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(Livro 1 e 2) Princesa Perdida - Holly Prange
(Livro 1 e 2) Princesa Perdida - Holly Prange
Everly passou a vida toda com medo, mas as coisas pioram quando sua
madrasta abusiva a vende como escrava. Forçada a sobreviver em um
submundo de monstros sedentos por seu sangue virginal, Everly se
desespera — isto é, pelo menos até conseguir escapar para Matilha Lua
Vermelha. Lá, se depara com o belo Alfa Logan, destinado a ser seu
companheiro. Mas seus mestres estão atrás dela. Será que sua nova
matilha será capaz de derrotá-los?
Classificação etária: 18+
Estou sentado em uma cadeira que puxei para ficar perto de minha
companheira. Muitas emoções se agitam em mim.
Alegria por finalmente encontrá-la, raiva por quem fez isso com ela,
entre tantas outras coisas, como confusão, impaciência, medo, alívio,
expectativa.
Eu quero saber o que aconteceu com ela e se ela ainda está em perigo.
Eu quero que ela acorde. Eu quero ver seus olhos e seu sorriso.
Eu quero poder abraçá-la.
— Ela é humana. Ela não sentirá o vínculo como nós. Pelo menos não
ainda, — meu lobo me lembra.
— Você acha que eu não sei disso? — não posso evitar de rosnar para
ele, frustrado.
Claro que percebi que ela não é lobisomem como eu, mas isso não me
fez desejá-la menos. No entanto, sei que isso vai causar algumas
complicações.
Os anciãos não ficarão felizes com o fato de minha cônjuge ser
humana. E eles definitivamente não vão gostar que ela seja sua Luna.
É claro que isso não vai me impedir, mas preciso descobrir a melhor
maneira de lidar com a questão.
Infelizmente, acho que isso significa que, até eu descobrir o que fazer,
terei que manter segredo. Eu não vou contar-lhes que ela é minha
companheira.
Ela não vai sentir o vínculo por enquanto e eu nem sei se ela sabe o
que é um companheiro ou que lobisomens existem.
Minha cabeça está repousada em minhas mãos, meus dedos puxando
levemente meu cabelo enquanto permaneço ao lado dela. Ela ainda não
acordou e isso está me matando Além de sua óbvia exaustão, ela recebeu
anestesia antes de começarem a tratar todos os ferimentos. Os pés são
limpos e enfaixados. Ela precisou de vários pontos em cada uma das
coxas.
É óbvio que um lobisomem fez isso com ela. As marcas de garras são
muito grandes para pertencer a um lobo normal.
Só o pensamento faz meu sangue ferver e meu lobo rosnar dentro da
minha cabeça.
— Alfa, — a voz de Cole entra na minha cabeça.
— Os anciãos convocaram outra maldita reunião. — Outro rosnado
escapa através do link mental.
— O que esses velhos idiotas querem agora?! Já concordei em me
encontrar com suas principais eleitas para serem Luna!
Eu posso sentir Cole se encolher com a minha raiva.
— Ei, calma! Não mate o mensageiro. Não sei que porcaria estão
querendo agora. É para você encontrá-los na sala de conferências.
— É melhor você estar lá também, caso eu precise de ajuda ou de alguém
para me impedir de atacar um deles, — eu rosno de volta.
Cole ri. É fácil sentir sua diversão com a minha irritação.
— Eu pagaria para ver isso, Logan. Eu provavelmente teria que deixar
você dar alguns bons socos antes de tirar você de qualquer pobre coitado que
te irritasse.
— Conhecendo-os, provavelmente seria Rancis.
— Sem dúvida seria aquele asno arrogante! Ele é o pior de todos, de longe!
— Ele exclama com outra risada.
— Concordo. Estarei lá em alguns minutos.
— Tudo bem, até mais, então.
Antes mesmo de entrar na sala, posso ouvir a conversa alta vindo de
dentro. A voz estrondosa de Elder Rancis se eleva acima do resto.
Vejo Cole esperando por mim do lado de fora com um sorriso
malicioso, sabendo que as coisas estão prestes a pegar fogo.
Solto um suspiro de frustração antes de abrir a porta.
— Silêncio! — Eu faço o pedido assim que entro.
A sala imediatamente fica em silêncio enquanto todos correm para se
sentar.
Tomo o meu lugar e Cole se senta à minha direita, enquanto meu pai
se senta à esquerda, como de costume, ou seja, quando meu beta se digna
a nos agraciar com sua presença.
Meus olhos examinam a sala, vendo que todos estão presentes.
— Então, qual é o significado disso? — pergunto, com rispidez.
É, claro, Rancis é quem bufa com irritação antes de responder:
— Queremos saber por que você não nos avisou sobre o intruso em
nosso território?!
Eu estreito os olhos para ele, instantaneamente irritado.
— Porque o problema já havia sido resolvido e não havia razão para
eu lhe contar, — declaro.
Minha rejeição à sua interferência parece irritá-lo ainda mais e sua
boca se abre e fecha como a de um peixe, enquanto o rosto assume o tom
vermelho-beterraba habitual.
— Claro que você deveria ter nos contado! Nós somos seus anciãos!
Nosso dever é aconselhar e orientar você! Como faremos isso se você
decidir não nos manter informados?!
— Eu não precisava da sua ajuda nisso. Estou lidando com a questão,
— insisto, com os dentes cerrados.
— É verdade que o intruso é humano? — Elder Maynard pergunta.
Cerro os punhos e solto um suspiro lento, tentando acalmar a mim e
ao meu lobo.
— É. É verdade, — respondo, sem oferecer qualquer informação
adicional.
— E o que você fez com ele, então?! — Rancis logo questiona.
— É ela. E ELA está na enfermaria, no momento.
— O QUÊ?! Ela deveria estar nas masmorras! Não devemos deixar
intrusos vagarem livremente por nosso território e certamente não
devemos tratá-los em nossa enfermaria! — Rancis acrescenta.
Deusa... Eu queria que esse filho da puta chato calasse a boca.
A conversa irrompe mais uma vez e eu imediatamente berro:
— Chega!
— A mulher ficou gravemente ferida e está inconsciente desde a sua
chegada. Ela precisava de tratamento médico e certamente não fez nada
para ficar trancafiada em nossa masmorra. Além disso, devo lembrá-los
mais uma vez de que EU SOU O ALFA. Tratarei a suposta intrusa da
maneira que achar adequado. Isso não é algo que requer uma reunião do
conselho, e eu não gosto de ser convocado, — comento, minha raiva
borbulhando enquanto faço o melhor que posso para manter meu lobo
sob controle.
— Mas você não sabe nada sobre ela!
— Ela pode ser uma espiã!
— Ela pode ser uma assassina!
— Ouvi dizer que ela é bonita; talvez você não esteja sendo objetivo...
Eu não aguento mais. Solto um rugido ensurdecedor enquanto fico
de pé e bato os punhos na mesa, causando um estampido que ressoa por
toda a sala.
— SEMPRE coloquei e SEMPRE colocarei os interesses desta matilha
em primeiro lugar. Meu julgamento não foi prejudicado por um rostinho
bonito, nem nunca fiz nada que lhes desse motivos para questionar meu
julgamento. Minha decisão permanece. Assim que a garota acordar, ela
será devidamente questionada e farei quaisquer alterações que achar
necessário. Por fim, daqui para a frente, se eu for convocado novamente
para uma de suas reuniões improvisadas sem meu consentimento, não
comparecerei. Isso foi uma completa perda de tempo e não vou permitir
que aconteça novamente.
Com isso, eu me viro e saio da sala de conferências com Cole bem nos
meus calcanhares.
— É, — ele sopra, enquanto andamos pelo corredor. — Então... o que
você está planejando fazer com ela?
— Bem, eu tenho certeza que não vou jogá-la em uma maldita cela, —
eu resmungo.
— E se eles estiverem certos?
— Eles não estão.
— Mas e se estiverem? E se ela não for confiável?
— Cole... Deixe-me me preocupar com isso, ok? — Eu imploro
enquanto paramos de andar e me viro para olhar para ele.
Ele parece examinar meu rosto, percebendo que sua única opção é
confiar em mim.
Ele solta um suspiro e balança a cabeça.
— O que há com você e essa garota?
Eu escolho ignorar seu comentário. Se eu decidisse contar a alguém
que ela é minha companheira, a pessoa seria ele.
No entanto, não estou totalmente pronto para isso. Eu nem falei com
ela ainda. Não sei absolutamente nada sobre ela.
Também gostaria muito de saber se a tempestade estranha de ontem
à noite teve algo a ver com ela.
— Tenho mais trabalho a fazer, — digo, mudando efetivamente de
assunto. — Vejo você mais tarde.
— Tá, até mais tarde! — ele responde, com uma batida rápida no meu
ombro antes de seguirmos caminhos separados.
Eu corro para o meu escritório para pegar um pouco da papelada na
qual deveria estar trabalhando e então volto para a enfermaria.
Minha companheira ainda deve estar dormindo. Eu disse a Sophie
para não deixar de me informar imediatamente se ela acordasse.
Como esperado, quando chego à enfermaria, minha pequena
companheira ainda está dormindo pacificamente em sua cama.
Puxo uma cadeira para o lado da cama, ajusto a bandeja de comida e
acendo um pequeno abajur, então me sento e começo a examinar os
livros de nossas importações e exportações.
Horas depois, meus olhos não aguentam mais e precisam de um
descanso. Organizo minhas pastas em uma pilha e empurro a bandeja
para o lado.
Sem querer sair do lado dela, estendo os pés sobre a mesa de
cabeceira e afundo na cadeira, apoiando a cabeça no encosto.
Não é particularmente confortável, mas não me importo. Só quero
descansar os olhos por um momento, de qualquer maneira.
Pelo menos é o que eu tinha planejado antes de ser lentamente
tragado pela escuridão.
Capítulo 10
Everly
Várias horas depois, estou reunido com Cole, Max, meu pai e alguns
guardas no prédio de escritórios quase vazio.
Até mesmo fiz com que uma das minhas guerreiras se sentasse atrás
do balcão da recepção para que a Blood Fangs Pack não perceba que
estamos propositalmente mantendo-os longe da casa da matilha, onde as
reuniões normalmente são realizadas.
Estamos na sala de reuniões principal, pois é a única grande o
suficiente para comportar todos.
As demais salas do edifício são escritórios simples, que costumavam
ser usados pelos anciãos quando o prédio ainda estava em atividade.
— Eles estão aqui, — a voz de um dos homens da patrulha de fronteira
entra na minha cabeça. Percebo pelas expressões nos rostos dos outros
que eles também ouviram.
— Tudo bem, não vai demorar muito agora. Todo mundo pronto para
o que quer que aconteça?
Todos acenam com a cabeça e murmuram que sim. Repassamos a
estratégia antes de tomar nossos lugares.
Só cerca de dez minutos depois é que a campainha da entrada da
frente toca. Vários homens entram e se dividem em dois grupos, que vão
um para cada lado.
Depois deles, um homem apenas alguns centímetros mais baixo do
que eu entra a passos largos pela porta.
Suas feições são escuras e os olhos são frios, da cor de prata derretida.
Ele usa um terno preto impecável e ajeita a gravata vermelho-sangue
sorrindo para nós, mas seus olhos não sorriem.
— Você deve ser Alfa Damon. É um prazer conhecê-lo, — eu digo,
com um sorriso falso, estendendo a mão para cumprimentá-lo.
Ele estende a sua e segura a minha mão, respondendo:
— E você deve ser Alfa Logan. Obrigado por se encontrar conosco em
tão pouco tempo.
— Claro! Por favor, entre. Sentem-se, — respondo, apontando para a
sala de reuniões.
Todos os homens da Blood Fangs Pack entram e se sentam em uma
das extremidades da longa mesa oval, com seu alfa na ponta.
Sento-me em frente a ele do outro lado, enquanto meu pai, Cole e
Max ocupam os assentos ao meu lado.
Os dois guardas que requisitei ficam de pé junto à parede atrás de
nós, enquanto mais dois esperam do lado de fora.
— Tudo bem, agora que estamos todos aqui, o que você precisa
discutir com tanta urgência?
— Bem, recentemente tivemos um incidente em minha matilha, e o
culpado pode ter acabado em seu território. Estávamos nos perguntando
se você teve algum intruso recentemente ou viu algo suspeito? — Alfa
Damon questiona.
Mantenho minha expressão neutra, não revelando nada.
— Não tivemos nenhum invasor recentemente, mas podemos ficar de
olho para você. Como é essa pessoa?
— Bem, ela tem cerca de um metro e meio de altura, longos cabelos
negros, olhos verdes brilhantes e lábios vermelho-rubi. Definitivamente,
seria difícil não notá-la, — ele responde.
Eu luto para manter meu lobo sob controle.
Alfa Damon está claramente falando sobre Everly e meu lobo não
gosta da maneira como o Alfa da Blood Fangs Pack descreve sua
companheira.
Embora seja só uma descrição comum, a maneira como ele diz é
irritante.
É como se houvesse algum significado subjacente em suas palavras e
eu também não gosto nem um pouco.
É como se ele a estivesse imaginando enquanto fala e gostando da
ideia mais do que deveria ao falar sobre a companheira de outra pessoa.
Felizmente, consigo manter a expressão indecifrável estampada em
meu rosto.
— Se posso perguntar, que tipo de incidente houve? — esforço-me
para dizer, calmamente.
— Receio que a garota esteja bastante perturbada. Recentemente, nós
a acolhemos. Infelizmente, parece que não deveríamos ter confiado tanto
nela. Nós a subestimamos e isso custou a vida de vários dos meus
homens. Ela é uma assassina, e agora desejo buscar justiça.
Que porra é essa?!
Capítulo 17
Everly
Pude passar algum tempo na academia esta manhã depois que a Dra.
Sophie passou para me ver.
Ela disse para pegar leve com todos os exercícios de perna até tirar os
pontos, então só caminhei na esteira por um tempo e me concentrei em
meus braços e abdômen.
No começo, recebi muitos olhares curiosos das pessoas lá, então uns
caras chegaram e se apresentaram.
Seus nomes eram Axel e Connor. Disseram que são guerreiros da
matilha.
Começaram a treinar comigo e até se ofereceram para observar
quando eu precisasse. Foram legais e não tentaram se intrometer.
Conversamos principalmente sobre saúde, dietas e rotinas de
exercícios.
Eles ficaram muito impressionados com minha rotina habitual,
embora eu não possa realmente colocá-la em prática no momento devido
aos meus pontos.
Claro, a rotina deles é muito mais exigente e extenuante do que eu
jamais poderia dar conta, embora eles sejam lobisomens, então isso era
de se esperar.
Depois, fui para a cozinha tomar um café da manhã que levei para o
meu quarto para comer antes de tomar banho e me preparar para mais
tarde.
Assim que terminei, saí do meu quarto e bati na porta do escritório de
Logan, mas não houve resposta.
Tentei mais uma vez antes de desistir e voltar para o meu quarto com
uma expressão mal-humorada. Não vejo Logan desde que ele me deixou
no jantar ontem à noite.
Espero que nada de ruim tenha acontecido. Eu realmente esperava
passar mais tempo com ele hoje. Surpreendentemente, gosto muito de
sua companhia.
Quando chego ao meu quarto, deito-me na cama e bocejo. Não dormi
muito na noite passada, depois do que aconteceu no jardim.
Bem, o que pode ter acontecido, de qualquer maneira. Ainda me pego
tentando decidir se de fato foi um sonho ou não.
Parecia tão real, mas, ao mesmo tempo, todo o encontro foi bizarro.
Claro, eu não sou só uma humana feliz em sua ignorância.
Eu sei que vampiros, lobisomens e bruxas existem... então, por que
não em outros reinos?
***
Trinta minutos depois, ela está usando as costas da mão para limpar o
suor da testa e sua respiração está pesada.
Ainda está usando seu cachecol e moletom ridículos, embora seja
óbvio que ela é perturbadoramente gostosa.
Passamos para a estação seguinte e ela finalmente decide tirar o
maldito cachecol.
Com o cabelo preso em um rabo de cavalo, agora tenho uma visão
perfeita de seu pescoço esguio e percebo por que ela estava tão relutante
em tirá-lo.
O lado de seu pescoço está coberto de cicatrizes de vários pares de
presas que morderam sua artéria carótida.
Instantaneamente, olho para baixo e cerro meus punhos, lutando
contra a onda de raiva que me domina.
Respirando fundo, eu me junto a ela no supino e ajusto os pesos antes
de observá-la.
Quando passamos para a próxima seção, ela finalmente tira o
moletom, revelando um sutiã esportivo preto e uma regata colorida.
Infelizmente, essa não é a única coisa revelada. Ela está coberta de
cicatrizes.
Mais marcas de mordidas em seus pulsos e linhas verticais que
parecem de tentativas de suicídio.
Também há cicatrizes longas e finas descendo por suas costas,
evidentemente de um chicote. Um rosnado ameaça rasgar meus lábios
mas eu o forço de volta para dentro.
É claro que ela já está constrangida em relação às evidências de seu
passado, então não quero fazer cena.
Não sou o único que notou, e eu vejo vários pares de olhos nela
enquanto ela se posiciona para fazer extensões de perna.
Assim que eles encontram meu olhar, rapidamente desviam os seus e
voltam para seus próprios treinos. Meus olhos percorrem as cicatrizes
enquanto eu solto uma respiração lenta.
Assim que eu colocar minhas mãos naquele mestre vampiro
desprezível, vou matá-lo.
Capítulo 21
Lord Vlad Lacroix
— Sire, Alfa Damon da Blood Fangs Pack está na linha dois. Devo
transferi-lo? — minha recepcionista informa pelo interfone.
Fecho a cara para o bocal antes de responder a ela. Já sei porque ele
está ligando.
— Vá em frente, Lucille.
O telefone toca algumas vezes e deixo escapar um suspiro irritado
antes de atender.
— Lorde Lacroix falando.
— Olá, Lord Lacroix. Aqui é Alfa Damon. Tive problemas com minha
compra recente e esperava que você pudesse me ajudar, — afirma ele, em
um tom amigável, mas sério.
Eu não posso deixar de me perguntar quanto tempo sua cordialidade
vai durar.
— Alfa, você sabe que todas as compras são definitivas, — comento,
embora tenha certeza de que não era a resposta que ele desejava.
Meu sangue estava na minha querida Ruby Red quando ela foi
vendida pela primeira vez. Eu precisava que ela fosse devidamente curada
de sua última surra antes do leilão.
Normalmente, os efeitos duram alguns dias para que eu possa ver
através de seus olhos. Eu soube quando ela escapou.
Eu vi a floresta pela qual ela fugiu e a tempestade bizarra que a
protegeu. Eu podia sentir sua confusão e alívio quando isso aconteceu.
Eu podia sentir a dor em suas coxas e pés enquanto ela corria descalça
pela floresta. Eu podia sentir seu corpo sendo tomado pelo frio e
exaustão.
Finalmente, tudo ficou escuro. Achei que ela poderia ter morrido até
o dia seguinte em que acordou no que parecia ser uma cama de hospital.
— Não foi por isso que liguei. Não quero reembolso. Eu só quero ela
de volta. Ela escapou antes de me dar aquilo pelo que paguei, — ele
responde severamente.
O aborrecimento em sua voz é facilmente perceptível.
— Sinto muito por ouvir isso. Tenho certeza de que sua pequena
boceta apertada teria sido bastante requintada. Infelizmente, isso não é
problema meu, — eu respondo, calmamente, antes de ouvir um rosnado
alto rasgar o receptor do telefone.
— Vou resolver isso, sanguessuga! Eu sei que você tem maneiras de
encontrar a prostituta e eu a quero de volta antes que se entregue a outra
pessoa! — ele rosna com raiva para mim.
Todas as sutilezas já se foram.
— Então, você está me ameaçando agora? — eu escarneço.
— Eu só quero sua ajuda para trazê-la de volta antes que seja tarde
demais. E se eu fizer isso, vou te dar mais vinte mil. Se você não ajudar...
pode esquecer fazer negócios comigo novamente. Sem mencionar todos
os outros lobisomens que frequentam seu estabelecimento, — ele
comenta, e posso sentir o sorriso em seu rosto por pensar que venceu.
Solto uma gargalhada de sua audácia, e ele ruge de aborrecimento.
— Você acha que tem esse tipo de atração? Eu sou o único lugar ao
redor que oferece os serviços que eu presto. Também tenho os escravos
mais bem treinados, para não falar dos mais bonitos. Você não somente
não será capaz de manter as outras matilhas afastadas, como também
não conseguirá ficar longe por muito tempo. Todos nós sabemos que
você não fode mais aquela sua companheira estéril. Também sabemos
que ela assustou todas as lobas que poderiam ser seus brinquedos
novamente. Você precisa dos meus serviços mais do que eu preciso de
você.
— Ora, seu filho da puta! Não se atreva a meter minha companheira
nisso! Você vai se arrepender disso, Lacroix. Assim que eu cuidar daquela
vagabunda, irei atrás de você, sugador de sangue!
Com isso, ouve-se um clique do telefone, seguido do tom de
discagem. Que idiota arrogante.
Além disso, se eu recuperá-la, prefiro colocá-la de volta no trabalho
ou vendê-la em um leilão novamente.
Eu poderia conseguir mais do que os meros vinte mil que ele estava
oferecendo se fizesse isso. O pão-duro. Não é minha culpa que ele perdeu
uma boceta de um milhão de dólares.
Ela com certeza era bonita também. Eu não teria me importado de
tomá-la para mim mesmo.
Minha língua desliza sedutoramente sobre meus lábios enquanto
penso em suas curvas nuas sendo exibidas para mim enquanto empurro
suas pernas abertas.
Ela tinha um sangue delicioso. Tenho certeza que sua boceta teria
sido ainda mais doce.
Eu me sinto apertando em minhas calças e solto um gemido irritado.
Olho para o relógio na parede e me animo ao notar a hora.
Os escravos estarão em treinamento agora. Perfeito. Erguendo-me,
pego o elevador para descer até o nível inferior em direção às salas de
treinamento.
Meus olhos examinam as portas enquanto decido qual treino quero
observar.
Com minha decisão tomada, entro pela porta da sala onde as meninas
mais novas estão aprendendo a arte oral.
A Senhora Dupont está parada no centro da sala com as mãos
cruzadas atrás das costas enquanto observa os escravos trabalhando.
Todos estão de joelhos na frente de seus parceiros designados para o
treinamento.
Meus funcionários acham que isso é uma das vantagens e muitas
vezes participam para obter orgasmos de graça.
Se os escravos não lhes derem um dentro do tempo designado, são
espancados e enviados para a cela.
Eu me movo lentamente para a sala, meus olhos observando a cena
enquanto avalio o trabalho de cada garota.
Parece que hoje é o dia em que devem obter o orgasmo desejado sem
o uso das mãos, já que todos estão com os pulsos amarrados nas costas
enquanto trabalham a cabeça e o pescoço.
Percebo que uma garota parece estar ficando cansada e a Sra. Dupont
também.
— Anna! Aqui agora! — ela grita, do outro lado da sala.
A garota fica tensa instantaneamente enquanto libera o pau duro de
sua boca e solta um soluço. Ela sabe o que está por vir.
— Por favor, senhora! Vou fazer melhor! Eu não preciso ser punida!
Por favor! Deixe-me tentar de novo! Eu posso fazer melhor! — ela
implora.
— Venha aqui agora. Não me faça dizer de novo ou suas chicotadas
ficarão piores!
Os soluços da garota ficam mais altos quando ela se levanta e se
arrasta em direção à Senhora Dupont, que agarra um dos chicotes da
outra parede.
Eu ando até eles e levanto minha mão para a Senhora Dupont em um
gesto que diz a ela para parar e esperar.
— Você pode esquecer o castigo, — eu começo, e os olhos da garota
brilham com esperança quando ela olha para mim.
— Se — acrescento enquanto desabotoo minhas calças e liberto meu
grande pau de suas restrições. Eu o seguro na minha mão e dou uma
bomba.
— Se você puder me fazer gozar sem tocar nele.
Capítulo 22
Everly
— Lembre-se, você deve ficar com Axel, Cole e Connor o tempo todo,
— Logan me diz, pelo que parece ser a centésima vez.
Eu rolo meus olhos para ele, que rosna para mim, me fazendo sorrir.
— Eu entendi as primeiras vezes que você me disse. Você poderia só
relaxar agora? Vou ficar bem e não tenho intenção de fugir, — asseguro-
lhe.
Conseguimos entrar no Território do Norte pegando o caminho mais
longo e passando por cidades humanas.
Delisia também escondeu os nossos cheiros com uma poção
incrivelmente ácida que todos tivemos que engolir.
Quando chegamos ao complexo, estacionamos nas vielas que o
cercam, certificando-nos de ficarmos espalhados e sermos discretos por
precaução.
Logan está sentado ao meu lado, e seus olhos brilham, o que eu
percebi que significa que ele está fazendo o link mental com alguém.
— Ok, os sistemas estão desligados. Hora de sair, — ele anuncia,
baixinho.
Eu observo enquanto o primeiro grupo de lobos desce tanto em
formas humanas e animais em direção ao grande edifício que parece um
depósito comum visto do lado de fora.
Eles furtivamente se esgueiram pelas muitas entradas enquanto mais
alguns sobem a escada de incêndio.
O resto de nós fica de prontidão antes que Logan diga:
— Está limpo. Vamos.
Logan fica ao meu lado até entrarmos no prédio e seguirmos nossos
caminhos separados.
Cole conduz um grupo até as celas e Logan conduz outro até o nível
superior, onde ficam o escritório do Mestre Lacroix e todas as salas do
bordel.
Meu coração dói quando observo suas costas, conforme ele se afasta
de mim. Passei a gostar de como ele é atencioso e protetor comigo.
Nunca me senti tão cuidada. Não desde que meus pais morreram, de
qualquer maneira.
Cole caminha na minha frente com uma estaca na mão. Axel e
Connor fazem o mesmo, permanecendo um de cada lado meu.
Nós nos esgueiramos pelos corredores vazios enquanto alguns
homens verificam cada porta que passamos. Finalmente, chegamos a
uma estreita escada de pedra.
Nos esgueiramos para baixo até chegarmos à parede gradeada onde
dois guardas vampiros já foram mortos.
Caminhamos pelo pequeno corredor do outro lado das grades antes
de chegar a outro conjunto. A partir daqui, podemos ver as fileiras de
gaiolas.
— Oh minha Deusa... — Axel murmura enquanto vê a cena, com os
olhos arregalados. Cada cela contém de uma a três meninas de idades
variadas. Os meninos e meninas são sempre mantidos em câmaras
separadas para evitar confraternização. Eles não podem ter seus bens
mais valiosos sendo deflorados.
A sala fica em silêncio total quando aparecemos na porta. Eu ouço um
barulho enquanto as garotas se levantam para ver o que está
acontecendo.
— E-Everly? — chama uma voz baixa.
Eu abro caminho através de Cole, Connor e Axel, pois eles ainda estão
parados, espantados.
— Callie! — eu digo, correndo para uma das grades da cela e estendo
os braços para abraçá-la. Instantaneamente, vejo que ela está mal.
O lado de seu rosto está todo preto, azul e inchado. Ela também
manca e tem um hematoma em forma de mão ao redor do pulso.
Aperto os lábios, desejando ter sido capaz de chegar mais cedo.
— O que aconteceu com você? — murmuro, tristemente, colocando
delicadamente seu cabelo para trás e dando uma olhada melhor em seu
hematoma.
Com um encolher de ombros e um suspiro triste, ela responde:
— Um dos clientes que tive ontem à noite gosta de violência. — Meus
olhos ardem de lágrimas, mas eu simplesmente aceno.
Certamente não é a primeira vez que somos espancadas por um dos
clientes.
Callie é uma das muitas meninas forçadas a trabalhar no bordel,
então tem de lidar com alguns dos piores.
Eu a puxo de volta para outro abraço, e ela imediatamente começa a
soluçar no meu ombro enquanto todas as outras garotas se espremem
em suas barras para ter uma visão melhor.
Várias outras vozes suaves ressoam, surpresas em me ver de volta
aqui.
— Viemos para libertar vocês, — digo a eles, e gritos e sussurros
animados enchem a sala.
Eu olho por cima do ombro e vejo que os homens comigo ainda estão
parados ali, estupefatos. Eles realmente não tinham ideia do que estava
acontecendo aqui.
Limpando minha garganta, finalmente chamo sua atenção.
— Alguém pode pegar as chaves dos guardas?
Dois dos homens cujos nomes não sei voltam rapidamente pelo
caminho por onde viemos para revistar os guardas mortos com os quais
cruzamos no caminho.
Um minuto depois, voltam correndo, o da frente com um anel cheio
de chaves.
Eles rapidamente começam a experimentar todas na fechadura da
primeira cela até finalmente encontrarem uma que funcione.
Imediatamente eu a abro, então corro para dar abraços em todas as
meninas.
Existem vários rostos novos, mas conheço a maioria das garotas aqui
do meu tempo como escrava.
Parece uma eternidade, embora na realidade tenha se passado apenas
uma semana desde que encontrei minha liberdade.
Continuamos até que todas as meninas sejam libertadas.
— Everly! Me desculpe! — Anna soluça enquanto corre até mim e
passa os braços em volta da minha cintura.
Eu a abraço antes de colocar minhas mãos em seus ombros e segurá-
la com o braço estendido.
— Por que está pedindo desculpas?
— Se não fosse por mim, você não teria sido vendida! — ela chora, e
eu a puxo para outro abraço enquanto corro meus dedos por seus
cabelos.
— Ah, menina doce, não é sua culpa. Mesmo sabendo o que
aconteceria, eu teria feito tudo de novo, de qualquer maneira. Você não
tem nada de que se desculpar! Além disso, no fim foi melhor assim! — eu
insisto, olhando para trás, para os homens que estão ajudando as
meninas a se prepararem para ir enquanto os outros estão entrando na
sala dos escravos.
Callie e Mina vêm até nós, seguidas por algumas outras pessoas.
— Foram estes os homens que compraram você? — Callie pergunta,
enquanto todas as garotas os olham com cautela.
— Não. Eles são caras legais. Eu escapei e eles me acolheram. Venha!
Vamos sair daqui! — eu digo, começando a empurrar todos em direção à
saída.
Eu me dirijo ao quarto dos meninos para ver se todas as celas estão
destrancadas.
A maioria dos escravos ainda está em suas gaiolas, com medo de sair,
enquanto os lobisomens tentam explicar que estamos aqui para resgatá-
los.
— Ruby?! — um dos meninos pergunta, espantado. Os meninos não
me conheciam bem, então não é surpresa que estejam usando meu nome
de escrava.
É provavelmente o único nome pelo qual me conheciam.
— Sim, e devemos nos apressar, enquanto ainda está claro, — eu
respondo, acenando para que todos saiam logo.
Eles assentem com a cabeça e se apressam para sair, vários me
abraçando ou dando tapinhas no meu ombro enquanto passam.
Finalmente, subo as escadas após esperar todos os outros serem
conduzidos para fora.
— Por que aquele garoto te chamou de Ruby? — Axel pergunta,
enquanto subimos para o nível principal.
— Enquanto eu estava aqui, meu nome era Ruby Red. Todos
recebemos nomes de escravos no dia em que chegamos. Eles devem soar
atraentes, — eu comento, revirando os olhos.
Fui batizada assim por causa da cor dos meus lábios e da cor do meu
sangue.
Ele balança a cabeça.
— Eu ainda não consigo entender isso. Como alguém pode
simplesmente deixar isso acontecer?
Eu encolho os ombros.
— Provavelmente, nenhum humano sabe sobre isso. E pelo que eu
ouvi sobre os seres sobrenaturais deste lado da sua fronteira boba, eles
não dão a mínima para nós, mortais fracos, — eu zombo.
— Você é tudo menos fraca, Everly, — Cole afirma com uma careta,
claramente ainda chateado, pensando sobre o que essas pessoas
passaram.
Chegamos ao patamar superior quando vejo os últimos escravos
sendo levados para fora pela porta lateral pelos lobos.
Ao mesmo tempo, Logan chega com vários outros, que carregam
bolsas e caixas com itens desconhecidos.
Eu levanto uma sobrancelha para ele, que vem direto para mim.
— Pegamos todo mundo?
Assentindo, eu respondo:
— As celas foram todas esvaziadas. Eles encontraram mais alguém
nos outros níveis?
Ele sacode brevemente a cabeça.
— Havia alguns vampiros nos aposentos superiores, como você
pensou, mas cuidamos deles. Estamos prontos, então? — ele pergunta
passando um braço em volta da minha cintura e me puxando para ele.
Arrepios percorrem meu corpo onde seu dedo consegue tocar a pele
nua. Não sei o que esse homem está fazendo comigo, mas sei que gosto.
Concordo com a cabeça e ele se endireita com os olhos brilhando.
Menos de um minuto depois, vários de seus homens vêm correndo de
volta com marretas e latas de gás.
— O que está acontecendo?
— Esta não é só uma missão de resgate, Everly. Vamos garantir que
eles não possam usar este lugar novamente, — ele responde, com um
tom ameaçador na voz.
Fico empolgada e caminho até um dos homens que segura uma
marreta.
— Posso? — peço, estendendo a mão.
Ele me dá um sorriso de quem compreende e uma piscadela, antes de
entregá-lo.
— Everly, precisamos ir, — Logan comenta, impaciente.
— Ah, mas não mesmo. Vou ajudar a derrubar este lugar, — respondo,
determinada, erguendo o martelo e atirando-o contra a grade,
estilhaçando a madeira.
A cada golpe, penso em cada vez que me chicotearam, cada vez que
me machucaram, cada vez que me humilharam e me trataram como se
fosse sua propriedade.
Penso em todos os meninos e meninas que vi chegar e partir. Penso
em como fui vendida como gado.
Minha mente está furiosa e, por fim, enxergo tudo em vermelho.
Lágrimas quentes e raivosas descem pelo meu rosto enquanto causo
estragos em todas as superfícies que posso alcançar, demolindo as grades
e os palcos.
Meus braços começam a arder e minhas mãos empolam. Estou
deixando sair todo o meu ódio e nojo, todo o meu ressentimento.
Eles nunca vão vender outro escravo novamente, se eu puder impedir.
Isso acaba hoje.
— Everly! Everly!!! — a voz de Logan mal é registrada conforme meu
corpo começa a se cansar e a doer com o esforço que estou fazendo.
Finalmente, minha mente se concentra nele, que agarra meu pulso e
começa a me puxar.
Só então noto que toda a parede do fundo está em chamas, uma
fumaça escura subindo para o teto alto.
— Temos de ir! Agora!!! — ele grita para mim, me arrastando para a
saída.
Todos os outros já se foram no momento em que corremos para a
porta aberta. Assim que a alcançamos, ela se fecha.
Logan fica olhando para a porta, confuso, então gira a maçaneta, que
não abre.
Um arrepio percorre minha espinha quando uma voz familiar parece
falar em meu ouvido: — Não tão rápido, minha putinha.
Mestre Lacroix.
Capítulo 23
Logan
Que porra é essa?... Assim que aquela loira lindamente alta pula em
Logan, meu estômago embrulha.
Meus olhos ardem de lágrimas e saio correndo de lá antes que alguém
perceba. Ele disse que não tinha companheira! Quem diabos é aquela
garota?
Cerro os punhos e corro em direção ao meu quarto, desesperada para
me trancar até que possa colocar minhas emoções sob controle. Deus...
eu sou uma idiota.
Provavelmente é tudo como o Mestre disse. Ele fez tudo isso por mim
porque quer conseguir o que está entre minhas pernas.
— Everly! Espera! — ouço alguém chamar atrás de mim. Eu me
apresso para andar mais rápido.
— Ei! Espera! — a voz insiste e seu dono agarra meu braço e me vira
para que eu o encare.
Meu coração afunda ainda mais quando minha mente registra que
não foi Logan quem me seguiu. Ele provavelmente nem percebeu minha
ausência.
— O que é, Cole? — pergunto, olhando para os meus pés e enxugando
rapidamente as lágrimas dos meus olhos, antes que tenham a chance de
cair.
— Precisamos levar você para a enfermaria para Sophie ou um dos
curandeiros darem uma olhada em você, — ele comenta, e eu
imediatamente fecho a cara.
— É sério?! Foi só um ferimento superficial! — eu me defendo. O que
há com todos esses lobisomens se preocupando com um pequeno
arranhão?
Eu já me machuquei muito pior do que isso antes. Isso não é nada
para mim.
— Logan achou que ia precisar dar pontos, então vamos pedir a um
profissional treinado para dar uma olhada. Aí podemos descobrir qual de
vocês estava certo, ok?
Eu suspiro, reviro os olhos para ele e o deixo me levar para a
enfermaria.
— Então, aquela garota..., — ele começa, hesitante.
— Não quero falar sobre isso, — declaro, com firmeza.
— Bem, só saiba que não é o que você pensa. Ela definitivamente não
é a companheira dele, — Cole continua.
— Definitivamente, não foi o que ela disse, — eu resmungo baixinho
e aperto o passo.
— Everly..., — Cole tenta novamente, ouvindo claramente minhas
palavras.
— Não! Está tudo bem! Ele pode ficar com quem ele quiser. Além
disso, eu sou apenas uma humana, de qualquer maneira, — eu respondo,
apressando-me em direção a Sophie quando entramos pelas portas
duplas da enfermaria.
— Oi, Sophie! — exclamo, em um tom excessivamente feliz,
impedindo Cole de dizer qualquer outra coisa.
Caminho até ela, que está entregando um arquivo para alguém atrás
da mesa da recepção.
Eles parecem muito mais ocupados do que já vi antes e, após olhar em
volta, vejo que é porque estão cuidando dos ferimentos de todos que
acabamos de resgatar.
— Oi, Everly! Parece que tudo correu bem em sua viagem! Vocês
conseguiram trazer todos?
— Sim! A missão foi bastante bem-sucedida. Acho que conseguimos
causar danos suficientes para colocá-los permanentemente fora do
mercado, — eu respondo, meus olhos percorrendo todas as camas
ocupadas.
— Você quer ajuda?
— Uh-uh, não, você não quer, — Cole diz, se aproximando de nós e
me dando um olhar penetrante antes de virar para Sophie.
— Ela precisa ser examinada, Soph. Ela levou um tiro ao tentar
escapar.
— Você levou um tiro?! Everly!!! Por que diabos não começou
contando isso?!! — Sophie exclama, pegando minha mão e me arrastando
até a última cama disponível.
Cole me dá um sorriso malicioso enquanto levanta uma sobrancelha
para mim.
— Ai meu Deus, gente. Não é tão ruim assim! Vocês estão fazendo
tempestade em copo d’água!
— E eu sou a médica! Sou a única que decide se é tempestade em
copo d’água ou não. Agora, sente essa sua bunda linda e deixe-me dar
uma olhada, — ela me repreende, me empurrando direto para a cama.
Solto um suspiro e faço o que ela diz, sem vontade de continuar
discutindo.
— Então, onde está? — Eu dobro meu cós para baixo, revelando a
bandagem que agora está encharcada de sangue.
Sophie se vira para Cole e o empurra enquanto comenta:
— Desculpe, mas você vai precisar sair. Vejo você mais tarde.
Ela lhe dá um beijo rápido nos lábios antes de fechar a cortina para
que tenhamos privacidade — Tudo bem, você vai precisar abaixar para
que eu possa ter uma visão melhor, — ela acrescenta, voltando-se para
mim.
Bufando, ajusto minhas leggings atléticas pretas para que ela possa
ver melhor o ferimento.
Ela calça luvas de látex antes de retirar a bandagem ensanguentada.
Depois de limpar o ferimento novamente, ela olha para o corte na lateral
do meu quadril.
— Bem, parece que você teve muita sorte. Um centímetro acima e
provavelmente teria despedaçado o osso do quadril. Mas você vai precisar
de mais alguns pontos, então fique quietinha.
Horas depois, após receber dez pontos e passar um tempo com meus
amigos do Banco de Sangue, me limpo e desço para jantar.
— Ev! Por aqui! — Mia grita assim que me vê.
Eu abro um sorriso largo para ela e vejo que Jonah e Cody já estão
sentados em sua mesa enquanto me dirijo para me juntar a eles.
Sento-me ao lado dela com Jonah na minha frente, enquanto uma
jovem se aproxima e anota meu pedido depois de me informar as opções.
Ao olhar de novo para meus amigos, meus olhos localizam Logan
entrando na sala de jantar. Meu coração se aperta no meu peito quando
vejo que ele não está sozinho.
Sua companheira, ou o que quer que signifique para ele, está agarrada
a seu braço e esfrega os seios contra ele.
Eu rapidamente pisco para conter as lágrimas em meus olhos e desvio
o olhar, fazendo o meu melhor para ignorar o homem lindo que pensei
que realmente se importava comigo.
Como eu pude ser tão estúpida? Quem iria querer uma garota que
passou boa parte de sua vida sendo uma escrava sexual e de sangue?
Posso ser boa em esconder, mas sei que sou uma mercadoria avariada
e, obviamente, ele também sabe disso.
— Olá, Everly, — eu ouço sua voz baixa e sexy e meu batimento
cardíaco acelera. Eu estava tão perdida em meus pensamentos que não
notei sua aproximação.
Eu respiro para recuperar a compostura antes de lentamente olhar
para ele, percebendo que a loira não está mais pendurada em seu braço.
— Posso ajudar? — eu pergunto, minha voz saindo mais fria do que
eu pretendia.
Ele parece fazer uma careta com o meu tom, embora seja rápido em
disfarçar, pois um sorriso suave logo aparece em seu rosto.
— Eu só queria ter certeza de que você está bem. Cole disse que levou
você para ver Sophie.
— Sim, eu estou bem. Obrigada, — respondo, enquanto meus olhos
se dão conta do olhar maligno que a loira está me lançando da mesa
principal.
— Você provavelmente deveria voltar para a sua namorada.
— Ela não é…
Eu levanto a mão, impedindo-o de continuar.
— Eu não me importo. Apenas vá. — Ele solta um suspiro de
frustração, então cerra os punhos e a mandíbula.
Logan balança a cabeça, gira nos calcanhares e caminha até seu lugar
ao lado da loira.
Eu vejo quando ela sorri com vivacidade para ele e agarra sua mão,
puxando-o para se sentar ao lado dela. Eu franzo a testa e começo a
mexer na minha comida recém-chegada.
— Ei, você está bem? — Jonah pergunta, estendendo a mão e tocando
a minha, fazendo com que volte minha atenção para ele.
Eu rapidamente estampo um sorriso falso em meu rosto.
— Sim, só me distraí. Desculpe.
Nós conversamos e brincamos enquanto comemos. É difícil para mim
realmente me concentrar, no entanto, com Logan e aquela loira diante
de mim e no centro da mesa principal.
Tento ignorá-los, mas é difícil. A sensação de estar sendo observada
continua tomando conta de mim também, fazendo arrepios correrem
pela minha espinha.
Limpo a garganta e me endireito na cadeira.
— Acho que vou sair, — começo.
— Aguenta aí! Nós vamos com você, — Jonah se oferece, levantando-
se de sua cadeira e sendo imediatamente seguido pelos outros dois.
— Oh... Vocês não precisam.
— Nós insistimos, — Cody entra na conversa, com um sorriso
malicioso. — Temos algumas informações para você, de qualquer
maneira, que eu acho que você vai querer saber.
— Mesmo?! — pergunto, uma excitação recém-descoberta
borbulhando dentro de mim. Ele balança a cabeça, sabendo que me
convenceu.
— Ok, vamos para o meu quarto, então. Assim teremos um pouco de
paz e sossego.
Jonah passa o braço em volta dos meus ombros enquanto nos
dirigimos para a saída. Eu luto contra a vontade de olhar para Logan
enquanto sinto olhos em minhas costas.
Saímos da sala de jantar e subimos as escadas em direção ao meu
quarto.
— Umm... aonde estamos indo? — Mia pergunta, com os olhos
abertos.
Eu levanto uma sobrancelha para ela, confusa.
— Para o meu quarto.
— Mas... este é o andar do Alfa, — ela sussurra enquanto seus olhos
examinam com entusiasmo o chão ao seu redor como se ela nunca
tivesse estado neste nível da casa antes.
Franzindo minhas sobrancelhas, inclino a cabeça para o lado e
encaro-a.
— O que você quer dizer com o andar dele? Vocês nunca estiveram
aqui?
Todos os três balançam a cabeça negativamente.
— As únicas pessoas que vêm aqui são os beta, beta fêmeas e gama.
Ninguém mais é admitido sem um pedido direto do alfa, mas, pelo que
sei, isso nunca aconteceu, — responde Jonah.
Eu sacudo a cabeça e os pensamentos também.
Não tenho ideia de por que eles me dariam um quarto no andar do
alfa, mas não espero ser capaz de descobrir.
Logo, chegamos ao meu quarto e todos entram antes que eu feche a
porta atrás de nós.
— Ok, então o que você descobriu? — eu imediatamente pergunto,
sentando-me de pernas cruzadas na cama.
— Bem, nós encontramos Lutessa Andrews, como você pediu, —
afirma Cody, deitando-se de lado na beira do meu grande colchão,
apoiando-se no cotovelo.
— Ok...
Jonah se senta ao meu lado.
— Então, o que você quer fazer agora?
Capítulo 25
Rebecca
Depois de conversar um pouco mais com meus pais, peço licença para
treinar antes de ir para o meu quarto.
— Alfa, — uma voz familiar entra na minha cabeça.
— Connor, o que é?
— É Everly, senhor. Ela acabou de entrar em um veículo com Jonah, Cody
e Mia. Parece que estão deixando o território, — ele responde, e meu corpo
fica tenso instantaneamente.
— Por quê? Para onde estão indo? — eu pergunto, embora em parte
saia como um rosnado.
— Não sei, senhor. Quer que a gente pare eles?
— Não... Apenas siga-os por enquanto.
— Sim, senhor. Vou mantê-lo informado.
Eu aceno, apesar de ele não ser capaz de ver e continuo a me vestir,
me sentindo mais agitado do que antes.
Desço correndo as escadas, deixando escapar um gemido assim que
vejo Rebecca vindo em minha direção.
— Olá, Logan! Senti sua falta ontem à noite! Espero que esteja tudo
bem, — ela diz, docemente.
Ela está com um top decotado outra vez e empina o peito para fora
em uma tentativa de mostrar seu decote. Eu luto para não revirar os
olhos para ela.
Sendo alfa, eu costumava lidar com coisas assim o tempo todo. As
lobas da minha matilha logo perceberam que estavam perdendo tempo.
Eu sempre quis apenas minha companheira. Até consegui convencer
várias delas de que deveriam se comportar assim também.
Afinal, os lobisomens tendem a ser muito protetores e possessivos
com seus companheiros. Eles não gostariam de saber que suas
companheiras não estavam esperando por eles. Especialmente porque
todos os lobisomens são abençoados com companheiros.
Tentar encontrá-los é nada mais do que nosso dever.
— Sim, está tudo bem. Eu só tenho muito o que fazer agora. Na
verdade, estou indo treinar com meus guerreiros, então preciso ir, — eu
respondo, educadamente, acelerando o passo.
— Oh! Excelente! Que tal eu me juntar a você?! — ela comenta,
apressando-se para me acompanhar. Deusa... essa garota não consegue
entender.
Solto um suspiro. Não estou com vontade de discutir e já estou
atrasado.
— Sim, tudo bem. Vamos.
Saímos pela saída dos fundos e começamos a caminhar para o campo
de treinamento enquanto Rebecca tenta conversar comigo.
Continuo a dar respostas breves até que ela menciona Everly.
— Então, eu vi aquela garota com quem você estava conversando
ontem no almoço. Ela estava saindo com algumas pessoas. Parecia que
estava tendo um encontro duplo, — ela comenta, indiferente, embora
meus passos vacilem enquanto eu hesito. Como é?? Não, isso não pode
ser verdade. Pode? Certamente Connor teria dito algo se ele pensasse que
era o caso...
Embora ela seja humana e não saiba que sou seu companheiro ainda.
Ela teria concordado em ir a um encontro com um deles?...
Meu lobo rosna dentro da minha cabeça com o pensamento de sua
companheira estar em um encontro com outra pessoa. Cerro os punhos
e a mandíbula enquanto tento acalmá-lo.
— Não. São apenas amigos, — declaro, tentando me convencer
também.
— Mesmo? Porque ela parecia confortável demais com um deles, —
ela pressiona. Estou tentando muito manter meu lobo sob controle, mas
é difícil. Ele está rosnando incessantemente na minha cabeça com a
insinuação de Rebecca.
— Nós nem sabemos se é verdade, — digo a ele, em uma tentativa de
acalmá-lo.
— É melhor não ser. Everly é nossa. Ninguém mais pode tê-la, — ele
rosna.
— Ah! Veja! Aqui estamos. Por que você não vai lá e malha com Leslie
e as outras lobas, — eu sugiro a ela rapidamente, antes de correr na
direção oposta, onde está Cole.
Ele levanta as sobrancelhas para mim com um sorriso malicioso.
— Vejo que você está aproveitando o tempo que passa com Rebecca,
— ele comenta brincando, e eu rosno para ele.
Ele ri e levanta as mãos em uma rendição simulada.
— Por que eu concordei com essa merda?
— Não sei. Porque você não queria continuar lidando com os anciãos
que ficaram no seu pé nos últimos dois anos para encontrar uma Luna.
— Eu resmungo. Ele tem razão. No entanto, se eu soubesse que
encontraria minha companheira logo depois, definitivamente não teria
concordado com isso.
Faz apenas vinte e quatro horas e Rebecca já está me deixando louco.
Depois de passar várias horas treinando, vou tomar um banho antes
de voltar para o meu escritório.
Faz um tempo que não tenho notícias de Connor, e isso está me
deixando ansioso.
De repente, sua voz vem através da conexão mental, e sei no mesmo
instante que há algo errado.
Posso sentir sua ansiedade através do link, e todo o meu corpo entra
em estado de alerta.
— Alfa, temos um problema.
— O que é?
— Everly desapareceu.
Capítulo 27
Everly
— Você está certa, Poppy. Ela se parece com ele, — o rei murmura,
sem deixar de me olhar por um segundo.
— Desculpe... com quem eu me pareço? — pergunto, a confusão
nítida em minha voz.
— Com meu falecido irmão, Príncipe Alric. — Meus olhos se
arregalam com compreensão. O nome do meu pai era Alric. Mas
príncipe? Do que ele está falando?
— Me desculpe... eu não..., — eu começo, sem saber o que dizer a
respeito.
O rei se aproxima de mim e meu corpo instantaneamente fica tenso
antes que ele coloque ambas as mãos sobre meus ombros e me olhe
diretamente nos olhos.
— Você é parte Fae, minha querida.
Fico boquiaberta como um peixe. Estou completamente sem palavras.
— Como... eu... não..., — gaguejo novamente.
Deus, quando meu cérebro virou mingau? Pareço uma idiota
completa.
O rei Alistair sorri gentilmente para mim.
— Sei que é muito para assimilar. Não apenas você é parte Fae, como
também tem sangue real. Seu pai era meu irmão mais novo e foi o
segundo na linha de sucessão ao trono até meu filho nascer.
— Venha, querida, vamos sentar e podemos lhe contar tudo o que
quiser saber. Tenho certeza de que você tem dúvidas, — comenta a
rainha Isadora, se aproximando e passando seu braço ao redor do meu,
puxando-me junto com ela.
Ela me leva a um grande salão de jantar que tem uma mesa no centro
grande o suficiente para cem pessoas comerem.
Os tetos são altos e têm murais pintados, como a Capela Sistina. As
grandes janelas arqueadas estão completamente abertas e não têm
vidros.
As trepadeiras envolvem as grades de pedra, e o som da água correndo
pode ser ouvido das muitas cachoeiras que estão do lado de fora. É
magnífico.
Dois guardas estão postados do lado de fora da porta, e há um servo
esperando do lado de dentro.
— Traga um pouco de comida para nós. Tenho certeza de que nossa
convidada está com fome, — diz a rainha quando passamos por ele.
— Sim, minha rainha, — o servo responde com uma rápida reverência
e sai apressado.
A rainha Isadora me leva até uma das pontas da mesa.
O rei Alistair rapidamente puxa uma cadeira para ela se sentar e Jed
faz o mesmo para mim.
Uma vez sentados, a rainha toma minhas mãos entre as suas e olha
para mim.
— Então, querida, o que você gostaria de saber?
Com os olhos arregalados, eu olho para ela. Isso tudo é tão surreal.
— Bem, quer dizer... eu nem sei por onde começar. Como você pode
ter tanta certeza de que sou quem você pensa que sou?
O rei Alistair é quem responde:
— Seu pai manteve contato conosco. Ele sempre gostou de se
aventurar em outros reinos e viajar. Por ser o caçula, ele teve esse tipo de
liberdade e tirou proveito disso. Ele até decidiu fazer algumas aulas em
uma das universidades do reino humano. Ele sempre foi muito fascinado
por esse reino em particular. Um dia, ele voltou para casa para uma visita
e me disse que conheceu uma garota. Ela estava estudando psicologia na
universidade e ele a conheceu por meio de uma amiga. Ela era irmã de
sua amiga e seu nome era Angélica. Eu poderia dizer pela maneira como
seus olhos se iluminaram ao falar que ele já estava apaixonado por ela.
O rei faz uma pausa e sorri tristemente para si mesmo, como se
lembrando de tempos melhores, tempos em que seu irmão ainda estava
por perto.
— Eles namoraram por alguns meses, e ele finalmente a pediu em
casamento. Eles se casaram aqui no jardim e tudo foi perfeito. Eu nunca
o tinha visto tão feliz e era fácil ver que sua mãe estava tão extasiada
quanto ele com a vida. Ao longo dos anos, eles mantiveram contato, nos
visitando ocasionalmente.
Soubemos quando eles estavam esperando você e eles sempre
mandavam fotos e nos contavam sobre você à medida que crescia. Eles
pararam de nos visitar porque queriam garantir que você atingisse uma
idade em que não contaria a ninguém sobre nós. Só seu pai continuava a
passar por aqui de vez em quando, embora suas visitas tenham se
tornado muito menos frequentes.
O rei franze as sobrancelhas, olhando para a mesa, parecendo perdido
em pensamentos. Ele solta um suspiro antes de voltar seu olhar para
mim.
— Um dia, simplesmente paramos de ouvir falar deles. Depois que
bastante tempo se passou, começamos a ficar preocupados. Enviamos
alguns guardas ao reino humano para ver se conseguiam descobrir o que
havia acontecido com eles. Infelizmente, quando voltaram, foi para nos
informar que meu irmão e sua esposa haviam morrido. É claro que
perguntamos sobre você, mas disseram que não houve uma palavra sobre
se você estava com eles no acidente. Não conseguiram encontrar
nenhum vestígio de você. Procuramos durante anos e nunca
encontramos nada. Agora, sinto muito por não termos continuado
procurando.
Eu dou a ele um sorriso triste. Também lamento que não tenham
continuado procurando.
Minha vida teria sido muito diferente, muito melhor se eles tivessem
me encontrado e me levado com eles. No entanto, não quero que saibam
disso.
Eles já parecem se sentir culpados, e certamente não são responsáveis
por eu ter tido uma vida tão difícil depois da morte de meus pais.
— Tudo bem. Não tinha como vocês saberem, — eu comento,
suspirando.
A rainha se intromete, tentando melhorar o clima.
— Bem, pelo menos você está aqui agora! E há tantas coisas incríveis
para você ver e aprender enquanto estiver aqui! Primeiro, quais são os
seus poderes?
— Umm... meus poderes? — eu questiono, inclinando minha cabeça
para o lado, as sobrancelhas franzidas devido à minha confusão. — Sim!
A maioria dos Fae tem um poder elemental, embora alguns nobres
tenham dois. Por exemplo, tanto Alistair quanto seu pai tinham poderes
sobre o fogo e o metal. Não nasci da realeza, então só tenho um poder. O
meu é sobre a terra. Jedrek herdou meu poder terrestre e o de metal de
seu pai. Então, qual é o seu?
— Eu... mas eu não tenho nenhum poder do tipo... eu sou capaz de
resistir à ordem de um lobisomem ou à compulsão de um vampiro..., —
eu respondo, franzindo a testa.
Sobre o que ela está falando?
— Será que eu não tenho poder nenhum, já que sou meio-humana?
Ela franze o cenho como se estivesse bastante pensativa e começa a
mastigar distraidamente uma das unhas.
— Bem, com certeza é devido aos seus genes Fae. Todos os Fae podem
resistir a tais coisas, mas você ainda deve ter algum tipo de poder
elemental. Você realmente não tem nenhum?
Eu aceno e então Jed limpa a garganta, chamando nossa atenção.
— Eu li algo a respeito no ano passado. Quem tem só metade da
ascendência Fae tem de realizar algum tipo de ritual para que seus
poderes sejam liberados. Sem o ritual, eles permanecem dormentes.
— É mesmo, — acrescenta o rei Alistair batendo um dedo no queixo,
pensativo.
— Pensando bem, eu me lembro disso também. Acho que posso ter
esse livro em meu escritório agora.
A rainha dá um sorriso largo e bate palmas.
— Então, está resolvido. Amanhã podemos fazer o ritual com Everly e
testá-la para descobrir quais poderes elementais ela possui, — ela
exclama, feliz.
***
O mundo parece parar enquanto olho fixamente para Logan. Ele não
pode estar falando sério.
Lágrimas instantaneamente começam a arder em meus olhos
enquanto olho para ele, suas mãos descansando em meus quadris.
— Você está mentindo, — eu deixo escapar enquanto minha mente
acelera buscando dar sentido ao que ele acabou de dizer.
Ele franze as sobrancelhas, parecendo não entender minha reação.
— Por que eu mentiria sobre isso? Você não consegue sentir? A
maneira como somos atraídos um pelo outro? As faíscas quando nos
tocamos?
Ele tem razão. Eu sinto, mas não significa que seja capaz de fazê-lo.
— Mas... eu não posso ser Luna . Ninguém vai admirar uma garota
que nem mesmo consegue se proteger. Fui escrava a maior parte da
minha vida, primeiro de minha tia e depois de Mestre Lacroix. Como vou
proteger uma matilha inteira?!
— Ev, você se protegeu. Você está aqui agora. De pé, na minha frente,
não é mais uma escrava. Você é tão forte. Você é gentil e atenciosa. Você
seria a Luna perfeita, — Logan insiste, gentilmente colocando meu
cabelo para trás atrás da minha orelha.
O formigamento quente e reconfortante me faz estremecer quando
me inclino sobre sua mão e fecho os olhos. Uma única lágrima escapa e
desliza pela minha bochecha.
Quando abro os olhos novamente, meu olhar encontra o dele.
— Mas como você pode me querer? Eu sou tão problemática.
— Ev, é claro que quero você. Eu sei que você já passou por muita
coisa, mas você é incrível. — Eu balanço minha cabeça enquanto mais
lágrimas começam a cair.
— Você não me quer, — eu argumento. — Eu sou uma mercadoria
usada. Você sabe quantos homens fui forçada a chupar?! — eu prossigo e
ele solta um rosnado feroz.
No entanto, isso não me faz parar.
— Você sabe quantas pessoas colocaram suas mãos e bocas em mim?!
Quantas pessoas me viram completamente exposta enquanto dançava
para elas ou participava de suas fantasias sexuais?!
Eu me encolho com o pensamento enquanto mais lágrimas escorrem
pelo meu rosto.
Estou completamente enojada, pensando em todas as coisas que fiz,
nas pessoas que fizeram coisas comigo.
Quanto mais eu tagarelo, mais irritado Logan fica e seus olhos se
escurecem.
Seu corpo treme de raiva quando seu lobo assume o controle,
agarrando meus braços e me forçando a recuar contra a parede.
Ele me pressiona contra ela enquanto rosna:
— Terei prazer em destruir qualquer pessoa que já tocou em você sem
o seu consentimento. Você é minha companheira e minha Luna. Aos
meus olhos, você é perfeita. Eu não me importo com o seu passado. Você
foi forçada a fazer coisas que não queria ou merecia. Eu só queria ter
encontrado você antes. A tempo de ter te resgatado daqueles desgraçados
antes que tivessem a chance de fazer você acreditar que não vale a pena.
Porque você vale. Você vale tudo.
Com isso, ele pousa um beijo desesperado em meus lábios, me
fazendo gemer de prazer.
Ele desliza o nariz ao longo de meu queixo e o enterra no canto do
meu pescoço, então respira profundamente.
Ficamos assim por um momento enquanto as faíscas percorrendo
meu corpo parecem acalmar minha mente e corpo em relação a minhas
inseguranças.
Quando Logan se afasta, vejo que seus olhos estão de volta à sua rica
cor chocolate.
— Nunca pense que não é boa o suficiente, pois você é. Você é tudo
que sempre esperei e desejei que minha companheira fosse. E estou
desesperadamente e completamente apaixonado por você, — confessa
Logan.
Eu derreto instantaneamente e meu coração parece que vai explodir
no meu peito.
Depois de digerir o que ele disse, um sorriso se espalha pelo meu
rosto.
Vendo minha expressão, ele sorri feliz de volta para mim antes de
passar seus braços em volta do meu pescoço e me beijar mais uma vez.
É como se ele estivesse tentando canalizar todo seu amor naquele
beijo, me deixando sem fôlego.
— Eu também te amo, — eu sussurro de volta enquanto ele descansa
sua testa contra a minha.
Posso sentir meu rosto esquentar enquanto um rubor sobe pelo meu
pescoço e bochechas.
Ele fecha os olhos e solta um suspiro de alívio, fazendo um sorriso
suave aparecer em meus lábios.
Continuamos a nos acariciar e a nos beijar, envoltos em nossa própria
bolha. Não consigo nem me lembrar da última vez que me senti tão feliz.
Finalmente, ele se afasta de mim.
— Precisamos fazer um monte de coisas. Começando por convocar
uma reunião com os anciãos.
Não posso deixar de torcer o nariz ao pensar neles. A maioria deles
não parecia muito agradável, pelo que pude observar.
Logan ri da minha expressão antes de comentar.
— Eu me sinto da mesma forma. Infelizmente, eles estão tentando se
conectar mentalmente comigo desde o ataque e eu os bloqueei. Quanto
mais eu adiar, mais furiosos ficarão.
Soltando um suspiro, eu respondo:
— Tudo bem. Eu preciso ir à reunião? — Ele faz uma careta como se
achasse que seria uma má ideia.
— Se eu vou ser Luna, não é algo em que eu deveria ser incluída?
— Bem... sim... mas a maioria dos anciãos é bastante difícil, e não
tenho pressa em sujeitá-la a toda a sua ira.
— O que isso significa? Você acha que eles ficarão infelizes por eu ser
sua companheira e Luna ?
Logan hesita como se não quisesse responder, e sinto meu coração
afundar.
— Ei, ei... Não leve para o lado pessoal. Eu não dou a mínima para o
que eles pensam, — ele insiste, segurando minha bochecha, sabendo o
que eu devo estar pensando.
— Eles são só um bando de velhos tolos de mente estreita que estão
presos em seus velhos hábitos. Alguns deles aceitarão numa boa. Há
apenas alguns com os quais estou preocupado. Particularmente Elder
Rancis. Ele nunca fica feliz com nada e sempre encontra algo para
reclamar. Está sempre tentando irritar os outros. Só não quero que você
os escute nem leve a sério qualquer coisa que eles digam. Não importa o
que aconteça, você é minha e eu nunca vou desistir de você. Lembre-se
de que a própria Deusa da Lua escolheu você para mim. Claramente, ela
viu algo em você que talvez nem mesmo você veja em si mesma.
Respiro fundo enquanto acalmo meus nervos.
— Ok, vou com você.
Ele dá um sorriso largo para mim.
— Essa é minha garota. — Então, se inclina para frente e beija minha
testa antes de fazer o link.
Quinze minutos depois, Logan e eu estamos a caminho da sala de
conferências que eles sempre usam para suas reuniões.
— Tenho certeza de que teremos alguns membros que serão muito
rudes e críticos. Tente ser paciente e não fique na defensiva. Lembre-se,
não importa o que aconteça, você é aquela que eu escolhi e que a Deusa
da Lua escolheu. O que eles pensam não importa. Estamos apenas
fazendo a cortesia de mantê-los informados sobre os negócios da
matilha. Não é um teste se você será ou não uma boa Luna. Entendido?
Inspirando profundamente, tento imaginar uma armadura em mim.
As observações contínuas dele me deixam preocupada, como se eu
precisasse ter a casca dura para passar por esta reunião.
Considerando minha outra experiência com o conselho de anciãos,
ele pode bem estar certo. Dou a ele um breve aceno de cabeça enquanto
nos aproximamos das portas.
Ele pega minha mão e a leva aos lábios, dando um beijo casto ao
longo dos meus dedos.
— A Luna se senta à minha esquerda e meu beta à minha direita. Vou
puxar a cadeira para você e nos sentaremos, seguidos por todos os
outros. Só meus pais e o beta já sabem que você é minha companheira,
então espere alguns comentários desde o início. Pronta?
— Tão pronta quanto posso estar, — eu admito.
Ele me dá um sorriso tranquilizador.
— Você vai se sair bem. Como da última vez.
Eu fico na ponta dos pés e dou-lhe um beijo rápido para me dar
coragem antes de me afastar. Ele estende a mão para a porta e me
permite entrar primeiro.
A sala fica em silêncio enquanto todos inclinam a cabeça para seu
alfa.
Passo pela cadeira que o vi ocupar da última vez e vejo que a que ele
disse ser destinada à Luna está vazia.
Na última vez que estive aqui, seu pai estava sentado nela. Eu me
pergunto se Logan já o avisou sobre o que vai acontecer.
Ele faz como disse e puxa a cadeira para mim antes de tomar seu
lugar em frente ao assento à minha direita.
Assim que ele se move para se sentar, faço o mesmo. Imediatamente,
um velho de rosto vermelho do outro lado da mesa solta um bufo.
— O que significa isso?! O lugar desta garota não é aqui! O que ela
pensa que está fazendo?! — ele brada. Eu o reconheço da última vez.
Ele era definitivamente o pior de todos os anciãos e sempre parecia
que estava tentando colocá-los um contra o outro.
Ele também parece frequentemente esquecer seu lugar e está
constantemente questionando as decisões de seu alfa.
— Silêncio, — Logan diz, com firmeza, e o homem
surpreendentemente fecha a boca.
— Temos algumas coisas para discutir. Em primeiro lugar, por que
não se apresentam, já que Everly ainda não conhece todos vocês.
Seu pai se levanta primeiro e me cumprimenta gentilmente, seguido
por sua mãe. A próxima é a senhora idosa.
É
— Meu nome é Iliana Blackwood, avó do alfa. É uma honra conhecê-
la oficialmente, Srta. Everly. O que você fez para resgatar todos aqueles
jovens escravos foi realmente corajoso.
— É uma honra conhecê-la também, Sra. Blackwood, — eu respondo
com um sorriso suave e um aceno de cabeça, que ela corresponde antes
de se sentar mais uma vez.
Eles prosseguem, dando a volta no círculo. O restante dos anciões
inclui ex-alfas, betas, gamas e guerreiros de elite.
O único que é flagrantemente rude é Elder Rancis, que era o beta
quando o bisavô de Logan era alfa.
— Isso é um absurdo! Por que estamos perdendo tempo com
apresentações quando ela nem mesmo é um membro desta matilha?! —
ele exclama após murmurar seu nome e qualificações.
— O que deveríamos discutir é o que faremos a respeito daquele alfa
da Blood Fangs Pack!
Alguns dos demais resmungam, concordando.
— Obviamente, Beta Cole e eu já começamos a discutir os planos para
lidar com a Blood Fangs Pack e Alfa Damon..., — Logan começa.
Elder Rancis zomba, interrompendo:
— Se você tivesse apenas devolvido a garota a ele, isso não seria um
problema. Você está colocando esta matilha em perigo! E tudo para quê?!
Um rosto bonito e uma boa foda?
Minha boca se abre e meus olhos se arregalam. Não posso acreditar
que ele disse isso.
Nem preciso olhar para Logan para saber que ele está prestes a
explodir. Elder Rancis vai se arrepender de sua atitude desrespeitosa.
Tenho certeza disso.
Capítulo 37
Logan
— Mais uma observação insolente sua, Rancis, e você será jogado nas
masmorras, — eu rosno para ele enquanto meus punhos se cerram,
prontos para esmurrar o homem desprezível.
— Lobisomens foram criados para serem criaturas nobres que,
protegem a vida humana. Então, não. Não vamos entregá-la para ser
estuprada, espancada e escravizada. Nós a protegeremos. Não apenas
porque é o que fazemos, mas porque ela é minha companheira e SUA
futura Luna.
A boca dele se abre e seus olhos redondos se arregalam em choque.
Vários outros membros também parecem surpresos, alguns
começando imediatamente a discutir entre si.
Quando Rancis finalmente consegue superar seu espanto inicial,
fecha a boca e respira com raiva pelo nariz, como um touro pronto para
atacar.
Seu rosto fica vermelho e eu dou a ele um olhar penetrante,
desafiando-o a me dar uma razão para seguir em frente com minha
ameaça.
Ficamos sentados olhando um para o outro por um momento, até
que ele se acalma o suficiente para dizer, com os dentes cerrados.
— Ela está aqui há um tempo, Alfa, e esta é a primeira vez que você
menciona isso. Isso é algum truque para escapar da escolha de uma Luna
entre nossas candidatas apresentadas?
Eu sorrio, gostando de como parece ser difícil para ele não contestar.
— Garanto que isso não é qualquer tipo de truque. Eu sei desde o dia
em que a encontrei que ela é minha companheira. Eu não queria que
toda a matilha soubesse antes que tivesse a chance de informá-la sobre
isso. Já que eu sabia que ela não sentiria o vínculo de acasalamento tão
instantaneamente quanto eu, queria ter tempo para nos conhecermos e
para ela começar a sentir o vínculo antes de dizer-lhe que ela era minha
companheira.
— Sim, mas a razão pela qual ela não pode sentir o vínculo é porque
ela não é lobisomem. Uma Luna humana coloca a matilha em risco.
Outras matilhas nos verão como fracos, e ela não será capaz de proteger
a si mesma ou aos outros se for atacada. Os inimigos vão tentar usá-la
contra você, — Rancis insiste.
— Acredito que ela é perfeitamente capaz e já provou o quão forte ela
é. Ela sobreviveu a atrocidades que ninguém deveria ter que suportar,
mas aqui está ela diante de você. Vários de meus homens já a aceitaram
como sua Luna. Já a aceitei como minha Luna. E pretendo fazer sua
cerimônia de Luna o mais rápido possível para garantir que toda a
matilha saiba antes de sermos atacados novamente. Quero que todos
saibam por quem e pelo que estão lutando. Eu não estou lhes dizendo
isso para que seja discutido. Estou lhes contando por que é uma decisão
que já tomei e da qual não serei demovido.
— Esta escolha afeta toda a matilha! Você deveria ter vindo até nós
antes de tomar uma decisão tão importante! Ela não é adequada para ser
Luna !
Everly limpa a garganta e se levanta antes de falar com sua voz doce.
— Se me permite, posso lhe fazer uma pergunta, Elder Rancis?
Ele parece surpreso ao ser abordado por ela, mas dá a ela um breve
aceno de cabeça.
— Como me tornei a companheira de Alfa Logan?
A boca dele se torce conforme vejo sua mente tentando processar.
Não tenho certeza se ele está lutando contra a vontade de discutir
mais ou tentando descobrir se ela o está enganando.
— A Deusa da Lua escolhe companheiros para todos os lobisomens.
Minha companheira acena em compreensão.
— E você confia na Deusa da Lua? Você acredita que ela pensa nos
seus melhores interesses? — ela pergunta.
Elder Rancis parece estar percebendo o que ela está fazendo.
Infelizmente, ele já caiu na armadilha.
Ele não pode falar mal da Deusa da Lua ou os outros anciões se
voltarão contra ele.
— S... sim. A Deusa da Lua se preocupa com todas as suas criações.
— Então, você está questionando a decisão dela de me tornar a
companheira de seu alfa?
— Uh... eu... umm..., — ele gagueja.
Minha avó solta uma risada antes de responder.
— Ela pegou você, Rancis. — Ela então se vira para Everly.
— Ninguém em sã consciência questionaria a Deusa da Lua.
Acreditamos que ela sabe tudo e que tem um plano para todos nós. Ela
sabia o que estava fazendo quando fez de você a companheira dele e
quem somos nós para questioná-la?
Vários entre os demais acenam com a cabeça e murmuram em
concordância.
Vovó logo continua:
— Já posso dizer que ela fez a escolha certa. Você é espertinha e tem
muita resistência dentro de você. Acredito que é exatamente disso que
meu neto precisa.
Ela dá à minha companheira um sorriso malicioso e uma piscadela e
alguns outros soltam pequenas risadas.
— Então, acho que está resolvido, — eu digo, voltando meu olhar
mais uma vez para as pessoas sentadas ao redor da mesa.
Meus olhos encontram cada um deles enquanto determino se posso
esperar problemas da parte deles. O único em quem não confio é Rancis.
Tenho certeza de que vou acabar ouvindo mais a respeito dessa
história. Terei de tentar ficar de olho nele.
Eles saem em fila, vários parando para me parabenizar por encontrar
minha companheira.
Muitos comentam sobre sua força e beleza, e concordo plenamente
com eles.
Depois que todos saem, coloco a mão nas costas de Ev e a conduzo
para fora antes de receber um link mental de um dos homens em
patrulha.
— Alfa, acho que vai querer vir para a fronteira norte, — afirma.
Solto um suspiro.
— Alfa Damon ou um de seus asseclas Já voltou?
— Uh... Não exatamente. A Luna dele está aqui com doze garotas
humanas.
Inclino a cabeça para o lado, confuso. O que ela estaria fazendo aqui,
e por que teria um bando de humanas com ela?
Eu olho para Everly e me dou conta. Essas meninas são
provavelmente outras escravas que seu companheiro comprou.
— Estou a caminho.
— Há algo acontecendo na fronteira norte. Por que você não vai
encontrar Mia e se divertir com ela um pouco enquanto dou uma
olhada?
Ela levanta uma sobrancelha para mim.
— O que está acontecendo? É algo com Alfa Damon?
— Não, mas parece que a Luna dele e outras escravas estão aqui.
— Então, eu vou com você. Se aquelas garotas foram estupradas por
aquele bastardo, elas podem não se sentir confortáveis perto de outros
lobisomens, — ela afirma.
— Sempre teimosa, não é, meu amor? — eu pergunto com um sorriso,
enquanto me inclino e beijo sua testa.
Quando me afasto, tomo sua mão e saímos, subindo em um dos SUVs
que estavam esperando. Não demora muito para chegarmos à torre de
vigia que me informou sobre nossas visitantes.
Eu saio e um dos meus outros homens abre a porta para Everly,
ajudando-a a descer do banco do passageiro.
Nós imediatamente ficamos juntos. Eu tomo sua mão e caminhamos
até onde os demais estão reunidos.
— Alfa, Luna, esta é Luna Mara da Blood Fangs Pack. Ela pediu para
conversar com você sobre seu marido, Alfa Damon, — o guarda chamado
Carlos comenta assim que alcançamos o grupo.
— Luna, o que você gostaria de discutir? — pergunto, enquanto cruzo
meus braços.
Ela é a companheira de Alfa Damon. Eu me recuso a baixar a guarda
perto dela. Isso pode facilmente ser algum truque que ele orquestrou.
— Tenho algumas notícias de meu marido que acho que você pode
gostar de saber. No entanto, em troca, gostaria de refúgio para minhas
meninas aqui. Sei que sua matilha resgatou outros daquela
monstruosidade imunda comandada por Lord Lacroix. Eu esperava que
mais doze não fizessem mal. Se necessário, eles podem ajudar seus
ômegas a cozinhar e limpar. Algumas delas também são bastante
habilidosas em jardinagem, — afirma.
Ela tem uma aparência severa com o cabelo preso em um coque
apertado no topo da cabeça e os lábios finos enrugados com um batom
vinho escuro.
Suas mãos estão cruzadas na frente dela, e sua postura é
perfeitamente ereta, embora ela seja bastante baixa, com o que eu
imagino ser apenas um metro e meio de altura.
— Isso depende das informações que você tem para mim, — retruco,
encarando-a, esperando que ela seja mais direta.
— Alfa Logan, arriscamos muito para vir aqui. Se você não fornecer
abrigo, então terei que levar minhas garotas para outro lugar e não tenho
tempo a perder. Agora, devemos ir ou você vai nos convidar para entrar?
Eu pressiono meus lábios, tentando esconder o sorriso que está
querendo sair.
Estou irritado, mas, ao mesmo tempo, não posso deixar de admirar
sua coragem. Sua teimosia certamente me lembra de outra mulher que
conheço.
Falando nisso, sinto minha linda companheira se aproximar de mim,
dando um passo à frente de forma a ficar no campo de visão de Luna
Mara.
— Luna Mara, perdoe minha grosseria, mas eu gostaria de apresentá-
la a minha companheira, Everly, futura Luna da Red Moon Pack.
Ela não parece reconhecer minha companheira até que eu digo seu
nome e seus olhos se arregalam de surpresa.
Luna Mara se concentra em Everly e faz uma pequena reverência com
a cabeça.
— É uma honra conhecer a garota que conseguiu escapar das garras
de meu marido. E como você se elevou, muito impressionante, de fato, —
ela diz à minha companheira antes de se virar para mim.
— Então, ela é uma companheira verdadeira ou uma eleita?
— Verdadeira companheira, — eu respondo, passando um braço em
volta da cintura de Everly, deixando minha mão descansar em seu
quadril. Amo a sensação de ela estar tão perto de mim.
Luna Mara sorri.
Um sorriso pequeno, mas que chega até seus olhos, que mostram um
brilho, fazendo-a parecer mais carinhosa do que a mulher severa que
esteve diante de mim até agora.
— Parabéns para vocês dois. Esta é realmente uma notícia
maravilhosa.
— Obrigado, Luna. Agora, quais informações você tinha para nós? —
Everly pergunta.
Seu tom é gentil, mas contém autoridade, mais uma prova de que ela
nasceu para ser uma líder.
— Temo não me sentir segura declarando o que sei abertamente,
assim. Existe algum lugar mais privado?
Olho para Everly para ver o que ela acha. Ela me oferece um sorriso
reconfortante e acena com a cabeça em encorajamento.
— Sim, por que você não vem ao meu escritório? — ofereço, antes que
Everly interrompa.
— Eu vou encontrar vocês dois lá. Primeiro, por que não levo nossas
outras convidadas para a sala de jantar para que possam comer e se
aquecer?
— Isso seria maravilhoso. Obrigada, Luna Everly, — Luna Mara
responde com outro sorriso direcionado à minha companheira.
Everly inclina a cabeça para ela antes de gesticular para que as
meninas a sigam.
— Devon, Antonio, leve-as de volta nos SUVs. Elas andaram tempo o
suficiente no frio. Depois, fiquem com elas no refeitório e garantam que
sejam devidamente servidas.
Os dois acenam com a cabeça antes de correr atrás de Everly e das
outras garotas. Eu me viro para Luna Mara e mostro a ela o veículo em
que Everly e eu chegamos.
Abro a porta e ela rapidamente entra antes de eu ocupar o banco do
motorista.
— Então, me diga, o que foi tão importante a ponto de arriscarem
suas vidas para vir aqui? — eu pergunto enquanto coloco o carro em
movimento.
— Receio ter ouvido meu marido, e parece que Lord Lacroix
concordou em ajudá-lo a resgatar Everly.
Capítulo 38
Everly
Solto um rugido alto de raiva! Ela deveria ser minha depois que o alfa
arrogante perdeu sua chance!
Já temos um plano para o nosso ataque. Tenho certeza de que
também teria funcionado.
Infelizmente, agora não quero matar aquele hipócrita Alfa Logan. Eu
quero puni-lo. Quero punir os dois.
Toda essa matilha vai pagar o prejuízo que me causou!
Os efeitos do sangue de Ruby estão diminuindo agora, mas ainda
consigo ver pequenos vislumbres através de seus olhos.
Minha linda Ruby se entregou àquele vira-lata imundo. Eu podia
sentir seu desejo e seu prazer.
Eu podia ver a maneira como ele olhava para ela com olhos cheios de
luxúria. A cada segundo que passava, mais minha raiva ferveu dentro de
mim. Era para ser eu! Eu deveria ser o primeiro a saber o que é estar
dentro de sua boceta virgem e apertada.
E agora aquele maldito pulguento estragou tudo para mim.
Eu jogo um vaso contra a parede e ele se estilhaça com o impacto, a
poeira voando para cima em um sopro de ar. Então eu viro a mesa com
outro rosnado feroz.
Victoria Dupont se apressa depois de ouvir o barulho.
— Está tudo bem aqui, senhor? — ela pergunta, seu olhar
rapidamente passando pela sala destruída antes de retornar para
encontrar o meu.
— Coloque Alfa Damon no telefone! AGORA! — eu exijo.
Seus olhos se arregalam quase imperceptivelmente com a minha
explosão antes que ela rapidamente acene com a cabeça e saia.
Apenas alguns segundos depois, o interfone do meu telefone emite
um bipe.
— Alfa Damon está na linha um, senhor.
Eu não me incomodo em responder a ela antes de pegar a linha
indicada.
— Alfa, quero mudar nosso plano de ataque à Red Moon Pack.
— O que? Por quê? Tudo já está definido, — ele questiona
asperamente, claramente irritado.
— Porque a prostituta entregou sua virgindade ao Alfa da Red Moon.
— O QUE?!! ESSA CADELA!!! Como você sabe?!!
— Ainda estou tendo vislumbres de quando bebi o sangue dela depois
do ataque ao meu negócio. Eu sei. E agora não quero apenas pegá-la e
matar o resto. Todos eles precisam ser punidos. Eu quero que eles se
arrependam de um dia ter nos traído, — eu exijo.
— Concordo. O que você tinha em mente?. — Um sorriso sinistro
imediatamente se espalha pelo meu rosto. Eu vou gostar disso.
Eu vou gostar muito disso.
Elder Rancis
Assim que meus olhos viram aquela cadela vestindo apenas calcinha e
salto montada em Logan, não consegui respirar.
Era como se isso fosse tudo em que meu cérebro pudesse se
concentrar. Meu coração parecia estar se despedaçando dentro de mim,
meu mundo inteiro desmoronando.
Assim que os olhos de Logan encontraram os meus, finalmente voltei
à consciência.
Virei-me o mais rápido que pude e corri de volta pelo caminho que
vim, fazendo o possível para conter as lágrimas que ameaçavam derramar
de mim.
Não posso acreditar que ele fez isso! Não posso acreditar que
realmente acreditei que era especial para ele!
Eu deveria saber que não devia cair nessa! Quem iria querer alguém
como eu?!
Logo, chego ao jardim e vejo que não há ninguém lá.
Caio de joelhos, as mãos em meu coração como se estivesse tentando
juntar seus pedaços.
Soluços atormentam meu corpo, e não consigo acreditar como estou
perdendo o controle. Há anos não fico dessa maneira.
Estando no Banco de Sangue por tanto tempo, eu tinha me tornado
muito boa em esconder e controlar minhas emoções, mostrando apenas
o que eu sabia que os clientes ou nossos mestres queriam ver.
Tudo isso parece ter voado pela janela agora.
Não consigo nem começar a racionalizar carregando isso, essa tristeza
inacreditável que estou sentindo agora.
Eu nem percebo que alguém veio atrás de mim até ouvir a voz baixa.
— Então, eu acho que Alfa Logan te contou? — o tom que ele usa
parece incrivelmente falso, enquanto tenta soar simpático.
Infelizmente, já testemunhei o comportamento desse cara muitas
vezes para cair em sua encenação. Não há absolutamente nada de bom
nele.
Eu não quero que ele me veja desmoronando assim. O desgraçado
não merece ver minhas lágrimas.
Eu inspiro tremulamente, enquanto limpo rapidamente meu rosto
molhado.
Levantando-me lentamente, sacudo a poeira antes de me virar para
olhar para o homem de rosto vermelho arrogante.
— Elder Rancis, infelizmente não sei do que você está falando, —
respondo friamente, embora os olhares presunçosos que ele me lança me
façam pensar que não vou gostar de sua resposta.
— Bem, que ele escolheu fazer de Rebecca sua Luna. Certamente ele
já lhe disse isso, não é? — Meu lábio começa a tremer, então eu o mordo,
controlando minhas lágrimas mais uma vez. Não posso desabar na frente
desse idiota.
É isso que ele quer, e me recuso a dar-lhe essa satisfação.
Em vez disso, eu apenas olho para ele, esperando que ele tenha
terminado de esfregar na minha cara e me deixe em paz.
Depois de um momento de silêncio, ele decide continuar:
— Então, de qualquer maneira, eu acredito que é melhor se você
deixar o território e deixar essa matilha para trás. Posso mandar alguém
para ajudá-la a empacotar suas coisas.
Meu olhar endurece e eu alcanço e começo a esfregar meu colar.
— Não se preocupe, — eu cuspo, com nojo, antes de me afastar e
caminhar até a grande fonte que está próxima.
Sento-me na beirada e continuo a esfregar a esmeralda em volta do
pescoço enquanto fecho os olhos e imagino o lugar que quero ir.
Só preciso de algum tempo para descobrir o que fazer a seguir, para
seguir em frente. Quando abro os olhos, vejo o interior do castelo da
minha tia e do meu tio.
Eu rapidamente movo as pernas em direção à fonte antes de me jogar.
Elder Rancis
— Ev! Que grande surpresa! O que você está fazendo aqui?! — Jed dá
as boas-vindas vindo até mim de braços abertos e me envolvendo em um
abraço de esmagar os ossos.
Passo meus braços em torno dele também, encontrando conforto em
seu abraço caloroso enquanto descanso minha bochecha contra seu
peito.
Quando ele finalmente se afasta de mim, coloca as mãos em ambos os
meus ombros e me olha.
Observando minhas feições, suas sobrancelhas franzem enquanto
uma carranca aparece em seu rosto.
— Você esteve chorando? O que há de errado? O que aconteceu?
— Eu... hmm — eu começo, antes de franzir os lábios. O que eu digo?
Conto a ele o que aconteceu? Falar sobre isso vai ajudar?
Ele parece sentir minha confusão e hesitação e me dá um sorriso
malicioso enquanto me cutuca com o ombro.
Passando um braço em volta de mim, ele me dá um abraço.
— Vamos dar um passeio, — ele sugere enquanto começa a me levar
em direção à grande entrada.
— Um passeio? — eu questiono, com uma sobrancelha levantada.
— Claro, — ele responde com um rápido encolher de ombros e um
sorriso. — Você já voou antes?
— Tipo em um avião?
Desta vez, ele inclina a cabeça, confuso.
— O que é isso?
Soltei uma pequena risada e balanço minha cabeça.
— Aparentemente, algo que não existe em seu reino, — eu respondo.
— Ah..., — ele diz antes de continuar. — Não, na verdade, eu estava
pensando em montar alguns Pégasos.
Meu queixo cai quando percebo que ele está me levando para os
estábulos. Não consigo evitar o grito que sai da minha boca enquanto
pulo para cima e para baixo.
— Nós vamos montar Pégasos?!
Ele ri da minha empolgação antes de apontar para os dois que estão
sendo conduzidos para fora dos estábulos por um jovem que reconheço.
— Ash?
— Olá, princesa, — ele responde em seu tom entediado normal e
expressão séria, embora eu tenha vislumbrado um sorriso que
rapidamente desapareceu.
— Oi, Ash. — Ele me entrega as rédeas de um Pégaso branco puro,
enquanto Jed pega um preto. — Obrigado.
Ash me ajuda a subir na sela de couro macio e me mostra onde
colocar meus pés para que minhas pernas não fiquem no caminho das
asas da criatura.
— Esta é Snow. Use as rédeas para guiá-la nas curvas e certifique-se
de inclinar-se com ele. Use suas coxas para segurá-la, especialmente ao
fazer curvas fechadas, — ele me diz.
Eu rapidamente aceno antes de Jed virar as rédeas com um pequeno
grito. Seu Pégaso instantaneamente salta no ar, então eu imediatamente
sigo seu exemplo.
A Snow ganha o céu e eu solto um grito de surpresa enquanto aperto
as rédeas com mais força.
Jed está ligeiramente à frente, então observo seus movimentos e
reações, fazendo o possível para imitá-lo quando ele muda de direção.
Depois que sinto que peguei o jeito, começo a prestar mais atenção ao
cenário.
Daqui de cima, o reino é ainda mais lindo. O vento sopra ao redor e
faz meu cabelo dançar atrás de mim.
O clima é quente aqui, diferente do clima frio do inverno no
Território da Red Moon.
Apenas o pensamento de voltar para lá faz meu coração se apertar
dentro de mim, uma imagem daquela cadela no colo de Logan
aparecendo na minha cabeça mais uma vez.
Meus olhos começam a lacrimejar de novo, e eu imediatamente pisco
para afastar as lágrimas antes de me forçar a focar no mundo abaixo. Este
lugar é realmente mágico.
Luzes brilhantes passam pelas árvores como se estivessem
perseguindo umas às outras.
As cores são tão brilhantes e vibrantes que meus olhos lutam para
absorver tudo, uma vez que cada pequena coisa parece chamar minha
atenção enquanto passamos voando.
Falésias altas são decoradas com cachoeiras cristalinas que brilham à
luz do sol, lançando arco-íris por toda parte ao seu redor.
É realmente como algo saído de um conto de fadas. Amo este lugar e
posso senti-lo finalmente me acalmando enquanto respiro o ar fresco e
florido.
Por fim, chegamos a um enorme campo de flores silvestres e vejo um
unicórnio pastando.
Eu imito Jed e seu Pégaso preto chamado Midnight quando eles
pousam.
Quando meus pés estão em solo firme, Jed me leva até um grande
lago que fica ao lado do campo.
A área é grande, quase do tamanho de todo o Território da Red Moon.
À minha esquerda está um enorme lago no fundo de uma cachoeira.
À minha frente e à direita se estende uma floresta que vai até onde a
vista alcança.
Jed se senta em um tronco caído próximo ao lago e eu me sento ao
lado dele.
— Então... você quer me dizer o que aconteceu?
Solto um suspiro enquanto olho para as minhas mãos e elas se torcem
no meu colo.
Meus olhos começam a arder com lágrimas novamente, e meu lábio
inferior treme antes de eu finalmente lhe dar um leve aceno de cabeça.
Logo, estou contando tudo a ele. Acontece que ele é um ouvinte
muito bom, já que não responde até que eu termine completamente
minha história.
Ele encara a cachoeira por um momento enquanto parece estar
pensando. Finalmente, ele se vira para mim.
— Ev... eu sei que você pode não estar pronta para ouvir isso... mas a
coisa toda não parece meio suspeita para você?
Eu inclino a cabeça, confusa, franzindo as sobrancelhas e apertando
os lábios.
— Eu não sei... será? — eu respondo, embora pareça mais uma
pergunta.
— Bem, pense sobre isso. Esse cara, Logan, parece realmente se
importar com você e disse que te ama. Ele diz que é seu companheiro e
até marcou você. Eu li sobre lobisomens e seus companheiros. É um
amor muito poderoso e que consome tudo para a maioria deles. E pelo
que parece, ele não lhe deu nenhum motivo para duvidar de que ele se
sente assim a seu respeito. Parece que é essa maldita garota... Rebecca?
Eu aceno para que ele saiba que disse o nome certo, antes que ele
continuar.
— Ela parece estar disposta a fazer e dizer qualquer coisa para te
irritar. Ela está com os olhos em seu companheiro, e eu diria que ela está
aproveitando todas as chances que tem para brincar com suas
inseguranças. Por último, você não acha estranho alguém ter vindo e dito
que Logan queria ver você, só para que você pudesse entrar enquanto ele
estava fazendo coisas com a garota?
Penso nisso enquanto uso uma vara comprida para desenhar na terra
a meus pés.
— Sim... eu acho que parece estranho, — eu admito, com um suspiro.
E como sua companheira, devo ser capaz de sentir o que ele está
sentindo.
Eu não sentia luxúria ou desejo por parte dele. Na verdade, senti
choque e raiva.
— Tudo o que estou dizendo é que acho que você precisa falar com
ele. Talvez tenha sido uma armação. Ou há algum tipo de explicação.
Você não tem que perdoá-lo, de forma alguma; de qualquer forma, parece
que ele se meteu em uma situação em que não deveria... Mas acho que
você precisa ouvi-lo antes de desistir dele. Quero dizer, esse vínculo de
companheiro é muito sério. Ele é literalmente sua alma gêmea, afinal.
Eu inclino a cabeça e a descanso em seu ombro enquanto solto um
suspiro e olho para a água ondulante diante de mim.
— Acho que você está certo, mas acho que preciso de mais tempo...
— Leve o tempo que precisar. Você sabe que pode ficar aqui o tempo
que quiser.
— Obrigado, Jed. Por tudo.
— Qualquer coisa por você, prima.
Capítulo 43
Logan
A magia de Delisia durou tanto quanto pôde, mas o poder deles era
demais para ela.
Eles vieram com cinco poderosas bruxas, e seu número excede em
muito o nosso.
Junto com um grande número de lobos que parecem ser de várias
matilhas do norte, há também alguns vampiros.
No início, fomos capazes de nos aguentar. Minha matilha é forte e
formada por muitos lutadores excelentes.
Infelizmente, cada vez que derrubamos um inimigo, mais três tomam
seu lugar.
Cole e um grupo de lobos estão à minha direita, enquanto Max está
com vários outros à minha esquerda.
Delisia e eu estamos costas com costas, fazendo o nosso melhor para
proteger o maior número possível de membros de nossa matilha.
Até agora, não vi Alfa Damon ou Lord Lacroix. Eles provavelmente
estão esperando à margem mais uma vez, os covardes.
Um grande lobo pula em mim, e eu rapidamente me esquivo antes de
lançar-me em sua jugular e derrubá-lo.
Jogando-o para o lado, alguém choca-se com minha lateral, fazendo-
me tropeçar antes de me virar para enfrentar meu próximo oponente,
um dos vampiros.
Eu deixo escapar um rosnado ameaçador enquanto o ataco. Ele
rapidamente se esquiva e tenta me agarrar, mas eu sou muito rápido para
ele.
Abaixando-me e rolando, sou capaz de cravar meus dentes em sua
coxa e arrancar um pedaço antes de acertá-lo com um golpe mortal.
A luta continua, e pelas atualizações que estou recebendo através do
link da matilha, estamos vencendo.
No entanto, ninguém viu Damon ou Lacroix ainda. Isso não é um
bom presságio. Também noto que as bruxas não têm ajudado.
Eles usaram sua magia unida para quebrar as barreiras mágicas de
Delisia e feitiços de proteção, mas agora esperam ao longo dos limites do
território.
Eles estão afastados e assistindo a guerra enquanto ela se desenrola
na frente deles.
Procurando alguém para derrubar, vejo que nossos oponentes agora
estão limitados. Infelizmente, todo o meu corpo está tenso.
Algo não parece certo. Nenhum dos lutadores mais fortes parece estar
participando da batalha.
De repente, vejo o grande lobo marrom de Alfa Damon avançando em
minha direção com outros cinquenta lobos atrás dele e cerca de vinte
vampiros.
Todos eles avançam e se espalham na nossa frente. Eu assumo uma
posição defensiva enquanto Delisia lança um feitiço em sua direção.
Uma das bruxas bloqueia rapidamente antes que Damon colida em
mim.
Nós imediatamente começamos a morder e arranhar uns aos outros
enquanto todos os outros se dispersam para lutar contra seus próprios
oponentes.
Eu ando em torno dele enquanto solto um rosnado, e ele rosna de
volta para mim. Ele se lança para mim e eu me esquivo antes de lançar
uma garra contra sua barriga.
Ele solta um grito de dor antes de pular em mim mais uma vez.
Eu caio de costas, usando minhas patas traseiras para jogá-lo antes de
rolar de volta para uma posição ereta.
Desta vez, eu pulo sobre ele, prendendo-o embaixo de mim. Minha
mandíbula se abre quando vou rasgar sua garganta.
Inesperadamente, eu congelo, meus músculos incapazes de se mover
como se eu tivesse me tornado uma estátua.
A única parte do meu corpo que parece não estar congelada são meus
olhos enquanto eles tentam freneticamente descobrir o que está
acontecendo comigo.
É
É então que vejo que uma das bruxas deixou seu posto e está a poucos
metros de mim e de Damon.
Ela encontra meu olhar enquanto sua mão está estendida em minha
direção, e eu sei que ela é a causa do meu estado atual.
Vejo que as outras bruxas estão fazendo o mesmo, forçando meus
lobos mais fortes a ficarem completamente paralisados.
Cole, Max e Delisia são todos pegos no feitiço junto com Devon, um
dos meus melhores guerreiros.
Este acontecimento repentino faz com que todos parem e percebam
enquanto olham em volta confusos, imaginando o que está acontecendo.
Damon rasteja debaixo de mim, seu olhar malicioso nunca deixando
o meu. Ele sorri para mim enquanto afirma: — Se transforme.
Eu rosno para ele. Eu não recebo ordens deste desgraçado. Eu não
vou me transformar. No entanto, logo sinto uma força me pressionando
enquanto a magia me força a mudar.
Rangendo os dentes, sinto que estou pegando fogo enquanto meu
corpo involuntariamente volta à sua forma humana antes de desabar no
chão.
Eu olho para cima para ver Alfa Damon e a bruxa com sorrisos
malignos em seus rostos.
Fazendo uma careta para eles, eu rapidamente coloco o short que
estava amarrado na minha perna antes de me levantar.
Eu sou um pouco mais alto do que Damon, então olho para ele.
Seus lábios se torcem em aborrecimento antes de ele sinalizar para a
bruxa que está posicionada atrás dele.
Ela imediatamente envia outro feitiço em minha direção, fazendo
com que grilhões de prata apareçam em meus pulsos e tornozelos.
Eu cerro os dentes enquanto o metal queima minha pele, fazendo-a
ficar vermelha e empolada.
O som crepitante da minha carne é tudo que ouço antes de ver que
todos os meus lutadores estão na mesma posição.
Por que eles não estão nos matando?
— Alfa! Lorde Lacroix pegou a Luna! Eu não sei para onde ele a levou!
Eu ouço a voz alarmada na minha cabeça, e meu coração aperta
quando meus olhos se arregalam. NÃO! Não, não, não. O pânico surge
em mim.
Eu preciso encontrá-la. Eu preciso salvá-la antes que coloquem as
mãos em minha companheira. Deusa... Por favor, ajude-nos encontrar
uma maneira de sair dessa.
***
O rei Alistair e Jed reúnem suas tropas e me dão uma muda de roupa
adequada para a batalha.
Eu balanço minha perna sobre meu Pégaso, Snow, antes de esfregar
meu colar.
Com meu tio de um lado e meu primo do outro, voamos através da
imagem que reflete o Território da Red Moon.
Nós voamos para fora do lago, seguidos por mais de uma centena de
guerreiros Fae. Todos os lutadores param e ficam boquiabertos enquanto
voamos acima.
Eu uso o link da matilha para falar com o meu grupo.
— Parem de olhar fixamente e livrem-se desses invasores, — digo com
um sorriso antes de convocar uma bola de fogo de uma das tochas que
ainda estão acesas.
Focando nas chamas que estão girando em minha palma, eu as
amplio enquanto meus olhos examinam a clareira.
Eu encontro o local onde deixei o Mestre, mas ele não está mais lá.
Em vez disso, é apenas uma pilha de sujeira deixada para trás.
Meu olhar fica um pouco mais frenético até encontrá-lo. Tanto Alfa
Damon quanto ele estão se unindo contra Logan.
Eu vejo como o grande lobo preto de Logan se lança sobre o marrom
escuro de Alfa Damon.
Ele morde o ombro e arranca um pedaço enquanto o Mestre se
materializa em uma fumaça negra bem atrás dele.
Ele segura uma adaga preta dentada em sua mão, e eu
instantaneamente mando a bola de fogo para ele. Ela o acerta na lateral
do corpo e o desequilibra.
Agora estou de costas para Logan, de modo que é uma luta
equilibrada, comigo contra o Mestre e Logan contra Damon.
Eu desprezo Mestre Lacroix quando o encaro. Com meus poderes em
total controle, ele não é páreo para mim. Ele não pode mais se
teletransportar para longe do perigo.
Não há mais como se esconder.
— Eu nunca fui sua, — declaro enquanto dou um passo em direção a
ele, continuando a separá-lo com o vento conjurado.
— Mas agora, sua vida é minha.
Eu o solto e rapidamente puxo uma espada brilhante da bainha presa
ao meu quadril.
Existem apenas algumas maneiras de matar um vampiro, queimar até
as cinzas, cravar uma estaca no coração ou decapitar.
O nascer do sol está a horas de distância, e seria preciso muito tempo
e foco para chamar outra bola de fogo.
Ele avança para mim, e eu rapidamente me esquivo antes de focar na
terra novamente. Ela começa a sugar seus pés enquanto ele estende a
mão para me agarrar.
Eu golpeio com a espada, e ele desajeitadamente se abaixa antes de eu
balançá-la novamente.
Ignorando a luta acontecendo ao meu redor, mantenho toda a minha
atenção no Mestre. Eu não quero que ele escape de minhas garras.
Nós circulamos um ao outro, e toda vez que ele tenta se dissipar, eu
imediatamente o paro. Ele rosna e pula para mim.
Apressadamente, eu saio de seu caminho e vou em direção a ele com a
espada.
Eu consigo atingir a lateral dele, e o vermelho começa a se espalhar
para fora do corte.
Imediatamente, aproveito o ferimento para lançar a lâmina afiada
nele novamente.
— Você não pode me vencer! — ele rosna para mim.
— Não. É VOCÊ que não pode vencer, — eu insisto enquanto evito
outro de seus ataques.
Eu envio uma rajada de vento para ele, e ele sai voando, caindo de
costas. Eu levanto a espada acima da minha cabeça e mando em seu
peito.
— Isso é por tudo que você fez para mim! — Eu grito com ele antes de
atingi-lo novamente. — Isto é para cada punição!
E de novo.
— Isto é para cada pessoa que você já machucou!
Uso o vento para puxá-lo para cima, de modo que fique de pé, embora
frouxamente.
Todo o seu torso frontal está manchado de sangue, e estreito os olhos
para ele.
— Você nunca mais machucará ninguém, — eu declaro com decisão.
— Apodreça no inferno. — E com isso, giro a espada, ouvindo o vento
assobiar por ela antes de fazer contato com sua garganta.
Ouve-se um baque quando sua cabeça cai do pescoço e pousa no chão
frio, os olhos arregalados de medo e descrença.
Eu fico olhando para ele por um momento, absorvendo. É difícil
acreditar que seja real. Mestre Lacroix finalmente está morto.
Uma sensação de alívio flui através de mim quando eu liberto seu
corpo do vento, e ele cai ao lado de sua cabeça decepada.
Eu me viro para olhar para Logan a tempo de vê-lo rasgar a garganta
de Damon.
A figura do lobo marrom cai no chão, e Logan se vira para olhar para
mim.
Ele instantaneamente muda de volta para sua forma humana e corre
para mim, nem mesmo se importando com seu traseiro nu e coberto de
sujeira e sangue.
Eu passo meus braços em torno dele. Ele segura meu rosto, afastando
meu cabelo para trás e colocando-o atrás das orelhas. Seu olhar amoroso
me faz derreter em suas mãos.
— Graças à Deusa você está bem, meu amor. Se alguma coisa tivesse
acontecido eu... eu não... — ele parece engasgar, incapaz de terminar a
frase.
Eu acaricio sua bochecha enquanto lhe ofereço um sorriso caloroso.
— Não há necessidade de pensar assim. Estou ilesa e tudo acabou
agora.
Ele sorri de volta para mim enquanto passa seus braços em volta da
minha cintura, me puxando para mais perto dele.
Seu peito musculoso me pressiona enquanto ele enterra o rosto na
curva do meu pescoço e respira fundo.
— Eu te amo muito, — ele sussurra antes de colocar um beijo suave
no meu pescoço.
— Eu te amo mais, — murmuro de volta.
Capítulo 49
Everly
Um ano Depois
Eu ando pelos corredores da mansão gigante que agora chamo de lar.
Todos por quem passo inclinam a cabeça em respeito, alguns até me
cumprimentam com um simples:
— Bom dia, Luna.
Eu rapidamente sorrio para eles e respondo antes de continuar meu
caminho.
A casa da matilha está um caos no momento, enquanto nos
preparamos para um gigantesco banquete de Ação de Graças.
Todos os membros vão se juntar a nós para o jantar, e estou muito
animada.
Antes mesmo de chegar à cozinha, os deliciosos aromas flutuam para
me cumprimentar.
— Mmm... — murmuro com os olhos arregalados enquanto caminho
para ver os agitados ômegas enquanto eles preparam a comida para esta
noite. — Tudo tem um cheiro divino, — digo a eles enquanto espio
alguns dos pratos que estão sendo preparados. Eles sorriem para mim e
respondem agradecendo enquanto eu prossigo.
Entrando na sala de jantar, Mia corre até mim.
— Ev!
— Ei, Mia! Como vai tudo?
— Preciso da sua opinião sobre algumas coisas, — ela responde
apressadamente antes de pegar minha mão e me arrastar para uma das
enormes mesas de jantar.
— Qual peça central você gosta e quantas você quer?
Olhando para as poucas opções que ela definiu, eu bato meu dedo
indicador no meu queixo em pensamento.
— Use aquelas duas velas e estas para preencher as lacunas. As cores
suaves parecem mais elegantes e combinam melhor com a decoração
atual.
— Perfeito! Eu também estava pensando nisso! E quais configurações
de local você deseja?
Ela então aponta as três opções que criou para mim.
— Eu gosto do branco com estampa dourada.
— Excelente! Era tudo que eu precisava! Obrigada, Ev! — ela me dá
um abraço rápido, que não hesito em retribuir.
Assim que me certifico de que todos os preparativos estão indo bem,
começo a subir pela enorme escada até chegar ao quarto andar.
Dou uma leve batida na porta do escritório de Logan, e ele
imediatamente me chama para entrar.
Assim que eu abro a porta, ele se levanta de seu assento atrás de sua
mesa e caminha até mim.
— Como está minha linda esposa?
— Maravilhosa, só um pouco cansada. E quanto ao meu marido sexy?
— eu respondo, com um sorriso enquanto ele gentilmente me envolve
em seus braços e beija minha testa.
— Melhor agora que você está aqui, — ele responde antes de colocar
um beijo longo e profundo em meus lábios.
Ele se afasta, descansando sua testa contra a minha enquanto uma
mão desliza em volta da minha cintura e para na minha barriga.
— E como está nosso filhote?
Meu sorriso se alarga instantaneamente.
— Bem. Mal posso esperar para contar à matilha esta noite. Eles vão
ficar tão animados!
— Claro que vão! É o futuro alfa deles aí dentro, — Logan comenta,
enquanto esfrega minha barriga e me dá outro beijo.
— Eu te amo muito, — murmuro para ele com um suspiro de
contentamento.
— Eu te amo mais, — ele rebate com um sorriso suave, seus olhos tão
cheios de amor que eu poderia explodir.
***
A carta pesa muito na minha mão — e não apenas porque está escrita
em papel cartão muito grosso.
Everly está olhando para mim com expectativa, esperando por uma
resposta. Então eu apenas abro minha boca e as palavras começam a sair.
— Acho que estou apenas, — gaguejo, — bem, conhecer sua família
— é meio que um grande passo — Espere, espere, espere, — interrompe
Everly. — Não me diga que o Alfa mais forte do Sul está... nervoso?
— E só — e se eles não me aprovarem? — Eu pergunto a ela.
Ela solta uma risada. — E um pouco tarde para a aprovação deles, eu
acho, — diz Everly, apontando para a marca de acasalamento na lateral
do pescoço.
— Eu acho que isso é verdade, — eu digo. — Mas eu ainda quero que
eles gostem de mim.
— Gostem de você?! — Everly diz, incrédula. — Do que você está
falando? Eles vão adorar você!
Ela me puxa para perto e posso sentir instantaneamente minhas
preocupações começando a desaparecer.
— Vai ser tão divertido, — diz ela. — E se você está preocupado em
deixar a matilha para trás, lembre-se de que o tempo passa mais rápido
no reino Fae. Alguns dias serão apenas um dia na Terra.
— Você está certa, — eu digo, uma nova sensação de alívio tomando
conta de mim. — Faremos amor em dobro na metade do tempo, —
acrescento com uma piscadela.
— Exatamente, — diz Everly. — E você vai conhecer Snow, meus
primos, minha tia, meu tio, e...
— Eu sou o primeiro menino que você vai trazer para casa? — Eu
pergunto a ela provocativamente.
Mas tão rápido quanto as palavras saem da minha boca, eu percebo a
estupidez absoluta da minha pergunta.
Everly nem sabia que tinha uma família Fae até alguns meses atrás. E
sua mãe e seu pai morreram quando ela era criança.
Às vezes eu esqueço o quanto trauma esta garota passou, porque ela é
tão forte.
— Sinto muito, — digo antes que ela tenha a chance de responder. —
Essa foi uma pergunta estúpida.
Mas posso ver que o dano já está feito.
Uma tristeza apareceu atrás de seus olhos, substituindo a alegria que
havia momentos atrás.
Everly
Posso ouvir na voz de Everly que ela ainda está inquieta. Mas vou
passar minha vida provando a ela que ela está segura comigo... custe o
que custar.
Estou desesperado para fazer mais perguntas sobre seu ataque de
pânico.
Durante isso, fiz uma ligação mental com ela e mal consegui
distinguir o contorno tênue de outro homem.
Quem é ele?
Ela amou outra pessoa antes de mim?
Por que ela nunca o mencionou?
Claro que quero saber mais. Mas não se isso significar desencadear
outro episódio como o que ela acabou de ter. Eu não posso fazer isso de
novo. Era muito doloroso assistir.
Então, em vez disso, engulo minhas inúmeras perguntas e a seguro
com força em meus braços até que ela adormeça.
A primeira coisa que faço pela manhã é fazer uma ligação mental para
Cole.
— Encontre-me no refeitório, — digo a ele.
Everly já está fazendo as malas para nossa jornada ao reino Fae.
— Eu estarei de volta em alguns instantes, — eu digo a ela. — Eu só
vou falar com Cole bem rápido antes de sairmos.
Quando chego no refeitório, Cole já está sentado à mesa, em frente a
Delisia.
Meu Beta está comendo um enorme prato de waffles e ovos mexidos
enquanto Delisia toma uma xícara de chá com cheiro de gengibre e ervas.
— Como vão as coisas? — Cole pergunta quando me vê me
aproximando.
— Vou fazer uma pequena viagem hoje, — digo a ele.
— Você está indo para o norte? — Cole me pergunta. — Acabei de
ouvir boatos de que há alguns problemas acontecendo lá.
— O que você ouviu? — Pergunto-lhe.
— Bem, agora que o Alfa Damon está morto... vamos apenas dizer que
problemas adoram um vácuo de poder, — diz Cole.
— Porra, — eu digo, balançando minha cabeça. Esta é realmente a
última coisa com a qual preciso me preocupar hoje.
— Aparentemente, há algum novo Alfa na cidade que está agitando as
coisas. Mas como você não sabia disso, acho que deve estar indo para
outro lugar.
— Sim, — eu digo. — Estou indo para o reino Fae com Everly. E hora
de conhecer sua família.
— Ooooh, — Cole diz provocadoramente. — Boa sorte com isso.
— Obrigado, — eu digo. — Eu estarei fora por alguns dias no tempo
Fae, mas apenas um dia ou mais neste reino. Tente não queimar a casa da
matilha enquanto eu estiver fora, ok?
— Eu acho que devo cancelar o festival de comer fogo que eu estava
planejando então, hein? — Cole diz com uma risada.
— Essa é provavelmente uma boa ideia, — eu atiro de volta. — E fique
de olho na situação do norte. Quero um relatório completo quando
voltar.
— Sim, senhor, — diz Cole.
Eu olho para Delisia. — E eu quero que você fique de olho em Cole
enquanto eu estiver fora, — eu digo.
Ela sorri largamente. — Eu sempre faço isso, — ela diz.
— Obrigado, Delisia, — eu digo.
— Já que você está indo para o reino Fae, você irá coletar algumas
samambaias de prata para mim? Estou trabalhando em uma nova poção e
eu mesma ia fazer a jornada até lá, mas como você já está indo...
— Onde encontro está samambaia prateada? — Eu pergunto a ela.
— Está crescendo em toda a Floresta Prateada, no sul do reino. Não
tem como não ver, — diz ela.
— Vou trazer uma bela porção para você, então, — digo.
Eu me levanto para sair, mas a voz de Delisia me chama de volta: —
Oh, Logan, mais uma coisa.
— E aí? — Eu pergunto a ela.
Ela enfia a mão na bolsa de crochê que está sobre a mesa e a examina
por um momento. Em seguida, ela puxa um pequeno frasco azul e o
entrega para mim.
Abro a garrafa e dou uma cheirada. O cheiro é absolutamente nojento
— como sujeira misturada com cascas de laranja podres.
— Eca, — eu digo. — O que é isso?
— É para enjoo, — ela diz. — A jornada ao reino Fae pode ser um
pouco... desafiadora para alguém sem qualquer vestígio de Fae em sua
linhagem.
Eu aceno, respiro pela boca e bebo o frasco de volta como uma dose
de vodca.
E chocante que esta poção possa ajudar com as náuseas, porque quase
vomito ao saboreá-la.
Em seguida, dou um gole do suco de laranja de Cole e aceno para os
dois. — Vejo vocês amanhã! — Eu digo. — Me desejem sorte!
Quando eu volto para o meu quarto, Everly já está esperando por
mim, com duas malas prontas ao lado dela.
— Tudo certo? — Ela me pergunta.
— Sim! Cole e Delisia vão se certificar de manter a matilha de pé
enquanto estivermos fora, — eu digo. — Vamos sair daqui!
Everly me puxa para a frente do grande espelho com moldura
dourada que está encostado na parede do nosso quarto.
Eu verifico meu reflexo, alisando minha camisa e endireitando meu
colarinho.
Everly ri. — Não se preocupe, — ela diz. — Você está ótimo.
— Conhecer o rei e a rainha do reino Fae seria intimidante o
suficiente, — digo com um suspiro. — Por que eles também têm que ser
seus tios?
Ela ri de novo e dá um beijo no meu rosto. — Você vai se dar bem, —
ela diz.
Everly tira um amuleto de seu bolso: um colar com uma pedra verde
— sua chave para o reino Fae. Ela o pendura no pescoço e se olha no
espelho.
Minha companheira e eu fazemos contato visual através do espelho.
— Segure minha mão, — ela diz. Eu a agarro com força.
E então, de repente, meu estômago se embrulha quando eu sinto o
chão cair debaixo de mim, e o mundo ao meu redor — o único mundo
que eu já Conheci — se dissolver em nada.
Capítulo 3
Everly
Puta merda.
Um momento, Logan e a figura sombria estavam parados bem na
minha frente.
Agora os dois se foram, junto com o redemoinho que parecia engoli-
los por inteiro.
Para onde eles foram?!
Eu bato furiosamente nas paredes da caverna, gritando o nome do
meu companheiro.
— Logan, — eu grito. — Logan!
Entretanto, a única resposta que recebo é minha própria voz ecoando
pela caverna vazia.
Lágrimas correm pelo meu rosto como uma cachoeira. Sabe-se lá
onde ele está agora.
Eu só sabia que minha felicidade era boa demais para ser verdade...
que a escuridão estava à espreita. E acabou que eu estava certa!
— Logan! — Eu grito mais uma vez, mas é claro que é em vão.
Não posso deixar minha mente ficar desolada... não quero ouvir que é
tarde demais. Que nunca mais verei Logan. Que ele está morto.
Em vez disso, preciso começar a procurar soluções.
Minha única missão neste mundo é encontrar Logan e tê-lo em
segurança em meus braços novamente.
Eu farei o que for preciso.
Quem diabos era aquele homem?
Havia algo familiar sobre ele... algo que reconheci.
É possível que ele fosse um companheiro de Lord Vlad ou Alfa
Damon? Ele está procurando vingar suas mortes?
Preciso voltar ao palácio Fae agora e ver se minha família sabe alguma
coisa sobre esta caverna. Talvez eles possam me ajudar a descobrir quem
diabos era e para onde ele levou meu companheiro.
Eu corro para fora da caverna a toda velocidade e vejo Snow
esperando por mim como o leal corcel que ela é.
Ela se aproxima de mim, sentindo que algo está errado, e acaricia
minha bochecha, secando minhas lágrimas.
— Obrigada, — eu digo a ela.
Eu subo em cima dela, tentando firmar minha respiração e me
recompor.
— Vamos voltar para o palácio, — eu digo. — Agora. — Ela me
entende perfeitamente e, em um instante, suas asas se abrem e nós
decolamos para o céu.
Enquanto o ar frio passa pelo meu rosto, sinto-me energizada. Toda a
tristeza, o desespero, o medo, são substituídos por pura raiva do captor
de meu companheiro.
Logo, posso ver o contorno do palácio à distância.
Todas as luzes estão apagadas. Não tenho ideia de que horas são, mas
já deve ser no meio da noite.
Finalmente, Snow pousa em frente ao palácio. Eu desmonto e corro
em direção às portas, onde Pierre está montando guarda.
— Princesa Everly, está tudo bem?
— Não, — eu digo. — Não está. Preciso falar com minha tia e meu tio
agora. E Jed também. Não posso esperar. E uma questão de vida ou
morte.
— Sim, senhora, — diz ele, com a preocupação gravada em seu rosto,
e ele corre para pegá-los.
Em poucos minutos, minha família se junta a mim no foyer.
Estou acostumada a vê-los em seus trajes reais completos. Eles
parecem tão diferentes em seus roupões de banho à luz fraca das velas.
— O que aconteceu, Everly? — Diz minha tia, correndo em minha
direção.
— A figura encapuzada... aquela que eu vi ontem à noite..., — eu
começo. — Eu o vi de novo.
— Ai, meu Deus, — diz meu tio. — O que aconteceu?
— Ele levou Logan, — eu digo.
Sinto a mão de Jed em meu ombro. — O que você quer dizer? Sente-
se e conte-nos tudo, — diz ele.
Sua mão repousa nas minhas costas enquanto ele gentilmente me
empurra em direção a uma área ao lado de uma lareira.
Meu tio aponta para a lareira e uma chama forte aparece. Agradeço o
gesto. O calor é reconfortante em meus momentos de necessidade.
Eu me sento e começo do início.
— Logan e eu estávamos explorando a Floresta Prateada. Fizemos
uma longa caminhada e nos cansamos. Acabamos caindo no sono no
chão da floresta, — digo, deixando de fora as partes explícitas para o
benefício da minha família.
— Quando eu acordei, — eu continuo, — eu podia ouvir Logan
uivando. Segui o som até uma caverna, onde o vi lutando com a figura
encapuzada.
O homem o puxou para uma piscina de prata rodopiante e os dois
desapareceram.
Eu vejo os rostos de cada um dos membros da minha família caírem,
um de cada vez.
— A piscina em redemoinho, — começa meu tio, — você pode
descrevê-la?
— Era uma substância estranha. Parecia água, mas dava pra ver que
não era. E eu podia sentir que tinha uma energia sombria.
Meu tio franze os lábios e junta as mãos. — Parece, — diz ele, — que
você e seu companheiro podem ter tropeçado na entrada do submundo
Fae.
— O quê? — Eu pergunto, incapaz de compreender o que ele está me
dizendo.
— O portal para o submundo fica nas profundezas da Floresta
Prateada, — diz minha tia. — Diz a lenda que assume a forma de um lago
prateado rodopiante. Só é possível encontrá-lo se você for conduzido até
lá pelo próprio governante do submundo.
— Quem é ele? — Eu pergunto. — Quem é o governante do
submundo?
— Não sabemos o nome dele. Ou seu rosto, — responde Jed. — Nós
apenas o chamamos de Príncipe das Trevas.
Meu coração para por um instante. O que o governante do submundo
quer com Logan?
Logan
Minha garganta está queimando, por ter que gritar por tanto tempo.
Eu preciso parar. Eu preciso economizar minha energia.
No entanto, assim que fico em silêncio, juro que posso ouvir a voz de
Everly.
A princípio, acho que devo estar imaginando coisas.
Mas não.
É real.
É uma ligação mental?
Eu fecho meus olhos e tento me concentrar, mas não parece vir
daqui.
Eu posso ouvi-la gritar, mas não é o meu nome que ela está
chamando.
Ela está chamando o Príncipe das Trevas.
— Everly! — Eu digo. — Everly! Onde você está?!
Eu espero por uma resposta, mas em vez disso, ouço o som fraco do
Príncipe das Trevas respondendo a ela.
Ele deve ter aberto o portal para ela novamente.
Eu escuto atentamente, esforçando-me para entender suas palavras.
E então eu ouço uma frase que enfia uma faca direto para o meu
coração.
— Você vai trocar sua alma pela dele? — O Príncipe das Trevas
pergunta a ela.
— NÃOOOO! — Eu grito, agarrando as rochas que me cercam, me
mantendo preso neste buraco do inferno.
A rocha denteada penetra em minha pele, rasgando a carne.
Mas a dor não me incomoda. Não comparado à dor de ouvir a oferta
cruel do Príncipe das Trevas.
Sangue quente escorre pelos meus antebraços enquanto continuo a
gritar na escuridão.
— EVERLY! — Eu grito. — NÃO FAÇA ISSO! SALVE-SE!
Eu rezo para qualquer porra de Deus que possa existir para que
minha companheira tenha bom senso o suficiente para recusá-lo... para
correr para muito, muito longe dele.
Eu ficaria neste cativeiro para sempre se isso significasse poupá-la de
mais um minuto de tortura do que ela já suportou em sua vida.
Sua vida foi trocada de um homem cruel para outro até que ela
encontrou o caminho para minha matilha.
A última coisa que ela merece é ser deixada nas garras de outro
mestre monstruoso como o Príncipe das Trevas.
— Por favor, Everly... — Tento fazer a ligação mental com ela
novamente. — Vou encontrar uma maneira de sair daqui. Só não faça isso.
Everly
Eu a trouxe aqui.
Finalmente.
Meu plano valeu a pena.
Ela precisava entrar no submundo por sua própria vontade, e ela o
fez.
Certo, era parte de uma pequena troca, mas ela fez a escolha final
para atravessar o portal.
E agora, quando a observo com o olho interior da minha mente, vejo
que ela já está tentando escapar.
Eu não a culpo. Nada costumava me trazer mais alegria do que
minhas viagens ao reino humano. Mas ela não pode ir.
Eu preciso ficar de olho nessa mulher mal-humorada.
Eu gostaria que ela pudesse se juntar a mim no meu quarto, mas não
quero forçá-la a nada mais romântico até que ela esteja pronta.
Descendo do meu escritório pela escada em espiral, eu saio para a
caverna onde o poço maldito mora.
Desde que fui morto em minha última viagem ao reino humano,
estou confinado ao submundo. Minha alma foi cortada e agora apenas
um pedaço de minha alma Fae permanece, me mantendo preso aqui.
Agora, até mesmo essa parte da minha alma está desaparecendo
lentamente. E embora Everly tenha me dado a dela em troca da de
Logan, não serei salvo até que também tenha seu coração.
Eu sei que já a amo, mas seu coração pertence a Logan.
Eu a tenho em minhas mãos, mas agora preciso fazer com que ela se
apaixone por mim.
Só então estarei completo novamente.
Só então serei capaz de me mover entre os reinos.
Só então serei livre.
Mas como posso torná-la minha companheira?
Capítulo 11
Logan
Abro os olhos e uma luz azul brilhante inunda meus olhos. Respiro
profunda e dolorosamente, mas tudo o que consigo é uma golfada de um
líquido estranho e pegajoso.
Eu movo meu corpo, mas parece que estou debaixo d'água. Mais luzes
azuis brilhantes giram em torno de mim, e parece que estou sendo
puxado para baixo por algum tipo de corrente.
Minha mente dispara, tentando descobrir o que aconteceu.
Estava na cama com Everly...
Fui apunhalado no coração...
De repente, eu sei onde estou.
Estou em casa.
Eu furiosamente começo a nadar para cima.
Meu corpo está doendo e meus pulmões estão queimando, mas nado
com todas as minhas forças.
Então, eu chego à superfície, tossindo e com falta de ar.
Eu nado até uma saliência rochosa e me levanto, exausto e
recuperando o fôlego. Meu corpo inteiro lateja de dor.
Meu coração parece que foi cortado em dois.
Percebo o que acabou de acontecer. Meu lado vampiro está morto.
Mas meu lado Fae foi enviado de volta para o submundo.
Sento-me e olho para o redemoinho azul brilhante de onde acabei de
sair.
O Poço das Almas.
Incontáveis almas mortas giram em tomo dele, gemendo com a dor
de perder suas vidas e tudo o que amavam.
— Você é um de nós agora — eu os ouço sussurrando ao meu redor,
como se estivessem em um coro.
— Não, eu não sou. Eu sou seu príncipe, — eu grito, ficando de pé.
— Você é como nós — eles gemem. — Você não tem nada que o ligue ao
reino mortal. Sem companheira, sem amor, sem ninguém.
— Calem a boca, — eu sibilo, afastando-me deles com nojo para subir
as escadas em direção ao palácio.
No entanto, no fundo, sei que eles estão certos.
Não há mais batimento cardíaco no meu peito.
E só há uma maneira de me ligar de volta ao reino mortal, para me
impedir de me tomar apenas mais uma das almas perdidas do submundo.
Preciso de uma companheira antes que seja tarde demais.
Os olhos esmeralda de Everly piscam diante dos meus olhos.
Ela é a única que pode me trazer de volta à vida.
Capítulo 13
Everly
Por tantos anos, sonhei com Everly entrando nesta sala e me olhando
daquele jeito.
Aquela expressão em seu rosto que ela sempre me dava quando eu
entrava em seu quarto no Banco de Sangue.
O olhar que diz — Senti sua falta.
E agora, aqui está ela, olhando para mim do outro lado da mesa,
dizendo exatamente isso com os olhos.
Meu corpo se inunda de desejo quando a vejo naquele vestido
vermelho. Seus ombros estão nus e o tecido abraça suas curvas em todos
os lugares certos.
Ela pega sua taça de vinho e a estende na minha direção.
— Posso beber um pouco de vinho?
Eu balanço minha cabeça, afastando meus pensamentos de como ela
ficaria sem aquele vestido. — Claro.
Pego o copo e, por um momento, nossas mãos se tocam. Sua pele lisa
e macia é tão boa, e eu não quero puxar minha mão.
De repente, sinto meu coração ganhar vida.
Meus olhos se arregalam e coloco minha mão no peito, sentindo meu
coração começar a bater pela primeira vez desde que morri.
O pulso está fraco, mas é alguma coisa. Apenas estar com Everly está
trazendo vida de volta para mim.
Está funcionando!
Estou no caminho certo!
— Então, Everly..., — eu digo, me recompondo e tentando esconder
minha excitação enquanto eu sirvo o vinho. — Não sei por onde
começar. Como você conseguiu sair daquele lugar?
Ela desvia o olhar, com angústia caindo em suas feições.
— Como você disse, tudo isso está no passado, — diz ela. — Eu
prefiro não falar sobre isso.
— Sobre o que você prefere falar?
Ela ergue os olhos e sorri. — Prefiro falar sobre você.
— Você já me conhece, Everly, — eu digo.
Eu a vejo pegar um morango de uma tigela e levá-lo aos lábios
vermelhos. Ela sensualmente dá uma mordida.
— Não tanto quanto eu gostaria.
Seus olhos me encaram e posso estar louco, mas sinto que posso
detectar alguma luxúria neles.
— Deixe-me mostrar uma coisa, — eu digo de repente. Eu ofereço
minha mão.
— E o jantar?
— É mais importante.
Ela me lança um olhar curioso e pega minha mão enquanto a levo
para fora da sala de jantar. Descemos um lance de escadas para uma
passagem escura.
Chegamos ao fundo e entramos em uma caverna gigante.
O chão está coberto por um campo de árvores e flores verdes
brilhantes, ondulando com a brisa. Acima de nós, no topo da caverna, há
uma abertura gigante onde deveria estar o teto. Padrões de redemoinhos
azuis dançam no céu escuro.
É
— É lindo, — ela solta.
— Eu acho que você pode ser a única humana que já viu isso.
Eu coloco minha mão em sua cintura e a levo para o meio do campo.
Quando toco o tecido de seu vestido pelo quadril, meu coração
começa a bater ainda mais forte em meu peito.
— Everly..., — eu digo. — Você não tem que encenar comigo. Essa
pessoa mais sexy e sedutora não é você. Já me apaixonei por você. Você
não precisa fazer nada além de ser exatamente quem você é.
Ela me dá um sorriso triste, com seus olhos esmeralda procurando os
meus.
Essa tensão entre nós é muito forte.
Não quero nada mais do que beijá-la, mas estou com medo de que, se
o fizer, a afastarei.
Naquele momento, outro sentimento estranho brotou dentro de
mim. Algo que não sentia desde que estava vivo.
Medo.
— Tudo que eu quero que você saiba..., — eu sussurro, — é que você
me faz muito feliz.
Ela pega minha mão e nos sentamos na base da árvore. Ela encosta a
cabeça no meu ombro e nós apenas olhamos juntos para o céu em
silêncio.
Tento pensar em outra coisa para dizer, mas antes que eu perceba, sua
respiração fica mais pesada. Eu olho para ver se ela está dormindo.
Ela deve estar exausta.
Tento ficar totalmente imóvel, para não acordá-la.
E enquanto estou sentado lá no escuro, pela primeira vez desde que
morri, também adormeço.
Everly
Assim que Phillipe fecha a porta, sinto todo o meu corpo relaxar.
Oh, meu Deus. Meu peito parece que vai explodir.
Vendo este lugar... eu percebo o quanto ele realmente se preocupa
comigo.
Ando lentamente em direção às estantes, passando os dedos pelas
encadernações dos livros. Há tantos que não conheço. Mas também
localizo meu livro favorito— Orgulho e Preconceito.
Como ele poderia saber? Eu nem mesmo contei a ele sobre isso.
Na verdade, os menores detalhes da sala, como o sofá de veludo
vermelho e os tapetes persas, são exatamente como eu os imaginava.
Por algum motivo, uma onda de culpa me invade.
Fiz tudo o que pude para esquecer Phillipe depois daquela noite. Mas
quando eu olho para esta biblioteca, parece que eu sou a única coisa em
que ele pensou desde então.
Não é minha culpa, é? Eu tive que sobreviver. Eu tive que seguir em
frente.
E então, quando Conheci Logan, Phillipe se tomou apenas mais uma
memória traumática de um momento horrível da minha vida.
Mas agora que estou aqui — agora que estou vendo Phillipe em carne
e osso novamente...
Eu não posso impedir os sentimentos que eu tinha por ele de
brotarem.
Porque a verdade é que, sempre que imaginei este lugar, não imaginei
apenas estar aqui sozinha.
Imaginei Phillipe aqui também, lendo baixinho ao meu lado até
encontrar uma passagem de que gostasse, e então ele leria para mim
enquanto eu deitava em seu colo.
Phillipe sempre esteve em minhas fantasias também. Ele fazia parte
do meu sonho.
Respiro fundo e balanço a cabeça, tentando clarear esses
pensamentos.
Isso é tudo que Phillipe sempre foi.
Um sonho.
Mesmo que eu já tivesse tido esses sentimentos por Phillipe, não é
nada comparado ao que tenho com Logan. O poder de um vínculo de
companheiro é diferente de tudo que eu já senti antes.
E por mais que esta biblioteca signifique para mim, eu a daria para
estar com Logan em um piscar de olhos.
Instintivamente, agarro meu colar de esmeraldas na mão. É a única
coisa que me resta de casa.
Sinto muita falta do resto da minha matilha — Mia, Cole, Jonah e
Cody. Aposto que estão todos preocupados comigo.
Mas acima de tudo, sinto falta de Logan.
Eu fecho meus olhos e o imagino, esfregando meu colar.
E então, de repente, começa a ficar quente em minhas mãos.
Eu abro meus olhos com surpresa. Em um espelho próximo, posso ver
que o colar está brilhando em minhas mãos. E então, meu reflexo começa
a se transformar.
Meu coração salta quando o espelho se transforma em uma janela e,
através do vidro, posso ver Logan.
Meu companheiro...
Ele está sentado diante de uma mesa. Seu cabelo está desgrenhado de
tanto passar os dedos e seus olhos estão cansados.
Eu rapidamente corro para o espelho. Isso poderia ser uma saída?
Mas quando coloco meus dedos contra a superfície, nada acontece.
Eu não posso passar por ele.
Mas pelo menos ele está bem.
— Logan! — Eu chamo.
No entanto, ele não reage. Parece que ele não pode me ouvir.
Eu aperto meu colar o mais forte que posso em minhas mãos. Eu
fecho meus olhos, canalizando todos os meus poderes em uma tentativa
de alcançá-lo.
Eu sinto meu corpo pulsar com energia enquanto me concentro...
Por favor...
Por favor, deixe isso funcionar.
Logan
Tenho corrido há tanto tempo que perdi a noção de onde estou. Devo
ter deixado meu território da matilha há um tempo, e agora estou na
floresta selvagem que se estende até as matilhas do Norte.
Fiz esta corrida para clarear minha cabeça, mas dificilmente ajudou.
Minha mente ainda está girando em pensamentos sobre Everly.
Nada pode tirá-la da minha cabeça, mesmo por um segundo.
Eu desacelero até parar quando me aproximo de uma clareira entre as
árvores. O chão está coberto de folhas coloridas.
À frente, na beira de um penhasco, há uma vista de uma floresta que
se estende até onde eu posso ver.
Eu me movo para trás, sentindo meu pelo desaparecer e a brisa contra
minha pele nua.
Eu olho para baixo, sobre a borda do penhasco — uma queda de
talvez trinta metros.
Eu simplesmente não sei mais o que fazer.
Só há uma opção, e até pensar nisso me faz sentir um aperto no peito.
— A única maneira de chegar ao submundo é morrer Eu não quero
morrer. Mas sem minha companheira ao meu lado, não consigo
encontrar nada pelo qual valha a pena viver.
Sento-me em silêncio, olhando para o penhasco, com minha mente
agitada.
Quando de repente o vento aumenta, uivando em meus ouvidos.
Rajadas poderosas fazem as árvores baterem umas contra as outras.
Nuvens rodopiantes aparecem no céu, bloqueando o sol.
Um momento atrás, era um dia calmo de outono.
Mas agora, uma tempestade monstruosa se formou em um instante.
O vento pega milhares de folhas do chão, movendo-as pelo céu. As
folhas vermelhas e marrons dançam, girando e caindo como chuva
colorida.
Isso não é normal.
Meu lobo pula de animação e eu olho ao redor freneticamente. Everly
está usando o vento para entrar em contato comigo novamente.
— EVERLY? — Eu grito para o vento rodopiante.
Onde ela está?
Ela está de volta?
O vento começa a diminuir e as folhas começam a cair, acumulando-
se em estranhos padrões no solo.
Que diabos?
As folhas estão soletrando uma palavra.
Não, não era uma palavra... um nome.
Eu aperto meus olhos, tentando decifrar.
E então, de repente, vejo as letras escritas claramente bem na minha
frente.
Phillipe.
Capítulo 17
Logan
Phillipe.
Eu fico olhando em descrença para as palavras escritas nas folhas
abaixo.
Não sei como ela fez isso, mas Everly me deu uma pista. E agora tudo
o que tenho a fazer é segui-la aonde quer que ele me leve.
Mesmo assim, fico com muitas perguntas. Quem diabos é Phillipe? É
ele quem a está mantendo cativa?
Tudo o que sei com certeza é que nunca ouvi esse nome antes.
Ele poderia ser alguém do passado de Everly?
Quando comecei a me aproximar de Everly, minha principal
preocupação era ajudá-la a superar todos os seus traumas no Banco de
Sangue.
Eu sabia que era doloroso para ela trazer à tona, então nunca fiz
perguntas ou me preocupei em preencher todas as lacunas de sua
história.
No que me diz respeito, esses detalhes não eram coisas que eu sentia
necessidade de saber.
Mas já que estou completamente no escuro, terei que encontrar
alguém que conheceu Everly naquela época de sua vida.
Se Phillipe é alguém do passado, talvez haja alguém que saiba mais
sobre ele?
Eu olho para o horizonte, além das intermináveis fileiras de árvores —
a direção dos territórios do norte.
Estou a uma curta distância da matilha Presas de Sangue.
Com a saída de Damon Mercado, Luna Mara assumiu o controle da
matilha e a tomou um refúgio seguro para as meninas resgatadas do
Banco de Sangue.
Talvez alguém possa me contar mais.
Meu lobo começa a ofegar de animação.
Estamos chegando perto digo a ele, sentindo um sorriso surgir no meu
rosto.
Ela está viva.
Antes de me transformar, eu olho para baixo mais uma vez para a
palavra Phillipe nas folhas. Mas agora, a maior parte já começou a
desaparecer.
***
Não sei quanto tempo levei para me recompor, mas de alguma forma
eu finalmente consegui me levantar e sair da biblioteca.
Eu me sinto como um zumbi, cambaleando pela porta e de volta para
a sala de jantar.
Eu mal noto a mesa virada, o vidro quebrado e a comida espalhada
por todo o chão.
Só consigo pensar em Logan e em voltar para ele.
Eu preciso fazer alguma coisa. Não posso simplesmente definhar
aqui, esperando que algo aconteça.
— Phillipe? — Eu chamo. Minha voz ecoa na caverna vazia.
Não há resposta. Mas de alguma forma, sei que ele está ouvindo.
— Eu não sei o que você quer, — eu grito. — Mas se você me deixar ir,
vou encontrar uma maneira de dar a você...
Dói dizer isso e sinto as lágrimas ardendo em meus olhos.
— Se você me quer..., — eu digo, com minha voz rouca. — Então você
vai ter que me tomar.
De repente, eu o vejo sair da escuridão. Ele está vestindo uma capa de
seda preta e sua coroa de metal escuro em sua cabeça.
— Everly, você sabe que eu nunca faria isso, — ele diz gentilmente. —
E eu entendo agora que mantê-la aqui é errado.
Meus olhos se arregalam. Ele está me deixando ir?
— Me siga. Eu tenho um presente para você.
Ele levanta a mão e as pedras da parede da caverna começam a
tremer. Rachaduras se formam na pedra, separando-a — revelando uma
passagem.
A passagem é longa e escura, mas no final do túnel, vejo uma luz
azulada.
Meu coração começa a disparar e um sorriso se forma em meu rosto
enquanto caminho em sua direção.
Meu ritmo acelera e, eventualmente, começo a correr enquanto ando
em direção a ele. Meus pés mal conseguem me levar para lá rápido o
suficiente.
Então, chego ao fim e saio para a luz do lado de fora.
Estou parada em um penhasco no topo de uma montanha.
O céu sem estrelas está cheio de estranhas luzes azuladas que
deslizam pelos céus. Até onde meus olhos podem ver, parecem rochas
desoladas, rios negros e planícies vazias abaixo.
— É hora de eu deixar você sair e mostrar onde você está, — Phillipe
diz atrás de mim. — Este é o submundo.
Eu me viro para encarar Phillipe, com a raiva inundando dentro de
mim.
— Não foi isso que eu pedi. Eu quero ir para casa
— Eu sei. É por isso que trouxe um pouco de casa para você.
Huh? Do que ele está falando?
Ele assobia para o céu noturno e vejo algo começar a voar de cima.
Eu aperto os olhos, tentando decifrar.
E então eu vejo duas asas gigantes batendo enquanto voa em minha
direção. Um Pégaso se aproxima — totalmente branco contra o céu
negro.
Snow...
Ela bate as asas, diminuindo a velocidade enquanto pousa no
penhasco ao meu lado.
Eu corro e a acaricio, dando-lhe um abraço.
— Continue. Voe por este lugar. Explore, — ele diz enquanto eu
escorrego nas costas de Snow.
— Mas, Everly, quero dizer mais uma coisa..., — acrescenta. — Não
importa o quão longe você voe.
Você não pode escapar deste reino.
Eu decolei sem outra palavra, voando para longe de Phillipe e da
caverna.
Ele diz que eu não posso escapar...
Mas veremos sobre isso.
Capítulo 19
Logan
Esfrego meus olhos e pisco sem parar, tentando ter certeza de que
não estou sonhando ou imaginando isso.
Poderia realmente ser Logan?
Mas à medida que a forma fantasmagórica se aproxima da superfície,
começo a distinguir as características inconfundíveis do meu
companheiro.
Eu nem mesmo penso duas vezes antes de respirar profundamente e
pular sobre a borda na água viscosa e brilhante.
Eu mergulho de cabeça sob a superfície e, assim que estou submersa,
todo o meu corpo explode com dor. Parece que minha pele está
derretendo e toda a energia está sendo drenada do meu corpo.
Debaixo d'água, os gemidos das almas tornam-se ensurdecedores e,
conforme passam flutuando por mim, tentam estender as mãos e me
agarrar, mas eu as afasto e nado mais fundo.
A cada golpe, parece que meu corpo está envelhecendo — minhas
juntas começam a doer e posso ver minhas mãos ficando mais ossudas.
Eu ignoro tudo, pois tenho que chegar a Logan.
Finalmente chego e agarro sua mão.
Está um frio congelante e, a princípio, acho que ele pode estar
completamente inconsciente.
Mas seus olhos se abrem ligeiramente.
Eles me encaram, com um brilho de reconhecimento neles.
Espere, Logan.
Eu tenho você.
Eu envolvo meu braço em tomo dele e o puxo em direção à luz
bruxuleante da superfície. Meus pulmões estão queimando agora, meu
corpo inteiro me implora por ar.
Não tenho muita energia e sinto que estou desaparecendo mais e
mais a cada segundo.
Tento não pensar no que acontecerá se eu não voltar à superfície.
Vou me tornar apenas mais uma dessas almas perdidas.
Mas não vou deixar isso acontecer. Não quando acabo de encontrar
Logan.
A superfície ainda está muito distante.
Minha visão começa a ficar turva, as bordas ficam escuras.
Eu agarro o corpo de Logan com todas as minhas forças.
Por favor...
Eu convoco minha última gota de energia, usando meus poderes para
criar uma poderosa corrente no líquido, nos impulsionando para cima.
E então — um pouco antes de meus pulmões estourarem — nós dois
saímos da superfície.
Respiro profundamente a minha vida inteira.
Eu consegui.
Eu ainda estou viva.
Eu me viro para Logan, mas ele está mole, com os olhos fechados e o
cabelo molhado caindo sobre a testa.
— Logan? — Eu chamo.
Mas ele não responde.
Eu nado até a borda, puxando-o para cima da pedra. Quando saio da
água, a dor desaparece instantaneamente e meu corpo retorna ao seu
estado juvenil.
Eu toco o peito de Logan, tentando sentir se há algum ar sobrando
nele, mas não consigo notar.
Eu sinto um pânico enorme crescer em meu peito enquanto eu
balanço sua cabeça para frente e para trás.
— Logan! — Eu grito. — Você pode me ouvir?
Eu fico olhando para meu companheiro imóvel. Sua pele está pálida e
ele está rígido, deitado como um cadáver.
Não...
Não pode ser...
Ele está morto?
— Logan! — Eu grito. — Acorde!
Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto eu bato meus punhos
em seu peito repetidamente em desespero.
Mas bem quando estou prestes a desistir, ele tosse de repente e seus
olhos se abrem.
— Oh, meu Deus, — eu grito. — Logan, você está vivo!
Ele se vira e me encara, recuperando o fôlego.
— Onde... onde estou? — Ele pergunta, olhando ao redor em
confusão.
— Você está no submundo.
Um sorriso fraco se forma em seu rosto quando ele se senta. —
Funcionou!
Eu fico olhando para o meu companheiro em descrença.
Estou muito feliz em vê-lo, mas um milhão de perguntas passam pela
minha cabeça.
— Como diabos você chegou aqui? — Eu sussurro.
Ele se senta, com um sorriso gigante se formando em seu rosto.
— Delisia realizou um ritual. Minha alma está aqui, mas meu corpo
ainda está vivo, — diz ele, tocando os braços para testar se eles são reais.
— Não acredito que realmente funcionou!
Ele joga seus braços em volta de mim, e eu amoleço sentindo seu
corpo pressionar firmemente contra o meu.
Uma onda de calma instantaneamente passa por mim no momento
em que sinto seu toque.
Ele se afasta e eu sinto todo o meu ser dominado pela emoção
enquanto eu encaro aqueles olhos cor de chocolate dos quais eu sinto
tanta falta.
Ele me puxa para um beijo profundo, e tudo derrete quando sinto
seus lábios afundarem nos meus.
O resto do mundo desaparece.
O tempo para.
Tudo está bem — simplesmente porque meu companheiro está perto
de mim novamente.
Logan
É isso.
É contra este momento que tento lutar desde que fiquei preso aqui.
O momento em que desisto de tudo e apenas deixo a escuridão me
possuir.
Eu sinto uma onda de poder inacreditável através de mim, de maneira
que meu corpo e minha mente ficam cheios de uma raiva pura e ardente.
Eu olho para baixo para Logan, que está parecendo abatido pela nossa
luta.
Antes de passar para Everly, quero fazer esse cachorro sofrer um pouco
mais.
Minha visão fica vermelha quando me levanto, chutando-o com toda
a força que posso nas costelas, sem parar, até que ele tosse sangue no
chão de madeira.
— Pare! Phillipe, por favor! — Everly grita atrás de mim.
Eu a ignoro, olhando para Logan, derrotado, caído no chão.
Em toda a minha vida, nunca odiei alguém mais do que odeio esse
homem.
O homem que roubou Everly de mim.
Ele tenta se levantar, mas eu pressiono meu pé em seu peito,
prendendo-o no chão.
— Everly é minha — eu rosno para ele. — A alma dela é minha. Seu
corpo é meu. O coração dela é meu.
Seu rosto ensanguentado olha para mim, mas seus olhos ainda
brilham com desafio.
— Você nunca vai possuí-la, — diz ele. — Não importa o que você
faça, ela nunca será sua.
— E por que isso? — Eu pergunto, sorrindo.
— Porque você não é nada além de um monstro.
Meu corpo fica tenso de raiva, e eu rujo e pego um pedaço de vidro
caído no chão perto do espelho quebrado.
Eu o levanto sobre minha cabeça, visando o coração de Logan.
— Phillipe, não! — Everly grita. — Por favor, farei qualquer coisa!
Eu paro, olhando para ela; lágrimas escorrem pelo seu rosto.
— Não o machuque..., — ela implora.
— Cale a boca, Everly, — eu sussurro.
— Não, eu o amo! — Ela diz. — E eu não vou assistir alguém que amo
ser morto bem na minha frente de novo.
Eu congelo. Seus gigantescos olhos esmeralda me encaram.
— Eu assisti isso acontecer com você, Phillipe. Não consigo ver isso
acontecer com Logan também.
Sinto meu corpo começar a tremer quando vejo meu flash de morte
diante de meus olhos.
Essas memórias do Banco de Sangue ficarão para sempre gravadas em
minha memória...
Eu sendo arrastado para longe de Everly...
Como ela gritou quando Lacroix me bateu até perder os sentidos...
Olhando em seus olhos monstruosos... aqueles olhos malignos sem alma...
Seu sorriso quando ele levantou uma estaca e a enterrou no fundo do meu
coração.
Eu solto o caco de vidro que estou segurando e ele se espatifa no
chão.
Como...
Como pode ser isso?
Tentei libertá-la naquela noite no Banco de Sangue da tortura de
Lacroix.
Mas agora, sou eu quem a mantém prisioneira.
Eu sou o único a torturá-la.
Sou eu quem a impede de estar com quem ela ama.
A raiva dentro de mim desaparece e eu sinto lágrimas quentes
começarem a escorrer pelo meu rosto.
Mesmo quando estava vivo, nunca havia chorado.
Mas a percepção de que me tomei exatamente como Lacroix é demais
para suportar.
Eu tropeço para trás, para longe de Everly e Logan, deixando as
pedras em torno de seus pés e mãos desmoronarem.
— Sinto muito, — eu digo. — Eu... eu vi que você finalmente teve a
felicidade que você sempre quis... e eu não podia suportar que não fosse
comigo.
Eu olho para minhas mãos trêmulas.
— Eu não sei como chegou a isso, Everly. Eu não sei como me tomei o
tipo de pessoa que mataria seu companheiro e aprisionaria você.
Eu fico olhando para Logan, que está sangrando e parcialmente
inconsciente dos meus golpes.
— Ele... ele te ama. Ele te ama tanto que ele estava disposto a morrer
por você, — eu digo. — E a razão de eu não suportar ver isso é porque eu
fiz o mesmo, Everly. Eu morri por você.
Seus olhos cravam em mim com tristeza.
— E sinto muito que isso tenha acontecido com você, Phillipe, — diz
ela.
— Você não por que estar, — eu digo suavemente. — Não foi sua
culpa que eu morri. Foi Lacroix.
Seus olhos se arregalam, cheios de esperança.
Eu sei agora o que tenho que fazer.
Eu estava com medo de me perder. Mas se eu não a deixasse ir, então
eu já estava perdido.
— Você precisa sair deste lugar, — eu digo. — Vocês dois.
Seu rosto se alarga em um sorriso brilhante.
— Eu vou devolver suas almas de volta para vocês, — eu continuo. —
Mas quando eu fizer isso, a escuridão assumirá totalmente o controle e
não haverá mais volta...
— Eu não sei no que vou me tornar, mas vocês não vão querer estar
aqui para ver isso.
Ela acena com a cabeça, voltando-se para Logan.
— Estamos indo para casa, Logan, — ela sussurra para ele.
Ele sorri fracamente e ela se inclina e beija seus lábios
ensanguentados.
Eu os vejo juntos, me sentindo mais leve do que nunca, como se
pudesse simplesmente flutuar para longe e desaparecer a qualquer
segundo.
Mas também estou apavorado com o que vai acontecer quando eu
deixar Everly ir.
No segundo que eu devolver sua alma, vou perder o que está me
prendendo à minha humanidade.
Vou perder tudo, e tudo o que vai sobrar de mim é o monstro.
Mas ao ver aqueles dois na minha frente, com seus sorrisos e sua
alegria, eu entendo algo.
Eu sei que, no fundo, é a coisa certa a fazer.
Everly
Eu corro pelo palácio o mais rápido que meus pés podem me levar,
tentando manter o equilíbrio enquanto todo o palácio treme
violentamente ao meu redor.
Pilares desabam ao meu lado, enviando nuvens de poeira para o ar.
Eu pulo sobre os destroços caídos, abrindo caminho pelos corredores
agora familiares em direção à única saída.
Finalmente, eu vejo.
Eu saio em campo aberto, com as flores cintilando pacificamente,
apesar dos rugidos violentos enchendo os corredores do palácio atrás de
mim.
Snow está esperando pacientemente e, quando me aproximo, há uma
expressão de medo em seus olhos grandes.
— Nós estamos indo para casa, — eu digo enquanto escorrego em
suas costas. — Mas temos que ir rápido.
Ela bate suas asas, nos levando para o alto e voando através da
enorme abertura no topo da caverna.
À medida que subimos, olho mais uma vez para a montanha gigante
atrás de nós.
A fumaça começou a sair do topo, e eu posso ouvir os gritos terríveis
de Phillipe ecoando lá dentro.
Estremeço ao pensar no que está acontecendo com ele lá dentro.
Mas espero que eu já esteja longe daqui quando ele sair.
Eu chuto levemente o lado de Snow, incitando-a a voar mais rápido
enquanto avançamos pelo submundo. Eu olho para baixo e, com certeza,
o portal está do outro lado.
Quando vejo o feixe de luz branca brilhando, um largo sorriso se
espalha pelo meu rosto.
Está aberto!
Phillipe estava dizendo a verdade.
Pego a crina de Snow e a guio para baixo, com o vento chicoteando
meu cabelo enquanto mergulhamos em direção à luz.
Entramos no portal e parece que estou flutuando enquanto tudo,
exceto a luz branca, desaparece por um momento.
E então, num piscar de olhos, emergimos da boca da caverna, voando
por cima das árvores prateadas da floresta.
O sol me cega instantaneamente e o calor do ar acaricia minha pele.
Eu rio em êxtase, deixando escapar um grito de felicidade no ar
enquanto subimos para o céu azul profundo que se estende
infinitamente acima de nós.
Eu fecho meus olhos e apenas deixo o momento me tomar.
Estou segura.
Estou livre.
Mas então, ouço algo ecoar atrás de mim.
Um grito.
Arrepio-me quando o ruído sobrenatural emerge de dentro da
caverna, enviando pássaros próximos voando para fora das árvores.
Eu me viro e olho para a boca escura da caverna, quando de repente
duas mãos gigantes com garras se estendem.
Não...
Você não pode estar falando sério...
Meu coração afunda quando vejo o corpo monstruoso de Phillipe
rastejar para fora da caverna.
Ele deve ter passado pelo portal antes de fechar...
Seus olhos vermelhos queimam de ódio quando ele se levanta,
desdobrando suas asas e soltando um grito que faz o ar tremer.
Ele está absolutamente gigante agora, talvez com quinze metros de
altura, elevando-se sobre as árvores da floresta.
— Snow! — Eu grito. — Vai! Vai! Vai! Vai! — Mas não preciso contar a
ela. Ela corre sobre as florestas prateadas, batendo as asas furiosamente
para se afastar da criatura demoníaca atrás de nós.
Eu olho para trás com horror para ver Phillipe disparar atrás de nós.
Este é o Príncipe das Trevas de verdade.
É contra isso que Phillipe sempre lutou dentro de si. E agora foi
liberado dentro do reino Fae.
Vejo a cidadela à distância e fico apavorada ao pensar no dano que
faria se me seguisse até lá.
Eu preciso mantê-lo o mais longe possível de todos aqueles Fae.
O monstro levanta as mãos, fazendo com que pedras se levantem do
solo, abrindo buracos gigantes no chão da floresta.
Eu puxo a crina de Snow para baixo, tirando-a do caminho enquanto
o monstro joga as pedras em nossa direção.
Uma das pedras voa bem sobre nossas cabeças, quase nos atingindo.
Merda, foi por pouco.
Eu me viro, evocando meus poderes para criar uma grande
tempestade.
As nuvens ficam tempestuosas e escuras, girando em tomo do
monstro.
Eu grito acima do vento uivante, formando uma rajada maciça sob o
monstro, prendendo-o em um poderoso tornado.
Isso deve mantê-lo ocupado...
Por enquanto.
Logan