profecia, a
saber, a expressão “os tempos designados das nações” em Lucas 21:24.
A TNM15 diz: “e Jerusalém será pisada pelas nações até se
cumprirem os tempos determinados das nações.” Visto que Jesus disse
que seus seguidores entenderiam sua grande profecia, esse versículo
também deve ser entendido. Não há pistas no contexto que possam nos
ajudar a entender as palavras. Portanto, deve haver tópicos em algum
lugar da Bíblia que possam nos ajudar a entender a profecia. Então,
quais são os tempos designados das nações?
Vamos primeiro raciocinar. Em Mateus 24:15, Jesus exortou os
leitores a usar o discernimento em conexão com "a coisa repugnante
55
que causa desolação". Jesus pode ou não ter feito alguns comentários
sobre a identidade dessa coisa repugnante (Mateus 24:15, 16; Lucas
21:20, 21), mas Jesus exortou seus seguidores a usar o discernimento.
Para fazer isso, os discípulos que não ouviram as palavras de Jesus
tiveram que confiar nas palavras gregas bdelugma ts erōmōse, enquanto
aqueles que ouviram as palavras de Jesus podiam procurar as palavras
hebraicas que ele usou. Como eles conseguiram entender essas
palavras? Ao procurar palavras semelhantes no LXX, ou, se o hebraico
fosse sua língua materna, eles poderiam procurar palavras hebraicas
com significado semelhante. Nos dois casos, apenas três passagens
podem ser identificadas, Daniel 9:27; 11:31; e 12:11. Ao ler essas
passagens no contexto, uma identificação da abominação pode ser
possível.
Este é um princípio importante: quando as palavras proféticas são
usadas no NT, precisamos olhar para o AT para ver se as palavras
proféticas são retiradas de um dos livros do AT. Isso é particularmente
importante quando há poucas pistas no NT sobre o significado de
determinadas palavras proféticas. Em sua grande profecia, Jesus se
referiu várias vezes ao livro de Daniel. Em Mateus 24:21, ele se referiu
à grande tribulação, mencionada em Daniel 12:1. Em Mateus 24:30 e
25:31, ele se refere ao Filho do homem, mencionado em Daniel 7:13.
Além disso, o Reino de Deus é o tema principal de Daniel, como
também é na grande profecia de Jesus. (Mateus 24:14; 25:31) E há
algumas palavras no texto grego de Mateus 24 que são encontradas no
texto grego de Daniel, como sinteleia (“conclusão”; hebraico, qēs), que
é usada 23 vezes em Daniel e uma vez em Mateus 24:3. Não há dúvida
de que Jesus tinha Daniel em mente quando proferiu sua grande
profecia.

Jesus se referiu ao livro de Daniel várias


vezes em sua grande profecia. Daniel também
nos ajuda a entender a referência aos “tempos
designados das nações”.

56
A cronologia do Reino de Deus
As palavras de Jesus em Lucas 21:24, kairoi etnōn, não têm
outras pistas em Lucas, exceto que o assunto é "Jerusalém". Se essas
palavras forem significativas para nós, precisamos procurar pistas no
AT. A primeira pergunta a ser feita deve ser em qual idioma as palavras
foram pronunciadas. Jesus usou hebraico ou aramaico, e as evidências
sugerem que o idioma que Jesus usou quando falou com seus discípulos
era hebraico. Contudo, vemos pelos evangelistas que Jesus também
poderia usar palavras aramaicas. Se Jesus falava em hebraico, ele
provavelmente usava a forma plural de mō‘ēd onde Lucas tem kairoi.
Tanto a palavra mō‘ēd como a palavra kairos se referem a um horário
específico, um horário designado. Se olharmos para as passagens em
que essa palavra é usada no AT, descobrimos que apenas em um lugar
essa palavra é determinada por números, indicando horários
específicos, e é Daniel 12:7: “um tempo determinado, tempos
determinados e um metade.” Tanto a LXX grega como Teodócio usam
kairos nesta passagem.
No texto aramaico de Daniel 7:25, encontramos os mesmos
números mencionados, e a palavra aramaica usada é ‘iddān, que indica
que ‘iddān em aramaico e mō‘ēd em hebraico se referem a um tempo
designado. E, curiosamente, tanto a LXX quanto o Teodócio usam
kairos em Daniel 7:25 e 12:7. A palavra aramaica ‘iddān também é
determinada por números em Daniel 4:16, 23, 25, 32. Assim, vemos
que há apenas três capítulos no AT, onde a palavra hebraica ou
aramaica para “tempo designado” é determinada por um número
particular.
Se Jesus falasse aramaico, ele teria usado ‘iddān em Lucas 21:24,
mas como as pessoas em seus dias entendiam hebraico e aramaico,
independentemente de qual idioma Jesus usasse, os três capítulos
mencionados em Daniel seriam os únicos que poderiam ser usados.
antecedentes de kairoi etnōn em Lucas 21:24. Enquanto o hebraico
mō‘ēd de Daniel 12: 7 e o aramaico ‘iddān de 7:25 são traduzidos por
kairos no LXX e em Teodócio, os quatro exemplos de ‘iddān em
Daniel 4:16, 23, 25, 32 são traduzidos pela forma plural de etos ("ano")
na LXX e por kairos em Teodócio. O etos de renderização na LXX é
57
uma tradução interpretativa, que se desvia da renderização usual de
kairos para ‘iddān. Além disso, a tradução grega de Teodócio, que está
muito mais próxima dos textos hebraico e aramaico de Daniel do que a
LXX, e que é citada pelos escritores do NT, tem kairos também em
Daniel 4:16, 23, 25, 32)
Assim, uma ou mais das três passagens mencionadas deve ter
sido o que Jesus tinha em mente em Lucas 21:24. Mas qual delas?
Conforme a literatura da Testemunha de Jeová já mostrou, há fortes
argumentos em favor da aplicação de Dan 7:25 e 12:7 ao “tempo da
conclusão (final)” depois de 1914, então o único lugar possível que
possa estar na mente de Jesus é Daniel, capítulo 4. Tanto se Jesus
usasse a palavra hebraica mō‘ēd como a palavra aramaica 'iddān, o
equivalente grego natural para um escritor do NT escolher seria kairos.
Isso indica que existe um vínculo lingüístico definido entre Lucas 21:24
e Daniel 4:16, 23, 25, 32.
Existe um paralelo linguístico entre “os
tempos designados” em Lucas 21:24 e os
sete tempos em Daniel 4.
Em Lucas 21:24, a cidade de Jerusalém está conectada com os
tempos designados das nações. Jerusalém seria pisoteada pelas nações
durante os tempos designados. Mas qual é a referência de "Jerusalém"?

O uso de nomes de cidades


Uma cidade pode, na Bíblia, ter pelo menos três referências: 1)
os habitantes, 2) a parte material da cidade (casas, paredes e alvenaria)
e 3) o que a cidade representa. A cidade como local geográfico é
referida em Mateus 2:1, e os habitantes são mencionados quando
“Cafarnaum” é usado em Mateus 11:23. O uso mais importante em
nosso contexto é o terceiro. Vamos ver alguns exemplos. O livro de 2
Reis 23:19 fala das “cidades de Samaria” e “Samaria”, que em si era
uma cidade, evidentemente representa todo o Reino do Norte; o mesmo
é verdade em Ezequiel 16:46.

58
Nesta base, quando encontramos a palavra "Jerusalém" em Lucas
21:24, não podemos saber de início a que se refere. Quando olhamos
para o uso das cidades em contextos proféticos nas Escrituras
Hebraicas, na maioria dos casos, o que estava na mente do profeta
evidentemente era o que a cidade representava. Isso sugere que
"Jerusalém" na profecia de Jesus em Lucas 21:24 não se refere ao povo
de Jerusalém nem à cidade como um local geográfico, mas é usado de
maneira representativa.
Contra isso, pode-se argumentar que a destruição literal da
cidade de Jerusalém estava na mente de Jesus, como mostrado em
Lucas 21:20, e neste versículo, “Jerusalém” deve se referir à cidade e
seus habitantes. Portanto, se "Jerusalém" no v.24 não se refere à cidade
literal de Jerusalém, então a palavra "Jerusalém" teria de ser usada com
dois sentidos diferentes nos versículos 20 e 24. Mas isso é natural?
Levando em consideração os padrões bíblicos, não há nada de
estranho em tal uso. Em Mateus 2:1, “Jerusalém” se refere à cidade
como uma área geográfica, mas no versículo 3, “Jerusalém” se refere
aos habitantes da cidade. Em Mateus 11:23, 24, Jesus primeiro usa
"Sodoma" para se referir à cidade, mas as palavras "a terra de Sodoma"
se referem aos habitantes. É até possível usar um único substantivo
definido em dois sentidos diferentes. Em João 2:19 (TNM15), Jesus
diz: "Derrube este templo, e em três dias eu irei erguê-lo".
Gramaticalmente, o pronome "lo" deve se referir a "este templo" (o
templo literal), mas no versículo 20, afirma-se que ele se referiu a "o
templo do seu corpo". Isso significa que “o templo” que deveria ser
destruído era o templo literal em Jerusalém, mas o templo que deveria
ser erguido era um templo aspiritual. As referências das palavras
também podem mudar nas profecias.

Os diferentes usos de “Jerusalém” e “Israel”


Se Jesus em Lucas 21:24 tivesse em mente a cidade literal de
Jerusalém, isso exigiria que os judeus continuassem sendo o povo
escolhido por Deus, ou pelo menos que eles se tornassem seu povo
escolhido novamente no final dos tempos designados das nações. No
entanto, isso é contra as Escrituras. Êxodo 19:5, 6 mostra que os judeus
59
nem sempre seriam o povo de Deus, mas somente se eles cumprissem a
condição de obedecer às leis de Jeová. As pessoas não fizeram isso e,
em um determinado momento, receberam sua última chance de se
arrepender durante um período de setenta semanas. (Daniel 9:24–27)
Quando não se arrependeram, foram o povo foi rejeitado. Nesta base,
seria estranho se Jesus pronunciasse uma profecia a respeito da cidade
literal de Jerusalém.
No NT, vemos que "Israel" pode ser aplicado a dois grupos
diferentes. Em Gálatas 6:16, Paulo fala sobre "o Israel de Deus", o que
implica que há outro Israel que não pertence a Deus. O mesmo está
implícito nas palavras “Israel de maneira carnal” em 1 Coríntios 10:18,
e é explicitamente declarado em Romanos 9:6–8. É interessante ver
como essa diferença entre os dois [tipos de] Israel ou Jerusalém é
expressa nas profecias. Por exemplo, no capítulo 60 de Isaías há uma
profecia a respeito de Sião ou Jerusalém (v.14). As palavras desta
profecia não se aplicam a judeus carnais ou à Jerusalém literal, mas sim
à "Nova Jerusalém", como mostram os seguintes paralelos:

Tabela 1.2 – Os diferentes usos para “Jerusalém”.

Isaías 60:1–2 Apocalipse 21:23

Isaías 60:3 Apocalipse 21:24

Isaías 60:11 Apocalipse 21:25

Isaías 60:5 Apocalipse 21:26

Jeremias 31:31 tem uma profecia sobre uma nova aliança "com a
casa de Israel e com a casa de Judá". Essas palavras são citadas em
Hebreus 8:7–13 e está implícito que o pacto da lei seria abolido. Então
as palavras de Jeremias são citadas em Hebreus 9:14, 15, e é mostrado
que "Israel" e "Judá" na profecia não se referem ao literal "Israel" e
"Judá", mas a "aqueles (Cristãos) que foram chamados.” Com base nas
passagens acima, devemos concluir que é extremamente improvável
60
que o uso profético de “Jerusalém” em Lucas 21:24 se refira à cidade
literal de Jerusalém ou de seus habitantes.

A referência a “Jerusalém” em Lucas 21:24


Quando rejeitamos uma interpretação literal de “Jerusalém” em
Lucas 21:24, precisamos encontrar uma definição de seu uso profético.
Jeová fez uma promessa a Davi sobre um reino eterno (1 Crônicas
17:11–15), e esse reino estava ligado a Jerusalém. (1 Crônicas 29:23;
Isaías 24:23; Jeremias 3:17) Jerusalém é chamada “a cidade do grande
rei” (Salmo 48:1, 2), e Jesus aplica essas palavras a Jerusalém em seus
dias, mesmo que não havia rei na cidade. (Mateus 5:35)
Hebreus 11:10 se refere a "uma cidade", que Abraão esperava, e
em 12:22, essa cidade é chamada "Jerusalém celestial". Em Hebreus
12:28, aprendemos que esta cidade representa "um reino que não pode
ser abalado", e esse reino deve ser o Reino de Deus. A diferença entre a
Jerusalém literal e “a futura” também é mencionada em 13:14. Com
base em todas essas passagens, concluo que o nome "Jerusalém"
representa o Reino de Deus.

O pisotei de Jerusalém
A palavra “até” em Lucas 21:24 indica que o pisoteio de
"Jerusalém" (o Reino de Deus) terminaria em um determinado ponto do
tempo, quando "os tempos designados das nações" terminassem.
Assim, uma restauração está implícita nas palavras de Lucas 21:24, e
essa restauração é profeticamente mencionada em muitos lugares da
Bíblia, inclusive em Atos 3:21. Tomar essa restauração como ponto de
partida nos ajuda a ver que "Jerusalém" representa o Reino de Deus e a
entender como esse Reino foi pisoteado durante os tempos designados
das nações.
Uma restauração é mencionada em Atos 15:15, 16, a saber, “para
reconstruir a tenda de Davi”. (Amós 9:11, 12) 17 O que é essa “tenda de
17
Veja também o Salmo 78:67–70, que indica que uma “tenda” ou “barraca” pode
representar uma dinastia de reis.
61
Davi”? A revista A Sentinela de 1949, página 281 [em inglês],
responde que é “a casa real de Davi composta pelos herdeiros do
convênio do reino”, e isso é uma boa explicação. Os primeiros
membros desta casa real estavam conectados com a congregação cristã
desde o dia de Pentecostes em 33 EC.
A profecia sobre a tenda de Davi e sua restauração é paralela a
Lucas 21:24, porque a tenda de Davi representa o Reino de Deus ou o
trono de Jeová na Terra, e essa dinastia de reis está relacionada a
Jerusalém. (1 Crônicas 29:23) Assim, a restauração de “Jerusalém”
após o término dos “tempos designado das nações” é outra maneira de
falar sobre a reconstrução da “tenda de Davi ”. Essa “tenda” não caiu
em 70 EC quando Jerusalém foi destruída (sua destruição está implícita
em Lucas 21: 20–23), mas caiu quando o último rei da dinastia de Davi,
Zedequias, perdeu seu reino em 607 AEC. (Ezequiel 21:26, 7)

O início do pisoteio
O verbo grego pateō ("pisar; pisar") é traduzido por traduções da
Bíblia com tempo futuro: "e Jerusalém será pisada pelas nações"
(TNM15). O tempo futuro não contradiz a visão de que o pisoteio já
havia continuado por muitos anos antes de quando Jesus fez a profecia?
Não necessariamente. No NT, o tempo futuro ocorre 1.625 vezes, e
destes, existem 18 exemplos de futuro perifrástico, isto é, construções
com um verbo finito no tempo futuro seguido por um particípio. Em
Lucas 21, encontramos 26 exemplos de futuro simples e três exemplos
de futuro perifrástico. Portanto, a questão é se existe uma diferença de
significado entre o futuro simples e o futuro perifrástico no Novo
Testamento.
Quando consideramos essa questão, devemos ter em mente que
raramente podemos dizer algo como: “Devido ao uso desse tempo em
particular, esse autor certamente quis dizer isso...” Nós podemos dizer
melhor: “O uso desse tempo em particular corrobora com esse
significado... ” O futuro simples e o futuro perifrástico podem ter o
mesmo significado, e também podem ter significados diferentes. Em
Lucas 21, as palavras de Jesus são citadas. Mas qual forma do verbo
hebraico ou aramaico ele poderia ter usado em Lucas 21:24? Visto que
62
Lucas usou o futuro perifrástico apenas em 2,6% das instâncias com
referência ao futuro, é lógico que os verbos hebraicos ou aramaicos
usados nessas instâncias tinham um significado diferente em
comparação aos verbos usados nas outras instâncias de 97,4%.
Encontramos um exemplo que é um bom paralelo em 2 Samuel
7:16 (TNM86): “E tua casa e teu reino hão de ficar firmes (LXX: futuro
simples) por tempo indefinido diante de ti; teu próprio trono ficará
(LXX: futuro + particípio perfeito) firmemente estabelecido por tempo
indefinido” O ponto importante nesta passagem é que Davi já havia
governado como rei por muitos anos. No entanto, a passagem diz que
seu reino "ficará firme" e "firmemente estabelecido" por tempo
indefinido. Isso mostra que o futuro simples grego e o futuro
perifrástico podem se referir a uma situação futura, que já existe há
algum tempo. Por que o tradutor grego escolheu um futuro periférico
neste versículo? Provavelmente porque o texto hebraico ou aramaico
tem um imperfeito do verbo "ser/tornar-se" mais um particípio passivo.
Também encontramos um exemplo interessante em Isaías 47:7
(TNM86): “E continuavas a dizer: “Mostrarei ser (LXX: futuro +
particípio presente) Senhora por tempo indefinido.” A filha dos caldeus
já era a amante, mas seu desejo era que isso continuasse para sempre.
Isso é expresso na LXX por um futuro perifrástico, mas o texto
hebraico não tem particípio, apenas um imperfeito do verbo "ser/tornar-
se". Isso indica que tanto o hebraico imperfeito quanto o imperfeito
mais o particípio, e também o futuro simples grego, além do futuro
perifrástico, podem se referir a uma situação em que todos existiram
por algum tempo e continuarão no futuro.
O problema em ambos os idiomas é que não existe uma forma de
verbo único que indique inequivocamente que uma situação existe há
algum tempo e continuará no futuro. Isso significa que, para sinalizar
esse pensamento, dois verbos (um referente ao passado/presente e outro
ao futuro) devem ser usados. O contexto, juntamente com o uso de um
verbo ou uma combinação de um verbo finito e um particípio, deve
fazer esse sinal. Uma situação que existe há algum tempo e que
continuará no futuro é uma situação especial. A maneira mais fácil de
sinalizar tal situação seria usar uma construção de verbo que é especial

63
(ou rara) também. O uso de imperfeito + particípio é muito raro em
hebraico; portanto, quando essa construção é usada, o leitor pode
esperar algo incomum. O mesmo acontece no grego, onde [um verbo]
mais um particípio é raro. Assim, o uso de um futuro perifrástico em
Lucas 21:24 seria uma maneira melhor de sinalizar que o atropelamento
em “Jerusalém” já durava há algum tempo e continuaria no futuro, do
que o uso de um futuro simples. E visto que o futuro perifrástico é
muito raro no grego, esta seria provavelmente uma tradução de um
hebraico imperfeito mais um particípio.18
Também temos alguns exemplos interessantes no NT. Em Atos
13:10 (TNM86), lemos:
E [Paulo] disse: Ó homem cheio de toda sorte de fraude e de toda
sorte de vilania, ó filho do Diabo, inimigo de tudo o que é justo, não
cessarás (futuro mais particípio) de torcer os caminhos direitos de
Jeová?
Claramente, as ações descritas pelo futuro perifrástico neste
versículo não se referem apenas ao futuro, porque esse homem
evidentemente já distorcia os caminhos de Jeová há algum tempo.
Em Marcos 13:13 (NW84), lemos: “e vós sereis pessoas odiadas
(futuro mais particípio presente) por todos, por causa do meu nome”.
Os discípulos já eram objeto de ódio quando essas palavras foram
pronunciadas. E em Atos 6: 4 (TNM86), lemos: "mas, nós mesmos nos
devotaremos à oração e ao ministério da palavra". A maioria dos
manuscritos tem um futuro simples neste versículo, mas o Codex
Cantabrigiensis (D) tem futuro mais particípio presente. Os doze já
haviam “se devotado à oração” e continuariam a fazê-lo no futuro.
As passagens acima mostram que um futuro perifrástico pode
descrever uma situação que já dura há algum tempo e, ao mesmo
tempo, indica que a situação continuará no futuro. Isso mostra que a
expressão “Jerusalém será pisoteada pelas nações”, que é expressa por
um futuro perifrástico, não precisa apenas se referir ao futuro, mas o
atropelamento pode estar ocorrendo já há algum tempo quando Lucas
escreveu seu livro.
18
Se Jesus falasse aramaico, onde o imperfeito mais o particípio é usado com mais
frequência do que no hebraico, o mesmo argumento seria válido.
64
O uso de futuro perifrástico na cláusula “e
Jerusalém será pisada pelas nações” pode
indicar que o pisoteio estava acontecendo e
continuaria no futuro.

A árvore em Daniel capítulo 4 e Lucas 21:24


O livro de Daniel é o único livro bíblico em que o tempo da
conclusão (“fim”) é mencionado, e as nações que entram e saem na
cena mundial são colocadas em um quadro temporal em relação ao
Reino de Deus. (Daniel 2: 36-45; 7: 3–12; 8: 3–25; 11: 2–45; 12: 7–13)
É mencionado o tempo da vinda do Messias, o rei do Reino de Deus
(9:24–27), e seria oportuno mencionar também o tempo da vinda do
Messias no poder do Reino e a elevação da cabine de Davi.
O sonho de Nabucodonosor II foi dado em um momento crítico
da história do povo de Deus, quando a dinastia davídica foi derrubada,
e quem recebeu o sonho foi quem executou isso como servo de Jeová.
O assunto do sonho é, de acordo com Daniel 4:17 (TNM86), “que os
viventes saibam que o Altíssimo é Governante no reino da humanidade
e que ele o dá a quem quiser, e estabelece nele até mesmo o mais
humilde da humanidade.” Claramente, o sonho se relaciona com o
Reino de Deus!
Árvores, galhos e tocos são frequentemente usados para
simbolizar reinos e dinastias de reis. (Ezequiel 17:1–24; especialmente
v.23) Isaías 10:33–11: 10 mostra como as árvores que representam
reinos serão cortadas, mas um galho do tronco de Jessé será dará frutos.
Além disso, em Jeremias 23:5 e Zacarias 6:12–13, o Messias é descrito
como um broto. Em Isaías 53:3, 7–9, o Messias é retratado como “o
mais humilde da humanidade (cf. Mateus 11:29), que se encaixa na
descrição do “mais humilde da humanidade”, que receberá o reino.
(Daniel 4:17)
Assim como uma cidade que é a capital de um reino pode
simbolizar todo o reino; da mesma forma, uma árvore pode simbolizar
um reino.
65
Os paralelos entre Daniel 4 e Lucas 21
Com base na discussão acima, estamos agora na posição de traçar
os paralelos entre Daniel 4: 10–17 e Lucas 21:24.
Tabela 1.3 Paralelos entre Daniel 4 e Lucas 21

Jerusalém = O Reino de Deus. A árvore = O reino de Deus.

Jerusalém é pisada. A árvore é cortada.

O pisoteio ocorre durante os O toco da árvore fica sem brotos


tempos designados das nações. durante um período de sete
tempos designados.

Jerusalém não será mais pisada O toco da árvore brotará após 7


após os tempos designados das épocas marcadas.
nações.

O paralelo temático é visto na tabela acima e o paralelo


linguístico é visto na palavra kairoi (aramaico 'iddānin) em Lucas
21:24, que é paralela a kairoi (Theodotion) - (aramaico 'iddānin) em
Daniel 4:16. 23, 25, 32.
Existe um paralelo linguístico e temático entre "os tempos
designados" em Lucas 21:24 e os sete vezes em Daniel capítulo 4.
Visto que em Lucas 21:24 é só uma parte de uma profecia, sobre
a qual apenas metade do que precisamos está escrita, devemos sempre
estar abertos à possibilidade de que nossa interpretação (a metade que
precisamos encontrar por conta própria) esteja errada.
No entanto, as palavras de Jesus que [dizem que] seus seguidores
entenderiam sua grande profecia também incluem “os tempos
designados das nações”. Existem apenas três instâncias no AT em que o
“tempo designado” é qualificado por um número. E apenas as quatro
instâncias da palavra aramaica ‘iddānin (grego, kairoi) no capítulo 4 de
Daniel ocorrem em um capítulo no qual o Reino de Deus é
66
mencionado. Portanto, vistoq ue há um paralelo linguístico e um
temático entre Lucas 21:24 e Daniel, capítulo 4, nossa aplicação dos
tempos das nações aos sete tempos designados no capítulo 4 de Daniel
está muito bem embasada.

CALCULANDO OS TEMPOS DESIGNADOS DAS NAÇÕES


Se aceitarmos que os sete tempos designados no capítulo 4 de
Daniel representam “os tempos designados das nações”, primeiro
precisamos saber quantos dias os sete tempos representam. Apocalipse
11:2, 3 mostra que 42 meses representam 1.260 dias, ou seja, 30 dias
por mês. Em sete anos, são 84 meses, o que representa 2.520 dias.
Se aplicarmos a regra profética de que um dia representa um ano
(Números 14:34; Ezequiel 4:6), os sete tempos designados seriam
2.520 anos.19 Vimos na discussão acima que “os tempos designados das
nações” é o tempo da destruição de Jerusalém, quando o último rei da
dinastia de Davi reinou até que o reino celestial de Deus fosse
estabelecido.
Mas como encontramos o ponto de partida correto? Quase todos
os léxicos e livros didáticos dizem aos leitores que Jerusalém foi
destruída por Nabucodonosor II em 587 (ou 586) AEC. Se contarmos
2.520 anos a partir deste tempo, chegamos a 1934 (ou 1935), quando
nada de anormal aconteceu. No entanto, se começarmos com 607 AEC
e calcularmos 2.520 anos, chegamos ao ano de 1914, que foi o ano do
início da Primeira Guerra Mundial.
Há um problema que vemos na Academia, a saber, que uma
conclusão que foi obtida por um estudioso há 50, 100 ou mesmo 200
anos se repete de geração em geração sem nunca ter sido verificada. Por
favor, considere o seguinte exemplo:
"O espinafre é bom para a saúde devido ao seu alto teor de ferro!"
Essa afirmação foi repetida várias vezes em livros de nutrição e
revistas de saúde em grande parte do século 20. Os cartunistas fizeram
uso dela para o design humorístico, e as crianças foram alimentadas,
19
Como veremos abaixo, a profecia de 70 semanas para a vinda do Messias também
deve ser calculada com base em um dia por um ano.
67
mais ou menos contra sua vontade com essa verdura. No entanto, a
alegação acaba sendo errada; sua base é um mal-entendido. Devido a
um erro de digitação por uma impressora quanto ao local do ponto
decimal na década de 1920, o teor de ferro foi colocado dez vezes
mais alto. O erro não foi descoberto, porque ninguém fez uma
pergunta até 1979, quando G. W. Lohr, da Universidade de Freiburg,
verificou rotineiramente os números antigos e descobriu que eles
estavam errados. Pode-se acrescentar que o ferro do espinafre não está
em uma forma que o corpo pode absorver facilmente.20
A principal evidência a favor do ano 587 é o diário astronômico
da Babilônia VAT4956. Um artigo calculando as posições
astronômicas nessa tabuinha apareceu em 1915,21 e esses cálculos
sugeriam que Nabucodonosor II destruiu Jerusalém em 587 AEC. Nos
70 anos seguintes, as conclusões de Neugebauer e Weidner foram
usadas em todos os léxico e livros didáticos, e ninguém publicou um
artigo mostrando que eles haviam feito uma tradução independente da
tabuinha e verificado as posições astronômicas obtidas em 1915. Em
1988, uma tradução para o inglês da tabuinha foi publicada por H.
Hunger.22 Esta tradução para o inglês feita por Hunger foi próxima da
tradução para alemão feita 73 anos antes, mas o volume não possui
cálculos astronômicos. A partir dos comentários no final da entrada,
parece que os cálculos feitos por Neugebauer e Weidner foram aceitos
por Hunger.23
Em 2005, visitei o Museu Vorderasiatisches em Berlim. Eu
conferi a tabuinha e tirei fotos eletrônicas de seus sinais. Estudei a
tabuinha com base na ampliação de cada sinal e vários sinais não eram
claramente identificáveis. Particularmente, muitos dos corpos celestes
que estavam conectados aos planetas eram difíceis de identificar.
Descobri que Neugebauer e Weidner haviam errado todos os seus
20
Science Digest, Fevereiro de 1979:16. (em inglês)
21
Neugebauer and Weidner, “Ein astronomischer Beobachtungstext aus dem 37.
Jahre Nebukadnesars II (567/566).”
Sachs and Hunger, Astronomical Diaries and Related Texts From Babylonia,
22

Volume I, (1988).
23
Hunger nunca coletou a tabuinha VAT4956; ele fez sua tradução com base em
fotos em preto e branco da tabuinha tiradas antes da Segunda Guerra Mundial
68
cálculos a partir de um dia, e os comentários de Hunger mostram que
ele seguiu o exemplo.
Com base no meu estudo da VAT4956 e em várias outras
tabuinhas astronômicas relevantes, escrevi um livro sobre a cronologia
neobabilônica.24 Calculei as 14 posições lunares no VAT4956, e minha
conclusão para o ano 568/567, que é o ano apontado por Neugebauer e
Weidner e Hunger, é que sete posições têm um ajuste excelente, cinco
absolutamente não se encaixam, e duas são imprecisas. Mas todas as 14
posições lunares têm um excelente ajuste vinte anos antes, no ano
588/87.25 Isso sugere que Nabucodonosor II conquistou Jerusalém em
607 AEC e não em 587 AEC.
O excelente ajuste das 14 posições lunares da VAT4956 para o
ano 588/87, que é o ano 37 de Nabucodonosor II, sugere que o ano 18
de Nabucodonosor II, quando Jerusalém foi destruída, é 607 AEC.
Também estudei tabuinhas cuneiformes sobre negócios datadas
dos reis do Império Neobabilônico. E 90 dessas tábuas têm datas
indicando que cada rei neobabilônico reinou por mais tempo do que a
cronologia tradicional permite. Isso significa que a cronologia
tradicional é destruída e as tábuas datadas apóiam a visão de que o
Império Neobabilônico é 20 anos mais longo do que a cronologia
encontrada em léxicos e livros didáticos.
Meu livro mostra que há fortes evidências em favor da visão das
TJs de que 607 a.C. é o ano em que Jerusalém foi destruída.

AS 70 SEMANAS DE DANIEL CAPÍTULO 9 E A


PASSAGEM DE JESUS SOBRE A TERRA
A palavra māsiah (“o ungido”) ocorre 38 vezes no AT. Em 37
casos, a palavra é qualificada e está apontando para sacerdotes ou reis
que foram ungidos. Somente em um exemplo, no capítulo 9 de Daniel,
encontramos māsiah sem qualificação. Portanto, esta palavra deve se
24
Furuli, Assyrian, Babylonian, and Egyptian Chronology, II:45–249; 342–416.
25
Os parâmetros de cada posição lunar estão listados em meu livro a fim de que
possam ser conferidos por qualquer programa astronômico.
69
referir ao Messias, o Ungido que Deus enviaria. Em Daniel 9:23–27
(NVI), lemos:
23 Por isso, preste atenção à mensagem para entender a visão:
24 "Setenta semanas estão decretadas para o seu povo e sua santa
cidade para acabar com a transgressão, para dar fim ao pecado, para
expiar as culpas, para trazer justiça eterna, para cumprir a visão e a
profecia, e para ungir o santíssimo.
25 “"Saiba e entenda que a partir da promulgação do decreto que
manda restaurar e reconstruir Jerusalém até que o Ungido, o líder,
venha, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas. Ela será
reconstruída com ruas e muros, mas em tempos difíceis. 26 Depois das
sessenta e duas semanas, o Ungido será morto, e já não haverá lugar
para ele. A cidade e o lugar santo serão destruídos pelo povo do
governante que virá. O fim virá como uma inundação: Guerras
continuarão até o fim, e desolações foram decretadas. 27 Com muitos
ele fará uma aliança que durará uma semana. No meio da semana ele
dará fim ao sacrifício e à oferta. E numa ala do templo será colocado o
sacrilégio terrível, até que chegue sobre ele o fim que lhe está
decretado.'”26
A profecia das 70 semanas pode ser calculada da mesma maneira
que os sete tempos designados das nações. Uma semana de sete dias
representa sete anos e 69 semanas até a vinda do Messias, representa
483 anos.
No entanto, o cálculo das 70 semanas causou grandes problemas
aos comentaristas, pois acredita-se que o 20º ano de Artaxerxes I,
relacionado ao “decreto de restauração e reconstrução de Jerusalém”,
seja 445 a.C. Se calcularmos 483 anos a partir deste ano, chegamos a
39 EC, e nada de anormal aconteceu neste ano. Em contraste com a
maioria dos outros, as Testemunhas de Jeová afirmam que o 20º ano de
Artaxerxes I foi 455 a.C. Se calcularmos a partir deste ano, chegamos
ao ano 29 EC, o mesmo ano em que Jesus Cristo iniciou sua obra de
pregação.

Uma análise detalhada incluindo o cumprimento de Daniel 9: 24–27 é encontrada


26

em Furuli, When Was the Book of Daniel Written?, A Philological, Linguistic, and
Historical Approach, 198–214.
70
Eu escrevi um livro em que mostro como o 20º ano de
Artaxerxes sendo o ano 455 como possui um apoio muito forte.27
Calculei as posições de todas as tabuinhas astronômicas relevantes e
estudei as tabuinhas datadas de negócios e as de Persépolis. A
conclusão é que Cambises reinou oito anos, um ano a mais do que a
cronologia tradicional. Houve cinco anos entre Cambises e Dario I,
quando Bardiya, Nabucodonosor III e Nabucodonosor IV reinaram. A
cronologia convencional tem 0 anos entre Cambises e Dario I.
Artaxerxes I começou a reinar em 475 e não em 465, e ele reinou por
51 anos, dez anos mais do que o aceito pela cronologia tradicional. Se
usarmos 455 AEC como ponto de partida, veremos que 483 anos
terminam no ano 29 EC, quando Jesus Cristo começou sua pregação.
Tabuinhas cuneiformes e evidências
históricas indicam que as 70 semanas
começaram no ano 455 AEC.
A Sentinela de 15 de fevereiro de 2015, página 32, não descarta a
possibilidade de que as pessoas nos dias de Jesus pudessem calcular as
70 semanas e entender que elas terminaram em 29 EC. Mas a revista
argumenta que provavelmente eles não poderiam calcular essas
semanas. Os argumentos da revista são, na minha opinião, fracos. Uma
profecia é dada para iluminar o povo de Deus. (Romanos 15:4)
Portanto, se a profecia cerca de 69 semanas até a chegada do Messias
não foi entendida, não havia nenhum propósito na profecia. Além disso,
Daniel 9:25 começa com as palavras: "Você deve saber e entender."
Lucas 3:15 (NVI em inglês) diz: “As pessoas estavam esperando
com expectativa e todos se perguntavam em seus corações se João
poderia ser o Cristo”. João Batista iniciou seu trabalho no ano anterior a
Jesus, ou no ano 29, quando Jesus iniciou seu trabalho. Lucas mostra
que as pessoas naquela época estavam “esperando ansiosamente” pelo
Messias. A Torre de Vigia argumenta que essa expectativa se baseava
no testemunho dos pastores quando Jesus nasceu e na situação com os
astrólogos posteriormente. Mas se o povo estava ciente do nascimento

27
Furuli, Persian Chronology and the Length of the Babylonian Exile of the Jews,
239–283. 316–397.
71
do Messias, então o Messias já havia chegado, então por que eles
deveriam continuar “esperando ansiosamente” pelo Messias? Além
disso, por que as pessoas esperariam o Messias 30 anos após seu
nascimento?
O único lugar em que o Messias é mencionado no AT é em
Daniel 9:25, e “ho khristos” (“o Cristo”), que é o equivalente grego ao
hebraico mâshı̂yach, foi usado por Lucas. Isso sugere que Lucas e o
povo tinham Daniel 9:25 em mente. O início do documento Zadokite de
Qumran diz:
E no final da ira de 390 anos, a partir da época em que ele os puniu
pela mão de Nabucodonosor, rei de Babel... Por 20 anos, eles foram
cegos, como aqueles que estão procurando com as mãos o caminho...
Então ele causou com que um professor de justiça os guiasse no
caminho de seu coração.28
O tempo mencionado começou quando Jerusalém foi destruída
por Nabucodonosor, que era 607 AEC.29 24 Se contarmos 390 anos a
partir deste ano, chegamos a 217 AEC. Adicionando mais 20 anos,
chegamos ao ano de 197 AEC. Então o professor de justiça entrou em
cena e a comunidade de Qumran foi estabelecida. As palavras citadas
mostram que a comunidade de Qumran poderia calcular a hora correta,
ano a ano, nos dias de Nabucodonosor II. E outras pessoas poderiam, é
claro, fazer o mesmo.
O tempo poderia ser calculado no passado de duas maneiras: 1)
pelo uso do calendário selêucida, iniciado em 312 AEC, quando
Seleucus Nicator conquistou Babilônia; e 2) contando os anos
sabáticos. Em 1 Macabeus 4:52, por exemplo, lemos sobre os cento e
quarenta e oito anos do calendário selêucida.
A palavra de Neemias para restaurar e edificar Jerusalém foi
proferida no ano 20 de Artaxerxes I, quando Neemias chegou a
Jerusalém. (Neemias 2:1–8) As ações de Neemias de ler toda a lei
(8:18), que devem ser realizadas no Festival de Barracas no ano
sabático, sugerem que este ano foi um ano sabático. Os eventos de

28
The Damascus Document (CD) 1:4–11. Traduzido por R. J. Furuli.
29
FAZER REFERÊNCIA DAS PÁGINAS “56-57” NO PDF
72
liberação mencionados em 5:7–12 apóiam essa conclusão. Se isso
estiver correto, os judeus poderiam simplesmente contar os anos
sabáticos, incluindo os anos do jubileu, até a chegada de Neemias em
Jerusalém e achar o início dos 483 anos (69 semanas).
Josefo escreveu seus livros no final do primeiro século EC. Ele
menciona vários anos sabáticos em AEC, e isso indica que ele deve ter
tido listas de anos sabáticos.30
O documento Zadokite (em inglês), 1
Macabeus, e as Antiguidades de Josefo
mostram que os judeus podiam calcular o
tempo de volta à destruição de Jerusalém
com base no calendário selêucida e na
contagem dos anos sabáticos.
As evidências sugerem que as pessoas na primeira parte do
século I d.C. podiam calcular as 70 semanas e, portanto, as pessoas
estavam "esperando com expectativa" pelo Messias quando João
Batista iniciou seu trabalho.

PERÍODOS PROFÉTICOS NO TEMPO DA CONCLUSÃO


(FIM)
Paulo diz: “Porque todas as coisas escritas outrora foram escritas
para a nossa instrução” (Romanos 15: 4, TNM86) Isso significa que
todas as palavras da Bíblia serão entendidas no momento certo. E isso
também deve incluir períodos de tempo que são aplicados ao povo de
Deus.
Apocalipse 11:2–7 mostra que duas testemunhas foram vestidas
de saco por 42 meses ou 1.260 dias. Após esse período, eles seriam
mortos. As ações das duas testemunhas mostram que elas representam
Moisés e Elias. E, portanto, as duas testemunhas não são dois

30
Sabbath years mentioned by Josephus: Year 134 BCE, Antiquities 13.8.1
(13.2.30); 43 BCE(?), 14.10.6 (14.206); 36 BCE, 14.15.2 (14.470, 475).
73
indivíduos. Mas eles representam o povo de Deus no tempo da
conclusão. Daniel 12:7 menciona um período de tempo semelhante de 3
tempos e 1/2, após o qual a mão do povo santo será despadaçada, e 7:25
menciona o mesmo período. Como o contexto do Apocalipse, capítulo
11, mostra que o período se refere ao tempo da conclusão (final), cada
dia não pode representar um ano, mas o período deve ser de dias
literais.
O capítulo 12 de Daniel mostra que mais dois períodos estão
relacionados ao povo de Deus quando o versículo 12 (NVI em inglês)
diz: “Bem-aventurado aquele que espera e chega ao fim dos 1.335
dias”. Isso mostra que os períodos de tempo estão relacionados aos
membros dos santos, ao povo de Deus. O versículo 11 fala de um
período de 1.290 dias, e um período de 2.300 noites e manhãs sobre o
lugar santo é mencionado em Daniel 8:13, 14.
Neste capítulo, citei passagens da Bíblia, mostrando que há
apenas uma religião verdadeira. Depois, argumentei que, com base em
crenças e ações, essa religião verdadeira é a religião das Testemunhas
de Jeová. Os períodos mencionados nos livros de Apocalipse e Daniel
são aplicados em seus contextos aos “santos”, que são o povo de Deus.
Na literatura das TJs, diferentes períodos de 1.260, 1.290, 1.335 e 2.300
dias são aplicados à sua história após 1914. Estudei cuidadosamente as
discussões desses períodos, e todos eles parecem se encaixar muito bem
na história das TJs. No entanto, devemos sempre fazer a ressalva de que
apenas metade da informação - os períodos de tempo - ocorrem na
Bíblia e, ao encontrar a outra metade - os cumprimentos - existe a
possibilidade de erro.31

A RESTAURAÇÃO DE TODAS AS COISAS

31
As seguintes fontes discutem o cumprimento das profecias do tempo: A Sentinela
de 15 de setembro de 1982, 16, 17 (em inglês); Preste atenção à profecia de Daniel,
297–304 (em inglês); O Reino de Deus — Nosso Iminente Governo Mundial (“Dias
marcados durante o tempo do fim”); A Sentinela de 15 de novembro de 2014, 30 e
15 de janeiro de 2001, 28, 29 (em inglês).
74
O Criador do universo, Jeová Deus, tem um propósito. Em
conexão com esse propósito, Pedro disse em Atos 3:20–21 (TNM84):
e ele envie o Cristo que lhes foi designado, Jesus. 21 A este, o céu tem
de reter até o tempo do restabelecimento de todas as coisas, das quais
Deus falou pela boca dos seus santos profetas da antiguidade.
A palavra "restauração" é traduzida da palavra grega pokatastasis, cujo
significado, de acordo com o LN é: “mudar para um bom estado
anterior – ‘restaurar, restaurar novamente’.” Um dos profetas de Jeová
era Isaías e, em conexão com a restauração, suas palavras são:
“Eis, Vou criar novos céus e uma nova terra. As coisas anteriores não
serão lembradas, nem virão à mente.” (65:17, NVI em inglês)
Observamos que a restauração não inclui apenas uma, mas duas
coisas, a saber, novos céus e uma nova terra. O apóstolo Pedro também
fala sobre novos céus e uma nova terra. (2 Pedro 3:13) O planeta Terra
nunca será destruído. Mas haverá uma restauração; o paraíso que se
perdeu será restaurado, como Jesus disse em Lucas 23:43. Uma das
doutrinas únicas para as Testemunhas de Jeová que discuti acima é que
duas classes diferentes serão salvas pelo resgate de Jesus. Em Hebreus
2:5, lemos sobre “a vindoura terra habitada”. E esta é a mensagem
básica na enorme campanha de pregação das TJs em todo o mundo. As
pessoas sinceras são incentivadas as se reconciliar com Deus. (2
Coríntios 5:20) Essa reconciliação significa que eles podem fazer parte
da grande multidão que sairá (sobreviverá) da grande tribulação
(Apocalipse 7:14), e poderão viver para sempre no paraíso restaurado
na Terra.
Não apenas o paraíso terrestre será restaurado, mas também serão
criados “novos céus”. Alguns versículos depois das palavras sobre “a
vindoura terra habitada” em Hebreus 2:5, lemos sobre aqueles com “a
chamada celestial” (3:1). Em Filipenses 3:20 (NVI em inglês), Paulo
diz: “Mas nossa cidadania está no céu. E aguardamos ansiosamente um
Salvador lá, o Senhor Jesus Cristo.” Como mostrei acima, alguns
cristãos têm a chamada celestial e sua cidadania está no céu.,
Por que alguns cristãos terão uma ressurreição celestial?
Apocalipse 7:4 fala de um grupo de 144.000 em contraste com a grande
multidão sem número. Apocalipse 14:1–4 menciona novamente o
75
grupo de 144.000, e o versículo 4 diz que “eles são comprados dentre
os homens”. Eles estão no monte Sião celestial, e isso sugere que eles
são levados ao céu para formar um governo, porque o Salmo 110: 2
mostra que Jesus reinará em Sião. Além de se tornar parte do governo
celestial, há outro propósito para o chamado celestial. Apocalipse 20: 6
(NVI em inglês) diz:
Bem-aventurados e santos são os que participam da primeira
ressurreição. A segunda morte não tem poder sobre eles, mas serão
sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele por mil anos.
Isso mostra que um grupo com 144.000 será comprado dentre a
humanidade para se tornar sacerdotes e reis junto com Jesus Cristo.
Durante os 1.000 anos mencionados, a ressurreição terrestre ocorrerá e,
gradualmente, aqueles que sobreviveram à grande tribulação e aqueles
que ressuscitaram se tornarão perfeitos. Os membros do governo
celestial servirão como sacerdotes e ajudarão os que estão na Terra a
avançar em direção à perfeição.

Capítulo 2

O ESCRAVO FIEL E DISCRETO


- REVISÃO -
Em Mateus, capítulos 24 e 25, a presença (parousia) de Jesus de
1914 até a grande tribulação é mencionada quatro vezes, e sua vinda
(erkhomai) como juiz na grande tribulação, no final de sua presença,
76
é mencionada oito vezes.

O escravo fiel e discreto é mencionado em Mateus 24:45-47. A


visão anterior do CG era que a vinda do mestre (v.46) teria ocorrido
em 1918 e que o escravo teria sido designado sobre todos os seus
bens em 1919. Esses bens incluíam as filiais, os Salões do Reino e a
obra de pregação. A visão atual é de que a vinda (v.46) é futura e
ocorrerá na grande tribulação. Então o escravo será designado sobre
todos os bens por receber uma ressurreição celestial.

Essa nova visão exclui qualquer conexão entre a vinda (v.46) e


a presença de Jesus. No entanto, a Torre de Vigia de 2017 diz que o
escravo foi designado em 1919 para dar alimento espiritual aos
servos de Deus no momento adequado durante a presença de Jesus.
Mas nenhuma evidência foi dada para esta alegação.

Lucas 12:35–44 discute o mordomo fiel, o discreto, que, de


acordo com o contexto, é o mesmo que o escravo fiel e discreto em
Mateus 24:45. Um escravo foi encarregado da casa de um mestre para
dar aos outros escravos comida literal no horário designado. Esse
escravo é mencionado no capítulo 12 de Lucas e, quando ele
fielmente dá comida aos outros escravos quando o mestre retorna,
cumprindo assim seu trabalho, ele será designado sobre todos os bens
do mestre.
A situação é a mesma em Mateus 24:45–47. O escravo que dá comida
aos outros escravos está fazendo seu trabalho. Ao fazer esse trabalho
fielmente quando o Senhor chegar à grande tribulação, ele será
designado sobre todos os pertences do mestre. O foco está no
alimento literal e não no alimento espiritual. Assim, “o escravo”
refere-se a cristãos individuais que são fiéis quando o mestre chega e
não a uma classe de pessoas.
Em Mateus 24: 48–51, o escravo perverso é mencionado. O
CG diz que Jesus não está dizendo que um escravo perverso virá, mas
aponta para a possibilidade; isto está correto. No entanto, nem em
Lucas 12:42 nem em Mateus 24:45 Jesus está dizendo que o escravo
fiel e discreto virá. Mas Jesus pergunta quem será o escravo fiel e
77
discreto. Em outras palavras: “Quem desempenhará o papel do
escravo fiel e discreto na ilustração de Jesus quando Jesus vier como
juiz na grande tribulação?” Todo o cenário em Lucas 12 e Mateus 24
é: “Quem estará vigilante quando Jesus vier como juiz”?
A conclusão é que nunca existiu “escravo fiel e discreto” que
tenha fornecido alimento espiritual no momento adequado durante a
presença de Jesus no sentido em que o CG está usando o termo.
Assim, o legado do CG é inexistente.

As palavras sobre “o escravo fiel e discreto” estão escritas em


Mateus 24: 45-47, e fazem parte da grande profecia de Jesus sobre sua
presença e sua vinda como juiz no final de sua presença.

O NOVO ENTENDIMENTO SOBRE A “VINDA” DE JESUS


MOSTRA QUE NÃO HÁ NENHUM “ESCRAVO FIEL E
DISCRETO”
Desde os dias de C. T. Russell e os primeiros Estudantes da
Bíblia, as palavras sobre o escravo fiel e discreto têm sido aplicadas aos
cristãos ungidos que dariam a outros cristãos alimento espiritual no
tempo apropriado. Em 1961, quando me tornei Testemunha, toda a
profecia em Mateus, capítulos 24 e 25, incluindo a separação das
ovelhas e dos cabritos, era aplicada à presença de Jesus em 1914 e à
grande tribulação. Portanto, a maioria das Testemunhas de Jeová não
teve problemas em aceitar que “o escravo” era o grupo dos ungidos que
davam alimento espiritual a pessoas sinceras durante a presença de
Jesus. De certa forma, essa foi uma sequência de Mateus 25:31-46. O
alimento espiritual dado pelo escravo incluía a pregação, e essa
pregação separava os crentes (as ovelhas) dos não-crentes (os cabritos)
durante a presença de Cristo. O entendimento do relato das ovelhas e

78
das cabras foi mudado em 1997.32 O entendimento atual é de que essa
separação ocorre durante a grande tribulação.
Em Mateus 24:30, 42, 44, 46, a vinda (erkhomai) de Jesus é
mencionada quatro vezes.33 E junto com Mateus 25:10, 19, 27 e 31, a
palavra “vinda” ocorre oito vezes. O tempo de aplicação de cada um
deles nem sempre foi claro. Mas A Sentinela de 15 de julho de 2013
[em português], página 8, aplicou todas as oito ocorrências da “vinda”
à grande tribulação. Nós lemos:
17
No passado, dizíamos em nossas publicações que essas últimas
quatro referências se aplicavam à chegada, ou vinda, de Jesus
em 1918. Como exemplo, veja a declaração de Jesus a respeito do
“escravo fiel e discreto”. (Leia Mateus 24:45-47.) Entendíamos que a
‘chegada’ mencionada no versículo 46 estava relacionada com o
período em que Jesus veio para inspecionar a condição espiritual dos
ungidos em 1918, e que a designação do escravo sobre todos os bens
do Amo havia ocorrido em 1919. (Mal. 3:1) No entanto, um estudo
adicional da profecia de Jesus indica que é necessário um ajuste no
nosso entendimento sobre quando ocorrem certos aspectos dessa
profecia. Por quê?
18
Nos versículos anteriores a Mateus 24:46, o verbo ‘vir’ refere-se
coerentemente ao tempo em que Jesus virá para proferir julgamento e
executá-lo durante a grande tribulação. (Mat. 24:30, 42, 44) Também,
como vimos no parágrafo 12, a ‘chegada’ de Jesus, mencionada em
Mateus 25:31, refere-se a esse mesmo futuro período de julgamento.
Assim, é razoável concluir que a chegada de Jesus para designar o
escravo fiel sobre todos os seus bens, mencionada em Mateus 24:46,
47, também se aplica à sua futura vinda, durante a grande tribulação.
Realmente, um estudo de toda a profecia de Jesus deixa claro que
cada uma dessas oito referências à sua vinda se aplica ao futuro
período de julgamento durante a grande tribulação. (O itálico é meu)

Tabela 2.1 As oito passagens que se referem à grande tribulação


32
A Sentinela de 15 de maio de 1997. O texto em itálico representa o que considero
particularmente importante.
33
A palavra grega erkhomai significa "vir", e a palavra parousia significa
"presença".
79
24:30 O Filho do homem virá (particípio presente).

24:42 O Senhor virá (presente indicativo).

24:44 O Filho do homem virá (presente indicativo).

24:46 Seu senhor *futuro + tendo + vindo* (particípio ativo


aoristo).
25:10 O noivo veio (aoristo indicativo).

25:19 O senhor estava vindo (presente indicativo).

25:27 Quando eu * futuro + tendo + vindo * (particípio ativo


aoristo).34
25:31 O Filho do homem virá (aoristo subjuntivo).

A aplicação de todas as oito ocorrências de “vir” para o mesmo


curto período de tempo, a grande tribulação, é lógica. Porém, visto que
um dos exemplos ocorre em Mateus 24:46 em conexão com o escravo
fiel e discreto, esse entendimento de "vir" também afeta a visão da
relação do escravo com a presença de Jesus. Mas até agora, o CG não
admitiu isso!
O entendimento de que todos os oito exemplos da tabela 2.1 se
refiram à grande tribulação é novo. Isso inclui a “vinda do senhor
(“mestre ”, TNM86)” em Mateus 24:46, e isso cria um problema
lógico. Podemos comparar a situação com a “vinda” para separar as
ovelhas e as cabras. (Mateus 25:31) Essa separação não ocorreria
durante a presença de Jesus, mas na grande tribulação. E, logicamente,
o escravo não deve distribuir a comida durante a presença de Jesus, mas
em conexão com a grande tribulação. Isso mostra que nenhum escravo
fiel e discreto existiria durante a presença de Jesus, e o próprio legado
do CG é inexistente. Em apoio a isso está o fato de que a descrição do

34
Os asteriscos em 24:46 e 25:27 indicam que as palavras intermediárias
representam uma tradução palavra por palavra e não um bom inglês idiomático.
80
que acontece durante a presença de Cristo termina em Mateus 24:22,
como pode ser visto na tabela 2.2.
O fato de a "vinda" do mestre (Mateus
24:46) se referir à grande tribulação
mostra que não há "escravo fiel e discreto"
dando alimento espiritual durante a
presença de Cristo.
Apesar da conexão entre o “escravo fiel” e a grande tribulação, A
Sentinela de fevereiro de 2017 [em português], páginas 25, 26, diz que
o escravo foi designado em 1919 e, a partir desse momento, o escravo
deu alimento espiritual no tempo apropriado.
10
Em 1919, três anos depois da morte do irmão Russell, Jesus
designou o “escravo fiel e prudente”. Com que objetivo? Para dar
aos seus seguidores “alimento no tempo apropriado”. (Mat. 24:45) Já
naquele tempo, um pequeno grupo de irmãos ungidos na sede mundial
em Brooklyn, Nova York, preparava e distribuía alimento espiritual
para os seguidores de Jesus. A expressão “corpo governante” começou
a aparecer nas nossas publicações nos anos 40. Naquela época, muitos
entendiam que essa expressão se referia aos diretores da Sociedade
Torre de Vigia. Mas em 1971 foi explicado que havia uma diferença
entre o Corpo Governante e a Sociedade Torre de Vigia. A diferença
era que a Sociedade cuidava de assuntos jurídicos, não de assuntos
espirituais. Dali em diante, irmãos ungidos podiam fazer parte do
Corpo Governante sem serem diretores da Sociedade. Mais
recentemente, irmãos experientes das “outras ovelhas” têm sido
diretores da Sociedade e de outras entidades jurídicas usadas pelo
povo de Deus. Assim, o Corpo Governante pode se concentrar em
fornecer alimento espiritual e em liderar a congregação. (João 10:16;
Atos 6:4) A Sentinela de 15 de julho de 2013 explicou que o “escravo
fiel e prudente” são os ungidos que fazem parte do Corpo
Governante. (O itálico é meu)
A afirmação de que o escravo fiel e discreto foi designado em
1919 para distribuir alimento espiritual contradiz todo o cenário da
profecia de Jesus, bem como o contexto próximo. Não há explicação
nem argumentos na citação acima, apenas uma reivindicação. E essa
81
afirmação é, obviamente, necessária para manter a autoridade do CG.
Outro problema é que, no ano de 1919, não havia CG. Foi o presidente
J.F. Rutherford quem tomou a maioria das decisões. E ele escreveu
todos os livros e folhetos, além de muitos artigos em A Sentinela. A
partir de 1942, o presidente N.H. Knorr tomava a maioria das decisões
e o vice-presidente F.W. Franz coordenava a redação. Um corpo
governante no sentido de um grupo de iguais que discute questões
diferentes e como um órgão que toma decisões foi estabelecido pela
primeira vez em 1971. E logicamente, o escravo fiel e discreto não
poderia ter sido designado em 1919, quando não havia CG e nenhum
grupo de ungidos que distribuiu alimento espiritual.
Abaixo segue uma discussão detalhada do contexto das palavras
sobre o escravo fiel e discreto em Mateus 24:45-47 e sobre “o
administrador fiel, o sábio” em Lucas 12:42-46. Essa discussão apoiará
a visão de que nunca houve uma “classe de escravos fiel e discreta” no
sentido usado pelo CG.

“O ESCRAVO FIEL E DISCRETO” DENTRO DO CONTEXTO


A Sentinela de 15 de fevereiro de 1994, páginas 8-21, ajuda-nos
a entender a definição do contexto, porque os versículos de Mateus 24,
Lucas 21 e Marcos 13 são colocados lado a lado e comparados nesta
revista.

O CONTEXTO MAIOR DE MATEUS 24:45-47


O importante ponto de partida é Lucas 21: 24b porque nesse
versículo são discutidos os tempos designados das nações. Os
versículos em Lucas 21:7–24a devem se referir a eventos no primeiro
século EC, com um cumprimento maior no século 20 durante a
presença de Cristo. E os versículos de 21:25–36 devem se referir a
eventos após o fim dos tempos designados das nações, mais
precisamente à grande tribulação. Os versículos em Mateus 24 e
Marcos 13 seguem o padrão estabelecido por Lucas 21.

82
Tabela 2.2 Uma comparação entre o cenário de Mateus 24, Lucas 21 e
Marcos 13
Lucas 21:8–24a— Mateus 24:3–22— Marcos 13:5–20—
grande aflição grande tribulação grande tribulação

Lucas 21:24b—os Mateus 24:23–28— Marcos 13:21–23—


tempos designados, período de tempo período de tempo
terminando em 1914 terminando em 1914 terminando em 1914
Lucas 21:25–36— Mateus 24:29–51— Marcos 13:24–37—
fenômenos celestes— fenômenos celestes— fenômenos celestes—
manter-se vigilante. manter-se vigilante. manter-se vigilante.

Os versículos na parte superior da tabela dizem respeito ao


primeiro século até 70 EC, quando Jerusalém foi destruída. Os
versículos no centro da tabela descrevem eventos que ocorreram após
70 d.C. e até 1914 d.C. Os da parte inferior da tabela dizem respeito a
eventos que ocorrerão durante a grande tribulação. Mas podemos
perguntar por que [as passagens] da parte inferior da tabela (Lucas 21:
25-36; Mateus 24: 29-51; Marcos 13: 24-37) se relacionam com a
grande tribulação quando todos os eventos descritos nas caixas
superiores ocorreram antes de 1914? A resposta pode ser que os
eventos descritos nas caixas superiores e que ocorrem no primeiro
século são sombras de eventos semelhantes, mas maiores, que
ocorreriam durante a presença de Jesus. Após o cumprimento desses
eventos, vem a grande tribulação descrita na parte inferior.
O ponto importante a ser observado é que a definição dos
versículos de Mateus 24:29–51, Lucas 21: 25–36 e Marcos 13: 24–37 é
a grande tribulação e não a presença de Cristo.

UMA COMPARAÇÃO ENTRE LUCAS 12:42-44 E MATEUS 24:45-


47

83
Os versículos de nosso interesse são Mateus 24:45–47 e, de
acordo com o contexto, os eventos descritos por esses versículos devem
ocorrer durante a grande tribulação. Esses versículos são paralelos a
Lucas 12:42–46, e eu vou traduzi-los e compará-los:
Tabela 2.3 Uma comparação das palavras de Lucas 12:42-44 e Mateus
24:45-46 [tradução literal do texto em inglês]
Lucas 12:42
Quem então (tis ara) será (estin, presente) o mordomo fiel
(oikonomos), o sábio, a quem o Senhor designará (kathistēmi, futuro)
sobre sua família de escravos (therapeia) para continuar a dar
(didōmi , pres infin) a sua medida de comida (sitometria) no tempo
designado (kairos)?
Mateus 24:45
Quem então (tis ara) será (estin, presente) o escravo fiel (doulos), até
mesmo o sábio, a quem o Senhor designará (kathistēmi, aoristo)
sobre sua família de escravos (oiketeia) para dar (didōmi, aoristo
infin) sua comida (trofē) na hora marcada (kairos).
Lucas 12:43, 44
Feliz é aquele escravo (doulos) que o Senhor achará (futuro) fazendo
(part. presente) isso quando ele vier (part. aoristo). 44 Em verdade,
estou lhe dizendo (presente) que ele o designará (kathistēmi, futuro)
sobre todos os seus pertences (hyparxō, pres part).
Mateus 24:46, 47
Feliz é aquele escravo (doulos) que o Senhor achará (futuro) fazendo
(part. presente) isso quando ele vier (part. aoristo). Na verdade,
estou lhe dizendo (presente) que ele o nomeará (kathistēmi, futuro)
sobre todos os seus pertences (hyparxō, pres. part.).

Os versículos em Lucas 12 e Mateus 24 são muito semelhantes.


Em Lucas 12:42, a pessoa é chamada de "mordomo" (oikonomos), que
se refere ao escravo encarregado da casa do senhor. Isso é confirmado
no versículo 43, onde o mordomo é chamado de "escravo" (doulos). No
84
paralelo em Mateus 24:45, a pessoa é chamada de "escravo" (doulos).
Portanto, a situação é exatamente a mesma nos dois casos. Os deveres
de tais escravos eram organizar as refeições e dar aos outros escravos a
comida que eles deveriam ter nos horários determinados para as
refeições. Lucas 12:42 usa a palavra “medida de comida” (sitometria) -
algo que os escravos teriam por direito - e em Mateus 24:45 usa-se a
palavra “comida” (trofē). Essa palavra também pode se referir a uma
"porção", portanto não há diferença real entre as duas palavras.
Nos epítetos do escravo, há a conjunção kai ("e") em Mateus.
Mas essa palavra não aparece em Lucas. Literalmente, Mateus diz:
“quem é o escravo fiel e o sábio”. Em grego, a conjunção kai nem
sempre deve ser traduzida como "e". Em Gálatas 5:16, por exemplo,
uma boa tradução seria "até mesmo", e eu uso essa tradução em Mateus
24:45.
Em conexão com o dever do escravo e sua nomeação, Lucas usa
o verbo kathistēmi no futuro, enquanto Mateus usa o mesmo verbo no
aoristo. Fica claro pelo uso do aoristo no NT que ele pode se referir a
ações concluídas e incompletas. Portanto, não há razão linguística para
usar, em inglês, o passado ou perfeito para o verbo aoristo "designar"
em Mateus 24:45, mas para usar o futuro em Lucas 12:42.
A forma grega estin é a forma atual do verbo eimi ("ser"). O
presente grego não é um tempo verbal, mas o aspecto imperfeito, e
pode ser usado para passado, presente e futuro. Visto que Jesus faz uma
pergunta sobre uma situação que ainda não se materializou e ele usa a
forma futura kathistēmi, a referência temporal de estin deve ser futura.
Portanto, eu traduzo "Quem será o mordomo / escravo fiel?" e não
"Quem é então o fiel mordomo / escravo?"
Além disso, em Lucas 12:35–40, Jesus aconselha seus ouvintes a
estarem prontos. E em resposta à pergunta de Pedro, sobre se a
ilustração de Jesus se refereria apenas aos discípulos ou a todas as
pessoas, Jesus, na verdade, pergunta: “Quem será?”35 Isso significa que

35
A tradução do NJB (em inglês) de Lucas 12:41 é: “Pedro disse:“ Senhor, você
destina essa parábola a nós ou a todos?” A preposição grega pros com acusativo
pode, de acordo com Mounce, ser vertida como: “para; em direção a." Mas também
pode ser traduzido como “no que tange; em relação a”. Visto que Jesus está falando
85
cada indivíduo deve decidir, e a designação como mordomo. deve
ocorrer após o indivíduo tomar sua decisão. Visto que as palavras em
Mateus 24: 5–47 são muito semelhantes às palavras em Lucas 12: 42–
45, o cenário deve ser o mesmo, a saber, quem estará vigilante quando
Jesus vier. Isso é confirmado pelas palavras em Marcos 13:33–37, que
são muito semelhantes às palavras em Lucas 12:35–40. Assim, a
designação em Mateus 24:45, expressa pelo aoristo, deve ser futura e
não concluída, assim como em Lucas 12:42.
O "escravo fiel e discreto" se refere a
qualquer cristão que seja fiel e vigilante
quando Jesus vier como juiz na grande
tribulação. Não se refere a uma classe que
fornece alimento espiritual durante a
presença de Cristo.
Visto que o aoristo grego não é tempo verbal, mas apenas um
aspecto, o aspecto perfeito, ele se concentra apenas na ação de
determinar sem detalhes visíveis quanto à maneira e ao tempo, e o
contexto mostra que essa ação é futura. Este é exatamente o mesmo
foco do futuro em grego. Mas um foco semelhante é feito por diferentes
fatores lingüísticos: no caso do aoristo, o aspecto do verbo e o contexto
indicam referência futura, enquanto no outro caso, o verbo futuro se
forma sozinho e não é o contexto que indica referência futura.

O “ESCRAVO FIEL E DISCRETO” E A GRANDE PROFECIA DE


JESUS
A Tabela 2.4 compara as palavras de Jesus em sua grande
profecia sobre sua presença (parousia) e sua vinda (erkhomai) na
grande tribulação. No final de Lucas 21, adicionei o texto de Lucas
12:35–46. Os textos com as mesmas fontes são paralelos. O texto é
retirado da NVI [em português].

com seus discípulos e não com todos, vejo a pergunta de Pedro como: "A ilustração
se refere a nós ou a todos?"
86
Tabela 2.4 Uma comparação das palavras de Lucas, Mateus e Marcos
Lucas Mateus Marcos
25, 26 29 24, 25
“25 E haverá sinais “26 Logo depois da “24 Mas naqueles
no sol, na lua e nas tribulação daqueles dias, depois daquela
estrelas; e sobre a dias, escurecerá o sol, tribulação, o sol
terra haverá angústia e a lua não dará a sua escurecerá, e a lua
das nações em luz; as estrelas cairão não dará a sua luz;
perplexidade pelo do céu e os poderes 25 as estrelas cairão
bramido do mar e das dos céus serão do céu, e os poderes
ondas. 26 os homens abalados.” que estão nos céus,
desfalecerão de terror, serão abalados.”
e pela expectação das
coisas que sobrevirão
ao mundo; porquanto
os poderes do céu
serão abalados.”
27, 28 30, 31 26, 27
“27 Então verão vir o “30 Então aparecerá “26 Então verão vir
Filho do homem em no céu o sinal do o Filho do homem
uma nuvem, com Filho do homem, e nas nuvens, com
poder e grande todas as tribos da grande poder e
glória. 28 Ora, terra se lamentarão, glória. 27 E logo
quando essas coisas e verão vir o Filho do enviará os seus
começarem a homem sobre as anjos, e ajuntará os
acontecer, exultai e nuvens do céu, com seus eleitos, desde os
levantai as vossas poder e grande quatro ventos, desde
cabeças, porque a glória. 31 E ele a extremidade da
vossa redenção se enviará os seus anjos terra até a
aproxima.” com grande clangor extremidade do
de trombeta, os quais céu.”
lhe ajuntarão os
escolhidos desde os
87
quatro ventos, de
uma à outra
extremidade dos
céus.”
29–32 32–35 28-31
“29 Propôs-lhes então “32 Aprendei, pois, da "28 a figueira, pois,
uma parábola: Olhai figueira a sua parábola: aprendei a parábola:
para a figueira, e para Quando já o seu ramo Quando já o seu ramo
todas as árvores; 30 se torna tenro e brota se torna tenro e brota
quando começam a folhas, sabeis que está folhas, sabeis que está
brotar, sabeis por vós próximo o verão. 33 próximo o verão. 29
mesmos, ao vê-las, que Igualmente, quando Assim também vós,
já está próximo o verão. virdes todas essas quando virdes
31 Assim também vós, coisas, sabei que ele sucederem essas
quando virdes está próximo, mesmo às coisas, sabei que ele
acontecerem estas portas. 34 Em verdade está próximo, mesmo
coisas, sabei que o vos digo que não às portas. 30 Em
reino de Deus está passará esta geração verdade vos digo que
próximo. 32 Em sem que todas essas não passará esta
verdade vos digo que coisas se cumpram. 35 geração, até que todas
não passará esta Passará o céu e a terra, essas coisas
geração até que tudo mas as minhas palavras aconteçam. 31 Passará
isso se cumpra. 33 jamais passarão. o céu e a terra, mas as
Passará o céu e a terra, minhas palavras não
mas as minhas palavras passarão.
jamais passarão.”
34–36 e 12:35-46 36–51 32–37
34 Olhai por vós “36 Daquele dia e “32 Quanto, porém,
mesmos; não hora, porém, ninguém ao dia e à hora,
aconteça que os sabe, nem os anjos do ninguém sabe, nem
vossos corações se céu, nem o Filho, os anjos no céu nem
carreguem de senão só o Pai. 37 o Filho, senão o Pai.
glutonaria, de Pois como foi dito 33 Olhai! vigiai!
embriaguez, e dos nos dias de Noé, porque não sabeis
cuidados da vida, e assim será também a quando chegará o
88
aquele dia vos vinda do Filho do tempo. 34 É como se
sobrevenha de homem. 38 um homem, devendo
improviso como um Porquanto, assim viajar, ao deixar a
laço. 35 Porque há de como nos dias sua casa, desse
vir sobre todos os que anteriores ao dilúvio, autoridade aos seus
habitam na face da comiam, bebiam, servos, a cada um o
terra. 36 Vigiai, pois, casavam e davam-se seu trabalho, e
em todo o tempo, em casamento, até o ordenasse também ao
orando, para que dia em que Noé porteiro que vigiasse.
possais escapar de entrou na arca, 39 e 35 Vigiai, pois;
todas estas coisas que não o perceberam, até porque não sabeis
hão de acontecer, e que veio o dilúvio, e quando virá o senhor
estar em pé na os levou a todos; da casa; se à tarde, se
presença do Filho do assim será também a à meia-noite, se ao
homem. vinda do Filho do cantar do galo, se
homem. 40 Então, pela manhã; 36 para
12:35–46 estando dois homens que, vindo de
no campo, será improviso, não vos
“35 Estejam cingidos levado um e deixado ache dormindo. 37 O
os vossos lombos e outro; 41 estando que vos digo a vós, a
acesas as vossas duas mulheres a todos o digo: Vigiai.
candeias; 36 e sede trabalhar no moinho,
semelhantes a será levada uma e
homens que esperam deixada a outra. 42
o seu senhor, quando Vigiai, pois, porque
houver de voltar das não sabeis em que dia
bodas, para que, vem o vosso Senhor;
quando vier e bater, 43 sabei, porém, isto:
logo possam abrir- se o dono da casa
lhe. 37 Bem- soubesse a que vigília
aventurados aqueles da noite havia de vir o
servos, aos quais o ladrão, vigiaria e não
senhor, quando vier, deixaria minar a sua
achar vigiando! Em casa. 44 Por isso
verdade vos digo que ficai também vós
se cingirá, e os fará apercebidos; porque
reclinar-se à mesa e, numa hora em que
89
não penseis, virá o
chegando-se, os Filho do homem. 45
servirá. 38 Quer Quem é, pois, o servo
venha na segunda fiel e prudente, que o
vigília, quer na senhor pôs sobre os
terceira, bem- seus serviçais, para a
aventurados serão tempo dar-lhes o
eles, se assim os sustento? 46 Bem-
achar. 39 Sabei, aventurado aquele
porém, isto: se o dono servo a quem o seu
da casa soubesse a senhor, quando vier,
que hora havia de vir achar assim fazendo.
o ladrão, vigiaria e 47 Em verdade vos
não deixaria minar a digo que o porá sobre
sua casa. 40 Estai vós todos os seus bens. 48
também apercebidos; Mas se aquele outro,
porque, numa hora o mau servo, disser
em que não penseis, no seu coração: Meu
virá o Filho do senhor tarda em vir,
homem. 41 Então 49 e começar a
Pedro perguntou: espancar os seus
Senhor, dizes essa conservos, e a comer
parábola a nós, ou e beber com os
também a todos? 42 ébrios, 50 virá o
Respondeu o Senhor: senhor daquele servo,
Qual é, pois, o num dia em que não o
mordomo fiel e espera, e numa hora
prudente, que o de que não sabe, 51 e
Senhor porá sobre os cortá-lo-á pelo meio,
seus servos, para lhes e lhe dará a sua parte
dar a tempo a ração? com os hipócritas; ali
43 Bem-aventurado haverá choro e ranger
aquele servo a quem de dentes.
o seu senhor, quando
vier, achar fazendo
assim. 44 Em verdade
vos digo que o porá
90
sobre todos os seus
bens. 45 Mas, se
aquele servo disser
em teu coração: O
meu senhor tarda em
vir; e começar a
espancar os criados e
as criadas, e a comer,
a beber e a
embriagar-se, 46 virá
o senhor desse servo
num dia em que não o
espera, e numa hora
de que não sabe, e
cortá-lo-á pelo meio,
e lhe dará a sua parte
com os infiéis.

As três seqüências superiores são paralelos próximos. A quarta


sequência é mais longa em Mateus 24 do que em Lucas 21 e Marcos
13. No entanto, Lucas 12:35–46 é um paralelo próximo a Mateus
24:36–51, onde o escravo fiel é mencionado. O foco principal dos
últimos versículos de cada relato (Mateus 24:40–51, Marcos 13:33–37
e Lucas 21:34–36) é que os servos de Deus devem estar prontos, vigiar,
porque eles sabem o dia e a hora em que o Senhor vem na grande
tribulação. As palavras que indicam esse foco estão em itálico e em
negrito. As palavras que se relacionam com o escravo fiel nas três
sequências são escritas com a fonte Bahnschrift Condensed.
O foco na quarta seção acima é: Quais servos estarão servindo a
Deus e estarão vigiando quando o Filho do homem vier? Existem dois
cenários possíveis: 1) O escravo individual está dormindo (Marcos
13:36), ou está batendo em seus companheiros escravos e bebendo com
os bêbados (Lucas 12:45; Mateus 24:49) e 2) ele está vigiando (Marcos
13:35; Lucas 12:37), e ele está fazendo o trabalho de um escravo,
dando comida aos outros escravos no tempo determinado. (Lucas
91
12:42; Mateus 24:45) A recompensa é que o mestre servirá esse escravo
à mesa, e o escravo será colocado sobre de todos os pertences do
mestre. (Lucas 12:37; Mateus 24:47) Agora examinarei mais de perto
os detalhes.
O foco de Mateus 24: 39–25: 31 é a grande
tribulação, e nenhuma parte se refere à
presença de Cristo. Assim, "o escravo" não
pode existir durante esta presença.

A IDENTIDADE DO ESCRAVO FIEL E DISCRETO BASEADA EM


LUCAS 12:35-44
Agora, examinarei os detalhes sobre o “mordomo fiel”
mencionado em Lucas 12:42, que é idêntico ao “escravo fiel” em
Mateus 24:45.
Em Lucas 12:35–37, Jesus fala sobre um mestre e seus escravos.
Isso não é uma profecia, mas é uma ilustração (parabolē), como mostra
o versículo 41. A ilustração é baseada no relacionamento normal entre
um mestre e seus escravos. Os escravos receberam tarefas diferentes
enquanto seu mestre estava fora, incluindo um que estava na porta
vigiando. (Marcos 13:34; Lucas 12:36) Um escravo, o "mordomo"
(oikonomos) também ficaria encarregado da casa do mestre e
distribuiria comida para os outros escravos. (Lucas 12:42; Mateus
24:45)
O ponto principal da ilustração de Jesus é visto no versículo 37
(TNM15), a saber, que os escravos tinham que estar de vigia quando o
mestre retornava:
Felizes aqueles escravos cujo senhor, quando vier, os encontrar
vigiando! Digo a verdade a vocês: Ele se vestirá para servir, fará que
se recostem à mesa e virá servi-los.
Aqueles que estavam de vigia receberiam a recompensa que o
mestre lhes ministraria. Nesse contexto, Pedro fez a pergunta que
vemos no versículo 41 (NJB em inglês):
92
‘Senhor, você direciona essa parábola para nós ou para todos?’
Jesus não respondeu à pergunta de Pedro. Mas, em vez disso, ele
fez outra pergunta, de acordo com o versículo 42 (minha tradução):
Quem então (tis ara) será (estin, presente) o mordomo fiel
(oikonomos), o sábio, a quem o Senhor designará (kathistēmi, futuro)
sobre sua família de escravos (therapeia), a fim de continuar a conceder
(didōmi, pres infi) sua provisão de comida (sitometria) no tempo
determinado (kairos)?
O pano de fundo da pergunta de Jesus era sua ilustração do
mestre e de seus escravos. Como já mencionado, um dos escravos de
um mestre seria o oikonomos ("mordomo"), que estava encarregado da
casa do mestre. Assim, com referência à ilustração, Jesus, na verdade,
pergunta quem irá desempenhar o papel desse mordomo. Notamos as
palavras “o fiel mordomo” (ho pistos oikonomos). O artigo definido "o"
(ho) aponta de volta para a ilustração de Jesus. Entre os escravos,
haveria alguém encarregado da casa do mestre. Então, quem ocuparia o
papel desse escravo, o mordomo (oikonomos)? O adjetivo “fiel”
(pistos) também se refere à ilustração. O mordomo seria fiel quando
distribuísse comida literal para os outros escravos na hora marcada.
É muito importante perceber que Jesus não profetizou sobre o
fiel mordomo. Mas ele pergunta quem irá desempenhar o papel do fiel
mordomo em sua ilustração sobre o mestre e seus escravos. Qualquer
pessoa pode optar por preencher esse papel. E aqueles que se
comportassem como o mordomo fiel estariam de vigia quando o mestre
chegasse e receberiam a recompensa.
Mateus 24:45 tem um paralelo claro com Lucas 12:42, então
discutirei esta passagem (minha tradução):
Quem então (tis ara) será (estin, presente) o escravo fiel (doulos),
mesmo o sábio, quem o Senhor designará (kathistēmi, aorist) sobre
sua família de escravos (oiketeia), a fim de dar (didōmi, infin aorist)
seu alimento (trofē) no tempo designado (kairos).
Não há contexto em Mateus, capítulo 24, que possa explicar os
antecedentes da pergunta: "Quem será o escravo fiel, mesmo o sábio?"
Mas Lucas 12:35–41 mostra o contexto, que é a ilustração de Jesus do
mestre e de seus escravos. Assim, o artigo definido na expressão "o
93
escravo fiel, mesmo o sábio" em Mateus 24:45 refere-se ao mordomo
na ilustração de Jesus, e o adjetivo "fiel" refere-se à obra desse
mordomo de dar a outros escravos alimento no tempo apropriado.
Então, novamente, Mateus 24:45 não é uma profecia sobre a vinda do
“escravo fiel e discreto”. Mas Jesus pergunta quem irá desempenhar o
papel do fiel mordomo (escravo) em sua ilustração sobre o mestre e
seus escravos. Qualquer um poderia escolher ser como esse mordomo.
E aqueles que se comportassem como o mordomo fiel estariam de vigia
quando o mestre chegasse e receberiam a recompensa mencionada no
versículo 46. Essas conclusões corroboram com as palavras de Jesus
sobre o escravo mau.

AS PALAVRAS SOBRE O ESCRAVO MAU


O que significam as palavras sobre o escravo mau? A TNM15
traduz a primeira parte de Mateus 24:48 desta maneira: " Mas, se
aquele escravo mau disser no coração" Esta é uma situação hipotética, e
há uma palavra que nos ajuda a ver o pano de fundo dessa situação, a
saber, o pronome demonstrativo ekeinos ("isto", "aquilo") em Lucas
12:45 e Mateus 24:48, 49.
45
Mas, se aquele (ekeinos) escravo disser no coração: ‘Meu senhor
demora a vir’, e começar a espancar os servos e as servas, e a comer,
beber e se embriagar,
48
Mas, se aquele (ekeinos) escravo mau disser no coração: ‘Meu
senhor está demorando’, 49 e começar a espancar seus coescravos, e a
comer e beber com os beberrões,
O pronome demonstrativo ekeinos precisa de um antecedente, e o
único candidato a ekeinos em Lucas 12:45 é o mordomo, que está
implícito na ilustração de Jesus sobre o mestre e seus escravos em
Lucas 12:35–40. O ponto aqui é que uma pessoa que desempenhará o
papel de mordomo na ilustração de Jesus poderá tornar-se má e, nesse
caso, será punida. Mas se aquele que desempenhar o papel de mordomo
for fiel, será recompensado. Como mencionado, não há contexto em
Mateus 24:45–46. Mas a ilustração de Jesus em Lucas 12:35–40 deve
também ser o pano de fundo para o escravo mau.

94
Quanto ao escravo perverso, A Sentinela de 15 de julho de 2013,
página 25, diz:
Jesus alertou sobre um escravo mau que conclui no coração que o amo
está demorando e começa a espancar seus coescravos. Quando o amo
chega, disse Jesus, ele pune esse escravo mau “com a maior
severidade”. — Leia Mateus 24:48-51.
Será que Jesus estava predizendo que haveria uma classe de escravo
mau nestes últimos dias? Não. É verdade que algumas pessoas têm
manifestado uma atitude semelhante à daquele escravo mau descrito
por Jesus. Nós as chamaríamos de apóstatas, quer tenham sido dos
ungidos, quer da “grande multidão”. (Rev. 7:9) Mas elas não
compõem uma classe de escravo mau. Jesus não disse que designaria
um escravo mau. Suas palavras são na realidade um alerta dirigido ao
escravo fiel e discreto.
Note que Jesus inicia o alerta com a expressão “se é que”. Um erudito
diz que no texto grego essa passagem “para todos os efeitos, é uma
condição hipotética”. É como se Jesus dissesse: ‘Se alguma vez o
escravo fiel e discreto maltratar seus coescravos dessa maneira, é isso
o que o amo fará quando chegar.’ (Veja também Lucas 12:45.) Mas o
composto escravo fiel e discreto continua vigilante e provendo
alimento espiritual fortalecedor.
As observações da Torre de Vigia concordam com a gramática. E
a conclusão de que Jesus não indicou um escravo mau também pode ser
aplicada ao “escravo fiel e discreto” (literalmente: “o escravo fiel,
mesmo o sábio”): Jesus não designou o “escravo fiel e discreto”. Em
conexão com os dois escravos, há perguntas, e isso mostra que ambas
as situações são hipotéticas. Portanto, a conclusão é que nunca houve
“um escravo fiel e discreto” no sentido usado pelo CG. Mas quando
Jesus vier como juiz na grande tribulação, haverá muitos individuos
[que serão] escravos fiéis e discretos, que estarão fazendo seu trabalho
e estarão vigiando. E, da mesma forma, haverá muitos escravos iníquos
que serão punidos.
Jesus não diz que um “escravo fiel e
discreto” virá, assim como ele não diz que
um “escravo mau” virá. Mas ele pergunta
95
quem irá desempenhar o papel do escravo
fiel quando Jesus vier na grande
tribulação.
É essencial perceber que o sinal composto da presença de Cristo
é encontrado em Mateus 24:4–22 (assim como em Lucas 21: 8–24a e
Marcos 13:5–20). Não há parte desse sinal em Mateus 24:29–51 que
discuta exclusivamente a vinda de Jesus e não sua presença, bem como
a importância de estar vigilante em sua vinda. Isso é visto na tabela 2.6.
Os contextos em Mateus, Marcos e Lucas confirmam que Jesus
não está profetizando sobre uma classe chamada “o escravo fiel e
discreto” durante sua presença. Mas ele está perguntando quem, ou
seja, quais indivíduos serão fiéis em sua vinda.

Tabela 2.6 As palavras de Mateus, Marcos e Lucas sobre estar pronto


(TNM15)
Mateus
24:42 Mantenham-se vigilantes
24:44 Mostrem-se prontos
Marcos
13:33 Mantenham-se despertos
13:35 Mantenham-se vigilantes
13:37 Mantenham-se vigilantes
Lucas
12:35 Estejam vestidos e preparados
” Estejam com as suas lâmpadas acesas
12:40 Mantenham-se prontos
21:34 Prestem atenção a si mesmos, para que o seu coração
nunca fique sobrecarregado
96
21:36 Mantenham-se despertos
” Ficar em pé diante do Filho do Homem

Todas as advertências na tabela 2: 6 são plurais e, portanto,


dirigidas a muitas pessoas, àquelas que aguardam a vinda de Jesus. No
entanto, Jesus também mudou seu foco de várias pessoas esperando
para um indivíduo. Em Lucas 12:35–40, o foco de Jesus está naqueles
que estão esperando. Mas em Mateus 24:40–45 (TNM15), ele se
concentra em cada indivíduo que está esperando.
 Dois homens estarão então no campo; um será levado e o outro será
40

abandonado. 41 Duas mulheres estarão moendo no moinho manual;


uma será levada e a outra será abandonada... 45 “Quem é realmente o
escravo fiel e prudente, a quem o seu senhor encarregou dos seus
domésticos, para lhes dar o alimento no tempo apropriado?
Portanto, o foco está na prontidão, tanto para o indivíduo quanto
para todos os que aguardam a vinda do mestre.
A razão mais importante para rejeitar a
existência do "escravo fiel e discreto"
desde 1919 é que Mateus 24:45-47 não faz
parte do sinal da presença de Cristo; os
versos se referem à grande tribulação.

“ALIMENTO NO TEMPO APROPRIADO”


A expressão "tempo apropriado" é traduzida da palavra kairos. O
significado básico desta palavra é "um tempo determinado". TNM86 e
TNM15 traduzem a palavra com "tempo apropriado" em Mateus 8:29 e
26:18, bem como em Lucas 21:24.
Visto que o cenário é um escravo que organiza refeições para os
outros escravos em tempos específicos, a tradução “provê alimento no
tempo apropriado” é a melhor prestação. A expressão “hora marcada”

97
também está de acordo com a “provisão de comida” mencionada em
Lucas 12:42. Os escravos recebiam certa quantidade de comida nas
refeições que ocorriam no mesmo horário todos os dias.
Se o “alimento” se refere a alimento espiritual, a expressão
“tempo apropriado” implica que o mestre do escravo decidiu que o
escravo deveria dar alimento espiritual aos domésticos em momentos
específicos que ele havia decidido. Isso chegaria muito perto da
inspiração. Mesmo que a fraseologia mais pobre “dar comida no tempo
apropriado” seja usada, ainda estamos perto de algum tipo de
inspiração. No entanto, A Sentinela de fevereiro de 2017, página 26,
(em português) diz:
12
O Corpo Governante não recebe revelações da parte de Deus nem é
perfeito. Por isso, ele pode cometer erros aos explicar assuntos da
Bíblia ou ao dar orientações. Tanto é que no Índice encontramos o
assunto “Esclarecimento de Crenças”, com uma lista de ajustes em
nosso entendimento da Bíblia desde 1870. Na verdade, Jesus não
disse que o escravo ia dar alimento espiritual perfeito. Então, como
podemos saber a resposta da pergunta de Jesus: “Quem é realmente o
escravo fiel e prudente?” (Mat. 24:45) Que provas temos de que o
Corpo Governante é o escravo fiel? Vimos três ajudas que o corpo
governante tinha no tempo dos apóstolos para liderar o povo de Deus.
Será que o Corpo Governante hoje tem essas mesmas ajudas? Vamos
ver.
O que a citação diz representa, é claro, a situação real. As
conclusões tiradas na literatura da Sociedade Torre de Vigia às vezes
acabam erradas. Mas a citação acima também dilui toda a questão do
alimento no momento apropriado! Se o escravo não deveria produzir
alimento espiritual perfeito, o alimento às vezes seria imperfeito ou até
errado.
Assim, dizer que não podemos esperar alimento espiritual
perfeito é uma contradição à expressão “no tempo apropriado”. Isso se
dá porque essas palavras mostram que o Senhor tinha um propósito
específico com o alimento espiritual relacionado a tempos específicos.
E o propósito do Senhor não pode ser que o escravo dê alimento
espiritual imperfeito em tempos apropriados que ele decidiu. Assim,
quando removemos o joio, tudo o que resta são cristãos imperfeitos, os
98
quais constituem o CG, que com toda sinceridade fazem o melhor
possível com a literatura publicada sob sua direção. E às vezes eles
erram. Isso significa que a própria expressão “alimento no tempo
apropriado/determinado” com referência ao alimento espiritual não tem
nenhum significado.
A conclusão é que não há grupo ou classe de “escravo fiel e
discreto” e nunca houve. E a opinião da maioria das Testemunhas. de
que qualquer novo entendimento, e qualquer coisa que nossa literatura
diz, é dirigida por Jeová, e que é sempre o que precisamos naquele
momento específico, a saber, “alimento espiritual no tempo
apropriado”, está errado. Os capítulos 4 e 5 mostram que, em muitos
casos, os membros do CG erraram tanto que causaram problemas
graves para as Testemunhas de Jeová.
De acordo com Lucas 12: 35–40 e Mateus 24:45–47,
“o escravo fiel e discreto” refere-se a cristãos
individuais que estão de vigia quando Jesus vem
como juiz na grande tribulação. Não se refere a
alguns que foram designados para interpretar a Bíblia
em nome de outros cristãos durante a presença de
Cristo.

99
Capítulo 3

O CORPO GOVERNANTE
– Revisão –
O termo “corpo governante” não é encontrado na Bíblia, e o próprio
termo é questionável porque alguns cristãos não deveriam governar outros
cristãos. O rei Jesus Cristo é quem governa as congregações.
Na primeira parte do capítulo, eu mostro que não há evidências no
livro de Atos de que havia um corpo governante no primeiro século EC. Os
apóstolos de Jesus foram instruídos por ele e instruíram os anciãos. Os
apóstolos assumiram a liderança no serviço cristão, e outros cristãos
aceitaram isso. Mas não havia necessidade de um grupo adicional de
apóstolos e anciãos, que deveriam ser um "corpo governante". Os
apóstolos já tinham sido nomeados por Jesus e não precisavam de uma
100
designação extra. Após o ano 49, os apóstolos não são mencionados nos
Atos dos Apóstolos.
Era o espírito santo o ajudante das congregações cristãs, e não um
corpo governante. Como a Bíblia não estava completa, muitos cristãos
receberam dons espirituais, incluindo conhecimento milagroso. Além desse
tipo de inspiração, o espírito santo também usou o que podemos chamar de
direção. O espírito não inspirou os cristãos, mas manobrou a situação em
uma direção específica; portanto, um cristão de mente espiritual tinha de
tomar suas próprias decisões. A interação de inspiração e direção é
claramente vista no relato de Pedro e Cornélio em Atos, capítulo 10.
Houve uma reunião dos apóstolos e dos anciãos em Jerusalém em
49 EC. A ideia de que as pessoas das nações deveriam ser circuncidadas
foi rejeitada. Mas quatro mandamentos obrigatórios para todos os cristãos
foram decididos. Isso não mostra que houve um corpo governante que
tomou as decisões, porque o texto mostra que as decisões foram tomadas
pela inspiração do espírito.
Se houvesse um corpo governante, esse órgão supervisionaria a
pregação. Contudo, os apóstolos e os anciãos não são mencionados em
Atos após a reunião em 49 EC, e o livro de Atos mostra que o espírito
santo estava supervisionando a pregação. Portanto, o espírito santo era o
ajudante das congregações cristãs e não um corpo governante. Cada
congregação tinha um corpo de anciãos. Mas esses anciãos devem ser
exemplos e não devem governar (“dominar”) as congregações.
De 1879 a 1938 EC, as congregações eram democráticas. O arranjo
teocrático foi instituído em 1938 e a organização tornou-se totalmente
teocrática em 1945. Um corpo governante foi criado pela primeira vez em
1971.
Em 1972, o arranjo de anciãos foi instituído. Isso levou a uma
grande mudança nas áreas de responsabilidade e poder. Os
superintendentes do circuito perderam o poder e foram vistos como
pioneiros viajantes. E as congregações e seus corpos de anciãos eram, até
certo ponto, independentes da Sociedade Torre de Vigia. Em 1976, os
corpos de anciãos começaram a perder sua independência e poder, até que
hoje temos uma organização em que os membros do Corpo Governante
deram a si mesmos poderes ditatoriais.
A Sentinela de 1960 (em inglês), página 265, disse: "Desde a
fundação da Watch Tower Society em 1884, nunca solicitou dinheiro".
101
Mas as Cartas das filiais e o Watchtower Broadcasting, no século 21,
fizeram exatamente o oposto. Portanto, o procedimento anterior que se
baseava na Bíblia foi abandonado. Hoje, é necessário que cada
congregação envie uma quantia em dinheiro para a filial todos os meses.
Esse requisito parece ser bastante semelhante ao dízimo de outras religiões.
Na Noruega, o circuito deve pagar US $ 13.000 à filial como aluguel da
montagem do circuito. Os Salões do Reino foram desapropriados pelas
filiais. Muitos são vendidos e as filiais receberam o dinheiro. Tudo isso
mostra que há um grande foco no dinheiro, algo impensável para as
Testemunhas de Jeová no século 20.

A expressão “corpo governante” não é encontrada na Bíblia. As


Testemunhas de Jeová usam essa frase e a referência é a um grupo de
homens que funcionam como um governo para as Testemunhas de
Jeová. Eles têm a palavra final em todas as decisões importantes e na
maioria das decisões menores dentro da organização da TJ. A opinião é
de que havia um corpo governante no primeiro século que liderou as
congregações cristãs, e que esse é um padrão para o atual Corpo
Governante. Este capítulo mostra que esta visão está errada.

NÃO HAVIA NENHUM CORPO GOVERNANTE NO


SÉCULO I D.C.
Mais adiante darei uma descrição detalhada de como o CG era visto
e como funcionava nos séculos 20 e 21. Mas agora descrevo alguns
pontos principais como base para uma comparação com as
congregações no 1º século d.C.

AS CARACTERÍSTICAS DO CORPO GOVERNANTE NO SÉCULO


20 E NO SÉCULO 21
A primeira vez que as palavras “corpo governante” foram usadas
na literatura foi em A Sentinela de 1944, página 315 (em inglês). O
artigo dizia que, por causa do trabalho final nos últimos dias, “também
102
deve haver [como no século I d.C.] ser um órgão de governo." Mas não
havia descrição ou definição do CG. A Sentinela de 1 de novembro de
1944 (em inglês), página 331, disse que “os que foram encarregados da
publicação das verdades bíblicas reveladas” eram o CG.
A Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados da Pensilvânia
tinha um conselho de diretores e um presidente. Mas para todos os
propósitos práticos, estes não funcionavam como um corpo, ou um
corpo governante. De 1879 a 1916, C. T. Russell tomou todas as
decisões importantes, e os diretores eram apenas seus assistentes. De
1919 a 1942, J. F. Rutherford tomou todas as decisões importantes, e os
diretores foram seus assistentes, e de 1942 a 1971, N. H. Knorr tomou
todas as decisões importantes. Portanto, no que diz respeito às funções,
não havia um grupo de iguais que tomasse decisões coletivas. Mas isso
mudou em 1971, quando esse grupo foi formado pela primeira vez, em
conexão com o início do arranjo dos anciãos.
De 1879 a 1930, as congregações dos Estudantes da Bíblia e, em
1931, as congregações das Testemunhas de Jeová, eram independentes
da Sociedade de Bíblias e Tratados da Torre de Vigia, e cada
congregação escolhia seus anciãos. Isso mudou em 1938, quando a
Sociedade Torre de Vigia passou a designar os servos (anciãos) nas
congregações. A organização teocrática que foi formada entre 1938 e
1945 também existia em 1971 quando o CG foi formado. Mas em 1971
cada congregação era relativamente independente da Sociedade Torre
de Vigia. Gradualmente, os poderes dos anciãos nas congregações
foram restringidos, até que hoje temos um corpo governante com todo o
poder sobre as doutrinas, os bens e o dinheiro das congregações. Sua
posição é tão forte que suas decisões e suas palavras não podem ser
questionadas. Abaixo vou comparar os diferentes estágios descritos
acima com as congregações cristãs no século I d.C.
A afirmação de que havia um corpo governante no século I d.C.
baseia-se no que lemos sobre os apóstolos e os anciãos no capítulo 15
de Atos. Mas demonstrarei que essa afirmação não é verdadeira.
De 1879 a 1971: as decisões eram tomadas
por C. T. Russell, J. F. Rutherford e N. H.
Knorr. Não havia órgão governante.
103
De 1971 a 2019: Os membros do corpo
governante deram cada vez mais poder a si
mesmos.
2019: O Corpo Governante tem todo o
poder sobre as doutrinas, os ativos e o
dinheiro. Suas decisões e suas palavras
não podem ser questionados.

O QUE O LIVRO DE ATOS DIZ A RESPEITO DOS APÓSTOLOS E


DOS ANCIÃOS
A palavra “apóstolos” ocorre 26 vezes nos Atos dos Apóstolos,
como podemos ver na tabela 3.1 abaixo. A palavra “anciãos” com
referência às congregações cristãs é mencionada seis vezes. Qual era a
função dos apóstolos e dos anciãos?
Antes de Jesus voltar ao céu, ele deu instruções aos seus
apóstolos. (Atos 1: 2) E quando Jesus não estava mais na terra, os
apóstolos foram os que lideraram as congregações cristãs. Os apóstolos
funcionavam como um grupo, o que é visto pelo fato de escolherem
Matias como o décimo segundo apóstolo no lugar de Judas (Atos 1:26).
O fato de os apóstolos liderarem é visto pelas seguintes expressões: “o
ensino dos apóstolos” (2:42; 4:33), “aos pés dos apóstolos” (4:35, 36;
5: 2); “Apresentou esses homens aos apóstolos” (6:6); “Os apóstolos
em Jerusalém... enviaram para lá Pedro e João” (8:14); “o levou aos
apóstolos” (9:27),

Os apóstolos já tinham um status especial e não precisavam de


um compromisso extra. A razão para o status dos apóstolos era que eles
haviam sido ensinados pelo próprio Jesus e eram os cristãos mais
experientes. A expressão “corpo governante” é em si questionável.
Alguns cristãos não deveriam governar outros cristãos. Colossenses
1:13 (TNM15) diz:

104
Ele nos livrou da autoridade da escuridão e nos transferiu para o reino
do seu Filho amado

O Reino de Deus seria estabelecido pouco tempo antes de


Satanás ser amarrado e jogado no abismo. Mas o reino de Jesus já
existia. Ele era o rei, e nenhuma outra pessoa estava governando seus
seguidores. Em suas cartas aos coríntios, Paulo tem muitas palavras de
correção. Em 1 Coríntios 4: 8 (NW13), ele diz:
Vocês já estão satisfeitos? Já estão ricos? Já começaram a reinar sem
nós? Eu realmente queria que vocês já tivessem começado a reinar,
para que nós também reinássemos com vocês.
Os cristãos ungidos em Corinto, no futuro, governariam como
reis. Mas ainda não havia chegado a hora de governar ou reinar.
Abaixo, discutirei em detalhes da reunião dos apóstolos e dos
anciãos em 49 EC. Mas já devemos notar que era o espírito santo que
estava por trás das decisões que foram tomadas. Portanto, não é
possível usar o capítulo 15 de Atos como evidência de que havia um
corpo ou grupo oficial que foi designado para governar as congregações
cristãs.
Mas por que os apóstolos e os presbíteros estavam presentes
nessa reunião? Não seria suficiente apenas os apóstolos discutirem o
assunto? Quando a reunião foi realizada, já haviam se passado 16 anos
desde a morte de Jesus. Durante esse tempo, outras pessoas além dos
apóstolos já haviam se tornado cristãos maduros. Um deles era Tiago,
que evidentemente se tornara porta-voz dos anciãos, como mostra Atos
21:18. Jesus instruiu os apóstolos, e os apóstolos naturalmente
instruíram os anciãos. Uma maneira de educar os anciãos seria deixá-
los participar das discussões cristãs.
Como podemos ver na tabela 3.1, os apóstolos não são
mencionados depois de Atos 16:4, e os anciãos são mencionados três
vezes (11:30; 20:17; 21:18). Houve muita pregação e muitos eventos
cristãos após o ano 49. Se houvesse um grupo de anciãos que
governava todas as congregações, esse grupo teria sido aqueles que
assumia a liderança naquele momento. Mas esse grupo não é
mencionado em Atos ou nos outros livros do NT.
105
Tabela 3.1 Passagens incluindo as palavras “apóstolos” e “anciãos” 5

Até o dia em que foi levado para cima, depois de ter


1:2 dado instruções por meio do espírito santo aos apóstolos
que havia escolhido.

Então, lançaram sortes para decidir entre os dois, e a sorte


1:26
caiu para Matias, e ele foi contado com os 11 apóstolos.

2:37 Pedro e os outros apóstolos.

Dedicavam-se assim aos ensinamentos dos apóstolos, à


2:42
convivência uns com os outros.

E os apóstolos continuavam, de forma poderosa, a dar


4:33
testemunho a respeito da ressurreição do Senhor Jesus.

E o colocavam aos pés dos apóstolos. Depois, fazia-se a


4:35
distribuição, conforme a necessidade de cada um.

Assim fez José... ele o vendeu, trouxe o dinheiro e o


4:36
colocou aos pés dos apóstolos.

5:2 Então, pegou o restante e o colocou aos pés dos apóstolos.

Além disso, pelas mãos dos apóstolos continuavam a


5:12
ocorrer muitos sinais e milagres entre o povo;

Então eles agarraram os apóstolos e os puseram na cadeia


5:18
pública.

Pedro e os outros apóstolos responderam: “Temos de


5:29
obedecer a Deus como governante em vez de a homens.

5:40 Mandaram chamar os apóstolos e, depois de os açoitarem.

Eles os levaram aos apóstolos, que, depois de orar, lhes


6:6
impuseram as mãos.
106
Naquele dia começou uma grande perseguição contra a
8:1 congregação em Jerusalém, e todos, exceto os apóstolos,
foram espalhados pelas regiões da Judeia e de Samaria.

Quando os apóstolos em Jerusalém ouviram dizer que


8:14 Samaria havia aceitado a palavra de Deus, enviaram para
lá Pedro e João,

Quando Simão viu que o espírito era dado pela imposição


8:18
das mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro.

De modo que Barnabé foi ajudá-lo [Saulo] e o levou aos


9:27
apóstolos;

Então, os apóstolos e os irmãos que estavam na Judeia


11:1 ouviram que pessoas das nações também tinham aceitado a
palavra de Deus.

No entanto, a multidão da cidade estava dividida: alguns


14:4
eram a favor dos judeus, e outros a favor dos apóstolos.

Quando os apóstolos Barnabé e Paulo souberam disso,


14:14 rasgaram suas roupas, correram para o meio da multidão e
gritaram:

Mas, depois de muita discórdia e discussão de Paulo e


Barnabé com eles, decidiu-se que Paulo, Barnabé e alguns
15:2
outros subiriam a Jerusalém para tratar dessa questão com
os apóstolos e os anciãos.

Ao chegarem a Jerusalém, foram recebidos bondosamente


pela congregação, pelos apóstolos e pelos anciãos, e
15:4
contaram as muitas coisas que Deus tinha feito por meio
deles.

Então os apóstolos e os anciãos se reuniram para


15:6
considerar essa questão.

107
Então os apóstolos e os anciãos, junto com toda a
15:22 congregação, decidiram enviar a Antioquia homens
escolhidos dentre eles, junto com Paulo e Barnabé;

Os apóstolos e os anciãos, seus irmãos, mandam saudações


15:23 aos irmãos que são das nações, que estão em Antioquia, na
Síria e na Cilícia.

Ao viajarem pelas cidades, transmitiam aos irmãos as


16:4 decisões tomadas pelos apóstolos e pelos anciãos em
Jerusalém.

Os Atos dos Apóstolos descrevem uma parte da história das


congregações cristãs desde 33 EC até meados dos anos 60. O que
encontramos quando comparamos Atos com a história dos estudantes
da Bíblia e das Testemunhas de Jeová nos tempos modernos?
Vemos que havia porta-vozes para os grupos de cristãos. Pedro
deu uma palestra importante sobre Pentecostes no ano 33, e lemos
sobre “Pedro e os outros apóstolos” (Atos 5:29), o que indica que Pedro
era um porta-voz. Na reunião de 49 EC, Tiago estava falando e lemos
sobre “Tiago, e todos os anciãos” (21:18), o que indica que Tiago era
um porta-voz dos anciãos. Paulo e Barnabé também deram palestras em
diferentes ocasiões.
De 1879 a 1916, C. T. Russell foi um porta-voz. De 1919 a 1942,
J. F. Rutherford foi porta-voz, e o mesmo aconteceu com N. H. Knorr,
de 1942 a 1971. Essas pessoas representavam Jeová de uma maneira
excelente, e sua função pode ser comparada à função de Pedro, Tiago e
Paulo. Mas não houve "sucessão apostólica".
Em 1971, o Corpo Governante das TJs foi formado. No início do
arranjo dos anciãos, havia grupos de anciãos em cada congregação, e
concluiu-se que também deveria haver um corpo de anciãos que deveria
liderar toda a organização. Duas coisas estavam erradas com isso, na
minha opinião: 1) alegou-se que o padrão do CG foi encontrado no
capítulo 15 de Atos, isso não tem base, e 2) o nome "o Corpo
108
Governante" foi usado. Eu vou ilustrar: Uma carta da filial norueguesa
de 3 de setembro de 2008 dizia que a designação de “superintendente
presidente” poderia sugerir que esse irmão tinha maior autoridade do
que os outros anciãos. Portanto, a designação seria alterada para
“coordenador do corpo de anciãos” a partir de 1 de janeiro de 2009. A
palavra “governar” está conectada a um governo, um grupo que está
acima e os submissos abaixo. Uma designação muito melhor do corpo
que foi formado em 1971 teria sido "o Grupo Coordenador".
Apesar do nome ser errado, os membros do CG em 1971
aceitaram o entendimento do arranjo de anciãos, e os órgãos locais de
anciãos tinham muito poder e independência. Gradualmente, os
membros do CG deram cada vez mais poder a si mesmos às custas dos
corpos de anciãos, e até hoje eles têm todo o poder. E eles realmente se
tornaram "o Corpo Governante" no sentido pleno da expressão.
Paralelamente a essa situação, cada vez mais mandamentos
humanos passaram a ser feitos. (Mateus 15:9) Quando comecei como
servo de circuito em 1965, recebi o livreto Perguntas sobre o Serviço
do Reino (1961, nome traduzido do inglês). O livreto tem 84 páginas e,
além de questões relacionadas a casamento, divórcio e poligamia, são
listadas apenas sete questões diferentes que podem levar à
desassociação. Em 1977, houve um curso para os anciãos, e foi
impresso um livreto com 96 páginas intitulado “Preste atenção a si
mesmo e a todo o rebanho” (Nome traduzido do inglês), com os
destaques do curso. Neste livro, eu contei 18 pecados passíveis de
desassociação. Em 2019, foi lançado o livro para os anciãos “Sejam
pastores para o rebanho de Deus” (Nome traduzido do inglês) e eu
contei 39 ofensas por desassociação.
O capítulo 5 discute a desassociação com base em mandamentos
humanos, e as discussões mostram que eu encontrei apenas 11 ofensas
na desassociação que têm uma base bíblica clara.
A conclusão é que a expressão “o Corpo
Governante” e sua função como governo das
Testemunhas de Jeová são invenções humanas
que não têm base na Bíblia.
109
O ESPÍRITO SANTO VERSUS UM “CORPO
GOVERNANTE”
Jesus Cristo foi o representante de Jeová em Israel de 29 a 33
EC. Ele sabia que depois de sua morte, seus seguidores precisariam de
direção, e era o espírito santo que direcionaria seus seguidores. Jesus
disse:
Mas o ajudador (paraklētos), o espírito santo, que o Pai enviará em
meu nome, ensinará todas as coisas a vocês e os fará lembrar de todas
as coisas que eu lhes disse. (João 14:26, TNM15)
Há uma diferença crucial entre as congregações no primeiro
século e as congregações atuais. No primeiro século, a Bíblia não
estava completa e, portanto, o espírito santo era ativo de uma maneira
muito diferente da atual. Os cristãos individuais receberam dons
espirituais, incluindo a revelação inspirada. (1 Coríntios 12: 1–11) O
livro de Atos conta que os profetas desceram de Jerusalém para
Antioquia. (Atos 11:27) Também diz que na congregação em Antioquia
havia profetas e instrutores. (Atos 13: 1) Judas e Silas, que eram
profetas, encorajaram os irmãos. (Atos 15:32) Filipe de Cesaréia tinha
quatro filhas que profetizaram. (Atos 21:9) Ao mesmo tempo, o profeta
Ágabo desceu da Judéia até Paulo. (Atos 21:10) Todos esses profetas
falaram palavras que foram inspiradas por Deus.
Como mostrei acima, os apóstolos, a quem Jesus havia escolhido,
assumiram a liderança entre os que criam em Jeová e em seu Filho,
Jesus Cristo. Atos 2:42 diz que os crentes "estavam se dedicando ao
ensino dos apóstolos". Atos 4:34, 35 fala sobre contribuições
monetárias que foram depositadas "aos pés dos apóstolos". Ao mesmo
tempo, sete homens foram escolhidos para a distribuição diária dos
necessitados. Esses homens foram colocados diante dos apóstolos, que
os designaram para o trabalho deles. (Atos 6: 6) Quando as pessoas em
Samaria aceitaram a palavra de Deus, os apóstolos em Jerusalém
enviaram Pedro e João para ajudá-los. (Atos 8:14)
Quando houve discórdia e disputa em relação a um ensino
importante, Paulo e Barnabé foram enviados a Jerusalém para
110
apresentar o assunto aos apóstolos e anciãos. (Atos 15:2) Quando o
problema foi resolvido, uma carta dos apóstolos e dos anciãos foi
enviada às congregações. (Atos 15:23) Paulo e Silas viajaram para
diferentes congregações e pediram aos membros das congregações que
observassem “as decisões tomadas pelos apóstolos e pelos anciãos em
Jerusalém, para que obedecessem a esses decretos.”. (Atos 16:4) Com
base nos textos citados acima, fica claro que primeiro os apóstolos e
depois os apóstolos e os anciãos em Jerusalém assumiram a liderança
entre os seguidores de Jesus. Quando os apóstolos estavam mortos, os
anciãos assumiram a liderança.

INSPIRAÇÃO E DIREÇÃO PELO ESPÍRITO SANTO


Qual foi o papel do ajudante (paraklētos)? Já vimos que havia
profetas entre os cristãos que apresentaram mensagens de Deus. O
espírito santo também estava trabalhando de maneiras diferentes. Havia
um eunuco etíope sincero que viajara a Jerusalém para adorar a Deus. O
anjo de Jeová disse a Filipe que se aproximasse dessa pessoa e pregasse
a ele. (Atos 8: 26–29)36 Vemos que o espírito inspirou os cristãos a
entregar mensagens de Deus, deu aos indivíduos um conhecimento
milagroso e até dirigiu a obra de pregação. Mas qual era o papel do
espírito em conexão com o ensino dos apóstolos?
No livro de Atos, vemos como o espírito usou inspiração e
direção. A palavra “inspiração” significa que o espírito deu
informações diretamente a um servo de Deus, e “direção” significa que
o espírito manobrou uma situação em uma direção específica, onde um
servo de mente espiritual de Deus teve que tirar uma conclusão
específica. Bons exemplos de inspiração e direção são vistos no
capítulo 10 do livro de Atos. Até esse momento, apenas judeus e
samaritanos haviam se tornado parte do povo de Deus. Mas agora, as
pessoas das nações também deviam se tornar parte. Era Pedro quem
deveria introduzir esse novo procedimento. Vamos agora estudar o
livro de Atos, capítulo 10, e aprender como o espírito manobrou as
situações.

36
No versículo 29, o anjo é chamado de "espírito".
111
Um anjo falou com o oficial do exército em uma visão e disse-
lhe para enviar alguns homens a Jope a Simão Pedro (vv. 1-6). Isso foi
inspiração. No dia seguinte, Pedro entrou em transe e por três vezes viu
um vaso com animais impuros descendo à terra. Pedro foi convidado a
comer os animais impuros. Mas ele recusou, porque isso era contra a lei
de Moisés (vv. 9–16). Isso foi inspiração.
Enquanto Pedro estava contemplando o significado da visão, três
homens das nações se aproximaram dele. Essa era uma situação
estranha para Pedro, porque nenhuma pessoa das nações havia se
tornado parte da comunidade cristã. Não havia cooperação entre os
judeus e as nações, então, naturalmente, Pedro teria se recusado a ter
algo a ver com esses homens. No entanto, o espírito, que poderia se
referir a um anjo, disse a Pedro para ir com os homens (vs. 19, 20). Isso
foi novamente inspiração, e a inspiração era necessária porque Pedro
nunca teria tido nada a ver com pessoas das nações (v. 28). Então ele
veio à casa de Cornélio, e por causa da visão do navio com os animais
impuros, Pedro tirou a única conclusão que um cristão de mente
espiritual poderia tirar: Ele tinha que entrar na casa dessas pessoas das
nações (vv. 23-28). Isso foi a direção, porque o espírito havia
manobrado a situação de maneira a ajudar Pedro a tirar a conclusão
correta.
Mas agora surgiu uma situação embaraçosa. Cornélio contou a
Pedro sobre o anjo e sua visão, e então ele disse: “Agora estamos todos
presentes perante Deus para ouvir todas as coisas que Jeová lhe mandou
dizer” (v. 33). Pedro não recebeu nenhuma instrução. Mas, por causa de
toda a situação, as visões que ele e Cornélio haviam visto e os anjos
que haviam falado com ambos, ele chegou à única conclusão que um
servo de Deus de mentalidade espiritual poderia tirar: Ele teve que
pregar as boas novas sobre o Reino a essas pessoas das nações (vs. 34–
43). Isso foi a direção, porque o espírito manobrou a situação de uma
maneira que ajudaria Pedro a tirar a conclusão certa. Devemos lembrar
que o que Pedro fez - entrar na casa de pessoas das nações e pregar para
elas - era sem precedentes, porque nunca havia acontecido antes. Então,
enquanto Pedro falava, o espírito santo caiu sobre aqueles que ouviram
o discurso de Pedro e eles estavam falando em línguas (vv. 44-46). Isso
foi inspiração. E como Pedro reagiu? Ele tirou a única conclusão que
112
um servo de Deus com espírito espiritual poderia tirar: Visto que essas
pessoas haviam recebido o espírito santo, elas deveriam ser batizadas
(vs. 47, 48). Isso foi a direção, e o batismo de pessoas das nações
também foi sem precedentes.
Vemos neste relato que o espírito, por quatro exemplos de
inspiração, manobrou a situação, de modo que Pedro foi dirigido três
vezes a tirar conclusões particulares. Com isso, as pessoas das nações
pela primeira vez se tornaram parte do povo de Deus.
O espírito santo estava governando as
congregações através da ajuda por inspiração e
direção. Não havia humanos governando outros
cristãos.

INSPIRAÇÃO E DIREÇÃO PELO ESPÍRITO SANTO


A questão no capítulo 15 de Atos estava relacionada à
circuncisão. Será que os cristãos das nações deviam ser circuncidados?
Na discussão, vemos que a direção de Deus foi buscada porque duas
áreas foram exploradas: 1) O que Deus havia escrito que poderia lançar
luz sobre a questão da circuncisão, e 2) O que Deus havia feito com os
cristãos das nações?
Pedro relatou a história de Cornélio e sua casa, e eles foram
batizados com espírito santo, sem necessidade de circuncisão (vv. 7-
11). Então, Paulo e Barnabé contaram sobre os sinais e presságios que
Deus havia feito através deles entre as nações de pessoas não
circuncidadas (v. 12). Depois disso, Tiago discutiu a profecia de Amós
9:11, mostrando que deveria haver um povo das nações chamado pelo o
nome de Jeová. Tanto as Escrituras quanto as ações do espírito de Deus
mostraram que pessoas das nações se tornaram cristãs sem nenhuma
exigência de circuncisão. Portanto, a decisão dos apóstolos e dos
anciãos sob a direção do espírito santo era de que a circuncisão não era
necessária.
Mas e as quatro coisas exigidas pelos judeus e pelo povo das
nações? Eles deveriam se abster de coisas sacrificadas a ídolos, de
113
sangue, de coisas estranguladas e de imoralidade sexual. Foi Tiago
quem mencionou esses quatro mandamentos, e pode parecer que essas
quatro coisas não tinham relação. Mas este não é o caso, como eu já
mostrei. O Salmo 36:9 diz: “Pois contigo está a fonte (bem) da vida.”
Visto que Deus criou a vida, ele é o dono da vida. Aos olhos de Deus, a
vida é sagrada, e isso significa que não pode ser usada para nada,
exceto para o que Deus decidiu. E, curiosamente, todos os quatro
mandamentos em Atos 15:29 são baseados no princípio da santidade da
vida. O sangue é a alma e representa a vida, e não pode ser usado para
nenhum outro fim, exceto no altar. Comer sangue ou [a carne de]
animais estrangulados, os quais não são sangrados, é uma violação da
santidade da vida. Deus quer que os filhos tenham o melhor ambiente
possível onde possam crescer, e isso é casamento. As relações sexuais
fora do casamento podem dar vida a filhos em um ambiente precário.
Portanto, essas relações sexuais violam a santidade da vida. Os animais
poderiam ser abatidos para alimentação, mas sem nenhum outro
objetivo. Matar um animal como sacrifício a ídolos viola a santidade de
sua vida.
Qual foi a base desses quatro mandamentos? Foi inspiração ou
direção? Visto que é dito que o espírito santo está por trás dos quatro
mandamentos, eles devem ter sido formados por inspiração. Em
Romanos 13:8–10, Paulo mostra que se amamos nosso próximo, muitos
dos dez mandamentos são necessários, porque esse amor nos leva a não
fazer o que os mandamentos proíbem. Mas esse argumento do amor
não pode ser usado em conexão com os quatro mandamentos em Atos
15:29. Isso mostra que esses quatro eram importantes e, como
mencionado, é natural que o espírito santo tenha desempenhado um
papel importante em conexão com esses mandamentos. Isso está de
acordo com 15:28, que mostra que os autores dos quatro mandamentos
eram "o espírito santo e nós".
Não há nada no capítulo 15 de Atos que indique a existência de
um corpo governante. O fato de os apóstolos e os anciãos serem
mencionados juntos não pode ser usado como argumento. Em Atos
15:4, a congregação de Jerusalém, os apóstolos e os anciãos são
mencionados juntos. E o versículo 22 (TNM15) diz que “os apóstolos e
os anciãos, junto com toda a congregação, decidiram enviar a Antioquia
114
homens escolhidos dentre eles”. Se as decisões dos apóstolos e dos
anciãos são usadas como argumento a favor de um corpo governante,
então o argumento pode ser usado com base nos versículos 4 e 22 de
que “toda a congregação” também fazia parte do corpo governante.
A reunião em Jerusalém provavelmente foi realizada no ano 49
EC., e ainda levavam cerca de 50 anos até que toda a Bíblia fosse
concluída. A discussão acima mostra que era o espírito santo, o
ajudante, que dirigia as congregações cristãs e não um grupo de homens
que governava, "o Corpo Governante".
Foi o espírito santo a fonte dos quatro
mandamentos apresentados na reunião em 49 EC.
Nenhum corpo governante pode ser identificado.

ERA O ESPÍRITO, NÃO UM “CORPO GOVERNANTE”, QUE


DIRECIONAVA A PREGAÇÃO
Os Atos dos Apóstolos apresentam parte da história das
congregações cristãs até meados da década de 60 dC. Nos relatos, não
há vestígios de um "Corpo Governante". Mas vemos que foi o espírito
santo que dirigiu a obra de pregação. A Tabela 3.2 apresenta uma lista
de passagens da NVI mostrando a direção do espírito santo na obra de
pregação.
Tabela 3: 2 O espírito santo dirigiu a obra de pregação

9:31 A igreja passava por um período de paz em toda a Judéia,


Galiléia e Samaria. Ela se edificava e, encorajada pelo
Espírito Santo, crescia em número, vivendo no temor do
Senhor.

13:2, 4 Enquanto adoravam ao Senhor e jejuavam, disse o


Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e Saulo para a obra
a que os tenho chamado”... Enviados pelo Espírito Santo,
desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.

16:6-10 Paulo e seus companheiros viajaram pela região da Frígia

115
e da Galácia, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de
pregar a palavra na província da Ásia. Quando chegaram à
fronteira da Mísia, tentaram entrar na Bitínia, mas o
Espírito de Jesus os impediu. Então, contornaram a Mísia
e desceram a Trôade. Durante a noite Paulo teve uma
visão, na qual um homem da Macedônia estava em pé e
lhe suplicava: "Passe à Macedônia e ajude-nos". Depois
que Paulo teve essa visão, preparamo-nos imediatamente
para partir para a Macedônia, concluindo que Deus nos
tinha chamado para lhes pregar o evangelho.

20:22, “Agora, compelido pelo Espírito, estou indo para


23 Jerusalém, sem saber o que me acontecerá ali, senão que,
em todas as cidades, o Espírito Santo me avisa que prisões
e sofrimentos me esperam.”

20:28 Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o


qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para
pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu
próprio sangue.

21:4 Encontrando os discípulos dali, ficamos com eles sete


dias. Eles, pelo Espírito, recomendavam a Paulo que não
fosse a Jerusalém.

21:11 Vindo ao nosso encontro, tomou o cinto de Paulo e,


amarrando as suas próprias mãos e pés, disse: “Assim diz
o Espírito Santo: ‘Desta maneira os judeus amarrarão o
dono deste cinto em Jerusalém e o entregarão aos
gentios’”.

Normalmente, as evidências negativas têm pouco peso. Mas se


houvesse um corpo governante, uma de suas ações mais importantes
seria dirigir a obra de pregação. Quando um corpo governante não é
mencionado em nenhuma passagem em Atos, mas vários passagens

116
mostram que era o espírito santo que dirigia a pregação, isso é uma boa
evidência contra a existência de um corpo governante.
Era o espírito santo, não um corpo governante
quem guiava a obra de pregação.

AS CONGREGAÇÕES E OS ANCIÃOS NO PRIMEIRO SÉCULO CE


Quando não havia um corpo governante no século I d.C., qual era
a estrutura das congregações? Cada congregação tinha um grupo de
anciãos. (1 Timóteo 5:17; Tiago 5:14) Esses anciãos foram designados
por outros anciãos com base em características particulares. (Tito 1:5; 1
Timóteo 3:1–7) Isso mostra que as congregações, em alguns aspectos,
eram teocráticas e não democráticas. A área com congregações cristãs
era vasta, e até que ponto era possível aos superintendentes viajantes
nomear anciãos em todas as congregações é uma questão em aberto. De
qualquer forma, os apóstolos e anciãos em Jerusalém não tiveram nada
a ver com a nomeação de anciãos em diferentes cidades.
Qual era a relação entre os os anciãos? As palavras de Jesus em
Mateus 23: 8–11 (NVI) deram o tom certo:
"Mas vocês não devem ser chamados ‘rabis’; um só é o mestre de vocês, e
todos vocês são irmãos. A ninguém na terra chamem ‘pai’, porque vocês só
têm um Pai, aquele que está nos céus. Tampouco vocês devem ser chamados
‘chefes’, porquanto vocês têm um só Chefe, o Cristo. O maior entre vocês
deverá ser servo. Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será
humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.”
Essas palavras mostram que todos os cristãos, incluindo os
apóstolos, devem assumir uma posição humilde e servir uns aos outros.
Nenhum cristão deve governar outros cristãos.
No entanto, quando as congregações cristãs foram estabelecidas,
os anciãos tiveram que assumir a liderança. Como deve ser o
relacionamento entre os anciãos e os membros da congregação? Em sua
advertência a seus colegas anciãos, Pedro disse, de acordo com 1 Pedro
5:2, 3 (TNM86):
Pastoreai o rebanho de Deus, que está aos vossos cuidados, não sob
compulsão, mas espontaneamente; nem por amor de ganho desonesto, mas
117
com anelo; 3 nem como que dominando sobre os que são a herança de Deus,
mas tornando-vos exemplos para o rebanho.
Os anciãos não devem "dominar aqueles que são a herança de
Deus". A palavra grega é katakyrieuō, e de acordo com BAGD, o
significado é "tornar-se mestre, ganhar domínio sobre, subjugar, ser
mestre, ser senhor de (sobre), governar". Portanto, os anciãos não
devem ser governantes ou governar a congregação.
A epístola aos hebreus tem algumas advertências para os
membros das congregações. Hebreus 13:7, 17 (TNM86) diz:
7
Lembrai-vos dos que tomam a dianteira entre vós, os que vos falaram a
palavra de Deus, e, ao contemplardes em que resulta a [sua] conduta, imitai
a [sua] fé.
17
Sede obedientes aos que tomam a dianteira entre vós e sede submissos,
pois vigiam sobre as vossas almas como quem há de prestar contas; para que
façam isso com alegria e não com suspiros, porque isso vos seria prejudicial.
As palavras “aqueles que tomam a dianteira” são o particípio
presente do verbo hēgeomai, e o significado desse verbo, de acordo
com o léxico mencionado, é: “liderar, guiar, pensar, considerar,
considerar.”37 As palavras em 13:7, 17 mostram que as pessoas
mencionadas eram membros das congregações dos hebreus. Portanto,
as palavras devem se referir aos anciãos dessas congregações.38
Os anciãos assumiriam a liderança em muitas ocasiões, incluindo
o ensino dos membros da congregação. Observamos que eles estavam
falando “a palavra de Deus” aos membros da congregação. Eles foram
advertidos a serem submissos quando os anciãos assumissem a
liderança. Mas os anciãos não devem “dominar” os membros da
congregação. Isso incluirá, é claro, que eles não devem “governar” suas
congregações, nem devem fazer mandamentos humanos que os
37
Mostro na página 183, sob o título “Excursão à semântica lexical”, que o
significado lexical de uma palavra é um conceito na mente dos falantes nativos. As
observações nos léxicos são apenas interpretativass, ou seja, as representações mais
comuns em inglês de uma palavra do idioma de origem. No entanto, uma ou duas
inrepretações podem estar próximas do significado principal de um conceito.
Quando uso a palavra "significado" com referência a um léxico, refiro-me a essas
interpretações.
38
Kingdom Ministry, 11, 1983, 3. (Em inglês)
118
membros da congregação devem seguir. Em vez disso, deveriam ser
exemplos que o rebanho poderia imitar.
Portanto, a conclusão é que a ideia de que alguns cristãos
deveriam governar outros cristãos não está apenas ausente do NT, mas
é contrária ao NT.

O “CORPO GOVERNANTE” NOS SÉCULOS XX E XXI


Um artigo em A Sentinela de 15 de fevereiro de 1994 foi
intitulado: “As Testemunhas de Jeová são um culto?” Em relação à
posição dos líderes, lemos na página 7:
É precisamente devido a essa estreita aderência aos ensinos bíblicos que não
se encontra entre as Testemunhas de Jeová a veneração e a idolatria de
líderes humanos, tão características das seitas hoje em dia. Elas rejeitam a
idéia duma distinção entre uma classe clerical e outra leiga. The
Encyclopedia of Religion declara apropriadamente sobre as Testemunhas de
Jeová: “Uma classe clerical e títulos de destaque são proibidos.”
Elas seguem a Jesus Cristo como seu Líder e Chefe da congregação cristã.
Foi Jesus que disse: “Não sejais chamados Rabi, pois um só é o vosso
instrutor, ao passo que todos vós sois irmãos. Além disso, não chameis a
ninguém na terra de vosso pai, pois um só é o vosso Pai, o Celestial.
Tampouco sejais chamados ‘líderes’, pois o vosso Líder é um só, o Cristo.”
— Mateus 23:8-12.
É claro que os membros do CG nem em 1994 nem hoje estão
sendo idolatrados. Mas e a veneração? Essa palavra é definida (em
inglês) como “um sentimento de profundo respeito ou reverência”; 39 “o
sentimento ou ato de venerar (= muito respeitoso) alguém ou alguma
coisa.”40 Enquanto N.H. Knorr (1905–1977) e F.W. Franz ( 1893-1992)
estava vivos, não havia foco naqueles que tomavam a dianteira. As
cartas às congregações eram assinadas pela Sociedade Torre de Vigia
de Bíblias e Tratados. E quando falávamos sobre o conteúdo dessas
cartas ou outras informações fornecidas, usávamos a expressão “a
Sociedade”. O Corpo Governante raramente era mencionado. Não me
lembro quanto tempo durou essa situação, mas acho que durou tanto
39
https://www.thefreedictionary.com/veneration.
40
https://dictionary.cambridge.org/dictionary/english/veneration.
119
quanto F. W. Franz viveu e durante todo o século 20. E, portanto, as
palavras do artigo são verdadeiras.
A situação hoje é muito diferente. Há um grande foco no CG e
em seus membros. As cartas às congregações, mesmo quando tratam de
assuntos menores, têm as seguintes palavras: “O Corpo Governante
decidiu. . . ”; “O Corpo Governante permitiu. . . ” E “o escravo fiel e
discreto” ou apenas “o escravo” é mencionado com muita frequência na
literatura recente.41 Por exemplo, no livro A Adoração de Jeová – é
Restaurada (2019, em português 2018), “o escravo fiel e discreto” / ”o
escravo fiel ”é mencionado 21 vezes.42 No livro Profecia de Isaías —
Uma Luz para Toda a Humanidade (2000 e 2001 em protuguês),
volumes I e II, “o escravo fiel” é mencionado quatro vezes.43 O Paraíso
Restabelecido Para a Humanidade — Pela Teocracia! (1972, em
português 1974), que contém uma discussão da profecia de Zacarias, e
no livro As Nações Terão de Saber que Eu Sou Jeová” — Como?
(1971, em português 1973), que contém uma discussão da profecia de
Ezequiel, "o escravo fiel" não é mencionado. Em A Sentinela, entre
2000 e 2019, contei 284 ocorrências de “escravo fiel e discreto; e no
Ministério do Reino entre 2000 e 2011, contei 38 ocorrências.
As palavras de Calvin Rouse, um representante da Sociedade
Torre de Vigia que citei na introdução, ilustram a situação: "Somos
uma religião hierárquica estruturada como a Igreja Católica".
Essas palavras não se referem apenas à nomeação de anciãos, que
foi o problema no caso em que Rouse pronunciou as palavras, mas
estão relacionadas a todos os outros lados da organização. Hoje, os
membros do CG têm todo o poder entre as Testemunhas de Jeová. Eles
tomam quase todas as decisões, incluindo a elaboração de regras que
não são mencionadas na Bíblia, e deram a si mesmos o poder sobre os

41
Nenhum membro do CG conhece os idiomas originais da Bíblia. No entanto, os
tradutores do TNM15 precisavam da aprovação do CG para a tradução de "Sheol" e
"Hades" como "o túmulo" e por usarem muitas palavras diferentes em vez de
"alma". A Sentinela de 15 de dezembro de 2015, páginas 11 e 12.
42
Páginas 89(2), 91(2), 102, 103, 107(2), 118(2), 119, 124, 128(4), 156, 158, 208, 222,
225. (Na edição em inglês)
43
Volume I, nas páginas 223, 311; volume II, nas páginas 229, 318 (em inglês).
120
bens e o dinheiro das congregações. Portanto, não há dúvida de que o
CG e seus representantes funcionam como uma classe clerical. E as
expressões “o Corpo Governante” e “o escravo fiel e discreto” ou “o
escravo fiel” ou apenas “o escravo” são usadas com tanta frequência e
com tanta autoridade que podem ser comparadas com os títulos dos
Papa ou o clero católico.
Os membros das Testemunhas de Jeová geralmente consideram o
CG como mais autoritário do que os católicos vêem o Papa, e o CG tem
mais poder sobre as Testemunhas do que o Papa sobre os católicos.
Portanto, hoje, devemos dizer que claramente existe uma veneração do
CG e de seus membros. Em outras palavras, hoje a organização das
Testemunhas de Jeová é claramente autocrática e ditatorial, e isso
contradiz as palavras do artigo de 15 de fevereiro de 1994, que é
mencionado acima, e a Bíblia. Além disso, como mostrarei a seguir, os
artigos da A Sentinela pós a Segunda Guerra Mundial condenaram
fortemente uma estrutura organizacional como a atual.
Dissertação sobre a visão da organização em 1946
A visão da organização em meados do século 20 era o oposto
diametral da visão atual descrita acima. O artigo “Que Deus prove ser
verdadeiro” em A Sentinela de 1 de novembro de 1946 (em inglês),
páginas 330–332, mostra o contraste entre a hierárquica Igreja
Católica e a organização cristã das Testemunhas de Jeová. Abaixo está
uma citação longa.
A Palavra escrita de Deus, portanto, não precisa da adição de tradições
que são interpretações particulares dos homens e das organizações
religiosas. Não é por nossa própria autoridade que dizemos que a Bíblia
é suficiente sem isso (2 Tim. 3:15–17, Douay) se as tradições orais dos
homens religiosos fossem necessárias para complementar o cânon da
Bíblia, Paulo não teria dito que as Escrituras Sagradas inspiradas eram
proveitosas a ponto de tornar os homens perfeitos na fé e devoção a
Deus...
Agora, um argumento final é disparado contra nós por aqueles que
defendem uma organização eclesiástica ou hierárquica. Eles dizem:
‘Mesmo eliminando as tradições religiosas, a Bíblia não pode ser
deixada para cada leitor interpretar por si mesmo; ainda precisamos da
organização visível dos fiéis para atuar como um “magistério vivo” ou
poder de ensino, a fim de interpretar a Bíblia e deixar clara a vontade de
121
Deus a partir dela. Veja como a Bíblia, deixada à interpretação
individual de cada um, resultou na condição religiosamente dividida do
protestantismo.’ Para isso dizemos, a multidão de seitas e cultos do
protestantismo não é nenhuma prova de que Bíblia é uma força
divisória para aqueles que a tomam. e sozinhos, como adequado. A
Bíblia não é um livro divisivo, pois é harmonioso de capa a capa e
concorda consigo mesmo, em todos os seus livros canônicos. A força
divisória entre os religiosos católicos e protestantes da cristandade são
as tradições religiosas que eles seguem. A verdade da Bíblia é um poder
unificador. Depois que Cristo Jesus orou: “Santifica-os com a tua
palavra: a tua palavra é a verdade”, ele imediatamente orou para que
todos os seus crentes, aqueles que o seguiam e os que ainda cressem,
deveriam se unir em um, assim como ele e seu Pai celestial são um.
(João 17:17–23) É agora que essa unidade cristã deve ser alcançada;
agora, neste fim do mundo. Isso foi alcançado pelas Testemunhas de
Jeová, que surgiram de dentro e de fora da multidão de organizações
religiosas e que agora se unem no serviço de Deus, apesar de suas
antigas divergências religiosas.
Como é isso? Como a desunião sobre a interpretação individual de
cada um das Escrituras Sagradas agora é superada e evitada? É
porque eles estão unidos em torno de uma organização humana visível
ou em torno de um líder humano visível? A resposta é não. É porque
eles reconhecem a Jeová Deus e a Cristo Jesus como os Poderes
Superiores a quem toda alma cristã deve estar sujeita por causa da
consciência. (Rom 13:1) É porque eles reconhecem a Jeová Deus como
o Deus verdadeiro e vivo, o Altíssimo ou o Supremo, e Cristo Jesus
como Seu Rei ungido e Servo Eleito, a quem Jeová nomeou como Líder
e Comandante da povos. (Isa. 42: 1; 55: 3, 4: Mat. 12:18; Atos 13:34) É
também porque eles reconhecem Jeová Deus como o vivo e sempre
presente Instrutor de Sua igreja na Terra, e que ele ensina a “igreja de
Deus” através do seu Cabeça, Cristo Jesus. - Isa. 54:13; João 6:45.
Portanto, as Testemunhas de Jeová não afirmam que a igreja é o que a
Hierarquia religiosa afirma ser sua organização religiosa, a saber,
aquela que detém o magistério ou escritório de ensino e, portanto, “o
Detentor e Intérprete da Bíblia divinamente nomeado” e cujo “cargo
de Guia infalível seria supérfluo se cada indivíduo pudesse interpretar
a Bíblia por si próprio”. (Meu itálico.) Em vez de seguir essa tradição
religiosa da Hierarquia, aqueles que reconhecem a autoridade superior
de Jeová Deus e Cristo Jesus receberão a declaração inspirada e
infalível do apóstolo de Timóteo a respeito da igreja. É o que se lê:
“Você pode saber como deve se comportar na casa de Deus, que é a

122
igreja do Deus vivo, o pilar e a base da verdade.” - 1 Tim. 3:15, Douay.
(Em inglês)
Portanto, como um pilar, a igreja do Deus vivo Jeová deve sustentar e
mostrar a verdade. A a verdade, disse Jesus, é a Palavra de Deus. Ela
deve ser um sinal e testemunha da verdade de Deus. (Isa. 19:19, 20)
Ela, a igreja de Deus, deve defender e apoiar a verdade de Sua Palavra,
e não ser o depositário das tradições religiosas dos homens. Ela não é a
instrutora dos servos e testemunhas de Deus, mas olha para Deus como
o instrutor de Cristo Jesus. Como está escrito para seu benefício: “E
todos os teus filhos serão ensinados por Jeová.” (Isa 54:13, A.S.V .;
João 6:45) (Meus itálicos.)
Os últimos dias da igreja na Terra, neste fim do mundo, caem naquele
período da história da humanidade, quando Jeová Deus permanece
firme em sua própria palavra para provar que é verdadeiro. Ele dá a
prova cumprindo a Bíblia e suas profecias, e assim, fornecendo a
interpretação oficial dela. Então, o espírito santo de Jeová divulga essa
interpretação que está cumprida na Bíblia. Ao aceitar tal interpretação, a
verdadeira igreja se protege contra a interpretação individual e
privada. . . .
Na iminente batalha do Armagedom que entre Sua organização
universal e a organização mundial de Satanás, Jeová. por Cristo Jesus.
provará ainda mais que ele é verdadeiro. Ele dará a interpretação oficial
à sua Palavra escrita, cumprindo-a, e assim, fará com que seus inimigos
vejam que a “Sua palavra é verdade”.
Se a visão deste artigo fosse mantida pela organização hoje, não
haveria nenhum autoritário CG. O foco [da revista] está em Jeová
Deus e Jesus Cristo e não na organização nem nas pessoas. As TJs
negaram que sua organização fosse ‘a Detendora e Intérprete da
Bíblia, divinamente nomeada’, ou ‘a instrutora dos servos e
testemunhas de Deus’. Isso contrasta fortemente com o foco atual nos
oito homens que muitos acreditam serem escravos fiéis e que se
acredita serem designados como “o intérprete da Bíblia” e “o instrutor
dos servos e testemunhas de Deus”. A diferença entre a visão de 1946
e a atual é enorme!
A visão de que Jeová e Cristo Jesus foram os intérpretes pode ter
dois lados. Primeiro, as doutrinas básicas da Bíblia são encontradas
em todo o livro. Quando um artigo de A Sentinela apresentava as
diferentes escrituras que tratam de uma doutrina, os leitores eram
convidados a 'examinar cuidadosamente as escrituras' (Atos 17:11) e
123
tirar suas próprias conclusões. Como Jeová inspirou a Bíblia com
doutrinas claras que todos podem estudar, ele é o intérprete da Bíblia.
Segundo, quando as profecias da Bíblia são cumpridas, Jeová é o
intérprete porque ele as inspirou. Eu uso o seguinte exemplo: A
Assembléia Teocrática do Novo Mundo foi realizada em Cleveland,
em Ohio, nos EUA, em 1942. O livro Testemunhas de Jeová -
Proclamadores do Reino de Deus (em português), página 93. diz:
No último dia da assembléia, o irmão Knorr proferiu o discurso “Paz
— Pode Durar?”. Apresentou uma poderosa evidência, baseada em
Revelação (Apocalipse) 17:8, de que a Segunda Guerra Mundial, então
em pleno andamento, não culminaria no Armagedom, como alguns
pensavam, mas que a guerra terminaria e haveria um período de paz.
A guerra terminou em 1945, e a fera, que é o oitavo rei
(Apocalipse 17:10, 11), ascendeu do abismo. As profecias que N. H.
Knorr abordou foram inspiradas por Deus. Quando essas profecias se
cumpriram diante dos olhos dos servos de Deus, foi Jeová quem
interpretou suas próprias profecias.
E, curiosamente, o entendimento das doutrinas e profecias da
Bíblia foi baseado em como Deus manobrou a situação, que é muito
semelhante à direção usada no século I d.C., descrita nas páginas 92–
94.

Existem dois fatores que aparentemente podem contradizer a


visão de A Sentinela de 1946, que é apresentada acima, a saber, que
existe um corpo diretivo para as Testemunhas de Jeová e um "escravo
fiel e discreto" que fornece alimento espiritual no momento apropriado.
A seguir, é apresentada uma dissertação sobre essas questões.

Dissertação sobre “O Corpo Governante”, “o escravo”, e a


visão da organização em 1946
A primeira vez que o CG é mencionado é em A Sentinela de 1944,
página 315. (em inglês) Como a visão de 1946, de que a organização não
é a intérprete da Bíblia e a intrutora dos servos e testemunhas de Deus,
deve estar em conformidade com a existência de um corpo governante ?
Abaixo estão algumas citações mostrando a visão do CG a partir de

124
1946.
De acordo com o arranjo teocrático de hoje, deve haver um corpo
governante para a congregação das Testemunhas de Jeová em toda a terra.
Os fatos mostram que eles estão associados à Sociedade de Bíblias e
Tratados da Torre de Vigia. (Meu itálico.) (A Sentinela de 1950, página
448 em inglês)
O corpo governante teocrático de hoje inclui homens mais velhos e
espiritualmente qualificados do remanescente ungido [Pergunta no
parágrafo 16:] Com o que o corpo governante está intimamente associado
e como é prolongada a sua extensão por toda a terra? 16 Sendo adaptada às
condições e exigências modernas e obrigada a dar a César às coisas de
César, a organização teocrática visível hoje possui uma agência de
serviços legalmente estabelecida, a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e
Tratados, incorporada em 1884 pelas leis da Pensilvânia, Estados Unidos
da América. América. (Meu itálico.) (A Sentinela de 1954, página 532 em
inglês)
Durante os anos desde que o Senhor chegou ao templo, o visível corpo
governante foi intimamente identificado com o conselho de administração
desta corporação. Isso, no entanto, não significa que a corporação em si
seja o órgão de governo visível, pois, se nenhuma corporação existisse, a
congregação de Deus com sua estrutura organizacional ainda existiria.
(Qualificado para ser ministro, 1955, 354 em inglês)
Como antes, agora é um prazer para a liderança divina estabelecer um
corpo diretivo central, que serve e governa as Testemunhas de Jeová em
toda a terra. (Meu itálico.) (A Sentinela de 1958, página 434 em inglês)
O visível corpo governante da organização de Jeová também recebeu
autoridade d’Ele para dirigir a obra de Seus adoradores na Terra neste
momento. (Mat. 24: 45–47) A congregação e seus superintendentes
mostram sua visão correta da autoridade, aceitando de bom grado o
conselho fornecido por meio da página impressa, das cartas ou de seus
representantes viajantes. (Meu itálico.) (A Sentinela de 1972, página 272
em inglês)
No entanto, como a Sociedade era o agente editorial usado para fornecer
às Testemunhas de Jeová literatura que continha iluminação espiritual, o
Corpo Governante estava logicamente e, por necessidade, intimamente
associado aos oficiais e diretores dessa Sociedade legal. (Meu itálico.)
(Testemunhas de Jeová - Proclamadores do Reino de Deus, 1993, página
228),
Quando analisamos as citações acima, vemos que a identidade dos
125
membros do CG era vaga. Diz-se que são homens ungidos, e o CG é
associado à Sociedade Torre de Vigia e usa essa Sociedade no trabalho
de governo e como uma agência de serviços. O livro Proclamadores não
identifica o CG em termos claros. Mas usa as palavras “logicamente e
por necessidade” (em inglês). A conclusão natural a ser tirada de todas
as vagas descrições é que, antes de 1971, não havia um grupo de homens
ungidos que tinham reuniões e tomavam decisões como um corpo
governante. O Corpo Governante era, para todos os efeitos práticos,
idêntico à Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados da
Pensilvânia, e os homens ungidos mencionados eram os homens dentro
da Sociedade Torre de Vigia que tomavam decisões. Esses homens
incluíam N. H. Knorr, F. W. Franz, A. D. Schröder e M. Henschel.
Como o CG “governou” as testemunhas de Jeová até 1971? Não
conheço nenhum “governo”, exceto a atividade da Sociedade Torre de
Vigia. Os anciãos e os servidores ministeriais foram nomeados pela
Sociedade Torre de Vigia, e os programas para assembleias e reuniões
foram feitos pela Sociedade. Livros e revistas também foram publicados
pela Society. O livreto Instruções Organizacionais para Publicadores
do Reino (1945 título e ano em inglês) e o livro Sua Palavra é uma
Lâmpada para os Meus Pés (1967 – título e ano em inglês) tratavam da
organização. Todos esses arranjos eram baseados na Bíblia e regulavam
a vida nas congregações - mandamentos humanos não foram feitos. As
Testemunhas de Jeová nas congregações não sentiam que eram
“governadas” de forma alguma. As poucas cartas que chegaram às
congregações foram assinadas pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias
e Tratados. Nessas cartas, a organização referia a si mesmos como “A
sociedade” e, quando nos referíamos à organização, também usávamos a
expressão “A Sociedade”.
No entanto, a carta às comissões da congregação de 1 de dezembro
de 1971, descrevendo o novo arranjo de anciãos, é assinada pelo Corpo
Governante das Testemunhas de Jeová. (Veja a figura 3.1 abaixo) Essa
assinatura, que vi pela primeira vez, me impressionou e tenho certeza de
que o CG não havia sido mencionado em cartas da Sociedade Torre de
Vigia de 1963, quando me tornei ancião e lia as cartas da Sociedade, até
esta carta em 1971. Além disso, depois disso, as cartas continuaram a ser
assinadas pela “Sociedade Torre de Vigia” até 2002. Fiz uma pesquisa
na literatura da Torre de Vigia e descobri que a expressão “Corpo
Governante” era usada 27 vezes por ano entre 2000 e 2019, em
126
comparação com cinco vezes por ano entre
1944 e 1970. Devido a esse forte foco no CG no século 21, a posição do
CG também é forte nas mentes da maioria das Testemunhas hoje.
O escravo fiel e discreto foi discutido no capítulo anterior, e a
identidade do “escravo” era clara: todos os homens e mulheres ungidos
que lideravam a pregação das boas novas do Reino constituíam o
“escravo” coletivo. No entanto, a maioria delas não tinha nada a ver com
a organização da comunidade mundial das Testemunhas de Jeová, nem
com a produção de literatura e os programas para reuniões e
assembleias. Portanto, temos a mesma situação em relação ao “escravo”
e em relação ao CG: os principais homens ungidos da Sociedade Torre
de Vigia representavam todos os homens e mulheres ungidos que
constituíam “o escravo fiel e discreto”.
A questão importante é a seguinte: como as TJs antes de 1971
acreditavam que havia um escravo fiel e discreto que dava alimento
espiritual no tempo determinado e um corpo governante que não era “o
Detentor e Intérprete da Bíblia divinamente nomeado” e ‘o intrutor dos
servos e testemunhas de Deus’? A Sentinela de 1947, página 199, diz:
No entanto, a classe “servo fiel e sábio” é recompensada agora mesmo
nesta terra enquanto eles estão na carne. Eles são designados para serem o
servo visível com quem Jeová Deus lida por Cristo Jesus e por meio de
quem, portanto, Deus realiza sua obra de testemunha do Reino na terra.
Eles são feitos seu canal visível, e sob Cristo Jesus, seu Cabeça, recebem
o “alimento no tempo devido”, todas as verdades do Reino reveladas de
tempos em tempos, para que possam ministrar isso a toda a família de
filhos de Deus e todas as pessoas consagradas de boa vontade em todas as
nações deste mundo. (Sal. 75: 6, 7; Lucas 12: 42–44)
Essas palavras concordam com a visão da organização de 1946,
discutida acima. O “servo fiel e sábio” (= escravo) funciona como canal
de Deus, espalhando a mensagem do Reino e ministrando as verdades
do Reino à casa de Deus e às pessoas de boa vontade. Mas observamos
que os membros do “escravo” recebem essas verdades do Reino, o
“alimento no tempo devido”. E, como já discutido, isso funciona de duas
maneiras: 1) Deus inspirou a Bíblia com suas doutrinas básicas e 2) Ele
cumpre suas profecias e, com isso, as interpreta, e essas informações são
apresentadas na literatura da Torre de Vigia Sociedade. É o mesmo que
a direção que Deus usou no primeiro século EC: Deus manobrou uma
situação em uma certa direção. E seus servos de mentalidade espiritual
127
chegariam a uma certa conclusão, como no trato de Pedro com Cornélio
(ver as páginas XX). Isso significa que a organização não é “a intérprete
da Bíblia e a instrutora dos servos e testemunhas de Deus”, como disse
A Sentinela de 1946. Mas a organização é dirigida por Deus para
entender sua Palavra.
Figura 3: 1 A assinatura na carta de 25 de outubro de 1971 (acima) e de 1 de dezembro de 1971
(abaixo)

Há quanto tempo

devem interpretar a Bíblia? A Sentinela de 1952, página 80, parágrafo


10 (em inglês) diz:
Jeová Deus lida com seu povo como uma classe de servos. Ele não
alimenta cada um individualmente nem designa um indivíduo sobre
eles. Nenhum estudante individual da Palavra de Deus revela a
vontade de Deus ou interpreta Sua Palavra. (2 Ped.1: 20, 21) Deus
interpreta e ensina, por meio de Cristo, o Servo Principal, que por sua
vez usa o escravo discreto como canal visível, a organização teocrática
visível.

O “escravo discreto” era visto como todas as Testemunhas


ungidas na terra. Eles eram uma turma e foi enfatizado que Deus não
havia designado ninguém sobre seus servos e Testemunhas - Deus era o
instrutor. A Despertai! de 22 de julho de 1955 (em inglês), p. 25 diz:
128
Se sempre tivermos em mente que a verdade é de Deus, e não do
homem, e que ninguém pode interpretar a profecia, mas que o
verdadeiro seguidor do Senhor Jesus pode vê-la depois de
cumprida. . . .

Que nenhum homem, mas apenas Deus, era o intérprete de sua


Palavra profética também foi o que aprendi quando comecei a estudar a
Bíblia em 1961. E essa visão também fazia parte da minha pregação por
muitos anos. Devemos lembrar que, depois da Segunda Guerra
Mundial, N. H. Knorr e F. W. Franz foram os irmãos principais, e o
estilo dos artigos de 1946 e 1952 sugere que Franz foi o escritor. Os
dois irmãos que tomavam a dianteira claramente não mudaram de ideia
sobre o papel de Deus como intérprete da Bíblia. E estou certo de que
nenhum membro do CG sugeriria mudar essa visão antes da morte de
Franz em 1992.

No entanto, à medida que os membros do CG transferiam cada


vez mais poder para si mesmos, a posição do CG como intérprete da
palavra de Deus e como governo da TJs também se tornava cada vez
mais clara. Em contraste com as palavras de A Sentinela de 1952, que
Deus “não designa um indivíduo sobre eles [seu povo]”, diz A
Sentinela (em português) de 15 de fevereiro de 2009, página 26:
Além do mais, Jesus Cristo designou o escravo fiel e discreto “sobre
todos os seus bens”, ou seja, todos os interesses do Reino na Terra.
(Mat. 24:47) Esses bens incluem as instalações na sede mundial das
Testemunhas de Jeová, nas filiais e congêneres em muitos países, nos
Salões de Assembléias e Salões do Reino em todo o mundo. Incluem
também a obra de pregar o Reino e fazer discípulos.

Os únicos nomes dos líderes das TJs que algumas Testemunhas


de Jeová conheciam na década de 1960 eram N. H. Knorr, como
presidente da Sociedade Torre de Vigia, e o vice-presidente F. W.
Franz. Seus nomes eram conhecidos porque eles davam palestras em
assembleias internacionais. Mas como pessoas, eles se mantinham em
segundo plano. Além disso, a citação de A Sentinela de 1952 dizia que
nenhum indivíduo era nomeado sobre as Testemunhas de Jeová. E os
nomes dos milhares que pertenciam à “classe do escravo” não eram
129
conhecidos. O foco estava em Jeová Deus e em Cristo Jesus, e essa
situação durou muitos anos depois que o primeiro Corpo Governante
foi instituído em 1971.

No entanto, na última parte do século 20, paralelamente à visão


de que Deus era o único intérprete das Escrituras Sagradas, os membros
da CG deram cada vez mais poder a si mesmos. E para todos os fins
práticos, desde o início do século XXI, o CG funcionou como “um
intérprete da Bíblia e um instrutor para os servos e testemunhas de
Deus”.

O primeiro passo explícito da visão de 1946, de que Deus, e não


os homens, era o único intérprete da Bíblia, é visto no livro Achegue-se
a Jeová de 2002, página 312:
Jeová também fala conosco por meio do “escravo fiel e discreto”.
Como Jesus predisse, um pequeno grupo de homens cristãos ungidos
foi designado para fornecer “alimento no tempo apropriado” durante
estes turbulentos últimos dias. (Mateus 24:45-47) Quando lemos
publicações preparadas para nos ajudar a obter conhecimento exato da
Bíblia e quando assistimos a reuniões e congressos cristãos, estamos
recebendo alimento espiritual desse escravo. Visto que se trata do
escravo de Cristo, convém pôr em prática as palavras de Jesus:
“Prestai atenção a como escutais.” (Lucas 8:18) Escutamos com
atenção porque reconhecemos que o escravo fiel é um dos meios que
Jeová usa para se comunicar conosco.

A visão dos dias dos estudantes da Bíblia no século 19 de que “o


escravo fiel e discreto” se referia a todos os cristãos ungidos, incluindo
homens e mulheres, agora foi mudada. As palavras “um pequeno grupo
de homens cristãos ungidos” representam uma nova visão da identidade
do “escravo”, e essa visão foi explicitamente declarada em A Sentinela
de 15 de julho de 2013, página 22. Este artigo identifica os membros do
CG como “o escravo fiel e discreto”:
Quem, então, é o escravo fiel e discreto? Em harmonia com o padrão
de Jesus de alimentar muitos pelas mãos de poucos, esse escravo se
compõe de um pequeno grupo de irmãos ungidos diretamente
envolvidos na preparação e distribuição de alimento espiritual
130
durante a presença de Cristo. (O itálico é do artigo original) No
decorrer dos últimos dias, os irmãos ungidos que compõem o escravo
fiel têm servido juntos na sede mundial. Em décadas recentes, esse
escravo tem sido composto do Corpo Governante das Testemunhas de
Jeová. (O itálico é meu) Note, porém, que embora o escravo seja
composto de mais de uma pessoa ele é descrito na ilustração de Jesus
como apenas um escravo. (O itálico é do artigo original) Assim, as
decisões do Corpo Governante são tomadas coletivamente.
Em 1919. . . Jesus selecionou dentre eles irmãos ungidos capazes
para ser o escravo fiel e discreto. . . (O itálico é meu)
A posição de intrutores, que em A Sentinela de 1946 era
reservada para Jeová Deus e Jesus Cristo, agora era ocupada por oito
homens, cujos nomes eram conhecidos e que acreditavam que eles
foram designados por Deus para servir como instrutores e governantes
das Testemunhas de Jeová. Isso é visto na razão que eles deram para
sua nomeação como escravo fiel e discreto.
escravo se compõe de um pequeno grupo de irmãos ungidos
diretamente envolvidos na preparação e distribuição de alimento
espiritual durante a presença de Cristo.

Os oito membros do CG agora, ao contrário das palavras de A


Sentinela de 1946 e 1952, haviam assumido uma posição sobre os
servos e testemunhas de Deus para atuarem como instrutores. Eles se
mantiveram em primeiro plano e seus nomes são conhecidos pela
maioria das Testemunhas de Jeová.

O segundo afastamento explícito da visão de 1946 foi


apresentado em A Sentinela de 15 de março de 2015, páginas 7–11. O
critério apresentado para considerar um tipo profético indica que a
maioria dos relatos nas Escrituras Hebraicas que eram vistos como
tipos proféticos não eram proféticos.44 A razão dada em 1946 sobre por
que Deus é o intérprete de textos proféticos é que Deus inspirou as
profecias da Bíblia e, quando ele também cumpriu as profecias, deu
uma interpretação oficial dessas profecias. Se a maioria dos tipos

44
Esta questão é discutida em detalhes a partir da página XX e mostra-se que o
raciocínio do CG está errado.
131
proféticos não era profética, Deus não poderia cumprir essas profecias,
e com isso [não poderia] interpretá-las e mostrar que ele era o
verdadeiro Deus.

O terceiro passo explícito da visão de 1946 foi a introdução de


uma nova visão da Bíblia que mina a visão da inspiração da Bíblia que
fora mantida por 120 anos. Além disso, um novo método de
interpretação alegórica foi introduzido. Isso também é expresso em A
Sentinela de 15 de março de 2015 (em português), página 11:
12
Devemos concluir que as passagens bíblicas têm apenas uma
aplicação prática e nenhum outro significado? Não. Hoje é mais
comum nossas publicações dizerem que uma coisa lembra [em inglês
“nos lembra”] ou ilustra outra. É menos provável que elas coloquem
relatos bíblicos numa estrutura inflexível de tipos e antítipos. (Os
itálicos são meus)

A nova visão da Bíblia era, de acordo com o artigo, que um


grande número de relatos nas Escrituras Hebraicas não são proféticos e
não têm nenhum significado direto para nós hoje. E em conexão com
essa visão, um elemento extra-bíblico foi introduzido: Relatos
diferentes nas Escrituras Hebraicas lembravam o CG de algo. E esses
lembretes seriam apresentados em A Sentinela e em outras literaturas
como “alimento no tempo apropriado”.45 Esses lembretes foram
produzidos na mente dos membros do CG.
Isso significa que não apenas a visão de que Deus é o único
intérprete de sua Palavra foi abandonada, mas esse também foi o caso
com a visão de que os humanos não podem analisar a Palavra de Deus e
entendê-la. Um novo elemento em adição texto da Bíblia foi
introduzido, a saber, as mentes dos membros do CG. A comunicação de
Deus com as Testemunhas de Jeová passou a ser aquilo que os
membros do CG lembram ao ler a Bíblia. Esses lembretes tem sido
impressos em A Sentinela e em outras literaturas, e é isso que as
Testemunhas de Jeová devem estudar. Com isso, a autoridade de ensino

45
Uma discussão detalhada sobre esse assunto é encontrada nas páginas XX.
132
foi transferida do texto da Bíblia para humanos, para os membros do
CG. Um exemplo claro disso é o livro A Adoração Pura de Jeová –
Finalmente Restaurada. Foi dito sobre esse livro: “nós passamos a
entender melhor certas profecias de Ezequiel”. (página 2). Porém,
grande parte do livro não é uma análise do texto de Ezequiel, mas uma
apresentação do que esse texto lembra aos membros do CG. O capítulo
6 apresenta uma discussão detalhada deste livro.

1947 O escravo fiel e discreto é idêntico ao remanescente dos cristãos


ungidos, homens e mulheres.
2002 O escravo fiel e discreto é idêntico a um pequeno grupo de homens
ungidos.
2013 O escravo fiel e discreto é idêntico aos oito homens ungidos do
Corpo Governante.
1946, 1952, 1955 A organização das Testemunhas de Jeová não é o
intérprete divinamente designado da Bíblia e instrutor para os servos de
Deus - Deus é o intérprete e o instrutor.
2002 O escravo fiel e discreto foi designado para preparar alimento
espiritual e para ser o meio de Jeová se comunicar com seu povo.
2013 Os oito homens do CG estão diretamente envolvidos na preparação
e distribuição do alimento espiritual.
2015 Os pensamentos nas mentes dos oito homens – aquilo do que os
relatos da Bíblia os lembram - são apresentados como alimento
espiritual.
___________
1952 Deus não designa nenhum indivíduo sobre seu povo.
2009 Um pequeno grupo de homens ungidos é designado sobre o povo
de Deus e todos os interesses do Reino na Terra.

A ORGANIZAÇÃO ENTRE OS ANOS 1919 E 1971

133
De 1879 a 1938, as congregações dos Estudantes da Bíblia, que
adotaram o nome de Testemunhas de Jeová em 1931, eram
democráticas. Os anciãos, por exemplo, eram votados pelos membros
da congregação. Isso criou alguns problemas porque os membros das
congregações não faziam a escolha dos anciãos com base nos requisitos
descritos por Paulo. Em 1938, a situação mudou e, a partir de então, os
servos (anciãos) nas congregações passaram a ser nomeados pela
Sociedade Torre de Vigia. No entanto, o arranjo organizacional ainda
não estava de acordo com a Bíblia, porque havia um homem
responsável pela Sociedade Torre de Vigia - J. F. Rutherford até 1941 e
N. H. Knorr de 1941 a 1971 - e havia um homem - o servo da
congregação - que era responsável por cada congregação.

A primeira vez que as palavras “corpo governante” são usadas na


literatura está em A Sentinela de 1944, página 315. O artigo discute
Atos capítulo 15 e argumenta que os apóstolos e os anciãos em
Jerusalém funcionavam como um “corpo governante”. Então o artigo
diz:
Para ser organizado para o trabalho final nestes últimos dias, também
deve haver um corpo governante sob Cristo.

A Sentinela de 1 de novembro de 1944 discute a organização


teocrática. O artigo refere-se à revista A Sentinela de Sião e a Arauto da
Presença de Cristo, a partir de 1879. Com relação a esta revista, o artigo
diz:
Mas os que buscam genuinamente o cristianismo encontraram em suas
páginas o alimento espiritual que sacia a fome que tornava a Bíblia
cada vez mais compreensível; e eles olharam para o Senhor Deus e
seu servo principal, Jesus Cristo, para lhes fornecer mais “carne no
devido tempo” através de suas páginas e colunas. E Jeová Deus fez
isso, até essa questão. Razoavelmente, aqueles a quem foi confiada a
publicação das verdades bíblicas reveladas eram vistos como o corpo
governante escolhido pelo Senhor para guiar todos aqueles que
desejavam adorar a Deus em espírito e verdade e para servi-lo unidos
na difusão dessas verdades reveladas a outras pessoas famintas. e
sedentas. No entanto, o princípio teocrático de governo e organização
não era claramente discernido lá atrás, e uma organização e operação
134
mais ou menos democrática de grupos de cristãos consagrados era
permitida e praticada.46 (O itálico é meu).

A Sentinela de 15 de dezembro de 1971 (Em português: 1 de


junho de 1972 , páginas 344-345) expressa a mesma opinião da citação
acima: O CG foi associado à Torre de Vigia de Sião. No entanto,
observamos que não havia um grupo definido com um número finito de
membros que se dizia ser o CG.
Como surgiu este como governante em tempos recentes?
Evidentemente sob a direção de Jeová Deus e seu Filho Jesus Cristo.
Segundo os fatos disponíveis, o corpo governante chegou a estar
associado com a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de
Pensilvânia. C. T. Russell fazia manifestamente parte daquele corpo
governante lá no último quarto do século dezenove. Estando
plenamente dedicado a Deus por Cristo, pôs-se a gastar tempo,
energias, capacidades, bens e influência para defender a Palavra
inspirada de Deus e divulgar a sua mensagem. Para este fim, começou
a publicar a Torre de Vigia de Sião lá em julho de 1879, crendo que
isto tinha o apoio de Jeová, conforme disse nas colunas dela, e por
isso não solicitaria dinheiro. Manifestou ter as qualificações dum
superintendente especificadas em 1 Timóteo 3:1-7 e Tito 1:5-9, e por
isso lhe pediu a congregação dos estudantes cristãos da Bíblia, em
Allegheny, que servisse como seu pastor espiritual. Cinco anos depois,
foi constituída legalmente a Sociedade de Tratados da Torre de Vigia
de Sião, e ela serviu como “agência” para prover alimento espiritual a
milhares de pessoas sinceras que procuravam conhecer a Deus,
compreender a sua Palavra e entrar em relações com Ele, mediante
Cristo. (O itálico é meu)

Outros cristãos dedicados, batizados e ungidos vieram a associar-se


com aquela Sociedade, na sua sede em Pensilvânia. Quer fizessem
parte da Diretoria, quer não, colocavam-se à disposição para trabalho
especial da classe do “escravo fiel e discreto”. Ajudavam na
alimentação na direção da classe escrava, e assim surgiu um corpo
governante. Isto aconteceu evidentemente sob a orientação da força
ativa invisível ou do espírito santo de Jeová. Deu-se também sob a
direção da Cabeça da congregação cristã, Jesus Cristo, o Filho de

46
A Sentinela de 1944, p. 331 em inglês.
135
Deus. É verdade que os membros daquele corpo governante não
foram designados diretamente pelo Senhor Jesus Cristo. Quanto a
isso, nem todos os membros do corpo governante associados com a
congregação de Jerusalém, no primeiro século, foram assim
designados diretamente. Então, como foram feitos membros do corpo
governante aqueles “anciãos” da congregação de Jerusalém, que não
estavam entre os doze apóstolos? Evidentemente, por serem
designados pelos doze apóstolos originais, que agiam sob a
orientação do espírito santo de Jeová. (O itálico é meu)

Isto é ilustrado pela ação daqueles doze apóstolos quando designaram


Estêvão, Filipe e mais cinco homens para cuidarem de certa
incumbência da congregação de Jerusalém. (Atos 6:1-8) Também, o
apóstolo Paulo salientou nas suas observações aos anciãos da
congregação de Éfeso que os superintendentes do rebanho de ovelhas
espirituais de Deus foram designados pelo espírito santo de Deus.
(Atos 20:28) Assim, também, embora não estivesse presente nenhum
dos apóstolos de Cristo, no século dezenove, o espírito santo de Deus
deve ter operado para com a formação do corpo governante para o seu
restante ungido da classe do “escravo fiel e discreto”. Os fatos falam
por si mesmos. Surgiu um corpo de cristãos ungidos que aceitaram e
assumiram as responsabilidades de governar os assuntos do povo
dedicado, batizado e ungido de Jeová, que seguia as pisadas de Jesus
Cristo e se esforçava a cumprir a obra declarada na profecia de Jesus
em Mateus 24:45-47. Os fatos falam mais alto do que palavras. O
corpo governante existe. As testemunhas cristãs de Jeová sabem e
afirmam com gratidão que não se trata duma organização religiosa de
um só homem, mas que ela tem um corpo governante de cristãos
ungidos pelo espírito.47 (O itálico é meu)

De acordo com o entendimento dos dias de Rutherford e Knorr,


“o servo (escravo) fiel e discreto” era idêntico a todos os cristãos
ungidos na terra, e o CG consistia de pessoas sem nome que estavam
intimamente associadas à Sociedade de Bíblias e Tratados da Torre de
Vigia de 1879. A Sentinela de 15 de julho de 2013 contradiz a opinião

47
A Sentinela de 1972, 1º de junho, pp. 344-345.
136
expressa em 1944 e 1971 de que “o escravo fiel e discreto” existia a
partir de 1879:
Será que os Estudantes da Bíblia nos anos anteriores a 1914 eram o
canal designado por meio do qual Cristo alimentaria suas ovelhas?
Não. Eles ainda estavam no período de crescimento, e o arranjo de ter
um canal para suprir alimento espiritual ainda estava tomando forma.
Ainda não havia chegado o tempo para os cristãos de imitação,
comparáveis ao joio, serem separados do genuíno trigo cristão... (O
itálico é meu)

De 1914 até a parte inicial de 1919, Jesus acompanhou seu Pai ao


templo espiritual para fazer uma obra de inspeção e purificação muito
necessária. (Mal. 3:1-4) Daí, começando em 1919, era tempo de
ajuntar o trigo. Será que havia finalmente chegado o tempo para Cristo
designar um canal organizado para fornecer alimento espiritual? Sem
dúvida que sim! (O itálico é meu)

Na sua profecia sobre o tempo do fim, Jesus predisse que designaria


um canal para suprir “alimento [espiritual] no tempo apropriado”.
(Mat. 24:45-47) Que canal usaria? Fiel ao padrão que estabeleceu no
primeiro século, Jesus mais uma vez alimentaria muitos pelas mãos de
poucos...48 (O itálico é meu)

Em comparação com o grupo de apóstolos e anciãos em


Jerusalém, havia dois problemas importantes. Primeiro, cerca de 60
anos após a publicação da revista, a organização ainda era democrática
e não teocrática. Isso mudou em 1938, quando uma ordem teocrática foi
introduzida. Segundo, ainda havia um elemento democrático depois que
a ordem teocrática foi implementada em 1938: O número de votos nas
reuniões anuais da Sociedade Torre de Vigia se baseava em quanto
dinheiro cada membro contribuía. Na reunião anual de 2 de outubro de
1944, isso foi alterado. E a organização, a partir de 1º de outubro de
1945, quando o novo arranjo foi implementado, era totalmente
teocrática:
Pelas disposições da Carta da Sociedade [Sociedade Torre de Vigia de
Bíblias e Tratados, 1896], parece que fazer parte do corpo governante
48
A Sentinela de 15 de julho de 2013, p. 19.
137
dependia das contribuições para a Sociedade legal. Mas, de acordo
com a vontade de Deus, isso não poderia ser assim entre o seu
verdadeiro povo escolhido.49 (O itálico é meu.)

Agora, é plenamente apreciado que o princípio teocrático deve ser


aplicado a todos os instrumentos que a classe remanescente ungida ou
“o servo fiel e sábio” usa. Isso inclui o instrumento legal, a
Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, que está tão
intimamente ligada ao visível corpo governante do povo teocrático de
Jeová. O dinheiro, representado nas contribuições financeiras, não
deve ter voz determinante; de fato, nada tem a ver com a fazer parte
do corpo governante das testemunhas de Jeová na terra. O dinheiro
confunde o assunto e levanta incertezas e dificuldades para a aplicação
do regime teocrático no que diz respeito ao corpo governante. O
espírito santo, a força ativa que desce de Jeová Deus através de Cristo
Jesus, é o que deve determinar e orientar o assunto. Embora esse fato
não tenha sido percebido claramente quando a Carta da Torre de Vigia
foi estruturada de acordo com a lei da terra em 1884, agora é
conscientemente apreciada por todos os remanescentes fiéis e seus
companheiros. (O itálico é meu.)

Portanto, em uma reunião de negócios legalmente chamada de todos


os acionistas-eleitores da Sociedade em 2 de outubro de 1944, foi
votado por unanimidade que a Carta da Sociedade fosse revisada e
levada a plena harmonia com o governo e a verdade teocrática. . .

Portanto, em 1 de outubro de 1945, sete anos após os brilhantes


lampejos de verdade teocrática de Jeová e sua aplicação prática, uma
carta revisada da SOCIEDADE DE BÍBLIAS E TRATADOS DA TORRE DE
VIGIA deveria entrar em vigor, com sabedoria e obediência emendada
de acordo com seu governo teocrático.50

Não havia CG antes de 1971, e não houve


grupo que desse alimento espiritual a partir de
1919. Mas o alimento espiritual foi dado por J.

49
A Sentinela de 1944, p. 332, em inglês.
50
A Sentinela de 1944, p. 333.
138
F. Rutherford. Assim, nenhum escravo fiel e
discreto poderia ter sido nomeado em 1919.
Agora havia dois pontos de vista diferentes sobre o escravo fiel e
discreto e o CG. A Sentinela de 1 de novembro de 1944 e 15 de
dezembro de 1971 diz que o escravo fiel e discreto e o CG existiam
desde a publicação da primeira Torre de Vigia em 1879, e A Sentinela
de 15 de julho de 2013 diz que Deus designou o escravo fiel e discreto
em 1919.

O PRIMEIRO CORPO GOVERNANTE FOI CRIADO EM 1971

Na última parte da década de 1960, foram realizados estudos para


criar um léxico bíblico e, em 1969, foi publicado o Ajuda ao
Entendimento da Bíblia. A organização das primeiras congregações
cristãs foi cuidadosamente estudada, e isso resultou em uma nova
compreensão dessa organização. O livro Testemunhas de Jeová -
Proclamadores do Reino de Deus diz:
Quando, sob a supervisão do Corpo Governante, se faziam pesquisas
para a preparação da obra de referência Ajuda ao Entendimento da
Bíblia, voltou-se de novo a atenção para o modo como a congregação
cristã do primeiro século estava organizada. Fez-se um estudo
cuidadoso sobre termos bíblicos, tais como “ancião”,
“superintendente” e “ministro”. Será que havia margem para a
organização das Testemunhas de Jeová dos dias atuais harmonizar-se
mais plenamente com o padrão que foi preservado nas Escrituras qual
guia?
Os servos de Jeová estavam decididos a continuar a se submeter à
orientação divina. Numa série de congressos realizados em 1971,
dirigiu-se atenção para os métodos administrativos da primitiva
congregação cristã. Salientou-se que a expressão pre·sbý·te·ros
(homem mais velho, ancião), empregada na Bíblia, não se limitava a

139
pessoas idosas, tampouco se aplicava a todos nas congregações que
fossem espiritualmente maduros. Era empregada especialmente num
sentido oficial referente aos superintendentes das congregações.
Foram prontamente tomadas medidas para harmonizar mais de perto
a organização com este padrão bíblico. Começou-se com o próprio
Corpo Governante. Aumentou-se o número de seus membros para
mais do que os sete que, quais membros da diretoria da Sociedade
Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Pensilvânia, EUA, vinham
servindo na qualidade de corpo governante para as Testemunhas de
Jeová. Não se fixou determinado número de membros do Corpo
Governante. (O itálico é meu)
Foi decidido, em 6 de setembro de 1971, que haveria rodízio anual do
presidente das sessões do Corpo Governante, em ordem alfabética do
sobrenome de seus membros. Isto entrou realmente em vigor em 1º de
outubro... (O itálico é meu.)
No decorrer do ano seguinte, foram feitos preparativos para ajustes na
supervisão das congregações. Não mais haveria apenas um servo de
congregação assistido por um número específico de outros servos.
Homens biblicamente qualificados seriam designados para servirem
quais anciãos. Outros que cumpriam os requisitos bíblicos seriam
designados como servos ministeriais.51
Foi-me dito por um ancião que teve contato próximo com a sede
do Brooklyn que os irmãos apresentaram seu estudo de “homens mais
velhos” e “superintendentes” a N. H. Knorr e F. W. Franz. Eles
estudaram o material cuidadosamente e aceitaram as conclusões. A
reação deles mostrou verdadeira humildade, porque a consequência do
novo entendimento foi que eles renunciaram a suas posições como
líderes da organização. Agora, deve haver um grupo de iguais que
tomou todas as decisões importantes e não o presidente e o vice-
presidente da Sociedade Torre de Vigia. O livro citado usa a expressão
“Corpo Governante” e mostra que esse órgão anteriormente era
composto pelos sete diretores da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e

51
Testemunhas de Jeová – Proclamadores do Reino de Deus, p. 232-233.
140
Tratados da Pensilvânia. Mas esses sete não eram um “corpo
governante” no sentido dessas palavras, como foram usadas em 1971.
N. H. Knorr era o presidente. Ele pessoalmente se correspondia com as
filiais e nomeava superintendentes de circuito e distrito e membros de
Betel.52 F. W. Franz era o principal escritor de livros e artigos, mas
Knorr também era escritor. Até onde eu sei, os outros diretores
contribuíram com muito pouco material escrito. Eles eram responsáveis
por diferentes áreas da organização, departamento de contabilidade,
impressão, fabricação de tinta para impressão, etc. O que descrevi até
agora mostra que não havia um CG de irmãos iguais que tomaram
decisões como um grupo antes de Outubro de 1971.
Além disso, o artigo da Torre de Vigia, discutindo a diferença
entre a Sociedade Torre de Vigia, o escravo fiel e discreto e o CG,
mostra que os sete diretores não poderiam constituir um corpo de
governo porque foram votados como diretores por um período de três
anos e os os membros do CG não devem ser votados, mas devem ser
nomeados pelo espírito santo. Além disso, durante os 26 anos, de 1919
a 1945, aqueles que votaram nos diretores eram membros da Sociedade
Torre de Vigia, não por causa de qualificações espirituais, mas por dons
monetários. Essas pessoas não podiam, é claro, nomear corretamente os
membros de um corpo governante.53
O novo arranjo não criou apenas corpos de anciãos que agora
lideravam as congregações, em vez de um servo da congregação. Mas
as áreas de responsabilidade na organização mudaram dramaticamente.
Eu era servo de circuito em 1971, e todos os servos receberam uma
carta dizendo que não tínhamos mais a responsabilidade que tínhamos
antes. A partir de agora, éramos apenas pioneiros em viagem e

52
Eu estive alguns meses na filial em 1972, quando a história teocrática da Noruega
foi escrita, e me foi atribuída a tarefa de percorrer todos os arquivos de Betel e ler
todas as cartas para encontrar coisas que poderiam ser mencionadas na história. Li
todas as cartas de Knorr e percebi que ele era uma pessoa sábia e um bom
organizador.
53
A Sentinela de 1971: 755–762. (em inglês)
141
podíamos dar conselhos às congregações que visitamos quando
solicitadas. Não apenas o poder dos servidores do circuito foi
transferido para os corpos dos anciãos, mas as cartas da Sociedade
Torre de Vigia com instruções eram poucas. Estimo que os corpos de
anciãos hoje recebem dez vezes mais cartas durante um ano do que os
corpos de anciãos recebiam em meados da década de 1970. É muito
claro que quando o arranjo de anciãos foi introduzido, a
responsabilidade total de cada congregação recaia sobre o corpo de
anciãos.
Esses corpos de anciãos tinham uma autoridade que o servo da
congregação e seus assistentes não tinham antes do novo arranjo. Os
anciãos foram incentivados a procurar oportunidades para dar palestras
públicas em outros lugares que não o Salão do Reino. Eles foram
incentivados a considerar quais assuntos se encaixariam em seus
territórios e fazer seus próprios esboços para conversas públicas
relacionadas a esses assuntos. Eles foram incentivados a encontrar
novas maneiras de pregar as boas novas. E também foram incentivados
a usar parte de suas reuniões de anciãos para discutir verdades
profundas da Bíblia. Os membros da congregação, por recomendação
do corpo de anciãos, decidiram construir ou alugar um Salão do Reino.
Era um assunto local, e a filial não tinha nada a ver com isso. A
situação era que os corpos dos anciãos tinha considerável liberdade
para tomar suas próprias decisões em várias áreas que não eram
dirigidas pela Sociedade Torre de Vigia.
As congregações seguiram o mesmo programa de reuniões
fornecido pela filial, e a filial nomeava os anciãos. Mas, além disso, os
corpos de anciãos eram, em alto grau, independentes da Sociedade
Torre de Vigia. Um lado importante do novo arranjo era que, embora os
anciãos tivessem personalidades diferentes e conhecimentos diferentes
da Bíblia, eles eram iguais. Essa também era a razão pela qual as
posições dos anciãos, como superintendente presidente e
superintendente da escola teocrática, alternavam a cada ano.

142
Partes de três dias eram usadas para montagens de circuitos na
década de 1960. Grande parte do programa discutia as necessidades
locais. O superintendente do circuito decidia o que deveria ser discutido
na reunião de serviço. Uma parte do programa consistia em
dramatizações e, para elas, havia apenas breves esboços. O
superintendente do circuito usava vários dias para projetar as
encenações. Em contraste com as atuais assembleias de circuitos, nas
quais todo o programa é pré-definido, o programa nas assembléias de
três dias era, em grande parte, realizado pelos irmãos locais.
Na década de 1960 e meados da década de 1970, o
servo/superintendente do circuito dava quatro palestras quando visitava
uma congregação. O escritório fornecia o esboço para o discurso
público, mas os assuntos das outras conversas eram decididos pelo
superintendente do circuito. Ele também tinha duas reuniões com os
servos em cada congregação e não havia esboços para essas reuniões.
Hoje, todos os tópicos, exceto um único discurso do superintendente do
circuito, são feitos sob a direção do CG.
Um exemplo do poder dos anciãos é que eram os corpos de
anciãos que enviavam recomendações dos novos anciãos à filial.54 Mas
em 1976, a responsabilidade e a liberdade dos corpos de anciãos
começaram a mudar gradualmente. Uma carta de 1 de agosto de 1976
indicava que os superintendentes de circuito teriam mais
responsabilidade. Dizia que, a partir daquele momento, o
superintendente de circuito poderia estar presente quando o corpo de
anciãos discutisse se um irmão era qualificado para se tornar ancião. A
carta dizia:
Mesmo que o superintendente do circuito não diga nada quando os
anciãos tomarem sua decisão final e não participe da decisão final em
cada caso, ele dará sua opinião ao enviar a recomendação sobre os
formulários feitos para esse fim.

54
Organization for Kingdom-Preaching and Disciple-Making, 61.
143
Foi também em 1976 que as congregações receberam uma carta
dizendo que apenas os esboços para palestras públicas da Sociedade
Torre de Vigia podiam ser usados por oradores públicos. E todas as
reuniões tinham que ser feitas no Salão do Reino. Ao longo dos anos,
as rotações as posições dos anciãos eram cada vez menores até que não
houvesse rotação.
O arranjo organizacional em 1972 era próximo ao arranjo que
encontramos na Bíblia. O livro Qualificados para Ser Ministros (1955
em inglês), página 351, dizia sobre as congregações no primeiro século
EC:
A congregação primitiva era definitivamente organizada de maneira
teocrática. . . Embora todos fossem irmãos, no mesmo nível, e não
houvesse classes de clérigos e leigos, e aqueles que eram do corpo
governante e que exerciam deveres de responsabilidade especial
eram trabalhadores, a congregação não era de forma alguma
democraticamente operada, nem era comunista, e certamente não
ditatorial. (Meus itálicos.)
Minha experiência foi que os irmãos na sede, que assumiram a
liderança, se comportaram como irmãos no mesmo nível que todos os
outros e mostraram que eram trabalhadores e não governadores, embora
tivessem responsabilidades especiais. Em 1973, tive o privilégio de
trabalhar em conjunto com M. G. Henschel quando ele visitou a
Noruega como superintendente zonal. E achei que ele era amigável e
fácil de cooperar. F. W. Franz visitou a Noruega em 1974. Minha
esposa o conheceu e ela sentiu que ele a tratava como superior a si
mesmo (Filipenses 2: 3, TNM86). Todos que o conheceram o
consideravam um irmão de temperamento amável e amigável. E
embora a organização fosse teocrática e designasse anciãos e servidores
ministeriais, não víamos os irmãos que assumiam a liderança na sede
como um governo. A organização não era hierárquica e certamente não
havia vestígios de liderança ditatorial.

144
O ATUAL CORPO GOVERNANTE
Quando falo do “atual corpo governante”, penso no CG após o
ano 2000 EC, seis anos após G. Lösch, o membro mais antigo, ter sido
designado. Hoje, não existem muitas Testemunhas de Jeová que se
lembram do início do arranjo de anciãos em 1972. E ainda há menos
pessoas que acompanharam de perto todas as mudanças organizacionais
que ocorreram durante os 48 anos desde então. Por ter assumido cargos
de responsabilidade durante esses anos, testemunhei como a
organização se tornou gradualmente cada vez mais autocrática, até que
hoje temos a situação com o CG funcionando como o governo da TJ
com poder ilimitado.

Evidentemente, esse desenvolvimento foi baseado em uma teoria


específica. Mas é bastante irônico que agora, quando as diferentes
partes da teoria foram cumpridas, toda a teoria foi abandonada. A teoria
é encontrada em A Sentinela de 15 de fevereiro de 2009, página 26:
9
Além do mais, Jesus Cristo designou o escravo fiel e discreto “sobre
todos os seus bens”, ou seja, todos os interesses do Reino na Terra.
(Mat. 24:47) Esses bens incluem as instalações na sede mundial das
Testemunhas de Jeová, nas filiais e congêneres em muitos países, nos
Salões de Assembléias e Salões do Reino em todo o mundo. Incluem
também a obra de pregar o Reino e fazer discípulos. Será que alguém
entregaria a guarda e o uso de suas coisas valiosas a uma pessoa em
quem não confiasse?
A Sentinela de 15 de julho de 2013, página 7, diz:
Também, como vimos no parágrafo 12, a ‘chegada’ de Jesus,
mencionada em Mateus 25:31, refere-se a esse mesmo futuro período
de julgamento. Assim, é razoável concluir que a chegada de Jesus
para designar o escravo fiel sobre todos os seus bens, mencionada em
Mateus 24:46, 47, também se aplica à sua futura vinda, durante a
grande tribulação. (Meus itálicos.)
O livro Organizados para Fazer a Vontade de Jeová, p. 19,
parág. 18, diz:
145
8
Durante a grande tribulação, quando Jesus vier para proferir e
executar julgamento contra este sistema perverso, ele encarregará o
escravo fiel “de todos os seus bens”. (Mat. 24:46, 47) Os que
compõem o escravo fiel receberão sua recompensa celestial. (Meus
itálicos.)
A visão atual é de que as palavras “Ele o encarregará de todos os
seus bens” se refere à recompensa celestial dos cristãos ungidos. Então
agora que os membros do CG, com base na visão expressa em A
Sentinela de 2009, obtiveram todo o poder em suas mãos, a teoria por
trás disso foi abandonada.
No início do arranjo dos anciãos, a organização era teocrática,
não autocrática. O CG decidia que literatura deveria ser publicada e
tinha controle sobre a sede nos EUA e sobre todas as filiais. Mas eles
não tinham controle sobre as congregações locais e seu dinheiro, nem
sobre os Salões do Reino e os Salões da Assembleia. Nem funcionava
como um governo sobre a comunidade de Testemunhas de Jeová.
A situação hoje é muito diferente porque o CG tomou todo o
poder. Não consigo pensar em um exemplo melhor de regra autocrática
do que no exemplo com enfermeiros (as) que mencionei na introdução.
Os (as) enfermeiros (as) cuidam dos pacientes, mas em raras ocasiões,
um médico pode atribuir uma transfusão de sangue e pedir a um (a)
enfermeiro (a) Testemunha para administrá-la. Esta é uma questão de
consciência por parte de cada enfermeiro (a). Mas agora o CG as
proibiu e anulou a consciência dos (as) enfermeiros (as). Isso mostra
que os membros do CG acreditam que têm poder absoluto sobre as
Testemunhas de Jeová e toda a organização. Mas isso se baseia em
ganho de poder ao longo dos anos desde 1972. E a atual organização
autocrática é muito diferente da organização em 1972 e da organização
das primeiras congregações cristãs. Como podemos ver na tabela
abaixo, o pêndulo oscilou de um extremo ao outro.

Desenvolvimento Organizacional

146
1879-1937: A ORGANIZAÇÃO ERA DEMOCRÁTICA
 Os anciãos eram votados por membros da congregação.
 Os anciãos tomavam a liderança nas congregações.
 As congregações eram independentes da Sociedade
Torre de Vigia.
1938: O PRIMEIRO PASSO NA DIREÇÃO DE UMA
ORGANIZAÇÃO TEOCRÁTICA
 Os servos da congregação (anciãos) eram nomeados pela
Sociedade Torre de Vigia.
1945: O SEGUNDO PASSO NA DIREÇÃO DE UMA
ORGANIZAÇÃO TEOCRÁTICA
 Os membros da Sociedade Torre de Vigia eram
escolhidos com base em qualidades espirituais e não
mais em contribuições monetárias.
1971/1972: A ORGANIZAÇÃO SE TORNA TOTALMENTE
TEOCRÁTICA
 O arranjo dos anciãos foi introduzido e os anciãos
assumiam a liderança em cada congregação.
 Um grupo de anciãos - o Corpo Governante - assumiu a
liderança em toda a organização.
 Os corpos de anciãos eram, em grande parte, independentes
do CG.
SÉCULO XXI: A ORGANIZAÇÃO INTEIRA SE TORNA
AUTOCRÁTICA
 Durante a última parte do século 20, os membros do CG
deram a si mesmos cada vez mais poder às custas dos
corpos dos anciãos.
 O CG funciona como um governo para as TJs com poder
ilimitado sobre as doutrinas, os ativos e o dinheiro.
 A organização agora é hierárquica, com o CG no topo e
os comitês de ramo e superintendentes de circuito
147
funcionando exatamente como as funções do clero na
Igreja Católica e em outras denominações.
 Os corpos dos anciãos não têm poder independente, mas
seguem as decisões tomadas pelo CG, e essas decisões
são, na realidade, ordens.

A NOVA VISÃO SOBRE PEDIR DINHEIRO


Paulo fala sobre presentes em 2 Coríntios 9: 7 (TNM15):
Faça cada um conforme resolveu no coração, não a contragosto nem
por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria.
A expressão “sob compulsão” é traduzida da palavra grega
anangkē, e BAGD tem os seguintes significados: “necessidade,
compulsão de qualquer tipo”. Um exemplo típico de violação dessas
escrituras é o dízimo - um pagamento regular de 10% da renda de uma
pessoa.
Quanto a bens e dinheiro, os membros do CG do século 20
seguiram o procedimento bíblico de dons de livre-arbítrio, e nunca
solicitavam dinheiro. O atual CG tem estado disposto a abandonar os
procedimentos do CG anterior, solicitando dinheiro em grande escala e,
assim, violando o princípio bíblico em 1 Coríntios 9: 7 de doações
voluntárias. Quando vejo a situação hoje em que o CG tem poder sobre
os bens das congregações e o dinheiro, fica claro para mim que o CG
por muitos anos seguiu um plano que agora foi realizado. Esse é um
plano baseado na visão expressa em A Sentinela de 15 de fevereiro de
2009, página 26, citada na página XX, de que o CG deve ter poder
sobre tudo.

148
OS PASSOS TOMADOS PARA SE APROPRIAR DOS SALÕES DO
REINO
Em relação aos Salões do Reino, o livro Organization (em
inglês) de 1972 diz:
No entanto, um grande número de congregações optou por comprar
propriedades e construir seu próprio Salão do Reino, adequado às suas
necessidades. Isto é até todos os membros dedicados da congregação
para decidir o que eles querem fazer neste assunto.
Se a congregação decide construir um Salão do Reino, o corpo de
anciãos geralmente designa como comitê de construção de certos
irmãos que estão muito interessados nesse trabalho de construção
específico da congregação e que podem ser bons empresários. . . . Em
conexão com a propriedade e a operação do Salão do Reino, pode ser
necessário formar uma associação. Às vezes deve ser uma corporação
legal.55
Os membros das congregações possuíam os Salões do Reino, e
uma comissão da congregação supervisionava e mantinha o Salão.
Em 2008, as três congregações que usavam o Salão do Reino em
Bogstadveien 39 em Oslo, Noruega, decidiram reformar o salão. O CG
havia, naquele momento, dado o primeiro passo no caminho para
conquistar os Salões do Reino. A filial havia criado comissões de
especialistas em construção em alguns lugares na Noruega. O
procedimento na época era que, se um grupo de anciãos quisesse ajuda,
eles poderiam pedir à comissão mais próxima que desse sugestões
sobre a reforma ou a construção de um novo Salão do Reino. Fizemos
isso, e os especialistas em construção deram bons conselhos e foram de
grande ajuda. Algum tempo depois, o próximo passo foi dado. A
autoridade da comissão de especialistas em construção mudou. Agora
era obrigatório pedir ajuda à comissão em relação à reforma ou
construção de um novo Salão do Reino.56 E agora a comissão tinha a
55
Organization for Kingdom-Preaching and Disciple-Making, 104.
56
Cartas da filial norueguesa de 8 de janeiro de 2008 e 1 de maio de 2008.
149
responsabilidade máxima e não o corpo de anciãos. O terceiro passo foi
que a comissão de especialistas assumiu a responsabilidade de cada
Salão do Reino.57 Mas os membros da congregação ainda possuíam o
Salão do Reino.
No final de 2010, minha esposa e eu nos mudamos para Stavern,
no condado de Larvik. Em nosso Salão do Reino, havia três
apartamentos com famílias Testemunhas de Jeová, e outros Salões do
Reino tinham quartos para pioneiros antigos ou um ou mais
apartamentos para famílias. Em 2013, as congregações receberam uma
carta da filial dizendo que todos os inquilinos em cada Salão do Reino
tinham que se mudar. Alguns anciãos pensaram que essa não era uma
boa maneira de tratar os inquilinos, porque eles teriam pouco tempo
para se mudar. Mas os corpos de anciãos, é claro, fizeram o que a carta
dizia.
As congregações em Larvik procuravam, há vários anos, um
pedaço de terra para construir um novo Salão do Reino. Um pedaço de
terra estava disponível, mas agora um novo arranjo havia sido
instituído. Os membros da congregação e os anciãos não tinham mais
nenhum papel na aquisição do novo Salão do Reino. Representantes da
filial compraram o terreno e construíram um Salão do Reino de sua
escolha. E era a filial, não as congregações que possuíam o novo Salão
do Reino. O que aconteceu com o antigo Salão do Reino? Este salão era
de propriedade dos membros das três congregações. Mas nem eles, nem
os anciãos foram consultados. Porém, os representantes da filial
venderam o antigo Salão do Reino, e o dinheiro, sem a aprovação dos
membros da congregação, foi transferido para a filial. Esta foi uma
tomada de poder da parte da filial.58

57
A carta da filial norueguesa de 1º de março de 2006 mostra que o comitê de
especialistas ainda não havia assumido a responsabilidade pelos Salões do Reino.
58
A filial pagou pelo terreno e pela construção do Larvik Kingdom Hall. Mas, como
mostrarei abaixo, as congregações devem enviar dinheiro para a filial todos os
meses. E quando adicionamos as somas que cada congregação contribui para a filial
e o dinheiro que a filial recebe das vendas dos Salões do Reino e subtraímos as
150
Passos para assumir os Salões do Reino: 1) Poderiam
ser usados comissões de consultores de construção; 2)
Comissões de consultores de construção tinham que
ser usadas; 3) As comissões de consultores de
construção assumiram a responsabilidade pelos
Salões do Reino; 4) Os inquilinos tiveram que sair; 5)
Salões do Reino foram desapropriados pela filial; 6)
Centenas de Salões do Reino foram vendidos em
diferentes países, e as filiais receberam o dinheiro.
Salões do Reino em outros países também foram desapropriados
pelas filiais. Às vezes, esse escritório fundia duas congregações, para
que um Salão do Reino pudesse ser vendido. Outras vezes, a filial
decidiu que duas, três ou quatro congregações podiam usar o mesmo
Salão do Reino, e os Salões do Reino vagos eram vendidos. Isso causou
problemas para muitos irmãos e irmãs, principalmente para os mais
velhos e aqueles que não tinham carro - alguns tinham que percorrer
longas distâncias para comparecer às reuniões.

DE SOLICITAR DINHEIRO A COBRAR DÍZIMOS


Um artigo na A Sentinela de 1960 (em inglês) discutiu como as
despesas das Testemunhas de Jeová foram pagas. O artigo dizia em
parte:
Desde a fundação da Watch Tower Society, em 1884, ela nunca
solicitou dinheiro. . . .
É um privilégio das Testemunhas de Jeová e das pessoas interessadas
em apoiar financeiramente as atividades teocráticas em suas
respectivas terras. Até certo ponto, essas pessoas podem fazer isso

despesas que a filial tem para construir novos Salões do Reino e os empréstimos
que foram cancelados, a filial tem um enorme excedente de dinheiro. (Estou
falando sobre a situação na Europa.)
151
localmente, ajudando nas despesas do local da reunião da
congregação, ou no Salão do Reino. Cada Salão do Reino tem uma
caixa de contribuições onde contribuições voluntárias podem ser feitas
sem que ninguém saiba quanto uma pessoa contribui. Nenhum pedido
de dinheiro é feito à congregação, nenhum envelope de moeda
perfumado é enviado a eles para contribuições e nenhuma promessa é
solicitada. Assim como as contribuições de livre-arbítrio feitas pela
viúva e por outras pessoas em Jerusalém, os membros de cada
congregação das Testemunhas de Jeová voluntariamente colocam na
caixa de contribuições no Salão do Reino, o que quiserem dar. . . .
Cada Testemunha quer participar do financiamento da obra do Reino,
por menor que seja sua oferta. Cada um aprecia a advertência dada
pelo apóstolo Paulo: "Cada um faça como tem resolvido em seu
coração, não de má vontade ou sob compulsão, pois Deus ama um
doador alegre". 2 Cor. 9: 7.
Para que a Sociedade planeje suas despesas para o ano, ela precisa
saber aproximadamente quanto as testemunhas de Jeová e as pessoas
interessadas planejam contribuir. O que eles prometem não é uma
promessa, mas apenas uma estimativa do que eles esperam doar
durante o ano. Chame de perspectivas de contribuição. É uma
promessa voluntária, como foi feita pelos coríntios: “Por isso achei
necessário incentivar os irmãos a ir visitá-los antes e a aprontar com
antecedência a sua prometida dádiva generosa, para que estivesse
pronta como algo dado com generosidade, e não à força.” - 2 Cor. 9:
5. (Meus itálicos.)
Se você pretende fazer uma ou mais contribuições para a Sociedade
Torre de Vigia durante os próximos doze meses, envie um cartão ou
carta para a filial em seu país informando o que você espera contribuir
para esse escritório para ajudar na obra de pregar o Reino de Deus. 59
O livro da Organization (em inglês) publicado em 1972 diz sobre
contribuições monetárias:

59
A Sentinela de 1960, 265–267. (Em inglês)
152
Dentro de cada congregação, há despesas que devem ser cumpridas.
Nenhuma coleta é feita, nem há avaliação de obrigações, mas caixas
de contribuição são fornecidas em nossos locais de reunião, para que
cada uma possa participar “exatamente como ele resolveu em seu
coração”. - 2 Cor. 9.7 (Meus itálicos.)
Esse dinheiro é usado principalmente para fornecer um Salão do
Reino no qual a congregação possa se reunir e para cuidar de sua
manutenção. Se houver mais dinheiro do que o necessário para cuidar
dessas despesas, o corpo de anciãos poderá discutir como esses fundos
podem ser melhor utilizados para promover o trabalho de pregar e
fazer discípulos. Em seguida, apresentam à congregação uma
resolução por escrito contendo suas recomendações.60
Os artigos de A Sentinela e o livro da Organization (em inglês)
mostram que tudo que relativo ao dinheiro era voluntário – as doações
devem vir do coração. E a Sociedade Torre de Vigia nunca havia
solicitado dinheiro. O procedimento antes e depois de 1972, e até o
novo arranjo em 2014, era que as despesas diárias da congregação eram
pagas automaticamente sem pedir aos membros da congregação. Mas
qualquer gasto de dinheiro além das despesas diárias tinha que ser
decidido pelo voto dos membros da congregação com base em uma
resolução dos anciãos. A construção ou compra de um Salão do Reino
ou que tipo de salão seria construído era decidido pelo voto dos
membros da congregação. Os membros da congregação possuíam o
Salão do Reino, pagavam suas despesas e decidiam o que fazer com o
Salão do Reino.
A carta de 29 de março de 2014 dizia que havia sido instituído
um novo acordo para financiamento e construção de Salões do Reino e
Salões de Assembleias. Os empréstimos das congregações do Fundo
Para Salês do Reino foram cancelados - as congregações não
precisavam pagar esses empréstimos. E todas as congregações foram
solicitadas a tomar uma resolução para que a congregação pagasse uma

60
Organization for Kingdom-Preaching and Disciple-making, 149.
153
quantia em dinheiro à filial todos os meses.61 O objetivo dessas
contribuições era construir Salões do Reino e Salões de Assembleias
em diferentes partes do mundo.
O objetivo do novo arranjo era, obviamente, obter mais dinheiro
dos membros de cada congregação. Esse era um novo rumo, porque
agora a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados estava
solicitando dinheiro, e isso não foi feito antes. A. H. Macmillan (Faith
on March, página 182 em inglês) conta que, mesmo quando novos
edifícios eram construídos no Brooklyn, em 1926, 1946 e 1955, não
havia solicitação de dinheiro. Testemunhas individuais deram
empréstimos à Sociedade, e esses empréstimos foram pagos de volta.
Em vez de pegar dinheiro emprestado de um banco, nós o pegamos
emprestado de nosso próprio povo e a Sociedade lhes deu uma nota
com a taxa de rendimento regular, embora muitas das testemunhas de
Jeová tenham renunciado ao rendimento. Era entendido por aqueles
que recebiam notas que poderiam solicitar seu dinheiro de volta
integralmente a qualquer momento, se inesperadamente precisassem
dele. Eles receberam seu dinheiro de uma só vez e o restante foi pago
porque as contribuições voluntárias regulares tornaram isso possível.
Antes do vencimento das notas, tudo estava acertado.
O artigo de A Sentinela que já citei dizia que, se alguém planeja
doar dinheiro para a Sociedade, pode enviar uma carta:
Para que a Sociedade planeje suas despesas para o ano, ela precisa
saber aproximadamente quanto as Testemunhas de Jeová e as pessoas
interessadas planejam contribuir. O que eles prometem não é uma
promessa, mas apenas uma estimativa do que eles esperam doar
durante o ano.62

61
Quando as congregações são solicitadas a fazer algo, isso é o mesmo que uma
ordem. A lealdade ao CG é tão forte que nenhum ancião sonharia em desobedecer a
qualquer instrução ou sugestão dada pela organização.
62
A Sentinela de 1960, 267. (em inglês)

154
A citação acima mostra que a Sociedade Torre de Vigia planejou
suas operações da mesma maneira que uma família, com base em seus
recursos. Mas com o novo arranjo, a Sociedade Torre de Vigia vai na
direção oposta, além de seus recursos. Treze mil Salões do Reino e 35
Salões da Assembleia devem ser construídos e, portanto, “são
necessários recursos econômicos muito grandes”.63
1884: Nós nunca solicitamos dinheiro;
1960: Nós nunca solicitamos dinheiro.
2014: Há uma grande necessidade de grandes
recursos econômicos.
Em todas as congregações, foi perguntado a todos os membros
quanto eles poderiam contribuir todos os meses. Eles escreveram
anonimamente a soma em um pedaço de papel, mas ainda assim, era
uma promessa. Com base nessas anotações, os anciãos fizeram uma
resolução dizendo que a congregação enviaria uma certa quantia de
dinheiro todo mês. Além disso, a filial havia escrito que, se uma
congregação enviasse a quantia prometida em dinheiro à filial, e a
congregação tivesse mais dinheiro do que as despesas normais por três
meses, o excedente deveria ser doado à filial.
Na minha opinião, esse novo sistema é algo que fica entre os
pratos de doação que outras religiões usam e o dízimo. Quando o prato
de doação chega, uma pessoa é vista pelas outras e há uma pressão para
dar algo. Mas, ainda assim, a própria pessoa decide quanto oferecer. E
outros não costumam ver a quantidade que é colocada no prato. No
sistema anterior, o dinheiro era colocado na caixa de contribuições no
Salão do Reino, e os membros da congregação sabiam que o dinheiro
era usado para pagar as despesas do Salão do Reino. Se a congregação
tivesse dinheiro extra, esse dinheiro não seria enviado para a filial, mas
os anciãos decidiriam o que fazer com o dinheiro e apresentariam uma
resolução à congregação. Na maioria dos casos, o dinheiro extra era
depositado em um banco, em caso de despesas futuras adicionais ou
como economia para um futuro Salão do Reino. No entanto, os

63
Carta da filial escandinava de 29 de março de 2014.
155
pagamentos pelas revistas eram, é claro, enviados à filial todos os
meses.
1960: Se houver mais dinheiro do que o necessário
para cuidar do Salão do Reino, vocês devem decidir
como usá-lo da melhor maneira possível para os
interesses do Reino.
2014: Envie a quantia prometida em dinheiro para a
filial todos os meses. Se a congregação tiver mais
dinheiro do que o necessário para as despesas por três
meses, envie esse dinheiro para a filial.
Agora, os publicadores precisavam doar mais, porque não apenas
as despesas da congregação tinham que ser cobertas, mas uma quantia
bastante grande era enviada à filial todos os meses. A palavra “dízimo”
é colocada entre aspas porque não há exigência de fornecer 10% da
receita de uma pessoa; a soma é decidida por cada indivíduo e é muito
inferior a 10%. Mas o sistema se aproxima do dízimo porque requer
uma quantia em dinheiro da congregação para a filial todos os meses, e
cada membro da congregação é convidado a dar uma promessa dizendo
quanto dinheiro ele ou ela contribuirá. Além disso, quando a
congregação tem mais dinheiro do que suas despesas por três meses,
esse dinheiro também deve ser enviado à filial.
Há também outro foco no dinheiro. Duas vezes por ano, há uma
assembleia de um dia no Salão da Assembleias, e cada circuito (cerca
de 15 congregações) deve pagar US$ 13.000 à filial pelo uso do Salão
da Assembleia. Como o dinheiro pago pelas congregações todos os
meses à filial deve ser usado para construir e reformar os Salões do
Reino e os Salões da Assembleia, as despesas que o Salão da
Assembléia possui incluem basicamente eletricidade e água. Essas
despesas são apenas uma fração dos US$ 13.000 que cada circuito deve
pagar pelo uso do Salão de Assembleias. Então, novamente, o foco está
em coletar o máximo de dinheiro possível, mesmo aplicando um
imposto às congregações pelo uso do Salão de Assembleias.

156
2013: O circuito usa o Salão de Assembleias
gratuitamente.
2019: O circuito deve pagar um aluguel de US $
13.000 pelo uso do Assembly Hall para a montagem
do circuito.
A Sociedade Torre de Vigia nos EUA vendeu 32 edifícios no
Brooklyn por 2.194.625.000 dólares.64 Mas mesmo sendo uma grande
quantia em dinheiro, em uma sessão do Watchtower Broadcasting, o
irmão Lett disse à assistência que isso não era suficiente. Ainda havia
uma grande necessidade de mais dinheiro. Portanto, esse membro do
CG nesta ocasião estava solicitando dinheiro, o que é contra a Bíblia e
contra a tradição da Sociedade Torre de Vigia.
2017: O WatchTower Broadcasting é usado para
solicitar dinheiro.
Quando eu disse acima que o grande foco no dinheiro começou
em 2014, isso não está absolutamente correto. A carta da filial
norueguesa de 30 de janeiro de 2009 discute as despesas dos Salões do
Reino no mundo. Para cobrir essas despesas, o escritório calculou a
quantia em dinheiro que cada congregação deve contribuir todos os
meses com base no número de publicadores da congregação. A carta
fala da “quantidade sugerida de dinheiro”. Mas uma sugestão em uma
carta é o mesmo que uma ordem. Isso também é visto nas seguintes
palavras: “Se a quantia em dinheiro for muito grande para a
congregação pagar, talvez vocês possam dividi-la em dois ou três
pagamentos.” Uma experiência da Dinamarca confirma que uma
sugestão é igual a um pedido.
Uma Testemunha de Jeová em Copenhague, que é ancião de uma
congregação de língua inglesa, me contou a seguinte história em
relação a uma carta semelhante que foi enviada a todas as congregações
na Dinamarca. A congregação inglesa tinha muitos membros da África
e da Ásia que tinham muito pouco dinheiro. Portanto, a congregação
não era capaz de pagar a quantia necessária todos os meses. Depois de

64
Fonte: Jan Frode Nilsen.
157
algum tempo, a congregação devia à filial US$ 7.000. Três anciãos da
congregação foram à filial para explicar a situação. Mas não houve
exceção, e a congregação teve que pagar o valor total devido,
independentemente da situação deles.
2 Coríntios 9: 7: Doações de livre escolha são
resolvidas no coração sem qualquer compulsão.
Dinamarca 2005: A filial exigia que cada
congregação pagasse uma certa quantia em dinheiro
por cada membro ao Fundo do Salão do Reino,
independentemente se as congregações podem pagar
ou não.
A discussão acima mostra que o atual CG abandonou a longa
tradição da Sociedade Torre de Vigia de nunca solicitar dinheiro e que
doações nunca devem ser dadas sob compulsão. Embora o objetivo de
construir Salões do Reino seja bom, o modo como o CG usou seu poder
para obter o máximo de dinheiro possível também é, a meu ver,
questionável. Expropriar Salões do Reino e vender alguns deles sem
perguntar aos membros das congregações ou aos corpos de anciãos é,
na realidade, uma tomada à força de propriedade. O argumento para
isso é o seguinte: “Tudo pertence a Jeová. Nós somos o seu 'escravo',
que será designado sobre todos os seus pertences. Então fazemos com
as propriedades da TJs o que julgamos adequado fazer.”
Há também outro problema com este procedimento. Para vender
o maior número possível de Salões do Reino, um método é fundir
algumas congregações, e então um Salão do Reino fica disponível para
venda. Outro método é ordenar que duas, três ou quatro congregações
com três ou quatro Salões do Reino usem o mesmo Salão do Reino. A
carta da filial norueguesa de 1 de agosto de 2017 diz:
A filial pode decidir que até três ou quatro congregações possam usar
o mesmo Salão do Reino, a fim de usar as instalações ao máximo e
manter as despesas tão baixas quanto possíveis.
Essas palavras mostram que os membros das congregações não
têm nada a dizer; eles devem seguir as ordens da filial.

158
Eu sei que esses procedimentos causaram problemas para muitas
Testemunhas de Jeová na Europa e nos EUA. Viajar de carro para o
Salão do Reino pode ser caro por causa das muitas estradas com
pedágio. Alguns idosos que não têm carro podem precisar usar dois
ônibus ou um ônibus e um trem para chegar ao Salão do Reino. Então,
eu me pergunto se é melhor vender Salões do Reino na Europa e nos
EUA, com todos os problemas que podem causar para algumas
Testemunhas, a fim de construir Salões do Reino na África, ou se é
melhor deixar as Testemunhas de Jeová na África usarem seus Salões
do Reino relativamente primitivos e salvar as Testemunhas de Jeová
dos problemas mencionados.
As palavras de Paulo foram: “Cada um faça como ele resolveu
em seu coração, não de má vontade ou sob compulsão, pois Deus ama
um doador animado”. Essas palavras não são mais seguidas pelo CG.
Eu gostaria de enfatizar que tenho certeza de que nem os
membros do CG, nem outras testemunhas de destaque usam parte do
dinheiro recebido para ganho pessoal. Todos os servidores em tempo
integral na sede e nas filiais, incluindo os membros do CG, recebem
apenas uma pequena quantia em dinheiro todos os meses para as suas
despesas pessoais. Minha preocupação é o forte foco em dinheiro na
organização hoje em dia e os métodos usados para obter o máximo de
dinheiro possível das Testemunhas de Jeová - métodos que quebram a
tradição de 120 anos da Sociedade Torre de Vigia e que não estão de
acordo com o que o NT diz sobre doações voluntárias.

CONCLUSÃO
A Sentinela de 1946 mostrou que havia um grande contraste entre
a hierárquica Igreja Católica e as TJs. A organização das Testemunhas
de Jeová não era ‘a Detentora e Intérprete da Bíblia divinamente
nomeada’ ou ‘a instrutora dos servos e testemunhas de Deus’. A Torre
de Vigia continha artigos que tratavam de assuntos bíblicos e os leitores
eram convidados ao aprendizado interativo pesquisando a Bíblia. Os
líderes da Sociedade Torre de Vigia não criavam mandamentos
humanos que as Testemunhas de Jeová tinham que seguir, e o

159
relacionamento entre os líderes e as Testemunhas de Jeová se baseava
na confiança e não em nenhuma ordem dos líderes.
Quando o arranjo de anciãos foi introduzido em 1972, a
organização era teocrática. Os anciãos eram nomeados pela Sociedade
Torre de Vigia, que também fazia os programas para as reuniões e
assembleias. Mas o corpo de anciãos em cada congregação era, em
grande parte, independente da Sociedade Torre de Vigia. Isso é
particularmente visto pelo fato de que os superintendentes de circuito,
que visitaram as congregações como representantes da Sociedade Torre
de Vigia, não tinham poder sobre os corpos dos anciãos.
Em 1976, os corpos dos anciãos começaram a perder seu poder.
E a partir de então, o poder foi gradualmente retirado deles e transferido
para o CG. Mas as congregações ainda possuíam seus Salões do Reino
e decidiram como deveriam usar seu dinheiro.
A partir de 2009, foram tomadas diferentes medidas para
transferir a propriedade dos Salões do Reino e Salões de Assembleias
das congregações para a Sociedade Torre de Vigia. E em 2014, foi
solicitado a cada congregação (= ordenado) que enviasse uma quantia
em dinheiro decidida por cada congregação à Sociedade Torre de Vigia
a cada mês. As congregações também receberam a diretiva de que, se
tivessem mais dinheiro do que o necessário para cobrir suas despesas
por três meses, esse dinheiro deveria ser enviado à Sociedade Torre de
Vigia.
É bastante irônico que a Sociedade Torre de Vigia, que se
distanciou tanto da Igreja Católica, hoje seja mais hierárquica e
autocrática do que a Igreja Católica. O CG tem poder ilimitado sobre as
doutrinas, os ativos e o dinheiro. Até os tradutores do TNM15 tiveram
que pedir ao CG permissão para usar expressões e palavras específicas
em inglês em sua tradução. As comissões de filial são completamente
obedientes ao CG e implementam tudo o que o CG decide. Os
superintendentes de circuito têm muito poder, incluindo a nomeação de
anciãos, e representam o CG perante as congregações. E os corpos dos
anciãos foram treinados para acatar tudo o que o CG decide, sem fazer
perguntas. As Testemunhas de Jeová também foram ensinadas que o

160
CG é o escravo fiel e discreto e também a acreditar em tudo o que o CG
escreve.
A discussão neste capítulo mostrou que não há suporte na Bíblia
para o sistema hierárquico que existe hoje entre as Testemunhas de
Jeová. Esse sistema não se assemelha ao sistema das congregações
cristãs no primeiro século EC, e é muito diferente do sistema teocrático
do arranjo de anciãos que fora introduzido em 1972. Não duvido da
sinceridade dos membros do CG, que introduziram o atual sistema
hierárquico. Mas duvido de sua competência e julgamento.
Não havia um corpo governante no primeiro século
EC. Portanto, o atual Corpo Governante não tem
legado e deve ser dissolvido. O sistema hierárquico e
autocrático que o CG construiu não tem apoio na
Bíblia. Na verdade, viola vários princípios bíblicos.
O novo procedimento de solicitação de dinheiro
rompe com a tradição de 120 anos da Sociedade
Torre de Vigia.

161
Capítulo 4

A VISÃO EXTREMISTA SOBRE ENSINO SUPERIOR


– REVISÃO –

Este capítulo discute um dos lados militantes da organização - a


cruzada contra o ensino superior.
O Corpo Governante tem falado fortemente contra o ensino
superior. Por esse motivo, milhares de jovens Testemunhas de Jeová foram
pressionadas a não seguir o ensino superior. Isso causou danos e prejuízos
para muitos, porque tem sido mais difícil para eles encontrar um emprego
sem uma boa educação com o qual possam cuidar de si mesmos e de suas
famílias.
Neste capítulo, mostrarei que o CG pintou uma caricatura do ensino
superior, e as informações da A Sentinela sobre o ensino superior são
muito falhas. Os membros do CG tentaram forçar suas opiniões pessoais

162
sobre o ensino superior nos jovens Testemunhas de Jeová e isso é uma
violação de um dos princípios básicos que os anciãos aprendem.
Em 1992, a Torre de Vigia publicou um artigo bastante equilibrado
sobre educação. Mostrou que, em alguns países, era necessário [ter] mais
educação para conseguir um emprego decente do que alguns anos atrás. O
artigo também mostrou que a decisão sobre a quantidade de educação a ser
tomada recaía sobre a própria pessoa.
A Sentinela de 2005 também publicou um artigo sobre ensino
superior. Esse é um artigo muito ruim do ponto de vista da precisão e da
ética do escritor. Todas as fontes mencionadas são mal utilizadas - elas não
dizem o que o artigo afirma que dizem. E sua conclusão de que “cada vez
mais educadores estão seriamente duvidando do valor do ensino superior
hoje” não tem fundamento. O autor do artigo e aqueles que o conferiram
antes da publicação mostram que não têm ideia do que realmente é o
ensino superior!
A visão extrema de G. Lösch, o membro mais antigo do CG, em
relação ao ensino superior, foi expressa em uma palestra que ele deu como
superintendente zonal na Itália em 2005. Ele chegou ao ponto de pedir aos
que estudavam em uma faculdade ou universidade para interromper
imediatamente seus estudos. Ele até os ameaçou dizendo que prestariam
contas a Jeová por sua escolha.
Ele também comparou a busca pelo ensino superior a [alguém]
tentando cometer suicídio, atirando em si mesmo. Um pequeno número de
pessoas que tentam se matar sobrevive, mas você não deve contar com
isso, foram as palavras dele.
O artigo de A Sentinela de 2005 inclui várias declarações falsas. E
ao longo do artigo, o autor está manipulando os leitores com base nas
seguintes conclusões falsas:
* O ensino superior é buscado para se tornar rico e influente.
* Se alguém busca o ensino superior, avança no sistema atual.
* Uma educação universitária tem pouco valor em relação à
obtenção de um bom emprego.
Na literatura da Torre de Vigia após o ano de 2005 houve várias
declarações questionando os motivos daqueles que buscam o ensino
superior. As seguintes reivindicações são encontradas:
* Ao seguir o ensino superior, a pessoa será absorvida na promoção
163
dos próprios interesses.
* A pessoa está desperdiçando valiosos anos jovens.
* Confia-se nos sistemas educacionais por segurança e não confia
em Jeová.
* A pessoa vai perder as reuniões.
* As pessoas estão procurando grandes coisas por si mesmas, são
ambiciosas para realizar aspirações pessoais.
* Utilizam o ensino superior como um trampolim para o prestígio e
uma vida rica.
* A pessoa está “atentando para coisas altivas”.
* Confia no ensino superior para garantir uma vida confortável
agora e não confia em Jeová.
* A pessoa mostra falta de fé.
Todas essas alegações são falsas. E elas tornam duvidável a
competência dos membros do CG como líderes da organização mundial
das Testemunhas de Jeová.

Em junho de 2019, os anciãos receberam um novo livro, e um


dos tópicos (em inglês) era: “Situações que podem exigir uma revisão
das qualificações de um irmão designado”. Um dos motivos é o citado
abaixo:
Ele ou um membro de sua família busca o ensino superior: Se um
irmão designado, sua esposa ou seus filhos seguem o ensino superior,
o seu padrão de vida mostra que ele coloca os interesses do Reino em
primeiro lugar em sua vida? (w05 10/1 p. 27 par. 6) Ele respeita o que
foi publicado pelo escravo fiel sobre os perigos do ensino superior?65
Em 2009, os anciãos receberam uma carta que, entre outras
coisas, discutia o ensino superior. A instrução foi que, nos casos
mencionados acima, o ancião teve que responder uma série de
perguntas. Uma das perguntas era se ele concordava com as
advertências do “escravo” sobre o ensino superior. Se ele não

65
“Pastoreie o rebanho de Deus”, 8, 30. (em inglês)
164
concordasse, não estava qualificado para continuar a servir como
ancião. Alguns anciãos me disseram que foram interrogados por várias
horas porque seus filhos realizaram um breve curso na faculdade.
Sejamos francos: Esta é uma tradição humana inventada pelo
CG, e viola um dos princípios básicos ensinados aos anciãos, ou seja,
não influenciar os outros com nossos próprios pontos de vista pessoais.
Tudo o que ensinamos aos outros deve ser diretamente baseado na
Bíblia, e o ensino superior não é nem mencionado na Bíblia.
Além disso, todas as referências a diferentes fontes em A
Sentinela de 1º de outubro de 2005, mostrando o quão perigoso é o
ensino superior, são tiradas de contexto. As fontes não dizem o que o
artigo afirma que dizem. Vou mostrar isso em detalhes abaixo. E
mesmo que alguns dos problemas mencionados em A Sentinela
existissem nos EUA, eles não existiam e não existem na Escandinávia.
Devido aos pontos de vista extremos do CG em relação ao ensino
superior, um número significativo de jovens Testemunhas de Jeová que
planejavam ser enfermeiros, professores de jardim de infância,
professores de ensino fundamental, técnicos de TI e engenheiros, foram
pressionados a não seguir essa educação. Em muitos casos, isso teve
uma influência negativa em suas vidas e, muitas vezes, em suas
famílias, porque é difícil conseguir um bom emprego na Noruega e em
muitos outros países com apenas o ensino médio.

ALGUNS PRINCÍPIOS BÍBLICOS VIOLADOS PELA VISÃO


DO CORPO GOVERNANTE SOBRE A EDUCAÇÃO
SUPERIOR
“Quem és tu para julgares o servo doméstico de outro?
Para o seu próprio amo está em pé ou cai.” (Romanos
14:4)
“Mas examine cada um suas próprias ações, e então terá
motivo para se alegrar apenas com respeito a si mesmo, e
não em comparação com outra pessoa. Pois cada um
levará a sua própria carga.” (Gálatas 6:4, 5)
“Há um que é legislador e juiz, aquele que é capaz de
salvar e de destruir. Mas tu, quem és tu para julgares o
165
[teu] próximo?” (Tiago 4:12)
“Não é que sejamos os donos da sua fé, mas somos
colaboradores para a sua alegria, pois é pela sua fé que
vocês estão de pé.” (2 Coríntios 1:24)

Ao influenciar outras pessoas com seus pontos de vista pessoais


em relação ao ensino superior, os membros do CG, na realidade,
tornam-se "donos da sua fé". (2 Coríntios 1:24)

A NATUREZA DA FORTE PRESSÃO CONTRA O ENSINO


SUPERIOR
Se um ancião ou um membro de sua família busca educação superior,
o ancião será interrogado pelo corpo de anciãos e muito provavelmente
perderá seu cargo de ancião.
A maioria dos anciãos tem uma opinião bastante tendenciosa contra o
ensino superior porque foram influenciados pelo CG, e isso é
transmitido para as jovens testemunhas de MUITAS formas diferentes.
A literatura da Torre de Vigia usa palavras bastante fortes contra o
ensino superior e questiona os motivos das pessoas que buscam o
ensino superior.

Mais à frente, eu mostrarei como o CG tem tentado duramente


influenciar outros, e que os avisos que tem dado são, em grande
parte, baseados em falsas premissas. Eu vou mostrar como a
literatura da Torre de Vigia desmerece pessoas que buscam educação
superior e atribui a elas motivos maldosos. E eu vou mostrar que, em
oposição à visão do CG, a educação superior não é em nenhum
sentido mais perigosa para um cristão que a educação no ensino
médio, ensino profissionalizante, cursos profissionalizantes ou
escolas técnicas.
É claro que pode existir o meio social em algumas universidades e
faculdades onde princípios bíblicos são grandemente violados. Mas
algo similar pode ser encontrado nas outras escolas mencionadas e
166
em locais de trabalho da mesma forma. 1 Coríntios 15:33 diz: “Não
sejais desencaminhados. Más associações estragam hábitos úteis.”
Uma íntima associação com qualquer pessoa do mundo pode estragar
bons hábitos. No entanto, um aluno hoje em dia – e eu falo sobre as
universidades e faculdades na Escandinávia, onde eu tenho
experiência pessoal – não precisam ter muito contato com outros
alunos. Mais de 10% dos alunos na Universidade de Oslo raramente
estão presentes no campus. Eles leem por conta própria e fazem
cursos na internet, e eles vem para a Universidade apenas para seus
exames. Em contraste com isso, os alunos de ensino médio devem ter
contato com seus colegas por várias horas todo o dia. Então, do ponto
de vista de 1 Coríntios 15:33, é mais perigoso cursar o ensino médio
que a universidade. No entanto, os filhos de pais cristãos têm sido
ensinados por seus pais desde o ensino elementar a evitar más
associações.

A VISÃO DO ENSINO SUPERIOR NOS ANOS 90


A visão do CG em 1992 foi mais equilibrada do que é hoje. Digo
“mais equilibrada” porque parte da antiga visão negativa do ensino
superior por membros do CG também pode ser vista neste artigo.
A Sentinela de 1 de novembro de 1992, página 20, § 18 diz:
18
Caso se façam cursos adicionais, o motivo certamente não deve ser
o de se destacar em erudição ou de empenhar-se por uma prestigiosa
carreira no mundo. Os cursos devem ser escolhidos com cuidado. Esta
revista tem colocado ênfase nos perigos da educação superior, e isto é
justificável, porque grande parte da educação superior se opõe ao
“ensino salutar” da Bíblia. (Tito 2:1; 1 Timóteo 6:20, 21) Além disso,
desde os anos 60, muitas escolas de ensino superior tornaram-se
berços de iniqüidade e de imoralidade. “O escravo fiel e discreto” tem
fortemente desestimulado ingressar em tal ambiente. (Mateus 24:12,
45) Deve-se admitir, porém, que os jovens, atualmente, se confrontam
com esses mesmos perigos nas escolas secundárias e em escolas
técnicas, e até mesmo no lugar de trabalho.

167
Esta é uma descrição bastante equilibrada. O artigo aponta
corretamente que as universidades ensinam assuntos que contradizem a
Bíblia e que muitos estudantes são imorais. O artigo também
desencoraja corretamente os cristãos de fazer parte de um ambiente
imoral. No entanto, usando as palavras “grande parte” e “muitas
[escolas]”66, a implicação é que existem campos de estudo que não
contradizem a Bíblia e que nem todas as universidades são “berços de
iniqüidade e de imoralidade”. Além disso, salienta-se que escolas
secundárias, escolas técnicas e locais de trabalho podem ter os mesmos
perigos. Apesar disso, as jovens Testemunhas de Jeová não são
desencorajadas a frequentar escolas secundárias, escolas técnicas ou a
aceitar empregos em empresas comerciais. Portanto, o artigo não é uma
condenação geral do ensino superior em si, mas um grito dizendo:
“Cuidado! Considere o meio ambiente e suas motivações antes de
escolher o ensino superior.” O artigo discute os seguintes assuntos:
1) Os requisitos para conseguir um emprego mudaram, e o ensino
superior pode ser necessário para conseguir um emprego decente
(parágrafos ¶9, ¶12):
9
De quanta educação precisa o cristão jovem para respeitar estes
princípios bíblicos e para cumprir com suas obrigações cristãs? Isto
varia de país em país. Na maior parte, porém, parece que a tendência
geral, em muitos países, é que o nível de escolaridade necessário para
se obter um salário adequado é agora mais elevado do que alguns anos
atrás. Relatórios recebidos de congêneres da Sociedade Torre de Vigia
66
O uso das palavras “grande parte” em conexão com assuntos universitários que
contradizem a Bíblia não se encaixava nas universidades e faculdades norueguesas
em 1992, nem atualmente. Visto que eu era estudante em 1992, posso dizer que a
maioria das disciplinas ensinadas, como línguas estrangeiras, TI, medicina,
economia, ciência de engenharia, matemática, química, física, etc., são neutras no
que diz respeito à Bíblia. Na Noruega e na Escandinávia, portanto, a maioria dos
assuntos estudados em universidades e faculdades não contradiz a Bíblia. Os
estudantes, de fato, têm a mesma moral baixa que os outros jovens, mas
definitivamente não é verdade que as universidades e faculdades norueguesas e
escandinavas sejam “berços de iniquidade”. Pelo contrário, visto que os alunos
estão focados em seus estudos e sabem que é uma vantagem para eles obedecer às
leis, minha experiência é que eles são mais cumpridores da lei do que outras
pessoas. Esta é a minha experiência depois de estudar e ensinar línguas semíticas na
Universidade de Oslo por 25 anos. Eu me aposentei no final de 2010.
168
em diversas partes do mundo indicam que, em muitos lugares, é difícil
encontrar um emprego com um salário adequado depois de completar
simplesmente o mínimo de educação escolar exigido por lei, ou em
alguns países mesmo depois de terminar o segundo grau ou ensino
médio.
12
Ter um conceito equilibrado da educação pode ser de ajuda. Para
muitos jovens do mundo, educação é símbolo de prestígio, algo para
ajudá-los a subir a escada social, a chave para um modo de vida
próspero, materialista. Para outros, a escolaridade é uma tarefa
estafante a ser terminada o mais depressa possível. Nenhum destes
conceitos é apropriado para os verdadeiros cristãos. Então, o que se
pode chamar de “conceito equilibrado”? Os cristãos devem encarar
a educação como um meio para um fim. Nestes últimos dias, seu
objetivo é servir a Jeová ao máximo e do modo mais eficaz possível.
Se acontecer que no país em que vivem a educação mínima ou mesmo
a de segundo grau lhes possibilite achar apenas um emprego de salário
insuficiente para se sustentarem como pioneiros, então poderiam
considerar uma educação ou um treinamento suplementar. Isto teria
por alvo específico o serviço de tempo integral.
2) Não é bom interromper a educação muito cedo (página 18, ¶
11):
11
Que situação se encontra hoje muitas vezes? Relatou-se que, em
alguns países, muitos jovens bem-intencionados abandonaram a escola
depois do período mínimo obrigatório, a fim de se tornarem pioneiros.
Não tinham nenhum ofício, nem qualificações seculares. Os que não
recebiam ajuda dos pais tiveram de achar um emprego por meio
período. Alguns tiveram de aceitar trabalhos que exigiram deles
trabalhar muitas horas para ganhar o suficiente para o sustento.
Ficando fisicamente esgotados, desistiram do ministério de pioneiro.
O que podem esses fazer para sustentarem a si mesmos e voltar ao
serviço de pioneiro?
3) O ensino superior pode ser combinado com o serviço cristão
(página 18, ¶ 13):
13
Alguns fizeram cursos de treinamento que lhes abriram
oportunidades de emprego, possibilitando que se empenhassem ou
recomeçassem o serviço de tempo integral. Uma irmã nas Filipinas era
o arrimo de família, mas ela queria ser pioneira. A congênere da
169
Sociedade ali relata: “Ela conseguiu isso porque recebeu educação
adicional para se habilitar como contadora pública titulada.”67
4) A educação pode ser positiva para a obra de pregação (página
18, ¶ 13):
[A filial das Filipinas]“Temos um número bastante grande dos que
estudam e que ao mesmo tempo conseguiram programar seu tempo
para ser pioneiros. Em geral, estes se tornaram publicadores melhores
por serem mais estudiosos, desde que não se tornem ambiciosos
demais de empenhos mundanos.”
5) Quem deve decidir a duração de sua educação é o jovem,
depois de discutir o assunto com os pais. A escolha que cada um faz
não deve ser criticada (páginas 19–20, ¶16–19):
16
Quem decide se o cristão jovem deve receber educação ou treinamento
adicional? Nisto entra a questão do princípio bíblico da chefia.
(1 Coríntios 11:3; Efésios 6:1) Nesta base, os pais certamente desejarão
orientar seus filhos na escolha dum ofício ou duma ocupação, e,
conseqüentemente, em quanta educação será necessária. . . . Portanto,
quando pais e jovens cristãos, hoje em dia, depois de avaliar com
cuidado e oração os prós e os contras, decidem a favor ou contra estudos
depois da escola secundária, outros na congregação não devem criticá-
los.
17
Quando pais cristãos de modo responsável decidem prover aos filhos
uma educação adicional, depois do segundo grau, isto é prerrogativa
deles. O período destes estudos varia segundo o tipo de ofício ou de
ocupação escolhido. . . .
18
Caso se façam cursos adicionais, o motivo certamente não deve ser o
de se destacar em erudição ou de empenhar-se por uma prestigiosa
carreira no mundo. . . .
19
Caso se decida por uma educação suplementar, a Testemunha jovem
fará bem, se de todo possível, empreendê-la morando com os pais, para
poder manter assim os hábitos cristãos regulares de estudo, de assistência
às reuniões e de atividade de pregação. . . .

67
Um contador público certificado na Noruega tem 4 a 5 anos de ensino
universitário.
170
O artigo inteiro é bastante equilibrado e positivo, e coloca as coisas
onde deveriam estar. O ponto principal do artigo, que até onde sei foi
declarado pela primeira vez, é que hoje (em 1992) pode ser necessário
ter mais educação do que alguns anos atrás - em alguns países, mesmo
o ensino superior pode necessário para conseguir um emprego decente.
Um jovem que é Testemunha de Jeová deve decidir quanto à duração
da educação. E nenhuma outra pessoa além de seus pais tem o direito
de influenciar sua escolha ou criticá-lo.
A visão do artigo é confirmada por outras fontes. Em 1º de janeiro
de 2006, recebemos um conjunto de esboços revisados para palestras
públicas. A revisão foi feita antes desta data e a nova visão de 2005 não
foi incorporada. O que o esboço discutindo a educação diz é
equilibrado: "Todos os cristãos que consideram a educação superior
[depois de concluir a educação exigida] devem considerar as vantagens
e as inconveniências (g98, 3.8, p. 20)”. Na página 21, o artigo da
Despertai! (g) diz (em inglês): “De qualquer forma, essas decisões são
de natureza pessoal. Os cristãos não devem criticar ou julgar um ao
outro sobre esse assunto. Tiago escreveu: 'Quem é você para julgar seu
próximo?' (Tiago 4:12)” A Despertai! de 22 de agosto de 1989, página
30, diz (em inglês): “Nossa intenção não era desmerecer a educação
universitária. Quanta educação secular se busca é inteiramente uma
questão pessoal.”

A NOVA VISÃO DO ENSINO SUPERIOR (2005)


Vários esboços dos discursos na Escola do Ministério Teocrático e
na Reunião de Serviço após o ano 2000 sugeriram que uma nova visão
do ensino superior estava sendo considerada. Essa visão foi apresentada
em A Sentinela de 1º de outubro de 2005 e, posteriormente, na
literatura, em cartas da Sociedade Torre de Vigia, em palestras de
membros do CG e em reuniões entre o superintendente de circuito e os
anciãos. Para pessoas, inclusive eu, que sabem o que é realmente o
ensino superior, essa visão foi muito decepcionante. As jovens
Testemunhas de Jeová agora eram advertidas contra todos os tipos de
ensino superior, e os motivos daqueles que escolhiam o ensino superior

171
eram questionados. No entanto, o problema é que a base desses avisos
era, e é, questionável e muitas vezes diretamente errada. Conforme
mostrarei abaixo, várias referências a diferentes fontes usadas para
desacreditar o ensino superior são retiradas de seus contextos.

AS VISÕES EXTREMISTAS DE DOIS MEMBROS DO CORPO


GOVERNANTE
Conforme já mencionei, os anciãos nunca devem influenciar os
outros em seus pontos de vista pessoais em situações em que a
consciência de cada um deve decidir. Mas foi exatamente isso que G.
Lösch fez em sua palestra como superintendente de zona em Monza
(norte de Milão, na Itália) em 22 de maio de 2005. O mesmo foi feito
por D. H. Splane em uma palestra na Holanda no mesmo ano. Lösch
chegou ao ponto de pedir aos que estudavam em uma faculdade ou
universidade que interrompessem imediatamente seus estudos. Ele até
ameaçou que eles prestariam contas a Jeová por sua escolha. Eu tenho
um vídeo da palestra de Lösch em italiano com uma tradução em
inglês. Um ancião que está no serviço de tempo integral há muitos anos
e é fluente em italiano e inglês assistiu à palestra, e confirmou a
tradução para o inglês que vemos a seguir.

Se você vai à universidade ou não, pode ser um reflexo de sua


fé ou falta de fé, e pode indicar quão presente está a iminência da
presença da grande tribulação em sua mente. O que é indubitável é
que o tempo que resta é reduzido, conforme Paulo disse em 1
Coríntios 7. Apesar de todos os supostos benefícios que poderiam
advir dela, passar quatro anos ou mais em uma universidade, seria
essa a melhor maneira de passar o tempo restante? Se você está
atualmente em uma universidade, por que não medita em oração
sobre a possibilidade de desistir e fazer algo melhor? No entanto,
para nós que examinamos o significado dos eventos mundiais à luz
da profecia bíblica, há razões melhores para não colocar uma
carreira no mundo em primeiro lugar em suas vidas. Poderíamos
nos comparar a alguém que vê um edifício com uma placa que diz:
172
“Esta empresa está fechando”. Será que nos candidataríamos a um
emprego lá? Claro que não. E se estivéssemos trabalhando para
uma empresa assim, procuraríamos sabiamente um emprego em
outro lugar. Bem, em todas as instituições do mundo existe um
sinal de ‘fim iminente’. O fim está próximo. Sim, a Bíblia nos
garante que o mundo está passando. Portanto, seremos sábios e não
imitaremos aqueles que são parte integral dele.
Agora você ouviu os conselhos. O que você vai fazer agora?
Alguns defendem a faculdade, citando o exemplo de filhos de
alguns anciãos que fizeram ou fazem faculdade. Não podemos e
não queremos dizer o que fazer. Vocês e seus pais devem tomar
uma decisão. Nós não somos os donos da fé de vocês. No entanto,
o escravo fiel e discreto tem a responsabilidade de advertir contra
os perigos espirituais e incentivá-lo a colocar os interesses do
Reino em primeiro lugar.
Assim, o escravo desencoraja frequentar a faculdade por um
longo período de tempo. Muitas vezes, ouvi experiências de
indivíduos que estavam prestes a concluir seus programas
universitários e que desistiram quando descobriram a verdade.
Alguns outros indivíduos batizados recusaram bolsas de estudo. O
que você vai fazer? Quais decisões você tomará? Você vai recusar
ou não? Você receberá uma educação universitária ou não? Você
será responsável perante Jeová por isso. Gostaríamos de elogiar
aqueles que abandonaram a faculdade quando aceitaram a
verdade, assim como os que, depois de ouvirem essa palestra,
tomarão a mesma decisão. Talvez você ainda queira defender a
possibilidade de ir para a faculdade. Você pode dizer: “Veja, o
irmão tal foi para a faculdade, e agora ele está servindo na
congregação, e ele também é pioneiro.” É verdade que ele pode ter
sobrevivido à faculdade, por assim dizer. No entanto, o que se
segue é uma verdadeira experiência de um jovem que sofria de um
distúrbio compulsivo, o que o fazia lavar as mãos repetidas vezes,
até mesmo 100 vezes por dia. Esse distúrbio o desencorajou tanto
que um dia ele decidiu se suicidar. Ele comprou um rifle, colocou
na boca e apertou o gatilho. A bala, no entanto, não o matou, mas

173
perfurou a parte do cérebro responsável por seu distúrbio
compulsivo. Ele sobreviveu e, depois disso, ele conseguiu viver
uma vida normal. Sim, é verdade, ele sobreviveu, mas você
recomendaria que outras pessoas imitassem o que o jovem fez?
[Aplausos da platéia] Da mesma forma, alguns sobreviveram à
faculdade, mas você recomendaria isso a outros? Em vez de
investir no ensino superior, seria aconselhável crescer no
conhecimento de Jeová. Para começar a conhecer melhor a Bíblia,
precisamos ler a Bíblia todos os dias. Todo dia! Vamos fazer isso?
(Meus itálicos.)

Há vários pontos a serem criticados nesta palestra. Lösch diz que


ele e os outros membros do CG não ‘dirão aos irmãos o que fazer’,
porque ‘não são donos da sua fé”. Mas é exatamente isso que Lösch

174
faz. A mensagem dele é: Se você for à faculdade, desista
imediatamente. Você “prestará contas a Jeová” por sua decisão. Essa é
uma pressão muito forte desse membro do CG. Além disso, Lösch
compara ir à faculdade com suicídio, atirando em si mesmo. Alguns
sobrevivem a uma tentativa de suicídio, mas você não deve contar com
isso. Esta é a visão de um extremista, alguém que não faz ideia do que
está dizendo.
Eu também gostaria de acrescentar que os argumentos sobre “o
tempo que resta é reduzido” e “a iminência da presença da grande
tribulação” são enganosos. As palavras “o tempo restante é reduzido”
foram dirigidas a pessoas casadas no primeiro século EC, e elas nada
têm a ver com a grande tribulação. A Sentinela diz:
O apóstolo Paulo dá o seguinte conselho aos cristãos casados: “Digo o
seguinte, irmãos: o tempo que resta é reduzido. Doravante, os que
tiverem esposas sejam como se não as tivessem.” (1 Coríntios 7:29) O
que envolve isso? Bem, os seguidores de Jesus Cristo devem ‘persistir
em buscar primeiro o Reino’. (Mateus 6:33) Portanto, as pessoas casadas
não devem ficar tão absortas com seu cônjuge a ponto de relegar os
interesses do Reino a segundo plano.68
O argumento que diz que você não pode planejar isso ou aquilo
porque o tempo é reduzido também foi usado 59 anos atrás, quando me
tornei Testemunha. E hoje, faz 12 anos que Lösch deu sua palestra.
Portanto, o tempo não foi tão reduzido, como sugeriu Lösch. Aqueles
que cursaram e não largaram a faculdade se formaram na faculdade há
muito tempo e, mesmo que uma pessoa tivesse iniciado uma faculdade
de três anos após a conversa com Lösch, ela viveu nove anos no “tempo
reduzido” após a formatura.69
68
A Sentinela de 15 de julho de 2000, p. 30.
69
Eu também usei as palavras “o tempo é curto” nas conversas como
superintendente de circuito e distrito. Mas nunca pedi ao público para parar com
isso ou aquilo porque o tempo é curto. Como superintendente distrital de 1972 a
1974, fui o principal orador em todas as assembléias de circuito da Noruega, e
minhas conversas naturalmente influenciaram a visão das Testemunhas de Jeová
em relação ao ano de 1975. Em 1966, quando o Life Everlasting in the Freedom of
the Sons of God foi publicado, havia um curso para servos de circuito na filial.
Quando discutimos o livro, lembro que o funcionário da filial disse que nunca
175
Desde 1914, sabemos que durante esta geração virá a grande
tribulação. Sabemos que a grande tribulação se aproxima cada vez mais
a cada ano. Mas não sabemos o quão perto estamos de um determinado
ano. Portanto, argumentos de que você não deve seguir o ensino
superior porque o tempo é reduzido (curto) nunca devem ser usados.
Uma testemunha de Jeová na suíça, que estava no serviço de tempo
integral por muitos anos e cuja história de vida estava impressa em A
Sentinela proferiu algumas palavras sábias. Ela disse: “Devemos
planejar como se o Armagedom chegasse em 50 anos e viver como se
chegasse amanhã”.
Lösch também disse que “o escravo desencoraja a faculdade por um
longo período de tempo”. Isso é, na realidade, uma violação dos
princípios bíblicos citados acima. Nenhum ancião tem o direito de
exercer pressão sobre uma Testemunha quanto ao tipo e duração de sua
educação. A ironia disso é que um jovem que deseja se tornar
encanador, eletricista ou carpinteiro também precisa usar um “longo
período de tempo” para sua educação. Na Noruega, uma pessoa que
deseja se tornar eletricista deve passar catorze anos e meio antes de
obter seu certificado, incluindo a educação de 10 anos exigida por lei.
A educação universitária mais curta para se tornar fisioterapeuta ou
assistente social é de 15 anos e a mais longa é de 16 anos. Para se tornar
uma enfermeira, são necessários 16 anos de educação. A educação
deveríamos dizer que o Armagedom viria em 1975 ou antes daquele ano, porque
não podemos saber disso. Ele apontou algumas palavras na página 30 do livro:
“Não seria por mero acaso ou acidente, mas estaria de acordo com o propósito
amoroso de Jeová Deus no reinado de Jesus Cristo, 'o Senhor do sábado', paralelo
com o sétimo milênio da existência do homem.” (em inglês) O verbo “would”
mostra que esta é uma situação possível, porém hipotética. Ainda tenho as
anotações das minhas palestras, e o ponto de vista que apresentei nas minhas
palestras foi o seguinte: ‘Não sabemos quando chegará o fim. Mas estamos
ansiosos para ver se os 6.000 anos de existência do homem correm paralelos aos
6.000 anos do dia de descanso de Yehowa! Se pudermos ter algum tempo livre e
fazer mais na pregação, até nos tornarmos pregadores em tempo integral, enquanto
observamos o desenrolar dos eventos mundiais até 1975, isso seria muito bom. Mas
não devemos nos comprometer com o ano de 1975 ou outro ano. Mas, como
fazemos hoje, devemos ter planos equilibrados para nós e nossa família que vão
além do ano de 1975, enquanto vivemos vidas normais e servimos Yehowa de todo
o coração.’
176
necessária para se tornar um eletricista não é desencorajada. Então, por
que uma educação de seis ou 18 meses a mais deve ser desencorajada,
porque a última parte dessa educação é feita em uma universidade?
Essa é uma visão extremista que contradiz a Bíblia. E mostrarei abaixo
que não há mais perigos para um cristão que frequenta uma
universidade do que para quem frequenta uma escola profissional, um
curso profissionalizante ou uma escola técnica.
Eu gostaria de mencionar que muitas Testemunhas de Jeová na
Itália ficaram chocadas com a conversa de Lösch. E houve muitas
discussões e comentários negativos após a palestra.
O membro do CG D. H. Splane fez uma palestra como
superintendente zonal na Holanda e na Bélgica em 2005. Ele usou
David, Golias e Saul como ilustrações indicando que cada um de nós
também deve lutar contra gigantes. Um dos “gigantes” que devemos
combater, segundo as palavras de Splane, são os problemas
econômicos. Com base nas palavras de Splane, ficou evidente que
algumas Testemunhas de Jeová haviam citado o artigo equilibrado e A
Sentinela sobre o ensino superior de 1992. Nesse contexto, Splane
disse:70

Milhares de nossos irmãos enfrentam o gigante dos problemas


econômicos. O mundo os mantém trabalhando longas horas. Os pais
querem o melhor para os filhos. Usamos a armadura de Saul ou
seguimos o caminho de Jeová? O mundo diz que a resposta é o
ensino superior. Alguns passam quatro, seis ou até oito anos
buscando o ensino superior do mundo. O resultado: eles são
efetivamente isolados da organização e congregação de Jeová por
esse período.
Em 1992, a organização de Jeová publicou alguns conselhos. A
Sentinela de 1 de novembro de 1992 teve um artigo interessante sobre
educação. A questão era que deveríamos ter uma visão equilibrada da
educação. Curiosamente, as palavras “ensino superior” nunca
apareceram naquele artigo; usou o termo “educação complementar”.
70
A revisão foi feita por uma testemunha da Holanda.
177
Isso significa um curto curso de talvez alguns meses ou até um ano,
ou talvez um pouco mais, para atender adequadamente as suas
necessidades. Vemos a sabedoria desse conselho? Hoje, milhões de
graduados universitários estão sem trabalho. Em Paris, diz-se que
não se pode encontrar um encanador. Sim, muitos têm diplomas em
ciência da computação, mas quando os canos estouram, um diploma
em ciência da computação não os corrige! (Meus itálicos.)

Splane usa a mesma linguagem tendenciosa que encontramos na


literatura sobre ensino superior, conforme mostrarei a seguir. Observe a
expressão depreciativa “o ensino superior do mundo”. (Meu itálico.) Os
cristãos não devem fazer parte do mundo, então as palavras de Splane
indicam que o ensino superior não é para cristãos.
Splane disse que as palavras “ensino superior” nunca apareceram
naquele artigo em 1992. Isso está errado. No parágrafo 18 na página 20,
o artigo diz:
Os cursos devem ser escolhidos com cuidado. Esta revista tem
colocado ênfase nos perigos da educação superior, e isto é justificável,
porque grande parte da educação superior se opõe ao “ensino salutar”
da Bíblia. (Tito 2:1; 1 Timóteo 6:20, 21)
Após essas palavras, o artigo fala de “educação complementar” e
o contexto mostra que essa expressão se refere principalmente a estudos
em uma universidade ou faculdade.
A maneira como Splane apresentou os resultados do ensino
superior é tendenciosa e enganosa. Conforme mostrarei abaixo, é
absolutamente errado afirmar que uma Testemunha que estuda no
ensino superior é “efetivamente excluída da organização e da
congregação de Jeová” durante o tempo em que frequenta a
universidade ou faculdade. Isso mostra que o que Splane diz é boato e
que ele próprio não tem ideia de como são os estudos universitários.
Enquanto estudei idiomas semíticos na Universidade de Oslo em
1985 e recebi meu doutorado em 2004, fui o superintendente presidente
em uma congregação de 120 a 140 publicadores, e eu era um membro
178
muito ativo da Comissão de Ligação Hospitalar em Oslo, e minha
média o serviço de campo era três vezes maior que a média da
congregação. O motivo dessa alta atividade teocrática foi que um
estudante de uma universidade tem substancialmente mais tempo livre
do que um trabalhador braçal que trabalha em período integral. Vou
mostrar isso a seguir.
Quando eu estudava línguas semíticas, tinha duas palestras de 90
minutos por semana na Universidade, durante 14 semanas no outono e
16 semanas na primavera. Quando eu estudava latim e grego, tinha
quatro palestras por semana de 90 minutos cada. Se usarmos o número
de latim e grego, um estudante passa 180 horas na universidade por
ano. Isso mostra que mesmo um aluno que acompanha todas as
palestras passa apenas algumas horas por semana na Universidade,
durante 30 semanas por ano, e há 22 semanas sem aulas. Esse
cronograma mostra que a maioria dos estudos de um aluno é feita em
casa ou em uma biblioteca na hora escolhida pelo aluno. E como o
aluno pode planejar seu tempo, não há absolutamente nenhuma razão
para que seus estudos ponham em risco as atividades teocráticas. Para
comparação, um trabalhador braçal na Noruega passa 1.470 horas (35
horas por semana durante 42 semanas) por ano em seu trabalho
secular.71
A fim de desencorajar ainda mais o ensino superior, Splane disse
que “hoje, milhões de graduados universitários estão sem trabalho”. Se
combinarmos vários países, as palavras de Splane são verdadeiras. Mas
ele não disse que muito mais pessoas com apenas o ensino fundamental
ou o ensino médio estão sem trabalho nesses países. Nos últimos 20
anos, houve vários problemas econômicos e alto desemprego na Europa
e, em menor grau, na Escandinávia. O que é absolutamente certo é que
pessoas com boa educação têm melhores chances de conseguir um
emprego do que pessoas sem instrução quando o desemprego é alto.
Portanto, as palavras de Splane são enganosas, de fato.
Por exemplo, pessoas na área da saúde (enfermeiras, médicos,
etc.) sempre conseguem emprego. O mesmo acontece com engenheiros

71
Nos EUA, um trabalhador braçal gasta de 35 a 40 horas ou até mais que isso por
semana, e tem menos tempo de férias que um trabalhador braçal na Noruega.
179
e técnicos de TI, economistas, professores de ensino primário e ensino
médio, engenheiros civis e um número significativo de outras
ocupações baseadas em estudos universitários. É verdade que aqueles
que apenas estudaram filosofia e outros assuntos altamente teóricos às
vezes têm dificuldades em encontrar emprego. Mas estimo que menos
de 5% das disciplinas ensinadas na Universidade de Oslo e em
Høgskolen Kristiania (Faculdade de Kristiania) têm apenas um lado
teórico e prático. Portanto, os 50.000 estudantes dessas duas
instituições de ensino superior têm boas chances de encontrar um
emprego após a formatura. Mais tarde, descreverei a situação de 25
Testemunhas de Jeová que cursaram o ensino superior enquanto eram
membros ativos da mesma congregação em que eu estava.

RAZÕES PARA NÃO ESCOLHER O ENSINO SUPERIOR (2005)


A Sentinela de 1 de outubro de 2005 expressou um espírito muito
diferente do espírito no artigo de 1992. O artigo de 1992 discutia os
perigos do ensino superior, mas mostrava ao mesmo tempo que havia
situações em que era sensato escolher o ensino superior e que ninguém
deveria criticar tal decisão. O artigo de 2005 falou fortemente contra o
ensino superior e, lamentavelmente, as razões apresentadas foram
questionáveis e erradas. Os seguintes motivos foram apresentados no
artigo:
1) O ensino superior é realizado para se tornar rico e influente
(página 28, ¶9):
Um editorial do jornal The New York Times observa: “Antes, a educação
superior era encarada como um trampolim para grandes oportunidades.
Hoje, ela é um indicador das diferenças entre os ricos e os não tão ricos.”
Em outras palavras, as vagas nas escolas de educação superior de alta
qualidade estão praticamente nas mãos dos ricos e influentes. Colocam
seus filhos nessas escolas com o objetivo de assegurar que eles também
se tornem os ricos e os influentes deste sistema. Será que os pais cristãos
devem escolher tal objetivo para os filhos?
2) Se alguém segue o ensino superior, tal pessoa avança no sistema
atual (página 28, ¶10):
180
Mesmo em países onde a educação superior é gratuita, o aluno talvez
precise se comprometer de alguma forma. Por exemplo, The Wall Street
Journal relata que, em certo país do sudeste asiático, o governo
administra “um sistema educacional com estrutura piramidal que
descaradamente promove os melhores alunos”. Essa “promoção”
significa, em última análise, vagas na nata das instituições educacionais
do mundo inteiro: Oxford e Cambridge, na Inglaterra; Harvard e Yale,
nos Estados Unidos; bem como outras. Por que esse governo asiático
patrocina um programa tão abrangente? “Para fomentar a economia
nacional”, diz o relatório. A educação talvez seja praticamente gratuita,
mas o preço que os alunos pagam é uma vida devotada ao progresso
deste sistema. Embora muitos almejem esse estilo de vida, será que é
isso o que os pais cristãos querem para os filhos?
3) Os alunos sofrem pressão de tempo (página 29, ¶12):
Além do mau comportamento, há também a pressão dos trabalhos
escolares e dos testes. Como é de esperar, os alunos precisam estudar e
fazer os deveres para passar nos exames. Alguns talvez até precisem
trabalhar meio período. Todas essas atividades consomem muito tempo e
energia. E quanto será deixado para atividades espirituais? Quando as
pressões aumentarem, o que será relegado? Será que os interesses do
Reino ainda virão em primeiro lugar, ou serão colocados de lado?
4) Os alunos são expostos a uma influência negativa (página 30, §
13):
É claro que a imoralidade, o ambiente ruim e as pressões não existem
apenas nas universidades ou faculdades. No entanto, muitos jovens não-
cristãos encaram essas coisas como parte da educação e acham que não
há nada demais nisso. Será que os pais cristãos devem propositalmente
expor os filhos a um ambiente assim durante quatro anos ou mais?
5) O ensino universitário tem pouco valor em relação à obtenção de
um bom emprego (quadro, página 29):
Em vista do exposto acima, cada vez mais educadores têm sérias dúvidas
quanto ao valor da educação superior hoje.
AS CITAÇÕES FORAM TIRADAS DO CONTEXTO

181
Eu estudei cuidadosamente as fontes que foram usadas no artigo de
2005 e nenhuma dessas fontes é tratada de maneira justa. Esse fato
colocou o autor do artigo e aqueles que o conferiram sob uma luz muito
ruim.
O motivo número 1) deturpa a fonte da citação. O autor não fala
sobre o objetivo do ensino superior, que esse objetivo é “tornar-se rico e
influente neste sistema”. Ele não fala sobre objetivos, mas
oportunidades. Ele está discutindo como ajudar jovens de famílias que
não são tão ricas a obter uma educação que lhes permita bons
empregos. Ele diz que espera que a “crise” na educação cause
“mudanças no ensino superior que tornem mais fácil para os
adolescentes que não são abastecidos obterem a educação necessária
para competir por esses empregos”.
O artigo [de A Sentinela] fala sobre as faculdades nos EUA, mas a
situação é diferente na Escandinávia e em outros países. Por exemplo,
os 30.000 estudantes da Universidade de Oslo são de todos os níveis da
sociedade e tenho certeza de que a maioria dos alunos vem de famílias
que não são ricas. Aqueles que estudam para serem professores de
jardim de infância, professores da escola primária, enfermeiros,
bibliotecários, fisioterapeutas, engenheiros, técnicos de TI ou
farmacêuticos, na maioria dos casos, não iniciam seus estudos com um
plano para enriquecer. O que os membros do CG não entendem é que
as ocupações mencionadas, e quatrocentas outras ocupações, não
enriquecem as pessoas; são empregos normais, e o salário é do mesmo
nível, ou até um pouco menor do que o salário de um encanador ou
eletricista.
Quando o parágrafo 9 do artigo em A Sentinela, com base na
citação, conclui que o ensino superior está se tornando algo apenas para
pessoas ricas e influentes, isso absolutamente não é o que diz o artigo
de origem. O artigo [de origem] mostra que os pais ricos gastam muito
dinheiro para ajudar seus filhos a obter os melhores cursos
universitários, enquanto isso é mais difícil para os mais pobres. Os
funcionários da universidade estão discutindo como essa situação pode
ser remediada. Sobre esse pano de fundo, a pergunta: “Os pais cristãos
devem apresentar esse objetivo [tornar-se rico e influente] para seus

182
filhos?” é baseada em uma premissa falsa, e a pergunta está conduzindo
os leitores ao erro. Na realidade, a pergunta está manipulando os
leitores. Isso ocorre porque a mensagem do parágrafo em A Sentinela é:
As pessoas buscam o ensino superior para serem ricas e influentes.
Tornar-se rico e influente é errado para os cristãos. Portanto, os cristãos
não podem seguir o ensino superior.
O motivo número 2) novamente deturpa a fonte. Um país da Ásia
onde a educação não custa muito dinheiro é mencionado. O preço dessa
educação gratuita, de acordo com o parágrafo 10, é que os estudantes
devem dedicar suas vidas ao trabalho para a atual ordem mundial.
Tenho certeza de que os estudantes deste país não assinam um contrato
vinculando-os a uma determinada profissão pelo resto de suas vidas.
Mas quando eles concluem seus estudos, eles podem escolher sua
ocupação. Esta é a situação na Escandinávia e em todos os países livres
no mundo. Estimo que muito mais de 90% dos mais de quatrocentos
estudos diferentes na Faculdade de Oslo e na Universidade de Oslo
levam a empregos normais, como os mencionados acima. Os graduados
não se dedicam ao trabalho para a atual ordem mundial, assim como um
encanador ou eletricista.
A conclusão do parágrafo 10 é que o objetivo do ensino superior é
chegar ao topo. Mas essa é uma generalização que, em muitos, ou na
maioria dos casos, não é verdadeira. Assim, quando o parágrafo
pergunta: “Embora muitos almejem esse estilo de vida, [chegar ao topo
e se dedicar a trabalhar para esta ordem mundial] será que é isso o que
os pais cristãos querem para os filhos?”; essa premissa também é falsa,
e o leitor é novamente manipulado e levado a ter uma visão negativa do
ensino superior.
O motivo número 3) pode, em alguns casos, ser parcialmente
verdadeiro. Em conexão com os exames, é necessária uma leitura
extensiva. Mas a pressão não precisa ser maior do que no ensino médio
ou no emprego de braçal, onde trabalhos específicos precisam ser
concluídos dentro de um tempo limitado. Se o aprendizado se espalhar
por todo o ano, não haverá pressão alguma.
O que é enganador em relação ao ponto 3) é a generalização que é
feita: a pressão em relação aos estudos e aos exames, e o estresse
183
devido à necessidade de ter um emprego de meio período faz parte da
vida de um aluno. Portanto, há pouco tempo para atividades espirituais.
Acima, mencionei minha própria experiência como estudante. Eu não
usava mais de 180 horas por ano para assistir a palestras na
universidade, enquanto um trabalhador braçal pode usar 1.470 horas em
seu trabalho.
Fui membro da congregação Majorstua em Oslo, Noruega, por 35
anos. A congregação tem a Universidade de Oslo em seu território e, ao
longo dos anos, muitas Testemunhas de Jeová jovens se mudaram para
nossa congregação para estudar na Universidade. Durante esses 35
anos, 25 membros da congregação se formaram na Universidade. Todos
os 25 alunos, exceto um, participaram regularmente de reuniões e
tinham um cronograma de pregação equilibrado. Havia 16 homens
entre os alunos, e até onde eu sei, todos eles servem como anciãos em
suas congregações hoje. Assim, a “pressão” do ensino superior não
precisa interferir no cronograma teocrático equilibrado de uma pessoa.
O motivo número 4) diz que a imoralidade e o mau comportamento
fazem parte de universidades e faculdades e todos os tipos de
ambientes. Mas então o artigo diz que muitos alunos veem isso como
uma parte natural da vida de um aluno. Depois disso, o artigo
novamente generaliza: A vida de um aluno é assim! Então, com base na
generalização, o artigo pergunta por que os pais devem expor seus
filhos a essa má influência por vários anos?
A premissa para a pergunta é insustentável. Primeiro, os alunos
veem o sexo livre como algo natural, mas isso também é verdade para a
maioria das pessoas do mundo. Portanto, essa influência na
universidade não é pior do que em outras partes do mundo. Segundo,
não é verdade que os alunos da Universidade de Oslo considerem a
ilegalidade e o mau comportamento uma parte natural da vida
estudantil. Tenho certeza de que esse não é o caso de outras
universidades da Escandinávia. Terceiro, um aluno não precisa se
socializar com outros alunos, se não quiser. O aluno pode assistir a
palestras e estudar em casa, com pouco contato com outros alunos. Ou
ele pode pular todas as palestras e estudar em casa e via Internet, sem
nenhum contato com outros alunos.

184
No entanto, em uma situação, a pergunta no número 4) pode ser
pertinente, ou seja, se um estudante mora no campus junto com outros
estudantes. Mas isso não é necessário para um aluno que é TJ. Morando
no campus, ele ou ela podem estar expostos a influências negativas.
Mas aqueles que vivem fora do campus têm menos contato com
colegas do que, por exemplo, alunos do ensino médio com outros
colegas de classe. Assim, quando o parágrafo 13 pergunta: “Será que os
pais cristãos devem propositalmente expor os filhos a um ambiente
assim [imoralidade e mau comportamento] durante quatro anos ou
mais?” a premissa novamente está errada. O leitor tem mais um motivo
para menosprezar o ensino superior.
O motivo número 5) me faz pensar em Tiago 3:1 (TNM86): “Não
muitos de vós deviam tornar-se instrutores, meus irmãos, sabendo que
havemos de receber um julgamento mais pesado”. A conclusão no
quadro da página 29, após a apresentação de quatro referências, é: “Em
vista do exposto acima, cada vez mais educadores têm sérias dúvidas
quanto ao valor da educação superior hoje”. Esta conclusão é falha, de
fato. Como já mencionado, li todos os quatro artigos mencionados por
A Sentinela, e o valor do ensino superior não é questionado em nenhum
deles. Pelo contrário, o objetivo dos artigos é tornar o ensino superior
melhor e mais direcionado em conexão com a necessidade de
trabalhadores instruídos no futuro.
O artigo da Newsweek não diz que o ensino superior é inútil. Mas
diz que uma educação universitária em uma faculdade menos conhecida
pode dar empregos tão bons quanto a educação de uma universidade de
elite. O artigo da American Educator diz: “Incentivar os alunos a
frequentar a faculdade, apesar de sua fraca preparação acadêmica, é
uma prática baseada em parte na premissa de que todos os empregos
decentes exigem uma educação universitária”. O artigo mostra que
“mais de 40% dos alunos do ensino médio não têm habilidades
matemáticas na 9ª série e 60% não possuem habilidades de leitura na 9ª
série”. Portanto, é melhor adquirir essas habilidades do que iniciar uma
educação universitária sem elas. Trabalhos decentes podem ser
adquiridos por quem tem essas habilidades é a conclusão. O autor não
questiona o valor da educação universitária, mas mostra que essa
educação tem pouco valor para quem não possui habilidades na 9ª série.
185
O artigo da Time discute sobre as pessoas entre 18 e 25 anos, entre
a adolescência e a idade adulta, e como elas conseguem emprego com
base em sua educação. O artigo diz que muitas faculdades não ajudam
seus alunos a se “prepararem para empregos no mundo real”. Mas
também aponta que muitas faculdades começaram a remediar essa
situação. O artigo critica a qualidade de algumas [instituições de]
educação superior, mas não questiona o valor dessa educação.
O artigo do The Futurist mostra que as escolas estão educando mais
pessoas em áreas específicas, mas não há tantos empregos [nessas
áreas]. Este é o pano de fundo para as palavras: “Estamos educando as
pessoas para o futuro errado”. O artigo não põe em dúvida o valor do
ensino superior, mas ressalta a necessidade de tornar esse ensino mais
especializado, a fim de atender às necessidades dos empregadores no
futuro. Portanto, não há absolutamente nenhuma base para a alegação
de A Sentinela de que mais e mais educadores têm sérias dúvidas sobre
o valor do ensino superior!
Em todas as áreas da sociedade moderna, há necessidade de pessoas
educadas em instituições superiores. Um hospital precisa de
enfermeiros, especialistas em raio-x e médicos; a força policial precisa
de policiais e advogados; jardins de infância precisam de educadores
para crianças pequenas; escolas primárias e de ensino médio precisam
de professores; as empresas comerciais precisam de advogados,
contadores, economistas, especialistas em TI, engenheiros e pessoas
que dominam idiomas diferentes. Em todas as áreas da nossa sociedade
- em áreas que não contradizem a Bíblia e seus princípios - há uma
grande necessidade de pessoas com ensino superior. É verdade que
também há uma grande necessidade de trabalhadores braçais e com
habilidades práticas, mas essa necessidade não questiona o valor do
ensino superior. Estou certo de que nenhum educador da Noruega ou da
Escandinávia tem sérias dúvidas, ou mesmo pequenas dúvidas, sobre o
valor do ensino superior. Mas, como fizeram os autores dos quatro
artigos que discutem o sistema educacional americano, tenho certeza de
que alguns educadores escandinavos também encontraram fragilidades
nos sistemas educacionais da Escandinávia. As fraquezas devem ser
sanadas, mas o valor do próprio sistema educacional não é questionado.

186
Também devemos ter em mente que algumas das observações dos
artigos citados podem se encaixar nos EUA, mas não na Escandinávia e
em outros países. Não é verdade para a Escandinávia o que o American
Educator diz, que é suficiente conseguir ler, escrever e calcular no nível
da 9ª série para conseguir um emprego decente. A educação de 10 anos
exigida por lei na Noruega não ajudará os jovens a conseguir um
emprego decente. E mesmo o currículo padrão do ensino médio de três
anos sem especialização apenas lhe dará um emprego como trabalhador
não qualificado, por exemplo, em um escritório, em um supermercado
ou como zelador. Visto que a taxa de desemprego tem sido muito baixa
na Noruega, a maioria das pessoas conseguiu um emprego. Mas o
Aftenposten, o maior jornal norueguês, escreveu recentemente que os
trabalhadores não qualificados são os perdedores. Devido às grandes
mudanças entre as empresas comerciais e a sociedade em geral, esses
são os primeiros a perder seus empregos e, no futuro, mais e mais
trabalhadores não qualificados na Noruega perderão seus empregos.
Sendo isso verdade na Noruega, muito mais verdade é, por exemplo, no
sul da Europa, onde a taxa de desemprego é excessivamente alta.
Enquanto este manuscrito estava sendo concluído, ocorreu a
pandemia de Coronavírus. Um grande número de empresas em todos os
países que enfrentam a pandemia irá à falência e os funcionários
perderão seus empregos. Quando a vida novamente se tornar
relativamente normal, quem, do grande número de pessoas
desempregadas, conseguirá emprego? Antes de tudo, pessoas instruídas
e operários com certificados. Pessoas que possuem apenas o ensino
fundamental ou médio terão dificuldades em encontrar emprego quando
houver muito mais pessoas desempregadas do que os empregos
disponíveis. Portanto, um grande número de Testemunhas de Jeová
pagará um preço alto devido à visão extrema do CG em relação ao
ensino superior.
Como o artigo de A Sentinela de 2005 sobre o ensino superior pode
ser tão completamente errado e enganoso? Alguém que examina os
exames de alunos de outras universidades que não a sua é treinado para
avaliar o que o aluno escreveu e os antecedentes do que ele ou ela
escreveu. Devido à minha experiência como examinador, tenho a
seguinte teoria: A pessoa que escreveu o artigo estava procurando
187
evidências de que o ensino superior é ruim. Mas o próprio autor nunca
havia frequentado uma faculdade ou universidade, e não tinha
conhecimento em primeira mão da vida na faculdade ou universidade.
Portanto, quando ele encontrou várias coisas “ruins”, ficou encantado.
Mas ele não foi capaz de avaliar as informações em seu contexto real.
Por isso, ele apresentou uma visão enganosa e falsa [do ensino
superior].
Eu gostaria de acrescentar que o escritor sequer poderia ter
participado de um curso elementar, o qual trata de como escrever
artigos, a ética dos escritores e como lidar com as fontes corretamente.
Portanto, minha opinião é que tanto o forte preconceito do escritor para
com o ensino superior quanto sua incompetência contribuíram para o
mau resultado.
Em 2011, houve um curso para anciãos, e uma parte do curso
discutiu o quão ruim era o ensino superior. Uma carta de 28 de março
de 2012 continha lembretes deste curso. Da carta de duas páginas, uma
página e um quarto de página discutiam o ensino superior. A carta
dizia:
Buscar o ensino superior não apenas leva a más associações para a
pessoa, mas muitas vezes o resultado é que a fé em Jeová Deus e na
Bíblia é quebrada. . . . Os irmãos designados devem ser exemplos em
relação ao seguimento do conselho em relação ao ensino superior dado
pelo escravo fiel e discreto e seu corpo governante. Um ancião, um servo
ministerial ou um pioneiro serão qualificados para continuar a servir em
sua nomeação se ele, sua esposa ou seus filhos seguirem o ensino
superior? Isso depende das circunstâncias e de como os outros o vêem.
Se uma pessoa designada ou sua família seguir o ensino superior, o
corpo de anciãos deve considerar oito questões diferentes. Essas
perguntas incluem seus motivos, se ele é uma pessoa espiritual, se
coloca os interesses do Reino em primeiro lugar e se assiste
regularmente às reuniões. Essas são perguntas naturais que sempre
serão feitas em relação à nomeação de um ancião, um servo ministerial
e um pioneiro. Além disso, existem duas perguntas que tornam difícil
que uma pessoa designada continue seu serviço se ele ou sua família
estudam em uma universidade.

188
1) Ele respeita o que o escravo fiel e discreto disse sobre os perigos
do ensino superior? (3 João 9)
2) Como a congregação o vê?
Quando a literatura da Torre de Vigia, de 2005 em diante, e o curso
para anciãos em 2011, revelaram uma imagem tão ruim do ensino
superior, como os anciãos podiam ver uma pessoa que seguia o ensino
superior como alguém que respeitava o que o escravo fiel e discreto
havia dito sobre os perigos do ensino superior? Além disso, os anciãos
naturalmente transmitiam aos membros da congregação essa visão
muito negativa do ensino superior que recebiam da literatura e do
curso. Em vista disso, como a congregação pode ver uma pessoa que
busca o ensino superior como um bom exemplo? Portanto, mesmo que
não tenha sido dito explicitamente que um ancião, um servo ministerial
ou um pioneiro, ou suas famílias não poderiam seguir o ensino
superior, essa seria a conclusão lógica do conselho dado pelo CG.
Veja a seguir o que aconteceu em um país europeu em 2019: Um
irmão servia como ancião por 19 anos. Ele era muito ativo no serviço
cristão e era membro da Comissão de Ligação do Hospital. Ele também
tinha estudado na Universidade e obteve um doutorado. Enquanto ele
estudava na Universidade, dois superintendentes de circuito diferentes
visitaram a congregação e eles cooperaram muito bem com esse ancião.
Um novo superintendente de circuito visitou a congregação do ancião
em 2019, e uma das primeiras coisas que ele fez foi impedir que esse
irmão fosse ancião. Ele também instruiu os outros anciãos que o irmão
não podia orar nas reuniões da congregação. E qual foi o pecado desse
irmão? Ele tinha estudado na universidade e não era um bom exemplo
para os outros.
Essa situação mostra que, em alguns casos, o corpo de anciãos
aceita que um ancião siga o ensino superior. Mas na maioria dos casos,
esse não é assim que acontece.

O MAL USO DAS CITAÇÕES CONTINUA

189
A Sentinela de 15 de outubro de 2013 (em português) discutiu o
ensino superior. Vários argumentos são muito desequilibrados e
manipulam os leitores. O parágrafo 13 da página 15 diz:
O ensino superior, com sua ênfase no estudo acadêmico, em geral
forma pessoas que têm poucas habilidades práticas ou nenhuma,
deixando-as despreparadas para lidar com as realidades da vida.
Se olharmos para as matérias ensinadas em faculdades e
universidades na Escandinávia, veremos que esta afirmação está errada.
A maioria das disciplinas ensinadas tem um lado prático, e os alunos
estão preparados para a realidade da vida, ou ainda mais preparados em
comparação com marceneiros, encanadores e eletricistas. Quem pode
dizer com razão que uma enfermeira, um professor de jardim de
infância, um professor de escola, um engenheiro agrônomo, um
contador, um engenheiro, um bibliotecário, um técnico de TI, um
eroterapeuta, uma parteira, um oculista, um advogado, um pedagogo,
um médico, um dentista, está ‘despreparado para as realidades da
vida’? O parágrafo 14 da página 16 deste artigo é particularmente
enganador. O parágrafo diz:
Pense no caso do apóstolo Paulo. Ele foi instruído aos pés de
Gamaliel, instrutor da Lei judaica. A educação que Paulo recebeu
pode ser comparada à formação universitária de hoje. Mas que
importância essa educação tinha para Paulo em comparação com o
privilégio de ser escravo de Deus e de Cristo? Ele escreveu:
“Considero . . . todas as coisas como perda, por causa do valor
superior do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor.” Daí
acrescentou: “Por causa dele tenho aceito a perda de todas as coisas e
as considero como uma porção de refugo, para que eu possa ganhar a
Cristo.” (Fil. 3:8) Ter esse conceito ajuda os jovens cristãos e seus
pais a tomar uma decisão sábia na questão da educação. (Veja as
ilustrações.)
Neste parágrafo, a Bíblia simplesmente é mal utilizada. É
possível comparar a educação de Paulo aos pés de Gamaliel com a
educação universitária moderna. Mas quando o parágrafo aplica as
palavras de Paulo em Filipenses 3:8 ao ensino superior e, por
implicação, as aplica ao ensino superior moderno, isso é tirar as
palavras completamente de seu contexto. Se alguém pegar “todas as
190
coisas” na expressão “eu. . . considero todas as coisas como uma
perda”, e aplicar essas palavras ao ensino superior, também deve ser
aplicado à fabricação de tendas, que era a ocupação de Paulo e, por
implicação, deve se referir também aos trabalhadores braçais modernos.
Mas o CG nunca aplicaria dessa maneira.
Nos versículos 4 a 7 de Filipenses, capítulo 3, Paulo fala sobre
sua vida como um judeu zeloso e circuncidado que poderia, do ponto de
vista da lei, ser visto como irrepreensível. Essa situação, que antes era
tão valiosa para ele, ele agora enxergava como refugo por causa de seu
conhecimento de Cristo. Suas palavras não têm absolutamente nada a
ver com o ensino superior. Mas estou certo de que o que Paulo
aprendeu de Gamaliel (seu ensino superior) foi de grande ajuda para ele
em sua obra de pregação, porque ele havia aprendido a conhecer as
Escrituras e como os líderes religiosos de seus dias estavam pensando.
Usar as palavras de Paulo em Filipenses 3:8 para advertir contra o
ensino superior é novamente uma manipulação do leitor.
No final do parágrafo, há uma referência às figuras da página 15.
Este é um exemplo de uma tendência que vemos em muitas discussões
sobre ensino superior e referências ao ensino superior em nossa
literatura a partir de 2005. Os desenhos apresentam o ensino superior
como o oposto de uma vida cristã equilibrada, e os motivos de quem
segue o ensino superior são questionados. Mas a verdade é que o ensino
superior pode ser uma vantagem para um cristão em relação à sua vida
e serviço, como também mostra o artigo de 1 de novembro de 1992.

DESACREDITANDO AQUELES QUE BUSCAM O ENSINO


SUPERIOR
Os artigos de A Sentinela de 1 de novembro de 1992 e Despertai!
de 8 de março de 1998, incentivam as jovens Testemunhas de Jeová a
fazer planos para o serviço de tempo integral. No entanto, eles também
mostram que ninguém deve criticar as pessoas que escolhem o ensino
superior. Em muitas ocasiões, desde 2005, os motivos de quem escolhe
o ensino superior tem sido questionados. Uma carta da filial norueguesa
de 7 de dezembro de 2006 a todos os anciãos diz:

191
Uma educação universitária ou universitária não nos ajuda a promover
os interesses do Reino. Não. Em vez disso, um será absorvido na
promoção dos próprios interesses. (Mateus 6:33)
Segundo essa afirmação, não há exceção: buscar educação
superior é um esforço egoísta. Qualquer proposição geral é perigosa, e
as palavras do autor desta carta sobre o ensino superior revelam um
forte viés. Isso é, na verdade, xingamentos, estabelecendo um selo de
egoísmo em todos os que buscam o ensino superior.
Há também um questionamento de motivos em várias discussões
em A Sentinela e em outras literaturas após 2005, como mostrado
abaixo.
A Sentinela de 15 de abril de 2008, páginas 3–7, ¶9, 10:
9
Outro exemplo de algo útil que pode se tornar sem valor é a
educação secular. Queremos que nossos filhos recebam uma boa
educação para se saírem bem na vida. Mais importante ainda, o cristão
bem instruído tem maior facilidade de ler a Bíblia com entendimento,
raciocinar sobre problemas e chegar a sólidas conclusões, e ensinar as
verdades bíblicas de modo claro e convincente. Obter boa educação
leva tempo, mas é um tempo bem empregado.
10
Mas que dizer da educação superior, recebida numa faculdade ou
universidade? Isso é amplamente encarado como vital para o sucesso.
No entanto, muitos dos que buscam tal educação acabam com a
mente cheia de propaganda prejudicial. Tal educação desperdiça
valiosos anos da juventude que poderiam ser mais bem usados no
serviço de Jeová. (Ecl. 12:1) Talvez não surpreenda que, em países
onde muitos recebem esse tipo de educação, a crença em Deus nunca
esteve tão em baixa. O cristão, porém, em vez de buscar segurança
nos sistemas educacionais avançados deste mundo, confia em Jeová.
— Pro. 3:5. (O itálico é meu)
Novamente, vemos um autor muito desequilibrado. A definição
da palavra “propaganda” é:
Idéias, fatos ou alegações se espalham deliberadamente para promover
a causa de alguém ou danificar uma causa oposta (Merriam-Webster).
Para espalhar propaganda, é preciso ter uma agenda. Mas mal
consigo ver qualquer agenda nos ensinamentos da Universidade de
192
Oslo. A evolução contradiz a Bíblia e as crenças cristãs, e a maioria dos
alunos e professores acredita que a evolução orgânica ocorreu. Mas
existem muito poucos módulos de estudo na Universidade de Oslo,
onde a evolução faz parte do currículo. O esquema ético dos autores
sugere que, quando uma característica de um sistema ou instituição é
dada, essa característica deve se encaixar em grande parte do sistema
ou instituição e não apenas ser uma exceção. As universidades não
espalham propaganda prejudicial! E se a evolução orgânica é vista
como tal, é apenas uma fração muito pequena do que as universidades
ensinam.
Por outro lado, o ensino do CG sobre o ensino superior se
enquadra perfeitamente na definição de propaganda, conforme indicado
acima. Os artigos de A Sentinela de 2005 e 2013 que discuti contêm
várias alegações que são tiradas de contexto. E essas alegações têm
uma agenda: mostrar que existem grandes problemas e perigos no
ensino superior (para promover a causa de alguém) e mostrar que
aqueles que defendem o ensino superior estão errados (prejudicar uma
causa oposta).
Outra alegação é que “Tal educação desperdiça valiosos anos da
juventude que poderiam ser mais bem usados no serviço de Jeová.” As
palavras educação” se referem ao ensino superior. Mas o autor diria
que os quatorze anos e meio necessários para obter um certificado
como eletricista também “desperdiçam valiosos anos jovens”? Nunca vi
a literatura da Sociedade Torre de Vigia criticar a longa educação dos
trabalhadores braçais.
A técnica usada aqui é estabelecer o ensino superior em contraste
com o “serviço de Jeová”. Abandonei meus estudos de engenharia e
comecei como pioneiro seis meses após meu batismo, e continuei no
serviço de tempo integral por 15 anos. E quando falo com jovens
Testemunhas de Jeová, incentivo-os a considerar o serviço de tempo
integral. No entanto, se olharmos para a situação, a maioria das jovens
Testemunhas de Jeová não entra no serviço de pioneiro quando é
adolescente ou tem vinte e poucos anos. Mas eles passam alguns anos
em uma escola profissionalisante, um curso profissionalisante ou uma
escola técnica para aprender uma profissão ou habilidade, para que

193
possam cuidar de si mesmos e de uma futura família. É muito errado
criticar a escolha dessas pessoas e contrastá-las com o uso dos
“valiosos anos da juventude no serviço de Jeová”. Alguns jovens
buscam o ensino superior, e também é errado colocar essa educação em
contraste com o “serviço de Jeová”.
Adolescentes e jovens são diferentes em relação à sua força e
maturidade física e psíquica. Portanto, se uma pessoa decide usar seus
“valiosos anos da juventude” para aprender uma profissão ou
habilidade, incluindo o ensino superior, para se tornar uma enfermeira
ou professora, ela não deve ser criticada. Esses podem servir a Jeová de
todo o coração enquanto estudam.
As duas últimas cláusulas também são tendenciosas e lemos:
O cristão, porém, em vez de buscar segurança nos sistemas
educacionais avançados deste mundo, confia em Jeová
Novamente, a mesma técnica é usada: buscar o ensino superior é
buscar segurança neste mundo, e aqueles que fazem isso não confiam
em Jeová. Isso simplesmente não faz sentido! Uma testemunha que
estuda em uma faculdade para se tornar um bibliotecário, técnico de TI,
oftalmologista ou contador, não tem falta de fé em Jeová, como implica
a citação, assim como um encanador, um soldador, um eletricista, um
carpinteiro, ou um alfaiate. Essas ocupações baseadas em um estudo
universitário são profissões normais que não oferecem remuneração
mais alta ou segurança mais alta do que as ocupações não
universitárias.
Dentro do quadro abaixo, há dois exemplos da congregação de
Majorstua em Olso, mostrando que os jovens não estão “desperdiçando
anos valiosos” ao buscar o ensino superior.
Uma jovem irmã cresceu em uma família de Testemunhas de
Jeová e seus pais a incentivaram a se tornar uma pioneira após o
ensino médio. Ela tinha uma visão positiva do serviço cristão, mas
quando terminou o ensino médio aos 18 anos de idade, não sentiu que
estava madura o suficiente para começar a ser pioneira
imediatamente. Em vez disso, ela planejou o serviço de tempo
integral mais tarde e iniciou um estudo universitário de três anos para

194
se tornar uma enfermeira. Ela pensava que ter um certificado de
enfermeira lhe daria um emprego em qualquer lugar do país.
Enquanto estudava, frequentava as reuniões regularmente, comentava
nas reuniões e possuía um bom registro de serviço. Depois que se
formou como enfermeira, ela se casou e ela e o marido se mudaram
para um lugar onde a necessidade era grande. Ela conseguiu um
emprego imediatamente, mas ele, cujo trabalho era consertar motores,
teve que esperar seis meses antes de conseguir um emprego. Mais
tarde, este casal serviu em um país estrangeiro, onde a necessidade é
grande. Dizer que essa jovem irmã só considerava seus próprios
interesses e desperdiçou anos valiosos em sua juventude e que sua
educação não a ajudou a servir melhor a Jeová é absolutamente
errado. Se ela tivesse começado a ser pioneira aos 18 anos, quando
sentiu que não podia gerenciar esse serviço, o resultado poderia ter
sido negativo.
Uma jovem irmã casada era pioneira. Um dia, quando ela e eu
trabalhamos juntos no serviço, ela disse que estava pensando em
deixar de ser pioneira para estudar na Universidade e se tornar
enfermeira. O motivo era a saúde do marido, que estava se
deteriorando. Ela não possuía habilidades especiais e percebeu que se
tornaria a provedora da família. Portanto, ela precisava ter algumas
habilidades. Eu disse que isso era uma questão de consciência, por
isso não pude dar nenhum conselho a ela sobre o que ela deveria
fazer, exceto procurar a orientação de Jeová. Ela começou seus
estudos e, antes de se formar depois de três anos, seu marido estava
tão doente que ele estava na cama 24 horas por dia. Ela era paga por
cuidar dele duas horas por dia e, durante cinco horas, trabalhava em
um hospital. Podemos dizer que sua decisão de parar de ser pioneira e
adquirir o ensino superior foi para seus próprios interesses egoístas?
Ela estava desperdiçando anos valiosos da sua juventude?
Absolutamente não! Ela poderia, é claro, continuar como pioneira até
o marido ficar muito doente e, depois disso, ganhar dinheiro como
trabalhadora não qualificada. Mas isso teria sido melhor do ponto de
vista bíblico? Agora faz 20 anos que ela se formou, e se olharmos
para todos esses anos, seu investimento em tempo em sua educação e
no tempo que ela usou como enfermeira deu a ela mais tempo livre
do que se ela não tivesse obtido tal educação e fosse uma
195
trabalhadora não qualificada.

Abaixo há mais quatro exemplos em que os motivos daqueles


que buscam o ensino superior são questionados:
Jeremias e a Mensagem de Deus para Nós (2010), página 45 ¶7:
Um cristão pode cair no erro de pensar que seu coração nunca o
enganará, como pensavam muitos nos dias de Jeremias. Por exemplo,
um homem pode raciocinar: ‘Eu não posso perder meu emprego,
preciso sustentar minha família.’ Isso é compreensível. Mas e se esse
raciocínio o levasse a pensar que precisa obter mais educação para
manter ou conseguir um bom emprego? Isso também talvez pareça
lógico, levando-o a concluir: ‘Os tempos mudaram, e para sobreviver
no mundo de hoje e manter o emprego é preciso ter curso superior.’ É
muito fácil a pessoa começar a desvalorizar os conselhos sábios e
equilibrados da classe do escravo fiel e discreto sobre obter mais
educação e então passar a perder reuniões. Nesse respeito, alguns,
aos poucos, foram moldados pelos raciocínios e conceitos do mundo.
(Efé. 2:2, 3) A Bíblia, com razão, nos adverte: “Não deixem que o
mundo em sua volta os comprima no seu próprio molde.” — Rom.
12:2, Phillips.
Toda a discussão acima mostra que os conselhos do CG estão
muito longe de serem equilibrados, ao contrário do que afirma o livro.
A maioria das referências é tirada de contexto e é dada uma caricatura
de diferentes lados do ensino superior. Na citação acima, novamente
vemos um contraste enganoso. O conselho do CG é que nenhum irmão
ou irmã deve seguir o ensino superior, pelo menos não para obter um
diploma de graduação em humanas ou em áreas tecnológicas. Se você
não seguir este conselho, “começará a perder as reuniões”.
Como mostrei acima, os alunos têm muito mais tempo livre do
que os que trabalham em período integral. Portanto, não há razão para
que o ensino superior deva fazer com que alguém perca as reuniões.
Mas se um estudante universitário faltar às reuniões, pode haver outro
motivo que não se baseia na falta de tempo. Pode ser a visão extrema
do CG quanto ao ensino superior que faz com que os membros da
congregação deem “um gelo” no estudante. Ele ou ela simplesmente
196
não se sente bem-vindo na congregação. Um amigo meu nos EUA, que
é ancião, escreveu:
Voltando às pressões sociais internas da congregação, minha
preocupação é que, até certo ponto, o quadro pintado do ensino
superior na organização seja uma caricatura e, com base nisso, muitos
membros da congregação têm uma visão tendenciosa. Eu não
experimentei isso sozinho, mas posso imaginar, como você diz, que
alguns estudantes universitários não se sintam bem nas reuniões por
causa desse viés e, portanto, ficam longe das reuniões.
Ao longo dos anos, recebi muitos sinais de anciãos na Noruega e
no exterior com relação ao ensino superior. E esses sinais mostraram o
forte viés desses anciãos, que são baseados nos escritos do CG. Isso se
encaixa muito bem com o ponto de vista citado acima. Mencionei 25
jovens Testemunhas de Jeová na congregação Majorstua, em Oslo, que,
durante 35 anos, se formaram na Universidade de Oslo. Todos, exceto
um, frequentavam as reuniões regularmente, porque se sentiam em casa
na congregação da mesma maneira que os outros membros.
A Sentinela de 15 de junho de 2011, páginas 29–32:
É obrigação bíblica do cristão cuidar da família, o que inclui prover o
sustento. (1 Tim. 5:8) Mas será que para isso é realmente necessário
ter um diploma universitário?
Seria bom analisar o efeito que a busca de ensino superior pode ter
sobre a relação da pessoa com Jeová. Vamos ilustrar isso com um
exemplo bíblico.
Baruque era secretário do profeta Jeremias. A certa altura, em vez de
se concentrar nos seus privilégios no serviço de Jeová, Baruque
tornou-se ambicioso. Jeová percebeu isso e, por meio de Jeremias, o
alertou: “Estás procurando grandes coisas para ti. Não continues a
procurar.” — Jer. 45:5.
O que eram as “grandes coisas” que Baruque procurava? Talvez uma
delas fosse ficar famoso no sistema judaico. Ou pode ser que as
grandes coisas fossem prosperidade material. Seja como for, ele
perdera a noção das coisas mais importantes — as de valor espiritual.
(Fil. 1:10) Mas Baruque evidentemente acatou o aviso de Jeová dado

197
por Jeremias e, desse modo, ‘ganhou a sua alma como despojo’. —
Jer. 43:6.
O que esse relato nos ensina? O conselho dado a Baruque mostra que
havia algo errado. Ele buscava grandes coisas para si. Assim, se você
consegue se sustentar, precisa mesmo gastar tempo, dinheiro e
esforço na busca de mais educação secular só para satisfazer suas
próprias aspirações ou as de seus pais ou de outros parentes?
Por que o relacionamento de alguém com Jeová deve ser
destacado em conexão com o ensino superior? Por que isso não é
mencionado em conexão com uma educação baseada em escolas
profissionalisantes, cursos profissionalisantes e escolas técnicas,
mesmo que o período de tempo usado antes de obter seu certificado
como trabalhador qualificado seja igual ou não muito menor que o
tempo usado para uma educação universitária?
A resposta é que os membros do CG consideram ambiciosos
aqueles que buscam o ensino superior, assim como Baruque, que
procurou grandes coisas para si mesmo. E estudantes de faculdades e
universidades têm aspirações erradas. Isso significa que o CG está
dizendo que quem estuda para se tornar uma enfermeira, um professor
da escola ou um bibliotecário tem aspirações erradas e busca grandes
coisas para si mesmo. Mas a verdade é, como já disse várias vezes, que
essas são profissões normais que não incluem nenhuma fama nem dão
um grande salário. O ponto de vista dos membros do CG mostra que
eles não têm conhecimento em primeira mão do que é o ensino superior
e que são tendenciosos nessa área.
Vou analisar a educação na Noruega. É necessário ir à escola por
dez anos. Normalmente, uma criança começa a frequentar a escola
quando tem seis anos de idade. Isso significa que essa educação
primária termina quando a pessoa tem 15 anos. Após o ensino
fundamental, o ensino médio leva três anos e a pessoa tem 18 anos.
Não é fácil encontrar um emprego decente na Noruega para uma pessoa
que só tem ensino médio. Para obter uma profissão, é possível um
estudo universitário. Para obter um certificado como fisioterapeuta,
assistente social, radiologista, fonoaudiólogo e dezenas de outras

198
profissões, é necessário um estudo de dois ou três anos na
universidade.72 Isso significa que o ensino superior é concluído com a
idade de 20 ou 21. Para se tornar uma enfermeira ou um advogado, é
necessário um estudo de três anos.
Podemos comparar estudos universitários com a educação
necessária para se tornar um eletricista. Quem quer se tornar eletricista
não precisa estudar em uma universidade. Mas ele ou ela recebe
educação em uma escola profissional. Antes de uma pessoa obter o
certificado de eletricista, dez anos na escola primária e quatro anos e
meio de educação adicional são necessários. Isso significa que a
educação para se tornar eletricista é apenas seis meses mais curta que
os estudos universitários de dois anos e um ano e meio menor que os
estudos universitários de três anos. E, curiosamente, o salário de um
eletricista é maior que o salário de um fisioterapeuta, assistente social,
radiógrafo, fonoaudiólogo ou enfermeira. Então, por que deveríamos
dizer que aqueles que obtêm uma profissão em um estudo universitário
estão buscando grandes coisas para si mesmos, mas um eletricista ou
outros trabalhadores braçais não estão buscando grandes coisas?
A Sentinela de 15 de novembro de 2011, página 19, ¶11:
11
Cristãos vigilantes se refreiam de usar o mundo plenamente com
relação à educação superior. Muitos neste mundo consideram a
educação superior como um indispensável trampolim para o prestígio
e a riqueza. Mas nós, cristãos, vivemos como residentes temporários e
buscamos alvos diferentes. Evitamos ‘atentar para coisas altivas’.
(Rom. 12:16; Jer. 45:5) Como seguidores de Jesus, acatamos seu
alerta: “Mantende os olhos abertos e guardai-vos de toda sorte de
cobiça, porque mesmo quando alguém tem abundância, sua vida não
vem das coisas que possui.” (Luc. 12:15) Assim sendo, os jovens
cristãos são incentivados a buscar alvos espirituais, obtendo apenas a
instrução necessária para atender às suas necessidades básicas, ao
mesmo tempo que focalizam em se preparar para servir a Jeová ‘de
todo coração, alma, força e mente’. (Luc. 10:27) Por fazerem isso,

72
Nos EUA, o ensino fundamental é de nove anos, o ensino médio é de três anos e,
para obter uma graduação completa, são necessários mais quatro anos. Na Noruega,
o ensino fundamental é de dez anos, o ensino médio é de três anos e, para obter
uma graduação, são necessários mais três anos.
199
podem tornar-se ‘ricos para com Deus’. — Luc. 12:21; leia Mateus
6:19-21.
Neste texto, novamente encontramos a visão negativa de que
buscar o ensino superior é o mesmo que “atentar para coisas altivas”.
Por outro lado, o conselho é obter “apenas a instrução necessária para
atender às suas necessidades básicas”. Mas esse contraste pode ser
falso. O artigo sobre educação superior em A Sentinela de 1 de
novembro de 1992, página 17, ¶9, dizia:
Relatórios recebidos de congêneres da Sociedade Torre de Vigia em
diversas partes do mundo indicam que, em muitos lugares, é difícil
encontrar um emprego com um salário adequado depois de completar
simplesmente o mínimo de educação escolar exigido por lei, ou em
alguns países mesmo depois de terminar o segundo grau ou ensino
médio.
Essas palavras foram escritas há 27 anos, e o desemprego na
Europa e os requisitos para conseguir um emprego são muito maiores
agora do que há 27 anos. Alguns jovens pensam que, em suas
circunstâncias, podem servir melhor a Jeová por serem ministros em
período integral, e esse ponto de vista é louvável. Outros jovens
pensam que, em suas circunstâncias, a melhor maneira de servir a Jeová
é planejar com o objetivo de ter sua própria família. Os números
mostram que há muito mais jovens que não escolhem o serviço de
tempo integral do que aqueles que o fazem. Não podemos criticar esses
jovens porque nossa força física e psíquica é diferente e nossas
circunstâncias pessoais são diferentes. Um jovem pode até perceber que
com o tempo precisa cuidar de seus pais doentes, porque a situação
econômica de seu país é ruim.
Então, como uma pessoa que concluiu o ensino médio deveria
pensar em colocar os interesses espirituais em primeiro lugar? Ele
poderia tentar encontrar um emprego como trabalhador não qualificado
em um supermercado ou trabalhar como zelador. Se ele encontrasse
esse emprego, seu salário cobriria suas necessidades básicas de comida
e abrigo. Mas isso é por enquanto, e uma pessoa sábia também
planejará o futuro. Se ele vier a ter esposa e filhos, será capaz de cuidar
da família? E se ele vier a ter uma família e um de seus filhos, por
causa de uma doença, exigir cuidados especiais caros, ele poderá pagar
200
por isso? Ele e sua família talvez precisem fazer algo diferente quando
tiram férias. Isso vai custar dinheiro. E o que dizer de participar de uma
assembleia internacional da TJs? Viajar para um país estrangeiro é
muito caro. Porém, como o CG convida Testemunhas de Jeová de
muitos países a participar de tais assembleias, os membros do CG
devem pensar que pagar muito dinheiro por participar de uma
assembléia internacional está incluído na frase “para atender às suas
necessidades básicas”.
Se uma pessoa depois do ensino médio estuda dois ou três anos
em uma universidade para se formar, isso pode ser uma espécie de
“seguro” para ela. Ela conseguirá um emprego muito mais fácil do que
uma pessoa não qualificada, e também quando o desemprego estiver
alto, receberá um salário razoável. Portanto, em nossa sociedade, parece
claro que obter um diploma de trabalhador ou obter uma educação
universitária que o qualifique para um emprego como assistente social,
fisioterapeuta ou radiografista é o mesmo que “cuidar de suas
necessidades básicas.”
A Sentinela de 15 de setembro de 2012, página 22, disse:
Bem, a pessoa que não confia na iminência do fim talvez faça planos
alternativos, por assim dizer, para o caso de as coisas não acontecerem
como Jeová disse que aconteceriam. Em outras palavras, talvez ela
pense: ‘Vou esperar para ver se Jeová realmente cumpre a sua
palavra.’ Daí talvez tente ficar famosa neste mundo, encontrar
segurança financeira em vez de priorizar o Reino de Deus ou então
buscar uma vida confortável agora confiando na educação superior.
Não seria isso uma evidência de falta de fé?
A alegação nesta citação é que a busca pelo ensino superior
mostra falta de fé, porque esse é um objetivo materialista e não
espiritual. Como mostrei acima, esse raciocínio está completamente
errado.
Todas as citações acima questionam direta ou indiretamente os
motivos dos cristãos que escolheram o ensino superior:
1) Ao seguir o ensino superior, o cristão será absorvido na
promoção de seus próprios interesses.
2) O cristão está desperdiçando anos valiosos de sua juventude.
201
3) O cristão confia nos sistemas educacionais para ter segurança
e não confia em Jeová.
4) O cristão vai perder as reuniões.
5) As pessoas estão procurando grandes coisas por si mesmas,
são ambiciosas para realizar aspirações pessoais.
6) O cristão utiliza o ensino superior como um trampolim para o
prestígio e uma vida rica.
7) O cristão está a “atentar para coisas altivas”.
8) O cristão confia no ensino superior para garantir uma vida
confortável agora e não confia em Jeová.
9) O cristão mostra falta de fé.
As palestras dos membros do CG Lösch e Splane e as citações e
referências da literatura que apresentei acima pintam uma caricatura do
ensino superior e desacreditam injustamente aqueles que escolheram
estudar em uma universidade ou faculdade. Além disso, tais
informações colocam um fardo enorme sobre os ombros das jovens
Testemunhas de Jeová. Irmãos e irmãs jovens que desejam uma
profissão que exija um estudo universitário são colocados sob intensa
pressão para não fazer isso. Esta é uma clara violação dos princípios
bíblicos que citei acima.
Além disso, atribuir motivos errados aos jovens que estudam na
universidade é simplesmente anticristão. Será que alguém poderia
afirmar com razão que uma jovem irmã que planeja estudar três anos na
universidade após três anos no ensino médio para se tornar uma
enfermeira é ambiciosa como Baruch e está procurando coisas
grandiosas, mas um jovem irmão que estuda quatro anos e meio de
educação se tornar um eletricista não é ambicioso? E será que alguém
poderia afirmar com razão que o ambiente universitário da irmã é
perigoso para sua fé, mas a escola profissional do irmão e o ambiente
do lado prático de sua educação não são perigosos? De minha própria
experiência de 25 anos estudando e ensinando na Universidade de Oslo,
com certeza vou dizer que a educação universitária não é mais perigosa
para um servo de Jeová do que a educação em uma escola
profissionalizante, um curso profissionalizante ou uma escola técnica.

202
A EDUCAÇÃO E NOSSA CONSCIÊNCIA
Desde 2005, o CG exerceu forte pressão sobre jovens
Testemunhas de Jeová para não seguirem o ensino superior. Foi
afirmado que uma educação universitária não ajudaria uma pessoa a
servir aos interesses do Reino, mas essa educação faz com que uma
pessoa seja absorvida em coisas que servem apenas para seus próprios
interesses. Em contraste com isso, A Despertai! de 8 de março de 1998,
página 21, disse sobre o tipo de educação que uma pessoa escolheria:
De qualquer forma, essas são decisões de natureza pessoal. Os cristãos
não devem julgar nem condenar outros nesse assunto. Tiago escreveu:
“Quem és tu para julgares o teu próximo?” (Tiago 4:12) Se um cristão
pensa em estudar mais, deve examinar sua própria motivação para ter
certeza de não estar sendo levado por interesses egoístas e
materialistas.
Em contraste com os maus motivos atribuídos àqueles que
buscam o ensino superior em vários artigos, a última cláusula do artigo
de Despertai! mostra que a escolha de ter mais educação após o ensino
médio pode ser baseada apenas em motivos. A visão expressa ness
artido de Despertai! de 1998 e os artigos de A Sentinela de 1992 é
exatamente o oposto da visão expressa em A Sentinela de 2005, em
diferentes fragmentos recentes da literatura, em discursos de membros
do CG e na carta da Watchtower Society para todos os grupos de idosos
em 2006.
A questão que quero abordar é a seguinte: afinal, a escolha do
ensino superior é uma questão de consciência ou é uma questão que
outras pessoas fora da nossa família podem decidir por nós? A Bíblia
não diz nada sobre que tipo de educação um cristão deve seguir, nem a
duração dessa educação, portanto tem de ser uma questão de
consciência.
Podemos ilustrar a questão desta maneira: visto que não podemos
saber se pequenas frações no sangue, como albumina e
imunoglobulinas, são “sangue” ou não são “sangue” no sentido bíblico
da palavra “sangue, aceitar ou não essas frações é uma questão de
consciência. Em suas orientações aos membros das Comissões de
Ligação com Hospitais, o CG enfatizou que os membros não devem de
203
forma alguma influenciar as decisões dos irmãos e irmãs sobre se
devem ou não aceitar uma fração sanguínea específica. A decisão deve
repousar exclusivamente na consciência do paciente - sem pressão.
Visto que a escolha da educação também é uma questão de consciência,
a situação é exatamente a mesma e os anciãos não têm o direito de
influenciar ou exercer pressão sobre os outros em relação às suas
escolhas. Mas é exatamente isso que o CG tem feito e está fazendo.
A maneira como o CG apresentou o ensino superior é uma
caricatura da realidade. Não há mais imoralidade, irregularidades e
drogas em faculdades e universidades na Escandinávia em comparação
com escolas profissionalizantes, escolas técnicas, cursos
profissionalizantes e locais de trabalho. A maioria dos currículos não
contém a evolução orgânica ou informações que prejudiquem a fé, e os
estudos padrão consumirão muito menos tempo do que um emprego em
período integral. Tornar-se um oculista, enfermeiro, técnico de TI ou
professor não é buscar grandes coisas para si; não é uma maneira de
ficar rico ou fazer uma carreira no mundo. Estes são trabalhos normais
que dão um salário decente. Portanto, é uma clara violação dos
princípios bíblicos quando o CG exerce forte pressão sobre as
Testemunhas de Jeová para que não busquem o ensino superior.
Na literatura da revista A Sentinela publicada no século 20, nunca
vi nada parecido com a propaganda contra o ensino superior
apresentada na literatura da revista A Sentinela a partir do século 21, a
qual discuti acima. Agora minha amada A Sentinela foi poluída! A
visão extremista do ensino superior dos membros do CG causou muitos
e muitos e prejuízos para milhares de jovens Testemunhas de Jeová.
Portanto, há um forte ônus de responsabilidade que recai sobre os
ombros desses membros do CG.
A cruzada contra o ensino superior é uma violação dos
princípios bíblicos e deve parar imediatamente. Nenhum
ancião tem o direito de influenciar ou pressionar outras
pessoas a seguirem seus pontos de vista pessoais em relação
à educação ou a outros assuntos.

204
Capítulo 5

DESASSOCIAÇÃO BASEADA EM MANDAMENTOS HUMANOS


- Revisão –
Este capítulo discute um dos lados militantes da organização -
desassociar pessoas por atos que a Bíblia não mostra como sendo pecados
de desassociação.
Em 1974, o CG introduziu uma nova interpretação da palavra
porneia (“imoralidade sexual”), a qual também poderia incluir ações
dentro do casamento, como cópula oral e anal e diferentes práticas
obscenas. Essa nova visão criou grandes problemas: pessoas casadas foram
desassociadas e casamentos foram dissolvidos na base errada; maridos,
esposas e filhos sofriam, e alguns anciãos se comportavam como policiais
e interrogavam a vida sexual de casais. Em 1978, a visão da porneia
dentro do casamento foi abandonada:
“em vista da ausência de claras instruções bíblicas.”
O motivo dado para a mudança é extremamente importante - todas
as leis nas congregações cristãs devem ser baseadas na Bíblia. No entanto,
o atual CG ignora isso e inventou muitos mandamentos humanos. Isso
inclui ações que o CG define como pecados de desassociação. No livro
para anciãos, “Pastoreiem o Rebanho de Deus” 1 Pedro 5: 2 (2019), eu
conto 39 ações que são listadas como pecados de desassociação. As
referências bíblicas estão relacionadas a todas essas 39 ações, e isso mostra
que o CG concorda que qualquer lei ou regra para os cristãos deve ser
baseada em uma instrução bíblica clara. Mas o problema é que a maioria

205
dessas referências não representa pecados de desassociação na Bíblia. Isso
será mostrado em detalhes neste capítulo. De fato, encontrei apenas 11
ações que a Bíblia diz explicitamente serem pecados de desassociação.
Para os outros, falta uma instrução bíblica clara.
Dois lugares no NT falam daqueles que não herdarão o Reino de
Deus: os iníquos não herdarão o Reino de Deus. ” (1 Coríntios 6: 9);
"Aqueles que estão fazendo essas coisas não herdarão o Reino de Deus."
(Gálatas 5:21) A diferença entre os dois lugares é que Gálatas, capítulo 5,
lista más ações e atitudes, “as obras da carne”, enquanto 1 Coríntios,
capítulos 5 e 6, lista personalidades, aquelas que estão permeadas por más
ações. A informação dada em 1 Coríntios capítulo 6 mostra que aqueles
que têm personalidades iníquas devem ser desassociados. Mas a
desassociação não é mencionada em conexão com as obras da carne em
Gálatas, capítulo 5.
A palavra aseēlgeia (“conduta desenfreada”) é discutida. O
argumento [do CG] é que essa palavra é usada junto com porneia
(“imoralidade sexual”) e akatharsia ("impureza") e, portanto, alguns tipos
de conduta desenfreadas são pecados de desassociação. O argumento é
insustentável, pois mostro que palavras que ocorrem nos mesmos contextos
não têm o mesmo significado ou função. Ainda mais absurdo é o
argumento de que apenas alguns tipos de asēlgeia podem levar à
desassociação. A conclusão é que nenhuma passagem no Novo Testamento
mostra que asēlgeia representa pecados de desassociação.
A palavra akatharsia (“impureza”) é discutida. Os mesmos
argumentos que em conexões com asēlgeia são usados [pelo CG]. Visto
que akatharsia ocorre junto com porneia, alguns tipos de impureza devem
ser considerados pecados de desassociação. O primeiro problema é que os
versículos que o CG cita para provar que a impureza representa os pecados
de desassociação referem-se a pessoas de outras nações e não aos cristãos.
O segundo problema é que o conceito de “impureza crassa com ganância”,
que é inventado pelo CG e diz-se que inclui pecados por desassociação,
baseia-se na palavra grega pleonexia (“avareza, insatisfação”). O
significado e a referência dessa palavra são incertos e, portanto, não podem
ser usados para criar um novo conceito que seja até um pecado que leva à
desassociação. A conclusão é que nenhuma passagem no NT mostra que
aseēlgeia ou akatharsia representam pecados de desassociação. Portanto,
milhares de Testemunhas foram desassociadas com base em mandamentos

206
humanos.
“na ausência de claras instruções bíblicas.”
E no futuro, milhares de outros serão desassociados se os
mandamentos humanos não forem mudados.

Expulsar ou desassociar alguém da congregação cristã é uma


ação séria. E aqueles que tomam a decisão têm uma grande
responsabilidade. O CG só aceitará que um relato no AT seja do tipo
profético quando houver “uma base bíblica clara”.73 Esse é um bom
princípio seguido ao longo deste livro. Provérbios 16:11 (TNM15) diz:
“Balanças e pesos honestos são da parte de Jeová.” Isso significa que o
CG só deve aceitar que ações específicas sejam pecados de
desassociação quando houver “uma base bíblica clara”. Mas, como
mostrarei neste capítulo, o CG inventou vários pecados de
desassociação que não têm base na Bíblia. Assim, em relação aos tipos
proféticos, um conjunto de balanças e pesos é usado e, em conexão com
os pecados de desassociação, outro conjunto diferente de balanças e
pesos é usado.

SOMENTE PESSOAS MÁS DEVEM SER DESASSOCIADAS


Para a congregação em Corinto, Paulo escreveu (1 Coríntios
5:13, TNM15): “Removam do meio de vocês a pessoa má.” O
significado da palavra eksairo segundo LN é: “excluir ou remover
alguém de uma associação – ‘excluir, separar, livrar-se de’”. E a
respeito da palavra poneros, a mesma fonte diz: “um título para o
Diabo, literalmente ‘o maligno’, aquele que é essencialmente mau ou,
em certo sentido, personifica o mal — = ‘o maligno, aquele que é mau’.
‘mas resgata-nos do maligno’”. Aprendemos nas palavras de Paulo que
às vezes é necessário expulsar alguém da congregação. Mas o requisito
é que a pessoa seja má ou ímpia. Visto que a palavra poneros é aplicada

73
Veja a página XXX desse livro.
207
ao Diabo, é uma palavra forte. E somente quem pode definir a palavra e
dizer quais ações mostram que uma pessoa é má é Deus.
Nos capítulos 5 e 6 de 1 Coríntios, Paulo fala tanto sobre a
desassociação quanto sobre quais pessoas são más. Observe que, em
contraste com Gálatas 5:19, 20, onde as obras (ações e atitudes) da
carne estão listadas, 1 Coríntios, capítulos 5 e 6, não lista ações, mas
esses dois capítulos listam personalidades, o que as pessoas são em
essência. Por exemplo, a palavra methysos (“bêbado”) não se refere a
uma pessoa que fica bêbada uma ou duas vezes, ou mesmo várias
vezes. Mas refere-se a alguém que é um bêbado, alguém que é
permeado por beber demais. Isso está de acordo com a palavra “mal”,
que não se refere a uma pessoa que uma ou duas vezes age como o
Diabo. Mas refere-se a uma pessoa que é má, que é permeada pelo mal.
Somente pessoas más, ou seja, pessoas cuja
personalidade é má, permeadas por um tipo de ações
perversas, devem ser desassociadas.
Por acreditar que a Bíblia é a palavra inspirada de Deus, eu
também acredito que somente aqueles sobre quem o NT diz
explicitamente que devem ser expulsos da congregação devem ser
expulsos. Em outras palavras, ninguém deve ser desassociado quando
houver ausência de instrução bíblica clara de que uma determinada
ação é um pecado de desassociação. Minha preocupação nesse sentido
é que o CG inventou uma série de outros motivos para desassociação
além dos mencionados explicitamente no NT. Como crente em Jeová e
como ancião, é meu dever salientar que isso é errado, e os membros do
CG devem mudar de atitude! Os mandamentos humanos são, por
exemplo, incluídos no conceito de “impureza crassa com ganância.”
Quando alguém pratica a impureza em um grau sério, pode ser motivo
para desassociar da congregação cristã. . . . Toque momentâneo de
partes íntimas do corpo ou acariciar os seios: Se tal conduta ocorreu
em algumas ocasiões isoladas, especialmente entre duas pessoas
envolvidas em um namoro com a intenção de se casar, o conselho de
dois anciãos pode ser suficiente para lidar com essa impureza menor. .
. . No entanto, se a conduta escalar em gravidade e frequência, pode

208
constituir uma impureza crassa com ganância, exigindo ação
judicial.74 (Meus itálicos).
O impulso sexual de homens e mulheres foi criado por Deus, e as
relações sexuais devem ocorrer apenas entre pessoas casadas. Portanto,
é errado começar de uma maneira que normalmente leva a relações
sexuais quando duas pessoas não são casadas. Mas se o fizerem, isso
não torna as duas pessoas más.
Mostrarei abaixo que a única atividade sexual que é um pecado
de desassociação é porneia (“imoralidade sexual”). É importante ter em
mente que, embora porneia em documentos extra-bíblicos possa se
referir a diferentes tipos de atividades sexuais, como a cópula oral e
anal, esse não é o caso no Novo Testamento. No NT, porneia é usado
apenas como um termo amplo, referindo-se às relações sexuais com
uma pessoa com quem não se é casado, sem especificação da forma ou
natureza das ações sexuais.
Segundo Paulo, é correto expulsar uma pessoa que é um
porneros (uma pessoa permeada pela imoralidade sexual) da
congregação. Mas mostrarei que “impureza crassa com ganância”
como base para a desassociação é um mandamento humano que não
deve ser usado na ausência de instruções bíblicas claras. A criação
deste e de outros mandamentos humanos causou e causará grandes
danos às pessoas que são expulsas por causa desses mandamentos. Isso
também criará problemas para suas famílias e amigos.
A seguir, farei um estudo detalhado das razões da desassociação,
bem como das palavras asēlgeia (“conduta desenfreada”, TNM86;
“conduta insolente”, TNM15) e akatharsia (“impureza”).

UMA COMPARAÇÃO ENTRE 1 CORÍNTIOS 5 E 6 E GÁLATAS 5


O capítulo 5 de 1 Coríntios fala sobre um homem que teve
relações sexuais com a esposa de seu pai. Este homem deveria ser
entregue a Satanás, e isso significa que ele seria removido da
congregação; ele se tornaria novamente parte do domínio de Satanás. A

74
Pastoreiem o Rebanho de Deus, 12:14, 15. (Em inglês)
209
expressão “para a destruição da carne” é ambígua. Mas “a carne” pode
se referir ao homem que era o elemento carnal na congregação. Esse
elemento tinha que ser removido da congregação para que o espírito da
congregação pudesse ser preservado. (2 Timóteo 4:22)
Como já mencionei, Paulo descreve as pessoas que merecem ser
desassociadas quanto ao que são e não quanto às ações erradas que
cometem. Obviamente, uma pessoa com personalidade de ladrão furta.
Mas, focando no que as pessoas são, entendemos que não há uma, duas
ou três ações de roubo, que mostram que uma pessoa é um ladrão. Mas
roubar tornou-se a personalidade da pessoa. Portanto, ele ou ela pode
ser considerado mau. Em 1 Coríntios 5:1, as seguintes descrições de
pessoas más são encontradas:
Tabela 5.1 Pessoas más listadas em 1 Coríntios 5

pornos Um homem ou mulher que pratica imoralidade sexual.

pleonektēs Uma pessoa que pratica ações que indiquem ganância.

eidōlolatrēs A pessoa que participa de adoração de ídolos.

loidoros Um extorsor, uma pessoa abusiva.

methysos Um bêbado.

No final do versículo 11, Paulo diz: “nem mesmo comendo com


tal homem”. E, como já vimos em 5:13 (TNM15), Paulo diz:
“Removam do meio de vocês a pessoa má (ponēros).”
No capítulo 6, Paulo diz que “pessoas injustas” (adikos) não
herdarão o Reino de Deus (6:9). Quem são essas pessoas injustas? De
acordo com o LN, a palavra se refere a “uma pessoa que não é membro
da comunidade cristã e, por implicação, possivelmente injusta ou não
em um relacionamento correto com Deus – ‘incrédulo, não seguidor de
Cristo’”. A palavra adikos é forte porque as pessoas que pertencem
formalmente à congregação cristã são colocadas na mesma classe que
os incrédulos que estão fora da congregação. Paulo dá as seguintes
descrições:

210
Tabela 5.2 As pessoas más listadas em 1 Coríntios 6

pornos Um homem ou mulher que pratica imoralidade


sexual.75

eidōlolatrēs A pessoa que participa de adoração de ídolos.

moikhos A pessoa que comete adultério.

malakos O macho passivo em uma relação homossexual.

aresenokoitēs O companheiro macho em uma relação homossexual.

kleptēs Um ladrão.

pleonektēs A pessoa que pratica ações que indicam ganância.76

methysos Um bêbado.

loidoros Um extorsor, uma pessoa abusiva.


75
As palavras pornos e moikhos se referem à imoralidade sexual. De acordo com
Mateus 5:27, 32, moikheuō (o verbo correspondente a moikhos) refere-se a um
adúltero, ou seja, a uma pessoa casada que mantém relações sexuais com uma
pessoa com quem ele ou ela não é casado. De acordo com Mateus 5:32, porneia
(correspondente a pornos) também pode se referir ao adultério. No entanto, de
acordo com 1 Coríntios 7:2, porneia pode se referir a pessoas solteiras que também
têm relações sexuais. No grego clássico, porneia pode se referir a diferentes ações
sexuais, como a cópula anal e oral. Conforme mencionado, esse não é o caso no
NT, onde a palavra porneia se refere apenas a relações sexuais erradas e não a tipos
particulares de ações sexuais.
76
A frase “praticar ações que indicam ganância” precisa de explicação. A palavra
pleonektēs (“pessoa gananciosa”) ocorre em apenas quatro lugares no NT (1
Coríntios 5:10, 11; 6:10; Efésios 5:5), e os contextos não mostram o significado
completo do conceito. Mounce define a palavra da seguinte maneira: “Alguém que
tem ou afirma ter mais do que sua parte; uma pessoa gananciosa e avarenta, alguém
que frauda por uma questão de ganho.” O verbo correspondente é pleonekteō, e em
2 Coríntios 7: 2; 12:17, 18, NVI (em inglês) traduz o verbo como “explorar”. O
significado de “explorar” pode ser “usar alguém ou algo injustamente para seu
próprio benefício”. (https://dictionary.cambridge.org/dictionary/english/exploit).
Assim, um pleonektēs é uma pessoa cujas ações mostram que ele ou ela está
permeado pela ganância.
211
harpax Uma pessoa voraz, um bandido.

Cada designação listada acima não é uma descrição de ações, mas é


uma descrição de pessoas que são idênticas ao que é dito delas, cuja
personalidade atual é o que cada palavra diz. Paulo diz que essas pessoas
“não herdarão o Reino de Deus” e devem ser expulsas da congregação, como
mostra 5:13.
O outro lugar onde encontramos a expressão “não herdarão o Reino de
Deus” é em Gálatas 5:21. No entanto, o ponto de vista é diferente em
Gálatas, em comparação com 1 Coríntios, capítulos 5 e 6. Em Gálatas, más
ações e desejos que estão sendo praticados (prassō, presente particípio de
“fazer”) por alguns são listados. Mas em 1 Coríntios, as más personalidades
dos seres humanos estão listadas. As seguintes obras da carne estão listadas
em Gálatas, capítulo 5, versículos 19 a 21:
Tabela 5.3 As obras da carne listadas em Gálatas 5

porneia Imoralidade sexual.

akatharsia Impureza.

asēlgeia Conduta desenfreada,77

eidōlolatria Idolatria.

farmakeia Uso de magia, frequentemente envolvendo drogas.

ekhthros Inimizade.

eris Rixa, discórdia.

zēlos Ciúme.

77
A TNM86 traduz asēlgeia como “conduta desenfreada” e TNM15 traduz a
palavra como “conduta insolente”. Mostro abaixo que a asēlgeia não pode ser
conectada a nenhuma ação (conduta), apenas a desejos. Portanto, eu traduzo a
palavra como “lascívia desenfreada”.
212
thymoi Acessos de ira.

eritheia Contendas, ataques de egoísmo.

dikhostasia Divisão, dissenção.

hairesis Criar uma seita.

fthonos Inveja.

methyō Bebedeira.

kōmos Festanças.

1 Coríntios 6:10 e Gálatas 5:21 têm o pensamento “não herdarão


o Reino de Deus”. Isso é verdade tanto para quem é mau quanto para
quem pratica as obras da carne. Mas há uma diferença importante entre
1 Coríntios, capítulo 6, e Gálatas, capítulo 5. A diferença é que todas as
pessoas com a personalidade má, mencionadas em 1 Coríntios 6,
merecem ser desassociadas. Mas não há palavras sobre desassociação
no capítulo 5 de Gálatas.
A Tabela 5.4 mostra três paralelos entre os dois capítulos, as
ações em Gálatas e as pessoas permeadas pelas ações em 1 Coríntios.
Visto que 1 Coríntios 6:9, 10 mostra que as pessoas que estão
permeadas pelo mal merecem ser desassociadas, a única conclusão que
podemos tirar sobre Gálatas 5 é que aqueles que praticam porneia
(“imoralidade sexual”), eidōlolatria (“idolatria”) e methyō
(“embriaguez”) merecem ser desassociados. Apenas uma das outras 12
obras da carne - hairesis (“criar uma seita”) é considerada um pecado
de desassociação. Vou discutir isso em detalhes abaixo.
Tabela 5.4 Uma comparação entre 1 Coríntios 6 e Gálatas 5

1 Coríntios 6: 9, 10 Gálatas 5:19–21

pornos: Um homem ou mulher que pratica porneia: Imoralidade


imoralidade sexual. sexual.

eidōlolatrēs: Uma pessoa que participa na eidōlolatria: Idolatria.


213
adoração de ídolos.

methysos: Um bêbado. methyō: Bebedeiras.

Apoiando a opinião de que Paulo não está falando de pecados de


desassociação no capítulo 5 de Gálatas, é o fato de que algumas das
obras da carne são fáceis de identificar, enquanto outras são difíceis de
identificar. Por exemplo, imoralidade sexual, idolatria, uso de magia,
criação de uma seita, embriaguez e banquete excessivo, são bastante
fáceis de identificar. Mas conduta desenfreada, impureza, inimizade,
contenda, discórdia, ciúme, raiva, ira, disputas, ataque de egoísmo,
divisão, dissensão e inveja são mais evasivas. Seria, por exemplo,
possível desassociar alguém por ciúme ou inveja? Absolutamente não!
Três das obras da carne, quando fazem parte da
personalidade da pessoa, são listadas em 1 Coríntios
como pecados de desassociação. Dos outros 12,
apenas um é considerado pecado de desassociação no
NT.
O ponto de Paulo parece ser que as obras da carne (os desejos
carnais) são contra o espírito (5:16, 17). Portanto, se alguém pratica
essas coisas, essa pessoa deve trabalhar duro para se arrepender e
mudar. O sacrifício de resgate de Jesus expia o pecado, mas também
devemos nos esforçar para superar nossas fraquezas. Caso contrário, a
pessoa não herdará o Reino de Deus. Mostrarei abaixo que o CG
considera algumas das obras da carne no capítulo 5 de Gálatas como
pecados de desassociação. Esses são mandamentos humanos que vão
contra o texto de Gálatas. E ao contrário do que diz o CG, mostrarei
que não há texto no NT que classifique asēlgeia (“lascívia
desenfreada”, minha tradução) e akatharsia (“impureza”) como
pecados de desassociação.

PECADO DE DESASSOCIAÇÃO: SER UM SECARISTA CORRUPTO

214
Existem apenas duas passagens no NT falando sobre pecados de
desassociação, além de 1 Coríntios, capítulos 5 e 6; um é Tito 3:10, 11
(TNM15):
Quanto ao homem que promove uma seita, rejeite-o depois de
aconselhá-lo com firmeza uma primeira e uma segunda vez,
11
 sabendo que ele se desviou do caminho, está pecando e condena a si
mesmo.
Primeiro, precisamos considerar a palavra “rejeitar”. Ela é
traduzida da palavra grega paraiteomai, que, de acordo com LN
significa, “propositalmente evitar associação com alguém – ‘afastar-se,
evitar, esquivar-se de, não ter nada a ver com’”. Esta palavra mostra
que o homem deve ser desassociado da congregação cristã.
Qual é o pecado do homem mencionado? A palavra importante é
o adjetivo hairetikos. O LN define a palavra como “aquele que causa
divisões”, e o TDNT I, 184, diz: “No cristianismo, parece ter sido
usado tecnicamente desde o início e denota o adepto da heresia”. O
versículo 11 mostra, assim como 1 Coríntios, capítulos 5 e 6, que Paulo
não está falando de uma ou poucas ações más, mas que ser hairetikos
(“um herege”) é a própria personalidade da pessoa. A expressão
“desviou-se do caminho” é traduzida de ekstrefomai, que, de acordo
com o LN, tem o significado de “se afastar dos padrões de
comportamento correto e, assim, se tornar corrupto”.78
É importante notar que as ações do homem de promover uma
seita são sua personalidade, porque é demonstrado que ele se tornou
corrupto. As palavras de 2 Tessalonicenses 3:14, 15 (TNM15)
corroboram com isso:
14
Mas, se alguém não for obediente ao que dizemos nesta carta,
tomem nota dele e parem de se associar com ele, para que fique
envergonhado. 15 Contudo, não o considerem como inimigo, mas
continuem a aconselhá-lo como irmão.
Se um cristão tivesse reservas quanto a algo na carta inspirada de
Paulo, isso poderia, até certo ponto, causar divisões. Mas as reservas
78
Os anticristos (2 João 1: 7 11), que deliberadamente espalham decepções
religiosas sobre Jesus Cristo e seus ensinamentos, também são promotores de
seitas. Veja a discussão na página XXX.
215
evidentemente não faziam parte da personalidade do homem. Portanto,
ele não era desassociado como o promotor de uma seita. Ele ainda era
visto como um irmão. Mas ele era repreensível e tinha que mudar de
atitude.
Uma das obras da carne em Gálatas 5 é expressa pela palavra
hairesis (“seita”). E esta é a quarta das 15 obras da carne que
constituem pecado de desassociação.
Existem duas passagens no NT que tratam do mesmo assunto que
Tito 3:10, 11: Romanos 16:17, 18 (primeira citação) e 2 João 7, 10, 11
(segunda citação). Ambos são citados da TNM86.
 Exorto-vos agora, irmãos, que fiqueis de olho nos que causam
17

divisões e motivos para tropeço contra o ensino que aprendestes, e que


os eviteis. (ekklinō) 18 Porque homens como esses não são escravos de
Cristo, nosso Senhor, mas dos seus próprios desejos, e, com conversa
suave e bajulação, seduzem o coração dos ingênuos. 18 Pois homens
dessa sorte são escravos, não de nosso Senhor Cristo, mas de seus
próprios ventres; e, com conversa suave e palavras elogiosas seduzem
os corações dos cândidos.
7
 Pois muitos enganadores saíram pelo mundo afora, aqueles que não
reconhecem que Jesus Cristo veio na carne. Eles são o enganador e o
anticristo. 10 Se alguém vier a vocês e não trouxer esses ensinamentos,
não o recebam na sua casa, nem o cumprimentem. 11 Pois quem o
cumprimenta participa das suas obras más.
De acordo com LN, a palavra ekklinō em Romanos 16:17 tem o
significado: “propositalmente evitar associação com alguém – afastar-
se, evitar, manter-se longe de, não ter nada a ver com”. O uso da
palavra ekklinō mostra que as pessoas mencionadas foram ou deveriam
ser desassociadas. E as palavras em 2 João sobre não receber uma
pessoa na casa de alguém ou fazer uma saudação também devem
indicar desassociação.
Quais foram os pecados das pessoas mencionadas? O anticristo
não aceitou que Jesus Cristo tivesse vindo em carne. A palavra
erkhomai (“por vir”) é particípio presente, e “vindo” é uma tradução

216
literal do aspecto imperfeito. Mas essa forma verbal também pode se
referir ao passado, que deve ser o caso aqui.79
As pessoas que os cristãos deveriam evitar, de acordo com
Romanos capítulo 16, causavam divisões e tropeços, ao contrário do
que eles haviam sido ensinados.80 E eles não eram escravos de Cristo. A
quem Paulo se referiu não está claro para nós. Mas visto que Paulo
mencionou essas pessoas aos cristãos em Roma, eles devem ter
conhecido a quem Paulo se referia. Os detalhes do segundo ponto não
podem ser conhecidos, mas a questão é clara. Essas pessoas não eram
escravas de Cristo, o que significa que não seguiram os ensinamentos
cristãos. Portanto, essas pessoas se assemelham aos anticristos
mencionados em 2 João 1: 7–11.
É importante observar que causar divisões não é necessariamente
um pecado de desassociação. Pode haver razões certas e erradas por
trás das divisões. Em 1 Coríntios 11:19 (TNM86), Paulo diz:
19
 Porque também tem de haver seitas entre vós, para que os aprovados
também se tornem manifestos entre vós.
O significado pode ser ilustrado por suas palavras em 1 Coríntios
1:12, 13 (TNM86):
 O que eu quero dizer é que cada um de vocês diz: “Eu pertenço a
12

Paulo”, “mas eu a Apolo”, “mas eu a Cefas”, “mas eu a Cristo”. 13 Por


acaso o Cristo está dividido?
Se estivéssemos na congregação de Corinto com as mencionadas
“seitas”, teríamos que criar outra “seita”, ou melhor, teríamos que nos
opor às três primeiras seitas mencionadas e nos tornar parte da quarta

79
O uso de “Cristo” junto com “Jesus” implica que as pessoas não negaram que um
homem com este nome viveu na terra. Portanto, a negação tinha que se relacionar
com a natureza desse homem. O gnóstico Kerinthos viveu na mesma época que o
apóstolo João. Ele ensinava que Jesus era um mero homem, embora fosse santo. No
seu batismo, Cristo, ou o espírito santo, fora enviado do céu e teria habitado no
homem Jesus. Assim, Jesus veio em carne, mas não o Cristo. Isso pode ter sido o
que John tinha em mente.
80
Observe que as palavras “o ensino que aprendestes” são adverbiais na oração.
Isso significa que a referência não é às doutrinas cristãs, mas apenas a uma delas,
que não deve haver divisões entre os cristãos. (1 Coríntios 1:10)
217
“seita”, dizendo: “Eu pertenço a Cristo.” O ponto é que, se algo está
errado, devemos nos opor, mesmo que isso cause divisões. Podemos
aplicar isso ao presente livro. A questão importante é se as conclusões
de cada capítulo estão corretas e de acordo com a Bíblia. Se as
conclusões concordam com a Bíblia, as palavras de Paulo em 1
Coríntios 11:19 devem ser aplicadas à situação. E a publicação do livro
é justificada mesmo que cause divisões.
Eu discuti nove pecados de desassociação com uma base bíblica
clara, oito estão listados em 1 Coríntios 6: 9, 10 e um está listado em
Tito 3:10, 11. Há mais pecados de desassociação que ainda não foram
discutidos, e esse é “homicídio culposo”. A primeira carta de João 3:12
mostra que, por matar seu irmão, Caim mostrou que ele era mau
(ponēros). A mesma palavra grega é usada em 1 Coríntios 5:13 para
pessoas que deveriam ser removidas da congregação. Assim, o
“homicídio culposo” como pecado de desassociação tem uma base
bíblica clara.81
Existem onze pecados sérios que conduzem à
desassociação com uma base bíblica clara.

PROBLEMAS CRIADOS POR MANDAMENTOS DE HOMENS


Precisamente o que está incluído nas palavras asēlgeia e
akatharsia não é claro. Portanto, é uma grande responsabilidade fazer
uma definição moderna e, em seguida, desassociar as pessoas que se
enquadram nessa definição. (Tiago 3: 1)

PROBLEMAS CRIADOS PELA VISÃO DA ‘PORNEIA DENTRO DO


CASAMENTO’ E DA “IMPUREZA CRASSA”

81
O livro, “Pastoreie o Rebanho de Deus”, lista “o uso indevido de drogas médicas,
ilícitas ou viciantes” como pecados de desassociação. O único lado do “mau uso”
que pode ser pecado de desassociação é se uma pessoa usa drogas para ficar
“intoxicada”, assim como outras pessoas usam álcool. Nesse caso, ele pode ser
visto como um methysos (“bêbado”).
218
Um exemplo de problemas que o CG criou com uma definição
nova e errada de uma palavra grega foi a visão de que a palavra
porneia poderia ocorrer dentro do casamento, referindo-se à cópula oral
e anal, bem como a diferentes ações “lascivas”. Essa visão foi
apresentada no final de 1974, conforme pode ser visto na citação
abaixo.
Há ocasiões em que práticas lascivas dentro do arranjo marital
proveriam o motivo para um divórcio bíblico. . . .
De modo que a “fornicação” é apresentada como único motivo para o
divórcio. No grego comum, no qual se registraram as palavras de
Jesus, o termo “fornicação” é porneía, que designa todas as formas de
relações sexuais imorais, perversões e práticas lascivas tais como
talvez sejam praticadas num prostíbulo, inclusive o coito oral e anal.
Quanto às declarações de Jesus a respeito do divórcio, não
especificam com quem é praticada a “fornicação” ou porneía. Isto
deixa a questão aberta. Que porneía pode corretamente ser
considerada como incluindo as perversões dentro do arranjo marital é
visto em que o homem que obriga sua esposa a ter com ele relações
sexuais desnaturais virtualmente a “prostitui” ou “corrompe”. Isto o
torna culpado de porneía, porque o verbo grego relacionado, porneúo,
significa “prostituir, corromper”.
Por isso, podem surgir circunstâncias que tornariam as práticas
lascivas dum cônjuge para com o outro motivo bíblico para o
divórcio.82
A visão de ‘porneia dentro do casamento’ criou um grande
número de problemas e foi mudada no início de 1978.
No passado, publicaram-se nesta revista alguns comentários
relacionados com certas práticas sexuais incomuns, tais como a
copulação oral, dentro do matrimônio, e estas foram classificadas
como crassa imoralidade sexual. Nesta base, chegou-se à conclusão de
que aqueles que se empenhavam em tais práticas sexuais estavam
sujeitos a serem desassociados, se fossem impenitentes. Adotava-se o
conceito de que estava dentro da autoridade dos anciãos

82
A Sentinela de 1º de maio de 1975, p. 287. Perguntas dos Leitores (em
português).
219
congregacionais investigarem e agirem na qualidade judicativa com
respeito a tais práticas na relação conjugal.
Um cuidadoso exame adicional deste assunto, porém, convence-nos
de que, em vista da ausência de claras instruções bíblicas, trata-se
de assuntos pelos quais o casal tem de levar a responsabilidade
perante Deus, e que essas intimidades maritais não são da
competência dos anciãos congregacionais, para tentar controlá-las
ou promover a desassociação, tendo tais assuntos por base exclusiva.
Naturalmente, caso alguém decida chegar-se a um ancião em busca de
conselho, ele ou ela pode fazer isso, e o ancião poderá considerar
princípios bíblicos com tal pessoa, atuando como pastor, mas sem
tentar, na realidade, “policiar” a vida marital de quem indaga. 83 (O
itálico e a ênfase são meus.)
A visão errada sobre porneia foi alterada “em vista
da ausência de base nas Escrituras.”

OS PROBLEMAS EM ENCONTRAR DEFINIÇÕES DE TERMOS GREGOS


Devemos ser muito cautelosos ao definir palavras gregas, como
mostro na dissertação abaixo.

Dissertação sobre a Semântica Lexical


Quando procuramos o significado exato das palavras gregas,
hebraicas ou aramaicas, devemos ter em mente que os registros que
encontramos nos léxicos não apresentam o significado lexical das
palavras. Essas entradas são apenas traduções interpretativas, mostrando
como uma palavra específica no idioma de origem foi traduzida para o
inglês.
Experimentos psicolinguísticos mostraram que os humanos têm
um léxico mental em suas mentes. Cada palavra na língua grega sinaliza
um conceito na mente dos falantes nativos de grego. Um conceito tem
um núcleo relativamente claro, mas torna-se mais confuso nas
extremidades. Cada conceito também pode ser chamado de “campo
semântico” da palavra. Comunicação significa tornar visível uma área
do conceito (de seu campo semântico) e deixar as outras áreas
83
A Sentinela de 1/8 de 1978 pp. 29-30 Perguntas dos Leitores (Em português).
220
invisíveis. Quando um falante nativo se comunica com outras pessoas
por escrito ou por palavra, os leitores ou ouvintes, com a ajuda do
contexto, na maioria dos casos compreendem instantaneamente qual
área de cada conceito (de seu campo semântico) que o falante ou
escritor torna visível. Assim, os conceitos nas mentes dos falantes
nativos representam o significado léxico de cada palavra e não as
entradas nos léxicos.
O problema é que todos os falantes nativos das línguas bíblicas
estão mortos, por isso é impossível entender o significado lexical
completo de cada palavra. O melhor que podemos fazer é examinar os
contextos em que uma palavra é usada. Isso pode nos ajudar a
determinar o significado central de uma palavra específica e talvez de
algumas outras partes de seu campo semântico. Se uma palavra for
usada apenas uma vez, muito pouco de seu campo semântico pode ser
compreendido. Quanto mais a palavra é usada, mais de seu campo
semântico pode ser verificado.
Além do significado lexical de uma palavra (o conceito na
mente), ele também possui uma ou mais referências. As referências são
as coisas no mundo que são indicados pela palavra. As palavras podem
ser classificadas em relação às suas referências - quão claras ou distintas
são essas referências. O linguista Moises Silva discute essa questão e
tem a seguinte tabela:

O quão certos podemos estar em nossa identificação do


significado de uma palavra está relacionado com sua referencialidade.
Para palavras não referenciais tais como “bonito” a incerteza é grande.
Podemos, por exemplo, dizer: “O pássaro é bonito”. Esta é uma
designação positiva, mas não sabemos exatamente o que o orador tem
em mente.
Na discussão abaixo, as duas palavras gregas asēlgeia (“lascívia
desenfreada”) e akatharsia (“impureza”) serão discutidas. Existem três
problemas em relação ao significado e referências dessas palavras,
1) asēlgeia não é referencial e akatharsia é não referencial ou
221
parcialmente referencial; 2) os significados do grego clássico não
precisam ser idênticos ao significado do NT; e 3) os contextos nos quais
asēlgeia e akatharsia ocorrem não mostram nada sobre seus campos
semânticos. Portanto, é impossível conectar ações específicas à
asēlgeia. E as ações só podem ser conectadas com akatharsia quando o
contexto explicitamente faz isso.

Referências 84 e 85.
Antes de fazer minha análise detalhada de asēlgeia e akatharsia,
farei alguns comentários sobre a palavra porneia. Essa palavra foi
discutida na nota 3 e mostro que ambas se referem às relações sexuais
entre uma pessoa casada e com quem ele ou ela não é casado, e às
relações sexuais entre pessoas solteiras. De acordo com a definição
dada em A Sentinela de 1975 (veja a citação nas páginas XXX),
porneia “designa todas as formas de relações sexuais imorais,
perversões e práticas lascivas tais como talvez sejam praticadas num
prostíbulo, inclusive o coito oral e anal”. No entanto, essa definição
aplicada ao NT é uma violação do ponto 2) acima. A palavra porneia
no grego clássico pode realmente se referir às ações mencionadas em A
Sentinela. Mas no NT, porneia refere-se apenas aos termos amplos
como “adultério” e “relações sexuais entre pessoas solteiras” e não se
refere a tipos particulares de imoralidade sexual, como a cópula oral e
anal. Quando o NT não especifica porneia e moikheia, só podemos usar
corretamente os termos gerais.

84
Silva, Biblical Words & Their Meaning, 107.
85
Palavras gregas no NT podem ter conotações hebraicas ou cristãs que faltam no
grego clássico. Portanto, uma palavra grega só pode ser entendida à luz de seu uso
no NT e não com base nos registros dos léxicos gregos. Ilustrando esse problema
está o fato de que as palavras gregas hades (“a sepultura”), psykhē (“alma”),
kosmos (“mundo”) e agapē (“amor”) têm significados e referências muito
diferentes no grego clássico em comparação com Novo Testamento grego.
222
Durante os três anos em que existia a visão de ‘porneia dentro do
casamento’, problemas enormes existiram. Por exemplo, o que era uma
“prática obscena”? Se uma esposa acusasse o marido de práticas
obscenas e desejasse divorciar-se dele, mas o marido não considerasse
suas relações sexuais obscenas, o que aconteceria?86 Quem deveria
decidir a questão? Os anciãos? Maridos foram desassociados por causa
de suas relações sexuais com as esposas durante o casamento. Um
grande número de casamentos foi dissolvido por motivos não bíblicos,
e maridos, esposas e filhos sofriam. Muitos anciãos também criaram
problemas porque se comportaram como policiais (veja a última
cláusula na citação de A Sentinela de 1978 na página XXX) e, de fato,
interrogaram os casais sobre suas vidas sexuais.
Na Igreja Católica há uma confissão voluntária de pecados a um
padre. Mas, em muitas situações, os anciãos das Testemunhas de Jeová
interrogavam os cônjuges para descobrir se haviam cometido pecados,
tornando assim a confissão dos casados obrigatória. Mas, na verdade,
não há nenhuma passagem no NT que dê aos anciãos o direito de fazer
perguntas às pessoas sobre suas vidas e sobre se elas cometeram
pecados. Se os membros da congregação cristã quiserem a ajuda dos
anciãos, podem pedir essa ajuda. (Tiago 5: 14-16) Mas a confissão
compulsória não tem base na Bíblia.
A razão básica pela qual a visão de ‘porneia dentro do
casamento’ foi mudada foi: “ausência de claras instruções bíblicas.”
Assim como a visão ‘porneia dentro do casamento’ criava problemas,
temos exatamente a mesma situação em relação à asēlgeia e a
akatharsia. Grandes problemas foram criados por causa das definições
humanas relacionadas a essas palavras, e mais problemas serão criados
no futuro, se não houver mudanças.
Com relação à aplicação de “impureza crassa”, A Sentinela diz:
Suponha que um casal de noivos se envolva, em várias ocasiões, em
pesadas carícias apaixonadas. Os anciãos poderão determinar que,
embora o casal não manifeste insolência que se caracterize como

86
Tenho conhecimento de primeira mão de um exemplo. Ele se arrastou por vários
meses, com inúmeras conversas entre a esposa, o marido e os anciãos. Ambos
ficaram deprimidos e, finalmente, se divorciaram.
223
conduta desenfreada, há certa medida de “ganância” na sua conduta.
Assim, os anciãos poderão tomar ação judicativa, pois o caso envolve
crassa impureza. A crassa impureza pode também ser uma base
apropriada para lidar com o caso de uma pessoa que repetidamente se
envolve em telefonemas de cunho explicitamente sexual com outra
pessoa, em especial se ela já foi aconselhada sobre isso. 87 (O itálico é
do artigo)
Existem dois problemas com este texto. Primeiro, notamos a
expressão “certa medida de ganância”. Como os anciãos podem
descobrir se há “certa medida de ganância”? Somente por uma
confissão compulsória que não tem base na Bíblia. Para procurar “certa
medida”, os anciãos devem fazer muitas perguntas para descobrir se o
carinho foi “excitante” ou não. Além disso, as duas pessoas se
lembrarão exatamente do que aconteceu? Assim, podemos ter a mesma
situação de quando existia a visão de ‘porneia dentro do casamento’ -
os anciãos funcionam como policiais que estão interrogando os
membros da congregação. É verdade que os anciãos foram
aconselhados a serem cautelosos ao considerar casos de porneia e ações
semelhantes, e a não fazer mais perguntas do que o estritamente
necessário. Mesmo assim, eles devem fazer muitas perguntas para
compreender “certa medida da ganância”.
Segundo, as expressões “certa medida de ganância” e “em
inúmeras ocasiões” são ambíguas. Quanto é “certa medida”? E qual é o
número de “inúmeras ocasiões”? Da mesma forma, a expressão “uma
atitude descarada” também é ambígua. Com base em minha
experiência com comissões judicativas, e por haver muita ambiguidade
em relação à “impureza crassa”, estou certo de que diferentes
comissões judicativas verão casos bastante semelhantes de maneiras
diferentes. Isso significa que algumas pessoas que praticaram as
mesmas ações serão desassociadas e outras não.
87
A Sentinela de 15 de julho de 2006, p. 30. O livro para anciãos “Preste Atenção a
Si Mesmo e a Todo o Rebanho” (título traduzido do inglês) foi publicado em 1991.
Naquela época, o conceito de “impureza crassa” ainda não havia sido inventado.
Nesse livro, página 93, “carícias pesadas que despertam paixão” era classificado
como “conduta desenfreada” (asēlgeia) e não como “impureza crassa” (akatharsia).
Este é um exemplo da arbitrariedade e inconsistência nas definições do CG de
pecados de desassociação.
224
O atual CG pode aprender alguma coisa com a mudança de visão
da ‘porneia dentro do casamento’? Absolutamente! A citação na página
XXX mostra que houve uma “ausência de claras instruções bíblicas”.
Abaixo, mostrarei que também há ausência de claras instruções
bíblicas mostrando que “conduta desenfreada”, TNM86 (asēlgeia)
poderia ser em qualquer grau é um pecado de desassociação. E o
próprio conceito de “impureza crassa” é algo inventado pelo CG. O
exemplo da decisão do CG em 1978 a respeito da “ausência de claras
instruções bíblicas” deve fazer com que o CG atual abandone
“impureza crassa” e “uma atitude descarada” como pecado de
desassociação. E não apenas isso: todos os 39 pecados de desassociação
listados em “Pastoreie o Rebanho de Deus” 1 Pedro 5: 2 de 2019
devem ser examinadas por anciãos experientes. E somente aqueles que
são explicitamente baseados em uma instrução bíblica clara devem
permanecer; os outros devem ser rejeitados.
Mas e as pessoas solteiras que se envolvem em carinho intenso?
Os anciãos deveriam simplesmente ignorar essas ações? Quando os
anciãos sabem que dois jovens da congregação estão namorando, eles
podem adverti-los positivamente sobre um bom relacionamento moral e
dar-lhes alguns artigos para ler. Mas, fora isso, o que os jovens fazem
deve ser algo entre eles e Deus. Se os jovens pedirem ajuda, será dada a
eles (Tiago 5: 14-16), e se eles confessarem que são culpados de
porneia, uma comissão judicativa deve considerar o caso. Mas os
“métodos policiais” que alguns anciãos usaram em conexão com
‘porneia dentro do casamento’ nunca devem ser usados novamente.
Mas, infelizmente, esses métodos ainda são usados!
Além de “carícias intensas que despertam paixão” (traduzido do
inglês), o novo livro para anciãos lista as seguintes coisas como
“impureza crassa”:
Conversas imorais por telefone ou pela Internet; vendo formas
abomináveis de pornografia; uso indevido de tabaco ou maconha e
abuso de drogas médicas, ilícitas ou que causam dependência; e
extrema impureza física.88

88
Pastoreie o rebanho de Deus, capítulo 12. 15: 3, 4, 5. (Em inglês)
225
Eu concordo que todas as ações na citação acima representam
impureza e não tolero nenhuma delas. Mas devo retornar às sábias
palavras do CG em 1978. Com relação a essas coisas, há uma completa
“ausência de claras instruções bíblicas”.89 Isso significa que são as
decisões arbitrárias do CG que levam à desassociação e não as palavras
no Bíblia. Eu não defendo a pornografia de forma alguma. Mas quando
uma pessoa é desassociada porque viu pornografia, a pessoa é
desassociada por causa de um mandamento humano e não por causa do
que a Bíblia diz. Vou elucidar a expressão “mandamento humano”. O
livro “Pastoreie o rebanho de Deus” 1 Pedro 5: 2 (2019) 13.3 diz (em
inglês):
Uma prática arraigada de ver, talvez por um período considerável de
tempo, formas abomináveis de pornografia seria considerada impureza
grosseira com ganância e precisa ser tratada judicialmente. (Efé. 4:19)
Essas formas abomináveis de pornografia incluem homossexualidade
(sexo entre pessoas do mesmo gênero), sexo grupal, bestialidade,
tortura sádica, escravidão, estupro coletivo, brutalização de mulheres
ou pornografia infantil. É igualmente errado para um homem ou
mulher assistir duas mulheres engajadas em atividades homossexuais,
assim como é para um homem ou mulher assistir dois homens
engajados em atividades homossexuais. Veja 12: 14-15.
Uma carta da filial na Noruega de 21 de junho de 2006 para
todos os corpos de anciãos listou as seguintes formas abomináveis de
pornografia como “impureza crassa”: pornografia infantil, tortura
sádica, sexo sadomasoquista, estupro coletivo e brutalização de
mulheres. A carta continuou:
Além disso, assistir a sexo oral ou anal heterossexual (em um filme ou
em um computador) é claramente impuro. Mas não deve ser visto
como “impureza crassa” que deve ser tratada judicialmente. Mas pode
levar à remoção da lista de um ancião, um servo ministerial ou um
pioneiro, dependendo da frequência com que ocorreu e da última vez.
Se alguém vê sexo oral (ou anal) homossexual ou outras formas de
sexo grupal, é mais sério. Mas isso não deve ser visto como
“imoralidade crassa” que deve ser tratada judicialmente. No entanto, é

89
A única exceção possível à falta de instrução bíblica pode ser que a intoxicação
pelo uso de drogas pode ser considerada o mesmo que a intoxicação pelo álcool.
226
provável que a pessoa perca seus privilégios de serviço na
congregação.90
As citações mostram que “arbitrariedade” é uma descrição
precisa de alguns dos mandamentos humanos do CG.91 Ver sexo
homossexual ou sexo grupal não foi definido como “impureza crassa”
em 2006. Mas em 2019, ver essas formas de pornografia é um pecado
de desassociação. Isso significa que a desassociação pode ser aleatória,
dependendo da visão do CG em um determinado momento, uma visão
que mais tarde pode mudar.
O curso para anciãos em 2006 foi apelidado de “O Curso da
Pornografia”, porque muitas palestras discutiam pornografia. Nesse
curso, os anciãos foram informados de que deveriam imediatamente
tomar medidas judiciais contra pessoas que haviam visto formas
abomináveis de pornografia. Esse foi um conselho ruim, porque muitos
foram desassociados por atos que não sabiam que eram classificados
como pecados de desassociação. É um princípio jurídico básico que
apenas as violações de uma lei que ocorram depois de a lei ser
introduzida podem ser punidas. Mas, em 2006, Testemunhas foram
desassociadas por ações que haviam cometido antes de a nova lei ser
introduzida.
O CG evidentemente percebeu que o conselho dado no curso era
ruim, e a carta de 21 de junho de 2006 dizia que as novas leis não
cobriam ações que aconteceram antes da lei ser introduzida. Mas isso
era tarde demais para aqueles que já haviam sido desassociados.
Desassociar alguém é uma medida muito forte porque a pessoa
foi ‘entregue a Satanás’. (1 Coríntios 5:5) Isso tem consequências

90
Outro exemplo de arbitrariedade é visto na nota XX. No livro para anciãos
“Preste Atenção a Si Mesmo e a Todo o Seu Rebanho”, publicado em 1991, o
conceito de “impureza crassa” ainda não havia sido inventado. Portanto, “carícias
pesadas que despertam paixão” era classificado como “conduta desenfreada”
(asēlgeia) e não como “impureza crassa” (akatharsia), como está em “Pastoreie o
Rebanho de Deus”, publicado em 2019.
91
A palavra “arbitrariedade” é definida como “Determinado por acaso, capricho ou
impulso, e não por necessidade, razão ou princípio.”
(https://www.thefreedictionary.com/arbitrariness.)
227
significativas para essa pessoa, sua família e amigos. Na minha opinião,
é um pecado maior desassociar uma pessoa por causa de um
mandamento humano que não tem suporte na Bíblia do que ver
pornografia.
Quando prego as boas novas, costumo dizer que nós,
Testemunhas de Jeová, acreditamos na Bíblia e somente na Bíblia. Não
aceitamos nenhum credo ou dogma feito por humanos. Em uma grande
organização engajada na pregação mundial, deve haver, é claro, regras
feitas por humanos, como também foi o caso em 1972. Por exemplo, os
anciãos nas congregações precisam de conselhos sobre como lidar com
diferentes questões, como o abuso sexual de crianças e diferentes
questões jurídicas. Não estou falando sobre esses assuntos. Mas estou
falando sobre decisões tomadas pelo CG que interferem diretamente na
vida de cada uma das Testemunhas de Jeová e que não são baseadas na
Bíblia. A mais séria delas são os pecados de desassociação que não têm
o apoio da Bíblia. Além disso, várias outras decisões do CG interferem
nas vidas das Testemunhas, como a administração de transfusão de
sangue por enfermeiras que são Testemunhas de Jeová. É necessário
reconsiderar cuidadosamente todas essas regras e mandamentos
humanos visando uma revisão. E o CG não tem o direito de anular a
consciência de outros cristãos, como fizeram no caso das enfermeiras e
da administração de transfusões de sangue.

AS PALAVRAS ASĒLGEIA E AKATHARSIA NÃO REPRESENTAM PECADOS DE


DESASSOCIAÇÃO
Nem asēlgeia nem akatharsia são mencionadas em 1 Coríntios
capítulos 5 e 6, onde Paulo discute as razões para ser desassociado. Isso
significa que se outras passagens no NT não dizem explicitamente que
essas duas palavras representam pecados de desassociação, então elas
não representam.

UMA DISCUSSÃO DA PALAVRA ASĒLGEIA

228
Sobre asēlgeia, A Sentinela de 15 de julho de 2006, página 30,
dias:
Como mostram as definições acima, “conduta desenfreada” envolve
dois elementos: (1) a conduta em si é uma violação grave das leis de
Deus e (2) a atitude do errante é desrespeitosa, insolente.
Portanto, “conduta desenfreada” não se refere à má conduta de
natureza menor. Ela diz respeito a atos que constituem violações sérias
das leis de Deus e que refletem uma descarada ou atrevida atitude de
desrespeito — um espírito que revela desconsideração, ou mesmo
desprezo, por autoridade, leis e normas. Paulo relaciona a conduta
desenfreada com relações sexuais ilícitas. (Romanos 13:13, 14) Visto
que Gálatas 5:19-21 alista a conduta desenfreada entre várias outras
práticas pecaminosas que desqualificariam a pessoa para herdar o
Reino de Deus, ela é base para repreensão e, possivelmente, para
desassociar alguém da congregação cristã.
Qual é o significado de “conduta desenfreada” (asēlgeia)?
Abaixo estão as notas de seis léxicos do grego para o inglês. As
palavras entre parênteses são definições das raras palavras inglesas
encontradas nos léxicos gregos.
Tabela 5,5. Vislumbres aplicados a asēlgeia (conduta desenfreada)

Liddell and Licenciosidade (sem restrições legais ou morais).


Scott Devassado (impiedoso, desumano; ser sem
observação ou limites; obsceno, indecente);
violência. Insolência (a qualidade ou estado de ser
rude sem mostrar respeito). Vulgar (sem cultivo,
percepção ou gosto; ofensivo na linguagem;
obscenamente ou profanamente indecente) abuso
(uma prática ou costume corrupto; linguagem que
condena ou difama geralmente injustamente).

Moulton and Um documento obscuro e mal escrito. A


Milligan ideia de sensualidade (relacionada ou consistindo na
gratificação dos sentidos ou na indulgência do
apetite) associada à palavra no grego tardio.
229
Bauer, Arndt, Licenciosidade (sem restrições legais ou morais).
Gingrich Devassidão (extrema indulgência com os prazeres
corporais e especialmente os sexuais: comportamento
envolvendo sexo, drogas, álcool, etc. que é
frequentemente considerado imoral). Sensualidade
(relacionada ou consistindo na gratificação dos
sentidos ou na indulgência do apetite). Conduta
indecente, (conduta totalmente imprópria ou
ofensiva). Desejos licenciosos (sem restrições legais
ou morais).

DNTT Licenciosidade (sem restrições legais ou morais).

TDNT Licença (liberdade de ação) principalmente na


esfera física. Volúpia (sugerindo prazer sensual pela
plenitude e beleza da forma; pleno de deleite ou
prazer para os sentidos; conduzindo ou surgindo da
gratificação sensual ou dos sentidos).
Devassidão (extrema indulgência com os prazeres
corporais e especialmente os sexuais: comportamento
envolvendo sexo, drogas, álcool, etc. que é
frequentemente considerado imoral). Excesso
sexual.
Heresia. Apostasia.

Grimm Luxúria desenfreada.


Excesso. Licenciosidade (sem restrições legais ou
morais).
Lascívia (lasciva; lasciva).
Devassidão (Impiedoso, desumano; ser sem controle
ou limitação).
Ultraje (ultrapassando os limites do usual; violento,
desenfreado).
Falta de Vergonha (não ter vergonha; insensível à
230
desgraça).
Insolência (a qualidade ou estado de ser grosseiro
sem demonstrar respeito).

Agora usarei os princípios da semântica lexical em minha


análise. A palavra asēlgeia não é referencial e, portanto, as definições
acima apontam para muitas direções diferentes. Para entender as
consequências disso, usarei a palavra totalmente referencial porneia
como contraste.
O significado lexical de uma palavra é o conceito na mente dos
falantes nativos (seu campo semântico). Com base neste conceito,
podem ser feitas referências a diferentes noções e ações concretas e
abstratas. O conceito de porneia é claro. Por ser totalmente referencial,
não possui um significado central, o que se torna mais difuso nas
bordas. Mas tem um significado claro, a saber, relações sexuais com
alguém com quem não somos casados. E é por isso que as pessoas que
praticam porneia podem ser expulsas das congregações cristãs.
Entre as palavras usadas para asēlgeia nos seis léxicos, apenas as
três palavras na escrita Consolas são totalmente referenciais e
claramente identificáveis, a saber, “um documento obscuro e mal
escrito”, “heresia” e “apostasia”. No entanto, essas referências são
baseadas em fontes extra-bíblicas e não podem ser usadas como uma
definição da palavra do NT.
As sete palavras escritas em Bahnschrift Condensed também
são baseadas em fontes extra-bíblicas. Essas palavras se referem a
ações. Mas as ações não são totalmente referenciais e claramente
identificadas, e não é possível saber qual ação é referida em uma dada
cláusula se o contexto não a identifica. As ações relacionadas com
asēlgeia em fontes extra-bíblicas são (1) violência, 2) abuso de algum
tipo, (3) extrema indulgência em prazeres corporais, muitas vezes de
natureza sexual, (4) conduta grosseiramente imprópria, e (5) excessos.
As 16 palavras em itálico de Garamond são não referenciais e
abstratas e representam desejos e atitudes. Isso mostra que o significado
central de asēlgeia é abstrato, e as duas ideias abstratas a seguir
parecem representar esse significado central.
231
1) Um desejo extremo de indulgência excessiva nos prazeres
corporais.
2) Falta de restrições legais e morais; nenhuma vergonha é
sentida.
O significado central de asēlgeia é abstrato, não é
referencial e a palavra não se refere a ações
concretas e identificáveis.
Conforme mencionado, as definições nos seis léxicos são baseadas
principalmente em fontes extra-bíblicas. Mas o que podemos dizer
sobre o uso de asēlgeia no NT? E. de Witt Burton tem os seguintes
comentários:
Ashegeia [asēlgeia], de etimologia duvidosa, é usada por autores
gregos com o significado de “devassidão”, “violência”. . . Não é
encontrado na LXX (livros canônicos), e no apocr. apenas em Sabed.
14:26 e 3 Mac 2:26, na passagem anterior com provável referência à
sensualidade, lascívia; neste último, sem indicação de tal limitação.
Cf. Trench synom. § XVI, que dá mais evidências de que a ashlgeia
não é exclusivamente “lascívia”, mas “libertinagem”, “obstinação
desenfreada”. No entanto, em vista da associação de Paulo em outro
lugar com palavras que denotam sensualidade (Rom. 13: 1, 2 Cor.
12:21; Ep. 4:19) e seu agrupamento aqui com porneia [porneia] e
akaqarsia [akatharsia], é provável que se refira especialmente à
devassidão nas relações sexuais. Como akaqarsia, menos específica
do que porneia, e referindo-se a qualquer conduta indecente, seja
violação da pessoa ou não, ashlgeia difere de akaqarsia porque esta
enfatizou a grosseria, a impureza da conduta, a primeira sua
devassidão, sua irrestrição.92 (O itálico é meu).
O autor atribui o significado de “libertinagem ou irrestrição nas
relações sexuais” à asēlgeia. E notamos que o autor usa a palavra
“provavelmente” em conexão com esta descrição. Como Paulo usa
asēlgeia junto com porneia (“imoralidade sexual”) e akatharsia
(“impureza”) em 2 Coríntios 12:21 e Gálatas 5:19, pode ser que a
palavra esteja associada a relações sexuais no NT. No entanto, nenhum
dos dez contextos onde ocorre asēlgeia indica que a palavra se refere a
92
Burton, Gálatas, 305, 306.
232
ações sexuais claramente identificáveis. Portanto, é provável que a
palavra seja usada no Novo Testamento de forma abstrata como luxúria
excessiva por prazeres corporais ou sexuais, ou algo semelhante. A
razão pela qual as três palavras são usadas juntas pode ser que asēlgeia
se refira ao desejo desenfreado que leva à imoralidade sexual, a
porneia. Então, a palavra porneia indica a ação sexual ilegal claramente
identificável, e akatharsia se refere ao resultado de porneia, ou seja,
impureza. Como mostrarei abaixo, não há absolutamente nenhuma
razão para que asēlgeia e akatharsia devam se referir a pecados de
desassociação só porque as duas palavras ocorrem junto com porneia,
que representa um pecado de desassociação.
O significado das três palavras juntas: asēlgeia:
forte desejo sexual; porneia: o forte desejo sexual
leva à imoralidade sexual; akatharsia: o resultado
da imoralidade sexual é a impureza.
A palavra asēlgeia deve ser traduzida, e não é fácil encontrar a
palavra certa quando o intervalo semântico é tão amplo. O TNM15 usa
a expressão “conduta insolente”. Isso significa “conduta que é chocante
e feita sem vergonha”, e esta tradução está, a meu ver, ao lado do
significado central da palavra. Isso ocorre porque “conduta descarada”
não estará naturalmente conectada com forte desejo sexual, que
provavelmente é o lado da palavra que os escritores do NT tinham em
mente.93 Acho que a tradução da TNM86 de “conduta desenfreada” é
melhor. De acordo com Learner’s Dictionary, um significado antiquado
de “desenfreado” é “não respeitável sexualmente; não é decente ou
moral.”94 No entanto, o foco da palavra asēlgeia está no desejo da
pessoa, e não em sua conduta. Portanto, precisamos de uma tradução
abstrata próxima ao seu significado central. A palavra “lascívia” pode
ser definida como “um desejo de gratificar os sentidos; apetite corporal;
desejo sexual, esp. como busca de gratificação irrestrita”.95 Essas

93
https://www.vocabulary.com/dictionary/brazen.
94
http://www.learnersdictionary.com/definition/loose.
95
http://www.yourdictionary.com/lust.

233
definições estão próximas dos significados básicos listados acima.
Outro lado do significado central é que faltam restrições. Portanto,
sugiro a tradução “lascívia desenfreada” para a palavra asēlgeia.
Agora examinarei algumas passagens onde asēlgeia é
encontrada. Começo com Romanos 13:13, onde encontramos asēlgeia
junto com a palavra koitē no plural. De acordo com o BAGD, o
significado básico de koitē é “cama”. (Lucas 11: 7) Pode ter um
significado positivo e referir-se ao leito conjugal. (Hebreus 13: 4) Mas
também pode ser usado como metáfora. Na LXX seus significados
metafóricos podem ser, segundo DNTT: “emissão de sêmen; uma
colocação de semente; cômodo sexual; relação sexual; cópula; leito de
casamento.” Ocorre quatro vezes no NT, três das quais têm a
referência, “cama, como um lugar de descanso” (Lucas 11: 7), “leito
conjugal” (Hebreus 13: 4), e “relação sexual / emissão de sêmen /
conceber” (literalmente; “fora de uma cama [de homem],”) (Romanos
9:10). O quarto exemplo ocorre em Romanos 13:13, onde “cama” está
no plural. A tradução desta palavra representa, em minha opinião,
linguística desleixada: (NIV em inglês) “imoralidade sexual”, (NRSV e
RSV em inglês) “devassidão”, (NLT em inglês), “promiscuidade
sexual” (Bíblia de Jerusalém e NAB em inglês), “promiscuidade”,
(NKJV em inglês), “lascívia”, (TNM86), “relações ilícitas”, (TNM15)
“relações sexuais imorais”.
Por que todas essas representações são questionáveis? O
significado de uma metáfora não pode ser encontrado em um léxico.
Mas precisamos olhar para o contexto, e aqui encontramos, 1) “camas”
(koitiais), 2) “festas descontroladas” (kōmois), “embriaguez” (methais),
“lascívia desenfreada” (asēlgeia), “contenda ”(eris),“ ciúme ”(zēlos);
versículo 12: “obras das trevas” (erga tou skotous); versículo 14:
“desejos da carne” (sarkos ... epithumias). Como o contexto pode nos
ajudar a encontrar o significado metafórico de “camas”?
As palavras “escuridão” e “carne” mostram que a palavra
“camas” se refere a algo que é negativo. Mas visto que tanto “obras”
quanto “desejos” são mencionados, não podemos saber de início se a
palavra “camas” se refere a ações ou ao desejo de realizar ações
específicas. Porque “cama” pode se referir a relações sexuais, e esta é a

234
referência em Romanos 9:10, a metáfora de “camas” pode se referir ao
tipo de relação sexual que está conectada com as obras das trevas e os
desejos da carne. Tanto “relações ilícitas” (TNM86) quanto “relações
sexuais imorais” (TNM15) se encaixam em ambas as expressões
mencionadas.
Mas existem ações ou desejos alternativos que também podem se
enquadrar nas expressões mencionadas? Sim. 1 Coríntios 7: 1–5 mostra
que os casais devem respeitar um ao outro nas relações sexuais.
O versículo 3 diz:
O marido dê à esposa o que lhe é devido, e faça a esposa o mesmo
para com o marido.
Primeira Pedro 3: 7 (TNM15) diz:
Da mesma maneira, você, marido, continue a morar com a sua esposa
segundo o conhecimento. Dê-lhe honra como a um vaso mais frágil, o
feminino
Os versículos mostram que as relações sexuais entre marido e
mulher devem ocorrer de maneira decente, e o marido deve, em todas
as áreas da vida, incluindo as relações sexuais, honrar sua esposa como
o “vaso mais fraco”. Suponha agora que o marido foi impulsionado por
“lascívia desenfreada” (asēlgeia) e exigiu relações sexuais com ela
continuamente, também quando ela não queria ter tais relações. Para
satisfazer seus desejos, ele pode até mesmo tê-la tratado de maneira
brutal. Isso poderia ser definido como “obras das trevas” e “desejos da
carne”? Absolutamente! Essas ações costumam estar relacionadas a
festas e embriaguez, e a seguinte palavra asēlgeia (“lascívia
desenfreada”) poderia apoiar essa visão.
Observe que não estou dizendo que “camas” se referem ao
tratamento sexual desenfreado do marido com sua esposa. Mas meu
ponto é que esta é uma referência possível de “camas”, e não há pistas
no contexto de relações sexuais entre um homem e uma mulher que não
são casados (relação sexual ilícita ou imoral). Visto que “camas”
representa uma metáfora, e esta metáfora pode incluir coisas diferentes,
será trabalhoso para o leitor se o tradutor não prender o leitor na
opinião do tradutor. Visto que a LXX usa a metáfora “emissão de
235
sêmen”, e a metáfora “relação sexual” é usada para a palavra “cama”
no singular em Romanos 9:10, e a palavra está no plural em 13:13, eu
traduziria koitais como “emissões de sêmen”:
Andemos decentemente, como durante o dia, não em orgias e
embriaguez, não com emissões de sêmen e lascívia desenfreada, não
em contendas e ciúmes.
A expressão “emissões de sêmen” pode incluir relações sexuais
ilícitas e relações excessivas com a esposa. Devemos também ter em
mente que Paulo, em suas cartas, mencionou pecados e situações
particulares que eram conhecidos de seus leitores. Assim, devido ao seu
conhecimento, os romanos puderam conhecer a verdadeira referência
de “camas”.
Para mostrar que asēlgeia se refere a graves violações das leis de
Deus, A Sentinela de 2006 diz: “Paulo relaciona a conduta desenfreada
com relações sexuais ilícitas.” (Romanos 13:13, 14) A discussão acima
mostra que essa conclusão não é garantida, porque koitiais (“camas”)
pode ou não referir-se a relações sexuais ilícitas. Não podemos usar
uma metáfora com significado incerto para definir a palavra asēlgeia.
Além disso, o versículo 14 fala dos “desejos da carne”, que se referem
a estados mentais e não a ações. A palavra zēlos (“ciúme”) que segue
asēlgeia é claramente um estado de espírito, e o mesmo pode ser o caso
com eris (“contenda; discórdia”). Em relação a essa palavra, LN diz: “É
difícil determinar se há envolvimento verbal definido ou se a referência
é essencialmente a um estado de rivalidade ou conflito.” Assim,
Romanos 13:13, 14 não mostra que asēlgeia se refere a “graves
violações das leis de Deus”. O fato de asēlgeia ser seguida pelas
palavras “contenda” e “ciúme” corrobora a visão de que essa palavra se
refere a um estado de espírito, à “lascívia desenfreada” e não a ações
específicas que podem ser identificadas.
A referência em A Sentinela de 15 de julho de 2006, página 30, a
Gálatas, capítulo 5, também é falha:
Visto que Gálatas 5:19-21 alista [sic] a conduta desenfreada entre
várias outras práticas pecaminosas que desqualificariam a pessoa para
herdar o Reino de Deus, ela é base para repreensão e, possivelmente,
para desassociar alguém da congregação cristã.
236
O argumento de que, visto que asēlgeia está listada junto com
ações que podem impedir uma pessoa de herdar o Reino de Deus,
portanto, retrata pecados de desassociação, é totalmente insustentável.
Se as palavras de não herdar o Reino de Deus em Gálatas são
interpretadas para mostrar que as ações incluídas na palavra asēlgeia
podem levar à reprovação e desassociação, o mesmo deve ser verdade
com todas as outras 14 descrições das obras da carne. Mas os escritores
de A Sentinela concordam que este não é o caso com a maioria dessas
obras da carne.
Vamos usar o décimo mandamento como exemplo (Êxodo 20:17,
TNM15): “Não deseje a casa do seu próximo.” Este mandamento não
pode ter sido inventado por homens, mas apenas por Deus. Isso porque
só Deus pode ler o coração e saber se uma pessoa deseja algo. É
exatamente o mesmo com a palavra grega “ciúme” (zēlos) em Gálatas
5:20. Os humanos não podem reprovar ou desassociar um cristão com o
fundamento de que ele tem ciúme porque não podemos ler o coração da
pessoa. Só Deus sabe isso. Mas se uma pessoa praticar ciúme, ela pode
não herdar o Reino de Deus, e Deus é quem lê os corações. Portanto,
Gálatas 5: 19–20 não pode ser usado corretamente para provar que as
ações incluídas na asēlgeia podem levar à reprovação ou desassociação.
Esse argumento é completamente absurdo!
Também ilustrarei o problema com as palavras em 1 Pedro 4: 3
(TNM15):
quando vocês viviam em conduta insolente (asēlgeia), em paixões
desenfreadas (epitimia), em embriaguez (oinoflygia), em festas
descontroladas (komos), em bebedeiras (potos) e em idolatrias ilícitas
(athemitos eidōlolatria).
BAGD define epitimia como: “desejo por outras coisas”, e diz
que o desejo pode ser direcionado para coisas boas e ruins. O adjetivo
“desenfreadas” na expressão “paixões desenfreadas” na TNM15 é um
acréscimo que não é encontrado no texto grego. Uma boa tradução de
epitimia seria “paixões” sem qualquer qualificação.
No versículo 2, Pedro se refere ao versículo 3 e fala sobre os
“desejos dos homens”. Curiosamente, as últimas quatro características
negativas estão incluídas na lista de Paulo em 1 Coríntios 6: 9, 10 como
237
atos que podem levar à desassociação. As primeiras três palavras,
“embriaguez” (oinoflygias); “Festas descontroladas” (kōmos);
“Bebedeiras” (potos), correspondem a “bêbado” (methysos) em 1
Coríntios 6:10. E “idolatrias” corresponde a quem participa da adoração
de ídolos (eidōlolatrēs).
O argumento a respeito de Gálatas, capítulo 5, era que, visto que
asēlgeia é listada junto com as ações que impedem uma pessoa de
herdar o Reino de Deus, deve incluir pecados que podem levar à
desassociação. Usando um argumento semelhante em 1 Pedro 4:3,
asēlgeia e epitimia que estão listadas junto com quatro pecados que
podem levar à desassociação também devem incluir os pecaods que
podem levar à desassociação. Mas há um problema, a saber, que a
epitimia (“paixões”) não pode ser discernida pelos humanos porque
somente Deus pode ler o coração. Esta palavra, portanto, é da mesma
classe que zēlos (“ciúme”) em Gálatas 5:20. Portanto, quando epitimia
não se refere a pecados que podem levar à desassociação, não há
necessidade de concluir que asēlgeia se refira a tais pecados em 1
Pedro 4:3 ou em qualquer outra passagem do NT. Além disso, o
significado central de asēlgeia é “um desejo extremo de indulgência
excessiva nos prazeres corporais”. Assim, a palavra asēlgeia é
sinônimo de epitimia, e pode ser por isso que são usadas em conjunto.
Se crermos somente na Bíblia e não em homens, somente quando
houver uma instrução bíblica clara mostrando que uma ação é digna de
desassociação, ela poderá ser usada para desassociação. O que os seres
humanos dizem é irrelevante.
No novo livro para anciãos, dois tipos diferentes de ações que
estão incluídas na as asēlgeia são listados (tradução a partir do livro
em inglês):
Associação desnecessária com indivíduos desassociados ou
desassociados: A associação intencional, contínua e desnecessária
com não-parentes desassociados ou dissociados, apesar de repetidos
conselhos, justificaria ação judicial.
Namorar, embora não esteja biblicamente livre para se casar
novamente: Continuar a namorar ou buscar um relacionamento
romântico com uma pessoa, embora um ou os dois não estejam legal
238
ou biblicamente livres para se casar novamente, fazer isso apesar de
repetidos conselhos e geralmente depois de um discurso de
advertência à congregação, justificaria uma ação judicial. - Gál 5:
19.2496
As ações mencionadas acima não têm relação com nenhuma
parte do campo semântico de asēlgeia conforme listado na tabela 5.5.
Além disso, asēlgeia não se refere a ações; refere-se à noção abstrata de
“lascívia desenfreada”. Isso significa que quando uma Testemunha é
desassociada com base nas ações mencionadas acima, ela é
desassociada com base em um mandamento humano, introduzido por
decisões arbitrárias do CG, e não com base na Bíblia. Assim, em
conexão com a asēlgeia, o CG abandonou o princípio de “uma clara
instrução bíblica”!

A FALÁCIA DE USAR ASĒLGEIA COMO UM


PECADO DE DESASSOCIAÇÃO

1) O significado central de asēlgeia é abstrato.


2) Em fontes extra-bíblicas, a palavra pode se referir a diferentes ações.
Mas isso deve ser especificado pelo contexto.
3) O significado exato de asēlgeia no NT é desconhecido.
4) Seu uso, junto com porneia, pode sugerir que seu significado central,
“um desejo extremo de excessiva indulgência em prazeres corporais”, se
relaciona com prazeres sexuais. Assim, a palavra é abstrata, e ações
particulares não podem ser conectadas com asēlgeia no NT.
5) O cg conectou ações modernas a asēlgeia, apesar do fato de que
asēlgeia não se refere a quaisquer ações no NT, e apesar do fato de que
nenhuma referência de as asēlgeia em fontes extra-bíblicas tem a menor
semelhança com estas ações modernas listadas pelo CG.

A forma como o CG tratou a asēlgeia, conforme descrito acima,


não tem precedentes na literatura linguística, bem como nos
“Pastoreie o Rebanho de Deus”; 12:17.
96

239
comentários bíblicos. Mostra uma ignorância dos princípios e regras de
um tratamento linguístico do grego do Novo Testamento. Mas o
verdadeiro problema é que essa falta de conhecimento acadêmico fez
com que milhares de Testemunhas de Jeová fossem injustamente
desassociadas de suas congregações. E, milhares mais serão
desassociadas injustamente no futuro se não houver mudança. Como
ancião e pastor, não posso olhar para esse mau uso da Bíblia sem dizer
nada.
Milhares de Testemunhas foram e serão
desassociadas injustamente por causa do uso
indevido de passagens bíblicas pelo CG. Salientar
isso é uma das razões básicas pelas quais escrevo
este livro.
Mas devemos ignorar a palavra asēlgeia, que pode representar
“um desejo extremo de excessiva indulgência nos prazeres corporais”?
Não devemos ignorar a palavra. Mas, no que diz respeito à
desassociação, devemos procurar as personalidades más mencionadas
em 1 Coríntios capítulo 6. Quando o comportamento extremo envolve
porneia (“imoralidade sexual”) ou oinoflygias (“beber demais”), a
pessoa pode ser desassociada.
No entanto, o CG decidiu que “associação desnecessária com
indivíduos desassociados ou dissociados” e “namoro, embora não seja
biblicamente livre para casar novamente” - ações que nada têm a ver
com qualquer definição de asēlgeia - devem ser incluídas no
significado da palavra e levar à desassociação. Não defendo namoro
antibíblico ou associação desnecessária com pessoas desassociada. 97
Mas incluir essas entre as ofensas de desassociação representa
mandamentos humanos, que não têm base na Bíblia. A invenção desses
e de outros mandamentos humanos é uma séria violação dos princípios

97
A associação desnecessária com pessoas dissociadas deve ser incluída na
asēlgeia. Se uma pessoa escreve uma carta dizendo que deseja cancelar sua
associação como Testemunha de Jeová, ela é vista como alguém que se dissociou
da organização. Nas páginas 208, 209, mostro que não há base na Bíblia para tratar
essa pessoa da mesma maneira que tratamos os desassociados.
240
bíblicos. E isso causou e causará grandes danos e perdas para milhares
de Testemunhas.

UMA DISCUSSÃO SOBRE A PALAVRA AKATHARSIA


A palavra akatharsia é usada dez vezes no NT, e as referências
em cinco léxicos do grego para o inglês estão listadas na tabela 5.6.
Tabela 5.6 Definições de akatharsia (impureza)

Liddell and Scott Impureza, imundicie, de uma ferida ou


ferida, sujeira, obsenidade; no sentido
moral: depravação; impureza cerimonial.

Moulton Não há registro.


and
Milligan

Bauer, Impureza, horrendo; lixo; no sentido moral


Arndt, dos homens; imoralidade, maldade; prática
Gingrich de todo rei da imoralidade.

DNTT Refere-se a toda a gama de impurezas,


variando da menstruação à poluição moral
por meio de transgressões.

TDNT Impureza física, cúltica e moral.

Grimm Impureza. Física; moral: lascivo, luxuoso,


vida devassa; razões impuras.

A palavra akatharsia é explicada dessa forma por A Sentinela de


15 de julho de 2006, página 30.
Impureza (do grego akatharsía) é o mais amplo dos três termos
traduzidos por “fornicação”, “impureza” e “conduta desenfreada”. Ela
inclui impureza de qualquer tipo — em assuntos sexuais, na
241
linguagem, nas ações e nos relacionamentos espirituais. “Impureza”
abrange uma ampla variedade de pecados sérios.
Conforme registrado em 2 Coríntios 12:21, Paulo refere-se a pessoas
que ‘pecaram, mas não se arrependeram de sua impureza, fornicação e
conduta desenfreada’. Visto que “impureza” é alistada junto com
‘fornicação e conduta desenfreada’, certos graus de impureza
justificam uma ação judicativa. Mas impureza é um termo amplo que
inclui coisas que não são de natureza judicativa. Assim como uma
casa pode estar um pouco suja ou totalmente imunda, existem graus de
impureza. (Os itálicos são meus.)
A Sentinela está correta quando diz que “Ela [akatharsia] inclui
impureza de qualquer tipo”. Mas as palavras, “‘Impureza’ abrange uma
ampla variedade de pecados sérios”, precisam de alguns comentários. O
artigo se refere a 2 Coríntios 12:21 e diz que “Visto que ‘impureza’ é
alistada junto com ‘fornicação e conduta desenfreada’, certos graus de
impureza justificam uma ação judicativa”. Existem várias falhas lógicas
neste argumento.
O fato de duas palavras serem mencionadas juntas no mesmo
contexto não mostra que as duas palavras tenham um significado
semelhante ou uma função semelhante. Eu demonstrei isso na discussão
acima sobre a asēlgeia. Entre as obras da carne em Gálatas 5:19–21
estão alguns pecados de desassociação, de acordo com 1 Coríntios 6:9,
10, e outras obras (ações e desejos) que não são pecados de
desassociação. Se o argumento acima a respeito da akatharsia fosse
verdadeiro, para ser consistente, todas as obras da carne tinham que ser
pecados de desassociação.
A parte mais estranha do argumento acima é a alegação de que,
visto que akatharsia é mencionada junto com asēlgeia e porneia, que o
autor considera como pecados de desassociação, “certos graus de
impureza justificam uma ação judicativa”. (Itálico meu.) Se todas as
ações incluídas na palavra porneia forem pecados de desassociação,
então todas as ações incluídas na akatharsia também devem ser
pecados de desassociação, e não apenas uma parte delas, isto é, se
akatharsia for um pecado de desassociação.

242
O argumento sobre “certos graus de impureza” é de virar o
assunto de cabeça para baixo. Visto que a palavra akatharsia pode ser
aplicada a muitas coisas, como mostrado na Tabela 5.6, as ações
impuras não podem ser definidas por akatharsia, mas akatharsia deve
ser definida por ações impuras. Romanos 1:24 ilustra isso. TNM86 diz:
Portanto Deus, em harmonia com os desejos dos seus corações,
entregou-os à impureza, para que os seus corpos fossem desonrados
entre si.
Suponhamos agora que tivéssemos um manuscrito grego rasgado
após a palavra akatharsia, seria então possível saber a referência de
akatharsia? Absolutamente não. A que akatharsia se refere, só pode ser
entendido com base na última cláusula. O contexto mostra que a
desonra dos corpos se refere às ações homossexuais (porneia), e as
ações mencionadas são pecados de desassociação. Portanto, as pessoas
podem ser desassociadas, não por causa de akatharsia, mas por causa
de porneia. Também podemos usar Romanos 6:19 como exemplo.
TNM86 diz:
pois, assim como apresentastes os vossos membros como escravos à
impureza (akatharsia) e ao que é contra a lei, visando o que é contra a
lei, assim apresentai agora os vossos membros como escravos à
justiça, visando a santidade.
Nesse versículo, a impureza está conectada com a ilegalidade.
Mas visto que o contexto não define akatharsia, não podemos saber a
que se refere. Em Mateus 23:27, akatharsia se refere às coisas dentro
de uma sepultura, e 1 Tessalonicenses 2:3 fala de motivos impuros.
Existem seis outros versículos com akatharsia (2 Coríntios 12:21;
Gálatas 5:19; Efésios 4:19; 5: 3; Colossenses 3: 5; 1 Tessalonicenses 4:
7) Mas em nenhum desses versos a akatharsia é definida ou descrita.
Portanto, não podemos saber sua referência. Isso significa que os
“certos graus” de akatharsia que A Sentinela afirma serem pecados de
desassociação não são mencionadas na Bíblia. Portanto, definir esses
“certos graus” é algo baseado em mandamentos humanos e não na
Bíblia.
Vimos que no NT, akatharsia nunca é definida como um pecado
de desassociação. Mas em contraste com isso, os membros do CG
243
construíram a expressão “impureza crassa” como um pecado de
desassociação. Eles afirmam que diferentes ações que não são
mencionadas no NT representam “impureza crassa”. Portanto, essas
ações são pecados de desassociação. Este é um exemplo típico de mau
uso da Bíblia, e mostrarei isso em detalhes abaixo.
O CG construiu o conceito de “impureza crassa”
como base para desassociar pessoas. Diferentes ações
que não são mencionadas no NT estão incluídas no
conceito. E essas ações são definidas como pecados
de desassociação.

“Impureza com ganância”


Vamos dar uma olhada no conceito de “impureza crassa” e
“impureza crassa com ganância”. A Sentinela de 15 de julho de 2006,
página 30, diz:
De acordo com Efésios 4:19, Paulo disse que alguns indivíduos
haviam ficado “além de todo o senso moral” e “entregaram-se à
conduta desenfreada para fazerem com ganância toda sorte de
impureza”. Assim, Paulo coloca a prática da ‘impureza com ganância’
na mesma categoria que a conduta desenfreada. Uma pessoa batizada
que, sem se arrepender, pratica ‘com ganância a impureza’ pode ser
expulsa da congregação por causa de crassa impureza.
O autor desta citação aplicou as palavras de Efésios 4:19 de uma
forma que contraria o contexto e leu algo no texto que não está no
texto. Vejamos. A tradução da NVI dia (em inglês):
Tendo perdido toda a sensibilidade, eles se entregaram à sensualidade
(asēlgeia) para se entregar a todo tipo de impureza (akatharsia), com
um desejo contínuo por mais (pleonexia).
As ações mencionadas são “todo tipo de impureza”, e essas ações
são baseadas na luxúria desenfreada das pessoas mencionadas. E a
última cláusula mostra que esse desejo desenfreado nunca é satisfeito;
sempre há um desejo por mais.

244
Os pontos importantes na citação acima são “impureza ... com
ganância” e “crassa impureza”. Ambas as expressões são invenções do
CG e não têm base em Efésios 4:19 ou em qualquer passagem do NT.
Vejamos.

O contexto de Efésios 4:19


A primeira parte do versículo 19 fala de “eles” que
“ultrapassaram todo o senso moral”. Qual é o antecedente de “eles”? A
palavra “eles” se refere às nações (v. 17) e não aos cristãos. Isso por si
só mostra que nenhuma parte de Efésios 4:17-19 pode ser aplicada aos
cristãos. Mas isso é feito, até mesmo encontrando pecados de
desassociação para os cristãos no versículo 19, na descrição das ações
das nações pagãs.

O significado de pleonexia
A última palavra do versículo é pleonexia, e esta palavra é a base
para a invenção de “crassa” em “crassa impureza” como um pecado de
desassociação. No entanto, esta invenção é insustentável. BAGD define
a palavra grega pleonexia como: “avidez; insaciabilidade; avareza;
cobiça.” A palavra “avareza” refere-se a “um desejo excessivo ou
insaciável de riqueza ou ganho” (Merriam-Webster). Então, a que se
refere a pleonexia em Efésios 4:19? DNTT (I 138) diz sobre as palavras
pleonexia (ganância), pleonektēs (uma pessoa gananciosa) e pleonekteō
(tirar vantagem, fraudar, trapacear): “As ações denotadas por elas. . .
sempre [grifo meu.] parecem ser direcionadas para ganho material.”
Dois comentários dizem:
O termo (en pleonexia) não está necessariamente associado à má
conduta sexual, embora o contexto aqui sugira. Significa a
determinação de gratificar o interesse próprio a todo custo,
independentemente dos direitos e suscetibilidades dos outros. A NVI
combina as duas possibilidades: “com uma ânsia contínua por mais”
(em inglês).98

98
A. Skevington Wood in The Expositors Bible Commentary, 11:62
245
A interpretação atual encontra dois pecados aqui mencionados que se
unem: o excesso sexual e a ganância por dinheiro. Somos informados
de que são marcas especiais do paganismo e, portanto, são nomeadas
aqui. Este pensamento também foi sugerido, que o excesso sexual
requer dinheiro, de modo que a cobiça é aqui adicionada por Paulo.99

A função e referência de pleonexia


O ponto importante é que en pleonexia (com ganância) pode se
referir tanto a ações relacionadas com akatharsia (“impureza”), ou
pode ser independente dessas ações e referir-se à ganância por dinheiro.
Wood diz que o contexto sugere que está associada a má conduta
sexual. Mas isso é negado pela DNTT, e Lenski mostra que isso pode
estar relacionado com as ações da akatharsia e ainda se referir à
ganância de dinheiro. Nas cartas de Paulo, pleonexia ocorre em
Romanos 1:29; 2 Coríntios 9:5; Efésios 4:19; Colossenses 3: 5; e 1
Tessalonicenses 2: 5. Em todos esses lugares, a palavra se refere ao
ganho material e nunca à impureza sexual. O fato de que a referência de
pleonexia é incerta, e muito provavelmente se refere ao “desejo de
riqueza ou ganho”, é uma boa razão pela qual a palavra pleonexia não
deve ser usada para construir os pecados de desassociação
supostamente incluídos em “crassa impureza”.
Abaixo, traduzi Efésios 4:19 de três maneiras diferentes.
Vejamos as possíveis funções e referências de pleonexia com base
nessas três traduções. A primeira cláusula é semelhante em todos os
três exemplos. É uma tradução da palavra apalgeō, que, de acordo com
LN, significa “perder a capacidade de sentir vergonha e
constrangimento”. A segunda cláusula também é semelhante, e a
palavra principal é asēlgeia (“lascívia desenfreada”). A terceira
cláusula é diferente nas três traduções.
Tendo ultrapassado todo o senso moral, eles se entregaram à lascívia
desenfreada (asēlgeia), para praticar (ergasia) todo tipo de impureza
(akatharsia), com ganância (pleonexia).

99
R. C. H. Lenski, Interpretation of Galatians, Ephesians, Philippians, 558.

246
Tendo ultrapassado todo o senso moral, eles se entregaram à lascívia
desenfreada (asēlgeia), para praticar (ergasia) todo tipo de impureza
(akatharsia), com um forte desejo por mais (pleonexia).
Tendo ultrapassado todo o senso moral, entregaram-se à lascívia
desenfreada (asēlgeia), para praticar (ergasia) todo tipo de impureza
(akatharsia), com um forte desejo de ganho material (pleonexia).
O primeiro exemplo verte pleonexia por “ganância”. Este é um
exemplo neutro porque “ganância” pode se referir a “todo tipo de
impureza” e a “ganho material”. (A palavra “ganância” refere-se ao
sentimento e corresponde a “luxúria”. A palavra “ganância” (TNM 86;
TNM 15) refere-se à qualidade de ser ganancioso.) O segundo exemplo
conecta pleonexia a “todo tipo de impureza”; as pessoas das nações
nunca estão satisfeitas e terão cada vez mais. O terceiro exemplo
considera a pleonexia independente de “todo tipo de impureza”. E o
significado é que, além de sua prática de “todo tipo de impureza”, o
povo das nações também tem um forte desejo de ganho material. Visto
que não sabemos o significado de pleonexia nesta passagem nem a que
se refere, não podemos construir um pecado de desassociação com base
nessa palavra. Mas é isso que o CG faz.

“crassa impureza”
Depois que A Sentinela se referiu a 2 Coríntios 12:21 e afirmou
que, “Visto que ‘impureza’ é alistada junto com ‘fornicação e conduta
desenfreada’, certos graus de impureza justificam uma ação judicativa”,
a revista se refere a Efésios 4:19 e diz:
Paulo coloca a prática da ‘impureza com ganância’ na mesma
categoria que a conduta desenfreada. Uma pessoa batizada que, sem se
arrepender, pratica ‘com ganância a impureza’ pode ser expulsa da
congregação por causa de crassa impureza.100
As palavras “crassa impureza” não são encontradas no NT, mas
foram inventadas pelo CG. Parece que a tradução “com ganância”
relacionada a “impureza” é a base para “crassa” em “crassa impureza”.
Se for esse o caso, o raciocínio está errado. A palavra “crassa” é um

100
A Sentinela de 15 de julho de 2006, 30.
247
adjetivo que modifica “impureza”. Mostra a magnitude da impureza. A
palavra “ganância” (pleonexia) é um substantivo que não pode
modificar outro substantivo, como “impureza”. É precedido de uma
preposição, e essa construção (“com ganância”) funciona como
adverbial, que modifica o substantivo verbal “praticar” (ergasia).
Assim, o adverbial conecta um forte desejo com “praticar toda espécie
(grosseira ou pequena) de impureza”. O forte desejo é fazer mais e mais
ações impuras ou obter ganho material além das ações impuras.
A conclusão é que Efésios 4:19 descreve os motivos e ações das
pessoas das nações. Portanto, nenhuma parte dele pode ser aplicada aos
cristãos. Além disso, a palavra “ganância” não modifica “impureza”,
indicando que a impureza é crassa. Portanto, o pecado de desassociação
“crassa impureza” não tem base alguma no Novo Testamento, e a
alegação de A Sentinela de 15 de julho de 2006, página 30, de que
“certos graus de impureza justificam uma ação judicativa” não se
baseia em nenhuma “clara instrução bíblica.”

O USO DE PALAVRAS GREGAS


O USO CORRETO DE PALAVRAS GREGAS
porneia (“imoralidade sexual”).
A palavra ocorre 25 vezes no NT e é definida como “relações sexuais
com uma pessoa com quem não se é casado e relações sexuais entre
pessoas solteiras”. (Mateus 5:32; 1 Coríntios 7: 2) A imoralidade
sexual é um pecado de desassociação. (1 Coríntios 6: 9; 5:13)

USO INCORRETO DE PALAVRAS GREGAS


Asēlgeia (“lascívia desenfreada” (tradução minha); “conduta
desenfreada”, TNM86; “conduta descarada”, TNM15)
A palavra ocorre 10 vezes no NT. A palavra tem um significado
abstrato, e nenhuma ação particular pode ser conectada com asēlgeia
no NT.
Akatharsia (“impureza”) A palavra ocorre 10 vezes no NT, e
248
nenhuma ação particular pode ser conectada com akatharsia no NT.
A Sentinela afirma que “certos graude de conduta desenfreada” e
“impureza” são pecados de desassociação. Então, ações particulares
que são praticadas hoje, mas eram desconhecidas no primeiro século
EC, são listadas como “conduta desenfreada, conduta insolente” e
“impureza”. Essas ações são definidas como pecados de
desassociação. Este é um uso arbitrário e indouto das Sagradas
Escrituras:
1) Nenhuma passagem no NT mostra que “conduta
desenfreada” e “impureza” são pecados de desassociação.
2) A palavra asēlgeia não pode ser claramente definida por seu
uso no NT, e nenhuma ação particular está conectada com esta
palavra.
3) Nenhuma ação de desassociação pode ser conectada com a
palavra akatharsia, e o conceito “crassa impureza” não tem
base no NT.
4) Ações que são praticadas hoje, mas eram desconhecidas nos
tempos do NT, são definidas como asēlgeia e akatharsia, e as
pessoas são desassociadas quando praticam essas ações. Este é
um uso anacrônico e indouto de palavras gregas.
5) Desassociar pessoas com base nas definições arbitrárias do
CG representa uma violação dos princípios bíblicos.

LIBERDADE RELIGIOSA VERSUS AÇÕES MILITANTES


As Testemunhas de Jeová são campeãs da liberdade religiosa.
Um grande número de pessoas mudou de religião quando se tornaram
Testemunhas de Jeová. Em alguns casos, os parentes daqueles que se
tornaram Testemunhas de Jeová não querem ter nada a ver com eles,
mas os estão evitando. É claro que esta é uma situação ruim.
No entanto, um mandamento humano feito pelo CG pode causar
exatamente a mesma situação. A Sentinela de 15 de julho de 1985,
página 31, tem a seguinte pergunta:
249
Referia-se 2 João 10, que diz para não receber no lar ou cumprimentar
certas pessoas, apenas aos que haviam promovido doutrinas falsas?
Com respeito às pessoas que deixam a congregação, o artigo diz:
A pessoa que voluntária e formalmente se dissociasse da congregação
se encaixaria nessa descrição. Por repudiar deliberadamente a
congregação de Deus e por renunciar ao caminho cristão, ela faria de
si mesma um apóstata. O cristão leal não desejaria associar-se com um
apóstata.
Isso significa que se uma Testemunha escrever uma carta
dizendo que não quer mais ser Testemunha de Jeová, ela será tratada
como uma pessoa desassociada e será rejeitada. Esta é uma expressão
de uma atitude militante e, na ausência de claras instruções bíblicas,
essa prática deve ser abandonada. Na realidade, é o mesmo que usar
duas balanças e escalas diferentes, uma balança quando uma pessoa
muda de religião e se torna Testemunha, e outra quando uma pessoa
muda de religião e deixa de ser Testemunha de Jeová. Além disso, a
justificativa para essa atitude está errada. A Sentinela de 15 de
novembro de 1974, página 685, par 22, tem o seguinte comentário
sobre 2 João 7–10:
Note que o apóstolo João diz, no versículo sete, que “muitos
enganadores saíram pelo mundo afora, pessoas que não confessam
Jesus Cristo vindo na carne. Este é o enganador e o anticristo”. João
adverte então para se estar precavido e não receber a tais no lar,
porque eles são propagandistas ativos de ensinos falsos, promotores
enganosos da conduta errada. Não se lhes deve dar ponto de apoio do
qual possam fazer infiltrações futuras. Nem mesmo devem ser
cumprimentados, a fim de se evitar ser partícipe de suas obras iníquas.
A Sentinela de 1º de junho de 2015, página 14, concorda com os
comentários acima:
De acordo com João, o anticristo seria composto de todos os que
deliberadamente espalham mentiras religiosas sobre Jesus Cristo e
seus ensinos.
As pessoas a que João se refere eram aquelas que estavam
ativamente promovendo ensinos falsos. Naturalmente, os cristãos não
devem convidar essas pessoas para entrar em suas casas ou saudá-las.
250
Mas as palavras de João não incluem aqueles que deixam a
congregação cristã sem se opor ativamente à congregação ou espalhar
falsos ensinos.
Paulo diz que as pessoas que estão permeadas por ações más
particulares são más e devem ser removidas da congregação (1
Coríntios 5:11, 13; 6: 9, 10). Ele também diz que não devemos nem
mesmo “comer com tal homem”. (5:11) Há um propósito em se recusar
a ter qualquer relação com tal homem. Nossa ação mostra que
condenamos as ações da pessoa, e esta é a medida mais forte que temos
para tentar fazer com que a pessoa perceba seu proceder errado e se
arrependa. Há também um propósito em evitar os anticristos, a saber,
não ser influenciado por seus ensinos. Mas não há propósito em evitar
uma pessoa que declara que não quer mais fazer parte da congregação
das Testemunhas de Jeová.
Quando uma pessoa se dedica a Jeová e é batizada, ela promete
servir a Deus para sempre. Se uma pessoa deixa sua congregação, ela
quebra a promessa que foi feita. Esta é uma situação entre essa pessoa e
Jeová. E não vejo razão lógica para não aceitarmos sua escolha de
deixar nossa organização e tratá-lo de maneira amigável, como
tratamos todas as pessoas fora de nossa congregação.
Não há nenhuma instrução bíblica dizendo que os
cristãos devem evitar uma pessoa que se dissocia
da congregação cristã, se a pessoa não for um
anticristo.
Outra atitude militante foi expressa em uma assembleia nacional.
Uma situação mostrou uma irmã que recebeu um telefonema. Com base
no número que apareceu na tela, ela viu que a ligação era de um parente
desassociado. Portanto, ela não atendeu a chamada. Para demonstrar
que os desassociados devem se arrepender, nada teremos a ver com
eles. No entanto, é claro que salvaremos uma pessoa desassociada de se
afogar. E se houvesse uma emergência, nós o ajudaríamos. O parente
desassociado que ligou pode estar doente e ou estar precisando de
ajuda, ou ele ou ela pode estar tão deprimido a ponto de considerar o
suicídio. Por causa do amor cristão e do equilíbrio, a ligação deve, é
claro, ser atendida. E se não houvesse emergência, a pessoa que ligou
251
deveria, de maneira branda, ser informada de que uma conversa não era
possível. Essa seria uma maneira muito melhor de lembrar ao
desassociado a necessidade de se arrepender do que não atender ao
telefonema.
“Não vão além das coisas que estão escritas” (1
Coríntios 4:6)
Desassociar cristãos baseando-se em mandamentos
humanos que não possuem base bíblica é uma
violação séria dos princípios bíblicos.
Capítulo 6

O CORPO GOVERNANTE E A NOVA VISÃO DA


BÍBLIA
- REVISÃO -
A opinião dos Estudantes da Bíblia e das Testemunhas de Jeová por 120
anos era que cada palavra da Bíblia é inspirada por Deus, todas as nuances
e sutilezas são importantes e cada relato é incluído com um propósito
específico. Esta visão foi rejeitada pelos membros do atual CG. Eles não
acreditam que as nuances e sutilezas do texto da Bíblia são importantes -
isso é visto pela Tradução do Novo Mundo revisada de 2013. [Em
português 2015] Eles não apenas encaram as nuances linguísticas como
sem importância, mas também acreditam que os detalhes em muitos relatos
da Bíblia não são importantes - apenas o quadro geral é importante. Além
disso, eles acreditam que um grande número de relatos, que no século 20
eram vistos como proféticos, não são de fato proféticos. Portanto, esses
relatos não têm significado direto para nós hoje.
A conseqüência dessa visão é que os textos em um grande número de
capítulos do AT não têm nenhum significado próprio para nós. Mas eles
são incluídos para sustentar o quadro geral, que é a apresentação dos
atributos de Deus e como podemos levar uma vida moralmente boa.
Aplicar a nova visão significa, por exemplo, que o drama detalhado

252
descrito no Cântico de Salomão não tem nenhum significado particular. O
que podemos aprender com este livro é que as pessoas casadas devem
expressar afeição umas pelas outras e os que estão namorando devem
manter seu relacionamento casto. A nova visão significa que vários livros e
centenas de artigos da Torre de Vigia são simplesmente falsos; suas
aplicações proféticas são ficção.
Mais sério é que a nova visão mina a inspiração do texto da Bíblia porque
o CG não aceita que todos os detalhes nos relatos da Bíblia sejam incluídos
com um propósito particular. Esta nova visão da Bíblia pode contradizer o
primeiro critério para ser a religião verdadeira.
A velha e a nova visão da Bíblia levaram as Testemunhas de Jeová em
duas direções diferentes. Com base na antiga visão de que todos os
detalhes do texto da Bíblia são importantes, as Testemunhas eram
incentivadas a fazer um estudo bíblico interativo. Eu descrevo em detalhes
como isso era feito. O método de tradução literal da Tradução do Novo
Mundo (1950-1960) e suas notas de rodapé ajudam o estudante da Bíblia a
se aproximar do texto original da Bíblia pelo uso de sua língua materna.
Portanto, esta tradução também foi feita com o estudo interativo em vista.
Houve ênfase no estudo pessoal da Bíblia e no conhecimento exato. E o
conhecimento da Bíblia entre as Testemunhas de Jeová era alto.
A nova visão da Bíblia foi introduzida no século 21. Exemplos dessa
visão são dados. A consequência dessa visão é que estudos detalhados do
texto da Bíblia raramente aparecem na literatura da Torre de Vigia. A
ênfase agora está na fé e na moral que podem ser aprendidas com a leitura
da Bíblia. O estudo pessoal do texto da Bíblia não é mais enfatizado. E o
que é encorajado é a meditação, não o estudo pessoal.
Corroborando com a nova visão da Bíblia está a Tradução do Novo
Mundo revisada (2013). Os princípios básicos de tradução que fizeram da
TNM original um trabalho acadêmico tão notável foram rejeitados pelo CG
e pelos tradutores. O resultado foi uma tradução idiomática e interpretativa
com muitos pontos fracos. Algumas dessas fraquezas são descritas. O
resultado do ensino baseado nesta nova visão é que o conhecimento da
Bíblia entre as Testemunhas de Jeová e sua capacidade de usar a Bíblia
com eficácia para defender as doutrinas cristãs é apenas uma fração do que
era há 59 anos, quando me tornei Testemunha de Jeová.

253
C. T. Russell e os estudantes da Bíblia no século 19 acreditavam
que toda a Bíblia era a Palavra inspirada de Deus, que todas as nuances
e sutilezas do texto eram importantes e que cada relato está incluído
com um propósito específico. Esta também foi a opinião das
Testemunhas de Jeová ao longo do século 20. E isso foi
maravilhosamente expresso na Tradução do Novo Mundo, com suas
traduções precisas dos detalhes e nuances dos textos hebraico, aramaico
e grego da Bíblia.
No entanto, os atuais membros do CG rejeitaram a visão da
Bíblia que foi mantida por mais de 120 anos e introduziram sua própria
visão. Esta nova visão é que o texto em um grande número de capítulos
do AT não tem nenhum significado independente para nós hoje. Mas o
texto é incluído para sustentar o quadro geral, que é a apresentação dos
atributos de Deus e como podemos adorá-lo da maneira correta. A
visão também é que um grande número de textos que no século 20 eram
vistos como proféticos agora são vistos como não proféticos. Essa nova
visão significa, por exemplo, que o drama detalhado descrito no
Cântico de Salomão não tem nenhum significado particular. O que
podemos aprender com este livro é que as pessoas casadas devem
expressar afeição umas pelas outras e os que estão namorando devem
manter seu relacionamento casto. A nova visão significa que vários
livros e centenas de artigos da Torre de Vigia são simplesmente falsos;
suas aplicações proféticas são ficção. Mais sério é que a nova visão
mina a inspiração do texto da Bíblia porque não aceita que todos os
detalhes nos relatos da Bíblia sejam incluídos com um propósito
particular. Essa nova visão pode contradizer o primeiro critério para ser
a religião verdadeira (ver página 27).
Antes de discutir essa nova visão da Bíblia, discutirei as
vantagens da antiga visão com relação ao ensino da doutrina bíblica.

APRENDENDO A VERDADE DE INSTRUTORES


TEOCRÁTICOS
254
O fato de que o NT não ensina a existência de “o escravo fiel e
discreto” que dá alimento espiritual no tempo adequado e que deve
haver um corpo governante para o povo de Deus não deve levar à
conclusão de que podemos ficar sozinhos e entender a Bíblia apenas
lendo seu texto.
Jesus mostrou que parte do sinal de sua presença era a pregação
mundial das boas novas do Reino. (Mateus 24:14) E um propósito
importante dessa pregação era ajudar pessoas sinceras a se
reconciliarem com Deus. (2 Coríntios 5:20) Não é provável que eu
tivesse começado a estudar a Bíblia se os representantes de
Testemunhas de Jeová não tivessem me abordado e falado sobre a
mensagem da Bíblia. E se essas Testemunhas não tivessem me ajudado
em meu estudo, eu não teria sido capaz de discernir as doutrinas
fundamentais da Bíblia. Milhões de outras Testemunhas de Jeová
experimentaram exatamente o mesmo, como mostra Paulo em
Romanos 10:13-17 (TNM15):
13
 Pois “todo aquele que invocar o nome de Jeová será salvo”. 14 Mas
como o invocarão se não depositaram fé nele? E como depositarão fé
naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão se não houver
quem pregue? 15 Por sua vez, como pregarão, a menos que tenham
sido enviados? Assim como está escrito: “Como são lindos os pés
daqueles que declaram boas novas de coisas boas!” 16 No entanto, nem
todos obedeceram às boas novas. Pois Isaías diz: “Jeová, quem
depositou fé no que falamos?” 17 De modo que a fé segue ao que se
ouve. E o que se ouve vem por meio da palavra a respeito de Cristo.
Essas palavras corroboram a obra das Testemunhas de Jeová e
sua campanha mundial de pregação. O globo inteiro é sistematicamente
coberto por pregadores das boas novas do Reino. Mas, se não existe um
“escravo fiel e discreto” que dá alimento espiritual no tempo adequado,
qual deve ser a relação entre a organização de pregadores e aqueles que
ouvem a pregação do Reino?
Para responder a isso, precisamos considerar como é possível
entender a Bíblia. Quais são as chaves?
255
Primeiro, é óbvio que um entendimento detalhado das línguas
da Bíblia, hebraico, aramaico e grego, é necessário para entender o
texto da Bíblia. Todas as sutilezas e nuances do texto original não
podem ser verificadas sem esse conhecimento. Este fato por si só
mostra que não podemos ficar sozinhos. Mas aqueles que ouvem a
pregação dependem daqueles que pregam, e aqueles que pregam
dependem de outros cristãos que têm o conhecimento linguístico
mencionado.
Em segundo lugar, um grande número de profecias bíblicas
devem ser cumpridas sobre o “povo santo”, o verdadeiro povo cristão.
No capítulo 1, referi-me a várias profecias de tempo: 1.260, 1.290,
1.135 e 2.300 dias. Para entender essas profecias, é necessário um
entendimento detalhado da história do povo de Deus. E aqueles que
ouvem a pregação do Reino não têm esse conhecimento.
Terceiro, um conhecimento detalhado de toda a Bíblia é
necessário. Diferentes detalhes das doutrinas da Bíblia estão espalhados
por todo o livro. Uma síntese desses detalhes deve ser feita, e isso
requer conhecimento detalhado de toda a Bíblia. Aqueles que ouvem a
pregação não têm esse conhecimento.
Quarto, é necessário ter um conhecimento detalhado da história
mundial. Isso ocorre porque as profecias nos livros de Daniel, Isaías,
Jeremias e outros livros foram cumpridas em diferentes nações que
existiram no passado e em algumas nações que ainda existem. E,
novamente, aqueles que ouvem a pregação não têm esse conhecimento.
Os quatro pontos mencionados acima mostram que aqueles que
ouvem as boas novas do Reino dependem, no início, da organização
das Testemunhas de Jeová para entender a Bíblia. Mas essa
dependência não é absoluta, mas relativa, como mostrarei a seguir.

A IMPORTÂNCIA DA APRENDIZAGEM INTERATIVA

256
Quando não há um “escravo fiel e discreto”, dando alimento
espiritual no tempo apropriado, de que forma as pessoas sinceras
dependem da organização das Testemunhas de Jeová? As palavras de
Atos 17:11 (TNM15) fornecem a resposta:
Estes tinham mentalidade mais nobre do que os de Tessalônica, pois
aceitaram a palavra com vivo interesse, e examinavam
cuidadosamente as Escrituras, todo dia, para ver se tudo era assim
mesmo.
As palavras citadas representam “aprendizagem interativa”, o
que significa que os alunos não são ouvintes passivos, mas participam
do próprio processo de aprendizagem. Paulo e Silas, que eram cristãos
experientes, ensinavam os que frequentavam os serviços da sinagoga
em Beréia. Essas pessoas interagiam com o que aprendiam e
verificavam nas Escrituras. Esse tipo de pregação e aprendizado
interativo foi praticado pelas Testemunhas de Jeová por várias décadas,
desde a década de 1940. Mas não foi mais praticado no século 21. A
meditação tomou, em grande medida, o lugar do estudo pessoal. E a
anterior dependência relativa da organização o CG transformou em
dependência absoluta!

A ÊNFASE NO CONHECIMENTO EXATO NO SÉCULO 20


Uma passagem frequentemente citada em 1961, quando comecei
a estudar a Bíblia, foi Oséias 4:6 (TNM86):
Meu povo certamente será silenciado, pois não há conhecimento.
Visto que tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei para
que não me sirvas como sacerdote;
Memorizar as Escrituras e ser capaz de defender a fé apenas
usando a Bíblia foi enfatizado. E as palavras de Colossenses 1:10
(TNM86) eram freqientemente citadas: “e aumentando no
conhecimento exato (epignōsis) de Deus”. Mas que apoio tinham

257
aqueles que desejavam ansiosamente crescer no conhecimento exato de
Deus?
A.H. Macmillan fazia parte da organização desde 1899 e, em
1958, apresentou suas memórias no livro Faith on the March. Na
página 193 deste livro, ele descreve uma campanha de ensino e
aprendizagem interativos que começou após a Segunda Guerra
Mundial.
Organizacionalmente, estávamos agora em bases sólidas e a
maturidade da Sociedade como um todo era bastante evidente. Mas
Knorr percebeu que cada ministro deve estar pessoalmente equipado
para pregar ... Agora Knorr embarcou em uma campanha para trazer
maturidade a cada uma das testemunhas de Jeová e especialmente
prepará-los para pregar individualmente, mas sem se contradizerem.

O MÉTODO DE ESTUDO INTERATIVO


Quando não há um “escravo fiel e discreto”, dando alimento
espiritual no tempo apropriado, de que forma as pessoas sinceras
dependem da organização das Testemunhas de Jeová? As palavras de
Atos 17:11 (TNM15) fornecem a resposta:
Quando aprendi os ensinamentos elementares sobre Cristo, quis
progredir até a maturidade. (Hebreus 6:1) E não demorou muito para
que eu percebesse que existia uma arca do tesouro que apoiaria meus
esforços para aumentar o conhecimento exato. Macmillan, Faith in
March. Eram todas as revistas A Sentinela de 1940 até 1960, e todas as
revistas Despertai! revistas de 1946. Uma delas, A Sentinela de 1 de
março de 1956, páginas 144–151, causou um enorme impacto em mim
porque me ajudou a ver a importância das nuances e sutilezas do texto
original da Bíblia. O artigo se intitulava “Acompanhando a verdade”
[em inglês] e apresentava quatro sugestões diferentes para o estudo
interativo da Bíblia.

258
A quarta sugestão ajudaria o aluno a entender bem um livro
inteiro da Bíblia, como Filipenses, que foi usado como exemplo.
Primeiro, o aluno lê cuidadosamente um grupo de versículos que
constituem um parágrafo. Em segundo lugar, ele ou ela se depara com
os detalhes dos versículos, encontrando seu pensamento principal e
expressa esse pensamento com o mínimo de palavras possível. Este é o
tema dos versículos. Terceiro, o aluno encontra um versículo, que é a
expressão principal do tema. Quarto, o aluno lê uma sequência dos
versículos a seguir e os trata da mesma maneira. Quinto, o aluno estuda
todos os temas que encontrou e cria um tema para todo o livro.
O tema dado a Filipenses no artigo é: “Amável encorajamento
para a fé”. E os temas das diferentes partes são os seguintes:
Tabela 6.1 Os pensamentos principais de Filipenses

TEMA DO PENSAMENTO
CAPÍTULO
VERSÍCULO PRINCIPAL
Defendendo as boas
1 7
novas.
Mantenha a atitude
2 5
mental correta.
3 14 Busque o prêmio.
Proteja o coração e a
4 7
força mental.

Usei esse método para as cartas e epístolas do NT e alguns


livros do AT. E acrescentei um elemento extra, a saber, um estudo
aprofundado de versículos importantes específicos dentro de cada
pensamento principal. A fim de obter o entendimento correto dos
versículos, usei o Índice da literatura da Torre de Vigia de 1930-1960 e
pesquisei vários comentários. E aqui está a natureza interativa desta
forma de estudo claramente vista. Cristãos experientes ligados à
Sociedade Torre de Vigia escreveram comentários sobre diferentes
versículos da Bíblia. Ao ler esses comentários, considerei-os “com a
maior avidez de espírito”, assim como o povo de Berea. E então,
259
trabalhei muito com o texto de um determinado livro da Bíblia para
encontrar seus principais pensamentos e o significado dos versículos
mais difíceis. Enquanto eu estudava, fazia anotações. E depois de vários
anos, eu tinha cerca de 5.000 páginas de anotações. Agora eu me sentia
um verdadeiro estudante da Bíblia.
Do ponto de vista pedagógico, a forma mais pobre de ensino é a
palestra, onde o palestrante dá muitas ideias e informações para um
público passivo. Na mesma classe de ensino pobre estão artigos que
contêm muitas afirmações, mas não raciocínios e argumentos que
podem ser testados pelos leitores. Como podemos classificar os artigos
de A Sentinela e Despertai! entre 1940 e 1960? Meu julgamento é que
um número significativo de artigos tinha características acadêmicas
porque continham argumentos lógicos que podiam ser testados.
Portanto, eram excelentes ferramentas para o aprendizado interativo.
Esses artigos e a maneira como meus instrutores teocráticos me
ensinaram a estudar foram o que despertou meu interesse pelas línguas
originais da Bíblia e línguas relacionadas que estudei mais tarde.

AS PUBLICAÇÕES DA TORRE DE VIGIA USADAS PARA


APRENDIZAGEM INTERATIVA
Quando percebi que as publicações da Torre de Vigia de 1940
continham estudos do texto da Bíblia de alta qualidade, comecei um
estudo sistemático dessas publicações.
Gostaria de dar alguns exemplos e começo com o estudo de
palavras importantes. A tradução da palavra grega aiōn na TNM86 e
TNM15 é “sistema de coisas”. Esta é uma representação não idiomática
raramente encontrada na literatura inglesa. Algumas traduções usam
“mundo” para aiōn. Mas esta é uma tradução ruim porque esta é a
palavra que deveria ser usada para kosmos. Outras traduções usam a
palavra “idade”, que é uma tradução idiomática. No entanto, o
problema com a “idade” é que ela basicamente enfatiza o elemento

260
tempo. Mas aiōn é um período de tempo em que a ênfase está nas
características e coisas do período. A Sentinela de 1º de novembro de
1949, (em inglês) página 325, mostra que traduzir “idade” é uma
escolha ruim e “sistema de coisas” é uma boa escolha:
Paulo novamente usou aión, em Gálatas 1: 3, 4, para dizer: “Nosso
Senhor, Jesus Cristo. . . se entregou por nossos pecados, para que
pudesse nos livrar deste presente mundo mau [aión]. Visto que os
cristãos dos dias de Paulo até agora continuaram a viver no mesmo
período geral de tempo em que o mal ou a maldade controlam a
humanidade, aión aqui não pode significar um período de tempo.
Deve ser o sistema de coisas que é mau e do qual Jesus Cristo
libertou e consagrou seguidores.
O argumento é claro, e para fazer uma tradução literal precisa, a
tradução “sistema de coisas” é excelente. O artigo “Por que o campo de
Deus será produtivo” em A Sentinela de 15 de janeiro de 1964 discute
as referências da palavra grega kosmos (“mundo”). Ao contrário do uso
em grego clássico, a palavra se refere a diferentes lados da família
humana. Refere-se a 1) toda a família humana (João 3:16), 2) a família
humana fora da congregação cristã (João 17:14) e 3) a estrutura das
condições humanas nas quais uma criança nasce. (João 16:21) O artigo
também mostra que a expressão “fundação / fundação do mundo” não
se refere à criação do universo, mas ao nascimento de Abel, quando o
fundamento da família humana foi lançado. (Lucas 11:50, 51) Isso
significa que, quando Efésios 1:4 diz que os cristãos foram escolhidos
antes da “fundação do mundo”, isso não indica predestinação. Esses
cristãos não foram escolhidos antes da criação da Terra, mas foram
escolhidos depois que os primeiros humanos pecaram e antes do
nascimento de Abel.
Eu não teria sido capaz de encontrar todas as informações
interessantes nos dois artigos mencionados sozinho. Mas cristãos
experientes apresentaram essa informação em dois artigos na revista A
Sentinela, sendo assim meus professores. E as informações foram
apresentadas de forma que eu pudesse examinar as Escrituras para ver
261
se essas coisas eram assim, assim como as pessoas de mente nobre de
Berea.
Quando pesquisei as edições de A Sentinela de 1940 em diante,
encontrei um grande número de artigos que me ensinaram lados
interessantes das verdades básicas da Bíblia. Além disso, havia um
grande número de artigos que tratavam de outro tipo de material da
Bíblia, ou seja, material em que apenas metade é encontrada na Bíblia e
a outra metade deve ser encontrada por leitores da Bíblia. Um artigo
profético que me impressionou muito foi o que tratava dos Cânticos de
Salomão. O artigo é intitulado “A mulher amada do canto superlativo”
(em inglês) em A Sentinela de 1. ° de dezembro de 1957, páginas 720–
734. No Cântico de Salomão, nem sempre é fácil saber quem está
falando. Eu não sabia hebraico quando estudei o artigo e, portanto,
gostei que o autor me ajudou a entender quem estava falando com base
no gênero gramatical. A interpretação do drama sobre a Sulamita
baseou-se nos princípios dos tipos e antítipos já utilizados por C. T.
Russell em seu livro Tabernacle Shadows (1899). Em minha opinião,
esta interpretação é equilibrada e lógica. Mas, é claro, os pontos de
vista sobre o significado dos textos proféticos podem mudar.
A revista Despertai! também teve muitos artigos interessantes
de 1946 em diante. Apreciei particularmente os artigos de duas páginas
de assuntos bíblicos profundos sob os títulos, “A Tua palavra é a
verdade” e “Qual é o ponto de vista da Bíblia?”
Enquanto estudava os artigos de A Sentinela, não só aprendi
muito com os argumentos e conclusões, mas também com a
metodologia dos estudos. Observei especialmente a importância de
palavras pequenas para um entendimento preciso - palavras como
artigos, preposições, demonstrativos e conjunções. Em 1963, houve
uma assembleia internacional de oito dias em Estocolmo, Suécia, onde
o livro “Babilônia, a Grande, Caiu”, o Reino de Deus Governa! foi
publicado. Ainda me lembro de uma palestra instigante proferida por F.
W. Franz, onde ele gritou com sua voz forte: “Saia dela, meu povo!”
No ano seguinte, uma série de artigos muito interessantes, parcialmente
262
baseados no livro Babilônia, foi publicada. O artigo de A Sentinela de
1. ° de abril de 1966, (em inglês) páginas 215–216, discutia Mateus
24:14 e sua leitura me deu um verdadeiro momento “Eureca!”:
Em resposta, Jesus descreveu uma longa lista de eventos que
aconteceriam para marcar o tempo de sua segunda presença e, entre
outras coisas, ele disse: “Estas boas novas do reino serão pregadas
em toda a terra habitada, em testemunho a todos as nações; e então
virá o fim. ”- Mat. 24:14.
Após a morte de Jesus, seus discípulos não proclamaram mais “o
reino está próximo”, pois o Rei não estava próximo entre eles. Eles
pregaram o Reino que viria. Os pregadores da cristandade têm
pregado um reino que virá nos últimos séculos. Mas observe que
Jesus estava falando sobre o tempo do fim, quando disse: “ESTAS
boas novas do reino serão pregadas.” Sim, as boas novas do Rei
próximo seriam pregadas novamente, significando que o Reino foi
obtido pelo Rei e que ele voltou a exercer o poder do Reino. Em
outras palavras, estas boas novas do reino seriam as boas novas de
que finalmente o Reino havia sido estabelecido em poder. O
propósito da pregação disso seria um testemunho. Portanto, isso seria
feito por testemunhas do Reino que seriam cristãs.
Um pronome demonstrativo deve ter um antecedente. Se
acreditamos que a Bíblia é inspirada por Deus e que todas as suas
nuances são importantes, não há como contestar a conclusão do artigo.
Uma verdade importante é expressa de forma simples!
Outro momento “Eureca!” para mim foi ler os comentários em
“Perguntas dos leitores” e A Sentinela de 1 ° de maio de 1974 (em
Português 1º de novembro de 1974, p. 671). As esperanças celestiais e
terrenas foram discutidas, e o artigo dizia em parte:
O que o Rei Jesus Cristo lhes disse ajuda-nos a entender que estão
envolvidas duas classes distintas. Suas palavras às “ovelhas” eram:
“Herdai o reino preparado para vós desde a fundação do mundo.”
(Mat. 25:34) Isto diverge do que se diz a respeito dos “irmãos” de
Cristo. O rol de membros do reino celestial que estes “irmãos”

263
haviam de herdar foi conhecido de antemão, antes da “fundação do
mundo”, quer dizer, antes de o mundo da humanidade vir à
existência pelo nascimento de filhos ao primeiro casal humano, Adão
e Eva. O apóstolo Paulo, escrevendo a concristãos, declarou: “[Deus]
nos tem escolhido em união com [Cristo] antes da fundação do
mundo.” — Efé. 1:4, 5.
Os argumentos são muito claros e não podem ser contestados.
Os dois últimos exemplos mostram como é importante estudar
cuidadosamente todas as palavras em um versículo da Bíblia, também
as palavras que parecem ser insignificantes. Vou discutir mais dois
exemplos na mesma linha. O primeiro mostra a importância de
comparar “palavras-chave” para entender o cenário de um capítulo ou
livro. O capítulo “Esperando os ‘Novos céus e uma nova terra’” no
livro, Man’s Salvation Out of World Distress at Hand! (1975) (Em
português: Está Próxima a Salvação do Homem da Aflição Mundial!
1976) me deu muito que pensar. A segunda de Pedro fala sobre novos
céus e uma nova terra. (2 Pedro 3:13) Mas o cenário do livro é “a
palavra de Deus” (logos). O capítulo 1, versículos 16 e 17, fala sobre
“uma voz” (fonē também pode significar “palavras faladas”), e o
versículo 19 fala sobre “a palavra profética” (profētokos logos). Os
versículos 20 e 21 usam o sinônimo “palavra profética” (profeteia). No
capítulo 2, versículo 3, o contraste da palavra de Deus é mencionado, a
saber, “palavras falsas” (plastois logois “palavras fabricadas”), que se
originam em humanos. Então o capítulo 3, versículo 5, mostra que os
céus e a terra foram formados pela palavra de Deus, e o capítulo 3,
versículo 7, mostra que pela mesma palavra de Deus os céus e a terra
“são armazenados para o fogo”. Com base nesse cenário, um estudo
detalhado dos diferentes temas do livro e de seu texto grego foi e será
proveitoso.
O melhor artigo que já li sobre a Comemoração eu encontrei em
A Sentinela de 1º de janeiro de 1956, (em inglês) páginas 44–55.101 O

Veja também A Sentinela de 15 de janeiro de 1951, (em inglês) páginas 50–52, e


101

15 de fevereiro de 2003, página 31.


264
artigo era intitulado: “A Mesa dos Demônios versus’ A Mesa de
Jeová”. A palavra de ordem é “mesa”, e é encontrada em 1 Coríntios
10:21 (TNM15):
Vocês não podem beber o cálice de Jeová e o cálice de demônios;
não podem participar da “mesa de Jeová” e da mesa de demônios
Qual era a mesa de Jeová? Era o seu altar. (Malaquias 1:7, 12;
Ezequiel 41:22) O artigo mostra que, quando um israelita trazia um
sacrifício de participação em comum, partes do animal eram queimadas
no altar para Jeová. O sacerdote oficial e os filhos sacerdotais de Arão
recebiam suas partes, e o ofertante e sua família recebiam suas partes.
Por ser o altar a mesa de Jeová, de certa forma o ofertante e sua família
sentavam-se de um lado da mesa e comiam junto com Jeová, que estava
do outro lado da mesa. Era uma refeição de comunhão entre Jeová, o
ofertante e sua família.
Paulo mostra que as refeições da comunhão em Israel
representavam tipos proféticos que ele aplicou ao memorial, e as
palavras-chave e o cenário são “mesa de Jeová”. (1 Coríntios 10: 16–
21; 11: 23–29) Para aqueles que comem o pão e bebem o vinho, o
memorial é uma refeição de comunhão. Jeová é o autor do arranjo, e o
sacrifício de comunhão é o corpo e sangue de Jesus. Os participantes
estão sentados à mesa de Jeová, e comer com Jeová indica que estão em
paz com ele.
Concluo esta seção com referência a cinco artigos que tratam da
ressurreição em A Sentinela de 1965. O primeiro artigo foi tão
empolgante que mal pude esperar pelo próximo número da revista.
Esses artigos são obras-primas de exposições acadêmicas do texto
original da Bíblia.102

102
“A morte e o Hades entregarão os mortos”; “Os mortos que estão em linha para a
ressurreição”; “Para quem há esperança de ressurreição”; “Quem será ressuscitado
dentre os mortos?”; “Quem será ressuscitado? Por quê?” em A Sentinela de 1º de
agosto, 15 de agosto, 1º de setembro, 15 de setembro e 1º de outubro de 1965.
(Todos as referências são das edições em português.)
265
O que descrevi nesta seção é como os intrutores teocráticos me
ensinaram as verdades da Bíblia. Teria sido impossível para mim
encontrar essas verdades sozinho. Portanto, sou grato aos meus
intrutores que fizeram o trabalho para mim. Além de fornecer o
material de estudo, eles também me ajudaram em duas áreas
importantes. Primeiro, eles me ajudaram a chegar o mais perto possível
do texto original da Bíblia com a ajuda de minha língua materna. Isso
foi feito com a ajuda da Tradução do Novo Mundo original e da
Tradução Interlinear do Reino (KI). Além disso, a forma erudita com
que muitos artigos foram escritos ajudou-me a me concentrar no texto
original da Bíblia.
Em segundo lugar, o método de ensino não era um ditado
dogmático. Mas os artigos e o material de estudo foram feitos de forma
a estimular minha curiosidade e me ajudar a trabalhar com o material
por conta própria. Era óbvio que meus intrutores queriam que eu fizesse
parte do processo de ensino. Por causa disso, desenvolvi uma forte fé
na Bíblia e em seu autor, Jeová Deus. Portanto, o que descrevi é o
ensino interativo e o aprendizado interativo no seu melhor.
O grande peso no aprendizado interativo continuou por muito
tempo depois que o arranjo dos anciãos foi instituído em 1972. O livro
Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro foi publicado em
1983. Quando uma pessoa interessada estudou o livro básico de estudo
da Bíblia, Verdade que Conduz à Vida Eterna (1968), a recomendação
era que o interessado estudasse o livro de Adoração Unida. O livro
convida o leitor a fazer um estudo bíblico interativo e, na página 27
(em inglês), lemos:
Quando você lê a Bíblia, considere—
 O que cada parte diz a você sobre Jeová como pessoa
 Como se relaciona com o tema geral da Bíblia
 Como o contexto afeta o significado
 Como isso deve afetar sua própria vida
 Como você pode usá-lo para ajudar outras pessoas
266
Além das perguntas aos parágrafos, o livro traz várias outras
perguntas aos leitores. Ao trabalhar com essas perguntas e as escrituras
a que se referem, os leitores aprenderiam como realizar um estudo
pessoal eficaz. Este é o melhor livro para aprendizado interativo que a
Sociedade Torre de Vigia já publicou. Infelizmente, nenhuma
publicação posterior incluiu os excelentes princípios de ensino deste
livro.

TRADUÇÕES DA BÍBLIA E APRENDIZAGEM INTERATIVA


Desde os dias de C. T. Russell, os Estudantes da Bíblia e as
Testemunhas de Jeová têm usado todas as traduções existentes da
Bíblia. Mas em 1950, a Tradução do Novo Mundo das Escrituras
Gregas Cristãs foi lançada. Essa tradução foi feita por estudiosos que
eram Testemunhas de Jeová. Mas suas identidades não foram reveladas.
A razão para esta nova tradução foi dupla. Primeiro, as tradições
religiosas “foram entrelaçadas nas traduções [as traduções existentes]
para colorir o pensamento”.103 Isso foi evitado nesta nova tradução. Em
segundo lugar, a tradução foi feita para aprendizagem interativa.
Não oferecemos nenhuma paráfrase das Escrituras. Nosso empenho
durante todo o tempo tem sido dar uma tradução o mais literal
possível, até onde o inglês moderno permite e onde uma tradução
literal não esconda o pensamento por nenhuma falta de jeito. Dessa
forma, podemos atender melhor ao desejo daqueles que são
escrupulosos de obter, o mais próximo possível, palavra por palavra,
a declaração exata do original.104
As palavras citadas mostram que o texto foi organizado de
forma que o leitor pudesse trabalhar com ele e, com isso, ter
participação na compreensão do texto. Este é um exemplo típico de
aprendizado interativo. Vou elucidar esse ponto mostrando a diferença

103
Prefácio 6.
104
Ibid 9.
267
entre os diferentes tipos de traduções da Bíblia. Como mostro em
minha discussão sobre “Dissertação sobre Semântica Lexical” nas
páginas XXX, uma palavra tem um significado central e um campo
semântico com diferentes nuances de significado. Além disso, uma
palavra tem uma ou mais referências, que são as coisas no mundo
denotadas pela palavra. Uma diferença básica entre traduções
estritamente literais, como TNM50 (em inglês), e traduções idiomáticas
e interpretativas, como TNM13 (em inglês), é que a primeira
basicamente usa os significados centrais como suas representações, mas
a última basicamente usa as referências como suas representações.
Eu uso a palavra hebraica næpæs∑ e a palavra grega
correspondente psychē como exemplos. O significado central de ambas
as palavras é “alma”. Mas a palavra pode ter trinta ou mais referências
diferentes, como as literais, “ser humano; animal; cadáver”, e a
referência abstrata, “direito de viver”. A TNM50 e as vesões
posteriores da TNM consistentemente traduzem no texto hebraico /
aramaico næpæs∑ e psychē por “alma”. Desta forma, o leitor que não
conhece as línguas originais pode encontrar o significado dessas
palavras estudando os contextos. As traduções idiomáticas usam as
referências como representações, e com isso interpretam o texto para o
leitor, que não saberá que a mesma palavra original está por trás de
todas essas traduções. Além disso, em muitos casos, a referência de
uma palavra não é aparente ou existem duas possibilidades diferentes.
Os tradutores então escolhem um e deixam o outro de fora. Dessa
forma, as nuances do texto original podem ser perdidas. Alguns
tradutores argumentam que “alma” é uma palavra antiquada que pode
dar conotações erradas, por isso não deve ser usada. No entanto, todas
as traduções de que tenho conhecimento usam a palavra “alma” para
psychē em Mateus 10:28. E isso mostra que o argumento não é válido.
A palavra grega kosmos (“mundo”) pode ilustrar a vantagem de
usar uma palavra em inglês para uma palavra grega. As traduções
literais e idiomáticas, na maioria dos casos, usam “mundo” para
traduzir kosmos. Uma razão para essa consistência, evidentemente, é
268
que a maioria das referências de kosmos devem ser expressas com
várias palavras, o que é problemático em uma tradução da Bíblia.
Vemos isso na tabela 6.2.
Tabela 6.2 Referências de kosmos
João 3:16 A família humana.
João 17:14 A família humana fora da
congregação cristã.
João 16:21 A estrutura das condições
humanas nas quais uma criança
nasce.
Atos 17:24 O universo.105
1 Pedro 3: 3 Adorno.106

O princípio de usar o significado central “mundo” como uma


tradução de kosmos e permitir que os leitores encontrem a referência
em cada caso funciona muito bem na maioria das traduções da Bíblia e
para a maioria dos leitores. Portanto, o mesmo princípio também
poderia ter sido usado em conexão com næpæs∑ / psychē e várias
outras palavras também. Isso é o que o NWT50 e o NWT84107 fizeram.
Além do texto literal da tradução, as notas de rodapé e as
referências cruzadas na TNM50 e TNM86 também são organizadas
para o aprendizado interativo. Elas fornecem traduções alternativas da
mesma palavra e fazem referência às leituras de diferentes manuscritos
gregos, latinos e siríacos. Tanto por estudar as traduções literais quanto
as notas de rodapé e referências cruzadas, o leitor pode chegar perto do
texto original usando sua língua materna.

Visto que Paulo falou com filósofos gregos, ele provavelmente usou kosmos com
105

uma referência que eles entenderiam.


Noções básicas que estão conectadas com kosmos são “arranjo” e “ordem”. Essas
106

noções estão próximas de “adorno”.


107
TNM86 inclui as partes grega, hebraica e aramaica da Bíblia.
269
A NWT50 é uma excelente tradução acadêmica. Tanto seu texto
literal, suas notas de rodapé e referências cruzadas superam qualquer
outra tradução existente na época. E o melhor de tudo, do meu ponto de
vista, é seu apelo ao leitor para que trabalhe com o texto da Bíblia para
encontrar suas sutilezas e nuances.
A ênfase no conhecimento exato e o apelo para se familiarizar
com o texto original da Bíblia, ou pelo menos com suas nuances e
sutilezas, continuaram durante as décadas de 1950 e 1960; e em 1969
foi publicada a Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas.
Ele contém o texto da TNM50 de um lado e o texto grego com uma
tradução palavra por palavra deste texto do outro. Agora os leitores
tiveram a oportunidade de trabalhar com o texto grego da Bíblia e
entender melhor a tradução desse texto.
Além do TNM50, cinco partes diferentes com traduções dos
textos hebraico e aramaico foram publicadas entre 1953 e 1960. Estas
foram ligeiramente revisadas e reunidas em um volume com referências
em 1984. Seu apêndice, notas de rodapé e referências cruzadas
novamente convidam o leitores ao aprendizado interativo, trabalhando
com o texto da Bíblia.
Devemos notar que embora essas diferentes versões tenham
sido feitas, as expressões “o escravo fiel e discreto” e “o Corpo
Governante” ocasionalmente eram usadas na literatura da Torre de
Vigia. Mas essas expressões estavam vagamente ligadas à Sociedade
Torre de Vigia e aos instrutores que escreviam os artigos e livros. E não
havia organização autocrática onde algumas pessoas tinham todo o
poder.

A Ê NFASE NA M EDITAÇÃO NO S ÉCULO 21


No século 20, o foco estava no conhecimento preciso por causa
da campanha de ensino e aprendizagem interativos que Knorr iniciara
após a Segunda Guerra Mundial (ver página XXX). No século 21, o
270
foco tem estado na meditação. A palavra “meditação” foi repetida
tantas vezes que se tornou um mantra. E a meditação tem, em grande
medida, substituído o estudo pessoal e o conhecimento exato da Bíblia.
A meditação é, obviamente, importante para os cristãos. Quando
meditamos em todas as coisas que Jeová criou e em todos os seus
atributos supremos, nosso apreço por nosso Pai celestial aumentará.
Quando olhamos atentamente para uma escritura da Bíblia por algum
tempo (meditando nela), ocasionalmente, podemos descobrir um lado
do texto que não vimos antes. Mas, fora isso, não aprendemos coisas
novas por meio da meditação. A única maneira de aprender coisas
novas é pelo estudo pessoal do texto da Bíblia. A meditação não faz de
nós instrutores, mas o estudo pessoal fortalecerá nossa fé e nos tornará
qualificados para ensinar outros. (Hebreus 5:12– 6:2)
A meditação se tornou hoje um mantra e, em
grande medida, substituiu o estudo pessoal.
Na BIBLIOTECA ONLINE da Torre de Vigia (1986–2019), há
dez referências sobre o estudo pessoal. A Sentinela de 1. ° de dezembro
de 2002, páginas 13–23, tem o artigo “Desfrute do estudo pessoal da
Palavra de Deus”. Mas os primeiros quatro parágrafos tratam
exclusivamente da meditação e não do estudo da Bíblia. No entanto, os
parágrafos 18–20 discutem como podemos estudar com a ajuda da
Tradução do Novo Mundo, e este é um bom conselho. A primeira
referência ao estudo pessoal após a publicação da TNM15 é A
Sentinela de 15 de setembro de 2015, páginas 4–6, mas não contém
nenhum conselho quanto ao método de estudo. No entanto, os
parágrafos 16–18 do artigo “Melhore Seus Hábitos de Estudo!” em A
Sentinela de maio de 2019 tem algumas boas sugestões, até mesmo um
ponto que pode ser classificado como aprendizado interativo. Mas no
século 21, o estudo interativo do texto da Bíblia não é mais incentivado
- o foco está na meditação.
Conforme mostrado no parágrafo acima, um estudo pessoal do
texto da Bíblia foi ocasionalmente mencionado na literatura da Torre de

271
Vigia no século 21. Mas o estudo interativo pessoal não é mais
incentivado, e como fazer tal estudo quase nunca é mencionado. No
século 20, o foco estava no estudo pessoal do texto da Bíblia e na
leitura diária da Bíblia. No século 21, o foco está na leitura diária da
Bíblia e na meditação.
Um irmão italiano com grande conhecimento da Bíblia e
assuntos relacionados disse-me que deu uma palestra pública em sua
congregação. Depois da palestra, dois anciãos o abordaram e deram-lhe
crédito por alguns detalhes que ele havia discutido que eram novos para
eles. Mas eles também o repreenderam porque ele havia citado dois
textos bíblicos que não foram encontrados no esboço impresso do
discurso. “Não devemos acrescentar nada ao material que vem do
escravo”, foram suas palavras. Esta situação mostra que muitas
Testemunhas hoje veem os oito homens no CG quase como profetas e
oráculos. Eles são os únicos que podem ensinar a Bíblia a outros, e
devemos segui-los de perto. Também mostra a total falta de
aprendizado interativo na organização hoje.
Antes do arranjo dos anciãos, as palestras públicas duravam 55
ou 60 minutos, e seus esboços continham cerca de metade dos pontos
dos esboços das palestras públicas atuais de 30 minutos. Os irmãos que
ministraram as palestras de 55/60 minutos eram incentivados a
pesquisar cuidadosamente todos os lados dos assuntos do esboço, o que
significava aprendizado interativo. E enquanto deviam apresentar os
pontos principais do esboço, eles tinham grande liberdade para usar
pontos interessantes que encontraram em suas próprias pesquisas. A
unidade nas crenças cristãs também era enfatizada na época anterior ao
arranjo dos anciãos. Visto que os membros das congregações
aprendiam verdades bíblicas com as publicações da Torre de Vigia, eles
eram incentivados a olhar de maneira positiva para as novas
publicações que receberiam. Mas, ao mesmo tempo, o estudo da Bíblia
e o aprendizado interativo eram incentivados.
Conforme mencionado na introdução, o presente CG introduziu
uma nova visão da Bíblia que impede o aprendizado interativo. Esta é
272
uma visão diferente da visão dos membros da Comissão de Tradução da
Bíblia do Novo Mundo em 1950 e da visão dos membros do Corpo
Governante que fora instituído em 1972. Essa nova visão é a razão pela
qual há tanta ênfase na meditação em detrimento do estudo pessoal.
Vou discutir isso em detalhes a seguir.

A NOVA VISÃO SOBRE OS SIGNIFICADOS DOS TEXTOS BÍBLICOS


O atual CG apresentou uma nova visão da Bíblia que é muito
diferente da visão dos Estudantes da Bíblia no século 19 e das
Testemunhas de Jeová no século 20. Essa visão foi apresentada de
forma aberta e velada em publicações no século 21. Essa visão mina a
visão da inspiração da Bíblia que foi sustentada nos séculos 19 e 20.

Dissertação sobre a nova visão da Bíblia do CG


A nova visão da Bíblia é aplicada em três áreas diferentes.

As pequenas nuances do texto original


Os membros da Comissão da Tradução do Novo Mundo da Bíblia
original acreditavam que cada palavra da Bíblia é inspirada por Deus
e que cada relato está incluído com um propósito específico. 108
Portanto, eles fizeram uma tradução onde as sutilezas e nuances do
texto original são encontradas.
Sob a direção do CG, foi feita uma revisão da TNM. O CG e os
tradutores rejeitaram os dois princípios básicos da TNM original 1)
transmitir todas as nuances dos verbos e 2) usar uma palavra em
inglês para cada palavra original sempre que possível. A TNM15 tem
muitos pontos fracos e mostra que o CG não vê mais as nuances e as
sutilezas do texto original como importantes.

A nova visão de tipos e antítipos

108
A opinião não é que Deus ditou cada palavra. Os escritores escolheram as
palavras enquanto eram guiadas pelo espírito santo. (2 Pedro 1:21, NWT84)
273
A maioria dos relatos no Antigo Testamento que os Estudantes da
Bíblia e as TJs por 120 anos viram como profecias ou tipos proféticos
são rejeitados como tal. A consequência da visão do presente CG é
que vários livros e centenas de artigos da Torre de Vigia que foram
escritos anteriormente são simplesmente falsos - suas explicações
proféticas são ficção.
O critério para se aceitar um relato como um tipo profético, de
acordo com o CG, é haver “uma base bíblica clara para fazer
isso”.109 Este é um bom critério. Mas livros e artigos recentes em A
Sentinela mostram que esse critério é interpretado de forma muito
estrita, a ponto de muitos relatos que no século 20 eram considerados
tipos proféticos são rejeitados como tais.
A conseqüência dessa visão é que um grande número de versículos
e capítulos do AT não têm significado independente para nós; eles
são apenas “conteúdo não-essencial”. Isso mina a visão de que cada
palavra na Bíblia é inspirada por Deus e que cada relato tem um
propósito específico e um significado independente.

O novo método subjetivo e alegórico de interpretação


A nova forma de exposição da Bíblia usada pelo presente CG é
subjetiva e alegórica.110 A base do método é a crença de que grandes
partes dos livros do AT não têm significado para nós hoje - eles não
são proféticos. Mas esses textos podem nos lembrar de valores
morais.
Vou ilustrar a situação com a caixa “Maná” da minha avó com

109
A Sentinela de 15 de junho de 2015, página 8.
110
As palavras “alegoria” e “alegórico” são definidas das seguintes maneiras:
Alegoria: “uma história, peça, poema, imagem ou outra obra em que os
personagens e eventos representam qualidades ou ideias particulares que se
relacionam com a moral, religião ou política.”
(https://dictionary.cambridge.org/dictionary/english/allegory) Alegórico: histórias e
peças alegóricas usam ideias concretas como símbolos para significados mais
profundos ou em camadas. As fábulas e contos populares são frequentemente
alegóricos. (https://www.vocabulary.com/dictionary/allegorical)
274
pedacinhos de papel com escrituras. Todos os dias ela pegava uma
escritura e meditava sobre o que significava para ela. A escritura era a
“ideia concreta” e sua aplicação subjetiva sobre ela mesma era “a
alegoria”.
Nabote foi morto por Acabe e Jezabel, e a respeito desse relato,
lemos:
Por exemplo, podemos dizer corretamente que a
integridade de Nabote diante de perseguição e morte
lembra a integridade de Cristo e de seus ungidos. Mas
isso também nos faz lembrar da lealdade de muitas das
“outras ovelhas” do Senhor. Essas comparações claras e
simples são características marcantes do ensino de
Jeová.111 (Os itálicos são meus)
As palavras-chave na citação são “lembra” e “também nos faz
lembrar”. Esta é exatamente a mesma abordagem da minha avó. O
relato específico é a “ideia concreta” e a aplicação subjetiva, isto é, o
que o relato lembra ao CG, é “a alegoria”. E não há restrições, então
o CG pode fazer a aplicação do relato da maneira que quiser.
Um excelente exemplo desse método alegórico de exposição é o
livro Adoração Pura de Jeová - Finalmente Restaurada (2020). Mas
a maioria dos leitores não descobrirá esse método porque está
disfarçado no texto. A seguir, dou vários exemplos do método
alegórico usado nesse livro. Por exemplo, Ezequiel, como vigia
(Ezequiel capítulo 33), não é um tipo profético de ninguém nem de
nada. Mas visto que os vigias modernos são mencionados no livro de
Adoração Pura, parecerá ao leitor que Ezequiel prefigurou esses
vigias. Mas esse não é o caso.
Este novo método de exposição é diametralmente oposto ao antigo
método. Nos artigos de A Sentinela que me ajudaram a entender a
Bíblia, o texto original era analisado e seu significado era explicado.
Esse método me convidava ao aprendizado interativo, pois eu podia
verificar as conclusões dos artigos. Isso significa que eu dependia

111
A Sentinela de 15 de março de 2015, p. 11 par. 12 ‘Esse é o modo aprovado por
ti’.
275
daqueles que escreviam os artigos para coletar os dados para mim,
mas eu não dependia das suas interpretações.
Os membros do CG hoje raramente analisam o texto da Bíblia,
mostrando o significado desse texto. Mas, em grande parte, eles
escrevem o que o texto da Bíblia os lembra e sobre as lições que
podemos aprender com esses textos. Ambos são esforços subjetivos e
difíceis de verificar. Portanto, os leitores são, em grande medida,
dependentes das opiniões dos membros do CG e não do texto da
Bíblia. Dois dos exemplos mais claros desse método alegórico que
conheço são os seguintes: A muralha do perímetro do templo
(Ezequiel 42:20) “nos lembra que não podemos deixar que nada
contamine nossa adoração a Jeová.” E os altos portões exteriores e os
portões internos “nos lembram que Jeová tem altos padrões de moral
para todos os seus adoradores.” (Livro de Adoração Pura, 152) É
claro que não há relação entre muralhas e portões e altos padrões de
conduta e não trazer nada corrupto a Jeová. Essas são explicações
alegóricas.

Conclusão
A rejeição da importância das nuances do texto da Bíblia, a rejeição
de um grande número de tipos proféticos com a consequência de que
muitos relatos no AT não têm significado independente para nós, e o
método alegórico de interpretação da Bíblia abala a própria
inspiração da Bíblia.

A NOVA VISÃO DE TIPOS E ANTÍTIPOS APRESENTADA


A nova visão da Bíblia que trata dos tipos e antítipos foi
apresentada em A Sentinela de 15 de março de 2015, páginas 7–11.
Essa visão tem consequências dramáticas, e trago uma longa citação:
UM MODO MAIS SIMPLES E CLARO DE EXPLICAR
PASSAGENS BÍBLICAS

276
7
Se você serve a Jeová há décadas, talvez tenha notado uma
mudança gradativa no modo como nossas publicações explicam
muitas passagens bíblicas. Como assim? No passado, era comum
nossas publicações usarem tipos e antítipos para explicar relatos
bíblicos. Chamava-se o relato bíblico de “tipo”, e o cumprimento
profético de “antítipo”. Existe base bíblica para esses quadros
proféticos? Sim. Por exemplo, Jesus falou sobre “o sinal de Jonas, o
profeta”. (Leia Mateus 12:39, 40.) Jonas ficou um tempo na barriga
do peixe, que teria sido sua sepultura, se Jeová não o tivesse mantido
vivo. Jesus explicou que isso representava o tempo que ele ficaria na
sepultura.
8
A Bíblia contém outros quadros proféticos inspirados. O
apóstolo Paulo falou sobre vários deles. Por exemplo, o
relacionamento de Abraão com Agar e Sara era um quadro profético
do relacionamento de Jeová com a nação de Israel e a parte celestial
da organização de Deus. (Gál. 4:22-26) De modo similar, o
tabernáculo e o templo, o Dia da Expiação, o sumo sacerdote e outros
aspectos da Lei mosaica eram “uma sombra das boas coisas
vindouras”. (Heb. 9:23-25; 10:1) Estudar quadros proféticos assim nos
deixa impressionados e fortalece nossa fé. Mas será que cada
personagem, acontecimento ou objeto descrito na Bíblia representa
outra pessoa ou coisa?
9
No passado, era comum usar explicações assim. Pense, por
exemplo, no relato sobre Nabote. Ele foi julgado e executado
injustamente por ordem da perversa Rainha Jezabel para que o marido
dela, Acabe, ficasse com o vinhedo dele. (1 Reis 21:1-16) Em 1932,
esse relato foi explicado como um drama profético: Acabe e Jezabel
representavam Satanás e sua organização; Nabote representava Jesus;
a morte de Nabote, então, simbolizava a execução de Jesus. Décadas
depois, porém, o livro “Santificado Seja o Teu Nome”, publicado
em 1961 (1963, em português), disse que Nabote representava os
ungidos, e Jezabel, a cristandade. Assim, a perseguição de Nabote às
mãos de Jezabel simbolizava a perseguição sofrida pelos ungidos
durante os últimos dias. Por muitos anos, explicações como essa
fortaleceram a fé do povo de Deus. Por que então as coisas
mudaram?
. . . Jeová tem ajudado “o escravo fiel e discreto” a se tornar
10

cada vez mais discreto, ou prudente. A prudência tem levado o


277
escravo a ser mais cauteloso quanto a dizer que determinado relato
bíblico é um drama profético, a menos que haja uma base bíblica
clara. Além disso, observou-se que algumas das explicações antigas
sobre tipo e antítipo são difíceis demais para muitos leitores. Fica
difícil entender, lembrar e aplicar os detalhes desses ensinamentos
— quem representa quem e por quê. No entanto, mais preocupante
ainda é que as lições morais e práticas dos relatos bíblicos em
consideração podem ser ofuscadas ou perdidas no esforço de
encontrar possíveis cumprimentos proféticos. 112 É por isso que nossas
publicações hoje se concentram mais nas lições simples e práticas
sobre fé, perseverança, devoção a Deus e outras qualidades vitais que
aprendemos de passagens bíblicas.
11
Qual é o nosso entendimento atual do relato sobre Nabote? É
muito mais claro e simples. Esse homem justo morreu, não porque era
um tipo profético de Jesus ou dos ungidos, mas porque era fiel a Deus.
Ele obedeceu à Lei de Jeová diante de um terrível abuso de poder.
(Núm. 36:7; 1 Reis 21:3) Esse é um exemplo com o qual nos

112
Essa é uma das acusações diretas ou indiretas contra os irmãos que tomavam a
dianteira no século 20 que escreviam artigos que tratavam de verdades profundas.
Vou rebater essa acusação. Nunca vi que as lições morais e práticas tenham sido
obscurecidas ou perdidas em nossa literatura ou em nossas assembleias. Foi a
própria mistura de verdades sólidas, tipos e antítipos e conselhos morais e
espirituais que realmente estimularam minha fé. Na minha primeira assembleia de
distrito em 1962 em Bergen, três palestras discutiram a Palavra (logos) de acordo
com John. Tivemos uma nova compreensão das autoridades superiores em
Romanos, capítulo 13, bem como muitos conselhos sobre a vida cristã. Na
assembleia internacional de oito dias em Estocolmo em 1963, houve várias
palestras sobre o livro de Apocalipse, mas também muitos bons conselhos em
relação à nossa pregação, família e vida cristã. O tema da assembleia distrital em
Ålesund em 1964 foi “Os frutos do espírito”, e o foco foi na moral cristã e na vida
cristã. Na assembleia internacional em Oslo em 1965, o foco estava no conceito de
“verdade”. Eu tive um momento “eureca!” quando João 1:17 (NWT84) foi
discutido, “Porque a Lei foi dada por intermédio de Moisés, a benignidade
imerecida e a verdade vieram à existência por intermédio de Jesus Cristo. Como a
Lei pode ser o oposto da verdade? A questão é que alētheia (“verdade”) pode ter o
significado de “realidade”. Portanto, a Lei era a sombra (tipo), e o corpo que
projetava a sombra (o antítipo) estava conectado com Cristo. E o foco aqui foi a
benignidade imerecida de Deus. Havia um forte enfoque na moral e verdades
simples nas assembleias e na literatura. Mas os lados mais profundos e dramáticos
dos relatos bíblicos foram particularmente fortalecedores da fé.
278
identificamos, pois qualquer um de nós pode enfrentar perseguição
por motivos parecidos. (Leia 2 Timóteo 3:12.) Essa lição fortalece
nossa fé e pode ser facilmente entendida, lembrada e aplicada por
pessoas de todas as formações.
12
Devemos concluir que as passagens bíblicas têm apenas uma
aplicação prática e nenhum outro significado? Não. Hoje é mais
comum nossas publicações dizerem que uma coisa lembra ou ilustra
outra. É menos provável que elas coloquem relatos bíblicos numa
estrutura inflexível de tipos e antítipos. Por exemplo, podemos dizer
corretamente que a integridade de Nabote diante de perseguição e
morte lembra a integridade de Cristo e de seus ungidos. Mas isso
também nos faz lembrar da lealdade de muitas das “outras ovelhas”
do Senhor. Essas comparações claras e simples são características
marcantes do ensino de Jeová.113 (A ênfase é minha.)
Os seguintes comentários são pertinentes: Nunca vi em nenhum
lugar na literatura da Torre de Vigia que desse a entender que os irmãos
que tomavam a liderança no passado acreditassem que “cada
personagem, acontecimento ou objeto descrito na Bíblia representa
outra pessoa ou coisa” (o grifo meu.), como o artigo sugere. 114
Concordo que os instrutores devam ser cautelosos ao fazer aplicações
dos relatos bíblicos. Mas vejo vários problemas na nova visão de que a
maioria dos relatos que antes eram vistos como proféticos agora são
vistos como não proféticos. Sempre precisamos de “uma base bíblica
clara” para nossas crenças e ações. Mas esse requisito inclui muito
mais do que o atual CG acredita, e os próprios membros do CG
frequentemente não seguem esse princípio, como mostrei nos capítulos
4 e 5 e como mostrarei na dissertação abaixo.
Dissertação sobre “A posição de Deus versus a posição do
Corpo Governante”
Nos artigos da Torre de Vigia em 1943 e 1946, foi enfatizado que
113
A Sentinela de 15 de junho de 2015, página 8.
A Sentinela de 1952, página 249, contradiz a afirmação ao usar a frase “um
114

exército de” e não “todos”. “As profecias bíblicas, conforme são preservadas para
nós nas Escrituras, contêm uma série de ‘representações típicas’ nas quais pistas ou
chaves são encontradas para ajudar a compreender seu cumprimento (Heb. 9:23,
NM)”
279
os servos de Deus na terra não eram os intérpretes da palavra
profética. Deus foi o intérprete quando cumpriu suas profecias e
dirigiu seus servos terrestres a entender isso. Essa opinião foi mantida
por várias décadas.115
O significado da palavra profética, em muitos casos, não é mais
procurado. Mas o que a palavra profética lembra aos membros do CG
é o foco. E esses lembretes são apresentados em A Sentinela e em
outras publicações, em vez de explicações sobre o significado da
palavra profética. Assim, a compreensão da palavra profética não é
dirigida por Deus. Mas esse entendimento na forma dos lembretes
mencionados brota de seres humanos, das mentes dos membros do
CG.
As perguntas dos leitores de A Sentinela de 15 de março de 2015,
página 18, elucidaram a nova visão da Bíblia. Em relação às pessoas
que se diz representar tipos, o artigo diz:
No entanto, mesmo quando a Bíblia mostra que uma pessoa
serve como tipo, ou símbolo, de outra, não devemos concluir
que cada detalhe ou acontecimento na vida daquela pessoa
representa algo maior. Por exemplo, embora Paulo tenha dito
que Melquisedeque era um tipo profético de Jesus, ele não disse
nada sobre a ocasião em que Melquisedeque trouxe pão e vinho
para Abraão depois que ele derrotou quatro reis. Portanto, não
há base bíblica para atribuir um significado oculto a esse
acontecimento. — Gên. 14:1, 18.
O artigo se refere às interpretações alegóricas de Agostinho de
Hipona e diz:
Se essas interpretações parecem forçadas, você pode entender a
dificuldade. Os humanos não podem saber quais relatos
bíblicos são sombras de coisas futuras e quais não são. Qual é
o melhor caminho a seguir? Quando as Escrituras dizem que
uma pessoa, um acontecimento ou um objeto são tipos
proféticos de outra coisa, nós aceitamos. Do contrário,
devemos ter cautela ao dizer que certa pessoa ou relato são
antítipos de algo, se não há base bíblica específica para isso.

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Uma discussão detalhada sobre isso pode ser encontrada nas páginas XXX.
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(O itálico e o negrito são meus.)
Então, como podemos nos beneficiar dos acontecimentos e
exemplos encontrados na Bíblia? Em Romanos 15:4, lemos as
palavras do apóstolo Paulo: “Todas as coisas escritas outrora
foram escritas para a nossa instrução, para que, por intermédio
da nossa perseverança e por intermédio do consolo das
Escrituras, tivéssemos esperança.” Paulo estava dizendo que
seus irmãos ungidos do primeiro século podiam tirar lições
importantes dos eventos registrados nas Escrituras. No entanto,
o povo de Deus de todas as gerações, ungidos ou das “outras
ovelhas”, quer vivessem nos “últimos dias” quer não, poderiam
se beneficiar — e de fato têm se beneficiado — das lições
ensinadas em “todas as coisas escritas outrora”. — João 10:16;
2 Tim. 3:1.
A questão de que os humanos não podem saber quais relatos
bíblicos são sombras das coisas por vir é bem aceita. No entanto,
tanto os líderes que argumentaram a favor de muitos tipos e antítipos
quanto os membros do atual CG que argumentam contra isso, usam
Romanos 15:4 como suporte para seu ponto de vista. Alguém
esqueceu alguma coisa?
O texto diz que “todas as coisas (hosa, “tanto quanto; tanto
quanto”) escritas outrora foram escritas para nossa instrução
(didaskalia, “ensino”). O propósito disso é que “por intermédio do
consolo das Escrituras, tivéssemos esperança. (elpis).” Paulo discute
a esperança em Romanos, capítulo 8:20, 21, 24, 25 (NWT13):
à base da esperança de que a própria criação também será libertada
da escravidão à decadência e terá a liberdade gloriosa dos filhos de
Deus.
Pois fomos salvos nessa esperança; mas a esperança que se vê não é
esperança, pois como uma pessoa pode esperar por uma coisa que
ela vê? Mas, se esperamos por aquilo que não vemos, continuamos a
aguardar com viva expectativa e perseverança.
Uma definição da palavra grega elpis (“esperança”) é “esperar com
confiança o que é bom e benéfico” (LN). A que se refere a expressão
“esta esperança” em 8:24? De acordo com o versículo 23, a referência

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é “sermos livrados do nosso corpo por meio de resgate”. Isso está de
acordo com as palavras de Paulo em 5:2: “e alegremo-nos com base
na esperança de participar da glória de Deus.” Esta é a esperança
celestial. A palavra “esperança” se refere ao futuro, e as palavras em
8:20, 21 se referem à esperança terrena, ‘livre da escravidão para a
corrupção’.
Então, qual é o “ensino” de “todas as coisas que foram escritas
outrora? É “lições simples e práticas sobre fé, perseverança, devoção
piedosa e outras qualidades vitais”, como o presente CG diz em A
Sentinela de 15 de março de 2015, página 10? Esses são atributos
cristãos valiosos. Mas eles não estão relacionados com a “esperança”,
a esperança de uma recompensa celestial ou terrena. Mas as profecias
e tipos proféticos estão relacionados com a esperança. Assim,
Romanos 15:4 fala a favor do elemento profético de “todas as coisas
que foram escritas outrora” e contra a nova visão do CG a respeito
dos tipos e antítipos.
Vários exemplos abaixo ilustram como as interpretações do CG
carecem de esperança. Um exemplo importante é o livro Adoração
Pura de Jeová - Enfim (2019), que será examinado em detalhes.
Algumas partes do livro de Ezequiel são tomadas como profecias e
dão esperança. Mas o CG vê os relatos em grande parte do livro de
Ezequiel apenas como referências ao antigo Judá e Jerusalém do
passado. Portanto, a maior parte do texto do livro Adoração Pura não
é uma análise e comentário sobre o texto de Ezequiel, mas expressões
do que o texto de Ezequiel lembra ao CG. Esse é o caso dos capítulos
4 a 8 de Ezequiel, que descrevem as ações más da Jerusalém infiel e
sua destruição. Esses capítulos não têm significado para nós hoje.
Mas eles nos lembram coisas diferentes de acordo com o CG. Mas
esses lembretes são subjetivos e alegóricos. Em contraste, o livro As
Nações Terão de Saber Que Sou Jeová - Como? (1971 – Em
português, 1972), que discute o livro de Ezequiel, vê Jerusalém como
um tipo da cristandade. E a profecia sobre a destruição da cristandade
com o paraíso na Terra em seguida certamente nos dá esperança.

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“U MA B ASE B ÍBLICA C LARA ” PARA P ROFECIAS E T IPOS
P ROFÉTICOS

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