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ANÁLISE ERGONOMICA DE UM SALÃO DE BELEZA EM FLORIANÓPOLIS,


SANTA CATARINA

Conference Paper · October 2017

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3 authors, including:

Gabriela Hammes Lizandra Garcia Lupi Vergara


Federal University of Santa Catarina Federal University of Santa Catarina
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ANÁLISE ERGONOMICA DE UM SALÃO DE BELEZA EM FLORIANÓPOLIS,
SANTA CATARINA

ERGONOMIC ANALYSIS OF A BEAUTY SALON IN FLORIANÓPOLIS, SANTA


CATARINA

ANÁLISIS ERGONOMICA DE UN SALÓN DE BELLEZA EN FLORIANÓPOLIS


SANTA CATARINA

Gabriela Hammes, Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail:


gabihammes15@gmail.com
Pedro Martins Ferreira Arantes, Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail:
p_edro_arantes@hotmail.com
Lizandra Garcia Lupi Vergara, Universidade Federal de Santa Catarina. Email:
l.vergara@ufsc.br

Resumo
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que objetivou analisar a atividade de
trabalho de cabeleireiros, bem como demonstrar a utilidade do método da Análise
Ergonômica do Trabalho (AET), a fim de diagnosticar os riscos ergonômicos da situação
estudada e propor recomendações de melhoria. O estudo foi realizado em um salão de beleza
localizado na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina, Brasil. A atividade de trabalho
analisada refere-se ao processo de lavagem, secagem e corte de cabelos, envolvendo
levantamento quantitativo – por meio de equipamentos de medição de ruído, iluminação e
conforto térmico, e de forma qualitativa – por meio de observação direta e entrevista com os
trabalhadores, verificando a conformidade com as normas de segurança e legislação vigentes.
Como resultado, pode-se constatar que os trabalhadores assumem posturas inadequadas
durante a atividade de trabalho, somados à ausência de pausas para a recuperação das
estruturas osteomusculares, inadequações às variáveis ambientais além de problemas relativos
a questões organizacionais. Evidenciou-se, portanto, a necessidade de intervir no ambiente de
trabalho propondo recomendações ergonômicas de melhoria, que contribuam para a saúde e
bem-estar dos trabalhadores e clientes, além de tornar a atividade mais eficaz e lucrativa para
esse setor de serviços.

Abstract
This article presents the results of a research that aimed to analyze the work activity of
hairdressers, as well as to demonstrate the usefulness of the Ergonomic Analysis of Work
(AET) method, in order to diagnose the ergonomic risks of the situation studied and propose
recommendations for improvement. The study was conducted at a beauty salon located in the
city of Florianópolis, Santa Catarina, Brazil. The analyzed work activity refers to the process

1
of washing, drying and hair cutting, involving a quantitative survey - by means of equipment
for measuring noise, lighting and thermal comfort, and in a qualitative way - through direct
observation and interview with the Compliance with current safety standards and legislation.
As a result, it can be observed that the workers assume inadequate postures during the work
activity, added to the absence of pauses for the recovery of the musculoskeletal structures,
inadequacies to the environmental variables besides problems related to organizational issues.
Thus, the need to intervene in the work environment has been proposed, suggesting
ergonomic improvement recommendations that contribute to the health and well-being of
workers and clients, as well as making the activity more efficient and profitable for this
service sector.

Resumen
Este artículo presenta los resultados de una investigación que objetivó analizar la actividad de
trabajo de peluqueros, así como demostrar la utilidad del método del Análisis Ergonómico del
Trabajo (AET), a fin de diagnosticar los riesgos ergonómicos de la situación estudiada y
proponer recomendaciones de mejora. El estudio fue realizado en un salón de belleza ubicado
en la ciudad de Florianópolis, en Santa Catarina, Brasil. La actividad de trabajo analizada se
refiere al proceso de lavado, secado y corte de cabello, involucrando levantamiento
cuantitativo - por medio de equipos de medición de ruido, iluminación y confort térmico, y de
forma cualitativa - a través de observación directa y entrevista con los Trabajadores,
verificando la conformidad con las normas de seguridad y legislación vigentes. Como
resultado, se puede constatar que los trabajadores asumen posturas inadecuadas durante la
actividad laboral, sumadas a la ausencia de pausas para la recuperación de las estructuras
osteomusculares, inadecuaciones a las variables ambientales además de problemas relativos a
cuestiones organizacionales. Se evidenció, por lo tanto, la necesidad de intervenir en el
ambiente de trabajo proponiendo recomendaciones ergonómicas de mejora, que contribuyan a
la salud y bienestar de los trabajadores y clientes, además de hacer la actividad más eficaz y
lucrativa para ese sector de servicios.

Palavras-chave: Ergonomia; Análise Ergonômica do Trabalho; Setor Serviços; Salão de


Beleza.
Keyword: Ergonomics; Ergonomic Analysis of Work; Services Sector; Beauty Salon.
Palabras clave: Ergonomía; Análisis Ergonómico del Trabajo; Sector Servicios; Salón de
Belleza.

1. Introdução
Muitas vezes, os postos de trabalho não são adequados para que o trabalhador sinta-se
a vontade ao realizar suas tarefas, o que pode prejudicar sua saúde. Os salões de beleza são
considerados, para muitas pessoas, como uma ferramenta para melhorar a estima pessoal, que
envolve processos de lavagem, corte, escovação, tintura e penteados para os cabelos,
manicure/pedicure e depilação.

2
O profissional cabeleireiro trabalha em horários extremamente irregulares e em
posições desconfortáveis, durante longos períodos. Por ainda não existir regulamentação para
os profissionais que trabalham nos 400 mil salões espalhados por todo território brasileiro,
esta profissão se torna um alvo para abusos na carga horária (MARCOLINO,
MANEGUETTI, MAGALHÃES, BARBIERI, 2010) .
A realização das diversas tarefas relacionadas ao trabalho pode ser desgastante para os
funcionários e pode gerar algumas disfunções. Takeda (2010, p. 27), informa que “a
ergonomia busca o ser humano como o centro das atenções através de ambientes de trabalho
adaptados às necessidades laborais visando para todos os trabalhadores condições saudáveis,
confortáveis e seguras ”.
O objetivo deste trabalho é encontrar os problemas ergonômicos envolvidos em um
salão de beleza localizado na cidade de Florianópolis, que iniciou suas atividades em 2007,
atendendo tanto o público feminino quanto o masculino. O salão possui um faturamento atual
de 5 mil reais por mês. Trabalham dentro do salão o próprio proprietário e um funcionário,
que executam as seguintes tarefas: corte, lavagem, secagem, coloração, alisamento, limpeza
do local e administração. Em média o salão atende 6 a 8 clientes por dia, destes 60% são
mulheres e 40% são homens. A principal tarefa executada é a sequência: lavagem, corte e
secagem, que será nosso objeto de estudo.
O proprietário foi alvo deste estudo por ser o profissional que realiza as principais
tarefas do salão de beleza. Ele possui 39 anos de idade, está a 13 anos na profissão, tem 1,70m
de altura, não realiza ginástica laboral e não pratica nenhuma atividade física. Ele mesmo que
impõe seu próprio ritmo de trabalho e suas principais queixas são: dores no ombro, pernas,
joelhos, braço e costas. Em relação ao desgaste psicológico, a atividade administrativa se
mostrou mais estressante. Apesar disso ele se considera feliz e satisfeito com sua profissão de
cabeleireiro.
2. Referencial Teórico
Para Iida (2005), ergonomia pode ser definida como o estudo da adaptação do trabalho
ao homem, tendo o trabalho uma concepção ampla, abrangendo não apenas aqueles
executados com máquinas e equipamentos, mas toda situação que envolve o homem e uma
atividade produtiva, tanto no ambiente físico como nos aspectos organizacionais. Assim o
homem ao produzir um artefato rústico nos primórdios de sua história, o fazia de forma a
adaptá-lo ao seu manuseio, aplicando assim, empiricamente, esta ciência.
Segundo Fiedler, Rodrigues e Medeiros (2006), os fatores que causam desconforto,
aumentam o risco de acidentes e podem provocar danos consideráveis à saúde. O ambiente
físico é importante e premissa básica para bons resultados. Boa iluminação, condições sonoras
adequadas, circulação de ar e temperatura são fatores que devem estar adequados ao ambiente
de trabalho.
Dul & Weerdmeester (2004) relatam que existem muitas fontes geradoras de ruídos no
ambiente de trabalho e que, conforme for o tempo à exposição, pode provocar a surdez. Os
autores identificam que o primeiro sintoma é a dificuldade para entender a fala em ambientes
barulhentos. Existem estudos que mostram que o nível máximo de ruído permitido é de 80
dB, e que se este permanecer durante 8 horas pode provocar a surdez, apesar do uso de EPI’s
(Equipamentos de Proteção Individual), que ajudam na proteção do ouvido, se há uma

3
exposição por longos períodos é possível que prejudique o aparelho auditivo (DUL;
WEERDMEESTER, 2004)
Kroemer e Grandjean (2005) apontam que o som é uma vibração que afeta as células
auditivas. Entretanto, os mesmos autores ressaltam que existem “vibrações mecânicas”, e que
estas podem alterar a posição dos membros do corpo e órgãos importantes se expostas a
elevados níveis. No ambiente de trabalho nos deparamos diariamente com aparelhos que
geram vibrações e estas podem gerar danos a percepção visual, desempenho psicomotor e
musculatura, com efeitos menores nos sistemas circulatório, respiratório e nervoso. Os autores
afirmam ainda que os danos à longo prazo afetam principalmente os vasos sangüíneos e
conseqüentemente os dedos, onde estão situados as menores veias. Vale ressaltar que uma
forte vibração pode prejudicar o desempenho em vários testes psicomotores e resultar na
dificuldade de execução de atividades de precisão.

3. Metodologia
A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é um método com o objetivo de
compreender e transformar o trabalho humano (GUÉRIN et al., 2001).
O método prevê a realização de uma análise da demanda, análise da tarefa, análise da
atividade e recomendações ergonômicas a fim de propor melhorias às demandas identificadas.
A análise da demanda consiste na contextualização do projeto frente à realidade da
demandante. A análise da tarefa estabelece o conjunto de condicionantes que atuam sobre as
situações de trabalho e de uso na unidade produtiva em estudo. A análise da atividade indica
os aspectos determinantes das situações de trabalho em uso (GUÉRIN et al., 2001).
Para a realização da análise ergonômica de cada posto de trabalho, foram utilizadas as
metodologias descritas na Figura 1.

FIGURA 1 – Metodologias adotadas.


O software Ergolândia foi utilizado para aplicação dos métodos de analise ergonômica
RULA e questionário de Corlett, por avaliarem melhor os membros superiores e os membros
com maior queixa por parte do cabeleireiro.

4. Desenvolvimento
A pesquisa foi desenvolvida seguindo os passos da AET, que estão descritos abaixo.
4.1 Análise da Demanda
Com a finalidade de identificar a demanda ergonômica do salão, foi aplicado o Check-
List de avaliação das exigências ergonômicas em membros superiores (Anexo A) com o

4
cabeleireiro, que obteve pontuação 8, o que caracteriza o posto de trabalho com alta exigência
dos membros superiores. Após a aplicação do questionário foi feita uma observação do local e
constatamos as seguintes demandas:
 Limpeza: O salão encontrava-se em um ambiente sujo, pois os cabelos cortados só são
retirados do chão no horário de almoço e no final do expediente.
 Problemas de saúde e stress devido a má postura, falta de intervalos e sobrecarga de
tarefas;
 Trabalho administrativo: além de atender os clientes o cabeleireiro também realiza o
trabalho administrativo, marca horários e faz a cobrança, o que sobrecarrega o trabalhador
e causa estresse.
 Layout: a distribuição dos equipamentos poderia ser melhorada. O lavatório fica em
um nível mais elevado que a cadeira de corte; os clientes que estão na espera se sentam ao
lado dos que já foram atendidos e estão com produtos químicos no cabelo, havendo
reclamações a respeito do cheiro e de irritações nos olhos. O ambiente encontra-se
bagunçado, dificultando na hora de achar alguns objetos específicos;
 Luminosidade e temperatura: o ambiente é climatizado e possui iluminação natural.
 Ruído: o secador de cabelo possui alto ruído e a área de espera é no mesmo ambiente
onde este equipamento é utilizado, o que incomoda os clientes em espera;
 Atraso no atendimento: o cabeleireiro perde muito tempo em conversa com o cliente e
não cobra regularidade nos horários de chegada, causando uma insatisfação pela demora
do atendimento;
 Erros Humanos: insatisfação do cliente com o serviço por um erro do cabeleireiro ou
por falha na comunicação;
 Acidentes: apesar de raros, acontecem por falta de EPI´s. O proprietário muitas vezes
deixa de utilizar: luvas, avental e máscara nos processos de coloração química;
4.2 Análise da Tarefa
As condições ambientais foram medidas e observadas no local e se encontram no
Quadro 1.
QUADRO 1 – Condições ambientais.
Espaço Físico Luminosidade Temperatura Ruído
Globo (tg)=25,6ºC
Construção em Bulbo Seco 85 dB com o secador de
alvenaria; (tbs)=24,5ºC cabelo. Tempo de
Iluminação natural exposição médio: 3 horas;
750 lux Bulbo Úmido
e artificial; 65 dB em atendimentos
(tbn)=18,7ºC
Ventilação normais no restante do
artificial. IBUTG=20,6ºC dia.

As condições organizacionais se dão em dois turnos de trabalho: das 8:00 as12:00 hrs
(primeiro turno) e das 13:00 as 18:00 horas (segundo turno). Durante a pausa para o almoço e
após as 18 horas o proprietário se dedica as atividades administrativas e a limpeza do salão.

5
A tarefa executada com maior frequência e que é nosso abjeto de estudo pode ser
descrita conforme a Figura 2.

FIGURA 2 – Descrição da tarefa.


O Layout pode ser observado na Figura 3, onde:
1– Espaço onde são realizados o corte e
a secagem do cabelo, com a bancada
onde ficam os materiais, o espelho e as
3 cadeiras de corte;
2 – Espaço para a espera, com sofá;
3 – Espaço de atendimento onde são
marcados os horários e onde é realizado
o trabalho administrativo, com
bancadas e computador;

FIGURA 3 - Layout

4 – Espaço onde o cabelo é lavado, com o lavatório, produtos químicos e água potável que é
consumida pelo trabalhador e pelos clientes;
5 – Espaço pouco utilizado, para guardar materiais.
4.3 Análise da Atividade
O profissional realiza a sequência lavagem, corte e secagem com maior frequencia. A
lavagem é feita no lavatório e o corte e secagem na cadeira de corte. Não existia, no
estabelecimento, nenhuma prática padrão que descrevesse como o trabalho deveria ser
executado. As atividades podem ser observadas na Figura 4.

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FIGURA 4 – Descrição da atividade.
A repetitividade ocorre de 6 a 8 vezes ao dia, com duração média para homens de: 5
minutos para lavagem, 30 minutos para o corte e 10 minutos para secagem. Para mulheres:
lavagem 10 minutos, 1 hora para o corte e de 30 minutos à 1 hora para secagem. Possui micro
pausas de aproximadamente 5 minutos entre o atendimento de uma cliente e outra.
Os esforços físicos são descritos no Quadro 2.
QUADRO 2 – Esforço físico
Esforço físico
Leve Moderado a alto Moderado a pesado
- Membros superiores ao - Membro superior - Membro superior direito ao utilizar
massagear couro direito, escova durante o escovamento dos
cabeludo da cliente no principalmente de cabelos, dependendo do comprimento
momento da lavagem dos dedos ao efetuar dos cabelos, quanto mais comprido ou
cabelos; corte de cabelos com mais crespo os cabelos, maior o esforço;
- Membro inferior direito tesoura e manter - Membro superior esquerdo ao utilizar
ao acionar pedal da muito tempo dedos o secador de cabelos, sendo justificado
em posição
cadeira a fim de elevá-la pelos mesmos motivos citados acima
desfavorável
ou de abaixá-la

As posturas adotadas durante a execução da atividade são:


 Trabalho em pé, com pouca movimentação, sendo agravado pelo uso de sapatos
baixos sem amortecedor que acarretam dores nos membros inferiores no final do dia.
 Postura estática de ombros durante abdução de membros superiores entre 70 e 120
graus ao efetuar o escovamento dos cabelos, sendo agravada ao fato de exercer esforço
físico moderado a pesado e de sustentar o peso do secador que é de aproximadamente
2 quilos. Esta postura é muito relevante, visto ser repetitiva.

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 Torções de punhos com desvio ulnar, principalmente à direita ao utilizar escova.
 Desvio ulnar de punho direito ao utilizar tesoura durante o corte de cabelo.
 Flexão de coluna cervical durante todo o trabalho.
 Compressões mecânicas ao utilizar tesouras com cabos metálicos e não anatômicos.
As principais queixas em relação ao trabalho são:
 Dores em membros superiores, principalmente à esquerda relacionada ao uso
freqüente do secador, o qual é relatado como pesado.
 Dores em punho e antebraços direito relacionados a movimentos repetitivos durante
escovação de cabelos.
 Grande queixa de dores na região do ombro relacionado ao fato de manterem os
membros superiores muito tempo elevado
 Dores em região lombar e membros inferiores relacionados ao fato de realizarem
trabalho em pé.
 Queixa com relação ao peso do secador de cabelos
 Estresse psicológico relacionado às tarefas administrativas.
A avaliação postural foi feita por meio do método RULA (Avaliação Rápida dos
Membros Superiores). Os processos foram divididos em 3 posições que se destacam como as
principais posições do cabeleireiro para a realização da sequência: lavar, cortar e secar. A
primeira posição refere-se ao enxague do cabelo, onde observou-se nítido desvio da coluna e
pescoço e elevação dos membros superiores. A segunda posição, durante o corte, percebemos,
os braços elevados e abdução dos mesmos, e está é a principal posição durante a atividade de
corte. Na terceira posição percebe-se os dois braços elevados e a inclinação da cabeça,
posição está de grande frequência durante a secagem. Estas posições podem ser observadas na
Figura 5.

(a) Enxague do cabelo (b) Corte (c) Secagem

FIGURA 5 – Posições durante a execução da atividade

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5. Diagnóstico
Em relação à conformidade com a NR-17 Ergonomia se estabeleceu os seguintes
diagnósticos:
 Em relação ao levantamento, transporte e descarga individual de materiais, não há
situações de risco.
 Em relação ao mobiliado, a cadeira de corte e o lavatório não possuem dimensões
compatíveis com o tipo de trabalho desenvolvido e não respeita as características
antropométricas dos trabalhadores.
 Em relação aos equipamentos do posto de trabalho há situações de risco com relação
ao tipo e peso dos secadores de cabelos, tesouras sem cabo anatômico e sem
revestimento emborrachado, causando compressão mecânica.
 Em relação às condições ambientais de trabalho os valores obtidos para o ruído
encontram-se dentro do nível aceitável para efeito de conforto nas atividades, como
também dentro dos Limites de Tolerância estabelecidos pelo anexo 1 da NR-15.
Portanto não há a necessidade da utilização de EPI para essa questão. Para as
medições de iluminação os valores obtidos encontram-se dentro dos níveis mínimos de
iluminação aceitável para efeito de conforto, conforme a norma NBR-5413. Para as
medições de temperatura a taxa de metabolismo das funções exercidas no salão foi
estimada em 150kcal/h caracterizando o trabalho como leve e, para essa taxa de
metabolismo, o limite de tolerância a que o trabalhador pode ser exposto é de 30ºC,
segundo o Quadro nº 1 do Anexo nº 3 da NR-15. Dessa forma, concluiu-se que
nenhuma das medições ultrapassou o limite de tolerância, não sendo considerado o
ambiente como insalubre para a questão de conforto térmico.
 Em relação a Organização do Trabalho, o ritmo de trabalho é intenso onde as pausas
são determinadas somente pela troca de clientes sendo então considerado como
micropausas. O proprietário não estabelece nenhum tipo de pausa preventiva. A
percepção em relação às demandas de trabalho é de que de uma forma geral estão
dentro de parâmetros aceitáveis, porém, há situações de sobrecarga principalmente
quando em épocas de festas e final de ano.
 Em relação ao layout do salão verificou-se que algumas coisas estão em local de difícil
acesso, como a água, que se encontra no espaço reservado para a lavagem do cabelo e
não no espaço de espera dos clientes. Também recomendamos que os clientes com
química no cabelo fiquem em local separado, não junto com os clientes em espera. As
mudanças no layout são difíceis de serem realizadas por se tratar de um local alugado
e não ser possível de se fazer uma reforma com quebra de paredes. O salão está em
conformidade com as normas de segurança, combate a incêndio e alvará de segurança.
 Em relação a limpeza e organização o salão encontra-se muitas vezes sujo e
desorganizado, pois o proprietário só realiza a limpeza ao meio dia e no final do dia.
Por falta de espaço os produtos são armazenados de uma forma desorganizada.
 Em relação a exigências cognitivas a atividade analisada demanda grande atenção do
proprietário. Com atividade intensificada, sem períodos de descanso, os níveis de
capacidade de atenção do trabalhador podem ficar comprometidos. Há um estresse
emocional somente na realizações das tarefas administrativas, feitas no período de
almoço.

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Evidenciou-se que durante a realização da atividade ocorre sobrecarga postural em
coluna vertebral e membros inferiores devido à permanência por períodos prolongados de
tempo na postura em pé. Pode ser observado na avaliação postural o desvio frequente na
coluna e o intenso uso dos membros superiores, abdução e elevação dos braços, dentre outras
posturas que podem estar ocasionando dor e possivelmente lesões. A seguir, foram analisadas
as posturas do trabalhador durante suas atividades utilizando a ferramenta de avaliação
ergonômica RULA, para identificar as posturas que devem ser corrigidas.
O diagnóstico apresentado pelo RULA para cada uma das posições pode ser
visualizado nas Figuras 6.

(a) (b)

(c)
FIGURA 6 – Diagnóstico da (a) primeira posição, (b) segunda posição, (c) terceira posição
Analisando os resultados percebemos que a maioria das posturas adotadas são
inadequadas e requerem mudanças imediatas, principalmente a 1ª e a 3ª posição.
Pelo questionário de Corlett obtivemos um gráfico com a frequência de dor, por dia,
em cada membro avaliado e podemos perceber, na Figura 7, que os membros superiores,
ombro, braços, antebraços, mãos e dedos, geram um desconforto de maior frequência.

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FIGURA 7 – Frequência de dor

6. Recomendações
As recomendações propostas estão baseadas nos conhecimentos ergonômicos dos
pesquisadores e a partir dos diagnósticos gerados pelos métodos aplicados:
 Treinar o proprietário sobre princípios básicos de ergonomia, riscos associados com
posturas inadequadas, esforços, movimentos repetitivos, compressões mecânicas e
adoção de práticas que minimizem o potencial de ocorrência de DORT, tais como o
reconhecimento precoce e informação;
 Instituir programas de ginástica laboral de aquecimento ou preparatória e de
relaxamento ou compensatória, a fim de minimizar queixas dolorosas e minimizar
riscos de DORT;
 Prover secadores de cabelo mais leves e com pegas anatômicas;
 Prover tesouras com cabos anatômicos e com revestimento emborrachado a fim de
eliminar compressões mecânicas;
 Prover banqueta de posição semi-sentada a fim de promover alternância de posturas de
membros inferiores e minimizar o cansaço;
 Educar o proprietário sobre a importância da adoção de micropausas ou mesmo a
intercalação de tarefas com diferentes padrões biomecânicos. Pequenas pausas são
preferíveis a pausas longas. O fator mais agravante e primordial para a presença da
alta incidência e prevalência de DORT é o fato de não existirem pausas. Além disso,
as pausas melhorariam os níveis de capacidade de atenção do proprietário;
 Estabelecer e implantar na empresa uma prática-padrão estabelecendo requerimentos
básicos de ergonomia para mobiliário. É desejável que o mobiliário seja totalmente
ajustável. No caso de compra de cadeira de corte nova, preferir as que possuam apoio
para os braços, com altura regulável e apoio para as costas com ajuste de altura e de

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inclinação. No caso de compra de um novo lavatório adquirir um com banco acoplado
buscando atender aos critérios ergonômicos de segurança, eficácia, utilidade, conforto
e prazer, descritos por Falson (2007);
 Prover um horário fixo de limpeza do salão no período de manhã e meio de tarde;
 Prover no horário de almoço uma atividade de lazer ou relaxamento para eliminar o
estresse emocional causado pelo serviço administrativo nesse horário.

7. Considerações Finais
O trabalho pode deixar de ser prazeroso e positivo, tornando-se desgastante e
adoecedor quando realizado em condições impróprias. Foi demonstrado através das análises
dos dados coletados e dos relatos do proprietário, que, quando o trabalho é realizado
adotando-se posturas inadequadas e ausência de pausas para a recuperação das estruturas
osteomusculares, a incidência e prevalência de DORT entre os cabelereiros são altas. Dessa
forma, é vital identificar as condições de trabalho para prevenção adequada dos efeitos
negativos delas sobre o corpo do trabalhador, processo que determinará o estado de saúde
futuro desse trabalhador, bem como sua perspectiva de vida. A importância da AET está
justamente na identificação dessas condições de trabalho.
A AET tem como objetivo partir de uma visão macro da empresa e intervir nas
microssituações a fim de alcançar uma melhoria do todo. A partir dos métodos que foram
utilizados (RULA e Corlett) podemos perceber que as exigencias na parte cognitiva e física,
em especial os membros superiores, são grandes e necessitam de adequações para não se
agravarem. Por isso é de grande importancia que o trabalhador siga as recomendações citadas
e busque melhorar sua postura e sua rotina, pra que seu desconforto não evolua para uma
lesão grave.
O setor de serviços é pouco estudado ao se comparar com o setor primário e
secundário, apesar de ser o que mais cresce no mundo. Este estudo contribui para as pesquisas
desenvolvidas neste setor, contemplando o segmento de salões de beleza e também pode
servir de base para futuras pesquisas. Além disso, os resultados obtidos podem servir de
suporte para decisões gerenciais, permitindo aos gestores concentrar seus esforços e
estratégias em atributos de qualidade importantes para seus funcionários. Sendo assim, a
ergonomia pode auxiliar adaptando o trabalho ao homem e proporcionando melhor qualidade
de vida.

8. Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 5413 (1992): Iluminancia de
Interiores. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. Disponível em: <http://www.labcon.ufsc.br/anexos/13.pdf>. Acesso
em: 24 nov. 2014.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº 15 Atividades e Operações Insalubres.
In: BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Normas Regulamentadoras. Brasília: MTE, 1999. Disponível
em: <http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/NR/NR15/NR15-ANEXO15.pdf>. Acesso em: 26 nov.
2014.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº 17 Ergonomia. In: BRASIL.
Ministério do Trabalho e Emprego. Normas Regulamentadoras. Brasília: MTE, 1999. Disponível em:
<http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_ regulamentadoras/nr_17.pdf>. Acesso em: 26 nov. 2014.

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DUL J. & WEERDMEESTER B. Ergonomia Prática. 2ª edição. São Paulo: Editora Edgar Blücher, 2004.
FIEDLER, N. C.; RODRIGUES, T. O.; MEDEIROS, M. B. Avaliação das condições de trabalho, treinamento,
saúde e segurança de brigadistas de combate a incêndios florestais em unidades de conservação do DF. Revista
Árvore, v.30, n.1, p.55-63, 2006.
FALSON, P. Ergonomia. São Paulo: EDGARD BLUCHER, 2007. 640 p.
GUERIN, F.; LAVILLE, A.; DANIELLOU, F.; DURAFFOURG, J.; KERGUELLEN, A.: Compreender o
trabalho para transformá-lo: A prática da Ergonomia. São Paulo. Editora Edgard Blücher. 2001.
IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo : Edgard Blucher, 2005.
KROEMER, K.H.E; GRANDJEAN, E. (2005) - Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 5.ed.
Porto Alegre: Bookman.
MARCOLINO M. C.; MANEGUETTI M. P. M.; MAGALHÃES T. R.; BARBIERI R. C. R. Asnpectos
ergonomicos no trabalho em salões de beleza em Maringá. Revista de Engenharia e Tecnologia, v.2, n.2, p.81-
89, agosto. 2010
TAKEDA, F. Configuração ergonômica do trabalho em produção contínua: o caso de ambiente de cortes em
abatedouro de frangos. 2010. Ponta Grossa. Disponível em
<http://www.pg.utfpr.edu.br/dirppg/ppgep/dissertacoes/arquivos/143/dissertacao.pdf>. Acesso em 15 Setembro
2014.

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