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Teoria Política: Clássicos e Modernos

1º ano da Licenciatura em Política, Economia e Sociedade

DESAFIOS DA UNIÃO EUROPEIA COMO ATOR INTERNACIONAL: UMA ANÁLISE


COMPARATIVA

Cláudia Fontinha – 120009

Priscila Nunes – 120212

Vasco Alves – 120001

Docente: Cláudia Araújo

Sintra – Lisboa

Junho de 2023
Índice

Introdução……………………………………………………………………………………………………………………2

Análise Teórica……………………………………………………………………………………………………………..3

Conclusão…………………………………………………………………………………………………………………….6

Referências Bibliográficas……………………………………………………………………..........................7
Introdução

A União Europeia (UE) tem sido objeto de extenso debate no campo dos estudos de segurança
e política internacional. Na busca por entender a complexa dinâmica entre a UE e os desafios
globais, diversos acadêmicos têm explorado conceitos teóricos e abordagens analíticas para
analisar a atuação internacional da organização. Um exemplo interessante dessa abordagem é
primeiro capítulo do livro A União Europeia e o terrorismo transnacional, de Ana Paula
Brandão, no qual a autora aplica a teoria da securitização para examinar a resposta da UE ao
fenômeno do terrorismo transnacional. Além disso, o artigo de André Barrinha, intitulado
"Progressive realism and the EU's international actorness: towards a grand strategy?" pode ser
considerado um ponto de partida para a análise crítica da atuação internacional da UE. Neste
trabalho, o autor examina o realismo como uma lente teórica para compreender a projeção de
poder e a atuação internacional da UE. Neste ensaio procuramos criar uma análise
comparativa entre os dois textos e, para ampliar a nossa compreensão dos desafios
enfrentados pela UE enquanto ator internacional, explorar as visões de autores clássicos sobre
conceitos teóricos apresentados nesta análise, como o poder, a segurança e a ética na política
internacional.
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Análise Teórica

O primeiro capítulo do livro União Europeia e o terrorismo transnacional, de Ana Paula


Brandão (2010) apresenta as contribuições teóricas e epistemológicas da Escola de Copenhaga
para o estudo da segurança, particularmente em relação à UE, destacando os esforços feitos
pelo programa de investigação "Segurança Europeia" para teorizar a segurança fora do quadro
dominante americano. O texto enfatiza o conceito de securitização e a necessidade de analisar
a segurança como um conceito socialmente construído e intersubjetivo. Também levanta
questões sobre a dimensão normativa da UE e o seu impacto nas políticas de segurança. O
capítulo centra-se no discurso académico em torno do papel da UE na segurança e nos
quadros teóricos utilizados para o compreender.

Por outro lado, o artigo de André Barrinha (2016), Progressive realism and the EU’s
international actorness: towards a grand strategy? adota uma abordagem mais pragmática e
política da atuação internacional da UE, defendendo a necessidade de adotar uma grande
estratégia para orientar as suas ações na arena global. O texto sugere que a atual abordagem
criada conforme necessidades temporárias e a falta de uma orientação estratégica clara
limitam a eficácia da UE enquanto ator internacional. Também discute a importância dessa
estratégia para definir os interesses vitais da UE e permitir que os cidadãos europeus
participem ativamente na definição do papel da UE no mundo.

Os dois textos abordam diferentes perspetivas sobre o realismo nas Relações Internacionais e
as suas aplicações ao contexto da União Europeia. Brandão (2010) destaca a predominância do
realismo como paradigma dominante nas Relações Internacionais, criticando a construção de
idealismos que obscurecem importantes distinções teóricas. Enfoca a versão do realismo
estrutural dos EUA como a mais aplicada à UE, descrevendo--a como sendo baseada no
equilíbrio interno do poder. A UE serve aos interesses económicos dos seus Estados membros
e atua como um repositório institucional para preocupações normativas de segunda ordem.
No entanto, argumenta-se que a UE é vista apenas como uma estrutura institucional com
poder limitado sobre questões de segurança, e a sua política externa é considerada como a
soma das ações dos seus Estados membros. Além disso, o texto destaca que a integração
europeia só foi possível devido à forte presença dos EUA no continente, e que a UE ainda é
uma concorrente abaixo do padrão em relação aos EUA.
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Barrinha (2016) introduz a perspetiva do realismo neoclássico como uma abordagem que
busca reconciliar aspetos do realismo clássico com o neorrealismo (realismo estrutural). O
realismo neoclássico enfatiza a motivação de sobrevivência dos Estados, combinando-a com a
dependência dos líderes políticos em relação à sociedade doméstica para recursos materiais e
apoio a objetivos de política externa e de defesa. Esta perspetiva reconhece que pessoas e
instituições influenciam a formulação de políticas, mediando entre pressões de poder e
agência estatal. Embora o realismo neoclássico seja considerado uma melhoria em relação ao
neorrealismo em termos de explicação das dinâmicas internas e externas da UE, a sua
capacidade de introduzir uma avaliação ética e política da UE enquanto ator internacional
ainda é limitada. Barrinha também destaca o realismo clássico como uma abordagem
normativa que busca entender a essência do mundo com a noção de poder, mas com
preocupações éticas em relação à evolução do sistema internacional. Alguns autores
mencionados como Morgenthau e Herz argumentam que o poder é limitado pela interação de
diferentes interesses nacionais e que a definição desses interesses é influenciada por um jogo
político envolvendo tomadas de decisão e opinião pública.

Embora os dois textos tratem o realismo e suas implicações para a UE, eles enfatizam aspetos
diferentes. Brandão (2010) centra-se na aplicação do neorrealismo à UE, enfatizando a visão
da organização como uma estrutura institucional limitada em questões de segurança e
destacando a dependência dos EUA para a viabilidade da integração europeia. Barrinha (2016),
por outro lado, apresenta perspetivas adicionais, como o realismo neoclássico e o realismo
clássico, ampliando a discussão para considerar outros aspetos das relações internacionais e a
natureza ética e normativa das interações internacionais

Brandão (2010) descreve as mudanças no contexto europeu após os ataques terroristas de 11


de setembro de 2001. No contexto do texto, podemos relacionar as ideias de Maquiavel,
Hobbes e Weber com o esforço da União Europeia em fortalecer as suas instituições e criar
mecanismos de coordenação e cooperação para enfrentar a ameaça terrorista. Maquiavel
enfatizava a necessidade de os governantes agirem de forma decisiva para proteger o Estado e
garantir a sua estabilidade. Ao criar mecanismos para combater o terrorismo, a UE mostra uma
abordagem pragmática em busca de segurança e estabilidade interna. Esses esforços refletem
também as
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ideias de Weber sobre a burocracia e o monopólio da violência, pois tais mecanismos têm a
função de exercer autoridade legítima para coordenar as ações dos Estados membros no
combate ao terrorismo.

Brandão (2010) discute a securitização do terrorismo e o papel da União Europeia como um


ator normativo na luta contra essa ameaça. O conceito de securitização destaca a
transformação de um determinado problema em uma questão de segurança urgente que
requer ação imediata e excecional. O texto menciona a mudança da perceção da ameaça do
terrorismo, passando de uma ameaça externa global para uma ameaça internalizada,
fomentada pelo radicalismo na Europa. Esse processo de securitização pode ser relacionado às
ideias de Hobbes, que enfatiza a necessidade de proteção e segurança em situações de
ameaça. A referência à globalização, modernização, conflitualidade e má governação como
causas da ameaça terrorista aponta para a preocupação com a instabilidade e a falta de ordem
no contexto internacional, questões igualmente centrais nas ideias de Hobbes. O destaque
para a necessidade de combater fatores que levam à radicalização e ao recrutamento para o
terrorismo também pode ser relacionado à perspetiva hobbesiana de buscar a segurança e
evitar conflitos.

Segundo Brandão (2010), a dimensão normativa do discurso europeu enfatiza o respeito pelos
direitos humanos e pelo direito internacional na luta contra o terrorismo. Isso reflete a
importância atribuída a valores e normas na ação política, uma ideia presente nas teorias de
Weber sobre a ética da responsabilidade. No entanto, também é importante notar que o texto
menciona práticas europeias que não estão em consonância com o discurso normativo, o que
pode ser interpretado como uma tensão entre as intenções declaradas e a realidade política.
Esse aspeto pode ser relacionado à discussão de Maquiavel sobre a distinção entre o discurso
político idealizado e as ações necessárias para manter o poder.
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Conclusão

Em termos gerais, Brandão (2010) apresenta uma análise teórica do discurso de segurança da
UE, enquanto Barrinha (2016) adota uma abordagem mais prática e defende a necessidade de
uma grande estratégia global. Embora ambos os textos abordem a dimensão normativa da UE,
diferem no seu enfoque e nas perspetivas que trazem para a discussão. Brandão (2010) sugere
uma tensão entre a retórica normativa e a realidade das práticas da União Europeia, o que
pode ser interpretado como um desafio à dimensão normativa do ator europeu. Já Barrinha
(2016) destaca a importância de uma abordagem mais transparente, participativa e baseada
em interesses definidos para as relações externas da UE, a fim de garantir o futuro e a
sobrevivência do projeto europeu.
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Referências Bibliográficas

Brandão, Ana Paula. (2010). “A UE e o terrorismo transnacional: securitizing move e ator


normativo, uma contradição dos termos?”. Em Edições Almedina, “UE e o terrorismo
transnacional”. (pp. 45-78). https://www.wook.pt/livro/a-uniao-europeia-e-o-terrorismo-
transnacional-ana-paula-brandao/8017070 [consultado em 15/06/2023]

Barrinha, André. (2016). “Progressive realism and the EU´s international actorness: towards a
grand strategy?”. Journal of European Integration, 38(4), 441-454.
https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/36341/1/Progressive%20realism%20and%20the
%20EU%20s%20international%20actorness%20towards%20a%20grand%20strategy.pdf 
[consultado em 15/06/2023]
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