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Camila Oliveira
Copyright © 2021 por Camila Oliveira
Todos os direitos reservados.
Antes
O que será que Yuri tinha para conversar com Mirela? Fiquei olhando
meu companheiro se afastar e entrar no corredor, seguindo a alfa nômade.
Yuri estava tão esquisito ultimamente...
- Lua!
Me virei e vi que Joyce estava me chamando. Ela estava sentada ao
lado de Maya no sofá. Brian, que estava perto delas, se levantou e foi até a
janela do outro lado da sala. Ele estava emburrado, como sempre.
Me aproximei das garotas.
- Oi. – eu falei enquanto me sentava perto das duas.
- Algum problema entre você e o Yuri? – Maya me perguntou. Ela
devia ter notado a minha preocupação.
- Na verdade, eu não sei. Acho que Yuri está com um problema, mas
não quer contar pra mim.
- Deve ser algo da empresa. Ele deve ter muitos problemas para
resolver lá. – Joyce palpitou.
- É verdade. Josh sempre tem problemas na prefeitura. Não sei como
ele consegue controlar tudo por lá, cuidar da alcateia e dar atenção para nossa
família. – Maya falou pensativa enquanto passava a mão sobre a barriga.
- Eu também não sei como Yuri consegue conciliar tantas coisas ao
mesmo tempo. É só que... ultimamente ele tem andado esquisito. Preocupado.
Eu tenho a impressão de que ele está me escondendo alguma coisa.
Silêncio. Maya e Joyce se entreolharam.
- Ele é seu companheiro, Lua. Você não acha que ele está... – Maya não
completou a frase, mas nem precisou.
- Não, não é nada disso! – me apressei em dizer.
Yuri não me trairia. Nós éramos companheiros, nós nos
completávamos. Não havia espaço para esse tipo de coisa na nossa relação.
Na verdade, em todas as relações entre companheiros, traição era uma coisa
impossível. Simplesmente não fazia sentido.
- Você já tentou perguntar para ele qual é o problema? – Joyce
perguntou.
- É claro, Joyce. Mas ele não me fala e sempre muda de assunto. Isso
me preocupa. Não gosto de vê-lo assim. Além disso, eu também fico triste,
pois acho que ele não confia em mim o suficiente para se abrir sobre os seus
problemas. – falei meio chateada.
- Lua, vocês são companheiros. É claro que ele confia em você. Talvez
você só precise dar mais um tempo a ele. – Joyce falou.
- Também acho. Ele vai falar com você no momento certo. – Maya
disse confiante.
- Assim espero. – falei esperançosa.
Joyce abriu um sorriso e se levantou.
- Eu preciso ir, meninas. Vou me encontrar com a Lana. – ela anunciou
mais sorridente ainda, se é que era possível.
- Vocês estão juntas de novo? – perguntei surpresa.
Da última vez que eu vi Lana, ela não tinha dado muitas esperanças
para Joyce.
O sorriso dela murchou um pouco.
- Ainda não, mas torçam por mim.
- Boa sorte. – Maya e eu falamos ao mesmo tempo, enquanto ela ia em
direção à porta e acenava para os que ficavam.
- Pensei que Lana estava com Safira. – comentei com Maya, franzindo
o cenho.
- Não, elas não estavam namorando. – Maya falou sorrindo. – Lana só
estava fazendo ciúmes para Joyce no meu casamento. Safira tem uma
namorada há anos e não mora mais aqui em Belmonte. Tem pouco tempo que
a Lana decidiu conversar com a Joyce de novo. Acho que eu já sei qual será a
exigência dela para que as duas reatem.
Aquilo eu não sabia. Sempre achei que Lana era namorada de Safira.
Maya era amigas das duas, então devia estar por dentro de tudo.
- E qual será?
- Ela vai querer que Joyce se assuma.
- Ah.
Era o que Joyce ainda não tinha feito. Será que ela seria capaz de passar
por cima dos seus medos e receios para ficar junto da pessoa que amava?
Enquanto eu pensava sobre isso, vi que Mirela estava voltando do
escritório de Josh. Ela estava sozinha. Brian foi até ela e a conduziu para a
porta. Os dois não se despediram de ninguém antes de irem embora.
Olhei de novo para o corredor, mas Yuri não apareceu. O que
aconteceu?
- Vou falar com Yuri. – eu disse a Maya e me levantei, indo até o
escritório de Josh.
Dei uma batidinha na porta e a abri. Me deparei com um Yuri sério e
pensativo, sentado na beira da escrivaninha. Ele não pareceu notar que eu
tinha entrado.
- Yuri? – eu o chamei enquanto fechava a porta.
Ele levantou os olhos para mim e me olhou surpreso. Parecia até que
tinha visto uma assombração. Franzi o cenho. De novo essa esquisitice dele!
- Lua? Não te vi entrando.
- Eu bati na porta antes de entrar. Você está bem?
Ele deu um suspiro e passou as mãos pelos cabelos. Se desencostou da
escrivaninha e veio até mim, no meio do escritório.
- Nós precisamos conversar, amor. Eu preciso te contar uma coisa. – ele
falou preocupado, meio hesitante.
Tive a impressão de que Yuri preferia estar fazendo qualquer outra
coisa a estar falando comigo para ter aquela conversa. Seja lá qual fosse o
problema que ele tinha para me contar, devia ser grave. Por um breve
momento a hipótese de Maya me passou pela cabeça...
- Pode me falar, Yuri. – falei calmamente, na tentativa de tranquilizá-lo.
Yuri me puxou até as cadeiras que ficavam na frente da escrivaninha e
pediu para eu me sentar. Ele se sentou de frente para mim, na outra cadeira e
ficou segurando as minhas mãos. Seus olhos castanho-claros prenderam
minha atenção.
- Lua, você lembra quando nós fomos visitar a Mirela no hospital,
meses atrás?
- Sim. Nós tínhamos descoberto quem ela era e você a confrontou lá.
Foi alguns dias depois da luta no casamento de Josh. Mirela tinha
acordado há pouco tempo e ainda não tinha certeza se perderia os
movimentos das pernas.
Yuri assentiu e continuou:
- Lembra do que ela falou? Sobre a deusa Luna?
Fiz um pouco de esforço e consegui lembrar. Não eram as palavras
exatas, mas lembrei de Mirela mencionando algo sobre eu ser a reencarnação
da deusa Luna. Ela não foi a primeira e nem seria a última a me comparar
com a deusa.
- Sim, ela falou que eu era a reencarnação da deusa Luna. Já escutei
isso mais de uma vez na vida. Por quê?
- Porque talvez ela esteja certa.
Fiquei encarando Yuri sem acreditar nas palavras que eu tinha acabado
de escutar. Eu era a reencarnação da deusa Luna? Não. Não era possível.
- Por que ela acha isso?
- Você conhece toda a lenda da deusa Luna?
- Claro. – respondi prontamente e sem hesitar.
Qualquer pessoa que nasceu em Belmonte, conhecia a lenda da deusa
Luna, a guardiã da cidade. Segundo a lenda, muito antiga, a deusa Luna era
uma deusa guerreira, protetora dos lobos e das florestas. Era a deusa da lua e
da noite. A alcateia sagrada foi formada pelos seus melhores guerreiros, que
receberam o dom da metamorfose após clamar à deusa, antes de ir para uma
importante batalha. Os lobos eram os animais queridos da deusa, seus
protegidos. A deusa Luna concedeu o desejo dos guerreiros e eles se
transformaram em lobos, passando assim, a fazer parte da alcateia sagrada da
deusa Luna. Eles achavam que como lobos, consagrados pela própria deusa, a
luta seria mais fácil. E foi. Todos os lobos da atualidade, pertencentes à
alcateia da deusa Luna, eram descendentes desses lobos guerreiros, que se
espalharam por vários lugares. Por isso havia alcateias espalhadas em
diversos cantos, em outras cidades.
Yuri suspirou.
- Você conhece o mito da descendência da deusa Luna?
Franzi o cenho. Eu conhecia a lenda da deusa, mas o mito da
descendência... acho que nunca tinha ouvido falar nisso.
- O que é isso?
- O mito da descendência é pouco disseminado porque nunca foi
comprovado. Ele fala sobre os possíveis descendentes da deusa Luna, que
herdariam seus poderes. Dizia-se que os seus descendentes teriam um pouco
do espírito da deusa dentro de si, por isso seriam a sua “reencarnação”.
Abri a boca, mas não consegui falar nada, apenas encarei Yuri. Foi
apenas na terceira tentativa que consegui falar.
- E você também acha que eu sou uma descendente? Uma
reencarnação?
- Eu realmente não sei, Lua. Mirela acha que sim.
Balancei a cabeça negando. Há poucos meses tinha descoberto que era
uma loba, e agora havia a possibilidade de eu ser uma deusa. Que diabos
havia de errado comigo? Por que eu não podia ser normal, pra variar?
- Era essa a sua preocupação? Era por isso que você estava estranho
ultimamente?
Ele assentiu.
- Eu não sabia o que esperar disso. Fui à outras alcateias para tentar
buscar respostas, mas não encontrei nada. Minha única alternativa foi vir até
aqui e perguntar para Mirela. – ele fez uma pausa e continuou: - Lua, pelo
que a Mirela falou, outros lobos podem vir atrás de você, para querer usá-la
contra mim. Você pode correr perigo e eu não sei se sou o bastante para te
proteger. Mirela conseguiu ignorar minha ordem de comando. Talvez outros
lobos também consigam.
Encarei Yuri sem acreditar. Ele estava preocupado comigo esse tempo
todo e não me contou nada. Yuri não confiava em mim.
- Você devia ter falado comigo desde o começo. – me levantei, soltando
as mãos dele e saindo do escritório.
CAPÍTULO 8
O meu antigo quarto estava diferente agora. Tinha uma cama de casal
no lugar da anterior, de solteiro. As paredes, antes amarelas, ganharam um
tom de bege clarinho. A decoração estava mais clean também. Provavelmente
Macayla ajudou meu pai naquela tarefa e, provavelmente o delegado guardou
em uma caixa o resto dos cacarecos que havia pelo meu quarto.
Assim que Yuri colocou nossas malas no quarto e eu fechei a porta,
senti o peso do silêncio entre nós. Me virei e me deparei com Yuri sentado na
cama, me olhando, com a testa franzida. Cruzei os braços na altura do peito e
o encarei também.
- Precisamos conversar. – ele disse resoluto.
- Sim, nós precisamos conversar com a alcateia toda. Você precisa
contar tudo o que me contou hoje. Devia ter aproveitado a reunião para fazer
isso.
- Não, Lua. Quer dizer, sim, eu preciso falar com a sua alcateia
também. Mas agora eu quero conversar com você.
- Pra quê? Você estava seguindo muito bem sozinho nas suas
investigações. – rebati, azeda. – Você não confia em mim.
- Isso não é verdade! É claro que eu confio! – ele rebateu exasperado.
Fiz uma careta. Eu estava confusa e não sabia no que acreditar.
As nossas viagens de fim de semana até outras alcateias foram para
isso: Investigar.
- Eu não fiz muitos avanços sozinho nas minhas investigações. Foi
apenas hoje, quando Mirela me contou sobre o mito da descendência, que eu
progredi.
Balancei a cabeça.
- Como é que Mirela sabe tanto? Como é que ela tinha tanta certeza
sobre mim?
- Ela me contou que fez muitas pesquisas e investigações. Ela era uma
nômade, Lua. Sabe-se lá por quantos lugares ela já passou. Ela deve ter
aprendido muitas coisas andando por aí.
Isso era verdade.
- Eu ainda não entendi por que ela acha que eu sou uma descendente da
deusa Luna. Além da aparência, eu não tenho mais nada em comum com ela.
- A deusa Luna era originalmente a protetora de Romália, não
Belmonte. Como Romália não tem alcateia, Belmonte assumiu a deusa como
sua guardiã. De acordo com o mito da descendência, os descendentes dela
habitavam Romália, a cidade querida da deusa Luna. Ela pensou que você
tivesse nascido lá.
Congelei no lugar. Aquilo não podia ser possível.
Romália era a cidade natal da minha mãe. Pelo que eu sabia, toda sua
família era de lá. Será que a minha mãe era uma descendente da deusa Luna?
Uma “reencarnação”, assim como eu? Ela tinha poderes?
Seria uma brincadeira de muito mau gosto do destino. Minha mãe, uma
descendente da deusa Luna, se casar com meu pai, um lobo da alcateia
sagrada. Seria muita “zoação” para uma pessoa só.
Loba e deusa, ao mesmo tempo.
- Vamos falar com meu pai. – eu disse a Yuri, já pegando na maçaneta
para sair do quarto.
CAPÍTULO 9
Mamãe amava meu pai, eles eram felizes e apaixonados. Não fazia
sentido que ela o usasse. A não ser que ela tenha aproveitado a chance para ir
embora de Romália, deixando o seu passado para trás para recomeçar uma
vida nova ao lado do homem que amava.
Yuri tinha razão. Nós teríamos que ir até Romália se quiséssemos
descobrir a verdade. Só de pensar nisso, meu estômago se revirava. Eu tinha
uma família lá, que minha mãe nunca me apresentou e sempre ignorou. Ela
nunca falou sobre eles. Eles eram estranhos para mim. Como é que agora eu
ia chegar lá e perguntar: Olá, tudo bem? Eu sou a Eluana, filha da Cibelle. É
verdade que a nossa família é descendente da deusa Luna e que nós somos
considerados a sua reencarnação? Oh, é mesmo?
Argh!
Toda essa história ficava se repetindo na minha cabeça, como se
estivesse em um looping eterno. Eu, descendente e reencarnação da deusa
Luna. Yuri temendo a ameaça de outros lobos, por achar que não poderia me
proteger. Mamãe fugindo de suas origens. Sangue da deusa nas minhas veias.
Até meu nome era parecido com o da deusa! Mamãe devia saber mesmo
quando o escolheu... Ela só não imaginava que eu passaria por tudo isso no
futuro.
Minha mente e meu corpo estavam cansados, mesmo assim, eu não
conseguia dormir.
Já era madrugada e Yuri e eu estávamos deitados na nossa cama. Yuri
apertando minhas costas contra seu o peito e eu segurando sua mão. Mesmo
irritada, não conseguia me separar dele. Na verdade, eu não conseguia nem
me imaginar sem ele.
- Sem sono? – seus lábios roçaram a minha orelha.
- Pensei que você estivesse dormindo.
- Eu senti que você estava agitada e acordei. – seu braço apertou um
pouco mais a minha cintura.
- Não é nada de mais. – falei enquanto acariciava sua mão na minha
barriga.
Yuri suspirou e deu um beijo no meu pescoço, que me arrepiou inteira.
- Eu sei que você tá preocupada, amor. Eu também to, mas vamos
resolver isso. Vamos descobrir a verdade sobre você logo e isso não será
mais motivo de preocupação.
As palavras de Yuri foram um grande conforto para mim. Ele tinha o
dom de me acalmar com suas palavras e seus gestos. Mesmo assim, um
pouquinho de preocupação continuava lá, me incomodando.
- Mas e se for verdade, Yuri? E se eu for mesmo uma descendente? O
que vai acontecer comigo? Eu vou ser uma deusa loba?
- Lua, ninguém sabe o dia de amanhã. Não sabemos o que vai
acontecer. Se você for mesmo uma descendente e reencarnação da deusa, nós
vamos procurar ver isso como uma benção para os lobos. Vamos mostrar a
eles o quanto você é importante para todos, o quanto você é poderosa. Acho
que assim será mais seguro para você.
Dei um suspiro e me virei de frente para Yuri. Seu braço continuou na
minha cintura e uma de suas pernas passou por cima das minhas. Coloquei a
minha mão em seu rosto e o acariciei.
- Eu tenho medo. – falei baixinho e encarando os olhos de Yuri na
penumbra.
- De quê? – ele também falou baixinho.
- Sei lá. E se eu... mudar? Esse suposto poder que eu tenho é
desconhecido para mim. Não quero uma vida diferente da que eu tenho
agora. Quero a nossa vida “normal”, lá em Olímpia.
- Eu não vou deixar isso acontecer. Nós vamos continuar com a nossa
vida “normal”, Lua. Eu prometo. Você vai continuar sendo você: Eluana
Marino Santino, filha de Neandro Marino e Cibelle Marino. Loba da alcateia
de Belmonte. Companheira e esposa do alfa supremo das alcateias da deusa
Luna. Estudante do curso de Administração da faculdade de Olímpia. Futura
mãe dos nossos filhos. Amor e razão da minha vida.
Quando Yuri terminou de falar, eu já estava com os olhos marejados.
Ele realmente tinha o dom de me acalmar.
- Eu te amo. Desculpa pelo meu “chilique” de hoje. – disse a ele com a
voz embargada.
Ele abriu o sorriso que eu adorava e respondeu:
- O que seria de mim sem os seus “chiliques”?
Nós rimos e nos beijamos. Um beijo carinhoso, meio molhado pelas
lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
Yuri separou seus lábios dos meus e me puxou mais para perto, me
aninhando contra o seu peito. O som das batidas do seu coração me fez
relaxar instantaneamente.
- Dorme, amor. Não se preocupe mais.
- Eu não vou mais me preocupar se você também não se preocupar.
- Feito.
Ele deu um beijo na minha cabeça e acariciou meus cabelos.
Rapidamente peguei no sono, nos braços do homem que eu amava.
Quando acordei no dia seguinte, Yuri não estava mais na cama. Ainda
de camisola, saí do quarto e fui atrás dele. Não fui muito longe. Ele estava na
cozinha, sentado à mesa e com a cara enfiada no laptop. Será que ele estava
fazendo mais pesquisas e investigações ou estava apenas trabalhando? Era
engraçado ver como Yuri saía da vida de CEO, mas a vida de CEO não saía
dele.
- Bom dia, amor. Quer café? – ele me perguntou, sem levantar os olhos
do computador a sua frente.
- Bom dia. Eu quero sim. Cadê o meu pai? – perguntei enquanto ia
pegar uma caneca no armário.
- Saiu para trabalhar uma hora atrás e levou Macayla para a confeitaria.
Abri um sorrisinho. Não ia demorar muito para ter mais um casamento
na alcateia. Macayla já estava até dormindo aqui.
Coloquei minha caneca na mesa e Yuri me serviu o café. Só assim ele
largou um pouco o computador.
- Você ainda tá investigando? – perguntei e tomei um gole de café. Não
tinha percebido que estava muito quente e queimei a língua.
- Não. Só resolvendo algumas coisas da empresa. Nada de mais. – ele
respondeu coçando a cabeça.
Fui até ele e me sentei no seu colo. Uma de suas mãos voou para o meu
quadril, enquanto com a outra, ele continuava mexendo no computador.
- Temos a casa só para nós dois. – eu disse a ele, mordendo o lábio
inferior e olhando para a tela do laptop. Realmente, Yuri estava examinando
alguns documentos da Santinos.
Sua outra mão pousou na minha coxa e a apertou. Apenas agora ele
notou que eu ainda estava de camisola.
- A casa do delegado, você quer dizer. – seus olhos percorreram
devagar todo o meu corpo. Comecei a sentir o formigamento que ele estava
provocando em mim.
- Pensei que você não tivesse medo dele. – provoquei.
Yuri não se sentia nem um pouco intimidado pelo meu pai. E o
delegado sempre lançava uns olhares fulminantes para ele... Mas Yuri parecia
sempre o ignorar, diferente da maior parte das pessoas que eu conhecia.
- Não tenho. Eu só o respeito a ponto de não transar com a filha dele
em cima da mesa da cozinha dele.
Meu sorriso ficou maior. Quase suspirei alto demais.
- Você me deu uma ótima ideia.
Yuri riu.
- Lua...
- O que foi? Quer dizer que a gente vai fazer voto de castidade
enquanto estiver aqui?
- Claro que não. – ele franziu o cenho. Sua mão começou a acariciar
minha coxa, subindo e descendo por toda a extensão. Reprimi um suspiro.
- E então? – arqueei as sobrancelhas.
Como se estivesse esperando a sua deixa, o celular de Yuri tocou. Ele
esticou a mão e pegou o aparelho que estava em cima da mesa.
- Oi, Josh! – ele saudou o primo, sorridente.
Josh tinha que me atrapalhar justo agora! Eu estava quase conseguindo
convencer Yuri. Tentei me levantar para dar alguma privacidade a conversa
dos dois, porém, Yuri me segurou, me prendendo no colo dele.
- Yuri! – sussurrei o repreendendo. Ele me ignorou.
- O que foi? – ele perguntou a Josh.
Vi o sorriso no seu rosto sumir aos poucos. O formigamento e a
excitação em mim também sumiram. Josh não tinha boas notícias.
- Merda! – Yuri praguejou nada feliz.
- O que foi? – perguntei ainda sussurrando. Yuri me ignorou de novo.
- Tudo bem, a gente se fala depois. – Yuri desligou o celular.
- O que foi que aconteceu? – insisti.
Yuri deu um suspirou meio irritado e respondeu:
- Brian e Mirela foram embora de Belmonte.
CAPÍTULO 11
O quê?!
- Como assim foram embora? Pra onde? Como? – perguntei totalmente
confusa.
Yuri balançou a cabeça.
- Eu não sei. Josh me disse que Macayla ligou, avisando-o de que
nenhum dos dois foi trabalhar hoje e que, após ligar para Blake, ele disse que
foi até a casa de Brian, mas não tinha ninguém lá. Aí, ele ligou para o Brian,
e o sacana disse que foi embora de Belmonte com Mirela. Não disse para
onde foi e nem se iria voltar. Simples assim.
- Eles fugiram. – constatei.
- Parece que sim. Não quiseram ficar para saber o veredito da alcateia.
Brian deve realmente gostar de Mirela. – Yuri se recostou na cadeira,
pensativo.
Fiquei sentada no colo de Yuri, sem reação. Se Brian e Mirela fugiram
de Belmonte, então eles realmente se amavam. Se a alcateia decidisse que
Mirela não poderia ficar em Belmonte, ela teria que ir embora. Os dois
sofreriam por não poderem ficar juntos.
Mas será que era isso mesmo? Não seria outro plano de Mirela? Afinal
de contas, ela sempre quis ser aceita em algum lugar e Brian parecia a
oportunidade perfeita, pois ao lado dele ela teria um lugar na alcateia de
Belmonte e um lugar fixo para morar. Ela não seria mais uma nômade.
- Josh quer a nossa presença na casa dele. Uma reunião de emergência.
– Yuri falou e deu algumas palmadinhas na minha bunda, mandando eu me
levantar do seu colo. Nossa brincadeirinha tinha acabado, infelizmente.
Me levantei ainda pensativa e disse:
- Vou tomar banho e me aprontar. Não demoro.
- Tudo bem. – Yuri respondeu e passou a mão pelos cabelos.
Andei para o nosso quarto refletindo sobre o que tinha acabado de
acontecer. Quem diria que um casal improvável formado por aqueles dois,
iria se rebelar contra a alcateia e fugir para poder ficar junto. Havia algo de
romântico naquele gesto. Algo que eu não esperava de Brian, e muito menos
de Mirela.
- Não, por favor não! Eu imploro. Deve haver outro jeito, outra
punição. – Blake se levantou desesperado e foi até Josh.
Eu estava odiando tudo aquilo.
Desde que recebi a ligação de Josh, sabia o que iria acontecer. A lei dos
lobos era antiga e arcaica, mas ainda tinha validade.
- Não podemos fazer isso. É um absurdo! Eu me recuso! – Lua falou,
totalmente horrorizada com essa situação.
Obviamente, Lua se opôs. Uma rebelde até o fim.
- Josh, você não pode tomar uma decisão como essa agora. Faltam
membros da alcateia nessa reunião. – Serena o avisou.
Serena sabia muito bem que ele podia sim. Josh era o alfa da alcateia de
Belmonte. A decisão que ele tomasse seria acatada por toda a alcateia,
independentemente de todos aceitarem ou não.
Josh ainda estava de olhos fechados. Aquela decisão era algo que
nenhum alfa queria tomar.
- Josh não precisa seguir à risca a lei dos lobos. O nosso alfa supremo
está aqui. Ele pode “autorizar” Josh a tomar outra decisão, seguir outra
alternativa. – Levi falou pensativo.
- Yuri. – Lua se virou para mim no mesmo instante.
Encarei Lua e seu olhar esverdeado ciente de que todos os olhares da
alcateia estavam em mim.
Eu poderia “mudar” uma lei antiga e antiquada dos lobos, afinal de
contas aquela era uma situação que ninguém estava confortável de encarar.
Talvez Pietro, mas até ele estava com o rosto pálido diante daquela hipótese
de caça. Blake com certeza se recusaria a caçar o irmão, o que só geraria mais
um conflito na alcateia: desobediência. Lua também não iria caçar Brian e eu
não a queria recebendo alguma punição por insubordinação e desobediência.
Josh estava relutante em tomar aquela decisão. Ele não queria ter o sangue de
Brian nas suas mãos. Joyce e Daniel não estavam aqui, mas com certeza
também se oporiam. Daniel por causa de Blake, e Joyce, como médica,
também não tiraria uma vida assim.
Os lobos anciãos também não queriam aquilo. Levi, Macayla e Serena
nunca se depararam com aquilo antes e obviamente, Neandro também se
recusaria, por causa de Lua. Maya e Ismene também não apoiariam aquilo.
Só me restava uma alternativa e era claro que eu não puniria a alcateia de
Belmonte por desobediência à lei dos lobos. Aquela era uma alcateia pacífica
e eu queria que continuasse assim.
Brian atou as nossas mãos com a sua decisão estúpida.
- Josh pode escolher outra punição para Brian. Eu autorizo. – falei
depois de um silêncio sepulcral.
A alcateia soltou um suspiro coletivo de alívio.
- Obrigada, meu amor. – Lua me abraçou, enterrando seu rosto no meu
pescoço. Passei meus braços em volta dela e a apertei contra mim.
- Obrigado, Yuri. – Blake me agradeceu e se jogou em uma cadeira,
aliviado.
- Tudo bem. Mas Josh ainda precisa encontrar outra alternativa. – falei
e olhei para meu primo, que parecia ter se livrado de um peso nos seus
ombros.
Ele suspirou.
- Acho que só me resta outra opção. Na verdade, acho que isso vai
resolver todos os nossos problemas. Os meus e os dele. – Josh falou e cruzou
os braços na altura do peito.
- Qual é? – Lua levantou o rosto para olhá-lo, mas ainda estava
abraçada comigo.
Eu já sabia muito bem o que Josh tinha em mente.
- Vou expulsá-lo da alcateia.
Silêncio.
Pelo menos dessa vez ninguém mataria ninguém.
Desse modo, Josh se livraria do problema com Mirela, pois Brian não
faria mais parte da alcateia. Os dois seriam lobos sem alcateia.
- Não podemos esperar a alcateia estar toda reunida para tomar essa
decisão? – Blake perguntou tenso na cadeira novamente.
- Não, Blake. Os membros que não puderam vir serão avisados mais
tarde das decisões tomadas aqui. – Josh disse a ele.
- Josh, não se precipite em tomar qualquer decisão. – Serena o
aconselhou.
- Você não ouviu o lado do Brian, Josh. Ele ainda vai me ligar de novo.
– Blake tentou argumentar.
- Mas ele não disse se ia voltar. – Pietro se meteu.
Blake lançou um olhar semicerrado ao cunhado, que o devolveu. Pietro
estava tão diferente. Nem parece mais aquele garoto tímido, indefeso e
franzino que eu conheci e defendi.
Josh deu um suspiro.
- Eu já tomei minha decisão. Vou expulsá-lo assim que conseguir entrar
em contato com ele. Pelo que Blake contou, ele não disse se ia voltar. Não
posso ficar com um membro oscilante na alcateia.
- E se ele se arrepender e voltar? – Lua perguntou, saindo dos meus
braços.
- Eu não sei, Lua. Eu sinceramente não sei. – Josh respondeu.
Josh estava obviamente cansado de tudo aquilo. Aquele assunto na
alcateia estava dando muito trabalho a ele. Fora isso, Josh precisava se
preocupar com as eleições que ocorreriam no próximo ano. Obviamente ele
queria se reeleger e isso demandava bastante trabalho e esforço prévios. Além
disso, tinha a sua preocupação latente com sua esposa grávida. Josh estava
sobrecarregado. Resolvi tomar a frente. Me levantei e disse:
- Acho que por hoje já chega. Vamos encerrar essa reunião por aqui.
- Eu concordo. Obrigado pela presença de todos. – Josh falou e saiu da
sala rapidamente, com certeza indo atrás de Maya.
Todos se levantaram e começaram a ir embora. Observei Blake indo
embora com Levi enquanto mexia no celular sem levantar o rosto. Ele ainda
tentava falar com o irmão.
Peguei a mão de Lua e saímos também.
- Vamos para casa. – eu disse a ela.
Será que eu teria que conversar com Josh e pedir que a alcateia dele
fosse mais educada? Aquela algazarra não ajudava em nada e só atrasava a
nossa discussão.
Eu já nem sabia mais o porquê de ter marcado aquela reunião de
emergência. Talvez tenha sido uma péssima ideia contar a eles sobre a
ligação daquele otário de Romália. Agora todos queriam lutar em algo que
deveria ser somente meu, algo que eu tinha o dever de resolver.
Aquela insubordinação e desobediência era algo novo para mim. Nunca
foi preciso eu lidar com uma alcateia daquele jeito. Todas as que eu conhecia
me obedeciam e respeitavam. Aquela seria a primeira vez que eu
exterminaria uma alcateia com as minhas próprias mãos, ou melhor, com as
minhas próprias patas, e presas também, para ser mais exato.
A expectativa não me deixava nada animado. Aquilo era algo que eu
não gostaria de lidar, mas era preciso.
Infelizmente, a minha companheira estava persistente na ideia de me
“ajudar”. Lua era teimosa, mas aquilo não era culpa exclusivamente da sua
teimosia, no entanto. O fato de sermos companheiros contava muito na sua
decisão de lutar contra aquela alcateia desconhecida ao meu lado. Era puro
instinto falando por ela.
Eu não a culpava. Se a situação fosse ao contrário, eu agiria da mesma
forma que ela.
Mas o fato de entendê-la não me deixava menos puto. Obviamente, eu
não queria a minha companheira envolvida naquela confusão. Eu era
naturalmente superprotetor e com Lua não seria diferente. Nem com Josh.
Nem com a alcateia de Belmonte, que era a alcateia com a qual eu tinha mais
afinidade.
A teimosia de Lua venceu no fim das contas. Talvez ela não soubesse,
mas o que eu falei mais cedo, enquanto estávamos na casa dela era verdade.
Eu realmente não gostava de negar nada a ela. Mas, porém, entretanto e
todavia, ainda seria eu a dar as cartas naquele jogo.
- Tudo bem. Você venceu, Lua. Você fica. E se a alcateia de Belmonte
quiser lutar, ela lutará também, mas sob às minhas ordens. Os lobos anciãos
estão autorizados a se metamorfosearem também se quiserem e se poderem. –
falei. Puto, mas ainda no controle.
Vi que Lua suspirou aliviada.
Ela estava atenta a todos os meus movimentos. Com certeza ela notou
como eu não gostei de falar aquilo.
- Muito bem. Precisamos decidir algumas coisas agora. Mas antes, eu
gostaria que você me esclarecesse algumas coisas, primo. Que história é essa
da Eluana ser a reencarnação da deusa Luna? – Josh perguntou, chamando a
minha atenção.
Claro. Em um momento de descontrole acabei revelando aquele detalhe
sobre Lua. Eu já pretendia contar à alcateia, porém o drama da fuga de Brian
me distraiu e eu acabei esquecendo.
Suspirei. Lua voltou a se sentar. Não estava muito satisfeita com o
rumo da conversa.
- Ainda não temos certeza, é apenas uma hipótese. Ao que parece, Lua
descende da deusa Luna. A família da mãe de Lua é de Romália. Nós
pretendíamos ir até lá em busca de mais respostas. – confessei.
- Mas como vocês chegaram a essa conclusão? – Serena perguntou
confusa.
- Na verdade, foi Mirela quem chegou à essa conclusão. O mito da
descendência indicava que os descendentes da deusa Luna estariam em
Romália, cidade inicialmente protegida pela deusa. Como a mãe de Lua era
de lá e ela é parecida com todas as ilustrações da deusa...
- É mesmo! – Joyce exclamou surpresa.
- Eu sabia! Se isso for verdade, será uma benção para a nossa alcateia!
– Levi exclamou sorridente.
- Eu não conheço esse mito da descendência. – Blake falou com o
cenho franzido.
- Nem eu. – Pietro falou com a mesma expressão confusa.
- Depois eu explico. – Daniel disse ao companheiro e ao irmão.
Lua suspirou incomodada. Ela tinha medo daquilo, do desconhecido.
Os poderes que ela poderia ter, o que ela poderia fazer, o que ela se tornaria...
Além do fato de ter um pedaço da deusa dentro de si e possuir um pouco do
seu sangue. Aquilo era um pouco assustador mesmo.
Os olhos de Neandro estavam na filha. Ele sabia que aquilo a
preocupava.
- E qual é o problema? – Josh perguntou. Ele não tinha tirado os olhos
de mim. Ele notou a minha preocupação.
- Não sabemos qual vai ser a reação dos outros lobos, das outras
alcateias. Lua é minha companheira, meu ponto fraco. Podem usá-la contra
mim, como Mirela fez. Além disso, não sei se outros lobos também podem
me desobedecer. Mirela conseguiu desobedecer a minha voz de comando. –
falei sem encarar ninguém, olhando para o chão.
Assumir as minhas fraquezas não era fácil. Sempre gostei de pensar que
era forte, o líder, e que poderia proteger todos assim. Imaginar que eu era um
alfa supremo fraco, me envergonhava. Meu avô e todos os alfas supremos
antes dele deviam se envergonhar de mim.
- Yuri, você é o alfa supremo. Não existe outro lobo mais forte do que
você atualmente. Mirela pode ter usado de algum artifício para enganá-lo. –
Levi falou pensativo.
- Como assim, vovô? – Daniel perguntou.
- Aquela loba me enganou no casamento do Josh. Ela fez eu achar que
ela era uma alfa suprema. Foi Yuri quem a desmascarou. O olfato dele é mais
apurado do que o de um lobo comum.
- Sem mencionar o fato de que ele não estava bêbado... – Daniel
murmurou. Blake e Pietro seguraram os risos.
- Você acha que ela enganou o Yuri quando conseguiu desobedecê-lo?
Como?! – Neandro perguntou a Levi, ignorando Daniel.
- Não sei, mas se tem uma coisa que aquela loba sabe, é enganar os
outros! – Levi respondeu meio chateado. Ele não gostou de ser enganado por
Mirela.
Também não gostei quando ela tentou me enganar. Ela só podia achar
que eu era um otário, se ia acreditar naquela história mal contada dela. Além
disso, ela não contava com o meu olfato apurado de alfa supremo.
Só de lembrar dela ao lado de Lua, segurando-a como a sua refém...
- É isso! – Lua exclamou de repente, ficando de pé e com o semblante
iluminado por um sorriso.
- O que foi, menina? Tem formiga na sua cadeira? – Neandro
perguntou meio irritado. Acho que Lua o assustou com o pulo que deu.
Macayla deu uma cotovelada no delegado, chamando a sua atenção.
Lua o ignorou.
- Foi por isso que Mirela conseguiu ignorá-lo, Yuri! Ela estava comigo!
Segurando a minha mão!
Fiquei encarando Lua, confuso.
- Você quer dizer que Mirela conseguiu desobedecer a Yuri porque
estava segurando a sua mão? – Josh perguntou também confuso.
- Não apenas a mão de uma loba. A mão da reencarnação da deusa
Luna. A descendente da deusa. E a deusa seria a única mais poderosa do que
o próprio alfa supremo! – Levi exclamou sorridente, chegando à conclusão
que eu demorei a entender.
Mirela estava segurando a mão de Lua quando gritou para mim, me
ignorando e desobedecendo. Ela “usou” o poder de Lua contra mim e
conseguiu se rebelar contra a minha voz de comando. Ela “usou” o poder da
deusa Luna sem saber!
Então isso significava que Lua era realmente a reencarnação da deusa
Luna.
Olhei para a minha esposa e companheira. Vi em seus lindos olhos
esverdeados o momento em que ela chegou à mesma conclusão que eu. Seu
sorriso murchou quando a compreensão a atingiu e a realidade bateu à porta.
A alegria da descoberta e revelação dos meus falsos temores a abandonou.
- Merda. – ela sussurrou.
Sim. Merda. Isso tornava real outro temor meu: Lua teria um alvo nas
costas a partir de agora.
CAPÍTULO 16
O lago dos lobos era especial para Lua e eu. Foi o primeiro lugar em
que tivemos uma conversa “normal” e eu pude conhecê-la um pouco mais.
Na época, ela nem imaginava que era a minha companheira e nem havia tido
a sua primeira metamorfose ainda. Eu não conhecia o tipo de paixão que me
consumiria após isso.
Querendo sorrir, comecei a lamber o rosto de Lua e ela retribuiu. Tinha
certeza de que ela queria rir da nossa troca de carícias lupinas.
Na verdade, eu queria beijá-la na forma humana e deitá-la ali no chão.
Fazer amor com ela lentamente ali, na beira do lago. Quem sabe até entrar na
água e transar lá dentro. Era uma ideia tentadora.
Infelizmente não podíamos fazer isso. Estávamos no meio da nossa
ronda e era a nossa responsabilidade manter a vigilância sobre a cidade.
Droga!
Em meio a esses pensamentos, escutei um barulho. Interrompendo as
lambidas que dava em Lua, virei na direção da fonte do som e farejei.
Lobos.
Lobos que eu desconhecia estavam se aproximando de nós
cautelosamente ali na floresta.
Imediatamente, fiquei mais à frente de Lua e comecei a rosnar,
mostrando os dentes. O instinto de proteção e a possessividade sobre Lua
tomavam conta de mim e era difícil agir racionalmente.
Provavelmente eles tinham mascarado o seu cheiro para terem passado
despercebidos por Lua e eu, mas não conseguiram manter o disfarce por
muito tempo. Eles entraram em Belmonte correndo na forma lupina e quando
já estavam mais perto de nós, se transformaram de volta. Com certeza eles
aproveitaram o nosso momento de distração ali no lago dos lobos.
A alcateia se aproximou cautelosamente na forma humana. Pelo menos
foram inteligentes em agir dessa forma, parecendo inofensivos. Se tivessem
aparecido na forma lupina, eu teria começado a atacar, sem perguntas e sem
explicações, mesmo que eles estivessem em maior número. Eles eram
forasteiros e estavam entrando em território alheio, sem autorização.
O alfa, Átila, parecia ser um cara mais velho do que eu. O garoto ao seu
lado era o seu filho, senti pelo cheiro. As mulheres e o outro cara pareciam
estar na minha faixa etária. Havia um casal de companheiros entre eles.
Todos estavam em forma e prontos para o combate se preciso fosse. A
expectativa me animou. Estava louco para acertar as coisas com aquele alfa
filho da puta.
Não me passou despercebido o detalhe de que pai e filho estavam
juntos. O garoto já tinha tido a sua primeira metamorfose e provavelmente
era o próximo alfa. Átila não deveria mais estar se transformando, de acordo
com a lei dos lobos.
Quando finalmente parou de nos analisar, o cretino se aproximou um
pouco e disse:
- Yuri Santino? Precisamos conversar, alfa supremo.
Ah, sim. Nós teríamos uma conversa. Ele conversaria com as minhas
presas, enquanto elas estivessem se afundando em sua garganta. O
desgraçado ainda teve a audácia de debochar do meu título de alfa supremo!
Senti o olhar de Lua em mim. Ela parecia estar me perguntando o que
eu faria. A minha vontade era de acabar com todos eles ali, naquele
momento.
Ouvi Lua bufar impaciente e em seguida seu cheiro mudou. Ela voltou
à forma humana. Merda!
- Vocês são a alcateia de Romália? – Lua perguntou.
Nada satisfeito com aquilo, me transformei de volta à forma humana.
Não poderia deixar Lua ficar batendo papo com eles.
As posturas deles mudaram assim que nós dois aparecemos como
humanos. O alfa me olhou de cima a baixo, enquanto o garoto encarava Lua
boquiaberto. Os outros também nos olhavam curiosos, mas fizeram o
possível para não demonstrar muito.
- Sim, nós somos a alcateia de Romália. – o alfa respondeu.
- E o que vocês vieram fazer aqui? – Lua continuou perguntando.
Resolvi me meter:
- Vocês não são bem-vindos em Belmonte e devem ir embora agora!
Isso é uma ordem do seu alfa supremo.
Falei muito sério e um pouco puto, mas não usei a minha voz de
comando. Queria ver se eles eram ousados a ponto de me enfrentar.
- Nós viemos buscar algo que pertence à alcateia e ao povo de Romália.
Algo que nunca deveria ter saído de lá. Eu avisei ao alfa supremo que
viríamos. – o alfa respondeu Lua, me ignorando completamente e
continuando com o deboche.
- E o que seria isso? – Lua perguntou também me ignorando. Ela tinha
o cenho franzido e parecia bastante curiosa em descobrir do que aquele idiota
estava falando.
O alfa abriu um sorrisinho e respondeu:
- A reencarnação e descendente da deusa Luna. Aquela que carrega a
deusa dentro de si. Você.
Eu escutei direito? Aquela alcateia tinha vindo até Belmonte buscar
Lua? Fiquei mais puto ainda!
- O que faz vocês acharem que eu sou um objeto para ser resgatado
assim, dessa maneira? Eu sou uma pessoa! Eu não pertenço à Romália! Eu
sou daqui de Belmonte, eu nasci aqui! Eu sou da alcateia de Belmonte! – Lua
exclamou indignada.
- Sinto muito se dei a entender que você era um objeto, mas, de
qualquer forma, você é de Romália. – o alfa replicou tranquilamente.
- Não! – Lua insistiu.
- Já chega! Vocês vão embora agora! – exclamei usando a minha voz
de comando. Lua se encolheu um pouco ao ouvir minhas palavras.
Para a minha enorme surpresa, as cinco pessoas paradas ali não se
mexeram. Nem se encolheram, nem se abalaram, nem nada. Foi como se eu
tivesse falado normalmente, sem a voz de comando. Franzi o cenho.
- Nós não reconhecemos você como o nosso líder supremo. Não
devemos obediência a você. A única líder aqui, é ela. – o desgraçado disse e
apontou para Lua, que estava boquiaberta ao meu lado.
Eu nunca tinha ouvido aquilo antes: Uma alcateia que não obedecesse
ao alfa supremo.
Eles obedeciam a deusa, diretamente!
- Eu não sou a líder de vocês! Vocês nem existiam! Como pode uma
alcateia surgir assim, de uma hora para outra? – Lua estava bastante surpresa.
- Você é a nossa líder, queira ou não queira, é essa a verdade. Podemos
conversar mais quando chegarmos à Romália, Eluana. – o alfa disse, me
deixando mais irritado do que já estava.
Ele só podia estar sonhando se pensava que eu ia deixá-los levar Lua
contra a vontade dela!
Fechei meus dedos com força em meus punhos. Eu ia me transformar e
acabar com todos eles, mas Lua frustrou meus planos:
- Eu não vou a lugar nenhum com vocês! Vocês devem ir embora
daqui, agora! – Lua praticamente gritou, nervosa.
O alfa assentiu, para a minha surpresa.
- Como queira, Eluana. Nós vamos embora agora, mas vamos voltar.
Precisamos conversar.
Assim que o alfa terminou de falar, todos se viraram e começaram a
entrar de novo na floresta, quase correndo. Eles iriam se transformar e correr
para longe daqui!
Dei um passo para segui-los e acabar de vez com aquilo, mas Lua
segurou meu braço. Me virei para encará-la e ela ainda não tinha tirado os
olhos de onde a alcateia tinha estado, a poucos segundos atrás.
- Lua, eu vou atrás deles! – exclamei irritado.
- Não, fica aqui. Precisamos reunir com toda a alcateia. Eu tenho um
plano. – ela falou ainda sem me encarar, parecendo pensativa e surpresa.
Suspirei e relaxei um pouco. Talvez fosse melhor mesmo reunir com a
alcateia de Belmonte para decidir o nosso próximo passo.
CAPÍTULO 23
Eles me obedeceram.
Eles me obedeciam, e não a Yuri.
Tínhamos uma vantagem e um plano logo se formou na minha cabeça.
Eu não iria deixar aquele lobo arrogante me levar para outra cidade
como se eu fosse um objeto qualquer, sem vontades.
Ele estava muito errado. A deusa Luna era dos lobos e não apenas de
Romália ou de uma alcateia. Ele não podia vir até aqui, invadir um território,
desobedecer e debochar do alfa supremo e me levar, como se eu fosse um
prêmio. Ele estava completamente enganado se achava que faria isso. Eu
daria uma lição nele, ou melhor, a deusa Luna daria uma lição nele.
Se eu era mesmo a reencarnação da deusa, então eu faria valer o meu
título.
Yuri e eu corremos de volta para a cidade e assim que chegamos no
carro, Yuri começou a convocar toda a alcateia de Belmonte para uma nova
reunião.
- Você tem certeza, Lua? Ainda posso voltar lá e caçá-los... – Yuri
falou enquanto dirigia de volta para casa.
- Sim. Confia em mim, amor. Além disso, eles devem ter se camuflado
para passarem despercebidos por nós. Não adiantaria nada voltar lá na
floresta para caçá-los.
Yuri ficou um pouco pensativo, mas assentiu. Aqueles lobos eram
espertos. Eles devem ter ficado esse tempo todo camuflados, se escondendo,
para que assim todos pensassem que não existia alcateia em Romália.
- Eu não entendo por que eles se camuflaram esse tempo todo. Por que
manter uma alcateia escondida, em segredo? – Yuri perguntou, ecoando
minhas conjecturas.
- Eu não sei. Aquele lobo alfa falou alguma coisa sobre eu pertencer a
alcateia deles. Será que eles se acham um tipo de “guardiões da deusa”? Isso
não faz sentido... – falei com o cenho franzido.
Yuri suspirou irritado. Observei que ele apertava com força o volante
do carro.
- Eles estão parecendo uma alcateia de fanáticos, isso sim! Não vou
deixar que eles fiquem perto de você por mais nem um segundo! – ele
exclamou irritado. – Vamos reunir com a sua alcateia para colocar seu plano
em prática e acabar com isso de uma vez!
Apenas assenti.
Seguimos o restante do caminho em silêncio.
Eu tinha conseguido!
Nem conseguia acreditar naquilo. Os lobos da alcateia de Romália
tinham se curvado para mim, tinham acatado as minhas ordens!
Olhei para Yuri e ele sorria para mim. Conseguimos!
O alfa, que Yuri tinha me dito se chamar Átila, se levantou e falou:
- Nós obedeceremos às suas ordens, Eluana. A partir de hoje,
reconhecemos Yuri como nosso alfa supremo e obedeceremos às ordens dele
também, sem objeções.
Os outros lobos se levantaram, seguindo o alfa.
- Obrigada. – eu disse a eles.
- Não precisa agradecer, Eluana. É um prazer e um privilégio seguir as
suas ordens. Deixe que eu apresente a minha alcateia a vocês. – Átila se virou
para os seus lobos e foi falando: - Esse é o meu filho, Alexander. Ele é um
lobo novato. A minha beta é Tauane. – ele apontou para a loba mais à frente.
– E o casal são Ramom e Erin. Eles são companheiros.
- É um prazer conhecer todos vocês. – disse a eles.
- Igualmente. – Tauane respondeu por eles.
- Que bom que conseguimos resolver tudo amigavelmente por aqui. –
Yuri falou ao alfa.
- Sim, que bom que tudo está resolvido. Para selar a paz de vez entre a
nossa alcateia e Eluana e o alfa supremo, gostaríamos de oferecer um
presente. – Átila disse e colocou a mão no bolso da calça, tirando em seguida
um colar, que ele me ofereceu.
Me aproximei cautelosamente dele, com Yuri ao meu lado, sem soltar a
minha mão. Átila pôs o colar na minha outra mão e soltei a mão de Yuri para
analisar melhor o presente.
O colar tinha uma pedra branca leitosa, do tamanho de uma moeda, mas
em formato oval, e parecia brilhar. Era muito bonito.
- É uma pedra da lua. É um amuleto poderoso. Diz a lenda que a deusa
Luna utilizava um igual a esse, talvez até esse mesmo. Nada mais justo do
que agora você o utilize também. – Átila explicou enquanto eu analisava o
colar.
Sorri para ele e agradeci:
- Obrigada pelo presente. É lindo.
- De nada. Ele sempre lhe pertenceu e sempre lhe pertencerá. – Átila
disse.
Peguei o colar e resolvi colocá-lo no pescoço. Assim encerraríamos
tudo aquilo de uma vez por todas.
O cordão era grande, então não tive problemas em passá-lo pela minha
cabeça. A pedra da lua ficou alojada entre os meus seios.
Sorrindo, encarei Yuri. Ele sorria para mim, mas logo seu sorriso
murchou.
- Lua? Seus olhos... – ele falou com o cenho franzido.
- O que tem os meus olhos? – perguntei com o cenho igualmente
franzido.
- Seus olhos estão brancos. – Yuri sussurrou sem tirar os olhos de mim,
impressionado.
- O quê?! – exclamei com um misto de incredulidade e susto.
Olhei para Átila em dúvida, mas ele tinha um sorriso repulsivo no
rosto. Os outros lobos de sua alcateia me observavam assustados.
- O que você... – eu ia perguntar o que ele tinha feito, mas Yuri me
interrompeu:
- Tire o colar, Lua!
Levantei as mãos para fazer o que ele disse, mas apaguei logo em
seguida.
CAPÍTULO 29
Eu sentia que Lua estava estranha, mas não falei nada. Eu sabia que ela
estava ansiosa para acabar logo com aquilo de forma amigável e achei que
isso era o motivo do silêncio dela.
Ela não notou quando a alcateia de Romália saiu da mata a alguns
metros que onde estávamos. Estaquei no lugar e percebi que ela me olhou
confusa, mas logo seu olhar foi capturado pelos lobos na nossa frente.
Átila era muito estúpido se achava que poderia mandar em Lua. Minha
companheira era uma rebelde e sempre achava um meio de se opor àquilo
que a incomodava. Talvez aquela característica dela se devesse ao fato de a
deusa Luna ter um pedacinho seu dentro da minha companheira. A deusa
Luna era uma guerreira, afinal de contas.
Como eu já imaginava, Lua rebateu o alfa, que desdenhou de mim com
o seu olhar. Rosnei para ele em advertência e senti que minha companheira
também não gostou da sua atitude. Era o instinto de proteção falando por
Lua.
Mas o alfa acabou revelando algumas coisas interessantes. Será que
Lua era mesmo a última descendente viva da deusa Luna? Será que a família
da mãe de Lua estava morta? Ou estava apenas... mascarada? Apenas a nossa
ida até Romália ia esclarecer esse mistério.
Átila também revelou que Mirela e Brian foram os responsáveis por
contar a eles sobre Lua ser a reencarnação da deusa e isso os motivou a nos
procurarem. Isso era óbvio, mas ainda assim, a minha irritação por aqueles
dois só aumentou. Quando eu pusesse as minhas garras neles... Mas Átila
disse que eles continuavam à procura da família de Lua. Por quê?
Eu não sabia o que eles queriam com isso, mas de mim não
conseguiriam nada.
Quando o alfa exigiu novamente que Lua fosse com eles, rosnei alto.
Eu estava pronto para entrar em uma briga para defender a minha
companheira. Assim que eu desse o primeiro passo, a alcateia de Belmonte se
revelaria e me acompanharia na luta. Aquela alcateia parada na minha frente
seria esmagada por nós.
Mas Lua colocou o seu plano em prática rapidamente. Com firmeza e
altivez, ela ordenou tudo o que tinha em mente àquela alcateia. Eles a
escutaram em silêncio e atentos a cada palavra. Senti um grande orgulho da
minha esposa e companheira.
Para a minha surpresa, assim que ela terminou de falar, o alfa se
ajoelhou, sendo seguidos pelos outros. Aquilo era um sinal de submissão e
respeito. Eles tinham a escutado e a obedeceriam. Senti um alívio no meu
peito, mas foi por pouco tempo.
Eu não sabia dizer o que era, mas algo me dizia que aquilo estava
errado. Algo me dizia para não confiar em Átila. Estava muito fácil.
Tentei ignorar o sentimento, ainda mais quando ele presenteou Lua
com uma pedra da lua, um amuleto poderoso e muito bonito que havia
pertencido à deusa.
Talvez por educação e para encerrar aquele assunto logo, Lua colocou o
amuleto no pescoço. Ela olhou para mim sorridente, linda como sempre.
Retribuí o sorriso, porém não por muito tempo. Os olhos de minha
companheira, de um verde tão lindo e único, começaram a mudar, ficando
brancos. Até a pupila também embranqueceu.
- Lua? Seus olhos... – falei confuso.
- O que tem os meus olhos? – ela perguntou igualmente confusa.
- Seus olhos estão brancos. – sussurrei perplexo e sem conseguir
desviar o olhar.
- O quê?! – Lua exclamou assustada.
Ela olhou para Átila em dúvida, mas ele sorria de modo cruel e
desagradável para minha companheira. Aquele filho da puta tinha feito
alguma coisa com Lua!
Eu devia saber! Estava tudo muito fácil. Eu ignorei a minha intuição e
agora Lua estava sofrendo as consequências.
Olhei para o colar, a pedra da lua posicionada entre os seios de Lua. Ela
emitia um brilho tênue. Só podia ser aquilo!
- O que você... – Lua começou a falar, mas eu a interrompi, quase
gritando:
- Tire o colar, Lua!
Ela imediatamente levantou os braços em direção ao colar, mas
congelou antes que suas mãos tocassem o pescoço. Sua expressão mudou e
ficou vazia, sem vida. Ela olhava para o nada com aqueles estranhos olhos
brancos.
Lua baixou os braços e uma névoa começou a encobri-la, subindo pelo
seu corpo. Me afastei alguns passos e a alcateia de Romália também. Com
exceção de Átila, eles olhavam para Lua bastante assustados.
Senti alguém chegando por trás de mim e quando me virei, Josh e a sua
alcateia se aproximavam de nós. Eles também olhavam para Lua bastante
surpresos.
- Merda. – escutei um dos lobos da alcateia de Átila dizer.
- Lua... – sussurrei enquanto minha companheira era tomada pela névoa
densa, que a cobriu da cabeça aos pés.
- O que está acontecendo, Yuri? – Josh perguntou sem se aproximar
muito e sem desviar os olhos de onde Lua estava dominada pela névoa. Os
outros lobos da alcateia de Belmonte ainda estavam na forma lupina.
- Eu não sei, Josh. A Lua... – as palavras sumiram da minha boca. Eu
não sabia o que estava acontecendo com ela.
Como se fosse a sua deixa, a névoa ao redor de Lua começou a baixar,
revelando a minha companheira, porém, ao invés da camiseta e calça jeans
que ela usava, agora Lua vestia um vestido muito sexy, amarelo claro, que
ressaltava todo o seu lindo corpo. Seus cabelos estavam esvoaçantes e ela
estava descalça. Ela ainda tinha a expressão sem vida no rosto.
Quando a névoa finalmente sumiu, Lua olhou de mim para Átila. Ela
perguntou ao alfa:
- Quem é você e o que quer comigo?
Sua voz ainda era sua, mas estava diferente, mais rígida, inflexível.
Parecia outra pessoa.
Átila voltou a se ajoelhar e baixar a cabeça.
- Sou o alfa da sua alcateia, senhora. – ele respondeu sem levantar a
cabeça.
- De qual alcateia? Eu tenho várias. – ela replicou impaciente.
- Da alcateia de Romália, senhora.
- Ah... Romália. Essa alcateia sempre me deu problemas e muito
trabalho. Foi por isso que mandei vocês se esconderem e sumirem. São
fanáticos demais. Não os queria perto de mim.
Átila a encarou surpreso.
Encarei aquela mulher parada ali perto de mim. Aquela não era a minha
Lua, a minha companheira e esposa. Aquela era a deusa Luna. A deusa dos
lobos e das florestas. A deusa da lua e da noite. A deusa guerreira.
E ela estava ocupando o corpo da minha Lua! Aquele colar devia ser o
responsável por isso!
Lua estava “possuída” pela deusa Luna!
- Não, senhora! Somos os seus protetores, seus guardiões. A garota que
é a sua descendente e reencarnação estava muito arredia, por isso tomei
medidas extremas. Entreguei a ela o seu amuleto, invocando-a para assumir
as rédeas de agora em diante.
- Você fez o quê?! – perguntei muito puto.
Eu ia matar aquele lobo idiota. Ele mexeu com a loba errada.
A deusa Luna apenas me deu uma breve olhada e voltou a encarar
Átila, como se pedisse a mesma explicação que a minha. Não me passou
despercebido o olhar indiferente da deusa para mim. Minha Lua...
- O amuleto é capaz de invocar a deusa Luna quando uma descendente
dela o coloca no pescoço. A parte da deusa que habita nela é despertada e
assume o corpo. – se dirigindo à deusa, Átila falou exultante: - Agora a
senhora vai poder assumir seu lugar. Vai colocar ordem nos lobos. Não
seremos mais comandados por um alfa supremo. Será como sempre deveria
ter sido: A deusa Luna no comando!
Átila não era muito normal. Ele tinha despertado uma deusa por mero
capricho!
- Como você ousa me despertar do meu sono profundo, alfa? Como
ousa incomodar a mim e a minha descendente? Ainda mais você, da alcateia
que eu menos gosto!
Caramba...
- Deusa Luna... – um pálido Átila tentou balbuciar, mas foi cortado:
- Cale-se! Eu não terminei de falar! Eu sou uma deusa, sou poderosa!
Não tenho protetores e muito menos guardiões! Não preciso disso! Eu sei me
cuidar muito bem e estava fazendo isso, até você me despertar! – ela
exclamou exaltada.
Por precaução, dei mais um passo para trás. A deusa Luna era mais
forte, mais poderosa, mais tudo do que eu. Eu que não seria otário de ficar em
seu caminho.
- Mas...
- Silêncio! Eu odeio que me contrariem e tomem decisões por mim! EU
SOU UMA DEUSA! Você tem ideia do que fez? Este receptáculo, minha
descendente, não merecia passar por isso! Ela carrega uma criança em seu
ventre, outra descendente minha!
Encarei Lua/deusa Luna boquiaberto. Ela estava grávida? Minha Lua
carregava um filho meu? Ou melhor, uma filha?! Senti as pernas bambas,
mas me forcei a ficar firme, de pé.
Lua não me contou nada. Será que ela já sabia?
- Deusa...
- Isso é uma ofensa gravíssima não só contra mim, mas contra os outros
deuses também! Quem você acha que é? Você irritou a deusa errada, alfa!
Vai ter o que merece!
Átila se levantou rapidamente. Estava bastante assustado.
Ele nem teve tempo de falar alguma coisa. A deusa Luna/Lua estalou
os dedos e Átila explodiu no ar, em uma nuvem de sangue, no lugar onde
estava.
CAPÍTULO 30
Eu estava exausta.
Parecia que tinha corrido uma maratona. Só queria dormir, dormir e
dormir.
Mas eu não podia, não conseguia. Eu não estava em um lugar
confortável e a barulheira ao meu redor dificultava tudo também.
Uma faladeira sem fim de várias pessoas. Meu travesseiro era duro e
desconfortável, mas pelo menos ele passava a mão na minha cabeça,
penteando meus cabelos com os dedos...
Peraí!
Travesseiros não têm dedos. Onde eu estava e que algazarra era aquela?
Forcei os olhos a se abrirem e só conseguir ver várias pernas. Algumas
pessoas estavam de pé, paradas. Outras estavam andando de um lado para o
outro. Que diabos era aquilo?!
- Acho que ela está acordando! – uma voz familiar exclamou
esparrenta.
Eu conhecia a dona daquela voz. Macayla?
- Lua? Acorda, minha filha! Pela deusa! – o meu pai falou exasperado.
Pra quê tanta comoção assim?
- Acho que já chega de deusa por hoje. – outra voz conhecida
comentou.
Piscando várias vezes, consegui focalizar tudo ao meu redor. Eu estava
em casa, na casa do meu pai. Parecia que a alcateia inteira estava reunida lá.
Não tinha lugar para todos se sentarem.
- Lua, amor, acorda. Você está bem? – a voz de Yuri estava bem perto
do meu ouvido. Não sei por que, mas só de escutá-lo, senti um alívio enorme.
- To bem. – falei com uma voz grogue. Parecia até que eu estava porre.
- Ela não está bem! Precisa descansar mais! – o delegado falou do seu
jeito “mandão”.
- Eu to bem. – insisti e tentei me sentar, mas falhei.
Mãos fortes me ajudaram na tarefa de me sentar no que parecia ser o
sofá da sala. Era Yuri me ajudando. Ele estava sentado ao meu lado. Era ele o
travesseiro! Ou melhor, a sua coxa era o travesseiro desconfortável.
Franzi o cenho ainda meio zonza enquanto observava todos ali em casa.
Além da minha alcateia, outros lobos também estavam lá. Eram os lobos da
alcateia de Romália.
Sim, a alcateia de Romália!
Estávamos na floresta com eles! Átila tinha me dado o amuleto da
deusa Luna e eu o coloquei, feliz pelo presente. Logo após isso, Yuri tinha
dito algo sobre os meus olhos e mandou eu tirar o amuleto. Eu ia tirá-lo,
mas... O que aconteceu? Eu não lembrava de nada!
- O que, o que aconteceu? – perguntei atrapalhada.
- Você não se lembra? – Yuri perguntou cauteloso.
- Não. Só lembro que estávamos na floresta e eu ia tirar o amuleto
porque meus olhos estavam... brancos? Sei lá. Depois disso não lembro de
mais nada. – falei confusa e tentando puxar as lembranças do meu cérebro.
- Ainda bem que ela não se lembra. – Serena disse e deu um suspiro,
aliviada.
- Por quê? O que foi que aconteceu? Yuri? – perguntei e olhei para o
meu companheiro, que passou a mão pelos cabelos, antes de começar a falar.
- Quando você colocou o amuleto, a deusa Luna que está em você
despertou e assumiu o controle. Ela não gostou nem um pouco de ser
acordada. – ele falou e deu um sorrisinho sem graça.
- O que mais?! – quase gritei.
A deusa Luna possuiu meu corpo.
Puta que pariu!
A deusa Luna possuiu meu corpo!
Yuri trocou um olhar rápido com o delegado e continuou:
- Ela... puniu Átila. Ela não gostou de ser despertada por um mero
capricho de um alfa, que queria que ela liderasse novamente os lobos. Ela
também não gosta muito da alcateia de Romália.
Yuri não queria me contar alguma coisa. O que será que a deusa tinha
aprontado enquanto possuía o meu corpo? Quanto tempo ela tinha me
possuído? Puta merda!
- Eu estava dormindo há quanto tempo? – perguntei em dúvida.
- Já é noite, então você dormiu algumas horas. – Yuri respondeu.
- E o que a deusa fez quando ela possuiu meu corpo? Ela correu alguma
maratona por acaso? Eu me sinto exausta! – reclamei e me recostei no sofá.
- Interessante. Vai ver que a “possessão” consumiu as suas energias. –
Levi comentou pensativo. – Vai ver que foi por isso que a deusa ficou mais
irritada ainda com o Átila.
- O quê?
- Sim! Pelo que ela falou, ela ficou irritada por ser acordada e por
incomodarem a Lua. Foi por isso que ela explodiu o Átila com um estalar de
dedos! – Josh exclamou, como se tivesse resolvido os problemas da
humanidade.
Ai caramba! Eu escutei direito?
- Ela fez o quê?! – perguntei com a voz aguda, já sentindo meu
estômago revirar pelo nojo.
A deusa EXPLODIU o Átila?
A imagem do alfa da alcateia de Romália sendo explodido em
pedacinhos tomou a minha mente e um enjoo ameaçou o meu estômago.
- Josh! – Yuri chamou a atenção do primo e deu uma olhada sutil para
onde os lobos da alcateia de Romália estavam.
O garoto, Alexander, parecia arrasado. Suas roupas estavam
respingadas do que eu imaginei ser o sangue do alfa e seus olhos estavam
vermelhos. Aqueles lobos estavam sentados na cozinha, um pouco longe de
onde todos nós estávamos. Não sei se eles escutavam a nossa conversa. Eles
estavam pensativos e tristes.
- Alguém me explica essa história desde o início? Só de imaginar
alguém sendo “explodido”, meu estômago se revira. – falei e fechei os olhos,
encostando a cabeça no sofá.
De repente se fez silêncio.
Abri os olhos e os passei por todos ali. Cada um tinha uma expressão
diferente no rosto. Yuri me olhava de um jeito fofo que fazia eu me derreter.
Josh tinha um sorrisinho sacana na cara. O delegado sorria afetuoso, assim
como Macayla e Serena. Os outros me “admiravam” sorridentes. Que diabos
tinha acontecido? Será que eu falei alguma coisa errada?
Foi Joyce quem rompeu o silêncio:
- Lua, você está se sentindo bem ultimamente?
- Sim. – respondi com o cenho franzido.
- Ela estava muito dorminhoca ultimamente. – Yuri falou ainda
sorridente.
Dei de ombros. Eu estava de férias da faculdade, poderia dormir um
pouco mais.
- Tem sentido seu estômago revirar muito? – Joyce continuou.
- Sim! Toda essa agitação e preocupação mexeu com meu estômago! –
confirmei surpresa.
Desde a semana de provas da faculdade o meu estômago ficou mais
sensível. Toda essa preocupação desde que chegamos a Belmonte só fez
deixá-lo mais inquieto ainda. Até a minha menstruação estava desregulada.
Como Joyce sabia daquilo? Ah, claro. Ela era médica...
- E toda a “agitação” aqui enquanto o delegado não estava? – Josh
perguntou ainda com o sorriso sacana.
Escutei risadinhas, que supus serem de Daniel e Blake.
- O quê?! – senti meu rosto esquentando.
Merda! Eu sabia que isso ia acontecer! Tentei avisar Yuri, mas o meu
companheiro levou tudo na brincadeira! Que vergonha!
Esperava que ninguém tivesse notado a marca que Yuri fez no meu
pescoço na noite passada...
- Que agitação, Josh? – o delegado perguntou confuso.
- Josh, eu juro que vou... – Yuri deixou a frase em aberto.
- Onde vocês querem chegar com isso? – perguntei confusa.
- Ela não sabe, Yuri. – Joyce disse a ele tranquila e sorridente.
O que eu não sabia?!
Yuri segurou as minhas mãos e disse, voltando a sorrir:
- Quando a deusa Luna estava “possuindo” você, ela contou a
novidade: Você está grávida. Está esperando uma menina.
Encarei meu companheiro boquiaberta.
Eu, grávida?! Como não notei isso antes? Pelo visto todos ali na sala já
sabiam e eu fui a última a descobrir.
Como sempre, eu não seguia as regras e sim, as exceções.
CAPÍTULO 32
Era manhã de sábado e Lua ainda dormia. Resolvi sair de casa para
falar com a alcateia de Romália e aproveitei que Neandro estava de folga do
trabalho para deixá-lo tomando conta de Lua.
Liguei para Josh, informando as minhas intenções e ele concordou. Ele
resolveu que faria a reunião lá na casa dele e chamaria a alcateia de Belmonte
para nos acompanhar. Apenas os membros atuais, ele disse, sem os lobos
anciãos. Queria manter um nível de segurança em sua casa, já que Maya e
Jake estavam lá. Além disso, os lobos anciãos não teriam muito o que fazer.
Quando cheguei na casa de Josh, as alcateias tinham acabado de
chegar. Todos estavam de pé e conversavam. A alcateia de Belmonte estava
quase completa, já que Brian e Lua não estavam lá. A alcateia de Romália...
estava incompleta.
- Josh, cadê o garoto? – perguntei ao meu primo assim que vi apenas
três membros da alcateia forasteira.
Josh passou os olhos por todos e disse:
- Não sei. Vamos perguntar para a beta.
Encontramos Tauane conversando com Blake e Daniel.
- Tauane, cadê o Alexander? Ele precisa estar aqui. – eu perguntei à
beta da alcateia de Romália.
- Ele está vindo. Ele estava esperando a mãe chegar de Romália. Depois
dos acontecimentos de ontem... Ela estava muito triste com tudo isso e veio
atrás do filho. – Tauane respondeu.
- Ah. – era mais do que compreensível.
- Vamos esperar um pouco. – Josh decidiu.
Continuamos conversando. Tauane contou que Alexander tinha entrado
para a alcateia há poucos meses e que Átila o treinava, mas que não tinha
previsão para deixar de se transformar e deixar o filho assumir a liderança da
alcateia. Ele era filho único. Tauane contou que ela era casada e tinha uma
filha pequena, uma lobinha. Ela não tinha encontrado o seu companheiro.
Ramom e Erin eram casados e companheiros. Ainda não tinham filhos.
Notei que Alexander era parecido com o pai, fisicamente. Sua pele era
clara e o cabelo curto era castanho. Tauane tinha os olhos e cabelos negros,
estes eram compridos e lisos. Sua pele era em um tom de oliva e seus olhos
eram grandes e curiosos. Ramom era um cara alto e musculoso. Me lembrava
um pouco o Brian. Erin era baixinha, tinha os cabelos ruivos cacheados e
sardas no rosto.
Quinze minutos depois, Alexander chegou acompanhado de uma
mulher na casa dos cinquenta anos. Devia ser sua mãe. Ela tinha os cabelos
loiros curtos, presos em um rabo de cavalo. Ela usava óculos escuros,
provavelmente ocultando os olhos vermelhos e inchados de choro. Alexander
estava abatido também.
- Desculpe pelo atraso. – o garoto se apressou em dizer.
- Tudo bem, sem problemas. – eu disse a ele para tranquilizá-lo.
- Vamos nos sentar para começarmos essa reunião. – Josh disse e
apontou para as cadeiras e o sofá da sua sala.
- Obrigada. – a mulher disse e foi se sentar ao lado do filho.
Quando todos se sentaram, a mulher tirou os óculos, revelando o que eu
já tinha antecipado: Ela provavelmente tinha chorado a noite inteira.
- Yuri? – Josh chamou a minha atenção.
- Muito bem, primeiramente eu gostaria de... – fui interrompido por
Blake:
- Puta que pariu! – ele se levantou, sem parar de encarar a mãe de
Alexander.
- Blake! – Josh chamou a atenção dele, mas ele o ignorou.
- É ela! É você! Quer dizer... Isso não é possível!
Franzi o cenho e olhei para a mulher chorosa. Ela se encolheu e pareceu
pálida. Seus olhos encaravam o chão. Alexander olhava confuso para a mãe e
para Blake.
- O que, Blake? – perguntei confuso.
- É ela! Ela é a minha mãe! – Blake exclamou de olhos arregalados,
sem tirar os olhos da mulher.
Meus olhos saíram de Blake e foram para a mulher, depois se
alternaram entre os dois. Eu não estava entendendo nada.
Lua me contou que a mãe de Brian e Blake tinha abandonado o marido
e que eles pensavam que ela já tinha morrido, já que Breno, o pai dos
rapazes, não contou a verdade. Será que aquela mulher era ela?
Daniel se levantou e puxou o companheiro para o seu lado.
- Amor, sua mãe já faleceu. Essa senhora é a mãe do Alexander. –
Daniel falou pacientemente.
- Não! Ela é igual a mulher das fotos que tínhamos em casa, só que
loira! É ela! Se Brian estivesse aqui ele também saberia! – Blake exclamou
nervoso.
Daniel olhou para a mulher e voltou a olhar para Blake. Aquilo estava
muito estranho.
- Mãe? – Alexander perguntou a mulher, que finalmente levantou o
rosto e suspirou.
- Eu me chamo Andressa Moreira. Anteriormente eu era Andressa
Barton, casada com Breno Barton, lobo da alcateia de Belmonte. Nos
separamos e eu fui embora para Romália, onde conheci o Átila. Nos casamos
e tivemos o Alexander. É isso. – ela confessou, meio relutante.
Silêncio.
Blake encarava a mulher de olhos arregalados, como se estivesse vendo
um fantasma. Na verdade, ela era um. Pelo menos para ele e para quem não
sabia que aquela mulher não tinha morrido. Provavelmente os lobos anciãos
sabiam da verdade, mas infelizmente não estavam ali para reforçar a história.
- Por quê? Como você pôde? Como assim? – Blake perguntou chocado.
Daniel puxou o seu companheiro e o abraçou.
- Foi melhor desse jeito, Brian...
- Eu não sou o Brian, sou o Blake!
- Ah, sinto muito. – ela não parecia sentir muito.
- Isso é verdade mesmo, mãe? Eu sou irmão dele? De um lobo de outra
alcateia? – Alexander perguntou confuso.
Eu não sabia o que fazer naquele momento. Não tinha previsto que
aquilo ia acontecer e estava sem reação. Olhei para Josh, mas ele estava tão
paralisado quanto eu. Apenas observávamos o desenrolar do caso na nossa
frente.
- Sim, esse rapaz é o seu meio-irmão. – Andressa confirmou.
Blake se encolheu no peito do marido e começou a chorar.
- Por que trocar um lobo por outro? É algum tipo de fetiche? – essa foi
a pergunta de Josh.
Fuzilei o meu primo com o olhar, mas ele me ignorou. Antes que
Andressa pudesse responder, provavelmente mandando Josh ir se foder,
Blake se voltou novamente para a mãe gritou:
- Você tem alguma noção do que fez?! Eu rezei pela sua alma por vinte
e dois anos! Você tem noção disso?!
- A culpa não é minha se o Breno era um frouxo que teve medo de
contar a verdade! – ela rebateu sem pensar duas vezes.
Resolvi intervir, ainda mais quando Daniel precisou segurar o
companheiro, que queria partir para cima da própria mãe.
- Mãe... – Alexander disse assustado.
- Já chega! Daniel, leva o Blake lá para fora. É perigoso ele ficar aqui
dentro!
Nem precisou eu terminar de falar para que Daniel puxasse Blake para
fora da casa de Josh. Ele estava fora de controle e a sua metamorfose
repentina poderia machucar quem estivesse por perto.
Como se a deusa Luna tivesse intervido, Serena apareceu, descendo
rapidamente a escada.
- O que está acontecendo aqui? Josh? Yuri? – ela perguntou quando se
aproximou.
- Um problema familiar. – Josh resumiu.
- E precisa toda essa grita... Ah! Pela deusa! É a Andressa! – Serena
falou sem tirar os olhos da mãe de Alexander.
- Sim, sou eu, Serena. Como vai?
- Eu vou bem, e você? Curtindo muito a vida depois de abandonar os
filhos?
Andressa ia rebater, mas Josh a impediu:
- Vamos acabar com isso por aqui. Mãe, leva a Andressa lá para o
quintal e por favor, tenta não arrancar a cabeça dela.
- Vou tentar. – Serena respondeu e com um gesto de mão, chamou
Andressa para acompanhá-la. A mulher a seguiu em direção ao interior da
casa sem dizer uma palavra.
Suspirei. Ficaram bem claros os sentimentos daquela mulher pelos dois
filhos abandonados. Senti pena de Alexander, por ter pais tão problemáticos
assim. Mas ao que parece, eles criaram bem o filho.
- Eu não sabia disso. – Alexander disse, como se estivesse se
defendendo.
- Nem eu. – Josh deu de ombros.
- Acho que agora podemos finalmente começar aqui. Tudo certo? –
chamei a atenção para o nosso objetivo ali.
- Acho que sim. – Alexander disse.
- Pode falar, alfa supremo. Estamos escutando. – Tauane disse
determinada. Ela parecia ansiosa por aquela reunião e até ignorou os
acontecimentos dos últimos minutos, assim como Ramom e Erin.
Átila devia ser um péssimo alfa. Seus planos mesquinhos e idiotas
sobrepujaram os interesses de sua alcateia. E pensar que aquele idiota nem
soube usar os poderes de Lua contra mim, como Mirela fez
inconscientemente. Ainda bem! Pela cara dos quatro membros
remanescentes, eu pude ver que eles não concordavam com Átila, porém o
seguiram, como uma alcateia obediente faria.
Eles só precisavam do direcionamento certo e isso eu poderia dar a
eles.
Assenti e comecei a explicar à alcateia de Romália tudo sobre os lobos
e as alcateias da deusa Luna.
CAPÍTULO 34
FIM
EPÍLOGO EXTRA
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DESTINO VERMELHO
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