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Nome: Fabricio Engelman de Leon Madeira

Oscar Di Simplicio é um historiador italiano especialista em história moderna.


Neste texto, trata sobre populações camponesas de três países diferentes, os
alemães, espanhóis e italianos. O primeiro caso tratado é o alemão, onde Simplicio
afirma que a Guerra dos Camponeses alemães de 1525 foi a rebelião que deixou a
marca mais profunda na história posterior do país. Ele explica que essa foi uma
experiência chocante e que gerou terror para a nobreza e para os príncipes dos
territórios. Teve uma ampla adesão social, pois houve a união da ideologia de
projetos revolucionários com o sentido profundo das reformas religiosas. Os
antecedentes dessa revolta são a diminuição dos recursos disponíveis e com isso
as diferenças entre os mais ricos e os mais pobres ficavam mais acentuadas, a
formação e a consolidação dos estados territoriais provocavam choques entre a
média nobreza e a alta. Além disso havia uma política de proteção territorial às
comunidades camponesas, pois assim, manter as aldeias sob a sua jurisdição
permitia servir delas como bases fiscais para o Estado, cujos gastos eram altos e
estavam em crescimento. Acredito que isso levou a um sentimento de revolta por
parte dos camponeses, que além de pouca renda e produção deviam pagar mais
tributos para os seus senhores. Ainda anteriormente a 1525 houveram revoltas
locais contra a deterioração das condições de vida dos trabalhadores da terra, pois
para a população do campo as reações eram legítimas já que eram contra medidas
que não eram previstas pela tradição. É interessante notar o peso da tradição
nessas relações, que para Geroge Rudé seria a ideia de um retorno à épocas com
menor cobrança fiscal. Esses pequenos movimentos se limitavam a eliminação de
tributos, mas a relação de fidelidade entre o senhor e camponês ainda se mantinha
intacta. Entretanto, o conflito entre camponeses e senhores laicos ou eclesiásticos
teve como resultado uma crise nas relações dentro da própria lógica da servidão. E
com a Guerra Camponesa, somada a própria reforma com a difusão de uma nova
ideologia mais voltada ao camponês, houve a criação do novo pensamento de
transferência da fidelidade do senhor para a Bíblia. O autor afirma que a
historiografia mais recente demonstrou que houveram cerca de sessenta revoltas
entre 1525 e 1789. Essas agitações tinham origens de uma combinação entre
fatores econômicos e políticos, pautados na resistência à imposição principesca. A
partir de 1525 os nobres colocaram as disputas no âmbito jurídico, a fim de evitar
novas comoções contra a sua exploração. Para os camponeses não houve
abandono de formas tradicionais de resistência, mas se desenvolveu a tendência de
chegar a um reconhecimento jurídico dos conflitos sociais. Desta forma, esse estudo
mais recente das revoltas camponesas alemãs mostra a flexibilidade e o
pragmatismo das suas ações a partir do século XVI.
O caso seguinte das rebeliões tratadas pelo autor ocorreram na Península
Ibérica, mais precisamente na a Espanha. Escreve que a condição dos camponeses
espanhóis era a mais infame e oprimida que se podia encontrar. Em primeiro
momento se havia uma boa impressão quanto ao trabalho campal para os
espanhóis, entretanto com o tempo essa relação foi se invertendo, passando a ter
sinônimos de vulgaridade ou pobreza. Esse fenômeno para o autor se deu pela
oposição de valores de campo e cidade em um momento particular da história da
Espanha. Grande parte dos agricultores estava esmagada por impostos, pois em
Castela a imposição real cresceu sem limites entre 1560 e 1640, a renda dos
proprietários aumentava e o dízimo era pesadíssimo. A partir da segunda metade do
século XVI a monarquia espanhola perdia o controle da administração periférica do
país precisamente no momento em que seus rivais europeus começavam a
estabelecer uma ordem monárquica capaz de unir todos ao centro. O fluxo de
metais preciosos vindos da América deu lugar a uma ilusão de riqueza que
enfraqueceu as forças produtivas, com isso o país ficou imóvel e houve o
prolongamento da estagnação, que retraiu durante séculos o surgimento de uma
classe média em condições de vitalizar a economia. Essa ausência de uma classe
média e de mobilidade social foi a consequência da depressão econômica
espanhola, pois quem possuía riqueza apenas a acumulava ou comprava títulos no
Estado, e pouco ou nada do que se tinha era destinado aos setores de produção. A
situação dos camponeses era de abandono, um arrendatário de terras vivia preso
ao temor de cair em uma condição de vida mais miserável, isto é, no mundo dos
marginais, mendigos, vagabundos ou bandidos. A pobreza assim se originou de
uma injusta distribuição de riqueza, provocando o bem estar de poucos e a privação
da massa, o que levou a um abandono de pessoas do campo para a cidade.
Simplicio tenta mostrar o porquê das populações rurais serem tão estagnadas e
porque não se revoltaram contra a coroa. Para ele, o motivo desta inércia rural pode
ser buscado na extensão dos territórios comunais, que conservavam dimensões
consideráveis ao alcance de colonos. Além disso, é provável que a caridade
praticada em grande número pelas ordens religiosas atenuou os problemas
econômicos mais graves como a fome e a miséria. Havia também as saídas práticas
da extrema pobreza, como a de fuga para as cidades, de virar sacerdote, soldado,
bandido ou tentar a sorte nas colônias. A Catalunha foi o único lugar que contrastou
a submissão do resto do território, onde havia motivos parecidos com os do sul da
França. A revolta catalã foi dupla, pois além de ser uma revolta contra a tentativa do
controle castelhano, foi uma revolução “espontânea”, isto é dos pobres contra os
ricos.
Por fim, Simplicio trata do caso camponês italiano, onde é interpretada a ideia
do bandoleirismo organizado de 1550 e 1660 como uma expressão do profundo mal
estar do o mundo rural. Explica que de Abruzos ao Vêneto ingressaram grandes
quantidades de camponeses para o bandoleirismo, sendo mais uma necessidade
que uma tentação. Em Nápoles, para o autor, a questão foi diferente. A revolta anti
espanhola em Nápoles se aproxima muito pela sua violência com outras comoções
rurais na Europa, não a um banditismo. Oscar di Simplicio afirma que há
paralelismos entre a revolta catalã e a napolitana, em particular a pressão fiscal que
a corte madrilenha submeteu os reinos associados a monarquia. O caso catalão se
deu mais pelo medo de cair na mesma ruína econômica que Castela, já o de
Nápoles a causa da insurreição era a busca por melhores condições econômicas
para as massas rurais e urbanas. Em outras regiões da Itália, com o colapso da
agricultura no final do século XVI e posteriormente o da indústria urbana, o país
entrou em uma fase de depressão econômica em que o campo sofreu talvez mais
que as cidades. As aldeias foram privadas de meios e recursos por distintas vias,
seja pela legislação de vínculo urbano, impostos ao consumo e a concentração de
terras comunais por parte dos proprietários nobres ou eclesiásticos. O salto
populacional a partir do século XVIII produziu um aumento de necessidades de
alimentos, o que revitalizou a demanda pela agricultura. Porém, as dificuldades
crônicas de abastecimento que afligiam o país tanto na cidade quanto no campo
chegaram a ser endêmicas. O autor então conclui o caso italiano como se estivesse
sobre a condição de uma “guerra fria” entre o senhor de terras e o camponês, que
levava a eventuais explosões de vandalismo rural. Porém, em conjunto o sistema se
mantinha bem, pois era o tradicionalismo camponês que agia como freio dessas
relações.
Referências Bibliográficas:
TEXTO: ​SIMPLICÍO, Oscar di. ​Las revueltas campesinas en Europa​. ​Capítulo 3:
Las Revueltas en Alemania, España e Italia​. Barcelona: Editorial Critica, 1989.

RUDÉ, George. ​A Europa no século XVIII.​ Lisboa: Gradiva, 1988.

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