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V SRST – SEMINÁRIO DE REDES E SISTEMAS DE TELECOMUNICAÇÕES

INSTITUTO NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES – INATEL


ISSN 2358-1913
SETEMBRO DE 2016

FEC: características, aplicações e sua


importância para os sistemas DWDM
Alexandre Mota de Oliveira Santos & André Luís da Rocha Abbade

como consequência erros na interpretação deste pelo receptor


Abstract—This paper covers a brief overview about FEC and [1][3].
the motivations for applying it in DWDM systems with a short A evolução tecnológica da indústria eletroeletrônica nas
approach on the OTN standard. Complementary, an analysis últimas décadas permitiu o desenvolvimento e fabricação de
about the variables needed to take in account when projecting
DWDM systems is presented and how FEC is relevant in such
componentes opto eletrônicos cada vez mais robustos, que
cenarios. proporcionaram melhorias significativas na transmissão de
Index Terms— FEC, OTN, DWDM projects. sinais a grandes distâncias [3].
Resumo—Este artigo apresenta um quadro resumido do FEC e Logo, percebeu-se a necessidade em se desenvolver técnicas
as motivações para seu uso em sistemas DWDM, com uma breve paralelas para contornar os problemas impostos. Com a
descrição do padrão OTN. De modo complementar, é realizada evolução dos processadores, aliada ao desenvolvimento de
uma análise sobre as variáveis que devem ser consideradas
meios computacionais permitiu que componentes DWDM
quando são projetados sistemas DWDM, bem como a relevância
do FEC para estes cenários. atuais sejam capazes de transmitir os sinais e ainda corrigirem
Palavras chave—FEC, OTN, projetos de DWDM. erros através do FEC (Forward Error Correction).
Neste artigo, desenvolve-se um breve estudo sobre este
importante componente de sistemas ópticos, objetivando
I. INTRODUÇÃO demonstrar as motivações, eficiência e aplicações deste nos
sistemas DWDM, de modo que possa servir de tutorial base
Os sistemas DWDM (Dense Wavelength Division tanto para estudantes quanto para profissionais da área de
Multiplexing) [1][3][6], são sistemas reconhecidos pela alta Telecom e afins.
capacidade de transmissão de dados e já consolidados como
principal tecnologia para transmissão a longas distâncias [1]. II. RECOMENDAÇÕES ITU-T G.709 E G.872
Dentre seus diversos usos, os dois principais são: transmissão
de dados em backbones de redes de telecomunicações e cabos O ITU-T (International Telecommunication Union -
submarinos [3]. Telecommunication Standardization Sector) é o braço de
Tal capacidade elevada deve-se ao meio de propagação do telecomunicações dentro da ITU (International
sinal (a fibra óptica) e ao elemento condutor (a luz). Graças às Telecommunication Union) e assim como nos demais setores,
características físicas intrínsecas da luz, como a imunidade a é o responsável pelas diretrizes das telecomunicações em
ruídos eletromagnéticos e latência baixa, é possível que altas âmbito internacional.
taxas de transmissão de bits trafeguem em distâncias (spans) O ITU-T é quem determina o padrão OTN (Optical
da ordem de centenas de quilômetros conseguindo, deste Transport Network) sendo este o padrão corrente adotado
modo, um fator kbps/km de grandezas impossíveis de serem pelos fabricantes de equipamentos de DWDM do mundo todo.
atingidas em outros meios com as tecnologias disponíveis O padrão G.872, é o responsável pela arquitetura de redes
atualmente [1][2]. de transporte óptica, e tem sua origem no ano de 1999; a
Uma vez que não existe meio perfeito, a fibra, como todo versão corrente (edição 3.0) é de outubro de 2012. Já o padrão
material, apresenta alguns “pontos fracos”, dentre eles a G.709 dita as normas de “interfaces para a rede de transporte
dispersão (cromática, modal e por modo de polarização PMD óptica” e sua origem remonta ao ano de 2001, sendo a versão
(Polarization Mode Dispersion) efeitos não-lineares, e corrente a edição 4.2, também de outubro de 2012 [4].
atenuação do sinal, embora bastante baixa, que podem ter Nas próximas seções, o padrão OTN definido pelo ITU-T é
descrito de forma resumida visando o trailer FEC do quadro
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Nacional de OTU.
Telecomunicações, como parte dos requisitos para a obtenção do Certificado
de Pós-Graduação em Engenharia de Redes e Sistemas de Telecomunicações.
Orientador: Prof. André Luís da Rocha Abbade. Trabalho aprovado em
09/2016.
III. OTN: REDE ÓPTICA DE TRANSPORTE TABELA I
PARÂMETROS DO ALGORITMO REED-SOLOMON ADOTADOS PELO PADRÃO G.709
[4].
Assim como os modelos OSI (Open Systems
Interconnection) e TCP/IP (Transmission Control s Tamanho do símbolo 8 bits
n Símbolos por palavra-código 255 bytes
Protocol/Internet Protocol), a OTN, definida pelo ITU-T, k Símbolos de informação por 239 bytes
baseia-se no conceito de níveis hierárquicos, sendo esta cada palavra-código
composta de três camadas de rede: OCH (Optical Channel),
OMS (Optical Multiplex Section) e OTS (Optical
Transmission Section). V. GANHO EM CÓDIGO
O sinal original, ilustrado na Figura 1 e indicado como
cliente, é formatado adicionando-se um cabeçalho (overhead), Ganho em código, em essência, é a menor probabilidade de
formando o quadro OPU (2) (Optical Payload Unit). que ocorram erros na informação decodificada graças à
atuação do FEC. Trata-se, portanto, de uma comparação entre
o nível de erros de um receptor com e sem atuação do código
corretor.
O método utilizado para se mensurar este parâmetro é a
correlação de, dado um determinado nível de SNR (Signal
Noise Rate) na entrada de um sistema qual o nível de BER (Bit
Error Rate), ou seja, a taxa de erro de bits resultante [4][6][9].
A SNR pode ser determinada de uma das três formas: como
fator de qualidade (fator “Q”), como Eb/No (relação entre
energia de bit e nível de ruído), ou via OSNR (relação de
sinal-ruído óptico), apresentadas a seguir.
Fig. 1. Estrutura em camadas padrão OTN [5].

Este, por sua vez, passa a ser considerado como um quadro A. Método de fator “Q”
único (payload) para que possa, então, ser processado pela
camada imediatamente inferior ODU (Optical Data Unit), a É o método estatístico denominado como “fator de
qual adiciona seu cabeçalho de controle, formando o quadro qualidade” na determinação em ganho de código, sendo este o
ODU (3). Por fim, o quadro ODU é então mapeado com um método aplicado em maior escala. Representa a correlação
cabeçalho OTU (Optical Transport Unit) e do trailer FEC, entre a BER e o nível de voltagem onde a BER possa ser
formando o quadro OTU (4). O FEC é foco do presente artigo determinada com precisão. Na prática, a técnica aplicada ao se
e será melhor desenvolvido nos tópicos seguintes. medir este parâmetro é pelo “método do diagrama de olho”,
bastante difundido em telecomunicações, de um modo geral
[6][9].
IV. O CÓDIGO REED-SOLOMON

O FEC (Forward Error Correction) trata de um código


algorítmico-matemático, o qual é capaz de realizar correções
de dados em tempo real, melhorando a robustez do sistema.
Como descrito na seção anterior, é definido na camada Fig. 2. Representação do “diagrama do olho” para um dado fluxo de bits. [6]
“mais baixa” do ITU-T; o código adotado pelo padrão é o de
Reed Solomon RS(255,239) [4]; a OTN utiliza algoritmo com Conforme ilustra a Figura 2, o diagrama de olho é
entrelaçamento de 16 bytes, o qual permite um ganho bastante observado no osciloscópio através da coleta de amostras
significativo na relação sinal-ruído da ordem de 6,2 dB [1][4]. variáveis do tipo pseudoaleatórias, realizada por um receptor
Os códigos Reed-Solomon são definidos na forma RS(n,k), óptico. O sinal óptico é então plotado no eixo vertical,
onde n refere-se ao número total de símbolos por palavra- enquanto a taxa de sinalização óptica corresponde a varredura
código, e k ao número de símbolos de informação [4][9]. Em na horizontal, gerando um diagrama de formato de olho
suma, os parâmetros do G.709 são apresentados na Tabela 1 similar ao ilustrado na Figura 3.
[4]: A análise é feita observando-se o formato do olho, onde
quanto mais fechado, maior a distorção do sinal devido ao
ruído e/ou interferência inter-simbólica.
Fig. 3. Representação do “fator Q” baseado no diagrama do olho [6].

Observando-se a Figura 3, nota-se que quanto mais afastados


os pontos indicados pelas setas, melhor a recuperação de
Fig. 5. Comparativo da BER através do método de fator Q entre os métodos
dados sob os efeitos de ruído. de código In Band (vermelho), Out Band (preto) e sem Overhead (cinza) [4].
A equação matemática que o define é dada por [4]
Comparativamente nota-se que, fazendo uma correlação
Q = ( µ 1 − µ O ) /(σ 1 + σ 0 ) , (1)
entre a linha de plotagem do código do tipo “In” (representada
na cor preta), tomando-se como referência a taxa de erros
onde µ = valor médio de nível “1” (ON), σ1 = desvio-
1
(BER, à esquerda) de 10-15 nota-se que o “fator Q” é de 18 dB.
padrão de nível de ruído do estado “1” (ON), µ0 = valor Seguindo à esquerda, mantendo a mesma linha de referência
médio de nível “0” (OFF) e σ0 = desvio-padrão de nível de horizontal, é possível verificar que a linha correspondente ao
ruído no estado “0” (OFF). código do tipo “Out Band”, representado pela linha de cor
De forma sintática, a Equação (1) descreve a relação entre o vermelha, corresponde à um ‘fator Q” próximo dos 11,8 dB,
sinal de pico a pico e o ruído, ilustrada na Figura 3. Ela está reforçando a informação de ganho em código apresentada
diretamente ligada ao fator de decisão de um receptor, anteriormente.
mediante o sinal elétrico presente na recepção, ou seja,
impacta diretamente na conversão de um sinal elétrico em B. Método de Eb/N0
“bit” de informação.
Eb é definida como a energia do sinal multiplicada pelo
tempo de duração do bit, ou seja, a energia do bit, enquanto
que N0 é a energia espectral do ruído [4][6][9]. Logo, a
relação Eb/N0 corresponde ao produto entre a SNR e a razão
da largura de banda sobre a taxa de bits dada por

Eb/N0 = SNR * (largura de banda/taxa de bits). (2)

O gráfico da Figura 6 apresenta esta correlação, onde


adotando novamente o parâmetro de BER igual a 10-15,
observa-se que a linha mais à direita, correspondente aos bits
não-corrigidos, coincide com o valor de Eb/N0 de 15; em
contrapartida, a linha mais à esquerda, com uso do FEC,
Fig. 4. Visualização do sinal no domínio do tempo (à esq.) e respectiva apresenta um valor em torno de 8,8 dB O ganho em código de
função densidade de probabilidade (probabilidade de identificação de bit) [1].
6,2 dB. Isto coincide com o demonstrado no tópico anterior,
que é a diferença entre estes dois parâmetros, e está mostrado
É comprovado que um sistema que opere com BER de 10-15
no eixo horizontal.
possui um fator Q de 18 dB sem a utilização de FEC, enquanto
Também observa-se que, quanto menor a BER maior o
que com o código RS(255,239), adotado pelo ITU-T, o valor é
ganho em código, comparando as diferenças de ganho de 6,2 e
reduzido para 11,8 dB, ou seja, apresenta um ganho de código
5,86 dB para BER de 10-15 e 10-13, respectivamente. Ou seja,
em torno de 6,2 dB [4][6].
há um limite para a taxa de erros que o código é capaz de
Isto pode ser visto no gráfico da Figura 5, o qual faz uma
corrigir.
comparação dos métodos In Band, Out Band e sem overhead
entre a BER (eixo vertical) e o fator Q (eixo horizontal).
A. Códigos corretores de erro: “In Band”

Os códigos In Band são códigos em que bits de redundância


são inseridos em octetos livres presentes no cabeçalho do
quadro. Pelo fato do código de correção ser aplicado
diretamente no quadro, o mesmo permite que não haja perda
na eficiência do protocolo. São normalmente utilizados pelos
padrões SONET (Synchronous Optical Network) e SDH,
sendo que, neste último, os bytes são alocados no bloco SOH
(Section Overhead) do quadro daquele protocolo [4][8].
Considerando que há um número limitado de octetos livres
Fig. 6. Comparativo entre a não utilização do FEC (apontado como
no cabeçalho dos quadros destes protocolos e que em taxas de
“Uncorrected”; “não corrigido”) e com a utilização do FEC (G.709): ganho transmissão baixas praticamente inexistem e dada a
em torno de 6.2 dB. [4] necessidade do código de correção em ocupar octetos livres no
cabeçalho (overhead), é tecnicamente impossível a aplicação
C. Método de OSNR deste tipo de código em todas as taxas de transmissão.
Somado a isto, tal código utiliza o método BCH-3 [8] o
Neste método, toma-se como referência uma determinada qual, apesar de apresentar desempenho razoável, não é
BER e relaciona esta a valores de OSNR, medidos com o uso suficientemente robusto contra efeitos de PMD.
de FEC. O gráfico da Figura 7 [6] apresenta o resultado de Esses fatores, aliados à substituição das tecnologias SONET
medições teóricas e práticas de sistemas reais, comparando as e SDH por outras mais recentes – principalmente o DWDM -,
diversas técnicas de FEC. contribuíram para que os códigos In Band se tornassem
obsoletos.

B. Códigos corretores de erro: “Out Band”

Oposto aos códigos In Band, os códigos Out Band


apresentam uma abordagem de quadro de comprimento fixo
em tamanho de bits, denominada “digital wrapper”, algo
como, “empacotador digital”.
A G.709 do ITU-T define que este “empacotador” esteja
posicionado entre a fonte de dados e o transceiver responsável
pelo envio dos bits [8]. Deste modo, o quadro advindo de uma
interface SONET/SDH é processado pelo bloco para que
possa ser transmitido de forma transparente.
Fig. 7. Comparativo entre os diferentes métodos de correção de erro [6] A Figura 7 ilustra de forma gráfica este conceito.
Pode-se notar que, tomando como exemplo a referência de
BER 10-15, que seria resultado de uma transmissão sem
nenhum tipo de código corretor (Unencoded na Figura 7), o
FEC In Band do SDH, descrito na sessão seguinte, apresenta
um ganho de 4 dB, enquanto que o FEC standard do ITU-T
RS(255,239), 6,2 dB – em concordância com os resultados
demonstrados anteriormente. Já o FEC de segunda geração, ou
EFEC (Enhanced FEC), alcançou resultados em torno 9,5 dB
na prática (measured) chegando a níveis próximos de 10 dB, Fig. 8. Digital Wrapper: “empacotador digital” alocado entre os blocos de
em simulações computacionais (theoretical). transmissão/recepção e o framer [8].

A adaptação do bloco ocorre através do código de Reed


VI. CÓDIGOS CORRETORES DE ERRO Solomon - RS(255,239), mais especificamente, o qual trabalha
na ordem de símbolos (ao invés de bits).
O código referencia os símbolos/blocos como palavras-
De modo simplificado, os códigos corretores de erro podem código e, uma vez que atua com blocos e não bits, torna-se
ser classificados em dois tipos: In Band e Out Band, os quais
bastante eficaz contra erros de “rajada” (burst). Estes tipos de
são definidos nos parágrafos seguintes.
erros são devidos principalmente aos efeitos não-lineares e à [4][8][9]. Como resultado do interleaving, cada uma das
interferência inter-simbólica [1][3]. Portanto, estão dentre os colunas é justaposta na horizontal em processo análogo ao
tipos mais comuns nas telecomunicações, tanto de um modo realizado em matrizes na matemática.
geral quanto, principalmente, nas comunicações ópticas. A Figura 11 ilustra o esquema de como este entrelaçamento
é realizado, resultando na configuração do bloco apresentado
na Figura 12, sendo este o bloco transmitido pelo sistema
VII. ESTRUTURAS DOS QUADROS (FRAMES) DO PADRÃO OTN DWDM de fato.

O quadro OTN possui comprimento total de 255 octetos,


sendo um octeto, o primeiro, para controle e agrupamento de
quadros e os últimos 16 octetos utilizados como redundância
[4][9]. Logo, o payload, ou seja, a carga “útil resultante da
palavra-código abrange 238 octetos (daí a nomenclatura
RS(255,239) do ITU-T: 255 octetos totais, sendo 239 de
informação acrescentados de mais outros 16 de redundância).
A estrutura do quadro, palavra-código, definido pelo padrão
OTN é ilustrada na Figura 8.
Fig. 11. Entrelaçamento de dados (interleaving) [9].

Fig. 12. Estrutura completa do quadro OTN. [8]

Fig. 9. Estrutura do quadro OTN com respectivo overhead (representado A configuração faz com que os dados (octetos – bits, em
“em verde”) e redundância em FEC (“magenta”). [8]
última instância) sejam redistribuídos pelo quadro de modo
Deste modo, a informação recebida pela fonte é encapsulada que os erros, caso ocorram, também o sejam fazendo com que
em palavras-código com o formato relacionado acima e, uma eventuais erros ocorram da maneira mais uniforme possível.
vez que vão sendo geradas, são empilhadas em sequência de A natureza do código Reed-Solomon, somada ao
16 linhas, formando um quadro, conforme ilustrado na Figura entrelaçamento de dados do padrão OTN, e ao processamento
9 [8]. paralelo do FEC faz com que, deste modo, a correção de erros
seja realizada de modo bastante eficaz, sendo esta a maior
vantagem do código e sua comprovada robustez.

VIII. VARIÁVEIS CONSIDERADAS EM PROJETOS DWDM

A relação de sinal-ruído óptico (OSNR) é determinada pela


correlação entre ambos os parâmetros; ou seja, de modo
simplificado, trata-se da razão matemática entre o nível do
sinal e o nível do ruído (ambos na escala de decibel, dB)
[1][3]. Logo, quanto maior seu valor, “melhor” para a
operação do sistema. O parâmetro define a “sensibilidade”
Fig. 10. Estrutura do quadro OTN com “empilhamento” de linhas. [8]
mínima do componente e é informado pelo fabricante do
equipamento; os módulos “transponder 100 G” do fabricante
Como cada uma das 16 sub-linhas, palavras-código, é PadTec, por exemplo, operam na faixa de 12 dB [10].
processada e tratada de forma independente por 16 Tal OSNR pode ser aferida em todos os estágios que
codificadores/decodificadores FEC, eventos em rajada não compõem o sistema DWDM, porém é dedicada uma atenção
acarretam sobrecarga para um único decodificador [8][9]. especial na recepção, pois é nesta fase em que a relação é
Uma vez construído este bloco, o processo de determinante para a distinção dos níveis necessários para
encapsulamento realiza ainda uma última formatação, determinar-se o bit de informação é “zero” ou “um” – Método
agrupando 4 destes blocos em sequência antes que estes sejam de fator “Q”; “gráfico do olho” (seção IV.A deste artigo) –,
transmitidos para a etapa seguinte; trata-se de um rearranjo dos incidindo diretamente na BER do sistema.
octetos, o qual a ITU-T caracteriza com o termo interleaving Entretanto, considerando que o sinal transmitido sofre
degradação no decorrer do percurso – devido à atenuação B. Trechos com longas distâncias
provocada pela fibra, conforme descrito anteriormente, e que Para que sejam atingidas longas distâncias, torna-se
em contrapartida o ruído tende a aumentar, é natural que a mandatório potências altas na transmissão, uma vez que o
condição ideal seja difícil de ser alcançada na maioria dos percurso atenua o sinal transmitido, a fim de garantir uma
casos; soma-se a isto possíveis efeitos não-lineares intrínsecos. potência adequada no receptor, objetivando a melhor OSNR
Uma forma de se minimizar o impacto dos efeitos não- possível. Entretanto, deve-se ficar atento ao fato de que
lineares, utilizada na prática, é a aplicação de amplificadores potências altas podem incitar efeitos não-lineares e estes, por
Raman, os quais permitem um ganho extra em distância sem sua vez, comprometem a BER. Assim como no caso anterior,
que seja comprometida a OSNR de forma grave. Em alguns pode se cogitar o uso de transponders com FEC, uma vez que,
casos, são utilizados dois amplificadores deste tipo, sendo um como já descrito, são mais robustos e podem atuar em caso de
na transmissão o outro na recepção, onde são obtidas eventuais erros de blocos provocados por oscilações ou por
distâncias ainda maiores. Outra possibilidade para uso deste algum outro motivo.
tipo de configuração com dois “Ramans” seria nas situações
onde tráfego de DWDM seja sobre fibras em condições
precárias de conservação, onde o parâmetro de atenuação pode C. Expansão no número de canais do sistema
estar muito acima do esperado. Há de se observar, no entanto, Uma vez que um sistema DWDM é alinhado, ou seja, a
que a instalação de Ramans requer todo um cuidado e gastos potência na recepção do site é distribuída proporcionalmente
adicionais com cordões especiais (fibras de alta potência). entre os canais (transponders) de forma ponderada, não é
Do ponto de vista estratégico, operadoras tendem a desejável que ocorram mudanças no projeto proposto
elaborar projetos onde o span entre os sites seja o mais inicialmente.
distante possível e que, preferencialmente, não sejam Entretanto, pode ocorrer de, devido à uma demanda
utilizados estágios de regeneração, pois estes implicam em imprevista e/ou emergencial, a necessidade de incluir um ou
maior custo de projeto e operacional. mais canais em determinado site.
É de conhecimento geral que grandes distâncias, somadas Uma das alternativas, nestes casos, é a inserção de
aos drawbacks característicos das fibras, implicam em piora na transponders com FEC exigindo uma readequação nas
qualidade da relação sinal-ruído (OSNR) [1][3][6]. Portanto, potências visando distribuir a SNR da melhor forma, de modo
para que o sinal seja transmitido do emissor ao receptor com a privilegiar os níveis dos canais que não tenham o recurso,
sucesso, torna-se mandatório aplicar potências altas na preterindo os demais (com FEC), uma vez que, com a correção
transmissão a fim de garantir uma potência adequada no por código pode-se trabalhar em condições mais precárias.
receptor visando a melhor OSNR possível. No entanto, há de Em casos extremos, a substituição de todos os canais por
se observar que potências altas podem incitar efeitos não- outros com FEC pode também ser uma alternativa, evitando-se
lineares e estes, por sua vez, comprometem a BER. Há ainda assim, custos com substituição de amplificadores, inserção de
outro agravante ainda mais preocupante: fibras em condições Raman, etc. Tal atividade exigiria realinhamento total (ou
inadequadas de operação; ou seja, com fatores de atenuação parcial) da rota, acarretando em maiores custos operacionais
maiores que os recomendados. devido ao número de intervenções , as quais,
Todas estas variáveis devem ser consideradas quando da consequentemente, implicam em interrupções programadas
implementação do sistema, pois podem colaborar positiva ou dos serviços.
negativamente na BER, de modo que o FEC deva ser mais ou
menos atuante (a depender das condições de SNR). D. Mitigação dos efeitos produzidos por efeitos não-
Na próxima seção, são apresentados alguns tópicos [11] lineares
onde o uso do FEC ajuda a contornar algumas dessas
Efeitos não-lineares estão dentre as maiores causas de
inconveniências, auxiliando na otimização do projeto.
penalização de OSNR. Deste modo, sistemas em que a OSNR
seja crítica por conta de tais efeito, ou em casos onde possa vir
IX. CENÁRIOS INDICADOS PARA A UTILIZAÇÃO DE
a ocorrer, a utilização de transponders com o FEC é uma
TRANSPONDERS COM FEC
alternativa viável, dada a robustez característica daquela
tecnologia já descrita neste artigo.
A. Redução de trechos com regeneração
Operadoras de backbone tendem a elaborar projetos onde o E. Robustez às degradações no meio de transmissão
span entre os sites seja o mais distante possível sem utilizar Em casos onde as características indesejadas da fibra em
estágios de regeneração. A decisão pode tanto ser comercial, condições urbanas sejam conhecidas, ou onde exija-se maior
estratégica ou devida a dificuldades impostas pela geografia. garantia de disponibilidade, a utilização de transponders com
Uma vez que distâncias maiores implicam em piora na FEC é recomendada, pois a robustez destes garante que em
relação sinal-ruído (OSNR), o FEC atua nestes casos, situações adversas a transmissão não seja comprometida.
compensando o déficit de sinal na recepção. Nestes casos, tende-se a alinhar o sistema de modo que os
níveis de FEC estejam próximos de zero, garantindo assim [10] (datasheet) LightPad i6400G Line Cards
uma margem de segurança. 100G, Datasheet DST100G0815V1PT, Padtec S/A. Disponível:
http://www.padtec.com.br/wp
Com isto, caso o sistema venha a sofrer degradações, o FEC content/uploads/2015/07/DST100G0815V1PT.pdf
assume o controle da situação e através de monitoramento [11] V. Cavalcante, Rede de Transporte – OTN - Optical Transport
intensivo do sistema é possível identificar a falha, dando uma Network, Santa Rita do Sapucaí: Inatel, 2014.
margem segura para análise e atuação em tempo hábil, sem
que seja comprometida a qualidade do serviço. Uma vez com Alexandre Mota de Oliveira Santos nasceu em Limeira, SP, em 14 de
acesso remoto, correções pontuais podem ser realizadas, julho de 1981. Possui o título de Tecnólogo em Telecomunicações pelo
CESET (Unicamp), concluído no ano de 2008. Desde então, vem atuando
evitando-se assim, o deslocamento de técnicos em campo. no segmento de Telecomunicações, onde teve passagem por empresas no
desde provedores de Internet via Rádio, a fábrica de softwares e NOC em
X. CONCLUSÃO empresas de Campinas e região. De 2011 a 2015 atuou como analista de
operações no NOC da empresa Padtec com foco em DWDM onde
atualmente atua no ramo de configuração de redes IP prestando serviços à
Ao longo das últimas décadas, a tecnologia DWDM vem Embratel. Atualmente se prepara para assumir posição junto ao time de
proporcionando o avanço nas telecomunicações fixas e redes ópticas submarinas da Padtec, tecnologia que oferece desafios e
bastante promissora nos próximos anos.
móveis, graças à sua confiabilidade e extensa banda.
Tais avanços foram permitidos graças às padronizações André Luis da Rocha Abbade. Mestre em Telecomunicações pelo
do modelo OTN, definidas pelo ITU-T, e o Inatel em 2008. Em 1990 e 2002, obteve respectivamente os títulos de
desenvolvimento de componentes ópticos e eletrônicos, bem Engenheiro Eletricista e Especialista em Engenharia de Redes e Sistemas
de Telecomunicações pelo Inatel. Em 2012 concluiu o curso de Pós-
como de meios computacionais. A convergência desses
Graduação em Gestão Empresarial pela FGV. De 1990 a 1994 atuou como
fatores, propiciou que novas implementações pudessem ser engenheiro nas empresas: NEC do Brasil; Siret; e Arcos. Atuou como
desenvolvidas e aplicadas com êxito e, dentro deste engenheiro da Telemig/Telemar/Oi no período de 1994 a 2001, ocupando
contexto, o FEC foi uma das que mais contribuíram. diversos cargos nas áreas de engenharia de provisionamento de redes até
O método confere maior confiabilidade e robustez às 1998 e de operação e manutenção de rede de acesso e de transporte até
2001. É Prof. no Inatel desde 1999, tendo ministrado as disciplinas
redes de telecomunicações ópticas, permitindo que mesmo “Técnicas de Atendimento a Terminais”, “Comunicações Ópticas”,
em situações adversas, o sinal possa ser entregue de forma “Empreendedorismo e Inovação”; “Engenharia Econômica” e
satisfatória. “Matemática Financeira”. Atualmente ocupa também os cargos de:
Dada a complexidade e extensão do tema, procurou-se Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Gestão de
Telecomunicações e Gerente de Educação Continuada no Inatel
neste artigo abordá-lo de forma sintática com uma pequena Competence Center. Sócio fundador da empresa V2Tech Soluções de
discussão prática. Monitoramento e Rastreamento Veicular. Principais áreas de atuação:
Comunicações Ópticas e Empreendedorismo.

REFERÊNCIAS
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New York, NY: John WIlei & Sons, 2002.
[2] M. H. Yoshida, Evolução das Comunicações Ópticas: Tecnologia
WDM, Santa Rita do Sapucaí: Inatel, 2011.
[3] R. Ramaswami et al., Optical Networks: A Practical Perspective,
Third Edition, Burlington, MA: Elsevier, 2010.
[4] ITU-T, Optical Transport Network (OTN) Tutorial, 2012. Disponível:
https://www.itu.int/ITU-T/studygroups/com15/otn/OTNtutorial.pdf.
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SONET/SDH, 2012.
Disponível:
http://www.viavisolutions.com/sites/default/files/technical-library-
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[8] P. M. Henderson, Forward Error Correction in Optical Networks, 27
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http://www.michael-henderson.us/Papers/Optical_FEC.pdf.
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de um Código de Reed-Solomon Aplicado a Redes, 28 mai 2015.
Disponível:
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000952678.
[Acesso em 14 jul 2016].

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