Você está na página 1de 12

84 IJ!

ALASTAiR PENNYCOOK

FLüRENCE, N . (1998). bel! hooks' Engaged Pedagogy: a Transgressive Education for Criticai Consciousness. CAPÍT ULOTRÊS
Westport, CT: Bergin and Garvey.
"FoUCAULT, M. (1980). Power!Knowledge: Selected lnterviews and Other Writings. 1972-1977. New
York: Panrheon Books (org.: C. Gordon).
Lingüística aplicada
HOOKS, B. (1994). Teaching to Transgress: Education as the Practice of Freedom. New York: Routledge.
)AGOSE, A. (1996). Queer Theory. Melbourne: Melbourne Universiry Press .
) ANKS, H. (2000). Domination , Access, Diversiry and Design: A Synrhes is for Cri ti cal Literacy
e vida contemporânea
Education, Educational Review 52(2): 175- 186. PROBLEMATIZAÇÃO DOS CONSTRUTOS
) ENKS, C. (2003), Transgression. London: Rourledge.
) ERViS, J. (1999). Transgressing the Modern: Explorations m the Western Experience of Otherness.
QUE TÊM ORIENTADO A PESQUISA*
Oxfo rd: Blackwell.
Kf.ARNEY, R. (1 988). The Wake of !magination. M inneapolis: University of M innesota Press.
l.ACLAU, E. (1989). Preface, in: Zií.ek, S. (1989). The Sublime Object of Ideowgy. London: Verso, pp. ix- xv.
M ACBETH, D. (2001 ) . On "Reflexiviry" in Q ualitative Research: Two Readings, and a Third,
Qualitative lnquiry, 7 (1): 35-68.
MOITA LOPES, L. P. (2002). Identidades fi"agmentadas . Campinas: Mercado de Letras.
Luiz Paulo da Moita Lopes
N ELSON , C. (1999). Sexual ldentities in ESL: Queer Theory an d C lassroom lnquiry, TESOL
Quarterly, 33 (3): 371-391
N oRTON, B. (2000). ldentit:y and Language Learning: Gende>; Ethnicity and Educational Change.
~ioblemas subjacentes à questão do futuro, uma vez rfoe tenhamos abandontd(;
Harlow: Longman/Pearson. ;
N OKJON, P. B. (1995). Soi al ldentiry, l nvestrnent, and Language Learning, TEJSOL Qua;.ter6• 29, 9-31. "{'da épistémologia, irivadem o terreno de úma h ica. O cognitivo nãÓ é .o ético e o
PENNYCOOK, A (2001). CriticalApplied Linguistics: a Criticai lntroduction. Mahwah, N J: Lawrence Erlbawn. o f .o político; contudo, há reveza~entos imtre eles. O prqblima p~ra o discurso da .
P ENNYCOOK, A (2003a). Lingüística aplicada pós-ocidental, in: Coracini, M. ). & Bertoldo, E. S. idr:tfe tem sido evitar reduzir ~m· a~ outro, ou imagina; · um elemento u~fv~;sal,
(orgs). O desejo da teoria e a contingência da prática - Discursos sobre e na sala de aula. a
·cofno .razão, que tornaria possível sia-,.econcifiação" :(VENN, 2000: 22).
Campinas: Mercado de Letras, pp . 21-60. ~,j~ ;~~ trata, de uin acréscimo do s~beré~ ';ij~se dad~i, mas . de ~;,/ pr[fneird . -
_ _ (2003b). Global Englishes, Rip Slyme and Performariviry, ]ournal of Sociolinguistics, 7, 4, 513-533.
, . ?fa mento que restitua o "lugar ~' do popular tio assumi~/() como .parte da mim'6ria .
_ _ (2004a). Critical Applied Linguistics, in: Davies, A & Elder, C. (orgs.), Handbook of Applied
~tt!f"l!te t/o processo histórico, presença :de um sujeito-outrq' tzté·há pouco negado por uina
Linguistics. O ffo rd: Blackwell, pp. 784-807 .
ria pàrq a qúal o povo .só podia ser pensado .'sobo rótulo do n úmero e' do anonimato"'
_ _ (2004b) . Performativiry, and Language Srudies, m: Criticai Inquiry in Language Studies: A n
', .··· - . (MARTfN-BARBfRÔ,2003: Í02), .. . ..
lnternational Journal, 111, 1-19
PoYNTON, C. (1993) . Grammar, Language and rhe Social: Poststructuralism and Syst~mic-functional
Linguistics, Social Semiotics, 3 ( 1): 1-21.
PRICE, S. (1996). Comments on Bonny Nonon Peirce's Social ldentity, lnvestment, and Language
Learning: A Reader Reacrs ... , TESO L Quarterly 30 (2): 331-337 .
PRICE, S. (1999). Critica! Discourse A.nalysis : Discourse Acquisition and Discourse Practices, TESOL ÜUTRAS VOZES E OUTROS CONHECIMENTOS
Quarterly, 33 (3): 581-595.
RAJAGOPALAN, K. (2004). The Philosophy of Applied Linguistics, in: D avies, A & Elder, C. (orgs.).

A
A Handbook of Applied Linguistics. Oxford: Blackwell, pp . 397-420. grande preocupação de muitos pesquisadores que atuam nas
RoRTY, R. (1987). Pragmatism and Philosophy, in: Baynes, K. ; Bohman, J. & McCarthy. T. (o rgs.), ciências sociais tem sido tanto a possibilidade de inaugurar
After Philosophy: End or Transformation > Carnbridge, MA: The MlT Press, ,pp. 26-66.
Scorr. D. (1 999). Refoshioning Futu res: Criticism After Postcoloniality. Prin ceton, NJ: Princeton
"um novo paradigma social e político" quanto "epistemológico"
Universiry Press. (Boaventura Santos, 2004). A questão contemporânea pare-
SHUSTERMAN , R . (2000) . Performing Live: Aesthetic Alternatives for the Ends of Art. lthaca: Cornell ce ser relativa a como reinventar a vida social, o que inclui a reinvenção de
Universiry Press.
SMITH, D. (1999). Writing the Social: Critique, Theory, and lnvestigations. Toronto: Universiry ofToronto Press.
formas de produzir conhecimento, uma vez que a pesquisa é um modo de
ST PIERRE, E. (1997). Merhodology in the Fold and rhe l rruption ofTransgressive Data, lnternational construir a vida social ao tentar entendê-la.
Journal of Qualitative Studies in Education, !O (2) : 175-189 . '
T HR.EADGOLD , T. (1997). Feminist Poetics: Poiesis, Performance, Histories. Lon4on: Routledge .
WEEDON, C. (1987) . Feminist Practice and Poststructuralist Theory. Oxford: llasil Blackwell. · Sou grato ao CNPq (3 05 163/2003-5) pela bolsa d e produtividade em pesquisa que tornou
WIDDOWSON, H. G . (2001 ). Coming to Terms W ith Realiry: Applied Linguistics in Perspective, in: possível a pesquisa relatada aqui. Uma primeira versão deste texto constitui u a conferência de abertura do
Graddol, D. (org.). Applied Linguistics for the 21" Century, AILA Revi~w, 14, 2-17. VII Congresso Brasileiro d e Lingüística Aplicada, realizado em 2004 na PUC-SP.
LJ NGÜ fSTI CA APLICADA E VIDA CONTEMPO RÃI ~EA ~- 87
86 Lu1z PAULO DAMo n ALo PES

Assim, a problemática que se apresenta como desafto para a contempo- pós-coloniais (Makoni & Meinhoff, neste volume e Kumaradivelu, neste
raneidade, como apontam Milton Santos (2000), Kinhide Mushakoji (1999), volume), por exemplo , em que o foco principal tem sido o sujeito inscrito
Boaventura de Souza Santos (2004), Slavoj Zizek (2004) e outros é: como na produção do conhecimento ou a sua redescrição em outras bases. Ainda
podemos criar inteligibilidades sobre a vida contemporânea ao produzir que não se pautem pelo conceito de criação de uma coligação anti-hegemônica
conhecimento e, ao mesmo tempo , colaborar para que se abram alternativas como estou encaminhando aqui, percebe-se nesses lingüistas aplicados o
sociais com base nas e com as vozes dos que estão à margem: os pobres, os desgaste dos modos tradicionais de teorizar e fazer LA, o que Davies (1999)
favelados, os negros, os indígenas, homens e mulheres homoeróticos, mulhe- chamou de LA normal: uma LA presa à discussão da diferença entre LA e
res e homens em situação de dificuldades sociais e outros, ainda que eu os aplicação de lingüística, não se descolando da lingüística e de seus ideais de
entenda como amálgamas identitários e não de forma essencializada (Moita ciência moderna.
Lopes, 2002). Como aqueles que "vivenciam o sofrimento humano" com
A questão primeira se relaciona à necessidade de pensar o mundo por
base em suas epistemes diferentes podem colaborar na construção de "uma
um olhar não-ocidentalista, conforme sugerido por Venn (2000), tendo em
sociedade mais humana, mais delicada com a natureza e com as pessoas"
vista a compreensão de que a episteme ocidentalista destruiu <;mtras lógicas
(Mushakoji, 1999: 207) ou, pelo menos, na comp!eensão de tal sociedade?
de vida social e outras formas de produzir conhecimento "no processo de
Tal projeto que envolve a concepção de uma coligação anti-h1egemônica criar a Europa como ocidente e de tornar o mundà moderno" (Venn, 2000:
está na base da criação de um novo universalismo, ou pluriversalismo, que 8). Essa lógica atinge seus extremos na globalização perversa que vivemos,
desafia a hegemonia do mercado da globalização do pensamento único (o institucionalizada, por exemplo, no Banco Mundial, no FMI, na Casa Bran-
grande poder hegemônico de um capitalismo neoliberal avassalador e mafwso, ca, no Mercado Comum Europeu etc., de cujos efeitos devastadores somos
que é o grande Deus contemporâneo e juiz de todas as verdades), liderado cotidianamente testemunhas, o que talvez explique, entre outros problemas,
pelos chamados países centrais e suas agências . Tal coligação anti-hegemônica como um país do feijão, como o nosso, tenha virado o país da soja, e, o que
tem origem no compartilhamento do sofrimento humano (Mushakoji, 1999), é pior ainda, o país da soja transgênica. Como aponta Zizek (2004: 1O), "a
ao mesmo tempo em que oferece modos alternativos de conhecer e projetos democracia do Primeiro Mundo funciona cada vez mais por meio da
coletivos plurais que não podem ser hierarquizados em termos de sua im- 'terceirização' para outros países de seu lado oculto e sujo". Não resta dúvida
portância para a vida social (Boaventura Santos, 2004). também de que muitas formas de produzir conhecimento ajudam a perpe-
Nessa mesma linha, Milton Santos (2000) chama a atenção para o fato tuar essa lógica nas escolhas paradigmáticas que fazem, como também por
de que as alternativas estão no Sul (da mesma form~ que Boaventura Santos produzir conhecimento de uma forma imune às questões que estou levan-
[2004], a quem voltarei mais adiante), e, particularmente, para o fato de tando, uma vez que entendem que o conhecimento não tem nada a ver com
que a "cultura popular exerce sua qualidade de discurso 'dos de baixo', o modo como as pessoas vivem suas vidas cotidianas, seus sofrimentos, seus
~:!=:::-~~--- projetos políticos e desejos. Isso é ainda mais surpreendente no campo
pondo em relevo o cotidiano dos pobres, das minorias, dos excluídos, por
meio da exaltação da vida de todos os dias" (Milton Santos,~ 2000: 144). aplicado, embora eu entenda que a divisão entre teoria e prática/aplicação
não se sustente mais e tenha sido questionada por muitos de nós na LA.
Há em muitos lingüistas aplicados contemporâneos (muitos dos quais
presentes neste volume) uma preocupação com novas teorizações calcadas A crítica à episteme ocidentalista pode ser traduzida na preocupação
em novos modos de entender a vida social com base em críticas à modernidade com quem é o sujeito inscrito nela. Aqueles que foram postos à margem em
(Rampton, 2004), em teorias pós-modernas críticas (Pennycook, ne~te vo- uma ciência que criou ourridades com base em um olhar ocidentalista têm
lume e Fabrício, neste volume), em teorias queer (Nelson,; neste volume e passado a lutar para emitir suas vozes como formas igualmente válidas de
1
Moita Lopes, 2006), em teorias feministas (Cameron, 1992 ; Heberle, 2004; construir conhecimento e de organizar a vida social, desafiando o chamado
Osterman, 2003), em teorias anti-racistas (Magalhães , 2005) e em teorias conhecimento científico tradicional e sua ignorância em relação às práticas
88 Lu1z PAU LO DA MonA Lo PES L!NGÜ!ST!CA APLICADA E VIDA CONTEMPORÂNEA 89

sociais vividas pelas pessoas de carne e osso no dia-a-dia, com seus conhe- (2004), por exemplo, quando Mushakoji se refere à episteme dos
cimentos entendidos como senso comum pela ciência positivista e moderna. indígenas "em relação à natureza, à terra e a sua liberdade de ação" (Mushakoji,
1999: 209) ou, por exemplo, sobre o que os indígenas brasileiros e os
Nesse sentido , não posso deixar de mencionar o livro organizado por
africanos multilíngües entendem por língua (Cavalcanti & César, 2004;
Lopes da Silva & Rajagopalan (2004) e seus questionamentos em relação à
· Makoni & Meinhof, neste volume). A mesma preocupação é perceptível
"lingüística que nos faz falhar" exatamente porque muito do que se chama quando Boaventura Santos (2004: 18) indica que o hemisfério "sul surge
lingüística insiste em ignorar o que as pessoas no cotidiano pensam sobre .como protagonizando a globalização contra-hegemônica, cuja manifestação
linguagem, embora igualmente insista em produzir conhecimento sobre a mais consistente é o Fórum Social Mundial" ou quando ele indica a neces-
vida delas ou lhes indicar ações políticas. Com o mesmo objetivo, lembro sidade de escavar "tradições suprimidas ou marginalizadas, representações
aqui a fala desafiadora de Azelene Kaingáng, uma socióloga indígena brasi- particularmente incompletas porque menos colonizadas pelo cânon hege-
leira, a que assisti em uma mesa plenária do Congresso Luso-Afro-Brasileiro mônico da modernidade" (Boaventura Santos, 2004: 19), ou ainda, quando
de Ciências Sociais, realizado em setembro d't 2004 em Coimbra, que ·. Zizek (2004: 11) afirma que "nossa esperança em um mundo realmente
desqualificou a indagação de uma socióloga brasileira branca que, da platéia, está no universo sombrio e triste das favelas". A esperança não está na
questionava o argumento da socióloga indígena de que os indígenas brasi- ocidentalista de teorias separadas das práticas sociais.
leiros não seriam culpados pelos ataques à chamada soberania" nacional.
Azelene Kaingáng baseou seu argumento em seu posicionamémo como abordagem que temos de perseguir é, seguindo Venn (2000: 233-
indígena, mostrando que historicamente os indígenas brasileiros têm lutado e outros autores já mencionados,
pela manutenção das fronteiras nacionais. São esses discursos que entendo em um nível, a humanidade comum de todos com base na experiência do sofrimento
como questionadores da lógica ocidemalista. e de fragilidade", ... "ativada na relação face a face, e, em um outro nível, apesar da
alteridade radical do outro, um modo de ser que reconhece a impossibilidade de um
Por outro lado, também não posso deixar de citar um exemplo, muito eu existindo sozinho ..
próximo de nós, de como as chamadas redes de conhecimento e revistas
Em outras palavras, a questão que se coloca é como lidar com a diferença
científicas internacionais atuam na direção do ocidentalismo . Um rápido
base na compreensão de nós mesmos como outros, opondo-se, portanto,
exame da programação do congresso da Associação Internacional :de Lingüís-
"privilégio ocidentalista de um si-mesmo fechado e homogêneo e daqueles
tica Aplicada de 2005 indica que, ao contrário dos dois últimos' congressos,
·que são iguais" (Venn, 2000: 234), defendendo a responsabilidade e a soli-
suas plenárias (tanto na lista de conferencistas quanto na de organizadores
dariedade para com o outro na vida social e em novas formas de conhecer.
dos simpósios convidados), só incluem pesquisadores anglo-saxões (à exceção
de um holandês) ou que atuem em universidades do mundo anglo-saxônico. Esse é, em última análise, um projeto ético de renovação ou de reinvenção
Em sua lógica ocidentalista, as redes internacionais de produção de conhe- nossa existência que as áreas de investigação têm de abraçar, e, ao mesmo
cimento afastam, apesar de seu ideal de serem internacionais e de considerar tempo, um projeto social e epistemológico, ou talvez epistemológico porque
o mundo globalizado, conhecimentos produzidos em outros c'entros perifé- diferindo de muitas tradições que separavam a produção do conhe-
ricos. Isso indica que são associações em que "internacional" quer dizer o cimento do ser social. Essa posição é também veiculada pelo pensamento de
mundo anlgo-saxônico do velho globalismo ocidentalizado, que tem origem Boaventura Santos (2003) que argumenta em favor do "conhecimento pru-
nos chamados grandes descobrimentos no século XVI em seus esforços de 4ente para uma vida decente", que Mignolo (2003) também acolhe, embo-
colonizar ou de levar a "verdade" para os outros, ações sobre as quais Edward seu argumento não seja pela universalidade, mas pela pluriversidade do
Said (1976) foi extremamente claro. ?Onhecimento e da compreensão, como também faço aqui.

É a preocupação com novas epistemes que atravessa tariL o pensamento Esse tipo de conhecimento da lógica ocidentalista/moderna "propôs-se
de Mushakoji (1999), Milton Santos (2000), Boaventura 'Santos (2004) e não apenas compreender o mundo ou explicá-lo, mas também transformá-
90 Luiz PAU LO DAMo1n LoPES LtNG ÜiSTl CA APLI CADA E VlDA CO NTEMPORANEA 91

lo. Contudo, paradoxalmente, para maximizar sua capacidade de transfor- deveria estar relacionada, de uma maneira ou de outra, com uma transformação
mar o mundo, pretendeu-se imune às transformações do mundo" (Boaventura profunda nos modos de organizar a sociedade". Ou seja, ele indica que o
Santos, 2003: 76) ou pretendeu construir conhecimento separado do mun- conhecimento tem de ser novo não simplesmente porque o mundo está dife-
do, ou seja, no mundo, mas independente dele (Boaventura Santos, 2003). rence, mas porque tais mudanças requerem processos de construção de conhe-
Cabe problematizar os modos de produzir conhecimento, de forma a falar cimento que devem, necessariamente, envolver implicações de mudança na vi-
diretamente às mudanças avassaladoras que vivemos na vida contemporânea . da social. As mudanças têm sido nos dois sentidos: uma resposta à vida social
~ ..
para que seja possível questionar os construtos que vêm orientando a pes- que implica questões de natureza epistemológica. Em um sentido, a opção tem
quisa na tradição da LA. .a' ver com conhecimentos que refletem as mudanças radicais da vida contem-
porânea e, em outro, na direção de um projeto epistemológico com implicações
sobre a vida social. O segundo é o que, me parece, deve nos interessar.
PREPARANDO UMA AGENDA PARA A U NGÜÍSTICA APLICADA Mas que mudanças são essas de que falamos? Enfrentamos transformações
CONTEMPORÂNEA: RENARRAR A VIDA SOCIAL de natureza histórica, econômica, cultural, tecnológica e política. Contudo,
Milton Santos (2000: 24) chama a atenção para o fato de que "o desenvol-
O projeto que vejo como parte de uma agenda ética de investigação para vimento da história vai de par com o desenvolvim@to das técnicas" e de que
a LA envolve crucialmente um processo de renarração ou redescrição da vida nesse desenvolvimento técnico fomos arrastados por uma série de outras
social como se apresenta, o que está diretamente relacionado à necessidade mudanças 1 • Foi a tecno-informação por meio de avanços tecnológicos (na
de compreendê-la. Isso é essencial para que o lingüista aplicado possa situar informática, na cibernética e na eletrônica - Milton Santos, 2000) que
seu trabalho no mundo, em vez de ser tragado por ele ao produzir conhe- possibilitou um mundo mais veloz, de discursos que atravessam o globo em
cimento que não responda às questões contemporâneas em um mundo que um piscar de olhos no chamado tempo real, que mudam a economia na tecla
não entende ou que vê como separado de si como pesquisador: a separação do computador, que nos aproximam de forma surpreendente, que nos possi-
entre teoria e prática é o nó da questão. bilitam ser e ver outros virtualmente como também "conversar" com pessoas
que nunca vamos ver, que nos assustam como alteridades nunca imaginadas2
Seria pertinente perguntar: o que mudou foi o mundo social ou a forma
- provocando a construção de discursos fundamentalistas, que podem abrir
de produzir conhecimento sobre ele? Por um lado, são patentes a;> mudanças
nossos olhos para outras formas políticas de viver tanto a vida íntima e pública
de natureza social, cultural, econômica e tecnológica nas sociedades em que
vivemos, que têm levado a caracterizá-las como líquidas (Bauman, 2000; que, aliás, se confundem cada vez mais (chamo a atenção para a visão mais
2003) ou reflexivas (Giddens, Beck & Lash, 1997) ou de risco e de descon- pessimista do Amor líquido 3 de Bauman, 2004, como também para a visão
trole (Giddens, 2000), ou também como sociedades do medo, sobre as mais otimista do fim da perversão, de sexualidades plásticas ou de relaciona-
quais cada vez mais se fala na imprensa e que, em muitas de nossas cidades, mentos puros de Giddens 4 , 1992), questionando verdades naturalizadas em
sabemos bem o que significa. O argumento de Denzin (1997; xii) sobre a
metodologia qualitativa de pesquisa é de que "o projeto etnográfico mudou 1
Milton Sanros (2000: 27) acrescenta que essa mudança de técnica possibilita "a existéncia da finança
por que o mundo que a etnografia confronta mudou". Ele segue a idéia de universal" e" a unicidade do tempo", mas, ao mesmo tempo, sem o mercado globalizado e sem "a unicidade
do tempo", "a unicidade da técnica não teria eficácia".
que a forma de produzir conhecimento foi alterada por que o mundo mudou. 2
Como aponta Canclini (2003: 116), "existe algo radicalmente democrático no reconhecimento
de que, muitas vezes, não sabemos como chamar os outros. É o pomo de partida para atentar para
Por outro lado, o questionamento de formas tradicionais de construção de o modo como eles se nomeiam".
conhecimento sobre os outros, notadamente aquelas ocidentalistas e de cunho 3
Bauman (2004: 10) indica que o amor líquido possibilita "buscar 'relacionamentos de bolso'
positivista, tem nos alertado para traçar um novo modo de J?roduzir conheci- do tipo de que se 'pode dispor quando necessário' e depois rornar a guardar". Isso que quer dizer que
"o compromisso em longo prazo é a maior armadilha a ser evitada no esforço por 'relacionar-se'".
mento com implicações sobre as mudanças na sociedade. Rhaventura Santos 4
Giddens ( 1992: 38) aponta que a sexualidade plástica se refere ao fato de que como "a
(2001) argumenta que "uma transformação profunda nos modos de conhecer concepção pode ser artificialmente produzida" , a sexualidade está liberta, ''tornando-se uma qualidade
92 L u iz P AULO DA MoiTA LoPES L IN GÜÍSTICA APLICADA E VIDA CONTEMPORÂN EA !i,; 93

todos os sentidos, embora possam também confirmá-las, já que, como sabe- "horror econômico" , em que talvez, como diria Canclini ( 1999), sqa o
mos, são muitos os discursos que nos chegam. consumo que construa nossas identidades, ainda que muitos sejam apenas
consumidores imaginários (Sarlo, 2000).
A possibilidade de experimentar a vida de outros para além da vida local ·
é talvez a grande contribuição da vida contemporânea, ao nos tirar de nosso , . Só para citar um espaço social que me é muito caro e no qual a exclusão
mundo e de nossas certezas que apagam quem é diferente de nós e não nos reina, vale a pena refletir sobre a visão que a socióloga argentina, Beatriz Sarlo
possibilitam viver outras formas de sociabilidade. É também um mundo de · (2000: 112), tem da escola pública em nosso continente: "Na maioria dos
avanços tecnológicos inimagináveis, já identificáveis em todos os campos: da países da América Latina, a escola pública é hoje o lugar da pobreza simbólica,
educação à saúde, passando pela construção de seres humanos pós-orgâni- onde professores, currículos e meios materiais concorrem em condições de
cos, "hibridizados por próteses bioinformáticas já à venda" (Sibila, 2002: muito provável derrota com os meios de comunicação de massa" (apesar dos
16) e pela compreensão de que a construção d'l,aprendizagem está cada vez esforços dos professores, como acho necessário completar). Isso ocorre em um
mais na participação em redes e na utilização de letramentos multissemióticos .. mundo no qual, em contradição, tais escolas precisam ser ainda melhores para
ou dos multiletramentos (Gee, 2000) . que os alunos possam se preparar para as exigências da vida contemporânea
ássim como para aprender a "criticar o poder e as injustiças" (Gee, 2000: 63).
Mas é também simultaneamente o mundo de uma exclusão ainda mais
Um aspecto que me preocupa é o modo como a cÍ~sigualdade é naturalizada
contundente, em que a economia rege todas as esferas sociais: do, mundo da
·na sociedade brasileira, como também em outros países periféricos (Souza,
igreja, da educação, da saúde ao trabalho. O que conta é, como já disse, o
2003). Nesse sentido, o mundo periférico é globalizado: as telas das TVs na
novo deus: o mercado, um dos sustentáculos centrais da vida contemporâ-
Cidade do México , em Bangcoc e em São Paulo mostram, de certa fo rma, a
nea, cujos discursos colonizaram a vida social (Chouliaraki & Fairclough,
mesma naturalização da miséria.
1999) e que destruíram as relações trabalhistas. Como sabemos, o empre-
gado ideal de nossos dias, para não me referir ao desempregado ideal, é E aqui chego ao outro sustentáculo de nossos dias. A mídia passa a ter
aquele que vive sob a seguinte orientação: "Estou feliz por ter esse emprego, um lugar estratégico na sociedade, como aponta Martín-Barbt;ro (2003),
mas estou também pronto para ser despedido se isso facilitar seus ganhos, ; constituindo talvez com o mercado o outro elemento do divino em nosso
meu patrão", como Lankshear & Gee (1997: 99) parecem indicar. mundo. Sarlo (2000: 70) diz que, como espectadores, "[temos] a crença de
que todos somos, potencialmente, objetos e sujeitos que podem entrar no
Como diz Bauman (1999), é um mundo de identidades globais e de
como o oráculo de Delfos contemporâneo, a TV resolve nossos pro-
identidades locais, sendo que as últimas ficam com os restos simbólicos e
blemas por meio dos programas religiosos (com pastores ou padres eletrô-
materiais daqueles que, tendo identidades globais, podem ser fluidos e rá-
nicos) ou de psicanálise eletrônica, como também problemas que outras
pidos e desfrutar das benesses da tecnologia por ter condições de usar as
instituições não conseguem resolver: de justiça, por exemplo (Sarlo, 1999).
técnicas mais avançadas . Quem tem condições de ser fluido?, pergunta
ll'.LldlJ.uc:Hte, os p olíticos sabem como mentir estrategicamente na TV para
Milton Santos (2000: 29), é a grande questão. Como indica _,2:izek (2004),
ganhar mais votos . Como argumenta Gitlin (2003: 25), "o mundo externo
"[os favelados em suas identidades locais] constituem o verdadeiro 'sintoma'
eentrou violentamente no lar - na profusão das mídias", devido à "torrente
de slogans como 'desenvolvimento', 'modernização' e 'mercado mundial'".
de Imagens e sons [que] domina nossas vidas".
Conforme argumenta Forrester (1997), esses são tempos caracterizados pelo
Essa "plenitude icônica é a condição contemporânea" (Gidin, 2003: 25)
dos indivíduos t de suas relações íntimas'" . Giddens ( 1992: 68 ) indica que o relacionamento puro "refere- e é responsável por aquilo que Chouliaraki & Fairclough (1999: 50) cha-
se a uma situação em que se entra em uma relação social pela própria relação, pelo que pode ser derivado mam de "virada icônica", que entendem como típica de nossos tempos:
por cada pessoa da manutenção de uma associação com outra, e que só continua en,~uanto ambas as panes
considerarem que extraem dela satisfações suficientes, para cada uma indiv;dualmente, para nela
"Uma mudança na economia dos sistemas semióticos que tem conduzido a
permanecerem". um questionamento da proeminência da linguagem". Ao mesmo tempo, o
94 !F L UI Z PAULO D A MOITA L O PES LIN GÜ ÍSTI CA APLI CADA E VIDA CONT b vlPORÁNEA 95

fato de vivermos em sociedades densamente semiotizadas tem feito com que O quadro teonco que traço como um modo de reinventar a vida social
se tematize a natureza constitutiva do discurso na vida contemporânea e fazer pesquisa envolve a reinvenção da emancipação. Nesse quadro, quero
(Chouliaraki & Fairclough, 1999), no qual a palavra passou a ter um papel combinar as diferenças culturais e seus atravessamentos por classes sociais,
central (Milton Santos, 2000). O papel da mídia na construção de q uem na linha do que sugerem Fraser, 1997; Canclini, 2003 e Boaventura Santos,
somos tem sido continuamente enfatizado e tal papel chama a atenção para 2004. Nesse sentido, Canclini (2003: 103) afirma que "a construção de um
"o que significa viver num mundo onde a capacidade de experimentar os novo projeto emancipador deve conciliar as políticas culturais de reconhe-
acontecimentos ultrapassa a possibilidade de os encontrar nos caminhos da ci~ento e as políticas sociais de redistribuição, a cultura e a economia".
vida cotidiana limitados pelo tempo e espaço" (Thompson, 1998: 15). A Já Boaventura Santos (2004) vai além, ao sugerir um pós-modernismo
afirmação de Geerrz (1989: 5) de que o ser humano "está suspenso em teias de oposição, que não apóia o relativismo epistemológico ou cultural típico
de significado que ele mesmo teceu" tem na mídia, como aponta Thompson das idéias pós-modernistas. Ele teme que esse pós-modernismo "possa ocul-
(1998:20), "as rodas de fiar o mundo" na contemporaneidade. Não posso tar a descrição que fizeram [da modernidade ocidental] os que sofreram a
deixar de lembrar que em países periféricos ou semiperiféricos como o nosso, violência com que ela lhes foi imposta", uma vez que são eles que podem
por não termos conseguido conquistar as garantias da modernidade, é pro- apresentar formas alternativas de conhecimento e de vida social que possi-
vavelmente mais difícil minimizar os efeitos desse mundo contemporâneo bilitam tentar resolver os chamados "problemas mqdernos", nomeadamente,
que invade nossas casas (Boaventura Santos, 200 1) . a falta da "liberdade, igualdade e solidariedade':. (Boaventura Santos, 2004:
5). Tal falta persiste em nossas sociedades, principalmente em países como
Na contramão da modernidade e de sua visão de um SUJeito homogê-
o Brasil, onde esses problemas se agravam a cada dia.
neo , algumas pessoas são cada vez mais expostas a uma multiplicidade de
projetos identitários, como também à percepção da heterogeneidade identitá- Atualmente, tal violência é retratada nas teorizações feministas, anti-
ria coexistindo em um mesmo ser social. Como fazer uso desses novos racistas, pós-coloniais, queer e culturalistas de classe social (Eder, 2002),
olhares que fraturam a vida social e a enriquecem para construir novos muitas das quais representadas neste volume, que podem apontar caminhos
conhecimentos e novas sociabilidades, ou, como talvez diria Foucault (1995 com base no que estou chamando de perspectivas do Sul, ao colaborarem
239), como podemos "imaginar e construir o que poderíamos ser" é um dos na reinvenção da emancipação social (Boaventura Santos, 2004:5) por meio
grandes projetos políticos e epistemológicos da vida atual. Co;no pensar da constituição do que já chamei de uma coligação anti-hegemônica. É claro
novas formas de produzir conhecimento com base em outros - olhares e, que não compartilho da idéia moderna de ciência como salvação, mas é claro
assim, colaborar na reinvenção da vida social? Acho que Boaventura Santos também que não compartilho "da sina da filosofia lamentada por Wittgenstein
(200 1: 329) diria que isso só é possível se usarmos os olhares "do Sul". 'de deixar o mundo como é"' 6 (Bauman, 2003b: 8), típica de certo cinismo
Como podemos "aprender com o Sul"? Essa é a "metáfora do sofrimento acadêmico contemporâneo .
humano" (Boaventura Santos, 2004: 12) que de utiliza para dar conta de O conceito de emancipação social aqui é diferente de sua compreensão
perspectivas marginalizadas, de modo que, ao conhecer as margens em sua na modernidade e no processo de ocidentalização, porque incorpora os
própria voz, rambém seja possível conhecer o cenrro 5. É, portanto, um diferentes grupos marginalizados (pela classe social, sexualidade, gênero,
mundo dos múltiplos discursos e de novas construções para a vida social raça etc.), já que os fatores econômicos, culturais e políticos não podem
como também da exclusão descarada, em que os limites são inesperados e ser separados, mas também porque não se trata de levar a verdade/conhe-
em que, conseqüentemente, a ética é central na vida social e na pesquisa.
6 Tal sina se refere ao fato de que Wittgenstein achava que deveríamos esrudar os jogos de linguagem
5
Boaventura Santos (2004 ) parece esrar mais preocupado co m as relaç\Ões Norte e Sul na em que as pessoas se envolvem, ou seja, o mundo como é, se quiséssemos entender como a lingua-
comemporaneidade, enquanto aqui, seguindo Mushakoji (1999), amplio a m etáfot ; do Sul para envolver gem funciona, e não as teorizações semânricas e sintáticas que nada tém a ver com o modo corno as pessoas
o urros contextos de marginalização e sofrimento humano. usam a linguagem ou com o que a linguagem é.
96 Luiz PAULO DA M o iTA LoPES L INGÜISTICA Al'LJCADA E VIDA CONTEMPORÁNEA 97

cimento a esses grupos, mas de construir a compreensão A IMPRESCINDIBILIDADE DE UMA LINGÜÍSTICA APLICADA
com eles em suas perspectivas e vozes, sem hierarquizá-los (veja, abaixo, o
HÍBRIDA OU MESTIÇA
apagamento da distinção entre teoria e prática). Desse modo,
dizer que há várias emancipações sociais fundamentadas na ética e Para construir conhecimento que sep responsrvo à vida social, é neces-
politização da vida social. .. sário que se compreenda a LA não como disciplina, mas como área de
~trudos, na verdade, como áreas tais como estudos feministas, estudos queer,
.estudos sobre negros, estudos afro-asiáticos etc. Pesquisadores originários de
UMA LINGÜÍSTICA APLICADA CONTEMPORÂNEA diferentes disciplinas (sociologia, história, antropologias etc.) convergem para
:essas áreas e passam a focalizar tópicos comuns, atuando no que chamei um
Quero traçar um quadro do que vejo como implicações dessa percepção da processo transdisciplinar de produção de conhecimento (Moita Lopes, 1998).
vida social atual, como também dos modos de produzir conhecimento em ;Embora muitos pesquisadores que operam no campo da LA tendam a vir do
c:UUpo da lingüística (como é o meu caso), há pesquisadores no Brasil que
nossos dias para uma LA contemporânea: uma LA que precisa ter algo a dizer
· vêm da educação, da literatura, da psicologia etc. e que estão entre os mais
sobre o mundo como se apresenta e que o faz com base nas discussões que estão
.·._. produtivos. Em muitos casos, equivocadamente, al,&uns entendem que essas
atravessando outros campos das ciências sociais e das humanidades,' nas quais se
são suas disciplinas-mães, às quais têm que prestar serviço ainda hoje, ge-
verifica uma mudança paradigmática em virtude da crise da ciê~cia moderna. farido pesquisa de aplicação das teorias dessas áreas, entre as quais a mais
Entendo que o campo da LA está localizado nas ciências sociais, como, aliás, . notória e amplamente criticada (por exemplo, Moita Lopes, 1998 e
venho insistindo há pelo menos quinze anos (cf. Moita Lopes, 1990). Ela Rajagopalan, neste volume), como sabemos, está a aplicação de lingüística
pode, portanto, ficar à parte das discussões em tais campos. Isso me parece (inclusive, por exemplo, aplicação de teorias da análise de discurso) .
ainda mais pertinente quando muitas das questões mais interessantes sobre O outro ponto que me parece crucial para que a LA seja responsiva à vida
linguagem são levantadas por pesquisadores fora do campo de estudos social se prende à necessidade de entendê-la como área híbrida/mestiça ou a
ficos da linguagem. Se quisermos saber sobre linguagem e vida social nos da INdisciplina. A interdisciplinaridade é, porém, em geral, ainda vivida
de hoje, é preciso sair do campo da linguagem propriamente dito:; ler sociologia, forma tímida na LA, embora ela seja um modo de produção de conheci-
geografia, história, antropologia, psicologia cultural e social etc. A mento que é cada vez mais prevalente nas ciências sociais e humanas. É claro
"virada discursiva" tem possibilitado a pesquisadores de vários outros campos que a compreensão da LA como INdisciplina tem implicações para o desenvol-
estudar a linguagem com intravisões muito reveladoras para nós. Parece vimento de carreiras acadêmicas ao gerar o fenômeno do "rei [ou rainha] sem
.·reino" (Fauré, 1992: 68), o que tem sido muito pouco discutido no nosso
cial que a LA se aproxime de áreas que focalizam o social, o político e a história.
campo no Brasil. São poucas as universidades no Brasil onde se pode prestar
Essa é, aliás, uma condição para que a LA possa falar à vida contemporâiJ.ea. ·
·concurso para uma carreira de lingüista aplicado. Não surpreende que a
I

Na tentativa de pautar uma LA contemporânea, organizarei a discussão do trabalho desse rei sem reino seja tão difícil de compreender.
que segue com base em quatro pontos: No sentido da INdisciplina e da mestiçagem, meu trabalho tem estado
muito mais próximo de pesquisadores que atuam nesses outros campos das
1) a imprescindibilidade de uma LA híbrida ou mestiça, a que já comecei
, áências humanas e sociais do que do de pesquisadores que fazem o que
a me referir em outros textos (Moita Lopes, 2004);
i agora se chama LA normal. É nessa mesma direção que Klein ( 1990: 45)
2) a LA como uma área que explode a relação entre .· teoria e prática;
argumentou que "nos anos 1960, a física tinha se tornado uma federação de
3) a necessidade de um outro sujeito para a LA: as1Arozes do Sul; disciplinas, incorporando áreas tais como física nuclear e física do estado
4) a LA como área em que ética e poder são os novos• pilares. sólido, áreas que tinham mais em comum com a química e a engenharia do
98 L Lu1 z PA ULO DA MoiTA LOPES LINGÜfSTJ CA APLI CADA E VIDA CONTEMPORÁNEA ~ 99

que com a física tradicional". Os limites da LA estão se alargando, asstm Tratando dessas questões em uma perspectiva pós-moderna e pós-colonial,
como os limites das humanidades e das ciências sociais em geral. Serge Gruzinski advoga uma abordagem similar ao argumentar em favor de "um
pensameftto mestiço" nas ciências sociais (Gruzinski, 2001) como um modo de
A LA tem de mudar, a menos que queiramos trabalhar isoladamente, se livrar de hábitos intelectuais do passado e de automatismos no modo de pen-
seguindo roteiros investigativos que claramente não são muito elucidativos sar típicos desses campos. Citando Mignolo (1995: 7-8), Gruzinski (2001: 41)
para nos ajudar a compreender a complexidade das questões que nos con- indica que estamos testemunhando "a emergência de quadros conceituais híbri-
frontam no cotidiano. Esse roteiro aqui tem a ver com o modo como cons- dos que produzem novos modos de conhecimento" em oposição a uma "abor-
truo o objeto de pesquisa de forma a pensar uma LA com algo a dizer à vida dagem unidimensional ocidental e modernista". Canclini (2003: 119) vai na
social contemporânea. Outros, é claro, o constroem bem longe dessas inten- mesma direção, ao apontar que "já não se pode entender a relação de uma teoria
ções. E, é assim, que o mundo gira. com suas condições sociais de produção com a simples associação ao país, à
Não estou dizendo que rodos devem seguir a mesma cantilena, nem que classe ou à universidade em que foi elaborada". Seus motivos em relação à
minhas teorizações sejam melhores do que as de outros, "já que não pode- hibridização são, porém, menos epistemológicos do que relativos aos "fluxos de
informação deslocalizados, em redes e viagens que transcendem o próprio país",
mos invocar superioridade epistemológica ou mais transparência de uma
em que muitos pesquisadores contemporâneos se situam.
construção sobre outras" (Moita Lopes, 2004: 116). Mas temos de ter
clareza sobre as implicações éticas de nossas escolhas teóricas, as~im como Está ocorrendo na produção do conhecimento a compreensão de que
precisamos ter consciência dos limites do alcance teórico de nosso trabalho: uma única disciplina ou área de investigação não pode dar conta de um
nossas teorizações não podem valer sobre questões a que não se destinam. mundo fluido e globalizado para alguns, localizado para outros, e contin-
Como é possível pretender dar conta da relação entre linguagem e vida gente, complexo e contraditório para todos. Gruzinski (200 1) argumenta
social sem teorizações que contemplem tal relação, que contemplem o conhe- em favor de "ciências 'nômades' preparadas para circular do folclore à antro-
cimento sociológico? pologia, da comunicação à história da arte" para contemplar tal mundo. É
esse mesmo tipo de pensamento mestiço ou nômade que acho útil para uma
Ao definir um campo híbrido, tanto teórico quanto metodológico, posso
LA que possa tentar compreender a vida contemporânea. Como lingüistas
parecer herético para muitos que vêem em minha proposta uma LA que perde
aplicados, nossa posição deve ser nos situar nas fronteiras onde diferentes
a essência, principalmente da parte daqueles que levaram tantos anos para criar
áreas de investigação se encontram.
tal essência: alguns dos quais foram meus professores (de fato, ~lguns dos
melhores lingüistas aplicados de nosso tempo). Só que estou fazendo o que me Hoje é difícil localizar muitos pesquisadores em áreas de investigação ao
ensinaram: nunca cessar de me questionar. O mesmo está acontecendo em ouvir suas apresentações em congressos ou ao ler seus textos . Em muitos
outros campos de pesquisa. Como Klein (1990: 11) aponta, atualmente o casos, visitar os departamentos universitários onde tais pesquisadores traba-
conhecimento está sendo reestruturado com a criação de "campos híbridos", lham causa ainda mais perplexidade: freqüentemente, não se consegue ver
"com cada vez mais empréstimos entre as disciplinas" e "com uma p~rmeabilidade a relação entre o que eles pesquisam e as unidades departamentais a que
crescente entre as fronteiras". A LA é um desses campos, princip~ente se tem pertencem. Os birolamentos de muitos departamentos estão na contramão
o propósito de falar à complexidade da vida contemporânea. da produção do conhecimento que possa dizer algo ao mundo contempo-
râneo. Não à toa muitos de nossos departamentos se transformaram no lugar
Mais importante do que se preocupar com os limites de uma área de
do atraso epistemológico e da burocracia. Vivemos tempos de hibridismo
investigação, é tentar operar dentro de uma visão de construção de conhe-
teórico e metodológico nas Clencias soe1a1s e humanas, o que tem tornado
cimento que tente compreender a questão de pesquisa na perspectiva de
as fronteiras disciplinares tênues e sutis.
várias áreas do conhecimento, com a finalidade de integrá-las ~ "As atividades
interdisciplinares estão enraizadas nas idéias de unidade e síh tese, evocando Em campo bem próximo ao nosso, a análise crítica do discurso,
uma epistemologia de convergência" (Klein, 1990: 11). Chouliaraki & Fairclough (1999) oferecem um bom exemplo de um diálogo
Ll NGü fSTICA APLICADA E VI DA CONTEMPORÂNEA S:, 10 l
100 1] LUIZ PAULO DA M OITA LoPES

explícito com outras áreas como instrumento para esclarec~r aspectos ~a vida Isso é surpreendente quando se sabe que nas sociedades contingentes em
social que podem enriquecer a visão de discurso que unlrza_m. Segumdo a que vivemos "relevância e números estão em campos separados. Fenômenos
idéia de que 0 discurso é central na vida contemporânea, exarnmarn o que. um estatis ~ camente insignificantes podem se mostrar decisivos, e seu papel
geógrafo , um sociólogo, um filósofo , pesquisadores pós-modern~stas e ~emtms- . decisivo não pode ser compreendido de antemão" (Bauman, 1992: 192) -
tas têm a dizer sobre a vida social contemporânea. Choulraraki & Fatrclough. cf. Rampton (neste volume) - , uma vez que sua significância tem a ver
(1999:2) referem-se a esse "diálogo (ou 'conversa') entre teorias" como pesqui- com sua relevância para aqueles que enfrentam as contingências da vida
social em suas ações situadas.
sa trans d .tsctp
· 1·mar, "na qu al a lógica de uma teoria é posta a operar dentro de
uma outra sem que a última seja reduzida à primeira". Isso é o que chamo Em uma LA que quer falar à vida contemporânea é essencial, não a teorização
de pesquisa interdisciplinar (Moita Lopes, 1998) e é um modo possível de elegantemente abstrata que ignora a prática, mas uma teorização em que
fazer pesquisa interdisciplinar em LA, sintonizado com outras áreas do conhe- teoria e prática sejam conjuntamente consideradas em uma formulação do
cimento, ajudando-nos a ver as limitações de nossas pressuposições. conhecimento na qual a teorização pode ser muito mais um trabalho de
bricolage, tendo em vista a multiplicidade dos contextos sociais e daqueles que
os vivem. Arrolo motivos de natureza epistemológica, mas que, claramente,
A LINGÜÍSTICA APLICADA COMO UMA ÁREA QUE EXPLODE têm implicações de natureza ética ao integrar "as Vl?zes do Sul", embora seja
A RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA possível nos questionar também se é possível s"eparar epistemologia e ética.

Cabe também mencionar que não faz nenhum sentido a distinção tradi-
Além das teorizações de caráter híbrido ou mestiço, considero essencial, cional de que a lingüística se ocupa da teoria e a LA da prática, o que quer
na forma como atualmente concebo a LA, um posicionamento que exploda os que se entenda por essas áreas hoje em dia. Como nós que atuamos em LA
limites entre teoria e prática. Estou apontando - como , aliás, está implícito sabemos, nosso trabalho tem-se pautado por teorizações. Por um lado, conhe-
no que disse anteriormente em relação à necessidade de conside~ar "as vo~es cimento que não considera as vozes daqueles que vivem a prática social não
do Sul" _ para a inadequação de formular conhecimento que seja responstvo pode dizer nada sobre ela; e, por outro, em LA, temos de produzir conheci-
à vida social ignorando as vozes dos que a vivem. Tradicionalmente, o cham~­ mento em que não haja distinção entre teoria e prática, mesmo porque, como
do conhecimento científico foi formulado com base na crença .na separaçao 4iz Boaventura Santos (200 1: 18) , a contingência, a velocidade e o inesperado
entre 0 pesquisador e 0 objeto que estuda para que suas teorizações ou s~a da contemporaneidade têm feito com que "a realidade pareça ter tomado a
compreensão científica (portanto, singular) do que estudava não se c~n~amt­ dianteira sobre a teoria". Daí a necessidade de dizer não "à distância críticà'
nassem: um conhecimento apolítico e não-ideológico, típtco do posmvtsm~. .e procurar "a proximidade críticà', o que só é possível se apagarmos a distinção
Essa é a base da grande tradição da chamada ctencia moderna em s~u ans~10 entre teoria e prática (Boaventura Santos, 2001: 4).
por se separar ou não se deixar contaminar por aqueles que vivem a vtda ~octal
e por seu senso comum, na busca de objetividade e neutralt~ade ctennficas.

Essa percepção persiste, mas é cada vez mais questionadà, in~lusive UM OUTRO SUJEITO PARA A LINGÜÍSTICA APLICADA: AS VOZES DO SUL
ciências exatas ou da natureza. A compreensão de que estamos dnetame~te
imbricados no conhecimento que produzimos começa a interessar pesqutsa~ Parte da discussão sobre a relação entre teoria e pranca já envolveu
dores em vários campos. Isso não quer dizer que ~o 'mercado, episte~ol~gtco' críticas à crença na neutralidade científica e em uma racionalidade
or assim dizer em muitos contextos, o conheCimento da verdadena cten- descorporificada, na qual está implícita a questão do sujeito social. Quero
P , ' d d' focalizar especificamente o problema relativo a quem é o sujeito da LA. A
cia não tenha mais valor. A magia das estatísticas que comr,rovam a ver a e
das abstrações totalmente separadas da vida social das pessoas em suas chamada ciência moderna já foi amplamente criticada por se basear em um
cotidianas ainda encanta muitos e, freqüentemente, merece sujeito homogêneo e essencializado como branco , homem, heterossexual de
102 '• L U IZ PA U LO DA M O ITA L OPES L INGÜ [ST ICA APLICADA E VIDA CONTEM PO RÂNEA li!' 103

classe média que as teorias feministas, queer, anti-racistas, pós-coloniais e valores, projetos políticos e interesse daqueles que se comprometem com a
pós-modernistas se encarregaram de desconstruir. Essa questão está relacio- constrVção do significado e do conhecimento. Não há lugar fora da ideologia
nada à redescrição de um mundo constituído por uma ciência de significado e não há conhecimento desinteressado. A LA precisa construir conhecimento
objetivo, i.e., "as últimas verdades", que nos fez acreditar em uma única que exploda a relação entre teoria e prática ao contemplar as vozes do Sul.
explicação para os faros sociais, que não eram de modo algum entendidos Dessa forma, visões da linguagem e da produção do conhecimento que colo-
como atravessados pelo exercício do poder, despolitizando e tornando autô- cam o sujeito em um vácuo social, no qual sua sócio-história é apagada, são
nomo o conhecimento. Essa visão difere de Foucault (1979:12), quando ele inadequadas para dar conta da visão de LA contemporânea que defendo.
chama a atenção para o faro de que "a verdade é deste mundo; é produzida
nele devido a múltiplas forças de coerção".
A LINGÜÍSTICA APLICADA COMO ÁREA
Assim, muito da pesquisa mais recente nas ctencias soCiais e humanas
tem apontado que o mundo social e nós mesmos somos constituídos no EM QUE ÉTICA E PODER SÃO OS NOVOS PILARES
discurso na linha de teorias socioconstrucionistas, o que envolve como as
pessoas estão posicionadas no mundo em sua sócio-história. Essa compreen- Talvez a palavra mais repetida em muito da literatura atual das ciências
são do sujeito social tem chamado a atenção para sua natureza fragmentada, sociais e humanas seja "ética". Quando se enfatizam ~ sujeito social e sua relação
heterogênea, contraditória e fluida (Moita Lopes, 2002; 2003), sehdo tam- com a alteridade, assim como sua heterogeneidâde na construção do conheci-
bém entendido como sempre aberto a revisões identitárias. Nesse sentido, mento, como fiz aqui, as questões relativas a ética e poder são intrínsecas. Não
é a minha própria sócio-história que está inscrita no que estou focalizando penso que vivemos em um mundo do "vale-tudo" (Rosenau, 1992: 118), como
aqui ao me reposicionar diante da LA. algumas versões céticas pós-modernas querem nos fazer acreditar, já que "os pós-
modernos céticos estipulam que nenhum sistema de valor particular pode ser
Essa percepção do sujeito social questiona áreas de investigação que o compreendido como superior a outro" (Rosenau, 1992: 114).
vêem por meio de lentes de homogeneização, só possíveis porque sua sócio-
história e corpo são apagados. No campo da LA na área de ensino/aprendi- Minha visão não é a de que "todas as normas e valores sejam igua1s
zagem de línguas, tem havido uma tendência contínua a ignorar p faro de (Rosenau, 1992: 115). Normas e valores refletem posições discursivas espe-
cíficas, o que, de modo algum, implica relativismo ético. Ao tratar rodos os
que professores e alunos têm corpos nos quais suas classes sociais, sexuali-
conhecimentos como modos igualmente válidos de descrever ou construir o
dades, gênero, etnia etc. são inscritas em posicionamentos discursivos, con-
mundo social, a posição relativista esvazia a natureza interessada do conhe-
templando somente o sujeito como racional e não como social e histórico,
cimento (Roman, 1993). Sou da opinião de que, tendo em vista alternativas
ou seja, focalizando somente sua racionalidade descorporificada (hooks, 1994).
~ ', e significados existentes, é legítimo preferir uns e refutar outros (Rosenau,
É necessário mudar o sujeito da LA, como Henriques et alii (1984) fizeram
::. 1: __ 1992; Chouliaraki. & Fairclough, 1999). Contudo , permanece a questão
com o sujeito da psicologia social. Desse modo , aponto para a importância
relativa a quais significados devemos preferir.
de reposicionar o sujeito na LA e não para o fim do sujeito (Rosé"nau, 1992),
como em algumas correntes pós-modernistas. Não poderia ser diferente, A escolha deve se basear na exclusão de significados que causem sofri-
dado que partilho o ideal de reínventar a emancipação social. mento humano ou significados que façam mal aos outros. Como Gee (1993:
293) argumenta, "temos a obrigação ética de explicar. .. qualquer prática
Essa visão parece crucial em áreas como a LA, que têm como objetivo
social em que haja razão para acreditar que ela nos dá vantagens, ou ao nosso
fundamental a problematização da vida social, na intenção de compreender as
grupo, em detrimento de outros".
práticas sociais nas quais a linguagem tem papel crucial. Só podemos contri-
buir se considerarmos as visões de significado , inclusive aq11~les relativos à Esse princípio ético é parte da constitutçao de uma coligação anti-
pesquisa, como lugares de poder e conflito, que refletem os preconceitos, hegemônica que colabora na construção de significados oriundos de outras
104 L UIZ PAU LO DA M OITA. LOPES L! NGÜ]STI CA APLI CADA E VlDA CONTEMPOR.ANEA 105

vozes (daqueles marcados pelo sofrimento às margens da sociedade), assim (apud Martín-Barbero, 2003: 21): "O futuro nunca se anima a ser de rodo
como na construção de outro mundo social, construindo outra globalização, pres(Çlte sem antes ensaiar, e esse ensaio é a esperança".
como acho que diria Milton Santos (2002), e reinventando a emancipação
em nossos dias. Como argumenta Mushakoji (1999 :203) , trata-se de "uma
ordem mais sensível às realidades humanas, especialmente ao sofrimento REFERÊNCIAS
humano" do que aquela representada por valores modernistas, ocidentalizados,
liberais e universais, apoiados por uma comunidade epistêmica universalista, BAUMAN, Z. (1992). fntimations of Postmodernity. London: Routledge.
alimentada pelo mercado livre transnacional em um mundo novo globalizado (1999). Globalização. As conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores.
- - (2003a). Amor líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
e liberal. É assim que entendo que a LA contemporânea pode colaborar na - . - (2003b). A sociedade líquida, Folha de S.Paulo. Caderno Mais!, 191!0/2003, pp. 5-9.
construção de "um novo paradigma social e político" e "epistemológico", ~ERON, D. (1997). Performing Gender Identity: Young Men's Talk and the Consuucrion of
Heterosexual Masculiniry, in: }oNHSON, S. & M EINHOF, U. Language and Masculinity. Oxford:
voltando, portanto, ao início deste capítulo.
Blackwell.
CANCLINI, N. G. (1997). Culturas híbridas. Estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo:
EclUSP.
_· _ (1999). Consumidores e cidadãos. Conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Edirora
A LINGÜÍSTICA APLICADA COMO LUGAR DE ENSAIO DA ESPERANÇA da UFRJ. .
__ (2003). A globalização imaginada. São Paulo: Iluminuras.
CAVALCANTI, M. & Ct.SAR, A. (2004). Repensando questões sobre o conceito de língua na pesquisa
Tendo em vista o quadro da vida contemporânea que tracei e as mudan-
aplicada realizada em contextos de minorias lingüísticas no Brasil. Trabalho apresentado no Painel
ças epistemológicas que enfrentamos em um país que precisa fazer a crítica "O conceito de 'língua' na pesquisa social e lingüística nos espaços lusófonos". VIII Congresso
da modernidade, sem, em muitos sentidos, tê-la vivido, "podemos escolher", Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra.
CHOUL!J\.AAKJ, L & FAIRCLOUGH, N. (1999). Discourse in Late Modernity. Edinburgh: Edinburgh
como diz Venn ( 2000: 236), "continuar morro abaixo em um caminho de
Universiry Press.
uma pós-modernidade descuidada na direção de um destino catastrófico e DAVIES, A. (1999). An !ntroduction to Applied Linguistics: from Practice to Theory. Edinburgh:
desumano, ou podemos decidir trazer à tona um futuro que a modernidade Edinburgh Universiry Press.
DENZIN, N . K. (1997). Interpretive Ethnography. Ethnographic Perspectives for the 21'' Century.
por si mesma simplesmente anunciou".
London: Sage.
EDER, K. (2002). A nova política de classes. Bauru: EDUSC.
Ao contrário do que muita gente pensa, construir conhecimento tem FAURE, G. (1992). A constimiçáo da interdisciplinaridade: barreiras institucionais e intelectuais, Tempo
tudo a ver com esse projeto, pois, em última análise, todo conhecimento em Brasileiro, 108, pp. 61-68.
ciências sociais e humanas é uma forma de conhecer a nós mesmos e de criar FoRRESTER, V. (1997). O horror econômico. São Paulo: Editora da UNESP.
FoUCAULT, M. (1979) }i;ficrofisica do poder. Rio de Janeiro: Graal.
possibilidades para compreender a vida social e outras alternativas sociais. _ _ (1995). O sujeito e o poder, in: Dreyfus, H. e Rabinow, P Michel Foucault, uma trajetória
Não surpreende, portanto, que na LA, como em outras áreas, as questões filosófica para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universirária.
identitárias estejam interessando a tantos pesquisadores exatamente quando FAAZER, N. (1997) . justice lnterruptus: Critica! Reflections on the Postsocialist Condition. New York:
Routledge.
se problematiza a importância de pensar outras sociabilidades. para a vida GEE, J. P. (1993). Postmodernism and Literacies, in: Lankshear, C. & McLaren, P (orgs .). Critica!
social, o que é o principal projeto político da atualidade . É tempo de Literacy, Politics, Praxis and the Postrnodern. Albany, New York: State University ofNew York Press.
reinventar a vida social, assim como a LA como forma de compreendê-la, de _ _ (2000). New People in New Worlds: Nerworks, the New Capitalism and Schools, in: Cape,
B. & Kalantzis, M. (orgs.). Multiliteracies. London: Rourledge.
modo a poder imaginar novas ações políticas. _ _ (200 1). ldentiry as an Ana!ytic Lens for Research in Education, Review of Research in Education,
25: 99-125.
Muitos dirão que há uma grande dose de utopia neste capítulo. Ainda GEERTZ, C. (1989). A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos.
que seja de opinião de que não somos nada sem utopia, uma vez que é o GIDDENS, A. (1992). A transjó.-mação da intimidade. São Paulo: Editora da UNESP
_ _ (2000). Mundo em descontrole. Rio de Janeiro: Record.
sonho que nos faz pensar em alternativas para as questões qu~ se apresentam
GIDDENS, A.; BECK, U. & L~SH, S. (1997). Modernização reflexiva. São Paulo: Eclitora da UNESP
nas várias esferas de nossas vidas, prefiro pensar que este ápírulo compre- G!TLIN, T. (2003). Mídias sem limite. Como a torrente de imagens e sons domina nossas vidas. Rio de
ende a LA como lugar de ensaio da esperança. Como disse Jorge Luis Borges Janeiro: Civilização Brasileira.
106 LUIZ PAULO DA MOITA LOPES LI NGÜ ÍSTICA APLICADA E VIDA CONTEMPORÂNEA 107

G RUZINSKJ , S. (200 1). O pensamento mestiço. São Paulo: Cia. das Letras. RosENAU, P. M. (1992) . Post-Modernism and the Social Sciences. lnsights, lnroads and lntrusions.
H EBERLE, V. (2004). Identidades e gêneros no ciberespaço: entre cyborgs heteroglóssicos e estereótipos Princeton: Princeton U niversiry Press.
exagerados. Trabalho apresentado na sessão temática "Sentidos em vertigens: práticas discursivas contem- SAJD, Cf.. W. (1990) . Orientalismo. O oriente como invenção do ocidente. São Paulo: Cia. das Letras.
porâneas e desestabilização identitária". VII Congresso Brasileiro de Lingüística Aplicada, PUC-SP SANTOS, M. (2000). Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record.
H ENRIQUES, ].; H OLLWAY, W.; URW!N, C.; YENN, C. & WALKERDINE, V. (1984). Changing the Subject: SANTOS, B. de S. (2001) . Pela mão de Alice. O social e o político !UI pós-modernidade. São Paulo: Correz.
Psychology, Social Regulation and Subjectivity. New York: Methuen. __ (org.) (2003) . Conhecimento prudente para uma vida decente. 'Um discurso sobre as ciências'
HOOKS, B. (1994). Teaching to Transgrm. Education for the Practice of Freedom. New York: Roudedge. revisitado . Porto: Edições Afron tamento.
KLEIN, J. T (1990). !nterdisciplinarity, History, Theory and Practice. Derroit: Wayne Stare University Press. (2004). Do pós-moderno ao pós-colonial. E para além de um e de outro . Coimbra: Centro de
LANKSHEAR, C. & G EE, J. P (1997). Language, Literacy and the New Work Order, in: Lankshear, --Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, mimeo.
C. (em co-autoria com Gee, J. P.; Knobel, M. & Searle, C.) (1997). Buckingham: Open SARLO , B. (2000). Cenas da vida pós-moderna. Intelectuais, arte e videocultura na Argentina. Rio de
Un iversiry Press .
Janeiro : Editora UFRJ.
LOPES DA SI LV.A , F. & R~JAGOI'ALAN, K. (orgs.) (2004). A lingüfstica que nos foz folhar. Investigação SIBILA, p (2002). O homem pós-orgânico. C01po, subjetividade e tecnologias digitais. Rio de Janeiro:
crítica. São Paulo: Parábola Edirorial .
Relume Dumará.
MAGALHÍIES, C. (2004) Interdiscursividade e conflitos entre discursos sobre raça em reportagens SouZA, J_ (2003). A construção social da subcidadania. Para uma sociologia política da modernidade
brasileiras, Linguagem em (Dis)curso, v. 4, n. especial, pp. 35-60. periférica. Belo H orizonte: Editora UFMG . .
MAKONI, S. & MEINHOF, U. (2 004). Western and Local Perspectives on Applied Linguistics in Africa. THOMPSON, J. B. (1998). A mídia e a modernidade. Uma teoria social da mídia. Petrópolis: Editora Vozes.
Pennsylvania State Universiry I Universiry of So uthamp ton, mimeo. VENN, C. (2000). Occidentalism. Modernity and Subjectivity. London: Sage,
MARTiN-BARBERO, J . (2003) Dos meios iis mediações. Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: ZIZEK, S. (2004). O novo eixo da luta de classes. Caderno Mais!, 51912004, Folha tÚ S.Pauw, pp. 8-11.
Editora UFRJ.
MI GNOLO, W D. (1995). The Darker Side of the Renaissance. Literacy, Territoriality and Colonization.
Ann Arbor: The Universiry of Michigan Press. '
_ _ (2003) . Os esplendores e as misérias da 'ciência' : colonialidade, geopolírica do conhecimento
e pluri-versalidade episrémica, in: SANTOS, B. de S. (org.) (2003).
MoiTA LorES, L. P (1998). A rransdisciplinaridade é possível em lingüística aplicada?, in: Signorini, I.
& Cavalcanti, M. (orgs.). Lingüística aplicada e transdisciplinaridade. Campinas: Mercado de Letras.
- '1'
_ _ (2002) . Identidades fragmentadas. A construção discursiva de raça, gênero e sexualidade na escola.
Campinas: Mercado de Letras.
_ _ (org.). (2003) . Discursos de identidades. Discurso como espaço de construção de gênero, sexualidade,
raça, idade e profissão na escola e na fomília. Campinas: Mercado de Letras.
_ _ (2004) . O q ue os lingüistas têm a ver com o movimento do 'só português' e com a língua
do império', in: Lopes da Silva, F. & Rajagopalan, K. (orgs.) (2004).
_ _ (2004). Contemporaneidade e construção de conhecimento na área de estudos lingüísticos,
Scripta, vol. 7, n. 14, pp. 159-17 1.
_ _ (2006) . Queering Literacy Teaching: Analyzing Gay-themed Discourses in a Fifth Grade
Classroom in Brazil, journal of Language, ldentity and Education, U.]. , n. 1, pp. 31-50.
MuSHAKOJI, K. (1999). Em busca de uma nova aliança anti-hegemôn ica, in: Heller, A.; Santos, B.
de S.; C hesnais, F.; Alrvater, E.; Anderson, B.; Light, M.T; Mushakoji, K.; Appiah, K. A;
Segrera, F. L (1999). A crise dos paradigmas em ciências sociais e os desafios para o século XXI.
.Rio de _Janeiro: Contraponto.
O sTERMA.NN, A C (2003). Communi ry of Practice at Work: Gender, Facework and rhe Power of
H abitus at an /\.11-Female Police Srarion and a Feminist Crisis Intervention in Br~il. Discourse
and Society, vol. 14, n. 3, pp. 463-505.
PENNYCOOK, A (2001 ) . Critica! Applied Linguistics. A Criticai !ntroduction. London: Lawrence
Erlbaum Associares.
RAJAGOPALAN, K. (2004). Resposta aos meus debatedores . Considerações finais, in: Lopes da Silva &
Rajagopalan, K. (orgs.) (2004).
RAMPTON, B. (2004). Continuity and Change in Víews ofSociety in Applied Linguistics. London: King's
College, Universiry of London, mimeo. ,
RoMAN, L G. (1993). Whire is a Color 1 Whire Defensiveness, Post-Modernism, : and Anti-Racist
Pedagogy, in: McCarrhy, C. e C richlow, W. (orgs.). Race, Identity and "Representation in
Education. London: Roudedge.

Você também pode gostar