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TESE DE DOUTORAMENTO
Outubro de 2015
Tese de Doutoramento
Área de conhecimento – Ciências da Educação,
Especialidade: Inovação e Currículo
Outubro de 2015
I
II
AGRADECIMENTOS
Antes de mais agradeço a Deus pela vida, pela sabedoria, pelo amparo na
gratidão ao meu esposo, Manuel Parafino Batalhão e aos meus filhos Júlio,
Catarina, Safira, Albertina, Loide, Eunice, Teresa e Fátima pelo apoio, carinho e
Doutor Manuel Vaz Freixo, pela sua orientação desde os primeiros passos desta
III
IV
DECLARAÇĀO DO AUTOR
Declaro que o presente trabalho é original, excepto onde é indicado por referência
apresentada.
Este trabalho, no todo ou em parte, não foi apresentado para avaliação noutras
Assinatura:_____________________________________Data: ____/_____/2015
V
VI
SIGLAS e ABREVIATURAS
EP - Ensino Primário
L1 - Língua materna
L2 - Língua segunda
TV- Televisão
VII
VIII
RESUMO
de educação.
school failure when there is a partial or total failure in the achievement of the
the proponent in secondary schools located in Sofala Province in 2014, has revealed
that there is a perception, among the teachers and some opinion leaders who have
answered the questionnaire, that the lack of school buildings and school material,
large classes, the weak competence in the teaching/learning language as well as the
weak commitment, the socioeconomic and cultural conditions of the students, the
weak supervision of the teaching/learning process by the parents and the authorities,
the teachers bad performance due to their weak psychopedagogic training and lack of
motivation, the automatic approvals in the primary school level, the frequent curricula
changes, the existence of many subjects in the initial classes, and the bad use of the
communication technologies by the students constitute the basis upon which the
The research has concluded that the school failure phenomenon is a reality in Sofala
Province and its minimization demands the involvement of the whole society.
Therefore, the main recommendations are that there must be a rigorous supervision
promptly solved in order to avoid negative consequences for the beneficiaries of this
education system.
XI
XII
INDICE
DEDICATÓRIA ............................................................................................................. I
AGRADECIMENTOS ................................................................................................. III
DECLARAÇĀO DO AUTOR ........................................................................................V
SIGLAS E ABREVIATURAS ………………………………………………………….…..VII
RESUMO ...................................................................................................................IX
ABSTRACT ................................................................................................................XI
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
Descrição do Contexto do Estudo ...................................................................... 5
Definição do Problema de Pesquisa..........................................................8
Capitulo I ................................................................................................................... 11
A ESCOLA E O SEU CONTEXTO………………………………………………………..11
1. A ESCOLA E SUA MISSÃO ................................................................................. 11
1.1. Conceito de escola ............................................................................................. 11
1.2. A missão da escola ............................................................................................. 12
1.3. Teorias de aprendizagem ................................................................................... 16
1.3.1.A corrente empirista ......................................................................................... 16
1.3.2.A corrente racionalista ...................................................................................... 19
1.3.3.A corrente interaccionista (Teoria sócio- cultural) ............................................ 24
1.4. A Escola como centro de inovação ..................................................................... 27
1.4.1.Conceito de inovação ....................................................................................... 27
1.4.2.A inovação na escola ....................................................................................... 29
Qualidades de um bom gestor de mudanças …………………………………………..39
1.5. Educação ............................................................................................................ 41
1.5.1.A multiplicidade semântica do termo „educação‟ .............................................. 43
1.5.2.A educação em Moçambique ........................................................................... 55
1.6. A Formação de Professores ............................................................................... 95
1.7.A qualidade de ensino em Moçambique ............................................................. 98
Capitulo II ................................................................................................................ 102
A PROBLEMÁTICA DO INSUCESSO ESCOLAR E SUAS POSSIVEIS CAUSAS 102
XIII
2.1. O que é ter sucesso? ....................................................................................... 102
2. 2. Insucesso escolar, um fenómeno contemporâneo? ........................................ 106
2.3. O Insucesso escolar e suas possíveis causas ................................................. 109
2.3.1. O aluno .......................................................................................................... 117
2.3.2. O professor.................................................................................................... 138
2.4. Quais são as consequências do insucesso escolar? ....................................... 165
2.5. Como contornar o insucesso escolar? ............................................................. 168
2.5.1. Criação de condições ambientais.................................................................. 172
2.5.2. Idealização e desenho de programas educativos efectivos .......................... 174
2.5.2.2. Revisão curricular em Moçambique .......................................................... 179
2.5.3. Revisão do papel do professor ...................................................................... 183
2.5.4. Reflexão sobre o papel do aluno ................................................................... 199
2.5.5. Reflexão sobre o papel da família ................................................................. 205
2.5.6. Outros factores de natureza psicológica, biológica e outros ......................... 211
2.5.7. Papel da ligação escola-comunidade ........................................................... 213
Considerações Finais .............................................................................................. 218
PARTE II: COMPONENTE PRÁTICA: ESTUDO EMPÍRICO
Capítulo I ................................................................................................................. 220
OPÇÕES METODOLÓGICAS DO ESTUDO .......................................................... 220
1. OBJECTIVO DO ESTUDO .................................................................................. 220
1.2. Identificação das hipóteses e operacionalização das variáveis ....................... 221
1.3. Grupo de sujeitos e modo de investigação ...................................................... 225
1.4. Meios de Intervenção ....................................................................................... 230
1.5. Calendário das operações ............................................................................... 231
Capítulo II ................................................................................................................ 232
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ............................................................ 232
2.1. Rendimento Escolar na Província de Sofala, ESG1......................................... 232
2.2. Resultados dos questionários aos 294 professores ......................................... 233
2.2.1. Sobre o conceito do insucesso escolar, segundo os professores ................. 233
2.2.3. Principais causas do Insucesso Escolar ....................................................... 236
2.2.4. Exemplos de casos de Insucesso Escolar .................................................... 238
2.3. Resultados dos Questionários aos Líderes de Opinião.................................... 241
XIV
2.3.1. Sobre o conceito de Insucesso Escolar ........................................................ 241
2.3.2. Reflexão sobre o Insucesso Escolar na Província de Sofala ........................ 242
2.3.3. Principais causas do Insucesso Escolar ....................................................... 243
2.3.4. Exemplos de casos de Insucesso escolar ..................................................... 244
2.3.5. Propostas tendentes à minimização do Insucesso Escolar ........................... 245
2.4. Resultados da Observação de Aulas ............................................................... 247
2.4.1. Escola Secundária Samora Moisés Machel, visitada em Setembro 2014 ..... 247
2.4.2. Escola Secundária Mateus Sansão Muthemba, visitada em ......................... 250
Setembro de 2014 ................................................................................................... 250
2.4.3. Escola Secundária do Dondo, visitada em Outubro de 2014 ........................ 253
2.4.4. Escola Secundária de Machanga, visitada em Outubro de 2014 .................. 255
2.4.5. Escola Secundária de Maríngué, visitada em Outubro de 2014 ................... 257
3. CONCLUSĀO ..................................................................................................... 262
Bibliografia .............................................................................................................. 276
ANEXOS ................................................................................................................. 287
1. Instrumento 1: Questionários para os Professores e os Líderes de Opinião
XV
LISTA DE TABELAS
1975) ......................................................................................................................... 71
professor (PEEC 2012, p.28) 2006-2010 (ensino primário público) ....................... 140
Tabela 11: Estrutura Curricular do EP1(1ª a 5ª) e EP2 (6ª e 7ª) e do ESG1 (8ª a 10ª)
................................................................................................................................ 180
Tabela 15: Caracterização da amostra por sexo e idade (professores) .................. 227
Tabela 16: Caracterização da amostra por Habilitações Literárias (Professores) ... 228
Tabela 17: Caracterização da amostra por Anos de Serviço (professores) ............ 228
Tabela 18: Rendimento escolar 2008- 2012, 10ª classe ......................................... 232
XVI
Tabela 19: Conceito de insucesso escolar, segundo os professores ...................... 234
Tabela 20: Insucesso escolar na Província de Sofala, segundo os professores ..... 235
................................................................................................................................ 240
................................................................................................................................ 242
opinião..................................................................................................................... 246
LISTA DE FIGURAS
XVII
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 11: Exemplos de Insucesso Escolar Segundo os Líderes de opinião ......... 245
opinião..................................................................................................................... 246
LISTA DE QUADROS
XVIII
INTRODUÇÃO
presente estudo reveste-se de certa pertinência tanto dos pontos de vista teórico e
(PEA) e isto possibilitará a inclusão dos mesmos nas temáticas a serem abordadas
autoridades do sector de educação. Esta inclusão dos problemas reais que afectam
o sector da educação será uma mais-valia para o formando, na medida em que este
laboral. Desta feita, este professor estará melhor preparado para fazer face aos
problemas que o seu interlocutor imediato na sala de aula, que é o aluno, poderá
1
apresentar no dia-a-dia do PEA. Como pesquisadora, o presente trabalho constitui
Hargreaves (1994, p. 4) cita uma professora de ter dito “(…) o ensino é uma
profissão na qual, quando se vai para casa, há sempre muita coisa em que pensar”.
De facto, esta profissão não inicia e termina na sala de aulas mas, é um processo
das aulas que se vai ministrar. Após a execução do que foi planificado, o professor
durante a aula anterior, pois que nem tudo o que parece ideal para nós, pode ser a
que lecciona, tem que ser detentor de metodologias e habilidades adequadas para
assimilação dos conteúdos pelos seus alunos. Após a leccionação, o professor faz
2
com o intuito de replanificar o processo e assim poder melhorar as estratégias de
lecciona ou que vai leccionar. Este exercício requer flexibilidade e uma entrega total
à profissão.
Mendez (ibid, p. 95) dissertando sobre a profissão docente, defende que “Se
neste processo ele também assume o papel de aprendente, pois, para poder
ele tem de investigar de modo a dominar a matéria que ele ensina e não só, mas
também se actualizar dado que a ciência não é estática, pelo contrário, é dinâmica,
isto é, os seus avanços são assinaláveis a cada dia que passa. Nesta conformidade,
o professor não pode ficar à margem destes progressos, pois a sua nobre missão
Pesquisa Ensino
Reflexão
Fonte: autora
alunos;
identificados. Este professor deve merecer uma boa preparação nas instituições de
formação. Pois, o défice na formação dos professores faz com que estes não
parceiro na busca do saber. Este professor deve ter também a consciência de que
complexidade das matérias aprendidas e, por outro lado com a sua capacidade de
criativa.
aluno realizar-se como indivíduo numa sociedade, quando este se realiza com
razões que mais adiante iremos debater. Por outras palavras, quando o aluno não
se realiza com a mínima eficiência e destreza, não poderemos falar de sucesso, pelo
aprende se não for ensinado, a forma de transmissão do saber tem sido objecto de
que nos propomos a levar avante este estudo, visando melhorar a prestação de
área do ensino são imensuráveis e de longa data como a própria natureza mas,
para o sucesso do PEA mas que parecem estar a ser ignorados por quem de direito
5
O Subsistema de Educação Geral está estruturado em dois níveis, a saber:
ensino secundário abrange o 1º Ciclo (ESG1), que contempla as 8ª, 9ª e 10ª classes
1983, p. 23).
classe terminal do 1º ciclo, cujo sucesso vai determinar uma boa preparação para o
esta fase, o aluno está apto a ingressar ao ensino superior. De referir que o 2º ciclo
6
permitirá ao aluno, no futuro, usá-la em diversos contextos, tanto dentro do
façam algo por nós e, assim, desenvolver a proactividade (MEC, 2007, pp.
21, 22).
7
A presente pesquisa abrangeu os 13 Distritos que compõem a Província de
opção da autora).
fenómeno? E que políticas são adoptadas pelos intervenientes no PEA para o seu
contorno?
Perante este cenário, pode-se deduzir que nos confrontamos com problemas
cuja origem deve ser identificada, para posterior procura de soluções, já que os
dados revelam uma situação insustentável. Outro exemplo muito recente foi-nos
1
DPEC Sofala, 23/11/13
8
Equivalências do ex-Ministério da Educação, actual Ministério de Educação e
Desenvolvimento Humano, o qual afirmou que “metade dos alunos que realizaram
provas da segunda época em todo o país”. Ainda segundo este dirigente, “trata-se
39,1%), a falta de material didáctico (28- 37,8%) e a falta de motivação dos alunos
detrimento doutros factores de ordem tanto intrínseca como extrínseca que afectam
2
Em entrevista aos Órgãos de Comunicação locais, a 10 de Dezembro de 2014
9
1) Que reflexão fazem os professores, alunos, pais e/ou encarregados de
secundárias?
10
Capitulo I
assim como para fazer face aos inúmeros desafios que a vida no dia-a-dia
apresenta.
ensino tem lugar debaixo de uma árvore, numa tenda, debaixo de um alpendre, por
falta de espaço próprio para albergar os alunos. Estes tipos de espaços destinados a
11
É também na escola onde o homem vai enriquecer o seu arsenal de
conhecimentos, experiências que já leva do meio onde vive e de que faz parte. Por
de acordo com Golias e Tosh (1999, p. 64), “(…) eles têm os seus próprios códigos
i.e. uma troca de saberes úteis para a vida. Neste contexto, o aluno vai à escola já
para a acção de aprendizagem (…)” (Golias e Tosh, 1999, p. 65). Este seria o
professor ideal. Contudo, a prática dita-nos que existem casos em que este
mediador não reúne estas condições mas, continua a assumir a dianteira do PEA.
12
Borges (2004, p. 27), debruçando-se sobre a missão da escola, reporta que
Valentini (1979, p. 13), especificando a tarefa primordial da escola, defende que “(…)
a escola tem a tarefa bem definida de levar os alunos a dominar um certo número de
capacidades, de instrumentos, de noções. Sem isso ela não seria escola”. Mais
adiante, este autor arrola um certo número de habilidades de base que a escola
desenvolve nos alunos, nos seguintes termos: “Com efeito, na nossa sociedade a
transmissão dos conteúdos culturais está ainda confiada, em grande parte, àquelas
descritas. Não só, mas também a escola proporciona ocasião para o homem
transmitir a ciência e habilidades, este autor alarga a tarefa da escola nos seguintes
13
termos: “A função da escola é a de transmitir conhecimentos e a ideologia
Pacheco (2001, p. 57), o qual defende que, “Enquanto instituição, a escola veicula e
conjunto de informações a um povo atinentes tais como: a sua história, seus valores
quais variam de pessoa para pessoa, de etnia para etnia e de povo para povo.
14
única onde têm contacto com todos os outros grupos sociais e culturais”. Este autor
modos de vida, crenças e motivações. Por outras palavras, podemos afirmar que a
Berryman (2001, p. 266), a escola “inicia rapazes e raparigas nas relações sociais e
mundos constituídos por um lado pela família, comunidade e por outro pela escola.
intelectuais.
15
1.3. Teorias de aprendizagem
(1904-1990).
externos, controlados por meio de reforços que ocorrem com a resposta ou após a
17
maneira na presença de tais factores despoletadores) ou a extinção de associações
seguintes:
motivações específicas; e
adequado de reforços.
De facto, para cada reacção deve haver um certo tipo de estímulo conducente
PEA, para seu próprio benefício. Este exercício tem sido bastante difícil, contudo,
18
acordo com estes autores (ibid) a concepção skinneriana de aprendizagem está
organismo que aprende, a fim de aumentar o controle das variáveis que o afectam.
proeminente foi Jean Piaget (1896-1980). De realçar que Piaget já tinha proposto a
individuais do indivíduo através das suas acções no meio” (Lebrun (2002, p. 111).
do meio mas também do grau de maturação das suas estruturas cognitivas. Isto é, o
concreto e operacional-formal.
Esta fase constitui um estádio, “(…) puramente motor e individual”. Nesta fase
a criança reage por instinto. Por exemplo, quando tem fome ou está incomodada
chora;
Este estádio “pode ser chamado egocêntrico (…) inicia no momento em que a
casos, entre dois a cinco anos. É desse duplo carácter de imitação dos outros e de
20
que agia segundo a sua própria intuição cognitiva, ela observa o seu meio e tenta
imitar para si mesma. Como Berryman et al (2001, p.145) afirmam, “(…) numa
estimativa, cerca de dez porcento do discurso das crianças de dois a três anos de
idade consiste na repetição daquilo que um adulto (ou por vezes, uma criança mais
velha) acabou de dizer” e não só, mas também de fazer. Por exemplo, a criança
imita segurar uma esferográfica e rabisca no papel, mas não sabe o que está a
fazer; imita o modo de vestir dos adultos, o modo como eles falam e outros
comportamentos tais como o apertar das mãos, falar ao telefone, entrevistar alguém
com o uso de um pseudo-microfone (um papel enrolado) e muito mais. É nesta fase
dançar e outras.
Nesta fase, a criança começa, de acordo com Lebrun, (2002, p. 113) a “(…)
observações”. É nesta fase que, regra geral, a criança já possui uma certa
Segundo Piaget (1994, p. 33) “(…) aos onze-doze anos, aparece um quarto
estágio que é o da codificação das regras. De acordo com Lebrun (2002, p. 113), a
21
a sua própria aprendizagem: aprende a aprender.” Nesta fase, pode-se afirmar que
mesma. Nesta fase de vida, o mundo do adolescente torna-se “maior, e mais rico,
sobre o meio que o rodeia e assim vai construindo o seu carácter e o seu modo de
encarar a vida.
22
que podem ajudar a compreender situações que podem parecer novas” (Lebrun, ibid
p. 115).
sofre acomodação. A mente, sendo uma estrutura para Piaget, tende a funcionar em
físico e que o ensino deve ser compatível com o nível de desenvolvimento mental da
criança.
23
Outra influência da teoria de Piaget, por exemplo no ensino da Física, é o
de Vygotsky é
Mais adiante, estes autores (ibid) referem que Vygotsky defende que “(…) o
3
Jerome Bruner é actualmente docente pesquisador em Psicologia na New York University nos Estados Unidos
da América.
24
Na óptica de Vygotsky, a sociedade e a cultura não têm simplesmente um
papel activante de estruturas endógenas da razão - como propõe Piaget - mas uma
colectivo de co- construção do saber, é inscrever-se numa relação com outros que
promovem esta co- construção” (Lebrun 2002, p. 129). Portanto, o contexto onde a
de aprendizagens e de experiências.
defende que
“Piaget dizia que as crianças dão sentido as coisas principalmente através de suas
acções com o ambiente, Vygotsky destacou o valor da cultura e o contexto social, que
acompanha o crescimento da criança, servindo de guia e ajudando no processo de
aprendizagem. Vygotsky partia da ideia que a criança tem necessidade de actuar de
maneira eficaz e com independência e de ter a capacidade para desenvolver um
estado mental de funcionamento superior quando interage com a cultura”.
4
Uma região psicológica hipotética que representa a diferença entre as coisas que a criança pode fazer sozinha
e as coisas para as quais necessita de ajuda (Ostermann e Cavalcanti, 2010, p. 27)
25
Esta criança “aprende a pensar criando, sozinha ou com a ajuda de alguém, e
intelectuais que lhe apresentam e lhe ensinam activamente os adultos à sua volta”.
Na prática, e de acordo com este autor (ibid) a pessoa mais experiente dá conselhos
ou pistas, serve de modelo, faz perguntas, ensina estratégias “para que a criança
possa fazer aquilo que inicialmente não saberia fazer sozinha”. Nesta teoria
cultural do contexto onde a criança está inserida. O quadro que se segue resume os
Vygotsky aparece nas aulas onde se favorece a interacção social, liderada pelos
26
professores, os quais falam com as crianças e utilizam a linguagem para expressar
estimula as crianças para que se expressem oralmente e por escrito e é “nas classes
sociocultural.
inovação encontra suas raízes no campo industrial. Segundo Vilar (1992, p.13),
sistema produtivo”. Neste contexto, ainda de acordo com este autor, “(…) é
nem todos estão a favor da transformação. A inovação pode ser vista como o
novo.
que esta “não é uma mudança qualquer, mas a produção intencional e, num certo
programada e com objectivos delineados. Como Patrício (ibid, p.10) ilustra, “não é
possível inovar sem a inovação ter germinado antes como pensamento. (…) Esse
pensar foi um investigar. Foi, de facto, mergulhar no abismo do não- ser; do não-ser
idealizada.
aprendizagem”, pois é à volta dos mesmos que a escola opera e oferece os seus
Trindade (1988, p. 25) defende que ela “deve ser encarada como uma necessidade
natural e intrínseca, por um lado, e como um risco assumido, por outro”. De acordo
com este autor, a inovação é uma necessidade porque a sociedade onde a escola,
1988, p. 10).
em que ela visa imprimir uma evolução da prática pedagógica e, assim evitar a
Segundo alguns escritos, preparar “(…) os jovens para a vida social, num
desejada. Por exemplo, “Toda a inovação que se situa apenas a um nível teórico e
não induz diferença nos comportamentos dos professores e dos alunos pode
onde o ser humano é preparado para a vida; é o local onde ele recebe as
30
ferramentas fundamentais que possibilitam a sua integração no mundo, o qual está
faire sejam adquiridos por todos de maneira sistemática e organizada. Tem uma
que a ciência e a técnica estão a evoluir e o Homem está a par e passo dessa
escola, o Homem luta pela constante melhoria das suas condições de vida assim
como pela melhoria dos espaços terrestre, marítimo e aéreo que ele ocupa.
prática e, assim, une o real ao imaginário, o qual está no seu subconsciente (parte
dos seus sonhos) e constrói o mundo de acordo com a sua imaginação, criatividade,
evolução.
Como se pode depreender, a inovação constitui condição sine qua non para o
31
complexo que, envolvendo variáveis muito diferentes entre si, implica estratégias
nem todas as inovações são bem vistas pelos operadores das mesmas. Daí que
moldes antigos, i.e. às práticas antigas. Assim, a capitalização da inovação será uma
formas de introduzir mudanças que envolvem mais pessoas. Por exemplo Rea-
consideradas democráticas:
ser a mais simples, pois ela não requer o envolvimento de muitas pessoas na
a introduzir no sistema educativo. Não consultando a muitas fontes, talvez seja uma
forma de consumir pouco tempo, poucos recursos materiais e financeiros e ter pouco
trabalho teriam que trabalhar com os professores, todas as entidades influentes tais
um novo livro de leitura para um dado nível de ensino sem consultar os respectivos
6
The Research, Development and Dissemination model (Pepper, 1972, p. 17)
33
que os seus conteúdos podem não satisfazer a cultura local, por exemplo, o que
poderia ter sido evitado se tivesse havido consulta prévia. Neste contexto,
recomenda-se que este tipo de abordagem seja usada para introduzir inovações que
trabalho de equipa e, acima de tudo, ela parece ser mais dinâmica e proactiva. Este
tipo de abordagem parece levar mais tempo e parece ser mais oneroso em termos
financeiros mas, ela é mais rica em termos de contribuições na medida em que ela
abrange muitas pessoas que lidam no seu dia-a-dia com os programas, conteúdos e
materiais a serem inovados e não só, mas também com personalidades que
34
educandos através do desempenho nos diversos desafios que o dia-a-dia oferece
conhecimentos.
alunos e dos supervisores e/ou inspectores. Este exercício está ligado às acções de
avaliação das aulas por esta tríade ou quarteto, professor- aluno- supervisor7e/ou
Contudo, algo deve ser feito tendo em vista a necessidade da materialização dos
e da sociedade em geral.
o bem do público consumidor que são os alunos que acorrem aos nossos serviços e
passado para determinar o trabalho que deve ser feito para eliminá-las. Neste
cenário que se pretende para o futuro. Portanto, o que se quer que aconteça,
assim como se deve prever o que poderá acontecer caso nada se faça.
36
Depois de se desenhar o cenário do futuro, deve-se descrever como será
O que se aprendeu?
uma simples introdução de mudanças pois ela inclui muitos aspectos a serem
ligação com o passado e com o futuro planeado, o que se pretende para o futuro; a
interligadas e a não realização de uma delas poderá criar condições para a não
37
inovação e do mesmo modo, podem existir boas experiências do passado que
algumas experiências, ou seja práticas dos professores que sejam inovações. Este
Decisão de introduzir
Mandato para a mudança mudanças no sistema Natureza de mudança
Mapear o ambiente
Redacção do cenário
Redacção do cenário
Ganhar competências/eficácia
Fonte: Everard e Morris (1990, p. 249)
38
Com efeito, como decorre da nossa própria experiência docente, muitos
que se exprimem através de novas ideias que trazem bons resultados, não só, mas
somente para julgamento pelos inspectores, mas sim uma forma de incentivo. Daí
que para a devida valorização destes contributos seja necessário que existam bons
sofrer reversos. Entenda-se por bons gestores, indivíduos que estejam capacitados
deve ser antecedida de formação de pessoal específico para dar seguimento à sua
Ele deverá ver as mudanças propostas não só do seu ponto de vista mas
Ele deverá mostrar irreverência pela tradição mas respeito pela experiencia;
implementadas;
mudança introduzida;
mudanças introduzidas;
9
Everard e Morris (1999, p. 243)
40
Ele deverá ter uma história de mudança bem sucedida, i.e. deverão possuir
torna-se imperioso que a inovação seja uma prática, de modo a que ela
científico. Mais uma vez reafirmamos que a escola é a fonte onde o Homem vai
buscar a sabedoria, o conhecimento sobre a vida na terra. Esta instituição pode ser
em conta que sem ela não existirá evolução e desenvolvimento. Pelo contrário,
1.5. Educação
“Cada sociedade possui uma série de práticas e de instrumentos que possibilitam aos
seus membros a apropriação de formas complexas de pensar e de agir” Matta (2001,
p. 88).
et al, 1990, p. 301). Nesta óptica, Silva (1981, p. 16) argumenta que a Educação é o
41
Taba in Sousa (2004, p. 30), “A educação é um processo que visa modificar a
definidos pela sociedade em que ela está inserida. Por exemplo, no dia-a-dia,
quando se fala de Homem educado, refere-se a alguém que seja respeitoso, cortês,
de boas maneiras, não maldizente e que sabe interagir ou seja comunicar-se com o
seu semelhante, que sabe controlar os seus ânimos e instintos. Neste ponto abrimos
uns parênteses para defender que esta boa educação, nem sempre é sinónimo de
educação escolar. Pois, existem pessoas que estudaram muito mas não possuem
contrapartida, existem pessoas que nunca conheceram a escola mas, são bem-
educadas, muito respeitosas e sabem lidar com qualquer que seja e em quaisquer
2º, “(…) a educação deve visar o pleno desenvolvimento da pessoa humana” (Dias,
si próprio e de encarar a vida. Contudo, Freire (1975, pp. 82-86), põe em causa esta
ele é usado. Por exemplo, educar pode significar formar, instruir, aconselhar.
Vejamos, a tentativa dos pais educarem seus filhos, é muitas vezes vista como
imposição de normas, regras. Piaget (1996, pp. 10/11), comparando esta realidade à
“(…) o adulto impõe suas regras e as faz observar a uma coação espiritual ou em
parte material, comum na pedagogia familiar, embora dificilmente único, esse
procedimento encontra sua aplicação mais sistemática no domínio da disciplina
escolar tradicional. Que se apoie sobre uma moral religiosa ou sobre uma moral laica,
o procedimento é o mesmo: para a criança, com o efeito, pouco importa que as
regras emanem de Deus, dos pais ou dos adultos em geral, se elas são recebidas de
fora e impostas de uma vez por todas”.
Sousa (2003, p. 41), defende que o termo educação não possui um conceito
43
na primeira perspectiva, a “Filosófica”, de acordo o autor, a educação engloba
que uma sociedade dispõe para formar os membros à sua imagem (Durkheim,
valores morais, cívicos, sociais, culturais e políticos duma sociedade aos seus
para servir o seu país, tornando-o assim fiel à causa da sua pátria, assim como
como as vindouras;
uma renovação contínua que a criança faz à luz das experiências por que passa
44
não ontem, num mundo tradicional (Osterrieth, 1970)". Portanto, a educação
diferenças entre ele e outros seres viventes, por um lado. Por outro lado, a
o meio sociocultural em que vive (Mounier, 1962, Faure, 1968, Hoz, 1972)”. Na
45
escola, bairro, comunidade, clima, cultura, economia, politica, etc (Berthalanffy,
1973)”.
É este cenário que nos permite afirmar que a Educação não se restringe à sala de
(…)”, pois, de acordo com este autor, esta palavra refere-se: “(… ) quer à instituição
educativa, quer aos seus conteúdos, programas, aos métodos e técnicas que ela
outro individuo ou sobre um outro grupo, quer aos resultados e aos efeitos da acção
educativa”.
antropológicos. Este processo pode ter lugar numa instituição organizada para o
efeito (escola) assim como no meio em que a pessoa está inserida (família e
saber: escola e no grupo onde o indivíduo faz parte. Daí que a educação na escola é
46
de actualização e expansão, orientada em um sentido de aceitação social”. Ainda de
acordo com este autor, a educação é um processo dinâmico que visa capacitar o
Homem para “tomar consciência de situações novas que exigem soluções inéditas e
para resolvê-las com eficiência e de maneira satisfatória tanto para o indivíduo como
no âmbito da relação que estes estabelecem com uma dada realidade, capacitando-
Por outras palavras, a educação tem como objectivo primordial equipar o Homem de
natureza, transformá-la e dela fazer o devido uso para seu próprio benefício.
Ela constrói o Homem sob os pontos de vista técnico, científico, cultural, político,
psicológico, intelectual, moral, cívico, ético e sociológico. Por exemplo, Apple (2001,
aparece nos livros e nas salas de um país”. De facto, cada país, de acordo com as
suas tradições culturais e orientação política define o tipo de curricula que pretende
(2012, p. 13) defende que elas “formam as pessoas para trabalharem e produzirem,
47
mas também formam cidadãos para intervirem na sociedade, local e global- daí a
saber: “formar o indivíduo, formar o cidadão e formar o profissional”. Dai que se pode
educado. Nesta óptica, alguns autores defendem que sejam respeitados e incluídos
nos currícula alguns pilares básicos, que segundo Morin (1999) e Salazar (2004),
aprender a conviver (Salazar (2004, pp. 74- 79). Portanto, sugere-se que os
Aprender a Ser
48
O aluno aprende a ser o que é através da prática. É a prática que constrói o
iniciativa criadora, assim como de descobrir mais de si. Ligado a isto está o pilar
Aprender a Conhecer
O PEA não deve consistir numa mera transmissão e recepção de
contrário, a sala de aulas deve ser um espaço destinado para o professor transmitir
para o benefício dos mesmos. Este professor tem também a missão de preparar o
“O aluno deve perceber que o processo nunca está acabado e pode ser enriquecido
com as experiências vividas e com a busca constante do conhecer. Na escola, em
que a aprendizagem é significativa, consegue-se transmitir às pessoas a força e a
base para que continuem a aprender por toda a vida, no trabalho e fora dele. (…) Na
interacção do aluno com os seus pares, as escolas estarão garantindo a base para
que todos estejam sempre mobilizados no processo do conhecimento, por meio da
execução de actividades interdisciplinares e contextualizadas”
Morin (1999, p. 36) chama a atenção à educação para estar alerta ao facto de
estímulos ou signos captados e codificados pelos sentidos” (ibid, p. 24). Para este
cada espírito para o combate vital pela lucidez”. Portanto, é papel da educação,
culturais dos conhecimentos humanos, dos seus processos e das suas modalidades,
das disposições tanto psíquicas como culturais que lhe permitem arriscar o erro ou a
ilusão” (ibid). Esta missão deve ser correctamente percebida e implementada nos
currículo.
Aprender a Conviver
boas maneiras, o respeito por si próprio e pelo seu próximo, para além de outras
formas formas de convivência com outras pessoas que não fazem parte do seu
ensinar o aluno a conviver com o seu próximo. Para este autor, compete à escola
conviver constitui uma tarefa extremamente difícil visto que o Homem tende a perder
muitas virtudes que o ligam ao seu próximo. O Homem não se respeita a si próprio e
como consequência não respeita o seu próximo, isto é, ele parece estar totalmente
50
destituído de generosidade, solidariedade, amor, paciência, paz, tolerância,
cordialidade e cortesia
consagração e de glória”;
programada ou esporádica.
51
Quadro 2: Algumas regras para um comportamento ideal
A introdução destes hábitos não deve ser coerciva. Pelo contrário, deve ser
geral, isto é, o aluno deverá receber os mesmos conselhos em sua casa assim como
nos locais onde ele convive. Castiano et al (2005, p. 252) alertam-nos para o facto
Temos plena consciência que no nosso contexto isto constitui um desafio na medida
em que nem todos possuímos tais hábitos, daí a dificuldade de colaborarmos com os
professores. Mas, sugere-se à educação do futuro que crie condições para que este
processo seja uma realidade. Pois, estes hábitos visam desenvolver no aluno uma
cultura de convívio salutar com outras pessoas, em diferentes contextos que não
seja a sala de aulas e a escola no geral. Portanto, o aluno crescerá com estes
Aprender a Fazer
suficiente de modo a enfrentarem a vida após a sua formação. Por exemplo, não faz
sentido ter aulas de Física e de Química sem ter ocasião de ir ao laboratório. Ou, ter
animais.
através da prática que o aluno melhor assimila os conteúdos. Por exemplo, não faria
sentido o aluno ter educação musical e sair da escola sem saber tocar viola, tocar
piano e cantar. De igual modo, não faz sentido o aluno ter aulas de culinária e sair
“Os conhecimentos e habilidades ligados ao saber fazer se juntam ao saber ser para
preencher as exigências requeridas para o exercício das tarefas complexas, mais
intelectuais, mentais, próprias de funções técnicas, junto com as que se referem ao
trabalho em equipe, capacidade de iniciativa e de sensibilidade”.
Estes saber ser e saber fazer, devem ser antecedidos de condições propícias
tais como o barro, o caniço, o bambu, as folhas de palmeira, etc. Por exemplo, as
país tais como o uso do barro para confeccionar panelas, copos e potes, prática
ancestral das nossas comunidades. Esta também será uma das formas de
fim, pois, o Homem só deixa de ser educável quando o seu estado psicológico ou
fisiológico já não o permitem ou quando ele morre. Este processo visa preparar o ser
humano para a vida. De acordo com Luckesi (1990, p. 86), a escola “(…) como
instância educativa, tem por papel a elevação cultural dos seus educandos. Ela é
contemporânea, de acordo com Alonso (1999, p. 11) “(…) parece claro em todas as
54
enfrentar os diversos desafios que a vida apresenta, deve passar por um processo
próprio, dos seus e de tudo o que o rodeia. Neste contexto, Mazula (2006, p. 41),
se deve dissociar o Homem do contexto em que ele está inserido pois, estaremos a
consideração as diferentes fases da sua história, pois ela assume diferentes funções
em cada uma destas fases. Neste contexto, iremos abordar a educação no período
sua história, a sua tradição, a sua cultura às novas gerações recorrendo a técnicas e
metodologias apropriadas.
ensinamentos são feitos na base de crenças nos espíritos dos defuntos (mitologia)
tradicional.
“(…) visa uma tripla integração do indivíduo: pessoal, social e cultural. Enquanto que
a integração pessoal permite ao individuo reunir num todo unitário as múltiplas
influencias do seu meio para em seguida integrá-los na sua maneira de pensar, de
56
agir e de se comportar‟ Por seu turno a integração social permite ao individuo
participar activamente nas actividades e na vida do grupo a que pertence. A
integração cultural faz da personalidade um modelo, um padrão que é a expressão
duma maneira de viver, pensar e de ser própria dos membros do grupo. O indivíduo
integra os valores culturais do seu grupo e nele se conforma nas suas maneiras de
ser e de agir”.
da comunidade. Cabia aos adultos liderar a educação tradicional. Daí que “A criança
iniciação. “É nessa altura que a educação dos jovens é confiada a alguns membros
57
Tomemos um exemplo de uma etnia da província de Sofala. Meneses (2014,
pp 180/1), resume os ritos de passagem que se relacionam aos ciclos da vida, com
especial referência à etnia Sena, como se segue: à nascença, após três ou seis
de amuleto que se enrola por uma linha e esta é por sua vez amarrada nas ancas do
bebé que se designa por nkuzi”. Este cerimonial visa essencialmente proteger a
com os seus progenitores após estes terem tido relações extra-conjugais. Ainda de
acordo com Meneses (ibid, p 183), na etnia em referência, quando a rapariga atinge
“(...) não deixar que os homens a toquem em partes sensíveis e nem deixar estas
desprotegidas, a não ser proactiva na manifestação de amor ou paixão e se tiver que
ser, que o seja com subtileza, manter as partes genitais bem resguardadas de modo
a preservá-las cálidas, isto é, quentes e o pudor deve ser uma característica sempre
presente na relação com o homem”.
Este tipo de educação, nos tempos que correm no nosso país, já não existe
no seu estado puro. Contudo, ela prevalece em alguns círculos familiares mas os
Na educação tradicional,
“até a puberdade a criança aprende na vivência com o adulto. A partir dos ritos de
iniciação o jovem é integrado na sociedade, que o leva a assumir os direitos e
obrigações, a prestar culto aos antepassados, a aceitar com submissão tudo o que o
velho ensina, a aprender os aspectos fundamentais de uma visão do mundo
profundamente marcada pela superstição e pelo pensamento mágico e religioso”
(MEC, 1985, p 11).
58
Este estado de submissão em que o jovem e futuro adulto é obrigado a
assumir como seu modus vivendi, constitui um demérito pois, faz com que o
Na lista dos aspectos que podem ser resgatados pela educação e ensino da
59
O resgate da moral e da arte de viver em paz e harmonia deveriam constar
aluno sai da escola inapto para por em prática o que aprendeu, pois, durante a sua
d) “Educação sexual: a separação dos jovens por sexos permitia dar uma educação
sexual apropriada a cada grupo; a complementaridade entre o Homem e a mulher
era posta em evidência, procurando deste modo harmonizar as suas futuras
relações em família. O rapaz aprendia como viver com a sua mulher e a rapariga
como viver com o seu marido”.
muitas crianças crescem sem o amor de ambos pais, o que algumas vezes pode não
criança. Por outro lado, assiste-se a uma espécie de libertinagem das raparigas
assim como dos rapazes, no geral, retratada nas gravidezes precoces, cujos autores
são, na maioria dos casos, “desconhecidos”. De igual modo, é normal nos nossos
grande objectivo da Coroa portuguesa (no reinado de Dom Manuel I), que era
porto de Sofala, cognominado „porto do ouro‟ pelos árabes” (ibid, p. 36). Neste
contexto, “Vasco da Gama deixa Lisboa em 1497 (…). Contorna a África Austral, a
“esta ilha era um dos entrepostos comerciais Swahili situados ao longo da costa
oriental africana (…) No entanto, durante os primeiros sessenta anos do século XVI
foi a Ilha de Moçambique o centro da presença portuguesa na costa oriental africana,
um abrigo seguro e ponto de apoio para as suas naus a caminho da Índia”.
Este autor (ibid, p. 23) relata, ainda, que “Durante os séculos XVI e XVII e fins
Golfo Pérsico”. Vasco da Gama faz do porto de Moçambique, “(…) em 1502, o porto
1994, p. 18).
Moçambique são dados por Salter de Mendonça que defende que a única
sua óptica, era falsa, pois, de acordo com Castiano et al (ibid) esta entrega do país a
de mão-de-obra para o Brasil”, pretensão esta que, “não teria muito sucesso se
subsistemas, a saber10:
(i) Ensino oficial, com infraestruturas nas Vilas e Cidades. Este ensino destinava-
residir nas zonas rurais. Em segundo lugar, era discriminatório, pois a maior parte
pese embora fosse tradicional e não sistematizada, mas possuíam traços distintivos
10
http://victorinosambo.blogs.sapo.mz
63
propaganda do seu aparelho ideológico” (Golias, 1993, p. 31). Deste modo, aquele
civilizado. Nesta óptica, aquele que desejasse tornar-se assimilado deveria “(…)
seguintes condições:
„dividir para reinar‟. Portanto, tendo uma parte dos moçambicanos assimilados e
identificados com os seus interesses, não haveria perigo de subversão que pusesse
Nunes (1928 em Golias, 1993, p. 33), a política de assimilação tinha sido um erro
- os assimilados- os quais não podendo ser atendidos nas suas reclamações pelo
tem sucedido nas colónias vizinhas”. Exemplos disto são as associações fundadas
A partir dos anos 40, os gritos de revolta contra a exploração do Homem pelo
“cantam a África como mãe- pátria, lar espiritual”, condenam o trabalho forçado a
que o povo estava submetido e apelam ao Homem negro para se revoltar contra o
De acordo com Enders (1994, p. 41) “Depois de 1945, uma parte dos
com Amílcar Cabral (Guiné Bissau, 1924-1973), António Agostinho Neto (Angola,
11
É a partir dos anos 50 que estes intelectuais africanos em Lisboa regressam aos seus países para passarem à
acção política ou se exilam (Enders, 1994, p. 92)
65
clarividente de revolta em forma de obra literária contra a presença do colonialismo
caderno de poesia Cela 1, o autor destaca a força, ou seja o poder da palavra como
“também é uma forma dialéctica de lhes armar o cerco”, é uma forma de luta. É uma
Tempo de rusgas
12
José Craveirinha, nasceu a 28 de Maio de 1922 na ex-cidade de Lourenço Marques, actual Maputo. Foi
jornalista em O Brado Africano, Notícias, A Tribuna, Noticias da Beira, O Jornal e Voz de Moçambique. Iniciou a
sua actividade literária em O Brado Africano. Publicou as seguintes obras: Chigubo (Lisboa, 1964), Cântico a un
Dio de Catrame (edição bilingue italiana, 1966) e Karingana Ua Karingana (Lourenço Marques, 1974), Cela 1
(Maputo, 1980).
66
Este desabrochar de sentimentos nacionalistas colocam o colonialismo
para uma insurreição geral. Como tentativa de travar esta situação, contudo sem
Decreto-lei 39666 de 20/4/54 sobre indígena e cidadão, o qual vem travar esta
avalanche de assimilados.
(ii) Ensino rudimentar, destinado aos indígenas, ou naturais, com três classes e
previsto para sete, oito e nove anos de idade no ingresso. Este tipo de ensino
desenvolvia-se nas zonas rurais, em escolas das Missões, controladas pela Igreja
escolas de formação para indígenas. Este ensino era subdividido em (a) Escola de
Artes e Ofícios, destinada a rapazes, com quatro classes e (b) Escola de formação
seguintes:
Foi com base neste acordo e num outro documento redigido em 1941, O Estatuto
de exames” (ibid, p 46). Ainda de acordo com este autor (ibid). O ensino primário
Língua Portuguesa;
Aritmética e Sistema Métrico;
Geografia e História de Portugal;
Desenho e Trabalhos Manuais;
Educação Física e Higiene;
Educação Moral e Canto Coral”
Moçambique e com direito de conhecer a sua história como nação e não como uma
ibid 47)
69
Aos rapazes, além destas disciplinas acima arroladas, “era dada ao futuro
Canto coral, Educação Física e Higiene e ainda de Educação Moral e Cívica”. Nas
De acordo com FRELIMO (2010, p. 10), para além do ensino rudimentar, “os
negros tinham também ao seu alcance a frequência das escolas de artes e ofícios,
para aumentarem a sua qualidade potencial de mão- de- obra à disposição dos
devia continuar no mundo da ignorância para que não constituísse ameaça alguma
70
Castiano et al (2005, p. 33), debruçando-se sobre a educação no tempo
consubstanciada por Enders (1994, p. 89), ao relatar que “Em 1950, a população
população adulta moçambicana em 1960 era de 98%” (RPM, 1985, p 43). Contudo,
de acordo com Castiano et al (2005, p. 33), esta situação tende a mudar a partir da
Tabela 1: Evolução do número de alunos do Ensino Pre- Primário e Primário (1951- 1975)
se pode ver a partir dos anos 1964, o número de efectivos é bastante elevado com
relação aos anos 1950 a 1963. A mesma situação se dá com o nível secundário
(tabela 2). Contudo, os efectivos escolares não são tão elevados como os do EP, o
que pressupõe que a taxa de desperdício seja elevada. Isto é, o número de alunos
71
Tabela 2: Evolução do número de alunos do Ensino Secundário (1959- 1975)
relação aos negros” (Castiano et al, p. 35). Ora vejamos, se tivermos em conta que a
poderemos pensar que a subida dos números significa a abertura do ensino para
abaixo:
Desta tabela pode-se concluir que os negros tinham a sua educação limitada
ao nível primário (á aquisição das habilidades básicas: ler, escrever e contar). Daí
que o número destes nos níveis subsequentes de ensino baixa drasticamente. Como
a UP (2006, p. 99) conclui, “até 1961,só alguns dos filhos dos funcionários públicos
que viviam nas cidades é que encontravam lugares nas poucas escolas técnicas,
negra em Moçambique era tão miserável que mais de 80% das nossas crianças não
iam à escola, e menos de 200 crianças negras frequentavam cursos liceais (…)”
13
mestiços e asiáticos
72
Resumindo a educação no tempo colonial, poderemos afirmar que as suas
particulares;
Portugal;
rurais;
assinatura dos Acordos de Lusaka, fruto das “negociações com a Junta (de
Estas zonas, de acordo com Enders (ibid, p 101) podiam comparar-se aos
Frelimo também pratica a concentração nas regiões que domina” mas não para
zonas geridas pela FRELIMO, ao contrário do cenário vivido nas zonas ainda sob
14
As províncias de Manica e Sofala constituíam uma única provincial, chamada Manica e Sofala.
74
Formar o Homem Novo, livre de concepções supersticiosas e subjectivas; com
plena consciência do poder da sua inteligência e da força transformadora do seu
trabalho na sociedade e na natureza;
Criar nos alunos uma personalidade moçambicana, que, sem subserviência alguma,
assumindo a sua realidade sócio-cultural, saiba, em contacto com o mundo exterior,
assimilar criticamente as ideias e experiências de outros povos, transmitindo-lhes
também o fruto da nossa reflexão e prática;
diversas etnias, práticas culturais e línguas. Ensinar aos alunos que este mosaico
cultural, que é Moçambique, deve possuir uma única identidade assim como o
mesmo ideal. O ensino deve ressaltar a similitude de situações existentes entre toda
15
Goméz, 1999, pp. 153
75
divisionismo, aproveitar-se da mão- de- obra nacional a baixo custo e delapidar as
também tinha como objectivo preparar os militantes para a luta armada. Neste
inimigo se serve na guerra. Para além disso, os alunos também aliavam a teoria à
próprio benefício assim como das comunidades. Daí que a palavra de ordem, ou
lema era «Estudar, Produzir, Combater». Deste modo, havia uma forte aliança com
16
Goméz, 1999, pp. 154
17
Goméz, 1999, pp. 155
76
se em educação formal, alfabetização e escolarização de adultos e formação de
professores.
de adultos era dada aos guerrilheiros que, por sua vez, ensinavam as populações.
(4ª classe)18. Outro exemplo nos é relatado por Vicente Roque, director de um
centro- piloto outrora situado na província de Tete, nos finais de 1970. Este centro
18
Angelina Ntchumali, combatente da luta de libertação nacional, 31/12/2014
77
leccionava a 2ª e 3ª classes. Na 2ª classe eram leccionadas as seguintes matérias:
Desta tabela, pode-se constatar que maior parte do tempo os alunos estavam
a trabalhar e tinham somente duas horas livres, das 12.30 às 14.30h. Mas, estas
para lazer era quase inexistente. Portanto, poderemos concluir que quase todo o
provinciais», cuja duração variava entre três meses e um ano. Eram realizados
19
Goméz, 1999, p. 162
78
seminários mensais que reuniam professores para avaliação conjunta das aulas
dadas no mês anterior e preparação para o ano seguinte. Esses seminários serviam
preparar o homem novo que iria erguer o Moçambique livre das amarras do
pedagógicos. “Um outro problema grave era que algumas escolas tinham sido
obrigadas a encerrar devido à fome, provocada pela seca do ano anterior. Assim,
muitos alunos tiveram que regressar para as suas casas porque não havia comida
agrícolas, no artesanato (produção de cestos, esteiras e olaria). Estes por sua vez,
79
163). Portanto, existia uma cooperação salutar entre as escolas da FRELIMO e as
Este relato permite-nos concluir que nas zonas libertadas, esforços foram
tempo darem o seu contributo à luta de libertação nacional. Não só, mas também, de
Castiano et al (ibid. p.43) relatam, “Às escolas da FRELIMO são atribuídas funções
politico- ideológicas. (…) Os recintos/ pátios e as salas das escolas servem, não
movimento libertador não possuía infraestruturas para o efeito. Por exemplo, nos
nossos dias, a FRELIMO possui sedes próprias e é lá onde realiza seus trabalhos.
Portanto, isso foi o passado e faz parte da nossa história. O presente apresenta
cenário diferente.
305) “(…) caracteriza-se, numa primeira fase, pelo esforço dedicado à organização e
154) reportam, a massificação da educação enfrenta sérios problemas tais como “as
escassas infraestruturas deixadas pelo governo colonial (…) sobretudo nas zonas
81
À Educação é conferido papel primordial na formação de quadros capazes de
independente.
Contudo, havia um problema: que língua deveria ser usada no PEA? A língua
todas as escolas do país. Neste contexto, segundo Dias (2002, p. 137), “o governo
língua portuguesa (…) era língua de fora e odiada porque era a língua do opressor e
colonizador, mas era ao mesmo tempo admirada porque só ela permitia nessa altura
agradável mas sim, no sentido de utilidade. Esta língua para além de servir de elo de
e ainda serve de elo de ligação entre o nosso país e outros países, portanto, é uma
Moçambique livre das garras coloniais, Dias (2002. p. 138) refer que “O principal
Daí que o lema da educação era educar o Homem para construir uma sociedade
nova e desenvolver a Pátria”. Neste contexto, “um dos aspectos mais importantes do
82
currículo era a aprendizagem do comportamento revolucionário” (asseio do corpo,
realçar que este currículo era redigido centralmente, pelas autoridades educacionais,
no caso concreto, pelo Ministério de Educação. Portanto, não se criava espaço para
estão no terreno e lidam no seu dia-a-dia com os mesmos. São estes professores
época revolucionária,
“(…) encetou-se nova reformulação dos programas com vista a adoptar o ensino à
construção do Socialismo e destruição do Capitalismo. Até à data da realização
desse Congresso, o discurso político indicava que as vitórias da Revolução no sector
da Educação tinham sido a massificação, o combate ao individualismo, elitismo e
descriminação, a uniformização, a atribuição de um conteúdo político e científico ao
ensino, a formação e reciclagem dos professores e a valorização da cultura e da
reconquista da personalidade moçambicana” (Dias, 2002, p. 145).
Moçambique onde todos pertencem a uma única nação, a uma única pátria.
modo de pensar, sentir e agir. Foi essa capacidade de síntese dos contrários e ao
dialecticidade cultural das zonas libertadas, que permitiu à FRELIMO avançar na luta
e lançar bases para um sistema de educação a nível nacional20. Nesta época (1981)
contradição entre a função social que o sistema tem e a sua contribuição real ao
Ensino Primário (EP1 e EP2), Ensino Secundário (ESG1 e ESG2) e Ensino Pré-
Universitário. De referir que actualmente o nível Pré- Universitário (11ª e 12ª ) está
incluído no nível Secundário como ESG2. De acordo com RPM (1985, pp 29/30) a
20
www.macua.org/livro/
84
secundárias; menos de 10% dos alunos que ingressam na 1ª classe num
determinado ano, concluem a 4ª classe quatro anos mais tarde; 2 terços dos alunos
que concluem a 4ª classe não continuam no sistema de educação, ingressando na
produção familiar ou na vida laboral; o acesso da mulher no ensino é deficiente e
diminui à medida que aumenta o nível escolar, variando de província para província
em função de factores culturais;
que houve alguns avanços neste sector, o que pode, de certa forma, funcionar como
alavanca para solucionar os problemas que ainda persistem. Por exemplo, no EP1
em 2010”. No tocante à infraestruturas escolares para este nível, “das 5.235 escolas
85
socialista” (ibid). É dentro desta necessidade de reverter a elevada taxa de
Moçambique, assim como dos seus efectivos (alunos) e professores como se pode
ver das tabelas a seguir, as quais apresentam informação do período que vai de
1974 a 1982:
Em 1983 foi introduzido o Sistema Nacional de Educação (SNE), pela lei 4/83
“Princípios gerais
A Educação é um direito e um dever de todo o cidadão, o que se traduz na
igualdade de oportunidades de sucesso a todos os níveis de ensino e na educação
permanente e sistemática de todo o povo;
86
A Educação é um instrumento que reforça o papel dirigente da classe operária e do
seu aliado principal, o campesinato; garante a apropriação da ciência, da técnica e da
cultura pelas massas populares e constitui um factor impulsionador do
desenvolvimento económico, social e cultural do país;
A Educação é um instrumento principal da criação do Homem Novo, Homem liberto
de toda a carga ideológica e política da formação colonial e tradicional, capaz de
assimilar, e utilizar a ciência e a técnica ao serviço da Revolução;
O processo educativo na República Popular de Moçambique baseia-se nas
experiências nacionais e no património científico, técnico e cultura da humanidade.
Objectivos Gerais
Formar o Homem Novo, formar um cidadão ideológica, científica, técnica, cultural
e fisicamente preparado para realizar as tarefas do desenvolvimento socialista do
país: Este cidadão deve estar dotado de conhecimentos científicos e valores sócio-
culturais do país. Deve- se identificar com a ideologia vigente, de modo a contribuir
para o desenvolvimento sócio- económico da nação moçambicana;
Erradicar o analfabetismo proporcionando o acesso a todo o povo ao
conhecimento científico e o desenvolvimento pleno das suas capacidades;
Introduzir a escolaridade obrigatória e universal de acordo com o desenvolvimento
do país, como meio de garantir a educação básica a todos os jovens moçambicanos;
Assegurar a todos os moçambicanos o acesso à formação profissional: de modo a
fazer face à existência de poucos quadros formados;
Formar professores como educadores e profissionais conscientes, com profunda
preparação política, ideológica, científica e pedagógica, capazes de realizar a
educação nos valores da sociedade socialista;
Formar cientistas e especialistas altamente qualificados que permitam o
desenvolvimento da investigação científica de acordo com as necessidades do país;
Difundir, através do ensino, a utilização da língua portuguesa contribuindo para a
consolidação da unidade nacional;
Incutir nas jovens gerações o sentido estético, o amor pelas artes, o gosto do belo;
Fazer das instituições do ensino bases revolucionárias para a consolidação do
poder popular, profundamente inseridas na comunidade” (RPM, 1985, p. 6)
SNE, na altura, formar o Homem Novo livre de preconceitos raciais, culturais, étnicos
mergulhado numa guerra civil a partir de 1977, cessando estas hostilidades somente
Por seu turno Enders (1994, p. 116) relata a génese do movimento armado
que desestabilizou o nosso país, apresentando os seus mentores, as suas
motivações assim como as suas acções, nos seguintes termos:
braços com uma grande falta de escolas, centros de saúde e outras infraestruturas
importantes na vida do povo, tais como estradas, pontes, linhas ferroviárias, etc. Até
aos dias que correm podemos ver escombros resultantes da sede de destruição em
quase todo o país. Só um exemplo que ilustra o que aconteceu um pouco por todo o
país pode ser visto na Vila de Cheringoma, a Norte da Província de Sofala, onde as
guerra deixou muita gente com seus membros amputados, sem seus ente queridos,
88
crianças desamparadas, idosos entregues à sua sorte, viúvas, famílias separadas,
Por todo o país houve êxodo de muitas pessoas procurando refúgio nas
sedes dos distritos, nas cidades e noutros locais aparentemente seguros, deixando
guerra distanciou muita gente de suas raízes seculares ao forçar a sua retirada dos
peregrinos dentro do seu próprio solo pátrio. Esta guerra afugentou nossos parceiros
Por exemplo, “em 1990, mais de 50% da rede escolar primária estava
89
anos seguintes reduziu drasticamente, baixando para 54%, em 1994 (MINED, 1996;
INDE, 1997).
criar uma guerra civil que era fomentada por parte dos países capitalistas que não
concordavam com a via socialista adoptada pelo país” (Dias, 2002, p. 167). Esta
situação culminou numa crise económica sem precedentes, nos finais dos anos 80.
Neste contexto, Moçambique “foi classificado, pelo Banco Mundial como sendo o
país mais pobre do mundo” (ibid). Esta crise fez com que Moçambique passasse a
(FMI)”21.
“Ao aderir às políticas do FMI e do Banco Mundial, o governo moçambicano vai optar
por uma política neoliberal de defesa do sector privado que passa a ser considerado
como sendo mais eficiente e mais qualificado do que o sector estatal e o público. Ao
defender o sector privado, o Estado vai desnacionalizar a educação, a saúde, os
transportes e todos os outros sectores sociais. Na educação, criam-se escolas
privadas e comunitárias, o ensino deixa de ser gratuito e a lógica que orienta a
educação passa a ser a do mercado, em que tudo pode ser vendido e comprado.
Hoje defende-se na educação a pluralidade, a descentralização, a pluralidade, o
poder local. A educação passa, assim, a ser controlada também por outros agentes
para além do Estado, i.e. por Empresas, Cooperativas, Organizações Não-
Governamentais, etc. A educação é organizada à lógica do mercado e assiste-se a
um abandono de valores como solidariedade, igualdade, fraternidade e exalta-se a
competitividade em todos os níveis de educação”(Dias, ibid).
21
Estas transformações politico- ideológicas e culturais no nosso país “nos finais da década de
oitenta” ocorrem numa época em que também se assiste a queda dos regimes socialistas da URSS,
RDA, Bulgária, Jugoslávia, Roménia, Checoslováquia, etc. Indicando, assim, o “triunfo do capitalismo
e o tema mais discutido em todo o mundo passou a ser globalização” (Dias, 2002, p. 168).
90
É nesta época que são introduzidas algumas mudanças na economia
Acção Social Escolar. Em 1990, através do decreto 11/90, de 1 de Junho de 1990 foi
Nesse ano foi feita uma nova revisão à lei do Sistema Nacional de Educação que
resultou na Lei nº6/92. As alterações introduzidas à nova Lei do SNE não afectaram
a estrutura da Educação Geral” (MEC22, 2009, p. 6), como se pode ver a seguir:
22
Ministério de Educacao e Cultura
91
comunitárias e pelo sector privado. Este subsistema, coordenado pelo MMAS, divide-
se em dois níveis: o nível das creches, que cobre as crianças dos 0 aos 2 anos, e o
nível dos jardins-de-infância que atende crianças entre os 2 e os 5 anos. A frequência
é facultativa. O ensino escolar compreende i) o Ensino Geral, ii) o Ensino Técnico-
Profissional e iii) o Ensino Superior. O Português é a língua oficial e a língua de
instrução. O ensino extra-escolar engloba actividades de alfabetização e de
aperfeiçoamento e actualização cultural e científica realizadas fora do sistema regular
do ensino” (MINED, 2012, p. 12).
números falam por si, como veremos a seguir. De acordo com dados apresentados
“A partir de 1992, o número de alunos passou de 1,2 milhões para 4,4 milhões (2011)
no EP1, e de 130 mil para 871 mil no EP2 (2011). No Ensino Secundário Geral, o
número de alunos que frequentam o 1º ciclo passou de 43 mil em 1992 para 761 mil
alunos em 2011 tendo a percentagem de raparigas passado de 37% para 47,5%. O
número de distritos onde era leccionado o 1º ciclo passou de 44 em 1992 para 86 em
2000 e para 113 em 2005. Todos os distritos estão cobertos em 2011. No 2º ciclo do
Ensino Secundário Geral, em 1992, apenas 6 distritos possuíam pelo menos uma
escola secundária que leccionava o 2º ciclo. Havia menos de 5 mil alunos e só 25%
do total de alunos eram raparigas. Em 2011, 98 distritos possuem pelo menos uma
escola secundária do 2º ciclo com um total de 191 mil alunos, dos quais quase 46%
são do sexo feminino. Em 1992, apenas 7.290 alunos frequentavam as 31 escolas de
Ensino Técnico-Profissional (diferentes níveis). Em 2011, cerca 45 mil alunos
frequentam as 145 diferentes escolas e instituições técnicas (públicas e privadas,
incluindo as instituições de formação profissional tuteladas por outros ministérios). Em
1992, existiam apenas 3 universidades que absorviam 4.654 alunos. Em 2011,
existem 38 instituições de Ensino Superior (incluindo as privadas) que abrangem
cerca de 100 mil estudantes”.
abaixo, o que revela os grandes esforços que o Governo e seus parceiros e diversos
assim como no aumento da população estudantil que acorre aos nossos serviços
educacionais.
92
Tabela 6 a): Evolução da Educação (2011- 2013)
EP1 10 800 11 164 11 457 4 373 183 4 492 321 4 651 667 69 522 71 694 74 331
EP2 3 524 4 068 4 587 792 679 783 661 782 862 22 641 23 494 24 223
ESG1 412 446 458 501 845 508 836 522 569 11 190 12 309 13 387
ESG2 139 156 174 96 614 101 769 107 381 3 403 3 778 4 427
6 274 232 6 366 355 6 598 601 109 780 113 586 119 129
Fonte: Direcção Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano de Sofala, 3/03/2015
No que diz respeito às instituições de ensino superior, ressalta dos dados que
23
e 5.793 docentes a tempo parcial
24
e 4.816 docentes a tempo parcial
25
e 6.644 docentes a tempo parcial
93
Educação, no período pós-independência entre 1974/5 e 1979. “A política
educacional do novo Estado de 1975 orienta-se por uma série de princípios gerais
que se pensava serem prática bem sucedida em todos os países socialistas, entre
Esta fase é caracterizada por uma espécie de retrocesso nas conquistas alcançadas
parte da população residente nas Vilas e outras regiões à procura de locais seguros;
94
1.6. A Formação de Professores
constituiu prioridade na era colonial, daí que após a independência, com a fuga de
país viu-se a braços com a falta de professores nacionais qualificados, para todos os
primário, ensino secundário geral e técnico (ESGT), ensino de artes e ofícios (EAO),
95
Tabela 7: Cursos de Formação de Professores em Vigor em 1981
de Formação Ocupacional
Desig- Classes Tipo
(disciplinas)
nação Ingresso
Como se pode notar dos dados acima apresentados, estes cursos eram de
de terem sido cursos de curta duração em relação ao tempo ideal para a formação
96
eficaz de um professor, os mesmos permitiram que a educação não parasse, pois
“(…) os professores para o EP1, EP2 e ESG1 (da 1ª à 9ª classe) são formados em 11
Centros de Formação de Professores Primários (CFPP) e 9 Institutos Médios de
Abilitação de Professores (IMAP), pertencentes ao Estado, bem como em centros de
formação pertencentes e geridos pela Ajuda ao Desenvolvimento Povo para Povo
(ADPP). O Centro Universitário Dom Bosco, começou, faz quatro anos, a formar
professores para algumas disciplinas do ensino técnico e profissional”.
97
O IAP proporciona oportunidades, embora limitadas, para o aperfeiçoamento
de professores sem formação e com formação deficiente.
futuro cidadão moçambicano dotado de habilidades e atitudes para fazer face aos
científicos e técnicos sólidos, valores morais e cívicos; por outro lado, seria criar
defende, os alunos devem ser dotados de “ferramentas para dar cobro aos
respostas às questões de um espaço muito bem definido”, que é o seu país, mais
actividades”(ibid p, 32).
98
aprendizagem. Analisando o estágio actual da educação em Moçambique, constata-
se que,
Matos (2009, p. 260) testemunha este facto quando relata que a Ordem dos
onde estes são formados “(…) estejam a ser abertos sem que estas disponham dos
seu normal funcionamento (…)”. A esta lista, julgamos justo incluir a fraca formação
no ensino básico. Isto é, depois da 10ª classe o aluno ainda tem dificuldades
várias constatações, que “(…) do grupo de sete países que participaram na nossa
99
Estes dados permitem-nos pressupor que esta pontuação dos professores
das áreas em que os alunos são formados. Para que se alcance a qualidade
Como podemos notar, Moçambique está num grande dilema: por um lado
esta que origina as salas de aulas superlotadas que por sua vez não facilitam o bom
100
decorrer do PEA. Por outro lado, questiona-se a qualidade de ensino. Portanto,
queremos atingir dois objectivos que nos parecem difíceis de atingir em simultâneo:
101
Capitulo II
“Devemos afastar a ideia de que o fracasso é uma questão que só atinge o professor,
que se confronta com essa situação e o aluno” (Mendez, 2001, p. 94).
tenha sido planificado ou esperado. Fonseca (2004, p. 167) define sucesso como
“ser capaz de garantir a própria sobrevivência, num ambiente cada vez mais
educando, já fora da escola, é capaz de aliar a teoria à prática, isto é, quando ele é
desistências.
102
acomodação do saber) pelo aluno. No ensino, o actor principal é o professor, o qual
exteriores aos sujeitos que aprendem, portanto, os alunos (Trindade, 2002, p. 8).
Não só, mas também, como Santos (2005, p. 10) argumenta, cabe ao professor um
principal é o aluno, o qual “(…) acede a um saber exterior” a ele mesmo (Trindade,
exerce sobre si próprio; não é simplesmente registar para reproduzir”. Como se pode
adquiridos e usá-los em contextos reais de aplicação, como por exemplo falar, ler,
segundo Meirieu (1998, p. 31), “(…) fazer com que o sujeito adquira as
competências técnicas que serão mais úteis à sociedade na qual se encontra (…)” e
103
porque não de utilidade também para ele se considerarmos que o mesmo faz parte
da sociedade?
algo, quando este faz exibe a capacidade de fazer réplica do aprendido num
quando sabe ler, escrever, contar e realizar outras tarefas como fruto do processo de
ensino e aprendizagem.
desenvolver habilidades para fazer face à vida. Portanto, que eles possam
Ferrer (2003, pp. 85, 91) defende que existem três variáveis tradicionalmente
104
a) “nível socioeconómico e cultural dos alunos e das suas famílias” (bens
orçamentos).
Contudo, a realidade dita que toda a sociedade deve trabalhar lado a lado
com o professor de modo a que este processo surta os efeitos desejados: educar e
gerações.
105
2. 2. Insucesso escolar, um fenómeno contemporâneo?
da escola como local que congrega sujeitos que ostentam diferentes tipos de
fracasso escolar constitui um desafio generalizado que não pode ser ignorado sob o
institucional, distinguem-se os bons dos maus, os mais dotados dos menos dotados,
Como Sousa (2003, p. 109), ironicamente comenta, “Os alunos que aprendem muita
este estágio estão incluídos no insucesso. Poderá depreende-se daqui, que a escola
não pode ser para todos. Porque na verdade se o fosse, não haveria exclusões de
106
escola teria como tarefa ensinar e educar todos indivíduos sem excepção baseada
selectivas como nos referimos anteriormente e que de algum modo podem suscitar
relacionados com o insucesso escolar foram publicados no inicio dos anos 60 e dai a
não incluíam toda a população escolar. Vejamos, Crahay (1996, p. 29) reporta que
nos anos 50, em França, o fenómeno insucesso era somente procurado em crianças
provenientes de boas famílias. Entenda-se por boas famílias, aquelas que possuíam
condições socioeconómicas estáveis e não só, mas também conhecedoras das boas
ligeira, ou não se fala delas”. Aqui estamos perante crianças desprovidas de boas
107
De igual modo, constituem um meio de sobrevalorização dos valores morais,
esse facto. Contudo, no final do século XIX e no inicio deste século, alunos que
pode ser considerada unilateral, pois ela exclui a possível influência da instituição
acessibilidade ou não dos materiais de ensino pelo aluno e seu grau de facilidade ou
dificuldade.
escolar sobre o desempenho do aluno é- nos apresentado por Patto (1996, p. 63)
quando relata que no final do século XVIII e início do século XIX alunos com
108
“(…) quando os problemas da aprendizagem escolar começaram a tomar corpo, os
progressos da nosologia já haviam recomendado a criação de pavilhões especiais
para os duros de cabeça ou idiotas, anteriormente confundidos com os loucos; a
criação desta categoria facilitou o trânsito do conceito de anormalidade dos hospitais
para as escolas: crianças que não acompanhavam os seus colegas na aprendizagem
escolar passaram a ser designadas como anormais escolares e as causas do seu
fracasso são procuradas em alguma anormalidade orgânica”.
social do aluno (Crahay, pp. 9-10). É dentro desta visão que surgem diversos
trabalhos que visam resgatar em que medida o status da família onde o aluno está
ao saber ser e saber estar, transmitido pelos professores na escola, muitas vezes
diferente do que aprendeu em sua casa. Pois, de acordo com Mialaret (1999, p. 25) “
dentro do modus vivendi daquele núcleo restrito que constitui a base de qualquer
109
O insucesso escolar é uma realidade que tende a evidenciar-se no fraco
subsequentes de ensino assim como o fraco domínio das quatro habilidades básicas
Moçambique está abaixo da média da região, mas também que a maior parte dos
matemática que garantam o seu sucesso escolar nos níveis de ensino mais altos.
2012, p. 58).
capacidades, aptidões, maneiras de ser e de estar. É esta realidade que deveria ser
p. 79), nos chama a atenção, “Não se pode negar que existem diferenças entre os
alunos e nem se pode fugir dessa realidade. Diferenças que, por vezes, não
dependem da pessoa, mas sim da natureza. Portanto, a pessoa não pode ser
culpada por carecer de certas habilidades”. Contudo, a realidade leva-nos a crer que
as diferenças entre os alunos não é considerada pelos professores pois, para estes,
todos os alunos são iguais e daí que a exigência é a mesma para todos. Como
Menegolla (ibid) argumenta, “(…) a escola, muitas vezes, considera os alunos como
claro que se coloca como prioridade o cumprimento dos programas das disciplinas e
que “(…) numa concepção tradicional, é o aluno que não aprende, que não adquire
que não estuda, terá que ser ele que tem de repetir, ou então terá que desistir”.
levadas a uma visão simplista que nos remete à ideia do aproveitamento negativo no
adquirido com sucesso todas as matérias leccionadas. Que importa obter uma pauta
exibindo muitas notas positivas enquanto os titulares das mesmas não assimilaram
111
quem de direito ou para garantirmos o emprego, ou simplesmente para acomodar
termos:
escrito um rol de matérias que tenha recebido na sala de aulas, este fica
automaticamente na lista dos que são rotulados como os que não estudam, não
sabem nada, preguiçosos, brincalhões, etc. Estes julgamentos não são feitos com
identificar as possíveis causas deste não alcance das metas definidas e esperadas
112
consciência de que em contextos como o nosso, este exercício pode parecer uma
injustos para com os alunos e para com os seus familiares, os quais esperam algo
mais abrangente, pois ela incorpora outros indicadores, tanto extrínsecos como
que os rodeia.
113
Gomez et al (ibid) avançam que as causas do insucesso escolar são muito
quanto desviantes devido à influência do meio em que vivem. Por exemplo, é normal
nos dias que correm encontrar jovens com conduta bastante duvidosa, aqui nos
naturalmente que vão à escola porque são obrigados pelos pais e/ou encarregados
este poderá ter bons resultados se o teste for meramente teórico. Até poderemos
durante a prova. Este aluno terá nota positiva. Se o teste for prático, aí veremos se o
114
aluno realmente domina a matéria sendo testada ou não, pois nesta situação ele é
obrigado a estabelecer relações entre a teoria e a prática, para além de ter que fazer
alunos que já concluíram o segundo ciclo mas que não sabem escrever uma simples
redacção, assim como não sabem ler com a proficiência desejada para o seu nível
que é o domínio da leitura e escrita de modo a fazer face aos níveis subsequentes
ciência e da técnica.
escolar, Ribas e Carvalho (1999, p. 43) alertam-nos que muitas vezes incorremos
“ao erro de culpar, pelo fracasso, a própria criança, a sua família e o seu meio social,
26
citado em Sacristán (2000, pp. 94)
115
eximindo a escola e o sistema social de qualquer culpa”. Este ponto de vista remete-
nos, mais uma vez à ideia de que o insucesso escolar constitui o resultado de uma
Sil (2004, p. 29) inclui a instituição onde o PEA tem lugar na lista dos
possíveis factores do insucesso escolar, posição esta “(…) surgida a partir dos anos
“(…) responsabilizar a escola pelo (in)sucesso escolar dos alunos não significa uma
referência à instituição em si, ao edifício (…) mas essencialmente a toda uma
estrutura de carácter administrativo e pedagógico que implica também a elaboração
de uma análise a questões como a avaliação dos alunos, a colocação dos
professores, ou a falta de equipamentos e /ou infraestruturas, a inexistência de uma
efectiva abertura da escola à comunidade ou ainda à análise das políticas educativas
e de ensino e às realidades sociais”.
Esta chamada de atenção visa alertar-nos de que podem concorrer para o (in)
“Uma das principais dificuldades da escola actual- e a principal responsável pelo seu
crescente insucesso na educação satisfatório de um número cada vez maior dos seus
alunos, que saem escolarizados (mas não educados ou sequer instruídos)- reside no
formato organizativo que a escola continua a perpetuar, quando na realidade é
profundamente diferente da de décadas anteriores. Não é possível continuar a
conceber o currículo de uma forma estática, definida, nos seus conteúdos,
organização e modelos de trabalho, a partir de um único padrão, centralmente
definido”.
Esta lista chama-nos atenção sobre o facto de existirem muitos factores que
melhorar a nossa prestação de serviços bem como o produto da nossa tarefa que é
um aluno bem formado e com habilidades para enfrentar futuros desafios da vida.
acordo com diversos estudos levados a cabo por diversos pedagogos e alguns
2.3.1. O aluno
No PEA, o aluno tem sido, muitas vezes, visto como o principal portador de
pontos fracos que concorrem para o seu não- acompanhamento desejável das
acontecer com o seu educando durante o PEA, assim como fora dele, isto é, o que
acontece com o aluno quando está em casa, num ambiente diferente. Ele só está
mesmas, rotular os alunos como bons ou maus, não só, mas também decidir quem
- A postura do aluno
que ela tende a interferir nas relações que o aluno tem com os seus colegas assim
como com o (s) professor (es). Por exemplo, um aluno indisciplinado e barulhento
118
Como se pode ver, manifestações meramente comportamentais interferem na
Por exemplo, no caso das 10ª classes, a classe escolhida para o presente
trabalho, esta situação agrava-se pelo facto de os alunos estarem numa fase um
a fase transitória entre a criança e o adulto. Nesta fase, o aluno não possui ainda
uma personalidade firmada, daí que não esteja, em alguns casos, a comungar os
ruas até alta noite. Estes jovens deveriam aproveitar as noites para fazer o cérebro
descansar de modo a estar preparado para, no dia seguinte, fazer face ao PEA.
facto de alguns alunos perderem o ano por faltas por registarem muitas ausências
nas aulas, sem o conhecimento dos seus pais e/ou encarregados de educação.
tanto a quanto anormal. Para além destes vícios, é normal ver jovens a perderem
convidados.
encarregados de educação que não possuem boas condições financeiras para que o
Abraham Maslow (1970), na sua teoria de motivação, defende que “(…) devemos
combustível que faz com que o Homem ou qualquer outro ser vivo se movimente e
fisiológicas. Daí que a falta deste imperativo pode trazer consigo consequências
120
desagradáveis, como por exemplo, a fraqueza do organismo, a desmotivação para a
execução de tarefas e outros males. Portanto, um aluno com fome não estará
que sente, tais como fazer peditórios nas ruas, roubar, promover pequenos negócios
e mais. Isto a acontecer, o aluno desiste de ir à escola, pois esta deixa de ser
importante visto não trazer lucro imediato como o faria um negócio, mesmo que seja
escola porque têm medo de possíveis represálias em casa, mas, pouco rendimento
têm na sala de aulas devido ao seu estado fisiológico (fome) o qual pode contribuir,
Sofala. Em 2013 tinha-se planificado o ingresso de 45. 949 alunos e ingressaram 43.
827, sendo uma das razões, segundo fonte do Serviço Distrital de Educaçao,
Juventude e Tecnologia (SDEJT) local, o facto de “(…) algumas famílias que vivem
matricular seus filhos nas escolas daquele Distrito motivadas pelo lanche escolar
121
servido gratuitamente aos alunos pelo JAM (Joint Aid Management)” 27. Portanto,
país, até crianças fazem negócio. Não se veda à criança de estar na rua a vender a
qualquer hora do dia. Outras até levam a mercadoria para ir vender aos seus
colegas na escola. Portanto, esta situação tornou-se o nosso modus vivendi! Não
para a escola, para o caso dos que vivem longe desta. Por outro lado, existem
povoações, por exemplo nas zonas rurais onde não há transporte. As poucas
crianças que conseguem, vão de bicicleta para a escola. Contudo, outras não
possuem esta possibilidade. Dai que a única alternativa é fazer o percurso para a
escola à pé e quando estes alunos chegam à escola, já estão cansados, alguns com
27
O JAM foi um programa idealizado por dois senadores americanos a saber George McGovern e
Robert Dole, implementado de 1988 a Dezembro de 2013 na Província de Sofala, nos Distritos de
Beira, Dondo, Nhamatanda, Cheringoma e Muanza com o objectivo de prover comida pela educação
e de melhorar o quadro de nutrição infantil das crianças em idade escolar. Este programa de
alimentação escolar teve como objectivo geral: melhorar o acesso e o nível de aprendizagem do
ensino primário nas escolas EP1, assim como para as escolas completas do ciclo primário diurno
(EPC); e como objectivos específicos: melhorar e estabilizar as taxas de ingresso por ano neste nível
de ensino; reduzir as taxas de desistências por ano especificamente para raparigas; reduzir as taxas
de desistências por ano especificamente para as crianças órfãs e vulneráveis; melhorar a capacidade
de concentração nas aulas (aumentar a taxa de aproveitamento por ano); e melhorar a taxa de
frequência dos alunos na escola a este nível. Para o 1º turno, papa soja era servida durante o
intervalo maior; para o 2º e 3º turnos a papa era servida antes do inicio das aulas. Para às raparigas e
às crianças órfãs e vulneráveis, o projecto dava 50 kg de arroz trimestralmente. (DPEC)
122
alargamento do horizonte científico do aluno, tais como livros e outro material
didáctico.
duplicidade de tarefas faz com que, algumas vezes, o aluno se sinta fatigado e
comece a dedicar-se menos ao processo educativo. Por outro lado, temos crianças
que são chefes de família, isto é, tomam conta dos seus irmãos mais novos devido
ao facto de terem perdido os seus pais e nenhum outro familiar se predispor a tomar
responsabilidade deles. Como Dias (2002, p. 211) no seu trabalho sobre o fracasso
escolar reporta, “(…) o fracasso das crianças é atribuído ao facto de elas darem
decisão sobre a sua vida. São os seus progenitores ou encarregados que decidem o
Por isso, nas nossas comunidades é normal a criança tomar conta dos irmãos
à base de feijão cafreal28), pão, fruta e outro tipo de mercadoria nas cercanias de
escolas e outros locais públicos, no período em que os mesmos não têm aulas. Por
exemplo, se a criança estuda de manhã, à tarde vai fazer negócio e, se ela estuda à
28
Feijão local. O termo cafre era uma designação atribuída pelos colonos portugueses a qualquer
língua moçambicana, ou a indivíduos negros analfabetos de condição social e económica baixa (Dias,
2002, p. 73).
123
tarde então, faz o negócio de manhã. Este tempo seria dedicado ao estudo, à
telemóveis, assim como a se oferecerem para outros tipos de serviços tais como:
ponto, gostaríamos de abrir um parêntesis para defender que nem todas estas
situação.
escola para realizarem trabalhos caseiros à mando dos seus progenitores ou das
pessoas com quem estas vivem. Tratando-se de uma obrigatoriedade, a criança fica
com os seus. Desta forma, a criança, ou o jovem fica sem tempo para realizar as
de ir com assiduidade à escola. Para o aluno, a prioridade seria a escola, mas como
a renda da família, este torna-se refém deste processo. Este tem de obedecer, pois
Por outro lado, o amor pelo dinheiro faz com que algumas destas crianças e
jovens façam negócios sob iniciativa própria e não como obrigação dos pais e/ou
124
encarregados. A propósito disto, no dia 24 de Outubro de 2014, a autora precisava
de comprar crédito para o seu telefone. Nisto, ela viu um rapaz a vender crédito.
anos. Perguntou de que Distrito vinha e ele disse que era de Chibabava. Indagado
se estudava, ele respondeu que tinha desistido para fazer negócio aqui na Cidade
da Beira (ao mesmo tempo fazendo gesto indicativo de dinheiro). Os seus pais
continuam no Distrito e ele vive aqui na Beira com os seus tios e já não vai à escola.
Muito lamentável esta situação, na medida em que se este jovem se formasse, não
teria que deambular pelas ruas a procura de migalhas. Pelo contrário, estaria a
centavos.
prematuros.
- Casamentos prematuros
que nos preocupa é a idade em que algumas uniões acontecem no nosso país. Os
incontornável, pois constitui uma prática quase generalizada nas zonas rurais e em
algumas famílias nas vilas e cidades. Em termos legais, esta prática constitui uma
125
violação ao Código da Família (2004, p. 7)29, no seu Artigo 30º Sobre impedimentos
“a) a idade inferior a dezoito anos”. Contudo, a mesma lei, Artigo 30º ponto 1, abre
uma excepção nos seguintes termos, a mulher ou homem a partir dos 16 anos de
Quando a rapariga atinge a puberdade, a família acha que ela já está pronta
para assumir o seu papel de dona de casa e de reprodutora da espécie, daí que os
trabalho e com filhos por cuidar. Isto é, uma vez grávida, abandonada pelo parceiro
continuar com os seus estudos, visto a noite trazer consigo diversos inconvenientes
tais como a segurança e outros de índole fisiológica dado o seu estado de gravidez.
Esta mesma rapariga também é vulnerável aos possíveis assédios tanto pelos
"O elevado índice de desperdício escolar, que se verifica, pelo facto das alunas se
apresentarem grávidas, no decurso do ano lectivo e, por outro lado, por resultar,
fundamentalmente, dos próprios docentes, que, ultrapassando a natureza da sua
relação profissional para com as mesmas, em detrimento da sua função, criam mau
ambiente na escola; (…) Assim sendo, (…) decido, com efeitos imediatos: 1. São
suspensos dos serviços e vencimentos e, constituídos infractores, em processo
disciplinar, os docentes e outros trabalhadores da Educação, ligados as escolas, que
engravidem alunas afectas a essa mesma escola, assim como os que assediam
29
Lei 10/2004 de 25 de Agosto
126
sexualmente estudantes. 2. É vedada a frequência para o curso diurno, nos níveis
elementar, básico e médio do SNE; às alunas que se encontrem em estado de
gravidez, bem como os respectivos autores, caso sejam alunos da mesma escola."
Por sua vez o rapaz aos 17 ou 18 anos (nas zonas rurais) já é considerado
adulto para dar continuidade à sua linhagem através da formação e sustento da sua
própria família. Isto a acontecer, faz com que o jovem deixe de ir à escola para
formar e cuidar da sua família. Esta prática, apesar de estar a ser combatida no
são de origem Bantu30, “cuja família mais ampla é a Niger- Congo que cobre o
Ngunga (2004, p. 29), no seu estudo sobre as línguas Bantu refere que o
termo bantu “(…) foi primeiramente usado por W. H. I. Bleek (1827-75) com o
30
A subfamília Bantu incorpora dentre outras, as seguintes línguas: Lesongo, Kikuyu, Kamba,
Sukuma, Kiswahili, Sango, Kikongo, Luganda, Luyia, Kinyaruwanda, Kirundi, Luba, Bemba, Nyanja,
Emakhuwa, Mbundu, Shona, Tswana, Sothu, Xhosa, Zulu, Tsonga, Ronga, Cicopi, Gitonga, Kimwani,
Shimakonde, Yao, Nsenga, Cinyungue, Ekoti, Elomwe, CiSena, Ndau, Cibalke, Shona, Cindau (Luís,
1999, pp 112/3) .
127
significado de povo como é reflectido em muitos dos idiomas deste grupo - em
muitas destas línguas, usa-se a palavra ntu ou dela derivada referindo-se a um ser
humano; ba- é um prefixo que indica o plural para seres humanos em muitas destas
morfemas: a-, wa-, va- e vaa-. No que respeita à raiz, esta também apresenta
do Senegal ao oeste até a África do Sul ao sul, incluindo todo o leste do continente
a) Interferência e empréstimo
Moçambique “tem vindo a sofrer uma série de mudanças a todos os níveis, por
estes dois termos argumentando que “Em literatura linguística, se o traço linguístico
de uma língua que aparece na outra for generalizado, este fenómeno, chama-se
tais como job (trabalho), nice (bem, bom), etc. No que respeita a exemplos de
129
Língua materna vs língua segunda
processo educativo. A língua segunda é “uma língua não materna dos falantes de
(Mateus e Villalva 2006, p. 98). No nosso caso, esta L2 (língua segunda) é a língua
Portuguesa.
país dada a existência de muitas línguas locais (línguas da família Bantu). Contudo
não se descartam casos de crianças que possuem o Português como L1, pese
nos intervalos. Dizemos provavelmente porque o facto de ele possuir fraco domínio
desta língua, pode fazer com que ele se sinta inibido de se comunicar com os outros,
pelo facto de não se sentir apto a usar este instrumento de comunicação. Em casa e
com a sua vizinhança este fala a língua materna ou da zona de que ele faz parte.
A língua materna (ou primeira) é definida como a língua “que se fala em torno
de uma criança durante os primeiros anos de vida e através da qual ela adquire o
uso da língua” (Mateus e Villalva, 2006, p. 98). Contudo, há situações em que este
mesmo aluno fala mais de uma língua com os seus familiares. Isto dá-se em casos
Não só, existem casos em que “(…) a criança aprende em simultâneo duas línguas,
sendo uma do pai e a outra da mãe. Todavia as duas línguas são maternas” (Luís,
130
1999, p. 160). Neste contexto, estamos perante um contexto multilingue, o qual
Estas dificuldades são, na maior parte dos casos, superadas ao longo do tempo.
Contudo, este processo varia de indivíduo para indivíduo. Isto é, há alunos que se
adaptam facilmente à mudanças em relação a outros. É por essa razão que até aos
dias que correm temos alunos frequentando o ensino superior com dificuldades na
argumenta que “o professor e/ou o sistema educativo valoriza muito pouco o capital
linguístico-cultural que a criança possui antes de esta entrar para a escola. Esta
professor e o aluno”. Esta situação faz com que a assimilação dos conteúdos
Luís (1999), Dias (2002) e Ngunga (2012) fazem uma abordagem sobre
Segundo estes autores, algumas interferências são positivas, pois, não afectam a
Exemplos:
131
- até [anté]; cooperativa [kõperativa]; convite [konvῖnte]; economia [ẽkonomia];
constituem um entrave para o desempenho dos alunos, assim como dos professores
Conflito Fonético/Fonológico
produzir o som lateral palatal [lh], existente na língua Portuguesa e não na língua
materna, faz com que ele opte por alveolarizar o som líquido palatal [l]. Exemplo: as
palavras colher, falha e filho são pronunciadas culeri [culeri], fala [fala] e filu [filu]
semântica das palavras é notória na língua Makhuwa. De acordo com Ngunga (ibid),
“Esta língua coexiste, não só com a língua portuguesa, como também com outras
Deste modo, “(…) as realizações sem as oposições +/- voz provocam problemas não
contrastando apenas num fonema que ocorre na mesma posição. Exemplo: bingo
[+voz]/ pingo [-voz]; lata [-lat]/ rata [+vib]. Vejamos a diferenciação dos pares
capazes de distinguir por escrito a diferença entre as palavras. Caso o falante não
possua esta competência na escrita, a tendência será de escrever tal e qual fala. Daí
„contas‟; [kasari] „cansar‟; [pote] „ponte‟. Portanto, nestas palavras ocorreu a elisão
mensagem seja oral. Por exemplo se o falante pronuncia a palavra ponte [pote], o
refere, pois ponte refere-se a uma travessia e pote é um cântaro feito de barro. Logo,
falantes que tenderão a escrever tal e qual falam. Contudo, um pouco mais de
133
exercícios poderá ser a possível solução a este problema. Dizemos possível porque
Existe uma certa tendência dos falantes da língua Ndau trocarem a consoante
/r/ pela consoante /l/ como se pode ver nos seguintes exemplos: [plobrema]
[Flarda] „Fralda‟. Estes exemplos “(…) mostram uma alternância das consoantes
líquidas nos mesmos contextos sugerindo que nesta língua [l] e [r] não são dois sons
fonémicos, isto é, não são contrastivos. Portanto, não são usados para distinguir
palavras de sentidos diferentes. São, sim, variações alofónicas (em distribuição livre)
língua segunda, onde os dois sons são contrastivos.” (Ngunga, 2012, pp. 11-15).
Interferências sintácticas
Outra área que posa dificuldades aos falantes das línguas Bantu ao se
língua. Luís (1999, p. 158) apresenta como exemplo, a não concordância entre os
“As folhas do coqueiro serve para fazer esteiras”. Neste exemplo, não existe
comparação com a das línguas Portuguesa, Francesa e Inglesa, que é SVO (onde
xifile + xingove
Estrutura (V) (S)
Tradução morreu o gato
Predicado) a estrutura frásica nas línguas Bantu é, segundo Ngunga (ibid, p. 211)
“(…) livre” como se pode notar nos exemplos acima analisados. Esta liberdade
135
Aqui teremos uma situação de ambiguidade: a carne comeu a criança (a acção do
Para resolver o problema, a frase poderia iniciar com o predicado. Por exemplo:
„jwaadile nyama diiso mwaanace‟ (comeu carne ontem a criança). O falante desta
como consequência terá problemas tanto na oralidade assim como na escrita, isto é,
Português, pois, normalmente este antecede o nome. Por exemplo, a frase correcta em
(d) seria „Naqueles dias as pessoas comiam pão‟ e em (e), a frase seria „Minha mãe
está a vir‟.
Interferências semânticas
De acordo com Ngunga (2012, pp. 17-18), “Uma das zonas onde mais se
Verbo „dormir‟: a minha roupa dormiu fora (a roupa ficou lá fora durante a noite)
„eu oiço o cheiro de comida podre‟ ao invés de „eu sinto cheiro de comida podre‟
136
b) Nitwa ndlala. (Changane) vs Nitwa ntisimu. (Changane)
“Em bantu parece não existir uma tradução de „sentir‟ (abstracto) que não
como L2. Pese embora o aluno chegue ao Ensino Secundário Geral após ter estado
o que faz com que ainda enfrente dificuldades na apreensão das matérias
leccionadas, assim como na reprodução desse saber adquirido na sala de aulas. Daí
que é comum ouvir lamentos do tipo: no ensino secundário os alunos não sabem ler
137
2.3.2. O professor
- A postura do professor
Nos dias que correm tem sido bastante notório o facto de muitos professores
rendimento mensal para fazer face à vida, sem grandes dificuldades. Na nossa
óptica é legítimo que o homem lute não só para o seu desenvolvimento profissional
mas também para a melhoria das suas condições de vida. Contudo, ligado a isto
poder-se-á colocar a questão sobre o seu desempenho. Terá este professor tempo e
professor tivesse desempenho diferente de acordo com o contexto onde ele está a
quando está na escola do tipo Y, isto é, a sua prestação de serviços é boa. Esta
seu papel de timoneiro do PEA. Ele não assume o seu papel de líder na sala de
138
pouco aprenderá e não terá quem o acompanhe no PEA, a nível da sala de aulas.
Logo, este professor não estará a ser leal tanto consigo como com o aluno, com a
Golias (1999, p. 94) advoga que “O professor não deverá esperar lealdade
apenas ao lado dos seus subordinados, ele deverá ser o primeiro a revelar a
lealdade aos seus subordinados”, que são os alunos. Como referido anteriormente,
Deste modo, tudo será um fingimento. Será uma falácia: o professor finge
que está a dar aulas e o aluno finge que está a aprender. Em suma, não haverá
dignidade de um bom e eficaz facilitador do PEA. Este deixará de executar com zelo
Estados Unidos concluíram que (…) “ quanto maior fosse a turma menor seria o
139
Tomemos o caso das nossas escolas onde encontramos turmas com mais de
assistência individualmente, dado o elevado número destes na turma. Por mais que
o professor tente prestar apoio individualizado, este não será capaz de abranger
toda a turma, pois, o seu tempo na aula é limitado para além de ter um programa por
cumprir até ao final do ano lectivo. Por outro lado, o professor, humanamente
falando, por mais que esteja motivado a ajudar a todos os alunos individualmente,
disciplina;
efeito;
em mais de uma turma e quiçá, em diferentes turnos (de manhã e à tarde ou mesmo
aos seus alunos e estes, por seu turno, ficam quase marginalizados e isto concorre
para a sua desmotivação. Pois, se formos a analisar, este professor não tem tempo
para planificar e nem reflectir sobre as suas aulas e muito menos sobre os seus
alunos. E como resultado alguns alunos obtêm rendimento escolar abaixo do normal,
perdendo assim interesse pelo processo educativo como um todo. Este exercício
também fatiga o professor e cria condições para a desmotivação, assim como para a
professor existe para facilitar e estimular o PEA e para assegurar que o direito aos
confirmado pelo professor quando este fica responsabilizado pela publicação dos
frustração sobre os seus alunos. Isto reflecte-se no modo como ele interage com
professor torna-se agressivo, antipático, pouco paciente e sem tempo para velar
convenientemente dos seus alunos. Daí que nas escolas é usual ouvir alunos
rotulando seus professores como: mau, chato, duro, fogo e outros nomes não
abonatórios. Perante esta situação, Benavente (1976, pp. 76-77) defende que
“Se um professor for capaz de analisar as dificuldades dos seus alunos situando-as
no quadro das relações destas crianças com a família, com o meio, se for capaz de
142
pȏr em causa o seu próprio ensino nos seus métodos e instrumentos, pȏr em causa a
sua própria atitude muitas vezes, se um professor for capaz de interpretar o
insucesso escolar como o resultado negativo da relação família-criança-instituição
escolar e não como o resultado dum mau funcionamento ou de qualquer defeito da
criança, parece-nos que um importante objectivo terá sido atingido”.
amálgama de possíveis factores que podem de uma outra forma influenciar, positiva
importância vital se quisermos ter sucessos. Digo exercício delicado para o nosso
contexto, em que um professor está para mais de 50 alunos por cada turma e se
tiver mais de 1 turma, torna-se quase uma impossibilidade. Acrescido a isto está o
factor tempo de contacto. O professor está na sala de aulas por apenas 45 minutos
por aula e, regra geral, cada disciplina é leccionada em dias e tempos específicos,
daí que não há tempo de sobra para um possível acompanhamento adequado aos
alunos problemáticos.
Por exemplo, quando o professor tem sempre a cara enrugada, os alunos sentem-se
intimidados e como uma das consequências, poucos participam na aula, alguns têm
sentem-se à vontade, como reza o provérbio inglês “O sorriso é uma linha curva que
143
esta atitude benevolente do professor quase pode gerar a ideia de fragilidade na
escola, que são: instruir, educar e formar o cidadão. Sobre este assunto, Morin
de aulas, se não queremos inibir as potencialidades dos nossos alunos e nem levá-
futuro. Esta tarefa é difícil, mas não é impossível, dada a complexidade do ser
humano.
argumenta que,
(2000, p. 177), quando reporta que “o papel mediador do professor para que os
etc. e, mais ainda naqueles conteúdos que os alunos aprendem unicamente se lhes
144
é ensinado algo sobre eles”. Deste modo, a relação professor- aluno tem muitas
vezes ditado o tipo de ambiente que reina numa sala de aulas, isto é, se a relação
for boa, amena, o ambiente tenderá a ser pacífico e, consequentemente próprio para
o decorrer normal do PEA. Se, pelo contrário o ambiente não for bom, o PEA poderá
alunos.
seus alunos. Nesta relação, não deve haver lugar para a falta de respeito de ambas
partes e nem manifestações de indisciplina por parte dos alunos, assim como de
rudeza por parte do professor. Sil (2004, p. 32), ao falar do papel do professor no
“as suas práticas e as suas atitudes, em particular as atitudes dos professores face
aos comportamentos violentos e indisciplinados de alguns alunos, revelam uma
preocupação em aplicar as normas estabelecidas para a escola e para a sala de aula,
transformando-as em factores determinantes na promoção do sucesso educativo”.
Esta situação tem colocado professor num dilema. Pois, se for radical, o
professor corre o risco de ficar sozinho na sala se tivermos em conta que o aluno,
muitos dos alunos serão penalizados e o professor poderá falhar no seu papel de
diversificados. Sendo este último papel desempenhado com o apoio da lei vigente
145
na instituição e da compreensão pessoal visto o professor estar a lidar com
réplica, pois temem possíveis sanções (falta disciplinar, expulsão da sala e outras)
foco de desmotivação.
que seus pais recorrem à punição física, este pode, como consequência do acto de
seus progenitores, ser violento para com seus colegas, irmãos, amigos e,
possivelmente para com os seus filhos, no futuro (Sdorow 1998, p. 253). Esta
em todo o processo educativo. De acordo com este autor, as nossas atitudes têm
como a discórdia parental em casa têm muito mais probabilidade de provocar crime
televisivos.
actos, usando exemplos da vida real, na nossa óptica, chamam-nos atenção sobre a
aluno), à vivência do aluno (relação com a sua família e comunidade onde este está
inserido), assim como ao ambiente da própria sala de aulas (a relação que o aluno
tem com os seus colegas). Vejamos, este autor apresenta três situações que podem
ser usadas para mostrar que cada acção produz consequências que tanto podem
ser negativas como podem ser positivas, dependendo do impacto que esta produz
X estuda para um exame e obtém uma nota elevada, o que faz com que X
Y vai ao dentista chumbar um dente. Isto elimina a dor de dente, o que faz
deixar de saudar Y.
Nos três casos acima narrados, é clara a relação estímulo- resposta- reforço.
Neste contexto, mais uma vez, referir que todo o tipo de estímulo seja ele positivo ou
invés de tratá-lo com a devida atenção e carinho, simplesmente o ignora, este aluno
outra, se o professor for ríspido com este aluno que tenta pedir auxílio, o mesmo
ficará amedrontado. No futuro, este aluno ficará inibido de apresentar qualquer que
seja o problema. Isto a acontecer, estarão criadas condições para que este aluno se
147
Freire (1975, pp. 82-86), apresenta um tipo de relacionamento entre o aluno e
professor que muito contribui para a apatia do aluno. Este autor chama de educação
Educador Educandos
1 É o que ensina e educa Aprendem e são educados
2 É o que sabe Não sabem
3 É o que pensa São os pensados
4 É o que diz a palavra São os que escutam docilmente
5 É o que disciplina São disciplinados
6 É o que opta e prescreve a sua opção Seguem a prescrição
7 É o que actua Têm a ilusão de que actuam na actuação do
educador
8 Escolhe o conteúdo programático Acomodam-se a ele
9 Identifica a autoridade do saber com a Estes devem adaptar-se à estas
sua autoridade funcional que opõe determinações
antagonicamente à liberdade dos
educandos
10 É o sujeito do processo São meros objectos
Adaptado de Freire (1975, pp. 82-86)
Este tipo de relacionamento entre educador (professor) e educando (aluno),
Por exemplo, este deve honrar com os seus compromissos, tais como: ser pontual e
Marques (2001, p. 120), argumenta que a antipatia por um professor, ou por uma
148
disciplina, pode ter como consequência o desligar-se da matéria, dai o insucesso.
Segundo este autor “(…) a falta de gosto pelo estudo de certas disciplinas é, muitas
que há alunos que pouco se empenham nos estudos, pese embora o professor seja
seu domínio das matérias leccionadas é bastante fraco. Por mais que o professor os
exorte a estudarem, eles não o fazem. Estes só estudam quando sabem que haverá
teste e o resultado disso, são notas negativas. Então, por que é que culpamos
somente o professor? Neste contexto, poderíamos afirmar que a antipatia por uma
pouco competente, como Marques (2001, p. 120) defende. Pelo contrário, esta
usadas para a resolução de cálculos numéricos. E para que este tipo de reacção
seja invertido algo deverá ser feito pelas partes intervenientes. No caso vertente da
sala de aulas, tanto o professor como o aluno terão a sua quota-parte na resolução
149
Nestas situações, o aluno fica prejudicado pois o professor poderá
estigmatizá-lo, e daí criar situações somente para prejudicá-lo, pois, este transforma-
campo de batalha em que o professor está em vantagem pois, este tem poder
decisivo sobre o aluno, para além do facto de que no final do semestre ou do ano
académico, as pautas são elaboradas por ele e neste processo o aluno não é
envolvido. Logo, o aluno fica refém do seu professor, na medida em que dele
escolaridade para o outro. O professor está sempre em vantagem pois a sua palavra
satisfação das necessidades básicas constitui condição sine qua non para a
motivação do professor, não só, mas de qualquer outra pessoa. Iniciemos pela
150
32
Tabela 10: Simulação da situação monetária de um professor N1 estagiário (licenciado)
Despesas/mês
Descrição Receita mensal V1-Transporte V2- Transporte
Público Tchopela
Salário base 17.743, 00 Mt
Subsídio de 60% 10.645,80 Mt
Total líquido 28.388, 80 Mt
Aluguer de casa 6.000, 00 Mt 6.000, 00 Mt
Transporte 800,00 Mt 1700,00 Mt
Comunicação 600,00 Mt 600,00 Mt
Água 400, 00 Mt 400, 00 Mt
Energia eléctrica 1000,00 Mt 1000,00 Mt
33
Alimentação 5.280, 00 Mt 5.280, 00 Mt
Material de higiene e limpeza 1.000, 00 Mt 1.000, 00 Mt
Outros 4.000,00 Mt 4.000,00 Mt
Total de gastos 19.080, 00 Mt 19.980, 00 Mt
Fonte: autora
leccionando em escolas localizadas nas zonas rurais, o salário parece razoável. Isto
mesmo sobrar algum montante para ser investido em algo rentável para o seu futuro,
dependendo da forma como o mesmo é gasto. É nosso ponto de vista de que uma
boa gestão deste salário pode resultar em alguma poupança que poderá ser
não possuem habitação condigna. Outros não possuem habitação própria e, como já
muitas vezes estão aquém dos seus salários. Por exemplo, alugar uma casa na
32
Circular nº03/1287/RVA-DCP-DPPFS/2015, Nova tabela Salarial, aprovada pelo Decreto nº 02/2015 de 08 de
Maio
33
Cesta básica: arroz, farinha, peixe, feijão, óleo, açúcar, pão e legumes
151
parte de 1.000, 00 Mt em diante, dependendo da localização e condições de
de 400, 00 Mt mensais.
Se o professor for casado, este deverá sustentar a sua família, a qual muitas
para além do casal e seus filhos34, o chefe do agregado também presta apoio a
outros parentes35. Este exercício implica um gasto três vezes acima do que se
professor ou de garantir sequer 20% de cobertura para sua sobrevivência. Daí que
nos dias que correm é normal encontrar professores que leccionam em mais de 3
escolas, para além de estarem empenhados na luta pela elevação dos seus níveis
Esta corrida frenética pela elevação do nível académico faz com que muitos
estão a leccionar. Como se pode ver, estamos perante a luta que o professor faz
34
De acordo com o INE (2012, p. 19), em Moçambique o número médio de filhos por agregado familiar é de 5,4.
35
Considera-se agregado familiar, a pessoa singular ou grupo de pessoas ligadas ou não por laços de parentesco, que vivem na
mesma casa, partilham a alimentação e maior parte das despesas. Em Moçambique, o tipo de agregado familiar predominante é o
alargado, isto é, inclui outros parentes, para além da mãe, pai e filhos (INE, 2012, p.19).
152
para satisfazer as suas necessidades básicas, tais como o seu sustento, habitação e
alguns professores que vivem longe e não possuem transporte próprio, dependendo
assim, do transporte público, vulgo chapa cem e, nos últimos dias, do vulgo
tchopela. O chapa cem cobra por cada viagem 7,00 Mt, enquanto o tchopela cobra
no mínimo 50,00 Mt por cada viagem. Se o professor servir-se do chapa cem e tiver
que fazer ligações, terá de gastar no mínimo 21,00 Mt por dia ou mais, perfazendo
uma média de 800, 00 Mt/ mês ou mais para casos de zonas longínquas. Caso use
Esta tentativa dos professores melhorarem a sua renda mensal de modo a fazerem
face à carestia da vida e à constante subida de preços no mercado faz com que a
plano. Como Franco (2004, p. 24) defende, “Na base das necessidades dos
nos dias que correm, as pessoas fazem os seus trabalhos mecanicamente, só para
profissional.
em que o atendimento deixa bastante a desejar pois, as pessoas que atendem são
25), Morris (1990, p. 26) e Robbins (2009, p. 49) ilustra uma série de condições
das condições sine qua non para a realização efectiva de qualquer tarefa. De realçar
que esta pirâmide ilustra, com exactidão, de uma forma geral, o tipo de
satisfação do mesmo.
154
série doutras necessidades que concorrem para a motivação, tais como a segurança
tanto física (protecção contra o perigo) como económica (salário digno, auto-
sociedade (integração social); esta por sua vez seguida pela necessidade de
desenvolver a sua auto-estima e de ser estimado, respeitado pelos que fazem parte
(Ghilardi e Spallarossa, 1991, p. 26; Everard e Morris, 1990, p. 26; Rubin e McNeil 1987, p. 248)
Necessidades de auto-realização
Auto-expressão, realização do próprio potencial,
oportunidade para ser criativo
Necessidades de estima
Estima de si e aceitação pelos outros
Necessidades sociais
Desejo de pertencer e de ser aceite pelos
outros, de oferecer e receber amizade, amor
Necessidades de segurança
Saúde física, segurança económica,
procura de protecção contra perigos reais
ou potenciais, ameaças e privações
Necessidades fisiológicas
Alimento, refúgio e sexo,
necessidades essenciais à
sobrevivência
mundo que o rodeia, no seio dos seus. É nesta fase que o homem também luta pela
satisfação do seu ego. Como Herzeberg (1966), citado por Everard e Morris (1990,
(Sdorow, 1998, p. 379). De facto, segundo este autor, por exemplo, “se não tiveres
comido há dias ou mesmo por poucas horas, alimentação pode ser a única coisa na
tua mente” (ibid, p. 378). Como se diz em Moçambique, saco vazio não fica em pé.
um ensino sem qualidade. Ora vejamos, este professor super ocupado, não está
devidamente concentrado, está sob stress constante e sem tempo suficiente para
por assumir no seu dia-a-dia, daí que, quando chega à sala de aulas expõe os
imediatos no PEA, que são os alunos. Este professor, com certeza que não possuirá
tempo suficiente para uma auto-reflexão à volta dos seus afazeres profissionais e a
156
consequência imediata disto será a sua não identificação com o decorrer do
processo que ele está a liderar, o PEA. Por outras palavras, pode-se afirmar que
este professor dá aulas mecanicamente, isto é, ele não é parte integrante do sistema
necessárias para o aluno saber ser, saber estar e saber fazer no futuro. Como se
cidadão que vai contribuir, no futuro, para o desenvolvimento do país. Ele é humano
processo, o aluno fica fora das suas prioridades. É uma realidade que o professor
tem o seu salário por estar com este aluno e dotá-lo de conhecimentos científicos
contudo, este processo não chega a ser eficiente na medida em que não consta do
157
2.3.3. A importância que a sociedade confere à escola
como a sua expectativa no que concerne ao futuro que esta reserva aos seus
estabelecer uma relação entre a escola e o que querem que o seu filho ou educando
seja no futuro, dai que não prestam o devido apoio moral ou material necessário
(Costa 2009, p. 71) concluiu existir uma relação entre as desigualdades sociais e a
escolar tendia a ser elevada para crianças cujos pais tinham níveis de escolaridade
baixos. Este autor defende que as práticas culturais (valores) ʺ(…) não estão em
como tendem a estar os padrões culturais das famílias de classes médias e altas ʺ
insucesso escolar.
educação para os alunos, para as suas famílias e para o país. Facto ilustrativo disto
salas superlotadas, o que faz com que o rácio professor-aluno seja bastante
pela televisão, telefone, fax, Internet” (Morin (1999, p. 71). Por exemplo, “um
internacionais chegam-lhe enquanto bebe o seu chá de Ceilão, Índia ou China (…)”
(ibid). Pode-se falar com alguém que esteja noutro continente a qualquer hora e sem
internet.
tecnologias contribuíram para dar mais vigor a certos modos, bem conhecidos e de
na base escrita mais do que na base oral, convidar um perito estrangeiro …)”. Pode-
159
se fazer aquisições de qualquer produto incluindo mercadorias de grande porte
proprietário da conta bancária a qualquer hora do dia. “Pode-se estar ligado a redes
Por exemplo, a tutoria desta tese foi feita à distância, de Angola para Moçambique e
versões.
do Instituto Superior de Ciências à Distancia, sob o lema: Ensino online, ensino com
sentado numa sala de aulas para poder aprender. Sentado em sua casa, numa
praia, no seu campo agrícola ou em qualquer outro lugar que ele preferir, o aluno
celulares para enviar mensagens mesmo para alguém que esteja a dois passos.
com a evolução da espécie humana assim como com a melhoria das condições de
vida. Pelo contrário, pretendemos falar do mau uso das facilidades que as novas
alta tecnologia de que dispomos para outros fins não construtivos, isto é, não
edificadores.
perante aparatos que aliciam e prendem bastante a atenção dos alunos. Caso
não constituem novidade no nosso dia-a-dia. Contra factos não há argumentos mas,
estamos contra o uso indevido ou abusivo das altas tecnologias pelos alunos. Estes
aparelhos diminuem o tempo de contacto com a leitura das matérias escolares, isto
televisores nos lares (…) contribuiu para uma radical transformação de tempo de
aos jogos, seria dedicado ao descanso, à leitura, escrita e pesquisa, assim como a
nosso país, para os lares sedeados nas cidades e vilas, onde a maioria das famílias
possui estes aparatos, as crianças passam o dia e a noite a assistirem novela após
161
novela, filmes e a jogarem vídeo- games. Esta situação coloca-nos perante o que G.
Friedmann, citado por Freixo (2011, p. 100), chamou de "escola paralelaʺ. Pois,
segundo este autor, dentre outros meios de comunicação, ʺ(…) o cinema, a rádio e a
televisão" são os principais suportes dessa escola "mais competitiva e perigosa para
Esta escola é perigosa porque tem tido, algumas vezes, resultados pouco
benéficos para o aluno assim como para a sociedade. Berryman et al (2001, p. 128),
violentos que são exibidos na televisão. (…) Por exemplo, alguns argumentariam
que a extrema violência retratada nos populares desenhos animados Tom and Jerry
a televisão “pode servir para fornecer modelos agressivos (…)” pese embora
programas televisivos, tais como o acima citado, tenham sido gravados para
e whatsApp. Dai que, segundo Freixo (ibid), ʺ(…) a referida escola paralela é muito
mais agradável e aparentemente atraente. Para tal motivo, não é de espantar que as
cumprir com o horário de entrada, nem de saída. Nesta escola não existe a figura do
avaliações, tarefas para casa, testes e nem exames, daí que esta seja mais
amigos virtuais durante as aulas sem que o professor note. Por exemplo, não
enviam para alguém fora da sala de modo a que o mesmo elabore as respostas.
Feito isto, as respostas são reenviadas ao destinatário, que é o aluno que está na
sala de aulas e este por sua vez, passa as respostas para a prova. O mesmo aluno
está em condições de repassar as respostas aos seus colegas de turma com quem
estabeleceu acordo de cooperação durante a prova, assim como a outros fora dela e
que também estejam a elaborar a mesma prova naquele momento. Estes alunos,
concerteza terão boas notas, embora sejam ilícitas e não retratem o domínio dos
Fora das aulas, os alunos usam telemóveis para escutar músicas, mandar e
receber mensagens, assistir filmes em qualquer local até altas horas da noite, para
o PEA e diminuição do tempo de estudo, para além de criar uma certa dependência
termos de pesquisa científica. Casos ainda há em que o aluno vai à internet buscar
plágio o que cientificamente constitui um crime. Para se detectar que se está perante
163
pontuação! Este tipo de situações afecta, infelizmente, estudantes no ensino
superior em que certos trabalhos incluindo dissertações de final de curso são mera
cópia de textos retirados da internet. Por questões éticas estes casos não serão
tornam cada vez mais sofisticadas, à medida que a nossa aldeia global se torna
escolar, e que muitas vezes são ignorados por quem de direito, dos quais citamos
(Both, 1999, p. 72). Por outras palavras, para que o ensino alcance os objectivos
estes devem ser discutidos com todos os intervenientes, dado estes serem parte do
processo educativo.
nalguns casos, a marginalidade. Por outro lado, o insucesso escolar pode reflectir-se
doutras consequências nefastas tanto para o indivíduo, como para a sociedade tais
consequências do insucesso escolar, afirma que este “intercepta e confina com uma
165
padrão convencional, como por exemplo a fraca assiduidade, as notas negativas, a
além disto, os alunos que repetem muitas vezes de classe tendem a ser
estigmatizados tanto pelos professores como pelos colegas e familiares. Estes são
catalogados como cabeças duras, preguiçosos. Nas nossas escolas, os alunos são
obrigados a transitar para o curso nocturno pois, a sua idade fica fora da faixa etária
curso nocturno, estes não se adaptam ao horário, pois as aulas decorrem até altas
horas da noite e, como são ainda crianças, este período torna-se bastante difícil. O
escola, estes alunos ficam sem nada por fazer o que os torna vulneráveis a qualquer
tipo de vícios nocivos tanto à saúde física ou intelectual. No tocante às famílias, esta
dos seus filhos ou educandos, tornando-se mais grave para as raparigas que são
bastantes vezes vítimas de abusos tanto dos seus colegas de escola como de
os rapazes envolvem-se em práticas pouco abonatórias tanto para eles como para a
sociedade. Assim, fica gorado o sonho de ver todo o cidadão formado dentro do
166
O acesso ao ensino superior coloca-nos perante um dilema, pois, um aluno
sucesso, dos exames de admissão caso seja essa a condição de acesso ao curso
pretendido. Mesmo que consiga realizar com sucesso os exames de admissão, este
candidpato terá dificuldades durante a sua formação. Ora vejamos, de acordo com o
Medicina Geral, fará o exame de admissão (…) o candidato que tiver a média final
ano.
que transitam e os que ficam sem acesso ao curso pretendido. Este exercício
167
coloca-nos perante alguns casos de insucesso que pode constituir um dos efeitos do
indivíduo noutros níveis de ensino, assim como nos locais de trabalho onde este
deve ler muito assim como escrever. Se ele estiver mal preparado nas classes
superior.
pátria.
Homem pois, este pode ser considerado um reverso aos objectivos educacionais, os
mundo de que ele é parte integrante e, ao mesmo tempo responsável pela sua
num plano de trabalho a seguir” por todos os intervenientes no PEA assim como
pela sociedade no geral. De facto, como Kramer (2003, p. 171) chama atenção, “(…)
PEA.
comunidade onde a escola está inserida. Ainda segundo este autor, deve-se “afastar
169
a ideia de que o fracasso é uma questão que só atinge o professor, que se confronta
com essa situação, e o aluno”. Daí que, como minimizar o insucesso escolar no
nosso contexto, constitui um grande desafio que deve envolver toda a sociedade,
pois a escola existe para dotar o homem com ferramentas fundamentais para
dominar a ciência e a técnica para seu próprio benefício, assim como para o
um homem educado está capacitado para lidar com os enormes e variados desafios
esquema proposto por Apple (1973, in ibid), podemos distinguir seis aspectos
Patrício (1989, p. 232)36, argumenta que “(…) uma sociedade que queira
deverá haver esforços para o efeito. Nos tempos correntes encontramos obras
relações que o aluno tem com os seus parceiros, professores, colegas de turma,
(Mialaret, 1999, p. 12). Deste modo, seria imprudente da nossa parte não
temos que ter um olhar mais amplo e profundo sobre o processo educativo. De
36
citado por Santos (s d, p 3)
171
futuro, o que desejamos conseguir a curto e médio prazos e, principalmente, que
mecanismos colocaremos em funcionamento para realizar esses desejos”.
Este exercício prático, a que se refer Imbernón (ibid), pode tornar-se numa
objectivos definidos para o processo educativo, assim como das expectativas dos
na escola como no local de residência da criança, pois elas constituem a base para
materiais tais como carteiras, quadro, giz, livros e outros materiais essenciais.
172
Como Sant‟Anna e Sant‟Anna (2004, p. 19) defendem, “(…) recursos
ao meio e à sua própria realidade”. Por exemplo os livros são essenciais na medida
podem oferecer aos seus educandos, aconselham que a escola crie condições de
obter algumas informações sobre os pais e/ou encarregados dos alunos tais como:
Citando mais uma vez Sant‟Anna e Sant‟Anna (ibid, pp. 19-20), “o professor
não se pode pensar no PEA sem o professor. Pois é a ele que cabe a tarefa de
173
liderar, orientar e monitorar esta grandiosa e valiosa tarefa de ensinar e aprender,
essenciais à vida.
governos a nível mundial na medida em que desde os primórdios dos tempos cabe a
este sector a formação do Homem. Como Candau (2003 p. 30) ilustra, “O discurso
história da educação do nosso século”, daí que o sistema educacional deve ser
à revisão dos sistemas educacionais, de uma forma geral, Popkewitz (2000, p. 141),
advoga que,
país. De acordo com Pacheco (2001, p. 57) “Enquanto projecto cultural, social e
174
político, o currículo só pode ser construído na base de ideologias ou de
sistemas de ideias, valores, atitudes, crenças, tudo isto partilhado por um grupo de
pessoas com um peso significativo na sua elaboração”, nós diríamos pessoas com
habilidades que deverão estar patentes no produto final do PEA, que são os alunos,
deverão estar patentes nos objectivos assim como nos programas de cada disciplina
processo educativo deve ser destacado como uma das condições para o sucesso da
“os conteúdos curriculares, que são veiculados pela escola, integram conteúdos de
diferentes dimensões: cognitiva (factos, conceitos, princípios, leis), afectiva (atitudes,
crenças, valores) e motora (procedimentos). Esta visão integral da escola pode mudar
significativamente os pressupostos educativos, já que é tão importante e útil ensinar
atitudes, valores e procedimentos como ensinar conteúdos.”
grande desafio na actualidade. Alonso (1999, p. 10) dissertando sobre a difícil tarefa
“Vivemos numa época em que nada se assemelha a outras vividas por nossos
antepassados e para a qual não fomos preparados, o que resulta em não termos
referencias para enfrentar os desafios com que nos defrontamos. (…) A própria
175
Ciência, que nos oferecia princípios e permitia conclusões estáveis, apresenta-se
hoje repleta de dúvidas, com explicações provisórias, permitindo interpretações
diversas senão, contraditórias para os fenómenos. Nesse contexto, é muito difícil
imaginar quais os melhores caminhos a seguir quando se pretende formar os jovens
e crianças, ou mesmo decidir sobre a conveniência de se ensinar esse ou aquele
conteúdo disciplinar, tendo em vista as necessidades que eles terão, ou os problemas
que deverão enfrentar (…)”.
Como consequência deste facto, “os sistemas de ensino, por sua vez,
1999, p. 12).
necessidades”. Isto mostra que os actuais curricula não vão de acordo com as reais
reformas curriculares são baseadas nas mudanças actuais, Subirats (2000, p. 195)
afirma que perguntas tais como “De que tipo de conhecimentos necessitam as novas
176
gerações? De que tipos de atitudes, aptidões, habilidades, disposições, valores?”
são levadas em conta na elaboração dos currículos” (Subirats, ibid). Portanto, aqui
ser formado, sob o ponto de vista da aliança entre teoria e prática. Por outro lado, os
para o país não cair num marasmo, deve-se: em primeiro plano, “discutir as
condições de existência de uma ética global que não seja a soma de interesses de
numa aldeia global sem perder a identidade”(ibid). Neste contexto, devemos colocar
os interesses que nos unem como nação em primeiro plano, tendo em conta a nossa
177
O quadro que se segue ilustra um conjunto de intervenientes a ter em conta
informais de influência”, o qual resulta “o currículo que tem como clientes e actores
revisões curriculares que ocorrem aos diversos níveis de ensino, como tentativa, por
assim como para acomodar as diversas necessidades que o país tem a nível do
mundo real e por outro lado, como tentativa de melhorar a qualidade de quadros
tempo da luta armada de libertação nacional, ocorrido nas zonas libertadas. Estas
altura em voga.
transformações curriculares inovadoras nem foi consequente pois não houve nem
tempo e nem condições de maturação dessas mudanças que se fizeram num ritmo
professores”.
179
Segundo Dias (2002, p. 145/6), “Nas orientações curriculares, no âmbito da
nos curricula, (Golias, 1995, p. 85) defende que “Estas mudanças curriculares
equipamentos educativos adequados. Por outro lado, tem-se notado a carência dum
material didático ainda é escasso, o que faz com que a teoria não seja
vigor até essa data e aprovados os Planos de Estudos que a seguir se apresentam:
Tabela 11: Estrutura Curricular do EP1(1ª a 5ª) e EP2 (6ª e 7ª) e do ESG1 (8ª a 10ª)
DISCIPLINAS CLASSES
1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9ª 10ª
Português 12 11 10 10 9 6 5 5 5 5
Inglês ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 3 3 3
Matemática 6 6 6 6 6 5 5 5 5 5
Ciências Naturais ---- ---- 2 2 3 ---- ---- ---- ---- ----
Geografia ---- ---- ---- ---- 2 3 3 2 2 2
História ---- ---- ---- 2 2 3 3 2 2 2
Ed. Estética e Laboral 2 3 3 3 3 4 4 ---- ---- ----
Educação Física 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
Química ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 3 3 3
Biologia ---- ---- ---- ---- ---- 3 4 3 3 3
Física ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 3 3 3
Desenho ---- ---- ---- ---- ---- ---- ---- 2 2 2
Total 22 22 23 25 27 26 26 30 30 30
Fonte: Adaptado de Golias (1993, pp 87/88)
180
No momento actual, mercê a uma revisão curricular muito recente, o ESG1
Fonte: Plano Curricular do Ensino Secundário Geral, Documento Orientador, Maputo, 2007
181
currículo. Defendendo, de igual modo, o envolvimento do professor na revisão
“Não se fará uma reforma educativa autêntica se não se colocar no centro de suas
preocupações as questões relativas à identidade, às condições de trabalho, ao status
económico e social e à profissionalização dos professores. O centro de toda acção
educativa tem no docente seu principal actor (…)”.
beneficiários do currículo. Esta inclusão dos alunos nas reformas curriculares está
com o currículo vigente, assim como os resultados e para daí propor as mudanças
182
2.5.3. Revisão do papel do professor
minimizar o efeito do insucesso escolar, sendo ele o gestor da sala de aulas. Deste
modo, no contexto moçambicano, um bom gestor da sala de aulas será aquele que
para além de dar bem aulas, ele é capaz de trabalhar com turmas numerosas, é
capaz de leccionar em turmas onde nem todos os alunos possuem o manual da sua
em que ele é que financia a produção deste material. Para além de gestor, o
unicamente se lhes e ensinado algo sobre eles. (…)”. Mais adiante, este autor (ibid),
mediador entre o aluno e a cultura através do nível cultural de que em princípio ele
transmite em particular e pelas atitudes que tem para com o conhecimento ou para
esses valores morais, culturais e cívicos para a sala de aulas. Estes valores
aluno vai adquirir na sala vai fazer constituir um enriquecimento ao seu reportório.
183
“No que respeita ao professor, parece-nos importante considerar fundamentalmente
dois aspectos: o primeiro situámo-lo em torno da comunicação envolvendo forma e
conteúdo. O segundo aspecto remete para o conjunto de expectativas e
representações do professor. É conhecido o papel que a comunicação, as
expectativas e representações do professor desempenham na gestão dos processos
educativos, pelo que se torna necessário, num contexto de eventuais dificuldades,
perceber qual o grau de ajustamento verificado”
a aprender”. Enquanto isso, de acordo com Santos (ibid), o aluno deve adquirir um
papel mais activo e construtivo na formação dos seus saberes”, portanto, o aluno
deve colaborar na sua própria formação de forma activa e não como mero
espectador passivo.
professor, elucida-nos que “(…) cada sala de aula representa uma realidade escolar
destacamos os seguintes:
interiorizar as normas e os critérios que lhes permitirão julgar, o que torna diferente o
184
contudo nobre, tarefa de fazer nascer e desenvolver nos alunos o sentimento de
do saber. Como Lopes & Silva (2010, p. IX) sustentam, “a influência do professor é
superior a factores como o ambiente familiar do aluno, a sua origem étnica e nível
argumenta,
Mais adiante, o autor acima citado (ibid) defende que o professor também
funciona como mediador entre a cultura e os valões culturais que o aluno já traz
consigo. Ghilardi & Spallarossa (1983, p. 169) falando das atribuições do professor
deve conter como um dos pontos a “atenção do professor para com os problemas
afirmou, “(…) cada aluno é um mundo a conhecer, com os seus problemas, com as
suas dificuldades, as suas contradições” (in Mazula 1995, p. 27). Dentro desta
perspectiva e tendo em conta que cada aluno é uma individualidade distinta, cabe ao
profícuo.
185
Esta preocupação encontra-se reflectida no posicionamento de Rocha (2002,
como o das nossas escolas onde o rácio professor- aluno é bastante elevado, o que
torna esta prática bastante difícil, mas não impossível. Schmidt, Ribas e Carvalho
“A vida hoje na escola, na sala de aulas, tem de ser muito mais do que a transmissão
de um conteúdo sistematizado do saber. Com certeza, deve incluir a aquisição de
hábitos e habilidades e a formação de uma atitude correcta frente ao próprio
conhecimento, uma vez que o aluno deverá ser capaz de ampliá-lo e reconstruí-lo
quando necessário, além de aplicá-lo em situações próprias do seu contexto de vida”.
próprio aluno. Com o modus vivendi nos referimos aos hábitos culturais atinentes às
famílias dos alunos, a maneira de ser e de estar na sociedade não só dos grupos de
que os alunos fazem parte, mas também doutras etnias no país e doutras
sociedades no mundo. O professor, de igual modo, deve ter como seus parceiros a
Como Flores (2000, pp. 149-150) comenta, “o aspecto mais impressionante do papel
186
do professor no desenvolvimento do currículo é a sua inevitabilidade: todos os
as metodologias de ensino.
Arroyo (2003, p. 152), refer que “os sujeitos da acção pedagógica são os sujeitos da
inovação”. Este autor defende que é das experiências dos professores, positivas e
negativas, que se concorre para novas práticas as quais serão uma amálgama de
reformas curriculares, Candau (2003, p. 41) argumenta que “Não se fará reforma
187
implementados pelos professores, sem que estes e outras sensibilidades tenham
contribuir para a melhoria do nosso sistema educativo e assim concorrer para a tão
almejada qualidade.
embora o facto de nem toda a inovação ser antecedida de uma investigação, como
Vilar (1993, p. 16) ilustra quando afirma que “(…) a inovação educativa e curricular
professores pelo currículo mais importante será dar-lhes toda a espécie de apoio
37
em Pacheco (2001, p. 48)
188
desse tipo”. De facto, a boa implementação do currículo depende do treinamento
quanto melhor preparado estiver o professor, melhor será a sua acção na escola.
por outras palavras, a reciclagem deve ser uma actividade prioritária para os
na sua carreira. Pois, estudiosos como Vilar (1993, p. 54) advogam que existe uma
de vista pedagógico- didáctico. Como Matos (2009, p. 246) enfatiza, “Um dos
de ensino.
189
Assim, cada inovação no sistema de educação deve ser acompanhada por
Neste contexto, Golias (1999, pp. 92/94) recomenda que o professor deve:
seu trabalho;
revelar entusiasmo nas tarefas do dia-a-dia; deve ser humilde pois, “Homens
colegas. “Um professor bem-humorado não faz troça que fixe ou marque os
seus alunos, mas sim, é aquele que neles provoca gargalhada sem ofender”;
190
deve ser responsável pois, a sua tarefa o requer, na medida que ele está a
operário ou o consumidor” (Pacheco, 2001, p. 48). Por outro, este professor deve
prático”(ibid). É este último papel que, na nossa óptica, o professor deveria assumir
segue:
a) Autoavaliação
professores explorarem seus pontos fracos, seus pontos fortes e habilidades. Por
pessoa qualquer para observar as suas aulas, isto pode ajudar a identificar áreas
algumas pessoas não são sérias e sinceras daí que não poderão ser
competência;
Neste contexto, o professor deve ter coragem para se classificar, pois isto
consequente mudança de atitude, caso seja necessário, para o bem dos que
quando estiverem para iniciar este grande desafio, que é a autoavaliação, a saber40:
39
Barber (990, pp. 224-5)
40
Hancock e Settle (1990, p. 30)
192
tendentes a melhorar o seu desempenho, com especial ênfase para os pontos
suas aulas, isto é, como eles ensinam, como os alunos reagem ao PEA, que
métodos que a seguir são apresentados e que facilmente podem ser implementados
41
Barber (1990, p. 218)
42
Weir e Roberts (1994, p. 324)
193
Evidências de que a aula do dia X decorreu com sucesso; foi mal
observe algum aspecto que não esteja contemplado, o mesmo poderá constituir
Para cada um dos três estágios da aula, escreve quatro (4) ideias que achas que reflectem o
modo como ensinas vocabulário
1º Estágio: Apresentação
1. E.g. Escrevo palavras novas no quadro.
2. ……………………………………………………………………………………., etc
2º Estágio: Prática
1. E.g. Os alunos usam as palavras novas em exercícios orais
2. ……………………………………………………………………………………., etc
3º Estágio: Produção
1. E.g. Uso jogos para consolidar o uso das novas palavras
2. ……………………………………………………………………………………., etc.
194
- Modelo- convida-se um perito ou professor bastante experiente para dar aulas a
uma turma real para se poder aprender dele. Ou então, os professores observam
aulas uns dos outros para troca de experiência e consequente melhoria dos seus
métodos de ensino.
ser usado por cada professor em observação ao seu colega. Tomemos como
195
contribuir para a melhoria da qualidade do PEA. De referir que este processo deve
professor com mais seriedade, pois, em certos contextos, este exercício não é
permanente. Esta actividade muitas das vezes não é sistemática e há casos em que
professores não sabem o que é ser assistido para efeitos de avaliação, pese embora
sejam avaliados por outras vias pouco claras, usando critérios muito subjectivos. No
outros aspectos tais como os planos de aulas, o material didáctico feito pelo
profundo do que está a acontecer com a população estudantil, tanto nas salas de
196
melhor. Diríamos que a presença desta autoridade pode até amedrontar o professor,
podendo daí surgir casos de suborno para que o inspector não possa apontar as
certos riscos no que tange a sua reputação assim como ao seu vínculo contractual
Assim, o inspector deve ser leal consigo próprio e fiel à sua missão de
supervisor pois, podem existir casos de tentativa de suborno. Este supervisor deve
agir com a devida lealdade para detectar irregularidades e ser capaz de apontá-las e
práticas.
professor, ele/a pode não ter um bom entendimento da situação da sala de aulas,
2001, p. 222). Neste contexto, para se colmatar este tipo de situações, a existência
do supervisor. Esta observação pode resultar numa reacção mais construtiva pois,
“Um colega sempre terá uma melhor compreensão das dificuldades que o professor
197
enfrenta e talvez seja capaz de sugerir boas formas de minimizá-las”, ou mesmo
aconselhamento seria baseado no dia-a-dia vivido por ambos e, daí, melhor do que
Este tipo de avaliação pode ser considerado como uma oportunidade de troca
companheiro utiliza para concretizar cada etapa da aula. Por exemplo, como o
professor inicia a aula, como introduz os conteúdos do dia, e assim por diante. Finda
A avaliação por alunos constitui uma prática permanente pese embora não
“Os alunos estão em boa posição de avaliar a efectividade do ensino, apesar de isto
depender do tipo de instrumento. Embora os alunos sejam sempre críticos, eles têm
uma boa percepção sobre se o professor prepara a aula ou não, ministra conteúdos
que eles não podem avaliar é o quanto a disciplina é difícil para cada um dos alunos
devido à dinâmica pessoal dos membros da turma. Por exemplo, poder-se-à dar
um guião que os ajudará a avaliar o professor. Somos de crer que esta prática, no
198
nosso contexto, poderá ser funcional se o professor por avaliado por seus alunos.
Contudo, deve-se garantir o anonimato, caso contrário não haverá sinceridade nas
respostas devido ao medo que os alunos possam ter caso revelem os aspectos
Outra técnica seria entregar o guião a um aluno de modo a que este preencha
sem o professor saber que está sendo observado pois, quando sabemos que
país do qual ele/ ela faz parte. Este exercício é bastante difícil pelo facto de o aluno
Mesmo que seja difícil, o aluno deve ser responsabilizado pela sua própria
maior parte do PEA. Muitos dos alunos estão na sala simplesmente para ouvirem do
professor e em contrapartida, eles nada fazem para alargar o seu horizonte técnico-
científico. Por outras palavras, estes alunos só se limitam aos conhecimentos que o
sua própria aprendizagem assim como desenvolver nos alunos o espírito de busca
Nesta tarefa, também se propõe que sejam envolvidos os pais e/ou encarregados de
proactividade do aluno.
Morin (999, p. 19) nos seguintes termos: “É necessário que todos aqueles que têm o
tempos”. Portanto, a educação do futuro deve constituir um desafio que não deve
ser ignorado tanto pelos professores como pelos gestores e a sociedade em geral.
situações, porque, segundo Morin (ibid, p. 90), “(…) vivemos uma época em
modificação onde os valores são ambivalentes, onde tudo está ligado”. Deste modo,
Por outras palavras, temos que ser ousados e avançarmos para um futuro
empreendimento que é a sua própria formação e, como tal, ele deve empreender
201
todos os esforços para seu próprio benefício. Recomenda-se que se incuta no aluno
Assim, como já fizemos referência, a educação deve criar condições para que
seu próprio saber, mesmo quando se trata de conhecer coisas já conhecidas pelos
outros, é solicitado a refazer, à sua custa, o próprio acto de conhecer, a recriar; para
si próprio e por si próprio, aquilo que já outros criaram antes de si, (…) garantindo-
lhe que ele é não só o ponto de partida, mas também o ponto de chegada da sua
PEA. Daí que, durante o PEA, os alunos se manifestam de diversas formas. De igual
comunicativos em relação aos outros; outros têm mais aproximação com os seus
alunos em relação a outros que estabelecem uma fronteira entre eles e os seus
43
citado por Costa, 1997, p. 97)
202
“O próprio ser humano é simultaneamente uno e múltiplo. (…) Traz em si as suas
multiplicidades interiores, as suas personalidades virtuais, uma infinidade de
personagens quiméricas, uma poliexistência no real e no imaginário., o sono e a
vigília, a obediência e a transgressão, o ostensivo e o secreto (…)”. “(…) O ser
humano é um ser racional e irracional, capaz de mesura e de desmesura, sujeito de
uma afectividade intensa e instável, sorri, ri, chora, mas sabe conhecer
objectivamente, é um ser sério e calculador, mas também ansioso, angustiado,
gozador; é um ser de violência e de ternura (…) (ibid, p. 64)”
professor como o aluno são uma ambiguidade em si, uma amálgama de sonhos,
seus alunos seja a mais pacífica possível e que haja compreensão mútua. Morin
seguintes termos,
retrocesso.
203
Neste contexto e valorizando o contributo de Morgado (1997, p. 46), no
tocante à observação de uma série de princípios que “(…) não tendo um carácter
10).
alunos, pois, são eles que passam a maior parte do tempo na escola juntos, em
relação ao tempo que eles estão com o professor na sala. Isto é, ficam 45 ou 90
minutos com um professor e depois recebem outro professor e assim por diante.
Com os seus colegas, ficam de 2ª a 6ª feira, cerca de 6 horas por dia. Neste
harmoniosas entre eles, isto é, que eles pautem pelo reconhecimento da diferença
Por exemplo, sempre que a criança volta para casa, deve-se saudá-la e perguntar
para ver o que ela escreveu e pedir para ela fazer os deveres de casa assim como
preparar-se para as aulas do dia seguinte. Este exercício deve ser permanente se
quisermos que a criança se sinta acompanhada, não só mas também permite que o
educando. Por seu turno, esta criança estará bastante motivada e com a consciência
de que tem alguém que se preocupa com ela. Neste contexto, a criança tem um
confidente para os seus problemas na escola, isto é, ela sabe a quem recorrer em
caso de problemas. Quando esta parceria é inexistente, a criança fica entregue aos
escola em estreita colaboração com os professores, mas também com os pais, que,
situa a escola (…)”. Estes dados visam a elaboração de “(…) uma base informativa
útil para orientar a actividade de ensino e para facilitar as relações com o exterior”
(ibid). De facto, os pais devem estar a par e passo de todo o processo educativo.
Estes também devem ser os suportes morais do seu educando, de modo a motivá-lo
testemunho de uma avó, por ele entrevistada, falando da sua neta, diz: “Precisa de
um apoio moral. Isto é, de alguém que esteja ali, uma presença, só isso. Mesmo que
a gente não a ajude, não pego a caneta dela para fazer suas tarefas, não sou eu, é
ela quem tem que fazer, mas estou aqui (acentua essa palavra). (…) E ela estuda,
desta aluna. Outro exemplo de boa parceria entre pais e filhos encontramos no caso
que a seguir se ilustra: “Todas as noites, o senhor T. diz aos filhos para fazerem as
claramente que esta colaboração entre pais e seus educandos faz com que se
Contudo, nos dias em que vivemos, a luta pelo sustento, bem- estar
económico e social da família faz com que, em algumas famílias, não haja este
206
tempo de contacto amiúde entre pais e/ou encarregados de educação e a escola,
assim como com os seus educandos, de modo a que estes possam fazer o devido
acompanhamento do PEA. Casos caricatos são que alguns destes, nem às reuniões
educandos.
qual lamenta nos seguintes termos: “(…) E chama o pai, o pai também não é
sempre que vem. Não liga (…).”. Há casos em que os pais e/ou encarregados de
educação enviam seus serviçais a estas reuniões. Não defendo que isto seja
aluno- escola.
família, mesmo assim aconselha a que estes encontrem tempo para estar com os
seus filhos, nos seguintes termos: “(…) um bom pai não tenta encontrar tempo para
estar com os filhos. Em vez disso, arranja tempo para estar com eles”. Deste
aproveitar positivamente o tempo ínfimo de que dispõem para o dedicarem aos seus
educandos.
207
Josina Machel (filha), falando de seu pai (Samora Moisés Machel44), relata
que, apesar de estar extremamente ocupado, sempre arranjava um tempo para estar
com os filhos, como se pode depreender das suas palavras, “(…) Eu cresci numa
família onde sou a sétima entre oito filhos. Samora deu especial e individualizada
atenção a cada um de nós, apesar das grandes responsabilidades que ele tinha
fazem com que ele/a encontre sempre um tempo para se colocar ao corrente de
qualidade: um tempo que os pais lhes dediquem por inteiro, (…) a comunicar, um
pode permanecer longas horas com o seu educando mas sem promover, ou seja,
desenvolver algo profícuo para o seu educando. Por exemplo, ele pode estar
no aluno.
44
Primeiro Presidente da República Popular de Moçambique (1975 a 1986)
208
Por seu turno, N‟weti (2007, p. 8) defende que os pais e/ou encarregados de
educação devem criar a auto-estima nos seus educandos, visto este exercício trazer
uma baixa auto-estima, “não se sentem valorizadas ou ouvidas, sentem que não têm
educandos. Qualquer criança deve sentir que possui alguém na sua vida que se
preocupa com ela e que está sempre pronta para ouvi-la em todos os momentos da
vida e prestar, dentro das suas possibilidades, o apoio necessário. Fonseca (2004,
209
Nérici (1969, p.90), abordando a mesma problemática, defende que os pais
tem amparo, o que constitui uma base sólida para trilhar para o sucesso na escola e
no futuro. Al- Mufti (1996, p.187), acrescenta alguns termos de referência para a
Neste contexto, este autor afirma que “o papel da família e das comunidades locais
relevantes sobre os seus alunos. Este contacto, visa essencialmente diminuir o risco
será aquele que conhece e domina o seu campo de acção, isto é, a (s) sua (s)
disciplina (s) e os seus alunos. Do ponto de vista sociológico, este professor para
210
além de veículo de transmissão do saber científico ele passa a ser um amigo,
das matérias.
existirem “(…) razões extrínsecas ao aluno e respectiva família. Ignorar estas razões
razões é preparar a possível solução do problema. Para que estas razões sejam
Em suma, deve haver um diálogo permanente com ele. Este exercício afigura-
resolvido para o bem de todos os intervenientes do PEA. Meirieu (1998, pp. 43/4),
sugere uma ferramenta de trabalho (Quadro 3) que pode ser usada pelo professor
alunos e novas abordagens para saberes que deve transmitir-lhes (…)”. É nossa
opinião que o professor quando estiver na sala de aulas deverá empreender as suas
211
capacidades e esforço para conhecer o seu interlocutor imediato, neste caso o
aluno. Para que isto aconteça, o professor ter na consciência de que o aluno espera
recai no professor: o aluno vai à escola para aprender do professor designado para
o efeito. Esta ferramenta proposta por Meirieu (ibid) não é o fim em si, mas uma
tentativa de criar condições para melhor conhecer o aluno e, assim, resolver alguns
consciência de que para o nosso contexto em que as turmas são numerosas este
exercício poderá parecer uma utopia mas, se o professor estiver aberto e disposto a
ajudar os seus alunos, ele o fará dentro das suas possibilidades. De igual modo,
no PEA.
212
Domínio cognitivo -De que competências -Sobre quais conhecimentos anteriores
(conhecimentos) o aluno já dispõe posso construir a aprendizagem que eu
(competências escolares, mas viso?
também sociais ou mais pessoais)? - Em que domínios posso encontrar (ou
- De que capacidades o aluno já mesmo utilizar) as competências que eu
dispõe (capacidades escolares, mas solicito ou procuro fazer com que sejam
também sociais ou mais pessoais)? adquiridas? Que materiais ou exemplos
posso, portanto, utilizar que permitam
aplicar essas competências?
- Em que actividades se recorre às
capacidades que eu solicito ou procuro
fazer com que sejam adquiridas? Que
situações e que ferramentas posso,
então, utilizar que permitam aplicar
essas capacidades?
Domínio afectivo - Que interesses, que paixões, que - Em que projectos pessoais poder-se-ia
curiosidades, que engajamento o inscrever a aprendizagem que procuro
aluno manifesta? fazer com que seja efectuada?
- Que desafios existem ou poderiam - A que metas posso vincular os
existir para ele numa aprendizagem objectivos visados (obtenção de um
(desejo de impor-se, de produzir desempenho em relação a uma media
para valorizar-se, de arriscar-se e anterior, produção de um objecto
lançar-se um desafio a si mesmo, de socialmente valorizado, proposta de
identificar-se, de opor-se, etc.)? uma situação lúdica, etc.)?
Meirieu (1998, pp. 43/4)
o PEA com os nossos parceiros directos e podermos obter apoio destes sempre que
necessário.
213
de perto o PEA dos seus educandos a terceiros. A ligação escola-comunidade em
Moçambique, encontra sua base legal na Lei 4/83 de 23 de Março, a qual cria o
pedagógicos, dos quais, um, na sua alínea f) defende a ligação estreita entre a
Conselho de Escola (donde a comunidade faz parte) ocupa o primeiro lugar, seguido
garantir uma gestão democrática e transparente” (ESPG, 2013 p.11). Tendo em vista
do professor e que não seja para intimidar, mas para construir, trocar
que a comunidade se faça sempre presente que solicitada pela escola, pois, o
destes substitutos, pessoas que não possuem nenhum vínculo afectivo com
214
os alunos (os empregados, por exemplo). Para o efeito, as escolas deverão
Neste contexto, esta parceria deve ser priorizada para o bem de todos os
programas de educação. Pois, como nos é elucidado por Borges (2004, p. 65), “Há
muito o que aprender de ambos os lados, para que essa relação tenha resultados
que os gestores de educação tenham em mente que “Em todos os lugares, em todos
os momentos, a escola, por meio das pessoas que nela trabalham e dos
instrumentos que se utiliza, está sendo vista e avaliada” (Borges 2004, p. 65). Como
materiais didácticos)
215
os quais poderão concorrer para a criação de mau ambiente entre a escola e a
comunidade.
ser valorizados. Por exemplo, citando Pacheco (2001, p. 98), os pais e/ou
Portanto, secundando Louis e Smith (1990)45, deve haver integração de, “(…)
45
Citados em Pacheco (2001, p. 93)
216
comunidade seja parceira efectiva do sector da educação, sendo deste modo, parte
como podemos fazer uso do aconselhamento de Andrade (2004, p. 13) que advoga
que “Uma escola com qualidade e eficácia é gerida com competência, agilidade,
E para que isto seja uma realidade, recomenda-se que haja selecção
adequada dos dirigentes das escolas, tendo em conta que a sua tarefa constitui um
grande desafio. Por exemplo Borges (2004, p. 22) defende que “A grandeza de uma
que não tenha formação em gestão de educação poderá enfrentar problemas sérios
217
acrescentar que é necessário que esta personalidade a ser seleccionada seja
Considerações Finais
instrução, a educação e a formação. Como Roldão (1999, p. 16) nos recorda, “No
caso da escola, por natureza uma instituição com funções de passagem cultural e
aos que são lugar-comum actualmente”. Portanto, este fenómeno constitui uma
precisamente dos anos 60. Antes desta época, os psicólogos atribuíam o insucesso
que é o meio escolar o qual inclui a sala onde decorre o processo de ensino e
igual modo, chama-se especial atenção aos pais e/ou encarregados de educação e
218
sociedade no geral para se aliarem ao PEA de modo a serem a contraparte do
219
Capítulo I
descrição do fenómeno que está a ser estudado” (Freixo, 2011, p. 111), mais
intrínseca assim como extrínseca, tanto para o aluno como para os professores,
assim a visão linear que alguns segmentos da nossa sociedade possuem, pois
consideram que se situa somente na falta de estudo dos alunos aliada à fraca
1. OBJECTIVO DO ESTUDO
do ensino secundário (8ª a 10ª classes) e ainda por uma entrevista de natureza
algumas aulas, foram recolhidas evidências que, após a sua cuidada reflexão e
220
fenómeno insucesso escolar, perspectivando-se assim uma melhor educação para
os jovens.
probabilidade. De acordo com Freixo (2011, p. 165), “As hipóteses são (…)
ao problema de pesquisa.
seguintes hipóteses:
do exposto, a “visão simplista/linear” (VI) constitui uma das causas para a “crise do
221
sistema educativo em Sofala” (VD) vislumbrando-se assim, uma causa entre as
variáveis.
Operacionalização do conceito:
Operacionalização do conceito:
Esta hipótese é direccional. Nesta hipótese como assinala Freixo (2011, pp 170/1),
“Este tipo de hipótese especifica se uma variável vai aumentar ou diminuir quando a
222
existência da relação mas também a sua natureza, exprimindo-se por termos, tais
Operacionalização do conceito:
Operacionalização do conceito:
Hipótese 3: Quanto melhores forem as relações afectivas entre o aluno e seus pais
em que se verifica uma relação entre variáveis em presença: (VI) „melhores relações
223
-<relações afectivas> significam relações de compreensão, carinho e
prática.
Operacionalização do conceito:
desempenho do aluno.
Operacionalização do conceito:
224
material didáctico, relação entre alunos, professores e a adaptação ou não ao
Operacionalização do conceito:
Moçambique. A Norte faz fronteira com as províncias de Tete e Zambézia. A sul tem
Com uma área de 67 753 km², esta província está dividida em 13 distritos, a saber:
225
A província de Sofala até 2013 possuía 1432 professores para o ESG, destes
na tabela abaixo:
acordo com Freixo (2011, p. 188), para uma população composta por 1100 unidades
amostragem não probabilística, pois, ela foi racional. Nesta técnica, de acordo com
226
Tabela 14: Amostra por Escola (professores)
De realçar que o número de inquiridos varia de escola para escola. Isto deve-
Por exemplo, nas cidades, a tendência é de haver escolas grandes e com capacidade
além do facto de que é nestes locais onde há maiores concentrações tanto de alunos
Género Idade
Masculino Feminino 18-25 26-35 36-45 46-55 >56
Nr % Nr % Nr % Nr % Nr % Nr % Nr %
224 76,19 70 23,8 35 11,9 146 49,6 72 24,4 32 10,8 4 1,36
227
licenciados e 2 Mestrados (vide tabela abaixo). Portanto a maioria possui o nível médio
e em seguida temos também um grande número de professores que possui a
licenciatura.
Tabela 16: Caracterização da amostra por Habilitações Literárias (Professores)
HABILITAÇÕES LITERÁRIAS
Médio Bacharel Licenciado Mestrado
Nr. % Nr. % Nr. % Nr. %
147 47.1 26 9.75 119 43.08 2 0,68
ANOS DE SERVIÇO
<5 5-10 11-15 16-20 21-25 26-30 31-35 >36
Nr. % Nr. % Nr. % Nr % Nr % Nr % Nr % Nr %
75 25,5 121 41,2 42 14,3 28 9,5 5 1,7 12 4,08 9 3,1 2 0.7
académicos. A técnica utilizada para a selecção desta segunda amostra foi a técnica
compõem um subgrupo são escolhidos em razão da sua presença num local, num
Maríngué (2) nas seguintes escolas: Secundária Samora Moisés Machel e Escola
utilizada foi não probabilística por quotas, na qual “(…) os sujeitos são escolhidos
10ª classe.
emprego dos pais e/ou encarregados de educação, o tipo de casa onde o aluno
desempenho dos alunos seleccionados para o estudo foi elaborada uma grelha de
229
observação usada na aula. Na sala de aulas foram observados os seguintes
Para além desta grelha, foram observados os cadernos destes alunos, assim
seguinte ordem:
professores;
230
b) selecção de alunos nas escolas e identificação dos respectivos encarregados
observados.
logo os recursos humanos e consumíveis tais como papel, caneta e outros, para
231
Capítulo II
escolar.
2008 2758 7045 2548 6568 1170 3408 210 477 42.4 48.4 50 44.9 7.6 6.8
2009 3701 8905 3468 8333 1758 4615 233 572 47.5 51.8 46.2 41.8 6.3 6.4
2010 4420 10181 3912 9079 2029 5125 508 1102 45.9 50.3 42.6 38.8 11.5 10.8
2011 5247 12189 4616 11229 1650 4586 631 960 31.4 37.6 56.5 54.5 12 7.9
2012 5868 13664 5076 11902 1891 4892 792 1762 32.2 35.8 54.3 51.3 13.5 12.9
Acu. 21.994 51.984 19.620 47.111 8.498 22.626 2.374 4.873 38.6 43.5 49.9 46.3 10.2 8.96
acima constitui um desafio para quem de direito (autoridades educativas) e não só,
abaixo).
47
DPEC Sofala, 13/01/2014
232
Gráfico 1: 2011 Matriculados 12189 Gráfico 2: 2012 Matriculados 13664
também aumentarem nos últimos anos (2010, 11 e 12), conforme a tabela acima e o
gráfico abaixo.
Sobre o conceito de Insucesso escolar (pergunta 1), dos 294 professores que
128 (43,53 %) descrevem-no como “não alcance dos objectivos do PEA”; 16 (5,44
Respostas Freq. %
Fraco aproveitamento pedagógico 140 47,61
Não alcance dos objectivos do PEA 128 43,53
Ensino sem qualidade 12 4,08
Aluno sem competências e habilidades para a vida 5 1,7
Professores não qualificados 4 1,36
Fraco domínio do saber fazer e saber ser 4 1,36
Não ter acesso à escola 1 0,34
insucesso escolar como mau aproveitamento e não alcance dos objectivos do PEA,
234
Como se pode ler no gráfico acima, a tendência dos professores é de analisar
o insucesso escolar como reprovações assim como a não aquisição das habilidades
Província de Sofala, 292 (99,32%) professores defendem que ele “constitui uma
abaixo.
RESPOSTAS Freq. %
É uma realidade aliada a vários factores 188 63,9
É uma realidade generalizada 61 20,7
É uma realidade que tende a agravar-se 19 6,46
É uma realidade principalmente nas escolas públicas 14 4,76
É uma realidade sobretudo nas zonas rurais onde há falta de recursos 10 3,4
didácticos
Não é uma realidade 2 0,68
que não pode ser ignorado por todos os intervenientes do processo educativo assim
como pela sociedade em geral, pois ele constitui um factor que poderá afectar,
235
Gráfico 5: Insucesso Escolar na Província de Sofala
turmas numerosas (mais de 30 alunos por turma), o baixo nível de interacção entre
236
Tabela 21: Possíveis causas do insucesso escolar, segundo os professores
RESPOSTAS Freq. %
-Escassez de material didáctico nas escolas (bibliotecas mal equipadas ou 61 20,7
ausência destas)
-Turmas numerosas (falta de salas de aulas) 51 17,3
-Fraco domínio da língua de ensino pelos alunos e fraco nível de cometimento do 49 16,6
aluno ao PEA
-Mau desempenho dos professores 38 12,9
-Fraca motivação dos professores (salários baixos e habitação, não compatíveis 36 12,2
com a carga de serviço e o nível de vida actual)
-Passagens automáticas de 1ª a 7ª classes e falta de ensino pré-escolar 33 11,2
-Condições socioeconómicas e culturais dos alunos (crianças chefes de família, 33 11,2
casamentos prematuros e gravidez precoce)
-Deficiente formação e falta de capacitação permanente dos professores 28 9,5
-Fraco acompanhamento do PEA pelos pais e/ou encarregados de educação e 26 8,8
autoridades competentes (Sector de Educação)
-Alterações constantes dos curricula e muitas disciplinas nas classes iniciais 26 8,8
-Mau uso das tecnologias de informação e comunicação pelos alunos, Celular 5 1,7
(programas: facebook, whatsApp, mig33)
desenvolvimento do currículo.
237
2.2.4. Exemplos de casos de Insucesso Escolar
serviços pelos professores”; 6 (2,04%) apontaram a “ausência massiva dos pais e/ou
estabelece a ligação entre o que lê, o que escuta e o que pensa (reflexão).
RESPOSTAS Freq. %
-Dificuldades na leitura e na escrita 120 40,8
-Altas taxas de reprovações 38 12,9
-Baixo aproveitamento pedagógico 36 12,2
-Desistências 30 10,2
-Falta de dedicação do aluno ao PEA 18 6,1
-Fraca assimilação das matérias pelo aluno 15 5,1
-Professores sem domínio das matérias que leccionam 11 3,7
-Fraca assiduidade dos alunos 8 2,7
-Dificuldades de prestação de serviços na área laboral 7 2,3
-Dificuldades nos exames de admissão ao ES e ET 6 2
238
-Ausência massiva dos pais e/ou encarregados de educação no PEA 6 2
-Delinquência juvenil 4 1,36
-Alunos sem capacidades para enfrentar a vida 3 1,02
-Suborno e corrupção na atribuição de notas 3 1,02
-Uso de telemóveis ao invés de livros 1 0,34
(pergunta 5), foram colhidas muitas ideias, as quais foram agrupadas como se
segue: 90 (30,6 %) propõem que “os actuais curricula sejam revistos e a sua
239
implementação seja supervisionada”; 84 (28.5 %) inquiridos propõem a “melhoria da
conhecimento do mundo que rodeia o aluno”; 76 (25,8%) opinam que “se aposte no
RESPOSTAS Freq. %
-Deve-se investir na construção de mais salas de aulas (para reduzir o número de 76 25,8
alunos por sala) e no apetrechamento das escolas em carteiras, bibliotecas,
equipamento informático e laboratórios.
-Deve-se rever o salário e as condições de habitação do professor 48 16,3
Incentivar a colaboração entre os pais e/ou encarregados de educação, a 43 14,6
comunidade e a escola e estimular os melhores alunos
-Deve-se eliminar as passagens automáticas (1ª à 7ª classe), rever as políticas 38 12,9
educacionais (lei da percentagem em detrimento da aquisição efectiva do saber),
as quais priorizam a acumulação de elevadas taxas de aprovações e reintroduzir o
ensino pré-primário.
-Deve-se investir na formação de professores qualificados e na promoção periódica 36 12,2
de seminários de capacitação para os professores para a sua actualização
-Reduzir o nº de disciplinas na 1ª, 2ª, 3ª classes e incidir no Português (leitura e 32 10,8
escrita) e Matemática e pensar-se na possibilidade de se introduzir um ensino
bilingue de 1ª à 7ª classe de modo a ajudar o aluno
-Deve-se supervisionar com rigor o PEA e colocar um orientador educativo em 20 6,8
cada escola
-Treinar pais e/ou encarregados de educação em matérias de acompanhamento de 2 0,68
seus educandos
-Deve-se adoptar politicas sérias para a retenção da rapariga na escola. 2 0,68
-Acompanhar alunos que vivem em lares com problemas sociais 1 0,34
240
Gráfico 8: Propostas Para Minimizar o Insucesso Escolar
RESPOSTAS Freq. %
Não alcance dos objectivos do PEA 34 69,3
Fraco aproveitamento escolar 10 20,4
Reprovações 5 10,2
discorda que o insucesso escolar seja uma realidade, pois, de acordo com este
RESPOSTAS Freq. %
É uma realidade 36 73,4
É uma realidade em todos os subsistemas de ensino 6 12,2
Não é uma realidade. É só os alunos estudarem mais. 4 8.1
É uma realidade mais notória nas 10as e 12as classes 3 6,1
242
Gráfico 9: Insucesso Escolar na Província de Sofala
como um facto na nossa província é quase insignificante com relação ao total dos
dos curricula”. Entretanto, 15 (30,6%) apontam “o fraco envolvimento dos pais e/ou
RESPOSTAS Freq. %
-Professores sem vocação, fraco nível de formação e salários incompatíveis 19 38,7
com a função docente que condiciona o mau desempenho e desmotivação
dos professores
-Falta de meios didácticos e turmas numerosas 12 24,4
-Preguiça, elevada aderência dos alunos às novelas na televisão em 8 16,3
detrimento dos estudos e mau uso das redes sociais
-Fraca colaboração dos pais e/ou encarregados de educação e comunidade, 7 14,2
no geral, no PEA
-Politicas educacionais não consequentes (redução de carga horária não 5 10,2
acompanhada da redução dos conteúdos programáticos das disciplinas) e
passagens automáticas no EP
243
Resumindo, o gráfico abaixo mostra que os líderes de opinião apontam os
professor na liderança das causas do insucesso escolar, sendo este seguido por
RESPOSTAS Freq. %
Fraco domínio da leitura e escrita 22 44,8
Elevados índices de reprovações nas classes de exame 15 30,6
Desistências 10 20,4
Aderência dos alunos a bebidas alcoólicas e outros vícios 4 8,1
Falta de criatividade e inovação 2 4,08
244
Gráfico 11: Exemplos de Insucesso Escolar Segundo os Líderes de opinião
O gráfico acima mostra que o fraco domínio da leitura e escrita pelos alunos,
insucesso escolar mais apontados pelos inquiridos, enquanto com menor frequência
escola- comunidade seja uma realidade” e que “o PEA seja supervisionado”; outros
sugerem “que haja programas com os alunos tendentes a estimular e melhorar o seu
245
incidem nas infraestruturas escolares e respectivo apetrechamento, no professor, na
Tabela 28: Propostas para minimizar o Insucesso Escolar, segundo os líderes de opinião
RESPOSTAS Freq. %
-Reduzir o número de alunos por turma de modo a facilitar o PEA e
programas de ensino e apetrechar as escolas com material didáctico 19 38,7
(carteiras, livros, computadores)
-Reformular os curricula 18 36,7
-Envolver pais e/ou encarregados de educação e a sociedade em geral no
PEA e gestores de escolas devem supervisionar e inspeccionar 17 34,6
efectivamente as suas escolas
-A formação de professores em exercício deve ser uma constante e deve-se 15 30,6
melhorar o salário destes
-Deve-se anular as passagens automáticas no EP 7 14,2
-Eliminar a proliferação de barracas de venda de bebidas alcoólicas próximo 6 12,2
das escolas
-Deve-se promover concursos de leitura e escrita e estimular os alunos
aplicados através de diplomas de honra e ouros tipo de premiações 6 12,2
atinentes ao professor; e por último questões relativas ao aluno, como se pode ver
no gráfico abaixo.
246
2.4. Resultados da Observação de Aulas
escola foram observados 2 alunos da 10ª classe. Os nomes dos alunos são fictícios,
para salvaguardar o seu direito à privacidade, e foram atribuídos nomes nas línguas
tem 8 janelas duplas. Tem boa iluminação. Tem carteiras suficientes. Tem mais de
70% dos alunos. A interacção professor- aluno é razoável. Existe espaço para o
não tem energia eléctrica, nem água canalizada. Ela vive com os pais e 3 irmãos. Os
pais vivem de negócio ambulatório. Ela ajuda a mãe na venda de produtos quando
247
sai da escola. Ela vai à escola à pé. A aluna tem 2 refeições por dia. Não leva
merenda para a escola e nem dinheiro para o efeito. A aluna não possui os manuais
aluna não tem feito os trabalhos para casa e não é activa na feitura dos trabalhos na
turma. Não é participativa durante as aulas. Não reage aos estímulos do professor. A
aluna não está atenta às aulas, é indiferente. Ela tem problemas à todas as
Vive numa casa de alvenaria (de 2 andares). O pai é mecânico e a mãe é doméstica.
A família vende gelo em casa, para aumento da renda. A casa possui energia
eléctrica e água canalizada. A casa tem geleira, congelador, rádio, televisão e vídeo.
Também possuem revistas, jornais e livros diversificados. Ela vai à escola de chapa-
cem. Ela tem 2 refeições por dia. Leva dinheiro para a merenda na escola. A aluna
possui manuais de todas as disciplinas assim como o material básico. Esta aluna é
académico é muito bom. Ela tem dialogado com os pais sobre o seu dia-a-dia na
248
Tabela 29: Tabela comparativa do Rendimento Pedagógico - 2º Trimestre
RENDIMENTO PEDAGÓGICO
DISCIPLINAS Farisai Tauringana Tchiedza Chipuza
Português 8 14
Inglês 9 14
Francês 8 13
História 7 15
Geografia 7 15
Biologia 7 13
Física 8 13
Química 8 12
Matemática 9 14
Desenho 6 12
Educação Física 5 14
Agropecuária 14 14
Noções de Empreendedorismo 11 18
vida, é carente, os seus pais não possuem boas condições socioeconómicas o que
em parte pode justificar a carência que a aluna tem em termos de material escolar.
aluno deve possuir o mínimo de material didáctico, esta aluna não está preparada
para acompanhar devidamente as aulas. Ela não possui um caderno para cada
disciplina, daí que os seus apontamentos não estão organizados. O facto de ter
somente 2 refeições por dia e não levar merenda para a escola pode significar que
ela, em alguns momentos passe fome, o que de certa forma concorre para a
sustento familiar assim como na lide doméstica. As famílias que não possuem água
deste precioso líquido e este exercício é deveras fatigante. Deste modo, a aluna não
249
está isenta deste trabalho diário dado as famílias não possuírem reservatório grande
para água. Estas actividades ocupam o tempo que seria dedicado ao estudo e ao
que praticamente nada fazem por ela. Em contrapartida, a segunda aluna possui
aprendizagem.
alunos estão a escrever. Nesta sala, a interacção professor- aluno, no geral, é boa.
com 50 a 70% dos alunos. Nesta sala foram observados 2 alunos, como a seguir
são descritos:
O aluno vive com os pais e 3 irmãs numa casa de alvenaria do tipo 3, situada
250
livros diversificados. O pai é motorista de camião e a mãe é funcionária bancária. O
aluno tem 4 refeições por dia, a saber: pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar. Ele
leva dinheiro para o lanche na escola. Ele vai à pé para a escola, apesar de a mãe
possuir carro. O aluno faz os trabalhos para casa e na sala de aulas. O aluno é
Regra geral, o aluno reage positivamente aos estímulos dos professores. Ele não
tem os manuais das disciplinas. Ele possui todos os materiais básicos (esferográfica,
dialogado com a mãe, pois, o pai sempre chega tarde à casa devido à sua profissão.
alunos.
A aluna vive com a mãe e com a irmã. A mãe é auxiliar de limpeza num
da escola. A casa possui energia eléctrica, água canalizada. A casa tem televisão,
cidade. Ela vai à pé para a escola. Tem 4 refeições por dia, a saber: pequeno-
almoço, almoço, lanche e jantar. Não leva merenda para a escola, porque não quer.
Contudo, leva dinheiro para o efeito. Ela não tem os manuais das disciplinas.
borracha e cadernos para todas as disciplinas). Ela tem dificuldades nas disciplinas
251
o governo e os professores são os principais responsáveis pela educação dos
alunos.
RENDIMENTO PEDAGÓGICO
DISCIPLINAS Nhamizinga Zwinoitika Tawanda Massarira
Português 12 14
Inglês 12 12
Francês 9 10
Historia 12 14
Geografia 13 11
Biologia 10 12
Física 13 13
Quimica 10 11
Matemática 9 10
Desenho 11 12
Educação Física 12 13
Agropecuária 12 15
Noções de Empreendedorismo 13 14
condições suficientes em casa para poderem estudar a qualquer hora do dia. Pese
Matemática nas quais teve a nota positiva mínima, 10 valores. Regra geral 10
ajuda ao aluno, para evitar que ele reprove. Concluindo, estes alunos mostram-nos
252
contudo, um deles tem fraco rendimento o qual está reflectido nas notas negativas a
sentam 3 a 3 em cada carteira. Não existe muito espaço para o professor circular e
aluno, no geral, é boa. A interacção aluno- aluno também é boa. Os professores são
capazes de interagir com 50 a 70% dos alunos. Nesta sala foram observados 2
A aluna vive com os pais e 4 irmãos mais novos. Os pais são funcionários
duma ONG na Cidade. Moram numa casa de alvenaria, do Tipo 4, com energia
aluna tem 3 refeições por dia. Não traz merenda para a escola. Mas, traz dinheiro
para o efeito. A aluna possui caderno, esferográfica, borracha, lápis de carvão. Não
possui todos os manuais das disciplinas. Ela participa muito poucas vezes. Faz os
trabalhos para casa. Faz os trabalhos na turma. Ela reage positivamente aos
Ela está sempre atenta às aulas. Participa 1 a 2 vezes durante as aulas. O seu
253
Opinião dos pais sobre a educação: A escola é importante para o futuro da filha. A
O aluno vive com os pais e 3 irmãos mais novos. Os pais são professores
primários. Moram numa casa de alvenaria, do Tipo 3, com energia eléctrica. Não
cem à escola. O aluno tem 3 refeições por dia. Não traz merenda para a escola.
Poucas vezes traz dinheiro para o efeito, pois, segundo o entrevistado, nem sempre
carvão. Não possui todos os manuais das disciplinas. Ele faz os trabalhos para casa.
Faz os trabalhos na turma. Ele não reage aos estímulos do professor. Ele é bastante
fraco. Opinião dos pais sobre a educação: A escola é importante para o futuro do
acordo com o mesmo, ele tem tido aulas de explicação nas manhãs, na sua zona
254
Tabela 31: Tabela Comparativa do Rendimento Pedagógico- 2º Trimestre
RENDIMENTO PEDAGÓGICO
DISCIPLINAS Nsai Matoeca Thaunde Goba
Português 14 9
Inglês 13 10
Francês 14 10
História 13 9
Geografia 10 6
Biologia 11 10
Física 12 9
Química 10 10
Matemática 12 10
Desenho 15 5
Educação Física 10 18
Agropecuária 17 11
Tecnologias de Informaçao e C. 11 9
segundo. Ora vejamos, os pais do primeiro são funcionários de uma ONG e os seus
rendimentos são melhores em relação aos dos pais do segundo aluno, pois os
observação às aulas, foi bastante notório que o segundo aluno é bastante apático e
fraco. Daí que, segundo ele, seus pais contrataram um explicador, cuja tarefa é de
final do ano, duvido que o esforço possa surtir algum efeito positivo pois, com estas
isto é, alguns sentam sozinhos e outros aos pares. Existe espaço para o professor
255
circular e monitorar o que os alunos estão a escrever. Nesta sala, a interacção
professores são capazes de interagir com 30 a 50% dos alunos. Nesta escola foram
O aluno vive com os pais e 4 irmãos na Vila Sede. A mãe é doméstica. O pai é
pintor, pedreiro e também se dedica à pesca. Esta família vive numa casa de
possui telemóvel e leva dinheiro para merenda na escola. O aluno não possui os
manuais das disciplinas. Tem outro material escolar (esferográfica, lápis de carvão,
trabalhos para casa e na turma. Ele reage com satisfação aos estímulos do
O aluno vive com os pais e 5 irmãos a cerca de 10 km da Vila Sede. Os pais são
camponeses mas têm feito negócio ambulatório (vendem peixe no mercado local). O
pai possui uma bicicleta. Esta família vive numa casa feita de barro e coberta de
capim. A casa possui 3 quartos e uma sala de estar. A casa não possui água
canalizada, nem energia eléctrica. O aluno possui livros escolares e outro material
todas as disciplinas). O aluno vai de bicicleta para a escola. O dialogo com os seus
256
pais é quase inexistente visto estes estarem sempre fora de casa a fazerem
negócios. O aluno não leva merenda para a escola e nem dinheiro para o efeito. O
RENDIMENTO PEDAGÓGICO
DISCIPLINAS Ruwindo Nhamoa Mapege Zinharimue
Português 11 10
Inglês 10 11
Francês 11 10
História 12 11
Geografia 14 12
Biologia 10 8
Física 10 12
Química 11 11
Matemática 11 9
Desenho 12 11
Educação Física 12 11
Agropecuária 16 13
Noções de Empreendedorismo 11 11
existe grande diferença, como se pode ver do quadro acima. As únicas disciplinas
onde o primeiro aluno leva vantagem são a Geografia em ele tem 14 valores e o
outro tem 12 valores e a Agro- Pecuária em ele tem 16 valores e o segundo tem 13
257
A escola está situada na Vila-Sede do Distrito de Maringué. A sala de aulas
isto é, alguns sentam três a três e outros aos pares. A sala tem carteiras suficientes.
interacção aluno- aluno também é boa. Os professores são capazes de interagir com
0 a 30% dos alunos. Nesta escola foram observados 2 alunos, como a seguir são
descritos:
Beira onde é funcionário do Conselho Municipal da Beira. Moram numa casa de pau-
a-pique, com três quartos e sala. Não tem energia eléctrica e não possui água
canalizada. Tem à sua disponibilidade livros das classes anteriores. A casa dista a 5
km da escola, vai a pé. Nem sempre consegue ser pontual. A aluna tem 2 refeições
por dia (almoço e jantar). As vezes leva dinheiro para a merenda na escola. A aluna
disciplinas. Ela é participativa nas aulas. Ela não faz os trabalhos para casa, alega
que faz trabalhos domésticos que a ocupam bastante, tais como cozinhar, cartar
aluna também referiu, algumas vezes, ser vítima de violência verbal protagonizada
pela sua progenitora. Ela reage positivamente aos estímulos do professor. Ela está
em todas as disciplinas.
A aluna vive com os tios e 2 filhos destes. Os pais são funcionários públicos (a
mãe é técnica e o pai é contabilista), mas moram na Cidade da Beira. Os tios são
casa não possui energia eléctrica, nem água canalizada. Têm rádio. Chega sempre
a horas na escola. Tem 3 refeições por dia. Não leva merenda para a escola e nem
dinheiro para o efeito. Ela possui cadernos, esferográfica e lápis de carvão. Não
possui manuais das disciplinas. A aluna participa 1 a 2 vezes nas aulas. É mais ou
Inglês.
259
Tabela 33: Comparativa do Rendimento Pedagógico - 2º Trimestre
RENDIMENTO PEDAGÓGICO
DISCIPLINAS Zuere Nkundiza Farensa Mupongui
Português 10 8
Inglês 11 11
Francês 6 11
História 10 8
Geografia 10 12
Biologia 9 12
Física 9 9
Química 11 8
Matemática 11 12
Desenho 9 16
Educação Física 10 8
Agropecuária 10 14
Noções de Empreendedorismo 5 10
antes de ir à escola, deve fazer trabalhos domésticos que de certo modo a cansam.
Quando vai à escola, o seu intelecto fica atento a duas missões: adquirir
conhecimentos e voltar para casa e tomar conta das lides caseiras. Este exercício é
ela enfrenta no dia-a-dia. A ocupação que ela tem em casa é de carácter obrigatório.
Daí que a não execução dessas tarefas pode ser considerada rebeldia, o que pode
poderão daí advir. Estou em crer que se esta aluna não tivesse tamanha ocupação,
260
teria sucesso. Daí que as condições de vida parecem interferir no seu desempenho
escolar.
Em contrapartida, a segunda aluna vive num outro tipo de ambiente. Ela tem
tempo para estudar e fazer os trabalhos para casa. Não é forçada a fazer trabalhos
notas negativas, as quais podem ser melhoradas com um pouco mais de dedicação.
261
3. CONCLUSĀO e RECOMENDAÇÕES
“Se é verdade que o género humano, cuja dialógica cérebro˂-˃mente não está
fechada, possui em si recursos criadores inesgotáveis, então poderemos entrever
para o terceiro milénio a possibilidade de uma nova criação para a qual o século XX
trouxe os germes e embriões: a de uma cidadania terrestre. E a educação, que é
simultaneamente transmissão do antigo e abertura de espírito para acolher o novo,
está no coração desta nova missão”(Morin, 1999, pp 76-77).
3.1. CONCLUSĀO
satisfação por ter chegado a “bom porto”, depois de trabalho difícil e aturado (Junho
mesmo e, poder assim contribuir para o possível contorno desta problemática. Numa
com o objectivo de se captar a sua sensibilidade sobre este questão. Deste trabalho
262
suscitaram a vontade de alargar o estudo a todos os distritos da nossa província.
assim como as hipóteses que iriam nortear a presente pesquisa Para esta pesquisa
ESG do 1º grau a 10ª classe. Deste modo foi possível a obtenção das percepções
como objectivo verificar in locco a possível relação entre os factores apontados pelos
aulas. Daí que para além da observação de aulas, foi verificado o rendimento
medida em que a tendência dos inquiridos foi a de recriminar e não de fazer uma
263
(i) Esta pesquisa permitiu trazer à ribalta que existem muitos problemas que
alunos nas classes iniciais cujas repercussões são notáveis nos níveis
aplicação dos saberes adquiridos na vida real. Portanto, pode-se deduzir que
(iv) O sucesso ou insucesso dos alunos está dependente de vários factores a ele
uma vez, a sociedade é chamada a estar mais atenta ao futuro dos seus
educandos.
(v) Foi notório que os pais e/ou encarregados desconhecem o seu papel
preponderante no PEA;
futuro recomenda-nos que o aluno deve ser proactivo. Isto é, deve colaborar
na busca do conhecimento.
264
Dos dados obtidos na pesquisa de campo, podemos aferir que existe entre os
reprovações. Como comprovativo deste facto, dos 294 professores inquiridos, 140
insucesso escolar como o não alcance dos objectivos do PEA. Esta visão é mais
primeira hipótese deste trabalho a qual advoga que a visão simplista ou linear pode
existência de uma amálgama de factores que podem ser as possíveis causas deste
fenómeno. Esta visão coloca simplesmente o aluno como principal promotor do seu
fazem com que cada um minta a si próprio”, vivendo assim numa falácia.
mesmas não são decisivas pois, alguns alunos com todas as condições (material
contrapartida, existem alunos carentes mas que, lutando conseguem ter sucesso.
265
Deste modo, poderemos afirmar que as condições socioeconómicas não são
Dos alunos observados, os que reportaram existir uma preocupação dos seus
comunicação com os seus pais dada a escassez de tempo pois estes colocam como
Desta forma, a terceira hipótese foi confirmada. Contudo, alguns alunos, mesmo
com o apoio dos seus pais e/ou encarregados de educação, o seu rendimento está
aquém do desejável, como podemos notar num dos casos acima descritos.
Admitimos que constitui verdade que as relações afectivas entre pais e/ou
últimos, mas estas não são determinantes para o sucesso escolar, pois, há
PEA;
urge melhorar se quisermos ter sucesso. Foi confirmado que as escolas debatem-se
266
monitoria a todos os alunos, estes ficam devotados ao esquecimento e como
sistema de ensino e ao ambiente onde o PEA tem lugar. Aqui, com o sistema de
sociedade.
A pesquisa mostrou não existir uma relação directa ou seja linear entre a
267
sujeito está inserido. Isto é, a pesquisa bibliográfica assim como o estudo empírico
onde ele está inserido, assim como de outros factores de índole intrínseca e
3.2. RECOMENDAÇÕES
como tal, toda a sociedade é chamada a colaborar para a educação do futuro. Dai
ao longo do estudo, mas sim constituem propostas que podem servir para
Assim,
estudantil tanto nas salas de aula, como fora delas. Não só, mas também
- Deve-se criar as condições necessárias para que haja, como vem plasmado nos
seu distrito, da sua província e do país em geral. Estes alunos deverão estar
- Para que a revisão curricular seja efectiva, pressupõe-se que, no futuro, se faça o
seguinte exercício:
no currículo;
implementar as mudanças;
retrocesso;
reflexão seja profícua configura-se necessário que haja frontalidade assim como a
referência no texto;
assim como os pais e/ou encarregados de educação. Neste contexto, propõe-se que
para o sucesso. Assim, deve-se criar condições para que o aluno seja proactivo e
saberes, onde o aluno vai aprender usando toda a sua criatividade, portanto, vai
aprender fazendo. Nesta tarefa, também se propõe que sejam sensibilizados os pais
271
- Sugere-se que a criação de momentos em que os alunos exploram os seus dotes,
seus talentos e suas potencialidades. Portanto, o aluno vai aprender a ser. Por
habilidades;
sem atritos de maior com o seu próximo, de modo a que o aluno aprenda a
conviver na diversidade;
- Deve-se continuar a envidar esforços para melhorar e criar condições físicas, onde
estas sejam precárias ou não existam tais como instalações: salas de aulas,
48
in Gomez (1990, pp 66-68)
272
- Sugere-se a criação de um gabinete de aconselhamento, pois, “Se soubermos
problemas quase sem solução. Recomenda-se que este gabinete seja composto por
171), a qual defende que quando existe aconselhamento aos alunos numa escola,
apoio psicossocial aos alunos com mais dificuldade de inserção na vida escolar e
cliente para o melhor, isto é, fazer com que o aluno, assim como o professor não se
vezes exibem comportamentos pouco abonatórios para a função que exercem. Aqui
serviço prestado, assim como a destreza com que lidam com os desafios que o dia-
273
adquiridas durante o PEA. Neste contexto, urge recomendar a criação deste espaço
onde o aluno possa ter uma espécie de assistência. Este apoio é extensivo aos
relacionamento com seus alunos, assim como com o patronato; outros ainda
portadores de certos vícios que não coadunam com a carreira docente e outros.
Para este gabinete poderemos sugerir os seguintes termos de referência para o seu
funcionamento:
274
Chegados a este ponto, julgamos pertinente, mais uma vez, referir que o
campo da educação no nosso país, pois, “Acções, vidas e instituições positivas são
aquelas que se orientam por uma visão de futuro que por si só transforma o
275
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Aprendizagem. In Costa, M. C. (Org.). A Escola e o Aluno. Lisboa. Livros
Horizonte.
VILAR, A. M. (1993) Inovação e Mudança na Reforma Educativa. Edições ASA.
Portugal
VINHAL, A. (2005). «O Abandono Escolar» in II Jornadas de Psicologia. Lisboa:
Instituto Piaget 2 e 3 de Junho de 2005.
WEIR, C. e ROBERTS, J. (1994) Evaluation in ELT. David Crystal e Keith
Johnson (eds) Applied Language Studies. Oxford: Blackwell.
YULE, G. e HOFFMAN, P. (1993). Enlisting the Help of U.S. Undergraduates in
Evaluating International Teaching Assistants. TESOL
Quarterly, vol. 27/2: 323-7.
286
ANEXOS
287
Instrumento 1
QUESTIONÁRIO
Chamo-me Fátima Julião dos Santos Batalhão e estou a fazer o Doutoramento em Ciências de
Educação com especialização em Inovação e Currículo na Universidade Jean Piaget de Moçambique.
Este questionário insere-se na pesquisa tendente à recolha de dados para a redacção da tese de
Doutoramento. A investigação é subordinada ao tema: O Insucesso Escolar: Causas e Concepções
nas Escolas Secundarias da Província de Sofala, sob orientação do Professor Doutor Manuel João
Vaz Freixo, e tem por objectivo a recolha de dados para estudar a problemática em questão.
Agradeço antecipadamente a sua valiosa contribuição. De recordar que não existe resposta certa ou
errada, pretendo obter apenas a sua opinião pessoal.
Dados pessoais
Idade: _______ Sexo: ______ Hab. Literárias: ________ Anos de serviço:_______
V. O que acha que deve ser feito para minimizar o insucesso escolar?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
288
Instrumento 2
Grelha Nº
Grelha de Observação de Alunos em Aula
Situação a Observar: “Aspectos pessoais do(a) aluno(a) e a sua relação com a escola”
Escola: Escola Secundária _________________________________________________
Local: Província de Sofala: _______________Aluno(a): __________________________
a) Dimensões da sala
Descrição física da sala de
aulas e sua organização
b) Arejamento
c) Iluminação
b)
do PEA
289
e) Grau de participação do aluno
o) Notas do 1º e 2º Trimestres
290