Você está na página 1de 3

O Primeiro Grande Rito da Escócia e a versão da lenda de Hiram e Cavelum

Meus queridos e muito amados irmão, meus iguais, em solicitude ao conhecimento e a nossa
aplausível evolução, gostaria hoje de interpelar por adentro de um assunto a saber para
todos , os homens livres e de bons costumes . Um Maçom não inicia a caminhada Perfeito, a
árdua caminhada como adorador da Luz, e a permanência avançando pelo Caminho do meio,
todavia é e sempre o é com surpreendentes descobertas, ao perscrutar da verdade.

Neste Rito exatamente para se avançar no Grau de: Mestre Marcado

Incutir-se há aos estudos e trabalhos para se conhecer a ótica do Rito, quem fora Hiram e
Cavelum.

O que torna o grau diferente?

Mas o que o diferencia dos demais graus é o fato de ser o único que traz o que chamo de lado
sombrio de Hiram Abiff, apresentando-o como invejoso, negligente e responsável por
homicídio culposo!

E, por se passar num período anterior à sua morte, acaba por trazer uma interpretação
totalmente diferente para o grau 3. Para os maçons que receberam o grau, certamente serviria
como um “twist” no estilo dos filmes hollywoodianos que os faria pensar que isso muda tudo.
Abaixo, passo a narrar a lenda desse Grau:

A lenda de Hiram e Cavelum

O grau passa-se no começo das obras do Templo de Salomão. Nessa época, Hiram Abiff teria
ido a Jerusalém para participar da construção do Templo de Salomão, achando que ele seria o
Mestre - Construtor.

Ao chegar, deparou-se com o fato de que um parente do Rei Salomão, denominado Cavelum,
tinha sido apontado para supervisionar a obra. Hiram Abiff teria sentido inveja de Cavelum e,
indignado por não ter recebido a honraria que esperava e ter sido relegado a um papel de
menor importância, teria ficado amargurado.

A amargura de Hiram teria atrapalhado na condução dos seus trabalhos.

Certo dia, Hiram inspecionava os trabalhos sobre o portão norte do complexo do Templo.
Totalmente absorvido pelos seus sentimentos, Hiram não percebeu que uma das pedras
estava mal fixada. Hiram acabou deslocando essa pedra, que caiu justamente sobre Cavelum,
matando-o.

Profundamente entristecidos pelo acidente, Hiram Abiff e o Rei Salomão mandaram fechar o
portão norte.

O nome Cavelum não é bíblico. E há duas hipóteses etimológicas:

Pode ser que venha do latim cavellum, que significa um pequeno buraco ou lugar oco, talvez
aludindo à pedra posta sobre o portão norte. Ou pode ser que faça alguma alusão à cavalaria,
já que vários autores e rituais se empenharam em fazer conexões entre a cavalaria e a lenda
da construção do Templo.
Observações:

O leitor que conhece a lenda de Hiram Abiff imediatamente perceberá que o fechamento do
portão norte teria impacto direto sobre a lenda do terceiro grau, que nesta Prancha evitarei de
comentar por zelo maçônico.

O objetivo central dessa lição era a ideia de que a falta de domínio sobre as nossas paixões
pode levar a consequências desastrosas, mesmo que essa não seja a nossa intenção.

Mas, mais do que isso, o grau pretendia fazer com que o recipiendário visse a lenda de Hiram
como parte de um ciclo de causa e efeito, provocando-o a pensar se as injustiças sofridas não
seriam decorrentes de ações anteriores, por nós desconhecidas.

Problemas de aceitação:

Todavia, para ensinar essas lições, o grau sacrificava a reputação de Hiram Abiff. O que nos
leva ao comentário de Arthur Edward Waite :

“””“Por um lado, a lenda do Mestre Marcado o representa como em primeira instância


subordinado a Cavelum, um dos parentes reais, que estava encarregue das operações antes da
chegada daquele artista cuja genialidade e fidelidade encheram o mundo da Maçonaria com
louvor para sempre. Essa é a anomalia na superfície; mas o que se segue, também na
superfície, é pior, pois é uma mancha na reputação do Construtor. Ele é descrito como
descontente e invejoso por causa da sua posição inferior; e a sua negligência conduziu a uma
fatalidade que tem quase um aspecto homicida”””

Escrito em 1911

Teria sido esse sacrifício ousado demais, mesmo que a lição simbólica, abaixo da superfície,
seja nobre?

Nos dias atuais, isso seria encarado com relativa naturalidade, pois a nossa sociedade
acostumou-se com o fato de que até os super-heróis são às vezes reportados como tendo
lados obscuros, sombrios e, por muitas vezes, recheados de esqueletos no armário.

Semelhantemente, nenhum Maçom minimamente esclarecido nos dias de hoje acredita que a
lenda de Hiram Abiff seja uma história literal.

Porém, se até hoje em dia as pessoas reagem mal quando não gostam de um dado
desdobramento na história de um personagem de um filme ou série, quanto mais um
personagem tão central para um sistema filosófico, como é o caso de Hiram Abiff na
Maçonaria.

Assim sendo, não é improvável supor que a ousadia na lenda desse grau tenha causado
aversão a muitos maçons no passado.

Teria sido essa amarga impressão um dos motivos pelos quais acabou deixando de ser
praticado? Ou, talvez, a razão pela qual outros graus foram preservados por outros corpos e
esse acabou sendo deixado de lado?

O último registro que se tem de qualquer coisa referente a esse grau ocorre numa alusão à sua
lenda, feita num jornal neozelandês datado de 1937, o que dá a entender que o grau se pode
ter espalhado por mais países.
Embora não seja mais praticado, pelo menos não pelos corpos maçônicos convencionais, o
grau conserva ainda grande curiosidade por ter a distinção de ser singular na releitura que faz
de um personagem tão importante para a Maçonaria.

REINALDO DE FREITAS LOPES

M.M

Você também pode gostar