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São Paulo, 9 de agosto de 2023

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REF.: Cessão Fiduciária de Recebíveis – Alteração do domicílio bancário

Prezado Cliente,

A Companhia Província de Securitização (“Província”), sociedade por ações, com registro de


companhia securitizadora perante a Comissão de Valores Mobiliários (“CVM”), com sede na
cidade de São Paulo, estado de São Paulo, na Avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, nº 550, 4º
andar, Cidade Monções, CEP 04571-925, inscrita no CNPJ sob o nº 04.200.649/0001-07, vem
notificar V. Sa. do quanto segue.

1. Em 23.8.20211 a Ávida Construtora e Incorporadora S. A. (“Ávida”) deu em garantia à


Província a totalidade dos direitos creditórios decorrentes da venda, entre outros, de imóveis e
lotes/unidades do Loteamento Papagaio (ou seja, a Ávida deu para a Província as parcelas do
seu contrato de venda e compra para cobrança de imóvel no Loteamento Papagaio). Os
contratos cedidos pela Ávida foram identificados no anexo do Instrumento Particular de Cessão
Fiduciária e Promessa de Cessão Fiduciária e Outras Avenças (“Contrato de Cessão Fiduciária”),
de acordo com as seguintes cláusulas contratuais:

1 Os direitos creditórios cedidos estão descritos no Anexo IV do Contrato de Cessão celebrado em 23.8.21,
posteriormente aditado em 18.10.21 e 27.6.22.

Companhia Província de securitização Av. Eng. Luis Carlos Berrini 550, 4º andar
CNPJ 04.200.649/0001-07 estruturadas@provinciasecuritizadora.com.br 1
2. Neste passo, obedecendo ao disposto no artigo 290 do Código Civil Brasileiro, V.Sa. foi

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notificado sobre a constituição da garantia (cessão fiduciária) para a Província através dos
boletos enviados a partir de 23.08.2021, passando a pagar para a Província as parcelas do seu
contrato de compra e venda firmado com a Ávida.

3. A partir de 23.8.2021, portanto, a Província passou ter o direito de receber, com


exclusividade, toda e qualquer parcela referente à compra do seu imóvel no Loteamento
Papagaio. Em consequência, a Ávida está proibida de receber os pagamentos das parcelas, ou
seja, V.Sa. não deve pagar os boletos enviados pela Ávida, não deve transferir dinheiro para a
conta bancária da Ávida, não deve realizar pagamentos em dinheiro para a Ávida, nem deve
realizar pagamentos a nenhuma empresa que cobre valores em nome da Ávida, conforme
cláusulas 1.3, 1.8 e 3.22 do Contrato de Cessão Fiduciária.

4. A Província foi informada de que a Ávida vem recebendo os pagamentos referentes às


prestações do Loteamento Papagaio, o que é ilegal conforme arts. 158 e 186 do Código Civil e
792 do Código de Processo Civil.

5. A Província informou no processo nº 1004263-49.2023.8.11.0041 que a Ávida vem


cobrando os compradores de unidades no Loteamento Papagaio e recebendo o valor das
parcelas diretamente. Ao tomar ciência desse fato, o Juízo da 1ª Vara Especializada em
Recuperação Judicial e Falência do Foro de Cuiabá determinou que a Ávida pare de receber os
valores referentes aos pagamentos realizados pelos compradores das unidades do Loteamento
Papagaio, tendo determinado também que a Ávida (i) pare de emitir boletos em seu nome e/ou
receber diretamente as prestações pagas pelos compradores e (ii) transfira para conta bancária
da Província os valores das prestações pagas pelos compradores de unidades do Loteamentos
Papagaio (Doc. 1).

6. A Província alerta que todo e qualquer recebimento pela Ávida das parcelas da venda
de unidades no Loteamento Papagaio (via boleto bancário, transferência bancária, pix ou em
dinheiro em espécie) caracteriza descumprimento de decisão judicial e será informado no
processo nº 1004263-49.2023.8.11.0041 para apreciação do Juízo. Também caracteriza o
descumprimento de decisão judicial o envio de boletos ou de cobranças pela Ávida (tanto
diretamente quanto por meio de empresas de cobrança).

7. Considerando que a Província é a única que tem o direito de receber o pagamento das
parcelas do Loteamento Papagaio, o que V.Sa. já sabe pois já foi notificada e já vinha pagando
as parcelas para a Província, vem notificar V. Sa. para que, caso haja algum valor devido, que a
parcela seja paga diretamente na conta corrente nº 18.075-5, da agência nº 6327, do Banco
Itaú Unibanco S. A. (341), que tem como titular a Companhia Província de Securitização (CNPJ
nº 04.200.649/0001-07) ou por meio dos boletos bancários enviados pela NEO SERVICE,
empresa que foi contratada pela Província para emissão de boletos e realização de cobranças.

2Cláusula 3.2. Arrecadação dos Créditos Cedidos Fiduciariamente. A Fiduciante obriga-se a fazer com que os Créditos
Cedidos Fiduciariamente sejam direcionados para a conta corrente nº 18.075-5, agência 6327, do Banco Itaú
Unibanco S.A. (341), de titularidade da Securitizadora (“Conta do Patrimônio Separado”).

Companhia Província de securitização Av. Eng. Luis Carlos Berrini 550, 4º andar
CNPJ 04.200.649/0001-07 estruturadas@provinciasecuritizadora.com.br 2
8. Caso V.Sa. tenha quaisquer dúvidas referente à regularidade dos pagamentos realizados

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e quanto a valores eventualmente devidos, pedimos que entrem em contato diretamente com
a Neo Service nos seguintes canais de atendimento:

• Telefone: (11) 2348-2500


• WhatsApp: (11) 4890-2232
• E-mail: atendimento@neoservice.com.br

9. Os assuntos referentes à obra devem ser tratados diretamente com a Ávida, que
é a única responsável pela construção e entrega do Loteamento Papagaio.

Companhia Província de Securitização


Por: Daniele Marques Nunes
Cargo: Procuradora

Recebido por:

___________________________
RG:
CPF:

Data: __/__/2023

Companhia Província de securitização Av. Eng. Luis Carlos Berrini 550, 4º andar
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PODER JUDICIÁRIO ESTADO DE MATO GROSSO

PRIMEIRA VARA CÍVEL DA COMARCA DE CUIABÁ

ESPECIALIZADA EM FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL

GABINETE DO JUIZ DE DIREITO I

Autos n.º:1004263-49.2023.8.11.0041

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

REQUERENTE: AVIDA CONSTRUTORA E INCORPORADORA S.A.

Visto.

I – Dos embargos de declaração opostos por Banco Bradesco S.A. (id. 114130426)

Sustenta o ora embargante que a decisão de Id. 110933745 foi


omissa, pois, ao determinar que “todos os prazos fixados nesta decisão serão contados em
dias corridos” com fundamento no art. 189, § 1º, I, da LRF, teria deixado de consignar que os
prazos processuais sejam contabilizados em dias úteis, conforme disposto no art. 219, do
CPC.

A Recuperanda se opôs aos termos dos presentes embargos de


declaração, ao argumento que não há omissão a ser sanada (id. 114724428).

Conheço dos Embargos de Declaração, tendo em vista subsistir os


requisitos legais para a sua admissibilidade e exame (CPC/2015 – art. 1.023).

A Lei 11.101/05, em seu art. 189, § 1º, I, estabelece o seguinte:


“Art. 189. Aplica-se, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei, o disposto na Lei nº 13.105, de
16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), desde que não seja incompatível com os princípios desta Lei.

§ 1º Para os fins do disposto nesta Lei:

I - todos os prazos nela previstos ou que dela decorram serão contados em dias corridos;

Conforme já sedimentado pelo Colendo Superior Tribunal de


Justiça[1], a contagem em dias corridos somente se aplica aos prazos típicos do microssistema
da recuperação judicial e da falência, de modo que os prazos processuais continuam sendo
computados em dias úteis, nos termos do art. 219, do CPC.

Ocorre que, todos os prazos estabelecidos na decisão embargada são


próprios do procedimento da recuperação judicial, razão pela qual não há que se falar em
contradição ou omissão, por não ter consignado o cômputo de prazos processuais.

II – Dos bens declarados essenciais por este juízo

Na decisão que determinou a realização da perícia prévia (id.


109523075), este Juízo declarou provisoriamente a essencialidade dos bens listados pela
recuperanda na petição inicial (id. 108962018). A referida decisão foi posteriormente
ratificada diante “das colocações feitas pelo profissional nomeado para a realização da
perícia prévia” (id. 110933745).

Dentre os bens relacionados pela devedora como sendo essenciais a


sua atividade (id. 108962018), encontram-se os imóveis objetos das matrículas nº 52.509,
52.512 e 95.356, do 5º Cartório de Registro de Imóveis de Cuiabá/MT, alienados
fiduciariamente em favor do Banco Daycoval S/A; e imóveis objetos das matrículas 53.374,
53.376, 53.378, 23.562, 53.382, 53.383, do Ofício de Registro de Imóveis de Sinop/MT e o
imóvel objeto da matrícula nº 95.305, do 5º Serviço Notarial e Registro de Imóveis da 2ª
Circunscrição de Cuiabá/MT, alienados fiduciariamente em favor da Companhia Província de
Securitização.

A decisão de id. 110933745, foi objeto do RAI Nº


1006346-64.2023.8.11.0000, interposto por Banco Daycoval S/A (id. 113751775), e do RAI
Nº 1005531-67.2023.8.11.0000, interposto pela Companhia Província de Securitização
(id.113222711), tendo sido concedidas, em ambo os recursos, liminares para suspensão da
eficácia da declaração de essencialidade de tais bens, obstando as vendas de lotes nos
respectivos empreendimentos (id. 114143611 e id. 113970086).

Vê-se das comunicações juntadas no id. 123400084 e no id.


123400058, que foram providos ambos os recursos que tinham como pretensão a revogação
da declarada essencialidade dos bens em questão, com a consequente autorização para
execução das garantias.
Com efeito, em razão da reforma da decisão agravada (id.
110933745), impõe-se a suspensão da eficácia da declaração de essencialidade sobre os
imóveis objetos das matrículas nº 52.509, 52.512 e 95.356, alienados fiduciariamente em
favor do Banco Daycoval S/A; e dos imóveis objetos das matrículas 53.374, 53.376, 53.378,
23.562, 53.382, 53.383 e 95.305, alienados fiduciariamente em favor da Companhia Província
de Securitização.

III – Do pedido de restituição de valores utilizados pela Companhia Província de


Securitização para amortização de crédito (id. 112781549).

Alega a recuperanda, em síntese, que embora este Juízo tenha


determinado a suspensão das execuções contra os devedores, por 180 dias (stay period), a
Companhia Província de Securitização vem realizando atos expropriatórios sobre bens de
capitais essenciais, tendo retido a importância de R$ 1.369.774,98, de suas contas bancárias,
com o fim de amortizar o saldo devedor de operação que se submetem ao concurso de
credores, violando os arts. 52, inciso III c/c art. 6º, § 4º e art. 49, § 3º, todos da Lei
11.101/2005.

Aduz, ainda: (i) que todos as obrigações contraídas com a


Companhia Província de Securitização são anteriores ao pedido de recuperação judicial,
sujeitando-se aos seus efeitos; (ii) que os recebíveis amortizados pela referida credora são
produtos de venda de imóveis declarados essenciais por este Juízo (id. 110933745), sendo
imprescindíveis à continuidade de seus negócios; (iii) que os recebíveis futuros (créditos não
performados) não estão compreendidos na garantia fiduciária concedida em prol da Província;
(iv) que ainda que fosse válida a garantia fiduciária sobre tais recebíveis, seria inadmissível a
expropriação respectivos valores durante o stay period.

Assim, requereu ao final, que o Juízo determine a restituição dos


valores amortizados de sua conta corrente, bem como para que a Companhia Província de
Securitização se abstenha de proceder com novas expropriações.

Em seguida, foi determinada a manifestação do Administrador


Judicial sobre o pedido (id. 114113142).

No id. 114237213, o Administrador Judicial requereu a intimação da


Recuperanda para apresentação dos contratos celebrados com a Companhia Província de
Securitização.

A credora Companhia Província de Securitização também se


manifestou sobre o pedido em análise no id. 116081310, aduzindo, em suma: (i) que os
direitos creditórios cedidos fiduciariamente em seu favor não são considerados bens de
capital; (ii) que se tratam de crédito extraconcursal que não é garantido por bens de capital
essenciais, sendo possível a execução da garantia para recebimento dos valores devidos; (iii) a
jurisprudência do STJ, seguida por outros tribunais, não faz distinção entre recebíveis
performados ou a performar, para formalização da cessão fiduciária de recebíveis e (iv) que
foi feita uma única amortização extraordinária de R$ 801.999,51, com base no contrato
celebrado entre as partes.

Pois bem.

De acordo com a tese erigida pela Recuperanda, a dívida amortizada


com os valores retidos de suas contas sujeita-se aos efeitos da recuperação judicial, uma vez
que as operações mantidas com a Província foram celebradas em data anterior ao ajuizamento
do pedido e não se inserem entre as exceções previstas no art. 49, § 3º, da LRF, uma vez que
a cessão fiduciária sobre recebíveis a performar “fica sujeita ao implemento de condição
suspensiva”.

No caso em análise, os créditos não performados estão vinculados a


uma relação contratual preexistente, e são identificados como direitos creditórios das futuras
vendas dos lotes comercializados pela Recuperanda e das parcelas pagas a prazo pelos
adquirentes diretamente à Fiduciante quando da comercialização dos imóveis que integram os
Empreendimentos dados em garantia (id. 113881237 – pg. 4).

Nesse passo, cumpre destacar que os títulos dos quais se originam os


créditos cedidos fiduciariamente são documentos que têm por finalidade a instrumentalização
da garantia, sendo apenas representativo do crédito, não se podendo olvidar que a cessão
fiduciária compreende a garantia de crédito e não de um título.

Ao contrário do sustentado pela Recuperanda, para fins de definir a


extraconcursalidade do crédito com fundamento no art. 49, § 3º, da LRF, não há que se fazer
distinção entre créditos performados antes do ajuizamento do pedido de recuperação judicial e
créditos a performar.

Nesse sentido:
“AGRAVO INTERNO. DECISÃO DE PROVIMENTO DO RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE
CESSÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA DE RECEBÍVEIS. AUSÊNCIA DE DIFERENÇA ENTRE
CRÉDITOS A SEREM PERFORMADOS APÓS A DECISÃO DE PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO
JUDICIAL E AQUELES JÁ PERFORMADOS ATÉ AQUELE MARCO TEMPORAL. CONSTITUIÇÃO DA
PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA COM A CONTRATAÇÃO. ENTENDIMENTO DESTA CORTE NESSE
SENTIDO.

1. A constituição da propriedade fiduciária, oriunda de cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis e de
títulos de crédito, dá-se a partir da própria contratação.

2. O crédito garantido fiduciariamente, como na espécie, não se submete à recuperação judicial, por força do
art. 49, § 3º, da Lei n. 11.101/2005, pois é de propriedade (resolúvel) do credor, e não da empresa recuperanda.

3. É desinfluente, portanto, o momento em que é performado, se antes ou depois do processamento da


recuperação. Julgados desta Corte nesse sentido.

4. Agravo interno desprovido.” (AgInt no REsp n. 1.932.780/SP, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze,
Terceira Turma, julgado em 29/11/2021, DJe de 2/12/2021.)
Também não merecem prosperar as alegações da Recuperanda no
sentido de que os valores utilizados para amortização da dívida constituem bens de capital
essenciais às suas atividades, pois, como é cediço, o dinheiro não é considerado bem de
capital, não recebendo, portanto, a proteção característica do stay period.

Esse é o entendimento uníssono do Superior Tribunal de Justiça:


“AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. IMPUGNAÇÃO AO CRÉDITO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE
RECEBÍVEIS DE CONTRATOS DE OBRAS PÚBLICAS. APLICAÇÃO DA SÚMULA
83/STJ.

1. De acordo com a pacífica jurisprudência do STJ, por força do art. 49, § 3º, da Lei
11.101/2005, não se submetem à recuperação judicial os créditos garantidos por cessão
fiduciária.

2. Impossibilidade "de se impor restrições à propriedade fiduciária de crédito, por não se


tratar de bem de capital, segundo entendimento desta Corte Superior." (AgInt no REsp.
1.475.258-MS, rel Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 20.2.2017) 3. Agravo interno
a que se nega provimento.” (AgInt no AREsp n. 2.033.975/GO, relatora Ministra Maria
Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 20/3/2023, DJe de 23/3/2023.)

Com efeito, por não se constituírem tais créditos futuros em bens de


capital, o Juízo da recuperação judicial não pode obstar que o credor fiduciário busque a
satisfação de seu crédito mediante a retenção de valores pagos pelos adquirentes das unidades
dos empreendimentos comercializados pela recuperanda.

A alegação de que os valores utilizados para amortização da dívida


retidos são produtos da alienação de bens essenciais não tem o condão de caracterizar os
recebíveis como bem de capital, mormente ante a conjuntura de que por ocasião do
julgamento do RAI Nº 1005531-67.2023.8.11.0000, o eg. Tribunal de Justiça de Mato Grosso
declarou que os imóveis dados em garantia fiduciária constituem bens de capital, não
havendo, portanto, que se falar em essencialidade de tais ativos.

Assim, deve ser indeferido o pedido de restituição de valores


formulado pela Recuperanda.

IV – Da alegada fraude às garantias constituídas em favor da Companhia Província de


Securitização.

Em manifestação de id. 113879328, a Companhia Província de


Securitização afirma que em virtude da cessão fiduciária da totalidade dos direitos creditórios
decorrentes da comercialização de imóveis e lotes/unidades dos Loteamentos Alto da Serra e
Papagaio e Empreendimentos Reserva da Mata e Condomínio Spartha, ficou vedado à Ávida
o recebimento direto de valores pagos pelos adquirentes, conforme termos estabelecidos no
contrato celebrado ente as partes, de modo que os boletos emitidos por empresa terceirizada
direcionavam os pagamentos para a Província.

Aduz que a Ávida estaria agindo de má-fé, ao solicitar aos


devedores (adquirentes) que desprezassem os boletos emitidos pela Província, pagando novos
boletos em seu nome, com o fim de receber diretamente os valores cedidos em garantia
fiduciária.

Sustenta que tais ações caracterizam fraude bancária e desvio dos


recebíveis enquadrando na hipótese de destituição dos administradores da Recuperanda (LRF
– art. 64, III).

Tais afirmações foram ratificadas no id. 121412799, onde a


Província afirma que a Recuperanda continua praticando atos que caracterizam fraude às
garantias legalmente constituídas.

Dentre os documentos juntados com a últimas manifestação constam


correspondências eletrônicas trocadas entre os adquirentes dos imóveis e a prestadora de
serviços responsáveis pela emissão dos boletos para pagamento das parcelas, nas quais se
constata a duplicidade de cobrança das parcelas (pela Ávida e pela Província), levando a crer
que, de fato, há descumprimento por parte da Recuperanda de obrigações estabelecidas no
contrato, visando o recebimento direto dos créditos cedidos fiduciariamente.

Diante dos indícios de prática irregular por parte da Recuperanda,


devem ser acolhidos os pedidos formulados no id. 121412799, de modo a coibir as ações da
Recuperanda para impedir que a província tenha acesso aos créditos cedidos fiduciariamente
em seu favor.

Nada obstantes as medidas necessárias a fazer cessar eventuais


práticas ilícitas, em atenção ao princípio do contraditório e da ampla defesa, deve ser
oportunizada a manifestação da Recuperanda sobre os fatos narrados pela Província.

V - Da parte dispositiva

1) REJEITO os Embargos de Declaração ofertados por Banco


Bradesco S.A. (Id. 114130426).

2) Diante do provimento do RAI Nº 1006346-64.2023.8.11.0000,


interposto por Banco Daycoval S/A e do RAI Nº 1005531-67.2023.8.11.0000, interposto pela
Companhia Província de Securitização, TORNO SEM EFICÁCIA a declaração de
essencialidade dos imóveis objetos das matrículas nº 52.509, 52.512 e 95.356, do 5º Cartório
de Registro de Imóveis de Cuiabá/MT, gravados por alienação fiduciária em favor do Banco
Daycoval S/A, bem como dos imóveis objetos das matrículas nº 53.374, 53.376, 53.378,
23.562, 53.382, 53.383, do Ofício de Registro de Imóveis de Sinop/MT e do imóvel objeto
da matrícula nº 95.305, do 5º Serviço Notarial e Registro de Imóveis da 2ª Circunscrição de
Cuiabá/MT, alienados fiduciariamente em favor da Companhia Província de Securitização.

3) INDEFIRO o pedido de restituição de valores formulado pela


Recuperanda no id. 112781549.

4) INTIME-SE A RECUPERANDA para que se abstenha


IMEDIATAMENTE de emitir boletos em seu nome ou receber diretamente quaisquer valores
pagos pelos Devedores, em observância aos termos do contrato de cessão fiduciária celebrado
com a Companhia Província de Securitização; bem como para que, no prazo de 48
(quarenta e oito) horas:

i) INFORME os dados de eventual conta bancária para onde estão


sendo dirigidos os recebíveis cedidos fiduciariamente para
Província;

ii) TRANSFIRA para o domicílio bancário indicado na Cláusula


3.2 do Contrato de Cessão Fiduciária quaisquer valores
recebidos diretamente dos Devedores e que foram cedidos em
garantia fiduciária à Província.

5) RECEBO O PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL


apresentado no id. 116449700.

6) RECEBO A RELAÇÃO DE CREDORES apresentada pela


Administração Judicial no id. 119156938.

7) EXPEÇA-SE EDITAL contendo o aviso de recebimento do


plano de recuperação judicial (art. 53, parágrafo único), consignando-se que os credores têm
o prazo de 30 (trinta) dias corridos para manifestar eventual OBJEÇÃO AO PLANO de
Recuperação Judicial (art. 55, parágrafo único), contados da publicação do 2º Edital.

7.1) No mesmo edital deverá ser publicada a RELAÇÃO DE


CREDORES DO ADMINISTRADOR JUDICIAL (art. 7º, § 2º), devendo contar a
advertência de que o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério
Público, poderão apresentar IMPUGNAÇÃO CONTRA A RELAÇÃO DE CREDORES DO
ADMINISTRADOR JUDICIAL, no prazo de 10 (dez) dias corridos, nos termos do art. 8º,
da norma em comento.

8) INTIME-SE A RECUPERANDA, para que, no prazo de 05


(cinco) dias corridos, manifeste sobre as alegações feitas pela Província no id. 113879328 e
no id. 121412799.

9) Decorrido o prazo, com ou sem manifestação, INTIME-SE o


Administrador Judicial para que se manifeste sobre a questão, no prazo de 05 (cinco) dias
corridos.
10) Com as manifestações, DÊ-SE VISTA AO MINISTÉRIO
PÚBLICO.

11) DETERMINO que o Sr. Gestor Judiciário cadastre os


advogados de todos os credores que peticionaram nos autos, desde que devidamente
habilitados e que desentranhe as habilitações/impugnações de crédito protocolizadas de forma
errônea nestes autos principais, certificando que os credores devem se atentar ao
procedimento de verificação de crédito constante no art. 7º e seguintes da LRF.

Expeça-se o necessário.

Intimem-se. Cumpra-se.

[1] REsp 1.937.868/RJ

Assinado eletronicamente por: ANGLIZEY SOLIVAN DE OLIVEIRA


https://clickjudapp.tjmt.jus.br/codigo/PJEDANJWHGMYZ

PJEDANJWHGMYZ

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