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Gabriella Guimarães
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Capítulo 1 - Acordando
Luana
Luana
Luana
Luana
Luana
Capítulo 6 – Descobertas
Luana
Sinto o cheiro do fugitivo como um
incenso que deixa uma fragrância no ar.
Então, corro. Corro e sinto a floresta como
uma extensão do meu corpo, ela respira
junto a mim, meus passos certeiros nunca
vacilam, até que sinto outro cheiro e paro.
— O que aconteceu, Lua? – Leandro me
pergunta, e parece que meu apelido se
tornou famoso.
Noah não diz nada, ele sabe que tem
algo errado, meu companheiro nu – e em
toda a sua glória – fica em minha frente e
toca em meu rosto.
— Diga, amor, o que há? Você o
perdeu?
— Não, eu... O cheiro dele está
misturado com o cheiro de alguém que
conheço.
— Alguém da matilha?
— Não, é o cheiro da minha melhor
amiga.
Caminho até sentir o cheiro de sangue
de Raquel. Não, não, não...
Noah me para.
— Leandro, vá ver o que há lá atrás.
Mas Leandro, por incrível que pareça,
está tão em choque quanto eu. Não sei o que
está acontecendo com ele.
— Fique aqui – Noah diz para mim e
aceno positivamente. – Sem corpo – ele grita
e eu me sustento em uma árvore de tanto
alívio que sinto.
Caminho até onde Noah está, Leandro
e eu nos entreolhamos com preocupação
espelhada em nossas faces.
— Sabe o que é isso?
Aproximo-me da pulseira, dei para a
Lôra em seu aniversário. É uma pulseira
com um pingente de lobo, ela nunca tirava
isso. A pulseira estava manchada de
sangue, o sangue dela.
— Isso é um aviso... Para mim.
— Como assim “para você”?
— Quem me atacou ontem te conhecia,
essa pessoa queria me ferir porque, assim,
feriria você. Ele não quer te matar, deseja
te destruir antes.
— E por que não me disse isso antes? –
Noah está irritado.
— Porque nunca deixaria que eu
viesse, se soubesse.
Noah caminha até mim e dou alguns
passos para trás, nunca o vi tão...
Intimidador.
— Você está indo para a minha casa,
onde eu posso trancá-la em um quarto e
mantê-la segura. – Ele rosna para mim.
— Se me tirar da minha casa agora, eu
nunca vou te perdoar, Noah!
— Pelo menos você estará viva para
me odiar!
Ele agarra o meu braço e, para me
soltar, desfiro um golpe em sua perna,
desestabilizando-o e fugindo do seu agarre.
Noah rosna para mim, com seus olhos
negros como a noite, e avança novamente
em minha direção. Ele me prende no chão.
Com uma mão, sustenta as minhas duas
sobre a minha cabeça, seu joelho está entre
as minhas pernas, impedindo que eu me
mova, Noah está quase que com todo o seu
peso sobre mim, não me deixando espaço
para fugir ou atacá-lo, e ele faz tudo isso
ainda com uma mão livre.
— Ela mora em frente a uma igreja
azul, no centro da cidade, na Rua Oceania!
– grito para Leandro, que sai após isso.
Merda, espero que ele vá conferir se Raquel
está bem, porque eu, no momento, tenho um
Supremo Alfa gigante e irritado sobre mim.
– Me larga, Noah!
— Largar você? Nunca, Luana, nunca
irei largá-la.
— Noah...
Tento encontrar algo no olhar dele,
algo que mostre que ele ainda está ali em
algum lugar, mas é só instinto animal,
apenas isso o que vejo. Nem o lobo é, ele tem
alguma consciência. Lembro-me do que
pensei ao decidir me aproximar de Noah,
que apenas ele poderia me ferir.
— Você prometeu...
Estou com meus olhos fechados, então
não sei o que acontece, só sinto-o levantar.
— Vá embora, Luana.
Noah está de costas, com as mãos na
cabeça como se lutasse contra algo.
— Agora!
Então saio, não olho para trás
enquanto corro.
Leandro
Luana
Corro até a minha casa, passo por Alec
que me pergunta algo, mas não me
incomodo em ouvir, que dirá responder.
Subo as escadas, entro no meu quarto e
tranco a porta, o que é ridículo, sei que
qualquer um pode colocar essa porta no
chão, mas me dá uma ilusão de
privacidade.
O que gostaria no momento é pegar
meu telefone e ligar para Raquel, contar
tudo o que está acontecendo e esperar que
ela diga uma de suas piadas e mude meu
humor. Mas ela não está aqui, nem mesmo
sei se Raquel continua viva...
Vejo pela janela quando Leandro
chega, respiro fundo tentando me
acalmar, mas, minhas mãos estão
tremendo quando tento abrir a porta.
Encaro-as e um filme passa pela minha
cabeça... Noah disse que não perdia o
controle, então o que aconteceu ali?!
Sacudo minha cabeça, tentando
esquecer as cenas e me focando apenas em
Raquel. Desço as escadas e ouço quando
Leandro diz que não encontrou minha
amiga, tento voltar sem que me notem, mas
Ian me vê.
— Ei Lua, está bem?
Paro o meu caminhar e o encaro.
Estou? Nem mesmo eu sei responder a isso.
Nessa hora Noah entra, seu olhar voltou ao
normal, mas ainda me lembro... Ainda
posso lembrar. Dou as costas e corro de
volta para meu quarto.
Capítulo 7 – Reencontros
Noa
h
Volto apenas quando consigo pensar
normalmente. Não posso imaginar que
cogitei... Ela nunca me perdoaria, sei disso.
Acabo de perceber que minha irmã tem
razão, quando falamos sobre as leis, ela me
disse que o problema não eram os papéis
velhos, e sim que permitimos que essas ditas
leis se enraizassem naquilo o que somos, ou
elas apenas legitimavam aquilo o que
somos, animais.
Assim que abro a porta a vejo, não estava
preparado para vê-la e pude ter a certeza
de que ela estava menos ainda. Quando
Luana corre, seu Alec, Ian e Leandro me
questionam com o olhar.
— Pensei que fossem voltar enlaçados e não
brigados. — Leandro comenta e dessa vez
não esboço reação alguma.
Ele me encara de modo sério e logo
continua a falar:
— Seja lá o que tenha acontecido entre
vocês, se eu fosse você, resolveria enquanto
está fresco. Nessas situações, o tempo só
deixa a coisa mais podre do que já está.
Aceno e faço o caminho até o quarto de
Luana, tento abrir a porta e está trancada.
— Lua... Pode abrir?
É uma porta antiga, poderia abri-la
facilmente.
— Vá embora!
Sento-me no chão, recostado na porta que
nos separa. Posso sentir Luana do outro
lado, magoada, perdida, com medo...
— Não vou embora, posso ficar sentado
nesse chão por meses, tenho uma ótima
resistência.
Não a sinto esboçar nenhuma reação.
— Só quero me desculpar. Não precisa se
trancar para me deixar longe, isso vai ser
difícil, mas posso ficar longe enquanto...
enquanto for difícil para você permanecer
no mesmo ambiente que eu.
Essas palavras foram extremamente
difíceis de colocar para fora.
— E porque não arromba? Não é isso o que
faz? Passar por cima da decisão das
pessoas?
Posso dizer que mereci isso.
— Sei que posso colocar essa porta abaixo,
também sei que pelas nossas leis poderia ter
me vinculado a você sem o seu
consentimento. Eu sei disso, você também
sabe. Mas não irei fazer nada disso porque
nem uma coisa e nem a outra irá me
aproximar mais do seu coração.
Luana
Luana
Raquel
*****
*****
Raquel
Alicia
Raquel
Noah
Raquel
3, 2, 1...
Protejo meu rosto e coloco um pano em
meu nariz, essa fumaça provavelmente é
tóxica. Metade do galpão foi para os ares.
Vejo um homem muito machucado no chão.
Céus, eu fiz isso! Ouço um rosnar e um lobo
vem em minha direção, com seus dentes
para fora.
— Cachorrinho bom...
Dou alguns passos para trás até onde
posso, a minha frente tenho um lobo
raivoso, às minhas costas as chamas, duas
péssimas escolhas.
Leandro
Raquel
— Cachorrinho...
Ele corre em minha direção, grito...
Merda, vou morrer! Mas um lobo marrom
pula nele e rasga seu pescoço, o que também
não é uma cena muito bonita, não me dou
muito bem com isso, por isso não assisto
Discovery in chanel. O lobo olha para mim
e caminha como um predador, vou para
trás. É aí que o brilho surge novamente e,
por Deus, que homem é esse?! Ele é
perfeito... Estou admirada demais por seu
corpo, que penso que deveria explodir
lugares mais vezes, se for para ser salva
por ele sempre. Ele diz alguma coisa sobre
Lua, e eu seguro em sua mão, mais porque o
ouvi me chamar de linda do que algo
relacionado a Luana, – mas ninguém
precisa saber sobre isso.
Ele me cobre com seu corpo e me pega
no colo, seguro em seu pescoço e, quando já
estamos na floresta, afasto a minha cabeça
do seu peito e o olho, olhos de um azul
escuro me encaram de volta. Ele retira o
braço que segurava a minha perna e
sustenta todo o meu peso, segurando-me só
pela cintura. Com a outra mão, ele segura o
meu pescoço e me beija. Beijo? Acho que
estou aprendendo o significado dessa
palavra neste exato momento.
Luana
Noah
Corro até Luana e ela está bravamente
enfrentando vários lobos, minha loba é
feroz e corajosa, sinto o cheiro de seu
sangue e vejo tudo em vermelho. Ataco
todos, Luana e Alec me ajudam, até que
nenhum deles possa mais nos atacar, nos
transformamos de volta.
Abraço-a, procurando por
machucados. A princípio, Luana não me
afasta, mas segundos depois sinto sua
repulsa.
— Estou bem, Noah. Que marcas de tiro
são essas?! – Ela analisa o meu corpo e me
olha feio. Sorrio porque fico feliz que ela
ainda se preocupe comigo. – Alguém viu
Raquel? – minha companheira grita e ouço
uma voz feminina responder de volta.
— Presente! – Raquel está próxima a
Leandro, ele está com uma mão em seu
ombro, protegendo-a.
Lua corre em sua direção e a abraça.
— Lôra, que susto dos infernos! – Ela
olha para a sua amiga, que
estava com os cabelos bagunçados,
vermelha e com a boca inchada. – Por que
está vermelha desse jeito?
— É... Não sei você, mas eu não sou
muito acostumada a falar com pessoas
peladas. – Ela olha para Leandro e parece
mais envergonhada ainda.
Minha companheira olha para o
próprio corpo nu e dá de ombros.
— Você se acostuma.
Capítulo 12 – Caminho de Casa
Luana
Alicia
Alec
Leandro
Capítulo 14 – Descobertas
Alicia
Raquel
*****
Ian
Luana
Lucas
Raquel
Ian
Luana
Alec
Luana
Raquel
Capítulo 17 – Diversão
Alec
Minha irmã resolveu levar Manu e as
meninas para algum canto. Quando iria
perguntar onde, ela começou a fazer um
discurso sobre confiança e limites. O que
acabou sendo um imenso problema quando
Noah voltou de viagem com Ian e Leandro
e não a encontrou.
— Como assim não sabem onde elas
estão!?
— Acredite em mim, toda vez em que
tentar argumentar com Luana, irá perder.
Ela só disse que se encontrariam com
Raquel e sairiam depois, noite de garotas.
Estamos sentados na sala, Noah,
Leandro, Ian e eu. Já faz quase uma hora
que Lua, a minha querida irmã, carregou
as nossas companheiras para a “noite das
meninas”, e, desde então, estamos os quatro
aqui, enfezados e calados.
— Sério que vamos simplesmente
obedecer a Lua?!
— Se elas têm o direito de ter a noite
das meninas, nós também temos direito de
ter a noite dos homens.
— O que está pensando, Alec? Se sua
irmã se irritar, vou dizer que a ideia foi
sua. – Noah rosna para mim, só Lua mesmo
para conseguir por um Supremo em uma
coleira, ele está diferente desde que minha
irmã ficou grávida.
— Nós também sairemos. E como elas
não disseram aonde iriam, será completa
coincidência. Apenas precisamos farejar. –
Isso chamou a atenção de todos e em meio a
sorrisos de concordância, resolvemos
procurálas.
Raquel
Noah
Leandro
Alicia
*****
*****
Luana
Luana
Leandro
Lucas
Raquel
Noah
Raquel
Luana
Luana
Raquel
Leandro
Lucas
Alec
— Quê?
— Nossa, você é sempre tão animado
assim durante as manhãs?
Onde está a minha irmã? — Brinco com
Noah assim que atende ao telefone.
— Não sei.
— Como assim “não sabe”?
— Tivemos um desentendimento.
— É...
— Diga logo, Alec!
— Uma das mulheres que era da
matilha da minha mãe chegou aqui hoje,
procurando Lua. Ela estava machucada, as
outras foram aprisionadas, parecem ser as
mesmas pessoas que sequestraram Manu e
Priscila há um tempo.
— E como ela fugiu?
— Isso é o estranho, não acho que ela
tenha simplesmente fugido.
Eles estavam em maior número, seria fácil
pegá-la de volta.
— O que tem em mente?
— Eles a seguiram, sabiam que ela
viria atrás de...
— Lua.
— Sim. Disse para Manu que falaria
com ela, mas conheço a minha irmã. Ela
virá parar aqui ou irá ao local onde tudo
aconteceu, tentar farejar algo.
— Não se preocupe, ela não vai ficar
sabendo.
— Não sei se essa é a melhor escolha,
Noah...
— Não vou colocá-la em risco, Alec.
— Para onde ela foi?
— Está na floresta, não se preocupe,
estou monitorando tudo.
— Ela pode ficar dias na floresta,
transformada em lobo.
— Merda...
É tudo o que Noah diz antes de
desligar. Espero que minha irmã e ele se
entendam o mais breve possível, não gosto
de esconder coisas de Lua.
Capítulo 22– Fugindo
Alicia
Lucas
Raquel
Raquel
Ian
*****
Ian
Alicia
Lucas
Alicia
Luana
Noah
A falta que sinto de Lua me deixa com
humor do cão. Ninguém ousa atravessar o
meu caminho, eles mal me olham na cara.
Que tipo de líder fodido estou me tornando?
Vai fazer três dias, três porra de dias sem
ela! Ontem, sua amiga voltou, voltou sem a
minha mulher. Ela me disse que Lua está
magoada e que não falou nem com ela. E, se
não falou com ela, que vá sonhando que
falará comigo.
Às vezes penso que a companheira de
Leandro não tem freios, e ela não me teme,
ou teme e me enfrenta assim mesmo, me
enfrenta para proteger Lua. Proteger Lua
de mim.
Quando que me tornei esse tipo de
cara?
Merda... Já vi sangue demais sendo
derramado, só quero protegê-la, é pedir
demais que ela entenda isso? Ninguém pode
enxergar Lua como sendo a minha
fraqueza, senão, ela será o alvo de todo
aquele que deseja me ferir. É preferível que
eles pensem que eu... Que eu não me importo
com ela. Quantos lobos existem que
encontram suas companheiras e, mesmo
assim, não se importam muito? Eles se
deitam com outras e continuam suas vidas
normalmente. Mas eu... Eu desejo somente o
seu corpo, somente o seu cheiro, somente a
sua voz, e isso está me pondo louco.
— Ei, cara, tem um carro chegando.
Avisaram que é Alec e Ian – Leandro me
avisa da porta do meu escritório. Alec?
Algo errado aconteceu para ele vir até aqui
sem ao menos avisar.
Saio da minha casa e vou até a área
comum da matilha, todos saíram de suas
casas para ver quem eram as pessoas que
tinham chegado. Estava pronto para
questionar Alec sobre o motivo da sua
aparição repentina, quando ouço seu uivo,
todos nós ouvimos, na verdade. Meu
coração se acelera em expectativa, vejo o
olhar de Alec e de Ian caírem sobre mim,
eles me questionam com seus olhos, mas
pouco me importo. Só preciso vê-la, tocá-la...
Eu preciso dela.
Vejo Lua, descalça, sair da floresta.
Todo o pessoal da matilha sai do seu
caminho, pois ela caminha em linha reta,
como se estivesse seguindo um cheiro,
minha pele coça de antecipação, ela corre
e...
Passa direto por mim.
Lua não abraça o seu irmão, seria o
compreensível ela estar abraçando seu
irmão gêmeo, mas não, ela abraça Ian.
Fico ali, parado como um idiota,
olhando aquela demonstração pública de
afeto.
— Minha pequena pestinha, como senti
a sua falta – Ian diz, e tudo o que entendi
da sua frase foi a palavra “minha”. Minha
visão nubla e vejo tudo em vermelho, estou
perdendo o controle. – Ei, minha menina,
vai acabar me matando desse jeito! – E,
novamente, tudo o que absorvo é “minha”.
Estou pronto para atacá-lo, para
matar aquele que chama a minha
companheira de sua, ela não pode estar
fazendo isso comigo, não aqui, em frente a
toda a matilha.
— Ei, largue a minha irmã, seu tarado!
– a voz de Alec me desperta do torpor.
Vejo quando Lua larga o corpo de Ian e
abraça seu irmão, ele a afasta e põe sua
palma em seu rosto. Lua, como um
filhotinho, roça sua bochecha na mão do
irmão.
Eu quase iria... Perdê-la para sempre.
Lua nunca me perdoaria caso atacasse Ian,
ela nunca mais olharia para mim.
— Oi, Alfa – ouço uma das mulheres se
direcionar a ela, e toda a matilha me
encara, como se esperasse que eu
interferisse nesse titulo. Vejo Ravi olhar
para mim com um sorriso imenso.
Por alguns segundos, vejo o corpo de
Lua preocupado só em respirar quando
questiono o seu irmão sobre a sua mãe. Alec
me olha e nego com a cabeça, para informá-
lo que ela não sabe de nada.
— Sinto muito, Lua. – Alec e Ian
passam por ela e caminham até mim, posso
ver o rosto de Lua de relance quando ela se
vira, seus olhos ainda estão como os de sua
loba, e sua feição é de... sofrimento.
Rosno e caminho com passos firmes
para a minha casa, com Alec e Ian logo
atrás de mim.
Luana
Noah
Luana
Noah
Noah
Raquel
Leandro
Raquel
Noah
Luana
Noah
Não desisto e uivo outra vez, não
quero desistir, meu lobo quer que ela venha,
que caminhe até nós, quer que ela esteja em
frente a toda a matilha, quer que toda a
matilha a reconheça. Os lobos começam a
ficar inquietos, começam a não entender
meu posicionamento, continuo aguardando
em frente a propriedade enquanto todos
querem correr. Porém, meu lobo não se
move, ele continua reto e altivo, olhando
para o horizonte, com a certeza de que algo
viria de lá, de que alguém viria de lá. Meu
lobo olha para esse espaço vazio do mesmo
modo que encarava as noites solitárias de
lua cheia, ele olha para esse espaço vazio
como se tivesse a encarar a própria lua.
Luana
Noah
Meu lobo continua na mesma posição,
se fosse eu, já teria ido embora há algum
tempo. Ela não virá, ele só está perdendo
nosso precioso tempo. Ele rosna, e o pessoal
da matilha se afasta um passo. Contudo, o
lobo não rosnou para eles, rosnou para
mim.
Lua aparece na entrada da minha casa
e caminha vagarosamente até nós, ela não
se assusta pela quantidade de lobos que está
transformada a sua frente, não desvia o
andar, nem o olhar. Ela caminha em
direção ao meu lobo e temo com o que ele
fará, quando deixo meu lado animal sair,
fico agressivo e sem paciência, e temo que
ele a machuque. Tento voltar para o
comando do nosso corpo e ele me prende,
ouço o seu rosnar em minha mente, ele
nunca esteve tão forte. Será que é por causa
da proximidade dela? Estou preso em meu
próprio corpo e só me sobrou olhar e orar
para que ele não a magoe.
Quando chega a frente do meu lobo,
que não se moveu nem um centímetro
sequer, Lua faz algo que eu nunca pensei
que a veria fazer.
Luana
Noah
Alicia
*****
*****
Raquel
Noah
Luana
Sinto a proximidade de Noah, sinto-o
caminhar em minha direção, sinto quando
o colchão afunda um pouco, pois ele se senta
na beira. Sinto seu olhar como lambidas de
fogo sobre o meu corpo, estou tão consciente
dele e ele nem ao menos me tocou. Noah só
fica ali, me olhando... Sinto o seu corpo se
mover e eu abro um olho, pois sou curiosa e
preciso saber o que ele está fazendo.
Ele está com a cabeça baixa,
sustentando-a entre as mãos, parece
preocupado. Lembro-me do que o lobo de
Noah me disse: “Seja paciente, eu também
serei”. Porém, não sou muito boa em ter
paciência, não sou muito boa em esperar.
Sento-me na cama e Noah fica com seu
tronco reto, mas não me olha. Ele não vira.
Noah
Noah
Vejo a minha Lua ali, nua em minha
frente, e meu corpo responde de modo
automático. Seguro-me para não voar em
cima dela como um animal, sinto o meu
lobo rosnar.
“Às vezes, ela vai se afastar, dê espaço,
ela sempre, sempre, voltará para nós, não
se esqueça”.
Ouço-o dizer em minha mente.
Afastar? Não vou mais permitir que Lua se
afaste de mim. Quando ela pensar que
precisa se afastar, vou lhe mostrar que seu
lugar é aqui, comigo, onde jamais deverá
sair.
— Companheiro.
— Lua... – Ela toca os meus lábios,
impedindo-me de continuar.
— Eu... Sei que sou difícil às vezes. Na
verdade, sei que, na maioria das vezes, eu
estou armada contra qualquer coisa. Sei
que você merecia uma companheira fácil
de lidar, calma, obediente. – Nessa hora, ela
faz uma careta e me seguro para não rir. –
Mas, sabe, talvez, desde o início, você tenha
pensado em me mudar, talvez tenha visto
em mim um desafio. Eu não vou mudar a
minha essência, não posso mudar quem eu
sou, mas estou disposta a ceder em algumas
coisas, é isso o que as pessoas fazem quando
amam, certo? Elas cedem.
Sorrio, porque ela está nua em minha
frente e fazendo um maldito discurso.
— Você está rindo! – ela diz, já fazendo
bico.
— Isso quer dizer que você me ama?
— Claro que te amo, você é meu
companheiro.
Não sei por que, mas essa resposta não
me agradou muito. Quero que Lua me ame
não só porque sou seu companheiro, quero
que ela ame o líder, a pessoa, o garoto,
quero que ame tudo o que há em mim.
— Só por isso, Lua?
— Se fosse só por causa dos hormônios
de companheiros, eu não estaria aqui... Não
estaria aqui se não o admirasse, se não
sentisse admiração com aquilo que é.
Eu me levanto, coloco-a sentada onde
eu estava e vou pegar algo que guardei na
cômoda. Merda! Espero fazer isso certo
desta vez.
*****
Luana
Luana
Noah
Leandro
Luana
Luana
Noah
Leandro
Luana
Raquel
Alicia
Lucas
Lucas
Merda, sabia que esse lance do Noah a
tinha afetado e tudo o mais, não sou muito
bom com esse lance de sentimentos...
— Eu não estou bem há muito tempo –
ela continua a dizer, e paro o que estava
fazendo, que era olhar para todos os lados,
em busca de algo que pudesse me ajudar.
Paro e olho para ela.
— Eu sinto muito. – E sinto, realmente,
vou sentir muito por toda a minha vida,
porque eu me sinto responsável pelas
merdas que meu irmão fez com ela.
— Mas eu me sinto melhor quando
estou com você. Alguém me fez enxergar
que eu precisava encarar meu passado, não
só esquecer ou deixar para lá, porque tudo
aconteceu, foi real.
Ela diz e, por alguns segundos, seu
olhar se perde e ela balança a cabeça, como
se quisesse voltar à realidade.
— A verdade, Lucas, é que eu preciso
de você. E acho que você é tudo o que eu
tenho precisado há muito tempo.
E o que dizer diante disso? Quando a
minha princesa está aqui, em minha frente,
abrindo-se pela primeira vez, o que dizer?
Nunca fui muito bom com palavras... Meu
lobo rosna, eu rosno e a puxo para mim, ia
beijá-la, vou beijá-la... Porém, antes disso,
segurando seu rosto e, somente com o meu
polegar afastando os nossos lábios, eu digo
para ela:
— Você é minha companheira, Alicia, sabe
que não te machucaria,
não é?
Alicia concorda, faz um leve
movimento com a cabeça, e esse era todo o
consentimento de que eu precisava. Meu
lobo uiva internamente. E eu? Estou
perdido e inebriado demais para pensar em
outra coisa que não seja seu corpo.
Alicia
Lucas
Luana
— Eu aceito.
— E?
— E o quê? Já disse que vou me casar
com você – ela diz, enquanto sorri. – O que
mais quer de mim, Noah?
Aproximo-me dela, coloco o anel em
seu dedo e deposito um beijo ali, um beijo
que subo para o seu braço, em sua marca de
união comigo, e termino em seu pescoço
novamente, ali, onde posso sentir seu cheiro
tão nítido e característico, seu cheiro que
inebria cada célula do meu corpo.
— De você, eu quero tudo.
— E o que seria esse tudo? – ela
pergunta, em um fio de voz, enquanto, com
minhas mãos, desbravo cada canto de seu
corpo.
— Eu quero seu corpo – dito isso,
começo a acariciá-la em seu ponto sensível
–, quero seus sentimentos – encaro-a em seus
lindos olhos azuis –, quero o seu coração, eu
quero tudo. Porque ter pouco de você nunca
será o suficiente.
— Espero que você tenha outras metas
de vida. – Tiro os meus dedos e os lambo, ela
acompanha cada movimento meu.
— Por quê?
— Porque, Supremo, você já tem tudo
de mim. Tudo de mim é seu, tudo o que sou
é seu: meu corpo, meu coração, meu mundo,
meus sentidos, meus desejos. Mas, há algo
além de tudo isso e você sabe.
Dito isso, ela envolve sua perna ao
redor de mim, dando-me pleno acesso a sua
intimidade, Lua...
Não digo nada, não eram necessárias
mais palavras, nós somos um. Eu desistiria
de tudo por ela, do meu posto, da minha
matilha, da minha raça, da minha família,
desistiria de tudo por ela e por minha cria,
que cresce forte dentro dessa mulher
incrível.
Sempre é uma explosão de sentidos
quando estamos juntos. Quando estou
dentro de Lua, posso sentir cada mínima
coisa: o gosto da vida, o cheiro de cada
toque, o toque de cada sentido. Nosso corpos
se encaixam em maestria, sinto o cheiro de
sangue quando ela arranha as minhas
costas, e isso faz com que eu invista com
mais necessidade. Sinto quando ela está
preste a vir, puxo seu rosto e vejo seus olhos
semicerrados e sua boca entreaberta.
— Olhe para mim, amor. – Ela abre
seus olhos por completo e encara os meus,
encosto minha testa na sua, meus lábios nos
seus e sussurro: –
Venha para mim, minha Lua. – Suas
pupilas dilatam, suas paredes se fecham ao
redor do meu membro e lá se foi o meu
último resquício de controle.
Cansados, ofegantes, mas felizes. Meu
corpo já sente falta do dela... Só em pensar
que teremos que nos separar por algum
tempo...
Terei que ir até as principais matilhas
tirar a verdade dos Alfas, preciso saber de
onde as mulheres estão sendo sequestradas e
montar um mapa de modus operandi dessa
organização. Uma hora eles vão cometer
um erro, um engano, e eu estarei lá para
acabar com isso de uma vez por todas.
Luana
Noah
Leandro
Meu amor estava muito gostosa essa
noite, um vestido folgado escondia
completamente seu corpo por baixo, o que
só me deixou mais aceso e com um desejo
insano de arrancar o tecido de seu corpo.
— Loirinha, o que tem aí embaixo? –
pergunto, agarrando-a pela cintura.
— A-há! Meu grande lobo gostoso, você
vai descobrir – a pequena ninfa diz, de
forma descarada, olhando para mim.
— E por que não agora? – Aperto seu
corpo de encontro ao meu.
— Porque hoje, meu lobo, sou eu quem
dita as regras. Ajudei nesta festa linda e
vou aproveitá-la, e você estará ao meu
lado.
— Nem em um fod... – Ela me corta
com um beijo em meu pescoço, Raquel roça
seus dentes ali, fazendo-me calar, porque
estava ocupado demais salivando.
— Vamos, amor, dê-me isso, uma noite.
Comporte-se, vamos conversar como um
casal normal, que tal? – ela diz, enquanto
começa a andar pela festa, sorrir e falar
com cada pessoa neste fodido lugar. Não
quero que ela fale com ninguém, minha
loirinha está me esnobando, e isso me irrita.
Caminho atrás de seus passos como um
fodido cão atrás de seu dono. Merda! Estou
começando a falar como ela, sorrio
pensando nisso, em como a minha vida
mudou desde que ela entrou.
— Do que quer falar? – pergunto, atrás
dela, e ela vira-se triunfante, a pestinha
estava me esnobando de propósito para que
eu fizesse o que ela queria, que é conversar.
O pessoal do meu escritório iria rir de mim
caso me vissem cair assim, de joelhos.
— Hum... Como é o seu trabalho? –
Sério, trabalho? Não me importo em falar,
porque isso faz com que ela olhe para mim,
e só para mim.
— Tenho um escritório de renome.
Hoje, eu quase nunca apareço por lá.
Costumo resolver as coisas por telefone ou
por e-mail, só pego casos grandes, a maioria
do meu pessoal é competente o suficiente
para resolver casos sem mim.
— Hum... Quem foi a sua primeira
namorada? – ela me pergunta e eu ergo
uma sobrancelha.
— Você.
Ela revira os olhos e me dá as costas,
começando a se afastar de mim, mas eu a
puxo e colo nossos corpos.
— Sério, loirinha, nunca namorei
ninguém.
— Você é um safado, Leandro, me
conta outra que nunca ficou com ninguém
antes de mim.
— Claro que fiquei, mas nunca
namorei, era só sexo. Você é a minha
primeira namorada, minha primeira
mulher, meu primeiro amor, com ênfase no
Minha, loirinha, nunca se esqueça disso. —
digo sorrindo, mas Raquel não ri dessa vez,
o que será que ela está aprontando?
Dançamos por alguns minutos, a
música estava lenta, seu cheiro me inebria,
faço círculos em suas costas e sei que isso a
está afetando, pois seu cheiro muda, ela
está ficando excitada. Bem, talvez a nossa
saída estratégica se dê mais rápido do que
pensei.
Luana
Alec
Olho para a minha linda, o meu amor.
Ela está incrível, Manu tem a pele morena
que contrasta com o vestido branco que
usa.
— O quê? – ela me pergunta, enquanto
sorri discretamente.
— Eu sinto muito. – E realmente sinto,
ela se uniu a um Alfa, alguém estruturado
e com uma matilha.
— Não deveria, estou feliz aqui, Alec.
Ela olha para Raquel e Lua e sorri.
— Aqui, eu posso ser alguém.
— Como assim?
— Eu... Posso ser alguém, um alguém
com personalidade, com desejo e com
querer. Aqui, eu posso ter opinião, está no
início, mas eu já posso ver a mudança que
essas duas estão fazendo. Sinto isso, e sei
que também sente, e foi por isso que
resolveu vir até aqui, porque também
deseja participar dessa mudança.
Abraço Manu e sinto seu cheiro,
merda de cheiro bom.
— Eu... Ela é minha gêmea e, às vezes,
nos acho tão diferentes, sabe? Lua sempre
teve essa coisa de orgulho, de ter orgulho
daquilo que é, de onde veio... Sempre pensei
“de onde isso vem?”... Sabe, ela era...
maltratada na matilha, eu fazia o que
podia, mas não poderia estar sempre
presente e, mesmo assim, ela exalava
orgulho. Hoje, penso se isso não veio da
mamãe, ela e Lua tiveram um contato
maior e, às vezes, Lua dava umas sumidas,
ela sempre sumia por alguns dias durante
os meses... Quando eu vi toda a matilha se
virar contra mim, pensei: “Se eles tivessem
só um tantinho do orgulho de Lua”... Eu sou
um Alfa, Manu, mas estou buscando, vim
atrás de Noah, e também vim por ela, eu
quero ter um pouco do que Lua tem, ser
feliz com o que sou, ter você se orgulhando
de mim.
Ela me beija de forma apaixonada,
invadindo cada pedaço de mim com sua
energia, sua loba.
— Eu já sinto.
Raquel
Merda... Depois que a Estranha saiu,
você me ouviu bem: SAIU... E me largou
aqui, com esse poço de perdição, Lê anda em
minha direção de modo predador, de novo.
Merda, parece que estou sempre sendo a
merda da presa, e isso precisa mudar! Finco
os meus pés no chão, ele me olha,
estranhando a minha reação, mas não para
seu caminhar. Quando Lê está em minha
frente, toca de leve em minha cintura e a
ponta de seus dedos me causam leves
tremores. Fique forte, forte como... Merda,
como alguém forte, o Hulk, sei lá.
Ele arrasta a barba por fazer por meu
rosto e se afasta, estranhando a minha
falta de movimento.
Nós nos encaramos por alguns
momentos, e ele não avança mais nem um
centímetro. Certo, limites, isso se chama
limites.
— Não me diga que quer conversar
agora – ele rosna para mim.
— Não, quero brincar. – Ele sorri de
modo cafajeste, e isso me faz vibrar
internamente.
— Disso eu gosto, loirinha. Então, o que
tem em mente?
— Surpresa!
— Não sei se gosto muito de surpresas,
Raquel... Diga o que tem em mente.
— Não, você vai fechar esses lindos
olhos e contar até... 400.
— Ah, mas eu não vou mesmo!!!
— Vamos... Eu vou correr. Que tal um
esconde-esconde na floresta?
Ele para por alguns segundos e começa
a pensar... Merda, chego perto dele e, em
seu ouvido, sussurro:
— Não está curioso para saber o que
tenho por baixo do vestido?
Seus olhos brilham e ele rosna.
— Um, dois...
Mas ainda está com os olhos abertos...
Quando chego na parte que inicia a
floresta, ele fecha os olhos, isso vai ser
divertido.
Luana
Noah me carrega em seus braços, não
em suas costas, em seus braços, como se
fosse algo precioso. Sinto-me como uma
recém-casada entrando em sua casa pela
primeira vez.
Ele me coloca em cima da cama e tira
o meu vestido, Noah me tem nua em sua
frente e faz algo que me surpreende, ele se
ajoelha.
Noah se ajoelha e põe seu rosto sobre o
meu ventre, ele fica ali, ouvindo um estalar
do coração de nosso filho. E eu acho isso tão
bonito que lágrimas começam a descer pelo
meu rosto. Seguro-me para não fazer
nenhum tipo de barulho. Ele ficou ali,
apenas sentindo esse serzinho ganhando
vida e crescendo a cada segundo,
desenvolvendo-se um pouco mais. E, com
esse gesto, eu tenho a certeza de que Noah
dará tudo que eu nunca tive a essa criança,
ele lhe dará uma casa, um lar, uma família,
proteção, amor... Principalmente amor.
— Merda, você está chorando de novo!
– ele diz angustiado, como se estivesse
saindo algo verde dos meus olhos, e não
lágrimas, e eu sorrio de sua expressão.
— Estou bem, Noah, não se desespere. É
que ver você com nosso filho me deixou
emocionada.
— Eu também não tive uma família,
Lua. Perdi a minha cedo demais, na
verdade, e não sabia o quanto sentia falta
disso, até agora. Porque, agora, eu quero
vê-lo crescer, andar, quero ajudá-lo, ensiná-
lo, quero que ele seja alguém muito melhor
que eu. Quero que não cometa os mesmo
erros, quero segurar em sua mão e guiá-lo e,
tenho certeza que, assim como você, meu
filho me ensinará muito mais do que
esperaria aprender em toda a minha vida.
Toco no rosto de meu companheiro e
uma lágrima também escapa, eu a seco e o
olho com amor, pois é isso que sinto, eu o
amo. Mas algo me incomoda desde o evento
da Lua Azul...
— O que foi?
— Não vou conseguir esconder nada de
você, nunca mais, não é?
— Não, não vai.
— Eu estou preocupada... O que
aconteceu lá fora... E se isso afetar o nosso
filho de algum modo? E se algo der errado?
— Nada vai dar errado e, bem, acho
que sua mãe tinha razão.
— Razão sobre o quê? Sobre bruxas?
Vamos, Noah, daqui a pouco vai me dizer
que fadas existem!
— É...
— O QUÊ?!!! – Fadas, tipo asinhas e
tudo o mais? Não.
— Certa vez, conheci um cara, algum
tempo atrás, eles não gostam de ser
chamados de fadas, preferem o termo faes.
— Não brinca comigo!
— É sério, Lua, nós existimos. Por que
não as fadas e todo o resto?
— O que quer dizer sobre todo o resto?
Você já teve contato com mais algum
sobrenatural?
— Vampiros.
M.E.R.D.A.S.A.N.T.A.
Fico boquiaberta por algum tempo e
ele muda de assunto, fazendome carinho e
dizendo-me coisas bonitas. Bem, pedi um
namorado e acho que ganhei um marido
esta noite.
Leandro
Raquel
Leandro
Sigo-a para dentro da caverna. Merda,
a mulher parece o flautista encantado, e eu
a sigo como a porra de um zumbi. Há velas
por toda a parte, há um colchão forrado em
um tecido vermelho sangue, mas eu não
presto atenção nisso, porque olho para ela,
que caminha até mim.
— Oi, meu grande lobo – ela sussurra,
próxima a mim.
— Oi, minha Chapeuzinho.
Ela, na ponta dos pés, morde meu lábio
inferior, e eu rosno e gemo ao mesmo
tempo, essa mulher vai ser a minha ruína.
Avassalador, seguro em seu pescoço e
travo uma fodida de uma briga com sua
língua.
Ela para o beijo aos poucos.
— Pare.
— Porra, Raquel, não sou a porra de
um santo, não vai ficar vestida assim e me
mandar parar!
— Sim, vou, porque hoje – ela começa a
tirar a minha camisa e desabotoar a minha
calça – eu vou conhecer cada pedacinho
deste delicioso corpo. Então, deite-se e
desfrute.
Raquel
Ian
Alicia
Luana
Noah
******
Ravi
Raquel
Noah
— E aí, cara?
— Tenho certeza de que liguei para
Luana, e não para você, Ravi!
Ele ri, o desgraçado ri! Sei que é
maluquice, mas cerro os meus punhos de
ciúmes, porque ele está lá, ao lado dela,
junto a ela, enquanto eu não.
— Onde está a minha mulher? –
pergunto, sem a mínima paciência.
— Ela me deu uma filha! – ele diz, ao
invés de responder a minha pergunta.
— Claro, meu amor – ouço a voz de Lua
ao fundo e todo o meu sangue ferve.
— Ravi, eu juro que vou te estripar
assim que te encontrar.
— Porra, Noah, estou te dando uma
boa notícia, mas parece que você não está
pensando com a cabeça certa neste
momento. – Ele gargalha com mais uma de
suas piadinhas e eu juro que...
— Ravi, por que atendeu meu celular?
Me passe isso aqui, seu idiota, e vá cuidar
da sua filha! – ouço-a novamente, ao fundo.
– Oi, companheiro – ela diz, com uma voz
feliz.
— Pode me explicar o que está
acontecendo?!
— Céus, Noah! Por que não para por
um segundo e respira?! Não sei como
conseguiu ficar vivo até agora, sendo tão
estourado!
— Luana... – rosno o seu nome.
— A vontade de desligar o telefone na
sua cara é bem grande neste exato
momento. Contudo, como me tornei um ser
evoluído, vou responder a sua pergunta tão
educada. Lembra-se da Bia? A garotinha?
Claro que lembro, a garota não se
mistura com ninguém, já a mandei para
psicólogos, já tentei colocá-la em escolas, já
tentei de tudo. Não respondi, e ela
continuou:
— Bem, eu percebi que ela e o Ravi são
perfeitos um para o outro e, veja, Bia tem
um pai e, agora, Ravi tem outra coisa a
fazer do que ficar jogando RPG.
Lua tirando Ravi de seus jogos? Isso,
sim, é um milagre...
— Lua, eu...
— Não, Noah, eu não quero desculpas,
estou cansada. Eu quero mudanças. Está
tudo bem por aqui, sinto sua falta. E por aí?
Como andam as coisas?
— Más notícias, em todas as matilhas
que conseguimos ir, houveram ataques.
Lua, nosso povo está sendo atacado em todo
fodido canto, isso não é só uma experiência,
eles são organizados, têm dinheiro... E um
dos ataques foi há dois anos.
Ouço-a respirar profundamente.
— Noah, resolva isso e volte para casa,
volte para mim, está entendendo?
— Sempre.
*****
Ravi
Coloco a minha princesinha para
dormir e vou para o meu quarto. Eu estava
querendo mudanças, certo? Agora, ela está
batendo na minha cara, isso é, bom,
assustador, mas bom.
Depois de dar mais uma olhada na
segurança e ver como estão os vigias,
durmo.
Luana
Bia
Luana
Bia
Luana
Ravi
— Pai, acorda!!!
Desperto com Bia me sacudindo.
— O que foi? Aconteceu algo? Você está
bem? Está machucada?
Teve um pesadelo? Está com fome?
— Cala a boca, pai, é a Lua! Homens
maus estão lutando com ela!
— Onde, Bia?
— Na floresta.
Ligo todos os monitores, que também
estão em minha casa, procuro por Lua.
Vamos, vamos... Apareça...
Vejo um carro preto, grande, Lua está
sendo carregada, é aí que
percebo nosso erro de segurança...
Nós somos inatingíveis, nunca alguém
poderia entrar aqui sem que soubéssemos,
mas... Nunca nos preparamos para que as
pessoas de dentro não saíssem, porque isso
não é uma prisão.
Pego o comunicador e falo com os
ômegas.
— Portão sul, siga essa porra desse
carro, eles levaram Luana!
Merda! Merda, merda, merda! Odeio
ser o portador de más notícias.
— O que aconteceu?— É a primeira
coisa que Noah me pergunta.
Ele sabe que não gosto de falar ao telefone,
sabe que é sério.
— Venha para casa.
— O que aconteceu com minha
companheira, Ravi?
— Ela foi sequestrada.
Noah desliga em minha cara sem
querer detalhes, e sinto que o decepcionei, o
desapontei. Não meu Alfa, o meu amigo. E
isso dói, porra, como isso dói.
— Calma, pai. Lua é forte, ela vai ficar
bem.
Sorrio e abraço a minha pequena.
— Espero que tenha razão, meu amor.
Noah
Luana
Noah
Raquel
— Temos que fazer alguma coisa! Eles,
nitidamente, não têm nenhuma pista, não
podemos deixar que Lua enfrente isso
sozinha!
— E o que faremos, Raquel? Sei que Lua
se arriscaria por qualquer uma de nós,
mas... O que fazer? – Alicia me responde
com mais perguntas, e são ótimas
perguntas.
Priscila e Manu estavam caladas, elas
se entreolham e confirmam com a cabeça.
— Vocês não farão nada, nós faremos –
Priscila diz.
— Nem pensem nisso, vamos agir
juntas! – digo para as duas, que parecem
estar certas do que dizem.
— Você está grávida, Raquel, não vai a
lugar algum. E tem mais, isso é maior do
que Lua, ela é nossa Alfa, e claro que nos
arriscaríamos por ela. Porém, essa
organização dizimou nossas irmãs, isso tem
que acabar! É pela Lua, mas é também por
cada loba que foi sequestrada, cada loba
que foi abusada... – Manu diz, com firmeza.
— Qual o plano?
— Seremos iscas – Priscila responde.
— Isca? Isso não me parece um plano
muito bom...
— Não sem isso. – Ela abre a mão e
mostra uma luz brilhando, é um
rastreador. – Peguei das coisas de
Ravi, assim que sairmos, vocês
esperam que liguemos o sinal, esperam
e avisam para eles. Dessa forma,
poderemos encontrar a localização de
Lua.
— Meninas, eu não acho que...
— Nós não estamos pedindo nada,
estamos informando a vocês duas. Sem Lua,
toda a luta foi em vão! Aproveitaremos a
chegada dessa mulher estranha e sairemos.
Diga a Ravi para nos encontrar.
Elas saem pela porta.
— Não acho que essa seja uma boa
ideia.
— Nem eu – Alicia me responde. – Mas,
você tem alguma?
— Bem... Não.
— Então, vamos orar para que a delas
funcione, elas são corajosas.
Espero que funcione... Não precisamos
de mais dois homens enlouquecidos por
aqui.
Manu
Luana
Leandro
Noah
Luana
Luana
Alicia
Lucas
— Ei, Ali...
— Papai!
— Ei, minha pequena princesinha!
Como está?
Só conversar com Bia, ouvir sua voz,
faz com que um sorriso bobo apareça em
meus lábios.
— Bem... Já está voltando? Achou tia
Lua?
— Achei sim, agora só falta buscá-la.
Está se alimentando bem? Se comportando?
— Sim! Cuidei da tia Alicia essa noite,
ela estava com medo.
Ouço um fungar no telefone e sei que a
minha menina está chorando, isso parte o
meu coração...
— Ei, linda, o que houve?
— É... minha culpa. Tia Lua estava me
protegendo e...
— Shiii... Não, nada é sua culpa,
princesa. É culpa dos homens maus, não
sua!
— Deixa eles de castigo?
— Sim, meu amor, um castigo
permanente, pode apostar.
— Tia Alicia quer falar, tchau, pai.
— Tchau linda.
Ouço, no fundo, Lucas dizer: Vem,
florzinha, vamos lá fora. Depois, ouço a voz
de Alicia do outro lado da linha:
— Volte para essa criança, Ravi, isso
não é um pedido, é uma ordem. Está me
ouvindo?!
— Sim, chefe.
Ela desliga o telefone e eu fico ali, com
cara de tacho, até que Noah, Ian e Leandro
entram na sala... O dia vai ser longo...
Luana
Manu
Luana
Noah
Luana
Luana
Ravi
Noah
Capítulo 33 – Despedidas
Luana
Noah não acreditou em mim quando
eu disse uma e outra vez que a nossa
menina vivia em meu ventre. Naquele fim
de tarde eu suspirei fundo, nada é por
acaso. Percebo que a existência da minha
menina está sendo escondida por algum
motivo e desejo mais para ela, mais do que
eu já tive, mais do que a matilha e suas leis
podem oferecer.
Quero que minha menina cresça não
como uma princesa tendo todas as regalias
possíveis, quero que ela viva de verdade,
conheça pessoas, conheça o mundo e
perceba que pode ser qualquer coisa que
desejar ser. Mas ela não teria tudo isso se
eu ficasse aqui.
Não vejo Raquel desde que voltei,
encontrá-la me faria fraquejar em minha
decisão, e eu não posso. Se ela fitar meus
olhos, vai saber o que penso em fazer, vai
saber e tentará me impedir. Vou atrás da
minha pequena. Bia, quando me vê, corre
ao meu encontro.
— Tia Luaaa!!!
Sinto seus bracinhos me prenderem.
— Oi, amor, como está?
— Bem, senti sua falta.
Isso faz com que lágrimas se derramem
pelo meu rosto.
— Não chora, tia Lua!
— Eu vou sentir sua falta, pequena.
— Minha falta? Para onde vai? –
Sorrio fraco para ela.
— É o nosso segredo, certo? Eu preciso
ir, porque todos nós precisamos nos curar.
— Não pode se curar aqui? Posso
trocar os curativos e...
— Não, pequenina, não posso. Mas vou
voltar, prometo.
— Promete?
— Sim, não importa o tempo que passe,
eu vou voltar. Quero que entregue isso para
seu tio Noah quando o seu papai for lhe
colocar para dormir. Faz isso?
Ela concorda com a cabeça e me
abraça, sinto novas lágrimas se
derramarem pelo meu rosto.
Caminho em busca do meu outro
pequeno, o vejo só e me abaixo ao seu nível
de visão.
— Ei, vim me despedir de você.
Ele me olha com suas sobrancelhas
unidas e seus lindos e únicos olhos me
encarando.
— Quero te pedir, por favor, cuida do
Noah para mim? Fica com ele, seja o
coração dele enquanto eu não puder estar
por perto, promete?
Frases demais para uma criança,
porém, quando deixo a minha palma para
cima, ele coloca a sua, me olha sério, me dá
as costas e vai embora. E também é isso que
faço, eu caminho, deixando-me para trás,
deixando-me um pouquinho com ele, mas
sabendo que é preciso.
Já desisti de um monte de coisas
porque me diziam que era o certo, que era o
que a situação pedia. Eu nunca antes me
escolhi. Já briguei, sim, briguei muito. Mas
hoje percebo que brigar por espaço é dar
poder ao outro, um poder que só está lá
porque eu não o sinto dentro de mim de
verdade.
Hoje estou escolhendo a mim pela
primeira vez e embora me entristeça
deixar toda a minha família e amigos para
trás, sei que caso ficasse, estaria desistindo
dessa pessoa que existe aqui dentro e que eu
nunca dei a chance de conhecer.
O que seria um companheiro? Todos os
sofrimentos, todas as dores validam a este
termo que por muitos é sinônimo de amor?
Não é que eu não ame Noah, na verdade,
não sei se o amo. Fora a toda a questão de
companheiros, a ligação e o desejo, não sei
se o amo porque não aprendi a amar a mim
mesma. E como posso perceber se amo
alguém sem amar a mim?
*****
Ravi
Noah
*****
Noah,
Hoje eu sei do que o nosso povo precisa,
eles precisam de um Supremo, de um Alfa,
de um exemplo. Não de um marido, não de
um amante, não de alguém que coloque a
segurança de sua companheira acima da
união da matilha. E eu também preciso
disso, embora me dilacere por dentro,
preciso que seja o líder, acima de ser meu,
seja deles.
A nossa espécie brigará, terá guerra,
você sabe, eu também sei. Os Alfas das
outras matilhas se unirão contra você,
lutarão entre si e conseguirão fazer o que os
humanos nunca conseguiram, conseguirão
que a nossa espécie seja extinta. Sei que
parece egoísta, mas eu não posso estar no
meio disso, não agora.
Mesmo que não acredite, eu carrego um
ser, uma menina, nossa filha.
E eu, talvez pela primeira vez, esteja
pensando nela também. Pela primeira vez
eu não estou à frente em uma guerra,
colocando-me em risco, ao contrário, estou
fugindo disso para protegê-la, acho que isso
é meio que ser mãe também. Por ela,
Noah... E por mim. Ela, que merece ter uma
infância sem saber o que é dor, merece
conhecer o mundo sem rótulos e sem
preconceitos para com o seu gênero, nossa
menina merece ter um lar seguro, merece
acordar todo dia sem ter medo do amanhã.
E eu sempre me questionei sobre o laço dos
companheiros, cresci observando meus pais
em uma relação doentia e validada pela
ligação, não quero ser mais um destes casos.
Há inúmeras formas de se machucar e ferir
alguém e eu só... Preciso me conhecer,
entende? Sou tão nova e sinto que andei
brigando por toda a vida, briguei e briguei
e agora não sei o que sobrou, não sei quem
sobrou aqui dentro. Estou indo embora
para me descobrir, para me dar essa
chance.
Sei que não tenho a moral de te pedir
algo como sua companheira, já que isso é
uma despedida, um até logo. Mas te peço
algo, em nome da matilha e em nome da
nossa menina: Dê orgulho ao nosso povo,
faça com que eles, todos eles, homens e
mulheres, sintam-se bem sobre o que são,
transforme as matilhas em uma única
PRIDE! Transforme a matilha em um local
seguro para a nossa filha viver, vença as
guerras, lute, seja forte, faça o que tiver
que ser feito. Porque, às vezes, alguém
precisa sujar as mãos, meu amor, eu sei e
tenho certeza de que você, mais do que
ninguém, também sabe disso. Mas também
sei que existem coisas pelas quais vale se
sacrificar, e sei que irá descobrir isso
também.
Nós voltaremos para você, eu te
prometo isso. E, neste tempo, sobreviva.
Faça isso por nós. Eu te deixei um presente,
você só precisa abrir os olhos e enxergá-lo,
fique com ele, ame-o, ensine-o, ele merece
alguém como você para amá-lo.
Eu te Amo.
Sempr
e
Su
a,
L
u
a.
*****
Luana
Raquel
Luana
Sinto as contrações, minha filha está
vindo. Choro, enquanto mais uma onda de
dor toma meu corpo, Sofia está fazendo o
parto enquanto Ian prende a minha mão a
dele.
Passamos quase uma hora nesse
trabalho, até que a minha pequena nasce,
chora e, quando olho para Ian, ele está
sorrindo e chorando, como eu.
É a primeira vez, depois de Priscila, que o
vejo sorrir.
Noa
h
Luana
Noah
Sarah