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2 Lições 6 a 10
A coruja e a águia
Monteiro Lobato
Coruja e águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes.
— Basta de guerra — disse a coruja. — O mundo é grande, e tolice maior
que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.
— Perfeitamente — respondeu a águia. — Também eu não quero outra
coisa.
— Nesse caso combinemos isto: de ora em diante não comerás nunca os
meus filhotes.
— Muito bem. Mas como posso distinguir os teus filhotes?
— Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem-feitinhos
de corpo, alegres, cheios de uma graça especial que não existe em filhote
de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.
— Está feito! — concluiu a águia.
Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três mos-
trengos dentro, que piavam de bico muito aberto.
— Horríveis bichos! — disse ela. — Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou
amargamente o desastre e foi ajustar contas com a rainha das aves.
— Quê? — disse esta, admirada. — Eram teus filhos aqueles mostrengui-
nhos? Pois, olha não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…
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Texto I
A Carolina
Machado de Assis
Texto II
XXXI
Olavo Bilac
Longe de ti, se escuto, porventura,
Teu nome, que uma boca indiferente
Entre outros nomes de mulher murmura,
Sobe-me o pranto aos olhos, de repente...
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Texto I
Orfeu
Rosana Rios
As nove Musas eram as padroeiras das artes, e Calíope, musa da poesia
épica, foi amada por Apolo. Dessa união nasceu Orfeu, que seria o mais
famoso musicista da Hélade. Ganhara do pai uma lira e, quando a tocava,
cantando as paixões dos humanos e os mistérios dos deuses, comovia
mortais e imortais, encantava animais e até as rochas. Vivia na Trácia,
onde apaixonou-se pela bela Eurídice, que lhe correspondeu. Na festa de
suas bodas até Himeneu, o deus do casamento, compareceu. A presença
desse deus, porém, não trouxe sorte alguma ao casal: pouco tempo após
a celebração, Eurídice passeava nos campos com algumas ninfas, quando
foi mordida por uma serpente. O veneno agiu rapidamente, e em pouco
tempo a jovem jazia morta.
Orfeu ficou desesperado ao saber o que acontecera à sua jovem esposa.
Tentou espantar a dor cantando e, embora suas palavras comovessem deuses
e homens, não podiam trazer Eurídice de volta. Então, decidido a recuperá-
-la ou a morrer tentando, ele procurou a entrada do reino subterrâneo e foi
buscá-la nos domínios de Hades.
Dizem que sua canção, pedindo a clemência do senhor do mundo infer-
nal e de sua esposa, Perséfone, foi tão sublime que fez chorar as almas
dos mortos e os espectros condenados a eternas torturas. Comovidos, os
soberanos do submundo permitiram que Orfeu levasse a esposa de volta à
Terra, mas Hades avisou que, quando estivesse a caminho, ele não deveria,
em momento nenhum, olhar para trás. Orfeu bem que tentou obedecer.
Porém não via se Eurídice o seguia, quando fazia a tremenda escalada de
volta à superfície. Em certo momento lançou um olhar para a sombra da
amada, que vinha atrás dele, e... viu-a ser arrebatada de volta ao Hades.
A segunda morte de Eurídice deixou Orfeu sombrio. Sua música ainda
despertava encantamento em quem a ouvia, porém, a tristeza do cantor
viúvo desagradava às mulheres da Trácia: muitas desejavam tomá-lo por
esposo, e ele recusava casar-se de novo.
Num dia em que ele cantava junto às matas, um bando de mulheres devo-
tas do deus Dioniso o viu; [...] sentindo-se desprezadas e enfurecidas pelo
desejo de vingança, atacaram-no a pedradas. Orfeu expirou e, somente
então, livre da vida tristonha, sua sombra pôde seguir para o Hades, onde
se reuniu à esposa que tanto amara.
Dioniso, desgostoso com as mulheres assassinas do divino cantor, trans-
formou-as em árvores. E Zeus levou a lira de Orfeu aos céus, tornando-a
a constelação da Lira.
RIOS, Rosana. Volta ao mundo em 80 mitos.
Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2010.
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Tarde
Olavo Bilac
Houve gemidos no Ebro e no arvoredo,
Horror nas feras, pranto no rochedo;
E fugiram as Mênadas, de medo,
Espantadas da própria maldição.
Luz da Grécia, pontífice de Apolo,
Orfeu, despedaçada a lira ao colo,
A carne rota ensanguentando o solo,
Tombou... E abriu-se em músicas o chão...
A boca ansiosa um nome disse, um grito,
Rolando em beijos pelo nome dito:
“Eurídice”, e expirou... Assim Orfeu,
No último canto, no supremo brado,
Pelo ódio das mulheres trucidado,
Chorando o amor de uma mulher, morreu...
BILAC, Olavo. Tarde. Antologia: Poesias.
São Paulo: Martin Claret, 2002.
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11 Leia este trecho do texto I: “Ganhara do pai uma lira e, quando a tocava,
cantando as paixões dos humanos e os mistérios dos deuses, comovia
mortais e imortais, encantava animais e até as rochas.”. Nele, o verbo “ga-
nhar” no pretérito mais-que-perfeito é usado para mostrar que essa ação
( A ) ocorreu depois das ações narradas a seguir.
( B ) ocorreu antes das ações narradas a seguir.
( C ) ocorreu ao mesmo tempo que as ações narradas a seguir.
( D ) ainda vai ocorrer, assim como as ações narradas a seguir.
12 No trecho do texto I “Dizem que sua canção [...] foi tão sublime que fez
chorar as almas dos mortos e os espectros condenados a eternas torturas.”,
a palavra destacada significa que a canção foi
( A ) ruim.
( B ) esquisita.
( C ) insignificante.
( D ) extraordinária.
Infância
Guilherme de Almeida
Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se “Agora”.
ALMEIDA, Guilherme de. Infância. Toda a poesia. 2. ed.
São Paulo: Livraria Martins, 1955.
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