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Estudo

de Caso

Recuperação de Áreas
Degradadas e Passivos
Ambientais
Professora Me. Rebecca Manesco Paixão
Unicesumar
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estudo de
caso

Recuperação de Áreas Degradadas pela Mineração


Dentre as principais atividades modificadoras e degradadoras do meio ambiente tem-se a
mineração, a qual causa principalmente a degradação do solo.
Mechi e Sanches (2010, p. 209) citam que praticamente toda atividade de mineração causa
supressão de vegetação ou impedimento de sua regeneração; além disso, o solo superficial
fértil é removido, deixando os solos remanescentes expostos aos processos erosivos que podem
causar assoreamento dos corpos d’água do entorno. A qualidade das águas dos rios e reser-
vatórios próximos ao empreendimento também pode ser prejudicada devido ao aumento de
turbidez provocado pelos sedimentos finos em suspensão, além das substâncias lixiviadas e car-
regadas ou contidas nos efluentes das áreas de mineração, como óleos, graxa e metais pesados.
Dessa forma, observa-se que todos esses impactos trazem efeitos danosos não somente
ao meio ambiente, mas também à saúde da população devido a poluição da água, do ar e
do solo.
A falta de planejamento da atividade, aliada a falta de controle e a não recuperação da área
degradada têm causado impactos negativos ao meio ambiente. Neste sentido, no processo de
licenciamento de atividade mineradora é obrigatório a apresentação de estudos ambientais
como: Relatório de Controle Ambiental (RCA), Plano de Controle Ambiental (PCA), Relatório
Ambiental Preliminar (RAP), Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental
(RIMA). Mechi e Sanches (2010, p. 213) explicam que RAP ou EIA/RIMA podem ser exigidos a
empreendimentos novos, cujo órgão ambiental considere que causarão impactos ambientais
negativos, como supressão de vegetação nativa, intervenção em nascentes ou cursos d’água
e/ou extração de rochas carbonáticas em regiões com evidências de fenômenos cársticos.
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Também é exigido das atividades mineradoras o Plano de Recuperação de Áreas


Degradadas (PRAD), conforme previsto pelo Artigo 1º do Decreto nº 97.632 de 1989: “os
empreendimentos que se destinam à exploração de recursos minerais deverão, quando da
apresentação do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e do Relatório do Impacto Ambiental
- RIMA, submeter à aprovação do órgão ambiental competente, plano de recuperação de
área degradada”, bem como o plano de fechamento de mina, prevendo assim, a desativa-
ção da atividade mineradora e a reabilitação do terreno. Neste contexto, Corrêa (2005 apud
NEPOMUCENO e NACHORNIK, 2015) cita que “permitir a geração de riquezas sem transferir
os passivos ambientais da atividade minerária para a sociedade e para as futuras gerações é
a diretriz que resultou na exigência de elaboração e execução de PRAD”.
O PRAD deverá ser elaborado de acordo com as diretrizes fixadas pela NBR 13.030, “visando
a obtenção de subsídios técnicos que possibilitem a manutenção e/ou melhoria da qualidade
ambiental, independente da fase de instalação do projeto”. A Instrução Normativa nº 4/2011
do IBAMA traz procedimentos para elaboração do plano, por meio do Termo de Referência.
A exigência do PRAD se dá principalmente pois, apesar do planejamento das atividades
e emprego de equipamentos que podem reduzir os impactos provenientes da mineração, é
impossível o retorno das condições originais da área. Nas palavras de Mechi e Sanches (2010,
p. 216), essas medidas preventivas “não possibilitam a recuperação das condições originais
da área, restringindo o uso futuro da área e alterando suas funções ambientais primitivas”.
Bitar (1997, p. 62) traz um fluxograma muito interessante, que nos auxilia a entender
como funcionam as etapas de um PRAD, desde a identificação e caracterização das áreas
degradadas, até a consolidação do novo uso do solo.
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Avaliação preliminar ou
Identificação e expedita da degradação
caracterização das áreas
degradadas Implementação de
medidas emergenciais

Compromisso do
empreendedor

Avaliação das áreas


degradadas
Planejamento da
recuperação Medidas de
Definição dos objetivos estabilização e uso
da recuperação futuro do solo

Elaboração do plano Consulta pública e


de recuperação negociação com a
comunidade

Aprovação Análise do plano de


do plano de recuperação pelo orgão
não recuperação ambiental

sim

Execução do plano Implementação das


de recuperação medidas de recuperação

Inspeções das
medidas implementadas
Monitoramento e
Verificação dos
manutenção da
indicadores ambientais
recuperação
Execução de medidas
complementares

Encerramento da
mineração e consolidação
do uso do solo

Figura 1: Etapas e procedimentos básicos na recuperação de áreas degradadas pela mineração.


Fonte: BITAR (1997, p. 62).
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Após a identificação e avaliação inicial da área, o planejamento de recuperação de uma área


destinada a mineração pode ser resumido nos seguintes procedimentos (BITAR, 2007, p. 36):

1. estabelecimento do compromisso do empreendedor com a recuperação ambiental


da área;

2. avaliação detalhada da área degradada, com a identificação dos processos de


degradação, dos impactos ambientais e definição dos indicadores ambientais;

3. definição dos objetivos de recuperação, com as metas que deverão ser alcançadas,
bem como o uso futuro da área;

4. elaboração do plano de recuperação, com a escolha dos métodos que serão


adotados, descrição dos procedimentos e medidas, formulação do programa
de monitoramento e manutenção das medidas implementadas, análise do
uso pós-mineração frente a outras alternativas de uso futuro da área, além do
estabelecimento do cronograma de trabalho.

De acordo com o Roteiro de apresentação para Plano de Recuperação de Área Degradada


(PRAD) Terrestre (MMA; ICMBio; PNSB, 2013) as ações destinadas à recuperação de uma área
são divididas com base nos itens a recuperar:

• paisagem: recomposição topográfica, criando a paisagem mais próxima da original;

• solo: reintrodução do solo, adequação de propriedades físico-químicas do solo,


sistemas de contenção de erosão e lixiviação;

• biota: tipo de vegetação a ser recuperada, a técnica de recuperação da vegetação,


listagem das espécies;

• fauna: manejo da fauna existente, medidas que estimulem a vinda de dispersores de


sementes e polinizadores.
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Destarte, caro (a) aluno (a), na área lavrada, Oliveira (1993) cita que podem ser adotadas
algumas medidas como: retaludamento, revegetação (com espécies arbóreas nas bermas e
herbáceas nos taludes) e instalação de sistemas de drenagem. A camada de solo superficial
orgânico pode ser retirada, estocada e reutilizada para as superfícies lavradas ou de depósi-
tos de rejeitos; já a camada de solo de alteração pode ser retirada, estocada e reutilizada na
construção de diques, aterros e barragens de terra, remodelamento de superfícies topográ-
ficas e paisagens, contenção ou retenção de blocos rochosos instáveis, redimensionamento
de cargas de detonação em rochas e outras.
Neste contexto, no geral, os objetivos das medidas de recuperação de áreas destinadas a
mineração incluem: revegetação, controle de erosão e assoreamento, regularização hidroló-
gica, proteção dos recursos hídricos, melhoria do microclima e recuperação da fauna; assim,
apresentam uma ampla variedade de possibilidades, conjugando principalmente as técni-
cas de revegetação com procedimentos geotécnicos e de bioengenharia. Quanto aos usos
futuros da área, pode-se citar opções de lazer e turismo, parque ecológico, local de eventos,
shoppings, campo de golfe, piscicultura e outros.

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Caro (a) aluno (a), agora que conhecemos um pouco mais sobre os impactos ambientais
que a atividade mineradora pode causar, aspectos legais referentes à atividade e etapas do
PRAD, te convido a conhecer um pouco mais sobre a recuperação de áreas destinadas a mi-
neração por meio de um estudo de caso conduzido por Zuquette et al., (2009) em uma área
degradada por mineração de bauxita em Poços de Caldas (MG), cujas atividades minerárias
afetaram não somente a vegetação natural, mas também as condições hidrogeológicas do
local. Dentre os aspectos degradados, tem-se: assoreamento dos canais de drenagem, des-
truição da vegetação, diminuição da biodiversidade, instabilidade da encosta e alterações
na capacidade de infiltração.
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Ao encerramento das atividades, foram propostas algumas medidas de recuperação da


área, como: retaludamento das encostas, regularização da drenagem, homogeneização da
superfície, reposição de solo e serrapilheira, coveamento e reflorestamento; Todas medidas
visando o estabelecimento e manutenção do equilíbrio físico, químico e biológico do local.
A Figura 2 apresenta a antiga área de mineração de bauxita em diversos estágios desde o
encerramento da atividade, até o fim da recuperação.

Figura 2: Diferentes etapas e condições desde a exploração até a recuperação de uma área degradada por mineração de
bauxita. 1) mina em fase de encerramento; 2) vista das condições da superfície da área degradada; 3) etapa inicial com as
separação dos blocos e matacões; 4) comparação entre duas áreas: uma pronta para o reflorestamento e outra sem passar
pela etapa de reconstrução; 5) área florestada.
Fonte: ZUQUETTE et al., (2009, p. 322).

Observe, caro (a) aluno (a), que a mineração não termina com o encerramento da ativida-
de, de forma que o empreendedor, por meio do plano de fechamento de mina e PRAD fica
obrigado a recuperar a área degradada. A recuperação da área degradada é um processo
gradual, conforme observamos na Figura 2, e composto por várias fases, desde o diagnósti-
co da área, planejamento, proposição das medidas de recuperação e monitoramento.
Neste contexto, não se esqueça que após a adoção de todas as medidas de recuperação
da área degradada, esta deverá passar por um processo de monitoramento e manutenção,
visando o sucesso das medidas adotadas, e a plena recuperação da área para um uso, cum-
prindo todas as metas pré-estabelecidas (legais, sociais, ambientais e técnicas).
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Referências Bibliográficas
ABNT. NBR 13.030: Elaboração e apresentação de projeto de reabilitação de áreas degrada-
das pela mineração. Rio de Janeiro, 1999.

BITAR, O. Y.; Avaliação da recuperação de áreas degradadas por mineração na região


metropolitana de São Paulo. 1997. 185 f. Tese (Doutorado do curso de Engenharia Mineral)
– Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Universidade de São Paulo, 1997.

BRASIL. Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto nº
97.632, de 10 de abril de 1989. Dispõe sobre a regulamentação do Artigo 2º, inciso VIII, da
Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, e dá outras providências. 1989. Disponível em: < http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/D97632.htm>. Acessado em: 29 jun. 2017.

IBAMA. Instrução Normativa nº 4, de 13 de abril de 2011. Estabelece procedimentos para


elaboração de Projeto de Recuperação de Área Degradada. 2011.

MECHI, A.; SANCHES, D. L. Impactos ambientais da mineração no Estado de São Paulo. Estudos
Avançados, v. 24, n. 68, p. 209-220, 2010.

MMA; ICMBio; PNSB. Roteiro de apresentação para Plano de Recuperação de Área


Degradada (PRAD) Terrestre. 2013.

NEPOMUCENO, A. N.; NACHORNIK, V. L. Estudos e técnicas de recuperação de áreas de-


gradadas. Curitiba: Intersaberes, 2015.

OLIVEIRA, O. A. Mineração – Meio Ambiente: Revisitando e aprofundando conceitos –


Apresentando ideias. Monografia do Curso de lavra à céu aberto. Escola de Minas/UFOP, 1993.

ZUQUETTE, L. V.; PEJON, O. J.; FERREIRA-DANTAS, M.; PALMA, J. B. Environmental degradation


related to minig, urbanization and pollutant sources: Poços de Caldas, Brazil. Bull Eng Geol
Environ, v. 68, p. 317-329, 2009.

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