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AVALIAR PARA PROMOVER: AS SETAS DO CAMINHO – Jussara Hoffmann mas com capacidade de analisar e criticar a sociedade.

A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) já Começamos a vislumbrar a democratização da educação a distância, que começa a des-
completou seu decênio; muitos de seus artigos durante esse período foram reestruturados pertar e exigir uma nova postura do aluno e do professor, uma nova cultura de estudo e
e consolidaram diversas melhorias e adaptações na educação; já se passaram também pesquisa e, consequentemente, um novo olhar na avaliação. Outra questão importante é a
mais de três decênios desde a promulgação da lei anterior (5692/71). Esta retrospectiva inclusão da criança de seis anos no ensino fundamental, que passa a ter nove anos de du-
visa analisar e reescrever um dos pontos mais discutidos desde a promulgação da Lei ração. Não é apenas uma mudança do ensino pré-escolar para o Ensino Fundamental;
9394/96: as questões relativas ao processo avaliativo nas escolas e a prática do professor toda a estrutura educacional é mudada, surgindo mais uma vez a questão sobre como será
nesse contexto. feito o processo avaliativo do desenvolvimento da criança no período de sua alfabetiza-
Todos têm consciência das necessidades de mudanças dos paradigmas relacionados à ção.
avaliação e seus reais objetivos no processo de ensino-aprendizagem, deixando de ter Essas questões aumentam a necessidade de o profissional rever sua prática; não apenas o
forma classificatória, excludente e punitiva, sendo o aluno depósito de conhecimentos profissional, mas toda a comunidade escolar deve se preparar para rever suas questões
posteriormente despejados nas linhas de uma avaliação decorativa e sem significados e o internas e começar a reformular seus conceitos avaliativos e propor uma avaliação real-
professor o centro do processo de ensino-aprendizagem. Entretanto, a grande maioria das mente processual e contínua. Paremos nessa questão; voltemos a analisar o que signifi-
escolas continua a buscar estratégias avaliativas que são meramente uma máscara num cam os verbetes: processual – referente à sucessão de estados ou de mudanças; contínua
processo ainda classificatório e excludente, uma vez que os índices educacionais mostra- – em que não há interrupção; seguida, sucessiva.
dos pelo sistema de avaliação e censo apontam para um baixo índice de aprendizado, a Hoffmann, em seu livro Avaliar para promover: as setas do caminho, apresenta de forma
grande evasão escolar (principalmente no curso noturno), a forte reprovação que ainda clara e objetiva esse processo contínuo. Mas fica a pergunta: como a avaliação pode ter
existe nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Essas são questões que apresentam a esses dois conceitos, se ela acaba tendo um fim em si mesma com a verificação de um
falta de compreensão sobre o que está sendo realizado nas escolas. momento da aprendizagem que muitas escolas têm como fim de um conteúdo? Além
Retomando as questões referentes à legislação, concordamos que a Lei de Diretrizes e dessa, cabe outra questão: como limitar a avaliação em um período, se que cada aluno
Bases da Educação alterou pouco os artigos relacionados ao processo avaliativo, princi- tem um ritmo diferente e aprende em diferentes formas e tempos? Essa reflexão leva-nos
palmente em relação “aos aspectos qualitativos sobre os quantitativos”, conforme expõe à questão fundamental do processo avaliativo: repensar os padrões educacionais que ain-
o artigo 24.V, já proposto na legislação anterior, sem a divulgação atual após a LDB. da carregam um modelo de educação que visa à classificação dos alunos e os transforma
Hoffmann questiona a respeito dessa questão quando registra a pouca mudança em rela- em notas, não diferente dos processos utilizados nos vestibulares, que não medem a capa-
ção à lei anterior e à atual: por certo é a atual exigência que a lei impõe aos sistemas pú- cidade do aluno, mas o momento da prova, sem preocupar com toda a bagagem de conhe-
blicos e particulares de ensino de efetivarem um processo avaliativo contínuo e qualitati- cimento que é incorporada durante anos de estudos.
vo, mediador, em escolas e universidades, diante dos índices assustadores de evasão e Refletir sobre esses pontos requer consciência do papel da escola na construção de cida-
reprovação e denúncias de decisões arbitrárias e ilógicas na avaliação de estudantes em dãos que consigam obedecer a seus ritmos e respeitar os avanços de seus semelhantes,
todos os níveis para não criar uma sociedade de competição em que passam a ter status os que recebem
Esta é a realidade da atual legislação: propor essas mudanças, já questionadas pelos estu- números maiores – que muitas vezes não refletem a verdade absoluta. Avaliar está além
diosos desde a formalização da lei anterior, não leva à superação de algumas práticas de medir conhecimentos, de classificar, de punir; é mediar o conhecimento, respeitar o
errôneas vivenciadas durante anos nas instituições escolares, formando alunos e classes tempo de cada um, analisar o erro como um degrau para o acerto. Avaliar é repensar nos-
num processo classificatório. Estamos adentrando uma realidade que exige pessoas capa- sa prática como profissionais de educação; não olhar apenas em direção ao aluno, mas
zes de ler e interpretar as entrelinhas do que é inserido na sociedade, não de pessoas capa- perceber que a avaliação é o reflexo de nossa prática e juiz de nossas ações.
zes de decorar tópicos e questionários sem conseguir questionar o que está em suas mãos,

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