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Mecânica dos Fluidos - ME5320/NM6320 Análise Diferencial

CONSERVAÇÃO DA MASSA

Equação da Continuidade na Forma Diferencial

O princípio da conservação da massa adequado a abordagem de volume de


controle (VC) pode ser formulado do seguinte modo:
𝜕𝜌
𝑑𝑉 + 𝜌𝑉 . 𝑛𝑑𝐴 = 0
𝑉𝐶 𝜕𝑡 𝑆𝐶

A primeira integral representa a taxa de variação temporal da massa contida no VC


e a segunda integral representa o fluxo líquido de massa identificado na superfície de
controle (SC). Esta equação é válida para volumes de controle fixos e móveis, desde que o
vetor velocidade seja a velocidade absoluta (observador fixo). Quando houver entradas e
saídas bem definidas a equação pode ser reescrita como:
𝜕𝜌
𝑑𝑉 = 𝑚− 𝑚
𝑉𝐶 𝜕𝑡
𝑒 𝑠

Ou seja, a taxa de variação total da massa dentro do


volume de controle é igual à taxa na qual a massa flui para
dentro do volume de controle, menos a taxa na qual a massa
flui para fora do volume de controle.

Para dedução da equação da continuidade na forma


diferencial, em coordenadas retangulares, o volume de
controle escolhido será um cubo infinitesimal com os lados de
comprimento dx, dy e dz.

A massa específica do fluido no centro do VC é ρ e


os componentes do vetor velocidade do escoamento, no
mesmo ponto, são u, v e w.

As vazões em massa nas SC do elemento serão


avaliadas separadamente, ou seja, será tratada
individualmente os escoamentos nas direções x, y e z.
Para avaliar as propriedades em cada uma das seis faces

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da SC, usaremos uma expansão por séries de Taylor em torno do ponto P. Por exemplo, a
face direita está a uma distância dx/2 do centro do VC na direção x, a massa específica na
face direita será:
2
𝜕𝜌 𝑑𝑥 𝜕 2 𝜌 1 𝑑𝑥
𝜌 𝑥+𝑑𝑥 /2 =𝜌+ + +⋯
𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2 2! 2

Desprezando os termos de segunda ordem, terceira ordem e posteriores, a massa


específica na face direita será:

𝜕𝜌 𝑑𝑥
𝜌 𝑥+𝑑𝑥 /2 =𝜌+
𝜕𝑥 2

analogamente, a velocidade na face direita será:

𝜕𝑢 𝑑𝑥
𝑢 𝑥+𝑑𝑥 /2 =𝑢+
𝜕𝑥 2

A massa específica e a velocidade na face esquerda são:

𝜕𝜌 𝑑𝑥
𝜌 𝑥−𝑑𝑥 /2 =𝜌−
𝜕𝑥 2
𝜕𝑢 𝑑𝑥
𝑢 𝑥−𝑑𝑥 /2 =𝑢−
𝜕𝑥 2

As vazões em massa por unidade de área (𝜌𝑢) nas faces direita e esquerda são:

𝜕𝜌 𝑑𝑥 𝜕𝑢 𝑑𝑥 𝜕𝜌 𝜕𝑢 𝑑𝑥 𝜕 𝜌𝑢 𝑑𝑥
𝜌𝑢 𝑥+𝑑𝑥 /2 = 𝜌+ 𝑢+ = 𝜌𝑢 + 𝑢 +𝜌 = 𝜌𝑢 +
𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2

𝜕𝜌 𝑑𝑥 𝜕𝑢 𝑑𝑥 𝜕𝜌 𝜕𝑢 𝑑𝑥 𝜕 𝜌𝑢 𝑑𝑥
𝜌𝑢 𝑥−𝑑𝑥 /2 = 𝜌− 𝑢− = 𝜌𝑢 − 𝑢 +𝜌 = 𝜌𝑢 −
𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2

Quando multiplicamos as expressões anteriores pela área (dy.dz) obtemos as


vazões em massa de fluido nas faces direita e esquerda do elemento. Portanto, as vazões
em massa que entra e sai através
das faces direita e esquerda do
elemento, ou seja, a vazão em
massa líquida na direção x do
elemento será:

𝜕 𝜌𝑢 𝑑𝑥 𝜕 𝜌𝑢 𝑑𝑥 𝜕 𝜌𝑢
vazão massa líquidadireção x = 𝜌𝑢 + 𝑑𝑦𝑑𝑧 − 𝜌𝑢 − 𝑑𝑦𝑑𝑧 = 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧
𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥

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Consideramos apenas o escoamento na direção x para simplificar a análise mas,


normalmente, temos escoamentos nas direções y e z do elemento. Para avaliar as vazões
em massa que entram e saem
do VC, devemos avaliar a
vazão em massa através de
cada uma das seis faces do
VC. As componentes da
velocidade em cada uma das
faces foram admitidas como
estando nos sentidos positivos
dos eixos das coordenadas.

Vazão em massa para dentro do VC:

𝜕 𝜌𝑢 𝑑𝑥 𝜕 𝜌𝑣 𝑑𝑦 𝜕 𝜌𝑤 𝑑𝑧
𝑚 ≅ 𝜌𝑢 − 𝑑𝑦𝑑𝑧 + 𝜌𝑣 − 𝑑𝑥𝑑𝑧 + 𝜌𝑤 − 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2
𝑒

Vazão em massa para fora do VC:

𝜕 𝜌𝑢 𝑑𝑥 𝜕 𝜌𝑣 𝑑𝑦 𝜕 𝜌𝑤 𝑑𝑧
𝑚 ≅ 𝜌𝑢 + 𝑑𝑦𝑑𝑧 + 𝜌𝑣 + 𝑑𝑥𝑑𝑧 + 𝜌𝑤 + 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2
𝑠

A massa dentro do VC, em qualquer instante, é o produto da massa específica pelo


volume. Assim, à medida que o VC encolhe para um ponto, a taxa de variação da massa
dentro do VC é dada por:

𝜕𝜌 𝜕𝜌
𝑑𝑉 ≈ 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧
𝑉𝐶 𝜕𝑡 𝜕𝑡

Sendo:

𝜕𝜌
𝑑𝑉 = 𝑚− 𝑚
𝑉𝐶 𝜕𝑡
𝑒 𝑠

𝜕𝜌 𝜕 𝜌𝑢 𝑑𝑥 𝜕 𝜌𝑣 𝑑𝑦 𝜕 𝜌𝑤 𝑑𝑧
𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = 𝜌𝑢 − 𝑑𝑦𝑑𝑧 + 𝜌𝑣 − 𝑑𝑥𝑑𝑧 + 𝜌𝑤 − 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝜕𝑡 𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2
𝜕 𝜌𝑢 𝑑𝑥 𝜕 𝜌𝑣 𝑑𝑦 𝜕 𝜌𝑤 𝑑𝑧
− 𝜌𝑢 + 𝑑𝑦𝑑𝑧 + 𝜌𝑣 + 𝑑𝑥𝑑𝑧 + 𝜌𝑤 + 𝑑𝑥𝑑𝑦
𝜕𝑥 2 𝜕𝑦 2 𝜕𝑧 2

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Desprezando os termos de segunda ordem e simplificando, tem-se:

𝜕𝜌 𝜕 𝜌𝑢 𝜕 𝜌𝑣 𝜕 𝜌𝑤
𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 = − 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 − 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧 − 𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Dividindo pelo volume do elemento (dx.dy.dz), obtemos a equação diferencial para


conservação da massa em coordenadas cartesianas, também chamada de equação
diferencial da continuidade:

𝜕𝜌 𝜕 𝜌𝑢 𝜕 𝜌𝑣 𝜕 𝜌𝑤
+ + + =0
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

A equação da continuidade é uma das equações fundamentais da mecânica dos


fluidos. Note que ela é válida tanto para os escoamentos incompressíveis quanto para os
compressíveis.

É comum utilizar a notação vetorial para expressar a equação da continuidade,


𝜕( ) 𝜕( ) 𝜕( )
sendo o operador vetorial, ∇, em coordenadas retangulares dado por ∇= 𝑖+ 𝑗+ 𝑘,
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧
𝜕 𝜌𝑢 𝜕 𝜌𝑣 𝜕 𝜌𝑤
então os termos + + da equação da continuidade podem ser escritos assim:
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

𝜕 𝜌𝑢 𝜕 𝜌𝑣 𝜕 𝜌𝑤
+ + = ∇. 𝜌V (o operador del ∇ age sobre ρ e V).
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Então, a equação diferencial da continuidade pode ser escrita como:

𝜕𝜌
+ ∇. 𝜌V = 0
𝜕𝑡

Casos particulares

Escoamento compressível e regime permanente (𝜕𝜌 𝜕𝑡 = 0):

∇. 𝜌V = 0

𝜕 𝜌𝑢 𝜕 𝜌𝑣 𝜕 𝜌𝑤
+ + =0
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Escoamento incompressível (ρ=constante) :

∇. V = 0

𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑤
+ + =0
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

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Exercícios

1- Quais dos seguintes conjuntos de equações representam possíveis casos de


escoamento incompressível?

a) 𝑢 = 𝑥 + 𝑦 ; 𝑣 =𝑥−𝑦

b) 𝑢 = 𝑥 + 2𝑦 ; 𝑣 = 𝑥2 − 𝑦2

c) 𝑢 = 4𝑥 + 𝑦 ; 𝑣 = 𝑥 − 𝑦2

d) 𝑢 = 𝑥𝑡 + 2𝑦 ; 𝑣 = 𝑥 2 − 𝑦𝑡 2

e) 𝑢 = 𝑥𝑡 2 ; 𝑣 = 𝑥𝑦𝑡 − 𝑦 2

f) 𝑢 = 2𝑥 2 + 𝑦 2 ; 𝑣 = 𝑥 3 − 𝑥 𝑦 2 − 2𝑦

g) 𝑢 = 2𝑥𝑦 − 𝑥 2 + 𝑦 ; 𝑣 = 2𝑥𝑦 − 𝑦 2 + 𝑥 2

h) 𝑢 = 𝑥𝑡 + 2𝑦 ; 𝑣 = 𝑥𝑡 2 − 𝑦𝑡

i) 𝑢 = 𝑥 + 2𝑦 𝑥𝑡 ; 𝑣 = 2𝑥 − 𝑦 𝑦𝑡

k) 𝑢 = 𝑥 + 𝑦 + 𝑧 2 ; 𝑣 =𝑥−𝑦+𝑧 ; 𝑤 = 2𝑥𝑦 + 𝑦 2 + 4

l) 𝑢 = 𝑥𝑦𝑧𝑡 ; 𝑣 = −𝑥𝑦𝑧𝑡 2 ; 𝑤 = 0,5𝑧 2 𝑥𝑡 2 − 𝑦𝑡

m) 𝑢 = 𝑦 2 + 2𝑥𝑧 ; 𝑣 = −2𝑦𝑧 + 𝑥 2 𝑦𝑧 ; 𝑤 = 0,5𝑥 2 𝑧 2 + 𝑥 3 𝑦 4

2 - Para um escoamento bidimensional a componente y da velocidade é dada por

𝑣 = 𝑦 2 − 2𝑥 + 2𝑦. Encontre uma possível componente x da velocidade (u) para o


escoamento permanente incompressível. Quantas possíveis componentes x existem? Qual
a mais simples componente x da velocidade para esse campo de escoamento?

3 - Para um escoamento bidimensional a componente x da velocidade é dada por

𝑢 = 2𝑥(𝑦 − 1) , onde x e y são medidos em metros. Encontre uma possível componente y


da velocidade (u) para o escoamento permanente incompressível.

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4 - Para um certo escoamento em regime permanente e bidimensional, a massa específica


varia linearmente com a direção x, isto é, 𝜌 = 𝐴𝑥 , onde A é uma constante. Sendo a
componente x da velocidade dada por 𝑢 = 𝑦 , determine uma possível componente y da
velocidade (v) para o escoamento.

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