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Redes Totalmente Ópticas

José Maurício S. Pinheiro

O aumento nas taxas de transmissão de dados, principalmente da Internet, tem


exigido das redes de comunicação mais eficiência e uma maior capacidade para
suportar tanta informação. Este aumento decorre, em boa parte, da necessidade
de suportar novas aplicações em banda larga, como a própria Internet, vídeo sob
demanda, VoIP, entre outras.
Os esforços de pesquisa têm sido orientados para a busca de sistemas de
transmissão com maior eficiência e alcance e utilizando menor número de
equipamentos para baratear sua manutenção. Um importante desafio enfrentado
no desenvolvimento dos sistemas ópticos é a chamada barreira eletrônica. Essa
barreira se refere a limitação dos sistemas ópticos não ser causada pela banda
passante da fibra óptica ou da fonte luminosa utilizada, mas pelos componentes
eletrônicos usados para o processamento dos sinais. O fato é que a capacidade
máxima de transmissão da fibra óptica como a conhecemos ainda é
desconhecida, pois ainda existem limitações tecnológicas impostas pelos
equipamentos eletrônicos que codificam os pulsos luminosos. Pesquisadores
estimam a capacidade máxima de transmissão para as atuais fibras ópticas em
torno de 25Tbps a 50Tbps (terabits por segundo: 1Tbps = 1000Gbps), por fibra.
Para compreender o que isso significa, um cálculo aproximado mostra que a
capacidade de uma única fibra óptica poderia acomodar o tráfego gerado pelo uso
simultâneo de cerca de 800 milhões de telefones fixos. Cabe aqui observar que,
apesar dos constantes aumentos nas velocidades das interfaces eletrônicas, os
sistemas ópticos mais modernos chegam a apenas 0,04% da capacidade teórica
das fibras atualmente em uso.

Redes Ópticas

Os primeiros sistemas de comunicação óptica utilizavam a fibra apenas em


aplicações ponto-a-ponto, normalmente no ambiente do backbone das operadoras
de telecomunicações. O panorama atual é diferente e já existe uma boa
disponibilidade de redes ópticas nos ambientes dos ISP’s combinadas com uma
infraestrutura de cabos metálicos nos pontos de acesso até os usuários,
principalmente nos centros urbanos.
As técnicas de transmissão tradicionalmente usadas nas redes ópticas envolvem
algumas forma de multiplexação e a transmissão ocorre em um determinado
comprimento de onda, simbolizado pela letra grega lambda (). O esquema mais
utilizado atualmente para aproveitar a largura de banda disponível nas fibras
ópticas e transportar a informação com mais eficiência é a Multiplexação por
Divisão do Comprimento de Onda ou WDM (Wavelength-Division Multiplexing).
Este esquema transforma uma única fibra física em várias fibras virtuais, cada

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uma transportando os sinais em um comprimento de onda diferente, independente
do formato dos dados transmitidos.

Figura 1 - Multiplexação em redes ópticas

Dentre as vantagens de utilização deste esquema temos um aumento na


capacidade de operação entre várias redes diferentes, aumento no throughput, a
possibilidade de ampliação modular dos equipamentos segundo a demanda e a
transparência em relação ao formato dos sinais transportados. Estas
características funcionais são possíveis de serem incorporadas às redes graças
ao esquema de conversão de comprimento de onda já mencionado.

Amplificadores Ópticos

A maneira mais eficiente de se beneficiar da largura de banda consiste na


utilização de vários comprimentos de onda dentro da mesma fibra, o que é
denominado multiplexação por divisão de comprimento de onda. Atualmente é
possível realizar esse processo de multiplexação utilizando uma técnica conhecida
justamente como multiplexação por divisão do comprimento de onda ou WDM
(Wavelength-Division Multiplexing). Esta técnica permite a expansão da
capacidade dos sistemas ópticos sem a necessidade de instalação de novas
fibras, pois permite transformar uma única fibra óptica em várias fibras virtuais,
cada uma destas transportando sinais com comprimentos de onda diferentes,
independentemente do formato dos dados transportados. Embora a taxa de
transmissão seja relativamente mais baixa (compatível com as velocidades
eletrônicas), a taxa agregada passa a ser elevada, sendo possível uma taxa
efetiva de transmissão em torno de 1,6Tbps por fibra, ou seja, cerca de 3,5% do
limite teórico.
Um componente básico do esquema de conversão óptica de comprimento de
onda é o amplificador óptico semicondutor. Os amplificadores ópticos a
semicondutor são dispositivos capazes de amplificar o sinal óptico sem nenhum
tipo de conversão eletro-óptica. Os amplificadores ópticos são equipamentos de
elevada largura de banda, baixo custo e de pequeno consumo de energia. Suas
especificações incluem o tipo da fibra óptica utilizada, detalhes sobre a potência

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mínima necessária, características de dispersão do laser transmissor e a
sensibilidade necessária do receptor. Os sistemas de transmissão atuais já
incorporam amplificadores ópticos com excelentes resultados, substituindo
gradativamente os tradicionais dispositivos eletrônicos.

Figura 2 - Sistemas ópticos

Um amplificador óptico é constituído basicamente por um laser semicondutor de


bombeamento, operando em uma das bandas de absorção do semicondutor
(Érbio, por exemplo), por um acoplador, que opera na multiplexação por divisão de
comprimento de onda (WDM) e cuja função é acoplar em uma mesma fibra a
potência óptica do laser de bombeamento e o sinal óptico a ser amplificado.
Adiciona-se ao conjunto um trecho limitado de fibra dopada com o semicondutor,
que será a responsável pelo processo de amplificação.

Figura 3 - Esquema de amplificador óptico WDM

A Evolução

A grande maioria das redes ópticas atuais utiliza mecanismos de conversão eletro-
óptica que possibilitam o roteamento dos sinais ao nível eletrônico, mas que
também são responsáveis por adicionar atrasos, além de encarecer os
equipamentos de comunicação. O processamento dos sinais ao nível do

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transmissor e do receptor óptico é, em geral, feito eletricamente. Dessa forma, os
esquemas de comutação utilizados nessas redes são baseados em circuitos
eletrônicos que não são capazes de prover a velocidade necessária exigida pela
demanda. A limitação desses sistemas ópticos se acentua nos pontos de
comutação da rede onde se faz necessária uma conversão dos impulsos de luz
em impulsos elétricos, ou seja, a informação chega em forma de luz e, em
seguida, é convertida para impulsos elétricos, processados e convertidos
novamente como luz.
Como mencionado essa tarefa de conversão entre os domínios óptico e elétrico,
gera retardos o que limita a taxa de transmissão de todo o sistema. Para resolver
esse problema as novas tecnologias de redes ópticas são capazes de realizar a
comutação ou roteamento somente ao nível óptico, eliminando o overhead da
conversão optoeletrônica. Nessas redes totalmente ópticas os equipamentos do
núcleo da rede dispensam a conversão eletrônica (pelo menos para tratamento
dos dados), executando a comutação da informação por meios puramente ópticos.
As redes conhecidas como Metro Gigabit Ethernet, ou simplesmente Metro
Ethernet representam uma solução muito utilizada pelos ISP’s e são estruturadas
por meios ópticos que trazem a possibilidade de interconexão de várias redes
locais, integrando estas em um único ambiente como se estivessem nos mesmos
endereços físicos, criando uma rede metropolitana com taxas de transmissão de
dados já ultrapassando 1Gbps. Essa integração proporcionada pela rede óptica
possibilita uma redução considerável de custos com infraestrutura e mão-de-obra,
possibilitando o aumento da produtividade da rede e permitindo ainda aplicações
que necessitam de alto desempenho, tais como vídeo, e-learning e telemedicina.
O uso das técnicas multiplexação por divisão em comprimento de onda (WDM) em
fibras ópticas deu origem, por sua vez, aos sistemas baseados em multiplexação
óptica. Embora não constituam propriamente sistemas de comunicações com
fibras ópticas, estão associados ao desenvolvimento das tecnologias
correspondentes a outros tipos de sistemas ópticos.
A tecnologia de comutação totalmente óptica tornou-se importante para o futuro
das redes de altas velocidades e a alocação e reutilização de comprimentos de
onda têm sido apresentadas como uma técnica promissora para tornar as redes
ópticas mais flexíveis.
Com o desenvolvimento de dispositivos de óptica integrada, que permitem o
roteamento e o processamento de sinais exclusivamente no domínio óptico, as
novas redes de comunicação passam a oferecer elevada capacidade em termos
de largura de banda, comutação e transmissão totalmente executada por
dispositivos puramente ópticos e, tecnologicamente, estas redes possibilitam um
salto bastante significativo no que diz respeito à capacidade de tráfego, que se
espera venha a atingir brevemente os Terabits por segundo.

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