Você está na página 1de 7

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA __ VARA XXXXX DA COMARCA DE XXXXXXXXXXXXX/RJ

URGENTE - SIGILOSO

IC nº: XXXX

PEDIDO DE QUEBRA DO SIGILO DE DADOS TELEMÁTICOS

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, por intermédio de seu(sua) Promotor(a) de Justiça abaixo
assinado(a), no uso de suas atribuições constitucionais e institucionais, previstas nos arts. 127 e 129, III, da Constituição Federal,
art. 25, da Lei nº 8.625/93, no art. 17 da Lei nº 8.429/92, no art. 5º, I, da Lei nº 7.347/85, bem como no art. 15, § 3º da Lei nº
12.965/14 e nos dispositivos do Decreto nº 8.771/16, com fundamento no art. 305 do CPC, e nos documentos colhidos no Inquérito
Civil Público nº XXXX, propõe a presente

AÇÃO PARA QUEBRA DE SIGILO DE DADOS TELEMÁTICOS COM PEDIDO LIMINAR

em face de (NOME), (ENDEREÇO), (PROFISSÃO), (ESTADO CIVIL), endereço eletrônico, telefone +55 (DDD) XXXX-XXXX, pelas razões
de fato e de direito apresentadas a seguir.

I - DO OBJETIVO DA AÇÃO

Esta ação tem por objetivo obter provimento jurisdicional que determine a quebra de sigilo dos dados telemáticos do(a)
XXXXXXXX(a), determinando-se ao Facebook, Inc., ou Instagram LLC o fornecimento de informações sobre o perfil de nome [...]
localizado no endereço adicionar URL, no período de (01/01/2016 até a data atual - período de interesse), com a intenção de
garantir a produção de prova técnica em inquérito civil público que apura a possível prática reiterada de atos de improbidade
administrativa pelo(a) demandado(a) no período, consistentes no fato receber mensalmente vencimentos integrais pelo exercício

Av. Marechal Câmara, nº 370, 6º Andar


Centro - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
CEP 20020-080 - Telefone: (21) 2531-9728
E-mail: caopjtci@mprj.mp.br
de cargo público ou de contrato temporário e não realizar (total ou parcialmente) os serviços respectivos, hipótese que se
convencionou chamar de “funcionário fantasma”.

II – DOS FATOS

O Inquérito Civil em epígrafe fora instaurado para investigar (narrar os fatos).

Ex.: Em representação oferecida perante a ouvidoria do Ministério Público estadual, restou informado que o demandado,
filho de um conhecido cabo eleitoral Prefeito do Município XXXXXXXX, se trata de “funcionário fantasma”, tendo ocupando de
forma fictícia, de janeiro de 2018 a setembro de 2019, o cargo em comissão de Diretor Administrativo da Prefeitura Municipal de
XXXXXXXX, vinculado à Secretaria de Agricultura.

Em corroboração à denúncia apresentada, extrai-se dos documentos reunidos (dados cadastrais de empresas
concessionárias), do relatório do Sistema Pandora e da consulta ao Sistema de Informações Eleitorais (SIEL), que o promovido tem
residência em XXXXXXX (distante XXX km do Município de XXXXXXX), bem como que ele é o sócio administrador da empresa
XXXXXXXXXXXX, situada igualmente XXXXXXXX, de maneira que mostra-se improvável que ele tenha efetivamente prestado os
serviços inerentes ao referido cargo público (tudo conforme documentos comprobatórios contidos no ICP em anexo).

A par dos fatos narrados, resta clara a necessidade do conhecimento dos detalhes de informações e dados possíveis
extraídos das contas adicionar URL do(s) perfil(s).

III – DO DIREITO

Inicialmente, cumpre asseverar que o art. 5º, inciso XII, da Constituição da República, dispõe que é inviolável o sigilo da
correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. Ocorre
que o escopo da presente demanda cautelar não consiste em efetivar interceptação das comunicações telefônicas do investigado,
mas apenas, como dito, obter dados telemáticos extraídos das contas adicionar URL do(s) perfil(s).

A interceptação, destarte, compreende a captação da conversa alheia, ocorrendo no momento real e imediato em que
se estabelece a comunicação, por intermédio de gravações ou escutas. A quebra do sigilo de dados corresponde à obtenção de
registros informacionais existentes na empresa, sobre ligações já realizadas ou dados já coletados.

A interceptação, repisa-se, consiste em captar o fluxo da comunicação interpessoal, no momento em que ela se
estabelece (seja telefônica, seja telemática); já a quebra do sigilo informacional (de dados) envolve a requisição de dados pessoais
armazenados pelo provedor de aplicações de Internet, que pode conter, eventualmente, conversas arquivadas entre
interlocutores em aplicativos diversos (Whatsapp, Facebook, Instagram), e-mails e outras mensagens que são consideradas
externas à comunicação, porquanto trata-se de eventos passados.

Salutar a distinção, porque o campo jurídico tutela esses institutos de forma diferenciada. A interceptação telefônica é
permitida pelo dispositivo constitucional acima reproduzido, sendo regulamentada pela Lei Federal nº 9.296/96. Por sua vez, a
quebra do sigilo de dados telemáticos é possível com base em uma interpretação sistemática de todo o ordenamento
constitucional, visto que não há direitos absolutos, nem mesmo os direitos fundamentais.

É certo que os direitos fundamentais são limites à atuação do Poder Público, inclusive ao legislador no momento da
feitura da lei, entretanto tanto se reconhece a teoria dos limites dos limites, a partir da qual os direitos fundamentais podem ser

Av. Marechal Câmara, nº 370, 6º Andar


Centro - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
CEP 20020-080 - Telefone: (21) 2531-9728
E-mail: caopjtci@mprj.mp.br
restringidos, desde que se respeite seu núcleo-duro, como também se entende que, em algumas situações, os direitos
fundamentais precisarão ser afastados, especificamente para aquele caso concreto, por haver, diante do sopesamento, um outro
valor/direito que merece ser ali assegurado.

Na hipótese em tela, a inviolabilidade da intimidade e da vida privada do investigado (enquanto direito fundamental)
necessita ser afastada, porque, em sua oposição, encontra-se o chamado direito fundamental à probidade administrativa, a tutela
do patrimônio público enquanto direito difuso, assim como os postulados constitucionais da boa administração, da moralidade e
da eficiência administrativa, dentre outros valores importantes. Como já reconhecido pela jurisprudência, o interesse público deve
prevalecer sobre a intimidade e a vida privada.1

1 RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO À PRIVACIDADE E À INTIMIDADE. DETERMINAÇÃO DE QUEBRA DO SIGILO DO REGISTRO DE ACESSO À
INTERNET. FORNECIMENTO DE IPS. DETERMINAÇÃO QUE NÃO INDICA PESSOA INDIVIDUALIZADA. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE OU DE VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS
E GARANTIAS CONSTITUCIONAIS. FUNDAMENTAÇÃO DA MEDIDA. OCORRÊNCIA. PROPORCIONALIDADE. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA NÃO PROVIDO.
1. Os direitos à vida privada e à intimidade fazem parte do núcleo de direitos relacionados às liberdades individuais, sendo, portanto, protegidos em diversos
países e em praticamente todos os documentos importantes de tutela dos direitos humanos. No Brasil, a Constituição Federal, no art. 5º, X, estabelece que: "são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação". A ideia de sigilo expressa verdadeiro direito da personalidade, notadamente porque se traduz em garantia constitucional de inviolabilidade dos dados
e informações inerentes a pessoa, advindas também de suas relações no âmbito digital.
2. Mesmo com tal característica, o direito ao sigilo não possui, na compreensão da jurisprudência pátria, dimensão absoluta. De fato, embora deva ser preservado
na sua essência, este Superior Tribunal de Justiça, assim como a Suprema Corte, entende que é possível afastar sua proteção quando presentes circunstâncias que
denotem a existência de interesse público relevante, invariavelmente por meio de decisão proferida por autoridade judicial competente, suficientemente
fundamentada, na qual se justifique a necessidade da medida para fins de investigação criminal ou de instrução processual criminal, sempre lastreada em indícios
que devem ser, em tese, suficientes à configuração de suposta ocorrência de crime sujeito à ação penal pública.
3. Na espécie, a ordem judicial direcionou-se a dados estáticos (registros), relacionados à identificação de aparelhos utilizados por usuários que, de alguma forma,
possam ter algum ponto em comum com os fatos objeto de investigação por crimes de homicídio.
4. A determinação do Magistrado de primeiro grau, de quebra de dados informáticos estáticos, relativos a arquivos digitais de registros de conexão ou acesso a
aplicações de internet e eventuais dados pessoais a eles vinculados, é absolutamente distinta daquela que ocorre com as interceptações das comunicações, as
quais dão acesso ao fluxo de comunicações de dados, isto é, ao conhecimento do conteúdo da comunicação travada com o seu destinatário. Há uma distinção
conceitual entre a quebra de sigilo de dados armazenados e a interceptação do fluxo de comunicações. Decerto que o art. 5º, X, da CF/88 garante a inviolabilidade
da intimidade e da privacidade, inclusive quando os dados informáticos constarem de banco de dados ou de arquivos virtuais mais sensíveis. Entretanto, o acesso
a esses dados registrados ou arquivos virtuais não se confunde com a interceptação das comunicações e, por isso mesmo, a amplitude de proteção não pode ser
a mesma.
5. Os dispositivos que se referem às interceptações das comunicações indicados pelos recorrentes não se ajustam ao caso sub examine.
Deveras, o procedimento de que trata o art. 2º da Lei n. 9.296/1996, cujas rotinas estão previstas na Resolução n. 59/2008 (com alterações ocorridas em 2016)
do CNJ, os quais regulamentam o art.
5º, XII, da CF, não se aplica a procedimento que visa a obter dados pessoais estáticos armazenados em seus servidores e sistemas informatizados de um provedor
de serviços de internet. A quebra do sigilo de dados, na hipótese, corresponde à obtenção de registros informáticos existentes ou dados já coletados.
6. Não há como pretender dar uma interpretação extensiva aos referidos dispositivos, de modo a abranger a requisição feita em primeiro grau, porque a ordem é
dirigida a um provedor de serviço de conexão ou aplicações de internet, cuja relação é devidamente prevista no Marco Civil da Internet, o qual não impõe, entre
os requisitos para a quebra do sigilo, que a ordem judicial especifique previamente as pessoas objeto da investigação ou que a prova da infração (ou da autoria)
possa ser realizada por outros meios.
7. Os arts. 22 e 23 do Marco Civil da Internet, em complemento ao art. 10, parágrafo único, que tratam especificamente do procedimento de que cuidam os autos,
não exigem a indicação ou qualquer elemento de individualização pessoal na decisão judicial. Assim, para que o magistrado possa requisitar dados pessoais
armazenados por provedor de serviços de internet, mostra-se satisfatória a indicação dos seguintes elementos previstos na lei: a) indícios da ocorrência do ilícito;
b) justificativa da utilidade da requisição; e c) período ao qual se referem os registros. Não é necessário, portanto, que o magistrado fundamente a requisição com
indicação da pessoa alvo da investigação, tampouco que justifique a indispensabilidade da medida, ou seja, que a prova da infração não pode ser realizada por
outros meios, o que, aliás, seria até, na espécie - se houvesse tal obrigatoriedade legal - plenamente dedutível da complexidade e da dificuldade de identificação
da autoria mediata dos crimes investigados.
8. Logo, a quebra do sigilo de dados armazenados, assim entendida a requisição mediante ordem judicial de registros de conexão e acesso à internet, de forma
autônoma ou associada a outros dados pessoais e informações, não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as pessoas que estão sendo investigadas,
até porque o objetivo precípuo dessa medida, na expressiva maioria dos casos, é justamente de proporcionar a identificação do usuário do serviço ou do terminal
utilizado.
9. Conforme dispõe o art. 93, IX, da CF, "todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação
do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação". Na espécie, tanto os indícios da prática do crime, como a
justificativa quanto à utilização da medida e o período ao qual se referem os registros foram minimamente explicitados pelo Magistrado de primeiro grau.
10. Quanto à proporcionalidade da quebra de dados informáticos, ela é adequada, na medida em que serve como mais um instrumento que pode auxiliar na
elucidação dos delitos, cuja investigação se arrasta por mais de dois anos, sem que haja uma conclusão definitiva; é necessária, diante da complexidade do caso e
da não evidência de outros meios não gravosos para se alcançarem os legítimos fins investigativos; e, por fim, é proporcional em sentido estrito, porque a restrição
a direitos fundamentais que dela redundam - tendo como finalidade a apuração de crimes dolosos contra a vida, de repercussão internacional - não enseja gravame

Av. Marechal Câmara, nº 370, 6º Andar


Centro - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
CEP 20020-080 - Telefone: (21) 2531-9728
E-mail: caopjtci@mprj.mp.br
Especificamente quanto ao fornecimento dos dados cadastrais, registros e conteúdo, que transitam pela rede mundial
de computadores (Internet), alvo do presente pedido, a Lei n° 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) estabeleceu princípios,
garantias, direitos e deveres2.

Importante destacar que a Lei n° 12.965/2014 trata das informações de conexão e de acesso a aplicações de internet,
prevendo, inclusive, situações específicas de prescindibilidade de decisão judicial, como no caso do acesso a dados cadastrais ou
a guarda cautelar dos registros de acesso a aplicações de internet, in verbis:

Da Proteção aos Registros, aos Dados Pessoais e às Comunicações Privadas

Art. 10. A guarda e a disponibilização dos registros de conexão e de acesso a aplicações de internet de que
trata esta Lei, bem como de dados pessoais e do conteúdo de comunicações privadas, devem atender à
preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das partes direta ou indiretamente
envolvidas.

§ 1o O provedor responsável pela guarda somente será obrigado a disponibilizar os registros mencionados
no caput, de forma autônoma ou associados a dados pessoais ou a outras informações que possam contribuir
para a identificação do usuário ou do terminal, mediante ordem judicial, na forma do disposto na Seção IV
deste Capítulo, respeitado o disposto no art. 7o.

(…)

[...] § 3º O disposto no caput não impede o acesso aos dados cadastrais que informem qualificação pessoal,
filiação e endereço, na forma da lei, pelas autoridades administrativas que detenham competência legal para
a sua requisição.

Da Guarda de Registros de Acesso a Aplicações de Internet na Provisão de Aplicações

Art. 15. O provedor de aplicações de internet constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça essa
atividade de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos
registros de acesso a aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança (…)

§ 2o A autoridade policial ou administrativa ou o Ministério Público poderão requerer cautelarmente a


qualquer provedor de aplicações de internet que os registros de acesso a aplicações de internet sejam
guardados, inclusive por prazo superior ao previsto no caput, observado o disposto nos §§ 3o e 4o do art. 13.

às pessoas eventualmente afetadas, as quais não terão seu sigilo de dados registrais publicizados, os quais, se não constatada sua conexão com o fato investigado,
serão descartados.
11. Logo, a ordem judicial para quebra do sigilo dos registros, delimitada por parâmetros de pesquisa em determinada região e por período de tempo, não se
mostra medida desproporcional, porquanto, tendo como norte a apuração de gravíssimos crimes cometidos por agentes públicos contra as vidas de três pessoas
- mormente a de quem era alvo da emboscada, pessoa dedicada, em sua atividade parlamentar, à defesa dos direitos de minorias que sofrem com a ação desse
segmento podre da estrutura estatal fluminense - não impõe risco desmedido à privacidade e à intimidade dos usuários possivelmente atingidos pela diligência
questionada.
12. Recurso em mandado de segurança não provido.
(RMS 60.698/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/08/2020, DJe 04/09/2020)
2 Lei nº 12.965/2014, Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos:

I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, na forma da Lei; (neste caso, havendo fluxo, verifica-se que a Lei
exige uma ordem judicial + uma Lei subsidiária cumulativa, que pode ser a de Interceptação telefônica, lavagem de capitais, crime organizado, etc… - observação
nossa)
III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial; (já neste caso, como se deseja os dados já armazenados, basta
a ordem judicial, com base na Lei 12.965/2015, não se exigindo nenhuma outra Lei subsidiária – observação nossa) (…)

Av. Marechal Câmara, nº 370, 6º Andar


Centro - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
CEP 20020-080 - Telefone: (21) 2531-9728
E-mail: caopjtci@mprj.mp.br
§ 3o Em qualquer hipótese, a disponibilização ao requerente dos registros de que trata este artigo deverá ser
precedida de autorização judicial, conforme disposto na Seção IV deste Capítulo.

No tocante específico ao pedido de afastamento do sigilo dos dados telemáticos, houve previsão expressa no artigo 22
do Marco Civil da internet, in verbis:

Seção IV - Da Requisição Judicial de Registros

Art. 22. A parte interessada poderá, com o propósito de formar conjunto probatório em processo judicial
cível ou penal, em caráter incidental ou autônomo, requerer ao juiz que ordene ao responsável pela guarda
o fornecimento de registros de conexão ou de registros de acesso a aplicações de internet.

Parágrafo único. Sem prejuízo dos demais requisitos legais, o requerimento deverá conter, sob pena de
inadmissibilidade:

I - fundados indícios da ocorrência do ilícito;

II - justificativa motivada da utilidade dos registros solicitados para fins de investigação ou instrução
probatória; e

III - período ao qual se referem os registros.

Nota-se que os três requisitos estão plenamente atendidos: (1) fundados indícios da ocorrência do ilícito; (2) justificativa
motivada da utilidade dos registros, e (3) indicação do período ao qual se referem os registros. Comentado [MDABDJA1]: Constata-se, portanto, que para o
Juiz requisitar dados pessoais armazenados por provedor de
Quanto ao ponto número 1, já foram expostos à exaustão os argumentos para fundamentar a medida requerida, com serviços de Internet, basta fundamentar sua decisão com os
seguintes elementos: a) indícios da ocorrência do ilícito; b)
descrição minuciosa e farto acervo probatório a indicar a ocorrência dos ilícitos. justificativa da utilidade da requisição; e c) período ao qual se
referem os registros. Não é necessário que o magistrado
Com relação ao ponto 2, os registros armazenados em nuvem podem conter diálogos, documentos e elementos que fundamente a requisição com indicação da(s) pessoa(s) alvo(s) da
podem levar os órgãos de investigação a (indicar o objetivo). investigação, nem tampouco que justifique a indispensabilidade da
medida requestada, ou seja, que a prova da infração não pode ser
realizada por outros meios. Esses são requisitos, como se viu, para a
Finalmente, com relação ao ponto 3, (indicar o período ao qual se referem os registros). interceptação (telefônica, telegráfica ou telemática), medida de
natureza diversa e disciplinada pela Lei n. 9.296/96. A quebra do
Dito isso, com base no artigo 305 do Código de Processo Civil, constata-se que se trata de hipótese em cabe demanda sigilo informacional (sigilo de dados), assim entendida a requisição
que visa tutela cautelar em caráter antecedente. Dispositivo legal que deve ser lido em conjunto, ainda, com as disposições gerais mediante ordem judicial de registros de conexão e acesso a
aplicações de Internet, de forma autônoma ou associados a outros
da tutela de urgência (da qual a tutela cautelar é uma das espécies), conforme artigo 300 e 301 do CPC, pode ser conceda dados pessoais e informações, não exige que a autoridade
liminarmente ou após justificação prévia e pode ser efetiva por medidas típicas, como arresto, sequestro, arrolamento de bens, expedidora da ordem indique previamente as pessoas que estão
registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito. sendo investigadas, até porque o objetivo dessa medida, na maioria
dos casos, é justamente de proporcionar a identificação do usuário
do serviço ou do terminal utilizado.
No caso vertente, o fumus boni iuris, que autoriza o deferimento da presente medida, está consubstanciado nos fatos
acima narrados, que trazem elementos claros no sentido de que o(a) demandado(a) XXXXXXXXXX, possivelmente não prestava
(parcial ou totalmente) os serviços inerentes ao cargo (efetivo/comissionado) ou ao contrato temporário que deveria exercer,
enriquecendo-se ilicitamente às custas do erário municipal, fato que configura a prática dolosa de ato ímprobo, além de delito.

Constata-se, portanto, a provável configuração do ato doloso de improbidade previsto no art. 9º, caput, e inciso XI, bem
como, subsidiariamente, no art. 10, caput, ambos da Lei n° 8.429/92 (LIA), possivelmente cometido em concurso com o(a)
Secretário(a) da XXXXXXXX (pasta a qual o cargo/contrato está vinculado) e o(a) Prefeito(a) do Município de XXXXXXXXXX. Nesse
diapasão3.

3 Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do
exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente: (...) XI - incorporar, por qualquer

Av. Marechal Câmara, nº 370, 6º Andar


Centro - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
CEP 20020-080 - Telefone: (21) 2531-9728
E-mail: caopjtci@mprj.mp.br
Quanto ao "perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo" (periculum in mora), deve-se ressaltar que a presente
cautelar, neste caso, apesar de todo o esforço investigativo já realizado no bojo do procedimento em apenso, se mostra como o
derradeiro meio para se obter elementos de prova robustos a indicar onde geograficamente esteve o(a) investigado(a) no período
supracitado, a fim de verificar tecnicamente a amplitude da prática, além de corroborar os elementos já colhidos. Evidencia-se,
assim, que sem o deferimento da medida haverá risco ao resultado útil do futuro processo, já que impedirá a verificação cabal
dos fatos objeto da investigação.

Dessa forma, revela-se de extrema importância o deferimento da providência acauteladora em questão, pois o perigo
da demora representa potencial ameaça à materialidade da conduta ilícita, implicando, consequentemente, o comprometimento
do direito difuso a ser perscrutado no processo principal. Verifica-se a presença, in casu, dos requisitos legais para a concessão
da medida cautelar em questão, inclusive para o seu deferimento em caráter liminar, nos termos do art. 300, § 2º, do CPC.

Assim, diante da premente necessidade da obtenção de elementos de prova mais robustos, imprescindível se torna a
quebra do sigilo de dados telemáticos, porquanto grande parte de informações necessária para a persecução investigatória se
encontra armazenada pela rede social, colocando fora do alcance dos órgãos de investigação e-mail, nº de telefone, IPs de acesso
e de criação de conta, dentre outras informações, providência esta que se afigura como a única apta a permitir o prosseguimento
das investigações e a individualização de eventuais condutas ilícitas praticadas.

IV – DO PEDIDO:

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, por intermédio de seu(sua) representante in
fine assinado(a), com fulcro nos arts. 300 e 305 do CPC/2015, e com amparo nos fatos e fundamentos jurídicos acima expostos,
requer:

a) o recebimento da inicial e a determinação, em caráter LIMINAR (sem audiência da(s) parte(s) adversa(s) ou justificação
prévia), AFASTAMENTO DO SIGILO DE DADOS TELEMÁTICOS em face do investigado já qualificado, a ser providenciado
pela empresa Facebook, Inc., ou Instagram LLC, para que Vossa Excelência determine que forneça, com relação ao perfil
de nome [...] localizado no endereço adicionar URL, no período de (01/01/2016 até a data atual - período de interesse),
bem como que informe se algum perfil do Facebook foi vinculado ao número de celular +55 (DDD) XXXXX-XXXX [...] e, em
caso positivo, com relação ao perfil informe, em resposta a ofício expedido com ordem judicial a ser enviada por meio da
plataforma https://www.facebook.com/records, ao responsável pela empresa Facebook Inc. ou Instagram LLC, que
possui sede em 1601 Willow Road, Menlo Park, CA 94025 Estados Unidos, no Brasil registrada como Facebook Serviços
Online do Brasil Ltda, com CNJP de nº 13.347.016/0001-17, com endereço em Rua Leopoldo Couto de Magalhães Junior,
700, 5º andar, Bairro Itaim Bibi, São Paulo/SP, CEP 04542-000, no prazo de 10 (dez) dias:
1) dados cadastrais, incluindo e-mail, número de telefone, dados de cartão de crédito e outras informações
identificativas;
A.2) registros (logs) de criação e de todos os acessos (contendo endereçamento IP, porta lógica, data, horário e
padrão de fuso horário);
A.3) páginas e grupos que administra;
A.4) relação de amigos e de grupos de que faz parte;
A.5) publicações, incluindo, textos, fotos e vídeos [inserir período de interesse];
A.6) conteúdo das comunicações instantâneas e mensagens trocadas com os perfis [...] e [...] que estejam
armazenadas [inserir nomes e endereços dos perfis (URL)];
A.7) geolocalização armazenada dos perfis de URL (inserir URL).

forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei; Art. 10. Constitui ato
de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: (...)

Av. Marechal Câmara, nº 370, 6º Andar


Centro - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
CEP 20020-080 - Telefone: (21) 2531-9728
E-mail: caopjtci@mprj.mp.br
b) em razão da necessária celeridade exigida no caso, solicita-se que as informações sejam encaminhadas para e-mails
xxxxxxxxxx@mprj.mp.br e xxxxxxxxxx@mprj.mp.br – do membro pleiteante, com referência ao IC;
c) a tramitação do presente processo em segredo de justiça, a fim de garantir o êxito das apurações, com amparo no art.
5º, XXXIII, da CRFB, e no art. 189, I, do CPC, ao menos até a apreciação e o cumprimento das medidas porventura
concedidas;
d) após o devido cumprimento da liminar, a citação do(a) promovido(a) para, querendo, contestar a presente ação, sob
pena de revelia, prosseguindo-se o processo em seus ulteriores atos e termos (art. 300 e seguintes, do CPC/2015);
e) a produção, se necessária, de todas as espécies de provas admitidas em direito, em especial as documentais, periciais e
testemunhais;
f) ao final, seja julgado totalmente PROCEDENTE o pedido, confirmando-se a liminar porventura concedida;
g) a isenção no pagamento de custas processuais, por se tratar de ação proposta pelo Parquet, em respeito ao comando do
art. 91 do CPC, bem como a condenação do(s) réu(s) no ônus da sucumbência;
h) seja autorizado por este Juízo o compartilhamento do resultado das análises em outros procedimentos investigatórios
cíveis ou criminais no âmbito do Ministério Público, para as devidas providências legais de responsabilização, em sendo
o caso.

Dá à causa, para efeitos processuais, o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

Nestes termos,

pede deferimento.

XXXXXXXXX/RJ, data e assinatura eletrônicas.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

PROMOTOR(A) DE JUSTIÇA

Av. Marechal Câmara, nº 370, 6º Andar


Centro - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
CEP 20020-080 - Telefone: (21) 2531-9728
E-mail: caopjtci@mprj.mp.br

Você também pode gostar