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Trabalhos Apresentados Trabalhos Apresentados

A INSPEÇÃO INDUSTRIAL E SANITÁRIA DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL NO demonstraram a fragilidade política da aplicação da inspeção no Brasil. Considerando a
BRASIL: LEGISLAÇÃO, HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO importância da IISPOA para preservação da saúde de nossos rebanhos, protegendo-os de
doenças, tais como a encefalopatia espongiforme bovina, peste suína africana, influenza
INDUSTRIAL AND SANITARY INSPECTION OF THE PRODUCTS OF ANIMAL ORIGIN IN aviária, doença de Newcastle, raiva, brucelose, leptospirose, tuberculose, febre aftosa e
BRAZIL: LEGISLATION, HISTORY AND DEVELOPMENT outras, os prejuízos relacionados às falhas na execução da IISPOA para a indústria animal
serão incalculáveis para o expressivo rebanho dos animais de produção do Brasil,
Wagner Luiz Moreira dos Santos1*, Thiago Moreira dos Santos2, Izabela Cristina Sampaio semelhante ao desastre provocado pelo rompimento da Barragem de Fundão da mineradora
de Assis3, Cléia Batista Dias Ornellas1, Débora Cristina Sampaio de Assis1 Samarco em Minas Gerais, no ano de 2015.
Os princípios técnicos, desde a promulgação da Lei 1.283/1950, que instituiu a
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Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária, Departamento de Tecnologia obrigatoriedade e a responsabilidade da execução da IISPOA no Brasil (BRASIL, 1950)
e Inspeção de Produtos de Origem Animal, Belo Horizonte, MG, Brasil. precisam ser devidamente interpretados, considerados e avaliados.
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Instituto Federal do Norte de Minas Gerais - IFNMG, Campus Salinas, Salinas, MG, Brasil. Objetivou-se neste trabalho conceituar a inspeção de carnes no contexto da
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Faculdade de Direito Milton Campos, Nova Lima, MG, Brasil. Medicina Veterinária internacional; descrever a história, aplicação e desenvolvimento da
inspeção de carne no Brasil, analisando as alterações da Lei 1.283/1950 (“Lei Mãe” da
Resumo inspeção) e subsidiar e alertar as autoridades instituídas, e em particular aos empresários, a
refletirem cuidadosamente sobre a tendência de terceirização e privatização do controle
A Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (IISPOA) possui grande HST desse importante setor da economia nacional.
relevância econômica, social e política por controlar as condições higiênico-sanitárias e
tecnológicas (HST) nas indústrias de produtos de origem animal. A falta de conhecimento Material e Métodos
sobre a importância da IISPOA leva à adoção de políticas inadequadas que podem colocar
em risco tanto a saúde humana quanto a saúde e sanidade animal. Objetivou-se neste Foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa e exploratória para aprofundar e
trabalho conceituar a inspeção de carnes no campo da Medicina Veterinária, além de conhecer as bases legais da IISPOA, analisando a evolução e as tendências do controle
descrever o desenvolvimento e a aplicação da IISPOA por meio da consulta e análise da HST nos estabelecimentos de produtos de origem animal. Para esta análise foram
legislação. A partir deste trabalho, fica evidente a responsabilidade do Poder Público de realizadas consultas à legislação brasileira sobre a IISPOA, à Constituição Federal brasileira
garantir a eficiência na execução da IISPOA para assegurar a saúde da população e a de 1988, a publicações técnico-científicas como teses, artigos, livros e notícias veiculadas
sanidade animal, garantindo assim o sucesso do agronegócio brasileiro. pelos jornais e revistas técnicas especializadas, além de registros da aplicação das normas
em auditorias internas e externas.
Palavras-chave: produtos de origem animal, inspeção, terceirização
Resultados e Discussão
Introdução
A inspeção é a essência e expressão máxima da Clínica Médica Veterinária dos
A carne, o leite, os ovos, o mel, o pescado e os demais produtos, alimentares ou animais de produção, sob o ponto de vista HST. A evolução mais significativa na história da
não, da indústria animal possuem uma importância econômica, social, política e sanitária inspeção, ao nível federal, ocorreu com a promulgação da Lei Nº 1.283/1950,
incalculável no Brasil, merecendo por isso, a atenção dos empresários brasileiros, que têm regulamentada pelo Decreto Nº 30.691/1952, que aprovou o Regulamento da Inspeção
cada vez mais se organizado em entidades de classe setoriais, visando o fortalecimento e o Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA) (BRASIL, 1950; BRASIL,
aumento da representatividade dos diversos setores do agronegócio. 1952). A correta definição técnico-científica de carne foi dada como as massas musculares
Por outro lado, nota-se a falta de conhecimento básico da sociedade atual sobre a maturadas e demais tecidos que as acompanham, provenientes de animais abatidos sob
história, o desenvolvimento e a importância da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos inspeção veterinária (BRASIL, 1952). O longo período em que este Decreto permaneceu
de Origem Animal (IISPOA), responsável pela formação de um dos melhores parques vigente, de 1952 até 2017 foi resultado do caráter amplo desse documento. Além disso, a
industriais do mundo, notadamente o de carnes. Essa indústria foi implantada pelos possibilidade de atualizações por meio de Portarias, Instruções Normativas, entre outros
servidores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com a instrumentos jurídicos, amplia as abrangências legais dos aspectos normativos relacionados
contribuição, principalmente, de advogados e médicos veterinários. As especificações e aos produtos de origem animal. O RIISPOA estabeleceu os seguintes controles básicos
exigências para o controle das condições higiênico-sanitárias e tecnológicas (HST) da
para produção e obtenção dos produtos de origem animal: 1) Do Animal; 2) Do
produção industrial são igualmente desconhecidos, e mais grave ainda, muitas vezes
Estabelecimento; 3) Do Processamento Tecnológico e 4) Do Produto. Na década de 1960
negligenciados, tanto pela sociedade quanto pelos governos.
Essa falta de informação tem induzido a adoção de políticas equivocadas, que surgiram as Normas HST para os diversos produtos de origem animal, obedecendo, no
podem colocar em risco a saúde animal e humana, ao transferir, por exemplo, a nosso entendimento, a sete princípios na tentativa de padronizar inspeção: 1) Análise do
responsabilidade da inspeção dos produtos de origem animal para empresas privadas. projeto industrial, construções, instalações, equipamentos e utensílios, além do fluxograma e
Segundo a FAO, mais de 70% das doenças do homem são procedentes do animal e a layout; 2) Padronização das técnicas sanitárias e industriais; 3) Da higiene pessoal; 4) Da
população humana em expansão se torna cada vez mais dependente da produção animal padronização dos processos de higienização, limpeza e desinfecção das instalações,
para alimentação (FAO, 2013). Dessa maneira, a sinalização para uma possível equipamentos e utensílios; 5) Dos meios auxiliares de diagnóstico laboratorial; 6) Registro
terceirização da IISPOA (BRASIL, 2017) fere um dos direitos e garantias fundamentais das ocorrências e 7) Auditorias internas e externas. Esses critérios foram aplicados e
inerentes à própria condição de pessoa humana – a saúde – estabelecidos pela diminuíram de forma significativa a heterogeneidade das indústrias da carne, apesar das
Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). alterações no Art. 4º da Lei 1.283 realizadas a partir da Lei Nº 5.760/1971, Lei Nº
A operação “Vaca Atolada”, no estado de Minas Gerais, e a operação “Carne Fraca”, 6.275/1975, e da Lei Nº 7.889/1989 (BRASIL, 1971; BRASIL, 1975; BRASIL, 1989). A
a nível nacional, deflagradas pela Polícia Federal em 2012 e em 2017, respectivamente, primeira alteração, feita pela Lei Nº 5.760/1971, teve um caráter tecnocrata ao atribuir à

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União, a competência para a execução da IISPOA, como critério básico de defesa e responsáveis por ditar as regras devido ao grande poder político-econômico que possuem, o
promoção da saúde (BRASIL, 1971). Nesta época foram elaboradas também as Normas que poderia dificultar a execução adequada da inspeção, comprometendo a qualidade HST
HST para a IISPOA, o que padronizou e promoveu a grande mudança que resultou na dos produtos e, consequentemente, a saúde dos consumidores e a sanidade animal. No
construção e implementação do melhor parque industrial de carnes do mundo no Brasil, com Direito Constitucional brasileiro, que tem como objeto de estudo a estrutura, fins e funções
elogios de organismos internacionais como a FAO (BRASIL, 1971). O prefácio dessas do Estado, fica evidente a função do Estado de assegurar esses direitos e garantias
normas, pelo Médico Veterinário Lúcio Tavares de Macedo, resume bem a aplicação dos fundamentais (CARVALHO, 2017). O dia em que os produtos de origem animal, alimentares
critérios acima descritos. Essas orientações constituem até hoje a essência das disciplinas ou não, deixarem de veicular microrganismos patogênicos, as atividades da IISPOA poderão
de tecnologia e inspeção do abate de bovinos dos cursos de Medicina Veterinária do Brasil. ser terceirizadas ou privatizadas. A Responsabilidade Técnica e outras soluções, excluindo
A segunda alteração, promovida pela Lei 6.275/1975, bem como a terceira, instituída pela a responsabilidade do Estado, vão apenas sucatear e banalizar o controle sanitário de
Lei 7.889/1989 foram mudanças politicocratas, reeditando a Lei 1.283/1950 e atribuindo aos produtos de origem animal e alimentos. Esse sucateamento será representado basicamente
governos federal, estadual e municipal a responsabilidade de execução da IISPOA (BRASIL, pela baixa remuneração e condições péssimas de trabalho, das instalações e equipamentos
1950; BRASIL, 1975; BRASIL, 1989). Seguiram nessa linha a Lei 8.171/1991, alterada pela dos estabelecimentos que se dedicam aos comércios municipais e estaduais.
Lei 9.712/1998, e o Decreto 5.741/2006, que instituiu o Sistema Unificado de Atenção à
Sanidade Agropecuária (SUASA), e pouco ou quase nada acrescentaram (BRASIL, 1991; Conclusão
BRASIL, 1998; BRASIL, 2006). Mais recentemente ocorreram mudanças profundas na
A inspeção é de responsabilidade do PODER PÚBLICO, que a qualquer momento pode e
legislação que afetam diretamente a execução da IISPOA. A primeira delas foi a publicação
deve adotar normas e medidas específicas, requeridas por situações de perigo presente ou
do Decreto Nº 9.013/2017a, confuso e incompleto, que revogou o Decreto Nº 30.691/1952 e
futuro que lesem ou ameacem lesar a saúde e a segurança dos indivíduos e da
passou a regulamentar a Lei Nº 1.283/1950 (BRASIL, 2017). Outra mudança importante da
comunidade.
Lei 1.283/1950 foi promovida pela Lei 13.680/2018, que dispõe sobre a comercialização de
produtos alimentícios de origem animal produzidos de forma artesanal (BRASIL, 2018). Os produtos de origem animal são uma questão de Segurança Nacional, em face da riqueza
Essa lei pode comprometer a qualidade HST e a segurança dos produtos de origem animal nutricional - melhor proteína conhecida até o momento para o homem – e a exuberância
por não definir os limites legais para a qualificação do que possa ser um produto artesanal. econômica, social, ambiental e sanitária de sua produção e comercialização.
Sem o conceito básico de produto artesanal, não há eficácia jurídica da norma para a
produção de efeitos concretos. A terceirização ou a privatização da inspeção podem colocar em risco a saúde/sanidade
animal e humana, pois não existe doença ou moléstia que se circunscreva a determinada
Além das alterações diretas na Lei 1.283/1950, a Lei 13.429/2017b, conhecida como
região ou cidade, em face do rápido processo de globalização, onde animais, produtos e
lei da terceirização, que trata do trabalho temporário e das relações de trabalho na empresa
homens se movem agilmente, transformando-se não raro em vetores ou veículos de
de prestação de serviços a terceiros (BRASIL, 2017), também pode interferir diretamente na contaminação de todo o País, e até mesmo de todo o globo terrestre.
execução da IISPOA. De acordo com Art. 9º, § 3o, da referida lei, o contrato de trabalho
temporário pode versar sobre o desenvolvimento de atividades-meio e atividades-fim a Apesar da evolução que se processou na indústria de carnes há ainda ponderável
serem executadas na tomadora de serviços (BRASIL, 2017). Portanto, essa lei permite uma desperdício na industrialização dos bovinos, devido à heterogeneidade das condições HST
terceirização irrestrita, podendo afetar inclusive o serviço de inspeção, desencadeando uma da indústria de carnes no Brasil, principalmente dos médios e pequenos estabelecimentos.
alta rotatividade de profissionais e até mesmo a descontinuidade na prestação de serviços.
Entretanto, observa-se a existência de uma antinomia jurídica entre as duas normas, o que Referências Bibliográficas
dificulta a interpretação e pode levar à insegurança jurídica. A sinalização para uma possível
BRASIL. Lei Federal Nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950. Dispõe sobre a inspeção
terceirização da IISPOA contraria o que dispõe a Lei 1.283/1950 e o Decreto 9.013/2017a,
industrial e sanitária dos produtos de origem animal. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
ao versarem sobre quem são os responsáveis pela fiscalização. Segundo a Lei 1.283/1950, Seção 1, 19 dez 1950.
a fiscalização deve ser feita pelo Ministério da Agricultura; pelas Secretarias de Agricultura
dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; pelas Secretarias ou Departamentos de BRASIL. Decreto Nº 30.691, de 29 de março de 1952. Aprova o novo Regulamento da
Agricultura dos Municípios; ou pelos órgãos de saúde pública dos Estados, do Distrito Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal. Diário Oficial da União,
Federal e dos Territórios e, de acordo com o Art. 14º do Decreto 9.013/2017a, a IISPOA Brasília, DF, Seção 1, 7 jul 1952.
deve ser executada por servidores com o cargo de Auditor Fiscal Federal Agropecuário, com
formação em Medicina Veterinária, do Agente de IISPOA e dos demais cargos efetivos de BRASIL. Lei Federal Nº 5.760, de 3 de dezembro de 1971. Dispõe sobre a inspeção
atividades técnicas de fiscalização agropecuária (BRASIL, 1950; BRASIL, 2017). Ao sanitária e industrial dos produtos de origem animal e dá outras providências. Diário Oficial
substituir os servidores, que exercem suas atividades baseados nos princípios da da União, Brasília, DF, Seção 1, 7 dez 1971.
legalidade, da impessoalidade, da eficiência e da moralidade (BRASIL, 1990), por
profissionais contratados pela indústria, observa-se um grande conflito de interesses, que BRASIL. Lei Federal Nº 6.275, de 1º de dezembro de 1975. Acrescenta parágrafo único ao
pode comprometer o disposto na Constituição Federal em seu Art. 6º, e mais artigo 3º da Lei número 5.760, de 3 de dezembro de 1971, e dá outras providências. Diário
especificamente no Art. 196, os quais tratam de um dos direitos sociais – a saúde – tendo Oficial da União, Brasília, DF, Seção 1, 5 dez 1975.
em vista que a inspeção realizada por indivíduos que não são servidores públicos, e sim por
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
trabalhadores terceirizados, pode resultar em problemas sanitários, devido à inexistência de
DF: Senado, 1988.
autoridade dos médicos veterinários terceirizados, que não conseguiriam executar a
inspeção com a segurança necessária, de forma semelhante àquela realizada pelos
Médicos Veterinários do Serviço de Inspeção Sanitária Oficial. As empresas seriam as

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