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República de Moçambique
MINISTÉRIO DA ECONOMIA E FINANÇAS
Direcção de Gestão do Risco
Periodicidade Anual
Isenção de responsabilidade: As análises e as conclusões apresentadas neste documento não devem ser consideradas uma
representação dos pontos de vista ou das políticas do Ministério da Economia e Finanças. As opiniões contidas no documento
reflectem a visão colectiva e independente da Direcção de Gestão do Risco dentro das suas atribuições plasmadas no artigo
15, da Resolução nº 15/2020 do Estatuto Orgânico do Ministério da Economia e Finanças.
RESULTADOS DAS ANÁLISE DE RISCO DE CRÉDITO
1. EMPRESA NACIONAL DE HIDROCARBONETOS, E.P. (ENH)
A ENH é uma empresa moçambicana responsável pela prospecção, pesquisa, desenvolvimento, produção,
transporte, transmissão e comercialização de hidrocarbonetos e seus derivados incluindo a importação, recepção,
armazenamento, manuseamento, trânsito, exportação, transformação e refinação de produtos petrolíferos. Criada
em 1982, a ENH é uma empresa pública cujo principal objecto é a actividade petrolífera com um património
líquido de 20.044,00 milhões de MT.
Venda de
gás
0.3% outros
78.6%
Outros
bens e
serviços
26.6%
Trans-
porte de
gás
73.1%
Balama Gasmoc Sasol
2.8% 0.6% 17.0%
Em 2022, as receitas da ENH aumentaram 40% em comparação com 2021. O Gráfico 1 e 2 mostram que 73.0%
das receitas da empresa são derivadas de Transporte de gás e 79% das contas a receber estão concentradas em
outros clientes e 17% com a Sasol.
200000000000
150000000000
100000000000
50000000000
0
2018 2019 2020 2021 2022
Entre 2018 e 2022 verifica-se um incremento significativo da dívida líquida, por outro lado as receitas
operacionais antes de depreciação e amortização (EBITDA) têm se mantido estável (Gráfico 3). O incremento da
dívida é fundamentado pela necessidade da expansão das actividades da empresa e da sua participação nos
investimentos na Bacia do Rovuma.
2. Exposição Potencial do Estado ao Risco
A exposição do Estado ao risco é descrita pela relação financeira entre a empresa e o Estado por via de acordos de
financiamento (acordos de retrocessão, garantias, avales, injecção de capital, subsídios a empresa), bem como
contribuição ao cofre do Estado (pagamento de dividendos e impostos).
Tabela 1: Dívida e Fluxo Financeiro entre a ENH e o Estado (em milhões de MT)
Itens 2018 2019 2020 2021 2022
Dívida Directa 19.854 75.045 71.371 190.059 212.785
Dívida Garantida - - 30.365 - 1.162
Total da Dívida 19.854 75.045 101.737 190.059 213.947
Dividendos para o Estado - - 100 - -
-Impostos 39 15 13 507.87 1.817
Impostos Diferidos 36.257 4.531 5.223 1.365 305.8
Subsídios - - - -
Apoio a Tesouraria - - - -
Impostos + dividendos - subsídios 39 15 113 197 1.817
Transferências à empresa no âmbito da Covid-19 - - - - -
Injecção de Capital - - - - -
Fonte: IGEPE – Instituto de Gestão das Participações do Estado – vários anos
O stock da dívida total da ENH aumentou significativamente, tanto que em 2022 aumentou 11% em relação a
2021. O aumento é explicado pela acções da ENH na Coral FLNG SA na área 1 e 4 da bacia do Rovuma. A
empresa tem honrado com os compromissos de pagamento de impostos ao Estado.
Quando uma empresa pública não consegue honrar com um determinado compromisso financeiro, o mesmo pode
ser repassado para o balanço do Governo Central, criando assim um incremento inesperado no volume de passivos
do Estado e com consequências adversas diversas na programação financeira do Estado.
Esta secção avalia a probabilidade da empresa não honrar com os seus compromissos financeiros e poder beneficiar
de financiamento adicional por parte do Estado. A avaliação será feita com recurso a duas metodologias a saber: (i)
a metodologia de Z-Score de Altman para Economias Emergentes e a (ii) metodologia da Moody’s ajustada.
3.1 Z-Score
Os resultados da análise do risco de Crédito baseado em Z-Score de Altman mostra que a empresa se encontra na
zona vermelha, com rating implícito “CCC+” e uma pontuação Z de 3.57, o que significa que a empresa apresenta
risco de crédito alto.
Pesos
INDICADORES ALTMAN 2018 2019 2020 2021 2022
3.25 -0.01
Capital Giro/Total do Activo 6.56 0.01 0.00 0.00 0.00
Resultados Acumulados/Total do Activo 3.26 0.08 0.08 0.05 0.05 0.05
EBIT/Total do Activo 6.72 0.02 0.01 0.00 0.00 0.01
Capital Próprio/Total do Passivo 1.05 0.19 0.17 0.11 0.10 0.08
Os resultados da Tabela 2 evidenciam os factores que contribuíram para o desempenho da empresa. Na mesma
pode-se constatar que o índice de liquidez foi o que mais afectou negativamente a empresa. Os restantes
indicadores, (rentabilidade; lucratividade; e solvabilidade) apesar de serem positivos apresentaram um desempenho
insatisfatório a semelhança de 2021.
O património líquido em 2022, foi 20,8 mil milhões de MT, relativamente acima que o de 2021 (20 mil milhões de
MT), os rácios da Tabela 3 revelam que a empresa apresenta um desempenho operacional e financeiro ligeiramente
baixo comparativamente a 2021, embora com índice de rendibilidade dos capitais próprios, de activos com
tendência de melhoria em 2022.
Os resultados da análise de risco de Crédito baseado na metodologia Moody’s ajustada (Tabela 4), mostram que o
desempenho da ENH em 2022 registou uma estagnação na pontuação em comparação a 2021, tendo transitado de
uma pontuação de 8.20 para 9.00 com a classificação de empresa de “alto risco de crédito. Ressaltar que a
classificação é grandemente influenciada pelas elevadas obrigações financeiras que a empresa tem vindo a contrair,
ainda que com o objectivo de investimento em “projectos de interesse soberano” na exploração de gás natural na
bacia do Rovuma.
As perspectivas de produção e comercialização de gás poderão melhorar a posição financeira da empresa face aos
avanços alcançados na estabilização da segurança na região e também pelo mercado de gás que emerge no norte do
País, com isso espera-se melhoria com os indicadores de alavancagem (dívida líquida/EBITDA) e da exposição ao
risco cambial.
Tabela 4: Evolução do risco de crédito da ENH – Moody’s ajustada, 2018-2022
Os resultados operacionais no exercício económico de 2022 foram positivos em 3.5 mil milhões, o
que ajudará a capacidade da empresa fazer face a dívida contraída. No entanto, o fluxo de caixa
operacional foi 6 vezes superior ao serviço da dívida. Este facto, pode ser explicado pelo facto da
dívida existente não estar a ser cobrada, tanto que a exploração do gás natural arrancou no 2º semestre
de 2022 e já com a primeira exportação aconteceu Novembro do mesmo ano.
O EBITDA melhorou significativamente de 1.9 mil milhões em 2021 para 5.0 mil milhões em 2022,
representando uma um crescimento de 62%. A dívida em moeda externa correspondia a 21 vezes o
seu lucro bruto.
Dos factores qualitativos levados em conta na análise destaca-se o ambiente regulatório, critérios de
selecção de membros do Conselho de Administração e a qualidade, transparência e regularidade das
informações contabilísticas como cruciais para a melhoria no rating.
Considerando que parte significativa do financiamento (2.2 mil milhões de USD, corresponde mais de
98% da dívida) foi destinado a construção de infraestruturas e que as mesmas infraestruturas servirão
de colateral da Garantia, pode se afirmar que o real risco de crédito da ENH é mais baixo do que o
apresentado pelas metodologia Z-Score e Moody’s ajustada.
O cenário financeiro da empresa sugere uma mudança para uma trajectória de sustentabilidade para o
medio prazo, associado a mudanças na estrutura de custos e uma disciplina na racionalização de
custos operacionais.
A gestão corporativa da ENH, poderá contribuir significativamente para a redução das pressões as
finanças publicas. Adicionalmente, espera-se que a empresa defina de forma clara a separação de
poderes entre a empresa e o seu accionista principal.
A clara separação de poderes irá contribuir para a redução de interferência nos processos de gestão de
interesses tendo em conta os objectivos de maximização de lucros e minimização de riscos. Por
considerar-se uma empresa rentável e sustentável a médio prazo, não se evidencia necessidade de
criar planos de reestruturação e nem de injecção de capital.
5. Paracer
Em 2022 a Dívida Líquida Ajustada conheceu um agravamento em 16% em comparação com 2021,
não obstante a posição financeira da ENH ter mostrado ligeira redução dos níveis de alavancagem da
empresa. As contas a receber da empresa estão em cerca de 79% concentradas em outros clientes e
17% para a Sasol.
Os resultados da análise sugerem que a ENH deve ser classificada como uma empresa de “alto risco
de crédito”. Esta classificação está fortemente relacionada com as garantias emitidas pelo Estado a
favor da empresa com vista a assegurar a participação no projecto de gás natural na bacia do Rovuma.
O risco fiscal, neste caso estava condicionado ao início da exploração e comercialização de gás, que
em caso de atraso poderá forçar o Estado a resgatar ou renegociar os seus termos e condições.
Dada a magnitude dos passivos da ENH (dívida directa e garantida), é necessária uma monitoria
quase permanente e de detalhe do desempenho financeiro da empresa.
Não obstante, o inicio da exportação do gás natural marcou uma fase optimista para aumento das
receitas da empresa, embora persistam algumas incertezas causada pelas perspectivas de crescimento
mundial mais conservadoras decorrentes da guerra entre a Rússia e Ucrânia.
Portanto, espera-se também que sejam melhoradas as fontes de receita da empresa, diversificando-as,
para reduzir o risco de uma eventual perturbação do mercado. Neste sentido, existe espaço para um
incremento da cota de fornecimento de gás e outros derivados.
ANEXOS
METODOLOGIA
O contexto da economia nacional sugere que analise do risco de credito do sector empresarial do
Estado deve feito na metodologia Z-Score modificado para economias emergentes e Moody’s
ajustada, portanto uma metodologia anteriormente aprovada pelo Ministério da Economia e Finanças.
As duas metodologias são utilizadas de forma complementar para classificar a qualidade de crédito de
uma empresa pública ou maioritariamente participada pelo Estado com base em seu desempenho
financeiro, demonstrações financeiras e outras informações adicionais.
O modelo Z-Score de Altman (1968) modificado para Economias Emergentes é um modelo estatístico baseado em históricos
de dados financeiros das empresas usado para estimar a qualidade de crédito e a probabilidade de uma empresa não conseguir
honrar os seus compromissos financeiros no curto e médio prazo em economias emergentes. O mesmo é descrito na equação a
seguir:
A pontuação do Z-Score permite a classificação das empresas em uma distribuição que varia de baixo ao alto risco de crédito
de acordo com a probabilidade de default, isto é, a probabilidade de não honrar os seus compromissos financeiros de curto e
médio prazo, como ilustra a tabela abaixo.
Tabela A: Z-Score - interpretação da pontuação e classificação global.
Pontuação Rating implícito Descrição
> 5,85 AAA á BBB Zona verde, compreendem empresas de baixo risco de crédito.
Zona cinzenta, ou de precaução, compreendem empresas que estão na
5,85 - 4,15 BBB- á B iminência de entrar na zona vermelha e que necessitam de certa monitoria para
melhorar em alguns indicadores.
< 4,15 B- á D Zona vermelha, ou de alto risco, compreendem empresas com maior
probabilidade de entrar em incumprimento da dívida (default).
A metodologia Z-Score é uma métrica baseado somente nos dados presentes nas demonstrações
financeiras, especificamente do Balanço Patrimonial.
CAIXA B: Metodologia Moody’s ajustada
A metodologia Moody’s ajustada é uma metodologia interna do MEF orientada para avaliar o risco de crédito de empresas
públicas e maioritariamente participadas, e é usada para informar o Estado do nível de risco associado à operações de crédito
que envolvam este sector. A finalidade é apoiar o Estado no desenho de mecanismos de minimização dos riscos fiscais
provenientes do SEE.
A metodologia desenvolvida vale-se de factores quantitativos e qualitativos ponderados para avaliar o nível de risco de
crédito das empresas do SEE, conforme ilustrado a seguir
Os factores presentes na tabela A são avaliados em termos de score, isto é, pontuação numérica consoante a tabela B.
Quanto menor for considerada a exposição ao risco do indicador em análise, menor será a pontuação atribuído à empresa,
sendo o intervalo de pontuação definido entre 1 e 10 (tabela B).
Por fim, a pontuação global de cada empresa é obtida através do somatório das pontuações dos indicadores, ponderados
pelos pesos determinados na metodologia.
Assim, espera-se que empresas que apresentem um baixo risco de crédito obtenham uma pontuação final na parte inferior do
intervalo definido entre 1 e 10, e ao passo que o risco de crédito aumente, reflicta também num aumento da pontuação
obtida.
Os factores quantitativos dizem respeito aos indicadores financeiros cuja fonte de dados são
demonstrações financeiras enquanto os factores qualitativos dizem respeito ao ambiente em que as
empresas operam, estendendo-se desde as questões de regulação do sector, resiliência a choques
macroeconómicos, interferência do Estado, políticas de selecção e nomeação dos membros do
Conselho de Administração à qualidade e transparência na divulgação das informações
contabilísticas.
A mais-valia da metodologia Moody’s ajustada está em captar imediatamente os efeitos das variáveis
qualitativas que afectam a performance da empresa que levam muito tempo para serem capturados nas
variáveis quantitativas, aliado ao facto da mesma dar uma indicação da direcção para a minimização
do risco.
De referir que a atribuição da pontuação dos elementos qualitativos resulta da média das pontuações
atribuídos individualmente e devidamente fundamentadas. Os fundamentos para a selecção dos
factores quantitativos e qualitativos presentes da Moody’s ajustada e a forma como os mesmos são
avaliados podem ser consultados na metodologia (www.mef.gov.mz).
De referir que a análise do risco de crédito das empresas está reforçada com a visualização da
trajectória dos principais índices/rácios financeiros das empresas ao longo dos anos:
(i) Índice de liquidez corrente (e geral) – mede a capacidade de uma empresa honrar com as suas
obrigações de curto prazo (curto e longo prazo). Idealmente o índice de liquidez corrente deve
ser superior a 2.
(ii) Índice de solvabilidade - mede a capacidade da empresa para fazer face aos seus
compromissos a médio e longo prazo. Um grau elevado de solvabilidade permite que a
empresa esteja menos dependente financeiramente dos credores, concedendo-lhe uma maior
capacidade de negociação e melhores perspectivas de acesso a financiamento alheio.
Idealmente este valor deve ser igual ou superior a 0,5.
(iii) Índice de autonomia financeira – mede a capacidade da empresa em financiar seus activos
através de capitais próprios, sem a necessidade de recorrer a capitais de terceiros. Um valor
aceitável pela generalidade para o rácio de autonomia financeira deve ser igual ou maior a
0,35.
(v) Rácio de rendibilidade de capitais próprios (Return On Equity - ROE) - métrica financeira que
mede os retornos de investimento. Ela fornece informações sobre como a administração da
empresa está a usar o financiamento de capitais próprios para fazer crescer o negócio.
Idealmente uma taxa de 15% ao ano é considerado bom.
(vi) Rácio de rendibilidade do activo (Return On Assets - ROA) – mostra o retorno obtido, em
termos operacionais, por cada unidade monetária investido. Quanto maior for seu valor maior
a propensão da empresa gerar resultados.
(vii) Rácio de rendibilidade operacional das vendas - mede o rendimento operacional gerado pelo
volume de negócios. Este indicador ajuda a mostrar quanto de cada unidade monetária
vendida é transformada em lucro.
Dados Financeiros