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CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA

PORTARIA Nº 1.004 DO DIA 17/08/2017

MATERIAL DIDÁTICO

ANÁLISE DO DISCURSO

0800 283 8380


www.faculdadeunica.com.br
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 3
UNIDADE 1 - GÊNESE DA DISCIPLINA............................................................... 5
UNIDADE 2 - CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO ..................................................... 10
UNIDADE 3 - AS FASES DA ANÁLISE DO DISCURSO: PROCEDIMENTOS E
DEFINIÇÃO DO OBJETO.................................................................................... 13
UNIDADE 4 - CONCEITO DE DISCURSO .......................................................... 16
UNIDADE 5 - CONCEITOS-CHAVE: SENTIDO E SUJEITO .............................. 22
UNIDADE 6 - A TEORIA CRÍTICA DO DISCURSO ............................................ 27
UNIDADE 7 - GÊNEROS DO DISCURSO ........................................................... 33
UNIDADE 8 - PASSOS PARA UMA ANÁLISE ................................................... 38
UNIDADE 9 - OUTROS CONCEITOS FUNDAMENTAIS .................................... 41
UNIDADE 10 - CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................... 44
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 45

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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APRESENTAÇÃO

Dada a complexidade das atividades linguísticas, cada vez mais se


percebe uma nova área de conhecimentos dentro do amplo campo de estudos
dessa área do conhecimento. Há subáreas da Linguística voltadas para o
entendimento de sua “estrutura”, que considera o falante como ideal, há vertentes
que se dedicam ao estudo do texto, como também há também estudos
linguísticos que relacionam produção e uso da língua. A Análise do Discurso (AD),
no entanto, refere-se a uma disciplina que estuda a posição ideológica por trás de
um discurso, sendo esse entendido como qualquer produção linguística.
A Análise do Discurso surgiu na França na década de 60. Essa época ficou
marcada por vários eventos políticos, talvez o mais importante tenha sido o
movimento estudantil de 1968 pela reforma universitária. Como forma de tentar
entender esse momento político, vários intelectuais da época passaram a analisar
os discursos produzidos. Foi então que, pautada na noção de materialismo
histórico, amplamente difundida por Marx, surgiu a Análise do Discurso.
O Brasil passava também nesse período por grandes transformações
político- culturais. Era a época dos festivais da MPB e da efervescência das
manifestações contrarias à ditadura militar. E os intelectuais brasileiros engajados
politicamente se interessaram pelos estudos desenvolvidos pelos franceses,
principalmente pelas origens marxistas da teoria da Análise do Discurso.
Os adeptos do materialismo acreditam que as ideologias têm existência
material, ou seja, devem ser estudadas não como idéias, mas como um conjunto
de práticas materiais que reproduzem as relações de produção. Isso, para a
linguística, foi interpretado da seguinte forma: já que a ideologia deve ser
estudada em sua materialidade, a linguagem se apresenta como o lugar
privilegiado para a manifestação da ideologia. Assim a linguagem passou a ser
vista como a via pela qual se pode depreender o funcionamento da ideologia.
Os primeiros teóricos da AD, retornando à dicotomia Língua/fala,
estabeleceram que a significação não era sistematicamente apreendida por ser
da ordem da fala e nem por ser da ordem da língua; por sofrer alterações de
acordo com as posições ocupadas pelos sujeitos que enunciam, os processos de
significação deveriam ser inscritos como ideológicos, históricos.
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A AD, da forma como foi inscrita, apresentou como proposta básica:


considerar como primordial a relação da linguagem com a exterioridade, ou seja,
com as chamadas condições de produção.
Os discursos são conjuntos de afirmações sistematicamente organizadas
que dão expressão aos significados e aos valores de uma instituição. Um discurso
fornece uma série de asserções possíveis sobre certo campo de conhecimento, e
organiza e estrutura a forma pela qual um tópico, objeto, ou processo em
particular deve ser discutido numa determinada condição de produção.
A análise do discurso procura mostrar o funcionamento dos textos,
observando sua articulação com as formações ideológicas. Assim a análise do
discurso, embora circunscrita no campo da linguística, produz um deslocamento
em direção às ciências sociais. Para os teóricos dessa área, a linguagem é
produzida pelo sujeito, em condições determinadas, e para se analisá-la deve-se
mostrar o seu processo de produção, considerando, assim, conhecimentos sócio-
históricos e ideológicos.
A análise do discurso é um tipo de análise criada para chegar à ideologia
codificada implicitamente por detrás das proposições abertas, para examiná-la em
particular no contexto das formações sociais. As ferramentas para essa análise
foram uma seleção de categorias descritivas apropriadas ao entendimento de um
propósito.

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UNIDADE 1 - GÊNESE DA DISCIPLINA

Quando se trata da origem da disciplina da Análise do Discurso (AD), dois


nomes são freqüentemente citados: o linguista Jean Dubois e o filósofo Michel
Pêcheux. Embora de áreas distintas, esse dois estudiosos compartilhavam a
ideologia política do marxismo. Ambos acreditavam na aposta marxista de que as
ideologias têm existência material, o que significava dizer que as ideologias não
deveriam ser estudadas como idéias, mas sim como um conjunto de práticas
materiais que reproduzem as relações de produção. Segundo Pêcheux (1988, p.
74), para o materialismo histórico:

o objeto real (tanto no domínio das ciências da natureza como no da


história) existe independentemente do fato de que seja conhecido ou
não, isto é, independentemente da produção ou não produção do objeto
do conhecimento que lhes responde.

A Linguística, conforme entendida por Dubois, aparecia como um campo


promissor no estudo das ideologias, uma vez que é através da linguagem que a
materialidade da ideologia se apresenta de forma privilegiada. É, então, a partir
da noção de materialismo histórico e da lingüística estruturalista que nasce a
disciplina de Analise do Discurso, cujo propósito era abordar a política através da
materialidade lingüística.
Para entendermos o papel da Linguística no desenvolvimento dos estudos
do discurso, basta considerar que a lingüística que contribuiu para o surgimento
da AD foi a estruturalista de vertente saussureana. Segundo o estruturalismo, as
estruturas da língua se definem em função da relação que estabelecem entre si
no interior de um sistema linguístico. Essa relação é sempre binária e estabelece
um valor positivo e outro negativo aos itens relacionados. Assim homem se define
com relação à mulher por ser [-feminino], e com relação a cachorro por ser [-
quadrúpede], e assim por diante (MUSSALIM, 2004, p.102). São, então, os
valores dos itens que determinam sua escolha quando da produção de um texto,
no entanto nem toda escolha parte de um valor meramente linguístico, pode-se,
por exemplo, escolher entre dois elementos de valor extralinguístico, como os
itens garota e menina ambos carregando o valor [+feminino], o que representaria

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a escolha de um desses itens, segundo os pressupostos da AD, não seria, como


na proposta de Saussure, de natureza sistêmica, mas de ordem ideológica,
histórica. É a partir dessa consideração que Pêcheux propõe uma semântica do
discurso.
O discurso para Pêcheux constitui o lugar para onde convergem
componentes linguísticos e sócio-ideológicos, seriam as condições sócio-
históricas de produção de um discurso que constituiria as suas significações. A
partir daí, o autor formalizou o que ficou conhecido como análise automática do
discurso (AAD), essa análise permitia um procedimento de leitura que relacionava
determinadas condições de produção com os processos de produção do discurso.
A proposta de Pêcheux acabou por se articular com o projeto de Althusser, um
estudioso do materialismo histórico, de formalizar o discurso. Para Althusser, a
AAD poderia corresponder a seu desejo de definir uma teoria de ideologia em
geral que permitisse evidenciar o mecanismo responsável pela reprodução das
relações de produção comum a todas as ideologias particulares. Dessa forma as
idéias de Althusser ajudaram compor a gênese da AD.
Tratadas aqui as principais teorias que contribuíram para o surgimento da
AD, resta-nos tecer alguns comentários sobre outra teoria que também influenciou
sobremaneira o momento inicial da Análise do Discurso. Referimo-nos à
psicanálise lacaniana.
Segundo Mussalim (2004, p. 107):

A partir da descoberta do inconsciente por Freud, o conceito de sujeito


sofre uma alteração substancial, pois seu estatuto de entidade
homogênea passa a ser questionado diante da concepção freudiana de
sujeito clivado, dividido entre o consciente e o inconsciente. Lacan faz
uma releitura de Freud recorrendo ao estruturalismo lingüístico, mais
especificamente a Saussure e a Jakobson, numa tentativa de abordar
com mais precisão o inconsciente, muitas vezes tomado como uma
entidade misteriosa, abissal.

Para Lacan, o inconsciente se estrutura como uma linguagem, como uma


cadeia de significantes latente que se repete e interfere no discurso efetivo, é
como se sob as palavras, conscientemente ditas, houvesse outras palavras,
vindas do inconsciente. Nesse sentido a tarefa do analista seria a de tornar as
palavras ou o “discurso” do inconsciente consciente, através de um trabalho na
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palavra. O inconsciente representa, para essa teoria, o lugar de onde emana o


discurso do Outro (do pai, da família, da lei, etc.) e em relação ao qual o sujeito se
define, ganha identidade. O sujeito passa a ser considerado, então, uma
representação, sendo, portanto, da ordem da linguagem. Somando a essa noção
de inconsciente alguns critérios do estruturalismo lingüístico, Lacan se posiciona
em favor da existência de uma estrutura discursiva que é regida por leis. Dentre
as implicações dessa constatação de Lacan para a psicanálise, a que interessa à
AD é a que define sujeito, relacionando-o ao inconsciente, à linguagem.
Com relação ao conceito lacaniano de sujeito, percebe-se o papel da
lingüística no que se refere a certos critérios a partir dos quais se define o sistema
lingüístico: (1) o critério diferencial, apropriado por Saussure, considera que na
língua só há diferenças; segundo esse critério, os elementos do sistema não
podem ser definidos por eles mesmos, sem que suas características sejam
comparadas às de outros elementos. (2) o critério relacional que delimita a função
do Outro no interior do sistema. (3) o critério do lugar vazio, seguindo a ótica
estruturalista, considera que cada elemento adquire sua identidade fora de si. (4)
o critério posicional, esse critério considera que a identidade resulta sempre dos
lugares de onde são tomados os elementos na relação binária no interior do
sistema.
Os critérios, diferencial e relacional, implicam na consideração de que o
sujeito é dessubstancializado, uma vez que ele só se define em relação ao Outro.
O sujeito dessubstancializado não está, porém, no consciente onde predomina a
noção de “sujeito centro”, aquele que acredita saber o que diz e o que é, mas sim
no inconsciente, no lugar onde está o Outro – o discurso do pai, da mãe, da
família, etc. – que lhe imprime identidade, aí o critério do lugar vazio. Segundo
Santiago (apud MUSSALIM, 2004, p.108), “o pai e a mãe deixam de ser meros
semelhantes com os quais o sujeito se relacionou numa dimensão de rivalidade
ou amor, para se tornarem lugares na estrutura”. Assim, a mãe pode ocupar
lugares diferentes no imaginário – mãe cuidadosa, mãe displicente, etc. –; é
assim que se percebe o critério posicional.

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Essa relação entre o sujeito e o Outro se apóia na oposição binária de


Jakobson1, segundo a qual um remetente passa dessa posição inicial para ocupar
a posição de destinatário no sistema de comunicação. Assim, Lacan se aproxima
do estruturalismo ao adaptar as teorias de Saussure e Jakobson a sua teoria
psicanalítica, mas se distancia ao inserir o sujeito na estrutura e ao estabelecer a
relação do sujeito com o Outro.
Na teoria lacaniana, o sujeito, por definir-se através do discurso do Outro,
nada mais é do que um significante do Outro. No entanto, sendo um sujeito
clivado, dividido entre o consciente e o inconsciente, inscreve-se na estrutura,
definida por relações binárias, mas que, diferentemente do sentido estruturalista,
é descontínua. Em outras palavras, Lacan se afasta do estruturalismo no
momento em que assume a incompletude do sistema, representada pelo sujeito,
pela descontinuidade na cadeia significante.
Na teoria de Jakobson, não há supremacia entre os interlocutores numa
relação de comunicação. Já para Lacan, o Outro ocupa uma posição de domínio
com relação ao sujeito, é uma ordem anterior e exterior a ele, com relação à qual
o sujeito se define, ganha identidade. E é nessa posição com relação ao sujeito
que a psicanálise lacaniana influencia na teoria da Análise do Discurso.

(Es) S a

(o eu1) a Outro

1 Relação Imaginária 2 Inconsciente

Esquema proposto por J. Lacan (1985): representação do eu, do outro e da linguagem

1
Lingüista pertencente à Escola de Praga, embora considerado estruturalista, se distancia de Saussure ao
considerar os interlocutores no processo comunicativo. É autor do texto Lingüística e poética In.: Lingüística
e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 1960.
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Como afirmamos anteriormente, a AD trata de questões relativas à


ideologia e ao sujeito. E é justamente esse “sujeito de Lacan”, clivado, mas
estruturado na linguagem que permitiu que a AD concebesse os textos como
produtos de um trabalho ideológico não-consciente.
Sumariamente, pode-se dizer que a AD, através do materialismo histórico,
considera o discurso como a materialização da ideologia decorrente do modo de
organização dos modos de produção social e o sujeito, considerado como aquele
que não decide sobre os sentidos e as possibilidades enunciativas do próprio
discurso, mas enuncia o lugar social que ocupa, sempre inserido no processo
histórico que lhe permite determinadas colocações e não outras. Segundo
Mussalim (2004, p.110):

O sujeito não é livre para dizer o que quer, mas é levado, sem que tenha
consciência disso (e aqui reconhecemos a propriedade do conceito
lacaniano de sujeito para a AD), a ocupar um lugar em determinada
formação social e enunciar o que lhe é possível a partir do lugar que
ocupa.

Tem-se, por fim, que a Análise do Discurso pertence não ao campo da


lingüística formal, mas sim a um núcleo de estudos da linguagem que a considera
apenas na medida em que esta faz sentido para sujeitos inscritos em estratégias
de interlocução, em posições sociais ou em conjunturas históricas.

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UNIDADE 2 - CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO

Segundo Pêcheux (1969), o estudo dos processos discursivos pressupõe a


análise das condições de produção do discurso. Tal fato tem a ver,
principalmente, com o papel atribuído ao contexto ou situação pela lingüística
atual, que considera o contexto como pano de fundo específico dos discursos,
sendo o que torna possível sua formulação e sua compreensão.
De acordo com os pressupostos da Análise do Discurso, cada um enuncia
a partir de posições que são historicamente constituídas. O que garante o sentido
ao que o enunciador diz não é o contexto imediato em que está situado e ao qual
se ligariam certos elementos da língua ou certas características do enunciado,
mas as posições ideológicas a que está submetido e as relações ao que diz e o
que já foi dito da mesma posição, considerando, eventualmente que ela não se
opõe a uma a que lhe seja contrária. Veja a tirinha abaixo, de Luis Fernando
Veríssimo:

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A tirinha serve de exemplo para o que acabamos de dizer. Em cada conjunto de


quadros, o que vai definir o sentido dos comentários será o tema indicado por um
dos participantes da interlocução. Assim, no primeiro conjunto de quadros, como
se trata de um concurso de cortesia, as falas dos interlocutores são marcadas por
palavras de gentileza; no segundo, as condições de produção se referem a mal-
entendidos e, novamente, são utilizadas frases comuns em situações de mal-
entendidos; e o mesmo ocorre com o último conjunto de quadros.
Pêcheux parte do famoso esquema de Jakobson2 para explicar o quadro
das condições de produção. Segundo o autor, enunciar responde a perguntas
implícitas como “Quem sou eu para lhe falar assim?”, “Quem é ele para eu lhe
falar assim?”, e também revela o “Ponto de vista de A sobre R”, o “Ponto de vista
de B sobre R”, etc. E, ainda, ao quadro são acrescentadas as representações
imaginárias, que correspondem à imagem que o destinador faz da imagem que o
destinatário faz do destinador. Dessa forma, se um candidato se dirige a eleitores,
o candidato e os eleitores não devem ser entendidos como se tratando de uma
pessoa (fulano de tal) diante de certas outras pessoas (moradores do bairro X),
envolvidas em uma relação de interlocução, mas como posições historicamente
constituídas em sociedades em que essas funções se circunscrevem a certas
regras e às quais se chega através de um conjunto de procedimentos.
(PÊCHEUX, 1969, p.81-87).
Tornando ao raciocínio das representações imaginárias, podemos
exemplificar a hipótese da seguinte forma: o candidato X à prefeitura do município
Y enuncia seu discurso partindo da imagem que ele acredita que a população do
município tem dele, não enquanto cidadão civil, mas como candidato à prefeitura
da cidade. Estão aqui envolvidas não pessoas strito senso, mas funções
historicamente constituídas, a de um candidato a prefeito e a dos eleitores. Dessa
forma, pode-se considerar que esse mesmo candidato, sendo eleito, pode estar
envolvido numa nova situação de interlocução com novas condições de produção,
aí, se analisará a posição de um prefeito frente aos cidadãos da cidade.
Há, ainda, que se ressaltar que essa “imagem” que o destinador faz da
imagem que o destinatário faz do destinador resulta de um processo social,

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O famoso esquema de Jakobson é aquele em que o autor diferencia seis funções da linguagem
verbal: expressiva, conotativa, referencial, fática, metalinguística e poética.
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ideológico; daí a importância do “contexto”: situações diferentes geram produtos


diferenciados.
Um exemplo interessante é apresentado por Orlandi (1999, p. 63), a partir
da seguinte frase retirada de uma pichação em um muro: NEOCID neles,
parasitas. Segundo a autora, se o texto foi produzido por operários, a palavra
parasitas se refere, provavelmente, a patrão. Já se, pelo contrário, quem escreveu
o texto foi um pequeno burguês contrário à juventude rebelde, parasitas poderiam
ser darks ou hippies. Isso mostra, de acordo com a autora, que os significados
que se podem atribuir são vários e têm a ver com o confronto de forças no
contexto da sociedade.
Por fim, a principal questão relacionada às condições de produção para a
Análise do Discurso é que, para a disciplina, esse conceito exclui de forma
definitiva um caráter “psicossociológico”. Para a AD, os contextos fazem parte de
uma história, uma vez que nessas instâncias de enunciação, os enunciadores se
assujeitam à sua função discursiva. As condições de produção são, nesse
sentido, um elemento dominante. Do conjunto de elementos envolvidos num
processo de interlocução (destinador, destinatário, referente, etc.), o elemento
dominante (condições de produção) pode variar de caso a caso, mesmo que
outros elementos se repitam.

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UNIDADE 3 - AS FASES DA ANÁLISE DO DISCURSO:


PROCEDIMENTOS E DEFINIÇÃO DO OBJETO

A Análise do Discurso, assim como outras teorias, passou, desde o seu


surgimento, por alterações nos seus procedimentos de análise e na definição do
objeto, sendo que são consideradas três fases principais.
Na primeira fase da AD, conhecida como análise automática do discurso,
procurava-se explorar a análise de discursos pouco polêmicos, que, por terem
uma carga polissêmica menor, permitiam uma menor abertura para variação de
sentido por se perceber um maior silenciamento do outro. A “estabilidade” dos
discursos analisados nesse período se devia às condições de produção mais
estáveis e homogêneas, ou seja, os discursos analisados eram produzidos no
interior de posições ideológicas e de lugares sociais menos conflitantes. Um
exemplo sempre citado de discurso analisado nesse período é o Manifesto
Comunista, que era enunciado no interior do Partido Comunista e representa seus
possíveis interlocutores inscritos nesse mesmo espaço discursivo. De forma
contrária, discursos produzidos em situações conflitantes, em debates entre
diferentes conjunturas políticas, por exemplo, não eram abordados nesse período.
Com relação aos procedimentos adotados nessa fase, a AD-1, geralmente
eram realizados em etapas, segundo Mussalim (2004, p.118):
a) Primeiramente se seleciona um corpus fechado de seqüências discursivas;
b) Em seguida faz-se a análise lingüística de cada seqüência, considerando-
se as construções sintáticas (de que maneira são estabelecidas as
relações entre os enunciados) e o léxico (levantamento de vocabulário);
c) Passa-se depois à análise discursiva, que consiste basicamente em
construir sítios de identidades a partir da percepção da relação de
sinonímia (substituição de uma palavra por outra no contexto) e de
paráfrase (seqüências substituíveis entre si no contexto);
d) Por fim, procura-se mostrar que tais relações de sinonímia e paráfrase são
decorrentes de uma mesma estrutura geradora do processo discursivo.
Essas condições de produção estáveis eram responsáveis pela geração de
um processo discursivo a partir de um conjunto de argumentos e de operadores

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responsáveis pela construção e transformação das proposições, entendidas como


princípios semânticos que definem e delimitam um discurso. Toda essa estrutura
ficou conhecida como “máquina discursiva”. (MUSSALIM, 2004, p.118).
A AD-1 considerava cada processo discursivo como uma máquina
discursiva. Dessa forma, num debate em que haveria dois processos discursivos,
haveria também duas máquinas discursivas e, por isso, não seriam analisados.
Quando a AD alcança sua segunda fase, a noção de máquina estrutural
fechada eclode. Apreende-se, então, do trabalho do filósofo Michel Foucault, o
conceito de formação discursiva, que se referia ao dispositivo que desencadeia o
processo de transformação na concepção do objeto de análise da Análise do
Discurso. Segundo Foucault (1969, apud Mussalim, 2004, p.119), a formação
discursiva pode ser definida como:

um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no


tempo e no espaço que definiram em uma época dada, e para uma área
social, econômica, geográfica ou lingüística dada, as condições de
exercício da função enunciativa.

Uma formação discursiva (FD), segundo a perspectiva, determina o que


pode/deve ser dito a partir de um determinado lugar social. Dito de outra forma,
uma FD é marcada por “regras de formação”, concebidas como mecanismos de
controle que determinam o interno, o que pertence, e o externo, o que não
pertence, de uma formação discursiva. Ao se considerar o externo na formação
discursiva, deixa-se de conceber a FD como uma estrutura fechada para se
perceber que ela será sempre invadida por elementos que vêm de outro lugar, de
outras formações discursivas.

O discurso é o caminho de uma contradição a outra: se dá lugar


às que vemos, é que obedecem à que oculta. Analisar o discurso
é fazer com que desapareçam e reapareçam as contradições, é
mostrar o jogo que nele elas desempenham; é manifestar como
ele pode exprimi-las, dar-lhes corpo, ou emprestar-lhes uma
fugidia aparência. (FOUCAULT, 2005, p. 171)

Assim discordando da AD-1, os estudiosos que seguiam a perspectiva de


Foucault acreditavam que para se analisar um discurso é necessário se recusar
as explicações unívocas, de fáceis interpretações, e a busca pelo sentido último
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numa única formação discursiva. Para Foucault, há enunciados e relações que o


próprio discurso põe em funcionamento e analisar o discurso seria dar conta das
relações históricas, de práticas concretas. Uma análise eficiente não se
concentraria apenas numa máquina discursiva, mas nas relações entre as
máquinas discursivas. E é essa relação entre máquinas discursivas que passa a
ocupar o lugar de objeto de análise da AD-2.
Quanto aos procedimentos de análise, a AD-2 inova apenas na fase de
seleção do corpus, uma vez que os discursos menos estabilizados tomam lugar
por serem produzidos a partir de condições de produção menos homogêneas. Um
debate político é um exemplo de objeto de análise.
Na fase 3 da AD, ocorrerá a desconstrução da máquina discursiva,
possibilitada pelo deslocamento percebido através da relação de uma FD com as
outras. Na AD-2, as outras FD’s são incorporadas pela FD em questão, que
mantém uma identidade, mesmo sendo atravessada por outros discursos. Assim,
passou-se a considerar que é possível, através de uma análise discursiva,
determinar o que pertence a outras FD’s que atravessam uma FD em análise.
Na AD-3, apreende-se que os diversos discursos que atravessam uma FD
não se constituem independentemente uns dos outros para serem, em seguida,
postos em relação, mas se formam de maneira regulada no interior de um
interdiscurso. Assim, tem-se que será a relação interdiscursiva que estruturará a
identidade das FD’s em questão. O objeto de análise passa, então, a ser o
interdiscurso e o procedimento de análise por etapas fixas se estabiliza.

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UNIDADE 4 - CONCEITO DE DISCURSO

Discurso é uma palavra que tem amplos sentidos. Segundo Brandão (no
prelo), “no sentido comum, na linguagem cotidiana, discurso é simplesmente fala,
exposição oral, às vezes tem o sentido pejorativo de fala vazia, ou cheia de
palavreado ostentoso, ‘bonito’.” No entanto é preciso se analisar o sentido
científico da palavra discurso.
A linguagem é uma atividade exercida entre interlocutores: um falante e um
ouvinte, um escritor e um leitor. É essa uma atividade rotineira e até automática,
mas que nos exige mais do que o simples conhecimento de um conjunto de
palavras e regras sintáticas. Na atividade linguística, conhecimentos de ordem
extralingüística como saber para quem me dirijo quando falo ou escrevo, ou em
que situação, mais ou menos formal, me encontro são também fundamentais para
a atividade da linguagem.
Ao produzir linguagem, os falantes produzem também discursos. Assim,
podemos definir discurso como toda atividade comunicativa entre interlocutores,
como uma atividade produtora de sentidos que se dá na interação entre falantes.
Segundo Brandão (Op. Cit.):

O falante/ouvinte, escritor/leitor são seres situados num tempo histórico,


num espaço geográfico; pertencem a uma comunidade, a um grupo e
por isso carregam crenças, valores culturais, sociais, enfim a ideologia
do grupo, da comunidade que fazem parte. Essas crenças, ideologias
são veiculadas, isto é, aparecem nos discursos. É por isso que dizemos
que não há discurso neutro, todo discurso produz sentidos que
expressam as posições sociais, culturais, ideológicas dos sujeitos da
linguagem. Às vezes, esses sentidos são produzidos de forma explícita,
mas na maioria das vezes não. Nem sempre digo tudo que penso, deixo
nas entrelinhas significados que não quero tornar claros ou porque a
situação não permite que eu o faça ou porque não quero me
responsabilizar por eles, deixando por conta do interlocutor o trabalho de
construir, buscar os sentidos implícitos, subentendidos. Isso é muito
comum, por exemplo, nos discursos políticos, no discurso jornalístico, e
mesmo nas nossas conversas cotidianas.

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17

Na charge acima, por exemplo, na fala da personagem feminina está


implícito que Hagar, o personagem masculino, deveria se preparar no sentido de
evitar que a casa deles fosse alagada. No entanto, no entendimento de Hagar
planejar com antecedência não quer dizer se planejar para “evitar” um problema,
mas se planejar para “contornar” um problema. O que imprime o sentido cômico
da charge está na diferença de valores e, consequentemente, de atitudes entre os
dois personagens.
Dessa forma, percebe-se que quando se trata da noção de discurso, estão
implicados, além de questões lingüísticas, elementos sociais, históricos, culturais,
ideológicos que cercam a produção e se refletem no discurso. Também o espaço
que esse discurso ocupa em relação a outros discursos que circulam na
comunidade são tomados. Assim, segundo os pressupostos da AD, a linguagem
deve ser estudada não só em relação a seu aspecto gramatical, exigindo saber
lingüístico, como também em relação aos aspectos ideológicos, sociais que se
manifestam através de um saber sócio-histórico.
Ainda segundo Brandão (Op. cit.):

o discurso é o espaço em que saber e poder se unem, se articulam, pois


quem fala, fala de algum lugar, a partir de um direito que lhe é
reconhecido socialmente. Falar, por ex., do lugar do presidente (da
República, do Congresso, de uma associação qualquer) é veicular um
conhecimento reconhecido como verdadeiro (pelo posto que ocupa) e,
por isso, gerador de poder; uma relação de poder se estabelece (de
forma clara ou sutil) entre patrão-empregado, entre professor-aluno e
mesmo entre amigos ou pares e que se manifesta na forma como um
fala com o outro.

O discurso pode ser assim entendido como um jogo de estratégias que


implica em ações e reações, num jogo de poder cujo resultado pode ser
dominação ou aliança, submissão ou resistência, etc.

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As principais características do discurso segundo Maingueneau (2004,


apud BRANDÃO, no prelo, p.2-5) são:
1. O discurso deve ser compreendido como algo que ultrapassa o nível
puramente gramatical, lingüístico. O nível discursivo apóia-se sobre a
gramática da língua (o fonema, a palavra, a frase), mas nele é importante
levar em conta também (e, sobretudo) os interlocutores (com suas crenças,
valores), a situação (lugar e tempo geográfico, histórico) em que o discurso
é produzido.
2. No nível do discurso, os falantes/ouvintes, escritor/leitor devem ter
conhecimentos não só do ponto de vista lingüístico (dominar a língua, as
regras de organização de uma narrativa, de uma argumentação, etc.), mas
também de conhecimentos extralingüísticos: conhecimento para produzir
discursos adequados às diferentes situações em que atuamos na nossa
vida; conhecimentos de assuntos, temas que circulam na sociedade;
conhecimento das finalidades da troca verbal e para isso são importantes a
imagem que faço de mim, da minha posição, a imagem que tenho das
pessoas com quem falo, imagens que vão determinar a maneira como
devo falar com essas pessoas.
3. O discurso é contextualizado. Isto é, do ponto de vista discursivo, toda
frase (ou melhor, enunciado) só tem sentido no contexto em que é
produzido. Assim, um mesmo enunciado, produzido em momentos
diferentes (quer seja pelo mesmo sujeito ou por sujeitos diferentes) vai ter
sentidos diferentes e, portanto, pode corresponder a discursos diferentes.
4. O discurso é produzido por um sujeito – um EU que se coloca como o
responsável pelo que se diz (de forma explícita como num diário de
adolescente ou implícita como no discurso da ciência) e é em torno desse
sujeito que se organizam as referências de tempo e de espaço. Ex: no
enunciado: “Hoje meu depoimento será sobre a infância vivida na casa da
minha avó”, os termos “hoje”, “meu”, “minha” devem ser entendidos em
relação ao sujeito que fala e que se coloca como eu do discurso. E esse
sujeito que fala, assume uma atitude, um determinado comportamento (de
firmeza, dúvida, opinião) em relação àquilo que diz (usa para isso recursos

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da língua como: infelizmente, talvez, certamente, na verdade, eu acho) em


relação àquele com quem fala (explicitamente por expressões do tipo
Você, caro leitor, ou escolhendo os termos adequados ao nível sócio-
cultural, usando uma linguagem mais formal, gírias ou linguagem mais
formal de acordo com a situação).
5. O discurso é interativo, pois é uma atividade que se desenvolve, no mínimo
entre parceiros (marcados linguisticamente pelo binômio Eu- Você). A
conversação é o exemplo mais evidente dessa interatividade: os parceiros
monitoram a sua fala de acordo com a relação do outro. Mas, no discurso
escrito, o locutor está bem preocupado com o seu leitor, a ele dirigindo-se
explicitamente (como em “meu caro leitor”) ou procurando uma linguagem
adequada a ele (um livro de literatura infantil, um guia médico para pais
leigos em assuntos médicos têm toda uma linguagem voltada para o
público que se quer atingir) ou utilizando-se de estratégias de discurso
para se defender, antecipar a contra argumentação do leitor.
6. O discurso é uma forma de atuar, de agir sobre o outro. Quando
prometemos, ordenamos, perguntamos, etc, praticamos uma ação pela
linguagem (um ato de fala) que tem por objetivo modificar uma situação.
Por ex., o “eu te batizo X” pronunciado pelo padre numa cerimônia de
batismo muda a situação da pessoa no quadro da religião católica; numa
passeata, um cartaz com o enunciado “Não à corrupção” visa modificar
comportamentos de pessoas envolvidas nesse ato e mostra a atitude de
indignação daqueles que levam esse cartaz.
7. O discurso trabalha com enunciados concretos, falas/escritas realmente
produzidas (e não idealizadas, abstratas, como as frases da gramática) e
os estudos que se fazem deles visam descrever suas normas, isto é, como
funciona a língua no seu uso efetivo. Por ex., se alguém faz uma pergunta,
pressupõe-se que ele ignore a resposta e tem interesse nessa resposta; e,
ainda, que aquele a quem é feita a pergunta tem condições de responder-
lhe. Se essas regras não são obedecidas, por ex., se ele sabe a resposta,
mas pergunta assim mesmo, é porque o locutor tem intenções implícitas. O
interlocutor se pergunta então “por que razão, sabendo a resposta, ele me

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fez a pergunta assim mesmo?”, e por uma série de raciocínios (inferências)


vai procurar o sentido que está por trás.
8. Um princípio geral rege o discurso: o princípio do dialogismo. A palavra
dialogismo vem de diálogo – conversa, interação verbal que supõe pelo
menos dois falantes. Quando falamos nos dirigimos sempre a um
interlocutor; mesmo num monólogo (quando falamos com nós mesmos),
num diário, criamos uma personagem (um outro eu) com quem
imaginariamente dialogamos.
9. Mas o discurso é também dialógico porque quando falamos ou
escrevemos, dialogamos com outros discursos, trazendo a fala do outro
para nosso discurso. Isso se faz de forma explícita usando, por ex., o
discurso direto, indireto, indireto livre ou colocando palavras, enunciados
(do outro) entre aspas ou itálico. Mas podemos fazer isso de forma
implícita, sem dizer quem falou (e aquele que ouve ou lê, tem o mesmo
conhecimento de quem escreve ou fala vai entender, daí a importância da
leitura, da ampliação do conhecimento de mundo, do conhecimento
enciclopédico). Isso acontece, por ex., quando usamos um provérbio, um
dito popular, nas paródias, nas imitações, nas ironias, etc.
10. Por causa desse caráter dialógico da linguagem, dizemos que o discurso
tem um efeito polifônico. Isto é, porque meu discurso dialoga com outros
discursos, outras vozes nele presentes, vozes com as quais concordo (e
vêm reforçar o que eu digo) ou vozes das quais discordo total ou
parcialmente. Outra palavra usada para expressar esse caráter polifônico
da linguagem é heterogêneo. O discurso é heterogêneo (polifônico) porque
sempre é atravessado, habitado por várias outras vozes.
11. Todo discurso se constrói numa rede de outros discursos; em outras
palavras, numa rede interdiscursiva. Nenhum discurso é único, singular,
mas está em constante interação com os discursos que já foram
produzidos e estão sendo produzidos. Nessa relação interdiscursiva (com
outros discursos), quer citando, quer comentando, parodiando esses
discursos, disputa-se a verdade pela palavra numa relação de aliança, de
polêmica ou de oposição. É nesse sentido que se diz que o discurso é uma

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arena de lutas em que os locutores, vozes falando de posições ideológicas,


sociais, culturais diferentes procuram interagir e atuar uns sobre os outros.

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UNIDADE 5 - CONCEITOS-CHAVE: SENTIDO E SUJEITO

Para a AD, o caráter dialógico do discurso é constitutivo de seu sentido.


Isso significa que o sentido de uma formação discursiva depende da relação que
ela estabelece com as formações discursivas no interior do espaço
interdiscursivo. Dessa forma, tem-se que o sentido é um efeito de possibilidade de
substituição das expressões, sendo que o conjunto delas produz um efeito de
referência, isto é, tem o efeito de identificar objetos do mundo a partir de uma
visão entre outras.
Segundo Mussalim (2004, p. 131), “uma formação discursiva, apesar de
heterogênea, sofre as coerções da formação ideológica em que está inserida”.
Assim, as seqüências lingüísticas possíveis de serem enunciadas pelo sujeito já
estão previstas.
Pêcheux (1969) trata do sentido a partir de uma teoria do efeito metafórico:
sejam os termos x e y pertencentes a uma mesma categoria de uma língua L.
Existe pelo menos um discurso no qual x e y possam ser substituídos um pelo
outro, sem mudar a interpretação desse discurso? Três casos são logicamente
possíveis (POSSENTI, 2004, p.372):
(1) x e y nunca são substituíveis um pelo outro;
(2) x e y são substituíveis às vezes, mas não sempre;
(3) x e y são sempre substituíveis um pelo outro.

Aqui, os itens que importam são (2) e (3), em que há a possibilidade de


substituição. Em (2), x e y são substituíveis apenas em um dado contexto. Por
exemplo, temos as palavras brilhante (x) e inteligente (y), pode-se dizer Esse
professor é x/y, bem como A sua hipótese é x/y. Ambos são casos de substituição
contextual, no entanto, um termo não pode ser substituído pelo outro em A Luz
fluorescente é mais brilhante que a luz incandescente, sem que o sentido seja
alterado. Já (3) representa o caso em que x e y seriam intercambiáveis em
qualquer contexto, o que é extremamente raro, uma vez que as sinonímias são
contextuais. Assim, segundo Pêcheux (1969 apud POSSENTI, 2004, p.372):

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Chamaremos efeito metafórico o fenômeno semântico produzido por


uma substituição contextual, para lembrar que esse “deslizamento de
sentido” entre x e y é constitutivo do “sentido” designado por x e y; esse
efeito é característico dos sistemas lingüísticos “naturais”, por oposição
aos códigos e às “línguas artificiais”, em que o sentido é fixado em
relação a uma metalíngua “natural”.

Daí se conclui que o sentido não é função de um significante/palavra, mas


de uma dupla de significantes/palavras em relação de mútua substituibilidade,
mas apenas em cada discurso historicamente dado. Segundo Possenti (2004, p.
373), “isso se sustenta, nesta teoria, pelo fato de que o sentido das palavras em
um discurso remete sempre a ocorrências anteriores”. E, ainda, acrescenta:

3
Qualquer uma dessas posições implica uma memória discursiva, de
modo que as formulações não nascem de um sujeito que apenas segue
as regras de uma língua, mas do interdiscurso, vale dizer, as
formulações estão sempre relacionadas a outras formulações, sendo
que a relação metafórica que funciona como matriz do sentido é
historicamente dada.

Assim, tem-se que o sentido possui caráter necessariamente histórico. Isso


explica o porquê da importância das determinadas condições de produção para a
compreensão da posição ideológica em relação ao discurso. Não há, dessa
forma, sentido a priori, o sentido não existe antes do discurso. O sentido vai se
constituindo à medida que se constitui o próprio discurso. Segundo Mussalim
(2004, p. 132), “não existe, portanto, sentido em si, ele vai sendo determinado
simultaneamente às posições ideológicas que vão sendo colocadas em jogo na
relação entre as formações discursivas que compõem o interdiscurso”.

3
Qualquer enunciação pressupõe uma posição e é a partir dessa posição que os enunciados
recebem seu sentido.
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Um exemplo do que foi dito pode ser observado na charge que segue:

Nessa charge, temos o mesmo enunciado Vamos invadir o McDonald


produzido, porém, em diferentes contextos e por diferentes sujeitos. O fato de as
condições de produção serem diferentes faz com que o sentido também seja
diferente. Observe que no primeiro quadro os sujeitos que enunciam são
participantes do Fórum Social Mundial que são contrários à globalização e ao
neoliberalismo dos países ricos, enquanto que no segundo quadro os sujeitos
enunciadores são participantes do Fórum Econômico Mundial que reúne
representantes dos países mais ricos do mundo. Dessa forma, verifica-se que os
dois quadros representam formações discursivas divergentes em que os sujeitos
que falam representam posições políticas, sociais e ideológicas diferentes e é por

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isso que os enunciados, apesar de gramaticalmente idênticos, têm sentidos


diferentes.
Em nossa análise, apresentamos um outro conceito que, conforme
tratamos, tem um importante papel na construção do sentido de um discurso, o
sujeito.
Para abordagem o conceito de sujeito para a AD, buscaremos tratar de sua
evolução para a teoria, a partir das três fases fundamentais. Na AD-1, o sujeito é
concebido como assujeitado à maquinaria discursiva, já que estaria submetido às
regras específicas que delimitam o discurso que enuncia. Dessa forma, nesse
período quem de fato enuncia não seria o sujeito, mas uma instituição, uma teoria
ou uma ideologia. Assim, por exemplo, independente de que padre rezasse a
missa, o sermão carregaria o mesmo discurso, o discurso da igreja católica.
Na AD-2, com a noção de formação discursiva de Foucault, a noção de
sujeito sofre alterações e, da mesma forma que a formação discursiva, passa a
ser concebido como uma dispersão, isto é, o sujeito seria entendido como se
formado por elementos ligados entre si por um princípio de unidade. A partir de
então, o sujeito deixa de ser marcado pela unidade. Segundo Mussalim (2004,
p.133), “o sujeito passa a ser concebido como aquele que desempenha diferentes
papéis de acordo com as várias posições que ocupa no espaço interdiscursivo.
Outra peculiaridade com relação a essa fase é que o sujeito do discurso é
considerado como ocupando um lugar de onde enuncia, e é este lugar,
representativo de traços de determinado lugar social (o lugar do político, do
publicitário, do juiz, por exemplo), que determina o que ele pode ou não dizer a
partir dali. Isso significa dizer que o sujeito, nessa fase, é dominado por
determinada formação ideológica que preestabelece as possibilidades de sentido
de seu discurso. (MUSSALIM, 2004, p. 133).
Até as fases 1 e 2 da AD, não se reconhecia aspectos de individualidade
no sujeito, a crença era a de que a ideologia se manifestava através dele. Já na
AD-3, a noção de sujeito sofre um deslocamento que deu início à vertente atual
da Análise do Discurso.
A partir dessa terceira fase, a idéia de heterogeneidade provoca profundas
modificações na noção de discurso e, consequentemente, no conceito de sujeito,

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que começa a ser considerado essencialmente heterogêneo, clivado, ou seja, não


é uno.
As alterações mais importantes no conceito de sujeito nesse período da
AD-3 surgiram principalmente a partir da criação da noção de inconsciente. Com
essa teoria, o sujeito deixa de ser entendido em sua forma consciente para ser
tido como um sujeito clivado, dividido entre o consciente e o inconsciente. O
sujeito da AD se movimenta entre esses dois “espaços”, sem poder ser definido
de forma alguma como inteiramente consciente de seu discurso. A identidade do
sujeito é, então, definida também pelo discurso do inconsciente, o discurso do
“outro”. Assim, o sujeito perde a sua centralidade passando a ser encarado como
essencialmente heterogêneo, da mesma forma que o discurso o é. Segundo
Authier-Revuz (1982, apud MUSSALIM, 2004:134), a heterogeneidade mostrada
é uma tentativa do sujeito de explicitar a presença do outro no fio discursivo,
numa tentativa de harmonizar as diferentes vozes que atravessam seu discurso,
numa busca pela unidade, mesmo que ilusória.
Para Brandão (no prelo, p.8), o sujeito que produz o discurso, de acordo
com os princípios da AD, apresenta as seguintes características:
a) o sujeito do discurso é essencialmente marcado pela historicidade. Isto é,
não é o sujeito abstrato da gramática, mas um sujeito situado na história da
sua comunidade, num tempo e num espaço concreto;
b) o sujeito do discurso é um sujeito ideológico, isto é, sua fala reflete os
valores, as crenças de um momento histórico e de um grupo social;
c) o sujeito do discurso não é único, mas divide o espaço do seu discurso
com o outro na medida em que orienta, planeja, ajusta sua fala tendo em
vista seu interlocutor e também porque dialoga com a fala de outros
sujeitos (nível interdiscursivo);
d) porque na sua fala outras vozes também falam, o sujeito do discurso se
forma, se constitui nessa relação com o outro, com a alteridade. Isto é, da
mesma forma que tomo consciência de mim mesmo na relação que tenho
com os outros, o sujeito do discurso se constitui, se reconhece como tendo
uma determinada identidade na relação com outros discursos produzidos,
com eles dialogando, comparando pontos de vista, divergindo, etc.

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UNIDADE 6 - A TEORIA CRÍTICA DO DISCURSO

Até agora tratamos apenas da Análise do Discurso de vertente francesa, no


entanto, há outras teorias que também se dedicam aos estudos do discurso, uma
delas a Análise Crítica do Discurso - ACD.
Tendo sua origem no mundo anglo-saxão, essa teoria tem um maior
apreço pelo empirismo e pela questão textual. A maior distinção com relação à
Análise do Discurso de linha francesa, AD, refere-se, porém, à sua filiação teórica
e histórica.
Os trabalhos teóricos que falam da distinção entre a AD e ACD buscam
responder a um determinado conjunto de pressupostos que autorizam a
construção e a operacionalização do discurso como objeto de análise: trata-se do
chamado lugar de onde se fala e da chamada vigilância epistemológica. Pêcheux,
principal teórico da AD, e Fairclough, estudioso da ACD, partem de lugares
diferentes e isto acarreta ênfases e prioridades distintas.
Fairclough (1994) propôs a chamada teoria social do discurso e com isso
assumiu múltiplos deslocamentos: em relação a Saussure, à Sociolingüística e ao
que ele chama de abordagem estruturalista do analista de discurso francês,
corrente defendida por Michel Pêcheux. Segundo a proposta de Fairclough, para
o real entendimento do discurso é necessário se considerar o uso da linguagem
como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou como
reflexo de variáveis situacionais. O discurso deve ser visto como um modo de
ação, como uma prática que altera o mundo e altera os outros indivíduos no
mundo. Essa dimensão do discurso, constituída no social, possuiria três efeitos:
1) o discurso contribui para a construção do que é referido como "identidades
sociais" e posições de sujeito, para o sujeito social e os tipos de EU; 2) O discurso
contribui para a construção das relações sociais; 3) o discurso contribui para a
construção de sistemas de conhecimento e crença. Seriam essas as três funções
da linguagem, segundo o autor.
Nos termos em que é apresentada a noção de discurso dentro da moldura
teórica da ACD, a idéia de sujeito ganha divergências com relação a esse
conceito para a AD. Para a ACD, o processo de interpelação ideológica, tal como
é descrito na AD, é muito rígido e faz com que o sujeito desapareça ao estilo
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estruturalista. Para Fairclough, o agente-sujeito é uma posição intermediária,


situada entre a determinação estrutural e a ação consciente. Ao mesmo tempo
em que sofre uma determinação inconsciente, ele trabalha sobre as estruturas no
sentido de modificá-las conscientemente, em um espaço que se afirma muito
mais amplo que na AD. É como se a estrutura estivesse em constante risco
material em função de práticas cotidianas de agentes conscientes.
O discurso é ainda proposto como uma noção tri-dimensional como uma
tentativa de reunir três domínios: a teoria lingüística, a macro-sociologia e a micro-
sociologia. Esses três níveis compreendem a dimensão textual, que incorpora as
técnicas da lingüística sistêmica de Halliday, a dimensão da prática discursiva
como uma prática social de produção, distribuição e consumo de textos - uma
prática de atores ativos que atribuem sentido - e a dimensão social que trata das
práticas discursivas em relação à estrutura social.
Para Halliday (1989), o estudo da lingüística instrumental leva, ao mesmo
tempo, à compreensão da natureza da linguagem como um fenômeno integral. A
lingüística sistêmico-funcional, vertente seguida pelo autor, defende a idéia de
que os sistemas lingüísticos são abertos à vida social, pois se constroem na
interseção das macrofunções da linguagem: deacional – a construção e a
representação da experiência; interpessoal – a construção e a representação das
relações sociais e das identidades sociais; e textual – o estabelecimento de elos
coesivos (textura).
O texto na perspectiva de Fairclough, embasado nas teorias de Halliday, é
definido de duas maneiras: a) como dimensão semiótica da prática social; e b)
como contribuição discursiva produzida em um contexto social para ser retomada,
incorporada, questionada, ecoada, ironizada ou transformada em outros contextos
espaciais e temporais. Assim, a análise lingüística e a semiótica passam a ser um
dos pilares da teoria, juntamente com a análise interdiscursiva. Os textos são,
então, considerados em suas múltiplas formas, incluindo elementos orais, escritos
e visuais.
A partir da noção de semiótica, ciência geral dos signos, passou-se a
considerar como objeto de análise não somente o texto expresso em forma de
estruturas lingüísticas, mas também qualquer outro sistema de signos - Artes

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visuais, Música, Fotografia, Cinema, Culinária, Vestuário, Gestos, etc. Objetos de


estudo, como um filme ou uma estrutura de mitos, são encarados, a partir de
então, como textos que transmitem significados, sendo esses significados
tomados como derivações da interação ordenada de elementos portadores de
sentido, os signos, encaixados num sistema estruturado, de maneira parcialmente
análoga aos elementos portadores de significado numa língua. A partir, então, da
noção de semiótica, uma ilustração, por exemplo, mesmo que não contenha
nenhum texto escrito, como a que se segue abaixo, é vista como portadora de
sentido e passa a constituir objeto de análise discursiva.

Também é possível se perceber a diferença entre as duas abordagens -


AD e ACD - no que diz respeito à relação estrutura/acontecimento. Esses termos
se entrecruzam e encontram tratamento tanto de um lado como de outro, seja em
função de seu vasto leque de possibilidades metodológicas, seja em função da
dialética constitutiva da proposta de caracterização do discurso de Fairclough. O
acontecimento discursivo apresenta práticas discursivas e não-discursivas
motivadas estruturalmente, mas por outro lado, os sujeitos é que estão a todo o
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momento ressignificando, colocando as estruturas em jogo em suas práticas


discursivas. As estruturas e as práticas revelam-se fluidas, e essa mobilidade que
recoloca o sujeito, agora ator motivado seja intencional ou ideologicamente,
novamente no centro. O que é fundamental na AD, e ignorado na ACD, é a
sofisticação na definição da estrutura da língua, ou da materialidade lingüística -
expressão que fornece uma idéia mais completa do que se trata a língua: uma
estrutura atravessada por eventos sócio-históricos.
Os textos multimodais, como tratados pela ACD, são analisados, de um
lado, através de objetos tradicionais como o vocabulário, os aspectos semânticos
e a gramática; e de outro, aspectos como as formas de ligação frasal
(coesão/textura) e a estrutura global dos textos.
A gramática é analisada em três dimensões: a transitividade, a modalidade
e o tema, correspondendo às funções ideacional, interpessoal e textual. A
transitividade é estudada nos processos lingüísticos de apassivação, em que a
posição do agente na ordem da frase é alterada. O agente pode, também, ser
omitido, desconsiderando-se a responsabilidade pela ação. Outro processo ligado
à transitividade é a nominalização, caso em que se omitem o agente e o objeto,
como no exemplo “as invasões do Distrito Federal”, que é um sintagma nominal
derivado da oração “grupos de imigrantes/sem terra invadiram áreas do Distrito
Federal”. Como a apassivação, a nominalização é um processo ideológico, pois é
naturalizada e manipulada a idéia de invasão da terra pública. É sabido que
outros grupos fazem “grilagem” de áreas públicas no Distrito Federal, mas o ato
ilegal é atribuído aos imigrantes/sem terra. (COSTA et al., 1997).
O tema é analisado com relação aos elementos lingüísticos que ocorrem
em posição inicial (tema) e final (rema) na oração. A mudança desses elementos
na estrutura frasal está associada à ideologia. Geralmente, se movimenta para a
parte inicial a informação que é considerada mais relevante. Assim, em um
período como Mais uma vez, o presidente não sabe de nada, o autor enfoca a
questão da repetição ao mover a expressão mais uma vez para o início da
sentença. O período, que se refere ao desconhecimento do presidente Lula de
atos de corrupção ocorridos em seu governo, evidencia a posição do autor com

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relação à política brasileira em que freqüentemente há um político afirmando


ignorar estratégias de corrupção em sua gestão.
No quadro apresentado abaixo, é possível perceber a interação dos níveis
de produção que constituem o texto na perspectiva de Halliday adotada por
Faircoulgh.

Resumindo: na produção textual, há a interação de diversos níveis


(experiencial, interpessoal e textual) como forma de análise gramatical das frases
que produzem um texto, em conexão com o gênero discursivo, com as ideologias
(elemento cultural) e com o registro (elemento situacional).
Na perspectiva de Fairclough, o discurso se apresenta de três formas:
como ação, representação e identificação. Esses são os principais sentidos
construídos nos textos; a ação corresponde aos gêneros discursivos, a
representação, aos discursos e a identificação, aos estilos. Os gêneros
discursivos são (inter)ações, caracterizadas como formas textuais e sentidos
derivados dos propósitos das situações sociais, determinando os textos falados,
escritos e visuais.
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Para Faircoulgh, o foco dos estudos atuais deve estar na mudança social e
nas práticas discursivas que lutam por hegemonia, pois é dentro das práticas
discursivas que os conceitos são construídos, mas é também dentro delas que ele
pode ser desafiado, podendo, em alguns casos, levar a mudança.

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UNIDADE 7 - GÊNEROS DO DISCURSO

Por sua relação intrínseca, discurso e texto são frequentemente tratados


como uma mesma coisa, no entanto, há uma diferença sutil entre essas duas
idéias. O discurso, como dito anteriormente, carrega um conjunto de crenças e
valores e se manifesta linguisticamente através de textos. Dessa forma, a análise
de um discurso parte da análise de um texto, que pode ser oral, escrito ou visual.
O texto, por sua vez, é fruto de qualquer interação humana mediada pela língua,
assim, pode ser tanto escrito quanto oral.
Tudo que o homem faz e produz em termos de linguagem corresponde a
um discurso. Há o discurso político, o discurso científico, o religioso, o jornalístico,
dentre outros, e, uma vez que o discurso se realiza através do texto, para cada
um desses discursos há diferentes formatos de texto: discurso ou debate para o
discurso político, sermão ou oração para o discurso religioso e assim por diante.
Cada discurso corresponde, ainda, a uma esfera de atividade do homem que
exige do falante um uso diferente da linguagem, cada um desses “usos”
representa um gênero do discurso: um recado, uma reunião, uma aula, etc. Os
gêneros do discurso podem ser definidos, dessa forma, como diferentes formas
de uso da linguagem conforme as esferas de atividade em que está inserido o
falante/escritor.
Segundo Brandão (no prelo, p. 14):

A língua usada no dia a dia, a língua usada no trabalho, nas narrações


literárias, no tribunal, nos textos políticos etc. são modalidades diferentes
de uso da linguagem e mostram a necessidade de um falante versátil
que tenha múltiplos conhecimentos: conhecimento gramatical da língua,
do gênero adequado à situação, do nível de linguagem (formal ou
informal) apropriado. Isto é, para dar conta das diferentes situações, é
necessário que os falantes dominem a língua nas suas diferentes
variedades de uso.

Dessa forma, se, por exemplo, um cidadão for requisitar ao prefeito de sua
cidade a pavimentação de sua rua usando uma linguagem informal, cheia de
gírias, sem concordância, esse cidadão provavelmente não vai ser atendido.
Quando nos dirigimos a um interlocutor através da linguagem, nós o
fazemos dentro de um gênero do discurso adequado àquela situação. Em cada

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esfera de atividade social, os falantes utilizam a língua de acordo com gêneros de


discurso específicos.
Marcuschi (2002) ressalta ainda que o falante, muitas vezes, especifica em
sua fala o gênero de texto que está produzindo ou a que está se referindo. Isso
acontece quando dizemos, por exemplo, “Na aula de ontem...”, “Na conversa que
tivemos...” ou “Na entrevista do deputado...”. Aula, conversa e entrevista
constituem gêneros discursivos muito comuns e apresentam peculiaridades que
os delimita e define, e é assim com muitos outros gêneros. No gênero discursivo
telefonema, por exemplo, espera-se certas marcas lingüísticas como um Alô.
Quem está falando?
Agora, observe o seguinte texto:

Bacalhau com broa

Ingredientes: Mulher, bacalhau, espinafres, broa de milho, azeite, alho,


cebola, batata e sal.
Modo de preparação: Coloque a mulher na cozinha com os ingredientes
e feche a porta.
Espere duas horas e seja servido.

O texto acima, embora apresente o formato do gênero discursivo receita,


trata-se, na verdade de uma piada, e servirá de ilustração ao que estamos
tratando. O formato do texto imita a formula lingüística de uma receita, como
dissemos. Insere-se os tópicos Ingredientes e Modo de preparação tal como
ocorre em uma receita, mas ao se acrescentar o “ingrediente” mulher e pela forma
como é descrita a preparação, percebe-se que trata-se na verdade de um outro
gênero, a piada. O efeito cômico do texto surge, principalmente, da mistura dos
gêneros, que quebra a expectativa do ouvinte/ leitor.
Se os gêneros podem ser misturados e com isso apresentar um formato
diferenciado, conforme observado na piada acima, como reconhecemos um certo
gênero do discurso? Embora os gêneros possam variar em certos momentos, há
pelos menos três características estáveis que permitem a sua classificação, são
elas: o tema, que diz respeito ao conteúdo; as estruturas proposicionais
específicas; e o estilo, os recursos lingüísticos utilizados.
Segundo Bakhtin (1992, apud BRANDÃO, no prelo, p.16), existem
basicamente dois tipos de gêneros do discurso:
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a) Gênero de discursos primários (ou livres) – são aqueles da vida cotidiana


quem mantém uma relação imediata com as situações nas quais são produzidos;
não precisamos passar por uma escola para aprender como eles funcionam, uma
vez que são adquiridos nas nossas relações e experiências do dia a dia. São
exemplos o telefonema, o bilhete, uma conversa, etc.
b) Gênero de discursos segundos (seguem modelos construídos socialmente) –
são os que aparecem em situações de “troca cultural (principalmente escrita) mais
complexa e relativamente mais evoluída” como as que se dão nas manifestações
artísticas, científicas, políticas, jurídicas, etc. Esses discursos segundos (textos
literários, peças teatrais, discursos políticos, etc.) podem explorar, recuperar ou
incorporar os discursos primários, que perdem desde então sua relação direta
com o real, passando a ser uma representação de uma situação concreta de
comunicação (numa obra literária, numa novela temos personagens não numa
situação real, mas numa representação dessa). Para dominar os gêneros
segundos, geralmente precisamos de uma educação formal.
Um gênero, como afirmamos anteriormente, possui algumas características
estáveis, no entanto, ele não é uma forma fixa. Por estar intrinsecamente
relacionado a uma dada atividade humana, o gênero está sujeito a alterações de
ordem cultural e histórica. Ele evolui na mesma medida em que a atividade
humana evolui. Um currículo, por exemplo, há alguns anos atrás era composto de
muitas páginas em que se detalhavam todo tipo de informação com relação à
atividade profissional de uma pessoa; nos dias de hoje, em que as ações são
mais dinâmicas, passou-se a valorizar não mais um currículo extenso, mas uma
forma mais sucinta em que estejam descritas informações profissionais que sejam
realmente relevantes ao cargo que o candidato deseja ocupar. Assim, o gênero
currículo passou por alterações e evoluções que tiveram sua origem em
alterações e evoluções histórico-culturais.
Há, ainda, que se ressaltar que da mesma forma que gêneros sofrem
alterações, eles podem também cair em desuso ou serem criados. A carta é um
exemplo de gênero que caiu em desuso e, concomitantemente, o e-mail é um
exemplo de gênero novo. Os gêneros novos, no entanto, não surgem do nada.

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Geralmente, eles nascem ancorados em outros gêneros já existentes – como o e-


mail que tem sua raiz no gênero carta.
Segundo Brandão (no prelo, p. 18):

(...) no gênero sempre existe um duplo movimento: repetição e mudança,


isto é, uma tensão entre aspectos que permanecem e, portanto, nos
possibilitam a reconhecer o gênero e aspectos que forçam a incorporar
elementos novos, variáveis que provocam a mudança. Em relação ao
gênero carta e suas variantes lembrete, memorando, telegrama (...) ao
lado das mudanças ocorridas, um ou outro aspecto sempre permanece,
como indicação de local e data, vocativo, forma de iniciar, forma de
despedir, assinatura, possibilitando o reconhecimento de qual
modalidade de gênero se trata.

Assim, entendemos que há gêneros que apresentam maior possibilidade


de variação, enquanto que há outros que pouco variam. Brandão apresenta
alguns exemplos:
1. As cartas comerciais, requerimentos, lista telefônica, textos cartoriais e
administrativos são fórmulas e esquemas composicionais pré-
estabelecidos, pouco ou nada sujeitos a variações;
2. Um jornal televisionado, uma reportagem, um guia de viagem seguem
também esquemas pré-estabelecidos, mas toleram desvios, permitindo
recurso a estratégias mais originais, a variações mais particulares. Um guia
de viagem pode desviar-se da forma habitual do gênero e apresentar-se
por meio de uma narrativa de aventuras, ou um diálogo entre amigos;
3. Certos tipos de anúncios publicitários, letras de música, textos literários
constituem gêneros que buscam a inovação, provocam rupturas em
relação ao esperado, revelando-se diferentes em relação ao gênero
original.

Retornando aos pressupostos da ACD, segundo Fairclough (2003), há


dificuldades na conceituação de gênero discursivo devido ao processo
contemporâneo de desencaixe de gêneros das práticas sociais tradicionais
atribuído ao capitalismo globalizado. Nas palavras do autor, “O desencaixe de
gêneros é uma parte da reestruturação e do reescalonamento do capitalismo.”
(Fairclough, 2003: 69).

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A tendência à mudança nos gêneros discursivos atuais se deve, segundo a


ACD, às relações interdiscursivas, bastante comuns nas práticas sociais
globalizadas, como é o caso da publicidade, por exemplo. O efeito da
interdiscursividade nas identidades sociais é o hibridismo genérico que contribui
para o hibridismo de identidades. Isso ocorre nas relações de gênero social. Ou
seja, nas práticas sociais capitalistas é comum se perceber a “influência” ou
mesmo o diálogo entre campos diferentes – o que define a interdiscursividade – e,
a partir disso, é possível se perceber a mescla de identidades no interior de
discursos. Assim, os textos corresponderiam a espaços de luta constituídos de
diferentes discursos e ideologias que buscam uma hegemonia.
Os gêneros discursivos, como dissemos, manifestam-se através de textos.
Os textos por sua vez se subdividem, de acordo com sua organização
enunciativa, em tipos. Os tipos textuais referem-se à organização do texto e
podem ser classificados em narrativa, descrição, argumentação e explicação. A
cada um desses tipos textuais são relacionados gêneros do discurso. À narração,
por exemplo, são integrados os contos, as fábulas, as lendas, dentre outras; já à
descrição são inventariados os manuais de instrução de uso ou de montagem, as
receitas, os regulamentos, as regras do jogo, etc.

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UNIDADE 8 - PASSOS PARA UMA ANÁLISE

Durante a descrição do que vem a ser a Análise do Discurso,


apresentamos conceitos, explicações e pequenas análises com o objetivo de
aproximar o leitor de uma metodologia de trabalho em análise do discurso. Nessa
seção, no entanto, não apresentaremos uma análise pronta, mas sim uma
proposta de análise. Leia, então, a crônica abaixo e tente responder às perguntas
indicadas no fim do texto e realize a sua análise. Bom trabalho!

Como o rei de um país chuvoso


Um espectro ronda o mundo atual: o espectro do tédio. Ele se manifesta de
diversas maneiras. Algumas de suas vítimas invadem o “shopping center” e,
empunhando um cartão de crédito, comprometem o futuro do marido ou da mulher e dos
filhos. A maioria opta por ficar horas diante da TV, assistindo a “reality shows”, os quais,
por razões que me escapam, tornam interessante para seu público a vida comum de
estranhos, ou seja, algo idêntico à própria rotina considerada vazia, claustrofóbica.
O mal ataca hoje em dia faixas etárias que, uma ou duas gerações atrás,
julgávamos naturalmente imunizadas a seu contágio. Crianças sempre foram capazes de
se divertir umas com as outras ou até sozinhas. Dotadas de cérebros que, como
esponjas, tudo absorvem e de um ambiente, qualquer um, no qual tudo é novo, tudo é
infinito, nunca lhes faltam informação e dados a processar. Elas não precisam ser
entretidas pelos adultos, pois o que quer que estes façam ou deixem de fazer lhes
desperta, por definição, a curiosidade natural e aguça seus instintos analíticos. E,
todavia, os pais se vêem cada vez mais compelidos a inventar maneiras de distrair seus
filhos durante as horas ociosas destes, um conceito que, na minha infância, não existia. É
a idéia de que, se a família os ocupar com atividades, os filhos terão mais facilidades na
vida.
Sendo assim, os pais, simplesmente, não deixam os filhos pararem.
Se o mal em si nada tem de original e, ao que tudo indica, surgiu, assim
como o medo, o nojo e a raiva, junto com nossa espécie ou, quem sabe, antes,
também é verdade que, por milênios, somente uma minoria dispunha das
precondições necessárias para sofrer dele. Falamos do homem cujas refeições da
semana dependiam do que conseguiria caçar na segunda-feira, antes de, na
terça, estar fraco o bastante para se converter em caça e de uma mulher que, de
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sol a sol, trabalhava com a enxada ou o pilão. Nenhum deles tinha tempo de
sentir o tédio, que pressupõe ócio abundante e sistemático para se manifestar em
grande escala. Ninguém lhe oferecia facilidades. Por isso é que, até onde a
memória coletiva alcança, o problema quase sempre se restringia ao topo da
pirâmide social, a reis, nobres, magnatas, aos membros privilegiados de
sociedades que, organizadas e avançadas, transformavam a faina abusiva da
maioria no luxo de pouquíssimos eleitos.
O tédio, portanto, foi um produto de luxo, e isso até tão recentemente que
Baudelaire, para, há século e meio, descrevê-lo, comparou-se ao rei de um país
chuvoso, como se experimentar delicadeza tão refinada elevasse socialmente
quem não passava de “aristocrata de espírito”.
Coube à Revolução Industrial a produção em massa daquilo que,
previamente, eram raridades reservadas a uma elite mínima. E, se houve um
produto que se difundiu com sucesso notável pelos mais inesperados andares e
recantos do edifício social, esse produto foi o tédio. Nem se requer uma fartura de
Primeiro Mundo para se chegar à sua massificação. Basta, a rigor, que à
satisfação do biologicamente básico se associe o cerceamento de outras
possibilidades (como, inclusive, a da fuga ou da emigração), para que o tempo
ocioso ou inútil se encarregue do resto. Foi assim que, após as emoções
fornecidas por Stalin e Hitler, os países socialistas se revelaram exímios
fabricantes de tédio, único bem em cuja produção competiram à altura com seus
rivais capitalistas. O tédio não é piada, nem um problema menor. Ele é central. Se
não existisse o tédio, não haveria, por exemplo, tantas empresas de
entretenimento e tantas fortunas decorrentes delas. Seja como for, nem esta nem
soluções tradicionais (a alta cultura, a religião organizada) resolverão seus
impasses. Que fazer com essa novidade histórica, as massas de crianças e
jovens perpetuamente desempregados, funcionários, gente aposentada e
cidadãos em geral ameaçados não pela fome, guerra ou epidemias, mas pelo
tédio, algo que ainda ontem afetava apenas alguns monarcas?
ASCHER, Nélson, Folha de S. Paulo, 9 abr. 2007, Ilustrada. (Texto adaptado)

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- O Sujeito:
Quem é o autor do texto?
O que o mobilizou a escrevê-lo?
Qual o seu lugar social? Profissão, ocupação, engajamento.

- O Contexto:
A que gênero do discurso pertence o texto?
Qual o sentido histórico-social desse gênero discursivo? Em que circunstâncias e
com que objetivos ele é frequentemente utilizado?
Qual o assunto do texto?

- Analisando...
Há conflito entre diferentes discursos ou trata-se da exposição de um único
discurso?
Como o autor se coloca frente o tema?
Em que consiste a posição ideológica do autor?
O que se pode inferir a partir do posicionamento ideológico do autor?

- Checando a metodologia?
De que forma você chegou ao posicionamento do autor com relação ao tema?
Que recursos ele usou?
Em que corrente teórica você se baseou?

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UNIDADE 9 - OUTROS CONCEITOS FUNDAMENTAIS

A partir do que vimos tratando, chega-se à noção de discurso como toda


atividade comunicativa, produtora de sentidos, entre interlocutores. É uma
atividade de construção de sentidos entre falantes na qual o que se diz significa
em relação ao que é dito, ao efeito que se pretende atingir; significa em relação
ao lugar social de onde se diz, a quem se diz; significa em relação a outros
discursos que circulam na sociedade. Os conceitos de sentido e sujeito são,
dessa forma, fundamentais à disciplina. No entanto, há ainda outros tantos
conceitos que são caros à AD e os quais apresentamos abaixo:

Dialogismo – todo discurso tem uma dimensão dialógica, isto é, uma espécie de
diálogo na medida em que quando falamos ou escrevemos, temos em mente a
pessoa que nos escuta ou nos lê e também na medida em que trazemos ao
nosso discurso as falas de outros usando a citação (discurso direto, indireto,
aspas) de forma clara ou não (implícito). (BRANDÃO, no prelo, p.25).

Enunciado – é uma noção discursiva que se opõe à noção de frase gramatical.


Ou seja, uma frase é abstrata, não é produto de um sujeito concreto, tem um
sentido neutro ao passo que o enunciado é produzido por um sujeito concreto (de
carne e osso), por isso é concreto, expressa as atitudes desse sujeito (suas
idéias, preconceitos, crenças emoções, etc.). (BRANDÃO, no prelo, p.25).

Formação discursiva – conjunto de enunciados ou textos marcados por certas


características comuns em relação à linguagem usada ou aos temas discutidos ou
às posições ideológicas. Uma formação discursiva remete a uma mesma
formação ideológica, mas uma formação discursiva não é homogênea, isto é, pelo
caráter dialógico da linguagem, uma formação discursiva tem dentro de si outras
formações discursivas com as quais dialoga, quer para contestá-las quer para a
elas unir sua voz. (BRANDÃO, no prelo, p.25).

Formação ideológica – conjunto de atitudes e representações que os falantes têm


sobre si mesmos e sobre o interlocutor e o assunto em pauta; essas atitudes e
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representações estão relacionadas com a posição social de onde falam ou


escrevem, com as relações de poder (muitas vezes contraditórias, conflituosas)
que se estabelecem entre eles. (BRANDÃO, no prelo, p.25).

Implícito – do ponto de vista da comunicação, dependendo do contexto em que


um enunciado é dito, por detrás de seu sentido explícito pode estar um sentido
oculto ou implícito que o ouvinte ou leitor deve construir (ou inferir, deduzir)
levando em conta os fatores extralingüísticos. Por exemplo, “Faz calor” pode
significar simplesmente que faz calor ou pode significar também, em outros
contextos, “Abra a janela” ou “Desligue o aquecedor”. (BRANDÃO, no prelo, p.26).

Interdiscurso – a relação de diálogo que um discurso trava com outros discursos:


todo discurso nasce de um trabalho sobre outros discursos, isto é, ao falar
citamos, discutimos, polemizamos com outros discursos situados no presente ou
no passado. A interdiscursividade é própria de todo discurso e é conseqüência do
principio do dialogismo que caracteriza a linguagem humana. (BRANDÃO, no
prelo, p.26).

Interlocutor – é a pessoa que dialoga, discute, conversa com o outro. No plural,


interlocutores, pode significar ainda as pessoas envolvidas numa situação de
interação comunicativa, um sendo o interlocutor do outro. (BRANDÃO, no prelo,
p.26).

Polifonia – esse conceito foi elaborado inicialmente pelo teórico russo Mikhail
Bakhtin que o aplicou à literatura; foi retomado posteriormente pelo lingüista
francês Oswald Ducrot que lhe deu um enfoque lingüístico. Refere-se à qualidade
de todo discurso estar tecido pelo discurso do outro, de toda fala estar
atravessada pela fala do outro, criando um efeito de entrecruzamento de vozes
em relação de aliança ou de polêmica. (BRANDÃO, no prelo, p.26).

Semiótica - é a ciência geral dos signos, estuda todos os fenômenos culturais


como se fossem sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação. Ocupa-se do

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estudo do processo de significação ou representação. Tem diversas aplicações,


uma das quais é servir como ferramenta para o estudo de Comunicação e de
Lingüística. Teve suas bases lançadas entre o final do século XIX e o início do
século XX. Os princípios fundamentais foram estabelecidos por dois cientistas: o
americano Charles S. Peirce e o suíço Ferdinand de Saussure. Dada a sua
natureza, a Semiótica é muito útil no estudo de qualquer fenômeno relacionado à
transmissão e retenção de informação: a Linguagem, as Artes, a própria
Comunicação.

Texto – é constituído pelos falantes em suas relações interacionais, constituindo-


se num todo significativo com começo, meio e fim. Como unidade complexa de
significação, sua produção e compreensão deve levar em conatas as condições
de sua produção (situação de enunciação, interlocutores, contexto histórico
social), exigindo de seus participantes conhecimentos não só lingüísticos como
conhecimentos extra-lingüísticos (conhecimento de mundo, saber enciclopédico,
determinações sócio-culturais, ideológicas, etc.). (BRANDÃO, no prelo, p.27).

Tipo textual – a maneira como um gênero discursivo (notícia, carta, etc.) se


organiza (por narração, descrição, argumentação ou explicação); construção feita
pelo falante que escolhe os recursos da língua e expressa sua atitude (certeza,
dúvida, opinião, ironia, etc.) em relação ao assunto que está tratando e em
relação ao seu interlocutor. (BRANDÃO, no prelo, p.27).

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UNIDADE 10 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante essa exposição, buscamos abordar os temas que consideramos


mais importantes dentro do quadro teórico da Análise do Discurso. Pensando em
um leitor que esteja ainda iniciando seu percurso nos estudos do discurso,
descrevemos o nascimento da teoria, suas bases epistemológicas; apresentamos
os principais conceitos; e apontamos as ramificações presentes na teoria.
Assim espera-se que o leitor tenha compreendido a posição que a Análise
do Discurso ocupa dentro dos estudos lingUísticos, bem como assimilado os
conceitos que embasam a teoria, a saber: o discurso, o sentido, o sujeito, as
condições de produção. Considerando, principalmente, que a AD não se limita à
análise das estruturas lingUísticas, mas se situa num campo interdisciplinar em
que se observa efeitos histórico- ideológicos.
Estudar a língua do ponto de vista discursivo é se enveredar pelos
caminhos e processos presentes nas diversas atividades humanas. Abre-se mão
de um estudo puramente gramatical para se abordar a História, a Sociologia, a
Psicanálise numa análise dialógica e interdisciplinar.
Espera-se que o conteúdo tenha sido suficiente para despertar o interesse
do leitor pelo tema.

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LACAN, Jacques. O seminário. O eu na teoria de Freud e na técnica da


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Indicação de leitura

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