Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
0800-0117875
SAC De 2a a 6a, das 8h30 às 19h30
www.editorasaraiva.com.br/contato
ISBN 978-85-02-63630-9
Alvarez, Francisco J. S. M.
Gestão estratégica de clientes / Francisco J. S. M. Alvarez. – São Paulo : Saraiva, 2015.
200 p.
Bibliografia
ISBN 978-85-02-63630-9
15-0871 CDD-658.81
CDU-658.811
Copyright ©
2016 Editora Saraiva
Todos os direitos reservados.
1a edição
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a
prévia autorização da Editora Saraiva. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
no 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
383.326.001.001
Este livro é fruto de muitos estudos e pesquisas, mas também de
muitas conversas e experiências.
Do momento em que terminei minha tese de doutorado até a
finalização deste livro se passaram, praticamente, dez anos. Se, por
um lado, esse período pareceu uma eternidade, por outro, serviu para
amadurecer as ideias, testá-las e, principalmente, aprender e aplicar
os conceitos.
Nesse caminho aconteceram diversas interações com empresas e
seus executivos, tanto no processo de treinamento como no de
implantação do conceito. Essas inúmeras conversas e reflexões
tornaram possível escrever sobre um tema novo, mas já com a
experiência de sua implantação e da sua evolução conceitual.
Seria impossível citar todas as pessoas que, de uma maneira ou de
outra, mesmo sem saberem, contribuíram para a realização deste
sonho. Desta maneira, sou imensamente grato a todos que
participaram desta minha jornada nos últimos dez anos.
Gostaria apenas de lembrar, neste momento de realização pessoal,
meus entes mais próximos.
Minha filha, Tatiana, fonte de minha inspiração e de contínua
alegria em meu coração, que é a minha referência de vida.
Meus pais, que já se foram e não poderão participar deste
momento de realização, mas que continuam vivos em meu
pensamento.
Todos os amigos, professores e alunos, da Escola de Artes, Ciências
e Humanidades (EACH), e da Faculdade de Administração, Economia
e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), que
fazem parte deste desafio do conhecimento contínuo que se reforça a
cada conversa de corredor e nos cafés, que sempre trazem fonte de
inspiração.
Particularmente, gostaria de lembrar o Prof. Dr. Geraldo Toledo,
meu orientador de doutorado, mas que se tornou o orientador
permanente neste mundo do conhecimento, e o Prof. Dr. Lino
Rodrigues, pelas nossas discussões e reflexões sobre o tema deste livro
ao longo desses anos e que, com certeza, continuarão ocorrendo.
Boa leitura a todos!
Doutor e Mestre em Administração pela Faculdade de
Administração, Economia e Contabilidade da Universidade de São
Paulo (FEA-USP). É professor dos cursos de graduação em Marketing
e dos cursos de doutorado e mestrado em Têxtil e Moda e Sistemas
Complexos da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da
Universidade de São Paulo (USP), e também de cursos de pós-
graduação e MBA na Fundação Instituto de Administração (FIA),
Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Madia
Marketing School.
É autor dos livros Trade Marketing e Gestão eficaz da equipe de
vendas, ambos editados pela Saraiva, e ainda de diversos artigos
acadêmicos apresentados em congressos e publicados em revistas
científicas no Brasil e no exterior.
É diretor da Trade Marketing Assessoria, responsável por
palestras, cursos in company e consultorias em várias empresas
nacionais e internacionais dos mais diversos setores, nas áreas de
concentração de estudo e pesquisa Canais de Distribuição, Gestão de
Equipe de Vendas, Key Account Management, Trade Marketing e
Varejo.
Entre outras atribuições, foi diretor geral da Lacoste no Brasil, e
gerente de marketing para a América Latina da Philips do Brasil
(Divisão de Consumer Eletronics).
Apesar de já ter escrito dois livros e inúmeros artigos para
congressos e revistas científicas, sinto-me como se o estivesse fazendo
pela primeira vez.
Os livros são como filhos: cada um tem sua característica, sua
personalidade e sempre trazem uma emoção única. Ao mesmo tempo,
são obras inacabadas, pois a cada leitura se encontra algo que poderia
ser melhorado e aprofundado, o que os torna seres vivos em contínuo
desenvolvimento.
Este tema, Key Account Management, me acompanha há alguns
anos tanto em pesquisas conceituais como em práticas de implantação
nas organizações.
Comecei estudando-o mais sistematicamente no início do ano
2000 e o escolhi como tema de pesquisa de minha tese de doutorado
apresentada em 2004. Na época, o tema era inédito e seu estudo e
implantação davam os primeiros passos.
Mais de dez anos depois, o tema continua atual e, principalmente,
necessita de uma estrutura conceitual para que seja aplicado,
desenvolvido e ganhe a importância devida na gestão de negócios.
O que motivou a publicação desta obra após tanto tempo é que
ainda não há no Brasil um livro que trate o tema de forma consistente
e estruturada. No entanto, embora grande parte das empresas tenha a
função em sua estrutura de vendas e cargos com profissionais
nominados Key Account Managers (gerentes de clientes especiais), o
que se vê são atividades completamente distintas e mais dúvidas que
certezas na forma de aplicar o conceito e de estabelecer os processos e
sistemas de trabalho para a interação com os clientes especiais.
Outro fator relevante é que o principal aspecto que origina o
conceito, que é a concentração de mercado, tem se consolidado cada
vez mais na maioria dos segmentos, tornando a função mais
necessária e relevante.
O grande desafio que se impõe às organizações é estabelecer a
cultura do Key Account Management para, depois, definir suas
funções e sistemas de trabalho. Essa cultura será o alicerce para
consolidar os diferenciais competitivos e a sobrevivência das
empresas que dependerão desses clientes que dominam os segmentos
em que estão inseridos.
Pode-se entender, portanto, que há um grande caminho a ser
percorrido e que a caminhada mal começou. O propósito deste livro é
trazer o conhecimento que permita não apenas aprofundar o
entendimento sobre o tema, mas também aplicá-lo por meio dos
modelos de implantação que são apresentados.
Não há, aqui, a pretensão de esgotar o tema, mas sim de permitir
uma reflexão ampla e o desenvolvimento e implantação nos diversos
segmentos de negócios que, a partir de uma base sólida de
conhecimento, poderão desenhar seus modelos e sistemas de trabalho.
Este livro é uma contribuição significativa para a evolução do
tema e servirá de fonte de inspiração para novos estudos e livros que
levem o tema ao nível de importância que lhe é devido.
O autor
INTRODUÇÃO
ETAPA I — VISÃO GERAL DA GESTÃO DE VENDAS
1 A EVOLUÇÃO DO MERCADO E A INTEGRAÇÃO ENTRE MARKETING
E VENDAS
1.1 A globalização e seu impacto na competitividade e na
concentração de mercado
1.2 A evolução do marketing de massa para o marketing
individual
1.3 A evolução da visão de vendas de curto prazo para longo
prazo
1.4 A convergência de marketing e vendas
2 GESTÃO DE VENDAS E DE CLIENTES
2.1 A influência da concentração de mercados na gestão de
vendas
2.2 O processo de decisão de compras no B2B
2.3 Modelos de orientação de vendas
2.4 Gerenciamento do relacionamento com o cliente (CRM)
2.5 O impacto da concentração na organização da força de
vendas
3 GESTÃO DAS EQUIPES DE VENDAS
3.1 Variáveis da organização da força de vendas
3.2 Formação e tamanho da equipe de vendas
3.3 Modelos de remuneração da equipe de vendas
3.4 Modelos de treinamento e desenvolvimento da equipe
3.5 Modelos de motivação da equipe de vendas
3.6 As metas e avaliação de desempenho
3.7 Considerações sobre a gestão de vendas
REFERÊNCIAS
Capítulo 2
Quadro 2.1 Tipos de relacionamento no B2B
Tabela 2.1 Ranking dos 20 maiores supermercadistas por faturamento em 2013
Figura 2.1 Concentração do potencial de compras de acordo com o tipo de cliente
Figura 2.2 Papéis exercidos no processo de compra
Figura 2.3 Modelos de relacionamento de vendas
Quadro 2.2 Proposta de valor
Tabela 2.2 Análise competitiva integral do valor percebido
Capítulo 3
Quadro 3.1 Variáveis da organização da força de vendas considerando a empresa
Quadro 3.2 Variáveis da organização da força de vendas considerando o cliente
Quadro 3.3 Variáveis de classificação de clientes
Quadro 3.4 Perfis das equipes de vendas
Quadro 3.5 Perfis de vendedores por características de vendas
Figura 3.1 Intersecção das habilidades do vendedor de alta performance
Tabela 3.1 Dimensionamento das habilidades da função de vendas
Tabela 3.2 Modelo de avaliação de candidatos
Figura 3.2 Relação esforço/resultado convergentes em vendas
Figura 3.3 Relação esforço e resultado divergentes em vendas
Tabela 3.3 Cálculo de comissões médias por faixa de faturamento
Tabela 3.4 Cálculo de conta corrente de comissões por faixa de faturamento: comissão de 2%
com retirada mínima garantida de R$ 8.000
Tabela 3.5 Variação do salário variável em relação ao fixo por volume de faturamento: salário
fixo do vendedor de R$ 3.000
Figura 3.4 Métodos para fazer previsão de vendas
Capítulo 4
Figura 4.1 Interações na Gestão do KAM
Figura 4.2 Matriz de prioridade urgente — importante
Figura 4.3 O foco das relações comerciais
Figura 4.4 Percepção dos clientes quanto à importância do KAM
Figura 4.5 Modelos de interação com os clientes
Figura 4.6 Modelo de desenvolvimento do relacionamento do KAM
Figura 4.7 Interações das empresas no estágio pré-KAM
Figura 4.8 Gravata Borboleta (Bow Tie): interações das empresas no estágio início KAM
Figura 4.9 Interações das empresas no estágio interação KAM
Figura 4.10 Diamante (Diamond): interações das empresas no estágio parceria KAM
Figura 4.11 Interações das empresas no estágio sinergia KAM
Figura 4.12 Matriz de produto/processo KAM
Figura 4.13 Matriz de portfólio de clientes
Figura 4.14 Matriz dos papéis na tomada de decisão de compra
Figura 4.15 Matriz de avaliação por gasto
Figura 4.16 Matriz de avaliação por valor
Figura 4.17 Matriz de avaliação por confiança
Capítulo 5
Quadro 5.1 Alocação de clientes pelo KAM
Capítulo 6
Figura 6.1 Modelo do sistema de informações do KAM
Quadro 6.1 Etapas do processo de elaboração do plano de clientes especiais
Capítulo 7
Figura 7.1 Foco na gestão dos negócios da empresa
Tabela 7.1 Análise da penetração da empresa no mercado
Tabela 7.2 Indicadores de desempenho no mercado
Figura 7.2 Etapas de classificação dos clientes por potencial
Tabela 7.3 Clientes nacionais
Tabela 7.4 Clientes regionais
Tabela 7.5 Clientes por vendedores
Tabela 7.6 Clientes e volumes de vendas atendidos individualmente
Quadro 7.1 Perfis comportamentais dos clientes
Tabela 7.7 Padrão de atendimento por perfil de cliente
Figura 7.3 Alocação da equipe de vendas por perfil de cliente
A primeira década do século XXI trouxe um tempo de mudanças
profundas e de oportunidades e ameaças contínuas ao mundo dos
negócios. Novas tecnologias, novas formas de interação social e
empresarial e, principalmente, um novo modelo de acesso às
informações fizeram que vários processos tivessem de ser revistos.
Ao olhar para as próximas décadas, vislumbra-se um dinamismo
ainda maior com a aceleração dessas mudanças. As relações têm de
ser repensadas não apenas em seu conteúdo, mas em sua forma.
Já vai distante o período em que as empresas tinham relativa
independência em sua atividade. Elas produziam algo e vendiam sem
se preocupar muito com os negócios dos fornecedores e muito menos
dos clientes.
A partir dos conceitos de supply chain e cadeia de valor, que se
consolidaram na década de 1990, as empresas começaram a entender
que fazem parte de um sistema e que não podem sobreviver de forma
isolada. O mercado é apenas um: o de consumidores finais, e todos
têm esse destino em suas atividades.
Outro fator recebido como herança do século passado é a visão
global dos negócios. As empresas olham para o mundo quando
pensam em mercados e, em função da alta competitividade que se
estabeleceu na maioria dos segmentos, passam a buscar o domínio de
parcelas cada vez maiores desses mercados, não apenas pela
expansão, mas, principalmente, por meio de aquisições, fusões e
parcerias.
No ambiente atual, gerencia-se com grande volume de
informações em um mercado altamente competitivo, extremamente
concentrado, no qual poucos grandes conglomerados têm a maior
parcela do mercado e a filosofia de orientação dos negócios é a de
que o verdadeiro cliente é o consumidor final, independentemente de
quem compra o produto ou serviço diretamente.
A gestão de marketing e vendas não poderia ficar imune a essa
nova realidade.
O marketing, que inicia suas atividades pensando em como
desenvolver grandes mercados de massa, procurando atender ao
maior número possível de consumidores com os mesmos produtos,
passa a buscar o atendimento de consumidores individuais, criando
uma quantidade significativa de derivações de produtos que atendam
a essas especificidades.
O setor de vendas, por sua vez, que, originalmente, procurava
vender os produtos sem muita preocupação com os benefícios
proporcionados aos clientes e com uma orientação predominante de
curto prazo, buscando a conquista contínua de clientes, passa a tratá-
los individualmente, procurando não apenas conquistá-los, mas,
principalmente, mantê-los. Para isso, desenvolve uma visão de longo
prazo de desenvolvimento das relações e dos negócios centrada no
cliente, procurando atender suas necessidades e adequando os
produtos e serviços às suas demandas.
Nesse sentido, marketing e vendas nunca estiveram tão próximos.
Ambos têm o olhar no cliente individual e buscam mantê-lo não
apenas oferecendo bons produtos e serviços, mas, acima de tudo,
oferecendo bons negócios.
Essa nova realidade de mercado causa impacto direto na atividade
de vendas, que precisa gerenciar o mercado não mais por territórios
ou segmentos, mas por perfis e características de clientes.
A lei de Pareto dos 80/20 (80% dos meus negócios se concentram
em 20% dos meus clientes) está cada vez mais presente em todos os
segmentos, impondo a necessidade de conhecer as características dos
clientes para estabelecer o modelo de gestão da carteira de clientes, a
formação da equipe de vendas, a política comercial, os instrumentos
de gestão e as formas de interação com cada um deles.
A partir do início da década de 1990, os grandes grupos
empresariais começam a dominar mais fatias de mercado e fazem
surgir as primeiras iniciativas de tratar esses clientes de forma
diferenciada.
Começa a ser desenvolvido um conceito de tratamento
diferenciado ao que se chama de “Grandes Clientes”[1] e que, algum
tempo depois, acaba sendo consolidado como o conceito de Key
Account Management (Gerenciamento de Clientes Estratégicos),
popularizado com a sigla KAM.
Essa nova situação de mercado fez que as empresas fornecedoras
reconhecessem que seus clientes são diferentes e têm distinta
influência nos resultados. Torna-se cada vez mais comum, nas
organizações, que um pequeno grupo de clientes seja responsável por
um significativo volume dos negócios da empresa no mercado.[2]
Para atender esse pequeno número de clientes cuja importância
aumenta cada vez mais, as empresas devem mudar sua filosofia de
vendas, não mais buscando apenas aumentar sua base de clientes,
mas gerenciando os principais de tal forma que o relacionamento com
eles seja desenvolvido em longo prazo e possa ser mantido de modo
lucrativo.
As empresas devem garantir que seus principais clientes estejam
satisfeitos, sejam bem atendidos e que sejam rentáveis. O esforço de
vendas passa a se concentrar em clientes específicos, avaliando seu
potencial individualmente e assegurando-se de que as equipes de
vendas conseguirão desenvolver relacionamentos longos e duradouros
com eles. A visão quantitativa e de curto prazo que caracterizava as
vendas tradicionais passa a ter um foco qualitativo e de longo prazo,
não apenas buscando manter os clientes lucrativos, mas desfazendo-se
daqueles que, estruturalmente, não sejam lucrativos.[3]
Com o objetivo de atender a esses clientes importantes, inicia-se
um novo modelo de gestão de vendas que, em um primeiro momento,
é chamado de Gerência de Grandes Contas, mas que recebe também
outros nomes, como Gerência de Contas Globais, Gerência de Contas
Nacionais, Gerência de Contas Estratégicas, Gerência de
Relacionamento e Gerência de Contas Especiais. Esse novo modelo
estabelece um atendimento individualizado por meio de um
responsável pela conta, o qual busca vender mais para um número
menor de clientes.[4]
A existência dessas contas especiais remonta à década de 1960,
com a fundação, em 1964, nos Estados Unidos, da Associação da
Gerência de Contas Nacionais (NAMA, National Account Management
Association).[5] Essa associação contava com 250 membros em 1970,
atingiu 800 membros em 1997[6] e, em 2014, com mais de 8.000
membros ao redor do mundo.
De acordo com Stevenson e Page,[7] a adoção do modelo de
gerenciamento de contas especiais pode ser vista como uma atividade
de marketing na qual os principais vendedores em setores
concentrados da indústria utilizam-se de estratégias de marketing
voltadas aos principais clientes, atendidos por uma força de vendas
reduzida e específica e que é responsável por uma grande parcela dos
negócios da empresa.
O relacionamento estabelecido com as principais contas e a
amplitude de interação e desenvolvimento de negócios com elas
influirá diretamente no resultado da empresa. Por isso, o
gerenciamento dessas contas está se tornando cada vez mais frequente
nas diversas organizações.[8]
Como ilustração dessa nova forma de interagir com os clientes,
pode-se citar o exemplo da Procter & Gamble (P&G), que até 1987
gerenciava seus clientes por região geográfica e não por contas
específicas. O relacionamento que existia entre a empresa e seu
principal cliente, o Wal-Mart, poderia ser caracterizado como
transacional e antagônico. O presidente do Wal-Mart sugeriu ao vice-
presidente da P&G que pensasse no Wal-Mart como uma extensão de
sua empresa, e que ambos tinham o mesmo objetivo, que era
conquistar o consumidor final. Em resposta a essa demanda, foi
formado um grupo de trabalho da P&G e do Wal-Mart para criar e
desenvolver um relacionamento de parceria. O grupo foi pensado
como algo distinto do restante da empresa, tendo como foco principal
o relacionamento de longo prazo.
Esse foi o embrião do desenvolvimento do conceito de Gerência de
Contas Especiais, na P&G, e os resultados foram surpreendentes. Em
dez anos de relacionamento, as empresas reduziram 30 bilhões de
dólares de custos da sua cadeia de abastecimento, e as margens de
lucro cresceram por volta de 11%.[9]
Como descrito por Shapiro e Moriarty,[10] a Gerência de Contas
Especiais deve buscar crescimento de rentabilidade nos grandes e
complexos clientes e também naqueles que têm potencial de se tornar
grandes clientes, por meio do estabelecimento de um relacionamento
institucional, que envolve os diversos níveis e setores da organização
e do cliente.
É importante identificar o nível de relacionamento com relação ao
nível de colaboração que pode existir entre os vendedores e
compradores. De acordo com Lambe e Spekman,[11] colaboração pode
ser entendida como um relacionamento no qual tanto o comprador
como o vendedor mostram alto grau de comprometimento, têm
confiança mútua, objetivos comuns, planos conjuntos, cooperação e
buscam ganhos mútuos.
A visão de Gerência de Contas Especiais é semelhante para
Barrett[12], que a define como o processo de se direcionar aos
principais clientes da empresa, oferecendo-lhes tratamento
diferenciado em questões de marketing, vendas e serviços. Essa
atividade pode ser realizada por uma pessoa ou por um grupo, que se
especializará no cliente. Seu foco será desenvolver o relacionamento
com o cliente, melhorar a comunicação e ajudar a coordenar as
atividades de ambas as partes, buscando o desenvolvimento do
volume de negócios e de rentabilidade.
A grande e essencial evolução desse conceito de KAM é que,
embora esteja vinculado à atividade de vendas, tem seu foco voltado
para o desenvolvimento de negócios dos clientes, que irá,
naturalmente, se transformar em vendas.
O foco do trabalho do KAM é o desenvolvimento de negócios de
médio e longo prazos, entendendo que isso facilitará a venda no curto
prazo, ou seja, essa venda passará a ser consequência do trabalho
realizado, e não mais o foco único, embora o cumprimento da meta
mensal de vendas continue sendo mandatório.
O conceito de KAM traz uma nova perspectiva sobre o trabalho de
vendas, que, claramente, se divide entre clientes estratégicos ou
especiais e os demais. Enquanto os clientes selecionados passam a ter
tratamento e atendimento totalmente individualizados e
diferenciados, os demais continuam tendo o tratamento tradicional de
vendas. Os clientes sempre serão bem tratados, mas de acordo com
sua importância para a empresa.
A contribuição do conceito de KAM deve ser ampliada para toda a
carteira de clientes e o modelo pode ser aplicado de forma
padronizada a todos os níveis de clientes, ampliando,
significativamente, o gerenciamento de clientes nos diversos níveis.
Desse modo, pode-se entender que, assim como a empresa tem, por
exemplo, seus grandes clientes globais, quando se estuda um
microssegmento de uma região, os clientes que o compõem também
têm concentração de poder de compra. Assim, o conceito pode ser
aplicado estabelecendo-se tratamentos diferenciados de acordo com a
sua importância para a região.
Essa é uma contribuição essencial. O conceito de KAM pode
permear todos os clientes da carteira em seus diversos níveis: globais,
nacionais, regionais, estaduais ou de microrregiões. Desta forma,
permite estabelecer um controle por cliente para a maioria do volume
de vendas da empresa.
A proposta deste livro é desenvolver o tema de KAM como um
modelo integral de gestão da carteira de clientes e como um sistema
de gerenciamento desses clientes diferenciados nos diversos níveis de
vendas e de região. Nesse sentido, traz uma importante contribuição
para o entendimento e a amplitude de aplicação do tema.
O objetivo não é apenas mostrar os conceitos específicos e
ampliados, mas apresentar formas de aplicação e uso de tudo que for
desenvolvido, trazendo orientações e sugestões de como aplicar a
teoria à realidade das organizações.
O livro tem o objetivo de apresentar os conceitos relevantes de
gestão de vendas e de KAM, mas, também, de servir como um guia
prático para a implantação do conceito na empresa. Desta forma, foi
dividido em três etapas.
ETAPA I — VISÃO GERAL DA GESTÃO DE VENDAS
TÉCNICO
Concentrada HERETOGÊNEA
Simples
Complexa
Regional Tamanho
Atividade
NÃO TÉCNICO
Capilarizada Perfil Negocial
GRANDE
Atendimento personalizado
Desenvolv. Negócios
B2B Longo Prazo
Relações técnicas
Baixa amplitude geográfica
ALTO MÉDIO
Relações de negócios
Envolvimento da equipe
Atendimento
B2C diferenciado
Relações comerciais
Desenvolv. Negócios
Alta amplitude geográfica BAIXO Médio Prazo
Relações de negociação
GOVERNAMENTAL Envolvimento do vendedor
Licitações Planos de vendas
PEQUENO
Concentrado Atendimento padrão
Vendas
Curto prazo
Fonte: elaborado pelo autor.
3.2.2.3 MOTIVAÇÃO
A motivação é importante em qualquer atividade desenvolvida na
empresa. Na atividade de vendas, porém, ela é determinante, uma vez
que o resultado do trabalho é posto à prova várias vezes no mesmo
dia e o vendedor precisa se manter motivado independentemente das
negativas que tenha recebido.
O trabalho do vendedor tende a ser solitário, a ser realizado em
locais distantes e autoadministrável em termos de horários e
atividades. Caso o vendedor não tenha ambição e foco no resultado e
acredite que, mesmo assim, pode obter êxito, dificilmente terá
sucesso, mesmo que as questões técnicas e comerciais sejam
devidamente atendidas.
Embora haja discussões em torno do tema, a maioria dos
especialistas em motivação acredita que não é possível motivar
ninguém, já que a motivação “vem de dentro”. O que a empresa pode
fazer é criar um ambiente motivacional e desafiador que entusiasme a
equipe que, por si, já deve ser motivada.
Essa habilidade é a menos passível de desenvolvimento em termos
de treinamento e capacitação. O que se busca fazer é estabelecer
meios de manter a equipe atenta a recompensas que são geradas por
resultados e por meio de apresentações e palavras de reconhecimento
que sensibilizem os vendedores.
Em geral, estabelecem-se programas motivacionais periódicos com
diferentes formas de recompensa, o que é muito positivo. É
fundamental, no entanto, que o processo motivacional ocorra no dia a
dia, com cobranças e reconhecimento pelo trabalho bem realizado e
pelo apoio de seus pares. Nesse aspecto, o papel da supervisão e
gerência de vendas é essencial. Manter a equipe motivada é uma das
principais responsabilidades da gerência e, com certeza, um dos seus
principais desafios.
Mesmo reconhecendo a importância dessa habilidade, deve-se
considerar um desenvolvimento equilibrado entre todas elas a partir
das necessidades da atividade de vendas.
Como pode ser visto na Figura 4.5, mesmo clientes com potenciais
de faturamento semelhante poderão ter formas de relacionamento
distintas em razão da importância que atribuem ao relacionamento
com o fornecedor.
IMPLANTAÇÃO DO MODELO DE
KEY ACCOUNT MANAGEMENT
NA ESTRUTURA DE VENDAS DA
EMPRESA
Gerencio ou sou gerenciado pelos clientes? Essa talvez seja a
principal pergunta que todo gestor de vendas deve se fazer. Se o
modelo de gestão de vendas ainda se baseia fundamentalmente na
própria empresa e em seus produtos, provavelmente está à mercê dos
clientes, que ganham mais poder quanto mais competitivo for o
mercado. Isso gera incertezas sobre os resultados de volume,
faturamento e lucratividade.
A gestão de vendas deve evoluir para a gestão de clientes. A
diferença básica é que, quando se discute gestão de vendas, há uma
visão centrada em valores e volumes de vendas, ou seja, a visão da
empresa para o mercado.
Quando se discute gestão de clientes, há uma visão centrada no
potencial do cliente e no relacionamento que pode ser desenvolvido, e
se estabelece a visão do mercado para a empresa.
Em ambientes competitivos, a estratégia da empresa deve partir
da visão do mercado e, em decorrência disso, o departamento de
vendas deve estabelecer a mesma visão.