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Camila Oliveira
Copyright © 2021 por Camila Oliveira
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LUA
Pensar dessa forma era meio estranho, mas até que eu já estava me
acostumando. Todo esse tempo me transformando em um bicho fez com que
a minha mente pensasse de modo diferente.
Eu estava no quartinho da bebê, arrumando algumas roupinhas dela nas
gavetas. Yuri estava no trabalho, mas de vez em quando me ligava. Ele ficava
tão preocupado em me deixar sozinha em casa enquanto ia trabalhar, que às
vezes nem ia e ficava aqui no seu escritório trabalhando remotamente. Ele só
foi hoje porque teria uma reunião importante e não podia faltar. Meu marido
estava muito preocupado, talvez mais preocupado do que eu com a nossa
bebê, ainda mais agora na reta final da gravidez.
Yuri ficou animado para fazer, mas eu acabei desistindo da ideia, por
não me sentir à vontade. Meu marido foi super compreensivo comigo e me
apoiou, apesar que de vez em quando, eu o flagrava com a câmera do celular
apontada para mim. Eu apenas revirava os olhos e em algumas ocasiões fazia
um gesto obsceno. Yuri gargalhava.
— Até parece que eu vou conseguir. Faz dias que eu não sei o que é
dormir direito.
Yuri chegou até mim e pousou suas mãos na minha barriga. No mesmo
instante, a bebê se remexeu, acertando os locais onde as mãos dele estavam.
Nos entreolhamos enquanto sorríamos, iguais a dois bobos. Apesar da
lobinha fazer isso corriqueiramente, era impossível não se surpreender toda
vez.
— Noite passada você estava dormindo pesado quando eu te observei.
– Yuri falou sem tirar as mãos da minha barriga.
— Eu não ia querer que você parasse mesmo. – falei e puxei Yuri pela
gravata torta na direção dos meus lábios.
— Não se preocupe, amor. Logo ela vai estar aqui nos nossos braços e
nós vamos poder nos agarrar como você deseja.
Eu não sabia dessas coisas, mas sabia que a manteria longe das pedras
da lua. Aquela bebê era uma reencarnação da deusa Luna e eu não queria
mais a intromissão da deusa em nossas vidas. Já era suficiente o que
havíamos passado meses atrás, quando ela “possuiu” meu corpo.
Parte de mim tinha medo. Medo pela minha filha. Há pouco tempo
descobrimos que eu podia emitir uma luz azulada com as mãos. Era o poder
da deusa se manifestando em mim. Será que a lobinha também teria esses
poderes? Minha avó Adele, não sabia e essa falta de conhecimento me
deixava inquieta.
Adele e eu éramos as descendentes que podiam “receber” a deusa em
seus corpos. Apesar desse ponto em comum, eu me diferenciava dela por
poder emitir a luz azulada. Será que o fato de eu ser uma loba contribuía para
isso? E se fosse isso, como a lobinha seria afetada pelos poderes da deusa
Luna?
Yuri se virou para me encarar sério, mas logo o seu rosto desmoronou e
ele sorriu.
— Sim. Eu me casei com a loba mais teimosa, mais rebelde e mais
linda de todas as alcateias da deusa Luna. A minha poderosa companheira. –
ele se aproximou e roubou um beijo rápido.
YURI
Eu temia pela minha filha, pelo que ela seria futuramente. Uma alfa
suprema que seria a reencarnação da deusa Luna, mais poderosa do que
qualquer outro lobo ou reencarnação da deusa na face da Terra? O meu
instinto de proteção gritava, me alertando dos perigos que ela poderia correr.
— Que bom que você puxou esse assunto comigo. Eu tive uma ideia.
– Lua largou o celular em cima da cama e se apoiou nos cotovelos, tentando
se sentar, sem sucesso.
Rapidamente, me aproximei dela e a ajudei.
— Obrigada.
— De nada. Agora me fala qual é a sua ideia. – falei e voltei ao closet,
para verificar o que Lua tinha separado para levarmos na viagem à Belmonte.
Eu tinha que admitir que aquela era uma boa ideia para a pequena
cidade. Eu mesmo, o CEO, nunca pensei naquilo e Belmonte era a minha
cidade natal. Nem mesmo com Josh, o atual prefeito, o assunto tinha surgido
antes.
Mas eu queria ver se Lua estava pronta para isso. Por mais que não
fosse algo imediato, eu queria saber o grau de comprometimento dela, o
quanto ela estava interessada naquilo. Se além da coragem, ela teria
responsabilidade suficiente para assumir essa tarefa, que não seria nada fácil.
— Você se sente preparada para isso? É uma grande responsabilidade.
– mantive a minha postura para tentar intimidá-la.
— Eu sei, Yuri! Mas é que eu tive essa ideia há algum tempo e ela
não sai da minha cabeça. Acho que Belmonte merece uma filial da loja e até
eu terminar a faculdade, estaria totalmente capacitada para tomar conta do
negócio. Mas é claro que o meu marido lindo, forte e poderoso poderia me
ajudar também. – ela sorriu e deu de ombros.
Essa Lua...
— Ai, Lua! – reclamei. Ela era forte e seu humor mudou da água para
o vinho em um piscar de olhos.
— Você não confia em mim?! – ela me ignorou e continuou
esbravejando.
— Claro que eu confio, amor. Mas é que até outro dia você estava
pichando um monumento da cidade e agora...
— Eu não quis dizer isso, amor, é só que... – mas ela não me deixou
concluir:
— Lua, abre a porta, por favor! Me desculpa, amor. Eu não queria ter
falado aquilo, me expressei errado.
A resposta que eu tive foi o barulho do chuveiro sendo ligado e a água
caindo no chão.
— Abre, amor. Eu não vou deixar você dirigir para Belmonte sozinha.
– tentei insistir.
Que merda!
CAPÍTULO 3
LUA
Eu não podia acreditar que Yuri tinha falado aquilo para mim.
— Lua, abre a porta, por favor! Me desculpa, amor. Eu não queria ter
falado aquilo, me expressei errado. – Yuri falou, provavelmente grudado na
porta do banheiro.
Claro que ele não deixaria. Seria arriscado e cansativo para eu fazer
aquilo. Apenas falei da boca para fora. Eu não teria coragem de me arriscar e
arriscar a bebê desse jeito. Yuri me amava e só queria o meu bem. Ele se
preocupava comigo.
Ele suspirou. Seu olhar triste fez em me sentir estranha. Será que eu
estava exagerando?
— Tudo bem. Eu só sinto muito, não queria ter te magoado.
Depois que saí do closet, já vestida, Yuri não estava mais dentro do
quarto.
Fiz uma careta para ele. Pietro estava tão maduro. Morar em uma
cidade grande sozinho fez aquele garoto franzino se transformar rapidamente
em um homem.
— A Talita também! Mas ela não sabe nem aplicar uma injeção! – ele
gargalhou e eu apertei os lábios para não rir também.
Talvez Pietro ainda não estivesse tão maduro assim...
— É isso que a Lua ainda não entendeu. Ela pode ser uma ótima aluna
aqui, mas na prática... Ela não sabe de nada! – ele bebeu de novo seu
refrigerante.
— Pietro tem razão. Eu não devia ter brigado com o Yuri. – falei
arrependida e me levantei na cadeira com alguma dificuldade.
— A aula acabou mais cedo hoje. – dei de ombros. Ele não precisava
saber que eu “fugi” da faculdade para fazer as pazes com ele.
— Hum.
Me aproximei mais da sua mesa. Estava meio sem jeito e não sabia
como começar meu pedido de desculpas.
— Eu sinto muito, meu amor. Não queria ter te magoado. Eu sei que
você é inteligente e esforçada. E também sei que será uma ótima profissional.
Você é comprometida com tudo o que faz e com a loja não será diferente. –
Yuri falou sem tirar os olhos dos meus.
— Somos o casal mais foda das alcateias da deusa Luna. – ele falou,
me lembrando da nossa piada interna. – Talvez o mais fodido também.
— Adoro fazer as pazes com você. Devíamos brigar mais vezes. – ele
segurou minha nuca com uma das mãos e me puxou para um beijo.
CAPÍTULO 4
LUA
Beijei Yuri com toda a paixão que eu sentia por ele e quando o beijo
ficou mais intenso, senti meu corpo formigando. Yuri estava me provocando,
excitando meu corpo através da nossa ligação de companheiros.
Yuri riu e voltou a segurar minha cintura, apertando firme, mas sem me
machucar.
— Você me terá, amor, mas antes eu quero... – o interrompi quase
desesperada:
— Você tem uma bunda linda, minha loba safada. – ele falou enquanto
apertava meus quadris.
Dei um gemido alto, me imaginando de quatro na nossa cama enquanto
Yuri me possuía por trás.
A campainha insistiu.
Merda.
Quando chegou à porta, Yuri abriu-a num rompante, com raiva. O que
eu vi antes de chegar até lá me paralisou onde eu estava, há alguns passos de
Yuri, no meio da sala.
— Até que enfim! Pensávamos que não tinha ninguém em casa! – o
delegado de Belmonte falou irritado.
Yuri se virou em minha direção com uma cara que dizia tudo: Nós não
poderíamos cumprir as ameaças de morte que fizemos momentos atrás.
CAPÍTULO 5
YURI
Meu sogro e minha atual sogra estavam parados na porta de nossa casa,
em uma visita surpresa em plena sexta-feira à noite. Justamente quando Lua e
eu estávamos decididos a passar o resto da noite fazendo as pazes e transando
pela casa inteira. Devia ser verdade o que falavam sobre os sogros...
— Claro! Por que não? Entrem! – Lua saiu de onde estava e veio até a
porta. Ela tinha se recuperado da surpresa mais rápido do que eu. E pensar
que há pouco ela estava com as pernas bambas por minha causa...
— Não estamos atrapalhando nada, Macayla. A Lua está quase para ter
um bebê, deve estar descansando, sem fazer nada. – Neandro falou e foi
entrando, carregando uma mala de mão.
Lua deu um suspiro e revirou os olhos. Resolvi me manifestar, antes
que ela resolvesse explodir com o próprio pai.
— Eu disse isso a ele, mas ele não me escutou. – ela suspirou e falou
mais baixo, só para eu escutar: — Desculpa por interromper vocês. Sinto
muito.
Assenti.
Ok. Agora eu estava com imagens mentais dos meus sogros transando.
E aquilo não era nada legal.
— Lua, como você está? – Macayla foi abraçar minha esposa, assim
que o delegado a soltou.
— Estou ótima. Não vejo a hora dela nascer. – Lua falou toda
carinhosa, passando as mãos pela barriga.
— Nós agradecemos, mas não, pai. Essa é uma decisão que Yuri e eu
devemos tomar juntos. – Lua cruzou os braços na altura do peito.
— Sim Neandro, não se meta. Tenho certeza de que você iria sugerir
algo do tipo: Eluri, Yuana ou até mesmo Neandra. – Macayla chamou a
atenção do marido.
Como tínhamos saído com pressa do meu escritório, Lua não teve
tempo de se limpar.
— Estou morto de fome! – o delegado exclamou e logo em seguida
ganhou uma cotovelada e um olhar reprovador de Macayla.
Comecei a esquentar o jantar que tinha feito mais cedo, enquanto Lua
estava na faculdade. Com toda aquela confusão, acabei esquecendo que
nenhum de nós havia jantado ainda. Na verdade, eu tinha planejado passar a
noite comendo...
— Yuri, Lua está bem mesmo? – o delegado me tirou dos meus
pensamentos libidinosos com a pergunta.
— Sim, ela está bem. Só estamos ansiosos para ela ganhar a lobinha.
Por quê? – devolvi a pergunta.
— É que eu não esperava que ela quisesse ter a bebê lá em Belmonte. –
ele deu de ombros.
Lua era humana, mas seu sangue lupino também influenciava bastante
na sua vida. O instinto animal predominava em alguns aspectos, como o
nascimento de um filho, por exemplo. Ela estava buscando segurança para
dar à luz.
— Vai ser melhor ela ter a criança lá, conosco por perto. Seja lá o que
ela tema, não a atingirá. – Neandro afirmou.
Eu era o alfa supremo. O lobo mais poderoso que existia, atrás somente
da própria deusa Luna e talvez da minha companheira, que era a sua
reencarnação. Eu não deixaria que outro lobo ameaçasse Lua, nem a minha
filha. Nunca. Eu morreria protegendo as duas.
— Que cheiro de queimado é esse? – Lua entrou na cozinha com uma
careta no rosto.
— Pelo cheiro não vai dar pra salvar. – Lua falou enquanto tentava em
vão abanar a fumaça que se espalhava pelo cômodo.
— Você acha? – perguntei sarcasticamente enquanto desligava o fogo e
observava a comida queimada na panela. Merda!
Tivemos que parar três vezes a nossa viagem, para que Lua pudesse ir
ao banheiro. Lua dizia que a nossa lobinha apertava a bexiga dela e que isso a
fazia querer ir o tempo todo ao banheiro, o que era uma merda.
Após isso, não demorou muito para que logo avistássemos a estátua da
deusa Luna na entrada da cidade. Um sorriso se formou nos meus lábios, mas
logo o tirei da cara. A pichação de Lua naquela estátua tinha sido um dos
motivos da nossa briga no dia anterior.
— Bem-vinda à Belmonte. – eu li a placa que ficava na entrada da
cidade.
LUA
Nunca pensei que ficaria tão feliz como estava agora ao retornar para a
minha cidade natal. Era bem verdade que Belmonte se tornou uma
pedra no meu sapato alguns anos atrás, mas já fazia pouco mais de um ano
desde que tudo mudou. Yuri entrou na minha vida, eu amadureci e superei o
passado. Agora, eu estava começando a formar uma nova família com ele e
tinha muitos planos para o futuro.
Apesar de não estar me transformando por causa da gravidez, estar em
Belmonte era... reconfortante. O fato de estar lá e perto da minha alcateia
preenchia o buraco que as transformações deixaram. Eu sentia falta da minha
forma lupina. Além disso, me sentia bem melhor sabendo que a bebê nasceria
aqui. Era algo instintivo.
— Quieto, Neandro! – ela reclamou com ele e se virou para nós dois:
— Entrem, está lá no quarto de vocês.
Essas alterações de humor eram um saco! Mas acho que Yuri acabou se
acostumando nesses últimos meses com isso.
— Não se preocupe com isso. – ele falou com um sorriso lindo, de
canto de boca. Dei um suspiro já imaginando como seria a nossa noite...
Mesmo casada, meu pai manteve o meu quarto (na verdade, meu e de
Yuri agora) em sua casa. Ele queria que ficássemos lá quando fossemos
visitar a cidade e por isso tinha reformado-o meses atrás.
Meu quarto estava do mesmo jeito que deixei da última vez, porém
agora havia um berço no canto. Ele parecia ter sido feito de madeira maciça e
brilhava, provavelmente pelo verniz aplicado recentemente. Era
simplesmente lindo.
Aqueles dois tinham pensado em tudo! Nem eu, nem Yuri tínhamos
planejado onde nossa filha ficaria enquanto estivéssemos em Belmonte.
— Obrigada! Eu simplesmente amei a surpresa.
— De nada, querida.
Assim que colocamos os pés dentro da casa, Josh me roubou Yuri. Meu
marido ficou receoso em se afastar de mim, mas se deixou levar pelo primo.
— Jake quer ficar com a Lua porque ele já gosta dela e da lobinha. –
Josh falou sorridente enquanto se aproximava com Yuri. Os dois tinham
copos de uísque nas mãos.
— Vai me dizer que isso nunca passou pela sua cabeça? Que a lobinha
pode ser a companheira do Jake? – Josh devolveu a pergunta.
— Lua está certa. Não quero que você fique falando essas coisas, Josh.
– Maya reforçou. — Se fosse por isso, você e Yuri também tinham chances
de serem companheiros.
Meu marido e o prefeito se entreolharam. Josh fez uma careta e disse:
— Não está mais aqui quem falou. – ele levantou as mãos, como se
tivesse se rendido.
Yuri fez uma careta e empurrou o primo para o lado, que começou a rir
dele. Todos rimos daquilo, mas eu fiquei em alerta. Se Yuri tivesse escolhido
um nome com “Y”, seria uma escolha totalmente diferente da minha. E eu
queria que ele se agradasse da minha escolha, assim como também queria me
agradar da dele.
Era Mirela, que vinha em sua cadeira de rodas empurrada por Brian.
Aqueles dois continuavam firme e forte, juntos.
Logo, Serena anunciou que o almoço estava servido e todos foram para
a mesa. A alcateia de Belmonte não perdia tempo quando o assunto era
comida.
CAPÍTULO 7
LUA
Merda.
Atendi a chamada mal-humorada:
— Alô!
Eu ri.
— Exatamente.
— E como Yuri está? Nunca mais falei com ele. Ele não está lhe
chateando com toda aquela superproteção, está?
Ri de novo. Adele sabia bem como Yuri agia comigo e a gravidez
apenas aumentou mais seus instintos de proteção em relação a mim.
— Ele deve estar inquieto por causa da bebê. Ela pode ser a próxima
alfa suprema, não é mesmo? Isso sem falar que ela será mais uma
reencarnação e descendente da deusa... Essa criança será muito poderosa,
minha filha. Yuri tem toda a razão de estar preocupado.
Adele riu.
Sim! Saber que a minha filha poderia ser a loba mais poderosa que
existe na face da Terra e que isso poderia chamar a atenção indesejada de
outros lobos ou alcateias, era angustiante. Eu não sabia que outros poderes
ainda poderiam se manifestar em mim, quem dirá na lobinha!
— Eu sei que é idiotice, mas só queria ter uma certeza...
— Não é idiotice, Lua. Você será mãe e mães são assim mesmo. Você
sempre pensará no melhor futuro para a sua filha. Infelizmente essa
incerteza só complica as coisas... Mas... vamos dar um jeito nisso, minha
filha. Não se preocupe.
O quê?!
Pelo que eu sabia, Micael não conhecia ninguém daqui da cidade mais
intimamente... Será que...
Merda!
Joyce.
Eu sempre passava informações dele para a minha amiga médica,
porém, em uma das últimas vezes que falei com ela, a beta da alcateia de
Belmonte me pediu o número de Micael e eu lhe dei! Será que era ela quem
falava com ele? Por que ela não me disse nada? Que estranho!
YURI
Fui até o quarto onde Lua dormia, ou melhor, onde ela devia estar
dormindo. Quando abri a porta, minha companheira estava sentada na cama e
seu olhar parecia distante, pensativo. O que tinha acontecido para deixar Lua
desse jeito?
— Lua? – a chamei e ela se virou para mim, a mão voando para a
barriga inconscientemente.
Quase ri.
Eu sabia que Lua não tinha me dito o que estava pensando e aquilo foi
a primeira coisa que passou pela sua cabeça. No entanto, eu também queria
decidir o nome da nossa filha.
— Tudo bem. Vai ser Neandra ou Yuana? – não pude evitar a piada.
Lua fez uma careta e tentou não rir, mas não teve sucesso.
— Felizmente esses nomes não estão cotados na nossa lista. – ela falou
depois de rir.
Rindo, eu disse:
— Ok! – peguei meu celular e abri o bloco de notas, onde tinha anotado
os nossos nomes preferidos. – Ficamos em dúvida entre Isis, Aurora, Sabrina
ou Ayla. Eu tinha cogitado Cibelle também, mas você...
Lua me interrompeu:
— Não. Eu amo a minha mãe e o nome dela é lindo, mas eu quero que
a nossa filha tenha um nome só dela e especial.
— Eu também tenho o meu favorito. Por que você não me disse antes?
Pensei que estivesse em dúvida. – foquei no assunto.
Encarei Lua tão surpreso, que até a minha boca se abriu um pouco.
— Yuri?
— Lua, esse era o meu nome favorito. Desde o início, foi o nome que
eu mais gostei. – falei sorridente. – Além de ser o nome que também faz
referência a você.
LUA
Mas, acho que consegui distrair Yuri, por mais que eu não fosse boa na
arte do improviso.
— Da última vez que ela disse isso... – meu pai murmurou e não fez
questão de completar.
Reprimi uma gargalhada me lembrando de meses atrás, quando
Macayla e Serena também tinham planejado uma coisinha e a festa em
comemoração pelo nascimento de Jake foi muito além disso.
Ah, não.
Aquele olhar. Eu conhecia aquele olhar.
Os olhos de Micael sorriam, assim como os seus lábios. Ele olhava para
Joyce de um jeito afetuoso, carinhoso. Do mesmo jeito que eu me pegava
olhando para Yuri às vezes. Do mesmo jeito que eu via meu pai olhando para
Macayla ou Maya olhando para Josh. Aquele olhar perdido e ao mesmo
tempo fodido.
Um olhar apaixonado.
Yuri estava certo. Micael era muito enxerido. Eu gostava dele, mas às
vezes ele era sem noção. Não havia necessidade de provocar Yuri, mas meu
primo gostava de brincar com o perigo.
— Não se preocupe. Vou cuidar muito bem do seu primo. – ele falou
estranhamente carinhoso e deu um beijo na minha cabeça.
Dei um suspiro e fui atrás de Joyce. Yuri, mais do que ninguém, sabia
que não devia machucar um humano. Resolvi confiar nele e o deixei sozinho
com Micael. Esperava não me arrepender mais tarde.
CAPÍTULO 10
LUA
Joyce gostava de ficar perto dele porque eram companheiros, mas não
parecia apaixonada por Micael. Já o meu primo, estava caidinho por ela. E
Joyce não percebeu isso. Parecia algo meio egoísta...
— Esse rapaz quer ser qualquer coisa sua, Joyce, menos amigo. Ele
saiu da proteção e do conforto da mansão dele em Romália apenas para
passar um tempo com você. Ele quer ir além da amizade, entendeu? – meu
pai falou.
Olhei para o delegado surpresa. Nunca tinha ouvido ele falar tão
abertamente assim antes...
— Então acho que você precisa esclarecer as coisas com esse rapaz! –
Macayla exclamou baixinho e cruzou os braços.
— Mas se eu fizer isso, vou afastá-lo de mim!
— Foi mais forte do que eu! Eu precisava falar com ele, conhecê-lo!
Ficamos em silêncio por algum tempo. Ninguém tinha ideia do que
fazer agora. Joyce não queria “se separar” do seu companheiro e também não
queria assumir uma relação com ele.
Yuri assentiu. Eu não sabia porque ele tinha vindo até a cozinha, mas
sabia que ele tinha feito isso para preservar a vida de Micael.
— Você tem que tomar uma decisão, Joyce. Essa situação não pode
continuar assim. É injusto com ele e com a Lana. – Yuri disse sério.
— Concordo com o Yuri. Você precisa se decidir, Joyce. – Macayla
decretou.
Ele riu.
— Adele está ocupada com as suas coisas. Nem deve ter notado a
minha ausência. – essa foi a resposta despreocupada do meu primo.
Justamente nesse momento, Lana apareceu na entrada da cozinha, ao
lado do meu pai.
Meus olhos voaram para Micael, que observou a cena muito curioso.
Meu pai, Macayla e Yuri também observavam tudo muito curiosos.
— Oi. – ele respondeu curioso, seus olhos indo de Lana para Joyce.
Acho que eu nunca tinha visto Micael tão paralisado como estava
agora.
— Lana, ainda bem que você chegou! Pode me ajudar aqui? Não quero
incomodar a Lua e a Joyce não entende nada de cozinha! – Macayla falou,
quebrando o silêncio e o clima estranho.
— Claro! Eu bem sei que a Joyce não cozinha nada! Sou eu quem faz
tudo lá em casa, porque a doutora aqui não é uma mulher prendada como eu.
– Lana falou brincalhona e foi para o lado da sogra. – O que você vai
preparar?
Merda.
— Uma lasanha para a Lua. – Macayla respondeu.
— Joy gosta de mim e eu gosto dela. Lana é uma mulher bonita. Acho
que nós três podemos nos dar bem.
YURI
Lana, por outro lado, estava totalmente alheia a tudo isso. Ela não sabia
sobre os lobos, muito menos sobre os companheiros. Ela nem imaginava
também que Micael tinha planos para ela e Joyce.
Macayla e Neandro estavam claramente chateados com Joyce, mas
conseguiram disfarçar bem quando se aproximavam de Lana ou Micael.
Passar a noite observando tudo isso foi meio esquisito. Como alfa
supremo, eu poderia exigir que Joyce acabasse com isso. Mas... A minha
curiosidade falava mais alto. Eu queria acompanhar os próximos capítulos
daquele drama.
— Joyce não poderia ter feito aquilo! É injusto com o Micael e com a
Lana! – Lua exclamou assim que ficamos a sós em nosso quarto, depois da
festa.
— Eu estou curioso para saber como vai ser o desenrolar dessa história.
– confessei e me sentei na cama ao lado de Lua.
— Você não acha que é meio “egoísta” da parte dela querer os dois? –
Lua me perguntou.
— Não vejo problema se os três concordarem.
Fiz uma careta. Lua estava certa. Não era certo Joyce ter os dois e só
amar um. Era injusto com Micael, que queria ter seus sentimentos
correspondidos. Ele saia perdendo naquela relação.
— Eu preciso fazer alguma coisa. – Lua disse e se levantou sozinha,
com um pouco de dificuldade. Tão teimosa até para pedir ajuda!
— Você não vai fazer nada, sua loba teimosa. Os três são bem
grandinhos e podem resolver esse assunto sem a sua intromissão.
— Joyce é como se fosse a minha irmã e Micael é meu primo. Ela não
está pensando direito e Micael está cego. É claro que eu vou me meter! – ela
replicou, teimosa.
Me levantei e rapidamente alcancei Lua. Segurei seus braços
delicadamente e olhei bem fundo em seus olhos verdes. Ela tentou se
desvencilhar de mim, mas não conseguiu. Seu olhar estava preso no meu.
Mudei meu tom de voz e falei de forma sedutora:
— Será que vai ser preciso eu te amarrar nessa cama? Eu queria fazer
isso para outros fins, mas... – nem precisei completar.
— Vou fazer... quer dizer, eu... – ela ficou confusa, mas seu olhar não
saiu do meu.
Com uma das mãos, levantei a barra do vestido de Lua, e a outra, levei
até a sua calcinha. Pretendia apenas afastar um pouco a peça para tocar
intimamente a minha companheira, mas uma batida na porta interrompeu
tudo. Merda!
— Ótimo. – ele disse assim que pôs os olhos na filha, parada na porta. –
Amanhã, você vai entrar em contato com Adele e pedir para ela vir aqui em
Belmonte resgatar o neto dela. Macayla não está nada feliz com essa situação.
Já imaginava isso. Eu poderia até impedir Lua de se intrometer, mas
não podia fazer nada com relação a Macayla. A mãe de Joyce estava
preocupada com a filha e o rumo que as coisas estavam tomando.
Quando o jantar acabou, Micael ofereceu carona para Joyce e Lana, que
aceitaram prontamente. Isso foi a gota d’água para Macayla.
— Vou ligar para ela amanhã, pai. Também não concordo com isso. –
Lua disse.
Neandro assentiu.
— Tudo bem. Podem ir dormir agora. – ele disse e foi embora. Graças
à deusa ele não entrou no quarto ou olhou para mim.
YURI
Ele e Maya tinham vindo aqui na casa de Neandro para visitar Lua e
trazer Jake para vermos com mais calma. Lua, Maya e Jake estavam na sala,
sentados no sofá. Josh e eu conversávamos na cozinha e eu bebericava um
pouco de café.
Bocejei e assenti para o meu primo. Que bom que tudo estava bem em
Belmonte. Faltando pouco tempo para Ayla nascer, eu não queria problemas.
Não era porque éramos lobos que tínhamos que viver em meio à guerra.
Momentos de paz eram muito bem-vindos e bastante frequentes. As brigas e
lutas eram momentos raros. Ou deveriam ser.
— Parece que a Lua te deu uma canseira ontem à noite, não é? Adoro
essa excitação das grávidas. Mal vejo a hora de engravidar Maya novamente.
– ele falou zombeteiro e sorriu para mim.
— Cala a boca, Josh. Respeita a minha mulher. – falei a ele reprimindo
um sorriso.
— Você tem que aproveitar, primo. Depois que a Ayla nascer, vai
passar um bom tempo na mão. Vai por mim. – ele deu uma piscadela e seu
sorriso aumentou.
Ótimo. Agora eu tinha imagens mentais do meu primo se masturbando.
Eca! O sacana sabia disso, pela careta que eu fiz e a gargalhada que ele deu.
— Depois que eles nascem as coisas mudam. Você vai ver. – Josh
comentou sorridente, acompanhando meu olhar para as nossas companheiras.
Eu estava louco para experimentar tudo o que Josh me dizia sobre
filhos. Passei os últimos meses lendo, pesquisando e me inteirando sobre tudo
desse universo. Me sentia pronto para ser pai. Daria o meu melhor pela Ayla.
Voltei a tomar meu café, mas fiz uma careta ao constatar que agora
estava frio. Odiava café frio, pois estava acostumado a tomar café quente.
Sentia que me mantinha ativo e disposto para o trabalho na empresa, então
seria a melhor opção agora, já que dormi pouco à noite.
— Como é? – Josh perguntou com um sorriso no rosto.
Ele riu abertamente ao escutar o que quer que fosse no outro lado da
linha.
— Não, estou aqui na casa do Neandro, com Lua e Yuri. Vem aqui! –
Josh falou animado.
— O que foi? Quem era? Você não pode ficar chamando um monte de
gente pra cá, Josh!
— Relaxa, alfa supremo. É só o Blake e o Daniel. – ele respondeu
ainda sorrindo.
Eu nem sabia que eles estavam noivos... Sabia que eles moravam
juntos, mas não sabia nada sobre casamento. Josh não me contou isso.
— Yuri, Adele está chegando aqui em Belmonte. Ela vai levar o Micael
daqui. – Lua me informou enquanto se aproximava com Maya.
— Ele está gostando da Joyce, mas ela só o quer por perto por gostar da
companhia dele. Ela não está apaixonada por ele. – Lua respondeu e cruzou
os braços na altura do peito.
— Será que Adele vai conseguir tirar o neto daqui? – Maya perguntou.
— Espero que sim. Não acho certo o que está acontecendo. – Lua
respondeu e veio se sentar no meu colo. Passei um braço pela sua cintura e
com a outra mão, espalmei a sua barriga. Ayla estava quietinha.
LUA
Revelamos o nome de Ayla para Josh e Maya, que ficaram felizes com
a nossa escolha. Josh tinha perdido a aposta de que o nome dela seria com
“Y”.
Após conversar bastante com Maya sobre bebês e gravidez, contei a ela
e Josh tudo o que tinha acontecido na noite anterior com Joyce. Falei da
atitude da beta da alcateia, de se aproximar de seu companheiro rejeitado e de
manter uma relação de “amizade” com ele.
Josh não conseguia acreditar no que tinha escutado. Ele sempre achou
Joyce muito responsável e esse foi um dos principais motivos para ele tê-la
escolhido como sua beta, além é claro, da sua força. Ele não conseguia
acreditar que Joyce estivesse sendo tão desajuizada assim.
— Isso não é muito legal, amor. Brian também não “topava” muito
comigo. – Daniel contrapôs.
Ri daquilo. Parece que as coisas tinham mudado. Antes era Brian que
não aceitava o relacionamento do irmão e agora, era Blake que não aceitava
muito o dele.
— Ela não quer nada sério com ele, Blake. Você sabe disso. – disse a
ele estreitando os olhos, pois sabia que ele e Joyce eram próximos.
— Você não tem jeito com bebês, amor. – Daniel brincou com o
companheiro.
— Ele parece apreensivo com alguma coisa... – Blake falou com o
cenho franzido.
Jake começou a chorar nos meus braços ao mesmo tempo que Yuri se
aproximava por trás, seus olhos não saindo de Joyce. Algo estava errado.
— A culpa é sua! Adele veio até aqui e tirou Micael de mim! – ela
exclamou, muito exaltada.
— Joyce, fique calma. Eu nem sabia que Adele já tinha chegado aqui.
Falei com ela mais cedo... – fui interrompida por Yuri:
— Joyce, se acalme e se afaste de Lua. – ele falou calmamente, sem
desviar o olhar da loba.
— Você não quer se transformar aqui dentro, Joy. Vai nos machucar
no processo. – Blake falou, tentando manter a calma.
— Vai machucar seu alfa e seu alfa supremo, além das companheiras
e os filhos deles. Inocentes. – Daniel ressaltou, em uma tentativa de dissuadi-
la.
Assenti.
— Acho que sim. – respondi e passei a mão pela barriga. Ayla não se
mexeu, provavelmente assustada com a minha reação.
Yuri se levantou e lançou um olhar para o primo.
YURI
Eu não queria ter que usar a voz de comando em Joyce, mas foi a única
alternativa que encontrei para afastá-la de Lua e Ayla. Ela se transformaria
sem pensar duas vezes, e poderia machucar a minha companheira e a minha
filha por nascer, além de todos os outros que estavam dentro da casa. Joyce
não estava raciocinando direito, e por causa do companheiro, ela iria até as
últimas consequências, mesmo que isso significasse ameaçar o seu alfa
supremo.
Se rebelar contra o seu alfa e contra o seu alfa supremo era grave, muito
grave. Era um considerado um ato de traição, e assim como a pena para o
abandono da alcateia, a pena para isso era a morte.
Não me agradava a ideia de matar um lobo, ou quem quer que seja,
mas, Joyce foi longe demais. Ela não poderia sair impune pela que fez
conosco, principalmente Lua. Minha Lua, minha companheira, o amor da
minha vida.
Joyce estava parada do lado de fora, virada de costas para a casa. Seus
ombros tremiam e suspeitei que ela estava chorando.
— Joyce? – Josh a chamou com a voz firme. Ele devia estar tão puto
quanto eu, pois sua companheira e filho também foram ameaçados.
— Eu sinto muito. – Joyce disse aos soluços, chorando. Ela não se
virou para nos encarar.
Eu conhecia o meu primo e sabia que ele estava odiando aquilo tanto
quanto eu. Com Brian, ele hesitou em caçá-lo e matá-lo. Com Joyce, as
coisas eram diferentes. Ele tinha uma relação mais estreita com a loba, pois
ela era a sua beta, a segunda no comando da alcateia. No entanto, a sua
companheira e filho foram ameaçados. Ele iria até o fim se preciso fosse,
assim como eu.
Dei um suspiro.
— Será que agora alguém pode explicar que diabos está acontecendo?
– o delegado perguntou meio irritado.
— Adele está aqui em Belmonte e veio “buscar” Micael. Joyce não
gostou disso e veio aqui, acertar as contas comigo. Ela entendeu que eu
estava a separando do seu companheiro e veio defendê-lo. Foi um ato
instintivo, característico dos lobos. – Lua respondeu imediatamente o
questionamento do pai.
— Joyce não faria mal a você, Lua. Vocês são amigas, irmãs. –
Macayla replicou com o cenho franzido.
— Sim, mas a ligação de companheiros é mais forte do que tudo. Ela
veio aqui, ressentida pelo afastamento de Micael. Provavelmente Adele disse
que Lua ligou para ela, para ela buscar Micael. – respondi enquanto me
aproximava de Lua. Me sentei ao seu lado, no braço da poltrona.
— Talvez, mas eu não sei o que Adele disse a ele. – dei de ombros.
Era óbvio que eu não acreditava que Adele tivesse arrastado Micael
pelas orelhas até a casa deles, mas ela poderia persuadi-lo. Por mais que
fôssemos todos adultos, ainda estávamos sujeitos às ordens dos “adultos”.
Serena ainda “mandava” em Josh e até em mim. Neandro ainda “mandava”
em Lua. Não se tratava de submissão e sim, respeito. Respeito pelos mais
velhos.
— Joyce se sentiu ameaçada e veio aqui. Ela ameaçou todos nós com
uma transformação repentina e em local fechado e pequeno. Ela poderia ter
machucado todos nós por isso. – Josh falou mal-humorado.
— Foi diferente.
— Yuri, por favor, podemos arrumar outro jeito de resolver essa
situação. Você pode arrumar as coisas. – Macayla falou esperançosa.
LUA
Tivemos que contar a ele toda a verdade sobre Joyce ser a sua
companheira. Na verdade, tivemos que explicar sobre os companheiros, para
depois contar o que ele e Joyce eram um para o outro. Adele não gostou nem
um pouco de saber disso.
— É por isso que você gosta tanto de ficar com ela. Vocês estão
predestinados a ficarem juntos. – Yuri explicou.
Eu não deixaria que Joyce pagasse por um erro meu. Foi culpa minha
ligar para Adele e pedir para ela vir aqui em Belmonte. Eu fui precipitada e
agora uma confusão enorme tinha começado. Era incrível o fato de que toda
vez que vinha para Belmonte, eu causava algum tipo de confusão.
— Não queremos nada com os lobos. – Adele falou na defensiva.
— Sua neta é uma loba. – Meu pai replicou, meio ofendido. O delegado
não deixava nada passar.
— É diferente. Lua também é uma descendente e reencarnação da
deusa. – Adele observou.
— Uma lei antiga e que pode muito bem ser alterada pelo alfa supremo!
– Macayla falou e lançou um olhar para Yuri.
Ele se mexeu incomodado ao meu lado. Era óbvio que ele não queria
matar ninguém, mas também não queria ficar mexendo na lei dos lobos o
tempo todo. Aquelas eram as regras mais importantes dos lobos e deviam ser
obedecidas, por mais que fossem muito velhas. No entanto, eu sabia que
poderia haver exceções...
— Sim, eu quero.
— Você está falando isso como deusa Luna ou como loba da alcateia
de Belmonte? – Josh cruzou os braços na altura do peito e me encarou sério.
Fiquei sem graça. Eu estava mesmo dando ordens?
Fiquei com mais vergonha ainda. Tive que segurar meu queixo para
não cair no chão. Sentia minhas bochechas quentes. Eu não estava em
posição de dar ordens.
— A Lua está certa, Josh. O melhor a se fazer é o que ela disse. Adele e
Micael ficam em Belmonte e a alcateia os protege, mesmo que eu não ache
isso necessário. Vamos punir Joyce de outra forma. Ela e Micael podem se
acertar enquanto isso... – Yuri falou resoluto. Ele voltou a segurar a minha
mão e deu uma apertada nela. Me senti melhor instantaneamente.
Josh assentiu.
— Como queira. Na verdade, acho que já decidi a minha punição para
Joyce.
— Tudo bem.
— Isso é imoral, Micael! Você não pode estar falando sério! – Adele
replicou indignada.
— Mas Joyce sim. Ela já disse que não queria nada sério com você,
Micael. – Yuri falou e eu dei uma cotovelada nele. Não podia se dizer uma
coisa dessas assim!
— Então eu não to entendendo nada! O que ela quer comigo afinal?! –
Micael perguntou com o cenho franzido.
— Acho que isso é algo que pode ser discutido depois. Vamos lá para
fora, para conversar com Joyce. – ele disse e fez um movimento com a mão
indicando a porta.
— Lua, você fica aqui. Vamos resolver esse problema e eu volto logo.
Suspirei conformada. Yuri sabia muito bem que eu não tinha disposição
para acompanhar toda essa correria.
— Tudo bem. – fiz uma careta.
— Ela está quieta. – ele falou com o cenho franzido, sem tirar os olhos
da minha barriga.
— Ela deve estar dormindo. – dei de ombros.
Eu sabia que Ayla tinha se assustado com o meu susto e não quis
contar a Yuri. Não precisava preocupá-lo desnecessariamente. Logo Ayla
voltaria a se mexer.
— Maya vai ficar aqui com a Lua enquanto resolvemos tudo. – ele
disse a Yuri.
— Ela tem um berço aqui? Legal! Acho que ela não vai se incomodar
se o Jake o estrear.
— Tenho certeza de que não. – falei sorridente e segui com Maya para
o meu quarto. Estava precisando ir ao banheiro urgentemente.
Enquanto Maya ficou acomodando Jake no berço, entrei no banheiro do
meu quarto. Estava com tanta vontade de fazer xixi, que foi só eu fechar a
porta e senti o líquido escorrendo pelas minhas pernas.
Senti que algo estava errado quando fui me sentar no vaso sanitário.
Começou a sair muito líquido. Muito. Será que a minha bexiga estava tão
cheia assim?
YURI
Eu não o julgava. Ainda estava com raiva de Joyce, mas depois que
Lua pediu pela amiga... Eu não podia ignorar um pedido da minha
companheira.
— Ela não vai parir agora, Yuri. Relaxa! Vem! – Josh insistiu.
— Joyce vai no nosso carro. – Micael afirmou e Adele revirou os olhos.
O gesto foi tão parecido com o de Lua...
— Acho que já podemos ir. – Daniel acenou para Blake, que se afastou
de Joyce e abriu caminho para Micael ficar mais perto dela.
E pensar que viemos para Belmonte achando que aqui era mais seguro
para Ayla nascer... A própria alcateia de Lua ofereceu riscos para ela. O que
eu poderia fazer agora? Voltar para Olímpia?
— Para resumir, Joyce ficou brava com a Lua por ela ter tentado afastar
Micael dela. Ela foi até a casa de Neandro e quase nos machucou. Depois
disso, decidi puni-la. Ela não é mais a minha beta e está suspensa. Yuri ainda
vai decidir o que fazer. – Josh contou.
— Pela deusa! – Serena exclamou surpresa.
— Pare, vovó! – Micael afastou Adele e a levou até o sofá. – Josh, tem
algum lugar reservado onde eu possa conversar com a Joyce?
— Pode ir para o meu escritório. Joyce, leve-o para lá. – Josh
respondeu prontamente.
— Venha logo, mulher! Deixe disso! – ela puxou Macayla pelo braço e
as duas seguiram para a cozinha.
Dei um suspiro.
— Lua foi para o hospital! Ela vai dar à luz, Yuri! – Serena exclamou
nervosa.
— Eu preciso ir! – falei e corri para a porta, mas me dei conta de que
estava sem carro e sem celular. Sem nada! Saí de casa “sem lenço e sem
documento”. Parei antes de tocar a maçaneta. – Josh! – gritei.
— Estou indo. – ele correu até mim, mas eu já tinha voltado a correr
para o carro.
Ainda escutei Adele perguntando o que estava acontecendo, mas não
parei para ouvir a resposta de Serena. Estava mais preocupado com a minha
companheira e com a minha filha.
Josh bufou, mas acatou a minha ordem. Ele acelerou e passou alguns
sinais vermelhos. Tudo para que eu pudesse chegar a tempo de ver minha
filha chegar ao mundo.
Minha Ayla. Como ela seria? Esperava que ela fosse uma cópia exata
de Lua. Loirinha e de lindos olhos claros. Tão linda quanto a mãe. Minha
lobinha, minha herdeira. Mas esses detalhes não importavam realmente. O
que importava era que ela tivesse saúde. Muita saúde e força para enfrentar o
mundo aqui fora.
Será que Lua estava sofrendo? Queria pensar que não, mas sabia como
funcionavam os partos. Lua escolheu o parto normal desde o início e eu sabia
que ela sentiria dor, ficaria exausta... A vontade dentro de mim era de
arrancar o sofrimento da minha companheira e se possível, transferi-lo para
mim. Não me importaria de sofrer no lugar de Lua. Eu a amava demais e
estava disposto a qualquer sacrifício para o bem dela.
CAPÍTULO 17
LUA
Me sentia estranha. Ainda não sentia dores nem nada, mas sentia um
desconforto na barriga. Comecei a andar igual a um lutador de sumô, com as
pernas abertas. Era ridículo, mas eu não sabia o que fazer.
— Lua, o Jake está dormindo. – Maya me avisou enquanto observava o
filho no berço.
— Ai, caramba!
— Chama o Yuri, meu pai, alguém! Eu não sei o que fazer! – falei
levemente desesperada.
— Tudo bem, fica calma. Eles estão aqui na frente da casa. – Maya
falou e correu para fora do quarto.
Dei um suspiro e senti um beliscão na barriga. Ai! Aquilo doeu!
— Lua, não tem ninguém lá fora! – Maya exclamou assim que entrou
no quarto.
— Como assim?! Tá todo mundo lá! Eles só iam falar com a Joyce! –
eu não conseguia acreditar. Eu estava sozinha?
— O que foi?
Suspirei.
— Vou vestir algo e você continua tentando.
— Ok.
— Liga pra Serena! Eles devem ter ido para casa do Josh!
Ela assentiu novamente.
— Vou para o hospital no carro do Yuri. Você ficar aqui com Jake e
continua tentando falar com alguém. Quando conseguir, avisa que eu já fui
para o hospital. – respondi a ela.
— Claro que eu posso. – me segurei para não fazer uma careta com a
contração que me atingiu justamente naquele momento.
— Tem certeza?
— Claro. Vai dar tudo certo. Não se preocupe! – soltei o ar aliviada,
quando a dor me deixou.
A médica que traria minha filha ao mundo tinha o nome da deusa. Que
coincidência desgraçada. A doutora deusa. Por que ninguém me disse antes o
nome dela?
Sim. Belmonte era um ovo e ela nem imaginava o quanto. Pela deusa!
CAPÍTULO 18
YURI
Ah, claro! Ser prefeito tinha as suas vantagens e todo aquele charme de
cafajeste de Josh valia para alguma coisa, afinal de contas!
— Ela está sendo atendida pela doutora Luna, senhor Josh. – a moça
olhou de Josh para mim. – Só é permitido um acompanhante.
Todo sorridente, Josh deu alguns tapinhas nas minhas costas e disse:
— Você é o pai?
Engoli em seco. Não queria lembrar de Joyce e todo o problema que ela
causou essa manhã. Será que o susto que ela deu em Lua tinha relação com o
trabalho de parto? Se fosse isso...
— Espero que meu sogro só tenha dito coisas boas. – me foquei em
Neandro para responder e deixar a irritação de lado.
A médica riu.
Lua apenas revirou os olhos ao meu lado. Ela parecia muito tranquila.
Eu estava tão afoito para ver Lua que até me esqueci de perguntar o
nome da médica que estava atendendo-a. Eu estava agindo como um idiota e
Ayla nem tinha nascido ainda. Imaginei que ficaria pior depois que ela
nascesse, assim como Josh ficou com Jake.
Aquela mulher que faria o parto da minha filha tinha o mesmo nome da
deusa! Que coincidência!
— Preciso ir preencher alguns papéis, volto mais tarde. – ela acenou e
saiu do quarto.
Assim que ela fechou a porta, olhei para Lua e ela me encarava do
mesmo jeito: Surpresa.
— Como isso foi acontecer, Lua? Eu saí apenas por alguns minutos.
— Eu... não sei! A minha bolsa só estourou e não havia ninguém por
perto, só a Maya e o Jake. Como nenhum dos dois sabia dirigir e não
conseguimos falar com ninguém, peguei seu carro e vim pra cá dirigindo. –
ela deu de ombros.
Puta merda!
— Regras são para todo mundo, e eu não sou todo mundo. – ela disse
enquanto enrolava no dedo uma mecha do cabelo.
— Claro que você não é todo mundo. Os últimos meses deixaram isso
bem claro para mim.
A minha tão esperada companheira não era apenas isso. Ela era uma
loba e também uma reencarnação e descendente da deusa Luna. Ela seria a
mãe da futura alfa suprema (provavelmente) e da próxima reencarnação e
descendente da deusa. Lua realmente não era qualquer uma.
— Não se canse, meu amor. Vai precisar dessa força mais tarde. – falei
brincalhão.
Foi uma péssima ideia. O olhar da minha companheira se transformou.
Eu realmente não deveria ficar com brincadeirinhas nesse momento.
— Yuri, se você não quer ter a sua cabeça arrancada, sugiro que saia
um pouco do quarto e avise meu pai que estou aqui.
YURI
Aquilo não foi surpresa nenhuma, pois a deusa Luna era conhecida
também como a deusa da noite, ou seja, Ayla “esperou” anoitecer para
nascer. Devia ser algum instinto ancestral dela ou apenas coincidência
mesmo.
A doutora Luna aparou Ayla assim que ela saiu do corpo de Lua. Após
os primeiros cuidados, a minha pequenina me foi entregue enrolada em um
manto. Ayla tinha um belo par de pulmões e não teve vergonha nenhuma de
mostrar isso para toda a equipe médica.
Assim que a segurei nos braços, meio sem jeito, fui invadido por uma
onda enorme de amor. Um sorriso bobo se instalou na minha cara e eu pus os
olhos na criaturinha mais linda que já tinha visto em toda a minha vida, em
toda a minha existência. Aquele bebê pequeno e frágil tomou conta do meu
coração.
A penugem loira na sua cabecinha indicava que ela era filha da minha
companheira, apesar de que os olhinhos fechados me davam a esperança de
ter passado alguma característica genética para minha filha. O “DNA” da
deusa era forte e dominante.
Ayla tinha o cheiro característico dos lobos. Ela tinha o meu cheiro e
de Lua combinados, formando um novo. Era interessante sentir aquilo. Era
único e especial. Era um dos melhores cheiros que eu já tinha sentido na vida,
além do de Lua, é claro.
Olhei para Lua e seus olhos estavam marejados, com algumas lágrimas
já escorrendo pelo seu rosto. Ela estava cansada, suada, com o cabelo
desgrenhado escapando da touca cirúrgica, mesmo assim, ela era a mulher
mais bela que eu já conhecera. Todo o amor que eu sentia por ela só se
multiplicou naquele curto espaço de tempo.
Com todo o cuidado do mundo e um pouco mais, coloquei Ayla nos
braços da minha esposa. A lobinha se aninhou melhor no colo de Lua e ficou
mais tranquila. Ela reconheceu a mãe. Lua abriu um enorme sorriso assim
que pôs os olhos em nossa filha. Ela parecia encantada em ver a nossa
lobinha.
Lua me olhou brevemente e voltou a olhar para nossa filha, que agora
dormia em seus braços. Ver as duas ali, daquele jeito, me encheu de
felicidade e paz. Era a visão mais linda e perfeita do mundo. Eu não tinha
nem palavras para descrever o que sentia pelas duas. Talvez palavras não
fossem o suficiente para dizer tudo o que eu sentia.
Trocar uma fralda não era tão fácil assim e Lua também demorou um
pouco para pegar o jeito da amamentação, mas no final conseguimos. Por
enquanto, Lua estava cuidando da alimentação de Ayla, enquanto eu cuidava
das fraldas.
Após alimentar Ayla, Lua disse que estava exausta e que precisava
dormir um pouco. Peguei Ayla dos seus braços e me sentei na poltrona do
quarto, ao lado da cama.
— Pode dormir que eu cuido dela. Não se preocupe. – tranquilizei a
minha companheira.
LUA
Ainda estava escuro lá fora e imaginei que ainda era noite. Ayla tinha
nascido no início da noite.
— Por pouco tempo. Logo eu serei o rei das fraldas. – Yuri respondeu
concentrado.
— E você é a minha rainha do cocô. Ainda somos o casal mais foda das
alcateias da deusa Luna, não acha?
Eu ri.
— Com certeza.
Ele estava todo cuidadoso com ela. Parecia que a menina era feita de
cristal. O nosso cristalzinho.
Olhei para Ayla e tive a minha confirmação: Ela era a bebê mais
linda do mundo. A mais amada, a mais querida e a mais mimada também,
com certeza. Sorri feito uma boba para o meu cristalzinho. Subitamente
minhas energias retornaram e me senti um pouco melhor. Foi o “efeito Ayla”
em meu corpo.
— Oi, meu amor! Está com fome? A mamãe vai resolver isso. – falei
enquanto baixava a alça da camisola e encaixava a boca de Ayla em meu
seio, do jeito que a enfermeira tinha me ensinado.
— Ela está com fome! Eu dormi muito? – perguntei a Yuri sem tirar os
olhos de Ayla.
— Algumas horas. – ele respondeu e se sentou na beirada da cama,
para nos observar melhor. – Vocês são lindas, Lua. Parecem uma obra de
arte. Vou ser obrigado a colocá-las no papel.
Meu marido era muito habilidoso com seus desenhos, mas eu não
achava que estava tão bonita assim para ser digna de uma de suas
representações.
Eu sabia que estava horrível e Yuri devia estar sendo amável comigo,
devido a tudo que passei. Pela deusa, eu tinha acabado de passar por um parto
normal! Ou, era essa coisa de companheiros que nos deixava bobos um pelo
outro.
— Você está enganado, Yuri. Já esqueceu da Mirela? Ela não era sua
irmã? – perguntei enquanto baixava a cabeça para observar Ayla, que
continuava mamando tranquila. Reprimi a vontade de rir.
— Na casa do Josh. Ela não quer arredar o pé de lá, com medo. Joyce
ainda não decidiu nada com Micael e acabou passando a noite lá. A casa do
prefeito está lotada.
Suspirei.
Foi a minha vez de ficar com os olhos marejados. De onde meu pai
tinha tirado aquelas coisas tão sentimentais? Ele sempre foi um homem
prático, sério. Nunca imaginei que ele fosse sentimental. Maldita bagunça de
hormônios!
LUA
A doutora Luna se despediu de nós após isso e foi embora. Ela não
parecia nem sonhar que seu nome tinha sido inspirado na deusa que estava
adormecida dentro de mim. Para ela, assim como para a maioria dos
habitantes de Belmonte, eram apenas lendas locais, a “história” de Belmonte.
Eu não esperava que todos estivessem ali presentes, até porque queria
preservar Ayla nesses primeiros dias. Mas que foi estranho, isso foi. A
alcateia era muito unida e estavam todos preocupados conosco enquanto
estávamos no hospital. Além disso, Adele e Micael também não se
manifestaram, apesar de eu ter enviado algumas fotos de Ayla para minha
avó.
— Você sabe que ela não vai sair correndo, não é? – meu pai perguntou
sarcástico.
Eu não olhei para ele, mas sabia pelo seu tom de voz que ele estava
sorrindo. Eu sabia que ele estava se divertindo com aquilo. A sua filha
“rebelde” estava sendo responsável.
Revirei os olhos.
— A porta vai ficar aberta e vamos ficar a apenas alguns metros daqui.
– o delegado disse e colocou a mão no meu ombro. – Vamos, Lua. Você
precisa se alimentar direitinho, precisa ter forças para alimentar essa criança.
Franzi o cenho para ele. Eu até gostava de sopa, mas esse não era o
problema.
— E por que você ainda está aqui? – perguntei a Yuri meio confusa.
Fiquei sem saber o que fazer. Eu queria ir com Yuri, mas não queria
levar Ayla e nem queria ficar longe dela também. Que complicado!
— Pode ir. Vamos ficar bem. – eu falei a Yuri, de repente. Aquilo era o
certo a se fazer.
— Sem chance. – ele se aproximou e se sentou à mesa. – Tome sua
sopa, Lua.
— Mas eu não quero você aqui. Pode ir. Vamos ficar bem. Apenas os
Marino vão ficar nessa casa agora à noite.
YURI
— Sim, boa noite. Como sua esposa e filha estão? – ela insistiu assim
que me soltou.
— Elas estão bem. – respondi meio ranzinza.
Não queria ter deixado Lua e Ayla e isso me deixava de mau humor.
Serena não ficou feliz com a minha resposta seca e quando ia replicar algo
parecido com um puxão de orelha, Blake a interrompeu:
— Queremos fotos!
— Vai se acostumando. Ainda vai levar algum tempo até ela desfraldar.
— Isso já aconteceu. Nunca vou me esquecer desse dia. – Josh riu com
a lembrança.
Balancei a cabeça negativamente.
— Vamos começar essa reunião logo. Acho que o nosso alfa supremo
está doido para retornar para o conforto do seu lar e da sua família. – Josh
disse. – Sentem—se. – ele apontou para algumas cadeiras e Joyce e Micael
foram se sentar.
— Estamos aqui porque eu fiquei de decidir uma punição alternativa
para Joyce. Como todos aqui já devem saber, a loba ameaçou Lua, Ayla, eu,
Josh, Maya, Jake, Daniel e Blake. – comecei a falar.
Macayla levantou a mão e disse, sem esperar que eu lhe desse a
palavra:
— Todos aqui sabem sob que circunstâncias sua filha agiu. – Adele
rebateu.
— Você não faz parte desta alcateia. Está aqui apenas como ouvinte. –
Macayla replicou.
— Eu sou avó, assim como aquele senhor é avô daquele rapaz. – Adele
persistiu, apontando para Levi e Daniel, que estavam calados até então.
Pelo canto do olho, vi que Daniel estava rindo e Levi ficou sem jeito.
Micael balançou a cabeça, ainda sorrindo e disse:
— Sua tentativa foi frustrada, graças à deusa. Mas... Coisas desse tipo
não podem ser ignoradas. Esse tipo de comportamento não pode se repetir em
alcateia nenhuma, portanto, Josh e eu resolvemos punir Joyce pela...
transgressão.
— Não. Lua não permitiu que as coisas acontecessem assim, por mais
que fosse o “certo” a se fazer. Ela se sentiu culpada pelo que aconteceu e eu
resolvi atender ao pedido dela.
— Se a lei dos lobos não vai ser aplicada, então o que...? – Brian
perguntou confuso.
— Yuri vai dar uma punição alternativa, assim como fez com você da
outra vez. – Levi respondeu, antes que eu abrisse a boca.
Brian assentiu.
— Josh já deu o seu veredito sobre Joyce e cabe a mim, agora, dar o
meu, tendo em vista a gravidade da situação.
— Sim, Yuri estava falando sobre a minha punição para Joyce pela
transgressão. Apenas esclarecendo para quem ainda não saiba, mas eu decidi
que ela não será mais a minha beta. Vou escolher um entre os outros
membros da alcateia e o mais forte será o meu segundo no comando. – Josh
anunciou. Ele não parecia feliz com aquele arranjo.
— Muito. De verdade, eu sinto muito. Não queria ter feito aquilo, ainda
mais com a Lua! Os bebês, meus irmãos de alcateia, os alfas... sinto muito! –
ela falou séria enquanto seus olhos percorriam todos os envolvidos naquele
fatídico dia.
— Está tudo bem. – Blake disse e segurou uma das mãos dela, já que
estavam lado a lado. Pela cara de Daniel, ele não achou que estivesse tudo
bem, mas não disse nada.
— Muito bem, eu já estou pronto para dar o meu veredito. Mas antes
quero saber o que vocês dois decidiram. – disse, olhando de Joyce para
Micael.
— Não ficaremos juntos, alfa supremo. Essa moça não me deseja e está
muito feliz ao lado de Lana.
Adele suspirou aliviada e dessa vez foi ela quem ganhou um olhar
fulminante de Macayla.
Eu precisava ter uma certeza de que Joyce saberia lidar com as suas
escolhas. Não queria que ela tivesse um ataque toda vez que Micael estivesse
com outra pessoa em sua vida, e eu sabia que a vida daquele idiota era
bastante movimentada naquele quesito.
— Sim, vou manter contato com Micael, mas com menos frequência.
Não vou atrapalhar a vida dele. – Joyce respondeu séria. Ela sabia que não
deveria mentir para mim, pois as consequências seriam piores.
— Você não me atrapalha, gata. – ele deu um sorriso de lado e eu quis
socar a cara dele.
— Ótimo. Então acho que agora posso dizer qual foi a minha decisão.
— Ok. Eu decidi que Joyce não merece ser a madrinha de Ayla. Minha
filha terá como padrinhos Josh e Maya. – cruzei os braços na altura do peito e
encarei onze pessoas atônitas.
CAPÍTULO 23
YURI
— Acho que podemos encerrar por aqui. Yuri quer voltar para casa e
Joyce já recebeu as suas punições. – Josh falou sério enquanto coçava a
cabeça.
No entanto, Adele fazia parte da família. Ela era avó de Lua e as duas
se aproximaram bastante nos últimos meses. Imaginei que não haveria
problemas se Adele fosse ao encontro das minhas garotas.
Revirei os olhos.
— Essa foi a melhor decisão.
— Com certeza.
— Obrigada!
— Então nos vemos amanhã. Isso é, se a Lua não te matar até lá. – Josh
brincou de novo.
Ayla dormia tranquila no berço, enquanto era vigiada pelo meu sogro.
Pela cara dele, Ayla conseguiu derreter até o homem mais bravo de
Belmonte.
— Como ela está? – perguntei sem tirar os olhos do berço. Parecia que
Ayla exercia algum tipo de magnetismo em mim e em todos a sua volta.
— Entendo.
Nesse momento, Lua saiu do banheiro vestindo um de seus vestidos
longos e soltos da gravidez. Ela estava com o cabelo molhado do banho e de
chinelos. Ela olhou para cada um de nós e franziu o cenho.
LUA
— Ainda não.
Enquanto Adele foi para o banheiro, fiquei embalando Ayla nos braços,
até que a minha lobinha parou de reclamar e voltou a dormir. Era só manha
mesmo.
Aquela ainda era Adele, mas ao mesmo tempo não era. A mulher
parada na minha frente tinha os olhos totalmente brancos, sem a íris ou
pupila, e usava um vestido amarelo sexy. Seu semblante estava sem vida e ela
“olhava” fixamente para mim. Seus cabelos soltos esvoaçavam ao seu redor,
dando a ela um ar de criatura etérea, celeste. Uma deusa.
— Vejo que a sua pequenina nasceu. – uma voz esquisita saiu da boca
de Adele.
— Adele? – murmurei a pergunta.
— Não, minha cara. Meu nome é Luna. Sou a deusa dos lobos, a
senhora das alcateias, da lua e da noite. Seu nome é Eluana, não é? A
companheira do atual alfa supremo das minhas alcateias.
LUA
— Não pretendo fazer mal a vocês, criança. Não precisa ter medo de
mim. – ela falou com o cenho ligeiramente franzido, como se estivesse
realmente preocupada em me assustar.
— Então o quê? O que você está fazendo aqui? Por que está
“possuindo” o corpo da minha avó? – lancei as perguntas na defensiva, sem
tirar os olhos da deusa.
Meu corpo não estava totalmente recuperado do parto, mas se preciso
fosse, eu daria um pulo da cama e fugiria do quarto, com Ayla firme em meus
braços.
— Não, criança, você não está entendendo. Não vou destruir este
receptáculo, muito menos causar mal a vocês. Eu quero apenas ajudá-las.
Vocês têm meu sangue nas veias e precisam de mim. São carne da minha
carne, então eu sempre as ajudarei quando me invocarem, isso é, se não for
alguma besteira.
Engoli em seco.
— Não. – respondi baixinho, mas o som daquela palavra pareceu um
grito no silêncio que se seguiu dentro do quarto.
Jamais imaginei que ela invocaria a deusa Luna para me ajudar. Nunca.
O que Adele estava pensando com essa sua atitude?
Adele.
— Não apenas isso, criança. Ayla será a alfa suprema das minhas
alcateias futuramente. Ela será a loba mais poderosa que já caminhou na face
da Terra. Seu poder será inigualável e apenas superável pelos seus
descendentes, que terão o sangue do alfa supremo e das minhas
reencarnações misturados. Ela será forte e comandará todos os meus lobos.
Sua autoridade não será questionada. Ela dará início a uma nova geração de
lobos. – a deusa Luna falou com convicção.
Fiquei encarando a deusa, atônita.
— Não vou colocar uma pedra da lua no meu bebê. – decretei e logo
adicionei: — Com todo o respeito.
A deusa Luna apenas negou com a cabeça, meio impaciente.
— Esse amuleto não é uma pedra da lua, criança boba. Essa é uma
pedra da estrela. Um amuleto de proteção. Ele é único. Só o usei antes em
meus próprios filhos, há muito tempo. – ela disse e deu mais alguns passos
para perto de mim, ainda com a mão estendida.
Franzi o cenho.
— Um ataque inimigo?
— Sim. Ela ficará segura se for atacada. Ninguém que queira o seu
mal a atingirá. O amuleto funciona como uma armadura, blindando-a de
ataques inimigos.
— Acho que vai querer usar primeiramente como uma pulseira, já que
sua filha ainda é muito pequena. – a deusa opinou.
— Ela nasceu ontem.
Assenti séria. Sabia que a deusa tinha feito uma ameaça semelhante a
essa a Yuri. Ela não brincava em serviço.
— Minha missão acaba por aqui. Espero não voltar a vê-la,
companheira do alfa supremo.
— Idem.
Eu estava com medo, era verdade, mas por Ayla, eu iria até o infinito.
O sorrisinho voltou a aparecer no rosto da deusa. Ela ergueu as mãos
ao próprio amuleto no pescoço e o retirou. Rapidamente uma fumaça espessa
tomou conta do seu corpo, cobrindo-o por inteiro e logo desapareceu, levando
a deusa com um vestido sexy embora. No seu lugar estava Adele, de calças
de alfaiataria e camisa social. Ela cambaleou e caiu para trás, desmaiada.
YURI
Neandro não estava feliz por estar na cozinha comigo, mas pelo menos
não falou nada. Ele não ia muito com a cara de Adele. Não sei se era por
causa de Cibelle ou se era algo contra as sogras mesmo. O delegado não era
um homem de se abrir muito. Dava para contar nos dedos de uma mão as
pessoas mais próximas a ele, e com certeza eu não era uma delas.
— Sim.
— Acho que foi melhor assim. Nem Lua e nem Macayla iam aceitar
algo muito drástico. Eu também não gostaria disso. Gosto muito de Joyce, ela
é como uma filha para mim. Mesmo antes de Macayla e eu termos
oficializado a nossa relação, eu já tinha uma afeição por aquela menina. – ele
falou sincero.
Assenti e tomei outra colherada de sopa.
— Não me leve a mal, Yuri, mas você não está preocupado com o
futuro de Ayla? Não tem medo de que a situação que aconteceu aqui se
repita? – o delegado me perguntou com o cenho franzido. Com certeza aquela
preocupação também já tinha passado pela cabeça dele.
Eu faria isso, só não sabia como. Nem para Lua eu tinha contado as
minhas preocupações. Neandro assentiu, sem tirar os olhos do meu rosto.
— Vamos arrumar um jeito. Não vou deixar minha neta desamparada.
Agora foi a minha vez de franzir o cenho. Será que eu tinha entendido
bem o que Neandro disse pelas entrelinhas?
Agora foi a minha vez de encarar Neandro. Ele estava falando sério,
muito sério.
— Não acho que seja uma boa ideia. E eu não autorizo. – falei
calmamente e cruzei os braços na altura do peito.
Neandro me lançou um olhar fulminante e eu reprimi um sorrisinho.
Meu sogro poderia ser casca grossa do jeito que fosse, mas no final, era a
mim que ele deveria obedecer sem questionar, pelo menos em relação aos
assuntos dos lobos.
Quando ele abriu a boca para rebater alguma coisa, ouvi passos
apressados e vi Lua entrando na cozinha quase correndo. Ela estava meio
pálida e trazia Ayla nos braços. Parecia assustada com alguma coisa.
A deusa Luna esteve ali, com Lua e Ayla, usando o corpo de Adele.
O amuleto que Adele tinha nas mãos estava no bolso da minha calça e
eu pretendia escondê-lo muito bem, assim como fiz com o outro que Átila
tinha dado para Lua. O que me intrigava nessa história toda era saber que
Adele tinha uma pedra da lua daquelas. Será que ela tinha outras? Será que
havia outras?
— O que a deusa fez ou disse para você ficar com tanto medo assim?
Lua negou com a cabeça.
— Ela não fez nada, mas fiquei assustada mesmo assim. Tive muito
medo por Ayla. – ela disse e olhou para a nossa lobinha em seus braços.
— Por que Adele estava com o amuleto no pescoço?
— É que... – mas Lua não completou, pois a porta da frente da casa foi
aberta e alguém entrou.
Lua deu um pulo no lugar, mas logo relaxou. Dei um passo para fora
do quarto para ver quem tinha chegado e também relaxei um pouco. Eram
Macayla e Joyce que tinham chegado.
— Ela tinha uma pedra da lua e isso. – Neandro respondeu por nós e
mostrou um papel que encontrou no chão.
— O bilhete para a deusa Luna! – Lua exclamou.
Joyce entrou no quarto meio envergonhada e sem nos olhar nos olhos.
Ela foi em direção a Adele e começou a examiná-la. Sem tirar os olhos dela,
perguntei a Lua:
— Por que ela tinha um bilhete para a deusa?
— Porque ela queria que a deusa Luna nos ajudasse! Yuri, você está
escutando o que eu estou falando?
— Tudo bem. Só vamos sair daqui, por favor. – Lua falou e deu um
suspiro.
Todo o trabalho de vir para Belmonte para proteção de Lua e Ayla tinha
sido por nada. Minha companheira estava apavorada por causa da deusa, em
um lugar que deveria ser tranquilo e seguro para ela ter a nossa filha.
A deusa Luna não deveria causar essa reação em nenhum de nós, mas
infelizmente, os acontecimentos de meses atrás na floresta de Belmonte
acabaram moldando os nossos instintos e sentimentos em relação a ela.
Esperava que essa fosse a última vez que a deusa aparecesse, agora
definitivamente.
CAPÍTULO 27
YURI
— Adele sabia que eu estava com medo do futuro de Ayla, por isso
pediu ajuda à deusa. – Lua disse.
Minha companheira estava tão receosa quanto eu, no final das contas.
Me senti ruim por Lua ter passado a gravidez toda com essa preocupação. Eu
deveria ter feito alguma coisa, deveria ter conversado com ela, dividido as
minhas preocupações, ter exposto a situação e a tranquilizado. Mas não.
Deixei a minha companheira sozinha com seus medos. Que merda de
companheiro eu era para Lua?!
— Você conversou com Adele? – perguntei a ela.
— E foi por isso que ela veio até aqui com aquela pedra? Para que a
deusa te ajudasse? – Neandro perguntou.
— Sim.
Merda! O que será que a deusa falou especificamente para Lua? Isso
deveria ter sido assustador.
— E qual foi a ajuda dela? Outra pedra? – perguntei a Lua.
— Sim. Ela disse que se quisesse ter feito mal a nós, ninguém aqui
dentro estaria vivo.
Merda!
— Que bom, porque assim você pode nos explicar o que foi que deu
em você para trazer a deusa Luna para dentro da minha casa e para perto da
minha filha e da minha neta! – Neandro exclamou puto.
— Eu sinto muito, Neandro, mas foi preciso. A deusa Luna era a única
que podia ajudar a Lua.
— Sim, Ayla vai ficar protegida. – Lua não deu mais detalhes e Adele
não pediu também.
Senti que Lua não contou tudo a Adele e nem a nós. Precisava
perguntar a ela tudo o que a deusa tinha falado.
— O quê?
Adele, que estava com a mão na maçaneta da porta, parou e sorriu para
Lua, seus olhos brilhando. Acho que a minha companheira nunca tinha se
referido daquele jeito carinhoso a ela.
Adele foi embora e todos podemos respirar aliviados. Mas apenas por
pouco tempo, pois Ayla acordou e colocou todos em ação.
CAPÍTULO 28
LUA
Depois que Adele foi embora, Yuri e eu voltamos para o nosso quarto
para acomodar Ayla no berço e eu poder descansar um pouco de toda aquela
confusão. Estava me sentindo exausta e tinha quase certeza de que apagaria
assim que me deitasse na cama.
— Lua, a deusa disse mais alguma coisa, além de prestar ajuda? – Yuri
me perguntou e veio se sentar ao meu lado na cama.
Ayla será a alfa suprema das minhas alcateias futuramente. Ela será
a loba mais poderosa que já caminhou na face da Terra. Seu poder será
inigualável e apenas superável pelos seus descendentes, que terão o sangue
do alfa supremo e das minhas reencarnações misturados. Ela será forte e
comandará todos os meus lobos. Sua autoridade não será questionada. Ela
dará início a uma nova geração de lobos.
— Ayla será a próxima alfa suprema. Ela será a loba mais poderosa
que já caminhou na face da Terra e ela dará início a uma nova geração de
lobos, que terão o sangue da deusa e do alfa supremo misturados. – contei
tudo a Yuri de uma só vez, enquanto me sentava na cama.
— Sim. – confirmei.
Assenti.
Yuri ajudou a me levantar da cama e fomos até Ayla, que continuava
dormindo. Entreguei o amuleto para o meu companheiro, que o colocou no
bracinho de Ayla, dando várias voltas no cordão até ficar ajustado nela. A
lobinha nem se mexeu.
Com certeza. Fazia pouco mais de um dia que eu tinha parido Ayla e
não estava plenamente recuperada. Sorri para Yuri e o abracei. Antes que eu
me desse conta, Yuri me pegou no colo e me levou para a cama.
Assim que ele me colocou delicadamente nos lençóis, ele disse:
— Preciso te mostrar uma coisa que eu fiz. Não durma ainda, por
favor.
— Vou tentar. – falei enquanto me aninhava mais na cama.
— Gostou? Não sei se ficou muito bom, fiz na pressa, enquanto você
dormia no hospital. Fiquei com medo de esquecer os detalhes... – eu o
interrompi:
— Não vou dizer que isso não me deixa chateada, porque deixa, mas
eu entendo. Eu também deveria ter falado com você. – dei um suspiro
resignado. – Ambos erramos, novamente.
— Não vou ficar aqui parada. – rebati e peguei o robe que estava no
pé da cama.
— Pra quê?
LUA
— Sim.
— Não estou gostando disso. – meu pai bufou incomodado.
— Não vou deixar você ir lá fora com Ayla nos braços. Pode ser
perigoso. Além disso, você está usando apenas uma camisola, Lua!
— Não vou deixar nenhum dos dois sozinho! – bati o pé.
— Sinto muito por invadir seu território Josh, mas não podemos
ignorar o chamado. – o homem disse. – Eu me chamo Adrian, sou o alfa da
alcateia de Likanon.
Sim, era ele mesmo! Lembrei de quando Yuri e eu fomos visitar a
cidade, alguns meses atrás. A alcateia dele se resumia a ele e mais dois lobos.
Adrian não tinha filhos e não era casado. Yuri me disse que talvez aquela
alcateia fosse extinta daqui a alguns anos.
Yuri suspirou meio irritado ao meu lado. Ele devia estar possesso por
causa da deusa Luna, novamente. Mais uma intromissão dela em nossas
vidas.
— Então vocês vieram apenas para ver a filha de Yuri e Lua? – Josh
perguntou ao alfa.
— Sim. – ele assentiu, assim como todos os lobos que estavam por
perto e escutavam a conversa.
Todos que estavam ali olharam para mim, que carregava Ayla no
colo. Minha lobinha dormia quietinha em meus braços, totalmente alheia ao
que estava acontecendo ali. A pedra da estrela reluzia em seu bracinho gordo.
Dei um passo à frente e disse com a voz alta, para que todos
escutassem:
— Esta é Ayla Marino Santino. Ela é minha filha e de Yuri. Ela é uma
reencarnação e descendente da deusa Luna e a herdeira do alfa supremo.
— Desculpem por isso. Não tinha ideia que fosse acontecer. – falei a
eles sinceramente.
— Mais uma vez a deusa pregando peças na gente. – Josh coçou a
cabeça.
— Vamos fazer isso. À noite quero uma reunião com todos. – Josh
disse e olhou para Joyce, que estava ao lado da mãe, calada. – Você também
está convocada, Joyce.
Eu ri.
— Ainda bem. Não queria ser acusada de fazer filho com meu dedo. –
falei a Yuri e ganhei outro aperto na cintura.
— Só espero que ela não herde o seu deboche, sua rebeldia e sua
teimosia.
Ri de novo.
Mas eu esperava que Ayla fosse uma mistura de nós dois: O melhor
de cada um.
CAPÍTULO 30
YURI
Pelo canto do olho, vi que Joyce não ficou muito animada com aquilo.
Adele e Micael tinham ido embora pela manhã e ela tinha decidido dar mais
espaço ao companheiro rejeitado, por mais que eles não fossem perder
totalmente o contato. Joyce não se meteria na vida dele e nem ele na dela.
Joyce assentiu.
Pelo seu olhar, eu pude ver que Joyce faria de tudo para reconquistar o
seu lugar dentro da alcateia. Joyce era determinada e batalhadora. Ela lutaria
para ser a beta novamente, o que era a vontade de Josh também, por mais que
ele não quisesse admitir.
— Muito bem, o novo beta da alcateia de Belmonte é... Daniel! – Josh
anunciou sem enrolações.
Após a breve reunião, voltei para casa para ficar com minha esposa e
filha, as pessoas que eu mais amava no mundo.
CAPÍTULO 31
LUA
Desde que Ayla abriu os olhinhos ela sempre observava tudo ao seu
redor quando tinha a chance. Até os rostos das pessoas a lobinha parecia
analisar. Yuri me disse que bebês muito pequenos não enxergavam direito,
mas que Ayla poderia ter influência dos lobos na visão e já enxergar melhor,
mesmo sendo muito pequena.
— Ela está me observando? – Blake perguntou enquanto analisava
Ayla em seus braços.
— Sim. Achamos que a visão dela é aguçada, como a dos lobos. – disse
a ele.
— Interessante. Pensei que isso só se desenvolvesse quando a
metamorfose acontecia.
— Só mais um pouco, amor. Já passo ela para você. – Blake deu uma
piscadela para o companheiro e ele acabou sorrindo.
— Ei, parabéns pela promoção! – exclamei e dei um abraço em Daniel.
— Pode deixar! – Daniel respondeu pelos dois e tomou Ayla dos braços
do companheiro, que resmungou chateado.
Olhei por cima do ombro e vi que Yuri já tinha tomado Ayla deles e
estava a embalando nos braços, em uma tentativa de fazê-la dormir. Observar
os dois daquele jeito enchia o meu coração de paz e amor.
— Agora que Yuri está com ela, ninguém mais tem chance.
Lana riu e disse:
— Claro.
— Não sei se você sabe, mas eu não a culpo pelo que aconteceu. –
disse a ela, indo direto ao ponto.
— Eu fui uma idiota, Lua. Nem sei como você ainda consegue falar
comigo. – ela disse sem me olhar nos olhos.
Eu tinha ficado chateada com Joyce, sim. Ela ameaçou Ayla e Yuri, as
duas pessoas que eu mais amava no mundo, além de outros da alcateia que
também eram muito queridos para mim. Mas eu sabia também que ela não
tinha feito nada daquilo por querer. Apenas aconteceu. Quando se tratava de
companheiros, não sabíamos o que aconteceria, apenas tínhamos uma ideia
de como as coisas seriam. A atração irresistível, o instinto de proteção, o
amor e cuidado... Eram valores que não poderiam ser mensurados.
— Você não fez por mal. Foi o instinto acima de tudo. Lembra do
casamento do Josh e da Maya? Eu também fiz uma grande merda.
— Eu sinto muito pelo que fiz, Lua. Assim como a Mirela, eu vou
assumir meus erros.
— Você já assumiu. Já foi punida pelos alfas e está cumprindo a sua
“sentença”.
Yuri acabou decidindo por mim quem seria a madrinha de Ayla. Eu não
fiquei chateada com ele, muito pelo contrário. Meu companheiro era muito
compreensivo e fez aquilo por minha causa, atendendo a um pedido meu,
para não punir a minha irmã e amiga.
— Vem comigo.
— Ela... ela é linda, Lua. – Joyce disse fascinada, sem tirar os olhos da
bebê. – Perfeita.
Sorri.
Joyce negou com a cabeça e percebi que seus olhos estavam marejados.
— Não mais.
Ela olhou para mim e agora as lágrimas escorriam livremente pelo seu
rosto.
— Obrigada.
— De nada.
Isso foi o suficiente para acordar Ayla, que começou a chorar nos
braços de Yuri.
Outro choro irrompeu pela sala. Era Jake do outro lado da sala. Maya
olhou para o marido nada feliz.
Lana era a única ali presente que ainda não sabia nada sobre os lobos.
Não sei quando Joyce contaria a ela e esperava que ela não demorasse muito,
pois isso significaria um compromisso sério das duas.
— Vocês podem ir até Romália, visitar Lua e eu, além do Pietro. – Yuri
disse.
— Espero que não demore muito. – Yuri disse e deu um tapinha em seu
ombro.
— O tempo vai passar correndo, você vai ver. – Josh respondeu
sorridente.
Um ano depois
LUA
Não falei nada, apenas inclinei a cabeça para trás quando o ápice me
atingiu com força. Yuri levantou os quadris da cama, me levantando junto no
movimento. Se ele não estivesse me segurando, eu teria tombado para fora da
cama.
— Quem disse que vai ter uma próxima rodada? Ayla vai acordar daqui
a pouco.
— Cuidamos dela e depois voltamos pra cá.
Agora foi a minha vez de fazer uma cara feia para o meu companheiro.
Nos primeiros meses de Ayla, nós contratamos uma babá para nos
ajudar, mas nos últimos tempos, Yuri e eu estávamos dando conta do recado
sozinhos. Yuri diminuiu as horas na empresa e eu conciliava nossa filha com
os estudos. Às vezes Pietro e Talita vinham nos ajudar também (Pietro
adorava bebês), além do meu pai e Macayla, que faziam visitas ocasionais
(que eram muito bem-vindas por sinal).
Eu ainda sentia receio em relação a isso. Não queria imaginar meu bebê
comandando as alcateias da deusa e tendo que lidar com tudo que Yuri
lidava, mas sabia que seria inevitável. Era o destino de Ayla. Ela daria início
a uma nova geração de lobos.
Fui até a cozinha levando o documento nas mãos. Yuri fazia caretas
para Ayla enquanto ela mastigava e se sujava toda com a papinha.
— E não pediu, mas eu tenho planos para você. Planos que envolvem
uma filial em uma cidade pacata e tranquila, cercada por árvores e mitos.
— Yuri...
Aquele assunto já tinha sido motivo de discussão entre nós meses atrás.
Eu deixei para lá, pois não tinha pensado nos detalhes daquilo. Tinha sido
algo impulsivo e Yuri tinha dito que iria esquecer aquele assunto. Mas ele
não esqueceu.
— Lua, não é nada para agora. – ele voltou a sua atenção para mim. —
Você será preparada para isso e... – eu o interrompi:
— Mas nós moramos aqui em Olímpia!
— E não vamos deixar de morar por causa disso. A não ser que você
queira. – ele fez uma careta.
— Eu não quero, mas como vou assumir uma filial em outra cidade?
Não posso me deslocar todos os dias para Belmonte se estiver morando aqui.
— Você não irá todos os dias. Talvez duas vezes ao mês,
videoconferências..., você pode gerenciar a filial daqui de Olímpia e ir lá de
vez em quando. – ele fez uma breve pausa. – Não quero ficar muito longe de
Belmonte, Lua. Nós somos de lá e devemos manter relação com a nossa
cidade natal, principalmente agora com a Ayla.
Yuri estava certo, como sempre. Belmonte era a cidade natal de nós três
e seria muito bom que Ayla crescesse com esse contato também. Não
poderíamos ficar afastados de Belmonte. Apenas agora entendi o que Yuri
falou meses atrás, quando viu o berço de Ayla na casa do meu pai. Isso é algo
original de Belmonte e deve permanecer aqui. Na ocasião, pensei que ele
estivesse chateado comigo, mas não. Ele apenas não queria nos manter
afastados de Belmonte.
Não consegui segurar o sorrisinho que se formou em meus lábios.
— Sério?
— Feliz?
— Muito.
Serena aos poucos estava voltando para o mundo da política. Ela tinha
se “aposentado” após Josh assumir a prefeitura, mas agora estava com planos
de voltar com tudo. Josh a apoiava e até queria que Maya acompanhasse a
mãe, mas Maya negou, dizendo que não tinha vontade nenhuma de assumir
um cargo público. Ela estudava à distância, o curso de pedagogia.
Revirei os olhos.
Anos depois
AYLA
Belmonte novamente.
A pequena cidade, agora não tão pequena assim, era cercada por
árvores e tinha um clima familiar que esquentava algo dentro de mim. Eu
gostava de Belmonte, ela era cercada de mitos, que muita gente acreditava e
até cultuava a tal da deusa Luna, a deusa dos lobos. Eu não tinha visto um
lobo na vida, mas respeitava a crença dos outros. Se esses animais eram
sagrados aqui, tudo bem. Pelo que eu sabia, as vacas eram sagradas na Índia...
— Estamos chegando. – meu pai anunciou do volante.
— Eba! Será que vamos ver algum lobo? – Eliel, meu irmãozinho
perguntou. O pirralho de oito anos era simplesmente fascinado pela cultura
de Belmonte e era louco para ver um lobo de verdade.
Apollo foi meio que uma surpresa na nossa família, pois meus pais
não esperavam mais ter filhos e nem eu esperava ter mais um irmão, pois
estava com quinze anos quando ele nasceu.
Tentei falar com Jake pelo celular várias vezes, mas ele foi evasivo e
depois me “deixou no vácuo”. Até pensei que ele tinha me bloqueado, mas
não. Ele apenas me ignorou.
Eu sabia que havia alguma história dos meus pais por trás daquela
estátua, mas eles nunca me falavam. Meu pai apenas dizia com um sorriso
enigmático: “Um dia você vai saber, Ayla.” E ficava por isso mesmo.
— Não, vamos para a casa do tio Josh. Tem uma pequena recepção lá,
esperando a gente. – meu pai respondeu.
Tia Joyce, a filha da vó Macayla era casada com a tia Lana e juntas
tinham um casal de gêmeos, Jonas e Luma, de oito anos. Mamãe contou que
tia Joyce fez inseminação artificial para poder engravidar. No entanto, ambos
os gêmeos eram loiros, com cabelos cacheados e com a pele clara, muito
diferentes das mães. Me lembravam ligeiramente o tio Micael,
principalmente Jonas.
— Ayla! Você está enorme! – tio Blake veio me abraçar, do seu jeito
animado de sempre.
Ele era casado com tio Daniel e juntos adotaram uma linda garotinha,
que se chamava Amora. Ela tinha dez anos agora, mas na época da adoção ela
ainda era um bebê de colo. Ela tinha as características da população de
Belmonte: pele bronzeada, olhos e cabelos castanhos. Provavelmente um
bebê rejeitado de alguém da cidade. A garotinha chegou para dar cor à vida
deles, pois além deles, o senhor Levi também morava com eles e eu achava a
casa deles meio “masculina” demais antes de Amora.
Vi de relance Apollo sendo atacado por tio Blake. Ele adorava bebês.
— Oi, tio.
— Vem falar com o Maicon! Cadê ele? – tio Blake me puxou com
Apollo no colo, e me conduziu até o sofá, onde o adolescente calão estava
sentado.
O rosto dele ficou vermelho assim que me viu. Maicon era o filho
único do tio Brian e da tia Mirela. Ela tinha uns quinze ou dezesseis anos e
era introvertido. Seus pais eram sócios da vó Macayla na confeitaria.
— Você está grande. Seu aniversário é daqui a... três dias? – ela me
perguntou com grande interesse.
— Sim. – confirmei.
— Você está pálida, Ayla. – ela disse com o cenho franzido, enquanto
analisava cada parte do meu corpo. – Yuri! – ela chamou meu pai, que estava
na cozinha conversando com meus avós.
— Mãe! – não queria que uma exibição sem sentido fosse feita.
— Oi, amor. – meu pai falou sorridente, até que me viu e seu sorriso
murchou. – Ayla?
— O quê?!
— Somos descendentes dos lobos da deusa e nos transformamos pela
primeira vez quando atingimos a idade de dezoito anos. É o que vai acontecer
com você.
Ele parou no acostamento da estrada. Nem dei tempo para ele falar
alguma coisa, pois eu abri a porta e saí correndo, adentrando na mata
adjacente a estrada.
Eu tinha patas!
Continuei chorando.
— Sua mãe e eu também nos transformamos assim. Somos lobos. Sua
mãe é da alcateia de Belmonte. Seu tio Josh é o alfa da alcateia dela. – ele
continuou falando.
Que loucura!
— Não podemos revelar nada até que o lobo complete dezoito anos.
Faz parte da lei dos lobos. – meu pai respondeu enquanto dirigia de volta para
casa do vô Neandro.
— Sim.
Encarei meu pai boquiaberta. Ele não podia estar falando sério. Como
assim?!
— Sim. Um dia, não hoje. Você ainda não está preparada para
tamanha responsabilidade. Precisa de treinamento, controle dos seus poderes.
— Você nasceu para isso, Ayla. A própria deusa Luna traçou o seu
destino. Esse seu colar de pedra da estrela. – ele apontou para o amuleto em
meu pescoço. – A própria deusa deu a você para protegê-la. É o seu amuleto
de proteção.
Peguei a pedra que estava alojada entre os meus seios e a observei. Eu
a achava linda e mamãe sempre dizia para eu nunca a tirar do pescoço. Eu a
possuía desde que me entendia por gente.
— Tenho medo.
Vi que um carro conhecido estava lá. Isso significava visitas: Tio Josh
e tia Maya. Meus padrinhos.
— Não diga nada aos seus irmãos ou aos outros mais novos. – meu
pai me alertou antes de entrarmos em casa.
Ai, caramba!
Jake, um lobo. Ele era filho de tio Josh, que papai disse ser o alfa da
alcateia de Belmonte. Será que Jake seria o novo alfa da alcateia de
Belmonte?
— Fiquei com tanto medo. Você está bem? Seu pai conversou com
você direitinho? Está com medo? Vamos cuidar de você. – ela me encheu de
perguntas.
— Vamos dar um tempo a ela, amor. – meu pai disse a minha mãe,
enquanto a abraçava.
Ela suspirou.
Eu não sabia do que eles estavam falando. Mas sabia que o que quer
que isso fosse, era verdade. Eu era de Jake e ele era meu.
AGRADECIMENTOS
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DESTINO VERMELHO
RAINHA DE FOGO
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