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Abril de 2014
LISTA DE SIGLAS
LISTA DE QUADROS
1 - Introdução 7
2 - Metodologia e área percorrida 8
3 - Resultados 13
3.1 - Identificação e caracterização da população tradicional envolvida 13
na área proposta para criação de Resex e de outros usuários da área.
3.2 - Identificação do uso e manejo dos recursos naturais pela população 36
tradicional envolvida na proposta e levantamento dos dados
etnobiológicos
3.3 - Identificação e caracterização de possíveis comunidades indígenas 68
ou quilombolas presentes na área.
3.4 - Identificação de grupos sociais que poderão interferir (de forma 70
positiva ou negativa) no processo de criação da unidade, bem como
suas preocupações e interesses.
3.5 - Identificação de áreas naturais e culturais relevantes, com 73
oportunidade para uso público.
3.6 - Análise do impacto econômico da criação da unidade de 76
conservação
3.7 - Levantamento de dados e análise dos impactos ambientais sobre 78
os usos alternativos do solo existentes, que estão em planejamento ou
em implementação nas áreas indicadas.
3.8 - Levantamento de dados secundários do meio Físico. 78
3.9 - Levantamento de dados secundários do meio biótico 90
3.10 - Realização de reuniões participativas com as comunidades 94
4 - Referências 96
1-INTRODUÇÃO
O presente documento técnico tem por objetivo apresentar os principais elementos
que definiram a proposta de ampliação da Resex Araí-Peroba, no município de Augusto
Corrêa. Os dados obtidos de levantamentos secundários sobre a região foram analisados
assim como os documentos recebidos referentes ao processo de ampliação da Resex
Marinha. Foi realizada ainda uma reunião na região, especificamente na comunidade de
Arai, junto à diretoria da Associação Mãe antecedendo aos trabalhos de campo e um de
seus diretores esteve presente nas atividades de campo.
As atividades de campo corresponderam a visitas às comunidades citadas no
Laudo de Vistoria Técnica, além da realização de oficinas em pólos comunitários. Os
estudos etnobiológicos focaram os modos de vida dos moradores e principalmente
destes que praticam a pesca na região. Conversas informais e entrevistas com pessoas
chave, além de observação direta permitiram realizar os diagnósticos e a caracterização
desses moradores.
A solicitação para a ampliação da Resex ocorreu nos anos de 2006-2007. Seus
moradores ainda detêm na memória a proposta de ampliação da unidade de
conservação. Proposta esta diretamente associada com a melhoria da qualidade de vida
e conservação dos recursos pesqueiros. Nas comunidades visitadas as presenças de
coordenadores comunitários e dos Agentes de Saúde Comunitárias revelam a forte
presença da igreja e do governo municipal e a ausência quase que total de líderes
comunitários. As organizações de base como Associações Agropesqueiras que
assinaram a solicitação de ampliação da unidade encontram-se desativadas.
As políticas públicas que chegam à região advêm do governo federal, como o bolsa
verde e o bolsa família; a presença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) é citada principalmente no que tange ao período do defeso do
caranguejo e as denúncias de invasões sobre territórios de pesca. Os conflitos
relacionados à pesca são constantes, sobretudo quanto à invasão de áreas de coleta de
crustáceos e pesca com redes por moradores de outros municípios e localidades com
destruição do ecossistema de mangues, e a pesca predatória.
Os resultados do estudo caracterizam uma população que vive da agricultura e da
pesca, o conhecimento da área e do ambiente é notadamente para uso e manutenção
das famílias. A pesca comercial/industrial é praticada na região tendo como principais
investidores compradores externos organizados e capitalizados vindo dos estados do
Nordeste Brasileiro. A prática da aqüicultura principalmente de ostras ocorre na região,
com necessidade de assistência técnica especializada visto que há uma forte tendência a
esta prática. Os moradores buscam nas atuais representações políticas melhorias na
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infraestrutura das comunidades (saneamento, abastecimento de água, escolas); na
produção, sendo a mecanização para uso da terra a principal reivindicação, além de
valorização de sua produção (farinha e feijão) para escoamento em mercados regionais e
externos.
O principal ecossistema da região o manguezal está fortemente ameaçado pelos
modos de vida dos que praticam a agricultura e uso de técnicas predatórias para a pesca
nas cabeceiras de rios e igarapés que abastecem o mangue. A conservação dos
manguezais deve considerar que, correspondente aos valores ecológicos, existe uma
gama de importantes valores culturais, que se relacionam com sua origem, conservação
e funcionamento ecológico.
Este documento está organizado em uma introdução, metodologia adotada seguido
dos resultados e referências bibliográficas. A introdução trata de um breve relato das
atividades realizadas. Nos itens que compõem os resultados estão descritas as
caracterizações gerais dos moradores das comunidades visitadas e seus modos de vida.
Alguns subitens foram gerados a partir das especificações encontradas nas comunidades
visitadas.
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dependência dos recursos naturais disponíveis no ambiente, os conhecimentos que
detêm de sua área, e se sabem o que é uma reserva extrativista e o que esperam caso
esta seja ampliada. A técnica de listagem livre que segundo Borgatti (1996) é uma
ferramenta eficiente para indicar quais itens pertencem ao domínio cultural, e referem-se
a um grupo de palavras organizadas, conceitos ou sentenças, foi utilizada para coleta de
dados etnobiológicos.
Trabalhou-se ainda com a utilização de pranchas com imagens e fotos de animais
(mamíferos, aves e peixes) para auxiliar a identificação de ocorrência das espécies na
área. Para a identificação da fauna e da flora citadas pelos entrevistados utilizou-se de
referências bibliográficas específicas da região e consultas ao herbário do Museu
Paraense Emílio Goeldi com fotos para identificação vegetal e a coleção faunística, além
de consultas a taxonomistas.
Segundo o Laudo de Vistoria Técnica que compõe o processo de criação da
unidade de conservação, as comunidades solicitantes estão organizadas em polos.
Desta forma, utilizou-se a lista de comunidades de seus respectivos pólos para serem
visitadas: (1) Pólo Urumajó, composto pelas comunidades Ponta do Urumajó, Água Pau,
Perimerim, Ilha das Pedras, Malhado. As comunidades Croa ou Coroa Comprida e Água
Pau citadas como componente deste pólo sofreram modificações. Na primeira seus
moradores foram transferidos para a sede do município em virtude dos efeitos da erosão
que atingiu a área dos moradores e a segunda, foi integrada a comunidade Ponta do
Urumajó com a chegada da energia elétrica; (2) Pólo Patal composto pelas comunidades
Cocal, Emburuaca, Tijoca, Anoirá e Patal; (3) Pólo Aturiaí pelas comunidades Livramento,
Vila Nova, Pirateua, Mirinzal, Tapera e Aturiaí; (4) Pólo Zé Castor tendo como
comunidades Ilha do Coco, Bacanga e Bacanga Porto, Ponta do Carmo, Cafezinho, Rio
do Meio, Zé Castor/Pontinha e Igarapé-Açu; e (5) Pólo Nova Olinda formado pelas
comunidades Buçu, Buçuzinho, Trevinho, Peroba e Vila Nova Olinda. (Figura 1).
Dessas não foram visitadas as comunidades de Tapera e Ilha do Coco. A primeira,
pela dificuldade nas vias de acesso. As informações sobre os moradores foram obtidas
por meio de conversas informais com os Agentes de Saúde Comunitários que atuam na
região. A segunda, a dificuldade de acesso se deveu ao tempo que decorreria devido à
maré. Para se chegar à comunidade existem dois acessos: um pela comunidade Tapera
e outro pela comunidade Vila Nova Olinda levando um dia de viagem. As informações
sobre a comunidade Ilha do Coco foram obtidas por meio de seus moradores e
lideranças que se encontravam na comunidade de Nova Olinda comercializando produtos
e aguardando a subida da maré.
Nas comunidades pólo (Ponta do Urumajó, Patal, Nova Olinda, Zé Castor e Aturiaí)
foram realizadas as oficinas, aplicação de questionários, observações diretas e
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conversas informais com lideranças e moradores. Em todas as comunidades
pertencentes aos pólos foram realizadas visitas com observações diretas e
acompanhamento, quando possível, de atividades produtivas, além de conversas
informais com pessoas chave. Na ocasião estas eram convidadas para divulgarem e
participarem da oficina a ser realizada nas comunidades pólo.
As oficinas foram agendadas de acordo com a disponibilidade e o tempo para a
divulgação junto aos moradores. Em sua maioria as oficinas foram realizadas a noite, no
Centro Paroquial, a exceção da comunidade Zé Castor, que a oficina foi realizada na
escola. Para organização do local, divulgação na comunidade e preparação do material o
apoio dos coordenadores, agentes de saúde e lideranças das comunidades foi
importante.
10
Figura 1- Mapa da área percorrida e a localização das comunidades visitadas no
município de Augusto Correa-PA.
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Em todas as oficinas, a estratégia utilizada foi de apresentação dos objetivos desse
estudo, esclarecimentos sobre o que são reservas extrativistas e o processo de
ampliação da unidade de conservação em questão. Além disso, foram trabalhados
exercícios participativos e em grupo que gerassem dados e informações.
Os exercícios aplicados foram: o Diagrama de Venn, a Matriz Histoecológica e
Mapeamento das Áreas de Uso. Apenas no pólo Urumajó a oficina não foi completa. A
liderança responsável pelo apoio para realização da oficina agendou a mesma para
anteceder a reunião que a comunidade teria com os secretários municipais de obras e de
meio ambiente. Assim, os moradores presentes, depois dos esclarecimentos feitos
aceitaram participar apenas do exercício do mapeamento das áreas de uso
As oficinas seguiram a programação: apresentação dos objetivos do estudo, as
atividades a serem realizadas nas comunidades, explicação e convite para formação de
grupos para realização dos exercícios. Após a apresentação do método dos exercícios,
os grupos se formaram aleatoriamente. Os resultados de cada grupo foram apresentados
na plenária para debates e mitigar dúvidas. O representante e presidente da Associação
dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha Araí-Peroba (AUREMAP), Sr. José
Augusto (conhecido como Dego) participou de todas as oficinas contribuindo para os
esclarecimentos sobre a vida na Resex Marinha Araí-Peroba.
As articulações e mobilização nas comunidades ocorreram no momento da
chegada da equipe na área localizando agentes de saúde, lideranças e coordenadores
comunitários para auxiliar a equipe na organização das oficinas. Com o apoio do
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Augusto Corrêa, obteve-se uma
lista de delegados sindicais presentes nas comunidades que poderiam ser contatados.
Como ação preparatória para a mobilização junto às comunidades solicitantes foi
realizada, em 16 de janeiro de 2013, uma breve reunião na comunidade de Arai. O
objetivo desse encontro foi de se reunir com o Conselho Gestor da Resex para esclarecer
as atividades a serem realizadas e solicitar apoio prévio à mobilização. Na ocasião
buscou-se identificar as lideranças nas comunidades solicitantes. Contudo, a reunião com
o Conselho Gestor não ocorreu. Tentou-se contato com a Associação mãe da Resex
Marinha Araí-Peroba, buscando a mobilização junto aos comunitários e alguns dirigentes.
No entanto, a Associação não conseguiu organizar a mobilização in locu.
Os dados quantitativos foram organizados para análise usando o aplicativo
Microsoft Excel 2007. As análises foram realizadas por meio de métodos da estatística
descritiva, com auxílio de representações gráficas e tabelas.
Em anexo encontram-se a lista de participantes das oficinas realizadas nas
comunidades pólo e a lista de espécies animais e vegetais citadas pelos entrevistados.
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3 - RESULTADOS
Os resultados serão apresentados sendo acrescentados, nos itens respectivos, os
produtos obtidos em campo e os resultantes da pesquisa secundária.
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expectativas nas comunidades frente à possibilidade de também adquirirem os mesmos
benefícios que os moradores e usuários da Resex Marinha Araí-Peroba conquistaram.
As comunidades visitadas estão localizadas na região norte do município e
limitadas pela estrada PA-462 e a área marinha. Situa-se esta região entre as Resex
Marinha Caeté-Taperaçu, no município de Bragança; a Resex Marinha Gurupi-Piriá, no
município de Viseu; ao norte limita-se com a Área de Proteção Ambiental Costa do
Urumajó, gerenciada pelo município. O acesso às comunidades foi pela Rodovia
Estadual PA-462 e seus ramais. A construção da estrada foi motivo para que muitas
comunidades atuais fossem formadas. Estima-se que cerca de 3.000 famílias ocupem
área (Quadro 1).
As comunidades listadas no Laudo de Vistoria Técnica e seus pólos serviram de
base para ordenamento das visitas. No entanto, algumas das comunidades listadas estão
integradas ou são conhecidas por mais de uma nominação. Caso das comunidades Água
Pau e Ribanceira, que foram integradas as comunidades de Ponta do Urumajó e Buçu,
respectivamente. A comunidade Zé Castor que também é conhecida como Pontinha e a
comunidade Mirinzal, que também é chamada de Varejão.
As nomeações surgiram no momento da criação das comunidades e alguns nomes
foram modificados quando da instalação das escolas. Na região da comunidade Zé
Castor, por exemplo, há vários núcleos familiares que se denominam comunidades, caso
da comunidade Pontinha Porto, ou de moradores que vivem mais afastados do núcleo
comunitário e denominam sua região de comunidade Pontinha. O mesmo ocorre na
região da comunidade Bacanga Porto, onde a distribuição dos moradores pela área os
fez criar nominações como Bacanga Porto (área com maior concentração de residências
de moradores próxima ao porto) e Bacanga para os que moram distantes do porto. No
entanto, é uma mesma comunidade.
14
Quadro 1- Número de famílias das comunidades visitadas no município de Augusto
Correa-PA.
15
Características gerais
A idade dos entrevistados variou entre 30 e 75 anos o que proporciona uma média
de 54 anos de idade. O maior percentual de idade dos entrevistados ficou situado entre
30 e 50 anos (52,4%), seguido dos que possuem entre 51 e 70 anos (42%) (Tabela 1).
Os dados apresentados mostram que há diferentes gerações nas comunidades visitadas
e não foram localizados jovens identificados como pescadores ou agricultores.
Tabela 1. Faixa etária dos entrevistados nas 28 comunidades visitadas no
município de Augusto Corrêa-PA.
Faixa Etária Nº de moradores Percentual (%)
30-50 11 52,4
51-70 9 42,9
Acima de 70 1 4,8
TOTAL 21 100,0
Fonte: Dados da pesquisa
Os entrevistados residem em média na mesma comunidade a cerca de 38 anos
(Tabela 2). O percentual de quem reside entre 1 e 20 anos, entre 21 e 40 e entre 41 a 60
anos é de 28,6% respectivamente. Em média estão na região a cerca de 20 anos. Há
moradores que declararam que suas famílias estão na região há mais de 100 anos, como
em Rio do Meio, e outros que recém chegaram às comunidades em busca de trabalho ou
de compra de terras vindos do centro urbano de Augusto Corrêa.
Há mobilidade entre as comunidades, sobretudo para famílias em que o casal já
recebe a aposentadoria. Estes buscam construir suas casas próximas a estrada e
mantém suas áreas de plantio fora do núcleo comunitário. A proximidade ao núcleo
comunitário envolve as facilidades como acesso a transporte e posto médico. Outras
famílias que se mudam para a proximidade da estrada o fazem em busca de proximidade
à escola para os filhos e facilidade para comercialização de produtos.
No entanto, ao serem questionados sobre a intenção de mudar para outro lugar
99% dos entrevistados disseram que não.
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Tabela 2. Tempo de residência dos entrevistados nas comunidades visitadas no
município de Augusto Corrêa-PA.
Tempo na área (anos) Nº de moradores Percentual (%)
1- 20 6 28,6
21-40 6 28,6
41-60 6 28,6
61-80 2 9,5
Mais de 80 1 4,8
TOTAL 21 100
Fonte: Dados da pesquisa
17
Figura 2- Aspectos das moradias nas comunidades visitadas.
18
Figura 3- Aspectos das residências e das comunidades visitadas.
19
Saneamento e serviços de saúde
O acesso à água nas comunidades visitadas é via sistema comunitário simplificado
formado por um conjunto de caixas d’água que fazem a distribuição para mais de 54%
das residências, exceto na comunidade Pontinha Porto onde a água provem apenas dos
poços (Tabela 3). Mesmo com o sistema simplificado parte dos moradores mantém poços
artesianos ou simples. Segundo eles, ocorre falta de água nas comunidades causada
pela seca de poços durante períodos prolongados de verão e pela ausência de
pagamento da energia para o abastecimento pelos moradores . Há nas comunidades
uma pessoa responsável pela captação e distribuição da água. O custo para manutenção
e recebimento de água para cada morador varia entre R$10,00 a R$15,00 e o valor
arrecadado paga a energia e o serviço do responsável pela manutenção do sistema. Na
ocasião deste estudo todas as comunidades visitadas estavam com problemas de
abastecimento de água via rede comunitária e com seus poços secando devido ao
período de verão prolongado. Nas comunidades de Vila Nova Olinda e Aturiaí o
abastecimento estava racionado com a água sendo liberada para as residências somente
no período da manhã. Em outras comunidades os moradores estavam cavando ou
ampliando a profundidade de seus poços.
A água para consumo recebe algum tipo de tratamento sendo coada, fervida ou
utilizam hipoclorito em 100% das residências. Mais de 70% coam a água da torneira ou
dos poços e a armazenam em potes de barro. Os que declararam utilizar hipoclorito o
lançam nos poços, quando o recebem do agente de saúde.
O uso da fossa negra predomina em 42% das residências dos entrevistados e
apenas 19% afirmaram possuir fossas sépticas (Tabela 4). A ausência de sanitários
ocorre nas residências mais afastadas dos centros comunitários. E 65% dos moradores
2
afirmaram que o destino final do esgoto sanitário é nos rios e igarapés. Nos quintais onde
são mantidos cozinhas e jiraus1 a prática é a de escoamento direto no solo.
Fontes de renda
A pesca foi citada como a principal atividade de geração de renda para as
comunidades que vivem nas áreas dos grandes rios e nas marés. Os recursos da
agricultura, principalmente a farinha, seguida do feijão caupi (Vigna unguiculata) e coleta
de bacuri (Platonia insignis) são a principal fonte geradora de renda para os moradores
das comunidades localizadas na terra-firme. É também fonte geradora de renda, mas
considerada por muitos como uma atividade inferior a da pesca em geral, a coleta: do
caranguejo (Ucides sp), do siri (Callinects sp) , do mexilhão (Mytella sp.) e da ostra
1
Jirau- espécie de grade de varas ou tábuas sobre esteios fixados no chão que serve para
lavar louças ou roupas, e ainda guardar materiais de trabalho.
21
(Crassostrea sp), e a pesca do camarão branco (Xiphopenaeus sp), que ocorrem tanto
nas comunidades próximas as áreas marinhas como nas de terra-firme, mas com
proximidades ao mangue (Quadro 2) .
A comunidade que vive exclusivamente da pesca é a comunidade de Ilha do Coco;
as demais foram categorizadas de acordo com a principal atividade geradora de renda
declarada. Desta forma, as comunidades que vivem quase que exclusivamente da pesca,
mas com pouca atividade agrícola destacam-se: Ponta do Urumajó, Perimerim, Ilha das
Pedras. Nessas comunidades ocorre a pesca comercial e artesanal. Nas comunidades de
Vila Nova Olinda, Aturiaí, Patal, há forte presença de pescadores, mas a atividade
agrícola está na atualidade com predominância. A pesca nestas comunidades é realizada
tanto em grandes barcos quanto de forma artesanal onde também é exercida a extração
de caranguejos, camarão e ostras. As comunidades que se destacam pela produção
agrícola que pesqueira são as comunidades de: Malhado, Emburuaca, Anoirá,
Livramento, Zé Castor, Trevinho, Buçu, Buçuzinho, Igarapé-Açu e Rio do Meio.
As demais comunidades como Vila Nova, Cafezinho, Peroba, Bacanga, e Jutaí
atuam mais com a agricultura do que a pesca. Em geral nessas comunidades a pesca
pode ser realizada em parcerias com patrões donos de barco se caracterizando como um
trabalho provisório. A mariscagem e a pesca de cabeceira (tapagem) são atividades
exercidas para complemento da renda ou apenas para consumo.
A pesca em barcos é realizada por meio de aviamento, em geral barcos com 3
toneladas que levam até 4.000m de rede. O dono do barco cobre as despesas com
combustível, adiantamento para o os pescadores e alimentação. Quando retornam com a
produção esta é vendida aos marreteiros e descontada do valor total apurado os custos
das despesas. O restante é então dividido ficando o dono do barco com 50% e os demais
pescadores com os outros 50%, que então é dividido entre eles.
É importante destacar a atividade agrícola na região. No ano de 2004 algumas
comunidades por meio de suas associações agropesqueiras adquiriram maquinário para
o preparo da terra para a agricultura, junto aos bancos ligados ao programa do Fundo
Constitucional de Financiamento do Norte (FNO). O sistema de uso coletivo do
maquinário era em rodízio. O sistema não funcionou e muitas associações por
inadimplência perderam o equipamento. Atualmente é a secretaria de agricultura do
município quem fornece os maquinários. A comunidade ou grupo de agricultores enviam
um ofício solicitando o trator. O dono da terra fornece o combustível. Há pessoas que
possuem tratores e os alugam aos agricultores ao custo de R$100.00/h. Em geral o
equipamento permanece na comunidade por um período de até 3 semanas. Trabalham
com o sistema de “tarefas”, onde cada “tarefa” corresponde a 0,5ha
22
Quadro 2- Atividades geradoras de renda e consumo nas comunidades visitadas no município de Augusto Corrêa-PA. (continua)
2
Quadro 2- Atividades geradoras de renda e consumo nas comunidades visitadas no município de Augusto Corrêa-PA.
2
Entre os entrevistados, 28,6% declararam exercer múltiplas atividades como
agricultura a pesca e a mariscagem, seguido dos que se dedicam apenas a agricultura
com 23% dos entrevistados, e a pesca e a mariscagem é exercida por 19% dos
entrevistados (Figura 4). Apenas 9,5% dos moradores entrevistados declararam viver
somente da pesca. Pesca essa realizada em barcos de tonelagem e canoas a remo. Os
demais afirmaram que sua renda é gerada pelas atividades de pesca associada à
mariscagem.
Aposentado
Pesca e marisca
Pesca e agricultura
Somente agricultura
Somente pesca
0 1 2 3 4 5 6 7
Nº de citações
2
Açu. Sendo a comunidade Livramento a mais organizada quanto a produção e
comercialização do fruto e da polpa no período da safra.
27
Quadro 3- Divisão social do trabalho nas atividades de pesca, mariscagem e
agricultura entre os entrevistados no município de Augusto Corrêa-PA.
2
e que segundo seu presidente o banco não liberou o financiamento devido à
inadimplência das demais associações existentes no município. Sem recursos a
organização voltada para a pesca passou a atuar com a agricultura utilizando o
maquinário da secretaria municipal de agricultura para o preparo da terra plantando
mandioca e feijão caupi. Segundo o presidente “os pescadores seguiram cada qual com
o trabalho individual”. Alguns pescadores afirmaram que adquiriram terras para ter
acesso aos atuais benefícios da Associação.
Nas demais comunidades a organização social está desarticulada e as antigas
associações já não funcionam. Todas com a mesma denominação Associação
Agropesqueira e surgidas no final da década de 1990. Em todas as comunidades estas
associações encontram-se inadimplentes junto ao BASA e seus associados sem acesso
a recursos para crédito.
2
Para este exercício o tamanho e a cor dos círculos foram as referências utilizadas para o
grau de importância dado, pelos moradores, à instituição/órgão proposto. A distância dos círculos
em relação às comunidades refere-se à presença ou não da instituição na área.
3
sede municipal são dadas importância aos serviços como Correios e Casas Lotéricas e
Energia. Nas demais, a importância é dada aos serviços prestados pelo município.
Cabe destacar que, embora próximos à unidade de conservação, ampla divulgação
e demonstrado interesse pela ampliação da Resex Marinha Araí-Peroba nas
comunidades visitadas, as instituições ambientais federais, o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade não foram citadas. Neste quesito se insere também a
AUREMAP, organização central das comunidades da unidade de conservação, ou
quaisquer outros grupos organizados como, por exemplo, o Movimento Pró-Resex.
O exercício foi realizado em grupos de trabalho e o resultado foi apresentado em
plenária e discutido com todos (Figura 6). A seguir são apresentados os quadros
formados pelos grupos (Quadros 4, 5, 6 e 7).
Quadro 4- Diagrama de Venn do pólo Vila Nova Olinda formado pelas comunidades
de Buçuzinho, Buçu, Trevinho e Peroba.
Legenda:
31
Durante a apresentação o grupo explicou que as instituições públicas municipais
estão presentes na comunidade e atendem as demais. Inseriram organizações locais
como os Clubes de Futebol. As instituições municipais foram consideradas de grande
importância, mas há distancia das secretarias de Meio Ambiente e das políticas para
saneamento básico. Desejam a presença de serviços como segurança pública, correios e
casa lotérica. Para eles embora a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do
Estado do Pará (EMATER) seja de grande importância esta não presta serviços as
comunidades. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
ICMBio e a AUREMAP não foram citadas.
O STTR e a Colônia de Pescadores segundo eles é de média importância e não
atuam na comunidade seus associados não tem informação. No entanto há delegados
sindicais neste Pólo, exceto na comunidade de Buçuzinho. Cabe destacar o
distanciamento de empresas que prestam serviços como a Celpa e as de telefonia.
Legenda:
3
O grupo categorizou as instituições públicas e privadas como de grande
importância e as distribuiu no Diagrama pela atuação nas comunidades. A exceção da
EMATER e da Colônia dos Pescadores que foram consideradas de pouca e media
importância respectivamente. Nesse pólo a situação do abastecimento da água é dos
mais críticos. As comunidades estavam, na ocasião deste estudo, com poços secos e
sem acesso a água, tanto que durante a oficina houve mobilização para a elaboração de
um documento para a secretaria municipal responsável. A SEMMA foi considerada de
grande importância, mas sem presença nas comunidades, visto que neste pólo a pesca
predatória é marcante com uso de redes de tapagem nas cabeceiras dos igarapés. O
STTR nesta região é ativo haja vista que nesse pólo estão concentrados os principais
produtores de farinha. Organizações locais como a associação dos agricultores foi
reconhecida.
Quadro 6- Diagrama de Venn do pólo Aturiaí formado pelas comunidades
Livramento, Pirateua, e Vila Nova e Mirinzal.
Legenda:
Legenda:
3
produtos. A ausência de transporte público regular foi marcada pelo distanciamento deste
serviço junto à secretaria responsável.
3
Figura 5 - Aspecto das oficinas realizadas nas comunidades pólos na construção
dos Diagramas de Venn, no município de Augusto Corrêa-PA.
3
3.2 - Identificação do uso e manejo dos recursos naturais pela população
tradicional envolvida na proposta e levantamento dos dados etnobiológicos.
Os recursos da biodiversidade são fundamentais para o desenvolvimento
econômico, social e cultural das sociedades humanas. Segundo Alves et al.(2008a), os
modos como os recursos naturais são utilizados pelas populações humanas são
extremamente relevantes para definição de estratégias conservacionistas.
Os países de alta biodiversidade, como o Brasil ou outros países tropicais,
apresentam diversificadas características físicas, climáticas e biológicas que
abrigam variadas formas de vida e ecossistemas. Através de estudos ecológicos
junto às comunidades, as pessoas se conscientizam sobre o prejuízo da perda de
biodiversidade, o valor da etnobiologia e a importância da conservação e do
desenvolvimento sustentável para as presentes e futuras gerações.
Os estudos com comunidades e ambiente levam em conta dois principais
componentes inter-relacionados e interdependentes: as situações práticas de vida
da comunidade estudada, atentando para a cultura e tradição locais e a utilização
sustentável dos recursos naturais locais (Pandey et al, 1998).
Uma das abordagens científicas para estudar a relação do homem com a natureza
é a etnobiologia, que é uma ciência interdisciplinar derivada da antropologia cognitiva e
de áreas das ciências biológicas, como a ecologia (Begossi,1993). O estudo
etnobiológico investiga, analisa e sistematiza o rico e detalhado conhecimento das
populações e pode apresentar resultados de pesquisa que aperfeiçoem utilização de
recursos naturais como a pesca artesanal, onde os peixes compõem um grupo animal de
grande diversidade biológica e importante recurso alimentar (Begossi et al, 2002). Além
disso, os estudos etnobiológicos possibilitam a incorporação de critérios de etnomanejo
(Diegues1995) na determinação das políticas públicas do território marinho.
Os moradores entrevistados, por meio de questionários e de conversas informais
das comunidades visitadas no município de Augusto Corrêa, reconhecem uma série de
animais e plantas que ocorrem na região e, em alguns casos, estes recursos biológicos
têm valor utilitário, sendo utilizados para fins diversos.
Uso da fauna
Os entrevistados citaram 212 animais (189 vertebrados e 23 invertebrados) que
ocorrem na área. Os animas citados pertencem a 8 categorias taxonômicas distintas. As
categorias com maior número de espécies citadas foram: aves, peixes e mamíferos
(Figura 6)
3
moluscos
categorias taxonômicas insetos
crustáceos
répteis
anfíbios
mamíferos
peixes
aves
0 10 20 30 40 50 60 70
Nº de espécies
Dos 212 animais citados, 61 foram aves. Isto pode estar diretamente relacionado à
variedade desses animais na região em função dos ecossistemas de mar, mangue e terra
firme. Cabe destacar que entre os mamíferos, animais domésticos como gado (4),
cachorro (3) e gato (3) foram citados o que revela certo distanciamento de fauna silvestre.
Dentre os animais que apresentaram o maior número de citações foram Armadillidium sp
(tatus,31), Egretta sp (garças, 23), Cynoscion spp (pescadas, 17),Eudocimus ruber
(guará, 14), Dasyprocta sp (cutia, 14) e Agouti paca (paca 14).
O contato cotidiano de populações humanas com os recursos animais possibilita o
reconhecimento desses organismos, especialmente os recursos com valor utilitário como
os mamíferos, os peixes e as aves.
O uso alimentar de animais engloba, além da pesca, a fauna terrestre nativa, obtida
com a caça e com animais de criação doméstica como galinhas, porcos, patos e outras
aves. Constatou-se a existência de uma conexão utilitária da fauna na região, sendo o
uso alimentar o mais representativo, uma vez que 90% das espécies de peixes citadas,
23% das espécies de mamíferos, 15% das espécies de répteis e 13,6% das espécies de
aves foram associadas a esse tipo de uso.
Dentre os animais citados pelos entrevistados o Leopardus wiedii, Myrmecophaga
tridactyla e Pteronura brasiliensis constam na Lista das Espécies da Fauna Brasileira
Ameaçadas de Extinção (IBAMA, 2003), além desses estão ainda citados o Epinephelus
itajara e Sphyrna tiburo que constam na Lista de Espécies da Flora e da Fauna
Ameaçadas no Estado do Pará (SEMA, s/d).
A caça é praticada na região. Em todas as comunidades visitadas a prática foi
reconhecida “como ainda existente, mas é fraca”. Segundo os moradores o
“desmatamento espantou os bichos grandes como o veado e a anta”. Para eles a perda
3
de habitat e o aumento da população foram os principais motivos para o
desaparecimento da caça. Além da caça, o consumo de proteínas advêm das atividades
de pesca e da mariscada.
A pesca e a mariscada
A cultura tradicional das populações de pescadores, grupo social com fortes
ligações com a natureza, deve ser estudada, protegida e valorizada, pois com isso torna-
se maior a probabilidade de assegurar os serviços ambientais dos ecossistemas naturais,
combinando a manutenção da cobertura vegetal e a melhoria da qualidade de vida do
homem nas áreas onde vivem (Diegues 2000).
Pescadores artesanais podem ser definidos como aqueles que, na captura e
desembarque de toda classe de espécies aquáticas, trabalham sozinhos e/ou
utilizam mão-de-obra familiar ou não assalariada, explorando ambientes ecológicos
localizados próximos à costa, pois a embarcação e aparelhagem utilizadas para tal
possuem pouca autonomia. A captura da pesca artesanal é feita através de técnicas
de reduzido rendimento relativo e sua produção é total ou parcialmente destinada ao
mercado (Diegues, 1973).
Os pescadores artesanais mantêm contato direto com o ambiente natural e, assim,
possuem um corpo de conhecimento acerca da classificação, história natural,
comportamento, biologia e utilização dos recursos naturais da região onde vivem
(Silvano, 1997). Para Posey (1987), este conhecimento local sobre o mundo natural não
se enquadra em categorias e subdivisões científicas precisamente definidas.
A atividade pesqueira faz parte das mais antigas tradições dos habitantes do litoral
amazônico, que mantiveram sua riqueza cultural nas formas de exploração dos recursos
naturais, mesmo com a introdução das transformações socioculturais impostas pelo
desenvolvimento econômico na região (Veríssimo, 1970 e Maneschy, 1993, Isaac 2006).
A atividade de pesca é fortemente praticada nas comunidades de Ilha do Coco,
Ponta do Urumajó, Perimerim, Vila Nova Olinda, Aturiaí, Ponta de Pedras e Patal sendo
fonte geradora de renda e manutenção das famílias. Nessas comunidades há moradores
que se identificam exclusivamente como pescadores. A atividade é praticada ao longo do
ano e com destaque para a pesca artesanal, mas com presença da pesca comercial,
incluindo a construção de barcos de pequeno porte. A exceção de Ilha do Coco e Vila
Nova Olinda, as demais comunidades teem fortes relações comerciais com barcos
pesqueiros nos portos da sede municipal por sua proximidade.
As técnicas de pesca são repassadas por gerações e é uma atividade masculina
com rara presença feminina. Os meninos acompanham seus pais nas atividades de
pesca desde criança (entre 8 a 10 anos de idade), tornando-se pescadores também. Para
3
alguns pescadores o aprendizado da arte de pesca “já é parte da vida, a gente já nasce
sabendo”. Outros declararam que aprenderam a profissão como na fala do Sr. Wilson
(44) “aprendi a arte desde os 18 anos com as pessoas que trabalhavam de pesca com
curral, rede, arrasto eu foi aprendendo”.
As técnicas de pesca citadas foram: redes, malhadeiras, espinhel, linha, curral e
rabiadeira e variam de acordo com o local de pesca e dependem da espécie alvo. As
redes, malhadeiras, linha e espinhel são utilizados no mar em barcos de pesca comercial
ou barcos menores. Os currais são utilizados nos rios e nas áreas de estuário, onde se
formam com a vazante da maré as “croas” (ilhas de areia formada pela dinâmica das
marés nos estuários). A rede rabeira é utilizada para a pesca nas áreas de croas. A
pesca com tapagem e com o paneiro de filho é praticada nas áreas de cabeceiras e no
mangue respectivamente (Figuras 7a e 7b).
As redes e malhadeiras são confeccionadas com linha de algodão ou nylon e
variam de acordo com as espécies de pescado a ser capturada e podem atingir mais de
4.000m. Dessa forma são categorizadas como malhadeira pescadeira (utilizada para a
captura da pescada); malhadeira gozeira (para a pesca da gó) e rede caiqueira (para a
captura da pratiqueira).
A pesca com espinhel visa principalmente a captura de peixes da família Ariidae o
bandeirado (Bagre bagre) ou a gurijuba (Hexanematichthys parkeri) e consiste de uma
linha de pesca grossa com diversas outras linhas fixadas que na sua extremidade são
acondicionados cerca de 500 a 1.000 anzóis. São utilizadas para a pesca no mar, na
época do inverno e pode atingir até 1.000m de comprimento.
As redes denominadas rabieiras são instaladas nas áreas de formação de croas,
podem atingir até 12 metros e são usadas para captura de corvina (Cynoscion
microlepdotus), uritinga (Hexanematichthys proops), cangatá (Aspitor quadriscutis) e
pescada (Cynoscion spp ).
Os currais capturam um conjunto de espécies extremamente diversificado, de
pequenos peixes estuarinos e costeiros, sofrem o efeito da maré, retendo várias espécies
principalmente a pescada-gó (Macrodon ancylodon), a tainha (Mugil sp.), o bagre
(Hexanematichthys couma), o cangatá (Aspitor quadriscutis), a uritinga
(Hexanematichthys proops) e as arraias (Dasyatis sp.).
A armadilha denominadas de “paneiro de filho ou de sangra” é utilizado para a
pesca do amuré (Gobionellus oceanicus) nas áreas do mangue.
4
Figura 7a- Apetrechos de pesca utilizados pelos pescadores no município de
Augusto Corrêa-PA.
41
Figura 7b- Apetrechos de pesca utilizados pelos pescadores no município de
Augusto Corrêa-PA.
4
Segundo Rosa (2007), que analisou a criação da APA Urumajó por meio de
estudos com pescadores da região, “Na fala dos pescadores locais é perceptível e
evidenciado seus conhecimentos sobre os recursos naturais e os “estragos” locais”.
Referindo-se ao uso de apetrechos que localmente são reconhecidos como instrumento
de pesca predatória.
Para os pescadores o meio ambiente é o ambiente da vida deles e, portanto, não é
concebido de forma separada. As preocupações ambientais são aquelas que dizem
respeito direto à própria existência, não há uma preocupação com o meio natural em si e
para si.
São formas de produzir a vida a partir da natureza, ou seja, suas técnicas são
caminhos encontrados para trabalhar de acordo com o “tempo” do peixe, as intempéries
da natureza, o reconhecimento dos pontos piscosos, a influência da lua, o movimento da
areia e as marés, além das adversidades sociais.
As espécies de peixe citadas como mais importantes para comercializar são o
bagre (Arius spp), a tainha (Mugil sp), a pescada amarela (Cynoscion acoupa), a uritinga
(Hexanematichthys proops), a corvina (Cynoscion microlepidotus), o camurim
(Centropomus spp) , o xaréu (Caranx spp) e o jurupiranga (Arius riguspinis) todos
comercializados com preços variando entre R$5,00 a R$20,00, de acordo com o tamanho
do pescado e a “safra”. (Quadro 8).
O pescado na região é comercializado fresco e salgado, sendo esta última a forma
que oferece maior independência ao pescador, por permitir maior tempo de conservação
do pescado e preço de mercado.
Em geral a produção é comercializada nos portos e mercados nas comunidades de
Patal, Nova Olinda e Aturiaí. O transporte da produção comercializada nos portos
comunitários é feita em pequenos caminhões equipados com isopores e gelo.
Nas demais comunidades a venda é realizada por ambulantes ou em frente às
residências dos pescadores com os peixes acondicionados em isopores com gelo. Há
também entregas de produtos para comunitários, que funcionam como intermediários e
que revendem a produção para a sede do município ou em Bragança. Os pescadores
que comercializam na sede do município têm seus patrões e estes são quem determinam
o preço de venda.
4
Quadro 8- Principais espécies de peixes comercializados pelas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA.
4
Organização social da pesca
Referente ao nordeste paraense, Conceição (2003), Manescchy & Klovdahl (2007)
traçam um perfil da organização política na Região Bragantina. Segundo os autores,
pescadores e agricultores, frente às exigências burocráticas, criaram as associações e
levaram os associados a se relacionarem com entidades governamentais para regularizá-
las, cujos contatos com entidades financeiras, como bancos, secretarias de Estados,
Organizações não governamentais (ONG), nacionais e internacionais, foram necessários
para a elaboração de projetos de financiamentos. Desta forma surgiram na região as
Associações Agropesqueiras que de certa forma competiram com a Colônia de
Pescadores (Z-18) para a obtenção de sócios e serviços. Atualmente apenas duas
dessas associações, que no ano de 2006 chegavam a cerca de 19 (Rosa ,2007), estão
em atividades.
Dos entrevistados que se identificaram exclusivamente como pescadores (N=6),
apenas quatro estão filiados na Colônia de Pescadores de Augusto Corrêa. Segundo
eles, a Colônia dá apoio principalmente para conseguir a aposentadoria e benefícios,
como auxílio doenças. Os demais que tem na pesca a principal atividade, mas também
atuam como agricultores (N=2), estão filiados a Associações de suas comunidades
(Ponta do Urumajó e Vila Nova Olinda).
Segundo a Colônia de Pescadores, a região não foi selecionada para obtenção do
seguro defeso.
A mariscada
A coleta de crustáceos e moluscos são atividades tanto geradoras de renda como
de subsistência da população local. As capturas são realizadas em conjunto ou
direcionadas à extração de apenas um produto, como no caso dos camarões e dos
caranguejos.
Os crustáceos explorados pelos pescadores são o camarão branco (Litopeneaeus
schmitti), o caranguejo (Ucides cordatus), e o siri (Callinectes sp). Os pertencentes ao
grupo de moluscos estão o mexilhão (Mytella sp.), a ostra (Crassostrea sp) e os turus
(Teredo sp), como importante recurso na região. O sarnambi (Anomalocardia brasiliana),
ou sururu e o sapequara são citados apenas para consumo (Quadro 9).
A pesca do camarão é a segunda atividade mais importante depois do pescado. O
produto tem preço no mercado local e regional. A pesca é artesanal e o principal
apetrecho utilizado é o puçá (Figura 8). As principais áreas de coleta são no mar, nas
beiras e no mangue. Os entrevistados citaram quatro etnoespécies de camarão que são
utilizados na região: o camarão branco (Litopeneaeus schmitti); o camarão cascudo
(Sicyonia dorsalis); o camarão bate-pé (NI) e o camarão piré (NI) (Santos et al, sd) Todos
são comercializados sendo que o camarão branco e o camarão bate-pé atingem maior
4
valor comercial. Os camarões são comercializados salgados e pré-cozidos e os preços
variam em função do tamanho.
As ostras e os mexilhões tem seus preços de venda diferenciados em função da
venda dos animais nas conchas ou já pré-cozidos.
Os compradores de camarões nas comunidades (marreteiros) pré selecionam e
ditam os preços de acordo com o tamanho. Em Nova Olinda, o preço do camarão branco
grande estava na ocasião desta pesquisa, a R$ 12,00 o kg e o pequeno a R$10,00. O
marreteiro acumula cerca de 80kg e leva para o patrão em Bragança. Na cidade
consegue vender em média a R$14,00 o kg do camarão grande.
4
Quadro 9- Principais espécies de mariscos citadas pelas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA.
4
Os caranguejos são coletados o ano todo. Segundo os caranguejeiros há
necessidade de uma organização, “assim como a dos pescadores”, Sr. Wilson (47(?),
Patal), referindo-se à Colônia dos Pescadores. A coleta é diária e em geral podem obter
até 100 animais (3 paneiros). Estes são acondicionados em paneiros com 32 unidades ou
amarrados em “peras” (com as cordas confeccionadas de fibra de malva), com até 15
unidades, o preço de venda nas comunidades é de R$ 15,00 e R$5,00 respectivamente.
Segundo os caranguejeiros, o que faz a qualidade do casco do animal é “lama do
mangue”. Segundo eles “o caranguejo do tintá tem a carne mais fofa e é magro, já o
caranguejo do mangal alto tem ponta grossa, a carne é mais gostosa e mais muciça,
mais agarrada nos ossos”. Para eles o uso do mangal deve ser controlado, pois se “as
pessoas vão todo dia o mangual fica consumido”
Nas comunidades de Tijoca e Anoirá, Cocal, Buçuzinho, Jutaí não há
comercialização de caranguejo, os moradores tiram o caranguejo nos períodos das
“andadas” e segundo eles apenas para consumo “porque o IBAMA dá em cima”.
Conflitos da pesca
Para as comunidades ribeirinhas e costeiras da Amazônia, os mananciais aquáticos
são de extrema importância e prioridade. Sabe-se que a territorialidade da pesca é um
espaço construído e disputado por diversas categorias de pescadores (artesanais,
industriais, esportistas e aqüicultores). Essa territorialidade e espaço leva a pensar numa
“tragédia dos comuns” (Hardin 1968) caracterizada pelo esgotamento dos recursos em
razão de livre acesso dos exploradores aos mananciais (territórios de pesca), e
sustentada pela idéia da finitude dos mesmos. Essa idéia está na base dos conflitos, não
só pela noção de limite dos bens da natureza, mas pelos sinais de esgotamento ou de
ameaças de determinadas espécies já tangíveis anunciados por pescadores experientes
(Furtado, 2003).
Ainda segundo Furtado (2003), a idéia de territorialidade da pesca inclui o saber
nativo, passado de geração a geração, no seu traçado geral, na detecção e definição dos
cardumes; na escolha do recorte dos pesqueiros ou pontos de pesca por parte desses
usuários para captura das espécies segundo suas necessidades (de consumo e de
comercialização). Além disso, há o código de direito costumeiro, que norteia o uso dos
territórios segundo o regime de marés em áreas de litoral e estuário, e o código de ética
elaborados no seio da sociedade agropesqueira a que pertencem.
Segundo estes códigos os direitos do vizinho são respeitados e observados ainda
que tais territórios de pesca não sejam identificados por documentos cartoriais ou por
cercas.
48
As marcas são simbólicas vincadas na tradição de posse e uso por parte do grupo
de pescadores que praticam pesca familiar ou pesca de parceria. Dessa forma, a
territorialidade é vista como um espaço de trabalho pelo pescador em seu cotidiano,
levando-o a crer numa posse por direito de uso, o que o faz pleitear o reconhecimento
por parte de outros.
O uso e a apropriação indevida dessa territorialidade tem sido tema de discussão
sob diferentes óticas de estudos nas áreas da Antropologia, da Geografia e da Ecologia
Humana.
Muitas das situações conflituosas na região foram motivadas pela invasão de áreas
de pesca artesanal pela frota pesqueira industrial levando ao fortalecimento da
organização social desse grupo social em suas colônias de pescadores. Muitos desses
conflitos geraram perdas ambientais, como assoreamento e poluição de rios e canais,
disputa por pesqueiros com destruição de habitas naturais, entre outros.
As comunidades através de suas lideranças tomam consciência de sua capacidade
de ação e de mobilizar seus pares. Dessa forma, passam a fazer alianças com outras
associações e movimentos congêneres, bem como articular com instituições
parlamentares, acadêmicas e Ongs para reverter o quadro adverso enfrentado.
No município de Augusto Corrêa não é diferente. Em todas as comunidades foram
citadas ocorrências de conflitos por recursos pesqueiros. O principal foi a invasão nas
áreas do mangue pelos moradores da comunidade do Treme, localizada no município de
Bragança, que chegam para tirar os caranguejos.
Segundo os moradores “eles chegam de barco e ficam até 3 dias no mangal, levam
tudo”. Os moradores da comunidade de Ilha do Coco denunciaram a invasão ao IBAMA
de Bragança, mas ainda “não vieram fazer nada”.
Conflitos que causaram a quase total extinção das ostras, a exceção da
comunidade Nova Olinda que as cultiva. Nas demais comunidades, as ostras já são
consideradas raras, segundo alguns moradores “já tiraram demais, assim que
descobriram que valia, limparam mesmo”.
Nas comunidades de Aturiaí e Nova Olinda houve denúncias de invasão nos rios
pelos pescadores de urisica, da Resex Marinha Araí-Peroba. Segundo os moradores
destas comunidades, os pescadores utilizam as redes malhadeiras proibidas em sua área
e estão destruindo o manancial de pescado.
Uso da flora
49
que a extinção das espécies está fortemente associada com as atividades humanas,
agrícolas e não agrícolas, provocando modificações nos ecossistemas, há o
reconhecimento de que a perda da diversidade cultural de comunidades tradicionais
também está ligada com a perda da diversidade biológica.
Como conseqüência, existe, também, o reconhecimento da importância da
contribuição dos saberes dessas comunidades para a conservação e uso da diversidade
biológica que precisa ser traduzido em benefícios práticos para melhoria das condições
de vida dessas populações.
A relação homem x planta deve ser enfocada sob o ponto de vista sócio-cultural de
grupos humanos com as características de populações tradicionais. Os diversos grupos
étnicos que compõem as populações tradicionais da Amazônia manejam os recursos
naturais de forma diferenciada, considerando a biodiversidade local e sua cultura.
A costa norte brasileira está povoada por populações tradicionais não-indígenas,
remanescentes de quilombos, e populações tradicionais que são notadamente
reconhecidas por suas atividades extrativistas na Amazônia.
Em particular no nordeste paraense, as populações tradicionais utilizam os
recursos das capoeiras sob as mais variadas formas com registros de espécies
madeireiras de valor econômico empregadas na construção de casas e produção de
lenha; espécies frutíferas, medicinais; e, espécies para artesanatos e com potencial
resinífero (Shanley et al., 1998; Rios et al. 2001;Alvino et al., 2005).
As capoeiras, também, desempenham importante papel ecológico pelo acúmulo de
biomassa, controle de erosão, conservação de nutrientes, benefícios hidrológicos e
manutenção da biodiversidade (Pereira e Vieira, 200).
Os moradores entrevistados reconheceram 110 tipos de plantas entre árvores,
palmeiras, ervas e cipós, distribuídas em 44 famílias botânicas. Em relação à distribuição
do número de espécies por famílias, apenas cinco famílias botânicas se destacaram, a
saber: Euphorbiaceae, Myrtaceae, Anacardiaceae, Fabaceae e Arecaceae (Figura 9), o
que pode estar relacionado à mata secundária presente com diversidade e baixa
abundância de espécies vegetais.
A maior parte das plantas citadas é encontrada na região, no entanto as que
tiveram um maior número de citações apresentam finalidades utilitárias como as
palmeiras, as medicinais e as árvores de uso para a construção de casas e currais e
produção de carvão (Figura 10) .
50
Euphorbiaceae
Famílias botânicas
Myrtaceae
Anacardiaceae
Fabaceae
Arecaceae
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Nº de espécies
3
A palmeira inajá é frequente em áreas abertas em regiões com intenso desmatamento e
queimadas o que favorece seu crescimento.
51
Figura 10- Aspectos da produção de farinha e carvão pelas comunidades visitadas
no município de Augusto Corrêa-PA.
52
Segundo os entrevistados as espécies que estão fortemente ameaçadas
(desaparecendo) são: o Platonia insignis (bacuri); o Parahancomia amapa (amapá) e
Tabebuia serratifolia (pau d’arco) e Couratari guianensis (tauari). Segundo eles o motivo
está no desmate para roças e para fazer carvão.
Dentre as espécies que foram citadas como “as que já desapareceram da região”
estão o Cedrela fissilis (cedro), a Lecythis pisonis (sapucaia), a Manilkara amazônica
(maçaranduba). Alguns moradores chegaram a afirmar que quando “se entenderam,
estas espécies já não eram mais encontradas na área”.
Segundo o relatório PNUD (2006), o consumo de lenha pela população local em
Augusto Corrêa corresponde a cerca de 18% do consumo de lenha na região.
A lenha e o carvão são produzidos nas áreas de roçado e pasto. A produção é
comercializada nas comunidades e muitas vezes exportada para os municípios vizinhos,
abastecem as padarias e olarias. O carvão é produzido em fornos ou caieiras e a madeira
é retirada tanto das áreas de roçado quanto das capoeiras. A produção é intensa nas
comunidades distantes dos mangues ou das marés. A saca de 10kg é comercializada por
valores entre R$10,00 a R$15,00.
As espécies de vegetais mais citadas para produção de carvão estão: Ormosia
coutinhoi (buiuçu), bacuri, Byrsonima crassifólia (muruci), e as espécies do mangue,
como tinteiro, siribeira e mangueiro. Alguns moradores afirmaram que fazem carvão com
“qualquer pau menos a embaúba”
Os moradores citaram 42 espécies vegetais utilizadas na região para construção.
As mais citadas foram: anani (Symphonia globulifera), marupá (Simarouba amara), piquiá
(Caryocar villosum (Aubl.), além da tiriba (Eschweilera ovata), da sapucaia (Lecythis
pisonis) e das espécies do mangue. As espécies vegetais são retiradas dos roçados e
das capoeiras próximas e são utilizadas principalmente para construção de currais de
pesca (esteios) e para os ditos “ares da casa” (caibro, perna manca, cumeeira e
travessas). Nenhuma das espécies citadas está na Lista Oficial das Espécies da Flora
Brasileira Ameaçadas de Extinção (MMA) ou na Lista de Espécies da Flora ameaçadas
de Extinção do Estado do Pará (SEMA).
Um operador de moto serra custa R$150,00/dia com o almoço sendo pago pelo
contratante para a retirada da madeira e confecção de tábuas. Em geral o custo para a
construção de uma casa de madeira com até 3 cômodos é de cerca de R$2.000,00.
A técnica de uso da terra para a roça é a derruba e queima, e atualmente muito
difundido na região está o uso de maquinário “para aradar a terra”. O maquinário é
alugado e custa para o produtor R$100,00/tarefa. Os moradores que afirmaram utilizar
maquinário no preparo da terra informaram que utilizam veneno para “matar o capim,
53
borrifa glifosato e para matar as formigas uso Bio-ciper a 15%, foi ensinado pela
secretaria de agricultura”.
A mandioca é o principal produto cultivado, seguido do feijão caupi. Segundo os
moradores há ausência de assistência técnica e a terra “já está cansada para outros
cultivos”. Entre os moradores entrevistados e nas conversas informais nas comunidades
foram citadas 34 etnovariedades de manivas (Figura 11).
54
Áreas de uso dos recursos naturais
Mapas
Os mapeamentos participativos vêm sendo utilizados como ferramenta
metodológica para incentivar a discussão acerca dos recursos naturais e uso do território
vivenciado por populações tradicionais e indígenas, visto que poderão ser utilizados para
a gestão ambiental.
Os conhecimentos tradicionais ambientais foram abordados a partir do universo das
etnociências com especial ênfase na etnoecologia. Os conhecimentos tradicionais
ambientais que emergiram no processo de construção dos mapas de uso pelos
moradores das comunidades visitadas nos permitem compreender melhor as relações de
seus autores com o meio em que vivem, e possibilitar a participação destes na tomada de
decisão.
Os mapas das áreas de uso dos recursos naturais foram construídos de forma
coletiva durante as oficinas realizadas em cada comunidade pólo. Reuniu moradores de
diversas faixas etárias, mais homens que mulheres, para identificar suas áreas de uso e
os principais recursos utilizados de cada local.
Os mapas base eram imagens de satélite, onde estavam indicadas as
comunidades, a estrada, a sede municipal, assim como os limites das demais unidades
de conservação da região. Antes de os moradores apontarem de onde e quais recursos
são retirados, foram nomeados por eles os principais elementos geográficos.
Vale ressaltar que ao grupo foi “apresentada” a imagem de satélite após breve
explanação sobre as representações dos espaços relacionando as cores ao ambiente.
Logo, foram reconhecidos os espaços aquáticos e a partir desses espaços começaram a
delinear os demais elementos, como as estradas secundárias, as áreas de campo, as
áreas de praia, de croas, o manguezal, e os principais pontos de coleta.
Os mapas das áreas de uso foram construídos por participantes das comunidades
pólo em sua maioria e com o auxílio de moradores das demais comunidades adjacentes
(Figuras 12 a e 12 b; 13 a e 13b;14 a e 14b;15 a e 15b; e 16 a e16 b )
55
Figura 12a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais das comunidades do
Pólo Urumajó.
56
A denominação de Urumajó4 nomeia a comunidade pólo e o rio que banha a cidade
de Augusto Corrêa. A realização do mapeamento neste pólo foi dificultada pela
problemática da distribuição da água pela rede de abastecimento comunitário. Na
ocasião, a oficina foi agendada pelas lideranças para anteceder a reunião dos moradores
com os secretários municipais de obras e meio ambiente para a busca de uma solução.
Após as explicações sobre as atividades da equipe em campo e abordando o significado
do mapeamento, o grupo se dispôs a trabalhar no mapa.
A pesca é a principal atividade das comunidades deste Pólo. A proximidade com a
sede municipal facilita o comércio da produção. A comunidade de Perimerim foi criada a
partir do desaparecimento de parte da vila da Coroa Comprida há 41 anos, com 800
habitantes e dentre estes aproximadamente 250 pescadores. Os principais tipos de
pesca exercidos pelos pescadores da vila são ouso de redes, espinhel e curral nas áreas
de alto mar e nas croas, respectivamente.
Os moradores indicaram e nomearam a ilha dos pássaros como região de alta
proteção, também conhecida como “ilha do Ibama”; a área abriga ninhais de aves como
guarás e garças e de onde retiram os mexilhões.
Não houve dificuldade para que os moradores identificassem seus espaços de uso,
como as croas de pesca onde os currais são instalados. A pesca é em alto mar em
barcos de tonelagem. Exercem a pesca em canoas movidas a remo ou com motor rabeta
de até 6hp. Há ainda a “tiração” de caranguejos nas áreas de mangue sempre próximos
às margens dos rios e igarapés. Embora não tenham localizado no mapa, fazem a pesca
de camarões utilizando puçás e se dá de acordo com a “maré”. Os moradores da Ilha das
Pedras instalam os currais de pesca, tanto nas croas formadas no rio Urumajó, quanto
nas croas existentes ao longo da área marinha (Figura 12b).
Os roçados estão nas áreas de capoeiras e há uso de maquinários para a
preparação da terra para plantio. Os moradores das comunidades de Malhado e Ponta do
Urumajó foram o grupo que mais identificou esses espaços de uso.
4
Em tupi Urumajó significa balaio grande. Contudo, a história comumente relatada por
populares e registrada no conto “A aldeia” de Antonio Coutinho de Campos, é de que a origem do
nome está associada a uma má interpretação dada por um expedicionário da milícia francesa
enviada do Maranhão por Daniel de la Touche para reconhecimento da região. Ao indagar um
caboclo local sobre o nome do rio, o militar teria recebido como resposta o nome de um pássaro
muito freqüente na região acompanhado de sua designação – Uru, Majó (major), tendo assim
chamado o rio de Urumajó, nome posteriormente dado à vila.
57
Figura 12b- Aspectos da oficina e mapeamento no pólo Urumajó.
58
Figura13a- Mapa das áreas de uso do pólo Patal.
59
A pesca é realizada ao longo do rio Urumajó e em função da proximidade da sede
municipal os moradores possuem facilidade para comercialização da produção. Utilizam
currais desde a região das cabeceiras do rio até a área da maré. Utilizam a pesca de
tapagem nas cabeceiras dos afluentes do Urumajó. Os mangues são explorados por
todos os moradores das comunidades desse pólo. Há retirada de madeira para
construção, havendo marcenarias e construtores de barcos na comunidade Patal. Nas
comunidades de Emburuaca, Tijoca e Anoirá a pesca é a segunda atividade e realizada
na maré, “quando chega a safra do peixe” saem para os “ranchos” (acampamento de
pescadores construídos nas praias), onde permanecem por até seis dias e a cada quatro
dias transportam a produção para os marreteiros da cidade. Um dos ranchos citados está
na praia próxima a Coroa Comprida. Segundo os moradores, a extração de caranguejo,
de turu e de mexilhão, nestas comunidades é apenas para consumo (Figura 13b).
Na região dos roçados, além do plantio de mandioca há a produção de carvão.
Nesta área também estão concentradas as fazendas de proprietários da cidade e dos
municípios próximos.
60
Figura 14a- Mapa das áreas de uso dos moradores do pólo Nova Olinda.
61
Esse pólo concentra o maior número de usuários. A vila Nova Olinda é uma das
mais antigas e maiores em termos de infraestrutura populacionais. Com a presença dos
rios Emboraí e Coco, afluentes nas proximidades das comunidades e sendo navegáveis,
a atividade de pesca está presente nas comunidades, exceto em Buçuzinho, Buçu e
Trevinho, onde a agricultura predomina (Figuras 14a e 14b) ).
Os moradores apontaram suas áreas de pesca em alto mar no rumo norte da Ilha
denominada Porto Velho. Aos que não possuem instrumentos e embarcações de médio
ou grande porte, a pesca fica mais restrita às águas interiores A pesca de curral é
freqüente e sua distribuição está nas áreas de deságüe dos afluentes. A pesca de
camarão é realizada tanto no interior dos rios quanto nas croas da maré, é tida como
atividade rentável. O projeto de cultivo de ostras está localizado no rio Emboraí Velho.
Havendo ainda a coleta de mexilhão e ostras em outras áreas. Os moradores da Ilha do
Coco pescam na região próxima a Ilha e também utilizam a maré. Comercializam seus
produtos em Nova Olinda onde também se abastecem de gelo. O mangue é amplamente
utilizado até mesmo pelos moradores das comunidades que não tem na pesca sua
principal atividade. A caça é praticada nas áreas denominadas de “capoeiras de mata”
(áreas de capoeira alta). A produção de carvão é nos roçados e áreas de pasto.
62
Figura 15a- Mapa das áreas de uso das comunidades do pólo Zé Castor (Pontinha).
63
Neste pólo notadamente predomina a atividade de agricultura . A pesca é realizada
por poucos moradores que se identificaram como pescadores. Estes utilizam currais e
pescam na maré em canoas (Figuras 15a e 15b). A concentração do uso de recursos
aquáticos está nas cabeceiras dos rios Emboraí e Coco, onde há a extração de
caranguejo e outros mariscos. Os produtos da mariscagem são comercializados na
própria comunidade ou levados à Nova Olinda. Da região de capoeira são extraídas
palhas de babaçu e najá, que são comercializadas para cobertura de casas e ranchos.
Há pastos e o carvão é produzido para comercialização em Nova Olinda. Foi localizada
uma olaria na região de Ponta Carmo.
64
Figura 16 a- Mapa das áreas de uso das comunidades do pólo Aturiaí.
65
O pólo é constituído por comunidades agropesqueiras. Os pescadores atuam na
Praia Grande e utilizam curral em áreas de estuários e região costeira (Figuras 16 a e
16b). A pesca do camarão branco é considerada de rentabilidade e a área de pesca é
nas proximidades da costa, onde há formação de praias e croas. Há pesca de tapagem
nas cabeceiras dos igarapés. Os moradores das comunidades pólo extraem caranguejo
nas áreas de mangue, assim como mexilhões, turus e ostras. As comunidades mais
distantes têm na agricultura e coleta de bacuri suas principais atividades, além de pastos
para criação de gado, e carvão. A caça é realizada nas áreas remanescente de capoeira
alta, ou “ponta de mata”.
66
As comunidades são perpassadas pela PA-462 e as residências dos moradores
estão distribuídas ao longo da estrada. Há uma dinâmica de mobilidade entre os
moradores que saem das áreas mais isoladas e se instalam ao longo das estradas para
acessarem os serviços de energia elétrica e distribuição de água, caso das comunidades
de Água Pau, que se transferiu para Ponta do Urumajó e na região de Zé Castor. As
sedes das comunidades Patal, Vila Nova, Rio do Meio, Igarapé Açu, Livramento, Aturiaí
estão localizadas cerca de 2km a 3km em ramais que chegam as margens dos rios e do
mangue.
Em geral, há moradias localizadas distantes da sede comunitária como nos pólos
Zé Castor, Jutaí, Aturiaí. Nas sedes comunitárias estão também a infraestrutura como
igrejas e escolas. Nos pólos de Patal e Aturiaí há escolas e posto de saúde na estrada, o
que facilita o acesso aos demais moradores. As casas não possuem cercas, mesmo as
que estão localizadas nas vilas centrais, exceção das áreas onde estão as fazendas de
grandes proprietários, como no caso de Aturiaí.
Nas vilas de Aturai, Nova Olinda e Perimerim existem serviços de restaurantes e
lanchonetes. Há moradores que vivem em seus lotes onde estão construídas as
residências e os espaços para guardar materiais de trabalho e produção (como carvão), e
a casa de farinha. Em geral os lotes estão voltados para a estrada, o que pode favorecer
o escoamento da produção.
Os moradores das sedes comunitárias têm suas casas em espaços menores com
aproximadamente 20x30m e nos quintais está o poço, o jirau, áreas de banho e alguns
criam pequenos animais, assim como os materiais de trabalho. Por exemplo, nas
comunidades de Perimerim e Ponta de Urumajó é comum encontrar as redes e
malhadeiras de pesca penduradas nas árvores dos quintais.
Os comunitários que utilizam os rios maiores como o Urumajó, o Emboraí e o
Aturiaí reconhecem os espaços de uso comuns e afirmaram que não há conflitos pelo
recurso natural, uma vez que cada pescador respeita a área de instalação de currais e
puçás.
Em geral os moradores entrevistados e os que se pronunciaram durante as oficinas
afirmaram que há necessidade de se “proteger o mangal”, segundo alguns deles “o
mangue daqui é rico e farto”, referindo-se a grande variedade de mariscos e peixes. É
notório o conhecimento de que a pesca de rede de tapagem é predatória, como na fala
do Sr. Paulo: “o cabra tece e estica a rede no igarapé de um lado ao outro, até o fundo, a
maré seca na cabeceira e tira todo o peixe, mata tudo, só fica com o graúdo”. No entanto,
esta prática é exercida em todas as comunidades.
67
Em conversa com um ex-agente ambiental municipal, a prática da pesca de rede de
tapagem assim como a pesca com rede de “apoita” é considerada crime ambiental e
quando há fiscalização, estas são apreendidas.
Segundo Rosa (2007), nos idos de 1998, período de concretização das
associações agropesqueiras, na Vila Nova Olinda foi elaborado e proposto um acordo de
pesca para o controle do uso das redes de tapagem e de puçás de arrasto (Figura 17).
Cabe destacar ainda que na ocasião deste diagnóstico não foi citada a ocorrência deste
documento em nenhuma entrevista, ou conversas informais ou ainda durante a oficina.
Nesta pesquisa, realizada nos anos de 2005 e 2006, a autora não faz qualquer
menção à existência Resex Marinha Araí-Peroba, quando esta unidade de conservação
já estava, na ocasião, organizando seu Conselho Gestor.
68
3.3- Identificação e caracterização de possíveis comunidades indígenas ou
quilombolas presentes na área.
Afrodescendentes, originados a partir de escravos negros, os quilombolas
sobrevivem em assentamentos humanos, muitas vezes antigas fazendas, deixados por
outros proprietários. No Brasil, foram identificados 2.228 territórios quilombolas, dos
quais, 1.826 comunidades estão certificadas no país (INCRA,2012).
O estado do Pará é o 3º na quantidade de territórios quilombolas. Estes, apesar de
existirem desde a escravatura no fim do século XIX, têm sua visibilidade social como um
fato recente, fruto da luta pela terra, a qual, na maioria das vezes, não possuem
regularização fundiária. No entanto, os quilombolas passaram a ter garantidos seus
direitos com a Constituição de 1988.
Vivem, em geral, de atividades vinculadas à pequena agricultura, artesanato,
extrativismo e pesca, variando de acordo com as regiões em que estão situados. Na
Amazônia, localizados muitas vezes ao longo de rios e igarapés, garantem sua
subsistência com a pesca, o extrativismo e a pequena agricultura. Em outras regiões, as
atividades são quase exclusivamente agrícolas.
O Pará também possui uma população muito grande de afrodescendentes, alguns
dos quais vivendo em comunidades fechadas conhecidas como Quilombos. O estado,
através do Instituto de Terras do Pará (Iterpa) e o Programa Raízes, tem comandado o
processo de cumprir a ordem Constitucional que obriga a emissão de 20 títulos de terras
para as comunidades quilombolas.
O Programa Raízes foi criado pelo governo do Pará em 12 de maio de 2000 por
meio do Decreto Nº 4.054.. Sua missão é articular dentro do governo estadual o
atendimento das demandas dos povos indígenas e das comunidades quilombolas. Trata-
se de uma iniciativa pioneira que busca estruturar uma política governamental específica
para esses setores da sociedade. O Programa Raízes é responsável por receber as
reivindicações das comunidades indígenas e quilombolas, avaliá-las, discutí-las com os
interessados e encaminhá-las para o órgão estadual competente para tratar da questão.
Além disso, o Programa Raízes coordena e acompanha a execução das ações do
governo do Pará dirigidas aos povos indígenas e às comunidades remanescentes de
quilombo. Sua atuação tem sido crucial para sensibilizar o conjunto do governo estadual
para a importância de uma política específica para estes grupos.
Além de legitimar as terras dos Quilombolas, a legislação paraense incorporou o
conceito da auto declaração como o meio probatório para a classificação como
Quilombos a “comunidade constituída por descendentes de negros escravos que
compartilham identidade e referência territorial comuns”.
69
A legislação do estado do Pará também reconhece que o espaço territorial está
associado ao espaço de gestão sócio ambiental vital à reprodução física e cultural das
comunidades quilombolas.
Na região do município de Augusto Corrêa, na comunidade denominada Peroba
dos Pretos, durante as conversas informais com os representantes dos moradores, estes
afirmaram que houve estudos para o seu reconhecimento enquanto Quilombolas e que
“essa história de ser quilombola já tem aqui desde que nasci” (Sra. Noca, 47).
É importante destacar que durante os relatos dos moradores, estes informaram
que estavam aguardando a tomada de decisão de seu território. Afirmaram ainda que em
período recente pesquisadores estiveram na comunidade para este reconhecimento e
“trouxeram projetos para construção de uma casa de farinha e formação de uma
associação”. Por meio da associação participaram de eventos em outros municípios do
estado. Ainda segundo eles “o movimento está parado”, que a comunidade deveria ser
registrada como Peroba dos Pretos, e que, ainda, “estarem um território quilombola eles
são reconhecidos e com isso podem desenvolver a comunidade”.
Em levantamentos secundários a fim de obter informação sobre a existência do
território quilombola, não foi encontrado registro deste território nos sites de acesso
(INCRA, MDA, Projeto Raízes ou Iterpa). Contudo, no site da organização Adital5 (ano de
2007) foi encontrada referência ao Quilombo Peroba no estado do Pará e frases de
lideranças locais referentes à educação. Ressalta-se que em entrevista informal junto a
um dos ACS, este informou que o Quilombo existe e em decorrência do território no
município recebe verbas adicionais para a saúde.
Não foram localizados para o município de Augusto Corrêa registro de populações
indígenas ou de reivindicações de reconhecimento deste grupo étnico.
5
ADITAL- Agência de Informação Frei Tito para América Latina é uma agência de notícias que
nasceu para levar a agenda social latino-americana e caribenha à mídia internacional.
www.adital.com.br. 13.07.07 - Brasil. Falta de titulação de terras ainda é o maior problema para
quilombolas ...
70
3.4- Identificação de grupos sociais que poderão interferir no processo de
criação da unidade, bem como suas preocupações e interesses.
Os principais grupos sociais identificados na sede do município são as
organizações de classe como o STTR e a Colônia de Pescadores e, da perspectiva
governamental, as secretarias municipais. No âmbito das comunidades, as associações
existentes foram descritas no item organização social deste diagnóstico. Reservou-se
para este item a associação mãe da Resex Marinha Araí-Peroba. Não há registros de
outras ONG’s que atuam no município.
A colônia de pescadores Z-18 tem sede própria e está localizada na sede do
município de Augusto Corrêa. Segundo sua secretária, a Z-18 foi criada na década de
1970. O associado paga R$ 7,00/mês e segundo ela “o pessoal do interior é mais
assíduo no pagamento”. Faz dois anos que os pescadores não recebem o seguro defeso
na região. Nenhum projeto ou ação está sendo proposto ou elaborado pela Z-18. A
principal atividade está na promoção dos benefícios como salário maternidade, auxílio
doença e aposentadoria.
A colônia Z-18 está vinculada à Secretaria Estadual da Pesca (SEAP) e na ocasião
deste estudo, o atual tesoureiro se encontrava em Belém, visando gestionar o retorno do
benefício seguro defeso aos pescadores locais. Segundo dados do Ministério da Pesca e
Aquicultura (MPA) existem 390 pescadores em Augusto Corrêa que possuem o Registro
Geral da Pesca (RGP), todos categorizados como pescadores artesanais. No que se
refere à ampliação da Resex Marinha Araí-Peroba, a Z-18 não soube tecer qualquer
informação, eles não estão acompanhado o processo na região. O Sindicato dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais tem sede no centro da cidade de Augusto Corrêa
e atua desde 1984 com o objetivo de garantir direitos maiores aos agricultores, tais como
acesso mais fácil aos documentos que irão garantir os auxílios do governo. O STTR
atende toda região de Augusto Corrêa e, em quase todas as Vilas e comunidades, conta
com a presença de dois delegados sindicais para agilizar, associar e informar os
moradores. São 8.769 associados inscritos e mais de 60% encontram-se inadimplentes.
Segundo o diretor, funciona no STTR desde 2007 a Secretaria de Políticas Agrárias
e do Idoso. O sindicato criou esta secretaria por meio da Confederação Nacional dos
Trabalhadores (Brasília), sendo o sindicato responsável por fazer a lotação dos membros.
A Secretaria do Idoso é responsável por fazer o cadastro do documento de posse de
terras. Para tanto os sócios pagam R$ 150,00 e não sócios R$ 300,00 pelo serviço. Esta
secretaria analisa a documentação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais para agilizar
o processo de aposentadoria. Atualmente o STTR promove a visita de um dentista a cada
15 dias para atender aos associados. O desejo da diretoria é ampliar esta visita nas vilas,
levando também médicos e serviços de manicure e cortes de cabelo.
71
O ex-presidente do STTR foi convidado pela atual prefeita do município para ocupar
a Secretaria de Agricultura, com isso a organização espera conseguir mais apoio para
projetos locais.
Quanto à ampliação da Resex Marinha Araí-Peroba, para os dirigentes do STTR
esta ação está diretamente ligada ao cadastro de moradores para recebimento de
benefícios como casas e equipamentos, e com isso a vida das pessoas irá melhorar.
As secretarias municipais de Meio Ambiente, Cultura e Saúde atuam na região das
comunidades visitadas. As três secretarias estão em processo de organização, com o
atual quadro político do município. Para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente
(SEMMA) a ampliação da Resex “deve vir associada a uma ação de preservação maior
com a promoção de fiscal ambiental em cada comunidade” e esta ampliação é
necessária “devido ocorrer o sentimento de descaso nas comunidades não
contempladas”.
A Casa da Cultura é formada de três departamentos (Cultura, Desporto e
Juventude), onde cada departamento conta com um diretor e um secretário e não possui
status de secretaria municipal. A Feira da Cultura é o principal evento e conta com a
participação de quase todas as vilas e comunidades do município. Para eles a Resex
Marinha Araí-Peroba está voltada à programas sociais e por isso deve ser ampliada.
A Secretaria de Saúde tem como missão o controle para o bem estar social do
município. Executam ações como a coleta de lixo hospitalar, as campanhas de vacinação
e regulam a quantidade de cloro na água. Atuam diretamente nas comunidades por meio
dos Agentes de Saúde Comunitários (ACS) que moram próximo ao local de atuação.
Para eles o papel da unidade de conservação “é o de auxiliar a comunidade no uso
sustentável dos recursos naturais existentes, para que a mesma altere de forma positiva
o dia-a-dia da comunidade”.
A Associação Usuários e Moradores da Resex Marinha Araí-Peroba (AUREMAP),
ou Associação Mãe foi criada em 2005 logo após o decreto de criação da unidade de
conservação, tem como objetivo, segundo o representante e atual presidente, administrar
a co-gestão da Resex. Detém assento no Conselho Gestor e atuam junto às
comunidades que são atuais beneficiarias. A associação não possui nenhum projeto
próprio. Atualmente está gerenciando os programas Habitação e Bolsa Verde e as obras
de infraestrutura (trapiche). Para o presidente da associação, a ampliação da unidade de
conservação “deve ser uma soma de territórios em conservação, importante para o meio
ambiente e conservação dos territórios marinhos. A maior parte da população se
sensibiliza pela preservação, não todos.
Não foram identificadas outras organizações não governamentais que atuam junto
aos moradores das comunidades visitadas.
72
Percepção sobre a Resex pelos moradores
Por meio das informações obtidas das entrevistas e conversas com os moradores
das comunidades visitadas analisou-se a percepção destes sobre a unidade de
conservação a ser criada. Cem por cento dos entrevistados sabem que existe uma
Reserva Extrativista Marinha no município. Quando perguntado o que é uma Resex e
quais seus objetivos, responderam que: “área para preservar, não pode cortar e roçar
nada”; “para optar pela natureza “ e ainda “cuidar do terreno e da canoa, mas sem
derrubar nada”. E, quando perguntado para que serve uma Resex, responderam: “para
reservar as coisas que precisar um dia”.
Quanto ao quesito ser a favor, ou não, ou ainda não se importar com a ampliação
da Resex ,73% afirmaram ser a favor da ampliação da unidade, apenas um disse não se
importar e os demais não souberam responder. Para 80% a ampliação da unidade de
conservação irá trazer benefícios. Entre os benefícios citados estão a possibilidade de
gerar ganhos como a concessão das casas e barcos e que os benefícios sejam para os
recursos naturais “pois já tem muita gente na comunidade”, ou “não destruir, não ter
queima onde tem fruteira” e ainda “para melhorar para si e para os filhos”.
Quanto aos ganhos que a unidade de conservação poderia promover, novamente
80% afirmaram que sim trará ganhos, dois não souberam responder e os ganhos seriam
com a criação de camarão, obtenção de treinamentos, geração de empregos, catação de
caranguejo entre outros.
Para 53% não se deveria caçar ou pescar dentro da área da Resex, destes 2
sugeriram que não se deveria, ”mas se não tiver outra coisa pra comer”. E para 33% é
correto caçar e pescar na unidade de conservação. Os demais não souberam responder.
Oitenta e um por cento dos entrevistados não conhecem o órgão responsável pela
unidade de conservação. Apenas três entrevistados afirmaram conhecer e citaram Ibama
e ICMBio.
Quando questionados sobre o que se disponibilizaria a fazer em prol da unidade, os
entrevistados afirmaram que poderiam contribuir para repassar informações ou ajudar no
que fosse necessário. Quanto à participação no quesito ambiental, 4 responderam que
poderiam contribuir para a conservação ambiental, conscientizando os vizinhos,
auxiliando na fiscalização ou ainda zelando para “ficar mais bonito”.
Em relação as atividades e ações que o governo deveria implantar na área, 40%
não souberam responder. Os demais sugeriram que o governo implante empregos para
os moradores, atue para a melhoria das condições de vida, traga infraestrutura para as
comunidades e ainda investa na educação ambiental.
73
Os problemas ambientais apontados pelos moradores dizem respeito à invasão dos
rios por pescadores de fora. Além do desmatamento e pesca predatória.
74
Figura 18- Aspectos da sede municipal e festas locais do município de Augusto
Correa-PA..
75
O mapa das áreas com potencial de uso público localiza os principais pontos
turísticos com praias e balneários da região. Embora a área possua espaços de uso
público como as praias, o acesso a estas é precário e sem infraestrutura necessária para
receber um turismo praiano. O mapa de atrativos turísticos do Município de Augusto
Corrêa (Figura 20) foi construído com base no mapa de potencial turístico elaborado pelo
CPRM (1998) e informações de campo.
76
Áreas culturais
A região do Salgado foi inicialmente ocupada por populações indígenas, que
segundo os estudos arqueológicos e paleontológicos em torno de 5.500 anos AP. Os
poucos assentamentos existentes entre as baías de Marapanim e do Caeté indicam uma
dispersão destes grupos por toda a área do Salgado. Segundo Távora et al (2010), a
Formação Pirabas ocorre descontinuamente nos estados do Pará, Maranhão e Piauí,
(tendo sido onde desde os anos de 1876 estudos registram os calcários ricamente
fossilíferos, sendo 21 no estado do Pará não dá para entender)
Nas comunidades visitadas, nas falas e conversas informais com os moradores
não ocorreram registros de áreas culturais onde poderia haver sítios arqueológicos ou
formação de sambaquis e semelhantes.
No município de Augusto Corrêa, o destaque são as festas de santos e círios
comemorados nas comunidades, além dos festejos juninos. Na ocasião segundo os
moradores há campeonatos entre as comunidades com disputas de futebol e danças de
quadrilhas.
77
Em se utilizando os itens analisados pelo estudo acima referido, buscou-se
identificar quais aspectos podem ser considerados na região em questão que poderão
gerar impactos econômicos com a ampliação da Resex Araí-Peroba.
Desta forma, a região em questão poderá gerar impactos econômicos com a
conservação da biodiversidade no que tange a: (i) serviços ambientais evitando emissão
de CO2 pela conservação das florestas de mangue, conservação e manutenção das
cabeceiras dos rios que abastecem os mangues; (ii) ICMS Ecológico que repassado ao
município pela existência de unidade de conservação em seu território poderá gerar
novos empregos e melhorias para a eficiência de serviços públicos; (iii) visitação pública
uma vez que a região oferece áreas de praias e ilhas com ninhais de aves, que pode
favorecer grupos turísticos de observadores de pássaros, por exemplo; além da
paisagem das praias.
As atividades produtivas nas unidades de conservação de uso sustentável podem
receber investimentos para desenvolver sua capacidade produtiva. No caso da área em
questão, a pesca e a mariscada, assim como a produção de farinha e seus derivados,
poderão receber investimentos para uma produção organizada e sustentável que
contribua com aumento da eficiência da cadeia produtiva, que poderá aumentar o valor
agregado, e por melhorias no escoamento da produção. Também poderá ser viável a
manutenção das florestas de bacuri, fruto nativo e com valor de mercado.
Em 2011, o Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do estado
do Pará (IDESP) realizou um estudo na região de Integração do Rio Caeté, no qual o
município de Augusto Corrêa está inserido, sobre os produtos florestais não madeireiros
(PFNM) e seus potenciais para esta região. A análise da produção, no que se refere à
agregação de valor, estimou no ano de 2012 que o sistema local foi o que mais adicionou
valor a quase todos os 34 produtos identificados, pois representou 72% do total
agregado. O bacuri foi o segundo produto, depois do açaí com melhor geração de renda
para o agroextrativista. Segundo o estudo, em âmbito estadual, o artesanato é o produto
com maior demanda, mas com menor valor retido pelo setor da produção.
Dessa forma, investimentos nos setores que realizam o beneficiamento e/ou
transformação desses produtos são necessários a fim de que as agregações de valor
sejam indutoras de geração de emprego e melhoria da renda para as populações, tanto
no âmbito local quanto no estadual, de forma a dinamizar as potencialidades das
economias locais. Além disso, busca-se aumentar a produtividade e qualidades desses
produtos ofertados e com isso reduzir impactos a biodiversidade da região.
78
3.7 - Levantamento de dados e análise dos impactos ambientais sobre os
usos alternativos do solo existentes, que estão em planejamento ou em
implementação nas áreas indicadas.
O estado do Pará possui papel de destaque na atividade mineral ocupando o
segundo lugar no ranking nacional de produção mineral, com participação que gira em
torno dos 22%, deixando-o como referência absoluta da atividade na região Norte.
Essa produção está dividida principalmente entre oito produtos minerais (94%),
quais sejam: ferro, cobre, bauxita, manganês, ouro, caulim, calcário e água mineral.
Para a região das comunidades estudadas no município de Augusto Corrêa, na
bibliografia pesquisada não foram encontradas referências à exploração de solos ou
projetos no estado. Junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DPNM)
existem 15 pedidos de estudos e pesquisas de lavras minerais para o município de Viseu.
O mapa de potencial turístico do município de Augusto Corrêa, elaborado pela
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), indica um garimpo de ouro
localizado nas proximidades da comunidade Nova Olinda, denominado Santo Antonio de
Buenos Aires, caracterizado como garimpo a céu aberto. Durante o mapeamento de uso
do solo no pólo Zé Castor houve citações de ocorrência de garimpo de ouro nas
proximidades. Há também na região intensa exploração de pedreiras.
79
Figura 21 – Mapa de hidrografia do município de Augusto Correa-PA.
Elevação e Geologia
Nesta região os valores de elevação variam de próximo a zero (2,0m – nível do
mar) a no máximo 87 metros. Estratificando-se a elevação em nove classes com
intervalos de 10 metros, verifica-se que aproximadamente 76% do município possuí
elevação até de 40 metros (Tabela 5). O dado de elevação foi elaborado com base nos
dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), organizados por Weber et al. (2004).
De uma forma geral, verifica-se que as elevações mais baixas encontram-se na
região litorânea (norte), observando-se um aumento dos valores de elevação em direção
ao interior do município (sul). Observam-se ainda valores baixos de elevação ao longo
dos rios principais (Rio Urumajó, Rio Emboraí, e o Rio Peroba e seu afluente o Rio Baçu).
A distribuição espacial das classes de elevação pode ser observada no mapa de
elevação (Figura 22).
80
Tabela 5- Área das classes do mapa de Elevação em metros para o município de
Augusto Corrêa-PA.
2
Classes (em Área (km ) Percentual
metros)
02 - 10 186,19 17,0
11 - 20 338,90 31,0
21 - 30 147,27 13,5
31 - 40 158,13 14,4
41 - 50 136,28 12,4
51 - 60 83,18 7,6
61 - 70 39,10 3,6
71 - 80 5,21 0,5
81 - 87 0,45 0,0
Total 1094,70 100,0
81
Os terrenos do município de Augusto Corrêa, não são muito antigos na escala
do tempo geológico. Do total do território, 95,9% ou pertencem à classe água ou as
Épocas Holoceno, Pleistoceno e Mioceno (Tabela 6). Estas Épocas, pela nova
classificação pertencem ao Período Neogeno, que teve seu início no Mioceno a 23
milhões de anos antes do presente. No entanto, o município de Augusto Corrêa possui
uma pequena área (4,1%) muito antiga, pertencente à Era Neoarqueano com início em
2,8 bilhões de anos antes do presente, região muito provavelmente de concentração
fossilífera (Tabela 7 e Figura 23). O mapa de geologia para o município de Augusto
Corrêa foi elaborado com base nos dados disponibilizados pelo IBGE (s.d.1)
Tabela 6 - Área das classes do mapa de geologia para o município de Augusto
Corrêa-PA.
2
Classes Área (km ) Percentual
Água 49,75 4,6
Holoceno 340,41 31,2
Pleistoceno 9,98 0,9
Mioceno 645,56 59,2
Neoarqueano 44,17 4,1
Total 1089,86 100,0
82
Figura 23 - Mapa de geologia do município de Augusto Corrêa-PA.
84
conformando feições de rampas suavemente inclinadas e de lombadas, esculpidas em
rochas sedimentares.
São em geral definidas por vales rasos, apresentando vertentes de baixa a média
declividade. Resultam da instauração de processos de dissecação atuando sobre a
superfície de aplainamento (IBGE, 2008b). O mapa de geomorfologia para o município de
Augusto Corrêa foi elaborado com base nos dados disponibilizados pelo IBGE (s.d.2)
85
As áreas denominadas de “terra firme” e rodeadas por áreas de mangue, que são
comumente denominadas de “ilhas”, são, em geral, Pediplanos.
A Planície é resultante de um Modelado de Acumulação, sendo em geral uma área
plana resultante da combinação de processos de acumulação fluvial e marinha, sujeita ou
não a inundações periódicas, podendo comportar canais fluviais, manguezais, cordões
arenosos e lagunas. Ocorre nas baixadas litorâneas, próximo às embocaduras fluviais
(IBGE, 2008b). Nesta classe encontram-se tanto as planícies fluviomarinhas (áreas de
mangue) quanto às planícies marinhas (praias).
Solos
No Município de Augusto Corrêa encontram-se quatro tipos de solo. Os mais
comuns são Latossolo Amarelo Distrófico, correspondendo a 60,9% do território, e o
Gleissolo Sálico Sódico, que cobre 31,1% do território. Juntos estes dois tipos de solo
representam 92% do território do município. Com menor importância em termos de área
aparecem o Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico e o Neossolo Quartzarênico,
representando 3,3% e 0,1% do território do município, respectivamente (Tabela 9 e
Figura 25). O mapa de pedologia para o município de Augusto Correa foi elaborado com
base nos dados disponibilizados pelo IBGE (s.d.3).
.
Tabela 9- Área das classes do mapa de solo
2
Classes Área (km ) Percentual
Água 49,75 4,6
Neossolo quartzarênico 1,30 0,1
Gleissolo Sálico Sódico 339,13 31,1
Latossolo Amarelo Distrófico 663,21 60,9
Argissolo Vermelho-Amarelo 36,47 3,3
Distrófico
Total 1089,85 100,0
86
grandes extensões de terras no Baixo e Médio Amazonas e Zonas Úmidas Costeiras
(tabuleiros). São cultivados com grande variedade de lavouras (IBGE, 2007).
Descrição do Latossolo Amarelo Distrófico (IBGE, 2007; 2008c):
Classe: Latossolo - material altamente intemperizado (alterado), com elevado conteúdo
de sesquióxidos - óxidos e/ou hidróxidos de alumínio (Gibbsita - Al(OH)3) ou ferro
(Hematita - Fe2O3)
Subordem: Amarelo - Cor do Solo
Grande Grupo: Distrófico - saturação por bases menor que 50%
Símbolo: LAd
Textura: Média
Topografia: Plano e suave ondulado
87
Figura 25 – Mapa de pedologia do município de Augusto Correa-PA.
(3)Argissolos estão amplamente distribuídos por todo o território brasileiro. Estes solos
eram anteriormente chamados de Solos Podzólicos. Estes solos têm como característica
principal a presença de um horizonte B textural (Bt). Esse horizonte B textural é formado
pela movimentação de argila dos horizontes superiores para os inferiores. Como
consequência, os horizontes acima do Bt ficam com teores menores de argila e maiores
de areia.
Embora existam Argissolos de todas as colorações, a maioria deles tem cores
amareladas (UFLA, s.d.). Os teores de Fe2O3 normalmente baixos. São profundos a
pouco profundos, moderadamente a bem drenados, com textura muito variável, porém
com predomínio de textura média na superfície e argilosa em subsuperfície, com
presença ou não de cascalhos. De uma maneira geral, pode-se dizer que os Argissolos
são muito susceptíveis à erosão, sobretudo quando o gradiente textural é mais
acentuado, há presença de cascalhos e relevo mais movimentado com fortes declives.
88
Nesse caso, não são recomendáveis para agricultura, prestando-se para pastagem e
reflorestamento ou preservação da flora e fauna. Quando localizados em áreas de relevo
plano e suavemente ondulado, esses solos podem ser usados para diversas culturas,
desde que sejam feitas correção da acidez principalmente quando se tratar de solos
distróficos ou álicos e adubação (Santos et al, s.d.).
(4)Neossolo Quartzarênico (Areia Quartzosa), em geral, são solos originados de
depósitos arenosos, apresentando textura areia ou areia franca ao longo de pelo menos 2
m de profundidade. Esses solos são constituídos essencialmente de grãos de quartzo,
sendo, por conseguinte, praticamente destituídos de minerais primários pouco resistentes
ao intemperismo. Esta classe, embora pequena em termos de área (0,1%), é muito
importante, pois representa as praias, que possuem um forte apelo turístico (Sousa e
Lobato, s. d.).
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Tabela 10 – Área das classes do mapa de cobertura vegetal e uso da terra
Classe Área (km2) Percentual
Agropecuária 385,83 36,5
Água 36,37 3,4
Área Urbana 3,22 0,3
Campos 3,17 0,3
Floresta 277,52 26,3
Núvem 90,66 8,6
Vegetação Secundária 260,12 24,6
Total 1056,88 100,0
90
3.9 - Levantamento de dados secundários do meio biótico.
Especificamente sobre a área visitada não há referências bibliográficas que
destaquem o meio biótico como um todo. Dentre os estudos realizados na região
predominam os realizados com a pesca em todos os níveis (ver banco de dissertações e
tese UFPA e UFPA-Bragança). No entanto, foi possível resgatar de publicações que
citavam a região como entorno ou municípios vizinhos. Além desses utilizou-se das
informações obtidas dos questionários e conversas informais com entrevistados e
moradores (ver item 3.2 deste relatório).
O Nordeste Paraense é a área mais antiga de colonização na Amazônia com sua
cobertura vegetal original já quase que 100% desmatada. A maior parte da região
atualmente apresenta-se com constituição florística de capoeiras com várias idades e
muito pouca vegetação primária, a qual foi moderadamente preservada, encontrando-se
somente em pequenas manchas esparsas, onde são raras as essências da vegetação
original.
A região tem clima tropical úmido e segundo a classificação de Koppen, é do tipo
Awi, com precipitação pluviométrica anual, em torno de 2.100mm, com períodos definidos
de chuvas abundantes (janeiro a junho) e estiagens (julho a dezembro). A temperatura
média anual é de 26,0oC. Os meses de outubro a novembro os mais secos (EMBRAPA,
1998).
Os estuários com a vegetação predominante de mangue são considerados dentre
os sistemas mais produtivos em termos de produção primária formação de substâncias
orgânicas ricas em energia, permitindo a fixação de carbono no ambiente (Pereira, 2002).
A vegetação herbácea ocupa áreas alagadas com influência pluvial e de águas
salobras, estando representada pelos pântanos salinos vegetados. Os campos salinos
estão cobertos por gramíneas e ciperáceas ocorrendo sobre os cheniers e dunas (Souza
Filho, 1995). A riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas
sejam os grandes “berçários” naturais, tanto para as espécies características desses
ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras
durante, pelo menos, uma fase do ciclo de vida.
91
oleraceaMart.), coco-d'água (Cocus sp) e bacaba (Oenocarpus bacaba Mart.) (BRASIL,
1973; Oliveira et al., 1998) (Figura .27)
As principais espécies vegetais do mangue utilizadas pelos moradores são o
Mangue-branco ou Tinteiro (Laguncularia racemosa) e o Mangue vermelho ou Mangueiro
(Rhizophora mangle). Os usos dados a essas espécies implicam em construções para
currais, casa e alguns moradores citaram utilizar a raiz de espécies do mangue como
remédios.
Figura 27- Aspectos das áreas impactadas e uso da terra na região visitada.
92
São citados em algumas comunidades como “já desaparecido”, tanto essas fibras
antes utilizadas para confecção de materiais como paneiros e esteiras estão sendo
substituídas por outras mais abundantes como a Maurithia flexuosa (Figura 28)
93
A atividade pesqueira faz parte das mais antigas tradições dos habitantes do litoral
amazônico, que mantiveram sua riqueza cultural nas formas de exploração dos recursos
naturais, mesmo com a introdução das transformações socioculturais impostas pelo
desenvolvimento econômico na região (Maneschy, 1993; 2003).
Os manguezais assim como as florestas tropicais úmidas encontram-se sob
ameaça No entanto os mangues não tem recebido tanta atenção, no que se refere a
conservação deste ecossistema. Os manguezais e o ambiente estuarino mantêm um
ciclo de exportação de material orgânico em decomposição e nutrientes provenientes do
mangue para as águas do mar, que favorecem a região para a produção pesqueira.
Desta forma a diversidade de peixes, crustáceos e mariscos é rica, de importância
econômica local e regional. A lista de espécies identificadas para a região estudada
chega a mais de 50 espécies de peixes, 10 de moluscos e 6 de crustáceos.
As aves são as espécies mais abundantes tanto pelo numero de citações dos
moradores quanto à visualização in locu. É possível observá-las nas áreas que margeiam
os rios, nas proximidades das estradas e em alguns quintais das moradias,
principalmente as garças brancas pequenas (Egretta thula) e guarás (Eudocimus ruber).
Os répteis podem ser observados nos quintais como os lagartos e camaleões
(Iguana sp) este últimos, segundo relato em algumas comunidades são caçados pelos
meninos no período de verão (quando há queimada para cultivo) que consomem os ovos
e os animais. No mangue foi citada a ocorrência de jacarés e quelônios.
Os mamíferos, segundo Fernandes & Andrade (2003) a presença de muitas
espécies de mamíferos nos manguezais parece ser determinada pelo seu ciclo de vida,
que por muitas vezes inclui a utilização paralela dos recursos disponíveis nos
ecossistemas contíguos. Na região estudada onde já não há espaços vegetais que
suportem mamíferos de grande porte como Felinos e Perissodátila , este já não ocorrem.
Durante o exercício de identificação dos mamíferos terrestres, por meio das pranchas,
alguns moradores chegaram a declarar “esses bichos já não existiam aqui quando eu me
entendi”. Dentre os animais apresentados estavam a anta (Tapirus terrestris), e a irara
(Eira barbara) e o veado vermelho (Manzana americana). Os moradores citaram mais de
35 mamíferos.
Quanto à ocorrência de espécies endêmicas na região os moradores entrevistados
ao serem questionados “Existe algum animal que você só tenha visto nesta região e que
você nunca viu em outro lugar?” foram unânimes em afirmar que não há.
Dentre as espécies animais que já não ocorrem na região, os moradores citaram os
Artiodáctilos (veados, caititu e porco do mato) entre os mamíferos; os Piciformes e
Opisthocomiformes (tucanos e ciganas) entre as aves e os peixes da família Serranidae e
Carcarrhinidae (meros e cação).
94
3.10 - Realização de reuniões participativas com as comunidades
Conforme já descrito na metodologia, foram realizadas cinco oficinas nas
comunidades pólo. Desta forma, as oficinas ocorreram em Ponta do Urumajó, Patal,
Nova Olinda, Zé Castor e Aturiaí.
As reuniões foram organizadas pelas lideranças, coordenadores de comunidades e
os moradores com o apoio da equipe e realizadas sempre nos horários propostos pela
comunidade.
Em todas as oficinas foi proposto e aceito como dinâmica o esclarecimento das
atividades da equipe, realização de exercícios para coleta de dados como: o
mapeamento das áreas de uso dos recursos naturais, o diagrama de Venn e a matriz
histoecológica.
Moradores das comunidades adjacentes foram convidados e as atividades foram
integradas.
A dinâmica da oficina contou ainda com uma “seção” de esclarecimentos sobre
dúvidas existentes quanto ao processo de ampliação da unidade de conservação, o
modo de vida de moradores e usuários de uma Resex Marinha. Este último item contou
com a participação do presidente da Associação Mãe da Resex Marinha Araí-Peroba.
Salvo exceções as dúvidas dos moradores em geral se detiveram em três
temáticas: o processo de ampliação da unidade de conservação e a chegada dos
benefícios e o que se pode ou não fazer depois que ampliar a Resex em questão.
Cabe destacar que em nenhuma das oficinas realizadas houve problemas ou
conflitos. Em todas as oficinas houve presença de homens e mulheres que participaram e
deram opiniões. É importante ressaltar que em todas as comunidades foram denunciados
invasões com perda de recursos naturais e conflitos entre os moradores locais e
pescadores e catadores externos.
Na comunidade de Aturiaí foi proposto, elaborado, assinado e entregue ao
representante da unidade de conservação, um documento para ser encaminhado ao
Conselho Gestor da Resex Marinha Araí-Peroba e a Associação Mãe solicitando
providências imediatas quanto à invasão de pescadores desta unidade de conservação
nas áreas das demais comunidades.
Na comunidade de Patal os participantes manifestaram insatisfação quanto a
ausência de informações sobre a unidade de conservação, principalmente sobre a
“chegada dos benefícios prometidos desde o tempo do o Chico do Arai em 2007”. Na
ocasião eles afirmaram que a proposta era “se aceita a ‘resec’ ganha casa”. Foram dados
os esclarecimentos necessários para o entendimento do processo e o que significa o
recebimento dos benefícios e surgiram questionamentos que foram devidamente
sanados sobre o funcionamento do conselho gestor da unidade.
95
Na comunidade Zé Castor, um número expressivo de pessoas compareceu a
oficina, e em especial as mulheres. Estas, segundo elas foram convidadas a vir para a
reunião “porque o pessoal estava cadastrando para o recebimento das casas pela
‘resec’”. Uma vez feito o esclarecimento às senhoras, algumas permaneceram e outras
se retiraram.
No pólo Nova Olinda dois temas foram polêmicos: a situação da invasão de
pescadores da Resex Araí-Peroba e a situação de famílias que estão sendo atendidas
pelo Programa Bolsa Verde. O presidente da AUREMAP, afirmou que levará ao
conhecimento da diretoria e do gestor a situação apresentada.
96
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