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Resumo. Objetivou-se conhecer como acontece o acesso aos serviços de saúde de mulheres vivendo com
HIV. Pesquisa Participante desenvolvida com a população de mulheres vivendo com HIV que em algum
momento do período gestacional foram atendidas nos serviços públicos de saúde; profissionais de saúde dos
serviços especializados e de APS (UBS e ESF); e gestores destes serviços. Foram desenvolvidas entrevistas
semi-estruturadas com as mulheres e observação participante nos serviços de saúde. A análise de conteúdo
do tipo temática estruturou os resultados nos temas utilização e acessibilidade, sendo esta composta pelas
categorias psicossocial (comunicação positiva, barreiras de comunicação e barreiras culturais), temporal e
geográfica. Os resultados culminaram no planejamento dos encontros de grupo focal com os profissionais de
saúde e gestores.
Palavras-chave: Acesso aos serviços de saúde; Saúde da mulher; HIV; Gravidez; Período Pós-Parto.
1 Introdução
Durante a gestação de mulheres vivendo com HIV, o acesso a insumos como testes rápidos, exames
de seguimento e medicamentos antirretrovirais pode auxiliar na redução das taxas de HIV em crianças
(VIANA et al., 2013). Entretanto, faz-se necessário a intensificação das ações de diagnóstico, ampliando
o acesso ao teste anti-HIV (BRASIL, 2014). Isto pode ser alcançado com a descentralização das ações
de prevenção, incluindo a Atenção Primária à Saúde (APS) (VAL; NICHIATA, 2014).
Apesar da existência de desafios, como o diagnóstico precoce da infecção, o acompanhamento do
tratamento e a integração dos serviços, almeja-se que a atenção à saúde não se restrinja aos serviços
especializados, mas que atuem conjuntamente com a APS, para diminuir o tempo de diagnóstico
(PALÁCIO; FIGUEIREDO; SOUZA, 2012; ZAMBENEDETTI; BOTH, 2012; VAL; NICHIATA, 2014).
Segundo Starfield (2002), o acesso de primeiro contato se refere à acessibilidade e a utilização do
serviço de APS como fonte de cuidado para os problemas de saúde que surgem. A acessibilidade
relaciona-se aos aspectos psicossocial (barreiras de linguagem ou culturais à comunicação entre os
profissionais e usuários), geográficos (transporte e distância do serviço) e relativos ao tempo (horário
de disponibilidade). Estes aspectos refletem na extensão e no tipo de utilização dos serviços pelas
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mulheres com HIV. Embora esse contato com os serviços ocorra em diferentes pontos de atenção, na
APS a procura é desencadeada preferencialmente pelo usuário, enquanto que nos serviços
especializados o uso é frequentemente direcionado pelo profissional de saúde (STARFIELD, 2002).
Contudo, mesmo havendo o incentivo para que a APS atue como porta de entrada no sistema de saúde
(HALLAL et al., 2010), as ações são insuficientemente abrangentes. A dificuldade de transferência entre
os pontos da Rede de Atenção à Saúde (RAS) prejudica a integralidade das ações. Os obstáculos
consistem na desproporção de serviços de APS para o número de habitantes, comunicação insuficiente
da RAS nos serviços de diferentes densidades tecnológicas e necessidade de preparação dos
profissionais para atender as demandas referentes ao HIV. Tais dificuldades culminam na
fragmentação das ações (VAL; NICHIATA, 2014).
Além disso, a organização do serviço especializado, que parece suprir as necessidades em saúde dos
usuários, faz com que seja utilizado como porta preferencial, independente da complexidade do
agravo. Isto prejudica o funcionamento da RAS, provoca a não utilização dos demais serviços que
poderiam constituir, também, uma fonte de recursos (PALÁCIO; FIGUEIREDO; SOUZA, 2012).
No cotidiano assistencial de gestantes com HIV, o acesso dá-se tanto na APS quanto no especializado.
Entretanto, as falhas de comunicação intersetorial culminam na descontinuidade da atenção no
puerpério. Devido ao caráter social e político, o acesso deve considerar a disponibilidade de serviços,
acolhimento, necessidades da população, de maneira resolutiva na RAS. Para populações vulneráveis,
como aquelas com condições crônicas, a exemplo do HIV, a formulação e execução das políticas de
saúde devem atentar para o risco de progressão da doença (ASSIS; JESUS, 2012).
Dessa maneira, a acessibilidade e a utilização da APS podem potenciar o diagnóstico precoce e,
consequentemente, o manejo adequado da infecção pelo HIV. Pode favorecer a formação de vínculo
com os profissionais, repercutindo positivamente tanto na saúde da mulher quanto da criança. Com
isso, emergiu a inquietação acerca do acesso das mulheres vivendo com HIV aos serviços de saúde.
Assim, o Grupo de pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade (GP-PEFAS) da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS/BR) iniciou o projeto matricial intitulado “Avaliação
da atenção primária à saúde das mulheres com HIV”, com desenho de estudo misto.
A etapa quantitativa foi desenvolvida de abril a novembro de 2014, em Santa Maria/RS, de modo
transversal, com 78 mulheres com HIV, e aplicação do instrumento PCATool-Brasil versão Adulto
reduzida. Objetivo geral foi comparar a qualidade da atenção à saúde das gestantes vivendo com HIV
entre os tipos de serviço, na experiência das usuárias. Os resultados revelaram que é preciso direcionar
uma atenção específica às gestantes vivendo com HIV na APS, uma vez que está aquém do ideal. Na
análise conjunta dos atributos segundo o tipo de serviço, ambos apresentaram valores de escores
gerais insatisfatórios (<6,6). Contudo, se mostrou próximo tanto ao valor considerado satisfatório
(≥6,6) quanto entre si: APS (6,50) e especializado (6,35), estando a primeira mais próxima do valor
considerado ideal. Isto indica que os atributos da APS não estão presentes adequadamente nestes
serviços (KLEINUBING, 2015). A APS como fonte regular da atenção, embora haja deficiências
estruturais, pode transformar o atual modelo curativista de atenção às pessoas com HIV, na qual a
descentralização das ações promova a articulação entre os serviços. Contudo, o investimento no
acesso deve ser intensificado pelas políticas públicas e implementado pelos profissionais, para que a
APS possa se tornar resolutiva, também, para as gestantes vivendo com HIV.
Os resultados da etapa quantitativa indicaram o objetivo da etapa qualitativa em um estudo do tipo
Pesquisa Participante: desenvolver coletivamente ações para o acesso desta população aos serviços
de saúde. Este artigo apresentará os resultados de um dos seus objetivos específicos: conhecer como
acontece o acesso aos serviços de saúde de mulheres vivendo com HIV. Justifica-se a realização desta
pesquisa, pela possibilidade de contribuição tanto para a atenção à saúde quanto para as políticas
públicas, com a perspectiva de reorganizar o fluxo de cuidado à esta população. Isto pode facilitar o
acesso e a adesão ao tratamento para o manejo da infecção materna e prevenção da transmissão
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vertical do HIV, tendo em vista que, devido às características estruturais e de desempenho da APS, a
ausência dessa população nestes serviços inviabiliza a captação pelos demais pontos da RAS.
2 Metodologia
Este artigo é um recorte da tese de doutorado “Acessibilidade e utilização dos serviços de saúde para
atenção às mulheres vivendo com HIV”. O campo de estudo contempla os serviços de APS e
especializados para HIV. A população consiste em mulheres com HIV, profissionais de saúde e gestores.
Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa do tipo Pesquisa Participante, que consiste em um
tipo de pesquisa social, que reconhece que os sujeitos e culturas são fontes originais de saber. Por
meio da interação entre os sujeitos e objeto de investigação, há a construção compartilhada entre o
conhecimento científico e o popular, proporcionando a articulação crítica de um conhecimento novo
e transformador (BRANDÃO; BORGES, 2007).
Operacionalmente, a Pesquisa Participante segue quatro fases: Montagem institucional e
metodológica da pesquisa participativa; Estudo preliminar e provisório da zona e da população em
estudo; A colocação dos problemas; e Programação e execução de um plano de ação (LE BOTERF,
1985). Intencionalmente, essas fases permitem ao pesquisador buscar respostas para um problema,
por meio da análise grupal do conhecimento, e apartir disso, pensar a forma como este conhecimento
será utilizado na realidade. Além disso, permite examinar a informação de maneira crítica,
estabelecendo as causas dos problemas, as possibilidades de solução e, assim, propõe
encaminhamentos (SILVA; PADOIN; VIANNA, 2013).
A Pesquisa Participante prevê, durante a fase de montagem institucional e metodológica, a inserção
antecipada no campo de estudo. Isto proporciona o conhecimento da realidade e permite que o
pesquisador seja reconhecido por aqueles que nela atuam, de maneira que o objetivo da pesquisa seja
de comum acordo entre o campo e o pesquisador. Para tanto, a participação da doutoranda como
observadora participante na etapa de coleta de dados de outra pesquisa no mesmo campo,
possibilitou conhecer a organização dos serviços de saúde e os profissionais que neles atuam (KINALSKI
et al., 2017). Com isso foi possível a ambientação e a sistematização da etapa de coleta de dados da
atual pesquisa. O contato da doutoranda com os prováveis participantes e campos de estudo é
necessário, também, com vistas à autorização institucional e assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Nesta ocasião, a doutoranda e a auxiliar de pesquisa (devidamente
capacitada) foram apresentadas aos prováveis participantes (profissionais e gestores), realizando os
esclarecimentos necessários.
Assim, no período de junho a agosto de 2017 foram realizadas 45 horas de observação da estrutura e
funcionamento dos serviços e, quando o atendimento das mulheres vivendo com HIV nos serviços de
saúde, conforme demanda e/ou agendamento nos serviços. A observação foi do tipo participante, pois
a observadora estava na posição dos outros elementos envolvidos no fenômeno estudado (GODOY,
1995). A utilização da técnica de observação foi proposta tendo em vista a necessidade de apreensão
dos comportamentos e acontecimentos.
Foram observados aspectos da acessibilidade e da utilização nos serviços de saúde presentes no
roteiro de observação que, juntamente às conversas informais, possibilitaram a obtenção de um
diagnóstico situacional do acesso de mulheres vivendo com HIV aos serviços de saúde no município
cenário desta pesquisa. A observação aconteceu em serviços especializados no atendimento às
pessoas vivendo com HIV e em serviços de APS.
Para o desenvolvimento da segunda fase, estudo preliminar e provisório da zona e da população, as
técnicas de coletas dos dados estão operacionalizadas da seguinte maneira: observação participante,
entrevista semi-estruturada e grupo focal, as quais serão submetidas a triangulação de dados, que
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culminará nas oficinas pedagógicas e seminário final no município. As trocas verbais e não verbais
presentes no momento da entrevista possibilitaram a melhor compreensão dos significados, dos
valores e opiniões das participantes acerca do objeto de investigação. Na pesquisa qualitativa, tal
técnica representa uma modalidade de triangulação, pois concede ao participante a oportunidade de
validar o que foi dito, não se restringindo a interpretação pelo pesquisador, do conteúdo da entrevista
(FRASER; GONDIM, 2004).
A análise dos dados foi realizada concomitantemente à coleta e se encerrou quando houve a
suficiência de respostas ao objetivo. Foram realizadas 14 entrevistas com as mulheres vivendo com
HIV. A doutoranda e a auxiliar de pesquisa questionavam junto ao serviço de saúde a disponibilidade
de salas para a condução da entrevista e acessavam as prováveis participantes sem que houvesse
interferência no andamento das consultas. O convite foi feito individualmente, enquanto aguardavam
para serem atendidas. Em uma sala separada para tal finalidade, as mulheres eram esclarecidas acerca
da pesquisa, respeitando-se a privacidade e o sigilo diagnóstico.
Para a condução das entrevistas semiestruturadas, a doutoranda necessitou lançar mão de
mecanismos de flexibilização dos questionamentos, na tentativa de dar fluência às perguntas. Tais
mecanismos tinham o objetivo de possibilitar conforto e confiança as participantes. Fez-se uso de
perguntas abertas, para que pudessem sentir-se livres para falar acerca do tema. Entretanto, tendo
em mãos o roteiro de entrevista, mantinha-se atenta para retomar os questionamentos e redirecionar
a entrevista para o objeto de estudo.
Posteriormente, serão realizados encontros de grupo focal (GF) com profissionais de saúde e gestores,
mediante assinatura do TCLE. Embora haja um roteiro para executar cada encontro do GF,
participativamente, os profissionais e gestores pactuarão os encontros subsequentes, respeitando-se
o interesse e a construção coletiva das ideias do grupo para as discussões. A técnica de GF possibilitará
intensificar o acesso a informações sobre um determinado fenômeno. Isto ocorre pelo fato de gerar
ideias e conhecê-las com profundidade, por meio do diálogo e do debate entre os participantes
reunidos em um mesmo local e durante certo período de tempo (DALL´AGNOL; TRENCH, 1999;
DALL´AGNOL et al., 2012).
Dessa maneira, o GF busca valorizar a interação entre os participantes e o pesquisador, por meio de
discussões focadas em tópicos específicos e diretivos. (MAZZA; MELO; CHIESA, 2009; DALL´AGNOL et
al., 2012). Por configurarem-se como potencial via de intervenções, as discussões e as táticas grupais
para modificar realidades faz com que, por intermédio da interação, os profissionais dos diferentes
serviços que prestam atendimento às mulheres vivendo com HIV, tornem-se protagonistas na
construção coletiva dos resultados da pesquisa (SHAHA; WENZEL; HILL, 2011).
Ainda, as discussões e construções coletivas podem auxiliar na qualificação do acesso de mulheres
vivendo com HIV na APS, para que esta possa se tornar a fonte regular de atenção. Por tratar-se de
uma temática sensível e pouco explorada, faz com que esta técnica se torne enriquecedora e coerente
com a proposta do estudo.
Quanto à operacionalização, os GF caracterizam-se como uma técnica de coleta de dados em que o
pesquisador objetiva coletar informações sobre um determinado tema. Isso se dá por meio do diálogo
e debate entre os participantes da pesquisa, reunidos em um mesmo local, durante certo período de
tempo (DALL´AGNOL; TRENCH, 1999; DALL´AGNOL et al., 2012).
A equipe de coordenação, composta pelo moderador (pesquisador) e pelo(s) observador(es), será
responsável pela condução do encontro. Com isso, os integrantes da equipe devem se manter atentos
e evitar posicionarem-se em lugares que deem a impressão de prestigio frente aos participantes.
Durante os encontros, a equipe deverá utilizar um diário de campo. Este instrumento será utilizado
para o registro de percepções e impressões pessoais durante as sessões do GF.
Tendo em vista que o sucesso do GF relaciona-se diretamente ao planejamento dos encontros, devem
ser considerados aspectos como: momentos chave do encontro; dimensão do grupo; guia de temas;
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A exploração do material é a fase de codificação, na qual os dados serão analisados para o alcance dos
núcleos dos sentidos, que possam permitir a compreensão do texto. Essa etapa foi realizada pela
doutoranda, sob mediação da orientadora (pesquisadora com expertise no tema HIV) e co-orientadora
(pesquisadora com expertise na saúde da mulher). A doutoranda agrupou as unidades de significação
de acordo com os temas teóricos acessibilidade e utilização. Os conceitos teóricos dos temas
permitiram a formulação das categorias e subcategorias temáticas, validados no grupo de pesquisa.
Para o tratamento dos resultados obtidos e interpretação dos temas, os resultados foram retomados
e aprofundados por meio dos conceitos teóricos que embasam o objeto de estudo, sendo realizada a
discussão a luz da literatura.
A triangulação dos dados, oriundos das observações e das entrevistas, culminarão no planejamento
dos encontros do GF, permitindo a ampliação dos dados, à medida que não se restringe apenas a uma
única fonte, multiplicando as tentativas de aproximação com o objeto de estudo (MINAYO, 2010).
Assim, o corpus desta investigação conta, neste momento, com os fragmentos de discurso oriundos
das entrevistas, bem como com as notas de observação participante. A junção destes dados garantiu
sustentação de maneira mais sólida ao objeto em investigação. Sucessivamente, os dados coletados
por meio dos encontros grupais e sua triangulação com os dados já concebidos, permitirá extrair, de
maneira mais ampla e, possivelmente, mais completa, as unidades de significado textuais.
Por fim, na última fase, a programação e execução de plano de ação, serão propostas oficinas
pedagógicas e o Seminário integração da pesquisa com a prática: discutindo resultados de pesquisas
em HIV com os serviços de saúde, quinta edição promovida pelo GP-PEFAS (V SIPP). Nesse momento,
a participação de todos os envolvidos nas etapas anteriores deve ser mantida, de maneira que as
decisões sejam tomadas em conjunto.
As oficinas pedagógicas, que consistem numa maneira de construir o conhecimento por meio da
aproximação da ação com a base teórica (PAVIANI; FONTANA, 2009), serão pactuadas entre
doutoranda e participantes. Dessa maneira, objetivarão promover a discussão/reflexão acerca da
acessibilidade e utilização dos serviços de saúde, pelas mulheres vivendo com HIV, com vistas à
construção de abordagem de atenção a essa população. (SILVA, E. et al., 2013).
Quanto ao seminário, objetivará avaliar o conhecimento construído e a transformação da prática
assistencial. Será realizado com os diferentes setores da saúde, participantes do estudo, de maneira a
compartilhar os resultados e refletir acerca do impacto dos mesmos na implementação de mudanças
na atenção à saúde direcionada a essas mulheres vivendo com HIV. A dinâmica de organização será
definida conforme as demandas na produção das informações.
Destaca-se que a discussão e avaliação do plano de ação devem ser permanentes, tendo em vista que
a Pesquisa Participante não termina com a quarta fase. A análise crítica da realidade, despertada
durante esse processo, conduzirá à descoberta de novas necessidades, tornando dinâmica a
construção do conhecimento (LE BOTERF, 1985).
Os aspectos éticos foram respeitados segundo a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do
Brasil, que prima pela dignidade humana e pela proteção devida aos participantes das pesquisas
científicas envolvendo seres humanos, manifestada pelos princípios fundamentais da autonomia,
beneficência, não maleficência, justiça e equidade. A pesquisa foi aprovada sob o Certificado de
Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 57042216.0.0000.5346, parecer 1.635.237.
3 Resultados e Discussão
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4 Conclusões
Os resultados da Pesquisa Participante apontaram que as mulheres vivendo com HIV, participantes
neste estudo, vivenciam dificuldades e facilidades relacionadas a acessibilidade aos serviços de saúde.
Esta vivência repercute na utilização ou não utilização destes serviços ao longo do período gravídico-
puerperal. Por meio da triangulação dos resultados oriundos das entrevistas com as mulheres vivendo
com HIV e experiência dos profissionais (extraídas por meio das observações), será possível estruturar
os encontros do GF, tecnica a ser realizada. Juntamente ao referencial metodológico proposto pela
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Pesquisa Participante, as técnicas de coleta de dados permitiram conhecer como se dá o acesso dessa
população apartir da realidade dos sujeitos. Espera-se que a interação entre os participantes
(mulheres, profissionais de saúde e gestores) permita a construção compartilhada de ações para a
promoção do acesso, proporcionando a transformação da realidade, no que tange a atenção à saúde
dessa população, tendo em vista que, por meio da Pesquisa Participante, o pesquisador assume um
compromisso social, político e ideológico com a comunidade. Com isso, os objetivos da pesquisa,
devem ser condizentes com as causas sociais e necessidades de saúde da população, assumindo,
muitas vezes, um carater educativo, político e convergente com as ideologias populares. Isso deve ser
feito em conjunto com os serviços de saúde e demais organizações de maneira que se obtenha a
transformação da realidade. Para tanto, espera-se que a pesquisa em tela contribua para tal
transformação, promovendo ações que viabilizem a qualificação da atenção à saúde. Além disso, a
proposta de construção coletiva e de corresponsabilidade dos envolvidos na Pesquisa Participante foi
determinante quando comparado a outros referenciais metodológicos, pois estimulou o engajamento
entre pesquisador e participantes e a apropriação dos resultados da pesquisa pelo serviço. Essa
corresponsabilização, inclusive, potencializa a tradução do conhecimento e sua transferência para a
prática, o qual está sendo desenvolvido por meio de uma pesquisa matricial de abordagem mista,
garantindo que a pesquisa contribua na prática assistencial de maneira direta. O estudo, contudo,
apresentou como limitações a estrutura para realização das entrevistas, no qual a pouca
disponibilidade de locais adequados ocasionou a impossibilidade de realização de entrevistas em
algumas ocasiões durante o período de coleta de dados.
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