INSTITUTO DE LETRAS/DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM
LINGUÍSTICA IV - PROFª FERNANDA CAVALCANTI ALUNA: DANIELA BARBOSA RIBEIRO TRABALHO FINAL - 26/11/2019
DEFINIÇÕES DE CONHECIMENTO, INTELIGÊNCIA E LINGUAGEM NO NOVO
DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Introdução
Este trabalho tem por objetivo discutir as definições de “conhecimento”, “inteligência” e
“linguagem” de acordo com os dicionários gerais da língua portuguesa. Neste caso específico, foi adotado o Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2a edição revista e ampliada, de 1986. Na área de Gramática e Linguística deste dicionário, participaram Maria Carlota Amaral Paixão Rosa, Myriam Azevedo de Freitas e Aurora Maria Soares Neiva. Nossa preocupação foi discutir essas definições a partir de nossos estudos na área da Linguística em sua relação com a cognição. Entender de que teorias elas partem e de maneira devemos incorporá-las ao nosso vocabulário, e de que forma devemos expandi-las?
Desenvolvimento
De acordo com o dicionário Aurélio, a definição mais completa do verbete “linguagem”,
ligado à Linguística, é a de que é “todo sistema de signos que serve de meio de comunicação entre indivíduos e pode ser percebido pelos diversos órgãos dos sentidos (...)”. Como “conhecimento”, temos a seguinte definição ligada à Filosofia: “atributo geral que têm os seres vivos de reagir ativamente ao mundo circundante, na medida de sua organização biológica e no sentido de sua sobrevivência.” Ligada a outra área de saber, a Psicologia, o conceito de “inteligência” é assim definido: “capacidade de resolver situações problemáticas novas mediante reestruturação dos dados perceptivos.” Ora, vimos no nosso curso as diferentes correntes que discutem a relação entre Linguagem e Cognição e aprendemos que elas se alinham segundo uma dicotomia, a saber, “natureza” x “cultura”. A teoria hegemônica, a teoria gerativa de cunho inatista, formulada pelo linguista or Noam Chomsky na década de 50 a partir da retomada de um problema postulado por Platão, está no campo da natureza, pois postula uma faculdade de linguagem adquirida através de um Dispositivo de Aquisição de Linguagem, programado geneticamente e que equiparia todo ser humano universalmente. De outro lado, há muitos estudiosos que procuram respostas para questões não respondidas pelo gerativismo, como os conexionistas e os sociocognitivistas. Estes são pesquisadores de várias áreas do conhecimento, que acreditam que há um papel imprescindível do social e do historicamente situado no desenvolvimento de nossa linguagem. Nesse sentido, a definição de linguagem que temos no Aurélio como “sistema de signos que serve como meio de comunicação entre indivíduos” claramente leva em consideração o aspecto social da linguagem, ao destacar a comunicação como fim do sistema, mas sua menção a “indivíduos” minimiza o papel que o coletivo tem na configuração da linguagem humana. Ao destacar que o sistema “pode ser percebido pelos diversos órgãos dos sentidos”, prevê, já em 1986, uma dimensão corpórea para a linguagem, que será bastante explorada nas décadas seguintes por pesquisadores, entre eles o neurocientista português Antonio Damasio. Conhecimento, no dicionário, está mais desenvolvido numa acepção ligada à Filosofia, mas que dá bastante ênfase no caráter biológico do atributo. Ao usar palavras como “seres vivos”, “na medida de sua organização biológica” e “no sentido de sua sobrevivência”, evoca o enfoque da natureza em detrimento do social. De certa maneira, tanto o historiador Yuval Harari quando Damasio estarão preocupados com a questão da sobrevivência, embora Harari a veja muito mais como parte de um processo socio-histórico que biológico. Damasio vai além e ultrapassará a questão do humano no desenvolvimento do conhecimento. A referência ao mundo circundante, ou seja, ao ambiente, dá espaço para as noções dos conexionistas, como Vygotsky, que verão como as interações são fundamentais na construção do conhecimento pelo ser humano. O conceito de “inteligência”, ou a “capacidade de resolver situações problemáticas novas mediante reestruturação dos dados perceptivos,” traz uma noção ligada à Psicologia, com cores construtivistas, derivada das ideias de Jean Piaget, uma vez que fala de resolução de problemáticas a partir de estruturações e reestruturações, mas levadas adiante por Vygotsky, psicólogo soviético que trouxe a questão da percepção e da interação com o ambiente e com pares mais competentes para o desenvolvimento da cognição humana.
Conclusão
Dado o momento histórico de feitura do dicionário em questão, seria natural que as
definições refletissem a teoria hegemônica até então, o gerativismo inatista de Noam Chomsky, embora, àquele momento, já houvesse muitos questionamentos e desenvolvimentos por parte de sociolinguistas e pesquisadores de outras áreas em torno dos conceitos apresentados. É assim que vimos aqui e ali noções que provavelmente foram inseridas a partir de teorias conexionistas e do cruzamento das pesquisas das diversas áreas que levarão a novos desenvolvimentos como o sociocognitivismo, mas sem ousadia, como cabe a um dicionário geral destinado ao público leigo.
Referências
CONHECIMENTO. In: AURÉLIO, Buarque de Holanda Ferreira. Novo dicionário Aurélio da
língua portuguesa. 2. ed. rev. aum. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1986. DAMASIO, Antonio. A estranha ordem das coisas. Lisbora: Temas e debates. Círculo de Leitores, 2017. P. 25-39. HARARI, Yuval. Ignorância: sabemos menos do que julgamos. In: 21 lições para o século XXI. Amadora: Elsinore, 2018, p. 253-260. INTELIGÊNCIA. In: AURÉLIO, Buarque de Holanda Ferreira. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 2. ed. rev. aum. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1986. KENNEDY, Eduardo. Curso básico de linguística gerativa. São Paulo: Editora Contexto, 2016. KOCH, Ingedore; CUNHA-LIMA, Maria Luiza. Do cognitivismo ao sociocognitivismo. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. Introdução à Linguística, v. 3 São Paulo: Editora Cortez, 2011. P. 251-277. LINGUAGEM. In AURÉLIO, Buarque de Holanda Ferreira. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 2. ed. rev. aum. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1986.