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A DEUSA LOBA DO ALFA SUPREMO

As alcateias da deusa Luna – Livro 2

Camila Oliveira
Copyright © 2021 por Camila Oliveira
Todos os direitos reservados.

Revisão e Diagramação: Camila Oliveira


Capa: Imagem utilizada com licença Depositphotos™ e Pixabay.

Não é permitida a reprodução total ou parcial desta obra, por


quaisquer meios, sem prévia autorização da autora.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, lugares e acontecimentos reais é
mera coincidência.
ÍNDICE
A DEUSA LOBA DO ALFA SUPREMO
Copyright © 2021 por Camila Oliveira
ÍNDICE
Leia o livro 1
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
EPÍLOGO
EPÍLOGO EXTRA
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
CONTATOS
LEIA O LIVRO 1

A COMPANHEIRA DO ALFA SUPREMO


AS ALCATEIAS DA DEUSA LUNA – LIVRO 1

Eluana Marino estava voltando para a sua cidade


natal para passar as suas férias com seu pai, após anos afastada do local por
traumas do passado. Belmonte, uma cidade interiorana, é cercada pela mata e
pelo verde e possui suas lendas e mistérios, que Eluana simplesmente ignora
e acha ridículos.
Yuri Santino é um CEO, dono de uma rede de lojas de departamento e
alfa supremo das alcateias da deusa Luna. Ainda muito jovem, assumiu o
comando das alcateias e da empresa da família, porém nunca encontrou sua
companheira, a sua alma gêmea, o seu amor verdadeiro.
Em uma visita à Belmonte, Yuri conhece a debochada Eluana, e logo
no primeiro encontro dos dois, reconhece a sua tão esperada companheira.
Enquanto o autoritário e protetor alfa supremo tenta se aproximar de sua
rebelde companheira, um visitante misterioso tira o sossego de toda a alcateia
de Belmonte. Em meio a caçadas, brigas e superações, Yuri e Lua lutarão
para ficarem juntos enquanto desvendam enigmas do passado.
PRÓLOGO

Não, não e não!


Isso não podia ser verdade.
Eu não queria aceitar, mas era óbvio agora.
Eu era a reencarnação da deusa Luna. Uma descendente da deusa dos
lobos. Eu carregava um pedaço da deusa comigo, dentro de mim. Eu era tão
poderosa quanto Yuri. Não. Eu era mais poderosa do que Yuri. Eu era
praticamente uma deusa. Uma deusa loba.
CAPÍTULO 1

Antes

A batida do rap ecoava dentro do meu carro. Hoje, Pietro escolheu


Drake como a nossa trilha sonora a caminho da faculdade. Desde que
começamos a frequentar nossos cursos, há uns seis meses atrás, eu sempre
dava carona para ele. Como Pietro estava quase conseguindo a sua primeira
habilitação, imaginava que daqui a pouco tempo ele iria no próprio carro
estudar. Eu estava mais certa do que nunca.
- Você acha que o Daniel viria aqui me ajudar a escolher um carro? –
ele me perguntou enquanto diminuía o volume da música.
Ele e Daniel ficaram próximos após da morte de Ítalo. Daniel era o
irmão mais velho que Pietro sempre sonhou em ter e o admirava tanto, que
pouco tempo atrás ele perdeu uma prova da faculdade para poder ir ao
casamento de Daniel e Blake. Eu e Yuri infelizmente não fomos, pois além
de não poder perder as provas da faculdade, Yuri ficou ocupado com o
trabalho. Apesar disso, meu pai me mandou várias fotos do casamento e
assim, pude matar um pouco as saudades da alcateia de Belmonte.
Nos últimos tempos, a Santinos estava dando mais trabalho do que o
normal para o meu companheiro. Yuri me dizia que estava tudo bem, mas
algo dentro de mim dizia o contrário. Só não sabia se o problema era
realmente com a empresa ou com meu companheiro, e isso me preocupava.
- Claro que ele viria, é só você estalar os dedos que o Daniel aparece
aqui. Quando você vai comprar? Acho que o Yuri também pode te ajudar. Ele
entende muito de carros. – eu disse a ele e dei umas batidinhas no volante,
indicando o presente pomposo do meu companheiro.
- É verdade. Eu vou falar com Daniel mais tarde e assim a gente pode
escolher um dia.
- Legal. Eu falo com Yuri. – eu disse e comecei a estacionar o carro
perto do prédio da faculdade.
Nós estudávamos no período noturno. Pietro cursava engenharia da
informação e eu escolhi administração. Olímpia oferecia um grande leque de
opções em relação aos cursos do ensino superior e eu tive um pouco de
dificuldade na escolha do meu. Quando Yuri me sugeriu o curso de
administração, eu fiquei com o pé atrás. Era óbvio que ele me indicaria algo
da área dele para eu estudar, porém, assim que eu comecei o curso,
rapidamente me interessei e hoje não tinha mais dúvidas em relação a isso.
Assim que entramos no prédio da faculdade, Pietro se despediu de mim
e seguiu em direção a sua sala, que ficava na direção contrária da minha, do
outro lado da faculdade. Segui tranquila e feliz para a minha aula.

Quando a aula acabou, segui em direção à saída. Estava doida para ir


para casa e ficar com meu marido. O horário das minhas aulas causava
desencontros com meu companheiro na maioria dos dias, já que Yuri
trabalhava pela parte da manhã e à tarde, mas sempre dávamos um jeito de
ficar juntos. Às vezes, Yuri voltava mais cedo ou ia trabalhar mais tarde para
que pudéssemos aproveitar um pouquinho mais a companhia um do outro. Eu
ainda estava me acostumando a ver Yuri de terno e gravata todo dia. Parecia
tão surreal que ele fosse ao mesmo tempo um CEO, alfa supremo, meu
companheiro e marido.
Yuri e eu nos casamos há mais ou menos quatro meses em uma
cerimônia pequena e reservada em Belmonte. Apenas família e amigos mais
próximos participaram da celebração, que foi feita na casa de Josh, apesar das
lembranças do último casamento que ocorreu por lá.
Mas tudo deu certo dessa vez e foi um dos momentos mais felizes da
minha vida, a minha união com meu companheiro, o amor da minha vida.
Passamos a lua de mel lá mesmo em Belmonte, no melhor hotel da cidade.
Por causa dos compromissos de Yuri, não podemos fazer uma viagem
romântica como ele tinha planejado.
Quando estava me aproximando do meu carro, reparei que Pietro já
estava lá me aguardando e não estava sozinho. Uma moça da idade dele
estava o acompanhando. Segurei um sorriso quando me aproximei dos dois.
- E aí, Pietro? Quem é sua amiga? – perguntei quando cheguei perto do
casal.
Reparei que as bochechas de Pietro ficaram vermelhas
instantaneamente.
- Lua, essa daqui é a Talita. Talita, essa é a Lua, minha amiga. – Pietro
fez as apresentações meio sem graça.
Talita me cumprimentou com um sorriso meio sem graça também. Ela
tinha os cabelos pretos longos e a pele bem clara. Ela era bem bonita.
- Eu não vou precisar de carona. Talita e eu vamos... passear. Vamos
aproveitar a noite de sexta-feira. – Pietro falou e seu rosto ficou mais
vermelho ainda.
- Ah, tudo bem. – eu disse a ele sorrindo. Senti vontade de provocá-lo,
mas me segurei. Coitados, estavam tão tímidos...
Não sabia que Pietro tinha namorada. Devia ser algo novo. Ele estava
diferente desde que se mudou para Olímpia. Os cabelos, que antes eram na
altura do queixo, estavam mais curtos. Seu corpo franzino, de adolescente,
tinha adquirido músculos e uma forma mais madura. Como Yuri deu
continuidade ao treinamento dele aqui em Olímpia, seu corpo se
desenvolveu.
Parecia que Pietro estava lidando bem com essa coisa de lobo. Ele não
parecia preocupado que um dia aparecesse a sua companheira ou
companheiro. No lugar dele, eu ficaria receosa com essa expectativa. Ainda
bem que encontrei meu companheiro logo e não passei por essa preocupação.
Nos despedimos, e Pietro e Talita seguiram em direção ao seu
“passeio”.
Entrei no meu carro e voltei para casa. Desde que voltei para Olímpia,
Yuri me levou para morar no seu apartamento enorme, que agora era o nosso
lar. Pietro morava no meu antigo apartamento e de vez em quando eu ia
visitá-lo para “inspecionar” o local. Ismene e Daniel também vieram algumas
vezes. Meu pai veio nos visitar uma vez desde que me casei. Pelo olhar
avaliador dele, no fundo ele queria “fiscalizar” o local onde eu morava agora
e ver a minha nova vida com meu companheiro. Ele elogiou a decoração que
eu fiz no nosso apartamento. Yuri, na verdade, não tinha decorado nada e o
apartamento enorme era sem graça quando eu cheguei, apesar de fazer o
estilo luxuoso.
Aproveitei, enquanto decorava a sala, para fazer um cantinho em
memória aos nossos pais já falecidos. Coloquei porta-retratos da minha mãe e
dos pais de Yuri em uma mesinha de canto, juntamente com um vaso de
flores naturais, que eu constantemente renovava. Yuri adorou a ideia e às
vezes eu o pegava admirando as fotos dos nossos pais.
Coloquei, também, algumas fotos nossas pelo apartamento. Não fiz
nada exagerado igual meu pai fez na casa dele, mas eu não podia deixar de
lado aquelas fotos tão especiais, minhas e de Yuri, além de algumas da
alcateia de Belmonte também. Afinal de contas éramos uma família.
Yuri era meio metódico com a organização do apartamento. Já eu, era
mais bagunceira, mas me esforçava para manter tudo em ordem.
Assim que entrei em casa, joguei minha bolsa no sofá e fui procurar
Yuri. Não demorei muito a encontrá-lo. Ele estava no escritório, com a cara
grudada no computador. Nem percebeu quando eu entrei.
- Oi, amor. Muito trabalho? – eu o saudei toda sorridente e fui em
direção a ele.
Yuri se assustou um pouco com a minha entrada. Levantou a cabeça e
me olhou surpreso.
- Lua? Já voltou? – ele me perguntou e notei que sua mão voou para o
mouse, clicando rapidamente.
Franzi o cenho.
- Já. Que horas você pensa que são? – perguntei e me sentei no seu
colo.
Yuri olhou de novo para o computador e arregalou os olhos.
- Nossa. Não tinha percebido que já tinha se passado tanto tempo. –
ele se recostou na cadeira e seus braços me envolveram.
- Você tem trabalhado muito ultimamente. Tem que parar um pouco,
descansar. – ele falei e dei um selinho nele, passando os braços pelo seu
pescoço.
Yuri fixou os olhos em mim e acariciou meu rosto. Seu olhar era ao
mesmo tempo preocupado e apaixonado.
- O que foi? Aconteceu alguma coisa? – perguntei a ele.
Ele suspirou.
- Nada de mais. Falei com Josh mais cedo e acho que nós vamos ter
que ir à Belmonte em breve.
A última vez que fomos à Belmonte foi para o nosso casamento.
Todos estavam bem e não havia nenhum problema com a alcateia até então.
Fora isso, Yuri e eu viajamos para visitar outras alcateias em alguns
finais de semana. Não havia nada fora do comum. Yuri era reconhecido como
alfa supremo por onde passávamos e éramos bem recebidos. Foi muito
interessante ver outras alcateias e conhecer outros como nós.
- Algum problema?
- É coisa de alfas. – ele deu de ombros.
Eu sabia que tinha mais coisa, porém Yuri não queria me contar.
Qualquer que fosse o problema em Belmonte, isso tinha a ver com a sua
preocupação nos últimos tempos. Algo dentro de mim dizia isso.
- Tá com fome? Fiz uma macarronada pra gente.
Sim. Havia um problema, por isso ele mudou de assunto tão rápido.
- Adoro macarronada. – respondi e dei outro selinho nele.
- Eu sei, por isso que eu fiz.
Yuri se levantou sorridente, comigo ainda em seus braços e fomos
para a cozinha.
Meu companheiro tinha alguma preocupação e eu precisava descobrir
o que era. Eu precisava ajudá-lo.
CAPÍTULO 2

Lua não podia saber. Pelo menos não por enquanto.


A minha busca por respostas continuava.
Desde o incidente com Mirela, a alfa nômade sem alcateia, várias
perguntas me tiravam o sono.
Nos últimos tempos, a minha preocupação aumentou. Lua devia pensar
que era algum problema na empresa e eu preferia assim. Não queria
preocupá-la desnecessariamente. Ela estava tão feliz e empolgada com a nova
vida, com a faculdade, com o nosso casamento... Eu queria que essa
felicidade durasse mais um pouco antes de revelar os escassos avanços que
tinha feito nas minhas buscas.
De vez em quando as palavras de Mirela vinham à minha mente:
Outros virão, Yuri. Você sabe.
No começo, eu não tinha entendido. Outros viriam? Outros lobos
viriam? Por quê?
Mirela me confundia até hoje. Ela sabia de coisas que eu pensava serem
impossíveis de serem verdade: Mascarar cheiros para enganar outros lobos,
ignorar a minha voz de comando, Lua ser a reencarnação da deusa Luna e a
possível ameaça de outros lobos. Seria possível mesmo?
Iniciei minhas buscas por outras alcateias, sendo que algumas eu já
tinha visitado antes. Lua me acompanhou em todas as viagens. Eu não
conseguiria ficar longe dela, mesmo que fosse por um final de semana. Com
cuidado, eu consegui manter minha busca em segredo e Lua pensou que as
viagens fossem apenas para visitar e conhecer outras alcateias.
Descobri pouco, no entanto.
Realmente, havia uma forma de mascarar o cheiro de um lobo. Os
lobos anciãos de algumas alcateias me confirmaram e até me ensinaram como
fazer a mistura de ervas que se usava como perfume. Dependendo da mistura
e dos objetivos, poderia se esconder um lobo, fazer seu cheiro ser igual a de
um lobo comum, um alfa, ou até mesmo o de um alfa supremo. No entanto,
isso só enganaria outros lobos comuns. Mirela foi a prova disso, ao tentar
enganar meu olfato apurado e falhar. Porém, sobre a história da reencarnação,
pouco se sabia, assim como sobre a desobediência a ordem de um alfa
supremo.
Quando conheci Lua e a vi pela primeira vez, a ideia até passou pela
minha cabeça. Lua era tão bonita que me lembrou as poucas ilustrações que
eu tinha visto da deusa Luna. Levi também chegou a comentar algo do tipo
na época, mas eu ignorei. Estava tão focado em outras coisas que não atentei
para isso. Apenas quando Mirela reforçou a ideia com certeza, eu reparei.
Irritação e frustração me dominaram. Lua poderia ser a reencarnação da
deusa Luna e eu não sabia o que esperar disso. Seria uma coisa boa ou ruim?
O aviso de Mirela estava relacionado a isso? Outros lobos poderiam nos
ameaçar e ignorar minhas ordens? Lua corria risco por causa disso?
A alternativa que me restou, a que era a mais fácil e a que eu odiava,
era ir atrás de Mirela. Ela teria todas as respostas. Mas, colocar a minha
esposa ao alcance da alfa nômade era uma ideia repugnante. Só de lembrar o
que aconteceu da última vez...
Pelo menos agora sabíamos o paradeiro de Mirela. Ela ficou em
Belmonte se recuperando da luta e morava lá hoje em dia. Josh não gostou
nada no início, porém, Mirela estava muito debilitada e precisava de ajuda.
Ela não era mais uma ameaça. Macayla, a bondade em pessoa, a ajudou
muito e pelo que fiquei sabendo, ela trabalhava na loja da confeiteira
atualmente.
Eu não tinha esquecido o que ela fez, no entanto. Ela foi responsável
pela morte de Ítalo e pelos ferimentos de Pietro. Não podíamos acusá-la
formalmente pelos crimes, mas eu poderia puni-la pela lei dos lobos.
Entretanto, o resultado do seu ataque inconsequente foi punição suficiente
para mim, além disso, ela não se transformaria mais.
Soltei um suspiro pesado e resignado. Lua e eu teríamos que ir para
Belmonte em breve.
Aproveitei que Lua foi para a faculdade, para fazer o nosso jantar e
depois fazer algumas pesquisas na internet. A senhora que trabalhava no
nosso apartamento, fazendo a limpeza e as refeições, estava de folga por
alguns dias. Como eu sabia que Lua chegaria da faculdade cansada e com
fome, fui para a cozinha. Eu era um CEO e o alfa supremo das alcateias da
deusa Luna, mas não era um esnobe. Podia não ser um cozinheiro, mas me
virava bem na cozinha.
Lua tinha se adaptado bem à nova vida, não só como loba e
companheira do alfa supremo, mas também como estudante e esposa de um
CEO. Ela me acompanhou a jantares importantes, compromissos da empresa
e se saiu muito bem nessas ocasiões. Minha companheira era esperta e
aprendia rápido, além disso, sua beleza e espontaneidade cativavam as
pessoas ao seu redor.
Assim que terminei o jantar, fui para o meu escritório fazer minhas
pesquisas. A internet não era o melhor meio para fazer minhas buscas, mas
era a minha melhor alternativa no momento. Havia muita verdade lá e a
maioria das pessoas nem sonhava que isso era real.
Enquanto estava lendo sobre as diferentes lendas dos lobisomens pelo
mundo, meu celular tocou. Um sorriso apareceu no meu rosto quando vi o
nome na tela. Josh.
- Oi, primo! Tudo bem?
- Há quanto tempo, hein, alfa supremo?
- Poucos meses. Não foi há tanto tempo assim. – a última vez que fui à
Belmonte, foi para o meu casamento com Lua.
- Você e Lua não vieram nos visitar! Nem vieram para o casamento do
Daniel e do Blake.
Fiz uma careta. Josh estava tão dramático ultimamente. Talvez fosse
algo relacionado à gravidez de Maya.
- Eu e Lua ficamos impossibilitados de ir. E vocês poderiam nos visitar
também, prefeito.
Ele ignorou a minha provocação e respondeu:
- A viagem até Olímpia é demorada. Maya ficaria desconfortável no
carro.
Josh seria pai em breve e estava todo preocupado com a companheira.
Quem diria!
- Quem diria, hein, primo? De puto passou para prefeito e agora vai ser
pai. Dá até para montar uma sigla: P.P.P.
Caí na gargalhada e Josh resmungou:
- Vai se foder!
Ri ainda mais.
- Dá pra parar de rir? Eu preciso falar algo sério com você! – Josh
falou irritado.
- O que foi? – perguntei ainda sorrindo.
- Quando a Lua ficar grávida, você vai ver. – ele falou irritado.
A ideia da minha esposa e companheira carregando um filho ou filha
meu no ventre era maravilhosa. Um sorriso bobo se instalou na minha cara.
Depois do nosso casamento, Lua parou com o anticoncepcional e desde
então, ambos estávamos bastante empenhados na tarefa de gerar um filho.
- Eu vou ficar pior do que você. – falei, já imaginando Lua com um
barrigão.
- Não tenho dúvidas. – ele fez uma breve pausa e continuou: - Yuri, eu
preciso que você venha até Belmonte.
- Aconteceu alguma coisa? – o sorriso sumiu do meu rosto.
- Na verdade, aconteceu. É um problema na alcateia.
Para Josh pedir a minha presença em Belmonte, seria algo que ele não
poderia resolver. A alcateia de Belmonte foi a alcateia que me deu mais
“trabalho” de todas as que eu conhecia. A metamorfose tardia de Lua, a
desobediência de Ítalo e a ameaça de uma alfa nômade foram alguns dos
principais problemas.
Dei um suspiro.
- Eu estava mesmo pensando em ir até aí. Qual foi o problema dessa
vez?
- É a Mirela, Yuri. Na verdade, é a Mirela e o Brian.
- O que tem eles dois? – perguntei com o cenho franzido.
- Mirela é uma alfa e eu não gosto dela no meu território. Nos últimos
tempos, a situação ficou pior, mesmo que ela não se transforme mais. Ela e
Brian estão juntos.
Fechei os olhos e dei outro suspiro. Era só o que faltava.
- Vou falar com a Lua. Nós vamos para Belmonte o mais breve
possível.
- Obrigado, Yuri.
- Tudo bem.
Nos despedimos e desliguei o telefone.
Como se não bastasse a minha preocupação rotineira, agora tinha mais
essa: Mirela incomodando Josh. Mirela e Brian juntos. Merda! Mirela era
uma pedra no sapato que eu não conseguia me livrar e Brian parecia saber
disso, pois para se unir a ela... Pensando bem, os dois combinavam muito.
Um era a tampa e o outro, o penico.

Lua chegou da faculdade e me pegou de surpresa no escritório. Eu nem


tinha visto o tempo passar, perdido em pesquisas e mais pesquisas. Tive que
fechar rapidamente todas as janelas abertas do navegador em meu laptop,
pois Lua se aproximou de mim e se sentou no meu colo. Ela não poderia ver
o teor das minhas pesquisas. Até onde ela sabia, as minhas preocupações
eram relacionadas a trabalho.
Decidi levá-la para a cozinha. Não queria que Lua se preocupasse com
os problemas que enfrentaríamos em breve, por isso tive que distrai-la.
- Hum! Que cheiro bom! – ela exclamou assim que entramos na
cozinha e eu a coloquei no chão.
- O gosto é melhor ainda. – eu falei e fui buscar os pratos.
- Mal posso esperar para provar! – Lua falou animada, quase dando
pulinhos no lugar. Ela adorava massas.
- E aí, como foi na faculdade? – perguntei enquanto nos servia.
- Tudo bem. Semana que vem começa a semana de provas.
- Você vai se sair bem. É muito inteligente.
Lua revirou os olhos enquanto sorria.
- Eu espero me sair bem. Mal vejo a hora de ficar de férias.
- Já tá cansada? Mas esse foi apenas o primeiro semestre! – eu brinquei
com ela e coloquei nossos pratos na mesa.
Lua me deu um tapinha no ombro e disse, enquanto se sentava a mesa:
- Não é isso! Eu só quero descansar um pouco. Também acho que vai
ser legal passar alguns dias em Belmonte. To com saudade do meu pai.
Dei um suspiro e me sentei ao lado de Lua. Ir para Belmonte
significava encarar os problemas e abrir o jogo para ela. Se tudo desse certo
na faculdade, nós iríamos para Belmonte no final da outra semana.
- Assim que acabarem as suas provas, nós vamos para lá. – eu falei e
tentei abrir um sorrisinho.
Lua franziu a testa enquanto me observava, mas assentiu.
- Não se preocupe, Yuri. Eu vou passar no primeiro semestre. – ela
falou com uma mistura de sarcasmo e drama.
Nós rimos e nos beijamos. Lua teria mais uma semana tranquila.
CAPÍTULO 3

Desabei sobre Yuri completamente satisfeita e com um sorriso no rosto.


Sexo com meu companheiro sempre seria maravilhoso.
As mãos de Yuri deixaram meus quadris e subiram para as minhas
costas, me acariciando em um ritmo gostoso, suave e tranquilo. Estávamos
em nossa cama, ambos ofegantes e cansados, mas isso não foi um
impedimento para mais uma rodada na noite.
- Eu já falei que você é uma ótima amazona? – ele perguntou sem
interromper o movimento suave das mãos em minhas costas.
O sorriso no meu rosto aumentou e senti minhas bochechas mais
quentes do que já estavam. Ele sabia que eu adorava montá-lo. Adorava ter a
sensação de poder e dominação sobre o meu companheiro. Adorava ditar o
ritmo do nosso prazer.
- Você sempre deixa isso bem claro. – respondi a ele.
- É para você não ter dúvidas.
Ainda sorrindo, me ergui e o beijei, depois, saí de cima dele e me
aninhei ao seu lado. Seus braços continuaram me cercando e me acariciando.
Ficar com Yuri me deixava muito feliz. Não apenas quando estávamos
na cama, mas em todos os outros momentos da vida também. Era algo que
não tinha explicação. Era como se fossemos ímãs. Mesmo
inconscientemente, sempre procurávamos a companhia um do outro.
- Eu te amo. – eu disse a ele.
- Também te amo, minha loba. – ele respondeu e beijou minha testa.
Ficamos um pouco em silêncio, até que me lembrei de mais cedo na
faculdade.
- Você sabia que o Pietro tem uma namorada? – perguntei a Yuri.
Ele riu.
- Não. Ele apresentou a moça a você?
- Sim. Foi tão bonitinho ver os dois envergonhados. – eu ri um pouco. –
Pietro está todo feliz. Ele está pensando em comprar um carro em breve.
Você poderia ajudá-lo?
- Claro. Se tem uma coisa que eu entendo, é sobre carros. Também
posso dar algumas dicas sobre mulheres, se ele quiser.
- Metido. – revirei os olhos.
Yuri riu de novo.
- Será que Pietro vai querer ir para Belmonte também? – perguntei.
- Talvez. Ele pode levar a namorada para conhecer a cidade natal e a
família dele.
Ficamos em silêncio, mas foi por pouco tempo.
- Você não teve medo?
- De quê?
- De estar namorando alguém e de repente encontrar a sua
companheira, uma outra pessoa?
Yuri demorou um pouco a responder.
- No início não. Mas à medida que o tempo foi passando, eu comecei a
ficar preocupado se iria encontrar a minha companheira ou não. Fiquei com
inveja do Josh quando soube que ele ia se casar com Maya. Até ele tinha
encontrado a sua companheira e eu não.
- E se você não tivesse me encontrado?
- Acho que eu acabaria me conformando e seguindo a vida... Por que
estamos tendo essa conversa? Você está preocupada com Pietro?
- Um pouco, pra falar a verdade.
Eu já gostava do Pietro antes e quando ele se mudou para cá, nos
aproximamos mais. Ele era como o irmão caçula que eu nunca tive.
- Não se preocupe com isso, Lua. Pietro é muito jovem, ainda tem
muito tempo pela frente para encontrar sua companheira. Muita coisa ainda
pode acontecer.
- É verdade. Você está certo. – como sempre, Yuri conseguia me
tranquilizar.
- Como sempre.
- Metido.
Nós rimos e eu me aconcheguei mais nele.
- Vamos dormir. Vamos deixar nossas preocupações para depois. –
Yuri falou, enquanto me apertava forte.
- Tudo bem.
No silêncio, suas palavras ecoaram na minha cabeça. Vamos deixar
nossas preocupações para depois. Sem querer, Yuri tinha confirmado para
mim que estava preocupado.

A semana seguinte foi cansativa e trabalhosa. Era sempre assim na


semana de provas. Até dores de estômago eu senti nesses dias, devido ao
nervosismo. Pietro até veio estudar aqui em casa, já que tínhamos algumas
matérias em comum, de início de curso.
Apesar da correria a semana inteira, nos saímos bem e na sexta-feira,
resolvi perguntar a Pietro se ele iria para Belmonte.
Estávamos na saída da faculdade e esperávamos Talita, que iria para
com Pietro para o apartamento dele. O relacionamento dos dois estava sério.
- Não sei. Vou perguntar a Talita se ela quer ir comigo.
- Sua mãe e seu irmão vão gostar de conhecê-la. – eu falei com um
sorrisinho.
Pietro ficou vermelho.
- Acho que sim. – ele falou todo sem graça. – Quando vocês vão?
- No domingo de manhã. Conversa com ela, ainda dá tempo de decidir.
- Tudo bem.
Talita nos alcançou e eu dei uma carona aos dois até o meu antigo
apartamento.

No domingo, saímos cedo e fomos até o meu antigo prédio buscar


Pietro e Talita. Yuri ia dirigindo o seu carro, com a desculpa de que era mais
rápido do que o meu. Revirei os olhos, mas não discuti. Ele gostava de dirigir
e aproveitava esses momentos de viagem para correr na estrada.
Pietro e Talita se juntaram a nós e prosseguimos na nossa viagem rumo
à Belmonte. Fomos conversando a maior parte do tempo e senti que a viagem
passou mais rápido do que das outras vezes. Não demorou muito para que eu
logo avistasse a famosa estátua de Belmonte na entrada da cidade. A deusa
Luna e a alcateia sagrada permaneciam lá, guardando a cidade. E pensar que
alguns meses atrás eu tinha pichado aquele monumento... Como o tempo
passou rápido. Como eu mudei.
Belmonte parecia a mesma de sempre. Interiorana, pacata, muitas
árvores a cercando. A familiar sensação de aconchego e reconhecimento me
preencheu quando eu vi aquelas árvores passando por nós. Belmonte era o
meu lar, o lugar onde minha alcateia estava, onde minha família morava.
Assim que entramos na cidade, Yuri nos levou direto para a casa de
Josh. O prefeito ia nos recepcionar com uma pequena festa de boas-vindas,
apenas para os membros da alcateia. Afinal, não era todo dia que dois
membros e o alfa supremo vinham até Belmonte visitar a alcateia.
Eu estava louca para matar as saudades de todos. Apesar de não fazer
tanto tempo assim desde que estive aqui pela última vez, eu sentia muita falta
da minha alcateia. Yuri me explicou que isso era normal, que eu tinha uma
ligação especial com a minha alcateia e que por isso sentia falta deles. Era
algo intrínseco aos lobos: a ligação com a sua alcateia.
Ao entrarmos na enorme casa de Josh, fomos recebidos com festa.
Toda a alcateia estava presente, sem exceção. A sala de Josh estava lotada.
- Lua! – meu pai veio na minha direção e me deu um forte abraço.
- Oi, pai. – eu o abracei sorrindo.
- Senti sua falta. Como vocês estão? Entrem.
Em seguida, meu pai abraçou Yuri e engatou uma conversa rápida com
ele. Pietro e Talita foram cercados por Ismene, Daniel e Blake. Todos vieram
nos cumprimentar. Josh e Maya vieram me abraçar. Maya estava com a
barriga enorme. Ela e Josh esperavam um menino. Macayla, Joyce, Levi e
Serena vieram em seguida. Fiz uma nota mental de tirar um tempinho para
conversar com Joyce e com Maya. Conversar pelos aplicativos de mensagem
não era a mesma coisa de falar pessoalmente.
Depois do casamento de Josh e Maya, ela e eu ficamos mais próximas,
até por causa da proximidade de Yuri e Josh. Joyce também se aproximou
mais de Maya por causa de Lana, e assim, viramos as “três lobas” da alcateia
de Belmonte, por mais que apenas Joyce e eu fôssemos lobas realmente.
Tínhamos até montado um grupo no aplicativo de mensagem e estávamos
sempre conversando por lá.
Além do que, eu também queria tirar um tempinho para conversar a sós
com Joyce. Eu queria saber como a minha amiga realmente estava. O
afastamento de Lana tinha deixado-a triste.
Quando acabei de abraçar todos, reparei que duas figuras não se
moveram para nos cumprimentar. O homem alto, enorme e com uma cicatriz
no rosto ficou sentado no sofá, ao lado da moça atlética e de cabelos pretos
presos em um rabo de cavalo. Ela estava em uma cadeira de rodas. Brian e
Mirela.
CAPÍTULO 4

A atitude deles já era esperada.


Brian não era uma pessoa fácil e Mirela tinha sido nossa inimiga até
pouco tempo atrás. Não era tão simples assim ficar perto deles e agora que os
dois estavam juntos, as coisas só complicaram mais. Quando Yuri me contou
que agora os dois eram um casal, eu pensei que ele estava brincando comigo.
Não conseguia acreditar. Para mim, os dois eram totalmente opostos. Yuri
achava que eles combinavam muito.
Blake enlaçou o braço no de Talita e a puxou para conhecer o irmão.
Pietro foi junto receoso. Ele não gostava nem um pouco de Mirela, pois da
última vez que se viram, ela tinha ferido-o e matado seu pai. Daniel me
puxou para um abraço, desviando a minha atenção da cena.
- Que saudade! – ele se separou de mim e falou, com falsa
indignação: - Você e o Yuri nem vieram para o nosso casamento!
- De novo essa história? Acho que vou pegar de volta o presente que
eu e Lua mandamos para vocês... – Yuri se meteu.
- Não! – Daniel praticamente gritou.
Yuri e eu rimos da reação dele.
A alcateia de Belmonte tinha passado por uma chuva de casamentos
nos últimos meses. Primeiro foram Josh e Maya, depois Yuri e eu e por fim,
Blake e Daniel. Esperava que houvesse mais um em breve. O delegado não ia
ficar enrolando Macayla por muito tempo.
- Mesmo que você quisesse, não ia conseguir. Ele e o Blake já
gastaram todo aquele vale-presente que vocês mandaram. Nossa casa foi
repaginada. – Levi se intrometeu também, sorrindo.
Todos rimos.
Eu e Yuri mandamos um vale-presente bem gorducho da Santinos
como presente de casamento. Eu não tinha dúvidas de que eles fizeram a festa
na loja de Olímpia. Após o casamento, Blake se mudou para a casa de Daniel
e Levi. Fiquei curiosa para conhecer a nova decoração daquela casa, pois a
Santinos tinha muitos itens de decoração, que inclusive eu usei em nosso
apartamento.
- Eu queria tanto ter assistido a cerimônia! Deve ter sido linda! Quero
ver o álbum de casamento depois. – falei para Daniel.
- Pode deixar. – ele respondeu com uma piscadela.
- O almoço está servido! – Serena exclamou perto da longa mesa de
jantar.
Maya e Josh já estavam lá: ele ajudando a esposa a fazer um prato
enorme. Eu não sabia que grávidas sentiam tanta fome assim. Devia ser
verdade o que diziam sobre grávidas comerem por dois.
Yuri passou o braço pela minha cintura e fomos nos servir também.
Percebi que ele nos manteve distantes de Brian e Mirela e que nem olhou
direito para os dois. Yuri ainda tinha ressentimentos em relação à Mirela, e o
fato de Brian estar com ela reforçava a sua “rejeição” pelos outros membros.
Não que alguém fosse realmente rejeitar Brian da alcateia, mas ele meio que
se excluía dos demais com as suas atitudes.
Aquele era um assunto complicado e eu não sabia como Josh estava
lidando com isso, pois além de estar com Brian, Mirela também era uma alfa.
Apesar de não se transformar mais por conta da sua paraplegia, ela ainda era
uma loba e isso devia confundir Josh por causa do territorialismo. Belmonte
era seu território e outro alfa comum não era bem-vindo. Devia ser isso que
Yuri veio resolver aqui.
Como a mesa da sala de jantar não comportava tantas pessoas, cada
um pegou seu prato e se sentou em um lugar diferente na sala. Um falatório
se iniciou. Percebi que Brian serviu Mirela e depois se serviu, vindo se sentar
ao seu lado. Os dois não interagiam muito com os demais. Apenas Macayla,
Blake ou Serena falavam de vez em quando com eles. Aquilo não era muito
legal.
Pelo que eu sabia, Mirela estava recomeçando em Belmonte. Após
passar uma temporada no hospital, ela resolveu ficar aqui na cidade. Macayla
a ajudou oferecendo um emprego na confeitaria. Provavelmente foi assim que
conheceu Brian. Yuri e Josh resolveram não punir Mirela pela morte de Ítalo.
Ambos concordaram que a cadeira de rodas e a incapacidade de se
metamorfosear em lobo eram punições suficientes para ela.
Eu sabia como era recomeçar em um lugar totalmente novo. As
incertezas e inseguranças que se tinha. Mirela estava se esforçando, mas
precisava que os outros também fizessem a sua parte.
Resolvi entrar em ação. Ia dar um voto de confiança a eles. Ninguém
ali tomaria uma atitude se eu não fizesse nada, afinal Yuri e eu fomos um dos
mais afetados pelas atitudes de Mirela, isso sem falar em Ítalo e Pietro. Por
mais que Ítalo não prestasse, ele não merecia morrer, e Pietro com certeza
não merecia a surra que levou.
Apesar disso, me aproximei dos dois e me sentei de frente para eles,
no outro sofá. Sua atenção foi direto para mim. Senti os olhos de Yuri nas
minhas costas.
- Como vocês estão? Fiquei sabendo que estão juntos agora. – eu
disse aos dois, de forma simpática.
- Estamos bem. – Mirela respondeu sucinta. Brian não falou nada e
parecia na defensiva, nos observando.
- Soube que está trabalhando na confeitaria da Macayla.
Mirela assentiu e disse:
- Macayla é uma ótima pessoa.
Assenti com um sorrisinho. Aquilo ia ser difícil, pelo visto. Senti
outros olhos observando a nossa conversa também, além de Yuri.
- Como está a sua recuperação?
Antes que Mirela pudesse responder, Brian se intrometeu:
- Mirela não tem mais chance de voltar a andar, se é isso que você
quer saber. – o tom dele era mais de acusação do que de informação. – Ela
não pode mais se metamorfosear por causa disso.
- Brian, nós já falamos sobre isso... – Mirela disse a ele, mas foi
interrompida novamente:
- Não, Mirela. Você não pode facilitar as coisas!
- A culpa foi minha, Brian! Se eu estou assim hoje, é porque eu fiz
uma escolha errada!
Silêncio na sala. Nesse momento, todos estavam prestando atenção
em nós três.
Brian suspirou inconformado. Ele achava mesmo que Yuri e eu
éramos os vilões naquela história? Ele estava lá na noite em que Mirela nos
atacou. Ele ajudou a socorrer Ítalo e Pietro. Como é que agora ele ficava
desse jeito com os membros da própria alcateia?
Ele estava agindo protetoramente em relação a Mirela. Ele... gostava
dela! Era por isso!
- Eu também acho! Essa cadeira de rodas é mais do que merecida! –
Pietro se levantou e falou alto, para todos escutarem.
- Acho melhor você ficar na sua, garoto. – Brian se levantou também.
- Eu não tenho medo de você, Brian. Posso te dar outra cicatriz, igual
a que o meu irmão te deu.
Brian começou a avançar na direção de Pietro, mas nesse momento
Josh se levantou e exclamou:
- Parem com isso agora!
Todos ficaram estáticos observando aquela situação. A ordem do
nosso alfa tinha que ser respeitada e obedecida, mesmo contra nossas
vontades. Coitada da Talita, não devia estar entendendo nada.
- Eu acho que já é hora de esclarecermos certos pontos. Yuri? – Josh
falou.
Yuri, que estava calado e apenas observando tudo até o momento, se
levantou e falou:
- Eu já vi o suficiente. Quero uma reunião com... – ele pareceu hesitar
nesse momento. Não podia falar “alcateia”, pois Talita estava ali e não sabia
de nada. – todos. Agora. – ele falou por fim.
Silêncio.
Maya se levantou do sofá com a ajuda de Josh e foi até Talita.
- Deixa eu te mostrar a casa. Nós temos um quintal enorme... – ela
puxou Talita e seguiu andando pelo interior da casa.
Maya sabia sobre os lobos e era seu dever, como membro da alcateia
e esposa do alfa, zelar pelo sigilo, assim como todos nós. Ainda bem que ela
já sabia como agir em certos casos.
- Espero que todos já tenham acabado de almoçar. A reunião da
alcateia vai começar agora. – Josh falou para todos.
Ótimo. Fui tentar resolver uma situação e acabei gerando uma briga,
que resultou em uma reunião da alcateia. Parabéns, Eluana!
CAPÍTULO 5

Desde que chegamos na casa do Josh, percebi que Brian e Mirela


estavam na defensiva e iam dificultar as coisas para todos. Cheguei a pensar
que Brian estava fazendo isso de propósito, como um ato de rebeldia. Josh
me avisou que ele ficou mais antipático depois do casamento de Blake. A
saída do irmão caçula da casa dos dois também contribuiu para o seu atual
estado.
Eu tinha que agir logo naquele caso. Os sentimentos de Brian por
Mirela até poderiam ser verdadeiros, mas eu tinha dúvidas em relação aos da
loba. A alfa tinha ficado em Belmonte para se recuperar e recomeçar a vida
na pequena cidade. Por que se envolver justo com um membro da alcateia?
Ela devia saber que isso atrapalharia Josh, que o territorialismo dele ficaria
pior nessa situação.
Quando Lua se aproximou do estranho casal e puxou assunto, mantive
meu foco no trio. Eu não confiava em Mirela e pelo seu histórico, eu sabia do
ela era capaz. Apesar de Lua ter aprendido a se defender, meus instintos
gritavam por dentro, me avisando do suposto perigo que a minha
companheira corria.
Pelo desenrolar da conversa, Mirela sabia que tinha errado. Lembrei de
suas palavras no hospital: Eu assumo meus erros. Ela tinha noção do que
tinha feito e a superproteção de Brian chegava a ser ridícula.
Quando Pietro se meteu, eu soube que era um caso perdido aquela
tentativa de aproximação de Lua. Josh precisou se meter na discussão e
acalmar os ânimos. Quando ele falou a minha deixa, resolvi adiantar as
coisas. Uma reunião seria necessária naquele momento. Além disso, eu
aproveitaria que a alcateia toda estava reunida.
Ainda bem que Maya tirou a namorada de Pietro da sala. Quase revelei
o nosso segredo na frente da garota.
Josh declarou o início da reunião começou a falar:
- Sentem-se. – ele se dirigiu a Brian e Pietro, que prontamente o
obedeceram. - Muito bem. Na verdade, eu e Yuri convocamos essa reunião
para falarmos de um assunto determinado. – ele olhou para o casal. – Mirela
e Brian.
- Vocês só podem estar brincando... Isso é ridículo. – Brian falou
enquanto balançava a cabeça e sorria de modo zombeteiro.
Cruzei os braços na altura do peito e olhei para Josh.
- Não, Brian. Não estamos brincando. Mirela é uma alfa e está em
Belmonte, que é meu território. Eu não teria muitos problemas se ela seguisse
sua vida bem longe de mim aqui na cidade. O problema é que se a relação de
vocês for para frente e se tornar algo mais sério, Mirela fará parte da nossa
alcateia. E não existem dois alfas em uma mesma alcateia. – Josh explicou
muito sério. Ele estava visivelmente irritado com essa situação.
- Você quer dizer que eu não tenho liberdade para escolher com quem
eu vou me relacionar? Que eu tenho somente que ficar “atado” a alguém pelo
resto da minha vida porque a deusa Luna quis assim? – Brian lançou as
perguntas exasperado.
O sacana ainda deu uma “indireta direta” sobre os companheiros. Senti
o olhar de Lua em mim, mas não o retribuí. Brian estava tentando defender o
seu ponto e ia utilizar de todas as armas possíveis para isso.
- Essa não é a questão, Brian. – Josh falou enquanto passava a mão pelo
rosto.
- Meu irmão pode virar bicha e eu não posso namorar a Mirela!
Daniel se levantou possesso e apontou na direção de Brian:
- Acho melhor você medir suas palavras, Brian!
Blake se levantou e puxou o companheiro para se sentar de novo. Pela
cara dele, ele já devia estar acostumado a lidar com o irmão preconceituoso.
- Nós saímos da cidade. Problema resolvido. Pietro e Eluana foram
embora daqui sem problemas... – Brian falou, mas foi interrompido:
- Pietro saiu daqui temporariamente, para estudar. Lua é companheira e
esposa do nosso alfa supremo, mas sempre que dá, está por aqui. – Josh
rebateu de olhos fechados e massageando as têmporas.
- Eu estou preso aqui, então?
- Claro que não, Brian...
- Silêncio! – eu exclamei meio impaciente. – Eu vou resolver essa
questão, mas é a alcateia toda que vai decidir no final.
Uma ideia tinha acabado de se formar na minha cabeça.
- Isso é injusto! Você sempre vai ficar do lado do Josh, já que são
parentes. – Brian choramingou.
- Eu mandei todos ficarem calados, Brian. – ele me olhou insatisfeito,
mas não falou mais nada. – Como eu disse, a alcateia toda vai decidir no
final.
Macayla levantou a mão e eu dei a palavra a ela.
- Nós vamos decidir se a Mirela pode ficar ou não na cidade? – ela
perguntou.
- Sim. Josh, o alfa de vocês, expos o ponto dele. Mirela é como se fosse
uma ameaça para ele, pois além de estar em seu território, é uma alfa que tem
possibilidade de entrar para a alcateia.
Mirela imitou o gesto de Macayla e levantou a mão. Dei a palavra a ela.
- Eu não pretendo “roubar” a alcateia de ninguém. Eu não me
transformo mais, não sou uma ameaça. Eu só quero recomeçar minha vida.
- Você sabe muito bem que o que eu sinto é instintivo. Minha parte
lupina comanda isso. – Josh rebateu irritado.
- Josh. – eu o alertei pela interrupção.
- Desculpa.
Pietro levantou a mão também. Ismene parecia preocupada com as
atitudes do filho. Dei a palavra a ele.
- É muito fácil falar em recomeçar quando se está vivo. Ítalo não teve a
mesma sorte que a sua.
A acusação de Pietro fez Mirela se encolher no lugar. Eu assumo meus
erros. Será que ela se sentia culpada pelo assassinato de Ítalo?
- Acho que a morte de Ítalo já foi um assunto discutido. Ele teve o que
mereceu e Mirela também, no fim das contas. – eu falei.
Pietro não pareceu nada feliz, mas não disse nada.
Lua levantou a mão. O que será que ela achava disso? Dei a palavra a
ela.
- Eu não acho certo que a Mirela e o Brian fiquem de lado na alcateia.
Ela está pagando pelos seus erros e Brian está a ajudando a passar por isso.
Eu não tenho como afirmar, pois eu nunca perdi os movimentos das minhas
pernas, mas eu acho que não é nada fácil perder a capacidade de andar e de se
metamorfosear assim, de uma hora para outra. Acho que Mirela merece uma
segunda chance, apesar de tudo. – Lua falou, olhando para Mirela e Brian.
O estranho casal ficou olhando atônito para Lua.
Eu não conseguia entender minha companheira. Mirela quase a matou
meses atrás e agora ela estava a favor da alfa! Por que Lua sempre tinha que
arrumar uma forma de se “rebelar”?
- Ah, Lua! Não! – Pietro exclamou indignado.
Ignorei a reclamação de Pietro e vi que Levi tinha levantado a mão.
- Quando vamos votar? E o quê, mais especificamente, nós vamos
votar? – ele perguntou.
Neandro levantou a mão, mas foi logo falando antes que eu pudesse dar
a palavra a ele:
- Acho que merecemos uns dias para pensar. Uma semana, talvez.
- É uma boa ideia. – Josh comentou.
- Eu não posso fazer a minha colocação? – Brian perguntou no meio
disso tudo.
- Você já falou demais, rapaz. – Neandro o rebateu.
Decidi acabar logo com aquilo.
- Tudo bem. – minha voz silenciou todos na mesma hora. – No próximo
domingo, vocês votarão. A alcateia de Belmonte vai decidir se Mirela pode
ou não ficar na cidade. Acho que todos aqui ouviram as colocações e podem
tirar suas próprias conclusões disso.
Todos assentiram, menos Brian e Mirela. Ele não ficou nada feliz com
aquilo e Mirela parecia surpresa demais para esboçar qualquer reação.
Adoraria saber o que se passava na cabeça da alfa nômade.
- Eu declaro essa reunião encerrada. Obrigado pela presença de todos. –
Josh encerrou a reunião.
CAPÍTULO 6

- Vamos embora, Mirela. – Brian falou irritado e se levantou.


- Esperem! – eu me aproximei dos dois e continuei, mais baixo: - Quero
falar com a Mirela. A sós.
Todos começavam a se dispersar na sala e Maya tinha acabado de
voltar com Talita do seu passeio pela casa. Aquele era o melhor momento
para falar com Mirela sem levantar muitas suspeitas para Lua.
- Não. – Brian respondeu por Mirela.
- Brian! – Mirela chamou a atenção dele. Se voltando para mim, ela
disse: - Eu falo com você, Yuri.
- Vamos ao escritório do Josh. – eu indiquei o corredor e Mirela
começou a mover a cadeira de rodas na direção indicada.
- Eu vou aguardar aqui. – Brian falou e voltou a se sentar.
Comecei a seguir atrás de Mirela, porém ela pegou o meu braço e eu
me virei para trás. Mesmo sem vê-la, eu já sabia que era Lua. Até o toque
dela era diferente para mim.
- O que foi? – ela perguntou e olhou na direção em que Mirela seguia.
Merda.
- Vou conversar um pouco com a Mirela. Não se preocupe, não vai
demorar nada. Logo, logo nós seguimos para a casa do Neandro.
Dessa vez, Lua e eu ficaríamos hospedados na casa do meu sogro. Ele
tinha feito uma pequena reforma no quarto de Lua e agora nós dois
poderíamos ficar mais confortáveis lá.
Lua assentiu, meio surpresa.
- Vou ficar aqui, conversando com a Maya até você voltar.
Assenti e dei um selinho nela. Lua estava desconfiada, com certeza.
Seus lindos olhos verdes me diziam isso.
Segui no corredor em direção ao escritório de Josh. Mirela me
aguardava lá, alguns passos perto da porta.
- Aqui. – eu disse e abri a porta.
Ela entrou e posicionou a cadeira no meio da sala. Fechei a porta e fui
ficar de frente para ela, me apoiando na escrivaninha.
- E então? – ela perguntou sem rodeios.
- Eu quero algumas respostas, Mirela. Os eventos que aconteceram
meses atrás ainda me deixam confuso. Eu quero que você me esclareça
algumas coisas. – fui direto ao ponto.
Silêncio.
Ela ficou me encarando surpresa. Seu rosto não demonstrava muita
emoção.
- Faça suas perguntas. – ela disse, por fim.
Decidi começar pelo que eu julgava ser mais simples.
- Como você conseguiu ignorar a minha ordem de comando?
Mirela continuou me encarando, mas um sorrisinho se insinuou na sua
boca.
- Não foi sem esforço.
Eu sabia que Mirela era forte, mas será que isso era justificativa
suficiente?
- Como? – insisti.
- Eu não sei, Yuri. Eu estava com raiva. Eu só... fiz. – ela respondeu e
dessa vez não tinha o sorrisinho no rosto.
Se Mirela tinha conseguido, então isso abria um precedente. Será que
outros lobos fortes iguais a ela conseguiriam me ignorar também? Outros
alfas? Mas como? Eu era o alfa supremo, logo, todos os outros lobos
deveriam me obedecer. Eu era poderoso e forte o suficiente para isso.
Assenti para ela. Por mais que eu não gostasse de Mirela, tinha que
admitir que sua resposta me pareceu sincera. Decidi seguir em frente.
- Lua é a reencarnação da deusa Luna?
Mirela ficou me encarando em silêncio antes de responder.
- Talvez.
- Como assim? O que você quer dizer com isso? – perguntei confuso.
Novamente, ela fez uma pausa antes de responder:
- Lua é parecida com todas as representações que eu já vi da deusa
Luna. Ela nasceu em Romália, não foi?
- Não. – respondi franzindo o cenho. – Lua é daqui de Belmonte, ela
nasceu aqui. O que Romália tem a ver com a Lua?
Mirela suspirou.
- A lenda diz que a deusa Luna era originalmente a protetora de
Romália. Como Romália não tem alcateia, Belmonte, a cidade mais próxima
com uma alcateia, se apossou da deusa e fez dela sua protetora. Por isso tem
aquela estátua na entrada da cidade. Por isso as representações da deusa são
de uma mulher loira de olhos claros. Ela não é daqui.
Eu conhecia a lenda, mas ainda não tinha ligado os pontos.
- O que Lua tem a ver com isso?
Mirela fez uma careta.
- Esqueceu do mito da descendência da deusa? Que há a possibilidade
de a deusa Luna ter deixado uma descendência em Romália? Talvez Lua seja
uma descendente da deusa Luna. Uma “reencarnação” de certa forma, pois
ela teria os poderes especiais da deusa. O espírito da deusa Luna viveria
dentro dela, de algum modo. – Mirela deu de ombros.
Dessa vez fui eu quem ficou encarando Mirela. Eu estava sem
palavras.
Eu conhecia a lenda da deusa Luna, mas o mito da descendência
nunca foi comprovado. Era uma teoria. Os lobos nunca conseguiram
encontrar um descendente da deusa, como é que agora Mirela vinha com essa
história? O mito da descendência já nem era mais contado pelos lobos. Todos
pararam de acreditar nele.
Entretanto, poderia haver alguma possibilidade de Lua ser
descendente da deusa? Um tipo de “reencarnação” dela? Com poderes e
tudo... A mãe de Lua era de Romália, loira de olhos verdes...
Como eu nunca pensei nessa hipótese?!
- Isso nunca foi comprovado. Nunca encontraram os supostos
descendentes da deusa. – consegui falar, finalmente.
- Talvez eu tenha encontrado. A sua companheira pode ser ela.
Balancei a cabeça negando.
- Não faz sentido. Lua não tem poderes.
- Você não sabe. – ela fez uma breve pausa. - Yuri, eu pesquisei sobre
isso. Como você muito bem sabe, eu sou formada em jornalismo, tenho faro
para investigação. Eu pretendia usar Lua contra você, lembra? Não é algo tão
impossível assim. Talvez só tenham procurado os descendentes nos lugares
errados ou... não procuraram direito. – ela deu de ombros.
Não procuraram direito... como se eles estivessem escondidos,
“disfarçados”? Assim como os lobos ficavam quando conseguiam mascarar
seu cheiro? Seria possível?
Lembrei da confissão de Mirela no hospital, do seu plano ridículo. Na
época, Mirela tinha certeza de que seu plano daria certo. Ela pensava que nós
já sabíamos sobre Lua, por isso quis usá-la contra mim.
Fiquei em silêncio, pensando sobre o assunto.
- Posso ir agora?
Assenti e não falei mais nada. Mirela saiu do escritório e me deixou
sozinho, perdido em pensamentos.
CAPÍTULO 7

O que será que Yuri tinha para conversar com Mirela? Fiquei olhando
meu companheiro se afastar e entrar no corredor, seguindo a alfa nômade.
Yuri estava tão esquisito ultimamente...
- Lua!
Me virei e vi que Joyce estava me chamando. Ela estava sentada ao
lado de Maya no sofá. Brian, que estava perto delas, se levantou e foi até a
janela do outro lado da sala. Ele estava emburrado, como sempre.
Me aproximei das garotas.
- Oi. – eu falei enquanto me sentava perto das duas.
- Algum problema entre você e o Yuri? – Maya me perguntou. Ela
devia ter notado a minha preocupação.
- Na verdade, eu não sei. Acho que Yuri está com um problema, mas
não quer contar pra mim.
- Deve ser algo da empresa. Ele deve ter muitos problemas para
resolver lá. – Joyce palpitou.
- É verdade. Josh sempre tem problemas na prefeitura. Não sei como
ele consegue controlar tudo por lá, cuidar da alcateia e dar atenção para nossa
família. – Maya falou pensativa enquanto passava a mão sobre a barriga.
- Eu também não sei como Yuri consegue conciliar tantas coisas ao
mesmo tempo. É só que... ultimamente ele tem andado esquisito. Preocupado.
Eu tenho a impressão de que ele está me escondendo alguma coisa.
Silêncio. Maya e Joyce se entreolharam.
- Ele é seu companheiro, Lua. Você não acha que ele está... – Maya não
completou a frase, mas nem precisou.
- Não, não é nada disso! – me apressei em dizer.
Yuri não me trairia. Nós éramos companheiros, nós nos
completávamos. Não havia espaço para esse tipo de coisa na nossa relação.
Na verdade, em todas as relações entre companheiros, traição era uma coisa
impossível. Simplesmente não fazia sentido.
- Você já tentou perguntar para ele qual é o problema? – Joyce
perguntou.
- É claro, Joyce. Mas ele não me fala e sempre muda de assunto. Isso
me preocupa. Não gosto de vê-lo assim. Além disso, eu também fico triste,
pois acho que ele não confia em mim o suficiente para se abrir sobre os seus
problemas. – falei meio chateada.
- Lua, vocês são companheiros. É claro que ele confia em você. Talvez
você só precise dar mais um tempo a ele. – Joyce falou.
- Também acho. Ele vai falar com você no momento certo. – Maya
disse confiante.
- Assim espero. – falei esperançosa.
Joyce abriu um sorriso e se levantou.
- Eu preciso ir, meninas. Vou me encontrar com a Lana. – ela anunciou
mais sorridente ainda, se é que era possível.
- Vocês estão juntas de novo? – perguntei surpresa.
Da última vez que eu vi Lana, ela não tinha dado muitas esperanças
para Joyce.
O sorriso dela murchou um pouco.
- Ainda não, mas torçam por mim.
- Boa sorte. – Maya e eu falamos ao mesmo tempo, enquanto ela ia em
direção à porta e acenava para os que ficavam.
- Pensei que Lana estava com Safira. – comentei com Maya, franzindo
o cenho.
- Não, elas não estavam namorando. – Maya falou sorrindo. – Lana só
estava fazendo ciúmes para Joyce no meu casamento. Safira tem uma
namorada há anos e não mora mais aqui em Belmonte. Tem pouco tempo que
a Lana decidiu conversar com a Joyce de novo. Acho que eu já sei qual será a
exigência dela para que as duas reatem.
Aquilo eu não sabia. Sempre achei que Lana era namorada de Safira.
Maya era amigas das duas, então devia estar por dentro de tudo.
- E qual será?
- Ela vai querer que Joyce se assuma.
- Ah.
Era o que Joyce ainda não tinha feito. Será que ela seria capaz de passar
por cima dos seus medos e receios para ficar junto da pessoa que amava?
Enquanto eu pensava sobre isso, vi que Mirela estava voltando do
escritório de Josh. Ela estava sozinha. Brian foi até ela e a conduziu para a
porta. Os dois não se despediram de ninguém antes de irem embora.
Olhei de novo para o corredor, mas Yuri não apareceu. O que
aconteceu?
- Vou falar com Yuri. – eu disse a Maya e me levantei, indo até o
escritório de Josh.
Dei uma batidinha na porta e a abri. Me deparei com um Yuri sério e
pensativo, sentado na beira da escrivaninha. Ele não pareceu notar que eu
tinha entrado.
- Yuri? – eu o chamei enquanto fechava a porta.
Ele levantou os olhos para mim e me olhou surpreso. Parecia até que
tinha visto uma assombração. Franzi o cenho. De novo essa esquisitice dele!
- Lua? Não te vi entrando.
- Eu bati na porta antes de entrar. Você está bem?
Ele deu um suspiro e passou as mãos pelos cabelos. Se desencostou da
escrivaninha e veio até mim, no meio do escritório.
- Nós precisamos conversar, amor. Eu preciso te contar uma coisa. – ele
falou preocupado, meio hesitante.
Tive a impressão de que Yuri preferia estar fazendo qualquer outra
coisa a estar falando comigo para ter aquela conversa. Seja lá qual fosse o
problema que ele tinha para me contar, devia ser grave. Por um breve
momento a hipótese de Maya me passou pela cabeça...
- Pode me falar, Yuri. – falei calmamente, na tentativa de tranquilizá-lo.
Yuri me puxou até as cadeiras que ficavam na frente da escrivaninha e
pediu para eu me sentar. Ele se sentou de frente para mim, na outra cadeira e
ficou segurando as minhas mãos. Seus olhos castanho-claros prenderam
minha atenção.
- Lua, você lembra quando nós fomos visitar a Mirela no hospital,
meses atrás?
- Sim. Nós tínhamos descoberto quem ela era e você a confrontou lá.
Foi alguns dias depois da luta no casamento de Josh. Mirela tinha
acordado há pouco tempo e ainda não tinha certeza se perderia os
movimentos das pernas.
Yuri assentiu e continuou:
- Lembra do que ela falou? Sobre a deusa Luna?
Fiz um pouco de esforço e consegui lembrar. Não eram as palavras
exatas, mas lembrei de Mirela mencionando algo sobre eu ser a reencarnação
da deusa Luna. Ela não foi a primeira e nem seria a última a me comparar
com a deusa.
- Sim, ela falou que eu era a reencarnação da deusa Luna. Já escutei
isso mais de uma vez na vida. Por quê?
- Porque talvez ela esteja certa.
Fiquei encarando Yuri sem acreditar nas palavras que eu tinha acabado
de escutar. Eu era a reencarnação da deusa Luna? Não. Não era possível.
- Por que ela acha isso?
- Você conhece toda a lenda da deusa Luna?
- Claro. – respondi prontamente e sem hesitar.
Qualquer pessoa que nasceu em Belmonte, conhecia a lenda da deusa
Luna, a guardiã da cidade. Segundo a lenda, muito antiga, a deusa Luna era
uma deusa guerreira, protetora dos lobos e das florestas. Era a deusa da lua e
da noite. A alcateia sagrada foi formada pelos seus melhores guerreiros, que
receberam o dom da metamorfose após clamar à deusa, antes de ir para uma
importante batalha. Os lobos eram os animais queridos da deusa, seus
protegidos. A deusa Luna concedeu o desejo dos guerreiros e eles se
transformaram em lobos, passando assim, a fazer parte da alcateia sagrada da
deusa Luna. Eles achavam que como lobos, consagrados pela própria deusa, a
luta seria mais fácil. E foi. Todos os lobos da atualidade, pertencentes à
alcateia da deusa Luna, eram descendentes desses lobos guerreiros, que se
espalharam por vários lugares. Por isso havia alcateias espalhadas em
diversos cantos, em outras cidades.
Yuri suspirou.
- Você conhece o mito da descendência da deusa Luna?
Franzi o cenho. Eu conhecia a lenda da deusa, mas o mito da
descendência... acho que nunca tinha ouvido falar nisso.
- O que é isso?
- O mito da descendência é pouco disseminado porque nunca foi
comprovado. Ele fala sobre os possíveis descendentes da deusa Luna, que
herdariam seus poderes. Dizia-se que os seus descendentes teriam um pouco
do espírito da deusa dentro de si, por isso seriam a sua “reencarnação”.
Abri a boca, mas não consegui falar nada, apenas encarei Yuri. Foi
apenas na terceira tentativa que consegui falar.
- E você também acha que eu sou uma descendente? Uma
reencarnação?
- Eu realmente não sei, Lua. Mirela acha que sim.
Balancei a cabeça negando. Há poucos meses tinha descoberto que era
uma loba, e agora havia a possibilidade de eu ser uma deusa. Que diabos
havia de errado comigo? Por que eu não podia ser normal, pra variar?
- Era essa a sua preocupação? Era por isso que você estava estranho
ultimamente?
Ele assentiu.
- Eu não sabia o que esperar disso. Fui à outras alcateias para tentar
buscar respostas, mas não encontrei nada. Minha única alternativa foi vir até
aqui e perguntar para Mirela. – ele fez uma pausa e continuou: - Lua, pelo
que a Mirela falou, outros lobos podem vir atrás de você, para querer usá-la
contra mim. Você pode correr perigo e eu não sei se sou o bastante para te
proteger. Mirela conseguiu ignorar minha ordem de comando. Talvez outros
lobos também consigam.
Encarei Yuri sem acreditar. Ele estava preocupado comigo esse tempo
todo e não me contou nada. Yuri não confiava em mim.
- Você devia ter falado comigo desde o começo. – me levantei, soltando
as mãos dele e saindo do escritório.
CAPÍTULO 8

Yuri era tão superprotetor às vezes, que chegava a ser irritante.


Como ele pôde esconder isso de mim? Eu merecia saber da verdade
desde o início, afinal eu corria risco. Algum outro lobo poderia vir atrás de
mim, quando soubesse que a companheira do alfa supremo era a
reencarnação da deusa Luna, igual como Mirela fez. E se eu tivesse poderes?
Seria pior ainda!
Mas o que me deixou mais triste e enraivecida, foi descobrir que meu
companheiro e marido não confiava em mim para se abrir sobre seus
problemas, suas preocupações. Eu sabia que ele tinha medo de não conseguir
me defender, mas isso não era justificativa. Ele mesmo tinha me ensinado
muito bem a me defender. Se ele tivesse conversado comigo antes, nós dois
poderíamos achar um jeito de contornar essa situação. E que situação...
Reencarnação da deusa Luna. Não bem uma reencarnação, mas uma
descendente dela, que possui um pedaço da deusa dentro de si. Eu era isso
mesmo? Será que o sangue da deusa corria nas minhas veias?
A sensação de déjà-vu me atingiu. Meses atrás eu tive dificuldades em
acreditar que era uma loba, filha de um lobo e pertencente a uma alcateia.
Agora, eu não conseguia acreditar na possibilidade de ser uma deusa. Uma
deusa!
Saí marchando do escritório irritada. Entretanto, eu tinha certeza de que
minha irritação não ia durar muito. Não com Yuri. Eu não ia conseguir ficar
chateada com ele por muito tempo. Eu o amava demais e “passaria um pano”
para ele.
Merda.
Quando cheguei na sala, apenas meu pai, Macayla e Serena estavam
presentes, conversando. Os outros deviam ter ido embora, à essa altura.
- Lua, tudo bem? – Macayla perguntou quando me aproximei.
- Sim.
- Você está pálida, garota. O que aconteceu? – o delegado perguntou já
se levantando do sofá.
- Nada, eu só to cansada. Quero ir para casa.
- Cadê o seu marido? – meu pai perguntou já meio irritado. Ele nem
sabia o que tinha acontecido, mas pela minha cara, devia ter previsto que
Yuri estava envolvido.
- To aqui, Neandro. – ouvi a voz firme de Yuri e o senti se aproximar
de nós. Não me virei para encará-lo.
Os olhos do meu pai passaram de mim para Yuri algumas vezes, até
que ele assentiu.
- Vamos. – ele determinou, desconfiado.
Nos despedimos de Serena e saímos da casa. Yuri passou um braço
pela minha cintura enquanto andávamos até o carro. Não o repeli. Ele agia
como se nada tivesse acontecido. Talvez não quisesse alarmar ninguém.
- Pietro e a namorada já foram. Eu entreguei as malas deles. – meu pai
falou assim que saímos da casa.
- Obrigado. – Yuri respondeu.
- Talita é uma boa menina, vocês não acharam? – Macayla perguntou.
Ela vinha andando ao lado do meu pai, com um braço entrelaçado no dele.
- Ela é legal. – respondi olhando para o chão.
- Vocês vão direto para casa? – meu pai perguntou, seus olhos ainda
passando de mim para Yuri.
- Sim. – respondi o encarando.
Meu pai tinha reformado meu antigo quarto para acomodar melhor Yuri
e eu quando viéssemos a Belmonte. Ele não escondeu a chateação, das outras
vezes que viemos, por termos ficado na casa de Josh.
- Tudo bem. Vejo vocês lá. – ele falou e foi para o carro dele com
Macayla.
- Lua... – Yuri começou assim que eles se afastaram, mas eu o
interrompi:
- Agora não, Yuri. Depois. – eu disse e fui em direção ao carro dele.
Yuri soltou um suspiro alto e me seguiu. Fomos em silêncio até a
minha antiga casa.

O meu antigo quarto estava diferente agora. Tinha uma cama de casal
no lugar da anterior, de solteiro. As paredes, antes amarelas, ganharam um
tom de bege clarinho. A decoração estava mais clean também. Provavelmente
Macayla ajudou meu pai naquela tarefa e, provavelmente o delegado guardou
em uma caixa o resto dos cacarecos que havia pelo meu quarto.
Assim que Yuri colocou nossas malas no quarto e eu fechei a porta,
senti o peso do silêncio entre nós. Me virei e me deparei com Yuri sentado na
cama, me olhando, com a testa franzida. Cruzei os braços na altura do peito e
o encarei também.
- Precisamos conversar. – ele disse resoluto.
- Sim, nós precisamos conversar com a alcateia toda. Você precisa
contar tudo o que me contou hoje. Devia ter aproveitado a reunião para fazer
isso.
- Não, Lua. Quer dizer, sim, eu preciso falar com a sua alcateia
também. Mas agora eu quero conversar com você.
- Pra quê? Você estava seguindo muito bem sozinho nas suas
investigações. – rebati, azeda. – Você não confia em mim.
- Isso não é verdade! É claro que eu confio! – ele rebateu exasperado.
Fiz uma careta. Eu estava confusa e não sabia no que acreditar.
As nossas viagens de fim de semana até outras alcateias foram para
isso: Investigar.
- Eu não fiz muitos avanços sozinho nas minhas investigações. Foi
apenas hoje, quando Mirela me contou sobre o mito da descendência, que eu
progredi.
Balancei a cabeça.
- Como é que Mirela sabe tanto? Como é que ela tinha tanta certeza
sobre mim?
- Ela me contou que fez muitas pesquisas e investigações. Ela era uma
nômade, Lua. Sabe-se lá por quantos lugares ela já passou. Ela deve ter
aprendido muitas coisas andando por aí.
Isso era verdade.
- Eu ainda não entendi por que ela acha que eu sou uma descendente da
deusa Luna. Além da aparência, eu não tenho mais nada em comum com ela.
- A deusa Luna era originalmente a protetora de Romália, não
Belmonte. Como Romália não tem alcateia, Belmonte assumiu a deusa como
sua guardiã. De acordo com o mito da descendência, os descendentes dela
habitavam Romália, a cidade querida da deusa Luna. Ela pensou que você
tivesse nascido lá.
Congelei no lugar. Aquilo não podia ser possível.
Romália era a cidade natal da minha mãe. Pelo que eu sabia, toda sua
família era de lá. Será que a minha mãe era uma descendente da deusa Luna?
Uma “reencarnação”, assim como eu? Ela tinha poderes?
Seria uma brincadeira de muito mau gosto do destino. Minha mãe, uma
descendente da deusa Luna, se casar com meu pai, um lobo da alcateia
sagrada. Seria muita “zoação” para uma pessoa só.
Loba e deusa, ao mesmo tempo.
- Vamos falar com meu pai. – eu disse a Yuri, já pegando na maçaneta
para sair do quarto.
CAPÍTULO 9

Lua estava irritada, obviamente.


Mas o que eu poderia fazer? Acabar com a alegria dela, despejando um
monte de problemas no seu colo? Não. Eu me recusava a vê-la ou fazê-la
infeliz. Lua era meu mundo, ela era tudo para mim. Se ela estivesse correndo
algum perigo, eu seria o primeiro a me sacrificar por ela.
Lua parecia não entender um ponto essencial dessa história toda: O que
poderíamos esperar dela? Ela tinha poderes especiais mesmo? Isso seria
motivo de discórdia ou união para os lobos? Outros como Mirela viriam? Eu
poderia proteger minha companheira?
Eram tantas perguntas sem resposta que a minha agonia só aumentava.
Resoluta, Lua saiu do quarto e foi atrás do pai. Talvez Neandro
soubesse de algo sobre a mãe dela.
Neandro estava sentado no sofá, ao lado de Macayla. Os dois estavam
assistindo um filme na TV, mas pareciam mais entretidos um com o outro,
namorando. Assim que escutaram a nossa aproximação, eles se separaram
rapidamente e tentaram disfarçar. Não disfarcei o sorrisinho no meu rosto.
- Lua? Algum problema? – o delegado perguntou com o rosto
vermelho.
- Desculpa interromper o... filme de vocês, mas eu preciso falar com o
senhor. – Lua falou. Seu rosto também estava rosado.
Os olhos do delegado voaram para mim, parado ao lado de Lua.
- Pode falar. – ele disse e voltou a olhar para a filha.
Lua se sentou na poltrona e eu fiquei de pé ao lado dela, com os braços
cruzados. Macayla pegou o controle remoto da TV e a desligou.
- Quer que eu deixe vocês a sós? – Macayla perguntou incerta.
- Não, não vai ser preciso. – Lua disse a ela e se virando para o
delegado, ela falou: - Eu quero saber mais sobre a mamãe, sobre a família
dela, essas coisas. Me diga o que o senhor souber.
Neandro franziu o cenho. Seu semblante ficou preocupado.
- Por que essas perguntas agora, Lua? O que foi que aconteceu?
Lua suspirou e olhou para mim em dúvida. Querendo ou não, íamos ter
que contar a todos sobre o que descobrimos. Mais cedo ou mais tarde,
Neandro ia descobrir. Assenti para Lua.
- É uma longa história, pai. Para resumir, Mirela acha que eu sou uma
descendente da deusa Luna, uma reencarnação que possui um pedaço da
deusa dentro de si e que tem poderes especiais também. De acordo com o
mito, os descendentes da deusa são de Romália. Imaginei que como a mamãe
era de lá e todo mundo fala que eu sou parecida com a deusa... eu seria uma
descendente, assim como a mamãe era. – Lua explicou de cabeça baixa,
brincando com os dedos.
- Ah! – Macayla exclamou e colocou a mão sobre a boca.
Neandro manteve a postura impassível, mas suas feições continuaram
preocupadas.
- Talvez Lua corra perigo, também. Ela é a minha companheira. Não
sabemos o que esperar disso, se os outros lobos a verão como uma ameaça ou
como uma benção. Mirela conseguiu me desobedecer e eu não sei se outro
lobo também conseguiria. – completei a fala de Lua com as minhas
preocupações.
- Eu não entendo. Para mim, seria uma benção ter um pedaço da deusa
conosco. Por que seria uma ameaça para os lobos? – Macayla perguntou.
- Eles podem querer usar Lua, assim como Mirela fez, para chantagear
Yuri. – Neandro falou pensativo.
- Mas se Lua for mesmo uma descendente da deusa, ela tem poderes.
Ela pode ser tão poderosa quanto Yuri. Talvez até mais. – Macayla contrapôs.
Eu não tinha pensado nisso.
Estava tão preocupado com a segurança e o bem-estar da minha
companheira, que esqueci desse detalhe. Lua poderia ser muito poderosa, tão
forte quanto eu. Uma deusa loba.
- Eu não sei... tenho minhas dúvidas. Os outros lobos... Não
conhecemos as outras alcateias. – Neandro fez uma careta.
Neandro tinha razão até certo ponto. Apesar de conhecer boa parte das
alcateias e ser reconhecido como o alfa supremo em todas, eu temia os lobos
solitários, nômades, iguais a Mirela. Deveriam haver mais por aí e eu
esperava que eles ficassem bem longe de Lua.
- Vocês dois podem parar com isso? – Lua perguntou e continuou: -
Nem temos certeza de nada e vocês já estão pensando lá na frente!
- Macayla pode ter razão, Lua. Se você tiver poderes... – mas fui
interrompido por ela:
- Ainda não sabemos! Meu pai não respondeu o que eu perguntei! – ela
fuzilou o delegado com os olhos.
Neandro suspirou.
- A sua mãe não falava muito da família. Ela me contou que brigou
com os pais e saiu de casa. Depois disso, não falou mais com eles, apenas
com uma irmã, muito raramente. Quando nós nos conhecemos, ela morava
sozinha em um apartamento pequeno em Romália e trabalhava como
professora de uma escola de idiomas. Eu morei por pouco tempo lá em
Romália, na época em que estudava para o concurso público de delegado, e
acabei voltando para Belmonte depois das provas. Nós namoramos por pouco
tempo antes de eu pedi-la em casamento. Era complicado para nós dois,
morando em cidades diferentes, ficarmos juntos. Eu corria na forma lupina
quase todos os dias até Romália para ver Cibelle. Um dia, ela me perguntou
como eu fazia para ir visitá-la tão regularmente e sem um meio de transporte
para isso. Como estávamos noivos, resolvi contar tudo a ela. No começo, ela
ficou surpresa, mas não demonstrou incredulidade em momento nenhum. Ela
era forte, dura na queda. Ela me aceitou. Pouco depois, nos casamos e
decidimos morar aqui em Belmonte. – Neandro falou com o olhar longe,
perdido em anos atrás.
Lua estava pensativa ao meu lado. Talvez tenha chegado a mesma
conclusão que eu: Cibelle Marino sabia que era uma descendente da deusa
Luna e tinha vindo se “esconder” aqui em Belmonte. O motivo para isso eu
ainda não sabia, mas sabia que qualquer pessoa “normal” não teria uma
reação daquelas ao descobrir que o noivo podia se transformar em um animal.
- Eu acho que a Cibelle sabia sobre a deusa Luna e a alcateia sagrada. –
Macayla rompeu o silêncio que ficou após a fala de Neandro.
- Também acho. – eu e Lua falamos ao mesmo tempo.
Neandro franziu o cenho. Será que ele não via?
- O que vocês querem dizer com isso?! Que Cibelle se casou comigo
por interesse? Por quê? Para fugir da família? Isso não faz sentido! Nós nos
amávamos! Por que ela faria isso?
- É verdade. Mamãe não faria algo assim. – Lua falou convicta. – Mas,
talvez ela tenha aproveitado para fugir da família com o homem que amava.
Silêncio.
Se era isso mesmo, nós teríamos que ir até Romália e saber mais sobre
a família materna de Lua. Essa alternativa não me animava nem um pouco.
- Vamos ter que ir até Romália para descobrir a verdade. – falei
resignado.
CAPÍTULO 10

Mamãe amava meu pai, eles eram felizes e apaixonados. Não fazia
sentido que ela o usasse. A não ser que ela tenha aproveitado a chance para ir
embora de Romália, deixando o seu passado para trás para recomeçar uma
vida nova ao lado do homem que amava.
Yuri tinha razão. Nós teríamos que ir até Romália se quiséssemos
descobrir a verdade. Só de pensar nisso, meu estômago se revirava. Eu tinha
uma família lá, que minha mãe nunca me apresentou e sempre ignorou. Ela
nunca falou sobre eles. Eles eram estranhos para mim. Como é que agora eu
ia chegar lá e perguntar: Olá, tudo bem? Eu sou a Eluana, filha da Cibelle. É
verdade que a nossa família é descendente da deusa Luna e que nós somos
considerados a sua reencarnação? Oh, é mesmo?
Argh!
Toda essa história ficava se repetindo na minha cabeça, como se
estivesse em um looping eterno. Eu, descendente e reencarnação da deusa
Luna. Yuri temendo a ameaça de outros lobos, por achar que não poderia me
proteger. Mamãe fugindo de suas origens. Sangue da deusa nas minhas veias.
Até meu nome era parecido com o da deusa! Mamãe devia saber mesmo
quando o escolheu... Ela só não imaginava que eu passaria por tudo isso no
futuro.
Minha mente e meu corpo estavam cansados, mesmo assim, eu não
conseguia dormir.
Já era madrugada e Yuri e eu estávamos deitados na nossa cama. Yuri
apertando minhas costas contra seu o peito e eu segurando sua mão. Mesmo
irritada, não conseguia me separar dele. Na verdade, eu não conseguia nem
me imaginar sem ele.
- Sem sono? – seus lábios roçaram a minha orelha.
- Pensei que você estivesse dormindo.
- Eu senti que você estava agitada e acordei. – seu braço apertou um
pouco mais a minha cintura.
- Não é nada de mais. – falei enquanto acariciava sua mão na minha
barriga.
Yuri suspirou e deu um beijo no meu pescoço, que me arrepiou inteira.
- Eu sei que você tá preocupada, amor. Eu também to, mas vamos
resolver isso. Vamos descobrir a verdade sobre você logo e isso não será
mais motivo de preocupação.
As palavras de Yuri foram um grande conforto para mim. Ele tinha o
dom de me acalmar com suas palavras e seus gestos. Mesmo assim, um
pouquinho de preocupação continuava lá, me incomodando.
- Mas e se for verdade, Yuri? E se eu for mesmo uma descendente? O
que vai acontecer comigo? Eu vou ser uma deusa loba?
- Lua, ninguém sabe o dia de amanhã. Não sabemos o que vai
acontecer. Se você for mesmo uma descendente e reencarnação da deusa, nós
vamos procurar ver isso como uma benção para os lobos. Vamos mostrar a
eles o quanto você é importante para todos, o quanto você é poderosa. Acho
que assim será mais seguro para você.
Dei um suspiro e me virei de frente para Yuri. Seu braço continuou na
minha cintura e uma de suas pernas passou por cima das minhas. Coloquei a
minha mão em seu rosto e o acariciei.
- Eu tenho medo. – falei baixinho e encarando os olhos de Yuri na
penumbra.
- De quê? – ele também falou baixinho.
- Sei lá. E se eu... mudar? Esse suposto poder que eu tenho é
desconhecido para mim. Não quero uma vida diferente da que eu tenho
agora. Quero a nossa vida “normal”, lá em Olímpia.
- Eu não vou deixar isso acontecer. Nós vamos continuar com a nossa
vida “normal”, Lua. Eu prometo. Você vai continuar sendo você: Eluana
Marino Santino, filha de Neandro Marino e Cibelle Marino. Loba da alcateia
de Belmonte. Companheira e esposa do alfa supremo das alcateias da deusa
Luna. Estudante do curso de Administração da faculdade de Olímpia. Futura
mãe dos nossos filhos. Amor e razão da minha vida.
Quando Yuri terminou de falar, eu já estava com os olhos marejados.
Ele realmente tinha o dom de me acalmar.
- Eu te amo. Desculpa pelo meu “chilique” de hoje. – disse a ele com a
voz embargada.
Ele abriu o sorriso que eu adorava e respondeu:
- O que seria de mim sem os seus “chiliques”?
Nós rimos e nos beijamos. Um beijo carinhoso, meio molhado pelas
lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
Yuri separou seus lábios dos meus e me puxou mais para perto, me
aninhando contra o seu peito. O som das batidas do seu coração me fez
relaxar instantaneamente.
- Dorme, amor. Não se preocupe mais.
- Eu não vou mais me preocupar se você também não se preocupar.
- Feito.
Ele deu um beijo na minha cabeça e acariciou meus cabelos.
Rapidamente peguei no sono, nos braços do homem que eu amava.

Quando acordei no dia seguinte, Yuri não estava mais na cama. Ainda
de camisola, saí do quarto e fui atrás dele. Não fui muito longe. Ele estava na
cozinha, sentado à mesa e com a cara enfiada no laptop. Será que ele estava
fazendo mais pesquisas e investigações ou estava apenas trabalhando? Era
engraçado ver como Yuri saía da vida de CEO, mas a vida de CEO não saía
dele.
- Bom dia, amor. Quer café? – ele me perguntou, sem levantar os olhos
do computador a sua frente.
- Bom dia. Eu quero sim. Cadê o meu pai? – perguntei enquanto ia
pegar uma caneca no armário.
- Saiu para trabalhar uma hora atrás e levou Macayla para a confeitaria.
Abri um sorrisinho. Não ia demorar muito para ter mais um casamento
na alcateia. Macayla já estava até dormindo aqui.
Coloquei minha caneca na mesa e Yuri me serviu o café. Só assim ele
largou um pouco o computador.
- Você ainda tá investigando? – perguntei e tomei um gole de café. Não
tinha percebido que estava muito quente e queimei a língua.
- Não. Só resolvendo algumas coisas da empresa. Nada de mais. – ele
respondeu coçando a cabeça.
Fui até ele e me sentei no seu colo. Uma de suas mãos voou para o meu
quadril, enquanto com a outra, ele continuava mexendo no computador.
- Temos a casa só para nós dois. – eu disse a ele, mordendo o lábio
inferior e olhando para a tela do laptop. Realmente, Yuri estava examinando
alguns documentos da Santinos.
Sua outra mão pousou na minha coxa e a apertou. Apenas agora ele
notou que eu ainda estava de camisola.
- A casa do delegado, você quer dizer. – seus olhos percorreram
devagar todo o meu corpo. Comecei a sentir o formigamento que ele estava
provocando em mim.
- Pensei que você não tivesse medo dele. – provoquei.
Yuri não se sentia nem um pouco intimidado pelo meu pai. E o
delegado sempre lançava uns olhares fulminantes para ele... Mas Yuri parecia
sempre o ignorar, diferente da maior parte das pessoas que eu conhecia.
- Não tenho. Eu só o respeito a ponto de não transar com a filha dele
em cima da mesa da cozinha dele.
Meu sorriso ficou maior. Quase suspirei alto demais.
- Você me deu uma ótima ideia.
Yuri riu.
- Lua...
- O que foi? Quer dizer que a gente vai fazer voto de castidade
enquanto estiver aqui?
- Claro que não. – ele franziu o cenho. Sua mão começou a acariciar
minha coxa, subindo e descendo por toda a extensão. Reprimi um suspiro.
- E então? – arqueei as sobrancelhas.
Como se estivesse esperando a sua deixa, o celular de Yuri tocou. Ele
esticou a mão e pegou o aparelho que estava em cima da mesa.
- Oi, Josh! – ele saudou o primo, sorridente.
Josh tinha que me atrapalhar justo agora! Eu estava quase conseguindo
convencer Yuri. Tentei me levantar para dar alguma privacidade a conversa
dos dois, porém, Yuri me segurou, me prendendo no colo dele.
- Yuri! – sussurrei o repreendendo. Ele me ignorou.
- O que foi? – ele perguntou a Josh.
Vi o sorriso no seu rosto sumir aos poucos. O formigamento e a
excitação em mim também sumiram. Josh não tinha boas notícias.
- Merda! – Yuri praguejou nada feliz.
- O que foi? – perguntei ainda sussurrando. Yuri me ignorou de novo.
- Tudo bem, a gente se fala depois. – Yuri desligou o celular.
- O que foi que aconteceu? – insisti.
Yuri deu um suspirou meio irritado e respondeu:
- Brian e Mirela foram embora de Belmonte.
CAPÍTULO 11

O quê?!
- Como assim foram embora? Pra onde? Como? – perguntei totalmente
confusa.
Yuri balançou a cabeça.
- Eu não sei. Josh me disse que Macayla ligou, avisando-o de que
nenhum dos dois foi trabalhar hoje e que, após ligar para Blake, ele disse que
foi até a casa de Brian, mas não tinha ninguém lá. Aí, ele ligou para o Brian,
e o sacana disse que foi embora de Belmonte com Mirela. Não disse para
onde foi e nem se iria voltar. Simples assim.
- Eles fugiram. – constatei.
- Parece que sim. Não quiseram ficar para saber o veredito da alcateia.
Brian deve realmente gostar de Mirela. – Yuri se recostou na cadeira,
pensativo.
Fiquei sentada no colo de Yuri, sem reação. Se Brian e Mirela fugiram
de Belmonte, então eles realmente se amavam. Se a alcateia decidisse que
Mirela não poderia ficar em Belmonte, ela teria que ir embora. Os dois
sofreriam por não poderem ficar juntos.
Mas será que era isso mesmo? Não seria outro plano de Mirela? Afinal
de contas, ela sempre quis ser aceita em algum lugar e Brian parecia a
oportunidade perfeita, pois ao lado dele ela teria um lugar na alcateia de
Belmonte e um lugar fixo para morar. Ela não seria mais uma nômade.
- Josh quer a nossa presença na casa dele. Uma reunião de emergência.
– Yuri falou e deu algumas palmadinhas na minha bunda, mandando eu me
levantar do seu colo. Nossa brincadeirinha tinha acabado, infelizmente.
Me levantei ainda pensativa e disse:
- Vou tomar banho e me aprontar. Não demoro.
- Tudo bem. – Yuri respondeu e passou a mão pelos cabelos.
Andei para o nosso quarto refletindo sobre o que tinha acabado de
acontecer. Quem diria que um casal improvável formado por aqueles dois,
iria se rebelar contra a alcateia e fugir para poder ficar junto. Havia algo de
romântico naquele gesto. Algo que eu não esperava de Brian, e muito menos
de Mirela.

A casa de Josh estava imersa em um falatório desordenado. Todos


que vieram tinham uma opinião diferente sobre a “fuga” de Brian de Mirela.
Como Josh ainda estava preso na prefeitura, todos aproveitavam para
manifestar suas opiniões fora das vistas do nosso alfa, para evitar
repreensões. Joyce, Daniel, Ismene e o delegado não puderam vir, por conta
dos seus trabalhos e obrigações.
Yuri se sentou no sofá e não falou nada. Apenas ficou nos
observando. Ele estava estranhamente calado desde que saímos de casa.
Decidi ir falar com Pietro, que estava de pé, perto de uma das janelas. Ele
parecia meio emburrado, talvez estivesse chateado comigo, por causa do que
falei na reunião de ontem.
- Cadê a Talita? – perguntei a ele.
- Ficou em casa com a minha mãe. – ele respondeu sem se virar para
mim.
- Você já mostrou a cidade a ela?
- Ainda não. Íamos fazer isso hoje, mas essa fuga interrompeu nossos
planos.
- Que chato. Vamos ver o que Josh vai dizer sobre isso.
Pietro finalmente se virou para mim e disse:
- A gente já sabe o que ele vai dizer, Lua. Brian abandonou a alcateia,
ele nos renunciou. Ele vai ser punido de acordo com a lei dos lobos.
Franzi o cenho. Eu não sabia qual era a punição pela lei dos lobos.
Foi impossível não lembrar de alguns meses atrás, quando eu “caí de
paraquedas” na alcateia. Brian vivia insistindo que eu havia renunciado,
renegado a alcateia, quando na verdade, eu nem sabia da existência dela.
No caso de Brian era diferente. Ele era membro da alcateia há mais
tempo, já sabia o que poderia ou não fazer. Ele foi embora sem dar nenhuma
explicação ao seu alfa ou aos seus irmãos de alcateia, mesmo que tivesse uma
causa nobre e bonitinha para isso. Eu não sabia qual era a punição, mas sabia
que a atitude que Josh tomaria seria muito séria, drástica.
Não tive tempo de perguntar a Pietro sobre a punição, pois Josh
entrou na sala nesse momento. Seu semblante não estava nada feliz.
- Vamos logo começar essa reunião. Sentem-se todos. – ele falou
enquanto afrouxava o nó da gravata e ia se posicionar na frente de todos.
Macayla, Levi, Serena e Blake, que estavam sentados conversando, se
ajeitaram em seus lugares. Apenas Pietro e eu estávamos de pé. Quase corri
para me sentar ao lado de Yuri. A ordem de Josh foi estranhamente
“mandona” e impossível de ignorar.
- Cadê a Maya? – Josh perguntou a Serena.
- Está deitada. Ela estava cansada.
- Ela está bem? – ele perguntou preocupado.
- Está, é apenas uma indisposição.
Ele assentiu com o cenho franzido.
- Muito bem, acho que todos que puderam vir estão presentes. Vamos
começar. Blake?
Blake deu um suspiro e começou a falar:
- Eu só fiquei sabendo do que aconteceu depois que a Macayla me
ligou, me perguntando se eu sabia onde o Brian estava. Como todos aqui
sabem, eu me mudei para a casa do Daniel depois do nosso casamento e
Brian ficou morando sozinho. Como eu estava na academia, perto da minha
antiga casa, disse à Macayla que ia até lá procurá-lo. Fiquei com medo de que
tivesse acontecido alguma coisa com Brian, pois ele nunca faltou ao trabalho.
Quando eu cheguei lá, o carro dele não estava na garagem. Usei minha antiga
chave e entrei. Tudo estava em ordem, porém várias roupas dele tinham
sumido. Resolvi ligar para ele e pedir uma explicação. A primeira chamada
ele não atendeu. Quando ele atendeu, na segunda chamada, ele me explicou
tranquilamente que tinha ido embora daqui com Mirela. Disse para eu me
cuidar e que assim que possível ele entrava em contato comigo. Depois ele
desligou. Liguei para Macayla e Josh depois disso.
Silêncio. Todos estavam pensativos.
- Tentou ligar de novo para o seu irmão? – Yuri perguntou, quebrando
o silêncio.
- Sim, mas só cai na caixa postal.
Balançando a cabeça, Josh falou:
- Brian sabia que não poderia fazer as coisas assim! Merda!
- Mas ele fez, ele nos abandonou. – Pietro rebateu impaciente.
- Ele deve ter tido um bom motivo para isso. – Blake contrapôs.
- Ele não respeitou a decisão da alcateia, que no momento era decidir
sobre a permanência ou não de Mirela em Belmonte. – Serena falou.
- Eles fugiram por amor. – Macayla opinou.
- Brian fugiu porque é um covarde. – Pietro falou cruzando os braços,
irritado.
- Pietro, meu querido cunhado, não fale assim do meu irmão, por
favor. – Blake falou enquanto massageava as têmporas.
- O que vai acontecer agora? – perguntei incerta.
Silêncio.
Olhei de Josh para Yuri. Os dois estavam tensos. Eles sabiam das
consequências e devia ser algo realmente grave.
Josh apertou o polegar e o indicador no osso do nariz e fechou os
olhos.
- Eu não sei. – ele respondeu.
- Você sabe o que tem que fazer, Josh. É a lei dos lobos, infelizmente.
– Yuri o contradisse.
- Eu sei, mas eu não quero. – Josh falou, ainda na mesma posição.
- O que diz a lei dos lobos sobre esse caso? – perguntei curiosa.
Yuri suspirou.
- É considerado um ato de traição. Quando um membro abandona ou
renuncia a sua alcateia, ele dá a ela o direito de caçá-lo e exterminá-lo como
bem entender. Destruir o membro traidor. – Yuri respondeu com uma voz
monótona e sem me olhar nos olhos.
Eu o encarei totalmente horrorizada e sem reação.
Não.
A alcateia de Belmonte iria caçar e matar Brian.
CAPÍTULO 12

- Não, por favor não! Eu imploro. Deve haver outro jeito, outra
punição. – Blake se levantou desesperado e foi até Josh.
Eu estava odiando tudo aquilo.
Desde que recebi a ligação de Josh, sabia o que iria acontecer. A lei dos
lobos era antiga e arcaica, mas ainda tinha validade.
- Não podemos fazer isso. É um absurdo! Eu me recuso! – Lua falou,
totalmente horrorizada com essa situação.
Obviamente, Lua se opôs. Uma rebelde até o fim.
- Josh, você não pode tomar uma decisão como essa agora. Faltam
membros da alcateia nessa reunião. – Serena o avisou.
Serena sabia muito bem que ele podia sim. Josh era o alfa da alcateia de
Belmonte. A decisão que ele tomasse seria acatada por toda a alcateia,
independentemente de todos aceitarem ou não.
Josh ainda estava de olhos fechados. Aquela decisão era algo que
nenhum alfa queria tomar.
- Josh não precisa seguir à risca a lei dos lobos. O nosso alfa supremo
está aqui. Ele pode “autorizar” Josh a tomar outra decisão, seguir outra
alternativa. – Levi falou pensativo.
- Yuri. – Lua se virou para mim no mesmo instante.
Encarei Lua e seu olhar esverdeado ciente de que todos os olhares da
alcateia estavam em mim.
Eu poderia “mudar” uma lei antiga e antiquada dos lobos, afinal de
contas aquela era uma situação que ninguém estava confortável de encarar.
Talvez Pietro, mas até ele estava com o rosto pálido diante daquela hipótese
de caça. Blake com certeza se recusaria a caçar o irmão, o que só geraria mais
um conflito na alcateia: desobediência. Lua também não iria caçar Brian e eu
não a queria recebendo alguma punição por insubordinação e desobediência.
Josh estava relutante em tomar aquela decisão. Ele não queria ter o sangue de
Brian nas suas mãos. Joyce e Daniel não estavam aqui, mas com certeza
também se oporiam. Daniel por causa de Blake, e Joyce, como médica,
também não tiraria uma vida assim.
Os lobos anciãos também não queriam aquilo. Levi, Macayla e Serena
nunca se depararam com aquilo antes e obviamente, Neandro também se
recusaria, por causa de Lua. Maya e Ismene também não apoiariam aquilo.
Só me restava uma alternativa e era claro que eu não puniria a alcateia de
Belmonte por desobediência à lei dos lobos. Aquela era uma alcateia pacífica
e eu queria que continuasse assim.
Brian atou as nossas mãos com a sua decisão estúpida.
- Josh pode escolher outra punição para Brian. Eu autorizo. – falei
depois de um silêncio sepulcral.
A alcateia soltou um suspiro coletivo de alívio.
- Obrigada, meu amor. – Lua me abraçou, enterrando seu rosto no meu
pescoço. Passei meus braços em volta dela e a apertei contra mim.
- Obrigado, Yuri. – Blake me agradeceu e se jogou em uma cadeira,
aliviado.
- Tudo bem. Mas Josh ainda precisa encontrar outra alternativa. – falei
e olhei para meu primo, que parecia ter se livrado de um peso nos seus
ombros.
Ele suspirou.
- Acho que só me resta outra opção. Na verdade, acho que isso vai
resolver todos os nossos problemas. Os meus e os dele. – Josh falou e cruzou
os braços na altura do peito.
- Qual é? – Lua levantou o rosto para olhá-lo, mas ainda estava
abraçada comigo.
Eu já sabia muito bem o que Josh tinha em mente.
- Vou expulsá-lo da alcateia.
Silêncio.
Pelo menos dessa vez ninguém mataria ninguém.
Desse modo, Josh se livraria do problema com Mirela, pois Brian não
faria mais parte da alcateia. Os dois seriam lobos sem alcateia.
- Não podemos esperar a alcateia estar toda reunida para tomar essa
decisão? – Blake perguntou tenso na cadeira novamente.
- Não, Blake. Os membros que não puderam vir serão avisados mais
tarde das decisões tomadas aqui. – Josh disse a ele.
- Josh, não se precipite em tomar qualquer decisão. – Serena o
aconselhou.
- Você não ouviu o lado do Brian, Josh. Ele ainda vai me ligar de novo.
– Blake tentou argumentar.
- Mas ele não disse se ia voltar. – Pietro se meteu.
Blake lançou um olhar semicerrado ao cunhado, que o devolveu. Pietro
estava tão diferente. Nem parece mais aquele garoto tímido, indefeso e
franzino que eu conheci e defendi.
Josh deu um suspiro.
- Eu já tomei minha decisão. Vou expulsá-lo assim que conseguir entrar
em contato com ele. Pelo que Blake contou, ele não disse se ia voltar. Não
posso ficar com um membro oscilante na alcateia.
- E se ele se arrepender e voltar? – Lua perguntou, saindo dos meus
braços.
- Eu não sei, Lua. Eu sinceramente não sei. – Josh respondeu.
Josh estava obviamente cansado de tudo aquilo. Aquele assunto na
alcateia estava dando muito trabalho a ele. Fora isso, Josh precisava se
preocupar com as eleições que ocorreriam no próximo ano. Obviamente ele
queria se reeleger e isso demandava bastante trabalho e esforço prévios. Além
disso, tinha a sua preocupação latente com sua esposa grávida. Josh estava
sobrecarregado. Resolvi tomar a frente. Me levantei e disse:
- Acho que por hoje já chega. Vamos encerrar essa reunião por aqui.
- Eu concordo. Obrigado pela presença de todos. – Josh falou e saiu da
sala rapidamente, com certeza indo atrás de Maya.
Todos se levantaram e começaram a ir embora. Observei Blake indo
embora com Levi enquanto mexia no celular sem levantar o rosto. Ele ainda
tentava falar com o irmão.
Peguei a mão de Lua e saímos também.
- Vamos para casa. – eu disse a ela.

Já era noite e Lua e eu estávamos no sofá da sala assistindo um filme e


comendo pipoca. Resolvemos tirar o resto do dia de folga de todas as nossas
preocupações e problemas. Nenhum de nós tinha esquecido que ainda
precisávamos ir até Romália em busca de família materna de Lua. No
entanto, decidimos que os problemas podiam esperar um pouco mais e assim,
passamos o resto do dia vendo filmes e comendo besteira. Lua conseguiu me
tirar um pouco do computador e da “vida de CEO”, como ela mesma dizia.
Infelizmente o filme que assistíamos agora, era uma comédia romântica
que nenhum de nós dois estava apreciando. Entediada, Lua iniciou uma
guerra de pipoca comigo. Foi em meio a risos, almofadadas e pipoca
espalhada para todos os lados, que Neandro chegou e nos flagrou naquela
situação.
- Bonito, dona Eluana. – ele colocou as mãos na cintura e ficou parado
na entrada da sala.
- Oi, pai. – Lua falou, saindo de trás da poltrona. Sua mão segurava um
punhado de pipocas.
Reprimi uma gargalhada.
- Oi, Neandro. – disse ao meu sogro.
- Espero que os lobinhos limpem essa bagunça. – ele olhou de mim
para Lua e saiu andando em direção ao quarto.
Aproveitei a deixa e joguei as pipocas que ainda estavam na minha mão
na cara de Lua, que nem teve tempo de se defender.
- Muito maduro da sua parte, alfa supremo.
- Eu não gosto de negar nada a você, meu amor.
Lua riu a contragosto e jogou as pipocas que estavam na sua mão na
vasilha que estava no sofá. Comecei a catar as almofadas do chão.
- Vou pegar a vassoura. – Lua falou e saiu da sala.
Enquanto eu tentava colocar ordem naquele caos, meu celular tocou.
Era um número desconhecido. Atendi mesmo assim, pois podia ser alguém
da matriz da Santinos com algum problema para eu resolver. Sempre havia
problemas para resolver.
- Esse telefone é do Yuri Santino? – uma voz desconhecida perguntou.
- Sim, sou eu mesmo. Quem fala?
- Meu nome é Átila Moreira. Você não me conhece. Eu sou o alfa da
alcateia de Romália. Precisamos conversar.
Fiquei calado e sem reação.
Como assim?! Alfa da alcateia de Romália? Romália não tinha alcateia.
- Quem é você e como conseguiu o meu número? – perguntei meio
irritado. Se aquilo fosse alguma brincadeira de mau gosto...
Eu tinha dado meu número aos alfas das alcateias que conhecia. Eles
não fariam algo estúpido como uma brincadeira daquelas. Não comigo.
- Uma nômade chamada Mirela Taylor me passou o seu contato.
Precisamos conversar, alfa supremo. Urgente.
Só podia ser! Mirela. Será que ela e Brian passaram por Romália? O
que eles foram fazer lá?
CAPÍTULO 13

Depois da reunião com o clima pesado na casa de Josh, resolvi fazer


algo mais leve com Yuri. Como ele estava sempre ocupado com o trabalho na
frente do laptop ou mexendo no celular, resolvi convidá-lo para assistir um
filme comigo e tirar o dia de folga dos nossos problemas. Meio relutante, ele
aceitou. Nenhum de nós tinha esquecido dos problemas que nos cercavam, no
entanto. Yuri e eu ainda precisávamos ir até Romália e investigar a família da
minha mãe. Porém, um dia de folga, comendo besteira e assistindo filme com
meu companheiro não faria tanta diferença assim.
Depois de assistirmos dois filmes, Yuri escolheu uma comédia
romântica chata pra caramba. Ele jamais iria admitir, mas foi ele quem
escolheu aquele filme.
Depois de revirar os olhos trocentas vezes e quase dormir mais
algumas vezes, juntei um punhado de pipoca na mão e joguei na cara de Yuri.
Ele não falou nada, apenas piscou uma vez e depois a guerra começou.
Pipocas e almofadas voaram para todos os lados. O filme foi esquecido.
Minha barriga doía de tanto rir. Precisei me esconder atrás da poltrona porque
Yuri era muito competitivo e estava determinado a ganhar aquela guerra.
Eu estava prestes a sair do meu esconderijo para atacar Yuri com tudo,
mas uma voz que eu conhecia muito bem frustrou meus planos:
- Bonito, dona Eluana. – o delegado estava parado na entrada da sala e
observava a bagunça com o cenho franzido.
- Oi, pai. – falei, saindo de trás da poltrona.
Pelo canto do olho, vi que Yuri se segurava para não rir.
- Oi, Neandro. – ele falou ao meu pai.
- Espero que os lobinhos limpem essa bagunça. – ele respondeu sério e
foi em direção ao seu quarto.
Yuri aproveitou a minha distração e jogou um punhado de pipocas na
minha cara. Nem vi de onde ele as tirou.
- Muito maduro da sua parte, alfa supremo. – falei sarcástica.
- Eu não gosto de negar nada a você, meu amor. – foi a resposta do meu
marido.
Acabei rindo sem querer. Ele estava certo. Joguei as pipocas que
estavam na minha mão dentro da vasilha que estava em cima do sofá. O chão
estava tomado delas. Eu ia precisar de uma vassoura para concluir aquela
limpeza. Talvez a convivência com Yuri tenha me deixado mais organizada.
- Vou pegar a vassoura. – falei enquanto Yuri tentava arrumar as
almofadas.
Eu adorava aqueles momentos com Yuri. Nós parecíamos tão normais.
Não havia alcateias, lobos, deusa, empresa, faculdade, obrigações, problemas,
nada. Só havia nós dois e eu amava essa simplicidade. Apenas duas pessoas
comuns que se amavam e estavam passando um tempo juntas.
Dei um suspiro.
Infelizmente a vida da gente tinha momentos ruins e indesejáveis
também. Fazia parte da existência humana. Não podíamos ser felizes o tempo
todo. Se fosse assim, não seria a vida. Seria o paraíso.
Quando voltei com a vassoura na mão, Yuri estava paralisado com o
celular na orelha. Qualquer que fosse a notícia, não era nada boa. Seu rosto
estava sério e ele nem notou a minha aproximação.
- Acho bom você acabar com essa brincadeira idiota enquanto é tempo.
Eu não estou gostando nada disso. – Yuri com uma voz ameaçadora no
telefone. Senti os pelos do meu corpo se arrepiarem.
Quem estava falando com ele?
Seu rosto continuou sério enquanto ele escutava a resposta da pessoa do
outro lado da linha. Fiquei parada observando a cena.
Yuri riu sem graça nenhuma e disse:
- Eu não tenho nada que pertença a você! Quando eu descobrir a sua
localização exata, eu vou até aí e vou te rasgar com as minhas presas,
entendeu?
Arregalei os olhos. Que diabos estava acontecendo? Quem estava
falando com Yuri? Por que ele estava ameaçando essa pessoa desse jeito? Era
algum lobo, com certeza! Algum lobo muito burro!
- Você é muito estúpido se pensa que pode ameaçar o seu alfa supremo!
Eu posso destruir a sua alcateia inteira sozinho, só por causa disso que você
falou! – Yuri falou com raiva agora, fazendo eu me arrepiar de novo.
Senti alguém se aproximando e quando me virei, meu pai tinha saído
do quarto, com o cenho franzido. Ele também estava escutando a conversa de
Yuri no telefone.
- Quem é? – ele me perguntou baixinho.
- Não sei. Deve ser algum lobo. – respondi baixinho também.
O delegado balançou a cabeça.
- Pelo que o seu marido está falando, não é nada bom.
Assenti, ainda observando Yuri. Seu semblante estava possesso agora.
- Podem vir. Vocês vão ter o que merecem aqui. A sua “alcateia”
acabou de ganhar um alvo nas costas! Vocês vão conhecer a fúria do alfa
supremo! – Yuri vociferou e desligou a chamada, jogando o celular no sofá
com raiva.
Ele deu um suspiro e fechou os olhos. Passou as mãos pelos cabelos e
em seguida as posicionou na cintura. Fiquei paralisada ao lado do meu pai
observando-o.
- FILHO DA PUTA! – Yuri exclamou de repente, fazendo eu dar um
pulo no lugar.
O que teria acontecido para que ele agisse assim?
- Yuri? – perguntei incerta.
Seu olhar veio na minha direção. Ele viu meu pai e eu o observando.
- O que foi que aconteceu, Yuri? – o delegado perguntou.
Yuri deu um suspiro e disse:
- Acabei de declarar guerra a uma alcateia.
Silêncio.
Nunca sonhei em escutar Yuri falando aquelas palavras. Acho que meu
pai também não.
- Como assim? – perguntei confusa.
Percebi que os olhos de Yuri foram de mim até o meu pai e depois
voltaram para mim. Ele estava receoso em falar.
- Recebi uma ligação de um lobo, um alfa, na verdade.
- De qual alcateia? – meu pai perguntou.
- Romália.
- Romália não tem alcateia. – rebati imediatamente.
- Pelo visto tem. Mirela passou o meu contato para esse alfa e ele me
ligou. – ele fez uma breve pausa. – Ou isso é alguma brincadeira de mau
gosto de alguém que perdeu a noção do perigo.
Aquilo era muito estranho. Romália não tinha alcateia, nunca teve.
Como é que agora aparecia uma do nada? E por que Mirela e Brian iriam até
lá dar o número de Yuri? O que eles foram fazer lá? Como eles conseguiram
achar uma alcateia que nem existia? Mirela parecia ser uma ótima
investigadora e uma sacana também.
- O que ele queria? – meu pai continuou o interrogatório.
- Ele disse que eu tenho algo que pertence a alcateia dele e “mandou”
eu devolver.
- Ele falou assim com você?! Ele sabia que você é o alfa supremo? –
agora o delegado estava surpreso.
- Sim. Ele disse que se eu não devolver, ele virá atrás de mim para
buscar. Ele e a alcateia dele. Eles viriam até aqui, em Belmonte. Eles me
ameaçaram!
Minha boca se abriu em um “o”. Como assim?! Aqueles lobos eram
loucos? Eles ameaçaram mesmo Yuri?
- E eles vão vir?
- Sim. Eu vou lidar com eles.
Não.
Aquilo parecia um pesadelo que eu não conseguia acordar.
Viemos até Belmonte passar alguns dias de férias. Yuri iria apenas
acertar uma situação da alcateia. Agora, estávamos em guerra. Sim, porque
eu não deixaria Yuri lutar sozinho. Nem eu, nem a minha alcateia.
CAPÍTULO 14

Já era tarde da noite e estávamos novamente na casa de Josh, em uma


nova reunião de emergência. Duas no mesmo dia! Dessa vez a alcateia inteira
estava reunida. Ismene e Talita não estavam presentes, por razões óbvias.
Maya foi dormir cedo e também não estava presente. O clima estava tenso e
confuso. Yuri contou tudo sobre a ligação do alfa de Romália e pediu para
que a nossa alcateia não interferisse na briga. Fui a primeira a protestar:
- Não! Eu vou lutar também. Não vou deixar você sozinho, Yuri. Você
é meu companheiro.
- A alcateia de Belmonte também vai lutar. Eles vão invadir meu
território para arrumar briga com o nosso alfa supremo. É claro que também
vamos lutar. Além disso, você é meu primo, Yuri. Você é da minha família. –
Josh declarou.
- Se Lua vai lutar com seu companheiro, é nosso dever apoiá-la. Ela faz
parte da nossa alcateia. – Joyce reforçou.
Após isso, teve início um grande falatório. Todos queriam dar a sua
opinião sobre o assunto. Yuri não disse nada, apenas ficou de pé, com as
mãos na cintura e nos observando. Josh estava ao lado dele, também de pé, e
falava algo com Joyce.
- Eu quero falar uma coisa. – escutei Levi no meio da confusão, mas
ninguém o notou.
Olhei para o senhorzinho careca e vi que ele revirou os olhos. Quase
achei graça do semblante dele.
- CALEM A BOCA, CACHORRADA DOS INFERNOS! – ele gritou e
se levantou ao mesmo tempo.
Todos ficaram em silêncio e olharam para Levi. Ele estava sério e
irritado.
- Fale, Levi. – Yuri disse tranquilamente.
- Como já está quase decidido que a nossa alcateia vai enfrentar a
alcateia de Romália, eu quero dar uma sugestão. – Levi falou calmamente,
agora. Nem parecia que tinha mandado todo mundo calar a boca menos de
um minuto atrás.
Yuri assentiu para ele, o incentivando.
- Quero que o nosso alfa supremo aqui presente dê a autorização para
quebrarmos uma das regras da nossa antiga lei dos lobos. Quero que Yuri
autorize os lobos anciãos da alcateia de Belmonte a se metamorfosearem
novamente. Quero que os lobos anciãos também lutem.
Silêncio. Ninguém ousou dar um “pio”.
Levi continuou:
- Não sabemos nada sobre essa alcateia de Romália. Não sabemos
quantos membros eles possuem. Se eles desafiaram o próprio alfa supremo,
então eles não seguem as leis dos lobos. Ou as desconhecem. Sendo assim,
nós também podemos “jogar sujo”.
Silêncio novamente.
Levi olhava para Yuri esperando uma resposta. Yuri olhava para Levi,
sem esboçar nenhuma reação. Josh estava com o cenho franzido e olhava de
um para o outro.
Foi Daniel quem rompeu a bolha de silêncio:
- Você não vai lutar, vovô! Pelo amor da deusa!
Um novo falatório teve início. Agora os lobos anciãos queriam entrar
na briga também.
- Silêncio. – Yuri falou sem se exaltar e foi atendido. No mesmo
instante, todos se calaram e prestaram atenção em nosso alfa supremo.
Yuri fez uma pausa antes de falar, resoluto:
- Os lobos anciãos não vão lutar porque a alcateia de Belmonte não vai
se envolver nesse assunto. Ponto final.
Levi estalou a língua e se sentou de novo.
Me levantei e falei, sem pensar duas vezes:
- Yuri, eu vou acabar me envolvendo, você querendo ou não. Lembra
do que aconteceu com a Mirela? Foi instintivo. Eu só fui. Não aguentei te ver
naquela situação.
- É por isso que você vai voltar para Olímpia amanhã de manhã. – ele
falou sem tirar os olhos de mim.
Encarei Yuri sem acreditar no que estava escutando. Ele ia mesmo me
despachar para Olímpia como se eu fosse uma mala extraviada? Eu não podia
acreditar!
- Não, eu não vou voltar.
- Sim, você vai.
- Não, eu não vou! – bati o pé.
Ficamos nos encarando sérios e sem dizer uma palavra. Ninguém ousou
se meter naquela discussão. Finalmente vi alguma reação no rosto de Yuri.
Ele estava ficando bastante irritado agora. Sua fachada inabalável ruiu.
- Seja razoável, Lua. Você é minha companheira, é meu ponto fraco.
Além disso, se você for mesmo a reencarnação da deusa Luna, eles podem
querer usá-la contra mim!
Pronto!
Silêncio. Quase todos arregalaram os olhos e abriram as bocas em “o”.
Até suspiros eu escutei. A maioria da alcateia não sabia sobre aquele assunto
da deusa Luna, apenas meu pai e Macayla.
- Do que você tá falando, Yuri? – Josh perguntou a ele surpreso.
Yuri e eu não desviamos o olhar um do outro. Eu não ia ceder naquela
questão.
Ignorando a pergunta de Josh, rebati:
- Seja razoável você, Yuri! É justamente pelo fato de ser sua
companheira que eu vou ficar aqui e lutar ao seu lado! Eu te amo e não vou
abrir mão disso. Mesmo que você use a sua voz de comando em mim, eu vou
resistir e vou ficar!
Nos encaramos por mais algum tempo em meio ao silêncio, antes de
finalmente Yuri dar o seu veredito:
- Tudo bem. Você venceu, Lua. Você fica. E se a alcateia de Belmonte
quiser lutar, ela lutará também, mas sob às minhas ordens. Os lobos anciãos
estão autorizados a se metamorfosearem também se quiserem e se poderem.
Suspirei aliviada. Mas o semblante preocupado e receoso de Yuri fez
um nó se instalar em meu estômago. Aquela decisão não tinha sido nada fácil
para ele e teria as suas consequências.
CAPÍTULO 15

Será que eu teria que conversar com Josh e pedir que a alcateia dele
fosse mais educada? Aquela algazarra não ajudava em nada e só atrasava a
nossa discussão.
Eu já nem sabia mais o porquê de ter marcado aquela reunião de
emergência. Talvez tenha sido uma péssima ideia contar a eles sobre a
ligação daquele otário de Romália. Agora todos queriam lutar em algo que
deveria ser somente meu, algo que eu tinha o dever de resolver.
Aquela insubordinação e desobediência era algo novo para mim. Nunca
foi preciso eu lidar com uma alcateia daquele jeito. Todas as que eu conhecia
me obedeciam e respeitavam. Aquela seria a primeira vez que eu
exterminaria uma alcateia com as minhas próprias mãos, ou melhor, com as
minhas próprias patas, e presas também, para ser mais exato.
A expectativa não me deixava nada animado. Aquilo era algo que eu
não gostaria de lidar, mas era preciso.
Infelizmente, a minha companheira estava persistente na ideia de me
“ajudar”. Lua era teimosa, mas aquilo não era culpa exclusivamente da sua
teimosia, no entanto. O fato de sermos companheiros contava muito na sua
decisão de lutar contra aquela alcateia desconhecida ao meu lado. Era puro
instinto falando por ela.
Eu não a culpava. Se a situação fosse ao contrário, eu agiria da mesma
forma que ela.
Mas o fato de entendê-la não me deixava menos puto. Obviamente, eu
não queria a minha companheira envolvida naquela confusão. Eu era
naturalmente superprotetor e com Lua não seria diferente. Nem com Josh.
Nem com a alcateia de Belmonte, que era a alcateia com a qual eu tinha mais
afinidade.
A teimosia de Lua venceu no fim das contas. Talvez ela não soubesse,
mas o que eu falei mais cedo, enquanto estávamos na casa dela era verdade.
Eu realmente não gostava de negar nada a ela. Mas, porém, entretanto e
todavia, ainda seria eu a dar as cartas naquele jogo.
- Tudo bem. Você venceu, Lua. Você fica. E se a alcateia de Belmonte
quiser lutar, ela lutará também, mas sob às minhas ordens. Os lobos anciãos
estão autorizados a se metamorfosearem também se quiserem e se poderem. –
falei. Puto, mas ainda no controle.
Vi que Lua suspirou aliviada.
Ela estava atenta a todos os meus movimentos. Com certeza ela notou
como eu não gostei de falar aquilo.
- Muito bem. Precisamos decidir algumas coisas agora. Mas antes, eu
gostaria que você me esclarecesse algumas coisas, primo. Que história é essa
da Eluana ser a reencarnação da deusa Luna? – Josh perguntou, chamando a
minha atenção.
Claro. Em um momento de descontrole acabei revelando aquele detalhe
sobre Lua. Eu já pretendia contar à alcateia, porém o drama da fuga de Brian
me distraiu e eu acabei esquecendo.
Suspirei. Lua voltou a se sentar. Não estava muito satisfeita com o
rumo da conversa.
- Ainda não temos certeza, é apenas uma hipótese. Ao que parece, Lua
descende da deusa Luna. A família da mãe de Lua é de Romália. Nós
pretendíamos ir até lá em busca de mais respostas. – confessei.
- Mas como vocês chegaram a essa conclusão? – Serena perguntou
confusa.
- Na verdade, foi Mirela quem chegou à essa conclusão. O mito da
descendência indicava que os descendentes da deusa Luna estariam em
Romália, cidade inicialmente protegida pela deusa. Como a mãe de Lua era
de lá e ela é parecida com todas as ilustrações da deusa...
- É mesmo! – Joyce exclamou surpresa.
- Eu sabia! Se isso for verdade, será uma benção para a nossa alcateia!
– Levi exclamou sorridente.
- Eu não conheço esse mito da descendência. – Blake falou com o
cenho franzido.
- Nem eu. – Pietro falou com a mesma expressão confusa.
- Depois eu explico. – Daniel disse ao companheiro e ao irmão.
Lua suspirou incomodada. Ela tinha medo daquilo, do desconhecido.
Os poderes que ela poderia ter, o que ela poderia fazer, o que ela se tornaria...
Além do fato de ter um pedaço da deusa dentro de si e possuir um pouco do
seu sangue. Aquilo era um pouco assustador mesmo.
Os olhos de Neandro estavam na filha. Ele sabia que aquilo a
preocupava.
- E qual é o problema? – Josh perguntou. Ele não tinha tirado os olhos
de mim. Ele notou a minha preocupação.
- Não sabemos qual vai ser a reação dos outros lobos, das outras
alcateias. Lua é minha companheira, meu ponto fraco. Podem usá-la contra
mim, como Mirela fez. Além disso, não sei se outros lobos também podem
me desobedecer. Mirela conseguiu desobedecer a minha voz de comando. –
falei sem encarar ninguém, olhando para o chão.
Assumir as minhas fraquezas não era fácil. Sempre gostei de pensar que
era forte, o líder, e que poderia proteger todos assim. Imaginar que eu era um
alfa supremo fraco, me envergonhava. Meu avô e todos os alfas supremos
antes dele deviam se envergonhar de mim.
- Yuri, você é o alfa supremo. Não existe outro lobo mais forte do que
você atualmente. Mirela pode ter usado de algum artifício para enganá-lo. –
Levi falou pensativo.
- Como assim, vovô? – Daniel perguntou.
- Aquela loba me enganou no casamento do Josh. Ela fez eu achar que
ela era uma alfa suprema. Foi Yuri quem a desmascarou. O olfato dele é mais
apurado do que o de um lobo comum.
- Sem mencionar o fato de que ele não estava bêbado... – Daniel
murmurou. Blake e Pietro seguraram os risos.
- Você acha que ela enganou o Yuri quando conseguiu desobedecê-lo?
Como?! – Neandro perguntou a Levi, ignorando Daniel.
- Não sei, mas se tem uma coisa que aquela loba sabe, é enganar os
outros! – Levi respondeu meio chateado. Ele não gostou de ser enganado por
Mirela.
Também não gostei quando ela tentou me enganar. Ela só podia achar
que eu era um otário, se ia acreditar naquela história mal contada dela. Além
disso, ela não contava com o meu olfato apurado de alfa supremo.
Só de lembrar dela ao lado de Lua, segurando-a como a sua refém...
- É isso! – Lua exclamou de repente, ficando de pé e com o semblante
iluminado por um sorriso.
- O que foi, menina? Tem formiga na sua cadeira? – Neandro
perguntou meio irritado. Acho que Lua o assustou com o pulo que deu.
Macayla deu uma cotovelada no delegado, chamando a sua atenção.
Lua o ignorou.
- Foi por isso que Mirela conseguiu ignorá-lo, Yuri! Ela estava comigo!
Segurando a minha mão!
Fiquei encarando Lua, confuso.
- Você quer dizer que Mirela conseguiu desobedecer a Yuri porque
estava segurando a sua mão? – Josh perguntou também confuso.
- Não apenas a mão de uma loba. A mão da reencarnação da deusa
Luna. A descendente da deusa. E a deusa seria a única mais poderosa do que
o próprio alfa supremo! – Levi exclamou sorridente, chegando à conclusão
que eu demorei a entender.
Mirela estava segurando a mão de Lua quando gritou para mim, me
ignorando e desobedecendo. Ela “usou” o poder de Lua contra mim e
conseguiu se rebelar contra a minha voz de comando. Ela “usou” o poder da
deusa Luna sem saber!
Então isso significava que Lua era realmente a reencarnação da deusa
Luna.
Olhei para a minha esposa e companheira. Vi em seus lindos olhos
esverdeados o momento em que ela chegou à mesma conclusão que eu. Seu
sorriso murchou quando a compreensão a atingiu e a realidade bateu à porta.
A alegria da descoberta e revelação dos meus falsos temores a abandonou.
- Merda. – ela sussurrou.
Sim. Merda. Isso tornava real outro temor meu: Lua teria um alvo nas
costas a partir de agora.
CAPÍTULO 16

Não, não e não!


Isso não podia ser verdade.
Eu não queria aceitar, mas era óbvio agora.
Eu era a reencarnação da deusa Luna. Uma descendente da deusa dos
lobos. Eu carregava um pedaço da deusa comigo, dentro de mim. Eu era tão
poderosa quanto Yuri. Não. Eu era mais poderosa do que Yuri. Eu era
praticamente uma deusa. Uma deusa loba.
- Vamos todos manter a calma. – Josh falou, rompendo o silêncio.
Até aquele momento todos estavam calados e pensativos. Alguns até
olhavam para mim de olhos arregalados.
- Você sabia disso, Neandro? – Serena perguntou, ignorando Josh.
- Descobri ontem, quando Yuri e Lua vieram me perguntar sobre
Cibelle. – meu pai respondeu.
- E Cibelle? Você sabia sobre ela? Ela sabia? – Serena continuou
questionando.
- Eu não sabia muita coisa sobre a família de Cibelle e não sei se ela
sabia de algo também.
Meu pai não tinha certeza, por isso Yuri e eu planejávamos ir até
Romália encontrar a família da minha mãe. Com sorte, eles saberiam de
alguma coisa, já que tudo indicava que ela sabia de algo.
Percebi que os olhos de Yuri não me deixaram em momento nenhum.
Ele estava preocupado comigo e agora, eu era uma preocupação real para ele.
- O importante é que agora temos uma descendente da deusa na nossa
alcateia! Isso é maravilhoso! Somos abençoados! Uma deusa loba! Mais forte
e poderosa do que qualquer outro lobo na face da Terra. Inclusive mais forte
do que o alfa supremo. – Joyce exclamou sorridente.
- Não sabemos... – mas Josh me interrompeu sorridente:
- É verdade, Joyce está certa! A deusa Luna está conosco.
A minha vontade era de mandar todo mundo calar a boca. Eu não era
nada daquilo. O que eles estavam pensando?
- Você não precisa ter medo, Yuri. A Lua pode se defender muito bem
de qualquer ameaça. – Josh falou ao primo gentilmente, mas a resposta de
Yuri foi ríspida:
- Você acha que eu vou ficar tranquilo agora, sabendo que a minha
companheira corre mais risco do que antes? Como companheira do alfa
supremo os riscos eram pequenos, agora como deusa dos lobos...
- Você vai fazer o que fez quando se tornou o alfa supremo, Yuri. Você
vai levar a Lua à todas as alcateias e apresentá-la como sua companheira e
reencarnação da deusa Luna. Todos vão respeitá-la e admirá-la. Você
mostrará a eles que ela não será uma ameaça para os lobos. – Serena falou
tranquila.
- Serena está certa, Yuri. Quando os lobos verem o seu alfa supremo e a
descendente da deusa Luna juntos, ninguém se atreverá a mexer com vocês.
Vocês dois são os lobos mais fortes que existem. Só um louco ameaçaria
vocês. – Levi falou.
Eu já sabia o que Yuri ia falar, assim que Levi terminou:
- Pois é contra um louco e sua alcateia que vamos lutar, já esqueceu?
- Isso é uma exceção à regra. – Levi rebateu.
- Quantas exceções será que vão surgir?
Silêncio.
Aquela discussão não ia nos levar a lugar algum. Yuri estava na
defensiva, com medo e preocupado por minha causa.
Se todos ali afirmavam que eu era forte, poderosa e que os outros lobos
não mexeriam comigo, então devia ser verdade, por mais que eu tivesse medo
e desconhecesse os meus supostos poderes e não soubesse o que aconteceria
comigo dali para frente.
Mas eu tinha que fazer alguma coisa. Yuri não poderia ficar
preocupado para o resto da vida por minha causa. Como seria daqui para
frente? Ele me prenderia em casa? Me isolaria em uma ilha deserta? Não. Eu
não viveria a minha vida reclusa, com medo de algo que vivia dentro de mim.
Eu tinha que assumir aquilo. Eu enfrentaria o meu destino. Eu seria a
deusa loba, companheira do alfa supremo. Juntos, ninguém poderia nos
ameaçar. Juntos éramos fortes. Juntos seríamos imbatíveis. Nenhuma ameaça
interna ou externa iria nos deter.
Se Mirela que era uma loba forte conseguiu usar os meus poderes e
desobedecer a Yuri, então a combinação de nossos poderes era mais forte do
que tudo. A deusa loba e o alfa supremo.
- Vocês estão certos. Somos os mais fortes da nossa espécie. Yuri e eu
somos mais fortes ainda juntos. Nada vai nos deter, nada vai nos ameaçar. –
falei com confiança.
Yuri me encarou e eu sustentei o seu olhar. Havia preocupação, medo
e incerteza nele, mas as minhas palavras conseguiram derrubar um pouco das
suas defesas. Por fim, ele assentiu para mim, apesar de haver ressalvas em
seus olhos.
- Vamos fazer isso. Vamos mostrar aos lobos das alcateias da deusa
Luna quem manda de verdade. Vamos mostrar quem são os mais poderosos e
fortes. – Yuri falou, sem tirar os olhos de mim.
- É assim que se fala, alfa supremo! – Josh exclamou e em seguida
todos começaram a aplaudir e a gritar.
Joyce, Macayla e meu pai se levantaram para me abraçar. Josh puxou
Yuri para um abraço. Todos estavam felicíssimos pela novidade, afinal de
contas não era todo dia que uma descendente da deusa Luna era membro de
uma alcateia.
Me senti um pouco melhor no meio daquela algazarra. Era incrível
como somente o fato de estar em meio a minha alcateia já me deixava
animada. Nós éramos uma grande família de lobos.
Enquanto eu dava os últimos abraços em Blake e Daniel, Yuri falou
no meio da confusão:
- Acho que nós tínhamos que decidir algumas coisas sobre a luta
contra a alcateia de Romália, não é mesmo?
- É verdade! – Serena exclamou sorridente. – Sentem-se todos, a
reunião ainda não acabou! Precisamos discutir sobre a luta!
Devagar, todos foram voltando para os seus lugares sorridentes.
Todos estavam confiantes em nós: o alfa supremo e a deusa loba.
- Precisamos montar equipes para fazer rondas na cidade. Precisamos
ficar de olho. Não sabemos quando esses lobos vão chegar. – Josh falou.
- E agora temos um membro a menos na alcateia. – Blake falou
cabisbaixo, lembrando do irmão que foi embora.
- Mas agora temos os lobos anciãos. – Pietro falou em contrapartida.
- É aí que eu queria chegar: Quais dos lobos anciãos querem entrar
nessa briga? – Yuri perguntou sério, enquanto cruzava os braços no peito.
Meu pai, Macayla, Serena e Levi levantaram os braços. Todos
queriam participar da luta contra a alcateia de Romália.
- Vovô! – Daniel exclamou.
Yuri ignorou a exclamação de Daniel e perguntou:
- Todos vocês se sentem seguros e preparados para isso?
- Sim. – os quatro responderam em uníssono.
- Tudo bem, então vocês vão participar conosco. Seremos um total de
onze lobos então. – Yuri falou e olhou para Josh, que assentiu.
- Podemos nos dividir em duplas e assim ninguém ficará
sobrecarregado nas rondas. Serão quatro duplas e um trio. – Josh disse.
Em seguida começou um falatório. Todos se organizando e formando
as duplas. Por fim, as duplas ficaram assim: Yuri e eu, Josh e Serena, Joyce e
Macayla, Blake e meu pai. No trio ficou Daniel, Levi e Pietro. Daniel se
recusou a deixar o avô em uma dupla, assim como o irmão caçula. Na
verdade, Daniel queria fazer um quarteto e incluir Blake, mas o seu
companheiro não aceitou e decidiu fazer dupla com o delegado. Daniel não
ficou muito satisfeito, mas não reclamou.
As rondas começariam agora à noite e a primeira dupla seria Yuri e
eu.
Após acertarmos tudo, fomos embora da casa de Josh. Já era
madrugada. Meu companheiro e eu fomos em direção à floresta adjacente de
Belmonte e nos transformamos. Começamos a nossa ronda por Belmonte, à
espera da alcateia de Romália.
CAPÍTULO 17

Corremos até o sol nascer no horizonte. Já era dia quando nos


transformamos de volta e encontramos Joyce e Macayla prontas para assumir
a ronda.
Yuri assumiu a liderança enquanto caçávamos e farejávamos os
arredores de Belmonte. Ele tinha mais experiência nisso e sabia o que fazer e
como fazer. Ele continuava espetacular: um enorme lobo negro, um líder nato
correndo e liderando pela floresta de Belmonte. Tive que reprimir alguns
uivos, pois toda vez que eu via Yuri assim, tão... alfa, meus instintos falavam
mais alto e eu o desejava intensamente. Yuri deve ter notado isso, pois vi que
de vez em quando um sorriso lupino aparecia no seu focinho.
Devido ao treinamento que Yuri me deu nas matas perto de Olímpia,
agora eu não era desengonçada e atrapalhada. Já estava acostumada com as
quatro patas, corria, pulava, uivava, fazia tudo o que os outros lobos faziam.
Estava mais forte também. Ganhei alguns músculos nesses meses. Os
instintos lupinos me guiavam. Os cheiros, os sons, a visão aguçada... tudo
estava conectado e se coordenava. Era quase automático. Era como se eu
tivesse nascido loba.
- Não encontramos nada por enquanto, mas fiquem de olho. Eles
podem aparecer a qualquer momento. – Yuri disse à Macayla e Joyce.
As duas assentiram e partiram para a floresta. Mãe e filha caçando
juntas.
Yuri pegou a minha mão e seguimos juntos até o carro dele, que ficou
estacionado não muito longe dali, perto da delegacia. Era o ponto de encontro
da alcateia. Enquanto caminhávamos, não consegui reprimir um bocejo. A
noite em claro estava cobrando o seu preço. À medida que a adrenalina da
caçada diminuía, o cansaço e o sono aumentavam. Me sentia tão cansada que
provavelmente dormiria dentro do carro.
- Já estamos indo para casa, amor. Em breve você vai poder
descansar. – Yuri disse enquanto seu polegar massageava o dorso da minha
mão.
- Nunca senti tanto sono assim. – falei e bocejei em seguida.
- Acho que vamos ficar sem dormir direito por algum tempo. Vai ser
igual quando nos casamos, só que sem o sexo constante e ininterrupto.
Eu ri e dei um tapinha no ombro de Yuri.
- Só você mesmo pra brincar com algo assim.
- Só queria te distrair um pouco. Acho que você vai desmaiar de sono
a qualquer momento.
- Muito engraçado, alfa supremo.
Yuri riu. Chegamos ao carro e entramos. Nem percebi que adormeci
enquanto Yuri dirigia. Só abri os olhos quando notei que ele me carregava em
direção ao nosso quarto. Fechei-os de novo e não os abri por um bom tempo.

Quando acordei, percebi que estava aninhada em Yuri. Ele dormia


tranquilamente ao meu lado em nossa cama, na casa do meu pai.
Ele tinha me carregado e me colocado ali, já que eu praticamente
desmaiei de sono dentro do carro.
Estiquei o braço e peguei meu celular, que estava na mesa de
cabeceira. Vi que eram duas horas da tarde. Nós tínhamos dormido a manhã
toda. Bocejei e me deitei novamente ao lado de Yuri, só que dessa vez,
estiquei meu pescoço e comecei a beijá-lo no rosto e fui descendo pelo seu
pescoço. Seus lábios se esticaram em um sorriso e ainda de olhos fechados,
seus braços me apertaram contra si.
- Adoro quando você me acorda desse jeito. – ele falou, rouco de
sono.
- E eu adoro te acordar assim. – falei sem interromper os beijos.
Ele riu.
- Lua, eu não acho que seja uma boa ideia. Nós... – mas eu o
interrompi:
- Meu pai está no trabalho e nós supostamente estamos dormindo,
descansando da nossa ronda. É uma ótima ideia.
- Lua... – ele parou de falar e suspirou quando eu passei a língua pelo
seu pescoço.
Suas mãos apertaram a minha cintura e desceram para a minha bunda.
Ele me puxou para cima de si e apertou minha bunda. Abri as pernas e me
posicionei em cima da protuberância que começava a crescer, me esfregando
lentamente nele.
Yuri gemeu com a minha movimentação. Mordiquei o seu pescoço,
na junção com o ombro e o seu quadril foi de encontro ao meu, me
levantando um pouco da cama.
Me afastei e me sentei em cima dele. Seus olhos castanho-claros se
abriram e não saíram de mim. Senti o formigamento e quentura que ele
começava a provocar em meu corpo. Sorri e tirei a blusa, jogando-a no chão
em seguida.
- É isso que você quer, não é? Então você vai ter isso e muito mais. –
Yuri falou sedutor e ameaçador ao mesmo tempo.
Em seguida, ele se sentou e alcançou a minha boca. Seu beijo foi
faminto, sua língua brincando com a minha enquanto suas mãos apertaram a
minha cintura e voaram para abrir o meu sutiã. Passei os braços pelo seu
pescoço e nos aproximei mais ainda. Meu sutiã voou para algum lugar. Meus
seios pesados e inchados se esfregaram no peito de Yuri, mas a camisa dele
atrapalhava o nosso contato. Ele se separou de mim por tempo suficiente para
retirar a camisa, quase rasgando-a antes de jogá-la no chão. Yuri me puxou
de volta e nos beijamos. Sem a camisa, pude sentir nossas peles se
encontrando, a fricção gostosa dos nossos corpos.
Sem que eu soubesse como, Yuri segurou a minha cintura e me deitou
novamente na cama. Seu corpo pressionando o meu, seus quadris me
provocando. Eu gemia a cada investida dele.
Minhas mãos voaram para a minha calça. Nem percebi que tinha
dormido toda vestida com as roupas do dia anterior, assim como Yuri. Eu
preferia dormir apenas com uma camiseta velha ou uma camisola, já Yuri não
usava nada. Na maior parte das vezes, eu também acabava indo dormir
pelada. Cortesia do meu marido voraz e apaixonado.
Quando percebeu que eu tentava tirar as calças, Yuri me ajudou,
puxando-as de mim e jogando de qualquer jeito no chão. Do jeito que as
coisas estavam, até o fim do dia teríamos roupas penduradas até pelo teto.
Assim que se livrou da minha calça, Yuri baixou a cabeça e começou
a beijar e lamber a minha barriga. Eu me retorcia e gemia cada vez mais. Sem
aviso, suas mãos rasgaram a minha calcinha. Merda! Odiava quando Yuri
fazia isso, quer dizer, parte de mim odiava, mas parte de mim ficava mais
excitada ainda. Nem sabia dizer quantas calcinhas já tinha perdido por causa
de Yuri.
Eu estava completamente nua na frente do meu marido. Ele se
ajoelhou na cama e ficou me admirando com um sorriso torto. O safado ainda
estava de calças!
Abri as pernas e as posicionei uma de cada lado dele. Sorri de
maneira lasciva, enquanto tocava meus seios e os massageava.
O olhar de Yuri escureceu. As pupilas se dilataram, tomadas pelo
desejo do meu companheiro. Suas mãos ágeis, tiraram a calça rapidamente, se
livrando juntamente da cueca. Seu olhar não saiu do meu nem por um
momento.
Devagar, Yuri se deitou em cima de mim. Minhas pernas se
flexionaram automaticamente, para acomodá-lo melhor. Suas mãos
seguraram firmes os meus quadris e com um tranco forte, ele entrou em mim.
Gemi alto e fechei os olhos, sentindo toda a sua extensão dentro de mim. Tão
gostoso!
Yuri começou a manter um ritmo lento e torturante. Eu queria gritar
com ele, apertar sua bunda com força, mandá-lo ir mais rápido. Mas não. Não
consegui fazer nada disso. Só consegui segurar em seus ombros e fincar as
unhas nele, gemendo a cada estocada. Yuri começou a beijar meu pescoço,
intercalando com mordidas. Cheguei à conclusão de que ele queria me deixar
louca. Era a única explicação.
Sem aviso, ele interrompeu o nosso ritmo e saiu de dentro mim. Com
agilidade e antes que eu protestasse, ele me virou de barriga para baixo e
voltou a entrar em mim. Virei o rosto para o lado, surpresa. Seu peito suado
em contato com as minhas costas. Empinei o quadril para dar um acesso
melhor a ele e abri mais as pernas. Apertei com força os lençóis da cama.
Eu não conseguia falar nada, só gemer sofregamente.
- Era isso que você queria, não é? – ele me perguntou ofegante.
Apenas assenti, ainda sem conseguir falar. Mordi o lábio inferior com
força.
De repente, o ritmo se intensificou. Suas estocadas ficaram mais
rápidas, mas ainda profundas. Yuri mordeu meu ombro. Revirei os olhos nas
órbitas.
- Ou era isso? – ele me perguntou sem interromper o ritmo.
Eu gemia sem parar e cada vez mais alto. Nem assentir eu conseguia
mais.
Novamente sem aviso, ele parou e saiu de mim. Me virou para a
posição que começamos e voltou a investir em mim, em um ritmo forte e
rápido. Enlacei seus quadris com as minhas pernas e ele se afundou mais em
mim.
Apertei com força suas costas, minhas unhas fincando nele e deixando
arranhões. Dei um último gemido alto, enquanto gozava e estremecia. Yuri
continuou se movimentando freneticamente, até que com um grito, ele
desabou em cima de mim. Seu rosto se enfiou na dobra do meu pescoço.
Ficamos um bom tempo naquela posição, nos recuperando. Aquilo
tinha sido intenso. Eu devia provocar Yuri mais vezes. Quando estivéssemos
sozinhos em casa, é claro.
Yuri saiu de cima de mim e se deitou ao meu lado. Ofegante, ele
disse:
- Nunca mais me provoque, sua loba safada.
Eu ri, também ofegante e disse:
- Você ainda não viu nada, alfa supremo.
Sorrindo, ele falou:
- Então se prepare para quando voltarmos para Olímpia. Vou mantê-la
cativa por alguns dias em nossa cama.
Eu sorri. Estava ansiosa para voltar.
CAPÍTULO 18

Acabamos dormindo mais um pouco. Eu não admiti, mas Yuri exauriu


minhas forças. Precisei dormir mais um pouco para me recuperar.
Quando acordei de novo, Yuri estava no banheiro, tomando banho.
Peguei meu celular e vi que eram cinco horas da tarde. Ótimo. Estávamos
trocando o dia pela noite.
Me sentei na cama meio zonza. Merda. Eu odiava perder uma noite de
sono, pois sabia que dormir de dia não era a mesma coisa. Eu não me sentia
totalmente recuperada igual como se tivesse dormido à noite.
O celular de Yuri começou a tocar e eu fiz uma careta para ele. Me
estiquei até a mesinha de cabeceira e verifiquei a tela. Era Serena. Resolvi
atender.
- Oi, Serena. – eu falei e reprimi um bocejo.
- Lua? Cadê o Yuri? – ela me perguntou surpresa.
- Ele tá tomando banho. Quer deixar algum recado? Eu posso pedir
para ele retornar assim que sair do banheiro. – falei enquanto tentava ajeitar
meus cabelos com a mão. Eles deviam estar uma bagunça só.
- Não, não vai precisar. Só liguei para avisar que Josh e eu estamos no
hospital. Maya entrou em trabalho de parto.
- Mas já? – foi a minha vez de ficar surpresa.
- Sim. Parece que esse lobinho está com pressa. – ela riu, mas parecia
nervosa.
- Eu vou avisar Yuri e depois nós vamos até aí.
- Ok, obrigada. Até mais!
- Tchau!
Desliguei o telefone e fiquei encarando a tela.
Caramba! A alcateia ia ganhar mais um membro em meio a toda essa
confusão. Tomara que Maya e o bebê estejam bem. Pelo que eu sabia, ainda
faltava algum tempo para o bebê apressado dela nascer.
- Queria ter tomado banho com você mais não quis te acordar. – Yuri
falou sorridente quando saiu do banheiro, com uma toalha enrolada na
cintura. – Algum problema? – ele perguntou quando me viu com o celular
dele na mão.
Reprimi um suspiro diante daquela visão do paraíso e respondi:
- Serena ligou. Ela e Josh estão no hospital. Maya está em trabalho de
parto.
- Isso é ótimo! – o sorriso de Yuri se alargou. – Vamos para lá. Quero
estar com Josh quando o bebê nascer.
Sorri de volta para ele.
- Claro. Eu vou tomar banho. – falei e me levantei da cama, nua, e fui
em direção ao banheiro.
Yuri me seguiu com os olhos e não disse nada. Nem precisou. O seu
olhar lascivo e a mordida no lábio inferior foram o suficiente para me deixar
excitada novamente. Um banho de água fria era o que eu precisava para
baixar o meu “fogo no rabo”.

Quando chegamos no hospital, Serena estava sentada sozinha na sala de


espera. Seu semblante estava preocupado. Assim que nos viu, ela se levantou
e veio em nossa direção.
- Ainda bem que vocês vieram! – ela exclamou enquanto abraçava
Yuri.
- Claro que viríamos, tia. Cadê o Josh? – Yuri perguntou.
- Ele entrou ainda a pouco na sala de parto. – Serena respondeu
enquanto me abraçava também.
Ela estava nervosa e os abraços ajudavam a lidar com o momento
tenso.
- Então daqui a pouco ele vai aparecer todo sorridente aqui, anunciando
o nascimento do filho! – Yuri falou sorrindo.
- Assim espero. – Serena falou preocupada.
- Claro que sim, tia. Por que não?
- Porque não estava na hora do bebê nascer. Faltavam algumas semanas
ainda!
Ficamos os três em silêncio.
Eu sabia que não estava tudo tão bem assim.
- Joyce está aqui? – perguntei.
- Sim, foi ela quem trouxe Maya. Ela está acompanhando a obstetra
dela e ficou de me dar notícias.
Yuri suspirou.
- É o jeito esperarmos, então. – ele disse.
- Vamos nos sentar. – Serena voltou às cadeiras da sala de espera e
nos sentamos lá.
Sentado ao meu lado, Yuri pegou a minha mão e ficou brincando com
meus dedos. Ele estava preocupado.
- Quem está no turno da ronda agora? – perguntei a ele.
- Daniel, Levi e Pietro. Daniel enviou uma mensagem me informando.
– ele respondeu. Seus olhos na minha mão entre as suas.
- Nós estávamos fazendo a ronda quando Maya ligou. Ela estava com
a amiga, Lana e Joyce. Os pais dela viajaram de férias. Todos nós
pensávamos que ainda ia demorar um pouco para o bebê nascer. Tivemos que
interromper a ronda e pedir para o trio de Daniel começar mais cedo. Joyce
trouxe Maya para cá rapidamente. Quando nós chegamos, Maya já estava lá
dentro. Joyce não disse, mas eu sei que tem alguma coisa errada. – Serena
falou com o olhar fixo no nada.
Yuri e eu nos entreolhamos. Joyce era médica e era muito
profissional. Ela sabia o que estava fazendo. Ela não faria um alarme
desnecessário.
Minutos se passaram e nada. Continuamos em silêncio e aguardando
na sala de espera. À medida que o tempo passava, a ansiedade e a
preocupação aumentavam. Não recebemos notícia nenhuma.
Pensei em pegar um café para Serena e Yuri, mas quando fui me
levantar, a porta que dava acesso a área restrita do interior do hospital se
abriu e Josh saiu de lá. Seu rosto era um misto de irritação, preocupação e
atordoamento.
- Josh! – Serena exclamou e foi até o filho.
Yuri e eu a seguimos.
- Maya foi para a sala de cirurgia. Vão fazer uma cesariana de
emergência. Ela e o bebê não estão bem. – Josh anunciou muito sério, seus
olhos passando por todos nós.
- Ah, meu filho! – Serena falou com a voz embargada e o abraçou.
Yuri apertou a minha mão e me puxou para os seus braços. O abracei
de volta, com força. Estávamos todos preocupados e tristes com aquela
notícia.
- Vou voltar para lá. Maya vai precisar de mim. – Josh falou,
enquanto limpava algumas lágrimas dos seus olhos.
- Vá, meu filho. Vai ficar tudo bem. – Serena falou emocionada.
Josh assentiu e voltou para o interior do hospital.
Voltamos a nos sentar para aguardar boas notícias.
CAPÍTULO 19

Estávamos sentados na sala de espera do hospital de Belmonte. Josh


tinha acabado de voltar para junto da sua esposa e companheira, para
acompanhar o parto complicado do filho. Ele estava péssimo. Preocupação e
nervosismo tomavam conta dele. Nunca tinha visto Josh tão aflito assim
antes. Eu nem queria imaginar o sofrimento dele nesse momento. Ver a
companheira e o filho correndo risco de morte devia ser torturante.
Suspirei e passei a mão pelos cabelos. Ainda bem que Lua estava ali ao
meu lado, passando por isso junto comigo. Josh era como um irmão para mim
e eu só queria que ele ficasse bem.
Sentada ao meu lado, Lua apoiou a cabeça no meu ombro. Ela também
estava preocupada com Maya. Ambas ficaram amigas depois que ela entrou
para a alcateia de Belmonte. Apesar de Lua ter mais contato com Joyce, ela
também conversava bastante com Maya. As três tinham até um grupo no
aplicativo de mensagem.
Merda! Nada disso deveria estar acontecendo.
Maya e Josh não mereciam passar por isso. Era o primeiro filho do
casal, provavelmente o futuro alfa da alcateia de Belmonte. Eles eram um
casal jovem, apaixonado e cheio de vida. Eu achava inaceitável que
justamente agora, quando Josh encontrou sua companheira, casou e deu
início a sua família, o destino tenha decidido agir e tirar tudo dele. Isso não
podia acontecer.
Eu não tive irmãos. O mais próximo que eu cheguei disso foi com Josh.
Éramos terríveis quando crianças. Demos muitas dores de cabeça para Serena
quando eu vinha passar as férias aqui em Belmonte. Quando ele ia para
Olímpia, eram os meus pais que sofriam com nossas travessuras.
Na adolescência, apresentei o uísque para Josh e ele me apresentou a
tequila. Bebemos escondidos, levamos bronca e passamos mal juntos. Várias
vezes. Levei aquele puto para boates e noitadas em Olímpia. Ele pegou gosto
pela coisa e virou o maior devasso de Belmonte. Organizava festinhas
regadas a bebida, garotas e sexo. Me chamou para algumas, mas sempre
recusei. Sempre fui um cara romântico e os ménages promovidos por ele
nunca me chamaram atenção. Nessa época, eu já tinha sofrido a minha
primeira metamorfose, sabia sobre os lobos e que eu era um alfa supremo.
Meu pai estava me treinando para o futuro. Eu tinha esperanças de encontrar
minha companheira logo, mas nem imaginava que teria que esperar mais
alguns anos para isso acontecer.
Pouco tempo depois, Josh também teve a sua primeira metamorfose.
Após isso, ele mudou. As putarias do filho da prefeita acabaram. Como alfa
da alcateia de Belmonte, ele teve que assumir responsabilidades e a vida
desregrada não combinava com isso.
Senti orgulho da mudança de Josh. Ele virou um homem responsável
e respeitável. Por influência de Serena, ele entrou para a política. Conseguiu
se eleger prefeito de Belmonte na primeira eleição que concorreu. A família
Black tinha peso político em Belmonte. Desde então, ele vem cuidando da
cidade e da alcateia com muito zelo. Belmonte progrediu em vários aspectos.
Deixou de ser atrasada e precária, e passou a ser uma cidade que evoluía, que
acompanhava os progressos do país e do mundo. No mundo dos lobos,
Belmonte era a cidade mais importante. Éramos os protegidos da deusa Luna.
Mas... tudo mudou em pouco tempo. De acordo com o mito da
descendência, Belmonte era a cidade que “roubou” a deusa Luna de Romália.
A existência de Lua só confirmava isso. Estávamos no meio de uma guerra
com outra alcateia, problemas com membros desobedientes e no meio disso
tudo, minha companheira se descobria a reencarnação da deusa Luna.
Eu não sabia como Josh estava suportando todos esses problemas,
mas esperava que ele não tivesse que passar por algo pior nas próximas
horas.
Não sei quanto tempo passou. Lua atendeu um telefonema do
delegado e ela explicou onde estávamos e o que estava acontecendo. Ele
pediu para ela mantê-lo informado, pois ia descansar para o seu turno de
ronda mais tarde. Lua voltou a apoiar a cabeça no meu ombro. Peguei a sua
mão e a beijei. Eu era muito grato por tê-la em minha vida.
A porta da área restrita do hospital se abriu e Josh saiu de lá. Ele
vestia uma roupa hospitalar, estava de máscara e touca cirúrgica. Ele daria a
notícia agora.
Baixando a máscara, pude ver o enorme sorriso em seu rosto.
- Nasceu! Meu filho nasceu! Ele e Maya estão ótimos! – ele exclamou
sorridente.
Serena pulou da cadeira ao meu lado e foi abraçá-lo. Suspirei aliviado
e puxei Lua para os meus braços. Deu tudo certo, graças a deusa.
CAPÍTULO 20

O pequeno bebê de Maya e Josh estava na incubadora. Prematuro, ele


teria que passar algum tempo lá. Fomos observá-lo no berçário. Josh, todo
feliz e orgulhoso, apontou para o filho no meio dos outros bebês, pela vidraça
do berçário. Assim que pus os olhos nele, senti o cheiro característico dos
lobos. Aquele pequeno pacotinho era um lobinho.
- Ele é lindo, Josh! – Yuri falou e apertou o ombro do primo.
- Ah, eu queria tanto pegá-lo no colo! – Serena exclamou sem tirar os
olhos do neto.
- Vai ter muito tempo para fazer isso, mãe. – Josh respondeu sorridente.
- Cadê a Maya? – perguntei a Josh.
- Ela está sendo transferida para o quarto e daqui a pouco vão liberar as
visitas. – Josh respondeu sem tirar os olhos do filho.
- Vou ligar para os pais de Maya e avisar que está tudo bem. – Serena
pegou o celular e se afastou.
Enquanto Serena se afastava no corredor, Joyce se aproximava de nós.
De jaleco e roupa branca por baixo, aquela era a doutora Joyce Ortiz. Ela
cumprimentou Serena com um aceno de cabeça e falou, quando chegou até o
nosso grupo:
- E então, como está o pequeno lobinho? O pai já parou de lamber a
cria?
- Acho que vou buscar uma cadeira para ficar aqui observando esse
moleque. – Josh falou sorridente.
- Então você não quer ver sua companheira?
- Já posso? – Josh perguntou surpreso, mas ainda sorridente. Acho que
ele ficaria com as bochechas doloridas de tanto sorrir.
- Claro. Ela tá te esperando. É o quarto 201.
Josh olhou para Yuri e para mim.
- Não tirem os olhos do meu filho. Eu volto depois. – o pai coruja falou.
- Pode deixar. – Yuri respondeu.
Enquanto Josh se afastava, Joyce me perguntou:
- Posso falar com você?
- Claro. – respondi.
- Eu fico aqui reparando o bebê, podem ir. – Yuri disse e voltou a olhar
o lobinho no berçário.
Joyce e eu começamos a andar pelo corredor e ela me levou até a
lanchonete que ficava dentro do hospital. Enquanto ela pegava café,
perguntou se eu também queria, mas recusei. Nos sentamos em uma mesa no
canto, afastada das outras. Ela queria privacidade naquela conversa.
- Gosto de tomar um café depois de passar por algo estressante. O parto
da Maya foi complicado, mas deu tudo certo no final. A obstetra dela é muito
boa. Temos sorte de tê-la aqui em Belmonte. – ela falou e deu um gole na
bebida.
- Que bom que deu tudo certo. Fiquei preocupada com Maya e o bebê.
Ela tinha comentado alguma coisa sobre ainda faltarem semanas para o parto.
– comentei.
- É verdade. Aquele lobinho foi um apressadinho. Pegou todos nós de
surpresa.
Nós rimos.
- Imagino a surpresa. Maya estava com você e Lana, não é mesmo?
Joyce assentiu.
- Estava “tomando conta” dela enquanto Serena e Josh faziam a ronda.
Lana estava me ajudando a lidar com uma mulher grávida com os hormônios
à flor da pele. – nós rimos de novo.
- E como estão as coisas entre você e a Lana?
Joyce suspirou. O sorriso em seu rosto diminuiu.
- Ela quer que eu... me assuma. É a condição dela para ficarmos juntas.
- E o que você fez?
Eu entendia o receio de Joyce. O preconceito ainda existia,
principalmente em uma cidade pequena como Belmonte. A mente das
pessoas era muito fechada. Dentro da alcateia tínhamos um exemplo: Brian
não aceitava o relacionamento do próprio irmão com outro homem. Como
médica, Joyce também devia temer por sua carreira. As fofocas se
espalhariam rapidamente por Belmonte e poderiam destrui-la, infelizmente.
- Pedi um tempo para pensar e tomar uma decisão definitiva.
Assenti.
- Acho que você fez certo. Tirar um tempo para pensar é muito bom e
evita que tomemos decisões precipitadas. Mas você também tem que pensar
na Lana. Vocês estão juntas nessa. Você... a ama?
Joyce sorriu e respondeu:
- Sim. Muito.
- Então você vai fazer o que for preciso para ficar com ela.
Não foi uma pergunta, mas Joyce disse:
- Sim.
- Então você já tomou a sua decisão. – concluí.
- Mas eu não tenho coragem, Lua!
- Joyce, você não está sozinha. A Macayla está ao seu lado te apoiando
esse tempo todo, não é mesmo? Além dela, você tem a mim, a Maya, o Yuri,
meu pai. Nós vamos te apoiar e ficar ao seu lado para o que der e o que vier.
– afirmei com convicção.
Com os olhos brilhando pelas lágrimas não derramadas, ela se levantou
e veio me abraçar.
- Obrigada, Lua. Sabia que podia contar com você. Não é à toa que
você é a reencarnação da deusa. Você é abençoada por ela. – Joyce falou com
a voz embargada enquanto me abraçava.
A fala dela me deixou um pouco desconfortável, mas não disse nada, só
abracei a minha amiga.
- Vamos voltar lá para o berçário e depois vamos ver Maya. – eu falei
enquanto nos separávamos.
- Sim. Eu vou ligar para Lana e avisar que o bebê nasceu. – ela falou
sorridente e pegou o celular no bolso do jaleco.
Entrelaçamos os braços e voltamos até o berçário, onde Yuri me
esperava. Ele observava os bebês com um sorriso bobo no rosto. Achei-o tão
fofo fazendo aquilo!
Joyce se afastou com o celular na orelha e eu fui até Yuri. Ele me
abraçou de lado e deu um beijo no alto da minha cabeça. Ficamos daquele
jeito, abraçados, olhando os bebês, até Joyce voltar e nos chamar para ir
visitar Maya.
CAPÍTULO 21

Maya estava deitada na cama e Josh estava sentado em uma cadeira ao


lado dela. Ele segurava a sua mão e falava baixinho com a companheira.
Assim que entramos, os dois nos olharam e sorriram. Maya estava meio
abatida, mas o sorriso em seu rosto parecia compensar toda a dificuldade pela
qual passou.
- Estávamos olhando o pequeno lobinho e ele é lindo, Maya! –
exclamei assim que me aproximei dela.
O sorriso dela ficou maior ainda.
- Ainda bem que ele puxou a você, porque se saísse igual ao pai... –
Yuri falou brincalhão.
- Meu filho é lindo e é a minha cara, Yuri. Não adianta negar! – Josh
rebateu.
- Acho que ele é uma mistura dos dois. – Joyce falou pensativa.
- O importante é que ele está bem. Esse menino me assustou! – Maya
falou bem-humorada.
Todos rimos.
- Cadê a minha mãe? – Josh perguntou.
- Acho que ela voltou a admirar o neto. – Joyce disse sorridente.
- Você vai deixar de ser o filhinho da mamãe, Josh. Agora ela tem outro
para paparicar. – Yuri disse zombeteiro.
Josh jogou uma bolinha de papel na direção de Yuri, que rindo, se
esquivou. Aqueles dois...
- Josh! – Maya exclamou.
- O que foi, amor? – Josh perguntou todo preocupado a companheira.
- Fala pra eles!
- Ah, tá. – ele disse e se voltando para nós, ele falou: - Já escolhemos o
nome do bebê. Ele vai se chamar Jacob. Jacob Ferri Black. Jake, para os
íntimos.
- É um nome bonito. – eu falei.
- Tinha que ser com “jota” também? Maya pelo menos ajudou a
escolher? – Yuri perguntou sorrindo. Dei uma leve cotovelada nele.
- Foi uma escolha conjunta, alfa supremo! – Josh se defendeu.
- Sei! Você é um político, Josh. Você tem lábia. – Yuri provocou o
primo, ainda sorrindo.
Maya começou a rir e disse:
- É verdade. Me sinto ludibriada agora.
- Mas já escolhemos, amor! Não podemos voltar atrás! – Josh disse
contrariado.
Todos rimos, menos Josh, que parecia meio chateado.
- Eu sei, não vou voltar atrás. Eu gosto desse nome. – Maya falou ainda
sorrindo e completou: - Quero que você diga ao Yuri e a Lua aquela outra
coisa que decidimos também.
- Ah, sim! – se voltando para nós, Josh disse: - Queremos que vocês
dois sejam os padrinhos do Jake.
- Sério? – perguntei surpresa e feliz ao mesmo tempo. Nem imaginava
que eles pudessem me escolher para algo tão importante assim.
- Sim! Vocês são nossos amigos, nossa família. Só podiam ser vocês
para cumprirem esse papel tão importante na vida do Jake. – Maya
respondeu.
- Além disso, o Yuri é o alfa supremo e você é a reencarnação da deusa
Luna. O Jake vai ser protegido e abençoado até não querer mais. – Josh disse
sorridente, pegou a mão da esposa e ficou admirando-a.
De novo esse assunto.
Eu tinha que me acostumar com isso agora. Todos iam ficar falando o
tempo todo sobre isso. Yuri e eu ainda tínhamos que ir até Romália, e
tínhamos que ir urgente, mas essa guerra com a alcateia de lá estava
atrapalhando tudo!
- Nós aceitamos e ficamos muito agradecidos pela escolha. O Jake vai
ter os melhores padrinhos que já existiram na face da Terra. – Yuri respondeu
por nós, quando viu a minha cara de pateta.
- É o mínimo que eu espero. – Josh rebateu brincalhão.
Yuri ia revidar, mas nesse momento, Serena entrou no quarto e se
aproximou para ver como a nora estava. Decidi que já era hora de irmos, pois
Maya tinha que descansar.
- Vamos, Yuri. Vamos deixar a Maya descansar. Temos que descansar
também, pois o nosso turno de ronda é amanhã de manhã bem cedo. – eu
falei e peguei a mão de Yuri. Ele assentiu.
- Eu também já vou. Esse susto do Jake me deixou cansada. – Joyce
aproveitou a nossa deixa.
- Tchau! Nos vemos depois! – Yuri exclamou enquanto nos
afastávamos.
- Tchau, bom descanso! – Josh se despediu sem tirar os olhos da
esposa.
Depois que saímos de lá, perguntei a Joyce se ela queria uma carona
para casa, mas ela recusou e disse que ainda ia demorar um pouco para ir,
pois precisava resolver algumas coisas. Sendo assim, Yuri e eu fomos para o
carro e seguimos para casa.
No meio do caminho, Yuri disse:
- Eu vi como você ficou, Lua. Não adianta negar.
Suspirei.
- Ainda é um pouco difícil aceitar. Parece loucura, Yuri.
- Cadê aquela loba determinada e destemida que eu vi na reunião de
ontem? – ele perguntou com uma sobrancelha levantada, sem tirar os olhos
da rua.
- Está aqui em algum lugar. Ela precisa estar. A alcateia espera isso
dela.
- Sim e não. Não vou deixar ninguém ficar cobrando nada de você. –
ele falou protetoramente.
- Me sinto uma fraude. Eu não tenho nada de mais. Sou só uma loba
que acha que é uma deusa.
- Você não é fraude coisa nenhuma. Vamos descobrir seus poderes e o
que você é capaz de fazer. Você é forte, só ainda não descobriu esse poder
dentro de si. Enquanto isso, vamos mostrar aos outros lobos como somos o
casal mais foda das alcateias da deusa Luna.
Eu ri.
- Nós somos o casal mais foda?
- É claro! Eu sou o alfa supremo e você é a descendente da deusa Luna.
Somos companheiros. Somos apaixonados e loucos de tesão um pelo outro.
Somos os mais fodas, com certeza! – Yuri falou com um sorriso no canto da
boca.
Dessa vez eu gargalhei. Só Yuri mesmo para fazer eu me sentir melhor
instantaneamente.
- Obrigada, amor. É por isso que eu te amo. – disse a ele.
- Disponha.
Chegamos em casa e eu já me sentia mais leve. Encontrei meu pai
descansando no sofá e aproveitei para contar as novidades sobre o filho do
Josh e da Maya. O delegado ficou aliviado e feliz de saber que estava tudo
bem. Depois, deixei ele descansar, pois ainda ia pegar o turno da madrugada
das rondas. Segui com Yuri para o nosso quarto para descansarmos também.

Estávamos novamente na floresta de Belmonte. Já era de dia e era


novamente a nossa vez de fazer a ronda. Yuri seguia correndo na frente e eu
o acompanhava um pouco atrás. Com os olhos e ouvidos atentos,
vasculhávamos tudo ao redor. Com o faro lupino, sentíamos todos os cheiros
presentes na floresta: plantas, animais, pessoas ao longe... Sentia como se o
meu focinho fosse um computador: Analisando, catalogando e descartando
cheiros rapidamente e automaticamente. Estava tudo normal nos arredores de
Belmonte.
Chegamos em um lugar que eu reconheci na hora. O lago dos lobos. O
lugar que servia de treinamento e que tinha o acesso restrito a alcateia de
Belmonte. Yuri desacelerou e começou a andar. Fiquei ao lado dele, o
acompanhando. Ele observava ao redor e quase pude ver um sorriso em seu
focinho. Aquele lugar era especial para nós dois. Foi onde tivemos a nossa
primeira conversa “normal” e começamos a nos conhecer melhor.
Yuri se aproximou mais de mim e começou a lamber meu rosto. Eu
quis rir, mas como não podia, comecei a lambê-lo também. Quase podia
escutar as nossas risadas no meio daquela troca de carinho.
Quando estávamos treinando nas florestas perto de Olímpia, Yuri
sempre parava um pouco o treinamento para me lamber ou esfregar a cabeça
em mim. Às vezes, íamos além disso. Foi muito estranho a primeira vez que
fizemos sexo na forma lupina. Yuri era maior do que eu e era um pouco
difícil para ele me montar, por causa do seu peso. Mas, conseguimos dar um
jeito. Depois que nos acostumamos, ficou muito fácil. É claro que, fazíamos
isso quando estávamos a sós. Quando Pietro ia conosco, Yuri se mantinha
profissional.
E foi ali, em meio aos nossos “lambeijos”, que escutamos um barulho.
Yuri, já tenso, virou a cabeça na direção do som e eu o acompanhei. Meu faro
captou um cheiro familiar por perto. Lobo. Não. Lobos. No plural.
Yuri deu um passo para ficar mais a frente e começou a rosnar
baixinho, mostrando os dentes. Os pelos do meu corpo se arrepiaram e eu
entrei em estado de alerta, esperando o inimigo. Também mostrei os dentes,
pois o nosso instinto falava mais alto nessas horas.
Ouvi passos se aproximando, mas não eram passos de animal. Eram
passos humanos. Aqueles lobos estavam na forma humana.
Eles saíram da mata, a uns dez metros de distância de Yuri e eu. Eram
cinco no total, três homens e duas mulheres. Estávamos em desvantagem
numérica.
O homem mais a frente devia ser o líder da alcateia, o alfa. Ele
aparentava ter em torno de quarenta anos. Pele clara, barba por fazer, cabelo
castanho. As mulheres deviam estar na faixa dos trinta, assim como o homem
posicionado protetoramente ao lado de uma delas. Um garoto da idade de
Pietro estava do outro lado do alfa, um pouco atrás. Eles analisavam os dois
lobos ali na sua frente. Um enorme lobo preto e uma loba branca, menor.
Yuri e eu.
O alfa deu uns dois passos à frente e disse:
- Yuri Santino? Precisamos conversar, alfa supremo.
CAPÍTULO 22

O lago dos lobos era especial para Lua e eu. Foi o primeiro lugar em
que tivemos uma conversa “normal” e eu pude conhecê-la um pouco mais.
Na época, ela nem imaginava que era a minha companheira e nem havia tido
a sua primeira metamorfose ainda. Eu não conhecia o tipo de paixão que me
consumiria após isso.
Querendo sorrir, comecei a lamber o rosto de Lua e ela retribuiu. Tinha
certeza de que ela queria rir da nossa troca de carícias lupinas.
Na verdade, eu queria beijá-la na forma humana e deitá-la ali no chão.
Fazer amor com ela lentamente ali, na beira do lago. Quem sabe até entrar na
água e transar lá dentro. Era uma ideia tentadora.
Infelizmente não podíamos fazer isso. Estávamos no meio da nossa
ronda e era a nossa responsabilidade manter a vigilância sobre a cidade.
Droga!
Em meio a esses pensamentos, escutei um barulho. Interrompendo as
lambidas que dava em Lua, virei na direção da fonte do som e farejei.
Lobos.
Lobos que eu desconhecia estavam se aproximando de nós
cautelosamente ali na floresta.
Imediatamente, fiquei mais à frente de Lua e comecei a rosnar,
mostrando os dentes. O instinto de proteção e a possessividade sobre Lua
tomavam conta de mim e era difícil agir racionalmente.
Provavelmente eles tinham mascarado o seu cheiro para terem passado
despercebidos por Lua e eu, mas não conseguiram manter o disfarce por
muito tempo. Eles entraram em Belmonte correndo na forma lupina e quando
já estavam mais perto de nós, se transformaram de volta. Com certeza eles
aproveitaram o nosso momento de distração ali no lago dos lobos.
A alcateia se aproximou cautelosamente na forma humana. Pelo menos
foram inteligentes em agir dessa forma, parecendo inofensivos. Se tivessem
aparecido na forma lupina, eu teria começado a atacar, sem perguntas e sem
explicações, mesmo que eles estivessem em maior número. Eles eram
forasteiros e estavam entrando em território alheio, sem autorização.
O alfa, Átila, parecia ser um cara mais velho do que eu. O garoto ao seu
lado era o seu filho, senti pelo cheiro. As mulheres e o outro cara pareciam
estar na minha faixa etária. Havia um casal de companheiros entre eles.
Todos estavam em forma e prontos para o combate se preciso fosse. A
expectativa me animou. Estava louco para acertar as coisas com aquele alfa
filho da puta.
Não me passou despercebido o detalhe de que pai e filho estavam
juntos. O garoto já tinha tido a sua primeira metamorfose e provavelmente
era o próximo alfa. Átila não deveria mais estar se transformando, de acordo
com a lei dos lobos.
Quando finalmente parou de nos analisar, o cretino se aproximou um
pouco e disse:
- Yuri Santino? Precisamos conversar, alfa supremo.
Ah, sim. Nós teríamos uma conversa. Ele conversaria com as minhas
presas, enquanto elas estivessem se afundando em sua garganta. O
desgraçado ainda teve a audácia de debochar do meu título de alfa supremo!
Senti o olhar de Lua em mim. Ela parecia estar me perguntando o que
eu faria. A minha vontade era de acabar com todos eles ali, naquele
momento.
Ouvi Lua bufar impaciente e em seguida seu cheiro mudou. Ela voltou
à forma humana. Merda!
- Vocês são a alcateia de Romália? – Lua perguntou.
Nada satisfeito com aquilo, me transformei de volta à forma humana.
Não poderia deixar Lua ficar batendo papo com eles.
As posturas deles mudaram assim que nós dois aparecemos como
humanos. O alfa me olhou de cima a baixo, enquanto o garoto encarava Lua
boquiaberto. Os outros também nos olhavam curiosos, mas fizeram o
possível para não demonstrar muito.
- Sim, nós somos a alcateia de Romália. – o alfa respondeu.
- E o que vocês vieram fazer aqui? – Lua continuou perguntando.
Resolvi me meter:
- Vocês não são bem-vindos em Belmonte e devem ir embora agora!
Isso é uma ordem do seu alfa supremo.
Falei muito sério e um pouco puto, mas não usei a minha voz de
comando. Queria ver se eles eram ousados a ponto de me enfrentar.
- Nós viemos buscar algo que pertence à alcateia e ao povo de Romália.
Algo que nunca deveria ter saído de lá. Eu avisei ao alfa supremo que
viríamos. – o alfa respondeu Lua, me ignorando completamente e
continuando com o deboche.
- E o que seria isso? – Lua perguntou também me ignorando. Ela tinha
o cenho franzido e parecia bastante curiosa em descobrir do que aquele idiota
estava falando.
O alfa abriu um sorrisinho e respondeu:
- A reencarnação e descendente da deusa Luna. Aquela que carrega a
deusa dentro de si. Você.
Eu escutei direito? Aquela alcateia tinha vindo até Belmonte buscar
Lua? Fiquei mais puto ainda!
- O que faz vocês acharem que eu sou um objeto para ser resgatado
assim, dessa maneira? Eu sou uma pessoa! Eu não pertenço à Romália! Eu
sou daqui de Belmonte, eu nasci aqui! Eu sou da alcateia de Belmonte! – Lua
exclamou indignada.
- Sinto muito se dei a entender que você era um objeto, mas, de
qualquer forma, você é de Romália. – o alfa replicou tranquilamente.
- Não! – Lua insistiu.
- Já chega! Vocês vão embora agora! – exclamei usando a minha voz
de comando. Lua se encolheu um pouco ao ouvir minhas palavras.
Para a minha enorme surpresa, as cinco pessoas paradas ali não se
mexeram. Nem se encolheram, nem se abalaram, nem nada. Foi como se eu
tivesse falado normalmente, sem a voz de comando. Franzi o cenho.
- Nós não reconhecemos você como o nosso líder supremo. Não
devemos obediência a você. A única líder aqui, é ela. – o desgraçado disse e
apontou para Lua, que estava boquiaberta ao meu lado.
Eu nunca tinha ouvido aquilo antes: Uma alcateia que não obedecesse
ao alfa supremo.
Eles obedeciam a deusa, diretamente!
- Eu não sou a líder de vocês! Vocês nem existiam! Como pode uma
alcateia surgir assim, de uma hora para outra? – Lua estava bastante surpresa.
- Você é a nossa líder, queira ou não queira, é essa a verdade. Podemos
conversar mais quando chegarmos à Romália, Eluana. – o alfa disse, me
deixando mais irritado do que já estava.
Ele só podia estar sonhando se pensava que eu ia deixá-los levar Lua
contra a vontade dela!
Fechei meus dedos com força em meus punhos. Eu ia me transformar e
acabar com todos eles, mas Lua frustrou meus planos:
- Eu não vou a lugar nenhum com vocês! Vocês devem ir embora
daqui, agora! – Lua praticamente gritou, nervosa.
O alfa assentiu, para a minha surpresa.
- Como queira, Eluana. Nós vamos embora agora, mas vamos voltar.
Precisamos conversar.
Assim que o alfa terminou de falar, todos se viraram e começaram a
entrar de novo na floresta, quase correndo. Eles iriam se transformar e correr
para longe daqui!
Dei um passo para segui-los e acabar de vez com aquilo, mas Lua
segurou meu braço. Me virei para encará-la e ela ainda não tinha tirado os
olhos de onde a alcateia tinha estado, a poucos segundos atrás.
- Lua, eu vou atrás deles! – exclamei irritado.
- Não, fica aqui. Precisamos reunir com toda a alcateia. Eu tenho um
plano. – ela falou ainda sem me encarar, parecendo pensativa e surpresa.
Suspirei e relaxei um pouco. Talvez fosse melhor mesmo reunir com a
alcateia de Belmonte para decidir o nosso próximo passo.
CAPÍTULO 23

Eles me obedeceram.
Eles me obedeciam, e não a Yuri.
Tínhamos uma vantagem e um plano logo se formou na minha cabeça.
Eu não iria deixar aquele lobo arrogante me levar para outra cidade
como se eu fosse um objeto qualquer, sem vontades.
Ele estava muito errado. A deusa Luna era dos lobos e não apenas de
Romália ou de uma alcateia. Ele não podia vir até aqui, invadir um território,
desobedecer e debochar do alfa supremo e me levar, como se eu fosse um
prêmio. Ele estava completamente enganado se achava que faria isso. Eu
daria uma lição nele, ou melhor, a deusa Luna daria uma lição nele.
Se eu era mesmo a reencarnação da deusa, então eu faria valer o meu
título.
Yuri e eu corremos de volta para a cidade e assim que chegamos no
carro, Yuri começou a convocar toda a alcateia de Belmonte para uma nova
reunião.
- Você tem certeza, Lua? Ainda posso voltar lá e caçá-los... – Yuri
falou enquanto dirigia de volta para casa.
- Sim. Confia em mim, amor. Além disso, eles devem ter se camuflado
para passarem despercebidos por nós. Não adiantaria nada voltar lá na
floresta para caçá-los.
Yuri ficou um pouco pensativo, mas assentiu. Aqueles lobos eram
espertos. Eles devem ter ficado esse tempo todo camuflados, se escondendo,
para que assim todos pensassem que não existia alcateia em Romália.
- Eu não entendo por que eles se camuflaram esse tempo todo. Por que
manter uma alcateia escondida, em segredo? – Yuri perguntou, ecoando
minhas conjecturas.
- Eu não sei. Aquele lobo alfa falou alguma coisa sobre eu pertencer a
alcateia deles. Será que eles se acham um tipo de “guardiões da deusa”? Isso
não faz sentido... – falei com o cenho franzido.
Yuri suspirou irritado. Observei que ele apertava com força o volante
do carro.
- Eles estão parecendo uma alcateia de fanáticos, isso sim! Não vou
deixar que eles fiquem perto de você por mais nem um segundo! – ele
exclamou irritado. – Vamos reunir com a sua alcateia para colocar seu plano
em prática e acabar com isso de uma vez!
Apenas assenti.
Seguimos o restante do caminho em silêncio.

- Eles fizeram o quê?! Impossível! – Serena exclamou bastante


surpresa, assim que soube do nosso encontro com a alcateia de Romália e da
desobediência deles a Yuri.
Era de tarde e estávamos na casa de Josh para a reunião com a alcateia.
Josh estava no hospital com Maya e não pôde comparecer. Joyce assumiu o
lugar do alfa e comandava a reunião, juntamente com Yuri. Todos os outros
conseguiram comparecer dessa vez, tendo em vista a urgência e o assunto a
ser discutido.
Yuri estava simplesmente possesso. Se eu não tivesse o impedido, ele
teria ido atrás da alcateia de Romália e enfrentado os cinco membros sozinho.
Só de pensar nessa alternativa, meu estômago embrulhava. Por mais que Yuri
fosse o mais forte e poderoso de todos os lobos, eu temia por ele. Eu o amava
muito e não conseguia nem pensar na hipótese de vê-lo lutando sozinho
contra cinco lobos. Obviamente, eu entraria na luta. Não aguentaria vê-lo
lutar e ficar de braços cruzados.
- E eles queriam levar Lua com eles! Disseram que ela pertence a
alcateia deles e à Romália, que o lugar dela é lá e não aqui! – ele exclamou.
- Temos vantagem numérica e o alfa supremo ao nosso lado. Vamos
atrás deles e acabar logo com isso! – o delegado falou decidido.
Meu marido e meu pai estavam decididos a enfrentar a alcateia de
Romália na base da briga. Reprimindo a vontade de revirar os olhos, falei:
- Não podemos fazer isso. Eles se camuflam, se escondem de todos.
Não vamos achá-los facilmente!
- Podemos montar uma armadilha para pegá-los. Fazemos eles acharem
que Lua irá com eles, aí quando eles aparecerem, nós os pegamos! – Macayla
falou.
- Acho que pode dar certo. – Levi falou pensativo.
- Vovô, já que temos vantagem numérica, acho que o senhor pode ficar
de fora da luta, não é? – Daniel perguntou esperançoso ao avô.
Levi lançou um olhar fulminante ao neto, que não desviou os olhos dos
dele.
- Vamos nos ater aos fatos! – Joyce exclamou chamando a atenção de
todos. – Yuri nos reuniu aqui com um propósito, não é?
Yuri assentiu, ainda irritado e disse:
- Eu teria ido atrás deles assim que eles viraram de costas, mas Lua me
impediu, dizendo que tinha um plano. – ele olhou para mim ao terminar de
falar.
- Sim! Percebi que eles me obedecem por eu ser a reencarnação e
descendente da deusa Luna. Então o que eu mandar, eles vão fazer. – dei um
sorrisinho no final, satisfeita.
Yuri me encarava com o olhar semicerrado. Ele não entendeu?
- É por isso que eu adoro a Lua! – Pietro falou com um sorriso enorme
no rosto.
- Acho que eu não entendi. – Blake comentou baixinho com Daniel,
que também sorria para mim.
- Eu vou mandar a alcateia de Romália obedecer a Yuri. Vou mandá-los
reconhecer Yuri como o seu alfa supremo. Vou mandá-los não se camuflar
mais. Depois, vou mandá-los ficar bem longe de Belmonte e me deixar em
paz. Simples. – abri um sorriso maior ao concluir.
Yuri fez uma careta e coçou a cabeça.
- É uma boa ideia e bem mais simples. – Macayla comentou.
- E não envolve luta com ninguém. – Daniel concordou e deu umas
batidinhas na costa de Levi, que o olhou meio irritado.
- Podemos tentar. É uma alternativa. – Joyce disse.
- O que você acha Yuri? – Serena perguntou, ao notar o silêncio do
meu companheiro.
- Não sei se vai dar certo. É simples demais. Eles me parecem fanáticos
pirados. E se eles não obedecerem às ordens de Lua?
Silêncio.
Suspirei e respondi, olhando para o chão:
- Então a alcateia de Belmonte e o alfa supremo poderão enfrentar a
alcateia de Romália.
Senti os olhos de Yuri em mim, mas não levantei o olhar. Eu sabia que
era isso que ele queira desde o começo e não iria mais me opor, por mais que
eu abominasse a ideia de vê-lo lutando contra outro lobo.
- De acordo. Alguém se opõem? – Yuri perguntou e um silêncio se fez,
decidindo os nossos futuros.
CAPÍTULO 24

- Você está chateada comigo? – Yuri perguntou enquanto voltávamos


para casa.
A reunião tinha se encerrado a pouco e a alcateia acatou meu plano,
porém, se ele não desse certo, nós enfrentaríamos a alcateia de Romália em
uma luta. Não tinha sido o que eu havia imaginado, mas eu esperava que
desse certo. Não queria que Yuri, meu pai ou os meus amigos entrassem em
uma luta por minha causa. Essa ideia me revirava o estômago.
Meu plano era mais simples, porém imprevisível. Não sabíamos
quando a alcateia de Romália voltaria e se eles se curvariam aos meus
comandos. Mas pelo menos não haveria uma luta, que era a minha
preocupação.
- Não. Eu só não quero que a alcateia entre em uma guerra. – respondi
observando a paisagem passando pela janela do carro.
- Eu vou lutar, se eles insistirem nessa ideia estúpida de querer te levar
daqui. Ninguém vai me separar de você, amor. – Yuri falou e colocou a mão
na minha coxa, apertando de leve.
- Ninguém vai me levar para Romália. Isso é idiotice. – falei tentando
ignorar a mão de Yuri.
- Então vamos deixar bem clara para eles a nossa posição. – Yuri me
apertou com um pouco mais de força e eu apertei os lábios, segurando a
vontade de rir. Ele adorava explorar aquele meu ponto fraco.
- O que foi, loba? Está tentando me esconder alguma coisa? – dessa
vez, ele deu uma apertada rápida e repentina, me fazendo dar um pulo no
banco do carro.
- Yuri! – exclamei e comecei a rir.
- Sim, você estava me escondendo! Estava me escondendo esse lindo
sorriso que eu amo. – ele falou sorridente e voltou a dirigir com as duas
mãos.
Apenas ri e balancei a cabeça. Yuri podia me irritar e chatear às vezes,
mas sempre arrumava um jeito de me fazer rir e esquecer um pouco os
problemas.
Quando chegamos em casa, meu pai já estava lá, acompanhado de
Macayla. Os dois estavam na cozinha, preocupados em cozinhar alguma
coisa que eu não tinha a mínima ideia do que era.
- Ainda bem que você chegou, Lua. Pode me ajudar aqui? – Macayla
perguntou enquanto separava alguns ingredientes em cima da bancada.
- O que está acontecendo? – perguntei franzindo o cenho.
- Maya vai ter alta hoje, aí Serena e eu decidimos fazer uma festinha
para comemorar o nascimento do lobinho. Vai ser uma coisinha, tudo
improvisado mesmo, só para não passar em branco o nascimento do bebê. Só
família e amigos. – ela respondeu enquanto se movimentava pela cozinha.
- O Jake também vai para casa hoje? – Yuri perguntou.
- Não. Joyce me disse que ele ainda vai ficar mais um tempo lá no
hospital.
- Ah.
- Uma coisinha é o caramba. Vocês mobilizaram a alcateia inteira! Não
vai ser só uma coisinha. – o delegado resmungou enquanto picava alguns
legumes.
- Neandro, eu quero isso cortado bem pequeno, entendeu? – Macayla
rebateu e meu pai fez uma careta. – Então, Lua?
Segurei a vontade de rir. Eu conhecia Macayla o suficiente para saber
que quando ela insistia com alguma coisa, era melhor se render às vontades
dela.
- Claro. – respondi entrando na cozinha.
- Eu também posso ajudar. – Yuri se manifestou, já arregaçando as
mangas da camisa.
- Não sabia que o nosso alfa supremo cozinhava! – Macayla exclamou
surpresa.
- Yuri faz uma macarronada maravilhosa. – dedurei meu companheiro.
Ele riu.
- Vou querer experimentar qualquer dia. – Macayla falou enquanto me
passava alguns ingredientes.
- É só marcar. – ele respondeu e deu uma apertada na minha bunda
enquanto passava por mim. Quase deixo cair as coisas que estavam nas
minhas mãos.
- Humpf! – meu pai bufou. Seus olhos já começavam a lagrimar por
causa das cebolas.
Passamos o resto da tarde na cozinha. Macayla tagarelando e meu pai
resmungando. Yuri e eu apenas ríamos deles. Aqueles dois se completavam e
se combinavam de uma tal maneira...

Chegamos na casa de Josh no início da noite. O delegado carregava


uma travessa com salada e Yuri carregava uma de lasanha. Eu trazia uma
garrafa de vinho e outra de refrigerante. Realmente, não seria apenas uma
coisinha, como Macayla havia dito.
Serena veio nos recepcionar e pediu para deixarem as comidas e
bebidas em cima da mesa da sala de estar, junto com as outras. Já havia
outras comidas lá, junto com um bolo. A alcateia de Belmonte não perdia
tempo no quesito comida e festa.
Os pais de Maya já tinham chegado, assim como Joyce e Lana. Josh
não ia demorar muito a trazer Maya do hospital.
- Daniel, Levi e Blake vão se atrasar um pouco. Pietro, Ismene e Talita
vão vir junto com eles. – Serena comentou.
- Eles devem ter parado em algum lugar para o Levi poder comprar
uma garrafa de uísque. – meu pai falou enquanto pegava alguns salgadinhos e
Macayla deu uma cotovelada nele.
Yuri e eu reprimimos uma risada.
A porta da frente se abriu e Josh e Maya entraram. Josh estava todo
cuidadoso com a esposa. Eu tinha a impressão de que ele queria tomá-la nos
braços e levá-la para descansar o mais rápido possível. Porém, Maya
caminhava tranquila, no seu ritmo, ignorando um pouco o marido
superprotetor.
Fomos cumprimentá-los e eles ficaram muito felizes com a pequena
festinha que tínhamos montado para receber os novos papais da alcateia.
Não demorou muito para Daniel e seu companheiro chegarem, trazendo
mais comidas e bebidas, inclusive a garrafa de uísque de Levi. Ismene, Pietro
e Talita também vieram, mas parecia que havia um clima estranho entre eles.
Começamos a comer e conversar na sala. Todos queriam saber mais
sobre o lobinho, ou melhor, Jake. Quando estávamos reunidos com outras
pessoas que não sabiam sobre a alcateia, não mencionávamos essas coisas.
Portanto, Jake era Jake, o bebê. Entre a alcateia, ele era apelidado
carinhosamente de lobinho.
- Ele é simplesmente lindo! O bebê mais bonito daquele berçário! –
Serena exclamou sorridente.
- Quando nós vamos poder vê-lo ao vivo? – Blake perguntou.
- Daqui a umas duas semanas, mais ou menos. Vai depender do ganho
de peso dele. – Maya respondeu enquanto beliscava a comida em seu prato.
- Se ele tiver puxado ao Josh, acho que vai ter alta rapidamente. – Yuri
comentou, alfinetando o primo.
Josh riu e disse:
- Espero que tenha mesmo puxado a mim nesse quesito, porque de
resto... vocês vão ver que o menino é a minha cara!
- Falou o pai coruja... – o delegado disse sorridente.
- Tomara que ele não dê trabalho como você deu. – eu comentei
enquanto bebericava meu vinho.
- Eu também espero isso, Lua. – Serena concordou comigo.
- Eu também. – Maya se apressou a concordar.
- Ei, eu não dei trabalho nenhum! Do que vocês estão falando?! – Josh
reclamou, fazendo todos nós rirmos.
- Você tem uma fama, primo. – Yuri disse a ele.
- Rá, rá! – Josh falou meio chateado, fazendo todos rirem de novo.
A conversa continuou animada e eu percebi que Pietro e a namorada
não estavam por perto. Ismene conversava com os pais de Maya, afastada.
Todos os outros, estavam na roda maior de conversa, onde eu estava. Onde
aqueles dois se meteram?
Nesse momento, Joyce se levantou e chamou a atenção de todos. Lana
que estava ao seu lado, ficou surpresa com o gesto.
- Eu gostaria de... dizer algumas coisas. – ela falou meio encabulada.
Ai caramba! Era agora. A minha curiosidade sobre Pietro e Talita ia ter
que esperar.
- Pode falar, doutora. – Josh falou sorridente, talvez para dar coragem a
ela.
Joyce assentiu.
- A maioria das pessoas que está aqui me conhece a bastante tempo.
Somos uma família, de certa forma.
- Sim, nós somos. – Levi falou já meio alegre e levantou o copo de
uísque, como se fosse brindar com alguém. Ainda bem que dessa vez Daniel
estava ao lado dele para contê-lo.
- Então eu acho que já é hora de contar algo a vocês que eu escondo há
muito tempo. Espero que, como família, vocês possam me apoiar daqui para
frente.
Yuri me cutucou para cochichar:
- Ela vai contar?
- Acho que sim. – cochichei de volta. Eu tinha contado a ele sobre
Joyce e o fiz jurar nunca contar para ninguém.
Por mais que eu tivesse prometido segredo a Joyce, eu não conseguia
esconder as coisas do meu companheiro. Era mais forte do que eu, era como
se fosse um compromisso entre os companheiros.
- Eu e Lana estamos... juntas. Eu sou lésbica. – Joyce finalmente
contou.
- Eu já sabia! – Blake exclamou e deu um pulo da cadeira para abraçar
a amiga.
- Eu também. – Josh revelou e tomou uma cotovelada de Maya, que
deve ter sido quem revelou o segredo a ele.
Só que vários “eu também” começaram a ecoar entre os presentes.
Talvez todos já soubessem, até mesmo os pais de Maya. Ismene não me
pareceu surpresa também. Na verdade, ninguém parecia muito surpreso.
Acho que a única que não sabia era Talita, por ter conhecido Joyce há pouco
tempo.
Pensar em Talita me fez lembrar dela e Pietro. Onde eles estavam?
- Peraí! Todo mundo já sabia? – Joyce perguntou e teve várias
respostas.
- Acho que só nós duas não sabíamos que todo mundo já sabia. – Lana
falou ao lado da namorada.
Aproveitei a confusão e saí da sala discretamente. Até Yuri estava no
meio do debate sobre o “sabia ou não” de Joyce.
Rezando para não flagrar nenhuma cena constrangedora, fui para os
fundos da casa, no enorme quintal onde foi realizado o casamento de Josh.
Nem precisei ir muito longe. Encontrei os dois na varanda conversando, ou
melhor, discutindo.
Eles não viram a minha aproximação e continuaram falando:
- Eu sei que tem alguma coisa que você não quer me contar! Eu não sou
idiota, Pietro! – Talita exclamou irritada.
- Não tem nada de mais, Talita. Você está imaginando coisas! – Pietro
se defendeu.
- É muito estranha essa ligação de vocês. Com o seu irmão e a família
dele tudo bem, mas e os outros? Por que quase todo dia você vem na casa do
prefeito? E aquele passeio para me mostrar a casa que a esposa dele fez?
- Somos amigos, Talita!
- E os seus amigos da escola? Por que não me apresentou nem um?
Parece que você segue ordens...
- Não é nada disso! – Pietro a interrompeu nervoso. Pela cara dele
estava óbvio que ele não sabia mentir muito bem.
- Então me fala o que é! – Talita insistiu.
Pietro deu um longo suspiro e disse:
- Tudo bem, mas você tem que me prometer que não vai contar para
ninguém!
- Eu prometo. – Talita se apressou em dizer.
O quê?!
Pietro estava louco?! Ele não podia fazer isso! Talita era apenas a
namorada dele, nem companheira ela era! Ele não podia revelar nosso
segredo assim, para ela.
- Pietro! – exclamei e me aproximei dos dois. Pietro ficou branco como
um papel e Talita sorriu para mim.
- Lua? – Pietro falou incrédulo. Sua voz falhou.
- Oi, Lua. – Talita me cumprimentou normalmente.
- Oi, Talita. – eu retribuí o sorriso. – Pietro, a sua mãe está te
chamando. – falei a primeira coisa que me veio à cabeça.
- Eu... vou lá com ela. – ele falou envergonhado.
- Vai lá. Vou pegar sobremesa com a Talita. – passei meu braço pelo
dela e seguimos de volta à sala. Podia sentir os olhos de Pietro nas minhas
costas.
Ele sabia que eu tinha escutado a conversa. Ele sabia que não podia
revelar nosso segredo. Ele sabia que isso tinha uma punição. Uma punição
quase tão ruim quanto a de Brian, por ter repudiado e fugido da alcateia.
Depois que voltamos para a sala e pegamos sobremesa, fomos nos
sentar perto de Joyce e Lana. Elas estavam animadas e Joyce parecia ter se
livrado de um peso nas costas. Puxei um papo com ela e incluí Talita no
meio. Felizmente, Talita cursava enfermagem, por isso a conversa entre as
duas logo se desenrolou, com a temática médica.
Me levantei dizendo que ia ao banheiro e encontrei Pietro no corredor.
Ele já me esperava lá.
- Vai contar para o Josh? – ele me perguntou ansioso.
- Para o Josh não, mas pro Yuri sim. – eu não podia esconder uma coisa
assim dele, mas também não deixaria que ele punisse Pietro.
- Lua...
- Você não pode sair contando essas coisas assim, Pietro. Isso diz
respeito a todos nós. À sua alcateia!
- Eu sei, Lua, mas é que eu a amo. Gosto muito da Talita, quero me
casar com ela, ter filhos e... – ele ia falando com um olhar sonhador e um
sorriso bobo no rosto.
Ah, o primeiro amor... Desde sempre nos fazendo tomar decisões
idiotas de que nos arrependeríamos mais para frente.
- Então espera o casamento para contar, caramba! Me desculpa dizer
isso, mas quem garante que vocês dois vão ficar juntos futuramente? – cruzei
os braços no peito e o encarei.
Pietro caiu em si. Finalmente. Passou a mão pelos cabelos,
bagunçando-os e disse:
- Você tá certa, Lua. Que merda eu ia fazer!
- Tudo bem, tudo bem. Você não fez nada, graças a deusa. – suspirei.
Que ironia eu usar essa expressão. Eu também “era” a deusa. – É só não falar
nada sobre lobos e tá tudo certo.
- Lobos? – Talita perguntou surpresa, parada no corredor.
CAPÍTULO 25

Em que merda eu vim me meter.


Eu devia estar sentada ao lado de Yuri, conversando com os outros.
Mas não. Eu vim me meter na conversa dos outros e acabei fodendo
tudo.
Fechei os olhos e quis me matar na mesma hora. Merda, merda, merda!
- Sim, lobos, Talita. Belmonte é cheia deles. Eles são inofensivos, mas
podem se tornar perigosos se se sentirem ameaçados. Por isso formamos esse
grupo de proteção. O prefeito, o delegado e mais algumas pessoas da cidade
se uniram para proteger esses animais que são tão importantes para história
da cidade. Era isso que eu ia te contar, antes da Lua aparecer. – Pietro falou
seguro, sem que a voz tremesse.
Encarei Pietro incrédula. Seu rosto estava normal, sério. Eu tinha me
enganado. Pietro sabia mentir sim. Só não gostava de ser pressionado.
- Ah, isso é muito legal, mas precisa desse segredo todo? – Talita
perguntou se aproximando.
- Sim. Os lobos não são muito queridos por parte da população e isso
poderia arruinar a carreira do Josh na política. Isso sem falar dos outros.
Ninguém quer arriscar seus negócios por causa da proteção dos lobos.
Fazemos tudo em sigilo. – ele deu de ombros.
De onde ele tinha tirado tudo aquilo?
- Faz sentido. – Talita disse e beijou Pietro. – Obrigada por me contar
tudo.
- De nada.
Eu ainda estava com cara de pateta observando Pietro. Aquele garoto
era esperto.
- Vamos voltar para a sala. Vou servir um pouco de vinho para vocês. –
eu disse, saindo do torpor.
- Vamos! – Pietro exclamou animado e puxou Talita consigo.
Eu estava sentindo um alívio enorme. Pietro me salvou de uma “saia
justa”.
Brindamos com vinho em nossas taças, recebendo algumas olhadas de
Ismene, que não devia estar acostumada a ver o filho bebendo.
Pietro deu uma piscadela para mim. Sim, ele tinha me salvado. Se não
fosse por ele, eu teria me complicado toda para tentar contar uma mentira.

Voltamos tarde para casa. A coisinha que Serena e Macayla tinham


planejado acabou durando mais do que o previsto.
Depois de quase ter revelado o nosso segredo para Talita, voltei a ficar
perto de Yuri. Ele passou o braço pela minha cintura e me puxou para si, sem
interromper a conversa com Josh. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde ia
acabar contando tudo o que aconteceu para ele.
Cansada, me joguei em nossa cama e coloquei o braço em cima dos
meus olhos.
- O que foi que aconteceu entre você, o Pietro e a Talita? – ele me
perguntou assim que fechou a porta do quarto.
Suspirei.
- Quase revelei o nosso segredo a ela.
- O quê?!
- Quase fodi tudo.
- Será que você pode ser mais específica e me contar tudo do começo?
– ele veio se sentar ao meu lado na cama.
- Eu fui atrás de Pietro e Talita, pois notei que os dois tinham sumido
da sala. – falei sem tirar o braço de cima dos meus olhos.
- Foi uma péssima decisão. Eles poderiam estar...
- Eu sei! – me apressei em dizer. – Mas acabei flagrando uma conversa
dos dois e Pietro estava quase revelando tudo sobre os lobos para ela.
- Que merda. O que você fez?
- Consegui impedi-lo e trouxe os dois de volta para a sala. Quando eu
pensei que estava tudo certo, fui conversar com Pietro no corredor. Só que a
Talita escutou o final da conversa.
- E aí?
- O Pietro conseguiu inventar uma desculpa e salvou a minha pele. Ele
é esperto.
- Aquele garoto mudou, Lua. Já não é mais o menino inocente que nós
conhecemos meses atrás.
- É verdade.
Ficamos um pouco em silêncio, até que Yuri começou a rir. Tirei o
braço que tapava os meus olhos e o encarei.
- Do que você tá rindo? – perguntei confusa.
- De você. Foi tentar resolver uma merda e acabou fazendo uma merda.
- Muito profissional de sua parte, alfa supremo. – revirei os olhos.
Yuri se deitou ao meu lado e me abraçou.
- Você pensou que eu ia fazer o quê? Punir você e o Pietro? Vocês
quase fizeram uma grande besteira, mas no final conseguiram se safar. Não
tenho com o que me preocupar. Só me resta rir.
Eu ri um pouco e o abracei.
- Você tá certo.
Yuri beijou a minha testa e disse:
- Só não sabia que você era uma voyeur. Quem diria que a reencarnação
da deusa Luna seria uma pervertida!
Bati no peito de Yuri e me desvencilhei dele, me levantando da cama.
Ele caiu na gargalhada, novamente.
- Você é um idiota, Yuri Santino. – falei e entrei no banheiro. Esse Yuri
ia me pagar...
CAPÍTULO 26

Uma semana havia se passado e nada.


Nem sinal da alcateia de Romália, muito menos de Brian e Mirela. Eu
tinha quase certeza de que o casal de lobos fugitivos não ia mais voltar.
Mirela tinha praticamente enviado a alcateia de Romália até aqui e
causado toda essa confusão. Eu ainda queria entender o que eles tinham ido
fazer em Romália, que ocasionou no encontro com uma alcateia que em
hipótese nem existia.
Decidimos suspender as rondas pela cidade, pois sabíamos que agora
aqueles lobos viriam diretamente até Lua, como o alfa havia prometido.
Então, a alcateia de Belmonte começou a se revezar para ficar perto de Lua.
Obviamente, ela não gostou nada disso, mas foi a nossa única solução. Se os
lobos viessem de novo, estaríamos preparados.
Era da manhã, Neandro tinha saído para o trabalho, deixando Lua e eu
em casa. Eu estava na cozinha, resolvendo alguns problemas da empresa no
meu laptop enquanto Lua ainda dormia. Ela estava dorminhoca ultimamente.
Talvez estivesse mesmo precisando de férias. Do lado de fora, Macayla e
Joyce patrulhavam as proximidades da casa. Não seríamos pegos de surpresa.
Meu celular tocou e era Josh.
- Oi, Josh! – atendi e aproveitei para descansar um pouco do trabalho.
- Oi, primo. Só liguei para avisar que Maya e eu estamos saindo para
buscar o Jake no hospital. – Josh falou animado.
Aquele lobinho era mesmo filho de Josh. Ele rapidamente ganhou peso
e já estava apto para deixar o hospital em pouco tempo.
- Legal! De tarde nós vamos aí na sua casa visitar o meu afilhado. Vou
levar alguns presentes para ele.
- Vamos aguardar vocês! E eu espero que sejam ótimos presentes,
senhor CEO da Santinos!
Com ajuda de Lua, eu havia montado uma cesta enorme com vários
itens de bebê que encontrei na loja da Santinos. Jake teria muitos mimos por
muito tempo.
- Ele vai ser o bebê mais mimado e mais bem equipado desse país,
talvez até do mundo. – eu falei sorridente.
Nesse momento, Lua apareceu na cozinha. Vestia um de seus moletons
e calça jeans. Deu um sorriso chateado para mim e foi atrás de café. Ops!
Problemas à vista.
- É o mínimo que eu espero! – Josh riu e escutei a voz de Maya ao
fundo. – Preciso ir, Yuri. A gente se fala depois!
- Tchau, até mais tarde! – desliguei a chamada e foquei em Lua. Parecia
irritada com alguma coisa.
- Bom dia, amor. Josh acabou de informar que ele e Maya foram buscar
nosso afilhado no hospital. Marquei uma visita a eles mais tarde.
- Legal. Vamos finalmente poder pegar o nosso afilhado no colo. – ela
disse e deu um sorrisinho, enquanto se sentava a mesa com uma caneca de
café na mão.
- Algum problema? – fui logo direto ao ponto.
- Eu to cansada disso, Yuri.
- De quê? – perguntei já imaginando do que se tratava.
- De ficar praticamente presa aqui em casa, esperando aquela alcateia
idiota! Isso sem falar nessa vigilância constante que você e o Josh impuseram
aqui! Tenho até vergonha quando a gente vai transar! E se alguém da alcateia
estiver escutando? Como eu vou olhar na cara deles depois?
Mantive a expressão séria, mesmo que por dentro quisesse rir.
- Você vai olhar do mesmo jeito que sempre olhou. A diferença é que
agora, toda a alcateia de Belmonte sabe que você tem um marido bastante
viril, que o alfa supremo sabe fazer a sua companheira gozar.
- Yuri!
Eu ri um pouco.
- Lua, é necessário tudo isso. Estamos esperando a alcateia de Romália,
lembra?
- Não podemos ficar aqui em Belmonte para sempre, Yuri. Temos a
nossa vida “normal” em Olímpia, lembra? – ela usou o mesmo tom que eu.
Suspirei.
- O que você sugere então?
Seu olhar saiu de mim e pousou na caneca que estava em suas mãos,
em cima da mesa.
- Vamos para a floresta. Tenho certeza de que quando eu puser meus
pés lá, eles vão aparecer.
- Isso é perigoso. Me lembra o plano da Macayla, de fazer uma
emboscada...
- Sim, só que quando eles aparecerem, eu entro em ação com meu
plano.
Dei um longo suspiro e cocei a cabeça em dúvida.
Eu também queria acabar logo com aquele assunto. Não podia ficar por
muito tempo em Belmonte. Tinha o meu trabalho e compromissos em
Olímpia. Lua também não poderia ficar lá por muito tempo. Tinha a
faculdade, amigos, planos para o futuro... Nós tínhamos a nossa vida
“normal” em Olímpia e Lua queria voltar para essa vida o mais rápido
possível, por mais que quando esse assunto com a alcateia de Romália
acabasse, ainda teríamos outro para resolver: A nossa viagem até às outras
alcateias para anunciar Lua como descendente e reencarnação da deusa Luna.
A nossa ida à Romália também ainda estava de pé. Precisávamos saber
mais sobre a família da mãe de Lua.
- Vou falar com Josh hoje e aí nós resolvemos isso.
Ela finalmente sorriu do jeito que eu gostava e veio se sentar no meu
colo.
- Obrigada. – ela me agradeceu e me beijou, circulando meu pescoço
com os braços.
- De nada. Vamos acabar com isso logo, eu prometo. – eu disse a
abracei, aninhando-a no meu peito.

Eu estava sorrindo feito um bobo, enquanto observava Lua carregar


Jake no colo. O bebê dormia tranquilo nos braços da minha companheira, que
o observava sorrindo também, com os olhos brilhando.
Estávamos na casa de Josh, visitando nosso afilhado e sobrinho. Eu
tinha custado a admitir, mas o lobinho era a cara de Josh mesmo. O sorriso
enorme na cara do meu primo era satisfatório e orgulhoso.
- Ele gostou de você, Lua. – Maya disse com os olhos voltados para o
filho, enquanto ajeitava a manta do bebê.
- Ele deve gostar de todo mundo, só para ganhar colo. – ela respondeu
sorridente.
- Ele chora quando Josh o pega no colo. – Maya revelou.
- Eu ainda não peguei o jeito. – Josh rebateu e se sentou ao meu lado no
sofá.
- Você não tem vergonha de assustar o seu próprio filho? – perguntei a
ele para irritá-lo.
- Vai se foder, Yuri.
Me segurei para não cair na gargalhada e assustar Jake.
- Sshhii, vocês dois! – Maya nos repreendeu.
Josh se levantou e começou a analisar a cesta recheada que Lua e eu
trouxemos para Jake.
- Está satisfatório, por enquanto. – ele disse com desdém.
- Josh! – Maya chamou sua atenção. – Obrigada pelo presente. Nós
adoramos e eu tenho certeza que o Jake também. – ela agradeceu, dirigindo
olhares para Lua e eu.
- De nada.
- É o mínimo que podemos fazer pelo Jake. – Lua disse sem tirar os
olhos do bebê. Será que ela já se imaginava mãe?
Isso fez eu me lembrar do outro assunto que eu tinha para falar com
Josh.
- Podemos conversar um pouco? – perguntei sério ao meu primo, que
ainda examinava a cesta de mimos de Jake.
- Claro. Vamos ao meu escritório. – ele disse também sério e seguimos
para o corredor, deixando nossas companheiras com o lobinho na sala.
Entramos no escritório e Josh me ofereceu um uísque. Aceitei e me
sentei na sua frente, na escrivaninha.
- E então? – Josh me perguntou enquanto bebericava seu uísque.
- Lua quer ir até à floresta, montar uma emboscada para a alcateia de
Romália.
- Por que a pressa?
- Não podemos ficar para sempre aqui em Belmonte, Josh. Precisamos
voltar para Olímpia e Lua quer acelerar um pouco as coisas.
Josh assentiu.
- Eu também estava começando a achar que esse plano de vigiar a Lua
não ia dar certo. Íamos ter que partir para a ação mais cedo ou mais tarde. –
ele revelou.
- O quanto antes melhor. Lua e eu temos aquele outro assunto para
resolver também. – eu disse e bebi um gole generoso da bebida marrom.
- Sim. Vocês ainda precisam fazer a turnê pelas outras alcateias...
- Exato.
- Acho que na sexta-feira é um ótimo dia. Vai dar tempo de sobra para
planejar a armadilha direitinho e todos vão estar livres de seus compromissos.
– Josh falou pensativo.
- Ótimo.
- Que bom que vocês decidiram antecipar as coisas. Não aguentava
mais patrulhar a casa do Neandro e escutar os gemidos da Lua quando o
delegado saía para o trabalho.
Eu ri.
- Vai se foder, Josh.
Continuamos bebendo e conversando sobre outros assuntos. Aquele
problema estava resolvido. Pelo menos era isso que eu achava.
CAPÍTULO 27

Arranhei as costas de Yuri enquanto ele me torturava com seu ritmo


lento e provocante. Inclinei a cabeça para trás e fechei os olhos com força,
reprimindo um gemido. Yuri aproveitou a chance para chupar meu pescoço
com força, o que provavelmente deixaria uma marca no local. Tive que me
segurar mais ainda para não gemer diante do prazer que aquilo me
proporcionou.
Sem aviso, Yuri me puxou consigo. Sem interromper nossa conexão,
ele se sentou na cama, me puxando para o seu colo. Aproveitei para
intensificar o nosso ritmo.
- Yuri... – gemi seu nome enquanto segurava seus ombros fortes e
arqueava as costas.
- Você me deixa louco, amor. – Yuri falou ofegante e abocanhou um
dos meus seios, chupando com força.
Ele apertou firme a minha cintura enquanto eu continuava subindo e
descendo vigorosamente, gemendo sem controle. Cheguei ao êxtase e abracei
meu companheiro. Ele continuou me movimentando no mesmo ritmo até
atingir o orgasmo também.
Ficamos abraçados em cima da cama por um bom tempo, recuperando
o fôlego e as forças.
Yuri se afastou um pouco para me olhar nos olhos. Uma de suas mãos
se encaixou no meu rosto, enquanto seu outro braço rodeava a minha cintura,
me mantendo firme em seu colo. Abri um sorriso apaixonado para o meu
companheiro.
- Eu te amo tanto, Lua. Nem consigo dizer ao certo o quanto.
- Eu te amo, Yuri. Mais do que qualquer outra coisa no mundo. Mais do
que qualquer outra coisa que exista no universo. – confessei, mesmo que ele
já soubesse disso por causa das tantas vezes que eu falei.
Yuri encostou a testa na minha e fechou os olhos.
- Vai fica tudo bem, amor. Não se preocupe com amanhã.
- Eu sei. Nós vamos cuidar disso, afinal somos o casal mais foda, não é
mesmo?
Yuri riu e assentiu. Voltamos a nos abraçar. Yuri afundou o rosto no
meu pescoço e eu beijei o seu ombro, apoiando a minha cabeça nele em
seguida. Lágrimas escorreram silenciosamente pelo meu rosto.

O nosso plano era simples. Yuri e eu ficaríamos andando pela floresta


de Belmonte e enquanto isso, a minha alcateia ficaria camuflada e um pouco
afastada de nós, nos vigiando, à espera da alcateia de Romália. Os lobos
anciãos ficaram na cidade, por ordens de Josh e Yuri. Eles não queriam
deixar Belmonte desprotegida enquanto a alcateia inteira estava deslocada
para a floresta.
Yuri e eu caminhávamos há um bom tempo na forma humana por uma
trilha. Eu estava nervosa, mas tentava me controlar, para não preocupar Yuri.
Não sei se ele notou isso.
Hoje tudo seria decidido e eu tinha medo. Se o meu plano não desse
certo, a minha alcateia e Yuri entrariam em guerra contra a alcateia de
Romália e isso me nauseava. Eu não queria brigar, mas também não deixaria
meu companheiro brigar sozinho, muito menos a minha alcateia. Também
não deixaria aquele alfa idiota vir dar ordens a mim.
Quem aquela alcateia achava que era para exigir alguma coisa de mim?
Foi enquanto caminhávamos e meus pensamentos estavam distantes,
que senti a mão de Yuri apertar a minha. Paramos no lugar. Olhei para ele,
mas logo mudei de direção. Na nossa frente, a alguns metros, a alcateia de
Romália saía da mata.
Pela forma como eles apareceram, sem que notássemos, eles estavam
camuflados. Mas eles não esperavam que a alcateia de Belmonte também
estivesse escondida, não muito longe de nós. Yuri ensinou a todos os lobos
como fazer para se camuflarem, mascarando seu cheiro com uma mistura de
ervas usada como perfume. Agora nenhum de nós conseguia sentir o cheiro
familiar da minha alcateia, apenas sabíamos que éramos seguidos a uma
distância segura por eles.
Os cinco membros da alcateia de Romália continuavam da mesma
forma. O alfa vinha na frente e o garoto, seu filho, vinha de um lado e uma
das mulheres do outro, a uns dois passos atrás. O outro homem e a outra
mulher seguiam mais atrás ainda.
- Espero que nos escute agora, Eluana. – o alfa falou.
A vontade que eu tive foi de dar um soco na cara dele.
- Acho que está acontecendo uma inversão de papéis aqui. São vocês
que devem me escutar, não o contrário. – falei firme, sem soltar a mão de
Yuri.
- Você está certa, mas é o nosso dever alertá-la e fazê-la cumprir o seu
papel direito.
Suspirei, me controlando para não pular em cima daquele idiota.
- O que vocês têm para dizer à Lua? – Yuri perguntou.
O alfa tirou os olhos de mim e fitou Yuri, antes de voltar a me encarar.
Seu olhar era de total desdém para com Yuri e isso me deixou irritada.
Ninguém tratava assim o meu companheiro!
Ao meu lado, Yuri soltou um rosnado baixo.
- Nós a procuramos por muito tempo, Eluana. Ao que parece, você é a
última descendente viva da deusa Luna e é nosso papel protegê-la.
O quê?!
Eu era a última descendente viva? E a família da minha mãe? Será que
essas pessoas já tinham morrido e eu nem tive a chance de conhecê-los para
esclarecer as minhas dúvidas? Não! Nós tínhamos planos de ir atrás deles em
Romália!
- Vocês procuraram a família da minha mãe? – perguntei surpresa.
O alfa assentiu.
- Sim. Desde sempre. É o nosso dever, mas nunca encontramos
ninguém, até recebermos a dica da Mirela. Ela nos contou quem você era. Ela
e o outro lobo também procuravam a família da sua mãe, a sua família.
Fiquei boquiaberta.
Mirela estava procurando a minha família, a família da minha mãe. Por
quê?
- Onde Mirela e Brian estão agora? – Yuri perguntou impaciente.
- Eles continuaram as suas buscas, mesmo depois de termos contado
que não havia outros descendentes. – o alfa respondeu sem olhar para Yuri.
Não tínhamos notícias de Brian e Mirela desde a sua fuga, há quase
duas semanas. Será que eles ainda continuavam buscando a minha família?
- Agora que está tudo esclarecido, venha conosco Eluana. Vamos
cuidar e proteger você. – o alfa disse e estendeu a mão para mim.
Yuri apertou a minha mão e rosnou mais alto dessa vez. Era hora de
fazer o meu plano entrar em ação.
- Não. – eu disse tranquilamente. – Vocês devem obediência a mim,
então devem seguir as minhas ordens, sem objeções. Eu ordeno que vocês
obedeçam a Yuri e o reconheçam como o seu alfa supremo. Vocês não
devem mais se camuflar ou mascarar seu cheiro, a não ser quando receberem
ordens para isso. Vocês também devem ficar longe de Belmonte e não invadir
mais territórios alheios. Por fim, vocês devem me deixar em paz, devem
deixar eu seguir a minha vida sem mais interferências. Essas são as ordens da
sua deusa, da reencarnação da deusa Luna.
Senti os olhos de Yuri em mim, mas não tirei os meus da alcateia à
minha frente.
Os cinco lobos ali parados na nossa frente me encararam um pouco,
antes de seguirem o gesto do seu alfa, se ajoelhando e curvando a cabeça, em
sinal de obediência às minhas ordens.
CAPÍTULO 28

Eu tinha conseguido!
Nem conseguia acreditar naquilo. Os lobos da alcateia de Romália
tinham se curvado para mim, tinham acatado as minhas ordens!
Olhei para Yuri e ele sorria para mim. Conseguimos!
O alfa, que Yuri tinha me dito se chamar Átila, se levantou e falou:
- Nós obedeceremos às suas ordens, Eluana. A partir de hoje,
reconhecemos Yuri como nosso alfa supremo e obedeceremos às ordens dele
também, sem objeções.
Os outros lobos se levantaram, seguindo o alfa.
- Obrigada. – eu disse a eles.
- Não precisa agradecer, Eluana. É um prazer e um privilégio seguir as
suas ordens. Deixe que eu apresente a minha alcateia a vocês. – Átila se virou
para os seus lobos e foi falando: - Esse é o meu filho, Alexander. Ele é um
lobo novato. A minha beta é Tauane. – ele apontou para a loba mais à frente.
– E o casal são Ramom e Erin. Eles são companheiros.
- É um prazer conhecer todos vocês. – disse a eles.
- Igualmente. – Tauane respondeu por eles.
- Que bom que conseguimos resolver tudo amigavelmente por aqui. –
Yuri falou ao alfa.
- Sim, que bom que tudo está resolvido. Para selar a paz de vez entre a
nossa alcateia e Eluana e o alfa supremo, gostaríamos de oferecer um
presente. – Átila disse e colocou a mão no bolso da calça, tirando em seguida
um colar, que ele me ofereceu.
Me aproximei cautelosamente dele, com Yuri ao meu lado, sem soltar a
minha mão. Átila pôs o colar na minha outra mão e soltei a mão de Yuri para
analisar melhor o presente.
O colar tinha uma pedra branca leitosa, do tamanho de uma moeda, mas
em formato oval, e parecia brilhar. Era muito bonito.
- É uma pedra da lua. É um amuleto poderoso. Diz a lenda que a deusa
Luna utilizava um igual a esse, talvez até esse mesmo. Nada mais justo do
que agora você o utilize também. – Átila explicou enquanto eu analisava o
colar.
Sorri para ele e agradeci:
- Obrigada pelo presente. É lindo.
- De nada. Ele sempre lhe pertenceu e sempre lhe pertencerá. – Átila
disse.
Peguei o colar e resolvi colocá-lo no pescoço. Assim encerraríamos
tudo aquilo de uma vez por todas.
O cordão era grande, então não tive problemas em passá-lo pela minha
cabeça. A pedra da lua ficou alojada entre os meus seios.
Sorrindo, encarei Yuri. Ele sorria para mim, mas logo seu sorriso
murchou.
- Lua? Seus olhos... – ele falou com o cenho franzido.
- O que tem os meus olhos? – perguntei com o cenho igualmente
franzido.
- Seus olhos estão brancos. – Yuri sussurrou sem tirar os olhos de mim,
impressionado.
- O quê?! – exclamei com um misto de incredulidade e susto.
Olhei para Átila em dúvida, mas ele tinha um sorriso repulsivo no
rosto. Os outros lobos de sua alcateia me observavam assustados.
- O que você... – eu ia perguntar o que ele tinha feito, mas Yuri me
interrompeu:
- Tire o colar, Lua!
Levantei as mãos para fazer o que ele disse, mas apaguei logo em
seguida.
CAPÍTULO 29

Eu sentia que Lua estava estranha, mas não falei nada. Eu sabia que ela
estava ansiosa para acabar logo com aquilo de forma amigável e achei que
isso era o motivo do silêncio dela.
Ela não notou quando a alcateia de Romália saiu da mata a alguns
metros que onde estávamos. Estaquei no lugar e percebi que ela me olhou
confusa, mas logo seu olhar foi capturado pelos lobos na nossa frente.
Átila era muito estúpido se achava que poderia mandar em Lua. Minha
companheira era uma rebelde e sempre achava um meio de se opor àquilo
que a incomodava. Talvez aquela característica dela se devesse ao fato de a
deusa Luna ter um pedacinho seu dentro da minha companheira. A deusa
Luna era uma guerreira, afinal de contas.
Como eu já imaginava, Lua rebateu o alfa, que desdenhou de mim com
o seu olhar. Rosnei para ele em advertência e senti que minha companheira
também não gostou da sua atitude. Era o instinto de proteção falando por
Lua.
Mas o alfa acabou revelando algumas coisas interessantes. Será que
Lua era mesmo a última descendente viva da deusa Luna? Será que a família
da mãe de Lua estava morta? Ou estava apenas... mascarada? Apenas a nossa
ida até Romália ia esclarecer esse mistério.
Átila também revelou que Mirela e Brian foram os responsáveis por
contar a eles sobre Lua ser a reencarnação da deusa e isso os motivou a nos
procurarem. Isso era óbvio, mas ainda assim, a minha irritação por aqueles
dois só aumentou. Quando eu pusesse as minhas garras neles... Mas Átila
disse que eles continuavam à procura da família de Lua. Por quê?
Eu não sabia o que eles queriam com isso, mas de mim não
conseguiriam nada.
Quando o alfa exigiu novamente que Lua fosse com eles, rosnei alto.
Eu estava pronto para entrar em uma briga para defender a minha
companheira. Assim que eu desse o primeiro passo, a alcateia de Belmonte se
revelaria e me acompanharia na luta. Aquela alcateia parada na minha frente
seria esmagada por nós.
Mas Lua colocou o seu plano em prática rapidamente. Com firmeza e
altivez, ela ordenou tudo o que tinha em mente àquela alcateia. Eles a
escutaram em silêncio e atentos a cada palavra. Senti um grande orgulho da
minha esposa e companheira.
Para a minha surpresa, assim que ela terminou de falar, o alfa se
ajoelhou, sendo seguidos pelos outros. Aquilo era um sinal de submissão e
respeito. Eles tinham a escutado e a obedeceriam. Senti um alívio no meu
peito, mas foi por pouco tempo.
Eu não sabia dizer o que era, mas algo me dizia que aquilo estava
errado. Algo me dizia para não confiar em Átila. Estava muito fácil.
Tentei ignorar o sentimento, ainda mais quando ele presenteou Lua
com uma pedra da lua, um amuleto poderoso e muito bonito que havia
pertencido à deusa.
Talvez por educação e para encerrar aquele assunto logo, Lua colocou o
amuleto no pescoço. Ela olhou para mim sorridente, linda como sempre.
Retribuí o sorriso, porém não por muito tempo. Os olhos de minha
companheira, de um verde tão lindo e único, começaram a mudar, ficando
brancos. Até a pupila também embranqueceu.
- Lua? Seus olhos... – falei confuso.
- O que tem os meus olhos? – ela perguntou igualmente confusa.
- Seus olhos estão brancos. – sussurrei perplexo e sem conseguir
desviar o olhar.
- O quê?! – Lua exclamou assustada.
Ela olhou para Átila em dúvida, mas ele sorria de modo cruel e
desagradável para minha companheira. Aquele filho da puta tinha feito
alguma coisa com Lua!
Eu devia saber! Estava tudo muito fácil. Eu ignorei a minha intuição e
agora Lua estava sofrendo as consequências.
Olhei para o colar, a pedra da lua posicionada entre os seios de Lua. Ela
emitia um brilho tênue. Só podia ser aquilo!
- O que você... – Lua começou a falar, mas eu a interrompi, quase
gritando:
- Tire o colar, Lua!
Ela imediatamente levantou os braços em direção ao colar, mas
congelou antes que suas mãos tocassem o pescoço. Sua expressão mudou e
ficou vazia, sem vida. Ela olhava para o nada com aqueles estranhos olhos
brancos.
Lua baixou os braços e uma névoa começou a encobri-la, subindo pelo
seu corpo. Me afastei alguns passos e a alcateia de Romália também. Com
exceção de Átila, eles olhavam para Lua bastante assustados.
Senti alguém chegando por trás de mim e quando me virei, Josh e a sua
alcateia se aproximavam de nós. Eles também olhavam para Lua bastante
surpresos.
- Merda. – escutei um dos lobos da alcateia de Átila dizer.
- Lua... – sussurrei enquanto minha companheira era tomada pela névoa
densa, que a cobriu da cabeça aos pés.
- O que está acontecendo, Yuri? – Josh perguntou sem se aproximar
muito e sem desviar os olhos de onde Lua estava dominada pela névoa. Os
outros lobos da alcateia de Belmonte ainda estavam na forma lupina.
- Eu não sei, Josh. A Lua... – as palavras sumiram da minha boca. Eu
não sabia o que estava acontecendo com ela.
Como se fosse a sua deixa, a névoa ao redor de Lua começou a baixar,
revelando a minha companheira, porém, ao invés da camiseta e calça jeans
que ela usava, agora Lua vestia um vestido muito sexy, amarelo claro, que
ressaltava todo o seu lindo corpo. Seus cabelos estavam esvoaçantes e ela
estava descalça. Ela ainda tinha a expressão sem vida no rosto.
Quando a névoa finalmente sumiu, Lua olhou de mim para Átila. Ela
perguntou ao alfa:
- Quem é você e o que quer comigo?
Sua voz ainda era sua, mas estava diferente, mais rígida, inflexível.
Parecia outra pessoa.
Átila voltou a se ajoelhar e baixar a cabeça.
- Sou o alfa da sua alcateia, senhora. – ele respondeu sem levantar a
cabeça.
- De qual alcateia? Eu tenho várias. – ela replicou impaciente.
- Da alcateia de Romália, senhora.
- Ah... Romália. Essa alcateia sempre me deu problemas e muito
trabalho. Foi por isso que mandei vocês se esconderem e sumirem. São
fanáticos demais. Não os queria perto de mim.
Átila a encarou surpreso.
Encarei aquela mulher parada ali perto de mim. Aquela não era a minha
Lua, a minha companheira e esposa. Aquela era a deusa Luna. A deusa dos
lobos e das florestas. A deusa da lua e da noite. A deusa guerreira.
E ela estava ocupando o corpo da minha Lua! Aquele colar devia ser o
responsável por isso!
Lua estava “possuída” pela deusa Luna!
- Não, senhora! Somos os seus protetores, seus guardiões. A garota que
é a sua descendente e reencarnação estava muito arredia, por isso tomei
medidas extremas. Entreguei a ela o seu amuleto, invocando-a para assumir
as rédeas de agora em diante.
- Você fez o quê?! – perguntei muito puto.
Eu ia matar aquele lobo idiota. Ele mexeu com a loba errada.
A deusa Luna apenas me deu uma breve olhada e voltou a encarar
Átila, como se pedisse a mesma explicação que a minha. Não me passou
despercebido o olhar indiferente da deusa para mim. Minha Lua...
- O amuleto é capaz de invocar a deusa Luna quando uma descendente
dela o coloca no pescoço. A parte da deusa que habita nela é despertada e
assume o corpo. – se dirigindo à deusa, Átila falou exultante: - Agora a
senhora vai poder assumir seu lugar. Vai colocar ordem nos lobos. Não
seremos mais comandados por um alfa supremo. Será como sempre deveria
ter sido: A deusa Luna no comando!
Átila não era muito normal. Ele tinha despertado uma deusa por mero
capricho!
- Como você ousa me despertar do meu sono profundo, alfa? Como
ousa incomodar a mim e a minha descendente? Ainda mais você, da alcateia
que eu menos gosto!
Caramba...
- Deusa Luna... – um pálido Átila tentou balbuciar, mas foi cortado:
- Cale-se! Eu não terminei de falar! Eu sou uma deusa, sou poderosa!
Não tenho protetores e muito menos guardiões! Não preciso disso! Eu sei me
cuidar muito bem e estava fazendo isso, até você me despertar! – ela
exclamou exaltada.
Por precaução, dei mais um passo para trás. A deusa Luna era mais
forte, mais poderosa, mais tudo do que eu. Eu que não seria otário de ficar em
seu caminho.
- Mas...
- Silêncio! Eu odeio que me contrariem e tomem decisões por mim! EU
SOU UMA DEUSA! Você tem ideia do que fez? Este receptáculo, minha
descendente, não merecia passar por isso! Ela carrega uma criança em seu
ventre, outra descendente minha!
Encarei Lua/deusa Luna boquiaberto. Ela estava grávida? Minha Lua
carregava um filho meu? Ou melhor, uma filha?! Senti as pernas bambas,
mas me forcei a ficar firme, de pé.
Lua não me contou nada. Será que ela já sabia?
- Deusa...
- Isso é uma ofensa gravíssima não só contra mim, mas contra os outros
deuses também! Quem você acha que é? Você irritou a deusa errada, alfa!
Vai ter o que merece!
Átila se levantou rapidamente. Estava bastante assustado.
Ele nem teve tempo de falar alguma coisa. A deusa Luna/Lua estalou
os dedos e Átila explodiu no ar, em uma nuvem de sangue, no lugar onde
estava.
CAPÍTULO 30

Implacável, impaciente e arrogante.


Acho que esses eram os melhores adjetivos para definir a deusa Luna.
A deusa guerreira não brincava em serviço e deixou bem claro que
nenhum lobo mandaria nela.
A verdade era que nenhum lobo conhecia a personalidade da deusa
Luna. Tudo o que conhecíamos eram as lendas e as poucas imagens e
representações dela. A aparência “angelical” dela (cabelo loiro e olhos claros)
enganava bastante.
Encarei chocado e paralisado a nuvem de sangue a poucos metros de
mim. Em um momento Átila estava parado ali e de repente, ele evaporou, se
transformando em uma nuvem de sangue, que aos poucos salpicava o chão da
floresta. Não sobrou um pedaço dele.
Se eu estivesse mais perto do alfa, o sangue dele teria me atingido igual
como atingiu Alexander e Tauane. Suas roupas foram respingadas pelo
sangue que espirrou. Seus rostos também tinham alguns respingos.
Tudo isso com apenas um estalar de dedos da deusa Luna.
Passado o momento de choque, as reações começaram. O filho de Átila,
gritou e se ajoelhou no chão, transtornado. A beta da alcateia de Romália
tapou a boca com a mão, seus olhos estavam arregalados. O casal mais atrás
dela apenas se abraçou, já imaginando que seriam os próximos da lista da
deusa.
Atrás de mim, onde a alcateia de Belmonte estava, escutei alguém
vomitando. Acho que era Pietro. Pela minha visão periférica, vi que todos
estavam na forma humana. Palavrões que eu nem conhecia deixaram a boca
de Josh. Estavam todos assustados com aquela cena que aconteceu diante dos
nossos olhos.
- Que isso sirva de lição para qualquer outro lobo que achar que deve
me impor ordens! – a deusa exclamou categórica.
O que aconteceria agora? Ela massacraria a alcateia de Romália ali na
minha frente? Eu não poderia deixar isso acontecer. Ainda era o corpo de Lua
ali perto de mim e ela carregava a nossa filha no ventre. Eu não poderia
deixar que a deusa possuísse seu corpo para fazer aquelas coisas. Não sabia
se Lua estava sofrendo, presa dentro do próprio corpo.
O meu instinto de proteção sobre Lua e sobre a alcateia de Romália me
dominou. Lua era minha companheira e a alcateia de Romália tinha acabado
de jurar obediência a mim. Eu era seu alfa supremo, para o bem ou para o
mal.
- Deusa Luna? – perguntei meio incerto, chamando a atenção da
divindade perto de mim.
Ela me olhou de baixo para cima, com o semblante indiferente.
- Você é o alfa supremo atual.
Não foi uma pergunta, mas assenti mesmo assim.
- E você também é o companheiro desde receptáculo, da minha
descendente.
- Sim, senhora. O nome dela é Eluana.
A deusa fez uma breve pausa e disse:
- Ela está grávida. Vocês terão uma filha dentro de alguns meses.
- É uma menina? – não pude me conter ao fazer aquela pergunta, para
confirmar o que ela já havia dito.
- Sim. Uma nova descendente minha e outra reencarnação. – ela falou
acariciando a barriga ainda reta de Lua.
Engoli em seco. Não imaginei que seria informado daquela forma sobre
a gravidez de Lua. Imaginei que ela me faria uma surpresa, com testes de
farmácia e tudo. O sexo do bebê seria revelado em um chá revelação, onde
um balão preto estouraria, revelando os confetes cor de rosa, anunciando a
chegada da nossa filha, uma lobinha para a alcateia de Belmonte. Talvez uma
futura alfa suprema.
Mas não.
Minha esposa e companheira estava “possuída” por uma divindade
temperamental, que me contou todos os detalhes como se estivesse falando
sobre o clima.
Merda!
- O que você pretende fazer agora? – perguntei incerto.
O que eu queria mesmo, era que ela “saísse” de Lua e a deixasse em
paz, sem mais “possessões”. Queria a minha companheira de volta.
- Vou punir esta alcateia que só me traz desgosto. – ela respondeu e
voltou a olhar para os membros remanescentes da alcateia de Romália.
O garoto, Alexander, ainda estava ajoelhado no chão e a beta segurava
seus ombros, talvez tentando colocá-lo de pé. O cheiro de alfa começava a
emanar dele forte, sobrepujando até o “disfarce” que ele usava para mascarar
seu cheiro natural de lobo. Ele era o novo alfa da alcateia de Romália. A
morte do pai só reafirmou isso. A insistência de Átila ao continuar se
transformando mesmo após a primeira metamorfose do filho atrapalhava o
seu reconhecimento como alfa atual.
Fora o cheiro de alfa de Alexander, aquele trecho da floresta também
tinha o odor pesado de sangue. No chão onde Átila tinha estado de pé,
parecia ter chovido sangue.
- Por favor, não faça isso. Essa alcateia faz parte das alcateias que eu
cuido agora. O alfa deles me reconheceu como alfa supremo. Eu quero me
responsabilizar por eles. – falei olhando para cada um daqueles lobos.
Os olhos da deusa se semicerraram na minha direção.
- Eles não o reconheciam como alfa supremo antes... Acho que isso
aconteceu porque eles já estavam escondidos quando eu criei o primeiro alfa
supremo e fiz todas as alcateias se curvarem a ele... Mas eu vou corrigir o
meu erro. Vou exterminar essa alcateia agora. Eles não deveriam existir, eu
devia ter feito isso ao invés de escondê-los...
- Não faça isso, por favor! Eles são seus lobos, fazem parte das suas
alcateias! Não destrua as suas criações, deixe que eu me responsabilize por
eles. Eles aprenderam a lição.
Todos os lobos das alcateias da deusa Luna eram as suas criações. Os
lobos eram os animais adorados da deusa e foi pensando naquelas criaturas
fortes e inteligentes, que seus guerreiros clamaram a ela, pedindo pela
metamorfose antes de uma importante batalha. Ela atendeu o pedido deles e
permitiu que a metamorfose continuasse acontecendo através das gerações.
Como “último ato” da deusa, antes de partir para o seu descanso eterno,
ela criou o primeiro alfa supremo. O lobo líder de todas as suas alcateias, que
cuidaria de tudo enquanto ela descansava.
A deusa Luna me encarou. Era tão estranho ver a minha Lua daquele
jeito! Os olhos horripilantes tão diferentes dos olhos espertos da minha
companheira. Aquele semblante sério e indiferente tão diferente das caras e
bocas do meu amor.
- Como você pretende fazer isso, alfa supremo?
- Vou ensiná-los o verdadeiro sentido de ser um lobo. Vou ensinar
sobre as alcateias e as regras e leis que temos. A beta terá a atribuição de alfa
temporariamente, até que o garoto tenha maturidade suficiente para assumir a
liderança da alcateia. Eles não vão mais se esconder. Não serão mais
fanáticos obcecados por você. Eles a respeitarão e a devotarão como a deusa
benevolente, forte e harmoniosa que você é. Eu prometo.
A deusa Luna continuou me encarando, sem desviar o olhar.
Nesse momento, eu estava cagado de medo. Sim. Apesar do meu
discurso corajoso e esperançoso, tentando proteger a alcateia de Romália, eu
tinha medo. A qualquer momento aquela divindade poderia estalar os dedos e
me transformar em uma nuvem de sangue de alfa supremo.
Os olhos dela foram para trás de mim, para onde Josh e sua alcateia
estavam, paralisados.
- Essa é a alcateia de Belmonte? – ela perguntou de repente, mudando
completamente de assunto.
- Sim. Esse é o meu primo Josh, o alfa da alcateia de Belmonte. –
apontei para Josh, que estava mais próximo. – Belmonte é a cidade da qual
você é guardiã. Como todos achavam que Romália não tinha alcateia,
Belmonte “se apropriou” da sua proteção. – tentei explicar.
Vi o vislumbre de um sorrisinho naquele rosto sisudo.
- Sempre gostei de Belmonte. Era um vilarejo tranquilo e pacato.
Damiano era originalmente de lá, depois foi morar em Romália, por minha
causa.
- Quem é Damiano? – Josh perguntou curioso e eu quis dar uma
cotovelada nele. Eu estava “cheio de dedos”, conversando com a deusa e Josh
vinha se intrometer, fazendo uma pergunta daquelas.
- Meu amante humano. Ancestral de Eluana e da filha em seu ventre. –
ela voltou a acariciar a barriga de Lua, indiferente a intromissão de Josh.
Então esse tal de Damiano era o ancestral de Lua, assim como a deusa
Luna. Eles dois deram origem a linhagem da deusa, aos seus descendentes,
que carregariam um pedaço da deusa dentro de si, suas reencarnações, de
certa forma. Aquele pedaço da história e do mito da descendência era
desconhecido.
Após mais um momento de silêncio, que eu me recusei a interromper, a
deusa estava pronta para dar o seu veredito:
- Muito bem, alfa supremo. Eu acolho o seu pedido. Você se
encarregará da alcateia de Romália e ensinará tudo a eles. A beta será a alfa
temporária, enquanto o alfa de direito amadurece. Essa é a minha decisão.
- Muito obrigado, deusa Luna. – eu disse e baixei a cabeça, em sinal de
respeito.
Ela assentiu.
- Preciso voltar para o meu sono eterno, junto dos outros deuses. Você,
alfa supremo, ficará responsável pela guarda deste amuleto. Não o coloque
em outra de minhas descendentes, a não ser que seja o caso de uma
emergência. Entendeu?
- Sim, senhora, eu entendi.
Outras descendentes. Ela só podia “possuir” mulheres. Talvez achasse
desconfortável “possuir” um corpo masculino.
- E outra coisa. – ela disse e assoprou um pó em minha direção, que
estava em sua mão.
Gelei na hora. Que porra era aquela?!
- É um poder a mais para você e todos os alfa supremos que vierem a
nascer. Com ele você poderá tirar a capacidade de alguém de ser lobo. – ela
suspirou. – Isso teria me poupado o trabalho com aquele imbecil.
Assenti, meio entorpecido.
Ela tinha me dado um poder. Um poder!
Aquilo era uma declaração clara de “não me acorde ou incomode”.
Afinal, o alfa supremo cuidaria de tudo para ela.
- Se cuidem e cuide bem das minhas descendentes, alfa supremo. Eu
não quero voltar aqui para destruí-lo.
- Eu vou cuidar bem delas, prometo. – consegui falar.
Apenas ela estava acima de mim e apenas ela poderia me punir, caso
fosse necessário.
De certa forma, as suas reencarnações eram uma forma de garantia para
a deusa. Quando ela se cansasse de “dormir” no sono eterno, ela poderia
voltar a tomar um dos corpos de suas descendentes. Aquele pensamento não
me agradou nem um pouco.
A deusa Luna relaxou um pouco. Com um suspiro cansado, ela
removeu o colar do pescoço. A névoa subiu por ela rapidamente e
desapareceu, dando lugar a Lua, vestida com suas roupas normais e quase
desmaiando.
Me apressei e a amparei antes da queda. Lua caiu desmaiada nos meus
braços, segurando firme o amuleto em suas mãos.
CAPÍTULO 31

Eu estava exausta.
Parecia que tinha corrido uma maratona. Só queria dormir, dormir e
dormir.
Mas eu não podia, não conseguia. Eu não estava em um lugar
confortável e a barulheira ao meu redor dificultava tudo também.
Uma faladeira sem fim de várias pessoas. Meu travesseiro era duro e
desconfortável, mas pelo menos ele passava a mão na minha cabeça,
penteando meus cabelos com os dedos...
Peraí!
Travesseiros não têm dedos. Onde eu estava e que algazarra era aquela?
Forcei os olhos a se abrirem e só conseguir ver várias pernas. Algumas
pessoas estavam de pé, paradas. Outras estavam andando de um lado para o
outro. Que diabos era aquilo?!
- Acho que ela está acordando! – uma voz familiar exclamou
esparrenta.
Eu conhecia a dona daquela voz. Macayla?
- Lua? Acorda, minha filha! Pela deusa! – o meu pai falou exasperado.
Pra quê tanta comoção assim?
- Acho que já chega de deusa por hoje. – outra voz conhecida
comentou.
Piscando várias vezes, consegui focalizar tudo ao meu redor. Eu estava
em casa, na casa do meu pai. Parecia que a alcateia inteira estava reunida lá.
Não tinha lugar para todos se sentarem.
- Lua, amor, acorda. Você está bem? – a voz de Yuri estava bem perto
do meu ouvido. Não sei por que, mas só de escutá-lo, senti um alívio enorme.
- To bem. – falei com uma voz grogue. Parecia até que eu estava porre.
- Ela não está bem! Precisa descansar mais! – o delegado falou do seu
jeito “mandão”.
- Eu to bem. – insisti e tentei me sentar, mas falhei.
Mãos fortes me ajudaram na tarefa de me sentar no que parecia ser o
sofá da sala. Era Yuri me ajudando. Ele estava sentado ao meu lado. Era ele o
travesseiro! Ou melhor, a sua coxa era o travesseiro desconfortável.
Franzi o cenho ainda meio zonza enquanto observava todos ali em casa.
Além da minha alcateia, outros lobos também estavam lá. Eram os lobos da
alcateia de Romália.
Sim, a alcateia de Romália!
Estávamos na floresta com eles! Átila tinha me dado o amuleto da
deusa Luna e eu o coloquei, feliz pelo presente. Logo após isso, Yuri tinha
dito algo sobre os meus olhos e mandou eu tirar o amuleto. Eu ia tirá-lo,
mas... O que aconteceu? Eu não lembrava de nada!
- O que, o que aconteceu? – perguntei atrapalhada.
- Você não se lembra? – Yuri perguntou cauteloso.
- Não. Só lembro que estávamos na floresta e eu ia tirar o amuleto
porque meus olhos estavam... brancos? Sei lá. Depois disso não lembro de
mais nada. – falei confusa e tentando puxar as lembranças do meu cérebro.
- Ainda bem que ela não se lembra. – Serena disse e deu um suspiro,
aliviada.
- Por quê? O que foi que aconteceu? Yuri? – perguntei e olhei para o
meu companheiro, que passou a mão pelos cabelos, antes de começar a falar.
- Quando você colocou o amuleto, a deusa Luna que está em você
despertou e assumiu o controle. Ela não gostou nem um pouco de ser
acordada. – ele falou e deu um sorrisinho sem graça.
- O que mais?! – quase gritei.
A deusa Luna possuiu meu corpo.
Puta que pariu!
A deusa Luna possuiu meu corpo!
Yuri trocou um olhar rápido com o delegado e continuou:
- Ela... puniu Átila. Ela não gostou de ser despertada por um mero
capricho de um alfa, que queria que ela liderasse novamente os lobos. Ela
também não gosta muito da alcateia de Romália.
Yuri não queria me contar alguma coisa. O que será que a deusa tinha
aprontado enquanto possuía o meu corpo? Quanto tempo ela tinha me
possuído? Puta merda!
- Eu estava dormindo há quanto tempo? – perguntei em dúvida.
- Já é noite, então você dormiu algumas horas. – Yuri respondeu.
- E o que a deusa fez quando ela possuiu meu corpo? Ela correu alguma
maratona por acaso? Eu me sinto exausta! – reclamei e me recostei no sofá.
- Interessante. Vai ver que a “possessão” consumiu as suas energias. –
Levi comentou pensativo. – Vai ver que foi por isso que a deusa ficou mais
irritada ainda com o Átila.
- O quê?
- Sim! Pelo que ela falou, ela ficou irritada por ser acordada e por
incomodarem a Lua. Foi por isso que ela explodiu o Átila com um estalar de
dedos! – Josh exclamou, como se tivesse resolvido os problemas da
humanidade.
Ai caramba! Eu escutei direito?
- Ela fez o quê?! – perguntei com a voz aguda, já sentindo meu
estômago revirar pelo nojo.
A deusa EXPLODIU o Átila?
A imagem do alfa da alcateia de Romália sendo explodido em
pedacinhos tomou a minha mente e um enjoo ameaçou o meu estômago.
- Josh! – Yuri chamou a atenção do primo e deu uma olhada sutil para
onde os lobos da alcateia de Romália estavam.
O garoto, Alexander, parecia arrasado. Suas roupas estavam
respingadas do que eu imaginei ser o sangue do alfa e seus olhos estavam
vermelhos. Aqueles lobos estavam sentados na cozinha, um pouco longe de
onde todos nós estávamos. Não sei se eles escutavam a nossa conversa. Eles
estavam pensativos e tristes.
- Alguém me explica essa história desde o início? Só de imaginar
alguém sendo “explodido”, meu estômago se revira. – falei e fechei os olhos,
encostando a cabeça no sofá.
De repente se fez silêncio.
Abri os olhos e os passei por todos ali. Cada um tinha uma expressão
diferente no rosto. Yuri me olhava de um jeito fofo que fazia eu me derreter.
Josh tinha um sorrisinho sacana na cara. O delegado sorria afetuoso, assim
como Macayla e Serena. Os outros me “admiravam” sorridentes. Que diabos
tinha acontecido? Será que eu falei alguma coisa errada?
Foi Joyce quem rompeu o silêncio:
- Lua, você está se sentindo bem ultimamente?
- Sim. – respondi com o cenho franzido.
- Ela estava muito dorminhoca ultimamente. – Yuri falou ainda
sorridente.
Dei de ombros. Eu estava de férias da faculdade, poderia dormir um
pouco mais.
- Tem sentido seu estômago revirar muito? – Joyce continuou.
- Sim! Toda essa agitação e preocupação mexeu com meu estômago! –
confirmei surpresa.
Desde a semana de provas da faculdade o meu estômago ficou mais
sensível. Toda essa preocupação desde que chegamos a Belmonte só fez
deixá-lo mais inquieto ainda. Até a minha menstruação estava desregulada.
Como Joyce sabia daquilo? Ah, claro. Ela era médica...
- E toda a “agitação” aqui enquanto o delegado não estava? – Josh
perguntou ainda com o sorriso sacana.
Escutei risadinhas, que supus serem de Daniel e Blake.
- O quê?! – senti meu rosto esquentando.
Merda! Eu sabia que isso ia acontecer! Tentei avisar Yuri, mas o meu
companheiro levou tudo na brincadeira! Que vergonha!
Esperava que ninguém tivesse notado a marca que Yuri fez no meu
pescoço na noite passada...
- Que agitação, Josh? – o delegado perguntou confuso.
- Josh, eu juro que vou... – Yuri deixou a frase em aberto.
- Onde vocês querem chegar com isso? – perguntei confusa.
- Ela não sabe, Yuri. – Joyce disse a ele tranquila e sorridente.
O que eu não sabia?!
Yuri segurou as minhas mãos e disse, voltando a sorrir:
- Quando a deusa Luna estava “possuindo” você, ela contou a
novidade: Você está grávida. Está esperando uma menina.
Encarei meu companheiro boquiaberta.
Eu, grávida?! Como não notei isso antes? Pelo visto todos ali na sala já
sabiam e eu fui a última a descobrir.
Como sempre, eu não seguia as regras e sim, as exceções.
CAPÍTULO 32

Tinha um bebê na minha barriga. Um bebê! Como isso foi acontecer?


É claro que que sabia muito bem como acontecia, só estava surpresa por
ter acontecido. Desde o nosso casamento, Yuri e eu começamos a tentar, mas
eu não imaginava que pudesse engravidar tão rápido.
Mas uma coisa que ele disse me deixou confusa.
- Peraí! Você disse que era uma menina? – perguntei a Yuri. Como ele
sabia disso? Minha barriga nem tinha começado a crescer!
- A deusa Luna contou. – ele deu de ombros, ainda sorridente.
- Ela é uma deusa, Lua. Ela tem poderes, ela sabe das coisas. – meu pai
completou.
- Ah... – falei apatetada e sorri.
Eu carregava uma filha minha e de Yuri. Nosso bebê.
Minhas mãos voaram para a minha barriga e eu acariciei a pequenina
que já crescia ali dentro.
Yuri me puxou para si e me abraçou, com um sorriso maior ainda no
rosto. Abracei forte o meu companheiro.
- Cuidado, Yuri! – Serena o repreendeu.
- Vamos deixar os dois comemorarem. Lua ainda precisa descansar,
depois de tudo isso. – Macayla falou e se levantou da poltrona.
- Sim, mas ainda temos um probleminha... – Josh falou.
Yuri e eu nos separamos e olhamos para ele. Josh observava a alcateia
de Romália com o semblante preocupado.
- Vou cuidar deles, mas antes eu vou cuidar de Lua. Ela é minha
prioridade. – Yuri disse e apertou a minha mão.
- Acho que essa é a nossa deixa. Vamos embora. – Daniel falou e
começou a puxar Blake, que ainda me encarava sorridente.
Todos começaram a se levantar para sair e quem passava por Yuri e eu,
dava um abraço rápido e os “parabéns”. Fiquei sentada, pois não sabia se
teria forças para me manter de pé. A alcateia de Romália seguiu para fora
com Joyce, sem dizer uma palavra. Josh, o último a sair, falou para Yuri:
- Vou manter a alcateia de Romália no hotel na entrada da cidade.
Quando você quiser falar com eles, me avisa.
- Tudo bem.
- Parabéns pela lobinha. – seu olhar passou de Yuri para mim e voltou.
- Obrigado. – Yuri falou orgulhoso.
- Obrigada. – eu falei sorridente e me encostei em Yuri. Ele passou o
braço por cima dos meus ombros e me aconchegou em seu peito.
Quando meu pai fechou a porta da casa, ele deu um longo suspiro.
- Foi um longo dia. – ele falou pensativo.
- Nem me fale. – eu disse e bocejei. Que sono!
- Leve-a para o quarto, Yuri. Ela ainda precisa dormir. – o delegado
ordenou.
- Sim, senhor. – Yuri se apressou para me pegar no colo e o delegado
advertiu:
- Eu falei dormir, hein?!
- Pai! – o repreendi enquanto Yuri me levava para o nosso quarto, meio
que ignorando meu pai.
- Humpf! – ele bufou e foi para o sofá.
Yuri me colocou cuidadosamente na cama e ajeitou os travesseiros na
minha cabeça. Ele tirou os meus sapatos e se deitou ao meu lado. Ficou me
observando, sorrindo e acariciando a minha cabeça.
Eu não me sentia diferente após ser “possuída” pela deusa. Me sentia
igual, como sempre fui. Apesar disso, me sentia meio insegura.
- Ela ainda vai voltar? – perguntei a ele.
Yuri franziu o cenho por um momento, mas logo voltou a sorrir.
- Não. A não ser que você coloque o amuleto no pescoço. – ele disse e
tirou do bolso da calça a pedra da lua.
- Você ficou com ele! – falei surpresa.
- Sim. Agora eu sou o guardião do amuleto e pretendo deixá-lo bem
longe de você. – ele falou e guardou de novo o colar no bolso.
Dei um suspiro ao mesmo tempo cansado e aliviado.
- Foi tão ruim assim? – perguntei curiosa.
- Seus olhos ficaram horripilantes, amor.
Eu ri e senti minhas pálpebras pesadas. O cansaço estava me
derrubando novamente.
O sorriso de Yuri sumiu quando ele falou:
- Ela é arrogante, amor. Impaciente, mandona, sisuda e braba. Fiquei
com medo do que ela poderia fazer conosco. Apesar disso, ela é uma boa
deusa. O fato da alcateia de Romália estar viva é prova disso. Ela me deu um
poder a mais também. Para evitar que outros como Átila apareçam e tentem
incomodá-la, ela me concedeu o poder de retirar o poder de metamorfose de
um lobo.
- Sério? – perguntei surpresa com aquela revelação final de Yuri.
Ele assentiu.
Caramba! Agora Yuri tinha um poder a mais! Pensando bem, ele era o
alfa supremo mais poderoso de todos os tempos com esse novo poder.
Não tínhamos o que temer agora. Poderíamos fazer nossa viagem pelas
alcateias sem medo. E poderíamos ir até Romália tranquilos também!
Contudo, eu jamais iria imaginar que a deusa Luna fosse do jeito que
Yuri descreveu. Pelas gravuras que tinha visto, ela parecia ser tão calma,
boazinha... Meus olhos queriam se fechar.
- Ela explodiu mesmo o Átila? – perguntei ainda curiosa.
- Sim. Ela o transformou em uma nuvem de sangue, que sujou aquele
pequeno pedaço da floresta. Não ficou nem um pedacinho dele para contar a
história. – Yuri fez uma careta.
Nossa, isso foi mais cruel e nojento do que eu tinha imaginado. Ainda
bem que eu não vi a cena, senão teria vomitado na hora.
- Coitado do Alexander... Alfa e tão novo... – balbuciei.
- Não se preocupe com eles, amor. Vou cuidar daquela alcateia.
- Que bom.
- Durma, Lua. Descanse meu amor.
Finalmente fechei os olhos e obedeci ao meu companheiro.
CAPÍTULO 33

Era manhã de sábado e Lua ainda dormia. Resolvi sair de casa para
falar com a alcateia de Romália e aproveitei que Neandro estava de folga do
trabalho para deixá-lo tomando conta de Lua.
Liguei para Josh, informando as minhas intenções e ele concordou. Ele
resolveu que faria a reunião lá na casa dele e chamaria a alcateia de Belmonte
para nos acompanhar. Apenas os membros atuais, ele disse, sem os lobos
anciãos. Queria manter um nível de segurança em sua casa, já que Maya e
Jake estavam lá. Além disso, os lobos anciãos não teriam muito o que fazer.
Quando cheguei na casa de Josh, as alcateias tinham acabado de
chegar. Todos estavam de pé e conversavam. A alcateia de Belmonte estava
quase completa, já que Brian e Lua não estavam lá. A alcateia de Romália...
estava incompleta.
- Josh, cadê o garoto? – perguntei ao meu primo assim que vi apenas
três membros da alcateia forasteira.
Josh passou os olhos por todos e disse:
- Não sei. Vamos perguntar para a beta.
Encontramos Tauane conversando com Blake e Daniel.
- Tauane, cadê o Alexander? Ele precisa estar aqui. – eu perguntei à
beta da alcateia de Romália.
- Ele está vindo. Ele estava esperando a mãe chegar de Romália. Depois
dos acontecimentos de ontem... Ela estava muito triste com tudo isso e veio
atrás do filho. – Tauane respondeu.
- Ah. – era mais do que compreensível.
- Vamos esperar um pouco. – Josh decidiu.
Continuamos conversando. Tauane contou que Alexander tinha entrado
para a alcateia há poucos meses e que Átila o treinava, mas que não tinha
previsão para deixar de se transformar e deixar o filho assumir a liderança da
alcateia. Ele era filho único. Tauane contou que ela era casada e tinha uma
filha pequena, uma lobinha. Ela não tinha encontrado o seu companheiro.
Ramom e Erin eram casados e companheiros. Ainda não tinham filhos.
Notei que Alexander era parecido com o pai, fisicamente. Sua pele era
clara e o cabelo curto era castanho. Tauane tinha os olhos e cabelos negros,
estes eram compridos e lisos. Sua pele era em um tom de oliva e seus olhos
eram grandes e curiosos. Ramom era um cara alto e musculoso. Me lembrava
um pouco o Brian. Erin era baixinha, tinha os cabelos ruivos cacheados e
sardas no rosto.
Quinze minutos depois, Alexander chegou acompanhado de uma
mulher na casa dos cinquenta anos. Devia ser sua mãe. Ela tinha os cabelos
loiros curtos, presos em um rabo de cavalo. Ela usava óculos escuros,
provavelmente ocultando os olhos vermelhos e inchados de choro. Alexander
estava abatido também.
- Desculpe pelo atraso. – o garoto se apressou em dizer.
- Tudo bem, sem problemas. – eu disse a ele para tranquilizá-lo.
- Vamos nos sentar para começarmos essa reunião. – Josh disse e
apontou para as cadeiras e o sofá da sua sala.
- Obrigada. – a mulher disse e foi se sentar ao lado do filho.
Quando todos se sentaram, a mulher tirou os óculos, revelando o que eu
já tinha antecipado: Ela provavelmente tinha chorado a noite inteira.
- Yuri? – Josh chamou a minha atenção.
- Muito bem, primeiramente eu gostaria de... – fui interrompido por
Blake:
- Puta que pariu! – ele se levantou, sem parar de encarar a mãe de
Alexander.
- Blake! – Josh chamou a atenção dele, mas ele o ignorou.
- É ela! É você! Quer dizer... Isso não é possível!
Franzi o cenho e olhei para a mulher chorosa. Ela se encolheu e pareceu
pálida. Seus olhos encaravam o chão. Alexander olhava confuso para a mãe e
para Blake.
- O que, Blake? – perguntei confuso.
- É ela! Ela é a minha mãe! – Blake exclamou de olhos arregalados,
sem tirar os olhos da mulher.
Meus olhos saíram de Blake e foram para a mulher, depois se
alternaram entre os dois. Eu não estava entendendo nada.
Lua me contou que a mãe de Brian e Blake tinha abandonado o marido
e que eles pensavam que ela já tinha morrido, já que Breno, o pai dos
rapazes, não contou a verdade. Será que aquela mulher era ela?
Daniel se levantou e puxou o companheiro para o seu lado.
- Amor, sua mãe já faleceu. Essa senhora é a mãe do Alexander. –
Daniel falou pacientemente.
- Não! Ela é igual a mulher das fotos que tínhamos em casa, só que
loira! É ela! Se Brian estivesse aqui ele também saberia! – Blake exclamou
nervoso.
Daniel olhou para a mulher e voltou a olhar para Blake. Aquilo estava
muito estranho.
- Mãe? – Alexander perguntou a mulher, que finalmente levantou o
rosto e suspirou.
- Eu me chamo Andressa Moreira. Anteriormente eu era Andressa
Barton, casada com Breno Barton, lobo da alcateia de Belmonte. Nos
separamos e eu fui embora para Romália, onde conheci o Átila. Nos casamos
e tivemos o Alexander. É isso. – ela confessou, meio relutante.
Silêncio.
Blake encarava a mulher de olhos arregalados, como se estivesse vendo
um fantasma. Na verdade, ela era um. Pelo menos para ele e para quem não
sabia que aquela mulher não tinha morrido. Provavelmente os lobos anciãos
sabiam da verdade, mas infelizmente não estavam ali para reforçar a história.
- Por quê? Como você pôde? Como assim? – Blake perguntou chocado.
Daniel puxou o seu companheiro e o abraçou.
- Foi melhor desse jeito, Brian...
- Eu não sou o Brian, sou o Blake!
- Ah, sinto muito. – ela não parecia sentir muito.
- Isso é verdade mesmo, mãe? Eu sou irmão dele? De um lobo de outra
alcateia? – Alexander perguntou confuso.
Eu não sabia o que fazer naquele momento. Não tinha previsto que
aquilo ia acontecer e estava sem reação. Olhei para Josh, mas ele estava tão
paralisado quanto eu. Apenas observávamos o desenrolar do caso na nossa
frente.
- Sim, esse rapaz é o seu meio-irmão. – Andressa confirmou.
Blake se encolheu no peito do marido e começou a chorar.
- Por que trocar um lobo por outro? É algum tipo de fetiche? – essa foi
a pergunta de Josh.
Fuzilei o meu primo com o olhar, mas ele me ignorou. Antes que
Andressa pudesse responder, provavelmente mandando Josh ir se foder,
Blake se voltou novamente para a mãe gritou:
- Você tem alguma noção do que fez?! Eu rezei pela sua alma por vinte
e dois anos! Você tem noção disso?!
- A culpa não é minha se o Breno era um frouxo que teve medo de
contar a verdade! – ela rebateu sem pensar duas vezes.
Resolvi intervir, ainda mais quando Daniel precisou segurar o
companheiro, que queria partir para cima da própria mãe.
- Mãe... – Alexander disse assustado.
- Já chega! Daniel, leva o Blake lá para fora. É perigoso ele ficar aqui
dentro!
Nem precisou eu terminar de falar para que Daniel puxasse Blake para
fora da casa de Josh. Ele estava fora de controle e a sua metamorfose
repentina poderia machucar quem estivesse por perto.
Como se a deusa Luna tivesse intervido, Serena apareceu, descendo
rapidamente a escada.
- O que está acontecendo aqui? Josh? Yuri? – ela perguntou quando se
aproximou.
- Um problema familiar. – Josh resumiu.
- E precisa toda essa grita... Ah! Pela deusa! É a Andressa! – Serena
falou sem tirar os olhos da mãe de Alexander.
- Sim, sou eu, Serena. Como vai?
- Eu vou bem, e você? Curtindo muito a vida depois de abandonar os
filhos?
Andressa ia rebater, mas Josh a impediu:
- Vamos acabar com isso por aqui. Mãe, leva a Andressa lá para o
quintal e por favor, tenta não arrancar a cabeça dela.
- Vou tentar. – Serena respondeu e com um gesto de mão, chamou
Andressa para acompanhá-la. A mulher a seguiu em direção ao interior da
casa sem dizer uma palavra.
Suspirei. Ficaram bem claros os sentimentos daquela mulher pelos dois
filhos abandonados. Senti pena de Alexander, por ter pais tão problemáticos
assim. Mas ao que parece, eles criaram bem o filho.
- Eu não sabia disso. – Alexander disse, como se estivesse se
defendendo.
- Nem eu. – Josh deu de ombros.
- Acho que agora podemos finalmente começar aqui. Tudo certo? –
chamei a atenção para o nosso objetivo ali.
- Acho que sim. – Alexander disse.
- Pode falar, alfa supremo. Estamos escutando. – Tauane disse
determinada. Ela parecia ansiosa por aquela reunião e até ignorou os
acontecimentos dos últimos minutos, assim como Ramom e Erin.
Átila devia ser um péssimo alfa. Seus planos mesquinhos e idiotas
sobrepujaram os interesses de sua alcateia. E pensar que aquele idiota nem
soube usar os poderes de Lua contra mim, como Mirela fez
inconscientemente. Ainda bem! Pela cara dos quatro membros
remanescentes, eu pude ver que eles não concordavam com Átila, porém o
seguiram, como uma alcateia obediente faria.
Eles só precisavam do direcionamento certo e isso eu poderia dar a
eles.
Assenti e comecei a explicar à alcateia de Romália tudo sobre os lobos
e as alcateias da deusa Luna.
CAPÍTULO 34

Acordei e me vi sozinha no quarto.


Me sentia completamente revigorada depois da noite de sono e
descanso. Peguei meu celular na mesa de cabeceira e vi que já era metade da
tarde. Caramba! Eu dormi muito!
Tomei banho e troquei de roupa. Saí do quarto em busca do meu
marido, mas só encontrei meu pai sentado na mesa da cozinha, cutucando
uma máquina fotográfica.
- Oi, pai. – eu disse a ele e fui buscar um copo d’água.
- Como você está se sentindo, Lua? Quer comer alguma coisa? Tem
que se alimentar direitinho, garota.
Revirei os olhos.
- To bem, pai. Vou comer alguma coisa. Cadê o Yuri? – perguntei e
bebi minha água.
- Foi se reunir com Josh e a alcateia de Romália.
- Ah, é. Espero que dê tudo certo lá.
- Também espero. E espero que eles saiam da cidade o quanto antes.
Não gosto daqueles lobos. – ele fez uma careta ao dizer isso.
- Yuri vai colocá-los na linha, pai, não se preocupe. Além disso, o mais
lunático dali já está morto, então... – lembrar dos acontecimentos de ontem
era no mínimo estranho.
- Eu me preocupo mesmo assim.
Me sentei a mesa e comi o que meu pai tinha feito para o almoço,
mesmo estando sem muita fome.
Eu me sentia tão aliviada agora que estava tudo resolvido. Não via a
hora de encontrar Yuri e passar um tempinho com ele, sem preocupações
para me atormentar.
Agora era hora de celebrar. Nosso bebê estava a caminho e eu já tinha
várias ideias em mente para a decoração do quartinho da nossa lobinha. Não
queria fazer tudo rosa, porque achava que seria muito clichê. Queria algo
mais...
O celular do delegado tocou, interrompendo a minha linha de
raciocínio.
- Neandro falando. – ele atendeu sério. Será que era algum problema na
delegacia?
Pela cara que o meu pai fez, foi algo preocupante. Ele até parecia meio
pálido...
- É o quê?! – ele perguntou, ou melhor, exigiu.
Eu estava curiosa para saber o que estava acontecendo e justamente
nesse momento a campainha tocou.
- Merda! – praguejei e me levantei para atender.
Abri a porta e dei de cara com Joyce, sorridente.
- Oi, Lua. Posso entrar? Vim saber como você e a lobinha estão!
Joyce era um amor de pessoa. Nem pedi e ela veio me consultar em
casa! As vantagens de se ter uma amiga médica...
- Entra aí! – saí do caminho e Joyce entrou.
Fomos para a sala. O delegado ainda estava no celular.
- E então? Como a mamãe está? Sente enjoos, tonturas? – Joyce
perguntou, enquanto media a minha pressão.
- Me sinto ótima. Não sinto nenhum desses sintomas comuns de
gravidez.
Se não fosse pelo sono excessivo, o estômago revirado e a menstruação
atrasada, eu nem ia desconfiar que estava grávida.
Joyce assentiu.
- Vou passar alguns exames para você fazer, mas você também tem que
ir logo a um obstetra, para acompanhar direitinho a gravidez, ok? – ela
perguntou enquanto removia o medidor do meu braço. – A pressão está
normal.
- Ok. – assenti entusiasmada.
Enquanto Joyce separava uns papéis, meu pai se aproximou.
- Oi, Joyce.
- Oi, Neandro. Vim dar uma olhada na Lua e adiantar alguns exames
que ela vai precisar fazer. – Joyce falou sem levantar o rosto dos papéis.
- Ah, ótimo. Obrigado por isso.
- Não é nada.
- Lua, Yuri me ligou. Ele quer a nossa presença na casa do Josh. – meu
pai disse a mim.
- Aconteceu alguma coisa? Por que ele não me ligou? – por que ele
ligou justamente para o meu pai?
- Bom... na verdade, aconteceu uma coisa sim. – meu pai parecia
receoso em falar. – Mas acho melhor nós irmos até lá para você ver.
Franzi o cenho. Olhei para Joyce e ela estava tão confusa quanto eu.
- Já acabei aqui, Lua. – ela disse e me passou os papéis com os
encaminhamentos dos exames.
- Obrigada.
- Já que vocês vão até a casa do Josh, eu posso ir junto? Quero dar uma
olhada no Jake. – Joyce falou enquanto recolhia seus apetrechos e os
colocava na bolsa.
- Claro, Joyce. Vou trocar de roupa para podermos ir. – meu pai falou,
já indo em direção ao quarto.
- Vou buscar meu celular. – me levantei e fui até o meu quarto. Estava
curiosa para saber do que se tratava o assunto na casa de Josh.
Assim que ficou pronto, o delegado nos conduziu até a casa do prefeito
em seu carro.
- Muito trabalho na clínica, Joyce? – meu pai perguntou no meio do
caminho.
Joyce suspirou.
- O movimento diminuiu um pouco esses dias. Perdi alguns pacientes...
– ela falou cabisbaixa.
Lembrei que Joyce tinha decidido “se assumir”. Talvez isso tenha
motivado a diminuição dos seus atendimentos.
- A população de Belmonte ainda é cabeça-dura. – meu pai reclamou.
- Eles estão perdendo uma ótima médica. – opinei e Joyce sorriu para
mim.
- Obrigada. – sorri de volta para minha amiga.
Continuamos conversando até chegar na casa do prefeito. Havia um
carro desconhecido estacionado na frente.
- Quem será? – perguntei curiosa.
- A placa não é daqui, é de Romália. – Joyce disse.
- Então deve ser de alguém da alcateia de lá. – concluí.
Descemos do carro. O delegado estava estranhamente silencioso.
Serena nos atendeu e nos mandou entrar. Assim que entramos, percebi
que eles tinham visitas. Pelo cheiro, não eram lobos. Não era a alcateia de
Romália.
- Lua. – Yuri se aproximou e veio me abraçar.
- O que foi que aconteceu? – perguntei a ele.
- Venham aqui. – Yuri passou o braço pela minha cintura e levou nós
três até a sala, onde Josh conversava com uma senhora e um homem.
Os dois desconhecidos se viraram na nossa direção e eu congelei no
lugar. Senti Joyce paralisando ao meu lado também.
- Amor, esses são Adele e Micael Loureiro. Eles são a sua avó e o seu
primo, descendentes da deusa Luna. Sua família de Romália. – Yuri disse.
Acho que se Yuri não estivesse me segurando, eu teria caído no chão.
Aqueles dois eram da família da minha mãe, descendentes da deusa
Luna, assim como eu.
CAPÍTULO 35

- Eluana? – a senhora de cabelos loiros bem claros me perguntou,


enquanto se levantava do sofá.
Ela devia ter por volta de setenta anos, os olhos eram verdes bem
claros. Suas feições me lembravam as da minha mãe. Ela era alta, magra, a
coluna bem ereta, a postura de uma rainha, ou melhor, de uma deusa. Sim, ela
também era uma reencarnação da deusa Luna, assim como eu.
O homem ao seu lado também tinha os cabelos loiros, mas eles eram
encaracolados. Seus olhos eram castanhos. Ele era alto, forte, e muito bonito.
Devia ter mais ou menos a idade de Yuri. Será que ele também tinha um
pedaço da deusa dentro de si?
Pelo modo dos dois se portarem e por suas roupas, percebi que eles
eram bem de vida. Ricos. Deviam viver confortavelmente em Romália. Ao
menos não faríamos mais a viagem até Romália para procurá-los. Eu
começava a imaginar que os encontrar seria tão fácil quanto encontrar uma
agulha em um palheiro.
- Sou eu. – falei baixinho, mas não me mexi. Estava surpresa com
aqueles dois. Como eles nos encontraram? Como me descobriram aqui em
Belmonte?
- Você é a cara da Cibelle. – Adele falou e abriu um sorriso simpático.
- Minha mãe era mais bonita. – dei de ombros. Eu não os conhecia e
até onde sabia, minha mãe meio que “fugiu” deles.
- Por que não nos sentamos? Temos muito o que conversar. – Yuri
falou e me empurrou gentilmente em direção ao sofá.
- Eu preciso ir embora. Com licença. – Joyce falou apressada e saiu
quase correndo da casa de Josh, sem que tivéssemos tempo de falar com ela.
- O que aconteceu? – Serena perguntou confusa.
- Não sei. Joyce veio dar uma olhada no Jake... – falei confusa também.
- Vamos nos sentar. Depois falamos com Joyce. – meu pai também me
deu uma “empurradinha” até o sofá.
Enquanto nos sentávamos, vi Serena chamando Josh para fora dali, com
gesto sutis, mas ele negou com a cabeça. Serena suspirou e disse:
- Josh, Maya precisa que você venha trocar a fralda do Jake.
Josh suspirou conformado e seguiu com a mãe para as escadas. Eu
tinha certeza de que ele não ficaria descontente por muito tempo. Yuri ia
fofocar tudo para ele depois.
A seguir se fez silêncio. Eu não sabia como começar aquela conversa.
Os dois ali na minha frente me encaravam curiosos e eu não sabia como
reagir. Eles eram estranhos para mim.
Yuri me puxou mais para perto de si, quase me colocando em seu colo.
Será que ele estava com ciúmes do meu primo ou era a possessividade lupina
falando por ele?
- Acho que vocês podem começar do começo. – o delegado deu início
ao interrogatório. – Por que Cibelle saiu de casa?
Adele suspirou e começou a contar:
- Nossa família vive escondida desde sempre. Nos escondemos dos
lobos da alcateia da deusa por medo, medo do que eles poderiam fazer
conosco. O sangue da deusa Luna corre em nossas veias e nós, as mulheres
da família, carregamos um pedaço adormecido da deusa dentro de nós.
Temos medo do que isso pode despertar nos lobos, esse poder desconhecido.
Não conhecemos a índole dos lobos e tememos que eles nos peguem para
tentar despertar a deusa, para adorá-la pessoalmente ou fazer o que bem
entender.
Então eu estava correta. Somente as mulheres eram reencarnações, por
isso a semelhança com a deusa. Os homens da família eram apenas
descendentes.
Adele estava mais certa do que imaginava por temer alguns lobos. Eu
era a prova viva de que um lobo descontrolado e fanático pela deusa poderia
muito bem enganar e tentar despertar a deusa usando o corpo de uma
descendente. Isso sem falar nos poderes que nós possuíamos, os poderes da
deusa, que até então eram desconhecidos para mim.
- Nem todos os lobos são desse jeito. São poucos os que desobedecem
às leis dos lobos. – Yuri contrapôs.
- Não sabíamos disso até conhecer vocês. – Micael disse, sem tirar os
olhos de mim.
O braço de Yuri na minha cintura me apertou e eu reprimi uma revirada
de olhos. Pelo menos eles já sabiam sobre os lobos e que eu fazia parte de
uma alcateia.
Adele continuou:
- Cibelle não concordava com o nosso isolamento. Apesar do dinheiro
conseguir nos esconder muito bem, vivíamos com medo de sermos
descobertos a qualquer momento por alguma alcateia. Cibelle teve uma
infância muito restrita, com poucos amigos. Ela estudou em casa, com
professores particulares. Quase não saíamos, tínhamos pouco contato com o
mundo exterior. Um dia ela se rebelou. Como já era maior de idade, não
pudemos fazer nada para impedi-la de sair de casa. Meu marido, que ainda
estava vivo na época, brigou com Cibelle e causou a separação da nossa
família. Como eu fiquei ao lado do meu marido, Cibelle se sentiu traída e
abandonada por nós. Ela foi embora e nunca mais nos vimos depois disso. Às
vezes ela ligava para a irmã para mandar notícias, mas apenas isso.
Um desentendimento familiar fez a minha mãe abandonar a vida
reclusa com a família. Uma jovem rica e superprotegida deixou tudo para trás
e foi viver a vida livremente, fora do confinamento da família.
- Como ela mantinha contato eventual com Cecília, a irmã caçula,
fiquei sabendo do seu nascimento, mas não tive como entrar em contato com
a minha filha. Ela se fechou com a família que formou e não permitiu a nossa
intromissão em sua nova vida. Imagino que ela tivesse medo de que nós
fôssemos obrigá-la a criar a filha do mesmo jeito que ela foi criada, reclusa.
Ela criou uma nova vida aqui em Belmonte, deixou seu passado para trás.
Minha mãe tinha medo de que eu tivesse a mesma vida que ela teve.
Isso explicava o porquê de ela sempre me incentivar a experimentar as coisas.
Aulas de balé, de inglês, de violão... sempre me incentivando a descobrir
coisas novas, nunca ficar parada. Ser independente.
- Há alguns anos, perdi meu marido para o câncer. Cecília partiu algum
tempo depois, em um acidente com o nosso jatinho particular. Sem Cecília,
não tive mais notícias da sua mãe e não sabia como entrar em contato.
Fiz uns cálculos rápidos e deduzi que as duas morreram mais ou menos
na mesma época. Que triste!
- Poderiam vir até aqui nos procurar. Belmonte não é tão grande assim.
– meu pai retrucou, já que eu estava focada demais em absorver toda aquela
história.
- Não saímos de Romália, a não ser que seja necessário. – Adele
rebateu, como se fosse um mantra.
- Como soube que minha mãe tinha morrido? – perguntei.
- Soubemos há pouquíssimo tempo. Alguns dias atrás, para ser mais
precisa. – Adele suspirou, com o semblante triste.
- Como assim? – perguntei confusa.
- Mirela, a jornalista e o seu namorado, Brian. Eles nos procuraram.
Foram eles que nos contaram tudo, sobre Cibelle e sobre você. Assim que me
senti um pouco melhor, decidimos vir até aqui para conhecê-la.
Mirela e Brian. Foi por isso que eles “fugiram” de Belmonte? Para ir
atrás da família da minha mãe? Pra quê?
- Onde eles estão agora? – Yuri perguntou imediatamente.
- Eles tinham ficado em Romália quando viemos para cá. Tinham
planos de voltar, mas não sei quando.
- Hum. – Yuri murmurou pensativo.
- Como vocês fizeram para se esconder todo esse tempo? As alcateias
da deusa Luna sempre procuraram a família dos descendentes, mas nunca
encontraram. Era um mito entre os lobos. – perguntei curiosa.
Ao mesmo tempo, Adele e Micael revelaram os colares que levavam
escondidos no pescoço, embaixo das roupas. Era uma pedra marrom
brilhante, em formato oval. Parecia a pedra da lua, mas a cor era diferente.
- São pedras do sol. São amuletos que nos permitem viver escondidos
dos lobos, pois camuflam a magia da deusa Luna. – Micael falou enquanto se
inclinava para frente, para eu poder ver melhor o seu amuleto.
Por isso nunca nenhum lobo os encontrou antes. Eles estavam
escondidos, por todos esses anos e gerações de lobos e reencarnações.
Aquelas pedras do sol transformaram os descendentes da deusa em um mito.
Será que a minha mãe usava um desses? Não lembro de vê-la usando
um colar desses.
- Como Mirela e Brian encontraram vocês? – Yuri perguntou.
- Não sabemos. Eles só apareceram lá em casa, na semana passada e
disseram que queriam conversar, apenas. Eu só aceitei conversar quando
Mirela começou a falar sobre Cibelle e a filha dela que viviam aqui em
Belmonte.
Suspirei. Ainda não tinha entendido o que Mirela queria com a família
da minha mãe.
- Então você é primo da Lua, filho da Cecília? – Yuri perguntou a
Micael.
- Sim, somos primos. – ele sorriu. – Gostei do apelido, Lua.
- É só para os íntimos. – Yuri rebateu.
- Somos íntimos, somos família. – Micael replicou.
- Por qual apelido devo te chamar? Também somos família, já que eu
sou casado com a Lua.
Micael pareceu surpreso por um instante e depois abriu um sorriso
maior. Revirei os olhos para aquela “discussãozinha” deles.
- Claro, como eu pude esquecer?
- Yuri! – reclamei baixinho com meu companheiro.
Não havia porquê ter ciúmes de Micael, eu só tinha olhos para Yuri.
Mas a possessividade por outro lado, fazia Yuri agir de forma irracional.
- Vocês pretendem ficar na cidade por quanto tempo? – meu pai
perguntou, desfazendo o clima que ficou no ar.
- Apenas por tempo suficiente para conhecer melhor a Eluana. Temos
muito o que conversar. – Adele respondeu.
Assenti.
- Claro, eu também quero conhecer melhor vocês.
Adele abriu um sorriso satisfeito.
- Que bom, querida.
- E então, Santino? Trabalha com o quê? – Micael perguntou a Yuri e
se recostou no sofá.
Aquilo só podia ser provocação dele. Será que ele não ligou o nome à
empresa? Ele estava se divertindo às custas de Yuri.
- Sou empresário e você? – Yuri rebateu.
- Invisto na bolsa de valores. É um negócio de família. – Micael
respondeu sorridente. Ele parecia muito convencido.
- A deusa Luna deixou muitos tesouros conosco, que foram passados de
geração em geração. É dessa riqueza que a família Loureiro vive. – Adele
explicou.
Caramba!
- Estamos dispostos a dar uma parte disso a você. – Adele continuou e
eu arregalei os olhos.
Ca-ram-ba!
Se fosse em outro momento da minha vida, eu teria aceitado. Nunca
passamos necessidade, mas também nunca fomos ricos. Meus pais
trabalharam a vida toda e eu aprendi a dar valor às coisas. Quando fui morar
em Olímpia, não tinha muito dinheiro e logo tive que procurar um emprego
para poder me sustentar. Agora que eu estava casada com Yuri as coisas
estavam diferentes. Vivíamos confortavelmente, tínhamos carros luxuosos,
um apartamento enorme e bem localizado, algumas mordomias... Apesar
disso, eu não pretendia depender de Yuri pelo resto da vida. Eu iria me
formar e trabalharia também.
- Isso não é preciso. Estamos bem. – eu falei e peguei a mão do meu
companheiro, que sorriu para mim.
- Eu insisto, Eluana. Você tem direito a isso também.
Olhei para Yuri e ele deu de ombros, assim como meu pai.
Talvez eu pegasse a minha parte e guardasse para os meus filhos,
futuramente...
- Tudo bem, eu aceito. Preciso pensar no nosso futuro. – eu disse e
passei a mão livre na barriga. Yuri a cobriu com a sua outra mão.
- Ah! – Adele exclamou surpresa e com os olhos marejados.
- Vamos ter um bebê, uma menina. – Yuri contou animado.
- Eu sou ser bisavó! – Adele exclamou e apertou as mãos do neto, que
sorriu para ela.
- Como vocês sabem que é uma menina? – Micael perguntou.
- É uma longa história. – eu suspirei e olhei para Yuri, que assentiu e
começou a contar sobre o nosso encontro com a alcateia de Romália e
posteriormente, com a deusa Luna.
CAPÍTULO 36

Saímos da casa de Josh no início da noite. Conversamos bastante com a


avó e o primo enxerido de Lua. Eles iam ficar na cidade por mais alguns dias
e combinamos de nos encontrar no dia seguinte, para um almoço na casa de
Neandro.
Voltamos para a casa do delegado e eu tratei de alimentar e cuidar da
minha esposa direitinho, por mais que ela reclamasse e dissesse que eu estava
agindo de forma exagerada. Sim, eu estava tendo um excesso de cuidado com
Lua, mas só queria que a minha companheira ficasse bem e tivesse uma
gravidez tranquila.
Assim que nos deitamos, Lua se aconchegou em mim e eu apertei
contra o meu peito. Era tão bom ter a minha companheira ao meu lado, sem
preocupações, sem problemas...
A campainha da casa começou a tocar incessantemente, tirando a nossa
paz.
- Quem será a essa hora? – Lua perguntou e levantou a cabeça que
estava relaxada no meu peito.
Como Neandro tinha ido “visitar” Macayla e provavelmente dormiria lá
na casa dela, estávamos apenas nós dois ali.
- Não sei, mas é melhor eu ver logo quem é. – me levantei da cama e
tive que colocar uma roupa, já que gostava de dormir sem nada. Lua, que
dormia com uma de minhas camisetas, começou a vestir um short.
- Por que você não fica deitadinha aí, amor? – perguntei a ela enquanto
vestia uma calça.
- Eu quero ver quem é. – Lua rebateu e saiu do quarto, já vestida.
Teimosa!
- Merda! – praguejei e fui atrás dela, sem camisa mesmo.
Lua abriu a porta e foi abraçada repentinamente, quase caindo para trás.
Me apressei para chegar até ela, para defendê-la do que quer que tenha
causado isso. Quando vi que era apenas a Joyce a abraçando, relaxei, mas por
pouco tempo. A beta da alcateia de Belmonte chorava copiosamente.
- Joyce, o que foi? – Lua perguntou preocupada, tentando acalmar a
loba massageando suas costas.
- Entrem. – eu falei puxando as duas para dentro e fechando a porta.
As duas foram até o sofá da sala e se sentaram. Fui até a cozinha buscar
um copo d’água para Joyce. Quando voltei, ela estava um pouco mais calma,
mas as lágrimas ainda escorriam pelo seu rosto.
- Bebe um pouco para você se acalmar. – eu disse e dei o copo a ela.
Joyce tomou um pouco e depois pousou o copo em cima da mesinha de
centro. Ela suspirou e disse:
- Encontrei meu companheiro.
Lua me olhou com olhos arregalados. Eu fiquei sem reação com aquela
informação. Cruzei os braços na altura do peito enquanto olhava as duas
lobas sentadas e suspirei.
Da alcateia de Belmonte, apenas Joyce, Pietro e Brian não tinham
encontrado seus companheiros. Joyce tinha uma namorada e tinha acabado de
acertar tudo com ela, e justamente agora ela encontrava seu companheiro.
- Quem é ele, Joyce? – Lua perguntou.
Talvez toda a cidade já soubesse que Joyce era lésbica e que ela tinha
assumido seu namoro com Lana recentemente. Como é que agora isso
acontecia? Pela deusa!
- O homem loiro que estava na casa de Josh. O que nós vimos hoje à
tarde! É ele, Lua! Ele é meu companheiro! – Joyce exclamou e voltou a
chorar.
Puta que pariu! Micael Loureiro era o companheiro de Joyce. O primo
de Lua, um descendente da deusa. Como isso foi acontecer?
- Fique calma, Joyce. Aquele era o meu primo, Micael. Ele é um
descendente da deusa Luna. Ele não sabe que você é a companheira dele,
talvez nem saiba que você é uma loba. – Lua disse a ela enquanto acariciava
seu braço, tentando acalmá-la.
- Eu não o quero, Lua! Por favor, Yuri! Não me obriguem! – ela
exclamou nervosa, olhando de mim para Lua.
- Joyce, eu jamais obrigaria alguém a aceitar seu companheiro. Isso é
algo que o lobo decide. Você pode rejeitá-lo. Ele nunca vai saber, já que não
é um lobo. – eu disse a Joyce.
Poucos lobos tinham rejeitado seus companheiros ao longo do tempo.
Alguns lobos eram loucos para encontrar os seus. Eu fui um desses. Outros
não ligavam muito se iam encontrar ou não. Outros nunca encontravam e
viviam bem com isso.
Eu devia ter perguntado à deusa o porquê dela ter criado os
companheiros. Às vezes aquilo só complicava tudo.
Se dois lobos se rejeitassem, ainda haveria muito sofrimento envolvido.
Se apenas um companheiro fosse lobo, então o outro nunca saberia da
rejeição e seguiria sua vida em frente.
- Eu posso fazer isso? – Joyce perguntou incerta, enquanto enxugava o
rosto.
- É claro.
Joyce assentiu pensativa.
- Por que Lana não é minha companheira? Tudo seria mais fácil assim!
- A deusa Luna tinha outros planos para você, talvez. – disse pensativo.
– Não sabemos o que se passa na cabeça dela.
Em um momento uma divindade poderia estar sorrindo e no outro, ela
poderia estalar os dedos e explodir alguém. Eles eram imprevisíveis.
- Parece uma brincadeira de mau gosto, isso sim.
- Não se preocupe mais com isso, Joyce. Micael nunca vai saber que foi
rejeitado. – Lua disse a ela. – Ele não vai sentir nada.
Ela assentiu e disse:
- Apesar de não o querer como companheiro, eu ainda... me preocupo
com ele. Sei lá! É tudo tão confuso! Queria falar com a minha mãe sobre isso,
mas o Neandro foi lá para casa, aí não deu. Não podia falar com a Lana, pois
ela nem sonha que os lobos existem. Aí vim pra cá, falar com vocês dois...
Desculpa por atrapalhar a noite de vocês. – ela falou observando melhor as
nossas roupas, ou melhor, a falta delas.
O rosto de Lua ficou rosado e eu quis rir, mas me segurei. Joyce não
interrompeu nada, graças a deusa.
- Você não interrompeu nada. Estávamos indo dormir. – Lua
esclareceu.
- Esse negócio de companheiros é algo que dura a vida toda, Joyce.
Mesmo que você o rejeite, ele ainda será seu companheiro pelo resto da vida.
Você sempre vai se preocupar com ele, por mais que não queira. – eu
expliquei a ela.
- Eu sei. – ela fechou os olhos e suspirou. – Mas eu já fiz a minha
escolha.
Lua segurou as mãos dela e as apertou.
- Então está tudo bem. Não se preocupe mais com isso. Dentro de
alguns dias ele vai embora, vai voltar para Romália. Eu posso te dar notícias
dele sempre que possível. – Lua falou, solícita à amiga.
- Obrigada. – Joyce disse e abraçou Lua.
Aquela era uma situação delicada, mas Joyce já tinha feito a sua
escolha e estava segura com ela. Ela rejeitou o seu companheiro.

Ainda estava escuro lá fora quando meu celular começou a tocar.


Que merda!
Eu estava deitado e abraçado a Lua, dormindo de conchinha com a
minha companheira e o desgraçado do celular não parava de tocar.
- Atende logo, Yuri! – Lua reclamou com a voz sonolenta.
À contragosto, me separei da minha companheira e peguei o celular que
estava em cima da mesa de cabeceira. Nem olhei a tela e o atendi direto.
- Alô! – falei mal-humorado.
- Yuri! Ainda bem que você atendeu! – Josh falou do outro lado da
linha.
- Foda-se, Josh! Eu tava dormindo! – reclamei e me recostei na
cabeceira da cama.
- Desculpa interromper o sono do digníssimo alfa supremo, mas é que
surgiu uma emergência aqui.
Ignorei a piada dele e disse:
- Fala logo o que é!
Lua se virou e se sentou na cama, ainda sonolenta e me observou
atentamente.
- Brian e Mirela voltaram, primo. Eles estão aqui na fronteira da
cidade e querem autorização para entrar. Resolvo isso sozinho ou espero por
você?
Merda!
Eu tinha algumas coisas para acertar com aqueles dois e ia ser agora.
- Estou a caminho. – eu falei já me levantando da cama e procurando as
minhas roupas.
- Ok. – Josh falou e desligou.
Joguei o celular em cima da cama e comecei a me vestir. Talvez a ideia
de dormir pelado enquanto estivesse em Belmonte não fosse tão boa assim.
- O que aconteceu? Por que está se vestindo? – Lua perguntou confusa.
- Brian e Mirela voltaram. Vou encontrar com eles e com Josh na
entrada da cidade.
- Eu também vou! – Lua disse e se levantou.
Suspirei. Não tinha tempo para teimar com Lua agora. Quando aquela
loba colocava uma coisa na cabeça...
CAPÍTULO 37

Chegamos na entrada da cidade de carro. O dia começava a nascer e os


primeiros raios de sol coloriam o céu azul. Lua veio calada quase o tempo
todo. Eu não sabia o que ela estava pensando sobre o assunto Brian e Mirela,
e tinha receio do que ela achava da volta dos dois.
O carro de Brian estava parado no acostamento e ele estava encostado
na lataria do veículo. Dentro estava Mirela, sentada no banco do passageiro.
Josh estava sentado no meio-fio. Usava bermuda, camiseta e tênis de corrida.
Ele ainda continuava no projeto “Prefeito sarado”.
Parei o carro no acostamento e Lua e eu descemos. Josh veio nos
encontrar no meio do caminho.
- Desde que horas você está acordado? – perguntei ao meu primo, que
estava todo suado após a sua corrida matinal.
- Quem disse que eu dormi? Jake resolveu fazer uma serenata a noite
inteira e só resolveu dormir quando o dia já estava quase nascendo. Deixei
Maya e ele descansando e vim correr. – ele deu de ombros e acrescentou: -
Você vai saber do que eu estou falando quando a sua lobinha nascer.
- A minha lobinha vai ser um anjo. – rebati.
Lua deu uma risadinha.
- Veremos. – Josh balançou a cabeça, sorrindo. – Temos um problema
para resolver. – ele indicou com o queixo o casal fugitivo.
- Sim, nós temos. Vamos lá. – peguei a mão de Lua e nós três nos
aproximamos de Brian e Mirela.
Se Josh não estivesse fazendo a sua corrida matinal, será que Brian e
Mirela teriam entrado na cidade sem autorização? Eu não duvidava nada
disso.
- Quem é vivo sempre aparece. – eu disse assim que chegamos até eles.
Brian deu um suspiro.
- Vou ter o direito de me defender ou vocês já decidiram a minha
sentença? – ele perguntou, marrento como sempre.
- Agradeça ao seu irmão, Brian. Nesse momento, eu poderia estar
segurando a sua cabeça com as minhas presas. – Josh falou e cruzou os
braços no peito.
Lua soltou a minha mão e tapou a boca, fazendo uma careta. Acho que
o que Josh falou atiçou a sua imaginação, e imaginar uma decapitação por um
lobo embrulhava o estômago de qualquer um, estando grávida ou não.
- Só porque a Mirela e eu fomos atrás da família da Lua? Só porque
desvendamos todo o mistério sobre ela? – Brian perguntou.
- Vocês despacharam a alcateia de Romália para cá. O alfa era um cara
pirado que nos enganou e despertou a deusa Luna que vive dentro da Lua. –
rebati todo o atrevimento de Brian.
Ele franziu o cenho.
- Eles não deveriam ter vindo até aqui. Átila disse que não faria isso,
mas que entraria em contato com você, para conhecer o alfa supremo
pessoalmente. – disse Mirela, que estava sentada dentro do carro.
- Mas ele e a alcateia dele vieram. A deusa Luna estalou os dedos e ele
virou uma nuvem de sangue na nossa frente. – falei e cruzei os braços.
- Yuri! – Lua reclamou e fez outra careta. Aquela conversa detalhada
estava a deixando enjoada.
- Desculpa. – disse a ela.
- Átila está morto? – Mirela perguntou surpresa.
- Sim. – confirmei.
- Andressa deve estar arrasada. – Brian falou pensativo e balançou a
cabeça.
- Você encontrou a sua mãe lá em Romália? – Josh perguntou a ele.
- Sim. Foi por acaso e quando eu a vi, a reconheci. Não disse quem eu
era a ela, queria ver se ela me reconhecia, mas... ela não me reconheceu. Eu
era só mais um lobo em meio a tantos outros.
- Sinto muito. – Josh disse solidário.
- Não sinta. A minha mãe está morta, não era aquela mulher. Ainda
bem que Blake não a viu. Ela nunca deveria ter sido mãe. – Brian parecia
bem tranquilo ao dizer aquilo.
- Ele já a conheceu. – Lua falou.
- Merda! – Brian praguejou.
Apesar das desavenças entre os irmãos, Brian ainda se preocupava com
o caçula.
- A alcateia de Romália jurou obediência a mim. Tauane assumiu
temporariamente o cargo de alfa, enquanto Alexander amadurece e aprende
mais coisas. – expliquei a eles.
Brian suspirou cansado.
- E qual é a sua decisão, Josh?
Josh me olhou rapidamente, depois voltou a encarar o lobo.
- Por que vocês foram para Romália? – ele perguntou.
- Fomos atrás da família da Lua. Achamos que se a encontrássemos e
ela visse o quanto era poderosa e importante para as alcateias da deusa Luna,
vocês parariam de encher o nosso saco. – Brian deu de ombros.
- Brian! – Mirela exclamou. – Nós queríamos encontrar a família da
Lua para mostrar o nosso comprometimento com vocês e com essa alcateia.
Nós respeitamos o alfa supremo e só queremos o bem de todos. O fato da
alcateia de Romália ter vindo aqui e estragar tudo não foi premeditado. Nós
não queríamos isso, foi um acidente de percurso. Quando nós os encontramos
em Romália, pensávamos que eles sabiam a localização da família da Lua,
mas não. Eles pensavam que o mito da descendência era apenas um mito e
que os descendentes estavam todos mortos. Quando falamos sobre Lua e a
possibilidade dela ser uma descendente, isso atiçou a cobiça de Átila e ele
nos enganou para vir atrás de vocês. Pouco tempo depois, conseguimos
encontrar a família de Lua. Eles vivem reclusos em uma mansão enorme e foi
muito difícil ter acesso a eles. Só conseguimos quando eu falei de Cibelle e
Lua. Assim, eu os convenci a vir até aqui, para se encontrarem e se
conhecerem. Foi apenas isso que fizemos, com a melhor das intenções,
acredite se quiser. – ela suspirou cabisbaixa. - Achei que com isso também
poderia me redimir pelo que fiz com Ítalo e que eu pudesse ser aceita pela
alcateia.
Fiquei observando a loba nômade pensativo. Ela e Brian pareciam
sinceros.
Mirela assumia seus erros e Brian a ajudou nessa busca por remição
pessoal e respeito pela alcateia de Belmonte.
- Como vocês encontraram a minha família? E a alcateia de Romália? –
Lua perguntou.
Ambos viviam escondidos e sua existência nem era questionada. Como
Mirela e Brian os encontraram?
Mirela e Brian se entreolharam e sorriram.
- Foi difícil, mas digamos que eu sou uma loba nômade jornalista que
tem o faro apurado para investigação. – ela respondeu sorridente.
Olhei para Josh e ele estava pensativo. Será que mudaria sua decisão?
- Josh? – o chamei. Ele levantou a cabeça e disse:
- Eu já decidi. Pelo que vocês me falaram, não vi nada de mais no
afastamento de Brian, por mais que ele não tenha me comunicado. Eles
estavam em missão, que interessava tanto a Lua quanto a Yuri. Por mais que
isso tenha acarretado a visita inesperada da alcateia de Romália e do alfa
alienado deles, no fim deu tudo certo. Não entramos em guerra com outra
alcateia e agora a Lua sabe que tem que ficar bem longe dos amuletos de
pedra da lua. – o sacana riu um pouco. – Não vou punir você, Brian. Você
pode entrar na cidade, você ainda é um membro da alcateia de Belmonte.
Brian abriu um sorriso que eu nunca tinha visto antes.
- Obrigado. – ele falou entusiasmado.
- E Mirela? Ela também vai poder entrar na cidade “de boas”? – Lua
perguntou a Josh curiosa.
Josh fez uma careta.
Mirela ainda era uma loba alfa, apesar de não ter alcateia. Esse fato
incomodava demais o Josh e seus instintos de territorialidade deviam ficar a
mil. Era uma merda, mas ele não podia fazer nada contra isso. Era da
natureza dele.
- Sinto muito. – Josh disse ao casal.
O sorriso de Brian murchou e Mirela suspirou abatida dentro do carro.
Aquilo era uma merda. Dava para ver como Brian e Mirela se gostavam
e não queriam ficar separados. Os olhares que eles trocavam já mostravam
uma cumplicidade e parceria de dois apaixonados. Tinha que haver algum
jeito de resolver aquela situação.
- Yuri! – Lua me deu uma cotovelada.
- Ai, amor! – reclamei. – O que foi?
- O poder que a deusa Luna te deu! Aquele que você me contou,
lembra?! – Lua estava quase saltitando no lugar.
- É mesmo, Yuri! Você pode usá-lo em Mirela! – Josh exclamou
também.
- Que poder? Do que vocês estão falando? – Brian perguntou confuso e
ao mesmo tempo protetor, olhando de um para outro.
- A deusa Luna, antes de voltar para o seu descanso eterno, me
presenteou com um poder a mais. Ela me deu o poder de tirar a capacidade de
alguém de ser lobo. – expliquei aos dois.
- Ah! – Mirela exclamou surpresa.
- O lobo deixaria de ser lobo? – Brian perguntou.
- Sim. Ela me deu esse poder já pensando em outros como Átila, assim
eu poderia cortar o mal pela raiz e ela teria menos probabilidades de voltar a
ser incomodada.
Brian olhou para Mirela esperançoso, mas ela estava confusa e meio
receosa.
- Eu não sei... – ela falou incerta.
- Tudo bem se você não quiser. Podemos dar um jeito. Romália era
muito agradável. – Brian falou e segurou as mãos de Mirela pela janela do
carro.
A loba suspirou e disse:
- Romália tem um alfa que não está mais escondido agora. Vai ser
trocar o seis por meia dúzia.
- Podemos encontrar outro lugar, então. Há várias cidades sem alcateia.
- Não, Brian. O seu lugar é aqui em Belmonte, com a sua família e a
sua alcateia, e o meu lugar é ao seu lado. Vamos ficar aqui. – Mirela me
olhou e disse: - Vamos fazer isso.
Assenti para ela.
- Você tem certeza? – Brian perguntou.
- Absoluta. Eu já não me transformo mais mesmo, não é? Só vou perder
as outras características. Vai ser como se eu nunca tivesse me
metamorfoseado.
Senti uma pontada de tristeza por Mirela. Eu nem me lembrava mais
como era não ser um lobo. Os instintos, o olfato, a visão e a audição apurados
já faziam parte de mim por tanto tempo que era como se eu tivesse nascido
assim, e não passado por uma transformação para poder adquirir isso.
Ainda assim, Mirela não perderia muito. Como não tinha alcateia, ela
não possuía uma ligação especial com outros lobos. Ela não teria um laço
cortado.
Brian assentiu e beijou as mãos da loba.
Escutei Lua fungando ao meu lado e vi que ela estava chorando ao
observar aquela cena. Devia estar sensível por causa da gravidez. Sorri e dei
um beijo no alto de sua cabeça, antes de me aproximar de Mirela e segurar
suas mãos, assim como Brian estava fazendo antes.
Mirela estava praticamente se sacrificando por amor. Para mim, aquela
loba já tinha se redimido de todos os seus pecados. Aquela foi a prova final
de sua mudança.
- Vai ser a primeira vez que eu faço isso, então eu não sei como vai ser.
– avisei a ela.
- Eu confio em você, alfa supremo.
Concentrei meu poder em Mirela e de repente, senti algo sendo puxado
de dentro dela. Ela se encolheu, mas não reclamou. Fechou os olhos com
força e me deixou puxar toda a sua essência lupina de dentro de si. Não me
senti mais forte com isso, não absorvi o seu poder, apenas o retirei.
Tudo aquilo durou menos de um minuto e quando eu acabei, não
conseguia mais sentir o cheiro de lobo em Mirela. Ela era apenas humana
agora.
Me afastei e deixei que Brian abrisse a porta do carro e a tomasse nos
braços em um forte abraço. Aqueles dois mereciam serem felizes e seriam, de
agora em diante.
Lua me abraçou de lado, me pegando de surpresa. A envolvi em meus
braços e beijei sua testa.
- Isso foi muito legal da sua parte. – ela me disse.
- Você sabe que eu não resisto a um romance. – disse a ela. – E adoro
finais felizes.
- Esse com certeza é um final superfeliz.
- Eu também não tenho dúvidas.
Sorrindo, Lua se aproximou de mim e nos beijamos. O amor prevaleceu
em Belmonte. Tudo estava resolvido e a paz reinou no mundo dos lobos. Pelo
menos por enquanto.
EPÍLOGO

Três meses depois

A recepção do casamento do delegado e da confeiteira foi na sala de


estar da casa dele. Apesar de ter sido um casamento pequeno e com poucos
convidados, a casa estava lotada. Amigos do casal e familiares vieram
comemorar a união de Neandro Marino e Macayla Ortiz. Joyce e eu éramos
“irmãs” agora e nos divertíamos com esse fato.
Três meses atrás, Yuri e eu voltamos para a nossa vida “normal” em
Olímpia. Yuri voltou a ser apenas o CEO da Santinos e eu voltei para a
faculdade, com a minha bebê no forninho. Íamos ser pais e estávamos
explodindo de alegria por isso. Nossa bebê já era muito amada e mimada,
tanto pela família quanto por toda a alcateia de Belmonte.
Mantive contato com Adele e Micael. Eles vieram nos visitar em
Olímpia e conhecer o nosso apartamento. Yuri planejou uma “vingancinha”
contra Micael e o fez ficar bêbado de tanto tomar uísque. Meu primo
adormeceu no sofá da sala e acordou no outro dia com uma ressaca horrível.
Ele tomou uma bela bronca de Adele.
Após isso, os dois voltaram para Romália, para a vida enclausurada e
escondida que levavam. Eles ainda tinham certo receio dos lobos.
Pietro e Talita também voltaram para Olímpia conosco. O namoro deles
continuava firme e forte. Apesar de não saber o que aconteceria no futuro, eu
desejava que eles ficassem juntos, pois eram apaixonados e muito fofos.
Ambos estavam curtindo o seu primeiro amor. Pietro merecia aquilo, ele
merecia ser feliz.
Quando fiquei sabendo que meu pai ia se casar com Macayla, eu quase
surtei. Pulei, gritei, corri e Yuri não entendeu nada. Eu estava feliz pelo meu
pai finalmente ter decidido tomar coragem e se casar com a mulher que
amava. Liguei para Joyce e juntas comemoramos a notícia.
Hoje estávamos aqui, celebrando o casamento dos dois. A alcateia
estava toda reunida. Josh, Maya e Serena, com o pequeno Jake nos braços. O
menino era a cara do Josh, mas algo em seus olhos me lembrava Maya.
Daniel, Levi e Blake também estavam aqui. Brian tinha feito as pazes
com o irmão, pediu desculpas e prometeu tentar não interferir mais na vida
dele e de Daniel. Daniel não pareceu muito convencido, mas aceitou o pedido
de desculpas do cunhado. Brian estava meio diferente agora. Talvez Mirela
tenha alguma influência nisso. A ex-loba também estava mais radiante, feliz.
Ela não tinha mais o peso de ser uma nômade sem alcateia nos ombros para
atrapalhá-la. Finalmente ela tinha encontrado o seu lugar.
- Como vai a minha netinha? Você está cuidando direito dela, Lua? – o
delegado me perguntou quando se aproximou de mim e sua mão acariciou a
pequena protuberância na minha barriga.
Assim que voltamos para Olímpia, eu fui ao médico e fiz os exames
que ele e Joyce tinham me passado. Estava tudo bem com a lobinha e o
ultrassom que fiz recentemente confirmou o sexo dela. Era uma menina
mesmo, assim como a deusa Luna havia dito.
- É claro, pai. A sua neta está ótima. Yuri não sai do meu pé também. –
eu disse e revirei os olhos.
Meu companheiro estava impossível e me irritava várias vezes ao dia
por causa da gravidez. O lado bom disso era que ele sempre me mimava.
Ganhava massagens, comidas na boca e qualquer coisa que eu desejasse.
Yuri era participativo e sempre estava procurando se atualizar sobre o
tema bebês, lendo livros, assistindo vídeos na internet ou até mesmo
enchendo o obstetra de perguntas a cada consulta.
- Acho bom você se cuidar direito, pois... – o delegado ia me dar um
sermão, mas foi cortado pela sua nova esposa:
- O Neandro já está torrando a sua paciência, Lua? – Macayla veio até
nós vestindo um vestido cor de creme que ressaltava todas as suas curvas. –
Deixa a menina, Nenê!
- Macayla! – meu pai exclamou e vi seu rosto ficando vermelho. Ele
não estava acostumado a ser chamado pelo apelido em público. Apertei firme
os lábios para impedir uma gargalhada.
- Como vai essa lobinha? – Macayla falou baixinho, se curvando um
pouco em direção a minha barriga e a acariciando.
- Estamos ótimas, vovó. – eu disse a ela sorrindo.
Macayla olhou para mim surpresa e seus olhos marejaram.
- Sério, Lua? – ela me perguntou toda derretida.
Mal assenti e ela me puxou para um abraço apertado. Meu pai riu.
Eu não podia negar que Macayla era uma influência materna na minha
vida e eu queria que a minha filha tivesse essa influência também. A minha
mãe sempre seria a minha mãe e agora, ela também sempre seria a avó da
minha lobinha. Uma avó a mais não faria mal nenhum, muito pelo contrário.
- Eu estou com ciúmes! Também quero ser abraçada! – Joyce se
aproximou com Lana.
- Vou ser avó, Joyce! Por falar nisso, quando você vai me dar um
netinho também? – Macayla aproveitou para alfinetar a filha e a nora.
- Ih, mãe, nem começa! Eu quero curtir bastante a minha afilhada
primeiro! – Joyce falou e me abraçou de lado. Sua outra mão pousou na
minha barriga.
- Que afilhada? Eu sou a madrinha da filha da Lua! – Maya exclamou
enquanto se aproximava com Jake no colo.
- Quem disse? Lua? – Joyce me fuzilou com o olhar.
- Eu ainda não decidi nada. – falei e comecei a brincar com meu
afilhado.
- Mas já está decidido. Lua é a madrinha do Jake e eu vou ser a
madrinha da bebê dela. – Maya falou sorridente, para atazanar Joyce.
- Veremos. – Joyce falou em tom de desafio.
- Joyce! – Lana chamou a sua atenção, mas Joyce deu de ombros.
- Já pensaram no nome, querida? – Macayla me perguntou, chamando a
minha atenção.
- Estamos pensando em alguns, mas ainda não decidimos nada. –
respondi.
E era verdade. Yuri tinha feito uma lista com os nomes que nós
gostávamos, mas era difícil escolher apenas um.
- Eu posso ajudar vocês. – Josh disse se aproximando juntamente com
Yuri.
Yuri revirou os olhos, mas riu do primo.
- Provavelmente ele vai palpitar um nome que comece com “jota”. –
Maya falou enquanto seu marido enlaçava a sua cintura com um braço e dava
um beijo na cabeça de Jake.
- É uma letra muito bonita. – ele rebateu.
- Dispensamos as suas sugestões, primo. – Yuri falou enquanto me
puxava para os seus braços, em um abraço de lado.
- Eu quero fazer um brinde! – a voz conhecida de Levi foi escutada por
todos.
- Puta que pariu! De novo! – meu pai exclamou meio irritado.
- Não acho que ele esteja bêbado, Neandro. – Macayla falou pensativa.
Todos os presentes se aproximaram mais para ouvir o discurso do
brinde.
Vi que Daniel e Blake se aproximaram rapidamente de Levi, mas ao
chegar perto, eles pararam e olharam confusos para o lobo ancião. Em sua
mão, não havia o conhecido copo de uísque, mas sim um copo de suco.
- Daniel me disse que ele está tentando diminuir o consumo de
destilados. – Pietro disse se aproximando de nós, de mãos dadas com Talita.
- Esse velho fuxiqueiro devia parar de vez, isso sim! – o delegado
exclamou irritado.
- Calma, pai. Vamos escutar o que ele tem a dizer. – eu disse sorrindo.
Yuri beijou a minha testa.
- Humpf! – ele bufou.
- Dessa vez eu não perco o show do Levi. Ele faz apresentações
memoráveis. – Brian comentou com Mirela, perto de nós.
- Eu lembro do último. Ele conseguiu chamar bastante atenção, até eu
aparecer. – ela respondeu bem-humorada.
Olhei para os dois e sorri. Brian e Mirela formavam um casal
interessante.
- Hoje, meus amigos de longa data se uniram no sagrado matrimônio.
Neandro Marino e Macayla Ortiz se casaram e uniram ainda mais as famílias.
Hoje é um dia de comemoração, celebração. Celebração da vida. Vida nova
que vem por aí, vida nova que vai começar, vida nova que foi gerada com
amor. Eu desejo saúde, meus amigos, mas também desejo amor. Um brinde
aos noivos! – Levi gritou no final e todos ergueram suas taças ou copos, o
que estivesse a mão.
Os noivos brindaram e se beijaram, felizes e sorridentes.
Yuri encostou a boca no meu ouvido e um arrepio correu pelo meu
corpo.
- Acho que esse discurso do Levi serviu para nós também. – ele
sussurrou para mim.
- Eu tenho certeza que sim. – respondi a ele.
- Saúde e amor para a nossa lobinha. – ele falou e levantou ligeiramente
a taça em sua mão.
Levantei o meu copo de suco, igual a ele e disse:
- Eu te amo e também já amo demais a nossa lobinha.
- E eu amo vocês duas. Vou amar para sempre.
Yuri colou seus lábios nos meus e nos beijamos apaixonados enquanto
várias taças eram erguidas.

FIM
EPÍLOGO EXTRA

- Nós reconhecemos a Eluana, sua companheira, como a reencarnação


da deusa Luna, alfa supremo. Nos juramos obediência e proteção a ela e toda
a sua descendência. – Leonor disse e se ajoelhou na nossa frente. Seu gesto
foi copiado por toda a sua alcateia, que era extensa, talvez a maior de todas.
Eram doze membros, contando com ela que era a alfa.
Lua e eu estávamos na cidade de Hircânia. Não era muito longe de
Olímpia, por isso viemos de carro. Eu não queria ter feito essa viagem, pois
Lua estava na reta final da gravidez e isso poderia ser cansativo e
desconfortável para ela. Mas, teimosa do jeito que ela era, Lua insistiu em vir
e conhecer aquela alcateia em que uma loba era a alfa.
Leonor, a alfa da alcateia de Hircânia, era uma mulher forte, tinha por
volta de quarenta anos, seus olhos eram castanhos, assim como seus longos
cabelos. Era casada com seu companheiro, que não era lobo, e tinha três
filhos. Ela controlava a enorme alcateia de Hircânia com mãos firmes e
sempre me recebeu bem das outras vezes que vim até aqui. Como Lua ainda
não conhecia essa alcateia, ela insistiu em vir não só para conhecer, mas
também para ser apresentada como a reencarnação da deusa Luna. Como ela
mesma me lembrou, nós estávamos mostrando a todos os lobos que éramos o
casal mais foda das alcateias da deusa Luna.
Estávamos nessa “turnê” pelas alcateias há algum tempo, desde que
voltamos de Belmonte, do casamento do meu sogro. A gravidez de Lua foi a
principal motivação para a minha companheira fazer as viagens e as
apresentações o mais rápido possível.
Éramos bem recebidos nas alcateias e muitos acreditavam nas minhas
palavras prontamente, sem que fosse preciso Lua fazer uma demonstração
dos seus poderes. Apesar disso, eu ainda preferia que Lua o demonstrasse.
Descobrimos há pouco tempo que ela podia emitir uma luz azulada
tênue com as mãos. A luz que Lua emitia era apenas isso, uma luz. Não
machucava nem nada. Era apenas uma demonstração do poder adormecido
dentro de si.
Com dúvidas, Lua entrou em contato com a avó. Elas mantinham
contato e se falavam sempre que possível. Adele disse que ela mesma não
conseguia emitir aquela luz, mas que outras reencarnações passadas
conseguiam fazer aquela façanha. Como já prevíamos, era apenas uma
pequena demonstração de todo o poder da deusa Luna que estava adormecida
dentro dela.
Lua relaxou ao escutar essas palavras da avó. Ela tinha medo do que
esses poderes poderiam fazer com ela. Queria poder dizer a ela para não os
temer, mas sempre me lembrava da deusa Luna tomando o seu corpo e sabia
que talvez esses poderes fossem uma coisa para se temer.
Com as demonstrações de poder, ficou muito mais fácil as alcateias a
aceitarem. Eles juravam obediência e proteção à Lua e toda sua descendência.
Eu ainda não tinha usado os poderes de Lua em meu favor. Eu sabia
que se segurasse a sua mão e invocasse algum poder de alfa supremo, eu
poderia amplificá-lo. Mas, não sabíamos a extensão daquilo, não sabíamos o
que a combinação dos meus poderes com os de Lua iria resultar.
- Obrigada, Leonor. – Lua agradeceu a loba, sorridente.
- Obrigado, Leonor. Sei como deve ter sido difícil reunir toda a alcateia
em um domingo bonito como esse. – eu disse a ela.
- Não precisam me agradecer. É uma honra receber a sua visita, Yuri.
Agora mais ainda, já que a descendente da deusa veio com você. – Leonor
falou sorridente, assim que se levantou e se aproximou de nós.
- Nós que agradecemos a hospitalidade. – Lua disse.
- Imagina. – Leonor olhou para a barriga inchada de Lua e disse, meio
que analisando: - Agora não deve faltar muito. Logo, logo essa lobinha vai
vir ao mundo. – ela devia saber do que falava, já que era “experiente” no
assunto filhos.
Lua sorriu e acariciou o ventre. Ela estava tão linda grávida, que às
vezes eu me pegava a observando com um sorriso bobo no rosto.
- Não vejo a hora que pegá-la nos braços. – Lua disse ainda sorridente,
sem tirar os olhos da barriga.
- Nem eu. – falei também sorrindo.
Leonor deu um suspiro, sorridente e pensativa.
- Bom, vou deixar vocês irem. A viagem até Olímpia não é longa, mas
pode cansar a Eluana.
- Obrigado mais uma vez, Leonor. Qualquer coisa é só entrar em
contato comigo. – eu disse a loba.
Ela assentiu e disse enquanto nos afastávamos:
- Boa viagem!
- Obrigada! – Lua gritou de volta.
Entramos no meu carro e começamos a viagem de volta a Olímpia.
Geralmente, quando eu fazia uma viagem de carro, eu aproveitava para correr
bastante na estrada. Adorava a emoção que a velocidade podia me
proporcionar. Por isso adorava ser um lobo. Eu podia correr à vontade e não
ficava cansado tão rápido. Contudo, Lua estava dentro do carro e estava
grávida. Eu dirigia com todo o cuidado e não corria muito. As vidas da minha
companheira e da minha filha eram mais importantes do que qualquer
velocidade.
Lua estava quieta ao meu lado. Ela observava a paisagem passando do
lado de fora distraída, enquanto acariciava a barriga. Conforme a gravidez
avançou, achamos melhor que Lua interrompesse as metamorfoses. Não
sabíamos se influenciaria alguma coisa no bebê, mas, por precaução, ela não
se transformou mais em loba. Acho que ela sentia falta da sua forma lupina.
- Tudo bem? – perguntei a ela.
- Sim. – ela respondeu sem me olhar.
- No que você está pensando? – perguntei curioso. Tinha certeza de que
ela queria me falar algo.
Lua me olhou, finalmente.
- Nada, é que... eu gostaria de voltar para Belmonte. Quero ter a nossa
filha lá.
Continuei olhando para frente, em direção à estrada, e assenti.
Lua fez todo o pré-natal em Olímpia. Ela já tinha decidido tudo, feito
todos os planejamentos e preparativos. Por que mudar agora?
- Por quê? – perguntei a ela. – Ela não vai ser uma “sem alcateia” só
por ter nascido em outra cidade. Você é a mãe dela, ela vai pertencer a sua
alcateia, a alcateia de Belmonte.
Lua ficou em silêncio, pensativa.
- Tem certeza?
- Absoluta. Palavra de alfa supremo.
Lua riu um pouco.
- Mas podemos fazer do jeito que você se sentir melhor. Se quiser que
ela nasça em Belmonte, nós vamos para lá. Acho que você vai se sentir
melhor perto da sua família e da sua alcateia também.
- Eu me sentiria melhor assim. Além disso, a obstetra de Belmonte é
muito boa. Foi a mesma médica que fez o parto do Jake.
- Tudo bem, então. A nossa lobinha vai nascer em Belmonte.
Lua sorriu para mim, um sorriso tão bonito!
- Obrigada, amor. Eu te amo.
- Também te amo, amor.
Depois disso, Lua começou a conversar normalmente comigo, até
chegarmos em Olímpia, para a nossa vida normal. Aprendi nesses últimos
meses que o humor de uma mulher grávida podia ser bastante volátil. Por
isso, passei a fazer todas as vontades da minha esposa, minha companheira.
A verdade era que eu tinha minhas dúvidas. Nossa filha era a minha
maior preocupação. E mais uma vez, não incomodei Lua com minhas
preocupações, mesmo sabendo que ela se ressentiria com isso.
Assim como não sabia o que resultaria da combinação dos nossos
poderes, não sabia como a nossa filha seria. Ela teria os nossos poderes
combinados? Ela seria a loba mais forte de todas as alcateias da deusa Luna?
Ela seria mais forte do que Lua e eu? Eu não sabia e isso me angustiava.
Minha filha seria não apenas mais uma reencarnação e descendente da
deusa Luna, mas também, a herdeira do alfa supremo.
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