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Introdução

O presente trabalho aborda Análise do Crescimento e Desenvolvimento Económico de


Moçambique nos últimos três anos (2020-2022). Durante o período em análise, Moçambique foi
fortemente afectado pelos efeitos combinados dos fenómenos naturais (cheias, inundações,
ciclones, seca) registados de Janeiro a Junho de 2022 afectaram pelo menos 1,056,238 pessoas,
185,974 casas destruídas, das quais 93,618 foram totalmente destruídas. Igualmente, registou-se a
destruição de 802 casas de culto, 101 unidades sanitárias, 4,435 salas de aulas, 23 pontes e 8,784
quilómetros de estradas.

Os fenómenos registados afectaram mais de 189,000 produtores e causaram a perda de cerca de


244,000 hectares de culturas diversas em 95 distritos das províncias de Maputo, Gaza,
Inhambane, Sofala, Manica, Tete, Zambézia, Nampula e Niassa.

No sector das pescas a passagem da tempestade ANA e Ciclone GOMBE, provocou danos, com
destaque para a destruição de 276 embarcações da pesca semi-industrial 571 redes e 387 tanques
gaiolas tendo afectado a campanha da pesca.

O sector de estradas registou a destruição de várias infraestruturas com destaque para a ponte
sobre o rio Revúbue, N322 – Cruz.

O Governo e parceiros de cooperação continuam a prestar assistência humanitária aos deslocados


de guerra devido aos ataques terroristas, que se regista desde 2017 na Província de Cabo
Delgado. Até ao período em análise foram contabilizadas pelo menos 969,324 pessoas
deslocadas, das quais cerca de 891.670 na Província de Cabo Delgado e as restantes, nas
províncias de Niassa (2,412), Nampula (64,780), Manica (5,582), Sofala (3,376), Zambézia
(1,349), Inhambane (73) e Maputo (82).

A assistência humanitária aos deslocados de guerra consistiu na alocação de produtos alimentares


(cereais, feijões, óleo e açúcar) e outros bens não alimentares. No período em análise registou-se
o retorno de cerca de 198 mil pessoas para as zonas de origem e, nas 56 aldeias estabelecidas para
receber deslocados, contabilizavam-se 185 mil pessoas, até finais de Junho.
Principais conceitos
(Freitas, 2011), relata que:
Crescimento econômico: refere-se a um aumento no produto total na economia. Ele é definido
por alguns como sendo crescimento contínuo da renda per capita ao longo do tempo.

Fontes de crescimento:
 Aumento na força de trabalho;
 Aumento do estoque de capital;
 Melhoria na qualidade de mão-de-obra;
 Melhoria tecnológica;
 Eficiência organizacional.

Capital humano: valor ganho de renda potencial incorporado nos indivíduos e inclui a habilidade
inerente à pessoa, o talento, a educação e as habilidades adquiridas.

Capital físico: maquinário e equipamentos sofisticados, que são abundantes em países ricos e
escassos em países pobres. A razão da variação do produto nacional e a variação da capacidade
produtiva resulta na relação produto-capital que envolve o capital físico no processo de
desenvolvimento econômico.

Desenvolvimento econômico: alterações de composição do produto e alocação dos recursos


pelos diferentes setores da economia de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econômico
e social.

Furtado (1964, apud Guillén, 2007, p. 143) afirma que o desenvolvimento econômico pode,
também, ser definido como um “processo de mudança social pelo qual o crescente número de
necessidades humanas, pré-existentes ou criadas pela própria mudança, são satisfeitas [por meio]
de uma diferenciação no sistema produtivo, gerado pela introdução de inovações tecnológicas”.

O Índice de Desenvolvimento Humano – IDH – foi concebido pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD) para medir o bem-estar das sociedades e a qualidade de vida
das populações.

O desenvolvimento econômico visa atender diretamente um objetivo político fundamental das


sociedades modernas – o bem-estar – e, apenas indiretamente os quatro outros grandes objetivos
que essas sociedades buscam – a segurança, a liberdade, a justiça social e a proteção do ambiente.
Por isso, é importante não confundi-lo com o desenvolvimento ou o progresso total da sociedade
que implica um avanço equilibrado nos cinco objetivos (Avelar, 2013).

Relação
Compreende-se, ademais, o desenvolvimento “em termos da universalização e do exercício
efetivo de todos os direitos humanos: políticos, civis e cívicos; econômicos, sociais e culturais;
bem como os direitos coletivos ao desenvolvimento, ao ambiente etc.” (Sachs, 2004, p.37).

O desenvolvimento deve contemplar, portanto, vertentes sociais, econômicas, além das


ambientais e, no caso Moçambicano particularmente, territoriais, de modo a garantir a
sustentabilidade do exercício da potencialidade e bem-estar humanos.

Enquanto o crescimento econômico significa que durante um ou vários períodos, ocorreu um


aumento sustentado de uma unidade econômica, o desenvolvimento econômico vai além,
impactando diretamente a qualidade de vida das pessoas e a sociedade em geral.

Altas rendas facilitam o acesso a bens e serviços, tais como uma dieta equilibrada e nutritiva,
água potável, cuidados médicos de qualidade que promovem a saúde e a longevidade...

Para Mushkin (1962) a formação do capital humano mediante educação e serviços apoia-se na
noção de que as pessoas, sendo agentes produtivos, melhoram a capacidade produtiva com
investimentos nesses serviços, gerando maiores rendimentos no futuro.

Diferença
Crescimento é quando a produção quantitativa cresceu, gerando enriquecimento, mas sem
necessariamente afetar a melhoria das condições de vida da sociedade. Como já citado, é possível
medir isso através do Produto Interno Bruto (PIB) por exemplo.

Já o desenvolvimento econômico afeta a qualidade de vida da sociedade e é possível medir por


meio de indicadores como a educação, saúde, renda, pobreza, entre outros. Atualmente o Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) é o índice mais explorado para realizar comparações de
desenvolvimento de diferentes economias e períodos.
Crescimento e desenvolvimento económico de Moçambique

Conforme os dados divulgados pelo INE, o Produto Interno Bruto apresentou um crescimento
acumulado no 1º Semestre de 4.37% contra 1.2% registado em igual período de 2021 e as
projecções para 2022 apontam para crescimento de 2.9%. A inflação média até Setembro de
2022, situou-se em 8.78%, de 5.3% prevista para o ano (Balanço do Plano Económico e Social e
Orçamento do Estado do 3º Trimestre de 2022., 2022).

Tabela 1.Taxa de Crescimento do PIB por Ramo de Actividade (%)


Variação percentual (%)

Ramo de Actividade Real 1º


Ano Base Semestre 2022 (%)
Real 2020 Real 2021 Proj. 2022
2019

1. Agricultura, Produção animal, Caça e Floresta 1.13 3.89 3.83 4.59 4.70
2. Pesca 3.05 -1.00 2.46 1.86 1.50
3. Indústria Extractiva -2.58 -15.43 2.52 8.87 4.10
4. Indústria Transformadora 1.37 -1.29 1.48 3.50 2.00
5. Eletricidade e Gás -1.47 4.49 0.04 6.60 3.20
6. Construção 2.30 -0.73 1.04 2.90 2.50
7. Comércio e serviços 0.98 -2.37 2.19 2.66 1.60
8. Hotéis, Alojamento, Restauração e Similares 1.56 -22.10 -4.85 9.77 -1.50
9. Transporte e Armazenagem, Informação e comunicação 4.02 -1.43 0.63 7.96 2.00
10. Serviços Financeiras e Seguros 4.09 -0.88 2.03 2.57 2.40
11. Alug. Imo. Serv. Prest Emp. 4.36 0.92 1.01 1.07 3.50
12. Administração Pública, Defesa e Segurança social 4.13 -9.70 1.38 1.40 3.50
13. Educação 0.91 -1.26 2.61 3.74 3.00
14. Saúde e Acção Social 4.13 7.49 8.19 3.58 8.60
Taxa de Crescimento do PIB (%) 2.31 -1.20 2.33 4.37 2.90

Fonte: MEF, INE, Julho 2022.

Os ramos da Agricultura, Pecuária, Caça, Silvicultura, Exploração Florestal e Actividades


relacionadas tiveram uma maior participação na economia com peso conjunto no PIB de 26.16
seguido pelo ramo de Transportes, Armazenagem e Actividades auxiliares dos transportes e
Informação e Comunicações com peso de 10.15%. Ocupa o terceiro lugar, o ramo de Comércio e
Serviços de Reparação com peso de 9.11%, seguido do ramo da Indústria Transformadora com
peso de 7.61%.

Os ramos da Educação, Indústria de Extração Mineira, Aluguer de Imóveis e Serviços prestados


às Empresas, Administração Pública, Pesca e Aquacultura com pesos de 6.00%, 5.01%, 4.80%,
3.21% e 1.20%, respectivamente. Os restantes ramos de actividade tiveram em conjunto um peso
de 27.89%, conforme o gráfico a seguir.
Gráfico 1. Peso dos ramos de actividade no PIB I Semestre 2022

Fonte: INE, Julho 2022

Principais objectivos do plano económico e social e orçamento do estado para 2022

O PESOE 2022 assenta nos seguintes objectivos: (i) Atingir um crescimento do Produto Interno
Bruto de 2.9%; (ii) Manter a taxa de inflação média anual em cerca de 5.3%; (iii) Alcançar o
valor de USD 5,203 milhões, em exportações de bens; e (iv) Constituir Reservas Internacionais
Líquidas no valor de USD 3,995.5 milhões correspondentes a 6 meses de cobertura das
importações de bens e serviços não factoriais. Tendo em conta os objectivos e metas definidas no
PESOE 2022, até 3º Trimestre de 2022 foi registado o seguinte desempenho dos principais
indicadores macroeconómicos:

Tabela 2. Principais indicadores macroeconómicos

2021 2022
Indicadores Macroeconómicos Real III
Plano Anual Real. III Trimestre
Trimestre
Taxa de Crescimento do PIB (%) 1.05 2.90 4.37*
Taxa de Inflação
Média (%) 4.86 5.30 8.78
Acumulada (%) 3.22 8.32
Homóloga (%) 6.04 12.01
RIL (Meses de Cobertura de Importações) 6.0 6.0 3.0
Taxa de Câmbio (MT/USD) 63.79 63.88
Variação acumulada em (%) - Dezembro
0.14%
2021 a Setembro 2022
Taxa de Câmbio (MT/RAND) 4.02 3.66
Variação acumulada em (%) - Dezembro -8.96%
2021 a Setembro 2022
Exportações (Milhões de USD) 2048.3* 3,852.96*
5,203.0
Grau de Realização (/%) 74%
Variação (%) 88%

Importações (Milhões de USD) 3510* 8,430.3*


10,299.0
Grau de Realização (/%) 82%
Variação (%) 140%
Receitas do Estado (Milhões de MT) 293,916.6 215,698.2
198,067.2
Grau de Realização (%) 73.4%
Variação (%) 8.9%
Fonte: INE, Banco de Moçambique e MEF, Outubro 2022.
* Dados referentes ao I Semestre 2022
Considerações finais
Como mostrado, crescimento e desenvolvimento econômico são fundamentais para qualquer
país, porém, são índices diferentes. Enquanto o crescimento econômico é voltado para produção,
consumo e enriquecimento, o desenvolvimento está mais ligado a ideia de qualidade de vida,
considerando diversos fatores.

Não basta que o governo realize investimentos na economia, já que o crescimento econômico não
determina necessariamente o desenvolvimento social. Pode-se afirmar apenas que o aumento do
PIB influencia o avanço dos índices sociais, mas não se pode afirmar que existe uma relação
causal entre essas variáveis. Dessa maneira, deve-se voltar a atenção para fatores que promovam
equidade social, aumento da oferta de emprego, qualificação profissional e a melhora dos níveis
de saúde da população. Apenas através da mudança estrutural e continuada desses fatores, o país
alcançará um desenvolvimento social permanente e adequado.
Bibliografia
Avelar, P. R. (2013). Crescimento e desenvolvimento economico. SP: UFJF.

Freitas, T. A. (2011). Crescimento e Desenvolvimento Econômico. Sao Paulo: FURG, ICEAC,


UAB.

MOCAMBIQUE, R. D. (2022). Balanço do Plano Económico e Social e Orçamento do Estado


do 3º Trimestre de 2022. MAPUTO.

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