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HISTÓRIA DAS IDEIAS LINGUÍSTICAS DO E NO BRASIL

Bethania Mariani
Vanise Medeiros

1. Introdução
Toda teoria é ideológica,
toda teoria é provisória.
Paul Henry (1990, p. 33)

Como falar de um campo já institucionalizado e já disciplinar no Brasil sem refletir


sobre as condições de sua emergência e de seu processo? Sem refletir sobre seu objeto, suas
questões e suas especificidades? Ou antes, sem refletir sobre o fazer científico?
Paul Henry (1990), nos lembra que toda ciência “é produzida por uma mutação
conceitual num campo ideológico em relação ao qual esta ciência produz uma ruptura através
de um movimento que tanto lhe permite o conhecimento dos trâmites anteriores quanto lhe dá
garantia de sua própria cientificidade” (1990, p.16). Além disso, distingue dois momentos em
cada ciência – um de natureza teórico-conceitual; outro de natureza conceitual e experimental
– e salienta a importância dos instrumentos científicos, sejam materiais ou abstratos nas práticas
científicas. Um exemplo de instrumento material seria a balança, artefato sobre o qual reside
boa parte da reflexão de Paul Henry. Já um exemplo de instrumento abstrato seria a máquina
conceitual-analítica da análise do discurso (Henry, 1990). Tomemos brevemente a questão dos
instrumentos para pensar a questão dos instrumentos linguísticos, tão cara à História das Ideias
Linguísticas na França e no Brasil.
Um dos pontos acerca dos instrumentos que nos interessa nesta reflexão de Henry diz
respeito à afirmação de que um instrumento científico não poderia ser “concebido
independentemente de uma teoria que o incluísse ou que pudesse conduzir à teoria deste mesmo
instrumento” (Henry, 1990:18). Isto significa que um instrumento não pode ser simplesmente
tomado a partir de outro campo teórico à maneira de um empréstimo de um artefato qualquer
que se transporta a outro campo. Aí reside a crítica de Pêcheux, retomada e levada adiante por
Henry: um instrumento científico não pode ser considerado independentemente de teoria
tampouco como um exercício de aplicação desta. Indo adiante, nos lembra que: “Os
instrumentos científicos não são feitos para dar respostas, mas para colocar questões” (idem, p.
36).

1
Sylvain Auroux em seus escritos (1989, 1992) nos faz saber que a História das Ideias
Linguísticas tem como objeto saberes construídos sobre a linguagem e as línguas (Seja a
linguagem humana, tal como ela se realizou na diversidade das línguas; saberes se
constituíram a seu respeito; este é nosso objeto, 1992, p. 13), compreendendo que tais saberes
podem ser conceitos, procedimentos ou técnicas (cf. Colombat, Fournier, Puech, 2010, p. 11).
Se, para traçarmos um paralelo, o objeto da linguística, com Saussure, é a língua, com a História
das Ideias, o objeto é, por sua vez, saberes sobre língua e linguagem. O termo ‘ideias’, menos
engajado do ponto de vista normativo-formalizado, porém mais aderido aos diferentes modos
que os saberes podem ter nos processos históricos e culturais (Colombat, Fournier, Puech,
2010), quando inserido na expressão ‘ideias linguísticas’ (Auroux, 1992) designa de forma
ampla todos os modos de apreender-estudar fenômenos linguageiros relativos às línguas e à
linguagem, alguns dos quais podem ou não vir a se constituir em saberes estabelecidos,
construídos, legitimados e transmissíveis enquanto teoria. As ideias linguísticas e sua
circulação, aquelas ideias que ganham corpo na formulação de determinados saberes
linguísticos legitimados historicamente e que funcionam produzindo efeitos de verdade, têm
sua materialidade inscrita na língua, ou seja, encontram-se formuladas em artigos científicos,
dissertações, teses e em programas de curso que consolidam o modo como tal saber foi
disciplinarizado e institucionalizado.
No vasto trabalho na França (cf. Colombat, Fournier, Puech, 2010) com línguas antigas,
com línguas vernaculares e com a língua que vai se instituindo como francesa, o aparato teórico-
conceitual que se articula e se organiza em torno dos saberes sobre língua e linguagem não cria
novos instrumentos mas, importa destacar, ressignifica gramáticas e dicionários ao lhes conferir
o estatuto de instrumentos linguísticos. São instrumentos linguísticos cuja presença no tecido
social provoca tanto uma revolução tecnológica na produção de saberes sobre as línguas quanto
se torna um elemento a mais a produzir desigualdades. Uma revolução tecnológica na medida
em que dicionários e gramáticas são tecnologias que alte(ra)ram as relações sociais internas de
nações bem como altera(ra)m as relações entre povos que já possuíam ou não tais tecnologias.
Eis, então, a maquinaria teórica-conceitual relendo o que seriam objetos técnicos já existentes
em diferentes sociedades como instrumentos que afetam línguas e sujeitos.

“A gramática não é uma simples descrição da linguagem natural, é preciso concebê-la também
como um instrumento linguístico: do mesmo modo que um martelo prolonga o gesto da mão,
transformando-o, uma gramática prolonga a fala natural e dá acesso a um corpo de regras e de
formas que não figuram junto na competência de um mesmo locutor. Isto é ainda mais
verdadeiro acerca dos dicionários: qualquer que seja minha competência linguística, não

2
domino certamente a grande quantidade de palavras que figuram nos grandes dicionários
monolíngues que serão produzidos a partir do final do Renascimento (o contrário tornaria estes
dicionários inúteis a qualquer outro fim que não fosse a aprendizagem de línguas estrangeiras).
Isto significa que o aparecimento dos instrumentos linguísticos não deixa intactas as práticas
linguísticas humanas. (Auroux, 1992, p. 69)

Instrumentos linguísticos são tanto decorrentes quanto sustentáculos de uma das teses
propostas por Auroux (1992), qual seja, a da gramatização, como podemos ler na já clássica
definição de gramatização: “Por gramatização deve-se entender o processo que conduz a
descrever e instrumentar uma língua na base de duas tecnologias, que são ainda hoje os pilares
de nosso saber metalinguístico: a gramática e o dicionário.” (Auroux, 1992, p. 65). Não se
trata, portanto, de simples apropriação, mas de reler, de reformular teoricamente de modo a
sustentar tais instrumentos no aparato conceitual em cena.
O que observamos acerca dos instrumentos também pode e deve ser observado acerca
das teorias. Isto para lembrar que aparatos teóricos-conceituais que passem a funcionar em
outros espaços que não aqueles em que florescem terão suas especificidades em função das
condições dos espaços em que passam a vigorar e a funcionar. Assim é a História das ideias
Linguísticas tal como praticada no Brasil.

2. História das Ideias Linguísticas no Brasil em sua articulação com Análise do Discurso
Qualquer campo teórico tem suas condições de produção em que jogam história,
sociedade, sujeitos, bem como campos teóricos outros, condições materiais e institucionais,
sem deixar de considerar ainda o político, enquanto divisão dos sentidos, e o ideológico,
enquanto produção de evidência de sentidos. Com efeito, qualquer campo teórico tem suas
condições de emergência, de formulação, de sustentação, de circulação, de legitimação. É o
caso da História das Ideias Linguísticas no Brasil desde seu princípio. Se, por um lado, mantém
estreita relação teórica com a História das Ideias Linguísticas na França, por outro lado, não
deixa de se diferenciar por ter sido, desse seu início, pensada, articulada e trabalhada tendo em
vista o vigor de um campo teórico outro, qual seja, o da Análise do Discurso, uma teoria filiada
ao materialismo histórico, desenvolvida com base nos trabalhos de Michel Pêcheux1.

“Há uma determinada maneira de se fazer história das ideias linguísticas no


Brasil que constrói o lugar da história das ideias do Brasil. Há uma
especificidade no fazer científico brasileiro, que se constrói no próprio processo
de reflexão sobre as ideias linguísticas no Brasil, permitindo criar uma disciplina

1
Sobre Michel Pêcheux e a constituição da Análise do discurso, ver o volume 2, desta coletânea,

3
com o nome de história das ideias linguísticas e inaugurar, deste modo, o
domínio da história das ideias linguísticas do Brasil. (Ferreira, 2013, p. 31)

A entrada deste campo teórico no Brasil se deu a partir de 1987, como já exposto em
vários trabalhos, com o projeto de Eni Orlandi (Discurso, significado, brasilidade). É em seu
pós-doutorado, na esteira deste projeto, que se dá o encontro entre Orlandi e Auroux que resulta
em convênio entre as universidades francesa e brasileira e, em 1992, em um projeto conjunto
(História das Ideias Linguísticas: Construção de um saber metalinguístico e a constituição da
língua nacional), propiciando uma intensa cooperação entre ambos os lados. Uma cooperação
que ganha concretude com uma sucessão de projetos interinstitucionais nacionais e
internacionais em sua maioria com financiamento público e que principia a institucionalização
e disciplinarização da História das Ideias no Brasil. Enfim, dos projetos e acordos entre França
e Brasil resultam projetos, pesquisas, investigações outras em diferentes universidades do país.
Qual a discursividade constitutiva dos sentidos em disputa entre uma língua de
colonização em relação a outras na historicização de um território inicialmente colonizado?
Quais os efeitos destas línguas em contato e em confronto nos sujeitos que as falam
relativamente aos saberes sobre ela produzidos na forma de instrumentos linguísticos? Estes
foram alguns questionamentos iniciais da produtiva equipe de pesquisadores, em ação desde
1987, que foi constituindo um extenso arquivo sobre a híperlíngua2 brasileira e sua
historicidade na construção dos instrumentos linguísticos de gramatização (dicionários, e-
dicionários, gramáticas, manuais e livros didáticos, dentre outros materiais) além de discursos
institucionais (pedagógicos, políticos, jornalísticos) que atuam na institucionalização e
circulação das ideias linguísticas. Há um vasto arquivo, com vários trajetos temáticos, em
permanente construção e análise.
Arquivo, em Análise do Discurso, não se restringe a uma compilação documental, ele
não se fecha. Não é, portanto, um a priori completo ou transparente, como se representasse de
modo direto os saberes e as instituições que guardam os monumentos textuais. Esta noção de
arquivo, do ponto de vista discursivo, deve ser articulada à de memória institucionalizada, ou
seja, articulada à complexidade da tensão entre o lembrar, o repetir, o deslocar e o esquecer
inerente aos processos de produção do saber discursivo, em suas diferentes instâncias e

2
“Nós chamamos hiperlíngua um espaço/tempo estruturado por estas possibilidades: uma hiperlíngua é pois um
conjunto de indivíduos munidos de aptidões linguísticas e mergulhados em um contexto social e uma parte do
mundo.” (Auroux, 2009, p. 128). Para uma relação deste conceito com a Análise de Discurso, ler Zoppi e Diniz
(2008) e Freitas (2020).

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momentos ao longo da historicidade. Está em jogo a ideia de processo significação em curso,
modificando-se conforme as condições de produção.
A História das Ideias Linguísticas no Brasil traz um ponto de partida diferenciado e
específico dadas as singulares condições de produção intrínsecas à formulação de conhecimento
sobre a língua em um país de colonização. O programa de pesquisas proposto estabeleceu um
campo novo, uma vez que visava articular a história dos modos de construção do saber
metalinguístico com as conjunturas discursivas histórico-políticas de constituição da língua
nacional. Um campo novo tanto em função do aporte de um dispositivo de análise que produz
gestos de leitura sobre o funcionamento da ideologia na produção de conhecimento linguístico
quanto pelo fato de não separar as relações entre língua, historicidade, produção de sentidos,
memória e sujeito das formas de produção do conhecimento em curso nas formações sociais.
Em Análise do Discurso, as línguas não são transparentes, a historicidade não designa uma
cronologia, mas sim, a tensão entre o lembrar e o esquecer que faz parte da memória discursiva,
os sentidos estão sempre “em relação a”, conforme nos alerta Canguilhem (1994), e o sujeito
nem é origem do dizer nem controla o que diz. As condições enunciativas que integram os
processos de produção dos sentidos estão engendradas pela historicidade, ou seja, pelo que
regula o que se pode ou não dizer em sua relação com a memória do que já foi dito e com o
“futuro” de sentidos possíveis. Destas condições de produção fazem parte as formações
imaginárias, aquilo que se supõe como imagem (social) do próprio lugar, do lugar do outro e
do objeto do discurso.
Pêcheux chama de imaginário linguístico ou corpo verbal as marcas da enunciação que
funcionam como tempo e espaço imaginários para o sujeito falante em sua ilusão de controlar
o que diz. A relação do sujeito com o dizível está nesta imersão no imaginário, nestes sentidos
disponíveis que fazem parte da memória interdiscursiva, uma memória irrepresentável, pois
não há como se ter acesso a todos os sentidos. Ao mesmo tempo, faz parte dessa relação com
o dizível a barreira imposta pelo recalque, pela censura, e pelo silenciamento imposto
socialmente. Se o sujeito tropeça na língua, diz mais do que deveria ou que queria dizer, o
tropeço foi torna possível porque a ordem da língua inclui a falha. Falha na língua compreendida
como a presença da falta, da incompletude, ou melhor, da impossibilidade de tudo dizer e tudo
significar.
Há, portanto, um trabalho da língua sobre a língua que não tem sua origem no sujeito,
mas que se realiza nele, em sua enunciação. Vale acrescentar que, do ponto de vista discursivo,
a língua é a base material dos processos discursivos articulados e constituídos pelas relações de
força sócio-históricas. Sendo concebida em sua opacidade, a língua é lugar da falha, do

5
equívoco, do deslizamento dos sentidos. É de Pêcheux o alerta de que cada palavra e expressão
ou frase sempre pode vir a significar diferente pois são produzidos em meio às disputas de poder
em diferentes conjunturas históricas. Em Análise do Discurso a literaridade é um efeito da
produção de um sentido hegemônico, pois os sentidos estão sempre na iminência de vir a ser
outros. “É [com a] existência da materialidade da língua na discursividade do arquivo”
(Pêcheux, 1994, p. 63) que o pesquisador em história das ideias linguísticas em sua articulação
discursiva vai se deparar. Em outras palavras, ele deve tomar a leitura do arquivo em sua
opacidade para não se enredar nos efeitos imaginários que revestem o funcionamento da
ideologia.
O conceito de ideologia está vinculado ao conceito de linguagem nesta Análise do
Discurso. Quando se pensa discursivamente a linguagem, está se pensando em sua opacidade,
o que produz o analisar sua plasticidade e com a multiplicidade dos processos de significação.
Discursivamente, sentidos que se mostram como óbvios ou evidentes ou literais são justamente
aqueles nos quais incidem os processos ideológicos resultantes das lutas pelo poder. Ademais,
outra forma de supor a literalidade dos sentidos é associar de forma direta lugares sociais onde
o sujeito se inscreve para dizer com falas previamente institucionalizadas. Neste campo teórico,
não se pergunta o que uma instituição ou um autor
diz, mas como ou porque diz daquele modo. Se há ilusão de completude, estabilidade, unidade
e homogeneidade é porque há também e constitutivamente incompletude, dispersão,
contradição e heterogeneidade, sempre. Se há a ilusão do sentido literal é porque há outros
sentidos, sempre. Sentidos silenciados, recalcados, censurados, mas nunca totalmente
eliminados. O funcionamento da história, em seus movimentos de luta – repetição,
transformação e ruptura –, não dá conta de apagar totalmente os sentidos, por mais que um
deles possa se mostrar como evidente. “Pela ideologia se naturaliza o que é produzido pela
história. (...) a ideologia é a interpretação do sentido em certa direção.” (Orlandi, 1996, p. 31).
Na leitura de um arquivo (oral, escrito, institucional, imagético etc), deve-se sempre
interrogar o que lá está posto como evidente. Suspeitar que, se há muita organização e
estabilidade, é porque há silenciamento e este, resulta do funcionamento da ideologia
materializada nos gestos do arquivista. Um exemplo foi a busca nos computadores da Biblioteca
Nacional de Lisboa da entrada (ou palavra-chave) ‘língua brasileira’. (Mariani, 2016, p. 22).
Busca infrutífera, pois se esta expressão não tiver sido registrada como sentido possível e

6
legítimo sobre uma dada língua nacional, ela não fará parte da memória metálica3 do arquivo.
O que nos faz compreender que, ainda nos dias de hoje, a ausência de ‘língua brasileira’ no
modo de se significar a língua falada no Brasil, remete para os efeitos da memória da
colonização linguística (Mariani, 2004/2017) e sua produção de efeitos de evidência e verdade
para a expressão ‘língua portuguesa’.
A linguagem depende da história para significar e a história (das ideias) depende da
linguagem para que os acontecimentos (os saberes produzidos) sejam revestidos pelo
simbólico, disputados politicamente e colocados em circulação. É o que Henry nos diz: “não
há “fato” ou “evento” histórico que não faça sentido, que não peça interpretação, que não
reclame que lhe achemos causas e consequências”. (Henry, 1994, p. 51).
A fim de finalizar estes aspectos fundamentais da Análise do Discurso em sua
articulação com História das Ideias linguísticas, vamos realçar a distinção entre a política e o
político. Na definição de Pêcheux (1969), discurso é efeito de sentidos entre interlocutores. Ou
seja, quando tomam a palavra, os interlocutores (se) significam ao falar e o fazem já inseridos
no imaginário. Mesmo quando supomos estar em consenso, permanecem as diferenças porque
o que faz sentido para um sujeito não faz sentido da mesma forma para um outro. Falar é um
gesto de interpretação desde sempre inscrito no político na medida em que inscreve aquele que
fala em uma série de diferenças e desacordos. Este é o modo discursivo de compreensão do
político. Do ponto de vista da análise do discurso materialista, o político está na linguagem, no
cerne da divisão dos sentidos em função da inscrição dos dizeres na interdiscursividade. Como
veremos nas próximas seções, esta posição teórica produz deslocamentos e efeitos nos modos
de selecionar objetos de pesquisa, nos modos de proceder analiticamente e, também, na
produção de novos conceitos e na ressignificação de outros, como política linguística.

3. História das ideias do Brasil: deslocamentos e contribuições


“Nenhum campo do conhecimento se faz sem a relação com outros, seja de oposição ou
mesmo de rejeição; seja de aliança, continuidade ou reformulação; seja de escuta e maturação
do que se formula alhures para ruminações que se apresentam do seu lugar teórico” (Medeiros,
2020, p. 166). O encontro (cf. Costa, 2019, acerca dos encontros e desencontros entre as teorias)
destes dois campos teóricos se dá, a despeito de suas diferenças, a partir de uma série de
questões e de posições teóricas próximas e afins bem como de interesses comuns em

3
Orlandi (1996) define memória metálica como aquela da informatização de determinados arquivos e que
homogeneíza e lineariza a interdiscursividade, institucionalizando com mais vigor a transparência para
determinados sentidos. Acerca desta noção ver Dias (2019) e Freitas (2020).

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investigações em torno de saberes sobre língua, sobre instrumentos linguísticos, sobre ciências
da linguagem, lembrando que o que se entende por ciências da linguagem não se limita,
conforme Auroux (2008), à linguística do século XX em diante. Um encontro, enfim, que
produziu ressonâncias teóricas lá e cá.
Para Auroux (2008), uma ciência é um fenômeno social e o conhecimento se forma e se
desenvolve no tempo. Este pensador nos lembra que “é necessário tempo para saber” (2008, p.
141), sinalizando que os saberes metalinguísticos são de longa duração e que sua emergência
não é sem lastro que interessa esquadrinhar e compreender, assim como “é necessário construir
uma permanência” (2008, p 137), apontando para saberes e ciências em construção, para um
porvir. Isto posto para explicar que o interesse neste campo consiste em analisar, estudar,
investigar longos períodos – duração, permanência, acumulação são noções importantes em
História das Ideias Linguísticas – e para dizer que a noção de historicidade (embora não seja a
mesma noção da Análise de Discurso de base materialista. Nesta, entra em cena uma escuta
sensível à historicidade dos sentidos.) lhe é central: teorias, saberes, ciências da linguagem são
por ela marcados. Não à toa o trabalho do historiador das ideias linguísticas resulta, entre outros
procedimentos, em perscrutar os horizontes de retrospecção e de projeção.

“Todo conhecimento é uma realidade histórica, sendo que seu modo de existência real não é a
atemporalidade ideal da ordem lógica do desfraldamento do verdadeiro, mas a temporalidade
ramificada da constituição cotidiana do saber. Porque é limitado, o ato de saber possui, por
definição, uma espessura temporal, um horizonte de retrospecção (Auroux, 1987b), assim como
um horizonte de projeção. O saber (as instâncias que o fazem trabalhar) não destrói seu passado
como se crê erroneamente com frequência; ele o organiza, o escolhe, o esquece, o imagina ou
o idealiza, do mesmo modo que antecipa seu futuro sonhando-o enquanto o constrói. Sem
memória e sem projeto, simplesmente não há saber.” (Auroux, 1902, p. 12)

O horizonte de retrospecção consiste no conjunto de conhecimentos antecedentes


(Auroux, 2008, p. 141), ao passo que o horizonte de projeção remete para as antecipações, para
os projetos futuros, para os desdobramentos que inevitavelmente os constituem.
Ainda uma observação acerca da temporalidade tão cara à História das Ideias
Linguísticas: elas dizem respeito às noções de permanência, acumulação.

Permanência e acumulação sustentam a noção de gramatização: “ A história da gramatização


convida a não abandonar totalmente uma concepção cumulativa e progressiva em matéria de
história das ciências, em proveito de uma concepção puramente descontinuista Que o saber
empírico elementar possa se conservar e acumular é a condição de possibilidade da própria
gramatização: de um lado, este é um processo que se persegue a (muito) longo prazo, de outro,

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a gramatização das línguas no mundo não teria nenhuma chance de ser finalizada um dia se
fosse necessário fazer tábua rasa em cada mudança de moda ou te teoria. (Auroux, 1992, p. 83)

Se permanência e acumulação – lembrando que a questão da acumulação é um


problema central na história das ciências (Colombat, Fournier e Puech, 2010, p. 12) – são duas
noções basilares para os estudos neste campo na França, vale destacar que os saberes
metalinguísticos e sua transmissão – em que a noção de transmissão é articulada levando em
conta diversos mecanismos e modos de transmissibilidade, do qual fazem parte instrumentos,
práticas pedagógicas, espaços de transmissão, sujeitos, entre outros (cf. Medeiros, 2020) – não
se dão sem esquecimentos (Colombat, Fournier, Puech, 2010), o que abre caminho para uma
série de reflexões engendradas pela teoria materialista da análise de discurso trazidas para o
campo da história das ideias no Brasil. Para indicar duas, a primeira diz respeito aos
esquecimentos constitutivos do sujeito a partir de Pêcheux (1988), em que o primeiro
esquecimento diz respeito à ilusão de ser fonte do dizer e o segundo à ilusão de transparência
dos sentidos. Trazer tais esquecimentos para o campo da História das Ideias Linguísticas tem
como consequência, por exemplo, no caso do primeiro esquecimento, trabalhar não com que o
gramático ou o lexicógrafo disse, como fonte do dizer, mas com posição gramático ou posição
lexicógrafo. Uma segunda reflexão concerne às formas do silêncio (cf. Orlandi, 1997), enquanto
políticas de dizeres e de silenciamento que percorrem e percorreram os contatos-confrontos
entre línguas e as constituições (também não sem conflitos e apagamentos) das línguas no
Brasil.
Um pouco distintamente do que ocorre na França, as condições de produção no Brasil
passam, por exemplo, pelo fato de o Brasil ter sido um país colonizado, como já indicamos, por
ter tido suas línguas indígenas gramatizadas por europeus (por um processo de
exotransferência, isto é, em que o processo de gramatização é construído por locutores não
nativos), pelo édito de Pombal com a expulsão dos jesuítas e a imposição de que a “a língua
que devia ser falada, ensinada e escrita exatamente nos moldes da gramática portuguesa vigente
na Corte” (Mariani, 2003, p. 77); pelo fato de a independência ter sido no século XIX e de se
dar com a criação de instituições brasileiras, de escolas, bibliotecas, bem como com a autoria
de gramáticas e de dicionários parciais, ou ainda com a intensa produção literária, dentre outros
fatores. Breve, de um processo de colonização linguística (Mariani, 2004, 2018) a um processo
de descolonização linguística (Orlandi, 2009) que se marca por uma gramatização promovida
por falantes da língua (no caso, processo de endogramatização). Isto para ficarmos com alguns
dos acontecimentos que se deram nos períodos que antecederam o século XX. Neste século e

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no XXI, outros fatores se apresentam, como, entre outros, a criação de universidades, os
congressos, as constituições, a dimensão do Brasil em relação a um cenário mundial no final
do século XX. Com efeito, em nenhum destes acontecimentos a questão da língua esteve
ausente; tampouco algum dentre eles deixou de ter impacto sobre língua, sujeito e sociedade.
Em função de estudos e pesquisas aqui desenvolvidos e em função do aporte teórico da
Análise de Discurso de base materialista, muitos foram e continuam a ser os deslocamentos
com consequentes contribuições para o campo da História das Ideias. Contribuições, aliás, que
dão contorno à História das Ideias do Brasil.
De imediato, uma delas diz respeito a um princípio basilar para a Análise de Discurso
materialista, qual seja: não se tomar a língua como transparente. Assumir a opacidade da língua
vai incidir em um olhar atento à movência dos sentidos, ao sentido outro, aos silenciamentos e
apagamentos; vai incidir ainda, para dar mais um exemplo, no trabalho com documentos (estes,
na esteira de Foucault vão ser tomados como monumentos textuais que dizem da construção de
sentidos em uma sociedade), com textos, com obras – não mais tomados em uma suposta
transparência, mas repensados teoricamente no que concerne à autoria, à escrita, à leitura. A
partir, então, de uma visada discursiva, a literalidade, longe de ser ponto de partida, é porto de
ancoragem de sentidos produzidos pela ideologia. O que um pesquisador da História das Ideias
Linguísticas do Brasil faz, por exemplo, ao trabalhar com os horizontes de retrospecção, é
percorrer, investigar e mostrar as posições em jogo que instauram certos sentidos, ou as
posições em disputas por sentidos que se fazem dominantes. Posições que vão sendo levantadas
a partir da consideração dos não-ditos, das paráfrases possíveis e não-possíveis, das lacunas,
das regularidades e das não-regularidades com que se depara em suas leituras.
Ainda sobre língua, uma outra contribuição diz respeito à consideração da divisão social
de sentidos nela inscrita, ou seja, a uma divisão na língua que separa e distingue sujeitos. Tal
observação vai alargar as reflexões sobre políticas linguísticas. Sem pretender estender muito
uma reflexão que seria vasta se tomássemos somente a noção de língua para pensar nos
acréscimos e deslocamentos promovidos pelas reflexões teóricas em espaço brasileiro, vale
destacar dois conceitos importantes e produtivos tecidos por Orlandi, a saber, os de língua
imaginária e língua fluida. Advindos de uma elaboração que considera uma distinção entre
imaginário e real, a língua imaginária é compreendida como “a língua sistema, a que os
analistas fixam em suas regras e fórmulas, em suas sistematizações, são artefatos (simulacros)
que os analistas de linguagem têm produzido ao longo de sua história e que impregnam o
imaginário dos sujeitos na sua relação com a língua.” (Orlandi, 2009, p. 18) Já a fluida “é a
língua movimento, mudança contínua, a que não pode ser contida em arcabouços e fórmulas,

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não se deixa imobilizar, a que vai além das normas.” (idem)4. Sobre primeira, Orlandi (2009)
vai nos lembrar que consiste em objetos-ficção que, entretanto, não deixam de ter existência e
de funcionar em um imaginário de língua. Importa destacar especialmente que o processo de
gramatização produz, seguindo suas reflexões em Terra à Vista (1990) quando trabalha com
tupi jesuítico, uma língua imaginária. Ter tal distinção como ferramenta de trabalho permite
pensar o que se erige como regra e como exceção como discursos, entendendo discurso como
efeito de sentido entre interlocutores, que vão instituindo lugares e formas de dizer na língua.
Como se pode perceber, as contribuições não são sem consequências para o trabalho analítico.
Uma outra contribuição diz respeito aos instrumentos linguísticos e ao trabalho com
eles. É diante do reconhecimento de uma produção intensa de instrumentos linguísticos (cf.
quadro em Auroux, 1992, p. 38-39) a partir do século XV que Auroux tece sua hipótese (e tese)
da gramatização. Conforme este autor, a “massiva gramatização das línguas das línguas do
mundo (...) a partir da Europa (...) é um problema epistemológico e histórico ao qual não se
consagrou ainda um estudo profundo” (1992, p. 40). Um extenso e amplo programa de pesquisa
na França e alhures se abre diante de tais observações. E diante de tal constatação que Auroux
vai indicar a gramatização como uma segunda revolução tecnológica (a primeira concerne ao
aparecimento da escrita e a terceira diz respeito à mecanização da linguagem, isto é, ao
tratamento automático das línguas). Para sermos breves, a importância de tal noção diz respeito
às relações de poder não apenas entre sociedades distintas como também às relações internas
às sociedades. Gramatizar é construir uma unidade de língua; indo adiante, gramatizar é
fabricar língua(s) (cf. Colombat, Fournier, Puech, 2010, p. 242) com os efeitos e as
consequências de tal gesto. Refletir sobre tal noção pensando no e sobre o espaço brasileiro
teve como um dos impactos imediatos a ampliação de objetos – e de espaços de seus
comparecimentos – funcionando como instrumentos linguísticos.
Em outras palavras, diante do cenário brasileiro, outros instrumentos, outros objetos
históricos (Rodriguez, 2011:200), para além de gramáticas e dicionários, se fizeram notar no
aparelhamento de uma língua que foi se construindo como nacional ou ainda na constituição de
línguas outras (se muitos dos estudos sobre o século XIX se voltavam sobre a questão da língua
nacional, não foi, entretanto, somente a ela consagrados, como indicam inúmeros trabalhos),
como, por exemplo, listas de palavras (tecidas, por exemplo, nos relatos de viajantes a partir de
seus comentários ou em documentos outros), vocabulários (isolados ou apensos a obras

4
Em tal distinção, conforme se lê em nota em Terra à vista, toma forma uma partilha já posta em Gadet e Pêcheux
(1983) “entre ‘o corpo pleno da linguagem’ e ‘os processos de construção das gramáticas’.” (Orlandi, 1990, p. 74)

11
literárias), glossários (idem)5, coletâneas de obras literárias (instituindo um ler, um a saber da
língua e da escrita), jornais (seja na forma de publicações diárias de gramáticas, cf. Medeiros,
2010, seja na forma de encartes avulsos destinados a professores ou ao público em geral
contemplando questões linguísticas), manuais (tanto aqueles voltados para a escola quanto
aqueles voltados para a imprensa), revistas de ensino destinadas a professores (uma prática que
foi comum no século XIX e que atravessa os séculos XX e XXI). Uma listagem, portanto, que
não esgota aqui e que abriga ainda espaços outros de gramatização, como o Museu de Língua
Portuguesa, para dar mais um exemplo.
Orlandi nos lembra que “O que caracteriza [uma] nova instrumentação não é
necessariamente o fato de que a gramática no Brasil seja uma outra gramática; é essencialmente
o processo” (2001, p. 24). Se instrumento linguístico não consiste simplesmente em descrição
mas em instrumentação das línguas (Auroux, 1998, p. 20), com Orlandi esse processo não é
sem as condições de produção de instrumentos que fazem aparecer outras questões, outros
instrumentos e mesmo outras formas teórico-analíticas de trabalho, como é o caso da
lexicografia discursiva. Para ser breve, a lexicografia discursiva consiste em um deslocamento
inevitável dado que a História das Ideias do Brasil lida com instrumentos como objetos
discursivos. “A lexicografia discursiva vê, nos dicionários, discursos’ (Orlandi, 2002, p. 103).
Posto de outra forma, vê a palavra, as reflexões e ponderações sobre a palavra, como discursos.
Com efeito, tomar os instrumentos como discurso é um princípio de sustentação do campo
teórico brasileiro e o caminho de entrada e de compreensão de sua prática. Neste sentido, não
se pode não referir à tese de Nunes que resultou em livro (2006). Um trabalho seminal neste
campo que floresceu no Brasil e abriu estradas para um vasto, indispensável e fértil campo de
estudos brasileiros em torno da palavra (como dicionários, enciclopédias, glossários, por
exemplo). E não apenas do lugar do gesto analítico com seus desdobramentos teórico-
analíticos6 como também do lugar do gesto que engendra novos objetos de estudo e, em
consequência por vezes, novas conceituações. Por exemplo, distintas enciclopédias são
consideradas – como é o caso das enciclopédias voltadas para a alimentação, nos permitindo
compreender questões de língua e se sujeitos nacionais em outros espaços, assim como
instaurando uma distinção entre um saber metalinguístico e metassaberes, entendendo por

5
É acentuada a produção de glossários no século XIX, seja de forma isolada, seja como apêndices de livros e obras
(Medeiros, 2020a), mas não se esgotam naquele século. Construir glossários é um gesto sobre a língua ainda
saliente no século XXI, basta observar os glossários (assim como dicionários) produzidos nas periferias brasileiras.
6
A este respeito, ver Petri (2018, por exemplo) em seu trabalho não apenas com os verbetes, suas definições e
exemplificações, como também olhando para as relações entre verbetes, isto é, para o funcionamento interno aos
dicionários.

12
metassaberes como “conhecimento de diversas regiões de saber” (Esteves, 2017, p. 62) – assim
como são produzidas com base nas tecnologias de linguagem vigentes. Este é o caso da
Enciclopédia Virtual do Discurso e áreas afins [ENCIDIS], uma enciclopédia audiovisual
virtual organizada na forma de vídeoverbetes apresentados por pesquisadores de diversas
instituições nacionais. A ENCIDIS, enquanto construto tecnológico de linguagem, tem seu
próprio processo de construção como objeto de análise. Por fim, sem a pretensão de esgotar, é
preciso registrar a produção de novos arquivos que consideram a institucionalização do
conhecimento sobre línguas – caso, por exemplo, a criação de um Centro de documentação e
memória (UFSM) contemplando diferentes fundos documentais. Acerca de tais fundos
documentais, é interessante pensar que dão a saber sobre conhecimentos linguísticos
produzidos no Brasil, bem como levam a refletir como tais saberes foram (e vão) se fazendo.
Um outro exemplo, ainda, toca os desdobramentos de tais estudos para o profícuo campo de
pesquisa do ambiente digital (cf. Dias, 2018, Freitas, 2020, entre outros)
Na impossibilidade de dar conta dos diversos deslocamentos e das várias contribuições
neste campo brasileiro de pesquisa, fiquemos com uma última concernente ainda aos
instrumentos. Guimarães (2014), voltando-se para o processo brasileiro de gramatização, vai
propor uma distinção entre instrumentos de gestão política e meta-instrumentos. O primeiro
consiste em um instrumento de ação que intervém na política das línguas, como é o caso do
Diretório dos Índios; o segundo estabelece a forma de conhecimento da língua (idem, p. 473),
o que seria caso de certos programas de ensino. Uma observação importante: não se trata,
conforme Guimarães, de atribuir a qualquer programa de ensino o estatuto de meta-
instrumentos: estes seriam aqueles a partir dos quais o Estado brasileiro intervém para
estabelecer o que se deve ensinar sobre a língua e quais conhecimentos distinguem aqueles que
são colocados como conhecedores da língua (idem). O que está em jogo no caso de tais
programas, como nos alerta o autor, não é a normalização da língua mas antes daquilo a ser
ensinado e como ser ensinado (idem). Com efeito, tais considerações ampliam o campo de
objetos técnicos a serem pe(n)sados como instrumentos linguísticos – por exemplo, até que
ponto leis e decretos sobre a língua funcionam como instrumentos de gestão linguística ou como
meta-instrumentos? Qual seria, por exemplo, o lugar da NGB, das reformas ortográficas, dos
decretos e reformas de ensino? Enfim, como nos alertou Henry, em lugar de respostas os
instrumentos científicos servem para colocar perguntas, inquietações. É este, afinal, o
movimento da ciência.

13
4. Políticas linguísticas
Para início de conversa, política linguística, política de línguas e política de sentidos são
expressões com uma mesma direção teórica? Em certa medida, tais expressões se aproximam
se considerarmos que tematizam injunções políticas na gestão das línguas. Porém, quando
pensadas no escopo das teorias em que se inserem, elas trazem distinções relevantes
estreitamente vinculadas ao modo como se conceitua língua. A noção de política linguística,
no âmbito da articulação entre História das Ideias e Análise do Discurso, passa por uma
discussão necessária.
As teorias linguísticas são produtos históricos e, como tal, encontram-se submetidas aos
domínios de pensamento e aos efeitos ideológicos resultantes das relações de força de cada
conjuntura histórica. É o que Orlandi nos diz: “O homem não deixa de articular a história dos
acontecimentos com a história da ciência que coloca esses acontecimentos como objeto de
explicação.” (Orlandi, 1988, p. 08). Ou ainda, de modo sintético: “Toda teoria é política.”.
(Orlandi, 2007a, p. 53). No processo histórico de constituição da Linguística como ciência, o
modo de interpelação-identificação dos sujeitos com suas práticas linguageiras vai se sendo
constituído pelas políticas gerais que organizam o Estado e por políticas voltadas
especificamente para modos de administrar as línguas existentes. (Guimarães e Orlandi, 1996).
As teorias linguísticas se organizam e funcionam submetidas à divisão dos processos de
produção dos sentidos. Em suas descrições, gestos de interpretação são constitutivos do modo
como será significada a diversidade das práticas de linguagem.
A história da construção da sociedade brasileira, quando observada em seu processo de
construção da língua nacional em relação ao da gramatização, permite a compreensão das
políticas que levaram à inclusão ou exclusão de determinadas línguas e de determinadas práticas
linguageiras. Ao dar visibilidade a uma língua, ou a uma prática linguageira, a gramatização
produz efeitos políticos, sociais e econômicos. Em países colonizados multilíngues, por
exemplo, nem todas as línguas serão gramatizadas (Mariani, 2008). Mas é uma língua já
gramatizada a que será disponibilizada nos aparelhos de ensino e legitimada nos aparelhos
político-jurídicos como língua nacional e oficial. Legitimação a partir da construção de saberes,
institucionalização jurídica e disseminação pedagógica são pilares para a produção de políticas
sobre as línguas que seguem mantendo a desigualdade linguística, e o silenciamento das línguas
indígenas e africanas, no caso brasileiro. Os três pilares mencionados estão na base da produção
do efeito de evidência de monolinguismo (Zandwaiss, 2012), efeito ideológico que apaga o
processo histórico dos confrontos entre as línguas e das diferenças entre as práticas de
linguagem. As políticas de alfabetização, por exemplo, funcionam de modo a garantir uma

14
gramatização linguístico-social, porém, ao serem implementadas, não incluem as diferentes
camadas sociais nas duas revoluções tecno-linguísticas: nem todos terão acesso à escrita, ao
domínio de gramáticas, dicionários e, por extensão, à leitura. Nem todos terão acesso aos
modos como as tecnologias de linguagem atualizam os saberes linguísticos na atualidade. São
as instâncias de poder que estabelecem políticas de ensino propostas a partir do efeito de
monolinguismo. Daí entendermos que a gramatização das línguas vai se tornando uma
gramatização social que produz movimentos de inclusão/reconhecimento e de
exclusão/invizibilização das diferentes e desiguais práticas linguageiras e sociais. É com razão
que Pêcheux (2010 [1981]) afirma que o estudo das línguas, além de ser uma questão de Estado,
não deve ficar apartado da historicidade das formações sociais em que as diferentes práticas de
linguagem circulam.
A circulação da expressão política linguística leva a um efeito de evidência, conforme
Orlandi (2007) pontua: “Em geral, quando se fala em política linguística, já se dão como
pressupostos as teorias e também a existência da língua como tal.” No jogo político das
governanças, fica a impressão de que é possível estabelecer critérios definitivos sobre os
contatos e confrontos entre as línguas e que seria possível regular as relações entre elas.
Trazemos dois exemplos de políticas linguísticas propostas a partir desse ideal de
formulação de critérios definitivos: uma formalmente implementada pela governança pública,
que foi a cooficialização por decreto municipal de três línguas indígenas em São Gabriel da
Cachoeira; já a outra, configurada no anteprojeto de Lei sobre os estrangeirismos, do então
deputado Aldo Rebelo, está justamente imersa na ilusão de uma identidade linguística
homogênea e transparente. Há também o que chamamos de políticas implícitas. São aquelas
que já partem de uma língua instituída, sem um questionamento da historicidade. É o caso, por
exemplo, das reformas ortográficas propostas pela Academia Brasileira de Letras em seus
primórdios, a organização de manuais de escrita jornalística, as normas editoriais de revistas
científicas, a seleção de livros didáticos, ou, ainda, a opção pela dublagem ou legendagem de
filmes estrangeiros.
Em todos estes casos, para um pesquisador situado na perspectiva da história das ideias,
o que temos são processos que significam as línguas em meio às instâncias de poder. Nesta
perspectiva, Orlandi (1998) considera três distintas posições relacionadas à formulação de
políticas sobre as línguas. A primeira posição refere-se à que sustenta a unidade como valor,
sendo imposta pelo Estado e suas instituições. É o caso em que, relativamente à constituição de
identidade nacional, uma unidade linguística imaginária é convocada frente à diversidade
regional e às influências decorrentes do contato com outras línguas. A segunda posição sustenta

15
a dominação como valor e decorre de razões que regem os contatos entre “entre povos, entre
nações, entre Estados.” Exemplarmente, é o caso das conquistas e das colonizações, quando
uma língua se impõe pelo contato, pela lei ou pela força. Na última posição, é a diversidade que
conta como valor, e as políticas linguísticas instauram-se como “razões relativas aos que falam
as línguas” (Orlandi, id., ibid., p. 10, 11). Pode-se, aqui, pensar numa situação antagônica à
primeira posição, e a política proposta irá garantir as diferenças linguísticas em toda a sua
extensão.
A articulação entre História das Ideias e Análise do Discurso levou a reconceitualizar a
expressão política linguística como política de línguas. Esta noção discute a institucionalização
de políticas voltadas para as línguas em sua relação constitutiva com os processos ideológicos
inerentes às relações sócio-históricas. Isso representa analisar a imagem que se tem das línguas
e dos sujeitos em contato e em confronto. Tratar da política de línguas é referir-se a uma posição
teórica que define língua como “um corpo simbólico-político que faz parte das relações entre
sujeitos na sua vida social e histórica.” (Orlandi, 2007, p. 08).
Situar-se em um campo de produção do conhecimento que toma a língua como objeto
simbólico representa uma tomada de posição teórica que vai além do reconhecimento da
diversidade linguística brasileira. É implicar-se nas políticas de língua que visam incidir nas
desigualdades ao mesmo tempo em que se reconhece a alteridade simbólica. Faz-se necessário
compreender os processos históricos de produção de sentidos que afetam a língua que usamos
para (nos) significar. Dos processos de colonização linguística, quando uma língua foi imposta,
aos de descolonização linguística, a historicidade deste percurso tem seus sentidos
materialmente inscritos na produção do conhecimento sobre as línguas. Assim é que, das formas
de formas de legitimação e institucionalização de uma língua e silenciamento de outras, ao
reconhecimento de que o Brasil é um país multilíngue e que precisa se situar diante dos
imperativos da lusofonia e do multilinguismo externo, há um longo percurso político de
significação das línguas e dos sujeitos que as falam.
Daí a relevância em compreender a política de línguas, ou seja, as tensões decorrentes
da produção de sentidos sobre as línguas enquanto “corpo simbólico-político”. Analisar estes
processos é analisar o que leva ao reconhecimento e inclusão de certas práticas linguageiras e
sociais significadas com valor universal, modelar e de unidade, em detrimento de outras,
significadas como menores, particulares, folclóricas. O estudo da política de línguas, conforme
Orlandi (2007), inclui necessariamente um sentido político para a língua. Ou seja, “não há
possibilidade de se ter língua que não esteja já afetada desde sempre pelo político. (...) Assim,
quando pensamos em política de línguas já pensamos de imediato nas formas sociais sendo

16
significadas por e para sujeitos históricos e simbólicos, em suas formas de existência, de
experiência, no espaço político de seus sentidos.” (Orlandi, 2007, p. 08).
Para encerrar, trazemos a proposta de compreensão da política de sentidos na língua
(Mariani, 2004, 2018). Falar é inscrever-se em um espaço político de divisão de sentidos na
linguagem, ou seja, é inscrever-se em diferenças na produção de sentidos. Como já foi dito, os
sentidos são sempre divididos e estão na língua, afetando os modos como o sujeito (se) diz em
meio ao imaginário social. Tematizar a política de sentidos na língua aponta justamente para
processos de (des)(contra)identificação do sujeito com a língua que fala nas diferentes
condições de produção em que toma a palavra. A perspectiva através da qual se está pensando
na política de sentidos inscrita nas línguas aponta para esse tenso processo de produção de
sentidos que, contraditoriamente, submete-se e não se submete ao gerenciamento institucional
das interpretações. Em outras palavras, nenhuma política, mesmo as mais autoritárias, garante
uma estabilização completa ou administração total da política de sentidos para os sujeitos nas
línguas que falam. À revelia das instituições gerenciadoras do que se pode e se deve dizer,
diferentes sentidos se instauram, promovendo ou não rupturas, fazendo sentidos migrarem de
um domínio de significação para outro ou, ainda, ressignificando sentidos já estabilizados. Seja
uma situação em que diferentes línguas estão em contato/confronto – colonização ou imigração
–, seja uma situação em que a heterogeneidade linguística entra em confronto/contato, as
perguntas feitas, conforme Mariani (2004, 2018) são: “Com que sentidos os sujeitos vão
significar as práticas do seu cotidiano?” Ou ainda: “Com que memória de sentidos histórico-
linguageira isso será feito?” (Mariani, 2004, 2018). Ter como objeto estas questões é um
imperativo ético e de responsabilidade.

Memória e atualidade em pesquisas


Destacamos de forma não exaustiva alguns dos trajetos de pesquisa promovidos em diferentes
espaços institucionais brasileiros. São diversas pesquisas que contemplam (i) efeitos
ideológicos na história da constituição da língua nacional e das línguas no Brasil, (ii)
institucionalização da língua e das teorias linguísticas, tendo como foco colégios, programas de
ensino, manuais, museus, exposições, congressos, (iii) contatos e confrontos entre línguas.
Todas estas pesquisas se inscrevem cada uma a seu modo em políticas de línguas.

Eis alguns temas pesquisados: formulação de políticas de línguas e discursos jurídico-políticos


desde o período colonial; modos de confronto e de resistência das línguas indígenas, africanas
e outras disputas linguísticas em solo brasileiro; gramatização do brasileiro; oralidades;
(des)colonização linguística; políticas de defesa e direitos linguísticos; normas ortográficas;
nomeação das línguas; institucionalização e disciplinarização do conhecimento científico
(nacional ou regionalmente); periodizações; gramáticas, dicionários, enciclopédias e glossários
como objetos históricos e artefatos pedagógicos desde o período colonial; o digital e tecnologias

17
de linguagem contemporâneas com a produção de instrumentos linguísticos e ensino à
distância; constituição de uma autoria gramatical brasileira; embates em torno da língua falada
e da língua escrita; censos linguísticos e congressos sobre língua falada; estabelecimento de
normas como a NGB; atuação do literato nas questões da língua em suas diferentes produções;
fundação de determinadas instituições escolares (colégios notáveis); campos disciplinares como
Semântica. Estilística. Análise do Discurso e História das Ideias Linguísticas no Brasil, por
exemplo; organização de congressos e conferências; produção de livros didáticos de Língua
Portuguesa; consolidação de diretrizes nacionais para ensino de línguas; gramáticos, filólogos
e linguistas brasileiros; manualização das teorias Linguísticas com autores brasileiros;
literatura como lugar de embates linguísticos; português como língua estrangeira; museu da
língua portuguesa; exposições em torno da língua; organização de Centros de documentação
(fundos de pesquisadores brasileiros); línguas de imigração; institucionalização do ensino de
línguas (português, francês, espanhol, inglês, LIBRAS, línguas indígenas etc.); língua brasileira
como língua transnacional; Brasil como país multilíngue; acontecimentos linguísticos em torno
das línguas; línguas de fronteiras; preconceito linguístico; tradução e legendagem.

Em Ferreira (2018), encontra-se uma listagem comentada da produção brasileira em História


das Ideias Linguísticas

Referências (todos os textos abaixo indicados também são sugestões de leitura)


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DAS AUTORAS:

Bethania Mariani é professora titular do Departamento de Ciências da Linguagem da


Universidade Federal Fluminense e pesquisadora com bolsa de produtividade em pesquisa do
CNPq nível 1C. Coordena de forma colegiada o Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS). É
idealizadora, organizadora e coordenadora da Enciclopédia Virtual do Discurso e áreas afins
(ENCIDIS).
Vanise Medeiros é professora associada do Instituto de Letras da UFF, com pós-doutorado pela
Sorbonne Nouvelle Paris III. Bolsista do CNPq e Cientista do Nosso Estado (FAPERJ). É
coordenadora do Grupo Arquivos de Língua (GAL) em parceria com Phellipe Marcel e uma
das coordenadoras do Laboratório Arquivos do Sujeito (LAS) da UFF.

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