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Sinopse

Everly passou a vida toda com medo, mas as coisas pioram quando sua
madrasta abusiva a vende como escrava. Forçada a sobreviver em um
submundo de monstros sedentos por seu sangue virginal, Everly se
desespera — isto é, pelo menos até conseguir escapar para Matilha Lua
Vermelha. Lá, se depara com o belo Alfa Logan, destinado a ser seu
companheiro. Mas seus mestres estão atrás dela. Será que sua nova
matilha será capaz de derrotá-los?
Classificação etária: 18+

E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD


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Livro Disponibilizado Gratuitamente!


Sumário dos Livros
Livro 1
Livro 2
Livro 3 – Ainda não Lançado
Livro 1
Capítulo 1
Everly

— Everly! Levanta essa bunda preguiçosa! Estou com fome! — a voz


alta e detestável de minha tia chama lá de baixo.
Eu deixo escapar um gemido cansado enquanto afasto a coberta fina e
rançosa antes de me apressar para me vestir.
Puxo rapidamente o vestido marrom desbotado que está dobrado na
cadeira no canto.
É uma das minhas três roupas, todas de segunda mão da minha tia
Lutessa.
Todo mês, ela recebe uma transferência das contas que meus pais me
deixaram. O dinheiro deveria ser usado para comprar o que eu preciso.
No entanto, ela diz que só dá para a comida e as contas que garantem
água, luz e um teto sobre nossas cabeças.
Mas eu sei que é mentira. Sempre que o dinheiro cai, ela volta para
casa com sacolas de roupas novas e jóias.
Eu me olho no espelho rachado apoiado contra a parede e suspiro,
então prendo meu cabelo comprido e escuro em um rabo de cavalo.
Desço rapidamente os degraus e entro na cozinha, onde encontro
minha tia sentada à mesa mexendo no celular.
Não sei o que ela está fazendo, mas tenho certeza de que não é nada
importante.
Pela minha experiência, deve estar rolando a timeline de alguma das
contas nas redes sociais.
— Já era hora, sua fedelha inútil e ingrata, — ela comenta ao me ver
entrando.
— Desculpe, tia Tessa. Eu dormi demais, — murmuro, inclinando a
cabeça em submissão. Tento ao máximo não despertar o lado ruim dela,
quer dizer, o lado ainda pior dela.
— Eu não quero desculpas, sua vadiazinha! Só me faz um maldito café
da manhã para eu poder ir trabalhar! Tem gente que realmente precisa
ganhar a vida!
— Sim, senhora. Desculpe, senhora, — respondo rapidamente e
começo a tirar os ingredientes da geladeira.
Levo tudo até o fogão e começo a fazer uma omelete de presunto e
queijo com tomate e espinafre.
Meu estômago ronca e eu salivo observando a comida esquentar.
Quem me dera poder comer um pouco.
Minha tia só me deixa comer o que sobra no prato, o que
normalmente não é muito. Eu me esforço para surrupiar o que posso,
mas preciso ser cuidadosa.
Uma vez, ela me pegou comendo sobras na geladeira e eu levei uma
surra. Fiquei dolorida e mal consegui me mexer durante dias.
Eu odeio minha vida agora. Uma vida que antes era ótima. Meus pais
eram incríveis e amorosos.
Sempre me faziam rir e diziam o quanto me amavam. Sempre me
confortavam e abraçavam quando eu estava magoada ou triste.
Nós éramos muito próximos. Então, há seis anos, eles morreram em
um acidente de carro.
Era para eu estar no carro, mas acabei ficando na casa de uma amiga
naquela noite. Agora, eu lamento todos os dias não estar com eles. Sinto
saudades.
Sinto falta da minha antiga vida. Sinto falta da minha grande e bela
casa com o grande jardim onde eu brincava. Naquela época eu tinha
amigos, pais, eu era feliz.
— Pare de sonhar acordada, sua vaca gorda! — tia Tessa grita, me
arrancando dos meus pensamentos.
Eu coloco a omelete em um prato e levo para ela, depois sirvo uma
xícara de café com o creme que ela prefere e um pingo de leite.
Eu me afasto para começar o resto das minhas tarefas diárias, mas ela
me para.
— Tenho um convidado esta noite. É bom que a casa esteja
impecável. E enquanto ele estiver aqui, é melhor não sair do seu quarto.
Nem sequer faça barulho, — ordena, apontando o dedo
ameaçadoramente para minha cara.
Eu faço um aceno rápido com a cabeça antes de me retirar.
É comum aparecerem diferentes homens e levarem ela para sair.
Muitas vezes, os dois voltam e vão para o quarto dela.
Eu fico fingindo que não existo no meu suposto quarto, na verdade o
espaço diminuto do sótão sobre a sala de estar.
Passo o resto do dia fazendo faxina, tirando o pó, varrendo,
esfregando, lavando a louça e a roupa, limpando os banheiros e tudo
mais.
Não preciso dar à minha tia outro motivo para me bater. Estou
terminando quando ouço a campainha tocar.
Com um sobressalto, olho para a porta da frente me perguntando se
devo abrir.
Em geral, minha tia não quer que nenhum de seus — convidados —
saiba que estou aqui, mas tenho certeza que vai se zangar se um deles for
embora porque eu não o deixei entrar.
Fico parada um momento, então suspiro e vou em direção à porta.
Abro e vejo um homem de pé na minha frente com uma barbicha e
bigode escuro.
Ele tem a linha do cabelo recuada e é só uns centímetros mais alto do
que eu.
Seus olhos castanhos se estreitam enquanto percorrem meu corpo,
me deixando nauseada.
O canto da sua boca fina se curva em um sorriso malicioso e meu
corpo fica tenso no mesmo instante.
Não estou confortável com o jeito de este cara me olhar e começo a
me arrepender de ter aberto a porta.
Eu a fecho levemente, de forma a estar pronta para batê-la na cara
dele se necessário.
Me aprumando até minha altura máxima e invocando a maior
confiança possível, pergunto: — Posso ajudá-lo?
— Vim buscar a Lutessa. Não sabia que ela tinha empregada..., — ele
começa, dando um passo para se aproximar, enquanto eu luto contra a
vontade de recuar.
— Ela ainda não chegou, — respondo, e então faço uma pausa,
incerta sobre o que mais dizer. Devo pedir-lhe para deixar um recado?
Ou para voltar mais tarde?
Devo oferecer-lhe algo para beber? Devo deixá-lo esperar na sala de
estar?
Não gosto da ideia de ficar sozinha com ele, mas não sei o que Lutessa
fará se eu o mandar embora.
— Tudo bem. Vou esperar, — comenta o homem, forçando o corpo e
em direção à sala da frente, me fazendo tropeçar.
Ele me segura pela cintura e me puxa para perto, e eu me encolho
com o cheiro de cigarro velho.
Ele me prende por mais tempo que o necessário e eu deslizo
rapidamente para fora de seu alcance me afastando.
— O..Ok, você pode apenas esperar em a..a...aqui, então, — eu
gaguejo, vencida pelo nervosismo.
Ele sorri para mim, parecendo gostar de estar me causando aflição.
Caminha em minha direção e eu vou a recuando até bater na parede.
As mãos dele se erguem, uma de cada lado, me prendendo enquanto
ele se inclina para mim e fala suavemente ao meu ouvido.
— Eu consigo pensar em algumas formas de passar o tempo..., — diz,
subindo a mão pela minha coxa e enfiando-a sob a bainha do meu
vestido.
Eu agarro seu pulso, impedindo-o de continuar, e nossos olhos se
encontram.
— Para, — eu retruco, decidida.
— Para de ser tão provocante, — diz ele, soltando a mão da minha.
— Eu-eu não sou. Eu simplesmente não estou interessada, — eu digo
e respiro fundo para recuperar a compostura.
— A Lutessa vai chegar logo e você pode esperar no sofá, — eu
informo, com firmeza, e viro as costas para ir embora.
Ele agarra meu pulso e me puxa em sua direção, e eu instintivamente
o atinjo com minha mão livre.
Uma batida forte ressoa através da casa pequena, seguida por um
tenso momento de silêncio.
Meus olhos se arregalam à medida que o rosto dele se torna sério
quando se vira para me encarar.
— Sua putinha! — Ele avança sobre mim novamente, e eu me viro
para fugir.
Ele puxa minha cabeça para trás, agarrando um punhado do meu
cabelo. Deixo escapar um gemido e sou jogada contra a parede.
Manchas escuras dançam diante de meus olhos e eu caio de joelhos.
Cegamente, estendo as mãos, tentando me levantar, mas o punho
dele me atinge no rosto e caio para trás.
Eu solto um gemido, me contorcendo de dor no chão.
— Por favor! — eu imploro. — Para! — Ele não me escuta, me vira de
barriga para cima e sobe em cima de mim, sentando-se com as pernas
abertas sobre os meus quadris.
— Ah, cala a boca, sua putinha. Só me dá o que eu quero, — exige,
agarrando a gola do meu vestido e rasgando a frente, expondo o sutiã liso
que estou usando por baixo.
Eu estendo as mãos para a frente, tentando afastá-lo.
Ele luta para agarrar meus pulsos e eu finalmente consigo agarrar um
pesado cinzeiro de cerâmica sobre a mesa na entrada da casa.
Quebro o cinzeiro na cabeça dele, que sai de cima de mim.
Eu me levanto rapidamente para fugir, mas ele ergue a mão e me
agarra pelo tornozelo, me fazendo cair de cara no chão.
Nesse momento, escuto a maçaneta girando e a porta da frente sendo
aberta. A tia Tessa entrou e congelou no mesmo instante quando nos viu.
— Que diabos está acontecendo aqui? — ela gritou, marchando em
nossa direção enquanto o homem se mexia para se levantar.
Enquanto me esforçava para me erguer também, minha tia me puxou
para cima pelo braço.
— Você está dando em cima do Dean, sua vagabunda inútil?! —
gritou, me sacudindo com agressividade.
— N-NÃO! E-ele tentou me estuprar!
— MENTIROSA! — ela grita enquanto me sacode novamente.
— Que homem iria atrás de uma puta gorda e inútil como você?! Você
não é nada! E é hora de você aprender isso!
Minha tia me ergue diante dela e então me bate no rosto.
Eu sinto uma ardência e cubro a bochecha com a mão, enquanto
lágrimas enchem meus olhos.
A expressão no rosto dela se torna um pouco mais calma e ela se volta
para encarar o lixo humano ali parado, observando o desdobramento da
cena.
— Dean, espere por mim no carro. Preciso dar uma lição nesta vadia
antes do nosso encontro. Já estou indo.
Ele olha feio para mim e assente, então se vira para sair.
Eu enxugo as lágrimas em minhas bochechas ouvindo a porta fechar,
e minha tia vai até o armário de casacos e volta com um cinto.
— Por favor, tia Tessa, — eu suplico. — Eu não estou mentindo! Ele
entrou sem permissão. Ele me bateu...
— Por que você está sempre arruinando minha vida?! — ela berra,
fazendo o cinto cair sobre mim como um chicote.
Instintivamente, ergo os braços para me proteger, e o cinto atinge
meus antebraços.
Ela me agarra e me joga no chão, eu caio de bruços e então ela me
bate com o cinto novamente.
Ela me bate repetidamente enquanto eu me encolho no chão,
fazendo o melhor possível para proteger a cabeça e o pescoço contra o
ataque.
Quando ela finalmente se cansa, deixa cair o cinto no chão e se
inclina sobre mim.
— Quando eu voltar, é melhor limpar esta bagunça! Escutou, sua
vagabunda preguiçosa?
Começo a soluçar, capaz apenas de um leve aceno com a cabeça.
Ela gira sobre os calcanhares e me deixa estatelada no chão com
hematomas e cortes que agora cobrem meu corpo.
Eu fico ali, o corpo sacudido por lamentos de cortar o coração. Estou
toda escorregadia e pegajosa de sangue.
Sinto dor ao me mexer, mas não quero levar outra surra.
Depois do que parece uma eternidade, consigo me levantar e limpar a
bagunça antes de rastejar para o chuveiro para me limpar.
Finalmente desmaio na minha cama, que é um colchão velho e sujo
no chão. Eu me enrolo em posição fetal e puxo o cobertor rançoso sobre
mim.
Todos os meus movimentos são lentos e dolorosos, e se não fosse pelo
puro esgotamento que estou sentindo neste momento, acho que não
seria capaz de adormecer.
Felizmente para mim, estou muito cansada e logo sou tragada pela
escuridão. Não sei quanto tempo dormi, antes de a voz da minha tia
tomar conta do quarto.
— Levante-se, Everly! Vista-se! Temos que ir! — ela exige.
Meus olhos se abrem e eu olho em volta, confusa. Ainda está escuro.
— O que está acontecendo? Ir aonde? — pergunto sonolenta, ainda
tentando entender o que está acontecendo.
— Ande logo e faça o que estou dizendo, sua pirralha inútil! — ela
responde, batendo a porta e marchando lá para baixo outra vez.
Meu corpo grita enquanto eu me forço a obedecer e visto um vestido
branco encardido.
Calço os sapatos e desço as escadas. Vejo a tia Tessa esperando junto à
porta com o casaco vestido.
Ela bate o pé no chão com impaciência, me olhando enquanto desço
as escadas do sótão.
— Já não era sem tempo! Apresse-se! Não temos a noite toda!
Ela abre a porta da frente e gesticula em direção ao carro estacionado
lá fora. — An...
— Cale a boca! Vamos lá! Entre! — Eu balanço a cabeça e me sento
encurvada no banco de passageiros.
Encosto a testa contra a janela, enquanto minha tia se aproxima e
ocupa o lugar do motorista.
O contato do vidro frio com minha pele é bom, e eu fecho os olhos,
respirando fundo.
Rodamos por um tempo e, em algum momento, eu volto a dormir.
Quando acordo, não tenho ideia de onde estamos, mas vejo que já se
passaram três horas desde que saímos de casa. Para onde ela está me
levando? O que está acontecendo?
Começo a ficar nervosa. Sento-me mais ereta e olho em volta,
tentando descobrir se há placas ou um ponto de referência reconhecível.
Em breve chegamos a uma grande cidade, minha tia dá voltas e voltas
pelas ruas.
Minha ansiedade aumenta mais e mais, e eu tento perguntar para
onde estamos indo novamente. Sempre que pergunto, ela me manda
calar a boca ou deixá-la em paz.
Meu estômago se revira enquanto observo os edifícios ao nosso redor.
Eles parecem cada vez mais detonados quanto mais avançamos.
Finalmente, paramos em frente a um armazém de tijolos lisos, com
uma porta sólida e preta. Minha tia me arrasta até lá e toca a campainha.
Quem atende é um homem grande, usando uma camiseta preta
apertada e jeans, os braços cruzados contra o peito.
— Diga seu nome e o assunto, — diz, com aspereza.
— Lutessa Andrews. Tenho uma reunião com Lord Vlad Lacroix, —
ela diz, segurando firme o meu braço.
O guarda acena com a cabeça e se afasta, nos deixando passar, e então
nos conduz por um corredor escuro.
O lugar se parece com qualquer velho armazém, exceto pelos sons
que ouço vir de aposentos que não consigo ver.
A música alta ressoa através das paredes, como se houvesse uma boate
do outro lado.
Enquanto continuamos caminhando, ouço gemidos e gritos vindo de
várias pontos. A cada passo, cresce uma sensação de pavor. Onde diabos
nós estamos?
Somos conduzidas por um conjunto de portas duplas e de repente o
espaço se transforma, com um tapete grosso e suntuoso e paredes
vermelho-escuro, brancas e pretas.
Quando chegamos a uma porta no final do corredor, o homem bate e
uma voz lá dentro diz: — Entre.
O guarda abre a porta e gesticula para entrarmos, então fecha-a atrás
de nós.
Outro homem está sentado atrás de uma enorme mesa de mogno, em
uma cadeira com espaldar alto.
Sua pele é mortalmente pálida e os cabelos pretos estão penteados
para trás. Ele é atraente com sua constituição alta e magra e os olhos
cinzentos, mas também é muito... sinistro.
Os cantos da boca dele se curvam em um sorriso maligno quando
entramos e ele se levanta, vindo ao nosso encontro.
Minha tia me empurra para frente e o homem começa a andar em
volta de mim, os olhos percorrendo cada centímetro do meu corpo.
— Então, esta é a garota? — ele pergunta, suavemente, e eu imagino
se é uma pergunta retórica.
— Sim. Esta é a que eu lhe falei, — minha tia responde.
Ele acena com a cabeça, se aproximando de mim novamente.
— Bom. Ela vai se sair muito bem. — Ele caminha em direção à mesa,
pegando uma pequena bolsa marrom e colocando-a na mão da minha
tia.
— É seu pagamento. Exatamente como combinamos.
— Obrigada, senhor, — responde a tia Tessa.
Eu me dirijo a ela, confusa.
— Pagamento pelo quê?
— Ele lhe dirá. Você não é mais problema meu. — Com isso, minha
tia dá meia volta e se afasta de mim, me deixando sozinha na sala com
este homem estranho.
Eu o encaro, esperando uma explicação.
— Não é óbvio, minha querida? — ele questiona, em tom de
zombaria. Minhas sobrancelhas se franzem enquanto tento juntar as
peças, mas não tenho certeza.
Se não fosse uma ideia maluca, eu diria que parece que minha tia
acabou de me vender para este homem. Mas isso não pode ser verdade.
Pode?
O homem sorri.
— Muito bem, menina. Você está certa. — Meus olhos se arregalam e
volto a atenção para ele. Eu não falei aquilo em voz alta.
Será que ele acabou de ler minha mente?
— Certa outra vez, — ele diz, com um sorriso maligno.
— M-mas como? Por que? Isto é ilegal! É... — eu começo, tentando
dar sentido a tudo.
— As leis humanas não me preocupam, — ele observa, o sorriso
perverso se alargando em seu rosto, revelando duas presas afiadas.
A cor de seus olhos muda para um vermelho carmim brilhante, e um
arfar surpreso escapa de meus lábios antes de tudo se transformar em
escuridão.
Capítulo 2
Tudo

Sete anos Depois


— Aplausos para Ruby Red, pessoal! — o locutor grita, fazendo a sala
explodir em aplausos, palmas e uivos de lobo enquanto corro para fora
do palco.
Puxo rapidamente meu roupão de seda e amarro-o enquanto ando
apressada de volta para o camarim onde as outras meninas estão se
preparando para suas apresentações.
Chego à minha penteadeira e mal me sentei quando a senhora
Victoria Dupont entra.
— Scarlet Kiss, você é a próxima. Esteja pronta em cinco minutos, —
ela diz, falando com a garota sentada diante de uma penteadeira atrás de
mim.
A mulher então se dirige a mim.
— Ruby Red, você tem clientes esperando na sala D do Banco de
Sangue.
Eu me encolho por dentro, mantendo uma expressão tranquila no
rosto e acenando brevemente com a cabeça. Então me dirijo à porta que
leva a outro corredor. Eu odeio minha vida.
Durante anos, fui maltratada e abusada por minha tia detestável, e
agora sou escrava do mais feroz mestre vampiro que existe.
Ele dirige o submundo, onde seu estabelecimento, o Banco de
Sangue, atende a todos os tipos de necessidades e fetiches.
A principal característica de seu negócio, porém, é o tráfico ilegal de
pessoas. Nenhum dos "artistas" está aqui por opção.
Todos somos vítimas de sequestro ou tráfico. Há mulheres e homens
de todos os tipos e idades variadas, e oferecemos uma série de serviços.
O prédio tem um clube de striptease onde muitas vezes sou obrigada
a me apresentar. Há ainda um clube BDSM, um bordel e o Banco de
Sangue.
Felizmente, eu nunca fui forçada a trabalhar no bordel. O Mestre
Lacroix tem ordens estritas para que eu seja mantida virgem.
Apenas algumas de nós têm esse privilégio.
Nós éramos virgens quando fomos compradas ou sequestradas, nos
destacamos durante o treinamento e somos as favoritas dos clientes.
Somos consideradas as mais belas meninas de sua "coleção".
— O problema é a razão pela qual ele quer que nossa pureza
permaneça intacta.
É porque as virgens arrecadam as maiores quantias em dólares nos
leilões.
No momento em que ele acreditar que nossa popularidade entre os
clientes está declinando, nossa virgindade será vendida a quem fizer a
maior oferta.
Eu espero encontrar uma maneira de escapar antes, mas tenho
certeza de que logo chegará a minha hora.
Tenho vinte e três anos, portanto, na melhor das hipóteses, tenho
mais alguns anos antes de ter que me preocupar com isso.
Infelizmente, a maioria das meninas são vendidas aos vinte anos.
A única razão pela qual consegui me proteger por tanto tempo é o
fato de que ele ganha muito dinheiro comigo com as coisas do jeito que
estão.
Eu tentei durante anos escapar deste buraco infernal, mas fui pega
todas as vezes. As chances de fugir foram poucas e espaçadas.
A pior parte é que vampiros podem ler pensamentos, então eu preciso
ter muito cuidado vivendo no meio deles.
Além disso, nosso sangue fica no organismo deles quando se
alimentam de nós, então a proximidade física nem é necessária.
Eu só consegui sair do complexo uma vez e fui encontrada a duas
cidades de distância, porque o Mestre Lacroix tinha bebido de mim.
Ele conseguia ver tudo que eu via, portanto era fácil me encontrar.
Sempre que fui pega tentando escapar, fui barbaramente espancada.
Eles não estão nem aí de te espancar até sua vida ficar por um fio.
Quando isso acontece, basta te darem para beber um pouco do
sangue deles, que tem poderes curativos.
Dão uma quantidade minúscula de forma que você não fique
completamente curado, mas isso o manterá vivo.
Então, te deixam na gaiola se restabelecendo lenta e dolorosamente.
Você não tem nem mesmo uma folga do trabalho depois da surra.
E, caso não consiga se apresentar, você não recebe comida. Pelo
menos eles me alimentam melhor do que minha tia jamais me
alimentou.
Somos obrigados a seguir dietas rígidas e rotinas de exercícios para
nos manter saudáveis. O sangue saudável tem um sabor melhor.
Finalmente, chego à sala D e respiro fundo, incorporando minha
persona de Ruby Red.
O que me permite sobreviver dia após dia a este pesadelo é separar as
coisas.
Minha habilidade de encenar e fingir é a razão pela qual tantos
clientes gostam de mim.
É o que tem me protegido de perder a virgindade com qualquer um
dos idiotas doentes que vêm aqui.
Abro a porta da sala escura, com um grande sofá vermelho em forma
de semicírculo.
É um aposento redondo com um grande espelho no teto e um poste
de dança em um pequeno palco também redondo, no lado oposto ao do
sofá.
Quando entro há dois homens sentados, com os olhos famintos em
mim.
— Olá, rapazes, — eu murmuro de forma sedutora, deslizando um
dedo pelo meu corpo e soltando o roupão. — O que vai ser hoje?
O tecido de seda escorrega e cai ao redor dos meus pés. Um dos
homens dá um tapinha no espaço vazio entre eles no sofá.
— Depois da sua performance, a gente vai querer provar um
pouquinho. Vem. Senta aqui, — falou o da direita. Os dois são altos e
magros.
As presas deles estão à mostra, enquanto olham para mim e lambem
os lábios.
O que falou tem cabelos loiros e olhos azuis, enquanto o outro tem
cabelos castanhos, puxados em um rabo de cavalo, e olhos castanhos
também.
— Você parecia simplesmente deliciosa, — diz o da esquerda. Eu vou,
sento entre os dois e afasto meu cabelo, oferecendo o pescoço ao
moreno.
Ele chega mais perto, e me envolve com o braço, colocando a mão
sobre meu seio.
Sinto seu nariz roçar suavemente meu pescoço, conforme ele me
cheira antes de afundar as presas em minha carne.
O loiro se ajoelha na minha frente, colocando minha perna esquerda
sobre seu ombro.
Ele dá beijos suaves em minha coxa e então seus dentes perfuram
minha artéria femoral.
Os vampiros são conhecidos por serem seres muito sexuais. Embora
precisem de sangue para sobreviver, é comum gostarem de misturar
alimentação com prazer.
As mãos deles me apalpam e acariciam enquanto bebem de mim.
Esses dois são até bem agradáveis em comparação com a maioria dos
vampiros que vêm aqui.
Todos eles sabem que não escolhemos estar aqui. Em geral, vampiros
têm pouca consideração pela vida humana e acreditam que somos
inferiores.
Durante meus anos neste estabelecimento, conheci muitos vampiros
cruéis e impiedosos. No entanto, conheci alguns bons.
Nos primeiros anos, eu até me apaixonei por um. Seu nome era
Phillipe. Ele era muito bonito e doce.
Ele sempre foi gentil e conversava comigo, buscando me conhecer
melhor.
Ele até dizia que um dia gostaria de me levar embora deste lugar
horrível. Disse que eu devia ser tratada com carinho, não usada e
maltratada.
Uma noite, ele tinha comprado tempo comigo e o clima logo
esquentou. Ele pediu minha virgindade e eu concordei.
Eu não queria perder a virgindade com qualquer um. Não queria ser
estuprada por quem quer que me comprasse na minha primeira vez.
Queria que a escolha fosse minha. Queria estar no controle, decidir.
Infelizmente, Mestre Lacroix percebeu o que estava acontecendo e
entrou em cena. Ele cravou uma estaca no coração de Phillipe bem na
minha frente.
O tempo todo ele olhava para mim, como se silenciosamente dissesse
que a morte de Phillipe tinha sido culpa minha. Eu chorei até adormecer
naquela noite.
Foi quando eu decidi nunca mostrar quem realmente sou aos
clientes.
Eu precisava me proteger e assumir uma personalidade alternativa era
a única maneira que me ocorria de sobreviver a este suplício.
Passei a me transformar no que os homens desejassem. Podia ser
submissa ou impetuosa. Podia ser provocante e sedutora ou tímida e
delicada.
Tinha me tornado muito observadora, e devido à minha habilidade de
ler as pessoas é que consegui manter minha virgindade por tanto tempo.
O que estava sugando meu pescoço passa a língua pela ferida, então
beija minha garganta.
Ele belisca meu mamilo entre o polegar e o dedo indicador por cima
do tecido transparente da minha lingerie preta e o torce levemente.
Os dois beberam muito de mim, e eu estou me sentindo tonta. As
luzes da sala piscam, informando-os de que o tempo acabou.
O que estava entre minhas pernas lambe as marcas frescas de
mordidas, fazendo com que cicatrizem. A saliva de vampiro também tem
poderes curativos, de forma que, uma vez terminada a refeição, eles
podem facilmente fechar as feridas com um simples toque da língua.
Ambos se levantam e eu me encosto no sofá, sentindo-me cansada
devido à perda de sangue.
— Você foi verdadeiramente deliciosa, amor, — diz o homem de olhos
castanhos, limpando os cantos de sua boca com o polegar.
— Foi sim, — concorda o loiro. — Acho que vamos ter que vir aqui
mais vezes.
Eles alisam as roupas e saem. Logo depois, um dos guardas entra e
levanta meu corpo fraco.
Ele me carrega pelas escadas e me coloca no colchão de palha fina no
canto da minha gaiola.
Felizmente essa foi a última da noite, pois são quase cinco da manhã.
Puxo o cobertor sobre o corpo e me enrolo em posição fetal, deixando
o sono me vencer.
Na noite seguinte, estou acordada quando um novo grupo de
escravos vem descendo os degraus de pedra até o porão, onde as celas se
enfileiram nas paredes.
— Continuem andando, vagabundas inúteis, — grita o guarda,
estalando um chicote.
Várias garotas gritam quando o chicote atinge seus braços nus,
conforme são conduzidas mais e mais fundo no porão.
Eu me levanto e me aproximo da porta da minha gaiola, observando.
Meu coração dói por elas, que caminham com lágrimas escorrendo
pelas bochechas sujas.
Uma das garotas mais jovens soluça alto, até um guarda chegar e
esbofeteá-la com força no rosto, gritando para calar a boca.
Quero gritar para ele parar, mas a única consequência seria ser
espancada até sangrar. Decido esperar até que eles tenham ido embora
para tentar consolar as pobres jovens.
As meninas são colocadas em fila e o resto de nós é liberada das celas.
Dirijo-me logo às recém-chegadas e tomo as mãos de uma delas entre
as minhas.
Elas percebem que estou prestes a falar, então se reúnem em silêncio
ao meu redor para ouvir o que eu tenho a dizer.
— Estão nos levando para o centro de treinamento agora. Façam o
que lhes disserem e mantenham a cabeça baixa. Se fizerem um bom
trabalho e não voltarem a falar com eles, não vão machucar vocês. Este
lugar tem refeições e banhos regulares. Só tentem ao máximo serem
corajosas e fortes, e podem sempre me procurar, — eu lhes digo
enquanto meus olhos pousam em cada uma delas, fazendo contato para
que saibam que o que estou falando vale para todas.
As meninas assentem, em silêncio, enquanto algumas delas esfregam
as bochechas para enxugar as lágrimas.
Eu fico de pé e me dirijo à saída, pois os guardas estão abrindo a porta
e começando a nos conduzir para o ginásio.
Nós, que já passamos pelo treinamento de escravas, vamos nos
exercitar para manter nosso corpo em forma.
Os novos recrutas vão aprender coisas muito menos agradáveis. Meu
estômago se aperta quando me lembro de minhas primeiras semanas
aqui.
Eu me senti tão envergonhada, tão suja.
Sacudindo esses pensamentos da minha cabeça, vou até uma esteira,
subo e ajusto a velocidade.
Depois de correr cinco milhas, faço pranchas, abdominais,
agachamentos e outras coisas, tratando de trabalhar todos os meus
músculos.
A sessão de exercícios está acabando e vejo que mandaram novos
recrutas limparem a academia.
O treinamento deles começa com limpeza e obediência e só depois
passa para a dança de poste, submissão, sexo oral e outras habilidades
que irão agradar nossos clientes.
Observo que uma das meninas mais jovens para de esfregar o chão e
se inclina sobre seus calcanhares.
Ela passa as costas da mão pela testa, e a Senhora Dupont
imediatamente vê e caminha até ela com um olhar chamejante.
— O que significa isso?! — ela grita, forçando a garota a se levanter. —
Eu disse que você podia parar?!
— N-Não, s-se-senhora, — a menina gagueja suavemente enquanto
olha para o chão.
— Então por que diabos você não estava esfregando?!
— M-Meus braços estão c-cansados, — a garota explica, os olhos
brilhando com lágrimas contidas.
— Meus braços estão cansados, — a senhora Dupont imita,
maldosamente. — Eu não quero desculpas! Dez chicotadas pela sua
incompetência! Ajoelhe-se! — exige.
O corpo da jovem treme incontrolavelmente enquanto ela se abaixa.
A senhora Dupont rasga a parte de trás dos trapos que a garota veste,
expondo suas costas, e se posiciona atrás dela.
Há um forte estampido quando o chicote atinge a garota. Ela
imediatamente solta um lamento doloroso e começar a chorar.
Sem pensar, eu caminho até ela, meu coração se apertando no peito.
Eu devia ser prudente. Que diabos estou fazendo? Sei lá.
Eu jamais consegui ficar parada e vendo essas jovens serem
espancadas da mesma forma que eu fui. Elas não merecem isso.
Nenhuma de nós merece.
Quando o chicote é erguido novamente, eu rapidamente me atiro
entre ele e a jovem.
Eu a envolvo adotando a mesma postura no chão, protegendo-a com
meu corpo.
O chicote bate em minhas costas e eu ranjo os dentes, sem deixar
escapar um som sequer.
— Saia daí, Ruby! — grita a sra. Dupont, usando meu nome artístico.
Eles raramente usam meu nome verdadeiro. Eu me pergunto, às vezes, se
sequer se lembram dele.
— Não, senhora, — eu respondo, congelada em minha posição.
— Não?! — ela questiona, incrédula. Como eu não respondo nem me
mexo, ela interpreta isso como uma resposta.
— Muito bem, você receberá o resto das chicotadas de Anna e mais
quinze por sua interferência, — afirma.
— Sim, senhora, — eu respondi, rangendo os dentes e respirarando
lentamente pelo nariz, me preparando para a dor.
O estampido do chicote soa novamente quando atinge minhas costas.
Eu suporto, sentindo o sangue quente escorrer por minhas costas.
O aposento está em completo silêncio e todos ficam parados, com
medo de se mexer ou de emitir um som enquanto me veem sendo
chicoteada.
Após a última chicotada, todos permanecem paralisados por um
momento, como se em choque.
De repente, enquanto a Senhora Dupont se afasta, o resto das
meninas corre em minha direção e em direção à jovem chamada Anna.
Elas imediatamente nos ajudam, murmurando palavras
reconfortantes e de encorajamento.
Duas delas, chamadas Mina e Callie, se posicionam uma de cada lado
e cada uma passa um dos meus braços ao redor do pescoço, me
levantando.
— Você foi muito corajosa, — Mina diz, suavemente.
— Vamos limpar você, — acrescenta Callie, enquanto elas me
carregam em direção à saída.
Todas as meninas se amontoam ao redor de mim e de Anna, nos
conduzem para a área dos chuveiros.
Uma hora depois, já nos limpamos e uma das garotas untou minhas
feridas recentes com um antibiótico, para impedir que eu contraia uma
infecção.
Estamos sentadas em um banco terminando de nos vestir quando a
senhora Dupont entra.
— Ruby Red, Mestre Lacroix quer uma palavra com você, — ela diz
friamente, dando meia volta deixando o vestiário.
Eu respiro fundo para tentar acalmar meus nervos enquanto as
meninas ao meu redor seguram minhas mãos e apertam meus ombros,
todas tentando me confortar e me desejando sorte.
Quando reúno coragem, me levanto.
— Eu vou ficar bem. Não se preocupem comigo, — eu digo às
meninas.
— É melhor terminarem de se vestir e irem para a próxima tarefa,
antes que tenham problemas.
Elas assentem e me abraçam, se apressando para terminar enquanto
eu me viro para a porta.
Torço as mãos nervosamente, caminhando pelo corredor até o
escritório do mestre.
Ergo a mão para bater, mas ouço sua voz se elevar antes mesmo de ter
a chance de fazê-lo.
— Entre, — ele diz..
Entro e fecho a porta silenciosamente atrás de mim, caminhando
com cautela em direção a ele, que se senta atrás da mesa.
— O senhor desejava me ver, Mestre, — eu murmuro, com a voz
suave e a cabeça curvada.
— Sim, sente-se, — ele responde, com frieza.
Ocupo o assento de frente para ele, e ele torce os dedos como se
estivesse pensando, enquanto olha para mim.
— A senhora Dupont me contou o que aconteceu hoje no
treinamento. O que você tem a dizer em sua defesa?
— Sinto muito. A garota era tão jovem, é o primeiro dia dela. Eu não
podia ficar parada vendo ela ser espancada só porque fez uma pausa. É
óbvio que ela não está acostumada a trabalhos manuais tão extenuantes,
— eu respondo.
— Infelizmente, isso é um problema, Ruby. Você não pode interferir
no treinamento das nossas novas meninas. O que você fez hoje pode ser
perigoso para o meu negócio, — ele diz, com firmeza, e eu abro a boca,
surpresa.
— Perigoso? Como? — eu replico.
— Você está dando um mau exemplo. As meninas vão colocar ideias
na cabeça. Podem começar a se rebelar. Não estou disposto a lidar com
isso, — explica.
— Mas, eu...
— Apesar da inconveniência, elas, pelo menos, podem ser obrigadas a
obedecer. Entretanto, como você sabe, por alguma razão isso não
funciona com você.
Eu aperto os lábios. Além da leitura de pensamento, os vampiros têm
a capacidade de controlar a mente de cada um. Eles chamam isso de
compelir.
Eles logo aprenderam que não podiam me compelir a obedecer. Não
faço ideia de por que isso não funciona comigo.
Infelizmente, a desvantagem é que eu recebi muito mais chicotadas e
punições para garantir minha obediência.
— Como não posso garantir que isto não acontecerá novamente,
decidi que é hora de enviá-la a leilão.
Capítulo 3
Logan

Eu tamborilo os dedos sobre a grande mesa redonda de mogno que


está à minha frente e recosto-me à cadeira estofada de espaldar alto.
Estou em uma reunião com os anciãos e meu pai, Thomas, o alfa
anterior da Red Moon Pack.
Os anciões são formados por alfas, betas e guerreiros do passado que
têm o conhecimento e a experiência para avaliar e aconselhar o alfa
atual.
No entanto, também estão muito engessados em uma forma estreita
de ver as coisas...
Estou distraído desde que começaram a discutir sobre o que precisa
ser feito para garantir uma aliança com outras matilhas.
Recentemente, ouvimos que a Blood Fang Pack se aliou à Night
Howler Pack e por isso nossos anciões estão preocupados com a
possibilidade de tentarem nos derrubar.
Eles estão falando sem parar sobre isso há trinta minutos.
— Você ouviu sobre o filho de Alfa Darren da Prowler Pack, no Norte?
— o ancião chamado Jacoby pergunta aos demais.
— Não. O que tem ele? — Elder Maynard responde, inclinando-se
para ouvir melhor..
— Ele encontrou uma companheira, e você não vai acreditar!
— O que?!
— Ela é humana!
— O que?!
— Você não pode estar falando sério!
— Isso é um absurdo!
— Absurdo!
De repente, a voz de Elder Rancis retumba sobre as demais:
— Bem, pelo menos essa é uma matilha com o qual não teremos que
nos preocupar! Ninguém vai levá-los a sério com uma humana como
Luna!
Vários dos outros anciãos concordam com a cabeça e eu faço força
para não revirar os olhos.
Meu olhar encontra o de minha mãe e ela sorri para mim como se
soubesse exatamente o que estou pensando.
Ela me dá uma piscadela antes de decidir interromper:
— Não acho que você deva julgar com tanta severidade. Obviamente,
a Deusa da Lua a escolheu por um motivo. Só porque ela é humana, não
significa que ela não possuirá os atributos que uma boa Lunateria.
— Vamos, Evelyn, você sabe que a vida em matilha não é feita para
humanos. Somos lobisomens. Relacionamentos inter-espécies estão
fadados ao fracasso, — insiste Elder Rancis.
— E, além disso, a Prowler Pack não é o motivo de estarmos reunidos
hoje. Precisamos agir. A Blood Fang e a Night Howler são duas das
maiores matilhas do norte. Se decidirem pegar em armas contra nós,
estamos condenados!
— Não houve qualquer evidência de que planejam lutar contra
alguma matilha. Talvez estejam só se certificando de que têm alianças
para se proteger. Talvez estejamos preocupados por nada, — afirma
minha avó paterna, Claire.
Ela e minha mãe são as únicas duas mulheres no conselho. E,
francamente, são as únicas que parecem razoáveis além do meu pai.
— Acho que nossa melhor opção é garantir uma aliança por meio do
casamento com um de nossos companheiros de matilha do sul! Alfa
Logan ainda não encontrou sua companheira, e com o quão renomado
nosso bando é, qualquer alfa ficaria feliz em casar uma de suas filhas com
ele. Além disso, uma matilha não é segura sem uma Luna! Outros grupos
verão isso como uma fraqueza!
Eu aperto os punhos e a mandíbula, com raiva...
— Então, eu deveria jogar fora minha chance com minha alma gêmea
porque você está com medo? — questiono, frustrado, enquanto olho para
Elder Rancis e depois passeio meu olhar por todos na mesa.
A maioria dos anciãos pelo menos tem a decência de parecer
envergonhada, mas Rancis não.
Ele encontra meu olhar com uma cara teimosa em seu rosto
vermelho.
— Com todo o respeito, Alfa, é hora de desistir da ideia de ter uma
companheira. Já era para tê-la encontrado. A esta altura, ela
provavelmente já está morta, — ele argumenta, e eu imediatamente sinto
meu lobo abrir caminho até a superfície, soltando um rosnado
ameaçador e me fazendo ficar em pé.
O homem se encolhe e arregala os olhos.
É claro que ele pensa que estou prestes a atacá-lo mas, embora o
pensamento seja tentador, eu só quero que ele cale a boca.
Depois de controlar meu lobo, um sorriso malicioso aparece em meus
lábios e gosto do medo que evoquei no idiota arrogante.
Ao meu lado, meu pai pigarreia e se levanta.
— Bem, senhoras e senhores, ele ouviu suas preocupações e as levará
todas em consideração. Obrigado a todos por sua contribuição, — afirma
antes de todos os membros do conselho começarem a se levantar de seus
assentos e se dirigirem para a saída.
Eu também me movo para a porta antes de ouvir sua voz gritar
novamente:
— Alfa, uma palavra?
Meus ombros caem e eu me viro para encará-lo.
Ele aponta para o assento que acabei de desocupar e deixo escapar um
suspiro antes de me sentar novamente.
— Eu sei que a sugestão de Rancis te aborreceu, mas acho que
devemos considerá-la.
— O que?! — eu pergunto, espantado, e volto a cerrar os punhos..
Meu pai rapidamente levanta as mãos em sinal de rendição antes de
continuar.
— Não estou dizendo que você tem que fazer isso, mas ele está certo.
Já se passou um ano desde que você assumiu a posição de alfa e ainda não
encontrou sua companheira. A maioria das matilhas nem mesmo deixa
um alfa assumir até que tenha uma Luna, e as que permitem esperam
que ele encontre uma em questão de meses. Você tem que considerar o
fato de que você pode não encontrar sua companheira, e a matilha
precisa de uma Luna, — explicou, com simpatia.
Eu passo a mão pelos cabelos e deixo-a cair sobre a mesa, olhando
para baixo, sem querer encontrar o olhar compreensivo de meu pai
enquanto meu peito aperta.
— Então, o que você está sugerindo? — pergunto com um suspiro,
erguendo os olhos para encontrar os dele.
Ele se recosta à cadeira com um suspiro.
— Eu acho que devemos dar um baile de acasalamento. — Eu levanto
uma sobrancelha e ele prossegue.
— Eles costumavam fazer isso o tempo todo quando eu era mais
jovem. Vamos convidar todas as matilhas e seus machos e fêmeas não
acasalados. Com alguma sorte, você encontrará sua companheira. Se não,
então você pode escolher qualquer mulher que você acha que daria a
melhor Luna, alguém que você acha que poderia um dia amar. No final
da noite, podemos anunciar quem você escolheu.
— E você acha que os anciãos vão me deixar escolher quem eu quiser?
— questiono, meu tom revelando que acredito que não.
— Eles vão querer que eu escolha alguém de nascimento nobre, como
a filha de um alfa ou beta, alguém que trará a aliança de sua matilha, —
acrescento
Meu pai faz uma careta, claramente pensando o mesmo que eu.
— Podemos discutir isso com eles na próxima reunião. Vou olhar
nosso calendário e decidir quando queremos sediar o baile. Sua mãe pode
cuidar de todos os preparativos a partir daí, e vou fazer contato com
todas as matilhas para informá-las. Tudo que você precisa fazer é
comparecer.
Eu me inclino para trás, sentindo-me derrotado, desejando apenas
poder encontrar minha companheira.
Os lobisomens ganham a habilidade de reconhecer sua parceira após
a primeira transformação, o que normalmente acontece entre as idades
de 12 e 15 anos.
Quanto mais forte o lobisomem, mais cedo ocorre sua primeira
mudança. A maioria encontra a parceira apenas alguns anos depois disso.
Estou procurando a minha há mais de uma década. Meu lobo e eu
não perdemos as esperanças, no entanto. Podemos sentir que ela está por
aí em algum lugar.
Eu só rezo para poder encontrá-la antes que seja tarde demais.
Afastando esses pensamentos da cabeça, volto a atenção para meu
pai.
— Tudo bem. Podemos fazer o baile, mas não posso prometer que
vou escolher alguém para ser minha Luna.
— Apenas leve isso em conta, Logan. Você sabe que os anciãos não
vão recuar até que saibam que o futuro da matilha foi garantido.
Meu pai dá um tapinha no meu joelho antes de se levantar e deixar a
sala de conferências.
Assim que ele sai, meu beta, Cole, vem passeando com um grande
sorriso de comedor de merda no rosto. Eu olho para ele com uma
carranca.
— Onde diabos você estava? Você perdeu a reunião de anciãos DE
NOVO.
— Droga! Isso foi hoje?! — Cole responde, fingindo abertamente
desapontamento, gesticulando como se estivesse dizendo: — Que chato.
Eu rolo meus olhos para ele. Típico de Cole. Ele bate no meu ombro
antes de se sentar à minha frente, no lugar que meu pai acabou de
desocupar.
— Então, o que eu perdi? Não, não! Não me diga! Mais brigas! E o
Élder Rancis pensando que sabe o que é melhor!
Eu olho para ele. Infelizmente, ele acertou em cheio.
Ele sorri e encolhe os ombros antes de se recostar na cadeira e
entrelaçar os dedos atrás da cabeça enquanto coloca os pés sobre a mesa.
— Isso e o fato de que eles esperam que eu escolha uma Luna que
garantirá uma aliança com uma de nossas matilhas vizinhas.
A boca de Cole rapidamente forma um O enquanto seus olhos se
arregalam.
— Ah. Merda. Você acabou matando alguém?
Eu fecho a cara para ele novamente.
— O Élder Rancis certamente estava pedindo por isso, mas não.
— Droga... Eu adoraria ver você lidar com aquele bode velho, — ele
comenta, com um olhar sonhador no rosto como se estivesse
imaginando.
Ele solta um suspiro de contentamento antes de voltar sua atenção
para mim.
— Suponho o que você disse a eles para enfiar a sugestão em suas
bundas enrugadas e dar uma caminhada?
Eu esfrego meus olhos e gemo. Não quero essa imagem na minha
cabeça.
— Deusa, Cole.
— O que?! Isso é o que você disse, certo?! Quero dizer, você nunca
sequer pensou em desistir de encontrar sua companheira.
— E eu não quero...
— Mas...
— Mas eu também preciso pensar nesta matilha. E uma matilha
precisa de uma Luna. Meus pais vão dar um baile de acasalamento. Com
sorte, vou encontrar minha companheira... se não... bem, posso estar
fodido.
Cole se encolhe.
— Literalmente também.
— ECA! — Eu resmungo e o empurro no ombro enquanto ele começa
a rir.
— De qualquer forma, talvez não seja tão ruim. Talvez você encontre
mesmo sua companheira.
— Eu certamente espero que funcione a meu favor.
— Mesmo que isso não aconteça, você não precisa escolher ninguém.
Se você não tiver sorte no baile, talvez possamos fazer uma viagem ou
algo assim. Podemos vasculhar as terras em busca da sua companheira
antes de jogar a toalha. Dessa forma, você não passa a vida se
perguntando se ela vai aparecer depois que for tarde demais.
— Deusa... e se isso acontecer? — Eu nem tinha pensado nessa
hipótese!
Os olhos de Cole se abrem quando ele percebe que acabou de colocar
outra preocupação na minha cabeça.
Ele rapidamente coloca os pés de volta no chão e se inclina para
frente para agarrar meu ombro e me dar uma sacudida.
— Vai dar tudo certo, cara. A Deusa da Lua fez alguém para você.
Tenho certeza de que ela sabia o que estava fazendo. Você apenas tem
que ter fé.
— É mais fácil falar do que fazer.
Capítulo 4
Sempre

Arrepios percorrem minha pele pálida enquanto uma fila de garotas é


conduzida pelas masmorras comigo na retaguarda.
A roupa transparente que estou usando não deixa nada para a
imaginação e não me protege do frio intenso.
Meus pulsos e tornozelos estão algemados e correntes os conectam às
garotas à minha frente.
Meu coração bate forte em meu peito e me sinto tonta.
Sei que parte do motivo é o medo. A outra parte é pura exaustão.
Desde que descobri que minha virgindade será leiloada, tentei escapar
todos os dias.
Em todas as vezes fui pega e espancada quase até morrer.
Depois de me capturar, me fizeram beber sangue de vampiro
suficiente apenas para sobreviver e me jogaram de volta na minha cela.
Eles não me deixavam mais trabalhar, pois sabiam que eu
simplesmente tentaria fugir novamente.
Enquanto caminho, meus olhos examinam continuamente ao meu
redor, esperando e ansiando para que eu encontre uma maneira de sair
daqui.
Infelizmente, na minha situação atual, não existe a menor chance de
sucesso. Vou ter que pelo menos esperar até não estar mais ligada às
outras garotas pela corrente.
Eu gostaria de poder salvar todas, mas sei que é impossível. Talvez um
dia, se realmente conseguir me libertar, eu encontre uma maneira de
salvá-las também.
Espero que esse dia chegue, embora agora tudo seja escuridão.
Uma por uma, as garotas alinhadas na minha frente são desligadas do
resto do grupo e conduzidas para um enorme palco.
Meus olhos se arregalam quando vejo o grande público que lota o
estádio. Minha boca fica seca na mesma hora.
Vejo placas sendo erguidas e escuto o locutor anunciar os lances..
Assim que ele grita — Vendida, — o escrava é levada para a frente do
palco até a escada que leva à área da plateia.
Seu novo mestre a encontra lá e dá ao guarda-vampiro o pagamento,
depois substitui as correntes da escrava pelas que lhe pertencem.
O carcereiro, então, solta as algemas e elas são liberadas para o novo
mestre.
Colocam até coleiras e trelos, em algumas garotas, como se fossem
cachorros, o que faz meu estômago se revirar. Em nenhum momento
entre o ponto A e o B vejo a chance de escapar.
Conforme a fila à minha frente fica cada vez mais curta, minha
frequência cardíaca aumenta.
Estou à beira do pânico e respiro irregularmente, enquanto tento me
acalmar.
Estou decidida a me manter lúcida. Dando um passo à frente com as
pernas trêmulas, examino os rostos do público.
Reconheço claramente alguns como vampiros, alguns dos quais já vi
no Banco de Sangue.
No entanto, não sei o que são mais de dois terços dos seres na plateia.
O estabelecimento de Mestre Lacroix atende a todos os seres, mas os
demais não têm características particulares para que eu saiba a esta
distância a que espécies pertencem Só posso presumir que o resto da
multidão é composto de bruxas, lobisomens e os poucos humanos
ridiculamente ricos que fazem negócios com Mestre Lacroix.
Um deles eu até reconheço como o Sr. Jensen Carter, um magnata dos
negócios que ajuda Mestre Lacroix em seu negócio de tráfico de pessoas.
Quando olho para a frente, meu estômago embrulha, pois me dou
conta de que sou a próxima.
Guardas se materializam, de cada lado de mim. Eles me seguram por
debaixo dos braços, me levantando do chão e me carregando para o
palco.
Levada dessa forma, não há nada que eu possa fazer. A corrente
conectando meus tornozelos é muito curta para eu tentar chutar
qualquer um deles.
O melhor que posso fazer é apontar os dedos dos pés para baixo e
tentar me desacelerar. Meus olhos começam a lacrimejar e rapidamente
pisco para afastar as lágrimas.
Eu me recuso a deixá-los me ver chorar.
— Agora, aqui está nossa última garota, e deixe-me dizer... nós
deixamos o melhor para o final! — grita o locutor ao microfone.
Gritos e uivos irrompem entre o público, enquanto sou carregada
para sua linha de visão.
— Esta deliciosa mulher tem pele clara, lábios vermelho-rubi
sedutores, olhos verde-esmeralda e cabelos negros como ébano. Ela tem
vinte e três anos, o corpo de uma deusa e a pele lisa como seda. E, ainda
por cima, ela é virgem!
Os gritos alegres se tornam ainda mais altos, fazendo com que o
locutor pare e espere antes de falar novamente.
Percebo alguém trazendo para o centro do palco um grande poste de
madeira com um gancho de metal pendurado nele.
Inclino a cabeça para o lado e franzo as sobrancelhas, me
perguntando para que serve e por que foi trazido agora.
O poste está sobre a própria pequena plataforma, e sou colocada bem
na frente dele.
Os dois guardas que me trouxeram agarram meus pulsos algemados e
os erguem sobre minha cabeça.
Quando eu percebo o que estão tentando fazer, começo
imediatamente a lutar, atirando os cotovelos o melhor que posso, mas é
inútil.
Eles conseguem enganchar a corrente de conexão de modo que fico
pendurada na frente do poste, com os braços acima da cabeça e os dedos
dos pés mal se arrastando ao longo da plataforma de madeira.
— Como vocês podem ver, esta aqui ainda é um pouco fogosa!
Somente o mestre mais forte será capaz de controlar essa beleza! Mas,
assim como qualquer garanhão selvagem, ela só precisa ser domada!
— Dez mil! — alguém grita.
— Quinze mil! — exclama outro.
— Ela também é muito flexível! — o locutor acrescenta, se
aproximando de mim. Ele se abaixa e agarra a corrente entre meus
tornozelos, levantando meus pés, aproximando-se de mim enquanto o
faz.
Tento lutar com ele, sem saber o que está tentando fazer. É inútil.
Logo estou dobrada ao meio, com as pernas imprensadas entre meu
torso e o dele.
Pressiono as minhas pernas contra ele, tentando empurrá-lo, mas ele
não se move. A força do vampiro é demais para mim.
— Vinte e cinco mil dólares!
— Trinta mil dólares!
Os números continuam sendo anunciados e as quantias sobem mais e
mais.
Meu pânico aumenta e posso sentir a bile que ameaça subir pela
minha garganta.
O locutor abaixou meus pés de volta e agora agarra a bainha do meu
vestido transparente e lentamente começa a subir, dando à multidão
uma visão mais clara das minhas pernas.
— Setenta e cinco mil dólares!
— Oitenta mil dólares!
— Um milhão de dólares!
— Um milhão de dólares! Dou-lhe uma! Dou-lhe duas! Vendida!
Parabéns! Pode ir buscar sua escrava virgem ali na frente! — o locutor
exclama. Não consigo ver quem me ganhou por causa das luzes
ofuscantes posicionadas lá em cima abarcando o palco.
Aperto os olhos em sua direção, mas não consigo ver seu rosto.
Tudo que enxergo é uma figura alta e musculosa descendo os degraus
do estádio em um terno cinza escuro.
Os guardas estendem as mãos e agarram meus pulsos enquanto me
desce começam a me levar para a frente do palco.
Eu enterro os calcanhares e resisto, tentando recuar, mas eles não
permitem. Simplesmente me seguram por debaixo dos braços, nos bíceps
novamente e me levam para meu novo mestre.
Logo sou colocada bem diante dele e finalmente posso ver sua
aparência. Seu cabelo é tão preto quanto o meu, e os olhos são cinza-
escuros.
Tatuagens aparecem por baixo da gola de sua camisa. O homem é
enorme e intimidante.
Ele poderia ser considerado muito bonito se seus olhos não
parecessem tão frios. É como olhar para um poço sem fundo, e um
arrepio sobe pela minha espinha.
Ele sorri para mim quando percebe meu olhar, e eu rapidamente
baixo os olhos para os meus pés.
Através dos meus cílios, vejo o homem de olhos cinzentos gesticular
para um companheiro atrás dele.
Este cara é quase tão grande quanto ele, com cabelos ruivos e olhos
castanhos.
Parece igualmente assustador quando avança com uma grande maleta
prateada e a coloca na beirada do palco e a abre para revelar uma grande
quantia em dinheiro, provavelmente um milhão de dólares.
O vampiro que coleta os pagamentos examina o conteúdo,
certificando-se de que todo o dinheiro está ali, e então faz uma anotação
em seu livro-caixa.
— Muito obrigado, senhor. Ei, o senhor não é Alfa Damon, da Blood
Fangs Pack?
— Sou eu mesmo, — meu novo mestre responde com um sorriso
presunçoso, claramente gostando de ser reconhecido até mesmo entre a
comunidade de vampiros.
— Uau! Eu não posso acreditar que realmente conheci Alfa Damon
'Ceifador'. Preciso dizer que é uma honra conhecê-lo, — diz ele,
entregando ao meu novo mestre a papelada referente à minha compra.
Não ouso olhar para cima de novo, mas meus olhos se arregalam
novamente. Alfa... Isso significa que ele é um lobisomem. Mais do que
isso, é o chefe de uma matilha.
No entanto, a verdade é que eu não sei nada sobre lobisomens.
Tínhamos clientes lobisomens, mas, quando iam assistir a você fazer
striptease ou participar do clube de BDSM, não havia motivo para falar
sobre suas vidas.
E este apelido dele... — O Ceifador. — É... perturbador. Meus nervos
se agitam novamente e meu batimento cardíaco acelera.
— Eu te assusto, escrava? — ele me pergunta, em um tom de quem
está se divertindo.
Ele me apavora. Toda esta situação me apavora. Mas não pretendo
admitir isso de jeito nenhum. O que faço é erguer os olhos e encontrar
seu olhar.
— Não, senhor.
Seu sorriso se alarga e torna-se perverso, então ele responde:
— Vou ter que mudar isso, então.
Capítulo 5
Logan

Esses sapatos são desconfortáveis. E eu preciso me livrar dessa


maldita gravata.. Está me sufocando. Outra coisa de que preciso me
livrar... esta garota com quem estou dançando.
Ela é totalmente detestável. Tudo o que ela fez foi falar sobre si
mesma.
Eu sei que a cor favorita dela é rosa, a comida favorita é fettuccine
Alfredo, o filme favorito é Twilight... Quem se importa?
Parei de prestar atenção depois de um tempo. Foi o único jeito de
manter minha sanidade. Não acredito que concordei com essa merda.
Murmuro mais alguns — uh-huhs — e — ahs — nos momentos em
que parecem necessários antes que a música termine.
— Obrigado pela dança... querida..., — eu encerro, sem conseguir me
lembrar do nome dela. Houve nomes demais esta noite.
Eu me afasto rapidamente da pista de dança, afrouxando a seda
sufocante da gravata em volta do meu pescoço.
Deusa, quanto tempo mais eu tenho que ficar aqui?
Não ajuda que meu lobo esteja nervoso. Ele não falou muito, mas
consigo senti-lo andando dentro de mim. É como se estivesse se
preparando para uma luta.
Antes que eu tenha a chance de perguntar qual é o problema dele,
outra garota vem até mim. Esta parece muito mais jovem.
— O..olá, A-Alfa, — ela gagueja, claramente se sentindo intimidada.
— Olá, — respondo, impedindo minha língua de perguntar se ela está
perdida.
— Eu es.. estava só m-me perguntando se você g-gostaria de dançar?
— ela consegue dizer.
Dou a ela um sorriso tenso antes de responder:
— Claro.
Sua boca se abre instantaneamente em um sorriso enorme, e eu
estendo minha mão para ela pegar antes de levá-la para a pista de dança.
Começo a conduzi-la durante a valsa, esperando que ela fale no meu
ouvido como as outras, mas ela fica quieta.
Limpando minha garganta, eu finalmente pergunto:
— Então, qual é o seu nome?
— Oh... humm... Courtney. Sou filha do Alfa Dane.
Aceno com a cabeça. Então, ela é outra pretendente. Ela certamente
não parece tão egocêntrica quanto as outras, mas é tímida. Eu não a vejo
sendo uma Luna.
Não por enquanto, pelo menos. Ela parece muito jovem. Apenas uma
adolescente.
Prefiro alguém mais próximo da minha idade, alguém com alguma
experiência de vida.
Ser uma Luna envolve muita responsabilidade e pressão. Preciso de
alguém que possa lidar com isso.
Para quebrar o silêncio constrangedor, faço perguntas sobre ela.
Infelizmente, isso me leva a ouvi-la falar sobre a escola e seu baile de
formatura...
Não é preciso dizer que isso torna a diferença de idade muito mais
óbvia. Eu me sinto como um papa-anjo só de dançar com ela.
Assim que a música termina, eu educadamente me desculpo e me
dirijo à saída que leva aos jardins na parte de trás da casa da matilha.
Estou precisando desesperadamente de um pouco de ar fresco e
perspectiva agora.
Chego ao enorme pátio e o atravesso, apoiando-me no corrimão de
pedra enquanto olho para o jardim.
Estamos entrando nos meses de inverno, mas, graças à nossa bruxa
residente, o jardim está lindo como sempre.
Está vibrante como de hábito, ostentando a mesma variedade
colorida de flores durante todo o ano por causa de algum feitiço que ela
lançou.
Luzes decorativas estão penduradas por todo o quintal, iluminando
tudo, e nuvens cinzentas pairam no céu.
Os flocos de neve começam a cair lentamente e tornam o jardim
ainda mais mágico.
Meu lobo e eu parecemos nos acalmar olhando para a cena diante de
nós, e deixo escapar um suspiro.
— Alfa Logan, os anciãos querem uma palavra rápida na sala de
conferências, — a voz de Cole informa, através do link mental.
Solto outro suspiro, dessa vez de frustração, antes de deixar a
tranquilidade do jardim e voltar para dentro.
Quando chego à sala de conferências, Cole e meu pai estão me
esperando do lado de fora.
Entramos e encontramos todos os anciãos sentados ao redor da mesa
enquanto discutem sobre as lobas presentes.
Ao perceberem minha chegada, todos se levantam e baixam a cabeça
para mim. Eu aceno de volta para eles antes que tomem seus assentos
novamente.
— Senhores, — eu comento, puxando minha cadeira.
— Alfa, estávamos nos perguntando se você tem alguma ideia de qual
loba você gostaria de escolher para nossa Luna, — Elder Maynard
questiona.
Estreito os olhos para ele antes que meu olhar percorra os outros.
Todos me encaram, com expectativa.
— Foi por isso que fui chamado aqui? pergunto, com os dentes
cerrados.
— Alfa, como seu conselho de anciãos, queremos ser mantidos
informados sobre todas as decisões importantes. Você dançou com
algumas jovens lobas esta noite. Certamente, você encontrou uma Luna
adequada entre elas, — replica Elder Rancis em seu tom arrogante de
costume.
— Não. Eu não encontrei. Até agora, todas elas são egocêntricas ou
mal deixaram as fraldas, — eu declaro, embora a frase mais como um
rosnado irritado.
— E eu não disse que escolheria uma Lua esta noite. Concordei em
tentar estar aberto à ideia. Não vou sacrificar minha felicidade ou o bem
da matilha por uma Luna que não é digna desse título.
— O melhor para a matilha é ter uma Luna, — argumenta Elder
Rancis.
— Não. O que é melhor para a matilha é termos a companheira que a
Deusa da Lua escolheu para ser nossa Luna — eu rebato, me levantando.
— Não há garantia de que você a encontrará! Você quer que
continuemos sem Luna indefinidamente? Você precisa desistir da ideia
boba de que a parceira com quem você foi abençoado ainda está por aí.
Se ela estivesse, você já a teria encontrado! É apenas orgulho e egoísmo
impedindo você de cumprir seu dever!
Um rosnado rasga meus lábios enquanto eu olho para Elder Rancis.
— Tenho sido mais do que complacente com suas exigências, mas
você nunca deve me desrespeitar assim novamente, a menos que prefira
passar o resto de seus dias nas masmorras. Eu fui claro?
Seus olhos redondos se arregalam por um momento e seu rosto fica
vermelho antes que ele faça que sim várias vezes com a cabeça. Este
homem parece esquecer seu lugar de vez em quando.
A voz da minha mãe afasta meu olhar assassino de Rancis conforme
ela diz, em tom suave e calmante.
— Alfa, eu adoraria que você encontrasse sua companheira. No
entanto, do jeito que as coisas estão no momento, pode ser melhor ter
uma segunda escolha. Se você não está interessado em nenhuma das
lobas que nossos companheiros de matilha do sul têm a oferecer, talvez
você deva simplesmente escolher aquela que será mais benéfica para uma
aliança e a posição de nossa matilha, — ela propõe.
Ainda não gosto da ideia.
Pinçando a parte de cima do nariz, fecho os olhos e inclino a cabeça
para trás tentando pensar. Logo, solto um suspiro e me viro para eles.
— Então, vocês todos estavam discutindo sobre as lobas. Quais você
acha que nos ajudariam mais?
— A filha do Alfa Samuel, Anastasia, seria uma boa combinação. Ela é
lindíssima e pertence à matilha de nossa região, — informa o Elder
Maynard.
— Camilla, a filha de Alfa William também seria uma escolha
esplêndida. Ela é uma lutadora forte e sua matilha é conhecida por ter
alguns dos guerreiros mais fortes, — acrescenta minha avó.
— Eu acho que a escolha mais importante seria Rebecca, a filha de
Alfa Richard. Já somos um grande grupo de lutadores qualificados. Mas
esta é a matilha mais rica. Eles trariam muita estabilidade financeira e
permitiríam que você iniciasse alguns projetos que deseja, — afirma
Elder Rancis.
— Tudo bem, — respondo, com dureza.
— Agende uma semana para cada uma das três escolhidas. Vamos
hospedá-las aqui, sozinhas, para conhecê-las melhor, e tomarei minha
decisão depois que as três tiverem a chance de se provar para mim.
Minha declaração parece satisfazê-los, e eles acenam para mim em
aprovação. Graças a Deusa. Com sorte, isso os manterá longe de mim por
um tempo. No entanto, isso também significa que preciso encontrar
minha companheira antes do fim da terceira semana.
Eu me levanto para sair, sem dar mais atenção a eles, meus punhos
cerrados enquanto penso nas garotas que ficarão aqui.
Espero que não sejam tão horríveis quanto o resto até agora.
Assim que eu volto para o salão de baile, uma loira alta e esguia se
aproxima de mim e passa sua mão bem cuidada em volta do meu braço.
— Exatamente o alfa que eu estava procurando. Eu estava esperando
para dançar com o homem do momento, — ela diz, começando a me
arrastar para a pista de dança sem esperar pela minha resposta. Quando
chegamos ao centro, ela se volta para mim e passa um braço pelo meu
pescoço.
Sua outra mão começa a percorrer meu peito mas eu a cubro com a
minha, fazendo-a parar.
Afasto a mão dela e a posiciono para uma dança de salão adequada.
Não quero uma garota cujo nome nem sei me apalpando no meio da
pista de dança.
— Parece que estou em desvantagem. Você claramente sabe quem eu
sou, mas quem é você? — eu observo enquanto começo a conduzi-la.
— Meu nome é Rebecca Stanton. Tenho certeza que você já ouviu
falar de mim. Meu pai é Alfa Richard Stanton do Dark Shadow Pack, —
ela responde.
— Ah, sim, — eu concordo. — Então, está se divertido?
— Definitivamente. A comida está deliciosa. A música é ótima.
Normalmente, a Luna de uma matilha é quem planeja tudo isso. Não me
diga que você fez tudo sozinho! — ela exclama com espanto.
Solto uma risada e balanço a cabeça.
— Não, não. Minha mãe cuidou de todo o planejamento. Ela ajuda
muito com as responsabilidades da Luna agora.
Continuamos a conversar e a conversa, surpreendentemente, não é
terrível.
Descobri que ela está terminando seu curso de administração de
empresas, tem um irmão mais velho que assumirá o lugar de seu pai nos
próximos anos e gosta de viajar.
Acabamos de começar a falar sobre sua viagem mais recente, quando
uma ligação mental vem de um dos homens de serviço na patrulha da
fronteira.
— Alfa, você precisa vir para o ponto de vigia C na fronteira norte. Acho
que você vai querer ver isso.
Depois de me desculpar educadamente, saio correndo do prédio.
Estou tentado a mudar para a forma de lobo, mas se eu tiver que
voltar para o baile, isso seria inconveniente, então me contento em pegar
as chaves de uma das SUVs pretas da matilha que estão paradas na frente
da casa.
Ao me aproximar da torre no centro de nossa fronteira norte, já posso
ver a que o guarda estava se referindo.
Minha boca se abre enquanto olho com os olhos arregalados para a
distância.
Eu freio bruscamente e coloco o veículo no estacionamento antes de
sair e ir até onde três guardas estão agora, alinhados, olhando com
admiração.
Vastas florestas nos separam dos bandos do norte, mas mesmo desta
distância é fácil ver.
Três grandes tornados estão girando lado a lado no lado oposto da
floresta. Eles não parecem estar se movendo ou se dissipando.
É quase como uma parede de vento, três nuvens em forma de funil
girando sobre si mesmas, jogando detritos para todos os lados.
Nunca vi nada assim em toda minha vida. O que diabos está
acontecendo?
Capítulo 6
Sempre

A viagem para minha nova casa é longa e desconfortável. Meu novo


mestre me algemou a ele para que não houvesse chance de fuga.
Parece que estivemos sentados aqui em silêncio por uma eternidade e
tentei ficar tão longe dele quanto é humanamente possível estando presa.
De repente, sua voz baixa e rouca soa, me fazendo pular.
— Estaremos lá em breve e há algumas coisas que você precisa saber.
Um, você é minha. Até que eu decida que estou cansado de você, você
não vai deixar ninguém tocar em você. Nenhum homem deve falar com
você. Se eu descobrir que está se engraçando com algum dos meus
homens, você será severamente punida. Entendeu?
Eu rapidamente aceno com a cabeça em concordância.
— Não consigo ouvir um meneio de cabeça. Use as palavras. Eu
gostaria que você sempre me chamasse de Mestre.
— S-Sim, Mestre, — eu falo, e não estou apressada para descobrir o
que esse cara acha que seria uma punição apropriada.
— Bom. Dois, quando eu não precisar de você, você ajudará os outros
escravos a cozinhar e limpar. Minha companheira, Luna Mara, fica
encarregada dos escravos. Você sempre mostrará respeito a ela e não
comentará as coisas que fazemos juntos. Se você a chatear de alguma
forma, você será punida, — ele continua, e minha boca se abre de
surpresa.
Ele tem uma companheira???
— Hmm... se você tem uma companheira, então por..., — eu começo.
— TRÊS, NÃO FALE SEM PERMISSÃO! — ele grita comigo, me
interrompendo.
O ar ao meu redor parece vibrar com poder, e eu percebo que ele está
usando seu comando alfa em mim.
Não sei muito sobre lobisomens, mas ouvi dizer que os alfas têm a
capacidade de fazer com que as pessoas os escutem e obedeçam.
As únicas pessoas em que não funciona são pessoas de poder igual ou
superior ou lobos que têm seu próprio alfa.
Deveria ter funcionado comigo, embora não esteja claro para mim
por que não. Eu rapidamente registro isso, pois pode ser útil em algum
momento.
— ESTOU SENDO CLARO??? — ele grita, capturando minha
atenção.
Eu faço que sim, freneticamente, então arregalo os olhos ao me dar
conta do meu erro. Antes mesmo que eu tenha a chance de corrigi-lo, ele
agarra meu rosto, apertando meu queixo com força.
— O QUE EU DISSE SOBRE ACENAR?!
Ele me encara por um segundo antes de me soltar para que eu possa
falar.
— Sinto muito, Mestre. Não vai acontecer de novo, Mestre, — eu
recito.
Tínhamos clientes assim. Sempre fui capaz de me adaptar
rapidamente.
Acho que o pensamento de que minha virgindade não está mais
protegida está me afetando, no entanto.
Enquanto estava no Banco de Sangue, sempre soube que estava a
salvo daquela tortura em particular.
Havia muitas coisas que eu tinha que fazer, mas sexo não era uma
delas. Foi isso que me ajudou a ser tão confiante.
Eu estava determinada a mostrar meu valor e me manter protegida de
ser estuprada o máximo possível.
Sempre tive esperança de encontrar uma maneira de escapar antes
que esse momento chegasse.
De repente, ele me bate com as costas da mão. Com força. Parece que
meu rosto está prestes a explodir com o impacto. Meus olhos ardem
instantaneamente de lágrimas.
— Garanta que não, — ele ordena e volta a se recostar em seu assento.
Aparentemente, a conversa acabou agora.
Poucos minutos depois, chegamos a uma enorme mansão em estilo
gótico. A floresta se espalha à sua frente por quilômetros e quilômetros.
Não consigo nem ver onde termina.
A casa tem quatro andares de altura e é feita de uma pedra escura. Há
gárgulas postadas em cada lado da entrada, e mais algumas podem ser
vistas mais abaixo em cada extremidade.
A porta do Mestre é aberta e ele sai, me arrastando junto com ele
enquanto me apresso para diminuir a distância, meu braço sendo puxado
para longe de mim.
Quando eu saio, o homem que vi no leilão vem até o Mestre.
Seus olhos escurecem com luxúria enquanto percorrem lentamente
todo o meu corpo e ele dá sorriso malicioso. Ele então volta sua atenção
para seu alfa.
— Acho que talvez ela seja a mais bonita que você comprou até agora,
senhor, — ele comenta e dardeja o olhar sobre mim novamente.
O alfa ri baixinho e dá um tapinha no ombro do homem.
— Ela definitivamente é. E você terá a sua vez com ela, como sempre,
assim que eu estiver satisfeito. Então, quando você terminar com ela, ela
pode ser passada para todos os outros, — o Mestre responde, e meus
olhos se arregalam enquanto meu rosto esquenta.
Eu imediatamente me sinto enjoada. Eu luto contra o desejo de me
curvar e vomitar, buscando recuperar o controle de mim mesma.
Controle-se, Everly.
Preciso encontrar uma maneira de escapar antes que comece a ser
passada como um brinquedo usado.
Assim que sua conversa com o outro homem termina, ele me leva
para dentro de casa e sobe uma escada em espiral.
Vamos só até o segundo andar antes que ele me leve a uma sala no
corredor à direita.
Meus olhos imediatamente começam a escanear a sala, procurando
por qualquer coisa que eu possa usar para fugir, uma arma ou rota de
fuga, qualquer coisa.
Há uma grande cama de dossel com correntes penduradas, e eu
engulo em seco. Há um banco de madeira simples ao pé da cama.
Há uma mesa ao longo da parede com janelas de cada lado. À direita,
há duas portas.
O Mestre se aproxima e abre uma para me mostrar um banheiro.
Atrás da outra originalmente havia um closet, mas parece ter sido
convertido em um dormitório destinado a uma escrava.
Tem um tamanho decente, mas não há nada exceto um colchão duplo
no chão com um travesseiro irregular e um cobertor que claramente já
viu dias melhores.
Contenho um suspiro. Não quero dar nenhum motivo para enfurecer
meu novo mestre, e ainda tenho que descobrir tudo o que pode deixá-lo
irritado.
Pelo menos os arranjos para dormir são melhores do que o que eu tive
com os vampiros.
— É aqui que você dormirá até que eu termine com você. Dessa
forma, você estará sempre por perto quando eu quiser você. Depois, você
vai dormir nas masmorras com os outros escravos, — explica.
Eu não digo nada em resposta e me abstenho de acenar com a cabeça.
Ele se vira para mim e enfia a mão livre no bolso da calça antes de
puxar uma chave e segurá-la na minha frente.
— Vou desbloquear essas algemas agora. Se você tentar fugir, vou
fazer você se arrepender.
— Sim mestre.
— Bom.
Ele libera seu próprio pulso antes de soltar o meu.
Ele imediatamente pega minha mão e me leva até a mesa para colocar
o conjunto de algemas em uma das pequenas gavetas.
Assim que a gaveta é fechada, ele me puxa para perto de si, de modo
que fico imprensada entre ele e a mesa.
Minha respiração acelera instantaneamente e meu coração dispara.
Estou absolutamente apavorada com o que vai acontecer a seguir. Eu
preciso descobrir uma maneira de protelar.
Rápido.
— Mestre? — Eu começo, esperando que ele não me castigue por falar
sem ser solicitada.
— Sim, escrava?
— O que você gosta de fazer?
Ele sorri para mim antes de inclinar a cabeça para baixo.
— Por que você quer saber, pequena escrava?
Seu tom é provocador e eu aperto com força os dentes. No entanto,
eu forço um sorriso doce no rosto e olho para ele.
Eu estendo a mão e deslizo lentamente os dedos para baixo de uma
das lapelas de seu terno, lutando contra a vontade de vomitar mais uma
vez.
Eu olho para cima para encontrar seus olhos cinzentos e frios.
— Bem, como vou agradá-lo apropriadamente se não sei do que você
gosta?
Seu sorriso fica mais largo e então ele solta uma risada baixa. Ele se
inclina para mais perto de mim para que seus lábios estejam próximos ao
meu ouvido.
Posso sentir seu hálito quente em minha bochecha e estremeço de
nojo.
— Sexo. Eu gosto de sexo. Todos os tipos. E não se preocupe em me
agradar, porque eu sei que você vai, minha putinha.
Com isso, ele me levanta e me joga na mesa atrás de mim.
Uma mão envolve minha garganta, que ele aperta não o bastante para
me sufocar, mas o suficiente para tornar mais difícil respirar.
Ele paira sobre mim, seu nariz roçando levemente meu queixo
enquanto aspira meu perfume e sua mão livre começa a apalpar meu
seio.
Minhas próprias mãos agarram seu braço enquanto tento afrouxar
seu aperto em volta do meu pescoço.
— Por favor..., — tento dizer, embora mal consiga pronunciar as
palavras. Quero implorar para ele parar, para me dar tempo, mas sei que
é inútil.
— Você estava tentando protelar, escrava. Você é muito inteligente,
mas não o suficiente, — ele rosna antes de morder minha orelha.
Seus dedos em volta da minha garganta finalmente saem. Ele se
endireita enquanto olha para mim, e eu assisto, horrorizada quando seus
dedos se transformam em garras afiadas.
Ele se inclina para frente e usa as unhas afiadas para rasgar o tecido
transparente do meu vestido.
Eu lamento, em agonia, quando rasgam a pele da parte interna das
minhas coxas no momento em que ele abre uma fenda no meio do
vestido.
Ele sorri maliciosamente e sobe de novo em cima de mim. Uma mão
agarra as minhas e as prende acima da minha cabeça.
Eu me contorço embaixo dele enquanto tento me afastar de sua mão
errante, que felizmente retraiu suas garras agora.
Ele desce lentamente pelo meu corpo e minha pele se arrepia de
repulsa.
Ele abaixa a cabeça e pressiona a língua sobre o bico do meu seio
através do material transparente que ainda estou usando.
Posso sentir meus olhos se enchendo de lágrimas e tento piscar, mas
uma desliza pela minha bochecha.
Eu continuo a lutar embaixo dele; infelizmente, ele é muito pesado e
forte.
Sua mão livre desliza entre minhas pernas, segurando minha área
mais privada enquanto seus dedos ásperos procuram a entrada.
As lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto quando, de repente,
uma grande rajada de vento faz com que as janelas se abram.
Uma das vidraças se estilhaça, jogando pedaços de vidro no chão. O
Mestre rapidamente se levanta e olha atordoado para a janela agora
quebrada.
— Que diabos?!
Ao meu lado, na mesa, está um abridor de cartas de metal. Essa é toda
a distração de que eu precisava.
Sem pensar duas vezes, pego a arma e a enfio em sua garganta antes
de correr para a porta.
Cheguei ao fim da escada quando ouço um rugido poderoso que
sacode a casa. Eu não olho para trás. Não tenho tempo para me dar ao
luxo.
Eu apenas continuo correndo o mais rápido que minhas pernas
podem me levar. Estou indo direto para a floresta, esperando que ela me
forneça muitos lugares para me esconder.
Atrás de mim, ouço coisas quebrando, enquanto o Mestre começa a
correr atrás de mim. Eu me forço a correr mais rápido. Graças a Deus os
vampiros me mantiveram em forma.
O vento fica mais forte ao meu redor enquanto me dirijo para a
floresta. Parece que uma tempestade está se formando ou algo assim.
Eu lanço um olhar para trás e vejo que meu mestre e vários de seus
homens estão alinhados fora da mansão, se esforçando para chegar até
mim.
No entanto, o vento parece estar prendendo-os quando começa a
girar. Meus olhos se arregalam quando eu vejo a cena.
O que quer que esteja acontecendo parece completamente anormal.
Eu recuo, querendo ficar o mais longe possível, já que três grandes
nuvens de funil se formam do nada.
Não tenho ideia do que está acontecendo, mas não vou perder essa
chance. Virando-me rapidamente, começo a correr outra vez.
Não sei quanto tempo tenho. Eu preciso me mexer. Posso ouvir os
ventos fortes atrás de mim e o som da chuva caindo, mas continuo seca.
Não me incomodo em parar, embora dê uma rápida olhada por cima
do ombro para ver que está chovendo a poucos metros de mim.
É quase como se a chuva estivesse me seguindo... mas não pode ser...
certo? Talvez eu finalmente tenha enlouquecido.
Ignorando o fato de que posso finalmente estar pirando, mantenho
meu ritmo enquanto corro pela floresta. Eu pulo sobre árvores caídas e
raízes levantadas.
Eu ignoro tudo ao meu redor, exceto o caminho que leva à minha
liberdade e o som de meus pés batendo no chão.
A dor nos pés por correr descalça pela floresta não significa nada para
mim. Pelo menos eu fugi antes que o Mestre me tivesse.
Pelo menos estou viva. Embora eu não saiba por quanto tempo.
Capítulo 7
Logan

Observamos com espanto enquanto a parede de tornados continua


girando.
— Que diabos está acontecendo? — Cole exclama chegando atrás de
mim com outro punhado de homens.
Eu olho para ele e vejo sua expressão surpresa, os olhos colados à cena
diante de nós também.
— Meu melhor palpite é algum tipo de mágica, — declaro, voltando a
olhar a bizarra tempestade — Cole, para garantir a segurança, leve todos
os nossos convidados para o porão. Não sabemos que tipo de magia é
essa e o que pretendem. Max, vá encontrar Delisia. Ela pode ter uma
ideia melhor do que está acontecendo agora. Devon, vá ligar nossos
alarmes de perímetro. Vamos colocar todos para dentro por enquanto.
Não quero ninguém aqui fora se esses tornados decidirem vir em nossa
direção.
— Sim, Alfa, — todos respondem e se apressam para cumprir as
tarefas atribuídas.
— O resto de vocês, ajudem Cole a reunir todos e levar a comida e as
bebidas para o porão, para manter todos felizes, — acrescento.
Eles rapidamente concordam e correm atrás de Cole.
Minha atenção se volta para contemplar os tornados uma última vez
e então faço o link mental com o resto da matilha que não está no baile
de acasalamento.
— Todos devem encontrar abrigo até novo aviso. Fiquem abaixo do solo
ou em algum lugar sem janelas. Se você não está atualmente em nosso
território, fique onde está. Neste momento, não é seguro retornar.
Várias respostas entram em minha mente em rápida sucessão, me
fazendo estremecer.
— O que está acontecendo?!
— Estamos sob ataque?!
— O que há de errado?! O que está acontecendo?!
— Uma forte tempestade exibindo propriedades mágicas foi vista ao
norte de nós. Por enquanto, apenas tome precauções e faça o que eu digo.
Todas as perguntas serão respondidas à medida que soubermos mais, — eu
os informo, instantaneamente aquietando minha mente.
Giro nos calcanhares e corro de volta para a mansão onde todos estão
sendo conduzidos pela escada em espiral.
Felizmente, nosso porão está totalmente mobiliado. Há uma grande
sala de jogos com duas mesas de sinuca, uma TV de tela grande e muitas
outras coisas para fazer.
Máquinas de pinball e jogos de fliperama se alinham em um lado da
parede, e ao lado das mesas de sinuca há uma mesa de pingue-pongue e
uma mesa de pebolim.
Existem prateleiras cheias de jogos de tabuleiro, filmes e títulos para
nossos vídeo-games mais recentes.
Há também uma cozinha de tamanho moderado lá embaixo com
uma enorme mesa de jantar.
À direita está um conjunto de portas duplas que conduzem à nossa
academia. À esquerda estão alguns banheiros e quartos.
● Devemos ter tudo de que precisamos para um longo período de
tempo aqui.
Enquanto o último de nossos convidados é levado escada abaixo, vejo
Max descendo com Delisia a reboque.
— Boa noite, Alfa, — diz ela em sua voz cantante.
— Boa noite, Delisia. Max lhe contou por que você foi convocada?
Ela acena com a cabeça antes de nós três nos sentarmos na ponta da
mesa de jantar.
— Sim. E ele me mostrou também. Certamente está sendo feito por
magia, embora não pareça magia de bruxa.
Eu franzo as sobrancelhas para ela e uma carranca aparece em meu
rosto.
— O que você quer dizer? Que outro tipo de magia poderia ser?
Seus lábios se apertam e ela encolhe os ombros.
— Não sei. A magia parece poderosa, mas desconhecida. Se fosse
magia de bruxa, seria reconhecível para mim, mas isso... é exótico. Nunca
senti nada parecido.
— Estamos em perigo?
— Eu… eu acho que não. A magia não parece maliciosa... parece... é
como se estivesse protegendo alguém ou algo.
— Protegendo? Como assim?
— Bem, meu melhor palpite... Ou quem conjurou a tempestade está
protegendo alguém na floresta de qualquer matilha que está no norte, ou
eles estão protegendo a matilha de algo na floresta. Não posso ter
certeza, porém, sem ir lá.
Eu aceno, estendendo coloco o braço sobre a mesa e tamborilando os
dedos enquanto penso.
— Ok... eu não quero que você se arrisque, então, até que a
tempestade passe, vamos apenas esperar. Você consegue senti-la, ou
preciso pedir que alguém fique de olho?
— Consigo senti-la. Avisarei você assim que acabar, — ela responde.
Graças à Deusa, temos uma bruxa residente conosco. Eu a conheci
quando era jovem.
Minha matilha salvou seu clã de um ataque de vampiros.
Ela era ór ã e decidiu que queria ficar conosco, então meus pais a
acolheram.
Ela é como uma irmã para mim, agora, e uma das minhas amigas mais
confiáveis.
Algumas horas se passam e sou obrigado a interagir com meus
convidados.
Finalmente, Delisia se aproxima de mim, interrompendo uma
conversa com Anastasia, uma das garotas que deveria ser uma das
minhas potenciais Lunas.
— Alfa, — Delisia diz enquanto se aproxima.
— Perdoe-me, Anastasia, — peço licença e saio a com Delisia.
— O que é? — pergunto, em um tom abafado enquanto levo-a para
um canto onde teremos um pouco mais de privacidade.
Cole e Max logo vêm se juntar a nós, curiosos para ouvir o que ela
tem a dizer.
— Eu posso sentir a tempestade se dissipando... — ela começa, então
uma sirene alta começa a tocar ao nosso redor, fazendo com que todos se
encolham e tapem os ouvidos.
Corro até o painel de alarme e desligo-o.
— Isso foi o alarme de perímetro, — afirma Max, tirando as mãos das
orelhas.
Faço que sim.
— Cole, Max e Delisia, venham comigo. Nós vamos dar uma olhada.
Todos os outros, fiquem aqui, — exijo. Nós quatro subimos as escadas
correndo e saimos pela porta da frente.
Max pega uma mochila contendo peças de roupa sobressalentes ao
lado da porta, caso tenhamos de nos trocar, então entramos no veículo
que Cole já deixou funcionando.
Arrancamos assim que todos entram e voltamos para a fronteira
norte, onde o alarme foi acionado.
À medida que nos aproximamos, o cheiro mais celestial invade
minhas narinas e eu inspiro profundamente. Jasmim e baunilha.
Meu lobo se agita dentro de mim, levantando o nariz no ar,
procurando a fonte do cheiro.
— O que é? — Eu o questiono enquanto o carro para e todos nós
saímos.
A princípio, não vemos nada quando começamos a olhar em volta,
farejando o que pode ter disparado o alarme.
— Eu... não sei ainda..., — meu lobo responde, parecendo inseguro. —
Não é apenas o cheiro de jasmim e baunilha. Eu também sinto cheiro de
sujeira... e sangue...
Eu sigo meu olfato até mais adiante, quando finalmente vejo algo.
Lentamente, chego mais perto, sem saber o que estou vendo a princípio.
O cheiro metálico de sangue enche minhas narinas, ficando mais
forte conforme me aproximo da figura formando um amontoado no
chão.
De repente, meus ouvidos captam o som de um batimento cardíaco,
embora seja lento e fraco.
Minha respiração fica presa na garganta quando percebo que estou
olhando para uma jovem. Eu continuo me movendo em direção a ela,
meus olhos examinando sua figura.
Sua pele pálida está tingida de azul de frio. Seu cabelo negro é longo e
emaranhado com folhas secas e sujeira presa nele.
A parte interna das coxas está manchada de sangue e revelam longas
marcas de garras. Meu olhar se move em direção ao rosto dela.
Há um hematoma grande e inchado em sua bochecha.
Seus olhos estão fechados e seus lábios refletem o mesmo azul pálido
do resto de seu corpo.
Ela é absolutamente linda, mesmo em seu estado atual, parecendo
estar à beira da morte.
— Companheira — meu lobo respira, e meus olhos se arregalam com
o reconhecimento.
— O que diabos aconteceu com ela?! — Eu rosno para ele enquanto
apressadamente a pego em meus braços. Sua cabeça cai
instantaneamente flácida contra meu peito.
Seu vestido quase não existe mais e é completamente transparente.
Sinto meu rosto esquentar ao perceber que posso ver tudo.
Imediatamente desvio os olhos, sentindo como se estivesse violando a
privacidade dela
— Não sei, mas vamos descobrir. Assim que ela estiver bem, vamos caçar
quem fez isso com ela e matá-lo, — meu lobo rosna de volta.
Eu imediatamente aceno com a cabeça em concordância, minha
mandíbula travada em determinação.
— Delisia! — chamo então. — Venha rápido! Traga um cobertor!
Eu começo a carregar minha companheira de volta para o veículo, e
Delisia corre até mim, segurando um cobertor de lã contra o peito.
— Oh minha Deusa! Quem fez isso com ela?! — ela exclama com
raiva enquanto joga o cobertor sobre ela, aconchegando-o com a maior
firmeza possível.
— Vamos discutir isso mais tarde, — eu respondo asperamente,
focado em deixar minha companheira em segurança.
Ela acena brevemente com a cabeça, e aceleramos o passo enquanto
eu grito pelos outros.
— Max! Cole! Vamos!
Ambos vêm correndo para fora da floresta e em nossa direção.
— Quem é ela?! — Cole pergunta, surpreso.
— Esqueça isso. Faça o link com Sophie e faça com que ela nos
encontre na enfermaria, — eu ordeno e os olhos dele ficam vidrados
enquanto informa sua companheira.
Cole sobe de volta no banco do motorista, desta vez com Max na
frente.
Eu entro cuidadosamente pela porta traseira com minha
companheira, mantendo-a perto de mim e compartilhando o calor do
meu corpo. Delisia sobe ao nosso lado.
Ela se inclina sobre a garota frágil envolvida em meus braços e impõe
as mãos sobre ela, fechando os olhos.
— Ela está fraca e exausta. Suas feridas não são fatais desde que
tratadas adequadamente, mas precisamos aquecê-la, — afirma.
— Devo aumentar o aquecimento? — Max pergunta.
— Não. É melhor se ela aquecer mais gradualmente. Mantenha baixo,
— Delisia responde. Max acena com a cabeça e tira a mão dos controles.
Logo, estamos parando na frente da casa da matilha mais uma vez.
— Cole, transmita minhas desculpas e acompanhe todos para fora.
Peça aos manobristas para trazer os carros de volta. Max, prepare o
quarto à direita do meu. Assim que ela estiver bem para sair da
enfermaria, quero um lugar para ela ficar. Delisia, fique comigo por
enquanto, — determino e todos se dispersam para executar minhas
ordens.
Delisia e eu corremos para a enfermaria. Minha companheira ainda
está inconsciente em meus braços, embora sua pele não esteja mais
tingida de azul.
Seus lábios carnudos em forma de coração estão agora de um
vermelho brilhante e atraente. A cor começou a voltar em suas
bochechas, deixando-as ligeiramente rosadas.
— Ela é linda, — meu lobo ronrona na minha cabeça.
— Isso ela é, — eu comento de volta para ele.
— Oh meu Deus! Rápido! Coloque-a na cama! — exclama Sophie,
assim que entramos.
Eu faço o que ela diz, e ela corre para o outro lado, sentindo o pulso
da garota e ouvindo seu coração.
Seus olhos brilham quando ela faz uma ligação mental com alguém e,
em segundos, algumas enfermeiras entram correndo com suprimentos.
— Sinto muito, Alfa, mas vou ter que pedir a você e Delisia que se
afastem enquanto trabalhamos.
Eu estreito os olhos, relutante em sair do lado dela, mas Delisia agarra
meu braço e me puxa para longe.
— Ela vai ficar bem, Logan, — ela me garante.
— Você acha que ela é quem estava sendo protegida? Por aqueles
tornados?
Delisia franze os lábios.
— Faria sentido. Assim que eles desapareceram, ela acionou seu
alarme de perímetro.
Eu concordo. A resposta dela é tudo que eu precisava ouvir.
— Eu quero que você veja o que você pode descobrir. Eu quero saber
de quem ela estava sendo protegida e por quê. Você pode fazer isso?
— Claro. Eu vou resolver isso. Você vai ficar bem aqui?
— Sim. Obrigado. Avise-me assim que encontrar alguma coisa, —
insisto.
Ela balança a cabeça em concordância e vai embora antes de se virar
para mim e me dar um olhar hesitante.
— O que? — pergunto.
— Bem... é só... O que você vai fazer quando eu os encontrar?
Meus lábios se tensionam em um rosnado enquanto penso em quem
machucou minha companheira assim.
— Eu vou matá-los.
Capítulo 8
Mara

Um estrondo soa quando outro vaso de valor inestimável bate na


parede de pedra e se quebra em pedaços.
Meu querido marido solta um rugido feroz de raiva. Todos os outros
estão amontoados no lado oposto do porão enquanto nossos feridos
estão sendo tratados.
Eles sabem que não devem se aproximar de seu alfa quando ele está
assim. Eu continuo passando um pano úmido na testa de um de nossos
lobos feridos.
Um grande galho de árvore empalou seu estômago. Ele vai sobreviver
graças às habilidades de cura dos lobisomens, mas, por enquanto, está em
péssimo estado.
Vários de nossos homens ficaram feridos pelos destroços lançados por
aqueles tornados. E muitos também foram arremessados pelos fortes
ventos.
Fomos forçados a entrar nos porões para cuidar de nossos feridos e
nos reagrupar. Ainda não compreendo o que aconteceu lá em cima.
De onde vieram esses tornados? E eles não agiam como quaisquer
tornados que eu já vi antes. Foi quase... mágico...
Mas isso não faz sentido. Aquela escrava era claramente humana. Não
há como ela ter convocado uma magia assim.
Afasto esses pensamentos da cabeça. Não tenho como saber. E já se
passou algum tempo, desde que ela se foi. Com sorte, ela sobreviverá.
Está muito frio agora, e não há nada por quilômetros. Mesmo se ela
encontrar algum lugar, provavelmente será território de lobisomem.
Não sei como as matilhas do sul lidam com os intrusos, mas as
matilhas do norte normalmente não são compreensivas.
Eu me levanto e limpo minhas as mãos antes de ir em direção às
outras escravas que o alfa comprou.
— Luna... o que aconteceu? Por que o Mestre está tão zangado? —
uma delas pergunta em um tom abafado e assustado.
Eu me ajoelho diante dela e gentilmente coloco uma mecha de seu
cabelo atrás da orelha.
— Ele comprou uma nova garota hoje e ela fugiu, — explico,
baixinho, sem querer que o Alfa escute.
— Ela escapou?! — outra pergunta com espanto.
Eu concordo.
— Ela é tão sortuda..., — murmura uma terceira.
— Não sei... Com o Mestre zangado como está agora, ela vai desejar a
morte assim que ele a pegar, — responde outra.
— Calma, meninas. Não devemos falar sobre essas coisas. Se o Alfa
ouvir vocês, pode ficar ainda mais irritado. Basta manter a cabeça baixa e
ficar fora do caminho dele, — digo a elas.
Nem sempre fui tão gentil com as meninas. Eu odiava os constantes
casos extraconjugais de meu marido.
Já se passaram anos desde que ele foi fiel a mim, desde que éramos
felizes. Dez anos para ser exata. Foi quando tudo deu errado.
Fomos atacados por caçadores e estávamos no meio de uma luta
contra eles. Eu levei duas balas de prata no estômago e tive que ser levada
embora às pressas.
Nossos médicos da matilha foram capazes de me salvar, mas os
lobisomens não podem se curar adequadamente quando as feridas são
feitas com prata.
Meu útero estava irreparavelmente danificado e eu não podia dar à
luz nenhum filhote. Eu não podia mais dar a meu companheiro um
herdeiro para sua matilha.
Naturalmente, fiquei arrasada. Eu caí em uma depressão severa, me
recolhi dentro de mim. Tudo que eu queria era ficar sozinha.
Fiquei semanas sem falar e chorava até dormir todas as noites.
Damon ficou cada vez mais impaciente e frustrado.
Então, uma noite eu estava na cama e de repente estava queimando.
Eu gemia e me contorcia de dor, pois parecia que minha pele estava
sendo fervida para fora de mim.
Eu soube imediatamente por quê. Meu companheiro, meu outrora
adorável marido, estava tendo um caso.
Eu o teria confrontado ali mesmo, mas a agonia em que eu estava me
deixou incapacitada.
Na manhã seguinte, me arrastei para fora da cama e pelo corredor
para procurar meu companheiro.
Eu estava quase chegando ao escritório dele quando Wendy saiu,
ajustando sua saia lápis.
Seus olhos se arregalaram quando ela me viu, e ela saiu correndo após
uma saudação rápida e estranha.
Quando o vi, ele sorriu maliciosamente para mim, parecendo
satisfeito consigo mesmo. Meu coração se quebrou instantaneamente em
um milhão de pedaços.
Não consegui encontrar coragem para enfrentá-lo depois disso.
Os casos continuaram. Eu podia ouvir os sussurros, eu percebia os
olhares. Pena. Tristeza. Embaraço. Eu não era mais sua respeitada Luna.
Eu era a pobre loba estéril cujo companheiro não conseguia manter as
calças fechadas. Finalmente, eu me cansei.
Eu tinha alguns ômegas que ainda eram fiéis a mim. Mandei eles
fazerem um reconhecimento para mim.
Eles me deram os nomes de cada uma das lobas que dormiram com
meu marido.
Foi preciso muito planejamento, mas logo eu tinha tudo arranjado.
Toda a matilha foi chamada à praça da cidade. Havia um grande palco
no centro da praça, que meu companheiro costumava usar quando se
dirigia à matilha. Lembro-me como se fosse ontem. Estava
razoavelmente quente, havia uma brisa suave.
O sol estava se pondo, tingindo o céu de um lindo laranja, fazendo a
terra parecer que estava pegando fogo.
Assistia a uma longa fila de lobas ser conduzida ao palco. Todas
haviam caído em desgraça depois de passar uma semana nas masmorras.
Meu marido está viajando para uma reunião do Conselho de Lobisomem
do Norte. Isso me deixou no comando.
Seu beta tem sido solidário a mim e optou por fechar os olhos quando
descobriu que reuni todas as amantes do meu companheiro.
Os sons de correntes tilintando e arrastando contra o palco de madeira
são os únicos ruídos que podem ser ouvidos enquanto o resto da matilha olha
em completo e absoluto silêncio, imaginando o que está acontecendo.
Uma vez que todas as sete estão alinhadas no palco, eu me viro para olhar
para a multidão curiosa diante de mim.
— Estas mulheres foram trazidas aqui porque traíram esta matilha.
Elas traíram sua Luna. E elas traíram o vínculo sagrado do companheiro
abençoado pela própria Deusa da Lua. Isto não pode continuar.
Qualquer uma de vocês que deseja acasalar com meu marido deve
prestar atenção a isto como um aviso. Eu descobrirei. Esse desrespeito
flagrante não será tolerado daqui para a frente.
Nós somos uma matilha. Se desrespeitamos um, desrespeitamos todos. Eu
sou sua Luna. Isso significa que sou igual ao seu alfa. Eu farei qualquer coisa
para proteger esta matilha. E estas mulheres ameaçam nossas crenças e nosso
modo de vida. Se eles podem desprezar tão facilmente os sentimentos de sua
Luna, então não se pode esperar que permaneçam leais a esta matilha. Não
posso mais confiar nessas mulheres e, portanto, as condenei à morte!
Dirijo-me ao público alto o suficiente para que todos possam ouvir
Várias pessoas arfam e eu vejo como os olhos se arregalam e as bocas
ficam abertas. As garotas no palco soluçam alto enquanto são obrigadas a se
ajoelhar.
Lobisomens não são fáceis de matar. Decidi pela execução mais rápida e
menos dolorosa para elas.
Sete guerreiros marcham para o palco, se posicionando na frente de cada
uma das garotas.
Eles então sacam suas pistolas, todos eles segurando uma única bala de
prata. Eles miram e puxam o gatilho ao mesmo tempo.
Um estrondo alto e ressonante preenche o ar, fazendo pássaros voarem
das árvores, mas ninguém emite um som.
Tudo parece estranhamente congelado enquanto eu me afasto do palco,
deixando outros removerem os corpos.
Com esse episódio, tudo mudou outra vez. Recuperei minha
confiança e respeito.
Quando meu companheiro voltou no dia seguinte e descobriu o que
eu tinha feito, ficou furioso.
Mas eu não estava mais disposta a aceitar humildemente seu
comportamento como se não estivesse me matando. Eu me defendi
naquele dia.
Desde então, ele não transa mais com lobas.
No entanto, foi também quando começou a frequentar os leilões
realizados por Lord Vlad Lacroix, um vampiro que governa as duas
cidades subterrâneas.
Não sei como ele soube do estabelecimento, e não posso dizer que
conheça muito a respeito do lugar. Eu simplesmente sabia que era onde
ele estava comprando todas essas garotas.
No começo, eu também as odiei. Fui horrível com as primeiras
garotas que ele trouxe para casa. Meu companheiro continuou sua
infidelidade, mas pelo menos tornou isso menos óbvio.
Ele entendeu a necessidade de eu ser capaz de manter o respeito da
matilha. Ainda assim, as meninas me enfureciam. Ele me enfurecia.
Infelizmente, era mais fácil descontar minha ira nas meninas do que
em meu companheiro.
Não foi até que eu realmente comecei a prestar atenção nelas que
percebi algo. Elas não queriam. Elas não escolheram a escravidão.
Elas não escolheram ser vendidas ao meu companheiro egoísta. Elas
também eram vítimas.
Infelizmente, o que me fez chegar a essa conclusão foi que uma das
meninas cometeu suicídio. Ao que parece, ela se cansou desta vida.
Depois disso, jurei tratá-las melhor, protegê-las o melhor que
pudesse. O único problema é que não posso fazer nada por elas.
Afinal, meu marido ainda é o alfa.
Sou arrancada de meus pensamentos quando meu companheiro solta
outro rugido ensurdecedor.
— EU A QUERO DE VOLTA! — ele grita com alguns rastreadores que
foram convocados.
Ê Ã Á
— ASSIM QUE A TEMPESTADE PASSAR VOCÊS VÃO ENCONTRÁ-
LA E TRAZÊ-LA PARA MIM!!!
Deusa... ajude a garota a escapar da ira do meu marido.
Capítulo 9
Logan

Estou sentado em uma cadeira que puxei para ficar perto de minha
companheira. Muitas emoções se agitam em mim.
Alegria por finalmente encontrá-la, raiva por quem fez isso com ela,
entre tantas outras coisas, como confusão, impaciência, medo, alívio,
expectativa.
Eu quero saber o que aconteceu com ela e se ela ainda está em perigo.
Eu quero que ela acorde. Eu quero ver seus olhos e seu sorriso.
Eu quero poder abraçá-la.
— Ela é humana. Ela não sentirá o vínculo como nós. Pelo menos não
ainda, — meu lobo me lembra.
— Você acha que eu não sei disso? — não posso evitar de rosnar para
ele, frustrado.
Claro que percebi que ela não é lobisomem como eu, mas isso não me
fez desejá-la menos. No entanto, sei que isso vai causar algumas
complicações.
Os anciãos não ficarão felizes com o fato de minha cônjuge ser
humana. E eles definitivamente não vão gostar que ela seja sua Luna.
É claro que isso não vai me impedir, mas preciso descobrir a melhor
maneira de lidar com a questão.
Infelizmente, acho que isso significa que, até eu descobrir o que fazer,
terei que manter segredo. Eu não vou contar-lhes que ela é minha
companheira.
Ela não vai sentir o vínculo por enquanto e eu nem sei se ela sabe o
que é um companheiro ou que lobisomens existem.
Minha cabeça está repousada em minhas mãos, meus dedos puxando
levemente meu cabelo enquanto permaneço ao lado dela. Ela ainda não
acordou e isso está me matando Além de sua óbvia exaustão, ela recebeu
anestesia antes de começarem a tratar todos os ferimentos. Os pés são
limpos e enfaixados. Ela precisou de vários pontos em cada uma das
coxas.
É óbvio que um lobisomem fez isso com ela. As marcas de garras são
muito grandes para pertencer a um lobo normal.
Só o pensamento faz meu sangue ferver e meu lobo rosnar dentro da
minha cabeça.
— Alfa, — a voz de Cole entra na minha cabeça.
— Os anciãos convocaram outra maldita reunião. — Outro rosnado
escapa através do link mental.
— O que esses velhos idiotas querem agora?! Já concordei em me
encontrar com suas principais eleitas para serem Luna!
Eu posso sentir Cole se encolher com a minha raiva.
— Ei, calma! Não mate o mensageiro. Não sei que porcaria estão
querendo agora. É para você encontrá-los na sala de conferências.
— É melhor você estar lá também, caso eu precise de ajuda ou de alguém
para me impedir de atacar um deles, — eu rosno de volta.
Cole ri. É fácil sentir sua diversão com a minha irritação.
— Eu pagaria para ver isso, Logan. Eu provavelmente teria que deixar
você dar alguns bons socos antes de tirar você de qualquer pobre coitado que
te irritasse.
— Conhecendo-os, provavelmente seria Rancis.
— Sem dúvida seria aquele asno arrogante! Ele é o pior de todos, de longe!
— Ele exclama com outra risada.
— Concordo. Estarei lá em alguns minutos.
— Tudo bem, até mais, então.
Antes mesmo de entrar na sala, posso ouvir a conversa alta vindo de
dentro. A voz estrondosa de Elder Rancis se eleva acima do resto.
Vejo Cole esperando por mim do lado de fora com um sorriso
malicioso, sabendo que as coisas estão prestes a pegar fogo.
Solto um suspiro de frustração antes de abrir a porta.
— Silêncio! — Eu faço o pedido assim que entro.
A sala imediatamente fica em silêncio enquanto todos correm para se
sentar.
Tomo o meu lugar e Cole se senta à minha direita, enquanto meu pai
se senta à esquerda, como de costume, ou seja, quando meu beta se digna
a nos agraciar com sua presença.
Meus olhos examinam a sala, vendo que todos estão presentes.
— Então, qual é o significado disso? — pergunto, com rispidez.
É, claro, Rancis é quem bufa com irritação antes de responder:
— Queremos saber por que você não nos avisou sobre o intruso em
nosso território?!
Eu estreito os olhos para ele, instantaneamente irritado.
— Porque o problema já havia sido resolvido e não havia razão para
eu lhe contar, — declaro.
Minha rejeição à sua interferência parece irritá-lo ainda mais e sua
boca se abre e fecha como a de um peixe, enquanto o rosto assume o tom
vermelho-beterraba habitual.
— Claro que você deveria ter nos contado! Nós somos seus anciãos!
Nosso dever é aconselhar e orientar você! Como faremos isso se você
decidir não nos manter informados?!
— Eu não precisava da sua ajuda nisso. Estou lidando com a questão,
— insisto, com os dentes cerrados.
— É verdade que o intruso é humano? — Elder Maynard pergunta.
Cerro os punhos e solto um suspiro lento, tentando acalmar a mim e
ao meu lobo.
— É. É verdade, — respondo, sem oferecer qualquer informação
adicional.
— E o que você fez com ele, então?! — Rancis logo questiona.
— É ela. E ELA está na enfermaria, no momento.
— O QUÊ?! Ela deveria estar nas masmorras! Não devemos deixar
intrusos vagarem livremente por nosso território e certamente não
devemos tratá-los em nossa enfermaria! — Rancis acrescenta.
Deusa... Eu queria que esse filho da puta chato calasse a boca.
A conversa irrompe mais uma vez e eu imediatamente berro:
— Chega!
— A mulher ficou gravemente ferida e está inconsciente desde a sua
chegada. Ela precisava de tratamento médico e certamente não fez nada
para ficar trancafiada em nossa masmorra. Além disso, devo lembrá-los
mais uma vez de que EU SOU O ALFA. Tratarei a suposta intrusa da
maneira que achar adequado. Isso não é algo que requer uma reunião do
conselho, e eu não gosto de ser convocado, — comento, minha raiva
borbulhando enquanto faço o melhor que posso para manter meu lobo
sob controle.
— Mas você não sabe nada sobre ela!
— Ela pode ser uma espiã!
— Ela pode ser uma assassina!
— Ouvi dizer que ela é bonita; talvez você não esteja sendo objetivo...
Eu não aguento mais. Solto um rugido ensurdecedor enquanto fico
de pé e bato os punhos na mesa, causando um estampido que ressoa por
toda a sala.
— SEMPRE coloquei e SEMPRE colocarei os interesses desta matilha
em primeiro lugar. Meu julgamento não foi prejudicado por um rostinho
bonito, nem nunca fiz nada que lhes desse motivos para questionar meu
julgamento. Minha decisão permanece. Assim que a garota acordar, ela
será devidamente questionada e farei quaisquer alterações que achar
necessário. Por fim, daqui para a frente, se eu for convocado novamente
para uma de suas reuniões improvisadas sem meu consentimento, não
comparecerei. Isso foi uma completa perda de tempo e não vou permitir
que aconteça novamente.
Com isso, eu me viro e saio da sala de conferências com Cole bem nos
meus calcanhares.
— É, — ele sopra, enquanto andamos pelo corredor. — Então... o que
você está planejando fazer com ela?
— Bem, eu tenho certeza que não vou jogá-la em uma maldita cela, —
eu resmungo.
— E se eles estiverem certos?
— Eles não estão.
— Mas e se estiverem? E se ela não for confiável?
— Cole... Deixe-me me preocupar com isso, ok? — Eu imploro
enquanto paramos de andar e me viro para olhar para ele.
Ele parece examinar meu rosto, percebendo que sua única opção é
confiar em mim.
Ele solta um suspiro e balança a cabeça.
— O que há com você e essa garota?
Eu escolho ignorar seu comentário. Se eu decidisse contar a alguém
que ela é minha companheira, a pessoa seria ele.
No entanto, não estou totalmente pronto para isso. Eu nem falei com
ela ainda. Não sei absolutamente nada sobre ela.
Também gostaria muito de saber se a tempestade estranha de ontem
à noite teve algo a ver com ela.
— Tenho mais trabalho a fazer, — digo, mudando efetivamente de
assunto. — Vejo você mais tarde.
— Tá, até mais tarde! — ele responde, com uma batida rápida no meu
ombro antes de seguirmos caminhos separados.
Eu corro para o meu escritório para pegar um pouco da papelada na
qual deveria estar trabalhando e então volto para a enfermaria.
Minha companheira ainda deve estar dormindo. Eu disse a Sophie
para não deixar de me informar imediatamente se ela acordasse.
Como esperado, quando chego à enfermaria, minha pequena
companheira ainda está dormindo pacificamente em sua cama.
Puxo uma cadeira para o lado da cama, ajusto a bandeja de comida e
acendo um pequeno abajur, então me sento e começo a examinar os
livros de nossas importações e exportações.
Horas depois, meus olhos não aguentam mais e precisam de um
descanso. Organizo minhas pastas em uma pilha e empurro a bandeja
para o lado.
Sem querer sair do lado dela, estendo os pés sobre a mesa de
cabeceira e afundo na cadeira, apoiando a cabeça no encosto.
Não é particularmente confortável, mas não me importo. Só quero
descansar os olhos por um momento, de qualquer maneira.
Pelo menos é o que eu tinha planejado antes de ser lentamente
tragado pela escuridão.
Capítulo 10
Everly

A primeira coisa que noto é o cheiro de anti-sépticos.


Posso ouvir o zumbido baixo de um forno e o murmúrio de vozes que
não são altas o suficiente para entender o que está sendo dito.
Um bipe constante e irritante soa bem perto. Então, percebo que
estou deitada sobre algo macio. Isso não faz sentido.
Faz muito tempo que não durmo em qualquer outra coisa que não
seja um piso duro ou um colchão irregular. Eu luto para abrir os olhos.
Finalmente, um deles consegue espiar o mundo ao meu redor antes
que o outro abra também. Minha visão está embaçada no início e tento
piscar para afastar o sono.
Finalmente, consigo focar o olhar, e noto uma grande janela quadrada
ao lado.
Mas de onde estou não consigo ver nada além do céu e as copas das
árvores.
A janela é emoldurada por cortinas estampadas em cinza claro que
permitem que a luz do amanhecer entre. As paredes que me cercam são
de um branco brilhante.
Há uma cadeira reclinável no canto oposto a mim, e mais perto há
um monte de monitores com fios pendurados que parecem ser a fonte do
bipe.
Eu então vejo que alguns dos cabos estão conectados a mim ao pousar
o olhar sobre mim mesma.
Há um cobertor de algodão grosso dobrado em volta de mim e estou
em uma cama de verdade.
Também parece que trocaram o vestido transparente que eu estava
usando...
Meu olhar continua a se mover ao meu redor observando tudo. Onde
diabos estou? Por que estou aqui?
Quando olho para o meu outro lado, tenho um sobressalto e o bipe
irritante acelera.
Um homem grande e musculoso está dormindo em uma cadeira que
foi posicionada perto da minha cama.
Seus pés estão levantados e cruzados na altura dos tornozelos em
cima da mesa de cabeceira, e sua cabeça está inclinada para trás,
repousando sobre o encosto da cadeira.
Ele não parece nem um pouco confortável e, no entanto, parece
morto para o mundo.
Seu cabelo castanho escuro está despenteado como se ele tivesse
passado os dedos por ele sem parar.
Sua mandíbula quadrada está coberta por uma espessa barba por
fazer, como se ele não se barbeasse há algum tempo. Seus braços estão
cruzados sobre o peito, deixando seus bíceps maiores.
Meus olhos continuam vergonhosamente cobiçando o homem
adormecido, observando os músculos tensos de seu peito e abdômen
através da camiseta branca apertada que ele está vestindo no momento.
Meu olhar começa a se mover mais para baixo, mas quase como se ele
pudesse sentir meus olhos nele, os olhos dele instantaneamente se
abrem, e ele olha em volta freneticamente como se tivesse esquecido
onde estava.
O movimento me surpreende, e eu imediatamente me recuo, caindo
da cama no processo com um baque.
— Ai... — eu resmungo enquanto bato no chão duro de ladrilhos,
minha voz soando seca e áspera por falta de uso. Bem... isso foi gracioso...
O desconhecido dá a volta pela cama, todo desgrenhado.
— Porra! Você está bem?! — pergunta, preocupado, aproximando-se
com os braços estendidos, como se fosse me ajudar a levantar.
— Não me toque! — eu grito e me afasto dele, o pânico crescendo
dentro de mim agora que ele está acordado.
Não passa despercebido para mim o lampejo de dor que cruza seu
rosto antes que sua expressão pareça se endireitar.
Meus olhos ficam fixos no estranho, sem saber o que ele vai fazer ou
quais são suas intenções.
Ele pode parecer um pirulito de prazer, mas não significa que não seja
um idiota abusivo como o resto dos homens com quem cruzei.
— Só me deixe te ajudar, — ele oferece, dando um passo para mais
perto de mim enquanto estende a mão.
— Não! Para trás! Eu não preciso de ajuda! — insisto enquanto me
levanto, usando o lado da cama para me apoiar.
Enquanto observo-o com cautela, mantendo a maior distância
possível, seus olhos parecem vidrados como se ele estivesse em um
torpor repentino.
Eu não tenho ideia do que está acontecendo. Ele está bem? Depois de
um momento, ele pisca e seus olhos parecem normais novamente.
Franzo as sobrancelhas, confusa.
O que acabou de acontecer? Eu imaginei isso?
Nesse momento, uma mulher bonita, com cabelos louros ondulados
na altura dos ombros e olhos azul-claros, entra apressada no aposento e
vai direto para onde estamos.
Ela está vestindo uma jaqueta longa e branca sobre uma camiseta e
jeans e tem um sorriso caloroso no rosto.
Ela dá a volta para ficar ao lado do homem, olhando para mim.
— Olá, meu nome é Sophie Bennett. Sou médica neste lugar.
Ninguém vai te machucar, ok? — ela diz suavemente.
Eu apenas a observo, esperando algum tipo de prova de sua
declaração.
Ela parece perceber que não tenho intenção de responder e continua:
— Nós limpamos e enfaixamos seus pés. Devem ficar bons dentro de
alguns dias. Mas tivemos que dar pontos em suas pernas. Os cortes que
você teve foram bem profundos. Você poderia nos dizer o que os
provocou?
Eu nego com a cabeça. Não há razão para eu confiar nessas pessoas
ainda. Não quero que eles saibam.
E se decidirem me mandar de volta para Alfa Damon? Ou para o
Mestre Lacroix? Quero um novo começo.
Não posso tê-lo se todos souberem do meu passado horrível ou se for
enviada de volta para ele. Além disso, eles farão suposições sobre mim.
Ou pior, terão pena de mim. Eu não quero isso. Quero seguir em
frente e esquecer os horrores pelos quais passei.
Ela franze os lábios, parecendo desapontada por eu não estar disposta
a cooperar.
— Bem, — ela começa, dando um passo cauteloso em minha direção.
— Você poderia nos dizer seu nome?
— Eu... Everly. Meu nome é Everly, — corrijo, depois de quase usar
meu nome artístico. Raramente usei meu nome verdadeiro no Banco de
Sangue.
— Prazer em conhecê-la, Everly. E este é Logan, meu Al… — O
homem pigarreou e os olhos dela voltaram rapidamente para ele.
Os dois meio que parecem estar tendo uma conversa silenciosa antes
que o olhar dela volte a encontrar o meu.
— Ele é meu chefe.
Hmm... Então, nós dois estamos guardando segredos, eu acho. Do
que ela estava prestes a chamá-lo? Essas pessoas são difíceis de ler.
Normalmente, acho muito fácil descobrir do que as pessoas gostam, o
que as motiva. No entanto, isto não parece se aplicar neste caso.
Penso que isto é preocupante. Consegui sobreviver por tanto tempo
conhecendo e compreendendo as pessoas. Eu sabia se ou quando
precisava acalmar alguém.
Eu sabia se tudo o que precisava fazer era me esconder ou sair do
caminho deles ou se precisava distraí-los de sua raiva.
Esta situação me faz sentir mais insegura e desconfortável do que há
algum tempo.
— Então, Everly, de onde você é? — Sophie pergunta, dando mais um
passo cuidadoso em minha direção e gesticulando para que eu me sente
na cama.
Meus olhos voltam para o homem que ela chamou de Logan. Ele não
se moveu de seu lugar e está apenas me observando silenciosamente.
Eu me volto para Sophie enquanto puxo o cobertor de volta sobre
meu colo.
— Umm... Isso é complicado...
— Tudo bem. Eu tenho tempo, — ela responde.
— Prefiro não falar sobre isso, — respondo, mexendo as mãos sobre
meu colo.
Não só não quero contar a eles, como também não estou acostumada
com as pessoas querendo saber sobre mim ou minha vida.
Realmente, não há nada sobre mim que eu queira dizer a eles. Mais da
metade da minha vida foi gasta sendo abusada e tratada como escrava.
Eu mal consigo me lembrar de meus pais ou de minha antiga vida.
Sophie então se senta ao pé da cama e estende a mão, colocando-a
sobre a minha e buscando meus olhos com os dela.
— Não podemos ajudá-la se você não falar conosco, — ela comenta,
gentilmente.
Eu balanço a cabeça e meus olhos ardem com as lágrimas.
— Você não pode me ajudar, — respondo, com tristeza, e inspiro
profundamente.
— Na verdade, eu provavelmente não deveria ficar aqui. Eu... eu acho
que é melhor se eu simplesmente for..., — eu começo, saindo da cama.
Sophie imediatamente se levanta também.
— Você não pode ir — a voz profunda de Logan ressoa pela primeira
vez desde que Sophie entrou.
Meus olhos se fixam nele no mesmo instante, arregalando-se de
medo.
— O que?! — exclamo, esperando ter ouvido mal.
Ele solta um suspiro, coçando a nuca, inseguro.
— Eu só quero dizer... você não pode ir embora. Sophie vai querer
ficar de olho na cicatrização de seus ferimentos. E não há para onde ir em
quilômetros. Você estaria mais segura se apenas ficasse aqui conosco. Por
favor?
Minhas sobrancelhas franzem enquanto considero o que ele disse.
Seria realmente mais seguro aqui? Não vejo como.
Certamente não me afastei o suficiente de Alfa Damon, e tenho
certeza de que ele virá me procurar.
Não quero que essas pessoas corram perigo por minha causa. E, ainda
assim, o olhar suplicante de Logan está fazendo algo comigo.
É tão estranho. Algo me faz querer fazer o que ele pede, apesar de
minhas preocupações muito reais. Cruzo os braços sobre os peito e
balanço a cabeça enquanto, olhando para baixo.
Me sinto tão confusa.
— Escute, — ele prossegue após um longo momento de silêncio.
— Temos um quarto todo preparado para você. Deixe-me mostrá-lo.
Você pode se lavar, se trocar, talvez almoçar. Então podemos discutir suas
opções, ok?
Eu olho para ele e sorrio suavemente antes de dar-lhe um leve aceno
de cabeça.
— Ok... acho que não há mal nisso.
Além disso, seria bom colocar um traje adequado se estou pensando
em sair de novo, de qualquer maneira.
Ele sorri de volta para mim e gesticula — primeiro as damas — e
Sophie se aproxima com um roupão de algodão e um par de chinelos nas
mãos.
— Aqui. Venha e coloque isso por enquanto. Alguém pode pegá-los
para lavar mais tarde, — afirma.
— Obrigada, — eu respondo, deslizando os pés descalços para dentro
dos sapatos macios.
Assim que coloco o roupão e amarro firmemente o cinto em volta da
cintura, Logan me leva até a saída.
Ele coloca a palma da mão quente suavemente nas minhas costas, e o
calor acolhedor parece se espalhar por todo o meu corpo.
Prendo a respiração por um momento e então relaxo, olhando para
ele e vendo-o me observar com um olhar que nunca vi antes.
Parecia quase... amoroso? Mas isso não pode ser... certo? Quer dizer,
acabamos de nos conhecer. Ele não sabe nada sobre mim.
Atravessamos um longo corredor, subimos um lance de escadas e
então caminhamos por outro corredor.
Depois de passar por várias portas fechadas, chegamos a um par de
grandes portas duplas no final dele Logan não me guia em direção a elas.
Em vez disso, abre uma porta para o aposento à direita.
A primeira coisa que noto é a grande cama king-size centralizada na
parede à esquerda.
Sobre a cama há um monte de travesseiros com luxuosas roupas de
cama rosa-antigo e cinza claro. Parece mais do que aconchegante, e uma
explosão de excitação me percorre antes de me lembrar que não
pretendo ficar.
Há uma enorme janela do chão ao teto na parede oposta de onde
estou, e posso ver uma pequena sacada Julieta conectada a ela.
Há uma grande cômoda na parede à direita que tem um espelho
decorativo requintado pendurado acima dela e um lindo lustre de cristal
pendurado no centro do teto abobadado.
Há uma porta de cada lado da cômoda, que presumo pertencer a um
closet e banheiro.
— Isto é para mim? — pergunto, incapaz de esconder o espanto em
minha voz.
Logan solta uma pequena risada e acena com a cabeça.
— Sim. E se houver mais alguma coisa de que você precise, não hesite
em pedir. Aquela porta ali é o seu closet. Já tem algumas roupas para
você, mas há mais a caminho, — ele responde, apontando para a porta do
outro lado da cômoda.
Eu lentamente começo a caminhar, e abro a porta indicada e acendo a
luz.
Meu queixo cai diante do cômodo ridiculamente gigante com uma
penteadeira.
— Logan... eu não posso aceitar tudo isso! É demais!
— Claro que pode! Estimamos o seu tamanho, então, se algo não
couber, é só me avisar, — ele insiste.
Tento balançar a cabeça para argumentar, mas pareço estar tendo
problemas para encontrar as palavras.
Ele parece perceber meu embaraço e simplesmente sorri para mim.
— Bem, vou deixar você se acomodar. Quando estiver pronta para
comer, vá me chamar. Estarei em meu escritório, que fica a três portas
daqui, à direita.
Só consigo acenar com a cabeça e percebo que minha boca ainda está
aberta.
Fecho rapidamente a porta vendo-o se afastar, dando-me um
pequeno aceno com a mão antes de segurar a maçaneta, sair e fechar a
porta. Que estranho.
As pessoas normalmente não são tão legais... a menos que tenham
segundas intenções ou estejam escondendo algo... não é? Meu Deus... eu
nem mesmo sei.
Estou apenas sendo desconfiada? Quer dizer... já faz muito tempo que
não conheço alguém que seja genuinamente gentil.
Será que essas pessoas são realmente generosas e acolhedoras? Eu
suspiro e tiro essas perguntas da minha cabeça.
Só preciso continuar tendo cuidado. Só o tempo dará as respostas, de
qualquer maneira.
Escolho rapidamente um par de jeans e um suéter cor de creme junto
com algumas roupas de baixo e me dirijo à outra porta.
Mais uma vez, fico completamente atordoada quando entro no
banheiro igualmente enorme.
Tudo é limpo e branco, exceto pelos padrões cinza-brilhante na
bancada de mármore. Toalhas rosa-antigo estão penduradas e prontas
para uso.
Coloco as coisas no balcão e estendo a mão para ligar o chuveiro.
Ajusto a temperatura e deixo que a água quente escorra pelo meu
corpo dolorido.
Não me preocupo com os pontos, pois parece que foram devidamente
cobertos e enfaixados para serem protegidos da água.
Quando termino, me seco com a toalha e me visto. Então, vasculho
todas as gavetas e armários.
Assim que encontro o que procuro, pego o secador e seco meus
longos cabelos negros. Surpreendentemente, encontro também uma
pequena bolsa de maquiagem.
Aplico apenas o suficiente para cobrir o hematoma que ainda é visível
na minha bochecha e adiciono um pouco de delineador ao redor dos
olhos para fazê-los se destacar.
Quando estou terminando, meu estômago solta um ronco
impaciente, então me apresso para colocar tudo de lado antes de sair da
sala e percorrer o corredor.
Quando chego à porta que Logan disse pertencer ao seu escritório,
bato levemente.
— Entre! — ele grita em seu tom de barítono suave.
Abro a porta e entro, e ele imediatamente olha para mim, um sorriso
cativante se espalhando em seu rosto ao me ver.
Borboletas parecem voar em meu estômago e tento ignorá-las. O que
diabos está errado comigo ultimamente?
— Ei... — eu murmuro, sem saber o que dizer.
— Ei! Você está pronta para comer alguma coisa? — ele pergunta,
abaixando a caneta e fechando o caderno à sua frente.
— Sim, — eu respondo e então ouço alguém entrar atrás de mim.
— Alfa! Nós precisamos conversar! — o jovem diz, para só depois
perceber que estou ao lado dele.
Minha boca cai e meus olhos se arregalam de medo. Alfa?
— Vocês são lobisomens?! — Eu exclamo e me afasto em direção à
saída.
Logan se levanta e dá a volta em sua mesa.
Ele abre a boca para falar, mas, em vez de ficar para ouvir o que ele
tem a dizer, dou meia volta e corro para o meu quarto, batendo e
trancando a porta atrás de mim.
Capítulo 11
Logan

— Vocês são lobisomens?! — Everly pergunta, espantada, recuando


em direção à porta. O medo é evidente em seus olhos.
Ela parece uma presa encurralada por um predador feroz.
— Eu acho que isso significa que ela ouviu falar de lobisomens, — meu
lobo comenta com um suspiro desapontado, claramente chateado
porque nossa companheira parece estar com medo de nós.
Sentindo sua angústia, meu lobo e eu queremos confortá-la, embora
eu saiba que não é uma opção no momento.
Eu me pergunto se ela está ciente de que foi um lobisomem que
arranhou suas coxas.
Evitando qualquer movimento brusco, me levanto lentamente e dou a
volta pela mesa, pronto para tentar explicar, para tentar acalmá-la, mas,
assim que eu abro a boca ela sai correndo da sala.
— Espere aqui, — ordeno a Max antes de ir atrás dela. Assim que
chego à porta ouço o clique da chave na fechadura.
Bato, mas não há resposta.
— Everly! — chamo.
— Só vá embora! — ela rapidamente grita de volta.
— Por favor! Deixe-me explicar! Você não precisa ter medo! — eu
imploro através da porta.
Se eu quisesse, poderia simplesmente quebrar essa porcaria, mas não
quero assustá-la ainda mais.
— Me deixe em paz! Por favor! — ela implora, sua voz falhando.
Deusa, ela está chorando? Merda.
Eu passo os dedos pelos cabelos, frustrado. Quero que ela fale
comigo. Quero que ela saiba que eu nunca a machucaria.
Infelizmente, não acho que isso vá acontecer. Pelo menos não agora.
Solto um suspiro derrotado e apoio a testa contra a porta.
— Ok... eu estou indo. Mas juro que você está segura aqui.
Deixando para lá, eu me viro e caminho de volta para o meu
escritório.
— Sophie, você pode trazer o almoço para Everly? — eu faço a conexão
mental rapidamente antes de entrar na sala, onde Max agora está
sentado em uma das cadeiras em frente à minha mesa.
— Claro! Alguma ideia do que ela quer? — ela responde, alegremente.
— Eu não sei... Ela realmente não quer falar comigo agora, — resmungo
através do link.
— Uh-oh... O que você fez?
— O quê?! Eu não fiz nada! Ela descobriu que somos lobisomens e surtou.
Ela não vai sair do quarto agora...
— Aah... Ok. Vou ver o que posso fazer.
— Obrigado.
— De nada, Alfa.
Viro-me para Max, que está esperando pacientemente que eu termine
a conversa, e dou-lhe toda a atenção.
— Qual é o problema? — rosno com mais raiva do que pretendia.
Os olhos de Max se arregalam ligeiramente quando ele fica de frente
para mim, claramente sentindo quão agitado eu estou.
— Me desculpe por isso. Eu não sabia que ela estava aqui...
— Está tudo bem, — eu respondo, com rispidez. — O que você
precisava?
— Vim avisá-lo de que havia lobos farejando em torno de nossa
fronteira norte. Foi bem próximo à área onde encontramos a garota.
Estávamos pensando que eles poderiam estar procurando por ela, — Max
afirma, coçando a nuca e mordendo o lábio, parecendo ansioso. Meu
lobo rosna dentro de mim com o pensamento de que outros lobos estão
procurando por minha companheira.
— O que eles querem com nossa companheira? Ela é nossa, — meu lobo
rosna na minha cabeça.
— Selvagens? — Eu pergunto a Max, ignorando meu lobo, que passeia
frustrado.
— Não é o que parece. Achamos que eles são de outra matilha, — ele
responde. Minha própria ansiedade parece aumentar. Por que outra
matilha iria querer nossa companheira humana? Isso não faz sentido. —
Nós os pegamos?
— Não, Alfa. Eu sinto muito. Eles já tinham ido embora quando
sentimos seu cheiro. Enviei alguns de nossos rastreadores para seguir sua
trilha. Achamos que eles são de um dos bandos do norte, considerando a
direção em que foram.
Eu aceno, caminho até minha mesa e me inclino sobre ela.
— Já sabemos de qual matilha eles vieram?
— Ainda não, mas pelo que sei, eles ainda estavam rastreando. Parece
que estiveram por toda a floresta. Achamos que os outros lobos tiveram
dificuldades para sentir o cheiro da garota ao procurá-la. O único lugar
onde nossos rastreadores puderam sentir sua presença foi onde ela foi
encontrada, já que seu sangue está entranhado no chão lá. Fora isso,
parece que ela não deixou rastros, — Max responde, encolhendo os
ombros.
Aperto os lábios, franzindo as sobrancelhas. Como é possível que ela
não tenha deixado nenhum tipo de rastro?
Aquela tempestade bizarra tem alguma coisa a ver com isso?
Vou ter que perguntar se ela sabe alguma coisa a respeito, se é que ela
vai falar comigo de novo...
Não consigo evitar fazer uma careta a esse pensamento, enquanto
meu lobo choraminga.
— Ok. Mantenha-me informado se receber alguma notícia, — eu
finalmente digo a ele.
— Vou manter, Alfa.
Ele sai e eu sento atrás de minha mesa, voltando ao trabalho que
estava fazendo antes.
Não se passaram nem trinta minutos quando Sophie bate à porta.
Eu ergo os olhos e vejo-a um pouco carrancuda, com os cantos dos
lábios virados para baixo e as sobrancelhas franzidas.
— O que há de errado?
Ela vem mais para dentro da sala e senta-se diante de mim, relaxando
contra o encosto da cadeira e apoiando os braços no descanso.
— Ela também não quis abrir a porta para mim... acabei deixando o
prato do lado de fora da porta para quando ela decidir que está com
fome.
Solto um suspiro de descontentamento e esfrego as mãos pelo rosto.
Não sei o que fazer.
— Posso fazer uma sugestão?
— Claro. Vou aceitar qualquer ajuda, — respondo, inclinando-me
para trás contra o meu assento.
— Não sei se vai funcionar... mas e se pedirmos a Delisia para falar
com ela? Talvez, já que ela não é lobisomem, Everly esteja mais disposta a
falar com ela, — Sophie observa.
— Huh... Essa é uma boa ideia.
Sophie imediatamente zomba de mim.
— Bem, não soe tão surpreso!
Eu rio e balanço a cabeça para ela.
— Não é isso. Estou apenas chocado por não ter pensado nisso.
— Hmm... Claro...
— Vou mandar alguém buscar Delisia e explicar a situação para ela.
Com sorte, ela terá mais sucesso do que nós, — acrescento, antes de me
conectar mentalmente com Devon.
Assim que minha visão muda de foco, vejo que Sophie ainda está
sentada lá, olhando para mim com uma expressão confusa em seu rosto.
— O que? — questiono.
— É só que... bem, Everly... ela é sua companheira?
Eu imediatamente dou um pulo na cadeira, então me sento direito.
Limpo a garganta, tentando descobrir como responder.
— O que te faz perguntar isso? — resolvo questionar.
Ela me dá um sorriso malicioso, como se minha falta de resposta fosse
resposta suficiente.
— Ah, não sei. O fato de você mal ter saído do lado dela enquanto ela
estava na enfermaria, a maneira como você queria que o quarto dela
ficasse ao lado do seu, o quão protetor e carinhoso você tem sido, sendo
que acabaram de se conhecer... — ela começa a enumerar.
Suspiro e relaxo o corpo contra o encosto da cadeira, coçando meu
queixo mal barbeado.
— Tenho sido tão óbvio, hein?
O sorriso dela se alarga, revelando seus dentes brancos perolados.
— Só para quem presta atenção.
O canto da minha boca se curva enquanto abano a cabeça.
— Acha que também devo contar a Cole?
— Bem, eu não vejo porque não. Embora eu esteja me perguntando
por que você não disse nada a ela ou ao resto da matilha... — ela começa,
e eu solto um suspiro irritado.
— Você não foi àquelas reuniões irritantes de anciãos. Eles já estão
me perseguindo para encontrar uma Luna que nos beneficiará.
Infelizmente, aos olhos deles, isso definitivamente não significa uma
humana. — eu comento com um leve rosnado em minha voz, incapaz de
esconder minha agitação com o pensamento.
— Mas certamente, eles cairão em si. A Deusa da Lua escolheu esta
garota como sua companheira. Humana ou não, deve haver um motivo,
— Sophie insiste.
Eu rio sem vontade.
— Ah, sim. Porque os anciãos são conhecidos por caírem em si. As
únicas pessoas que presumo que estarão do meu lado são meus pais e
minha avó. O resto... bem... tenho certeza de que Rancis vai convencer os
outros de que preciso rejeitá-la e escolher alguém com mais poder,
alguém que trará fortes alianças para eles.
Sophie balança a cabeça com o cenho franzido.
— Você é o alfa, Logan. Os anciãos devem ajudar a orientá-lo e ajudá-
lo a tomar decisões informadas. Eles não devem ditar sua vida ou a forma
como as coisas acontecem por aqui.
Eu deixo escapar outro grunhido enquanto me inclino em direção a
ela.
— Você acha que eu não sei disso?! Sempre que tem chance, Rancis
está fazendo o que pode para me prejudicar e colocar os outros anciãos
do seu lado. Um dia desses, serei obrigado a fazer algo a respeito dele e as
consequências me preocupam, — respondo.
— Então, qual é o seu plano?
— Bem... primeiro eu preciso fazer com que ela realmente fale
comigo... — eu digo com um olhar aguçado.
Sophie levanta as mãos em sinal de rendição.
— Certo. Você envia Delisia para falar com ela, e é melhor você se
conectar com Cole para um bate-papo, porque você sabe que não posso
guardar segredos dele, — ela diz, enquanto se levanta da cadeira e
balança o dedo para mim.
Eu dou uma risada.
— É, definitivamente eu sei disso.
Capítulo 12
Alfa Damon

— ONDE ESTÃO ELES?!!! — grito, sacudindo os braços por cima da


mesa e atirando documentos, canetas e outros itens aleatórios para o
chão.
— POR QUE ESTÃO DEMORANDO TANTO?! POR QUE DIABOS
NÃO ESTÃO DE VOLTA AINDA?!!! — prossigo, olhando para o meu
beta e para o meu gama.
— Pelo que eles me disseram, Alfa, a chuva lavou o cheiro dela. Eles
tiveram que vasculhar toda a floresta para descobrir a localização dela, —
afirma Gamma Malcom.
— Chuva?! Você quer me dizer que, além de uma parede de tornados
me mantendo longe dela, também houve uma droga de tempestade?! —
grito.
— Parece que sim, senhor, — Malcom responde, com um aceno de
cabeça.
— Mas eles pelo menos a encontraram? — pergunto, incapaz de
refrear a malignidade em minha voz.
— Sim, Alfa, mas há um problema, — ele responde.
Solto um rosnado frustrado. Mal posso esperar para colocar minhas
mãos nessa maldita garota. Será tão divertido puni-la.
— E qual é o problema, então?
A expressão de Malcom não vacila enquanto ele responde com uma
voz grave.
— Ela conseguiu alcançar a fronteira de uma das matilhas do sul.
Achamos que ela pode ter sido acolhida por eles.
— O QUE?! QUAL MATILHA?!
— A Red Moon Pack, senhor, liderada por Alfa Logan Blackwood, —
ele responde.
Eu rosno de raiva.
Ú
— EU A QUERO DE VOLTA! REÚNA TODOS OS NOSSOS
GUERREIROS! VAMOS ATRÁS DAQUELA PROSTITUTAZINHA, E
ELA PAGARÁ POR FUGIR DE MIM!
Só então a porta se abre e minha companheira entra com uma
bandeja de comida nas mãos.
— Você não vai fazer tal coisa, — afirma ela, colocando meu jantar
sobre a mesa e voltando-se para mim com as mãos nos quadris.
— Como é?! Você não é meu chefe! EU SOU SEU ALFA!
Ela simplesmente estreita os olhos para mim e me encara por um
momento antes de se virar para Malcom e Beta Nicolas.
— Deixem-nos, — ordena. Eles baixam a cabeça e se apressam para
sair antes que minha raiva recaia sobre minha companheira.
— Como você ousa interromper uma reunião privada e dispensar
meu beta e gama!
— Se era privada, então talvez você devesse ter se certificado de que
sua porta estava fechada. Somos lobisomens. Todos nós podíamos ouvi-
lo. Em segundo lugar, não vamos arriscar a vida de nossos homens para
encontrar sua pequena escrava sexual. E certamente não iremos à guerra
com outra matilha por ela. Se você a quiser de volta, você o fará de
maneira apropriada, — ela me ordena.
Caramba. Detesto que o que ela está dizendo faça sentido.
— Tudo bem, — eu rosno. — O que você sugere, então?
— Peça uma reunião com o alfa do Red Moon Pack, — ela diz,
simplesmente.
— É isso?! E se eles disserem que não estão com ela?! E se não
estiverem dispostos a devolvê-la?! — grito com ela, e ela nem mesmo me
faz cortesia de recuar.
— Então eu acho que você perdeu uma escrava sexual, — ela
responde, friamente.
— Você sabe quanto dinheiro eu gastei com aquela garota? Eu paguei
pela virgindade daquela prostituta e quero que meu dinheiro valha a
pena!
Ela zomba de mim.
— Então acho melhor se apressar. — Ela caminha em direção à saída
e então se volta para mim.
— Ah, e você não pode forçar nossos homens a ajudá-lo com isso. Ela
não é um membro da nossa matilha. A única pessoa para quem ela
importa é você. Eles devem se voluntariar para ajudar, ou então você não
leva ninguém.
Com isso, ela deixa o escritório e eu rosno. Quem diabos ela pensa
que é? Balanço a cabeça. Não tenho tempo para me preocupar com isso
agora. Preciso entrar em contato com a Red Moon Packe falar com meus
homens. Tenho certeza de que não terei problemas para encontrar
voluntários.
Além de quererem impressionar seu alfa, eles, sem dúvida, vão querer
sua chance com a escrava também.
A maioria dos machos não acasalados normalmente quer sua vez, e eu
só compro as excepcionalmente bonitas. Esta, porém... ela é
deslumbrante.
Mal posso esperar para destruí-la completamente.
— Nick! Malcom! Voltem aqui agora! — grito imediatamente através
do link mental.
Segundos depois, eles voltam correndo para o escritório e me
encaram.
— Novo plano. Nick, ligue para a Red Moon Pack. Marque uma
reunião com seu alfa. Depois disso, vá falar com nossos guerreiros e
batedores e veja quem quer vir conosco. Aceitaremos todos os
voluntários que conseguirmos. Malcom, fale com nossas bruxas
residentes. A escrava claramente teve ajuda para escapar, e eu quero
saber quem fez isso! Eu não me importo se você tiver que torturá-las!
Assim que encontrarmos a culpada, me diga. Quero o privilégio de matá-
la pessoalmente. Mantenha-me informado sobre o que você descobrir.
Quero que partamos para o território da Lua Vermelha o mais rápido
possível.
Ambos acenam com a cabeça e cumprimentam, então seguem seu
caminho. É melhor esta merda funcionar. Não importa o que aconteça,
essa escrava é minha.
Minha para foder, minha para bater e minha para fazer o que eu
quiser. Ninguém vai mantê-la longe de mim.
Nem mesmo um alfa mariquinhas do sul.
Capítulo 13
Everly

Eu dou um puxão forte nos lençóis, verificando se os nós vão


aguentar.
São quatro lençóis amarrados por nós, que penduro no parapeito da
varanda do lado de fora da minha janela.
Eu me inclino, verificando se já está longo o suficiente e solto um
grunhido de frustração.
Puxo tudo rapidamente de volta para dentro, vou para a minha cama
e pego outro lençol da pilha que encontrei no armário.
Segurando minha corda improvisada, começo a amarrá-la na ponta
quando ouço uma batida na minha porta.
Eu me endireito e fico olhando naquela direção, me perguntando
quem é agora e se eles finalmente decidirão forçar a entrada.
Estou surpresa de que ainda não o tenham feito. Tenho certeza de
que Alfa Damon teria.
Balançando a cabeça, volto a aumentar o comprimento de minha
corda, mas há outra batida. Desta vez, é seguida por uma voz de mulher
desconhecida.
— Everly! Umm... oi! Você não me conhece, mas meu nome é Delisia!
Você pode me deixar entrar?! — ela diz através da porta.
Escolho ignorá-la e continuar, mas ela bate pela terceira vez.
— Por favor! Eu não sou lobisomem! Eu só quero conversar! —
Minhas sobrancelhas se juntam e inclino minha cabeça para o lado. Dou
alguns passos cautelosos em direção à porta.
— Ok... prove! — eu grito de volta para ela, sem querer acreditar
apenas em sua palavra.
— Umm... ok..., — ela diz, parecendo insegura.
— Tudo bem! Aqui! Olhe para o chão na frente da porta! — ela pede,
e eu aperto os lábios. Do que ela está falando?
Eu me aproximo lentamente da porta e vejo uma coisa pequena e de
formato estranho no chão de madeira escura. De repente, vejo pequenas
hastes se enrodilhando.
Logo, folhas verdes brilhantes brotam, e as longas trepadeiras
continuam a crescer e se enrolar umas nas outras.
A planta começa a subir pela porta enquanto flores roxas vibrantes
desabrocham.
Eu fico olhando, maravilhada, enquanto as flores se multiplicam e
começam a cobrir a superfície de madeira. Depois de um tempo, a voz
dela soa novamente.
— Viu?! Nada de lobisomem! Você pode me deixar entrar agora?!
Meus olhos ficam presos à planta mágica que agora está cobrindo
minha porta e então estendo a mão e alcanço a maçaneta, os dedos
deslizando por baixo da confusão de pétalas de cor violeta.
Giro-a devagar e encontro uma mulher que nunca vi antes parada do
outro lado.
Um sorriso aparece instantaneamente em seu rosto enquanto ela me
mostra um prato de comida.
— Trago presentes! Err... bem... comida, — ela comenta, encolhendo
os ombros, então entra no quarto e entrega o prato para mim.
— Hum, obrigada, — digo de volta antes de colocar o prato em uma
das mesas de cabeceira.
Então vejo que seus olhos estão nos lençóis atados amontoados perto
da sacada.
— Planejando fugir de novo? — pergunta, voltando-se para encontrar
o meu olhar.
Eu estreito os olhos para ela.
— O que você quer dizer com 'de novo'?
— Bem, claramente você estava fugindo de algo... ou alguém. Foi
assim que você acabou aqui, não é? — ela responde, em um tom casual.
Meus lábios se apertam e me pergunto o quanto ela sabe.
— Não quero falar sobre isso. Se é por isso que você está aqui, então é
melhor ir embora, — replico, em tom igualmente sério.
Ela suspira e balança a cabeça antes de se sentar na beira da minha
cama.
— Não. Não é por isso que estou aqui. Na verdade, há outra coisa que
quero discutir com você, — explica, sua atitude parecendo mudar para
algo mais sincero.
Eu ergo uma sobrancelha para ela, me perguntando o porquê da
mudança, antes caminho lentamente para me sentar na cama também.
— Ok, então... sobre o que você quer conversar? — questiono com
cautela.
— Bem, para começar, Logan, — ela responde.
— O que tem ele? — pergunto, a voz soando mais defensiva do que eu
pretendia.
— Primeiro, tenho a sensação de que suas experiências com
lobisomens têm sido horríveis. E eu sinto muito por isso. Você não tem
que me dizer o que passou, mas precisa entender que eles não são todos
iguais. Logan... ele é um bom alfa, e não só isso, mas ele é um cara
realmente ótimo. Ele faria qualquer coisa por sua matilha e as pessoas
com quem ele se preocupa. Além disso, ele é uma pessoa valiosa para se
ter ao seu lado. Ele me acolheu e agora está disposto a fazer o mesmo por
você. Eu só... acho que você deveria dar a ele e à sua matilha uma chance.
Pelo menos pense nisso, ok?
Solto um suspiro, pensando em suas palavras. Acho que ela tem
razão. Logan certamente não parece mau ou cruel como os outros alfas
que conheci antes.
E ele não se parece em nada com o Alfa Damon.
— Ok, vou considerar isso.
Ela sorri para mim.
— Isso é tudo que eu peço, — ela comenta, se levantando e
começando a se dirigir para a porta.
Ela gira a maçaneta e abre a porta, então olha por cima do ombro para
mim.
— E, Everly?
— Sim?
— Por favor, não o machuque.
Com isso, ela sai, fechando a porta atrás de si e me deixando sentado
lá, embasbacada. O que isso quer dizer?
Ela estava falando sobre Logan? Como eu poderia machucá-lo?
Balanço a cabeça e pego um morango do prato que ela deixou para
trás, dando uma mordida. Acho que não faria mal ficar um pouco.
Só espero não me arrepender dessa decisão. Se eles são boas pessoas
como Delisia afirma, eu odiaria que se misturassem com meu passado.
Depois de terminar de comer e limpar a bagunça que fiz com os
lençóis, decido sair do quarto.
Ando pelo corredor, torcendo os dedos em uma tentativa de controlar
a ansiedade crescendo em meu estômago.
Quando alcanço a porta que pertence ao escritório de Logan, fico
parada por um momento, tentando me preparar psicologicamente.
Eu nem sei se ele ainda está lá dentro. Se não estiver, não tenho
certeza do que vou fazer. Ainda não fiz exatamente um tour e não tenho
ideia de para onde iria.
Inspiro profundamente, solto lentamente o ar, e, em seguida, levanto
o punho para bater. De repente, a porta se abre e ele fica parado na
minha frente.
Meus olhos se arregalam de surpresa e consigo gaguejar um:
— Olá.
— Everly? O que você está fazendo aqui? — ele pergunta, se afastando
e gesticulando para eu entrar.
— Umm... tudo bem? Estou te incomodando? — pergunto enquanto
meus olhos examinam a sala.
As paredes são forradas com estantes pesadas que estão cheias de
centenas de tomos e artefatos.
Sua mesa de mogno fica no centro em frente a uma grande janela na
parede oposta. Duas cadeiras estão posicionadas em frente à mesa. Tudo
parece muito limpo e arrumado.
— Não! De jeito nenhum! Por favor, sente-se, — ele responde,
apressadamente, enquanto se levanta de sua cadeira de encosto alto e
aponta para um dos dois assentos que estão em frente a ele.
Faço o que ele pede, me sentindo um pouco insegura. Certamente é
um sentimento desconhecido, e não posso dizer que goste dele.
Colocando as mãos no colo, começo a torcê-las ansiosamente.
Depois de um momento em que não digo nada, percebo que nem sei
por onde começar. Posso sentir seu olhar em mim e me inquieto, sem
jeito.
Quando foi que eu já fiquei sem palavras? Provavelmente pareço uma
idiota.
— Então, em que posso te ajudar, Everly? — Logan pergunta,
preenchendo o silêncio.
— Bem, algumas coisas, na verdade, se você tiver tempo, quero dizer,
— eu murmuro, finalmente começando a encontrar minha coragem
novamente.
— Certo. Como estão suas acomodações? Você tem tudo que você
precisa?
Dou a ele um pequeno sorriso e encontro seus olhos. Eles são
hipnotizantes, de um castanho-chocolate profundo e com cílios longos.
São tão escuros que suas pupilas quase se fundem com suas íris. Pisco
meus próprios olhos, saindo do torpor e organizando os pensamentos.
— Ah, sim. Está tudo ótimo. Na verdade, eu queria falar sobre você e
sua matilha.
— Ah! Ok... O que você quer saber?
— Honestamente, não sei bem... Eu só tive algumas experiências com
lobisomens, e nenhuma delas foi boa, — eu respondo desamparadamente
com um encolher de ombros.
Ele se levanta da cadeira e dá a volta, coçando a nuca enquanto pensa.
Cautelosamente, se aproxima e se senta na cadeira ao meu lado, de
modo que agora estamos separados por apenas um metro de espaço.
Borboletas voam em meu estômago e tento ignorá-las enquanto
respiro lenta e continuamente.
— Sinto muito, mas não somos todos iguais... Quando te
encontramos, você estava em nossa fronteira norte. Você veio do norte
da floresta?
Meus olhos se abrem. Não sei se devo contar a ele ou não.
Ele parece entender minha hesitação. Solta um suspiro e coça a barba
por fazer ao longo da mandíbula, então prossegue.
— De qualquer forma, os lobisomens deveriam ser os mocinhos.
Nosso objetivo é ajudar a manter o equilíbrio e proteger a vida humana.
Infelizmente, alguns bandos decidiram que a humanidade não merecia
proteção. As matilhas começaram a lutar entre si e, finalmente,
decidimos nos separar em dois territórios. Ao norte da floresta estão as
matilhas que se preocupam mais com suas próprias vidas do que com a
dos outros. Os bandos do sul ainda tentam fazer o que podem. Sempre
que ouvimos falar de qualquer problema que pareça estar relacionado ao
místico, tentamos neutralizar a ameaça, — explica.
— Então, vocês não machucam as pessoas?
Logan faz uma pequena careta enquanto passa os dedos por seus
cabelos escuros.
— Nós não machucamos humanos. No entanto, não vemos muitos
por aqui. Há uma barreira instalada em nosso território que impede os
humanos de chegarem perto demais. Honestamente, não sabemos bem
como você conseguiu ultrapassá-la.
Minhas sobrancelhas se franzem. Queria saber por que sou tão
diferente.
Os vampiros não podem me obrigar, os alfas não podem me dar
ordens com seu poder alfa, e agora posso passar batida pela proteção de
uma bruxa.
— Na verdade, — Logan continua, me arrancando de meus
pensamentos, — os humanos não deveriam saber sobre lobisomens, ou
quaisquer criaturas místicas, para falar a verdade. Como você descobriu
sobre nós?
— Uh... Eu... Umm... Isso é meio que uma longa história... — gaguejo.
— Que bom. Eu tenho tempo, — ele responde inclinando-se para trás
em sua cadeira.
Dou a ele um pequeno sorriso, tentando esconder meu medo. Não
posso contar a ele.
Há tantas perguntas que tenho certeza que ele se faz sobre mim que
não consigo responder, não quero responder.
— Eu realmente não quero falar sobre isso, — comento, mordendo
meu lábio inferior, nervosa.
Ele solta um suspiro, parecendo desapontado por eu não estar
disposta a compartilhar, mas não me pressiona.
— Tudo bem. Um dia desses, você vai confiar em mim o suficiente
para se abrir, — assegura, com uma piscadela que fez meu rosto
esquentar.
— Que tal eu levá-la naquele passeio que prometi a você? —
acrescenta. Meu sorriso se alarga e faço que sim imediatamente.
O sorriso dele se espalha em seu rosto, e ele se levanta e estende a
mão para mim.
Coloco minha mão sobre a dele, deixando que me puxe para cima e
rapidamente retiro a mão quando parece que levei um choque ao tocá-lo.
O que é que foi isso?!
Capítulo 14
Logan

Everly e eu passeamos pela casa da matilha, começando nossa turnê.


Começo levando-a para a sala de jogos, onde vários membros da
minha matilha estão reunidos.
Alguns estão em frente à TV de tela grande, assistindo a um filme. Há
outros nas mesas de sinuca e fliperamas.
Mais cinco estão sentados em uma das pontas das mesas de jantar
jogando um jogo de tabuleiro e, na outra ponta, seis estão jogando
pôquer.
A sala de jogos é um local popular para muitos de nossos membros,
principalmente os jovens adultos.
Há duas salas de jogos separadas para os filhotes também. Eles
também têm TVs, mas só têm acesso a filmes apropriados para a idade.
Os jogos e brinquedos também são para crianças de dois a doze anos,
em uma das salas, e de treze a vinte, na outra.
Caminhamos pelo aposento enquanto ela absorve tudo. Conto a ela
um pouco da história da matilha e de quando a casa principal foi
construída.
Seu olhar parece se demorar em tudo, como se ela nunca tivesse visto
nada parecido.
— Você já jogou alguma vez? — pergunto quando chegamos a uma
mesa de bilhar que foi recentemente liberada.
Ela me olha com os olhos bem abertos e balança a cabeça. Não posso
deixar de dar-lhe um sorriso.
— Você quer aprender?
Seu rosto se ilumina no mesmo instante com um sorriso brilhante e
ela faz que sim. Eu a levo até os tacos e cada um escolhe um.
Esfrego a ponta com giz e o entrego a ela, que faz o mesmo.
— Ok, então eu vou organizar as bolas. Tem as com listras e as
coloridas. Vou estourar elas e, se conseguir colocar uma colorida em uma
das seis cavidades, as únicas bolas que vou querer encaçapar são
coloridas. Se eu encaçapar uma listrada, só vou querer acertar as
listradas. Evite acertar a bola oito preta até que tenha colocado todas as
suas outras bolas nas caçapas. Está acompanhando, até agora?
— Umm... acho que sim?... O que você quis dizer com organizar as
bolas? Ou, ahnm, estourar elas?
Meu sorriso cresce, enquanto pego a moldura triangular e começo a
preenchê-la com as bolas coloridas.
— Então, isso é organizar as bolas. Estou arrumando elas para
começar o jogo. Alternamos entre as listradas e as coloridas com a bola
oito no centro, — começo a explicar.
Eu removo a moldura de madeira e me coloco na ponta da mesa.
— E isso é estourar.
Eu puxo o taco para trás, usando os dedos para mirar corretamente
antes de empurrá-lo para frente. Ouve-se um estalo alto e as bolas se
espalham pela mesa.
Eles saltam um pouco e, quando se acomodam, vejo que encaçapei
uma bola listrada.
— Já que encaçapei uma, isso significa que jogo mais uma vez.
Perco a próxima tacada de propósito, para que ela possa jogar.
— Então, o que eu faço? — ela pergunta, olhando para a mesa.
— Já que fiquei com as listradas, você vai procurar uma colorida que
pareça mais fácil de encaçapar, — digo, me colocando ao lado dela.
— Como esta, — eu aponto. Ela acena com a cabeça, caminha até a
mesa e aponta o taco.
A forma como segura não está certa, então eu venho por trás dela,
colocando as mãos sobre as dela.
Arrepios se espalharam por minhas mãos e braços ao sentir sua pele
na minha. A respiração dela fica presa na garganta instantaneamente, e
não posso deixar de sorrir.
— Eu acho que nossa presença está começando a afetá-la, — meu lobo
diz, animadamente. Posso até sentir seu rabo balançando.
— Eu sei. Você viu como ela puxou a mão da nossa mais cedo? Acho que
ela sentiu as faíscas, — digo de volta para ele.
— Assim mesmo, — digo suavemente, perto de sua orelha,
posicionando suas mãos.
— O-ok, — ela sussurra.
Eu me delicio com o cheiro doce de seu cabelo, então me afasto dela e
dou alguns passos para trás, não querendo abusar da sorte.
Não consigo evitar de pousar os olhos em seu traseiro conforme ela se
inclina em direção à mesa. Deusa... gostaria que ela pudesse sentir o que
sinto.
Gostaria de poder tocá-la e tomá-la em meus braços. Quero saber o
gosto de seus lábios, sentir suas lindas curvas.
Minhas calças começam a apertar e eu imediatamente obrigo minha
mente a pensar em algo menos excitante.
Ouço o som das bolas e me concentro na mesa em que estamos
jogando.
A bola roxa vai para a caçapa do canto, e Everly instantaneamente
atira o punho no ar em sua empolgação.
Ela se vira para mim e atira os braços em volta do meu pescoço,
beijando minha bochecha.
— Ai, meu Deus! Você viu?! Fui eu quem fez isso! — exclama,
enquanto cai de pé na minha frente.
Meu sorriso cresce. Ela parece tão jovem e inocente. Eu gostaria que
ela me contasse mais sobre si mesma, sobre seu passado.
Cada vez que tento perguntar algo pessoal, ela se esquiva ou evita a
pergunta, mudando imediatamente de assunto ou decididamente se
recusando a falar.
— Eu vi! Bom trabalho! Agora você pode jogar outra vez, — eu
respondo e ela retorna para a mesa, pegando de novo o taco que tinha
deixado cair.
Terminamos de jogar e eu a apresento a várias pessoas por quem
passamos quando terminamos de andar pela sala.
Mostro a ela a biblioteca, a academia e a piscina coberta com banheira
de hidromassagem e sauna. Caminhamos pelas fronteiras do Território
da Lua Vermelha para que ela saiba até onde pode ir.
Aponto as escolas e o hospital e as casas destinadas às famílias da
matilha e àqueles que não moram na casa principal.
Depois disso, eu a levo para o jardim.
— É lindo, — ela respira.
Seus olhos percorrem todas as plantas e as luzes cintilantes enquanto
seus dedos tocam levemente as pétalas da flor.
— Você tem tanta sorte de ter crescido em um lugar como este — ela
comenta, suavemente.
— Sim... — eu paro, me perguntando como foi sua infância.
— Como as flores ainda desabrocham?
— Oh! Delisia enfeitiçou para nós. Elas florescem o ano todo, — eu
respondo e um sorriso se espalha pelo rosto dela na mesma hora.
— Então, me fale sobre você, — ela pede, voltando a atenção para
mim.
— O que você quer saber?
Ela encolhe os ombros.
— O que quer que você esteja disposto a compartilhar, eu acho.
Eu solto uma risada.
— Ok... eu sou filho único. Vejo meus pais com bastante regularidade.
Sou alfa já faz alguns anos, desde que meu pai deixou o cargo. Eu sou
meio viciado em trabalho. Se eu não estou lidando com a matilha ou
coisas relacionadas aos negócios, geralmente estou treinando com os
guerreiros do bando..., — eu enumero, sem ter certeza do que dizer a ela.
Minha vida não é exatamente emocionante, visto que a maior parte dela
é passada no meu escritório, em reuniões ou na academia.
— Você não tem uma companheira? — ela pergunta, inocentemente.
Eu engasgo com o ar que inalei muito rapidamente, e seus olhos
esmeralda deslumbrantes se arregalam para mim.
— Você está bem? — ela questiona, preocupada, correndo para perto
de mim.
Eu balanço a cabeça e solto uma risada. Droga... Isso foi
constrangedor.
— Sim, estou bem... Você está com fome? — pergunto, mudando
efetivamente de assunto. Não quero mentir para ela, mas também não
posso contar.
— Morrendo! — ela responde, caminhando em minha direção. Eu
aponto para o caminho de pedra que leva de volta à casa principal.
Quando ela passa por mim, pouso levemente a mão em suas costas
conduzindo-a para dentro, e seguro a porta para ela e então lhe mostro a
cozinha e a sala de jantar.
Puxo uma cadeira para Everly na mesa principal, onde sempre como,
e me sento ao lado dela.
Um dos ômegas corre até nós para nos contar quais são nossas opções
para o dia antes de voltar para a cozinha.
— Então, quantos anos você tem, Everly? — pergunto a ela.
— Vinte e três e você?
— Vinte e oito.
— O que você gosta de fazer para se divertir?
— Umm... eu gosto muito de ler e escrever..., — ela responde,
parecendo parar de falar como se não tivesse certeza do que mais dizer
sobre o assunto.
Não deixo passar o fato de que parece ser algo que ela deixou de fazer.
Ela parece perdida em pensamentos por um momento, então pisca os
olhos e se concentra em mim.
— E você?
— Eu realmente não tenho muito tempo para mais nada. Eu gostava
de praticar esportes e de videogame, de vez em quando. Cole, Max e eu
costumávamos nos divertir muito juntos, — respondo.
De repente, a voz do meu pai entra na minha cabeça.
— Logan, encontre-me em seu escritório. Há algo que precisamos discutir
— Ok. Estarei lá quando terminar de comer, — eu respondo de volta.
— Não. Você vai querer fazer agora. Basta trazer o seu prato com você.
Deixo escapar um suspiro agitado.
— Tudo bem. — Eu me viro para Everly.
— Eu sinto muito. Preciso ir. Se precisar de mais alguma coisa, em
geral pode me encontrar em meu escritório. A porta está sempre aberta
para você.
— Certo. Obrigada por me mostrar tudo hoje. Foi muito bom, — diz.
Eu sorrio para ela e me viro para ir embora, mas ela segura minha mão,
me impedindo.
— Antes de ir, eu queria saber se estaria tudo bem se eu usasse a
academia?
— Claro! Enviarei a Dra. Sophie para visitá-la pela manhã e ela lhe
dirá o que você pode fazer enquanto ainda está se recuperando. Além
disso, sirva-se do que quiser, — eu respondo e quase me inclino para
beijá-la antes de me conter.
Ela não tem ideia de quem é para mim. Luto contra o meu desejo,
esperando que não seja óbvio para ela.
Então, saio e volto para o meu escritório, onde encontro meu pai
esperando do lado de fora da porta trancada.
— O que é? — pergunto.
Ele levanta as sobrancelhas para mim. Eu destranco a porta e
entramos. Ele fecha a porta atrás de nós.
— Acabamos de receber notícias da Blood Fangs Pack, no norte, — ele
responde.
— O que eles queriam?
— Eles querem se encontrar com você. Não explicaram o porquê.
Eu me reclino contra o encosto do acento com as sobrancelhas
franzidas e os lábios apertados em uma carranca.
Nunca uma matilha do norte nos procurou por qualquer motivo.
Desde que os territórios se separaram, não houve comunicação entre
as matilhas do norte e do sul, exceto as transferências solicitadas quando
a separação aconteceu pela primeira vez.
— E eles não disseram o motivo? — questiono, pasmo.
— Foi o que eu disse. O beta do Blood Fang Pack, acredito que seu
nome era Nicolas, disse que seu alfa quer se encontrar com você o mais
rápido possível, — meu pai responde.
— Ok. Então, marcamos com eles?
— Não. Eu queria falar com você a respeito primeiro. Eu nem tinha
certeza se você concordaria, — ele responde inclinando-se para trás em
sua cadeira.
Passo as mãos pelo rosto, tentando pensar. Por que diabos uma
matilha do norte entraria em contato assim do nada? E então, de repente,
me ocorre.
Meus olhos se abrem e meu queixo cai. Isso tem a ver com Everly.
Capítulo 15
Everly

— Ei! Você é a humana que encontraram na fronteira na outra noite,


certo? — uma voz desconhecida pergunta, enquanto a cadeira ao meu
lado raspa no chão.
Eu me viro para ver uma garota que parece ter a minha idade, com
cabelos longos e escuros e olhos castanhos.
Antes que eu tenha a chance de responder, ela continua:
— Meu nome é Mia. Você deve ter conhecido meu irmão Max. Ele é o
gama. Qual o seu nome?
— Everly, — respondo, com cautela.
— É lindo! Então, como você passou pelas barreiras?
— Barreiras?
— Sim, você sabe, os feitiços colocados para proteger a matilha de ser
descoberta por humanos. Nunca antes um humano entrou em nosso
território. Ainda mais depois de toda aquela loucura! Todo mundo ainda
está falando sobre aquela noite!
De repente, me lembro da conversa que Logan e eu tivemos sobre a
noite da minha chegada.
Ele mencionou as proteções antes, embora eu não tenha ideia de
como passei por elas.
— Oh! Hum... eu não sei... Pode ter algo a ver com o fato de eu já
saber sobre lobisomens? — sugiro, sem nenhuma vontade de falar sobre
aquela noite.
Não preciso de ninguém bisbilhotando meu passado.
Definitivamente, não é algo que eu queira compartilhar. Nem com ela,
nem com ninguém.
Tenho certeza que as pessoas não entenderiam. Especialmente agora
que sei que este lugar não mantém escravos humanos.
— Hmm... acho que é possível..., — ela comenta, apoiando o queixo
em um dedo e olhando para o céu, como se pudesse encontrar a resposta
lá.
Finalmente, ela parece decidir que o assunto não é mais interessante
e se volta para mim.
— Então, gostou das roupas que escolhi para você?
Meus olhos se abrem novamente de surpresa.
— Você escolheu todas as roupas do meu armário?
— Sim! Max estava encarregado de preparar seu quarto. E acredite,
você não ia querer Max fazendo compras para você. Foi muito divertido
também. Não consigo sair das terras da matilha com muita frequência e
tive que ir a muitas lojas e gastar uma tonelada de dinheiro que não era
meu. Foi quase como realizar um sonho! A única coisa que poderia ter
tornado melhor seria se eu estivesse gastando o dinheiro comigo mesma!
— ela exclama, com uma risada.
Eu também rio. A personalidade dela é muito mais ousada do que
estou acostumada. Os escravos tendem a ser mais mansos ou tímidos.
Aprendemos a manter a cabeça baixa enquanto estávamos no Banco
de Sangue.
E os vampiros que trabalhavam lá eram muito rígidos e formais o
tempo todo, como a Senhora Dupont.
— Bem, você tem bom-gosto. Você se saiu muito bem. Obrigada.
Embora eu não saiba por que fizeram você comprar tantas coisas para
mim. Eu nem tenho certeza de quanto tempo vou conseguir ficar aqui, —
eu explico.
Ela franze a testa para mim, os lábios formando um beicinho
exagerado.
— Você não planeja ficar? Para onde você está pensando em ir? — Eu
encolho os ombros, desnorteada. Gosto da personalidade vibrante da
garota, mas, cara, ela faz muitas perguntas.
— Não tenho planos, mas não quero incomodar. E vocês
normalmente não querem manter os humanos fora?
Ela faz um gesto desconsiderando meus escrúpulos, enquanto dou
uma mordida na comida no prato à minha frente.
— Ninguém parece ter pressa em te mandar embora. Podemos estar
no meio do nada, mas este é um lugar muito bom para se viver. Além
disso, há um monte de carros usados pela matilha se você precisar ir à
cidade para qualquer coisa. A mais próxima fica a quarenta minutos de
carro. E o shopping fica a uma hora de distância. — Eu faço que sim, sem
vontade de observar que não tenho carteira de motorista. Minha tia
nunca quis me levar para tirar, embora eu tenha passado na prova de
direção.
Ela me vendeu para mestre Lacroix pouco depois do meu aniversário
de dezesseis anos. E, claro, escravos não precisam de carteira de
motorista.
Eu nem sequer pude deixar as instalações, pois todos os serviços que
eles oferecem estão em um grande prédio com alas separadas e muitos
quartos.
— A gente devia sair! — ela comenta, me despertando de meus
pensamentos.
— Vou te apresentar a uns amigos meus para você conhecer algumas
pessoas por aqui.
— Certo! Parece bom, — respondo, embora não possa deixar de
pensar que seria melhor para mim não me aproximar mais das pessoas
do lugar.
Quanto mais pessoas eu conhecer e gostar, mais difícil será para mim
ir embora. Não posso ficar aqui para sempre.
Ainda que ela pareça pensar que minha presença não é um problema.
— Excelente! Encontre-me aqui para almoçar ao meio-dia de
amanhã, e então podemos ir à sala de jogos e eu vou te apresentar a
outros membros da matilha!
— Ok, — eu digo com um pequeno sorriso. Ela sorri e solta um grito
feliz, saltando em sua cadeira e se levantando.
— Vejo você amanhã, garota! A gente vai se esbaldar! — Mia exclama,
pulando como uma bola de energia.
Termino rapidamente minha refeição e me levanto, sentindo-me
desconfortável agora que estou sozinha.
Existem vários pares de olhos sobre mim, provavelmente se
perguntando quem eu sou e por que estou aqui.
Eu olho em volta, tentando descobrir o que fazer com meus pratos
vazios.
— A senhorita terminou? — a jovem que havia anotado nosso pedido
pergunta, aproximando-se por trás de mim.
— Ah, sim! Obrigada! — respondo, entregando a ela o prato e o copo.
Ela acena com a cabeça para mim e sai apressada.
Eu me levanto da cadeira, me esforçando para evitar os olhares
curiosos enquanto caminho para fora da sala de jantar.
Decido voltar para o jardim. O lugar estava tranquilo antes, então
espero que ainda seja o caso.
Passando pelo par de portas francesas duplas, percorro o caminho
familiar de pedra.
Já está escuro, mas há luzes suficientes decorando o espaço para que
eu possa ver a passarela e as flores e arbustos ao redor.
A área é surpreendentemente aquecida, considerando que estamos
chegando ao inverno. Eu me pergunto se isso faz parte da magia.
Eu continuo até chegar à parte central, onde fica uma grande fonte.
A passarela de pedras contorna a fonte e há quatro bancos espaçados
ao redor. Eu me sento em um deles e relaxo.
Os últimos dias foram bastante cansativos e confusos. Eu
simplesmente não sei o que fazer.
Sei que deveria ir embora, mas já estou começando a não gostar da
ideia de deixar este lugar. No entanto, não posso esperar que queiram me
abrigar para sempre.
Eu olho em volta e fico feliz em ver que estava certa e sou a única
pessoa aqui.
Meu olhar viaja para o céu, onde posso ver estrelas brilhando na noite
escura. Eu amo isso aqui.
De repente, há um flash de luz e meus olhos se fixam bem à minha
frente, onde uma garota e um cara estão parados.
Eles parecem deslocados e muito diferentes de qualquer pessoa que já
vi. A garota tem cabelo loiro encaracolado com mechas rosa-brilhante.
Sua roupa minúscula é do mesmo tom e deixa pouco para a
imaginação. Percebo que o estilo me lembra muito uma flor coberta de
purpurina.
Ela tem um manto violeta grosso amarrado em volta dos ombros para
compensar a falta de roupas.
Seus olhos são de um lindo azul celeste, enquanto sua sombra ousada
é uma mistura de amarelo, laranja e rosa choque com pequenos cristais
de strass e glitter.
Ela me lembra as fadas das histórias que meus pais liam para mim
quando eu era mais nova.
O homem que está com ela não parece tão ousado; na verdade, ele
parece mais entediado do que qualquer outra coisa.
Seu cabelo loiro escuro está desgrenhado e cai levemente sobre os
olhos, que são de uma cor âmbar brilhante.
Ele é só um pouco mais alto do que a mulher pequena e parece bem
musculoso em seu traje verde folhoso.
Percebo que a pele ao redor de seus olhos brilha com pontinhos que
refletem as luzes ao nosso redor.
— Oh meu Deus! Funcionou! — a garota desconhecida guincha
enquanto eu simplesmente fico olhando para eles, com os olhos
arregalados.
Ela salta na ponta dos pés, batendo palmas com entusiasmo.
O homem com ela simplesmente cruza os braços na frente do peito e
revira os olhos para suas palhaçadas.
Ela então volta sua atenção para mim e seus olhos se arregalam.
— Uau! A semelhança é assombrosa! Ash! Dá uma olhada nisso! — ela
grita para o homem que ainda está de pé a vários metros de distância,
inclinando-se agora sobre mim para dar uma olhada melhor.
Minhas sobrancelhas imediatamente franzem. Do que diabos ela está
falando?
— Com licença... mas quem é você, e a que semelhança está se
referindo?
— Oh! Desculpe! Como sou boba! Em primeiro lugar, meu nome é
Poppy! É um prazer conhecer você! — ela diz, endireitando-se e
acenando para mim com um grande sorriso estampado no rosto. — E
este é Ash! — ela acrescenta como quem só está se lembrando agora,
apontando para o homem taciturno atrás dela.
Ele me dá um leve aceno de cabeça e cruza os braços mais uma vez.
— E estamos nos referindo ao seu pai! Você se parece com ele!
— O que?! Você conheceu meu pai?! — pergunto, surpresa, pulando
do banco.
Ela ri da minha reação, o que me irrita um pouco, antes de continuar.
— Claro! Mas já se passaram anos! Mas estou me adiantando!
Eu levanto uma sobrancelha para ela. Sobre o que essa garota está
falando?
— Espere um minuto, como vocês chegaram aqui? Não há uma
barreira ou algo assim para impedir a entrada de intrusos? — questiono,
ainda tentando entender o que diabos está acontecendo. Ela descarta a
pergunta com a mão como se fosse um inseto irritante, e o homem, Ash,
faz um som de troça e revira os olhos.
— As barreiras só funcionam em seres deste reino!
— O que?! Este REINO?! — eu consigo desentalar da garganta. Devo
estar sonhando... Talvez tenha desmaiado neste banco sem perceber.
Sim... deve ser isso.
— Bem, é claro, querida. Como você acha que conseguimos ajudá-la a
escapar no outro dia?
Aperto os lábios e inclino a cabeça, confusa. De repente, meus olhos
se arregalam.
— Os tornados e a chuva, de repente... foram vocês?
Ela dá um sorriso largo e faz que sim com a cabeça.
— Bem... eu criei a parede de tornados. Ash cuidou da chuva.
Eu fico olhando fixamente para ela por um momento, sem saber
como reagir enquanto tento assimilar tudo que ela está me dizendo.
— De nada, — Ash comenta em um tom seco, chamando minha
atenção para ele. Ele deixa escapar um suspiro.
— Poppy, você é péssima em dar explicações para ela. Ela parece
completamente perdida. — A garota olha por cima do ombro em direção
a ele e franze a testa, a expressão em seu rosto me lembrando a pirraça de
um garoto de cinco anos.
Ash vem para perto dela, de forma a ficar bem na minha frente.
— O que ela está tentando dizer é que sentimos seu poder e
encontramos você com aquela matilha do norte. Nós ajudamos você a
escapar e percebemos a semelhança. Se você é quem pensamos que é,
então seu pai é do nosso reino. Infelizmente, não podemos trazê-la de
volta ao nosso reino sem prova de sua ascendência.
— Umm... meu poder? Que poder? Eu sou humana.
— Se estivermos certos, e eu acredito que estamos, então você é
apenas meio-humana. No entanto, isso significa que para desbloquear os
poderes que herdou de seu pai, você precisa voltar ao nosso reino
conosco, — Ash acrescenta.
Novamente, eu apenas os encaro como se fossem loucos. Ou talvez a
louca seja eu. Talvez eu finalmente tenha perdido a razão e esteja tendo
alucinações.
— De qualquer forma, tudo o que você precisa fazer é nos dar
algumas provas! — Poppy se intromete. Meus olhos piscam antes de
focar nela.
— Hum... exatamente que tipo de prova?
Ela acena com a mão novamente como se gesticulasse para uma série
de itens à sua frente.
— Podem ser tantas coisas. Você vai saber quando ver. Tenho certeza
de que seu pai guardou muitas coisas que poderiam funcionar.
Eu ergo uma sobrancelha para ela.
— E onde eu encontraria algo do tipo?
Ash suspira alto novamente, seus ombros se movendo para cima e
para baixo de uma forma exagerada.
— Você não guardou nenhuma das coisas do seu pai? Certamente
você tem uma caixa com as coisas dele em algum lugar, certo?
Eu franzo a testa para ele, pois não tenho. Eu não tenho nada que
tenha pertencido aos meus pais. A única foto que eu tinha deles foi tirada
de mim quando fui vendida ao Mestre Lacroix.
Porém, pensando bem, minha tia ainda pode ter algumas coisas deles.
Sei que uma vez encontrei uma caixa no sótão com fotos dos meus
pais. Bem... pelo menos meu pai.
Lembro-me de encontrar uma foto dele rasgada ao meio de forma
que não se via quem ele estava abraçando.
Eu só conseguia ver a mão esquerda e o antebraço da pessoa.
Os anéis na mão deixaram claro para mim que em algum momento
era minha mãe na foto.
— De qualquer forma, consiga umas provas e estaremos de volta para
buscá-la. Você vai desejar desbloquear esses poderes mais cedo ou mais
tarde. Especialmente se alguém descobrir quem você é, — acrescenta
Ash.
— Foi ótimo finalmente conhecê-la, Everly! Nos vemos em breve! —
Poppy grita com um grande sorriso enquanto me puxa do meu lugar e
me dá um abraço sufocante.
Eu suspiro quando ela me solta, e antes que eu tenha a chance de
fazer mais perguntas, há outra luz ofuscante.
Piscando, olho ao meu redor e eles se foram, desapareceram no ar.
— O que diabos aconteceu?
Capítulo 16
Logan

Estou em nosso campo de treinamento com um grupo grande de


meus homens diante de mim.
Eles estão suando e respirando pesadamente depois de terminar a
sessão diária de boxe.
— Certo, homens, temos visitantes da Blood Fangs Pack do Território
do Norte chegando hoje, — eu começo.
Percebo vários pares de olhos se arregalando de surpresa e vários
homens boquiabertos.
No entanto, eles sabem que não devem discutir a novidade até que eu
termine.
— Cole e Max irão à reunião comigo junto com meu pai. Também
terei dois guardas na sala e outros dois do lado de fora. Quero a patrulha
de fronteira dobrada durante a visita. Quero que dois guardas fiquem
com a humana que foi encontrada em nossa fronteira na noite do baile
de acasalamento e que a mantenham na casa principal. O nome dela é
Everly, e ela pode ter algo a ver com a visita. Até que eu saiba mais, não
quero que saibam que ela está aqui. Max informará quem ficará onde.
Alguma pergunta?
Um dos homens à minha frente levanta a mão.
Dou-lhe um leve aceno de cabeça e ele pergunta:
— Por que achamos que a humana pode ser a razão de estarem vindo
aqui?
— Ela foi encontrada na fronteira norte e tinha grandes marcas de
garras nas pernas que eram claramente de um lobisomem, — eu
respondo.
Outra mão se levanta e eu aponto para ele.
— Ela disse alguma coisa sobre o que aconteceu? Nós sabemos que foi
alguém da Blood Fangs Pack?
— Ela ainda não falou sobre o que aconteceu com ela na noite em que
foi encontrada. Não sabemos nada ao certo, exceto o timing da visita
solicitada, que parece ser mais do que uma coincidência, — eu respondo.
A cena se repete à medida que várias outras perguntas são feitas.
Assim que todos estão satisfeitos, peço licença enquanto Max
caminha até os homens para lhes dar suas tarefas. Cole vem comigo
quando deixamos o campo.
— Eu quero que você peça a Sophie para ir ver Everly. Ela estava
querendo usar a academia, então eu quero que Soph a libere antes. Vou
visitar Delisia e ver o que ela pode fazer para ajudar a proteger a matilha
e encobrir o cheiro de Everly, — digo-lhe.
Ele acena com a cabeça, e estou prestes a me afastar quando ele
estende a mão e segura meu ombro.
Quando me volto, ele rapidamente retira a mão e coça a nuca,
mordendo nervosamente o lábio e olha para os pés.
Quando seu olhar encontra o meu, ele finalmente fala.
— Eu não entendo por que você simplesmente não diz a todos que ela
é sua companheira. Eles provavelmente gostariam de saber que estão
protegendo sua Luna.
— Cole, eu já te falei. Não posso anunciá-lo até que, em primeiro
lugar, eu saiba mais sobre ela, e, em segundo lugar, saiba que terei o
apoio da matilha, embora ela não seja lobisomem.
— Mas trata-se exatamente disso. As únicas pessoas que não a
apoiarão são um grupo seleto de anciãos. A matilha confia em você e o
respeita. Eles também confiarão e respeitarão sua decisão, não importa
qual seja. Eles a aceitarão como Luna se for isso que você escolher. E
danem-se os anciãos e os bastões gigantes em suas bundas. Seus pais o
apoiarão e tenho certeza de que sua avó também. Rancis e alguns outros
são os únicos de quem você provavelmente terá alguma reação.
Eu suspiro.
— De qualquer maneira, não posso tomar uma decisão lúcida sem
saber nada sobre ela além de seu nome e o fato de que ela é humana.
Ele balança a cabeça para mim e se move para ir embora.
— Ok, cara, como quiser. Só acho que você deveria falar com ela.
Quer dizer, ela nem sabe ainda.
— Eu sei, eu sei, — eu resmungo, agitado, passando os dedos pelo
meu cabelo.
— Agora, vá falar com Sophie. Quero que ela alcance Everly antes de
sair do quarto esta manhã.
— Tudo bem, chefe, estou indo. Não precisa molhar as calças.
Solto um grunhido irritado, e Cole se abaixa como se esperasse que
eu o acertasse enquanto fugia. O covarde.
Começo a andar em direção à casa de Delisia, colocando as mãos nos
bolsos. Ela não mora na casa da matilha nem nas casas de família.
Em vez disso, preferiu uma pequena cabana com seu próprio jardim,
mantendo sua privacidade Ainda fica dentro de nossas fronteiras,
aninhada nos bosques circundantes ao leste.
Não é grande coisa, só uma casinha de três cômodos com uma
pequena cerca de madeira ao redor do quintal, onde ela mantém um
jardim de ervas para seus feitiços e poções.
Logo, estou percorrendo o caminho de pedras para a cabana
pitoresca. As trepadeiras sobem pela lateral e as flores transbordam da
frente da varanda.
Parece que saiu direto de um livro de contos. Quando me aproximo
dos degraus, a porta se abre e Delisia está olhando para mim.
Ela se apoia no batente da porta.
— A que devo o prazer? — pergunta, com um sorriso.
— Preciso que você esconda o cheiro de Everly e faça alguns feitiços
de proteção extras no território. A Blood Fangs Pack está vindo para uma
reunião, e dado o momento e o fato de que Everly parece ter vindo do
norte, acredito que estejam procurando por ela, — respondo.
Ela acena com a cabeça.
— Faz sentido. Eu posso fazer isso. Quanto tempo eu tenho?
— Eles devem estar aqui por volta das duas da tarde.
Os olhos se dela se arregalam.
— Isso não é muito tempo.
— Mas você consegue fazer? É todo o tempo que temos. Eles não
estavam dispostos a adiar a reunião mais do que isso.
Posso ouvi-la engolir em seco, então ela balança a cabeça,
consentindo.
— Sim, consigo. Mas preciso começar. Não sei para quantos feitiços
extras tenho tempo, mas farei o melhor que puder.
— É tudo que posso pedir. Preocupe-se em esconder Everly primeiro
e depois faça o possível, — respondo e acrescento: — Você é a melhor.
— E não se esqueça disso, — ela comenta, com um sorriso e uma
piscadela, enquanto me afasto e desço os degraus da varanda.
Eu a ouço fechar a porta enquanto corro de volta para a casa da
matilha.
Quero finalizar mais algumas coisas antes que eles cheguem e
garantir que a sala em que nos encontraremos esteja pronta.
Mandei levá-los para uma construção separada da casa da matilha. É
como um pequeno prédio de escritórios, mas quase nunca é usado.
Assim que a reunião foi marcada, enviei um punhado de ômegas para
limpá-lo, pois tinha certeza de que estava coberto por uma camada de
poeira devido à falta de uso.
Só não os quero no mesmo prédio que Everly, pois o risco de eles se
cruzarem seria maior.
***

Várias horas depois, estou reunido com Cole, Max, meu pai e alguns
guardas no prédio de escritórios quase vazio.
Até mesmo fiz com que uma das minhas guerreiras se sentasse atrás
do balcão da recepção para que a Blood Fangs Pack não perceba que
estamos propositalmente mantendo-os longe da casa da matilha, onde as
reuniões normalmente são realizadas.
Estamos na sala de reuniões principal, pois é a única grande o
suficiente para comportar todos.
As demais salas do edifício são escritórios simples, que costumavam
ser usados pelos anciãos quando o prédio ainda estava em atividade.
— Eles estão aqui, — a voz de um dos homens da patrulha de fronteira
entra na minha cabeça. Percebo pelas expressões nos rostos dos outros
que eles também ouviram.
— Tudo bem, não vai demorar muito agora. Todo mundo pronto para
o que quer que aconteça?
Todos acenam com a cabeça e murmuram que sim. Repassamos a
estratégia antes de tomar nossos lugares.
Só cerca de dez minutos depois é que a campainha da entrada da
frente toca. Vários homens entram e se dividem em dois grupos, que vão
um para cada lado.
Depois deles, um homem apenas alguns centímetros mais baixo do
que eu entra a passos largos pela porta.
Suas feições são escuras e os olhos são frios, da cor de prata derretida.
Ele usa um terno preto impecável e ajeita a gravata vermelho-sangue
sorrindo para nós, mas seus olhos não sorriem.
— Você deve ser Alfa Damon. É um prazer conhecê-lo, — eu digo,
com um sorriso falso, estendendo a mão para cumprimentá-lo.
Ele estende a sua e segura a minha mão, respondendo:
— E você deve ser Alfa Logan. Obrigado por se encontrar conosco em
tão pouco tempo.
— Claro! Por favor, entre. Sentem-se, — respondo, apontando para a
sala de reuniões.
Todos os homens da Blood Fangs Pack entram e se sentam em uma
das extremidades da longa mesa oval, com seu alfa na ponta.
Sento-me em frente a ele do outro lado, enquanto meu pai, Cole e
Max ocupam os assentos ao meu lado.
Os dois guardas que requisitei ficam de pé junto à parede atrás de
nós, enquanto mais dois esperam do lado de fora.
— Tudo bem, agora que estamos todos aqui, o que você precisa
discutir com tanta urgência?
— Bem, recentemente tivemos um incidente em minha matilha, e o
culpado pode ter acabado em seu território. Estávamos nos perguntando
se você teve algum intruso recentemente ou viu algo suspeito? — Alfa
Damon questiona.
Mantenho minha expressão neutra, não revelando nada.
— Não tivemos nenhum invasor recentemente, mas podemos ficar de
olho para você. Como é essa pessoa?
— Bem, ela tem cerca de um metro e meio de altura, longos cabelos
negros, olhos verdes brilhantes e lábios vermelho-rubi. Definitivamente,
seria difícil não notá-la, — ele responde.
Eu luto para manter meu lobo sob controle.
Alfa Damon está claramente falando sobre Everly e meu lobo não
gosta da maneira como o Alfa da Blood Fangs Pack descreve sua
companheira.
Embora seja só uma descrição comum, a maneira como ele diz é
irritante.
É como se houvesse algum significado subjacente em suas palavras e
eu também não gosto nem um pouco.
É como se ele a estivesse imaginando enquanto fala e gostando da
ideia mais do que deveria ao falar sobre a companheira de outra pessoa.
Felizmente, consigo manter a expressão indecifrável estampada em
meu rosto.
— Se posso perguntar, que tipo de incidente houve? — esforço-me
para dizer, calmamente.
— Receio que a garota esteja bastante perturbada. Recentemente, nós
a acolhemos. Infelizmente, parece que não deveríamos ter confiado tanto
nela. Nós a subestimamos e isso custou a vida de vários dos meus
homens. Ela é uma assassina, e agora desejo buscar justiça.
Que porra é essa?!
Capítulo 17
Everly

Pude passar algum tempo na academia esta manhã depois que a Dra.
Sophie passou para me ver.
Ela disse para pegar leve com todos os exercícios de perna até tirar os
pontos, então só caminhei na esteira por um tempo e me concentrei em
meus braços e abdômen.
No começo, recebi muitos olhares curiosos das pessoas lá, então uns
caras chegaram e se apresentaram.
Seus nomes eram Axel e Connor. Disseram que são guerreiros da
matilha.
Começaram a treinar comigo e até se ofereceram para observar
quando eu precisasse. Foram legais e não tentaram se intrometer.
Conversamos principalmente sobre saúde, dietas e rotinas de
exercícios.
Eles ficaram muito impressionados com minha rotina habitual,
embora eu não possa realmente colocá-la em prática no momento devido
aos meus pontos.
Claro, a rotina deles é muito mais exigente e extenuante do que eu
jamais poderia dar conta, embora eles sejam lobisomens, então isso era
de se esperar.
Depois, fui para a cozinha tomar um café da manhã que levei para o
meu quarto para comer antes de tomar banho e me preparar para mais
tarde.
Assim que terminei, saí do meu quarto e bati na porta do escritório de
Logan, mas não houve resposta.
Tentei mais uma vez antes de desistir e voltar para o meu quarto com
uma expressão mal-humorada. Não vejo Logan desde que ele me deixou
no jantar ontem à noite.
Espero que nada de ruim tenha acontecido. Eu realmente esperava
passar mais tempo com ele hoje. Surpreendentemente, gosto muito de
sua companhia.
Quando chego ao meu quarto, deito-me na cama e bocejo. Não dormi
muito na noite passada, depois do que aconteceu no jardim.
Bem, o que pode ter acontecido, de qualquer maneira. Ainda me pego
tentando decidir se de fato foi um sonho ou não.
Parecia tão real, mas, ao mesmo tempo, todo o encontro foi bizarro.
Claro, eu não sou só uma humana feliz em sua ignorância.
Eu sei que vampiros, lobisomens e bruxas existem... então, por que
não em outros reinos?
***

Meus olhos se abrem e, por um momento, esqueço onde estou.


Olho atordoada ao redor da sala e o sono desaparece dos meus olhos
quando meu olhar encontra o relógio sobre a mesa de cabeceira.
— Ah Merda! — exclamo, despertando imediatamente.
Corro para o banheiro e me examino antes de fazer um rápido
retoque e passar uma escova pelo meu cabelo emaranhado.
Depois, saio voando do quarto e desço as escadas para o refeitório.
Quando entro na grande sala, não está tão movimentada como das
outras vezes em que estive lá, mas também é um pouco tarde para chegar
para o almoço.
Felizmente, meu olhar quase imediatamente localiza Mia.
Ela logo me vê também, e dá um grande sorriso, levantando-se e
correndo para mim.
— Já estava na hora, garota! Eu estava quase desistindo! — diz, me
puxando para um abraço rápido.
— Eu sinto muuuuito! Caí no sono! — apresso-me a explicar.
Ela simplesmente solta uma risada e gesticula com a mão.
— Não foi nada! Vamos arranjar um pouco de comida e dar o fora
daqui. Cody e Jonah provavelmente já estão esperando por nós.
Concordo com a cabeça e a deixo me levar até a cozinha, onde ela
pega pratos e entrega um para mim antes de percorrer a cozinha pegando
o que quer.
Meus olhos percorrem o aposento nervosamente, mas nenhum dos
trabalhadores parece se importar, então logo faço o mesmo.
Terminamos de encher nossos pratos, eu com salmão grelhado,
salada e uma maçã, e Mia com um enorme hambúrguer com batatas
fritas, Tater Tots e um biscoito de chocolate gigante.
Não posso deixar de rir e balançar a cabeça quando vejo seu prato
cheio de junk food.
— O que?! Eu sou lobisomem e tenho um metabolismo acelerado
maluco! — ela se defende, jogando uma batata frita em mim.
— Deve ser bom, — respondo, rindo, então jogo de volta a batata que
acerta sua testa, me fazendo rir ainda mais.
Ela me encara, tentando esconder o sorriso que está lutando para
aparecer em seu rosto, até começar a rir também.
Assim que nos recompormos, almoçamos rapidamente e nos
dirigimos para a sala de jogos. Entramos e Mia imediatamente começa a
vasculhar a sala até seu rosto se iluminar com reconhecimento.
Os caras que ela avista estão no sofá, em frente à TV de tela grande.
Os dois estão curvados, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as
mãos segurando controles de jogo.
Não estou familiarizada com videogames, então não tenho ideia do
que estão jogando, mas na tela há homens correndo e atirando em
pessoas.
Eles estão tão concentrados que não percebem que estamos
caminhando em sua direção.
Mia gesticula para eu fazer silêncio enquanto se esgueira por trás
deles, pula e dá um grito.
Os dois saltam em seus assentos e um deles até grita, enquanto
quando Mia começa a rir e o outro tenta golpeá-la com uma das mãos e
continuar jogando com a outra.
Eu não posso deixar de rir de suas travessuras também.
Vamos nos sentar com eles no grande sofá de couro em forma de L e
Mia me apresenta a ambos.
Jonah é alto e magro, com pele cor de moca e olhos castanhos
profundos.
Seu cabelo preto está raspado curto, e ele tem cara de bebê, sem nem
mesmo um traço de pelos faciais. Cody é exatamente o oposto.
Ele é mais atarracado, com cabelos loiros e bigode e barba fartos. Seus
olhos são de um azul claro e cintilam com malícia.
— Ei, garota nova! — diz, com uma piscadela. Eu sorrio para ele e me
volto para Mia, que continua a falar.
— Chega de video games! — comenta. — O que vocês querem fazer?
— Uh... video game..., — responde Cody, e ela imediatamente
empurra seu ombro enquanto ele ri dela.
— Podemos ir para a piscina, — sugere Jonah.
— Não sei se devo fazer isso enquanto ainda estou com os meus
pontos, — respondo, franzindo o cenho.
Particularmente, não quero usar tão pouca roupa, de qualquer
maneira.
Não estou com vontade de explicar as cicatrizes do tempo que passei
com Mestre Lacroix e minha tia.
— Você sabe jogar pebolim? — Cody pergunta, ao que faço que não
com a cabeça. — Perfeito! Hoje é o dia em que você aprende!
Nos levantamos e nos dirigimos para uma mesa muito menor do que
a mesa de sinuca.
Há varas atravessando a mesa, e cada uma tem pequenos homens de
plástico presos. Em cada extremidade da mesa há um orifício retangular.
Cody se aproxima, pega uma pequena bola branca e a segura na
minha frente.
— Ok, você já jogou futebol?
Eu aceno com a cabeça.
— Mas já faz um tempo. — Mais de dez anos.
— Bom. Você ainda lembra o conceito básico. Seu objetivo é fazer
seus homens chutarem a bola para o gol do adversário, — responde.
Ele então me coloca em um lado da mesa e faz Jonah e Mia ficarem do
outro lado enquanto está ao meu lado, o que nos coloca no mesmo time.
Fazemos algumas jogadas para praticar antes de a partida começar
oficialmente.
Percebo que os três gostam de brincar e se divertir.
É divertido estar com eles e acho que estou realmente me divertindo
pela primeira vez em muito tempo.
Não consigo nem me lembrar da última vez que ri assim.
Eles são muito amigáveis e rapidamente me fazem sentir como se eu
fizesse parte do grupo, embora eu tenha acabado de conhecê-los.
Assim que terminamos nosso terceiro jogo de pebolim, decidimos
fazer uma pausa e nos sentar em volta de uma das mesas ao longo da
parede.
— Quanto tempo você planeja ficar conosco, Ev? — Jonah pergunta
enquanto se senta à minha frente.
Eu encolho os ombros.
— Não sei. Eu não tinha planejado vir para cá.
— Como você acabou aqui? Você não tem pessoas que estão sentindo
sua falta? — pergunta Mia.
— Não... não tenho ninguém há muito tempo..., — respondo, minha
voz saindo mais suave e trêmula do que eu gostaria.
Eles parecem sentir que o assunto me entristece, porque
imediatamente o abandonam.
— O que você fazia antes de vir para cá? — Cody pergunta.
Ugh... Uma pergunta que eu realmente não quero responder. Minha
boca abre e fecha algumas vezes antes de eu finalmente responder: — Eu
trabalhei no banco de sangue.
— Oh! Então, você é como uma enfermeira? — Cody insiste.
— Não, — vem minha resposta simples. Ele franze um pouco a testa,
mas não pressiona. Eu me sinto tão estranha.
Mia me salva quando ela pula dentro.
— Então, Cody administra nossa rede de segurança e Jonah é um dos
melhores rastreadores da matilha. Trabalho na padaria que fica em nossa
área residencial, — explica ela, e sinto uma pontada de empolgação ao
me virar para encarar os dois homens.
— Ok... e se eu quisesse rastrear alguém, mas só tenho um nome e um
endereço de sete anos atrás... vocês seriam capazes de encontrá-la? —
pergunto, mordendo meu lábio.
— Uau... foi uma pergunta bem específica, — responde Jonah.
Passo meu lábio inferior entre os dentes nervosamente, dando de
ombros, sem saber o que dizer.
— É apenas alguém que eu conhecia, — ofereço.
Os três olham para mim, Jonah com uma sobrancelha levantada, Mia
com os lábios franzidos e Cody com um sorriso malicioso.
Obviamente, eles sabem que há mais para saber nesta história.
— Ev, todos temos nossos segredos. Apenas saiba que quando estiver
pronta para falar sobre o seu, estamos aqui para ajudá-la... ok? — Mia me
garante, baixinho, estende a mão e colocando-a sobre a minha.
Dou a ela um pequeno sorriso, tocada por suas palavras. Nunca houve
pessoas na minha vida com quem eu pudesse contar, pelo menos não
desde que meus pais morreram.
Agora, parece que estou encontrando muitas pessoas que estão me
oferecendo o tipo de relacionamento que sempre quis.
Primeiro, Logan e Sophie, depois Delisia, e agora os três. Talvez os
lobisomens não sejam tão maus, afinal.
Cody muda rapidamente a atmosfera séria passando um braço por
meus ombros, dando-me um abraço de lado.
— Tudo bem, então, sobre essa pessoa misteriosa que você está
querendo encontrar, o que você sabe sobre ela?
— O nome dela é Lutessa Andrews. Seu aniversário é em 21 de
fevereiro. Tenho o endereço antigo dela, mas acho que não sei de mais
nada que possa ser útil, — respondo.
— Tudo bem. Isso deve ser o suficiente para nós por enquanto, —
Cody responde, com o braço ainda em volta dos meus ombros
inclinando-se sobre o assento preguiçosamente.
De repente, um rugido alto soa antes que eu localize Logan vindo em
nossa direção.
Ele rapidamente agarra Cody e o puxa para fora do assento, então
estende a mão para mim.
— Everly, precisamos conversar, — diz com os dentes cerrados, sua
voz saindo áspera e raivosa.
Eu franzo a testa para ele, sem saber por que está agindo dessa
maneira. Só o conheço há dois dias, mas mesmo assim o comportamento
me choca.
Cautelosamente, aceito sua mão estendida e permito que me puxe
para fora do meu assento.
Ele começa a me arrastar para fora da sala de jogos, de modo que eu
luto para acompanhar seus passos largos.
Eu lanço um olhar por cima do ombro para os outros e vejo que estão
olhando para nós com preocupação e confusão em seus rostos.
Ele me leva até seu escritório sem dizer uma palavra. Seu rosto ficou
carrancudo o tempo todo, e ele atira com a porta após destrancá-la.
Finalmente soltando minha mão, ele gesticula para que eu entre. Eu
engulo em seco antes de entrar, ansiosa, e fico parada sem jeito no centro
da sala.
— Sente-se, — ele ordena, sentando-se em sua cadeira atrás de sua
grande mesa.
Lentamente, eu me movo em torno de uma das cadeiras e faço o que
ele diz.
— Umm... O que eu fiz? — pergunto, minha voz saindo um pouco
trêmula, fazendo-me estremecer por dentro.
— O alfa da Blood Fangs Pack acabou de vir falar comigo, — ele
comenta, rispidamente.
E com essa única frase, sinto todo o sangue sumir do meu rosto.
Capítulo 18
Logan

Apenas a menção da Blood Fangs Pack faz o rosto de Everly ficar


branco.
Sua respiração fica presa na garganta, e posso ouvir como seu
batimento cardíaco acelera. Claramente, ela está escondendo algo.
Não quero acreditar no que aquele alfa disse sobre ela, mas não sei
nada a seu respeito.
Todas as vezes que pedi qualquer tipo de informação sobre ela ou seu
passado, ela evitou ou disse coisas vagas. Eu nem mesmo sei o
sobrenome dela.
Quando ela não diz nada, decido continuar:
— Everly, preciso que você me diga o que aconteceu.
Seus olhos se arregalam e ficam brilhantes com lágrimas não
derramadas. Ela balança a cabeça freneticamente e sua frequência volta a
cardíaca aumentar.
Parece apavorada.
— Por favor... eu não posso... não me faça... por favor..., — ela
implora.
Tenho um suspiro de frustração, fecho os olhos e passo os dedos pelo
meu cabelo espesso, puxando-o em agitação, antes que meu olhar
encontre o dela novamente.
— Eles estão dizendo que você matou pessoas, Everly. Eles estão
alegando que você matou membros da matilha a sangue frio depois de
terem acolhido você.
A expressão da minha companheira muda de choque para raiva em
questão de segundos.
— O QUÊ?! Aquele bastardo mentiroso! — ela grita, saltando da
cadeira e começando a andar pela sala.
Sua linguagem corporal é de puro pânico e fúria.
Eu me levanto e dou a volta pela minha mesa, caminhando até ela e
segurando-a pelos ombros.
Ela imediatamente olha para mim e noto uma lágrima que conseguiu
escapar, deixando um rastro em sua bochecha pálida.
Alcançando-a, meu polegar a afasta e então toco sua bochecha.
— Eu não posso te proteger se você não me contar o que aconteceu.
Se ele está mentindo, preciso saber qual é a verdade. Por que você está
tão assustada?
Ela balança a cabeça novamente, seu lindo olhar esmeralda nunca
deixando o meu.
— Não é... não é algo que eu sempre quis compartilhar com você. Eu
nunca quis contar a ninguém, — ela começa.
— Eu sei, mas preciso que conte. Eu não posso pedir à minha matilha
para mantê-la segura sem saber por que aquela matilha quer você de
volta.
Sua respiração treme enquanto ela exala lentamente, baixando os
olhos para nossos pés.
O silêncio enche a sala enquanto ficamos ali pelo que parece uma
eternidade enquanto espero que ela diga algo, qualquer coisa.
Finalmente, sua voz sai, e é apenas um sussurro. Se não fosse pela
minha audição de lobisomem, eu não teria escutado.
— Prometa que você não vai pensar mal de mim...
Solto um suspiro de alívio enquanto coloco um dedo sob seu queixo e
faço-a erguer os olhos para encontrar os meus novamente. Um sorriso
suave aparece em meus lábios.
— Eu nunca poderia pensar mal de você, — garanto a ela.
Seus olhos brilham como joias e sei que ela acredita em mim. O calor
se espalha por mim.
Naquele momento, sei que não importa o que ela tenha feito, eu
ainda vou desejá-la.
Mesmo que tenha matado aqueles homens, deve ter havido um
motivo válido, porque a mulher que está na minha frente não é uma
assassina.
Minha mão se estende e coloca uma mecha de seu cabelo sedoso atrás
da orelha. Deixo-a lá, acariciando sua bochecha suavemente e enxugando
outra lágrima.
Está me matando vê-la tão despedaçada agora. O que aconteceu com
ela que a deixou tão assustada e vulnerável?
Minha respiração fica suspensa quando ela coloca a mão sobre a
minha e se inclina. Ela suspira como se meu toque a estivesse acalmando,
o que pode muito bem acontecer.
Esse é um dos efeitos de sentir seu companheiro. Fico surpreso
quando finalmente ouço sua voz quebrar o silêncio mais uma vez.
— E me prometa que você não vai me fazer voltar para ele, — ela
implora, com medo em seus olhos, sem deixar de me encarar.
— Eu nunca vou deixar ninguém tirar você de mim, — eu respondo,
com um leve grunhido de determinação.
O pensamento dela indo embora com aquele alfa, ou qualquer um,
me irrita profundamente.
O medo em seus olhos muda para esperança quando ela aperta minha
mão com mais força.
Depois de minhas garantias, ela finalmente parece pronta para falar e
seu tom abafado chega aos meus ouvidos.
— Cerca de sete anos atrás, eu fui vendida para um vampiro chamado
Vlad Lacroix, — ela começa, e eu posso ouvir o soluço crescendo em seu
peito.
Vendeu?... Que diabos?... Eu ouvi direito?...
Ela prossegue com a voz trêmula enquanto me conta sobre o mestre
vampiro e seu negócio no submundo.
Com cada palavra que sai de sua boca, sinto minha raiva aumentando.
Sinto nojo puro e absoluto pelas pessoas que sequestram meninas e
meninos e os forçam a participar dessas aberrações.
Não consigo acreditar que meus ancestrais acharam melhor só se
separar das matilhas do Norte e permitir que eles gerenciassem seu
território da maneira que quisessem.
Isso claramente foi um erro. Eles estão permitindo que os humanos
sejam escravizados por vampiros e vendidos como gado.
Eu quero rasgar cada um deles membro por membro.
Só de ouvir sobre como ela foi usada e abusada faz meu sangue ferver.
Ela me conta como eles eram bem cuidados, simplesmente porque
sangue e corpos saudáveis eram mais atraentes para a clientela.
Eles eram espancados quase até a morte sempre que respondiam ou
não obedeciam.
Isso aconteceu muito especialmente nos dois primeiros anos de seu
treinamento.
Eles dormiam em celas frias e sujas todos os dias e passavam as noites
permitindo que homens e mulheres usassem seus corpos e seu sangue
para satisfazer sua fome.
A única coisa que em consigo encontrar conforto é que ela não foi
forçada a trabalhar no bordel que o vampiro possuía.
Fiquei surpreso ao ouvir isso, até que ela explica o motivo.
— Virgens alcançam o melhor preço no leilão.
Meu lobo e eu estamos morrendo de vontade de saber a extensão do
que ela passou.
Ela foi vaga de propósito quanto ao que foi submetida ao nos contar
sobre o lugar a que se refere como Banco de Sangue, mas, ao mesmo
tempo, não sei se suportaria saber dos detalhes sórdidos.
O pensamento de ela ser forçada a fazer qualquer uma das coisas que
mencionou é o suficiente para me fazer perder o controle do meu lobo.
Agora, ele está ainda mais desesperado para marcá-la e torná-la sua.
Ninguém mais vai colocar a mão no que é nosso novamente.
Eu tenho que manter minhas mãos sobre ela apenas para me manter
calmo. Eu seguro os lados de seu pescoço, meus polegares acariciando
para frente e para trás suavemente.
Uma mão tira o cabelo de seu rosto. Eu só preciso senti-la, confortá-
la, me confortar.
Não posso acreditar nas coisas que ela teve que suportar. Ela é muito
mais forte do que eu jamais imaginei. E eu nem sei da metade.
— Então, como você veio para a Blood Fangs Pack? — eu pergunto,
baixinho, quando parece que ela chegou ao fim do relato sobre seu
tempo com o mestre vampiro.
Ela encontra meu olhar, seus olhos ainda úmidos de lágrimas.
— Eu... Mestre Lacroix não gostava que não pudesse me controlar
como os outros. Eu interferi quando eles estavam tentando disciplinar
uma das garotas novas. Ele decidiu que não podia mais me manter.
Leva um momento antes que suas palavras finalmente comecem a se
encaixar, mas ainda preciso ouvi-la dizer isso.
Minha respiração fica presa na garganta e sou forçado a engolir em
seco.
— O que aconteceu?
Ela solta um suspiro derrotado.
— Ele me vendeu em um leilão. Alfa Damon comprou minha
virgindade por um milhão de dólares.
Eu posso sentir o sangue fugir do meu rosto, meu aperto nela
involuntariamente. Minha companheira foi estuprada por aquele idiota?!
— Ela ainda tem um cheiro puro... — meu lobo observa calmamente,
mas ainda sinto a necessidade de confirmar.
Se aquele bastardo a estuprou, vou lá agora e vou matá-lo. Não... vou
torturá-lo... depois matá-lo.
— Ele... você... você está bem? — eu titubeio, sem saber como fazer a
ela essa pergunta.
Ela sorri suavemente com a minha expressão preocupada e segura
minha bochecha suavemente.
— Estou bem. Eu fugi antes que qualquer coisa acontecesse, — ela me
garante, com doçura.
Solto um suspiro de alívio antes de puxá-la para mim sem pensar.
Meus braços a envolvem com força enquanto sua bochecha é pressionada
contra meu peito.
Ela não luta contra mim e apenas me deixa abraçá-la enquanto passa
os próprios braços em volta da minha cintura.
— Sinto muito por você ter tido que passar por isso, — sussurro.
Ela não responde a princípio e solta um suspiro antes de se afastar de
mim. Sua expressão está angustiada quando ela encontra meu olhar.
— Pelo menos eu fugi. A maioria das garotas não tem tanta sorte, —
afirma. — Enquanto eu estava lá, vi centenas de garotas indo e vindo.
Ainda havia pelo menos cinquenta quando fui vendida. E provavelmente
mais vinte caras. Você disse que os lobisomens deveriam proteger os
humanos, certo? Então, por que isso está acontecendo?
Merda. Eu nem sei o que dizer sobre isso.
Era apenas política de lobisomem, algo que tinha sido decidido antes
mesmo de eu ter idade suficiente para entender.
— Quando os territórios se dividiram, foi acordado que os bandos
não interfeririam nos territórios uns dos outros. Deixaram que o norte
fosse tratado da maneira que as matilhas do norte queriam.
Ela fecha a cara para mim, com raiva.
— Quer dizer que todos vocês simplesmente concordaram em deixar
lobisomens e vampiros tratarem os humanos como lixo e não fazerem
nada a respeito?!
Ela dá mais um passo para longe de mim e meu lobo começa a ficar
agitado. Ele não gosta que nossa companheira fique zangada conosco.
Nós dois sabemos que ela está certa. Infelizmente, não tínhamos ideia
de como era terrível. Eu nem sabia que esse tipo de coisa estava
acontecendo.
— Bem, agora que sabemos, não podemos deixar isso continuar, — meu
lobo rosna na minha cabeça.
— Eu sei. Você está certo, — eu imediatamente respondo.
— Everly, — eu começo, dando um passo em direção a ela, querendo
desesperadamente diminuir a distância que surgiu entre nós.
Ela apenas balança a cabeça para mim, os olhos brilhantes mais uma
vez.
— Eu não quero ouvir, — ela responde, virando as costas e saindo do
meu escritório.
— Everly! — eu grito, indo atrás dela. Ela me ignora e corre para o
quarto, então ouço o clique da fechadura.
— Caramba! — eu bufo e dou meia volta.
— Todos, reúnam-se na sala de reuniões em cinco minutos, — eu
transmito a ordem pelo link mental. Vou resolver isso nem que seja a
última coisa que eu faça.
Capítulo 19
Everly

Na manhã seguinte, acordo cedo para ir à academia.


Axel e Connor estão lá novamente, então fazemos o mesmo da última
vez e em seguida volto para o meu quarto para tomar banho.
Quando estou pronta, desço para tomar café e encontro Mia, Jonah e
Cody sentados a uma mesa.
— Ei, Ev! Por aqui! — Mia grita, acenando para mim ao me ver.
— Oi, pessoal! Como estão as coisas? — eu pergunto, sentando-me ao
lado de Mia e em frente a Jonah.
— Bem, todo mundo está falando sobre a reunião que o Alfa
convocou na noite passada, — Mia comenta, em um tom abafado,
inclinando-se em minha direção.
— Uma reunião? Sobre o que? — pergunto, minha curiosidade
atiçada.
— Ninguém sabe. Nós só sabemos que ele chamou seu beta, gama e
todos os seus tenentes para uma reunião na noite passada, e agora está se
reunindo com os anciãos. Sempre que isso acontece, geralmente é
porque eles estão prestes a fazer algo importante, mas ninguém sabe o
quê. Normalmente, quando coisas assim acontecem, é porque estamos
tendo problemas com bandidos ou outra matilha declarou guerra ou algo
assim, — Mia prossegue com uma expressão conspiratória.
Minha mente acelera tentando descobrir o que pode estar
acontecendo, então meus olhos se abrem com a compreensão.
— Ele está reunido com os anciãos agora? Tipo, agora mesmo? — eu
pergunto, agitada. Ela faz que sim e se senta, parecendo perceber minha
mudança de atitude.
— Preciso saber onde é essa reunião. Você pode me levar lá?
— Umm... eu..., — ela titubeia.
— Ah, estou 100% dentro. Você vai fazer algo maluco, e eu já estou
curtindo! — responde Cody, com um grande sorriso malicioso.
Não posso deixar de sorrir para ele.
— Bem, ok então! Vamos!
Os outros dois parecem estar interessados em saber o que está
acontecendo também, porque em seguida nós quatro estamos subindo as
escadas e descendo um corredor.
— Essa é a sala de reuniões que eles sempre usam, — ressalta Cody.
Eu aceno e todos nos esgueiramos em direção à porta, sendo o mais
silenciosos possível. Colo o ouvido contra a madeira, querendo saber
onde vou me meter.
Os outros ficam ao meu redor, sua audição de lobisomem avançada
sendo o suficiente para ouvir através da porta também.
— Quer dizer que você já teve a reunião estratégica sobre isso?! —
uma voz indignada pergunta.
— Sim. Já está tudo planejado. Estou simplesmente informando que
isso vai acontecer, — a voz de Logan responde, em um tom monótono.
— Então, você está nos dizendo que quer arriscar a vida de nossos
homens pelo bem de alguns humanos do norte?! Foi decidido há muito
tempo que ficaríamos fora dos negócios das matilhas do norte! — outra
voz grita.
Com o quão altas as vozes estão, eu provavelmente poderia ouvi-las
sem pressionar meu ouvido contra a porta. No entanto, decidi que já
escutei o suficiente.
Antes que os outros possam me impedir, eu me endireito e começo a
andar.
— Em outras palavras, você tem os meios para ajudar todas essas
pessoas, mas simplesmente não quer. Disseram-me que as matilhas do
sul valorizam a vida humana e acreditam que seu propósito é manter o
equilíbrio. Você está me dizendo que isso é mentira? — eu questiono
duramente examinando os rostos ao redor da mesa.
O homem de rosto vermelho com uma carranca é claramente o que
estava falando, então eu pouso meu olhar severo sobre ele.
Ele fica boquiaberto como um peixe por um momento, claramente
indignado por ser tratado dessa forma antes de finalmente falar: —
Como você ousa nos interromper! Você não tem direito!
— Sinto muito, estou confusa. Você é o alfa? Porque me disseram que
Logan era o alfa, — observo, fingindo exageradamente ignorância para
que meu sarcasmo seja completamente óbvio.
Eu então me viro para Logan, que está parado ali com os braços
cruzados sobre o peito.
Ele está sorrindo maliciosamente para mim e seus olhos estão acesos
com diversão.
Ele está claramente gostando do que vê, e sinto meu coração disparar
com o olhar adorável estampado em seu rosto. Sinto que poderia
derreter em uma poça.
Em vez disso, sorrio docemente para ele enquanto pergunto:
— Você é o alfa, não é?
— Isso eu sou, — ele responde, sério, embora seu sorriso cresça ainda
mais.
— Sinto muito por interromper sua reunião, Alfa. Você gostaria que
eu saísse? — eu pergunto inocentemente, apontando a mão para a porta
pela qual acabei de entrar.
— Não. Por favor, continue. Tenho certeza de que todos gostariam de
saber o que você tem a dizer, — ele responde indicando a mesa cheia à
nossa frente, dando ao grupo um olhar severo.
Eu rapidamente me volto para eles, me esforçando para assumir uma
expressão séria mais uma vez.
— Garanto-lhe que sua intervenção nisso é muito necessária. A única
maneira de alguém escapar é morrendo ou sendo vendido. Já vi centenas
de meninas e meninos irem e virem. Eu vi crianças de apenas oito anos
sendo trazidas.
Eles são forçados a suportar todos os tipos de treinamento nos
primeiros dois anos em que estão lá, antes de serem obrigados a
trabalhar nos muitos ramos do negócio, — eu continuo e então uma
mulher idosa levante a mão.
— Sim?
— O que você quer dizer com ramos, querida? — pergunta, com as
sobrancelhas franzidas. É óbvio que ela não gostou do que ouviu até
agora.
— O Banco de Sangue, que é como o negócio é chamado, oferece um
clube de strip, um clube de BDSM, um bordel e, para a clientela de
vampiros, bolsas de sangue vivo. A única regra para a maioria dos
escravos é que eles ainda devem estar vivos quando o cliente terminar
com eles.
— A maioria? — outra pessoa se intromete.
— Sim, algumas garotas também têm a sorte de ter sua virgindade
protegida porque as virgens do sexo feminino obtêm melhores preços no
leilão.
A pessoa que perguntou se encolhe com o tom frio e sério com que eu
disse isso. Posso ver que, para a maioria dos anciãos, estou deixando meu
ponto claro.
— Como você sabe tanto sobre este lugar? — um outro pergunta.
— Eu fui escrava lá por sete anos.
Os olhos se arregalam e algumas bocas se abrem de surpresa. Vários
começam a sussurrar para frente e para trás.
— Parece que este é um estabelecimento bastante grande. Quantos
vampiros estarão lá? Sem falar de outros clientes? Quantas vidas
perderemos por concordar com esta pequena aventura? — o homem de
rosto vermelho questiona em voz alta para se sobrepor as de todos os
outros, claramente ainda agitado.
Tenho a sensação de que, não importa o que aconteça, este homem
encontrará um motivo para discutir ou reclamar.
— Não vejo por que teríamos que perder vidas. O negócio está
fechado durante o dia, portanto, há poucos guardas e nenhum cliente
por perto. Sem falar que, durante o dia, todos os escravos ficam
trancados em suas celas, então não teremos que vasculhar todo o lugar
para ter certeza de que estamos com todos. Por último, conheço a planta
do prédio, então devo ser capaz de ajudar a encontrar nosso caminho de
entrada e saída, — respondo, com confiança.
Lidei com idiotas a maior parte da minha vida. Esse cara não vai me
perturbar nem um pouco.
— Você fica dizendo 'nós'. Você pretende ir com nossos guerreiros,
então? — o homem pergunta, com um sorriso malicioso.
Não sei se ele pensa que vai me deixar mal ou se simplesmente acha o
pensamento divertido, mas não me importo com o que ele pensa.
Logan abre a boca para dizer algo, mas antes que ele possa responder
por mim, eu rapidamente declaro: — Claro que sim.
Eu encontro o olhar do velho e vejo como seu sorriso desaparece.
Então, eu me viro para Logan.
— Esses meninos e meninas ficarão apavorados, e você precisará de
mim lá para fazer com que venham conosco de boa vontade. Além disso,
eu conheço a planta melhor do que ninguém, — insisto, olhando para
Logan e ele me encara de volta com os lábios apertados em uma linha
fina.
Ele se vira para a mesa onde todos os anciãos estão sentados, alguns
debatendo baixinho entre si.
— Tudo bem, bem, eu preciso revisar algumas coisas com Everly, já
que parece que ela tem algumas informações valiosas para nós. Reunião
encerrada, — diz ele, antes de todos se levantarem e começarem a sair.
— Lamento saber de todas as coisas pelas quais você passou, — uma
mulher de meia-idade comenta ao sair enquanto para na minha frente e
pega minha mão. — Você deve ser uma mulher forte para estar aqui hoje.
Eu sorrio para ela e meus olhos começam a lacrimejar. Pisco rápido
para afastar as lágrimas.
— Muito obrigada, senhora.
— Você pode me chamar de Clara. Sou a mãe de Logan.
— Oh! Tudo bem! Bem, é um prazer conhecê-la, Clara.
— O prazer é todo meu, Everly. Espero vê-la novamente em breve!
— Obrigado! Eu também!
Ela se adianta para falar com Logan quando um homem vem até
mim.
Ele se parece muito com Logan, e desta vez não fico surpresa quando
ele se apresenta como o pai de Logan, Thomas Blackwood.
Eles são quase idênticos, exceto que seu pai tem mais algumas rugas e
seu cabelo escuro é salpicado de cinza.
Porém, agora que estou prestando mais atenção, os olhos de Logan
me lembram mais os de sua mãe.
Os de seu pai são mais avelã, enquanto Logan e sua mãe têm uma rica
cor marrom-chocolate.
— Isso foi bastante impressionante, mocinha. Você lidou com aqueles
lobos velhos melhor do que a maioria da matilha consegue.
— Eu posso imaginar. Eles parecem... bastante apegados a seus
hábitos, — comento, esperando não soar desrespeitosa.
Ele ri e dá um tapinha no meu ombro.
— Essa é uma boa maneira de colocar as coisas. Sim, esta parece ser a
característica que os define.
Ele segue em frente também, e eu vejo quando ele vai até Logan e
agarra sua mão e o puxa em sua direção enquanto ele agarra seu ombro e
se inclina para dizer algo.
— Você acabou de se tornar minha nova pessoa favorita, — um
homem mais jovem diz enquanto se aproxima de mim com um sorriso
enorme.
Percebi que ele estava sentado à direita de Logan e já o tinha visto
antes.
Ele estende a mão para mim e acrescenta:
— Ainda não nos conhecemos oficialmente, mas sou Cole, o beta.
Você já conheceu minha companheira, Sophie, sua médica.
— Oh! Sim! É um prazer finalmente conhecê-lo! Como está Sophie?
— Ela está bem. Ocupada como sempre. Raramente temos lesões
graves por aqui, mas há lesões menores o tempo todo durante todo o
nosso treinamento, o que a mantém bastante ocupada. Sem falar no
parto de filhotes e no cuidado com as lobas grávidas — ele responde,
sentando-se no lugar ao meu lado, observando enquanto as últimas
pessoas vão embora.
— Com que frequência vocês treinam?
— Normalmente, seis dias por semana. Tiramos folga aos domingos e
as quartas-feiras são estritamente cardiovasculares, tanto na forma de
lobo quanto na humana, — ele responde.
Eu simplesmente aceno. Estou acostumada a treinar diariamente,
embora presumo que os treinos deles sejam mais difíceis de acompanhar,
considerando que sou humana.
Bem... pelo menos eu pensei que era. Ainda não consegui descobrir se
sonhei com Poppy e Ash.
Preciso encontrar minha tia e ver se ela tem algo que pertenceu aos
meus pais. Talvez isso lance alguma luz sobre tudo.
Porém, isso terá que esperar até depois desta missão de resgate.
Quero que meu único foco seja resgatar os escravos do Banco de Sangue.
Depois que os pais de Logan saem, ele se vira para mim.
— Venha. Há algumas coisas que precisamos discutir, — ele diz
rispidamente, gesticulando em direção à porta.
Eu me endireito e saio, descobrindo que Jonah e Mia ainda estão do
lado de fora, mas Cody desapareceu.
Ambos inclinam a cabeça para seu alfa quando ele chega ao meu lado,
colocando a mão nas minhas costas para me conduzir.
Eu olho por cima do ombro e vejo-os olhando para mim. Mia me dá
um grande sorriso e um polegar para cima enquanto Jonah coça a nuca.
Não posso evitar de pensar que estão preocupados com o que Logan
está querendo falar comigo. Tenho certeza de que ele vai me dizer que
não posso ir.
Ele pareceu chateado quando eu disse que os acompanharia.
Ele me leva ao escritório, e noto que Cole e Max estão vindo atrás de
nós. Todos entramos e o último é Max, que fecha a porta atrás dele.
Logan instantaneamente faz um gesto para que eu me sente e se
inclina sobre a borda de sua mesa, cruzando os tornozelos.
Dou um passo à frente, pousando levemente minhas mãos nas costas
do assento e encarando-o de maneira incisiva. Minha recusa em sentar é
clara.
Um ruído surdo sai do peito de Logan como se ele estivesse contendo
um rugido.
— Você não vai.
Capítulo 20
Logan

— Você não vai, — eu ordeno, minha voz saindo baixa e rouca.


— Você precisa de mim, — ela observa.
— Eu tenho uma matilha inteira de lobisomens com supervelocidade
e superforça, sem mencionar que nossas mordidas são letais para os
vampiros. Então não, eu não preciso de você, — eu respondo.
Eu sei que há vantagens em levá-la, mas ela já passou por muita coisa.
Ela ainda nem terminou de se recuperar após quase ter morrido
alguns dias atrás. Não vou deixar ela arriscar a vida de jeito nenhum.
Minha matilha e eu podemos lidar com isso muito bem.
Os olhos dela se acendem e as narinas dilatam. Ela está ficando com
raiva. Nunca a vi assim antes. Caramba, ela fica tão sexy.
Afasto esse pensamento da minha cabeça, tentando me concentrar na
discussão que tenho certeza que vai acontecer.
— Ah, é? Você acha que não precisa de mim? Você pode me falar sobre
a planta do prédio ou onde ficam as celas? Sabe qual sistema de
segurança eles têm? Quantos guardas estarão de plantão e onde? Você
pode me dizer como vai convencer mais de setenta meninos e meninas a
irem embora com um bando de estranhos que por acaso são da mesma
espécie de vários de nossos clientes? Hmm? Diga-me!
Cara, ela é boa. Eu nem sei como responder. Infelizmente, Max o faz
antes de mim.
— Ela tem razão, Alfa. Por que ela não pode ir conosco?
Eu ergo os olhos e o encaro. Ele me olha, perdido, e dá de ombros sem
entender meus motivos, já que de fato não os conhece.
Voltando-me para olhar para ela, ofereço um acordo.
— Você pode nos ajudar com nossos planos e nos dar qualquer
informação que seja útil. É isso.
— Sério?! — ela exclama, claramente ficando cada vez mais irritada
comigo. Parte de mim quer apenas dizer a ela a verdade.
Mas, ao mesmo tempo, duvido que isso a convença a ficar para trás.
— Por que você é tão contra a minha ida?! Você acha que vou atrasá-
lo?!
— Não. Não é isso, — eu respondo.
— Então o que?! Essas pessoas são minhas amigas e foram
maltratadas por lobisomens e outras criaturas sobrenaturais, algumas
delas há anos! Eles não vão simplesmente seguir você para fora de lá! Se
você não conseguir fazer com que cooperem, as chances de você ser pego
ou de qualquer um deles não escapar serão exponencialmente maiores!
Por favor! Deixe-me fazer isso!
Eu suspiro e passo as mãos pelo meu cabelo, frustrado, afastando-me
de minha mesa. Um grunhido escapa dos meus lábios quando começo a
andar.
Quando ergo os olhos, encontro o olhar de Cole. Ele parece hesitante,
mas faz que sim.
Eu balanço a cabeça, já odiando minha decisão antes de me virar para
encarar minha companheira.
— Tudo bem.
Um largo sorriso aparece instantaneamente no rosto dela, que salta
na ponta dos pés.
— Mas você terá guerreiros designados para ficar ao seu lado o tempo
todo. Você não vai a lugar nenhum sozinha e se alguém lhe disser para
fazer algo, você obedece. Entendeu? — eu determino.
— Sim! Obrigada! Sim! Eu farei o que for preciso! — ela grita,
animada, e se joga em meus braços.
A sensação de seu corpo esguio em meus braços envia arrepios pelo
meu corpo. Meu lobo parece ronronar dentro da minha cabeça.
Eu vejo Cole me dando um sorriso entendido por cima do ombro, e
lanço a ele um olhar furioso enquanto a aperto mais perto de mim.
Max percebe nossa interação e suas sobrancelhas franzem enquanto
os olhos se movem para frente e para trás entre mim e Cole.
De repente, seus olhos se arregalam e seu queixo cai quando ele
aponta para mim e Everly e rapidamente vira a cabeça para Cole em
busca de confirmação.
O sorriso malicioso de Cole se transforma em um sorriso aberto e ele
dá de ombros, tentando não revelar nada. Infelizmente, ele falhou total e
completamente.
Minha carranca para ele se aprofunda e eu murmuro — cale a boca —
para os dois antes que Everly me dê um tapinha no ombro.
— Umm... Logan... Você pode me colocar no chão agora...
Eu limpo minha garganta, envergonhado quando Cole e Max
explodem em uma risada silenciosa, Max batendo em seu joelho como se
fosse a coisa mais engraçada que se possa imaginar.
Eu lanço um olhar mortal para eles enquanto faço a conexão mental
com os dois.
— Parem de brincar e não digam nada a ninguém, incluindo Everly.
Então, volto minha atenção para ela enquanto a coloco no chão
desajeitadamente.
— Desculpe por isso... Cole me distraiu..., — murmuro enquanto me
viro e caminho de volta para a mesa.
Ela olha para Cole, que se recompõe a tempo de dar a ela um encolher
de ombros inocente, e ela ergue uma sobrancelha para ele antes de se
virar para mim com a mesma expressão.
Ela sabe claramente que algo está acontecendo. Em vez de pressionar,
suspira e vem se sentar na cadeira de frente para mim.
— Tudo bem, então você aparentemente já teve uma reunião de
estratégia. Qual era o seu plano de ataque? — Everly pergunta, indo
direto ao assunto.
— Ainda não chegamos tão longe. Informei aos meus homens o que
eu queria fazer e perguntei quem estaria a bordo, já que estamos indo
contra nosso tratado com as matilhas do norte. Depois, decidimos os
próximos passos antes de encerrar a noite. No momento, estamos
pesquisando principalmente as instalações, os clientes e os funcionários,
— respondo e faço ligação mental de um dos meus homens.
— Cody, você já tem o projeto que eu pedi?
— Sim, Alfa.
— Traga-o ao meu escritório.
Alguns minutos depois, há uma batida na porta e Max se aproxima
para abri-la.
— Cody? — a voz de Everly se faz ouvir e ela se volta em sua cadeira.
Eu franzo a testa quando me lembro de ter visto o braço dele em volta
dela ontem, quando a encontrei na sala de jogos. O que ele significa para
ela?
Ele dá a ela um sorriso genuíno enquanto se aproxima e responde:
— Ei, Ev. — Ele se senta ao lado dela.
— Vejo que você acabou na sala do diretor por causa da sua pequena
proeza, — ele brinca, fazendo-a rir e lhe dar um leve empurrão.
— Ah, para, — ela comenta, balançando a cabeça para ele.
Minhas sobrancelhas franzem, não gostando de como eles parecem
estar próximos mesmo tendo acabado de se conhecer. Limpo a garganta
para chamar sua atenção.
— As plantas? — pergunto, impacientemente. Cody imediatamente as
entrega e eu as abro sobre a mesa para dar uma olhada.
— Tudo bem, Everly, o que você pode me dizer sobre este lugar? — eu
prossigo, olhando para ela. Ela engole em seco e acena com a cabeça,
então se levanta para olhar.
Inspirando profundamente, vem até minha mesa e olha o mapa que
está aberto à sua frente.
— Há a saída lateral e a saída traseira, — ela começa, apontando para
as marcações que devem indicar portas ao longo da borda externa do
edifício.
— Esta área é o clube de strip com sua própria entrada principal. No
final deste corredor há um monte de salas para danças privadas e
alimentação, — ela continua, a voz ligeiramente trêmula ao se lembrar
do lugar onde foi mantida em cativeiro por anos.
— Aqui é um elevador, no final do corredor. Ele leva ao bordel. Se
você for na direção oposta do clube de strip, esse corredor leva ao clube
BDSM, e lá está a entrada da rua. Também há vários quartos privados ao
redor. Há a escada que desce para as celas e salas de treinamento.
Ela folheia as páginas para encontrar o nível superior que abrigaria o
bordel.
— Esta área não é aberta assim. Agora, ele está repleto de quartos
privados com isolamento acústico, adaptados a todos os diferentes tipos
de temas e fetiches. Há um corredor aqui e a sala de segurança com os
sistemas de alarme e câmeras. Mais abaixo estão os escritórios da
Senhora Dupont e dos outros gerentes. A sala ao fundo é o escritório de
Mestre Lacroix e o cofre principal. Ele contém todo o dinheiro para
pequenas despesas e os livros contábeis de cada um dos negócios e da
casa de leilões, que é conectada por meio de um túnel subterrâneo a
partir do nível inferior.
Continuamos revisando o projeto enquanto anoto nele os detalhes
adicionais fornecidos por ela.
Tento não pensar muito sobre o fato de que foi aqui que ela foi
forçada a trabalhar. Quantos homens a tocaram?
Quantos homens viram ou usaram seu corpo para se satisfazer? Eu
cerro os punhos por um momento e meus dentes rangem.
Everly estende a mão e a pousa levemente sobre a minha, atraindo
minha atenção.
— Você está bem? — pergunta, suavemente.
Pisco os olhos e limpo a garganta antes de dar a ela um aceno de
cabeça.
— Ok, então o que mais você pode nos dizer?
Ela retira a caneta de meu punho fechado e se põe a estudar o mapa
mais uma vez.
— Os únicos vigilantes que deveriam estar durante o dia são os das
celas e o da sala de controle, observando as câmeras. Nossa melhor
chance seria desligar as câmeras e as linhas telefônicas para que não
alertassem mais ninguém. Precisamos também desligar o sistema de
alarme. Temos que chegar aos guardas antes que consigam ajuda. Por ser
de dia, eles não poderão sair do prédio, mas normalmente há outros
dormindo no andar superior. Infelizmente, só ouvi falar desses aposentos
em algum lugar lá em cima. As únicas vezes em que estive no nível
superior foi quando fui levada a um dos escritórios.
— Isso não deve ser problema, — eu comento e me volto para Cody.
— Você pode hackear os sistemas deles?
— Acho que consigo. Eu só preciso saber quais eles usam, — ele
responde, rapidamente, com um aceno de cabeça.
— Bom. Descubra tudo que puder e entre em contato o mais rápido
possível. Assim que soubermos que podemos cuidar de tudo, convocarei
outra reunião e podemos finalizar os detalhes, — ordeno e ele volta a
balançar a cabeça em concordância, se levanta da cadeira e sai apressado.
Eu então me volto para Everly.
— De agora em diante, você treinará comigo e com os outros
guerreiros. Encontre-me na entrada da frente em trinta minutos.
Espero que ela discuta, mas ela não o faz. Em vez disso, responde com
um:
— Ok — e vai para o seu quarto se vestir.
Max e Cole saem, seguidos por mim, para que possamos fazer o
mesmo.
Passam-se apenas vinte minutos quando Everly desce as escadas com
uma legging preta justa e um moletom solto.
Seu lindo cabelo negro está preso em um rabo de cavalo, e ela usa
protetores de ouvido nas orelhas, um lenço em volta do pescoço e luvas.
Há um grande sorriso em seu rosto enquanto desce, pulando os
últimos dois degraus.
— Olha só para você, toda agasalhada, — eu comento, com um
sorriso.
— Sim, bem, não podemos todos ter a tolerância de um lobisomem
ao frio, — ela responde, rindo, enquanto me cutuca nas costelas.
Eu afasto sua mão de brincadeira antes de envolver um braço em
volta do seu pescoço e puxá-la para mim.
— Tudo bem, Dona Encrenca, vamos lá, — digo a ela enquanto a
arrasto comigo. Axel e Connor nos alcançam.
Eles foram os dois guardas designados para vigiá-la durante a visita da
Blood Fangs Pack.
Continuam a protegê-la desde que nossas fronteiras estão sendo
vigiadas. Alfa Damon aparentemente não acreditou em mim quando
insisti que ela não estava aqui.
— Quem arranjou encrenca? — Connor pergunta com um sorriso
malicioso quando eles se aproximam de nós.
— Quem você acha? — Axel brinca enquanto estende a mão e
bagunça o cabelo de Everly.
Minha mandíbula fica tensa, mas ela rapidamente o afasta com uma
careta antes de deslizar as mãos sobre o cabelo para consertar o rabo de
cavalo.
Mal posso esperar para anunciar à matilha que ela é minha
companheira. Então talvez o resto dos meus homens aprenda a manter
as mãos quietas. Logo chegamos ao campo de treinamento onde todos os
guerreiros estão se reunindo. Assim que Cole e Max chegam, vou para a
frente deles.
— Ok, vamos dar duas voltas ao redor do campo, então vamos nos
dividir em estações, — eu anuncio antes de dividi-los em grupos e
designar suas primeiras estações para a rotação.
Todo mundo leva alguns minutos para se alongar antes de
começarmos a correr pelo campo. O caminho serpenteia para dentro da
floresta e retorna.
Ainda está em nosso território e há muitos guerreiros ao nosso redor,
então não estou preocupado com Everly no momento.
Ela se sai muito bem e consegue acompanhar o ritmo de alguns de
nossos lobos mais lentos. Ela nem parece sem fôlego quando
terminamos.
Estou mantendo-a comigo durante todo o treinamento, então vou até
ela quando ela começa a esticar as pernas mais uma vez.
— Vamos treinar boxe. Está pronta?
— Boxe? — ela questiona, apertando seu rabo de cavalo e se
aproximando de mim.
— Sim, quero saber seu nível de habilidade para saber por onde
começar com seu treinamento defensivo, — eu explico.
— Ah! Isso é fácil! Eu tenho zero habilidade. Estou em forma e faço
exercícios regularmente, mas nunca me ensinaram a lutar. Não é
exatamente algo que ensinam aos escravos, — ela responde.
Minhas sobrancelhas franzem com a menção ao seu passado. Odeio
pensar sobre ela ter estado lá.
Afasto a imagem e gesticulo em direção ao grande prédio onde fica a
academia dos guerreiros.
Ela me segue até um dos ringues e eu pego um par de luvas.
— Ok, a primeira coisa que vamos examinar é como dar um soco
decente, — eu digo.
Ela balança a cabeça e tira as luvas e protetores de ouvido antes de
caminhar de volta para mim.
— Está com frio? — eu pergunto, levantando uma sobrancelha para
ela, surpreso por ela ainda estar usando cachecol e moletom.
Ela puxa as mangas para baixo e acena com a cabeça.
— Estou bem. Obrigada, — responde, enquanto entra no ringue em
que estou.
Eu rapidamente explico os passos que quero que ela siga antes de
fazer um punho fechado para mim.
Inspecionando, faço alguns ajustes antes de pegar as luvas e colocá-
las.
— Tudo bem, — começo, erguendo as mãos com as luvas. — Bata em
mim.
***

Trinta minutos depois, ela está usando as costas da mão para limpar o
suor da testa e sua respiração está pesada.
Ainda está usando seu cachecol e moletom ridículos, embora seja
óbvio que ela é perturbadoramente gostosa.
Passamos para a estação seguinte e ela finalmente decide tirar o
maldito cachecol.
Com o cabelo preso em um rabo de cavalo, agora tenho uma visão
perfeita de seu pescoço esguio e percebo por que ela estava tão relutante
em tirá-lo.
O lado de seu pescoço está coberto de cicatrizes de vários pares de
presas que morderam sua artéria carótida.
Instantaneamente, olho para baixo e cerro meus punhos, lutando
contra a onda de raiva que me domina.
Respirando fundo, eu me junto a ela no supino e ajusto os pesos antes
de observá-la.
Quando passamos para a próxima seção, ela finalmente tira o
moletom, revelando um sutiã esportivo preto e uma regata colorida.
Infelizmente, essa não é a única coisa revelada. Ela está coberta de
cicatrizes.
Mais marcas de mordidas em seus pulsos e linhas verticais que
parecem de tentativas de suicídio.
Também há cicatrizes longas e finas descendo por suas costas,
evidentemente de um chicote. Um rosnado ameaça rasgar meus lábios
mas eu o forço de volta para dentro.
É claro que ela já está constrangida em relação às evidências de seu
passado, então não quero fazer cena.
Não sou o único que notou, e eu vejo vários pares de olhos nela
enquanto ela se posiciona para fazer extensões de perna.
Assim que eles encontram meu olhar, rapidamente desviam os seus e
voltam para seus próprios treinos. Meus olhos percorrem as cicatrizes
enquanto eu solto uma respiração lenta.
Assim que eu colocar minhas mãos naquele mestre vampiro
desprezível, vou matá-lo.
Capítulo 21
Lord Vlad Lacroix

— Sire, Alfa Damon da Blood Fangs Pack está na linha dois. Devo
transferi-lo? — minha recepcionista informa pelo interfone.
Fecho a cara para o bocal antes de responder a ela. Já sei porque ele
está ligando.
— Vá em frente, Lucille.
O telefone toca algumas vezes e deixo escapar um suspiro irritado
antes de atender.
— Lorde Lacroix falando.
— Olá, Lord Lacroix. Aqui é Alfa Damon. Tive problemas com minha
compra recente e esperava que você pudesse me ajudar, — afirma ele, em
um tom amigável, mas sério.
Eu não posso deixar de me perguntar quanto tempo sua cordialidade
vai durar.
— Alfa, você sabe que todas as compras são definitivas, — comento,
embora tenha certeza de que não era a resposta que ele desejava.
Meu sangue estava na minha querida Ruby Red quando ela foi
vendida pela primeira vez. Eu precisava que ela fosse devidamente curada
de sua última surra antes do leilão.
Normalmente, os efeitos duram alguns dias para que eu possa ver
através de seus olhos. Eu soube quando ela escapou.
Eu vi a floresta pela qual ela fugiu e a tempestade bizarra que a
protegeu. Eu podia sentir sua confusão e alívio quando isso aconteceu.
Eu podia sentir a dor em suas coxas e pés enquanto ela corria descalça
pela floresta. Eu podia sentir seu corpo sendo tomado pelo frio e
exaustão.
Finalmente, tudo ficou escuro. Achei que ela poderia ter morrido até
o dia seguinte em que acordou no que parecia ser uma cama de hospital.
— Não foi por isso que liguei. Não quero reembolso. Eu só quero ela
de volta. Ela escapou antes de me dar aquilo pelo que paguei, — ele
responde severamente.
O aborrecimento em sua voz é facilmente perceptível.
— Sinto muito por ouvir isso. Tenho certeza de que sua pequena
boceta apertada teria sido bastante requintada. Infelizmente, isso não é
problema meu, — eu respondo, calmamente, antes de ouvir um rosnado
alto rasgar o receptor do telefone.
— Vou resolver isso, sanguessuga! Eu sei que você tem maneiras de
encontrar a prostituta e eu a quero de volta antes que se entregue a outra
pessoa! — ele rosna com raiva para mim.
Todas as sutilezas já se foram.
— Então, você está me ameaçando agora? — eu escarneço.
— Eu só quero sua ajuda para trazê-la de volta antes que seja tarde
demais. E se eu fizer isso, vou te dar mais vinte mil. Se você não ajudar...
pode esquecer fazer negócios comigo novamente. Sem mencionar todos
os outros lobisomens que frequentam seu estabelecimento, — ele
comenta, e posso sentir o sorriso em seu rosto por pensar que venceu.
Solto uma gargalhada de sua audácia, e ele ruge de aborrecimento.
— Você acha que tem esse tipo de atração? Eu sou o único lugar ao
redor que oferece os serviços que eu presto. Também tenho os escravos
mais bem treinados, para não falar dos mais bonitos. Você não somente
não será capaz de manter as outras matilhas afastadas, como também
não conseguirá ficar longe por muito tempo. Todos nós sabemos que
você não fode mais aquela sua companheira estéril. Também sabemos
que ela assustou todas as lobas que poderiam ser seus brinquedos
novamente. Você precisa dos meus serviços mais do que eu preciso de
você.
— Ora, seu filho da puta! Não se atreva a meter minha companheira
nisso! Você vai se arrepender disso, Lacroix. Assim que eu cuidar daquela
vagabunda, irei atrás de você, sugador de sangue!
Com isso, ouve-se um clique do telefone, seguido do tom de
discagem. Que idiota arrogante.
Além disso, se eu recuperá-la, prefiro colocá-la de volta no trabalho
ou vendê-la em um leilão novamente.
Eu poderia conseguir mais do que os meros vinte mil que ele estava
oferecendo se fizesse isso. O pão-duro. Não é minha culpa que ele perdeu
uma boceta de um milhão de dólares.
Ela com certeza era bonita também. Eu não teria me importado de
tomá-la para mim mesmo.
Minha língua desliza sedutoramente sobre meus lábios enquanto
penso em suas curvas nuas sendo exibidas para mim enquanto empurro
suas pernas abertas.
Ela tinha um sangue delicioso. Tenho certeza que sua boceta teria
sido ainda mais doce.
Eu me sinto apertando em minhas calças e solto um gemido irritado.
Olho para o relógio na parede e me animo ao notar a hora.
Os escravos estarão em treinamento agora. Perfeito. Erguendo-me,
pego o elevador para descer até o nível inferior em direção às salas de
treinamento.
Meus olhos examinam as portas enquanto decido qual treino quero
observar.
Com minha decisão tomada, entro pela porta da sala onde as meninas
mais novas estão aprendendo a arte oral.
A Senhora Dupont está parada no centro da sala com as mãos
cruzadas atrás das costas enquanto observa os escravos trabalhando.
Todos estão de joelhos na frente de seus parceiros designados para o
treinamento.
Meus funcionários acham que isso é uma das vantagens e muitas
vezes participam para obter orgasmos de graça.
Se os escravos não lhes derem um dentro do tempo designado, são
espancados e enviados para a cela.
Eu me movo lentamente para a sala, meus olhos observando a cena
enquanto avalio o trabalho de cada garota.
Parece que hoje é o dia em que devem obter o orgasmo desejado sem
o uso das mãos, já que todos estão com os pulsos amarrados nas costas
enquanto trabalham a cabeça e o pescoço.
Percebo que uma garota parece estar ficando cansada e a Sra. Dupont
também.
— Anna! Aqui agora! — ela grita, do outro lado da sala.
A garota fica tensa instantaneamente enquanto libera o pau duro de
sua boca e solta um soluço. Ela sabe o que está por vir.
— Por favor, senhora! Vou fazer melhor! Eu não preciso ser punida!
Por favor! Deixe-me tentar de novo! Eu posso fazer melhor! — ela
implora.
— Venha aqui agora. Não me faça dizer de novo ou suas chicotadas
ficarão piores!
Os soluços da garota ficam mais altos quando ela se levanta e se
arrasta em direção à Senhora Dupont, que agarra um dos chicotes da
outra parede.
Eu ando até eles e levanto minha mão para a Senhora Dupont em um
gesto que diz a ela para parar e esperar.
— Você pode esquecer o castigo, — eu começo, e os olhos da garota
brilham com esperança quando ela olha para mim.
— Se — acrescento enquanto desabotoo minhas calças e liberto meu
grande pau de suas restrições. Eu o seguro na minha mão e dou uma
bomba.
— Se você puder me fazer gozar sem tocar nele.
Capítulo 22
Everly

— Lembre-se, você deve ficar com Axel, Cole e Connor o tempo todo,
— Logan me diz, pelo que parece ser a centésima vez.
Eu rolo meus olhos para ele, que rosna para mim, me fazendo sorrir.
— Eu entendi as primeiras vezes que você me disse. Você poderia só
relaxar agora? Vou ficar bem e não tenho intenção de fugir, — asseguro-
lhe.
Conseguimos entrar no Território do Norte pegando o caminho mais
longo e passando por cidades humanas.
Delisia também escondeu os nossos cheiros com uma poção
incrivelmente ácida que todos tivemos que engolir.
Quando chegamos ao complexo, estacionamos nas vielas que o
cercam, certificando-nos de ficarmos espalhados e sermos discretos por
precaução.
Logan está sentado ao meu lado, e seus olhos brilham, o que eu
percebi que significa que ele está fazendo o link mental com alguém.
— Ok, os sistemas estão desligados. Hora de sair, — ele anuncia,
baixinho.
Eu observo enquanto o primeiro grupo de lobos desce tanto em
formas humanas e animais em direção ao grande edifício que parece um
depósito comum visto do lado de fora.
Eles furtivamente se esgueiram pelas muitas entradas enquanto mais
alguns sobem a escada de incêndio.
O resto de nós fica de prontidão antes que Logan diga:
— Está limpo. Vamos.
Logan fica ao meu lado até entrarmos no prédio e seguirmos nossos
caminhos separados.
Cole conduz um grupo até as celas e Logan conduz outro até o nível
superior, onde ficam o escritório do Mestre Lacroix e todas as salas do
bordel.
Meu coração dói quando observo suas costas, conforme ele se afasta
de mim. Passei a gostar de como ele é atencioso e protetor comigo.
Nunca me senti tão cuidada. Não desde que meus pais morreram, de
qualquer maneira.
Cole caminha na minha frente com uma estaca na mão. Axel e
Connor fazem o mesmo, permanecendo um de cada lado meu.
Nós nos esgueiramos pelos corredores vazios enquanto alguns
homens verificam cada porta que passamos. Finalmente, chegamos a
uma estreita escada de pedra.
Nos esgueiramos para baixo até chegarmos à parede gradeada onde
dois guardas vampiros já foram mortos.
Caminhamos pelo pequeno corredor do outro lado das grades antes
de chegar a outro conjunto. A partir daqui, podemos ver as fileiras de
gaiolas.
— Oh minha Deusa... — Axel murmura enquanto vê a cena, com os
olhos arregalados. Cada cela contém de uma a três meninas de idades
variadas. Os meninos e meninas são sempre mantidos em câmaras
separadas para evitar confraternização. Eles não podem ter seus bens
mais valiosos sendo deflorados.
A sala fica em silêncio total quando aparecemos na porta. Eu ouço um
barulho enquanto as garotas se levantam para ver o que está
acontecendo.
— E-Everly? — chama uma voz baixa.
Eu abro caminho através de Cole, Connor e Axel, pois eles ainda estão
parados, espantados.
— Callie! — eu digo, correndo para uma das grades da cela e estendo
os braços para abraçá-la. Instantaneamente, vejo que ela está mal.
O lado de seu rosto está todo preto, azul e inchado. Ela também
manca e tem um hematoma em forma de mão ao redor do pulso.
Aperto os lábios, desejando ter sido capaz de chegar mais cedo.
— O que aconteceu com você? — murmuro, tristemente, colocando
delicadamente seu cabelo para trás e dando uma olhada melhor em seu
hematoma.
Com um encolher de ombros e um suspiro triste, ela responde:
— Um dos clientes que tive ontem à noite gosta de violência. — Meus
olhos ardem de lágrimas, mas eu simplesmente aceno.
Certamente não é a primeira vez que somos espancadas por um dos
clientes.
Callie é uma das muitas meninas forçadas a trabalhar no bordel,
então tem de lidar com alguns dos piores.
Eu a puxo de volta para outro abraço, e ela imediatamente começa a
soluçar no meu ombro enquanto todas as outras garotas se espremem
em suas barras para ter uma visão melhor.
Várias outras vozes suaves ressoam, surpresas em me ver de volta
aqui.
— Viemos para libertar vocês, — digo a eles, e gritos e sussurros
animados enchem a sala.
Eu olho por cima do ombro e vejo que os homens comigo ainda estão
parados ali, estupefatos. Eles realmente não tinham ideia do que estava
acontecendo aqui.
Limpando minha garganta, finalmente chamo sua atenção.
— Alguém pode pegar as chaves dos guardas?
Dois dos homens cujos nomes não sei voltam rapidamente pelo
caminho por onde viemos para revistar os guardas mortos com os quais
cruzamos no caminho.
Um minuto depois, voltam correndo, o da frente com um anel cheio
de chaves.
Eles rapidamente começam a experimentar todas na fechadura da
primeira cela até finalmente encontrarem uma que funcione.
Imediatamente eu a abro, então corro para dar abraços em todas as
meninas.
Existem vários rostos novos, mas conheço a maioria das garotas aqui
do meu tempo como escrava.
Parece uma eternidade, embora na realidade tenha se passado apenas
uma semana desde que encontrei minha liberdade.
Continuamos até que todas as meninas sejam libertadas.
— Everly! Me desculpe! — Anna soluça enquanto corre até mim e
passa os braços em volta da minha cintura.
Eu a abraço antes de colocar minhas mãos em seus ombros e segurá-
la com o braço estendido.
— Por que está pedindo desculpas?
— Se não fosse por mim, você não teria sido vendida! — ela chora, e
eu a puxo para outro abraço enquanto corro meus dedos por seus
cabelos.
— Ah, menina doce, não é sua culpa. Mesmo sabendo o que
aconteceria, eu teria feito tudo de novo, de qualquer maneira. Você não
tem nada de que se desculpar! Além disso, no fim foi melhor assim! — eu
insisto, olhando para trás, para os homens que estão ajudando as
meninas a se prepararem para ir enquanto os outros estão entrando na
sala dos escravos.
Callie e Mina vêm até nós, seguidas por algumas outras pessoas.
— Foram estes os homens que compraram você? — Callie pergunta,
enquanto todas as garotas os olham com cautela.
— Não. Eles são caras legais. Eu escapei e eles me acolheram. Venha!
Vamos sair daqui! — eu digo, começando a empurrar todos em direção à
saída.
Eu me dirijo ao quarto dos meninos para ver se todas as celas estão
destrancadas.
A maioria dos escravos ainda está em suas gaiolas, com medo de sair,
enquanto os lobisomens tentam explicar que estamos aqui para resgatá-
los.
— Ruby?! — um dos meninos pergunta, espantado. Os meninos não
me conheciam bem, então não é surpresa que estejam usando meu nome
de escrava.
É provavelmente o único nome pelo qual me conheciam.
— Sim, e devemos nos apressar, enquanto ainda está claro, — eu
respondo, acenando para que todos saiam logo.
Eles assentem com a cabeça e se apressam para sair, vários me
abraçando ou dando tapinhas no meu ombro enquanto passam.
Finalmente, subo as escadas após esperar todos os outros serem
conduzidos para fora.
— Por que aquele garoto te chamou de Ruby? — Axel pergunta,
enquanto subimos para o nível principal.
— Enquanto eu estava aqui, meu nome era Ruby Red. Todos
recebemos nomes de escravos no dia em que chegamos. Eles devem soar
atraentes, — eu comento, revirando os olhos.
Fui batizada assim por causa da cor dos meus lábios e da cor do meu
sangue.
Ele balança a cabeça.
— Eu ainda não consigo entender isso. Como alguém pode
simplesmente deixar isso acontecer?
Eu encolho os ombros.
— Provavelmente, nenhum humano sabe sobre isso. E pelo que eu
ouvi sobre os seres sobrenaturais deste lado da sua fronteira boba, eles
não dão a mínima para nós, mortais fracos, — eu zombo.
— Você é tudo menos fraca, Everly, — Cole afirma com uma careta,
claramente ainda chateado, pensando sobre o que essas pessoas
passaram.
Chegamos ao patamar superior quando vejo os últimos escravos
sendo levados para fora pela porta lateral pelos lobos.
Ao mesmo tempo, Logan chega com vários outros, que carregam
bolsas e caixas com itens desconhecidos.
Eu levanto uma sobrancelha para ele, que vem direto para mim.
— Pegamos todo mundo?
Assentindo, eu respondo:
— As celas foram todas esvaziadas. Eles encontraram mais alguém
nos outros níveis?
Ele sacode brevemente a cabeça.
— Havia alguns vampiros nos aposentos superiores, como você
pensou, mas cuidamos deles. Estamos prontos, então? — ele pergunta
passando um braço em volta da minha cintura e me puxando para ele.
Arrepios percorrem meu corpo onde seu dedo consegue tocar a pele
nua. Não sei o que esse homem está fazendo comigo, mas sei que gosto.
Concordo com a cabeça e ele se endireita com os olhos brilhando.
Menos de um minuto depois, vários de seus homens vêm correndo de
volta com marretas e latas de gás.
— O que está acontecendo?
— Esta não é só uma missão de resgate, Everly. Vamos garantir que
eles não possam usar este lugar novamente, — ele responde, com um
tom ameaçador na voz.
Fico empolgada e caminho até um dos homens que segura uma
marreta.
— Posso? — peço, estendendo a mão.
Ele me dá um sorriso de quem compreende e uma piscadela, antes de
entregá-lo.
— Everly, precisamos ir, — Logan comenta, impaciente.
— Ah, mas não mesmo. Vou ajudar a derrubar este lugar, — respondo,
determinada, erguendo o martelo e atirando-o contra a grade,
estilhaçando a madeira.
A cada golpe, penso em cada vez que me chicotearam, cada vez que
me machucaram, cada vez que me humilharam e me trataram como se
fosse sua propriedade.
Penso em todos os meninos e meninas que vi chegar e partir. Penso
em como fui vendida como gado.
Minha mente está furiosa e, por fim, enxergo tudo em vermelho.
Lágrimas quentes e raivosas descem pelo meu rosto enquanto causo
estragos em todas as superfícies que posso alcançar, demolindo as grades
e os palcos.
Meus braços começam a arder e minhas mãos empolam. Estou
deixando sair todo o meu ódio e nojo, todo o meu ressentimento.
Eles nunca vão vender outro escravo novamente, se eu puder impedir.
Isso acaba hoje.
— Everly! Everly!!! — a voz de Logan mal é registrada conforme meu
corpo começa a se cansar e a doer com o esforço que estou fazendo.
Finalmente, minha mente se concentra nele, que agarra meu pulso e
começa a me puxar.
Só então noto que toda a parede do fundo está em chamas, uma
fumaça escura subindo para o teto alto.
— Temos de ir! Agora!!! — ele grita para mim, me arrastando para a
saída.
Todos os outros já se foram no momento em que corremos para a
porta aberta. Assim que a alcançamos, ela se fecha.
Logan fica olhando para a porta, confuso, então gira a maçaneta, que
não abre.
Um arrepio percorre minha espinha quando uma voz familiar parece
falar em meu ouvido: — Não tão rápido, minha putinha.
Mestre Lacroix.
Capítulo 23
Logan

Os cabelos da minha nuca se arrepiam enquanto uma brisa gelada do


nada parece nos envolver.
Minha pele se arrepia quando ouço a voz baixa que provoca minha
companheira, fazendo um rugido profundo trovejar através de mim.
Fico em guarda, colocando meu corpo na frente de Everly e tentando
bloqueá-la de nosso inimigo invisível.
Meu olhar varre a área ao nosso redor e meu nariz procura pelo
cheiro.
Posso sentir que meu lobo está muito nervoso, não gostando que a
ameaça, no momento, pareça indetectável.
— Você realmente achou que poderia me trair? — a voz fria continua,
antes que uma risada gelada preencha a sala, ecoando pelas paredes
como se ele estivesse em todos os lugares ao mesmo tempo.
— Você achou que eu permitiria que você fosse embora? Depois do
que fez? Você nunca escapará de mim.
Meu lobo rosna para a voz, querendo acabar com a vida de seu dono,
quem quer que seja.
A sala está ficando insuportavelmente quente conforme o fogo atrás
de nós continua a se alastrar, o ar se tornando tóxico ao nosso redor.
Everly tosse atrás de mim e percebo que não temos muito tempo. Ela
é humana.
Eu posso facilmente me recuperar dos danos da inalação de tanta
fumaça, mas ela não. Fico alerta enquanto tento focar na conexão
mental.
— Everly e eu estamos presos aqui dentro. Cole, pegue alguns homens e
encontre uma saída. O resto de vocês, levem os prisioneiros em segurança
para nosso território antes que seja tarde demais.
— Agora mesmo.
De repente, o ar gira em torno de nós e fumaça negra se materializa
diante de mim.
Ela desce em espiral até o chão como um tornado em miniatura antes
que um vampiro alto esteja parado na minha frente.
Seus olhos são de aço fundido e se iluminam maldosamente quando
encontram os meus.
— Quem diabos é você? — eu rosno.
Seus lábios se esticam em um sorriso fino.
— Eu é que deveria estar perguntando isso, cachorro. Apesar de que
acho que poderia só agradecer... por trazer de volta o que é meu.
Meu lobo tenta assumir o controle de mim e um rugido explode em
meus lábios.
— Ela não é sua.
— Bem, ela certamente não é sua. Por que se preocupar em proteger
uma humana fraca e inútil? Por que se arriscar a uma guerra para salvá-
los? — ele pergunta, levantando uma sobrancelha para mim.
— Oh! Eu sei! Você quer o que Alfa Damon não conseguiu obter.
Agora eu entendi. Ela pediu que você salvasse suas amiguinhas
prostitutas, e você atendeu porque quer essa preciosa buceta virgem, —
acrescenta ele, em tom de zombaria.
Meu lobo está ansioso para atacar e odeia a maneira como esse
monstro está falando sobre sua companheira.
Eu sei que ele está apenas tentando me provocar; infelizmente, está
funcionando.
— Pare de falar sobre ela. Você não tem o direito de sequer pensar
nela, — eu berro, cerrando meus punhos com força, até minhas unhas se
cravarem em minhas palmas.
— Eu tenho todo o direito! — ele grita de volta com um olhar
perturbado, abandonando a fachada de confiança por apenas um
momento.
— Agora, podemos fazer isso da maneira fácil ou mais difícil.
Entregue-a para mim.
— Não.
— Você está desesperado por essa buceta apertada? Está, menino
lobo? Você não está transando o suficiente em casa? Então escolha
qualquer uma das prostitutas que acabou de roubar de mim! ESTA É
MINHA! ENTREGUE-A PARA MIM!!! AGORA!!!
— NUNCA!
Eu pulo contra ele, me transformando no ar enquanto minhas roupas
são estraçalhadas no meu corpo.
O homem se transforma em fumaça preta mais uma vez, e eu resvalo
pelo chão onde ele estava um mero segundo antes.
Eu rapidamente me viro para procurá-lo ao mesmo tempo em que
ouço Everly suspirar.
O homem agora está atrás dela, seus braços em volta de seu corpo
esguio enquanto suas presas se estendem ameaçadoramente.
Minhas orelhas se achatam contra meu crânio enquanto eu levanto
minhas garras e mostro meus dentes com outro rosnado ameaçador.
Dou um passo à frente e a sanguessuga imediatamente provoca:
— Ah, ah, ah... Eu não faria isso, cachorro.
Ele se abaixa, permitindo que suas presas arranhem seu pescoço, e eu
ouço-a suspender a respiração.
Meu lobo choraminga enquanto titubeia, querendo atacar, mas não
querendo arriscar que nada aconteça com sua companheira.
Os olhos do sanguessuga se abrem quando ele percebe o quanto nos
importamos com ela. Ele sorri maliciosamente enquanto suas mãos
passeiam ao longo de seu corpo.
Ela imediatamente se enrijece, seus olhos começam a lacrimejar e isso
parte meu coração.
O sugador de sangue nojento segura seu seio com uma mão, e posso
ouvir o soluço que está borbulhando na garganta de Everly.
Ela sempre parece tão forte e corajosa, mas é óbvio que este homem a
apavora.
Sua outra mão começa a avançar lentamente entre as coxas dela e eu
solto um rosnado feroz. Os lábios finos do sanguessuga se abrem em um
sorriso sinistro.
— Oh... Isso vai ser divertido..., — ele murmura em seu ouvido,
mantendo os olhos sobre mim, observando cada reação minha.
Meu pelo se eriça enquanto procuro desesperadamente uma brecha.
— Talvez eu devesse deixar você assistir, filhote... Eu sempre gostei de
assistir meus animais de estimação. A maneira como suas bochechas
ficavam vermelhas de lágrimas, a maneira como seus lábios inchavam... E
minha Ruby aqui era sempre a mais tentadora...
Sua língua salta para fora enquanto passa sobre seu pescoço com
cicatrizes, e outro rosnado ameaçador retumba através de mim.
Meu lobo e eu estamos morrendo de vontade de matar esse bastardo.
E estamos começando a ficar sem tempo.
A fumaça preta do fogo está enchendo a sala e Everly tosse outra vez.
Posso ouvir as batidas altas enquanto meus homens tentam arrombar a
porta.
De repente, o vampiro traiçoeiro estende suas presas mais uma vez e
as afunda no pescoço da minha companheira. Ela grita de dor e eu pulo
sobre eles.
Ele evapora e eu e Everly caímos no chão. Eu me apresso para colocar
minhas patas debaixo dela, protegendo-a de bater a cabeça no azulejo
duro.
Nos apressamos em nos levantar e, assim que nos orientamos, o
vampiro reaparece diante de nós.
Desta vez, está segurando uma arma apontada para mim.
— Você já foi levou um tiro de bala de prata, cachorro? Ouvi dizer que
é muito doloroso para vocês, vira-latas, — ele comenta, antes de puxar o
gatilho.
Um grande estampido enche a sala e faz meus ouvidos zumbirem,
então ouço Everly gritar: — NÃO!!!
Eu bato no chão, atordoado.
A porta se abre e a luz penetra antes que Cole e quatro outros homens
entrem. Eu olho ao redor, freneticamente, vendo Everly no chão ao meu
lado.
O vampiro se foi, e agora estamos banhados pela luz do sol.
Axel e Connor correm para minha companheira e a levam para fora
do prédio. Eu rapidamente sigo antes de chegarmos ao último carro
esperando por nós a um quarteirão de distância.
Eu começo a farejar Everly, certificando-me de que ela está bem.
Inspiro e um cheiro muito distinto de seu sangue enche meu nariz.
Solto um grunhido e faço o link mental com Cole, que no mesmo
instante me joga um par de calças de moletom.
Eu mudo de volta para a minha forma humana e as visto antes de me
postar diante de minha companheira.
— Onde você está ferida? — pergunto, preocupado.
— Não é nada. Estou bem, — ela insiste, teimosa, trocando de pé e
imediatamente estremecendo, o que me faz fazer uma cara feia.
— Você não está bem. Eu posso sentir o cheiro do seu sangue. Agora
me diga de onde vem, — eu exijo, agitado, porque sua roupa preta não
está deixa claro onde está seu ferimento.
Ela me encara e começo a farejar seu corpo, procurando a fonte do
sangue.
— Que diabos está fazendo?! — ela pergunta, em voz alta, me
empurrando para longe.
— Se você não vai me contar, então vou encontrar, — declaro,
determinado.
Ela solta um grunhido e abaixa o cós da calça jeans preta o suficiente
para mostrar seu quadril.
Há sangue espalhado por toda a área, e me inclino para ver melhor
enquanto um dos outros me entrega o kit de primeiros socorros do SUV.
Observo o líquido carmesim escorrer de um corte grande e profundo.
— Você levou um tiro??? — eu pergunto, com os dentes cerrados,
enquanto começo a limpar o sangue.
— Você poderia só dizer ‘Obrigado’, — ela retruca enquanto libera o
cós.
Não posso evitar o rosnado que sai da minha boca enquanto o afasto
mais uma vez para terminar de limpar e enfaixar a ferida.
— Você realmente quer que eu te agradeça por pular na frente de uma
bala?! Você poderia ter morrido!!! O que diabos você estava pensando?!
Ela zomba e revira os olhos para mim.
— Hmm... eu não sei. Que tal eu não querer que você morresse?!
Balas de prata podem matar você, Logan, — ela argumenta, com raiva.
— Sim. E você é humana. QUALQUER bala pode matar você!!!
Ela me lança um olhar mortal, e eu lhe dou outro de volta,
terminando com seu ferimento e fazendo o cós se encaixar de volta no
lugar.
— Você tem sorte de não ter sido pior, — acrescento, meu tom
finalmente se acalmando e conforme deixo escapar um suspiro.
— Você provavelmente vai precisar de mais pontos e ainda nem se
livrou dos que já tem.
— Gente... precisamos mesmo ir..., — Cole afirma, quando
começamos a ouvir sirenes à distância.
Eu faço que sim e imediatamente pego Everly e a coloco no carro
antes de deslizar ao lado dela.
Todos entram, e Cole imediatamente coloca o carro em movimento e
sai pela rua.
Coço a nuca, ansioso, enquanto Everly descaradamente olha para a
frente com os lábios apertados.
Não é difícil ver que ela está chateada comigo. Estamos viajando em
silêncio há um tempo quando decido que não posso mais suportar que
ela me ignore.
— Ouça, me desculpe, — eu digo, suavemente, tentando ignorar o
fato de que o resto do carro pode me ouvir.
— Obrigado por salvar minha vida. Eu só... não quero que nada
aconteça com você e prefiro que não arrisque a vida para salvar a minha.
Me desculpe por ter gritado, ok?
Ela suspira e balança a cabeça antes de olhar para mim.
— Você é tão protetor, — ela murmura, antes que o canto de seus
lábios vermelhos perfeitos se curvem.
Ela estende a mão e segura a minha, entrelaçando seus dedos com os
meus.
Faíscas explodiram ao longo da minha pele onde ela me tocou e um
arrepio percorre minha espinha. Eu amo sentir o toque dela.
— Você não pode me pedir para não arriscar a vida por você, quando
teria feito a mesma coisa por mim.
Minha mão aperta a dela, sem querer deixá-la ir.
— Everly... eu preciso te dizer uma coisa, — eu começo, hesitante
quando meus olhos encontram os olhos verdes brilhantes dela.
— Ok... o que é? — ela pergunta, virando seu corpo de forma que
fique inclinado em direção ao meu.
Estacionamos e os outros descem enquanto eu a seguro no lugar, feliz
por ter um pouco mais de privacidade enquanto digo o que quero dizer a
ela.
— Você é minha co...
Sou interrompido por uma voz feminina familiar gritando:
— Onde está meu companheiro?! Logan! Meu corpo inteiro fica tenso
instantaneamente e meus olhos se arregalam. Ah, merda. Eu reconheço
essa voz.
Volto o rosto lentamente para fora do veículo e vejo Rebecca correndo
até mim em um minivestido colante quase saindo de seu corpo e um par
de saltos de 15 centímetros.
Eu saio do carro tentando lutar contra o aborrecimento que eu e meu
lobo estamos sentindo com a perturbação dela.
Meu corpo está rígido e sinto Everly descendo devagar atrás de mim,
quando Rebecca se lança em meus braços, pressionando os lábios contra
os meus.
Capítulo 24
Everly

Que porra é essa?... Assim que aquela loira lindamente alta pula em
Logan, meu estômago embrulha.
Meus olhos ardem de lágrimas e saio correndo de lá antes que alguém
perceba. Ele disse que não tinha companheira! Quem diabos é aquela
garota?
Cerro os punhos e corro em direção ao meu quarto, desesperada para
me trancar até que possa colocar minhas emoções sob controle. Deus...
eu sou uma idiota.
Provavelmente é tudo como o Mestre disse. Ele fez tudo isso por mim
porque quer conseguir o que está entre minhas pernas.
— Everly! Espera! — ouço alguém chamar atrás de mim. Eu me
apresso para andar mais rápido.
— Ei! Espera! — a voz insiste e seu dono agarra meu braço e me vira
para que eu o encare.
Meu coração afunda ainda mais quando minha mente registra que
não foi Logan quem me seguiu. Ele provavelmente nem percebeu minha
ausência.
— O que é, Cole? — pergunto, olhando para os meus pés e enxugando
rapidamente as lágrimas dos meus olhos, antes que tenham a chance de
cair.
— Precisamos levar você para a enfermaria para Sophie ou um dos
curandeiros darem uma olhada em você, — ele comenta, e eu
imediatamente fecho a cara.
— É sério?! Foi só um ferimento superficial! — eu me defendo. O que
há com todos esses lobisomens se preocupando com um pequeno
arranhão?
Eu já me machuquei muito pior do que isso antes. Isso não é nada
para mim.
— Logan achou que ia precisar dar pontos, então vamos pedir a um
profissional treinado para dar uma olhada. Aí podemos descobrir qual de
vocês estava certo, ok?
Eu suspiro, reviro os olhos para ele e o deixo me levar para a
enfermaria.
— Então, aquela garota..., — ele começa, hesitante.
— Não quero falar sobre isso, — declaro, com firmeza.
— Bem, só saiba que não é o que você pensa. Ela definitivamente não
é a companheira dele, — Cole continua.
— Definitivamente, não foi o que ela disse, — eu resmungo baixinho
e aperto o passo.
— Everly..., — Cole tenta novamente, ouvindo claramente minhas
palavras.
— Não! Está tudo bem! Ele pode ficar com quem ele quiser. Além
disso, eu sou apenas uma humana, de qualquer maneira, — eu respondo,
apressando-me em direção a Sophie quando entramos pelas portas
duplas da enfermaria.
— Oi, Sophie! — exclamo, em um tom excessivamente feliz,
impedindo Cole de dizer qualquer outra coisa.
Caminho até ela, que está entregando um arquivo para alguém atrás
da mesa da recepção.
Eles parecem muito mais ocupados do que já vi antes e, após olhar em
volta, vejo que é porque estão cuidando dos ferimentos de todos que
acabamos de resgatar.
— Oi, Everly! Parece que tudo correu bem em sua viagem! Vocês
conseguiram trazer todos?
— Sim! A missão foi bastante bem-sucedida. Acho que conseguimos
causar danos suficientes para colocá-los permanentemente fora do
mercado, — eu respondo, meus olhos percorrendo todas as camas
ocupadas.
— Você quer ajuda?
— Uh-uh, não, você não quer, — Cole diz, se aproximando de nós e
me dando um olhar penetrante antes de virar para Sophie.
— Ela precisa ser examinada, Soph. Ela levou um tiro ao tentar
escapar.
— Você levou um tiro?! Everly!!! Por que diabos não começou
contando isso?!! — Sophie exclama, pegando minha mão e me arrastando
até a última cama disponível.
Cole me dá um sorriso malicioso enquanto levanta uma sobrancelha
para mim.
— Ai meu Deus, gente. Não é tão ruim assim! Vocês estão fazendo
tempestade em copo d’água!
— E eu sou a médica! Sou a única que decide se é tempestade em
copo d’água ou não. Agora, sente essa sua bunda linda e deixe-me dar
uma olhada, — ela me repreende, me empurrando direto para a cama.
Solto um suspiro e faço o que ela diz, sem vontade de continuar
discutindo.
— Então, onde está? — Eu dobro meu cós para baixo, revelando a
bandagem que agora está encharcada de sangue.
Sophie se vira para Cole e o empurra enquanto comenta:
— Desculpe, mas você vai precisar sair. Vejo você mais tarde.
Ela lhe dá um beijo rápido nos lábios antes de fechar a cortina para
que tenhamos privacidade — Tudo bem, você vai precisar abaixar para
que eu possa ter uma visão melhor, — ela acrescenta, voltando-se para
mim.
Bufando, ajusto minhas leggings atléticas pretas para que ela possa
ver melhor o ferimento.
Ela calça luvas de látex antes de retirar a bandagem ensanguentada.
Depois de limpar o ferimento novamente, ela olha para o corte na lateral
do meu quadril.
— Bem, parece que você teve muita sorte. Um centímetro acima e
provavelmente teria despedaçado o osso do quadril. Mas você vai precisar
de mais alguns pontos, então fique quietinha.
Horas depois, após receber dez pontos e passar um tempo com meus
amigos do Banco de Sangue, me limpo e desço para jantar.
— Ev! Por aqui! — Mia grita assim que me vê.
Eu abro um sorriso largo para ela e vejo que Jonah e Cody já estão
sentados em sua mesa enquanto me dirijo para me juntar a eles.
Sento-me ao lado dela com Jonah na minha frente, enquanto uma
jovem se aproxima e anota meu pedido depois de me informar as opções.
Ao olhar de novo para meus amigos, meus olhos localizam Logan
entrando na sala de jantar. Meu coração se aperta no meu peito quando
vejo que ele não está sozinho.
Sua companheira, ou o que quer que signifique para ele, está agarrada
a seu braço e esfrega os seios contra ele.
Eu rapidamente pisco para conter as lágrimas em meus olhos e desvio
o olhar, fazendo o meu melhor para ignorar o homem lindo que pensei
que realmente se importava comigo.
Como eu pude ser tão estúpida? Quem iria querer uma garota que
passou boa parte de sua vida sendo uma escrava sexual e de sangue?
Posso ser boa em esconder, mas sei que sou uma mercadoria avariada
e, obviamente, ele também sabe disso.
— Olá, Everly, — eu ouço sua voz baixa e sexy e meu batimento
cardíaco acelera. Eu estava tão perdida em meus pensamentos que não
notei sua aproximação.
Eu respiro para recuperar a compostura antes de lentamente olhar
para ele, percebendo que a loira não está mais pendurada em seu braço.
— Posso ajudar? — eu pergunto, minha voz saindo mais fria do que
eu pretendia.
Ele parece fazer uma careta com o meu tom, embora seja rápido em
disfarçar, pois um sorriso suave logo aparece em seu rosto.
— Eu só queria ter certeza de que você está bem. Cole disse que levou
você para ver Sophie.
— Sim, eu estou bem. Obrigada, — respondo, enquanto meus olhos
se dão conta do olhar maligno que a loira está me lançando da mesa
principal.
— Você provavelmente deveria voltar para a sua namorada.
— Ela não é…
Eu levanto a mão, impedindo-o de continuar.
— Eu não me importo. Apenas vá. — Ele solta um suspiro de
frustração, então cerra os punhos e a mandíbula.
Logan balança a cabeça, gira nos calcanhares e caminha até seu lugar
ao lado da loira.
Eu vejo quando ela sorri com vivacidade para ele e agarra sua mão,
puxando-o para se sentar ao lado dela. Eu franzo a testa e começo a
mexer na minha comida recém-chegada.
— Ei, você está bem? — Jonah pergunta, estendendo a mão e tocando
a minha, fazendo com que volte minha atenção para ele.
Eu rapidamente estampo um sorriso falso em meu rosto.
— Sim, só me distraí. Desculpe.
Nós conversamos e brincamos enquanto comemos. É difícil para mim
realmente me concentrar, no entanto, com Logan e aquela loira diante
de mim e no centro da mesa principal.
Tento ignorá-los, mas é difícil. A sensação de estar sendo observada
continua tomando conta de mim também, fazendo arrepios correrem
pela minha espinha.
Limpo a garganta e me endireito na cadeira.
— Acho que vou sair, — começo.
— Aguenta aí! Nós vamos com você, — Jonah se oferece, levantando-
se de sua cadeira e sendo imediatamente seguido pelos outros dois.
— Oh... Vocês não precisam.
— Nós insistimos, — Cody entra na conversa, com um sorriso
malicioso. — Temos algumas informações para você, de qualquer
maneira, que eu acho que você vai querer saber.
— Mesmo?! — pergunto, uma excitação recém-descoberta
borbulhando dentro de mim. Ele balança a cabeça, sabendo que me
convenceu.
— Ok, vamos para o meu quarto, então. Assim teremos um pouco de
paz e sossego.
Jonah passa o braço em volta dos meus ombros enquanto nos
dirigimos para a saída. Eu luto contra a vontade de olhar para Logan
enquanto sinto olhos em minhas costas.
Saímos da sala de jantar e subimos as escadas em direção ao meu
quarto.
— Umm... aonde estamos indo? — Mia pergunta, com os olhos
abertos.
Eu levanto uma sobrancelha para ela, confusa.
— Para o meu quarto.
— Mas... este é o andar do Alfa, — ela sussurra enquanto seus olhos
examinam com entusiasmo o chão ao seu redor como se ela nunca
tivesse estado neste nível da casa antes.
Franzindo minhas sobrancelhas, inclino a cabeça para o lado e
encaro-a.
— O que você quer dizer com o andar dele? Vocês nunca estiveram
aqui?
Todos os três balançam a cabeça negativamente.
— As únicas pessoas que vêm aqui são os beta, beta fêmeas e gama.
Ninguém mais é admitido sem um pedido direto do alfa, mas, pelo que
sei, isso nunca aconteceu, — responde Jonah.
Eu sacudo a cabeça e os pensamentos também.
Não tenho ideia de por que eles me dariam um quarto no andar do
alfa, mas não espero ser capaz de descobrir.
Logo, chegamos ao meu quarto e todos entram antes que eu feche a
porta atrás de nós.
— Ok, então o que você descobriu? — eu imediatamente pergunto,
sentando-me de pernas cruzadas na cama.
— Bem, nós encontramos Lutessa Andrews, como você pediu, —
afirma Cody, deitando-se de lado na beira do meu grande colchão,
apoiando-se no cotovelo.
— Ok...
Jonah se senta ao meu lado.
— Então, o que você quer fazer agora?
Capítulo 25
Rebecca

Eu estou furiosa. Tenho me jogado em Alfa Logan desde que cheguei,


e agora tenho que implorar por sua atenção.
Cada vez que eu olhava para ele, ele estava olhando para uma garota
do outro lado do refeitório, a mesma com quem foi falar quando
chegamos.
Ela finalmente foi embora, mas ele parece ainda estar pensando nela.
Seu olhar nunca parece não desgrudar da saída um instante e seu punho
está cerrado sobre a mesa.
Quem diabos é essa garota? Eu já sabia que estava competindo com as
filhas de outros dois alfas.
O que não sabia é que também estaria lidando com uma vadia
humana. Nem sei o que ela está fazendo aqui.
Pensando bem, por que há tantos humanos aqui agora?
Os lobisomens normalmente não querem que os humanos saibam de
sua existência. E, no entanto, parece haver mais de cinquenta deles aqui,
nesse momento.
Em geral, não tenho nada contra os humanos, exceto o fato de que
muitos são tão tacanhos.
Eles tendem a temer tudo que não conhecem ou não entendem.
No entanto, no momento, há uma humana em particular de quem
não gosto muito.
Especialmente se ela for uma ameaça à minha posição como Luna
desta matilha.
Além do jeito que ele fica olhando para ela, eu certamente não deixei
de notar o jeito que ela olhou para ele. Felizmente, ela não demonstrou
de forma tão óbvia.
Foi exatamente o contrário, na verdade. Enquanto ele a estava
encarando abertamente do outro lado da sala, ela tentou evitar olhar
para ele.
Claro, independente disso, eu a vi dar uma espiada algumas vezes.
O cheiro dela estava nele quando ele voltou também... Pensando bem,
acho que ela também estava. Não sei. Talvez eu tenha imaginado essa
parte.
De qualquer maneira, preciso dar um jeito nela.
Encenei meu papel de agradável e compreensiva durante o baile de
acasalamento, mas isso só me colocou entre as três primeiras opções.
É possível que eu tenha que melhorar um pouco meu jogo se quiser
agarrar o solteiro mais cobiçado da comunidade de lobisomens.
A matilha dele é uma das mais fortes e ricas das redondezas.
Sem mencionar que ele é gostoso, todo músculos esculpidos e cabelo
escuro bagunçado, parecendo ter sido propositalmente penteado dessa
maneira.
Seus olhos chocolate deixam minha calcinha molhada, e sua
mandíbula forte está coberta de pelos, dando a ele uma aparência rústica
que se encaixa na fantasia de qualquer garota.
Ainda não encontrei meu companheiro e, no que me diz respeito, ele
pode estar morto.
Mas o que eu sei é que, não importa quem seja meu companheiro,
não pode ser um partido melhor e mais vantajoso do que Alfa Logan.
No entanto, estou irritada por perceber que agarrar esse Adônis vai
ser mais difícil do que eu pensava.
Mesmo depois de usar uma das minhas roupas mais de periguete e
literalmente me jogar nele, ele ainda me arrastou até seu escritório para
uma conversa séria.
Ainda estou agitada com as coisas que ele disse. Só de pensar nisso,
surge outra onda de aborrecimento. Esse cara não se impressiona tão
facilmente.
Várias horas Antes
— O que é que foi isso? — Logan me pergunta depois que fecha a
porta de seu escritório.
Meus olhos se arregalam por um segundo antes de olhar para ele,
inocentemente.
— O que foi o quê?
Seus olhos se estreitam instantaneamente para mim, e eu dou o
melhor de mim para manter a compostura. — Você sabe que não somos
companheiros, certo?
Eu afasto a pergunta com escárnio.
— Bem, eu sei que não somos companheiros de verdade. Mas ouvi
dizer que você é um homem muito inteligente e, obviamente, sou a
melhor escolha para uma companheira eleita, — eu respondo, me
sentando na beirada de sua mesa ao lado dele, propositalmente mais
perto do que o necessário.
— Então, você sabe que é apenas uma das três opções que foram
selecionadas para uma breve estadia? E isso caso eu não encontre minha
verdadeira companheira.
Eu sorrio sedutoramente para ele, me inclinando em sua direção
apenas o suficiente para dar-lhe uma visão de meu amplo decote.
— Minha matilha é a mais próxima da sua em força e riqueza. Não
precisaríamos pedir ajuda uns aos outros com relação às coisas menores.
Poderíamos ter mais parceria do que você seria capaz de ter com as
outras matilhas. Meu bando é claramente o mais benéfico para você.
Além disso, eu Conheci aquelas outras garotas, e elas não são o seu tipo,
— concluo com uma piscadela antes de me inclinar um pouco para trás e
arquear o corpo enquanto me espreguiço, empurrando meu peito para
fora e chamando sua atenção para a minha forma.
Lobisomens são naturalmente saudáveis, mas também tenho sorte de
ser alta e cheia de curvas. Com lindos cachos loiros e olhos azuis, sou o
pacote completo.
— Você acha que conhece meu tipo, não é? — ele pergunta um tanto
áspero enquanto se inclina para trás em sua cadeira.
— Claro. Você quer uma mulher forte, inteligente e sexy. Uma que
possa lidar com todas as responsabilidades de uma Luna , incluindo
mantê-lo feliz no quarto e lhe dar herdeiros, — eu encolho os ombros,
com um sorriso.
É o que todo cara gostaria, especialmente um alfa.
Em cada matilha, sempre há muita pressão sobre o alfa para ter
herdeiros viáveis e uma Luna forte.
Sem as duas coisas, as matilhas serão vistas como fracas e vulneráveis.
Já existe uma fofoca circulando sobre como Alfa Logan ainda não
encontrou sua companheira. E para minha sorte, pretendo conquistá-lo
para mim.
Eu estava tão confiante quanto às minhas habilidades para prendê-lo
em minha rede. Agora, começo a ter minhas dúvidas.
O que quer que esteja acontecendo entre ele e aquela humana precisa
acabar.
Não posso deixar que ela fique no meu caminho toda vez que tento
chegar perto de Logan. Deixo de lado esses pensamentos.
Se vou conquistá-lo, primeiro garantir que sua atenção esteja em mim
e não nela.
— Minha Deusa, Alfa, você está tão tenso! — exclamo, estendendo
minha mão para tocar levemente seu braço, dando-lhe um aperto suave.
Ele pisca e olha para mim como se tivesse esquecido completamente
que estou aqui.
Eu ignoro a explosão de raiva que me preenche enquanto continuo:
— Disseram que sou ótima em fazer massagens. Você gostaria que eu
lhe fizesse uma? É por conta da casa.
Eu dou a ele um sorriso sedutor e pisco, e ele apenas oferece um
sorriso tenso de volta.
— Não, obrigado. Na verdade, preciso voltar ao trabalho, — ele
responde abruptamente, antes de se levantar. Eu rapidamente pulo da
minha cadeira também.
— Já? Mas tem tanta coisa que ainda não sei sobre você! Se eu tenho
apenas uma semana para provar a você que sou a Luna perfeita para esta
matilha, não deveríamos passar o máximo de tempo possível juntos e nos
conhecer? — eu argumento desesperadamente.
Seus lábios se apertam em uma linha sombria e meu coração afunda.
Esse cara está fazendo jogo duro comigo.
— Desculpe, mas já foi um longo dia, e tínhamos acabado de voltar de
uma missão de resgate quando você chegou. Há muitas coisas com as
quais preciso lidar agora. Além disso, já passei metade do dia com você.
Certamente você está cansada de mim agora, — ele responde.
Dou-lhe um empurrão brincalhão, acompanhado de uma risada
elegante.
— Ah, por favor! Eu nunca me cansaria de você!
Ele me dá outro pequeno sorriso, mas seus olhos permanecem sérios.
Minha frustração aumenta e minha mente se apressa em encontrar outra
alternativa.
— Eu preciso ir, — ele diz.
— O que devo fazer enquanto você estiver fora? — pergunto.
— O que você quiser. Mostrei onde ficam a sala de jogos e a academia.
Você pode dar um mergulho na piscina coberta ou caminhar pelo jardim.
Você também teve um longo dia. Você poderia ir para o seu quarto e
descansar um pouco, — ele oferece enquanto enumera várias opções que
não funcionam para mim.
Eu franzo a testa para ele.
— Bem, o que você tem que fazer? Talvez eu possa ajudar, — sugiro,
enquanto deslizo até ele, pressionando meu corpo contra o seu e
colocando a mão em sua nuca.
Ele é rápido em se desvencilhar de mim, dando alguns passos para se
afastar e pigarreando.
— Não, obrigado. Vá se divertir. Quem sabe conhecer outros
membros da matilha, — ele insiste, antes de caminhar rapidamente para
longe de mim e para fora do refeitório.
Eu franzo o cenho para suas costas observando-o sair, incapaz de
afastar a frustração que estou sentindo. Isso vai ser mais difícil do que
pensei.
***

Na manhã seguinte, eu me pego subindo a enorme escadaria que é o


ponto focal da grande entrada.
Decidi usar a academia e estou voltando para o meu quarto para
tomar banho quando noto dois homens montando guarda no terceiro
andar.
Eu imediatamente percebo o porquê. Na casa da minha matilha, o
alfa e sua família têm seu próprio andar cuja privacidade também é
guardada.
Esta pode ser uma boa chance de tentar passar algum tempo a sós
com ele.
Eu sorrio maliciosamente antes de passar pelos guardas. Fico surpresa
quando eles me bloqueiam no mesmo instante.
— Não é permitido ninguém neste andar, senhorita, — diz o da
direita.
— Oh, mas eu sou a futura Luna , — eu respondo, com um sorriso.
— Sim... Não. Apenas pessoas autorizadas são permitidas no andar do
alfa, e você não é uma delas. Agora siga em frente, — responde o da
esquerda.
Estreito os olhos para ele e franzo os lábios, pronta para discutir,
quando percebo aquela maldita humana vindo do corredor e descendo as
escadas.
Minha boca se abre instantaneamente de surpresa e raiva. Por que
diabos ela vai lá em cima?! E então tudo se encaixa.
Eu me afasto para evitar ser vista por ela fechando ainda mais a cara.
Parece que ela está indo a algum lugar, totalmente vestida, com um
rabo de cavalo apertado e uma mochila pendurada no ombro.
Depois que ela passa por mim sem perceber, eu a sigo escada abaixo.
— Sabe, eu vejo isso o tempo todo, — eu começo, me colocando
diante dela, fazendo-a erguer os olhos surpresa.
Ela franze as sobrancelhas para mim.
— Do que você está falando?
— Alfas. Muitos são mulherengos. Todas as lobas os querem, e eles
adoram a atenção. Não se cansam dela, na verdade. Então, eles gostam de
namorar e ter suas pequenas aventuras. Quer dizer, até que se aquietam,
— eu prossigo, fingindo um pouco de simpatia, como se estivesse apenas
tentando avisá-la.
— E alfas, eles podem se safar porque são os alfas. Ninguém vai
pensar que estão arruinados porque estão dormindo com todas. Porra, os
homens humanos conseguem se safar o tempo todo. Não. A única pessoa
que vai acabar sofrendo é a pobre garota que se apaixonou por ele.
Aquela que se entregou a ele para ser jogada fora quando o próximo
pedaço de bunda balançar na frente dele.
— Aww! Então você está tentando me convencer a ficar longe dele?
Para meu próprio bem? Mesmo? — ela pergunta, seu tom
exageradamente amigável.
Está claro que ela não está acreditando na minha encenação de
boazinha, então decido mudar de tática, estreitando meus olhos para ela.
— Ouça aqui, garotinha. Você pode ser a piranha do alfa, mas ele não
vai te escolher. Nenhum alfa escolheria uma humana fraca. Sou eu quem
vai ser escolhida porque sou o que essa matilha precisa como Luna .
Então, por que você não volta para o lugar de onde veio e dá o fora do
meu caminho? — esclareço enquanto me aproximo, ficando bem na
frente dela de forma que ela tenha que olhar para cima para encontrar
meus olhos.
— Oh! Então, sou a piranha do alfa, não é? — ela zomba, se
aproximando ainda mais e olhando para mim. — Bem, deixe-me dizer
uma coisa, fui treinada para agradar um homem de tantas maneiras que,
uma vez que ele está comigo, nunca será capaz de voltar para uma garota
grudenta como você. E, Barbie? Ele é inteligente demais para cair em
algum dos seus joguinhos. E eu também sou.
Eu cerro meus punhos e solto um rosnado baixo quando ela gira nos
calcanhares, me acertando no rosto com seu longo e elegante rabo de
cavalo antes de passar pela porta da frente.
Bato o pé com raiva enquanto vejo um carro estacionar na frente dela
antes que ela entre com outras três pessoas. Essa vadia desgraçada!
Pelo menos parece que ela está indo para algum lugar. Agora preciso
descobrir como usar isso a meu favor.
Capítulo 26
Logan

— Oi. O que vocês estão fazendo aqui? — pergunto, abrindo a porta


do meu escritório e encontrando meus pais.
— Queríamos falar com você, — responde minha mãe, hesitante.
Eu me afasto e gesticulo para que entrem antes de fechar a porta atrás
deles.
Cada um se senta na frente da minha mesa, enquanto dou a volta e
ocupo meu lugar.
— Então, em que posso ajudá-los? — pergunto, juntando as mãos
sobre a mesa e olhando para eles com expectativa.
— Bem, queríamos falar com você sobre Everly, — minha mãe
responde.
Meu corpo inteiro fica tenso e eu endireito a espinha à menção de
minha companheira. Minhas sobrancelhas sobem até a linha do cabelo
antes que eu recupere minha expressão neutra.
— O que tem ela?
— As pessoas estão falando muito ultimamente, — meu pai começa.
— Certo...
— Só estamos preocupados com o fato de que talvez você esteja
ficando muito próximo dela, — ele continua, e não posso evitar a
carranca que aparece em meu rosto.
Minha mãe imediatamente levanta as mãos em sinal de rendição.
— Não nos leve a mal. Gostamos muito dela. Ela parece ser muito
determinada e intensa. É só...
— É que você deveria estar escolhendo uma Luna ou encontrando sua
companheira, — conclui meu pai, cortando minha mãe.
— A matilha precisa de sua Luna , e os anciãos estão ficando
impacientes. Não queremos que você se distraia por causa de uma garota
bonita pela qual você se sente responsável. É hora de parar de bancar o
cavaleiro de armadura brilhante e se concentrar em seus deveres para
com esta matilha.
— Nunca deixei de me concentrar nisso, — comento, na defensiva. —
Eu faço tudo por esta matilha, incluindo hospedar algumas filhas de alfas
nas quais eu não tenho absolutamente nenhum interesse para
simplesmente agradar os malditos anciãos! Existem coisas mais
importantes com as quais eu preciso lidar!
Estou furioso quando pego um dos livros pretos que estou
examinando e o seguro na frente deles.
— Vocês sabem quantas crianças foram sequestradas e vendidas por
aqueles vampiros ao longo dos anos?! Você sabe há quanto tempo eles
estão traficando e escravizando humanos?! E esse tempo todo, nós
ignoramos! Enterramos nossas cabeças na areia e fingimos que não
estava acontecendo!
Olhando do meu pai para minha mãe, vejo expressões idênticas:
olhos arregalados e surpresa com a minha explosão.
Não posso deixar de pensar em todas as pessoas que passaram pela
mesma coisa que Everly, todas as pessoas que deveríamos ter ajudado.
Salvamos pouco mais de setenta pessoas ontem, mas há quanto
tempo estavam naquele inferno vivendo como escravos?
E houve centenas antes deles. Sem mencionar que, se tivéssemos
tomado providências antes, eu teria encontrado minha companheira
mais cedo.
Esperei mais de uma década por ela e, durante todo esse tempo, ela
precisava que eu a salvasse.
Minha raiva borbulha e meu punho atravessa a parede. Eu fico
paralisado, chocado.
Puxo a mão de volta do gesso arrebentado, me endireito e limpo-a na
calça jeans antes de virar o rosto para meus pais.
Várias emoções parecem piscar em seus rostos, choque, confusão,
preocupação, pena.
— Querido... não está parecendo você..., — minha mãe murmura
baixinho.
— Eu nunca vi você perder o controle assim antes, filho, — acrescenta
meu pai.
Solto um suspiro, coçando a nunca e baixando a cabeça. Está
começando a ser demais para mim. Só quero ficar com minha
companheira.
E agora, parece que toda vez que me viro vejo Rebecca ou algum
ancião maldito.
Sem mencionar que a última vez que conversei com Everly, ela
parecia chateada comigo. Nós estávamos muito bem.
Estávamos nos aproximando e eu ia dizer-lhe que ela era minha
companheira.
Tudo foi para os quintos dos infernos assim que Rebecca fez aquela
pequena cena no gramado da frente.
Eu passo a mão por meu rosto, agitado, e deixo escapar uma lufada de
ar.
— Eu encontrei minha companheira, — digo a eles.
Seus olhos se arregalam mais uma vez.
— Encontrou?! Quando? — papai pergunta, enquanto minha mãe
grita de empolgação.
— Meu bebê finalmente encontrou sua companheira!! — mamãe
exclama, com um pequeno salto, batendo palmas.
— Sim... mas há um problema. — Eles recuperam a postura séria
enquanto me olham, interrogativamente.
— É Everly. E ela não tem ideia.
***

Depois de conversar um pouco mais com meus pais, peço licença para
treinar antes de ir para o meu quarto.
— Alfa, — uma voz familiar entra na minha cabeça.
— Connor, o que é?
— É Everly, senhor. Ela acabou de entrar em um veículo com Jonah, Cody
e Mia. Parece que estão deixando o território, — ele responde, e meu corpo
fica tenso instantaneamente.
— Por quê? Para onde estão indo? — eu pergunto, embora em parte
saia como um rosnado.
— Não sei, senhor. Quer que a gente pare eles?
— Não... Apenas siga-os por enquanto.
— Sim, senhor. Vou mantê-lo informado.
Eu aceno, apesar de ele não ser capaz de ver e continuo a me vestir,
me sentindo mais agitado do que antes.
Desço correndo as escadas, deixando escapar um gemido assim que
vejo Rebecca vindo em minha direção.
— Olá, Logan! Senti sua falta ontem à noite! Espero que esteja tudo
bem, — ela diz, docemente.
Ela está com um top decotado outra vez e empina o peito para fora
em uma tentativa de mostrar seu decote. Eu luto para não revirar os
olhos para ela.
Sendo alfa, eu costumava lidar com coisas assim o tempo todo. As
lobas da minha matilha logo perceberam que estavam perdendo tempo.
Eu sempre quis apenas minha companheira. Até consegui convencer
várias delas de que deveriam se comportar assim também.
Afinal, os lobisomens tendem a ser muito protetores e possessivos
com seus companheiros. Eles não gostariam de saber que suas
companheiras não estavam esperando por eles. Especialmente porque
todos os lobisomens são abençoados com companheiros.
Tentar encontrá-los é nada mais do que nosso dever.
— Sim, está tudo bem. Eu só tenho muito o que fazer agora. Na
verdade, estou indo treinar com meus guerreiros, então preciso ir, — eu
respondo, educadamente, acelerando o passo.
— Oh! Excelente! Que tal eu me juntar a você?! — ela comenta,
apressando-se para me acompanhar. Deusa... essa garota não consegue
entender.
Solto um suspiro. Não estou com vontade de discutir e já estou
atrasado.
— Sim, tudo bem. Vamos.
Saímos pela saída dos fundos e começamos a caminhar para o campo
de treinamento enquanto Rebecca tenta conversar comigo.
Continuo a dar respostas breves até que ela menciona Everly.
— Então, eu vi aquela garota com quem você estava conversando
ontem no almoço. Ela estava saindo com algumas pessoas. Parecia que
estava tendo um encontro duplo, — ela comenta, indiferente, embora
meus passos vacilem enquanto eu hesito. Como é?? Não, isso não pode
ser verdade. Pode? Certamente Connor teria dito algo se ele pensasse que
era o caso...
Embora ela seja humana e não saiba que sou seu companheiro ainda.
Ela teria concordado em ir a um encontro com um deles?...
Meu lobo rosna dentro da minha cabeça com o pensamento de sua
companheira estar em um encontro com outra pessoa. Cerro os punhos
e a mandíbula enquanto tento acalmá-lo.
— Não. São apenas amigos, — declaro, tentando me convencer
também.
— Mesmo? Porque ela parecia confortável demais com um deles, —
ela pressiona. Estou tentando muito manter meu lobo sob controle, mas
é difícil. Ele está rosnando incessantemente na minha cabeça com a
insinuação de Rebecca.
— Nós nem sabemos se é verdade, — digo a ele, em uma tentativa de
acalmá-lo.
— É melhor não ser. Everly é nossa. Ninguém mais pode tê-la, — ele
rosna.
— Ah! Veja! Aqui estamos. Por que você não vai lá e malha com Leslie
e as outras lobas, — eu sugiro a ela rapidamente, antes de correr na
direção oposta, onde está Cole.
Ele levanta as sobrancelhas para mim com um sorriso malicioso.
— Vejo que você está aproveitando o tempo que passa com Rebecca,
— ele comenta brincando, e eu rosno para ele.
Ele ri e levanta as mãos em uma rendição simulada.
— Por que eu concordei com essa merda?
— Não sei. Porque você não queria continuar lidando com os anciãos
que ficaram no seu pé nos últimos dois anos para encontrar uma Luna.
— Eu resmungo. Ele tem razão. No entanto, se eu soubesse que
encontraria minha companheira logo depois, definitivamente não teria
concordado com isso.
Faz apenas vinte e quatro horas e Rebecca já está me deixando louco.
Depois de passar várias horas treinando, vou tomar um banho antes
de voltar para o meu escritório.
Faz um tempo que não tenho notícias de Connor, e isso está me
deixando ansioso.
De repente, sua voz vem através da conexão mental, e sei no mesmo
instante que há algo errado.
Posso sentir sua ansiedade através do link, e todo o meu corpo entra
em estado de alerta.
— Alfa, temos um problema.
— O que é?
— Everly desapareceu.
Capítulo 27
Everly

Muitas horas Antes


Sentada no banco de trás do SUV, olho em silêncio pela janela.
Minha mente está uma bagunça e minha ansiedade faz parecer que
meu corpo inteiro está zumbindo. Para começar, tive uma noite de sono
horrível.
Primeiro, demorei uma eternidade para adormecer. Meus
pensamentos estavam muito preocupados com Logan e a loira que
alegou ser sua companheira.
A adrenalina também corria por mim com a ideia de ir à nova casa da
minha tia.
Pelo que Jonah e Cody descobriram, ela deveria sair hoje, então
organizamos rapidamente nossos planos ontem à noite, e agora estamos
fazendo a viagem de três horas até a casa dela, ou mansão, devo dizer.
Ela comprou uma boa casa nova com parte do dinheiro que ganhou
me vendendo.
Quando finalmente consegui dormir, fui assombrada por pesadelos
do tempo que passei no Banco de Sangue. Na verdade, eram mais
memórias do que pesadelos.
— Quero que você participe de uma das cenas hoje à noite no Fetish
Lounge, — Mestre Lacroix me informa, falando sobre o clube de BDSM que
faz parte do Banco de Sangue.
Eu nunca havia tido que trabalhar nessa parte do negócio antes.
Após concluir o treinamento de iniciante, fazem com que você comece
com danças no clube de strip ou danças de colo privadas.
Eles gostam de começar devagar para ter certeza de que você não precisa
de mais treinamento antes de ir para as opções mais caras.
Eles se orgulham de entregar os melhores escravos aos seus clientes.
Só de pensar em trabalhar no Fetish Lounge, minha boca fica seca
instantaneamente. Eu testemunhei algumas das coisas que acontecem lá.
Este lugar não tem regras. Não é como um clube de BDSM real, onde as
coisas devem ser consensuais e palavras de segurança são usadas quando
necessário.
Aqui, somos escravos. Não temos nenhum poder de decisão. Não
recebemos palavras de segurança.
Eles podem fazer o que quiserem conosco e devemos suportar sem
reclamar
Na verdade, não passa de um clube para o sobrenatural mostrar seu lado
sádico e desfrutar de quaisquer fetiches que tenham.
Minha pele se arrepia e meus olhos ardem de lágrimas.
Engulo o ar antes de encontrar minha decisão e olho para o Mestre com a
mandíbula cerrada e os olhos estreitos.
— Não.
— Como é que é?! Não?! — Mestre Lacroix questiona com as sobrancelhas
erguidas, surpreso com minha recusa.
Eu aceno com a cabeça, sem mexer a boca, não quero tentar repetir o que
disse e descobrir que minha voz agora está tremendo.
— Você se esqueceu de quem eu sou, escrava?! — ele rosna para mim. —
Tire a roupa.
— Não.
— Agora.
— Não.
Seus lábios se torcem em uma careta antes que ele levante a mão, e com
um rápido movimento de seus dedos, os outros vampiros funcionários caem
sobre mim.
Eles rapidamente arrancam meu peignoir fino e o rasgam em pedaços
antes de fazerem o mesmo com minha calcinha.
Eu movo os braços para me cobrir, mas meus pulsos são rapidamente
agarrados e puxados, me expondo completamente na frente de toda a sala de
escravos e funcionários.
O Mestre me olha, seu olhar avaliando meu corpo nu, fazendo meu
estômago revirar e meus cabelos ficarem em pé.
— Dez açoites por sua desobediência. Ajoelhe-se, — ele ordena.
Eu exalo bruscamente pelo nariz, todo o meu corpo vibrando com
determinação.
— Não.
Mestre Lacroix rosna ferozmente antes de responder:
— Tudo bem. Faremos vinte. — Ele gesticula para os funcionários, que
me cercam mais uma vez.
Eu sou chutada na parte de trás dos joelhos, me fazendo desabar no chão
duro com um grito de dor.
Meus braços são puxados para a minha frente de modo que minhas
palmas fiquem apoiadas no chão de concreto.
Eu sou mantida na posição enquanto luto para fugir, mas sem sucesso.
Ouço um estalo alto antes de a sensação de ardor se espalhar pelas minhas
costas.
E depois outro. E outro. O Mestre me faz contar em voz alta a cada golpe
do chicote, e desta vez eu obedeço.
Não preciso adicionar mais chicotadas à minha punição. Lágrimas
escorrem pelas minhas bochechas e um soluço escapa dos meus lábios quando
sou atingida novamente.
Eu quase desmaio de dor em um ponto, mas eles fazem uma pausa para
jogar um balde de água gelada em mim, me acordando rapidamente
enquanto eu tropeço de volta à vida.
Quando minha punição acaba, eles me forçam a ficar de pé antes de se
afastarem de mim.
Eu luto para permanecer em pé, sabendo que só vou apanhar mais se me
permitir cair.
O Mestre vem até mim com um sorriso malicioso no rosto. Ele gosta de
assistir.
Percebi como ele gosta de entrar nas salas de treinamento apenas para
observar É óbvio que um de seus fetiches é o voyeurismo.
Ele caminha até mim, beliscando um dos meus mamilos com força
suficiente para me fazer estremecer e então circula ao meu redor Ele para
atrás de mim e eu instantaneamente fico tensa, não gostando de não poder
ver onde ele está ou o que ele está fazendo.
Algumas mechas soltas de cabelo são levemente afastadas sobre meu
ombro, e um calafrio sobe pela minha espinha.
De repente, sinto sua língua correndo ao longo das minhas costas
enquanto ele lambe meu sangue. Eu me encolho quando mais lágrimas caem
dos meus olhos.
O ato por si só me faz sentir tão humilhada, tão barata, tão nojenta. Eu
odeio o que minha vida se tornou.
***

Eu rapidamente limpo uma lágrima, não querendo que ninguém veja.


Tento tanto não pensar no meu tempo no Banco de Sangue.
Minha capacidade de desassociar me ajudou a fingir que essa parte da
minha vida não aconteceu.
Infelizmente, nossa viagem até lá e meu encontro com o Mestre
parecem estar fazendo com que essas memórias se libertem.
Posso sentir minhas ansiedades e inseguranças vindo à tona e odeio
isso.
Eu não posso acreditar em como enfrentei aquela vadia loira quando
ela tentou se meter comigo com sua falsa empatia.
Até mesmo usei meu tempo como escrava para vencer a discussão.
Por que diabos fiz isso??? Não me orgulho dessa época da minha vida.
Prefiro esquecer. Na verdade, me sinto totalmente envergonhada. E,
no entanto, lá estava eu, praticamente me gabando. O que há de errado
comigo?
O que deu em mim?
— Ev? Você está bem? — a voz suave de Mia pergunta e ela estende a
mão para tocar levemente a minha, atraindo minha atenção.
Consigo dar um sorriso fraco que espero ser verossímil e aceno com a
cabeça.
— Sim, só estou com a cabeça cheia, — respondo.
Uma ruga se forma entre suas sobrancelhas e seus lábios se apertam.
Aparentemente, não estou sendo convincente o suficiente. Felizmente,
ela não me pressiona.
Apenas dá um tapinha em minha mão com um suspiro, antes de se
recostar em seu assento mais uma vez. Volto a olhar pela janela, minha
mente continuando a divagar.
Há uma vozinha dentro de mim que me diz que devo lutar por Logan.
Que ele devia ser meu. Que ele É meu. No entanto, ele não é.
Ele tem uma companheira em algum lugar lá fora. E não sei o que
faria se cedesse aos meus sentimentos por ele e ele a encontrasse.
Isso me destruiria completamente. Além disso, ele não iria me querer
de jeito nenhum.
Especialmente porque ele é a única pessoa que pelo menos tem uma
ideia de como sou perturbada.
É a única pessoa a quem confiei a história sobre o tempo que passei
Banco de Sangue, e, ainda assim, da forma mais vaga possível.
Na verdade, ele não sabe nem a metade dela. Se soubesse de tudo,
com certeza ficaria com nojo de mim.
Finalmente, paramos em frente a uma grande casa em um bairro
chique.
Todas as casas ao redor são grandes, com gramados perfeitamente
cuidados que ostentam a riqueza do proprietário.
Eu rapidamente limpo meu rosto, percebendo que mais lágrimas
caíram.
Saindo do carro, olho para o chão, respirando fundo, me acalmando
me recompondo. Eu gostaria de ainda ter meu espelho.
Ele me ajudava a entrar no personagem.
Eu usaria para praticar meus sorrisos falsos enquanto dizia a mim
mesma:
— Eu posso fazer isso. Eu tenho que fazer isso. Esta é a única maneira
de proteger minha virgindade e me dar a chance de escolher minha
primeira vez.
Eu me olharia naquele espelho até que Ruby Red mostrasse seu rosto
para mim. Ela era confiante e sedutora, tudo o que eu não era.
Eu percebo um movimento na minha visão periférica e coloco um
sorriso no rosto antes de encarar meus amigos.
Jonah e Cody farejam ao redor, seus narizes e sobrancelhas franzidas,
enquanto Mia fica ao meu lado e pega minha mão para me dar apoio
moral, apertando-a suavemente.
— Parece que não tem ninguém no momento, — afirma Jonah.
— Então, onde você quer procurar? — Cody pergunta, referindo-se à
conversa que tivemos na noite passada.
Eu disse a eles que só queria encontrar algo para lembrar de meus
pais. Tecnicamente, é verdade, mas não a verdade completa.
Já nem consigo me lembrar de seus rostos, já que faz muito tempo
desde que os vi pela última vez. Todas as fotos ou lembranças que eu
tinha deles foram deixadas para trás quando minha tia me vendeu.
Minhas memórias se tomaram um borrão.
Suspirando, eu respondo:
— Não sei bem... há um sótão ou porão?
— Sim, de acordo com as plantas que pude encontrar, ambos.
Também há muitos cômodos, portanto, se você encontrar um escritório
ou biblioteca, pode procurar lá também, — responde Jonah.
Eu aceno e caminho até a porta da frente.
Todos vêm comigo e Jonah e Cody ficam olhando ao nosso redor,
procurando por algum perigo ou qualquer um que possa nos flagrar.
Assim que alcançamos a entrada, Cody vai até o painel de alarme e
conecta o que parece ser algum tipo de tablet.
Ele mexe em algumas coisas e digita alguns comandos, então a luz no
painel fica verde e apita.
— Ok, estamos dentro. Jonah e eu ficaremos vigiando. Faremos um
link mental para Mia se tivermos companhia.
— Parece bom, — eu respondo, antes de Mia e eu entrarmos na casa.
Entramos em um grande saguão coberto com ladrilhos de mármore
branco.
Uma escada sobe de um lado e um lustre enorme está pendurado
acima de uma mesa redonda que fica no centro da sala.
Lentamente, começamos a andar pela casa, com os olhos arregalados.
Minha tia deve ter ganho um bom dinheiro comigo.
A casa é ricamente decorada com branco, ouro e cores em tons de
pedras preciosas.
Dois sofás de veludo azul royal estão na sala de estar, um de frente
para o outro, com uma enorme lareira ao longo da parede.
Peônias rosa estão em vasos de tamanhos diferentes espalhados pela
sala.
Depois de explorar um pouco, finalmente encontramos o sótão.
Não parece haver muito lá em cima, além de uns móveis antigos que
reconheço do apartamento que dividimos uma vez, um sofá, uma mesa
de canto e um espelho de corpo inteiro.
No entanto, encontro algumas caixas empilhadas na lateral do
cômodo.
Andando até elas, abro a de cima e começo a vasculhar enquanto
ouço a voz de Mia.
— Vou verificar os outros quartos. Você vai ficar bem aqui?
Eu olho para ela e aceno com a cabeça antes que ela silenciosamente
saia e eu ouça seus passos recuando. Eu volto a vasculhar as caixas.
Encontro vários álbuns de fotos e molduras antigas na primeira.
Depois de examinar algumas das fotos, percebo que são de minha
mãe, tia e avós, da época em que minha mãe era mais jovem.
Mesmo criança, ela parece elegante e graciosa. Seus olhos brilham
com bondade e seu corpo é pequeno, mas apropriadamente curvilíneo.
Seu cabelo castanho chocolate é liso e brilhante com ondas suaves.
Seus olhos castanhos refletem sua atitude feliz e despreocupada.
Eu passo levemente o dedo sobre seu rosto enquanto um sorriso
triste aparece no meu.
Assim que termino de vasculhar a primeira caixa, eu a preencho com
seu conteúdo de novo e a movo para o lado antes de passar para a
próxima.
Algumas caixas depois, encontro mais fotos, mas, desta vez, me
deparo com as que estou procurando.
Encontro fotos de quando meus pais começaram a namorar, seu
casamento, sua lua de mel... toda a sua vida juntos parece estar
documentada.
Eu sorrio com saudade ao encontrar fotos de nós três em um parque,
de férias, na praia, jantando fora. Costumávamos nos divertir muito
juntos.
Eu gostaria de poder me lembrar melhor deles.
Eu vasculho mais fundo, encontrando mais fotos de antes de eles se
conhecerem. Minha mãe na escola, com seus amigos em eventos
esportivos e bailes.
Então encontro meu pai. Minhas sobrancelhas franzem quando pego
uma foto em particular. Tem um fundo que eu nunca vi antes.
A primeira pessoa que procuro nela é papai, que parece muito, muito
mais jovem do que me lembro. Parece ter cerca de doze ou treze anos.
Seus traços são bastante semelhantes aos que estão em minha
memória. Ele tem cabelos de ébano escuro e olhos verdes como os meus.
Eu me pareço muito com minha mãe, mas herdei a cor dos olhos e
dos cabelos do meu pai. Um grande sorriso se espalha por seu rosto
vendo-o posando para a foto.
Ao lado dele está outro menino que parece alguns anos mais velho.
Os dois se parecem muito, exceto pelo fato de que o cabelo do
menino mais velho é mais longo e tem ondas suaves, além de ser um tom
mais claro do que a coloração de meu pai.
Atrás dos meninos estão pessoas que parecem ser seus pais.
O menino mais velho parece ter o mesmo queixo forte e quadrado e a
estrutura larga do pai.
Meu pai parece ter feições um pouco mais suaves, parecendo-se mais
com a mãe, exceto pelos olhos.
Os olhos são os do homem que acredito ser meu avô.
Eu continuo analisando a foto, observando tudo.
Eles estão todos com roupas combinando.
O homem e os dois meninos estão usando calças brancas brilhantes
com uma faixa dourada nas laterais externas das pernas.
As jaquetas que vestem são de um roxo rico, com detalhes em
dourado e uma faixa branca e dourada cruzando seus corpos.
O homem também usa uma capa branca com detalhes em pele e
broches dourados presos aos ombros da jaqueta.
A mulher está com um vestido branco e dourado com uma capa roxa
semelhante à do marido.
Em seu pescoço, há um lindo colar com uma grande esmeralda oval
pendendo de uma corrente de ouro.
No entanto, suas roupas não são o que mais me confunde.
Eles parecem estar em um grande e elaborado jardim com lindas
flores que eu nunca tinha visto antes.
Um magnífico castelo com altas torres brancas pode ser visto atrás
deles, com bandeiras roxas e douradas.
Há um muro alto de pedra que os rodeia com espigões dourados
decorativos no topo.
Várias cachoeiras podem ser vistas à distância; duas parecem vir do
próprio palácio.
Toda a cena parece quase... mágica. Nunca vi nada assim em toda a
minha vida.
Pego a foto do meu pai com a família, junto com um punhado de
fotos do meu pai e da minha mãe e de nós três.
Cuidadosamente, coloco-as no bolso da frente da mochila que trouxe.
Procurando mais fundo na caixa, encontro um estojo quadrado de
veludo.
Abro-o e ali, na minha frente, está o mesmo colar de esmeraldas que
estava no pescoço da minha avó.
Meus dedos tocam a delicada corrente, movendo-se ao longo dela até
que a esmeralda esteja em meus dedos.
Eu gentilmente o retiro do lugar e coloco-o em volta do meu pescoço.
Me levantando, vou até o espelho para admirar o colar e a imagem à
minha frente começa a se mover.
É quase como se ondulações passassem por ela, como se, em vez de
vidro refletor, o espelho fosse feito de água.
A próxima coisa que eu sei é que não estou mais olhando para mim
mesma, mas para o mesmo belo castelo branco da foto, embora muito
mais distante.
Espalhados diante de mim estão campos e vales, flores de cores vivas e
árvores com orbes brilhantes penduradas nelas.
Luzes cintilantes giram e se movem como um enxame de vaga-lumes
espiralando no ar.
Meus pés lentamente me trazem para mais perto da imagem diante
de mim.
A respiração que estou prendendo sai em um sopro quando chego a
poucos centímetros do espelho.
Olho maravilhada e estendo a mão, querendo tocar a cena como uma
pintura magnífica da qual desejo fazer parte.
Meus olhos se arregalam quando minha mão continua a se estender,
além de onde o espelho deveria estar.
Chegando mais perto, vejo, com espanto, todo o meu braço
desaparecer no espelho.
De repente, eu salto para frente e me encontro caindo no espelho, o
sótão desaparecendo de minha vista.
Capítulo 28
Mia

Depois de procurar em alguns outros cômodos, me encontro no que


parece ser o quarto principal.
É luxuoso como o resto da casa, com uma grande cama de dossel no
centro.
Uma enorme janela está deixando entrar a luz do sol com grossas
cortinas creme puxadas para o lado.
Sento-me na cama, afundando instantaneamente no colchão
excessivamente macio, então me abaixo e abro a gaveta da mesinha de
cabeceira.
Eu remexo alguns objetos até encontrar um pequeno maço de papéis.
Eu os puxo e começo a olhá-los.
Logo, encontro algumas fotos. A primeira parece ser de duas garotas,
mas é difícil dizer.
A da esquerda parece estar no final da adolescência ou no início dos
vinte anos.
Cobrindo o rosto da segunda há um grande ponto queimado, como se
alguém tivesse segurado um isqueiro embaixo da foto, carbonizando um
pequeno círculo.
Franzo a testa e olho o verso da foto. Um ano está listado com dois
nomes e o que presumo serem as idades, Lutessa 21, Angélica 19.
Então... uma delas é a tia de Everly. Meu melhor palpite seria que é a
garota cujo rosto não está queimado...
Coloco a foto de lado, enquanto olho para a próxima. Novamente, há
uma mulher cujo rosto está enegrecido e irreconhecível.
Desta vez, ela está com um homem bonito. Ele é vários centímetros
mais alto do que ela e tem o braço em volta da cintura dela.
Seu cabelo preto e olhos verdes brilhantes instantaneamente me
lembram Everly.
Os olhos dele brilham de felicidade, que está refletida em seu largo
sorriso que se espalha por seu rosto.
Virando a foto, vejo que há dois nomes e um ano escritos, na mesma
bela letra cursiva: Alric e Angélica.
Hmm... Eu me pergunto se estes são os pais de Everly. Acho que
Lutessa era irmã de sua mãe... Não parece que Lutessa se importava
muito com sua irmã...
Pego as duas fotos antes de colocar todo o resto de volta na gaveta. Eu
me viro para sair do quarto e volto para o sótão para encontrar Everly.
— Ei! Ev! — grito, quando viro no corredor e passo pela porta.
Congelo quando percebo que ela não está lá.
— Everly! — grito de novo, dessa vez descendo as escadas. Espero que
ela responda, mas quando não ouço nada, grito por ela de novo, desta vez
mais alto.
Talvez ela não tenha me escutado. Começo a andar pela casa, abrindo
todas as portas e espiando enquanto continuo a chamar seu nome.
Quanto mais eu me afasto do sótão, mais fraco o cheiro dela se torna,
então dou meia volta retorno para lá. No entanto, ela continua não
estando lá.
— Umm... meninos? — eu faço um link mental com Jonah e Cody.
— Sim? Você está bem? Encontrou algo? — Jonah pergunta.
— Bom... eu acho que sim..., — começo. — Mas Everly está com vocês?
— Uh... não. Não a vi voltar. Ela não está com você? — Cody responde.
Eu mordo o lábio, nervosa. Onde diabos ela poderia estar? Eles a
teriam visto sair de casa, certo? E o cheiro dela é mais forte aqui.
— Então... é o seguinte... Não consigo encontrá-la, — respondo, com
hesitação, continuando a mordiscar ansiosamente meu lábio,
aguardando as reações deles.
— O que você quer dizer com não consegue encontrá-la?
— Quero dizer que não consigo encontrá-la! grito de volta pelo link,
começando a surtar.
— Saí para olhar os outros quartos enquanto ela vasculhava o sótão.
Agora não consigo encontrá-la!
— Espere... Acalme-se. Ela tem que estar aí em algum lugar. Não é como
se ela pudesse ter simplesmente desaparecido no ar, — Jonah comenta.
Respiro fundo e aceno com a cabeça, embora saiba que ele não pode
me ver. Ele tem razão. Não há razão para se preocupar. Talvez ela esteja
apenas se escondendo ou algo assim.
Mas, se estiver, vou dar uma surra nela...
— Everly! Isso não é engraçado! — grito, começando a vasculhar mais
minuciosamente o sótão. Olho embaixo do sofá e atrás do espelho.
Começo a procurar passagens escondidas e tábuas soltas quando
Jonah e Cody entram.
— Que diabos você está fazendo? — Cody pergunta enquanto ao me
encontrar de joelhos, mexendo nas bordas de um dos painéis de madeira.
Eu olho para ele com olhos arregalados.
— Eu disse que não conseguia encontrá-la!
Ele levanta uma sobrancelha e me olha incrédulo.
— Então você acha que ela está no chão? Sério, Mia?
Faço uma cara feia para ele e solto um rosnado frustrado.
— Bem, então, me ajude a procurá-la, droga!
Ele suspira, claramente pensando que não a procurei direito, mas
neste momento estou desesperada.
Não ouvi ou cheirei mais ninguém na casa. Ela deveria estar aqui.
Eles começam a olhar em volta e a chamá-la assim como eu. Jonah
estica o nariz como se farejasse o ar.
Ele se move pela sala, cheirando as caixas e a mochila dela que ainda
está no chão onde ela a largou.
Ele caminha lentamente pelo cômodo antes de chegar ao espelho.
Fareja ao longo de sua superfície enquanto suas sobrancelhas se franzem
em confusão.
Eu inclino a cabeça e o observo com curiosidade. Ele se move ao redor
do espelho, vai até a parte de trás e bate, como se estivesse verificando se
está oco.
— Umm... o que você está fazendo? — pergunto, com uma
sobrancelha levantada.
É
— É aqui que o cheiro dela parece terminar, — ele responde, embora
a incerteza em sua voz seja evidente.
— Ei, — Cody exclama de repente, em um grito-sussurro. — Vocês
ouviram isso? Acho que tem alguém em casa.
— Merda, — Jonah comenta enquanto eu olho freneticamente ao
redor. Infelizmente, a única saída daqui é a porta pela qual entramos.
Nos esgueiramos até a porta e espiamos o corredor, avistando
sombras se movendo pela parede branca enquanto quem quer que seja
sobe as escadas para o próximo andar.
Rapidamente voltamos para o sótão.
— O que fazemos? — sussurro para os dois.
Cody encolhe os ombros enquanto o olhar de Jonah se move ao redor
da sala com as sobrancelhas franzidas em concentração.
— É.... não há o que fazer. Teremos que ser cautelosos e tentar descer
e sair antes que eles nos notem, — ele comenta em voz baixa depois de
um momento.
Colocamos as cabeças para fora da porta mais uma vez, olhando as
escadas. As sombras sumiram, então começamos a nos esgueirar
silenciosamente em direção à escada.
Apertando-nos contra a parede, começamos a descer, mantendo os
olhos atentos a qualquer movimento.
De repente, vejo algo e não há para onde ir, então começamos a
descer correndo.
— PARE!!! — uma voz masculina grita asperamente.
Continuamos a correr escada abaixo quando uma figura pula o
corrimão.
Ele cai em pé na nossa frente no andar de baixo e se levanta, olhando
para nós três.
— Axel? — Eu pergunto, com choque óbvio em meu tom. Então olho
para trás. — Connor? O que vocês estão fazendo aqui?
— A melhor pergunta é o que diabos vocês estão fazendo aqui? —
Axel responde, se aproximando de nós.
— Sim e onde está Everly? — Connor acrescenta, cruzando os braços
na frente do peito.
— Umm... Sim... Sobre isso..., — eu começo nervosamente antes de
lamber os lábios.
— Nós a perdemos, — afirma Cody, fazendo com que Axel e Connor
estreitem os olhos para nós com raiva.
— O que diabos você quer dizer com perderam?! — Axel pergunta.
Logo nos vemos levando os dois até o sótão e contando-lhes tudo o
que descobrimos até agora.
É claro que eles também querem saber por que estamos invadindo e
de quem é aquela casa.
Nós rapidamente informamos e Connor comenta:
— Merda. Isso é muito ruim.
— É, sim, — Axel comenta, gravemente.
— Você acha que pode ser aquele vampiro? Aquele de quando fomos
salvar os reféns do Banco de Sangue? — Connor questiona Axel e minhas
sobrancelhas se juntam.
— Que vampiro? O que aconteceu? — pergunto, preocupada.
— Algum vampiro atacou Alfa e Everly antes de eles saírem do prédio.
De acordo com Alfa, ele conseguia se teletransportar ou algo assim.
Ficava desaparecendo e reaparecendo em outro lugar como uma nuvem
de fumaça ou algo do tipo, — Connor responde, encolhendo os ombros.
Jonah balança a cabeça.
— Acho que não. Eu não cheirei nenhum vampiro aqui.
— Sim, mas ele poderia ter encoberto seu cheiro como nós fizemos,
— rebate Axel.
— Caramba. Precisamos avisar Alfa. Ele vai ficar puto, — Connor
geme enquanto passa as mãos pelo cabelo.
Axel acena para ele e Connor suspira enquanto abre o link mental
para todos nós para que possamos ouvir a resposta do alfa.
— Alfa, temos um problema.
— O que foi? — a voz de Alfa Logan questiona quase imediatamente.
— Everly sumiu.
Ê Ê
— ELA O QUÊ?! QUE DIABOS VOCÊ QUER DIZER COM SUMIU?!!!
Capítulo 29
Everly

O vento sopra ao meu redor e parece que estou caindo em um céu


sem fim.
Meu cabelo está dançando em torno de mim enquanto giro de ponta
cabeça, tentando me aprumar. Em seguida, estou cercada por água
turbulenta.
Eu procuro freneticamente por uma indicação para saber para que
lado está a superfície, prendendo a respiração.
Assim que vejo uma luz dourada que presumo ser o sol, nado
rapidamente em sua direção.
A água parece estar tentando me empurrar para o fundo, e eu luto
para subir, meus pulmões implorando por ar.
Finalmente atingindo a superfície, eu arfo por oxigênio antes de
nadar até a costa.
Eu tusso e cuspo enquanto tento encher meus pulmões antes de me
erguer e rolar de costas. Respiro fundo algumas vezes, me acalmando.
O que foi que acabou de acontecer?
Depois de me recuperar, me sento e começo a olhar ao redor. A água
onde eu estava é uma pequena piscina natural aos pés de uma cachoeira.
Alguns riachos correm dela, levando o líquido frio para outras partes de
uma vasta floresta que fica diante de mim.
Percebo que a luz através das folhas tem cores estranhas e procuro ver
melhor.
Movendo-me em direção à floresta, vejo que há orbes brilhantes de
várias cores pendurados em muitas das árvores.
Uma árvore tem orbes amarelos, outra, roxos; outra, azuis e assim por
diante. Aproximando-me de uma árvore, percebo que as esferas parecem
flores ou frutas diferentes.
— Toto, não estamos mais no Kansas..., — murmuro para mim
mesma enquanto começo a me afastar lentamente.
Andar por uma floresta que provavelmente tem predadores que
desconheço definitivamente não parece a coisa mais inteligente a se fazer
agora.
Dou meia volta e começo a caminhar por um caminho estreito de
terra que leva a uma pequena colina. Quando chego ao topo, meus olhos
se arregalam de admiração.
À distância, entre campos de flores coloridas, está o alto castelo
branco e dourado da foto de meu pai.
Minha boca fica aberta por um momento, então levo a mão ao meu
outro braço e me belisco com a maior força que consigo.
— Ai! — eu grito.
— Ok... então eu não estou sonhando... — eu decido, em voz alta, me
perguntando se eu finalmente enlouqueci.
Decidindo que o castelo é minha melhor opção, deixo escapar um
suspiro e começo a caminhar em direção a ele.
Não tenho certeza de quanto tempo vai demorar, mas espero
conseguir chegar lá antes do anoitecer.
Eu realmente não quero dormir ao ar livre em um lugar desconhecido
como este.
De repente, sinto um movimento atrás de mim, e me abaixo no
momento em que grandes criaturas voam sobre minha cabeça. Olho para
cima e então olho de novo, em choque.
São cavalos alados. Depois de um momento, a palavra vem à minha
boca.
— Pégasos.
Vejo como eles voam em direção ao reino diante de mim, quando
repentinamente mudam de curso. Meus olhos se arregalam quando vejo
que eles estão vindo em minha direção outra vez.
É então que percebo que alguém está montando o cavalo que lidera a
manada.
Rapidamente, eles pousam bem na minha frente, bloqueando meu
caminho.
O homem me encara com os olhos semicerrados e eu engulo em seco.
Ele é bastante intimidante.
Seu cabelo preto desce até os ombros, e uma parte está presa para
manter os longos cachos longe do rosto.
Seus olhos são de um azul gelo e parecem estar me penetrando, me
deixando paralisada. Sua pele é bronzeada e seus músculos, aparentes.
Ele é bastante alto, mais ou menos da altura de Logan, que
provavelmente tem cerca de um metro e oitenta e cinco.
Sem uma palavra, ele salta de seu Pégaso, e eu instintivamente dou
um passo para trás. Ele diz algo em um tom áspero, mas eu não entendo.
Parece que deve ser outro idioma, mas soa como um jargão para mim.
Minhas sobrancelhas franzem e inclino a cabeça em confusão.
Mais palavras saem de sua boca enquanto dou um passo para longe
mais uma vez.
Ele aperta os punhos enquanto parece estar ficando com raiva, e eu
sinto meu batimento cardíaco começando a acelerar enquanto minha
ansiedade aumenta.
O medo começa a me envolver quando percebo a posição horrível em
que me encontro. Este homem poderia facilmente me dominar.
Estou em um lugar estranho e claramente não entendo o idioma.
Meus olhos começam a lacrimejar, mas faço o possível para
permanecer forte. É sempre melhor não mostrar a ninguém suas
fraquezas.
Muitas pessoas as usariam a seu favor ou teriam prazer com o seu
medo.
Meu estômago se revira quando o estranho marcha em minha direção
e, sem nem mesmo pensar, me viro e corro pelo caminho de onde vim.
Eu só dou alguns passos antes de um braço grosso e musculoso envolver
minha cintura e me levantar do chão.
Começo a chutar e me debater, entrando em pânico.
— Solte! Me solte! Socorro! — eu grito e luto sendo carregada por ele,
que marcha de volta para os Pégasos.
— Acalme-se, — ele exige, me fazendo congelar. Na verdade, eu o
compreendi dessa vez.
Ele rapidamente me iça ao lombo do Pegasus que estava montando,
então sobe também.
Sentado atrás de mim, coloca os braços ao meu redor, me prendendo
enquanto segura as rédeas.
Ele dá um cutucão, e o Pégaso decola para o céu mais uma vez
enquanto os outros o seguem.
— Para onde está me levando? — questiono, incapaz de esconder o
pânico em minha voz.
Lágrimas silenciosas descem pelo meu rosto enquanto luto contra o
nervosismo que está me dominando.
— Para o palácio. Agora, pequenina, diga-me, o que você está fazendo
vagando por aí sozinha? Para onde estava indo?
Minha boca se abre um pouco, surpresa com seu tom gentil.
Uma de suas mãos se estende e gentilmente limpa as lágrimas do meu
rosto enquanto ele olha para mim com uma expressão preocupada.
— Eu, umm... eu estava indo para o palácio, na verdade...
— Mesmo? E por quê?
— Bom, parecia ser minha melhor opção para conseguir algumas
respostas, — eu respondo honestamente, incapaz de decidir como agir
com este estranho.
Parte de mim está apavorada, incapaz de confiar tão facilmente
depois de minhas experiências anteriores.
Outra parte está estranhamente confortável com este homem, como
se eu o tivesse conhecido por toda a minha vida.
Por mais nervosa que esteja com a ideia de estar com um homem
desconhecido em uma terra estranha, não posso deixar de me sentir
estranhamente acalmada pela presença dele.
— E quais respostas você está procurando?
— Umm... Onde estou? Como cheguei aqui? Como faço para voltar
para casa? — começo a falar, lentamente.
Ele ri um pouco antes de responder,
— Eu posso responder a uma delas. Você está em Volaria Fatamir, a
capital do Reino Fae.
— Reino Fae?
Ele concorda.
— E qual é o seu nome, pequenina?
— Everly, — eu digo.
— Ah, como a flor.
Meu nariz torce.
— Oi?
Ele sorri gentilmente outra vez.
— Nesta terra, existe uma flor chamada Everly. É uma flor verde
luminescente que floresce o ano todo como a sempre-viva, razão pela
qual recebeu este nome. Existem em todos os jardins do palácio. São as
flores favoritas da rainha, além de terem poderes curativos.
Eu aceno, achando esta informação interessante, então pergunto:
— Então, qual é o seu nome?
— Eu sou o Príncipe Herdeiro Jedrek, da Casa Valdus.
— Umm... P-príncipe H-herdeiro? — eu gaguejo, ainda tentando
assimilar todas essas novas informações. Ainda me sinto como se
estivesse sonhando...
— Sim, mas você pode me chamar de Jed.
Depois de conversar um pouco, pousamos em um grande pátio que
tem uma cachoeira de um lado e uma magnífica fonte centralizada em
frente ao portão.
Flores desconhecidas, mas incrivelmente belas, preenchem as árvores
e arbustos que margeiam a área, exalando um cheiro doce.
Jed salta do Pégasos primeiro, então me ajuda a descer. Eu olho
lentamente ao redor tentando assimilar tudo.
Se isto é um sonho, eu realmente espero poder me lembrar de tudo
quando acordar.
— Venha, pequenina, — convida Jed, me dando o braço.
Eu rapidamente aceito, ansiosa para ver o resto do castelo, e ele me
leva para dentro.
Há guardas em todas as entradas, mas nós passamos sem nenhum
problema graças a Jed. Claramente, todos o conhecem.
— Antes de eu mostrar o palácio a você, você deve se encontrar com o
rei e a rainha. Eles estão esperando por nós na sala do trono.
Só a ideia de conhecê-los me deixa nervosa.
Posso sentir minhas palmas suarem e rapidamente tento enxugá-las,
então me lembro de que minhas roupas ainda estão molhadas após ter
caído na água.
Logo ele me leva a uma grande sala cavernosa com tetos altos, belos
mosaicos nas paredes e um palco elevado na extremidade oposta.
Cortinas roxas grossas com bordados dourados se espalham ao redor
do aposento. Há quatro tronos sobre o palco.
Os dois do meio são maiores do que os das extremidades e estão
ocupados no momento.
Tanto o homem quanto a mulher sentados à minha frente nos tronos
de ouro são majestosos e usam tecidos ricos e coroas brilhantes.
Eles parecem a síntese da realeza. Percebo imediatamente que o
homem me parece vagamente familiar, como se já o tivesse visto antes.
— Vossas Majestades, quero que conheçam Everly. Everly, gostaria de
lhe apresentar o rei Alistair e a rainha Isadora, meus pais, — Jed comenta,
gesticulando.
Cara, eu gostaria que ele tivesse me dado um curso intensivo sobre a
etiqueta adequada. Faço minha melhor reverência ao cumprimentá-los
educadamente.
— De onde você é, meu bem? — o rei Alistair pergunta, gentilmente.
— Não acredito que vocês conheçam o lugar, Suas Majestades. Se não
me engano, acredito que sou de um reino diferente..., — começo, e, de
repente, as palavras daquela mulher estranha surgem na minha cabeça.
Qual era o nome dela? Penny? Não... Poppy. Sim, era Poppy. E o
homem... Ash.
— Umm, na verdade, por acaso vocês conhecem alguém chamado
Ash ou Poppy? — eu pergunto, imaginando quais são as chances e
esperando que sejam boas.
— Bem, na verdade, sim, conhecemos. Como você os conhece?
— Eles... bem, me visitaram há pouco tempo. Para ser sincera, achei
que tinha sonhado com eles, mas agora não tenho tanta certeza...
Todos riem de mim e não posso deixar de sorrir. Embora sejam
intimidantes, eles também têm uma aura agradável, como o filho.
Eu noto um pássaro azul sentado perto da rainha, e ela se inclina e o
segura suavemente antes de sussurrar algo para ele.
Em seguida, ele está voando. Inclino a cabeça, confusa, quando, de
repente, Poppy e Ash se materializam na minha frente.
— Ai, minha Deusa! Você conseguiu! — Poppy imediatamente
aplaude, batendo palmas e saltando na ponta dos pés.
Ela então se vira para o rei e a rainha.
— Vossas Majestades, esta é a garota do reino humano de quem eu
estava falando.
Os olhos de ambos se arregalam e eles se voltam na minha direção.
O rei se levanta e caminha até mim estreitando os olhos para me
examinar, enquanto seu filho se afasta para lhe dar espaço.
Uma vez diante de mim, seus olhos se abrem mais uma vez, e a
surpresa está estampada em seu rosto. O que diabos está acontecendo?
— Você está certa, Poppy. Ela se parece com ele, — o rei murmura,
sem deixar de me olhar por um segundo.
— Sinto muito... com quem eu pareço?
— Meu falecido irmão, Príncipe Alric.
Capítulo 30
Logan

Solto um uivo quando meu lobo assume o controle, me


transformando no instante em que salto da varanda da frente da casa da
matilha.
Meu lobo e eu sentimos raiva e pânico enquanto corremos em
direção à floresta, vendo vários dos meus guerreiros se apressando para
entrar nos SUVs que os aguardam.
Eles também virão, mas eu precisava deixar meu lobo sair. Ele está tão
agitado com o desaparecimento de sua companheira que está me dando
dor de cabeça.
Corro pela floresta, minhas grandes patas atingindo a terra dura.
Ando em volta das árvores e pulo sobre raízes expostas e destroços
enquanto me dirijo à casa onde Everly foi vista pela última vez.
O vento sopra em minha pele e meus sentidos estão em plena
capacidade.
Consigo ouvir e cheirar tudo ao meu redor, percebendo até mesmo as
menores criaturas.
A viagem é longa, mas felizmente, na minha forma de lobo, posso
seguir um caminho mais direto.
Duas horas depois, vejo as luzes do subúrbio onde fica a casa.
Eu rastejo com cuidado por quintais e entre arbustos e árvores antes
de chegar.
Depois de fazer a conexão mental com Connor, ele sai rapidamente e
abre o porta-malas de seu SUV, me deixando entrar.
Ele a fecha para me proteger de olhares curiosos e eu mudo de volta
para minha forma humana tendo a proteção das janelas escuras.
Depois de me vestir e calçar sapatos, saio.
— Alguma novidade? — eu imediatamente pergunto, no momento
em que mais três veículos chegam à casa.
— Não sobre o paradeiro de Everly, Alfa, mas a tia dela chegou há
cerca de trinta minutos, — Connor responde, enquanto entramos na
casa grande.
— Ela pôde nos ajudar em alguma coisa?
— Bem... Não... Não exatamente, Alfa..., — ele começa, hesitante,
antes de entrarmos na sala principal, e eu encontro uma mulher que
parece estar na casa dos cinquenta amarrada e amordaçada em uma das
cadeiras da sala de jantar.
— O que significa isto?! — eu lato quando meus olhos assimilam a
cena.
Axel e os três que estavam com minha companheira correm até mim.
— Não é o que você pensa, Alfa, — Cody começa.
Eu rosno para ele, que imediatamente fecha a boca e abaixa a cabeça
em submissão.
— Primeiro, vocês vão me dizer por que vocês vieram aqui e tudo o
que aconteceu desde então. Em seguida, vamos até onde Everly foi vista
pela última vez. Se ela não for encontrada, todos vocês podem esperar ser
punidos, — eu rosno, e todos acenam com a cabeça apressadamente para
mim com os olhos arregalados.
Jonah dá um passo à frente, com os ombros tensos.
— Alfa, há pouco tempo, Ev nos pediu para encontrar Lutessa
Andrews para ela. Depois de investigar um pouco, não apenas a
encontramos, mas também descobrimos algumas coisas sobre ela.
Eu aceno para ele continuar enquanto cruzo os braços na frente do
meu peito.
— Em primeiro lugar, Lutessa Andrews é irmã da mãe de Everly,
Angélica. Ela ganhou a custódia de Ev depois que seus pais foram mortos
quando ela tinha dez anos. Seis anos depois, Everly desapareceu e
Lutessa recebeu uma grande soma de dinheiro depositada diretamente
em sua conta bancária. Depois disso, ela rapidamente se mudou e
comprou esta casa.
Entramos em um grande sótão, e o adorável perfume de jasmim e
baunilha da minha companheira imediatamente enche meu nariz.
Ela definitivamente esteve aqui, embora eu perceba que seu cheiro
arrefeceu e agora está misturado com os dos outros que passaram as
últimas horas tentando descobrir onde ela foi parar.
Eu inalo profundamente, meu coração se apertando em meu peito.
Meu lobo choraminga na minha cabeça. Nós dois queremos nossa
companheira de volta sã e salva.
— Então, o que vocês podem me dizer?
— Everly e eu viemos aqui juntas enquanto Jonah e Cody ficaram do
lado de fora para vigiar, — responde Mia.
— Ela encontrou aquelas caixas e começou a examiná-las, então eu
disse a ela que iria procurar nos outros quartos, — ela continua,
apontando para a pilha de caixas que estão ao lado.
Vejo uma mochila familiar perto delas e caminho até lá.
— Você sabe se ela encontrou alguma coisa?
— Não, Alfa. Quando voltei para o quarto, não consegui encontrá-la,
— ela hesita por um momento, mordendo o lábio.
— O que foi?
— Eu estava vindo mostrar isso a ela, — ela finalmente afirma, me
entregando algumas fotos.
Olho para elas e imediatamente noto que a mulher em uma das fotos
se assemelha a uma versão mais jovem da que está lá embaixo.
A foto seguinte tem um homem que me lembra de minha
companheira.
— A primeira é uma foto de Lutessa Andrews e sua irmã, Angelica.
Angélica também é a mulher na outra foto, com o pai de Everly, já que
eles são muito parecidos. Mas eu não sei por que o rosto de Angélica foi
apagado das duas fotos. Parece que, talvez, Lutessa tenha algum
problema com a irmã por algum motivo.
— Ela é uma possível suspeita?
— Não. Nós achamos que não. Ela estava no trabalho quando Ev
desapareceu. No entanto, ela não ajudou em nada até agora.
— Max, interrogue a mulher. Aparentemente, ela é tia de Everly. Descubra
se ela sabe para onde Everly poderia ter ido.
— Sim, Alfa.
Depois de fazer a conexão mental com Max, vou até a mochila e
começo a vasculhar.
No começo não encontro muita coisa, só um kit de primeiros
socorros, uma garrafa d'água, alguns lanches e uma muda de roupa.
Quando eu verifico o bolso frontal, encontro mais fotos. Olhando-as,
vejo várias de seus pais e outras dos três juntos.
A que me chama a atenção é uma que parece ser do pai e sua família.
Embora o lugar onde a foto foi tirada não se pareça com nada que eu
já tenha visto antes. Não há como esse lugar existir.
Certamente a imagem foi de alguma forma alterada, ou há algum tipo
de fundo atrás deles.
Minhas sobrancelhas franzem enquanto tento entender para o que
estou olhando, então eu as coloco de lado e balanço a cabeça.
Noto, então, uma caixa branca no chão. Está aberta, eu a tomo entre
as mãos e vejo que está vazio.
No entanto, o interior é acolchoado, como o de uma caixa de joias.
Este estojo é um pouco maior, o que me faz pensar que um colar
costumava estar guardado nele.
Com esse pensamento, volto a olhar as fotos. A mulher na foto
estranha está usando um colar de esmeraldas oval.
Eu começo a passar as outras fotos e noto que a mãe de Everly usa o
mesmo colar.
Colocando as fotos de lado mais uma vez, começo a farejar, mas o
cheiro de Everly está muito fraco para que eu consiga seguir seu rastro.
— Então, vocês têm alguma teoria? Quais eram as saídas disponíveis?
Alguém poderia ter entrado ou saído enquanto vocês estavam montando
guarda do lado de fora? — eu pergunto, meu olhar percorrendo os três.
A boca de Jonah abre e fecha várias vezes e ele parece hesitar para
responder.
— Jonah, o que é?
— É só que... Bem, senhor, parecia que o cheiro dela terminava no
espelho...
— O que você quer dizer?
Ele encolhe os ombros, impotente.
— Não sei. Tentei descobrir, mas é apenas um espelho normal. Não
há passagem secreta nem nada, e não abre para nenhum tipo de
compartimento. É apenas... onde termina a trilha. Como se ela tivesse
desaparecido no ar.
A ideia de ela desaparecer assim faz os cabelos da minha nuca se
arrepiarem.
Imediatamente me faz pensar naquele vampiro que encontramos no
Banco de Sangue.
— Havia algum outro perfume presente? É possível que ela tenha sido
sequestrada? — eu pergunto, meus punhos se cerrando
involuntariamente com o pensamento.
— Não, senhor, não havia vestígios de ninguém além de nós, — Jonah
responde.
Eu assinto.
— Certo. Axel, chame Delisia. Veja se há algum feitiço que ela possa
usar para ajudar a encontrá-la. Se ela precisar de algo, cuide disso. Cody,
veja se há alguma câmera na área que possa ter captado algo que possa
nos ajudar. Jonah, Mia e Connor, quero esta casa revirada de cima a
baixo; dividam-se e examinem tudo.
Todos acenam rapidamente com a cabeça antes de seguir as ordens
enquanto desço as escadas para ver Max e alguns dos outros ao redor da
mulher que supostamente é a tia de minha companheira.
— O que importa minha sobrinha para vocês, homens?! Ela é só uma
puta malcriada e mimada! Deem o fora da minha casa ou chamarei a
polícia!
Eu deixo escapar um rosnado baixo quando entro na sala. Os olhos se
arregalam instantaneamente quando se vira para me encarar e então ela
se encolhe.
Minha aura alfa agora sai de mim em ondas enquanto me aproximo
da cadela gananciosa que vendeu minha companheira como escrava.
— Vá em frente, — eu comento, com um grunhido. — Quando a
polícia estiver aqui, podemos aproveitar e informá-los de que você
participou ilegalmente de tráfico de pessoas.
O rosto dela empalidece instantaneamente, sua boca se abre, e os
olhos se arregalam.
— Você... isto é eu — ela gagueja, sem saber o que dizer.
Claramente, ela não tinha ideia de que foi descoberta.
Leva apenas um momento para ela se recompor e dizer,
— O quê?! Você é da polícia ou algo assim? Você não pode
simplesmente ir entrando na minha casa, sabia? Eu tenho direitos! Você
precisa de um mandado se quiser entrar no meu local de residência!
— E os direitos da sua sobrinha? Hein?! — eu replico, com raiva,
andando até ela e colocando meus dedos em torno de sua garganta,
enquanto inclino sua cadeira para trás e a obrigo a encarar meu olhar
severo.
— Nós não somos da polícia. Somos seu pior pesadelo. Agora, porra,
me diga, quando foi a última vez que você viu Everly?
Ela me olha desafiadora por um momento, então aumento o aperto
em seu pescoço apenas um pouco.
Depois de sentir falta de ar por um momento sem que minha mão a
solte, ela finalmente arqueja.
— Eu n-não a vejo desde que a vendi para L-Lord Lacroix.
— Por que ela teria vindo aqui?
— Como diabos eu vou saber?! Eu nunca quis ver aquela putinha de
novo!
Meu lobo tenta sair enquanto meus dedos pressionam mais
profundamente nos pontos macios de sua garganta, fazendo o rosto dela
ganhar um tom mais profundo de vermelho e o medo surgir em seus
olhos.
— Chame-a de vagabunda mais uma vez. Eu te desafio, — eu rosno
ameaçadoramente, fazendo o possível para conter meu lobo.
Ele está louco para quebrar o pescoço dela aqui e agora.
— Diga-me. Por que diabos ela voltaria aqui? — eu exijo.
Eu afrouxo meu aperto e ela imediatamente arfa em busca de ar,
aproveitando ao máximo agora que pode respirar.
— Não sei. A única coisa que posso pensar é que ela queria coisas que
pertenceram a seus pais. Ela sabia que eu tinha algumas caixas que ainda
guardava no meu antigo apartamento quando morávamos lá.
— E tudo o que você tinha deles estava naquelas caixas lá em cima?
— Sim, tudo.
— Você se lembra de um colar entre as coisas deles?
Ela franze a testa para mim e torce o nariz como se tivesse acabado de
provar algo nojento.
— Nunca olhei aquelas caixas, mas é possível. A mãe dela recebeu um
colar de esmeralda chique como presente de casamento dos pais de Alric.
Aparentemente, era algum tipo de tradição familiar ou algo assim. Minha
irmã mimada e traidora o usava o tempo todo.
— O que diabos aconteceu entre você e sua irmã?! — não consigo
evitar de exclamar.
Quanto mais falo com essa mulher, mais percebo o quão
incrivelmente amarga ela é.
Pela minha vida, não consigo descobrir qual é o problema dela ou
como pode ser tão odiosa com seu próprio sangue.
Os lobisomens sempre levaram a família e a comunidade muito a
sério. Sempre defendemos e protegemos outro membro da matilha.
Esta mulher... ela é exatamente o oposto. Ela jogou a sobrinha fora
como se ela não fosse nada e não mostra absolutamente nenhum
remorso por suas ações.
A raiva e o ódio puro e inalterável que tenho por ela me cegam e só
consigo ver tudo em vermelho.
— Não é da sua conta! Agora, eu respondi às suas perguntas, então
me deixe ir, porra!
Eu a encaro antes de me virar para Max.
— Ligue para o Comandante Abbott na delegacia local. Informe-o
sobre as negociações ilegais da Sra. Andrews e informe-o de que a
matilha busca sua própria justiça por colocar sua futura Luna em risco.
Os olhos de Max se arregalam quando eu admito quem Everly é para
mim, e o canto de seus lábios se contrai como se ele estivesse lutando
contra um sorriso.
— Sim, Alfa.
— Além disso, não diga a ninguém que Everly é minha companheira.
Eu não disse a ela ainda, e eu não quero que ela ouça sobre isso antes de
eu ter a chance de falar com ela, — eu ordeno a todos os homens que
estão na sala para testemunhar minha ordem anterior.
— Vocês dois, peguem a Sra. Andrews e a levem para nossas
masmorras. Veremos como ela se sente lidando com as consequências de
suas ações.
Capítulo 31
Lord Vlad Lacroix

Desde que experimentei mais do doce sangue de Ruby, pude ver


através de seus olhos novamente.
Quanto mais eu a vejo interagindo com o alfa da Red Moon Pack,
mais irritado fico. Ela o quer. Eu posso sentir isso em meus ossos.
O pensamento dela desejando o toque de outro faz meu sangue
ferver. Ela é minha. E a maneira como o alfa olha para ela...
Solto um grunhido de agitação, batendo meu punho na minha mesa.
Eu preciso trazê-la de volta. E preciso fazer os dois pagarem pelo prejuízo
que me causaram!
Vi que ela deixou o território dos lobisomens e esteve em um carro
por um tempo. Observando através dos olhos dela, tentei descobrir para
onde estava indo.
Ela tinha alguns outros com ela, mas eu sabia que eles não seriam
páreo para mim. Nem mesmo o alfa deles conseguiu me matar.
Infelizmente, por ela estar ao sul da fronteira, eu sabia que seria difícil
chegar até ela.
Eu a observei até que eles pararam em uma grande casa que eu não
reconheci.
Foi quando ela começou a mexer nas fotos que percebi que estava na
casa da tia.
Queria tanto pegá-la que imediatamente comecei a pesquisar se havia
uma maneira de chegar lá sem ser detectado.
De repente, tive uma visão dela colocando um colar de esmeraldas. A
imagem desapareceu com a mesma rapidez com que surgiu.
Vasculhei minha mente, tentando me conectar com a dela mais uma
vez, mas desta vez não consegui encontrar. Eu não consigo alcançá-la. O
que diabos aconteceu?
— Merda! — eu rosno, atirando com raiva minhas mãos sobre a mesa
e fazendo voarem papéis por toda parte. Não posso arriscar ir buscá-la se
não puder vê-la.
Soltando um bufo, eu me inclino para trás na minha cadeira. Minha
única opção pode ser me juntar ao pomposo Alfa Damon.
Posso usar sua matilha para me ajudar a pegá-la e, uma vez que ela
esteja sob nossa custódia, posso lidar com ele.
Ele pode ter pago pela virgindade dela, mas não é minha culpa que
tenha perdido a chance. Seu dinheiro já foi depositado e um contrato
assinado.
Agora ela está em jogo, e pretendo ser quem vai pegá-la.
Alfa Damon

Várias horas Antes


— Alfa...
— O que?!
— Nós vimos a garota.
— Quando? Onde? Você a pegou?
— Não senhor. Ela acabou de deixar o território com três outros
lobos. O que quer que a gente faça?
Ora, aquela vagabunda! Ela é minha! Vou fazê-la pagar por isso! Ela
nunca mais se esquecerá de que me pertence! Vou garantir que não!
E se ela deu sua virgindade a outra pessoa enquanto estava fora, será
severamente punida. Eu quero fazer valer meu maldito dinheiro.
Batendo o punho na mesa, ouço o estilhaçar de madeira e deixo
escapar um rosnado feroz.
— Espere por ela lá. Quero estar lá quando a confrontarmos e vou
reunir mais homens. Mantenha-me informado.
— Sim, Alfa. — Ela nunca vai escapar de mim. E se isso significa
guerra com aquele hipócrita Alfa Logan e sua matilha, então que seja.
Eu vou conseguir o que é meu, não importa o custo.
Capítulo 32
Everly

— Você está certa, Poppy. Ela se parece com ele, — o rei murmura,
sem deixar de me olhar por um segundo.
— Desculpe... com quem eu me pareço? — pergunto, a confusão
nítida em minha voz.
— Com meu falecido irmão, Príncipe Alric. — Meus olhos se
arregalam com compreensão. O nome do meu pai era Alric. Mas
príncipe? Do que ele está falando?
— Me desculpe... eu não..., — eu começo, sem saber o que dizer a
respeito.
O rei se aproxima de mim e meu corpo instantaneamente fica tenso
antes que ele coloque ambas as mãos sobre meus ombros e me olhe
diretamente nos olhos.
— Você é parte Fae, minha querida.
Fico boquiaberta como um peixe. Estou completamente sem palavras.
— Como... eu... não..., — gaguejo novamente.
Deus, quando meu cérebro virou mingau? Pareço uma idiota
completa.
O rei Alistair sorri gentilmente para mim.
— Sei que é muito para assimilar. Não apenas você é parte Fae, como
também tem sangue real. Seu pai era meu irmão mais novo e foi o
segundo na linha de sucessão ao trono até meu filho nascer.
— Venha, querida, vamos sentar e podemos lhe contar tudo o que
quiser saber. Tenho certeza de que você tem dúvidas, — comenta a
rainha Isadora, se aproximando e passando seu braço ao redor do meu,
puxando-me junto com ela.
Ela me leva a um grande salão de jantar que tem uma mesa no centro
grande o suficiente para cem pessoas comerem.
Os tetos são altos e têm murais pintados, como a Capela Sistina. As
grandes janelas arqueadas estão completamente abertas e não têm
vidros.
As trepadeiras envolvem as grades de pedra, e o som da água correndo
pode ser ouvido das muitas cachoeiras que estão do lado de fora. É
magnífico.
Dois guardas estão postados do lado de fora da porta, e há um servo
esperando do lado de dentro.
— Traga um pouco de comida para nós. Tenho certeza de que nossa
convidada está com fome, — diz a rainha quando passamos por ele.
— Sim, minha rainha, — o servo responde com uma rápida reverência
e sai apressado.
A rainha Isadora me leva até uma das pontas da mesa.
O rei Alistair rapidamente puxa uma cadeira para ela se sentar e Jed
faz o mesmo para mim.
Uma vez sentados, a rainha toma minhas mãos entre as suas e olha
para mim.
— Então, querida, o que você gostaria de saber?
Com os olhos arregalados, eu olho para ela. Isso tudo é tão surreal.
— Bem, quer dizer... eu nem sei por onde começar. Como você pode
ter tanta certeza de que sou quem você pensa que sou?
O rei Alistair é quem responde:
— Seu pai manteve contato conosco. Ele sempre gostou de se
aventurar em outros reinos e viajar. Por ser o caçula, ele teve esse tipo de
liberdade e tirou proveito disso. Ele até decidiu fazer algumas aulas em
uma das universidades do reino humano. Ele sempre foi muito fascinado
por esse reino em particular. Um dia, ele voltou para casa para uma visita
e me disse que conheceu uma garota. Ela estava estudando psicologia na
universidade e ele a conheceu por meio de uma amiga. Ela era irmã de
sua amiga e seu nome era Angélica. Eu poderia dizer pela maneira como
seus olhos se iluminaram ao falar que ele já estava apaixonado por ela.
O rei faz uma pausa e sorri tristemente para si mesmo, como se
lembrando de tempos melhores, tempos em que seu irmão ainda estava
por perto.
— Eles namoraram por alguns meses, e ele finalmente a pediu em
casamento. Eles se casaram aqui no jardim e tudo foi perfeito. Eu nunca
o tinha visto tão feliz e era fácil ver que sua mãe estava tão extasiada
quanto ele com a vida. Ao longo dos anos, eles mantiveram contato, nos
visitando ocasionalmente.
Soubemos quando eles estavam esperando você e eles sempre
mandavam fotos e nos contavam sobre você à medida que crescia. Eles
pararam de nos visitar porque queriam garantir que você atingisse uma
idade em que não contaria a ninguém sobre nós. Só seu pai continuava a
passar por aqui de vez em quando, embora suas visitas tenham se
tornado muito menos frequentes.
O rei franze as sobrancelhas, olhando para a mesa, parecendo perdido
em pensamentos. Ele solta um suspiro antes de voltar seu olhar para
mim.
— Um dia, simplesmente paramos de ouvir falar deles. Depois que
bastante tempo se passou, começamos a ficar preocupados. Enviamos
alguns guardas ao reino humano para ver se conseguiam descobrir o que
havia acontecido com eles. Infelizmente, quando voltaram, foi para nos
informar que meu irmão e sua esposa haviam morrido. É claro que
perguntamos sobre você, mas disseram que não houve uma palavra sobre
se você estava com eles no acidente. Não conseguiram encontrar
nenhum vestígio de você. Procuramos durante anos e nunca
encontramos nada. Agora, sinto muito por não termos continuado
procurando.
Eu dou a ele um sorriso triste. Também lamento que não tenham
continuado procurando.
Minha vida teria sido muito diferente, muito melhor se eles tivessem
me encontrado e me levado com eles. No entanto, não quero que saibam
disso.
Eles já parecem se sentir culpados, e certamente não são responsáveis
por eu ter tido uma vida tão difícil depois da morte de meus pais.
— Tudo bem. Não tinha como vocês saberem, — eu comento,
suspirando.
A rainha se intromete, tentando melhorar o clima.
— Bem, pelo menos você está aqui agora! E há tantas coisas incríveis
para você ver e aprender enquanto estiver aqui! Primeiro, quais são os
seus poderes?
— Umm... meus poderes? — eu questiono, inclinando minha cabeça
para o lado, as sobrancelhas franzidas devido à minha confusão. — Sim!
A maioria dos Fae tem um poder elemental, embora alguns nobres
tenham dois. Por exemplo, tanto Alistair quanto seu pai tinham poderes
sobre o fogo e o metal. Não nasci da realeza, então só tenho um poder. O
meu é sobre a terra. Jedrek herdou meu poder terrestre e o de metal de
seu pai. Então, qual é o seu?
— Eu... mas eu não tenho nenhum poder do tipo... eu sou capaz de
resistir à ordem de um lobisomem ou à compulsão de um vampiro..., —
eu respondo, franzindo a testa.
Sobre o que ela está falando?
— Será que eu não tenho poder nenhum, já que sou meio-humana?
Ela franze o cenho como se estivesse bastante pensativa e começa a
mastigar distraidamente uma das unhas.
— Bem, com certeza é devido aos seus genes Fae. Todos os Fae podem
resistir a tais coisas, mas você ainda deve ter algum tipo de poder
elemental. Você realmente não tem nenhum?
Eu aceno e então Jed limpa a garganta, chamando nossa atenção.
— Eu li algo a respeito no ano passado. Quem tem só metade da
ascendência Fae tem de realizar algum tipo de ritual para que seus
poderes sejam liberados. Sem o ritual, eles permanecem dormentes.
— É mesmo, — acrescenta o rei Alistair batendo um dedo no queixo,
pensativo.
— Pensando bem, eu me lembro disso também. Acho que posso ter
esse livro em meu escritório agora.
A rainha dá um sorriso largo e bate palmas.
— Então, está resolvido. Amanhã podemos fazer o ritual com Everly e
testá-la para descobrir quais poderes elementais ela possui, — ela
exclama, feliz.
***

— Talvez não tenha funcionado. Talvez eu simplesmente não tenha


nenhum poder, — eu explico, desesperançada, no jardim cercado por
pedestais.
Cada coluna tem uma taça sobre ela, e em cada taça há um elemento
diferente. Até agora, nada aconteceu.
Nem um único elemento fez nada por mim. No momento, estou me
sentindo desapontada e frustrada.
Eu deveria saber que era bom demais para ser verdade. Ter poderes
teria me dado a capacidade de me proteger.
Alfa Damon nunca seria capaz de me machucar. Mestre Lacroix não
seria uma ameaça tão grande.
Fizemos o ritual esta manhã. Acontece que não era muito elaborado.
Eles me fizeram beber de algum tipo de flor estranha.
Então tive que me deitar e fechar os olhos, basicamente tentando
meditar enquanto uma anciã Fae fazia algo. Não sei exatamente o quê.
Eles me disseram que ela estava procurando por minha essência Fae,
seja lá o que isso signifique, mas parecia que estava só batendo
continuamente em minha testa.
Foi bastante desagradável, na verdade.
— Seus poderes ficaram confinados dentro de você por um longo
tempo. Pode demorar um pouco para que apareçam, — afirma o rei.
— Estamos nisso há horas. Quanto tempo pode demorar? — eu
pergunto, envergonhada ao ouvir minha voz. Pareço uma criança
chorona.
Eu bufo, tentando afastar as emoções negativas que estou sentindo.
Preciso ser paciente e manter a cabeça limpa ou nunca funcionará.
O rei Alistair encolhe os ombros.
— A maioria das crianças Fae começa a desenvolver seus poderes por
volta dos seis ou sete anos. Então, seus poderes foram bloqueados por
cerca de quinze anos. É difícil dizer quanto tempo vai demorar para
aparecerem agora.
Eu passo os dedos pelo meu cabelo e ergo a cabeça para o céu. Estou
exausta.
— Talvez devêssemos encerrar o dia e continuar amanhã, — Jed
sugere de seu lugar, recostado a um banco ao lado.
Todo esse tempo ele ficou só relaxando e tomando banho de sol,
enquanto eu fiquei cada vez mais irritada.
— É uma boa ideia, — decide o rei.
— Por que você não leva Everly até a cidade e mostra a ela os
arredores? Almocem e relaxem um pouco. Depois, nos encontraremos
aqui de novo bem cedo amanhã.
— Parece bom, — eu concordo, e vou para o meu quarto me preparar
para o passeio. Estou bastante animada.
Uma semana inteira se passa e ainda nada. No entanto, estou
gostando do meu tempo aqui. Eu me aproximei muito da minha família.
Agora, eu os conheço como tio Al, tia Izzy e meu primo Jed; bem, ele
ainda é apenas Jed. Eu gosto da cidade. Tudo é coberto de vinhas e flores.
Os edifícios são todos de cores vivas com belos detalhes.
Há cachoeiras por toda parte, e todo o reino parece ter sido
construído na encosta de uma montanha gigante e sem fim.
Muitas das plantas e pequenos animais são luminescentes. É tudo tão
mágico. Todo este lugar é como um sonho.
A única coisa que faz com que não seja completamente perfeito é que
sinto falta dos meus novos amigos da Red Moon Pack. E, acima de tudo,
sinto falta de Logan.
Eu sei que não deveria. Ele não me quer. Claramente, ele quer alguém
mais parecido com aquela garota horrível, Rebecca.
Solto um suspiro, fechando os olhos e tentando focar minha mente.
Exalando lentamente, eu os abro novamente enquanto o tio Al diz: —
Chame a água.
Penso na água, estendendo a mão como se a chamasse. Nada
acontece.
— Imagine a água. Imagine cada molécula. Pense em como ela se
move, na sensação em sua pele. Relaxe sua mente, — ele insiste.
Fazendo o que ele diz, fecho os olhos mais uma vez. Eu inspiro e
expiro lenta e profundamente.
Minha mente se concentra na sensação da água correndo por entre
meus dedos. Vejo as ondulações dela quando é perturbada.
Meu corpo inteiro começa a formigar como se o poder estivesse
enchendo minhas veias. Eu dou tudo de mim para que a água se mova,
para que faça qualquer coisa.
Nada ainda. Solto um grunhido de frustração, sentindo a raiva e o
desespero crescendo dentro de mim. Por que diabos isso não está
funcionando?!
Posso sentir uma mudança em meu corpo. Posso sentir a magia.
Então, qual é o problema aqui?!
Olhando para a taça de água como se contivesse um desejo de morte,
eu continuo tentando. A cada segundo que passa, minha irritação
aumenta.
Então, junto com um grito alto, há uma explosão de energia e a água
explode a taça, encharcando todos.
Eu desabo no chão, exausta com um pequeno ato. Finalmente.
Não posso evitar a risada alegre que sai dos meus lábios antes de
suspirar e cair de costas na grama.
Capítulo 33
Logan

Estou sentado no velho sofá do sótão da casa de Lutessa, segurando a


cabeça entre as mãos. Meus dedos puxam levemente meu cabelo em
frustração.
Estou completamente perdido. Procuramos minha companheira em
todos os lugares. É como se ela tivesse desaparecido no ar. Eu não sei
mais o que fazer.
Não gosto da ideia de deixar este lugar. É o último lugar onde ela foi
vista, e eu continuo esperando que ela reapareça magicamente.
Infelizmente, não há mais nada que possamos fazer aqui, a não ser
esperar, agora. Eu me sinto totalmente desamparado.
Eu deveria estar lá fora procurando por ela, mas não sei onde
procurar.
De que adianta ter as habilidades aprimoradas de um lobisomem se
elas não fazem nada para me ajudar a procurar minha companheira
desaparecida?
Deusa, espero que ela esteja bem. E espero que ela volte para mim.
De repente, uma luz azul preenche a sala, fazendo-me olhar para
cima, surpreso. O espelho de corpo inteiro está brilhando.
Meus olhos se arregalam e imediatamente grito pelos outros. O que
diabos está acontecendo?
Ouço o barulho de passos e vários dos meus homens se aglomerarem
no aposento.
Meus olhos se recusam a deixar o espelho, meus ouvidos mal
registrando as vozes e comentários maravilhados dos meus homens
quando entram. A sala se enche de um cheiro extraordinário e eu inalo
profundamente, meus olhos se arregalando com o reconhecimento.
Baunilha e jasmim. Minha companheira.
Exceto pelo fato de que há algo diferente em seu cheiro. É mais forte e
não cheira mais a humanidade.
Há magia entrelaçada ao seu cheiro agora. A luz desaparece no
espelho e ali, parada na nossa frente, está Everly.
Todos ficamos boquiabertos para ela por um momento, em um
silêncio atordoado. Ela está vestida muito diferente do que já vi algum
dia.
Uma delicada tiara dourada no formato de uma videira em flor está
em sua cabeça.
Ela está usando um vestido esmeralda transparente até o chão que
realça a cor de seus olhos.
É decotado e me lembra algo que você veria em um conto de fadas.
O colar das fotos está pendurado em seu pescoço e uma faixa dourada
está enrolada em um de seus antebraços. Estou devorando-a com o olhar.
Ela sempre foi completamente linda, mas agora uma confiança régia
irradia dela, me atraindo.
É então que noto que todas as suas cicatrizes desapareceram.
Ela costumava ter marcas de mordidas, além de sinais de suas
tentativas de suicídio e várias punições.
No entanto, não há uma única marca nela agora. Sua pele pálida
agora está perfeita e tem um brilho saudável.
Depois do que pareceram horas, embora na verdade tenham sido
apenas alguns segundos, eu consigo quebrar o silêncio.
— Everly? — eu pergunto, minha voz falhando ligeiramente.
Seu olhar de repente se concentra quando ela se vira para mim. Um
sorriso surge em seu rosto enquanto ela corre em minha direção, me
abordando em um abraço.
— Logan! — ela grita, feliz. Faíscas explodem por todo o meu corpo
quando nos abraçamos com força.
Quando ela se afasta, eu rapidamente capturo seus lábios com os
meus.
Ela congela de surpresa por um momento antes de derreter no beijo,
seus dedos encontrando o caminho para a minha nuca enquanto ela
solta um gemido suave.
O som faz todo tipo de coisa comigo, e a vontade de aprofundar o
beijo me oprime até que alguém pigarreia, me lembrando de que temos
uma audiência.
Eu me afasto com relutância, mas mantenho meus braços em volta de
sua cintura estreita.
— O que foi isso? — ela questiona, sem fôlego, enquanto me encara
com suas hipnotizantes orbes verdes.
— Eu... eu só estava com saudades. Você deixou todos nós
preocupados. O que aconteceu com você? Para onde foi? — eu pergunto,
quando finalmente a solto e a arrasto até o sofá para se sentar, o resto dos
meus homens abrindo caminho para nós.
— Eu sinto muito! Eu não queria que ninguém se preocupasse
comigo! O que vocês ainda estão fazendo aqui?
Eu levanto uma sobrancelha para ela.
— Bem, é claro que estamos aqui. Estamos tentando encontrar você
há horas!
Ela inclina a cabeça para mim, parecendo confusa.
— Logan... há quanto tempo estou desaparecida?
Pegando meu celular, verifico a hora.
— Já se passaram cerca de seis horas. Por quê?
As sobrancelhas dela se juntam enquanto ela pensa.
— Bem, eles disseram que o tempo funciona de forma diferente lá. Eu
só não tinha percebido o quanto.
— Ev... Do que você está falando? Quem são eles?
— Você disse que estou fora há seis horas, mas para mim pareceu uma
semana e meia.
— Isso não faz o menor sentido, — digo a ela, exasperado, meu
cérebro se esforçando para tentar juntar as peças e falhando
repetidamente.
Aperto a ponta do meu nariz. Deusa... foi um dia tão longo. Sinto
como se meu cérebro estivesse virando mingau.
Ela encolhe os ombros timidamente, com um pequeno sorriso.
— É uma longa história.
É
— Nós temos tempo. Vamos. Você pode me contar tudo no carro. É
uma viagem de carro de três horas de volta ao território da matilha.
Ela acena com a cabeça e eu me levanto, estendendo a mão para ela.
O resto dos homens vai na frente lá para baixo, Cole pega a mochila
de Everly e eu seguro a mão dela por todo o caminho até o SUV.
Cole e Max ficam na frente enquanto eu me sento atrás com Everly.
Os outros homens entram nos veículos restantes para que possamos ter
um pouco de privacidade para conversar.
— Aperte o cinto, — digo a ela, entrando para me sentar ao seu lado.
Ela imediatamente faz o que digo, e eu me movo para o lado dela
antes de afivelar o cinto e pegar sua mão de volta na minha.
— Então, eu preciso que você me diga tudo desde o início, —
acrescento quando estamos acomodados.
Ela começa com sua fuga de Alfa Damon e a tempestade estranha que
ocorreu, me contando sobre os dois estranhos que a visitaram no jardim
da matilha.
Estou realmente tentando ter a mente aberta, mas é tudo muito
difícil de digerir. Outros reinos? Magia elemental? Fadas?
No entanto, continuo a ouvir sua história.
— Então, eu encontrei este colar. Tinha sido da minha mãe. Acontece
que foi um presente de casamento dos meus avós paternos. É tradição da
família dar uma pedra transportadora a todos os membros da família
real. Ela permite nos transportar para qualquer lugar que desejarmos,
incluindo entre outros reinos, ao olhar para uma superfície refletora e
pensar para onde você deseja. Quando fui me olhar no espelho depois de
colocar o colar, a visão mudou e me sugou. Acabei pousando no Reino
Fae de onde meu pai é. Acontece que ele era um príncipe Fae e mudou-se
para o reino humano porque se apaixonou por minha mãe.
— Então... você é uma... princesa fada? — eu questiono, incapaz de
esconder o ceticismo em minha voz. Não é que eu não acredite nela. Isso
tudo é muito difícil de aceitar. Embora eu ache que posso ver as
evidências na minha frente.
Sua aparência, seu cheiro... eles são a prova de que ela está dizendo a
verdade.
Ela morde o lábio, nervosa, e encolhe os ombros, parecendo perdida.
— Tecnicamente? Acho que sim. Conheci minha tia e meu tio, que
são o rei e a rainha, e meu primo Jed, o príncipe herdeiro. Eles foram
incríveis. Estou muito feliz por finalmente ter uma família que se
importa comigo.
— Eu me importo com você, Everly. Não sei o que teria feito se você
não tivesse voltado.
Ela cora e olha para nossas mãos entrelaçadas.
Eu uso minha mão livre para afastar seus cabelos negros de seu rosto,
e ela deita a cabeça no meu ombro e solta um bocejo.
— Eu também me importo com você, Logan, — ela murmura,
cansada.
Solto um suspiro. Eu quero dizer a ela que ela é minha companheira,
mas talvez eu deva esperar até que ela esteja acordada o suficiente para
ouvir.
— Descanse um pouco, Ev. Podemos conversar mais depois que você
dormir um pouco.
Ela se aconchega em mim e eu passo meu braço em volta de seus
ombros para ajudar a apoiá-la, puxando-a para mais perto de mim.
As faíscas que me envolvem são calmantes, e eu suspiro de
contentamento quando me sinto confortável. Eu definitivamente
poderia me acostumar com isso.
Capítulo 34
Everly

Eu acordo com a luz da manhã brilhando em meu rosto em meu


quarto na casa da matilha. Como cheguei aqui?
Eu olho para baixo e vejo que não estou mais usando o vestido Fae
com que reapareci. Em vez disso, estou com uma camiseta grande e
minha calcinha.
Olhando ao redor, vejo que o vestido está caprichosamente apoiado
nas costas de uma das cadeiras.
Tento não pensar em como acabei me trocando.
Vou ter que perguntar a Logan quando o vir, já que ele é a última
pessoa de que me lembro antes de adormecer.
Afastando as cobertas, saio lentamente da cama antes de colocar uma
roupa esportiva e prender meu cabelo em um rabo de cavalo.
Passo levemente meus dedos sobre o colar de esmeraldas que ainda
está em volta do meu pescoço, me perguntando se devo tirá-lo.
Não é algo que eu normalmente usaria para malhar, mas não gosto da
ideia de perdê-lo ou de não tê-lo por algum motivo se precisar.
Depois de amarrar meus tênis, saio do quarto e vou para o corredor.
Estou passando pelo escritório de Logan quando a porta se abre e
Cole sai.
— Ei, princesa, — ele comenta, com um sorriso e uma piscadela.
Acho que ele estava prestando atenção na conversa que Logan e eu
tivemos no carro.
Eu me pergunto se esse é o motivo pelo qual Cole e Max eram os
únicos conosco. Afinal, eles são os amigos mais próximos de Logan e em
quem ele mais confia.
Ele deve ter ficado confortável com eles ouvindo tudo que tínhamos a
dizer um ao outro.
— Oi, Cole, e aí? — pergunto a ele com um sorriso, no momento em
que Logan aparece, se inclinando através da porta aberta.
— Ah, você sabe. Tudo na mesma. É melhor eu voltar ao trabalho.
Não vá sumir da gente de novo, — ele acrescenta, sacudindo o dedo para
mim como se estivesse repreendendo uma criança de cinco anos.
Eu reviro os olhos para ele.
— Cuidado. Vai que seus olhos ficam presos na parte de trás da
cabeça.
— Ah, cala a boca! — eu respondo com uma risada curta, dando-lhe
um empurrão brincalhão. Parece que ele está sempre brincando.
Ele apenas ri de mim e se vira para ir embora, desaparecendo na
esquina e descendo as escadas. Eu me viro para olhar para Logan, e
imediatamente me aqueço por dentro com o olhar que ele está me
dando.
Seus olhos estão escuros de desejo enquanto percorrem meu corpo,
me fazendo corar instantaneamente.
A intensidade de seu olhar é o suficiente para deixar minha calcinha
molhada e eu aperto minhas coxas juntas. Isso não acontecia comigo há
muito tempo.
Depois de tudo que passei, se tornou difícil ficar excitada. Nenhum
dos clientes com quem lidei eram pessoas que algum dia eu desejaria.
Eles sabiam que éramos escravos e não se importavam. Para eles,
éramos apenas mercadorias para serem usadas da maneira que
quisessem.
Mas com Logan é diferente. Ele parece realmente se importar comigo.
E o olhar que ele está me dando me faz sentir verdadeiramente desejada,
corpo, mente e alma.
Trocando desajeitadamente o peso entre meus pés, eu limpo minha
garganta.
— Ei, Logan, — murmuro.
Ele pisca os olhos rapidamente como se saísse de um transe e seus
olhos voltam para a cor chocolate-quente de costume.
— Ei, linda. Aonde está indo?
— Eu ia passar um tempo na academia. Eu posso te perguntar uma
coisa?
— Claro. Por que você não entra? — ele responde, se movendo para o
lado e apontando o escritório. Eu aceno brevemente, passando por ele.
Ele fecha a porta atrás de mim, e meu corpo fica tenso quando penso
em como estamos completamente sozinhos aqui. Cara... as coisas que eu
adoraria fazer com ele.
Por que minha mente está tão suja agora? Tudo o que pareço ser
capaz de pensar agora são todas as coisas lascivas que quero que ele faça
comigo aqui.
Posso ter que trocar minha calcinha antes de descer. O que há de
errado comigo?!
Quando me viro para olhar para ele, seus olhos estão negros como
breu e suas narinas dilatam antes que ele pisque e volte ao seu tom
normal de marrom.
Ele se aproxima de mim como se estivesse sendo atraído por um ímã
enquanto pergunta: — Então, o que você queria me perguntar?
Sua voz sai baixa e sexy, e meu corpo reage instantaneamente a isso.
Posso sentir o rubor subindo pelas minhas bochechas.
— Eu... eu acordei no meu quarto e não tinha certeza de como
cheguei lá...
Logan me dá um sorriso suave.
— Você adormeceu no carro e parecia tão tranquila que não quis
acordá-la.
Eu aceno lentamente.
— Você tirou meu vestido também?
Os olhos dele se arregalam brevemente e seu rosto fica vermelho
enquanto ele coça a nuca.
— Tirei. Mas não vi nada, juro., — é fofo como ele parece
envergonhado.
Dou um passo mais para perto dele, meus olhos no chão enquanto
sussurro:
— Eu não me importaria se tivesse visto.
Sei que meu rosto está ficando vermelho novamente. Não acredito
que acabei de dizer isso. Simplesmente escapou. Eu mordo meu lábio e
olho para cima para ver sua expressão.
Seus olhos estão negros mais uma vez e, assim que encontram os
meus, suas mãos alcançam a parte de trás das minhas coxas e me
colocam na beirada da mesa.
Seus lábios estão em mim instantaneamente, se movendo
sedutoramente contra os meus.
Sua língua começa a traçar o contorno dos meus lábios, pedindo um
acesso que eu prontamente concedo.
Ele não perde tempo para enfiar a língua na minha boca,
massageando minha língua e provando cada pedacinho de mim.
Seus braços fortes me envolvem enquanto ele se coloca entre minhas
pernas.
Uma mão se estende, envolvendo meu rabo de cavalo em seu punho
enquanto ele o puxa bruscamente para trás, não o suficiente para doer,
mas o bastante para arrancar um gemido desesperado de meus lábios.
Sua boca trilha beijos ao longo do meu queixo e pelo meu pescoço.
Deus, estou no céu. Isso é tão bom.
Onde quer que que ele me toque, faíscas prazerosas disparam por
mim, me fazendo estremecer.
Eu posso sentir a protuberância em sua calça jeans se esfregando
contra meu ponto mais sensível, me deixando mais molhada. E a terra se
move. Literalmente.
Parece que um tremor de terremoto está sacudindo toda a casa da
matilha.
Eu abaixo meu queixo quando seu aperto em meu cabelo afrouxa, e
coloco a mão levemente em seu peito.
Ele olha ao redor, imaginando o que aconteceu, uma vez que o tremor
cessou assim que paramos.
— Logan, não deveríamos estar fazendo isso. Você tem namorada, —
eu insisto, voltando à realidade.
Ele inclina a cabeça olhando para mim, confuso.
— Rebecca.
Suas mãos se movem para segurar meu rosto e ele o inclina de forma
que meu olhar encontre o seu.
— Ela não é minha namorada. Os anciãos estão me pressionando
para escolher uma Luna . Mas é você que eu quero. Quero você. Você
inteira. E eu sei que você me quer também. Consigo cheirar sua
excitação, — ele comenta, e eu imediatamente fico vermelha como uma
beterraba.
Não admira que ele não pudesse se controlar. Deus, isso é
mortificante.
— Escute, Ev, há algo que preciso lhe contar...
— O que?
Ele olha para o lado e seus olhos ficam brilhantes, um sinal de que
alguém fez um link mental com ele.
Assim que a névoa se dissipa, ele responde:
— Sinto muito, mas teremos que terminar isso mais tarde. — Ele
rapidamente me beija na testa e sai correndo.
Fico parada ali, completamente confusa e me perguntando o que
diabos ele queria me dizer antes de sermos interrompidos.
Depois de um momento, deixo escapar um suspiro, saio do escritório
e desço as escadas. Seria melhor ir para a academia como eu havia
planejado.
Chego ao primeiro andar e instantaneamente fecho a cara quando
vejo Rebecca virando no corredor.
— Ora, se não é a prostituta do alfa, — ela zomba de mim, se
aproximando com um brilho maligno em seus olhos.
— Mal posso esperar até ser oficialmente chamada de Luna . A
primeira coisa que farei é banir você do território da matilha para
sempre, sua pequena vagabunda cavadora de ouro.
— Uau... Você está completamente delirante. Por um lado, eu não dou
a mínima para o dinheiro dele... é você quem se importa com isso. Em
segundo lugar, ele nunca vai te escolher como Luna . Você não tem uma
grama de afeto em seu corpo, — eu observo, estreitando os olhos.
Realmente odeio essa vadia.
— Aí é que você se engana. Depois de passar a noite na minha cama,
ele me disse que mal podia esperar para me marcar e me anunciar como
sua Luna , — ela responde, com altivez.
Meu coração se contrai instantaneamente e lágrimas ameaçam cair
de meus olhos. De jeito nenhum vou chorar na frente dessa pirralha
manipuladora.
Ela tem que estar mentindo. Tem que estar. Ele chegou tarde em casa
ontem à noite. Certamente, não teria me colocado na cama para depois ir
até a dela. Certo?
— Agora, estou te avisando, puta. Fique longe do meu companheiro
ou então farei com que você fique. Eu fui clara?
Sinto minha raiva fervendo dentro de mim, pronta para explodir. Em
vez disso, uma rajada de vento atravessa as portas de vidro perto de nós,
estilhaçando-as em pedacinhos.
Ela pula, e meu rosto fica sem cor. Preciso encontrar uma maneira de
colocar meus poderes sob controle.
Finalmente consegui fazê-los funcionar um pouco. No entanto,
ficamos surpresos quando fui capaz de manipular todos os elementos.
De acordo com o tio Al e a tia Izzy, nunca se ouviu falar de poder
sobre todos os elementos.
O número máximo de poderes em uma única pessoa de que tiveram
notícia foi quatro, e tratava-se de um ancestral que herdou todos os
poderes de seus pais em vez de alguma variação.
Infelizmente, ainda não consigo controlar meus poderes.
Esperamos que seja só porque cresci sem usá-los ou sem mesmo saber
que existia magia.
Eles queriam que eu ficasse lá e continuasse praticando e me
aprimorando, mas eu estava sentindo falta de Logan e de meus novos
amigos.
Prometi que trabalharia muito para controlá-los e iria visitá-los
sempre que precisasse de ajuda.
Talvez seja isso que eu deva fazer hoje, encontrar um lugar tranquilo
para praticar minha magia.
— Luna , senhorita, precisamos colocá-las em segurança! Selvagens
estão atacando a fronteira norte. Me sigam! — um jovem diz, correndo
em nossa direção.
Rebecca me dá um olhar presunçoso por ser chamada de Luna , e eu
imediatamente sinto meu coração quebrar dentro do meu peito. Não
pode ser. Não depois de tudo.
Não depois do que ele disse nem trinta minutos atrás.
O homem começa a nos empurrar na mesma direção que as outras
mulheres e crianças.
Eu olho pela janela e imediatamente reconheço o enorme lobo preto
de Logan lutando contra dois outros lobos.
Lobos estão lutando por todo o gramado e meus olhos rapidamente
examinam a cena.
De repente, meu sangue gela quando vejo um grupo grande de
homens parados mais atrás.
Eles não estão participando da luta, estão apenas observando.
Vários deles estão atuando como guardas, neutralizando rapidamente
qualquer ameaça.
No entanto, não foi isso que me fez ranger os dentes.
Foi o homem de pé no centro deles, com os braços cruzados e um
sorriso orgulhoso no rosto. Alfa Damon.
Capítulo 35
Logan

Meus dentes afundam na jugular enquanto eu consigo derrubar outro


lobo no chão. Eu me ergo de maneira selvagem enquanto rasgo a
garganta da besta.
Estou tentando chegar até aquele alfa idiota que quer minha
companheira, mas o covarde mandou um bando de selvagens atacarem a
mim e a meus homens.
Sou derrubado quando outro lobo se choca comigo. Eu rapidamente
me endireito e lanço minhas garras contra seu rosto, causando um
estrago em seu olho direito.
Eu imediatamente pulo sobre ele quando um link mental entra em
minha cabeça.
— Alfa! Tentei conduzir a Luna para o subsolo com o resto, mas ela saiu
correndo da casa! Ela está indo direto para a luta!
— Merda! Eu vou pegá-la! Continue tirando todos os outros do caminho
do perigo, — digo ao guarda antes de fazer a conexão com os guerreiros
que estão lutando.
— Derrubem o máximo de selvagens que puderem. Não deixe nenhum
deles chegar perto de Everly.
— Sim, Alfa! — várias vozes respondem enquanto a luta se intensifica.
Todos agora se apressam para acabar com a luta enquanto eu corro
em direção à minha companheira.
Eu tiro mais alguns selvagens do meu caminho e me transformo para
a forma humana assim que a alcanço.
Os olhos dela se arregalam e seu rosto instantaneamente fica
vermelho brilhante quando ela vê minha forma nua.
Se eu não estivesse tão bravo com ela por se colocar em perigo, eu
acharia a reação completamente cativante.
— Que porra você pensa que está fazendo?! — eu pergunto.
Outro lobo avança para mim, e meu braço rapidamente se projeta
quando minha mão o pega pela garganta.
Eu aperto com força, e os olhos do lobo começam a arregalar
enquanto ele luta para respirar.
Minha mão continua a apertar até que sinto seu pescoço estalar entre
meus dedos.
Eu rapidamente o atiro no chão antes de voltar minha atenção para
Everly.
Os olhos abertos dela estão no lobo morto aos nossos pés, e coloco
um dedo sob seu queixo, fazendo com que se volte para me encarar.
— Volte para dentro. Agora, — eu ordeno.
— Não, eu não posso deixar sua matilha arriscar suas vidas por mim,
— ela insiste, teimosa.
— Sim você pode. Todos os meus homens sabem o que estão fazendo.
Não vamos entregá-la àquele bastardo, Everly. Agora entre e deixe-me
cuidar disso.
Os sons de luta param e Cole rapidamente vem, atirando-me um par
de calças.
Eu rapidamente os visto enquanto a voz de Alfa Damon ressoa na
clareira.
— Alfa Logan, vejo que você encontrou meu animal de estimação,
afinal.
Eu cerro os dentes, um rosnado baixo escapa de meus lábios e me viro
para encará-lo. Aproximo-me e posso sentir Everly me seguindo.
Por que ela nunca escuta?! Companheira teimosa.
— Eu sei que o norte se preocupa pouco com a vida humana, muito
menos com as leis humanas, mas aqui no sul não reconhecemos a
propriedade das pessoas. Então volte para casa, Alfa Damon. Não vamos
entregá-la a você.
— ELA É MINHA! Eu a terei de volta! E não me importo com quantos
de seus homens tenha que matar para isso! Vou matar toda a sua maldita
matilha se for preciso! — ele rosna alto, e posso sentir o medo de Everly.
Seu olhar sinistro se volta para ela, e eu me movo para bloqueá-la de
sua visão.
— Venha, escrava. Quanto mais difícil tornar isso, pior será sua
punição quando eu colocar minhas mãos em você. Você realmente quer
que esta matilha sofra para proteger uma humana inútil como você?
Ela lentamente começa a se mover para frente, e os lábios de Alfa
Damon se abrem em um sorriso malicioso, como se ele pensasse que
ganhou.
Eu agarro o pulso dela assim que está prestes a passar por mim,
segurando firme.
— O que você pensa que está fazendo? — rosno baixinho para ela,
embora saiba que todos perto podem ouvir facilmente graças aos nossos
sentidos sobrenaturais.
— Não quero que mais ninguém se machuque por minha causa. Eu
não valho a pena, — ela sussurra de volta com uma voz trêmula que
reflete o quão difícil esta decisão é para ela.
Felizmente para ela, não é ela quem vai decidir.
— Pense em sua matilha, Logan. Você tem que me deixar ir.
— Estou pensando em minha matilha e você só irá até ele por cima
do meu cadáver, — comento, com os dentes cerrados.
Eu rapidamente a pego e a jogo por cima de meu ombro enquanto ela
solta um grito de surpresa.
— Logan! Que merda você está fazendo?! Ponha-me no chão!
— Não. Não enquanto você continuar tomando decisões estúpidas, —
eu declaro, ignorando as faíscas que sinto onde estamos nos tocando.
Eu me volto para o alfa arrogante, que agora está rosnando para mim.
— Agora, a menos que você queira ter uma morte horrível, sugiro que
dê o fora do meu território.
Meu olhar então se move ao redor do campo enquanto olho para
todos os meus guerreiros, me dirigindo a eles.
— Se eles não forem embora em um minuto, matem-nos.
Meus homens instantaneamente começam a rosnar e mostrar os
dentes, prontos para atacar enquanto começam a perseguir nossos
convidados indesejados.
— Isso não acabou, Logan! Eu voltarei para buscá-la! Você vai se
arrepender de ter me desafiado! — Alfa Damon grita nas minhas costas
enquanto meus lobos avançam sobre ele e seus homens antes que eu
possa ouvi-los se afastando. Que covarde. Usaram selvagens e nem
sequer se juntaram à luta antes de colocar o rabo entre as pernas e sair.
Carrego Everly por todo o caminho até o meu escritório, então fecho
a porta e a tranco.
Eu rapidamente faço um link mental com a matilha, informando-os
que a ameaça foi neutralizada e que não devo ser perturbado.
Finalmente, eu a coloco de pé.
— Por que você fez isso?! — ela exclama, assim que está segura no
chão, olhando para mim.
— O que você quer dizer com por que eu fiz isso?! Fiz porque você ia
se entregar àquele louco!
— Claro que ia! Ele vai voltar outras vezes! Eu não quero que nada
aconteça com esta matilha! Eu não quero que nada aconteça com você!
— ela argumenta.
Pela maneira como suas mãos se agitam, é fácil ver como ela está com
raiva. Ela é tão sexy quando está com raiva...
Sem pensar duas vezes, passo os braços em torno dela, pressionando
meus lábios contra os seus.
Depois de um breve beijo, me afasto apenas o suficiente para olhar
seus olhos verdes deslumbrantes.
Ela me encara, seu olhar desce para os meus lábios e volta a se erguer.
É como se ela estivesse lutando para decidir o que fazer.
Finalmente, ela salta agarrando meu pescoço e me puxando de volta.
Desta vez, o beijo é cheio de calor e paixão, e ela geme contra minha
boca, me fazendo endurecer com o som celestial.
Eu a levanto, limpo minha mesa e deito-a de costas antes de subir em
cima dela.
Inclinando-me sobre ela, começo a beijar ao longo de sua mandíbula
e pescoço enquanto uma mão agarra sua coxa.
— Deusa, você é tão bonita, — murmuro, entre beijos, enquanto as
pontas dos dedos dela cavam nas minhas costas.
Meus lábios se movem para baixo em seu peito, beijando ao longo do
alto de seus seios macios que aparecem por baixo de sua blusa esportiva
apertada.
Ela prende minha cintura em suas pernas e me puxa para mais perto
dela, de modo que estou me esfregando contra sua vulva.
Meu membro está lutando contra minhas calças, implorando para ser
liberado enquanto ela geme: — Eu quero você, Logan. Eu quero que você
seja o primeiro.
Solto um gemido trêmulo. Apenas o pensamento de estar dentro dela
é o suficiente para me fazer desmoronar.
— Mulher, o que você está fazendo comigo? — eu pergunto, me
inclinando para beijar seus lábios deliciosos mais uma vez.
Ela sorri contra minha boca e move seus quadris, me fazendo xingar
baixinho. Ela é tão gostosa.
Ela se abaixa e desliza a mão por baixo da minha cintura, pronta para
deslizar os dedos em volta de mim antes que eu agarre seu pulso,
parando-a.
Solto um suspiro. Eu realmente quero continuar, mas não quero que
isso aconteça sem que ela saiba a verdade.
Quando começo a sair de cima dela, ela se levanta rapidamente da
mesa.
— Isso é sobre Rebecca, não é? — questiona.
Minhas sobrancelhas franzem enquanto inclino a cabeça confuso por
um momento.
— O que? Já te disse que não a quero. Quero você.
— O guarda mais cedo. Ele a chamou de Luna .
Continuo olhando para ela, completamente perdido, tentando
descobrir do que ela está falando.
Então eu percebo que o guarda que foi enviado para buscá-la em
segurança era um dos homens que estava comigo na casa de sua tia. Ele
sabe que ela é minha companheira.
— Ev, ele não a estava chamando de Luna . Ele estava chamando
VOCÊ de Luna . Você é minha companheira.
Capítulo 36
Everly

O mundo parece parar enquanto olho fixamente para Logan. Ele não
pode estar falando sério.
Lágrimas instantaneamente começam a arder em meus olhos
enquanto olho para ele, suas mãos descansando em meus quadris.
— Você está mentindo, — eu deixo escapar enquanto minha mente
acelera buscando dar sentido ao que ele acabou de dizer.
Ele franze as sobrancelhas, parecendo não entender minha reação.
— Por que eu mentiria sobre isso? Você não consegue sentir? A
maneira como somos atraídos um pelo outro? As faíscas quando nos
tocamos?
Ele tem razão. Eu sinto, mas não significa que seja capaz de fazê-lo.
— Mas... eu não posso ser Luna . Ninguém vai admirar uma garota
que nem mesmo consegue se proteger. Fui escrava a maior parte da
minha vida, primeiro de minha tia e depois de Mestre Lacroix. Como vou
proteger uma matilha inteira?!
— Ev, você se protegeu. Você está aqui agora. De pé, na minha frente,
não é mais uma escrava. Você é tão forte. Você é gentil e atenciosa. Você
seria a Luna perfeita, — Logan insiste, gentilmente colocando meu
cabelo para trás atrás da minha orelha.
O formigamento quente e reconfortante me faz estremecer quando
me inclino sobre sua mão e fecho os olhos. Uma única lágrima escapa e
desliza pela minha bochecha.
Quando abro os olhos novamente, meu olhar encontra o dele.
— Mas como você pode me querer? Eu sou tão problemática.
— Ev, é claro que quero você. Eu sei que você já passou por muita
coisa, mas você é incrível. — Eu balanço minha cabeça enquanto mais
lágrimas começam a cair.
— Você não me quer, — eu argumento. — Eu sou uma mercadoria
usada. Você sabe quantos homens fui forçada a chupar?! — eu prossigo e
ele solta um rosnado feroz.
No entanto, isso não me faz parar.
— Você sabe quantas pessoas colocaram suas mãos e bocas em mim?!
Quantas pessoas me viram completamente exposta enquanto dançava
para elas ou participava de suas fantasias sexuais?!
Eu me encolho com o pensamento enquanto mais lágrimas escorrem
pelo meu rosto.
Estou completamente enojada, pensando em todas as coisas que fiz,
nas pessoas que fizeram coisas comigo.
Quanto mais eu tagarelo, mais irritado Logan fica e seus olhos se
escurecem.
Seu corpo treme de raiva quando seu lobo assume o controle,
agarrando meus braços e me forçando a recuar contra a parede.
Ele me pressiona contra ela enquanto rosna:
— Terei prazer em destruir qualquer pessoa que já tocou em você sem
o seu consentimento. Você é minha companheira e minha Luna. Aos
meus olhos, você é perfeita. Eu não me importo com o seu passado. Você
foi forçada a fazer coisas que não queria ou merecia. Eu só queria ter
encontrado você antes. A tempo de ter te resgatado daqueles desgraçados
antes que tivessem a chance de fazer você acreditar que não vale a pena.
Porque você vale. Você vale tudo.
Com isso, ele pousa um beijo desesperado em meus lábios, me
fazendo gemer de prazer.
Ele desliza o nariz ao longo de meu queixo e o enterra no canto do
meu pescoço, então respira profundamente.
Ficamos assim por um momento enquanto as faíscas percorrendo
meu corpo parecem acalmar minha mente e corpo em relação a minhas
inseguranças.
Quando Logan se afasta, vejo que seus olhos estão de volta à sua rica
cor chocolate.
— Nunca pense que não é boa o suficiente, pois você é. Você é tudo
que sempre esperei e desejei que minha companheira fosse. E estou
desesperadamente e completamente apaixonado por você, — confessa
Logan.
Eu derreto instantaneamente e meu coração parece que vai explodir
no meu peito.
Depois de digerir o que ele disse, um sorriso se espalha pelo meu
rosto.
Vendo minha expressão, ele sorri feliz de volta para mim antes de
passar seus braços em volta do meu pescoço e me beijar mais uma vez.
É como se ele estivesse tentando canalizar todo seu amor naquele
beijo, me deixando sem fôlego.
— Eu também te amo, — eu sussurro de volta enquanto ele descansa
sua testa contra a minha.
Posso sentir meu rosto esquentar enquanto um rubor sobe pelo meu
pescoço e bochechas.
Ele fecha os olhos e solta um suspiro de alívio, fazendo um sorriso
suave aparecer em meus lábios.
Continuamos a nos acariciar e a nos beijar, envoltos em nossa própria
bolha. Não consigo nem me lembrar da última vez que me senti tão feliz.
Finalmente, ele se afasta de mim.
— Precisamos fazer um monte de coisas. Começando por convocar
uma reunião com os anciãos.
Não posso deixar de torcer o nariz ao pensar neles. A maioria deles
não parecia muito agradável, pelo que pude observar.
Logan ri da minha expressão antes de comentar.
— Eu me sinto da mesma forma. Infelizmente, eles estão tentando se
conectar mentalmente comigo desde o ataque e eu os bloqueei. Quanto
mais eu adiar, mais furiosos ficarão.
Soltando um suspiro, eu respondo:
— Tudo bem. Eu preciso ir à reunião? — Ele faz uma careta como se
achasse que seria uma má ideia.
— Se eu vou ser Luna, não é algo em que eu deveria ser incluída?
— Bem... sim... mas a maioria dos anciãos é bastante difícil, e não
tenho pressa em sujeitá-la a toda a sua ira.
— O que isso significa? Você acha que eles ficarão infelizes por eu ser
sua companheira e Luna ?
Logan hesita como se não quisesse responder, e sinto meu coração
afundar.
— Ei, ei... Não leve para o lado pessoal. Eu não dou a mínima para o
que eles pensam, — ele insiste, segurando minha bochecha, sabendo o
que eu devo estar pensando.
— Eles são só um bando de velhos tolos de mente estreita que estão
presos em seus velhos hábitos. Alguns deles aceitarão numa boa. Há
apenas alguns com os quais estou preocupado. Particularmente Elder
Rancis. Ele nunca fica feliz com nada e sempre encontra algo para
reclamar. Está sempre tentando irritar os outros. Só não quero que você
os escute nem leve a sério qualquer coisa que eles digam. Não importa o
que aconteça, você é minha e eu nunca vou desistir de você. Lembre-se
de que a própria Deusa da Lua escolheu você para mim. Claramente, ela
viu algo em você que talvez nem mesmo você veja em si mesma.
Respiro fundo enquanto acalmo meus nervos.
— Ok, vou com você.
Ele dá um sorriso largo para mim.
— Essa é minha garota. — Então, se inclina para frente e beija minha
testa antes de fazer o link.
Quinze minutos depois, Logan e eu estamos a caminho da sala de
conferências que eles sempre usam para suas reuniões.
— Tenho certeza de que teremos alguns membros que serão muito
rudes e críticos. Tente ser paciente e não fique na defensiva. Lembre-se,
não importa o que aconteça, você é aquela que eu escolhi e que a Deusa
da Lua escolheu. O que eles pensam não importa. Estamos apenas
fazendo a cortesia de mantê-los informados sobre os negócios da
matilha. Não é um teste se você será ou não uma boa Luna. Entendido?
Inspirando profundamente, tento imaginar uma armadura em mim.
As observações contínuas dele me deixam preocupada, como se eu
precisasse ter a casca dura para passar por esta reunião.
Considerando minha outra experiência com o conselho de anciãos,
ele pode bem estar certo. Dou a ele um breve aceno de cabeça enquanto
nos aproximamos das portas.
Ele pega minha mão e a leva aos lábios, dando um beijo casto ao
longo dos meus dedos.
— A Luna se senta à minha esquerda e meu beta à minha direita. Vou
puxar a cadeira para você e nos sentaremos, seguidos por todos os
outros. Só meus pais e o beta já sabem que você é minha companheira,
então espere alguns comentários desde o início. Pronta?
— Tão pronta quanto posso estar, — eu admito.
Ele me dá um sorriso tranquilizador.
— Você vai se sair bem. Como da última vez.
Eu fico na ponta dos pés e dou-lhe um beijo rápido para me dar
coragem antes de me afastar. Ele estende a mão para a porta e me
permite entrar primeiro.
A sala fica em silêncio enquanto todos inclinam a cabeça para seu
alfa.
Passo pela cadeira que o vi ocupar da última vez e vejo que a que ele
disse ser destinada à Luna está vazia.
Na última vez que estive aqui, seu pai estava sentado nela. Eu me
pergunto se Logan já o avisou sobre o que vai acontecer.
Ele faz como disse e puxa a cadeira para mim antes de tomar seu
lugar em frente ao assento à minha direita.
Assim que ele se move para se sentar, faço o mesmo. Imediatamente,
um velho de rosto vermelho do outro lado da mesa solta um bufo.
— O que significa isso?! O lugar desta garota não é aqui! O que ela
pensa que está fazendo?! — ele brada. Eu o reconheço da última vez.
Ele era definitivamente o pior de todos os anciãos e sempre parecia
que estava tentando colocá-los um contra o outro.
Ele também parece frequentemente esquecer seu lugar e está
constantemente questionando as decisões de seu alfa.
— Silêncio, — Logan diz, com firmeza, e o homem
surpreendentemente fecha a boca.
— Temos algumas coisas para discutir. Em primeiro lugar, por que
não se apresentam, já que Everly ainda não conhece todos vocês.
Seu pai se levanta primeiro e me cumprimenta gentilmente, seguido
por sua mãe. A próxima é a senhora idosa.
É
— Meu nome é Iliana Blackwood, avó do alfa. É uma honra conhecê-
la oficialmente, Srta. Everly. O que você fez para resgatar todos aqueles
jovens escravos foi realmente corajoso.
— É uma honra conhecê-la também, Sra. Blackwood, — eu respondo
com um sorriso suave e um aceno de cabeça, que ela corresponde antes
de se sentar mais uma vez.
Eles prosseguem, dando a volta no círculo. O restante dos anciões
inclui ex-alfas, betas, gamas e guerreiros de elite.
O único que é flagrantemente rude é Elder Rancis, que era o beta
quando o bisavô de Logan era alfa.
— Isso é um absurdo! Por que estamos perdendo tempo com
apresentações quando ela nem mesmo é um membro desta matilha?! —
ele exclama após murmurar seu nome e qualificações.
— O que deveríamos discutir é o que faremos a respeito daquele alfa
da Blood Fangs Pack!
Alguns dos demais resmungam, concordando.
— Obviamente, Beta Cole e eu já começamos a discutir os planos para
lidar com a Blood Fangs Pack e Alfa Damon..., — Logan começa.
Elder Rancis zomba, interrompendo:
— Se você tivesse apenas devolvido a garota a ele, isso não seria um
problema. Você está colocando esta matilha em perigo! E tudo para quê?!
Um rosto bonito e uma boa foda?
Minha boca se abre e meus olhos se arregalam. Não posso acreditar
que ele disse isso.
Nem preciso olhar para Logan para saber que ele está prestes a
explodir. Elder Rancis vai se arrepender de sua atitude desrespeitosa.
Tenho certeza disso.
Capítulo 37
Logan

— Mais uma observação insolente sua, Rancis, e você será jogado nas
masmorras, — eu rosno para ele enquanto meus punhos se cerram,
prontos para esmurrar o homem desprezível.
— Lobisomens foram criados para serem criaturas nobres que,
protegem a vida humana. Então, não. Não vamos entregá-la para ser
estuprada, espancada e escravizada. Nós a protegeremos. Não apenas
porque é o que fazemos, mas porque ela é minha companheira e SUA
futura Luna.
A boca dele se abre e seus olhos redondos se arregalam em choque.
Vários outros membros também parecem surpresos, alguns
começando imediatamente a discutir entre si.
Quando Rancis finalmente consegue superar seu espanto inicial,
fecha a boca e respira com raiva pelo nariz, como um touro pronto para
atacar.
Seu rosto fica vermelho e eu dou a ele um olhar penetrante,
desafiando-o a me dar uma razão para seguir em frente com minha
ameaça.
Ficamos sentados olhando um para o outro por um momento, até
que ele se acalma o suficiente para dizer, com os dentes cerrados.
— Ela está aqui há um tempo, Alfa, e esta é a primeira vez que você
menciona isso. Isso é algum truque para escapar da escolha de uma Luna
entre nossas candidatas apresentadas?
Eu sorrio, gostando de como parece ser difícil para ele não contestar.
— Garanto que isso não é qualquer tipo de truque. Eu sei desde o dia
em que a encontrei que ela é minha companheira. Eu não queria que
toda a matilha soubesse antes que tivesse a chance de informá-la sobre
isso. Já que eu sabia que ela não sentiria o vínculo de acasalamento tão
instantaneamente quanto eu, queria ter tempo para nos conhecermos e
para ela começar a sentir o vínculo antes de dizer-lhe que ela era minha
companheira.
— Sim, mas a razão pela qual ela não pode sentir o vínculo é porque
ela não é lobisomem. Uma Luna humana coloca a matilha em risco.
Outras matilhas nos verão como fracos, e ela não será capaz de proteger
a si mesma ou aos outros se for atacada. Os inimigos vão tentar usá-la
contra você, — Rancis insiste.
— Acredito que ela é perfeitamente capaz e já provou o quão forte ela
é. Ela sobreviveu a atrocidades que ninguém deveria ter que suportar,
mas aqui está ela diante de você. Vários de meus homens já a aceitaram
como sua Luna. Já a aceitei como minha Luna. E pretendo fazer sua
cerimônia de Luna o mais rápido possível para garantir que toda a
matilha saiba antes de sermos atacados novamente. Quero que todos
saibam por quem e pelo que estão lutando. Eu não estou lhes dizendo
isso para que seja discutido. Estou lhes contando por que é uma decisão
que já tomei e da qual não serei demovido.
— Esta escolha afeta toda a matilha! Você deveria ter vindo até nós
antes de tomar uma decisão tão importante! Ela não é adequada para ser
Luna !
Everly limpa a garganta e se levanta antes de falar com sua voz doce.
— Se me permite, posso lhe fazer uma pergunta, Elder Rancis?
Ele parece surpreso ao ser abordado por ela, mas dá a ela um breve
aceno de cabeça.
— Como me tornei a companheira de Alfa Logan?
A boca dele se torce conforme vejo sua mente tentando processar.
Não tenho certeza se ele está lutando contra a vontade de discutir
mais ou tentando descobrir se ela o está enganando.
— A Deusa da Lua escolhe companheiros para todos os lobisomens.
Minha companheira acena em compreensão.
— E você confia na Deusa da Lua? Você acredita que ela pensa nos
seus melhores interesses? — ela pergunta.
Elder Rancis parece estar percebendo o que ela está fazendo.
Infelizmente, ele já caiu na armadilha.
Ele não pode falar mal da Deusa da Lua ou os outros anciões se
voltarão contra ele.
— S... sim. A Deusa da Lua se preocupa com todas as suas criações.
— Então, você está questionando a decisão dela de me tornar a
companheira de seu alfa?
— Uh... eu... umm..., — ele gagueja.
Minha avó solta uma risada antes de responder.
— Ela pegou você, Rancis. — Ela então se vira para Everly.
— Ninguém em sã consciência questionaria a Deusa da Lua.
Acreditamos que ela sabe tudo e que tem um plano para todos nós. Ela
sabia o que estava fazendo quando fez de você a companheira dele e
quem somos nós para questioná-la?
Vários entre os demais acenam com a cabeça e murmuram em
concordância.
Vovó logo continua:
— Já posso dizer que ela fez a escolha certa. Você é espertinha e tem
muita resistência dentro de você. Acredito que é exatamente disso que
meu neto precisa.
Ela dá à minha companheira um sorriso malicioso e uma piscadela e
alguns outros soltam pequenas risadas.
— Então, acho que está resolvido, — eu digo, voltando meu olhar
mais uma vez para as pessoas sentadas ao redor da mesa.
Meus olhos encontram cada um deles enquanto determino se posso
esperar problemas da parte deles. O único em quem não confio é Rancis.
Tenho certeza de que vou acabar ouvindo mais a respeito dessa
história. Terei de tentar ficar de olho nele.
Eles saem em fila, vários parando para me parabenizar por encontrar
minha companheira.
Muitos comentam sobre sua força e beleza, e concordo plenamente
com eles.
Depois que todos saem, coloco a mão nas costas de Ev e a conduzo
para fora antes de receber um link mental de um dos homens em
patrulha.
— Alfa, acho que vai querer vir para a fronteira norte, — afirma.
Solto um suspiro.
— Alfa Damon ou um de seus asseclas Já voltou?
— Uh... Não exatamente. A Luna dele está aqui com doze garotas
humanas.
Inclino a cabeça para o lado, confuso. O que ela estaria fazendo aqui,
e por que teria um bando de humanas com ela?
Eu olho para Everly e me dou conta. Essas meninas são
provavelmente outras escravas que seu companheiro comprou.
— Estou a caminho.
— Há algo acontecendo na fronteira norte. Por que você não vai
encontrar Mia e se divertir com ela um pouco enquanto dou uma
olhada?
Ela levanta uma sobrancelha para mim.
— O que está acontecendo? É algo com Alfa Damon?
— Não, mas parece que a Luna dele e outras escravas estão aqui.
— Então, eu vou com você. Se aquelas garotas foram estupradas por
aquele bastardo, elas podem não se sentir confortáveis perto de outros
lobisomens, — ela afirma.
— Sempre teimosa, não é, meu amor? — eu pergunto com um sorriso,
enquanto me inclino e beijo sua testa.
Quando me afasto, tomo sua mão e saímos, subindo em um dos SUVs
que estavam esperando. Não demora muito para chegarmos à torre de
vigia que me informou sobre nossas visitantes.
Eu saio e um dos meus outros homens abre a porta para Everly,
ajudando-a a descer do banco do passageiro.
Nós imediatamente ficamos juntos. Eu tomo sua mão e caminhamos
até onde os demais estão reunidos.
— Alfa, Luna, esta é Luna Mara da Blood Fangs Pack. Ela pediu para
conversar com você sobre seu marido, Alfa Damon, — o guarda chamado
Carlos comenta assim que alcançamos o grupo.
— Luna, o que você gostaria de discutir? — pergunto, enquanto cruzo
meus braços.
Ela é a companheira de Alfa Damon. Eu me recuso a baixar a guarda
perto dela. Isso pode facilmente ser algum truque que ele orquestrou.
— Tenho algumas notícias de meu marido que acho que você pode
gostar de saber. No entanto, em troca, gostaria de refúgio para minhas
meninas aqui. Sei que sua matilha resgatou outros daquela
monstruosidade imunda comandada por Lord Lacroix. Eu esperava que
mais doze não fizessem mal. Se necessário, eles podem ajudar seus
ômegas a cozinhar e limpar. Algumas delas também são bastante
habilidosas em jardinagem, — afirma.
Ela tem uma aparência severa com o cabelo preso em um coque
apertado no topo da cabeça e os lábios finos enrugados com um batom
vinho escuro.
Suas mãos estão cruzadas na frente dela, e sua postura é
perfeitamente ereta, embora ela seja bastante baixa, com o que eu
imagino ser apenas um metro e meio de altura.
— Isso depende das informações que você tem para mim, — retruco,
encarando-a, esperando que ela seja mais direta.
— Alfa Logan, arriscamos muito para vir aqui. Se você não fornecer
abrigo, então terei que levar minhas garotas para outro lugar e não tenho
tempo a perder. Agora, devemos ir ou você vai nos convidar para entrar?
Eu pressiono meus lábios, tentando esconder o sorriso que está
querendo sair.
Estou irritado, mas, ao mesmo tempo, não posso deixar de admirar
sua coragem. Sua teimosia certamente me lembra de outra mulher que
conheço.
Falando nisso, sinto minha linda companheira se aproximar de mim,
dando um passo à frente de forma a ficar no campo de visão de Luna
Mara.
— Luna Mara, perdoe minha grosseria, mas eu gostaria de apresentá-
la a minha companheira, Everly, futura Luna da Red Moon Pack.
Ela não parece reconhecer minha companheira até que eu digo seu
nome e seus olhos se arregalam de surpresa.
Luna Mara se concentra em Everly e faz uma pequena reverência com
a cabeça.
— É uma honra conhecer a garota que conseguiu escapar das garras
de meu marido. E como você se elevou, muito impressionante, de fato, —
ela diz à minha companheira antes de se virar para mim.
— Então, ela é uma companheira verdadeira ou uma eleita?
— Verdadeira companheira, — eu respondo, passando um braço em
volta da cintura de Everly, deixando minha mão descansar em seu
quadril. Amo a sensação de ela estar tão perto de mim.
Luna Mara sorri.
Um sorriso pequeno, mas que chega até seus olhos, que mostram um
brilho, fazendo-a parecer mais carinhosa do que a mulher severa que
esteve diante de mim até agora.
— Parabéns para vocês dois. Esta é realmente uma notícia
maravilhosa.
— Obrigado, Luna. Agora, quais informações você tinha para nós? —
Everly pergunta.
Seu tom é gentil, mas contém autoridade, mais uma prova de que ela
nasceu para ser uma líder.
— Temo não me sentir segura declarando o que sei abertamente,
assim. Existe algum lugar mais privado?
Olho para Everly para ver o que ela acha. Ela me oferece um sorriso
reconfortante e acena com a cabeça em encorajamento.
— Sim, por que você não vem ao meu escritório? — ofereço, antes que
Everly interrompa.
— Eu vou encontrar vocês dois lá. Primeiro, por que não levo nossas
outras convidadas para a sala de jantar para que possam comer e se
aquecer?
— Isso seria maravilhoso. Obrigada, Luna Everly, — Luna Mara
responde com outro sorriso direcionado à minha companheira.
Everly inclina a cabeça para ela antes de gesticular para que as
meninas a sigam.
— Devon, Antonio, leve-as de volta nos SUVs. Elas andaram tempo o
suficiente no frio. Depois, fiquem com elas no refeitório e garantam que
sejam devidamente servidas.
Os dois acenam com a cabeça antes de correr atrás de Everly e das
outras garotas. Eu me viro para Luna Mara e mostro a ela o veículo em
que Everly e eu chegamos.
Abro a porta e ela rapidamente entra antes de eu ocupar o banco do
motorista.
— Então, me diga, o que foi tão importante a ponto de arriscarem
suas vidas para vir aqui? — eu pergunto enquanto coloco o carro em
movimento.
— Receio ter ouvido meu marido, e parece que Lord Lacroix
concordou em ajudá-lo a resgatar Everly.
Capítulo 38
Everly

Depois de mostrar o refeitório às garotas da Blood Fangs Pack, vou


até os dois guardas.
— Garantam que todas comam o suficiente e vejam se elas precisam
de mais cobertores ou suéteres para se aquecer. Assim que terminarem,
veja se alguma delas precisa ir à enfermaria para que seus ferimentos
sejam examinados, — digo a eles.
— Sim, Luna, — eles comentam em uníssono antes de eu ir embora.
Cole se apressa em minha direção quando eu começo a subir a ampla
escadaria.
— Eles foram ao escritório de Logan em seu andar privado, — ele me
informa. Eu aceno e nós dois subimos para ver o que Luna Mara tem a
dizer.
Assim que chegarmos à porta, Cole a abre e gesticula — primeiro as
damas — antes de me seguir.
Ele se senta ao lado da Luna e eu dou a volta para ficar ao lado de
Logan.
Ele se afasta um pouco da mesa antes de me puxar para seu colo.
Eu fico tensa no início, me sentindo um pouco estranha até que ele
começa a traçar círculos suaves nas minhas costas, o que imediatamente
me relaxa.
— Então, Luna Mara, por que você não nos conta tudo o que sabe? —
Logan pergunta voltando sua atenção para ela.
— Meu marido está decidido a levar Everly de volta. Quando pediu
ajuda a Lord Lacroix, ele recusou. Infelizmente, não muito depois de sua
missão de resgate, ele mudou de ideia. Acho que está querendo vingança
pelas perdas que sofreu com o incêndio e a perda da, bem... por falta de
um termo melhor, 'mercadoria'. Enfim, eu os ouvi conversando. Damon
contou a Lacroix sobre a facilidade com que sua matilha derrubou os
selvagens que ele recrutou. Eles querem aumentar seu número para
atacar novamente. Obviamente, será à noite, já que os vampiros vão
ajudar. Parece que estão estimando pelo menos uma semana ou mais até
terem a força que sentem que precisam para ter sucesso em recapturar
Luna Everly, — ela explica, acenando com a cabeça em minha direção.
Logan continua suas ministrações, ajudando a aliviar minhas
ansiedades enquanto ouço Luna Mara falar sobre os dois homens que
mais temo em minha vida.
Ele se inclina para trás em sua cadeira, franzindo as sobrancelhas para
ela.
— Então, devemos esperar um número maior do que em seu último
ataque e a ajuda de um número desconhecido de vampiros? Eles
disseram alguma coisa sobre quantas pessoas querem tentar ajudá-los?
— Eles não disseram especificamente, mas sei que Damon se ofereceu
para falar com os outros bandos do norte. Quando Lacroix perguntou
por que ele pensava que eles arriscariam seus homens para resgatar uma
escrava humana, meu adorável companheiro respondeu que permitiria
que eles pegassem qualquer loba que quisessem de sua matilha como
recompensa por sua ajuda. Também se falava em obter ajuda de uma
bruxa das trevas ou feiticeiro. Lacroix tem muitos contatos de suas
aventuras a negócios. Infelizmente, isso é tudo que sei que pode ser útil
para você. Espero que seja o suficiente para ajudar.
— Obrigado, Luna Mara. Todas as informações que você nos deu
certamente nos ajudarão a nos preparar, — Logan afirma antes de me
remover suavemente de seu colo e se levantar, inclinando a cabeça para
ela enquanto o faz.
Ela retribui o gesto antes de fazer o mesmo comigo.
Eu a imito, visto que esse parece ser o protocolo adequado ao lidar
com outros alfas e Lunas.
Cole faz o mesmo antes de abrir a porta para ela.
— Você e suas... humm... garotas podem ficar o tempo que quiserem.
Ela dá a ele um sorriso triste.
— Infelizmente, eu preciso voltar. Meu companheiro é um bastardo
horrível, mas não vai me machucar fisicamente. Se eu ficar, isso poderia
causar mais problemas a você e sua matilha. Sem mencionar que não
quero que ele perceba onde estive. Isso pode fazer com que mudem os
planos, e então tudo teria sido em vão.
Logan acena em compreensão antes de Cole se oferecer para levá-la
até lá fora. Ele fecha a porta atrás deles e me viro para Logan.
Ele vem até mim e passa os braços em volta da minha cintura,
puxando-me para ele antes de enterrar o nariz no canto do meu pescoço.
Ele respira meu cheiro e solta um suspiro.
— Não se preocupe, amor. Eu vou te proteger, não importa o que
aconteça.
Eu estendo a mão e corro meus dedos por seu cabelo escuro. É tão
macio ao toque que fico extasiada enquanto acaricio-o para frente e para
trás suavemente.
— Eu sei. Só não quero que nada aconteça com você ou com esta
matilha.
— Nós ficaremos bem. Esta não é a primeira batalha que temos que
lutar.
— Então, qual é o plano?
— Obviamente, precisaremos recrutar Delisia para ajudar. Queremos
que ela coloque feitiços de proteção em torno das fronteiras, casa da
matilha e sala de segurança. Vamos dobrar as patrulhas e guardas à noite
e aumentar temporariamente nossos exercícios de treinamento. Vou
falar com Delisia sobre ajudá-la a treinar para usar seus poderes. Ela
provavelmente seria a melhor pessoa para ajudá-la com isso. Parece que
seus poderes devem ser acessados da mesma forma que as bruxas
acessam os delas. À noite, quero você treinando com os guerreiros. Dessa
forma, mesmo que não tenha obtido o controle de seus poderes
elementais, terá um conhecimento básico de autodefesa. Não importa o
que aconteça, você terá guardas constantes. Até que Damon e Lacroix
serem neutralizados, vou dobrar sua escolta pessoal.
— Dobrar?
— Sim. Axel e Connor estão de olho em você há algum tempo. Mas
vou acrescentar mais alguns. — Eu levanto uma sobrancelha para ele.
Não posso acreditar que ele teve homens me observando sem meu
conhecimento ou permissão.
— Não me olhe assim. Eu os designei para você quando Alfa Damon
solicitou uma reunião comigo. Eu não queria que você saísse da casa da
matilha porque não queria que ele visse você ou sentisse seu cheiro.
— Certo. Você está perdoado desta vez. Da próxima, não esconda
coisas assim de mim.
— Bem, agora que você sabe quem é para mim, isso não deve ser um
problema.
— Ótimo, — eu respondo, antes de ficar na ponta dos pés para pousar
um beijo casto em seus lábios.
Começo a me afastar, mas ele aperta mais o abraço em volta de mim,
trazendo sua boca para a minha mais uma vez.
O beijo é cheio de paixão, amor e luxúria. Sua língua desliza para
dentro da minha boca enquanto ele coloca as mãos em volta das minhas
coxas e me encosta na parede.
Eu coloco minhas pernas em volta de sua cintura enquanto nossas
línguas dançam e massageiam uma à outra, lutando pelo domínio.
Ele esfrega a protuberância crescente em suas calças contra minha
vulva, me fazendo gemer.
— Vamos continuar isso no quarto, — sugiro, humildemente, quando
seus lábios começam a se mover para baixo no meu pescoço.
Ele se afasta para olhar para mim.
— Tem certeza? Não precisamos nos apressar. Vou esperar o tempo
que você precisar, — ele me garante, acariciando minha bochecha com
amor.
Tive uma vida horrível que ninguém deveria ter que suportar, mas se
foi aqui que ela me trouxe, então valeu a pena.
— Sempre tive esperança de que o dia em que perdesse minha
virgindade fosse em meus próprios termos. Fiz o que precisava ser feito
para protegê-la pelo maior tempo possível. E, se há alguém no mundo a
quem quero me entregar totalmente, é você. Você é como um sonho
tornado realidade para mim. Portanto, a resposta à sua pergunta é sim,
tenho certeza. Mil vezes sim. Agora, por favor, Logan, faça amor comigo.
— Seu desejo é uma ordem, — ele responde em uma voz baixa e sexy
que faz um arrepio correr pela minha espinha.
Ele rapidamente me levanta enquanto eu passo minhas pernas em
volta dele mais uma vez.
Solto uma risadinha e enterro meu rosto em seu pescoço, respirando
seu cheiro inebriante de homem.
Suas mãos fortes seguram minha bunda enquanto caminhamos pelo
corredor, e eu começo a beijar seu pescoço antes de mordiscar sua orelha.
Ele solta um gemido antes de seus lábios atacarem minha garganta.
Ele passa apressado pelas portas duplas de seu quarto e as fecha, seus
lábios nunca deixando minha pele.
Ele me deita suavemente na cama antes de sua boca começar a
explorar cada centímetro da minha pele exposta.
Suas mãos apalpam e massageiam meus seios, seus polegares
acariciando levemente os bicos, fazendo-me arquear as costas para ele.
Eu quero mais, desesperadamente.
Suas mãos percorrem meu corpo, deslizando por baixo da minha
blusa. Sensações de formigamento explodem em meu corpo e eu aperto
minhas pernas ao redor dele.
Minha vagina esquenta com cada beijo e carícia.
Apenas seu toque me fazendo gemer seu nome, o que por sua vez
parece deixá-lo mais excitado ainda.
Seus lábios quentes e macios beijam, lambem e beliscam meu
estômago enquanto ele desce pelo meu corpo, e eu me contorço embaixo
dele.
Enquanto sua boca continua a trabalhar meu corpo em um frenesi,
suas mãos descem e arrancam minhas calças de cima de mim.
— Deusa, você é tão linda, — ele murmura contra meu estômago
antes de se sentar por tempo suficiente para remover meu sutiã e a blusa.
Ele solta um rosnado rouco enquanto seus olhos observam meus
seios expostos.
Ele leva um em sua boca enquanto o outro é provocado por sua mão
errante. Sua língua circula e se torce contra o meu mamilo antes que ele
o morda suavemente.
Gemidos e choramingos saem de mim com suas carícias
deliciosamente torturantes.
Ele trabalha meu corpo de modo que eu me torno uma bagunça
trêmula antes de ele se colocar entre minhas pernas.
Seus lábios se movem para cima e para baixo em minhas coxas
enquanto ele se move lentamente em direção ao meu centro quente e
úmido. Ele suga meu clitóris em sua boca com força e eu arqueio para
ele.
— Porra! Oh, Logan...
Sua língua órbita ao redor do meu clitóris e minhas pernas começam
a tremer enquanto ele o lambe.
Ele começa a lamber meus sucos avidamente, me bebendo como se
ele não quisesse desperdiçar uma gota.
Eu me contorço e esfrego contra sua boca enquanto sua língua entra
no meu buraco. Ele empurra para dentro e para fora de mim até que
estou me desfazendo.
Nunca senti nada tão devastador antes em minha vida.
Percebo vagamente que a terra está tremendo debaixo de nós, mas
não me importo.
Estou muito focada nas coisas incríveis que Logan está fazendo ao
meu corpo.
Ele se levanta enquanto se posiciona entre minhas pernas, sua ereção
maciça posicionada e pronta para entrar no meu centro.
— Você tem certeza de que quer fazer isso? — ele pergunta uma
última vez.
— Tenho certeza.
— Podemos parar sempre que você precisar. É só dizer. Ok?
Eu sorrio para ele. Ele é tão incrivelmente maravilhoso. Eu tenho
tanta sorte. Ele é tão carinhoso e gentil e tão sexy.
— Ok, — murmuro baixinho.
Ele acena com a cabeça antes de alcançar a mesa de cabeceira e puxar
o pacote de alumínio em formato quadrado.
Ele rasga antes de deslizar o preservativo e imediatamente entrar em
mim.
Ele o faz com cautela, me dando tempo para me acostumar com a
intrusão antes de entrar mais fundo.
No início, a sensação é dolorosa e desconfortável, mas conforme meu
corpo se ajusta a ele, a dor se transforma em prazer.
Ele puxa lentamente antes de empurrar de volta uma e outra vez.
— Porra, você é tão boa. Você é tão apertada, — ele geme enquanto
seus quadris se movem e se esfregam em mim, empurrando para dentro e
para fora.
O calor consome meu corpo enquanto jogo minha cabeça para trás e
sons de minha satisfação preenchem o espaço.
As poucas velas espalhadas pelo quarto de repente acendem, mas
estou apenas focada na sensação dele indo cada vez mais fundo em mim.
Seus lábios traçam meu queixo e pescoço. Sua mão brinca com meus
bicos sensíveis e meu clitóris.
Meu orgasmo aumenta até que estou gritando seu nome, a sensação
maravilhosa correndo por mim como ondas.
Ele diminui o ritmo um pouco, me deixando recuperar o fôlego
enquanto coloca beijos suaves por todo o meu rosto.
Ele provocadoramente se move para dentro e para fora de mim em
um ritmo constante enquanto se inclina sobre mim.
Eu posso sentir seu hálito quente contra minha bochecha, e isso faz
meu coração palpitar no meu peito.
— Eu quero marcar você, — ele geme baixinho no meu ouvido.
Eu me afasto um pouco para olhar para ele interrogativamente.
— O que isso significa?
— É algo que os lobisomens fazem com suas companheiras para
mostrar a todos que você está comprometida, que você é minha, — ele
começa, e eu instantaneamente fico tensa com a ideia de ser propriedade
de alguém até que ele continue.
— Minha companheira, minha Luna, meu amor, minha rainha, — ele
termina antes de beijar até onde meu pescoço encontra meu ombro.
Solto um gemido desesperado enquanto passo as pernas em torno
dele, puxando-o para mais perto de mim.
— Sim. Marque-me, — eu sussurro sedutoramente em seu ouvido.
Seu corpo estremece e ele se vira para me encarar antes que nossos
lábios se encontrem.
Seu beijo está me devorando e reivindicando antes de seus lábios se
moverem de volta para o canto do meu pescoço.
Seus caninos afiados roçam contra minha pele antes de afundarem
em mim. A dor dura apenas um momento antes que o prazer intenso se
siga.
Ao mesmo tempo, ele bate fundo em mim.
— Oh Deus! Oh, Logan! — gemo.
Mais uma vez, a pressão aumenta dentro de mim, causando
convulsões em meu corpo enquanto ele estimula todas as áreas certas,
me deixando em frenesi.
Sua língua desliza sobre a mordida, lambendo o sangue, e um gemido
escapa dos meus lábios. Tudo o que ele faz para mim parece o paraíso.
Não sei se algum dia vou me cansar disso.
— Oh merda, Everly... Você é incrível..., — ele geme enquanto
continua dirigindo para mim.
Depois que eu cheguei ao clímax mais algumas vezes, ele finalmente
se permite fazer o mesmo, nós dois gemendo alto enquanto gozamos
juntos.
Ele cai em cima de mim antes de enterrar o nariz no meu pescoço.
Ele inala profundamente, e, quando exala, sua respiração me faz
cócegas, fazendo-me contorcer embaixo dele.
Ele solta uma risada rouca que vibra contra mim. Beijando levemente
minha têmpora, ele rola e se dirige ao banheiro adjacente para se limpar.
Logo, ele está se juntando a mim na cama mais uma vez e me
puxando para ele de modo que minha cabeça repouse em seu peito nu.
Seu dedo acaricia suavemente minha espinha para cima e para baixo,
embalando-me em um sono feliz que eu nunca senti antes.
Capítulo 39
Lord Vlad Lacroix

Solto um rugido alto de raiva! Ela deveria ser minha depois que o alfa
arrogante perdeu sua chance!
Já temos um plano para o nosso ataque. Tenho certeza de que
também teria funcionado.
Infelizmente, agora não quero matar aquele hipócrita Alfa Logan. Eu
quero puni-lo. Quero punir os dois.
Toda essa matilha vai pagar o prejuízo que me causou!
Os efeitos do sangue de Ruby estão diminuindo agora, mas ainda
consigo ver pequenos vislumbres através de seus olhos.
Minha linda Ruby se entregou àquele vira-lata imundo. Eu podia
sentir seu desejo e seu prazer.
Eu podia ver a maneira como ele olhava para ela com olhos cheios de
luxúria. A cada segundo que passava, mais minha raiva ferveu dentro de
mim. Era para ser eu! Eu deveria ser o primeiro a saber o que é estar
dentro de sua boceta virgem e apertada.
E agora aquele maldito pulguento estragou tudo para mim.
Eu jogo um vaso contra a parede e ele se estilhaça com o impacto, a
poeira voando para cima em um sopro de ar. Então eu viro a mesa com
outro rosnado feroz.
Victoria Dupont se apressa depois de ouvir o barulho.
— Está tudo bem aqui, senhor? — ela pergunta, seu olhar
rapidamente passando pela sala destruída antes de retornar para
encontrar o meu.
— Coloque Alfa Damon no telefone! AGORA! — eu exijo.
Seus olhos se arregalam quase imperceptivelmente com a minha
explosão antes que ela rapidamente acene com a cabeça e saia.
Apenas alguns segundos depois, o interfone do meu telefone emite
um bipe.
— Alfa Damon está na linha um, senhor.
Eu não me incomodo em responder a ela antes de pegar a linha
indicada.
— Alfa, quero mudar nosso plano de ataque à Red Moon Pack.
— O que? Por quê? Tudo já está definido, — ele questiona
asperamente, claramente irritado.
— Porque a prostituta entregou sua virgindade ao Alfa da Red Moon.
— O QUE?!! ESSA CADELA!!! Como você sabe?!!
— Ainda estou tendo vislumbres de quando bebi o sangue dela depois
do ataque ao meu negócio. Eu sei. E agora não quero apenas pegá-la e
matar o resto. Todos eles precisam ser punidos. Eu quero que eles se
arrependam de um dia ter nos traído, — eu exijo.
— Concordo. O que você tinha em mente?. — Um sorriso sinistro
imediatamente se espalha pelo meu rosto. Eu vou gostar disso.
Eu vou gostar muito disso.
Elder Rancis

Eu ando com raiva por um dos muitos corredores da casa da matilha


tentando descobrir o que fazer. Uma Luna humana?!
Isso é simplesmente inaceitável! Não há como ela ajudar a liderar
uma matilha de lobos! Especialmente uma tão grande e poderosa como a
nossa!
Ela vai nos tornar motivo de chacota! Sem falar que nos colocará em
perigo!
Assim que outros bandos descobrirem que temos uma Luna tão fraca,
começarão a nos atacar.
A maneira mais fácil de derrubar um alfa e ganhar o controle de sua
matilha é usando sua companheira contra ele.
Depois, há o fato de que os humanos são simplesmente uma espécie
inferior.
Claro, acredito que os lobisomens devem manter o equilíbrio e
protegê-los até certo ponto. Afinal, os humanos têm sua utilidade.
No entanto, não posso deixar uma deles se tornar nossa Luna. Preciso
descobrir uma maneira de acabar com esse absurdo.
E ela não é apenas humana, mas é uma maldita prostituta e escrava.
Nenhum lobisomem que se preze iria querer se curvar a ela.
Eu certamente não me curvarei.
Não há como a Deusa da Lua ter escolhido uma humana inútil como
companheira do alfa de uma das matilhas mais fortes da América do
Norte.
De repente, Rebecca Stanton entra no corredor e uma ideia surge em
minha cabeça.
— Srta. Stanton! — eu grito, forçando um pequeno sorriso. Suas
sobrancelhas franzem em confusão enquanto ela inclina a cabeça.
Ainda não fomos devidamente apresentados e agora é a hora de
remediar isso.
— Perdoe-me, minha querida. Sou Elder Rancis. Fui eu quem sugeriu
você como nossa Luna .
Um grande sorriso imediatamente aparece em seu rosto quando ela
vem até mim para apertar minha mão.
— É um prazer conhecê-lo, Elder Rancis. E muito obrigado por
confiar em mim. Eu só gostaria de estar mais confiante de que seu alfa
sente o mesmo, — ela responde, com uma carranca.
Claro, eu sei tudo sobre sua encenação.
Ela é muito boa em agir de maneira gentil e amigável na frente das
pessoas que importam, mas quando se trata de pessoas de menor
importância, é uma vadia exigente.
Ou, pelo menos, parece ser esse o consenso geral com base no que eu
ouvi, além de ela ser faminta por poder e estar decidida a obter um título
de Luna .
— Infelizmente, descobri recentemente o motivo disso, — começo,
sorrindo por dentro ao ver que despertei seu interesse.
— É mesmo? E qual seria?
— Temo que durante nosso último encontro com os anciãos, ele
anunciou que a escrava humana é sua companheira, e que planeja fazer
dela sua Luna. Qual era o nome dela?... Ah, sim, Everly.
O rosto de Rebecca instantaneamente fica vermelho e sua mandíbula
se aperta de raiva.
Antes que ela tenha a chance de responder, eu continuo:
— Obviamente, o conselho é contra. Todos nós preferíamos você
como nossa Luna . E acredito que tenho um plano que vai garantir que
você obtenha esse título.
Ela sorri para mim diabolicamente, e quase consigo imaginar chifres
saindo de sua cabeça.
Eu sei que ela participará de qualquer coisa que possamos pensar para
consertar esta situação e conseguir ficar com Alfa Logan.
— Estou ouvindo...
Capítulo 40
Logan

Bip, bip, bip, bip.


Meu alarme toca ao meu lado e eu rapidamente deslizo a mão para
desligá-lo, tentando me mover o menos possível.
Minha adorável companheira ainda está dormindo, aninhada em
mim com a cabeça apoiada no meu peito.
Com ela em meus braços a noite toda, eu literalmente tive o melhor
sono da minha vida. Eu realmente não quero me levantar. Gostaria de
poder ficar na cama com ela o dia todo.
Infelizmente, temos muito o que fazer para nos preparar para o
próximo ataque.
Eu rolo para encarar Everly. Ela parece tão tranquila em seu sono,
como um anjo.
Coloco um beijo em sua têmpora antes de colocar outro em sua
bochecha, então em seu nariz e em cada uma de suas pálpebras.
Ela solta um pequeno gemido que me faz sorrir antes de começar a
distribuir beijos em seu pescoço.
Os olhos dela permanecem fechados, mas ela joga os braços em volta
de mim, me puxando para ela.
— Se é assim que meu despertador vai ser de agora em diante, eu
poderia me acostumar com isso, — ela geme sonolenta contra meu
ouvido e eu solto uma risada.
— Eu também, amor, — murmuro antes de colocar um beijo
carinhoso em seus lábios. Ela retribui o beijo, aprofundando-o
instantaneamente.
Quando eu finalmente me forço a me afastar, ela abre os olhos para
encontrar meu olhar.
— Eu te amo, minha linda companheira.
Ela dá um sorriso largo para mim.
— Eu também te amo.
— Infelizmente, precisamos nos levantar. Preciso levar você até
Delisia para que ela possa começar a treinar você, e há um monte de
coisas de que preciso cuidar no escritório antes de ir para o campo de
treinamento.
Ela solta um suspiro e responde em um tom ligeiramente amuado.
— Ok... — Eu repico um beijo rápido em seu nariz novamente antes
de afastar o edredom grosso de cima de nós.
Ela rapidamente se enrola em posição fetal.
— Porra! Está frio!
Eu estendo a mão e bato em sua bunda perfeitamente esculpida, e ela
solta um grito quando eu digo:
— Então levante-se e se vista.
— Ugh! Estou indo, estou indo, — ela argumenta, saindo da cama e
vestindo as roupas da noite anterior.
Ela vem até mim e coloca levemente a mão no meu peito antes de
subir na ponta dos pés para me dar um último beijo.
— Eu te encontro de novo aqui em alguns minutos, — acrescenta,
saindo do meu quarto para voltar para o seu.
Eu me pergunto se posso fazê-la se mudar oficialmente para o meu
quarto, agora que ela sabe que é minha companheira e terminamos o
processo de acasalamento.
De repente, ela coloca a cabeça dela surge na porta.
— Você acabou de dizer alguma coisa?
Eu levanto uma sobrancelha para ela em confusão antes de perceber o
que aconteceu.
— Ah... não... Agora que estamos totalmente acasalados, podemos ler
os pensamentos e sentimentos um do outro. Então você acabou de ouvir
meus pensamentos..., — eu concluo, me sentindo um pouco
envergonhado.
— Não tenha vergonha. Se você quer que eu me mude para cá, tudo
bem. Contanto que seja isso que você realmente quer, — ela responde
enquanto caminha totalmente de volta para o meu quarto.
Eu ando até ela, envolvendo meus braços em volta de sua cintura
enquanto olho para ela.
— Claro que é isso que eu quero. Se eu pudesse ter colocado você aqui
desde o primeiro dia, teria feito isso, — eu asseguro a ela.
Ela sorri para mim.
— Ok. — Eu dou outro beijo nela, incapaz de me cansar deles.
Ela parece se sentir da mesma maneira quando seus braços me
abraçam com mais força, me puxando o mais perto que humanamente é
possível.
Quando ela se afasta de mim, ela inclina a cabeça antes de perguntar:
— Então, seremos capazes de ouvir os pensamentos um do outro o
tempo todo?
— Não, apenas quando estamos perto, embora possamos sentir o que
o outro sente o tempo todo. E há maneiras de impedir o acesso um do
outro. Funciona muito como o link mental. É algo que você
provavelmente terá que praticar. Apesar de que, agora que estamos
ligados, você também pode se conectar comigo mentalmente se precisar.
Depois de sua cerimônia de Luna, você estará ligada a toda a matilha.
Ela acena com a cabeça, olhando para baixo.
— Espero poder descobrir essa coisa de bloqueio... Caso contrário, vou
acabar me humilhando, — Eu ouço seus pensamentos e deixo escapar
uma risada leve.
— Que tipo de pensamentos embaraçosos você tem?
— Não pense nisso. Não pense nada. Mantenha sua mente em branco.
Preciso ir. Antes de pensar em algo estúpido. Eu preciso me vestir para treinar
de qualquer maneira. Ugh... Mas eu odeio deixá-lo.
Eu não posso evitar de deixar escapar outra risada quando ela olha
para mim e seus olhos se arregalam instantaneamente.
— Merda. Isso vai ser difícil.
— Não se preocupe. Podemos praticar um dia desses. Por enquanto,
vamos nos preparar para sair. Quero que você tome café da manhã antes
de levá-la à casa de Delisia, — respondo.
Ela acena com a cabeça.
— Ok, parece bom. Eu volto já.
Depois de deixar Everly na cabana de Delisia para seu treinamento
mágico, vou direto para meu escritório.
Passei algumas horas examinando papéis e relatórios sobre nossas
descobertas a respeito de todos os associados conhecidos de Alfa Damon
e Lord Lacroix.
Cody e o resto de nosso pessoal de sistemas de segurança de alto
escalão desenterraram tudo o que puderam.
Queremos estar o mais preparados possível quando eles aparecerem.
Eu normalmente pediria ajuda a outras matilhas, mas preciso que eles
saibam que encontrei minha Luna primeiro, então não tenho certeza de
quantos estarão dispostos a ajudar.
Francamente, estou preocupado que as três matilhas que estavam
enviando candidatas para minha futura Luna não aceitem bem a
novidade.
Espero que eles entendam, já que ela é minha verdadeira
companheira, mas esse tipo de coisa é difícil de adivinhar.
— Alfa, posso falar com você? — Elder Rancis pergunta através do link
mental. Solto um gemido irritado. O que ele quer agora?
— Tudo bem. Venha ao meu escritório, — ordeno, antes de
rapidamente informar aos guardas para saberem que podem deixá-lo
passar.
Alguns minutos depois, alguém bate na porta.
— Entre, — eu grito, colocando alguns papéis de volta em uma pasta
de papel manilha.
Elder Rancis então entra segurando duas xícaras de café.
Ele caminha até mim e entrega um enquanto diz:
— Obrigado por me receber, Alfa. Eu só queria falar com você sobre a
situação com as candidatas a Luna.
Solto um suspiro irritado enquanto pego a xícara de café e coloco na
minha mesa.
— Everly é minha Luna. Não pretendo continuar com as outras
visitas, — comento, com os dentes cerrados.
Os olhos de Rancis se arregalam ligeiramente e então ele me corrige.
— Não, Alfa. Você está enganado. Não é isso que estou dizendo. Eu ia
apenas sugerir que alguém chamasse as duas outras matilhas e os
informasse do cancelamento. Além disso, para evitar perturbar o alfa da
Dark Shadow Pack, acho que você deveria falar com Rebecca
pessoalmente sobre a situação. Com sorte, eles verão que você está
tentando ser respeitoso e se desculpar.
— Eu deveria me desculpar por encontrar minha companheira?! — eu
rosno de irritação.
— Não, senhor, apenas pelo inconveniente de ela já estar aqui e ter
muitas esperanças. Ela parece estar apaixonada pelo senhor e precisamos
lidar com ela com delicadeza para evitar desagradar uma matilha tão
poderosa quanto a dela, — explica Elder Rancis.
Eu me inclino para trás na minha cadeira, olhando para ele enquanto
penso sobre o que está dizendo. Acho que tem razão. Tenho me
preocupado com a mesma coisa.
— Certo. Vou falar com Rebecca para que seja informada antes da
cerimônia da Luna e vou ligar pessoalmente para as outras duas matilhas
e explicar a situação.
— Muito bem, senhor. Acho que está fazendo a coisa certa, — ele me
garante antes de se levantar.
Ele estende a mão como se fosse apertar a minha. Eu acho isso
estranho. Nunca apertamos as mãos.
O sinal normal de respeito por um alfa é abaixar a cabeça.
Independentemente disso, começo a erguer minha mão para fazer o
mesmo gesto, antes que ele bata no café na minha mesa. A xícara tomba
no meu colo.
A queima instantânea do café escaldante me faz chiar por entre os
dentes enquanto pulo da cadeira.
— Deusa! Sinto muito, senhor!
— Está tudo bem, — eu rosno, tirando minha camisa molhada. —
Saia.
Ele inclina a cabeça rapidamente e sai correndo enquanto me viro
para tirar minha calça jeans.
Felizmente, meu escritório tem algumas roupas sobressalentes, então
vou me trocar bem rápido antes de ir para o campo de treinamento.
De repente, ouço a porta se fechar seguida por passos e arrastar de
roupas.
Imediatamente, eu me viro, me perguntando quem está no escritório.
Eu sei que não é Everly, embora ela seja a única outra que deveria ter
permissão para entrar e sair deste andar quando quiser.
Meus olhos se arregalam quando vejo Rebecca parada no centro do
meu escritório com nada além de calcinha de renda vermelha e um par
de sapatos de salto alto.
— Rebecca, o que você está fazendo?! Como você chegou aqui?! — eu
pergunto com raiva.
Ela sorri sedutoramente para mim enquanto caminha em minha
direção e me empurra para o pequeno sofá que fica ao longo da parede
do escritório.
Antes mesmo que eu possa registrar o que está acontecendo, ela está
montada em mim.
— O que diabos você pensa que está fazendo?! — eu questiono,
colocando as mãos em seus quadris, pronto para tirá-la de cima de mim.
Infelizmente, nesse exato momento a porta se abre e Everly entra.
Ela congela no meio do caminho assim que coloca os olhos na cena e
na posição comprometedora em que estou.
Eu empurro Rebecca de cima de mim e me levanto enquanto ela cai
desajeitadamente no chão.
Os olhos da minha companheira se enchem de lágrimas enquanto ela
balança a cabeça e começa a se afastar.
— Everly! Não é... — é tudo que consigo dizer antes que ela se vire e
saia correndo da sala.
Capítulo 41
Rebecca

Bem... Isso funcionou como um encanto.


Não posso evitar o sorriso satisfeito que aparece em meus lábios
quando os olhos de Logan estão focados na porta pela qual a prostituta
acabou de passar.
Ele dá um passo à frente como se fosse atrás dela, e eu rapidamente
agarro seu braço.
Escondo meu sorriso quando ele se vira para mim com um grunhido,
arrancando seu braço do meu aperto.
— Que diabos, Rebecca?!
Ele rapidamente se abaixa e pega a longa jaqueta que eu estava
usando e a coloca em meus braços antes de me empurrar em direção à
porta.
Eu cravo os calcanhares no chão e me volto para ele.
— Eu só estou tentando mostrar que poderia ser tudo o que você quer
em uma companheira e Luna, — eu lhe garanto enquanto agarro sua
mão, antes que ela possa se afastar.
Ele não precisa saber que eu já descobri sobre a vagabunda ser sua
suposta companheira.
Não posso acreditar que ele escolheria uma humana frágil em vez de
mim. Eu largo a jaqueta para que possa segurá-lo com as duas mãos
enquanto o puxo para mim.
— Eu já lhe falei de todos os benefícios que minha escolha como sua
companheira traria. Eu daria uma ótima Luna. Mas também seria uma
ótima companheira e amante. Eu posso te dar muito prazer. Deixe-me
mostrar a você.
Eu puxo sua mão, tentando colocá-la no meu seio nu, mas ele
rapidamente a puxa para longe de mim.
Seus punhos se fecham e abrem como se ele estivesse tentando se
acalmar.
— Como você chegou aqui? Esta área é restrita a todos, exceto
algumas pessoas selecionadas, e você não é uma delas.
Eu rapidamente afasto sua pergunta.
Não posso dizer a ele que Elder Rancis me ajudou a passar depois que
Logan deu aos guardas permissão para deixá-lo subir.
— Vamos, Logan. O objetivo de eu vir aqui era para que você pudesse
escolher sua Luna. Não é justo se você não me der todas as chances de
provar que sou quem você deseja. Você mal me deu tempo, — eu
continuo a pressionar docemente enquanto tento fazê-lo ver a razão.
Ele bufa e balança a cabeça antes de caminhar até um armário ao
longo da parede, abri-lo, puxar um par de jeans e vesti-lo.
Assim que ele também veste uma camisa, se volta para mim com uma
expressão séria.
— Escute Rebecca, eu estava querendo te dizer isso, mas encontrei
minha companheira. É ela quem eu quero.
Minhas sobrancelhas franzem para ele enquanto inclino minha
cabeça.
— Já estou aqui há quase uma semana. O que você quer dizer com
você encontrou sua companheira? Quem? — eu questiono,
aparentemente confusa e chateada.
Deusa... Eu deveria ser atriz.
— Everly. Ela é minha companheira e futura Luna.
Eu balanço minha cabeça enquanto chamo lágrimas para encherem
meus olhos.
— Mas ela esteve aqui o tempo todo! Por que você estaria me
contando isso agora?! — choro.
Logan parece genuinamente simpático, então decido puxar todos os
obstáculos.
— Por que você não pode simplesmente me querer? Por que ninguém
me quer? Eu só quero provar o quão grande Luna eu posso ser! Eu só
quero que alguém me ame!
Eu começo a soluçar, e antes que ele possa reagir, meus braços estão
em volta de sua cintura e enterro meu rosto em seu peito.
Ele congela por um momento antes de finalmente tentar me
confortar.
Ainda estou quase nua, e ele parece estar muito ciente desse fato
enquanto dá um tapinha de leve nas minhas costas, tentando me tocar o
mínimo possível.
— Rebecca, ela é minha companheira. Um dia desses, você encontrará
o seu. Você realmente quer estar em uma posição em que não seja capaz
de aceitá-lo? — ele pergunta, gentilmente.
Não vou dizer a ele que já rejeitei meu companheiro. Ele estava em
uma posição inferior e eu quero ser uma Luna.
Não posso acreditar que a Deusa da Lua teria escolhido para mim
alguém que não seja um alfa. Foi um grande insulto.
Eu o aperto com mais força e movo meu rosto até seu pescoço,
permitindo que meu nariz roce sua garganta.
— Eu quero você, Logan. Por que não posso ficar com você? Sua
matilha nem mesmo aceita alguém como ela. Ela vai apenas ameaçar a
segurança e estabilidade de sua matilha, — murmuro junto a ele antes de
ficar na ponta dos pés para dar um beijo em sua mandíbula.
Imediatamente, ele coloca as mãos nos meus ombros e me empurra
antes de me dar um olhar severo.
— A maioria dos membros da minha matilha que estão cientes dela a
aceitaram. Até agora, só houve um que foi contra, e ele estava aqui
poucos segundos antes de você aparecer, — ele afirma, estreitando os
olhos para mim.
Meu próprio olho alarga quando percebo que errei. Ele já está
juntando as peças do quebra-cabeça.
Mesmo assim, Elder Rancis me disse que todos estavam contra ela.
Ele disse que eu precisava seduzir Logan para que ele parasse de ser
egoísta e tolo e pensasse em sua matilha.
Se eu soubesse que não era o caso, não teria posto o pé na boca.
— Como você entrou aqui, Rebecca? — ele pergunta usando sua aura
alfa.
Apesar do meu próprio sangue alfa, posso sentir meu lobo querendo
se submeter. Felizmente, consigo lutar contra o desejo.
Em vez disso, bato o pé em desafio.
— Você realmente acha que sua matilha aceitará uma humana fraca e
inútil?! E por que diabos você iria querer aceitá-la?! Já ouvi as histórias,
Logan! Ela era uma espécie de escrava sexual! Como você pode aceitar
uma companheira que provavelmente fodeu metade dos homens ao
norte da fronteira?! — eu grito com ele.
Ele solta um rosnado feroz enquanto dá um passo ameaçador em
minha direção. Meus olhos se arregalam enquanto eu lentamente me
afasto dele.
— Nunca mais fale sobre minha companheira dessa maneira! Você
nem sabe do que está falando!
Os olhos dele brilham, negros, enquanto seu lobo luta para assumir o
controle. Ele se vira e dá alguns passos para longe de mim antes de se
virar.
— Diga-me agora. Elder Rancis encarregou você disso? — Eu fico
olhando para ele, me recusando a responder. Infelizmente, ele toma isso
como uma confirmação.
— Certo. Eu cuido dele. Agora, vista-se. Informarei seu pai sobre o
que aconteceu. Você voltará para sua matilha hoje. Vá arrumar suas
coisas. Um carro estará esperando por você na frente quando estiver
pronta.
Com isso, ele calça os sapatos e sai do escritório antes que um guarda
apareça de repente.
Ele aparentemente foi informado da situação enquanto me encara.
Sinto meu rosto corar enquanto coloco rapidamente minha jaqueta
de volta e fecho-a para não ficar completamente exposta.
O guarda então me acompanha todo o caminho até o meu quarto,
como se não confiasse em mim para fazer o que ele mandou. Solto um
bufo de irritação.
Não posso acreditar que ele é estúpido o suficiente para escolher
aquele pedaço de lixo usado em vez de mim. Que idiota.
Capítulo 42
Everly

Assim que meus olhos viram aquela cadela vestindo apenas calcinha e
salto montada em Logan, não consegui respirar.
Era como se isso fosse tudo em que meu cérebro pudesse se
concentrar. Meu coração parecia estar se despedaçando dentro de mim,
meu mundo inteiro desmoronando.
Assim que os olhos de Logan encontraram os meus, finalmente voltei
à consciência.
Virei-me o mais rápido que pude e corri de volta pelo caminho que
vim, fazendo o possível para conter as lágrimas que ameaçavam derramar
de mim.
Não posso acreditar que ele fez isso! Não posso acreditar que
realmente acreditei que era especial para ele!
Eu deveria saber que não devia cair nessa! Quem iria querer alguém
como eu?!
Logo, chego ao jardim e vejo que não há ninguém lá.
Caio de joelhos, as mãos em meu coração como se estivesse tentando
juntar seus pedaços.
Soluços atormentam meu corpo, e não consigo acreditar como estou
perdendo o controle. Há anos não fico dessa maneira.
Estando no Banco de Sangue por tanto tempo, eu tinha me tornado
muito boa em esconder e controlar minhas emoções, mostrando apenas
o que eu sabia que os clientes ou nossos mestres queriam ver.
Tudo isso parece ter voado pela janela agora.
Não consigo nem começar a racionalizar carregando isso, essa tristeza
inacreditável que estou sentindo agora.
Eu nem percebo que alguém veio atrás de mim até ouvir a voz baixa.
— Então, eu acho que Alfa Logan te contou? — o tom que ele usa
parece incrivelmente falso, enquanto tenta soar simpático.
Infelizmente, já testemunhei o comportamento desse cara muitas
vezes para cair em sua encenação. Não há absolutamente nada de bom
nele.
Eu não quero que ele me veja desmoronando assim. O desgraçado
não merece ver minhas lágrimas.
Eu inspiro tremulamente, enquanto limpo rapidamente meu rosto
molhado.
Levantando-me lentamente, sacudo a poeira antes de me virar para
olhar para o homem de rosto vermelho arrogante.
— Elder Rancis, infelizmente não sei do que você está falando, —
respondo friamente, embora os olhares presunçosos que ele me lança me
façam pensar que não vou gostar de sua resposta.
— Bem, que ele escolheu fazer de Rebecca sua Luna. Certamente ele
já lhe disse isso, não é? — Meu lábio começa a tremer, então eu o mordo,
controlando minhas lágrimas mais uma vez. Não posso desabar na frente
desse idiota.
É isso que ele quer, e me recuso a dar-lhe essa satisfação.
Em vez disso, eu apenas olho para ele, esperando que ele tenha
terminado de esfregar na minha cara e me deixe em paz.
Depois de um momento de silêncio, ele decide continuar:
— Então, de qualquer maneira, eu acredito que é melhor se você
deixar o território e deixar essa matilha para trás. Posso mandar alguém
para ajudá-la a empacotar suas coisas.
Meu olhar endurece e eu alcanço e começo a esfregar meu colar.
— Não se preocupe, — eu cuspo, com nojo, antes de me afastar e
caminhar até a grande fonte que está próxima.
Sento-me na beirada e continuo a esfregar a esmeralda em volta do
pescoço enquanto fecho os olhos e imagino o lugar que quero ir.
Só preciso de algum tempo para descobrir o que fazer a seguir, para
seguir em frente. Quando abro os olhos, vejo o interior do castelo da
minha tia e do meu tio.
Eu rapidamente movo as pernas em direção à fonte antes de me jogar.
Elder Rancis

Quando ela se afasta de mim, não consigo esconder o sorriso


satisfeito em meu rosto. Tudo está funcionando do jeito que eu esperava.
Em breve, a miserável sujeira humana terá ido embora e farei com
que Logan veja a razão. Rebecca é claramente a melhor escolha para
Luna.
A garota fraca que é sua verdadeira companheira se senta na fonte,
fechando os olhos como se tentasse se acalmar.
Eu me viro, pronto para ir contar a Rebecca as boas novas. De
repente, ouço respingos e olho por cima do ombro.
Mas em vez de encontrar a putinha ainda mal-humorada, não há
ninguém. Ela desapareceu no ar.
— Que diabos..., — sussurro para mim mesmo enquanto caminho de
volta para a fonte e olho para dentro. Obviamente, não vou encontrá-la
lá.
Tem apenas cerca de trinta centímetros de profundidade, se é que é
uniforme, mas o que foram os respingos? E para onde ela foi? Minha
audição está impecável devido aos meus sentidos de lobisomem.
Eu certamente a teria ouvido fugir.
De repente, meus olhos se arregalam com o som de passos apressados
vindo em minha direção. Vários cheiros me cercam, incluindo o de Alfa
Logan.
Eu me viro lentamente, sem fazer nenhum movimento brusco
enquanto tento manter a calma.
— Olá, Alfa, o que posso fazer por você? — eu pergunto, no meu tom
de voz normal.
— Elder Rancis, você está sendo acusado de trair seu alfa e sua
matilha e cometer traição, — ele diz, asperamente, e meu queixo cai.
Ele não pode fazer isso! Ele não tem direito! Estou apenas fazendo o
que é melhor para esta matilha!
Sinto minha raiva crescendo enquanto minha boca e meu cérebro
lutam para formar uma frase coerente, ainda tentando superar o choque.
É
É então que noto alguns guardas vindo até mim e agarrando meus
braços antes de algemá-los nas minhas costas.
— Isto é um ultraje! Estou apenas fazendo o que é necessário! Aquela
garota patética só teria causado dano à nossa matilha! — eu finalmente
consigo argumentar.
Alfa Logan me encara, sua aura alfa saindo dele em ondas.
— Você não tem nada a dizer sobre isso. Os anciãos são apenas
conselheiros. Eles não estão no comando. Eles não tomam as decisões.
Eu tomo. E minha verdadeira companheira estar ao meu lado e governar
como Luna é o que é melhor para esta matilha. Agora, não temos ideia de
onde ela está e há um alfa sádico e um mestre vampiro atrás dela. VOCÊ
colocou esta matilha em perigo. VOCÊ colocou sua Luna em perigo. E
por isso, você será punido de acordo.
O filhote arrogante então volta seu olhar para os guardas, um de cada
lado meu.
— Levem-no embora.
— Você não pode fazer isso! — eu grito quando eles começam a me
arrastar pelo caminho de pedra que leva para fora do jardim.
Eu me contorço em suas mãos enquanto tento me libertar,
esforçando-me para olhar por cima do ombro para ver Alfa Logan
olhando para mim com a mandíbula e os punhos cerrados.
— Os outros ficarão indignados com isso! Eles vão exigir minha
libertação!
— Pare, — ele ordena, fazendo com que os guardas parem
imediatamente, ainda me mantendo dominado.
Logan caminha até mim e os guardas me viram para encará-lo.
— Já informei os anciãos sobre sua traição e todos concordaram que
essa é a melhor coisa a fazer até que um julgamento seja realizado. Fique
feliz porque essa é toda a punição que está recebendo agora.
Seu tom é absoluto, e não posso deixar de me encolher enquanto ele
se aproxima de mim. Como ele pode não perceber que estou tentando
ajudá-lo?!
Ele acena para os guardas, que continuam seu caminho para as
masmorras. Eu luto todo o caminho enquanto tento fazê-los ver a razão.
Eles nem mesmo reconhecem que estou falando com eles, o que me
deixa ainda mais frustrado do que antes.
Logo, sou jogado em uma cela. É pequena e cheira a sangue, urina e
bolor.
Meus olhos lacrimejam instantaneamente com o fedor, pois é demais
para o meu olfato intensificado.
O aposento é escuro, a luz do sol mal entra devido às pequenas
janelas que são muito altas para que eu possa ver através delas.
Elas são cobertas por barras de prata que ajudam a bloquear a luz e
manter os prisioneiros confinados. Como diabos vou sair daqui?
Everly

— Ev! Que grande surpresa! O que você está fazendo aqui?! — Jed dá
as boas-vindas vindo até mim de braços abertos e me envolvendo em um
abraço de esmagar os ossos.
Passo meus braços em torno dele também, encontrando conforto em
seu abraço caloroso enquanto descanso minha bochecha contra seu
peito.
Quando ele finalmente se afasta de mim, coloca as mãos em ambos os
meus ombros e me olha.
Observando minhas feições, suas sobrancelhas franzem enquanto
uma carranca aparece em seu rosto.
— Você esteve chorando? O que há de errado? O que aconteceu?
— Eu... hmm — eu começo, antes de franzir os lábios. O que eu digo?
Conto a ele o que aconteceu? Falar sobre isso vai ajudar?
Ele parece sentir minha confusão e hesitação e me dá um sorriso
malicioso enquanto me cutuca com o ombro.
Passando um braço em volta de mim, ele me dá um abraço.
— Vamos dar um passeio, — ele sugere enquanto começa a me levar
em direção à grande entrada.
— Um passeio? — eu questiono, com uma sobrancelha levantada.
— Claro, — ele responde com um rápido encolher de ombros e um
sorriso. — Você já voou antes?
— Tipo em um avião?
Desta vez, ele inclina a cabeça, confuso.
— O que é isso?
Soltei uma pequena risada e balanço minha cabeça.
— Aparentemente, algo que não existe em seu reino, — eu respondo.
— Ah..., — ele diz antes de continuar. — Não, na verdade, eu estava
pensando em montar alguns Pégasos.
Meu queixo cai quando percebo que ele está me levando para os
estábulos. Não consigo evitar o grito que sai da minha boca enquanto
pulo para cima e para baixo.
— Nós vamos montar Pégasos?!
Ele ri da minha empolgação antes de apontar para os dois que estão
sendo conduzidos para fora dos estábulos por um jovem que reconheço.
— Ash?
— Olá, princesa, — ele responde em seu tom entediado normal e
expressão séria, embora eu tenha vislumbrado um sorriso que
rapidamente desapareceu.
— Oi, Ash. — Ele me entrega as rédeas de um Pégaso branco puro,
enquanto Jed pega um preto. — Obrigado.
Ash me ajuda a subir na sela de couro macio e me mostra onde
colocar meus pés para que minhas pernas não fiquem no caminho das
asas da criatura.
— Esta é Snow. Use as rédeas para guiá-la nas curvas e certifique-se
de inclinar-se com ele. Use suas coxas para segurá-la, especialmente ao
fazer curvas fechadas, — ele me diz.
Eu rapidamente aceno antes de Jed virar as rédeas com um pequeno
grito. Seu Pégaso instantaneamente salta no ar, então eu imediatamente
sigo seu exemplo.
A Snow ganha o céu e eu solto um grito de surpresa enquanto aperto
as rédeas com mais força.
Jed está ligeiramente à frente, então observo seus movimentos e
reações, fazendo o possível para imitá-lo quando ele muda de direção.
Depois que sinto que peguei o jeito, começo a prestar mais atenção ao
cenário.
Daqui de cima, o reino é ainda mais lindo. O vento sopra ao redor e
faz meu cabelo dançar atrás de mim.
O clima é quente aqui, diferente do clima frio do inverno no
Território da Red Moon.
Apenas o pensamento de voltar para lá faz meu coração se apertar
dentro de mim, uma imagem daquela cadela no colo de Logan
aparecendo na minha cabeça mais uma vez.
Meus olhos começam a lacrimejar de novo, e eu imediatamente pisco
para afastar as lágrimas antes de me forçar a focar no mundo abaixo. Este
lugar é realmente mágico.
Luzes brilhantes passam pelas árvores como se estivessem
perseguindo umas às outras.
As cores são tão brilhantes e vibrantes que meus olhos lutam para
absorver tudo, uma vez que cada pequena coisa parece chamar minha
atenção enquanto passamos voando.
Falésias altas são decoradas com cachoeiras cristalinas que brilham à
luz do sol, lançando arco-íris por toda parte ao seu redor.
É realmente como algo saído de um conto de fadas. Amo este lugar e
posso senti-lo finalmente me acalmando enquanto respiro o ar fresco e
florido.
Por fim, chegamos a um enorme campo de flores silvestres e vejo um
unicórnio pastando.
Eu imito Jed e seu Pégaso preto chamado Midnight quando eles
pousam.
Quando meus pés estão em solo firme, Jed me leva até um grande
lago que fica ao lado do campo.
A área é grande, quase do tamanho de todo o Território da Red Moon.
À minha esquerda está um enorme lago no fundo de uma cachoeira.
À minha frente e à direita se estende uma floresta que vai até onde a
vista alcança.
Jed se senta em um tronco caído próximo ao lago e eu me sento ao
lado dele.
— Então... você quer me dizer o que aconteceu?
Solto um suspiro enquanto olho para as minhas mãos e elas se torcem
no meu colo.
Meus olhos começam a arder com lágrimas novamente, e meu lábio
inferior treme antes de eu finalmente lhe dar um leve aceno de cabeça.
Logo, estou contando tudo a ele. Acontece que ele é um ouvinte
muito bom, já que não responde até que eu termine completamente
minha história.
Ele encara a cachoeira por um momento enquanto parece estar
pensando. Finalmente, ele se vira para mim.
— Ev... eu sei que você pode não estar pronta para ouvir isso... mas a
coisa toda não parece meio suspeita para você?
Eu inclino a cabeça, confusa, franzindo as sobrancelhas e apertando
os lábios.
— Eu não sei... será? — eu respondo, embora pareça mais uma
pergunta.
— Bem, pense sobre isso. Esse cara, Logan, parece realmente se
importar com você e disse que te ama. Ele diz que é seu companheiro e
até marcou você. Eu li sobre lobisomens e seus companheiros. É um
amor muito poderoso e que consome tudo para a maioria deles. E pelo
que parece, ele não lhe deu nenhum motivo para duvidar de que ele se
sente assim a seu respeito. Parece que é essa maldita garota... Rebecca?
Eu aceno para que ele saiba que disse o nome certo, antes que ele
continuar.
— Ela parece estar disposta a fazer e dizer qualquer coisa para te
irritar. Ela está com os olhos em seu companheiro, e eu diria que ela está
aproveitando todas as chances que tem para brincar com suas
inseguranças. Por último, você não acha estranho alguém ter vindo e dito
que Logan queria ver você, só para que você pudesse entrar enquanto ele
estava fazendo coisas com a garota?
Penso nisso enquanto uso uma vara comprida para desenhar na terra
a meus pés.
— Sim... eu acho que parece estranho, — eu admito, com um suspiro.
E como sua companheira, devo ser capaz de sentir o que ele está
sentindo.
Eu não sentia luxúria ou desejo por parte dele. Na verdade, senti
choque e raiva.
— Tudo o que estou dizendo é que acho que você precisa falar com
ele. Talvez tenha sido uma armação. Ou há algum tipo de explicação.
Você não tem que perdoá-lo, de forma alguma; de qualquer forma, parece
que ele se meteu em uma situação em que não deveria... Mas acho que
você precisa ouvi-lo antes de desistir dele. Quero dizer, esse vínculo de
companheiro é muito sério. Ele é literalmente sua alma gêmea, afinal.
Eu inclino a cabeça e a descanso em seu ombro enquanto solto um
suspiro e olho para a água ondulante diante de mim.
— Acho que você está certo, mas acho que preciso de mais tempo...
— Leve o tempo que precisar. Você sabe que pode ficar aqui o tempo
que quiser.
— Obrigado, Jed. Por tudo.
— Qualquer coisa por você, prima.
Capítulo 43
Logan

— Sinto muito, Logan. Não consigo senti-la em lugar nenhum. Acho


que ela voltou para o reino Fae, — Delisia diz, com um sorriso de quem
pede desculpas.
Minha boca instantaneamente se torce em uma careta.
Que bagunça do caralho.
— Existe alguma maneira de eu entrar em contato com ela? — Eu
pergunto, sabendo que nossa ligação mental não está funcionando.
Eu já tentei. Várias vezes.
Ela franze a testa e eu sinto meu coração afundar.
— Eu não sei, Logan. Posso ver se consigo pensar em algo, mas vai
levar algum tempo. E não posso dar nenhuma garantia.
Eu soltei um bufo enquanto passo a mão em frustração pelo meu
cabelo.
— Só... faça o que puder, ok? Eu preciso encontrá-la.
Ela me dá um breve aceno de cabeça antes de se levantar de sua
cadeira e ir para a despensa, onde estão todos os ingredientes para
feitiços e poções.
Eu afundo na minha cadeira enquanto meu rosto repousa em minhas
mãos. Ainda não consigo acreditar o quão perfeitamente Rancis e
Rebecca planejaram toda aquela cena.
Estou tão chateado por terem feito isso e conseguirem fazer minha
companheira fugir.
Eu ainda posso sentir sua dor e tristeza, seu sentimento absoluto de
traição enquanto seus olhos se arregalaram em compreensão.
Mesmo sabendo que não acabei intencionalmente em uma posição
tão comprometedora, ainda me sinto culpado.
Ainda me odeio por fazer Everly se sentir tão arrasada.
Através do vínculo, eu podia sentir todas as suas inseguranças
enchendo-a, fazendo-a acreditar que eu não a queria.
Ela ainda não acredita que eu não me importo com seu passado.
Claro, eu odeio a ideia de ela ter estado com aqueles outros homens...
aqueles clientes.
E odeio a maneira como ela foi abusada e tratada durante a maior
parte da vida, mas nunca a culparia. Ela é a perfeição absoluta.
Apesar de tudo que ela passou, ela ainda é gentil e corajosa e forte e
compassiva, tudo que eu poderia querer ou precisar.
E agora ela se foi e não tenho como alcançá-la. Tenho que encontrar
uma maneira de consertar isso.
***

Horas depois, Delisia tentou mais um feitiço falhado e não estamos


mais perto de chegar a Everly.
— Sinto muito, Logan... estou ficando sem ideias.
Eu ando para frente e para trás em sua pequena sala de estar
enquanto tento desesperadamente pensar em outra coisa que possamos
tentar.
Ela tentou invocar um portal para me levar ao reino Fae. Ela tentou
convocar Everly de volta para o nosso reino.
Ela até tentou encontrar maneiras de enviar mensagens através dos
reinos, mas nada funcionou, e estou perdido.
De repente, sinto alguém tentando entrar em meu link mental, então
deixo minha barreira cair. A voz de Cole então enche minha cabeça.
— Logan, ela está de volta.
— O quê?! Everly?! Ela está de volta?! Onde ela está? — Eu rapidamente
questiono enquanto meu coração dispara de alívio e excitação.
Eu tenho que chegar até ela. Não quero perder tempo.
— Cara, relaxe! — Cole insiste, me fazendo uma carranca.
— Foda-se. Onde ela está, Cole? — exijo imediatamente, sem humor
para jogos.
— Pedi ao guarda que a encontrou para acompanhá-la até o quarto. Ela
deve estar esperando por você lá, — responde ele.
Eu aceno e imediatamente me apresso na direção à casa da matilha
mais uma vez.
Subindo os degraus de dois em dois, vou correndo para o meu andar e
desço o corredor até o quarto dela.
Soltando um suspiro para tentar acalmar meu coração acelerado, bato
na porta. Depois de um momento, a porta se abre para revelar minha
linda companheira.
Ela tem seus lindos cabelos negros presos em um rabo de cavalo
bagunçado e está vestida com um moletom aconchegante sem
maquiagem, e eu a acho absolutamente deslumbrante.
No entanto, ela não parece tão feliz em me ver quanto eu em vê-la.
Assim que ela coloca os olhos em mim, cruza os braços
defensivamente sobre o peito, e seus lábios se transformam em uma
carranca leve.
Ela não se incomoda em dizer nada, então eu começo
hesitantemente,
— Ei... podemos conversar?
Ela dá um passo para trás enquanto abre mais a porta em resposta.
Eu lentamente me movo para dentro, então ela a fecha atrás de mim e
vai se sentar na beira da cama.
Seus braços permanecem cruzados como se ela estivesse tentando se
proteger de mim, e sinto meu coração doer. Eu nunca quis machucá-la
assim.
Eu me aproximo dela com cautela, como se fosse um animal ferido
que estou tentando não assustar.
Ajoelhando-me na frente dela, vou tocá-la e ela rapidamente se afasta
de mim, fazendo-me recuar a mão e estremecer como se tivesse sido
esfaqueado.
Olhando para ela, eu observo sua expressão fria enquanto ela tenta o
seu melhor para esconder suas emoções de mim. Infelizmente, ainda
posso senti-las dentro de mim.
Seu coração parece tão quebrado quanto o meu agora.
Sua tristeza e sentimento de traição voltaram com força total, mas
também posso sentir seu desejo de estar comigo e não posso evitar a
esperança que me preenche.
— Everly... eu te amo..., — eu começo antes que ela me rejeite e desvie
o olhar, balançando a cabeça, enquanto pisca para conter as lágrimas.
— Por favor... apenas me ouça. — Ela solta um suspiro antes de
balançar a cabeça, mas se recusa a olhar para mim enquanto seu olhar se
concentra em seu colo.
— Mandei Rebecca para casa e ela não vai voltar. Elder Rancis está
trancado nas masmorras, aguardando julgamento por traição.
Isso parece chamar sua atenção e ela finalmente olha para mim com
os olhos arregalados, chocada com a revelação.
Eu coloco minhas mãos sobre as dela e desta vez ela permite.
— Foi tudo uma armação, Ev. Rancis pediu para falar comigo. Ele
derramou café quente em mim e fui me trocar. Rebecca entrou enquanto
eu estava de costas. Rancis insistiu com os guardas que eu tinha lhe dito
para trazê-la com ele ao nosso encontro. Eu fui pego de surpresa. Estava
tentando tirá-la de cima de mim quando você entrou. Mais tarde,
descobri que foi Elder Rancis quem pediu a um guarda que lhe dissesse
que queria ver você em meu escritório. Eles planejaram tudo para você
pegar eu e Rebecca, mas juro que nada aconteceu. É você quem eu quero.
Sempre foi você. Por favor, Ev... Perdoe-me..., — imploro, agarrando suas
mãos com mais força e levando-as aos lábios, salpicando-as com beijos.
Ela permanece quieta olhando para mim, estudando meu rosto, se
perguntando se deveria acreditar em mim.
Depois do que parece uma eternidade, ela suspira e balança a cabeça.
Meu coração se aperta.
Por favor, Deusa... Não me deixe perdê-la. Posso sentir meus olhos
ardendo de lágrimas.
Nunca fui de chorar, mas apenas o pensamento dela não me perdoar,
não estar comigo, é demais para mim.
— Por que eu deveria acreditar em você? Existe alguma prova do que
você está dizendo?
Eu olho para ela com os olhos arregalados enquanto minha boca fica
aberta por um momento. Ela finalmente falou comigo.
E sua voz é como música para mim, fazendo meu coração disparar.
Deusa... senti tanta falta do som de sua voz.
— Sim! Existe! Fiz questão de obter suas confissões em vídeo para
garantir que as teríamos para o julgamento de Rancis. Se você precisa
disso, pode assisti-las. Farei qualquer coisa para ajudá-la a acreditar em
mim. Eu te amo muito, muito, Everly. Estar longe de você... saber que
você pensou que eu estava me divertindo com Rebecca... que eu a
queria... Isso está me matando.
Eu beijo mais suas mãos antes de enterrar meu rosto em seu colo
enquanto passo os braços em torno dela, trazendo-a para mim, me
recusando a deixá-la ir.
Suas mãos agora livres começaram a acariciar meu cabelo
suavemente. Eu fico completamente imóvel, apreciando a sensação de
seu toque e não querendo que pare.
Finalmente, eu olho para ela, meus olhos implorando.
— Nada assim pode acontecer de novo, — ela comenta severamente
enquanto olha para mim.
Eu freneticamente aceno para ela.
— Juro pela minha vida que vou passar o resto dos meus dias me
certificando de que você saiba o quanto eu quero você e só você, meu
amor.
Ela me oferece um sorriso triste enquanto passa os dedos pelo meu
cabelo mais uma vez.
Eu me levanto e sento na cama ao lado dela antes de puxá-la para o
meu colo.
Eu passo meus braços em volta de sua cintura e me aninho na curva
de seu pescoço, onde minha marca ainda está.
— Eu te amo mais do que qualquer coisa no mundo, minha linda e
maravilhosa companheira.
— Eu também te amo, Logan, — ela responde suavemente antes de
me abraçar. Ficamos sentados ali por um tempo, apenas nos abraçando e
confortando um ao outro.
Eu amo senti-la. Ela se encaixa perfeitamente em mim. Ela realmente
foi feita apenas para mim, minha companheira perfeita.
Eu começo a colocar beijos suaves ao longo de sua clavícula e até seu
pescoço esguio antes de continuar em sua mandíbula.
Ela inclina a cabeça para me permitir mais acesso enquanto traço um
caminho até sua orelha.
Eu a belisco levemente antes de sussurrar:
— Acho que é hora de apresentá-la a toda a matilha como sua Luna.
— Mesmo? Tem certeza? — ela questiona, hesitantemente.
— Absolutamente. É hora de oficializarmos. Muitos deles já sabem, de
qualquer maneira, mas desta forma podemos ter certeza de que você está
totalmente protegida quando Alfa Damon e Lorde Lacroix atacarem.
Ela fica um pouco tensa com a menção a seus antigos captores e eu a
aperto contra mim.
— Eu vou te proteger com meu último suspiro. Você nunca vai voltar
para eles.
— Não faça promessas que não pode cumprir, Logan. Ambos são
muito fortes e poderosos, e não há como dizer o que planejaram para
nós. E meus poderes ainda estão fracos.
— Então volte para Delisia. Pratique mais. Vou avisar minha mãe para
acertar os detalhes de sua cerimônia de Luna e a faremos esta noite.
— Esta noite?! — ela engole em seco com os olhos arregalados.
Eu não posso deixar de sorrir de sua expressão assustada.
— Não se preocupe, meu amor. Você vai se sair bem. Eles vão te amar
quase tanto quanto eu. Quase.
Capítulo 44
Everly

Depois que Logan e eu nos separamos, caminho em direção à cabana


de Delisia na beira da floresta.
Continuei a treinar enquanto estava com minha família em Volaria
Fatamir, a capital do Reino Fae. Foi frustrante, para dizer o mínimo.
Não importa o que eu fizesse, não importa o quanto eu me
concentrasse, minha magia se recusava a funcionar corretamente.
Assim que chego à casinha aconchegante, bato na porta antes de
ouvir o barulho de pés. Apenas um momento depois, Delisia atende a
porta.
— Everly! Graças à Deusa você está de volta! — ela grita antes de me
atacar com um abraço apertado que me tira o fôlego.
— Não consigo respirar! — eu suspiro, e ela rapidamente me solta
com uma risada.
— Desculpe! Estou tão animada! Alfa estava uma bagunça desde que
você foi embora!
Eu faço uma careta, me sentindo um pouco culpada. Eu sei que não
deveria, e eu sei que Logan não me culpa de forma alguma.
Mas eu poderia ter dado a ele a chance de explicar sem decidir
desaparecer de todo o reino para onde ele não seria capaz de entrar em
contato comigo.
Soltando um suspiro, balanço a cabeça.
— Desculpe por isso..., — eu começo antes que Delisia
imediatamente me interrompa.
— Menina! Não se desculpe! Se eu topasse com o cara que deveria ser
meu companheiro nesse tipo de situação, eu teria fugido para outro
reino também, porque, se não o fizesse, provavelmente mataria a cadela e
castraria o desgraçado traidor, — ela exclama, e eu não posso deixar de
sufocar uma risada, surpresa com sua explosão.
— Lembre-me de nunca te chatear, — eu respondo com uma risada
enquanto entro. Ela sorri e encolhe os ombros para mim.
— Eu esperava que pudéssemos treinar mais. Duvido que ainda
tenhamos muito tempo antes que eles decidam atacar, e ainda não
consigo te ajudar.
Seus lábios se apertam antes que ela me dê um breve aceno de cabeça.
— Tudo bem, então, vamos ao que interessa, — afirma e me leva para
os fundos, onde conduzimos meu treinamento mágico.
***

Algumas horas depois, estou muito mais do que frustrada.


— Argh! — eu rosno, batendo meu pé em irritação.
Minhas emoções levam a melhor sobre mim, e as chamas que estão
dançando entre as tochas disparam para o céu, um reflexo da minha
raiva.
— Hmm... — Delisia diz pensativa enquanto bate no queixo com o
dedo indicador, com os lábios franzidos.
Ela se afasta do local onde estava encostada na parede e caminha até
mim.
— Talvez estejamos fazendo isso da maneira errada.
— O que você quer dizer? — Eu imediatamente questiono.
— Bem, fadas e bruxas controlam sua magia da mesma maneira. Só
temos que imaginar o que queremos e funcionará como desejamos. No
entanto, nascemos com os poderes. Essa magia está sempre correndo
através de nós. No seu caso, porém, você não é um ser mágico de sangue
puro. Você é meio-humana.
— Ok, então?
— Entããão, talvez isso signifique que precisamos fazer algo diferente.
— Como o quê? — eu pergunto, desejando que ela apenas se apresse e
diga o que tem em mente.
— Bem, eu percebi que seus poderes parecem sair com força total
sempre que você está sentindo uma emoção forte. Normalmente, eu vejo
isso quando você está muito zangada ou frustrada, embora eu ache que
outras emoções fortes podem ter o mesmo efeito, — ela explica.
— Você está dizendo que eu deveria concentrar minhas emoções em
meus poderes, em vez de toda a coisa de imaginar?
— Não... as duas coisas juntas. Por exemplo, imagine o elemento que
você deseja manipular e, em seguida, concentre-se nele com uma forte
emoção enquanto o faz fazer o que deseja.
Aperto os lábios em uma linha fina enquanto olho de lado, cética,
antes de bufar.
— Acho que vale a pena tentar.
— Claro que vale.
Eu fecho os olhos e começo a inspirar e expirar lenta e
continuamente.
Depois de limpar minha mente, penso no fogo, na maneira como ele
se move, no calor intenso. Eu me pergunto que emoção devo invocar, me
decidindo pelo amor.
Meus sentimentos por Logan estão entre os mais fortes que já senti e,
agora, enquanto estou em paz, é isso que me vem à mente.
Eu me concentro em quão cheio meu coração se sente quando vejo a
maneira como ele olha para mim, a maneira como ele me toca. Penso na
pura alegria que sinto quando estou com ele.
Eu deixo todos os meus bons sentimentos me envolverem, me
enchendo até que estou pronta para explodir. E então eu mudo meu foco
de volta para o fogo dançando nas tochas.
Começando devagar, verificando se parece estar funcionando, faço as
chamas aumentarem. Até agora tudo bem.
Eu começo a testar meu controle, apenas fazendo pequenas
mudanças.
Cada vez que dá certo, um sorriso se espalha pelo meu rosto, feliz por
meus dons finalmente estarem funcionando.
Eu volto minha atenção para a tocha que está mais próxima de mim,
fazendo a chama crescer até atingir três metros no ar antes de se curvar
em um círculo, saindo da tocha de forma a ficar simplesmente suspensa
no ar enquanto gira como uma roda de fogo.
— Oh meu Deus! Ev! Você está conseguindo! — Delisia grita.
A ligeira distração faz o anel vacilar, mas eu rapidamente recupero o
controle antes de apagá-lo completamente.
Ela corre e salta sobre mim, dando-me mais um de seus abraços
esmagadores. Eu tropeço para trás com uma risada enquanto a abraço
também.
Não posso acreditar que finalmente consegui fazer isso.
Até agora, tudo o que consegui fazer com a minha magia foi por
acidente, quando minhas emoções estavam intensas, ou então a magia
falhou em continuar.
Nós praticamos um pouco mais antes de eu finalmente voltar para a
casa da matilha para me preparar para a cerimônia da Luna. Estou tão
nervosa.
Eu sei que Elder Rancis não concorda com Logan me reivindicando
como sua companheira e Luna, mas o que o resto do bando pensará?
Quantos deles se sentirão da mesma maneira que Rancis? Embora eu
ache que também não sou a mesma garota que chegou aqui.
Não sou mais apenas uma humana. Sou parte Fae. Eu tenho poderes,
até mesmo mais do que qualquer uma das fadas.
Eu só preciso melhorar meu controle sobre eles. Felizmente, hoje foi
um grande passo na direção certa.
Com sorte, eu realmente poderei aprimorar minha magia antes de
sermos finalmente atacados.
***

Quando saio do chuveiro, alguém bate na porta.


Amarro rapidamente um roupão de algodão em volta do meu corpo e
abro, encontrando uma jovem que só vi de passagem.
— Uh... oi... posso ajudá-la? — eu pergunto com as sobrancelhas
franzidas, imaginando por que ela está aqui.
Ela sorri com vivacidade para mim segurando uma grande caixa nas
mãos.
— Alfa Logan me pediu para ajudá-la a se preparar para a cerimônia.
Meu nome é Bridget.
— Prazer em conhecê-la. Eu sou Everly. Por favor, entre, — eu
respondo, dando um passo para trás, abrindo mais a porta para que ela
possa entrar.
— É um prazer conhecê-la também, Luna. Todo mundo está muito
animado que Alfa finalmente encontrou sua companheira, — ela
responde, colocando o estojo enorme na penteadeira e o abrindo,
começando a puxar o que precisa enquanto gesticula para eu me sentar
na frente dela.
Ela me prepara antes de fazer meu cabelo e maquiagem com
perfeição.
O vestido escolhido tem alças finas e um decote em forma de coração
que me aperta até a parte mais estreita da minha cintura antes de
continuar em uma saia em formato de A.
O vestido é de um material azul transparente decorado com pequenas
joias que se agrupam no corpete, gradualmente se espalhando conforme
vão descendo no vestido.
A camada inferior é nude, fazendo parecer que estou exibindo mais
pele do que na realidade.
É lindo e me faz sentir como uma princesa... o que, na verdade, eu
sou. Ainda é difícil de acreditar.
Solto um suspiro de satisfação enquanto olho meu reflexo no espelho
de corpo inteiro. Minha vida mudou muito em tão pouco tempo.
E pensar que eu costumava ser uma escrava sexual e de sangue de um
bando de vampiros.
Agora, eu tenho um companheiro lobisomem alfa e uma família de
fadas reais vivendo em outro reino. É como um sonho.
Mas Deusa... se for, eu não quero acordar nunca.
Capítulo 45
Logan

Eu aperto e desaperto os dedos das mãos enquanto solto um suspiro.


Meu coração parece que está trovejando dentro do meu peito e minhas
palmas estão suadas.
Limpando-os rapidamente na minha calça do smoking, eu balanço a
cabeça. Por que diabos estou tão nervoso?
Eu me sinto como uma criança se preparando para convidar a garota
de quem gosta para sair em seu primeiro encontro. Finalmente, eu
levanto a mão e bato na porta de seu quarto.
Após a cerimônia, terei que fazer com que alguns dos ômegas levem
todas as coisas dela para o meu quarto.
De agora em diante, não vou deixá-la dormir em outro lugar que não
seja na minha cama. Eu sentiria muita falta de sua presença.
Bridget abre a porta com um grande sorriso no rosto.
— Oh, Alfa... espere até você vê-la, — ela exclama, feliz, antes de abrir
mais a porta de forma que vejo o interior do quarto.
— Ela está absolutamente deslumbrante.
Meus olhos se arregalam quando Everly sai do closet gigante. Bridget
não estava exagerando. Minha companheira é totalmente de tirar o
fôlego, literalmente.
Depois de um momento, eu pisco e engulo um pouco de ar muito
necessário enquanto ela quebra meu transe.
— O que você acha? Está tudo certo? Exagerado? Insuficiente? —
todas as perguntas soam tão ansiosas quanto me sinto.
Eu sorrio suavemente para ela enquanto me aproximo, pousando
minhas mãos levemente em seus quadris.
— Você está perfeita. Você é perfeita, — eu asseguro a ela antes de me
inclinar para colocar um beijo casto em seus lábios de rubi macios.
Afastando-me lentamente, vejo como seus cílios tremem antes de seu
olhar encontrar o meu.
— Obrigada, — ela murmura enquanto suas bochechas se aquecem
com o elogio.
Eu sorrio suavemente para ela enquanto me aproximo, pousando
minhas mãos levemente em seus quadris.
Ela inala profundamente e se endireita enquanto busca confiança,
então seus olhos me observam.
Ela puxa as lapelas do meu blazer e acrescenta:
— Você está muito elegante, a propósito.
— Obrigado, meu amor. Vamos? — ofereço a ela o braço, que ela
aceita de bom grado antes de sairmos pela porta.
Os guardas se enfileiram nas escadas e no corredor que nos leva ao
grande salão de baile onde a cerimônia será realizada.
Cada um deles nos faz uma reverência de respeito antes de
finalmente chegarmos à entrada.
Os guardas de cada lado das portas duplas as abrem para nós
enquanto Cole pula para o palco e agarra o microfone.
— Vejo que nossos convidados de honra estão aqui. Por que não
damos todos uma salva de palmas para Alfa Logan e sua verdadeira
companheira, Everly Valdus? — ele grita para a multidão, que
imediatamente começa a gritar e gritar enquanto conduzo Everly até o
palco.
Nós tomamos nossos lugares antes que Cole se vire para minha
adorável companheira.
— Everly Valdus, você jura honrar seu companheiro e alfa, Logan
Blackwood?
— Sim, — ela afirma.
— E você jura proteger esta matilha com o melhor de sua capacidade,
não importa a ameaça que se levante contra nós?
— Eu juro.
— E agora vamos conectar Everly à matilha, — Cole então afirma
puxando a adaga tradicional para o ritual.
Ele a entrega para Everly, que caminha até o pedestal próximo ao
microfone.
Há uma taça decorativa na parte superior que contém o sangue de
cada membro da matilha. Ela segura a mão sobre a taça e corta a palma
com a adaga.
Ela aperta a mão, espremendo seu próprio sangue na taça.
Ele cai e todos aplaudem e assobiam antes de Cole trazer um pano
para limpar seu ferimento.
Graças a ela ser metade Fae, o corte cicatriza em segundos, e ela volta
para mim. Cole se vira para a multidão mais uma vez.
— Eu gostaria de apresentá-los ao seu novo casal alfa, Alfa Logan e
Luna Everly Blackwood!
Vivas enchem a sala imediatamente, e puxo minha companheira para
mim, dando-lhe um abraço apertado. Estou tão feliz agora com ela ao
meu lado como minha Luna.
Ninguém vai ficar no nosso caminho agora. Toda a matilha a conhece
e a aceita como sua Luna.
Eles darão suas vidas para protegê-la se for necessário. Lunas são
ainda mais importantes para uma matilha do que um alfa.
Eles são como a figura maternal de todos os lobos de sua matilha, e
não consigo pensar em ninguém que seria melhor para esse papel.
Estou tão feliz por finalmente poder liderar este bando com minha
companheira ao meu lado. Agora, só precisamos neutralizar a ameaça de
Alfa Damon e Lord Lacroix.
Colocando a mão levemente em suas costas, levo Everly para fora do
palco.
Sorrimos e cumprimentamos as pessoas por quem passamos, várias
delas nos interrompendo para se apresentarem à sua nova Luna e
conversar conosco.
A Red Moon Pack é uma das maiores na área, e ela conheceu uma
monte de pessoas novas esta noite.
Minha companheira perfeita lida com tudo com graça e um sorriso de
boas-vindas no rosto, embora eu possa dizer que ela está oprimida.
Eu mantenho meu braço protetoramente em volta de sua cintura
enquanto tento usar nosso vínculo para acalmar seus nervos e
tranquilizá-la.
— Você está se saindo esplendidamente, — eu sussurro, inclinando-
me para a orelha dela, meus lábios roçando-a suavemente.
Eu sinto o arrepio que sobe por sua espinha, e não posso deixar de
sorrir. Adoro ver o efeito que tenho sobre ela.
Cada vez que minha pele roça a dela, os deliciosos arrepios que vêm
com nosso vínculo de companheiros passam por mim, e eu sei que ela
sente isso também.
Continuamos a nos misturar e circular pelo grande salão de baile, e
um grito atrai nossa atenção.
Eu olho para ver Cole e Sophie vindo até nós. Sophie me dá uma
rápida reverência de cabeça antes de puxar Ev para um abraço apertado.
Depois de soltar minha companheira, ela exclama:
— Você está linda, Luna! Eu amo esse vestido! Você está
deslumbrante nele!
Everly cora e dispensa os comentários de Sophie.
— Oh, por favor! Olhe para você! Você está linda!
Sophie dá um tapinha de leve em Ev como se estivesse dizendo para
ela parar, então muda de assunto.
— Então, como tudo está indo?
— Umm..., — minha companheira começa antes de estufar suas
bochechas e deixar escapar uma lufada de ar como se estivesse sem
palavras.
— Bem... só não sei como vou me lembrar de todos esses novos
nomes e rostos.
— Oh, não se preocupe com isso. A maioria de nós passou metade de
nossas vidas juntos. Eles vão entender que pode demorar um pouco para
aprender.
— Eu só... não quero decepcionar ninguém, — Everly murmura,
aparentemente para si mesma. Eu me pergunto se ela queria que
ouvíssemos ou não.
Se fôssemos humanos normais, certamente não aconteceria. Mas,
como somos lobisomens com uma audição extraordinária, obviamente
ouvimos.
Quando ela percebe isso, imediatamente cora, e eu deposito um beijo
suave sobre sua têmpora, puxando-a para mais perto de mim.
— Não há como você decepcioná-los. Muitos já viram como você é
valente e forte. Eu prometo, não há nada com que se preocupar.
— Sim, Ev. Você não tem nada a temer. O fato de que você já tem Alfa
enrolado em seu dedo mindinho é o suficiente para fazer o resto do
bando te amar, — Cole insiste com uma risada, dando-me uma
cotovelada provocadora nas costelas.
Eu faço uma carranca para ele e reviro meus olhos, embora eu seja
incapaz de não sorrir.
— Haha, muito engraçado. Você é um verdadeiro motim, Cole...
— Você sabe que me ama. Você é todo profissional e eu trago a
diversão! — ele comenta enquanto bate no meu peito com as costas da
mão.
Everly me dá um aperto brincalhão enquanto sorri para mim, e eu
sorrio de volta para ela. Deusa... eu amo essa mulher.
Estendendo a mão, eu carinhosamente afasto seu cabelo de ébano
macio de seu rosto.
Beijo sua testa e passo meus braços em torno dela antes que uma voz
soe na minha cabeça.
— Alfa, o jantar está pronto para ser servido.
Quando a festa finalmente se aproxima do fim, pego Everly no colo
em estilo nupcial e a carrego em direção às escadas até o nosso andar.
Com apenas um pouco de manobra, sou capaz de abrir a porta do
meu... NOSSO quarto.
Não a desço até chegarmos à cama, onde a deito suavemente antes de
tirar seus sapatos.
— Eu não sou uma inválida, sabe, — ela diz com um sorriso malicioso
enquanto se apoia nos cotovelos e levanta as sobrancelhas para mim.
— Claro que sei. Mas também sei que você está cansada e com os pés
doloridos, — rebato antes de subir na cama de modo que estou pairando
sobre ela.
— Isso pode ser verdade... Mas não estou muito cansada. Eu poderia
ser convencida a fazer outras coisas..., — ela comenta sugestivamente e
meu pau instantaneamente começa a endurecer.
Eu sorrio para ela enquanto me aproximo.
— Oh sim? Que tipo de coisas? — questiono enquanto passo meu
nariz ao longo de sua mandíbula antes de beliscar levemente sua orelha.
— Oh, eu não sei..., — ela começa inocentemente enquanto desvia os
olhos de mim, um sorriso brincando em seus lábios que ela é incapaz de
esconder.
Seu olhar se volta para encontrar o meu enquanto ela olha para mim
através de seus cílios escuros.
— Coisas sujas... Coisas sexy... Coisas que não requerem roupa... —
Seu sorriso se alarga para combinar com o meu.
— Eu acho que isso pode ser arranjado, — murmuro contra seu
ouvido enquanto me abaixo sobre ela.
Descansando entre suas pernas, pressiono meus lábios nos dela.
Nossos beijos começam doces e gentis antes de eu distribui-los ao longo
de sua mandíbula e até sua orelha.
Eu belisco seu lóbulo, fazendo-a gemer e inclinar a cabeça para trás.
Meus lábios então se movem ao longo de sua garganta delgada e
descem até minha marca, onde começo a chupar e beliscar a carne macia
lá.
Ela choraminga e esfrega seus quadris contra os meus, fazendo-me
sorrir com a boca nela.
De repente, ela me empurra para longe dela e para o lado antes de
subir em cima de mim, subindo o vestido até os quadris para que possa
facilmente montar em mim.
Eu agarro seus quadris enquanto eles começam a rebolar e eu
endureço debaixo dela, deixando escapar um gemido.
Ela se inclina, beijando-me apaixonadamente enquanto sua língua
quente entra na minha boca e ela continua a se esfregar contra mim.
Nossas línguas dançam e se massageiam enquanto lutamos pelo
domínio até que eu finalmente ganhe, assumindo o controle do beijo e
fazendo-a gemer em minha boca.
Minhas mãos deslizam por suas coxas e sob seu vestido até chegar a
sua calcinha, sentindo o material encharcado enquanto meus dedos
começam a provocá-la.
Meu polegar pressiona seu clitóris, circulando e estimulando
enquanto um dedo corre ao longo de sua entrada.
Ela pressiona seus quadris com mais força contra mim, me
estimulando para que eu deslize meu dedo dentro dela e comece a
empurrar antes de adicionar outro.
Posso sentir seu calor quente e úmido em torno dos meus dedos
enquanto começo a movê-los, fazendo um gemido desesperado escapar
de seus lábios.
Eu continuo a trabalhar nela até que a sinto apertar meus dedos,
pulsando em volta de mim enquanto seus gemidos se tornam mais altos
e mais consistentes.
A represa quebra, encharcando meus dedos, e eu inalo o cheiro de sua
excitação com um sorriso satisfeito.
Sentando-me, envolvo meus braços em torno dela e lentamente
deslizo o zíper para baixo nas costas de seu vestido antes de deslizar as
alças para baixo até que seus seios lindos estejam livres na minha frente.
Meus olhos estão acesos quando eu vejo seu corpo perfeito, e minhas
mãos começam a explorar seu corpo enquanto minha boca começa a
sugar e beijar seus seios.
Eu não me canso desta mulher maravilhosa. Seu cheiro, seu gosto,
sua beleza, a forma como seu corpo reage ao meu, é totalmente viciante.
Devastando seus seios macios enquanto eu chupo um dos deliciosos
bicos em minha boca, ela inclina a cabeça para trás em êxtase, deixando
escapar um gemido alto.
Nossas mãos começam a se agarrar e explorar desesperadamente,
como se não nos cansássemos. Ela empurra meu blazer antes de desfazer
o nó da minha gravata borboleta e atrapalhar-se com os botões da minha
camisa. É como se ela não pudesse se mover rápido o suficiente.
Ela lambe os lábios com fome enquanto tira minha camisa, expondo
meu peito nu.
Logo, nós dois estamos nus, nossos corpos emaranhados juntos, sua
pele macia e lisa pressionada contra a minha, meu corpo doendo por ela.
Eu a viro e ela cai de joelhos enquanto me posiciono atrás dela.
Meus dedos deslizam contra sua entrada, ficando encharcados em sua
umidade antes de deslizar meu membro duro em seu centro apertado e
doce.
Ela geme e arqueia as costas, pressionando-se ainda mais contra mim.
Eu começo a empurrar para dentro e para fora dela; o som de nossa
pele se chocando enche o quarto.
Minha mão se estende, acariciando seus seios e beliscando seus
mamilos enquanto a outra provoca seu clitóris, fazendo-a gemer e
choramingar ao meu toque.
Posso sentir meu lobo querendo assumir o controle, meus olhos
escurecendo.
Meu aperto sobe para sua garganta, envolvendo suavemente uma
mão em torno dela enquanto a trago para mim, segurando-a enquanto
continuo a bater contra ela.
Eu mordo a concha de sua orelha, belisco e beijo seu pescoço e
ombro. Essa mulher é tudo para mim. Ela é meu mundo.
E é tão bom estar dentro dela.
— Você é minha, — eu rosno quando ela começa a apertar em torno
de mim, sua maciez escorrendo por nossas coxas.
— Eu sou sua, — ela geme de volta para mim, fazendo-me aumentar
minha força e velocidade. Seu corpo treme e convulsiona enquanto
gemidos o atormentam.
Ela se quebra sob meus esforços, me ensopando ainda mais enquanto
chego ao clímax, rapidamente saindo quando minha semente brota em
suas costas.
Ela desaba na cama com os olhos fechados e um suspiro de
contentamento, parecendo exausta.
Eu sorrio para ela e tiro o cabelo de seu rosto antes de pegar um pano
úmido para limpá-la.
Vou ao banheiro e ligo a banheira, ajustando a temperatura até que
esteja certa antes de colocar alguns óleos.
Molho um pano embaixo da torneira antes de voltar para minha
adorável companheira, que está descansando pacificamente em nossa
cama, sem ter se movido um centímetro, embora seus olhos se abram
com a minha aproximação e ela me dê um sorriso sonolento.
Eu limpo suas costas antes de levantá-la em meus braços.
Levando-a para o banheiro, eu a coloco suavemente na banheira
antes de entrar atrás dela para que suas costas se apoiem no meu peito.
Pegando um pano limpo, coloco um pouco de sabonete e começo a
limpar seu corpo glorioso.
Ela solta um gemido suave enquanto inclina a cabeça para trás no
meu ombro e fecha os olhos. Uma vez que nós dois estamos limpos, eu
saio e me seco antes de pegá-la e enrolar uma toalha grossa em torno
dela.
Assim que nós dois estamos secos e vestidos, nós rastejamos para a
cama e eu envolvo meus braços em volta dela, puxando-a para mim.
Seu corpo se encaixa perfeitamente contra o meu, e eu respiro seu
perfume celestial, que instantaneamente me faz sentir uma calma
incrível.
Em minutos, estou dormindo.
— Alfa... Alfa... — Uma voz entra na minha cabeça, mas estou muito
confuso para registrá-la imediatamente.
De repente, um alarme começa a tocar, despertando Everly e eu de
nosso sono profundo.
— Alfa, estamos sob ataque.
Capítulo 46
Everly

Meus olhos se arregalam alarmados enquanto eu pulo na cama.


Logan também e eu pisco meus olhos enquanto ele já está pulando da
cama e se vestindo antes de me jogar um moletom.
Seus olhos estão desfocados e encobertos, seu corpo parece estar no
piloto automático.
Eu rapidamente visto as roupas que ele me deu enquanto o observo,
querendo saber o que está acontecendo.
Meu coração está disparado e tenho certeza de que já sei qual é a
emergência. Eles estão aqui para me pegar.
Logan solta um grunhido e seu olhar se vira para encontrar o meu.
Ele agarra minha mão e me arrasta para fora da sala enquanto
corremos pelo corredor em direção às escadas.
— Eu quero que você leve todos para a sala do pânico. Você vai ficar lá
com eles, — ele ordena, enquanto me puxa enquanto tento acompanhar
seus passos largos.
Eu sei a que sala ele está se referindo. Ele me mostrou quando
começamos a nos preparar para o ataque iminente.
Embora nunca tivesse planejado ficar lá com os outros. É um
aposento para aqueles que não podem lutar, mas eu posso.
— Eu não vou ficar lá, Logan. Eu posso ajudar, — eu insisto.
— Não, — ele rosna quando chegamos ao foyer.
Tudo está um caos completo enquanto os guerreiros saem correndo
pelas portas da frente e outros conduzem as crianças e outros para o
nível inferior, onde fica o quarto do pânico.
— Como assim 'não'? — eu pergunto enquanto eu olho para ele e
cruzo os braços sobre o peito.
Ele solta um suspiro irritado.
— Eu não tenho tempo para discutir, Everly. Você ainda não ganhou o
controle total de seus poderes. Não vou arriscar, especialmente quando
se trata de você. Ajude os outros, mantenha-os seguros e avisarei você
quando puder sair.
Minhas sobrancelhas se juntam em frustração e eu franzo os lábios.
Quero continuar discutindo a respeito, mas ele tem razão, não temos
tempo.
Eu me viro com raiva para fazer o que ele diz... ou pelo menos fazê-lo
acreditar que fiz... Eu ainda não decidi se ouvirei suas ordens ou
desobedecerei.
Tudo o que sei é que não me sinto bem com ele lá fora, lutando
contra duas ameaças fortes e quem sabe o que mais, enquanto estou
presa lá dentro, segura e aquecida.
Eu começo a andar antes de parar e suspirar. Se alguma coisa
acontecer, não quero que as coisas estejam assim entre nós.
Eu me viro para encará-lo novamente, mas ele já se foi. Lágrimas
queimam meus olhos instantaneamente, mas não as deixo cair.
Girando, eu continuo como estava, movendo-me com o fluxo de
outras pessoas.
Eu continuo a sinalizar para os membros da matilha, dizendo-lhes
para descerem e se apressarem.
Uma vez que a casa da matilha foi limpa e todos estão lutando ou lá
embaixo, eu sigo em direção à sala do pânico.
Quero ter certeza de que todos os filhotes e não-lutadores estão em
segurança dentro de casa antes de decidir sair para me juntar à batalha.
Eu entro na grande área da academia que fica no nível do porão da
enorme casa.
Alguns dos tapetes estão puxados, revelando a porta escondida que
leva à sala do pânico.
Ela ainda está aberta enquanto o último dos membros da matilha
segue pela abertura.
Dois guardas estão ajudando todos a entrar e um gesticula para que
eu me apresse.
Eu olho escada acima. Eu quero ajudar, mas e se eu acabar sendo uma
distração? Afinal, Logan está certo.
Mesmo que eu finalmente tenha descoberto como convocar meus
poderes, eu não tive a chance de praticar o suficiente para poder contar
com eles funcionando.
— Luna! Precisamos trancar as portas! — um dos guardas grita.
— Continue! Cuide dos outros! — eu respondo enquanto
rapidamente tomo minha decisão.
Eu não seria capaz de viver comigo mesma se alguma coisa
acontecesse com Logan enquanto eu estou sã e salva. Essa luta também é
minha.
Serei cautelosa e farei o possível para ficar fora do caminho enquanto
tento concentrar meus poderes em ajudar.
— Bem, bem, se não foi a cadela humana que arruinou todos os meus
planos, — uma voz familiar rosna enquanto seu dono sai das sombras.
Meus olhos se arregalam de surpresa quando vejo seu rosto redondo e
vermelho e seus olhos redondos. Ao mesmo tempo, o outro guarda fala
atrás de mim.
— Como você saiu da sua cela, Rancis? — ele rosna para o homem na
minha frente.
Eu ouço a porta da sala do pânico fechar e trancar atrás de mim antes
que passos se aproximem, os guardas me flanqueando enquanto se
preparam para atacar.
— Ora, essa é uma boa pergunta, — Rancis zomba com algo que se
assemelha a um sorriso.
Pelo que tenho visto, o homem nunca sorri, então sua expressão
agora envia calafrios pela minha espinha.
— Eu tive um pouco de ajuda.
De repente, uma coluna de fumaça preta aparece do nada, e meus
olhos se arregalam e minha respiração engata.
Em poucos segundos, Mestre Lacroix está ao lado de Rancis com seu
sorriso sinistro enquanto seus olhos tempestuosos se fixam nos meus.
— Olá, minha Ruby Red. Oh, como senti sua falta, — ele afirma
enquanto meu batimento cardíaco começa a disparar dentro de mim.
Eu dou um passo para trás em estado de choque e medo quando os
guardas param na minha frente, impedindo os intrusos de se
aproximarem de mim.
— Não dê um passo para mais perto de nossa Luna, sanguessuga, —
um dos guardas zomba.
Os lábios do Mestre Lacroix se retorcem em um grunhido
desagradável enquanto ele lança um olhar furioso para o guarda antes de
voltar seu olhar para mim.
— Ninguém vai me impedir de ganhar meu prêmio. Ela é minha.
Antes que eu tenha a chance de responder ou reagir, o Mestre voa em
direção aos guardas enquanto eles rapidamente se movem e avançam
para ele.
As três figuras se movem tão rápido que mal consigo acompanhar o
que está acontecendo.
Distraída com a luta que está acontecendo na minha frente, fico
surpresa quando alguém agarra um punhado do meu cabelo e me puxa
em direção à escada.
Solto um grito com a dor no couro cabeludo enquanto minhas mãos
voam para cima e tento me libertar do aperto de Rancis.
— Pare de resistir, sua vadia inútil! — Rancis ordena enquanto
continuo a lutar contra ele.
Incapaz de me soltar seu aperto, eu balanço meu punho, mirando em
sua virilha o mais forte que posso.
Eu sou instantaneamente liberada quando ele se dobra de dor com
um grito alto. Tropeçando um pouco, rapidamente me endireito e corro.
Infelizmente, o Mestre é muito rápido para mim.
Ele joga os dois guardas contra a parede o mais forte que pode antes
de evaporar e cair na minha frente, seus braços envolvendo meu corpo,
segurando meus braços ao meu lado.
— Solte-me! — eu exijo enquanto chuto e começo a me debater.
Percebo que os guardas estão inconscientes no chão.
Espero que não estejam mortos.
Ele aumenta seu aperto em volta de mim enquanto enterra o rosto no
canto do meu pescoço.
Eu o sinto enquanto ele inala profundamente, respirando meu cheiro,
e ele solta um gemido de luxúria. Eu me encolho e aumento meus
esforços para ficar longe dele.
Quero usar meus poderes, mas não sei o que funcionaria. Eu não vejo
nenhuma chama.
Não quero usar meus poderes terrestres aqui, já que os membros da
matilha estão escondidos no subsolo.
A única água que vejo vem das fontes dos banheiros do lado oposto da
academia.
Eu poderia talvez fazer algo com o vento...
Mas agora, estou descobrindo que estou tendo problemas para me
concentrar.
— Você é minha agora, — ele sussurra em meu ouvido.
— Eu NUNCA serei sua, — eu rosno enquanto coloco minhas duas
mãos em seu peito e tento empurrá-lo para longe de mim.
Infelizmente, ele é muito forte para mim e mantém meu corpo
pressionado contra o dele enquanto solta um grunhido de raiva.
Ele estala os dedos e outra coluna de fumaça preta aparece e de
repente se transforma em outra figura.
— Tia Lutessa? — Eu pergunto em choque enquanto meus olhos se
arregalam e minha boca fica aberta.
Ela olha em volta surpresa, claramente sem saber como chegou até
ali.
Elder Rancis vem por trás dela e a agarra pelos cabelos, empurrando-a
de joelhos antes de colocar uma lâmina em sua garganta.
— Podemos fazer isso da maneira fácil ou da maneira mais difícil, —
o Mestre afirma enquanto me volta em seus braços para que eu possa
encarar minha tia adequadamente.
— Você vem conosco de boa vontade, e nós permitiremos que sua tia
viva. Você continua a lutar contra nós, e nós a matamos, bem aqui, agora.
Os olhos da tia Lutessa se arregalam de medo enquanto ela me olha com
olhos suplicantes. Eu nunca a vi assim antes.
Ela sempre foi tão zangada, amarga e cruel. Apesar de ela ser família
de sangue, não a amo.
O tratamento que ela deu a mim foi terrível, para dizer o mínimo, e
não sei se algum dia serei capaz de perdoá-la.
No entanto, também não estou bem com o sangue dela em minhas
mãos.
Não sei se seria capaz de viver comigo mesma se a irmã de minha mãe
morresse quando eu poderia tê-la salvado.
Eu cerro os dentes, furiosa por ter que me entregar por alguém tão
sem coração quanto minha tia, mas é a única escolha real que tenho.
— Tudo bem, — eu cuspo. Rancis a empurra bruscamente para a
frente, de modo que ela acaba esparramada no chão duro.
Eu ouço os guardas gemerem enquanto começam a recuperar a
consciência.
Eles se movem para se levantar e eu encontro seus olhos antes que
uma fumaça negra me envolva e a imagem mude diante de meus olhos.
***

Nós aparecemos no jardim familiar da Red Moon Pack, e eu posso


ouvir a luta acontecendo do outro lado da mansão.
O Mestre está parado bem na minha frente enquanto dá um passo
para trás, seus olhos grudados nos meus.
— Tire, — ele ordena de repente.
Minha boca se abre novamente.
— O que?! Por que?!
— Isso não é algo que você precisa saber! Agora faça o que eu disse! —
ele explode para mim.
Minha boca fica seca enquanto tento descobrir o que fazer, como
fugir.
Agora que estou em campo aberto, tenho mais opções, mas meu
medo está dificultando a concentração no que preciso fazer.
— Que opções você acha que tem, minha Ruby? — o Mestre zomba
de mim enquanto dá um passo para mais perto. Eu imediatamente volto.
Quase esqueci que ele pode ler meus pensamentos. Pelo menos ele
não pode usar sua compulsão em mim como em qualquer outra pessoa.
— Existem outras maneiras de fazer você obedecer, minha putinha
fogosa.
Eu me encolho com sua declaração e me afasto ainda mais. Ele me
encara com raiva antes de se lançar com sua velocidade sobre-humana.
Agarrando-me pelo pescoço com uma mão, ele usa a outra para rasgar
minhas roupas enquanto eu começo a agarrar seu rosto e braços em uma
tentativa de fugir.
Tudo acontece tão rápido quando ele rasga o material até que fico
completamente nua na frente dele.
Uma vez satisfeito, ele finalmente recua enquanto eu me enrolo em
posição fetal, tentando me cobrir com o melhor possível.
O medo está apertando meu interior, e posso sentir as lágrimas
quentes e salgadas escorrendo pelo meu rosto.
Fechando meus olhos com força, eu forço meu cérebro a trabalhar,
pensando em cada partícula de sujeira, como é a sensação, como se
move.
— Levante-se! — o Mestre grita enquanto me agarra pelo braço, e eu
recuo, mantendo meus olhos fechados enquanto tento me concentrar.
Penso no solo com seus minúsculos pedaços de argila e rocha.
● Que diabos está fazendo?! — ele rosna, enquanto me põe de pé.
Vamos! Funciona, droga! De repente, ouço um som alto e meu rosto
arde quando minha cabeça vira para o lado. O desgraçado me bateu.
Capítulo 47
Logan

A magia de Delisia durou tanto quanto pôde, mas o poder deles era
demais para ela.
Eles vieram com cinco poderosas bruxas, e seu número excede em
muito o nosso.
Junto com um grande número de lobos que parecem ser de várias
matilhas do norte, há também alguns vampiros.
No início, fomos capazes de nos aguentar. Minha matilha é forte e
formada por muitos lutadores excelentes.
Infelizmente, cada vez que derrubamos um inimigo, mais três tomam
seu lugar.
Cole e um grupo de lobos estão à minha direita, enquanto Max está
com vários outros à minha esquerda.
Delisia e eu estamos costas com costas, fazendo o nosso melhor para
proteger o maior número possível de membros de nossa matilha.
Até agora, não vi Alfa Damon ou Lord Lacroix. Eles provavelmente
estão esperando à margem mais uma vez, os covardes.
Um grande lobo pula em mim, e eu rapidamente me esquivo antes de
lançar-me em sua jugular e derrubá-lo.
Jogando-o para o lado, alguém choca-se com minha lateral, fazendo-
me tropeçar antes de me virar para enfrentar meu próximo oponente,
um dos vampiros.
Eu deixo escapar um rosnado ameaçador enquanto o ataco. Ele
rapidamente se esquiva e tenta me agarrar, mas eu sou muito rápido para
ele.
Abaixando-me e rolando, sou capaz de cravar meus dentes em sua
coxa e arrancar um pedaço antes de acertá-lo com um golpe mortal.
A luta continua, e pelas atualizações que estou recebendo através do
link da matilha, estamos vencendo.
No entanto, ninguém viu Damon ou Lacroix ainda. Isso não é um
bom presságio. Também noto que as bruxas não têm ajudado.
Eles usaram sua magia unida para quebrar as barreiras mágicas de
Delisia e feitiços de proteção, mas agora esperam ao longo dos limites do
território.
Eles estão afastados e assistindo a guerra enquanto ela se desenrola
na frente deles.
Procurando alguém para derrubar, vejo que nossos oponentes agora
estão limitados. Infelizmente, todo o meu corpo está tenso.
Algo não parece certo. Nenhum dos lutadores mais fortes parece estar
participando da batalha.
De repente, vejo o grande lobo marrom de Alfa Damon avançando em
minha direção com outros cinquenta lobos atrás dele e cerca de vinte
vampiros.
Todos eles avançam e se espalham na nossa frente. Eu assumo uma
posição defensiva enquanto Delisia lança um feitiço em sua direção.
Uma das bruxas bloqueia rapidamente antes que Damon colida em
mim.
Nós imediatamente começamos a morder e arranhar uns aos outros
enquanto todos os outros se dispersam para lutar contra seus próprios
oponentes.
Eu ando em torno dele enquanto solto um rosnado, e ele rosna de
volta para mim. Ele se lança para mim e eu me esquivo antes de lançar
uma garra contra sua barriga.
Ele solta um grito de dor antes de pular em mim mais uma vez.
Eu caio de costas, usando minhas patas traseiras para jogá-lo antes de
rolar de volta para uma posição ereta.
Desta vez, eu pulo sobre ele, prendendo-o embaixo de mim. Minha
mandíbula se abre quando vou rasgar sua garganta.
Inesperadamente, eu congelo, meus músculos incapazes de se mover
como se eu tivesse me tornado uma estátua.
A única parte do meu corpo que parece não estar congelada são meus
olhos enquanto eles tentam freneticamente descobrir o que está
acontecendo comigo.
É
É então que vejo que uma das bruxas deixou seu posto e está a poucos
metros de mim e de Damon.
Ela encontra meu olhar enquanto sua mão está estendida em minha
direção, e eu sei que ela é a causa do meu estado atual.
Vejo que as outras bruxas estão fazendo o mesmo, forçando meus
lobos mais fortes a ficarem completamente paralisados.
Cole, Max e Delisia são todos pegos no feitiço junto com Devon, um
dos meus melhores guerreiros.
Este acontecimento repentino faz com que todos parem e percebam
enquanto olham em volta confusos, imaginando o que está acontecendo.
Damon rasteja debaixo de mim, seu olhar malicioso nunca deixando
o meu. Ele sorri para mim enquanto afirma: — Se transforme.
Eu rosno para ele. Eu não recebo ordens deste desgraçado. Eu não
vou me transformar. No entanto, logo sinto uma força me pressionando
enquanto a magia me força a mudar.
Rangendo os dentes, sinto que estou pegando fogo enquanto meu
corpo involuntariamente volta à sua forma humana antes de desabar no
chão.
Eu olho para cima para ver Alfa Damon e a bruxa com sorrisos
malignos em seus rostos.
Fazendo uma careta para eles, eu rapidamente coloco o short que
estava amarrado na minha perna antes de me levantar.
Eu sou um pouco mais alto do que Damon, então olho para ele.
Seus lábios se torcem em aborrecimento antes de ele sinalizar para a
bruxa que está posicionada atrás dele.
Ela imediatamente envia outro feitiço em minha direção, fazendo
com que grilhões de prata apareçam em meus pulsos e tornozelos.
Eu cerro os dentes enquanto o metal queima minha pele, fazendo-a
ficar vermelha e empolada.
O som crepitante da minha carne é tudo que ouço antes de ver que
todos os meus lutadores estão na mesma posição.
Por que eles não estão nos matando?
— Alfa! Lorde Lacroix pegou a Luna! Eu não sei para onde ele a levou!
Eu ouço a voz alarmada na minha cabeça, e meu coração aperta
quando meus olhos se arregalam. NÃO! Não, não, não. O pânico surge
em mim.
Eu preciso encontrá-la. Eu preciso salvá-la antes que coloquem as
mãos em minha companheira. Deusa... Por favor, ajude-nos encontrar
uma maneira de sair dessa.
***

Somos posicionados à força em um grande círculo, de joelhos no


meio da clareira. Não tenho ideia do que eles planejaram.
Tudo o que sei é que estou desesperado para encontrar Everly. Não
houve nenhuma palavra e nenhuma visão dela.
As bruxas se juntam a nós enquanto se distribuem uniformemente ao
redor do círculo.
Eles encaram o céu com os braços estendidos acima deles enquanto
começam a cantar.
A terra começa a tremer quando o centro do círculo se transforma em
uma grande plataforma.
De repente, uma enorme cama de dossel aparece em cima do palco
recém-criado.
Minha boca fica seca instantaneamente enquanto meu cérebro
acelera tentando entender o que está acontecendo. Não pode ser o que
eu penso...
CERTO???
Alfa Damon caminha até a área elevada diante de nós com as mãos
cruzadas atrás das costas.
Ele vira seu olhar para mim, e tudo que posso ver é pura maldade,
frieza e escuridão. Este homem é louco. Um arrepio percorre minha
espinha.
Não importa o que eu faça, não consigo me livrar de minhas
correntes, e toda vez que tento me levantar, sou empurrado de volta
sobre meus joelhos.
— Eu te dei a chance de entregar minha escrava, mas você recusou.
Você até mentiu para mim e disse que ela não estava aqui. E então... você
vai e acaba se tornando o companheiro dela! Vocês todos parecem ter
esquecido que ELA É MINHA! Paguei uma boa quantia pela virgindade
dela e você roubou isso de mim! Agora, você vai pagar.
Assim que Damon termina de falar, uma coluna de fumaça preta
aparece ao lado dele.
Depois que ela se dissipa, há duas figuras ali, Lord Lacroix e minha
linda e assustada companheira.
Ela está vestindo um longo manto de seda com bordados nas bordas.
É mantido fechado por uma única faixa.
Ela também está algemada, embora as dela não pareçam ser de prata,
talvez de aço? Manchas de lágrimas marcam suas bochechas e seus olhos
estão vermelhos.
Tento fazer uma ligação mental com ela, mas algo está me
bloqueando. Não tenho ideia se são as bruxas ou a prata ou o quê, mas
não consigo alcançá-la.
— Deixe ela ir! — Eu rosno de frustração enquanto luto contra
minhas correntes sem sucesso.
Damon sorri cruelmente para mim com um brilho sinistro nos olhos.
— Eu nunca vou deixá-la ir. Não até que minha matilha e eu nos
cansemos dela, uma vez que ela se esgote. Veja, para sua punição, você e
seus homens vão assistir enquanto eu e cada um dos meus companheiros
guerreiros fodemos sua companheira, sua Luna.
— Você a toca, porra, e eu juro por tudo que é sagrado que eu vou
matar você, — eu rosno por entre os dentes enquanto tento dar um salto
para ele, apenas para ser contido por vários homens. — Pode não ser aqui
e agora, mas guarde minhas palavras, por cada minuto que você tocá-la,
vou torturá-lo por um ano. Você não merece uma morte rápida e sem
dor. Não... Eu terei você implorando pela morte quando eu terminar com
você. Agora, deixe-a ir, — eu exijo, colocando toda a minha força alfa em
minhas palavras.
Eu sei que é improvável que funcione com ele, já que ele também é
um alfa, mas talvez possa me ajudar contra o resto desses bastardos.
Eu o encaro, esperando pensar em uma maneira de salvar minha
preciosa companheira. Se ao menos os poderes dela fossem mais
confiáveis.
Tenho certeza de que ela já tentou usá-los. Eu gostaria de ter tido
mais tempo para praticar agora que sabemos qual é o segredo para fazê-
los funcionar.
Ela provavelmente está muito emocionada agora com tudo o que está
acontecendo.
Damon se aproxima de mim com um sorriso malicioso no rosto que
me dá vontade de socá-lo. Em vez disso, ele me acerta com força com as
costas das mãos.
— NÃO! — Everly grita. Pontos negros dançam na frente dos meus
olhos, e eu os pisco antes de voltar meu olhar para ela.
Nós trocamos olhares, que parecem transmitir tantas palavras, tantas
emoções.
Estamos tentando garantir um ao outro que tudo ficará bem, embora
agora certamente não pareça ser o caso.
Damon levanta a mão no ar e estala os dedos antes que vários
homens corram para Everly.
Um rapidamente coloca uma mordaça de bola na boca e fecha antes
mesmo que ela tenha a chance de protestar.
Os outros a levantam e começam a carregá-la para a cama.
Luto para ficar de pé e, desta vez, quando eles tentam me empurrar
para baixo, jogo minha cabeça para trás, o que é seguido pelo barulho
enjoativo do nariz do cara sendo esmagado.
Eu começo a correr para o palco quando estou inesperadamente
paralisado no meio do caminho mais uma vez. Essas malditas bruxas não
lutam justo.
Solto um rosnado ensurdecedor enquanto a raiva e o desespero me
consumem. Eu tenho que chegar à minha companheira.
Capítulo 48
Everly

O pânico está me consumindo, apertando meus pulmões de modo


que sinto que não consigo respirar.
Eu luto e luto o máximo que posso, mas meus movimentos são
limitados pelas algemas que conectam meus pulsos e meus tornozelos
uns aos outros.
A mordaça em minha boca faz meu medo quadruplicar e começo a
me sentir como se estivesse sufocando.
Meus olhos avistam Logan e o vejo lutando para chegar até mim.
Posso dizer que ele está gritando e rosnando, mas não consigo ouvir
nada.
Não estou registrando. É como se tudo que eu pudesse fazer fosse
assistir enquanto sou puxada para a cama de dossel e meus pulsos são
separados e presos a barras opostas acima da minha cabeça.
Em seguida, eles fazem o mesmo com meus tornozelos.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto eu puxo as algemas com
todas as minhas forças, pois agora estou estatelada e vulnerável na cama
grande.
Alfa Damon se aproxima de mim com um sorriso sinistro antes de
rasgar o manto, expondo meu corpo nu para seu público relutante e
todos os seus seguidores.
Solto um grito abafado enquanto a multidão fica mais barulhenta.
Meu companheiro e sua matilha ameaçam e gritam em protesto
enquanto nossos inimigos gritam e gritam, fazendo comentários
grosseiros sobre mim e meu corpo.
As lágrimas caem mais rápido, tornando minha visão embaçada
quando sinto a cama afundar quando Damon sobe.
Eu luto para respirar enquanto meu corpo ameaça começar a
hiperventilar, a mordaça já tornando difícil para mim inalar o ar que meu
corpo precisa tão desesperadamente.
Seus olhos brilham maldosamente enquanto percorrem meu corpo,
fazendo minha pele arrepiar de nojo.
Suas mãos se estendem enquanto começam a percorrer meu corpo,
apertando meus seios e os segurando, seus polegares acariciando
levemente os bicos.
Eu cerro meus olhos fechados, desejando que tudo isso seja apenas
um pesadelo horrível.
— Não desista, — Eu ouço Logan implorar, nosso link finalmente
funcionando mais uma vez. Eu acho que as bruxas estão muito ocupadas
com outras coisas para mantê-lo bloqueado.
De repente, eu abro meus olhos e viro na direção do meu
companheiro. Ele continua a lutar contra seus captores, mas quando
Logan capta meu olhar, ele congela.
Seus olhos brilham com lágrimas não derramadas enquanto ele me
encara, querendo desesperadamente me salvar dessa tortura.
Agora que está distraído, ele fica de joelhos e recebe um soco no
rosto.
Ele cospe sangue de seu lábio arrebentado antes de se virar para
encontrar meus olhos mais uma vez. Ele parou de lutar e soltou um
suspiro lento e constante.
Posso senti-lo enviando um sentimento de calma para mim através
do nosso vínculo, e meu ritmo cardíaco começa a se equilibrar.
Nós mantemos nossos olhares fixos um no outro, mantendo o resto
do mundo fora enquanto nos agarramos à sensação tranquila que nosso
vínculo de companheiros nos traz.
— Você pode fazer isso, Ev. Você é forte e poderosa. Você só precisa se
concentrar. Ignore o resto do mundo. Lute, — ele encoraja, e eu posso
sentir que ele também está me enviando sua força.
Eu fecho meus olhos enquanto sinto uma nova sensação de paz
tomar conta de mim. Minha mente de repente parece se aguçar; minha
resolução se fortalece.
Todas as minhas emoções parecem se separar e vir à superfície
enquanto me concentro na terra mais uma vez.
É difícil, mas luto para ignorar a sensação das mãos e lábios de
Damon em mim enquanto ele apalpa meus seios mais antes de deslizar
as mãos pelos meus lados e tomar um mamilo em sua boca.
Sinto como se pudesse vomitar, mas, em vez disso, coloco esse
sentimento de lado.
Minha raiva sempre foi um dos gatilhos para minha magia, então
começo a pensar em cada golpe do cinto ou chicote, cada insulto lançado
em meu caminho.
Eu penso sobre minha tia cruel e como ela me vendeu para ser uma
escrava de sexo e sangue, eu que era sangue do seu sangue.
Eu penso em todas as punições que recebi. As imagens continuam
girando em minha cabeça, minhas emoções agora correndo tão altas que
sinto que poderia explodir.
E então acontece. Posso sentir minha conexão com o solo abaixo de
nós.
Além da raiva borbulhando à superfície, também tenho sentimentos
de medo e repulsa.
Esses três são os sentimentos mais fortes dentro de mim e cada vez
mais poderosos a cada segundo que passa. Esses e mais um.
Meu desejo de vingança.
O chão começa a tremer e a tremer, fazendo com que a multidão
tropece e olhe em volta, imaginando o que está acontecendo.
Paredes de solo se erguem, empurrando nossos inimigos para trás. Eu
olho para Damon, vendo uma expressão de determinação em seus olhos.
Ele nem mesmo está prestando atenção ao caos que está acontecendo
ao nosso redor.
Ele desabotoa as calças enquanto puxa seu membro para fora, dando-
lhe algumas bombeadas antes de se posicionar entre as minhas pernas.
Inesperadamente, ele voa para longe e vejo Mestre Lacroix agora na
minha frente. Seus olhos estão vermelho brilhante com luxúria enquanto
ele se inclina sobre mim.
— Você é minha. Minha para chupar. Minha para foder. E eu nunca
vou deixar você se afastar de mim novamente, — ele sussurra
ameaçadoramente em meu ouvido.
Meu batimento cardíaco pula e meu estômago aperta.
Um novo senso de resolução vem sobre mim como um cobertor
enquanto me concentro em meus poderes, e uma rajada de vento o
empurra para trás.
Ele cambaleia para trás com uma expressão de choque. Minha
atenção se volta para o metal quando minhas algemas se abrem.
O Mestre olha para mim com a boca aberta, e eu sorrio para ele
enquanto me levanto da minha posição na cama, fechando meu roupão
mais uma vez.
Eu estendo minhas mãos para o lado, me concentrando ainda mais.
Eu faço com que todas as restrições sobre meu companheiro e nossa
matilha caiam no chão.
O inferno se liberta quando eles vêm em meu auxílio, atacando
qualquer inimigo em seu caminho.
Eu me defronto com o Mestre enquanto ele debocha de mim.
— É você? — ele pergunta em voz baixa, tentando esconder seu
sentimento de admiração ao se referir ao vento que continua a empurrá-
lo para longe de mim.
Eu sorrio.
— Sim... eu aprendi alguns truques novos desde a última vez que você
me viu, — eu respondo antes de fortalecer o vento para empurrá-lo para
fora da plataforma e em direção a uma árvore.
Meu foco muda para a terra, ela sobe e começa a sugar suas pernas
para o chão.
Ele rapidamente puxa um pé para cima e depois o outro, mas a magia
é muito forte e se move muito rapidamente.
A terra continua a subir por seu corpo enquanto o solo abaixo dele
muda e cede, de modo que ele começa a afundar.
De repente, alguém bate em mim, me derrubando no chão. Sou
empurrada de costas enquanto Alfa Damon monta em mim.
Antes que eu possa me defender, ele me dá um soco forte, fazendo
pontos pretos dançarem diante dos meus olhos.
— Sua vadia de merda! — ele cospe enquanto prende minhas mãos
acima da minha cabeça, mantendo-as no lugar com uma das suas.
Sua mão livre começa a puxar a amarra do meu robe mais uma vez.
— Eu fiz tudo isso pela porra da sua boceta, e vou conseguir o que vim
buscar aqui! — ele rosna com os olhos negros enquanto suas presas se
estendem.
Tão rapidamente quanto apareceu, ele é jogado para longe de mim
quando um grande lobo preto se lança sobre ele. Logan.
O alívio me inunda enquanto me sento novamente. Logan ataca a
jugular de Damon, mas este rapidamente levanta o braço para bloqueá-
lo.
Então, Logan morde profundamente no antebraço de Damon, e ele
grita de dor.
Logan arranca um pedaço de seu braço e o deixa cair no chão antes de
pular nele novamente. Infelizmente, desta vez ele para, congelado no ar.
Eu freneticamente olho ao redor antes de localizar a bruxa. Eu atiro
uma forte explosão de chamas nela de uma das tochas que está ao redor
da plataforma.
Ela tropeça, liberando Logan do feitiço.
Viro-me apressadamente para ele e digo:
— Precisamos levá-los ao lago.
O lobo preto me dá um aceno rápido antes de seus olhos brilharem
por um momento, informando claramente o resto da matilha de nosso
plano.
Começamos a correr em direção ao lago no lado oposto da clareira.
Logan de repente para na minha frente e se abaixa, deixando óbvio o
que está querendo.
Eu subo em suas costas, mergulhando meus dedos em seu pelo macio
enquanto seguro. Ele dispara como uma bala, levando-me ao lago o mais
rápido que pode.
Ele derrapa até parar na beira do lago antes que eu pule para baixo, já
esfregando o colar de esmeraldas que ainda está pendurado no meu
pescoço.
Graças a Deus, o Mestre não me fez tirar isso também depois de exigir
que eu me despisse.
Olhando para o lago, vejo como a água escura muda para mostrar
uma imagem de Volaria Fatamir.
Eu ignoro os sons de luta atrás de mim enquanto pulo na água fria.
Sinto como se estivesse caindo em um céu infinito até que tropeço
para fora de um espelho no palácio.
— Everly?! — Tio Alistair exclama.
Eu me endireito e encontro seus olhos.
Seus olhos se arregalam quando ele percebe minha aparência, e eu me
pergunto como devo estar depois de tudo o que aconteceu.
Tia Izzy e Jed logo entram também, suas expressões mudando
imediatamente para combinar com a de tio Al. Finalmente, encontro
minha voz.
— Eu preciso de sua ajuda.
***

O rei Alistair e Jed reúnem suas tropas e me dão uma muda de roupa
adequada para a batalha.
Eu balanço minha perna sobre meu Pégaso, Snow, antes de esfregar
meu colar.
Com meu tio de um lado e meu primo do outro, voamos através da
imagem que reflete o Território da Red Moon.
Nós voamos para fora do lago, seguidos por mais de uma centena de
guerreiros Fae. Todos os lutadores param e ficam boquiabertos enquanto
voamos acima.
Eu uso o link da matilha para falar com o meu grupo.
— Parem de olhar fixamente e livrem-se desses invasores, — digo com
um sorriso antes de convocar uma bola de fogo de uma das tochas que
ainda estão acesas.
Focando nas chamas que estão girando em minha palma, eu as
amplio enquanto meus olhos examinam a clareira.
Eu encontro o local onde deixei o Mestre, mas ele não está mais lá.
Em vez disso, é apenas uma pilha de sujeira deixada para trás.
Meu olhar fica um pouco mais frenético até encontrá-lo. Tanto Alfa
Damon quanto ele estão se unindo contra Logan.
Eu vejo como o grande lobo preto de Logan se lança sobre o marrom
escuro de Alfa Damon.
Ele morde o ombro e arranca um pedaço enquanto o Mestre se
materializa em uma fumaça negra bem atrás dele.
Ele segura uma adaga preta dentada em sua mão, e eu
instantaneamente mando a bola de fogo para ele. Ela o acerta na lateral
do corpo e o desequilibra.
Agora estou de costas para Logan, de modo que é uma luta
equilibrada, comigo contra o Mestre e Logan contra Damon.
Eu desprezo Mestre Lacroix quando o encaro. Com meus poderes em
total controle, ele não é páreo para mim. Ele não pode mais se
teletransportar para longe do perigo.
Não há mais como se esconder.
— Eu nunca fui sua, — declaro enquanto dou um passo em direção a
ele, continuando a separá-lo com o vento conjurado.
— Mas agora, sua vida é minha.
Eu o solto e rapidamente puxo uma espada brilhante da bainha presa
ao meu quadril.
Existem apenas algumas maneiras de matar um vampiro, queimar até
as cinzas, cravar uma estaca no coração ou decapitar.
O nascer do sol está a horas de distância, e seria preciso muito tempo
e foco para chamar outra bola de fogo.
Ele avança para mim, e eu rapidamente me esquivo antes de focar na
terra novamente. Ela começa a sugar seus pés enquanto ele estende a
mão para me agarrar.
Eu golpeio com a espada, e ele desajeitadamente se abaixa antes de eu
balançá-la novamente.
Ignorando a luta acontecendo ao meu redor, mantenho toda a minha
atenção no Mestre. Eu não quero que ele escape de minhas garras.
Nós circulamos um ao outro, e toda vez que ele tenta se dissipar, eu
imediatamente o paro. Ele rosna e pula para mim.
Apressadamente, eu saio de seu caminho e vou em direção a ele com a
espada.
Eu consigo atingir a lateral dele, e o vermelho começa a se espalhar
para fora do corte.
Imediatamente, aproveito o ferimento para lançar a lâmina afiada
nele novamente.
— Você não pode me vencer! — ele rosna para mim.
— Não. É VOCÊ que não pode vencer, — eu insisto enquanto evito
outro de seus ataques.
Eu envio uma rajada de vento para ele, e ele sai voando, caindo de
costas. Eu levanto a espada acima da minha cabeça e mando em seu
peito.
— Isso é por tudo que você fez para mim! — Eu grito com ele antes de
atingi-lo novamente. — Isto é para cada punição!
E de novo.
— Isto é para cada pessoa que você já machucou!
Uso o vento para puxá-lo para cima, de modo que fique de pé, embora
frouxamente.
Todo o seu torso frontal está manchado de sangue, e estreito os olhos
para ele.
— Você nunca mais machucará ninguém, — eu declaro com decisão.
— Apodreça no inferno. — E com isso, giro a espada, ouvindo o vento
assobiar por ela antes de fazer contato com sua garganta.
Ouve-se um baque quando sua cabeça cai do pescoço e pousa no chão
frio, os olhos arregalados de medo e descrença.
Eu fico olhando para ele por um momento, absorvendo. É difícil
acreditar que seja real. Mestre Lacroix finalmente está morto.
Uma sensação de alívio flui através de mim quando eu liberto seu
corpo do vento, e ele cai ao lado de sua cabeça decepada.
Eu me viro para olhar para Logan a tempo de vê-lo rasgar a garganta
de Damon.
A figura do lobo marrom cai no chão, e Logan se vira para olhar para
mim.
Ele instantaneamente muda de volta para sua forma humana e corre
para mim, nem mesmo se importando com seu traseiro nu e coberto de
sujeira e sangue.
Eu passo meus braços em torno dele. Ele segura meu rosto, afastando
meu cabelo para trás e colocando-o atrás das orelhas. Seu olhar amoroso
me faz derreter em suas mãos.
— Graças à Deusa você está bem, meu amor. Se alguma coisa tivesse
acontecido eu... eu não... — ele parece engasgar, incapaz de terminar a
frase.
Eu acaricio sua bochecha enquanto lhe ofereço um sorriso caloroso.
— Não há necessidade de pensar assim. Estou ilesa e tudo acabou
agora.
Ele sorri de volta para mim enquanto passa seus braços em volta da
minha cintura, me puxando para mais perto dele.
Seu peito musculoso me pressiona enquanto ele enterra o rosto na
curva do meu pescoço e respira fundo.
— Eu te amo muito, — ele sussurra antes de colocar um beijo suave
no meu pescoço.
— Eu te amo mais, — murmuro de volta.
Capítulo 49
Everly

Um ano Depois
Eu ando pelos corredores da mansão gigante que agora chamo de lar.
Todos por quem passo inclinam a cabeça em respeito, alguns até me
cumprimentam com um simples:
— Bom dia, Luna.
Eu rapidamente sorrio para eles e respondo antes de continuar meu
caminho.
A casa da matilha está um caos no momento, enquanto nos
preparamos para um gigantesco banquete de Ação de Graças.
Todos os membros vão se juntar a nós para o jantar, e estou muito
animada.
Antes mesmo de chegar à cozinha, os deliciosos aromas flutuam para
me cumprimentar.
— Mmm... — murmuro com os olhos arregalados enquanto caminho
para ver os agitados ômegas enquanto eles preparam a comida para esta
noite. — Tudo tem um cheiro divino, — digo a eles enquanto espio
alguns dos pratos que estão sendo preparados. Eles sorriem para mim e
respondem agradecendo enquanto eu prossigo.
Entrando na sala de jantar, Mia corre até mim.
— Ev!
— Ei, Mia! Como vai tudo?
— Preciso da sua opinião sobre algumas coisas, — ela responde
apressadamente antes de pegar minha mão e me arrastar para uma das
enormes mesas de jantar.
— Qual peça central você gosta e quantas você quer?
Olhando para as poucas opções que ela definiu, eu bato meu dedo
indicador no meu queixo em pensamento.
— Use aquelas duas velas e estas para preencher as lacunas. As cores
suaves parecem mais elegantes e combinam melhor com a decoração
atual.
— Perfeito! Eu também estava pensando nisso! E quais configurações
de local você deseja?
Ela então aponta as três opções que criou para mim.
— Eu gosto do branco com estampa dourada.
— Excelente! Era tudo que eu precisava! Obrigada, Ev! — ela me dá
um abraço rápido, que não hesito em retribuir.
Assim que me certifico de que todos os preparativos estão indo bem,
começo a subir pela enorme escada até chegar ao quarto andar.
Dou uma leve batida na porta do escritório de Logan, e ele
imediatamente me chama para entrar.
Assim que eu abro a porta, ele se levanta de seu assento atrás de sua
mesa e caminha até mim.
— Como está minha linda esposa?
— Maravilhosa, só um pouco cansada. E quanto ao meu marido sexy?
— eu respondo, com um sorriso enquanto ele gentilmente me envolve
em seus braços e beija minha testa.
— Melhor agora que você está aqui, — ele responde antes de colocar
um beijo longo e profundo em meus lábios.
Ele se afasta, descansando sua testa contra a minha enquanto uma
mão desliza em volta da minha cintura e para na minha barriga.
— E como está nosso filhote?
Meu sorriso se alarga instantaneamente.
— Bem. Mal posso esperar para contar à matilha esta noite. Eles vão
ficar tão animados!
— Claro que vão! É o futuro alfa deles aí dentro, — Logan comenta,
enquanto esfrega minha barriga e me dá outro beijo.
— Eu te amo muito, — murmuro para ele com um suspiro de
contentamento.
— Eu te amo mais, — ele rebate com um sorriso suave, seus olhos tão
cheios de amor que eu poderia explodir.
***

— Ei, Luna! — Axel chama enquanto se apressa para mim.


— Eu só queria que você soubesse que sua tia, tio e primo acabaram
de chegar. Eles estão sendo conduzidos ao refeitório.
— Obrigada, Axel. E, por favor, você pode me chamar de Ev. Quantas
vezes eu tenho que te dizer isso?
— Mais uma vez, como sempre, Luna, — ele responde com uma
piscadela e um sorriso. Desde que me tornei oficialmente Luna, ele
nunca usa meu nome.
Eu não necessariamente me importo. Metade do tempo parece que
Luna agora é meu nome, de qualquer maneira, com a frequência com
que sou chamada assim.
Connor então surge do meu outro lado.
— Olá, Luna. Os alarmes de perímetro estão ligados e Delisia
terminou de colocar todos os feitiços de proteção, então todos os guardas
devem se juntar a nós em breve.
Eu suspiro e balanço a cabeça.
— Sério, gente, vocês não precisam me chamar de Luna.
O sorriso de Connor se alarga.
— Eu sei, mas acho divertido irritá-la, — ele brinca, me cutucando
levemente de lado com o cotovelo.
Dou-lhe um leve empurrão para trás e solto uma risada.
— Claro. Eu deveria saber.
Quando chego ao refeitório, imediatamente subo e cumprimento
minha família, dando um abraço em cada um deles.
— Você está ótima, Everly. Ser Luna realmente combina com você,
minha querida, — tia Izzy me diz enquanto me libera do nosso abraço.
— Obrigada. Todos vocês parecem que estão bem também, — eu
respondo.
— Sim, estamos, — tio Al afirma enquanto me agarra pelo ombro e
me dá um aperto suave.
— Então, quando vamos comer, priminha? Estou morrendo de fome,
— Jed interrompe, e eu rio dele.
Ele é um poço sem fundo. Não tenho ideia de como ele fica tão em
forma... muito parecido com os lobisomens, agora que penso nisso.
— Logo, Jed, logo. Paciência é uma virtude, — eu zombo e ele fica
boquiaberto.
— Não quando se trata de comida.
Eu rio e balanço minha cabeça antes que meus olhos localizem Cole e
Sophie entrando pelos corredores.
Solto um grito de felicidade antes de me desculpar apressadamente e
correr até eles.
— Como está minha doce afilhada? — Eu pergunto enquanto os
alcanço e vou direto para o bebê precioso nos braços de Sophie.
Ela está dormindo profundamente enquanto seu pequeno punho
agarra o dedo de sua mãe. Ela nasceu há cerca de dois meses e é
totalmente perfeita.
Ela me deixa muito mais impaciente para conhecer meu próprio
bebê.
Felizmente, a gravidez de lobisomem não dura tanto quanto a
gravidez humana, então eu só tenho mais quatro meses antes de
finalmente conhecer meu próprio filhote.
Logo, todos estão tomando seus lugares com Logan na cabeceira da
mesa principal e eu bem ao lado dele.
Nós dois nos levantamos enquanto Logan começa a falar.
— Obrigado a todos por se juntarem a nós neste magnífico banquete
de Ação de Graças. Temos muito a agradecer este ano. Esta matilha
passou por muita coisa, mas saímos mais fortes. Sou grato por ter uma
matilha tão forte e carinhosa ao meu lado. Sou grato por minha
companheira e Luna incrível. E, por último, sou grato por esta noite
poder compartilhar com todos vocês que em breve haverá uma nova
adição à nossa matilha.
Ele se volta, fazendo uma pausa e dando um largo sorriso para mim,
segurando minha mão.
— Sua Luna e eu gostaríamos de anunciar que temos um filhote para
nós e mal podemos esperar para apresentar seu futuro alfa a todos vocês!
Todos explodem em gritos e aplausos enquanto as pessoas gritam
parabéns.
Logan me puxa para um abraço e um beijo antes de nos voltarmos
para a multidão ao nosso redor. Meus olhos examinam a sala,
observando todos os rostos sorridentes e felizes.
Do outro lado de Logan estão Cole, Sophie e sua filhinha, Amélia.
Depois, há os pais e a avó de Logan, que conversam animadamente
enquanto se levantam para dar um abraço em mim e em Logan.
Mais abaixo na mesa estão Cody, Jonah e Mia.
Permanecemos próximos, embora eu sendo Luna e assumindo as
funções que vêm com o título tenham tornado mais difícil encontrar
tempo para sai com eles.
Eles, é claro, são compreensivos, então normalmente conseguimos
nos encontrar uma vez por semana para sair e nos divertir.
Vejo Delisia e Max conversando também. Todos que amo estão aqui e
eu não poderia estar mais feliz.
Minha tia Lutessa agora está recebendo a ajuda de que precisa em um
centro psiquiátrico. Rancis foi banido do território.
Com Lord Lacroix e Alfa Damon mortos, a matilha só conheceu a
paz.
Luna Mara, ou devo agora dizer Alfa Mara, assumiu o controle da
Blood Fangs Pack, que agora é considerada nossa aliada.
Nós mantemos contato com ela, e ela está indo bem, embora tenha
demorado um pouco depois do estado em que seu companheiro deixou a
matilha.
Muitas das pessoas que salvamos receberam novas vidas em cidades
humanas.
Eles dão notícias ocasionalmente e estão felizes por estarem livres,
com empregos e escolas e suas próprias casas.
Tudo deu certo, e há muito o que agradecer.
Quem teria pensado que eu de pobre ór ã escrava sexual e de sangue
de um vampiro eu me transformaria na Luna de uma das matilhas de
lobisomens mais respeitadas do país?
Eu tenho meu companheiro incrível e temos um filho a caminho.
Não há nada que eu mudaria, porque tudo que passei me trouxe até
aqui, onde tudo é exatamente como sonhei que seria.
Fim do livro um
Livro 2
Sinopse
Everly pode ter tido um final feliz, mas sua história ainda não acabou!
Conforme Everly aprende mais sobre sua herança Fae, seu passado
problemático volta para assombrá-la. Ela tentou deixar tudo para trás,
mas sabe melhor do que ninguém que nada que é perdido fica assim por
muito tempo...
Classificação etária: 18+

E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD


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Livro Disponibilizado Gratuitamente!


Capítulo 1
Everly

Finais felizes são uma coisa engraçada...


Eles implicam que você chegou ao fim da linha, mas esse não é realmente
o caso, é?
Tive meu final feliz com meu verdadeiro companheiro, Logan, mas nossa
história não acabou aí.
Há mais coisas na minha vida depois do meu — felizes para sempre...
Muito mais.
Especialmente o que aconteceu depois da minha cerimônia de
acasalamento...
Essa é uma história que vale a pena contar — uma que abre um novo
mundo de possibilidades...
Ela traz de volta alguns fantasmas do meu passado que pensei que
estivessem perdidos para sempre.
Mas eu sei melhor do que ninguém, como eu já fui uma princesa perdida
fugindo de seu passado, que o que está perdido sempre pode ser encontrado...
Um ano antes
Eu ouço os passos firmes de Logan vindo pelo corredor — um som
que posso reconhecer a um quilômetro de distância.
Ele está indo direto para o nosso quarto.
Eu me concentro muito, fazendo tudo que posso para bloquear
minha ligação mental.
Se ele puder ler meus pensamentos, a pequena surpresa sexy que
planejei será arruinada.
Seus passos estão se aproximando agora. Eu preciso me mover rápido.
Fechando meus olhos, eu canalizo meus poderes Fae, e de uma vez, as
velas do pilar branco que eu organizei ao redor da sala se acendem.
Jogo algumas pétalas de rosa sobre a cama e, em seguida, rapidamente
deslizo para fora da minha camisola e visto a minha roupa de aniversário.
Pego a garrafa âmbar de óleo de massagem da mesa de cabeceira e
começo a esfregar o óleo com cheiro doce sobre minha forma nua.
Delisia fez este óleo usando um forte afrodisíaco que ela obteve de
uma fruta que ela descobriu enquanto viajava pela América do Sul.
Não é como se Logan e eu realmente precisássemos de um
afrodisíaco... Não conseguimos manter nossas mãos longe um do outro
desde nossa cerimônia de acasalamento, duas semanas atrás... mas o óleo
faz maravilhas!
Em um instante, estou pingando, desesperada para sentir o membro
do meu companheiro deslizando para dentro e para fora de mim.
De repente, ouço uma batida suave à porta.
Eu coloco a garrafa de volta na mesa de cabeceira e deito na cama.
— Entre, meu amor, — eu digo.
A porta se abre e a silhueta alta e forte de Logan aparece no batente
da porta.
Ele caminha para a luz fraca das velas e vejo seu rosto se abrindo com
um sorriso.
— O que é tudo isso? — Ele me pergunta.
— Surpresa, — eu digo, com a voz mais sedutora que posso fazer.
Logan não perde tempo. Ele tira os sapatos, joga a jaqueta no chão e
pula na cama.
— Este é o melhor dia de todos, — diz ele.
— Você disse isso ontem, — eu digo.
— Cada dia com você é o melhor dia de todos, — diz ele com um
sorriso.
Logan passa o dedo pela pele do meu braço. Ele desliza facilmente,
lubrificado pelo óleo mágico. Em seguida, ele pressiona o rosto na minha
barriga e corre beijos ao longo do meu torso.
— Meu Deus..., — ele diz. — Você tem um cheiro incrível.
— Tire o resto de suas roupas, — eu digo. — Eu não quero ser a única
pelada.
Ele se apoia em seus joelhos e tira a camisa, revelando cada fileira de
seu abdômen perfeito, um de cada vez, enquanto eu ajudo rapidamente
com seu cinto. Então ele tira a calça jeans e junta o resto de suas roupas
no chão.
O membro de Logan já está ereto.
Eu o pego em minhas mãos e coloco a cabeça em minha boca,
saboreando o som de seus gemidos.
— Everly, — ele sussurra, — isso é incrível.
Ele passa os dedos pelo meu cabelo, segurando-o com força pela raiz.
Eu continuo a lamber seu membro para cima e para baixo enquanto
suas mãos descem para o meu pescoço e, em seguida, sobre meus seios.
Ele belisca meus mamilos e agora sou eu que estou gemendo. Mas o
som é abafado por sua dureza, que agora está alojada no fundo da minha
garganta.
— Quero tocar você, — ele diz.
Ele não tem que me dizer duas vezes...
Eu liberto seu membro da minha boca e fico de joelhos, encontrando-
o no nível dos olhos.
Nossos lábios colidem enquanto agarro sua dureza com minha mão
novamente, acariciando cada vez mais forte.
Seus dedos encontram minha fenda e ele geme novamente.
— Porra, — diz ele, — você está tão molhada.
— Eu quero você, Logan, — eu digo. — Eu quero você dentro de mim.
— Vire-se então, minha pequena companheira, — ele diz.
Eu sigo seu comando e giro no lugar, pressionando minha bunda
contra seus quadris.
Ele a agarra com força e dá um pequeno tapa antes de posicionar seu
membro na minha abertura.
Eu enfio minhas mãos no colchão, me firmando e estremeço de
antecipação.
Mas quando ele está prestes a deslizar para dentro de mim, um estalo
alto me tira da atmosfera de prazer e me põe em pânico.
Eu olho freneticamente ao redor da sala e vejo que o fogo na lareira
está acendendo e rugindo fora de controle.
— Você está fazendo isso? — Logan me pergunta.
— Eu acho que não, — eu digo. — Não de propósito, pelo menos.
Ele posiciona seu corpo na minha frente, protegendo-me do que quer
que aconteça a seguir.
De repente, há outro estalo alto e algo realmente bizarro acontece.
Um envelope sai disparado das chamas, voando pelo ar e caindo
direto em nossa cama.
Nós dois olhamos para ele em choque.
O envelope é de vermelho escarlate e tem nossos nomes rabiscados
na frente em uma caligrafia imaculada.
Eu o alcanço, mas Logan coloca suas mãos nas minhas.
— Deixe-me abrir, — ele diz. — Apenas no caso de...
Ele agarra o envelope e rasga uma abertura no papel, puxando a carta
de dentro.
Junto com o papel vem uma pitada do que parece ser glitter prateado.
Eu sei o que é essa substância... Já vi isso antes.
E poeira Fae!
— Leia em voz alta! — Eu digo a ele, animada agora.
Logan pigarreia e começa.
Caros Everly e Logan,
Parabéns pela cerimônia de acasalamento! Minha família e eu
adoraríamos fazer uma celebração em sua homenagem e finalmente conhecer
o homem que roubou o coração da minha prima.
Por favor, junte-se a nós neste sábado, e nós mostraremos como fazemos
uma festa, ao estilo Fae.
Todo meu amor,
Príncipe herdeiro Jedrek da Casa Valdus
Também conhecido como: Jed
PS: Espero não ter assustado vocês com nosso sistema de entrega de
correspondência. É um pouco desatualizado... e um pouco dramático.
Não posso deixar de sorrir com este convite incrível.
— Sábado? — Logan diz. — Isso é amanhã!
— Isso vai ser ótimo! — Eu digo. — Estou morrendo de vontade de te
mostrar o reino Fae. Você vai amar.
Mas posso dizer pela expressão de Logan que ele não está tão
animado quanto eu.
— O que você acha? — Eu pergunto a ele, aguardando ansiosamente
sua resposta.
Logan

A carta pesa muito na minha mão — e não apenas porque está escrita
em papel cartão muito grosso.
Everly está olhando para mim com expectativa, esperando por uma
resposta. Então eu apenas abro minha boca e as palavras começam a sair.
— Acho que estou apenas, — gaguejo, — bem, conhecer sua família
— é meio que um grande passo — Espere, espere, espere, — interrompe
Everly. — Não me diga que o Alfa mais forte do Sul está... nervoso?
— E só — e se eles não me aprovarem? — Eu pergunto a ela.
Ela solta uma risada. — E um pouco tarde para a aprovação deles, eu
acho, — diz Everly, apontando para a marca de acasalamento na lateral
do pescoço.
— Eu acho que isso é verdade, — eu digo. — Mas eu ainda quero que
eles gostem de mim.
— Gostem de você?! — Everly diz, incrédula. — Do que você está
falando? Eles vão adorar você!
Ela me puxa para perto e posso sentir instantaneamente minhas
preocupações começando a desaparecer.
— Vai ser tão divertido, — diz ela. — E se você está preocupado em
deixar a matilha para trás, lembre-se de que o tempo passa mais rápido
no reino Fae. Alguns dias serão apenas um dia na Terra.
— Você está certa, — eu digo, uma nova sensação de alívio tomando
conta de mim. — Faremos amor em dobro na metade do tempo, —
acrescento com uma piscadela.
— Exatamente, — diz Everly. — E você vai conhecer Snow, meus
primos, minha tia, meu tio, e...
— Eu sou o primeiro menino que você vai trazer para casa? — Eu
pergunto a ela provocativamente.
Mas tão rápido quanto as palavras saem da minha boca, eu percebo a
estupidez absoluta da minha pergunta.
Everly nem sabia que tinha uma família Fae até alguns meses atrás. E
sua mãe e seu pai morreram quando ela era criança.
Às vezes eu esqueço o quanto trauma esta garota passou, porque ela é
tão forte.
— Sinto muito, — digo antes que ela tenha a chance de responder. —
Essa foi uma pergunta estúpida.
Mas posso ver que o dano já está feito.
Uma tristeza apareceu atrás de seus olhos, substituindo a alegria que
havia momentos atrás.
Everly

— Eu sou o primeiro menino que você vai trazer para casa?


As palavras de Logan ressoam em minha mente e, de repente, meu
coração está tomado pelo medo e minha respiração começa a acelerar.
Minha mente viaja instantaneamente através do tempo, trazendo à
superfície uma memória que tento desesperadamente suprimir.
Logan é o amor da minha vida... não há dúvida quanto a isso.
Mas ele não é o único homem que amei.
Antes de Logan, havia Phillipe. Ele era um vampiro que costumava
visitar o Banco de Sangue. Ele foi gentil comigo, quando nenhum dos
outros homens foi. Ele também me amava e iria me ajudar a escapar.
Tento resistir à memória, mas a fita começou a tocar e perdi o
controle remoto.
— Eu vou tirar você daqui esta noite, — Phillipe diz. — Eu quero te levar
para longe deste lugar e começar uma vida juntos.
Essas são as últimas palavras de Phillipe antes de Lord Vlad Lacroix
irromper na sala e cravar uma estaca em seu coração.
Então fica pior A imagem em minha mente começa a se transformar De
repente, não é Phillipe sangrando no chão na minha frente, mas Logan.
A visão me leva à histeria. Se Logan morrer, não sei como vou sobreviver.
Eu não posso viver com algo assim — não de novo.
Eu sinto uma mão em mim e em algum nível eu sei que é meu
companheiro tentando me confortar, mas tudo que eu posso sentir é a mão
gelada de Lorde Vlad descansando em meu braço.
— Você nunca estará livre, — ele sussurra para mim enquanto a luz deixa
os olhos de Logan. — Você será minha... para sempre.
Mas ele está errado. Eu encontrei a liberdade com Logan.
E desde então, minha vida tem sido muito boa. E se for bom demais para
ser verdade?
E se minha felicidade for apenas uma ilusão e essa — memória — for a
verdade?
E se a miséria estiver à espreita?
Capítulo 2
Everly

Estou hiperventilando. Mesmo que eu ainda esteja deitada na minha


cama, na casa da matilha, nos braços do meu companheiro, meu corpo
parece que está no meio de um campo de batalha.
A adrenalina está bombeando em minhas veias enquanto eu revivo
um dos piores momentos da minha vida e enfrento meu maior temor: o
medo de minha felicidade recém-descoberta ser roubada de mim.
Eu sinto os braços de Logan me envolvendo de maneira ainda mais
forte.
Uma mão acaricia meu cabelo enquanto a outra enxuga minhas
lágrimas.
Depois de alguns momentos de desânimo, seu toque consegue me
puxar para fora dos meus pensamentos.
— Everly, querida, está tudo bem, — diz ele. — Está tudo bem. Só
respire. Respire.
Tento fazer o que ele diz, firmando minha respiração.
Inspira. Expira.
— Fale comigo, — diz Logan. — Diga-me o que você está pensando.
— Talvez não devêssemos ir para o reino Fae, — eu concordo. — As
coisas estão bem agora. Estamos seguros aqui.
— O que você quer dizer? — Ele me pergunta.
— O mundo fora do casa da matilha... está cheio de pessoas terríveis.
E um pesadelo vivo. Mas aqui com você, sinto que estou vivendo um
lindo sonho do qual nunca quero acordar.
Logan continua a acariciar meu cabelo, empurrando-o para fora do
meu rosto.
— Não podemos simplesmente ficar presos aqui para sempre, — diz
ele. — Não devemos nos sentir como prisioneiros em nossa própria casa.
— Mas existem pessoas terríveis lá fora, — eu digo. — Nunca me senti
seguro em toda a minha vida, até agora. E se aprendi alguma coisa na
minha vida, é que segurança é uma coisa frágil, muito frágil.
— Você está se esquecendo de algo, Everly, — diz Logan.
— Do quê? — Pergunto-lhe.
— Você me tem agora, — diz ele, colocando um beijo na minha
bochecha. — E minha única missão nesta vida é mantê-la segura. Essa é a
promessa que fiz a mim mesma quando nos acasalamos. E é a promessa
que faço a você agora.
Eu olho para cima e meus olhos se prendem aos dele.
— Nós caminhamos por este mundo juntos agora, — Logan continua.
— Ninguém vai te machucar mais. Eu não vou deixá-los.
— E quanto a você? Quem vai mantê-lo seguro? — Pergunto-lhe. —
Eu não posso te perder.
— Você vai me manter seguro, — diz ele com uma risada. — Você é
mais forte do que imagina. E nada vai acontecer comigo, de qualquer
maneira. Eu não estou indo a lugar nenhum. Somos eu e você, para
sempre.
As palavras de Logan agem como um bálsamo, acalmando meus
medos, até que finalmente sinto que posso respirar com facilidade de
novo.
Eu sei que Logan estava sendo sincero.
Ele me protegeu da ira de Lorde Vlad Lacroix e, em seguida, de Alfa
Damon — e eles eram monstros cruéis e implacáveis.
— Obrigada, — eu sussurro em seu ouvido enquanto descanso minha
cabeça em seu ombro. — Obrigada por me amar. Obrigada por me
manter segura.
Eu me aninho na curva de seu ombro e fecho meus olhos.
Logan

Posso ouvir na voz de Everly que ela ainda está inquieta. Mas vou
passar minha vida provando a ela que ela está segura comigo... custe o
que custar.
Estou desesperado para fazer mais perguntas sobre seu ataque de
pânico.
Durante isso, fiz uma ligação mental com ela e mal consegui
distinguir o contorno tênue de outro homem.
Quem é ele?
Ela amou outra pessoa antes de mim?
Por que ela nunca o mencionou?
Claro que quero saber mais. Mas não se isso significar desencadear
outro episódio como o que ela acabou de ter. Eu não posso fazer isso de
novo. Era muito doloroso assistir.
Então, em vez disso, engulo minhas inúmeras perguntas e a seguro
com força em meus braços até que ela adormeça.
A primeira coisa que faço pela manhã é fazer uma ligação mental para
Cole.
— Encontre-me no refeitório, — digo a ele.
Everly já está fazendo as malas para nossa jornada ao reino Fae.
— Eu estarei de volta em alguns instantes, — eu digo a ela. — Eu só
vou falar com Cole bem rápido antes de sairmos.
Quando chego no refeitório, Cole já está sentado à mesa, em frente a
Delisia.
Meu Beta está comendo um enorme prato de waffles e ovos mexidos
enquanto Delisia toma uma xícara de chá com cheiro de gengibre e ervas.
— Como vão as coisas? — Cole pergunta quando me vê me
aproximando.
— Vou fazer uma pequena viagem hoje, — digo a ele.
— Você está indo para o norte? — Cole me pergunta. — Acabei de
ouvir boatos de que há alguns problemas acontecendo lá.
— O que você ouviu? — Pergunto-lhe.
— Bem, agora que o Alfa Damon está morto... vamos apenas dizer que
problemas adoram um vácuo de poder, — diz Cole.
— Porra, — eu digo, balançando minha cabeça. Esta é realmente a
última coisa com a qual preciso me preocupar hoje.
— Aparentemente, há algum novo Alfa na cidade que está agitando as
coisas. Mas como você não sabia disso, acho que deve estar indo para
outro lugar.
— Sim, — eu digo. — Estou indo para o reino Fae com Everly. E hora
de conhecer sua família.
— Ooooh, — Cole diz provocadoramente. — Boa sorte com isso.
— Obrigado, — eu digo. — Eu estarei fora por alguns dias no tempo
Fae, mas apenas um dia ou mais neste reino. Tente não queimar a casa da
matilha enquanto eu estiver fora, ok?
— Eu acho que devo cancelar o festival de comer fogo que eu estava
planejando então, hein? — Cole diz com uma risada.
— Essa é provavelmente uma boa ideia, — eu atiro de volta. — E fique
de olho na situação do norte. Quero um relatório completo quando
voltar.
— Sim, senhor, — diz Cole.
Eu olho para Delisia. — E eu quero que você fique de olho em Cole
enquanto eu estiver fora, — eu digo.
Ela sorri largamente. — Eu sempre faço isso, — ela diz.
— Obrigado, Delisia, — eu digo.
— Já que você está indo para o reino Fae, você irá coletar algumas
samambaias de prata para mim? Estou trabalhando em uma nova poção e
eu mesma ia fazer a jornada até lá, mas como você já está indo...
— Onde encontro está samambaia prateada? — Eu pergunto a ela.
— Está crescendo em toda a Floresta Prateada, no sul do reino. Não
tem como não ver, — diz ela.
— Vou trazer uma bela porção para você, então, — digo.
Eu me levanto para sair, mas a voz de Delisia me chama de volta: —
Oh, Logan, mais uma coisa.
— E aí? — Eu pergunto a ela.
Ela enfia a mão na bolsa de crochê que está sobre a mesa e a examina
por um momento. Em seguida, ela puxa um pequeno frasco azul e o
entrega para mim.
Abro a garrafa e dou uma cheirada. O cheiro é absolutamente nojento
— como sujeira misturada com cascas de laranja podres.
— Eca, — eu digo. — O que é isso?
— É para enjoo, — ela diz. — A jornada ao reino Fae pode ser um
pouco... desafiadora para alguém sem qualquer vestígio de Fae em sua
linhagem.
Eu aceno, respiro pela boca e bebo o frasco de volta como uma dose
de vodca.
E chocante que esta poção possa ajudar com as náuseas, porque quase
vomito ao saboreá-la.
Em seguida, dou um gole do suco de laranja de Cole e aceno para os
dois. — Vejo vocês amanhã! — Eu digo. — Me desejem sorte!
Quando eu volto para o meu quarto, Everly já está esperando por
mim, com duas malas prontas ao lado dela.
— Tudo certo? — Ela me pergunta.
— Sim! Cole e Delisia vão se certificar de manter a matilha de pé
enquanto estivermos fora, — eu digo. — Vamos sair daqui!
Everly me puxa para a frente do grande espelho com moldura
dourada que está encostado na parede do nosso quarto.
Eu verifico meu reflexo, alisando minha camisa e endireitando meu
colarinho.
Everly ri. — Não se preocupe, — ela diz. — Você está ótimo.
— Conhecer o rei e a rainha do reino Fae seria intimidante o
suficiente, — digo com um suspiro. — Por que eles também têm que ser
seus tios?
Ela ri de novo e dá um beijo no meu rosto. — Você vai se dar bem, —
ela diz.
Everly tira um amuleto de seu bolso: um colar com uma pedra verde
— sua chave para o reino Fae. Ela o pendura no pescoço e se olha no
espelho.
Minha companheira e eu fazemos contato visual através do espelho.
— Segure minha mão, — ela diz. Eu a agarro com força.
E então, de repente, meu estômago se embrulha quando eu sinto o
chão cair debaixo de mim, e o mundo ao meu redor — o único mundo
que eu já Conheci — se dissolver em nada.
Capítulo 3
Everly

Com um alto BLAM pousamos com força em um pedaço de grama


macio do lado de fora do palácio Fae.
Agora posso escolher em qual local aterrissar no reino Fae, mas ainda
não consigo controlar o quão gracioso é o pouso.
Eu olho para Logan, que está esparramado no chão ao meu lado, em
cima de nossas malas.
— Você está bem? — Pergunto-lhe.
— Quase, — ele diz, com seu rosto tingido de verde como se ele
pudesse vomitar no local.
Ele olha ao redor, completamente desorientado, mas então sua
expressão se transforma em uma de admiração quando distingue seu
entorno.
— Puta merda, — diz ele. — Este lugar é incrível.
Eu avisto os jardins do palácio. Cada vez que venho aqui, fico sem
fôlego. Mas desta vez, parece mais bonito do que nunca.
Eles claramente reformaram o lugar em nossa homenagem. Existem
enormes buquês de flores que revestem todos os caminhos. Eu os
reconheço imediatamente. Eu os vi na primeira vez que vim aqui. São
flores eternas — a flor de onde vem meu nome.
Eu me levanto do chão e Logan faz o mesmo, limpando-se.
Eu olho e noto que seu antebraço ficou machucado na queda forçada.
— Aí, — eu digo.
— Não é tão ruim, — ele responde.
— Veja isso, — eu digo.
Corro até um vaso próximo e pego uma pétala de uma flor perene. Eu
trago a pétala para Logan e esfrego sobre seu ferimento.
Instantaneamente, a pele de seu antebraço começa a selar novamente
até ficar como nova.
— Esta é uma flor perene, — digo a ele. — Tem propriedades
curativas.
Logan passa os braços em volta da minha cintura. — Eu poderia me
acostumar com este reino, — diz ele.
Só então, eu olho para o céu enquanto ouço o som de asas batendo à
distância.
Através dos raios penetrantes do sol poente, vejo um Pégaso voando
em nossa direção.
Eu aceno vigorosamente para o céu e o Pégaso muda sua trajetória,
caindo e pousando na nossa frente.
Um homem alto e imponente com longos cabelos negros desmonta
do Pégaso e se aproxima de nós com um enorme sorriso no rosto.
— Primo! — Eu grito, correndo até ele. Eu pulo em seus braços e ele
me gira.
— Everly! — ele diz. — É tão bom te ver!
— Não perderíamos uma boa festa, — digo. — Jed, gostaria que
conhecesse Logan. Logan, este é meu primo Jed.
Os dois homens fortes se avaliam e se aproximam com cautela. Logan
estende a mão para Jed primeiro.
— Meu príncipe, é um prazer conhecê-lo.
— O prazer é todo meu, Alfa.
A expressão séria de Jed de repente se transforma em um sorriso
bobo.
— Chega dessa formalidade, — ele diz, puxando Logan para um
abraço. — Vamos nos divertir. Por que vocês dois não vão se limpar? O
jantar estará pronto em breve.
Jed nos conduz pelo palácio, parando em uma porta dourada
ornamentada. Ele a abre e nos leva para um quarto enorme com uma
cama circular gigante bem no meio.
— Você acha que ficará confortável aqui? — Jed pergunta, parado no
batente da porta.
Eu não posso deixar de rir. — Sim, — eu digo. — Eu acho que isso vai
servir.
— Vejo vocês em breve, — diz ele, antes de sair e fechar a porta atrás
de si.
Sozinhos agora, Logan e eu olhamos um para o outro com
entusiasmo.
Ele me pega e me joga na cama. — Vou dizer de novo, — diz ele. — Eu
poderia realmente me acostumar com este lugar.
Ele começa a fazer uma linha de beijos ao longo do meu rosto e
pescoço. Faz cócegas e eu não posso deixar de rir enquanto derreto nos
lençóis mais sedosos que já senti na minha vida.
Estou exausta da jornada curta, mas intensa. E se dependesse de mim,
ficaríamos nesta cama a noite toda. Mas o jantar está esperando por nós.
— Logan, — eu digo entre risos. — Agora não é hora para nenhuma
gracinha. Temos que nos preparar para encontrar o rei e a rainha.
— Tudo bem, tudo bem, — diz ele, fingindo uma expressão de
decepção. — Se você diz. Vamos lá.
— Eu acho que eles querem que usemos isso'' digo, apontando para o
outro lado da sala.
Pendurados na parte detrás da porta estão dois longos mantos de
uma cor púrpura profunda e majestosa.
— Oh, Deus..., — Logan murmura, olhando seu traje Fae.
Isso vai ser divertido.
Logan

Eu não posso acreditar que estou prestes a conhecer a família da


minha companheira usando o que só pode ser descrito como um longo
vestido roxo.
Com sorte, o que acontece neste reino, fica neste reino. Ninguém na
minha matilha precisa me ver com algo assim.
Embora eu deva dizer, há uma boa brisa entrando entre minhas
pernas, e este tecido Fae é mais macio do que qualquer coisa que eu já
usei.
Chegamos à sala de jantar, que não tem nada a ver com o casual
refeitório da casa da matilha.
E grandioso e ornamentado, e as paredes são forradas com sedas
roxas que combinam com nossas roupas.
Uma longa mesa está posicionada no meio da sala. Sentados em cada
extremidade da mesa estão ninguém menos que o rei e a rainha do reino
Fae.
Eles se levantam para me cumprimentar.
— Olá, — diz o rei. — Você pode me chamar de Alistam
— E eu sou Isadora, — diz a rainha.
Eu me curvo na presença deles. — Eu sou Logan, — eu digo. — E um
prazer conhecer vocês.
— Estamos muito felizes por você ter vindo nos visitar, — diz o rei.
Ele aponta para a mesa e eu me sento entre Jed e Everly.
Os pratos à nossa frente estão vazios, mas de repente o rei estala os
dedos e um banquete aparece. Há comida suficiente para toda a minha
matilha, e não reconheço a maior parte dela.
— Um brinde, — a rainha diz, erguendo sua xícara. — Para nossa
sobrinha e seu amor, Logan.
— Obrigado por nos receber, tia, — diz Everly.
Eu levanto meu copo vazio e de repente se enche com um líquido
vermelho viscoso.
Todos nós batemos nossos copos juntos e eu dou um gole.
O gosto é absolutamente delicioso. Eu imediatamente sinto um calor
suave rastejando em minha barriga.
— Tenha cuidado com o vinho Fae, — Everly sussurra em meu
ouvido. — E um pouco mais forte do que você está acostumado.
Nós comemos a refeição, desfrutando de uma conversa agradável o
tempo todo.
O rei nos atualiza sobre os assuntos do reino Fae, e eu conto a eles
toda a história da batalha contra Alfa Damon e Lorde Vlad Lacroix.
Eu fico agradavelmente bêbado com o vinho Fae e ridiculamente
cheio com a comida. Isso tudo antes que as travessas de sobremesas
apareçam na nossa frente.
Eu não posso acreditar que estava temendo este jantar. E nada menos
que alegre, caloroso e acolhedor.
Mas assim que me inclino para trás na cadeira, sentindo o friozinho
na barriga voar para longe, o rei me olha bem nos olhos.
— Logan, — ele diz depois de limpar a garganta, — você vai se juntar
a mim na sala? Quero falar com você. Sozinho.
— Claro, — eu digo um pouco rápido demais.
Eu me levanto, me sentindo um pouco tonto, e sigo o rei para a sala
ao lado.
Ele se senta em uma grande poltrona com pés em forma de garra e eu
me sento na outra em frente a ele.
— Então, Logan, — diz ele, — quais são suas intenções com minha
Everly?
Lá vamos nós...
Eu esperava uma conversa séria como essa.
— Quando um lobisomem encontra sua verdadeira companheira, é
um vínculo que dura para sempre, — eu digo. — O próprio diabo não
poderia nos separar.
Ele continua a me olhar com cautela.
— Sabe, não fiquei feliz quando descobri que minha sobrinha se
apaixonou por um lobisomem. No geral, nem sempre confio na sua
espécie. Mas posso ver que você a ama. E você já provou que pode
protegê-la.
Ufa...
— Mas, — diz o rei.
Por que tem que haver um mas?!
— Mas, — ele continua, — se houver um momento em que Everly
estiver em perigo, ou se algum de vocês precisar da nossa ajuda, por
favor, nunca hesite em pedi-la.
— Faz muito tempo que não fazemos parte da vida de Everly e sinto
que falhei com ela. Eu quero compensá-la de qualquer maneira que eu
puder.
— Eu agradeço muito por isso, — eu digo.
— Então, — diz o rei, enfiando a mão no bolso, — quero te dar uma
coisa.
Ele puxa um anel e o coloca na palma da minha mão.
E dourado, gravado com flores na lateral, e tem uma pedra verde
brilhante no centro, assim como a que Everly tem em seu amuleto.
— Esta é a chave do nosso reino, — diz o rei. — Eu quero que você
fique com ela agora.
— Não sei o que dizer..., — gaguejo. — Muito obrigado.
— Pertenceu ao pai de Everly — meu irmão, Príncipe Alric, — diz o
rei. — Eu acho que ele teria gostado muito de você. Acho que ele gostaria
que vocês tivessem se conhecido.
Com a mão trêmula, coloco o anel no dedo.
Encaixou-se perfeitamente.
Everly

Logan e meu tio haviam saído há muito tempo.


Eu me pergunto do que eles estão falando...
Espero que Logan esteja bem.
Estou ouvindo Jed me contar sobre as apostas que fez na próxima
corrida de Pégaso e, embora seja fascinante, preciso fazer xixi
desesperadamente.
Acho que bebi vinho Fae demais. Espero uma pausa na conversa e
peço licença.
Quando eu volto do banheiro em direção à sala de jantar, eu tropeço
com todo o vinho ingerido, correndo minha mão ao longo das paredes
espelhadas.
Mas algo me faz parar de repente no meu caminho.
Pelo espelho, posso ver algo.
A sombra de uma figura encapuzada espreitando atrás de mim.
E minha?
Eu me movo, mas a sombra permanece parada.
O que?
Eu me viro no local e a sombra desaparece.
Dando um suspiro de alívio, tento acalmar meu coração acelerado.
Mas quando eu olho de volta para o espelho, a sombra está atrás de
mim novamente.
Eu olho para a figura, com uma sensação de pavor no meu estômago.
Talvez seja uma mistura de vinho Fae e cansaço, mas minha visão começa
a embaçar.
Isso é real?
Respiro fundo e me viro mais uma vez. — Quem é você? — Eu grito.
Mas quando recupero o equilíbrio e olho mais uma vez para a
escuridão do corredor, a figura misteriosa se foi.
Capítulo 4
Everly

Eu corro pelo corredor, com meus pés voando rápido embaixo de


mim.
Por que estou sempre correndo para salvar minha vida?
Eu irrompi na sala de jantar, e instantaneamente todas as cabeças na
sala se viraram para mim, chocadas com minha entrada repentina e
dramática.
— Everly! — Jed diz, levantando-se da cadeira. — Qual é o problema?
Logan e meu tio voltaram da outra sala, e meu companheiro corre
para o meu lado.
— Aconteceu alguma coisa? — Ele pergunta. — Você está bem?
— Há mais alguém hospedado no palácio além de nós? — Eu
pergunto à minha família.
— Não, — diz minha tia. — Vocês são os nossos únicos visitantes.
— Eu poderia jurar que vi alguém andando no corredor. Alguém com
uma capa estava me seguindo, — eu digo, com minha voz ainda trêmula.
Eu tenho sido perseguida pela minha vida inteira. Esta dificilmente seria a
primeira vez.
Meu tio parece preocupado. — Bem, não gosto nada disso, — diz ele.
— Vou investigar imediatamente.
Ele caminha em direção à porta, com seu passo rápido e determinado.
Logan coloca o braço em volta de mim e me guia até a mesa. — Sente-
se, — diz ele.
Minha tia vem e se senta ao meu lado. — Seu tio resolverá tudo, —
diz ela. — Temos grande segurança neste palácio. Se houver um intruso
em qualquer lugar por aqui, ele será encontrado e jogado na masmorra.
Todos nós nos sentamos em relativo silêncio pelo que pareceu horas,
mas provavelmente foram apenas trinta minutos.
Meu joelho salta para cima e para baixo nervosamente o tempo todo
enquanto minha mente gira.
Quem está atrás de mim agora?
O que ele quer?
Eu sabia que nunca deveríamos ter vindo aqui.
Logan coloca a mão na minha coxa e sussurra em meu ouvido: — Vai
ficar tudo bem, Everly, eu prometo.
Às vezes, esqueço que ele pode ouvir meus pensamentos
enlouquecendo.
De repente, a porta se abre novamente e meu tio reaparece. Um
homem corpulento e de aparência severa caminha ao lado dele.
— Este é Pierre, — diz meu tio. — Ele é o chefe da segurança por aqui.
— Olá, princesa Everly, — Pierre diz com uma reverência. — Minha
equipe fez uma varredura abrangente em todo o palácio e não
encontramos nenhum hóspede indesejado. Mas teremos segurança extra
em patrulha durante a noite para sua paz de espírito.
Eu dou um suspiro de alívio.
— Obrigado pelo seu trabalho, — eu digo, envergonhada por ter
causado tanto rebuliço. — Sinto muito pelo transtorno.
— Não se preocupe, — Pierre diz com outra reverência. — E meu
trabalho.
Ele sai da sala e fico sozinha novamente com minha família e Logan.
Todos me encaram. Eu não posso lidar com toda essa atenção agora.
— Não é assim que eu gostaria de terminar este jantar, — digo. —
Tem sido tão adorável. Mas acho que devo ir para a cama.
— Eu entendo, minha querida prima, — diz Jed. — Descanse um
pouco.
Dou um beijo de despedida em todos eles e Logan me segue enquanto
caminho cautelosamente de volta pelo corredor em silêncio.
Quando chegamos ao nosso quarto, deixo cair a capa no chão e, sem
palavras, subo na cama apenas com minha roupa de baixo.
Enquanto afundo meu rosto no travesseiro macio, ouço os passos de
Logan se aproximando da cama e sinto sua mão nas minhas costas.
— Everly, por favor, não tenha medo, — diz ele. — Eles verificaram
todo o palácio e não havia ninguém aqui.
— Eu sei que isso deve me fazer sentir melhor, — eu digo, levantando
minha cabeça do travesseiro.
— Mas também sei que vi alguém. Um homem alto vestindo uma
longa capa preta. Ele estava andando nas sombras, me seguindo. E eu vi o
brilho prateado de seus olhos. Ele estava me observando.
Logan continua a passar a mão nas minhas costas.
— Bem, — ele diz, — se qualquer homem com uma longa capa preta
entrar nesta sala esta noite, eu vou dar uma surra nele até ele voltar para
onde diabos ele veio. Por favor, descanse um pouco. Você se sentirá
melhor pela manhã.
Tento resistir à vontade de dormir, mas não consigo evitar.
O impulso da adrenalina anterior me esgotou completamente e estou
exausta.
Logan

Dou um beijo na testa de Everly e ela fecha os olhos.


Quando ela começa a adormecer, puxo uma cadeira da penteadeira e
a arrasto em direção à porta do nosso quarto.
No caminho, pego um livro da estante elaborada. Eu escolho um
chamado Flora e Fauna do Reino Fae.
Eu me sento em frente à porta e abro o livro. Talvez eu possa ter uma
ideia de como é a cobiçada samambaia prateada de Delisia enquanto fico
de vigia durante a noite.
Eu manterei minha palavra. Protegerei Everly desta figura
encapuzada, mesmo que isso signifique ficar acordado a noite toda em
frente à porta com esta enciclopédia em minhas mãos.
Contudo, enquanto fico ali sentado por horas e horas, olhando para a
porta imóvel, não posso deixar de me perguntar...
A sombra escura que estava seguindo Everly era apenas uma invenção de
sua imaginação?
Foi uma manifestação da sombra escura de seu passado?
Será que o trauma dela vai parar de segui-la?
Estou começando a ficar realmente preocupado com ela, entre seu
ataque de pânico na noite passada e agora isso.
Quando voltarmos ao reino dos lobisomens, vou garantir que ela
receba a ajuda de que precisa para se acalmar.
E difícil admitir, mas a verdade é que meu amor e afeto simplesmente
não são suficientes para proteger Everly das sombras escuras de sua
mente.
A dor vive em um lugar profundo que nem eu consigo tocar...
No entanto, por enquanto, vou tentar o meu melhor para ficar
acordado — apenas no caso desta figura escura aparecer.
Príncipe da Escuridão

Em minha mente, eu a vejo dormir.


Dizem que há uma rachadura em tudo. E assim que a luz entra.
A primeira vez que senti Everly entrar no reino, ela se tomou a fenda
em meu mar infinito de escuridão.
Cada vez que ela sai, espero pacientemente que ela volte, desesperado
para vê-la novamente, mesmo que apenas por um momento.
Agora, Cheguei a um ponto em que vê-la não é o suficiente. Eu quero
mais. Muito mais.
Mas como vou ficar sozinho com ela, quando ela está sempre com
aquele homem-animal corpulento?
Eu a segui em minha forma sombria e tentei confrontá-la enquanto
ele não estava ao seu lado.
Contudo, isso não deu nada certo. Eu a assustei, e agora ganhar sua
confiança novamente será ainda mais difícil.
Voltei ao meu reino, sentindo-me derrotado após nosso pequeno
encontro.
Meus passos ecoam enquanto eu caminho pelos cavernosos
corredores do meu palácio.
Este lugar já foi minha casa, mas agora é minha prisão.
Anseio por ter a liberdade de sair novamente.
Uma liberdade que não posso ter... não sem ela ao meu lado.
Eu caminho do meu quarto para o escritório e desço uma escada em
espiral para o meu covil privado.
No centro do covil existe um enorme poço cavado no solo, rodeado
por grandes pedras dentadas.
Eu me aproximo e espio dentro da massa rodopiante de almas
perdidas, amarradas a nada, flutuando em um abismo sem fim.
Em breve, irei me juntar a eles...
A menos que eu encontre minha saída em Everly.
Eu não apenas a quero.
Eu preciso dela.
E farei tudo ao meu alcance para tomá-la minha.
Capítulo 5
Everly

Acordo na manhã seguinte sentindo-me totalmente revigorada.


A luz do sol entra pelas grandes janelas salientes, desenhando linhas
ao longo da colcha.
Eu aperto meus olhos e coloco meus braços sobre minha cabeça,
esticando meu corpo.
Para minha surpresa, os medos da noite anterior não estão mais
passando pela minha cabeça.
O único medo que resta é que eu me envergonhei na frente da minha
família.
Acho que devo ter imaginado a figura sombria. Afinal, ainda estou
aqui inteira, não estou?
Estendo a mão para Logan, na esperança de puxá-lo para um abraço
matinal, mas a cama está vazia.
Sento-me e o encontro relaxado em uma cadeira perto da porta, com
uma pilha de livros ao seu lado.
— Logan? — Eu digo. — O que você está fazendo?
Ele vira a cabeça para mim e me cumprimenta com um sorriso
sonolento.
— Olá, minha pequena companheira, — ele diz.
— Você ficou acordado a noite toda? — Pergunto-lhe.
— Acho que sim, — diz ele. — Não consegui dormir pensando que
havia um intruso vindo atrás de você.
Eu rastejo para fora da cama e caminho até ele, então me sento no
braço de sua cadeira e passo meus dedos pelo seu cabelo.
— Você não precisava fazer isso, — digo a ele. — Você vai ficar
exausto o dia todo!
— Nada que um pouco de café e açúcar não consiga resolver, — diz
ele.
Dou-lhe um beijo na testa.
Estou muito grata por ele ter ficado acordado para me proteger.
Mas preciso começar a manter meus medos irracionais para mim
mesma, para que ele não perca mais o sono. Eu não quero ser conhecida
como a garota que gritou pelo meu companheiro lobisomem.
— O que você quer fazer hoje? — Logan me pergunta.
— Vou te levar para dar uma volta por todo o reino, — digo, — e
mostrar um pouco mais do que este reino tem a oferecer.
Minha mão continua a correr sem rumo por suas mechas.
— Mas primeiro, — eu digo, — há alguém que eu quero que você
conheça.
Os olhos de Logan se iluminam. Eu despertei sua curiosidade.
Preparamo-nos para o passeio, colocando roupas confortáveis e
enchendo nossas mochilas com os suprimentos de que precisaremos para
um dia de aventuras.
Em seguida, paramos no refeitório, onde já há um bule de café quente
e um prato com uma pilha alta de doces esperando por nós. Há também
uma tigela enorme com frutas de todos os tipos.
Pego uma maçã e coloco no bolso enquanto passo pela mesa.
— Para que é isso? — Logan me pergunta.
— Você verá, — digo a ele com uma piscadela.
Eu o levo para os jardins do palácio, tomando banho de sol e
respirando a fragrância das flores frescas. Caminhamos até os estábulos.
E quando eu a vejo, parada ali em toda a sua glória.
Minha Pégaso.
Snow.
Ela estende suas asas e relincha no ar quando me vê.
Estou tão feliz que ela se lembra de mim. É claro que ela se lembra.
Um Pégaso é ferozmente leal ao seu mestre.
— Esta é a Snow, — digo a Logan. — Ela será nossa chofer durante o
dia.
— Nós realmente vamos andar nessa coisa? — Logan me pergunta.
Eu sorrio amplamente. — Sim. Mas Snow é muito protetora comigo.
Então melhor causar uma boa primeira impressão, — eu digo.
Pego minha bolsa e retiro a maçã, colocando-a na palma da mão.
— Você vai querer oferecer assim, — digo a ele, — para proteger seus
dedos no caso de você irritá-la.
Logan tira a maçã da minha mão, com um traço de medo em seus
olhos, e se aproxima cautelosamente da grande besta branca.
É engraçado ver meu forte Alfa caminhar tão timidamente em
direção à outra criatura.
Logan estende a maçã para Snow. Ela o examina por um momento.
Então ela olha para Logan. Depois, volta seus olhos à maçã.
De repente, ela leva à boca e praticamente engole de uma vez.
Quando ela termina, ela enfia o nariz no pescoço de Logan e fecha os
olhos.
— Aw, ela te ama, — eu digo.
— Vamos dar uma volta nela, — diz Logan, dando um tapinha no
focinho de Snow.
Eu me coloco nas costas de Snow e Logan me segue.
Quando ambos montamos no Pégaso, agarro as rédeas e Logan me
segura com força.
Eu amo a sensação de ter Logan pressionado em mim, seus braços em
volta da minha cintura.
De alguma forma, parece seguro e perigoso ao mesmo tempo.
Eu puxo suavemente as rédeas e Snow estende suas asas e decola no
ar.
Começamos a ganhar altura e a região do reino Fae se estende abaixo
de nós, com suas florestas verdes luxuriantes e águas turquesa.
Eu respiro o ar fresco e me encontro ficando um pouco tonta com a
altitude, mas o aperto de Logan me mantém firme.
— Você está assustado? — Pergunto-lhe.
— Não, — ele diz. — Vou aceitar qualquer desculpa para segurar você
com força.
Suas mãos percorrem meu corpo. Uma roça meus seios enquanto a
outra fica entre minhas coxas.
Eu posso me sentir ficando animada.
Isso daria um novo significado a me levar às alturas...
Contudo, preciso me concentrar em manter o equilíbrio.
— Onde você quer ir primeiro? — Pergunto-lhe.
Ele aponta para uma área de floresta densa ao sul que brilha com uma
iridescência prateada inconfundível.
— Delisia queria que eu pegasse algumas samambaias da Floresta
Prateada. Deve ser lá. Vamos explorar por ali, — diz ele.
— Perfeito, — eu digo, enquanto puxo as rédeas de Snow novamente
e a guio na direção do dedo estendido de Logan.
Após cerca de dez minutos, Snow pousa suavemente em uma clareira
fora da Floresta Prateada e pulamos de suas costas no chão.
— Estaremos de volta em breve, — digo a Snow.
Eu não preciso amarrá-la. Ela é inteligente o suficiente para ficar por
perto.
Pego a mão de Logan e começamos a caminhar sob a copa das
árvores.
Olhando ao redor absolutamente maravilhada, noto que cada uma
das miríades de flores ao nosso redor é bioluminescente. O brilho
prateado ilumina nosso caminho.
Vagamos pela floresta por horas, apreciando as maravilhas naturais.
Em um ponto, encontramos um enorme pedaço de samambaia
prateada e pegamos um monte para Delisia.
Estamos caminhando ao longo da margem de um pequeno riacho
balbuciante quando Logan me para na frente de uma árvore enorme e
antiga com enormes folhas brilhantes.
— Você sabe o que é isso? — Ele me pergunta.
— Não, — eu respondo.
— Os Fae chamam de árvore do coração partido, — diz ele. — Eles
moem as folhas e as infundem em um chá para ajudar alguém a se curar
da dor de um coração partido.
— Como você sabe disso? — Eu pergunto a Logan, maravilhada.
— Tive muito tempo para ler ontem à noite, — diz ele, me
empurrando contra a base da árvore. — Prometa que nunca vou precisar
desse chá.
Eu pressiono meus lábios nos dele, com vigor e entusiasmo. —
Nunca, — eu sussurro entre beijos.
Ele gira sua língua dentro da minha boca enquanto agarra meus
quadris e me levanta.
Minha pele é apertada, mas não me importo. Neste momento, a dor
está apenas aumentando o meu prazer.
Eu envolvo minhas pernas em volta de sua cintura e ele esfrega seus
quadris nos meus. Posso sentir sua dureza crescendo a cada segundo.
Nossa paixão fica cada vez mais forte, como um incêndio que pode
queimar toda esta floresta.
Logan me deita na cama macia de musgo nas raízes da árvore.
Eu tiro as roupas suadas e pegajosas dele até que ele esteja totalmente
nu. Ele tira minhas roupas também.
Sem vestir nada, neste Éden, sinto que somos Adão e Eva, prestes a
cometer o pecado original.
Eu agarro sua dureza e provoco contra minha abertura.
Eu preciso dele agora. Fomos interrompidos muitas vezes nos últimos
dias e estou desesperada.
Finalmente, estamos no meio do nada, sem ninguém ao nosso redor.
Nada vai nos impedir de obter a liberação que merecemos.
Logan agarra meus ombros e mergulha dentro de mim.
Eu grito de prazer enquanto ele continua a estocar repetidamente.
Grito seu nome a plenos pulmões, sabendo que não há ninguém por
perto para nos ouvir.
— Não pare, Logan, — eu digo. — Continue!
— Sim, Everly, — ele responde. — Sim.
Enquanto ele desliza para dentro e para fora de mim, ele se abaixa e
pressiona o polegar contra o meu ponto mais doce.
Eu agarro as raízes da árvore do coração partido, me firmando,
enquanto Logan atira sua carga poderosa dentro de mim. Sua explosão
dispara a minha, e um êxtase puro passa por cada uma das minhas
terminações nervosas.
Chegamos ao clímax em uníssono, abraçados com força no chão da
floresta.
Assim que nosso tremor diminuiu, Logan rola e se deita ao meu lado,
descansando a cabeça em meus ombros. Eu posso dizer que ele está
exausto. A noite está começando a cair e provavelmente deveríamos
começar a voltar logo de qualquer maneira.
Entretanto, ele ficou acordado a noite toda por mim, então vou deixá-
lo descansar aqui, só por um momento.
Logan

Meus olhos se abrem com o som de um galho quebrando nas


proximidades.
Minha cabeça está no ombro de Everly e, quando me sento, vejo que
ela está dormindo.
Devemos ter cochilado depois de fazer amor.
Ainda estamos nus e o céu está escuro.
Há quanto tempo estamos desmaiados?
Graças a Deus pela bioluminescência, senão não conseguiria ver porra
nenhuma.
Estendo o braço para pegar minha camisa e a visto, então visto minha
calça jeans.
Só então, ouço outro galho quebrando. Desta vez, está ainda mais
perto do que o último.
Eu me viro e de repente meu coração dá um salto.
É ele.
O homem que Everly descreveu.
Uma figura escura encapuzada parada nas sombras.
Ela não o imaginou.
Ele é real.
E ele está bem na minha frente.
Capítulo 6
Príncipe da Escuridão

Aquele homem-animal tem suas mãos sobre o corpo delicado dela.


Sei que outros homens a tocaram, mas isso não toma isso mais fácil
de assistir.
Eu não vou perturbá-los.
Vou deixá-lo tê-la uma última vez antes de tomá-la minha.
Em breve, vou fazê-la esquecer tudo sobre essa criatura chamada
Logan.
Ontem, quando tentei abordá-la no palácio, escolhi um péssimo
momento.
Eu preciso fazer com que ela venha ao meu reino de boa vontade.
Mas ela se convenceu de que está feliz com esse homem, e agora
tenho certeza de que não há nada que eu possa dizer a ela que a obrigue a
deixá-lo.
E por isso que desenvolvi outro plano para garantir que Everly me
siga ao meu reino.
***

Horas depois, enquanto eles cochilavam no chão da floresta, eu me


aproximo deles novamente.
Eu ando nas sombras, esperando Logan se mexer.
Eu faço um som propositalmente. Muito pequeno. O estalar de um
galho.
Tenho certeza de que não vai perturbar Everly, mas os sentidos de
lobisomem de Logan definitivamente vão detectá-lo.
Com certeza, funciona perfeitamente.
Ele acorda e olha em volta.
Posso dizer que ele está preocupado, mas provavelmente só pensa que
é um animal passando pela floresta.
Ele veste suas roupas.
Quando ele está totalmente vestido, saio das sombras.
Ele me ouve se aproximando e se vira.
E então seus olhos encontram os meus.
Você é meu, lobisomem.
Logan

Nossos olhos estão travados enquanto eu me posiciono para um


combate.
Contudo, a sombra não reage ao meu movimento.
Ela não move um músculo.
— Quem é você? — Pergunto-lhe. — O que você quer?
Em vez de responder, ele apenas balança sua longa capa e começa a
andar na outra direção.
De jeito nenhum vou deixar esse perseguidor escapar ileso e sem ser
questionado.
Preciso saber quais são suas intenções e por que ele está
incomodando a mim e a Everly. Eu preciso mostrar a ele com quem ele
está mexendo.
Eu corro atrás dele o mais rápido que posso pela floresta. Ele está se
movendo rápida e silenciosamente, como se estivesse flutuando.
Eu grito enquanto vou atrás dele: — Pare! Seja homem. Mostre seu
rosto. Se você quiser lutar, estou pronto.
Eu digo as palavras e falo sério. Estou pronto para colocar este
homem a sete palmos.
Mas de repente meu pé fica preso na raiz de uma árvore e estou
caindo de cara no chão. Eu consigo me segurar com as mãos e me
levanto.
Quando olho em volta, não consigo ver para onde ele foi.
Merda.
Ele está fugindo.
Preciso que meus sentidos sejam ainda mais aguçados para que eu
possa rastreá-lo.
Eu continuo correndo e, em seguida, salto, mudando para minha
forma de lobo no ar e pousando sobre quatro patas.
Farejando o chão, tento encontrar o rastro de um perfume. Mas não
consigo sentir o cheiro de nada incomum. Então, em vez disso, apenas
escuto.
E então eu ouço...
O som fraco de tecido roçando nas folhas.
Corro na direção do barulho, que me leva algumas centenas de
metros à frente e direto para a entrada de uma caverna. Eu o vejo
novamente, flutuando na caverna.
Rastejando silenciosamente, eu o sigo para dentro.
Mas a visão de algo estranho me faz parar no meio do caminho.
O abismo escuro da caverna é iluminado por uma pequena piscina
rodopiante de água prateada no solo. À primeira vista, não parece nada
com água, mas com uma gosma espessa, turva e viscosa.
E ruídos estranhos estão emergindo do redemoinho — sons de
rosnados e gritos de gelar os ossos.
O que diabos está acontecendo?
O homem se aproxima da lagoa e se vira para me encarar, como se
estivesse esperando que eu mergulhe com ele.
Eu recuo sobre minhas patas traseiras e solto meu uivo mais feroz.
Everly

Eu acordo com o som de um uivo alto à distância.


E o uivo de Logan... Tenho certeza disso.
Eu olho em volta freneticamente, mas não consigo ver meu
companheiro em lugar nenhum.
Merda.
Devemos ter adormecido na floresta.
Parece que Logan está com problemas. Eu preciso chegar até ele,
agora.
Eu me levanto do chão e visto minhas roupas o mais rápido que
posso.
Então corro na direção do barulho.
Correndo pela escuridão, sinto uma raiva profunda e arrependimento
crescendo em meu peito.
Como pudemos ser tão estúpidos?
Devíamos ter voltado para o castelo antes do anoitecer Quem sabe que
tipo de perigo pode ser encontrado na Floresta de Prata!
Eu pulo quando ouço um farfalhar em um arbusto ao meu lado.
Eu me preparo para o pior, mas dou um suspiro de alívio quando
Snow surge de repente da folhagem.
Eu pulo em cima dela em um instante e dou um chute suave ao lado
de seu corpo. Ela voa enquanto eu mantenho meus olhos fixos no chão
abaixo, procurando por qualquer sinal de Logan.
Então eu ouço outro uivo, mais perto do que nunca. Ele deve estar em
algum lugar por aqui.
Puxo as rédeas de Snow e ela mergulha de volta ao chão.
Quando pousamos, deslizo para o chão e rapidamente vejo o rabo de
Logan balançando um pouco além da boca de uma caverna próxima. Eu
me escondo próxima à entrada e dou uma espiada.
Está escuro lá, mas quando meus olhos se ajustam, vejo por que
Logan está gritando.
Puta merda.
É ele.
A mesma figura encapuzada que vi no palácio.
Logan se lança contra o homem e afunda os dentes na bainha de sua
capa.
Mas o homem das sombras é rápido. Ele se esquiva na escuridão com
uma velocidade inacreditável e Logan sente que errou o ataque.
— Tenha cuidado! — Eu digo a Logan através de nossa ligação mental.
Sua cabeça gira e posso dizer que ele me ouviu.
— Everly, corra, — diz ele. — Pegue Snow e dê o fora daqui. Eu não
consigo vê-la. Mas esse cara é rápido e inteligente. E ele tem poderes que não
entendo.
— Não vou embora sem você, — Faço uma ligação mental com ele. —
Nós ficamos juntos.
Ele olha ao redor uma última vez, procurando desesperadamente pela
figura encapuzada. Então ele se vira e começa a andar em minha direção.
O som de suas patas batendo no chão envia ecos pela caverna.
De repente, vejo a figura encapuzada atrás dele.
Soltei um grito, mas é tarde demais.
O homem agarra Logan pelo rabo e o puxa para trás, arrastando-o
para uma poça com um líquido prateado no chão da caverna.
Eles desaparecem sob a superfície, afundando no desconhecido.
— Nãããão! — Eu grito, correndo em direção ao redemoinho.
Eu quero mergulhar atrás deles, mas assim que estou me preparando,
toda a piscina de água em redemoinho encolhe. E então, em um instante,
desaparece, selada pelo chão de rocha dura da caverna.
— LOGAN! — Eu grito, mas ele já se foi.
Meu coração se despedaça. Eu pensei que a figura encapuzada estava
vindo atrás de mim. mas agora ele levou meu companheiro!
Capítulo 7
Everly

Puta merda.
Um momento, Logan e a figura sombria estavam parados bem na
minha frente.
Agora os dois se foram, junto com o redemoinho que parecia engoli-
los por inteiro.
Para onde eles foram?!
Eu bato furiosamente nas paredes da caverna, gritando o nome do
meu companheiro.
— Logan, — eu grito. — Logan!
Entretanto, a única resposta que recebo é minha própria voz ecoando
pela caverna vazia.
Lágrimas correm pelo meu rosto como uma cachoeira. Sabe-se lá
onde ele está agora.
Eu só sabia que minha felicidade era boa demais para ser verdade...
que a escuridão estava à espreita. E acabou que eu estava certa!
— Logan! — Eu grito mais uma vez, mas é claro que é em vão.
Não posso deixar minha mente ficar desolada... não quero ouvir que é
tarde demais. Que nunca mais verei Logan. Que ele está morto.
Em vez disso, preciso começar a procurar soluções.
Minha única missão neste mundo é encontrar Logan e tê-lo em
segurança em meus braços novamente.
Eu farei o que for preciso.
Quem diabos era aquele homem?
Havia algo familiar sobre ele... algo que reconheci.
É possível que ele fosse um companheiro de Lord Vlad ou Alfa
Damon? Ele está procurando vingar suas mortes?
Preciso voltar ao palácio Fae agora e ver se minha família sabe alguma
coisa sobre esta caverna. Talvez eles possam me ajudar a descobrir quem
diabos era e para onde ele levou meu companheiro.
Eu corro para fora da caverna a toda velocidade e vejo Snow
esperando por mim como o leal corcel que ela é.
Ela se aproxima de mim, sentindo que algo está errado, e acaricia
minha bochecha, secando minhas lágrimas.
— Obrigada, — eu digo a ela.
Eu subo em cima dela, tentando firmar minha respiração e me
recompor.
— Vamos voltar para o palácio, — eu digo. — Agora. — Ela me
entende perfeitamente e, em um instante, suas asas se abrem e nós
decolamos para o céu.
Enquanto o ar frio passa pelo meu rosto, sinto-me energizada. Toda a
tristeza, o desespero, o medo, são substituídos por pura raiva do captor
de meu companheiro.
Logo, posso ver o contorno do palácio à distância.
Todas as luzes estão apagadas. Não tenho ideia de que horas são, mas
já deve ser no meio da noite.
Finalmente, Snow pousa em frente ao palácio. Eu desmonto e corro
em direção às portas, onde Pierre está montando guarda.
— Princesa Everly, está tudo bem?
— Não, — eu digo. — Não está. Preciso falar com minha tia e meu tio
agora. E Jed também. Não posso esperar. E uma questão de vida ou
morte.
— Sim, senhora, — diz ele, com a preocupação gravada em seu rosto,
e ele corre para pegá-los.
Em poucos minutos, minha família se junta a mim no foyer.
Estou acostumada a vê-los em seus trajes reais completos. Eles
parecem tão diferentes em seus roupões de banho à luz fraca das velas.
— O que aconteceu, Everly? — Diz minha tia, correndo em minha
direção.
— A figura encapuzada... aquela que eu vi ontem à noite..., — eu
começo. — Eu o vi de novo.
— Ai, meu Deus, — diz meu tio. — O que aconteceu?
— Ele levou Logan, — eu digo.
Sinto a mão de Jed em meu ombro. — O que você quer dizer? Sente-
se e conte-nos tudo, — diz ele.
Sua mão repousa nas minhas costas enquanto ele gentilmente me
empurra em direção a uma área ao lado de uma lareira.
Meu tio aponta para a lareira e uma chama forte aparece. Agradeço o
gesto. O calor é reconfortante em meus momentos de necessidade.
Eu me sento e começo do início.
— Logan e eu estávamos explorando a Floresta Prateada. Fizemos
uma longa caminhada e nos cansamos. Acabamos caindo no sono no
chão da floresta, — digo, deixando de fora as partes explícitas para o
benefício da minha família.
— Quando eu acordei, — eu continuo, — eu podia ouvir Logan
uivando. Segui o som até uma caverna, onde o vi lutando com a figura
encapuzada.
O homem o puxou para uma piscina de prata rodopiante e os dois
desapareceram.
Eu vejo os rostos de cada um dos membros da minha família caírem,
um de cada vez.
— A piscina em redemoinho, — começa meu tio, — você pode
descrevê-la?
— Era uma substância estranha. Parecia água, mas dava pra ver que
não era. E eu podia sentir que tinha uma energia sombria.
Meu tio franze os lábios e junta as mãos. — Parece, — diz ele, — que
você e seu companheiro podem ter tropeçado na entrada do submundo
Fae.
— O quê? — Eu pergunto, incapaz de compreender o que ele está me
dizendo.
— O portal para o submundo fica nas profundezas da Floresta
Prateada, — diz minha tia. — Diz a lenda que assume a forma de um lago
prateado rodopiante. Só é possível encontrá-lo se você for conduzido até
lá pelo próprio governante do submundo.
— Quem é ele? — Eu pergunto. — Quem é o governante do
submundo?
— Não sabemos o nome dele. Ou seu rosto, — responde Jed. — Nós
apenas o chamamos de Príncipe das Trevas.
Meu coração para por um instante. O que o governante do submundo
quer com Logan?
Logan

A figura encapuzada está me puxando para a piscina rodopiante.


Tento gritar o nome de Everly e luto para voltar à superfície, mas
instantaneamente perco minha voz e toda minha força.
Eu pensei que a jornada para o reino Fae seria difícil... mas a jornada
através deste portal está em outro nível.
Eu bato de cara em um chão de concreto duro e de repente vomito
todas as minhas entranhas. Não consigo impedir meu estômago de dar
cambalhotas.
Minha visão ainda está girando. Mal consigo ver onde estou.
Tento me levantar, preocupado que meu agressor vá se aproximar de
mim a qualquer momento. Mas assim que encontro meu equilíbrio, eu
caio de volta no chão.
Ali, totalmente desmoralizado, fecho os olhos, respiro fundo algumas
vezes e tento me acalmar.
Quando os abro novamente, fico surpreso ao descobrir que meu
invasor não está em lugar nenhum.
Em vez disso, vejo que estou sozinho em uma pequena cela úmida em
uma caverna de pedra.
As barras não são feitas de metal, mas de estalagmites crescendo no
chão da caverna.
Merda...
Que diabos é esse lugar? É realmente o inferno?
Eu procuro desesperadamente por uma saída, mas quase não consigo
ver nada.
A única luz na sala é uma única vela bruxuleante do lado de fora da
minha cela. A chama é diferente de tudo que eu já vi — ela brilha com
uma cor azul forte.
Está muito quente aqui e já estou começando a suar.
— Olá? — Eu chamo. Mas não recebo resposta.
Meu coração começa a acelerar.
Estou realmente fodido desta vez.
Tento fazer uma ligação mental com Everly, mas posso dizer que não
consigo acessar os pensamentos dela... o que significa que ela não
conseguirá acessar os meus.
Minha pobre companheira.
Ela deve estar muito preocupada.
Eu bato meus punhos contra minha cela de pedra, cortando-os na
rocha irregular.
Já estou sentindo o tormento psicológico de estar em cativeiro.
Everly esteve em cativeiro por muito tempo de sua vida.
Sempre achei que entendia o que ela passou... Esta é a minha primeira
experiência de prisão real e é muito pior do que qualquer coisa que eu
poderia ter imaginado.
A sensação de impotência é completa e totalmente consumidora.
Eu preciso dar o fora daqui. — Olá? — Eu grito novamente.
Desta vez, ouço o som de tecido varrendo o chão da caverna. E então
eu vejo a sombra da figura encapuzada se aproximando da luz de velas.
— Olá, Logan, — ele me diz.
— Quem é você? Como você sabe meu nome?
— Ela estava gritando quando você estava se aproveitando dela na
floresta. E ela gritou novamente quando eu puxei você para o meu reino.
Meu sangue começa a ferver.
Ele estava nos observando transar?
Mas isso está longe de ser minha única preocupação agora.
— Seu reino? — Pergunto-lhe. — Que reino é exatamente?
— Este é o submundo Fae. O reino das almas perdidas. E eu sou o
líder deles, o Príncipe das Trevas.
— Eu estou no submundo? Isso significa que estou morto?
O príncipe solta uma risada lenta e deliberada. — Não. Ainda não,
pelo menos. Só eu posso trazer pessoas de e para este reino sem matá-los.
— Então, por que você me trouxe aqui? — Eu pergunto a ele, com
meus olhos se estreitando em seus olhos prateados.
— Porque você tem algo que eu quero.
— E o que é isso? — Pergunto-lhe.
— Chega de perguntas, — diz o príncipe.
Ele empurra uma mão sombria em minha direção e uma forte rajada
de vento me joga contra a rocha irregular atrás de mim.
Eu uivo de dor.
O que esse príncipe implacável quer?
E até onde ele está disposto a ir para obtê-lo?
Capítulo 8
Everly

Eu olho para minha família com os olhos arregalados.


— O Príncipe das Trevas? — Eu pergunto a eles. — O que ele quer
com Logan?
— É impossível dizer, — responde minha tia.
— Bem, eu preciso ir para o submundo e descobrir, — eu digo.
— Como eu disse, não há como entrar e sair do submundo vivo, a
menos que o Príncipe das Trevas faça a jornada com você, — diz minha
tia. — Isto é horrível. Simplesmente horrível.
Horrível é um eufemismo. Meu companheiro foi tirado de mim e não
tenho ideia do porquê.
— Reúna as tropas! — Eu digo. — Precisamos enviar um exército para
a caverna e declarar guerra ao submundo.
Meu tio pousa a mão no meu ombro. — Infelizmente, isso não é
possível, Everly, — diz ele. — O submundo não é como nenhum outro
reino.
— Faz parte da ordem natural do nosso universo. Alguns voltam vivos
e outros não, mas cabe ao príncipe decidir.
Meu coração aperta com suas palavras — como ele pode desistir tão
facilmente?
Mas então Jed se levanta da cadeira.
— Vou falar com ele, — diz ele. — Vou trazer alguns de nossos
melhores homens para procurar um caminho para o submundo, e vou
solicitar um encontro diplomático com Sua Escuridão Real. De príncipe
para príncipe.
— Oh, obrigada, Jed, — eu digo, correndo em direção a ele e dando-
lhe um grande abraço. — E se ele não concordar com um encontro? —
Eu pergunto.
Meu primo olha solenemente para o chão por um momento e depois
volta para mim. — Um passo de cada vez, Everly, — diz ele. — Isso é o
melhor que podemos fazer.
— Traga um mapa do reino, — meu tio grita para Pierre.
Em instantes, Pierre aparece com um pergaminho grosso na mão. Ele
o desenrola na mesa à nossa frente.
— Mostre-nos onde ficava a caverna, — diz meu tio.
Eu sigo meu dedo pela Floresta Prateada, tentando mapear a rota que
tomamos.
Finalmente, vejo uma pequena ilustração da árvore do coração
partido e, logo ao norte dela, a boca da caverna.
— Aí está, — eu digo, meu tom sombrio.
— Muito bom, — murmura Jed. — Estaremos a caminho.
— Vou reunir as forças e iremos para lá imediatamente, — diz Pierre.
— Tenha cuidado, filho, — diz meu tio, dando um tapinha nas costas
de Jed.
***

Eu espero pacientemente no foyer durante a noite.


Eu não fecho os olhos, esperando por uma palavra sobre o que está
acontecendo com Logan.
Tento repetida e desesperadamente fazer uma ligação mental com
ele.
— Logan, — digo na minha cabeça. — Logan, estou com saudades.
Logan, eu te amo. Logan, onde você está?
Mas é claro, nenhuma resposta vem.
Aparentemente, o submundo está fora de alcance.
De repente, ouço um rangido quando a porta se abre.
Pierre, meu tio e um grupo de soldados Fae aparecem na porta.
— Nada?
— Não havia nenhum portal à vista, — diz Pierre. — Exigimos um
encontro com o Príncipe das Trevas, mas nenhuma resposta veio.
Eu olho para o fogo, sentindo-me totalmente derrotada.
— Continuaremos nossa busca pela manhã, — diz meu tio. — Mas
por agora, por favor, descanse um pouco.
Ele estende os braços e me puxa para um abraço apertado. E então,
com uma expressão sombria, ele desaparece no corredor.
Os outros membros da minha família já foram dormir. Eu sei que eles
estão preocupados, mas claramente eles não entendem que eu sou
incapaz de descansar enquanto Logan estiver fora.
Eu não vou dormir até que Logan esteja de volta em meus braços.
Espero até ouvir o som da porta do meu tio fechando e então me
levanto da cadeira. Eu saio e assobio para Snow. Ela galopa em minha
direção e eu subo em cima dela.
Se o exército Fae não pode resolver isso, então terei que fazer isso
sozinha.
***

Quando eu volto para a caverna, o amanhecer está despontando.


A luz do sol está chegando ao horizonte e posso ouvir o som dos
pássaros começando a piar. O orvalho cobre as folhas prateadas que me
cercam.
Esta não seria nada menos que uma manhã espetacular se a vida do
meu companheiro não estivesse em perigo.
Eu só quero me reunir com ele. Quero beijar seus lábios mais uma
vez. Quero correr meus dedos por seu cabelo delicioso.
Anseio por seu toque — o calor de seu corpo forte contra o meu.
Quero sentir seu coração batendo, para saber se ele está vivo e bem.
Eu entro na caverna novamente e fico no centro dela, no mesmo
lugar onde a piscina de prata apareceu.
— Olá! — Eu grito, tentando aliviar meu tom, apesar da minha raiva.
— Príncipe das Trevas?
Já lidei com homens maus e poderosos no passado. Normalmente,
sua fraqueza vem na forma de meninas doces e submissas.
Então, estou tentando ocupar esse papel, mesmo que vá contra todas
as fibras do meu ser... mesmo que tudo que eu queira fazer seja gritar e
chutar o filho da puta direto para o inferno.
Mas ele já vive no inferno, então que escolha eu tenho.
— Príncipe das Trevas, — eu digo calmamente. — Eu sou Everly,
companheira de Alfa Logan.
Eu engulo em seco, tentando pensar no que mais dizer.
— Se você for gentil em aparecer, — eu digo, — eu adoraria ter uma
palavra com você.
Não há resposta.
— Se você pudesse apenas me levar para o seu reino, talvez
pudéssemos resolver algo. Por favor. Preciso da sua ajuda.
Mais uma vez, não encontro nada além de silêncio.
Estou ficando desesperada agora. Eu caio de joelhos e aperto minhas
mãos.
— Por favor. Príncipe das Trevas. Por favor, me ajude! Eu preciso falar
com você.
Príncipe da Escuridão

O lobisomem grita e berra há horas.


Ele quer que eu o deixe sair, mas não há chance disso acontecer... não
até eu pegá-la.
Ele vai se cansar em breve.
Além disso, está fervendo na masmorra. A desidratação deixará sua
garganta tão seca que ele não conseguirá mais gritar.
Eu gostaria de não ter que trazê-lo aqui.
Ele está perturbando minha paz, pois preciso ficar calmo e focado até
que ela volte aqui para buscá-lo.
Foi tolice do rei e da rainha do reino Fae enviar seu exército. Isso
simplesmente não é da conta deles.
Este não é um ato de guerra. E pessoal. Profundamente pessoal. E isso
só diz respeito a mim e a Everly.
Se o rei e a rainha sabem o que é bom para eles, eles ficarão fora disso.
Eu olho para as minhas mãos, com a pele tingida de cinza.
Minha saúde está piorando e rapidamente. Levou cada gota de força
que eu tinha para puxar aquele lobisomem Alfa para o meu reino contra
sua vontade.
E agora, se meu plano não funcionar... será tudo em vão.
Mas tenho um bom pressentimento.
Só então, eu ouço uma calmaria de silêncio vindo da cela quando a
voz do lobisomem começa a falhar.
E então ouço outro som, muito mais suave, chamando meu nome.
— Por favor, — diz a voz. — Príncipe das Trevas. Por favor, me ajude!
Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar!
E a voz de Everly.
Ela voltou e está perguntando por mim, como eu sabia que ela faria.
Agora é minha chance.
Farei com que Everly entre em meu reino por sua própria vontade.
Eu puxo meu capuz sobre minha cabeça.
Agora é a hora.
Everly

Meus joelhos estão arranhados da rocha dura e irregular do chão da


caverna.
Estou encharcada de suor... ou lágrimas... ou ambos.
Tenho chamado o Príncipe das Trevas sem sucesso.
Estou prestes a desistir... retomar ao palácio Fae e pensar em uma
nova tática, quando de repente uma gota de água prateada aparece no
chão da caverna na minha frente.
Dou um passo para trás, e a gota começa a se expandir e crescer até se
esticar na mesma piscina giratória para a qual Logan foi puxado.
Estou prestes a caminhar em direção a ela quando a figura
encapuzada emerge dela.
Ele está na minha frente, elevando-se sobre o meu pequeno corpo.
De repente, sua forma esfumaçada e sombria parece se solidificar
diante dos meus olhos em um humano de carne e osso real. Eu não dei
uma boa olhada nele antes.
Ele tem braços fortes e um peito maciço coberto por um tecido
escuro e seu rosto é coberto por um véu preto cintilante que é preso à sua
cabeça com uma intrincada coroa de metal.
Bem atrás do véu, eu mal posso ver o brilho dos penetrantes olhos
prateados.
— Olá, — ele diz. — Você chamou por mim?
— Sim, Sua Alteza, — eu digo, com minha voz tremendo de terror.
— O que você quer? — O príncipe diz.
— Eu quero a liberdade de Logan. Por favor, — eu digo. — Eu farei
qualquer coisa para seu retomo seguro ao reino Fae.
— Qualquer coisa? — O Príncipe das Trevas me pergunta.
— Qualquer coisa, — eu confirmo.
Ele estende a mão em minha direção, e eu não posso deixar de recuar.
Mas ele dá um passo para mais perto.
— Você trocaria sua alma pela dele? — Ele pergunta, e meu coração
pula uma batida.
Capítulo 9
Logan

Minha garganta está queimando, por ter que gritar por tanto tempo.
Eu preciso parar. Eu preciso economizar minha energia.
No entanto, assim que fico em silêncio, juro que posso ouvir a voz de
Everly.
A princípio, acho que devo estar imaginando coisas.
Mas não.
É real.
É uma ligação mental?
Eu fecho meus olhos e tento me concentrar, mas não parece vir
daqui.
Eu posso ouvi-la gritar, mas não é o meu nome que ela está
chamando.
Ela está chamando o Príncipe das Trevas.
— Everly! — Eu digo. — Everly! Onde você está?!
Eu espero por uma resposta, mas em vez disso, ouço o som fraco do
Príncipe das Trevas respondendo a ela.
Ele deve ter aberto o portal para ela novamente.
Eu escuto atentamente, esforçando-me para entender suas palavras.
E então eu ouço uma frase que enfia uma faca direto para o meu
coração.
— Você vai trocar sua alma pela dele? — O Príncipe das Trevas
pergunta a ela.
— NÃOOOO! — Eu grito, agarrando as rochas que me cercam, me
mantendo preso neste buraco do inferno.
A rocha denteada penetra em minha pele, rasgando a carne.
Mas a dor não me incomoda. Não comparado à dor de ouvir a oferta
cruel do Príncipe das Trevas.
Sangue quente escorre pelos meus antebraços enquanto continuo a
gritar na escuridão.
— EVERLY! — Eu grito. — NÃO FAÇA ISSO! SALVE-SE!
Eu rezo para qualquer porra de Deus que possa existir para que
minha companheira tenha bom senso o suficiente para recusá-lo... para
correr para muito, muito longe dele.
Eu ficaria neste cativeiro para sempre se isso significasse poupá-la de
mais um minuto de tortura do que ela já suportou em sua vida.
Sua vida foi trocada de um homem cruel para outro até que ela
encontrou o caminho para minha matilha.
A última coisa que ela merece é ser deixada nas garras de outro
mestre monstruoso como o Príncipe das Trevas.
— Por favor, Everly... — Tento fazer a ligação mental com ela
novamente. — Vou encontrar uma maneira de sair daqui. Só não faça isso.
Everly

— Você vai trocar sua alma pela dele?


Suas palavras pairam no ar espesso e úmido da caverna.
Ele mantém a mão estendida para mim enquanto considero sua
oferta.
Se eu pegá-la, ele vai me puxar de volta com ele para a piscina e todos
os horrores que estão sob sua superfície.
Não há como saber se algum dia conseguirei sair viva do submundo
Fae.
Mas então penso em Logan.
Sua vida era pacífica, calma e plena antes de eu vaguear para o
território do sul.
Ele tinha uma matilha cheia de lobos que o respeitavam e uma série
de mulheres adequadas que se casariam com ele e o fariam feliz.
Então eu Cheguei e tudo virou de cabeça para baixo. Ele foi para a
guerra por mim contra Lorde Vlad e Alfa Damon.
E agora isso!
Ele arriscou sua vida por mim tantas vezes. E se ele não sair daqui
vivo, toda a sua matilha sofrerá sem um líder.
Como eu poderia voltar para eles e dizer que o deixei com o Príncipe
das Trevas?
Eles nunca me perdoariam.
Eu nunca me perdoaria.
Eu preciso que Logan esteja vivo. Apenas saber isso me trará conforto,
não importa o que este Príncipe das Trevas tenha reservado para mim.
Amo Logan mais do que jamais amei alguém antes.
Eu assisti Phillipe morrer por mim nas mãos de Lorde Vlad. Não
posso ver isso acontecer com alguém de quem gosto de novo... não
quando tenho a chance de salvá-lo.
Minha tia me vendeu como escrava de sangue ainda jovem; fui
negociada como uma mercadoria minha vida inteira.
Estou acostumada a isso.
Eu já lidei com isso antes.
E eu posso lidar com isso novamente.
Eu sei que Logan vai me odiar por fazer essa escolha. Ele pode nunca
me perdoar. Mas pelo menos ele estará vivo.
Eu posso suportar seu ódio, sabendo que ele terá um futuro completo
pela frente... uma vida grande e próspera como o líder de sua matilha.
E só que parte meu coração o fato de que eu não estarei ao lado dele
para testemunhar isso.
— Qual é a sua decisão? — O príncipe diz. — Eu tenho seu Alfa
trancado na masmorra agora, mas uma tortura muito pior está por vir.
Escolha sabiamente.
Eu respiro fundo, me firmando. E então eu alcanço e agarro a mão do
Príncipe das Trevas.
— Eu irei com você, — eu digo. — Se você prometer deixá-lo ir.
— Então..., — diz ele. — Você está entrando no submundo por
vontade própria?
— Sim, — eu digo.
— Muito bom.
Ele agarra minha mão com mais força. Está congelando ao toque.
E então ele me puxa para a piscina prateada.
Primeiro sinto a sensação de voar... Depois, a sensação de cair.
De repente, não sinto nada enquanto o mundo ao meu redor
desaparece na escuridão total.
Logan

— NÃO! EVERLY! — Eu grito. — NÃOOOO! NÃO FAÇA ISSO! NÃO


VALE A PENA! EU NÃO VALHO A PENA!
Eu grito por vários minutos. Mesmo quando minha voz falha, eu
continuo a sacudir as barras, aprofundando os cortes na minha mão.
E tarde demais. Ela disse sim à oferta do monstro. Ela está tomando
meu lugar.
Só então, o filho da puta aparece fora da minha cela.
— O que você fez com ela? — Pergunto-lhe. — Onde ela está?
— Não se preocupe com ela, — ele me diz. — Ela vai ficar muito feliz
aqui. Vou me certificar disso.
— Minha companheira só ficará feliz comigo, — eu zombo dele.
— Depois que você deixar o submundo, — diz o príncipe com um
tom de escárnio, — não há como voltar.
— Então eu não vou embora, — eu digo. — Vou ficar aqui para
sempre, se for preciso. Você pode ter nós dois como prisioneiros.
— Receio não ter utilidade para vocês dois, — diz ele.
— Você não pode me fazer ir. Vou lutar com você com tudo o que
tenho. Estou preparado para morrer por ela como ela estava preparada
para morrer por mim.
— Ah, o amor jovem, — ele diz. — Ele te leva a fazer coisas malucas.
Acredite em mim, eu entendo. Mas não se esqueça de que sou o príncipe
do submundo. E eu controlo quem entra e sai deste reino. Você vai deixá-
lo. Agora.
De repente, ele aponta para o local sob meus pés.
Sinto um calor denso crescendo sob as solas dos meus sapatos,
queimando-me.
Então, a piscina rodopiante de líquido prateado começa a se formar
embaixo de mim e eu me sinto começando a cair.
— NÃO! — Eu grito novamente.
Mas é muito tarde.
Estou desaparecendo no abismo, com a náusea consumindo meu
corpo como antes.
Súbito, estou caindo no chão da caverna no reino Fae, com minha
companheira presa do outro lado.
— VENHA AQUI, SEU COVARDE! — Eu grito. — VOU MOSTRAR
COMO UM HOMEM DE VERDADE LUTA PELA SUA
COMPANHEIRA.
Mas tão repentinamente quanto apareceu, o portal desaparece e
todas as minhas esperanças se perdem. Eu desabo no chão em desespero.
Prometi uma coisa a Everly: que a manteria segura.
E agora quebrei essa promessa.
Capítulo 10
Everly

Meus olhos se abrem de repente.


Não sei há quanto tempo estou desmaiada. E não tenho ideia de onde
estou.
Olho em volta, esperando me encontrar em uma cela ou masmorra,
como a que costumava ser mantida no Banco de Sangue.
Em vez disso, descubro que estou deitada em uma cama enorme
posicionada no meio de um lindo quarto.
As paredes, o teto e o piso parecem ser feitos de pedra, esculpidos
com intrincados padrões geométricos.
Ao meu redor, há vasos cheios de buquês de rosas de prata.
Há uma lareira acesa em frente à cama. Mas a chama é diferente de
tudo que eu já vi antes. E um cor azul escuro profundo.
Onde diabos estou?
O que está acontecendo?
Eu saio da cama e descubro que estou usando as mesmas roupas sujas
e manchadas de suor do dia anterior.
Eu olho em volta e vejo que há uma roupa limpa e fresca esperando
por mim na cadeira ao lado da lareira.
Não quero aceitar nenhum presente do meu sequestrador, mas não
posso negar que me trocar parece tentador.
Eu deslizo para fora das minhas roupas sujas e coloco o par de
leggings pretas elegantes e a camisa grande.
Eu olho ao redor do quarto uma última vez. E realmente um espaço
impressionante e cavernoso, com o pé direito alto e portas em arco. Mas
a falta de janelas ou qualquer vestígio de luz natural o toma assustador
em vez de convidativo.
Submundo, de fato...
Parte de mim se sente tão derrotada que só quero rastejar de volta
para a cama, voltar a dormir e torcer para sonhar com Logan.
Contudo, outra parte de mim quer explorar os arredores, me orientar
e encontrar uma maneira de fugir daqui.
Eu escapei das garras do Alfa Damon, o Alfa mais perigoso do norte...
Talvez eu tenha uma chance de escapar das garras do Príncipe das
Trevas.
Abro a porta o mais devagar possível para evitar fazer barulho, mas é
claro que a maldita coisa raspa no chão de pedra, fazendo um rangido
incrível quando saio para o corredor.
As paredes são revestidas de candelabros, todos iluminados com a
mesma estranha chama azul.
Caminho na ponta dos pés pelo corredor e me encontro de pé na
entrada de um grande salão de jantar.
Há uma longa mesa lá também, como a do palácio Fae. E é coberto
com um enorme bufê de comida.
No entanto, há apenas uma única cadeira e uma configuração de
lugar único. Aproximo-me da mesa e vejo que há um cartão com o nome
ao lado do prato.
Para Everly. lê-se no cartão.
Hã?
Que tipo de prisão é essa?
Eu esperava chicotes, correntes e a ira do inferno — não roupas
limpas e um banquete.
Mais uma vez, estou hesitando em baixar a guarda e me aprofundar.
Contudo, meu estômago está roncando alto e, se preciso de energia
para tentar escapar, vou precisar de um pouco de comida.
Duvido que esteja envenenado. Existem maneiras muito mais fáceis
de matar um prisioneiro do que preparar uma refeição tão elaborada. Se
ele me quisesse morta, tenho certeza de que já estaria perdida.
Sento-me à mesa e dou uma pequena mordida. Mas depois de alguns
momentos, jogo fora a cautela e começo a engolir a comida. Desce fácil e
acalma meu estômago.
Eu acho que estava certa. Afinal, não deve estar envenenado.
Enquanto estou sentada diante desta mesa cheia de comida deliciosa,
não posso deixar de me perguntar... o que esse Príncipe das Trevas quer
de mim?
Quando essa ilusão de segurança terminará?
Quando começa a verdadeira tortura?
Tenho certeza de que estou prestes a descobrir.
Entretanto, nenhuma quantidade de tortura poderia me machucar
mais do que saber que Logan está de volta ao reino Fae, me odiando pela
escolha que fiz... a escolha de tomar seu lugar.
Eu pensei que o Príncipe das Trevas queria Logan. Mas acontece que
ele, na verdade, me quer.
Os homens já quiseram me manter cativa antes. O motivo deles
sempre foi sexo.
Preciso sair deste lugar antes que minhas piores suspeitas sejam
confirmadas.
Quando termino de comer, continuo caminhando pela extensão
longa e interminável do corredor.
Mas não encontro nada que se pareça com uma saída.
Viro a esquina e tropeço em outra porta enorme de ferro.
Esta é vermelha e maior do que o resto. Posso ver uma luz suave
emergindo por trás dela. Não é a luz azul e fria do fogo e das velas, mas
uma luz muito mais quente.
Isso poderia ser uma saída? Um caminho de volta ao reino Fae?
Empurro a porta, mas está trancada.
Talvez eu possa tentar forçá-la a abrir usando meus poderes...
Tento canalizar uma rajada de vento pelo corredor, lançando-a contra
a porta.
Ela chacoalha, mas não se move.
Terei que fazer melhor do que isso se esta for realmente minha chance de
escapar Eu fecho meus olhos e tento reunir ainda mais força. O brilho
atrás da porta me dá esperança.
Estou morrendo de vontade de saber o que está por trás disso e farei
minha missão descobrir.
Príncipe da Escuridão

Eu a trouxe aqui.
Finalmente.
Meu plano valeu a pena.
Ela precisava entrar no submundo por sua própria vontade, e ela o
fez.
Certo, era parte de uma pequena troca, mas ela fez a escolha final
para atravessar o portal.
E agora, quando a observo com o olho interior da minha mente, vejo
que ela já está tentando escapar.
Eu não a culpo. Nada costumava me trazer mais alegria do que
minhas viagens ao reino humano. Mas ela não pode ir.
Eu preciso ficar de olho nessa mulher mal-humorada.
Eu gostaria que ela pudesse se juntar a mim no meu quarto, mas não
quero forçá-la a nada mais romântico até que ela esteja pronta.
Descendo do meu escritório pela escada em espiral, eu saio para a
caverna onde o poço maldito mora.
Desde que fui morto em minha última viagem ao reino humano,
estou confinado ao submundo. Minha alma foi cortada e agora apenas
um pedaço de minha alma Fae permanece, me mantendo preso aqui.
Agora, até mesmo essa parte da minha alma está desaparecendo
lentamente. E embora Everly tenha me dado a dela em troca da de
Logan, não serei salvo até que também tenha seu coração.
Eu sei que já a amo, mas seu coração pertence a Logan.
Eu a tenho em minhas mãos, mas agora preciso fazer com que ela se
apaixone por mim.
Só então estarei completo novamente.
Só então serei capaz de me mover entre os reinos.
Só então serei livre.
Mas como posso torná-la minha companheira?
Capítulo 11
Logan

Eu cambaleio para fora da boca da caverna, de volta para a floresta. A


luz do sol me cega por um momento, e eu tenho que apertar e cobrir
meus olhos.
Sinceramente, não tenho ideia de quanto tempo fiquei lá embaixo.
Minha garganta dói de tanto gritar na escuridão, implorando para
que o portal se abra e me leve de volta em vez dela.
Everly...
Ela está sozinha, presa naquele lugar escuro.
Meu corpo treme de raiva com o pensamento dela sozinha com ele.
Eu falhei com ela. Eu tinha uma missão na vida: proteger minha
companheira a todo custo.
Ela se foi e é tudo minha culpa.
Eu empurro algumas samambaias gigantes e chego de volta ao local
onde Everly e eu fizemos amor. A cachoeira espirra pacificamente e
borboletas brilhantes voam pelo ar.
No entanto, sem Everly, este lugar perdeu toda a sua magia.
Aproximo-me de Snow, que bebe água da lagoa. Suas asas estão
dobradas ao lado do corpo e ela me olha com desconfiança enquanto eu
esfrego seu nariz.
— Eu sei que você estava esperando Everly, — eu digo. — Mas ela está
com problemas. Você pode me levar de volta para o castelo?
Como se respondesse, ela relinchou e desdobrou suas enormes asas.
Eu subo e, sem perceber, ela bate suas asas e voa para o céu. Eu agarro
sua crina branca com força, olhando para baixo enquanto a floresta fica
mais e mais longe.
A primeira vez que montei em um Pégaso, me assustou.
Já agora, estou preocupado apenas com uma coisa:
Salvar Everly.
Finalmente, as luzes cintilantes do castelo aparecem à distância.
Quando nos aproximamos, meu estômago embrulha quando Snow
mergulha e pousa no pátio.
Eu desmonto e corro para as portas gigantes, empurrando-as.
Alistair, Isadora e Jed estão conversando baixinho com Pierre e alguns
homens em longas túnicas coloridas quando entro na sala do trono.
Quando eles me veem, todos olham para cima, seus rostos sérios.
— Ela se foi, — eu digo, sem fôlego.
— Nós sabemos, — Alistair diz calmamente.
— VOCÊS SABIAM? — Eu grito, minha voz ecoando por toda a sala
do trono. — E VOCÊS DEIXARAM ELA IR?
Os homens de manto olham em descrença. Eles provavelmente
nunca viram um estranho gritando com seu rei.
Contudo, a última coisa que me interessa agora é o decoro real.
Alistair se vira para os convidados na sala. — Por favor, deixe-nos por
enquanto.
Eles rapidamente se viram para sair, e Alistair se vira para mim, com
um olhar culpado em seu rosto.
— Ela saiu à noite sem nos contar. Quando descobrimos que ela havia
partido, já era de manhã, — continua ele.
— Ela trocou sua vida pela minha. E ninguém a impediu! — Eu rujo.
— Se fosse ela lá, eu sei que você teria feito o mesmo.
— Mas não é! — Eu digo. — E este é seu mundo. Eu não sei as regras
aqui. Então, vamos parar de perder tempo e bolar um plano. Como
vamos trazê-la de volta?
Isadora e Alistair trocam olhares solenes.
Tiro meu anel de esmeralda e ele brilha na luz. — Isso pode me levar
lá?
A rainha dá um passo em minha direção, seus olhos cheios de tristeza.
— Aqueles homens que acabaram de sair eram os feiticeiros mais
poderosos do nosso reino. Se há alguém que pode chegar ao submundo,
são eles. Queríamos ver se é possível abrir um portal nós mesmos.
Isadora balança a cabeça. — Infelizmente, não é possível.
Sento-me, sentindo todo o meu corpo afundar exausto nos degraus
de mármore que conduzem aos tronos. Eu corro meus dedos pelo meu
cabelo em exasperação. — Deve haver uma maneira.
— Existem apenas duas maneiras de chegar a esse lugar, — diz Jed. —
Ou o príncipe leva você lá ele mesmo, ou...
Alistair rapidamente agarra seu ombro.
— Já chega, filho.
— O quê? — Eu pergunto esperançosamente.
— Diga-me.
Alistair olha para mim, um olhar preocupado surgindo em seu rosto.
— Você não pode ir lá. Isso é tudo que você precisa saber.
— O que eu preciso saber é quem ele é e o que ele quer! — Eu digo
com raiva.
De repente, as palavras do príncipe voltam ao meu coração.
— Você tem algo que eu quero...
Eu sinto meu coração afundar quando percebo o que é isso.
Ele nunca me quis. Ele só queria uma coisa esse tempo todo.
Everly.
Everly

Eu convoco outra rajada de vento forte para derrubar a porta


vermelha. Mas não adianta — é feita de metal pesado demais.
Não há como apenas o ar conseguir abrir.
Eu não tentei manipular o metal ainda, mas eu tenho todos os poderes
Fae, então eu deveria ser capaz de quebrá-lo dessa forma.
Eu convoco minha força, focando na porta de metal na minha frente.
Eu sinto como o metal é denso, quanta energia será necessária para
quebrar. Eu cerro os dentes enquanto meu corpo fica tenso, enviando
tudo o que tenho para a porta.
O metal começa a gemer, chacoalhando no batente da porta.
É isso aí!
Continue!
Mas assim que a porta começa a se dobrar, ouço passos se
aproximando atrás de mim.
Eu solto a porta e giro defensivamente, olhando para a escuridão do
corredor. Não consigo ver ninguém, mas sinto os cabelos da minha nuca
se arrepiarem.
Tenho a sensação de que estou sendo observada.
É ele.
Eu sei que é. Não consigo vê-lo no escuro, mas sei que ele está olhando
diretamente para mim.
A raiva começa a crescer dentro de mim.
Já fui presa por monstros antes, mas há uma diferença principal entre
agora e meu tempo no Banco de Sangue...
Desta vez, tenho muito mais luta dentro de mim.
— Você vai ser apenas um covarde que fica nas sombras? — Eu grito
na escuridão. — Ou você vai me dizer o que diabos você quer?
— Não é óbvio agora? — Sua voz grita.
— Não, não é, — eu digo.
— Eu quero você.
A maneira como ele diz isso faz meu corpo estremecer de medo. Ele
diz como se me conhecesse.
Ele dá um passo em direção à luz das velas.
Seu rosto está coberto por um véu escuro, mas posso ver sua estranha
coroa de metal retorcido iluminada pelas velas.
— Por que você tem que me manter aqui? — Eu pergunto.
— Porque esta é a sua casa — por enquanto.
— Eu já tenho uma casa, então por que você simplesmente não me
deixa ir? Você não pode me manter aqui para sempre.
— Ah, mas eu posso. Você veio aqui de boa vontade, em troca de seu
companheiro.
— Vou encontrar uma maneira de escapar.
— Mesmo se você fizer isso, eu provei seu sangue. Então, sempre
saberei onde você está.
Meu sangue? Então ele é um vampiro?
Os olhos vermelhos de Lacroix piscam em minha mente. Mas não
pode ser ele. Ele está morto.
Não está?
— Quem é você? — Eu pergunto. — Por que você não mostra sua
cara?
— Não tenha medo, Everly, — diz ele, com sua voz mergulhando em
um tom suave e carinhoso.
De repente, ele parece tão familiar.
Essa voz...
Eu o reconheço de algum lugar?
Ele dá mais um passo e posso ver suas mãos pálidas saindo de seu
manto.
— Se você der mais um passo, será o último que você dará, — eu digo
ameaçadoramente.
Sinto meus poderes elementares crescendo dentro de mim, prontos
para usar qualquer coisa nas proximidades para me proteger.
— Você sempre teve um fogo em você, Everly.
Fogo.
Meus olhos se voltam para as velas azuis bruxuleantes próximas
enquanto ele dá mais um passo para mais perto.
Eu foco toda a minha atenção nelas, puxando suas chamas para
formar uma bola de fogo gigante.
Eu grito e atiro com todas as minhas forças diretamente contra ele.
Contudo, em um instante, ele levanta a mão — e uma rajada de vento
gelado atravessa toda a sala, soprando para longe o fogo e extinguindo
instantaneamente todas as fontes de luz.
Meu coração começa a bater forte. Tudo está escuro.
Eu mal posso ver o contorno fraco dele enquanto ele se aproxima
ainda mais. Eu me esforço contra a porta vermelha, tentando colocar um
pouco mais de espaço entre mim e ele.
— Dói-me fazer isto, Everly. Fui eu quem sempre quis te libertar.
Do que ele está falando?
Minha respiração acelera quando ele se ajoelha. Seu rosto está a
apenas alguns centímetros do meu, e mal posso ver o contorno de sua
forma enquanto ele levanta o véu na escuridão.
De repente, ele levanta a mão e estala os dedos — e todas as velas da
sala ganham vida.
A luz atinge seu rosto e eu ofego.
Eu o reconheço instantaneamente.
Seus traços bonitos — olhos prateados cintilantes, a mandíbula forte,
o cabelo preto como azeviche.
Ele me abre um sorriso. Parece que aquele sorriso gentil ficou gravado
na minha memória.
— Phillipe..., — eu suspiro.
— Sim, sou eu, Everly, — ele sussurra, seus olhos cheios de emoção.
Lá está ele, bem na minha frente.
O primeiro homem que amei.
Capítulo 12
Phillipe

Dois anos antes


Meu relógio dourado brilha ao luar enquanto eu verifico as horas.
Dez minutos para a meia-noite.
Há bastante tempo.
Respiro fundo e agarro minha mala com força enquanto subo os
degraus de um prédio cinza sem graça com uma cruz vermelha neon
pendurada sobre ele.
Já estive aqui dezenas de vezes, mas desta vez estou muito nervoso.
Eu só tenho uma chance de fazer isso direito.
Empurrando a porta de vidro, entro em uma sala de espera feia.
Alguns homens de aparência sombria estão à toa, lendo revistas sob
as luzes fluorescentes brilhantes. Eu pareço completamente deslocado
em meu smoking de seda preta.
Uma senhora idosa com uniforme de enfermeira me olha da
recepção.
— Você tem um compromisso, senhor? — ela diz.
— Sim, — eu digo. — A meia-noite.
Ela olha para sua prancheta. — Com quem?
— Ruby Red.
Ela acena com a cabeça. — Mil.
Eu enfio a mão no bolso da minha jaqueta, tirando um grande maço
de dinheiro.
Ela conta rapidamente e acena com a cabeça novamente. — Você sabe
o que fazer. Sala B.
Eu me viro para andar pelo corredor em direção à sala B, mas quando
eu chego à porta etiquetada Depósito, eu a ouço chamar atrás de mim.
— Senhor, você não está autorizado a levar essa mala com você.
Finjo que não ouço nada e deslizo pela porta, descendo rapidamente a
escada do outro lado.
À medida que vou mais fundo no subsolo, posso ouvir a música
latejante ficar mais alta. Quando chego ao fundo, é como se estivesse em
outro mundo.
O Banco de Sangue.
Eu entro no animado clube, que é coberto por decorações prateadas e
banhado por uma luz vermelho-sangue. Mulheres seminuas passam por
mim, carregando bandejas de bebidas para homens sombrios recostados
em sofás de veludo.
A configuração no andar de cima é uma fachada para o que acontece
aqui, embora eu realmente não saiba por que eles se dariam o trabalho.
Mesmo se qualquer policial humano soubesse deste lugar, eles não
teriam o poder de fazer nada sobre isso de qualquer maneira.
Afinal, há mais dinheiro entrando e saindo daqui do que um banco de
verdade.
Isso porque este lugar é único. Tudo o que seu coração deseja pode
ser seu — desde que você pague o preço.
Mas eu — só vim aqui para uma coisa.
Everly...
Eu examino o clube, minha visão passando por dezenas de mulheres
em lingerie.
E então, no canto, em um pequeno palco — eu a vejo.
Everly!
Lá está ela, dançando em nada além de um conjunto de lingerie
rendada vermelha, quase transparente.
Eu paro e observo, paralisado por ela. Não apenas porque ela é a
mulher mais linda que já vi, mas porque ela dança tão inocentemente,
como se não houvesse ninguém olhando.
Ela balança os quadris com a batida, mas seus olhos estão fechados,
como se ela estivesse em algum outro lugar em sua mente.
Quando a música termina, ela abre os olhos. Alguns homens
assobiam, jogando notas de um dólar no palco.
Mas ela os ignora. Seus olhos pousam bem em mim.
Quando ela me vê, seus lábios vermelhos brilhantes se espalham em
um sorriso perfeito.
Então, ela se vira e sai do palco.
Demoro um momento para recuperar o rumo, mas quando o faço,
ando através da multidão com entusiasmo e empurro a cortina brilhante
que leva aos bastidores.
Aí está. Sala B.
Bato três vezes, abro a porta e entro. A sala é mal iluminada, com uma
grande cama de dossel e um sofá.
Parada no meio dele, em um manto de veludo, está Everly.
Eu largo minha mala enquanto ela corre para mim e pula em meus
braços, me beijando profundamente. Eu fecho meus olhos e permito que
aqueles lábios perfeitos toquem os meus.
— Já faz muito tempo que você não vem me ver.
— Demorou um pouco para dar um jeito em tudo, mas prometi que
estaria aqui.
Seus olhos descem para a mala.
— Meu príncipe veio me levar embora?
— Ele veio, — eu digo, empurrando uma mecha de seu cabelo preto
atrás da orelha.
Se ela soubesse que eu sou um príncipe de verdade.
Ela pensa que sou apenas um vampiro, mas um dia, vou mostrar a ela
meu reino no submundo Fae.
No entanto, agora não é hora para isso. Eu direi a ela quando ela
estiver pronta.
— Eu vou tirar você daqui — esta noite, — eu digo.
— Eu quero te levar para longe deste lugar e começar uma vida
juntos.
Ela sorri, colocando a cabeça no meu peito e me abraçando. —
Phillipe... não sei o que dizer...
— Não diga nada, — eu digo e olho para o meu relógio. — Porque só
temos uma hora.
Ela sorri docemente e pega minha mão, me puxando para a cama.
— Everly, não temos tempo, — eu digo ansiosamente.
— Seria ainda mais suspeito se eles vissem você sair depois de cinco
minutos. Venha, deite comigo.
Eu suspiro, permitindo que ela me puxe para a cama, e nos deitamos
um de frente para o outro. Eu fico olhando em seus olhos esmeralda e
coloco minha mão em sua bochecha, acariciando-a.
Deus, ela é tão perfeita.
— Posso te perguntar uma coisa? — Eu sussurro.
— Qualquer coisa.
— Quando eu te vi no palco agora... você estava com os olhos
fechados. Você estava dançando, mas eu poderia dizer que sua mente
estava em outro lugar. Para onde você foi?
Ela fecha os olhos e sorri timidamente. — É bobo.
— Diga-me.
— Quando não quero estar aqui, fecho os olhos e finjo que estou
nesta biblioteca gigante. Tudo é feito de madeira e cheira a livros antigos.
Há esse... fogo quente e crepitante na lareira.
— É um quarto que tenho só para mim. Onde posso ir e desaparecer
nas páginas de um livro. E quando estou lá, o resto do mundo não existe.
Ela abre os olhos, quase parecendo envergonhada.
— Você vai ter esse lugar de verdade um dia, — eu sussurro. — Eu
prometo.
Eu me inclino para beijá-la. Começa suave e gentil, mas aumenta,
nossas línguas se entrelaçam.
Eu a puxo para mais perto, minhas mãos subindo por suas pernas
macias, deslizando sob seu robe e segurando sua bunda.
Ela geme enquanto eu agarro seu cabelo, puxando-o para trás para
expor seu pescoço delicado, beijando-o.
Por mais que eu tenha vergonha de admitir, eu vim ver Everly pela
primeira vez para sugar seu sangue. Mas agora, depois de nos
conhecermos... quero mais.
Eu quero ela.
Tudo dela.
Ela passa os dedos pelo meu cabelo e ri enquanto eu sussurro em seu
ouvido.
— Everly, mal posso esperar para tirar você daqui e passar o resto da
minha vida com você.
Ela sorri, com seu rosto cheio de esperança.
O desejo crescendo dentro de mim está ficando incontrolável. Eu tiro
minha camisa e seus dedos parecem faíscas enquanto correm pelo meu
abdômen em direção ao meu cós.
— Você me deixa louco, — eu digo, ofegante enquanto sinto meu
membro crescente pressionar contra minhas calças.
Requer toda a minha força de vontade, mas consigo me afastar por
um momento.
— Eu quero você, Everly. Mas não deveríamos ir? Teremos todo o
tempo do mundo assim que sairmos daqui.
Seu rosto está vermelho de desejo, olhando para mim com aqueles
olhos verdes irresistíveis.
— Minha virgindade está à venda desde que estou aqui. Então, eu
quero perdê-la em meus próprios termos.
Ela abre o zíper da minha calça, deixando meu membro solto. Eu
soltei um suspiro enquanto ele ficava ainda maior em suas mãos.
— E isso significa que quero você aqui e agora, — diz ela.
Eu sorrio e a beijo profundamente.
Abro suas pernas e me inclino sobre ela, sentindo sua bainha ficar
ainda mais úmida enquanto deslizo meus dedos sobre ela.
É isso. Finalmente, o momento com que sonhei desde que coloquei os
olhos em Everly pela primeira vez.
Ela está prestes a ser minha.
— Você está pronta? — Eu sussurro.
Ela sorri e acena com a cabeça.
Eu a beijo, prestes a deslizar para dentro dela, quando de repente
sinto as mãos de alguém me agarrando pelos cabelos.
Sou puxado para trás — e eu caio no chão.
Antes que eu tivesse a chance de reagir, levo um chute nas costelas, o
que dispara uma dor terrível por todo o meu corpo.
— Pare com isso! — Eu ouço Everly lamentar enquanto eu me afasto
e olho para cima para ver quem acabou de me atacar.
Um vampiro me encara enquanto coloca sua bota de couro no meu
peito e me joga no chão.
Tento me levantar, mas ele me dá um soco no rosto, me achatando de
volta ao chão.
— Parece que Ruby Red ficou um pouco confortável demais com
você, — ele sibila, com os olhos cheios de fúria. — Mas eu sou seu
mestre. E a virgindade dela não é sua.
Meus olhos se arregalam quando vejo o que ele está segurando.
Uma estaca de madeira, manchada com sangue seco.
— Mestre Lacroix, por favor! — Everly grita. — Por favor, não o
machuque!
Ele se vira para olhar para ela, nua na cama. — Você o ama?
Ela acena com a cabeça furiosamente, com lágrimas negras de rímel
escorrendo pelo rosto.
— Diga, — ele sibila.
— Eu o amo, — ela soluça.
Um sorriso diabólico se espalha em seu rosto.
— Ótimo.
Tudo o que posso fazer é olhar mais uma vez para aqueles olhos
esmeralda antes que ele erga à estaca de madeira e a enfie
profundamente em meu coração.
E então... tudo fica escuro.
***

Abro os olhos e uma luz azul brilhante inunda meus olhos. Respiro
profunda e dolorosamente, mas tudo o que consigo é uma golfada de um
líquido estranho e pegajoso.
Eu movo meu corpo, mas parece que estou debaixo d'água. Mais luzes
azuis brilhantes giram em torno de mim, e parece que estou sendo
puxado para baixo por algum tipo de corrente.
Minha mente dispara, tentando descobrir o que aconteceu.
Estava na cama com Everly...
Fui apunhalado no coração...
De repente, eu sei onde estou.
Estou em casa.
Eu furiosamente começo a nadar para cima.
Meu corpo está doendo e meus pulmões estão queimando, mas nado
com todas as minhas forças.
Então, eu chego à superfície, tossindo e com falta de ar.
Eu nado até uma saliência rochosa e me levanto, exausto e
recuperando o fôlego. Meu corpo inteiro lateja de dor.
Meu coração parece que foi cortado em dois.
Percebo o que acabou de acontecer. Meu lado vampiro está morto.
Mas meu lado Fae foi enviado de volta para o submundo.
Sento-me e olho para o redemoinho azul brilhante de onde acabei de
sair.
O Poço das Almas.
Incontáveis almas mortas giram em tomo dele, gemendo com a dor
de perder suas vidas e tudo o que amavam.
— Você é um de nós agora — eu os ouço sussurrando ao meu redor,
como se estivessem em um coro.
— Não, eu não sou. Eu sou seu príncipe, — eu grito, ficando de pé.
— Você é como nós — eles gemem. — Você não tem nada que o ligue ao
reino mortal. Sem companheira, sem amor, sem ninguém.
— Calem a boca, — eu sibilo, afastando-me deles com nojo para subir
as escadas em direção ao palácio.
No entanto, no fundo, sei que eles estão certos.
Não há mais batimento cardíaco no meu peito.
E só há uma maneira de me ligar de volta ao reino mortal, para me
impedir de me tomar apenas mais uma das almas perdidas do submundo.
Preciso de uma companheira antes que seja tarde demais.
Os olhos esmeralda de Everly piscam diante dos meus olhos.
Ela é a única que pode me trazer de volta à vida.
Capítulo 13
Everly

Minha mente gira enquanto eu olho para Phillipe em descrença.


Os eventos daquela noite passam pela minha cabeça. Eu o vi morrer
na minha frente...
Pode ser mesmo ele?
— Você está tão bonita quanto eu me lembro, Everly, — diz ele, com
um sorriso suave no rosto.
Abro a boca para dizer algo, mas nada consegue sair.
Quer dizer, o que posso dizer? Estou falando literalmente com um
fantasma.
Contudo, ele não parece um fantasma.
Fisicamente, ele é exatamente como eu me lembro. Ele é bonito, com
traços marcantes e cabelo preto penteado para trás.
Entretanto, há algo diferente sobre ele também. Seus olhos prateados
não têm o brilho que eu me lembro. Eles parecem vazios.
E sua pele é mortalmente branca, mesmo para um vampiro.
— Você não precisa retribuir o elogio, — continua Phillipe. —
Acredite em mim, morrer não faz exatamente você parecer mais jovem.
Ele ri, e quando seus lábios se curvam naquele sorriso torto, eu sei... é
definitivamente ele.
— Eu... eu pensei que você estava morto? — Eu finalmente consigo
dizer. — Eu vi você levar uma estaca no coração!
O sorriso desaparece do rosto de Phillipe e ele desvia o olhar, com
uma expressão de dor em seu rosto como se ele estivesse revivendo-o.
— Sinto muito..., — eu digo. — Eu não queria...
— Está tudo bem, — ele diz rapidamente. — A parte vampira de mim
morreu naquela noite. Mas também sou meio Fae, então essa parte de
mim está aqui desde então.
Minha mente está girando.
Ele também é Fae? Talvez seja por isso que havia uma conexão tão forte
entre nós.
Tenho tantas outras perguntas que nem sei por onde começar.
— Mas não há necessidade de falar sobre isso, — diz ele enquanto se
levanta rapidamente, recuperando a compostura. — O passado é o
passado e estamos aqui agora.
Ele abaixa a mão e sorri novamente. — Então, você não vai jantar
comigo? Posso tentar explicar tudo então.
Eu fico olhando para sua mão estendida, completamente paralisada.
Eu não tenho ideia do que fazer.
Parte de mim quer pegar sua mão, para confiar nele. Afinal, este foi o
primeiro homem que amei. Foi ele quem perdeu a vida para me ajudar a
escapar do Banco de Sangue.
Mas como pode ser o mesmo homem se foi ele quem disse que eu não
tinha permissão para sair deste lugar?
— Por favor, Everly, — diz ele, tirando-me dos meus pensamentos. —
Eu só preciso que você confie em mim agora, ok?
Eu respiro fundo. Suponho que não tenho outra escolha. Então eu
estendo minha mão e ele me puxa para ficar de pé.
Quando estou de pé, nossos corpos estão a centímetros de distância
um do outro. Há uma sensação estranha no meu corpo — talvez seja por
estar tão perto dele novamente.
Mas tento ignorar.
Ele olha para mim enquanto outro sorriso aparece em seu rosto.
— Vamos. Fiz algumas alterações em seu quarto. Espero que goste
delas.
Eu olho para trás mais uma vez para a porta vermelha, fazendo uma
nota mental para não esquecê-la.
— E eu sinto muito por toda a teatralidade anterior. Não tenho sido
muito receptivo com você em meu reino, — ele diz enquanto me guiava
de volta para a caverna principal.
— Seu reino?
— Eu sou o príncipe deste reino. Mas eu não quero estar aqui. Eu
adorava vir para o reino mortal, ver toda aquela vida em todos os lugares.
Mas depois que fui morto naquela noite... Eu sei como é, Everly. Ficar
preso.
— Há quanto tempo você esteve aqui? — Eu pergunto.
— No seu tempo, já se passaram dois anos desde que fui morto
naquela noite. Mas o tempo funciona de forma diferente aqui. Neste
reino, já se passaram quarenta anos desde a última vez que vi você,
Everly.
Fico perplexa. Quarenta anos. Não consigo nem imaginar como seria
ficar preso aqui por tanto tempo.
Eu paro e me viro para ele, estendendo a mão e pegando sua mão. Ele
olha para baixo, com a surpresa aparecendo em seu rosto.
— Phillipe, você é um bom homem e não merece isso..., — digo,
procurando as palavras certas. — Mas você sabe que eu tenho um
companheiro, não é? Eu tenho uma casa, uma matilha da qual sou a
Luna. Não é onde eu deveria estar. Então, por favor, Phillipe. Me deixe ir.
Ele me olha com tristeza. Posso ver a agitação interna em seus olhos.
E isso significa que ele pode estar considerando isso.
Eu espero ansiosamente por sua resposta, com meu corpo tenso com
antecipação.
— Você deve estar exausta, — ele diz finalmente. — Por que você não
vai para o seu quarto e se refresca antes do jantar?
Sinto meu coração afundar quando ele se vira, ignorando
completamente tudo o que acabei de dizer. Ele me leva para outro
corredor e abre a porta no final do meu quarto.
Quando entramos, ele balança o pulso e uma pequena poça aparece
na pedra perto do banheiro. Ela imediatamente começa a se encher de
água — criando uma espécie de fontes termais naturais.
— Para que você possa relaxar, — ele diz com um pequeno sorriso. —
E eu não sabia o que você gostaria de vestir, então comprei um pouco de
tudo para você...
Ele aponta para a parede, onde agora há prateleiras com roupas de
todas as cores.
— Todas elas devem caber em você, — diz ele em voz baixa. — O que
quer que você vista, eu sei que você ficará linda.
Eu penso em trazer meu apelo para me deixar ir novamente. Mas
então, eu decido que é melhor não fazê-lo.
Phillipe não parece perigoso, mas isso não significa que ele vai apenas
me deixar ir se eu pedir com educação. Se vou sair daqui, preciso ir um
pouco com a correnteza.
Eu forço um sorriso. — Claro. Obrigada.
Ele se vira para sair, mas de repente para na porta.
— Oh, e Everly?
— Sim?
— Não chegue perto daquela porta vermelha de novo.
E com isso, ele fecha a porta e eu ouço clique quando ele a tranca pelo
lado de fora.
Logan

Eu bato meu punho com força na porta do quarto de Jed.


Quando não ouço nada, tento a maçaneta e a encontro destravada,
então entro.
O quarto ornamentado é inundado pela luz das janelas gigantes, e
procuro Jed pelo quarto, mas tudo que vejo são duas mulheres nuas
dormindo, parcialmente cobertas por lençóis de seda.
Eu rapidamente desvio meus olhos e me viro para sair, quando a voz
de Jed chama de fora.
— Estou aqui.
Uma leve brisa sopra suavemente as cortinas, revelando uma varanda
externa com vista para toda a floresta e o mar cintilante à distância.
Jed está parado junto ao parapeito, sem camisa, olhando para longe.
Seu cabelo está preso em um coque no topo da cabeça.
— Estou te incomodando? — Eu digo, olhando mais uma vez para as
mulheres.
— Não. Só tive que limpar minha cabeça.
Ele se vira e franze a testa quando olha para mim. — Você está um
desastre.
— E como diabos eu deveria estar? — Digo, frustrado. — Everly está
desaparecida e ninguém parece estar fazendo nada a respeito.
Jed vai até uma mesa e serve duas taças de vinho. — Isso é porque não
há nada que possamos fazer — ele diz, parecendo agitado enquanto bebe
seu copo em um gole.
— Isso não é verdade, — eu digo. — Você disse que havia duas
maneiras de chegar ao submundo. Contudo, ele o parou antes que você
pudesse dizer mais alguma coisa.
Jed suspira e aponta para a segunda taça de vinho. — Você quer isso?
Eu cerro meus punhos. Está ficando cada vez mais difícil impedir que
minha raiva apareça. Ele dá a mínima para Everly?
— Não. Eu quero que você me diga, — eu rosno.
Ele leva o copo aos lábios. — Olha, não há realmente nenhum motivo
para te dizer.
A raiva enche meu corpo e eu tiro o copo de suas mãos e ele se
espatifa no chão.
— Você vai me dizer agora.
Ele olha para mim, com tristeza enchendo seus olhos. — Entendo. Ela
não é minha companheira, mas ela é família para mim também, Logan.
Se o que você está falando fosse uma opção, eu não estaria sentado aqui
me embebedando. Eu estaria ao seu lado enquanto descíamos até lá.
— Então, por que você não está?
— Porque ela está no submundo. Se você quiser chegar até ela, você
terá que morrer primeiro.
Afundo no acento mais próximo, sentindo o peso de suas palavras.
Jed põe a mão no meu ombro. — Então, você quer aquela bebida
agora?
Capítulo 14
Everly

Eu não posso acreditar...


Agora que estou sozinha no meu quarto, sinto que posso finalmente
processar o fato de que Phillipe ainda está vivo.
Lá estava ele — bem na minha frente.
Tudo nele é exatamente como eu me lembro. O mesmo sorriso, os
mesmos maneirismos, mas também...
Os mesmos sentimentos.
Eu os enterrei há muito tempo, mas não me livrei deles. Na verdade,
nunca superei Phillipe, apenas me forcei a seguir em frente.
Eu nunca chorei por ele. Nunca me permiti pensar sobre a vida que
poderíamos ter tido juntos se eu tivesse conseguido escapar naquela
noite.
E agora, depois de uma interação com Phillipe, todos esses
sentimentos estão voltando.
Mas isso não desculpa o que ele fez com Logan.
Como ele está me mantendo aqui.
Eu tenho um companheiro — e meu amor por ele eclipsa qualquer
coisa que já senti por Phillipe.
Então, preciso afastar todos esses velhos sentimentos para longe e
voltar para o homem que amo.
E se vou fazer isso, preciso de um plano.
Eu me olho no espelho enquanto pego um batom vermelho brilhante
e faço uma camada espessa e perfeita sobre meus lábios.
Combina perfeitamente com o vestido vermelho justo que estou
usando.
Com meu cabelo arrumado e um olho com lápis para finalizá-lo,
minha aparência está completa.
Soltei um suspiro. Eu realmente não me pareço comigo mesma.
Mas esse é o ponto.
Isso é algo que Ruby Red usaria. Isso é o que eu costumava colocar
todas as noites no Banco de Sangue quando ia ao encontro de clientes.
Depois que Phillipe morreu, criei Ruby Red. Ela era uma personagem
que comecei a interpretar, tudo para que pudesse compartimentar
qualquer coisa que estivesse sentindo. Porque se eu não estivesse sendo
eu mesma, não havia como me machucar.
Quando eu era Ruby, não importava o que estava sentindo por
dentro. Porque por fora, eu era confiante, sexy e sabia exatamente o que
cada homem queria que eu fosse.
Phillipe nunca viu esse lado meu. Quando estava com ele, sempre fui
eu mesma. Mas se eu vou sair daqui, vou precisar ser mais.
Vou ter que convencê-lo a baixar a guarda.
Respiro fundo e dou meu sorriso mais sedutor no espelho.
Estou pronta.
***

Vejo Phillipe na sala de jantar, de pé, de costas para mim. Há um copo


de uísque em sua mão e ele está vestido com um smoking de seda preta.
Ele também parece que está limpo — seu rosto parece liso por causa
da barba e posso sentir o cheiro de sua colônia amadeirada.
Ele nem mesmo reconhece minha presença quando eu entro. Ele está
olhando para a lareira, perdido em pensamentos.
Neste momento, eu o noto brincando com algo nas mãos. Ele brilha
na luz, preso a uma corrente em seu pescoço.
Uma chave de ouro.
— O que você está pensando? — Eu pergunto.
Ele se vira surpreso, como se eu o tivesse pego desprevenido. Ele
rapidamente desliza a chave dentro da camisa. Eu sorrio, agindo como se
não tivesse visto nada.
Seus olhos correm para cima e para baixo no meu corpo quando ele
me vê.
— Everly, — ele diz, com seu rosto se iluminando.
— Você está... incrível.
— Você também não parece tão mal, — eu respondo, agindo tímida.
Ele aponta para a mesa. — Por favor, sente-se. Você deve estar
morrendo de fome.
Ele está certo, eu poderia comer por cinco agora. Mas quando me
sento e olho para a enorme variedade de comida requintada à minha
frente, tudo que consigo pensar é nessa chave.
Ela abre a porta vermelha?
Essa é a maneira de sair daqui?
Por fora, eu sorrio para ele enquanto encho meu prato. Mas por
dentro, minha mente está correndo.
Finalmente, tenho um plano.
Phillipe

Por tantos anos, sonhei com Everly entrando nesta sala e me olhando
daquele jeito.
Aquela expressão em seu rosto que ela sempre me dava quando eu
entrava em seu quarto no Banco de Sangue.
O olhar que diz — Senti sua falta.
E agora, aqui está ela, olhando para mim do outro lado da mesa,
dizendo exatamente isso com os olhos.
Meu corpo se inunda de desejo quando a vejo naquele vestido
vermelho. Seus ombros estão nus e o tecido abraça suas curvas em todos
os lugares certos.
Ela pega sua taça de vinho e a estende na minha direção.
— Posso beber um pouco de vinho?
Eu balanço minha cabeça, afastando meus pensamentos de como ela
ficaria sem aquele vestido. — Claro.
Pego o copo e, por um momento, nossas mãos se tocam. Sua pele lisa
e macia é tão boa, e eu não quero puxar minha mão.
De repente, sinto meu coração ganhar vida.
Meus olhos se arregalam e coloco minha mão no peito, sentindo meu
coração começar a bater pela primeira vez desde que morri.
O pulso está fraco, mas é alguma coisa. Apenas estar com Everly está
trazendo vida de volta para mim.
Está funcionando!
Estou no caminho certo!
— Então, Everly..., — eu digo, me recompondo e tentando esconder
minha excitação enquanto eu sirvo o vinho. — Não sei por onde
começar. Como você conseguiu sair daquele lugar?
Ela desvia o olhar, com angústia caindo em suas feições.
— Como você disse, tudo isso está no passado, — diz ela. — Eu
prefiro não falar sobre isso.
— Sobre o que você prefere falar?
Ela ergue os olhos e sorri. — Prefiro falar sobre você.
— Você já me conhece, Everly, — eu digo.
Eu a vejo pegar um morango de uma tigela e levá-lo aos lábios
vermelhos. Ela sensualmente dá uma mordida.
— Não tanto quanto eu gostaria.
Seus olhos me encaram e posso estar louco, mas sinto que posso
detectar alguma luxúria neles.
— Deixe-me mostrar uma coisa, — eu digo de repente. Eu ofereço
minha mão.
— E o jantar?
— É mais importante.
Ela me lança um olhar curioso e pega minha mão enquanto a levo
para fora da sala de jantar. Descemos um lance de escadas para uma
passagem escura.
Chegamos ao fundo e entramos em uma caverna gigante.
O chão está coberto por um campo de árvores e flores verdes
brilhantes, ondulando com a brisa. Acima de nós, no topo da caverna, há
uma abertura gigante onde deveria estar o teto. Padrões de redemoinhos
azuis dançam no céu escuro.
É
— É lindo, — ela solta.
— Eu acho que você pode ser a única humana que já viu isso.
Eu coloco minha mão em sua cintura e a levo para o meio do campo.
Quando toco o tecido de seu vestido pelo quadril, meu coração
começa a bater ainda mais forte em meu peito.
— Everly..., — eu digo. — Você não tem que encenar comigo. Essa
pessoa mais sexy e sedutora não é você. Já me apaixonei por você. Você
não precisa fazer nada além de ser exatamente quem você é.
Ela me dá um sorriso triste, com seus olhos esmeralda procurando os
meus.
Essa tensão entre nós é muito forte.
Não quero nada mais do que beijá-la, mas estou com medo de que, se
o fizer, a afastarei.
Naquele momento, outro sentimento estranho brotou dentro de
mim. Algo que não sentia desde que estava vivo.
Medo.
— Tudo que eu quero que você saiba..., — eu sussurro, — é que você
me faz muito feliz.
Ela pega minha mão e nos sentamos na base da árvore. Ela encosta a
cabeça no meu ombro e nós apenas olhamos juntos para o céu em
silêncio.
Tento pensar em outra coisa para dizer, mas antes que eu perceba, sua
respiração fica mais pesada. Eu olho para ver se ela está dormindo.
Ela deve estar exausta.
Tento ficar totalmente imóvel, para não acordá-la.
E enquanto estou sentado lá no escuro, pela primeira vez desde que
morri, também adormeço.
Everly

Espero o máximo que posso antes de me mover.


Lentamente, eu levanto minha cabeça de seu ombro e olho para ele.
Seus olhos estão fechados e há uma expressão de paz em seu rosto.
Ele está respirando profundamente e, por um momento, sinto uma
pontada de pena por deixá-lo.
Lembro-me de quando adormecíamos juntos no Banco de Sangue.
Aqueles eram meus momentos favoritos, quando eu esquecia onde eu
realmente estava.
Mas os tempos mudaram.
E eu tenho um companheiro para quem devo voltar.
Então eu lentamente estendo o braço e puxo a corrente em seu
pescoço. Prendendo a respiração, tiro a chave.
Então, de repente, meu coração quase para enquanto ele começa a se
mover.
— Everly..., — ele murmura em seu sono, Virando-se para mim.
Eu fico congelada, esperando que ele pule e veja o que estou fazendo.
Mas ele não faz nada disso.
Ele solta um pequeno ronco e continua dormindo.
Suspiro de alívio e termino de tirar a chave de seu pescoço. Eu me
levanto, afastando-me dele e da árvore na ponta dos pés.
Eu olho de volta para Phillipe. Ele parece tão calmo, e quase sinto
pena de deixá-lo sem dizer adeus.
Mas é assim que tem que ser. Eu me viro e silenciosamente subo as
escadas.
Meu coração começa a acelerar enquanto caminho pela caverna
escura.
E se ele acordar?
Eu sei que não tenho muito tempo.
Tento ignorar a adrenalina correndo pelo meu corpo enquanto me
aproximo da porta vermelha.
A saída. Minha escapatória.
Posso finalmente deixar este lugar e voltar para Logan. Ele
provavelmente está muito preocupado comigo.
Eu deslizo a chave na fechadura e giro, abrindo a porta.
Mas quando eu passo e vejo o que há do outro lado, não posso deixar
de soltar um suspiro.
Não há portal de volta para o reino Fae. A porta nem dá para fora.
Em vez disso, entro em uma sala gigante. As paredes estão repletas de
milhares de livros. Uma lareira crepitante queima do outro lado da sala,
com um sofá de veludo na frente dela.
Na noite em que ele morreu, contei a Phillipe sobre este lugar. Meu
lugar dos sonhos. O lugar para o qual sempre fugia em minha mente.
E agora, aqui está, como se tivesse sido arrancado direto da minha
imaginação. É exatamente como eu sonhei que fosse.
De repente, ouço uma voz baixa e zangada atrás de mim. Eu pulo,
assustada.
— Você não deveria ver isso ainda.
Eu me viro para ver Phillipe parado na porta. Seus olhos escuros me
encaram.
Eu fui pega.
E ele parece furioso.
Capítulo 15
Phillipe

Eu fico na porta, olhando para Everly na biblioteca.


Aquela que construí para ela.
Isso tudo era para ser uma surpresa.
Ela olha para mim como um cervo em alerta quando entro na sala e
tento evitar que minha raiva apareça no meu rosto.
— Você não deveria ver isso ainda, — eu digo. — Eu deveria ser o
único a te mostrar isso.
— Phillipe..., — ela gagueja. Eu posso ver um brilho de medo em seus
olhos. — Eu só...
— Tudo isso era falso, não era? — Eu grito com ela. — O jantar. Você
adormecendo no meu ombro. Você não foi sincera.
Ela olha para baixo com culpa, estendendo a mão, é a chave, com o
colar ainda preso.
— Eu sinto muito. Isso é seu.
Eu quero gritar com ela, gritar com ela por querer me abandonar
aqui. Mas eu sei que não é assim que entrarei em seu coração.
Eu odeio o quanto ela está com medo de mim agora. Eu nunca quero
que ela me olhe assim.
Então, respiro fundo, fazendo o meu melhor para me acalmar.
— Não, essa chave é sua, — eu digo suavemente. — Na verdade, tudo
isso é seu.
Seus olhos se arregalam de surpresa, e eu a observo enquanto ela olha
ao seu redor.
— Eu construí tudo isso para você, Everly.
— Mas... eu só estou aqui há alguns dias. Como você poderia ter feito
tudo isso?
— Desde que eu morri e parti do reino mortal, eu pensei sobre o que
você me disse naquela noite no Banco de Sangue. Sobre o lugar com que
você sonhava quando fechava os olhos.
— Então, embora tenha demorado anos para acertar... eu criei este
lugar, esperando que um dia você fosse capaz de vê-lo.
Eu fico olhando profundamente em seus olhos, brilhando à luz do
fogo. Ela parece tocada, mas também em conflito.
Dou um passo em sua direção, pegando delicadamente sua mão na
minha.
— Eu só quero que você seja feliz, — eu digo. — E você disse que este
era o lugar mais feliz que você poderia imaginar.
Eu posso dizer que sua mente está agitada.
Agora é minha chance.
Eu me inclino para beijá-la — mas ela olha para baixo e afasta a mão.
— Phillipe, não sei o que dizer..., — diz ela, com o rosto perturbado.
Meu corpo inteiro murcha. Eu pensei que este seria o momento.
Achei que isso a faria lembrar o que sentia por mim.
Mas eu estava errado.
— Não diga nada, — eu digo suavemente. — Passe a noite aqui. Vou
te deixar em paz, eu prometo.
Antes que eu possa fazer papel de bobo mais do que já fiz, eu me viro
e me afasto, fechando a porta atrás de mim.
Everly

Assim que Phillipe fecha a porta, sinto todo o meu corpo relaxar.
Oh, meu Deus. Meu peito parece que vai explodir.
Vendo este lugar... eu percebo o quanto ele realmente se preocupa
comigo.
Ando lentamente em direção às estantes, passando os dedos pelas
encadernações dos livros. Há tantos que não conheço. Mas também
localizo meu livro favorito— Orgulho e Preconceito.
Como ele poderia saber? Eu nem mesmo contei a ele sobre isso.
Na verdade, os menores detalhes da sala, como o sofá de veludo
vermelho e os tapetes persas, são exatamente como eu os imaginava.
Por algum motivo, uma onda de culpa me invade.
Fiz tudo o que pude para esquecer Phillipe depois daquela noite. Mas
quando eu olho para esta biblioteca, parece que eu sou a única coisa em
que ele pensou desde então.
Não é minha culpa, é? Eu tive que sobreviver. Eu tive que seguir em
frente.
E então, quando Conheci Logan, Phillipe se tomou apenas mais uma
memória traumática de um momento horrível da minha vida.
Mas agora que estou aqui — agora que estou vendo Phillipe em carne
e osso novamente...
Eu não posso impedir os sentimentos que eu tinha por ele de
brotarem.
Porque a verdade é que, sempre que imaginei este lugar, não imaginei
apenas estar aqui sozinha.
Imaginei Phillipe aqui também, lendo baixinho ao meu lado até
encontrar uma passagem de que gostasse, e então ele leria para mim
enquanto eu deitava em seu colo.
Phillipe sempre esteve em minhas fantasias também. Ele fazia parte
do meu sonho.
Respiro fundo e balanço a cabeça, tentando clarear esses
pensamentos.
Isso é tudo que Phillipe sempre foi.
Um sonho.
Mesmo que eu já tivesse tido esses sentimentos por Phillipe, não é
nada comparado ao que tenho com Logan. O poder de um vínculo de
companheiro é diferente de tudo que eu já senti antes.
E por mais que esta biblioteca signifique para mim, eu a daria para
estar com Logan em um piscar de olhos.
Instintivamente, agarro meu colar de esmeraldas na mão. É a única
coisa que me resta de casa.
Sinto muita falta do resto da minha matilha — Mia, Cole, Jonah e
Cody. Aposto que estão todos preocupados comigo.
Mas acima de tudo, sinto falta de Logan.
Eu fecho meus olhos e o imagino, esfregando meu colar.
E então, de repente, começa a ficar quente em minhas mãos.
Eu abro meus olhos com surpresa. Em um espelho próximo, posso ver
que o colar está brilhando em minhas mãos. E então, meu reflexo começa
a se transformar.
Meu coração salta quando o espelho se transforma em uma janela e,
através do vidro, posso ver Logan.
Meu companheiro...
Ele está sentado diante de uma mesa. Seu cabelo está desgrenhado de
tanto passar os dedos e seus olhos estão cansados.
Eu rapidamente corro para o espelho. Isso poderia ser uma saída?
Mas quando coloco meus dedos contra a superfície, nada acontece.
Eu não posso passar por ele.
Mas pelo menos ele está bem.
— Logan! — Eu chamo.
No entanto, ele não reage. Parece que ele não pode me ouvir.
Eu aperto meu colar o mais forte que posso em minhas mãos. Eu
fecho meus olhos, canalizando todos os meus poderes em uma tentativa
de alcançá-lo.
Eu sinto meu corpo pulsar com energia enquanto me concentro...
Por favor...
Por favor, deixe isso funcionar.
Logan

Eu afundo na minha cadeira, respirando fundo novamente. Sinto que


estou sendo sustentado por fios e vou desmoronar a qualquer segundo.
Isso é pura tortura. Os companheiros não devem ficar separados um
do outro por tanto tempo.
E a pior parte é como me sinto culpado.
Eu sou um Alfa, então é meu trabalho proteger aqueles que amo. Mas
com toda essa mágica e merda de outro reino... Estou completamente
impotente.
Mas assim que começo a sentir pena de mim mesmo... de repente,
meu corpo começa a formigar. Meu lobo imediatamente se anima.
Não sei como descrever, mas posso sentir algo.
De repente, a janela se abre e uma rajada de vento inunda a sala,
enviando todos os papéis da minha mesa voando pela sala.
Cubro meus olhos porque o vento é muito forte; pinturas começam a
cair da parede e livros começam a voar das prateleiras.
Do outro lado da sala, eu pego um vislumbre no espelho e posso ver
Everly.
Ela parece apavorada e parece que está me chamando, mas não
consigo ouvir o que ela está dizendo.
— Everly! — Eu grito sobre o vento uivante.
Mas então, tão rápido quanto veio...
O vento diminui e o espelho cai no chão — se espatifando em um
milhão de pedaços.
E assim, o reflexo de Everly desaparece.
Capítulo 16
Everly

Meu coração afunda quando a conexão é perdida.


Eu quase consegui. Quase alcancei o reino Fae.
Exatamente no momento em que senti meus poderes alcançarem
Logan, meu corpo desligou, completamente sem energia.
Eu caio no chão em desespero. Minha mente está confusa e minha
visão está embaçada.
Sinto que vou vomitar, só que não comi nada.
Mas nada parece pior do que o fato de que não consegui falar com
Logan.
Eu estava tão perto.
Eu simplesmente não tinha força suficiente.
Qualquer conexão que eu tivesse com o outro reino se foi.
Não consigo mais ver Logan no espelho. Em vez disso, tudo que posso
ver é meu próprio reflexo, parecendo fraca e indefesa.
Eu falhei.
Eu me viro e olho para a lareira. Se eu tivesse algum poder sobrando,
eu poderia simplesmente pegar aquelas chamas e queimar todo este
lugar.
Esta não é mais a minha biblioteca.
É minha nova prisão.
Phillipe

Quando deixei Everly sozinha naquela biblioteca, meu coração estava


batendo mais rápido do que nunca.
Ainda posso sentir aquele único toque de sua mão na minha.
Estar perto dela me faz sentir tão vivo — em vez da alma meio
quebrada que eu era quando Cheguei aqui.
Mas não estou louco. Eu pude ver algo em seus olhos. Pude ver que
ela ainda sentia algo por mim.
Bastava ela descobrir mais.
Pela primeira vez, realmente tenho esperança sobre tudo isso. Talvez
isso pudesse funcionar, afinal?
Talvez minha alma não se esgote aqui embaixo. Se ela encontrar uma
maneira de me amar novamente, estarei livre.
E não apenas serei livre de novo — terei Everly ao meu lado, como
deveria ter sido há muito tempo.
Só de pensar nisso, meu corpo se iluminou de vida.
Mas não tenho tempo para comemorar. A árvore está morrendo e o
tempo está se esgotando.
Sinto uma necessidade de checá-la, de falar com ela novamente. Ela
está lá há horas, e eu só quero ter certeza de que ela está bem.
Eu fecho meus olhos e me concentro nela. Porque eu provei seu
sangue, posso vê-la no olho interno da minha mente.
Mas, em vez de ficar sentada na biblioteca lendo pacificamente como
eu esperava, ela está no chão, enrolada em uma bola, parecendo exausta e
preocupada.
Toda a minha esperança murcha quando vejo a expressão em seu
rosto. Eu odeio vê-la assim.
Solto um suspiro e me sinto terrivelmente culpado por tudo que
estou fazendo com ela.
Eu tenho sua alma, mas eu preciso de seu coração.
Por mais que eu odeie isso, minha única opção é deixá-la sozinha até
que eu consiga descobrir como fazê-la olhar para mim como costumava
fazer há tantos anos.
Logan

Eu estou na cabeceira da mesa de conferência da minha casa da


matilha, olhando para todo o conselho sentado diante de mim.
Normalmente não tenho tempo para suas besteiras, mas quando se
tratava de rastrear Everly, decidi que precisava de toda a ajuda que
pudesse conseguir.
Dirijo-me ao Ancião Harrison, um homem de meia-idade com uma
barba rala que substituiu o Ancião Rancis como chefe do conselho.
— Então, dê-me suas descobertas. Você ou qualquer outro membro
do conselho tem alguma pista sobre como recuperar nossa Luna? — Eu
digo.
O Ancião Harrison se levanta, curvando-se timidamente para mim.
— Alfa... Seguimos todas as pistas que podíamos. Mas não há como
entrar em contato com este... sub mundo daqui.
Eu cerro meus punhos, nem mesmo me preocupando em esconder
minha raiva.
— Fico feliz em saber que todos vocês perderam meu tempo.
Ele se encolhe sob minha aura Alfa enquanto eu olho para ele.
— Me desculpe, senhor..., — ele gagueja. — É só que... n-não
conseguimos encontrar registros de que esse lugar existe.
— NÃO EXISTE? EU MESMO ESTIVE LÁ, — eu rugi, batendo meu
punho na mesa.
Todo o conselho fica em silêncio. Até minha mãe e meu pai olham
para baixo, evitando meu olhar. Eu me viro para Delisia.
— Dê-me algo em que eu possa trabalhar, Delisia, — digo, tentando
me acalmar.
Ela balança a cabeça tristemente. — Sinto muito, Alfa. Eu verifiquei
com todas as bruxas que eu conheço, mas não há nenhum feitiço e
nenhuma mágica que possa fazer a ponte entre esses reinos.
Eu corro meus dedos pelo meu cabelo, exasperado.
— Como isso pode ser possível? Ela entrou em contato comigo! Eu a
senti! — Eu grito.
O conselho me observa em silêncio, sem ousar se mover ou falar. Eu
sei o que todos eles estão pensando. Posso dizer pela aparência que
acham que estou enlouquecendo.
Isso é o que acontece quando um Alfa perde seu parceiro.
Minha mãe gentilmente coloca sua mão na minha. — Filho, você tem
trabalhado tanto. Eu acho que você precisa descansar um pouco.
— NÃO! — Eu grito, me levantando. — Eu preciso encontrar minha
companheira. E, aparentemente, todos vocês são inúteis para isso!
Eu me viro e saio correndo da sala.
Meu lobo está rosnando dentro de mim. Ele precisa sair. Talvez eu
realmente enlouqueça se ficar neste lugar por mais um segundo.
Eu preciso sair correndo.
Eu corro para o jardim e tiro minhas roupas, sentindo meu corpo
começar a mudar. As patas do meu lobo pousam na grama e corro para a
floresta sozinho.
Everly

Abro os olhos, olhando em volta para a biblioteca.


Não sei há quanto tempo, mas devo ter adormecido de tanto cansaço.
Eu me sinto um pouco melhor, mas minha cabeça ainda está
latejando e meu corpo ainda está fraco.
Mas não importa como eu me sinta, nem consigo imaginar o que
Logan está passando.
Vê-lo no espelho assim... tão perdido, tão zangado.
Foi demais. Eu preciso deixá-lo saber que estou bem.
Eu preciso tentar novamente.
Eu respiro fundo, concentrando-me nele. Eu imagino seu cabelo loiro
macio, seus olhos azuis olhando nos meus.
Eu imagino seu corpo, seus braços poderosos me segurando.
Eu o imagino me beijando enquanto seus dedos correm pela minha
espinha.
Só de imaginar isso me faz sentir muito mais calma.
Pego o colar mais uma vez, sentindo toda a energia do meu corpo se
acumular dentro dele.
Abro meus olhos e vejo o lobo de Logan correndo pela floresta no
espelho.
Lá está ele.
Meu corpo começa a formigar enquanto agarro cada grama de força
que resta dentro de mim, e me concentro mais uma vez em estender a
mão através dos reinos em direção ao meu companheiro.
Logan

Tenho corrido há tanto tempo que perdi a noção de onde estou. Devo
ter deixado meu território da matilha há um tempo, e agora estou na
floresta selvagem que se estende até as matilhas do Norte.
Fiz esta corrida para clarear minha cabeça, mas dificilmente ajudou.
Minha mente ainda está girando em pensamentos sobre Everly.
Nada pode tirá-la da minha cabeça, mesmo por um segundo.
Eu desacelero até parar quando me aproximo de uma clareira entre as
árvores. O chão está coberto de folhas coloridas.
À frente, na beira de um penhasco, há uma vista de uma floresta que
se estende até onde eu posso ver.
Eu me movo para trás, sentindo meu pelo desaparecer e a brisa contra
minha pele nua.
Eu olho para baixo, sobre a borda do penhasco — uma queda de
talvez trinta metros.
Eu simplesmente não sei mais o que fazer.
Só há uma opção, e até pensar nisso me faz sentir um aperto no peito.
— A única maneira de chegar ao submundo é morrer Eu não quero
morrer. Mas sem minha companheira ao meu lado, não consigo
encontrar nada pelo qual valha a pena viver.
Sento-me em silêncio, olhando para o penhasco, com minha mente
agitada.
Quando de repente o vento aumenta, uivando em meus ouvidos.
Rajadas poderosas fazem as árvores baterem umas contra as outras.
Nuvens rodopiantes aparecem no céu, bloqueando o sol.
Um momento atrás, era um dia calmo de outono.
Mas agora, uma tempestade monstruosa se formou em um instante.
O vento pega milhares de folhas do chão, movendo-as pelo céu. As
folhas vermelhas e marrons dançam, girando e caindo como chuva
colorida.
Isso não é normal.
Meu lobo pula de animação e eu olho ao redor freneticamente. Everly
está usando o vento para entrar em contato comigo novamente.
— EVERLY? — Eu grito para o vento rodopiante.
Onde ela está?
Ela está de volta?
O vento começa a diminuir e as folhas começam a cair, acumulando-
se em estranhos padrões no solo.
Que diabos?
As folhas estão soletrando uma palavra.
Não, não era uma palavra... um nome.
Eu aperto meus olhos, tentando decifrar.
E então, de repente, vejo as letras escritas claramente bem na minha
frente.
Phillipe.
Capítulo 17
Logan

Phillipe.
Eu fico olhando em descrença para as palavras escritas nas folhas
abaixo.
Não sei como ela fez isso, mas Everly me deu uma pista. E agora tudo
o que tenho a fazer é segui-la aonde quer que ele me leve.
Mesmo assim, fico com muitas perguntas. Quem diabos é Phillipe? É
ele quem a está mantendo cativa?
Tudo o que sei com certeza é que nunca ouvi esse nome antes.
Ele poderia ser alguém do passado de Everly?
Quando comecei a me aproximar de Everly, minha principal
preocupação era ajudá-la a superar todos os seus traumas no Banco de
Sangue.
Eu sabia que era doloroso para ela trazer à tona, então nunca fiz
perguntas ou me preocupei em preencher todas as lacunas de sua
história.
No que me diz respeito, esses detalhes não eram coisas que eu sentia
necessidade de saber.
Mas já que estou completamente no escuro, terei que encontrar
alguém que conheceu Everly naquela época de sua vida.
Se Phillipe é alguém do passado, talvez haja alguém que saiba mais
sobre ele?
Eu olho para o horizonte, além das intermináveis fileiras de árvores —
a direção dos territórios do norte.
Estou a uma curta distância da matilha Presas de Sangue.
Com a saída de Damon Mercado, Luna Mara assumiu o controle da
matilha e a tomou um refúgio seguro para as meninas resgatadas do
Banco de Sangue.
Talvez alguém possa me contar mais.
Meu lobo começa a ofegar de animação.
Estamos chegando perto digo a ele, sentindo um sorriso surgir no meu
rosto.
Ela está viva.
Antes de me transformar, eu olho para baixo mais uma vez para a
palavra Phillipe nas folhas. Mas agora, a maior parte já começou a
desaparecer.
***

Eu chego na frente dos portões da matilha de Presas de Sangue,


olhando para a mansão gótica gigante à distância.
Mesmo que Alfa Damon tenha partido, este lugar ainda tem uma
vibração sombria e ameaçadora. Nunca estive aqui, mas sei que foi aqui
que Everly chegou quando Damon a comprou no leilão.
Cerro os dentes só de pensar no que ela passou aqui.
Eu caminho até o portão, sacudindo-o com força enquanto tento
abri-lo. Mas está trancado.
— Pare aí, — ouço uma voz de mulher gritar.
Eu me viro para olhar na direção de sua voz e encontro duas mulheres
paradas do outro lado do portão.
Em suas mãos, eles seguram espingardas cintilantes — apontadas
diretamente para mim. Eu levanto minhas mãos lentamente. Uma delas
tem cabelo curto, a outra é loira — mas as duas têm uma carranca no
rosto.
— O que diabos você quer? — A de cabelo curto me pergunta.
— Estou aqui para falar com Luna Mara.
— Ela tem muitos inimigos. Muita gente no norte quer fazer mais do
que falar com ela, — diz a loira, com seus olhos se estreitando em
suspeita.
— Eu não sou do norte. Meu nome é Logan.
Eu ouço um clique quando as meninas tiram a trava de segurança de
suas armas. — Eu não me importo de onde você é, ou qual é o seu nome.
Não vamos deixar ninguém entrar, a menos que Luna Mara diga que está
tudo bem.
Eu suspiro de exasperação. Eu entendo sua desconfiança, mas não
estou aqui para machucá-las.
Eu ouço um clique quando as meninas tiram a trava de segurança de
suas armas. — Eu não me importo de onde você é, ou qual é o seu nome.
Não vamos deixar ninguém entrar, a menos que Luna Mara diga que está
tudo bem.
Eu suspiro de exasperação. Eu entendo sua desconfiança, mas não
estou aqui para machucá-las.
— Senhoras, — eu ouço uma voz feminina mais profunda chamar. —
Isso não é maneira de tratar o homem que incendiou o Banco de Sangue
e resgatou todos lá dentro.
As meninas baixam as armas e se viram para ver Luna Mara
caminhando em nossa direção. Ela usa um longo manto preto e grandes
brincos de rubi pendurados em seus lóbulos.
— Logan, — ela diz, sorrindo enquanto se aproxima. — Que surpresa
agradável.
As guardiãs abrem o portão com relutância, deixando-me entrar.
— Desculpe pela recepção hostil. Mas não podemos ser pouco
cuidadosos hoje em dia.
— Está tudo bem, — eu digo. — Se eu tivesse vizinhos como vocês
têm, estaria fazendo a mesma coisa.
— Bem-vindo à matilha Presas de Sangue, — Luna Mara diz
enquanto eu a sigo pelo caminho para a mansão. — Você sabe que é
sempre bem-vindo aqui.
Eu a sigo, olhando para os jardins enormes. Passamos por uma horta
gigante, onde as mulheres estão ocupadas com a colheita. Outras
caminham por entre as árvores com cestos nos braços, rindo.
— Como você pode ver, desde a morte do meu marido, conseguimos
fazer um lar aqui. As meninas se sentem seguras e temos muitas
maneiras de elas se manterem ocupadas.
— Fico feliz em ouvir isso, — eu digo, forçando um sorriso.
Estou feliz em ver todas essas garotas livres da escravidão, mas vê-las
me faz sentir ainda pior porque Everly não está na mesma posição.
— Eu preciso te perguntar uma coisa, — eu digo. — Você já ouviu
falar de alguém chamado Phillipe? Eu acredito que ele era um cliente do
Banco de Sangue.
Ela pensa por um momento, antes de balançar a cabeça. — Eu não o
conheço. Mas talvez você deva verificar com uma das garotas que
realmente estava lá.
Eu aceno minha cabeça.
— Venha comigo, — diz ela, colocando a mão no meu ombro, me
guiando para fora do caminho e em direção a um jardim de rosas à
distância.
Aproximamo-nos de uma mulher ruiva, parada ao lado de uma
grande roseira, aparando as folhas.
— Anna? Há alguém aqui para lhe perguntar algo sobre o Banco de
Sangue.
Ela se vira para nós. Seus olhos castanhos brilham com preocupação
quando ouve o nome do lugar onde foi mantida como escrava.
— É sobre minha companheira, Everly. Você lembra dela? Ela estava lá
com você.
Ela acena com a cabeça, parecendo mais à vontade. — Naquela época,
nós a chamávamos de Ruby Red. Ela foi boa comigo. Ela me salvou de
uma surra quando cheguei lá.
— Bem, ela está com problemas. Eu preciso perguntar sobre um
homem. O nome dele é Phillipe.
Ela olha para baixo, procurando em sua memória. Eu posso ver a dor
que está causando para ela pensar sobre essas coisas e me sinto mal por
estar agitando tudo isso por ela.
Mas eu preciso saber.
— Eu acho que sim... — ela finalmente diz. — Eu me lembro desse
nome.
— Quem é ele? — Eu digo, ansioso para saber mais.
— Eu me lembro dela o mencionando algumas vezes. Acho que ele
era um de seus clientes.
Só de ouvir isso parece um soco no estômago.
Se ele era um cliente, significa que fez algo com minha companheira.
Mesmo que esteja tudo no passado, só o pensamento disso é o
suficiente para me levar ao limite.
— Um de seus clientes? — Eu digo, tentando manter a calma.
— Sim, mas nunca o Conheci. Ela era a única que ele visitava. Sinto
muito, é tudo o que sei.
Oh, meu Deus.
Ele não era apenas um cliente... ele era seu cliente regular.
Minha imaginação começa a correr solta e eu me sinto mal.
Que tipo de coisas terríveis ele tentou obrigá-la a fazer?
Que tipo de monstro ele era?
— Sinto muito..., — ela diz timidamente. — Eu gostaria de saber
mais. Mas com o Banco de Sangue queimado e Lacroix morto... Tenho
tentado esquecer tudo isso.
— Obrigada, — Luna Mara diz, apertando a mão de Anna
confortavelmente. — Acho que te incomodamos o suficiente por hoje.
Mara se vira para mim. — Vamos deixar Anna voltar para sua
jardinagem, — ela diz, apontando para a mansão.
Mas eu fico congelado no lugar.
Eu não posso desistir.
Ainda não.
— Anna, por favor... Há mais alguém que você conheça que possa me
ajudar?
Ela olha para baixo, pensando muito.
— Bem, há alguém que pode saber mais. O nome dela é Madame
Dupont. Ela estava encarregada de manter as meninas obedecendo. Além
de Lacroix, ela era a pior de todos.
— Onde ela está?
— Ninguém sabe. Depois que o Banco de Sangue queimou, ouvi que
ela se escondeu.
Eu concordo. Isso é exatamente o que eu estava procurando.
— Obrigada, — eu digo suavemente. — Você foi muito útil.
Eu começo a me afastar, sentindo todo o meu corpo se iluminar de
excitação. Eu não me importo se ela está escondida no canto mais
distante do mundo, vou encontrar essa mulher e fazê-la falar.
— Senhor? — Ela grita atrás de mim.
Eu viro.
Os olhos de Anna estão em chamas de raiva.
— Se você encontrar Madame Dupont... certifique-se de que ela
receba o que merece. Isso faria todas nós, meninas, dormirmos muito
melhor à noite.
Eu aceno para ela e me viro para ir embora.
Isso eu posso fazer.
Everly

Eu olho pelo espelho, observando Logan se afastar da matilha Presas


de Sangue. Pela primeira vez, estou cheio de esperança.
Minha primeira pista funcionou!
Pelo menos ele sabe que estou viva e o nome do meu captor. Não é
muito, mas talvez ele possa seguir as migalhas de pão e encontrar uma
maneira de me tirar daqui.
Não posso deixar de notar como Logan está diferente agora.
Antes, ele parecia tão derrotado. Mas agora, ele caminha com um
propósito e seus olhos têm uma determinação feroz.
Ele sabe o que tem que fazer.
Eu só queria poder estender a mão e confortá-lo. Quero sussurrar em
seu ouvido que o amo e que estou bem.
Talvez, se eu puder criar essa tempestade, talvez possa encontrar uma
maneira de deixá-lo saber que não estou em perigo imediato.
Eu fecho meus olhos e me concentro novamente, canalizando minhas
energias exatamente da mesma maneira que antes.
Parece mais fácil, porque sei o que fazer.
Isso deve funcionar.
Sinto meu corpo começar a formigar enquanto concentro meus
poderes exatamente onde Logan está.
E então, ouço uma voz atrás de mim.
— O que você está fazendo?
Abro os olhos e me viro para encarar Phillipe, parado na porta.
Seus olhos estão completamente pretos, sem nenhum branco em
todos eles. Seu rosto está mortalmente pálido. Ele parece monstruoso,
com seus belos traços distorcidos pela raiva.
Meu coração começa a acelerar quando o vejo entrar na sala.
— Eu te deixo sozinha por tanto tempo, e é isso que você faz? — Ele
sibila, apontando para o espelho com Logan nele.
Dou um passo para trás, sentindo o medo crescer dentro de mim.
Eu nunca o vi assim antes.
Normalmente, ele me olha com gentileza. Mas este não se parece em
nada com o mesmo homem.
— Phillipe, — eu digo. — Eu só queria que ele soubesse que estou
bem.
Seus olhos negros se arregalam enquanto todo o seu corpo treme de
raiva.
— E quanto a mim, Everly? — Ele ruge. — Parece que você não se
importa comigo de forma nenhuma.
Eu dou mais um passo para trás, batendo contra a estante enquanto
ele fica bem na minha frente.
Ele está respirando pesadamente e seus olhos negros me encaram
sem piscar.
Eu recuo quando sua mão dispara e agarra o colar de esmeraldas do
meu pescoço, arrebentando-o e segurando-o em sua mão.
Com o canto do olho, a imagem de Logan desaparece do espelho.
— Você pegou minha chave, então eu pego a sua, — ele sibila.
— Não! — Eu grito, tentando agarrá-lo de volta.
Mas em um instante, ele fecha a mão sobre ele e aperta, quebrando a
pedra, jogando os pedaços quebrados na lareira.
Eu caio de joelhos, olhando para o fogo. Meus olhos começam a
lacrimejar, tornando minha visão embaçada.
Achei que Phillipe se importasse comigo.
Como ele pôde fazer isso?
Ele não só destruiu minha capacidade de entrar em contato com
Logan...
Mas essa foi a única coisa que me restou de meus pais.
E agora, sem esse colar, me sinto tão sozinha.
Agora, sou só eu.
E ele.
Capítulo 18
Everly

Eu olho para o espelho onde Logan estava apenas um momento atrás.


Mas agora tudo que vejo é o reflexo de Phillipe. Ele está parado do outro
lado da sala, segurando a cabeça entre as mãos, gemendo.
Ele parece que está ficando louco, balançando a cabeça para frente e
para trás e resmungando para si mesmo.
Mas quando ele olha para cima, seus monstruosos olhos negros se
foram, e a raiva deixou seu rosto.
Meu corpo ainda está tremendo com a adrenalina do que aconteceu.
Mas agora, ele parece estar assustado.
Ele encara os arredores, desorientado, como se estivesse voltando à
realidade.
O que há de errado com ele? O que está acontecendo?
— Everly... eu sinto muito, — diz ele, com sua voz tingida de choque.
— Eu não queria.
Ele dá um passo em minha direção, tentando estender a mão para me
confortar.
Mas eu recuo, fugindo o mais longe que posso dele.
— Não faça isso. Tocar. Eu, — eu digo lentamente, com veneno em
minha voz.
— Não sei o que aconteceu. Acabei de perder o controle quando o vi.
— Ele é meu companheiro, Phillipe. Você não pode me manter longe
dele.
— Everly, sei que você sente algo por mim também..., — diz ele,
dando mais um passo em minha direção e se ajoelhando.
— Não dê mais um passo, — eu digo a ele.
Para dar força aos meus desejos, eu uso meus poderes para fazer a
lareira explodir atrás de mim. Estou pronta para atirar nele a qualquer
momento.
— Everly, posso explicar tudo...
— NÃO! — Eu grito. — Você já fez o suficiente.
Ele se levanta. Eu posso ver a dor em seus olhos enquanto o afasto,
mas agora, eu não sinto pena dele.
Estou furiosa por ele fingir que se importa comigo e me manter presa
aqui ao mesmo tempo.
Isso demorou muito. Mesmo se eu tiver que ficar aqui para sempre,
eu nunca estarei com ele.
— Saia daqui, — eu digo a ele. — Me deixe em paz.
— Everly...
— SAI! — Eu grito.
Ele rapidamente se vira e se afasta nas sombras, deslizando pela porta.
Sento-me sozinha ao lado do fogo furioso, mas meu coração parece
tão frio quando penso em quão longe Logan está de mim.
Phillipe

Eu entro na sala de jantar, com minha mente agitada.


Como eu estraguei tanto isso?
Eu olho para a mesa da sala de jantar e vejo todo o banquete de
ontem ainda organizado. Quase sem ser tocado.
A taça de vinho de Everly está sobre a mesa. A mancha de batom
vermelho nela ainda está lá.
Eu rujo e pego a mesa, virando-a, enviando comida e vidro se
espatifando no chão.
Eu ofego, recuperando o fôlego e tentando me acalmar.
Nosso jantar parece que foi há uma eternidade agora. Everly ficou lá,
flertando comigo, me olhando e rindo.
Em seguida, tive a felicidade de tê-la adormecido no meu ombro.
Achei que tudo estava indo perfeitamente na direção certa.
Que idiota eu fui.
Quando a vi tentando entrar em contato com seu companheiro, não
consegui me controlar. Eu senti algo saindo de mim.
Uma escuridão.
Eu mal consigo controlar minhas emoções, e minha capacidade de
ficar calmo perto de Everly está desaparecendo. Eu sabia que isso
aconteceria.
Isso significa que meu tempo está se esgotando.
Eu corro escada abaixo, entrando na caverna com o Poço das Almas.
Eu fico olhando para o poço — brilhando com os restos das almas dos
mortos.
Seus gemidos são um lembrete do que acontecerá se Everly se afastar
de mim.
Se ela for embora, tudo o que resta da minha alma desaparecerá. Vou
perder meus últimos fragmentos de humanidade, e tudo o que restará
são as trevas.
Eu fecho os punhos, sentindo minha determinação se fortalecer.
Eu não posso deixar isso acontecer. Eu ainda tenho tempo. Eu preciso
fazer algo para fazê-la confiar em mim novamente.
Algo grande, algo que seja uma declaração.
Porque se eu conseguir que ela confie em mim novamente, há uma
pequena chance de que ela encontre uma maneira de me amar também.
Everly está certa. Não posso continuar a tratá-la como uma
prisioneira nesta caverna. Não posso simplesmente dar a ela uma
biblioteca e esperar que ela seja feliz.
Ela precisa de respeito. Ela precisa de alguma liberdade.
Eu me afasto do poço, com minha mente angustiada.
Eu não tenho muito tempo.
Mas pelo menos tenho uma ideia.
Everly

Não sei quanto tempo levei para me recompor, mas de alguma forma
eu finalmente consegui me levantar e sair da biblioteca.
Eu me sinto como um zumbi, cambaleando pela porta e de volta para
a sala de jantar.
Eu mal noto a mesa virada, o vidro quebrado e a comida espalhada
por todo o chão.
Só consigo pensar em Logan e em voltar para ele.
Eu preciso fazer alguma coisa. Não posso simplesmente definhar
aqui, esperando que algo aconteça.
— Phillipe? — Eu chamo. Minha voz ecoa na caverna vazia.
Não há resposta. Mas de alguma forma, sei que ele está ouvindo.
— Eu não sei o que você quer, — eu grito. — Mas se você me deixar ir,
vou encontrar uma maneira de dar a você...
Dói dizer isso e sinto as lágrimas ardendo em meus olhos.
— Se você me quer..., — eu digo, com minha voz rouca. — Então você
vai ter que me tomar.
De repente, eu o vejo sair da escuridão. Ele está vestindo uma capa de
seda preta e sua coroa de metal escuro em sua cabeça.
— Everly, você sabe que eu nunca faria isso, — ele diz gentilmente. —
E eu entendo agora que mantê-la aqui é errado.
Meus olhos se arregalam. Ele está me deixando ir?
— Me siga. Eu tenho um presente para você.
Ele levanta a mão e as pedras da parede da caverna começam a
tremer. Rachaduras se formam na pedra, separando-a — revelando uma
passagem.
A passagem é longa e escura, mas no final do túnel, vejo uma luz
azulada.
Meu coração começa a disparar e um sorriso se forma em meu rosto
enquanto caminho em sua direção.
Meu ritmo acelera e, eventualmente, começo a correr enquanto ando
em direção a ele. Meus pés mal conseguem me levar para lá rápido o
suficiente.
Então, chego ao fim e saio para a luz do lado de fora.
Estou parada em um penhasco no topo de uma montanha.
O céu sem estrelas está cheio de estranhas luzes azuladas que
deslizam pelos céus. Até onde meus olhos podem ver, parecem rochas
desoladas, rios negros e planícies vazias abaixo.
— É hora de eu deixar você sair e mostrar onde você está, — Phillipe
diz atrás de mim. — Este é o submundo.
Eu me viro para encarar Phillipe, com a raiva inundando dentro de
mim.
— Não foi isso que eu pedi. Eu quero ir para casa
— Eu sei. É por isso que trouxe um pouco de casa para você.
Huh? Do que ele está falando?
Ele assobia para o céu noturno e vejo algo começar a voar de cima.
Eu aperto os olhos, tentando decifrar.
E então eu vejo duas asas gigantes batendo enquanto voa em minha
direção. Um Pégaso se aproxima — totalmente branco contra o céu
negro.
Snow...
Ela bate as asas, diminuindo a velocidade enquanto pousa no
penhasco ao meu lado.
Eu corro e a acaricio, dando-lhe um abraço.
— Continue. Voe por este lugar. Explore, — ele diz enquanto eu
escorrego nas costas de Snow.
— Mas, Everly, quero dizer mais uma coisa..., — acrescenta. — Não
importa o quão longe você voe.
Você não pode escapar deste reino.
Eu decolei sem outra palavra, voando para longe de Phillipe e da
caverna.
Ele diz que eu não posso escapar...
Mas veremos sobre isso.
Capítulo 19
Logan

Eu abri a porta da oficina de Delisia, ofegando furiosamente.


A luz flui de fora, iluminando todas as poções e itens estranhos em
todas as prateleiras e mesas.
Delisia se vira surpresa, depois relaxa ao ver que sou eu.
— Logan! — Ela diz, com uma expressão preocupada em seu rosto. —
Onde diabos você esteve?
— Norte, — digo, sem me preocupar em explicar. — Eu tenho uma
pista para encontrar Everly.
O rosto de Delisia se ilumina. — Isso é ótimo! O que eu posso fazer?
Eu entro, olhando para os milhares de amuletos e ingredientes
espalhados.
— Uma dessas coisas pode convocar uma pessoa que não quer ser
encontrada?
— Claro, — ela sorri. — E eu pensei que você ia me pedir algo difícil.
Ela começa a zunir pela oficina, recolhendo ervas estranhas,
bugigangas brilhantes e partes viscosas do corpo de criaturas não
identificadas.
— Pegue aquela cadeira ali, — ela diz enquanto joga os itens juntos
em uma tigela, amassando-os em uma substância brilhante.
Eu coloco uma cadeira velha no meio da sala e dou um passo para trás
enquanto Delisia derrama o líquido no assento.
— Qual é o nome da pessoa? — ela pergunta.
— Victoria Dupont. Ela é uma vampira.
— Você tem alguma coisa que ela possuía? Uma peça de roupa ou algo
assim?
Eu balancei minha cabeça.
— Não se preocupe, — diz ela, encolhendo os ombros. — Vamos
apenas esperar que acertemos o caminho.
Ela coloca as mãos sobre o líquido e começa a murmurar palavras
estranhas que não consigo entender.
O líquido começa a brilhar cada vez mais forte e eu me preparo.
De repente, um flash de luz explode e fumaça enche a sala.
Eu começo a tossir, cobrindo minha boca enquanto olho através da
fumaça.
Quando começa a limpar, com certeza, há alguém sentado na cadeira.
Ela é uma mulher de meia-idade, mortalmente pálida, com olhos fundos
e maçãs do rosto marcadas.
Ela olha em volta, em pânico, e tenta se levantar, mas Delisia
rapidamente balança o pulso para enviar videiras grossas subindo pela
lateral da cadeira. Elas envolvem os braços e os pés da mulher,
mantendo-a presa a cadeira.
— Você é Victoria Dupont? — Delisia pergunta.
— Sim. Quem diabos são vocês? — Victoria sibila.
Delisia dá um passo para trás, dando tapinhas nas minhas costas. —
Tudo bem. Alfa. É o seu show agora.
Victoria me encara, mostrando os dentes.
— Alfa? Você acha que isso deveria me assustar?
Eu ando até ela, agarrando seu cabelo e puxando-o para trás para que
ela fique olhando para mim.
Eu a encaro, com fúria fria correndo em minhas veias.
— Se você não estivesse com medo, não teria fugido quando o Banco
de Sangue queimou.
— O que você quer?
Eu sorrio. — Você é a única que manteve minha companheira
trancada. Eu tenho algumas perguntas para você.
Ela sacode os pulsos, tentando se livrar.
— Não é muito divertido estar presa, não é? — Eu digo. — Oh, o jogo
virou.
Everly
O vento sopra em meu cabelo enquanto Snow sobe cada vez mais alto
no céu escuro.
É tão bom estar livre, finalmente sair daquela caverna.
Sinceramente, estou surpresa que Phillipe até mesmo me deixou sair
e me permitiu voar sem supervisão.
Mas suas palavras ecoam em minha cabeça.
— Não importa o quão longe você voe. Você não pode escapar deste reino.
Eu fico olhando para a extensão infinita ao meu redor. Se há uma
maneira de entrar neste reino, deve haver uma saída.
Tem de existir uma.
Eu voo para baixo, examinando o terreno de cima. Todo este lugar é
escuro, assustador — mas bonito de alguma forma.
Há rios brilhantes serpenteando pela paisagem, e posso ouvir sons
estranhos vindo deles.
Um zumbido baixo.
Eu voo para baixo e, conforme me aproximo, fica mais alto.
Meus olhos se arregalam quando vejo o que está nos rios.
Fantasmas brilhantes, em forma de gente, flutuam dentro dos rios.
Deve haver milhões deles, nadando sem parar neste lugar escuro e
solitário.
E o som é deles gritando.
Meu coração se parte por essas almas perdidas. Mas não há nada que
eu possa fazer para ajudá-las agora.
Não sei como chegaram aqui, ou por quanto tempo estão à deriva
assim. Mas eu sei de uma coisa com certeza.
Não vou ficar aqui e me tomar um deles.
Eu agarro Snow com força e faço-a a ir mais rápido, para longe do rio.
Eu mergulho sobre o cume de uma montanha e, quando passo por
ela, vejo um lago negro gigante do outro lado, estendendo-se até onde
posso ver.
Mas, ao contrário dos outros lagos, que pareciam espelhos pretos
perfeitamente imóveis — este está se movendo.
É
É um redemoinho de líquido escuro.
É isso! Parece exatamente com o portal que Phillipe me trouxe
quando Cheguei aqui.
Essa deve ser outra saída.
Eu voo para baixo, olhando para o buraco negro que parece uma boca
gigante aberta, pronta para me comer inteira.
Eu respiro fundo e seguro em Snow como se minha vida dependesse
disso enquanto vou direto para dentro do portal.
Eu aperto meus olhos fechados, com meu coração trovejando
enquanto eu voo para baixo nele.
Por um momento, tudo fica preto quando eu entro.
Mas então, de repente, como se tivéssemos batido em um trampolim
gigante, batemos em algo e somos atirados de volta, como se o próprio
portal nos estivesse cuspindo de volta.
Voamos pelo ar e Snow relincha e tenta nos colocar de pé. Felizmente,
ela consegue bater as asas, nos impedindo de bater nas rochas ao lado do
lago.
Nós pousamos e eu recupero o fôlego, acariciando Snow.
— Sinto muito, — eu sussurro para ela. — Mas valeu a pena tentar.
Eu escorrego de Snow e caio no chão. Algumas almas curiosas estão
por perto e olham para mim, mas eu as ignoro.
Em vez disso, concentro todos os meus poderes em abrir esse portal.
Eu penso em Logan.
Como estou perto de sentir seu toque novamente.
Tentar abrir o portal é como levantar uma pedra gigante. Sinto meus
poderes diminuindo, mas continuo tentando mais e mais.
Esta é minha única chance.
Eu grito, dando tudo o que tenho. E então, eu sinto algo ceder.
Eu espreito meus olhos abertos e vejo uma lasca de luz brilhando
através do portal escuro. Eu não posso evitar, mas deixo um sorriso
rastejar em meu rosto.
Está funcionando!
Logan

Eu fico olhando para Victoria Dupont. No início, ela se recusou a me


dizer qualquer coisa.
Mas chamei Cole e Max, e eles a deixaram um pouco mais falante.
Não era bonito, mas era exatamente o que tínhamos que fazer.
— Eu não vou te perguntar de novo..., — eu digo, olhando para ela. —
Quem é Phillipe?
Ela sorri.
— Everly é sua companheira, não é?
— Você não pode dizer o nome dela, — eu digo, tentando manter a
raiva em minha voz. — E essa não foi a minha pergunta.
— Phillipe era muito bonito, se bem me lembro.
Eu me inclino ao lado dela.
— O que mais?
— Rico. Ouvi dizer que ele pode até ser algum tipo da realeza.
— Isso não está ajudando. Você quer que eu chame Cole e Max de
volta aqui?
Ela olha para mim, com seus olhos brilhando de alegria.
— Bem, esse Phillipe tinha uma queda por sua companheira. Ele
pagou muito dinheiro para ficar com ela. Na verdade, acho que ele estava
apaixonado. Mas isso não é tudo.
Eu rosno. Odeio pensar em outro homem com Everly, mas preciso de
mais informações.
— Diga-me.
— Bem, se bem me lembro... ela o amava também.
Sinto todo o meu corpo ficar dormente. Ela ri quando sinto meus
olhos vidrados.
— Não há nada como aquele primeiro amor, não é? — Ela diz,
gargalhando. — Todo o resto depois disso empalidece em comparação.
Eu paro de ouvi-la, me levanto e me afasto.
Eu me sinto fraco.
Na minha mente, apenas um pensamento fica se repetindo na minha
cabeça, indefinidamente.
Everly amou outra pessoa antes de mim.
Capítulo 20
Logan

Phillipe era o primeiro amor de Everly.


Eu não posso acreditar.
Por que ela não me contou?
Minha mente está agitada, e mal consigo me conter para não quebrar
a mesa mais próxima de mim. Victoria Dupont começa a rir
histericamente enquanto observa minha reação.
— Você parece um garotinho que acabou de descobrir que outra
pessoa já brincou com seu brinquedo, — ela gargalha.
Eu corro em direção a ela, a segundos de distância de me transformar.
Meu lobo está implorando para sair e rasgar essa mulher em pedaços.
Ninguém fala de Everly assim e vive pra contar Mas primeiro, preciso de
mais informações. Por mais que odeie admitir, preciso descobrir tudo o
que puder dessa mulher antes de fazer algo estúpido.
— Você vai me contar tudo o que sabe sobre ele agora, — digo por
entre os dentes.
— Do contrário, o que fará comigo? — ela pergunta.
— Vampiros são imortais. Isso significa que eu poderia enterrá-la viva
e mantê-la lá para sempre, ou pelo menos até que você decida me dizer o
que eu quero saber.
Ela me encara e depois desvia o olhar.
— Eu sei que ele era meio vampiro, meio Fae. A última vez que ouvi
falar dele, Mestre Lacroix os pegou na cama juntos...
Eu passo meus dedos pelo meu cabelo.
Isso só fica cada vez pior.
— O que aconteceu?
— Ele enfiou uma estaca no coração Phillipe, matando-o.
Eu franzo a testa, voltando-me para Delisia. — Sobre o que ela está
falando? Ele está morto?
— Se ele é metade Fae, isso significa que depois que ele morreu,
metade de sua alma foi para o submundo, — Delisia interrompe.
— Mas o que isso tem a ver com Everly? — Cole pergunta.
Meus olhos se arregalam quando começa a amanhecer em mim.
— Se Phillipe é meio Fae e está preso no submundo... isso significa
que ele deve ser o Príncipe das Trevas.
Victoria Dupont começa a rir. — E eu pensei que estava na pior
posição aqui.
Eu me viro para ela com nojo.
— Cale a boca, — eu digo. — Jogue-a na masmorra. Terminamos com
ela.
Max e Cole pegam Victoria Dupont e a puxam pela porta.
Quando eles saem, Delisia se volta para mim. — Logan... não se
preocupe com Everly.
— Como diabos eu posso não me preocupar com ela? Ela é minha
companheira, — eu digo, com mais força do que eu pretendia. — E se ela
já estiver se apaixonando por ele?
— Você tem que confiar nela, — diz Delisia.
— Não, — eu digo, caminhando em direção à porta. — Eu tenho que
lutar por ela.
Phillipe

Eu fico atrás de Everly, observando-a enquanto ela tenta abrir o


portal.
Ela parece tão focada, e posso sentir a magia saindo dela para tentar
abrir o portal de volta ao reino Fae.
Estou desapontado, mas deveria saber que ela tentaria.
Queria confiar nela, dar-lhe espaço na biblioteca.
Eu queria que ela se sentisse livre, voando por este lugar na neve.
Mas nada disso importa para ela. Tudo o que ela quer fazer é fugir.
Sinto meu coração se encher de tristeza.
Não há nada que eu possa fazer, não é?
Não há como fazer com que ela me veja como costumava fazer. Para
me olhar com amor nos olhos.
Talvez tudo isso tenha sido uma ideia estúpida. Talvez isso nunca
teria funcionado de qualquer maneira.
Essa garota nunca me amou. Ela nunca se importou comigo.
Sinto uma raiva terrível ferver dentro de mim.
Ela é tão egoísta. Tão arrogante. Tão enganosa.
Eu desisti da minha vida por ela. Eu fui morto quando tentei ficar
com ela.
E é assim que ela me retribui?
Enquanto vejo a luz começar a sair do portal, sinto a escuridão dentro
de mim começar a sair.
Ela não entende que eu preciso dela. Ela não entende que, se ela for
embora, vou me transformar em algo terrível.
Ela tem minha alma em suas mãos.
Tento afastar esses pensamentos, para lutar contra a necessidade de
deixar a raiva vencer.
Não posso deixar sair o monstro que clama dentro de mim para sair.
Eu não posso desistir do que restou da minha bondade.
Porque se eu fizer isso, posso machucá-la. Eu preciso continuar me
segurando.
Mas a terrível verdade é que nem sei mais o que estou esperando.
Então eu paro de lutar. Eu deixei o que estava enterrado dentro de
mim vir à tona.
E eu deixei o monstro assumir.
Everly

Soltei um grito de dor, sentindo toda a minha energia fluir do meu


corpo em direção ao portal.
Minha mente está focada apenas em uma coisa.
Preciso fazer a pequena rachadura na entrada ficar maior. Grande o
suficiente para eu e Snow passarmos.
Isso é tudo que preciso.
Eu vejo a luz crescendo lentamente, disparando para o céu escuro.
Gotas de suor escorrem pela minha testa e meu corpo está tremendo
com a força necessária para dividir o tecido entre dois reinos.
Mas está funcionando.
Eu me permito um pequeno sorriso. Estou tão perto!
— Você sabe que é inútil, não é? — Eu ouço Phillipe dizer atrás de
mim.
Eu o ignoro, mantendo meu foco no portal.
— Você pode desistir, porque mesmo se você abrir esse portal, você
nunca será capaz de sair, — diz ele.
— CALE-SE! — Eu grito, olhando para a luz crescente através do
portal. É pequena, mas é grande o suficiente apenas para Snow e eu
passarmos.
— Ótimo. Vá, veja o que acontece, — diz Phillipe.
Eu corro até Snow, escorregando em suas costas e voando.
Eu mergulho no portal, sentindo a luz quente cobrir meu corpo e
preencher minha visão enquanto voo através da passagem.
Eu não posso acreditar.
Eu consegui.
Estou livre.
Mas então, a luz começa a diminuir. Eu me sinto sendo puxada para
trás, como se tivesse chegado ao fim de uma coleira me impedindo de ir
mais longe.
Não, não, não, não...
E então... sou puxada para trás com uma força violenta, e a luz se
afasta.
Eu voo para fora do portal e sou jogada de volta no chão.
Meu corpo está pegando fogo, e eu sinto que vou vomitar por tentar
cruzar os reinos.
Eu gemo e, quando abro os olhos, Phillipe está parado perto de mim,
olhando para baixo.
Seus olhos prateados me encaram com raiva e seus lábios se curvam
em um sorriso estranho.
— Acho que deixei você jogar esse joguinho por tempo suficiente, não
é, Everly? — Ele diz.
Ele levanta a mão e o portal se fecha, toda a luz do outro lado
desaparece em um instante.
— Por favor..., — eu imploro. — Apenas me deixe ir.
— Tentei tratá-la com respeito e confiança, não como uma
prisioneira. Mas tudo o que você fez foi me fazer sentir como um idiota.
Ele se ajoelha e coloca a mão suavemente em volta do meu pescoço.
— Phillipe..., — eu sussurro, — por que você simplesmente não me
deixa sair?
— Você não pode ir embora porque me deu sua alma, — ele sussurra
de volta.
Seus olhos prateados percorrem meu corpo com luxúria.
— E isso significa que posso fazer o que quiser com você.
Capítulo 21
Everly

Phillipe me imobiliza no chão e luto para me libertar, mas meu corpo


está muito esgotado por tentar abrir o portal.
Eu olho para ele, procurando em seu rosto ansiosamente por
qualquer vestígio do homem que eu amei.
Mas os olhos prateados e gentis de Phillipe desapareceram.
Em vez disso, seus olhos estão frios e negros, olhando para mim sem
um pingo de empatia, cheios apenas de raiva e luxúria.
Já tinha visto aquele olhar antes em Damon e Lacroix, e esperava
nunca mais vê-lo em toda a minha vida.
Phillipe aperta meu pescoço, e eu luto para respirar enquanto bato
meus punhos contra seu peito várias vezes, mas isso mal o perturba.
— Phillipe, pare! — Eu mal consigo sair. — Por favor, pare!
Mas ele age como se não me ouvisse.
Em vez disso, ele lambe os lábios enquanto sua outra mão desliza
sobre meu peito, agarrando meu seio.
Minha visão começa a ficar embaçada enquanto eu luto para respirar.
Meu pescoço está queimando sob seu aperto.
— Eu preciso de você, Everly..., — ele sussurra. — Eu só quero
mostrar o quanto eu te amo...
Eu sinto seus quadris pressionarem com mais força contra mim, me
prendendo ainda mais.
Minha mente está correndo enquanto tento descobrir como escapar,
mas não consigo pensar em nada, exceto na minha forte necessidade de
respirar.
Suplicante, olho para seus olhos pretos enlouquecidos mais uma vez.
— Phillipe..., — eu suspiro. — Esse... não é... você De repente, seus
olhos se arregalam, voltando à cor prateada quando ele solta meu
pescoço.
Eu respiro profundamente, enchendo meus pulmões de vida, e
rapidamente me afasto dele.
Meu coração ainda está disparado e tenho um acesso de tosse ao
tentar recuperar o fôlego.
Eu olho com medo para o homem que acabou de me agredir.
Ele está olhando para suas mãos trêmulas com horror, como se elas
tivessem vontade própria, e ele não conseguia acreditar no que acabaram
de fazer.
A paisagem vazia do Submundo ao nosso redor está mortalmente
silenciosa, exceto pela minha respiração pesada e os gemidos ecoantes
distantes das almas perdidas.
— Sinto muito... — ele finalmente diz.
O arrependimento está escrito em seu rosto e sua cabeça pende,
como se ele não pudesse nem olhar para mim.
— Estou com medo de você, Phillipe, — eu digo baixinho.
— Eu sei...
— Eu quero que você me prometa que nunca vai tentar me machucar
assim de novo.
Ele finalmente olha para mim, com uma expressão de dor em seus
olhos. — Eu... eu não posso fazer isso.
— Por que não? — Eu digo, com minha voz misturada com raiva.
— Tenho escondido a verdade desde que você está aqui. É hora de
explicar tudo para você. Mas eu não posso te dizer aqui. Eu só posso te
mostrar. — Eu luto para ficar de pé. Meu corpo dói, minha pele está
coberta de arranhões das pedras afiadas no chão e meu pescoço parece
duro e machucado.
A última coisa que quero fazer é seguir o homem que literalmente me
fez passar pelo inferno.
Mas quando tentei escapar pelo portal, não pude sair porque troquei
minha alma pela de Logan.
Mesmo que eu não soubesse na época, me vinculei a Phillipe. E isso
significa que estou presa aqui com ele, não importa o que eu tente fazer.
Esse fato sozinho dói muito mais do que qualquer dor em meu corpo
maltratado agora.
Por mais que eu queira mandá-lo se foder, se Phillipe quiser me
mostrar algo, não tenho escolha a não ser ver.
Eu caminho até Snow derrotada, subindo em cima dela.
— Eu te encontro lá de volta, — eu digo a ele.
Snow bate suas asas, lançando-nos nos céus escuros e vazios do
Submundo.
Desde que cheguei aqui, passei cada momento tentando escapar
desse lugar.
Mas agora, enquanto voo por ele, vejo a paisagem fria e negra como
ela é.
Minha nova casa.
***

Eu voo pela abertura no topo da enorme montanha negra que contém


o palácio.
A neve cai suavemente no campo com todas as árvores e flores
brilhantes.
O lugar onde Phillipe me levou em nosso — encontro.
Quando vim aqui pela primeira vez, não pude negar que era lindo.
Mas depois de tudo o que aconteceu desde então, não sinto nada quando
olho para o campo bioluminescente extenso à minha frente.
No meio da clareira, Phillipe já está esperando por mim.
Desmonto de Snow, que começa a pastar enquanto caminho em sua
direção.
— Então, o que você tem para me mostrar? — Eu digo.
— Siga-me, — ele diz, Virando-se e caminhando em direção à saída.
Caminhamos pelos corredores e salas familiares do palácio, até
virarmos uma esquina e começarmos a descer uma enorme escadaria,
levando mais fundo do que nunca.
Quando chegamos ao fundo, há uma porta de metal de aparência
antiga, coberta por estranhas runas brilhantes.
Assim que ele abre as portas pesadas, a primeira coisa que ouço é um
coro de gemidos que faz eu me arrepiar.
Meus olhos se arregalam quando eu passo pelas portas e vejo o que há
do outro lado.
Descendo um conjunto estreito de escadas de mármore, no centro da
enorme caverna, está um redemoinho brilhante.
O líquido gira rapidamente em círculos, brilhando em um azul
brilhante.
— É hora de eu te dizer por que você está aqui, Everly..., — Phillipe
diz, descendo as escadas em direção a ela.
Enquanto sigo atrás dele, sinto meu corpo começar a formigar com
uma energia estranha à medida que nos aproximamos.
— O que é este lugar? — Eu pergunto.
— É aqui que todas as almas chegam depois de morrer. Assim que
chegarem, são minhas e é meu trabalho mantê-las aqui.
Chegamos ao fim da escada, nos aproximando da borda. Eu fico
olhando para baixo, vendo os incontáveis rostos fantasmagóricos das
pessoas flutuando dentro dele.
— Elas parecem tão tristes..., — eu digo.
— Sim. Poucas pessoas chegam ao fim da vida com a sensação de que
tudo está cumprido. Muitos deles seguram sua dor por muito tempo,
flutuando pelos rios do submundo, incapazes de se soltar.
— O que isso tem a ver comigo? — Eu pergunto.
Ele se vira para mim com um leve sorriso no rosto.
— Eu costumava ir para o reino humano para sentir como era estar
vivo, — diz ele. — E quando te Conheci, finalmente soube o que era o
amor.
Mas seu sorriso desaparece.
— E quando fui morto por Vlad Lacroix, eu perdi você e finalmente
entendi por que todas essas almas estavam tão terrivelmente tristes.
Ele espia dentro do poço, com a água brilhante refletindo em seus
olhos prateados.
— Você é minha última conexão com o reino dos vivos, Everly. Se
você for embora, ficarei como essas almas perdidas. Cheio de raiva,
arrependimento e dor. E não haverá mais volta.
Meus olhos se arregalam em choque enquanto eu olho para ele.
Essa é a razão pela qual ele me manteve aqui?
Não é apenas para me apaixonar por ele...
É para salvar sua própria alma também.
— É por isso que eu tentei machucar você antes. Quanto mais você
me nega o seu amor, — continua ele, — mais descontrolado eu fico.
— Phillipe..., — eu finalmente consigo dizer. — Não posso
simplesmente estalar os dedos e me apaixonar por você. Não funciona
assim.
Ele balança a cabeça tristemente.
— Eu sei. E eu finalmente vi o quanto você realmente ama seu
companheiro.
Eu junto coragem, dando um passo para mais perto dele e colocando
minha mão em seu ombro.
— Então, por que você simplesmente não me deixa ir? — Eu digo
suavemente. — Você sabe que é a coisa certa a fazer.
Ele pensa por um momento, com uma expressão de dor em seu rosto.
No entanto, ele de repente empurra minha mão de seu ombro.
— Porque sou muito egoísta, — diz ele. — E se vou perder minha
alma de qualquer maneira, prefiro passar esses últimos momentos com
você.
Meu coração começa a afundar quando ouço suas palavras.
— Phillipe, por favor! — Eu protesto. — No fundo, eu sei que você é
uma boa pessoa. Você não pode simplesmente me manter aqui assim!
Raiva pisca em seus olhos quando ele agarra meu braço, me puxando
para perto.
— Eu vou mantê-la aqui, — ele sibila, — mesmo que eu te machuque,
e mesmo que você me odeie por isso.
— Phillipe, eu...
— Não diga mais nada, Everly! — Ele diz com os dentes cerrados. —
Ou não vou conseguir me impedir de fazer algo terrível desta vez.
Ele desvia o olhar envergonhado, então se vira e evapora nas sombras
— me deixando sozinha com as almas gemendo na água.
Sinto um aperto em meu coração pelo resto do caminho, e não posso
deixar de pensar que essa foi minha última chance de realmente escapar
deste lugar.
Esse era o Phillipe real-, não aquele monstro dentro dele.
Achei que talvez pudesse apelar ao coração dele... mas ele está
sozinho aqui há tanto tempo que se esqueceu como usá-lo.
Sinto uma pontada de culpa, desejando poder ajudá-lo.
Eu gostaria de poder impedir a escuridão de crescer dentro dele —
apenas deixá-lo ser livre.
Mas eu não consigo.
Não é assim que o amor funciona.
Já me sacrifiquei por Logan.
Não posso me sacrificar por Phillipe também.
Logan

— Obrigado por se encontrar conosco, Alfa.


Eu fico olhando ao redor da mesa para o conselho da matilha Lua
Vermelha, me perguntando o que diabos eles tinham para me incomodar
desta vez.
— O que é? — Eu rosno, sem me preocupar em esconder minha
irritação. — Caso vocês não tenham notado, tenho estado extremamente
ocupado. — Os membros do conselho trocam olhares ansiosos em
silêncio até que o Ancião Harrison se levanta.
— Se por ocupado você quer dizer meditando em seu quarto na
semana passada, então tenho que discordar de você, Alfa.
Eu olho para o homenzinho careca e insolente. — Eu pareço me
importar se você concorda comigo ou não?
Ele se encolhe, mas antes que eu possa gritar mais com ele, meu pai se
levanta, limpando a garganta.
— Filho, o que ele quis dizer é... você tem negligenciado seus deveres
como Alfa. Seu Beta e Gama estão à altura da tarefa, mas precisamos
saber o que está acontecendo.
— Estamos preocupados com você, — acrescenta minha mãe.
Eu faço uma careta. Eu nunca admitiria isso na frente do conselho,
mas sei que eles estão certos.
Eu deixei a matilha sem contar a ninguém enquanto eu saía em uma
perseguição de ganso selvagem tentando descobrir quem era Phillipe.
A coisa toda não foi apenas um beco sem saída quando se tratou de
encontrar Everly...
Mas também descobri que ela está com alguém que ela amou antes de
me conhecer.
Eu sei que não deveria importar, mas...
Minha imaginação está correndo solta. Eu tenho me deixado louco,
ignorando meus deveres na matilha, me perguntando o que diabos está
acontecendo entre aqueles dois a cada momento.
— Alfa?
Eu volto à realidade e percebo que o conselho está todo olhando para
mim, esperando uma resposta.
— Eu estou bem, — eu resmungo.
— Alfa, com todo o respeito... você não tem estado bem desde que
nossa Luna foi tomada. Na verdade, toda a matilha está lamentando o
fato de que nossa Luna se foi.
— Vou trazê-la de volta, — digo com força, embora não tenha certeza
de quão confiante pareço.
— A questão é... — Harrison continua. — Nós todos precisamos
seguir em frente, Alfa. Todos nós precisamos nos curar. Everly se foi, mas
a matilha Lua Vermelha ainda está aqui. E nós precisamos de você.
— O que diabos você está dizendo? — Eu digo com raiva.
— Estou dizendo... achamos que seria melhor se fizéssemos um
memorial para a Luna Everly. — Meus olhos se arregalam e sinto meu
corpo inteiro explodir de raiva.
— ELA NÃO ESTÁ MORTA! — Eu rujo. — ENTÃO VAI SE FODER!
Todo o conselho recua, olhando para baixo em submissão.
— Ele está certo, Logan, — minha avó diz calmamente.
Todo mundo se vira surpreso para olhar para ela.
Estou até chocado. Minha avó geralmente nunca fala nessas reuniões.
— Eu amei Everly, — ela diz, seus olhos turvos tingidos de tristeza. —
Mas é hora de deixá-la ir. Ela não vai voltar.
Abro a boca, sentindo a necessidade de gritar com todo o conselho
por dar as costas à sua Luna.
Mas não adianta.
A tristeza extingue o fogo furioso dentro de mim, e fico com uma
sensação de frio e vazio.
Eu me viro e saio da sala do conselho sem outra palavra.
Eu corro pelo corredor em direção ao meu escritório, entrando
rapidamente e batendo a porta atrás de mim.
Eu fecho meus olhos e inclino minhas costas contra a porta de
madeira, deixando escapar um suspiro derrotado, feliz por estar sozinho
novamente.
Então uma voz sedosa e sedutora ressoa em meu escritório silencioso.
— Olá, Logan.
Abro os olhos com surpresa ao ver Rebecca sentada na minha mesa.
Ela está usando um vestido preto justo, com um V profundo para
mostrar seu decote.
Com seu cabelo loiro platinado e maquiagem pesada, ela parece
exatamente a mesma da primeira vez que tentou me seduzir para entrar
na minha vida — na época em que o conselho tentou transformá-la em
minha Luna em vez de Everly.
Sinto a raiva crescer dentro de mim quando ela sai da mesa e
atravessa a sala até mim.
— O que diabos você quer? — Eu rosno para ela.
— Pensei ter dito que nunca mais queria ver você.
Ela finge estar triste, o que posso ver imediatamente.
— Acabei de ouvir sobre Everly, — diz ela, com falsa simpatia em seus
olhos enquanto desliza as mãos sobre meus ombros. — Queria
apresentar as minhas condolências.
Capítulo 22
Logan

Rebecca me encara com seus olhos azuis piscando inocentemente.


Não posso acreditar que essa mulher realmente tenha coragem de
aparecer.
Como diabos ela entrou sorrateiramente aqui?
— Parece que você precisa de uma bebida, — diz ela, apontando para
o bar no canto do meu escritório.
— Devo fazer uma para você?
— O que você está fazendo aqui, Rebecca?
Ela franze a testa, agindo magoada. — Estou aqui para o serviço
memorial. Por que mais eu estaria aqui?
— Certo, — eu digo. — Como se você se importasse com Everly.
— Você está certo, eu não me importo, — ela diz. — Mas eu me
importo com você Eu rosno, olhando para ela enquanto ela finge agir
com simpatia.
— Você só se preocupa com você mesma, — eu digo. — Agora dê o
fora do meu escritório.
Ela põe a mão no meu ombro suavemente. — Eu só quero ajudar um
Alfa que parece que precisa desesperadamente relaxar.
Afasto a mão dela, incapaz de me impedir de soltar uma pequena
risada.
— Você é absolutamente sem vergonha. E eu não preciso de nada de
você.
Ela dá outro passo mais perto.
Ela está a apenas alguns centímetros de mim e posso sentir o cheiro
de seu perfume floral.
— Oh, eu acho que você quer. Eu acho que você está com raiva. E
magoado. E você só precisa de alguém em quem descontar tudo.
Ela sorri, com seus olhos brilhando de desejo.
— Everly se foi e eu estou bem aqui.
Suas mãos acariciam meu abdômen, baixando lentamente em direção
à fivela do meu cinto.
— Eu farei tudo, — ela sussurra. — Você se sentirá como um novo
homem depois. Eu prometo. — Mas quando suas mãos vão ainda mais
para baixo, eu imediatamente as agarro e as empurro para longe de mim.
— Nunca mais me toque, — rosno, — ou da próxima vez, vou jogar
você na masmorra.
Seu rosto parece azedo enquanto ela tenta recuperar a compostura.
— Venha ao meu escritório. Agora. Preciso que você se livre de alguém, —
faço uma ligação mental para o meu Beta.
A porta se abre e Cole e Max vêm caminhando com Axel e Connor em
seus calcanhares.
— Tire ela da minha vista, — eu digo a eles.
Rebecca se vira para mim quando eles se aproximam dela e agarram
seus braços.
— Você sabe de uma coisa, Logan? — Ela grita enquanto eles a guiam
em direção à porta. — Você deveria ter vergonha de se chamar de Alfa.
Você nunca escolheu o que é melhor para a matilha. — Axel e Connor a
puxaram para fora e fecharam a porta, me deixando sozinho com Cole e
Max.
Faz um tempo que não os vejo, e os dois me olham com expressões
preocupadas no rosto.
— Sinto muito sobre Rebecca, — diz Max. — Depois do que
aconteceu antes, ela não deveria ter tido permissão para voltar ao terreno
da matilha. Mas estamos tão ocupados que deve ter escapado. — Eu
aceno minha mão, afundando na cadeira da minha mesa com um
suspiro.
— Está bem. Eu é que deveria estar me desculpando, — eu digo. —
Estou tão distraído com tudo o que aconteceu com Everly...
Cole sorri. — Nós protegemos você, Alfa. Seu foco deve ser encontrar
nossa Luna. Deixe a merda chata conosco.
Eu olho para meus dois seguidores mais leais — meus melhores
amigos.
— Eu preciso perguntar uma coisa a vocês, — eu digo.
— Qualquer coisa, Alfa.
— Você concorda com o conselho? Você acha que estou prejudicando
a matilha por não abandonar a Everly?
— De jeito nenhum! — Ambos dizem em uníssono.
Eu não posso evitar, mas deixo um sorriso rastejar em meu rosto
quando os ouço.
— Nós não estamos desistindo dela. Ninguém está, — diz Cole.
— Eu simplesmente não sei mais o que fazer..., — eu admito.
— Você vai pensar em algo, — Max diz.
— Conhecendo você, você prefere morrer a desistir de Everly, —
acrescenta Cole.
De repente, meus olhos se arregalam quando uma ideia surge em
mim.
— É isso! — Eu grito.
— O quê? O que é? — Cole pergunta, parecendo completamente
confuso.
— Eu sei o que tenho que fazer! — Eu digo, pulando animadamente
da minha cadeira.
Everly

Sento-me na borda das fontes termais naturais em meu quarto,


usando meus poderes para aquecer a água de modo que um vapor
espesso encha o quarto.
Eu lentamente tiro minhas roupas, com meu corpo doendo enquanto
me movo para tirar o vestido e a calcinha que estou usando desde o
encontro com Phillipe.
A superfície da água ondula com as bolhas ascendentes sobre uma
rocha negra, que é lisa como uma banheira.
Eu mergulho meu pé. É a temperatura perfeita, então eu rapidamente
deslizo sob a água, sentindo o calor tomar conta de todo o meu corpo.
Soltei um suspiro profundo, permitindo que o calor se infiltrasse em
meus ossos e relaxasse meu corpo.
Tanta coisa aconteceu desde que vim para este lugar, e por todo esse
tempo parece que ou estive fugindo ou lutando.
Tem sido demais e, honestamente, estou me sentindo prestes a
desmoronar completamente.
Agora, preciso relaxar.
Eu mereço.
Há bolhas de ar saindo de rachaduras na pedra, massageando minhas
costas. Parece o paraíso.
Eu fecho meus olhos, inclinando minha cabeça para trás,
submetendo-me totalmente ao relaxamento.
Quando, de repente, ouço a porta do meu quarto se abrir.
Eu rapidamente abro meus olhos, virando minha cabeça para ver
Phillipe parado lá em uma túnica preta, me observando através do vapor
espesso.
Suas órbitas negras e malignas olham para mim, bebendo em meu
corpo.
A escuridão o dominou novamente. O jeito que ele está olhando para
mim faz minha pele arrepiar.
Meu coração começa a disparar quando olho para minhas roupas
espalhadas no chão e para a porta do outro lado da sala.
Isso é ruim.
Muito ruim.
Estou completamente presa nesta sala com ele.
— Que diabos está fazendo? — Eu grito, cobrindo meus seios com os
braços.
— Com o que se parece? — Ele diz: — Estou me juntando a você.
— Phillipe, estou nua! — Eu grito. — Vá embora.
— Vamos, não é nada que eu não tenha visto antes, — ele diz com um
sorriso enquanto deixa seu manto cair de seus ombros no chão.
Ele está completamente nu agora e dá um passo em direção à fonte
termal.
— Não chegue mais perto, — eu digo, com veneno em minha voz.
— Ou o quê? — Ele diz, um pouco divertido enquanto levanta a perna
sobre a borda e a desliza na água. — O que você vai fazer, Everly?
Eu cerro meus punhos, usando meus poderes para levantar uma onda
de água, simultaneamente aquecendo-a a uma temperatura de ebulição.
Com um movimento do meu pulso, envio uma onda em sua direção,
escaldando-o e fazendo-o voar para trás no chão de pedra.
— Puta! — Ele grita, parecendo um cachorro molhado com o cabelo
sobre os olhos.
Tento me levantar e dar um salto para a porta, mas ele rosna e acena
com as mãos, fazendo com que a borda de pedra das fontes termais
cresça, envolvendo meus pulsos e me prendendo.
Ele se levanta, com seu corpo pingando água fervente.
— Assim está melhor, não é? — Ele diz, tirando o cabelo dos olhos. —
Agora, por que simplesmente não fingimos que isso não aconteceu e nos
divertimos um pouco?
Eu cerrei meus dentes, olhando para ele.
— Se você der mais um passo em minha direção, eu prometo que isso
vai continuar acontecendo até que você recue, Phillipe.
Ele me encara, e eu faço o meu melhor para encarar aqueles olhos
negros cheios de raiva.
Eu me recuso a ser intimidada por ele.
Então, depois do que parece uma eternidade, ele desvia o olhar.
— Tudo bem, — ele murmura. — Mas, mais cedo ou mais tarde, ou
você se solta ou terei que pegar o que quero.
Ele se vira e se afasta no vapor, e a rocha se desintegra em meus
pulsos, me libertando.
Meu coração está correndo uma maratona no peito e tento recuperar
o fôlego, mas parece que está preso na garganta.
Eu ainda estou sentada na água fumegante, mas não há nenhuma
maneira no inferno que eu possa relaxar mais.
Minha mente tem apenas um pensamento.
Não estou segura aqui.
Logan

Eu irrompi pelas portas da Capela da Deusa da Lua de nossa matilha.


Centenas de cabeças se viram para olhar para mim — seu Alfa —
avançando pelo corredor em direção ao palco.
A capela escura e espaçosa é mal iluminada por centenas de velas,
iluminando uma grande foto emoldurada de Everly ao lado do pódio.
Ela está olhando para a câmera, sorrindo, como se ela não tivesse
nenhuma preocupação no mundo.
Eu faria qualquer coisa para vê-la sorrir assim mais uma vez.
Incluindo o que estou prestes a fazer.
— Alfa Logan..., — gagueja o Ancião Harrison no pódio. — Não
estávamos esperando você.
Eu o ignoro e me viro em direção ao mar de rostos me encarando.
Minha matilha está toda reunida aqui na minha frente.
Eles merecem saber o que estou prestes a fazer.
Devo isso a eles.
— Todos, — eu digo, com minha voz crescendo através da capela. —
Eu tenho algo para dizer a vocês. Mas primeiro, eu quero me desculpar.
Eu sei que estive ausente. Distraído. Consumido tentando encontrar
nossa Luna...
Eu olho para meus pais na primeira fila, de mãos dadas enquanto me
observam atentamente.
— Eu sei que todos vocês me olham como um líder. Vocês me veem
como alguém que irá protegê-lo de qualquer coisa que o mundo jogar em
nosso caminho. Mas que tipo de Alfa eu sou se não posso nem mesmo
proteger minha própria Luna?
Eu faço contato visual com Cole e Max, que me dão um aceno
reconfortante.
— Eu não posso viver sem minha companheira..., — eu digo. — E
para estar com ela novamente... para ter uma chance de trazê-la para
casa... eu preciso deixar esta matilha.
— Eu não entendo, Alfa. O que você está dizendo? — Ancião
Harrison pergunta.
Respiro fundo, percebendo que esta pode ser a última vez que verei
todos os rostos das pessoas que amei e protegi durante toda a minha
vida.
— Estou dizendo... que vou ter de morrer.
Capítulo 23
Logan

Coloco o anel que o tio de Everly me deu no dedo, olhando para o


brilho sobrenatural da joia verde no centro.
Quando ele me deu este anel, ele me disse que eu era parte da família
e que tinha permissão para acessar o reino Fae sempre que quisesse.
Na época, pensei que isso significava ocasionalmente viajar para lá
por um longo fim de semana para ficar longe da matilha.
Eu nunca teria imaginado que iria lá para morrer.
Eu olho para o espelho, observando meu reflexo.
Há bolsas visíveis sob meus olhos, e minha barba por fazer se
transformou em uma barba crescida.
Não é exatamente o melhor visual para meu próprio funeral. Mas não
há tempo para se preocupar com esse tipo de coisa agora.
O anel brilha mais forte quando o espelho começa a ondular —
mostrando o céu azul e as cores vibrantes e inconstantes do reino Fae.
Eu respiro fundo.
Tudo bem. É agora ou nunca.
Vamos.
Contudo, quando estou prestes a passar pelo espelho, a porta do meu
escritório se abre atrás de mim.
— Logan, espere! — Delisia grita.
Eu me viro para encará-la. — O que você está fazendo aqui, Delisia?
Ela põe as mãos nos joelhos, ofegante, com o rosto corado de tanto
correr.
— Desculpe, não tive tempo para um feitiço de teletransporte..., —
diz ela.
— Delisia, já tivemos que nos despedir uma vez, — digo, incapaz de
esconder a tristeza da minha voz. — Não me faça passar por isso de novo.
— É exatamente isso! — Ela diz: — Não precisamos dizer adeus. Eu
tenho outro plano.
Do que ela está falando?
Eu franzo a testa, observando-a enquanto ela desliza uma mochila de
couro de seus ombros para minha mesa.
Ela solta um fecho e a abre, revelando uma tonelada de objetos
estranhos e fedorentos.
— Tenho trabalhado em um ritual, — diz ela. — E se funcionar, você
não precisará morrer. Bem... pelo menos não permanentemente.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto, me sentindo
completamente confuso.
— Se eu puder fazer isso corretamente... deve separar sua alma de seu
corpo. Isso significa que você pode ir temporariamente para o submundo
enquanto seu corpo permanece intacto.
Meus olhos se arregalam.
— Você não pensou em mencionar isso antes?
— Bem, eu nunca fiz isso antes, — ela diz timidamente. — Na
verdade, ninguém fez isso antes. Portanto, há uma chance de que não
funcione.
Um pequeno sorriso cresce em meu rosto.
— Bem, mesmo que seja uma pequena chance, estou disposto a
arriscar, — eu digo. — Vamos fazê-lo.
Ela derrete de alívio.
— Estou tão feliz que você disse isso, porque eu não estava ansiosa
para encontrar um novo emprego se você nunca voltasse.
Eu volto para o espelho e estendo meu braço para ela.
— Segure firme, — eu digo.
Ela agarra meu braço com força e olha no espelho.
— Vamos lá.
Estendo a mão e toco o espelho, e meu estômago se embrulha com a
sensação familiar e desorientadora de tudo desaparecer sob mim.
E em um instante, Delisia e eu nos dissolvemos no nada.
***
Eu recupero a consciência batendo no dilúvio de pedra com um BAM.
Tento me sentar, mas minha visão está girando, e meu estômago
parece que acabou de engolir uma garrafa inteira de uísque de um só
gole.
Eu ouço Delisia suspirar ao meu lado. Ela parece verde, como se ela
estivesse a segundos de vomitar.
— Você está bem? — Eu consigo dizer.
— Merda. Eu esqueci aquela maldita poção de náusea, — ela geme.
— Logan?
Eu me viro para enfrentar Alistair e Jed, que estão olhando para nós
com completa surpresa.
— Olá, — eu consigo resmungar.
— O que você está fazendo aqui? — Jed pergunta.
Tento me levantar cambaleando, mas a rotação não parou, então
provavelmente pareço um idiota bêbado.
— Desculpe pela intrusão, — eu digo, finalmente me levantando e me
orientando.
Estamos numa espécie de sala de estar dentro do castelo, rodeados
por sofás e almofadas coloridas por toda parte.
— Por que não pousamos em um desses? — Delisia reclama,
finalmente se levantando. Jed e Alistair a encaram.
— E quem é essa? — Alistair pergunta.
— Esta é Delisia. Ela é nossa bruxa da matilha.
Ela sorri, tirando as mechas despenteadas de cabelo do rosto. —
Prazer em conhecer...
De repente, sua pele fica branca e ela fica mole. Mas em um instante,
Jed rapidamente a pega em seus braços antes que ela caia no chão.
Ela rapidamente recupera a consciência, olhando para Jed.
— O prazer é todo meu, — diz ele, com um sorriso brincalhão no
rosto.
Ela parece envergonhada quando ele pega sua mão e a ajuda a se
levantar.
— Obrigada, — ela diz. — E me desculpe... eu geralmente não sou
assim.
— Não se preocupe, — ele ri. — Eu odeio cruzar reinos também.
— Sim, — ela suspira. — Tento evitar sempre que posso.
— Mas tem seu lado bom, — diz ele, sorrindo. — Como quando uma
bela bruxa simplesmente se teletransporta para sua sala de estar um dia.
Seus olhos se arregalam e ela fica vermelha como uma beterraba.
Alistair pigarreia e Delisia se vira para olhar para nós, como se tivesse
esquecido que estávamos aqui.
— Uh, certo, — diz Jed, relutantemente desviando os olhos de Delisia.
— Uh... por que vocês dois estão aqui?
— Eu tentei de tudo para encontrar Everly, — eu digo. — Só resta
uma opção. Eu tenho que morrer, ir para o submundo e tentar trazê-la de
volta.
— O quê? — Alistair grita. — Você é louco?
— Sim, ele é, mas é por isso que estou aqui, — diz Delisia. — Vamos
realizar um ritual que permite que sua alma deixe seu corpo
temporariamente.
Jed e Alistair trocam olhares ansiosos.
— E se a alma dele nunca mais voltar? — Alistair pergunta.
— Então ele morre...
— É um risco que estou disposto a correr, — digo, voltando-me para
Delisia. — Vamos fazer isso. — Ela acena com a cabeça e começa a puxar
objetos de sua mochila, arrumando-os na mesa ao lado de um sofá.
Deitei no sofá, observando-a colocar os ingredientes em uma
pequena xícara de prata e triturá-los.
— Garra de Harpia..., — ela murmura, — Pétalas de Orvalho da Lua,
Teia dos Destino, Samambaia de Prata...
— Eu não gosto do som disso... — Alistair diz, olhando para nós com
um olhar apavorado em seu rosto.
— Posso ajudar em alguma coisa? — Jed pergunta a Delisia.
— Feche todas as cortinas desta sala, — ela diz, com um sorriso
crescendo em seus lábios. — Depois disso, você pode apenas ficar aí e
pareça bonito. — Sinto a ansiedade crescer dentro de mim quando Jed
fecha as janelas, envolvendo a sala em completa escuridão.
Delisia acende velas grandes, colocando-as ao redor do meu corpo.
Ela mergulha os dedos na pasta do caldeirão, testando a consistência
do líquido azul espesso e brilhante.
Ela me olha intensamente.
— Você tem certeza de que quer fazer isso? — Ela pergunta mais uma
vez.
Eu concordo. — Apenas me diga o que fazer.
— Eu quero que você beba isso, — ela diz, me entregando o copo. —
Depois disso, serei honesto com você... Não tenho ideia do que vai
acontecer.
Eu fico olhando para a estranha bebida brilhante. O cheiro é
absolutamente horrível, como enterrar meu nariz em um aterro
sanitário.
Acho que é o cheiro da morte.
— Aqui vai, — digo, olhando mais uma vez para Delisia, Jed e Alistair.
— Te vejo em outra vida.
Eu inclino minha cabeça para trás e tomo o líquido em um gole.
Tem gosto podre, como vinho que foi deixado ao sol por anos, e eu
imediatamente quero cuspi-lo.
Mas engulo tudo, engasgando, e inclino a cabeça para trás no
travesseiro, olhando para o teto.
A sala está mortalmente silenciosa enquanto todos esperamos que
algo aconteça.
— Você sente alguma coisa? — Jed diz depois do que parece uma
eternidade.
Eu balancei minha cabeça. — De jeito nenhum. Talvez não tenha
funcionado Mas antes que eu possa terminar minha frase, minha visão
começa a embaçar e dançar.
Padrões coloridos e formas estranhas flutuam na escuridão.
Meu corpo parece estar vibrando e começo a tremer
incontrolavelmente.
Eu me viro para olhar para Delisia, mas seu rosto começa a se dobrar
e esticar como chiclete. Tudo começa a desmoronar ao seu redor.
Eu entro em pânico, minha mente fica agitada, mas os pensamentos
zumbindo evaporam antes que eu possa pegá-los.
Cada batida do meu coração soa como um trovão — ensurdecedor e
assustador.
Então, de repente, uma luz azul pulsante e colorida aparece no centro
da minha visão.
Um túnel.
Ele cresce, fica cada vez maior, até tomar conta de toda a minha visão.
Eu sou puxado em direção a ele, sugado, e posso me sentir sendo
arrancado do meu corpo enquanto voo pelo túnel a um milhão de
quilômetros por hora.
Tento gritar, mas não consigo ouvir nenhum som, exceto a batida
forte do meu próprio coração.
E então...
Eu alcanço a luz no fim do túnel.
E meu coração fica em silêncio.
Capítulo 24
Everly

Deitei na cama, olhando para as estalactites e rachaduras no teto


escuro e rochoso.
O ar da caverna é frio, mas os cobertores sobre meu corpo são
quentes e macios como seda.
Estou usando uma camisola de veludo, uma camiseta e shorts de
pijama — as coisas mais confortáveis que pude encontrar em meu
guarda-roupa de minivestidos.
Meu corpo está absolutamente exausto de toda a adrenalina dos
últimos dias, mas não vou adormecer tão cedo.
Não enquanto Phillipe estiver aqui, rondando na escuridão.
Depois do que aconteceu nas fontes termais, acabei de me trancar no
quarto, completamente tensa.
Fico à espera de que ele volte e tente novamente.
Escuto qualquer movimento do outro lado da minha porta.
Não há relógio aqui, então não tenho ideia de quanto tempo estou
esperando.
Mas, eventualmente, eu ouço.
Há passos pelo corredor em minha direção.
A maçaneta da porta gira lentamente e posso ouvi-la se abrir com um
rangido.
Fechei os olhos com força, fingindo estar dormindo. Mas meu
coração está trovejando em meus ouvidos e meu corpo está
completamente tenso.
Eu o ouço caminhar silenciosamente pela sala em minha direção.
Posso sentir a ponta do colchão afundar ligeiramente sob seu peso
quando ele se senta ao meu lado.
Tudo está completamente parado na sala, exceto meu coração
batendo.
— Você está dormindo, Everly? — Ele sussurra.
Eu não respondo, mantendo meus olhos fechados e ouvindo
atentamente. Com sorte, ele acha que estou dormindo e vai embora.
Mas parte de mim não quer ter muitas esperanças.
— Eu te quero tanto, Everly, — ele continua. — Você não vê? Eu
preciso de você. É uma tortura para mim pensar em você deitada aqui na
cama sozinha.
Eu resisto à vontade de recuar quando sinto sua mão tocar minha
cintura, sobre as cobertas.
— Eu só penso em tocar sua pele macia e algo dentro de mim fica
louco. Começo a pensar em todas as vezes que poderíamos ter ficado
juntos se eu não tivesse morrido. Todo o sexo incrível que poderíamos
ter tido...
Posso ouvi-lo respirando pesadamente.
— Isso não é justo. Eu mereço provar você, pelo menos uma vez.
Sua mão começa a puxar minhas cobertas, puxando-as para trás para
expor meu corpo por baixo.
— Eu não mereço isso, Everly? — Ele diz enquanto sua mão toca
minha cintura.
Não, Phillipe.
Você não merece.
Meus olhos se abrem e minha mão alcança um estilete sob meu
travesseiro, e uso-o como uma faca para enfiá-lo direto em sua mão.
Seus olhos negros se arregalam de surpresa quando ele tropeça para
fora da cama, e eu salto para fora e agarro minhas cobertas, puxando-as
sobre seu rosto e envolvendo-as em seu pescoço.
Ele tropeça, balançando os braços descontroladamente para trás, mas
eu fico atrás dele, puxando com todas as minhas forças, e o mantenho
preso no chão.
Te peguei, seu desgraçado.
Eu me afasto o mais forte que posso, sufocando-o.
Mas então, ele desaparece de repente — evaporando no ar.
Eu suspiro e caio para trás, segurando apenas meus cobertores vazios
em minhas mãos.
Que diabos?
Onde ele foi?
— Bem atrás de você, — ele diz.
Ele me agarra pela cintura, me puxando para cima e me jogando na
cama.
Tento fugir, mas ele é muito forte e rápido, e não tenho mais o
elemento surpresa.
Seus olhos negros brilham à luz das velas ao lado da minha cama — a
aparência de um predador perseguindo sua presa.
— Everly, — ele sibila, — você sempre tem que tomar isso tão difícil
para mim, não é?
Ele tenta prender meus braços contra a cama, mas eu o chuto
repetidamente no estômago.
Seu aperto afrouxa e tento pular da cama, mas ele segura meu pé e
me puxa em sua direção.
Tento chutá-lo na virilha, mas ele joga todo o seu peso em cima de
mim, então não posso usar minhas pernas para empurrá-lo.
Eu grito com os dentes cerrados, mas ele me prendeu
completamente.
— Ou você desiste agora, — diz ele, — ou terei que quebrar você.
— Phillipe, pare! — Eu clamo.
Mas ele não está ouvindo uma palavra do que eu digo.
Sua mão livre desliza sobre meu corpo, puxando meu robe para baixo,
mas eu ainda me contorço e luto com todas as minhas forças.
— Por que você está lutando contra isso? — Ele pergunta no meu
ouvido. — Você ia perder sua virgindade comigo antes. Então, por que
você simplesmente não fecha os olhos e finge que é aquela noite...
Eu balanço minha cabeça violentamente, incapaz de parar as lágrimas
de correrem pelo meu rosto enquanto ele beija meu pescoço.
A desesperança me vence. Não importa o que eu tente fazer, não
importa o quanto eu lute, estou presa aqui com esse monstro.
Ele continuará voltando, indefinidamente, até conseguir o que deseja.
É inevitável.
E então, eu simplesmente desisto. Eu paro de lutar e apenas deixo
meu corpo ficar mole.
Ele me olha surpreso.
— Viu? — Ele diz. — Não foi tão difícil, foi?
— Phillipe..., — eu digo. — Se você vai me estuprar, quero que saiba
de uma coisa...
Eu olho para ele, com desespero em meus olhos.
— Isso nunca será como a noite em que eu perderia minha virgindade
com você, — digo. — Isso é porque eu realmente queria você... Mas eu
não quero você agora.
De repente, ele para.
Ele se senta, afrouxando o aperto em meus pulsos.
Como se estivesse saindo de um feitiço, a luxúria em seus olhos
desaparece e a cor prateada retoma para suas íris.
Phillipe

Eu solto Everly e tropeço para fora da cama. Posso sentir a escuridão


retroceder para os recantos mais longínquos da minha mente e meus
pensamentos ficam mais claros novamente.
O que aconteceu?
Ainda me sinto um pouco tonto e tento me lembrar de como Cheguei
aqui...
Eu estava deitado na cama, pensando em Everly... e de repente, a
escuridão simplesmente assumiu o controle. Ela nem me deu a chance de
lutar desta vez.
E agora, estou de pé em seu quarto, e ela está olhando para mim com
terror em seus olhos, segurando um salto alto ensanguentado acima da
cabeça, pronta para me atacar.
Eu dou mais um passo para trás, colocando minhas mãos para cima.
— Sinto muito, — eu digo. — Eu... não sei o que aconteceu...
— Você tentou me estuprar, Phillipe.
Não, não, não, não...
Pego um punhado do meu cabelo e puxo o mais forte que posso,
fechando os olhos com força e sentindo a culpa de tudo o que acabei de
fazer pesar sobre mim.
— Eu não confio mais em mim, — murmuro. — Eu... eu preciso ir.
Ela me observa atentamente enquanto cambaleio para trás, em
direção à porta.
Abro rapidamente, voltando-me para olhar o quarto mais uma vez.
Os cobertores e travesseiros estão caoticamente espalhados por todo
o chão como se fosse um campo de batalha, e Everly está sentada no
colchão nua, olhando para mim com ódio.
— Eu te amo mais do que qualquer coisa, Everly, — eu sussurro. —
Mas eu simplesmente não consigo mais controlar o monstro em mim...
Eu tropeço pelo palácio como um zumbi até chegar ao meu quarto,
então fecho a porta atrás de mim.
Eu fecho meus olhos e invoco meus poderes, usando-os para cobrir a
porta com dois palmos de rocha sólida.
Estou me prendendo aqui de agora em diante.
Mas não sei se isso vai ajudar.
Já falhei três vezes...
Então, por quanto tempo posso realmente manter o monstro sob
controle?
Everly

Eu rapidamente saio da cama quando tenho absoluta certeza de que


ele se foi.
Minha adrenalina começa a diminuir e minhas pernas ficam fracas
quando tento ficar de pé.
Isso foi muito perto...
Eu mal consegui tirá-lo nas últimas vezes. Mas da próxima vez, não
tenho certeza se terei tanta sorte.
Eu sei que o Phillipe de verdade nunca iria querer me machucar. Mas
simplesmente não é mais ele.
Este é um monstro — aquele que só quer meu corpo por seus
próprios motivos egoístas.
E não há nenhuma maneira no inferno que ele vai conseguir.
Eu preciso sair daqui, e só há uma outra maneira que pode funcionar.
Eu rapidamente saio do meu quarto, olhando para o corredor escuro
do lado de fora.
A última coisa que quero fazer é ir lá agora.
Mas eu preciso me mover.
Eu rapidamente ando através do palácio, tentando ficar o mais quieto
que posso.
Desço um lance de escadas, indo mais fundo até chegar à grande
porta com as estranhas runas brilhantes.
Eu o empurro e me aproximo do poço azulado e brilhante de almas
no centro.
Meu corpo estremece com estranha eletricidade quando fico de
joelhos e olho para o líquido rodopiante, perscrutando o poço de almas
gemendo.
Cada célula do meu corpo está me dizendo para ficar o mais longe
possível da água.
Eu sei que há apenas uma coisa no fundo deste poço.
Morte.
Mas eu também sei o que vai acontecer se eu ficar aqui com Phillipe...
Estou presa aqui e, como nunca mais verei meu companheiro,
simplesmente não sei mais o que fazer.
Talvez... esta seja a única saída.
Eu respiro fundo pela última vez, pronta para mergulhar e desistir.
Mas antes de fazer isso, ouço um gemido baixo emergir de algum
lugar sob a água.
— Everly...
Eu olho para baixo com surpresa, examinando as almas flutuando.
Que diabos?
Estou ouvindo coisas?
— Everly... — A voz diz, mais alto desta vez.
E é aí que eu vejo.
O flash de um rosto familiar, flutuando do fundo do poço.
Não...
Não pode ser...
No início, acho que meus olhos devem estar pregando peças em mim,
mas então eu olho mais de perto e vejo que é realmente ele.
Meu companheiro.
Logan.
Capítulo 25
Everly

Esfrego meus olhos e pisco sem parar, tentando ter certeza de que
não estou sonhando ou imaginando isso.
Poderia realmente ser Logan?
Mas à medida que a forma fantasmagórica se aproxima da superfície,
começo a distinguir as características inconfundíveis do meu
companheiro.
Eu nem mesmo penso duas vezes antes de respirar profundamente e
pular sobre a borda na água viscosa e brilhante.
Eu mergulho de cabeça sob a superfície e, assim que estou submersa,
todo o meu corpo explode com dor. Parece que minha pele está
derretendo e toda a energia está sendo drenada do meu corpo.
Debaixo d'água, os gemidos das almas tornam-se ensurdecedores e,
conforme passam flutuando por mim, tentam estender as mãos e me
agarrar, mas eu as afasto e nado mais fundo.
A cada golpe, parece que meu corpo está envelhecendo — minhas
juntas começam a doer e posso ver minhas mãos ficando mais ossudas.
Eu ignoro tudo, pois tenho que chegar a Logan.
Finalmente chego e agarro sua mão.
Está um frio congelante e, a princípio, acho que ele pode estar
completamente inconsciente.
Mas seus olhos se abrem ligeiramente.
Eles me encaram, com um brilho de reconhecimento neles.
Espere, Logan.
Eu tenho você.
Eu envolvo meu braço em tomo dele e o puxo em direção à luz
bruxuleante da superfície. Meus pulmões estão queimando agora, meu
corpo inteiro me implora por ar.
Não tenho muita energia e sinto que estou desaparecendo mais e
mais a cada segundo.
Tento não pensar no que acontecerá se eu não voltar à superfície.
Vou me tornar apenas mais uma dessas almas perdidas.
Mas não vou deixar isso acontecer. Não quando acabo de encontrar
Logan.
A superfície ainda está muito distante.
Minha visão começa a ficar turva, as bordas ficam escuras.
Eu agarro o corpo de Logan com todas as minhas forças.
Por favor...
Eu convoco minha última gota de energia, usando meus poderes para
criar uma poderosa corrente no líquido, nos impulsionando para cima.
E então — um pouco antes de meus pulmões estourarem — nós dois
saímos da superfície.
Respiro profundamente a minha vida inteira.
Eu consegui.
Eu ainda estou viva.
Eu me viro para Logan, mas ele está mole, com os olhos fechados e o
cabelo molhado caindo sobre a testa.
— Logan? — Eu chamo.
Mas ele não responde.
Eu nado até a borda, puxando-o para cima da pedra. Quando saio da
água, a dor desaparece instantaneamente e meu corpo retorna ao seu
estado juvenil.
Eu toco o peito de Logan, tentando sentir se há algum ar sobrando
nele, mas não consigo notar.
Eu sinto um pânico enorme crescer em meu peito enquanto eu
balanço sua cabeça para frente e para trás.
— Logan! — Eu grito. — Você pode me ouvir?
Eu fico olhando para meu companheiro imóvel. Sua pele está pálida e
ele está rígido, deitado como um cadáver.
Não...
Não pode ser...
Ele está morto?
— Logan! — Eu grito. — Acorde!
Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto eu bato meus punhos
em seu peito repetidamente em desespero.
Mas bem quando estou prestes a desistir, ele tosse de repente e seus
olhos se abrem.
— Oh, meu Deus, — eu grito. — Logan, você está vivo!
Ele se vira e me encara, recuperando o fôlego.
— Onde... onde estou? — Ele pergunta, olhando ao redor em
confusão.
— Você está no submundo.
Um sorriso fraco se forma em seu rosto quando ele se senta. —
Funcionou!
Eu fico olhando para o meu companheiro em descrença.
Estou muito feliz em vê-lo, mas um milhão de perguntas passam pela
minha cabeça.
— Como diabos você chegou aqui? — Eu sussurro.
Ele se senta, com um sorriso gigante se formando em seu rosto.
— Delisia realizou um ritual. Minha alma está aqui, mas meu corpo
ainda está vivo, — diz ele, tocando os braços para testar se eles são reais.
— Não acredito que realmente funcionou!
Ele joga seus braços em volta de mim, e eu amoleço sentindo seu
corpo pressionar firmemente contra o meu.
Uma onda de calma instantaneamente passa por mim no momento
em que sinto seu toque.
Ele se afasta e eu sinto todo o meu ser dominado pela emoção
enquanto eu encaro aqueles olhos cor de chocolate dos quais eu sinto
tanta falta.
Ele me puxa para um beijo profundo, e tudo derrete quando sinto
seus lábios afundarem nos meus.
O resto do mundo desaparece.
O tempo para.
Tudo está bem — simplesmente porque meu companheiro está perto
de mim novamente.
Logan

Eu olho profundamente nos olhos da minha companheira e inclino


minha testa contra a dela.
— Por que diabos você veio aqui, Logan? — Ela sussurra. Posso ver
uma pitada de medo em seus olhos.
— Porque mesmo que eu nunca saia daqui com vida, valeu a pena
morrer só para beijar você mais uma vez.
Eu a puxo em meus braços, abraçando-a com força. Ela aninha seu
rosto no meu pescoço, e eu respiro seu cheiro familiar de que eu sentia
tanta falta.
Posso ter acabado de morrer, mas sentir seu toque instantaneamente
me faz sentir vivo.
Nossos lábios colidem de novo, mas desta vez é mais apaixonado,
mais cheio de desejo.
Minhas mãos agarram sua cintura, passando por seu corpo sobre a
camiseta molhada grudada em sua pele.
Ela geme enquanto eu massageio seus mamilos, cutucando o tecido
fino.
— Everly, estou ficando louco sem você..., — sussurro.
Ela me empurra para baixo e monta em mim, um desejo feroz
aparecendo em seus olhos enquanto ela agarra meu cabelo molhado e
beija meu pescoço.
Parece que ela sentiu minha falta também.
Soltei um suspiro de prazer ao senti-la em cima de mim novamente.
Depois de ficar longe dela por tanto tempo, seu toque é como uma droga.
Não me canso dela e nunca mais quero deixá-la ir de novo.
Everly
Preciso de toda a minha força de vontade para me impedir de tirar
sua calça jeans e montá-lo bem aqui.
Mas eu preciso.
— O que está errado? — Ele pergunta quando eu me afasto de seus
beijos.
— Não aqui, — eu digo. — Não com eles assistindo.
Viramos para olhar para todas as almas flutuando na superfície da
água, olhando para nós.
— Bom argumento, — ele diz. — Não me entenda mal, eu terei você
em qualquer lugar. Mas esta caverna é realmente assustadora.
Eu me afasto dele, ficando de pé.
— Eu conheço outro lugar. É o único lugar que eu poderia chamar de
seguro aqui.
Ele se levanta e eu pego sua mão, guiando-o escada acima e abrindo a
porta gigante.
Os olhos de Logan se arregalam quando entramos no corredor do
palácio.
— Onde está ele? — Ele rosna. — O Príncipe das Trevas...
— Shh!
Caminhamos na ponta dos pés pelo palácio escuro, que parece estar
vazio. Mas isso não significa que não estou esperando que Phillipe saia
das sombras como sempre faz.
Finalmente alcançamos a porta de metal vermelha, puxo a chave do
bolso e abro.
Assim que entramos, eu tranco a porta atrás de mim e finalmente me
permito um suspiro de alívio.
Eu me viro, observando Logan enquanto ele caminha pela biblioteca,
com um olhar de admiração em seu rosto.
— O que é este lugar? — Ele pergunta, indo até a estante e passando
os dedos pelos livros. — É tão diferente do resto do palácio.
Sinto uma pontada no coração quando penso no quanto tenho que
contar a Logan sobre Phillipe...
Mas é a coisa certa a fazer.
Ele é meu companheiro. Tenho que ser honesta e contar tudo a ele.
— Meu captor construiu este lugar para mim, — eu digo. — O nome
dele é Phillipe...
— Eu já sei, — ele diz, me interrompendo. — Eu descobri quem ele
era. E descobri que você o amava.
Atravesso a sala em direção a Logan, pegando sua mão.
— Não mais, Logan, — eu digo suavemente. — E eu quero que você
saiba que nada aconteceu entre nós aqui. Ele é meu captor. É isso.
Um olhar de alívio se espalha por seu rosto enquanto ele puxa meu
corpo para mais perto dele.
— Eu estava preocupado, mas confiei em você, — diz ele. — Eu confio
em você completamente, porque você é minha companheira.
Quando o ouço dizer isso, um calor se espalha em meu coração e um
sorriso surge instantaneamente em meu rosto.
— Agora venha aqui, — ele diz calmamente. — Nada mais importa,
exceto isso, — diz ele. — Estar com você aqui, agora.
Palavras não podem explicar o quanto significa ouvi-lo dizer isso.
Para que meu companheiro aceitasse meu passado.
Estar aqui, bem ao lado dele novamente, assim como venho
sonhando desde que fui arrancada dele.
Eu me jogo em seus braços, beijando-o vorazmente, deixando suas
mãos reivindicarem meu corpo.
Podemos ser duas almas perdidas no submundo, mas nos
encontramos novamente agora.
O prazer de cada um dos toques de Logan é cem vezes mais forte por
causa do tempo que estivemos separados.
No fundo da minha mente, sei que deveríamos tentar encontrar uma
maneira de sairmos daqui juntos.
Mas a atração do nosso vínculo de acasalamento é muito forte,
abafando tudo, exceto o prazer elétrico que percorre meu corpo.
Só há uma coisa que eu quero.
Eu quero Logan dentro de mim.
Agora.
Capítulo 26
Everly

A sala está completamente silenciosa, exceto por nossos suspiros de


prazer e o crepitar da lareira.
Eu fecho meus olhos e gemo quando as mãos de Logan agarram
minha bunda. Eu puxo seu corpo para mais perto, me livrando de
qualquer espaço entre nós.
Ele levanta os braços enquanto tiro sua camisa molhada.
Eu corro minhas mãos sobre seu peito musculoso, saboreando a
firmeza de seu corpo mais do que nunca — porque eu quase perdi a
esperança de sentir isso novamente.
Suas mãos habilmente tiram minha camiseta, puxando meu short do
pijama para que ele caia no chão.
Ele beija meus seios nus e eu corro meus dedos sobre sua barba por
fazer enquanto sua língua começa a circular meus mamilos.
A antecipação se toma insuportável e meu corpo anseia por ele dentro
de mim.
— Logan..., — eu sussurro. — Eu quero você agora.
Ele me empurra contra a estante, pressionando seu corpo com força
contra o meu. Eu sinto sua dureza total sob sua calça jeans, implorando
para ser liberada, e minha mão toca suavemente a frente de sua calça,
sentindo sua protuberância enorme.
Ele rosna de prazer e agarra minha coxa, colocando meu pé na escada
da biblioteca para que minhas pernas fiquem abertas enquanto ele
esfrega avidamente meu ponto doce exposto.
Minha fenda está encharcada de ansiedade.
Eu rapidamente desfaço a fivela de seu cinto entre beijos
apaixonados, liberando seu membro latejante e guiando-o em direção às
minhas pernas abertas.
Ele puxa minha calcinha encharcada para o lado, deslizando-se
completamente para dentro.
Eu gemo e aperto suas costas para me apoiar, porque o prazer
avassalador faz meus joelhos começarem a ficar fracos.
Ele começa a meter, prendendo-me contra a prateleira e me
enchendo de arrepios de êxtase.
Eu agarro seu cabelo, perdida nas sensações intensas de cada golpe
entrando e saindo.
Ele começa a meter ainda mais forte, e eu sinto a prateleira começar a
tremer atrás de mim.
— Não pare! — Eu grito. — Por favor, não pare!
Ele se enterra dentro de mim, cada vez mais fundo, e eu mal percebo
quando a estante balança para frente e para trás, jogando alguns livros no
chão.
Eu sinto a onda crescente de êxtase subir dentro de mim, me
enchendo mais e mais com cada uma das estocadas de Logan.
Ele agarra meus quadris e me puxa em direção a ele com força, e eu
gemo seu nome enquanto ele me guia direto para um orgasmo perfeito.
O prazer preenche cada centímetro do meu corpo exatamente no
mesmo momento em que ele estremece e libera tudo dentro de mim.
Nós ficamos lá pelo que parece uma eternidade perfeita,
compartilhando beijos suaves e respirando pesadamente.
— Senti tanto a sua falta..., — digo sem fôlego.
Ele sorri enquanto eu olho em suas órbitas profundas de chocolate.
— Eu também senti sua falta, — diz ele. — Isso foi perfeito.
Mas agora que a paixão do momento passou, a realidade de repente
desaba sobre mim.
— Como vamos sair daqui? — Eu digo.
Ele me lança um olhar ligeiramente envergonhado.
— Sinceramente, eu não pensei mais à frente do que isso.
Eu não posso evitar, mas soltei uma pequena risada.
— Bem, aconteça o que acontecer, estamos juntos agora, — eu digo.
Ele acaricia meu cabelo, com um olhar pacífico em seu rosto.
— Isso é tudo o que importa para mim, — diz ele.
Phillipe

Sento-me no chão do meu quarto escuro.


Eu tentei lutar contra isso, mas minha mente é como um disco
quebrado, girando continuamente com pensamentos sobre Everly.
Eu não consigo parar de repetir as memórias de mim entrando em
seu quarto.
A maneira como eu quase a machuquei...
Eu sei que não posso confiar em mim mesmo com ela. É por isso que
me tranquei aqui, para não machucá-la novamente.
Mas, ainda assim, há uma voz irritante no fundo da minha cabeça que
me diz para ir até ela novamente.
Talvez, se você tentar de novo, ela finalmente ame você, diz a voz das
trevas. Ela quer você, mas ela ainda não sabe disso.
Tento afastar esses pensamentos, mas a cada vez eles voltam cada vez
mais fortes.
Eu simplesmente não aguento mais.
E se eu fizer um acordo comigo mesmo?
Não vou procurá-la, mas só quero vê-la mais uma vez.
Qual seria o mal nisso?
Eu não posso machucá-la se estou apenas olhando para ela... eu posso
me permitir muito.
Então, em minha mente, me concentro na imagem de Everly.
Onde você está, meu amor?
Mas quando a visão aparece na minha cabeça, meu sangue começa a
ferver.
Lá está ela, nua na biblioteca...
Sorrindo e beijando seu companheiro!
Isso... isso é impossível...
Como diabos ele chegou aqui?
Eu sou o único com o poder de permitir que as pessoas entrem e saiam
deste lugar Meu corpo começa a tremer incontrolavelmente enquanto os
vejo se abraçando.
Tire suas patas sujas décima dela! Eu quero gritar com ele.
É óbvio que acabaram de fazer sexo, o que me deixa enjoado.
O próprio pensamento dele estar dentro dela em meu reino me enche
de uma raiva mais forte do que eu já senti antes.
Como isso é possível?
Sinto meus dentes começarem a cerrar e meu corpo começa a tremer
por dentro, como um vulcão.
Só há uma coisa a fazer agora... diz a voz sombria na minha cabeça.
Puni-los. Darei a eles o que eles merecem.
Eu olho para trás mais uma vez, para Everly — a mulher que amo
mais do que tudo no mundo.
Ela parece tão feliz ali em seus braços...
Mas eu não suporto vê-la assim com qualquer outra pessoa além de
mim.
Sinto o monstro crescendo dentro de mim, forçando seu caminho de
volta à superfície.
Mas desta vez, simplesmente não há razão para lutar contra isso.
Então, eu simplesmente cedo.
A raiva e a escuridão aumentam, enchendo minha visão.
E eu perco todo o controle.
Logan

Sento-me ereto enquanto todo o palácio de repente começa a tremer


violentamente.
Eu agarro Everly com força, olhando em volta enquanto mais livros
caem no chão e o espelho na parede cai e se estilhaça em um milhão de
pedaços.
De repente, a lareira se apaga, envolvendo a sala na escuridão total.
— O que diabos está acontecendo? — Eu digo, olhando para Everly.
— É ele, — ela diz, com um tom de medo em sua voz.
Eu fico de pé e encaro a sala escura e barulhenta, me preparando para
uma luta.
A porta se escancarou.
Na porta, Phillipe aparece, com seus olhos negros cheios de uma raiva
assassina.
— Logan..., — ele sibila. — Que surpresa estranha.
Eu coloquei meu corpo na frente de Everly, mantendo-a atrás de
mim.
— Vamos, Phillipe, — eu o desafio. — Vamos fazer isso de uma vez
por todas. Só você e eu. Sem jogos, sem truques.
— Tudo bem, — ele responde. — Estava esperando por isso.
Eu sorrio, estalando meus dedos.
Se for uma luta justa, posso derrotar esse desgraçado sem problemas.
Eu fico olhando para o homem que manteve a mim e Everly
prisioneiros. O homem responsável por todas as nossas dores.
E agora, finalmente tenho a chance de consertar tudo.
A raiva sobe dentro de mim enquanto eu mudo para o meu lobo, indo
direto contra ele e jogando-o no chão.
Eu rosno, mostrando meus dentes enquanto agarro seu pescoço, mas
ele consegue me agarrar e me jogar do outro lado da sala antes que eu
possa chegar muito perto.
Meu lobo grita de dor quando eu bato na estante, quebrando-a.
Eu cambaleio para cima do chão, de volta em minhas patas,
recuperando o fôlego. Sua força é quase sobre-humana.
Ele vem para cima de mim e eu mudo para a defensiva, esquivando-
me dele e usando minhas garras para golpear suas costas.
Minhas garras afiadas cortam profundamente sua pele, mas ele se
vira, rápido como um relâmpago, e me agarra, me puxando para o chão.
Eu luto para sair debaixo dele, mas parece que uma montanha está
em cima do meu peito.
— Ei, idiota, — Everly diz atrás de nós. — Que tal um beijo?
Usando seus poderes, uma pilha de brasas sai flutuando da lareira. Ela
os transforma em uma bola de fogo e, com um aceno de mão, atira no
rosto de Phillipe como uma bala em chamas.
Ele ruge, me soltando e cambaleando para trás enquanto as brasas
queimam seu rosto.
Eu cambaleio, rosnando enquanto volto para uma posição de luta.
Vamos, filho da puta, eu posso te derrotar.
Eu disparo novamente contra Phillipe, mas ele se derrete nas sombras
antes que minhas mandíbulas possam afundar nele.
Em um instante, ele reaparece atrás de mim novamente, me
prendendo contra o chão.
Ele envolve sua mão em volta da minha garganta, com seus olhos
negros monstruosos brilhando de alegria enquanto ele aperta com mais
força.
Uma dor ardente dispara por todo o meu corpo enquanto eu engasgo,
e meu lobo começa a gemer.
Minha visão começa a ficar turva e envio uma rajada de garras afiadas
em sua pele.
Mas ele mal parece perturbado por elas.
— Se transforme de volta, — ele sibila. — Se renda.
Sinto meus ossos começarem a se condensar e meu pelo voltar para
os poros.
— Bom garoto, — ele sorri. — Eu quero que Everly veja você na forma
humana quando eu finalmente acabar com você.
— Você não pode me matar, — eu rosno. — Eu já estou morto.
— Você está absolutamente certo, — ele sussurra em meu ouvido. —
Mas eu posso fazer algo muito pior.
Eu ouço Everly gritar, e meus olhos se arregalam de horror quando eu
olho para ela.
Ela está presa contra a parede, com estranhas algemas de pedra
mantendo seus pés e mãos presos.
— Estou feliz que você veio aqui, Logan, — Phillipe diz. — Porque
agora eu posso fazer você assistir todos os dias enquanto possuo sua
companheira.
Ele saboreia a forma nua de Everly enquanto ela está presa contra a
parede.
— E você verá como aos poucos, dia a dia, ela começa a amar cada vez
mais estar comigo, — continua ele. — Logo, ela nem vai olhar mais para
você. Ela vai esquecer que você existiu.
Ele se inclina para perto de mim, com seus olhos negros brilhando
com uma alegria sádica.
— Posso não ser capaz de matar seu corpo, mas posso destruir sua
alma.
Capítulo 27
Phillipe

É isso.
É contra este momento que tento lutar desde que fiquei preso aqui.
O momento em que desisto de tudo e apenas deixo a escuridão me
possuir.
Eu sinto uma onda de poder inacreditável através de mim, de maneira
que meu corpo e minha mente ficam cheios de uma raiva pura e ardente.
Eu olho para baixo para Logan, que está parecendo abatido pela nossa
luta.
Antes de passar para Everly, quero fazer esse cachorro sofrer um pouco
mais.
Minha visão fica vermelha quando me levanto, chutando-o com toda
a força que posso nas costelas, sem parar, até que ele tosse sangue no
chão de madeira.
— Pare! Phillipe, por favor! — Everly grita atrás de mim.
Eu a ignoro, olhando para Logan, derrotado, caído no chão.
Em toda a minha vida, nunca odiei alguém mais do que odeio esse
homem.
O homem que roubou Everly de mim.
Ele tenta se levantar, mas eu pressiono meu pé em seu peito,
prendendo-o no chão.
— Everly é minha — eu rosno para ele. — A alma dela é minha. Seu
corpo é meu. O coração dela é meu.
Seu rosto ensanguentado olha para mim, mas seus olhos ainda
brilham com desafio.
— Você nunca vai possuí-la, — diz ele. — Não importa o que você
faça, ela nunca será sua.
— E por que isso? — Eu pergunto, sorrindo.
— Porque você não é nada além de um monstro.
Meu corpo fica tenso de raiva, e eu rujo e pego um pedaço de vidro
caído no chão perto do espelho quebrado.
Eu o levanto sobre minha cabeça, visando o coração de Logan.
— Phillipe, não! — Everly grita. — Por favor, farei qualquer coisa!
Eu paro, olhando para ela; lágrimas escorrem pelo seu rosto.
— Não o machuque..., — ela implora.
— Cale a boca, Everly, — eu sussurro.
— Não, eu o amo! — Ela diz. — E eu não vou assistir alguém que amo
ser morto bem na minha frente de novo.
Eu congelo. Seus gigantescos olhos esmeralda me encaram.
— Eu assisti isso acontecer com você, Phillipe. Não consigo ver isso
acontecer com Logan também.
Sinto meu corpo começar a tremer quando vejo meu flash de morte
diante de meus olhos.
Essas memórias do Banco de Sangue ficarão para sempre gravadas em
minha memória...
Eu sendo arrastado para longe de Everly...
Como ela gritou quando Lacroix me bateu até perder os sentidos...
Olhando em seus olhos monstruosos... aqueles olhos malignos sem alma...
Seu sorriso quando ele levantou uma estaca e a enterrou no fundo do meu
coração.
Eu solto o caco de vidro que estou segurando e ele se espatifa no
chão.
Como...
Como pode ser isso?
Tentei libertá-la naquela noite no Banco de Sangue da tortura de
Lacroix.
Mas agora, sou eu quem a mantém prisioneira.
Eu sou o único a torturá-la.
Sou eu quem a impede de estar com quem ela ama.
A raiva dentro de mim desaparece e eu sinto lágrimas quentes
começarem a escorrer pelo meu rosto.
Mesmo quando estava vivo, nunca havia chorado.
Mas a percepção de que me tomei exatamente como Lacroix é demais
para suportar.
Eu tropeço para trás, para longe de Everly e Logan, deixando as
pedras em torno de seus pés e mãos desmoronarem.
— Sinto muito, — eu digo. — Eu... eu vi que você finalmente teve a
felicidade que você sempre quis... e eu não podia suportar que não fosse
comigo.
Eu olho para minhas mãos trêmulas.
— Eu não sei como chegou a isso, Everly. Eu não sei como me tomei o
tipo de pessoa que mataria seu companheiro e aprisionaria você.
Eu fico olhando para Logan, que está sangrando e parcialmente
inconsciente dos meus golpes.
— Ele... ele te ama. Ele te ama tanto que ele estava disposto a morrer
por você, — eu digo. — E a razão de eu não suportar ver isso é porque eu
fiz o mesmo, Everly. Eu morri por você.
Seus olhos cravam em mim com tristeza.
— E sinto muito que isso tenha acontecido com você, Phillipe, — diz
ela.
— Você não por que estar, — eu digo suavemente. — Não foi sua
culpa que eu morri. Foi Lacroix.
Seus olhos se arregalam, cheios de esperança.
Eu sei agora o que tenho que fazer.
Eu estava com medo de me perder. Mas se eu não a deixasse ir, então
eu já estava perdido.
— Você precisa sair deste lugar, — eu digo. — Vocês dois.
Seu rosto se alarga em um sorriso brilhante.
— Eu vou devolver suas almas de volta para vocês, — eu continuo. —
Mas quando eu fizer isso, a escuridão assumirá totalmente o controle e
não haverá mais volta...
— Eu não sei no que vou me tornar, mas vocês não vão querer estar
aqui para ver isso.
Ela acena com a cabeça, voltando-se para Logan.
— Estamos indo para casa, Logan, — ela sussurra para ele.
Ele sorri fracamente e ela se inclina e beija seus lábios
ensanguentados.
Eu os vejo juntos, me sentindo mais leve do que nunca, como se
pudesse simplesmente flutuar para longe e desaparecer a qualquer
segundo.
Mas também estou apavorado com o que vai acontecer quando eu
deixar Everly ir.
No segundo que eu devolver sua alma, vou perder o que está me
prendendo à minha humanidade.
Vou perder tudo, e tudo o que vai sobrar de mim é o monstro.
Mas ao ver aqueles dois na minha frente, com seus sorrisos e sua
alegria, eu entendo algo.
Eu sei que, no fundo, é a coisa certa a fazer.
Everly

Eu fico olhando para os penetrantes olhos prateados de Phillipe.


Ele voltou. O homem que conheci uma vez.
A escuridão se foi, e esta pode ser a última vez que o verei assim.
— Primeiro, preciso devolver Logan ao seu corpo, — diz Phillipe.
Logan acena com a cabeça. — Estou pronto.
Ele se inclina sobre Logan, colocando a mão suavemente em sua
testa.
Phillipe fecha os olhos e uma luz azul emerge das pontas dos dedos,
fazendo o corpo de Logan brilhar.
A luz aumenta gradativamente, tomando-se insuportavelmente
ofuscante, até que de repente, um brilho ofuscante enche a sala.
Quando eu abro meus olhos, eu olho de volta para o chão.
Mas Logan se foi.
Eu me permito deixar escapar um suspiro de alívio.
Ele está seguro.
Logan voltou para casa.
Phillipe se vira para mim, com seus olhos prateados cheios de
emoção.
De alguma forma, fico triste por vê-lo assim depois de tudo o que
aconteceu entre nós.
— Todos aqueles anos atrás, eu queria ajudá-la a escapar e levá-la de
volta para casa, — diz ele. — Agora, parece que finalmente posso.
— Obrigada, Phillipe.
— Eu... sinto muito por tudo, — ele diz, com uma lágrima descendo
pelo seu rosto. — Espero que quando você se lembrar de mim, você se
lembre das coisas bonitas também.
— Eu vou, — eu digo.
Eu olho para o homem que amei uma vez.
Mas também o homem que me machucou, que me assustou, que me
aterrorizou, que me manteve trancada.
Não o amo mais, mas agora entendo a dor que ele carrega dentro de
si, a escuridão.
— Vou me lembrar de você como Phillipe, não o Príncipe das Trevas.
Ele sorrio fracamente.
— Adeus, Everly.
— Adeus, Phillipe.
Ele se inclina para frente, beijando-me suavemente na bochecha, e
quando o faz, uma luz azul pisca, iluminando a sala.
Sinto a energia fluir de volta para mim, enchendo-me de vida
renovada.
Minha alma é minha novamente.
Posso finalmente deixar este lugar.
Phillipe se afasta de mim.
Sua respiração está pesada, gotas de suor escorrem pela testa e ele
rapidamente fica mortalmente pálido.
— Agora vá! — Ele brada. — Rápido! Deixe este lugar o mais rápido
que puder! O portal está aberto agora. Voe de volta para lá.
Eu fico olhando para Phillipe quando ele começa a tremer
incontrolavelmente.
Ele ruge, colocando a cabeça entre as mãos enquanto seu corpo incha
e seus ossos começam a quebrar e expandir.
Eu ouço um som de trituração nauseante quando asas enormes
rasgam a pele de suas costas.
Seus músculos começam a crescer para um tamanho grotesco e
protuberante, e suas roupas se rasgam.
Ele olha para mim com terror, e seus olhos prateados brilham em um
vermelho brilhante.
— Vá embora, Everly! — Ele grita. — Antes que seja tarde!
Sinto meu coração afundar quando o vejo crescer cada vez mais,
gerando um conjunto de chifres pretos e dentes afiados.
Oh, meu Deus.
Não estou mais olhando para Phillipe.
Estou olhando para um monstro de verdade.
Capítulo 28
Everly

Eu corro pelo palácio o mais rápido que meus pés podem me levar,
tentando manter o equilíbrio enquanto todo o palácio treme
violentamente ao meu redor.
Pilares desabam ao meu lado, enviando nuvens de poeira para o ar.
Eu pulo sobre os destroços caídos, abrindo caminho pelos corredores
agora familiares em direção à única saída.
Finalmente, eu vejo.
Eu saio em campo aberto, com as flores cintilando pacificamente,
apesar dos rugidos violentos enchendo os corredores do palácio atrás de
mim.
Snow está esperando pacientemente e, quando me aproximo, há uma
expressão de medo em seus olhos grandes.
— Nós estamos indo para casa, — eu digo enquanto escorrego em
suas costas. — Mas temos que ir rápido.
Ela bate suas asas, nos levando para o alto e voando através da
enorme abertura no topo da caverna.
À medida que subimos, olho mais uma vez para a montanha gigante
atrás de nós.
A fumaça começou a sair do topo, e eu posso ouvir os gritos terríveis
de Phillipe ecoando lá dentro.
Estremeço ao pensar no que está acontecendo com ele lá dentro.
Mas espero que eu já esteja longe daqui quando ele sair.
Eu chuto levemente o lado de Snow, incitando-a a voar mais rápido
enquanto avançamos pelo submundo. Eu olho para baixo e, com certeza,
o portal está do outro lado.
Quando vejo o feixe de luz branca brilhando, um largo sorriso se
espalha pelo meu rosto.
Está aberto!
Phillipe estava dizendo a verdade.
Pego a crina de Snow e a guio para baixo, com o vento chicoteando
meu cabelo enquanto mergulhamos em direção à luz.
Entramos no portal e parece que estou flutuando enquanto tudo,
exceto a luz branca, desaparece por um momento.
E então, num piscar de olhos, emergimos da boca da caverna, voando
por cima das árvores prateadas da floresta.
O sol me cega instantaneamente e o calor do ar acaricia minha pele.
Eu rio em êxtase, deixando escapar um grito de felicidade no ar
enquanto subimos para o céu azul profundo que se estende
infinitamente acima de nós.
Eu fecho meus olhos e apenas deixo o momento me tomar.
Estou segura.
Estou livre.
Mas então, ouço algo ecoar atrás de mim.
Um grito.
Arrepio-me quando o ruído sobrenatural emerge de dentro da
caverna, enviando pássaros próximos voando para fora das árvores.
Eu me viro e olho para a boca escura da caverna, quando de repente
duas mãos gigantes com garras se estendem.
Não...
Você não pode estar falando sério...
Meu coração afunda quando vejo o corpo monstruoso de Phillipe
rastejar para fora da caverna.
Ele deve ter passado pelo portal antes de fechar...
Seus olhos vermelhos queimam de ódio quando ele se levanta,
desdobrando suas asas e soltando um grito que faz o ar tremer.
Ele está absolutamente gigante agora, talvez com quinze metros de
altura, elevando-se sobre as árvores da floresta.
— Snow! — Eu grito. — Vai! Vai! Vai! Vai! — Mas não preciso contar a
ela. Ela corre sobre as florestas prateadas, batendo as asas furiosamente
para se afastar da criatura demoníaca atrás de nós.
Eu olho para trás com horror para ver Phillipe disparar atrás de nós.
Este é o Príncipe das Trevas de verdade.
É contra isso que Phillipe sempre lutou dentro de si. E agora foi
liberado dentro do reino Fae.
Vejo a cidadela à distância e fico apavorada ao pensar no dano que
faria se me seguisse até lá.
Eu preciso mantê-lo o mais longe possível de todos aqueles Fae.
O monstro levanta as mãos, fazendo com que pedras se levantem do
solo, abrindo buracos gigantes no chão da floresta.
Eu puxo a crina de Snow para baixo, tirando-a do caminho enquanto
o monstro joga as pedras em nossa direção.
Uma das pedras voa bem sobre nossas cabeças, quase nos atingindo.
Merda, foi por pouco.
Eu me viro, evocando meus poderes para criar uma grande
tempestade.
As nuvens ficam tempestuosas e escuras, girando em tomo do
monstro.
Eu grito acima do vento uivante, formando uma rajada maciça sob o
monstro, prendendo-o em um poderoso tornado.
Isso deve mantê-lo ocupado...
Por enquanto.
Logan

Abro meus olhos de repente, respirando fundo.


Estou vivo.
Eu lentamente começo a mexer meus dedos das mãos e dos pés,
tentando lembrar como Cheguei aqui.
Eu olho para ver Jed e Delisia sentados no sofá. Seu braço está em
volta dela, e ela ri quando ele diz algo baixinho para ela.
Quando Delisia me vê olhando para ela, seus olhos se arregalam e ela
dá um salto.
— Oh, minha deusa, funcionou! — Ela grita. — Meu ritual
funcionou! Você está vivo! Você está bem?
Esfrego os olhos e tento me levantar, mas me sinto tonta quando uma
onda de náusea me atinge.
— Ei, ei, ei, relaxe, — ela diz, me guiando de volta para o sofá. — Você
acabou de ir para o submundo e voltar, não precisa fugir para nenhum
outro lugar. — Eu gemo, tentando controlar meus próprios
pensamentos, mas meu cérebro parece que acabou de ser reiniciado.
— Dá para acreditar, Jed? Primeiro ritual de morte temporário bem-
sucedido! — Delisia grita: — Livro de registros mágicos de Gwinn, aí vou
eu!
Eu agarro seu pulso e seu sorriso desaparece.
— Onde está Everly? — Eu gemo.
Seus olhos se arregalam. — Eu... eu não sei. Eu esperava que você
pudesse nos dizer isso.
De repente, ouço um grito horrível ecoar à distância em algum lugar.
— Que diabo é isso? — Ela pergunta.
Não...
Isso não pode estar acontecendo...
Eu me levanto, cambaleando até a janela e abrindo as persianas.
À distância, posso ver uma tempestade enorme, com relâmpagos
cegantes e ventos uivantes.
O que diabos está acontecendo lá fora?
De repente, sinto Everly ligar para minha mente.
— Logan, onde você está? — Ela pergunta ansiosamente.
— Eu estou no palácio, — eu me ligo de volta. — O que está
acontecendo? Onde você está?
— Eu preciso que você corra. Saia daí, AGORA!
— O quê? Por quê?
— É ele, Logan. Phillipe. Ele escapou. — Antes que eu possa reagir,
ouço um grande estrondo, fazendo o palácio tremer, e tenho que me
agarrar a um sofá próximo para ficar de pé.
Um barulho horrível de algo quebrando faz todo o prédio tremer, e
uma grande parte do telhado é arrancada de repente.
Pego Delisia e Jed e os puxo para trás do sofá, agachando-me fora de
vista.
— O que diabos está acontecendo? — Ela pergunta ansiosamente.
Só então, um olho demoníaco vermelho gigante e brilhante olha pela
janela, examinando a sala.
Até que seu olhar assassino pousa bem sobre mim.
Capítulo 29
Logan

Eu fico olhando nos olhos do monstro — vermelhos como o fogo do


inferno.
Seu olhar parece dizer apenas uma coisa.
Mate.
— CORRA! — Eu grito e saio em disparada da sala de estar com Jed e
Delisia no meu encalço.
O monstro ruge e o palácio começa a tremer enquanto ele estica seu
enorme braço para nos agarrar.
Mas pouco antes de sua garra se fechar sobre nós, explodimos por
uma porta e cambaleamos para a sala do trono principal.
Eu olho para o telhado ornamentado, cheio de joias e mosaicos
coloridos representando a realeza Fae.
Não é exatamente a melhor proteção contra o gigante lá fora.
Eu me viro para Jed. — Existe algum lugar melhor protegido neste
palácio? Uma sala segura? Algo subterrâneo? — Eu pergunto.
Jed balança a cabeça. — Somos um reino pacífico. Nunca houve
nenhuma necessidade!
O teto da sala do trono começa a tremer, e posso ouvir o monstro do
lado de fora, batendo os punhos no teto, procurando por nós.
Delisia ergue os olhos.
— Esse telhado não vai durar muito por si só, mas posso lançar um
feitiço de proteção para mantê-lo afastado pelo tempo que puder.
— Faça isso! — Jed grita quando rachaduras começam a aparecer no
teto.
— Não! — Eu grito. — Everly ainda está lá fora. Não podemos
simplesmente nos isolar aqui se ela ainda estiver em perigo.
— Então o que diabos devemos fazer? — Delisia grita.
Eu fecho meus olhos, ligando para a mente de Everly.
— Onde você está? Você está bem?
Mas antes que eu possa ouvir qualquer resposta, o telhado se estilhaça
acima de nós, enviando cacos de madeira e pedra em nossa direção.
Eu pulo para fora do caminho, mal me esquivando de um lustre que
está caindo, e olho de volta para o novo buraco acima de nós.
Jed geme — ele foi pego por uma enorme viga de madeira.
Delisia olha para ele com horror e se vira para mim. — Eu tenho que
lançar o feitiço. AGORA!
— Não, espere! — Eu grito.
— Onde você está, Everly? — Faço uma ligação mental, ignorando o
grito de gelar os ossos do monstro acima.
Ele levanta sua garra, prestes a bater com o punho em nós, quando de
repente, eu vejo algo voando pelo ar acima dele.
— Estou aqui, — Everly liga sua mente de volta.
Meu coração se enche quando a vejo mergulhar, usando uma forte
rajada de vento para pegar destroços espalhados por todo o chão do
palácio e jogá-los no monstro.
Ele grita de dor e tenta acertá-la no ar, mas ela se esquiva
rapidamente, mergulhando direto no buraco e caindo no chão do
palácio.
Ela escorrega graciosamente de seu Pégaso, lançando mais pedaços de
destroços e empurrando o monstro para trás.
Eu me viro para Delisia. — Ok, hora do feitiço agora!
Delisia acena com a cabeça e fecha os olhos. Ela levanta as mãos
acima da cabeça, murmurando algumas frases mágicas enquanto uma
barreira estranha, colorida e bruxuleante surge sobre o buraco no teto.
O monstro se recupera dos ataques de Everly, levantando-se e
parecendo mais furioso do que nunca. Ele ergue os punhos, batendo na
barreira, mas a barreira emite um clarão ofuscante e os golpes do
monstro apenas ricocheteiam.
Delisia recua visivelmente com o ataque, mas ela segura a barreira,
cerrando os dentes.
— Quanto tempo você consegue segurar? — Everly pergunta.
— Eu segurei por algumas horas antes, quando Alfa Damon atacou a
matilha. Mas este palácio é muito maior. Então, eu não sei... alguns
minutos, no máximo.
O monstro grita acima de nós, jogando seus punhos repetidamente
contra a barreira mágica.
Delisia geme, cravando os calcanhares no chão e se preparando
contra cada impacto.
De repente, um pequeno jato de sangue escorre de seu nariz.
Quando Jed vê, ele consegue empurrar os escombros de cima dele e
corre até ela.
— Você está bem? — Ele pergunta, com uma expressão preocupada
em seu rosto.
— Não consigo aguentar por muito mais tempo! — Ela grita.
— O que posso fazer para ajudar? — Ele pergunta.
— Preciso de energia e pensamentos positivos para alimentar o feitiço
de proteção, — diz ela, cerrando os dentes. — Então, se você tem alguma
dessas coisas agora, sou toda ouvidos.
Ele sorri e dá a ela um olhar determinado.
— Bem, eu ia esperar para te dizer isso até depois que
sobrevivêssemos ao ataque do monstro..., — ele diz, procurando pelas
palavras certas.
— Mas mesmo que acabemos de nos conhecer... Eu sinto que te
conheço desde sempre. Parece que durante toda a minha vida, eu estava
apenas esperando você aparecer do nada.
Um sorriso cresce em seu rosto, e a barreira acima de nós começa a
brilhar mais forte.
— Você é a garota mais linda que eu já vi, e eu prometo a você, se
sairmos vivos hoje, eu vou te levar para um encontro.
A barreira começa a brilhar, fortalecida contra os ataques do monstro.
Delisia se vira para Jed e sorri.
— Você só estava dizendo isso para o feitiço, não é?
Ele sorri. — Não. Ponho minha vida em cada palavra.
Everly

Eu me afasto de Jed e Delisia em direção a Logan, correndo até ele e


me jogando em seus braços.
Beijo seus lábios macios repetidamente, passando minhas mãos por
suas bochechas e peito.
Estamos vivos e juntos novamente.
Ele sorri e me puxa com força, e saboreio a sensação calmante do
toque do meu companheiro mais uma vez.
Mas qualquer sensação de alegria que começo a sentir por nós dois
escaparmos do submundo é roubada pelo caos da situação.
O monstro acima de nós está a apenas alguns instantes de entrar.
Eu trouxe o monstro comigo.
Enquanto eu voava sobre o reino Fae em direção ao palácio, vi os
destroços que ele derrubou em seu caminho.
O palácio está praticamente em pedaços, e este monstro não parece
ter a intenção de parar até que destrua tudo neste reino.
— Logan..., — eu sussurro. — Acho que sei uma maneira de parar esse
monstro.
Ele olha para mim, com confusão em seu rosto.
— Que diabos você está falando?
— Phillipe saiu do portal para o submundo atrás de mim. É minha
culpa que ele está destruindo todo este reino.
— Não, não é, Everly.
— Sim, é, — eu digo, sentindo meu coração quebrar no meu peito. —
Talvez eu devesse apenas ter ficado com ele... Então nada dessa
destruição teria acontecido.
O palácio começa a tremer ainda mais, e eu olho para cima, vendo
que a barreira já está ficando mais fina.
— Acho que a única coisa que pode impedir esse monstro é eu me
entregar.
Logan agarra meus ombros, com seus olhos cheios de raiva.
— Você está brincando comigo? Eu apenas MORRI para te trazer de
volta. Não há a mínima chance de você se trocar depois de tudo que
passamos.
— Mas...
— Não, — ele diz, me interrompendo. — Você não pode
simplesmente negociar sua vida como se fosse uma mercadoria, como se
sua vida significasse tão pouco. Everly, você vale muito mais do que pode
imaginar. Você vale tudo para mim.
Ele pega minha mão, beijando-a.
— E eu nunca vou deixar você ir de novo.
Uma lágrima escorre pela minha bochecha enquanto suas palavras
afundam.
Mas então, o feitiço de barreira de Delisia quebra, e ela cai no chão,
exausta.
O céu está exposto acima de nós, e a garra gigante do monstro chega
lá dentro.
Pego a mão de Logan, puxando-o atrás de mim enquanto corremos
para a porta da próxima sala.
Mas antes que possamos chegar lá, os dedos do monstro envolvem
Logan, quase o esmagando quando o monstro o levanta do chão.
— Everly! — Ele grita enquanto se eleva pelo ar, em direção ao rosto
demoníaco do monstro acima de nós.
— LOGAN! NÃOOOOOOOOO! — Eu grito enquanto o monstro
desequilibra a mandíbula, abrindo bem a boca.
Existem dezenas de fileiras de dentes tortos e afiados.
Corro em direção a Snow, na esperança de voar e salvá-lo.
Mas é muito tarde.
O monstro joga Logan em sua boca e o engole inteiro com um
nauseante som.
Capítulo 30
Everly

Meu coração para por um momento quando Logan desaparece na


boca do monstro.
Não...
Não pode ser...
Depois de tudo que passamos...
Meu companheiro se foi.
O monstro faz um barulho nauseante ao engolir, e todo o meu corpo
fica dormente. Eu congelo, me sentindo vazia.
Eu só quero rastejar em uma bola e desistir.
Mas então, eu olho para o monstro que tem sido responsável por toda
essa dor, e uma fúria ígnea irrompe dentro de mim.
Uma raiva mais poderosa do que qualquer coisa que já senti corre em
minhas veias. Meu cérebro desliga e meus poderes voltam rugindo, mais
poderosos do que nunca.
Só de pensar em Logan me dá a sensação de que meus poderes podem
fazer qualquer coisa.
E eu só quero fazer uma coisa agora.
Matar esse monstro.
Eu levanto minhas mãos, sentindo minha magia puxar cada gota de
água em um raio de dezesseis quilômetros.
Eu fecho meu punho, trazendo todas juntas para criar uma onda
enorme, disparando tudo em direção ao monstro com uma velocidade
furiosa.
A onda colide com seu corpo, mandando-o de volta ao chão.
Eu salto nas costas de Snow, voando pelo buraco no teto. O monstro
caído esmagou metade dos jardins do palácio, que agora parecem um
pântano da minha onda.
Ele se esforça para se levantar, mas antes que possa ter a chance, eu
levanto minhas mãos, pegando dezenas de milhares de pedras debaixo do
solo.
Eu os levanto no ar com meus poderes e, uma vez que estão todos
acima dele, eu os jogo no chão como um tornado de balas em cima dele.
O monstro geme de dor.
Eu levanto minhas mãos novamente, tentando invocar algo que possa
acabar com esse desgraçado de uma vez por todas.
No entanto, se recuperando mais rápido do que eu esperava, o
monstro tenta me chutar no ar e eu tenho que desviar para fora do
caminho em cima de Snow.
O monstro se levanta, prestes a atacar novamente, quando um borrão
preto se lança pelo céu, chicoteando o rosto do monstro e fazendo-o
rugir de dor.
É Jed, montando seu Pégaso Midnight.
Seu cabelo comprido flui com o vento, e sua espada brilha à luz do sol
de onde ele cortou o rosto do monstro.
Eu invoco meus poderes, criando uma nuvem negra de tempestade ao
nosso redor. A raiva que sinto por dentro faz com que a nuvem solte um
estrondo e um relâmpago é disparado, atingindo o monstro.
Deve ser isso.
Isso deve acabar com isso de uma vez por todas.
Mas quando a nuvem se dissipa, eu fico olhando incrédula para o
monstro.
Está coberto de cortes e seu rosto está sangrando, mas não parece
mais fraco do que quando começou. Cada um dos meus ataques mal o
afetou.
Meu coração para por instantes, sentindo um desespero tomar conta
de mim.
Não há nada que eu possa fazer?
Mas de repente, o monstro começa a gemer, agarrando seu estômago.
Ele se curva e posso ver algo se movendo sob a pele de seu torso.
E então, o que quer que seja explode de dentro.
Eu mal posso acreditar em meus olhos quando vejo Logan — em
forma de lobo — cair de quatro, com seu pelo encharcado de sangue.
Eu não posso acreditar.
Ele está vivo!
Ele arranhou seu caminho para fora de dentro do monstro.
O monstro geme, caindo de volta no chão com um enorme BAM.
agarrando a ferida aberta em seu estômago.
Eu caio ao lado de Logan enquanto ele se transforma de volta.
Ele me encara, com seus olhos ferozes. — É hora de terminar isso,
Everly.
Eu aceno, virando-me e olhando para o rosto horrível do monstro.
Sua cabeça gigante está voltada para mim, e seus olhos vermelhos
caídos se transformam em prata enquanto me encaram fracamente.
Eu ouço a voz de Phillipe ecoar na minha cabeça.
— Por favor, não posso mais viver assim, — diz ele. — Eu não posso
viver com toda essa escuridão. Eu preciso ser livre.
O monstro geme de dor.
— Eu deixei você ir, — a voz de Phillipe diz. — Agora é hora de me
deixar ir.
Eu aceno, sentindo meu coração ficar mais pesado enquanto vejo o
monstro fechar os olhos.
— Apenas me prometa novamente, Everly..., — a voz de Phillipe
continua, ficando cada vez mais fraca com cada palavra. — Se você algum
dia se lembrar de mim, não se lembre apenas da escuridão... Por favor,
lembre-se da bondade também.
Eu aceno, sentindo as lágrimas quentes começarem a escorrer pelo
meu rosto.
— Ok, eu prometo.
Eu vejo como os movimentos do monstro se tomam difíceis, sua pele
ficando dura e cinza.
A enorme criatura para de se mover, de repente, transformando-se
completamente em pedra.
E então, em um instante, ele se desintegra, enviando uma enorme
nuvem de cinzas em todas as direções.
O ar está mortalmente silencioso, como se o mundo estivesse
prendendo a respiração enquanto as cinzas caem do céu como neve.
Eu sinto os braços de Logan me envolverem de forma reconfortante
enquanto eu olho para o espaço vazio na minha frente, onde ele
costumava estar.
Mas não tem como ele voltar desta vez.
Phillipe se foi.
E sua alma está em paz agora.
Capítulo 31
Everly

Eu acordo no dia seguinte com o sol brilhando diretamente no meu


rosto.
Estou grata pelo calor. Com o telhado arrancado do palácio, tivemos
que passar a noite em um colchão de ar, abraçados um ao outro para nos
proteger do ar frio da noite.
Logan ainda está dormindo ao meu lado. Eu me inclino e beijo ao
longo da ponta de seu nariz. Eu nunca vou tomar as manhãs como
garantidas novamente se eu conseguir acordar ao lado dele.
Já faz muito tempo e eu sinto muito a falta.
— Olá. dorminhoco, — eu sussurro.
Ele pisca lentamente, abrindo os olhos, semicerrando os olhos por
causa do sol.
— Como você dormiu? — Eu pergunto.
— Como um bebê, — diz ele. — Como um bebê que acabou de entrar
em guerra com o príncipe do submundo.
Eu rio e aninho na curva de seu braço, respirando o ar da manhã.
Mas o cenário não é totalmente pacífico. Há sons altos e não
identificáveis vindos dos jardins do palácio.
— Oh, Deus..., — diz Logan. — E agora? Não podemos apenas ter um
momento de paz?
— Vamos ver o que está acontecendo lá fora, — eu digo, pulando do
colchão.
Estou fora do submundo e finalmente livre. Eu não vou tomar isso
como garantido. Por mais extravagante que pareça, quero aproveitar o
dia.
Caminhamos pelas ruínas do palácio. Quando alcançamos a área que
já foi os jardins do grande palácio, eu suspiro de admiração com a visão
na minha frente.
Centenas de Fae se reuniram de todo o reino para ajudar a reconstruir
o palácio.
Aqueles com poderes da terra estão esculpindo novos tijolos de pedra,
enquanto aqueles com poderes do ar os erguem e colocam, peça por
peça, reconstruindo as paredes do palácio.
Os Fae que podem controlar o fogo estão queimando habilmente os
escombros e destroços, enquanto aqueles com poderes de água estão
lavando as cinzas.
É uma bela cena: todos trabalhando juntos em perfeita cooperação.
— Incrível..., — eu sussurro.
— Sério..., — diz Logan. — Se algo precisa ser feito na casa da matilha,
leva semanas de planejamento e preparação. E ainda assim Cole vai
chegar tarde e de ressaca.
Eu não posso deixar de rir. Ele está totalmente certo.
Não quero ficar de braços cruzados enquanto todo mundo está
trabalhando, então começo a agir.
Há uma estátua caída perto de um famoso curandeiro Fae.
Canalizando uma rajada de vento, sou capaz de colocá-la de volta no
lugar em seu pedestal.
— Muito melhor, — eu digo.
Logan pega minha mão e começamos a caminhar pelos jardins,
acenando para os voluntários Fae enquanto avançamos.
Quando chegamos à orla da floresta, com o canto do olho vejo Delisia
e Jed sentados terrivelmente próximos um do outro em um banco.
Ambos estão sorrindo amplamente e Delisia tem a mão apoiada
suavemente em seu braço.
— Uau, está realmente acontecendo, — eu digo, mantendo um olhar
atento sobre eles. — Quem diria que o romance poderia florescer em
uma época como esta?
— Ei, se você acha que está prestes a morrer nas mãos de um monstro
demoníaco, todos os sentidos são intensificados... incluindo atração.
— Isso é incrível, — eu digo. E eu digo de verdade.
Tenho desejado que os dois encontrem a felicidade, mas nunca pensei
em deixá-los juntos. Agora que penso nisso, eles são uma combinação
perfeita. Ambos são incrivelmente talentosos e ferozmente
independentes. E têm corações enormes.
Enquanto os espionamos, Jed se inclina e beija Delisia. É apaixonado.
Posso ver as faíscas voando a seis metros de distância.
— Arranjem um quarto! — Logan grita para eles, e eu dou uma
cotovelada nele.
— Não tome isso estranho para eles, — eu sussurro.
Mas Delisia não parece perturbada. Ela apenas olha para nós e nos dá
um sorriso diabólico.
Então, com um aceno de mão, ela lança um feitiço e uma parede de
lindas rosas vermelhas cresce do chão, obscurecendo nossa visão.
— Ela é uma bruxa, não é? — Logan diz e eu rio.
Eu me viro, de frente para o palácio novamente, e sinto os braços de
Logan me envolvendo.
Grande parte do palácio já foi reparado, mas ainda há muito trabalho
a ser feito.
Quando estiver de volta à sua antiga glória, meu companheiro e eu
podemos finalmente voltar para casa, onde pertencemos.
Logan

Eu seguro Everly com força, respirando o doce perfume de seu cabelo.


Minha companheira é a joia mais preciosa de qualquer reino, e quase
a perdi.
Quase parece um sonho agora que a tenho ao meu lado novamente.
Não vou deixar que nos separemos de novo nesta vida.
— Everly, — eu digo de repente. — Eu preciso falar com você.
Ela se vira e me olha com olhos inquisitivos. Eu pego sua mão e a levo
até um gazebo próximo.
Eu a sento na escada e olho para ela atentamente.
Sua pele brilha ao sol da manhã e seus olhos cor de esmeralda brilham
mais intensamente do que nunca. Ela passou muito tempo na escuridão,
mas uma beleza como esta merece a luz.
— Eu disse a verdade ontem, — eu começo. — Nada do que
aconteceu aqui... a destruição do palácio, a morte de Phillipe... Nada
disso foi sua culpa.
Ela olha para o chão, mas pego seu queixo e o levanto novamente. Eu
preciso que ela veja o quão sério estou.
— Me mata pensar que você se culparia apenas porque se recusou a
desistir de sua vida e de seu futuro para salvar aquele homem.
— Eu apenas me sinto mal...
— Eu sei que você se sente mal. Mas preciso que você me prometa
uma coisa, Everly.
— O quê? — Ela me pergunta.
— Eu preciso que você prometa que nunca vai trocar sua vida pela de
outra pessoa. Não por mim. Não por ninguém na matilha, — eu digo. —
Você foi uma prisioneira por muito tempo. Sua vida pertence a você
agora, e a mais ninguém, ok? — Ela não responde. Eu olho
profundamente em seus olhos e ainda posso detectar traços de culpa e
angústia.
— Você não é uma mercadoria, Everly, — eu digo.
— Você não é algo para ser negociado de um lado para outro como
um peão. Você é uma pessoa com mente e vontade própria. Não deixe
ninguém te fazer esquecer isso.
Uma única lágrima cai em sua bochecha e eu a enxugo.
— Obrigada. Logan, — ela diz. — Eu prometo.
Quando ela diz essas palavras, dou um suspiro de alívio porque
acredito nela.
— E mais uma coisa, — eu digo. — Eu percebo que só conheço uma
fração da tortura e dor que você suportou em sua vida.
— Quero que você sinta que pode compartilhar tudo comigo, mesmo
que ache que isso possa me deixar chateado. É muito pesado para você
carregar sozinha.
— Não tenho certeza se você quer ouvir esse tipo de coisa. Logan, —
diz ela. — Meu passado era um lugar muito sombrio.
— Bem, nós acabamos de derrotar a manifestação física da escuridão
juntos, — eu digo com um sorriso encorajador. — Se podemos fazer isso,
podemos fazer qualquer coisa.
— Você está certo. — ela diz, e eu a puxo para o meu peito.
Ela levanta o queixo para me encarar e meus olhos se fixam em seus
lábios rosados como pétalas. Eu os beijo e me sinto envolta no calor de
sua ternura.
Neste momento, sentado ao sol no jardim do palácio Fae, segurando
minha companheira perto de mim, minha vida finalmente parece
completa novamente.
Capítulo 32
Everly

Poucos dias depois, o palácio Fae está praticamente de volta à sua


antiga glória. Por mais bom que seja passar esse tempo extra com minha
família, posso dizer que Logan está ansioso para voltar para a casa da
matilha.
Sinceramente, eu também estou.
Tenho saudades dos meus amigos, da minha matilha e da minha
cama.
Quando chego ao grande salão para o café da manhã, ele está lotado
com todos os Fae que doaram seu tempo para ajudar a consertar o
palácio.
Agora que todo o trabalho está feito, todos parecem relaxados e
felizes enquanto se deliciam com a comida que cobre cada mesa.
Encho um prato de comida e me sento à mesa com meu tio, tia, Jed e
Delisia, que já estão mergulhando nas refeições.
Quando terminamos de comer, meu tio pega seu copo de suco de
laranja e o bate suavemente com a ponta de sua faca de manteiga.
Todos nós olhamos para ele quando ele começa um brinde. — Eu só
queria aproveitar esta oportunidade para agradecer a Everly e Logan por
salvar o reino daquela besta monstruosa. Vocês se sacrificaram tanto para
que possamos viver em paz novamente.
— Não estou em suas vidas há muito tempo, mas vocês ainda me
protegeram, mesmo quando isso significou colocar seu palácio e seu
povo em perigo, — eu digo. — Eu deveria estar agradecendo vocês.
— É para isso que serve a família, — diz minha tia, e eu concordo com
a cabeça pela sua bondade.
— Logan e eu vamos voltar para nossa matilha hoje, — eu digo. — É
hora de voltarmos e ver como eles aguentaram sem nós.
— Achei que esse dia estava chegando, — diz meu tio. — Embora eu
desejasse que você ficasse mais um pouco.
— Sentiremos saudades de vocês dois, — Jed interrompe. — Tem sido
um prazer lutar contra monstros com você.
— Voltaremos em breve, — diz Logan. — E adoraríamos receber
todos vocês na casa da matilha.
Eu olho para Delisia e vejo que o braço de Jed está enrolado em sua
cintura. Os dois estão praticamente inseparáveis nos últimos dias.
— Você vem conosco hoje? — Eu pergunto a ela.
Ela olha para Jed por um momento e ele lhe dá um sorriso suave. Ela
olha para mim e para Logan.
— Você sabe, — diz ela, — tenho mais alguns feitiços e poções que
gostaria de experimentar usando plantas do reino Fae.
— Feitiços e poções, hein? — Logan diz com uma risada.
— Divirtam-se vocês dois, — eu digo.
— Não fique para sempre, Delisia, — Logan diz. — Eu não sei como
vou manter a matilha de pé sem você.
Afasto meu prato e me levanto da cadeira.
— Devemos fazer as malas, então, — eu digo.
— Everly, espere... — meu tio diz. — Uma última coisa.
Ele também se levanta da cadeira e vem até mim.
— Vejo que o colar de sua mãe... sua chave do portal para o reino
Fae... não está com você, — ele diz.
Minha mente volta para aquele momento horrível no submundo
quando eu realmente pensei que toda esperança estava perdida.
— Bem, — diz meu tio, colocando a mão no bolso da jaqueta, —
mandamos fazer isso especialmente para você.
Ele puxa uma longa caixa de veludo vermelha e a entrega para mim.
Eu abro e não posso deixar de ofegar.
No interior, há uma bela pulseira de ouro com três safiras
perfeitamente no centro.
— É lindo, — eu digo enquanto Logan dá uma olhada por cima do
meu ombro.
— Uau, — ele concorda. — Eu terei que melhorar meus presentes se
este for o padrão.
— Ajude-me aqui, — digo a ele.
Ele aperta a pulseira no meu pulso.
Está um pouco solta, mas com certeza vou redimensioná-la quando
chegar em casa.
— Obrigada, obrigada! — Eu digo, correndo até minha tia e meu tio e
dando um aperto forte em ambos.
— Esperamos que você use essa chave do portal com frequência, —
diz minha tia. — Por favor, vê se não suma.
— Claro que não, — eu digo.
Eu sopro beijos para todos eles e, em seguida, Logan e eu
desaparecemos no corredor para nos preparar para nossa jornada de
volta para a casa da matilha.
Quando estamos todos prontos para ir, Logan e eu nos encaramos
através do espelho do nosso quarto.
— Está pronta? — Ele me pergunta.
Já que o tempo passa mais rápido no reino Fae, perdi a noção de
quanto tempo realmente estivemos fora da casa da matilha.
— Eu deveria estar te perguntando a mesma coisa, — eu digo.
— Depois de tudo o que passamos, — diz ele, — é melhor que tenham
um maldito desfile esperando por nós quando voltarmos.
Com isso, ficamos de mãos dadas e saltamos pelo espelho e voltamos
para o nosso mundo.
Logan

Pousamos ao lado do espelho no quarto de nossa casa da matilha.


Espero que minha cabeça esteja girando quando me levanto, mas viajar
entre os reinos ficou mais fácil e acho que estou me acostumando.
Por mais que eu queira rastejar imediatamente para o conforto da
nossa própria cama e fazer safadezas com Everly, também estou
desesperado para ver meus amigos e descobrir como tudo está indo.
Eu saio para o corredor e vou para a sala de jantar, que geralmente
está cheia de membros da matilha em todas as horas do dia. Mas está
vazio.
Eu olho para Everly com um olhar questionador.
— Isso é estranho, — ela diz.
Voltamos para o corredor e continuamos nossa busca. É quando ouço
o som distante de vozes vindo da sala de conferências.
O que está acontecendo?
Pego a mão de Everly e acelero o passo, parando na porta da sala de
conferências.
Abro a porta e vejo o Ancião Harrison e Cole em pé na frente da sala
discutindo, enquanto o resto do conselho fica sentado ao redor deles em
silêncio.
Mas quando Everly e eu entramos, todos os rostos na sala se viram
para nos olhar com expressões de pura surpresa.
— O que está acontecendo aqui? — Eu pergunto, tentando manter
meu tom casual.
— Oh, graças a Deus você está de volta, — Cole diz, correndo em
minha direção e puxando Everly para um abraço. Meu pai aperta minha
mão. Minha mãe permanece sentada, mas enxuga uma lágrima de alívio.
Pela expressão no rosto de Harrison, ele não compartilha o mesmo
sentimento.
— Sobre o que é esta reunião? — Eu pergunto a Cole.
— Desde que você partiu para salvar Everly, eles estão tentando
decidir sobre alguém para substituí-lo como Alfa, — diz ele. — Mas não
se preocupe. Eu não iria deixá-los fazer isso com você. Eu sabia que você
voltaria.
— Há quanto tempo estou fora exatamente? — Eu pergunto. Nunca
entendi a diferença de tempo entre os reinos.
Cole olha para o relógio e depois para mim.
— Cerca de seis horas, — diz ele.
Eu olho ao redor da sala em estado de choque. Este conselho tem me
desafiado desde que assumi como Alfa. Mas nunca pensei que eles iriam
rebaixar-se a ponto de usar o sequestro da minha companheira como
uma oportunidade para planejar um golpe.
— Estou fora por meio dia e você já está tentando me derrubar? — Eu
pergunto, indignado.
— Você deve entender, Alfa, — Harrison começa, — você partiu em
uma missão suicida para salvar sua companheira. Não sabíamos se você
voltaria. Ou se você estaria apto para governar no caso de sua
companheira não voltar viva.
Eu estremeço com suas palavras.
— Bom, Everly e eu passamos pelo inferno e voltamos. Literalmente,
— eu digo. — E voltamos mais fortes do que nunca. Eu gostaria de ver
qualquer um de vocês, membros do conselho, tentar ficar no nosso
caminho.
A sala está tão silenciosa que você pode ouvir um alfinete cair. Parece
que consegui afetá-los.
— Agora que estamos todos reunidos aqui, — digo, tentando
recuperar minha compostura, — por que vocês não me contam o que
está acontecendo na matilha enquanto estive fora.
— As coisas têm estado bastante estáveis, — diz Cole. — Em nosso
reino, você não se foi por muito tempo. Portanto, não há muito o que
relatar.
Exceto...
— Exceto o quê? — Eu pergunto.
— É o prisioneiro, — diz Cole. — Ela não vai falar. Ou dormir. Ou
comer. Estamos preocupados que ela vá morrer de fome.
— Prisioneiro? — Everly pergunta, falando pela primeira vez desde
que entramos na sala. — Quem é o prisioneiro?
Oh, merda.
Acho que em todo o caos dos últimos dias, esqueci de contar a ela...
— A questão é, Everly... quando eu estava procurando por você, eu
precisei fuçar em seu passado. Então, capturamos Victoria Dupont.
Everly respira profundamente. — A senhora Dupont está aqui? Na
casa da matilha?
Eu aceno de maneira sombria e o rosto de Everly se contorce em uma
expressão que eu nunca vi antes.
Uma que me arrepia profundamente.
— Leve-me até ela. Agora, — diz Everly.
Capítulo 33
Everly

Não posso acreditar que Dupont esteja aqui, em minha casa de


matilha.
Eu pensava que seria capaz de sentir a escuridão de sua presença.
Afinal, aquela mulher me torturou por anos a fio.
Ela era a mão direita de Lorde Vlad Lacroix, executando todos os seus
horríveis caprichos.
Nunca entendi como ela poderia abusar de outras mulheres e mantê-
las prisioneiras no Banco de Sangue.
Mas agora ela é minha prisioneira. Eu finalmente tenho a chance de
fazer a ela perguntas que vêm queimando em minha mente há anos.
Quando destruímos o Banco de Sangue, pensei que nunca mais a
veria.
Mas o destino tinha outros planos. E agora estou prestes a ficar cara a
cara com uma mulher que assombra meu sono.
Logan me leva através da casa da matilha para um conjunto de
escadas que é guardado por dois guardas de segurança. Ele acena para
eles e nos deixam passar.
À medida que caminhamos para a prisão da casa da matilha, eu
observo meus arredores. Eu nunca estive aqui antes.
Esperava ver uma masmorra fria e úmida, como a que eles tinham no
Banco de Sangue. Mas este lugar não é nada disso. Parece mais um
hospital esterilizado do que uma prisão.
Ele me leva a uma porta branca no final do corredor, mas para antes
de abri-la.
— Ela está aí? — Eu pergunto.
— Sim. Tem certeza de que vai ficar bem? — Ele me pergunta. — Eu
sei que isso não pode ser fácil e...
— Eu preciso fazer isso, Logan, — eu digo, e abro a porta.
Dentro da sala, não há nada, exceto por uma única cela feita
inteiramente de vidro.
— Não se preocupe, — Logan diz enquanto eu olho para ele. — O
vidro é à prova de balas.
Curvada no canto da cela, eu a vejo.
Victoria Dupont.
Ou, como éramos forçados a chamá-la: Senhora Dupont.
Ela está curvada na cama do outro lado da cela, com o rosto entre as
mãos, e o cabelo longo, escuro e encaracolado preso em um coque
bagunçado.
— Ela pode me ouvir? — Eu pergunto a Logan.
Mas em vez de uma resposta do meu companheiro, uma voz suave e
fraca me responde.
— Sim, Everly, — ela diz. — Eu posso te ouvir.
A Senhora Dupont olha para mim e fico chocada com sua aparência.
Ela parece mais velha do que da última vez que a vi. Seu rosto
normalmente maquiado está completamente nu, revelando bolsas
grandes sob os olhos.
Eu olho para o meu companheiro, que está olhando para mim com os
olhos arregalados, antecipando minhas reações.
— Me deixe sozinha com ela, — digo a Logan.
— Mesmo? — Ele me pergunta.
— Sim, — eu digo.
— Eu estarei lá fora, — Logan diz, e eu aceno para ele de forma
tranquilizadora.
Eu cuido disso.
Ele sai da sala, e então somos apenas eu e Dupont, com um único
painel de vidro nos separando.
— Você parece bem, — ela me diz.
— Eu gostaria de poder dizer o mesmo sobre você, — eu respondo. —
Ouvi dizer que você não está comendo.
— Qual é o sentido em comer? — Ela diz, com seu tom e sua
expressão sombrios. — Qual é o sentido em viver mais neste tipo de
cativeiro?
— Agora você sabe como me senti, — digo.
Nós nos encaramos. Eu estava determinada a falar com ela, mas agora
que estou aqui, não tenho ideia do que dizer.
— Então..., — diz ela, quebrando o silêncio ensurdecedor. — O que
você vai fazer comigo?
— Eu não sei, — eu digo honestamente.
— Então por que você veio aqui? — Ela me pergunta. — Estou
surpreso que você queira me ver depois de tudo que eu fiz com você.
— É exatamente por isso que eu queria ver você, — eu digo, sentindo
uma gota de coragem entrar na minha corrente sanguínea. — Quero
perguntar como você foi capaz de fazer todas aquelas coisas cruéis
comigo e com outros meninos e meninas.
Ela olha para baixo em seu colo e suspira.
— Eu já te disse algo sobre mim durante todos aqueles anos no Banco
de Sangue? — Ela me pergunta.
— Não. — eu digo. — Você só dava ordens e me espancava quando eu
não ouvia.
Dupont estremece como se apenas minhas palavras estivessem
causando dor a ela.
— Bem. vou lhe dizer uma coisa, — ela diz. — Você e eu não somos
tão diferentes, Everly.
— É mesmo? — Eu pergunto, sarcasticamente.
— Fui vendida para Lord Lacroix quando tinha dezoito anos. Fui sua
escrava pessoal por muitos anos. Eu era jovem. Temi por minha vida.
— Depois de tentar fugir o suficiente e ser punida por isso, ele me
espancou até a submissão. Ele quebrou minha mente, corpo e alma até
que não houvesse um único fragmento de humanidade em mim.
Eu posso ouvir sua voz começando a vacilar enquanto as lágrimas
inundam seus olhos. Eu apenas fico lá sentada, totalmente pasma,
enquanto ela continua sua história.
— Sei que não há desculpa para o que fiz, — diz ela. — Eu fui horrível.
Horrível. Um verdadeiro monstro. E eu sinto muito. Mas preciso que
você saiba que fui uma prisioneira como você. Eu temia por minha vida
assim como você.
Estou chocada com suas palavras.
Nunca pensei em Dupont como mais uma das prisioneiras de Lorde
Vlad.
— Desde que o Banco de Sangue queimou e Lorde Vlad morreu, —
ela continua, — Eu me escondi. Não é fácil sozinha.
— A culpa de tudo o que fiz a você e a todas aquelas pobres crianças
continua a me assombrar. Mas pelo menos eu estava finalmente livre. Até
seu companheiro me encontrar.
Ela se aproxima de mim e pressiona a mão contra o vidro.
— Vejo agora que nunca poderei fugir de toda a dor que causei. Eu
deveria ter sido queimada com o Banco de Sangue. É o que eu mereço.
Eu esperava vir aqui e liberar anos de raiva reprimida. Mas, em vez
disso, tudo que sinto é uma profunda tristeza pela mulher que está na
minha frente.
Eu consegui escapar do Banco de Sangue e encontrar uma matilha e
uma família que eu poderia chamar de minha. Mas Dupont não teve
tanta sorte. Ela estava sob o controle de Vlad até sua morte, e agora ela
perdeu sua própria vontade de viver.
Eu sei o que devo fazer agora. Eu me viro e saio pela porta, onde
encontro Logan em posição de sentido, esperando por mim.
— Como foi? — Ele pergunta.
— Preciso da chave da cela dela, — digo, surpreendendo até a mim
mesma. — Eu vou libertá-la.
— Tem certeza? — Ele me pergunta, com choque gravado em seu
rosto.
— Não, — eu digo honestamente. — Mas no final do dia, ela também
era uma prisioneira de Lorde Vlad. Eu não quero ser como ele. Não há
nada pior do que tirar a liberdade de alguém.
Ele acena para mim em compreensão.
— Vamos fazer isso agora, — eu digo. — Antes que eu mude de ideia.
Volto para a sala e encontro Dupont ainda encostada no vidro. Eu me
aproximo dela, com uma nova confiança em meus passos.
— Eu não desejaria a vida de um prisioneiro nem mesmo para o meu
pior inimigo. E, pelo que me lembro, minha pior inimiga era você, — digo
a ela.
Passei de um captor para outro em toda a minha vida...
Nunca assumirei esse papel. Eu simplesmente não consigo.
O passado deve ficar no passado. Tudo que eu quero é me concentrar
no meu futuro com Logan.
Dupont me olha com seus grandes olhos castanhos e fundos.
— Em boa consciência, não posso mais mantê-la aqui, — digo.
— Você está falando a verdade? — Ela me pergunta.
Em vez de uma resposta, faço um gesto para Logan. Ele se aproxima
da cela e toca o dedo indicador em um teclado discreto na porta.
Um momento depois, a porta de vidro se abre.
De repente, Dupont cai de joelhos.
— Oh, obrigada, — ela lamenta. — Obrigada. Eu não mereço sua
misericórdia.
— Eu sei, — eu digo. — Mas eu me recuso a descer ao seu nível. Eu
simplesmente não tenho isso em mim.
Estendo a mão em sua direção.
Ela olha para a mão timidamente, intrigada, como se ainda não
conseguisse acreditar na gentileza que estou prestando a ela.
E então, finalmente, ela a pega e me deixa ajudá-la a se levantar. Eu
recuo quando ela me puxa para um abraço profundo.
— Você não vai se arrepender disso, — ela diz enquanto me segura
com força.
Eu fico lá rigidamente, mas eventualmente me solto com seu toque e
a abraço de volta.
Depois de um momento, eu a soltei. Eu a olho bem nos olhos. — Boa
sorte lá fora, — eu digo. — Mas me faça um favor. Nunca, jamais volte
aqui. Não quero ver seu rosto nunca mais.
Eu me viro para ir embora e ela segue a mim e a Logan escada acima,
pelo corredor e para o saguão.
— Obrigada de novo, — ela diz enquanto abro a porta da frente para
ela. E com isso, ela corre para o jardim.
— Você acha que eu fiz a coisa certa? — Eu pergunto a Logan
enquanto a observamos ir.
— Sim, — ele diz. — Estou feliz por me livrar dela.
Victoria Dupont
A jornada de volta para minha casa é longa.
Preciso pegar dois trens e um ônibus antes de finalmente voltar ao
enorme portão de ferro.
Eu digito a senha e o portão se abre, revelando meu paraíso perfeito.
A calçada é ladeada por palmeiras que levam a um enorme edifício
que parece nada menos que um resort de luxo.
Achei que nunca mais veria este lugar, mas aquela garota boba me
deixou ir!
Ela me deixou sair de suas garras sem consequências!
Tola...
Minha farsa de soluços funcionou ainda melhor do que eu pensava.
Mas... a falha fatal de Everly sempre foi seu coração puro e nobre.
Eu me aproximo da porta da frente e imediatamente vou direto para
o meu escritório. Pego o telefone e ligo para o ramal da minha bruxa
Bellinda.
— Estou de volta, — digo. — Venha ao meu escritório.
Dentro de instantes, ela aparece na soleira.
— Onde você esteve? — Bellinda me pergunta freneticamente, com
seu rosto comprido marcado com preocupação. — Este lugar está uma
bagunça sem você.
— Fui levada para uma pequena viagem... contra minha vontade, —
eu digo. — Eu preciso que você coloque proteções em torno deste lugar
para que nenhuma outra bruxa possa me invocar a qualquer momento.
— Eu posso fazer isso, — Bellinda.
— Mas adivinhe? — Eu digo com entusiasmo. — No final valeu a
pena, porque trago um presentinho especial das minhas viagens.
Enfio a mão no bolso e tiro uma pulseira de ouro, incrustada com
pedras de safira. A pulseira que tirei do pulso de Everly quando a abracei.
— Isso é... — Bellinda engasga.
— Uma chave de portal Fae? — Eu digo, com um sorriso aparecendo
em meus lábios. — Ora, é sim. Nosso novo e aprimorado Banco de
Sangue está prestes a adicionar um item exclusivo e delicioso ao menu...
e será MUITO mais saboroso do que os humanos!
Capítulo 34
Everly

Com Dupont fora da casa da matilha, sinto-me muito mais leve.


Meu humor melhora ainda mais quando Cole entra correndo no
foyer.
— Você vai querer ver isso, — diz ele. — Os novos recrutas guerreiros
estão lutando. E é foda demais. — Legal, — diz Logan. — Bora.
Nós o seguimos para os jardins e caminhamos em direção ao quartel
de treinamento de guerreiros, onde avisto uma multidão que se formou
do lado de fora.
Quando chegamos lá, Max, Mia e Sophie estão parados ao redor de
um ringue onde novos recrutas estão treinando.
— Ei, bem-vinda de volta! — Max diz.
Mia estende bem os braços e me puxa para um abraço. — Estávamos
tão preocupados com você, Ev! — Ela grita.
Sophie pula e se junta ao abraço coletivo. — Graças a Deus você
voltou. Este lugar precisa de você, — diz ela.
— Obrigada, pessoal, — digo, e então rapidamente tentando desviar a
atenção de mim, aponto para o ringue, onde dois recrutas estão lutando.
— Por quem você está torcendo? — Eu pergunto.
— Aquele cara, — Max diz, apontando para o guerreiro forte e
imponente de pé mais próximo de nós. — O nome dele é Pietro. Ele
derrotou quase todos os novos recrutas.
— Você pensaria que ele está cansado agora, mas ele parece estar
ficando cada vez mais forte. Este é seu oponente final.
Eu vejo o oponente de Pietro acertar seu torso com uma joelhada
forte. Mas Pietro não se move.
Ele agarra o ombro do outro cara e o joga no chão.
A multidão solta um grito alto e enfático.
Pietro pula em seu oponente e o pressiona com força contra o chão.
Seu oponente faz uma tentativa final e inútil de se levantar do chão,
atingindo a garganta de Pietro com o ombro.
Pietro engasga, mas não abre mão do controle.
Finalmente, após mais alguns momentos de luta, o adversário bate
três vezes no chão, admitindo a derrota.
Pietro o solta, sorrindo amplamente. Seu oponente se levanta do chão
e eles apertam as mãos.
— Muito bem, — diz Pietro.
— Você também, amigo, — o outro cara diz.
Observo Pietro com admiração.
— Droga, ele é bom, — eu digo. — Isso foi muito legal.
— Você achou isso legal, hein? — Logan diz, olhando para mim. —
Bem, vamos ver como ele se sai contra o Alfa.
Max agarra Logan com entusiasmo pelos ombros.
— Você está falando sério? — Max diz. — Você não treina com um
novo recruta há anos.
— Bem, eu nunca vi minha companheira cobiçando um deles antes,
— Logan diz com um sorriso.
— Eu não estava cobiçando, — digo, dando um tapa no ombro de
Logan. — Todo mundo estava assistindo.
Logan entra no ringue com confiança.
— Bem... veja isso, — diz ele. — Ei, Pietro. Você gostaria de treinar
comigo?
— Você está falando sério? — Pietro pergunta, estupefato. — Seria
uma honra.
— Vamos lá então, — meu companheiro diz enquanto arranca sua
camisa, expondo seu abdômen definido.
Agora realmente estou olhando enquanto Logan dá um soco firme na
direção de Pietro.
Pietro se esquiva com sucesso do primeiro ataque, mas em um
instante, Logan se lança contra ele. Seus músculos estão tão
protuberantes que parece que podem rasgar sua pele.
Eu imediatamente me sinto começando a ficar úmida lá embaixo.
É em momentos como esse que sinto que preciso me beliscar por
terminar com alguém tão incrivelmente sexy como ele.
Estou desesperada para que ele pule em mim em vez de em Pietro.
Meus olhos estão tão ocupados absorvendo sua beleza... seu
abdômen... suas costas... seus braços... que eu perco completamente de vista
o que está acontecendo na luta.
De repente, todos estão torcendo novamente.
Logan tem Pietro em um estrangulamento forte.
Ele o joga no chão até que Pietro fique imobilizado, sem saída.
E então, Pietro bate no chão três vezes e Logan o solta.
Meu companheiro pega sua camisa do chão e se aproxima de mim.
— Viu? — Ele diz. — Há uma razão pela qual eles ainda me chamam
de Alfa por aqui.
Eu pressiono meu rosto em seu pescoço, respirando o almíscar
delicioso de seu suor. — Vamos ver o que mais você pode fazer com esse
corpo, — eu digo.
Eu pego sua mão e o levo para longe do centro de treinamento,
enquanto ele recebe parabéns da multidão.
Continuo caminhando até chegarmos à orla da floresta, longe de
olhares indiscretos.
— Onde estamos indo? — Logan me pergunta.
— Assistir você lutar foi como o strip-tease mais agonizante do
mundo, — digo, mordendo o lábio. — Eu preciso de você agora.
Eu o puxo em direção ao galpão do zelador que está localizado na
extremidade da região da casa da matilha.
Abro a porta e entramos.
Instantaneamente, pressiono Logan contra a porta. Agora que
estamos sozinhos, posso fazer o que quero com ele.
Eu deslizo minhas mãos sobre sua forma dura e suada, até chegar ao
cós de sua calça de moletom.
Eu escovo sua virilha com minhas mãos e gemo quando sinto seu
membro em posição de sentido.
— O que deu em você, minha pequena companheira? — Ele diz com
uma risada.
— O vencedor dessa competição precisa de uma recompensa
adequada.
— Ah, é? — Ele diz. — E se Pietro tivesse vencido?
— Foi bom ele não ter feito isso, — eu digo.
— Não é engraçado, Everly, — Logan diz.
— Shhhhh..., — eu sussurro enquanto puxo para baixo suas calças e
me ajoelho na frente dele.
Agora não é hora para mais brincadeiras. Eu preciso da minha boca
para outras coisas.
Eu o coloco em minha boca e deslizo minha língua ao longo de seu
eixo.
Posso sentir o sangue pulsando em seu membro, que está ficando
cada vez mais difícil.
— Porra, — diz ele. — Isso é tão bom.
Eu continuo chupando vigorosamente enquanto ele agarra meu
cabelo entre os dedos.
Então eu o sinto me puxando do chão.
Eu liberto seu membro da minha boca e fico cara a cara com ele.
Ele arranca minhas roupas febrilmente, com seu cotovelo derrubando
um rastelo que está encostado na parede ao nosso lado. Eu ouço um
barulho alto quando outras ferramentas caem no chão também, em um
efeito dominó.
Estou nua agora e meu companheiro também.
Ele me vira para que minha bunda fique pressionada em seu membro.
Eu pressiono minhas mãos na parede do galpão de madeira, e lascas
penetram meus dedos.
Mas, de repente, eu sinto outra coisa. Logan se pressiona dentro de
mim.
No início, sufoco meus gritos. Mas então me lembro que ninguém
está por perto para nos ouvir.
Eu grito o nome de Logan enquanto ele mergulha em mim
repetidamente, agarrando minha bunda e arranhando minha espinha
com as unhas.
Em seguida, ele agarra meus quadris, dando-lhe a força necessária
para mergulhar cada vez mais fundo no meu centro.
Ele alcança meu torso, mas eu o antecipei. Já tenho um dedo no meu
ponto mais doce.
Eu me esfrego enquanto ele continua empurrando dentro de mim.
— Eu vou gozar..., — eu digo enquanto visualizo meu companheiro
sexy no meio da luta. — Estou gozando!
— Eu também! — Ele grita, e eu o sinto despejar tudo dentro de mim,
poderosamente, com força — como tudo o que ele faz.
Ofegante, ele envolve seus braços em volta de mim e ficamos ali por
um momento em um silêncio satisfeito.
E então, sem dizer uma palavra, ele se abaixa e joga minhas roupas de
volta para mim.
Nós nos vestimos novamente e, recuperando nossa compostura,
emergimos para a luz do sol.
Eu olho para mim mesma, alisando os vincos da minha camisa para
ter certeza de que estou apresentável.
Mas, de repente, percebo que algo está errado.
Meu pulso.
Está vazio!
Eu suspiro.
— O que é? — Logan me pergunta.
— Minha pulseira, — eu digo. — Minha chave para o reino Fae
sumiu!
— Deve ter caído aí! — Logan diz.
Ele abre a porta do galpão e nós dois vasculhamos o interior.
Eu passo minha mão ao longo do chão sujo tentando tatear em volta
da minha pulseira, procurando por algum brilho de ouro na sala escura e
sem janelas.
Mas eu apareço de mãos vazias.
— Hm, — diz Logan. — Talvez você tenha perdido em nosso quarto.
— Talvez, — eu digo com uma voz preocupada.
— Vai aparecer, — diz Logan. — Além disso, se precisarmos ir para o
reino Fae, sempre temos minha chave do portal, — ele diz, mostrando o
anel de meu pai em minha direção.
Ele tem razão. Tenho certeza que vai aparecer. Não vou preocupar
minha família com isso até ter a chance de olhar.
Alisando minha camisa uma última vez, agarro a mão de Logan e
caminhamos de volta para a casa da matilha.
Já se passou uma semana desde que voltamos do reino Fae e, além da
minha pulseira perdida, tudo está indo muito bem.
Logan e eu caímos na cama depois de um longo dia trabalhando na
matilha.
Hoje, nos concentramos em pedir toda a comida para o próximo mês,
bem como em resolver uma série de disputas internas entre os membros
da matilha...
Manter a paz entre um grupo de lobisomens não é uma tarefa fácil,
mas Logan o faz com muita graça. Já aprendi muito com ele sobre como
ser um líder justo e comedido.
Por exemplo, um simples — estou ouvindo — muitas vezes pode
significar mais do que uma solução real para o problema.
Eu inclino minha cabeça no braço de Logan, completamente exausta
e pronta para dormir.
— Eu te amo, — digo, dando-lhe um beijo na bochecha e fechando os
olhos.
— Eu também te amo, — ele diz.
Mas, quando estou quase caindo no sono, ouço um estalo que me
acorda assustada.
Eu ficaria mais surpresa, mas reconheço esse ruído da última vez que
o ouvi.
É o som de uma carta sendo atirada do reino Fae através de nossa
lareira, caindo firmemente em nossa cama.
Eu a pego e abro. Não posso negar que meu coração está acelerado,
preocupado com a possibilidade de haver más notícias no horizonte.
Mas quando eu o abro, fico chocada com o que vejo.
Caro Logan e Everly,
Vocês estão cordialmente convidados para o casamento do príncipe
herdeiro Jedrick House of Valdus e Delisia Sprout Crystalwater — Oh, meu
Deus, — eu digo para Logan. — Delisia e Jed vão se casar!
— Casar??! Eles só se conhecem há uma semana!
— Faz uma semana em nosso reino, mas vários meses se passaram no
reino Fae desde que partimos. Eles tiveram muito tempo para se
conhecerem.
— Bem, merda..., — diz Logan. — Eu não posso acreditar que aqueles
dois realmente conseguiram. Acho que estamos voltando para o reino
Fae em breve.
— Na verdade, — eu digo, continuando a ler o convite, — eles vão se
casar aqui, na matilha. E olha só... eles se esqueceram de contabilizar a
diferença de fuso horário. Em nosso reino, o casamento é amanhã\
Capítulo 35
Everly

A cerimônia está marcada para começar ao meio-dia, então eu acordo


e imediatamente me visto para a ocasião com um vestido de algodão
amarelo até o chão.
Logan emerge do armário em um par de calças e uma camisa de
botão. Ele joga um paletó de linho bege sobre os ombros.
— Você está ótimo, — eu digo, olhando-o de cima a baixo. — Talvez
nós devêssemos nos casar novamente.
— Eu estava prestes a dizer a mesma coisa para você, — diz ele,
beijando meu pescoço e respirando meu perfume de jasmim.
Saímos de nosso quarto de mãos dadas. Todos por quem passamos no
corredor estão em suas melhores roupas. Acho que não fomos os únicos
a receber o memorando sobre as festividades de hoje.
Quando emergimos no refeitório da casa da matilha, estou surpresa
ao ver que minha família Fae já chegou.
Meu tio, tia, Jed e Delisia estão todos sentados ao redor de uma mesa,
tomando café da manhã juntos.
Corremos até eles. — Nossos parabéns ao casal, — diz Logan.
Jed coloca mimosas em nossas mãos.
— É tão bom ver você de novo, — diz Jed. — Percebemos que não faz
muito tempo para você, mas já faz muito tempo para nós.
— Então aqui é onde você mora, Everly? — Meu tio diz.
— Não é nenhum palácio real, — eu digo, jogando minhas mãos para
cima. — Mas é nosso lar.
Delisia empurra o prato e se levanta da cadeira. Ela está com um
grande sorriso no rosto. Posso dizer que ela está delirantemente feliz.
— Desculpe por ser em cima da hora, — diz ela. — Em nosso reino, já
se passaram duas semanas desde que enviamos o convite. Esqueci
totalmente que você teria menos de um dia para se preparar. Felizmente,
tenho o poder de organizar uma pequena cerimônia muito rapidamente.
Eu a puxo para um abraço.
— Não tem problema, — eu digo. — Contanto que você esteja feliz,
eu estou feliz.
— Você vai me ajudar a ficar pronta? — Ela me pergunta.
— Seria um prazer, — eu digo.
Logan olha para Jed, que também está se levantando.
— Você quer que eu ajude você a se preparar? — Logan pergunta a ele.
— Nah, eu posso cuidar disso sozinho, — diz Jed. — Nunca vou
entender por que as mulheres pensam que se vestir é um trabalho para
duas pessoas...
— Há muitas coisas sobre as mulheres que você nunca vai entender,
filho, — diz meu tio.
Minha tia ri e pousa a mão em seu ombro. — Graças a Deus por isso,
— diz ela. — Isso mantém as coisas interessantes.
Delisia dá um beijo na bochecha de Jed. — Vejo você em breve, futuro
marido, — diz ela.
— Vejo você em breve, futura esposa, — diz ele.
Com isso, Delisia agarra minha mão e saímos da casa da matilha em
direção à sua cabana.
Quando estamos dentro, vejo imediatamente uma sacola de roupas
pendurada no parapeito da janela.
— Esse é o vestido? — Eu pergunto a ela, que acena com entusiasmo.
— Vamos ver, — eu digo.
Ela abre o zíper da bolsa e um lindo vestido prateado se desenrola
dela. O vestido parece que está brilhando.
— Delisia, — eu sussurro. — É absolutamente lindo.
— Obrigada, — ela diz. — Eu fiz isso sozinha. Eu usei pó de fada. É
isso que dá brilho.
— Vamos colocar em você, — eu digo.
Ela se despe na velocidade da luz e, em seguida, desliza para o vestido.
Fecho o zíper com cuidado por trás. É um ajuste perfeito.
Ela se vira para me encarar.
— O que você acha? — Ela pergunta.
— Parece que você saiu direto de um conto de fadas. Jed vai adorar, —
eu digo.
E digo com sinceridade. O brilho do vestido traz o brilho de pura
alegria em seus olhos.
— Eu também fiz algo para você, — diz Delisia.
Ela abre uma das gavetas de seu enorme armário estilo boticário e tira
uma coroa feita de flores Everly.
— Uma coisinha para a princesa perdida do reino Fae, — ela diz.
Eu seguro o objeto delicado em minhas mãos. — Isso é incrível, — eu
digo. — Mas por que eu recebo um presente? É. seu dia de casamento.
— Bem, — ela diz. — Eu estava me perguntando se você gostaria de
ser minha dama de honra. Afinal, quando eu me casar com sua prima,
seremos uma família.
— Eu adoraria, — digo, puxando-a para um abraço. — Para mim, você
já é família há muito tempo. — Coloco a coroa na cabeça e olho para o
espelho com moldura dourada na parede.
— Muito obrigada, — eu digo. — É lindo.
Eu me viro para encarar Delisia, que está sorrindo muito.
— Posso te perguntar uma coisa? — Eu digo. — Onde vocês dois vão
morar depois do casamento?
— Estaremos em dois reinos por um tempo, — diz ela. — Mas algum
dia será a vez de Jed assumir o controle do reino e, quando essa hora
chegar, nos mudaremos para o palácio para sempre.
— E você será a rainha, — eu digo.
— Acho que sim..., — ela diz. — Louco, não é?
— Não consigo imaginar ninguém mais adequada para o trabalho, —
digo.
Nos abraçamos de novo, e posso sentir que Delisia está tremendo
ligeiramente.
— Você está bem? — Eu pergunto a ela.
— Já voei em dragões, escalei vulcões e lutei contra bruxos e príncipes
do mal, — diz ela. — Mas, de alguma forma, acho que esta é a primeira
vez na minha vida que fico nervosa.
— Eu entendo totalmente, — eu respondo. — Eu estava apavorada
por minha cerimônia de acasalamento com Logan. Basta tentar o seu
melhor manter-se no agora e aproveitá-lo. Porque será o melhor dia da
sua vida. E quando acabar, acabou para sempre.
Eu dou um pequeno aperto no braço dela.
— Talvez você pudesse usar algo um pouco mais forte do que uma
mimosa para acalmar os nervos, — eu digo.
— Eu tenho a coisa perfeita, — diz ela.
Ela puxa uma pequena garrafa âmbar da prateleira do boticário. —
Este é o álcool produzido com folhas de um arbusto de groselha. Diz-se
que traz boa sorte.
Ela serve uma dose para cada um de nós e nós a devolvemos.
— Vamos fazer isso, — digo a ela. — Vamos fazer de você uma mulher
boa.
Eu estou sob um belo dossel floral nos jardins da casa da matilha
enquanto meus amigos e familiares chegam e tomam seus lugares.
Eu sorrio e aceno para todos que vejo. Confesso que... como uma
matilha, nós limpamos muito bem.
Logan também está sob o caramanchão. Como Alfa, normalmente é
seu trabalho oficiar cerimônias de acasalamento.
Embora Delisia seja uma bruxa, ela viveu em torno de lobisomens por
tanto tempo que queria honrar as tradições.
Parado na minha frente está Ash, vestido com um temo azul-celeste e
capa combinando. Ele está servindo como padrinho de Jed. Ele acena
para Poppy, que está se sentando na plateia, parecendo um sonho de
lavanda.
Quando todos os convidados estão acomodados, Jed sai da casa da
matilha e caminha pelo corredor, que vai até o altar.
Seu cabelo preto longo e brilhante roça seus ombros, e ele está
usando lindas vestes prateadas que combinam perfeitamente com o
vestido de Delisia.
Ele também usa uma grande coroa incrustada de rubis. Isso o faz
parecer tão forte e tão majestoso. Quando ele chega ao final do corredor,
ele para e me dá uma piscadela.
— Boa sorte, — digo a ele. — Não estrague tudo. Ela é das boas.
— Você não precisa me dizer duas vezes, — diz ele.
De repente, ouço um alto swoosh quando um bando de pombos sai
voando da floresta e se empoleira no topo da copa floral.
Todos eles começam a cantar em uníssono: um canto melódico e
perfeito de um pássaro. E então Delisia emerge da casa da matilha e
começa a caminhar pelo corredor.
Os olhos de todos se fixam nela.
O vestido dela está brilhando ainda mais com a luz do sol da tarde.
Ela realmente se parece com um anjo.
Ela deixou todos os presentes absolutamente enfeitiçados.
Eu ouço um suspiro escapando dos lábios de Jed — a reação honesta
de um homem apaixonado.
Bom.
Ele sabe o quão sortudo ele é.
Minha tia e meu tio estão sentados na primeira fila.
Eu vejo lágrimas escorrendo pelo rosto de minha tia. Ela os enxuga
discretamente enquanto um sorriso agridoce aparece também.
Delisia chega ao fim do corredor e Jed a pega nos braços e a gira.
— Você está deslumbrante, — eu o ouço dizer. — Eu acho que quero
me casar com você.
Ela ri e ele a coloca de volta no chão, seus saltos estalando quando
batem no chão.
E assim, Logan começa a oficiar a cerimônia.
É curto, doce e incrivelmente comovente. Não há um olho seco na
casa da matilha.
Quando chega a hora de fazer seus votos, Jed faz primeiro.
— Nasci para uma vida de dever, — diz ele. — Sempre soube que um
dia seria minha responsabilidade liderar um reino e tentar ocupar o lugar
enorme de meu pai.
É
— É muito gratificante ter um propósito tão claro. Mas ainda faltava
algo na minha vida.
A voz de Jed falha e ele pigarreia antes de continuar.
— Sempre achei que meu casamento também nasceria do dever, —
diz ele. — Achei que teria que fazer a escolha sensata e me casar com
alguém que pudesse liderar ao meu lado.
— Nunca pensei que teria a sorte de encontrar alguém tão forte e
capaz, que eu também amo profundamente.
Ele pega as mãos de Delisia nas suas. — Você lançou um feitiço em
mim a partir do momento em que coloquei os olhos em você. E não
quero viver mais um dia sem você ao meu lado.
Posso dizer que Delisia também está lutando contra as lágrimas. —
Eu deveria ter ido primeiro, — ela diz com uma risada. — Agora vou
chorar durante todos os meus votos.
Ela balança a cabeça e respira fundo, se recompondo.
— A vida de uma bruxa é uma bênção e uma maldição. Literalmente,
— diz ela. — Posso ter tudo o que quero na ponta dos dedos.
Ela enxuga uma lágrima antes de continuar com seu discurso.
— Mas a única coisa que eu nunca consegui conjurar foi um amor
perfeito. E quando eu o encontrei, acabou sendo a forma mais pura de
magia que eu já encontrei. Eu não entendo.
— E eu não quero entender. Eu só quero aproveitar a glória de amar
você, — diz ela.
Jed e Delisia se voltam para Logan. que está sorrindo amplamente de
orelha a orelha.
— Agora você pode beijar a noiva, — diz ele.
E com isso, Jed pega Delisia novamente e eles se beijam longamente.
Já se passaram horas e a festa está a todo vapor.
Quando você tem bruxas, Fae e lobisomens em uma sala juntos, eles
com certeza sabem como festejar.
Estou delirante e deliciosamente bêbada, enquanto seguro meu
companheiro perto e danço uma peça de música folclórica Fae clássica.
Quando a música termina, eu me afasto dele.
— Vou pegar outra bebida, — digo a Logan. — Você quer uma?
— Sim. por favor, — ele diz. — Volte logo.
Dou-lhe um beijo na bochecha e corro em direção ao bar, onde
encontro meu tio pedindo outra rodada.
— Como vai? — Eu pergunto a ele, envolvendo um braço em tomo
dele.
— Sabe, Everly, — diz meu tio. — Quando seu pai morreu, eu não
tinha certeza se seria capaz de sentir esse tipo de alegria novamente. Mas
agora que você está em nossas vidas e Jed encontrou a felicidade, sinto
que nossa família está completa novamente.
— Eu sei que seu pai e sua mãe estão conosco esta noite em espírito.
— Você deveria ficar aqui por um tempo, — eu digo a ele. — É muito
bom ter você por perto.
— Eu gostaria, — ele diz, — mas eu preciso voltar para o reino Fae o
mais rápido possível. Há alguns problemas surgindo.
— Que tipo de problema? — Pergunto-lhe.
— Não quero incomodar você com isso, — diz ele, com o olhar caindo
no chão.
— Diga-me, — eu digo. — Talvez haja algo que eu possa fazer para
ajudar.
— Agora não é a hora..., — diz ele.
— Vamos, — eu o insisto.
— Bem, tivemos alguns casos de desaparecimento de meninas.
— O quê? — Digo, horrorizado com a notícia.
— Quatro jovens desapareceram do reino. Não podemos encontrar
nenhum vestígio deles. É como se eles tivessem simplesmente virado
fumaça.
— Isso é horrível! — Eu digo. — É possível que eles tenham ido para
um reino diferente?
— Isso não faria sentido, — continua meu tio. — As únicas chaves do
portal estão nas mãos de nossa família.
Eu esfrego meu pulso nu.
Minha pulseira ainda está perdida.
Eu não vejo ela desde—
Oh, não...
De repente, meu coração quase para enquanto uma memória passa
por meu cérebro.
A última vez que vi minha pulseira foi quando abri a cela da Senhora
Dupont.
O suor acumula na minha testa enquanto minha mente fica inquieta.
É possível que ela o tenha roubado?
E se foi ela... ela poderia ser a única pegando aquelas garotas inocentes e
indefesas?
Fui uma tola em acreditar que o tigre predador do Banco de Sangue
realmente mudou suas listras?
— Qual é o problema? — Meu tio me pergunta.
— Eu preciso te dizer uma coisa, — eu digo, com minha voz
tremendo. — Acho que sei quem está levando essas meninas. E acho que
sei por quê.
Capítulo 36
Zinnia

Através do meu espelho de maquiagem, eu me olho morta nos olhos e


aperto minha assinatura, um longo rabo de cavalo loiro.
— Megan, teu Pégaso — explode em meu alto-falante, me animando.
Eu posso fazer isso, penso comigo mesma. Eu posso fazer qualquer coisa
que eu quiser.
Respiro fundo, firmo minha mão e aplico a primeira pincelada de
delineador preto.
Felizmente, consigo passar na linha dos cílios sem nenhum problema.
Mas então eu chego ao meu arqui-inimigo: a asa.
Com certeza, assim que eu varro o lápis em direção à minha
sobrancelha, minha mão treme e eu acabo com uma linha preta cortando
minha têmpora.
Droga.
O que há de errado comigo?
Posso dar um chute triplo, escrever um ensaio convincente sobre a
queda do império Fae e resolver equações álgebra avançadas. Mas
quando se trata de delineador, não tenho jeito.
Pego o removedor de maquiagem e limpo meu rosto. Não tenho
tempo para tentar fazê-lo novamente.
Eu preciso estudar... mas não para um teste. Desta vez, estou
estudando para algo muito mais importante.
Abrindo a gaveta da minha penteadeira, pego a edição deste mês da
Contos Femme Fae e abro na página que já marquei... e praticamente
memorizei.
O artigo é intitulado Top 10 dicas para agitar seu próximo compromisso
sexual.
Dica número 1. Repita este mantra para si mesma até acreditar: Eu sou
uma deusa do sexo.
Eu me olho novamente no espelho.
— Eu sou uma deusa do sexo. — As palavras parecem ridículas saindo
da minha boca, então digo novamente. — Eu sou uma deusa do sexo.
O que torna tudo ainda mais ridículo é que eu nunca fiz sexo antes.
Nenhuma vez na minha vida.
Mas esta noite tudo vai mudar.
Eu vou fazer sexo pela primeira vez. Com Chaz. O capitão do time
seelieball.
Estamos namorando há quase dois meses e concordamos que esta
noite é a noite.
Vamos nos encontrar depois do jogo de seelieball do baile de boas-
vindas. E se eles ganharem ou perderem. Chaz certamente ganhará seu
prêmio.
Eu vou arrasar no meu compromisso com o pau dele. Porque eu sou uma
deusa do sexo.
Dica número 2. Esfolie para que seu corpo fique extremamente macio e
sedoso.
Dica número 3. Massageie cada fenda de seu...
— ZINNIA! CAFÉ DA MANHÃ! — Eu ouço a voz da minha mãe me
chamando lá embaixo.
Droga.
Eu tenho que correr.
Enfio a revista de volta na gaveta da penteadeira, tiro minha camisa
de dormir enorme e visto meu uniforme de líder de torcida.
Em dias de jogo, podemos usar nosso uniforme de torcida para ir à
escola, o que é incrível. É muito mais bonito do que nossos uniformes
escolares habituais.
Em minutos, estou totalmente vestida. Eu me olho de cima a baixo no
espelho uma última vez, aperto meu rabo de cavalo novamente para
garantir, e pego minha mochila.
Eu corro para fora do meu quarto e desço as escadas.
Mas assim que meu pé atinge o passo final, um par de mãos voa sobre
meus olhos de forma que eu não posso ver nada.
— O quê...
— Sem espiar. Zinnia, — eu ouço a voz do meu pai dizer enquanto ele
mantém suas mãos apertadas sobre meus olhos. — E sem palavrões.
— O que está acontecendo? — Pergunto-lhe. Eu posso ouvir o som de
passos e sussurros ao meu redor.
— 1, 2, 3, surpresa! — Abro os olhos e não consigo acreditar no que
vejo.
Minha mãe e quatro irmãos mais velhos estão todos parados ao redor
da sala de jantar, que é toda decorada com balões e flores.
A mesa de jantar está coberta com uma grande variedade de comida e,
no centro, há uma pilha de panquecas nas alturas com duas velas em
forma de números 1 e 8.
— Feliz aniversário! — Minha mãe grita.
Todos os meus irmãos parecem meio adormecidos, mas cada um
deles me deseja feliz aniversário também e me dá o típico abraço de lado
masculino.
— Obrigado, pessoal! — Eu digo, sentindo-me dominada pela alegria.
Eu me sento e encho meu prato com entusiasmo. Eu sufoco minhas
panquecas com calda de figo e coloco tiras grossas de bacon por cima.
Dica número 7. Certifique-se de abastecer Você precisará de energia.
— Isso é delicioso, — eu digo.
— Fico feliz, — diz minha mãe. — Hoje é um grande dia.
Ela nem sabe da metade...
— Aqui está, querido, — diz ela, caminhando e me entregando uma
caixa embrulhada em papel de embrulho de prata.
Eu a abro e há uma pequena caixa de joias dentro. Eu levanto a tampa
e encontro um único grampo de cabelo dourado descansando no centro
do forro de veludo.
— Sua avó me deu quando eu fiz dezoito anos, — diz minha mãe. —
Eu sempre disse que o passaria adiante para minha filha quando chegasse
a hora.
— É lindo, mãe, — eu digo enquanto tiro da caixa e coloco no meu
cabelo.
— Fica ótimo em você, — diz minha mãe. — Combina com o seu
cabelo dourado.
— Você receberá o resto de seus presentes esta noite, — diz meu pai.
— Hora da escola.
— Você vem para o jogo hoje à noite, certo? — Eu digo.
— Não perderia por nada, — meus pais respondem.
— Hora de ir, — eu digo, pegando um pedaço extra de bacon e
jogando minha mochila sobre meu ombro. Sigo meus irmãos enquanto
eles saem de casa, mas fico atrás deles.
— Não esperem acordados, — eu grito. — Só vou demorar um
minuto.
Eles desaparecem na rua enquanto eu círculo para o beco atrás de
nossa casa.
— Leonardo! — Eu chamo. — Leonardo!
Depois de um momento, um gato preto magro sai vagando por trás
das latas de lixo.
— Aí está você, Leo.
Na verdade, não sei se esse é o nome dele.
Ele é um gato da rua que vagueia pela nossa vizinhança. Comecei a
chamá-lo de Leonardo depois que vi uma foto do ator humano e não
consegui tirar seu lindo rosto da minha cabeça...
Eu rasgo a tira de bacon em pequenos pedaços e os seguro na minha
mão.
O gato come o bacon direto da minha mão, animado com a oferta.
— Eu tenho um segredo, Leonardo, — eu digo. — Eu vou me tornar
uma mulher esta noite. Você pode nem me reconhecer quando eu chegar
em casa.
O gato mia, lambendo minha mão.
— Estou falando sério, — eu digo. — Eu sou uma deusa do sexo.
O gato olha para mim com os olhos arregalados.
— Você também não acredita em mim, hein? — Eu digo. — Bem... me
deseje sorte. Vou precisar.
Com isso, eu desapareço no beco em direção à minha escola.
***

Eu olho para o relógio durante cada período de aula.


Este dia simplesmente não acaba.
Eu continuo esperando ver Chaz nos corredores, mas as estrelas não
se alinham dessa forma hoje.
Finalmente, são 15h e me encontro com a equipe de líderes de torcida
para me aquecer antes do jogo.
Tento me concentrar enquanto ensaiamos nossa sequência, mas
meus olhos continuam vagando para o campo, procurando por Chaz.
— Ei! Zinnia! O que está acontecendo com você hoje? — Eu ouço a
treinadora Marin me chamar.
Ela se aproxima de mim, com um olhar severo em seu rosto.
— Notei que sua cabeça está em outro lugar, — diz ela.
— Não, eu...
— Você está prestes a tentar um front flip quíntuplo na frente de um
público, — diz ela. — Mas eu não vou deixar você fazer isso se achar que
você está distraído.
— Não. por favor, — digo, — estou pronta. Tenho praticado muito.
— Eu sei que você tem, — ela diz. — Agora saia da sua cabeça e deixe
seu corpo assumir o controle.
Essa é a dica número 10.
— Eu entendi, treinadora, — eu digo. — Eu posso fazer isso.
Ouço o som de um apito, o que significa que o jogo está prestes a
começar.
Pego meus pompons e caminhamos em direção ao nosso local
designado na lateral do campo.
Mas, de repente, meus pés deixam o chão quando alguém me pega
por trás.
— Ei, bonitona. Feliz aniversário.
É o Chaz.
Eu noto pela sua voz rouca e pelo seu cheiro inebriante. Ele me coloca
no chão e eu giro para encará-lo.
— Obrigada, — eu digo. — Boa sorte.
— Pra você também, — ele diz. — Ainda estamos certos pra esta
noite, certo?
— Sim, — eu digo.
— Boa. Vamos nos encontrar no seu armário depois do jogo, — diz
ele. — Não dê pra trás desta vez. Eu não posso esperar muito tempo.
— Eu não vou, — eu digo.
Ele corre para o campo, colocando seu capacete, e eu o vejo ir.
Não há nada mais sexy do que um homem em um uniforme de
seelieball. Agora, mal posso esperar para ver o que está por baixo...
O jogo ocorre sem problemas.
Os Pixies estão massacrando os Dragões, que mal estão resistindo.
Chaz marca seu terceiro gol logo após o intervalo. Eu grito e jogo
meus pompons para o ar.
— O quíntuplo! — Eu ouço o treinador Marin me chamar.
Está na hora.
Meu grande momento.
Meu elemento é o ar, então fui uma escolha natural para voar na
equipe de torcida. Mas nenhuma pessoa na história desta escola
conseguiu um quíntuplo.
Minhas duas melhores amigas, Posy e Siofra, se ajoelham uma de cada
lado e me colocam em seus ombros.
— Você consegue, Zinnia, — ouço Posy dizer. — Mostre a eles o que
você pode fazer.
— Vamos fazer isso, boo, — diz Siofra.
Eu examino a multidão e localizo meus pais.
Meu pai está filmando em seu telefone e minha mãe pisca para mim e
faz um orgulhoso sinal de positivo.
Foco.
Saia da minha cabeça.
Deixe meu corpo tomar o controle.
— Estou pronta, — digo.
Siofra e Posy me jogam no ar. Estico as palmas das mãos e canalizo a
força do vento para me impulsionar cada vez mais alto até que estou logo
acima da linha das árvores.
Então eu puxo meus joelhos em meu peito e mergulho de volta para o
chão.
No caminho para baixo, eu viro... uma... duas vezes... três vezes...
O chão está ficando terrivelmente próximo quando eu viro pela
quarta vez.
Mas consigo dar um quinto lance final, pouco antes de Posy e Siofra
me pegarem em seus braços abertos.
Eu consegui!
Eu quebrei o recorde!
Minha foto ficará pendurada no ginásio da escola pelo resto da
eternidade.
Eu ouço meus pais aplaudindo e Chaz me chamando: — Muito bem,
querida!
Quando meus pés tocam o chão, fico um pouco tonta de tanto girar,
mas também delirantemente feliz.
Eu penso comigo mesma que este dia não poderia ficar melhor.
Mas então acontece. Meia hora depois, Chaz desce do céu em seu
Pégaso ruivo e mergulha a bola de gelo triunfantemente na rede do outro
time, marcando o gol da vitória. A escola inteira inunda o campo.
Meus pais correm até mim e me puxam para um grande abraço.
— Parabéns, querida, foi incrível! — Meu pai diz.
— Você é a melhor voadora desta equipe desde — bem — eu, — diz
minha mãe.
Ela detinha o recorde de maior número de voltas... até agora.
— Devemos ir ao Hai's Diner para uma refeição comemorativa? —
Meu pai pergunta.
O jantar no Hai's Diner é uma tradição de aniversário da família
Redraven. Mas, infelizmente, tenho que quebrar a tradição esta noite.
— Na verdade, — eu digo, — eu deveria sair com Chaz um pouco.
Mas te encontro em casa para um bolo? — Eu digo.
— Acho que não podemos dizer não, agora que você tem dezoito anos
e tal, — diz minha mãe.
— Divirta-se, garoto, — meu pai diz.
Dou um abraço nos dois e eles desaparecem, de mãos dadas.
Eu ando na direção oposta e entro no prédio principal da escola, indo
em direção ao ponto de encontro designado na frente do meu armário.
Eu ouço passos no corredor atrás de mim e me viro animadamente.
— Chaz? É você? — Eu pergunto.
Mas não recebo resposta. Então eu continuo andando.
Eu ouço os passos de novo, mais rápido desta vez.
Eu olho para trás e ainda me encontro sozinha em um corredor vazio.
Meu coração está começando a disparar.
Tenho uma sensação desagradável no estômago que não consigo
sanar. Eu começo a andar, praticamente correndo pelo corredor.
— Chaz? — Eu chamo. — Chaz, você está aqui?
Eu vou direto para o ginásio da escola e corro direto para o vestiário
masculino.
Talvez ele esteja lá, trocando de roupa.
Mas está vazio. A equipe inteira ainda deve estar em campo.
Não consigo afastar a sensação de que estou sendo observada.
Eu olho em volta freneticamente, girando no lugar.
Devo estar imaginando coisas.
Talvez seja apenas o nervosismo desta noite finalmente me alcançando.
Talvez eu ainda esteja tonta com todas aquelas voltas.
Eu descanso minhas mãos no balcão da pia e respiro algumas vezes
para se acalmar.
Então, abro a torneira e jogo água fria no rosto.
Quando abro os olhos novamente, vejo algo no reflexo que me faz
gritar a plenos pulmões.
Há uma mulher parada atrás de mim.
Ela tem cabelos cacheados castanho-escuros, bolsas escuras sob os
olhos e batom vermelho-escuro.
Tudo sobre ela expressa escuridão.
— Olá. linda, — ela diz. — Espero que você esteja pronta para fazer
uma pequena viagem.
E com isso, ela agarra meu pescoço e, de repente, estou caindo no
espelho acima da pia e em um abismo de nada rodopiante.
Capítulo 37
Everly

Logan e eu chegamos na porta de Delisia um dia após o casamento,


de ressaca e profundamente angustiados.
Não queríamos incomodar ela e Jed com o que sabíamos sobre o reino
Fae, então decidimos que era melhor dizer a ela o que precisamos dela
esta manhã.
Meu tio teve que retornar ao reino Fae imediatamente após a
recepção para aumentar a segurança em todas as escolas secundárias.
Eu também não preguei o olho.
Pedi licença das festividades e passei o resto da noite vasculhando
cada canto do meu quarto em busca da pulseira — uma última tentativa
inútil de ver se minhas suspeitas sobre Dupont estavam erradas.
Mas não consegui encontrar em lugar nenhum.
Logan aperta minha mão. — Aconteça o que acontecer, — diz ele, —
estamos nisso juntos.
Eu aceno para ele e bato na porta.
— Só um minuto! — Eu ouço Delisia dizer.
A porta se abre um momento depois, e ela está parada na minha
frente em um longo vestido de noite, com o cabelo desgrenhado.
— Temos um problema, — diz Logan. — E nós precisamos da sua
ajuda.
— Entrem, — ela diz.
Eu entro e vejo meu primo saindo do quarto apenas com sua cueca e
um roupão da Delisia. Ele acena para mim com um olhar de
constrangimento.
A sala também está em completa desordem, com as roupas
espalhadas pelo chão e as garrafas derrubadas das prateleiras.
Parece que esses dois se divertiram um pouco na noite passada... pelo
menos alguém se divertiu.
— O que posso fazer por vocês? — Delisia diz em seu tom calmo e
comedido de costume.
— A mulher que você invocou antes, — Logan diz. — Victoria
Dupont. Precisamos que você a traga aqui novamente.
— Entendi, — ela diz.
Logan imediatamente atravessa a sala e traz uma cadeira para Delisia.
Ele sabe claramente como funciona esse feitiço de invocação.
Delisia derrama o líquido de um frasco no assento, coloca as mãos
sobre o líquido e começa a resmungar para si mesma.
O líquido começa a brilhar cada vez mais. Eu mantenho meus olhos
fixos no assento, rezando para que Dupont apareça na nossa frente.
Mas o assento continua vazio.
— O que está acontecendo? — Logan diz. — Da última vez, ela
apareceu instantaneamente.
— Deixe-me tentar de novo, — diz Delisia.
Ela acena com a mão sobre o fluido novamente, mas ainda... nada.
— Há interferência, — diz Delisia.
— Que tipo de interferência? — Eu pergunto a ela.
— Parece que ela tem uma bruxa lançando um feitiço de proteção ao
seu redor. Eu não consigo passar pela energia dela. Sinto muito, — diz
ela, olhando para cima com seus olhos grandes, — não acho que haja
nada que eu possa fazer.
Agora que Dupont se esforçou tanto para se proteger, tenho certeza
de que ela deve estar tramando algo.
— Posso perguntar, — diz Delisia, — do que se trata tudo isso?
— Eu acho que Victoria Dupont está reabrindo o Banco de Sangue, —
eu digo, com meu tom escurecendo, — E desta vez, suas vítimas também
são garotas Fae.
Zinnia

O que diabos aconteceu?


Num momento eu estava no vestiário dos meninos da minha escola...
E agora, eu estou...
Na verdade, não tenho ideia de onde diabos estou!
Há uma mulher parada na minha frente agora. A mesma mulher que
me puxou pelo espelho.
— O que aconteceu? — Eu pergunto a ela enquanto seus olhos
curiosos voam para cima e para baixo de mim.
Sinto que estou começando a entrar em pânico, mas tento respirar
fundo. Eu não preciso surtar ainda. Tenho certeza de que há uma
explicação perfeitamente lógica para o que está acontecendo aqui.
Eu observo meus arredores. Estou em uma sala vazia sem janelas,
uma única luz fluorescente piscando acima de mim e uma fechadura de
alta segurança na porta.
Meus pais sempre disseram que, se eu me perder, devo ficar parado e
eles virão me encontrar. Não parece que eu realmente tenho escolha
agora, hein?
— Sim, — diz a mulher, mais para si mesma do que para mim. — Você
será perfeita.
— Perfeita para quê? Quem é Você? Onde estou?
— Você deve me chamar de Senhora Dupont. — diz ela. olhando para
mim por baixo do nariz. — Eu sou a dona e operadora deste Banco de
Sangue. De agora em diante, você trabalha para mim e fará tudo o que eu
disser.
Seu tom envia calafrios na minha espinha e eu sei que ela está falando
sério.
Banco de Sangue?
Eu li sobre isso em um livro sobre vampiros. Mas eu pensei que era
mais uma lenda urbana do que realidade. E eu certamente nunca pensei
que seria minha realidade!
Tenho vontade de chorar, mas sei que, depois de começar, não vou
conseguir parar. Eu só preciso ficar calma e descobrir onde estou e por
que estou aqui.
— Agora, — diz ela, — tire a roupa.
— O quê? — Eu digo, em estado de choque. — De jeito nenhum!
— Eu te disse, — ela diz. — Você faz o que eu digo.
Tire. As. Suas. Roupas.
Eu ia tirar minhas roupas para Chaz esta noite, mas nos meus
próprios termos. E agora, estou sendo forçada a isso.
Por mais que eu não queira, acho que não tenho escolha. Eu
ansiosamente tiro minha roupa de líder de torcida e cubro meu corpo nu
com as mãos.
— Exatamente como eu suspeitava, — ela diz. — Perfeito.
Ela pega minha roupa de líder de torcida do chão.
— Normalmente queimamos as roupas de rua com as quais nossos
novos membros chegam, mas isso pode ser útil para alguns de nossos
clientes com fetiches específicos, — diz ela. — Então é seu dia de sorte.
Mas, por enquanto, vista isso, — diz ela, jogando uma camiseta e shorts
grandes para mim. — Você vai usar isso quando estiver de folga, — ela
diz. — Eu vou lhe fornecer outras roupas quando você estiver em serviço.
— Em serviço para quê? — Eu pergunto a ela.
— Todas as suas perguntas serão respondidas na hora certa. Por
enquanto, apenas cale a boca e fique bonita.
Nunca ouvi ninguém falar comigo assim antes — como se eu fosse
apenas algum tipo de objeto.
— Vire-se, — ela diz e eu obedeço.
De repente, sinto algo frio sendo enrolado em volta do meu pescoço.
— Ei, ei, o que é isso? — Eu pergunto, agarrando-o e tentando tirá-lo
de mim.
Mas a Senhora Dupont apenas puxa com mais força. A coleira aperta
minha traqueia e começo a engasgar, com falta de ar.
Eu noto o que acontece quando desobedeço.
Dor. E muita.
De repente, ouço um clique enquanto ela coloca a coleira em volta do
meu pescoço.
— Por que eu preciso disso? — Eu pergunto a ela. — O que isso faz?
— Eu não posso ter você aqui tentando usar seus poderes Fae, posso?
— Ela diz.
Oh, meu Deus.
Não tem como um colar realmente parar meu poder, certo?
Mas, com certeza, quando abro as palmas das mãos e tento canalizar
até mesmo a menor brisa, não sinto absolutamente nada.
— Tudo ótimo, — diz Madame Dupont. — Vamos lá e você pode
conhecer as outras.
— As outras? — Eu pergunto.
Ela destranca a porta e abre, levando-me a uma área comum forrada
com cadeiras e sofás, com uma pequena cozinha dobrada em um canto.
A sala está cheia de um monte de outras pessoas da minha idade, a
maioria parecendo pálida, cansada e esgotada. Algumas delas estão
usando colares de prata como eu. Essas devem ser as outras Fae.
Todo mundo parece mal notar que entramos.
— Este é o lounge dos bastidores, — diz Dupont. — É bom, não é? Eu
mesmo projetei. O beliche onde todas vocês dormem fica no final do
corredor. Contanto que você apareça em seus turnos na hora certa e
façam tudo o que eu e meus guardas dissermos, então não devemos ter
problemas.
Então, ela se vira para me encarar, atirando adagas em mim com seu
olhar.
— Mas se você desobedecer, — ela acrescenta.
— Você será levada para outro lugar inteiramente diferente. Você não
quer descobrir onde. Você entende?
— Não. — eu digo desafiadoramente. — Eu certamente não entendo.
Por que estou aqui?
— Este é um banco de sangue. E como um Fae, você é nosso item
exclusivo e exótico do menu.
— Olha, sua cadela murcha, — eu digo. — Eu não sou o item de menu
de ninguém. Eu sou Zinnia Redraven. Sênior no ensino médio. Capitão
da equipe de torcida. Tenho uma família, um namorado e uma vida. Você
não pode fazer isso comigo.
— Você ouviu isso? — Dupont diz com uma risada para um guarda de
segurança enorme que está parado por perto. — Este aqui tem uma
família e um namorado e uma vida. Acho que devemos mandá-la de
volta!
Ela começa a cacarejar ainda mais alto, dobrando-se sobre si mesma.
Aproveito esse momento de distração para avançar em direção à
porta da sala, tentando escapar.
Mas em um instante, sinto o segurança me puxando de volta.
— Bem, — ela diz, me olhando bem nos olhos, — acho que você não
vai passar a noite na sala, afinal. Leve-a para a masmorra!
O guarda me puxa para longe da área comum. Alguns dos outros
meninos e meninas na sala olham para mim com expressões vidradas,
como se eles tivessem visto essa mesma situação uma centena de vezes.
Sou arrastada até uma escada escura e suja. Enquanto o guarda me
guia para baixo, posso ouvir o som da água pingando ao meu redor e
respiro o ar úmido e fedorento.
Eu provavelmente deveria ter apenas mantido minha boca fechada.
Mas como eu poderia, quando eles vão usar meu corpo como uma caixa
de suco de vampiro?!
Eles me jogam em uma cela, com meus joelhos raspando contra o
concreto quando eu caio no chão. Então, ouço o som de barras sendo
fechadas e o guarda desaparece de vista.
Eu abraço meus joelhos em meu peito.
Não chore, penso comigo mesma. Vai ficar tudo bem. Isso é apenas um
pesadelo. Um pesadelo muito ruim, muito realista. Você vai acordar amanhã
em sua cama quente, em sua vida perfeita.
— Então... o que você fez para acabar na masmorra? — Uma voz
masculina diz, me puxando para fora dos meus pensamentos em espiral.
Eu me viro e, na escuridão, mal consigo ver o contorno de outra
pessoa sentada na cela ao meu lado.
Eu não respondo, apenas envolvo meus braços com mais força em
volta de mim.
— Não se preocupe, rabo de cavalo, — a voz me diz. — Eu não mordo.
E mesmo se eu fizesse, há barras nos separando.
— Eu tentei pegar a chave do meu colar, — eu finalmente digo.
Ele rasteja para perto de mim e eu mal posso ver mais de suas feições.
Ele tem uma mandíbula afiada, maçãs do rosto definidas e olhos
dourados penetrantes que trazem um brilho de luz para o espaço escuro
e úmido.
— Você deve ser um Fae então, hein? — Ele diz, olhando meu
colarinho.
— Sim. — eu digo. — O que você é?
— Eu sou apenas um velho humano comum, — ele diz. — O nome é
Aaron.
Um momento de silêncio se estende entre nós, mas então uma
pergunta surge na minha cabeça.
— Ei, Aaron? — Eu digo. — Você conhece Leonardo DiCaprio?
— Huh? — ele diz com uma risada. — Não! Por que você me
perguntaria isso?
— Ele é um humano... você é um humano.
— Não é assim que funciona, — diz ele. — Eu e o velho Leo não
andamos nos mesmos círculos.
— Entendi. — eu digo. — Valeu a tentativa, de qualquer maneira.
— Bem, admiro o seu otimismo, — diz ele. — Não temos muito disso
por aqui. Você deve ser nova.
— Sim. Estou aqui há cerca de... dez minutos.
— E você já chegou à masmorra? — ele diz. — Bom trabalho, rabo de
cavalo.
— Meu nome é Zinnia, — eu digo. — E não vou ficar aqui por muito
mais tempo.
— É verdade? — Ele me pergunta, seu tom misturado com sarcasmo.
— Você verá, — eu digo.
— Isso é fofo e tudo, rabo de cavalo. Mas já vi tentativas fracassadas o
suficiente para saber que não há razão para tentar.
— Estou falando sério, Aaron, — digo a ele, embora possa sentir que
minha confiança está vacilando. — Vou encontrar uma saída.
Capítulo 38
Zinnia

Cedo na manhã seguinte, sou puxada para fora da masmorra pelo


mesmo guarda e arrastada para a sala comum.
Todos os outros prisioneiros estão se preparando para o dia. As
meninas usam lingerie preta e os meninos, shorts de couro preto justos.
Percebo que algumas das meninas também têm asas amarradas na
parte detrás dos sutiãs. Isso deve ser parte do uniforme Fae.
Com certeza, quando eu abro minha bolsa, há um conjunto de asas
com penas dentro...
Isso deve ser uma piada...
Todo mundo sabe que os Fae não têm asas.
Caso contrário, não precisaríamos de asas falsas.
Mesmo assim, não tenho escolha a não ser colocá-las, a menos que
queira passar mais uma noite na masmorra sem o conforto de um
colchão. Visto a lingerie, coloco as asas e sou imediatamente conduzida a
uma fila única com as outras garotas Fae.
— Oi, eu sou Zinnia, — eu sussurro para a garota de cabelo
encaracolado na minha frente.
Mas em vez de uma resposta, ela apenas vira a cabeça em minha
direção e coloca um único dedo nos lábios.
Quase não há vida atrás de seus olhos, e em seu pescoço, vejo várias
marcas de sucção de onde os vampiros devem ter sugado seu sangue.
Oh, Deus...
Isso é ruim.
Muito ruim.
Sinto meu coração disparar enquanto somos levados da sala para o
corredor principal do Banco de Sangue.
Este lugar parece o clube de strip mais exclusivo e luxuoso do mundo,
repleto de sofás de veludo vermelho e um bar totalmente abastecido em
cada esquina.
É de manhã cedo, mas o lugar já está cheio de vampiros, desesperados
por uma dose.
Ao redor da pista de dança principal há um punhado de estruturas
que parecem grandes gaiolas de pássaros.
— Fae, nas jaulas, — um segurança me diz.
Eu sigo as outras garotas enquanto cada uma sobe dentro da sua
gaiola.
Assim que eu entro, o portão fecha e a música eletrônica começa a
tocar nos outros alto-falantes.
Sob ordens, as outras garotas ao meu redor começam a dançar
sedutoramente em suas gaiolas.
Mas não movo um músculo. Eu apenas fico parada, olhando ao meu
redor, com o medo inundando cada célula do meu corpo.
— Dance! — Eu ouço um segurança começar a gritar. — Gaiola 3!
Comece a dançar!
Percebo que ele deve estar falando comigo, mas meu corpo está
congelado no lugar.
Ele marcha até mim e eu noto que ele está segurando uma longa
haste de metal em suas mãos com uma lâmpada de prata na ponta.
Ele estica a vara através das barras da minha jaula e, por um
momento, acho que ele vai me espetar com ela.
Mas em vez disso, ele estende a mão e pressiona a ponta da haste
contra meu colar de metal.
De repente, grito de dor quando uma corrente elétrica passa pelo meu
corpo, fazendo com que cada um dos meus cabelos se arrepie.
— O que é que foi isso? — Eu grito.
— Dance! — Ele repete. — Ou vou aumentar a voltagem.
Com isso, começo a deixar meu corpo se mover. Não tenho ideia de
como estou ou o que estou fazendo. Eu apenas me contorço ao redor da
gaiola, completamente fora de sincronia com a música, enquanto meus
olhos continuam a examinar a sala.
De repente, meu olhar pousa no rosto de um vampiro mais velho que
está me encarando, com seus olhos percorrendo meu corpo enquanto ele
lambe seus lábios finos e brancos.
Eu me forço a desviar o olhar dele, mas ainda posso sentir seu olhar
persistente em meu corpo.
Quando eu olho para ele, ele está chamando um dos seguranças.
Sinto um arrepio percorrer minha espinha quando ele aponta um
dedo longo e esquelético diretamente para mim. Em seguida, ele se
levanta da mesa e atravessa a sala, desaparecendo atrás de uma cortina
vermelha.
Momentos depois, o guarda está se aproximando de mim. Ele
destranca minha gaiola e me agarra pelo pulso.
— Monsieur Deckhart solicitou sua presença na Sala Vermelha, — ele
diz, me arrastando em direção à cortina vermelha.
— O que acontece na Sala Vermelha? — Eu pergunto a ele, tremendo
em meus saltos muito altos.
— Tudo o que Monsieur deseja, — diz ele. — Exceto sexo. Precisamos
reter seu valor o maior tempo possível.
Ele me puxa pela cortina e depois por uma porta. Monsieur Deckhart
já está esperando por mim do outro lado.
As paredes da sala são cobertas de espelhos do chão ao teto e,
pendurado no centro, há um enorme lustre com inúmeras lâmpadas
vermelhas brilhantes.
A luz reflete nos espelhos, criando a ilusão de que estou em um
espaço infinito, onde fogo está chovendo do céu.
— Aproveite, — o segurança diz a Monsieur Deckhart, e então ele
desaparece, trancando a porta atrás de si.
— Olá, pequenina, — o vampiro de cabelos brancos me cumprimenta.
Eu não digo nada em resposta. Eu apenas fico lá, olhando para ele
sem expressão.
— Não gosto de falar muito? — Ele diz. — Bem, então, que tal você
dançar para mim?
Eu começo a mover meu corpo da mesma forma que fiz na gaiola.
Cada um dos meus membros está tentando resistir ao movimento,
tremendo incontrolavelmente. Mas eu experimentei a punição por me
recusar a dançar e eu não quero passar por isso de novo.
Deckhart me observa, continuando a lamber os lábios como fazia
antes.
— Você é a pequena Fae mais bonita que eles trouxeram, — ele diz. —
E eu vejo que seu pescoço está fresco. Você nunca foi mordida. Isso toma
você ainda mais deliciosa para mim.
Eu estremeço com suas palavras.
— Venha aqui, — ele diz, mas eu fico no lugar.
— Tudo bem, — diz ele. — Sempre gostei de desafios. — Ele se
levanta de seu assento e desliza até mim. Minha frequência cardíaca
aumenta a cada passo que ele dá.
Eu não vou deixar este homem me tocar, ou me morder, ou fazer
qualquer coisa comigo.
Mas dentro de instantes, eu sinto sua mão gelada descansando em
meu ombro. Ele passa o dedo pelo meu pescoço.
— Que veias carnudas e suculentas você tem..., — diz ele. — Minha
caixinha de suco...
Em seguida, ele arrasta o dedo para baixo em meu peito até que eu
sinto sua mão em meu seio.
— Não me toque, — eu finalmente concordo.
— Como é? — Ele diz, com seus lábios se curvando em um sorriso
sinistro.
— Eu disse, não me toque.
Ele agarra meu seio, com mais força dessa vez.
— Vim aqui para ter prazer, — disse ele. — Não ser repreendido por
alguma puritana magricela.
— Você está errado sobre mim, — eu digo. — Eu não sou uma
puritana. Eu sou uma porra de deusa do sexo.
Com isso, eu agarro seu pulso e envio meu dedo do pé apontado
direto para sua virilha.
Acontece que chutes altos não são úteis apenas para líderes de
torcida.
Monsieur Deckhart geme de dor e se inclina, segurando a virilha.
— Sua vadia! — Ele grita. — SOCORRO! Ela me chutou!
— Você vai chorar porque foi chutado por uma garota? — Pergunto-
lhe.
— SOCORRO! — Ele chama novamente.
Só então, um guarda de segurança irrompe na Sala Vermelha.
— O que está acontecendo aqui? — Ele pergunta.
— Ela me machucou, — diz ele. ainda chorando. — Afaste-a de mim!
Em poucos instantes, meus pulsos estão amarrados nas minhas costas
e o guarda está me arrastando de volta para a masmorra.
Eles me jogam de volta na mesma cela e trancam a porta. Momentos
depois, eles jogam outro conjunto de roupas de dormir pelas grades e
desaparecem.
Quando eles se vão. ouço uma risada vindo da cela ao meu lado.
— Uau, rabo de cavalo, você tem muito espírito, — diz Aaron. — Você
era uma líder de torcida ou algo assim?
— Eu sou uma líder de torcida, — digo com firmeza.
— Oh, merda... sério? — Ele diz.
— Sim! Divirta-se o quanto quiser, mas foi útil quando eu precisei dar
um chute alto nas bolas daquele velho assustador.
Eu me viro no lugar e mostro a Aaron exatamente como fiz isso,
terminando o movimento em uma posição perfeita, com meus braços
erguidos triunfantemente no ar.
— Nada mal, — diz ele, com os olhos brilhando.
— Nada mal mesmo.
— O que você fez desta vez? — Pergunto-lhe.
— Um vampiro me mordeu, então eu mordi de volta, — ele diz.
Eu não posso evitar, mas solto uma pequena risada, apesar da minha
tristeza.
— Sabe, tudo isso seria muito mais fácil para você se apenas
cooperasse, — diz ele.
— Eu não vou deixar aqueles malucos me tocarem. De jeito nenhum,
— eu digo. — Além disso, se você se sente assim, por que não coopera?
— Pessoalmente, prefiro ficar aqui embaixo, — diz ele. — É mais
silencioso... normalmente.
— Bem, desculpe perturbar sua paz, — eu digo em um tom áspero,
pegando as roupas de dormir do chão. — Eu acho que você vai querer me
ver mudar como todos os pervertidos lá em cima, hein?
— Não, — diz Aaron, com um toque de surpresa em seu tom. — Claro
que não.
Ele coloca as mãos sobre os olhos e se vira, me dando um momento
de privacidade. De repente, sinto uma onda de culpa tomando conta de
mim por acusá-lo tão duramente.
Tiro a lingerie e jogo no chão. Eu dou um suspiro de alívio enquanto
coloco a camiseta e o short. Mas ainda estou longe de me sentir
confortável nesta cela de concreto sombria.
— Tudo bem, — eu digo para Aaron. — Acabei. Desculpe por isso.
Eu...
Mas não consigo terminar minhas desculpas, porque ouço passos
descendo as escadas e a Senhora Dupont aparece na minha frente.
— Zinnia. Venha aqui, — ela me diz.
Eu me levanto e me aproximo das grades da cela, segurando seu
olhar. Não vou deixar que ela me intimide.
— Você chutou um cliente? — Ela zomba de mim. — Você sabe que
tipo de dano isso pode causar à nossa reputação?
— Você sequestra pessoas e as mantém como escravas de sangue e
sexo, — eu digo. — Que tipo de reputação boa você espera ter?
Eu ouço Aaron rindo ao meu lado.
A Senhora Dupont estende a mão pelas barras e agarra meu pulso. —
Você teve dois ataques agora, — diz ela. — A próxima vez que você
desobedecer a uma ordem, eu mesmo irei lidar com você. E você não
quer ver do que sou capaz. Então, por que você não passa a noite
pensando com muito cuidado sobre que tipo de futuro você quer aqui?
Tento puxar meu braço, mas ela o segura com ainda mais força.
Mas é quando vejo algo brilhando na luz fraca da masmorra.
Há uma pulseira em seu pulso, incrustada com pedras de safira. Eu
olho para a pedra central e tenho certeza de que posso ver o contorno
tênue do palácio Fae.
Deve ser uma chave do portal. Li sobre elas na escola, mas nunca vi
uma pessoalmente. Esta pulseira deve ser como ela me transportou para
fora do reino Fae em primeiro lugar.
— Você não tem nada a dizer? — Ela me pergunta. — Nenhuma
resposta sarcástica?
— Não. — eu digo. — Não esta noite.
Ela solta meu braço e puxa a manga para baixo sobre o pulso. Espero
que ela não tenha percebido que eu estava olhando para a pulseira.
Então ela dá meia-volta e sai da masmorra e sobe as escadas de volta.
— Ela te machucou? — Aaron diz, com preocupação em sua voz.
Eu ando até ele e agarro as barras que nos separam.
— Aaron, — eu digo. — Você confia em mim?
— Claro, rabo de cavalo.
— Acho que acabei de encontrar uma maneira de nos tirar daqui. —
digo. — Mas vou precisar da sua ajuda.
Capítulo 39
Zinnia

— Você é louca?! — É a reação instantânea de Aaron. — Você não vai


encontrar uma maneira de sair daqui... não tem como.
— É possível, — eu digo. — A pulseira no pulso da Senhora Dupont é
uma chave de portal para o reino Fae.
— Mesmo se isso for verdade, nunca vamos conseguir saber disso, —
diz ele.
— Temos que tentar! É nossa única esperança! — Eu digo.
— Bem, e se eu não quiser ir embora?! — Ele deixa escapar.
— O quê? — Eu digo baixinho, absolutamente chocado com suas
palavras. — Como você não quer ir embora? Você não quer voltar para
sua família?
— Não, — ele responde rapidamente. — Meus pais são aqueles que
me venderam para o Banco de Sangue.
— Aaron... Como eles puderam fazer isso? — Eu pergunto, com
minha mente girando.
Ele se senta em sua cela e eu me sento do outro lado das grades. Posso
dizer que ele está relutante em compartilhar, mas estou desesperada para
saber.
Tenho o desejo repentino de segurá-lo perto de mim, mas não
consigo alcançá-lo.
— Você pode falar comigo, Aaron, — eu digo. — Você disse que confia
em mim.
— Meu pai tinha um problema com bebida, — Aaron começa. — E
um problema com jogo quando ele estava bêbado. Ele acumulou muitas
dívidas ao longo dos anos. E o Banco de Sangue oferece um bom
dinheiro para crianças saudáveis.
— Oh, meu Deus, Aaron..., — eu digo. — Isso é horrível. Eu sinto
muito.
Minha mente passa pelos meus pais. Tenho resistido a pensar muito
neles, arrasada com a ideia de quanta dor eles devem estar sentindo
desde que fui levada. Simplesmente não consigo imaginar um pai
enviando voluntariamente seu filho para um lugar como este.
— Não há nada esperando por mim lá fora, — diz Aaron. — Mesmo
na situação improvável de sairmos vivos.
— Mas não há nada para você aqui, Aaron, — eu digo. — Eu posso te
levar ao reino Fae. É um lugar mágico e incrível. Vou até levá-lo para um
passeio de Pégaso. Você vai adorar lá.
— Por que você me levaria? — Ele pergunta. — Acabamos de nos
conhecer.
— Porque somos companheiros de masmorra, — eu digo. — E porque
preciso de você, Aaron. Por favor.
Ele entra na luz e olha para mim por um momento e eu tenho a
chance de estudar sua aparência um pouco mais.
Ele não se parece em nada com Chaz, que foi a estrela de todas as
minhas fantasias sexuais no ano passado.
A fome e a perda de sangue deixaram Aaron magro e pálido, em
comparação com a forma forte e bronzeada de Chaz.
E isso não é a única diferença entre eles. Chaz era o cara mais popular
da escola, enquanto Aaron foi um pária toda a sua vida.
As experiências de Aaron, especialmente as difíceis, deram a ele uma
profundidade por trás de seus olhos que Chaz nunca teve.
Eu também posso ver um vislumbre de esperança se formando em
seus olhos também, e recebo um choque de excitação por saber que sou a
causa disso.
— Por favor, — eu digo novamente.
Finalmente, ele acena com a cabeça. — Então... você está me dizendo
que os pégasos são reais?
— Tão reais quanto eu e você, — eu digo.
— Então, como vamos conseguir essa pulseira? — Ele me pergunta.
— Oh, obrigada, obrigada, obrigada! — Eu solto.
A expressão dura de Aaron se transforma em um sorriso suave, e
imediatamente começamos a elaborar nosso plano.
Aaron
Eu sou muito idiota.
Muito idiota.
As palavras ressoam em minha cabeça a cada passo que dou,
enquanto me dirijo para o corredor principal do Banco de Sangue na
manhã seguinte, vestida com meu uniforme: calcinha de couro preta.
Estou trabalhando como barman, então assumo minha posição e
começo a limpar os copos até que estejam completamente limpos.
Claro, eu gosto de minhas pequenas rebeliões tanto quanto qualquer
outro cara... Mas essa garota vai nos colocar em um mundo de problemas
se nosso plano falhar.
Se formos pegos, eles pouparão Zinnia.
Ela é uma jovem Fae. E linda, por sinal.
Ela é valiosa demais para ser jogada fora como o jornal de ontem.
Mas eu?
Eu serei um caso perdido. Talvez seja o melhor de qualquer maneira.
O que tenho a perder? Esta não é uma vida que valha a pena ser vivida.
Eu olho através do corredor e vejo aquele rabo de cavalo balançando
para frente e para trás enquanto Zinnia atravessa a sala.
Ela se parece com todas as outras garotas populares com quem
frequentei o colégio... o tipo que nunca me daria a mínima porque meu
pai não me comprou um carro Beemer.
Mas agora que a conheci, percebo que ela não é nada como elas.
Ela tem profundidade real. E autoestima real.
É assim que você sabe quando alguém vem de uma família feliz. Eles
tiveram tanto amor ao crescer, que realmente aprenderam a amar a si
mesmos.
Vai entender.
Vou tentar ajudá-la a voltar para a família, mesmo que isso me mate.
Eu realmente devo estar enlouquecendo.
Como eu disse, sou muito idiota.
Mas se tudo correr como planejado, seremos idiotas juntos na Terra
das Fadas antes que o dia acabe.
Zinnia

Fui designada para trabalhar no chão hoje, o que é perfeito.


Significa que fui rebaixada das gaiolas e, em vez disso, tenho que
andar por aí dando lap dance para os vampiros até que um deles solicite
uma sessão na Sala Vermelha comigo.
Quando começo meu turno, entendo por que as gaiolas são os locais
mais cobiçados. Os vampiros constantemente me apalpam e fazem
comentários obscenos enquanto eu passo por eles.
Eu olho para o bar e vejo Aaron parado ali. me observando. Dou uma
piscadela para ele e ele pisca de volta.
Eu sinto que somos as estrelas de um filme de ação agora.
Mas esta é a vida de verdade... ou a morte de verdade.
Eu danço pela pista, indo direto para a cortina vermelha.
Eu me viro e, certificando-me de que nenhum segurança está
olhando, eu deslizo para atrás dela.
Agora só preciso entrar na Sala Vermelha.
Eu bato, e felizmente não há resposta. Está vazia.
Eu alcanço meu cabelo e pego o alfinete de ouro que minha mãe me
deu de presente no meu aniversário de dezoito anos.
É uma loucura que meu aniversário tenha sido há apenas dois dias.
Parece uma vida inteira e um mundo inteiro de distância. Eu acho que é
um outro mundo a partir daqui. Mas voltarei em breve.
Eu coloco o pino na fechadura e o aperto, prendendo a respiração até
que finalmente ouço um clique.
Eu dou um suspiro.
Graças a Deus.
Consegui.
A primeira etapa do plano está concluída. Agora é a vez de Aaron
brilhar.
Aaron
Quando vejo Zinnia desaparecer por trás das cortinas, sei que é hora
de eu agir.
Tive que enganar muitas pessoas que cresciam para conseguir comida
e dinheiro quando meus pais desapareciam por dias a fio.
Portanto, isso não vai ser muito difícil para mim.
Sirvo uma última bebida para o cliente que mal está falando na minha
frente e corro para fora do salão principal e vou para o saguão.
Eu continuo até chegar à porta que diz Senhora Victoria Dupont.
Bato três vezes e ouço sua voz zombeteira. — Entre, — ela diz.
Respiro fundo, mudo minha expressão e entro.
— Senhora Dupont, venha rápido, — eu digo.
— Qual é o problema? — Ela me pergunta.
— É a garota Fae... a nova...
— O que ela fez agora? — Dupont diz.
— Ela está na Sala Vermelha, — eu digo, fingindo estar sem fôlego. —
Ela está causando problemas com outro cliente.
Dupont se levanta, com uma veia quase saltando de sua testa. — Por
que você não alertou a segurança? — Ela me pergunta.
— Eu ouvi você ontem à noite, — eu digo. — Você disse que queria
lidar com ela sozinha.
— Você está certo, — diz ela, puxando as mangas e agarrando a longa
vara de metal que está apoiada em sua mesa.
— Esta é a última gota, — ela diz, e eu estremeço.
Espero a qualquer porra de deus que a rabo de cavalo tenha entrado
naquela sala enquanto sigo Dupont pelo salão e pelo corredor principal.
Quando chegamos à porta da Sala Vermelha, Dupont puxa uma chave
e a fecha. Mas ela descobre que já está entreaberta.
— Que diabos? — Ela sussurra, abrindo a porta. — Afaste-se do nosso
cliente, — ela chama para a sala.
Mas quando ela olha ao redor, ela vê que não há nenhum cliente
dentro.
Apenas Zinnia, de pé sob o lustre em posição de combate.
Em um instante, empurro Dupont para dentro da sala e fecho a porta
atrás de nós.
— O quê... — Dupont diz, mas com a mesma rapidez, Zinnia lança
um chute alto que faz contato direto com a bochecha de Dupont.
Dupont cai no chão com um grito alto.
— Muito bem, rabo de cavalo, — digo a Zinnia, e ela me dá um sorriso
rápido.
Ela mantém o pé pressionado no rosto de Dupont enquanto eu me
abaixo, abro a pulseira e coloco no meu próprio pulso.
— NÃO! — Dupont grita. — Segurança! Segurança!
Eu ouço o som de passos correndo em nossa direção.
Não temos tempo a perder. Pego a mão de Zinnia, mas Dupont é mais
rápido. Ela estende sua vara de metal e a pressiona contra o colarinho de
Zinnia.
O corpo inteiro de Zinnia treme com a força do choque elétrico e ela
cai no chão.
Dupont rasteja até ela e a atinge com uma chave de braço.
O som de passos está ainda mais perto agora.
Pego os braços de Zinnia e tento afastá-la de Dupont.
Ela consegue se levantar, mas Dupont ainda está com as mãos
entrelaçadas ao redor dela.
De repente, a porta se abre e dois guardas de segurança entram.
Um dos guardas se lança contra mim, prendendo meus braços ao lado
do corpo.
O outro ataca Zinnia.
Mas ela recuperou sua força agora. Ela dá uma cotovelada na garganta
de Dupont e dá um chute no peito do segurança.
Eu nunca vou tirar sarro das líderes de torcida de novo...
O segurança que está me segurando em suas mãos é
momentaneamente distraído pelo caos.
Aproveito a oportunidade para me afastar dele e avançar em direção a
Zinnia.
— Pegue minha mão! — Eu a chamo.
Ela estende a mão em minha direção, mas os guardas são mais
rápidos. Em um instante, os dois estão um de cada lado dela, puxando
seus braços para trás.
Ela chuta o ar descontroladamente, tentando se libertar. Mas não há
esperança.
Nós estragamos tudo. Acabou. Nosso plano falhou.
Nesse momento, sinto um pontapé forte no estômago.
E não é da Dupont.
É de Zinnia.
De repente, percebo o que a rabo de cavalo está tentando fazer. Ela
quer que eu saia sem ela.
— Não! — Eu grito.
Mas é tarde demais.
Estou caindo de costas na parede espelhada.
Em vez de bater no vidro, eu deslizo por ele, em um abismo negro
rodopiante, com a pulseira de safira enrolada em meu pulso.
Capítulo 40
Zinnia

— Que porra você fez? — Dupont grita a plenos pulmões.


Os seguranças seguraram meus dois braços, mas não estou resistindo.
Estou apenas respirando para me acalmar, com um sorriso de satisfação
no rosto.
— Sua idiota, — diz Dupont, cuspindo na minha cara. — Seu
pequeno plano falhou.
— Não, não falhou, — eu digo. — Quer dizer, eu ainda estou aqui, o
que é uma merda. Mas Aaron saiu.
— Quem se importa com ele? — Dupont diz. — Aaron é um pequeno
idiota delinquente cujos próprios pais mal podiam esperar para se livrar
dele.
— O mundo deu a ele uma pele dura, — eu digo, — mas ele tem uma
suavidade por baixo. Ele é uma boa pessoa.
— Quão nobre de sua parte sacrificar sua própria vida para salvar uma
'pessoa boa'.
— Bem... não é apenas Aaron que eu salvei, — eu atiro de volta.
— É mesmo? — Ela me pergunta com uma careta.
— Ele está com a pulseira agora, o que significa que você não pode
levar mais garotas como eu, — eu digo.
Dupont geme de novo e não posso deixar de sentir uma alegria
inimaginável com sua angústia.
— Bem, é isso, — diz ela, agarrando meu colarinho e puxando meu
rosto para o dela. — Por mais que eu gostaria de matar você aqui, agora,
eu tenho algo muito pior planejado para você.
— Vou vendê-la pelo lance mais alto. As pessoas pagarão um preço
alto pela oportunidade de deflorar uma virgem Fae.
Ela me dá um tapa no rosto. Arde incrivelmente, mas não é tão
doloroso como o duro golpe de suas palavras aterrorizantes.
Não tenho ideia dos horrores que me aguardam se eu realmente for
leiloada.
Mas ainda há um pouco de esperança. Aaron conseguiu sua liberdade.
E se ele for o tipo de cara que acho que é, vai voltar para me buscar. Eu
sei que ele vai.
Logan

Retomamos ao reino Fae bem mais cedo do que eu esperava, caindo


nos jardins depois de usar meu anel como chave do portal.
O conselho da matilha não queria que eu visse para intervir na
questão das meninas Fae desaparecidas. Mas se Dupont construiu um
novo Banco de Sangue, é oficialmente da minha conta.
Nós queimamos o último, mas aparentemente isso não foi uma
ameaça o suficiente para impedi-la de tentar novamente.
O problema é que o Banco de Sangue de Lorde Vlad estava operando
abertamente. Todo mundo sabia onde estava e quem estava envolvido na
quadrilha do tráfico.
Mas Dupont aprendeu com os erros de Vlad. Ela está operando em
segredo, e parece que ela ainda tem uma bruxa ao seu lado para manter o
seu pequeno negócio protegido de olhares indiscretos.
Isso não vai ser fácil para mim. E também não foi fácil para Everly.
Ela mal dormiu desde que descobrimos sobre as meninas Fae
desaparecidas. E acho que não a culpo. Ela sabe melhor do que qualquer
um de nós o que essas meninas devem estar passando agora.
— Você está bem? — Eu pergunto a ela antes de entrarmos no palácio
Fae.
— Eu estou bem, — diz ela. — Mas essas meninas não estão. Agora a
minha única missão é me certificar de que elas voltem para casa. Dupont
está usando minha chave de portal para raptá-las. É minha culpa.
— O mal sempre encontra um caminho, Everly, — eu digo. — Mas o
bem também. Vamos impedi-la de uma vez por todas.
Everly
Quando entramos no palácio, meu tio está discursando sobre a
segurança de seu chefe da guarda. Pierre.
— Triplicamos a segurança em todos os terrenos da escola, — diz
Pierre. — Tivemos Fae de todo o reino como voluntários para o trabalho.
— Ótimo. Mantenha-me atualizado, — meu tio diz, acenando para
mim. — Everly, preciso que você venha comigo.
Logan aperta minha mão e sigo meu tio pelo saguão em direção à sala
de estar.
— O que está acontecendo? — Pergunto-lhe.
— Estou com um problema, — diz meu tio. — Os pais de uma das
vítimas chegaram ao palácio esta manhã, esperando por mais
informações.
— Talvez você possa dar a eles um pouco de conforto e compreensão,
já que foi capaz de escapar do mesmo tipo de lugar em que a filha deles
está agora.
Meu coração para pensando nos pais cuja filha está desaparecida.
— Eles estão bem ali, — diz ele. — Você acha que pode fazer isso?
— Claro, — eu digo. Meu tio me dá um tapinha gentil no braço e vai
embora.
Sinto meu coração disparar enquanto dou um passo em direção à
sala.
O que posso dizer a eles para acalmar suas mentes preocupadas?
Com a mão trêmula, bato na porta.
— Entre, — uma pequena voz diz.
Eu ando para dentro e vejo um homem e uma mulher amontoados no
sofá, abraçados.
Eles mantêm seus olhos fixos em mim enquanto eu caminho em
direção a eles.
— Olá, — eu digo. — Eu sou Everly. Eu sou a sobrinha do rei e a Luna
da matilha Lua Vermelha.
— Eu sou Clarissa, — a mulher diz.
— E eu sou Corbinian, — acrescenta o marido.
— Você tem mais informações para nós sobre Zinnia? — Clarissa
pergunta.
Zinnia.
Ela também tem o nome de uma flor, como eu.
— Sinto muito, — eu digo. — Eu não sei onde sua filha está.
Clarissa choraminga e esconde o rosto no peito de Corbinian. — Foi
seu décimo oitavo aniversário. Estávamos esperando por ela com
presentes e um grande e lindo bolo. Mas ela nunca voltou para casa.
— Eu sinto muito, — eu digo. — Eu gostaria mais do que qualquer
coisa de ter informações sobre sua filha. Mas eu te prometo isso. Não vou
descansar até que ela esteja de volta em seus braços. Isso é pessoal para
mim, também.
Corbinian levanta a cabeça e olha para mim.
— Por quê? — Ele pergunta, com uma pitada de suspeita em seu tom.
— Porque, — eu começo, — passei muitos anos horríveis e
torturantes em um Banco de Sangue. Mas eu consegui sair viva e destruí
o lugar.
— Agora é o meu objetivo de vida garantir que ninguém mais
experimente o tipo de coisas que eu vivi. Vou trazer Zinnia de volta, não
importa o que aconteça.
— Como? — ele diz. — Como você pode estar tão certa disso?
Não sei o que dizer.
Sinceramente, não tenho ideia de como... Só sei que vou encontrar
um jeito. Eu tenho que encontrar um jeito.
De repente, o silêncio é interrompido pelo som de um alarme soando
pelo palácio, fazendo-me pular da cadeira.
— O que é isso? — Clarissa me pergunta, com sua cabeça saindo das
dobras do suéter de Corbinian.
— Vou dar uma olhada, — digo, saindo correndo da sala e indo para o
corredor.
Há um guarda correndo pelo corredor também.
— O que é esse som? — Pergunto-lhe.
— Um intruso não autorizado acabou de se teletransportar para os
jardins do palácio, — diz ele.
Oh, merda...
Isso não pode ser bom.
Eu continuo correndo em direção ao corredor principal.
— Não vá lá. Princesa Everly, — o guarda grita para mim. — Não é
seguro!
Mas eu não o escuto.
Saio para o saguão e saio para o terreno do palácio.
Os guardas estão cercando o corpo de um menino, que está deitado
em uma poça de seu próprio vômito.
Eu me aproximo para ver melhor.
O menino está usando uma cueca preta de couro e nada mais.
Ele vira sua cabeça para a luz do sol. revelando várias perfurações ao
longo de seu pescoço que só poderiam ser causadas por presas de
vampiro.
Seu rosto está pálido, como se seu sangue tivesse sido drenado.
Ele está exatamente como eu quando escapei do Banco de Sangue.
— Afaste-se dele, — eu grito para os guardas. — Ele não está bem.
Eles fazem o que eu digo, abrindo espaço para me aproximar do
estranho caído.
Eu me agacho ao lado dele, os olhos arregalados.
— Quem é você? — Pergunto-lhe. — De onde você veio?
Contudo, em vez de responder à minha pergunta, ele estende a mão
para mim.
Eu pego sua mão em uma tentativa de confortá-lo, mas em vez disso,
sinto o peso de algo caindo na minha palma.
Eu suspiro quando vejo o que estou segurando.
Minha pulseira.
— Zinnia. — diz ele.
Zinnia?
Esse era o nome da filha de Clarisse e Corbinian.
— Eles ainda estão com Zinnia, — ele diz. — E ela está em perigo.
Fim do livro dois
Continua no Livro 3…
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