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Estudo de

Caso

Cidadania e Ética

Professor Dr. Raul Tavela Zermiani


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estudo de
caso

Você trabalha no setor de Estratégias e Novos Negócios de uma empresa de grande porte
do setor de construção civil, especializada em projetos públicos e privados de obras con-
sideradas complexas e muito grandes. A empresa é reconhecida pelo seu porte, pela sua
organização profissionalizada e pela tradição no mercado de engenharia.
Em seu setor, você é gerente de projetos e está submetido, no organograma da empresa,
à autoridade de um diretor de área, um superintendente de projetos, um vice-presidente de
negócios, um vice-presidente geral e um presidente. Essa hierarquia é formal e consta no
plano de negócios da instituição. Trata-se de uma empresa de capital aberto, ou seja, uma
instituição que negocia suas ações em bolsas de valores e, por isso, é obrigada ter complian-
ce (uma gestão transparente, que é obrigada por mecanismos de controle interno a agir em
conformidade com a legislação dos países onde ela atua e de acordo com suas próprias nor-
mativas internas).
Dentro de seu setor, sob sua gerência, a equipe é composta por três analistas e, um
deles, exatamente aquele que você tem menos simpatia (porque a pessoa é rude, grosseira
e muito direta em suas colocações), te sugere uma nova maneira de captar projetos em um
país vizinho. Sua sugestão é promissora, tem muitas chances de funcionar, mas a garantia
de que os contratos serão firmados só existe se houverem doações ao partido do presiden-
te deste país, feitas em dinheiro sem nenhum tipo de comprovação. Este governante não
aceitava contribuições por outros meios, nem de outras formas.
Esse analista, inclusive, já havia trabalhado com obras nesta nação quando trabalhava em
outra construtora. Ele diz como fazer contato direto com esse presidente, que ele mesmo já
havia negociado uma obra nos termos que te propôs, assegurando que a autoridade aceita
dinheiro sem origem declarada e ainda te mostra quais os caminhos que essa autoridade
usa para receber os recursos. Chega a te mostrar o contato do assessor pessoal deste presi-
dente e mostrar o prospecto da obra em que ele havia atuado.
Você fez uma pesquisa para ter detalhes dessa obra já realizada por outra empresa e viu
que o contrato foi executado integralmente, sendo concluída dentro do cronograma e sem
nenhuma notícia de eventuais irregularidades por parte da construtora que realizou as obras
de que seu analista subordinado havia mencionado. Por garantia, você fez uma pesquisa
mais abrangente, mapeando quais as grandes empresas estrangeiras que tinham contratos
com esta nação.
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Chegou à conclusão que não há nenhuma informação pública que evidencie tal prática.
Em tese, nunca houve divulgação das práticas do governo deste país.
Em uma reunião com seu diretor, você ouve dele que o país mencionado por seu analis-
ta está no planejamento estratégico de sua corporação. Tal nação seria vital para a expansão
de novos negócios. Seria um mercado que poderia fazer que a empresa pudesse aumentar
seu faturamento de maneira muito significativa. Soube que, também por isso, o presiden-
te e o vice-presidente pensam até em criar uma nova diretoria para cuidar especificamente
dos negócios com essa localidade. Caso conseguissem entrar com uma primeira obra nesta
nação, que esse novo departamento seria criado imediatamente e que, certamente, conta-
ria com as equipes já existentes nos quadros da construtora. Ninguém seria contratado de
fora. Se fosse necessário, para prestigiar os colaboradores internos, inclusive se permitiria a
promoção de funcionários em funções de média responsabilidade caso não encontrassem
um gerente de projetos com o perfil desejado para promover a diretor dessa nova área.
Para testar o efetivo interesse da empresa na região, você resolve comentar que conhece
um pouco aquele país, que andou estudando um pouco sobre ele, que tem muito interesse
no lugar por achar que o lugar que tem ótima qualidade de vida e uma economia pujante.
Argumenta que teve algumas ideias sobre como entrar nesse mercado, deixando evidente
que você efetivamente conhece um pouco a realidade do local. Você expõe o caminho pro-
posto pelo analista. Entretanto, já que apenas queria sondar a situação, você opta por omitir
que tais ideias eram originalmente de seu subordinado.
A reação imediata de seu diretor é de extremo interesse. Ele pede para que você monte
uma apresentação sobre os levantamentos que você realizou. Você seria inclusive autorizado
a se dedicar só a esta atividade por ele, já que além dos dados preliminares que você men-
cionou, deveria fazer um levantamento sobre a viabilidade política e econômica de pôr em
prática a expansão indicada pelo plano de sua corporação.
Na sequência, este diretor solicita que sua divisão seja mobilizada para atender priori-
tariamente as questões relativas a esta área. Notadamente, ele está entusiasmado com a
possibilidade de participar da consolidação daquele que será entendido como o grande
passo para a consolidação da empresa como líder nacional e referência global em constru-
ções de grande porte.
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Sua equipe é informada sobre esses procedimentos sem que você nem mesmo retorne
ao seu posto. É raro ter a equipe de Estratégia e Novos Negócios dedicada a um único projeto
e, quando isso acontece, seu setor fica em evidência diante dos demais. Sem muito tempo
para esclarecimentos, você dá as devidas orientações aos analistas sob sua responsabilidade.
Visivelmente, o profissional que lhe trouxe a ideia original se irrita, mas não toma nenhuma
providência (apesar de ser conhecido por sua impulsividade). Dada as circunstâncias, não
há espaço para tratar do assunto com ele.
Você transmite as demandas da chefia imediata ao grupo. Rapidamente, em poucos dias,
estão apurados todos os dados necessários para sua apresentação. A equipe fez um traba-
lho tão meticuloso que já está evidente a viabilidade da iniciativa, bem como seu baixo risco.
Inicialmente, a apresentação seria feita apenas ao diretor de sua área. Expostos os dados
e argumentos levantados, o entusiasmo de seu chefe imediato se torna euforia. Você o con-
venceu sobre a oportunidade imediata para a expansão dos negócios da construtora. Diante
da chance, aparentemente única, ele entra em contato com seu superintendente que, por
sua vez, sugere que a apresentação seja replicada para ele e para o vice-presidente de ne-
gócios. Obviamente, toda cadeia de comando toma ciência de suas ideias e sua atuação
torna-se elogiada por todos eles.
Todos estão convencidos de que você havia criado a possibilidade de colocar o planeja-
mento estratégico da empresa em prática. Sua apresentação ao vice-presidente de negócios
e ao superintendente foi requisitada, sem a presença de diretores, gerentes e analistas. Essa
exposição deve acontecer nos próximos dias.

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