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FUNDAÇÃO FRANCISCO MASCARENHAS

FACULDADES INTEGRADAS DE PATOS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO (LATO SENSU)
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA DA PARAÍBA

VIRGÍNIA REGIS DE BARROS CORREIA KYOTOKU

A IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL:


RASTROS NA PARAÍBA (1938-1985)

JOÃO PESSOA -PARAÍBA


JULHO /2009
VIRGÍNIA REGIS DE BARROS CORREIA KYOTOKU

A IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL:


RASTROS NA PARAÍBA (1938-1985)

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO –


APRESENTADO À COORDENAÇÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO
EM HISTÓRIA DA PARAÍBA MINISTRADO PELAS FACULDADES INTEGRADAS
DE PATOS, EM CUMPRIMENTO ÀS EXIGÊNCIAS PARA A OBTENÇÃO DO
TÍTULO DE ESPECIALISTA.

ORIENTADORA: PROFª. DRª. KEILA QUEIROZ E SILVA RAMOS


CO-ORIENTADORA: PROFª. DRª. CLÁUDIA ENGLER CURY

JOÃO PESSOA - PARAÍBA


JULHO /2009
VIRGÍNIA REGIS DE BARROS CORREIA KYOTOKU

A IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL:


RASTROS NA PARAÍBA (1938-1985)

TRABALHO APROVADO EM ______/ ____________/ ________

NOTA _____________________________________

PROFESSOR(A) _________________________________

JOÃO PESSOA - PARAÍBA


JULHO /2009
Dedico este trabalho ao meu marido Mauro
e aos meus filhos Bernardo, Gustavo e Ana Clara.
Aos meus pais, Amaury e Laurita,
que infelizmente não estão entre nós,
mas tenho certeza de que eles iriam gostar.
Meu pai, então, iria querer que eu escrevesse agora
a história de seu pai, meu avô, que tanto tentou escrever.
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus que me iluminou nesta longa caminhada.


Agradeço também ao meu marido Mauro
e aos meus filhos Bernardo, Gustavo e Ana Clara
que me apoiaram e me incentivaram a fazer este trabalho.
Agradeço ainda a todos os professores da FIP
Keila Queiroz, Iranilson Burity, Aldo Leandro, Kyara Maria, Silêda Leila, Regina Coeli,
pelos ensinamentos.
Agradecimento especial a Cláudia ,
antiga Coordenadora do Programa de Pós-Graduação de História da UFPB,
pelas discussões, correções do texto e incentivos
e a Carla pela bibliografia cedida.
A Regina Célia e Maria Célia pela leitura que fizeram do meu texto e sugestões apresentadas.
Agradeço, especialmente, ao Sr. Toshio Adachi, o narrador,
porque sem suas narrativas este trabalho não teria sido possível e
a comunidade japonesa da Paraíba nas pessoas dos
Srs. Takeshi Morimitsu, Akira Mogi e Akio Sato.
RESUMO

Nos livros comemorativos dos 70, 80 e 100 anos da migração japonesa, notam-se vagos
relatos referentes à presença de japoneses no Nordeste, em especial na Paraíba. Realmente, a
Paraíba acolheu uns poucos re-imigrantes e de forma espaçada, conforme relatos colhidos até
o momento na comunidade nipônica paraibana. Utilizei a metodologia da História oral para
acercar-me da experiência individual e obter informações sobre a história da comunidade
japonesa, tendo como base a memória de um remanescente membro que chegou a João Pessoa
em 1959. Também realizei pesquisa nos Arquivo Público do Estado da Paraíba (FUNESC),
Arquivo Casa de José Américo, Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP) e Arquivo
do Jornal A União. Nos documentos do governo do Estado da Paraíba localizados na
FUNESC, encontrei a informação de que teriam sido assentadas, no ano de 1938, cinco
famílias de japoneses, oriundas de Tomé-Açu no Pará, para desenvolver a agricultura. O
governo objetivara diversificar a produção agrícola, fugindo do estado de quase monocultura,
sendo o algodão a cultura principal, conforme relatório do Interventor Gratuliano de Brito.
Com a guerra, no ano de 1942, estas famílias foram confinadas na Colônia Agrícola de
Camaratuba em Mamanguape (PB), sob a justificativa de resguardar a cidade de João Pessoa
de uma possível sabotagem por parte desses imigrantes, encerrando, desse modo, as suas
atividades agrícolas. Na década de 1950, o governo, então sob o comando do Governador José
Américo de Almeida, fizera uma nova tentativa de reerguer a colônia agrícola japonesa. No
ano de 1958, a empresa japonesa Nichirei Corporation adquiriu a Companhia de Pesca do
Norte do Brasil (COPESBRA) e iniciou a pesca da baleia em Costinha no município de
Lucena-PB entre os anos de 1958 até 1985. A imigração de japoneses para Paraíba foi bem
pequena. Foram re-imigrações voltadas para a agricultura e, depois, imigrações de pessoas
especializadas em pesca da baleia. Trata-se de uma história que foi silenciada pela
Historiografia paraibana e pela resistência dos próprios imigrantes japoneses em dar
visibilidade a esta experiência de grande relevância sócio-econômica. Este trabalho representa
uma tentativa de romper este silenciamento histórico, que foi possibilitado através da
utilização da História Oral focada nas narrativas de um contador de histórias remanescente da
imigração japonesa.
Palavras-chaves: Paraíba, re-imigração japonesa, história oral.
ABSTRACT

In the writtings celebrating the 70, 80 and 100 years of japanese immigration, little reference
of the presence of japanese people in the brazilian northeast, including in Paraíba, is made. In
fact, Paraíba harbored few re-immigrants and in a scattered way, as reported by the japanese
community in Paraíba. Personal life experience was recorded to gather information about this
japanese community history. The source was mainly the memory of a member that arrived in
João Pessoa at 1959. Research in the state archives (Arquivo Público do Estado da Paraíba
(FUNESC), Arquivo Casa de José Américo, Instituto Histórico e Geográfico Paraibano
(IHGP) and Arquivo do Jornal A União) was made. In documents of the Paraíba State
government stored at FUNESC, we learned that in 1938 five japanese families were settled to
develop agriculture, these families had originally immigrated to Tomé-Açu in Pará state. The
government aimed to diversify the local agriculture production, saving the state from cotton
monoculture, as reported by Gratuliano de Brito. During the war, in 1942, those families
where confined in the Camaratuba Agriculture Colony in Mamanguape (PB), under the
justification of protecting the city of João Pessoa from a possible sabotage from these
immigrants, and therefore putting an end to their agricultural activities. In the 1950 decade,
the government, at the time under the leadership of Governor José Américo de Almeida, tried
to revitalize the japanese agriculture colony. In 1958, the japanese company Nichri
Corporation acquired the fishing company (Companhia de Pesca do Norte do Brasil -
COPESBRA) and started a whale fishing in Costinha village at the Lucena-PB between 1958
and 1985. We can finally say that the Japanese immigration and reimmigration to the state of
Paraíba was small but had some economical significance and we could recover this history
hearing mainly the remanescent senior Mr. Toshio Adachi, who gave us the main clue to
uncover the History of Japanese people in the state of Paraíba.

Tags: Paraiba, Oral History, japanese reimmigration.


8

1. INTRODUÇÃO

No ano de 2008, comemorou-se um século do início da emigração japonesa para o


Brasil. O que era motivo de tristeza por ter que abandonar seu país, foi comemorado com
festas, por lograr êxito nesta tão difícil empreitada. A imigração, inicialmente, foi em maior
número para o Estado de São Paulo e, em menor número, para os demais Estados do Brasil.
Todavia, nem todos permaneceram no local de destinação. Parte deles realizou uma nova
migração na busca de um lugar que melhor satisfizesse as suas aspirações, por iniciativa
própria ou por convite de outros interessados.

Fumiko Kanegae, por exemplo, é uma imigrante japonesa que faz parte das cinco
primeiras famílias que chegaram ao cinturão verde de Brasília para trabalhar na terra árida do
cerrado, conforme uma reportagem feita pela TV Globo1. Nesta reportagem, há uma
referência típica de uma característica da re-imigração dos japoneses no Brasil.

Ela ainda era criança quando o destino tratou de trazê-la do outro lado do mundo. Ao
deixar o Japão para trás, a Sra. Fumiko morou em São Paulo, Goiás até parar no meio
do nada. A família Kanegae foi uma das primeiras a chegar ao Distrito Federal.

A referência típica, citada acima, está contida num breve diálogo encontrado na
minissérie JK, da Rede Globo apresentada em 2006. Assim que chegaram a Brasília, os
japoneses deram logo o parecer:

A terra é muito ruim.


Israel Pinheiro (diretor da Novacap) retrucou: Uai, se a terra fosse boa não precisava
de japonês. A primeira colheita que fizemos nós levamos para o presidente
Juscelino. Ele disse: 'Ai que coisa boa!' Ele me chamava de ‘mãe japonesa’, revela a
Sra. Fumiko.

Eis uma história de sucesso da re-imigração dos japoneses no Brasil que poderia ter sido
semelhante na Paraíba, pois já em 1938 chegavam a João Pessoa, de forma organizada, os
primeiros re-imigrantes japoneses vindos do Pará, especificamente da cidade de Acará, atual
Tomé-Açu, distante 400 km da capital Belém.
O meu interesse em problematizar estas informações está ligado ao fato de pertencer à
comunidade japonesa da Paraíba, não por nascimento, mas pelo casamento.
A presença japonesa se deu em quase todos os estados brasileiros, uns mais outros

1
Reportagem publicada em 21/04/2008 no sítio eletrônico da TV Globo intitulada “Brasília ‘importou’
japoneses para impulsionar agricultura”.
9

menos, segundo indicam as pesquisas que têm se debruçado sobre o tema da imigração
japonesa no Brasil. No caso da Paraíba, os estudos têm demonstrado que ela foi bem pequena
e iniciada em 1920 com um único re-imigrante, Sr. Eiji Kumamoto, vindo de São Paulo, que
se estabeleceu na cidade de Princesa Isabel, zona do Sertão Paraibano. Obtive esta informação
por meio de uma palestra proferida por seu filho, o médico Ítalo Kumamoto, realizada na 2ª
Feira da Associação Cultural Brasil Japão da Paraíba (ACBJPB) em 2006 e, também, indicada
no sítio eletrônico desta Associação. No entanto, não pretendo me deter sobre a vinda deste
solitário imigrante porque não faz parte da temporalidade a que me proponho aqui.
Utilizei a metodologia da História oral para acercar-me da experiência individual e obter
informações sobre a história da comunidade japonesa. Não é minha intenção realizar a
biografia de nenhum deles. Contudo, como diz Alberti (2006, p.171) “[...] Ao contar suas
experiências, o entrevistado transforma o que foi vivenciado em linguagem, selecionando e
organizando os acontecimentos de acordo com determinado sentido [...]”.
Orientada por esta perspectiva metodológica, também, almejo apreender, mesmo que
parcialmente, a História da re-imigração e imigração japonesa na Paraíba. Defini como
recorte temporal e espacial da pesquisa os anos de 1938-1985 na Paraíba. O marco inicial –
1938 – foi quando chegaram as primeiras cinco famílias japonesas oriundas do Pará e 1985
porque, naquele ano, termina a pesca da baleia na Paraíba. A relevância social desta pesquisa
se justifica pelo fato de não ter encontrado, até o momento, nenhum trabalho de caráter
acadêmico acerca do tema. Além disso, o “silenciamento” da história da re-imigração
japonesa na Paraíba por parte da historiografia paraibana me animou na realização da tarefa
de dar vida a esta história que começa a ser contada e que, certamente, não pretende ser
definitiva e nem conclusiva, mas fomentar trabalhos de pesquisa futuros.
A bibliografia que tenho encontrado sobre imigração japonesa em outros estados
brasileiros para discutir o tema a que me proponho, aborda questões relativas às identidades
dos grupos imigrantes, aspectos econômicos das atividades desenvolvidas pro eles, questões
relativas ao preconceito e às perseguições vivenciadas em vários momentos de sua história no
Brasil.
10

2. UM POUCO DA HISTÓRIA DAS RAZÕES QUE MOTIVARAM OS PRIMEIROS FLUXOS IMIGRATÓRIOS JAPONESES.

No Japão, durante a Restauração Meiji2, que começou em 1867 no calendário ocidental,


houve aumento da população nas cidades e estas não estavam preparadas para receber um
grande número de novos habitantes. Estes habitantes, oriundos dos campos, se viram expulsos
de suas terras devido às reformas implantadas. O jornalista Jorge Okubaro em O Súdito
(2008) realizou uma descrição de como se chegou a esta situação que transcrevo
resumidamente a seguir:

A reforma agrária foi implantada entre 1899 e 1903. Marcou o fim do antigo
sistema feudal de posse coletiva da terra e permitiu a mudança radical do velho
sistema tributário, com a substituição do recolhimento em mercadorias por
impostos unificados e pagos em dinheiro[...] O resultado imediato dessa grande
mudança, em tão pouco tempo, foi a desorganização da vida comunitária
tradicional. [...] A reforma tributária colocada em prática pelo governo Meiji em
1873 resultara em tremendas dificuldades para as famílias que viviam no campo.
Foram elas que – às custas de um empobrecimento notável e rápido – financiaram
em grande parte da modernização do país que o império recém-restaurado levava a
cabo [...]. O resultado foi o empobrecimento da população rural, que na prática
trabalhava só para pagar impostos. [...] Entre 1883 e 1890, 367 mil lavradores
perderam suas terras, confiscadas pelo governo por falta de pagamento de impostos
[...] Entre 1883 e 1908, a proporção de terrenos de arrendamento sobre a área
cultivável passou de 37% para 45%. Mas os arrendatários viviam em condições tão
difíceis, que mal podiam subsistir com o trabalho agrícola. A crescente miséria no
campo resultava em rebeliões. [...] Foi intenso também o movimento migratório do
campo para as cidades [...]. E não aumentou apenas o índice de urbanização;
cresceu também, e muito, a população, [...] A emigração foi considerada pelo
governo um meio para reduzir as tensões sociais, que o rápido crescimento da população
tornava ainda mais agudas. (p. 45-60).

Todas estas mudanças ocorreram com objetivo de acelerar o desenvolvimento do Japão,


conforme entendimentos a partir das leituras que tenho realizado sobre a história econômica
do Japão3. O governo japonês havia direcionado sua atenção para a educação a fim de
incrementar industrialmente o país e levar o Japão à modernização O objetivo era desenvolver
o país de tal forma que possibilitasse importar os víveres para alimentar a crescente
população. Sendo o Japão um país de dimensões pequenas, aliada à tradição de preservar as

2
A Restauração Meiji significou o fim do poder do shogum e o início do poder do imperador
(OKUBARO, 2008, p. 44.)
3
Cabe aqui elencar as principais leituras realizadas acerca desta temática: SHINDO (1999), LESSER
(2001); OKUBARO (2008); OHNO (2008); Resistência & Integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil
/ IBGE (2008).
11

suas florestas, a área para a agricultura tornava-se insuficiente. À população, recém chegada
do campo, que não podia ser absorvida pela indústria, fora oferecida a oportunidade de migrar
para outros países como solução provisória. Austrália, Havaí, México, Peru, Bolívia, Estados
Unidos e Brasil foram, pois, os lugares para onde os japoneses migraram.

Figura 1 – Arquipélago do Japão. Na ilustração vê-se destacado o arquipélago do Japão. Podem-se observar as
suas dimensões bem pequenas comparadas ao continente asiático. Fonte Wikipédia

Segundo a historiografia, no mesmo período desses acontecimentos no Japão, o Brasil


necessitava urgentemente de mão-de-obra para as fazendas de café em substituição ao
trabalho escravo abolido em 1888. Encontrava-se, sob a ótica dos dois governos, a
possibilidade de se resolver a questão da mão-de-obra para ambos os países. Em 1902, o
governo italiano proibiu a emigração de italianos com subvenção do Brasil (LESSER, 2001,
p. 158). Os cafeicultores brasileiros, sem a ajuda dos italianos e sem braços dos escravos para
a lavoura, implementaram a vinda dos imigrantes japoneses para trabalhar nas fazendas de
café.
Após várias tentativas de se estabelecer relações diplomáticas entre o Brasil e o Japão,
foi assinado em Paris, em 05 de novembro de 1895, o Tratado de Amizade, Comércio e
Navegação entre o Brasil e o Japão pelo embaixador plenipotenciário brasileiro Gabriel de
Toledo Piza e Almeida e Arasuke Sone, do Japão. Foi criada a Companhia Imperial de
Migração do Japão e, finalmente, o primeiro grupo de emigrantes chegou ao Brasil em 18 de
junho de 1908, no navio Kasato Maru (SHINDO, 1999, p. 9).
Para os japoneses, o objetivo maior era vir por um período para trabalhar, enriquecer e
12

retornar ao Japão. Como não eram aceitas pessoas sós, eles deveriam vir em família, com no
mínimo três pessoas adultas. E, compreendia-se por pessoas adultas aquelas com idade
mínima de 12 anos e máxima de 50 anos. Muitas dessas famílias foram montadas com a
finalidade de imigração, ou seja, casamento de fachada e parentescos inventados (UMA
EPOPÉIA, 1992, p.143). Muitos tomaram dinheiro emprestado para a passagem, enxoval,
apetrechos, etc. o que acarretou em dívidas futuras.
No Brasil não houve a aceitação incontinente dos japoneses por eles serem diferentes
fisionomicamente. Os italianos eram mais iguais ao biotipo do português. Havia quem
pensasse: “O crescimento econômico do Brasil valeria o preço a ser pago, de uma sociedade
menos européia?” (LESSER, 2001, p. 69).
13

3. “PARAÍBA QUERIA JAPONÊS AQUI PARA PLANTAR VERDURA [...]”4

Nos livros comemorativos dos 70, 80 e 100 anos da migração japonesa, notam-se
vagos relatos referentes à presença de japoneses na Paraíba. O livro publicado pelo IBGE,
Resistência & Integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil (2008, p. 64-65), por
exemplo, refere-se unicamente a dados quantitativos e indica que, no ano de 1960, a presença
era de 34 japoneses e 57 nikkeys5; no ano de 1980, 75 japoneses e 10.036 nikkeys; no ano de
1991, 7 japoneses e 5.949 nikkeys e, no ano 2000, 20 japoneses e 9.046 nikkeys. Para a
comunidade nipônica da Paraíba, os totais indicados no ano de 1960 estão bem próximos do
considerado como número real, no entanto, para os demais anos sobre a presença de nikkeys,
a comunidade sugere um número bem menor. A Paraíba acolheu uns poucos re-imigrantes e
de forma espaçada conforme relatos colhidos até o momento entre a comunidade nipônica
paraibana.

É importante salientar que boa parte das problematizações da pesquisa foi motivada pela
primeira entrevista que fiz com o Sr. Toshio Adachi sobre a presença de japoneses na Paraíba.
Posso dizer que ele foi o narrador, como diz Walter Benjamin: “o narrador colhe o que narra
na experiência, própria ou relatada. E transforma isso outra vez em experiência dos que
ouvem sua história” (1980, pág. 60). O Sr. Adachi, como membro mais velho da comunidade
japonesa, assim procedeu, ele reteve em sua memória os relatos sobre seus patrícios, obtidas
tanto pelos próprios como por outrem além da sua própria vivência no Brasil. E agora teve o
maior empenho em contá-los, possibilitando o registro. Baseada na memória deste
remanescente que chegou em João Pessoa em 1959, comecei a traçar o desenho de minha
pesquisa que foi sendo complementada pelos documentos consultados no Arquivo Público do
Estado da Paraíba (FUNESC), Arquivo Casa de José Américo, Instituto Histórico e
Geográfico Paraibano (IHGP) e Arquivo do Jornal A União.
Nos documentos do governo do Estado da Paraíba localizados na FUNESC, encontrei a
informação de que na administração do Interventor Argemiro de Figueiredo teriam sido
assentadas, no ano de 1938, cinco famílias de japoneses para desenvolver a agricultura6. Na
década de 1950, motivados por razões de caráter pessoal, algumas famílias migraram para a
Paraíba, em busca de novos lugares e também para desenvolver a agricultura; estas migrações

4
Fala do Sr. Toshio Adachi em entrevista concedida em sua residência no dia 15/março/2009.
5
Nikkeys significa todos os japoneses, nascidos no Japão e seus descendentes, que moram no Brasil.
6
Relatório da Diretoria de Fomento e Produção do Estado da Paraíba, datado de 12/01/1940, apresentado
pelo Diretor João Henriques ao Interventor do Estado, Arquivo Histórico da FUNESC, Cx 31, 1940.
14

foram oriundas de Tomé-Açu no Pará e do Amazonas.


Outro dado importante que ajuda na compreensão e na configuração do complexo
quadro de re-imigração e imigração de japoneses para a Paraíba é a pesca da baleia
estabelecida em Costinha município de Lucena/PB entre os anos de 1958 até 1985. Algumas
indagações surgiram a partir da leitura do corpus documental e das entrevistas: quem eram
estes japoneses? Quantos eram eles? Quantos permaneceram? Respostas a algumas destas
questões foram encontradas em textos informativos impressos e disponíveis em endereços
eletrônicos sobre a pesca da baleia produzida pela própria comunidade nipônica e que
retomarei mais adiante no texto.
Como foi mencionada anteriormente, a imigração japonesa para a Paraíba está ligada a
Tomé-Açu (Pará) de onde vieram as cinco famílias de imigrantes no total de 27 pessoas em
1938. Numa carta datada de 03 de junho de 1937, o Embaixador do Japão no Brasil7 agradece
ao Interventor paraibano Argemiro de Figueiredo, a atenção que o mesmo dispensou ao
cônsul do Japão em Belém, Sr. Tomiya Koseki quando de sua visita ao Estado. O teor da carta
não trata de migração, mas é interessante que no ano seguinte, 1938, chegaram a João Pessoa
as cinco famílias.
O início da formação da Colônia Nipônica na Amazônia foi,

[...] Em 1929, chegavam as primeiras 43 famílias em Acará, atual Tomé-Açu (Pará)


para o cultivo do cacau, abrindo, assim, uma corrente de imigração que saía
diretamente do Japão para a Região Norte do País. Mais uma vez, as dificuldades
foram enormes, a ponto da colônia quase desaparecer. A cultura do cacau não
vingou, e os colonos foram assolados pela febre amarela e pela malária, causando
morte e re-emigração de agricultores [...] (KODAMA e SAKURAI, 2008, p.22).

Figura 2 - Mapa do Estado do Pará, com a localização de Belém e de Tomé-Açú.


Fonte Wikipédia.

7
Embaixador do Japão ao Interventor da Paraíba Argemiro de Figueiredo. Arquivo Histórico da
FUNESC. João Pessoa, 3 jun. 1937, Cx. 31.
15

É provável que, alguns desses colonos, tenham vindo para João Pessoa, conforme
declaração de um deles, o sr. Hajime: “A nossa colônia no Pará distava a mais de
quatrocentos quilômetros da capital. Vivíamos localizados em Acará (hoje Tomé-Açu), região
onde o problema principal é o impaludismo” (A União, 1938). A chegada deles foi noticiada
pelo Jornal A União em edição do dia 29/09/1938

Procedente de Belém do Pará deu entrada anteontem, em Cabedelo, o vapor


“Afonso Pena”, do Loide Brasileiro, conduzindo as famílias japonesas contratadas
para iniciar, na “Fazenda São Rafael”, a cultura científica de hortaliças. Essas
famílias, que são em número de cinco, se compõem de vinte e sete pessoas, estando
todas instaladas, com relativo conforto, nas casas que, para esse fim, foram
construídas naquela propriedade do Estado. Cada família dispõe, no mínimo, de
oito hectares de terra para o seu mister, dedicando-se todas especialmente ao
cultivo de hortaliças. (Jornal A União, 1938).

Os documentos identificados anteriormente vêm corroborar com o depoimento de Sr.


Toshio Adachi, membro da Associação Cultural Brasil – Japão da Paraíba. As cinco famílias
eram lideradas por Hajime Tsuchiya, Shingo Watanabe, Yonetaro Ima, Mitsuji Kuriyama e
Chisato Kawano.

Figura 3 - Reportagem publicada em 30 de setembro de 1938.


Fonte: Jornal do Estado A União

Através do jornal A União da época, acompanhava-se o desenrolar dos planos do


governo estadual. Certamente, os políticos paraibanos já haviam tomado conhecimento das
16

atividades desenvolvidas pelos japoneses em São Paulo. Completaram-se 30 anos da chegada


do navio Kasato Maru com os primeiros imigrantes que, apesar das ondas contrárias à
permissão de imigração dos japoneses, esta era fato e a população de São Paulo estava
sentindo os efeitos positivos. Embora estes agricultores nipônicos tivessem vindo para
trabalhar nas fazendas de café paulistas, por diversos motivos que não vem ao caso descrevê-
los, muitos deles não permaneceram nos cafezais. Desde cedo batalharam para conseguir uma
terra própria e desenvolver outras agriculturas. O cultivo de hortaliças foi uma dessas culturas.

O governo da Paraíba viu nisso a oportunidade de oferecer à sua população uma


melhoria nos hábitos alimentares. Editoriais explicavam o lado positivo dessa mudança. O
então Secretário de Agricultura da Paraíba, Dr. Lauro Montenegro, em um artigo publicado
no jornal A União, escrevia: “[...] Ninguém mais ignora o papel relevante das vitaminas no
fortalecimento do organismo humano. E as hortaliças são um dos veículos mais apreciáveis
desses elementos de tão grande preponderância na nossa saúde [...]”. (MONTENEGRO, 10 de
abr.1938).
Havia desde algum tempo, também, a compreensão sobre a necessidade de diversificar a
produção agrícola, fugindo do estado de quase monocultura, sendo o algodão a cultura
principal, conforme relatório do interventor Gratuliano de Brito (1934, p. 86). Por esta época,
foi criada a Diretoria de Produção pelo decreto 583, de 16 de outubro de 1934, subordinada à
Secretaria de Agricultura e, por exigência de caráter técnico e administrativo, reorganizada
pelo decreto 1.117, de 12 de setembro de 1938, passando a denominar-se Diretoria de
Fomento da Produção8 . E foi por,

iniciativa da Secretaria da Agricultura de acordo com o plano de racionalização


agrária que vem sendo levado a efeito pelo Governo Argemiro de Figueiredo [...] A
cultura científica de hortaliças, dentro do plano de racionalização agrícola do
governo Argemiro de Figueiredo, é o objetivo principal das atividades dos 27
colonos ali localizados – Por ato de ontem do Sr. Interventor Federal interino, foi
criada na Fazenda São Rafael, uma cadeira rudimentar mista – A UNIÃO visitou
ontem o primeiro núcleo colonial organizado na Paraíba.[...] Iniciando ali o seu
trabalho os colonos irão desenvolver, especialmente, a cultura de hortaliças
estendendo-se ainda ao cultivo do arroz, feijão, batata, cana, etc. (Jornal A União,
1938).

Para o secretário de Agricultura da Paraíba, Sr. Montenegro, cultivar hortaliças não era
um trabalho simples, carecia de “práticas especiais e mesmo uma certa arte” e este domínio os
japoneses detinham e “conquistaram um renome universal”. Ele estava interessado também

8
HENRIQUES, João. Relatório da Diretória de Fomento e Produção do Estado da Paraíba, 12 jan. 1940.
Arquivo Histórico/FUNESC, Cx 33, 1940, 30 p. (Incompleto).
17

em que os lavradores nacionais adquirissem estes conhecimentos.

É pensamento do Governo colocar, alternadamente, famílias japonesas e brasileiras


de maneira que estas, com seu fácil poder de assimilação, se apropriem, em curto
prazo dos processos de cultura de hortaliças postos em prática pelas primeiras”
(MONTENEGRO, abr.1938).

Figura 4 - Uma horta dos colonos japoneses.


Fonte: Jornal do Estado A União

Após sessenta dias da chegada destes colonos, os seus produtos agrícolas já estavam no
mercado Tambiá, conforme declara uma reportagem do Jornal A União datada de 11 de
dezembro de 1938.
Nessa época, a atual cidade de João Pessoa, se concentrava em volta do núcleo inicial.
Fundada no século XVI, à margem direita do Rio Sanhauá, segundo Lavieri e Lavieri (1999,
p. 39) em 1855, o comércio ocupava a parte baixa da cidade e nos lugares mais altos foram se
fixando algumas residências e órgãos administrativos, religiosos e culturais. Após esse
período, é que a cidade foi se estendendo em direção ao litoral e ao sul. O acesso ao litoral,
aberto em 1933, deu lugar a construção, na praia, de uma vila de pescadores e se transformou
em região de veraneio. Esta mesma via, chamada de Avenida Epitácio Pessoa, foi
pavimentada na década de 1950 possibilitando a instalação do bairro de Miramar onde se
fixaram várias pessoas de bom poder aquisitivo.

A Fazenda São Rafael, onde foram fixados os colonos japoneses, ficava a 3 km do


núcleo habitado de João Pessoa, em terras do Patrimônio do Estado (ver Figura 5). No ano de
1938, a Fazenda São Rafael foi transformada, pela Secretaria de Agricultura do Estado da
Paraíba, em Estação Experimental do Litoral, local onde foram construídos aviário, apiário e
18

coelheira, assim como o horto de plantas florestais e de fruteiras. O Sr. Toshio Adachi
descreveu o local como

onde tem rio Jaguaribe, aquele lá na descida para Jardim Botânico, tem Radio
Tabajara do lado de cá. Aquele rio, a gente num atravessa aquele rio pequininho?
Então, aquele rio é o Jaguaribe. Lá em cima tem barragem, então essa água era para
beber. E japonês entrou ai em baixo, no paul, uma colônia muito pequena9.

Figura 5 - Planta da cidade de João Pessoa - A Fazenda São Rafael ficava a 3 km do


núcleo habitado de João Pessoa onde hoje é o Bairro Castelo Branco.
Fonte: LAVIERI e LAVIERI (1999, p. 57 ).

Com a expansão da cidade de João Pessoa, o espaço ocupado pela Fazenda São Rafael
foi urbanizado e hoje é o bairro Castelo Branco e a comunidade São Rafael, um lugar
habitado por famílias de baixa renda (Ver figura 6 e 7 da Comunidade S. Rafael).

Figura 6 - Aspecto da Comunidade São Rafael.


Foto da autora (2009).

9
Fala do Sr. Toshio Adachi em entrevista concedida a autora em sua residência no dia 15/março/2009.
19

Figura 7 – Em 1º plano está a Comunidade São Rafael separada pela


BR 230 do Bairro Castelo Branco. Foto da autora (2009).

A ocupação se deu da seguinte forma:

Em 1969 é que teve efetivamente início a ocupação habitacional em direção a


sudeste, quando foi construído o Conjunto Castelo Branco, o maior até então
construído na cidade (630 unidades) e o primeiro empreendimento habitacional a
transcender, simultaneamente, o anel rodoviário e o Vale do Jaguaribe, situando-se
nas imediações do Campus Universitário. [...] Paralelamente a essas ações, o
território de João Pessoa foi perdendo gradativamente sua importância como lócus
de produção agrícola e toda área do município foi tendendo a se urbanizar. [...] Em
decorrência desse conjunto de fatores, ao final dos anos 60 João Pessoa não
apresentava mais a estrutura contida no início da década. [...] foi dado o primeiro
passo ao início das ocupações para além da fixa que contorna a BR, através da
implantação do Conjunto Mangabeira I. Este conjunto localizado em terras do
Estado [...].(LAVIERI e LAVIERI, 1999, p. 60).

Antes mesmo de ser urbanizada, a colônia da Fazenda São Rafael, como núcleo
agrícola de japoneses, não durou muito tempo. Em dezembro de 1941, o Japão atacou Pearl
Harbor, ilha havaiana pertencente aos Estados Unidos da América, oficializando sua entrada
no conflito mundial. O Brasil, então aliado dos Estados Unidos, rompeu as relações
diplomáticas com o Japão, dando início às perseguições dos japoneses no Brasil. O jornal A
UNIÃO, que até então vinha apoiando a formação de uma colônia desenvolvida por
japoneses, mudou a sua postura e passou a noticiar as possibilidades de sabotagem por esses
colonos. Os editoriais, agora sob o título de “Os Amarelos” ou “O Perigo Amarelo”,
chamavam a atenção para o perigo em se ter esta colônia próxima à cidade de João Pessoa e
apoiou o governo quando o mesmo resolveu retirar os nipônicos da “Fazenda São Rafael”.
A mando do interventor Ruy Carneiro, a polícia confinou os japoneses em uma
incipiente colônia agrícola em Camaratuba, localizada, então, no município de Mamanguape,
20

divisa com o Rio Grande do Norte. A situação em Camaratuba não lhes foi favorável, e os
colonos japoneses se sentiram abandonados, como de fato, o foram, tendo em vista o
documento10, transcrito a seguir, enviado pelos mesmos japoneses ao Interventor Ruy
Carneiro protestando contra a situação em que se encontravam.

Exmo Snr. Interventor

Temos a máxima satisfação di comunicar a V.Ex. que em dose de Março nos


tivemos comunicado da deflagração da guerra, por isso mandaram recolher a todos
nos em Camaratuba. Onde continuamos já fasem cincoenta dias depois que aqui
estamos, desde esse tempo nós pasemos a vida sem ganhar um tostão por
conseguinte o dinheiro que nos trosemos já acabamos tudo, assim d’aqui endiante
nós não podemos passar a vida, portanto nós todos estamos com muito anciedade.
Queira fazer com bondoza de V.Ex. a emprestar ao menos comida.
Quando nós trabalhava na nossa orta nós viviam rendendo das prantas mais aqui
não tem rendimento de nada por esta razão estamos com muito dificuldade de viver.
Queira V.Ex. compreender esta nossa cituação de condições e atender o nosso
desejo, e ficaremos contentes pela justiça de V. Ex.
Rugo a V.Ex mandar informar dos que deixamos ai constante de cento e dez
gallinhas e gallo e quarenta e sete pintos e uma égua com um poltro.
Camaratuba 30 de Abril de 1942.
Chissato Kawano (Chisato Kawano)
Hazine Tanahijo (Hajime Tsuchiya)
Shingo Watanabe (Shingo Watanabe)
Mihidi Kossiyama (Mitsuji Kuriyama)
Yonetaro Kom (Yonetaro Ima)11

Figura 8 - Carta assinada pelos cinco japoneses ao governo da Paraíba.


Fonte: Arquivo da FUNESC.

10
Abaixo assinado pelos japoneses ao Interventor da Paraíba Ruy Carneiro. Arquivo Histórico da
FUNESC. João Pessoa, 30 abr. 1942, Cx. 33.
11
Os nomes das famílias escritos entre parênteses correspondem à grafia do Jornal A União, enquanto as
anteriores são do abaixo assinado lido/interpretado pelo Sr.Toshio Adachi.
21

Como se lê neste documento, apesar do confinamento em que viviam e das inúmeras


necessidades que passavam em Camaratuba, preocupavam-se com os animais que deixaram
na Fazenda, pensando talvez, que regressariam para lá. Contudo, segundo o Sr. Toshio
Adachi, após a guerra, os japoneses retornaram para a fazenda, mas não puderam recuperar
suas antigas residências porque nelas já moravam outras pessoas. Acreditaram que os
brasileiros as haviam invadido. Ao serem transferidos para Camaratuba, não lhes informaram
que suas casas seriam entregues para os lavradores nacionais. Depois deste episódio, os
“rastros” da história destes primeiros colonos foram apagados.

Em notícia publicada no dia 7 de maio de 1942, o jornal A União traz como título “O
Sertanejo sabe que o Brasil está ameaçado” e como sub-título “Na Paraíba, os japoneses
foram transferidos das zonas estratégicas”, o capitão Mário Sólon Ribeiro, chefe de Polícia da
Paraíba dizia: “Não confio em brasileiros enamorados de terras que são inimigas da nossa
Pátria”. Este mesmo capitão, cuja missão foi a de transportar os japoneses para Camaratuba,
externou sua surpresa diante da reação dos “agricultores”, considerando-os passivos por não
terem reagido à transferência para outro local ressaltando que parecia que não tinham amor à
terra que estavam cultivando.
Podemos interpretar a tal “passividade” indicada pelo capitão Mário Sólon Ribeiro
como uma tática de sobrevivência das pessoas que estavam longe de sua terra e se sentiam
ameaçadas, além de serem consideradas “sabotadoras” por parte do governo e da população
brasileira.
A guerra fez interromper a imigração. O Brasil só restabeleceu as relações diplomáticas
com o Japão em 1952 e a imigração foi reiniciada extra-oficialmente nesta época. Após um
período, que vou chamar de inquietação na comunidade japonesa, reabrem-se as discussões
em torno da questão da positividade ou não da vinda de novos grupos de imigrantes. As
dúvidas com relação à vinda para o Brasil encerram-se em 1963 quando o governo brasileiro
autoriza oficialmente um novo fluxo imigratório. (KODAMA e SAKURAY, 2008, p. 25).
22

4. “FAZENDEIROS QUERIAM JAPONESES PARA TRABALHAR A TERRA”

Na década de 1950, a Paraíba recebe outros imigrantes nipônicos. Não da mesma forma
organizada, como foi em 1938, apesar das tentativas do então governador da Paraíba, José
Américo de Almeida. Sobre esse assunto, localizei uma carta assinada por Francisco Hidome
Nakano12 do Ministério da Agricultura do Brasil ao Governador da Paraíba em que esclarece
ao governo as normas de imigração e localização permanente de japoneses na Paraíba.

Em entrevista com o Sr. Toshio Adachi pude recolher outras informações sobre o
mesmo tema:

[...] neste governo, o de José Américo, houve tentativa de articular outra colônia.
Mas não teve sucesso em trazer as famílias. Acho que ninguém quis, ele trouxe o Sr.
Ono. Diz que logo depois terminou mandato, agora ele saiu do mandato entrou novo
governador, ele não se interessou. Aí abandonaram Ono-San. Aí para Ono-San não
morrer de fome foi plantar batata no paul, ele é famoso plantador de batata. Batata-
doce [...].

Com a intenção de compreender melhor a questão indicada anteriormente, tentei contato


com a família mencionada pelo Sr. Toshio Adachi. Um dos membros dessa família foi
localizado, mas não se mostrou disposto a colaborar. Contudo, a casa em que moravam, ainda
existe e, apesar de estar muito danificada atualmente, nela mora uma família brasileira que
adquiriu o imóvel e as terrinhas no entorno dos japoneses. Estes japoneses que venderam a
casa também cuidavam de hortaliças e vieram de Lins - São Paulo para Paraíba na época da
Guerra! Em que ano foi, não souberam precisar. Há um desencontro nas informações sobre
as datas de chegada da referida família.

De acordo com informações do Sr. Manoel Severino Bezerra13, residente em João


Pessoa que, na época, contava com 14 anos, entre 1946 e 1947, alguns japoneses moravam na
Fazenda São Rafael, atual bairro de Castelo Branco, e trabalhavam com “verduras e hortas no
paul”. O chalezinho, onde funciona o posto policial no Castelo Branco, seria uma das casas
onde eles moravam. As crianças japonesas estudavam em Tambiá, iam a pé devido a falta de
transporte. Tudo ao redor era mata e, para atravessar o paul, utilizavam uma ponte
improvisada com madeira e paus. Depois da construção do conjunto Castelo Branco e da
12
NAKANO, Francisco Hidemi dirigida ao Governador da Paraíba José Américo. Fundação Casa de José
Américo. João Pessoa, sem data. Cx. 03.
13
Entrevista do Sr. Manoel Severino Bezerra concedida a autora em sua residência no Bairro dos
Bancários, em 17/05/2009.
23

Universidade, a parte relativa à criação de animais foi transferida para Bayeux e às mudas de
plantas foram para Jacarapé.

Figura 9 – Casa fotografada pela autora onde funciona o Posto de Polícia do Bairro de Castelo Branco que,
segundo o Sr. Bezerra, era uma das casas dos colonos japoneses.

A própria família Adachi, composta por pai14, mãe, três homens e uma mulher, sendo
um dos homens casado, emigrou do Japão, da província de Yamagata, em 1955 com destino
para Tomé-Açu no Pará para trabalhar no cultivo da pimenta-do-reino. Segundo o Sr. Toshio
Adachi, neste período

[...] pimenta-do-reino estava muito barato. Porque Pimenta-do-reino, antigamente


era da Indonésia na Ásia, então entrou pra guerra, 2ª Guerra japonês brigou com os
Estados Unidos, japonês invadiu Indonésia, e virou campo de guerra aí pimenta-do-
reino estragou muito, e povo não podia trabalhar, aí, preço subiu muito. Depois da
guerra voltou, mas para recuperar demorou muito, mas antes japonês passou lá e
trouxe muda de pimenta-do-reino ai começou a plantar em Tomé-Açú [...].

Esta cultura que teve o seu boom entre os anos de 1950 e 1960 (KODAMA e
SAKURAI, 2008, p. 26) começava a dar sinais de declínio. Um dos irmãos da família Adachi
resolveu “pesquisar novos lugares” e sair do norte em direção ao nordeste. Chegando em
Recife, encontrou um japonês de Tomé-Açu que o teria convencido “de que bom seria ficar
na Paraíba”. E ele veio para a Paraíba e trouxe toda a família. A última a chegar foi a do Sr.
Toshio Adachi, em 1959.

Na Paraíba, Sr. Toshio Adachi trabalhou em diversos lugares. Quando chegou, os

Como o pai tinha 57 anos não foi considerado como chefe de família, e sim o Sr. Toshio Adachi, o filho
14

mais velho casado.


24

irmãos estavam trabalhando com hortaliças, mas ele arranjou emprego como administrador da
Fazenda Mangabeira, onde permaneceu até 1961. Depois disso, deixou a Fazenda e foi
trabalhar com os irmãos até 1965, para em seguida ir trabalhar na COPESBRA15 em Costinha,
município de Lucena-PB. Ele conta a sua trajetória até chegar a aposentadoria, da seguinte
forma:

Exatamente, mangaba, mangabeira, na areia, tinha muita mangabeira. E tinha


plantação de cajueiro, da bebida Sanhauá. Agora bebida Sanhoá acabou-se. Na
descida da República com ponte de Bayeux. Então ali tinha Bebida Sanhauá.
Trabalhei em Mangabeira, dois anos até 1961. Trabalhava como administrador de
Sanhaua. A Sanhauá arrendou terreno no Estado, plantou caju, para fazer vinho de
caju, e suco de caju, e colocou eu (Sr Toshio Adachi) como administrador. Dois anos,
sai de lá e fui trabalhar com meu irmão. Tudo plantar verdura e vender verdura.
Morava em Treze de Maio. O terreno era do Dr. Roberto Granville. (Dr. dos olhos).
Quatro anos e seis meses, comprou caminhão, e ia até Vitória de Santo Antão busca o
resto da verdura. Mais ou menos em 1965 foi trabalhar em Costinha. Eu sai de
Costinha em 1973, fui para tomar conta da fazenda da firma, da Companhia de Pesca,
me mandaram para lá, para tomar conta da fazenda até 1980. Então de 1973 a 80 (na
COPESBRA - Costinha –PB) construíram câmara frigorífico e exportavam muita
carne. Aí quando companhia vendeu essa fazenda aí não tinha mais onde trabalhar aí
voltei para Costinha. Ainda trabalhei mais ou menos dois anos em exportação de
inhame, trabalhei na CEASA, por conta da COPESBRA. Esse negócio de inhame
também não deu certo não, porque inhame[...] engraçado[...] porque quando arranca
inhame, trabalhador descuidado aí enxada faz corte... Aí entra bactéria e quando
manda para Estados Unidos chegava lá podre. Comprador aproveita e aumenta
prejuízo e recusa a pagar, deu muito prejuízo para companhia. Aí deixaram de
exportar inhame e voltei para Costinha. E nessa época já tinha câmara. (Câmara para
fazer gelo e congelar a baleia para exportação). Tinha turma para preparar carne toda
para congelar. E manda para o Japão [...] melhor parte todo para o Japão e o que
sobrou era para vender em Cabedelo e comprador reclama. Fiquei até 1979 e
aposentei. 16

Hoje o Sr. Toshio Adachi tem quatro filhos, uma nascida no Pará e os demais na
Paraíba. Esta família permanece até hoje em João Pessoa, juntamente com uma irmã caçula
do Sr. Toshio, ainda solteira. Os pais e um dos irmãos morreram. O outro irmão resolveu ir
para o Ceará.
Outro re-imigrante da Paraíba foi Takeshi Morimistu. Ele imigrou para o Amazonas na
década de 1950 junto com o irmão Katsuta Morimitsu. O sr. Takeshi Morimitsu contou que o
irmão: “Katsuta fora prisioneiro da guerra na Rússia e esteve para morrer por diversas vezes.
Então estas coisas que sofreu aqui no Brasil, é mesmo que nada pra ele”. Eles trabalhavam
com juta em Manaus-Amazonas. Em 1953, o Sr. Takeshi resolveu emigrar do Amazonas. Ele
iria para São Paulo, mas achou que “São Paulo estava tudo feito” e veio para o Nordeste.
Ficou em Pernambuco trabalhando numa usina de açúcar, em Aliança, por 1 ano e meio,
15
Companhia de Pesca do Norte do Brasil.
16
Fala do Sr. Toshio Adachi em entrevista concedida a autora em sua residência no dia 15/março/2009.
25

depois em Angico na Paraíba por 3 anos. Voltou para o Recife e pediu a um amigo, de origem
japonesa, para lhe arranjar trabalho. Sempre naquela idéia de que os “fazendeiros queriam
japoneses para trabalhar na terra”, conseguiu emprego em São Miguel de Taipu na Paraíba, na
Fazenda Café do Vento onde ficou até 1970. Conta o Sr. Takeshi que:

[...] saí de lá em 1970. Eu vim para João Pessoa. Fui trabalhar onde fica conjunto
Mangabeira, arrendei 20 hectares. Fui eu quem primeiro plantou mamão Hawai na
Paraíba, trouxe as primeiras mudas do mamão. Meu irmão (Katsuta Morimitsu)
estava em Belém de Pará e pediu semente da Cooperativa do Pará. Foi em Belém que
se plantou primeiro mamão hawai (no Brasil). As terras eram do governo e o Diretor
era Eli Medeiros. Depois comprou, em 1975, propriedade em Alhandra onde plantou
acerola. A acerola trouxe de Limoeiro-PE. Comprei mudas de uma pessoa, Dr. José
Maranhão [...]. Ganhei três medalhas de produtor Modelo da Região. Uma das
medalhas foi perdida [...]. (1980-1981-1982)17.

Figura 10 - Medalhas recebidas pelo Sr. Morimitsu de Produtor Modelo,


fotografadas pela autora.

O Sr. Takeshi casou com uma brasileira da Fazenda Café do Vento com quem teve
cinco filhos. Hoje está imobilizado em uma cadeira de rodas depois de uma cirurgia mal
sucedida de hérnia de disco. A família saiu da Fazenda Mangabeira quando da construção do
conjunto residencial do mesmo nome.
Outros personagens, segundo relatos do Sr. Morimitsu, foi o Sr. Suga que era
professor de japonês em Tomé-Açu. Veio para Paraíba, morou um tempo em João Pessoa e
depois foi para Campina Grande ser jardineiro e o Sr. Kumimitsu Yamamoto, já falecido,
andou pelo Brasil e acabou se hospedando na casa do Sr. Morimitsu, que arranjou-lhe
trabalho em uma fazenda. Depois, o recém-chegado comprou caminhão e começou a trabalhar
com transporte de Norte a Sul.
Até 1960, as colônias agrícolas onde foram estabelecidos os centros de abastecimentos
de produtos hortifrutigranjeiros, a exemplo da Fazenda São Rafael, localizadas no atual bairro
Castelo Branco, e imediações do Campus da UFPB, eram distantes dos lugares habitados da

17
Fala do Sr. Takeshi Morimitsu em entrevista concedida a autora em sua residência no dia 24/05/2009.
26

cidade de João Pessoa. A partir de 1960 começou a urbanização da margem direita do rio
Jaguaribe, com a construção do conjunto habitacional Castelo Branco em 1969 e da UFPB,
em 1970, a colônia agrícola foi transferida para Mangabeira. Mais tarde este local também foi
ocupado por outro conjunto residencial do mesmo nome, encerrando as colônias agrícolas
próximas à cidade de João Pessoa. O abastecimento destes produtos na capital, a partir de
então, passou a vir do interior.
Nem todos os imigrantes japoneses na Paraíba trabalharam com agricultura. Em 1958
começou a pesca da baleia sob a administração dos japoneses. Com a aquisição pela
INBRAPE, que tinha participação acionária da empresa japonesa Nippon Reizo Kabushi
Kaicha (hoje Nichirei Corporation), do controle Companhia de Pesca do Norte do Brasil -
COPESBRA (KISHIWADA18, sem ano, p. 4) vieram outros imigrantes. De acordo com
Kishiwada a empresa mandou buscar no Japão pessoas do ramo da pesca. Este foi o caso de
imigração direta do Japão para a Paraíba através da Nichirei Corporation. Eles precisavam de
gente especializada em pesca de baleia. Vieram para trabalhar com o arpão, na casa das
máquinas e na administração como gerentes. A pesca durou de 1958 até 1985 na Paraíba. Em
18 de dezembro de 1987, durante o governo do Presidente do Brasil José Sarney, foi
sancionada a Lei Federal nº 7.643/87 proibindo a pesca de toda espécie de cetáceo nas águas
jurisdicionais brasileiras.
Alguns desses imigrantes retornaram para o Japão, outros permaneceram. Sobre estes
imigrantes que vieram para João Pessoa trabalhar na pesca da baleia, um deles, o Sr. Akira
Mogi, que foi gerente da COPESBRA nos idos de 1978, deu as seguintes informações: da
mesma região do Japão, Miyagi, vieram Akio Sato, Tadashi Sato19 e Zenchi Shoji. O primeiro
para assumir o cargo de artilheiro e comandante do navio, os outros dois para trabalharem
como chefe e cortadores de baleia. Também vieram Masahiro Saito, engenheiro de pesca,
como o primeiro gerente da Companhia de Pesca; Tetsuji Saito20, como condutor de barco,
trouxe o barco do Japão; Sugahara (cujo primeiro nome não foi lembrado) trabalhava com as
máquinas no barco de pesca e Koki Hino, para trabalhar na parte de charqueada e
congelamento de carne de baleia. Shigeru Matsumoto, conforme disse o Sr. Akira, veio de
São Paulo, e já era graduado pela Escola Técnica do Japão, para trabalhar na parte das
máquinas. A este grupo, juntou-se o Sr. Toshio Adachi, personagem bastante comentado
anteriormente neste trabalho.

18
Atualmente, Hitoshi Kishiwada é diretor da Niagro-Nichirei do Brasil Agrícola Ltda. localizada no
Estado de Pernambuco.
19
Apesar dos sobrenomes iguais, Akio Sato e Tadashi Sato não são parentes.
20
Os Srs. Masahiro Saito e Tetsuji Saito, também, não são parentes.
27

Quanto ao destino destes imigrantes, tomei conhecimento que, com exceção do Sr.
Matsumoto (o mesmo se mudou para Belém - PA), todos constituíram famílias e
permaneceram aqui na Paraíba. Tadashi Sato, Zenchi Shoji, Sugahara e Koki Hino (este único
a se casar com brasileira não descendente) já faleceram, mas os demais ainda residem e
trabalham na Paraíba.
Ainda segundo o Sr. Akira Mogi, “outros passaram pela Companhia, mas demoraram
pouco, porque a Companhia sempre mudava de um local para outro”.
Ao concluir o presente texto, mostrei-o ao Sr. Toshio Adachi para que ele tomasse
conhecimento da maneira como interpretei as suas narrativas. À proporção que ele lia, fazia
comentários concordando. Veio-lhe à tona a lembrança de nomes de outros participantes da
pesca21. O Sr. Toshio mostrou algumas fotos da época, inclusive numa delas, podia-se ver as
esposas de alguns dos japoneses, mostrada abaixo.

Figura 11 - Foto das mulheres japonesas, jovens esposas dos imigrantes. O único homem da foto é
Zenchi Shoji. Foto sem data, provavelmente da década de 1970, cedida pelo Sr. Toshio Adachi.

Resolvi incorporar as últimas informações que meu “narrador” me proporcionou até o


momento de conclusão da escrita final de meu texto.

21
Os nomes rememorados foram, na realidade, na maioria os sobrenomes: Ishimoto, chefe da oficina;
Hayakawa, chefe do Setor de Charqueada; Hirayama, Setor de Farinha de Carne e Kiyohisa Kanda, Setor de óleo
sulfonado. Sobre este último, mais tarde ocupou o cargo de Diretor Superintendente da Nichirei Corporation e
depois Diretor Presidente da subsidiária brasileira.
28

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi visto a imigração de japoneses para Paraíba foi bem incipiente em relação a
outras áreas no Brasil. Foram imigrações voltadas, no início, para a agricultura e depois
ocasionadas pela pesca da baleia. Sobre aquelas cinco famílias que vieram em 1938, ensaiaria
dizer que a guerra e o confinamento dos imigrantes japoneses vieram atrapalhar o processo de
instalação e de formação de uma colônia agrícola, não havendo tempo suficiente para se
estabelecer uma rede de produção. A pesquisa permitiu que fossem identificadas as famílias e
os nomes dos seus chefes, totalizando 27 colonos e que, segundo as informações obtidas,
seriam todos agricultores. Infelizmente não foi possível se conseguir maiores informações
sobre este grupo “pioneiro”. A história deles quase foi apagada pelo tempo. Ficou na memória
de alguns como uma tentativa da Paraíba de ter uma colônia japonesa de agricultores que,
infelizmente, não foi bem sucedida como a de Brasília mencionada na introdução deste
trabalho.
E foi assim que muitos dos que vieram no pós-guerra acabaram ficando. Foram
pessoas que decidiram sair do Japão. O exemplo da família Adachi, do Morimitsu que veio
acompanhando o irmão machucado pela guerra na Rússia. A família Ono, talvez aceitando
convite do governo para continuar com o trabalho interrompido pela guerra, de formar uma
colônia agrícola. Estes todos escolheram a Paraíba como segunda opção, e aqui continuaram a
viver.
E os que emigraram diretamente do Japão, constituindo o grupo com profissão definida,
que foram trazidos pela empresa interessada em suas especialidades, os pescadores,
condutores de barco, trabalho com máquinas e gerentes da Companhia de Pesca também
permanecem no Brasil. Como me disse a esposa de um desses imigrantes, “os filhos são
brasileiros e quiseram ficar aqui, então a gente fica com eles”. Para esse mister, os da pesca,
vieram outros, mas de passagem rápida. Iam e vinham de acordo com o interesse da
Companhia, como bem afirmou o Sr. Akira Mogi, que ocupou o cargo de segundo gerente da
COPESBRA; foram até para Trinidade-Tobago. Alguns já morreram, ficaram suas famílias ou
parte delas, porque alguns filhos fizeram o caminho de volta e estão trabalhando no Japão.
Sobre aquele solitário japonês que chegou à Paraíba em 1920, faleceu em 1992, e
também formou família. Dos seus filhos, em número de quatro, três são médicos e um é
engenheiro civil.
Ao finalizar este artigo posso dizer que muito ainda há para se pesquisar sobre a
29

presença dos imigrantes japoneses em terras paraibanas. Para este trabalho foram de
fundamental importância as fontes orais conseguidas A documentação consultada indica
outros rastros a serem seguidos e recortes cronológicos diferentes ao que me propus a
trabalhar, espero ter oferecido ao leitor uma pequena contribuição acerca de uma história que
foi quase apagada pela memória dos imigrantes e pelo pouco interesse dos pesquisadores em
escrevê-la.
30

REFERÊNCIAS

1. A CULTURA Científica de Hortaliças na “Fazenda São Rafael”. Jornal A União, João


Pessoa, 29 set. 1938. 1º Cad., p.1.

2. A HORTICULTURA na Paraíba. Jornal A União. João Pessoa, 19 dez. 1938. Cad. A


União Agrícola, p.3.

3. ALBERTI, Verena. Histórias dentro da História. In: PINSKY, Carla Bassanezi


(Org.).Fontes Históricas. 2ª Ed. – São Paulo: Contexto, 2006, p. 155-202.

4. BENJAMIN, Walter. O Narrador. In:________.Os Pensadores. São Paulo: Abril S.A.


Cultural e Industrial, 1980.

5. BRASIL. Decreto do Presidente da República nº 52.920, de 22 de novembro de 1963.


Promulga o Acordo de Migração e Colonização Brasil-Japão.

6. BRASIL-JAPÃO. Tratado de Amizade, de Comércio e de Navegação. Paris. 5


nov.1895. Disponível em http://www2.mre.gov.br/dai/b_japa_01_2881.htm

7. BRASIL. Lei nº 7.643, de 18 de dezembro de 1987. Proíbe a pesca de cetáceo nas


águas jurisdicionais brasileiras.

8. BRASIL Japão 70 anos de cooperação. Seleção dos melhores trabalhos do Concurso


JETRO (Japan Trade Center) de ensaios Brasil/Japão. São Paulo, 1978.

9. BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. 3. ed. São Paulo:


Companhia das Letras, 1994.

10. BRITO, Gratuliano de, Relatório das atividades do Governo da Paraíba ao Presidente
da República Getúlio Vargas, 1934.

11. CARTA do Embaixador do Japão ao Interventor da Paraíba Argemiro de Figueiredo.


Arquivo Histórico da FUNESC . João Pessoa, 3 jun. 1937, Cx. 31.

12. CERTEAU, Michel de. A escrita da História. 2. ed. Trad. Maria de Lourdes Menezes,
revisão técnica de Arno Vogel. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.

13. COLONIZAÇÃO Japonesa na Paraíba. Jornal A União. João Pessoa, 12 jun. 1938.
Cad. A União Agrícola, p.1.

14. EM TORNO do Decreto-lei Federal que promove a assimilação de Alienígenas no


País. A União. João Pessoa, 16 dez. 1943. 1º Cad., p.8.
31

15. EQUIPE do DFTV, da TV Globo, Brasília 'importou' japoneses para impulsionar


agricultura, publicada em 21/04/08. Disponível em: http://g1.globo.com/Sites/
Especiais/ Noticias/ 0,,MUL419857-9980,00-BRASILIA+IMPORTOU+JA PONESES
+PARA+IMPULSIONAR+AGRICULTURA.html , último acesso 04 de julho de 2009.

16. INSTALADO um Núcleo de Colonos Japoneses na “Fazenda São Rafael”. Jornal A


União. João Pessoa, 30 set. 1938. 1º Caderno, p. 1 e 7.

17. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Trad. Lais Teles Benoir. São Paulo:
Centauro, 2005.

18. HENRIQUES, João. Relatório da Diretória de Fomento e Produção do Estado da


Paraíba, 12 jan. 1940. Arquivo Histórico/FUNESC, Cx 33, 1940, 30 p. (Incompleto)

19. KISHIWADA, Hitoshi. A pesca da Baleia no Brasil. Sem data.

20. KODAMA, Kaori e SAKURAI, Célia, Episódios da Imigração, um balanço de 100


anos (p.17-29). In: Resistência & Integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil/
IBGE. SAKURAI, Célia e COELHO, Magda Prates, (Org.). Centro de Documentação e
Disseminação de Informações. Rio de Janeiro: IBGE, 2008.

21. LACERDA, Carlos. As Cerejeiras da Propaganda em Flor. A União. João Pessoa, 9


jan. 1942. 1º Cad., p.5.

22. LAVIERI, João Roberto e LAVIERI, Maria Beariz Ferriera, Evolução Urbana de João
Pessoa Pós-60. (p.39-64). In: A Questão Urbana na Paraíba. GONÇALVES, Regina
Célia (Org.). João Pessoa: Ed. Universitária/UFPB, 1999.

23. LESSER, Jeffrey. A negociação da identidade nacional: imigrantes, minorias e a luta


pela etnicidade do Brasil. Trad. Patrícia de Q. C. Zimbres. São Paulo: Editora UNESP,
2001.

24. LIMA, José Fernandes de, Providencias a serem tomadas para o bom andamento da
Colônia Agrícola de Camaratuba, Arquivo Casa de José Américo, sem data, doc. 354,
Cx. 04.

25. MILLIET, Sergio. Cousas de Japonês. A União. João Pessoa, 12 mar. 1943. 1º
Caderno, p.3 e 5.

26. MONTENEGRO, Lauro. Hortas e Japoneses. Jornal A União. João Pessoa, 10


abr.1938. Cad. A União Agrícola, p.1.

27. MONTENEGRO, Lauro. Imigração. Jornal A União. João Pessoa, 1 mai. 1938. Cad.
A União Agrícola, p.1.
32

28. MONTENEGRO, Lauro Bezerra. Quatro anos de esforço e dedicação pela causa da
economia da Paraíba. A União. João Pessoa, 25 jan. 1939. 6ª Secção, p. 1 a 8.

29. NA ANTIGA Fazenda São Rafael. A União. João Pessoa, 22 mai. 1938. Cad. A
União Agrícola, p.1.

30. NAKANO, Francisco Hidemi dirigida ao Interventor da Paraíba José Américo.


Fundação José Américo. João Pessoa, Sem data. Cx. 03.

31. NOGUEIRA, José Newton. O “Perigo Amarelo” na Paraíba. A União. João Pessoa,
15 mar. 1942. 1º Cad., p.5.

32. OKUBARO, Jorge J. O súdito (Banzai, Massateru!). 2. ed. São Paulo: Terceiro Nome,
2008.

33. OHNO, Massao. Centenário da Imigração Japonesa no Brasil. 1908-2008.


[Fotógrafo Matheus Faccio]. São Paulo: Larouse do Brasil, 2008.

34. O SERTANEJO sabe que o Brasil está ameaçado. A União. João Pessoa, 7 mai.
1942. Cad. A União Agrícola, p.3.

35. OS JAPONESES estão vendendo hortaliças no mercado de Tambiá ”. Jornal A União.


João Pessoa, 11 dez. 1938. Cad. A União Agrícola, p.3

36. SHINDO, Tsuguio. Brasil e Japão – Os 100 anos de Tratado de Amizade. Trad., Julia
H. Sassaki e Olívia T.O. Makibara, São Paulo: Geográfica, 1999.

37. SOUZA. João Gonçalves (presidente do INIC) ao Interventor da Paraíba José


Américo. Arquivo Histórico da FUNESC. João Pessoa, 06 jun. 1955, Cx. 33.

38. TRANSFERIDOS para Camaratuba os Colonos Japoneses da Granja São Rafael. A


União. João Pessoa, 13 mar. 1942. Cad. A União Agrícola, p.3.

39. TSUCHIYA, Hajime, at al. Abaixo assinado pelos japoneses ao Interventor da Paraíba
Ruy Carneiro. Arquivo Histórico da FUNESC, João Pessoa, 30 abr. 1942, Cx. 33.

40. UMA EPOPÉIA Moderna: 80 anos da imigração Japonesa no Brasil. Comissão de


Elaboração da História dos 80 anos da imigração japonesa no Brasil. São Paulo, Editora
Hucitec, 1992.

41. VENDA de Hortaliças pelos Colonos Japoneses. Jornal A União. João Pessoa, 14
mar. 1939. Cad. A União Agrícola, p.3.

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