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Universidade Estadual de Campinas

IMECC
Elementos de Álgebra- MA673

Monografia 2: Os quatérnios, octônios


como álgebras não comutativas de
dimensão finita sobre os reais:
existem outras do mesmo tipo?

Alunos:
Jheovany Henrique Martins 155881
Luca Mantovani Poit 146973
Carolina Martins 154982
Ana Cláudia Piau Candido 154615

Professor: Fernando Eduardo Torres Orihuela


Conteúdo
1 História dos Quatérnios 1

2 História dos Octônios 1

3 Quatérnios 2

4 Octônios 4

5 Outras álgebras não comutativas 6

6 Referências Bibliográficas 7
1 História dos Quatérnios
A origem da álgebra de quatérnios se deu nos números complexos, quando
William Rowan Hamilton (1805-1865) fez a apresentação do primeiro con-
ceito moderno dos complexos como pares ordenados de reais e então tentou
fazer uma generalização desta ideia para o espaço tridimensional. Após in-
contáveis tentativas foi possı́vel constatar que não era possı́vel existir um
complexo tridimensional. A partir disso, Hamilton descobriu os quatérnios,
esta álgebra dos quatérnios foi a primeira não-comutativa da história. Ele
definiu a adição e a multiplicação dos quatérnios, podendo verificar as propri-
edades associativas e comutativa da adição e que a multiplicação é associativa
e distributiva em relação à adição, mas não vale a lei comutativa da multi-
plicação, ou seja, trata-se de uma álgebra de dimensão quatro sobre o corpo
dos números reais e que possui todas as propriedades de um corpo, exceto a
comutatividade da multiplicação (i.j = k 6= −k = j.k).

Conta-se a história de que a idéia de abandonar a lei comutativa da multi-


plicação ocorreu enquanto caminhava com a esposa ao longo do Royal Canal
perto de Dublin, pouco antes de escurecer. Ele pegou seu canivete e com ele
gravou a parte fundamental da tábua de multiplicação dos quatérnios numa
das pedras da Ponte Brougham (ainda hoje existe a pedra e uma placa con-
tando a história citada).

Assim, a álgebra dos quatérnios, a primeira álgebra não-comutativa, su-


bitamente nasceu e abriu as portas da álgebra abstrata e os métodos dos
quatérnios motivaram, tempos depois, a introdução de análise vetorial.

2 História dos Octônios


Hamilton enviou uma carta ao seu bom amigo John T. Graves um dia
após sua descoberta dos quatérnios, em outubro 1843. Em 26 de dezembro
de 1843, Graves escreveu de volta descrevendo os octônios, que ele chamou
oitavas, um nome que ainda é usado às vezes. No entanto, Graves não pu-
blicou este trabalho até 1845, pouco depois (e em resposta a) a publicação
de sua própria descoberta dos octônios de Arthur Cayley. Por esta razão, os
octônios também são conhecidos como números de Cayley. Embora Hamil-
ton mais tarde atestou prioridade de Graves, Cayley publicou em primeiro
lugar. Os créditos são dados para ambos independentemente quem descobriu
os octônios.

1
3 Quatérnios
A evolução da noção de número tem se dado muitas vezes de forma na-
tural ao longo da história. Podemos sintetizar essa evolução pela seguinte
cadeia de inclusões N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R ⊂ C. A cada nova classe numérica que
surgia, as propriedades aritméticas e algébricas da classe anterior eram herda-
das. Por exemplo, propriedades como associatividade, existência de elemento
neutro, comutatividade foram preservadas ao se estender os N para os Z.

Nesse processo, cada novo objeto complementa as deficiências do anterior


e permite também um melhor entendimento da mesma. Sendo assim, é na-
tural que se questione a existência de uma extensão de C, isto é, a existência
de uma nova classe que contenha C e preserve todas as suas propriedades
aritméticas.

Hamilton foi o responsável pela representação dos números complexos


como pontos no plano, isto é, como pares ordenados (x,y), causando um
imenso avanço na álgebra. Essa descoberta motivou diversos estudos e bus-
cas por avanços nesse campo. Visava-se expandir a ideia para um sistema
tridimensional no qual a estrutura criada efetuasse naturalmente isometrias
como era possı́vel no sistema bidimensional.

Ao considerar a tripla ordenada (a, b, c), analogamente aos números


em C, temos o número z = a + bi + cj, com i2 = j 2 = −1. A adição de
dois números nesse sistema ocorre naturalmente. Dados z = a + bi + cj e
z 0 = a0 + b0 i + c0 j, temos

z + z 0 = (a + bi + cj) + (a0 + b0 i + c0 j) = (a + a0 ) + (b + b0 )i + (c + c0 )j

O problema está no surgimento do termo ij ao efetuarmos a multiplicação.


De fato,

z.z 0 = (a + bi + cj).(a0 + b0 i + c0 j)
= aa0 + ab0 i + ac0 j + ba0 i + bb0 i2 + bc0 ij + ca0 j + cb0 ji + cc0 j 2
= (aa0 − bb0 − cc0 ) + (ab0 + ba0 )i + (ac0 + ca0 )j + bc0 ij + cb0 ji

Como já vimos, para solucionar esse problema, Hamilton considerou não
mais ternos ordenados, mas quádruplos ordenados, isto é, acrescentando um
novo número imaginário k, com i2 = j 2 = k 2 = −1 e definiu os seguintes
produtos

ij = k = −ji, jk = i = −kj, ki = j = −ik

2
Utilizando as relações acima, dados z = a + bi + cj + dk e z 0 = a0 + b0 i +
c j + d0 k, podemos realizar a multiplicação z.z 0
0

z.z 0 = (aa0 − bb0 − cc0 − dd0 ) + (ab0 + ba0 + cd0 − dc0 )i + (ac0 + a0 c − bd0 db0 )j +
(ad0 + da0 + bc0 − cb0 )k

Pode-se verificar que R4 com a adição usual e a multiplicação definida


acima é uma extensão de R não-comutativa chamada de álgebra de quatérnios.

3
4 Octônios
Como uma generalização dos Quatêrnios, surgem os Octônios, apresen-
tados por Cayley (motivo pelo qual são também chamados de números de
Cayley ), sendo esses escritos da forma

X = x0 e0 + x1 e1 + ... + x7 e7

E o produto (não–associativo e não-comutativo ) entre eles de acordo com a


tabela da Figura 1.

Figura 1: Tabela de multiplicação dos Octônios

Essa multiplicação tem uma vizualização menemônica interessante, como


mostra a figura abaixo

4
Figura 2: Multiplicação dos Octônios

Analogamente às definições nos números complexos e nos quatérnios, po-


demos definir para qualquer número de Cayley o seu conjugado:

X = x0 e0 –x1 e1 − ... − x7 e7

Estes satisfazem as propriedades


E além disso, os números de Cayley herdam a importante propriedade
válida em R, C e H:

||xy|| = ||x||||y||

Fica evidente que com essa construção, forma-se uma extensão dos quatérnios,
sendo esses, octônios da forma

x = x0 e0 + x1 e1 + x2 e2 + x3 e3

Vale constatar que os octônios, apesar de não associativos, são o que se


diz Álgebra Alternativa, i.e. qualquer subalgebra gerada por quaisquer dois
elementos de O, é associativa. Prova-se que além disso, qualquer subalgebra
gerada será isomorfa a R, C ou H.

5
5 Outras álgebras não comutativas
Na Matemática, a construção de Cayley-Dickson, nomeada em homena-
gem a Arthur Cayley e Leonard Eugene Dickson, produz uma sequência de
álgebras no conjunto dos Reais, cada uma com o dobro do tamanho da an-
terior, e são chamadas de Álgebra de Cayley-Dickson.

Essa nova construção define uma nova álgebra parecida com a soma
direta, conhecida anteriormente, com uma multiplicação definida de outra
forma, diferente da multiplicação que é consequência da soma direta, usando
números complexos e chegando nos hipercomplexos. Vejamos:

Se seguirmos o mesmo procedimento apresentado na construção dos quatérnios


e octônios, mas mudarmos a definição de multiplicação e não desconsiderar-
mos a comutatividade, chegaremos, após alguns passos, nos sedênios.

Como os octônios, a multiplicação de sedênios não é comutativa nem asso-


ciativa. Mas, ao contrário dos octônios, não satisfazem as seguintes condições:

x(xy) = (xx)y e (yx)x = y(xx)

mas têm, entretanto, a propriedade de serem associativos em relação à potência.

Todo sedênios é uma combinação linear real dos sedeniões unitários

1, e1 , e2 , e3 , e4 , e5 , e6 , e7 , e8 , e9 , e10 , e11 , e12 , e13 , e14 , e15 ,

que formam uma base do espaço vetorial dos sedeniões.

Os sedeniões têm um elemento neutro da multiplicação, o 1, e inversos


multiplicativos, e têm divisores de zero, ou seja, dois números diferentes
de zero podem ser multiplicados e ter um resultado igual a zero. Também
é importante ressaltar que os sistemas númericos hipercomplexos que tem
como origem a construção de Cayley-Dickson dos sedênios contém divisores
de zero.

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6 Referências Bibliográficas
Luchetta, V. O. J. William Rowan Hamilton. Disponı́vel em:
<http://www.matematica.br/historia/hamilton.html>. Acesso em: 21 de
junho de 2017.

Santos, M. J. Extensão do conceito de número com ênfase nos complexos


e quatérnios. Disponı́vel em:
< https : //bdtd.uf s.br/bitstream/tede/308/1/M ARCELOJ ESU SS AN T OS.pdf >.
Acesso em: 22 de junho de 2017.

Rosa, M. Quatérnios, a generalização quadridimensional. Disponı́vel em:


< http : //www.ime.unicamp.br/ marcio/ss2011/ma770/cpxqtn/cq2.htm >.
Acesso em: 22 de junho de 2017.

Felzenszwalb, B. Álgebras de dimensão finitas. Livro publicado em 1979,


IMPA. Disponı́vel na biblioteca digital do IMPA.

Cayley–Dickson construction.
Disponı́vel em: < https : //en.wikipedia.org/wiki/CayleyE28093Dicksonc onstruction >.
Acesso em 26 de junho de 2017.

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