Você está na página 1de 247

A HERDEIRA DO ALFA SUPREMO

As alcateias da deusa Luna – Livro 3

Camila Oliveira
Copyright © 2021 por Camila Oliveira
Todos os direitos reservados.

Revisão e Diagramação: Camila Oliveira


Capa: Imagem utilizada com licença Depositphotos™ e
Pixabay.

Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra,


por quaisquer meios, sem prévia autorização da autora.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes, lugares e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Para Bruno,
o guerreiro mais forte que eu já conheci. Vou te amar para sempre.
ÍNDICE

A HERDEIRA DO ALFA SUPREMO


Copyright © 2021 por Camila Oliveira
ÍNDICE
LIVROS ANTERIORES
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
EPÍLOGO
EPÍLOGO EXTRA
AGRADECIMENTOS
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
CONTATOS
LIVROS ANTERIORES

A COMPANHEIRA DO ALFA SUPREMO


AS ALCATEIAS DA DEUSA LUNA – LIVRO 1

Eluana Marino estava voltando para a sua cidade


natal para passar as suas férias com seu pai, após anos afastada do local por
traumas do passado. Belmonte, uma cidade interiorana, é cercada pela mata e
pelo verde e possui suas lendas e mistérios, que Eluana simplesmente ignora
e acha ridículos.

Yuri Santino é um CEO, dono de uma rede de lojas de departamento e


alfa supremo das alcateias da deusa Luna. Ainda muito jovem, assumiu o
comando das alcateias e da empresa da família, porém nunca encontrou sua
companheira, a sua alma gêmea, o seu amor verdadeiro.
Em uma visita à Belmonte, Yuri conhece a debochada Eluana, e logo
no primeiro encontro dos dois, reconhece a sua tão esperada companheira.
Enquanto o autoritário e protetor alfa supremo tenta se aproximar de sua
rebelde companheira, um visitante misterioso tira o sossego de toda a alcateia
de Belmonte. Em meio a caçadas, brigas e superações, Yuri e Lua lutarão
para ficarem juntos enquanto desvendam enigmas do passado.
A DEUSA LOBA DO ALFA SUPREMO
AS ALCATEIAS DA DEUSA LUNA – LIVRO 2

Pouco tempo após os acontecimentos com a


alcateia de Belmonte e o alfa supremo, um novo problema surge no
horizonte. Dúvidas e preocupações enchem a cabeça de Yuri Santino, o alfa
supremo das alcateias da deusa Luna. Seria a sua companheira a reencarnação
da deusa Luna?
Casada com seu companheiro e amor da sua vida, Eluana vive uma
vida tranquila em Olímpia. Faz faculdade, cuida do enorme apartamento do
casal e sempre acompanha o marido em seus compromissos de CEO. A vida
perfeita sofre uma ameaça, quando um dilema em sua alcateia faz com que
Lua e Yuri precisem voltar a Belmonte. Ao tentar resolver o problema, outros
surgem e tudo se complica ainda mais.
Em meio à essa confusão, Lua terá que enfrentar seus medos e
receios, assumir as rédeas da sua vida e enfrentar o seu destino. Será que a
companheira do alfa supremo está preparada para tamanha responsabilidade?
PRÓLOGO

Eu ainda não conseguia acreditar no que estava vendo. Parecia tão...


surreal.

Como seria possível que todas as alcateias da deusa Luna estivessem


reunidas ali, para testemunhar o nascimento da minha filha, a próxima
reencarnação e descendente da deusa Luna, a herdeira do alfa supremo?
Seria a minha pequenina tão poderosa assim? Eu não conseguia
acreditar.
CAPÍTULO 1

LUA

Após a nossa breve viagem a Hircânia, decidi que a minha lobinha


nasceria em Belmonte. Poderia ser uma decisão teimosa e arriscada, tendo em
vista que fiz todo o pré-natal em Olímpia, mas eu me sentia melhor sabendo
que estaria perto da minha família e da minha alcateia. Me sentia protegida e
amparada com essa ideia. Devia ser algo instintivo dos lobos: Dar à luz em
um lugar seguro, de confiança.

Pensar dessa forma era meio estranho, mas até que eu já estava me
acostumando. Todo esse tempo me transformando em um bicho fez com que
a minha mente pensasse de modo diferente.
Eu estava no quartinho da bebê, arrumando algumas roupinhas dela nas
gavetas. Yuri estava no trabalho, mas de vez em quando me ligava. Ele ficava
tão preocupado em me deixar sozinha em casa enquanto ia trabalhar, que às
vezes nem ia e ficava aqui no seu escritório trabalhando remotamente. Ele só
foi hoje porque teria uma reunião importante e não podia faltar. Meu marido
estava muito preocupado, talvez mais preocupado do que eu com a nossa
bebê, ainda mais agora na reta final da gravidez.

Obviamente ele estava preocupado conosco, mesmo assim, um sinal de


alerta se acendeu na minha cabeça: E se ele estivesse me escondendo outra
coisa, igual como fez meses atrás?
Balancei a cabeça negando. Não. Yuri não faria isso. Ele sabia como
isso me deixou chateada da última vez e não repetiria a dose.

Dei um suspiro e fechei a gaveta. Estava ficando difícil de respirar com


aquela barriga enorme. Eu estava mais cansada do que nunca ultimamente.
Nem acompanhar Yuri nos jantares e compromissos da empresa eu estava
conseguindo. Saia apenas para a faculdade agora.
O quartinho da minha lobinha estava pronto. Lindo, do jeito que eu
imaginei. Paredes em um tom de bege clarinho, combinando com os móveis,
também claros. Tudo suave e delicado para a minha querida bebê. Yuri queria
ter feito tudo rosa, tudo. Paredes, móveis, lençóis, brinquedos, roupas, até as
fraldas. Felizmente e graças à deusa, eu consegui dissuadi-lo dessa ideia. Eu
tinha certeza de que futuramente ele mimaria demais a nossa filha.

Ainda não tínhamos decidido qual seria o nome dela. Eu tinha um


favorito, mas não contei nada a Yuri. Preferia que ele achasse que eu ainda
estava em dúvida, assim, poderia saber qual era a escolha dele e ver se me
agradava.

Saí do quarto da bebê e fechei a porta. Ainda demoraria um pouco para


ela habitar aquele espaço, tendo em vista que ela nasceria em Belmonte e só
depois voltaríamos para cá.
Fui para a sala assistir alguma coisa na TV, mas acabei parando em
frente ao espelho que tinha lá. Ultimamente eu só usava vestidos, pois era a
única coisa que cabia em mim. Fui forçada a abandonar as camisetas, calças
jeans e tênis, e meu uniforme do dia a dia se resumia a vestidos e rasteirinhas.
Acho que esse era o uniforme universal das grávidas.

Analisei meu reflexo enquanto passava a mão pela minha barriga. Eu


estava enorme. Pela deusa! Eu parecia uma pata desengonçada. Yuri dizia
que eu estava linda e que minha pele brilhava, mas eu não conseguia ver nada
disso. Acho que eu não era uma dessas grávidas que tinham o brilho da
gravidez.

Diferente de Maya, na gravidez de Jake, eu não era uma grávida


“magra” e estilosa. Meu corpo mudou e algumas partes minhas aumentaram
consideravelmente, como por exemplo os meus seios. Yuri adorou essa parte.
Conversava com Maya pelos aplicativos de mensagem
constantemente sobre a gravidez e acabei contando a ela que não me sentia
tão bonita assim grávida. Expliquei que amava muito a minha filha, mas que
não gostava muito de estar grávida, por mais que fosse incrível a sensação de
sentir a minha bebê se mexer dentro de mim. Maya me incentivou a fazer um
“ensaio gestante”, pois ela e Josh fizeram e ela se sentiu ótima na ocasião,
além do que, guardaria para sempre aquele momento especial nas fotos.

Yuri ficou animado para fazer, mas eu acabei desistindo da ideia, por
não me sentir à vontade. Meu marido foi super compreensivo comigo e me
apoiou, apesar que de vez em quando, eu o flagrava com a câmera do celular
apontada para mim. Eu apenas revirava os olhos e em algumas ocasiões fazia
um gesto obsceno. Yuri gargalhava.

A porta da frente foi destrancada e meu marido entrou em casa. Seu


semblante estava preocupado, mas assim que me viu de pé na sala, ele abriu
um grande sorriso. Sorri de volta automaticamente. Ele devia ter saído com
tanta pressa da empresa que nem percebeu como sua gravata estava torta.
— Oi, amor. O que você está fazendo aqui? Por que não está deitada na
cama? Tem que descansar até a hora de ir para a faculdade. – ele falou em um
tom preocupado.

Meu sorriso desapareceu na hora. Me virei de frente para Yuri e


coloquei as mãos na cintura.

— Por que eu deveria ficar na cama? Eu não to doente!

— Mas precisa descansar, ficar quietinha.

— Até parece que eu vou conseguir. Faz dias que eu não sei o que é
dormir direito.

Yuri chegou até mim e pousou suas mãos na minha barriga. No mesmo
instante, a bebê se remexeu, acertando os locais onde as mãos dele estavam.
Nos entreolhamos enquanto sorríamos, iguais a dois bobos. Apesar da
lobinha fazer isso corriqueiramente, era impossível não se surpreender toda
vez.
— Noite passada você estava dormindo pesado quando eu te observei.
– Yuri falou sem tirar as mãos da minha barriga.

— Porque você me deixou cansada. – dei de ombros.

Yuri e eu continuávamos insaciáveis na cama mesmo com a gravidez


avançada. Não tinham contraindicações médicas, então... Apenas
continuamos fazendo o que nos dava prazer. Obviamente, com o tamanho
avantajado da minha barriga, tivemos que adaptar um pouco as posições, mas
nada que fosse prejudicar a nossa diversão. O tesão que eu sentia pelo meu
companheiro só aumentou nesses últimos meses.
Ele deu um sorriso de canto de boca e se inclinou para depositar um
beijo na minha barriga. A bebê se agitou em resposta.

— Então acho que o melhor a se fazer é continuar deixando você


cansada, assim dorme melhor, não é? – Yuri me perguntou com um sorriso
safado na boca.

— Eu não ia querer que você parasse mesmo. – falei e puxei Yuri pela
gravata torta na direção dos meus lábios.

Ele segurou meu rosto carinhosamente enquanto sua língua entrava na


minha boca. Eu o queria mais perto de mim, grudar nossos corpos, mas a
minha barriga enorme não deixou.
Rindo, Yuri se separou de mim. Suspirei enquanto revirava os olhos.

— Não se preocupe, amor. Logo ela vai estar aqui nos nossos braços e
nós vamos poder nos agarrar como você deseja.

— Não vejo a hora. – disse sorrindo enquanto passava a mão pela


barriga.
Eu não via a hora de pegar a minha bebê no colo e ver o seu rostinho.
Ela seria parecia com Yuri ou comigo? Qual seria a cor do cabelo dela? E os
olhos? Ela seria forte igual ao pai? Seria ela a próxima alfa suprema?

Eu não sabia dessas coisas, mas sabia que a manteria longe das pedras
da lua. Aquela bebê era uma reencarnação da deusa Luna e eu não queria
mais a intromissão da deusa em nossas vidas. Já era suficiente o que
havíamos passado meses atrás, quando ela “possuiu” meu corpo.

Parte de mim tinha medo. Medo pela minha filha. Há pouco tempo
descobrimos que eu podia emitir uma luz azulada com as mãos. Era o poder
da deusa se manifestando em mim. Será que a lobinha também teria esses
poderes? Minha avó Adele, não sabia e essa falta de conhecimento me
deixava inquieta.
Adele e eu éramos as descendentes que podiam “receber” a deusa em
seus corpos. Apesar desse ponto em comum, eu me diferenciava dela por
poder emitir a luz azulada. Será que o fato de eu ser uma loba contribuía para
isso? E se fosse isso, como a lobinha seria afetada pelos poderes da deusa
Luna?

Nenhuma das minhas preocupações era calculável. Só o tempo diria o


que a bebê seria e quais poderes ela herdaria.
— Vamos, Lua. Vou arrumar nossas malas para Belmonte. – Yuri falou
e pegou minha mão, me levando para o nosso quarto.

— Eu já separei algumas roupas. – anunciei, já prevendo a reação de


Yuri.

Ele parou no lugar e se virou para me encarar, chateado. Eu estava


correta ao prever sua reação.
— Eu pedi para você não fazer isso. Não pode fazer esforço.

— Não foi esforço nenhum e foi muito rápido. – falei enquanto o


empurrava de volta pelo corredor.

— Você tem que ser tão teimosa assim?! – Yuri reclamou.


Bufei e revirei os olhos.

— Meu amor, você casou comigo sabendo disso. – falei enquanto


entrávamos no nosso quarto.

Yuri se virou para me encarar sério, mas logo o seu rosto desmoronou e
ele sorriu.
— Sim. Eu me casei com a loba mais teimosa, mais rebelde e mais
linda de todas as alcateias da deusa Luna. A minha poderosa companheira. –
ele se aproximou e roubou um beijo rápido.

— Você é muito metido, alfa supremo. – eu falei sorrindo.

Ele apenas deu uma piscadela e entrou no banheiro.


Sentei-me na cama sorrindo igual uma boba. Será que era possível eu
me apaixonar ainda mais por aquele homem? Eu achava que não, mas todo
dia me surpreendia.
CAPÍTULO 2

YURI

Ainda não tínhamos decidido o nome da bebê. Lua e eu tínhamos feito


uma lista de nomes, porém até o momento ainda não tínhamos decidido nada.
Eu tinha o meu preferido, mas Lua ainda estava indecisa e eu queria que essa
decisão fosse tomada em conjunto, que nós dois decidíssemos isso.

Ultimamente eu estava mais protetor do que de costume com Lua e eu


sabia que isso a irritava. Com a gravidez perto do fim, a hora de conhecer a
lobinha se aproximava e eu queria que as duas estivessem em segurança e
saudáveis. Não me agradava o fato de que Lua ficava em casa sozinha
andando de um lado para o outro, inquieta. Ainda bem que logo estaríamos
em Belmonte e lá ela estaria com a família, segura e tranquila.

Eu sabia que as minhas preocupações não se resumiam a Lua e à


gravidez. Eu estava preocupado com a lobinha. Não sabia o que o futuro e a
deusa Luna reservavam para ela e isso me angustiava.

Eu temia pela minha filha, pelo que ela seria futuramente. Uma alfa
suprema que seria a reencarnação da deusa Luna, mais poderosa do que
qualquer outro lobo ou reencarnação da deusa na face da Terra? O meu
instinto de proteção gritava, me alertando dos perigos que ela poderia correr.

Saí do banheiro enrolado em uma toalha e vi que Lua estava deitada na


cama, mexendo no celular. Provavelmente ela estava acessando o Pinterest e
salvando mil e uma coisas de bebê. O quarto da nossa lobinha tinha sido
totalmente inspirado naquelas imagens do aplicativo, indo contra ao meu
desejo de fazer tudo rosa. Mas Lua conseguiu me convencer a fazer do jeito
dela e até que eu gostei do resultado final.

— Você vai para a faculdade hoje? – perguntei a ela.


Por mais que eu apoiasse Lua nos estudos, eu não queria que ela tivesse
que se deslocar até o prédio da faculdade todo dia naquele estágio da
gravidez. Eu sabia que aquilo era cansativo para ela, mas a minha
companheira era muito teimosa.

— Sim, preciso falar com os professores sobre as próximas semanas.


Vou estudar pelo computador, à distância. – ela respondeu sem me olhar,
vidrada no celular.

Reprimi um suspiro e fui vestir uma roupa.


— Você já tem uma ideia de onde pretende trabalhar assim que se
formar? – perguntei despretensiosamente, tentando disfarçar a minha
curiosidade, enquanto vestia uma camisa.

Não sabia que ideias Lua teria com a faculdade de Administração,


pois ela demonstrava muita empolgação com as matérias. Eu não a forçaria a
trabalhar comigo, por mais que essa fosse a minha vontade.

— Que bom que você puxou esse assunto comigo. Eu tive uma ideia.
– Lua largou o celular em cima da cama e se apoiou nos cotovelos, tentando
se sentar, sem sucesso.
Rapidamente, me aproximei dela e a ajudei.

— Obrigada.
— De nada. Agora me fala qual é a sua ideia. – falei e voltei ao closet,
para verificar o que Lua tinha separado para levarmos na viagem à Belmonte.

— Eu quero trabalhar na Santinos.


Yes!

— Isso é bom. – falei e me segurei para não comemorar a decisão


dela com uma dancinha ridícula.

— Quero abrir uma filial da loja em Belmonte e administrá-la. – ela


completou.
Parei o que estava fazendo e voltei ao quarto. Lua me encarava com
um sorriso e um olhar de expectativa. Cruzei os braços na altura do peito e
me aproximei dela.

— Você está no segundo ano da faculdade e já pensa em administrar


uma das filiais da Santinos? Uma rede de lojas de departamento enorme?

Ela assentiu sem receios.


Minha companheira era tão destemida...

Eu tinha que admitir que aquela era uma boa ideia para a pequena
cidade. Eu mesmo, o CEO, nunca pensei naquilo e Belmonte era a minha
cidade natal. Nem mesmo com Josh, o atual prefeito, o assunto tinha surgido
antes.

Mas eu queria ver se Lua estava pronta para isso. Por mais que não
fosse algo imediato, eu queria saber o grau de comprometimento dela, o
quanto ela estava interessada naquilo. Se além da coragem, ela teria
responsabilidade suficiente para assumir essa tarefa, que não seria nada fácil.
— Você se sente preparada para isso? É uma grande responsabilidade.
– mantive a minha postura para tentar intimidá-la.

— Eu sei, Yuri! Mas é que eu tive essa ideia há algum tempo e ela
não sai da minha cabeça. Acho que Belmonte merece uma filial da loja e até
eu terminar a faculdade, estaria totalmente capacitada para tomar conta do
negócio. Mas é claro que o meu marido lindo, forte e poderoso poderia me
ajudar também. – ela sorriu e deu de ombros.
Essa Lua...

— Então quer dizer que a minha linda esposa e companheira quer


entrar para os negócios da família... E para isso, vale até puxar o saco do
marido CEO?

— Claro. – ela passou a mão pelos cabelos loiros e seu sorriso


aumentou. – Posso puxar, acariciar, colocar na boca, o que você quiser.
Gargalhei.

— Gostei da sua ousadia, moça. Vou levar em consideração todas as


suas promessas. – falei e puxei Lua pela mão, fazendo-a ficar de pé. – E vou
fazer você cumprir todas elas.

Beijei Lua delicadamente nos lábios. Senti a bebê se agitar na barriga


de Lua e sorri.
— E aí? Eu vou poder ficar com a filial de Belmonte? – ela perguntou
insistente.

Me separei dela e disse sério:

— Quando você se formar e se estiver apta para isso, nós voltamos a


conversar.
Lua bateu no meu ombro com força.
— Você acha que eu não tenho capacidade para isso, Yuri?! – ela me
perguntou, agora brava.

— Ai, Lua! – reclamei. Ela era forte e seu humor mudou da água para
o vinho em um piscar de olhos.
— Você não confia em mim?! – ela me ignorou e continuou
esbravejando.

— Claro que eu confio, amor. Mas é que até outro dia você estava
pichando um monumento da cidade e agora...

Ela arregalou os olhos e abriu a boca, surpresa. Na mesma hora eu


constatei que tinha falado merda. Merda!
— Lua, eu... – tentei me retratar, mas fui interrompido:

— Cala a boca, Yuri. Você é um idiota! Você é igual ao meu pai,


acha que eu sou uma irresponsável, uma inconsequente! – ela gritou bastante
irritada.

— Eu não quis dizer isso, amor, é só que... – mas ela não me deixou
concluir:

— Você, Yuri Santino, é um metidinho, filhinho de papai! E eu não


preciso da sua companhia para ir para Belmonte. – ela falou decidida e entrou
no banheiro, batendo a porta na minha cara.

Bati na porta com o punho fechado.

— Lua, abre a porta, por favor! Me desculpa, amor. Eu não queria ter
falado aquilo, me expressei errado.
A resposta que eu tive foi o barulho do chuveiro sendo ligado e a água
caindo no chão.
— Abre, amor. Eu não vou deixar você dirigir para Belmonte sozinha.
– tentei insistir.

Apenas a água caindo no chão fazia barulho.


Suspirei e passei a mão pelos cabelos.

Que merda eu fui falar.

Eu sabia que Lua não era irresponsável, muito menos inconsequente.


Só queria dizer a ela que ela ainda não estava preparada para assumir uma
responsabilidade como aquela. Ela ainda era uma estudante, não tinha prática
nenhuma naquele ramo. Eu não podia fazer uma promessa daquelas para ela,
por mais que todos os meus instintos gritassem para realizar todas as suas
vontades. Eu era o CEO da Santinos e tomei uma decisão de chefe, não de
companheiro.
No entanto, eu também sabia que o humor de Lua estava volátil com a
gravidez e isso poderia ter causado a sua reação, apesar de não apagar a
burrada que eu cometi. Estávamos com os nervos à flor da pele por causa da
nossa lobinha e brigar só piorava as coisas.

O jeito era aguardar na porta do banheiro e esperá-la sair.

Que merda!
CAPÍTULO 3

LUA

Eu não podia acreditar que Yuri tinha falado aquilo para mim.

Aquele homem que eu amava, admirava e respeitava, meu companheiro


e marido, meu alfa supremo, tinha me magoado. Receber aquele golpe dele
doeu, mais do que se tivesse sido dado por outra pessoa. Yuri sabia o que eu
tinha passado e como tinha sido difícil para mim lidar com a perda da minha
mãe. Aquela pichação idiota na estátua da deusa Luna tinha sido um ato
ridículo e rebelde, talvez para chamar atenção do meu pai, talvez por me
sentir excluída dos segredos de Belmonte.
Aquilo não significava que eu era irresponsável. Eu não era! Tinha
morado sozinha por cinco anos em uma cidade grande. Me sustentei e cuidei
de mim mesma, com pouquíssima intervenção do meu pai e com poucos
recursos financeiros. Yuri não podia chegar agora e menosprezar tudo o que
eu passei, me resumindo a um comportamento isolado do passado.

— Lua, abre a porta, por favor! Me desculpa, amor. Eu não queria ter
falado aquilo, me expressei errado. – Yuri falou, provavelmente grudado na
porta do banheiro.

Suspirei. Liguei o chuveiro e deixei a água cair.


Eu sabia que ele jamais me machucaria, mas por que ele foi falar
aquilo?! Que droga!

Senti lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Ótimo! Agora eu estava


chorando! Malditos hormônios da gravidez.
— Abre, amor. Eu não vou deixar você dirigir para Belmonte sozinha.
– Yuri insistiu na porta.

Claro que ele não deixaria. Seria arriscado e cansativo para eu fazer
aquilo. Apenas falei da boca para fora. Eu não teria coragem de me arriscar e
arriscar a bebê desse jeito. Yuri me amava e só queria o meu bem. Ele se
preocupava comigo.

Dei outro suspiro, enxuguei as lágrimas e tirei a roupa para entrar no


chuveiro. Eu iria para a faculdade. Talvez ficar longe de Yuri me clareasse os
pensamentos.
Eu era uma estudante esforçada e competente. Yuri não via isso? Eu
me achava capaz de assumir uma filial da Santinos em Belmonte assim que
terminasse a faculdade! Qual seria o problema?

Na verdade, eu ainda não tinha pensado nos detalhes da minha ideia.


Eu não queria morar longe de Yuri e sabia que ele não podia sair de Olímpia,
porque a sede da empresa ficava aqui. Também não pensei na lobinha... Eu
não sabia como faríamos, só sabia que podíamos dar um jeito.

Terminei o meu banho e saí do banheiro vestindo um roupão. Yuri


estava sentado na ponta da cama e deu um pulo assim me que viu.
— Lua, me escuta. Eu não queria ter falado aquilo. Eu sei que você
não é nada disso, muito pelo contrário. – ele se apressou em dizer.

— Então por que falou? – perguntei e cruzei os braços na altura do


peito.
— Saiu sem querer! Eu só queria dizer que você não tem prática
nisso, que ainda precisa aprender muito para assumir algo assim.

— E você não poderia me ensinar?


— Claro, meu amor, claro que eu posso. Se é o que você quer, eu te
ensino tudo o que eu sei. – ele tentou se aproximar de mim, mas me esquivei
dele.

— Eu vou me vestir para ir para a faculdade, Yuri. Quando eu voltar a


gente conversa melhor.

Ele suspirou. Seu olhar triste fez em me sentir estranha. Será que eu
estava exagerando?
— Tudo bem. Eu só sinto muito, não queria ter te magoado.

— Mas magoou. – me virei e entrei no closet, para procurar um


vestido.

Depois que saí do closet, já vestida, Yuri não estava mais dentro do
quarto.

— Lua, você não pode exigir algo assim do Yuri. É sacanagem! –


Pietro falou e bebeu o seu refrigerante de latinha.

Estávamos na faculdade, no intervalo das aulas. Eu estava sentada em


uma mesa na cantina, com Pietro e Talita. Acabei contando a eles porque
estava chateada.
— Pietro! – Talita exclamou fazendo uma careta.

— O que foi? É verdade. Não é porque a Lua é a esposa do dono que


ela pode chegar assim e querer assumir uma das lojas. Tem muita gente mais
experiente e mais capacitada profissionalmente do que ela. – Pietro se virou
para mim. – Sem ofensas. É que eu aprendi alguma coisa de quando
acompanhava meu pai na loja. As coisas podem parecer fáceis, mas não são
bem assim.

Fiz uma careta para ele. Pietro estava tão maduro. Morar em uma
cidade grande sozinho fez aquele garoto franzino se transformar rapidamente
em um homem.

— Eu sou uma ótima aluna, Pietro. – retruquei.

— A Talita também! Mas ela não sabe nem aplicar uma injeção! – ele
gargalhou e eu apertei os lábios para não rir também.
Talvez Pietro ainda não estivesse tão maduro assim...

Talita bateu no ombro dele.

— A prática é diferente da teoria, seu idiota! – ela replicou, se


defendendo. Talita estava apenas no segundo ano do curso de enfermagem.

— É isso que a Lua ainda não entendeu. Ela pode ser uma ótima aluna
aqui, mas na prática... Ela não sabe de nada! – ele bebeu de novo seu
refrigerante.

Lancei a ele um olhar fulminante, mas não disse nada.

Um gosto amargo tomou conta da minha boca. Pietro tinha razão. Eu


exagerei na minha reação e Yuri estava certo ao querer saber se futuramente
eu estaria apta para assumir aquele compromisso. Ele sabia disso e por isso
ele era o CEO. Que droga!
Mas isso não apagava o que ele tinha me dito. Aquelas palavras
tinham me magoado bastante, ainda mais por terem vindo do meu próprio
companheiro.

— Você misturou alguma coisa no seu refrigerante? – Talita


perguntou a Pietro. – Nunca vi você com a língua tão solta assim.
— Só quero botar um pouco de juízo na cabeça da Lua. Ela não pode
ficar brigando assim com o comp... Com o marido dela. – Pietro se corrigiu
na hora e seu rosto foi ficando vermelho. Ele tomou outro gole de
refrigerante para disfarçar.

— Pietro tem razão. Eu não devia ter brigado com o Yuri. – falei
arrependida e me levantei na cadeira com alguma dificuldade.

Eu amava Yuri e estava disposta a aceitar suas desculpas para ficar


com ele. Ele mesmo disse que não queria ter dito nada daquilo e que sabia
que eu não era uma irresponsável. Eu também pediria desculpas a ele, por ter
exagerado na minha reação. Malditos hormônios alterados...
Yuri e eu raramente brigávamos e eu gostava das coisas assim. Nós
nos dávamos bem, nos compreendíamos, mesmo com as nossas diferenças. A
ligação de companheiros e o amor que sentíamos um pelo outro superava
tudo.

— Estou indo. Tchau! – peguei a minha bolsa e acenei para os dois


que ficaram na mesa. Voltei para casa decidida.
A casa estava silenciosa quando cheguei. Não que Yuri fizesse
barulho, mas o ambiente quieto me fez sentir um aperto no peito. Não queria
ter brigado com Yuri e saber que também errei, me deixava mais triste ainda.
Não queria ter magoado meu companheiro e sabia que ele também não queria
ter me magoado.

Ambos erramos e estávamos arrependidos disso.


Encontrei Yuri no escritório. Ele digitava algo no laptop e nem
percebeu a minha entrada.

— Oi. – falei chamando sua atenção.

Yuri levantou a cabeça e me olhou surpreso.


— Já voltou? Ainda é cedo.

— A aula acabou mais cedo hoje. – dei de ombros. Ele não precisava
saber que eu “fugi” da faculdade para fazer as pazes com ele.

— Hum.
Me aproximei mais da sua mesa. Estava meio sem jeito e não sabia
como começar meu pedido de desculpas.

— O que você tá fazendo aí? – perguntei a ele.

— To redigindo um contrato. – ele respondeu e voltou a digitar.


— Um contrato? Sobre o quê? Pensei que você deixasse esse tipo de
trabalho para os advogados da empresa.

Ele parou de digitar e voltou a me olhar.

— Esse aqui é diferente. Nele, eu assumo o compromisso de deixar


você a cargo da filial da Santinos de Belmonte. Assim que você terminar a
faculdade, você administrará a loja que abriremos lá. Ela será sua.
Meu queixo caiu e eu arregalei os olhos.

Yuri estava mesmo fazendo aquilo por mim? A sua companheira


rebelde, teimosa e malcriada?
Aquela constatação fez meu estômago se retorcer. Me senti pior do
que já estava. A culpa só aumentou dentro de mim. Eu estava prestes a
colocar um filho no mundo e ainda agia como uma adolescente rebelde.

— Eu sinto muito, meu amor. Não queria ter te magoado. Eu sei que
você é inteligente e esforçada. E também sei que será uma ótima profissional.
Você é comprometida com tudo o que faz e com a loja não será diferente. –
Yuri falou sem tirar os olhos dos meus.

Eu estava chocada demais com a atitude dele. Ele estava fazendo


aquilo por mim, por um mero capricho meu!
— Yuri...

— Basta você assinar aqui e os advogados vão oficializar tudo


amanhã. – ele falou distraído, voltando a olhar para o computador.

Não. Eu não queria aquilo.

Yuri era o CEO, era inteligente, esperto e capacitado. Ele sabia as


decisões que tomava. Não seria eu a estragar tudo.

Me aproximei dele e fechei a tampa do laptop. Yuri levantou o rosto e


me observou confuso.

— Por que você... – mas o interrompi:


— Eu não quero isso, Yuri. Eu errei e magoei você também. Me
desculpe por ter dito todas aquelas coisas. Eu fiquei irritada com você e
acabei falando muita coisa sem pensar. Os hormônios da gravidez também
não ajudaram em nada.

— E eu acabei falando merda para você. Nós nos completamos. – ele


sorriu e pousou as mãos nos meus quadris, me puxando mais para perto.
— Que belo casal nós somos. – falei sorrindo também.

— Somos o casal mais foda das alcateias da deusa Luna. – ele falou,
me lembrando da nossa piada interna. – Talvez o mais fodido também.

Yuri beijou a minha barriga e a bebê se agitou. Ele sorriu.

— Eu aceito suas desculpas se você aceitar as minhas. – ele disse.

— E eu aceito as suas se você esquecer essa história da filial de


Belmonte.

Yuri me olhou surpreso, mas acabou dando um suspiro resignado.


— Tudo bem, não vou mais discutir. – ele beijou novamente minha
barriga.

Eu não tocaria mais naquele assunto. O meu futuro profissional


poderia ser discutido mais tarde. Eu ainda tinha tempo.

— Ótimo, não quero mais discutir. Agora eu quero fazer as pazes. –


falei e me sentei em seu colo, com uma perna de cada lado de suas coxas. A
minha barriga atrapalhava a nossa proximidade, infelizmente.
Yuri apertou o meu quadril e sorriu.

— Adoro fazer as pazes com você. Devíamos brigar mais vezes. – ele
segurou minha nuca com uma das mãos e me puxou para um beijo.
CAPÍTULO 4

LUA

Beijei Yuri com toda a paixão que eu sentia por ele e quando o beijo
ficou mais intenso, senti meu corpo formigando. Yuri estava me provocando,
excitando meu corpo através da nossa ligação de companheiros.

Yuri se separou de mim e olhou profundamente nos meus olhos.


— Eu quero você, amor, mas assim fica difícil. – ele falou e com o
dedão da mão que segurava a minha cintura, ele acariciou a minha barriga.

Droga. Não poderíamos fazer nada naquela posição. Eu mal conseguia


ficar sentada nas coxas de Yuri, pois a minha barriga me deixava muito
afastada dele.

Me levantei, mas Yuri continuou segurando a minha cintura.


— Onde você pensa que vai? – ele me perguntou com a voz cheia de
malícia.

Sorri para ele e me virei de costas, me sentando em seu colo. Senti o


seu sorriso na minha nuca, antes que ele pudesse plantar um beijo no local.

— A lugar nenhum, seu bobo. Assim está melhor? – perguntei apenas


para provocá-lo, pois já sentia sua ereção encostando na minha bunda.
— Bem melhor, minha loba. – ele falou e suas mãos subiram dos meus
quadris para os meus seios.

Yuri os apertou delicadamente, levando em consideração como estavam


sensíveis. Fechei os olhos e me recostei em seu peito, arqueando as costas.
Ele beijou meu pescoço devagar e foi subindo aos poucos, até chegar na
minha orelha. Apertei as coxas, excitada pelo seu toque em minha pele.
— Eu te amo, Lua. – ele falou com a voz rouca em meu ouvido.

— Eu também te amo, Yuri, mas agora eu preciso de você... – falei


com a voz fraca e empinei a bunda contra a sua ereção, me esfregando.

Yuri riu e voltou a segurar minha cintura, apertando firme, mas sem me
machucar.
— Você me terá, amor, mas antes eu quero... – o interrompi quase
desesperada:

— Não, Yuri, não quero preliminares. Eu quero você agora. – falei me


remexendo em seu colo, meus quadris indo para frente e para trás.

— Seu desejo é uma ordem, amor. – Yuri cedeu.


Rapidamente, ele me tirou de seu colo, apenas por tempo suficiente
para subir meu vestido e baixar minha calcinha. Voltando a me sentar em seu
colo, senti suas mãos mexendo na calça. Fechei os olhos novamente e sorri,
já imaginando o prazer que seria tê-lo dentro de mim.

— Segure na mesa, Lua. – ele falou em um tom quase desesperado. Ele


estava tão ansioso por aquilo como eu.

Segurei na beirada da mesa de Yuri, me inclinando para frente e


abrindo as pernas, enquanto Yuri me levantava apenas o necessário para se
encaixar dentro de mim. Desci sobre ele suavemente, ambos estávamos
molhados de excitação. Foi impossível reprimir um gemido com aquela
sensação gostosa de ter todo o seu magnífico comprimento dentro de mim.

Devagar, Yuri começou a me mover em cima dele. Apoiei os pés no


chão e comecei a me mover também.
— Perfeito, amor. – Yuri falou com a voz rouca e gemeu atrás de mim.

Não falei nada. Apenas gemia enquanto me movia em cima dele.


Fechei os olhos e aproveitei a sensação.

— Você tem uma bunda linda, minha loba safada. – ele falou enquanto
apertava meus quadris.
Dei um gemido alto, me imaginando de quatro na nossa cama enquanto
Yuri me possuía por trás.

Justamente nesse momento, o barulho irritante da campainha soou.

— Yuri... – falei com a voz fraca e falhando.


— Foda-se! Não vou parar o que estamos fazendo para atender porta
nenhuma! – ele falou rapidamente e meio ofegante.

Sim! Foda-se quem quer que seja que estivesse lá!

A campainha insistiu.

Merda.

Comecei a me movimentar mais rápido em cima de Yuri. Era sexta-


feira à noite. A campainha não tocaria por nada que não fosse importante.

— Não se atreva... – ele ofegou apertando meus quadris, mas não


diminuiu meus movimentos.
Ignorei Yuri e empinei mais a minha bunda, intensificando os
movimentos, gemendo como uma louca a cada descida. Yuri começou a me
imitar, quase nos levantando da cadeira a cada estocada. Ainda bem que
aquela cadeira era resistente...

A campainha tocou de novo.


— Eu vou... matar esse maldito... – Yuri soltou em meio aos seus
gemidos ofegantes.

— Eu... ajudo... – falei com a voz entrecortada.

Com mais três estocadas, cheguei ao meu ápice, minhas mãos


apertando forte a escrivaninha enquanto via estrelas. Yuri logo me
acompanhou, soltando um grito e se apoiando em minhas costas. Ambos
estávamos ofegantes, mas satisfeitos.
A merda da campainha tocou de novo.

Dei um suspiro e me levantei devagar, me desconectando de Yuri.


Minhas pernas ainda estavam trêmulas, eu ainda recuperava a respiração, mas
a morte daquele maldito à nossa porta não podia esperar.

Yuri afastou a cadeira para trás e também se levantou. O ouvi


arrumando a calça, depois ele se abaixou e subiu a minha calcinha pelas
minhas pernas e ajeitou o meu vestido. Eu nem tinha percebido que estava
daquele jeito e teria saído assim para abrir a porta.
— Depois que matarmos esse desgraçado, vamos fazer direito. – Yuri
falou ao meu ouvido e deu um beijo no meu ombro.

— Promessa é dívida. – me virei para ele e beijei seus lábios.

A campainha tocando novamente fez nos separarmos.


Yuri deu um suspiro irritado e saiu pisando duro do escritório. Segui
atrás dele, tentando acompanhá-lo, mas sem muito sucesso. Não era fácil
correr com aquela barriga.

Quando chegou à porta, Yuri abriu-a num rompante, com raiva. O que
eu vi antes de chegar até lá me paralisou onde eu estava, há alguns passos de
Yuri, no meio da sala.
— Até que enfim! Pensávamos que não tinha ninguém em casa! – o
delegado de Belmonte falou irritado.

— Chegamos em uma boa hora? – Macayla perguntou incerta.

Yuri se virou em minha direção com uma cara que dizia tudo: Nós não
poderíamos cumprir as ameaças de morte que fizemos momentos atrás.
CAPÍTULO 5

YURI

Que coincidência de merda!

Meu sogro e minha atual sogra estavam parados na porta de nossa casa,
em uma visita surpresa em plena sexta-feira à noite. Justamente quando Lua e
eu estávamos decididos a passar o resto da noite fazendo as pazes e transando
pela casa inteira. Devia ser verdade o que falavam sobre os sogros...
— Claro! Por que não? Entrem! – Lua saiu de onde estava e veio até a
porta. Ela tinha se recuperado da surpresa mais rápido do que eu. E pensar
que há pouco ela estava com as pernas bambas por minha causa...

— Tem certeza? Não queremos atrapalhar nada... – Macayla falou, me


chamando dos meus devaneios.

— Não estamos atrapalhando nada, Macayla. A Lua está quase para ter
um bebê, deve estar descansando, sem fazer nada. – Neandro falou e foi
entrando, carregando uma mala de mão.
Lua deu um suspiro e revirou os olhos. Resolvi me manifestar, antes
que ela resolvesse explodir com o próprio pai.

— Fiquem à vontade. Vocês não estão atrapalhando nada. Só ficamos


surpresos com a visita inesperada. – falei enquanto Macayla entrava meio
desconfiada.
Com certeza ela não tinha acreditado em uma palavra que saiu da
minha boca.

Fechei a porta e vi Neandro largando a bagagem no chão e indo abraçar


a filha.
— Como você está? Está se alimentando direitinho? Está descansando?
– ele perguntou preocupado enquanto a abraçava desajeitado, por causa da
barriga de Lua.

— To bem, pai. Não to doente, muito pelo contrário. Estou me sentindo


ótima. – minha companheira respondeu meio ranzinza.

— Neandro é tão teimoso! Ele insistiu que viéssemos “escoltar” vocês


na viagem até Belmonte. – Macayla falou e colocou as mãos na cintura,
observando o marido.
Lua teve a quem “puxar” no quesito teimosia.

— Mas nós vamos amanhã de manhã, bem cedo. – repliquei confuso.

— Eu disse isso a ele, mas ele não me escutou. – ela suspirou e falou
mais baixo, só para eu escutar: — Desculpa por interromper vocês. Sinto
muito.

Assenti.

— Tudo bem, não tem problema. – falei meio sem graça.

Eu estava correto ao supor que Macayla sabia que estava


interrompendo algo. Algo muito importante para Lua e eu.
Nervoso como um adolescente que é pego no flagra enquanto está
“ocupado” no banheiro, passei a mão nos meus cabelos, me lembrando que
deviam estar bagunçados. Será que minhas roupas...
— Não se preocupe, vocês dois estão em ordem. E eu sei que é um
problema sim. Odiaria que alguém interrompesse Neandro e eu. – Macayla
falou ainda baixo, deu um tapinha no meu ombro e foi até Lua.

Ok. Agora eu estava com imagens mentais dos meus sogros transando.
E aquilo não era nada legal.
— Lua, como você está? – Macayla foi abraçar minha esposa, assim
que o delegado a soltou.

— Estou ótima. Não vejo a hora dela nascer. – Lua falou toda
carinhosa, passando as mãos pela barriga.

Eu devia estar sorrindo como um bobo só de observar a minha


companheira daquele jeito. Mas o que eu podia fazer? O meu mundo inteiro
estava concentrado ali, naquela mulher, na minha deusa loba.
— Vocês já escolheram o nome dela? – Macayla perguntou sorridente.

— Estamos indecisos. – falei e me aproximei do trio. – Ainda não


conseguimos escolher um nome dentre os que estão na nossa lista.

— Podemos ajudar vocês. – Neandro falou interessado.

— Nós agradecemos, mas não, pai. Essa é uma decisão que Yuri e eu
devemos tomar juntos. – Lua cruzou os braços na altura do peito.

— Sim Neandro, não se meta. Tenho certeza de que você iria sugerir
algo do tipo: Eluri, Yuana ou até mesmo Neandra. – Macayla chamou a
atenção do marido.

Tive que me segurar para não gargalhar.


— Pelo menos são originais. – ele deu de ombros.

Lua suspirou e disse:


— Vocês já jantaram? Yuri, você pode levá-los até a cozinha? Eu
preciso ir ao banheiro. – ela me deu um olhar sugestivo do que faria lá.

Como tínhamos saído com pressa do meu escritório, Lua não teve
tempo de se limpar.
— Estou morto de fome! – o delegado exclamou e logo em seguida
ganhou uma cotovelada e um olhar reprovador de Macayla.

— Claro, vamos até a cozinha. – reprimindo outra risada, chamei meus


sogros e eles me acompanharam até lá enquanto Lua ia ao banheiro.

Comecei a esquentar o jantar que tinha feito mais cedo, enquanto Lua
estava na faculdade. Com toda aquela confusão, acabei esquecendo que
nenhum de nós havia jantado ainda. Na verdade, eu tinha planejado passar a
noite comendo...
— Yuri, Lua está bem mesmo? – o delegado me tirou dos meus
pensamentos libidinosos com a pergunta.

Ele e Macayla haviam se sentado nas banquetas da ilha da cozinha. Me


virei de frente para eles e me aproximei.

— Sim, ela está bem. Só estamos ansiosos para ela ganhar a lobinha.
Por quê? – devolvi a pergunta.
— É que eu não esperava que ela quisesse ter a bebê lá em Belmonte. –
ele deu de ombros.

— Ela já superou a aversão por Belmonte, Neandro. Além disso, deve


ser o instinto dela falando mais alto. Ela se sente mais segura lá para ter a
bebê. – respondi.

— E levando-se em consideração os acontecimentos de meses atrás... –


Macayla falou baixo.
Sim. Lua ainda devia ter receio da “possessão” da deusa Luna e do
encontro com a alcateia até então desconhecida de Romália. Minha
companheira devia estar assustada e preocupada com o nascimento de nossa
filha, por isso queria ir para Belmonte, pois estar perto da família e da sua
alcateia seria algo reconfortante. Lá, Lua e a lobinha estariam “protegidas” de
um suposto perigo.

Lua era humana, mas seu sangue lupino também influenciava bastante
na sua vida. O instinto animal predominava em alguns aspectos, como o
nascimento de um filho, por exemplo. Ela estava buscando segurança para
dar à luz.
— Vai ser melhor ela ter a criança lá, conosco por perto. Seja lá o que
ela tema, não a atingirá. – Neandro afirmou.

— Eu não deixarei nada acontecer com as duas. Darei a minha vida


para protegê-las. – falei sério, olhando nos olhos de Neandro. Ele assentiu
para mim.

Eu era o alfa supremo. O lobo mais poderoso que existia, atrás somente
da própria deusa Luna e talvez da minha companheira, que era a sua
reencarnação. Eu não deixaria que outro lobo ameaçasse Lua, nem a minha
filha. Nunca. Eu morreria protegendo as duas.
— Que cheiro de queimado é esse? – Lua entrou na cozinha com uma
careta no rosto.

— Merda! – exclamei e corri para o fogão, onde a janta queimava no


fogo.

— Pelo cheiro não vai dar pra salvar. – Lua falou enquanto tentava em
vão abanar a fumaça que se espalhava pelo cômodo.
— Você acha? – perguntei sarcasticamente enquanto desligava o fogo e
observava a comida queimada na panela. Merda!

— Lua, você tem o número de uma pizzaria? – Macayla perguntou


delicadamente à minha esposa.
— Pizza é uma ótima escolha. – me virei e disse para minha
companheira.

— Vou pegar meu celular. – Lua assentiu sorridente e saiu da cozinha.

Suspirei e peguei a panela para jogar a comida queimada fora.

Viajamos para Belmonte bem cedo no dia seguinte. Neandro e Macayla


nos seguiram em seu carro. Lua não disse nada, mas apenas de observar o seu
semblante, eu sabia que ela estava feliz. Ela veria novamente as amigas, o
nosso afilhado e todos da alcateia. Aquilo seria ótimo para ela, já que estava
muito tempo sem se transformar em loba, por causa da gravidez. Ficar perto
dos seus semelhantes seria acolhedor.

Tivemos que parar três vezes a nossa viagem, para que Lua pudesse ir
ao banheiro. Lua dizia que a nossa lobinha apertava a bexiga dela e que isso a
fazia querer ir o tempo todo ao banheiro, o que era uma merda.

Após isso, não demorou muito para que logo avistássemos a estátua da
deusa Luna na entrada da cidade. Um sorriso se formou nos meus lábios, mas
logo o tirei da cara. A pichação de Lua naquela estátua tinha sido um dos
motivos da nossa briga no dia anterior.
— Bem-vinda à Belmonte. – eu li a placa que ficava na entrada da
cidade.

— A cidade onde nossa lobinha vai nascer. – Lua falou sorridente e


acariciou a barriga.
Sorri de volta para ela. Sim. A nossa filha nasceria dentro de poucos
dias em Belmonte e eu estava louco por isso. Eu seria pai!
CAPÍTULO 6

LUA

Chegamos à Belmonte. Finalmente.

Nunca pensei que ficaria tão feliz como estava agora ao retornar para a
minha cidade natal. Era bem verdade que Belmonte se tornou uma
pedra no meu sapato alguns anos atrás, mas já fazia pouco mais de um ano
desde que tudo mudou. Yuri entrou na minha vida, eu amadureci e superei o
passado. Agora, eu estava começando a formar uma nova família com ele e
tinha muitos planos para o futuro.
Apesar de não estar me transformando por causa da gravidez, estar em
Belmonte era... reconfortante. O fato de estar lá e perto da minha alcateia
preenchia o buraco que as transformações deixaram. Eu sentia falta da minha
forma lupina. Além disso, me sentia bem melhor sabendo que a bebê nasceria
aqui. Era algo instintivo.

Yuri estacionou na frente da casa do meu pai. Ela continuava a mesma,


porém agora tinha algumas plantas e flores na frente. Um toque feminino que
Macayla deu depois que se mudou para lá. Joyce, minha “irmã” e amiga
estava morando sozinha na casa em que as duas ocupavam anteriormente.
Mas eu tinha certeza de que isso seria por pouco tempo, pois logo Lana se
mudaria para lá.
Precisei da ajuda do meu marido para sair do carro. Eu tinha perdido
parte da minha autonomia à medida que a gravidez avançava e a minha
barriga ficava maior.

— Obrigada, amor. – agradeci a Yuri quando ele me içou de dentro do


carro.
— De nada, minha loba. – ele me envolveu com um braço, enquanto
com o outro, ele fechou a porta atrás de mim.

Yuri estava tão cuidadoso e protetor comigo que eu ficava excitada


apenas com esse gesto educado e cavalheiresco dele. Às vezes isso me
irritava, mas outras vezes... Ah, os hormônios alterados da gravidez...
Reprimi um suspiro. Eu estava um poço de contradições ultimamente.

— Preparamos uma surpresa para vocês! – Macayla falou animada


quando nos aproximamos da porta.
— Macayla, se você fala da surpresa, ela deixa de ser surpresa. – meu
pai falou com uma careta.

— Quieto, Neandro! – ela reclamou com ele e se virou para nós dois:
— Entrem, está lá no quarto de vocês.

Entramos na minha antiga casa. Ela continuava basicamente a mesma


por dentro. Muitos porta-retratos, com as antigas fotos minhas e da minha
mãe, mas agora também tinham fotos de Macayla e Joyce, do casamento do
meu pai com Macayla, de Joyce e Lana, Yuri e eu... Aquilo podia ser algo
simples, mas tinha um grande significado para mim. Aquelas fotos eram a
essência da nossa família, eram muito especiais.
— Por que você tá chorando, Lua? – Yuri me perguntou todo
carinhoso, enquanto afagava as minhas costas.
— Porque eu estou grávida e choro por qualquer coisa! – exclamei e
limpei meu rosto.

Meu pai e Macayla riram da cena.


— Vamos lá para o quarto ver a surpresa. – Yuri me empurrou
gentilmente pelo corredor, para me tirar do ambiente que provocava meu
choro. Ele não gostava de me ver chorando.

— Desculpa por gritar com você. – falei a ele.

Essas alterações de humor eram um saco! Mas acho que Yuri acabou se
acostumando nesses últimos meses com isso.
— Não se preocupe com isso. – ele falou com um sorriso lindo, de
canto de boca. Dei um suspiro já imaginando como seria a nossa noite...

Yuri girou a maçaneta e abriu a porta do nosso quarto.

Mesmo casada, meu pai manteve o meu quarto (na verdade, meu e de
Yuri agora) em sua casa. Ele queria que ficássemos lá quando fossemos
visitar a cidade e por isso tinha reformado-o meses atrás.
Meu quarto estava do mesmo jeito que deixei da última vez, porém
agora havia um berço no canto. Ele parecia ter sido feito de madeira maciça e
brilhava, provavelmente pelo verniz aplicado recentemente. Era
simplesmente lindo.

— Ah! – exclamei surpresa e me aproximei para analisar melhor o


móvel.

Percebi que na cabeceira do berço tinha um pequeno desenho


entalhado. Era um lobo uivando com uma lua cheia atrás dele. Era rústico e
era lindo. Eu tinha adorado!
— Esse berço era seu, Lua. Eu e o seu avô, meu pai, o fizemos. – o
delegado falou de onde estava, parado no batente da porta.

— Ah, pai! – me virei e me atirei em seus braços, que me acolheram


desajeitados. – Eu amei! É lindo! Obrigada!
— De nada, garota. – ele falou meio sem jeito.

— A lobinha vai ter um lugarzinho só para ela enquanto ficar aqui na


casa dos avós. – Macayla falou carinhosa, se aproximando.

Aqueles dois tinham pensado em tudo! Nem eu, nem Yuri tínhamos
planejado onde nossa filha ficaria enquanto estivéssemos em Belmonte.
— Obrigada! Eu simplesmente amei a surpresa.

— De nada, querida.

— Obrigado, Neandro. Se você tivesse falado, nós poderíamos ter


levado esse para Olímpia. – Yuri disse, enquanto observava o berço e o
desenho gravado. Provavelmente ele tentaria reproduzir aquele desenho no
papel depois.
— Ele não combinaria com Olímpia, Yuri. É algo totalmente daqui de
Belmonte. – falei pensativa.

Yuri me olhou por alguns segundos e assentiu.

— É verdade. Isso é algo original de Belmonte e deve permanecer aqui.


Franzi o cenho. Ele ainda estava falando sobre o berço, certo?

— Surpresa revelada, agora precisamos ir para a casa do Josh! O


almoço nos espera! – Macayla exclamou animada e saiu do quarto.

Meu pai deu um beijo na minha cabeça e também saiu do quarto.


— Vou buscar nossas malas no carro. – Yuri disse e saiu apressado do
quarto, me deixando sozinha e confusa lá dentro.

O que estava acontecendo?

Chegamos na casa de Josh e todos já nos aguardavam lá. A alcateia de


Belmonte estava toda reunida.

Assim que colocamos os pés dentro da casa, Josh me roubou Yuri. Meu
marido ficou receoso em se afastar de mim, mas se deixou levar pelo primo.

— Lua! – Joyce exclamou alegre chamando a minha atenção e veio me


abraçar. – Como está a minha afilhada?
Nem tive tempo de responder, pois Maya se aproximou também, com
Jake no colo. Ele estava grande, um belo rapazinho. Tinha o mesmo tom de
pele da mãe, mas a cara era do pai.

— Sua afilhada? Acho que você está enganada, doutora. – Maya


replicou.

Desde que descobri a gravidez, aquelas duas competiam para ser


madrinha da minha lobinha. As duas eram minhas amigas e eu simplesmente
não conseguia me decidir. Joyce atualmente era a minha “irmã” e Maya tinha
me escolhido para ser madrinha de Jake. Eu tinha um abacaxi nas mãos e não
queria descascá-lo.
— Meninas, deixem a Lua chegar. – Serena repreendeu as duas. –
Como você está, querida? – ela me perguntou e me deu um abraço.
— Estou bem, obrigada. Não vejo a hora dela nascer. – falei e passei a
mão na barriga distraída. Eu gostava de carregar Ayla, mas também sentia
falta de me transformar em loba e ter mais autonomia.

Nesse momento, Jake se inclinou para frente impaciente, com os


bracinhos esticados em minha direção, me pedindo colo.
— Ele quer o colo da madrinha. – Serena falou sorridente.

— Você dá conta de carregá-lo? – Maya me perguntou enquanto


tentava manter Jake nos braços.

— Claro. – falei sorridente e peguei meu afilhado no colo.


Jake envolveu meu pescoço com os bracinhos e apoiou a cabeça no
meu ombro. Aquele gesto foi tão fofo! Se o meu útero já não estivesse
ocupado, ele estaria se coçando para ser.

— Jake quer ficar com a Lua porque ele já gosta dela e da lobinha. –
Josh falou sorridente enquanto se aproximava com Yuri. Os dois tinham
copos de uísque nas mãos.

— Do que você tá falando?! – Yuri perguntou com o cenho franzido.

— Vai me dizer que isso nunca passou pela sua cabeça? Que a lobinha
pode ser a companheira do Jake? – Josh devolveu a pergunta.

Arregalei os olhos surpresa. Não, aquilo nunca tinha me passado pela


cabeça. Até então.

— Não, nunca me passou pela cabeça, Josh. – Yuri respondeu irritado.


— Mas há uma possibilidade. – Josh insistiu, claramente para irritar
ainda mais Yuri.

Antes que meu marido explodisse, falei:


— Parem com isso. Jake é só um bebê e a lobinha ainda nem nasceu!

— Lua está certa. Não quero que você fique falando essas coisas, Josh.
– Maya reforçou. — Se fosse por isso, você e Yuri também tinham chances
de serem companheiros.
Meu marido e o prefeito se entreolharam. Josh fez uma careta e disse:

— Não está mais aqui quem falou. – ele levantou as mãos, como se
tivesse se rendido.

Ficou um clima estranho depois disso. Aquele assunto de companheiros


era algo delicado e falar disso com bebês não agradou muito. Nosso círculo
ficou em silêncio e ninguém falou nada, até Joyce perguntar:
— E o nome dela, Lua? Só vão revelar após o nascimento?

— Ainda estamos em dúvida. – respondi olhando para Yuri.

— Vamos chegar a um denominador comum em breve. – ele disse sem


tirar os olhos castanho-claros de mim.
— Aposto que você escolheu um nome que começa com “Y”. – Josh
falou a Yuri, brincalhão novamente.

Yuri fez uma careta e empurrou o primo para o lado, que começou a rir
dele. Todos rimos daquilo, mas eu fiquei em alerta. Se Yuri tivesse escolhido
um nome com “Y”, seria uma escolha totalmente diferente da minha. E eu
queria que ele se agradasse da minha escolha, assim como também queria me
agradar da dele.

Jake se agitou em meus braços e se empurrou na direção do pai.


Rapidamente e com habilidade, Josh se livrou do copo na mão e pegou o
filho nos braços. Os últimos meses ensinaram muito a Josh sobre como
cuidar do lobinho dele.
— Desculpa acabar com a “panelinha”, mas eu quero abraçar minha
amiga. – Daniel falou atrás de mim, chamando a minha atenção.

Ele, Blake e Levi me abraçaram e depois abraçaram Yuri. Levi engatou


uma conversa com Yuri, enquanto Daniel e Blake falavam comigo.
— Meu irmãozinho não veio mesmo? – Daniel perguntou após os
abraços.

— Infelizmente não. As aulas da faculdade não permitiram.

Estávamos praticamente no meio do semestre e Pietro não pôde vir para


Belmonte. Eu tinha conseguido negociar minhas aulas na modalidade online,
para assim, poder ficar mais tempo com a bebê e cuidar dela.
— E você? Vai perder as aulas? – Blake me perguntou.

— Vou estudar à distância, online.

— Ah, sim. – eles assentiram.


— Oi, Lua. – uma voz conhecida me cumprimentou.

Era Mirela, que vinha em sua cadeira de rodas empurrada por Brian.
Aqueles dois continuavam firme e forte, juntos.

— Oi, Mirela. Oi, Brian. – os cumprimentei meio sem jeito.


O clima ainda era meio esquisito entre nós. O meu histórico com a ex-
loba não era dos melhores, e Brian ainda era o chato de sempre. Mas parecia
que os dois estavam se esforçando para serem incluídos na alcateia, deixando
as “picuinhas” do passado para trás. Eu apoiava isso, assim como toda a
alcateia.

Eu tinha descoberto recentemente que Brian e Blake mantinham


contato com Alexander, o meio-irmão deles. As coisas entre os irmãos
evoluíam devagar, mas evoluíam. Talvez isso também tenha contribuído para
aumentar a “reaceitação” de Brian pela alcateia.

Logo, Serena anunciou que o almoço estava servido e todos foram para
a mesa. A alcateia de Belmonte não perdia tempo quando o assunto era
comida.
CAPÍTULO 7

LUA

Após o almoço na casa do prefeito, voltamos para a casa do meu pai.


Tudo tinha corrido bem e a alcateia de Belmonte desfrutava finalmente de
momentos de paz, sem brigas, intrigas e confusões.

Fui para o quarto descansar, enquanto Yuri aproveitava o tempo livre


para trabalhar à distância. Ele não queria deixar nenhuma pendência na
empresa até o nascimento da lobinha, pois queria aproveitar o momento para
passar mais tempo conosco.
Resolvi cochilar um pouco. O cansaço da viagem e do almoço estava
cobrando seu preço. Além disso, eu tinha que aproveitar. Depois que a
lobinha nascesse, as minhas horas de sono diminuiriam drasticamente.

Quando estava quase pegando no sono, meu celular tocou.

Merda.
Atendi a chamada mal-humorada:

— Alô!

— Lua, é você? Desculpa te incomodar, minha filha. Eu liguei apenas


para saber de notícias suas e da bebê.
Adele. Era Adele, minha avó me ligando e eu fui super-ríspida ao
atendê-la. Senti meu rosto esquentando de vergonha.

Desde que soube da sua existência, eu sempre me comunicava com ela


e com Micael. Os dois moravam em Romália, mas sempre nos falávamos por
telefone, já que eles raramente deixavam a cidade.
Apesar de Adele ser a minha avó, eu não conseguia chamá-la de
“vovó” ou “vó”. Por incrível que pareça, ela não tinha cara de avó. Sei lá. Por
não crescer com avós por perto, pois os pais do meu pai morreram quando eu
ainda era um bebê, sempre imaginei que avôs e avós seriam aquelas pessoas
bem velhinhas, com cabelos brancos e rostos enrugados. Mas Adele estava
longe disso. Seu corpo era esbelto, bem cuidado e seu rosto pouco
demonstrava os sinais de idade. O cabelo loiro claro, quase platinado, devia
esconder bem os fios brancos. Imaginei que por ser muito rica, ela tenha
todas as condições possíveis para “se cuidar”.

— Oi, Adele. Você não está me incomodando não. Eu e a bebê estamos


bem, estamos aqui em Belmonte. – falei meio sem graça, enquanto com a
mão livre, alisava a barriga distraidamente.

— Em Belmonte? Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou


preocupada.

— Não, não aconteceu nada. Eu apenas mudei os meus planos na


última hora. Decidi ter a bebê aqui, onde me sinto mais confortável.

— Ah, sim. Isso deve ser algum instinto de lobo, não é?

Eu ri.
— Exatamente.

— E como Yuri está? Nunca mais falei com ele. Ele não está lhe
chateando com toda aquela superproteção, está?
Ri de novo. Adele sabia bem como Yuri agia comigo e a gravidez
apenas aumentou mais seus instintos de proteção em relação a mim.

— Nós brigamos pouco, mas logo fazemos as pazes. – respondi


sorridente e meio boba.
Adorava fazer as pazes com meu companheiro...

— Ele deve estar inquieto por causa da bebê. Ela pode ser a próxima
alfa suprema, não é mesmo? Isso sem falar que ela será mais uma
reencarnação e descendente da deusa... Essa criança será muito poderosa,
minha filha. Yuri tem toda a razão de estar preocupado.

A fala de Adele me deixou muda.


Será que essa preocupação rondava a cabeça do meu companheiro?
Será que ele se preocupava com isso e me deixou de fora novamente dos seus
problemas?

É claro que eu já tinha pensado nessa hipótese, mas acabei deixando


para lá. Da última vez que Yuri me escondeu algo assim, fiquei muito
chateada com ele. Não sei se ele repetiria o erro, tendo em vista como fiquei
brava da última vez, mas sabia que ele tentaria me poupar dos problemas,
como um lobo alfa superprotetor faria com a companheira. Argh!

— Lua? Você ainda está aí? – Adele me perguntou quando fiquei


muito tempo sem dizer nada.
— To aqui, sim. Só me distraí um pouco. Eu... estou ciente de que a
bebê pode ser tudo isso, e isso também me preocupa. Se nós tivéssemos uma
certeza sobre o que esperar do futuro...

Adele riu.

— Ah, querida! Como seria bom se pudéssemos adivinhar o futuro!


Infelizmente não sabemos o que acontecerá no amanhã que se aproxima...

Sim! Saber que a minha filha poderia ser a loba mais poderosa que
existe na face da Terra e que isso poderia chamar a atenção indesejada de
outros lobos ou alcateias, era angustiante. Eu não sabia que outros poderes
ainda poderiam se manifestar em mim, quem dirá na lobinha!
— Eu sei que é idiotice, mas só queria ter uma certeza...

— Não é idiotice, Lua. Você será mãe e mães são assim mesmo. Você
sempre pensará no melhor futuro para a sua filha. Infelizmente essa
incerteza só complica as coisas... Mas... vamos dar um jeito nisso, minha
filha. Não se preocupe.

Quase ri. Era óbvio que eu iria me preocupar.


— Tudo bem. – suspirei. – Como você está? E o Micael? Não falei
mais com ele... – mudei de assunto, pois já estava ficando cansada daquele.

— Estamos ótimos, querida! Que estranho o Micael não falar com


você... Não sabia disso. Sempre o vejo no celular, conversando com alguém,
todo sorridente. Pensei que era você, principalmente porque ele me disse
todo misterioso que era alguém de Belmonte!

O quê?!
Pelo que eu sabia, Micael não conhecia ninguém daqui da cidade mais
intimamente... Será que...

Merda!

Joyce.
Eu sempre passava informações dele para a minha amiga médica,
porém, em uma das últimas vezes que falei com ela, a beta da alcateia de
Belmonte me pediu o número de Micael e eu lhe dei! Será que era ela quem
falava com ele? Por que ela não me disse nada? Que estranho!

— Ah... Deve ser algum amigo ou alguém da alcateia... – fiz uma


careta. Eu era péssima na improvisação!
— Ah, tudo bem então! Acho que já falamos demais, querida. Vou
deixar você descansar agora. Até mais!

— Tchau, Adele! – desliguei a chamada e joguei o celular na cama.

Eu adorava conversar com Adele, porém essa última conversa com a


minha avó não foi muito agradável.
A minha filha estava para nascer e isso ao invés de me trazer alegria,
me trazia angústia. Será que eu seria capaz de protegê-la?
CAPÍTULO 8

YURI

Me espreguicei na cadeira e me levantei. Trabalhei praticamente a tarde


inteira adiantando assuntos da empresa, pois não queria deixar nada pendente
para quando a lobinha nascesse. Queria dar total exclusividade da minha
atenção para a minha filha, além da minha esposa, é claro.

Fui até o quarto onde Lua dormia, ou melhor, onde ela devia estar
dormindo. Quando abri a porta, minha companheira estava sentada na cama e
seu olhar parecia distante, pensativo. O que tinha acontecido para deixar Lua
desse jeito?
— Lua? – a chamei e ela se virou para mim, a mão voando para a
barriga inconscientemente.

— Oi, amor. – ela deu um sorriso e relaxou.

— Aconteceu alguma coisa? – perguntei preocupado e me sentei ao seu


lado.
— Não, nada. Só estava pensando...

— No que você estava pensando?

Lua não me respondeu de imediato. Seu olhar esverdeado varreu meu


rosto antes que ela pudesse dizer alguma coisa.
— Acho que já é hora que decidirmos o nome da nossa filha.

Quase ri.

Eu sabia que Lua não tinha me dito o que estava pensando e aquilo foi
a primeira coisa que passou pela sua cabeça. No entanto, eu também queria
decidir o nome da nossa filha.

— Tudo bem. Vai ser Neandra ou Yuana? – não pude evitar a piada.

Lua fez uma careta e tentou não rir, mas não teve sucesso.

— Felizmente esses nomes não estão cotados na nossa lista. – ela falou
depois de rir.

— “Nenê” discorda de você.

Lua riu novamente.


— Para, Yuri! É sério! Temos que decidir o nome dela!

Rindo, eu disse:

— Ok! – peguei meu celular e abri o bloco de notas, onde tinha anotado
os nossos nomes preferidos. – Ficamos em dúvida entre Isis, Aurora, Sabrina
ou Ayla. Eu tinha cogitado Cibelle também, mas você...

Lua me interrompeu:

— Não. Eu amo a minha mãe e o nome dela é lindo, mas eu quero que
a nossa filha tenha um nome só dela e especial.

Assenti. Lua não queria homenagens e eu também não citei o nome da


minha mãe por causa disso. No entanto, eu adoraria ter homenageado a
minha falecida sogra, mas já que Lua não queria...
— Tudo bem. Precisamos descartar nomes. – falei decidido.
— Yuri, na verdade... Eu... – Lua parecia meio receosa em falar.

— Na verdade... – ergui as sobrancelhas, a incentivando.

— Eu tenho o meu favorito entre esses. – ela mordeu o lábio inferior ao


dizer isso. Esse pequeno gesto chamou bastante a minha atenção e tive que
me concentrar bastante para não atacar a minha companheira.

— Eu também tenho o meu favorito. Por que você não me disse antes?
Pensei que estivesse em dúvida. – foquei no assunto.

— Eu queria saber qual tinha sido a sua escolha, antes de revelar a


minha. – ela deu de ombros.
Passei a mão livre pelos cabelos e suspirei.

— E qual é a sua escolha? – perguntei ficando meio impaciente.

— Eu queria algo especial e só dela, então dei uma pesquisada na


internet.
— Hum. – murmurei.

— E gostei muito de Ayla. Significa “luz da lua”. Eu achei lindo e


amei. – ela disse enquanto acariciava a barriga.

Encarei Lua tão surpreso, que até a minha boca se abriu um pouco.
— Yuri?

— Lua, esse era o meu nome favorito. Desde o início, foi o nome que
eu mais gostei. – falei sorridente. – Além de ser o nome que também faz
referência a você.

— Sério?! Sério mesmo?! – Lua me perguntou surpresa. Seu olhar


estava brilhando de felicidade. Ela queria aquele nome, tanto quanto eu.
— Sim! Ayla é perfeito, meu amor.

Lua abriu o lindo sorriso que eu amava e me abraçou. Ou melhor, ela se


jogou nos meus braços e eu a envolvi.
— Que bom! Então está decidido! O nome da nossa lobinha vai ser
Ayla. Ayla Marino Santino.

Beijei os cabelos de Lua enquanto a apertava cuidadosamente contra


mim.

— Sim. Ayla será o nome dela. – falei feliz.


Estava contente por ter decidido aquele assunto, porém não tinha
esquecido o que Lua não tinha me revelado. Eu precisava descobrir o que a
minha companheira estava com receio de me contar. Será que era algo
relacionado ao futuro de Ayla?
CAPÍTULO 9

LUA

Falei a primeira coisa que me veio à cabeça, e acabamos decidindo o


nome da nossa filha.

Eu ainda não queria revelar as minhas preocupações para Yuri, então


resolvi falar sobre o nome da lobinha, um assunto leve e que precisava ser
decidido prontamente, já que ela estava para nascer. E eu não queria que a
menina nascesse sem um nome escolhido.
Fiquei muito feliz que Yuri gostou do nome, tanto quanto eu. Quem
diria que acabaríamos escolhendo o mesmo nome... E eu nem tinha percebido
que Ayla fazia referência ao meu apelido!

Mas, acho que consegui distrair Yuri, por mais que eu não fosse boa na
arte do improviso.

Não demorou muito para que o delegado chegasse em casa e Macayla


também. Os dois tinham saído para algum lugar, já que era sábado e os dois
estavam de folga. Anunciamos o nome da bebê e Macayla achou que isso era
motivo para uma comemoração. Nem preciso comentar como ela ficou feliz
com o nome, pois “Ayla” era um pedaço de “Macayla”, algo que nem Yuri
nem eu tínhamos notado antes.
— Vou ligar para Joyce vir aqui. Não vai ser nada, Lua, apenas uma
coisinha. – ela me garantiu já com o celular na mão.

— Da última vez que ela disse isso... – meu pai murmurou e não fez
questão de completar.
Reprimi uma gargalhada me lembrando de meses atrás, quando
Macayla e Serena também tinham planejado uma coisinha e a festa em
comemoração pelo nascimento de Jake foi muito além disso.

Yuri decidiu colocar um filme para assistirmos na sala enquanto


Macayla preparava tudo. Adverti meu companheiro sobre a escolha do filme.
Não queria dormir de tédio nos primeiros quinze minutos de exibição. O
safado do meu marido apenas sussurrou no meu ouvido:

— Até parece que a gente assiste algum filme até o final.


Senti meu rosto esquentando e fiquei sem graça.

Quando estamos a sós, em Olímpia, meu companheiro e eu


“assistíamos” filmes. Ou melhor, nós começávamos a assistir, depois...
Outras coisas acabavam acontecendo. Uma das poucas vezes que assistimos
filmes completos foi há meses, aqui em Belmonte. Mesmo assim, acabei
iniciando uma guerra de pipoca com Yuri, por ter ficado entediada.

— Se comporte! Estamos na casa do seu sogro! – eu sibilei com os


lábios semicerrados, para o meu pai não escutar, já que ele estava sentado
próximo de nós.
— Isso nunca foi impedimento antes. – ele retrucou baixinho, enquanto
abria o sorriso que fazia eu me derreter.

Dei um tapinha no ombro de Yuri e me acomodei no sofá, com ajuda


dele, que apenas riu de mim. Nesse momento, a campainha tocou e meu pai
foi atender.
— Deve ser a Joyce. – ele disse.

Yuri se sentou ao meu lado e apertou a minha coxa, fazendo eu dar um


pulo no lugar por causa do ponto sensível. Eu sentia cócegas quando ele
apertava a minha coxa.
— Yuri! – exclamei segurando o riso.

Ele apenas sorriu de volta para mim, provocador.

Foi no meio dessa interação que Joyce entrou acompanhada e eu só fui


perceber isso, quando ela falou, mais animada do que o normal:
— Oi, Lua! Oi, Yuri!

Desviei o olhar de Yuri para ela e meu sorriso congelou no rosto.

— Oi, prima! – Micael me cumprimentou.


Meu primo estava parado ao lado de Joyce, que entrou acompanhada
por ele. Sim. Micael veio com Joyce e a cara dela era a mais deslavada
possível. Fiquei confusa.

— Micael? – Yuri perguntou, sua surpresa ecoando a minha.

— Oi, “primo”. – ele respondeu com o sorriso provocador de sempre,


olhando para Yuri.
— Pensei que você estivesse em Romália, com Adele. – falei sem
deixar o sorriso sumir do meu rosto, me segurando para não pular em Joyce e
extrair tudo dela.

— Eu estava, porém resolvi “dar um pulo” aqui em Belmonte e falar


com a Joy. – ele respondeu e olhou sorridente para a minha “irmã”.

Ah, não.
Aquele olhar. Eu conhecia aquele olhar.

Os olhos de Micael sorriam, assim como os seus lábios. Ele olhava para
Joyce de um jeito afetuoso, carinhoso. Do mesmo jeito que eu me pegava
olhando para Yuri às vezes. Do mesmo jeito que eu via meu pai olhando para
Macayla ou Maya olhando para Josh. Aquele olhar perdido e ao mesmo
tempo fodido.
Um olhar apaixonado.

Micael estava apaixonado por Joyce! Estava até usando um apelido


carinhoso para se referir a ela!

Joyce tinha um sorrisinho no rosto e não parecia perceber nada daquilo.


Ah, merda!
— E onde a Lana está? – Yuri perguntou à beta da alcateia de
Belmonte.

— Trabalhando. Final de semana é mais movimentado lá na sorveteria.


– ela respondeu e seu sorriso diminuiu. Será que finalmente ela estava se
dando conta da merda em que estava metida?

Quando Joyce descobriu que Micael era o seu companheiro, ela o


rejeitou, pois amava Lana e queria ficar com ela. Como é que agora ela
aparecia aqui com Micael à tiracolo? Eu não estava entendendo nada!
Meu pai foi para a cozinha ajudar Macayla, não sem antes lançar um
olhar avaliador para a enteada e o meu primo. Micael se aproximou e se
sentou do meu outro lado, muito à vontade.

— E aí, Lua? Como vai a minha priminha? – ele me perguntou e se


inclinou para a minha barriga, passando a mão nela sem a minha autorização.
Ayla não respondeu ao toque dele.
Yuri rosnou, e logo Micael se endireitou, tirou a mão da minha barriga
e sorriu para ele.

— Calma, Yuri! Só estava fazendo um carinho na bebê. – o


engraçadinho se defendeu. Eu sabia muito bem que ele gostava de provocar
Yuri.
— Não se chega desse jeito, passando a mão na barriga de uma
grávida! É falta de educação! – eu exclamei e dei um soco no ombro dele,
irritada.

Yuri estava certo. Micael era muito enxerido. Eu gostava dele, mas às
vezes ele era sem noção. Não havia necessidade de provocar Yuri, mas meu
primo gostava de brincar com o perigo.

— Ai, Lua! Você é forte! – Micael falou rindo, enquanto massageava o


ombro.
— Tem sorte que foi ela quem te bateu. Na próxima, você vai sentir o
peso da minha mão. – Yuri falou irritado, depois me içou do sofá e me
afastou do enxerido do meu primo enquanto passava um braço pela minha
cintura.

— Tudo bem! Micael já fez a sua palhaçada. Não precisamos brigar. –


Joyce falou, se metendo no meio de nós.

— Ninguém está brigando, Joy. – Micael falou sorridente e deu uma


piscadela para mim. Yuri enrijeceu ao meu lado.
— Tem razão. Ninguém está brigando, Joy. Posso falar com você? –
perguntei a ela séria.

— Claro. – foi a resposta simples da médica.

Joyce saiu da sala e foi em direção a cozinha. Comecei a segui-la, mas


parei e me virei para Yuri.

— Se comporte. – falei baixinho para o meu companheiro.

— Não se preocupe. Vou cuidar muito bem do seu primo. – ele falou
estranhamente carinhoso e deu um beijo na minha cabeça.

Dei um suspiro e fui atrás de Joyce. Yuri, mais do que ninguém, sabia
que não devia machucar um humano. Resolvi confiar nele e o deixei sozinho
com Micael. Esperava não me arrepender mais tarde.
CAPÍTULO 10

LUA

— Joyce, eu não estou entendendo o que está acontecendo. – meu pai


disse assim que entrei na nossa pequena cozinha.

— Como assim? – ela perguntou enquanto mordiscava um pedaço de


pão do cesto que estava em cima da mesa.
— Você o rejeitou, minha filha. Por que está com ele? O que está
acontecendo? – Macayla se virou do fogão e indagou a filha.

— Ah... – ela se sentou em uma das cadeiras da mesa e ficou quieta.

Me sentei ao lado dela e disse:


— Estamos esperando uma explicação.

Sim, eu estava esperando uma explicação. Fui eu quem a consolou


quando ela decidiu rejeitar o companheiro. Eu a apoiei. Joyce era minha
amiga e agora era minha irmã também. Eu queria explicações sim!

— Eu gosto de ficar perto dele. Gosto de conversar com ele. Me sinto


bem. – ela disse sem olhar para nenhum de nós.
Suspirei. Aquilo era complicado.

Joyce gostava de ficar perto dele porque eram companheiros, mas não
parecia apaixonada por Micael. Já o meu primo, estava caidinho por ela. E
Joyce não percebeu isso. Parecia algo meio egoísta...

— Acho que esse rapaz gosta de você, Joy. – Macayla falou


carinhosamente.
— Eu não acho, tenho certeza. – falei me recostando na cadeira e
beliscando um pedaço de pão também. Hum, que gostoso!

Joyce arregalou os olhos.

— Nós somos amigos. – ela retrucou.

— Esse rapaz quer ser qualquer coisa sua, Joyce, menos amigo. Ele
saiu da proteção e do conforto da mansão dele em Romália apenas para
passar um tempo com você. Ele quer ir além da amizade, entendeu? – meu
pai falou.

Olhei para o delegado surpresa. Nunca tinha ouvido ele falar tão
abertamente assim antes...

— Eu... não posso dar o que ele quer.


— Tenho certeza que não. – murmurei e ganhei um olhar nada
agradável da beta.

— Eu estou dizendo que não posso oferecer nada além da minha


amizade a ele!

— Então acho que você precisa esclarecer as coisas com esse rapaz! –
Macayla exclamou baixinho e cruzou os braços.
— Mas se eu fizer isso, vou afastá-lo de mim!

Sim, era algo meio egoísta de se pensar, mas as relações entre os


companheiros não eram algo muito racional ou justo...

Suspirei. Aquilo era complicado...


— Você devia ter deixado as coisas como estavam! Devia ter deixado a
Lua intermediar a sua relação com ele. – Macayla chamou a sua atenção.

— Foi mais forte do que eu! Eu precisava falar com ele, conhecê-lo!
Ficamos em silêncio por algum tempo. Ninguém tinha ideia do que
fazer agora. Joyce não queria “se separar” do seu companheiro e também não
queria assumir uma relação com ele.

Yuri entrou na cozinha e disse:

— Você está encrencada, doutora Joyce. Aquele sacana do Micael está


apaixonado por você.
— Era sobre isso que estávamos falando. – eu disse a ele.

Yuri assentiu. Eu não sabia porque ele tinha vindo até a cozinha, mas
sabia que ele tinha feito isso para preservar a vida de Micael.

— Você tem que tomar uma decisão, Joyce. Essa situação não pode
continuar assim. É injusto com ele e com a Lana. – Yuri disse sério.
— Concordo com o Yuri. Você precisa se decidir, Joyce. – Macayla
decretou.

Joyce negou com a cabeça.

— Ou as coisas podem continuar do jeito que estão. – ela disse.


— Quanto tempo você acha que vai demorar até ele tomar uma
iniciativa? – meu pai perguntou a ela e sustentou o seu olhar.

Apesar de conhecer Micael há pouco tempo, eu sabia como ele era. Do


seu jeito desinibido, ele logo partiria para cima de Joyce e se não tivesse uma
resposta positiva, ele se afastaria dela, magoando-a no processo. No entanto,
ela também o magoaria quando o rejeitasse pessoalmente. Que merda! Droga,
Joyce! Por que tem que ser tão imprudente?

— Eu... – mas Joyce não completou, pois foi interrompida:

— A festa é aqui agora? O que vocês estão cochichando? Quero saber


também. – Micael disse sorridente e se sentou ao meu lado.

— Estamos discutindo quem é o mais enxerido da família e adivinha?


Você ganhou! – eu disse a ele meio irritada.

Ele riu.

— Nossa, Lua. A gravidez mexeu mesmo com o seu humor, né?

— Você não faz ideia. – revirei os olhos e ele riu de novo.

Macayla fez uma careta e se voltou para o fogão. Nesse momento, a


campainha tocou.
— Vou ver quem é. – o delegado disse e foi até a porta.

— Vocês escolheram algum filme? – perguntei, meu olhar indo de Yuri


para Micael.

A minha pergunta foi mais para mudar de assunto e distrair Micael.


Não queria que ele ficasse imaginando o que estávamos discutindo ali.

— Yuri não aceitou nenhuma de minhas sugestões. – Micael parecia


segurar o riso. Joyce o imitou.

Franzi o cenho os observando. Parecia que eles estavam conectados


de alguma forma. Aquilo era no mínimo esquisito, mas o fato de serem
companheiros ajudava. Joyce era toda séria, centrada e Micael era todo
brincalhão, bobo. Como eles podiam parecer tão certos juntos se eram tão
diferentes? Só sendo companheiros mesmo.

— Micael, acho que Adele está sentindo a sua falta. – meu


companheiro disse e veio se posicionar atrás de mim.

— Adele está ocupada com as suas coisas. Nem deve ter notado a
minha ausência. – essa foi a resposta despreocupada do meu primo.
Justamente nesse momento, Lana apareceu na entrada da cozinha, ao
lado do meu pai.

— Surpresa! – ela exclamou toda feliz.

— Lana? O que você tá fazendo aqui? – Joyce perguntou muito


surpresa.
— Consegui alguém para ficar no meu lugar na sorveteria e vim
comemorar com vocês! – ela respondeu e se aproximou toda feliz de Joyce e
a beijou. – Não sou bem-vinda?

Meus olhos voaram para Micael, que observou a cena muito curioso.
Meu pai, Macayla e Yuri também observavam tudo muito curiosos.

— Claro que é. – respondeu uma Joyce meio pálida.


— Então por que você tá assim? – Lana se deu conta da presença de
Micael e disse meio envergonhada: — Ah, oi. – ela não estava acostumada
com demonstrações de afeto como aquela na frente de desconhecidos.

— Oi. – ele respondeu curioso, seus olhos indo de Lana para Joyce.

Acho que eu nunca tinha visto Micael tão paralisado como estava
agora.
— Lana, ainda bem que você chegou! Pode me ajudar aqui? Não quero
incomodar a Lua e a Joyce não entende nada de cozinha! – Macayla falou,
quebrando o silêncio e o clima estranho.

— Claro! Eu bem sei que a Joyce não cozinha nada! Sou eu quem faz
tudo lá em casa, porque a doutora aqui não é uma mulher prendada como eu.
– Lana falou brincalhona e foi para o lado da sogra. – O que você vai
preparar?

Merda.
— Uma lasanha para a Lua. – Macayla respondeu.

Ayla se remexeu na minha barriga, feliz pela escolha culinária da avó.


Eu que não fiquei muito feliz com o rumo da conversa, apesar de adorar
lasanha.

— O filme está nos esperando! Vamos para a sala. – falei e me levantei


com a ajuda de Yuri.
— Eu adoraria assistir a escolha do Micael. – Yuri complementou e
lançou um olhar significativo para o meu primo, que se levantou também e
nos acompanhou para lá, calado.

Meu pai voltou a se sentar na mesa da cozinha e Joyce não se mexeu do


lugar.

Depois que Yuri me acomodou no sofá e Micael se jogou ao meu lado,


ele perguntou:

— Aquela moça é namorada da Joyce?

Antes que eu pudesse abrir a boca, Yuri respondeu:

— Sim. – e se sentou do meu outro lado.


— Interessante. – Micael falou pensativo.

Me virei para ele e disse:

— Elas já estão juntas há um bom tempo.


Ele assentiu.

— Isso me deixa bastante surpreso, mas não menos determinado.

— Como assim? – perguntei curiosa. Yuri pousou a mão na minha coxa


e a apertou de leve, em uma tentativa de me chamar a atenção.

— Joy gosta de mim e eu gosto dela. Lana é uma mulher bonita. Acho
que nós três podemos nos dar bem.

Encarei Micael boquiaberta. Ele estava sugerindo um trisal?


CAPÍTULO 11

YURI

Micael era persistente e eu admirava isso nele. Não se deixou abalar


quando soube sobre Joyce e Lana, muito pelo contrário. Aquilo era no
mínimo inusitado. Outros homens não teriam a mesma opinião que ele. No
entanto, eu sabia que aquilo tinha grandes chances de dar errado. Não sei se
Joyce iria querer formar um “trio” com Micael e Lana, e nem se Lana toparia
isso.

O resto da noite passou de forma esquisita. Joyce não demonstrou tanto


entusiasmo assim quando contamos o nome da lobinha. Não que ela não
tenha gostado, mas o olhar fulminante que Lua lançou a ela a noite inteira, foi
motivo suficiente para manter as duas afastadas. Lua tinha ficado chateada
com a loba, pois não achava certo o que ela estava fazendo, iludindo Micael,
mantendo-o perto de si.
O primo enxerido de Lua, no entanto, manteve a pose. Não se deixou
abalar pela descoberta sobre Joyce. Porém, ficou observador. Não tirou os
olhos da médica e da namorada dela o tempo todo.

Lana, por outro lado, estava totalmente alheia a tudo isso. Ela não sabia
sobre os lobos, muito menos sobre os companheiros. Ela nem imaginava
também que Micael tinha planos para ela e Joyce.
Macayla e Neandro estavam claramente chateados com Joyce, mas
conseguiram disfarçar bem quando se aproximavam de Lana ou Micael.

Passar a noite observando tudo isso foi meio esquisito. Como alfa
supremo, eu poderia exigir que Joyce acabasse com isso. Mas... A minha
curiosidade falava mais alto. Eu queria acompanhar os próximos capítulos
daquele drama.
— Joyce não poderia ter feito aquilo! É injusto com o Micael e com a
Lana! – Lua exclamou assim que ficamos a sós em nosso quarto, depois da
festa.

— Eu estou curioso para saber como vai ser o desenrolar dessa história.
– confessei e me sentei na cama ao lado de Lua.

— Você não acha que é meio “egoísta” da parte dela querer os dois? –
Lua me perguntou.
— Não vejo problema se os três concordarem.

— É esse o problema, Yuri. Joyce não ama o Micael. Ela só quer a


companhia dele. É como se ela dissesse: Amo a Lana e fodam-se os
sentimentos do Micael. Vou ficar com os dois.

Fiz uma careta. Lua estava certa. Não era certo Joyce ter os dois e só
amar um. Era injusto com Micael, que queria ter seus sentimentos
correspondidos. Ele saia perdendo naquela relação.
— Eu preciso fazer alguma coisa. – Lua disse e se levantou sozinha,
com um pouco de dificuldade. Tão teimosa até para pedir ajuda!

— Você não vai fazer nada, sua loba teimosa. Os três são bem
grandinhos e podem resolver esse assunto sem a sua intromissão.

Lua cruzou os braços na altura do peito, nada feliz com as minhas


palavras.

— Joyce é como se fosse a minha irmã e Micael é meu primo. Ela não
está pensando direito e Micael está cego. É claro que eu vou me meter! – ela
replicou, teimosa.
Me levantei e rapidamente alcancei Lua. Segurei seus braços
delicadamente e olhei bem fundo em seus olhos verdes. Ela tentou se
desvencilhar de mim, mas não conseguiu. Seu olhar estava preso no meu.
Mudei meu tom de voz e falei de forma sedutora:

— Será que vai ser preciso eu te amarrar nessa cama? Eu queria fazer
isso para outros fins, mas... – nem precisei completar.

— Yuri Santino, não tente me seduzir. – Lua me advertiu com a voz


fraca, já perdendo aquela batalha.
Abri um sorriso de canto de boca e ouvi Lua deixando escapar um
gemido baixinho. Quase perdi o foco e gargalhei. Lua estava mais sensível do
que o normal por causa da gravidez e só de sorrir ou olhar para ela de forma
diferente, ela ficava excitada. Eu estava adorando isso.

— Você já está seduzida, meu amor. – me aproximei mais dela. – Você


é minha, Lua. Toda minha.

— Toda sua. – ela respondeu baixinho.


— E vai fazer o que estou dizendo. – falei e comecei a baixar a cabeça,
em direção aos seus lábios.

— Vou fazer... quer dizer, eu... – ela ficou confusa, mas seu olhar não
saiu do meu.

— Não se preocupe com nada além de nós e de Ayla. – eu falei com


meus lábios roçando os dela.
— Sim. Somente nós. – Lua venceu a distância e me beijou. Sua língua
invadiu a minha boca e ela gemeu.

Soltei os seus braços e enlacei a sua cintura, do melhor jeito que


consegui. Ayla estava no meio do caminho e se remexeu na barriga da minha
companheira.
Me separei de Lua apenas o suficiente para dizer:

— Ayla concorda comigo.

— Sim, ela concorda. – Lua disse e me puxou de novo para os seus


lábios.
Excitei a minha companheira através da nossa ligação de companheiros
e fui prontamente correspondido. Apertei mais a cintura de Lua e minhas
mãos desceram para a sua bunda deliciosa. Apertei-a e Lua levantou uma
perna, enganchando na minha. Ela estava me dando espaço para acariciá-la.
De vestido, tudo ficava mais fácil. Essa era uma das vantagens da gravidez,
pois Lua não era muito adepta de vestidos.

Com uma das mãos, levantei a barra do vestido de Lua, e a outra, levei
até a sua calcinha. Pretendia apenas afastar um pouco a peça para tocar
intimamente a minha companheira, mas uma batida na porta interrompeu
tudo. Merda!

— Lua, você já está dormindo? – o delegado perguntou, sem abrir a


porta.
Parecia que meu sogro estava se saindo um belo de um empata-foda!

Lua suspirou. Ela se afastou de mim e ajeitou o vestido e o cabelo. Não


parecia mais feliz do que eu pela interrupção.

— Não, pai. – ela respondeu e foi até a porta, abrindo-a.


Decidi me sentar na cama e esconder a minha ereção com uma
almofada. Não queria que o delegado me visse naquele estado, pronto para
“atacar” a filha dele.

— Ótimo. – ele disse assim que pôs os olhos na filha, parada na porta. –
Amanhã, você vai entrar em contato com Adele e pedir para ela vir aqui em
Belmonte resgatar o neto dela. Macayla não está nada feliz com essa situação.
Já imaginava isso. Eu poderia até impedir Lua de se intrometer, mas
não podia fazer nada com relação a Macayla. A mãe de Joyce estava
preocupada com a filha e o rumo que as coisas estavam tomando.

Quando o jantar acabou, Micael ofereceu carona para Joyce e Lana, que
aceitaram prontamente. Isso foi a gota d’água para Macayla.

— Vou ligar para ela amanhã, pai. Também não concordo com isso. –
Lua disse.
Neandro assentiu.

— Tudo bem. Podem ir dormir agora. – ele disse e foi embora. Graças
à deusa ele não entrou no quarto ou olhou para mim.

Lua fechou a porta e se virou para mim, vindo na minha direção.

— Até parece que vamos dormir. Vamos continuar de onde paramos. –


ela falou resoluta e apoiou uma das pernas ao meu lado na cama.

Sorri de canto de boca e joguei a almofada para longe. Sim, íamos


continuar exatamente de onde paramos.
CAPÍTULO 12

YURI

— Finalmente podemos desfrutar de momentos de paz aqui em


Belmonte. Só tenho me transformado ocasionalmente, uma ou duas vezes na
semana, para fazer rondas ao redor da cidade. – Josh disse animado.

Ele e Maya tinham vindo aqui na casa de Neandro para visitar Lua e
trazer Jake para vermos com mais calma. Lua, Maya e Jake estavam na sala,
sentados no sofá. Josh e eu conversávamos na cozinha e eu bebericava um
pouco de café.
Bocejei e assenti para o meu primo. Que bom que tudo estava bem em
Belmonte. Faltando pouco tempo para Ayla nascer, eu não queria problemas.

Não era porque éramos lobos que tínhamos que viver em meio à guerra.
Momentos de paz eram muito bem-vindos e bastante frequentes. As brigas e
lutas eram momentos raros. Ou deveriam ser.

— Parece que a Lua te deu uma canseira ontem à noite, não é? Adoro
essa excitação das grávidas. Mal vejo a hora de engravidar Maya novamente.
– ele falou zombeteiro e sorriu para mim.
— Cala a boca, Josh. Respeita a minha mulher. – falei a ele reprimindo
um sorriso.

Josh era um idiota brincalhão. Ele sabia que provavelmente Lua ou o


trabalho na empresa me deixaria cansado e sonolento do jeito que estava. O
sacana acertou ao deduzir que Lua me deixou daquele jeito. A nossa noite foi
animada.

— Você tem que aproveitar, primo. Depois que a Ayla nascer, vai
passar um bom tempo na mão. Vai por mim. – ele deu uma piscadela e seu
sorriso aumentou.
Ótimo. Agora eu tinha imagens mentais do meu primo se masturbando.
Eca! O sacana sabia disso, pela careta que eu fiz e a gargalhada que ele deu.

— Foda-se, Josh! Como é que você foi eleito novamente o prefeito de


Belmonte? Eu não consigo acreditar. – resmunguei.

Josh gargalhou de novo.


Há pouco tempo, ocorreram as eleições para prefeito e o meu primo
conseguiu se reeleger com uma grande vantagem sobre o seu concorrente.
Quem diria que aquele puto seria tão bom para Belmonte que seria reeleito!

Olhei para a minha companheira sentada ao lado de Maya no sofá da


sala. Ela gesticulava indignada para a companheira do meu primo, que
assentia. Jake estava no colo da mãe, com um lobinho de pelúcia nas mãos,
presente meu e de Lua. Muito em breve seria Lua com a nossa Ayla nos
braços.

— Depois que eles nascem as coisas mudam. Você vai ver. – Josh
comentou sorridente, acompanhando meu olhar para as nossas companheiras.
Eu estava louco para experimentar tudo o que Josh me dizia sobre
filhos. Passei os últimos meses lendo, pesquisando e me inteirando sobre tudo
desse universo. Me sentia pronto para ser pai. Daria o meu melhor pela Ayla.

O celular de Josh tocou, chamando a minha atenção.


— Josh Black. – ele atendeu sério.

Voltei a tomar meu café, mas fiz uma careta ao constatar que agora
estava frio. Odiava café frio, pois estava acostumado a tomar café quente.
Sentia que me mantinha ativo e disposto para o trabalho na empresa, então
seria a melhor opção agora, já que dormi pouco à noite.
— Como é? – Josh perguntou com um sorriso no rosto.

Ele riu abertamente ao escutar o que quer que fosse no outro lado da
linha.

— Ele fez isso mesmo?! É a cara do Brian! – ele exclamou.


Fazia muito tempo que eu não tinha problemas com aquele lobo da
alcateia de Belmonte. Depois que retirei os poderes de Mirela, os dois
ficaram mais juntos do que antes, se é que isso era possível. Aqueles dois se
amavam e se completavam e eu desejava o melhor para eles.

— Não, estou aqui na casa do Neandro, com Lua e Yuri. Vem aqui! –
Josh falou animado.

— Quem é? – perguntei baixinho. Josh não podia ficar chamando gente


para a casa dos outros. Neandro e Macayla nem estavam aqui!

Meu primo me ignorou e disse:

— Ok! Tchau! – ele desligou a chamada e começou a rir de novo.

— O que foi? Quem era? Você não pode ficar chamando um monte de
gente pra cá, Josh!
— Relaxa, alfa supremo. É só o Blake e o Daniel. – ele respondeu
ainda sorrindo.

— E o que foi que o Brian aprontou dessa vez? – perguntei já


começando a ficar preocupado.

— Nada. Ele apenas se casou com a Mirela.

— Como assim? – perguntei confuso.

Eu nem sabia que eles estavam noivos... Sabia que eles moravam
juntos, mas não sabia nada sobre casamento. Josh não me contou isso.

— Ele foi no cartório e se casou com ela. Simples. Agora o Pietro é o


único solteiro da alcateia de Belmonte. – ele respondeu e colocou os braços
atrás da cabeça, se inclinando para trás.
Fiquei encarando Josh e perguntei:

— Ele nem avisou o irmão?

— Avisou. Depois da cerimônia. Esse Brian...


Sinceramente, depois de tudo o que aconteceu, eu esperava uma reação
diferente de Brian. Mas...

— Yuri, Adele está chegando aqui em Belmonte. Ela vai levar o Micael
daqui. – Lua me informou enquanto se aproximava com Maya.

— Qual é o problema com Micael? – Josh perguntou curioso.

— Ele está gostando da Joyce, mas ela só o quer por perto por gostar da
companhia dele. Ela não está apaixonada por ele. – Lua respondeu e cruzou
os braços na altura do peito.

— Isso é complicado. Essa relação de companheiros... – Josh falou com


o cenho franzido enquanto pegava Jake no colo. Maya se sentou ao lado dele.

— Será que Adele vai conseguir tirar o neto daqui? – Maya perguntou.
— Espero que sim. Não acho certo o que está acontecendo. – Lua
respondeu e veio se sentar no meu colo. Passei um braço pela sua cintura e
com a outra mão, espalmei a sua barriga. Ayla estava quietinha.

— Joyce está iludindo o cara, por acaso? A Joyce?! – Josh perguntou


com um misto de brincadeira e ceticismo, mas ao notar nossas feições, seu
sorriso murchou. — Sério? – ele perguntou surpreso.
— Deixa eu te atualizar. – Lua disse e começou a contar tudo o que
tinha acontecido na noite anterior.
CAPÍTULO 13

LUA

Josh e Maya tinham vindo nos visitar no domingo de manhã e trazer


Jake para brincar um pouco com os padrinhos. Yuri e eu presenteamos o
nosso afilhado com um lobinho de pelúcia, que logo prendeu a sua atenção.
Jake estava crescendo forte e esperto. Não tinha dúvidas de que seria o
próximo alfa da alcateia de Belmonte.

Revelamos o nome de Ayla para Josh e Maya, que ficaram felizes com
a nossa escolha. Josh tinha perdido a aposta de que o nome dela seria com
“Y”.
Após conversar bastante com Maya sobre bebês e gravidez, contei a ela
e Josh tudo o que tinha acontecido na noite anterior com Joyce. Falei da
atitude da beta da alcateia, de se aproximar de seu companheiro rejeitado e de
manter uma relação de “amizade” com ele.

Josh não conseguia acreditar no que tinha escutado. Ele sempre achou
Joyce muito responsável e esse foi um dos principais motivos para ele tê-la
escolhido como sua beta, além é claro, da sua força. Ele não conseguia
acreditar que Joyce estivesse sendo tão desajuizada assim.

Após isso, Josh contou rapidamente sobre o casamento secreto de


Brian e Mirela. Parece que Blake ligou para ele e não estava nada feliz com a
decisão repentina do irmão. Não demorou muito para Blake e Daniel
aparecerem em casa.

Depois de revelarmos o nome da lobinha, que Blake adorou, ele contou


tudo sobre o casamento e como ficou sabendo. Voltamos para a sala, para que
todos pudessem ficar acomodados nos sofás.
— Acho isso uma grande sacanagem, Lua! Aquele filho da puta do
meu irmão me ligou hoje de manhã para me informar que era um homem
casado. Vê se pode! – Blake exclamou e Daniel não falou nada. Ele estava
muito preocupado segurando o riso, assim como Josh.

E pensar que tempos atrás, Blake teria ficado indignado se fosse


chamado de filho da puta... Até então ele pensava que a mãe tinha morrido, o
que era bem diferente da realidade. Andressa estava vivíssima e morava em
Romália com o filho caçula, o atual alfa da alcateia de lá.

— Por que ele não contou que ia se casar? – Maya perguntou.


— Acho que ele ficou com medo, sei lá. A minha relação com a Mirela
ainda é meio esquisita. Não “topo” muito com ela. – Blake falou e esticou os
braços para Jake, que engatinhou no chão e foi até ele.

— Isso não é muito legal, amor. Brian também não “topava” muito
comigo. – Daniel contrapôs.

— Ele tinha preconceito conosco. – Blake rebateu sem olhar para o


companheiro.
— Você está com ciúmes do Brian! – exclamei sorrindo.

— Talvez. Um pouco. – ele deu de ombros e voltou a brincar com Jake.


– Mirela é meio sonsa. Sem graça.

Ri daquilo. Parece que as coisas tinham mudado. Antes era Brian que
não aceitava o relacionamento do irmão e agora, era Blake que não aceitava
muito o dele.

— Isso é desculpa esfarrapada de irmão ciumento. – Yuri falou


sorridente.
— Só quem tem irmão sabe do que eu to falando. – Blake resmungou. –
E Joyce? Ela está mesmo pegando o seu primo, Lua?

— Ela não quer nada sério com ele, Blake. Você sabe disso. – disse a
ele estreitando os olhos, pois sabia que ele e Joyce eram próximos.

— Isso ainda vai dar merda. – Daniel balançou a cabeça.


— Também acho. Joyce está brincando com fogo, deixando as coisas
avançarem assim. Quando ela ver, não vai conseguir ficar longe do Micael. –
Blake falou.

Fiquei pensativa com o que Blake disse. A ligação de companheiros era


forte. Era um encontro de almas gêmeas, duas pessoas predestinadas a
ficarem juntas, por vontade da deusa. Se Joyce pensava que conseguiria
ignorá-la, estava muito enganada. Ela devia ter deixado as coisas como
estavam.

A campainha começou a tocar insistentemente e Yuri se levantou para


atender.
— É algum apressadinho. – Josh brincou.

— Talvez Neandro tenha esquecido alguma coisa. – Blake falou,


enquanto tentava manter Jake nos braços, mas o lobinho estava se
contorcendo muito, parecia ansioso.

Meu pai e Macayla tinham saído para ir ao supermercado. Duvidava


que o delegado tivesse esquecido alguma coisa, do jeito que ele era.
— Acho que não. Deixa eu pegar ele, Blake. – falei e estiquei os braços
para Jake, que quase se jogou em mim. – Calma, bebê. – eu disse a ele em
uma tentativa de tranquilizá-lo.

— Você não tem jeito com bebês, amor. – Daniel brincou com o
companheiro.
— Ele parece apreensivo com alguma coisa... – Blake falou com o
cenho franzido.

Que estranho. Eu estava achando a mesma coisa.

— Lua?! Cadê a Lua? – Joyce entrou na sala perguntando por mim.


Ela estava com o semblante quase irreconhecível, dominado pela
raiva. Senti um calafrio percorrer meu corpo.

— O que foi, Joyce? – perguntei a ela preocupada.

Jake começou a chorar nos meus braços ao mesmo tempo que Yuri se
aproximava por trás, seus olhos não saindo de Joyce. Algo estava errado.
— A culpa é sua! Adele veio até aqui e tirou Micael de mim! – ela
exclamou, muito exaltada.

Adele já tinha chegado aqui em Belmonte e eu nem sabia disso. Ela


não me avisou nada!

— Joyce, fique calma. Eu nem sabia que Adele já tinha chegado aqui.
Falei com ela mais cedo... – fui interrompida por Yuri:
— Joyce, se acalme e se afaste de Lua. – ele falou calmamente, sem
desviar o olhar da loba.

— Merda. – Josh falou e pegou Jake dos meus braços. O lobinho


chorou mais quando Josh puxou Maya para trás de si. – Fique calma, Joyce.
Você não quer fazer uma besteira.

Imediatamente, Daniel e Blake se levantaram e se posicionaram na


minha frente. Eu, supergrávida, não consegui me levantar e fique observando
tudo sentada, sem reação e sem entender tudo no primeiro momento.
Mas aí, eu entendi.

Joyce estava tremendo e respirava pesadamente. Ela estava muito


irritada e seus olhos não me deixavam. Ela estava me culpando pelo
afastamento de Micael! Ela me atacaria, como qualquer outro lobo faria para
defender seu companheiro!

— Você não quer se transformar aqui dentro, Joy. Vai nos machucar
no processo. – Blake falou, tentando manter a calma.
— Vai machucar seu alfa e seu alfa supremo, além das companheiras
e os filhos deles. Inocentes. – Daniel ressaltou, em uma tentativa de dissuadi-
la.

Mas Joyce não parecia escutá-los. Ela estava concentrada em mim.


Ela queria me machucar. Ela não estava raciocinando direito. Companheiros
não conseguiam fazer isso às vezes.

Instantaneamente, me lembrei de meses atrás, do casamento de Josh e


Maya. Quando vi Yuri lutando sozinho contra outra loba, eu também não
raciocinei direito. Me transformei e fui ajudá-lo, mesmo que não soubesse
lutar e fosse apenas uma loba novata, recém-transformada.
— Pare, Joyce! Saia desta casa agora e me espere lá fora. – Yuri usou
a sua voz de comando e fez todos nós nos encolhermos, até Jake, coitadinho.

Joyce paralisou no mesmo instante. Seu corpo parou de tremer e ela


deu meia-volta, saindo por onde tinha entrado, sem olhar no rosto de
ninguém.

Ouvi o suspiro aliviado de Josh, mas não me sentia assim. Estava


assustada. Pra caramba! Não só por mim, mas por Ayla. Minha bebê correu
perigo, mesmo dentro do meu ventre! Pela deusa!
— Lua, você está bem? – Yuri praticamente voou para o meu lado e
se agachou, me olhando preocupado.

Assenti.

— A Joyce... – balbuciei, ainda atônita.


— Ela está lá fora. – Daniel nos informou da janela, onde tinha
afastado a cortina para observar.

— Você está bem mesmo? – Yuri perguntou de novo. Seu olhar


estava muito preocupado.

— Acho que sim. – respondi e passei a mão pela barriga. Ayla não se
mexeu, provavelmente assustada com a minha reação.
Yuri se levantou e lançou um olhar para o primo.

— Josh. – ele rosnou sério.

O semblante do meu companheiro mudou. Ele estava no mínimo


irritado. Um arrepio percorreu meu corpo diante daquela visão. Era muito
errado mexer com um alfa supremo.
— Sim. – o meu alfa respondeu e entregou um Jake choroso para
Maya. – Blake e Daniel, fiquem aqui dentro e protejam Lua e Maya.

— Sim. – os dois responderam em uníssono.

Observei Yuri e Josh irem em direção à porta.


— O que vocês vão fazer? – perguntei ao mesmo tempo confusa e
preocupada. Muito preocupada.

Yuri segurou a maçaneta da porta e se virou para mim.


— Aquela loba lá fora ameaçou a companheira do alfa supremo, a
companheira do seu alfa, o seu alfa e os seus dois irmãos de alcateia. Ela será
punida por isso. Severamente. – Yuri avisou e saiu rapidamente pela porta,
sendo seguido por Josh.

Encarei a porta fechada, boquiaberta.

Pela deusa! O que Joyce foi fazer! O que eu tinha feito!


CAPÍTULO 14

YURI

Eu não queria ter que usar a voz de comando em Joyce, mas foi a única
alternativa que encontrei para afastá-la de Lua e Ayla. Ela se transformaria
sem pensar duas vezes, e poderia machucar a minha companheira e a minha
filha por nascer, além de todos os outros que estavam dentro da casa. Joyce
não estava raciocinando direito, e por causa do companheiro, ela iria até as
últimas consequências, mesmo que isso significasse ameaçar o seu alfa
supremo.

— O que vocês vão fazer? – a voz de Lua soou preocupada, confusa e


assustada.
Merda! Odiava vê-la assustada com alguma coisa. Meus instintos
gritavam dentro de mim, ordenando que eu cessasse todos os medos da minha
companheira e era o que eu pretendia fazer.

Me virei para Lua e respondi:

— Aquela loba lá fora ameaçou a companheira do alfa supremo, a


companheira do seu alfa, o seu alfa e os seus dois irmãos de alcateia. Ela será
punida por isso. Severamente. – não olhei nos olhos da minha companheira
ao dizer essas palavras. Eu sabia o que encontraria lá e isso não me agradava
nem um pouco.
Saí rapidamente da casa de Neandro e Josh me seguiu. Nós dois
puniríamos a beta da alcateia de Belmonte, de acordo com a lei dos lobos.

Se rebelar contra o seu alfa e contra o seu alfa supremo era grave, muito
grave. Era um considerado um ato de traição, e assim como a pena para o
abandono da alcateia, a pena para isso era a morte.
Não me agradava a ideia de matar um lobo, ou quem quer que seja,
mas, Joyce foi longe demais. Ela não poderia sair impune pela que fez
conosco, principalmente Lua. Minha Lua, minha companheira, o amor da
minha vida.

Joyce estava parada do lado de fora, virada de costas para a casa. Seus
ombros tremiam e suspeitei que ela estava chorando.

— Joyce? – Josh a chamou com a voz firme. Ele devia estar tão puto
quanto eu, pois sua companheira e filho também foram ameaçados.
— Eu sinto muito. – Joyce disse aos soluços, chorando. Ela não se
virou para nos encarar.

— Você tem ideia da gravidade da situação? – perguntei a ela.

Ela apenas assentiu, ainda sem se virar.

— Então sabe das consequências. – afirmei e ela assentiu de novo.

— Vamos para a floresta. Aqui não é o lugar mais adequado para se


resolver isso. – Josh disse e sua voz não tinha um pingo de emoção.

Eu conhecia o meu primo e sabia que ele estava odiando aquilo tanto
quanto eu. Com Brian, ele hesitou em caçá-lo e matá-lo. Com Joyce, as
coisas eram diferentes. Ele tinha uma relação mais estreita com a loba, pois
ela era a sua beta, a segunda no comando da alcateia. No entanto, a sua
companheira e filho foram ameaçados. Ele iria até o fim se preciso fosse,
assim como eu.

Nesse momento, o carro do delegado chegou e estacionou na garagem.


Macayla deu um pulo de dentro, assim como Neandro, que circulou o veículo
e foi até Joyce.
— O que está acontecendo aqui? – Macayla perguntou preocupada
enquanto abraçava a filha e nos observava.

A porta da casa de Neandro se abriu e Lua saiu, seguida por Daniel e


Blake.

— Ninguém vai matar ninguém! Todo mundo parado! – minha


companheira exclamou levantando os braços. A barriga enorme se projetou
para frente com o movimento.
— Qual a parte de “protejam Lua e Maya” vocês não entenderam? –
Josh perguntou com o cenho franzido aos dois lobos atrás de Lua.

— Alguém quer fazer o favor de explicar o que está acontecendo? –


Neandro perguntou confuso e se posicionou perto de Macayla e Joyce.

Dei um suspiro.

Olhei ao redor e as pessoas que passavam na rua nos observavam,


curiosas. Alguns carros até diminuíam a velocidade ao nos ver ali. Aquela era
uma das ruas mais calmas de Belmonte e agora mais parecia uma avenida
supermovimentada em horário de pico.

— Vamos para dentro. – falei sem vontade. – Blake e Daniel podem


ficar aqui com a Joyce.

Eu não voltaria a cometer o erro de deixar a loba perto da minha Lua e


de Ayla. Nunca mais.
Josh me deu um olhar furioso, mas não disse nada. Ele praticamente
marchou para dentro da casa de Neandro e Lua veio até mim.

— Yuri... – ela falou em um tom suplicante enquanto acariciava a


barriga.
Já até sabia o que aconteceria. Lua intercederia a favor de Joyce. Com
certeza! Sempre uma rebelde. Será que Ayla seria assim também? O que eu
faria com duas rebeldes dentro de casa?

— Lá dentro, amor. – falei firme e ela fez uma careta, mas me


obedeceu. Virou de costas e entrou.

— Não quero deixar Joyce aqui! – Macayla exclamou preocupada.


— Vamos entrar, Macayla. Blake e Daniel não vão fazer nada. –
Neandro replicou quase instantaneamente.

Receosa, Macayla soltou a filha. Ela e Neandro entraram na casa.

— Fiquem de olho nela. – murmurei para Daniel e Blake e eles


assentiram.
Entrei na pequena casa do delegado e fechei a porta. Na sala, Lua
estava sentada na poltrona, enquanto um Josh muito puto estava esparramado
no sofá. Neandro e Macayla ficaram em pé. Na cozinha, Maya embalava Jake
nos braços, em uma tentativa de fazê-lo dormir.

Merda! Joyce teria feito um estrago enorme se tivesse se transformado


aqui dentro, nesse espaço pequeno.

— Será que agora alguém pode explicar que diabos está acontecendo?
– o delegado perguntou meio irritado.
— Adele está aqui em Belmonte e veio “buscar” Micael. Joyce não
gostou disso e veio aqui, acertar as contas comigo. Ela entendeu que eu
estava a separando do seu companheiro e veio defendê-lo. Foi um ato
instintivo, característico dos lobos. – Lua respondeu imediatamente o
questionamento do pai.

— Joyce não faria mal a você, Lua. Vocês são amigas, irmãs. –
Macayla replicou com o cenho franzido.
— Sim, mas a ligação de companheiros é mais forte do que tudo. Ela
veio aqui, ressentida pelo afastamento de Micael. Provavelmente Adele disse
que Lua ligou para ela, para ela buscar Micael. – respondi enquanto me
aproximava de Lua. Me sentei ao seu lado, no braço da poltrona.

— Micael já é bem grandinho para receber ordens desse tipo. –


Neandro comentou com uma careta.

— Talvez, mas eu não sei o que Adele disse a ele. – dei de ombros.
Era óbvio que eu não acreditava que Adele tivesse arrastado Micael
pelas orelhas até a casa deles, mas ela poderia persuadi-lo. Por mais que
fôssemos todos adultos, ainda estávamos sujeitos às ordens dos “adultos”.
Serena ainda “mandava” em Josh e até em mim. Neandro ainda “mandava”
em Lua. Não se tratava de submissão e sim, respeito. Respeito pelos mais
velhos.

— Joyce se sentiu ameaçada e veio aqui. Ela ameaçou todos nós com
uma transformação repentina e em local fechado e pequeno. Ela poderia ter
machucado todos nós por isso. – Josh falou mal-humorado.

— Ah! – Macayla exclamou e tapou a boca com a mão.


— E vocês iam puni-la pela lei dos lobos. – Neandro concluiu.

— Sim. – Josh disse, mesmo que não fosse uma pergunta.


— Yuri, a Joyce não fez por mal. Ela agiu segundo os instintos de
proteção dela. Foi a mesma coisa que eu fiz no casamento do Josh! – Lua
exclamou.

— Se acalme, meu amor. Não pode ficar estressada. – falei em uma


tentativa de acalmá-la.
Era claro que eu me lembrava do casamento do Josh e do que Lua fez
para tentar me ajudar. Sem pensar duas vezes, a minha companheira atacou
Mirela. Na ocasião, Lua era uma loba novata, sem treinamento nenhum. O
seu ato precipitado e instintivo poderia ter colocado tudo a perder naquela
briga.

— Vou me acalmar quando vocês prometerem não fazer nada contra a


Joyce. – Lua replicou e cruzou os braços na altura do peito.

Josh estalou a língua e se levantou, caminhando em direção a cozinha.


Ele estava obviamente irritado, porque sabia que Lua influenciava as minhas
decisões.
— Lua... – tentei, mas fui interrompido:

— Eu não tive punição, nem o Brian!

— Foi diferente.
— Yuri, por favor, podemos arrumar outro jeito de resolver essa
situação. Você pode arrumar as coisas. – Macayla falou esperançosa.

— Sim, nós podemos contornar a lei dos lobos, como já fizemos


anteriormente! – Lua exclamou, repentinamente sorridente.

Balancei a cabeça, negando.


— São situações completamente diferentes! O que aconteceu meses
atrás foi uma exceção. Eu não deixaria nenhuma alcateia desprotegida e fiz
aquilo por Belmonte. E por você, Lua. – expliquei.

— Então faça por mim, de novo. – Lua insistiu.


— Não me peça isso, amor.

— Mas, afinal de contas, onde estão Adele e Micael?! – Neandro se


meteu na nossa pequena discussão.

— Não sabemos. – respondi no mesmo instante que a porta da sala se


abriu.
— Adele e Micael estão aqui e querem conversar. – Daniel disse da
porta.

Suspirei. Aquilo estava ficando cada vez pior.

— Mande-os entrar. – disse a ele.


Esperava que tudo fosse resolvido de uma vez, mas não foi bem isso
que aconteceu.
CAPÍTULO 15

LUA

— Ela é o que?! – Micael perguntou surpreso. Muito surpreso. Ele


estava de olhos arregalados.

Tivemos que contar a ele toda a verdade sobre Joyce ser a sua
companheira. Na verdade, tivemos que explicar sobre os companheiros, para
depois contar o que ele e Joyce eram um para o outro. Adele não gostou nem
um pouco de saber disso.
— É por isso que você gosta tanto de ficar com ela. Vocês estão
predestinados a ficarem juntos. – Yuri explicou.

Ele estava sentado ao meu lado, no braço da poltrona e estava com os


braços cruzados, nada feliz. Joyce, Daniel e Blake continuavam do lado de
fora da casa.

Eu não deixaria que Joyce pagasse por um erro meu. Foi culpa minha
ligar para Adele e pedir para ela vir aqui em Belmonte. Eu fui precipitada e
agora uma confusão enorme tinha começado. Era incrível o fato de que toda
vez que vinha para Belmonte, eu causava algum tipo de confusão.
— Não queremos nada com os lobos. – Adele falou na defensiva.

— Sua neta é uma loba. – Meu pai replicou, meio ofendido. O delegado
não deixava nada passar.
— É diferente. Lua também é uma descendente e reencarnação da
deusa. – Adele observou.

— Isso não a torna menos loba. – o delegado insistiu.


Ele e Adele se entreolharam bastante irritados agora. Nunca tinha visto
os dois brigarem por alguma coisa antes. Se bem que fazia pouquíssimo
tempo que começamos a nos relacionar com a família da minha mãe. Ainda
não tinha passado tempo o suficiente para definir como seria a relação dos
dois. Pelo visto, não seria nada boa.

— É bem verdade o que dizem sobre as sogras. – meu pai murmurou


audivelmente.

— E o que dizem sobre as sogras?! – Adele perguntou possessa.


— Essa discussão não nos leva a lugar nenhum. – Yuri disse, passando
a mão pelos cabelos. Provavelmente ele tinha a sua opinião formada sobre
sogros e sogras.

— Exatamente. Precisamos decidir o que fazer com a Joyce. – Josh


falou. Ele tinha voltado da cozinha, onde deixou Maya com Jake, dormindo
nos braços da mãe.

— Ninguém vai fazer nada com a minha filha. – Macayla rebateu.


— Concordo. Não quero que Joyce seja punida por minha causa. –
Micael se levantou e posicionou os braços na cintura.

— Pela deusa! Ela ameaçou dois alfas, suas companheiras e filhos e


dois irmãos de alcateia! Ela precisa ser punida! – Josh exclamou
pontualmente.

— Sim, mas não precisam matá-la. – eu me intrometi.


— Matar?! – Micael perguntou incrédulo.

— É a lei dos lobos. – disse a ele.

— Uma lei antiga e que pode muito bem ser alterada pelo alfa supremo!
– Macayla falou e lançou um olhar para Yuri.

Ele se mexeu incomodado ao meu lado. Era óbvio que ele não queria
matar ninguém, mas também não queria ficar mexendo na lei dos lobos o
tempo todo. Aquelas eram as regras mais importantes dos lobos e deviam ser
obedecidas, por mais que fossem muito velhas. No entanto, eu sabia que
poderia haver exceções...

— Estamos em um impasse. Não quero aplicar a lei dos lobos em


Joyce, mas também não quero deixá-la sem punição. – Yuri declarou.
— Estamos bem. – disse a ele e peguei a sua mão, colocando-a na
minha barriga, para tentar convencê-lo. Ayla não se mexeu. Na verdade, ela
tinha parado de se mexer desde cedo naquele dia.

— Vocês correram perigo. – ele contrapôs, mas não tirou a mão da


minha barriga.

— Punam a moça de outra forma, oras! – Adele exclamou e se


levantou. – Vamos, Micael.
— Não podemos ir agora. Quero saber como Joyce vai ficar. – ele disse
preocupado.

Adele suspirou e colocou as mãos na cintura.

— Belmonte não é segura para nós.


— Se o problema for esse, a alcateia de Belmonte pode garantir a
segurança de vocês. Além disso, vocês estão usando a pedra do sol, não é
mesmo? – perguntei a ela.

Josh bufou incomodado. Provavelmente eu estava atribuindo à alcateia


uma função a mais e eu não tinha poderes para isso.
— Sim, mas... – ela estava quase cedendo.

— E você quer ver a sua bisneta nascer.

Apelei e parece que deu certo. Adele abriu um sorrisinho.

— Sim, eu quero.

— Então fiquem. Yuri vai encontrar uma punição menos drástica e


Micael vai conversar com Joyce. – falei satisfeita.

— Você está falando isso como deusa Luna ou como loba da alcateia
de Belmonte? – Josh cruzou os braços na altura do peito e me encarou sério.
Fiquei sem graça. Eu estava mesmo dando ordens?

— Josh. – Yuri olhou para o primo com uma sobrancelha erguida.

— Eu acato as suas ordens, primo, mas Lua é apenas uma loba da


minha alcateia agora e eu não preciso ouvi-la.

Fiquei com mais vergonha ainda. Tive que segurar meu queixo para
não cair no chão. Sentia minhas bochechas quentes. Eu não estava em
posição de dar ordens.

— A Lua está certa, Josh. O melhor a se fazer é o que ela disse. Adele e
Micael ficam em Belmonte e a alcateia os protege, mesmo que eu não ache
isso necessário. Vamos punir Joyce de outra forma. Ela e Micael podem se
acertar enquanto isso... – Yuri falou resoluto. Ele voltou a segurar a minha
mão e deu uma apertada nela. Me senti melhor instantaneamente.

Josh assentiu.
— Como queira. Na verdade, acho que já decidi a minha punição para
Joyce.

— E qual é a sua punição? – Macayla perguntou temerosa.


— A partir de hoje, ela não será mais a minha beta. Suas atividades na
alcateia estão suspensas, até segunda ordem.

Macayla suspirou pesadamente e se largou no sofá. Meu pai se sentou


ao seu lado e colocou a mão no seu ombro.

— Tem certeza? — Yuri perguntou a ele.


— Absoluta.

— Tudo bem.

— Eu aceito Joyce e Lana. – Micael falou de repente, mudando


completamente de assunto.
— O quê?! – perguntei confusa.

— Eu aceito as duas. Eu fico com as duas. – ele frisou determinado.


Seu rosto não mostrava nenhum traço de brincadeira.

Ele estava mesmo falando sério?!

— Isso é imoral, Micael! Você não pode estar falando sério! – Adele
replicou indignada.

— Joyce não tem problema nenhum, dona Adele. Ela é muito


responsável, uma profissional exemplar! Minha filha não deve nada a
ninguém! – Macayla se levantou e exclamou bastante irritada.

— Eu não aceito essa “relação triangular” do meu neto!


— A senhora não tem que aceitar ou deixar de aceitar nada, vovó. –
Micael falou calmamente.

— Mas Joyce sim. Ela já disse que não queria nada sério com você,
Micael. – Yuri falou e eu dei uma cotovelada nele. Não podia se dizer uma
coisa dessas assim!
— Então eu não to entendendo nada! O que ela quer comigo afinal?! –
Micael perguntou com o cenho franzido.

— A sua companhia, a sua amizade. – Yuri respondeu enquanto


massageava o braço que eu bati.

— Eu não quero só isso!


— Mas é o que ela pode lhe dar, devido a situação dela. Não pense que
essa moça lhe dará outra coisa... – Adele disse ao neto.

Macayla bufou visivelmente incomodada, mas não disse nada. Ela


estava à beira de pular no pescoço de Adele. Percebendo isso, meu pai disse:

— Acho que isso é algo que pode ser discutido depois. Vamos lá para
fora, para conversar com Joyce. – ele disse e fez um movimento com a mão
indicando a porta.

Adele e Micael foram em direção à porta e foram seguidos de perto por


uma Macayla irritada. Meu pai suspirou e os seguiu. Josh foi até a cozinha,
para falar com Maya.

— Lua, você fica aqui. Vamos resolver esse problema e eu volto logo.

Suspirei conformada. Yuri sabia muito bem que eu não tinha disposição
para acompanhar toda essa correria.
— Tudo bem. – fiz uma careta.

— Se comporte. – ele deu um beijo na minha cabeça e se curvou para


alcançar a minha barriga. Segurou com ambas as mãos e a beijou. Ayla não
se mexeu.

— Ela está quieta. – ele falou com o cenho franzido, sem tirar os olhos
da minha barriga.
— Ela deve estar dormindo. – dei de ombros.

Eu sabia que Ayla tinha se assustado com o meu susto e não quis
contar a Yuri. Não precisava preocupá-lo desnecessariamente. Logo Ayla
voltaria a se mexer.

— Deve ser. – ele deu outro beijo na minha barriga e se levantou.


Josh veio da cozinha com Maya ao seu lado. Jake dormia nos braços da
mãe.

— Maya vai ficar aqui com a Lua enquanto resolvemos tudo. – ele
disse a Yuri.

— Tudo bem. – ele colocou a mão no ombro do primo e o guiou para


fora. – Vamos.
Eles saíram e nos deixaram sozinhas em casa. Eu queria ter ido para
assegurar que Joyce ficaria bem, mas não pude. A minha barriga enorme
complicava as coisas.

— Quer colocar ele na cama? Ou no berço da Ayla? – perguntei a


Maya enquanto me levantava com dificuldade da poltrona.

— Ela tem um berço aqui? Legal! Acho que ela não vai se incomodar
se o Jake o estrear.
— Tenho certeza de que não. – falei sorridente e segui com Maya para
o meu quarto. Estava precisando ir ao banheiro urgentemente.
Enquanto Maya ficou acomodando Jake no berço, entrei no banheiro do
meu quarto. Estava com tanta vontade de fazer xixi, que foi só eu fechar a
porta e senti o líquido escorrendo pelas minhas pernas.

— Merda! – exclamei baixinho.


Depois de velha estava me urinando toda! Ainda bem que isso
aconteceu aqui, dentro do banheiro. Que vergonha seria se tivesse acontecido
na frente de todo mundo!

Senti que algo estava errado quando fui me sentar no vaso sanitário.
Começou a sair muito líquido. Muito. Será que a minha bexiga estava tão
cheia assim?

Após fazer minhas necessidades, me limpei. Constatei com pavor que


estava sangrando.
— Ah! Merda! – exclamei assustada.

Me levantei o mais rápido que pude. Me vesti e saí do banheiro. Ayla ia


nascer a qualquer momento e eu estava apavorada.
CAPÍTULO 16

YURI

— Você não pode reconsiderar, Josh? – Joyce perguntou a ele.

Estávamos na frente da casa de Neandro quando Josh resolveu dar o


seu veredito.
— Não. – ele respondeu simplesmente.

Eu não o julgava. Ainda estava com raiva de Joyce, mas depois que
Lua pediu pela amiga... Eu não podia ignorar um pedido da minha
companheira.

— E você, Yuri? – Joyce perguntou.


— Ainda estou pensando. – revelei. Ainda não tinha ideia de como
puni-la.

— Tudo bem. – ela respondeu cabisbaixa.

Macayla passou um braço pelos ombros da filha, enquanto Blake pegou


a sua mão e sorriu. Eu não iria fazer nada prejudicial a Joyce. Não podia. Não
quando Lua e todos na alcateia gostavam tanto dela.
— Precisamos conversar. – Micael falou e se aproximou de Joyce.
Macayla apertou mais a filha contra si.

— Precisamos de um local para ficar, Micael. Eu preciso descansar um


pouco, não estou mais tão nova assim. – Adele reclamou enquanto
massageava as costas.

— Eu não duvido disso. – Neandro murmurou e Adele não escutou.


— Vocês podem ficar hospedados na minha casa. – Josh disse. – Sei
que aqui na casa do Neandro não tem espaço.

Na verdade, mesmo que tivesse espaço, eu duvidava muito que meu


sogro e Macayla aceitariam Adele em sua casa.

— Seria ótimo. – Adele disse feliz.


— Então vamos. – Josh pegou a chave do carro. – Você vem? – ele me
perguntou.

— Rapidinho. Não quero deixar a Lua.

— Ela não vai parir agora, Yuri. Relaxa! Vem! – Josh insistiu.
— Joyce vai no nosso carro. – Micael afirmou e Adele revirou os olhos.
O gesto foi tão parecido com o de Lua...

— Ok. – Joyce concordou.

— Eu vou com vocês. – Macayla falou a Micael.

— Tudo bem. – Josh assentiu.

— Acho que já podemos ir. – Daniel acenou para Blake, que se afastou
de Joyce e abriu caminho para Micael ficar mais perto dela.

— Sim. – Blake respondeu e foi para o lado do marido.


— Falo com vocês mais tarde. – Josh disse a eles, que se afastaram,
indo embora.

— Eu adoraria ir também, mas preciso ir para a delegacia. – o delegado


disse enquanto olhava para a tela do celular.

— Problemas? – Macayla perguntou a ele.

— Sempre. – ele respondeu e deu um beijo apressado na esposa. – Até


mais tarde. – ele acenou e correu para o próprio carro.

— Vamos. – Micael puxou Joyce em direção ao carro e Macayla os


seguiu.

Josh e eu seguimos para o carro dele, enquanto Adele, Micael, Joyce e


Macayla foram para o carro da avó de Lua. Assim que entrei no carro, tive
uma sensação estranha. Um desconforto, um incômodo. Que estranho!
— A sua decisão precisa ser pior que a minha, Yuri. – Josh falou
enquanto dirigia.

— Eu ainda vou pensar nisso. – falei enquanto observava a cidade


passar pela janela do carro.

Esperava que Josh não pensasse que eu tiraria os poderes de Joyce,


assim como fiz com Mirela. Eram casos diferentes e por mais que eu
estivesse puto com ela, sabia que seria uma punição exagerada.

E pensar que viemos para Belmonte achando que aqui era mais seguro
para Ayla nascer... A própria alcateia de Lua ofereceu riscos para ela. O que
eu poderia fazer agora? Voltar para Olímpia?

— Humpf! – Josh bufou alto, interrompendo meus pensamentos, mas


não me importei. Algo parecia se apertar dentro de mim e não era nada legal.

Chegamos na casa de Josh e fomos recebidos por Serena. Minha tia


ficou surpresa em ver a família de Lua lá, mas não falou nada quanto a isso.
— O que aconteceu? – ela perguntou quando viu a cara triste e chorosa
de Joyce. Macayla se posicionando perto da filha, protetoramente.

— Para resumir, Joyce ficou brava com a Lua por ela ter tentado afastar
Micael dela. Ela foi até a casa de Neandro e quase nos machucou. Depois
disso, decidi puni-la. Ela não é mais a minha beta e está suspensa. Yuri ainda
vai decidir o que fazer. – Josh contou.
— Pela deusa! – Serena exclamou surpresa.

— Sim, tudo isso é culpa da deusa Luna, que criou os companheiros! –


Joyce exclamou.

— A deusa fez isso pensando no melhor para os lobos. – Adele rebateu.


— Só se foi para os outros lobos! – Joyce replicou irritada.

— Você está questionando as decisões da deusa Luna?!

— Não coloque palavras na boca da minha filha! – Macayla exclamou


brava.
— Claro! Tenho certeza de que ela prefere colocar outras coisas na
boca...

Macayla ia pular no pescoço de Adele, mas foi segurada por Joyce.

— Deixa, mãe! Eu não me importo! Já escutei coisa pior!


— Pela deusa! – Serena voltou a exclamar, enquanto observava toda a
cena.

— É isso que estamos enfrentando. Desde mais cedo. – eu disse a


minha tia.

— Pare, vovó! – Micael afastou Adele e a levou até o sofá. – Josh, tem
algum lugar reservado onde eu possa conversar com a Joyce?
— Pode ir para o meu escritório. Joyce, leve-o para lá. – Josh
respondeu prontamente.

Joyce acalmou a mãe e foi em direção ao corredor, sendo seguida por


Micael. Macayla observou a filha se afastar e depois cruzou os braços na
altura do peito, enquanto observava Adele. As duas se encararam e a tensão
aumentou na sala.
— Ok! Já observei o bastante! – Serena exclamou e bateu palmas. –
Macayla, vamos até a cozinha. Assim você me ajuda com o almoço.

— Você tem empregadas para fazer isso. – Macayla respondeu sem


tirar os olhos de Adele.

— Venha logo, mulher! Deixe disso! – ela puxou Macayla pelo braço e
as duas seguiram para a cozinha.
Dei um suspiro.

— Yuri, querido. Minhas malas estão no carro, você pode buscá-las


para mim? – Adele perguntou com uma doçura incomum.

Josh segurou o riso, mas eu o ignorei.

— Claro. Vamos Josh. – eu falei e passei pelo meu primo, esbarrando


propositalmente nele, que se desequilibrou para trás. O sacana me seguiu,
ainda tentando segurar o riso.

Peguei as malas de Adele e enquanto as levava para dentro da casa,


senti meu bolso da calça vazio.

— Merda! Esqueci o celular em casa! – odiava ficar longe dele, já que


era a minha ponte de comunicação com Lua no momento.
— Acho que deixei o meu dentro do carro. – Josh comentou enquanto
carregava uma valise.

Seguimos para dentro da casa e Josh indicou o quarto onde Adele


ficaria. Colocamos as malas lá. Eu ainda estava com a sensação estranha no
peito, mas decidi ignorá-la. Não queria ficar paranoico por me afastar um
pouco de Lua. Ela também precisava de espaço, por mais que gostássemos de
ficar juntos.
Quando voltamos para a sala, Serena veio correndo em nossa direção.
Parecia que tinha visto um fantasma.

— Yuri! – ela gritou.

— Mãe? – Josh se aproximou preocupado.


— O que foi, tia? – perguntei a ela, igualmente preocupado. Minha tia
era a minha referência materna e se alguma coisa tivesse acontecido com
ela...

— É a Lua! Cadê o seu celular?! Pela deusa! – ela exclamou


atrapalhada. Eu não entendi nada.

— O que tem a Lua? E o meu celular? – perguntei confuso.

— Lua foi para o hospital! Ela vai dar à luz, Yuri! – Serena exclamou
nervosa.

Merda! Caralho! Puta que pariu!

— Eu preciso ir! – falei e corri para a porta, mas me dei conta de que
estava sem carro e sem celular. Sem nada! Saí de casa “sem lenço e sem
documento”. Parei antes de tocar a maçaneta. – Josh! – gritei.
— Estou indo. – ele correu até mim, mas eu já tinha voltado a correr
para o carro.
Ainda escutei Adele perguntando o que estava acontecendo, mas não
parei para ouvir a resposta de Serena. Estava mais preocupado com a minha
companheira e com a minha filha.

— A mala da maternidade! – exclamei preocupado, enquanto Josh


colocava o cinto. Tínhamos arrumado a mala de Ayla na véspera de vir para
Belmonte e Lua tinha separado tudo o que ela precisaria.
— Lua deve ter cuidado disso. – Josh falou ligando o carro e
manobrando para sair da garagem.

Passei as mãos pelos cabelos. Merda! Ayla escolheu justamente a hora


em que eu estava longe para nascer! Que menina danada! Rebelde!

— Mais rápido, Josh! – gritei com meu primo.


— Estou no limite de velocidade da via, Yuri! – ele rebateu.

— Ultrapasse! Você é o prefeito! Pode fazer o que quiser!

— Eu preciso dar o exemplo!


— Foda-se o exemplo! Acelera essa merda! Se a Ayla já tiver nascido
quando chegarmos ao hospital...

Josh bufou, mas acatou a minha ordem. Ele acelerou e passou alguns
sinais vermelhos. Tudo para que eu pudesse chegar a tempo de ver minha
filha chegar ao mundo.

Minha Ayla. Como ela seria? Esperava que ela fosse uma cópia exata
de Lua. Loirinha e de lindos olhos claros. Tão linda quanto a mãe. Minha
lobinha, minha herdeira. Mas esses detalhes não importavam realmente. O
que importava era que ela tivesse saúde. Muita saúde e força para enfrentar o
mundo aqui fora.
Será que Lua estava sofrendo? Queria pensar que não, mas sabia como
funcionavam os partos. Lua escolheu o parto normal desde o início e eu sabia
que ela sentiria dor, ficaria exausta... A vontade dentro de mim era de
arrancar o sofrimento da minha companheira e se possível, transferi-lo para
mim. Não me importaria de sofrer no lugar de Lua. Eu a amava demais e
estava disposto a qualquer sacrifício para o bem dela.
CAPÍTULO 17

LUA

— Maya! – exclamei assim que saí do banheiro.

Me sentia estranha. Ainda não sentia dores nem nada, mas sentia um
desconforto na barriga. Comecei a andar igual a um lutador de sumô, com as
pernas abertas. Era ridículo, mas eu não sabia o que fazer.
— Lua, o Jake está dormindo. – Maya me avisou enquanto observava o
filho no berço.

— E eu estou em trabalho de parto.

Maya levantou o olhar para mim e me viu naquela posição, com o


vestido todo molhado.

— Ai, caramba!

— Chama o Yuri, meu pai, alguém! Eu não sei o que fazer! – falei
levemente desesperada.

— Tudo bem, fica calma. Eles estão aqui na frente da casa. – Maya
falou e correu para fora do quarto.
Dei um suspiro e senti um beliscão na barriga. Ai! Aquilo doeu!

Peguei a minha mala da maternidade, com todos os itens separados.


Preparei tudo ainda em Olímpia, antes de vir para Belmonte. Eu não
imaginava que Ayla pudesse vir com tanta pressa. Chegamos aqui ontem! Eu
ainda nem tinha falado com a obstetra daqui.

— Lua, não tem ninguém lá fora! – Maya exclamou assim que entrou
no quarto.
— Como assim?! Tá todo mundo lá! Eles só iam falar com a Joyce! –
eu não conseguia acreditar. Eu estava sozinha?

— Não tem ninguém lá! – ela repetiu nervosa.

Percebi que Maya estava ficando muito nervosa, então resolvi me


acalmar, por mais que as dores começassem a aparecer aos poucos e me
desconcentrassem.
— Tudo bem. Vamos fazer o seguinte: Eu vou tomar um banho para
me limpar enquanto você liga para o Yuri. Ok?

Ela assentiu e foi pegar o celular. Voltei para o banheiro e tirei a


roupa suja para tomar um banho rápido. Ainda saiu mais líquido amniótico de
mim. Pensei que aquilo nunca fosse parar.

Saí do banheiro enrolada em uma toalha e me deparei com uma Maya


aflita, pendurada no celular.

— O que foi?

— Ninguém me atende! O celular do Yuri está aqui. – ela apontou


para a cômoda. – O celular do seu pai está desligado e Josh não me atende!

Suspirei.
— Vou vestir algo e você continua tentando.

— Ok.

Peguei a primeira coisa que vi pela frente e vesti rapidamente. As


dores estavam aumentando gradualmente agora. Vi que Maya não estava
tendo sucesso e me lembrei de Serena.

— Liga pra Serena! Eles devem ter ido para casa do Josh!
Ela assentiu novamente.

Coloquei as mãos nas costas, em uma pose tipicamente de grávida e


observei ao redor. Eu poderia ir dirigindo até o hospital. O carro de Yuri
estava aqui e eu conseguiria chegar até lá. Ayla não nasceria no meio do
caminho.

Sim! Eu faria isso.


Peguei a mala da maternidade, a minha bolsa e as chaves do carro.
Maya ainda tentava falar com alguém, mas sem sucesso.

— O que você está fazendo? – ela me perguntou com os olhos


arregalados.

— Vou para o hospital no carro do Yuri. Você ficar aqui com Jake e
continua tentando falar com alguém. Quando conseguir, avisa que eu já fui
para o hospital. – respondi a ela.

— Você não pode dirigir!

— Claro que eu posso. – me segurei para não fazer uma careta com a
contração que me atingiu justamente naquele momento.

— Tem certeza?
— Claro. Vai dar tudo certo. Não se preocupe! – soltei o ar aliviada,
quando a dor me deixou.

— Eu não sei dirigir, senão te levaria.

— Não se preocupe com isso. Até mais!


Saí andando igual uma pata desengonçada. Na verdade, eu era uma
mistura de pata desengonçada com lutador de sumô.

Joguei as bolsas dentro do carro e entrei. Coloquei as mãos na barriga e


suspirei.
— Fique quietinha aí e deixe a mamãe dirigir, meu amor. – disse para a
minha barriga.

A resposta de Ayla foi dolorida.

— Ok! Só me deixe chegar ao hospital. – falei com uma careta e liguei


o carro.
Esperava que Ayla não resolvesse nascer no meio do caminho.

— Puta merda! – exclamei assim que desci do carro e peguei minhas


bolsas. Tive que me apoiar na lateral do veículo para me recuperar.

As dores só aumentavam. Precisei encostar o carro uma vez no meio do


caminho por causa da contração que me tirou o fôlego. Apesar disso,
consegui dirigir até o hospital.
Entrei na recepção com meu andar desengonçado e imediatamente uma
mulher de jaleco veio em minha direção.

— A senhora está em trabalho de parto? Com contrações? – ela me


perguntou preocupada.

— Sim. – respondi em meio às dores.


— Então você está com sorte. Eu já ia embora do hospital. – ela disse
enquanto sinalizava para alguém trazer uma cadeira de rodas.

— Quem é você? – perguntei confusa.


A mulher aparentava ter por volta de quarenta anos. Tinha a pele
bronzeada, assim como a maioria dos habitantes de Belmonte e seu cabelo
era ruivo escuro. Ela usava um óculos “estilo super-homem” e parecia ser
gentil.

— Sou a doutora Luna Smith, obstetra. – ela respondeu enquanto


ajudava a me sentar na cadeira de rodas.

— Ah. – balbuciei atônita.


Claro.

A médica que traria minha filha ao mundo tinha o nome da deusa. Que
coincidência desgraçada. A doutora deusa. Por que ninguém me disse antes o
nome dela?

— Vamos examiná-la e ver como as coisas estão progredindo. – ela


continuou e me empurrou na cadeira, entrando na área restrita do hospital.
Uma enfermeira nos acompanhou. – Qual é o seu nome?

— Eluana Santino. – respondi automaticamente. Já estava acostumada


a usar o sobrenome de Yuri, que após o casamento se tornou meu também.

— Você é a filha do Neandro? Que coincidência! Como Belmonte é


pequena!

Sim. Belmonte era um ovo e ela nem imaginava o quanto. Pela deusa!
CAPÍTULO 18

YURI

Finalmente chegamos no hospital. Como Belmonte era pequena, aquele


hospital concentrava tudo em um único prédio. A maternidade ficava lá
dentro.

Enquanto Josh se aproximava do prédio, vi um carro muito parecido


com o meu, estacionado de qualquer jeito, próximo à entrada. Achei muito
estranho, pois nunca tinha visto outra BMW em Belmonte. Eu poderia ter
olhado a placa do carro para tirar a dúvida, mas a minha apreensão não
deixou.
Assim que Josh parou na entrada, eu saltei para fora do carro e entrei na
recepção correndo, meio perdido sobre o que fazer.

— Senhor? Bom dia, em que posso lhe ajudar? – uma moça da


recepção perguntou assim que pôs os olhos em mim.

— Onde ela está?! Onde a Lua está?! – perguntei exasperado.


Ela franziu o cenho confusa. Será que eu teria que desenhar? Pela
deusa! Minha esposa estava dando à luz e eu estava aqui, parado feito um
idiota! A sensação ruim no meu peito continuava.

— Bom dia, querida! Pode me dizer se Eluana Santino deu entrada


aqui? Ela está em trabalho de parto. – Josh surgiu ao meu lado e perguntou à
moça, todo sorridente e tranquilo.

A moça sorriu de volta meio envergonhada e respondeu:

— Claro, senhor prefeito.

Ah, claro! Ser prefeito tinha as suas vantagens e todo aquele charme de
cafajeste de Josh valia para alguma coisa, afinal de contas!

— Ela está sendo atendida pela doutora Luna, senhor Josh. – a moça
olhou de Josh para mim. – Só é permitido um acompanhante.

Todo sorridente, Josh deu alguns tapinhas nas minhas costas e disse:

— Vai lá! Sua filha tá nascendo.

Sem esperar mais nem um minuto, entrei na área restrita do hospital,


em busca da minha companheira e da minha filha.

Lua estava acomodada em um quarto quando eu cheguei e usava uma


camisola hospitalar. Uma enfermeira e uma médica estavam com ela. A
médica tinha acabado de falar com Lua e já se preparava para sair. A barriga
de Lua continuava grande e não ouvi o choro característico dos bebês, então
concluí que Ayla ainda não tinha nascido. Graças à deusa!
— Yuri! – Lua exclamou aliviada assim que me viu.

— Lua. – abri um sorriso e corri para o lado dela.

Um enorme alívio tomou conta de mim, desfazendo a sensação ruim


em meu peito. Abracei Lua meio sem jeito, já que ela estava deitada e ligada
a vários fios que a monitoravam. Seus braços me seguraram firme, no
entanto.

— Você está bem? A Ayla está bem? – perguntei preocupado.

— Sim, estamos bem. – ela respondeu sem me soltar.

— Você é o pai?

Me desvencilhei de Lua a contragosto e me virei. A médica estava


parada observando a nossa interação, assim como a enfermeira.

— Sim. Desculpe não ter me apresentado antes. Sou Yuri Santino,


marido da Eluana. – estiquei a mão para cumprimentar a doutora.

— É um prazer conhecê-lo, Yuri. Neandro fala muito de você e da sua


esposa. A doutora Joyce também já mencionou vocês algumas vezes. – ela
apertou a minha mão e respondeu sorridente.

Engoli em seco. Não queria lembrar de Joyce e todo o problema que ela
causou essa manhã. Será que o susto que ela deu em Lua tinha relação com o
trabalho de parto? Se fosse isso...
— Espero que meu sogro só tenha dito coisas boas. – me foquei em
Neandro para responder e deixar a irritação de lado.

A médica riu.

— Fique tranquilo. Ele adora vocês dois.


Assenti sorridente.

— E então? Como vai a minha esposa? Vamos ganhar a nossa bebê


hoje? – perguntei enquanto me voltava para Lua, que observava com
expectativa a minha conversa com a médica. Parecia que ela queria me dizer
alguma coisa.

— Ainda vai demorar um pouquinho para essa mocinha aí nascer, mas


vou ficar por aqui monitorando, não se preocupe. – a médica respondeu e a
enfermeira deixou o quarto.

— Esse é o problema. Eu não tenho um histórico muito bom com


partos e hospitais. – fiz uma careta.
O último parto que acompanhei foi o de Jake, e aquele evento foi no
mínimo intenso e dramático. Esperava nunca mais passar por algo assim na
vida, por mais que ainda quisesse muito ter mais filhos com Lua.

Lua apenas revirou os olhos ao meu lado. Ela parecia muito tranquila.

— Você se refere ao filho do prefeito, não é? Aquele foi um caso


excepcional. Maya e o bebê estão ótimos hoje em dia. – ela fez uma breve
pausa. — Você e Josh são primos, estou certa?
— Sim. Somos primos, quase irmãos.

— Quem diria que Joshua Black tomaria jeito... E ainda arrumaria


Belmonte... – a médica falou sorrindo e balançando a cabeça, pensativa.

Sim, quem diria...


— Pois é... Me desculpe doutora, mas acho que a senhora não me disse
o seu nome.

Eu estava tão afoito para ver Lua que até me esqueci de perguntar o
nome da médica que estava atendendo-a. Eu estava agindo como um idiota e
Ayla nem tinha nascido ainda. Imaginei que ficaria pior depois que ela
nascesse, assim como Josh ficou com Jake.

— Meu nome é Luna Smith, sou a obstetra do hospital. Na verdade, sou


a chefe do setor de obstetrícia, mas como a outra obstetra está de férias...
— É um prazer conhecê-la. – mantive o sorriso no rosto, mas nem
acreditava no que tinha acabado de escutar.

Aquela mulher que faria o parto da minha filha tinha o mesmo nome da
deusa! Que coincidência!
— Preciso ir preencher alguns papéis, volto mais tarde. – ela acenou e
saiu do quarto.

Assim que ela fechou a porta, olhei para Lua e ela me encarava do
mesmo jeito: Surpresa.

— O nome dela é Luna! – Lua exclamou com os olhos arregalados.


— Quem diria...

— Isso é esquisito! – ela fez uma careta

— É só uma coincidência idiota, amor. Você sabe muito bem que há


muitas mulheres em Belmonte com o nome de Luna ou parecidos. Você é
uma delas.
— Humpf! – ela bufou. – Ainda acho esquisito. A doutora deusa...

Peguei uma de suas mãos e a coloquei dentro das minhas.

— Como isso foi acontecer, Lua? Eu saí apenas por alguns minutos.

— Eu... não sei! A minha bolsa só estourou e não havia ninguém por
perto, só a Maya e o Jake. Como nenhum dos dois sabia dirigir e não
conseguimos falar com ninguém, peguei seu carro e vim pra cá dirigindo. –
ela deu de ombros.

Puta merda!

— Você veio dirigindo para cá? – perguntei atônito.


O carro mal-estacionado lá fora era meu. Caralho!
— Sim. E antes que você reclame, chegamos sãs e salvas. – Lua passou
a mão pela barriga e deu um sorrisinho.

Apenas balancei a cabeça, negando.


— Você nunca segue as regras, não é mesmo?

— Regras são para todo mundo, e eu não sou todo mundo. – ela disse
enquanto enrolava no dedo uma mecha do cabelo.

— Claro que você não é todo mundo. Os últimos meses deixaram isso
bem claro para mim.
A minha tão esperada companheira não era apenas isso. Ela era uma
loba e também uma reencarnação e descendente da deusa Luna. Ela seria a
mãe da futura alfa suprema (provavelmente) e da próxima reencarnação e
descendente da deusa. Lua realmente não era qualquer uma.

Lua tentou me dar uma cotovelada, mas me esquivei.

— Não se canse, meu amor. Vai precisar dessa força mais tarde. – falei
brincalhão.
Foi uma péssima ideia. O olhar da minha companheira se transformou.
Eu realmente não deveria ficar com brincadeirinhas nesse momento.

— Yuri, se você não quer ter a sua cabeça arrancada, sugiro que saia
um pouco do quarto e avise meu pai que estou aqui.

— Meu celular ficou em casa. – falei cauteloso.


— Então pegue o meu na minha bolsa e volte daqui a cinco minutos. –
ela replicou com os dentes cerrados.

— Ok. – levantei as mãos me rendendo e fiz o que ela disse.

Eu não a provocaria mais se isso significasse que eu teria que ficar


longe dela. Mas que foi engraçado, isso foi.
CAPÍTULO 19

YURI

O trabalho de parto progrediu devagar. Passamos a tarde e o início da


noite lá, até que a doutora Luna e Ayla decidissem que era a hora.

Nossa família e a alcateia de Belmonte me encheram o saco antes disso,


no entanto. Como era permitido apenas um acompanhante, eu era o
responsável por passar todas as notícias. E todos queriam saber as notícias. O
celular de Lua descarregou com tanto uso e o meu sogro me trouxe o meu e o
carregador do de Lua, para que pudéssemos manter contato. O delegado
ainda conversou um pouco com a doutora Luna, mas a médica não permitiu a
sua entrada, para a chateação do meu sogro.
Ayla chegou ao mundo no início da noite.

Aquilo não foi surpresa nenhuma, pois a deusa Luna era conhecida
também como a deusa da noite, ou seja, Ayla “esperou” anoitecer para
nascer. Devia ser algum instinto ancestral dela ou apenas coincidência
mesmo.

Eu estava me sentindo péssimo por Lua. Minha companheira foi uma


guerreira do início ao fim e eu me orgulhava dela, porém, não me agradava
nem um pouco que ela sofresse tanto. Eu sabia que ela estava trazendo nossa
lobinha ao mundo, porém achava que não era justo ela sofrer sozinha por
isso.

A doutora Luna aparou Ayla assim que ela saiu do corpo de Lua. Após
os primeiros cuidados, a minha pequenina me foi entregue enrolada em um
manto. Ayla tinha um belo par de pulmões e não teve vergonha nenhuma de
mostrar isso para toda a equipe médica.
Assim que a segurei nos braços, meio sem jeito, fui invadido por uma
onda enorme de amor. Um sorriso bobo se instalou na minha cara e eu pus os
olhos na criaturinha mais linda que já tinha visto em toda a minha vida, em
toda a minha existência. Aquele bebê pequeno e frágil tomou conta do meu
coração.

A penugem loira na sua cabecinha indicava que ela era filha da minha
companheira, apesar de que os olhinhos fechados me davam a esperança de
ter passado alguma característica genética para minha filha. O “DNA” da
deusa era forte e dominante.

Ayla tinha o cheiro característico dos lobos. Ela tinha o meu cheiro e
de Lua combinados, formando um novo. Era interessante sentir aquilo. Era
único e especial. Era um dos melhores cheiros que eu já tinha sentido na vida,
além do de Lua, é claro.

— Oi, meu amor! Bem-vinda ao mundo! Você quer conhecer a sua


mãe? – falei baixinho para a minha filha e ela se acalmou aos poucos,
parando de chorar e se debater.

Olhei para Lua e seus olhos estavam marejados, com algumas lágrimas
já escorrendo pelo seu rosto. Ela estava cansada, suada, com o cabelo
desgrenhado escapando da touca cirúrgica, mesmo assim, ela era a mulher
mais bela que eu já conhecera. Todo o amor que eu sentia por ela só se
multiplicou naquele curto espaço de tempo.
Com todo o cuidado do mundo e um pouco mais, coloquei Ayla nos
braços da minha esposa. A lobinha se aninhou melhor no colo de Lua e ficou
mais tranquila. Ela reconheceu a mãe. Lua abriu um enorme sorriso assim
que pôs os olhos em nossa filha. Ela parecia encantada em ver a nossa
lobinha.

— Ela é linda, Yuri!


— Assim como você.

Lua me olhou brevemente e voltou a olhar para nossa filha, que agora
dormia em seus braços. Ver as duas ali, daquele jeito, me encheu de
felicidade e paz. Era a visão mais linda e perfeita do mundo. Eu não tinha
nem palavras para descrever o que sentia pelas duas. Talvez palavras não
fossem o suficiente para dizer tudo o que eu sentia.

Depois de todos os cuidados pós-parto com Lua, ela voltou para o


quarto e agora Ayla estava fora da barriga, conosco. Uma enfermeira foi até
lá e me passou algumas instruções, que ouvi com muita atenção, por mais que
já soubesse de praticamente tudo. Eu tinha passado os últimos meses
pesquisando e estudando tudo sobre bebês e me achava quase um expert no
assunto.
Porém, a prática era diferente da teoria.

Trocar uma fralda não era tão fácil assim e Lua também demorou um
pouco para pegar o jeito da amamentação, mas no final conseguimos. Por
enquanto, Lua estava cuidando da alimentação de Ayla, enquanto eu cuidava
das fraldas.

Após alimentar Ayla, Lua disse que estava exausta e que precisava
dormir um pouco. Peguei Ayla dos seus braços e me sentei na poltrona do
quarto, ao lado da cama.
— Pode dormir que eu cuido dela. Não se preocupe. – tranquilizei a
minha companheira.

— Eu sempre vou me preocupar com ela... Eu a amo tanto... – Lua


falou sonolenta e logo dormiu.

Olhei para a bebê em meus braços e abri um grande sorriso. Ayla se


remexeu um pouco, provavelmente sentindo falta do colo da mãe, mas assim
que comecei a conversar com ela, a pequenina foi se acalmando, até dormir
novamente.
— Pode dormir, minha filha. O papai vai cuidar de você. Eu sempre
vou cuidar de você. Eu te amo. – falei a ela baixinho, para não incomodar. –
Você e sua mãe são as pessoas mais importantes do mundo para mim. Eu vou
amá-las para sempre, eu prometo.

Dei um beijo suave na cabecinha de Ayla e continuei ali, sentado com


ela. Meu mundo inteiro estava dentro daquele quarto de hospital.
CAPÍTULO 20

LUA

Acordei me sentindo esquisita. Meio fraca, desnorteada e dolorida,


passei a mão pela minha barriga e quase tive um ataque cardíaco ao constatar
que ela estava menor e flácida. Ayla não estava dentro de mim!

— Ayla? – perguntei meio grogue.


Eu queria me sentar, mas não tinha forças. Elas tinham sido exauridas
no parto... Sim, o parto! Ayla nasceu!

— Estamos aqui, amor. Eu estou trocando a nossa lobinha.

Yuri estava de pé, de frente para o bercinho hospitalar onde imaginei


que Ayla estava, ao lado da minha cama. Ele lutava com uma fralda na mão e
parecia persistente. Tive apenas um vislumbre das perninhas agitadas de
nossa filha. Ela não gostou muito de tudo aquilo e estava começando a
resmungar.
— A fralda está ganhando. – comentei sem tirar os olhos dos dois e
sorri.

Ainda estava escuro lá fora e imaginei que ainda era noite. Ayla tinha
nascido no início da noite.

— Por pouco tempo. Logo eu serei o rei das fraldas. – Yuri respondeu
concentrado.

— Quem diria que o alfa supremo seria o rei do cocô.

Yuri sorriu, sem tirar os olhos de Ayla.

— E você é a minha rainha do cocô. Ainda somos o casal mais foda das
alcateias da deusa Luna, não acha?

Eu ri.

— Com certeza.

Nesse momento, Ayla começou a chorar inquieta e minha atenção foi


toda para ela.

— Prontinho, meu amor. Papai já terminou. – Yuri a pegou no colo.


— Acho que ela não gostou de ser excluída da conversa. Me dá ela
aqui, deve estar com fome. – estiquei os braços para Yuri, que acomodou
Ayla gentilmente no meu colo.

Ele estava todo cuidadoso com ela. Parecia que a menina era feita de
cristal. O nosso cristalzinho.

Olhei para Ayla e tive a minha confirmação: Ela era a bebê mais
linda do mundo. A mais amada, a mais querida e a mais mimada também,
com certeza. Sorri feito uma boba para o meu cristalzinho. Subitamente
minhas energias retornaram e me senti um pouco melhor. Foi o “efeito Ayla”
em meu corpo.
— Oi, meu amor! Está com fome? A mamãe vai resolver isso. – falei
enquanto baixava a alça da camisola e encaixava a boca de Ayla em meu
seio, do jeito que a enfermeira tinha me ensinado.

Assim que ela abocanhou o meu mamilo, começou a sugar avidamente,


faminta. Doeu um pouco, mas logo a dorzinha chata passou e pude apreciar a
minha filha se alimentando. Tão linda...

— Ela está com fome! Eu dormi muito? – perguntei a Yuri sem tirar os
olhos de Ayla.
— Algumas horas. – ele respondeu e se sentou na beirada da cama,
para nos observar melhor. – Vocês são lindas, Lua. Parecem uma obra de
arte. Vou ser obrigado a colocá-las no papel.

Meu marido era muito habilidoso com seus desenhos, mas eu não
achava que estava tão bonita assim para ser digna de uma de suas
representações.

Sorri um pouco, mas balancei a cabeça negando.


— Eu devo estar horrível, Yuri. Sinto que fui virada do avesso.

Eu sabia que estava horrível e Yuri devia estar sendo amável comigo,
devido a tudo que passei. Pela deusa, eu tinha acabado de passar por um parto
normal! Ou, era essa coisa de companheiros que nos deixava bobos um pelo
outro.

— Mesmo virada do avesso continua linda. – Yuri me lançou um olhar


penetrante e não consegui resistir. Encarei seus olhos castanho-claros. — Eu
não disse isso antes, Lua, mas vou aproveitar o momento: Eu te amo e meu
amor por você só multiplicou pelo fato de você ter trazido Ayla para esse
mundo. Eu vou amá-las para sempre, eu prometo.
Não desviei meu olhar do dele, mas senti meu rosto ficando molhado
pela sua declaração de amor eterno. Ele tinha dito algo parecido no nosso
casamento e na ocasião eu chorei bastante. Provavelmente estava chorando
agora porque meus hormônios estavam uma bagunça.
— Eu também te amo, você sabe disso. Ayla só veio para aumentar o
nosso amor e completar a nossa família. – eu disse a ele emocionada.

Yuri sorriu e se inclinou para observar Ayla mamando.


— Sim, a nossa lobinha.

— Eu também prometo amor eterno a vocês.

— Eu vou prometer amor eterno para todos os filhos que tivermos. –


Yuri replicou e seu sorriso aumentou.

Arregalei os olhos. Na mesma hora as lágrimas pararam de escorrer


pelo meu rosto.

— Todos os filhos?! Quantos você pretende ter?! – perguntei com a voz


ligeiramente estridente. Ayla não pareceu incomodada com isso e continuou
mamando.

Eu ainda estava dolorida do parto e por enquanto não queria nem


sonhar em engravidar de novo.
— Você tem algum problema com números grandes?

— Você tá falando sério?!

Yuri deu de ombros.


— Eu não tive irmãos, mas crescer com Josh foi uma experiência
parecida.

— Você está enganado, Yuri. Já esqueceu da Mirela? Ela não era sua
irmã? – perguntei enquanto baixava a cabeça para observar Ayla, que
continuava mamando tranquila. Reprimi a vontade de rir.

Há mais de um ano, a ex-loba tinha invadido Belmonte em pleno


casamento de Josh e Maya para chantagear Yuri, com a história de que ela
era a irmã perdida dele.

Yuri se levantou do meu lado e caminhou para a poltrona.

— Quando você acabar, rainha do cocô, me avise. Eu preciso colocar


Ayla para arrotar.

Dessa vez não reprimi meu sorriso.

Depois de amamentar Ayla, dormi novamente e quando acordei, estava


claro lá fora. Fiquei confusa. Não sabia mais que dia era.
Olhei para o lado e me deparei com meu pai sentado na poltrona
segurando Ayla nos braços. O delegado estava todo derretido com a netinha,
falando com voz de bebê e sorrindo abertamente. Era uma cena um tanto
estranha, quanto inusitada.

— Pai? – perguntei chamando a sua atenção.

Ele levantou a cabeça e disse sorridente:


— Bom dia, Lua! Como está se sentindo? Ayla está com fome.

— Ela sempre está com fome. – consegui me erguer um pouco, ficando


meio inclinada e perguntei: — Onde está o Yuri?

O delegado se levantou com a neta nos braços e se aproximou de mim.


— Ele foi até em casa, tomar um banho e se trocar. Quase tive que
expulsá-lo daqui, mas o convenci a tomar um banho. – ele respondeu com
uma careta enquanto me passava Ayla.
— O Yuri não fede, pai. – reclamei com um sorriso no rosto.

Ayla se remexeu um pouco, mas logo se aninhou no meu colo. Tratei


de alimentá-la o mais rápido possível, pois não queria deixá-la passar fome.
A minha lobinha faminta.
— Onde está Macayla? – perguntei a ele.

O delegado voltou para a poltrona e se jogou nela.

— Na casa do Josh. Ela não quer arredar o pé de lá, com medo. Joyce
ainda não decidiu nada com Micael e acabou passando a noite lá. A casa do
prefeito está lotada.
Suspirei.

— O que você acha que vai acontecer? – perguntei a ele.

— Não sei. Talvez Joyce seja expulsa da alcateia.


Assenti pensativa. Não queria que Joyce recebesse nenhuma punição
extrema e me culpava pelas coisas terem acontecido daquele jeito.

— A verdade é que tanto eu quanto Macayla temos culpa nisso. Nós


pedimos para você falar com a Adele. Não imaginávamos que fosse acontecer
toda essa confusão.

— Fui eu quem ligou para Adele. A culpa é minha.


O delegado negou com a cabeça.

— Não se preocupe com isso agora, Lua. A sua preocupação no


momento está em seus braços e atende pelo nome de Ayla.

Abri um sorriso grande para o meu pai.


— Obrigada, pai. Eu te amo.
O delegado abriu um sorrisinho e replicou:

— Eu também te amo, garota. – percebi que seus olhos ficaram


marejados. — Ela é linda, você sabe disso, não é?
Assenti.

— Ela é simplesmente a coisinha mais linda desse mundo. – falei


enquanto voltava a olhar para minha filha.

Assim que coloquei os olhos em Ayla eu me senti diferente. Uma onda


enorme de amor, paz e ternura me acertou em cheio e eu me apaixonei por
aquela lobinha em meus braços. Quem diria que um ser tão pequenino
daqueles pudesse fazer eu sentir algo tão grandioso como estava sentindo
agora!
— Agora o seu coração bate fora do peito, minha filha. Você sente
isso?

Foi a minha vez de ficar com os olhos marejados. De onde meu pai
tinha tirado aquelas coisas tão sentimentais? Ele sempre foi um homem
prático, sério. Nunca imaginei que ele fosse sentimental. Maldita bagunça de
hormônios!

— Sim, pai. Eu sinto. – respondi a ele enquanto meu rosto voltava a


ficar molhado pelas lágrimas.
Ele sorriu de um jeito que vi poucas vezes. Senti um quentinho no
peito.

— Então você é oficialmente mãe. Meus parabéns.

— Obrigada. – falei fungando e enxugando o rosto com uma mão,


enquanto mantinha Ayla firme com o outro braço.
— Termine de alimentá-la para eu colocá-la para arrotar. Daqui a
pouco o seu companheiro chega e toma Ayla de mim.

Eu ri. Sabia que Yuri estava ficando grudado em Ayla.


— Ok.

Me concentrei em alimentar a minha filha enquanto o delegado me


passava um relatório do que tinha acontecido no restante do dia anterior.
Nada de relevante na alcateia, apenas todos querendo saber notícias minhas e
de Ayla. Fiquei um pouco surpresa ao perceber como a alcateia ficou
preocupada comigo e com a minha lobinha. Minha filha já era querida por
todos.
CAPÍTULO 21

LUA

Era o início da noite quando Ayla e eu tivemos alta.

Um Yuri muito cuidadoso carregou o bebê conforto com a nossa filha


até o estacionamento, onde o carro dele, devidamente estacionado nos
aguardava. Na hora das contrações, a última coisa com a qual eu me
preocupei foi com a baliza. Yuri carregou todos os nossos pertences para o
carro: A mala da maternidade de Ayla e até a minha bolsa. Ele não queria que
eu fizesse esforço nenhum e eu não o contrariei.
Ayla estava dormindo quietinha quando saímos do hospital. A doutora
deusa, ou melhor, a doutora Luna veio me examinar antes de dar alta e
conversar um pouco sobre os cuidados com um recém-nascido. Ouvimos
tudo atentamente, mas eu desconfiava de que Yuri já soubesse de boa parte
daquelas coisas, afinal ele passou os últimos meses estudando tudo sobre
bebês.

A doutora Luna se despediu de nós após isso e foi embora. Ela não
parecia nem sonhar que seu nome tinha sido inspirado na deusa que estava
adormecida dentro de mim. Para ela, assim como para a maioria dos
habitantes de Belmonte, eram apenas lendas locais, a “história” de Belmonte.

A viagem até em casa foi tranquila e quando chegamos, apenas o


delegado nos recepcionou, mas a sua recepção empolgada valeu por uma
alcateia inteira.

Eu não esperava que todos estivessem ali presentes, até porque queria
preservar Ayla nesses primeiros dias. Mas que foi estranho, isso foi. A
alcateia era muito unida e estavam todos preocupados conosco enquanto
estávamos no hospital. Além disso, Adele e Micael também não se
manifestaram, apesar de eu ter enviado algumas fotos de Ayla para minha
avó.

Levei a minha lobinha imediatamente para o seu bercinho e a acomodei


lá. Ela não reclamou pela mudança de ambiente e eu agradeci à deusa por
isso. Me sentia completamente despreparada para uma crise de choro da
minha bebê. Provavelmente eu choraria junto com ela.

— Venha comer alguma coisa, Lua. Comida de hospital é uma merda.


— o delegado falou baixinho enquanto eu observava Ayla dormir e Yuri
acomodava nossas coisas no quarto.

— Já vou. – repliquei, mas não me mexi.


Eu não queria perder um segundo sequer da vida de Ayla. Estava louca
para vê-la abrir os olhinhos, coisa que ainda não tinha feito até então. Estava
curiosa para saber se ela teria os olhos de Yuri ou os meus. O cabelo e a pele
clara eram meus, então achei que seria justo com Yuri ela ter seus olhos. Pelo
menos isso.

— Você sabe que ela não vai sair correndo, não é? – meu pai perguntou
sarcástico.

Eu não olhei para ele, mas sabia pelo seu tom de voz que ele estava
sorrindo. Eu sabia que ele estava se divertindo com aquilo. A sua filha
“rebelde” estava sendo responsável.
Revirei os olhos.

— Não quero deixá-la sozinha.

— A porta vai ficar aberta e vamos ficar a apenas alguns metros daqui.
– o delegado disse e colocou a mão no meu ombro. – Vamos, Lua. Você
precisa se alimentar direitinho, precisa ter forças para alimentar essa criança.

Dei um suspiro resignado e acompanhei meu pai para a cozinha. Yuri


demorou um pouco, mas nos acompanhou também. Ele devia estar tão
receoso quanto eu de se afastar da lobinha.

— Alguma notícia de Macayla e Joyce? – perguntei enquanto xeretava


as panelas no fogão.
— É sopa. Macayla e Serena fizeram para você. – o delegado se limitou
a responder.

Franzi o cenho para ele. Eu até gostava de sopa, mas esse não era o
problema.

— Eles estão me esperando, Lua. – Yuri falou e cruzou os braços, se


escorando na parede da entrada da cozinha.

— Como assim? – perguntei confusa.

— A alcateia de Belmonte está reunida, me esperando. Eles querem


saber a punição que darei para Joyce, assim como Micael e Adele. Por isso a
sua avó não foi visitá-la no hospital. Ninguém quer arredar o pé da casa do
Josh.

Fiquei encarando Yuri sem reação. Eu nem tinha me tocado sobre


visitas ou família enquanto estava no hospital. Minha atenção estava
totalmente focada em Ayla. Só senti falta de todos quando cheguei em casa.
— Por que você não me disse nada? – perguntei curiosa.

— Não queria te preocupar com esse assunto.

— A sua preocupação no momento é Ayla. – meu pai reforçou.

— E por que você ainda está aqui? – perguntei a Yuri meio confusa.

— Não quero ficar longe de você e da Ayla.


— Já disse que você pode ir tranquilo que eu tomo conta das meninas.
– o delegado comentou enquanto ia até a geladeira.

Fiquei sem saber o que fazer. Eu queria ir com Yuri, mas não queria
levar Ayla e nem queria ficar longe dela também. Que complicado!

— Pode ir. Vamos ficar bem. – eu falei a Yuri, de repente. Aquilo era o
certo a se fazer.
— Sem chance. – ele se aproximou e se sentou à mesa. – Tome sua
sopa, Lua.

— Você não vai deixar toda a alcateia te esperando! Isso é sacanagem.

— Eu não vou, Lua. – Yuri insistiu feito uma mula empacada.

— Mas eu não quero você aqui. Pode ir. Vamos ficar bem. Apenas os
Marino vão ficar nessa casa agora à noite.

De onde eu tinha tirado aquela ideia? Eu não sabia. O delegado riu.


Yuri ficou me observando por um bom tempo, mas no final suspirou,
derrotado.

— Tudo bem, eu vou. – ele falou meio chateado.


— E qual vai ser sua decisão? – perguntei enquanto me virava para a
panela de sopa.
— Quem for para a reunião da alcateia vai saber. Até mais tarde,
Marinos! – Yuri se levantou e acenou, indo em direção à porta. E eu fiquei
pateta o observando ir embora. Filho da mãe!

— A noite dos Marinos promete. – meu pai comentou enquanto me


passava um prato.
— Com certeza. – falei com uma careta.

Nesse momento, Ayla começou a chorar. Chorar não. Berrar.

Larguei meu prato em cima da mesa e comecei a ir em direção ao


quarto, mas o delegado me impediu.
— Fique e coma, Lua. Eu vou vê-la. – ele falou e saiu da cozinha, indo
em direção ao quarto.

Suspirei resignada. Teria que me conformar em faltar a reunião da


alcateia e deixar meu pai cuidar de Ayla enquanto eu me alimentava.
CAPÍTULO 22

YURI

Assim que cheguei na casa de Josh, toda a alcateia me encheu de


perguntas sobre Lua e Ayla. Mesmo que eu já tivesse informado a todos
sobre todos os detalhes possíveis.

Notei que Joyce e Micael não estavam à vista. Os recém-casados, Brian


e Mirela estavam silenciosos, mas pelo menos estavam amigáveis. Blake
estava longe do irmão, talvez ainda irritado pelo casamento surpresa. Como
Pietro não estava em Belmonte, Ismene não era obrigada a comparecer
àquelas reuniões da alcateia.
— Yuri, como Lua está? E Ayla? – foi a primeira coisa que minha tia
me perguntou assim que pus os pés na casa do prefeito.

— Boa noite. – falei enquanto a abraçava.

— Sim, boa noite. Como sua esposa e filha estão? – ela insistiu assim
que me soltou.
— Elas estão bem. – respondi meio ranzinza.

Não queria ter deixado Lua e Ayla e isso me deixava de mau humor.
Serena não ficou feliz com a minha resposta seca e quando ia replicar algo
parecido com um puxão de orelha, Blake a interrompeu:
— Queremos fotos!

Todos estavam sentados nos sofás e cadeiras da elegante sala de Josh e


pareciam apenas me aguardar para iniciar a reunião que decidiria a minha
punição para Joyce. Teria sido sacanagem mesmo faltar àquele compromisso,
assim como Lua me disse. Eu devia manter a minha palavra e a minha
responsabilidade, por mais que às vezes quisesse ignorar tudo.
— Sim, queremos mais fotos! – Maya reforçou. Jake não estava por
perto. Meu afilhado já devia estar dormindo.

— Vocês já viram as fotos? Eu não sabia disso! – Adele comentou


indignada.

Eu tinha compartilhado com a alcateia algumas fotos de Ayla, para


saciar a curiosidade deles, mas pelo visto não foi o suficiente. Além disso,
Lua também enviou para Adele algumas fotos que ela mesma tirou da nossa
filha.
— Pensei que Lua tivesse mandado para você. – falei confuso.

— Pensei que era algo apenas para a família. – Adele resmungou e eu


me segurei para não revirar os olhos.

— A alcateia é uma grande família. – Maya disse a ela e deu um sorriso


simpático. Adele assentiu meio sem graça.
— Neandro me mostrou as fotos que ele tirou. – Macayla disse,
provavelmente para alfinetar Adele, que a fuzilou com os olhos.

Após isso, se iniciou uma discussão sobre todas as fotos de Ayla e


quem tinha e quem não tinha. Suspirei e fui até Josh, que estava de pé, em
frente a todos e encostado aos pés da escada. Ele se segurava para não cair na
gargalhada.
— Trocando muitas fraldas? – ele me perguntou brincalhão.

— Você nem imagina o quanto.

Finalmente eu estava pegando o jeito da coisa. A arte de trocar fraldas


apenas era aprendida com a constante prática.

— Vai se acostumando. Ainda vai levar algum tempo até ela desfraldar.

— Eu sei disso. – dei uma cotovelada nele.

— Você nunca enfrentou uma avalanche de cocô, então não sabe de


nada. – ele falou ainda sorridente.

— Espero que Jake faça xixi enquanto você o troca.

— Isso já aconteceu. Nunca vou me esquecer desse dia. – Josh riu com
a lembrança.
Balancei a cabeça negativamente.

— Cala a boca, Josh. Você não vai começar a reunião?

— Sim, só estou esperando a Joyce e Micael.


— E onde eles estão?

— Estamos aqui! – o primo enxerido de Lua respondeu entrando na


sala.

Os dois vieram caminhando do corredor. Deviam estar no escritório de


Josh conversando.
— Vocês dois já se acertaram? – perguntei a eles.

Ambos assentiram. Percebi que a sala ficou silenciosa de repente, todos


ficaram quietos para escutar o que tinha sido resolvido.

— Vamos começar essa reunião logo. Acho que o nosso alfa supremo
está doido para retornar para o conforto do seu lar e da sua família. – Josh
disse. – Sentem—se. – ele apontou para algumas cadeiras e Joyce e Micael
foram se sentar.
— Estamos aqui porque eu fiquei de decidir uma punição alternativa
para Joyce. Como todos aqui já devem saber, a loba ameaçou Lua, Ayla, eu,
Josh, Maya, Jake, Daniel e Blake. – comecei a falar.
Macayla levantou a mão e disse, sem esperar que eu lhe desse a
palavra:

— É preciso esclarecer os fatos, Yuri.

— Todos aqui sabem sob que circunstâncias sua filha agiu. – Adele
rebateu.
— Você não faz parte desta alcateia. Está aqui apenas como ouvinte. –
Macayla replicou.

— Eu sou avó de Lua e descendente da deusa. Faço parte sim! – Adele


revidou.

— Silêncio as duas, por favor. – Josh se meteu. – Yuri estava falando.

— Eu sou avó, assim como aquele senhor é avô daquele rapaz. – Adele
persistiu, apontando para Levi e Daniel, que estavam calados até então.

— Eu sou um lobo, minha senhora. Há meio século era eu quem corria


por essas florestas. – Levi apontou para fora.

— Eu não sou sua senhora. – Adele foi enfática.


— Mas bem que poderia ser... – Micael falou com um sorrisinho.

— Micael! – Adele exclamou.

Pelo canto do olho, vi que Daniel estava rindo e Levi ficou sem jeito.
Micael balançou a cabeça, ainda sorrindo e disse:

— Vovó, deixe o Yuri falar.

— Tudo bem. – ela concordou e se recostou no sofá, meio carrancuda.


Suas bochechas assumiram um tom rosado.

Suspirei reunindo toda a paciência do mundo e disse:

— Como todos sabem, os atos de Joyce foram motivados por instintos


de proteção, inerentes a todos os lobos que possuem companheiros. Com ela
não foi diferente. Assim que se viu ameaçada, correndo risco de ser separada
de seu companheiro, Joyce foi atrás dos responsáveis, disposta a puni-los por
isso.
— Isso mesmo. – Adele concordou, mas eu a ignorei.

— Sua tentativa foi frustrada, graças à deusa. Mas... Coisas desse tipo
não podem ser ignoradas. Esse tipo de comportamento não pode se repetir em
alcateia nenhuma, portanto, Josh e eu resolvemos punir Joyce pela...
transgressão.

— De acordo com a lei dos lobos? – Mirela perguntou curiosa, saindo


do silêncio pela primeira vez, desde que cheguei.

— Não. Lua não permitiu que as coisas acontecessem assim, por mais
que fosse o “certo” a se fazer. Ela se sentiu culpada pelo que aconteceu e eu
resolvi atender ao pedido dela.

— Lua não foi culpada. Neandro e eu tínhamos conversado a respeito e


achamos melhor chamar Adele. Foi Neandro quem pediu para Lua chamar
Adele. – Macayla esclareceu.

— Eu não sabia disso. – Joyce falou surpresa. Não parecia convencida


das palavras da mãe.
— Mas é a verdade. – Macayla rebateu.

— Ela está falando a verdade, Joyce. Eu vi quando Neandro falou com


Lua. – falei me recordando da interrupção em hora indevida do meu sogro.
Joyce baixou a cabeça e passou as mãos pelos cabelos, bagunçando os
cachos. Ela não parecia querer acreditar. Quase fez uma enorme besteira
contra as pessoas erradas.

— Se a lei dos lobos não vai ser aplicada, então o que...? – Brian
perguntou confuso.

— Yuri vai dar uma punição alternativa, assim como fez com você da
outra vez. – Levi respondeu, antes que eu abrisse a boca.
Brian assentiu.

— Josh já deu o seu veredito sobre Joyce e cabe a mim, agora, dar o
meu, tendo em vista a gravidade da situação.

— O que Josh decidiu? – Brian perguntou, olhando confuso para Josh.


— Se você não tivesse se casado às escondidas, estaria por dentro do
que acontece na alcateia. – Blake aproveitou a chance para alfinetar o irmão.

— De novo esse assunto. Puta merda! – Brian se recostou no sofá e


fechou os olhos, parecendo cansado.

— Eu nunca vou esquecer. – Blake cruzou os braços na altura do peito


e ficou emburrado. Daniel passou um braço pelos ombros dele e o abraçou.
— Podemos voltar a discussão? – Adele perguntou meio impaciente.

— Sim, Yuri estava falando sobre a minha punição para Joyce pela
transgressão. Apenas esclarecendo para quem ainda não saiba, mas eu decidi
que ela não será mais a minha beta. Vou escolher um entre os outros
membros da alcateia e o mais forte será o meu segundo no comando. – Josh
anunciou. Ele não parecia feliz com aquele arranjo.

— Hum! – Brian bufou com um sorriso triunfante no rosto.


Provavelmente ele achava que ganharia o lugar de Joyce.
O semblante da ex-beta estava bem triste nesse momento.

— Joyce, você se arrepende do que fez? – perguntei a ela.

— Muito. De verdade, eu sinto muito. Não queria ter feito aquilo, ainda
mais com a Lua! Os bebês, meus irmãos de alcateia, os alfas... sinto muito! –
ela falou séria enquanto seus olhos percorriam todos os envolvidos naquele
fatídico dia.
— Está tudo bem. – Blake disse e segurou uma das mãos dela, já que
estavam lado a lado. Pela cara de Daniel, ele não achou que estivesse tudo
bem, mas não disse nada.

— Muito bem, eu já estou pronto para dar o meu veredito. Mas antes
quero saber o que vocês dois decidiram. – disse, olhando de Joyce para
Micael.

O primo de Lua deu um suspiro e falou resignado:

— Não ficaremos juntos, alfa supremo. Essa moça não me deseja e está
muito feliz ao lado de Lana.

Adele suspirou aliviada e dessa vez foi ela quem ganhou um olhar
fulminante de Macayla.

— E você? Está bem com essa decisão? – perguntei a ele.


Não queria problemas futuros envolvendo confusões entre
companheiros. A alcateia de Belmonte já dava problemas apenas pelo fato de
existir e eu não queria que outros surgissem.

— Sim. Acho que prefiro a vida de solteiro mesmo. – ele deu de


ombros e sorriu de um jeito que não gostei muito, pois me lembrou os
sorrisos idiotas que ele dava para Lua.
— E você? Vai conseguir lidar com as decisões dele? – perguntei a
Joyce desviando o olhar de Micael.

Eu precisava ter uma certeza de que Joyce saberia lidar com as suas
escolhas. Não queria que ela tivesse um ataque toda vez que Micael estivesse
com outra pessoa em sua vida, e eu sabia que a vida daquele idiota era
bastante movimentada naquele quesito.

— Sim, vou manter contato com Micael, mas com menos frequência.
Não vou atrapalhar a vida dele. – Joyce respondeu séria. Ela sabia que não
deveria mentir para mim, pois as consequências seriam piores.
— Você não me atrapalha, gata. – ele deu um sorriso de lado e eu quis
socar a cara dele.

— Fique quieto, Micael. – Adele falou e eu concordei com ela.

— Ótimo. Então acho que agora posso dizer qual foi a minha decisão.

— Pode dizer, Yuri. – Joyce assentiu tranquila. Ela parecia conformada


em receber qualquer que fosse a minha decisão.

— Ok. Eu decidi que Joyce não merece ser a madrinha de Ayla. Minha
filha terá como padrinhos Josh e Maya. – cruzei os braços na altura do peito e
encarei onze pessoas atônitas.
CAPÍTULO 23

YURI

— Você está falando sério?! É essa a sua decisão?! – Josh me


perguntou com um misto de surpresa e indignação.

— Sim, estou falando sério, muito sério.


Sim. Aquela foi a minha decisão. Não podia magoar Lua com algo
drástico, então resolvi a questão que a minha companheira passou a gravidez
toda em dúvida: Quem seria a madrinha de Ayla. A “irmã” e amiga, ou a
amiga e mãe do nosso afilhado. Só esperava que no final das contas, Lua não
ficasse brava por eu ter decidido aquilo sem a ciência dela.

Micael começou a gargalhar, e Mirela o acompanhou. Até Brian deu


uma risada também.

— Essa é a minha punição? Eu não serei a madrinha de Ayla? – Joyce


me perguntou atônita, sem esperar que a risada no ambiente cessasse.
— Acho que não faria muito sentido, depois de tudo o que aconteceu. –
esclareci.

— Certo. – Joyce assentiu, ainda sem acreditar.

— Sábia decisão, alfa supremo. Assim não magoa a sua companheira. –


Levi falou sorridente.
— Então quer dizer que a minha neta é quem toma as suas decisões? –
Adele me perguntou com o olhar semicerrado.

Silêncio. As gargalhadas cessaram no mesmo instante.


— Vovó... – Micael começou, mas eu o interrompi:

— Não se engane, Adele. Eu sou o alfa supremo das alcateias da deusa


Luna. A Lua é a minha companheira e eu a amo. Sempre ouvirei os seus
pedidos, mas isso não significa que ela mande em mim. Lua sabe o seu lugar
e jamais tentaria me manipular. Ela é uma descendente e reencarnação da
deusa, mas também é uma loba e membro desta alcateia. Querendo ou não,
ela se submete às minhas ordens também. – falei com os últimos fios de
paciência que restavam em mim.

Adele ficou me encarando por um bom tempo e eu não desviei o olhar.


Sabia que ela não era uma mulher ranzinza e mal-humorada daquele jeito, e
que o seu comportamento “rebelde” se devia a toda essa confusão de Micael
e Joyce. Quem diria que aquela senhora poderia ser tão rebelde quanto Lua...
Por fim, Adele assentiu e quebrou o contato visual comigo. Quase pude
escutar o suspiro de alívio da alcateia.

— Acho que podemos encerrar por aqui. Yuri quer voltar para casa e
Joyce já recebeu as suas punições. – Josh falou sério enquanto coçava a
cabeça.

— Ótimo! Reunião encerrada. Até mais. – falei e quase corri para a


porta da casa de Josh, mas Adele me chamou e fez eu interromper os meus
passos apressados. Parei perto da porta e a encarei.
— Yuri! Espere! – ela se levantou e veio até mim. – Você pode me
levar até Lua? Gostaria de falar com ela e ver a minha bisneta.
Suspirei. Lua e eu havíamos combinado que nos primeiros momentos
de vida de Ayla, as visitas de parentes e amigos seriam restritas. Não
queríamos que a nossa bebê, tão pequena, ficasse exposta a germes e
bactérias de outras pessoas. Estávamos sendo cuidadosos com a nossa
lobinha e tomando todas as precauções devidas para mantê-la saudável.

No entanto, Adele fazia parte da família. Ela era avó de Lua e as duas
se aproximaram bastante nos últimos meses. Imaginei que não haveria
problemas se Adele fosse ao encontro das minhas garotas.

— Tudo bem, mas nada muito demorado, por favor.

— Obrigada! – ela deu um sorriso radiante, que me lembrou um pouco


o de Lua. – Só vou buscar a minha bolsa.

Ela saiu quase correndo e subiu as escadas em direção ao seu quarto.


Para alguém da idade dela até que ela estava bem ágil. O resto da alcateia
estava começando a se dispersar e eu queira ir embora o mais rápido dali
também.
Josh e Maya se aproximaram de mim, que continuei parado perto da
porta. Os dois estavam sorridentes.

— Muito bem, alfa supremo. Mantendo a paz no lar. – Josh comentou


brincalhão.

Revirei os olhos.
— Essa foi a melhor decisão.

— Com certeza.

— Yuri, nós gostaríamos de visitar nossa afilhada. Será que podemos ir


amanhã lá na casa do Neandro? – Maya perguntou.
— Claro, sem problemas. Lua vai gostar de falar com você e trocar
experiências.

— Obrigada!
— Então nos vemos amanhã. Isso é, se a Lua não te matar até lá. – Josh
brincou de novo.

Balancei a cabeça negativamente.

— Maya, você pode dar um jeito no seu marido?

— Estou tentando, mas é difícil. – Maya respondeu com um falso olhar


de desgosto.

Josh abraçou a esposa de lado e deu um beijo na bochecha dela.


Imediatamente me lembrei de Lua e meu coração se apertou de saudades da
minha companheira. Eu não estava afastado dela nem uma hora e já sentia a
sua falta.

— Podemos ir. – Adele falou enquanto se aproximava de nós.


— Ok. Tchau, Josh! Tchau, Maya! – acenei para eles enquanto abria a
porta para Adele passar.

— Tchau, até amanhã! – meu primo se despediu e Maya acenou ao lado


dele.

Entrei no carro e Adele se sentou ao meu lado.


— Estou louca para conhecer a minha bisneta! – ela exclamou animada.

— Logo, logo vocês vão se conhecer. – falei enquanto manobrava para


sair do acostamento.

Depois disso, ficamos em silêncio até chegar na casa de Neandro, o que


não demorou muito. Assim que entramos, levei Adele direto para o quarto
onde Lua e Ayla estavam. Neandro estava lá com as minhas duas garotas.

Ayla dormia tranquila no berço, enquanto era vigiada pelo meu sogro.
Pela cara dele, Ayla conseguiu derreter até o homem mais bravo de
Belmonte.
— Como ela está? – perguntei sem tirar os olhos do berço. Parecia que
Ayla exercia algum tipo de magnetismo em mim e em todos a sua volta.

— Dormindo. Lua foi tomar um banho e eu fiquei aqui a vigiando. –


Neandro falou sorridente, mas logo seu sorriso murchou, quando ele viu
Adele atrás de mim. – Adele. – ele disse sem emoção.

— Neandro. – a avó de Lua imitou a sua entonação.


Ótimo. Aquilo era justamente o que eu precisava naquele momento!

— Adele veio dar uma olhada em Ayla. – expliquei ao meu sogro.

— Entendo.
Nesse momento, Lua saiu do banheiro vestindo um de seus vestidos
longos e soltos da gravidez. Ela estava com o cabelo molhado do banho e de
chinelos. Ela olhou para cada um de nós e franziu o cenho.

— Aconteceu alguma coisa? Por que essas caras?

— Nada. Adele veio visitar vocês. – falei e gesticulei para a senhora


que estava de pé ao meu lado.
— Ah, sim. – Lua sorriu.

Decidi tirar o delegado de cena, para que as alfinetadas não


começassem.

— Vamos lá para fora, Neandro. Vamos deixar as mulheres


conversarem.
Neandro me olhou semicerradamente e Lua franziu o cenho. Sabia que
tinha falado algo idiota, mas precisava tirar Neandro dali.

— Tudo bem. – o delegado assentiu por fim, e me seguiu para fora do


quarto.
Eu sabia que Lua estava curiosa sobre a minha punição para Joyce, e
sabia também que ela devia estar confusa com a visita de Adele, mas ela teria
que guardar a sua curiosidade para depois.
CAPÍTULO 24

LUA

— Ela é linda, Lua. – Adele comentou enquanto observava Ayla dormir


no berço.

— É verdade. Eu não consigo tirar os olhos dela. – me sentei na beirada


da cama para observar a minha avó.
— Ela já abriu os olhinhos? Já deu para ver a cor?

— Ainda não.

— Não se preocupe. É normal. Ela ainda está se ajustando a claridade


daqui do lado de fora. – Adele comentou sem tirar os olhos de Ayla.
Assenti. Não tinha pensado por esse lado, mas fazia sentido. Devia ser
escuro dentro da minha barriga e a claridade do mundo exterior devia a
incomodar os olhinhos sensíveis de Ayla.

Ouvi um grunhido protestando e logo Ayla começou a chorar. Pulei da


cama o mais rápido possível e fui até o berço. Ayla estava berrando
novamente, parecia incomodada.

— Quer que eu a pegue? – Adele perguntou solícita.


— Não, deve ser alguma cólica. A fralda foi trocada menos de meia
hora atrás. – respondi e peguei Ayla no colo.
Por precaução, chequei a fralda, mas ela estava limpa. Meu pai trocou
Ayla enquanto eu engolia rapidamente a sopa na cozinha.

Balancei a minha bebê no colo suavemente e fui me sentar na cama. Me


encostei na cabeceira para ficar mais relaxada e acomodar Ayla melhor em
meus braços.
— Ela só quer o colo da mãe, a danadinha. – Adele concluiu sorridente.

Sorri de volta para ela. Ayla parecia manhosa mesmo.

— Posso usar o seu banheiro, querida?


— Fique à vontade.

Enquanto Adele foi para o banheiro, fiquei embalando Ayla nos braços,
até que a minha lobinha parou de reclamar e voltou a dormir. Era só manha
mesmo.

Foi observando a minha filha dormir em meus braços que eu me dei


conta de todo o amor que sentia por ela. Ela tinha apenas um dia de vida, mas
eu já tinha me esquecido completamente de como era a vida sem ela. Agora,
tudo parecia mais colorido, com mais graça. A vida tinha um gostinho
diferente.

Pela minha visão periférica, vi que Adele tinha saído do banheiro


silenciosa. Ela devia estar dando espaço para mim e para Ayla, mas imaginei
que ela gostaria de segurar um pouco a bisneta nos braços.

Levantei o rosto e congelei na mesma hora. Os pelos do meu corpo se


arrepiaram e eu senti um frio enorme na barriga. Inconscientemente, apertei
mais Ayla contra mim e senti o sangue deixando o meu rosto.

Aquela ainda era Adele, mas ao mesmo tempo não era. A mulher
parada na minha frente tinha os olhos totalmente brancos, sem a íris ou
pupila, e usava um vestido amarelo sexy. Seu semblante estava sem vida e ela
“olhava” fixamente para mim. Seus cabelos soltos esvoaçavam ao seu redor,
dando a ela um ar de criatura etérea, celeste. Uma deusa.

— Vejo que a sua pequenina nasceu. – uma voz esquisita saiu da boca
de Adele.
— Adele? – murmurei a pergunta.

— Não, minha cara. Meu nome é Luna. Sou a deusa dos lobos, a
senhora das alcateias, da lua e da noite. Seu nome é Eluana, não é? A
companheira do atual alfa supremo das minhas alcateias.

Encarei a deusa atônita. Que diabos estava acontecendo? Por que a


deusa Luna estava ali, no corpo de Adele?
CAPÍTULO 25

LUA

Em um momento Adele, minha avó, tinha entrado no banheiro e logo


depois, aquela... “coisa” saiu de lá. Parecia ela, mas não era. Era errado, ao
mesmo tempo que era certo. Que confusão!

Imediatamente me lembrei de meses atrás, quando ela “possuiu” meu


corpo. Átila, o antigo alfa da alcateia de Romália, me induziu a colocar a
pedra da lua no pescoço, para assim invocar a deusa. Observei que Adele
tinha no pescoço uma pedra da lua, igual a que Yuri tinha escondido à sete
chaves em um cofre no seu escritório da Santinos.
— Deusa Luna? Como assim? Pensei que você tivesse voltado a...
dormir. – ou seja lá o que ela fizesse quando não “possuía” os corpos de suas
descendentes.

— Eu estava dormindo no sono eterno, minha criança, mas este


receptáculo me despertou. Ela estava preocupada com você e com a
pequenina. – a deusa Luna falou enquanto dava pequenos passos na minha
direção.

Odiava o jeito que ela falava de nós, suas reencarnações.


“Receptáculos”. Como se eu fosse um objeto, uma roupa que ela pudesse
usar a qualquer hora!
O quarto não era muito grande, então ela logo estaria bem pertinho de
mim. Ayla dormia quietinha no meu colo e a vontade que eu tive foi de
colocá-la de volta dentro da minha barriga, para que assim ficasse protegida.

— O que você quer conosco? – perguntei a ela.


A minha voz devia ter soado horrorizada, pois a deusa estacou no
lugar e inclinou a cabeça, me “encarando” com confusão. Eu digo
“encarando” porque não tinha certeza para onde ela olhava, já que seus olhos
eram totalmente brancos, horripilantes.

— Não pretendo fazer mal a vocês, criança. Não precisa ter medo de
mim. – ela falou com o cenho ligeiramente franzido, como se estivesse
realmente preocupada em me assustar.

— Então o quê? O que você está fazendo aqui? Por que está
“possuindo” o corpo da minha avó? – lancei as perguntas na defensiva, sem
tirar os olhos da deusa.
Meu corpo não estava totalmente recuperado do parto, mas se preciso
fosse, eu daria um pulo da cama e fugiria do quarto, com Ayla firme em meus
braços.

— Foi a sua avó quem me invocou, menina. Como eu já disse, ela


está preocupada com você e com a sua filha.

Encarei a deusa sem demonstrar reação nenhuma, mas acabei


engolindo em seco e perguntei:
— E por que ela faria isso? Todos sabemos que você não deve ser
acordada do sono eterno. Você vai destrui-la?

— Não, criança, você não está entendendo. Não vou destruir este
receptáculo, muito menos causar mal a vocês. Eu quero apenas ajudá-las.
Vocês têm meu sangue nas veias e precisam de mim. São carne da minha
carne, então eu sempre as ajudarei quando me invocarem, isso é, se não for
alguma besteira.

Agora eu estava boquiaberta e encarando a deusa com cara de idiota.


Adele a invocou para me ajudar? Como e por quê?
— De que forma você poderia nos ajudar? Eu não sei quais eram as
intenções de Adele...

— Antes de colocar o amuleto da pedra da lua, sua avó deixou um


bilhete, o qual eu li antes de encontrá-la aqui. – a deusa ergueu um pedaço de
papel em tamanho retangular que estava em sua mão e o mostrou para mim. –
Foi apenas isto que me impediu de destruir este receptáculo. – ela jogou o
papel em cima da cama, perto de mim.

Olhei da deusa para o papel. Ela estava sendo “boazinha” comigo ou


era apenas um jeito de me distrair?
Aquela deusa era minha ascendente e eu tinha o seu sangue nas veias,
porém isso não mudava o fato de que eu tinha muito medo dela. Por tudo o
que passei meses atrás e o relato de Yuri...

— Eu já disse que não precisa ter medo. Não confia em mim?

Engoli em seco.
— Não. – respondi baixinho, mas o som daquela palavra pareceu um
grito no silêncio que se seguiu dentro do quarto.

A deusa Luna abriu um vislumbre de sorriso.

— Muito esperta, criança. Você está certa. Não deve confiar em


ninguém. – ela falou com aprovação.
Ai, caramba! Ela estava me testando? Aquilo estava ficando pior a
cada minuto.

— Por favor, não machuque a minha filha. Ela é apenas um bebê. –


falei as palavras me embolando por causa do medo.
O pequeno sorriso sumiu do rosto da deusa.

— Muito interessante vocês humanos. As mães principalmente. Não


pediu pela sua vida, mas pela da criança em seus braços. Muito bonito.
Tocante. – ela fez uma breve pausa. — Mas eu não pretendo machucá-la,
nenhuma das duas. Quero apenas ajudar vocês. Sua avó me contou das suas
preocupações e me pediu uma forma de ajudá-las.

Franzi o cenho confusa e meio tonta. Ela estava novamente me


testando? Adele tinha invocado a deusa Luna para me ajudar? Sobre o que
seria essa ajuda?
Merda! A compreensão me atingiu de repente.

Lembrei da minha conversa com Adele, assim que Yuri e eu


chegamos em Belmonte. Contei a ela das minhas preocupações com Ayla e
com o seu futuro. Vamos dar um jeito nisso, minha filha. Não se preocupe.
Essas foram as exatas palavras da minha avó ao telefone.

Jamais imaginei que ela invocaria a deusa Luna para me ajudar. Nunca.
O que Adele estava pensando com essa sua atitude?

Engoli em seco e peguei rapidamente o papel que estava em cima da


cama. Apertei Ayla firme com um braço só, enquanto com o outro eu
segurava o papel para ler. Era a letra de Adele. Era a letra de Adele pedindo
uma forma de ajudar a minha lobinha, uma forma de protegê-la.
Deusa Luna, estou ciente de que seu sono não deve ser
interrompido. Porém eu a despertei com o intuito de lhe pedir
ajuda. Ajuda para as suas descendentes.

A atual companheira do alfa supremo é uma loba da alcateia


de Belmonte e também sua descendente. Ela está preocupada
com sua filha por nascer. A criança será muito poderosa e
ela tem medo de que corra riscos por conta disso. Não
sabemos que perigos espreitam à frente, por isso peço a sua
ajuda.
Apelo para o seu lado materno. Sei que teve filhos e que se
preocupou com eles da mesma forma. Se hoje em dia
existimos, foi porque você os protegeu da maldade dos
homens. Eu imploro sua ajuda, deusa Luna. Por favor, ajude
a minha Eluana e a sua filha.

Adele.

Olhei para a deusa Luna e ela me observava com uma pontada de


expectativa. Era difícil dizer ao certo, pois seu semblante era sério e
complicado de se interpretar. Nem parecia humana. Se bem que ela não era
humana...

— Como você pretende me ajudar? E Ayla?

O vislumbre de um sorriso voltou ao rosto da deusa Luna.


— Ayla. – ela pareceu “saborear” o nome. — A luz do luar. Eu gostei
do nome da sua pequenina. É bem significativo, tendo em vista quem ela é. –
a deusa comentou com aprovação.
— Sim, ela é uma descendente e reencarnação sua. – me segurei para
não revirar os olhos.

— Não apenas isso, criança. Ayla será a alfa suprema das minhas
alcateias futuramente. Ela será a loba mais poderosa que já caminhou na face
da Terra. Seu poder será inigualável e apenas superável pelos seus
descendentes, que terão o sangue do alfa supremo e das minhas
reencarnações misturados. Ela será forte e comandará todos os meus lobos.
Sua autoridade não será questionada. Ela dará início a uma nova geração de
lobos. – a deusa Luna falou com convicção.
Fiquei encarando a deusa, atônita.

Com um pouco de dificuldade, desviei o meu olhar da divindade parada


ali no meio do quarto e olhei para Ayla, que continuava quietinha em meus
braços. A minha pequena bebezinha seria a próxima alfa suprema e seria a
loba mais forte que já existiu.

Se eu não estivesse sentada, teria caído de bunda no chão, tamanha foi


a minha surpresa.
— Para que tudo o que eu acabei de dizer aconteça, Ayla precisa de
proteção e eu darei a ela. – ela continuou. – Ela precisa estar segura até ter
força o suficiente para ser a nova alfa suprema.

A deusa Luna tirou algo de dentro do decote profundo de seu vestido,


como se estivesse tirando um coelho da cartola. A diferença era que uma
cartola tinha bastante espaço para um coelho, já o decote da deusa... Deixava
pouco para a imaginação. Por outro lado, até que Adele estava com uma
ótima forma para alguém a idade dela. Ela devia se exercitar com um
personal trainer...

A deusa estendeu o objeto e eu recuei automaticamente, batendo com


as costas na cabeceira da cama. Já conhecia aquilo.

— Não vou colocar uma pedra da lua no meu bebê. – decretei e logo
adicionei: — Com todo o respeito.
A deusa Luna apenas negou com a cabeça, meio impaciente.

— Esse amuleto não é uma pedra da lua, criança boba. Essa é uma
pedra da estrela. Um amuleto de proteção. Ele é único. Só o usei antes em
meus próprios filhos, há muito tempo. – ela disse e deu mais alguns passos
para perto de mim, ainda com a mão estendida.

Pela proximidade, pude observar melhor a tal pedra da estrela. Era


bem diferente da pedra da lua, apesar de ainda ser uma pedra oval do
tamanho de uma moeda. Sua cor era preta, com milhares de pontinhos
brilhantes. Parecia um céu noturno estrelado. Era muito bonita.
— Como esse amuleto funciona? – perguntei meio cética. Não ia
arriscar Ayla com qualquer objeto desconhecido.

— Coloque-o no pescoço da sua filha e ela ficará imune aos ataques


de qualquer inimigo. Nada a atingirá.

Franzi o cenho.

— Um ataque inimigo?

— Sim. Ela ficará segura se for atacada. Ninguém que queira o seu
mal a atingirá. O amuleto funciona como uma armadura, blindando-a de
ataques inimigos.

Assenti ainda com o cenho franzido e estendi a mão para pegar o


amuleto, mas parei no meio do caminho e recolhi a mão.
— Você disse há pouco que eu não devia confiar em ninguém. Por
que acreditaria nas suas palavras agora? – perguntei a ela desconfiada.

— Porque, criança teimosa e rebelde, eu fui despertada do meu sono


eterno apenas para isso. Não tenho intenção nenhuma de fazer mal a vocês e
pretendo voltar a dormir o mais breve possível. Se eu quisesse fazer algum
mal, ninguém mais dentro dessa casa estaria vivo. – A deusa falou
impaciente.
Engoli em seco e assenti. Ela tinha um bom argumento e me
convenceu.

Estendi a mão de novo e peguei o amuleto. Era ainda mais bonito de


perto.

— Acho que vai querer usar primeiramente como uma pulseira, já que
sua filha ainda é muito pequena. – a deusa opinou.
— Ela nasceu ontem.

Agora eu pude ver um sorrisinho no rosto da deusa.

— Meus parabéns. Ela é linda.


— Obrigada.

— Cuide bem da sua filha, Eluana. Não quero ser despertada


novamente por causa do seu descuido.

Assenti séria. Sabia que a deusa tinha feito uma ameaça semelhante a
essa a Yuri. Ela não brincava em serviço.
— Minha missão acaba por aqui. Espero não voltar a vê-la,
companheira do alfa supremo.

— Idem.

Eu estava com medo, era verdade, mas por Ayla, eu iria até o infinito.
O sorrisinho voltou a aparecer no rosto da deusa. Ela ergueu as mãos
ao próprio amuleto no pescoço e o retirou. Rapidamente uma fumaça espessa
tomou conta do seu corpo, cobrindo-o por inteiro e logo desapareceu, levando
a deusa com um vestido sexy embora. No seu lugar estava Adele, de calças
de alfaiataria e camisa social. Ela cambaleou e caiu para trás, desmaiada.

Me recuperando do choque, me levantei da cama com Ayla nos


braços e corri para fora do quarto, atrás de Yuri e do meu pai. Eles não iam
acreditar no que tinha acabado de acontecer.
CAPÍTULO 26

YURI

Neandro não estava feliz por estar na cozinha comigo, mas pelo menos
não falou nada. Ele não ia muito com a cara de Adele. Não sei se era por
causa de Cibelle ou se era algo contra as sogras mesmo. O delegado não era
um homem de se abrir muito. Dava para contar nos dedos de uma mão as
pessoas mais próximas a ele, e com certeza eu não era uma delas.

— Você já comeu alguma coisa? – ele me perguntou.


— Não. Com toda essa confusão, acabei esquecendo.

E era verdade. Só tinha almoçado rapidamente no hospital e depois


fiquei com Lua e Ayla o tempo todo.

— Tome um pouco dessa sopa. Serena e Macayla fizeram muita e vai


dar para todos comerem e repetirem. Além disso, você precisa estar bem
alimentado. Lua e Ayla vão precisar de você.
— Tudo bem. – assenti e fui me servir. O delegado estava certo. Eu
sabia que Lua estava cansada e que Ayla me chamaria no decorrer da noite.

Enquanto eu tomava minha sopa, percebi que o delegado estava


inquieto. Como eu sabia que ele adoraria estar lá no quarto com Lua e Adele,
resolvi distraí-lo um pouco.
— Você já ficou sabendo do resultado da reunião? – perguntei a ele.

— Não. Macayla não me ligou. – ele pegou o celular para confirmar a


ausência da ligação da esposa. – O que você decidiu?
— Joyce não será a madrinha de Ayla. Essa foi a minha punição
alternativa.

Neandro me encarou sério e piscou.

— Essa foi a sua decisão?

— Sim.

O delegado fez uma careta e assentiu.

— Acho que foi melhor assim. Nem Lua e nem Macayla iam aceitar
algo muito drástico. Eu também não gostaria disso. Gosto muito de Joyce, ela
é como uma filha para mim. Mesmo antes de Macayla e eu termos
oficializado a nossa relação, eu já tinha uma afeição por aquela menina. – ele
falou sincero.
Assenti e tomei outra colherada de sopa.

— Infelizmente, isso é ruim.

— Como assim? – perguntei confuso.


— Não a sua decisão, mas o que aconteceu. Isso é ruim. Joyce se
voltou contra a sua alcateia e contra dois alfas. Ela poderia ter machucado
Ayla e Lua.

Um gosto amargo tomou conta da minha boca e meu apetite sumiu.


Larguei a colher imediatamente.

— Não me leve a mal, Yuri, mas você não está preocupado com o
futuro de Ayla? Não tem medo de que a situação que aconteceu aqui se
repita? – o delegado me perguntou com o cenho franzido. Com certeza aquela
preocupação também já tinha passado pela cabeça dele.

— Claro que eu tenho, Neandro. Isso vem me tirando o sono nos


últimos meses, e esse incidente com a Joyce só piorou as coisas, pois as
possibilidades ficaram bem reais agora.
— E o que você pretende fazer?

— Não sei. Eu... preciso arrumar uma forma de proteger a Ayla.

Eu faria isso, só não sabia como. Nem para Lua eu tinha contado as
minhas preocupações. Neandro assentiu, sem tirar os olhos do meu rosto.
— Vamos arrumar um jeito. Não vou deixar minha neta desamparada.

Agora foi a minha vez de franzir o cenho. Será que eu tinha entendido
bem o que Neandro disse pelas entrelinhas?

— Você está pensando em voltar a se transformar?! – perguntei a ele.


— Se for preciso, sim.

Agora foi a minha vez de encarar Neandro. Ele estava falando sério,
muito sério.

— Não acho que seja uma boa ideia. E eu não autorizo. – falei
calmamente e cruzei os braços na altura do peito.
Neandro me lançou um olhar fulminante e eu reprimi um sorrisinho.
Meu sogro poderia ser casca grossa do jeito que fosse, mas no final, era a
mim que ele deveria obedecer sem questionar, pelo menos em relação aos
assuntos dos lobos.

Quando ele abriu a boca para rebater alguma coisa, ouvi passos
apressados e vi Lua entrando na cozinha quase correndo. Ela estava meio
pálida e trazia Ayla nos braços. Parecia assustada com alguma coisa.

Imediatamente me levantei e fui até ela, com meus instintos de proteção


à flor da pele. Minha companheira e minha filha supostamente corriam perigo
e eu estava em alerta.
— O que aconteceu? – perguntei a ela.

— Adele. A deusa Luna estava possuindo o corpo dela! – Lua falou


meio atrapalhada.

Eu tinha entendido direito?


Neandro foi mais rápido do que eu e correu pelo corredor, em direção
ao nosso quarto.

— Fique atrás de mim. – falei rapidamente para Lua e segui os passos


do meu sogro.

Por um milagre, minha companheira fez o que eu disse e veio atrás de


mim.
Quando cheguei ao quarto, vi Adele no chão, desmaiada. Neandro
estava checando seus sinais vitais. Um amuleto de pedra da lua estava em
suas mãos.

A deusa Luna esteve ali, com Lua e Ayla, usando o corpo de Adele.

Neandro e eu colocamos Adele deitada na cama e tentamos acordá-la.


Se fosse igual da última vez que a deusa esteve conosco, eu sabia que a
“possessão” tinha consumido as forças de Adele e ela estaria exausta, assim
como Lua ficou.

Minha companheira ficou de pé, na porta do quarto, com Ayla nos


braços. Ela não tirava os olhos da avó, ainda meio assustada.
— Meu amor, coloque Ayla no berço e venha se sentar aqui. – eu disse
a Lua, mas minha esposa apenas negou com a cabeça.

Suspirei e voltei a observar Adele, que dormia sem nenhuma


preocupação nas feições. Neandro estava ao telefone, ligando para Macayla
trazer Joyce até aqui, para examinar Adele. No primeiro momento, fui contra
essa decisão, pois não queria que Joyce ficasse perto de Ayla e Lua
novamente, mas acabei concordando, já que era um caso de necessidade e
esperava que Joyce tivesse aprendido a lição.

Voltei a olhar para Lua e ela continuava do mesmo jeito. Me aproximei


da minha companheira e disse:
— Não tenha medo, meu amor. Ela não está usando o amuleto, a deusa
já foi embora.

O amuleto que Adele tinha nas mãos estava no bolso da minha calça e
eu pretendia escondê-lo muito bem, assim como fiz com o outro que Átila
tinha dado para Lua. O que me intrigava nessa história toda era saber que
Adele tinha uma pedra da lua daquelas. Será que ela tinha outras? Será que
havia outras?

— Eu não entro enquanto ela estiver aí.


— Aquela ali deitada é a sua avó. A deusa não está mais aqui.

Lua continuou firme onde estava. Teimosa e rebelde até o fim.

— O que a deusa fez ou disse para você ficar com tanto medo assim?
Lua negou com a cabeça.

— Ela não fez nada, mas fiquei assustada mesmo assim. Tive muito
medo por Ayla. – ela disse e olhou para a nossa lobinha em seus braços.
— Por que Adele estava com o amuleto no pescoço?

— Ela queria que a deusa nos ajudasse e ela ajudou. Eu acho.

— Como assim? – perguntei enquanto pegava Ayla nos meus braços,


pois estava vendo como Lua estava cansada de carregá-la.

Lua meteu a mão no decote do vestido e eu levantei uma sobrancelha.


Que diabos... Ah, ela tirou um colar do decote. Um colar muito parecido
com... a pedra da lua?!

— Uma pedra da lua? Como isso ajudaria em alguma coisa?

— É que... – mas Lua não completou, pois a porta da frente da casa foi
aberta e alguém entrou.
Lua deu um pulo no lugar, mas logo relaxou. Dei um passo para fora
do quarto para ver quem tinha chegado e também relaxei um pouco. Eram
Macayla e Joyce que tinham chegado.

Macayla veio andando rapidamente pelo corredor, preocupada,


enquanto Joyce veio andando mais devagar, com o rosto abaixado, parecendo
envergonhada.

— O que aconteceu? – Macayla perguntou assim que entrou no quarto.


– Por que essa velha está deitada na cama de vocês?
— Mãe! – Joyce repreendeu a confeiteira.

— Ela tinha uma pedra da lua e isso. – Neandro respondeu por nós e
mostrou um papel que encontrou no chão.
— O bilhete para a deusa Luna! – Lua exclamou.

Joyce entrou no quarto meio envergonhada e sem nos olhar nos olhos.
Ela foi em direção a Adele e começou a examiná-la. Sem tirar os olhos dela,
perguntei a Lua:
— Por que ela tinha um bilhete para a deusa?

— Porque ela queria que a deusa Luna nos ajudasse! Yuri, você está
escutando o que eu estou falando?

— Perfeitamente, minha loba, mas eu não a entendo! – repliquei


olhando para os olhos irritados de Lua.
— Por que você não conta o que aconteceu desde o começo, minha
filha? – Neandro perguntou a Lua, se metendo na nossa conversa.

— Tudo bem. Só vamos sair daqui, por favor. – Lua falou e deu um
suspiro.

— Vamos para a sala enquanto Joyce examina melhor a velhota, quer


dizer, a Adele. Desculpa, Lua. – Macayla fez uma careta.
Lua apenas balançou a cabeça e seguiu pelo corredor. Eu, Macayla e
Neandro a seguimos para a sala.

— Por que você não colocou a bebê no berço, Yuri? – Macayla


perguntou com o cenho franzido.

— Não quero ela lá enquanto Adele estiver lá dentro. – Lua respondeu


por mim enquanto nos sentávamos.
— Ah! – ela exclamou e assentiu, compreensiva.

Lua se sentou ao meu lado e praticamente grudou em mim,


entrelaçando um dos braços no meu e encostando a cabeça no meu ombro,
para olhar para a nossa lobinha. Odiava que ela ainda estivesse com medo.

Todo o trabalho de vir para Belmonte para proteção de Lua e Ayla tinha
sido por nada. Minha companheira estava apavorada por causa da deusa, em
um lugar que deveria ser tranquilo e seguro para ela ter a nossa filha.
A deusa Luna não deveria causar essa reação em nenhum de nós, mas
infelizmente, os acontecimentos de meses atrás na floresta de Belmonte
acabaram moldando os nossos instintos e sentimentos em relação a ela.
Esperava que essa fosse a última vez que a deusa aparecesse, agora
definitivamente.
CAPÍTULO 27

YURI

— Adele sabia que eu estava com medo do futuro de Ayla, por isso
pediu ajuda à deusa. – Lua disse.

Minha companheira estava tão receosa quanto eu, no final das contas.
Me senti ruim por Lua ter passado a gravidez toda com essa preocupação. Eu
deveria ter feito alguma coisa, deveria ter conversado com ela, dividido as
minhas preocupações, ter exposto a situação e a tranquilizado. Mas não.
Deixei a minha companheira sozinha com seus medos. Que merda de
companheiro eu era para Lua?!
— Você conversou com Adele? – perguntei a ela.

— Sim, no sábado ela me ligou e acabamos conversando sobre isso. –


ela explicou.

— E foi por isso que ela veio até aqui com aquela pedra? Para que a
deusa te ajudasse? – Neandro perguntou.
— Sim.

— Mas essa mulher não gosta de ser acordada! – Macayla exclamou


confusa.

Lua sorriu, mas não achava nada engraçado.


— Ela disse que teria destruído Adele e que só não fez isso porque leu
o bilhete dela e viu que nós precisávamos de ajuda.

Merda! O que será que a deusa falou especificamente para Lua? Isso
deveria ter sido assustador.
— E qual foi a ajuda dela? Outra pedra? – perguntei a Lua.

Ela assentiu e me mostrou novamente o amuleto. Ele era parecido com


a pedra da lua, mas a pedra desse era mais escura e com pontos brilhantes de
luz.

— É uma pedra da estrela. Ela disse que é um amuleto de proteção.


Funciona como uma armadura e protegerá Ayla de qualquer ataque inimigo.
– Lua explicou enquanto brincava com o amuleto na mão.
— Você acreditou nela, Lua? – Neandro perguntou preocupado, sem
tirar os olhos do amuleto na mão da filha.

— Sim. Ela disse que se quisesse ter feito mal a nós, ninguém aqui
dentro estaria vivo.

Merda!

— Tudo bem. Acho que já escutei o suficiente sobre a deusa. – falei e


dei um beijo na cabeça de Lua, que continuava apoiada no meu ombro. Ela
deu um suspiro aliviado.

— O que vocês vão fazer com a pedra? – Macayla perguntou.

— Colocar em Ayla. – Lua respondeu, como se fosse óbvio.


Fiquei calado, pois ainda tinha minhas dúvidas sobre aquilo.

Nesse momento, Joyce apareceu na sala, amparando Adele, que parecia


meio tonta. A loba colocou a avó de Lua sentada no sofá que estava vazio e
foi até a cozinha. Ao meu lado, Lua ficou em alerta e apertou mais o meu
braço.

— Você está bem? – Lua perguntou a ela, com um misto de


preocupação e medo.
— Acho que sim. – Adele falou com a voz meio fraca.

— Que bom, porque assim você pode nos explicar o que foi que deu
em você para trazer a deusa Luna para dentro da minha casa e para perto da
minha filha e da minha neta! – Neandro exclamou puto.

Adele, que estava distraída coçando a cabeça, de repente se deu conta


do que tinha feito. Lua relaxou um pouco, mas continuou grudada em mim.
Ayla se remexeu um pouco, mas não acordou.
— Eu... – mas ela foi interrompida por Joyce que deu a ela um copo de
água. – Obrigada. – ela sorriu meio sem graça.

Joyce assentiu. Macayla bufou. Ela não tinha esquecido as grosserias


que Adele tinha disparado contra a filha dela.

Adele bebeu a água devagar, provavelmente ganhando tempo para nos


enfrentar.

— Já? – Neandro perguntou impaciente.

— Eu sinto muito, Neandro, mas foi preciso. A deusa Luna era a única
que podia ajudar a Lua.

— E você não pensou em nenhum momento em nos contar os seus


planos? – perguntei a ela.
— Vocês não teriam concordado comigo. Foi melhor assim. – ela olhou
para Lua e perguntou: — Deu certo?
Lua assentiu.

— Sim, Ayla vai ficar protegida. – Lua não deu mais detalhes e Adele
não pediu também.
Senti que Lua não contou tudo a Adele e nem a nós. Precisava
perguntar a ela tudo o que a deusa tinha falado.

A avó de Lua sorriu.

— Você ainda tem outras pedras da lua? – perguntei a ela preocupado.

— Não, eu... – ela começou a tatear pela roupa, provavelmente


procurando o amuleto. – Onde está?

Peguei o amuleto que estava no bolso da minha calça e mostrei a ela.

— Você se refere a isso? – perguntei a ela e vi seus olhos se focarem


apenas no objeto pendurado na minha mão.
— Sim! Meu amuleto! Pode me devolver. – ela esticou a mão, mas eu
fechei a minha com o amuleto dentro.

— Não. – disse a ela.

— O quê?

— Você tem outros desse? – Neandro renovou a minha pergunta.

— Não, esse é o único que eu tenho e está na família há gerações! Eu


exijo o meu amuleto de volta!

— Não. – falei de novo.


Eu bem sabia que a família de Adele tinha muitos tesouros e riquezas
provindos da deusa Luna, só não imaginava que fossem daquele tipo. A avó
de Lua tinha passado a ela uma quantidade obscena dessas riquezas há algum
tempo e minha companheira reservou tudo para os nossos futuros filhos.

Escutei Lua rindo baixinho ao meu lado. Ayla se remexeu um pouco no


meu braço, mas continuou dormindo apesar da agitação ao seu redor. Graças
a deusa a minha lobinha era um anjinho.
— Eu quero o meu amuleto de volta! Isso é furto! Vou na polícia
prestar uma queixa! – Adele exclamou indignada.

— Eu sou a polícia, Adele. Não há crime nenhum aqui. – Neandro


rebateu tranquilo e se recostou na poltrona. Macayla abriu um grande sorriso.

Adele ficou mais indignada ainda.


— Lua! – ela exclamou, recorrendo a neta.

— Desculpa Adele, mas é o melhor assim. – Lua devolveu as palavras


dela. – O alfa supremo é quem deve ficar com os amuletos e controlar as
“visitas” da deusa.

Adele fez uma carranca, nada feliz com as palavras de Lua.


— Tudo bem. – ela se deu por vencida. – Podem ficar com a minha
pedra. – ela se levantou do sofá, meio cambaleante. – Acho que já é hora de
ir. Micael e eu voltaremos para Romália amanhã.

— Boa viagem. – Macayla disse sorridente.

Lua se soltou de mim e se levantou. Ela foi até Adele e a abraçou.


Achei aquilo inesperado, até que Lua se soltou dela e disse:
— Daqui pra frente vamos manter contato pelo telefone, apenas. Quero
ficar um tempo sem olhar para você.

Adele arregalou os olhos, mas assentiu.

— Entendo. – ela disse e pegou a bolsa, que Joyce tinha colocado no


sofá. – Já estou indo embora. Desculpem pelo inconveniente.

Antes que qualquer um abrisse a boca, Lua respondeu:

— Tudo bem, vovó. Tchau!

Adele, que estava com a mão na maçaneta da porta, parou e sorriu para
Lua, seus olhos brilhando. Acho que a minha companheira nunca tinha se
referido daquele jeito carinhoso a ela.

Adele foi embora e todos podemos respirar aliviados. Mas apenas por
pouco tempo, pois Ayla acordou e colocou todos em ação.
CAPÍTULO 28

LUA

Depois que Adele foi embora, Yuri e eu voltamos para o nosso quarto
para acomodar Ayla no berço e eu poder descansar um pouco de toda aquela
confusão. Estava me sentindo exausta e tinha quase certeza de que apagaria
assim que me deitasse na cama.

Yuri precisou trocar a fralda de Ayla antes de colocá-la no berço, pois


ela tinha acordado incomodada com isso. E pensar que de tudo o que
aconteceu naquela noite, Ayla apenas acordou por causa de uma fralda suja.
Nossa lobinha reclamou um pouco quando foi colocada no berço: Ela estava
se acostumando a ficar no colo, mas logo voltou a dormir e eu pude me deitar
para descansar.

— Lua, a deusa disse mais alguma coisa, além de prestar ajuda? – Yuri
me perguntou e veio se sentar ao meu lado na cama.

Quando ia replicar que não, me lembrei das revelações que a deusa


Luna fez sobre Ayla. O sono que eu estava sentindo se dissipou.

Ayla será a alfa suprema das minhas alcateias futuramente. Ela será
a loba mais poderosa que já caminhou na face da Terra. Seu poder será
inigualável e apenas superável pelos seus descendentes, que terão o sangue
do alfa supremo e das minhas reencarnações misturados. Ela será forte e
comandará todos os meus lobos. Sua autoridade não será questionada. Ela
dará início a uma nova geração de lobos.

Essas foram as palavras da deusa. Uma profecia sobre o futuro de


Ayla.
— Lua? – Yuri chamou a minha atenção.

— Ayla será a próxima alfa suprema. Ela será a loba mais poderosa
que já caminhou na face da Terra e ela dará início a uma nova geração de
lobos, que terão o sangue da deusa e do alfa supremo misturados. – contei
tudo a Yuri de uma só vez, enquanto me sentava na cama.

Meu companheiro ficou me olhando, sem dizer nada. Parecia tão


atônito quanto eu fiquei quando a própria deusa me disse essas palavras.
— A deusa Luna disse isso?

— Sim. – confirmei.

Ele assentiu pensativo.


— É por isso que ela precisa do amuleto da pedra da estrela. Ela
precisa de proteção até que seja forte o suficiente para assumir o seu posto.

Eu ainda segurava o amuleto da pedra da estrela na minha mão e


fiquei olhando para a pedra e imaginando o futuro de Ayla, o futuro da minha
pequena lobinha.

— Será que podemos confiar na deusa? Esse amuleto protegerá


mesmo a Ayla? – Yuri perguntou desconfiado.
— Acho que sim. A própria deusa disse que não faria mal a nós, e que
queria Ayla protegida, até ela ficar forte o suficiente para se proteger. Não
faria sentido a deusa ser acordada por uma besteira e ficar tudo por isso
mesmo. Se fosse isso, ela mesma teria destruído todos nós, como ela mesma
disse.

— Ok! Vamos esquecer a deusa e sua sede de sangue e vamos focar


em Ayla. Nossa filha será a próxima alfa suprema e precisa da proteção do
amuleto.
— Sim. – concordei.

— Então vamos colocar o amuleto nela.

Assenti.
Yuri ajudou a me levantar da cama e fomos até Ayla, que continuava
dormindo. Entreguei o amuleto para o meu companheiro, que o colocou no
bracinho de Ayla, dando várias voltas no cordão até ficar ajustado nela. A
lobinha nem se mexeu.

— Pronto. Isso deve resolver. Quando voltarmos para Olímpia,


podemos mandar fazer uma pulseira para ela.

— Tudo bem. – falei e bocejei, cansada.


Yuri desviou os olhos para mim e sorriu.

— Você precisa descansar, meu amor. Essa agitação toda não é


saudável.

Com certeza. Fazia pouco mais de um dia que eu tinha parido Ayla e
não estava plenamente recuperada. Sorri para Yuri e o abracei. Antes que eu
me desse conta, Yuri me pegou no colo e me levou para a cama.
Assim que ele me colocou delicadamente nos lençóis, ele disse:

— Preciso te mostrar uma coisa que eu fiz. Não durma ainda, por
favor.
— Vou tentar. – falei enquanto me aninhava mais na cama.

Yuri foi até a pequena escrivaninha do meu quarto e começou a


remexer uns papéis. Imaginei que fosse algo sobre a Santinos, até que ele
puxou uma única folha e me mostrou, todo sorridente.
Era um desenho, Ayla e eu. Eu segurava a minha bebê no colo e a
admirava com amor. Achei incrível como Yuri era habilidoso e conseguiu
passar para o papel o sentimento que transbordou do meu peito no momento
que eu segurei Ayla no colo naquele quarto de hospital. E eu nem parecia tão
ruim assim para quem tinha acabado de parir.

— Gostou? Não sei se ficou muito bom, fiz na pressa, enquanto você
dormia no hospital. Fiquei com medo de esquecer os detalhes... – eu o
interrompi:

— Ficou lindo, Yuri. Obrigada. Você é muito talentoso.


Ele sorriu o sorriso que eu adorava.

— Eu tive a melhor das inspirações. Os amores da minha vida. – ele


se aproximou de mim e encostou os lábios nos meus, de forma carinhosa e
pegou o papel da minha mão. – Vou mandar emoldurar quando chegarmos
em Olímpia.

Fiz uma careta, mas logo sorri.


— Ok.

— Lua, eu... Sinto muito. – Yuri deu um suspiro. – Eu devia ter


contado a você as minhas preocupações sobre Ayla e o futuro dela. Não
queria que você passasse a gravidez toda sofrendo com isso sozinha.

— Você também estava preocupado com isso?


Yuri não tinha me falado nada e eu estava certa ao supor que ele me
escondia alguma coisa. Ele também estava preocupado com Ayla esse tempo
todo.

— Claro. Não estava conseguindo nem dormir direito com essas


dúvidas nos últimos meses. Nós devíamos ter conversado e compartilhado
nossos medos.
Assenti.

— Não vou dizer que isso não me deixa chateada, porque deixa, mas
eu entendo. Eu também deveria ter falado com você. – dei um suspiro
resignado. – Ambos erramos, novamente.

Yuri levantou uma sobrancelha.


— O casal mais foda e o mais fodido, lembra?

Eu ri. Só Yuri para me fazer rir naquele momento. Eu devia estar


chateada com ele, mas não consegui. O alívio por Ayla estar segura e o amor
que tinha me preenchido nas últimas 24 horas não dava muita margem para
aquele sentimento.

— Durma, meu amor. Você precisa descansar. – Yuri deu um beijo na


minha testa e se levantou da cama, levando o nosso desenho consigo.
Fechei os olhos e dormi tranquila, com o coração leve de puro amor.

Acordei sobressaltada e me sentei na cama.


A luz fraca do dia que amanhecia entrava pela janela, indicando que
ainda era muito cedo. Yuri dormia ao meu lado e Ayla dormia segura sobre o
peito dele. Ela tinha acordado no meio da noite para mamar e depois disso,
Yuri a colocou para dormir ali, “apenas até ela pegar no sono”, ele disse.
Claro.

Senti novamente algo esquisito. A mesma sensação que me fez


despertar anteriormente. Algo que reverberou por dentro de mim, como se
um tambor batesse forte dentro do meu peito.

— Yuri! – exclamei baixinho e toquei no seu ombro, balançando-o de


leve.

— Hum? – ele acordou meio sonolento.

— Tá acontecendo alguma coisa. – sussurrei para ele.


— Como assim? – ele perguntou confuso, agora mais desperto.

— Você não tá sentindo isso?

Yuri franziu o cenho e ficou parado, olhando para o nada. Ele se


sentou na cama com cuidado, segurando Ayla contra si e olhou para mim.

— Eu não sei o que é, mas tem alguma coisa acontecendo.

— Me dê a Ayla. – eu pedi e Yuri me passou a bebê, que se remexeu


um pouco, incomodada.

Yuri pulou da cama e vestiu uma camiseta. Felizmente ele estava de


calças, pois tinha o costume de dormir sem nada. Apesar de que quando
vínhamos para Belmonte, ele sempre dormia vestido, pois sempre acontecia
alguma coisa que o fazia sair da cama.
— Aonde você vai? – perguntei enquanto também me levantava.
— Lá fora. – ele respondeu enquanto calçava um tênis.

— Eu também vou. – decidi e comecei a procurar o robe que fazia par


com a minha camisola.
— Fique aqui com Ayla.

— Não vou ficar aqui parada. – rebati e peguei o robe que estava no
pé da cama.

— Não seja teimosa.

— Não seja mandão.

Uma batida na porta interrompeu a nossa discussão aos sussurros.


Yuri foi abrir e eu aproveitei para passar o robe por um braço, enquanto
segurava Ayla com o outro. Depois fiz o mesmo com o outro braço. Foi
quase um malabarismo.

— Vocês estão acordados? – meu pai perguntou baixinho da porta.


— Sim. O que está acontecendo? – Yuri respondeu com outra
pergunta.

— Venham ver isso. Já liguei para o Josh e para o resto da alcateia. –


meu pai respondeu e foi embora.

Yuri olhou para mim confuso e eu correspondi o seu olhar. Que


diabos estava acontecendo?
Saímos para o corredor e Yuri disse:

— Fique atrás de mim.

Revirei os olhos e disse conformada:


— Ok!
Meu pai estava parado em frente a janela da sala, espiando pela
cortina. Macayla estava ao lado dele, de camisola. O delegado estava pronto
para ir trabalhar, mas não parecia ter pressa nenhuma. O que eles estavam
bisbilhotando lá fora?

Ele se afastou um pouco e Yuri foi espiar o lado de fora. Ayla se


mexeu inquieta nos meus braços.
— Shiii! Silêncio, meu amorzinho. – cantarolei e balancei minha
lobinha nos braços e ela se acalmou um pouco.

— Josh está vindo? – Yuri perguntou.

— Sim. O resto da alcateia também.


— Ótimo.

— O que vocês estão vendo aí? – perguntei curiosa.

Macayla se afastou um pouco e disse:


— Venha ver.

Ocupei o lugar da Macayla na janela e olhei para fora. Simplesmente


não acreditei no que vi.

A frente da casa do meu pai estava cheia de gente. Lotada. E a cada


minuto chegava mais gente: andando, de carro, de bicicleta, etc. Franzi o
cenho confusa, até que vi um rosto conhecido. Aquela era Leonor, a alfa da
alcateia de Hircânia? Que diabos ela estava fazendo aqui? E Tauane, a beta
da alcateia de Romália? Era alguma reunião de alcateias e eu não estava
sabendo?
— Parece que é uma grande reunião. – comentei confusa.

— É uma grande reunião, Lua. Uma grande reunião com todas as


alcateias da deusa Luna. – Yuri falou sem tirar os olhos da janela.

— Pra quê?

— Para presenciar o nascimento de Ayla.

Encarei meu companheiro atônita e logo voltei a olhar pela janela. O


que aquilo significava?
CAPÍTULO 29

LUA

Eu ainda não conseguia acreditar no que estava vendo. Parecia tão...


surreal.

Como seria possível que todas as alcateias da deusa Luna estivessem


reunidas ali, para testemunhar o nascimento da minha filha, a próxima
reencarnação e descendente da deusa Luna, a herdeira do alfa supremo?
Seria a minha pequenina tão poderosa assim? Eu não conseguia
acreditar.

— Você está me dizendo que as alcateias estão se reunindo aqui na


frente de casa para ver a Ayla? – perguntei a Yuri incrédula.

— Sim.
— Não estou gostando disso. – meu pai bufou incomodado.

— Vou lá fora. – Yuri decretou e saiu da janela.

— Se você for, eu também vou. – também saí da janela e o encarei,


séria.
Yuri fechou a cara para mim.

— Não vou deixar você ir lá fora com Ayla nos braços. Pode ser
perigoso. Além disso, você está usando apenas uma camisola, Lua!
— Não vou deixar nenhum dos dois sozinho! – bati o pé.

Não me importava de estar usando apenas uma camisola. Estava


preocupada com Yuri exposto e a segurança de Ayla. Não iria me separar de
nenhum dos dois.
Antes que Yuri revidasse, meu pai se meteu:

— Eu vou lá fora. Sou o delegado desta cidade e esta reunião está


obstruindo o passeio público, além de estar ocupando a minha calçada. Vou
mandá-los se dispersarem! Ninguém vai aborrecer a minha neta.

— Nenê! – Macayla chamou a atenção dele.


— Josh chegou. – Yuri disse e foi em direção à porta, abrindo-a e indo
lá fora.

Obviamente, fui atrás dele.

Não apenas Josh tinha chegado, mas os outros membros da alcateia


também. Todos que estavam na calçada da frente da casa do delegado,
olharam para nós quando Yuri abriu a porta da frente.
Houve um momento de silêncio antes de Yuri perguntar em um tom
nada gentil:

— Posso saber o que está acontecendo aqui?

Um homem grisalho, que eu já tinha visto antes, mas não lembrava o


nome dele, tomou a frente dos lobos e disse:
— Viemos conhecer a herdeira do alfa supremo. A filha da
descendente da deusa e do lobo mais poderoso que existe.

— Como vocês souberam do nascimento dela? – perguntei a ele,


curiosa. Saí de trás de Yuri e fiquei ao seu lado. Ayla e eu recebemos muitos
olhares nesse momento.

— Escutamos o chamado. – ele disse e pousou uma mão no peito.

Era o lugar exato onde senti a batida forte do “tambor”.

— Todos escutamos. – Josh disse ao se aproximar de nós, abrindo


caminho pelo meio da multidão até nós. – A propósito, sou Josh Black, alfa
da alcateia de Belmonte e prefeito da cidade.

— Sinto muito por invadir seu território Josh, mas não podemos
ignorar o chamado. – o homem disse. – Eu me chamo Adrian, sou o alfa da
alcateia de Likanon.
Sim, era ele mesmo! Lembrei de quando Yuri e eu fomos visitar a
cidade, alguns meses atrás. A alcateia dele se resumia a ele e mais dois lobos.
Adrian não tinha filhos e não era casado. Yuri me disse que talvez aquela
alcateia fosse extinta daqui a alguns anos.

— Minha filha chamou todos vocês aqui? – perguntei a ele.

— Não, Eluana. Foi a deusa. Desde anteontem sentimos o chamado e


soubemos que sua filha tinha nascido. Foi a deusa quem nos chamou aqui.
Ela queria que todos os lobos vissem a menina. – Adrian respondeu.

Yuri suspirou meio irritado ao meu lado. Ele devia estar possesso por
causa da deusa Luna, novamente. Mais uma intromissão dela em nossas
vidas.

— Então vocês vieram apenas para ver a filha de Yuri e Lua? – Josh
perguntou ao alfa.

— Sim. – ele assentiu, assim como todos os lobos que estavam por
perto e escutavam a conversa.
Todos que estavam ali olharam para mim, que carregava Ayla no
colo. Minha lobinha dormia quietinha em meus braços, totalmente alheia ao
que estava acontecendo ali. A pedra da estrela reluzia em seu bracinho gordo.

Dei um passo à frente e disse com a voz alta, para que todos
escutassem:
— Esta é Ayla Marino Santino. Ela é minha filha e de Yuri. Ela é uma
reencarnação e descendente da deusa Luna e a herdeira do alfa supremo.

Aproveitei a ocasião e “acendi” as luzes azuis nas minhas mãos, para


chamar a atenção dos lobos, mostrar o meu poder e o que Ayla
provavelmente herdaria de mim.

Senti todos os olhos em mim naquele momento e não me importei de


estar apenas de camisola, com um robe mal colocado por cima. Ayla foi
apresentada a todas as alcateias da deusa Luna naquela manhã, no seu
segundo dia de vida.
Olhei para minha filha e foi justamente esse momento que ela
escolheu para abrir os olhinhos. Prendi a respiração pela surpresa e senti um
sorriso se formando nos meus lábios, ao mesmo tempo que meus olhos se
enchiam de lágrimas. Vi os olhos mais lindos do mundo: Olhos castanho-
claros, que sorriram para mim ao me fitarem.

— Linda. – sussurrei para Ayla.

Yuri passou um braço pela minha cintura e me grudou ao seu lado.


Ele também estava vendo os olhinhos abertos de Ayla. Os seus próprios olhos
refletidos na filha.
O momento de emoção logo acabou quando meu pai saiu de casa e se
meteu na nossa frente.
— Muito bem! Todos já conheceram a minha neta, então acho que já
é hora de desfazer essa “muvuca” aqui! – ele exclamou com toda a autoridade
de delegado que possuía.

— Neandro está certo! Agradeço a visita de todos, mas vocês não


podem ficar aqui reunidos desse jeito. Estamos chamando atenção demais!
Prometo uma visita futura a todas as alcateias, para apresentar Ayla com mais
calma! – Yuri exclamou ao meu lado, sem me soltar.

Os lobos assentiram e devagar, começaram a dispersar, alguns


entrando em carros estacionados e outros saíram andando pela rua, até
chegarem na área de mata, onde poderiam se transformar e correr pela
floresta. De longe, vi Leonor. Ela sorriu para mim, deu uma piscadela e foi
embora com sua alcateia numerosa. Menos de um mês atrás eram Yuri e eu
que a visitávamos.

Apenas a alcateia de Belmonte permaneceu ali. Pude observar todos


melhor e percebi que Blake ainda estava de pijama, o cabelo de Brian estava
bagunçado e Josh usava apenas uma bermuda e estava todo suado,
provavelmente estava correndo quando foi chamado.

— Desculpem por isso. Não tinha ideia que fosse acontecer. – falei a
eles sinceramente.
— Mais uma vez a deusa pregando peças na gente. – Josh coçou a
cabeça.

— Precisamos varrer a área, Josh. Muito lobos estiveram aqui. –


Daniel falou a Josh preocupado. Percebi que metade do seu rosto ainda tinha
barba por fazer.

— Vamos fazer isso. À noite quero uma reunião com todos. – Josh
disse e olhou para Joyce, que estava ao lado da mãe, calada. – Você também
está convocada, Joyce.

Ela apenas assentiu.

Yuri apertou a minha cintura e sussurrou no meu ouvido:

— Vamos entrar. Ayla precisa descansar.

Assenti e após nos despedirmos de todos, entramos em casa. Ayla


continuava de olhos bem abertos, observando tudo ao redor, curiosa.

— Pelo visto eu consegui passar alguma característica minha para


Ayla. – Yuri comentou enquanto voltávamos para o quarto.

Eu ri.

— Ainda bem. Não queria ser acusada de fazer filho com meu dedo. –
falei a Yuri e ganhei outro aperto na cintura.
— Só espero que ela não herde o seu deboche, sua rebeldia e sua
teimosia.

Ri de novo.

— Ela é minha filha, alfa supremo. Você já teve a sua cota de


características. O resto é todo meu.

Yuri bufou, mas acabou rindo.

Mas eu esperava que Ayla fosse uma mistura de nós dois: O melhor
de cada um.
CAPÍTULO 30

YURI

Após a surpresa da manhã, o resto do dia transcorreu normalmente, o


que era no mínimo incomum em Belmonte. Sempre acontecia alguma coisa
naquela cidadezinha.

Josh, os outros lobos da alcateia de Belmonte e eu fizemos uma


varredura pela cidade e pelos arredores, apenas para nos certificarmos de que
nenhum lobo ou alcateia tinha ficado para trás após a visita surpresa.
Felizmente, todos acataram as minhas ordens e foram embora. Mesmo assim,
Lua, Ayla e eu ainda devíamos uma visita a todos eles, para que eles
conhecessem melhor a minha filha. Aquilo seria uma forma também de
começar a firmar a autoridade de Ayla desde cedo, já que ela seria a próxima
alfa suprema.

Pela tarde, recebemos a visita de Josh, Maya e Jake, que vieram


conhecer Ayla. Meu primo e a sua esposa ficaram derretidos pela minha
lobinha, que abriu os olhos para conhecer os padrinhos. Eu sabia muito bem
que bebês pequenos não enxergavam direito, mas parecia que Ayla já
enxergava muito bem tudo ao seu redor. Talvez o “DNA lupino” tenha algo a
ver com isso. Jake também ficou feliz em conhecer a priminha e até quis
abraçá-la, mas Josh o manteve firme no colo para não machucar Ayla. Meu
primo não voltou a fazer brincadeiras sobre os dois lobinhos, apesar de me
lançar olhares significativos de vez em quando. Eu desconfiava de que Josh
tivesse algum problema mental muito sério.

Pela noite, fui obrigado novamente a me separar de Lua e Ayla, para ir


a reunião da casa de Josh. Eu não tinha conversado anteriormente com meu
primo sobre o teor daquela reunião e esperava que não fosse nada grave, o
que era atípico em Belmonte.
Toda a alcateia estava reunida na casa do prefeito, com exceção de Lua,
Neandro e Macayla, que ficaram em casa paparicando e cuidando de Ayla.
Pietro e Ismene também não estavam aqui, por razões óbvias.

— Acho que estão todos presentes, então podemos começar essa


reunião. – Josh anunciou assim que cheguei.

— Algum problema? – perguntei a ele.


— Não. Apenas quero anunciar a minha escolha. Já decidi quem será o
novo beta da alcateia de Belmonte.

Pelo canto do olho, vi que Joyce não ficou muito animada com aquilo.
Adele e Micael tinham ido embora pela manhã e ela tinha decidido dar mais
espaço ao companheiro rejeitado, por mais que eles não fossem perder
totalmente o contato. Joyce não se meteria na vida dele e nem ele na dela.

— Pensei que você faria testes e competições antes de tomar essa


decisão. – Brian falou com uma carranca. Ele também não ficou feliz.
— Eu também tinha pensado nisso, mas decidi escolher o terceiro
membro mais forte da alcateia em vez disso. É mais fácil. – Josh deu de
ombros.

Quase gargalhei. Pude ver a expectativa nos olhos de Brian se


apagando. Ele estava ansioso para lutar (literalmente) com os seus irmãos de
alcateia pelo lugar de destaque e Josh tirou isso dele. Se o meu primo tinha
decidido fazer as coisas daquele jeito, então ele sabia que Brian não era o
terceiro mais forte. Com certeza ele não queria ter a relação de proximidade
“alfa-beta” com Brian. Eu não podia culpá-lo, pois sabia que Brian não era
um poço de simpatia.

— Antes de anunciar o novo beta, eu queria dizer a Joyce que essa


decisão não é em definitivo. Posso mudar de ideia a qualquer momento e
restabelecer sua posição dentro da alcateia. – Josh disse a ela.

Joyce assentiu.

— Entendi. – ela falou com convicção.

Pelo seu olhar, eu pude ver que Joyce faria de tudo para reconquistar o
seu lugar dentro da alcateia. Joyce era determinada e batalhadora. Ela lutaria
para ser a beta novamente, o que era a vontade de Josh também, por mais que
ele não quisesse admitir.
— Muito bem, o novo beta da alcateia de Belmonte é... Daniel! – Josh
anunciou sem enrolações.

Todos olhamos para Daniel, que estava sentado no sofá ao lado de


Blake e Levi.

— Eu? – ele perguntou surpreso.


— Claro que é você, menino! – Levi resmungou com um sorriso no
rosto.

Blake abraçou o companheiro, que parecia não acreditar no que tinha


acabado de escutar. Todos começaram a parabenizá-lo, até que Mirela
interrompeu as comemorações para perguntar:

— Quem são os mais fortes da alcateia? Há uma lista?


Todos olharam para Josh, esperando a resposta. Meu primo olhou para
mim, querendo ajuda, mas apenas sorri para ele.

— Eu conheço todos os lobos da minha alcateia e meio que tenho uma


lista na minha cabeça, do mais forte ao... menos forte. – Josh respondeu
visivelmente desconfortável.
Mirela assentiu e não fez mais perguntas. Brian ficou meio chateado
com a escolha, mas foi cumprimentar Daniel mesmo assim. Eles já não
brigavam tanto assim desde que Mirela foi incorporada a alcateia. Me
perguntei onde Lua estaria naquela classificação de Josh. Eu tinha certeza de
que ele nunca revelaria aquilo para mim.

Após a breve reunião, voltei para casa para ficar com minha esposa e
filha, as pessoas que eu mais amava no mundo.
CAPÍTULO 31

LUA

Após duas semanas, decidimos voltar para Olímpia. Eu já estava mais


recuperada do parto, Ayla estava mais espertinha e Yuri precisava voltar para
o trabalho.

Eu estava meio receosa de voltar para Olímpia, no entanto. Lá eu não


teria o apoio da família, por mais que Yuri quisesse contratar uma babá para
nos ajudar a cuidar de Ayla. Mas eu sabia que não poderíamos ficar por
tempo indeterminado em Belmonte. Yuri tinha uma empresa para tocar e eu
tinha a faculdade, que estava “semiabandonada” desde que Ayla nasceu.
Josh e Maya deram uma pequena festa de despedida na casa deles um
dia antes de partirmos. Toda a alcateia foi se despedir de nós e aproveitar
para ver Ayla também. Yuri e eu tínhamos combinado de preservar Ayla no
primeiro momento, só permitindo a família ter contato com a pequena. No
entanto, como estávamos de partida, achei por bem deixar que a alcateia
tivesse contato com ela.

Desde que Ayla abriu os olhinhos ela sempre observava tudo ao seu
redor quando tinha a chance. Até os rostos das pessoas a lobinha parecia
analisar. Yuri me disse que bebês muito pequenos não enxergavam direito,
mas que Ayla poderia ter influência dos lobos na visão e já enxergar melhor,
mesmo sendo muito pequena.
— Ela está me observando? – Blake perguntou enquanto analisava
Ayla em seus braços.

— Sim. Achamos que a visão dela é aguçada, como a dos lobos. – disse
a ele.
— Interessante. Pensei que isso só se desenvolvesse quando a
metamorfose acontecia.

— Ayla é a primeira alfa suprema descendente da deusa. Pode ser uma


novidade.

— Um upgrade! – Blake exclamou.


— Acho que sim. – eu ri.

— Agora é a minha vez de segurar a mais nova integrante da alcateia


de Belmonte! – Daniel exclamou.

— Só mais um pouco, amor. Já passo ela para você. – Blake deu uma
piscadela para o companheiro e ele acabou sorrindo.
— Ei, parabéns pela promoção! – exclamei e dei um abraço em Daniel.

— Obrigado! – ele falou meio sem jeito. – Eu estou gostando de ser


beta, mas espero que Joyce recupere logo a função. Ela é a beta de direito,
sabe.

Yuri tinha me contado a decisão de Josh de colocar Daniel como seu


beta, porém ele não tinha deixado nada definitivo. No fundo, Josh queria que
Joyce ainda fosse a sua beta, mas não poderia voltar atrás em sua decisão de
alfa, então deixou as coisas daquele jeito.
Outra coisa que Yuri me contou e que me deixou morrendo de
curiosidade, foi que Josh tinha uma lista dos lobos mais fortes da alcateia de
Belmonte. Ele era o primeiro e por isso era o alfa, o lobo mais forte da
alcateia de Belmonte. Joyce era a segunda mais forte e por isso foi escolhida
como beta. Daniel era o terceiro mais forte e por isso foi escolhido como o
substituto de Joyce. Restavam Pietro, Brian, Blake e eu. Quem seria o mais
forte e o mais fraco de nós quatro?

Enquanto eu pensava sobre isso, vi que Joyce estava sentada no sofá, ao


lado de Lana. As duas estavam caladas e Joyce pouco falava com os outros,
apenas quando Lana interagia, puxando-a para a conversa. Até Brian e Mirela
estavam mais entrosados do que a médica. Resolvi ir lá falar com ela e acabar
com aquele clima esquisito de vez.
— Tomem conta da minha filha. – falei séria a Blake e Daniel.

— Pode deixar! – Daniel respondeu pelos dois e tomou Ayla dos braços
do companheiro, que resmungou chateado.

Revirei os olhos. Aqueles dois...


Do outro lado da sala, Yuri olhou para nós preocupado. Até podia ver o
modo “superpai” sendo ativado e ele vindo “salvar” Ayla da dupla de
companheiros.

— Oi! – falei animada assim que cheguei perto de Joyce e Lana.

— Oi. – Joyce falou desanimada.


— Oi, Lua! Ainda não tive a oportunidade de conhecer a Ayla. Será
que Blake e Daniel vão me dar alguma chance? – Lana perguntou.

Olhei por cima do ombro e vi que Yuri já tinha tomado Ayla deles e
estava a embalando nos braços, em uma tentativa de fazê-la dormir. Observar
os dois daquele jeito enchia o meu coração de paz e amor.

— Agora que Yuri está com ela, ninguém mais tem chance.
Lana riu e disse:

— É verdade. Vocês me dão licença? Eu preciso ir ao toalete.

— Claro.

— Lana... – Joyce começou, mas Lana já estava longe.

Me sentei ao lado da minha amiga no sofá. Ela arredou um pouco para


o outro lado, tentando colocar um pouco de distância entre nós. Aquilo ia ser
um pouco complicado...

— Não sei se você sabe, mas eu não a culpo pelo que aconteceu. –
disse a ela, indo direto ao ponto.

— Eu fui uma idiota, Lua. Nem sei como você ainda consegue falar
comigo. – ela disse sem me olhar nos olhos.

Eu tinha ficado chateada com Joyce, sim. Ela ameaçou Ayla e Yuri, as
duas pessoas que eu mais amava no mundo, além de outros da alcateia que
também eram muito queridos para mim. Mas eu sabia também que ela não
tinha feito nada daquilo por querer. Apenas aconteceu. Quando se tratava de
companheiros, não sabíamos o que aconteceria, apenas tínhamos uma ideia
de como as coisas seriam. A atração irresistível, o instinto de proteção, o
amor e cuidado... Eram valores que não poderiam ser mensurados.
— Você não fez por mal. Foi o instinto acima de tudo. Lembra do
casamento do Josh e da Maya? Eu também fiz uma grande merda.

Ela balançou a cabeça negando.

— Foi diferente, Lua.


— Não acho. Também agi no calor do momento, para proteger meu
companheiro e quase o coloquei em risco, sem falar de todos os outros.
Joyce riu sem graça e observou Brian e Mirela conversando com Levi,
perto da mesa das comidas. Quem diria que a ex-loba faria parte da nossa
alcateia e seria uma pessoa legal...

— Eu sinto muito pelo que fiz, Lua. Assim como a Mirela, eu vou
assumir meus erros.
— Você já assumiu. Já foi punida pelos alfas e está cumprindo a sua
“sentença”.

Yuri acabou decidindo por mim quem seria a madrinha de Ayla. Eu não
fiquei chateada com ele, muito pelo contrário. Meu companheiro era muito
compreensivo e fez aquilo por minha causa, atendendo a um pedido meu,
para não punir a minha irmã e amiga.

— Mas ainda não me sinto digna. – Joyce rebateu, cabisbaixa.


Revirei os olhos. Peguei a mão e Joyce e me levantei.

— Vem comigo.

Joyce franziu o cenho, mas se levantou e me acompanhou.


Vi que Yuri estava com Ayla perto das janelas e fui até ele. Assim que
me viu, Yuri abriu um sorriso, mas este murchou assim que ele viu a minha
companhia.

— Lua... – Joyce falou, mas eu a ignorei.

— Lua. – Yuri tentou chamar a minha atenção, mas eu também o


ignorei.
— Me dê Ayla. – disse a ele.

Com relutância e dirigindo olhares fulminantes a Joyce, ele me passou


a nossa lobinha. Ayla dormia e eu dei um beijo em sua testa antes de passá-la
para os braços de Joyce.

— Lua! – Joyce exclamou baixinho.

— Segure-a. – mandei com toda a autoridade que consegui reunir.

Joyce se aprumou, e com agilidade e de olhos arregalados, segurou


Ayla nos braços. Minha filha se remexeu um pouco, mas logo se aquietou nos
braços da tia.

— Ela... ela é linda, Lua. – Joyce disse fascinada, sem tirar os olhos da
bebê. – Perfeita.
Sorri.

— Você ainda não se sente digna?

Joyce negou com a cabeça e percebi que seus olhos estavam marejados.
— Não mais.

— Ótimo. Nunca mais repita uma coisa dessas.

Ela olhou para mim e agora as lágrimas escorriam livremente pelo seu
rosto.

— Obrigada.

— De nada.

Yuri, que observava nós duas calado, se aproximou de Joyce e voltou a


pegar Ayla. Assim que passou Ayla para ele, Joyce me abraçou forte e senti
mais lágrimas escorrendo.
— Vou sentir sua falta. – ela disse.

— Não se preocupe. Vamos nos ver periodicamente. – assegurei a ela.

Nos separamos e ela riu.


— Vou cobrar isso.

Antes que eu pudesse responder, Josh gritou animado no meio da sala:

— Vamos bater uma selfie!

Isso foi o suficiente para acordar Ayla, que começou a chorar nos
braços de Yuri.

— Obrigado, Josh! – Yuri disse a ele de cara fechada.

Outro choro irrompeu pela sala. Era Jake do outro lado da sala. Maya
olhou para o marido nada feliz.

— Sinto muito. – ele se desculpou com uma careta.

— Vamos logo bater essa “salfie” e pronto! – Levi exclamou com um


copo de suco nas mãos.
— É selfie, vovô! – Daniel o corrigiu.

— Que seja! Vamos logo.

Brian e Mirela deram risinhos e se aproximaram. Meu pai, Macayla e


Serena também se aproximaram risonhos, talvez rindo de alguma piada. Lana
e Joyce também vieram, agora sorridentes. Todos se reuniram ao redor de
Josh, que já segurava o celular, esperando todos ficarem juntos. Maya
conseguiu acalmar Jake e se aproximou, assim como Yuri, que veio me
abraçar pela cintura e deu um beijo na minha testa.
— Digam: Alcateia! – Josh exclamou.

— Alcateia! – todos exclamaram.

Provavelmente todos saíram com caretas nos rostos, mas estavam


felizes.
— Vamos precisar repetir a foto algum dia. Faltaram algumas pessoas...
– Serena disse a Josh com um olhar significativo.

Lana era a única ali presente que ainda não sabia nada sobre os lobos.
Não sei quando Joyce contaria a ela e esperava que ela não demorasse muito,
pois isso significaria um compromisso sério das duas.
— Vocês podem ir até Romália, visitar Lua e eu, além do Pietro. – Yuri
disse.

— Boa ideia! A próxima foto será lá! – Josh decretou.

— Espero que não demore muito. – Yuri disse e deu um tapinha em seu
ombro.
— O tempo vai passar correndo, você vai ver. – Josh respondeu
sorridente.

O prefeito estava mais certo do que podia imaginar.


EPÍLOGO

Um ano depois

LUA

Apoiei as mãos no peito de Yuri e aumentei os movimentos, me


inclinando um pouco para frente. Estávamos na minha posição preferida e
precisávamos ser rápidos, antes que Ayla acordasse e roubasse toda a nossa
atenção.

— Lua... – Yuri murmurou de olhos fechados, apertando com força os


meus quadris.

Não falei nada, apenas inclinei a cabeça para trás quando o ápice me
atingiu com força. Yuri levantou os quadris da cama, me levantando junto no
movimento. Se ele não estivesse me segurando, eu teria tombado para fora da
cama.

Me deitei em cima dele exausta e fiquei acariciando seu peitoral,


passando os dedos suavemente por ele.

— Eu nunca vou me cansar disso, mas preciso de um tempinho antes da


próxima rodada. – ele falou enquanto passava as mãos pelas minhas costas.
Eu ri.

— Quem disse que vai ter uma próxima rodada? Ayla vai acordar daqui
a pouco.
— Cuidamos dela e depois voltamos pra cá.

— Claro. Cancelamos a programação do dia inteiro e ficamos aqui.

— Ainda bem que você entendeu.

Dei um tapinha no peito de Yuri e levantei a cabeça para observá-lo.


Ele exibia o sorriso que deixava as minhas pernas bambas. Nós
continuávamos dois bobos apaixonados, a diferença era que agora tínhamos
Ayla para distribuir nosso amor e atenção.

— Precisamos sair da cama. Temos uma viagem para Belmonte e o


aniversário da nossa filha para realizar. – disse a ele.

Yuri fez uma careta.


— Poderíamos ter feito uma festinha aqui.

— Sem a família não tem graça. – contrapus.

— Ayla é pequena, provavelmente nem vai lembrar da festa.

Agora foi a minha vez de fazer uma cara feia para o meu companheiro.

— Há um ano, era eu quem estava sofrendo para trazê-la ao mundo,


então eu acho que o mínimo que ela e eu merecemos é uma festa com toda a
família e amigos reunidos. – falei séria e um pouco indignada.

Yuri apertou os braços ao redor de mim e disse em um tom conciliador:


— Não quis desmerecer o seu trabalho, meu amor, é que...

— Você está com preguiça?!


— Também, mas a principal questão no momento é que estou
novamente excitado e quero você de novo, novamente, quantas vezes forem
preciso para aplacar a minha fome de você. – ele esclareceu e deu o sorriso
que me desmanchava.

Meu rosto esquentou. Mesmo após dois anos de casados, Yuri


continuava sabendo como me deixar sem jeito.
— Nesse caso, eu acho que posso abrir uma exceção...

Os ruídos vindos da babá eletrônica apoiada na mesa de cabeceira


indicaram que Ayla tinha acordado e estava chorando. Os braços de Yuri ao
meu redor folgaram e eu pude sair de cima dele, nos desconectando.

— Você pode escapar agora, mas à noite... – Yuri falou enquanto se


sentava na cama.
Revirei os olhos sorrindo e vesti a camiseta de Yuri, que era a peça de
roupa mais próxima a mim. Devidamente vestida, ou quase, sai quase
correndo para o quarto de Ayla enquanto Yuri também vestia alguma coisa.

Encontrei minha lobinha de pé no berço, o lábio inferior fazendo o bico


mais fofo do mundo enquanto algumas lágrimas escorriam pelo seu rostinho.
O cabelinho loiro despenteado estava na altura dos ombros e ela esfregava os
olhinhos castanho-claros molhados pelas lágrimas.

— Mamãe chegou, meu amorzinho. Não precisa chorar. – falei a ela


carinhosamente, enquanto a pegava no colo.
Ayla se aninhou em mim, colocando o rostinho no meu pescoço e os
bracinhos roliços me abraçando com força. Meu coração se derretia toda vez
que ela fazia algo fofo assim.

— Pronto, mamãe está aqui. – falei a ela e saí do quarto, indo em


direção a cozinha, onde Yuri já preparava o café da manhã do nosso
cristalzinho.

Nos primeiros meses de Ayla, nós contratamos uma babá para nos
ajudar, mas nos últimos tempos, Yuri e eu estávamos dando conta do recado
sozinhos. Yuri diminuiu as horas na empresa e eu conciliava nossa filha com
os estudos. Às vezes Pietro e Talita vinham nos ajudar também (Pietro
adorava bebês), além do meu pai e Macayla, que faziam visitas ocasionais
(que eram muito bem-vindas por sinal).

Como prometido às alcateias, começamos a fazer uma turnê de


apresentação de Ayla. Levamos a nossa lobinha às alcateias que juraram
obediência à deusa Luna e a apresentamos. Ayla ainda não demonstrava
poder nenhum, mas Yuri fazia questão das visitas, para mostrar que ela seria
a próxima alfa suprema e seria a mais poderosa de todos.

Eu ainda sentia receio em relação a isso. Não queria imaginar meu bebê
comandando as alcateias da deusa e tendo que lidar com tudo que Yuri
lidava, mas sabia que seria inevitável. Era o destino de Ayla. Ela daria início
a uma nova geração de lobos.

Após eu me recuperar completamente do parto de Ayla, voltei a me


transformar em loba. Foi uma das melhores sensações do mundo, a sensação
de liberdade na natureza, de poder voltar a forma lupina. Yuri me
acompanhou na ocasião enquanto meu pai e Macayla tomavam conta de
Ayla. Nos divertimos bastante na floresta perto de Olímpia, dois lobos
brincando e correndo pela mata.
O café da manhã seguiu normalmente. Ayla ainda mamava, mas os
alimentos sólidos também faziam parte da sua dieta há algum tempo.
Enquanto Yuri alimentava Ayla, fui para o quarto tomar um banho e trocar de
roupa. Estava distraída e quase não vi o envelope em cima da cama que Yuri
arrumou.

Franzi o cenho. O que o meu marido estava aprontando?

Abri o bendito envelope e dei de cara com um contrato. Um contrato de


estágio na Santinos!

Fui até a cozinha levando o documento nas mãos. Yuri fazia caretas
para Ayla enquanto ela mastigava e se sujava toda com a papinha.

— O que é isso? – perguntei a ele.

— O seu contrato de estágio. Se você aceitar, você começa na segunda-


feira. – ele respondeu enquanto fazia uma careta para Ayla, que riu animada.

— Eu não me lembro de ter pedido um estágio lá.

— E não pediu, mas eu tenho planos para você. Planos que envolvem
uma filial em uma cidade pacata e tranquila, cercada por árvores e mitos.
— Yuri...

Aquele assunto já tinha sido motivo de discussão entre nós meses atrás.
Eu deixei para lá, pois não tinha pensado nos detalhes daquilo. Tinha sido
algo impulsivo e Yuri tinha dito que iria esquecer aquele assunto. Mas ele
não esqueceu.

— Lua, não é nada para agora. – ele voltou a sua atenção para mim. —
Você será preparada para isso e... – eu o interrompi:
— Mas nós moramos aqui em Olímpia!

— E não vamos deixar de morar por causa disso. A não ser que você
queira. – ele fez uma careta.

— Eu não quero, mas como vou assumir uma filial em outra cidade?
Não posso me deslocar todos os dias para Belmonte se estiver morando aqui.
— Você não irá todos os dias. Talvez duas vezes ao mês,
videoconferências..., você pode gerenciar a filial daqui de Olímpia e ir lá de
vez em quando. – ele fez uma breve pausa. – Não quero ficar muito longe de
Belmonte, Lua. Nós somos de lá e devemos manter relação com a nossa
cidade natal, principalmente agora com a Ayla.

Yuri estava certo, como sempre. Belmonte era a cidade natal de nós três
e seria muito bom que Ayla crescesse com esse contato também. Não
poderíamos ficar afastados de Belmonte. Apenas agora entendi o que Yuri
falou meses atrás, quando viu o berço de Ayla na casa do meu pai. Isso é algo
original de Belmonte e deve permanecer aqui. Na ocasião, pensei que ele
estivesse chateado comigo, mas não. Ele apenas não queria nos manter
afastados de Belmonte.
Não consegui segurar o sorrisinho que se formou em meus lábios.

— Sério?

— Basta você assinar esse contrato de estágio e o seu treinamento vai


começar.
Joguei o contrato em cima da mesa e corri para abraçar Yuri. Ele se
levantou e me pegou nos braços, me rodando no lugar. Escutei Ayla rindo e
batendo palminhas por causa da nossa interação.

Yuri me pousou no chão e perguntou:

— Feliz?
— Muito.

— Vou me esforçar para fazer isso durar para sempre.

— Para sempre. – repeti sorrindo toda boba.


Nos beijamos ali mesmo, no meio da cozinha, com Ayla rindo de nós
dois e se lambuzando toda. Aquilo era a melhor coisa do mundo. Era o
paraíso.

A festinha do primeiro ano de Ayla seria na casa de Josh, um


oferecimento dos padrinhos. Quando chegamos lá, não havia muito mais a ser
feito. Josh e Maya se responsabilizaram por tudo: decoração, bolo, comidas e
convidados. Chegamos lá apenas para curtir a festa. Ayla reencontrou o
priminho Jake e os dois brincaram bastante. Ayla, meio cambaleante, tentava
acompanhar os passos mais firmes de Jake, que já estava na fase de correr e
deixar os pais com dores nas costas por tentar acompanhá-lo.
Toda a alcateia veio prestigiar o aniversário da nossa lobinha. Daniel,
Blake e Levi trouxeram presentes e uma vontade enorme de carregar Ayla,
porém a menina queria mais andar do que qualquer coisa. Brian e Mirela
também vieram e pegaram todos de surpresa (novamente) ao anunciar que
estavam esperando um bebê. A ex-loba e Brian se tornaram sócios de
Macayla na confeitaria e estavam mais entrosados do que nunca com a
alcateia. Estranhei no primeiro momento, mas depois aceitei. Mirela veio
conversar comigo sobre as várias dúvidas da gravidez e eu a ajudei como
pude.

Lana e Joyce também compareceram. Há poucos meses, Joyce contou


tudo sobre os lobos para Lana, que simplesmente surtou e ficou afastada da
namorada por um tempinho. No final, as duas se acertaram e estavam noivas
no momento. Às vezes eu ainda via o olhar desconfiado e meio amedrontado
de Lana para qualquer um de nós, mas ela logo disfarçava e sorria
constrangida. Ainda demoraria um tempo para ela se acostumar realmente
com tudo aquilo.

Pietro e Talita vieram conosco para Belmonte e quando eles vieram


para a festa com Ismene, descobri que ela estava namorando. Pietro
aparentemente se dava bem com o namorado da mãe e ele parecia ser
carinhoso e afetuoso com Ismene. Nada mais do que merecido para alguém
que passou anos casada com um pesadelo em forma de gente.

Adele e Micael marcaram presença também. Micael mantinha uma


amizade com Joyce, mas era apenas isso. Lana não fazia ideia de que eles
eram companheiros e Joyce preferia as coisas assim, para evitar
desentendimentos. Adele pouco falou com os outros convidados, sendo
praticamente ignorada pela alcateia de Belmonte. Ninguém gostou de saber
que ela invocou a deusa ano passado, supostamente colocando Ayla e eu em
perigo.

Serena aos poucos estava voltando para o mundo da política. Ela tinha
se “aposentado” após Josh assumir a prefeitura, mas agora estava com planos
de voltar com tudo. Josh a apoiava e até queria que Maya acompanhasse a
mãe, mas Maya negou, dizendo que não tinha vontade nenhuma de assumir
um cargo público. Ela estudava à distância, o curso de pedagogia.

Meu pai e Macayla continuavam felizes e apaixonados. Como agora


Macayla tinha sócios na confeitaria, ela tinha mais tempo para passar em casa
e mimar o delegado. Notei que ele tinha ganhado uns quilinhos a mais desde
a sua última visita em Olímpia, mais ou menos um mês atrás.
O delegado estava com Ayla no colo, mas assim que me viu, a lobinha
se agitou e praticamente pulou no meu colo.
— Cuidado, Lua. Ela está forte. – o delegado franziu o cenho.

Revirei os olhos.

— Ela tem a força de um bebê da idade dela, pai.

— Acho ela forte. – ele deu de ombros.

— Hora dos parabéns, Lua! – Maya veio me chamar. Jake estava em


seu colo e deu um gritinho para Ayla, que respondeu da mesma forma.

Sorrindo, seguimos para a mesa, onde meu companheiro já me


aguardava para acender as velas. Maya, Josh e Jake vieram se posicionar ao
nosso lado.

— Me dê o Jake, amor. – Josh disse. – Ele vai tentar apagar a vela. –


ele deu um olhar significativo para a companheira, que imediatamente lhe
passou o pequeno.

— Pelo visto isso já aconteceu antes. – Yuri comentou com o primo.


— Nem te conto.

— As “comadres” vão ficar de fofoca, mesmo? – perguntei aos dois


com uma careta.

Yuri apenas sorriu e deu um beijo na minha testa, em seguida se


inclinou e acendeu a vela de Ayla.
Cantamos “Parabéns” para a minha bebê loba, para comemorar o
primeiro aninho dela. Dali a dezessete anos, ela oficialmente se tornaria uma
loba e assumiria todas as suas responsabilidades. No entanto, preferi afastar
os pensamentos do futuro e foquei na felicidade de Ayla, que sorria e batia
palminhas feliz com a festa e as pessoas ao seu redor. Aquilo era a pura
felicidade para mim, era o paraíso. Algo que eu nunca imaginei que
conseguiria atingir.
EPÍLOGO EXTRA

Anos depois

AYLA

Belmonte novamente.

Estávamos indo para lá de novo. Pela enésima vez só esse ano.


Eu não tinha nada contra a cidade na qual nasci, mas... Belmonte era
uma cidade relativamente pequena, que dava os primeiros passos para o
crescimento. Uma filial da rede de lojas do meu pai chegou aqui apenas
alguns anos atrás. Filial essa que a minha mãe administrava, por isso nossas
visitas regulares a Belmonte. Com dezessete anos, eu tinha pouco poder de
mando sobre mim, então eu tinha que vir com meus pais quando eles
mandavam.

A pequena cidade, agora não tão pequena assim, era cercada por
árvores e tinha um clima familiar que esquentava algo dentro de mim. Eu
gostava de Belmonte, ela era cercada de mitos, que muita gente acreditava e
até cultuava a tal da deusa Luna, a deusa dos lobos. Eu não tinha visto um
lobo na vida, mas respeitava a crença dos outros. Se esses animais eram
sagrados aqui, tudo bem. Pelo que eu sabia, as vacas eram sagradas na Índia...
— Estamos chegando. – meu pai anunciou do volante.

A viagem de carro demorava algumas horas e eu podia matar o tempo


com alguns livros, porém, eu estava louca para completar dezoito anos logo e
meu pai me ensinar a dirigir e me presentear com um dos esportivos que ele
tanto gostava. Eu adorava velocidade e adrenalina, talvez tenha herdado isso
do meu pai, Yuri Santino, o CEO da Santinos, a rede de lojas mais famosa do
país.

— Eba! Será que vamos ver algum lobo? – Eliel, meu irmãozinho
perguntou. O pirralho de oito anos era simplesmente fascinado pela cultura
de Belmonte e era louco para ver um lobo de verdade.

— Talvez nós vejamos um lobo muito em breve. – meu pai respondeu


sorrindo.

— Yuri! – minha mãe reclamou e deu um tapinha no ombro dele. Em


seguida, ela lançou um olhar fulminante a ele, que apenas sorriu para ela,
apaixonado.
Reprimi uma risada. Meus pais eram muito companheiros e às vezes
parecia que os dois se comunicavam por pensamentos. Eles eram muito
apaixonados, tipo muito mesmo. Já tinha flagrado uma ou duas cenas
constrangedoras deles dois juntos. Algo no nível mão boba e “apertos”
indecentes. Pareciam até que tinham a minha idade.

Eu ficava constrangida, obviamente, mas ao mesmo tempo desejava


algo assim para mim. Eu sei que ainda era muito jovem, viveria tudo isso
algum dia, mas eu queria algo intenso e forte, igual ao que os dois tinham.
Queria amar alguém incondicionalmente, igual eles amavam.

Suspirei enquanto mexia no meu amuleto pendurado no pescoço. Eu o


tinha desde sempre e nunca ficava sem o meu colar de pedra da estrela.
— Já estamos chegando, meu amor. Já, já você vai poder descansar. –
minha mãe anunciou e deu um lindo sorriso para mim enquanto se virava
para o banco de trás do carro, para verificar Apollo, meu outro irmãozinho de
apenas dois anos.

Apollo foi meio que uma surpresa na nossa família, pois meus pais
não esperavam mais ter filhos e nem eu esperava ter mais um irmão, pois
estava com quinze anos quando ele nasceu.

Minha mãe era a mulher mais bonita do mundo na minha opinião.


Sério. Meu pai tinha muita sorte de ter conseguido se casar com ela, pois ela
poderia ter o homem (ou a mulher) que quisesse se estalasse os dedos (Na
verdade, eu achava que ela poderia ter a coisa que quisesse se estalasse os
dedos). Meu pai era um cara bonito também. Ele era bem cuidado, forte, alto.
Mas a minha mãe... superava qualquer ser humano que andava pela face da
Terra. Dela eu apenas consegui herdar o cabelo loiro. Os lindos olhos verde-
claros foram para Eliel, que conseguiu a cor de cabelo do meu pai. Éramos
uma mistura engraçada dos dois. Já Apollo, era uma mini cópia da minha
mãe.

— Está cansada, Ayla? – meu pai perguntou preocupado.

— Um pouco. – admiti. Na verdade, tinha outras preocupações em


mente...
Eu ia fazer dezoito anos em poucos dias. Esse era o motivo da nossa
viagem a Belmonte, pois íamos comemorar com toda a família reunida. Mas
não era essa a minha preocupação. Eu estava muito ansiosa para rever meu
primo Jake, pois ele estava meio sumido nos últimos tempos.

Jake e eu sempre fomos grudados, desde pequenos. Tínhamos a mesma


idade, com diferença de poucos meses. Crescemos praticamente juntos e eu
gostava muito dele. No entanto, nos últimos tempos, comecei a enxergá-lo
com outros olhos. Jake era bonito, alto, forte, tinha o mesmo lindo tom de
pele quente que a mãe, Maya. Ele era engraçado e tinha um sorriso travesso
que ultimamente me fazia dar suspiros e ficar sorrindo igual uma boba. Ele
me lembrava muito o tio Josh.

Infelizmente, Jake ficou sumido nos últimos meses. Na verdade, desde


o seu aniversário, meses atrás. Ele pouco falou comigo pelo celular e até nas
últimas vezes que vim até Belmonte, sempre ocorriam desencontros entre a
gente.
Minha mãe disse que ele devia estar ocupado com a faculdade, mas
não acreditei muito. Tia Maya disse que Jake trancou a faculdade, mas que
iria voltar no próximo ano. Segundo ela, ele teve problemas de adaptação.
Não entendi muito o que ela disse, mas também não questionei. A faculdade
que Jake frequentava era aqui em Belmonte e imaginei que ele não teria
muitos problemas de adaptação. Tio Josh, político influente, lutou muito para
trazer o ensino superior para cá e conseguiu, mais ou menos uns dez anos
atrás.

Tentei falar com Jake pelo celular várias vezes, mas ele foi evasivo e
depois me “deixou no vácuo”. Até pensei que ele tinha me bloqueado, mas
não. Ele apenas me ignorou.

— A estátua! – Eliel exclamou animado de repente, me tirando dos


meus pensamentos.
Estávamos chegando em Belmonte e a estátua da deusa Luna dos
lobos ficava na entrada da cidade. Eu gostava daquela estátua. A deusa era
uma mulher guerreira, bonitona, gostosona. Queria eu ser foda daquele jeito.

— Aistáuta! – Apollo o imitou enquanto brincava com um lobo de


pelúcia que ganhou da vó Macayla. Ultimamente ele vinha imitando tudo o
que falávamos.

— A famosa estátua, não é meu amor? – meu pai perguntou e lançou


um sorriso a minha mãe, que não entendi.
— A bendita estátua. – minha mãe revirou os olhos.

Eu sabia que havia alguma história dos meus pais por trás daquela
estátua, mas eles nunca me falavam. Meu pai apenas dizia com um sorriso
enigmático: “Um dia você vai saber, Ayla.” E ficava por isso mesmo.

— Vamos para a casa do vovô? – lancei a pergunta aos meus pais.


— Bobô. – Apollo repetiu.

— Não, vamos para a casa do tio Josh. Tem uma pequena recepção lá,
esperando a gente. – meu pai respondeu.

Suspirei. Uma mistura de cansaço com nervosismo repentino. Havia


uma grande probabilidade de eu ver Jake.
— Não vai demorar muito, querida. Eu prometo. – meu pai falou
novamente preocupado.

— Ok. – dei de ombros.

Para Yuri Santino, eu sempre seria o seu cristalzinho, como ele e


minha mãe me chamavam às vezes. Ele era superprotetor com todos nós e
isso me irritava por vezes. Eu sabia que também era assim, que também tinha
herdado isso dele, mas meu pai era de mais. Não sei como a minha mãe
aguentava.
Quando meu tio Micael vinha nos visitar em Olímpia, meu pai ficava
ranzinza. Tio Micael era legal e nem parecia ter a idade que tinha. A bisa
Adele não vinha mais nos visitar há algum tempo. Ela ficou doente e andava
em uma cadeira de rodas agora. A última vez que fomos até Romália ela
estava bem debilitada.

A casa do tio Josh continuava do mesmo jeito de sempre: Enorme,


imponente, quase uma mansão. Lá moravam tia Serena, tio Josh, tia Maya,
Jake e as gêmeas Maeli e Maeve. Ambas tinham doze anos e eram tão bonitas
e tímidas quanto a tia Maya.

Assim que chegamos, já havia muitos carros estacionados na frente da


casa, nos aguardando. Toda a família e os amigos mais próximos estavam
reunidos lá, assim como das outras vezes.

Quando entramos, fomos recebidos carinhosamente por todos. Vô


Neandro e vó Macayla vieram nos abraçar. Ele era o delegado aposentado da
cidade, mas até hoje era muito respeitado por todos. Já a vó Macayla, apesar
de não ser minha avó de sangue, ainda trabalhava como confeiteira
ocasionalmente e tratava eu e meus irmãos como se fossemos seus netos de
sangue.

Tia Joyce, a filha da vó Macayla era casada com a tia Lana e juntas
tinham um casal de gêmeos, Jonas e Luma, de oito anos. Mamãe contou que
tia Joyce fez inseminação artificial para poder engravidar. No entanto, ambos
os gêmeos eram loiros, com cabelos cacheados e com a pele clara, muito
diferentes das mães. Me lembravam ligeiramente o tio Micael,
principalmente Jonas.
— Ayla! Você está enorme! – tio Blake veio me abraçar, do seu jeito
animado de sempre.

— Oi, tio. – falei a ele, meio sufocada pelo abraço.

Ele era casado com tio Daniel e juntos adotaram uma linda garotinha,
que se chamava Amora. Ela tinha dez anos agora, mas na época da adoção ela
ainda era um bebê de colo. Ela tinha as características da população de
Belmonte: pele bronzeada, olhos e cabelos castanhos. Provavelmente um
bebê rejeitado de alguém da cidade. A garotinha chegou para dar cor à vida
deles, pois além deles, o senhor Levi também morava com eles e eu achava a
casa deles meio “masculina” demais antes de Amora.

— Deixa eu dar um abraço nessa garota! – tio Daniel me puxou.

Vi de relance Apollo sendo atacado por tio Blake. Ele adorava bebês.

— Oi, tio.

Ele se separou de mim e me observou sorrindo.


— Está tão grande, Ayla! — ele tinha um brilho no olhar ao dizer
aquilo.

— Eu... hum... – fiquei sem jeito e sem saber o que dizer.

— Vem falar com o Maicon! Cadê ele? – tio Blake me puxou com
Apollo no colo, e me conduziu até o sofá, onde o adolescente calão estava
sentado.

O rosto dele ficou vermelho assim que me viu. Maicon era o filho
único do tio Brian e da tia Mirela. Ela tinha uns quinze ou dezesseis anos e
era introvertido. Seus pais eram sócios da vó Macayla na confeitaria.

— O—oi. – ele me deu um abraço sem jeito.

— Oi. – respondi meio sem jeito também.


— Ayla! – tia Mirela veio até mim, empurrando a cadeira de rodas e
livrando Maicon e eu de um momento constrangedor, já que tio Blake nos
deixou sozinhos.
— Oi, tia.

— Você está grande. Seu aniversário é daqui a... três dias? – ela me
perguntou com grande interesse.
— Sim. – confirmei.

— Será inesquecível, querida. Pode escrever o que eu estou falando. –


ela deu uma piscadela para mim e disse ao filho: – Maicon, me leve até a
mesa, por favor.

— C—claro. – ele foi até a mãe e empurrou a sua cadeira de rodas.


Fiquei parada ali no meio da sala da casa do tio Josh sem entender
muita coisa. O que significavam aquelas palavras da tia Mirela?

Do outro lado da sala, vi tio Pietro e a esposa, tia Talita conversando


com meus pais. Ela estava grávida pela terceira vez. Eles já tinham dois
meninos, que estavam correndo pela sala junto com Amora, Eliel e os
gêmeos de tia Joyce. Parece que vinha mais um menino por aí para completar
o trio do tio Pietro. Eu gostava muito dele, pois ele foi uma presença
constante na minha infância. Cheguei até a achar que ele era irmão da minha
mãe, por causa da proximidade deles.

Senti um calafrio repentino e os pelos do meu corpo se arrepiaram.


Senti algo me chamando, atrás de mim. Sem pensar muito, me virei e dei de
cara com Jake parado ao pé da escada, há alguns metros de mim. Ele me
encarava como se estivesse vendo um fantasma, de olhos arregalados. Ele
estava tão bonito! Parecia que estava malhando ultimamente, pois os
músculos do seu braço estavam aparentes sob a camiseta.
Abri um sorriso para ele e decidi me aproximar.

Mal dei um passo em sua direção quando ele simplesmente virou de


costas e saiu quase correndo, entrando em um dos corredores da enorme casa.

Meu sorriso murchou e eu estaquei no lugar. Fiquei confusa e ao


mesmo tempo me sentindo rejeitada. Por que ele foi embora sem falar
comigo, quase correndo?
Reprimi as lágrimas que ameaçaram escorrer e andei na outra direção,
onde as gêmeas, irmãs de Jake, estavam. Fui conversar com elas para me
distrair daquela sensação amarga de rejeição.

Três dias depois, tudo fez sentido.

Meu aniversário de dezoito anos chegou e meus pais fizeram um café


da manhã animado na casa do meu avô. Eles estavam mais atenciosos do que
nunca comigo. Até mesmo o vô Neandro e a vó Macayla estavam mais
observadores do que de costume.
Senti que algo estava errado desde cedo. Havia uma expectativa no ar
que eu não conseguia decifrar o que era.

Ganhei abraços, presentes e muito carinho da minha família. Tia


Joyce e tia Lana também vieram para o café, trazendo os gêmeos a tiracolo.
Os dois eram muito sapecas e correram pela casa toda junto com Eliel.
Apollo também quis entrar na brincadeira, mas ainda era muito pequeno para
acompanhá-los.

Tudo estava correndo bem, até que eu comecei a me sentir esquisita.


Foi logo após o café da manhã, enquanto os adultos conversavam na sala.
Senti algo atravessando meu corpo, ao mesmo tempo que um arrepio me
percorreu da cabeça aos pés.

Tentei ficar quietinha e parada no lugar. Talvez a sensação esquisita


passasse. Mas não. Só piorou e piorou.
— Não estou me sentindo bem. – falei baixinho para a minha mãe,
que segurava Apollo no colo.

— Você está pálida, Ayla. – ela disse com o cenho franzido, enquanto
analisava cada parte do meu corpo. – Yuri! – ela chamou meu pai, que estava
na cozinha conversando com meus avós.

— Mãe! – não queria que uma exibição sem sentido fosse feita.
— Oi, amor. – meu pai falou sorridente, até que me viu e seu sorriso
murchou. – Ayla?

— Está na hora. – mamãe anunciou a ele.

— Hora de quê? – perguntei confusa.


— Venha comigo, minha filha. Eu vou cuidar de você. – ele me
estendeu a mão e eu a segurei, seguindo-o para fora da casa do meu avô.

Todos ficaram na casa e não pareceram perceber que estávamos


saindo. O olhar preocupado da minha mãe me deixou mais confusa ainda.

— Aonde estamos indo? – perguntei quando entramos no carro.


— Para a floresta.

— Fazer o que lá? – perguntei enquanto me abraçava. A sensação


esquisita só aumentava cada vez mais dentro de mim.

Meu pai suspirou.


— Sabe as histórias dos lobos e da deusa Luna? É tudo verdade. – ele
disparou, de repente.

— O quê?!
— Somos descendentes dos lobos da deusa e nos transformamos pela
primeira vez quando atingimos a idade de dezoito anos. É o que vai acontecer
com você.

Minha cabeça estava girando. Meu pai acelerou, indo em direção a


estrada, onde não havia casas por perto. Tudo passava como um borrão pela
janela do carro.

— Papai, o senhor está me assustando. – disse a ele.


— Não tenha medo, Ayla. Você é forte, é mais forte do que qualquer
outro lobo que exista.

— Não sou um lobo, papai. – tentei raciocinar.

— Ainda não, mas será.


— Papai, pare o carro, por favor! – exclamei de repente, o medo me
consumindo.

Ele parou no acostamento da estrada. Nem dei tempo para ele falar
alguma coisa, pois eu abri a porta e saí correndo, adentrando na mata
adjacente a estrada.

— Ayla! – ele gritou atrás de mim.


Corri para dentro das árvores por puro instinto. Não sabia muito bem
o que fazer. Meu pai não estava falando coisa com coisa e eu fiquei com
medo, apavorada.

Acabei tropeçando e caí no chão. Pensei que machucaria a barriga no


chão, mas não. Parecia que eu tinha caído “de quatro”. Abri os olhos e vi
duas patas na minha frente.

Tentei gritar e me levantar, mas acabei caindo no chão novamente.


Percebi que meu corpo estava estranho. Não era mais eu, mas ainda
era eu. As patas cinzas escuras eram minhas.

Eu tinha patas!

— Ayla. – vi meu pai parado a alguns metros de mim.

Tentei falar, mas apenas um ganido saiu da minha boca. Comecei a


chorar, mas até isso não era normal. Eu parecia um filhote de cachorro
chorando acuado.

— Não chore, minha filha. É assim mesmo. Você é uma loba.

Continuei chorando.
— Sua mãe e eu também nos transformamos assim. Somos lobos. Sua
mãe é da alcateia de Belmonte. Seu tio Josh é o alfa da alcateia dela. – ele
continuou falando.

Parei de choramingar e olhei para ele.

— Eu sou o alfa supremo de todas as alcateias. Sou eu quem comanda


tudo e todos os lobos me devem obediência. – ele deu mais alguns passos
para perto de mim.
Aquilo era muito confuso. Parecia um sonho do qual eu não
conseguia acordar.

De repente todas as lendas que eu ouvi a vida toda se tornaram


realidade. Pessoas se transformavam em lobos e a deusa Luna existia. Meus
pais eram lobos e eu também era uma. Provavelmente Eliel e Apollo também
eram.

Olhei para o meu pai e balancei a cabeça, negando.

— Fique calma, Ayla. Eu vou me transformar e vou ajudá-la, ok?

Assenti rapidamente. Eu precisava ver com meus próprios olhos


aquilo que eu tinha me tornado.

Meu pai se afastou um pouco de onde eu estava, jogada no chão. Ele


deu um pulo e se transformou no ar, em um grande lobo preto. Fiquei o
encarando sem acreditar no que via. Meu pai tinha acabado de se transformar
em um lobo! Na minha frente!
As horas seguintes foram muito loucas. As mais loucas da minha
vida. Meu pai me ensinou a me levantar e a andar com as quatro patas. Ele
me ensinou até a correr um pouco. Foi a coisa mais louca que eu já tinha feito
na vida. Ao final, ele me ajudou a me transformar de volta a forma humana e
foi só aí que eu consegui respirar aliviada.

Que loucura!

— Gostou? – ele me perguntou enquanto caminhávamos de volta para


o carro.

— Foi legal. – assenti. Eu gostei da parte de correr. A sensação era


libertadora. Imaginei que fosse igual a dirigir um dos carros dele.

— Vamos para casa. Sua mãe deve estar preocupada.

— Todo mundo sabia que isso ia acontecer e ninguém me contou? –


perguntei enquanto me sentava no banco do carro.
Lembrei de tia Mirela falando comigo três dias atrás. Ela já sabia!

— Não podemos revelar nada até que o lobo complete dezoito anos.
Faz parte da lei dos lobos. – meu pai respondeu enquanto dirigia de volta para
casa do vô Neandro.

— Lei dos lobos? Há uma lei? – perguntei curiosa.


— Claro. A convivência pacífica que existe hoje se deu em parte por
causa da lei dos lobos. É ela que mantem todos na linha. Além de mim, é
claro.

Assenti. Aquele foi o aniversário mais estranho que eu já tive.

Me lembrei do que o meu pai disse enquanto estávamos na floresta.


Ele era o alfa supremo de todas as alcateias.
— Você é o líder de todas as alcateias?

— Sim.

— Eu sou a filha do líder? Eu pertenço a qual alcateia? Olímpia?


Belmonte?
— Não. Você não pertence a nenhuma alcateia agora, Ayla. Você é a
herdeira do alfa supremo. Você será a próxima alfa suprema das alcateias da
deusa Luna.

Encarei meu pai boquiaberta. Ele não podia estar falando sério. Como
assim?!

Eu tinha acabado de descobrir tudo aquilo e agora eu devia mandar


em tudo?! Hã?!
— Eu vou ficar no seu lugar? – perguntei com o cenho franzido.

— Sim. Um dia, não hoje. Você ainda não está preparada para
tamanha responsabilidade. Precisa de treinamento, controle dos seus poderes.

Ah, claro. Eu tinha poderes. Poderes!


— Eu não sei se quero tudo isso. – cruzei os braços na altura do peito.

— Você nasceu para isso, Ayla. A própria deusa Luna traçou o seu
destino. Esse seu colar de pedra da estrela. – ele apontou para o amuleto em
meu pescoço. – A própria deusa deu a você para protegê-la. É o seu amuleto
de proteção.
Peguei a pedra que estava alojada entre os meus seios e a observei. Eu
a achava linda e mamãe sempre dizia para eu nunca a tirar do pescoço. Eu a
possuía desde que me entendia por gente.

— Tenho medo.

— Vamos cuidar de você, meu amor.


Assenti. Precisava confiar no que meu pai dizia. Ele e a mamãe não
me colocariam em apuros.

— Merda! – meu pai exclamou de repente, olhando para a frente da


casa do meu avô.

Vi que um carro conhecido estava lá. Isso significava visitas: Tio Josh
e tia Maya. Meus padrinhos.

Era o meu aniversário e já era de tarde. As pessoas deviam estar


chegando para a festinha que meus pais organizaram. Olhei para mim e vi
como a minha roupa estava meio suja. Droga! Precisaria de um banho.

— Não diga nada aos seus irmãos ou aos outros mais novos. – meu
pai me alertou antes de entrarmos em casa.

— Ok. – dei de ombros.


O que eu poderia contar? Somos lobos? Eliel ia pirar de vez. Ele ia
simplesmente amar. Apollo, coitadinho, não entenderia nada. Maeve e Maeli?
Não consigo imaginar uma reação das duas. Jake? Esse eu nem queria pensar.
Ainda não tinha conseguido engolir a sua rejeição. Por outro lado... ele devia
saber sobre os lobos! Ele devia ser um lobo!

Ai, caramba!
Jake, um lobo. Ele era filho de tio Josh, que papai disse ser o alfa da
alcateia de Belmonte. Será que Jake seria o novo alfa da alcateia de
Belmonte?

Entramos em casa e o clima festivo continuava. Agora, Tio Josh e tia


Maya tinham chegado. As gêmeas estavam sentadas no chão da sala,
brincando com Apollo.

— Ayla! – mamãe correu e me abraçou.


— Estou bem, mamãe. – disse a ela enquanto a abraçava.

— Fiquei com tanto medo. Você está bem? Seu pai conversou com
você direitinho? Está com medo? Vamos cuidar de você. – ela me encheu de
perguntas.

— Acho que estou bem, mamãe. Só preciso de um pouco mais de


tempo para poder entender tudo. – fiz uma careta.

— Vamos dar um tempo a ela, amor. – meu pai disse a minha mãe,
enquanto a abraçava.

Ela suspirou.

— Tudo bem. Qualquer coisa fale comigo.


Assenti.

— Preciso tomar um banho. – mudei de assunto, na esperança de ficar


sozinha com meus pensamentos.
— Claro. – minha mãe sorriu.

Eu estava a caminho do meu quarto (o quarto que dividia com meus


irmãos, na verdade), quando fui novamente chamada. E não foi qualquer voz.
Foi a voz dele. A voz que eu não escutava há um bom tempo. A voz que
mexeu com tudo por dentro de mim.
— Ayla. – Jake me chamou.

Me virei de frente para ele e de repente tudo mudou. A sensação que


tive naquele momento foi de que tinha sido atropelada por um milhão de
coisas diferentes. O cheiro dele me atingiu em cheio e era simplesmente a
melhor coisa do mundo. Jake era a melhor coisa do mundo.

— Jake. – respondi como uma pateta.


Nesse momento, percebi que todos na sala tinham parado para nos
observar. Não senti vergonha, nem nada disso. Só senti que tudo estava em
seu devido lugar. Tudo estava certo. Jake era certo.

— Eles são companheiros. – ouvi a voz da minha mãe, em algum


lugar.

— Com certeza. – tio Josh concordou.

— Merda. – meu pai reclamou.

Eu não sabia do que eles estavam falando. Mas sabia que o que quer
que isso fosse, era verdade. Eu era de Jake e ele era meu.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus. Sem Ele, eu não conseguiria chegar


até aqui, em mais uma publicação independente. Só Deus sabe o que minha
família e eu passamos nesses últimos tempos. Obrigada Deus!

Agradeço também a minha família, que mesmo inconscientemente,


me ajudou muito. Obrigada! Amo vocês!
Por último, mas não menos importante, agradeço aos meus leitores
queridos! Sem vocês nada disso teria sentido. Obrigada do fundo do coração
por me apoiarem e tornarem esse sonho realidade. Vocês não têm ideia do
quanto são importantes para mim! Um agradecimento especial às leitoras
mais fofas do mundo:

Evelin G. Prestes da Silva;


Kátia Schittine;
Ana Karolina T.

Obrigada por todo o carinho e preocupação meninas!


OUTRAS OBRAS DA AUTORA

LINK: https://www.amazon.com.br/~/e/B08F4L4RQP

DESTINO VERMELHO

Jessica Bellini é uma jovem que vive em um


mundo pós-apocalíptico. Uma revolução iniciada pelos vampiros mudou o
mundo em que ela vivia, marcando a sua vida para sempre e fazendo-a sentir-
se com uma raiva constante dos sanguessugas responsáveis por tantas
tragédias.
Em meio a esse cenário de caos, uma forma que ela e a melhor amiga
encontraram para sobreviver, foi servirem de doadoras de sangue para o
comandante da cidade de Laiôn e seu irmão, o que garantiria assim uma boa
renda e proteção.
Mas ao se mudar para a mansão dos vampiros as coisas não saem como
o previsto. Alguns desentendimentos e descobertas fazem com que Jessica
fique cheia de dúvidas em relação a Erick Jones, o belo e arrogante
comandante da cidade de Laiôn, o que pode ser decisivo para o seu destino e
o seu coração
.

RAINHA DE FOGO

Lia Muniz é uma jovem feérica atrapalhada que


vive sua vida normalmente em Kytan, capital do país Masalis, em que
feéricos, semifeéricos e humanos vivem conjuntamente. Certo dia, enquanto
trabalhava no palácio real, ela conhece o rei de Masalis, Caleb Montauban.
Caleb é um feérico lindo e sedutor, porém arrogante e impaciente e o
primeiro encontro dos dois é desastroso, fazendo com que Lia descubra a
verdade sobre o seu passado que nem sonhava existir.

Tudo o que Caleb Montauban, o temperamental rei de Masalis, queria,


era encontrar a sua princesa perdida. Após anos de buscas infrutíferas, ele a
encontra justamente dentro do seu palácio. Mas ela não era o que ele
imaginava. Lia é teimosa e ríspida no primeiro encontro dos dois, mas a sua
beleza faz Caleb apaixonar-se instantaneamente por ela.
Ligados por magia, Caleb e Lia vão encontrar dificuldades para provar
que sentem o amor verdadeiro um pelo outro. Além disso, acontecimentos
mal resolvidos do passado também podem atrapalhar os planos do casal e
colocar dois países em risco.
DAMA DA NOITE

Tudo o que a sonhadora Melissa Aquino deseja


é uma chance com o seu amor platônico Lorenzo Richter, advogado bem-
sucedido, charmoso e sisudo, afinal de contas, ela é apaixonada por ele desde
a adolescência e depois de dez anos de espera, finalmente Melissa parece
perto de realizar seu desejo.
Enquanto o esperado dia não chega, Melissa passa as noites sonhando
com um belo homem de olhos azuis, muito parecido com Lorenzo. Lucas
pode até ter as feições parecidas com as de Lorenzo, porém é completamente
o oposto dele. Gentil, doce e carinhoso, ele é um ótimo amigo para Melissa.
Certa noite, quando Melissa acha que Lorenzo finalmente percebeu
que ela existe, tudo dá errado. Triste e humilhada, Melissa procura a ajuda de
Lucas, que lhe oferece a oportunidade de conhecer um mundo novo.
Havilah, país de Lucas, é uma terra cheia de segredos e magia. Aos
poucos, Melissa vai conhecendo melhor Lucas, seu país e a magia que o
envolve. No processo, redescobre seus sentimentos e os segredos que
envolvem um poderoso feitiço, poderes especiais e o amor verdadeiro.
ENTRE DOIS MUNDOS

Nina Ferreira é uma jovem universitária que


está insatisfeita com a vida que leva. Com 21 anos e cursando Direito, ela
sente que não se encaixa no mundo em que vive, apesar de amar a sua família
e seus amigos.
Tudo muda quando, em um belo dia, o misterioso Yohan surge em sua
vida. Dotado de uma beleza sobrenatural e cheio de mistérios, o jovem
feérico intriga e ao mesmo tempo fascina Nina, que descobrirá a existência de
um mundo com o qual jamais sonhou.
Levada para o mundo feérico, Nina terá que lidar com os segredos que
a cercam e com os seus sentimentos por Yohan, que podem ser a chave para a
salvação de Néftis, país sob o qual paira uma ameaça invisível.
CONTATOS

E-mail: camilaoliveiraautora1@gmail.com

Instagram: @camilaoliveiraautora

Você também pode gostar