Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
8.1. Introdução
O nitrogênio (N) é um elemento essencial para os organismos
vivos, constituinte de moléculas como aminoácidos, proteínas, ácidos
nucléicos, bases nitrogenadas e clorofila (MOREIRA; SIQUEIRA, 2006). É
um dos nutrientes mais limitantes para o crescimento vegetal e produção
agrícola. No entanto, 98% do nitrogênio existente no planeta encontram-se
indisponíveis e podem estar localizados em rochas, oceanos e sedimentos.
Os 2% disponíveis estão num ciclo dinâmico, envolvendo a atmosfera,
lagos, rios, plantas e animais (WILLIAMS; MILLER, 2001). O principal
reservatório deste elemento na natureza é a atmosfera (78%). Porém, este
compartimento encontra-se indisponível para a maioria dos organismos
vivos. Para que o N atmosférico possa ser utilizado pelas plantas e animais,
é necessário que ele seja reduzido para formas assimiláveis.
O N2 pode ser fixado naturalmente mediante descargas elétricas na
atmosfera e, de forma artificial, através de processo industrial para produção
de fertilizantes, conhecido como processo Haber-Bosch, considerado uma
112 Microbiologia do Solo
8.3. Nodulação
Os rizóbios são bactérias que durante a simbiose localizam-se
em estruturas especializadas, os nódulos, que são formados nas raízes
de leguminosas, característica típica desta interação. O processo de
formação de nódulos em leguminosas requer o reconhecimento específico
entre rizóbios e leguminosa, envolvendo um complexo mecanismo de
sinalização e transdução de sinais moleculares (Figura 8.1).
Fixação biológica de nitrogênio simbiótica 115
A B
endoderme
uso de inoculantes pode trazer são inúmeros, sendo que alguns deles são:
grande economia de fertilizante nitrogenado mineral, maior produtividade
das culturas, preservação da microbiota e da microfauna do solo, não
provoca danos ao meio ambiente e reduz o custo de produção.
O uso de inoculante com bactérias fixadoras de nitrogênio pode
substituir total ou parcialmente a necessidade de adubação nitrogenada.
O melhor exemplo do sucesso desta tecnologia é o caso da cultura da soja.
No caso dessa cultura, bactérias pertencentes às espécies Bradyrhizobium
japonicum e Bradyrhizobium elkanii são as responsáveis por esse processo,
sendo que estas podem substituir o uso de adubos, o que equivale a uma
economia entre 10 e 15 bilhões de dólares anuais para o Brasil, dependendo
de como este valor é calculado (HUNGRIA et al., 2015).
Existe necessidade de inoculação em locais onde é observada a
ausência de espécies hospedeiras ou de outra espécie simbioticamente
relacionada, quando a nodulação é pobre em espécies já cultivadas e
quando a leguminosa sucede a uma cultura não leguminosa em rotação.
Também é recomendado o uso de inoculante em locais onde está sendo
realizada recuperação de solos degradados porque normalmente estes
solos não possuem número de células de rizóbios superior a 50 células por
grama de solo, e quando as condições ambientais são desfavoráveis para
sobrevivência do rizóbio, como em solos alcalinos ou ácidos, ou também
em condições de inundação prolongada, temperaturas elevadas ou
secas (ROUGHLEY, 1988; PEOPLES et al., 1989; de TURK et al., 1993).
As recomendações da RELARE (Rede de Laboratórios para a
Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes
Microbianos de Interesse Agrícola) para que um inoculante possa ser
comercializado são: o produto deve apresentar 1x109 células viáveis por
grama ou mililitro do produto até a data do seu vencimento; deve ser
elaborado em um suporte ou veículo estéril e estar livre de microrganismos
não especificados em fator de diluição 1x10-5, sendo que o veículo deve
fornecer todas as condições de sobrevivência ao microrganismo.
Além das condições do local e os pré-requisitos do produto, as
bactérias que serão utilizadas também são alvo de estudos. Para que
uma bactéria seja selecionada e multiplicada para produção de um
inoculante, ela deve seguir alguns critérios como habilidade de formar
nódulos e fixar N na espécie alvo ou habilidade de fixar N em uma ampla
faixa de hospedeiros; ser capaz de crescer em meio artificial, no veículo
do inoculante e no solo; ter uma boa estabilidade genética; possuir a
124 Microbiologia do Solo
Figura 8.4. Desenvolvimento e nodulação de plantas de soja em solos com diferentes texturas e
com dosagens crescentes de lodo de curtume (rico em N). Fotos: Martines, A. et al., 2006.
Nvef (médio argiloso) LVAd (argiloso) RQo (arenoso)
florescimento
enchimento de grãos
T T 36t/ha
Mg ha-1 612
t/ha
Mg ha-1 12 t/ha
24 Mg ha-13636
t/ha
Mg ha-1
maturação
NÓDULOS
NÓDULOS
8.9. As actinorrizas
Actinorriza é o nome que se dá aos nódulos formados em outro tipo
de fixação simbiótica do nitrogênio. Estes nódulos são formados em raízes de
algumas plantas de diversas famílias vegetais, sendo os principais gêneros
conhecidos por esta propriedade a Casuarina, a Myrica, o Alnus. Podem
também formar actinorrizas alguns representantes das ordens Fagales,
Rosales e Cucurbitales (WALL, 2000; RUSSO, 2005). A bactéria responsável
pela FBN é do gênero Frankia, classificado entre as Actinobactérias. A
estrutura do nódulo também é um pouco diferente daquela dos nódulos
126 Microbiologia do Solo
Referências
BAREA, J.M.; AZCÓN, R.; AZCÓN-AGUILAR, C. Vesicular-arbuscular
mycorrhizal fungi in nitrogen-fixing systems. Methods in Microbiology,
London, v. 24, p. 391-416, 1992.
CHEN, W.M. et al. Burkholderia mimosarum sp. nov. isolated from root
nodules of Mimosa spp. from Taiwan and South America. International
Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, Reading, v. 56, n. 8,
p. 1847–1851, 2006.
DEBELLÉ, F. et al. Nod genes and Nod signals and the evolution of the
rhizobium legume symbiosis. Acta Biochimica Polonica, Varsovia, v. 48, n.
2 p. 359-365, 2001.
GOVERS, F. et al. Rhizobium nod genes are involved in inducing and early
nodulin gene. Nature, London, v. 323, p. 564-566, 1986.
LAMMEL, D.R. et al. Rhizobia and other legume nodule bacteria richness in
Brazilian Araucaria angustifolia forest. Scientia Agricola, Piracicaba, v. 64,
p. 400-408, 2007.
LUPWAYI, N.Z.; CLAYTON, G.W.; RICE, W.A. Rhizobial inoculants for legume
crops. Journal of Crop Improvement., New York, v. 15, p. 289-321, 2005
WILLIAMS, L.E.; MILLER, A.J. Transporters responsible for the uptake and
partitioning of nitrogenous solutes. Annual Review Plant Physiology and
Molecular Biology. New York, v. 52, p. 659-688, 2001.