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Janeiro / Fevereiro 2017 Volume 31 - nº 264/265

OS RESÍDUOS DE ANTIMICROBIANOS, USADOS


NA EXPLORAÇÃO DO SALMÃO DO ATLÂNTICO,
REPRESENTAM RISCOS À SAÚDE DO CONSUMIDOR,
AO MEIO AMBIENTE E À CADEIA PRODUTIVA, SENDO
DE SUMA IMPORTÂNCIA SEU CONTROLE
E FISCALIZAÇÃO.

VEJA, AINDA, OUTROS TRABALHOS ORIGINAIS


AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PRODUTOS DIET E LIGHT.❖ INDICADORES MICROSCÓPICOS DE QUALIDADE DE KETCHUP
CONHECIMENTOS DOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS SOBRE SEGURANÇA ALIMENTAR E ALERGIAS.❖ QUALIDADE DE OVOS COMERCIALIZADOS EM MANAUS - AM.
SHIGELLA: UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA.❖ QUALIDADE DE CASTANHAS-DO-BRASIL.
ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE CEREAIS MATINAIS EXTRUDADOS.❖ DESENVOLVIMENTO DE LEITE ACIDÓFILO SABOR MANGA.
DETERMINAÇÃO DO TEOR DE ÁGUA EM CARCAÇAS DE FRANGOS.❖ AVALIAÇÃO DE GRÃOS DE KEFIR INOCULADOS EM EXTRATO DE ARROZ.
CONTAMINAÇÃO E MÉTODOS DE DESINFECÇÃO❖ PERFIL TECNOLÓGICO DE IOGURTES “TIPO GREGO.
EDITORIAL

CONTROLES NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS.


produção de alimentos Defesa Agropecuária. Para tanto, dispensados de registro, é necessá-

A
é um tema complexo por o Mapa acelerou a implementação rio apenas apresentar a documenta-
abranger variadas ações do Manual do Boas Práticas Regu- ção exigida junto à autoridade sa-
com atributos os mais di- latórias de Defesa Agropecuária, nitária local e aguardar a visita da
versos, compreendendo priorizou as demandas de automa- vigilância sanitária, a qual realizará
aspectos relacionados às tecnolo- ção desta área e deu celeridade à a inspeção nas instalações, a fim de
gias empregadas, produtividade, revisão de normativas da Defesa verificar as condições de produção
valor nutricional, qualidade, segu- Agropecuária. Isso está sendo feito do alimento para autorizar ou não
rança, sustentabilidade, comércio por meio de portarias e instruções sua produção.
justo (fairtrade), bem-estar animal, normativas para reorganizar e forta- Na esfera estadual também vêm
entre tantos outros, abordados sob lecer a tramitação de normas. Entre ocorrendo mudanças e alguns esta-
diferentes ângulos e pontos de vista. outras medidas, está a Atualização dos já apresentaram novas práticas,
Cada um desses conceitos esten- do RIISPOA - Regulamento da Ins- como o Programa de Modernização
de-se a outros tantos que fazem da peção Industrial e Sanitária de Pro- e Desburocratização da Agricultura
produção de alimentos uma ativida- dutos de Origem Animal, de 1952, – Agrofácil São Paulo, implantado
de cada vez mais profusa e, justa- cuja revisão aguarda há anos para em novembro de 2016, para sim-
mente por englobar práticas as mais ser implantada e é fundamental para plificar a atividade no campo e pos-
diversas, requer a regulamentação o controle da produção. sibilitar que as cadeias produtivas
de todas elas, a fim de garantir aos Não foi diferente com a Agên- continuem sendo destaque econô-
consumidores alimentos nutritivos, cia Nacional de Vigilância Sanitá- mico, social e ambiental. São Paulo
de qualidade e seguros e assegurar ria - ANVISA, que já em 2010, li- também lançou o Agro+SP, etapa
à sociedade práticas justas e am- berou de registro várias categorias estadual do programa do Mapa, via-
bientalmente corretas, as quais não de alimentos, visando concentrar bilizando a confluência de esforços
venham a comprometer a própria esforços para o controle sanitário das esferas federal e estadual em
produção de alimentos no futuro. dos alimentos. Assim, foi mantida nome de uma produção ainda mais
Em toda produção de alimentos a obrigatoriedade de registro ape- dinâmica e ambientalmente equili-
são necessários registros e autoriza- nas para os produtos considerados brada.
ções para o início da produção e ain- de maior risco à saúde. Segundo os Cada vez mais são necessárias
da há todo o controle e fiscalização responsáveis, são ações voltadas à ações que facilitem a produção de
da produção, bem como do produto. maior eficiência, focadas na análise alimentos, sem prescindir da segu-
Os órgãos do governo responsáveis e fiscalização dos alimentos, já que rança. A legislação, por si só, não
por todo esse processo, desde o re- o modelo tradicional não surtia os se traduz em ação se não houver um
gistro até a fiscalização, têm tido efeitos esperados e, portanto, urgia sistema que fiscalize o estabelecido
dificuldades para atender a toda a algo a ser feito. nas leis, normas e regulamentos. No
demanda, já que, considerando-se, Desde então, em relação aos Brasil, entretanto, a fiscalização tem
por exemplo, produtos de origem alimentos sujeitos à fiscalização se mostrado muito vulnerável, fato
animal, cada produto necessita de da ANVISA, apenas aqueles com constatado em diversas situações,
um registro e, portanto, de todo um alegação de propriedade funcional tais como a denominada Operação
processo para sua aprovação antes e ou de saúde, alimentos infantis, Pasteur, em 2014, que revelou o
mesmo do início da produção. alimentos para nutrição enteral, no- pagamento de propina a servidores
Visando reduzir a burocracia e vos alimentos, novos ingredientes do MAPA pelas indústrias de leite
agilizar os serviços, o Ministério e substâncias bioativas e probitóti- que deveriam fiscalizar. Esta ocor-
da Agricultura, Pecuária e Abaste- cos isolados com alegação de pro- rência motivou uma alteração no
cimento - MAPA, lançou o Progra- priedades funcional e ou de saúde, sistema e, por determinação do
ma Agro+, o qual tem dois eixos: continuaram com obrigatoriedade Ministro da Agricultura, a super-
Modernização e Desburocratização de registro junto à Anvisa, confor- intendência no Rio Grande do Sul
e o Marco Regulatório do Plano de me RDC 27/2010. Para os demais, deverá promover o rodízio dos

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

encarregados da inspeção sanitária e vegetal, verifica-se a complexidade de inspeção de produtos de origem


fiscalização nas empresas, evitando do sistema quando toma-se como animal, para garantir a procedência
a longa permanência dos servidores exemplo a produção de bebidas (in- e a segurança alimentar”. Para quem
em uma só empresa. clusive sucos de frutas), atividade produz, entretanto, é mais uma si-
Fatos como o citado, demonstram sob a reponsabilidade do MAPA, gla que dificulta o entendimento e a
a necessidade de uma completa re- embora a produção de água mineral prática da produção legal de alimen-
forma do sistema de controles na e açaí processado seja regulada pela tos.
produção de alimentos visando real- ANVISA. Verifica-se situação con- O sistema sanitário brasileiro es-
mente alcançar o estabelecido no ar- flitante também na produção de doce tabelece as regras para produção de
tigo 196, da Constituição Brasileira: de leite, produto de origem animal e, alimentos seguros e as autoridades
“A saúde é direito de todos e dever do portanto, sob controle do MAPA, no sanitárias vem promovendo ações
Estado, garantido mediante políti- entanto, determinado percentual de visando aumentar a eficiência do
cas sociais e econômicas que visem frutas misturados a esse doce acar- processo, no entanto, é necessário
à redução do risco de doença e de reta a possibilidade de ser fiscalizado ainda reduzir sua complexidade, pa-
outros agravos e ao acesso univer- pela Vigilância Sanitária, órgão vin- dronizando procedimentos e reduzin-
sal e igualitário às ações e serviços culado à ANVISA. do sistemas que, fundamentalmente,
para sua promoção, proteção e recu- A complexidade aumenta quando, tem por único objetivo a saúde da
peração”. Nota-se, entretanto, que a tratando-se de produtos de origem população. Há ainda muitos desafios
dificuldade em atingir essa condição, animal, o âmbito de comercializa- para este ano que começou.
também é causada pela existência de ção (municipal, estadual ou federal)
conflito de atribuições entre órgãos determina a qual serviço (SIM, SIE,
envolvidos na fiscalização e controle SIF) deverá ser submetido e, conse-
da produção de alimentos no Brasil. quentemente, qual lei deverá orientar
Mesmo considerando-se uma a produção, ainda que se trate de um
divisão inicial, onde o MAPA é re- mesmo produto. Em 2006 foi implan-
sponsável pelo controle da produção tado o SUASA, segundo os idealiza- Sílvia Panetta Nascimento
de alimentos de origem animal e a dores, “com o objetivo de padroni- Editoria científica Higiene Alimentar
ANVISA pelos produtos de origem zar e harmonizar os procedimentos Faculdade de Tecnologia de Itapetininga, SP

7
EXPEDIENTE
CONTEÚDO

EDITORIAL
Controles na produção de alimentos.�������������������������������������������������������������� 6
Cartas����������������������������������������������������������������������������������� 10

COMENTÁRIOS
Editoria Profissionais da área de alimentos informam ou comunicam? Isso faz alguma diferença?������������������������ 15
José Cezar Panetta
DESTAQUE
Editoria Científica: Resíduos de antimicrobianos em salmão do atlântico (salmo salar l. 1758): Aspectos econômicos, ambientais e sanitários. 18
Sílvia P. Nascimento
ARTIGOS
Comitê Editorial:
Eneo Alves da Silva Jr. Composição nutricional de cardápio em restaurante popular de Campos Gerais, PR. ��������������������������� 24
(CDL/PAS, S.Paulo, SP) Avaliação do conhecimento sobre produtos diet e light por funcionários e universitários de instituição de ensino
Homero R. Arruda Vieira superior. � �������������������������������������������������������������������������������� 30
(UFPR, Curitiba, PR) Conhecimentos de manipuladores de alimentos sobre segurança dos alimentos e alergias.����������������������� 38
Marise A. Rodrigues Pollonio Conhecimento de merendeiros sobre segurança dos alimentos em pré-escolas atendidas pelo pnae no
(UNICAMP, Campinas, SP) município de Rio Branco - AC.������������������������������������������������������������������ 45
Simplício Alves de Lima Shigella sp: um problema de saúde pública.�������������������������������������������������������� 52
(MAPA/SFA, Fortaleza, CE) Avaliação das boas práticas de fabricação em unidade de alimentação e nutrição de organização militar
Vera R. Monteiro de Barros
da cidade de Belém - PA.��������������������������������������������������������������������� 58
(MAPA/SFA, S.Paulo, SP)
Condições higienicossanitárias de creches públicas em um município no sul de Minas Gerais - Brasil.. � �������������������� 62
Jornalista Responsável: Análise microbiológica de cereais matinais extrudados comercializados em Maceió – AL.� ������������������������ 67
Regina Lúcia Pimenta de Castro Variação da qualidade microbiológica, durante o período de validade, de leite pasteurizado em um laticínio
(M.S 5070) da cidade de Januária - MG.������������������������������������������������������������������� 72
Determinação do teor de água em carcaças de três diferentes marcas de frangos comercializadas
Circulação/Cadastro:
Celso Marquetti no município de Marília - SP. � ������������������������������������������������������������������ 76
Perfil higienicossanitário da feira do pescado no município de Macapá – AP.��������������������������������� 81
Consultoria Operacional:
Marcelo A. Nascimento PESQUISAS
Fausto Panetta
Condições higienicossanitárias dos serviços de alimentos e bebidas em hotéis do município de Pelotas - RS. � ���������� 86
Sistematização e Mercado: Esponjas utilizadas em cozinha hoteleira: contaminação e métodos de desinfecção.���������������������������� 92
Gisele P. Marquetti Surto de doença transmitida por alimentos nos municipios de Mauá e Ribeirão Pires - SP.����������������������� 97
Roseli Garcia Panetta
Indicadores microscópicos de qualidade de molhos tipo ketchup.���������������������������������������� 103
Projeto gráfico Avaliação da qualidade de ovos comercializados no município
DPI Studio e Editora Ltda de Manaus - AM.�������������������������������������������������������������������������� 109
(11) 3207.1617 Efeitos da irradiação gama sobre a estabilidade físico-química de anéis de
dpi@dpieditora.com.br lula congelados.� �������������������������������������������������������������������������� 115
Determinação do potencial antibacteriano das especiarias hibiscus sabdariffa, carum carvi, sesamum indicum, foeniculum
Impressão
vulgare e trigonella foenum-graecum. � ����������������������������������������������������������� 122
Prol
Qualidade microbiológica e físico-química de castanhas-do-brasil.���������������������������������������� 127
Diagramação Qualidade microbiológica de queijos minas frescal e ricota comercializados na região metropolitana de Campinas - SP.�� 132
Carlos E. Araujo Jr
Desenvolvimento e caracterização de leite acidófilo�������������������������������������������������� 138
(15) 99728.5256
kadunavit@gmail.com Sabor manga.�������������������������������������������������������������������������������
Avaliação de ph, acidez titulável e crescimento de massa colônica de grãos de kefir de água inoculados em extrato
hidrossolúvel de arroz (oryza sativa).� ������������������������������������������������������������ 143
Redação LEGISLAÇÃO����������������������������������������������������������������������������� 149
Rua das Gardênias, 36
(bairro de Mirandópolis) AVANÇOS������������������������������������������������������������������������������� 158
04047-010 - São Paulo - SP NOTÍCIAS������������������������������������������������������������������������������� 160

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Nossa capa: Imagens tratadas e montadas por Carlos Eduardo de Araujo Junior, autor não identificado.
EXPEDIENTE

ORIENTAÇÃO AOS NOSSOS CONSELHO EDITORIAL (Mandato 2014-2017)


COLABORADORES, PARA REMESSA Nota da Redação. Desejamos agradecer a todos os assinantes e leitores em geral pela grande
DE MATÉRIA TÉCNICA. repercussão e interesse demonstrado para a participação junto ao Conselho Editorial da revista Higiene
Alimentar. O fato, honroso para todos, vem de encontro aos mais nobres objetivos da publicação, quais
1. As colaborações enviadas à Revista Higiene Alimentar na sejam o de divulgar seriamente a produção científica da área alimentar, bem como constituir-se num
forma de artigos, pesquisas, comentários, revisões bibliográ- polo aglutinador de profissionais especializados que, a cada momento, analisam criticamente a pesquisa
ficas, notícias e informações de interesse para toda a área de produzida e a divulgam aos colegas, convertendo-se em importante instrumento
alimentos, devem ser elaboradas usando Word para textos de aperfeiçoamento profissional.
e Excel para gráficos e tabelas, ilustrações em Corel Draw
nas mais variadas versões do programa (verificando para que
todas as letras sejam convertidas para curvas) ou Photo Shop.
2. Os trabalhos devem ser digitados em caixa alta e baixa (letras
maiúsculas e minúsculas), evitando títulos e/ou intertítulos CONSELHEIROS TITULARES CONSELHEIROS ADJUNTOS
totalmente em letras maiúsculas e em negrito. Tipo da fonte
Times New Roman, ou similar, no tamanho 12.
3. Do trabalho deverão constar as seguintes partes: Título, Resu- Alessandra Farias Millezi - Instituto Federal
Adenilde Ribeiro Nascimento - Univ. Fed. Maranhão. São Luís, MA.
mo, Palavras-chave, Abstract, keywords, Introdução, Material Alex Augusto Gonçalves - UFERSA, Mossoró, RN. Catarinense – Câmpus Concórdia
e Métodos, Resultados e Discussão, Conclusão e Referências
Bibliográficas. Os gráficos, tabelas e figuras devem fazer parte Andrea Troller Pinto - UFRGS/ Fac. de Med. Carlos Alberto Martins Cordeiro - Universidade
do corpo do texto e o tamanho total do trabalho deve ficar en- Federal do Pará
tre 6 e 9 laudas (aproximadamente 9 páginas em fonte TNR
Veterinária
Carlos Augusto Fernandes de Oliveira - USP,
12, com espaçamento entre linhas 1,5 e margens superior e Bruno de Cassio Veloso de Barros - Univ. Fed. Pará
esquerda 3 cm, inferior e direita 2 cm). Pirassununga, SP.
4. Resultados de pesquisas relacionados a seres humanos de- (UFPA) Carlos Eugênio Daudt - Univ. Fed. Santa Maria, RS.
verão ser apresentados acompanhados do número do pare- Clicia Capibaribe Leite - Univ. Fed. Bahia, Salvador, Cátia Palma de Moura Almeida – Fac. Tecnol.
cer junto ao Comitê de Ética da instituição de origem ou outro
relacionado ao Conselho Nacional de Saúde. BA Termomecanica e USCS.
5. Do trabalho devem constar: o nome completo do autor e co- Dalva Maria de Nobrega Furtunato - Univ. Fed. Bahia, Consuelo Lúcia Souza de Lima - UFPA, Belém, PA.
-autores (respeitando o máximo de quatro), e-mail de todos
(será publicado apenas o e-mail do primeiro autor, o qual Salvador, BA Crispim Humberto G. Cruz - UNESP, São José Rio
responde pelo trabalho) e nome completo das instituições às Daniela Maria Alves Chaud - Univ.Presbiteriana Preto, SP.
quais pertencem, com três níveis hierárquicos (Universidade,
Faculdade, Departamento), também a cidade, estado e país. Mackenzie, Fac. Nutrição Edleide Freitas Pires - UFPE, Recife, PE.
6. As referências bibliográficas devem obedecer às normas Eneo Alves da Silva Junior - Central Diagnósticos Eliana de Fatima Marques de Mesquita - Univ. Fed.
técnicas da ABNT-NBR-6023 e as citações conforme NBR Fluminense
10520 sistema autor-data. Laboratoriais, São Paulo, SP.
7. Para a garantia da qualidade da impressão, são indispensá- Elke Stedefeldt - Dep.Nutrição, Unifesp, Santos,
veis as fotografias e originais das ilustrações a traço. Imagens Evelise Oliveira Telles R. Silva - USP/ Fac. Med.Vet.
SP.
digitalizadas deverão ser enviadas mantendo a resolução dos Zootec., São Paulo, SP. Ermino Braga Filho - Serv. Insp. Prod. Origem
arquivos em, no mínimo, 300 pontos por polegada (300 dpi).
8. Será necessário que os colaboradores mantenham seus pro- Gabriel Isaias Lee Tunon - Univ. Federal Sergipe Animal/ ADEPARA
gramas anti-vírus atualizados Jacqueline Tanury Macruz Peresi - Inst. Adolfo Lutz, Flavio Buratti - Univ.Metodista, SP.
9. Todas as informações são de responsabilidade do primeiro
autor com o qual faremos os contatos, através de seu e-mail S. José Rio Preto, SP Glícia Maria Torres Calazans - UFPE, Recife, PE.
que será também o canal oficial para correspondência entre Jorge Luiz Fortuna - Universidade do Estado da Iacir Francisco dos Santos - EV/UFF, Niterói, RJ.
autores e leitores.
10. Juntamente com o envio do trabalho deverá ser encaminha- Bahia, Salvador Jackline Freitas Brilhante de São José - UFES
da declaração garantindo que o trabalho é inédito e não foi Lys Mary Bileski Candido - Univ. Fed. Paraná, Lize Stangarlin – Univ. Tuiuti do PR e Centro
apresentado em outro veículo de comunicação. Na mesma Universitário Campos de Andrade.
deverá constar que todos os autores estão de acordo com a Curitiba, PR.
publicação na Revista. Lúcia Rosa de Carvalho - Universidade Federal
11. Não será permitida a inclusão ou exclusão de autores e co-
Maria das Graças Pinto Arruda - Vig. Sanitária
Fluminense
-autores após o envio do trabalho. Após o envio do trabalho, Secret. Saúde do Ceará
só será permitido realizar mudanças sugeridas pelo Conselho Maria Manuela Mendes Guerra - Esc.Sup.Hotelaria,
Editorial. Marina Vieira da Silva - USP/ ESALQ, Piracicaba, Estoril, Portugal.
12. Os trabalhos deverão ser encaminhados exclusivamente on- SP. Nelcindo Nascimento Terra - Univ. Fed. de Santa
-line, ao e-mail autores@higienealimentar.com.br .
13. Recebido o trabalho pela Redação, será enviada declaração Patricia de Freitas Kobayashi – Faculdade Pio Maria, RS.
de recebimento ao primeiro autor, no prazo de dez dias úteis; Décimo/SE Paula Mattanna – Univ. Fed. De Santa Maria
caso isto não ocorra, comunicar-se com a redação através do
e-mail autores@higienealimentar.com.br Rejane Maria de Souza Alves – Minist. da Saúde e Paulo Sergio de Arruda Pinto - Univ. Fed. Viçosa,
14. As colaborações técnicas serão devidamente analisadas pelo Inst. de Ensino Superior de Goiás. MG.
Corpo Editorial da revista e, se aprovadas, será enviada ao Renato João Sossela de Freitas - Univ. Fed.
primeiro autor declaração de aceite, via e-mail. Renata Tieko Nassu - Embrapa Pecuária Sudeste
15. As matérias serão publicadas conforme ordem cronológica Paraná, Curitiba, PR.
Roberta Hilsdorf Piccoli do Valle - Univ. Fed.
de chegada à Redação. Os autores serão comunicados so- Ricardo Moreira Calil - SIF/MAPA, SP.
bre eventuais sugestões e recomendações oferecidas pelos Lavras, MG
consultores. Robson Maia Franco - EV/UFF, Niterói, RJ.
16. Para a Redação viabilizar o processo de edição dos trabalhos,
Sandra Maria Oliveira Morais Veiga - Univ. Fed. Sabrina Alves Ramos - Pontifícia Universidade
o Conselho Editorial solicita, a título de colaboração e como Alfenas/ UNIFAL – MG. Católica de Minhas Gerais
condição vital para manutenção econômica da publicação,
que pelo menos um dos autores dos trabalhos enviados seja Shirley de Mello Pereira Abrantes - FIOCRUZ/ Lab. Tânia Lucia Montenegro Stanford - UFPE, Recife,
assinante da Revista. Neste caso, por ocasião da publicação, Contr. Alim., Rio de Janeiro, RJ. PE.
será cobrada uma taxa de R$ 50,00 por página diagramada.
Não havendo autor assinante, a taxa de publicação será de Simplicio Alves de Lima - MAPA/ SIF, Fortaleza, CE. Xaene Maria Fernandes Duarte Mendonça - Univ.
R$ 70,00 por página diagramada. Sonia de Paula Toledo Prado - Institituto Adolfo Fed. do Pará (UFPA)
17. Quaisquer dúvidas deverão ser imediatamente comunicadas à Zelyta Pinheiro de Faro - UFPE, Recife, PE.
Redação através do e-mail: autores@higienealimentar.com.br Lutz, Ribeirão Preto, SP.

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CARTAS

NOVA INDEXAÇÃO DA dades anti-inflamatórias. Os peptídeos são aminoácidos


de cadeia curta que agem como potentes sinalizadores
REVISTA HIGIENE ALIMENTAR
nas moléculas do corpo.
 
Prezados Senhores, Qualquer dúvida, estamos à disposição.
Somos da Biblioteca Virtual em Saúde - Medicina Ve-  
terinária (BVS-Vet), e estamos indexando a publicação abs
Higiene Alimentar em nossa base VetIndex, conforme
acordo entre a BVS-Vet e a revista: http://bit.ly/2jTQjRx ligia cerdeira | public relations
máquinacohn&wolfe | dig deeper. imagine more.
Atenciosamente,
ABPA INFORMA SOBRE A PROIBIÇÃO DE VISITA
Ana Cristina Ponciano
BVS-Vet EM ESTABELECIMENTOS AVICOLAS

Prezados Senhores
CENTRO EDUCACIONAL COM AULAS
Desde a intensificação dos registros de focos de Influenza
DE AGRONOMIA E CULINÁRIA Aviária em países da América, Europa e Ásia, a Associa-
ção Brasileira de Proteína Animal (ABPA) vem promo-
A Fundação Salvador Arena, que mantém um Centro vendo uma série de iniciativas de divulgação e conscien-
Educacional totalmente gratuito para mais de 2.400 alu- tização junto aos atores da avicultura nacional, além de
nos. A matriz curricular inclui aulas de agricultura para realizar tratativas com o Poder Público do Brasil e de
as crianças a partir dos 5 anos de idade e tudo que as diversos países. Nosso grande objetivo é a ampliação e
crianças plantam e colhem complementa a alimentação o fortalecimento dos cuidados em prol da prevenção à
que elas recebem na escola. Elas também têm atividades Influenza Aviária em nosso território - sempre lembran-
de culinária, onde aprendem a preparar cardápios saudá- do que nunca registramos qualquer foco da enfermidade.
veis com o alimento que produzem e, além das aulas de Neste sentido, construímos - por meio do Grupo Estraté-
agricultura, as crianças têm atividades de bovinocultura gico de Prevenção de Influenza Aviária (GEPIA), vincu-
e piscicultura. O objetivo não é formar agricultores, mas lado ao Conselho Diretivo da entidade - ferramentas para
utilizar esta área pra conscientizar os alunos de que faze- cursos e disseminação de cuidados (presentes no http://
mos parte do meio ambiente e por isso devemos cuidar abpa-br.com.br/influenza-aviaria/), realizamos eventos e
dele, além, é claro, de mostrar a eles que é possível ter consolidamos um canal direto e constante com o MAPA
uma alimentação saudável comendo de tudo um pouco. para tratar do tema - recentemente, por nossa solicitação,
Temos resultados muito positivos para mostrar! o Ministério "solicitou aos Serviços Veterinários nos es-
  tados o aumento das atividades de vigilância sanitária,
Grande abraço e obrigado pela atenção. inclusive nos sítios de aves migratórias, e atenção em
relação às medidas para atendimento de casos suspei-
tos, assim como aumento das atividades de fiscalização
Fabio Souza em todos os portos, aeroportos internacionais, postos de
CDN Comunicação fronteira e aduanas especiais, visando mitigar o risco de
Fabio.souza@cdn.com.br entrada de influenza aviária no Brasil", segundo comuni-
cado enviado pelo MAPA à ABPA. Além disto, também
NUTRIÇÃO HUMANA DA BASF suspendeu a importação de produtos avícolas provenien-
INVESTE EM PEPTÍDEOS BIOATIVOS tes do Chile - último país a registrar foco da enfermida-
de, na semana passada.
Olá, boa tarde!  
  Diante da situação de crise sanitária na Ásia, Europa e
A divisão de Nutrição Humana da BASF e a startup Nu- mais recentemente no Chile, a ABPA determina aos seus
ritas™ anunciaram uma colaboração para comercializar associados e às demais empresas da cadeia avícola que: 
e investir na pesquisa de redes de peptídeos bioativos. A PROIBAM IMEDIATAMENTE visitas a todas as estru-
nova parceria tem sua atenção voltada para os peptídeos turas produtivas POR 30 DIAS a partir de hoje. A proibi-
de origem natural, derivados de alimentos, que vão ofere- ção se estende a abatedouros, granjas, fábricas de ração
cer importantes benefícios para a saúde, incluindo ativi- e incubatórios e á válida para qualquer visita, inclusive

10
CARTAS

para auditores e clientes. da cadeia avícola que, em viagens ao exterior, evitem ao


ACELEREM A ADOÇÃO DE MEDIDAS BÀSICAS máximo contatos com aves. Além disso, é fundamental
DE BIOSSEGURIDADE impostas pela Instrução Nor- que, ao retornarem ao Brasil, tomem os devidos cuidados
mativa nº 56, de 4 de dezembro de 2007 nas estruturas com lavagem e desinfecção de roupas, calçados e uten-
produtoras de aves e de ovos, principalmente a blindagem sílios utilizados no exterior e realizem quarentena antes
da água, telamento dos galpões, instalação de processo de visitarem as estruturas produtivas da própria empresa.
de desinfecção de veículos e aplicação de programas de Associação Brasileira de Proteína Animal - ABPA Av.
controle de roedores. Lembramos que nas próximas se- Brigadeiro Faria Lima, 1912 Conjuntos 20-L e 20-I 20º
manas o MAPA deverá publicar uma nova Instrução Nor- andar Jardim Paulistano - CEP: 01452-922 - São Paulo -
mativa com alterações na IN 10/2013 com a definição de SP PABX: 55 11 3095-3120 
prazos para que essas adequações sejam realizadas sob REALIZEM TREINAMENTOS internos para equi-
pena de não alojamento de aves nos galpões que não es- pes de agropecuária e de qualidade das empresas, com o
tiverem adequados. objetivo de conscientizar gestores, técnicos e produtores
ORIENTEM técnicos, produtores integrados, produto- acerca dos cuidados de prevenção à Influenza Aviaria.
res de ovos e demais profissionais que atuam em empre- Destacamos, principalmente, a necessidade de orientação
sas de premix, ração, laboratórios farmacêuticos e outros e conscientização pela notificação ao Serviço Veterinário
Oficial de toda e qualquer suspei-
ta de enfermidades, como sinais
respiratórios e alta mortalidades
no prazo máximo de 24 horas.
 Como apoio, encaminhamos ar-
quivo pdf com cartaz pronto para
impressão com orientações pro-
duzidas pela ABPA, para ser utili-
zado nos polos de produção. Para
impressão, sugerimos colocar o
espaço apropriado a logomarca da
associação ou empresa que estará
patrocinando a impressão e a di-
vulgação desse material. 
Informações adicionais como ví-
deos, palestras e afins poderão ser
obtidas pelo site http://abpa-br.
com.br/influenza-aviaria/
No caso das associações, solici-
tamos o repasse imediato deste
comunicado aos seus associados a
fim que possamos divulgar essas
medidas para todos os envolvidos
com a produção de aves no Brasil.
A atuação pela intensificação dos
controles continuará presente em
nossa pauta, com a realização
de reuniões do GEPIA e com o
Grupo de Prevenção de Influenza
Aviária do MAPA para aprofun-
darmos as medidas.

Atenciosamente,

Francisco Turra
Presidente-executivo da ABPA

11
AGENDA
ABRIL

01/04/2017 RIBEIRÃO PRETO - SP


AGRISHOW 2017 - Feira Internacional de
Tecnologia Agrícola
Informações: http://agrishow.com.br/pt/

01/04/2017 GEORGIA
SNAXPO 2017
Informações: http://www.snaxpo.com/

05/04/2017 JABOTICABAL – SP
II SIMPORK - Simpósio Internacional de
MARÇO Produção e Sanidade de Suínos
Informações: http://www.funep.org.br/
29/03/2017 MARÍLIA – SP mostrar_evento.php?idevento=615
II Encontro sobre Tecnologia e Controle
de Qualidade do Pescado na Piscicultu- 10/04/2017 PIRACICABA - SP
ra SILA - 14º Seminário Internacional em
Informações: http://pescadomarilia. Logística Agroindustrial
wixsite.com/pesca Informações: http://esalqlog.esalq.usp.
br/wordpress/?p=2390
16/05/2017 BRASÍLIA - DF
18/04/2017 PORTO ALEGRE - RS AGROBRASÍLIA 2017 Feira Internacional
IV CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOÉ- dos Cerrados
TICA E BEM-ESTAR ANIMAL Informações:
Informações: http://portal.cfmv.gov.br/ www.agrobrasilia.com.br/
portal/noticia/index/id/4822
16 A 20/05/2017 BRASÍLIA – DF
25 A 28/04/2017 – FORTALEZA - CE AGROBRASÍLIA
VIII Congresso Latino-Americano e Informações:
XIV Congresso Brasileiro de HIGIENIS- agroevento.com/agenda/agrobrasilia-2017/
TAS DE ALIMENTOS.
VI Encontro do Sistema Brasileiro de 17/05/2017 RIO CLARO - SP
Inspeção de Produção de Origem Ani- VIII SIMPÓSIO DE MICROBIOLOGIA
mal. APLICADA
Informações: www.higienista.com.br Informações:
sma.web2053.uni5.net/index.php

MAIO 22/05/2017 SANTOS - SP


ZOOTEC 2017 XXVII Congresso Brasilei-
ro de Zootecnia
Informações:
abz.org.br/zootec2017/

JUNHO
09/05/2017 SÃO PAULO - SP 07/06/2017 CAMPINAS – SP
EXPOMEAT 2017 Feira Internacional de Curso teórico e prático de cortes tem-
Processamento e Industrialização de perados: presunto e apresuntado
Aves, Bovinos, Suínos e Pescado Informações:
Informações: http://www.netfeiras.com. www.ital.agricultura.sp.gov.br/
br/feiras/expomeat/
AGENDA
AGOSTO 26 A 28/09/2017 - SÃO PAULO – SP
Analitica Latin America 2017
Informações:
www.analiticanet.com.br/br/index.
08/08/2017 SÃO PAULO - SP
php?pgid=home&mi=00100000000
TECNOCARNE
Informações:
www.tecnocarne.com.br/pt/ OUTUBRO
22 A 24/08/2017 SÃO PAULO - SP 22/10/2017 FOZ DO IGUAÇU - PR
Food ingredients South America 29º CONGRESSO BRASILEIRO DE MI-
Mais Informações: CROBIOLOGIA
www.fi-events.com.br/pt/ Informações:
sbmicrobiologia.org.br/29cbm/2017/#menu
29/08/2017 - SÃO PAULO – SP
SIAVS - Salão Internacional de Avicultu- 23/10/2017 CAMPINAS – SP
ra e Suinocultura Curso: Qualidade e segurança micro-
Informações: biológica de carnes e produtos cárneos
siavs.org.br/ Informações:
www.ital.agricultura.sp.gov.br/
30/08 A 03/09/2017 – CAMPOS DO JORDÃO
– SP 25 E 27/10/2017 BELO HORIZONTE - MG
VEGFEST 2017 – VI Congresso Vegeta- Semana Internacional do Café.
riano Brasileiro Informações: 
Informações: www.semanainternacionaldocafe.com.br
agroevento.com/agenda/vegfest-2017/

SETEMBRO NOVEMBRO
22/11/2017 CAMPINAS – SP
12/09/2017 CAMPINAS – SP Curso teórico e prático: Processamento
Curso teórico e prático: Elaboração de de produtos emulsionados - mortadela
linguiças e salsicha
Informações: Informações:
www.ital.agricultura.sp.gov.br/ www.ital.agricultura.sp.gov.br/
COMENTÁRIO

PROFISSIONAIS DA ÁREA DE ALIMENTOS


INFORMAM OU COMUNICAM?
ISSO FAZ ALGUMA DIFERENÇA?

I
nformar e comunicar são pala- Juliana T. Grazini dos Santos uma mensagem para os que vão nos
vras diferentes com sentidos escutar? O que esperamos com isso?
diferentes, técnicas diferentes
Maysa Carvalho Barbosa Atualmente, a motivação da co-
e resultados diferentes. O que Verakis - FRANÇA municação entre especialistas e lei-
eu costumo dizer aos profissionais verakis@hotmail.fr gos, especialistas e comunicadores
das áreas de alimentos, alimentação é permeada por um certo nível de
e nutrição é que o primeiro passo conflitos de interesses entre setor
para informar e/ou comunicar ade- privado e científico, comercial e de
quadamente é definir o que quere- uma mensagem e o seu receptor, prevenção em saúde, pessoal e co-
mos fazer: comunicar ou informar, espera-se uma reação, uma ação ou letivo.
para esperar resultados coerentes. mesmo mudança de comportamen- Alimentos, alimentação e nutri-
Alguns especialistas da área de to. Na comunicação a informação é ção constituem, por si só, pauta de
comunicação discordam ou julgam trabalhada de maneira a transmitir grande interesse desde que os Esta-
esta diferenciação desnecessária uma mensagem perceptível para um dos e populações foram alarmados
e/ou antiquada, eu, pessoalmente público determinado com um objeti- quanto à relação entre o consumo
e, principalmente no meio técnico vo bem definido. de alimentos e a saúde, sobretudo
científico, acho de suma importân- Partindo desta diferenciação, quando revelada a epidemia da obe-
cia, pois os profissionais técnicos quando falamos com funcionários sidade nos países desenvolvidos e
fazem um trabalho quase exclusivo de uma linha de produção de um ali- em desenvolvimento. Os temas de
informativo e se espantam por não mento qualquer, se lhes informamos contaminação, fraude e outros nem
conseguirem resultados possíveis sobre a necessidade de manutenção sempre interessam comunicadores e
com a comunicação. das normas técnicas de higiene, meios de comunicação.
De maneira simplista a informa- não se pode esperar uma mudança As informações sobre alimentos,
ção seria o fato de colocar à disposi- efetiva em suas condutas. Para que alimentação, comida, e nutrição são
ção de um público determinado ou estes mesmos funcionários possam numerosas, controversas, incoeren-
não, determinadas notícias, notas, mudar de atitude precisamos pensar tes, e emitidas por tantos “legiti-
esclarecimentos, resultados, ideias, em comunicar, tornar comum a im- madores”, com pontos de vista tão
avisos ou outros. No processo in- portância da necessidade destas tais diferentes, que enfrentamos o que
formativo, o compromisso é com normas técnicas. Claude Fischler, sociólogo francês,
a qualidade e veracidade do conte- Como escreveu Sartre “deve-se define como Cacofonia da Alimen-
údo colocado à disposição; não se conhecer a meta antes do percurso”. tação.
constrói um argumento capaz de Para comunicar, tornar comum, Notem no quadro 1, que resume
motivar uma contra-argumentação esperar uma reação, atitude ou os discursos veiculados entre pa-
ou reação ou mudança de atitude. mudança de comportamento deve- res, para o público leigo, e por to-
Quando falamos de comunicação -se pensar em comunicação. Neste dos os meios, como o alimento é o
espera-se uma estratégia que torne sentido o primeiro passo é entender que salva e o que mata, o que cura
um tema, ideia, ponto de vista ou qual é nosso objetivo e nossa moti- e o que adoece, o que é proibido e
outros, comuns entre o emissor de vação: para que estamos emitindo permitido.

15
COMENTÁRIO

Quadro 1 – Dados coletados na mídia que demonstram incoerência e contradições do discurso sobre alimentos, alimentação e nutrição.1
Comer é bom para a saúde Comer não é bom para a saúde
Comer o suficiente Comer muito ou pouco
Gorduras são importantes Gorduras devem ser banidas
Omega 3 é bom Gorduras saturadas não são boas
Gorduras boas Gorduras ruins
Azeite de oliva não deveria ser muito aquecido; óleo de colza deve
Óleos vegetais são bons para a saúde
ser consumido frio
As melhores proteínas estão na carne e devemos
Proteínas são boas, mas carne não é bom
comê-las
Carne bovina pode levar à encefalopatia espongiforme ou
Carne não é perigosa, é supervisionada e controlada
gastroenterite
Alimentos orgânicos não são totalmente garantidos.
Alimentos orgânicos cultivados em ambientes externos
Do que se alimentam animais fora de confinamento?
As vitaminas são essenciais Tome cuidado! Você não deve ingerir vitaminas em excesso.
Frutas e legumes que são orgânicos e ou vem de muito longe não
Frutas e legumes fornecem vitaminas e fibras
são bons para saúde.
Frutas contêm agrotóxicos. Tome cuidado! Cuidado com os nitritos
Frutas são boas para a saúde
e nitratos.
Carboidratos são importantes Caboidratos podem ser perigosos
Carboidratos complexos não devem ser cozidos por muito tempo ou
Carboidratos complexos são bons
se tornarão danosos
Carboidratos simples são importantíssimos para Carboidratos simples geram cáries dentárias, diabetes e te torna
praticarmos certos tipos de esportes obeso
Quando se é jovem necessita-se comer muito Sem gorduras, sem muitos carboidratos…
Um Mac Donald’s a “cada esquina”, muitos restaurantes pelas ruas,
Comer em casa, alimentos frescos e variados
comida fresca é mais cara, cozinhar não é tão fácil atualmente
Leite é fundamental para a saúde Leite é perigoso para a saúde.
Ovos contêm grande quantidade de colesterol. Tome cuidado com a
Ovos são uma boa fonte de proteínas e são baratos
salmonella
Peixe é bom para a saúde, devemos comer sempre Somente peixe de água fria, peixe livre, somente peixes gordinhos
Vinho é bom em quantidades moderadas Álcool é inimigo da saúde
Comer previne contra o câncer Comer promove (predispõe) ao câncer

1 Criado por Grazini dos Santos, J.T.


A quantidade de informações dis- Para Food Safety: 586.000.000 re- fatores que integram para manter o
poniveis, na web é enorme. Numa sultados (0,45 segundos) estado de saúde de indivíduos.
pesquisa rapida no moro de pesquisa Para Food Defense: 92.700.000 Por conseguinte, a maioria das
google, no dia 30 de outubro de 2015 resultados (0,31 segundos) informações e estratégias de comu-
encontramos: Para Food: 3.320.000.000 resulta- nicação falam das propriedades quí-
Para Alimento Seguro: 1.080.000 dos (0,47 segundos)  licas ou nutritivas dos alimentos e da
resultados (0,32 segundos)  Para Alimentos: 188.000.000 re- alimentação, tem-se quase ignorado
Para Higiene dos Alimentos: sultados (0,24 segundos) os determinantes sociais, culturais,
24.900.000 resultados (0,44 segun- Nos deparamos com um discur- geográficos, climáticos, econômicos,
dos) so que alimenta uma certa “utopia religiosos e políticos da alimenta-
Para Food Security: 312.000.000 alimentar”, da supervalorização do ção, bem como a importância da hi-
resultados (0,28 segundos)  alimento, em detrimento de outros giene que permeia a manipulação e

16
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

consumo de alimentos. Acaba sendo ciências exatas e não respondem de discurso emitido.
meio indelicado e quase antiético maneira constante a cálculos mate- A comunicação demanda empa-
anunciarmos os poderes quase má- máticos de aproximação, por exem- tia, humildade e generosidade, o
gicos de um goji-berry no Brasil, plo. que nem sempre é uma característi-
se os mesmos são caríssimos para a Por estes motivos descritos até ca dos “jalecos brancos”. Não que
maioria da população, não saciam os aqui é que profissionais técnicos e os mesmos devam fazer o papel dos
mais esfomeados, não contribuem especialistas devem se “apoderar” comunicadores, mas podem e de-
com a economia local e podem ser de preceitos básicos de informa- vem construir projetos de sensibi-
mal manipulados. ção e comunicação para que suas lização e treinamentos de maneira
Na área de alimentos o discurso informações e mensagens possam mais consciente.
prega também o que Baudouin Ju- ser audíveis, compreensíveis e de-
ardant define como Colonização codificadas pelo público ao qual REFERÊNCIAS
Científica da Ignorância, que seria se destinam. Não há informação
resumidamente e de maneira sim- nem comunicação única para todo
FISCHLER, C. La cacophonie diététique.
plista, o fato de subordinar o racio- e qualquer tipo de público, ela deve
Ce que manger veut dire (dossier).
cínio e reflexão do público leigo por ser segmentada. E aqui está outro
L’Ecole des Parents, França; Paris:
uma noção de legitimidade única e erro comum dos profissionais técni-
n°5/1995.
exclusiva das informações de cunho cos; costuma-se falar a mesma coisa
científico. Este discurso, pautado no e da mesma maneira com públicos JURDANT, B. A colonização científica da
cienticismo, tem deturpado o signi- distintos. Assim sendo a informação ignorância. Revista Líbero, - Centro
ficado de ciência junto ao público e/ou mensagem se tornam vãs. Universitário
leigo, comunicadores, especialistas, Faz-se necessário saber construir Cásper Líbero, São Paulo: 2006, IX:18,
técnicos e os próprios pesquisadores uma mensagem, saber transformá-la 87-91.
que têm supervalorizado os discurso em algo compreensível rapidamente GRAZINI DOS SANTOS, J. La science de
e resultados científicos sem quase pelo receptor que poderá responder la nutrition diffusée au grand public
considerar os limites e caracterís- ao emissor, o qual rebaterá a esta en France et au Brésil : Le cas de
ticas próprias da ciência que são resposta e enviará outra mensagem l’alimentation maternelle infantile.
as incertezas, constante evolução e e assim neste “bate e volta” se insta- Thèse de Doctorat en Information et
capacidade de refutação, lembrando la um processo de comunicação. Communication.
do filósofo científico Karl Popper. Profissionais técnicos e especia-
ECOLE DOCTORALE : Economies, es-
De uma certa maneira, a socie- listas muitas vezes esquecem que o
paces, sociétés, civilisation, pensée
dade espera que a ciência nos dê mais importante é quem vai receber
critique,
respostas afirmativas seguras e imu- a mensagem e, portanto, é impres-
táveis; o que é absurdo. As ciências cindível se preocupar com as carac- politique et pratiques sociales, Paris, 22,
biológicas, principalmente não são terísticas do receptor do que com o sept. 2008, 472 p. II volumes.

17
DESTAQUE
RESÍDUOS DE ANTIMICROBIANOS EM SALMÃO DO
ATLÂNTICO (Salmo salar L. 1758): ASPECTOS
ECONÔMICOS, AMBIENTAIS E SANITÁRIOS.
Léa Lemos Nogueira
Cesar Marquetti
Leandro Ribeiro
Faculdade da Saúde, Universidade Metodista de São Paulo, campus Planalto, São Bernardo do Campo - SP.
José Cezar Panetta
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, São Paulo - SP.
Lea.Lnogueira@hotmail.com

RESUMO risco tanto a saúde animal quanto afetar a produtividade da exploração


a humana, já que o homem pode se e, ao mesmo tempo, tornar o alimen-
A aquicultura é um setor da pro- contaminar por meio de resíduos das to não tão seguro para o consumidor.
dução animal que apresenta cresci- substâncias aplicadas, afetando tanto Conclui-se que, embora indispensá-
mento em grande escala e, como em sua saúde quanto a do meio ambien- veis para a produção animal, uma
todo sistema intensivo, nele também te. Ademais, a economia da produ- vez que evitam perdas pelo controle
é necessário o uso de medicamen- ção estará ameaçada, porquanto toda das bacterioses, os antimicrobianos
tos veterinários, como os antimi- a cadeia produtiva estará depreciada devem ser administrados de forma
crobianos. O uso indiscriminado em seu rendimento. O cultivo do responsável e seguindo um manual
ou em excesso, porém, pode levar salmão do Atlântico (Salmo salar L, de boas práticas, sob risco de, não
à ocorrência de inúmeras questões 1758) foi tomado como paradigma o fazendo, tornar a exploração eco-
de caráter sanitário, entre as quais a da situação descrita, sendo o Chile nomicamente inviável e, sobretudo,
possibilidade de seleção de estirpes o país produtor referenciado, já que comprometendo a saúde do consu-
bacterianas resistentes ao agente ori- ocupa o segundo lugar no ranking midor e do meio ambiente. Compete
ginariamente utilizado, o qual tem mundial dos produtores de salmoní- às autoridades sanitárias, especifi-
sua eficácia seriamente reduzida ou deos, tendo sua produção exportada camente ao Serviço de Inspeção Fe-
anulada e favorecendo, por essa ra- para muitos países e sendo o Brasil deral, do Ministério da Agricultura,
zão, uma série de bacterioses que um de seus importadores. Buscou-se Pecuária e Abastecimento, zelar para
podem afetar decisivamente a pro- neste trabalho, portanto, balizar os a correta aplicação de tais agentes e,
dução e a produtividade da explo- riscos representados pela utilização acima de tudo, controlar os seus resí-
ração aquícola. O uso incorreto dos incorreta dessas substâncias na pro- duos nos alimentos de origem animal
antimicrobianos, portanto, põe em dução desse salmonídeo, que podem produzidos.

18
Palavras-chave: Aquicultura. production, since they avoid losses é o caso dos anfenicóis e as sulfo-
Medicamentos Veterinários. for control of bacterial diseases, an- namidas, é uma prática bastante co-
Salmonídeo. Pescado. timicrobial should be administered mum para a exploração racional do
responsibly and following a manual pescado, a qual, todavia, exige cui-
ABSTRACT of good practices, at risk of not do- dados especiais, tendo em vista que
ing so, make the operation economi- sua utilização incorreta pode levar
Aquaculture is an animal produc- cally impractical and, especially, não só à ineficiência da aplicação,
tion sector showing growth on a compromising consumer health and mas também poderá ocasionar riscos
large scale and, as in all intensive the environment. It is up to health sanitários ao ambiente e ao homem,
system, it is also necessary to use authorities, specifically the Federal considerando-se os resíduos que es-
veterinary medicines, such as antibi- Inspection Service of the Ministry of sas substâncias podem deixar nos
otics. However, indiscriminate use or Agriculture, Livestock and Supply, produtos industrializados, elabora-
in excess, can lead to the occurrence to ensure correct application of such dos a partir das matérias-primas que
of numerous health character issues, agents and, above all, control their as receberam em excesso ou de forma
including the possibility of selection waste produced in the animal foods. inadequada. O estágio atual do co-
of bacterial strains resistant agent nhecimento sobre estas substâncias
Keywords: Aquaculture.
originally used, which has a seriously mostra, portanto, duas facetas indis-
Veterinary medicine. Salmonid. cutíveis: 1ª) elas são, até certo ponto,
reduced or canceled by opening and
efficacy for this reason, the doors to Fish. indispensáveis à produção racional
a number of bacterial diseases that de pescado, uma vez que previnem e/
can decisively affect the production INTRODUÇÃO ou combatem doenças que poderiam

A
and productivity of the aquaculture prejudicar e, mesmo, dizimar a pro-
farm. Therefore, the incorrect use of produção animal é uma dução e, 2ª) a sua utilização deve ser
antibiotics endangers both animal das atividades mais ex- conduzida sob os cuidados recomen-
health as human as the man may pressivas do agronegó- dados pela ciência e vistoriados pelas
be contaminated by residues of ap- cio brasileiro, o qual tem autoridades competentes, de maneira
plied substances, affecting both your mostrado especial vocação para a a reduzir os riscos que podem advir
health as the environment. Moreover, aquicultura. Nesse contexto, o pes- de sua aplicação incorreta.
the economics of production will be cado assume papel preponderante, O cultivo do salmão do Atlântico
threatened, because the entire pro- tanto pelas suas qualidades nutricio- (Salmo salar L, 1758) foi tomado
duction chain will be depreciated in nais, como fonte de proteínas, lipíde- como paradigma da situação descri-
their income. The Atlantic salmon os e componentes bioativos, quanto ta, sendo o Chile o país produtor re-
farming (Salmo salar L, 1758) was pelo que representa economicamente ferenciado, já que ocupa o segundo
taken as a paradigm of this situation, para a produção animal e aporte de lugar no ranking mundial dos produ-
with Chile the producing country riqueza. E, entre o pescado, a explo- tores de salmonídeos, tendo sua pro-
referenced, as it ranks second in the ração racional de peixes tem cresci- dução exportada para muitos países
world ranking of producers of salm- do substancialmente no Brasil, não e sendo o Brasil um de seus impor-
on, with production exported to many só pelo interesse demonstrado pelos tadores. Com o aumento da frequên-
countries and being Brazil one of its investidores, mas, sobretudo, pela cia da utilização de medicamentos na
importers. We sought in this work, so evolução técnica conquistada pelos produção animal (antibióticos, por
mark out the risks of improper use of produtores, que têm grande aptidão a exemplo), foram estabelecidos pro-
these substances in the production absorver e aplicar as novas tecnolo- gramas e normas para fiscalização
of this charr, which can affect the gias (REGITANO; LEAL, 2010). dos níveis de substâncias que causam
productivity of the farm and at the A fim de assegurar a produtivi- danos à saúde (SANTOS, 2009).
same time make the food not as safe dade e a competitividade do setor, a Nesta investigação, apoiada no
for the consumer. We conclude that, utilização de medicamentos com fins estudo crítico da bibliografia mais
although indispensable for animal terapêuticos e/ou profiláticos, como recente sobre o conhecimento dos

19
DESTAQUE
resíduos de antimicrobianos utiliza- Resíduos e Contaminantes (PNCRC) os animais estão sujeitos a condições
dos na exploração racionalizada do é uma ferramenta de suma impor- de estresse, como por exemplo, mu-
salmão do Atlântico (Salmo salar L., tância do Ministério da Agricultura, danças na dieta, transporte, entre ou-
1758), buscou-se balizar os riscos re- Pecuária e Abastecimento (MAPA), tros (PASCHOAL, 2007).
presentados pela utilização incorreta que busca gerenciar o risco da utili- O clorafenicol é altamente eficaz
dessas substâncias, representados zação de substâncias defensivas no em tratamentos, porém é uma droga
pelo comprometimento da produtivi- setor de produção animal (BRASIL, extremamente tóxica e por essa, o
dade da cadeia e, ainda, pela ameaça 2010). Ministério da Agricultura, Pecuária
à saúde do consumidor, condições Sua utilização tem contribuído e Abastecimento (MAPA), através da
negativas que levam invariavelmente diretamente para dimensionar a po- Instrução Normativa n°9 de 27 de ju-
à perda de valor econômico de todo luição da água por antimicrobianos, nho de 2003, proibiu a sua utilização
o sistema de produção. Buscou-se, os quais afetam peixes selvagens e as para esse fim determinado (BRASIL
ainda, avaliar os riscos ambientais explorações em geral destinadas ao 2003).
representados pelos resíduos dessas consumo humano. É preocupante o Pesquisa realizada pelo Servicio
substâncias, como também a eficiên- fato de que várias experimentações Nacional de Pesca y Acuicultura
cia do controle governamental exis- têm demonstrado o acúmulo des- (Sernapesca) do Chile, identificou
tente no Brasil para monitorar tais ses resíduos no músculo de animais que o Salmão do Atlântico represen-
resíduos, já que, embora seja funda- aquáticos, silvestres ou oriundos de ta 70% na participação do percentu-
mental o autocontrole das empresas, produção racional. Busca-se, assim, al de consumo de antimicrobianos,
é do Governo a responsabilidade fi- o ponto de equilíbrio, ou seja, o uso ocupando o segundo lugar, a Truta
nal por essa atribuição. racional dessas substâncias, de tal Arco Iris com 18% (CHILE, 2014).
sorte a evitarem o aparecimento de
Utilização de antimicrobianos na doenças que possam ameaçar as cria- Resíduos de antimicrobianos em
exploração animal. ções, mas com a garantia de que a alimentos.
O avanço da exploração racional saúde do consumidor não seja amea- No Chile, como em outros países,
de organismos aquáticos compre- çada por eventuais contaminações de a produção é realizada em caixas de
ende, todavia, a aplicação de tecno- resíduos de tais substâncias (MALA- aquicultura e gaiolas, que são cerca-
logias que permitam o aumento da VOTA, 2008). das por vários ambientes aquáticos,
produtividade das criações e, entre e pesca de diferentes espécies de
elas, situa-se a utilização de substân- Antimicrobianos na aquicultura. crustáceos e peixes selvagens para
cias antimicrobianas, as quais usadas Antimicrobianos são substâncias consumo humano, sendo que eles se
preventiva ou curativamente, respon- de caráter químico ou biológico ca- alimentam de restos de comida para
dem por grande parte da lucrativida- pazes de inibir a multiplicação mi- peixes em viveiros e fezes que se
de das ações. Encontram-se entre crobiana. Entretanto, em produções acumulam nas jaulas e gaiolas. Dessa
estas substâncias alguns antibióticos, racionais de peixes, o uso de antimi- forma, diferentes espécies selvagens
cujas propriedades são essenciais crobianos pode levar ao aparecimen- podem estar expostas involuntaria-
para levar a bom termo a produção, to de estirpes resistentes de micro- mente a antimicrobianos (COYNE;
particularmente de peixes e, entre es- -organismos saprófitas, reduzindo a HINEY; SMITH, 1997).
tes, o chamado salmão do Atlântico, produtividade das criações e, mesmo, Existem diversos motivos para a
cujo nome científico é Salmo salar de micro-organismos patogênicos, análise dos resíduos de medicamen-
e cuja descrição se deve a Linnaeus, ameaçando a saúde pública. Estão tos veterinários, dentre os quais: sua
em 1758. O desenvolvimento da entre os antimicrobianos licenciados utilização irregular, não observação
aquicultura no Chile tem sido carac- para uso em peixes: oxitetraciclina, de período de carência e rótulos;
terizado por significativa utilização ácido oxolínico, flumequina, amoxi- resistência a antibióticos; nível de
de antimicrobianos (FORTT; BUS- cilina, florfenicol. O uso dessas subs- toxicidade além de alergias e pro-
CHMANN, 2007). tâncias com a finalidade profilática é blemas endócrinos, efeitos mutagê-
O Plano Nacional de Controle de bastante comum em períodos em que nicos e carcinogênicos. Os níveis de

20
resíduos acumulados nos tecidos do que cultiva Salmão do Atlântico. Esta embora, o estudo relate e enfatize
animal dependem do período entre amostra incluiu 13 peixes, dentre que a fauna silvestre, ao redor dos
a administração do medicamento e eles Eleginips maclorieus (Robalo), recintos, é contaminada com medica-
o abate do animal (SOUZA; LAGE; Sebastes capensis (Cabrilla) e On- mentos administrados na aquicultura
PRADO, 2013). corhychus mykiss (Truta-arco-iris), (FORTT; BUSCHMANN, 2007).
A Noruega eliminou a utiliza- a pesca foi efetuada a 30 metros das
ção de antimicrobianos como forma jaulas de cultivo, utilizando ração de Programa de controle de resíduos
profilática, o uso em peixes somen- salmão sem antibióticos. Os mesmos e contaminantes em pescado.
te pode ser obtido com prescrição foram abatidos imediatamente a bor- O PNCRC (Plano Nacional de
veterinária. Em 2014, apenas onze do na embarcação, conservados em Controle de Resíduos e Contami-
receitas foram usadas durante a en- gelo e encaminhados ao laboratório nantes) tem como objetivo garantir a
gorda do salmão, ou seja, apenas 1% de análises, em Puerto Varas, onde segurança e integridade do pescado,
dos cerca de 1.000 locais de produ- foram analisados por cromatografia em relação à contaminação por resí-
ção que operam na água do mar fo- líquida de alta eficácia a fim de de- duos, oriundos da aplicação de agro-
ram sujeitos a tratamentos (AQUA, tectar a presença de antimicrobianos químicos, drogas veterinárias e con-
2016). e antiparasitários, compostos comu- taminantes ambientais. São colhidas
Estudos realizados pelo Institu- mente administrados na aquicultura amostras de pescado, espécies que
to de Farmácia da Univesidad Aus- chilena. Os resultados não identifi- são destinadas ao consumo humano,
tral de Chile detectaram resíduos de caram presença de antiparasitários, manipuladas em Estabelecimentos
antimicrobianos, ácido oxolínico e porém, detectaram-se resíduos de sob Inspeção Federal, o SIF (BRA-
flumequina, em salmão de supermer- antimicrobianos. Os níveis apresen- SIL, 2010). Para a implementação
cados e cidades comerciais do Sul tados de tetraciclina e quinolonas são do programa, foram considerados
(SOMMER, 2008). menores que os LMR (Limites Má- aspectos como, condições e seu ha-
Em novembro de 2005 no Chile, ximos de Resíduos) tolerados pelo bitat, espécies predadoras, hábitos de
realizou-se uma pesquisa na cidade Codex Alimentarius, sendo o primei- consumo (mercado interno) e expres-
Cochamó, ao redor de um recinto ro 200ppb e 500ppb para o segundo, sividade (potencial de exportações)

Gráfico 1 - Consumo relativo de antimicrobianos nas distintas Gráfico 2 - Principais antimicrobianos utilizados para controle
espécies salmonídeas. de enfermidades bacterianas.

Fonte: (Manual de Buenas Prácticas en el uso de Antimicrobianos y Antiparasitarios em la Salmonicultura Chilena, 2014).

21
DESTAQUE
(BRASIL, 1999). resíduos produzidos pelo seu uso in- sob risco de, não o fazendo, tornar a
A Faculdade de Ciências Veteri- discriminado e, evitando assim, pro- exploração economicamente inviá-
nárias y Pecuarias da Universidad de blemas futuros para a produção, ani- vel e, sobretudo, comprometendo a
Chile elaborou um manual de boas mais selvagens, para saúde pública e, saúde do consumidor e do meio am-
práticas para o uso de antimicrobia- até mesmo, para o meio ambiente. biente. Compete às autoridades sa-
nos e antiparasitários, que analisa A resistência antimicrobiana de- nitárias, especificamente ao Serviço
as informações sobre a utilização rivada da utilização de medicamen- de Inspeção Federal, do Ministério
desses medicamentos na produção tos se torna risco de saúde pública da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
de salmonídeos em nível nacional global, podendo aumentar a proba- mento, zelar para a correta aplicação
(MARTIN, GALLARDO, MEDI- bilidade da difusão de genes resis- de tais agentes e, acima de tudo, con-
NA, 2014). tentes. Na produção de Salmão do trolar os seus resíduos nos alimentos
No gráfico 1 aponta-se o consu- Atlântico, no Chile, a administração de origem animal produzidos.
mo relativo de antimicrobianos des- de antibióticos está incoerente, cabe
de 2010 a 2013, durante esse perí- às autoridades governamentais ana-
odo, foi possível observar que para lisar rigorosamente o LMR (Limites REFERÊNCIAS
a Truta-arco-iris houve diminuição Máximos de Resíduos) de todos os
no consumo dos fármacos e que o produtores, podendo ser fundamen- AQUA. Aquicultura + Pesca. Noruega
Salmão do Atlântico aumentou para tados em boas práticas no uso de me- reduce al mínimo el uso de antibi-
70% no ano de 2013. No gráfico 2 dicamentos e impedir que produtos óticos en el salmón. Publicado em
apresenta-se o percentual dos anti- importados com altas concentrações janeiro de 2016, Chile. Disponível
microbianos utilizados nas diferen- de antimicrobianos cheguem ao con- em: http://www.aqua.cl/2016/01/06/
tes espécies salmonídeas cultivadas sumidor, buscando, assim, o ponto noruega-sigue-reduciendo-el-uso-
nos anos 2010-2013, relatando que de equilíbrio, ou seja, o uso racional -de-antibioticos-en-su-industria-del-
os medicamentos de maior aplicação dessas substâncias. -salmon/ Acesso em novembro de
foram florafenicol e oxitetraciclina. O uso responsável dos medica- 2016.
O estudo alerta que a administração mentos protege a saúde e bem-estar BRASIL. Ministério da Agricultura, Pe-
de antibióticos na produção de Sal- animal, evita a seleção e dissemina- cuária e Abastecimento. Instrução
mão do Atlântico no Chile é crescen- ção de bactérias resistentes, promo- Normativa, n°9 de 27 de junho de
te, podendo acarretar sérios riscos ve a produção de produtos inócuos 2003. Brasília – DF.
ao meio ambiente, saúde animal e para o consumo humano e protege
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pe-
humana. o meio ambiente aquático, evitando
cuária e Abastecimento. Instrução
que se torne reservatório de bactérias
Normativa, n°42, de dezembro de
resistentes ou que infectem humanos 1999. Brasília – DF.
CONSIDERAÇÕES FINAIS e animais. A administração consti-
tui, na prática, uma decisão clínica BRASIL. Ministério da Agricultura, Pe-
e deve ser baseada na competência cuária e Abastecimento de Defesa
A administração de medicamentos
e experiência do Médico Veterinário Agropecuária. Manual de coleta de
veterinários na produção animal é
amostras do PNCRC/MAPA. 2010,
indispensável para prevenir grandes que, após o diagnóstico da afecção,
Brasília – DF.
perdas econômicas, principalmente indicará a terapia adequada, com a
com objetivos de controlar doenças utilização de medicamentos autori- BRASIL. Ministério da Agricultura, Pe-
bacterianas de grande importância zados pelas autoridades reguladoras. cuária e Abastecimento. Programa
sanitária para a produção de pescado. Embora indispensáveis para a pro- nacional de controle de resíduos e
dução animal, uma vez que evitam contaminantes. Maio de 2010, Bra-
Os antimicrobianos devem ser admi-
perdas pelo controle das bacterioses, sília – DF.
nistrados sob forma responsável e
prudente, sendo de suma importância os antimicrobianos devem ser admi- CHILE. SERNAPESCA. Informe sobre o
a implantação de manuais de boas nistrados de forma responsável e se- uso de antimicrobianos en La sal-
práticas que auxiliem no controle dos guindo um manual de boas práticas, monicultura nacional 2013. Abril de

22
2014, Valparaíso – Chile. Janeiro; 2008. SANTOS, PN. Validação de metodologias
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Federal Fluminense. Niterói, Rio de Rev Bras da Ciência do Solo, 2010 de 2015.

23
ARTIGO

COMPOSIÇÃO NUTRICIONAL DE
ABSTRACT

Restaurante Popular (RP) should


provide its users with nutritionally

CARDÁPIO EM RESTAURANTE
balanced meals, with varied menus,
containing regional products and
good hygiene and sanitary quality.
The present article had as objective

POPULAR DE CAMPOS GERAIS, PR.


to evaluate the nutritional composi-
tion of the menu of Campos Gerais
- RP - Paraná. As a methodology,
the average weekly supply of macro-
nutrients (carbohydrates, total fats,
saturated fats and proteins), mi-
Sunáli Batistel Szczerepa * cronutrients (vitamin C, vitamin A,
Faculdades Ponta Grossa. Departamento de Nutrição. Ponta Grossa - PR. iron, sodium and fiber), Total Ener-
Natasha Pamella Scariotte Volski gy Value (TEV) and NdpCal% were
calculated. Both the menu planned
Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais. Departamento de Nutrição. for the month of March of 2013 and
Ponta Grossa - PR. the per capita values of foods lined
* sunalinha@yahoo.com up for consumption were used in the
analysis. For comparison purposes,
the reference values of the Worker's
Diet Program and the Dietary Ref-
RESUMO erence Intakes were considered.
As main results it was possible to
O restaurante popular (RP) deve assegurar aos seus usuários refeições nu- notice that the menu was not ad-
tricionalmente balanceadas, com cardápios variados, contendo produtos re- equate in the calories (average of
gionais e de boa qualidade higienicossanitária. O presente artigo teve como 507,24Kcal) and carbohydrates (av-
objetivo avaliar a composição nutricional do cardápio do RP dos Campos erage of 52,15%), since they were
Gerais-Paraná. Como metodologia foi calculada a média de oferta semanal below the recommended one. On
de macronutrientes (carboidratos, gorduras totais, gorduras saturadas e pro- the other hand, proteins (average of
teínas), micronutrientes (vitamina C, vitamina A, ferro, sódio e fibras), Valor 25.88%) and NdpCal% (average of
Energético Total (VET) e NdpCal%. Foi utilizado, na análise, o cardápio pla- 15.46%) were above the reference
nejado para o mês de março de 2013 e os valores de per capitas de alimen- values. The saturated fat (average
tos já prontos para consumo. Para fins de comparação foram considerados of 4.21%) was within the limit, as
os valores de referência do Programa de Alimentação do Trabalhador e as well as the value of fibers (average
Dietary Reference Intakes. Como principais resultados foi possível observar of 7.99g). Regarding micronutri-
que o cardápio não estava adequado nas calorias (média de 507,24Kcal) e ents, sodium (average of 193.57mg)
carboidratos (média de 52,15%), pois ficaram abaixo do recomendado. Já far exceeded the recommendation.
proteínas (média de 25,88%) e NdpCal% (média de 15,46%) estavam acima Iron (average of 4.08mg), vitamin A
dos valores de referência. A gordura saturada (média de 4,21%) ficou dentro (average of 570.41μg) and vitamin
do limite, assim como o valor de fibras (média de 7,99g). Em relação aos C (average of 32.31mg) although
micronutrientes, o sódio (média de 193,57mg) ultrapassou muito a recomen- having not reached the recommen-
dação. Já o ferro (média de 4,08mg), vitamina A (média de 570,41µg) e vita- dation, they were close to those sug-
mina C (média de 32,31mg), embora não tenham atingido a recomendação, gested. It is necessary to correct the
ficaram com valores próximos aos sugeridos. É necessário corrigir os pontos inappropriate points of the menu, to
inadequados do cardápio, devendo assim o nutricionista fiscalizar e adequar make that possible the nutritionist
o mesmo, para garantir a segurança alimentar e nutricional dos usuários. must supervise and adapt it, in or-
Palavras-chave: Macronutrientes. Micronutrientes. Segurança Alimentar e der to guarantee the food and nutri-
Nutricional. tional security of the users.

24
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Keywords: Macronutrients. Lakatos (2007). calculada a média mensal de cada


Micronutrients. Food and O estudo consistiu na análise da um dos nutrientes avaliados. Estes
nutrition security. composição nutricional do cardápio valores foram expressos em gráficos
planejado para o almoço de um mês para facilitar a visualização dos re-
INTRODUÇÃO do RP, sendo escolhido, aleatoria- sultados.
mente, o do mês de março de 2013,

O
com 31 dias. O cardápio continha RESULTADOS E DISCUSSÃO
s Restaurantes Popula-
basicamente na constituição: 1 pra-
res (RP) são unidades de
to base (arroz/feijão), 1 guarnição, 1 Com relação aos resultados refe-
alimentação e nutrição,
prato proteico, 1 salada e 1 sobreme- rentes à análise do VET, na Figura 1
geridas pelo poder pú-
sa. apresentam-se os valores semanais,
blico local, que tem como princípio
A partir do cardápio e dos per ca- assim como a média do mês analisa-
básico a produção e a distribuição de pitas dos alimentos já prontos para do.Lis
refeições saudáveis a preços acessí- consumo foram calculados os macro- Conforme mostra a Figura 1 ne-
veis para a população em situação de nutrientes (carboidratos, gorduras to- nhuma das semanas analisadas atin-
insegurança alimentar e nutricional tais, gorduras saturadas e proteínas), giu os valores de recomendação para
(BRASIL, 2008). micronutrientes (vitamina C, vita- o VET, de acordo com os valores de
Gonçalves, Campos e Sarti (2011) mina A, ferro, sódio e fibras), Valor referência do PAT (BRASIL, 2006).
salientam que os RP devem assegu- Energético Total (VET) e NdpCal%. A semana que mais se aproximou foi
rar e fornecer refeições balanceadas Para fins de comparação dos va- a semana 2 com 580,02kcal, porém,
nutricionalmente, com cardápios va- lores encontrados foram utilizadas as três das cinco semanas ficaram com
riados, contendo produtos regionais, referências do Programa de Alimen- valores abaixo de 500kcal. A média
servidas em locais adequados, con- tação do Trabalhador (PAT) (BRA- mensal encontrada também foi muito
fortáveis e capazes de agregar digni- SIL, 2006) e as recomendações das baixa, de apenas 507,02kcal.
dade ao ato de se alimentar. Dietary Reference Intakes (DRIs) Brasil (2008) cita que 70% dos
Segundo dados de Brasil (2011), (IOM, 2001), sendo que os valores usuários dos RP do Brasil são ho-
existem no Brasil 89 RP, unidades de referência escolhidos nas DRIs mens, de até 35 anos de idade, na
de alimentação onde são preparadas foram baseados no perfil dos usuá- sua maioria trabalhadores formais ou
em média 122 mil refeições por dia. rios do RP, que inclui em sua maioria informais, sendo que 39% vão dia-
O RP dos Campos Gerais-Paraná foi homens, de 25 a 35 anos, segundo o riamente ao RP. Com este perfil de
inaugurado em outubro de 2012 e Ministério do Desenvolvimento So- usuário assíduo, é notória a necessi-
atualmente está em funcionamento, cial e Combate a Fome (BRASIL, dade do cardápio estar adequado em
sendo administrado pela prefeitura 2008). calorias, atingindo a recomendação
da cidade, servindo em média 1200 Além disso, como as DRIs (IOM, que preconiza o PAT.
refeições no almoço e 500 no jantar. 2001) se referem à ingestão diária e No que concerne à avaliação de
O objetivo deste trabalho foi ava- no estudo foi avaliado apenas a ofer- carboidratos, proteínas e lipídios, os
liar a composição nutricional do ta de alimentos do almoço, foi consi- resultados podem ser verificados na
cardápio do RP, a fim de verificar derada adequada a ingestão, quando Figura 2.
se atende aos padrões de referência a mesma atingiu 40% da recomenda- Avaliando primeiramente os car-
que são as recomendações do Pro- ção diária nesta refeição, sendo: vita- boidratos, quatro das cinco semanas
grama de Alimentação do Trabalha- mina A (360µg), vitamina C (36 mg) analisadas, como visto na Figura 2,
dor (PAT) e das Dietary Reference e ferro (3,2 mg). não atingiram a recomendação do
Intakes (DRIs). Para avaliar o NdpCal% (valor PAT e a média mensal encontrada
percentual do VET de uma refeição foi 52,15%. Considerando que este
MATERIAL E MÉTODOS na forma de proteína utilizável) foi nutriente é fonte de energia para o
seguida a metodologia descrita por organismo, o baixo consumo de car-
A presente pesquisa se classifi- Ornelas (2007). boidratos pode ocasionar fadiga ex-
ca, quanto aos objetivos, como des- Após o cálculo dos nutrientes do cessiva, hipoglicemia e cetose, além
critiva; quanto aos procedimentos almoço de cada um dos 31 dias ava- de esgotar rapidamente as reservas
técnicos como pesquisa documental liados, foi efetuada a média semanal de glicogênio nos músculos (CALA-
e quanto à abordagem como quan- dos resultados obtidos, sendo expres- BRESE; NAVARRO; LIBERALE,
titativa, de acordo com Marconi e sos em cinco semanas. Também foi 2012).

25
ARTIGO

Figura 1 – Média semanal e mensal do VET (Kcal) do cardápio do almoço do RP dos Campos Gerais-Paraná.

Figura 2 – Média semanal e mensal de carboidratos, proteínas e lipídios do cardápio do almoço do RP dos Campos Gerais-Paraná.

Já com relação às proteínas, todas cardápio analisado todas as semanas carne de panela e sobrecoxa com
as semanas excederam a recomenda- ultrapassaram a recomendação. A pele e como guarnição macarrão alho
ção do PAT e a média mensal encon- justificativa para este valor elevado e óleo, os quais contribuíram para
trada também (25,88%). É importan- de NdpCal% é devido ao fato de que um per capita elevado de lipídios.
te salientar que elevado consumo de os per capitas das carnes são eleva- Como recomendação principal
proteínas pode aumentar o risco de dos (125 a 150g pronto para consu- para diminuir a quantidade de gor-
osteoporose e problemas renais, são mo) assim como arroz e feijão que dura do cardápio, sugere-se adequar
sendo, portanto, adequado (VANIN são servidos livres. pratos proteicos mais gordurosos
et al., 2007). Já para lipídios, duas semanas ex- com guarnições contendo menos
Além dos valores de proteínas, foi cederam as recomendações do PAT, gordura. Outra recomendação se-
avaliado também o NdpCal% que fi- porém a média mensal ficou adequa- ria diminuir a frequência de carnes
cou com média mensal de 15,46%. da (23,96). Nas semanas que exce- gordurosas, pois na mesma semana
O NdpCal% recomendado pelo PAT deram a recomendação o cardápio havia pelo menos duas carnes ricas
é de 6 a 10% do total das princi- continha costela bovina ao molho em gordura (sobrecoxa com pele e
pais refeições (BRASIL, 2006). No e outras carnes com gordura, como costela bovina).

26
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Figura 3 – Média semanal e mensal de sódio (mg) e vitamina A (µg) do cardápio do almoço do RP dos Campos Gerais-Paraná.

Figura 4 – Média semanal e mensal de vitamina C (mg), ferro (mg) e fibras (g) do almoço do RP dos Campos Gerais-Paraná.

Também foi avaliado no presente positivo pois, segundo Santos et al. todas as semanas ultrapassaram a
estudo os valores de gordura satura- (2013), o consumo excessivo deste recomendação de sódio de acordo
da presentes no cardápio planejado, tipo de gordura está relacionado à com o padrão estabelecido pelo PAT,
conforme per capitas dos alimentos elevação do colesterol plasmático e algumas inclusive dobraram os valo-
já prontos para consumo, sendo o va- aumento do risco de doenças cardio- res de recomendação. A justificativa
lor mensal médio de 4,21%, ficando vasculares. Além disso, o excesso de para estes valores encontrados é de-
dentro do limite estabelecido pelo gordura saturada é um fator de risco vido ao uso diário de caldos indus-
PAT, que é de 10-15% (BRASIL, para o desenvolvimento da resistên- trializados e amaciante de carne nas
2006). Este fato deve-se ao RP não cia à insulina e hipertensão arterial. preparações. Assim, sugere-se o uso
servir alimentos fritos, diminuindo, Por sua vez, na Figura 3 estão pre- de mais temperos naturais, como sal-
assim, a ingestão de gordura satura- sentes os resultados de sódio e vita- sinha, cebolinha, cebola e alho e cal-
da. mina A encontrados após análise do dos caseiros, que não irão conter sal
O fato do consumo de gordura cardápio planejado. adicionado.
saturada ser baixo é um resultado Como verifica-se na Figura 3 Em uma pesquisa realizada por

27
ARTIGO
Cruz (2012), sobre o perfil de usu- todos os dias ofereçam-se somente município ocorre por meio de pro-
ário do RP, a doença mais frequente frutas como sobremesa e não inter- cesso licitatório, onde fornecedores
entre os mesmos foi a hipertensão caladas com doces, como ocorreu no e atravessadores trazem produtos de
arterial (49,1%). Também Ferreira mês avaliado. Além da tangerina, ve- fora do município. Assim o cardápio
et al. (2009) realizaram uma pes- rificada no cardápio, poderia ser ofe- não conta com produtos regionais e
quisa com trabalhadores atendidos recida laranja como sobremesa, pois de produtores locais, o que devia ser
pelo PAT nas capitais dos 26 estados no mês de março esta fruta também uma premissa do programa.
brasileiros e verificaram que a pre- está na época.
valência geral de hipertensão arterial Com relação ao ferro, apenas uma CONCLUSÃO
foi de aproximadamente 30%, sendo semana não atingiu a recomendação,
que em trabalhadores do sexo mas- porém ficando próxima à sugerida Com a realização deste estudo foi
culino a mesma foi cerca de duas ve- pelas DRIs. A falta de ferro pode possível verificar que a alimentação
zes maior que em mulheres. causar anemia. Esta doença é con- oferecida pelo RP dos Campos Ge-
Com relação à vitamina A, em siderada um problema de saúde pú- rais não está adequada às necessida-
três semanas os valores encontrados blica nos países em desenvolvimento des nutricionais do público alvo, pois
ultrapassaram a recomendação su- e também nos países desenvolvidos, alguns nutrientes estão sendo oferta-
gerida pelas DRIs. Nas demais não pois causa fraqueza, baixo desenvol- dos em quantidade maior e outros em
se atingiu o recomendado, provavel- vimento no trabalho, palidez, pele e quantidade menor que a necessária,
mente porque as guarnições não con- mucosa, apatia e fadiga. segundo as recomendações do PAT e
tinham alimentos que fossem boas Por fim, no tocante às fibras, em das DRIs.
fontes desta vitamina (vegetais ala- duas semanas os valores ultrapassa- Assim, é necessário corrigir os
ranjados como cenoura e abóbora). ram a recomendação do PAT e nas pontos inadequados do cardápio,
O consumo adequado de vitamina demais ficaram próximos ao estabe- devendo o profissional nutricionista
A é importante pois, dentre as defici- lecido. A justificativa para tal achado fiscalizar e adequar o mesmo, para
ências nutricionais de maior impor- foi que em todos os dias foram servi- garantir a segurança alimentar e nu-
tância epidemiológica no Brasil, está dos repolho, tangerina e guarnições a tricional dos usuários.
a de vitamina A que, ainda hoje as- base de legumes refogados ou farofa
sume graves proporções no contexto de talos. Estes vegetais são boas fon- REFERÊNCIAS
da saúde pública. A deficiência pro- tes de fibra alimentar.
longada dessa vitamina causa altera- As fibras são importantes para o
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento
ções no revestimento ocular, levando organismo, pois são responsáveis
Social e Combate à Fome. Governo
a um quadro de cegueira irreversível pelo aumento da viscosidade do con-
disponibiliza R$ 36,9 milhões para
(MARTINS et al., 2007). Assim, a teúdo intestinal e redução do coleste-
instalação de restaurantes popu-
justificativa para o consumo adequa- rol plasmático, aumentam o volume
lares. 2011. Disponível em <www.
do de vitamina A no cardápio diário do bolo fecal, reduzem o tempo de
brasil.gov.br/governo/2011/01/go-
do RP, se dá para que os usuários não trânsito no intestino grosso e tornam
verno-disponibiliza-r-36-9-milhoes-
tenham doenças oculares e para que a eliminação fecal mais fácil e rápida
-para-instalacao-de-restaurantes-
as funções imunes fiquem em seu es- (MATTOS; MARTINS, 2000). As-
-populares-em-2011>. Acesso em 13
tado normal. sim, regularizam o funcionamento
jan. 2016.
Por fim, na Figura 4 podem-se ob- intestinal, o que as tornam relevantes
servar os resultados obtidos para fer- para o bem-estar das pessoas e para BRASIL. Ministério do Desenvolvimen-
ro, vitamina C e fibras. o tratamento dietético de várias pa- to Social e Combate à Fome. Iden-
No cardápio analisado, em nenhu- tologias. tificação de perfil e avaliação dos
ma das semanas atingiu-se a reco- Outra consideração importante usuários de restaurantes populares.
mendação das DRIs para a vitamina a respeito do cardápio do RP é que, Centro de Estudos de Opinião Públi-
C, porém os valores ficaram muito além de refeições nutricionalmente ca. Fundação de Desenvolvimento da
próximos aos sugeridos. Este fato equilibradas e com preço acessível, o Unicamp. Secretaria de Avaliação e
pode ser justificado devido à presen- RP também deve servir alimentos va- Gestão da Informação. Brasília, 2008.
ça de frutas cítricas (tangerina) no riados e contendo produtos regionais BRASIL. Ministério do Trabalho e Empre-
cardápio em quase todos os dias. (GONÇALVES; CAMPOS; SAR- go. Portaria Interministerial nº 66, de
A sugestão para atingir o reco- TI, 2011). No entanto a compra de 25 de agosto de 2006. Altera os pa-
mendado de vitamina C é que em alimentos (hortifrutis) para o RP do râmetros nutricionais do Programa

28
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

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PÃO DE AÇÚCAR ANUNCIA COMERCIALIZAÇÃO DE LEGUMES ESCOVADOS.

Para reafirmar o compromisso com a sustentabilidade, o Pão de Açúcar passa


a comercializar legumes escovados em todas as 130 lojas do estado de São Pau-
lo. Mandioquinhas, batatas e cenouras escovadas já podem ser encontradas nas
bancadas. O produto elimina o processo de lavagem tradicional feito pelo produtor
e economizando mais de mil litros por dia. Apenas com a escolvação é possível
economizar as seguintes quantidades de água: batata - de 0,8 a 2 litros de água,
cenoura - de 0,8 a 1 litro por quilo e mandioquinha - de 10 a 12 litros por quilo.
Com aparência mais rústica, os legumes escovados são identificados no ponto
de venda e acompanhados de comunicação que revelam a economia de água por
quilo de produto, o ganho durabilidade com o novo processo e o preço mais baixo,
em torno de 15% menor se comparado ao produto tradicional.
Os alimentos escovados também duram mais. A batata, por exemplo, se mantém
própria para o consumo por até 30 dias se apenas escovada, cerca de quatro vezes
mais do que lavada, com durabilidade de cerca de sete dias. De acordo com Laura
Pires, Diretora de Sustentabilidade Corporativa do GPA (controlador do Pão de
Açúcar), ao aderir aos escovados, a rede supermercadista multiplica os benefícios
ao Meio Ambiente e ao consumidor. (ABBA, fev/2017)

29
ARTIGO

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO
Palavras-chave: Alimento.
Produtos para fins especiais.
Consumidores. Informação.

SOBRE PRODUTOS DIET E


ABSTRACT

The search for an alternative su-


pply is undoubtedly a reality today

LIGHT POR FUNCIONÁRIOS


and with it the growth of consump-
tion of diet and light foods is expe-
riencing a significant increase. The
objective of the present study was to

E UNIVERSITÁRIOS DE
verify the knowledge about diet and
light products among employees and
university students of a private ins-
titution of higher education in São

INSTITUIÇÃO DE ENSINO
José, SC. The research used a cross-
-sectional design with exploratory
descriptive and the sample consis-
ted of 363 individuals of both sexes,
applied in the first half of 2016. As

SUPERIOR. collection instrument was adop-


ted a questionnaire with structured,
addressing socioeconomic and beha-
vioral variables. The results indicate
Simone Kloppel Lohn * that most are female, 60.60% said
Melissa Watzko Eskelsen they consume diet products and light
and 39,40% did not consume and the
Roberta Juliano Ramos most cited reason for consumption
Centro Universitário Estácio de Santa Catarina, São José - SC was intended to be healthier. 66.12%
* simoneklohn@hotmail.com
of respondents reported knowing the
difference between diet and light, but
with answers to incorrect settings. Of
RESUMO the food consumed, there is the curd,
followed by cereal bar. We conclude
A busca por uma alimentação alternativa é, sem dúvida, uma realidade nos that, although most have claimed to
dias de hoje e com isso o consumo de alimentos diet e light vem sofrendo signi- know the difference between these
ficativo aumento. O objetivo do presente trabalho foi verificar o conhecimento products, many do not know the true
sobre os produtos diet e light, entre os funcionários e universitários de uma ins- definition, enabling wrong choices
tituição particular de ensino superior em São José/SC. A pesquisa utilizou um may reflect consumer health.
delineamento transversal com caráter descritivo exploratório e a amostra foi Keywords: Food. Dietary. Custo-
constituída por 363 indivíduos de ambos os sexos, aplicada no primeiro semes- mers. Information.
tre de 2016. Como instrumento de coleta foi adotado um questionário contendo
perguntas estruturadas, abordando variáveis socioeconômicas e comportamen-
tais. Os resultados indicam que a maioria é do sexo feminino; 60,6% afirmaram INTRODUÇÃO

E
consumir produtos diet e light e 39,4% não consumir e o motivo mais citado
para o consumo foi o intuito de ser mais saudável. Dos entrevistados 66,12% m 1969, surgiram no Brasil
relataram saber a diferença entre diet e light, porém com respostas a definições os primeiros alimentos diet e
incorretas. Dos alimentos mais consumidos, destaca-se o requeijão, seguido da light, destacando-se os produ-
barra de cereal. Conclui-se que, apesar da maioria ter afirmado saber a diferen- tos formulados a base de edul-
ça entre estes produtos, muitos não sabem a verdadeira definição, possibilitan- corantes. Os edulcorantes são substân-
do escolhas erradas que podem refletir na saúde do consumidor. cias artificiais ou naturais geralmente

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

centenas de vezes mais doces do que ou desejam perder os quilos extras. para ingestão controlada de açúcar,
o açúcar de cana ou de beterraba. Com a inclusão dos alimentos light não podem ter a inclusão desse nu-
Inicialmente estes produtos eram co- formou-se uma grande confusão triente, sendo permitida a existência
mercializados apenas em farmácias (ABIAD, 2011). do açúcar natural do alimento como,
que eram os únicos estabelecimentos Quando se trata de produtos diet ou por exemplo, o açúcar natural do
autorizados a comercializar o produ- light, é importante mostrar como os cacau. Os alimentos diet com restri-
to. Só a partir de 1988 a Agência Na- consumidores usualmente compre- ção de carboidratos, ou restrição de
cional de Vigilância Sanitária (AN- endem o tema. Investigações sobre gorduras, como iogurtes desnatados
VISA) passou a ser responsável pela o assunto revelam que os produtos com 0% de gordura, podem conter,
legislação destes produtos (BRASIL, diet são entendidos, prioritariamen- no máximo, a adição de 0,5g desses
2015a). te, como alimentos que não contêm nutrientes por 100g ou 100 mL do
Até o ano de 1987, a comerciali- açúcar, de baixa caloria, destinados a produto (BRASIL, 2015b).
zação só era autorizada para pessoas quem faz dieta para manter o peso. Já os alimentos light, são aqueles
que eram diagnosticadas com proble- Alimentos com baixo teor de gordura que possuem uma redução mínima
mas de saúde e que necessitavam de (light) estão associados ao combate de 25% em alguns de seus compo-
dietas especiais, como diminuição ou ao colesterol e relacionados a ques- nentes, seja nos açúcares, nas gordu-
restrição de alguns nutrientes. Já em tões de saúde. Além disso, a maioria ras totais, gorduras saturadas, sódio,
1988, os produtos diet e light foram das pessoas, escolarizadas ou não, colesterol total ou valor energético
autorizados pelo Ministério da Saúde têm mitos sobre os produtos diet e li- (HARA, 2003).
para serem comercializados nos su- ght, como, por exemplo, consideram De acordo com o Regulamento
permercados. Com isso, o consumo que o produto diet não engorda, que Técnico de Informação Nutricional
destes produtos apresentou um cres- todo produto light é igual e que todo Complementar (RDC54/2012), o
cimento significativo. No início de light é diet (THÈ et al., 2009). rótulo de um produto com alegação
1988, o Ministério da Saúde classi- Embora os alimentos diet e light light ou reduzido deve informar a
ficava os produtos diet e light como sejam cada vez mais populares, es- diferença em percentual, fração ou
sendo “alimentos para fins especiais” tes alimentos tem características ali- valor absoluto do valor energético ou
(HALL; LIMA FILHO, 2006). mentares diferentes em relação aos conteúdo dos nutrientes entre os ali-
Os alimentos para fins especiais alimentos convencionais (HARA, mentos comparados. Assim um pro-
são alimentos formulados, nos quais 2003). duto não pode ter somente a expres-
são modificados alguns nutrientes no Diet caracteriza alimentos que são light no seu rótulo. O rótulo deve
momento em que são processados, têm formulação especial para aten- apresentar o termo light seguido da
sendo indicados em dietas diferen- der pessoas com restrições dietéticas informação de quanto foi a redução
ciadas atendendo às necessidades especificas como diabetes, hiperten- e a qual nutriente a informação se re-
de pessoas em condições específicas são, alergias alimentares e não com fere. Ex.: light – 30% menos açúcar;
(HARA, 2003). a finalidade de baixo valor calórico. reduzido em sódio – 28% menos de
Sendo assim, foram criados os São produtos com a total ausência sódio (BRASIL, 2012).
primeiros produtos diet e light, sen- de um determinado ingrediente, por Contudo, essa redução deve ser
do que os diets foram desenvolvidos exemplo: açúcar, sal, glúten, que será observada com muita atenção. Os
com foco específico nos portadores substituído por outro, sendo produ- ingredientes têm alguma função no
de diabetes e, aos poucos, foram tos indicados para dietas por razões produto. Para continuar igual, pode
ganhando espaço nas prateleiras de de saúde. Isso não significa a redu- ser incorporado outro ingrediente.
farmácias, nos supermercados, tor- ção do valor calórico do alimento Por exemplo, alguns queijos e re-
nando o seu consumo aumentado de em questão (VIEIRA; CORNÈLIO, queijões light têm menos calorias
forma vertiginosa por uma parcela 2006). por reduzir gorduras, entretanto, para
cada vez maior da população (PO- Nesses casos podem ser incluídos manter a consistência aumenta-se o
POV; PALOMA, 2011). os alimentos indicados para as dietas sal, portanto, o produto não é indica-
Desde o início da comercializa- com restrição de nutrientes: carboi- do para hipertensos (VIEIRA; COR-
ção dos alimentos diet, a maioria dratos, gorduras, proteínas, sódio, os NÉLIO, 2006).
dos consumidores associou esses alimentos exclusivamente emprega- Apesar do crescimento no con-
produtos como sendo de baixo valor dos para controle de peso e os ali- sumo de alimentos diet e light no
calórico e, consequentemente, per- mentos para dieta de ingestão mode- Brasil, a população não está sufi-
mitido para as pessoas que precisam rada de açúcares. Portanto, alimentos cientemente esclarecida quanto ao

31
ARTIGO
significado destes termos. Na hora registrados, analisados, classifica- por meio de análise online na Pla-
da compra, muitos consumidores se dos e interpretados, permitindo as- taforma Brasil. Conforme número
confundem e não sabem diferenciar sim um melhor conhecimento sobre do parecer 1.515.441. Todos os vo-
um produto diet de um light. As con- o tema pesquisado (FONTENELLE; luntários, para participar do estudo
sequencias destes desconhecimentos SIMÕES; FARIAS, 2014). A técnica proposto, foram informados dos ob-
podem acarretar frustação das expec- de coleta de dados foi feita por meio jetivos e procedimentos do estudo e
tativas dos consumidores, enventuais de questionário com perguntas estru- assinaram o Termo de Consentimen-
prejuízos à saúde e a utilização de turadas, sendo todas as fontes, dados to Livre Esclarecido (TCLE).
produtos não adequados a neces- primários. Para a avaliação dos conhecimen-
sidades específicas. É de extrema A pesquisa foi realizada no Centro tos dos participantes foi realizada a
importância compreender essa dife- Universitário Estácio de Santa Ca- aplicação de um questionário proposto
rença, para que cada indivíduo possa tarina, na cidade de São José/SC no por Perin e Uchida (2014) e por Thé et
fazer a seleção adequada de acordo primeiro semestre de 2016. Os dias al. (2009) de forma adaptada. Das va-
com suas necessidades e usufruir dos da semana escolhidos foram de se- riáveis que compõem o questionário,
benefícios de cada alimento (THÈ et gundas-feiras à sextas-feiras, por ser foram incluídas aquelas de interesse
al., 2009). tratar dos dias de maior movimento do presente trabalho, ou seja, variáveis
Mediante essas informações, o de alunos e funcionários na Institui- referentes ao consumo de produtos
presente trabalho teve como objetivo ção de ensino. Participou do estudo diet e light, tais como: características
avaliar o conhecimento, sobre pro- uma amostra de 363 indivíduos que do consumidor (sexo, idade, grau de
dutos diet e light, por funcionários foram convidados a colaborar com a instrução renda), se são consumidores
e universitários de uma instituição pesquisa caracterizando um processo ou não dos produtos diet e light, moti-
privada de ensino superior no muni- de amostragem não probabilística. O vos para o consumo desses produtos,
cípio de São José - SC. número de participantes foi adquiri- conhecimento quanto à diferença entre
do por meio de cálculo amostral, de os produtos diet e light, e os tipos de
MATERIAL E MÉTODOS acordo com Barbetta (2001), com alimentos diet e light mais consumidos
percentual de 5% de erro. entre os participantes caracterizando-
O presente estudo utilizou um de- Os dados foram coletados após o -se como variáreis qualitativas. Nesta
lineamento transversal com caráter projeto ter sido submetido à avalia- última questão, cada entrevistado pode
descritivo exploratório, pois foram ção do Comitê de Ética em Pesquisa citar mais de um alimento, o que ex-
coletados os dados de uma população Envolvendo Seres Humano do Cen- plica a razão pelo qual o somatório da
em um período de tempo breve e fixo tro Universitário Estácio de Santa frequência da mesma ficou superior a
onde os dados foram observados, Catarina e devidamente aprovado 363 indivíduos.

Figura 1- Distribuição da renda família dos participantes da pesquisa sobre conhecimento de produtos diet e light em um Centro
Universitário de São José, SC.

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Figura 2- Distribuição dos participantes da pesquisa quanto ao consumo de produtos diet e light em um Centro Universitário de São José, SC.

O questionário foi composto por a maior parte dos entrevistados, que mais da metade dos entrevista-
dez questões, sendo as sete primeiras 77,13% (n=280), estava cursando dos acrescentam estes produtos às
questões de Perin e Uchida (2014) e curso superior, seguido de 14,60% suas compras. O que não difere com
as três últimas questões de Thé et al. (n=53) com ensino médio completo, relação a este estudo, quando compa-
(2009), o instrumento de coleta de 6,89% (n=25) curso superior com- rado ao tamanho da população, mais
dados foi entregue pela própria pes- pleto, 1,21% (n=3) ensino funda- da metade dos entrevistados 60,60%
quisadora aos participantes, de forma mental completo e 0,55% (n=2) com (n=220) relataram consumir produ-
individual, padronizada e discreta ensino médio incompleto. tos diet e light.
para não haver constrangimento en- De acordo com o estudo de Perin O gráfico 2 ilustra a distribuição
tre os envolvidos e para não haver e Uchida (2014), 63,9% dos entrevis- da amostragem entrevistada quanto
interferências nas respostas. O pre- tados tinham curso superior comple- à questão de ser consumidor ou não
enchimento levou em torno de cinco to e incompleto, sendo esta variável desses produtos.
minutos. associada estatisticamente com o De acordo com Meira et al. (2010
Após coleta de dados, os resulta- consumo de produtos diet e light. apud PERIN e UCHIDA, 2014), a
dos foram quantificados e apresenta- Outro fator de identificação im- procura por produtos diet e light está
dos em forma de tabelas e gráficos portante do perfil do consumidor é a associada com a preservação ou a
confeccionados com auxílio do Mi- variável renda. Segundo Hall e Lima manutenção da boa saúde.
crosoft Office Excel® (2010). Filho (2006), 60% dos consumidores Segundo Gonçalves et al. (2013),
de produtos diet e light pertencem às em pesquisa realizada em um su-
RESULTADOS E DISCUSSÃO classes econômicas A e B. No grupo permercado em Florianópolis/SC,
entrevistado, prevaleceu renda fa- 33,8% dos entrevistados referiram
A amostra estudada constituiu-se miliar entre 2 e 3 salários mínimos consumir alimentos diet e 66,2%
de 363 indivíduos, sendo 74,66%, 39,12%, (n=142). A figura 1 demons- alimentos light. O que difere do pre-
(n=271) do sexo feminino e 25,34%, tra a renda familiar dos participantes. sente trabalho, no qual apenas 2,20
(n=92) do sexo masculino. A faixa Entre os entrevistados 39,40%, % dos entrevistados consomem so-
etária predominante foi de 57,86% (n=143) afirmaram não consumir mente produtos diet e 26,72% apenas
(n=210) com idade entre 18 a 24 produtos diet e light e a maioria afir- produtos light, diferença esta poden-
anos, seguida por 27,27% (n=99) mou consumir esses produtos. do estar relacioada com a faixa etária
com idade entre 25 a 34 anos, 9,64% Segundo Souza (2005), em estu- dos participantes.
(n=35) com idade entre 35 a 44 anos, do realizado na cidade de Ceará, foi No trabalho em questão, realiza-
3,58% (n=13) com idade entre 45 a bastante expressivo o consumo de do no Centro Universitário de São
55 anos e 1,65% (n=6), com idade produtos diet e light, dos 139 entre- José/SC, o motivo mais citado para
acima de 55 anos. vistados; 46% relataram consumir e o consumo dos produtos diet e li-
Quanto ao grau de escolaridade, 43% não consumir, tendo em vista ght, foi devido aos mesmos serem

33
ARTIGO

Figura 3- Motivos que levam os participantes da pesquisa realizada em um Centro Universitário de São José, SC, a consumir produtos diet
e light.

Figura 4- Conhecimento dos participantes da pesquisa realizada em um Centro Universitário de São José, SC, com relação à diferença entre
os produtos diet e light.

considerados produtos mais saudá- por manter a forma (HARA, 2003), com a maior preocupação dos indiví-
veis (32,51%). o que difere do presente estudo, uma duos com relação à saúde, em razão
Levando em consideração esta vez que a maioria (32,50%) dos par- do aparecimento maior de doenças
demanda, os alimentos diet e light ticipantes respondeu que o principal associadas à alimentação.
representam grandes aliados aos in- motivo é o fato de que os produtos Apesar do crescente número de
divíduos que buscam alimentos al- diet e light são mais saudáveis. En- consumidores de produtos diet e li-
ternativos em busca da preservação tretanto, no estudo de Rorato, Dégas- ght, informações básicas quanto às
da boa saúde conforme indicado na parri e Monttin (2006 apud PERIN e funções de cada tipo e suas dife-
figura 3. UCHIDA, 2014), 67% dos partici- renças são pouco divulgadas. Com
Segundo os dados da pesquisa pantes do estudo utilizam o produ- relação ao conhecimento sobre a
realizada em Campinas, o principal to diet ou light por considerar uma diferença entre os produtos, 66,12%
motivo que leva o indivíduo a consu- opção mais saudável. Supõe-se que (n=240) responderam que sabem a
mir produtos light ou diet é a busca estes motivos estejam relacionados diferença e 33,88% (n=123) que não

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

sabem a diferença entre eles. Porém abusarem desses produtos. as definições de produtos diet, men-
dos 66,12% que relataram saber a di- Resultado contrário foi encontra- cionado pelos participantes. Sendo
ferença, 57,21% (n=138) dos partici- do nos estudos realizados por Rora- considerada a ausência de algum
pantes responderam que sabem a di- to, Degásparri e Monttin (2006 apud componente como resposta correta,
ferença, mas erraram a definição de PERIN e UCHIDA, 2014), onde 34,17% (n=82) responderam corre-
produtos diet e light; 22,50% (n=54) 56% dos entrevistados relataram não tamente.
responderam que sabem a diferença saber a diferença entre diet e light. Nota se que há um maior entendi-
entre eles e acertaram a definição de É importante, portanto, esclarecer a mento dos participantes quanto à de-
ambos; 16,12% (n=38) sabem a di- diferença dos alimentos diet e light finição de produtos light. Apesar de
ferença, porém acertaram somente para a população, a fim de evitar pro- serem produtos muito consumidos,
a definição de light e 4,17% (n=10) blemas de saúde, uma vez que nem estudos comprovam que o consu-
responderam que sabem a diferença, todos os alimentos diet apresentam midor não está suficientemente es-
mas acertaram somente a definição diminuição significativa na quanti- clarecido quanto ao significado dos
de diet. Mostrando que a maioria das dade de calorias, devendo, em alguns termos diet e light para alimentos.
pessoas apresenta confusão quando casos, ser evitados por pessoas que Segundo pesquisa realizada em
são questionadas sobre seu conheci- querem emagrecer. Caxias do Sul, 26% dos entrevista-
mento quanto à diferença entre pro- Com relação à definição de pro- dos relataram a definição de pro-
dutos diet e light. Os resultados deste dutos light, a tabela 1 apresenta as dutos diet como sendo a isenção de
questionamento estão presentes na principais definições, citadas pelos algum componente e quanto à defi-
figura 4. participantes. Ao ser considerada a nição de light, 70% acreditam ser um
A figura 4 também mostra que redução mínima de 25% em algum alimento reduzido em algum nutrien-
33,88% desconhecem a diferença componente como resposta correta, te (SANTOS, 2015).
existente entre os produtos diet e li- 44,17% (n=106) responderam corre- Estudo realizado no México, em
ght, podendo consumir de forma ina- tamente. Vale salientar que as tabelas que foi pesquisada a compreensão
dequada esses produtos. De acordo 1 e 2 apresentam os resultados com dos alimentos diet e light mostrou
com Nunes e Gallon (2013), ainda base nas 240 pessoas que afirmaram que 57% dos consumidores relataram
há muita confusão entre os conceitos ter conhecimento sobre a diferença entender as informações contidas
de diet e light. Segundo ele muitas entre os produtos. nas embalagens na hora da compra.
pessoas chegam a ganhar peso por Os dados da tabela 2 demonstram As razões para a não compreensão

Tabela1- Principais respostas dos entrevistados para a definição de produtos light.


Principais respostas para a definição de alimentos light. Frequência (%)
Menor teor de gordura 52 21,67
Ausência de gordura 18 7,50
Menor teor de açúcar 1 0,42
Redução mínima de 25% em algum componente 106 44,17
Baixo teor de calórico 50 20,83
Mais caloria que o diet 6 2,50
Menos 25% de caloria 7 2,92
Total 240 100

Tabela 2- Principais respostas dos entrevistados para a definição de produtos diet.


Principais respostas para a definição de alimentos diet. Frequência (%)
Ausência de açúcar 107 44,58
Para dieta com exigências alimentares específicas 25 10,42
Ausência de algum componente 82 34,17
Menor teor calórico 15 6,25
Menos caloria que light 7 2,92
Menor teor de gordura 4 1,67
Total 240 100

35
ARTIGO
(43%) foram: desconhecimento dos mais consumido, seguido da barra de errando ambas as definições. Mesmo
termos técnicos, confusão na in- cereal. Diferente do presente estudo, com tamanha confusão observou-se
terpretação da informação e uso de em que o refrigerante ficou em quar- um entendimento maior com relação
palavras em outro idioma que pode to lugar, porém, a barra de cereal em à definição de produtos light.
representar um obstáculo na compre- segundo lugar, assim como na pes- Quanto ao consumo, a maioria dos
ensão das informações veiculadas. quisa realizada por Thé et al. (2009). participantes consomem produtos
Por exemplo, existem certos edul- A figura 5 demonstra os alimentos diet e light por considerá-los mais
corantes que são calóricos, que con- diet e light mais consumidos pelos saudáveis. Entretanto, tamanhas
sumidos em excesso, podem colocar entrevistados. dúvidas quanto à definição dos pro-
em risco a saúde de pessoas diabé- Além dos produtos destacados, fo- dutos podem aumentar as possibili-
ticas, pois contêm açúcares em sua ram citados também outros alimen- dades de escolhas erradas, vindo a
composição (DE LA CRUZ-GÓN- tos como, queijo, chá, paçoca, bis- causar um perigo à saúde dos consu-
GORA et al., 2012). coito, maionese, presunto e sardinha, midores, os quais estão consumindo
Segundo Góes et al. (2010), os mas em frequências menores. produtos diet e light sem terem cer-
níveis de conhecimentos em relação teza do por que ou para que servem.
aos conceitos de produtos diet e light CONCLUSÃO Dessa forma, nota-se a necessidade
indicou baixo grau de conhecimento de um esclarecimento maior quanto
principalmente no termo diet. Dos Com a presente pesquisa verifi- às definições dos produtos diet e li-
210 entrevistados na pesquisa feita cou-se que a maioria dos participan- ght, a fim de se evitarem problemas
por Góes, somente 1,4% acertaram o tes possui conhecimentos sobre a de saúde por escolhas erradas.
conceito de diet e 18,1% acertaram o diferença entre produtos diet e light,
conceito de light. porém quando relatadas pelos parti- REFERÊNCIAS
Quanto aos produtos alimentícios cipantes as definições dos produtos,
diet e light mais consumidos, dos observou-se muita confusão quan- ABIAD. Associação Brasileira da In-
363 entrevistados no Centro Univer- to a essa questão. Muitos acreditam dústria de alimentos para Fins Es-
sitário de São José/SC, destaca-se o saber a diferença entre um produto peciais e Congêneros. Alimentos
requeijão com 116 consumidores, diet e light, mas definindo-os erro- diet e light. 2011. Disponível em:
seguido da barra de cereal com 112 neamente, ou mencionando correta- http:// www.abiad.org.br/index.
consumidores. Segundo Thé et al. mente a definição de light e errando php/component/search/?searchwo
(2009), em sua pesquisa, o refrige- a definição de diet, da mesma forma rd=diet+e+light&ordering=&search
rante ficou em primeiro lugar, como com relação à definição de diet ou phrase=all Acesso em: 12/8/15.

Figura 5 – Alimentos diet e light mais consumidos pelos participantes da pesquisa realizada em um Centro Universitário de São José, SC.

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

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37
ARTIGO

CONHECIMENTOS DE
cada unidade, foram selecionados
aleatoriamente 3 manipuladores de
alimentos e foram realizadas entre-
vistas presenciais, recorrendo a um

MANIPULADORES DE ALIMENTOS
questionário estruturado e organi-
zado em quatro secções: (i) carac-
terísticas sociodemográficas, expe-
riência profissional e formação em

SOBRE SEGURANÇA DOS ALIMENTOS


segurança alimentar; (ii) caracte-
rísticas da unidade de alimentação;
(iii) conhecimentos em higiene e
segurança alimentar; (iv) conheci-
mentos sobre alergias alimentares.

E ALERGIAS. A classificação global média obtida


no questionário de avaliação de co-
nhecimentos foi 74,7 ± 5,7. Fatores
como o sexo, a idade, o nível de es-
Ana Góios colaridade e a existência de forma-
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação. Universidade do Porto - ção prévia não tiveram influência
PORTUGAL no nível de conhecimento dos par-
ticipantes, ao contrário da experi-
Margarida Liz Martins
ência profissional, que teve um im-
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto pacto significativo (p=0,011). Os
LAQV@Requimte. Universidade do Porto - PORTUGAL manipuladores de estabelecimentos
que disponibilizam refeições para
Lígia Ferreira consumidores com alergias alimen-
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto - tares (77,3 ± 11,5) apresentaram
PORTUGAL maior pontuação no grupo de ques-
tões sobre alergia alimentar do que
Antónia Nunes
aqueles que referiram não dispo-
Ada Rocha nibilizar (69,3 ± 16,2) (p=0,028).
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto Os manipuladores de alimentos
apresentaram um nível razoável de
LAQV@Requimte. Universidade do Porto - PORTUGAL conhecimento sobre manipulação
segura de alimentos e alergia ali-
mentar. No entanto, são necessários
RESUMO mais estudos para avaliar se os co-
nhecimentos são efetivamente tra-
As doenças de origem alimentar são uma causa importante de morbilidade duzidos em alteração positiva dos
e mortalidade e não se limitam apenas aos países em desenvolvimen- comportamentos.
to. A manipulação incorreta de alimentos em unidades de alimentação é
um dos principais fatores responsáveis pela transmissão de doenças de Palavras-chave: Alergia.
origem alimentar e envolve tradicionalmente contaminação cruzada en- Segurança dos alimentos. Serviços
tre alimentos crus e cozidos, confeção inadequada e armazenamento a de alimentação. Capacitação.
temperaturas incorretas. Os restaurantes e unidades de alimentação re-
presentam ainda um potencial perigo para os consumidores com alergia ABSTRACT
alimentar. Diversos estudos identificaram falhas importantes nos conhe-
cimentos dos manipuladores de alimentos sobre alergia alimentar. Neste Foodborne diseases are emerging
estudo pretendeu-se avaliar os conhecimentos dos manipuladores de ali- and are an important cause of mor-
mentos sobre segurança e alergia alimentar, em restaurantes e unidades bidity and mortality, not being lim-
de alimentação. O estudo envolveu 28 unidades de alimentação de dife- ited to developing countries. Incor-
rentes setores de alimentação coletiva na cidade do Porto, Portugal. Em rect food handling practices in food

38
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

service establishments seem to be a INTRODUCÃO de dados científicos focando as cau-

A
major contributor to the transmis- sas de doenças de origem alimentar,
sion of foodborne illness and typi- s doenças de origem ali- suportada essencialmente no forneci-
cally involve cross-contamination mentar são uma causa im- mento de informação, ou, em alguns
of raw and cooked foodstuffs, inad- portante de morbilidade e casos, com capacitação baseada na
equate cooking and storage at inap- mortalidade e não se limi- formação in loco, como, por exem-
propriate temperatures. Restaurants tam aos países em desenvolvimento plo, o procedimento de lavagem das
and food services present a potential (WHO, 2008). Dados da Organiza- mãos. Considerando o modelo do
danger for food-allergic consum- ção Mundial de Saúde indicam que Conhecimento/Atitudes/ Práticas,
ers. Previous studies found worrying estas doenças afetam 5-10% da po- assume-se que estes métodos pressu-
gaps in restaurant staff’s knowledge pulação nos países desenvolvidos põem alterações no comportamento.
about food allergies. This study aims ( Organization WH, 2002). Este modelo tem sido alvo de críti-
to assess food handler’s knowledge A manipulação incorreta de ali- cas, uma vez que se reconhece que o
towards food safety and food allergy mentos em unidades de alimentação conhecimento por si só é insuficien-
in restaurants and food service units. é um dos principais fatores respon- te para garantir práticas preventivas
The study was conducted in 28 food sáveis pela transmissão de doenças e alterações efetivas do comporta-
units of different sectors from the city de origem alimentar e envolve tra- mento. Na realidade, como já foi
of Porto, Portugal. From each unit, dicionalmente contaminação cruza- documentado em diversos estudos,
three food handlers were randomly da entre alimentos crus e cozidos, a formação dos manipuladores e as
selected and face-to-face interviews confeção inadequada e armazena- intervenções formativas habituais
were conducted, using a structured mento a temperaturas incorretas. Os têm demonstrado sucesso moderado
questionnaire, organized into four manipuladores de alimentos podem na alteração efetiva dos comporta-
sections: (i) socio-demographic ser portadores assintomáticos de or- mentos, que não perduram no tempo
characteristics of the population, ganismos contaminantes (EGAN et ( EGAN et al. 2007; MITCHELL et
professional experience, and specific al. 2007). al. 2007).
training on food safety; (ii) food unit Relativamente aos alergénios, os Alguns autores sugerem que in-
characteristics; (iii) knowledge on restaurantes e unidades de alimenta- tervenções com vista à promoção
food hygiene and safety; (iv) knowl- ção representam um potencial perigo da segurança dos alimentos devem
edge on food allergy. The average to- para os consumidores com alergias. ser integradas numa perspetiva mais
Diversos estudos já identificaram global, focando fatores individuais e
tal score obtained in the questionnaire
falhas importantes no conhecimento ambientais que influenciam as prá-
of knowledge evaluation was 74.7 ±
dos manipuladores de alimentos so- ticas da manipulação segura de ali-
5.7. Factors such as sex, age, educa-
bre alergia alimentar ( BAILEY et al. mentos (MITCHELL et al. 2007).
tion level and training had no influence
2011 ; AHUJA et al. 2007). Neste estudo pretendeu-se avaliar
on participants’ knowledge, unlike the
O conhecimento insuficiente e as os conhecimentos dos manipulado-
professional experience that had a
dificuldades na compreensão dos res de alimentos sobre segurança e
significant impact (p = 0.011). Par-
sintomas e incapacidade em lidar alergia alimentar, em restaurantes e
ticipants who reported that their food unidades de alimentação. À luz do
establishment served food to allergic com estes numa situação de emer-
gência têm sido documentados, sig- conhecimento dos autores, o presente
consumers (77.3 ± 11.5) had higher estudo é o primeiro em Portugal que
scores on food allergy related ques- nificando que são necessários mais
formação e treino para garantir a aborda esta temática, nesse contexto.
tions group than those who referred
not serving (69.3 ± 16.2) (p=0.028). segurança dos consumidores e asse-
gurar que os restaurantes e unidades MATERIAL E MÉTODOS
Food handlers presented a reasonable
level of knowledge about the safe han- de alimentação cumprem os seus
deveres relativamente ao bem-estar População
dling of food and food allergy. Howev-
dos clientes ( BAILEY et al. 2011). Este estudo descritivo transversal
er, further studies are needed in order
Neste momento, a formação cons- foi desenvolvido em 28 unidades de
to investigate whether this knowledge
titui a estratégia de intervenção pri- alimentação de diferentes setores de
could be translated into best working
mária mais usada para promover a alimentação coletiva na cidade do
practices and behaviors.
segurança alimentar em espaços de Porto, Portugal, envolvendo restau-
Keywords: Allergy. Food safety. alimentação coletiva. A formação as- rantes, hospitais, escolas, universi-
Food units. Training. senta habitualmente na apresentação dades e estabelecimentos prisionais.

39
ARTIGO
Em cada unidade, foram seleciona- responsável pela formação. resultantes do pré-teste não foram
dos aleatoriamente 3 manipuladores A segunda secção permitiu obter considerados na análise dos dados.
de alimentos. Previamente à recolha informação relativa às características
de dados, foram obtidos os consenti- das unidades de alimentação, nome- Análise estatística
mentos informados dos participantes adamente o tipo de unidade, número A análise estatística dos dados foi
e garantida a confidencialidade na de colaboradores, localização, dis- efetuada através dos programas IBM
resposta. Entre outubro e dezembro ponibilidade de ementas específicas Statistical Package for the Social
de 2014, foram realizadas entrevis- para clientes com alergias alimenta- Sciences (SPSS) Statistics 22® e Mi-
tas presenciais aos manipuladores de res. crosoft Office Excel 2007®. A análise
alimentos por entrevistadores pre- A terceira secção incluiu ques- descritiva das variáveis foi executada
viamente treinados, recorrendo a um tões sobre as práticas de higiene e a partir da determinação de medidas
questionário estruturado desenvol- segurança alimentar, nomeadamente de tendência central (média), medi-
vido para o efeito. A opção por esta contaminação cruzada (grupo 1 – 35 das de dispersão (desvio padrão) e
metodologia deveu-se ao baixo nível questões); práticas de refrigeração e frequências. A normalidade das vari-
de literacia esperado na população congelação (grupo 2 – 6 questões); áveis foi testada através do teste de
em estudo, possibilitando, desta for- práticas de confeção (grupo 3 – 6 Kolmogorov-Smirnov.
ma, um aumento na taxa de resposta. questões); procedimentos de higieni- A correlação de Spearman foi
zação (grupo 4 – 2 questões); e ou- determinada para avaliar a relação
Coleta de dados tras questões desenvolvidas para ob- entre a idade dos manipuladores de
O questionário aplicado englobou ter informação relativa aos veículos alimentos e os scores de conheci-
questões de verdadeiro e falso e de de transmissão de doenças de origem mento. As diferenças no scores de
múltipla escolha. De forma a reduzir alimentar (grupo 5 – 14 questões). conhecimento considerando o sexo,
o viés de resposta, foi introduzida A quarta secção teve como objeti- o tipo de unidade de alimentação e a
uma opção “Não sabe”. A cada res- vo obter informação sobre os conhe- existência de formação em segurança
posta correta foi atribuída uma pon- cimentos dos manipuladores sobre alimentar foram calculadas através
tuação de 2 pontos; a cada resposta alergias alimentares (grupo 6 – 21 do teste de Mann-Whitney. O teste
errada não foi atribuída pontuação questões). Nesta secção, foram ain- de Kruskal-Wallis foi utilizado para
e sempre que o inquirido respondeu da apresentados diferentes exemplos comparação das pontuações médias
“Não sabe” foi atribuído 1 ponto, práticos aos inquiridos para que estes relativas ao nível de escolaridade e
uma vez que, de acordo com a litera- identificassem as situações causadas experiência profissional dos inquiri-
tura, se considera que as respostas er- por alergia alimentar. Adicionalmen- dos. Recorreu-se ao teste T-student
radas devem ter uma menor cotação te, apresentou-se uma questão refe- para analisar as diferenças entre os
do que quando o manipulador não rente à forma de apresentação dos in- scores de conhecimento em alergia
tem conhecimento da resposta certa gredientes potencialmente alergénios alimentar.
(SANTOS et al. 2008). nos rótulos alimentares. A hipótese nula foi rejeitada quan-
O questionário foi organizado A pontuação total e a pontuação do o nível de significância crítico
em quatro secções: (i) característi- em cada grupo de questões foram para a sua rejeição (p) foi inferior a
cas sociodemográficas, experiência determinadas e convertidas para um 0,05.
profissional e formação em segu- score de 100 pontos, de forma a faci-
rança alimentar; (ii) características litar a interpretação. RESULTADOS E DISCUSSÃO
da unidade de alimentação; (iii) co- O desenho do questionário teve
nhecimentos em higiene e segurança por base o Codex Alimentarius ( CO- Caracterização da amostra
alimentar; (iv) conhecimentos sobre DEX ALIMENTARIUS COMIS- Um total de 81 manipuladores de
alergias alimentares. SION) e a literatura existente ( JE- alimentos concordou em participar
A primeira secção permitiu obter VSNIK et al. 2008; WALKER et al. no estudo. Os participantes eram na
informação relativa às característi- 2013). Previamente, foi realizado um maioria do sexo feminino (n=55). A
cas sociodemográficas (sexo, idade e pré-teste do questionário em 2 ma- idade média dos participantes foi de
nível de escolaridade), à experiência nipuladores de alimentos por forma 38 anos (± 11,5), variando entre os
profissional no setor alimentar e no a avaliar a compreensão das ques- 20 e os 57 anos de idade.
local de trabalho atual) e à existência tões, reduzir possíveis redundâncias Relativamente ao nível de escola-
de formação específica em seguran- e testar a estrutura do questionário e ridade, 55% dos participantes con-
ça alimentar, bem como, a entidade o tempo da sua realização. Os dados cluíram o ensino básico e menos de

40
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

6% tinham habilitações ao nível do anos. Quanto à formação profissio- influenciou o nível de conhecimen-
ensino universitário. A maioria dos nal, 87% dos entrevistados referiu to (R=0,055, p=0,644). Nas Tabelas
manipuladores entrevistados (59%) que frequentou formação específica 2 e 3, são apresentados os valores
trabalhava em restaurantes e 41% sobre segurança alimentar, sendo que médios obtidos, de acordo com ca-
trabalhavam em unidades de restau- 49% desta foi providenciada pelo lo- racterísticas da amostra e dos esta-
ração como escolas, hospitais e esta- cal de trabalho atual. belecimentos de alimentação, e ex-
belecimentos prisionais. Conhecimentos sobre segurança periência profissional e formação,
Experiência profissional e forma- dos alimentos e alergias alimentares respetivamente.
ção A pontuação mais elevada foi en- De acordo com o sexo, as habili-
Observou-se que 16% dos mani- contrada no grupo de questões relati- tações literárias e o tipo de estabele-
puladores de alimentos trabalhava vo à contaminação cruzada e a mais cimento alimentar, não foram obser-
no setor alimentar há menos de 2 baixa no grupo de questões referen- vadas diferenças significativas nas
anos e 38% entre 2 a 8 anos. Rela- tes às práticas de confeção. respostas obtidas.
tivamente à experiência profissional Fatores que influenciam a pontua- A experiência profissional teve
no serviço de alimentação, a mesma ção nos conhecimentos um impacto significativo na pontu-
percentagem (23%) foi observada Observou-se que a idade dos ação relativa aos conhecimentos dos
para os 8-16 anos e para os 16-25 manipuladores dos alimentos não participantes. Os participantes que

Tabela 1 - Pontuação total e pontuação por grupo de questões (Média ± DP).


Pontuação Respostas corretas Respostas incorretas
Grupo de questões
(Média ± DP) (%) (%)
1 – Contaminação cruzada 81,8 ± 5,5 81,0 17,4
2 – Arrefecimento 63,7 ± 16,2 62,4 35,0
3 – Confeção 57,2 ± 19,2 53,3 38,8
4 – Limpeza 70,7 ± 25,7 70,1 28,7
5 – Patogéneos de origem alimentar 69,7 ± 11,5 67,6 28,2
6 – Alergias alimentares 74,7 ± 13,7 67,5 18,1
Total 74,7 ± 5,7 71,8 22,4

Tabela 2 - Pontuação obtida, de acordo com as características da amostra e dos estabelecimentos de alimentação (Média ± DP).
Características da amostra e dos
Pontuação (Média ± DP) Valor-p
estabelecimentos de alimentação
Sexo
Masculino 74,9 ± 5,3 0,925**
Feminino 74,6 ± 5,9
Nível de escolaridade
Ensino básico 74,4 ± 5,6
Ensino secundário 75,1 ± 6,1 0,634**
Bacharelato ou licenciatura 75,4 ± 1,2
Pós-graduação 78,6 ± 4,2
Estabelecimentos de alimentação
Restaurantes 74,7 ± 5,6 0,929*
Unidade de alimentação coletiva 74,7 ± 5,9
* Teste de Mann-Whitney; **Teste de Kruskal-Wallis;

41
ARTIGO

Tabela 3 - Pontuação obtida, de acordo com a experiência profissional e formação (Média ± DP).
Pontuação
Experiência profissional e formação N Valor-p
(Média ± DP)
Experiência profissional
13 71,8 ± 6,5
2 anos 0,011*
2-8 anos 31 74,7 ± 5,1
8-16 anos 19 78,1 ± 4,0
16-25 anos 19 73,2 ± 6,1
Formação em segurança alimentar
Sim 71 74,8 ± 5,6 0,726**
Não 10 73,0 ± 5,9
* Teste de Kruskal-Wallis; ** Teste de Mann-Whitney.

apresentaram 8 a 16 anos de expe- al, 2008; ANGELILLO et al. 2000). de alimentos sobre a utilização cor-
riência profissional demonstraram Neste grupo de questões, foi avalia- reta de temperaturas deverá ser pro-
níveis médios de conhecimento mais do o conhecimento sobre princípios movida, independentemente da sua
elevados do que os demais partici- básicos de higiene. Todos os partici- função, uma vez que a utilização ina-
pantes. pantes identificaram a importância dequada da temperatura (positiva ou
A formação em segurança ali- da lavagem das mãos após utilização negativa) é um fator comumente as-
mentar não apresentou impacto nos da casa de banho, manipular alimen- sociado a doenças de origem alimen-
conhecimentos dos manipuladores tos crus, mexer em dinheiro, manu- tar e esta deve ser transversal às vá-
de alimentos. O nível médio de co- sear o lixo, assoar o nariz e comer/ rias categorias funcionais (CODEX
nhecimentos dos participantes que beber, assim como a necessidade de ALIMENTARIUS COMISSION,
receberam formação em segurança proteger os ferimentos. Este nível 1993; MEER et al. 2008).
alimentar não foi significativamente de conhecimentos foi já reportado Após a implementação da obriga-
diferente daqueles que não recebe- por outros autores (SANTOS et al. toriedade legal de declarar a infor-
ram formação. 2008; WALKER et.al. 2003; BAS et mação sobre alergénios alimentares
Relativamente às alergias alimen- al.2005). aos consumidores, a partir de De-
tares, os manipuladores de estabele- Quando foi avaliada a utilização zembro de 2014 (Regulamento (UE)
cimentos que disponibilizam refei- correta da temperatura (grupos de n.º 1169/2011. Sect. 304.), avaliar o
ções para consumidores com alergias questões 2 e 3), observou-se algum nível de conhecimentos dos mani-
alimentares (77,3 ± 11,5) apresen- desconhecimento. Os principais er- puladores de alimentos sobre alergia
taram maior pontuação no grupo de ros detetados referiam-se ao aque- alimentar merece especial atenção.
questões sobre alergia alimentar do cimento inadequado, temperaturas Os resultados obtidos, no presente
que aqueles que referiram não dispo- elevadas na congelação e refrigera- estudo, foram semelhantes aos de
nibilizar (69,3 ± 16,2) (p=0,028). ção e armazenamento incorreto de estudos similares (BAILEY et al.
Este estudo foi o primeiro, em alimentos confecionados, resultados 2011; AHUJA et al. 2007), demons-
Portugal, a avaliar o conhecimen- que também já foram reportados por trando que existe um conhecimento
to dos manipuladores de alimentos outros investigadores ( SANTOS et insuficiente relativo à identificação
no âmbito da segurança alimentar e al. 2008; LYNCH et al. 2003; DA- e gestão do risco de alergia alimen-
alergias alimentares. Apesar da ine- NIELS et al. 2002). Estes resultados tar. Práticas como servir água para
xistência de estudos que apresentem poderão estar relacionados com o diluir o alergénio ou remover o ali-
um nível ótimo de conhecimentos fato destas tarefas serem mais espe- mento alergénico da refeição já pre-
sobre segurança alimentar, os re- cíficas de determinadas categorias parada para garantir segurança não
sultados obtidos no presente estudo funcionais dos manipuladores de foram identificadas como incorretas
podem ser considerados resultados alimentos, pelo que alguns manipu- por vários manipuladores de ali-
satisfatórios. ladores de alimentos (por exemplo, mentos. Adicionalmente, este grupo
De acordo com estudos anteriores, os empregados de mesa de restauran- de questões apresentou a percenta-
a contaminação cruzada é um con- tes) apresentam algumas falhas de gem mais elevada de respostas do
ceito bem compreendido pelos mani- conhecimento nesta matéria. No en- tipo “não sabe” (14,4%), sugerindo
puladores de alimentos (SANTOS et tanto, a formação dos manipuladores que os manipuladores de alimentos

42
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

estão sub-informados e sub-forma- sessões teóricas em contexto da for- official publication of the American
dos. Desta forma, a formação especí- mação convencional. College of Allergy, Asthma, & Immu-
fica deverá ser incentivada de forma a Tessema et al. observaram que nology. 2007;98(4):344-8.
otimizar o conhecimento dos manipu- os manipuladores de alimentos com ANGELILLO IF et al. Food handlers and
ladores de alimentos no que diz res- bom nível de conhecimentos tinham foodborne diseases: knowledge, at-
peito à alergia alimentar. Na ausência maior propensão para as boas práticas titudes, and reported behavior in
de formação adequada, os manipu- alimentares quando comparados com Italy. Journal of food protection.
ladores de alimentos não compreen- aqueles com baixo nível de conheci- 2000;63(3):381-5.
dem o risco potencial dos alergénios, mentos (TESSEMA et al. 2014). No
BAILEY S et al. Restaurant staff's know-
ao mesmo tempo que é criada uma entanto, é importante notar que mes-
ledge of anaphylaxis and dietary care
falsa sensação de segurança entre os mo com um elevado nível de conhe-
cimentos não é possível garantir o of people with allergies. Clinical and
consumidores com alergia alimentar
cumprimento de um comportamento experimental allergy : journal of the
(WHAM , SHARMA , 2014).
adequado (DANIELS et al. 2002). British Society for Allergy and Clinical
Contrariamente aos resultados de
Clayton et al. afirmaram que, ape- Immunology. 2011;41(5):713-7.
outros estudos, fatores como o sexo,
a idade, o nível de escolaridade e a sar dos manipuladores de alimentos BAS M et al . Prerequisite programs and
formação em segurança alimentar estarem cientes das práticas de se- food hygiene in hospitals: food safety
não tiveram impacto no nível de co- gurança alimentar recomendadas, knowledge and practices of food ser-
nhecimento dos participantes (SAN- dois terços reportaram nem sempre vice staff in Ankara, Turkey. Infection
TOS et al. 2008; MANES et al. 2013; apresentarem esses comportamentos control and hospital epidemiology :
DANIELS et al. 2002; SOON et al. (CLAYTON et al. 2002). Assim, mais the official journal of the Society of
2012). A falta de associação entre a estudos são necessários para avaliar a Hospital Epidemiologists of America.
existência de formação sobre alergias lacuna existente entre o conhecimento 2005;26(4):420-4.
alimentares e o nível de conhecimen- e o comportamento dos manipulado- CLAYTON DA et al. Food handlers' beliefs
to sugere que a abordagem formativa res de alimentos, de forma a possibi- and self-reported practices. Interna-
atual, padronizada e convencional, litar o desenvolvimento e implemen- tional journal of environmental health
não está a alcançar o impacto preten- tação de estratégias que façam face a research. 2002;12(1):25-39.
dido e que é necessário explorar ou- este problema.
CODEX ALIMENTARIUS COMISSION.
tras iniciativas. A adoção de materiais Code of hygienic practice for pre-
de formação mais apelativos, acessí- CONCLUSÃO cooked and cooked foods in mass
veis e com uma linguagem adaptada catering. CAC/RCP; 1993.
às características do público-alvo (por Os manipuladores de alimentos
DANIELS NA et al. Foodborne disease ou-
exemplo, com baixo nível de litera- avaliados neste estudo apresentaram
tbreaks in United States schools. The
cia) e de formatos de aprendizagem um nível de conhecimento razoável
Pediatric infectious disease journal.
mais interativos deveriam ser consi- sobre manipulação segura de alimen-
2002;21(7):623-8.
derados. Adicionalmente, a existência tos. A formação e treino em seguran-
ça alimentar e alergias constituem EGAN MB et al. A review of food safety
de cursos de formação para recicla-
um passo inicial importante, que and food hygiene training studies in
gem de conhecimentos e o reforço a
deve, no entanto, ser complementado the commercial sector. Food Control.
longo-prazo de bons comportamentos
com a monitorização dos compor- 2007;18(10):1180-90.
na manipulação de alimentos parecem
ser estratégias promissoras (SOON et tamentos e práticas, em contexto de JEVSNIK M et al . Food safety know-
al. 2012). trabalho. São necessários mais estu- ledge and practices among food
Lynch et al. (2003) mostraram dos para avaliar se os conhecimentos handlers in Slovenia. Food Control.
uma relação entre o número de anos são efetivamente traduzidos em alte- 2008;19(12):1107-18.
de trabalho em serviços de alimenta- ração dos comportamentos. LYNCH RA et al. A comparison of food
ção e conhecimentos sobre seguran- safety knowledge among restaurant
ça alimentar (MANES et al. 2013), REFERÊNCIAS managers, by source of training and
indicando que as práticas e as com- experience, in Oklahoma County,
petências adquiridas in loco, em con- AHUJA R et al. Food-allergy management Oklahoma. Journal of environmental
texto prático, poderão ter um maior from the perspective of restaurant and health. 2003;66(2):9-14, 26.
impacto no conhecimento dos mani- food establishment personnel. Annals MANES MR et al. Baseline knowledge
puladores de alimentos do que do que of allergy, asthma & immunology : survey of restaurant food handlers

43
ARTIGO
in suburban Chicago: do restaurant health. Geneva: 2002. SOON JM et al. Meta-analysis of food
food handlers know what they need ORGANIZATION WH. WHO Initiative to safety training on hand hygiene kno-
to know to keep consumers safe? Estimate the Global Burden of Foo- wledge and attitudes among food
Journal of environmental health. dborne Diseases - A summary docu- handlers. Journal of food protection.
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and behavior of expanded food and knowledge on food safety among food handling practices among
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44
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

CONHECIMENTO DE
atitudes e práticas com resultados sa-
tisfatórios. Os manipuladores pare-
cem ter suas atitudes guiadas por um
conhecimento empírico adquirido por

MERENDEIROS SOBRE
meio da experiência.
Palavras-chave: Alimentação
Escolar. Boas Práticas de
Fabricação. Capacitação.

SEGURANÇA DOS ALIMENTOS ABSTRACT

The research is a descriptive trans-

EM PRÉ-ESCOLAS ATENDIDAS versal study conducted in infant


schools of Rio Branco-Acre. Semis-
tructured instrument was used in four
blocks in order to collect demographic

PELO PNAE NO MUNICÍPIO DE RIO information and evaluate the knowl-


edge, attitudes and practices of food’s
handlers. The results showed that
93.3% of handlers were female, over

BRANCO - AC. the age of 31anos (63.3%) and public


servent (90.0%) and 66.7% were less
than a year in function. Was observed
that the knowledge score showed re-
Larissa de Lima Abadia sults below satisfactory (59.12%),
84.75% showing a good performance
Bárbara de Almeida Maffi in their attitudes. The score practices
Stefany Guerreiro Lima had 70.17% correct. One concludes
that even with little knowledge food´s
Irla Maiara Silva Medeiros handlers demonstrate attitudes and
Alanderson Alves Ramalho * practices with satisfactory results.
The cook have their attitudes guided
Fernanda Andrade Martins by an empirical knowledge gained
Universidade Federal do Acre, Centro de Ciências da Saúde e do Desporto, Rio through experience.
Branco – AC. Keywords: School Feeding. Good
* alandersonalves@hotmail.com Manufacturing Practices. Training.

INTRODUÇÃO

O
RESUMO
Programa Nacional de Ali-
Estudo descritivo transversal foi realizado nas escolas de ensino infantil de mentação Escolar (PNAE)
Rio Branco-Acre. Utilizou-se um instrumento semiestruturado em quatro blo- é o mais antigo programa
cos com o objetivo de colher informações demográficas e avaliar o conheci- do governo brasileiro na
mento, atitudes e práticas dos manipuladores de alimentos. Os resultados de- área de alimentação escolar e de Segu-
monstraram que 93,3% dos manipuladores eram do sexo feminino, com idade rança Alimentar e Nutricional (SAN)
superior a 31anos (63,3%) e concursados (90,0%). Em relação ao tempo de (BRASIL, 2004a, 2013a, 2014a). Ele
exercício na função 66,7% estavam há menos de um ano na função. Observou- visa contribuir para o crescimento, o
-se que o escore de conhecimento apresentou resultados abaixo do satisfató- desenvolvimento biopsicossocial, a
rio (59,12%), as atitudes foram consideradas satisfatórias (84,75% de acer- aprendizagem e o rendimento na es-
tos). O escore de práticas apresentou 70,17% de acertos. Foi possível concluir cola, além de desenvolver as habilida-
que, mesmo apresentando pouco conhecimento, os merendeiros demonstram des de práticas alimentares saudáveis

45
ARTIGO
(BRASIL, 2013b). em escolas de ensino infantil e loca- RESULTADOS E DISCUSSÃO
A alimentação escolar atende um lizadas em perímetro urbano da rede
amplo número de crianças em diferen- municipal de Rio Branco capital e, Foram observadas 21 escolas, cor-
tes faixas etárias nas escolas e creches principal município do Estado do respondendo a 15 pré-escolas e seis
e se faz necessário um rigoroso con- Acre. creches. Nestas escolas foram locali-
trole das condições higienicossanitá- O município é responsável pelo en- zados 68 manipuladores de alimentos.
rias, a fim de garantir a Segurança dos sino infantil em creches e pré-escolas Destes, 60 manipuladores aceitaram
Alimentos (SA) no ambiente escolar e contempla 42 unidades escolares, participar da pesquisa, sendo a maior
(COLOMBO, OLIVEIRA e SILVA, totalizando aproximadamente 9.300 parcela do sexo feminino (93,3%),
2009). Existem muitos pontos críticos crianças atendidas (BRASIL, 2014e). com idade superior a 31 anos (63,3%)
no processamento de alimentos que O desenho amostral deste estudo foi e 41,7% ensino médio completo (Ta-
podem levar à contaminação alimentar: definido para que correspondesse a bela 1).
os serviços de recebimento, produção, 50% do total de escolas. A amostra- Um perfil feminino de manipu-
manipulação e distribuição dos gêneros gem foi obtida por meio de sorteio ladores de alimentos também foi
alimentícios, que devem ser frequen- aleatório simples. observado por Colombo, Oliveira e
temente monitorados (PINTO, 2009). Foram avaliados o Conhecimento, Silva (2009) e Calvet et al. (2012),
A falha nestes processos é um dos fa- Atitudes e Práticas (CAP) dos ma- que identificaram que 100% e 93,0%
tores responsáveis pela ocorrência de nipuladores de alimentos através de da amostra de merendeiros dos seus
Doenças Transmitidas por Alimentos entrevistas com a aplicação de instru- estudos foi composta por mulheres.
(DTA’s) que são as causadas pelo con- mento semiestruturado utilizado ante- Devides (2010), em estudo com 192
sumo de gêneros alimentícios que con- riormente por Soares (2011). A orga- manipuladores de alimentos, obser-
tenham micro-organismos prejudiciais nização deste instrumento deu-se em vou que 63% eram do sexo femini-
à saúde, parasitas ou substâncias tóxicas quatro blocos: Bloco I - informações no. Estes dados são semelhantes aos
(BRASIL, 2004b). demográficas (dados como idade, achados nesta pesquisa onde o sexo
Ao analisar a ocorrência histórica sexo, instrução, tempo de emprego, feminino foi predominante (93,3%),
de DTA no Brasil entre 2000 e 2013, participação em treinamentos); Bloco confirmando desta forma que a pro-
percebe-se um crescente aumento do II - conhecimentos sobre SA; Bloco fissão ainda é vista como atividade
número de surtos. As escolas e creches III - atitudes em SA e Bloco IV - prá- ligada ao gênero, uma vez que em
ocuparam a quarta maior incidência de ticas em SA. nosso cotidiano social, dentro do am-
surtos neste período, com 811 surtos no O conhecimento sobre SA foi ava- biente doméstico, a atividade de co-
registrados (BRASIL, 2014d). liado por meio de 25 questões e os zinhar é conferida às mulheres e no
Promover a saúde no âmbito escolar conceitos de SA foram avaliados por âmbito profissional estes postos de
é uma das recomendações do PNAE meio de 16 questões. Para ambos, as trabalho são comumente reservados
(CHAVES et al., 2009), assim o cuida- possibilidades de respostas foram: às mesmas, pois os conhecimentos
do com a SA no ambiente escolar é de verdadeiro, falso e não sei. As práti- empíricos adquiridos no recinto fa-
extrema importância. Ao garantir que cas auto referidas em segurança dos miliar são utilizados para garantir o
os manipuladores de alimentos tenham alimentos foram avaliadas em 20 desempenho adequado das atividades
suas práticas pautadas nos critérios es- questões com cinco possibilidades de (SILVA, 2003).
tabelecidos pelas Boas Práticas de Fa- resposta: nunca, raramente, algumas Em relação à faixa etária e ao nível
bricação (BPF) é possível promover a vezes, frequentemente e sempre. de escolaridade, o que tem se obser-
qualidade higienicossanitária e assim A análise dos dados foi realizada vado é uma mudança no padrão de
prevenir o surgimento de DTA. Sendo conforme proposto por Soares (2011), distribuição ao longo dos anos. Co-
assim, este estudo teve como objetivo e os dados obtidos nas entrevistas fo- lombo, Oliveira e Silva identificaram
avaliar o conhecimento, atitudes e práti- ram analisados por meio do software 80% com mais de 51 anos e 55% com
cas dos manipuladores de alimentos de SPSS para Windows, versão 13.0. ensino fundamental incompleto, Cal-
creches e pré-escolas da rede municipal Este estudo foi aprovado pelo vet et al. (2012) obtiveram sua amos-
de Rio Branco-Acre. Comitê de Ética em Pesquisa com tra composta por 86% com mais de 40
Seres Humanos da Universidade anos e 36% com ensino fundamental
MATERIAL E MÉTODOS Federal do Acre (protocolo número incompleto, Devides (2010) verifi-
40488114.0.0000.5010). O consenti- cou que 33% possuíam idade entre
Trata-se de um estudo descritivo de mento informado foi obtido de todos 21 – 30 anos e 55% com ensino mé-
temporalidade transversal, realizado os participantes do estudo. dio completo. Os achados desse autor

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Tabela 1 - Características demográficas dos manipuladores de alimentos das escolas municipais de Rio Branco-Acre, 2015.

Características N % Média ±DP Intervalo mín - máx


Sexo
Masculino 4 6,7 - -
Feminino 56 93,3 - -
Idade
≤ 30 22 36,7
31 a 39 18 30 36,11 (±10,61) 20 – 66
≥ 40 20 33,3
Escolaridade
Ensino Fundamental Incompleto 4 6,7 - -
Ensino Fundamental Completo 4 6,7 - -
Ensino Médio Incompleto 2 3,3 - -
Ensino Médio Completo 25 41,7 - -
Ensino Superior Incompleto 16 26,7 - -
Ensino Superior Completo 8 13,3 - -
Concursado
Não 6 10 - -
Sim 54 90 - -
Renda
< 1 salário mínimo 15 25
1 salário mínimo 30 50 926,08 (±467,16) 700 – 3800
> 1 salário mínimo 15 25
Treinado
Não 44 73,3 - -
Sim 16 26,7 - -
Quantos treinamentos participou nos últimos dois anos
0 51 85 - -
1 4 6,7 - -
2 2 3,3 - -
3 3 5 - -
Tempo Função
<1 ano 40 66,7
1 a 5 anos 10 16,7 4,25 (±8,53) 0,01 - 28,33
>5 anos 10 16,7

Com base nos escores encontrados é possível observar que o valor médio de acertos para os blocos de conhecimentos,
atitudes e práticas foram respectivamente 59,12%, 84,75% e 70,17% (Tabela 2).

47
ARTIGO

Tabela 2 - Pontuação obtida na avaliação do conhecimento, atitudes e práticas dos manipuladores de alimentos das escolas municipais de
Rio Branco-Acre, 2015 (n= 60).

Intervalo
Variável % Média (±DP)
Mínimo Máximo
Conhecimento 59,12 14,78 (±3,11) 8 22
Atitudes 84,75 13,56 (±1,35) 10 16
Práticas 70,17 11,93 (±1,92) 7 17

corroboram com este estudo demons- profissionais sem experiência, o que de acertos, similar, porém superior ao
trando que a faixa etária deste grupo justifica a necessidade do treinamento encontrado neste estudo.
tem se modificado e atraído pessoas no momento da admissão para a re- O escore de atitudes apresentou
mais novas para o cargo. O fato do alização correta das atividades. Em 84,75% de acertos e é importante
ingresso ao cargo de merendeira es- estudo com as merendeiras do muni- considerar que este bloco dispunha de
tar vinculado à realização de certame cípio de João Pessoa, Carvalho et al. questões com temáticas relacionadas
pode justificar a redução da idade dos (2008) verificaram a ocorrência de ao senso comum, o que poderia jus-
manipuladores e o aumento da esco- cursos e palestras esporádicas e que tificar o bom resultado dos manipula-
laridade dos mesmos, o que também não incluíam todo o grupo, além da dores nesta sessão.
foi sugerido por Soares (2011) que, ausência de treinamentos sistemáticos Com relação às práticas auto rela-
em seu estudo com manipuladores, e capacitações. É importante conside- tadas observou-se que o valor médio
identificou 48,8% com ensino médio rar que a RDC nº 216 discorre sobre a de acertos foi de 70,17%, resultado
completo ou incompleto e 72,3% com obrigatoriedade da realização de trei- satisfatório. Ao analisar-se o limi-
idade entre 36 e 55 anos. namentos e capacitações continuadas; te mínimo da pontuação observa-se
Os dados relacionados ao emprego Saccol et al. (2006) afirmam que as que alguns manipuladores acertaram
demonstram que 90% dos manipula- capacitações devem ser frequentes e 35,0% das questões referentes às prá-
dores são concursados, 50% apresen- aplicadas às necessidades locais. ticas seguras, apresentando, desta for-
tam uma renda pessoal de um salário O escore da variável conhecimen- ma, habilidades inadequadas. Soares
mínimo e 66,7% afirmam ainda estar to obteve valor abaixo do satisfatório (2011) obteve resultados similares a
na função há menos de um ano. A (59,12%), o que pode ser justificado este estudo com 70% de acertos na
maioria (73,3%) afirma não ter parti- considerando que a maioria dos ma- avaliação das práticas e o limite míni-
cipado de nenhuma capacitação para nipuladores apresentou pouco tempo mo de 20,0% dos acertos, concluindo
o cargo e, entre os que afirmaram re- de exercício na função (66,7% com que alguns manipuladores colocavam
ceber treinamento (26,7%), somente menos de um ano) e pela ausência de o alimento em risco. Carvalho et al.
6,7% haviam realizado pelo menos treinamento para execução das ativi- (2008), em seu estudo, concluíram
um durante os últimos dois anos. dades (73,3%). É importante ressaltar que as manipuladoras parecem ter
A falta de conhecimento em SA e que este bloco demandava do parti- suas atividades guiadas por um co-
de BPF pode ser preditora de atitu- cipante um conhecimento básico de nhecimento empírico adquirido por
des inadequadas na rotina de trabalho termos técnicos e específicos, o que meio da prática.
(COLOMBO, OLIVEIRA e SILVA, pode ter exigido do manipulador um Soares (2011) encontrou valores de
2009). Neste estudo foi observado conhecimento aprofundado acerca escores semelhantes aos desta pesqui-
que 73,3% dos merendeiros não pas- do tema abordado. Nenhum manipu- sa. Seus achados indicam a variável
saram por nenhuma capacitação para lador alcançou o limite máximo de conhecimento um pouco superior,
desenvolver as atividades inerentes acertos (100%) no referido bloco, em com 65,2% de acertos, e atitudes e
ao cargo e que, entre os que haviam contrapartida o limite mínimo foi de práticas levemente inferiores, 80,0%
participado (26,7%), somente 6,7% 32% das questões, o que indica co- e 70,0% respectivamente.
haviam feito um treinamento nos úl- nhecimento precário de alguns ma- Com relação ao bloco II, as pergun-
timos dois anos. Melo et al. (2010),, nipuladores. Gonzalez et al. (2009) tas com melhor desempenho foram
em estudo com manipuladores de ali- avaliaram os conhecimentos de mani- as perguntas relacionadas à impor-
mentos concluíram que o serviço de puladores de alimentos em Santos-SP tância da lavagem de mãos (100%)
alimentação coletiva tem contratado e identificaram uma média de 63,0% e sobre a necessidade de afastar-se

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

do trabalho durante uma doença in- exceto a questão que abordava sobre satisfatórios, 96,7% dos manipula-
fecciosa (100%). Os manipuladores Clostridium botulinum, na qual 55% dores afirmaram que a higiene das
apresentaram um bom percentual de reconheceram o micro-organismo mãos pode prevenir doenças de ori-
acertos com relação a conhecimentos como causador de doença alimentar. gem alimentar e 98,3% confirmaram
sobre contaminação cruzada (83,3%) Estes resultados foram análogos aos que alimentos crus e cozidos devem
e quanto à presença de micróbios na de Soares (2011), onde foi observa- ser armazenados separadamente para
pele, boca e nariz (85,0%). do que os manipuladores possuíam reduzir o risco alimentar. As questões
As questões referentes à limpeza conhecimentos insuficientes sobre os que abordavam a importância do uso
de utensílios demonstraram valores agentes patogênicos, a não ser no caso de Equipamento de Proteção Indivi-
discordantes. Quando abordado sobre da Salmonella (63,3%) e Clostridium dual (EPI) obtiveram acima de 90%
a diferença entre limpar e sanitizar botulinum (81,9%). A falta de conhe- de acertos.
38,3% relataram não saber ou mar- cimentos sobre DTA é confirmada A respeito da lavagem de ovos foi
caram a alternativa incorreta, o que quando 83,3% afirmam que alimen- observado que 68,3% declararam ser
justifica a porcentagem encontrada tos contaminados sempre têm algu- correto realizar a lavagem dos ovos
na questão sete, que avalia se a lava- ma alteração na cor, odor ou sabor. imediatamente após o seu recebimen-
gem de utensílios com detergente os Segundo Franco e Landgraf (2008), to. Colombo, Oliveira e Silva (2009)
deixa livres de contaminação, onde nem sempre os organismos patogê- identificaram em seu estudo que
48,4% não sabiam ou marcaram a nicos causarão alterações sensoriais 48,0% dos manipuladores lavavam
opção incorreta. Os valores encon- visíveis, o que não exclui sua patoge- os ovos antes do preparo e que 33%
trados demonstram que uma quanti- nicidade. não realizam esta prática. Na Portaria
dade significativa de manipuladores Ao avaliar o conhecimento sobre nº 01, de 21 de fevereiro de 1990 re-
não apresentava conhecimento sobre controle de temperatura para alimen- comenda-se que a lavagem dos ovos
a higienização correta dos utensílios. tos perecíveis e alimentos quentes seja realizada no momento do con-
Segundo recomendação da RDC n° prontos para o consumo, a maioria, sumo, o mais rápido possível e sem
216, a higienização correta deve se- 70,0% e 71,7% respectivamente, não imersão (BRASIL, 1990), segundo
guir as etapas de limpeza, onde há re- sabia ou marcou a alternativa incorre- ABERC (2003) a lavagem dos ovos
tirada de substâncias indesejadas e a ta. Este achado diverge do apresenta- deve ser realizada somente antes do
desinfecção com produtos saneantes, do por Soares (2011), onde 50,6% e uso, com utilização de água potável e
devidamente regularizados pelo Mi- 58,4% acertaram as respectivas per- lavados um a um.
nistério da Saúde, devendo constar no guntas. No entanto, Gonzalez et al. É importante salientar que, em al-
Manual de BPF do estabelecimento e (2009), ao estudarem o conhecimento guns critérios com resultados satis-
ser abordada em treinamentos contí- de manipuladores sobre a temperatu- fatórios, há manipuladores que des-
nuos (BRASIL, 2004c). ra ideal de conservação do alimento conhecem a conduta adequada. Este
Quanto aos conhecimentos rela- quente, verificaram que 34% também fato pode ser observado na questão
cionados às DTA’s constatou-se que não sabiam identificar a temperatura oito onde 71,7% dos manipuladores
53,0% dos manipuladores não foram adequada. souberam identificar que a afirmação
capazes de identificar os grupos mais A RDC nº 216 dispõe sobre a tem- “a melhor maneira de descongelar um
expostos, este resultado foi semelhan- peratura correta para preservar as con- frango é em uma bacia com água fria”
te ao encontrado por Soares (2011), dições higienicossanitárias do alimen- está incorreta, porém, 23,3% colocam
que identificou nas escolas munici- to, sendo que a recomendação para o alimento em situação de inseguran-
pais de Camaçari - BA 75,3% de ma- produtos quentes é de temperaturas ça e 5% desconhecem a forma correta
nipuladores incapazes de reconhecer superiores a 60°C por no máximo seis de descongelamento. A Resolução nº
os grupos de risco. Deve-se salientar horas e para alimentos refrigerados 216 determina que o descongelamento
que estes manipuladores atendem temperaturas inferiores a 5ºC. ocorra em refrigeração sob temperatu-
uma clientela classificada dentro dos Com relação ao bloco III foram ra inferior a 5°C (BRASIL, 2004c).
grupos vulneráveis (BRASIL, 2012b; avaliadas com 100% de acertos, as Com relação ao bloco II e III foi ob-
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PE- questões que abordavam a condição servado que os manipuladores, mesmo
DIATRIA, 2012). de saúde dos trabalhadores, a sani- não sabendo a conduta adequada, op-
A maior porcentagem dos mani- tização de tábuas e facas e o uso de tavam por responder às perguntas de
puladores não sabia ou respondeu de luvas em caso de cortes e escoria- forma empírica não admitindo que não
forma incorreta às questões referen- ções nas mãos. Outros critérios ava- sabiam qual afirmação estava correta.
tes aos agentes causadores de DTA’s, liados também obtiveram resultados O bloco IV avaliou as práticas dos

49
ARTIGO
manipuladores. Em relação ao uso necessidade de checar a temperatura São Paulo, 2003.
de EPI verificou-se que apenas 8,3% do refrigerador/freezer, 90,0% dos BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária
relataram sempre usar luvas durante manipuladores afirmaram ser indicado e Abastecimento- MAPA. Secretaria de
a distribuição, 88,3% nunca usavam realizar a verificação, porém 70% não Inspeção de Produto Animal. Portaria nº
máscaras durante a distribuição de sabiam ou responderam de forma in- 1, de 21 de fevereiro de 1990. Normas
alimentos não embalados e 86,7% e correta a temperatura de refrigeração. Gerais de Inspeção de Ovos e Derivados,
90% relataram sempre usar avental É possível verificar neste bloco, que propostas pela Divisão de Inspeção de
e touca respectivamente. Colombo, os manipuladores entrevistados pode- Carnes e Derivados - DICAR que serão
Oliveira e Silva (2009) encontraram riam responder que executavam deter- divulgadas através de Ofício Circular da
que 87% das merendeiras utilizavam minada atividade mesmo que não as SIPA. DOU, Brasília, 1990.
uniformes apropriados e 100% não colocassem em prática, considerando BRASIL. Apoio Fome Zero- Associação de
utilizavam máscaras no momento da que a avaliação foi realizada por práti- Apoio a Políticas de Segurança Alimen-
distribuição de alimentos, no mesmo cas auto relatadas. tar. Manual de Gestão Eficiente da Me-
sentindo Calvet et al. (2012) encon- renda Escolar. São Paulo: 2004a.
traram 100% de inadequação quanto BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Na-
ao uso de EPI. Diferentemente destes CONCLUSÃO cional de Vigilância Sanitária- ANVISA.
estudos, Silva, Germano e Germano Cartilha sobre boas práticas para ser-
(2003), em pesquisa em escolas es- Os manipuladores de alimentos que viços de alimentação: Resolução- RDC
taduais, concluíram que os principais trabalhavam nas pré-escolas de Rio n°216/2004. 3.ed. Brasília, [2004?b ].
problemas referentes à higiene pesso- Branco-AC apresentaram escolaridade BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Na-
al estavam relacionados à falta de uni- mais elevada do que em outros estu- cional de Vigilância Sanitária- ANVISA.
formes limpos e de cor clara, além da dos, contudo, demonstraram possuir Resolução-RDC n° 216, de 15 de setem-
ausência de proteção para cabelo. pouco conhecimento sobre SA, DTA’s bro de 2004. Dispõe sobre Regulamento
Verificou-se que, embora os mani- e BPF. Ao avaliar os limites mínimos Técnico de Boas Práticas para Serviços
puladores relatassem considerar deter- de acertos, observou-se que alguns de Alimentação. DOU, Brasília, 2004c.
minada atividade importante, os mes- manipuladores colocavam em risco a BRASIL. Ministério da Saúde. Lei nº 11.346,
mos nem sempre as realizavam, como alimentação escolar. Quanto aos resul- de 15 de setembro de 2006. Cria o Sis-
é observado com o uso de luvas, onde tados satisfatórios nos blocos de atitu- tema Nacional de Segurança Alimentar
85,0% dos merendeiros concordaram des e práticas, é possível inferir que há e Nutricional – SISAN com vistas em
que o uso de luvas reduz a contamina- uma dedução por parte dos entrevista-
assegurar o direito humano à alimenta-
ção alimentar, porém 76,6% relataram dos sobre a assertiva correta embasa-
ção adequada e dá outras providências.
nunca ou raramente realizar esta prá- DOU, Brasília, 2006.
da nos conhecimentos adquiridos por
tica. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria
meio do cotidiano e da prática.
O hábito de sempre descongelar os de Vigilância em Saúde. Departamento
Considerando a ausência de capaci-
alimentos em temperatura ambiente de Vigilância Epidemiológica. Manual
tações aos merendeiros, torna-se evi-
foi de 36,7%, sendo que apenas 46,7% integrado de vigilância, prevenção e
dente a necessidade da realização de
relataram nunca realizar esta conduta. controle de doenças transmitidas por
treinamento no momento da admissão
Este achado pode ser avaliado em pa- alimentos. Brasília, 2010. (Série A. Nor-
bem como da reciclagem dos demais mas e Manuais Técnicos).
ralelo com a questão oito do bloco de
profissionais. As temáticas devem
atitudes que avaliou a melhor maneira BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária
abordar conhecimentos em BPF e SA
de descongelar um frango onde 28,3% de Atenção à Saúde. Departamento
na pretensão de que o saber adquirido
não souberam ou erraram quanto a de Atenção Básica. Saúde da criança:
se torne parte intrínseca da identidade
identificar a prática inadequada. crescimento e desenvolvimento. Brasí-
destes profissionais e seja refletido na
Ao avaliar as práticas observou-se lia, 2012a. (Cadernos de Atenção Básica,
ação diária dos mesmos. nº 33).
que 96,7% dos merendeiros não con-
ferem a temperatura interna das carnes BRASIL. Ministério da Educação. Fundo
REFERÊNCIAS
com termômetro, este dado é justifica- Nacional de Desenvolvimento da Educa-
do pela ausência de termômetros culi- ção- FNDE. Manual de orientação para
nários nas cantinas escolares conforme ABERC- Associação Brasileira de Empresas a alimentação escolar na educação in-
relatado pelos manipuladores. de Refeições Coletivas. Manual ABERC fantil, ensino fundamental, ensino mé-
Com relação ao controle de tem- de Práticas de Elaboração e Serviço dio e na educação de jovens e adultos.
peratura vale ressaltar que, quanto à de Refeições para Coletividades. 8 ed. 2. ed. Brasília: Programa Nacional de

50
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

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51
ARTIGO

Shigella sp: UM PROBLEMA DE


on the subject, in order to verify the
incidence of Shigella in food approa-
ching its characteristics and damage
to health.

SAÚDE PÚBLICA. Keywords: Food infection. "Fast


food". Food contamination.

INTRODUÇÃO
Fernanda de Paula Longo da Cunha

N
Michelle Luzia Aparecida Silva Vilela o decorrer dos anos houve
um aumento do consumo
Talita Maximiano
de alimentos em fast foo-
Tatiana Maria Mendes Barbosa ds, isso aconteceu devido
às mudanças socioeconômicas, entre
Davi Augusto de Lima Guimarães
elas a inserção da mulher no mer-
Rômulo César Clemente Toledo * cado de trabalho (ORLANDI et al.,
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro - 2002; AKUTSU, 2005).
Campus Ituiutaba, Ituiutaba – MG. Segundo Boulos (1999); Silva
(2006), associado a esse cresci-
* romulo@iftm.edu.br mento está o aumento de Doenças
Veiculadas por Alimentos (DVA),
que ocorrem devido a práticas ina-
RESUMO
dequadas nas diversas etapas da
confecção da refeição (recebimento
O aumento do consumo de refeições fora de casa está associado ao da matéria-prima, armazenamento,
aumento das Doenças Veiculadas por Alimentos (DVA), que são prove- pré-preparo, preparo, distribuição,
nientes do consumo de alimentos e água contaminados, principalmente, tempo em que o alimento fica ex-
devido à falta de higiene no preparo dos alimentos e à ausência, em mui- posto na distribuição, temperatura),
tos casos, do tratamento da água usada no preparo destes alimentos. A matéria-prima inadequada e tam-
shigelose é uma DVA que se caracteriza como uma doença inflamatória bém pelo número de pessoas en-
do trato gastrointestinal causada pela Shigella cujos sintomas e caracte- volvidas nessas etapas e na área de
rísticas se assemelham à salmonelose. O gênero Shigella possui quatro exposição e consumo da refeição.
espécies: S. dysenteriae, S. flexneri, S. boydii e S. sonnei. Para a realiza-
A implantação de programas de
ção deste trabalho foi realizado levantamento de artigos publicados em
higiene (Procedimentos Operacio-
revistas científicas sobre o tema, com o objetivo de verificar a incidência
nais Padronizados - POP’s, Boas
de Shigella em alimentos abordando suas características e danos provo-
Práticas de Fabricação - BPF, Aná-
cados à saúde.
lise de Perigos e Pontos Críticos
Palavras-chave: Infecção alimentar. Fast food. Contaminação alimentar. de Controle - APPCC) deve ser
implementada para evitar as DVA
ABSTRACT em restaurantes fast foods que pos-
suem uma clientela bastante diver-
The increase of the consumption of meals out of house is associated to the sificada quanto a faixas etárias e
increase of the foodborne ilnesses, which are originating from the consump- condições de saúde, o que pode ser
tion of foods and water contaminated mainly due to the lack of hygiene in the fator determinante para as DVA, já
preparation of the foods and the absence in many cases of the treatment of que esses clientes podem promo-
water used in the preparation of these foods. ver a contaminação dos alimentos
The shigelose is a foodborne disease that is characterized as an inflamma- (BRASIL, 1993; FIGUEIREDO;
tory disease of the gastrointestinal treatment, caused by Shigella, and whose NETO, 2001; SOUZA; SILVA,
symptoms and characteristics resembles salmonelose. The type Shigella has 2006).
four sorts: S. dysenteriae, S. flexneri, S. boydii and S. sonnei. To carry out De acordo com Tosin e Macha-
this work was carried out survey of articles published in scientific journals do (1995); Botelho et al. (2005), as

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

DVA são provenientes de procedi- número de morbidade e mortalida- O surto de DVA relaciona-se à
mentos inadequados, envolvendo de na população em geral (GIOVA, ocorrência de dois ou mais casos
micro-organismos, principalmente 1997; BRASIL, 2006). de uma mesma doença resultante
bactérias, fungos, ocasionalmente Os mecanismos de ação dos pa- da ingestão de um alimento comum
vírus e alguns parasitas, exigindo tógenos envolvidos também são (EDUARDO et al., 2003; PIRES
práticas de higiene bem implanta- variados. Podem ser classificadas et al., 2002). Chouman, Ponsano
das, registradas e obedecidas para como infecção alimentar, quan- e Michelin (2010) e Oliveira et al.
que cumpram seus propósitos de do são causadas pela ingestão de (2010) afirmam que as DVA cau-
diminuir os riscos de contaminação micro-organismos patogênicos, de- sam danos físicos e gastos aos con-
da refeição. nominados invasivos, com capaci- sumidores, além de prejuízos mo-
Os principais micro-organismos dade de penetrar e invadir tecidos; rais e financeiros aos restaurantes.
associados às doenças são Salmo- toxinfecções, quando causadas por Os sintomas das DVA diferenciam-
nella, Shigella, Escherichia coli, micro-organismos toxicogênicos, -se conforme o agente infeccioso e
Staphylococcus aureus, Listeria, que liberam toxina durante a sua incluem dor no estômago, náuseas,
dentre outros. A Shigella apresen- multiplicação, esporulação ou lise vômitos, diarreia e às vezes febre.
ta características similares à Sal- na luz intestinal e essas toxinas O quadro clínico pode ser mais gra-
monella e são poucos os dados e atuam nos mecanismos de secre- ve ou prolongado dependendo do
informações sobre sua ocorrência ção/absorção da mucosa do intes- patógeno envolvido, estado físico e
(CARVALHO, 2001; BORGES; tino, ou classificadas ainda como nutricional do paciente.
FREITAS, 2002; TALAMINI et al., intoxicação, quando causada pela Para determinar uma DVA em
2005). ingestão de toxinas formadas em um paciente, o médico deve so-
Diante do exposto, estabeleceu- decorrência da intensa proliferação licitar exames laboratoriais que
-se como objetivo deste estudo do micro-organismo patogênico identifiquem o micro-organismo
uma revisão bibliográfica sobre a no alimento (ALVES et al., 2001; envolvido na doença gastrintestinal
bactéria Shigella, explorando suas GAVA, 1988; FORSYTHE, 2002). e comunicar os resultados para as
características e danos provocados As infecções gastrointestinais agências de saúde pública local, es-
à saúde. representam um problema impor- tadual e federal. Muitos pacientes
tante de saúde pública. De acordo apresentam doença de forma bran-
Doenças Veiculadas por Ali- com dados do Sistema de Informa- da ou assintomática que não são
mentos ções Hospitalares (SIH) do Minis- diagnosticadas com exames de roti-
De acordo com Schmidt, Figuei- tério da Saúde, ocorreram mais de na. Em outro momento, as doenças
redo e Nadvormy (2004); Passos 3.400.000 internações por DVA no não são notificadas, ficando o caso
e Vilaça (2010); Monge e Arias Brasil no período de 1999 a 2004, desconhecido para o serviço públi-
(1991), apesar de haver maior aten- aproximadamente 570 mil casos co. A detecção de surtos de DTA é
ção na cadeia produtiva dos alimen- por ano. Esses números podem ser essencial nas práticas de controle e
tos, ainda são crescentes as doenças maiores já que há falta de notifica- prevenção das mesmas, pois averi-
veiculadas por alimentos, causadas ção dos casos para o sistema oficial guam os prováveis causadores da
por contaminação na produção, e muitas pessoas não procuram os doença para assim serem tomadas
processamento, manipulação, co- serviços médicos (WELKER et al., medidas de correção evitando o
mercialização, dentre outros. 2010; PEDRA et al., 1995). aparecimento de novos casos (AN-
Estima-se que milhões de pes- Em seu estudo, Passos e Vilaça TUNES et al., 2005; STAMFORD
soas em todo o mundo sejam aco- (2010) mostraram que, no final dos et al., 2006).
metidas por doenças veiculadas por anos 80, a Organização Mundial de A contaminação acontece quan-
alimentos (DVA) representando Saúde (OMS) verificou que mais do as normas estabelecidas pela
um importante problema de saúde de 60% das doenças de origem ali- legislação não são seguidas, princi-
pública (KÃFERTEIN; MOJARJE- mentar eram causadas por bactérias, palmente, pelo manuseio inadequa-
MI; BETTCHER, 1997; NOLLA; fungos, vírus e parasitas, principal- do. Um dos principais responsáveis
CANTOS, 2005). mente relacionados às práticas ina- pela contaminação dos alimentos é
As DVA são doenças de natureza dequadas de manipulação, matéria- o manipulador, podendo estar doen-
infecciosa ou tóxica causada pelo -prima contaminada, falta de higiene te ou ser portador assintomático ou
consumo de alimentos ou de água durante a preparação, equipamentos ainda apresentar hábitos de higiene
contaminada, levando a um elevado e estrutura operacional deficientes. inadequados. Esse manipulador de

53
ARTIGO
alimentos, mesmo sem apresentar geralmente sem gás, não possuem tenha sido descrito. Ainda não está
doenças, carrega micro-organis- cápsula, exceto S. flexneri e S. claro como estes micro-organismos
mos em diferentes partes do corpo boydii, não hidrolisam ureia, não podem se multiplicar em valores de
(boca, nariz, intestino, etc.) que po- produzem gás sulfídrico, não des- atividade de água mais baixos que
dem causar a contaminação (AN- carboxilam a lisina e, além disso, aqueles exigidos por Salmonella
DRADE; SILVA; BRABES, 2003; não utilizam citrato nem acetato de e Escherichia. Sua resistência ao
ABREU et al., 2010; CASTRO; sódio como única fonte de carbo- calor é semelhante àquela expres-
BARBOSA; TABAI, 2011). no (FRANCO; FANDGRAF, 2005; sada por cepas de Escherichia coli.
Kochanski (2009) afirma que NIOGY, 2005; PENATTI et al., Ela apresenta características feno-
a higiene adequada do ambiente, 2007). Shigella spp é filogenetica- típicas semelhantes à Salmonella
equipamentos e utensílios contri- mente relacionada, tanto com a Sal- (GERMANO; GERMANO, 2001;
bui para a manutenção da qualida- monella, quanto com a Escherichia BARRETO, 2000; JAY, 2005).
de original dos alimentos e é por (HAIMOVICHI; VENKATESAN, Estas bactérias não são afeta-
isso que Almeida (1995) estabelece 2006). das pela acidez do estômago, se
que as doenças transmitidas por ali- Conforme Bastos e Loureiro proliferam no intestino delgado e
mentos estão ligadas ao baixo nível (2011); Who (2005), o gênero da causam lesões no intestino grosso,
de instrução dos manipuladores de Shigella inclui quatro espécies, S. destruindo o tecido da mucosa in-
alimentos, o que também coinci- dysenteriae, S. flexneri, S. boydii e testinal e causando diarreia intensa
de com Dolinger (2010), ao fazer S. sonnei. A S. sonnei e S. boydii com sangue e muco. As espécies de
referência às pesquisas realizadas geralmente estão relacionadas às Shigella virulentas produzem exo-
pelo Centers for Disease Control enfermidades mais brandas. A mais toxinas que inibem a síntese protei-
and Prevention (CDC), que reve- comum em países em desenvolvi- ca, matando as células epiteliais do
lam que, entre 1998 e 2002, três mento é a S. flexneri. Nos países intestino grosso. Os principais sin-
quartos dos surtos de agentes etio- desenvolvidos a S. sonnei é a mais tomas nas pessoas infectadas são
lógicos transmitidos por alimen- prevalente e a S. dysenteriae está cólicas abdominais, febre e diar-
tos originaram-se em restaurantes, relacionada à forma mais grave da reia, sendo que um indivíduo doen-
destacando-se os seguintes micro- doença. No Brasil, estudos mos- te pode ter até 20 evacuações por
-organismos: Salmonella, Escheri- tram a prevalência da S. flexneri so- dia (TORTORA; FUNKE; CASE,
chia coli, Staphylococcus aureus bre a S. sonnei. As taxas mais altas 2000; APHA, 2000).
e Shigella ssp, frequentemente en- foram observadas na região sudeste A Shigella é frequentemente
contrados em carnes, ovos, alimen- (39%), seguida da região nordeste disseminada pelo contato dire-
tos frescos e outros produtos de ori- (34%), havendo pouca ocorrência to pessoa-pessoa por transmissão
gem animal. no sul do país (3%). fecal-oral ou indiretamente, pelo
De acordo com Mesquita, Lima As espécies de Shigella podem consumo de alimentos ou água
e Lima (2009); Leite, Raddi e Men- ser identificadas por provas bio- contaminados. A contaminação dos
donça (1989), muitos micro-or- químicas e por análise antigêni- alimentos geralmente se dá atra-
ganismos entéricos podem causar ca (BASTOS; LOUREIRO, 2011; vés de manipuladores de alimentos
disenteria bacilar, porém o único CORRÊA; PEÇANHA, 2010). infectados e com higiene pessoal
causador da disenteria associada Ao contrário da Salmonella e inadequada (SANSONETTI, 2001;
com a doença clínica severa e que Escherichia, a Shigella não apre- GUPTA, 2004; WARREN; PA-
pode resultar em morte é a Shigella senta reservatórios animais que RISH; SCHNEIDER, 2006).
spp. não sejam os humanos e, apenas A doença causada por Shigella é
em alguns casos excepcionais, denominada shigelose (disenteria
Shigella primatas superiores como o chim- bacilar), que é uma doença infla-
As bactérias do gênero Shigella panzé e os gorilas podem ser con- matória do trato gastrointestinal.
são micro-organismos pertencentes siderados hospedeiros acidentais O quadro clínico é mais acentua-
à família Enterobacteriaceae, assim (RIBEIRO, 2000). As espécies de do, prolongado e provoca maiores
como Salmonella e Escherichia. Shigella apresentam característi- complicações que os demais micro-
São bastonetes gram negativos, não cas típicas de bactérias entéricas. -organismos. A shigelose é respon-
formadores de esporos, imóveis, Crescem em temperaturas entre sável pela morbidade e mortalidade
aeróbios facultativos, fermentam 10ºC e 48ºC e pH ideal de 6 a 8, em populações de alto risco, como,
a glicose com produção de ácido, embora crescimento em pH 5 já crianças menores de 5 anos, idosos,

54
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

dentre outras (PEDRA et al., 1995; tornando o alimento seguro do pon- proporcionar suporte a profissio-
POURAKBARI et al., 2010; COR- to de vista microbiológico (CAM- nais da área de alimentos e às auto-
RÊA; PEÇANHA, 2010). POS; SOUZA, 2003; SOUZA, ridades fiscalizadoras na prevenção
Para Mesquita, Lima e Lima 2006). da shigelose em alimentos.
(2004); Pourakbari et al. (2010);
Bastos e Loureiro (2010), o trata- CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS
mento procura corrigir os distúr-
bios hidroeletrolíticos e, nos casos Com base nos resultados desta ABREU, IMO et al. Aspectos da conta-
mais severos é necessário o uso de revisão bibliográfica observa-se minação microbiológica em horta-
antibióticos. que, apesar das Doenças Veicula- liças. Rev Ciênc Tecnol Aliment,
Segundo Passos e Vilaça (2010); das por Alimentos (DVA) serem Campinas. v.30, n.1, p.108-118.
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e prevenir riscos provenientes de há certa dificuldade de se identifi- ca/arquivos/Download/Bibliote-
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foram estabelecidos regulamentos A shigelose é apontada como um agosto de 2012.
técnicos com normas para manipu- problema de saúde pública, tan-
lação segura e destaca-se a Portaria AKUTSU, RC et al. A ficha técnica de
to em países em desenvolvimento
1428/93 do Ministério da Saúde, a preparação como instrumento de
quanto nos desenvolvidos. No Bra-
qual dispõe sobre as diretrizes ge- qualidade na pro\dução de refei-
sil existem poucos relatos de shige-
rais para o estabelecimento de boas ções. Rev Nutr, Campinas. v.18,
lose, o que pode ser atribuído à fal-
práticas de fabricação a prestadores n.2, mar/abr. 2005.
ta de pesquisa de Shigella em água
de serviços na área de alimentos. e alimentos. ALVES, LMC et al. Toxinfecção alimen-
Em 1997 foi publicada a Portaria Outro fator que pode ter contri- tar por Salmonella enteritidis: re-
326/97 da Secretaria de Vigilância buído com a falta de relatos sobre a lato de um surto ocorrido em São
Sanitária do Ministério da Saú- shigelose é o fato de que a Shigella Luis /MA. Rev Hig Alimentar. v.15,
de, a qual estabelece os requisitos apresenta características fenotípi- n.80/81, p.57-58, 2001.
gerais sobre as condições higieni- cas semelhantes às da Salmonella, ANDRADE, NJ; SILVA, RMM; BRABES,
cossanitárias e das boas práticas um dos principais agentes causa- KCS. Avaliação das condições mi-
de fabricação para estabelecimen- dores das DVA no Brasil. Essa se- crobiológicas em Unidades de Ali-
tos produtores/industrializadores melhança fenotípica, associada à mentação e Nutrição. Ciênc Agro-
de alimentos, definindo condições semelhança dos sintomas e das ca- tec. Lavras, v.27, n.3, p.590-596,
para elaboração do Manual de Boas racterísticas dos surtos, pode pos- 2003.
Práticas de Fabricação. A RDC sibilitar que os surtos causados por ANTUNES, F. Relação entre a ocorrên-
216/04 – ANVISA foi publicada Shigella sejam atribuídos à Salmo- cia de diarreia e surtos alimenta-
em 2004 e dispõe do Regulamen- nella. res em Curitiba-PR. Dissertação
to técnico de Boas Práticas para A Shigella pode ser transmitida (Mestrado em Ciências Veteriná-
Serviços de Alimentação, estabe- através do consumo de alimentos rias) - Universidade Federal do Pa-
lecendo os requisitos de instalação, e água contaminados ou através de raná, Curitiba, 2005.
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a segurança do manipulador no de corrigir a perda de fluídos e ele- 451-455. 2000.
manuseio de alimentos, ampliar as trólitos, entretanto em alguns casos
perspectivas educacionais deste e BARRETO, ESS. Doenças transmitidas
pode se tornar severa, nestes casos
fornecer à população um alimento por alimentos: Clostridium perfrin-
adota-se o uso de antibióticos.
seguro. Uma forma de educar esse gens. Boletim de divulgação técni-
Diante dos dados levantados
manipulador é fazê-lo conhecer os ca e científica, n.7, jul. 2000. Dis-
pode-se concluir que mais pesqui-
micro-organismos e o que se deve ponível em:
sas com o gênero Shigella em ali-
fazer para evitar contaminação, mentos devem ser realizadas, para < http://www4.ensp.fiocruz.br/visa/

55
ARTIGO
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57
ARTIGO

AVALIAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS


meio do critério estabelecido, ficou
classificada no Grupo 1. A correção
das inadequações é necessária para
garantir a qualidade e a segurança

DE FABRICAÇÃO EM UNIDADE
na produção de refeições oferecidas
pela unidade.
Palavras-chave: Segurança dos
alimentos. Doenças veiculadas por

DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO alimentos. Checklist.

ABSTRACT

DE ORGANIZAÇÃO MILITAR DA The food and nutrition are re-


sponsible for providing balanced
meals and within sanitary condi-
tions satisfactory. With this study

CIDADE DE BELÉM - PA. aimed to evaluate the good manu-


facturing practices in food and
nutrition unit of a military organi-
zation of the city of Belém / PA, us-
Erika Cibelle Costa da Silva * ing as evaluation criterion the ap-
Nutricionista. Belém – PA. plication of an appropriate check
list of Ordinance No. 854 / Selom
Bruno Henrique dos Santos Morais 158 items were evaluated subdi-
Universidade da Amazônia, Belém - PA. vided into 5 classes, as an alterna-
tive to the observed items: (1) as;
Elen Vanessa Costa da Silva
(2) non-compliant and (3) does not
Universidade do Estado do Pará, Belém - PA. apply, classifying the UAN in ac-
Bruno de Cassio Veloso de Barros cordance with the ordinance scor-
ing criteria: (Group 1) 76-100%
Instituto Evandro Chagas – Belém - PA.
(Group 2) 51-75%; and (Group 3)
* erika.cibelle@bol.com.br 0 to 50%. The evaluation identified
100% compliance to the handlers
categories and documentation of
RESUMO non-compliance to the categories
buildings and facilities 17.8%;
As unidades de alimentação e nutrição são responsáveis pelo forneci- equipment, furniture and applianc-
mento de refeições balanceadas e dentro de condições higienicossanitá- es 4.8% and production and trans-
rias satisfatórias. Com este estudo, objetivou-se avaliar as boas práticas portation of food 12.5%. According
de fabricação na unidade de alimentação e nutrição de uma organização to the results obtained uan 87.9%
militar da cidade de Belém - PA, usando como critério avaliativo a aplica- of adequacy, considering the total
ção de um checklist adaptado da Portaria nº 854/SELOM. Foram avalia-
items applicable, and, through the
dos 158 itens subdivididos em 5 categorias, tendo como alternativa para
established criterion, was classi-
os itens observados: (1) conforme; (2) não conforme e (3) não se aplica.,
fied in Group 1. The correction of
classificando a UAN de acordo com os critérios de pontuação da Portaria:
mismatches is necessary to ensure
(Grupo 1) 76 a 100%; (Grupo 2) 51 a 75%; e (Grupo 3) 0 a 50%. A avalia-
quality and safety in production of
ção identificou 100% de conformidade para as categorias manipuladores
meals offered by the unit.
e documentação e de não conformidades para as categorias edificações e
instalações: 17,8%; equipamentos, moveis e utensílios: 4,8% e produção Keywords: Good Practices. Food
e transporte de alimentos: 12,5%. De acordo com os resultados, a UAN safety. Transmitted diseases for
obteve 87,9% de adequação, considerando o total de itens aplicáveis, e, por Food. Checklist.

58
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

INTRODUÇÃO em Segurança Alimentar”, da Por- conformidades foi verificado na

A
taria nº 854 de 04 de julho de 2005 categoria manipuladores e docu-
qualidade higienicossani- (BRASIL, 2005). mentação e o maior percentual de
tária tem sido abordada não conformidades, na categoria
de forma contínua na atu- MATERIAL E MÉTODOS edificações e instalações conforme
alidade, tendo em vista os mostra a Figura 1.
surtos de doenças veiculadas por ali- O estudo foi desenvolvido em
mentos relatados em todo o mundo. uma Unidade de Alimentação e Edificação e Instalações
Esta qualidade é influenciada dire- Nutrição (UAN) de uma Organi- Nesta categoria foram analisados
tamente pela forma de manipulação zação Militar (OM) em Belém/PA. itens relacionados às características
dos alimentos, etapa onde ocorre boa A UAN produz uma média diária físicas e estruturais como pisos, te-
parte da contaminação (PAULA et de 1100 refeições distribuídas en- tos, forros, paredes, portas, janelas,
al., 2010). tre desjejum, almoço, jantar, ceia e iluminação, ventilação, instalações
O controle de qualidade é um lanche noturno. Para a verificação sanitárias, instalações elétricas,
sistema de proteção ao produto e das Boas Práticas, foi utilizado o controle integrado de vetores e pra-
ao consumidor, pois seu principal checklist adaptado da Portaria nº gas urbanas, abastecimento de água,
objetivo é assegurar a fabricação 854/SELOM de 04 de julho de 2005 manejo de resíduos, layout entre ou-
de alimento de excelente padrão e (BRASIL, 2005), específico para tros, totalizando 73 itens avaliados,
propiciar, ao consumidor, produto UAN militar. As alternativas aos sendo que 82,2% (n=60) estavam
em condições de cumprir sua finali- itens da Portaria eram: Sim, Não, conformes e 17,8% (n=13) estavam
dade de alimentar e nutrir. Os alvos Parcial e Não se Aplica, enquanto não conformes, como pode-se veri-
das diligências de inspeção são as no checklist adaptado as alternativas ficar na figura 1. Verificou-se, nas
matérias-primas, equipamentos da foram Conforme, Não Conforme e edificações e instalações, a inexis-
linha de produção, água de utiliza- Não se Aplica. Essa adaptação foi tência de ângulos abaulados entre
ção da fábrica, sistemas de higiene, realizada com o objetivo de facilitar as paredes e pisos e entre as pare-
limpeza e sanitização e o controle o preenchimento dos itens e conta- des e teto. Observou-se também que
do produto acabado (EVANGELIS- gem da pontuação final. O checklist as portas externas não possuiam
TA, 2005). foi composto pelas seguintes cate- fechamento automático e barreiras
Dentro deste contexto uma das gorias: 1) Edificação e instalações; adequadas para impedir a entra-
formas para se atingir um alto pa- 2) Equipamentos, móveis e utensí- da de vetores e outros animais (te-
drão de qualidade é a implantação lios; 3) Manipuladores; 4) Produção las milimétricas ou outro sistema).
das Boas Práticas de Fabricação e transporte do alimento e 5) docu- Em relação às janelas constatou-se
(BPF). A razão da existência do mentação, somando um total de 158 a inexistência de proteção contra
BPF está em ser uma ferramenta itens analisados. A classificação do insetos e roedores (telas milimé-
para combater, minimizar e sanar as estabelecimento foi realizada por tricas ou outro sistema). No item
contaminações diversas. Logo, defi- meio de pontuação, equivalente a 76 instalações sanitárias e vestiários
ne-se as Boas Práticas como proce- a 100% foi classificada como grupo para manipuladores observou-se
dimentos necessários para garantir 1; de 51 a 75% como grupo 2 e de 0 que os vasos sanitários, mictórios
a qualidade sanitária dos alimentos, a 50% como grupo 3 de acordo com e lavatórios não estavam íntegros e
oriundas de normas legais que têm o critério da SELOM (Secretaria de encontram-se em proporção inade-
o papel de auxiliar e principalmen- Logística, Mobilização, Ciência e quada ao número de empregados.
te orientar a garantia de qualidade Tecnologia). Ainda neste item observou-se que
de todos os processos da produção as torneiras não possuíam aciona-
ou industrialização dos alimentos RESULTADOS E DISCUSSÂO mento automático e as portas sem
(BRASIL, 2004). fechamento automático. Pisos e pa-
Desta maneira, esta pesquisa, A UAN em estudo obteve 87,9% redes apresentando estado de con-
teve como objetivo avaliar as boas de adequação, considerando o to- servação insatisfatório e iluminação
práticas de fabricação na unidade de tal de itens aplicáveis, e por meio e ventilação inadequadas. Presença
alimentação e nutrição de uma or- do critério estabelecido pela SE- de lixeiras sem tampas, vestiários
ganização militar da cidade de Be- LOM, classificando-se no Grupo com área incompatível e armários
lém/PA, tendo como referência as 1. A avaliação por categoria evi- individuais insuficientes para todos
recomendações das “Boas Práticas denciou que o maior percentual de os manipuladores, apresentando-se

59
ARTIGO

Figura 1- Percentual de conformidades e não conformidades da UAN da OM quanto às boas práticas de fabricação, por categoria avaliada.
Belém, PA.

desorganizados e em estado de con- categoria “equipamentos, móveis e sujos e em mal estado de conservação,
servação inadequado. Em relação ao utensílios” foi o que apresentou a me- uso de adorno normalmente, cabelos
manejo de resíduos, observaram-se li- nor percentagem de conformidades desprotegidos, baixa frequência de la-
xeiras sem identificação, sem tampas quanto às boas práticas (19,04%) no vagem das mãos e não uso de EPI´S.
e sem acionamento automático. primeiro período de avaliação. Além Durante as visitas, foi observado que
Castro et al. (2006) e Quintiliano da falta de cuidados durante a higie- os manipuladores não tinham o hábito
et al. (2008) também observaram ina- nização dos utensílios, os freezers, de usar uniformes completos, equipa-
dequações nesse item, como ausência câmaras e refrigeradores estavam em mentos de proteção individual (EPI’s)
de local para guarda dos pertences dos inadequado funcionamento e mal es- e não faziam a correta e periódica hi-
colaboradores, falta de organização e tado de conservação, e ainda sem me- giene das mãos. Após o treinamento,
problema na estrutura física do local. didores de temperatura e registro de este item foi o que obteve o maior
Em um estudo realizado por Genta monitoramento e calibração dos equi- acréscimo e a maior percentagem de
et al. (2005), em seis UANs, quatro pamentos. No segundo período de conformidade (71,48%). Os manipu-
delas apresentaram o mesmo risco de avaliação, essa percentagem passou ladores utilizaram os conhecimentos
contaminação, pois não possuíam li- para 38,09%. Com o treinamento ofe- repassados no treinamento, apresen-
xeiras com tampas. recido, os manipuladores perceberam tando nas visitas do segundo período,
a importância de higienizar correta- hábitos higiênicos e comportamento
Equipamentos, móveis e utensí- mente os equipamentos e utensílios, pessoal adequado.
lios bem como de armazená-los e orga-
Nesta categoria foram avaliados nizá-los adequadamente, para assim Produção e transporte de ali-
21 itens, onde encontraram-se 95,2% não provocar contaminações. mentos
(n=20) conformes e 4,8% (n=1) não Nesta categoria foram observados
conformes (figura 1), pois não havia Manipuladores 32 itens, onde 87,5% (n=28) estavam
planilhas de registros da temperatu- Nesta categoria foram analisados conformes e 12,5% não conformes
ra dos equipamentos. O percentual 14 itens, sendo que todos estavam em (n=4) (figura 1). Apesar do armaze-
de conformidades foi superior ao re- conformidade (100%) (Figura 1). No namento dos alimentos estar em local
gistrado por Vidal et al. (2011), que estudo semelhante realizado por Vidal adequado e organizado, os estrados
observaram 85,71% de adequação et al. (2011) observaram que apenas não eram de material apropriado e de
para a mesma categoria. Em estudo 71% dos itens avaliados estavam con- fácil higienização. Também foi obser-
realizado por Farias et al. (2011), a formes, pois detectaram vestuários vado na presente pesquisa a falta de

60
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

planilhas de registro de temperatura, para manutenção preventiva de equi- FIGUEIREDO, EL. Avaliação de boas
para ambientes com controle térmico. pamentos, o que resultou em apenas práticas e contagem microbiológica
Em relação ao transporte do produto 53% de adequação para os itens ava- das refeições de uma unidade de ali-
final, verificou-se a ausência de equi- liados nesta categoria. mentação hospitalar, do município de
pamento para controle de temperatura São Miguel do Guamá – Pará. Alim
quando se transporta alimentos que CONCLUSÃO Nutr, Araraquara, v.22, n.1, p.113-119,
necessitam de condições especiais de 2011.
conservação. Fato similar foi obser- O resultado deste estudo indica que GENTA, TMS; MAURICIO, A; MATIOLI, G.
vado por Farias et al (2011), em sua a Unidade de Alimentação e Nutri- Avaliação das boas práticas de fabrica-
pesquisa realizada em UAN hospita- ção da Organização Militar avaliada, ção através do checklist aplicado em
lar, que obteve 33% de conformidade alcançou 100% de conformidades restaurante self—service da região
nesta categoria, o controle de trata- em duas categorias. Considerando central de Maringá, Estado do Paraná,
mento térmico pelo binômio tempo/ a totalidade dos itens de verificação Rev Health Sciense, Maringá, v.27,
temperatura não era realizado e nem conclui-se que há falhas na adoção n.2. 2005.
registrado pelos funcionários, não se das boas práticas, principalmente nas GÓES, JAW et al. Capacitação dos mani-
certificando se as temperaturas de categorias edificações e instalações; puladores de alimentos e a qualidade
cocção dos alimentos eram suficien- equipamentos, móveis e utensílios; e da alimentação servida. Rev Hig Ali-
tes para assegurar sua qualidade mi- produção e transporte de alimentos. mentar, São Paulo, v.15, n.82, p.20-
crobiológica. Este estudo permitiu demonstrar 22, 2001
a importância da aplicação de uma
Documentação PAULA, JT et al. Condições Higiênico-
ferramenta simples e de baixo custo,
Nesta categoria foram avaliados17 -Sanitárias da Venda de Pescado em
como a aplicação de checklist, para a
itens, encontrando-se todos confor- Mercados Públicos do Recife. In: X
garantia da qualidade final da refeição
mes (100%) (figura 1). Na UAN Jornada De Ensino, Pesquisa e Exten-
que é oferecida a sua clientela
avaliada, o Manual de Boas Práticas são. Recife: UFRPE. 2010.
(MBP) e os Procedimentos Operacio- REFERÊNCIAS QUINTILIANO, CR et al. Avaliação das con-
nais Padronizados (POP’s) estavam dições higiênico-sanitárias em restau-
estabelecidos e sendo cumpridos. A rantes, com aplicação de ficha de ins-
Resolução RDC nº 216 (BRASIL, BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Na- peção baseada na legislação federal,
2004) estabelece que os serviços de cional de Vigilância Sanitária. Resolu- RDC 216/2004. Rev Hig Alimentar,
alimentação devem elaborar e im- ção RDC n. 216 de 15de setembro de v.22, n.160, p.25-30, 2008.
plementar os procedimentos de boas 2004. Regulamento técnico de boas
SANTOS, DM. Segurança alimentar:
práticas a fim de garantir as condições práticas para serviços de alimentação.
Aspectos técnicos e sócio-culturais
higienicossanitárias do alimento pre- DO da República Federativa do Brasil,
sobre riscos potenciais na rede ho-
parado. Vidal et al. (2011) identificou Brasília, 2004.
teleira de Florianópolis. Dissertação
em seu estudo, apenas 53% de con- BRASIL. Ministério da Defesa. Secretaria (Mestrado), Universidade Vale do Ita-
formidade na categoria Documenta- de Logística, Mobilização, Ciência e jaí, Balneário Camboriú, 2004
ção e, em relação aos POP’s, notou-se Tecnologia. Portaria n. 854, de 4 de
SÃO JOSÉ, JFB; COELHO, AIM; FERREI-
que não existiam POPs estabelecidos julho de 2005. Aprova o regulamento
RA, KR. Avaliação das boas práticas
para estes itens e, portanto, não eram técnico de boas práticas em segurança
em unidade de alimentação e nutrição
cumpridos: manejo de resíduos; ma- alimentar nas organizações militares.
no município de Contagem-MG. Alim
nutenção preventiva e calibração de Bol Exército, n.28, p.11-33, 2005.
Nutr, Araraquara, v.22, n.3, p.479-487,
equipamentos; seleção das matérias- CASTRO, FT; TABAI, KC; BARBOSA, CG. jul/set, 2001.
-primas, ingredientes e embalagens
Restaurantes self-services: situação VIDAL, GM; BALTAZAR, LRS; COSTA, LCF;
e programa de recolhimento de ali-
higiênicosanitária dos shoppings do MENDONÇA, XMFD. Avaliação das
mentos. Na unidade pesquisada por
município do Rio de Janeiro. Rev Univ boas práticas em segurança alimen-
São José et al. (2011) todos os Pro-
Rural: Sér Ciênc Vida, v.26, n.2, p.87- tar de uma unidade de alimentação e
cedimentos Operacionais Padroniza-
101, 2006. nutrição de uma organização militar
dos (POP’s) estavam estabelecidos,
entretanto não havia o cumprimento EVANGELISTA, J. Tecnologia de Alimen- da cidade de Belém, Pará. Alim Nutr,
dos POP’s para higienização de ins- tos. São Paulo: Atheneu, 2005. Araraquara, v.22, n.2, p.283-290, abr/
talações, equipamentos e utensílios, e FARIAS, JKR; PEREIRA, MMS; jun, 2011.

61
ARTIGO

CONDIÇÕES HIGIENICOSSANITÁRIAS
INTRODUÇÃO

O
Programa Nacional de
Alimentação Escolar

DE CRECHES PÚBLICAS EM UM
(PNAE) tem como objeti-
vo “atender às necessida-
des nutricionais dos alunos durante
sua permanência em sala de aula,

MUNICÍPIO NO SUL DE MINAS


contribuindo para o crescimento, o
desenvolvimento, a aprendizagem e
o rendimento escolar dos estudantes,
bem como para a formação de hábi-

GERAIS - BRASIL.
tos alimentares saudáveis” (CAR-
DOSO et al., 2010).
Uma das responsabilidades da
creche é a alimentação, pois o ato
Rafaela Bergmann Strada de Oliveira de alimentar adequadamente uma
Renata de Fátima Oliveira Santos criança permite a ela se desenvol-
ver com saúde intelectual e física,
Stella Silva Delduca diminuindo, ou evitando, também,
Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS, Alfenas – MG. o aparecimento de distúrbios e defi-
ciências nutricionais (FAÇANHA et
rafaela.bergmann@unifenas.br al., 2003).
Atualmente, uma das grandes
RESUMO preocupações com o alimento diz
respeito à sua qualidade; por isso, é
A maioria das cozinhas de escolas públicas brasileiras não possui estrutu- indispensável conhecer as condições
ra adequada para a manipulação higiênica dos alimentos, desde a recepção higienicossanitárias na sua produção.
da matéria-prima, até a sua distribuição. Deste modo objetivou-se avaliar as Dentre os componentes que podem
condições higienicossanitárias de cozinhas de cinco creches públicas de uma afetar essa condição, sem dúvida,
cidade no sul de Minas Gerais, no mês de novembro de 2014. Aplicou-se um encontra-se o manipulador de ali-
checklist de observação direta abrangendo a higiene pessoal, a higiene do mentos. Os manipuladores possuem
ambiente e área física, a higiene, manipulação e armazenamento dos alimen- fundamental importância na higiene
tos e o local e a segurança no trabalho. Observou-se que 100% das creches e sanidade da alimentação servida,
estavam com alguma inadequação, oferecendo assim riscos de contaminação visto que a eles cabe o manuseio,
à alimentação produzida pelas instituições. tornando-se fonte potencial de con-
Palavras-chave: Manipulador de Alimentos. Higiene. Contaminação. taminação caso ocorram falhas no
processo de preparo (OLIVEIRA,
BRASIL, TADDEI, 2008).
ABSTRACT
Com base no exposto acima o ob-
jetivo do presente trabalho foi avaliar
Most Brazilian public school kitchens don’t have the adequate structure as condições em que os alimentos
to process food hygienically, from de reception of the raw materials to its são armazenados, preparados e ofer-
distribution. Then the goal was to evalvate the hygienicalsanitary conditions tados aos alunos das creches públicas
of five kitchens in five public daycare centers in a city in the south of Minas em um município no sul de Minas
Gerais, during the month of November 2014. A direct observation checklist Gerais.
was applied, including personal hygiene, the hygiene of the environment and
the physical area, food manipulation, storage and work safety. It was noticed
MATERIAL E MÉTODOS
that a hundred percent of the daycare centers had some type of unqualifica-
tion, therefore offering risks of contamination to the food produced by the
O presente estudo de campo foi
institutions.
realizado em cinco (5) creches no
Keywords: Food manipulator. Hygiene. Contamination. mês de novembro de 2014 em um

62
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

município no sul de Minas Gerais, RESULTADOS E DISCUSSÃO armazenamento dos alimentos; e 3


selecionadas aleatoriamente, abran- itens relacionados ao local e segu-
gendo diferentes bairros da cidade. As cozinhas de um modo geral, rança no trabalho.
Foi aplicado um roteiro de inspe- não foram projetadas para atender
ção sanitária (checklist) nas cozinhas exigências de boas práticas de fabri- Higiene Pessoal
das creches, para análise dos seguin- cação e foram adaptadas conforme Sabe-se que os manipuladores de-
tes itens: higiene pessoal, higiene necessidades urgentes, sem projetos sempenham um papel de grande im-
do ambiente e área física, higiene, específicos. portância para a sanidade dos produ-
manipulação e armazenamento dos A partir da aplicação do checklist, tos alimentícios. A lavagem das mãos
alimentos e local e segurança no levantou-se a quantidade de itens e outros procedimentos de respon-
trabalho. O checklist foi preenchido adequados e inadequados (Tabela 1). sabilidade destes profissionais são
através da observação direta e ano- O checklist totalizava 26 itens sendo: primordiais à contribuição de boas
tação do que foi visto. Seguindo as 4 itens relacionados à higiene pesso- práticas no preparo de alimentos e
anotações foi feita a contagem dos al; 10 itens relacionados à higiene do garantia de qualidade, sem compro-
itens adequados e inadequados tota- ambiente e área física; 9 itens rela- metimento da saúde do consumidor
lizando 100% da pesquisa. cionados à higiene, manipulação e (OLIVEIRA et al., 2005).

Tabela 1 - Percentual de adequações e inadequações encontradas em 5 creches públicas de um município do Sul de Minas Gerais, 2014.

Higiene pessoal. Adequação Inadequação


Mãos lavadas e higienizadas corretamente 40% 60%
Touca e avental 80% 20%
Unhas curtas sem esmaltes e limpas 100%
Uniformes limpos e adequados 100%
Higiene do ambiente e área física.
Ambiente (azulejos, teto, luminárias, armários) 80% 20%
Equipamentos (liquidificador, batedeiras, geladeira, fogão, etc) 100%
Utensílios (canecas, pratos, talheres, panelas, etc) 100%
Acessórios (esponjas, porta sabão, pano de louça, etc) 100%
Ventilação e iluminação 40% 60%
Limpeza de bancadas, balcões e pias 100%
Retirada do lixo 100%
Controle de roedores e insetos 100%
Existem caixas de madeira ou papelão na cozinha 80% 20%
O fogão está limpo 100%
Higiene, manipulação e armazenamento dos alimentos.
Hortifrutis lavados corretamente 100%
Arroz e feijão escolhidos e lavados corretamente 100%
Conversa tosse ou espirra sobre a preparação 40% 60%
Realização do descongelamento 40% 60%
Separação dos alimentos por categoria 100%
Controle de validade dos alimentos 100%
Organização da geladeira 80% 20%
Reaproveitamento de alimentos 80% *
Risco de contaminação cruzada 40% 60%
Local e Segurança no trabalho
Presença de pessoas estranhas (Professor, Serventes, etc) 40% 60%
Utilização de calçados antiderrapantes 100%
As lâmpadas com protetor 100%
* Houve uma creche que não se aplicou ao quesito.

63
ARTIGO
Observou-se que em 2 escolas alguma irregularidade em relação também duas creches (40% do total)
(40% do total) houve adequação na ao ambiente físico do local. adequadas em relação à realização
higiene das mãos e em 3 escolas (60 Em relação à ventilação e ilumi- do descongelamento dos alimentos
% do total) houve inadequações na nação encontraram-se duas escolas e três creches (60% do total) inade-
higiene correta das mãos, conside- (40% do total) adequadas de acor- quadas, onde o descongelamento era
rando que os problemas poderiam ser do com o recomendado por ABERC realizado fora da geladeira de um dia
resolvidos com hábitos adequados de (2013), utilizando protetores em ja- para o outro.
higiene, porém das 5 creches visita- nelas e lâmpadas, e três escolas (60% Avaliou-se também a organização
das encontrou-se 100% em adequa- do total) inadequadas, não havendo da geladeira, estando quatro creches
ção em relação a unhas curtas, sem telas nas janelas e portas nem prote- (80% do total) adequadas e uma cre-
esmaltes e limpas. tores de lâmpadas, podendo oferecer che (20% do total) inadequada, onde
Em relação ao uso de toucas e risco na área de preparação dos ali- encontraram-se alimentos prontos
aventais, 4 das creches (80% do to- mentos. e crus misturados. Aproveitando a
tal) estavam dentro da adequação, Nas cinco creches houve 100% de vistoria observou-se que quatro das
apenas uma (20% do total) encon- adequação na limpeza de bancadas, creches (80% do total) faziam o cor-
trou-se inadequada pois não se fazia balcões, pias e fogões. Em nenhuma reto reaproveitamento dos alimentos
uso de avental. Nenhuma das creches das creches encontraram-se restos de e uma creche não se aplicou nesse
possuía uniformes corretos, onde se alimentos ou sujeiras nas superfícies, quesito fazendo total descarte quan-
encontrou 100% de inadequação. As que poderiam contaminar outros ali- do havia sobra.
cantineiras utilizavam roupas nor- mentos ou que pudessem atrair al- Verificou-se também, que duas
mais e não adequadas para manipu- gum tipo de praga. das creches (40% do total) estavam
lação de alimentos podendo causar Segundo a RDC nº 216/2004 dentro do adequado quando se trata
acidentes de trabalho por não utilizar (BRASIL, 2004), os utensílios e do risco de contaminação cruzada e
vestimentas adequadas. equipamentos utilizados na higieni- três creches (60% do total) estavam
Segundo a RDC nº216/2004 zação devem ser próprios para a ati- inadequadas devido ao cruzamento
(BRASIL, 2004), os manipulado- vidade e estar conservados, limpos e de alimentos prontos com alimentos
res devem lavar cuidadosamente as disponíveis em número suficiente e crus e também devido à passagem de
mãos ao chegar ao trabalho, antes guardados em local reservado para pessoas estranhas no local de prepa-
e após manipular alimentos, após essa finalidade. Os utensílios utili- ração do alimento.
qualquer interrupção do serviço, zados na higienização das instala- Segundo a RDC nº 216/2004
após tocar materiais contaminados, ções devem ser distintos daqueles (BRASIL, 2004), o descongelamen-
após usar os sanitários e sempre que usados para higienização das partes to deve ser conduzido de forma a evi-
se fizer necessário. Os manipula- dos equipamentos e utensílios que tar que as áreas superficiais dos ali-
dores devem usar cabelos presos e entrem em contato com o alimento. mentos se mantenham em condições
protegidos por redes, toucas ou ou- favoráveis à multiplicação microbia-
tro acessório apropriado para esse Higiene, manipulação e armaze- na. O descongelamento deve ser efe-
fim. As unhas devem estar curtas e namento dos alimentos tuado em condições de refrigeração
sem esmalte ou base. Durante a ma- Observou-se que 100% das es- à temperatura inferior a 5ºC ou em
nipulação, devem ser retirados todos colas faziam de maneira correta a forno de micro-ondas quando o ali-
os objetos de adorno pessoal e a ma- higiene dos hortifrútis, a escolha e mento for submetido imediatamente
quiagem. lavagem de arroz e feijão, a separa- à cocção. Os manipuladores não de-
ção dos alimentos por categoria e o vem fumar, falar desnecessariamen-
Higiene do ambiente e área física controle de validade dos alimentos. te, cantar, assobiar, espirrar, cuspir,
Observou-se, em relação a equi- Observou-se que duas creches tossir, comer, manipular dinheiro ou
pamentos, utensílios e acessórios, (40% do total) estavam dentro do praticar outros atos que possam con-
que as cinco creches encontravam-se adequado quando se trata de mani- taminar o alimento, durante o desem-
com 100% de adequação, seguindo puladores que conversam, tossem ou penho das atividades. Os alimentos
boas condições de higiene do local espirram sobre a preparação dos ali- submetidos ao descongelamento de-
e dos materiais usados na manipu- mentos e que três das creches (60% vem ser mantidos sob refrigeração se
lação e preparação dos alimentos. Já do total) estavam inadequadas quan- não forem imediatamente utilizados,
em relação ao ambiente, em apenas do os manipuladores conversavam não devendo ser recongelados.
uma das cinco escolas encontrou-se sobre a preparação. Encontraram-se Segundo Poerner et al. (2009), o

64
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Gráfico 1 - Percentual de adequação/inadequação das creches avaliadas, MG. 2014.

Codex Alimentarius descreve a ne- também em relação aos protetores de avaliadas. Observa-se que de todas
cessidade de prédios e instalações se- lâmpadas. as creches avaliadas, a que mais es-
rem projetados de maneira a permitir Segundo a RDC nº 216/2004 tava fora dos quesitos avaliados foi a
a separação, por meio de divisões, (BRASIL, 2004), os visitantes de- creche de número 3.
localização ou outros meios eficazes, vem cumprir os requisitos de higie-
entre os diferentes tipos de operações ne e de saúde estabelecidos para os CONCLUSÃO
que possam levar a contaminações manipuladores. As portas e as jane-
cruzadas, que são consideradas uma las devem ser mantidas ajustadas aos As cozinhas das creches de um
das principais causas da ocorrência batentes. As portas da área de prepa- município do sul de Minas Gerais
de doenças de origem alimentar. ração e armazenamento de alimentos avaliadas neste trabalho encontra-
Segundo Calvet et al. (2012), em devem ser dotadas de fechamento vam-se funcionando com diversas
sua pesquisa, a validade dos alimen- automático. As aberturas externas inadequações, tanto por falta de re-
tos encontrava-se dentro do prazo es- das áreas de armazenamento e prepa- cursos quanto de treinamento, estan-
tabelecido pelos fabricantes. ração de alimentos, inclusive o siste- do assim inadequadas para produção
Os resultados encontrados no es- ma de exaustão, devem ser providas da alimentação dos alunos.
tudo de Souza et al. (2009) foram de telas milimetradas, para impedir o
semelhantes ao de Oliveira et al. acesso de vetores e pragas urbanas. REFERÊNCIAS
(2008), no qual evidenciaram-se ina- As telas devem ser removíveis para
dequações durante a manipulação facilitar a limpeza periódica.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EM-
dos alimentos, tais como: falar des- Danelon e Silva (2007) relatam
PRESAS DE REFEIÇÕES COLETI-
necessariamente, cantar e assoviar que, em sua pesquisa, também não
VAS. Manual ABERC de Práticas de
durante a manipulação de alimentos. havia adoção de medidas para con-
Elaboração e Serviço de Refeições
trole de pragas, situação evidenciada,
para Coletividades. 10ed. São Paulo,
Local e segurança no trabalho dentre outros, pela ausência de telas
2013.
Observou-se que duas creches em janelas e portas.
(40%) estavam dentro do adequado Segundo pesquisa de Andrade ANDRADE, ICA. Avaliação das condições
quando se trata da presença de pes- (2009), o não uso de calçados fecha- higiênico-sanitárias das unidades de
soas estranhas dentro do local de dos e antiderrapantes acarreta possi- alimentação das escolas públicas do
preparação de alimentos e que três bilidade de quedas e pés vulneráveis município de Igarassu- PE e Ade-
creches (60%) estavam inadequadas a queimaduras através de líquidos quação a RDC 216. In: Congresso
pois havia passagem de pessoas es- quentes, ou alvo de objetos pontia- de Economia doméstica, 20.; 2009,
tranhas durante as preparações. gudos que podem causar ferimentos. Fortaleza-CE. Anais, Fortaleza: UFC,
Observou-se que cinco creches No Gráfico 1 encontra-se a por- 2009.
(100%) estavam inadequadas quanto centagem de adequação e inade- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância
ao uso de calçados antiderrapantes e quação total das creches publicas Sanitária. Resolução – RDC nº 216

65
ARTIGO
de 15 de setembro de 2004. Dispõe condições higiênico- sanitárias das OLIVEIRA, MN; BRASIL, ALD; TADDEI,
sobre Regulamento Técnico de Boas áreas de preparo e consumo de ali- JAAC. Avaliação das condições hi-
Práticas para Serviços de Alimenta- mentos, disponíveis para alunos de giênico-sanitárias das cozinhas de
ção. 2004. escolas publicas e privadas. Rev Hig creches públicas e filantrópicas. Ci-
CALVET, RM; CORDEIRO, JR; LIMA, M Alimentar, São Paulo, v.21, n.152, ência & Saúde Coletiva, São Paulo,
de FV; VARÃO, HC; MURATORI, MCS; p.27, junho 2007. 13(3):1052 Maio/Junho, 2008.
KELLER, KM. Condições de funciona- FAÇANHA, SHF et al. Treinamento para POERNER, N; RODRIGUES, E; PALHANO,
mento das cozinhas de escolas esta- manipuladores de alimentos, em es- AL; FIORENTINI, ÂM. Avaliação das
duais de São Luis, MA. Rev Hig Ali- colas da rede municipal de ensino, condições higiênico-sanitárias em ser-
mentar, v.26, n.204/205, p.43, jan/fev. da sede e distritos do município de viços de alimentação. Rev Inst Adolfo
2012. Meruoca, Ceará: relato de experiência Lutz, São Paulo, 68(3):401, 2009.
CARDOSO, R de CV et al. Programa na- Rev Hig Alimentar, São Paulo, v.17, SOUZA, CH; SATHLER, J; JORGE, MN;
cional de alimentação escolar: há se- n.106, p.30-34, 2003. HORST, RFML. Avaliação das con-
gurança na produção de alimentos OLIVEIRA et al. Condições higienicosa- dições higiênico sanitárias em uma
em escolas de Salvador (Bahia)? Rev nitárias do comércio de alimentos no unidade de alimentação e nutrição
Nutr, Campinas, 23(5):803, set/out, município de Ouro Preto, MG. Rev Hig hotelaria, na cidade de Timóteo-MG.
2010. Alimentar, São Paulo, v.19, n.136, NUTRIR GERAIS. Rev Digital de Nu-
DANELON, MS; SILVA, MV. Análise das p.26-31, 2005. trição, Ipatinga, v.3, n.4, p.320

'PERGUNTAS E RESPOSTAS' SOBRE


COLESTEROL ABRE NOVO PROJETO NO
SITE DO INSTITUTO OVOS BRASIL.

Com a intenção de se aproximar ainda


mais do consumidor final, o Instituto Ovos
Brasil aproveita o lançamento de seu novo
site para dar início a mais um projeto em
2017. A página 'Perguntas e Respostas'
surge como um espaço em que o IOB es-
tabelecerá contato direto com a população
para esclarecer dúvidas frequentes sobre o
universo dos ovos.
A ideia da entidade é se consolidar como
uma rica e atual fonte de informações sobre
os ovos, além de desmistificar antigos ta-
bus da cultura popular sobre este importan-
te alimento, tão querido e popular na mesa
do brasileiro. Neste espaço a equipe do IOB,
elucidará todas as dúvidas da população e
trará todas as principais novidades científi-
cas dos ovos.

66
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE
ABSTRACT

The choice of healthy foods has be-


come one of the most important ways

CEREAIS MATINAIS EXTRUDADOS


to support the improvement of qual-
ity of life. This observation explains
the increase in demand for nutritious
and healthy food. The breakfast cere-

COMERCIALIZADOS
als are considered a healthy option
in the people's daily diet. They are
subject to contamination by various
microbiological agents, arising from

EM MACEIÓ – AL.
improper handling, contact with
equipment, surfaces and utensils and
environmental atmosphere. The ob-
jective of this study was to undergo
microbiological examination differ-
Eliane Costa Souza * ent trademarks of extruded breakfast
Karla Conceição Vieira Esperon cereals distributed commercially in
the city of Maceió/AL. Been evalu-
Laise Limeira Lins ated 18 samples from 12 trademarks,
Centro Universitário CESMAC, Maceió – AL. being as follows: A and B (n=3), C
* elicosouza@hotmail.com and D (n=2), E and L (n=1). Micro-
biological analysis was performed
for coliforms to 45° C by the most
probable number technique. The sat-
RESUMO isfactory results of values for coli-
form counts in 83% (n=10) of trade-
A escolha de alimentos saudáveis tem se tornado uma das mais relevan- marks and 89% (n=16) samples are
tes formas de sustentar a melhoria da qualidade de vida. Esta constatação expected already since the thermal
explica o aumento da procura por alimentos nutritivos e saudáveis. Os ce- processes used in food are quite used
reais matinais são considerados uma opção saudável na alimentação diária to eliminate microorganisms. The
das pessoas. Eles estão sujeitos à contaminação por diferentes agentes mi- extruded breakfast cereals produced
crobiológicos provenientes de manipulação inadequada, contato com equipa- by companies located in Brazil, has
mentos, superfícies e utensílios e pela atmosfera ambiental. O objetivo deste an industrial process that ensures the
estudo foi submeter à análise microbiológica amostras de diferentes marcas consumer purchase products of good
de cereais extrudados distribuídos comercialmente na cidade de Maceió/AL. microbiological quality. However
Foram avaliadas 18 amostras provenientes de 12 marcas comerciais, sendo there needs to be a part of indus-
assim distribuídas: A e B (n=3/cada), C e D (n=2/cada), E a L (n=1/cada). tries a stricter control on the hazard
Foi realizada análise microbiológica para coliformes a 45°C pela técnica do analysis and critical control points
Número Mais Provável. Os resultados satisfatórios de valores para conta- (HACCP), so there won't be the pres-
gens de coliformes em 83% (n=10) das marcas comerciais e 89% (n=16) das ence of defective samples, from the
amostras já eram esperados, visto que os processos térmicos empregados nos point of view of health.
alimentos são bastante utilizados para eliminar micro-organismos. Os cereais Keywords: Extrusion. Coliforms.
matinais extrudados produzidos por empresas instaladas no Brasil possuem Breakfast cereal.
um processo industrial que garante ao consumidor adquirir produtos de boa
qualidade microbiológica. É necessário, contudo, haver por parte das indús- INTRODUÇÃO
trias, um controle mais rigoroso no Programa de Análise de Perigos e Pontos
Críticos de Controle (APPCC) para que não ocorram amostras defeituosas,
Os cereais matinais são produtos
do ponto de vista sanitário.
que contêm alto teor de proteína,
Palavras-chave: Extrusão. Coliformes. Cereal matinal. carboidratos e fibras, podendo ser

67
ARTIGO
enriquecidos com vitaminas e sais presença de micro-organismos inde- km2 (BRASIL, 2015), na qual é pos-
minerais para aumentar seu valor sejáveis (TAKEUCHI; SABADINI; sível identificar diferentes canais de
nutritivo (TAKEUCHI; SABADINI; CUNHA, 2005). distribuição para esses produtos, tan-
CUNHA, 2005). A qualidade microbiológica dos to no segmento de atacado quanto no
Estudos recentes destacam que os alimentos pode ser detectada em de varejo.
cereais matinais ocupam um lugar de duas dimensões: tanto pela quantida- Conforme exposto, houve o inte-
destaque na alimentação de brasilei- de e o tipo de micro-organismos ini- resse deste estudo, para submeter à
ros, este fenômeno pode ser explica- cialmente presentes (contaminação análise microbiológica amostras de
do pela associação da sua praticidade inicial) quanto pela multiplicação diferentes marcas comerciais de ce-
e disponibilidade de sabores com a destes no alimento (COSTA, 2015). reais matinais distribuídos comer-
informação que é massivamente di- Os alimentos atuam como subs- cialmente na cidade de Maceió/AL,
vulgada a respeito dos benefícios trato de micro-organismos e estão considerando a relevância que adqui-
nutricionais que oferecem à saúde, sujeitos à contaminação por diferen- re o estudo da influência dos micro-
especialmente pelo seu elevado teor tes agentes microbiológicos prove- -organismos nas características dos
de fibras (ROSSI, 2015). nientes de manipulação inadequada, produtos alimentícios para consumo
Na última década, tem aumenta- contato com equipamentos, super- humano.
do o interesse da população por ali- fícies e utensílios e pela atmosfera
mentos com maiores teores de fibras ambiental. Desta forma, as espécies MATERIAL E MÉTODOS
alimentares devido aos vários benefí- ou grupos de micro-organismos pre-
cios em relação ao trato intestinal e à dominantes no alimento dependerão Foram analisadas 12 marcas co-
prevenção de doenças crônico-dege- das características inerentes a esse merciais de cereais matinais extru-
nerativas (SANTANA; GASPARET- alimento, bem como das condições dados comercializados em estabe-
TO, 2009). A escolha de alimentos ambientais existentes durante a sua lecimentos localizados em Maceió,
saudáveis tem se tornado uma das elaboração (VALSECHI, 2006, sendo que as amostras foram correla-
mais relevantes formas de susten- CARVALHO, 2010). cionadas aos tipos de sabores dispo-
tar a melhoria da qualidade de vida Bactérias do grupo coliformes a níveis por marcas: A e B (n=3/cada),
(PHILIPPI, 2008). Esta constatação 45°C são utilizadas como indicado- C e D (n=2/cada), E a L (n=1/cada),
explica o aumento da procura por ras de condições higienicossanitárias totalizando 18 amostras. Estas foram
alimentos nutritivos e saudáveis. O de água e alimentos. A presença des- transportadas em temperatura am-
consumo de alimentos balanceados tas em produtos processados indica, biente em suas embalagens originais
permite evitar ou corrigir distúrbios provavelmente, contaminação pos- até o laboratório de microbiologia
que afetam a saúde, por isso os ce- terior ao processamento (SOUSA, do Centro Universitário CESMAC
reais matinais são considerados uma 2006) e pode sugerir uso de práticas para análise. A análise foi realizada
opção saudável na alimentação diária inadequadas de manipulação e higie- segundo Vanderzant e Splittstoesser
das pessoas (MACHADO; OLIVEI- ne (SOUZA et al., 2003). Hoje, a le- (1992 citado por SILVA et al., 2010).
RA; MELO, 2011). gislação brasileira contempla limites
As matérias-primas mais utiliza- para as características microbiológi- Quantificação de coliformes a
das na formulação de cereais mati- cas de cereais matinais extrudados 45°C
nais extrudados são o arroz, o trigo, a sendo estabelecidos para coliformes De cada produto foram retirados e
aveia e o milho, podendo ainda serem a 45ºC valores inferiores a 1 Número pesados assepticamente 25g, sendo
acrescidos outros ingredientes para Mais Provável (NMP/g) (BRASIL, posteriormente homogeneizados em
variar a aparência, a textura, o sabor 2001). 225mL de solução salina a 0,85%
e o aroma destes produtos (DANDY; As empresas que produzem cere- estéril para obter a diluição 10-1. A
DOBRASZCZYK, 2001). ais matinais têm estrutura para distri- partir desta diluição, alíquotas de 10
Os cereais matinais são elaborados buí-los em todo o País. Assim, esses mL foram transferidas para séries de
pelo processo de extrusão que utiliza produtos são comercializados em 10 tubos com 10 mL de Caldo Lauril
altas temperaturas (>100°C) em cur- Maceió, capital do estado de Alago- Sulfato Triptose (LST) dupla concen-
to tempo (HTST – High Temperature as. Trata-se de uma cidade que conta tração contendo tubos de Durham,
Short Time) num período de residên- com uma população estimada, em e foram incubados a 35°C/48 horas
cia no extrusor de 1 a 2 minutos, em 2014, de 1.005.319 habitantes, su- (teste presuntivo). A partir destes
média, minimizando a degradação de perfície igual a 509,88 km2, densida- tubos positivos (com produção de
nutrientes, atividades enzimáticas e a de demográfica de 1.854 habitantes/ gás no interior do tubo de Durham),

68
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

transferiu-se uma alçada de cada um com ingredientes (milho e trigo) em 83% (n=10) das marcas comerciais
para tubos com Caldo Escherichia comum na formulação do produto. e 89% (n=16) das amostras já eram
coli (EC). Os tubos com Caldo EC Observa-se que os cereais milho esperados, visto que os processos
foram incubados a 45°C/48 horas e trigo aparecem como base para térmicos empregados nos alimentos
para verificar a presença de coli- a formulação dos cereais matinais. são bastante utilizados para eliminar
formes a 45°C (teste confirmativo). Sabe-se que estes alimentos são sus- micro-organismos. O processo de
Após confirmação, foi realizada a ceptíveis à contaminação por micro- extrusão reduz a atividade de água,
leitura na tabela do NMP (Número -organismos no campo ou durante o provocando a redução da atividade
Mais Provável), encontrando o valor armazenamento do produto.  enzimática, aumentando assim a vida
correspondente, sendo este dividido A maioria dos coliformes sobre- de prateleira dos produtos (LESCA-
por 10 e o resultado expresso em vive no meio ambiente, onde são NO, 2009).
Número Mais Provável por grama destruídos com certa facilidade pelo A perspectiva de alimentos segu-
(NMP/g). calor. Sua contagem é extremamen- ros do ponto de vista sanitário, tem
te útil em testes de contaminações crescido em importância juntamente
RESULTADOS E DISCUSSÃO pós-processo, evidenciando práticas com os novos processos de industria-
de higiene e sanificação aquém dos lização e com as novas tendências do
Verifica-se no Quadro 1 que, das padrões requeridos para o processa- comportamento da população. Ela é
12 marcas comerciais pesquisadas, mento de alimentos (FORSYTHE, entendida como a garantia do consu-
duas (16,5%) apresentaram uma 2002). midor em adquirir um produto estável
amostra com valores acima do per- Os resultados satisfatórios de valo- microbiologicamente, bem como com
mitido pela legislação (A; E), ambas res para contagens de coliformes em características nutricionais e sensoriais

Quadro 1 - Resultado da análise microbiológica de coliformes a 45°C em cereais matinais extrudados.

Marcas Coliformes a 45°C


Características do produto Amostras
comerciais NMP/g
Arroz + Frutas desidratadas + Milho +Trigo 1 < 0,11
A Milho + Trigo 2 1,6
Amêndoas + Mel + Milho+ Trigo 3 < 0,11
Milho (tradicional) 4 < 0,11
B Milho + Sabor artificial de frutas 5 < 0,11
Trigo + Uvas passas 6 < 0,11
Milho + Chocolate 7 < 0,11
C
Milho + Chocolate + Chocolate branco 8 < 0,11
Milho + Trigo integrais 9 < 0,11
D
Milho + Chocolate 10 < 0,11
E Milho + Trigo 11 >2,3
F Milho (tradicional) 12 < 0,11
G Milho (tradicional) 13 < 0,11
H Milho (tradicional) 14 < 0,11
I Milho (tradicional) 15 < 0,11
J Milho (tradicional) 16 < 0,11
K Milho + chocolate 17 < 0,11
L Milho + chocolate 18 < 0,11
NMP/g: Número Mais Provável por grama

69
ARTIGO
adequadas (BENEVIDES et al., 2004). CARVALHO, IT. Microbiologia dos ali-
Em estudo realizado em Belém CONCLUSÃO mentos. Recife: EDUFRPE, 2010. 84
do Pará, analisando cereal matinal p.
extrudado de mandioca enriquecido Os cereais matinais extrudados COSTA, ALS. A microbiologia dos ali-
com concentrado proteico de soro de produzidos por empresas instaladas mentos e a importância dos mi-
leite, os resultados foram diferentes no Brasil possuem um processo in- crorganismos úteis, deteriorantes
do presente estudo, pois 100% das dustrial que garante ao consumidor e patogênicos. Universidade Anhem-
amostras estavam com valores para adquirir produtos de boa qualidade bi Morumbi, São Paulo, 2014. 15f.
coliformes a 45°C dentro do limi- microbiológica. Porém é necessário Apostila. Disponível em: <http://
te da legislação específica (SILVA haver por parte das indústrias um conteudo.anhembi.br/ead/conteudo/
et al., 2011). Pesquisa realizada na controle mais rigoroso no Programa tec_gastronomia/Microbiologia_e_
Cidade do Rio de Janeiro diferencia- de Análise de Perigos e Pontos Crí- Higiene_Alimentar/unidade_1/1.pdf
-se da atual pesquisa por apresentar ticos de Controle (APPCC) para que >. Acesso: 30 mar. 2015.
<1 NMP/g para coliformes a 45ºC não venham a existir amostras defei- DANDY, DAV; DOBRASZCZYK, BJ. Cere-
em 100% das amostras (ARAUJO; tuosas do ponto de vista higienicos- als and Cereal Products: Chemistry
ASCHERI, 2010). Ferreira (2010) sanitário. and Technology. Maryland: Aspen Pu-
afirma que, no desenvolvimento de blishers, Inc., 2001. 428 p.
farinha de bagaço de uva e sua utili- REFERÊNCIAS FERREIRA, LFD. Obtenção e caracteri-
zação em cereais matinais, encontrou zação de farinha de bagaço de uva e
valores para coliformes a 45°C de < ARAUJO, MS; ASCHERI, JLR. Desen- sua utilização em cereais matinais
1 NMP/g em 100% das amostras. volvimento de extrudado para cereal expandidos. 157 p. Tese de Doutora-
Um estudo realizado no Paraná matinal enriquecido com fruto-oli- do. Universidade Federal de Viçosa,
desenvolvendo cereal matinal a base gossacarídeos. In: INTERNACIONAL Viçosa, 2010.
de fibra de laranja encontrou valores SYMPOSIUM ON FOOD EXTRUSION, FORSYTHE, SJ. Microbiologia da segu-
para coliformes a 45°C em 100% das v.2, 2010, Rio de Janeiro. Resumos rança alimentar. Trad. Maria Caroli-
amostras dentro do permitido pela Expandidos. Rio de janeiro: Embrapa na Minardi Guimarães e Cristina Le-
legislação vigente (MACHADO; Agroindústria de Alimentos, 2020. 1
onhardt. Porto Alegre: Artmed, 2002,
OLIVEIRA; MELO, 2011). Outra CD-ROM.
p 211-216.
pesquisa realizada em Goiás, com BENEVIDES, CMJ; LOVATTI, RCC. Segu-
LESCANO, CAA. Análise da secagem de
o aproveitamento de resíduos da in- rança alimentar em estabelecimentos
resíduo de leite de soja “okara” em
dústria orizícula, na produção de ce- processadores de alimentos. Rev Hig
secadores de leito de jorro e de ci-
reais matinais não encontrou amos- Alimentar. v.18, n.125, p.24-26, out.
lindro rotativo assistido a micro-on-
tras fora dos limites preconizados 2004.
das. Campinas: Unicamp/Feq, 2009.
pela legislação. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia 163p. (Tese de Doutorado).
Vale salientar que, na presente e Estatística - IBGE. Diretoria de Pes-
pesquisa, todas as amostras eram MACHADO, FMVF; OLIVEIRA, AA; MELO,
quisas, Coordenação de População e
oriundas de indústrias de grande por- RM. Desenvolvimento e Aceitabilida-
Indicadores Sociais. Alagoas, Maceió.
te já estabelecidas no mercado brasi- de de Cereal Matinal à Base de Fibra
2014. Disponível em: <http://cidades.
leiro que, provavelmente, devem ter de Laranja (Citrus Sinensis L.). Rev
ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&c-
implantadas as Boas Práticas de Fa- Bras Pesquisa em Alimentos, Cam-
odmun=270430&search=alagoas|mac
bricação, estando os resultados mi- po Mourão (PR), v.2, n.2, p.135-141,
eio|infograficos:-informacoes-complet
crobiológicos dentro dos parâmetros jul/dez. 2011.
as>. Acesso: 31 mar. 2015.
da legislação esperados. Os resul- ______ Ministério da Saúde. Agência Na- PHILIPPI, ST. Alimentação saudável e a
tados microbiológicos satisfatórios cional de Vigilância Sanitária. Resolu- pirâmide dos alimentos. In: ______.
de estudos encontrados na literatura ção nº 12, de 02 de janeiro de 2001. Pirâmide dos alimentos - Funda-
foram de elaboração de cereais ma- Aprova o Regulamento Técnico sobre mentos básicos da nutrição. Barueri:
tinais em pequena escala produtiva, padrões microbiológicos para alimen- Manole, 2008. p.1-29.
não sendo a nível industrial, portanto tos. DO da República Federativa do ROSSI, R. Cereais Matinais: Saúde à
levando a crer que os mesmos foram Brasil, Brasília, DF, 10 jan. 2001. Dis- Mesa. Disponível em: < http://www.
elaborados com adequados cuidados ponível em: <http://www.anvisa. gov. insumos.com.br/aditivos_e_ingre-
no controle higienicossanitário. br/e-legis/>. Acesso em: 5 jan. 2015. dientes/materias/199.pdf >. Acesso:

70
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

31 mar. 2015. caracterização de cereal matinal ex- mecânicas de cereais matinais com
SANTANA, MFS; GASPARETTO, CA. Mi- trudado de mandioca enriquecido diferentes fontes de amido durante o
croestrutura da fibra do albedo de la- com concentrado proteico de soro processo de absorção de leite. Ciênc
ranja: um estudo por técnicas físicas de leite. Braz J Food Technol., Cam- Tecnol Aliment. v.25, n.1, p.78-85,
e análise de imagens. Ciênc Tecnol pinas, v.14, n.4, p.260-266, out/dez. 2005.
Aliment, v.29, n.1, p.124-134, 2009. 2011 VALSECHI, OA. Microbiologia dos Ali-
SANTOS, JRC et al. Aproveitamento de SOUSA, CP. Segurança alimentar e do- mentos. Universidade Federal de
resíduos da indústria orizícula na enças veiculadas por alimentos: uti- São Carlos. Centro de Ciências Agrá-
produção de cereais matinais. In: lização do grupo coliforme como um rias. Departamento de Tecnologia
54° CONGRESSO BRASILEIRO DE dos indicadores de qualidade de ali- Agroindustrial e Socioeconômica
QUÍMICA. Anais... Natal, 2014. Dis- mentos. Rev APS, Juiz de Fora, v.9, Rural. Araras (SP), 2006.
ponível em: < http://www.abq.org.br/ n.1, p.83-88, 2006. VANDERZANT, C; SPLITTSTOESSER,
cbq/2014/trabalhos/10/5145-2868. SOUZA, EL; SILVA, BHC; SOUSA, CP. DF. (Ed.). Compendium of methods
html> Acesso: 31 mar. 2015. Manipuladores como causas poten- for the microbiological examination
SILVA, N et al. Manual de Métodos de ciais de contaminação de alimen- of foods.  3rd ed. Washington, DC:
Análise Microbiológica de Alimen- to enteral. Infarma, v.15, p.71-73, American Public Health Associa-
tos e Água. 4a ed. São Paulo: Livra- 2003. tion, 1992. 1219 p. Compiled by
ria Varela; 2010. TAKEUCHI, KP; SABADINI, E; CUNHA, APHA Technical Comitee on Micro-
SILVA, PA et al. Desenvolvimento e RL. Análise das propriedades biological Methods for Foods.

DADOS DA PRODUÇÃO DE ORGÂNICOS E AGRICULTURA FAMILIAR DIVULGADOS


PELO IEA.

O Instituto de Economia Agrícola (IEA) ampliará sua linha de pesquisas em 2017,


oferecendo às empresas, consultorias e à sociedade um acompanhamento periódico
de preços da produção de orgânicos e estatísticas da agricultura familiar.
De acordo com o diretor técnico do IEA, Celso Luis Rodrigues Vegro, o levan-
tamento de preços e da produção de orgânicos será realizado em parceria com as
Coordenadorias de Assistência Técnica Integral (Cati) e de Desenvolvimento dos
Agronegócios (Codeagro), da Pasta Estadual, servindo como base para ações de se-
gurança alimentar. “Também iremos elaborar um levantamento estatístico objetivo da
agricultura familiar, atualizado uma ou duas vezes ao ano, ressaltando as caracterís-
ticas desses produtores, responsáveis por cerca de 80% da produção agropecuária
paulista”, adiantou o diretor-geral.
O IEA, que em 2016 completou 74 anos de atuação, sendo instituição pioneira no
Brasil a sistematizar os estudos sobre economia agrícola, também elaborará análises
do mercado de terras, com apoio da Secretaria da Fazenda e da Receita Federal do
Brasil.(Bol. Agricultura SP, jan/2017)

71
ARTIGO

VARIAÇÃO DA QUALIDADE
ABSTRACT

For its composition, milk is con-


sidered one of the most complete

MICROBIOLÓGICA, DURANTE
foods nutritionally and for this rea-
son is an excellent way for prolifera-
tion of pathogenic microorganisms.
Pasteurization when done correctly

O PERÍODO DE VALIDADE, DE
seeks to end these microorganisms,
but when the milk is produced in in-
adequate hygienic conditions or is
poorly maintained points of sale can

LEITE PASTEURIZADO EM
turn into a vehicle for transmission
of disease. This study aimed to assess
the microbiological safety during
the period of validity of pasteurized

UM LATICÍNIO DA CIDADE DE
milk from a dairy plant in the city of
Januária-MG. pasteurized milk sam-
ples were analyzed in the first and
last day of validity. Counts were per-
formed aerobic mesophilic micro-

JANUÁRIA-MG. organisms, total coliforms bacteria


and coliforms at 45°C, psychrotro-
phic bacteria and enterobacteria. No
Marluce Gonçalves dos Santos samples showed contamination by
psychrotrophic bacteria. Total coli-
Licenciada em Ciências Biológicas.
form microorganisms and coliforms
Luiz Carlos Ferreira * at 45°C counts were found above the
Instituto Federal Norte de Minas Gerais, Laboratório de Microbiologia, maximum amounts permitted by Bra-
zilian legislation, representing a risk
Januária-MG.
to consumer health.
* luizcarlos2169@gmail.com
Keywords: Coliforms. Shelf-Life.
Psychrotrophic.
RESUMO
INTRODUÇÃO

O
Por sua composição, o leite é considerado um dos alimentos mais completos
em termos nutricionais e por essa mesma razão constitui um excelente meio para leite é um excelente subs-
proliferação de micro-organismos patogênicos. A pasteurização, quando feita de trato para o desenvol-
forma correta, visa acabar com esses micro-organismos, mas quando o leite é vimento de uma grande
produzido em condições higiênicas inadequadas ou é mal conservado nos pon- diversidade de micro-
tos de venda pode se transformar em um veículo para transmissão de doenças. -organismos, inclusive os patogêni-
Este trabalho teve como objetivo avaliar a segurança microbiológica, durante o cos. Daí a qualidade do leite ser uma
período de validade, do leite pasteurizado produzido em um laticínio da cidade constante preocupação para técnicos
de Januária-MG. Foram analisadas amostras de leite pasteurizado no primeiro e autoridades ligadas à área de saúde,
e no último dia de validade. Foram realizadas contagens de micro-organismos principalmente pelo risco de veicula-
mesófilos aerofílicos, bactérias coliformes totais e a 45°C, bactérias psicrotrófi- ção de micro-organismos relaciona-
cas e enterobactérias. Nenhuma amostra apresentou contaminação por bactérias dos com surtos de doenças de origem
psicrotróficas. Foram encontradas contagens de micro-organismos coliformes alimentar (TIMM et al., 2003). Con-
totais e coliformes a 45°C acima dos valores máximos permitidos pela legislação
siderando ser um alimento perecível,
brasileira, representando um risco para a saúde dos consumidores.
o leite pasteurizado, quando produ-
Palavras-chave: Coliformes. Vida de Prateleira. Psicrotróficos. zido e armazenado sem os devidos

72
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

preceitos de higiene e conservação, al., 2010). Diante disso, o presente contagens de aeróbios mesofílicos,
pode representar um perigo à saú- trabalho teve como objetivo avaliar a enterobactérias, coliformes totais, coli-
de do consumidor (MONTANHINI segurança microbiológica, durante o formes a 45ºC e psicrotróficos. A con-
e PAREDES, 2015). No Brasil, de período de validade, do leite pasteu- tagem de aeróbios mesofílicos foi feita
modo geral, o leite pasteurizado nor- rizado em um laticínio da cidade de por espalhamento em superfície de
malmente é produzido em condições Januária-MG, por meio da realização Ágar Tripticase de Soja (TSA) e incu-
higiênicas inadequadas ou é mal con- de análises microbiológicas do leite bação a 35ºC por 24 a 48 horas. A con-
servado nos pontos de venda (MA- pasteurizado, relacionando a avalia- tagem de enterobactérias foi realizada
CIEL et al., 2003). ção da segurança microbiológica com por espalhamento em superfície de
É de extrema importância o contro- o tempo de vida de prateleira do leite Ágar MacConkey e incubação a 37ºC
le microbiológico do leite pasteurizado pasteurizado. por 24 a 48 horas. Para a quantificação
para se conseguir informações sobre de bactérias psicrotróficas foram fei-
as condições sanitárias da produção, MATERIAL E MÉTODOS tas as contagens padrão em placas em
do processamento e armazenamento, Ágar Padrão para Contagem (PCA)
assim como a possibilidade de detectar Foram realizadas análises microbio- com incubação a 7°C, durante 10 dias.
a presença de patógenos e a duração lógicas em amostras do leite pasteu- Para determinar os coliformes totais e
de vida do produto (MARTINS et al., rizado produzido em um laticínio na coliformes a 45ºC foi utilizada a Técni-
2012). O cuidado com o monitoramen- cidade de Januária-MG. Foram feitas ca do Número Mais Provável (NMP).
to microbiológico é necessário não so- cinco amostragens do leite pasteuriza-
mente antes, mas também após o pro- do, sendo coletadas dez amostras em RESULTADOS E DISCUSSÃO
cesso de pasteurização, ajudando na cada amostragem. As amostras foram
avaliação da efetividade do tratamento coletadas em caixa isotérmica e arma- Na Tabela 1 são apresentados os re-
térmico, assim como, na detecção de zenadas em refrigerador a temperatura sultados das análises microbiológicas
possível pós-contaminação (NADA et entre 4°C-7°C. De cada amostragem, para bactérias aeróbias mesofílicas,
al., 2012). foram analisadas cinco amostras no enterobactérias e bactérias psicrotrófi-
Conforme se pode observar no vare- primeiro dia de validade e cinco amos- cas. Os resultados da contagem de bac-
jo, o leite pasteurizado no Brasil possui tras no último dia de validade. O prazo térias aeróbias mesofílicas demonstra-
prazo de validade variável entre três e de validade das amostras de leite pas- ram que a maioria das amostras, tanto
oito dias. Este curto prazo de valida- teurizado determinado pelo fabricante no primeiro quanto no último dia de
de do leite nacional se deve à baixa era de 5 dias. validade, estava dentro do padrão esta-
qualidade da matéria-prima e, princi- As análises microbiológicas foram belecido para aeróbios mesófilos pela
palmente, pela exposição abusiva do baseadas nas metodologias descritas Instrução Normativa n° 62 de 29 de
produto a temperaturas inadequadas no Compendium of Methods for the dezembro de 2011, do Ministério da
de refrigeração durante sua distribui- Microbiological Examination of Food Agricultura, Pecuária e Abastecimento
ção e comercialização (PETRUS et (APHA, 2001). Foram realizadas as (BRASIL, 2011), que determina uma

Tabela 1 - Contagem (UFC/mL) de bactérias aeróbias mesofílicas, enterobactérias e bactérias psicrotróficas em amostras de leite
pasteurizado produzido em um laticínio no município de Januária-MG.
Bactérias
Amostragem Período Mesófilos Aerofílicos Enterobactérias
Psicrotróficas
1 1° dia 2,44 x 103 1,80 x 102 N.D.
1 5° dia 3,65 104 2,7 x 103 N.D.
2 1° dia 1,24 x 102 N.D. N.D.
2 5° dia 1,93 x 103 N.D. N.D.
3 1° dia 7,83 x 10² 6,83 x 10² N.D.
3 5° dia 1,68 x 10³ 2,2 x 103 N.D.
4 1° dia 3,21 x 102 N.D. N.D.
4 5° dia 6,33 x 103 N.D. N.D.
5 1° dia 1,54 x 102 N.D. N.D.
5 5° dia 1,15 x 10³ N.D. N.D.
N.D.: Não Detectado.

73
ARTIGO

Tabela 2 - Número Mais Provável (NMP/mL) para contagem de coliformes totais e coliformes a 45°C em amostras de leite pasteurizado
produzido em um laticínio no município de Januária-MG.
Amostragem Período Coliformes Totais Coliformes a 45°C
1 1° dia 75 9
1 5° dia 240 15
2 1° dia 3,6 < 3,0
2 5° dia 3,6 < 3,0
3 1° dia 23 11
3 5° dia 93 23
4 1° dia 15 < 3,0
4 5° dia 36 < 3,0
5 1° dia 23 3,6
5 5° dia >1100 3,6

contagem menor ou igual a 8,0x104 inclui inúmeras espécies patogênicas 2011) estabelece, para leite pasteuriza-
UFC/mL. Entretanto, foi verificado de animais de sangue quente. As ente- do, contagem menor do que 4 NMP/
um aumento da contagem de aeróbios robactérias são amplamente utilizadas mL de coliformes totais e contagem
mesofílicos após o período de armaze- na indústria de alimentos como indica- menor do que 2 NMP/mL de colifor-
namento em todas as amostragens. dores de higiene de processo e podem mes a 45°C. Apenas a amostragem 2
A presença de micro-organismos ser monitorados em paralelo para ve- apresentou contagem de bactérias co-
mesófilos em grande número em ali- rificar as condições gerais de eficácia liformes totais dentro dos padrões le-
mentos pode indicar deficiência na (REOLON et al., 2012). gais, sendo que as demais amostragens
qualidade higiênica da matéria-prima Todas as amostras analisadas neste apresentaram aumento nas contagens
devido à aplicação de processo tec- trabalho atendem ao padrão estabele- para esse mesmo grupo de micro-orga-
nológico inadequado, manipulação cido para bactérias psicrotróficas no nismos durante o período de conserva-
higiênica incorreta ou manutenção em Regulamento da Inspeção Industrial e ção. Para bactérias coliformes a 45°C,
condições impróprias (MARTINS, Sanitária de Produtos de Origem Ani- as amostragens 1 e 3 apresentaram
2012). Segundo Shirai et al. (2011), mal - RIISPOA (BRASIL, 2008) de contagens acima do padrão estabele-
a contagem elevada de mesófilos no 1,5x104 UFC/mL para o leite pasteu- cido pela Instrução Normativa 62 do
leite pasteurizado pode significar ma- rizado. Rodrigues (2016), avaliando Ministério da Agricultura.
téria-prima com alta contaminação, amostras de leite pasteurizado produzi- Para Martins et al. (2012), a presen-
equipamentos não higienizados, pas- do em laticínio da cidade de Januária- ça de bactérias coliformes pode indicar
teurização deficiente e exposição do -MG, também encontrou contagens de recontaminação do leite pós-pasteuri-
produto nas gôndolas em temperatura psicrotróficos inferiores ao estabeleci- zação, devido, principalmente, às más
inadequada, ou seja, acima de 7°C. do pelo RIISPOA. A presença de psi- condições de higienização das tubu-
De acordo com Zocche et al. (2002), crotróficos no leite é preocupante, pois lações e/ou das embalagens, ou que o
o processo de pasteurização não elimi- o grupo possui a capacidade de produ- tratamento térmico não foi suficiente
na a totalidade de mesófilos, portanto, zir enzimas lipolíticas e proteolíticas para eliminação dos micro-organismos
exige-se maior atenção nas condições termoresistentes, que mantém sua ati- patogênicos e deteriorantes. Timm et
de armazenamento do leite. vidade após a pasteurização ou mesmo al. (2003) afirmam que os coliformes
As amostragens 1 e 3 apresentaram após o tratamento por UHT. Segundo são destruídos na pasteurização e que a
elevadas contagens de enterobactérias Santos (2009), os micro-organismos presença de uma grande quantidade de
tanto no primeiro quanto no último psicrotróficos limitam a qualidade do coliformes totais no leite após eficiente
dia do prazo de validade. A legislação leite e derivados, pois as enzimas pro- pasteurização é sinal de recontamina-
brasileira não estabelece padrão para duzidas resistem ao processo de pas- ção. A atenção deve ser redobrada com
presença de enterobactérias em leite teurização. relação à esterilização de máquinas e
pasteurizado, porém, a presença destes Os resultados das análises de co- equipamentos que entram em contato
micro-organismos em algumas amos- liformes totais e coliformes a 45°C com o leite após a pasteurização. A
tras analisadas pode representar um ris- podem ser observados na Tabela 3. A presença de coliformes em leite pas-
co à saúde dos consumidores, uma vez Instrução Normativa n° 62 de 2011 do teurizado indica a necessidade de uma
que, este grupo de micro-organismos Ministério da Agricultura (BRASIL, ação mais efetiva no controle do tempo

74
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

e temperatura do pasteurizador e na se- Industrial e Sanitária de Produtos de CAF. Microbiological shelf life of pas-
leção de fornecedores de leite cru (SIL- Origem Animal (RIISPOA). Aprova- teurized milk in bottle and pouch.
VA et al., 2008). do pelo decreto nº 30.691, 29/03/52, Journal of Food Science, v.75, n.1,
Um leite de qualidade, obtido em alterados pelos decretos nº 1255 de p.36-40, 2010.
condições higienicossanitárias satis- 25/06/62, 1236 de 01/09/94, 1812 de RODRIGUES, DS; FERREIRA, LC. Avalia-
fatórias, processado adequadamente e 08/02/96, 2244 de 04/06/97. Brasília, ção microbiológica de leite pasteuri-
mantido devidamente refrigerado du- 2008. 241p. zado produzido em laticínio da cidade
rante todas as etapas do processo de BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuá- de Januária-MG. Rev Hig Alimentar,
produção e comercialização, poderia ria e Abastecimento. Instrução Norma- v.30, n.252-253, 2016.
ter seu prazo de validade estendido tiva Nº 62 de 29 de setembro de 2011. SANTOS, PA; SILVA, MAPS; SOUZA, CM;
para até 21 dias, como se pode obser- Regulamento Técnico de Produção, ISPON, JS; OLIVEIRA, AN; NICOLAU,
var em países onde estes requisitos são Identidade e Qualidade do Leite Tipo ES. Efeito do tempo e da temperatura
seriamente atendidos (MARTIN et al., A, do Leite Pasteurizado e do Leite Cru de refrigeração no desenvolvimento
2012). Refrigerado e de seu Transporte a Gra- de microrganismos psicrotróficos em
nel. DOU, Brasília DF, 29 dez 2011. leite cru refrigerado coletado na ma-
CONCLUSÃO MACIEL, JF; BONOMO, P; DAMASCENO, crorregião de Goiânia, GO. Rev Ciênc
MM; SAMPAIO, KA; SANTOS, LS; Animal Brasileira, v.10, n.4, 2009.
As amostras analisadas mantiveram CARVALHO, EA; BONOMO, RCF. Qua- REOLON, EM; SANTOS, ARB; MOREIRA,
a estabilidade de vida de prateleira em lidade microbiológica de leite pasteu- VE; NASCIMENTO, MS; Pesquisa de
relação à contagem de bactérias psicro- rizado comercializado em Itapetinga- Enterobactérias em chocolates. Rev
tróficas. Entretanto, em relação à con- -BA. In: XX CONGRESSO NACIONAL Inst Adolfo Lutz, v.71, n.1, p.40-43,
tagem de mesófilos aerofílicos, 40% DE LATICÍNIOS, 2003, Juiz de Fora. 2012.
das amostras analisadas apresentaram Anais... Juiz de Fora: Instituto de Lati-
variação da qualidade microbiológica SHIRAI, MA; BAÚ, TR; ASSUNÇÃO, RD;
cínios Cândido Tostes, 2003.
durante o período de validade devido MASSON, ML. Qualidade microbio-
MARTIN, NH; RANIERI, ML; WIEDMANN, lógica de leite pasteurizado tipo b
ao aumento das contagens observadas,
M; BOOR, KJ. Reduction of pasteuriza- comercializado na cidade de Curitiba,
mas ainda dentro dos padrões legais.
tion temperature leads to lower bacte- PR. Rev Inst Laticínios Cândido Tos-
Das amostras analisadas, 40% não
rial outgrowth in pasteurized fluid milk tes, v.66, n.383, p.27-31, 2011.
mantiveram a estabilidade microbioló-
during refrigerated storage: a case
gica durante o período de conservação SILVA, MCD; SILVA, JVLDA; RAMOS, ACS;
study. Journal of Dairy Science, v.95,
em relação às contagens de bactérias MELO, RO; OLIVEIRA, JO. Caracteriza-
n.1, p.471-475, 2012.
coliformes totais, apresentando conta- ção microbiológica e físico-química de
gens acima do máximo determinado MARTINS, JN; SANTOS, DC; OLIVEIRA leite pasteurizado destinado ao pro-
pela legislação. A presença de bacté- NETO, EA; ALBUQUERQUE, EMB. grama do leite no Estado de Alagoas.
rias coliformes a 45°C e enterobatérias Qualidade microbiológica de leites Ciênc Tecnol Aliment, v.28, p.226-
pode representar um risco à saúde dos pasteurizados comercializados na 230, 2008.
consumidores devido à possível pre- cidade de Morada Nova, Ceará. Rev
TIMM, CD; GONZALEZ, HL; OLIVEIRA, DS;
sença de bactérias patogênicas. Verde, v.7, n.3, p.119-123, 2012.
BÜCHLE, J; ALEXIS, MA; COELHO,
MONTANHINI, MTM; PAREDES, F. Avalia- FJO; PORTO, C. Avaliação da quali-
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to e da rizado integral produzido em microu-
APHA (American Public Health Associa- qualidade do leite pasteurizado comerciali- sinas da região sul do Rio Grande do
tion). Compendium of methods for zado por supermercados em Curitiba, Sul. Rev Hig Alimentar, v.17, n.106,
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foods. Washington: American Public bate, v.3, n.2, p.94-98, 2015. ZOCCHE, F; BERSOT, LS; BARCELLOS,
Health Association, 1219 p. 2001. NADA, S; ILIJA, D; IGOR, T; JELENA, M; VC; PARANHOS, JK; ROSA, STM;
BRASIL. Ministério da Agricultura e do RUZICA, G. Implication of food safety RAYMUNDO, NK. Microbiological and
Abastecimento. Secretaria de Defe- measures on microbiological quality of physicalchemistry quality of pasteuri-
sa Agropecuária. Departamento de raw and pasteurized milk. Food Con- zed milks produced in the west region,
Inspeção de Produtos de Origem trol, v.25, p.728-731, 2012. Paraná. Archives of Veterinary Scien-
Animal. Regulamento da Inspeção PETRUS, RR; LOIOLA, CG; OLIVEIRA, ce, v.7, n.2, p.59-67, 2002.

75
ARTIGO

DETERMINAÇÃO DO TEOR DE
frozen chicken carcasses inspected
by the São Paulo Inspection Service
(SISP), to assess the prevalence of
any wrongdoing, and the most com-

ÁGUA EM CARCAÇAS DE TRÊS


mon is the presence of water inside
the casing which exceed the permit-
ted by Ordinance No. 210 of Novem-
ber 1998, which determines that the

DIFERENTES MARCAS DE
percentage can not exceed 6%. The
results obtained in this study showed
that all three marks A, B and C, were
to exceed the permissible water con-
tent, and a B mark the unsatisfac-

FRANGOS COMERCIALIZADAS NO tory results over that obtained hav-


ing 21,73 water percentage in the
housing. In this way, a more effective
oversight is necessary in establish-

MUNICÍPIO DE MARÍLIA-SP. ments follow the SISP, to ensure that


the consumer is not damaged at the
time of purchase.
Leandro Repetti
Keywords: Frozen chicken.
Nathalia de Cássia Campos Dripping test. Inspection.
Marie Oshiiwa
INTRODUÇÃO

O
Murilo Maciel Temoteo
FATEC “Estudante Rafael Almeida Camarinha”, Marília – SP. impacto da crise econô-
mica no Brasil influen-
leandrorepetti@yahoo.com.br
ciou muito a avicultura
em diversos momentos,
RESUMO
que precisou buscar novos mercados.
A Associação Brasileira de Proteína
Com o crescimento no consumo da carne de frango a preocupação em manter Animal (ABPA) publicou em seu re-
a qualidade do produto para que o consumidor possa adquirir produtos íntegros
latório anual, em 2016, que a avicul-
é cada vez maior, desta forma este trabalho teve por objetivo realizar análises
tura bateu recordes de produção de
em três marcas de carcaças de frangos congeladas, inspecionadas pelo Serviço
13,1 milhões de toneladas, assumin-
de Inspeção de São Paulo (SISP), para a avaliação da prevalência de qualquer
do o 2º lugar no cenário mundial e na
irregularidade, sendo a mais comum a presença de água no interior da carcaça em
exportação em 2015, e o consumo de
quantidade superior ao permitido pela Portaria nº 210 de novembro de 1998, que
frango alcançou 43 kg/per capita ano
determina que a porcentagem não pode ultrapassar 6%. Os resultados obtidos nas
no mesmo ano.
análises demonstraram que as três marcas apresentavam teor de água superior ao
Toda essa produção na avicultura
permitido, sendo a marca B a que obteve resultados mais insatisfatórios apresen-
é fiscalizada por órgãos credenciados
tando 21,73 de porcentagem de água na carcaça. Desta forma, faz-se necessária
pelo Ministério de Agricultura de acor-
uma fiscalização mais efetiva nos estabelecimentos que seguem o SISP, para ga-
rantir que o consumidor não seja lesado no momento da compra. do com a legislação que se comprome-
tem a seguir. No estado de São Paulo, o
Palavras-chave: Frango congelado. Dripping test. Inspeção. órgão responsável por esse controle da
produção estadual é o Serviço de Ins-
ABSTRACT peção do Estado de São Paulo (SISP),
que é responsável pela fiscalização e
With the growth in consumption of chicken meat a concern to maintain regulamentação dos abatedouros es-
product quality for the consumer to acquire integrity products is increas- taduais, seguindo o que regulamenta
ing, so this present study aimed to carry out analyzes on three brands of a Portaria n° 210, de 10 de novembro

76
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

de 1998 do Ministério da Agricultura do peso da carcaça, com todos os miú- sacos plásticos com dimensões sufi-
e Abastecimento e Pecuária (MAPA). dos da embalagem, ultrapassar o valor cientes para conter a carcaça, munidos
Dentre alguns parâmetros fiscaliza- limite de 6%, considera-se que a carca- de um sistema de fechamento seguro;
dos em frangos congelados, a água em ças absorveu um excesso de água du- um recipiente para banho de água con-
excesso na carcaça pode lesar o con- rante o pré-resfriamento por imersão trolado termostaticamente, mantendo a
sumidor. Essa incorporação de água em água. A quantidade recomendada temperatura de 42°C ± 2°C e papel de
no frango é um problema que vêm de amostragem de carcaças nestes tes- filtro.
se mostrando cada vez mais comum tes é de seis carcaças por marca. Este As embalagens das carcaças con-
e preocupante no Brasil, com o obje- método é utilizado como parâmetro geladas foram enxugadas para elimi-
tivo de obter o lucro de forma ilícita, oficial para o controle de absorção de nar todo o líquido ou gelo presente
pois alguns fabricantes aumentam o água em carcaças congeladas (BRA- nas mesmas e foram pesadas obtendo
peso do frango incorporando água ao SIL, 1998). a medida P0. Depois, retirou-se cada
produto, com quantidades acima do li- O presente trabalho teve por objeti- carcaça congelada de dentro da emba-
mite traçado pela legislação (PAVIM, vo verificar possíveis irregularidades e lagem (com as vísceras), enxugou-se
2009). Essa fraude é fácil de ocorrer, fraudes por incorporação de água em a embalagem e obteve-se o peso P1.
pois no processo de industrialização as frangos, de três marcas inspecionadas Em seguida, colocou-se a ave com as
carcaças dos frangos são submetidas pelo SISP, comercializadas na cidade vísceras, dentro de uma embalagem
ao pré-resfriamento por um tanque de de Marília-SP. plástica com abertura do abdômen
imersão em água gelada, denominados voltado para o fundo da embalagem. A
de pré-chiller e chiller. A imersão se MATERIAL E MÉTODOS embalagem contendo a ave e vísceras
faz necessária para o resfriamento das ficaram imersas em banho de água à
carcaças, à temperatura de 4ºC e visan- A amostra foi composta por 18 car- temperatura de 42ºC sendo que a água
do maior qualidade do produto final, caças de frangos de três marcas dife- não penetrou no interior da mesma. A
no entanto, se a carcaça não permane- rentes, sendo as amostras adquiridas embalagem ficou imersa em água até
cer durante o tempo correto para escor- no comércio da cidade de Marilia/SP. que a temperatura do centro da ave
rer esse excesso de água e seguir com O transporte até ao laboratório da Fa- atingiu 40ºC, então, abriu-se um orifí-
o congelamento, os frangos absorvem culdade de Tecnologia de Marília/SP, cio na parte inferior da embalagem, fi-
mais água do que o recomendado, ca- foi realizado dentro dos padrões que cando exposta à temperatura ambiente
racterizando fraude (BAPTISTOTTE, preconizam a legislação, mantendo-os (18°C e 25°C) por uma hora. As aves
2010). congelados em caixas térmicas com com as vísceras descongeladas foram
O método do gotejamento (Dri- gelo reciclável. Foram denominadas retiradas da embalagem, deixando-as
pping test) é o método utilizado para como marcas A, B e C. escoar. Novas pesagens foram realiza-
determinar a quantidade de água re- Foi aplicada a metodologia do Drip- das com as aves descongeladas com
sultante do degelo de carcaças conge- ping test e os equipamentos e utensílios as vísceras obtendo-se o peso P2 e por
ladas. Quando a quantidade de água utilizados foram uma balança com ca- fim, pesaram-se as vísceras obtendo-se
resultante, expressa em porcentagem pacidade de até 5 kg e precisão de 1g, o P3 (BRASIL, 1998).

77
ARTIGO

Tabela 1 – Quantidade média de água (%) resultante do descongelamento de carcaças das três diferentes marcas de frangos comercializados
em Marília/SP, 2015.
Marca
A B C
7,74 ± 3,54 21,73 ± 4,37 9,35 ± 2,19
a1 b a
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si.

Tabela 2 – Valor médio (R$/kg) pago na agua congelada nas três diferentes marcas de carcaças comercializadas em Marília/SP, 2015.
Marca A B C
1,12 ± 0,54 2,33 ± 0,49 0,95 ± 0,24
Água/kg de frango (R$)
a b a
Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si.

Figura 1 – Teor de água nas três diferentes marcas de frangos comercializados em Marília/SP, 2015.

Sendo que neste trabalho P1 foi RESULTADOS E DISCUSSÃO das três marcas analisadas pode ser
declarado pelo próprio fabricante. observado na Figura 1:
A Portaria nº 210 do MAPA esta- Os resultados considerados ina- Garnica et al. (2014) realizaram
belece que, após degelo e a partir da ceitáveis foram aqueles que apresen- um trabalho com carcaças de fran-
média de seis carcaças, a porcenta- taram quantidade de água acima do go e tiveram resultados satisfatórios,
gem máxima de água que o mesmo limite de 6% do peso da carcaça. sendo que apenas 4,44% das carca-
pode perder do peso total é de 6%. A comparação da hidratação (%) ças apresentaram valores superiores
Os dados obtidos das análises de sofrida pelas aves nas três empresas ao da legislação. O levantamento foi
Dripping test das 18 carcaças de revela fraude nas três marcas anali- realizado utilizando como parâmetro
frangos das marcas analisadas foram sadas, sendo que na marca B a mé- o Serviço de Inspeção do Estado de
comparados pela ANOVA, comple- dia de água absorvida foi superior às São Paulo (SISP) e colheu amostras
tada com o Teste de Tukey (MO- demais. Os resultados das análises em frigoríficos totalizando 270 car-
RETTIN et al., 2011) no nível de 5% de Dripping test das 18 carcaças dos caças, entre os anos de 2011 e 2012.
de significância. O software estatísti- frangos das marcas analisadas estão Os resultados foram positivos em
co utilizado foi BioEstat (AYRES et disponibilizados na Tabela 1. comparação com este estudo pois,
al., 2007). O teor de água obtido nas carcaças entre 18 amostras analisadas, 88,88%

78
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

ficaram fora do padrão estipulado. Outra irregularidade identifica- garantir um produto seguro e correto
Um aspecto importante a ser des- da nesta pesquisa foi a ausência dos ao consumidor.
tacado é o prejuízo que o consumidor miúdos em 33,33% (2 carcaças) das Sendo assim, a fiscalização deve
sofre pagando água congelada pelo amostras analisadas, sendo que o ró- ocorrer com maior frequência nos
valor de frango. A tabela 2 apresenta tulo do produto informava a presen- estabelecimentos de abate de carca-
o valor (R$) que o consumidor pagou ça dos miúdos na embalagem. O que ças e também a prevalência de maior
pela água congelada. demonstra uma fraude ainda mais número de análises realizadas, pois
Quanto aos valores que foram pa- preocupante, pois o consumidor ad- com isso a tendência de ocorrer qual-
gos pelo kg do frango em relação à quire um produto com o peso altera- quer irregularidade no processo de
água que estava incorporada na car- do e ainda é lesado por não conter o industrialização fica reduzida, ga-
caça, verificou-se que a marca B se que o fabricante informa no rótulo. rantindo um alimento de qualidade e
destacou na fraude, visto que o valor Resultados bem diferentes, en- seguro ao consumidor final.
pago pela água foi de R$ 2,33 ± 0,49, tretanto, foram obtidos por Silva
o que corresponde a mais que 51,5% (2013), que realizou análises com REFERÊNCIAS
do preço pago pelo kg do frango, que duas marcas de frangos congelados
foi R$ 4,49. no sul do estado de Santa Catarina AYRES, M; AYRES Jr, M; AYRES, DL;
Os resultados obtidos revelam que totalizando 12 amostras, sendo que
SANTOS, AAS. BioEstat: aplicações
a fiscalização do SISP, nesse aspecto, todas estavam em concordância com
estatísticas nas áreas das ciências
ainda é ineficaz causando prejuízo ao a portaria vigente.
biológicas e médicas. Belém; So-
consumidor, que adquire um produ- Em contrapartida, outra pesquisa
ciedade Civil Mamirauá: MCT-CNPq,
to com o peso adulterado. O SISP é realizada por Barata (2015), analisou
2007.
um órgão de fiscalização do estado 27 amostras de carcaças congeladas,
de São Paulo e ainda há poucos tra- em Belém no estado do Pará e encon- ALONSO, RC. Percentual de água em
balhos referentes à perda de água em trou fraudes em 75% das amostras carcaças congeladas de frango à
carcaças no Estado de São Paulo, o (22 carcaças), o que demonstra que venda em supermercados de Brasí-
que reforça a importância de se re- esse tipo de irregularidade é muito lia. 2004. 30 f. Monografia (Curso de
alizar uma fiscalização mais efetiva frequente em abatedouros, prejudi- especialização em Qualidade de Ali-
nestes estabelecimentos e ter mais cando o consumidor, pois adquire um mentos) – Centro de Excelência em
trabalhos que abordem esse tema. produto fora dos padrões de qualida- Turismo, Universidade de Brasília,
No entanto, vários estados bra- de. Foi observado também resultados Brasília, 2004.
sileiros utilizam como parâmetro negativos na pesquisa realizada por ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROEÍNA
a mesma Portaria nº 210 do MAPA Santana et al. (2009), que realizaram ANIMAL (ABPA). Relatório anual
(1998) e em um estudo recente reali- ensaios em 90 amostras de frangos 2016. Disponível em:< http://abpa-br.
zado por Souza (2014), na cidade de de 12 marcas diferentes no Labora- com.br/setores/avicultura/publicaco-
Francisco Beltrão, no estado do Pa- tório de Bromatologia da Faculdade es/relatorios-anuais/2016>. Acesso
raná, obteve resultados semelhantes de Farmácia da Universidade Federal em: 17 nov. 2016.
aos encontrados nesta pesquisa, sen- da Bahia, e constataram que 31% das
BAPTISTOTTE, PC. Fluxograma Geral do
do utilizada a mesma quantidade de amostras foram reprovadas no parâ-
Abate de Aves, Universidade Castelo
carcaças, seis amostras por marca de metro absorção de água da carcaça.
Branco, Campos Grande, MT, 2010.
três diferentes fornecedores, porém
CONCLUSÃO BARATA, YML; SILVA, CAS. Teor de água
todas com o selo do SIF (Sistema de
em carcaças de frangos comercia-
Inspeção Federal) e, segundo o autor,
lizados em Belém –PA, Associação
das três marcas, duas estavam fora Diante do crescimento constante
Brasileira de Zootecnia; XXV Con-
do que a legislação preconiza. do consumo de carne de frango, o
gresso Brasileiro de Zootecnia, Zoo-
Em levantamento realizado por consumidor deve ficar atento com
possíveis fraudes que podem ocorrer tec 2015, Belém- PA.
Alonso (2004) em Brasília, foram
analisadas 18 carcaças congeladas, por causa da maior lucratividade das BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecu-
que também apresentaram valores empresas, como o aumento de peso ária e Abastecimento. Secretaria de
maiores do que o permitido pela por- da carcaça de frangos. Com essa pes- Defesa Agropecuária. Portaria nº 210,
taria e entre elas apenas uma marca quisa pode-se perceber que ainda há de 10 de novembro de 1998. Regula-
estava inteiramente em conformida- falhas nos sistemas e órgãos de fis- mento técnico de inspeção tecnológi-
de com a legislação. calização, que são responsáveis por ca e higiênica sanitário de carnes de

79
ARTIGO
aves. DOU, Brasília, 26 nov. 1998. Se- Brasil. 2009. 66 f. Trabalho de Con- contido em carcaças de aves conge-
ção 1, p.226. Disponível em:<http:// clusão de Curso (Especialização em ladas produzidas por duas agroin-
www.agricultura.gov.br/arq_editor/ Medicina Veterinária em Higiene e dústrias no sul do estado de Santa
file/Ministerio/concursos/em_anda- Inspeção de Produtos de Origem Ani- Catarina utilizando o procedimento
mento/portarias/port%20210.doc>. mal) – Instituto Qualittas, Universida- Dripping test, Trabalho de Conclusão
Acesso em: 20 jul. 2015. de Castelo Branco, Curitiba, 2009. de Estágio, Universidade do Exte-
GARNICA, MF et al. Avaliação das perdas SANTANA, EF et al. Avaliação Percen- mo Sul Catarinense, Santa Catarina,
de líquido por degelo de frangos con- tual de Líquido Perdido por Degelo 2013.
gelados (Drip Test) em abatedouros. em Frangos Congelados Através do SOUZA, DM. Verificação da perda de
Rev Bras Ci Vet, Jaboticabal, v.21, Dripping Teste como Parâmetro de água pelo descongelamento e ava-
n.1, p.64-66, jan/mar. 2014. Qualidade, Universidade Federal liação microbiológica das carcaças
MORETTIN, PA; BUSSAB, WO. Estatísti- da Bahia, Faculdade de Farmácia, de frango congeladas. 2014. 47
ca Básica. 7. ed., São Paulo: Saraiva, Departamento de Análises Bromato- f. Trabalho de Conclusão de Curso de
2011. 540 p. lógicas, Laboratório de Bromatologia, Graduação de Tecnologia em Alimen-
PAVIM, BK. A incorporação de água no Salvador- BA, 2009. tos. Universidade Tecnológica Federal
frango como fraude econômica no SILVA, AD. Avaliação do teor de água do Paraná. Francisco Beltrão, 2014.

UNIFORMES: A MODA É PROTEÇÃO CONTRA A CONTAMINAÇÃO.

É cada vez mais comum ver profissionais da área de saúde usando seus uniformes, jalecos brancos,
nas ruas. Há quem diga que muitos consideram este uso elegante e charmoso. Estes profissionais igno-
ram totalmente o risco de contaminação e demonstram, assim, ausência de cumprimento de conduta e
total falta de higiene básica. A prática infringe as normas de segurança e saúde do Ministério do Trabalho.
A Norma Regulamentadora 32, no inciso 32.2.4.6.2, afirma que “os trabalhadores não devem deixar
o local de trabalho com os equipamentos de proteção individual e as vestimentas utilizadas em suas
atividades laborais”. No entanto, não é o que muitos profissionais (médicos, enfermeiras, dentistas)
praticam. Pelas normas de Food Safety, nas indústrias de alimentos, os fardamentos devem seguir um
rigoroso procedimento para assegurar a higiene e evitar possíveis contaminações ao alimento ou ao
ambiente de processo.
Em algumas indústrias, há a abertura para que os colaboradores já saiam de casa uniformizados,
cumpram seu expediente e retornem ainda uniformizados, até mesmo quando necessário resolver algum
trabalho externo durante intervalos. Porém, essa não é uma boa prática de uso de uniformes em indús-
trias que tem como política garantir a segurança dos alimentos. O fardamento poderá ser um grande con-
taminante e vilão na segurança dos alimentos, podendo representar perdas incalculáveis para a indústria.
As pessoas somente deverão entrar em áreas de operação de alto risco após serem uniformizadas com
vestimentas especialmente destinadas para este fim. Os vestiários deverão estar bem localizados em
áreas que permitem o acesso direto à produção, empacotamento e armazéns.
As legislações para as indústrias de alimentos deixam claro que o uso dos uniformes deverá ser rea-
lizado somente nas dependências da empresa e deve existir todo um controle durante as atividades de
trabalho. Esta mesma prática deveria ser replicada com rigor e criticidade para todos os profissionais da
área de saúde. Esperamos que a lei de segurança e saúde do Ministério do Trabalho realmente possa ser
cumprida ativamente, assim como as indústrias de alimentos atendem às suas normas e código alimen-
tares. (Food Safety Brazil, fev/2017).

80
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

PERFIL HIGIENICOSSANITÁRIO
storage of fish, there were high risks
for cross contamination. Therefore,
it can be said that the studied estab-
lishment is not complying with cur-

DA FEIRA DO PESCADO NO
rent legislation governing the sector,
presenting various problems that can
compromise product quality, endan-
gering the health of consumers.

MUNICÍPIO DE MACAPÁ – AP. Keywords: Fish. Public Health.


Good practices.

INTRODUÇÃO
Bruna Rodrigues Freitas *

A
Jaira Viana Rodrigues Correa feira representa uma das
formas mais antigas de
Nahon de Sá Galeno
comercialização, desen-
Faculdade Estácio de Macapá, Macapá - AP. volvendo até hoje um
* bruna.rfreitas@hotmail.com importante papel econômico, social
e cultural. A palavra feira deriva do
RESUMO latim feria, que significa dia de festa,
sendo utilizada para designar o local
escolhido para efetivação de transa-
Nos dias de hoje é primordial saber a qualidade do alimento, principal-
ções de mercado em dias fixos e ho-
mente os provenientes de feiras livres, pois são muitas as possibilidades de
rários determinados (SALES et al.,
contaminação em razão da deficiente condição higiênicossanitária. Este estu-
2011).
do visou avaliar o perfil higienicossanitário da feira do pescado no Município
Brasil (1952) explica que o termo
de Macapá - Amapá. Tratou-se de estudo qualitativo que avaliou, por meio de
pescado é compreendido por peixe,
inspeção visual, as condições higienicossanitárias do local estudado. Dentre
crustáceos, anfíbios, moluscos, que-
as barracas observadas, encontraram-se altos índices de não conformidade
referentes à higiene pessoal dos comerciantes. Com relação à higiene do am- lônios e mamíferos que são utiliza-
biente e preservação da área física do local, foram verificados em conformi- dos na alimentação por apresentarem
dade com as exigências legais os parâmetros que envolvem a conservação um excelente valor nutritivo devido
das bancadas, ventilação e iluminação. Quanto à manipulação e armazena- suas proteínas de alto valor biológi-
mento do pescado, houve elevados riscos para contaminação cruzada. Pode- co.
-se afirmar que o local estudado não está cumprindo a legislação vigente que No Amapá, a pesca se reveste de
regulamenta o setor, apresentando vários problemas que podem comprome- grande valor em virtude das grandes
ter a qualidade do produto, colocando em risco a saúde do consumidor. extensões de ambientes aquáticos e
pelo fato da população desse Estado
Palavras-chave: Pescado. Saúde Pública. Boas práticas\. estar culturalmente ligada ao con-
sumo do pescado, motivo pelo qual
ABSTRACT existe um percentual elevado de pes-
soas que recorrem ao pescado fresco
These days it is essential to know the quality of food, mainly from open ou congelado, sem uma grande im-
markets, because there are many possibilities for contamination because of portância de surtos por contamina-
poor hygiene and health. This study aimed to evaluate the hygienic-sanitary ção (VIEIRA, 2003). Nota-se uma
profile of the fair fish in the city of Macapa. It was a qualitative study that preocupação no manuseio do pesca-
evaluated, through visual inspection, the hygienic and sanitary conditions of do pela vigilância sanitária de forma
the studied place. Among the observed tents, was found high levels of non- benéfica ao consumo do próprio, as-
compliance related to personal hygiene marketer. Regarding the hygiene of sim não causando nem um malefício
the environment and preservation of the physical area of ​​the site, have been à saúde pública e tendo uma maior
found in compliance with the legal requirements the parameters involving procura pelo produto (SANTOS;
the conservation of benches, ventilation and lighting. As for handling and SANTOS, 2005).

81
ARTIGO
Existem, entretanto, várias doen- Macapá e obteve o certificado de et al. (2001), os quais mostraram não
ças que podem ser causadas pelos isenção por não se utilizar de animais existir nenhuma preocupação quanto
alimentos, muitas das quais levando e seres humanos ou qualquer tipo de à higiene pessoal dos manipuladores
a problemas graves, inclusive óbito amostra biológica. avaliados; assim como no estudo de
(FERREIRA, 2006). Desta forma, Rego et al. (2010), onde 76,6% dos
qualquer produto alimentício, indus- RESULTADOS E DISCUSSÃO feirantes de pescado não obedeciam
trializado ou in natura, pode estar a quaisquer dos itens avaliados sobre
contaminado por várias espécies de A feira livre é altamente procura- este questionamento.
micro-organismo, inclusive os pa- da pelo baixo custo e pelos diferentes Com relação à higiene do ambiente
tógenos (GERMANO et al., 2001). produtos ofertados, possibilitando-os e preservação da área física do local,
As mãos são o principal meio de ao consumidor de diversas classes foram observados em conformidade
transporte de micro-organismo, as- sociais, que pretendem conseguir o com as exigências legais os parâme-
sim como as superfícies, utensílios mais rentável valor, assim permitin- tros que envolvem a conservação das
e roupas, por isso a importância da do ao mesmo economizar financeira- bancadas, ventilação e iluminação.
higiene pessoal na manipulação de mente (SANTOS; SANTOS, 2005). Resultados de Silva e Silva (2004)
alimentos (HOBBS et al., 1998). Entretanto, este local é motivo de revelam que 20% dos entrevistados
Deste modo, é imprescindível que preocupação e cautelas frequentes acreditam que a feira de Macapá está
haja uma vigilância sanitária regular em virtude de suas deficiências hi- em boas condições e 60% a apontam
sobre a comercialização de pescado gienicossanitárias (LUNDGREN et como regular, o que demonstra um
em feiras, uma vez que são muitas as al., 2009). nível satisfatório de contentamento
possibilidades de contaminação. Por- Dentre as barracas observadas, com a infraestrutura da feira.
tanto, justifica-se a realização deste encontraram-se altos índices de não Entretanto, no presente estudo
trabalho com o objetivo de avaliar o conformidade referentes à higiene também foram achados índices ele-
perfil higienicossanitário da feira do pessoal dos comerciantes, onde 33 vados de não conformidades (Gráfico
pescado no Município de Macapá. deles não estavam com cabelos pre- 2), onde 100% das barracas não pos-
sos ou cobertos com redes ou tocas, suem lixeiras de fácil limpeza, com
nem com unhas limpas ou curtas, tampa e pedal. Em 88% delas havia
MATERIAL E MÉTODOS representando 100% dos casos. 97% presença de insetos e não se manti-
não possuíam uniforme limpo e con- nha o ambiente limpo e organizado.
No período de setembro a novem- servado, enquanto que 9% utilizavam De igual modo, 88% não higieniza-
bro de 2015 foi realizada uma pesqui- barba (Gráfico 1). Estes achados cor- ram os utensílios nem conservavam
sa de campo com caráter qualitativo roboram com o exposto por Agnese os mesmos da forma preconizada
por meio de uma visita observatória
na feira do pescado no município de
Macapá, situada no bairro Perpétuo Gráfico 1 - Índice de não conformidade de higiene pessoal. Feira do Pescado, Macapá.
Socorro. O local é composto por 66 2015.
barracas, das quais 33 foram ana-
lisadas utilizando-se como método
de avaliação o checklist contido na
resolução RDC nº 216/04 da Agên-
cia Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA). Os dados obtidos foram
plotados em planilha eletrônica do
Microsoft Excel® 2013 para cons-
tituição de banco de dados, análise
estatística e geração de gráficos e
tabelas.
Conforme a resolução 466/2012
do Conselho Nacional de Saúde/Mi-
nistério da Saúde, o presente estudo
foi submetido ao Comitê de Ética e
Pesquisa da Faculdade Estácio de

82
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Gráfico 2 - Índice de não conformidade de higiene do ambiente e área física. Feira do Pescado, Macapá. 2015.

Gráfico 3 - Índice de não conformidade quanto à manipulação e armazenamento do pescado. Feira do Pescado, Macapá. 2015.

pela legislação vigente. Apenas 7% Quanto a fatores que dizem res- cruzada. De acordo com Campos e
não tinham bom estado de conser- peito à manipulação e armazena- Paiva (2012), a comercialização de
vação das instalações. Para Pinho et mento do pescado (Gráfico 3), foram alimentos de origem animal em fei-
al. (2014), a possibilidade de con- registrados que 82% dos feirantes ras, expostos em barracas sem refri-
taminação dos alimentos é grande, não armazenam o pescado de forma geração, sem proteção e na presença
dado os aspectos da conservação e correta e 88% lavam o produto de de poeira e insetos, pode alterar a
higienização do local de trabalho; maneira imprópria; 85% não fazem qualidade do produto, pois a conta-
bem como pela observação dos pro- uso de calçados fechados e antider- minação se dá por falta de cuidados
cedimentos de manuseio e comer- rapantes e 100% dos participan- básicos de armazenamento, exposi-
cialização dos alimentos, fazendo tes não utilizam luvas e máscaras. ção e manipulação do pescado. Os
supor que a maioria dos manipula- No mesmo percentual de barracas feirantes devem estar uniformiza-
dores/vendedores não tem qualquer conversa-se ou manipula-se dinhei- dos, com aventais limpos, de cor
tipo de preparo/qualificação para ro durante o preparo do alimento, clara, gorro e rede para prender o
realizar procedimentos higienicos- levando a um resultado de 100% cabelo, bem como sapatos fecha-
sanitários. de risco para haver contaminação dos; o lixo deve ser mantido em

83
ARTIGO
local adequado; a limpeza do mate- REFERÊNCIAS pública. Rev Hig Alimentar, v.12,
rial de trabalho deve ser feita com n.53, p.30-37. São Paulo, 1998.
água encanada limpa, detergentes e AGNESE, AP; OLIVEIRA, VM; SILVA, HOBBS, B; ROBERTS, D. Infecções e
desinfetantes. As instalações devem PPO; OLIVEIRA, AO. Contagem controle higiênico-sanitário de ali-
garantir a proteção contra insetos e de bactérias aeróbias mesófilas e mentos. 376p. São Paulo, 1998.
roedores. enumeração de coliformes totais e LUNDGREN, PU; SILVA, JA; MACIEL, JF;
Os pescados, em todos os aspec- fecais em peixes frescos comercia- FERNANDES, TM. Perfil da qualida-
tos avaliados, apresentaram grande lizados no município de Seropédica, de higiênico-sanitária da carne bovi-
probabilidade de oferecer riscos à RJ. Rev Hig Alimentar. v.15, n.88, na comercializada em feiras livres e
saúde do consumidor pelo não cum- p.67-70, 2001. mercados públicos de Joao Pessoa/
primento das normas higienicossa-
BRASIL. Ministério da Saúde / Agên- PB – Brasil. Rev Alimento e Nutri-
nitárias. A feira estudada apresenta
cia Nacional de Vigilância Sanitária. ção. v.20, n.1, p.113-119, 2009.
irregularidades que podem acarretar
Resolução RDC nº 216, de 15 de se- PINHO, SA; SILVA, AP; NASCIMENTO,
perdas na qualidade, deterioração do
tembro de 2004. Dispõe sobre o re- FCA; LEMOS, RS. Perfil higiênico-
alimento e, consequentemente, da-
gulamento técnico de Boas Práticas -sanitário na comercialização de ali-
nos à saúde do consumidor (REGO
para Serviços de Alimentação. mentos na feira de Marambaia, Be-
et al., 2010).
BRASIL. Conselho Nacional de Saúde / lém/PA. Anais do III Congresso de
Ministério de Saúde. Resolução nº Educação em Saúde da Amazônia
CONCLUSÃO
466 de 12 de dezembro de 2012, que (COESA), Universidade Federal do
dispõe sobre diretrizes e normas re- Pará - 12 a 14 de novembro de 2014.
Analisando os parâmetros utilizados
nessa pesquisa, pode-se afirmar que o gulamentadoras de pesquisas envol- REGO, AS; FRANÇA, CC; SOUZA, IS;
local estudado não está cumprindo a vendo seres humanos. MORAES, OMG; TANCREDI, RCP.
legislação vigente que regulamenta o BRASIL. Ministério da Agricultura, Pe- Aspectos higiênico-sanitários
setor, apresentando vários problemas cuária e Abastecimento. RIISPOA – na comercialização de pescados
que podem comprometer a qualidade Regulamento da Inspeção Industrial em feiras livres da cidade do Rio
do produto, colocando em risco a saú- e Sanitária de Produtos de Origem de Janeiro. 2010. Disponível em:
de do consumidor. Animal. Decreto nº 30691, de 29 de <http://www.sovergs.com.br/site/
É necessário uniformizar todos os março de 1952. Brasília/DF, 1952. higienistas/trabalhos/10813.pdf>.
feirantes com a utilização de máscara, CAMPOS, DS; PAIVA, ZC. Condição higi- Acesso em 15 de agosto de 2015.
luvas, calçados fechados e antiderra- ênico-sanitária do pescado comer- SALES, AP; REZENDE, LT; SETTE, RS.
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manipulação do pescado, com o intuito Acesso em 10 de setembro de 2015. PB – 20 a 22 de novembro de 2011.
de reduzir os níveis de contaminação. SANTOS, GM; SANTOS, ACM. Susten-
FAO, La producción mundial de pesca-
É indispensável um trabalho intensi-
do, crustáceos y moluscos llegó a tabilidade da Pesca na Amazônia.
ficado com feirantes e consumidores
126,2 millones de toneladas em Estudos avançados. v.19, n.54,
para conscientização sobre boas práti-
1999, es decir um incremento del p.165-182, 2005.
cas e sua relevância na saúde pública.
7 por ciento em comparación com SILVA, LMA; SILVA, SLF. Fatores de
É extremamente importante a fis-
el nivel de 1998. Disponível em: decisão de compra de pescado nas
calização constante da Vigilância
http://www.fao.org/fi/trends/worl- feiras de Macapá e Santana – Ama-
Sanitária na feira e se necessário a
dprod99s.asp. Acessado em 26 de pá. Boletim técnico-científico do
punição. Além destas avaliações, faz-
fevereiro de 2015. CEPNOR. Belém, v.4, n.1, p.89-98,
-se necessária a realização de estudos
individuais e coletivos para inspeções FERREIRA, SMS. Contaminação de ali- 2004.
aprofundadas, de forma a avaliar a mentos ocasionada por manipula- VIEIRA, IM. Bioecologia e pesca do
microbiologia e físico-química, com dores. Brasília/DF, 2006. camarão no baixo do rio Amazo-
a finalidade em determinar a qualida- GERMANO, PML; GERMANO, MIS; OLI- nas-AP, 2003. 153 p. Dissertação
de do produto ofertado até chegar ao VEIRA, CAF. Aspectos da qualidade (Desenvolvimento Sustentável). Uni-
consumidor. do pescado de relevância em saúde versidade de Brasília. Brasília, 2003.

84
Material para Atualização Profissional
TÍTULO AUTOR R$
ÁLBUM FOTOGRÁFICO DE PORÇÕES ALIMENTARES.........................................................................................................................LOPEZ & BOTELHO............................................................................................. 130,00
ALERGIAS..................................................................................................................................................................................................LAROUSSE............................................................................................................. 22,50
ALIMENT’ARTE: UMA NOVA VISÃO SOBRE O ALIMENTO (1A ED 2001)..............................................................................................SOUZA.................................................................................................................... 24,64
ALIMENTOS TRANSGÊNICOS.................................................................................................................................................................SILVIA PANETTA NASCIMENTO.............................................................................. 8,00
ANÁLISE DE PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE............................................................................................................SBCTA..................................................................................................................... 25,00
AROMA E SABOR DE ALIMENTOS (TEMAS ATUAIS) 1ª ED 2004.........................................................................................................FRANCO................................................................................................................. 83,93
ARTE E TÉCNICA NA COZINHA: GLOSSÁRIO MULTIL ÍNGUE, MÉTO DOS E RECEITAS , ED 2004.................................................................................................................................................................................. 69,00
ATLAS DE MICROBIOLOGIA DE ALIMENTOS.........................................................................................................................................JUDITH REGINA HAJDENWURCEL ..................................................................... 59,00
ATLAS DE MICROSCOPIA ALIMENTAR (VEGETAIS), 1ª ED 1997.........................................................................................................BEAUX.................................................................................................................... 40,00
AVALIA ÇÃO ANTROPOMÉTRICA NOS CICLOS DA VIDA......................................................................................................................NACIF & VIEBIG..................................................................................................... 53,10
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE CARNES: FUNDAMENTOS E METODOLOGIAS...............................................................................RAMOS/GOMIDE...................................................................................................112,00
AVANÇOS EM ANÁLISE SENSORIAL, 1ªED 1999...................................................................................................................................ALMEIDA/HOUGH/DAMÁSIO/SILVA...................................................................... 63,00
BETO E BIA (JOGO). CORRIDA DA BOA ALIMENTAÇÃO E DOS HÁBITOS SAUDÁVEIS.....................................................................METHA.................................................................................................................... 15,00
BRINCANDO DA NUTRIÇÃO....................................................................................................................................................................ELIANE MERGULHÃO/SONIA PINHEIRO............................................................. 27,90
CAMPILOBACTERIOSES: O AGENTE, A DOENÇA E A TRANSMISSÃO POR ALIMENTOS ................................................................CALIL, SCARCELLI, MODELLI, CALIL................................................................... 30,00
CARNES E CORTES.................................................................................................................................................................................SEBRAE.................................................................................................................. 35,00
NO PERÍODO DE 1982 A 2002.................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 15,00
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (DIRECIONADO AO SEGMENTO ALIMENTÍCIO)...............................................................ABEA....................................................................................................................... 17,00
COLESTEROL DA MESA AO CORPO......................................................................................................................................................VARELA................................................................................................................... 34,42
COLESTEROL: DA MESA AO CORPO, ED 2006SOUZA/VISENTAINER32,00
COMER SEM RISCOS, VOLUME 1..........................................................................................................................................................REY/SILVESTRE.................................................................................................... 85,00
COMER SEM RISCOS, VOLUME 2..........................................................................................................................................................REY/SILVESTRE.................................................................................................... 95,00
COMIDA: PRAZER?! DOENÇA?!..............................................................................................................................................................FATIMA DIETOS..................................................................................................... 16,00
CONTROLE DE QUALIDADE EM SISTEMAS DE ALIMENTAÇÃO COLETIVA,1ªED 2002.....................................................................FERREIRA.............................................................................................................. 49,00
DEFEITOS NOS PRODUTOS CÁRNEOS: ORIGENS E SOLUÇÕES, 1ª ED 2004.................................................................................NELCINDO NTERRA & COL................................................................................... 42,35
DICIONÁRIO DE TERMOS LATICINISTAS VOLS: 1, 2 E 3......................................................................................................................INST LAT CÂNDIDO TOSTES.............................................................................. 100,00
DIETA MILAGROSA DO CORAÇÃO SAUDÁVEL......................................................................................................................................SELEÇÕES............................................................................................................. 89,90
DOSSIÊ ABRASCO....................................................................................................................................................................................ABRASCO............................................................................................................... 40,00
222 PERGUNTAS E RESPOSTAS PARA EMAGRECER E MANTER O PESO
DE UMA FORMA EQUILIBRADA...............................................................................................................................................................ISABEL DO CARMO............................................................................................... 35,00
GESTÃO DE UNIDADES DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO: UM MODO DE FAZER.............................................................................ABRE/SPINELLI/PINTO......................................................................................... 95,00
GUIA DE ALIMENTA ÇÃO DA CRIANÇA COM CÂNCER.........................................................................................................................GENARO................................................................................................................. 45,00
HERBICIDAS EM ALIMENTOS, 2ª ED 1997.............................................................................................................................................MÍDIO...................................................................................................................... 61,60
HIGIENE NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS , 1ªED 2008...........................................................................................................................NÉLIO JOSÉ DE ANDRADE1............................................................................... 160,00
HIGIENE PESSOAL - HÁBITOS HIGIÊNICOS E INTEGRIDADE FÍSICA (MÓDULO II)..........................................................................FRIULI .................................................................................................................... 25,00
INSETOS DE GRÃOS ARMAZENADOS:ASPECTOS BIOLÓGICOS (2AED2000)..................................................................................ATHIÊ.................................................................................................................... 102,00
INSPEÇÃO E HIGIENE DE CARNES........................................................................................................................................................PAULO SÉRGIO DE ARRUDA PINTO................................................................... 95,00
INTRODUÇÃO À QUÍMICA AMBIENTAL...................................................................................................................................................JORGE BDE MACEDO......................................................................................... 165,00
ISOFLAVONAS DE SOJA E SUAS ATIVIDADES BIOLÓGICAS...............................................................................................................VARELA....................................................................................................................33,11
LEITE PARA ADULTOS. MITOS E FATOS FRENTE À CIÊNCIA..............................................................................................................VARELA................................................................................................................. 143,22
LIVRO VERDE DE RASTREAMENTO - CONCEITOS E DESAFIOS.......................................................................................................VARELA....................................................................................................................33,11
MANUAL DE BOVINOCULTURA LEITEIRA – ALIMENTOS: PRODUÇÃO E FORNECIMENTO..............................................................IVAN LUZ LEDIC..................................................................................................... 51,00
MANUAL DE CONTROLE HIGIÊNICOSSANITÁRIO EM SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO, 7AED2007..................................................SILVA.JR............................................................................................................... 239,00
MANUAL DE INSPEÇÃO E QUALIDADE DO LEITE.................................................................................................................................UFSM...................................................................................................................... 45,00
MANUAL DE MÉTODOS DE ANALISE MICROBIOLOGICA DE ALIMENTOS E ÁGUA...........................................................................VARELA................................................................................................................. 379,00
MANUAL DESCOMPLICADO PARA CONTROLE DE PRAGAS URBANAS............................................................................................ALL PRINT.............................................................................................................. 40,00
MANUAL SOBRE NUTRIÇÃO, CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS E MANIPULAÇÃO DE CARNES......................................................SEBRAE.................................................................................................................. 48,00
MARKETING E QUALIDADE TOTAL (SETOR LATICINISTA)...................................................................................................................FERNANDO A CARVALHO E LUIZA C ALBUQUERQUE...................................... 48,00
NOÇÕES BÁSICAS DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA PARA MANIPULADORES DE ALIMENTOS (MÓDULO I)...................FRIULI .................................................................................................................... 12,00
NOVA CASA DE CARNES (REDE AÇOUCIA)...........................................................................................................................................FCESP-CCESP-SEBRAE....................................................................................... 15,00
NUTRIÇÃO DA MULHER. UMA ABORDAGEM NUTRICIONAL DA SAÚDE À DOENÇA.........................................................................METHA.................................................................................................................... 98,00
NUTRIÇÃO E ADMINISTRAÇÃO NOS SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR................................................................................RICARDO CALLIL E JEANICE AGUIAR................................................................. 25,00
NUTRIÇÃO PARA QUEM NÃO CONHECE NUTRIÇÃO, 1ªED 1998........................................................................................................PORTO.................................................................................................................... 42,00
O MUNDO DO FRANGO...........................................................................................................................................................................OLIVO................................................................................................................... 255,00
PARTICULARIDADES NA FABRICAÇÃO DE SALAME, 1ª ED 2004........................................................................................................TERRA/FRIES/TERRA............................................................................................ 42,35
PERSONAL DIET. O CAMINHO P/ O SUCESSO PROFISSIONAL..........................................................................................................METHA.................................................................................................................... 49,00
PIRÂMIDE ALIMENTAR.............................................................................................................................................................................METHA.................................................................................................................... 15,00
PROBIÓTICOS E PREBIÓTICOS EM ALIMENTOS..................................................................................................................................VARELA................................................................................................................. 174,79
PROCESSAMENTO E ANÁLISEDE BISCOITOS (1A ED 1999)................................................................................................................MORETTO.............................................................................................................. 41,58
QUEIJOS NO MUNDO- O LEITE EM SUAS MÃOS (VOLUME IV)...........................................................................................................LUIZA C ALBUQUERQUE...................................................................................... 45,00
QUEIJOS NO MUNDO - O MUNDO ITALIANO DOS QUEIJOS (VOLUME III).........................................................................................LUIZA C ALBUQUERQUE...................................................................................... 45,00
QUEIJOS NO MUNDO - ORIGEM E TECNOLOGIA (VOLUMES I E II)....................................................................................................LUIZA C ALBUQUERQUE...................................................................................... 90,00
QUEIJOS NO MUNDO - SISTEMA INTEGRADO DE QUALIDADE - MARKETING, UMA FERRAMENTA COMPETITIVA
(VOLUME V)...............................................................................................................................................................................................LUIZA C ALBUQUERQUE...................................................................................... 45,00
RECEITAS PARA SERVI ÇOS DE ALIMENTA ÇÃO EM FORNOS DE CONVECÇÃO - 1ª ED 1999.......................................................AGNELLI/TIBURCIO............................................................................................... 39,27
RELAÇÃO DE MEDIDAS CASEIRAS, COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE ALIMENTOS NIPO-BRASILEIROS..............................................TOMITTA, CARDOSO............................................................................................. 22,50
RESTAURANTE POR QUILO: UMA ÁREA A SER ABORDADA...............................................................................................................DONATO................................................................................................................. 46,80
SEGURANÇA ALIMENTAR APLICADA AOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS /
FLUXOGRAMAS CROMÁTICOS PARA PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES...............................................................................................MAGALI SCHILLING............................................................................................... 18,00
SISTEMA DE PONTOS PARA CONTROLE DE COLESTEROL E GORDURA NO SANGUE..................................................................ABREU/NACIF/TORRES....................................................................................... 30,00
SORVETES -CLASSIFICAÇÃO, INGREDIENTES, PROCESSAMENTO (EDIÇÃO 2001).......................................................................CENTRO DE INFEM ALIMENTOS......................................................................... 28,00
SUBPRODUTOS DO PROCESSO DE DESINFECÇÃO DE ÁGUA PELO USO DE DERIVADOS CLORADOS......................................JORGE A BARROS MACEDO................................................................................ 25,00
TREINANDO MANIPULADORES DE ALIMENTOS ..................................................................................................................................SANTOS.................................................................................................................. 50,00
TREINAMENTO DE MANIPULADORES DE ALIMENTOS: FATOR DE SEGURANÇA ALIMENTAR
E PROMOÇÃO DA SAÚDE, 1ª ED 2003...................................................................................................................................................GERMANO.............................................................................................................. 50,00
VÍDEO TÉCNICO (EM VHS OU DVD): QUALIDADE E SEGURANÇA DO LEITE:
DA ORDENHA AO PROCESSAMENTO ...................................................................................................................................................POLLONIO/SANTOS.............................................................................................. 55,00
VÍDEO TÉCNICO (APENAS EM DVD): QUALIDADE DA CARNE IN NATURA (DO ABATE AO CONSUMO)....................................HIGIENE ALIMENTAR........................................................................................... 55,00
PESQUISA

CONDIÇÕES HIGIENICOSSANITÁRIAS DOS


SERVIÇOS DE ALIMENTOS E BEBIDAS EM HOTÉIS
DO MUNICÍPIO DE PELOTAS - RS.
Jacqueline Bairros *
Lucia Borges
Elizabete Helbig
Universidade Federal de Pelotas - Faculdade de Nutrição - Departamento de Nutrição, Pelotas - RS.
* jakkebairros@hotmail.com

RESUMO (p<0,05) nas contagens de mesófi- in this service. The objective of this
los aeróbios na placa de corte e xí- study was to perform an evaluation
Atualmente observa-se expansão cara do Hotel 2. De um modo geral, of the microbiological conditions
do mercado hoteleiro e, consequen- equipamentos e utensílios apresenta- of the food and beverage sector of
temente, cresce a preocupação com ram contaminações dentro do limite the hotels in the city of Pelotas, RS,
o fornecimento de refeições seguras, sugerido pelas instituições, após o and to provide training to the ma-
distribuídas neste serviço. O objetivo treinamento. Mãos de manipulado- nipulators, based on the concept
deste estudo foi realizar uma avalia- res não diferiram estatisticamente, of good practices. Equipment and
ção das condições microbiológicas porém apresentaram reduções nas utensils were analyzed for enumera-
do setor de alimentos e bebidas dos contagens de estafilococos coagula- tion of aerobic mesophiles and the
hotéis no município de Pelotas/RS se positiva, após o treinamento. Con- results discussed as suggested by
e realizar um treinamento dos ma- clui-se que o treinamento em boas the American Public Health Asso-
nipuladores, com base no conceito práticas ofertado aos manipuladores ciation (APHA). The enumeration
de boas práticas. Equipamentos e de alimentos contribuiu para imple- of coagulase-positive staphylococci
utensílios foram analisados quanto mentação da qualidade dos produtos and the results discussed according
à enumeração de mesófilos aeróbios e serviços oferecidos. Entretanto, um to the World Health Organization
e os resultados discutidos conforme treinamento apenas, não é o suficien- (WHO), the Pan American Health
as sugestões da American Public te para assegurar a redução da carga Organization (PAHO) and the Bra-
Health Association (APHA). Para a microbiana de equipamentos, utensí- zilian Association of Establishments
análise das mãos dos manipuladores lios e mãos de manipuladores. of Collective Meals (ABERC) were
realizou-se a enumeração de estafi- analyzed for the handlers' hand
lococos coagulase positiva e os re- Palavras-chave: Boas práticas.
analysis. Four hotels located in the
sultados discutidos conforme orga- Qualidade. Segurança dos
central area of Pelotas
​​ participated
nização Mundial da Saúde (OMS), alimentos.
in this study. After the training, re-
Organização Panamericana de Saúde ductions (p <0.05) were verified in
(OPAS) e Associação Brasileira de ABSTRACT the counts of aerobic mesophiles in
Estabelecimentos de Refeições Co- the cutting board and cup of Hotel 2.
letivas (ABERC). Participaram deste Currently there is an expansion of In general, equipment and utensils
estudo quatro hotéis localizados na the hotel market and, consequently, presented contaminations within the
área central de Pelotas. Após o trei- there is a growing concern about the suggested by the institutions, after
namento, foram verificadas reduções provision of safe meals, distributed the training. Manipulator hands did

86
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

not differ statistically, but showed re- a economia (TONDO; BARTZ, individualmente. O swab foi ume-
ductions in coagulase positive staph- 2011). decido em 10 mL de Água Peptona-
ylococcal counts after training. It is Diante do exposto, este estudo da 0,1% contida em tubo, posterior-
concluded that the training in good teve como objetivo realizar uma mente foi friccionado na superfície
practices offered to food handlers avaliação das condições microbio- do equipamento, utensílios e mão
contributed to the implementation of lógicas, de equipamento, utensílios do manipulador e colocado nova-
the quality of products and services e mãos de manipuladores, do setor mente no tubo. As amostras foram
offered. However, a training alone is de alimentos e bebidas (A&B) em transportadas em uma caixa iso-
not enough to ensure the reduction hotéis do município de Pelotas/RS, térmica sob refrigeração até o La-
of the microbial load of equipment, e realizar um treinamento dos ma- boratório de Microbiologia da Fa-
utensils, and hands of manipulators. nipuladores, com base no conceito culdade de Nutrição, para análises
de boas práticas. posteriores.
Keywords: Good practices. Quality.
Para a coleta das amostras dos
Food safety.
MATERIAL E MÉTODOS equipamentos (bancada) foi utiliza-
do um molde esterilizado de 50 cm²
INTRODUÇÃO (10 cm² x 5 cm²), por toda a área va-
Foi realizado um estudo explora-

N
tório, com abordagem quantitativa zada do molde, em movimentos do
o Brasil, o turismo se con- tipo vai e vem. Esse procedimento
observacional, descritivo, durante
solida como um vetor de ocorreu em cinco áreas distintas,
o período de setembro de 2012 a
desenvolvimento socio- por três vezes consecutivas, totali-
janeiro de 2013. Foram convidados
econômico, com grande zando 250 cm² amostrados. Para a
a participar do estudo todos os ho-
representação no mercado interna- coleta das amostras dos utensílios
téis (n = 13) registrados no site do
cional (PLANO NACIONAL DE (tábua de corte, xícara e faca) pro-
Desenvolvimento Econômico e Tu-
TURISMO, 2007; SERAFIM, 2010). cedeu-se à fricção do swab em toda
rismo Municipal de Pelotas/RS. As
Com o crescimento do turismo, há a superfície dos mesmos, em movi-
visitas aos hotéis participantes e a
também o desenvolvimento do mer- mentos do tipo vai e vem.
coleta de amostras foram realizadas
cado hoteleiro e antes dessa expan- Foram realizadas análises de me-
em dias aleatórios durante a prepa-
são, uma crescente preocupação com sófilos aeróbios do equipamento e
ração do café da manhã.
o fornecimento de alimentos, tanto utensílios, conforme as recomen-
A pesquisa foi realizada em duas
em qualidade sensorial como micro- dações descritas no Compendium
etapas. Na primeira etapa, foram
biológica (SERAFIM, 2010). of Methods for the Microbiological
coletadas amostras de equipamen-
De acordo com estimativas da tos (bancada) e utensílios (tábua Examination of Foods da American
Organização Mundial da Saúde de corte, xícara, faca) e mãos dos Public Health Association (APHA,
(OMS), cerca de 1,8 milhões de manipuladores, para análise micro- 2001).
pessoas morrem a cada ano por biológica. Após esta primeira eta- Para a coleta da amostra das
Doenças Transmitidas por Alimen- pa, todos os hotéis receberam uma mãos dos manipuladores procedeu-
tos (DTA) e os turistas acabam se intervenção, por meio de um trei- -se à fricção do swab partindo-
tornando alvos vulneráveis a​​ estas namento teórico, destinado aos ma- -se do punho até a extremidade
doenças, uma vez que estão fora nipuladores de alimentos, sobre a de cada um dos dedos num total
de suas rotinas alimentares (WE- importância da adoção de boas prá- de três vezes (ida e volta). Partiu-
LKER et al., 2010). No Brasil, en- ticas, com base na RDC 216/2004 -se novamente do mesmo ponto do
tre 1999 e 2008, ocorreram 6.062 (BRASIL, 2004). A segunda etapa punho, passou-se o swab, por entre
surtos de DTA, e os restaurantes foi realizada após a implementação os dedos e retornou-o à posição de
comerciais, ocupavam o segundo das melhorias propostas. Repetiu- partida do punho. Estafilococos co-
lugar deste cenário, com 19,7% dos -se novamente a coleta de todas as agulase positiva foi pesquisado em
casos (EBONE; CAVALI; LOPES, amostras, a fim de avaliar a eficá- mãos de manipuladores conforme
2011). cia do treinamento ministrado aos as recomendações da Organização
O impacto negativo causado manipuladores. Mundial da Saúde (OMS), Orga-
pela DTA atinge níveis cada vez Para a coleta das amostras do nização Panamericana de Saúde
mais preocupantes, causando gran- equipamento, utensílios e mãos (OPAS) e Associação Brasileira
des perdas relacionadas com o tu- dos manipuladores utilizou-se de Estabelecimentos de Refeições
rismo e, consequentemente, para swabs esterilizados embalados Coletivas (ABERC), bem como a

87
PESQUISA
metodologia realizada para a coleta da de todos os hotéis e tábuas de corte contudo, a OMS, OPAS e ABERC
amostra. dos hotéis 3 e 4 avaliadas, apresenta- sugerem limites de até 150 UFC/mão
Os procedimentos adotados para as ram valores fora do preconizado pela (ANDRADE, 2008), desde que sigam
análises microbiológicas dos equipa- APHA, que é de até 2 UFC/cm2  para rigorosamente a metodologia descrita
mentos e utensílios foram realizados superfícies de bancadas e 100 UFC/ acima. Após o treinamento em boas
conforme o Manual de Análise Micro- utensílios (APHA, 2001). Com relação práticas aos manipuladores de alimen-
biológica de Alimentos (SILVA; JUN- aos hotéis 1 e 2, estes apresentaram re- tos, percebe-se que em três hotéis hou-
QUEIRA; SILVEIRA, 2010). duções nas contagens de mesófilos ae- ve redução nas contagens deste micro-
Os resultados foram descritos como róbios após o treinamento na avaliação -organismo, enquanto que no Hotel 1
média e desvio padrão, seguida pelo de tábuas de corte, faca e xícara, sendo não houve diferença, configurando-o
teste de Tukey com 95% de confiança, que estes valores estavam dentro do li- como dentro do preconizado pelas ins-
através do programa Statistica 7.0. Os mite recomendado pela APHA (2001). tituições (Figura 2).
resultados foram expressos em UFC/ Indicações um pouco mais rígidas po-
cm² (bancada), UFC/utensílio (tábua dem ser observadas por instituições CONCLUSÃO
de corte, faca e xícara), UFC/mão como a OPAS e a OMS, no qual se
(mão de manipulador). admitem contagens de, no máximo, 50 Conclui-se que, as contagens de
UFC/cm² de superfície (ANDRADE, mesófilos aeróbios para bancada e tá-
RESULTADOS E DISCUSSÃO 2008). Portanto, se considerar estes bua de cortes, avaliadas antes do trei-
parâmetros, os resultados estão fora do namento, em todos os hotéis, estavam
Entre os 13 hotéis registrados, recomendado. fora do limite aceitável de acordo com
30,76% concordaram em participar, Na figura 1, observam-se as redu- a APHA (2001). Após o treinamento
resultando em uma amostra de quatro ções das contagens de mesófilos aeró- dos manipuladores em boas práticas,
locais, sendo identificados como hotel bios nos utensílios analisados, em to- esses valores foram reduzidos, porém
de 1, 2, 3 a 4. dos os hotéis, após o treinamento sobre ainda nos hotéis 3 e 4, a contagem da
Na tabela 1 verificam-se as conta- as boas práticas, sendo que apenas o superfície da bancada e tábua de cor-
gens de mesófilos aeróbios analisados Hotel 2 apresentou reduções significa- te continuava fora do preconizado. As
em equipamento e utensílios, perten- tivas (p <0.05) nas amostras de uten- análises de mesófilos aeróbios em faca
centes aos serviços de A&B dos hotéis. sílios (tábua de corte e xícara) após o e xícara, antes e após o treinamento,
Embora tenha ocorrido redução nas treinamento. estavam dentro dos limites aceitáveis
contagens de mesófilos aeróbios após Não há um limite estabelecido pela de acordo com a APHA (2001) e, in-
o treinamento sobre boas práticas, per- legislação nacional para a presença clusive, verificaram-se reduções nas
cebe-se que as superfícies de bancadas de estafilococos coagulase positiva, contagens deste micro-organismo após

Tabela 1 - Contagem de mesófilos aeróbios em equipamentos e utensílios, antes e após o treinamento sobre boas práticas, oferecido aos
manipuladores de alimentos, do setor de A&B de quatro hotéis de Pelotas, RS, 2013.

Antes do treinamento em boas práticas


Bancada Tábua de corte Faca Xícara
(UFC/cm²) (UFC/utensílio) (UFC/utensílio) (UFC/utensílio)
Repetições
1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º
HOTEL 1 120 90 120 125 100 100 50 35 35 45 35 20
HOTEL 2 84 97 99 120 130 120 82 74 60 60 78 50
HOTEL 3 350 320 200 180 270 280 90 36 40 80 45 36
HOTEL 4 420 230 190 150 98 130 30 30 46 50 20 50
Após o treinamento em boas práticas
HOTEL 1 110 98 100 92 98 90 50 30 20 45 30 22
HOTEL 2 98 75 90 98 87 90 50 68 72 20 11 35
HOTEL 3 250 350 100 140 300 400 12 15 20 30 50 22
HOTEL 4 360 250 220 120 136 118 40 20 30 41 19 22

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Figura 1 - Média e desvio padrão das contagens de mesófilos aeróbios avaliados em utensílios (tábua de corte, faca e xícara) do serviço de
A&B, de quatro hotéis de Pelotas/RS, antes e após o treinamento para manipuladores de alimentos, sobre boas práticas, 2013. (p <0.05,
indica diferença significativa).

89
PESQUISA

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Tabela 2 - Contagem de estafilococos coagulase positiva em mão de manipulador de alimentos, do setor de A&B em quatro hotéis de
Pelotas/RS, antes e após o treinamento sobre boas práticas, 2013.

Antes do treinamento em boas práticas


HOTEL 1 HOTEL 2 HOTEL 3 HOTEL 4
Repetições
1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º
Mão do manipulador 0 0 20 10 14 11 25 0 30 10 0 20

(UFC/mão)
Após o treinamento em boas práticas
Mão do manipulador 20 0 0 0 0 10 30 0 0 0 15 0

(UFC/mão)

o treinamento, em todos os hotéis ava- bacterianos. ed. Varela, São Paulo, alimentos e bebidas em hotéis. Dis-
liados. 2008, 412 p. sertação (mestrado) – Universidade Fed-
As contagens de estafilococos coa- BRASIL. Resolução RDC nº. 12, de 2 de eral de Santa Maria, Centro de Ciências
gulase positiva em mãos de manipula- janeiro de 2001. Dispõe sobre Regu- Rurais, Programa de Pós-Graduação em
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Agradecimentos EVANCHO, G; SVEUM, W; MOBERG, L; S; SOEIRO, M; RAMOS, R. Análise mi-
À Coordenação de Aperfeiçoamen- FRANK, J. Microbiological Monitoring crobiológica dos alimentos envolvidos
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adesão e formação de biofilmes mentos de boas práticas na área de em: 03 dez. 2015.

91
PESQUISA

ESPONJAS UTILIZADAS EM COZINHA HOTELEIRA:


CONTAMINAÇÃO E MÉTODOS DE DESINFECÇÃO.
Matheus Garcia de Fragas *
Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina, Departamento de Nutrição, São José – SC.
Cleide Rosana Werneck Vieira
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Ciência dos Alimentos. Florianópolis – SC.
Roberta Juliano Ramos
Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina, Departamento de Nutrição, São José – SC.
* matheusgfr@gmail.com

RESUMO por 5 minutos. A carga microbiana this can be a problem because they
das esponjas sem higienização ana- are stored at room temperature in
Um dos mais relevantes proble- lisadas foi de 4,29x105 UFC/cm² (± humidified medium rich in organic
mas em uma Unidade de Alimenta- 1,2x105 UFC/cm²), das tratadas com matter. In addition to ascertaining
ção e Nutrição (UAN), referente a hipoclorito foi 5,64x103 UFC/cm² (± the level of microbiological contami-
surtos alimentares, é a contamina- 1,63x10³ UFC/cm²) e das submetidas nation, it is also necessary to find out
ção cruzada. Desta forma, acredita- à fervura foi 1,1x10-1 UFC/cm² (± what is the best disinfectant method
-se que a esponja de cozinha seja um 1,26x10-2 UFC/cm²). Diante destas in order to maintain the microbio-
possível vetor da contaminação mi- análises é possível afirmar que a es- logical safety of the site, thus pre-
crobiológica em alimentos. De fato ponja é sim um vetor em potencial de venting cross-contamination and
não existem padrões de tempo de uso contaminação microbiológica e que hence the occurrence of a disease
para esponjas e este pode ser um pro- a imersão em água fervente é o pro- outbr eak transmitted by food. Were
blema, pois estas são acondicionadas cesso de desinfecção mais eficiente, used sponges with 24 to 48 hours in
à temperatura ambiente em meio entre os avaliados neste estudo, para regular use in the kitchen of a hotel
umedecido rico em matéria orgânica. reduzir a carga microbiológica de es- Food Service, these were submitted
Além de se conhecer o nível de con- ponjas de cozinha. to microbiological count and disin-
taminação microbiológica, é também Palavras-chave: Microbiologia de fection methods: immersion in hy-
necessário descobrir qual o melhor Alimentos. Fervura. Hipoclorito de pochlorite solution for 15 minutes,
método de higienização, a fim de se Sódio. and in boiling water for 5 minutes.
manter a segurança microbiológica The microbial load of sponges with-
do local, prevenindo assim a con- out cleaning was 4,29 x 105 CFU/
taminação cruzada e consequente- ABSTRACT cm² (± 1,2 105 CFU/cm²) which were
mente a ocorrência de um surto de treated with hypochlorite was 5,64 x
doença transmitido por alimentos. One of the most relevant problems 103 CFU/cm² (± 1,63 x 10³ 103 CFU/
Foram utilizadas esponjas com 24 a in a unit of food and nutrition, relat- cm²) and submitted to boiling was
48 horas de uso regular na cozinha ing to food outbreaks it is cross-con- 1,1 x 10-1 CFU/cm² (± 1,26 x 10-2
de uma UAN hoteleira, estas foram tamination. Thus, it is believed that CFU/cm²). Considering these results
submetidas à contagem microbioló- the kitchen sponge is a possible vec- we can conclude that the sponge is
gica e aos métodos de desinfecção: tor of microbiological contamination a potential vector in microbiological
imersão em solução de hipoclorito in food. In fact, there are no time contamination and that immersion
por 15 minutos e em água fervente standards for the use of sponges, and in boiling water is the most efficient

92
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

disinfection process among those (BEUMER; KUSUMANINGRUM, surtos no Brasil (SECRETARIA DE


evaluated in this study to reduce 2003; BLOOMFIELD, 2003; ROS- VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2015),
the microbiological load of kitchen SI; SCAPIN; TONDO, 2013), onde onde as bactérias mais frequente-
sponges. a limpeza e a desinfecção de super- mente relacionadas a estes surtos
fícies e utensílios podem evitar a são Salmonela ssp, Staphylococcus
Keywords: Food Microbiology.
contaminação cruzada em cozinhas, aureus e Escherichia coli, consecu-
Boiling. Sodium Hypochlorite.
devido à remoção dos resíduos de tivamente, bactérias mesófilas e que
alimentos e à inativação de micro- tem sobrevida em esponjas de cozinha
INTRODUÇÃO -organismos (MATTICK et al., e superfícies de preparo de alimentos

U
2003). Outros autores informam que (ERDOGRUL; ERBILIR, 2005; KU-
m importante risco à saú- a contaminação cruzada é frequen- SUMANINGRUM et al., 2002; MA-
de pública são as doenças temente associada com a contami- LHEIROS et al., 2010; MATTICK et
transmitidas por alimen- nação dos pratos ou superfícies com al., 2003; SECRETARIA DE VIGI-
tos (DTAs), sendo que água de lavagem, esponjas contami- LÂNCIA EM SAÚDE, 2015).
um surto de DTA pode acontecer em nadas ou outros itens contaminados Sendo de fundamental importân-
ambientes residenciais ou em esta- (ERDOGRUL; ERBILIR, 2005; cia o controle microbiológico a fim
belecimentos comerciais (Unidades MATTICK et al., 2003; PÉREZ- de se evitar contaminações e assim as
de Alimentação e Nutrição como -RODRÍGUEZ et al., 2008; ROSSI; DTAs, este trabalho teve por objetivo
restaurantes, lanchonetes e afins) SCAPIN; TONDO, 2013). realizar a avaliação microbiológica e
(COELHO et al., 2010). DTAs são Durante os últimos anos vem dos métodos de desinfecção de espon-
ocorrendo um aumento significati- jas utilizadas em uma UAN hoteleira
responsáveis por mortes e ainda per-
vo de DTAs no Brasil e no mundo da cidade de Florianópolis, Santa Ca-
das econômicas significativas, tendo
(HAVELAAR et al., 2010). No ano tarina.
impacto no desenvolvimento de paí-
de 2005 morreram cerca de 1,8 mi-
ses, no turismo e exportação de ali-
lhões de pessoas no mundo de do- MATERIAL E MÉTODOS
mentos (HOFFMANN; HARDER,
enças diarreicas, e a maioria destas
2010; WORLD HEALTH ORGANI-
mortes foi atribuída a alimentos e Para realizar a contagem de bacté-
ZATION, 2016). água contaminada (WORLD HE- rias mesófilas em esponjas de limpeza
A contaminação cruzada é usual- ALTH ORGANIZATION, 2007). utilizadas em uma UAN e a eficácia
mente proposta como um termo que A estimativa, nos Estados Unidos, é dos métodos de desinfecção, foram
se refere à transferência, de bactérias de que ocorram por ano cerca de 76 coletadas 20 esponjas de polietileno
ou vírus a partir de um produto ou milhões de casos de DTAs, com 325 (cada esponja com área de 82,35 cm²),
objeto contaminado para um produ- mil hospitalizações e 5 mil mortes com 24 a 48 horas de uso regular na
to não contaminado de forma direta (WORLD HEALTH ORGANIZA- cozinha de uma UAN localizada em
ou indireta. Além disso, outros ter- TION, 2007). No Brasil, entre os um hotel. Após a coleta asséptica, as
mos têm sido usados para se refe- anos de 2000 a 2015, ocorreram cer- esponjas foram transportadas em con-
rir à transferência de bactérias, mas ca de 10.666 surtos de DTAs regis- dições isotérmicas até o Laboratório
não em um sentido geral, como a trados, com 209.240 doentes e 155 de Microbiologia do Centro Univer-
recontaminação (contaminação dos mortes, porém acredita-se que estes sitário Estácio de Sá de Santa Catari-
alimentos após um processo de ina- dados não são condizentes com a re- na, onde foram submetidas aos trata-
tivação), a falta de higiene dos ma- alidade do país devido a sua grande mentos e Contagem total de bactérias
nipuladores de alimentos, equipa- extensão e pouca infraestrutura para mesófilas, de acordo com método
mentos contaminados, entre outros o registro destes dados (SECRETA- descrito pelo American Public Health
(ALMEIDA et al., 1995; GREIG; RIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚ- Association (APHA, 2001).
RAVEL, 2009; PÉREZ-RODRÍ- DE, 2015). Cada esponja coletada foi dividida
GUEZ et al., 2008; SOUZA et al., Dados da Secretaria de Vigilân- em três amostras iguais, cada amos-
2015). De acordo com a literatura, cia em Saúde referentes ao período tra com área de 27,45 cm², sendo
a contaminação cruzada em residên- compreendido entre 2000 e 2015 uma amostra destinada à contagem
cias e em UANs pode ser o principal mostram que as regiões Sudeste e microbiológica e as outras duas aos
fator responsável para o surgimen- Sul do Brasil são as mais acome- respectivos tratamentos e posterior
to de doenças alimentares, tanto tidas por surtos de DTAs e, juntas, contagem. Um dos tratamentos ao
esporádicas como as epidemias respondem por cerca de 75% dos qual uma amostra de cada esponja

93
PESQUISA
sofreu foi a imersão em 1 litro de entre os valores médios das contagens. preconizam que utensílios e super-
solução de hipoclorito de sódio (Na- Para avaliar as diferenças da redução fícies de cozinha industrial apresen-
ClO) na concentração de 200 ppm da carga microbiológica foi utilizado tem valores menores do que 50 UFC/
de cloro ativo por 15 minutos, após o Teste-T Student. Em ambos os testes cm² (ANDRADE, 2008; SILVA JR,
este tempo a esponja foi retirada foi considerado p <0,05 como estatisti- 2005).
da solução e submetida a um rápi- camente significativo. Diante das recomendações de
do enxágue em água potável para a instituições internacionais de saúde
retirada do NaClO residual (IKAWA; RESULTADOS E DISCUSSÃO e dos dados aqui apresentados fica
J. K.; ROSSEN, 1999) e submetida à claro que esponjas de limpeza utili-
contagem microbiológica. A solução A hipótese aqui apresentada é de zadas em cozinha por 24 a 48 horas
com concentração de 200 ppm de clo- que esponjas de limpeza utilizadas representam risco microbiológico
ro ativo aqui utilizada foi preparada em uma UAN hoteleira podem se em UANs, principalmente quando
utilizando-se 10 mL de hipoclorito de tornar um risco microbiológico e outros trabalhos já mostraram que
sódio, marca comercial Q-boa®, com um possível vetor de contaminação esponjas contaminadas são capazes
2 a 2,5% de cloro ativo em 1 litro de cruzada. Desta forma, foi realizada a de contaminar utensílios e superfí-
água potável. contagem microbiológica de espon- cies de cozinha quando em contato
O outro tratamento foi a imersão em jas utilizadas em uma UAN hoteleira (MATTICK et al., 2003; ROSSI;
1 litro de água fervente por 5 minutos, (Figura 1) e obteve-se uma conta- SCAPIN; TONDO, 2013).
após este período a esponja foi retirada gem média de 4,2x105 UFC/cm² (± Outros pesquisadores, quando
e submetida à contagem microbiológi- 1,2x105 UFC/cm²), número bem aci- analisaram as quantidades de bacté-
ca. ma do recomendado pela APHA para rias mesófilas em esponjas de limpe-
Figuras e análise estatística fo- utensílios e superfícies de cozinhas, za utilizadas em cozinha, também en-
ram realizadas no software GraphPad que é de 2 UFC/cm² (MARSHALL, contraram resultados alarmantes em
Prism versão para Windows 5,00. Para 1992). Outras instituições como a esponjas utilizadas por um período
a análise estatística da eficácia dos Organização Pan-Americana de Saú- de 3 até 10 dias (ERDOGRUL; ER-
métodos em reduzir a carga microbio- de e a Organização Mundial de Saúde BILIR, 2005; KUSUMANINGRUM
lógica foi utilizada a análise de vari- recomendam valores mais aceitáveis et al., 2002). Isto reforça a preocupa-
ância (ANOVA) de uma via e o teste à realidade brasileira, principal- ção que se deve ter com a esponja de
de Tukey para comparar as diferenças mente devido à temperatura, estas cozinha, que entra em contato direto

Figura 1 – Contagem microbiológica de esponjas utilizadas em UAN e submetídas a NaClO ou Fervura. Santa Catarina, 2016. * p<0,05
quando comparado ao grupo basal. β p<0,05 quando comparado ao grupo NaClO. Basal: esponjas sem tratamento. NaClO: esponjas
submetidas ao protocolo de solução de hipoclorito de sódio. Fervura: esponjas submetidas ao protocolo de fervura.

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Figura 2 – Percentual de redução bacteriana por método de higienização, Santa Catarina, 2016. β P<0,05 quando comparado ao grupo
NaClO.

com sobras de alimentos e utensí- entre os dois métodos (Figura 2). diminuído a capacidade bacterici-
lios contaminados e é utilizada para A análise do percentual de redução da da solução. Diferente da solução
a higienização de utensílios. Desta de UFC/cm² é capaz de evidenciar as de NaClO, a fervura, um método de
forma pode transferir bactérias pato- diferenças entre os dois métodos; a desnaturação proteica e portanto,
gênicas para superfícies e utensílios média de percentual de redução da inativação bacteriana, reduziu dras-
e, consequentemente, a alimentos re- fervura foi de 99,99% com desvio ticamente a contagem de bactérias
cém preparados podendo resultar em padrão de 00,0009%, enquanto a mesófilas aeróbias (Figura 2).
surtos de intoxicação alimentar (DO- média de percentual de redução pelo
NOFRIO et al., 2012; MATTICK et método NaClO atingiu 94,38% (± CONCLUSÃO
al., 2003). 2,50%) (Figura 2). Esses resultados
Após identificar o risco bacte- evidenciam ainda mais a eficiência De acordo com os dados apre-
riológico das esponjas de cozinha, do método de fervura em reduzir a sentados neste trabalho foi possível
foram aplicados dois métodos de contagem microbiológica das espon- concluir que esponjas de cozinha
higienização de esponjas a fim de re- jas de cozinha analisadas, reduzindo utilizadas por um período de 24 a 48
duzir a contagem bacteriana e, assim, assim o risco da contaminação de horas na Unidade de Alimentação e
este risco à produção de alimentos. utensílios, superfícies e alimentos. Nutrição hoteleira avaliada represen-
Ambos os tratamentos foram signi- Já era esperada uma diferença en- tam um risco microbiológico, e que o
ficativamente eficientes em redu- tre os dois métodos, principalmente método mais eficaz, dentre os avalia-
zir a contagem microbiológica nas uma menor eficácia da solução Na- dos neste estudo, para reduzir a con-
esponjas contaminadas, como está ClO, por conta da diluição e dificul- tagem microbiológica de esponjas é
claro na figura 1. Ainda é possível dade de acesso ao interior da esponja, a imersão em água fervente, que foi
observar uma diferença acentuada já que não houve agitação de forma capaz de reduzir a população bacte-
da contagem microbiológica entre alguma durante o tempo de imersão. riana da esponja a condições seguras.
os dois métodos, tanto que esta dife- Além disso, a presença de matéria
rença é estatisticamente significante orgânica nas esponjas pode ser a ex- REFERÊNCIAS
(p<0,05). Posteriormente foi avalia- plicação pela baixa redução micro-
da a redução microbiológica de cada biológica (KUSUMANINGRUM et
ALMEIDA, RCC et al. Avaliação e con-
método, para isso foi feito a média al., 2002; SHARMA; EASTRIDGE;
trole da qualidade microbiológica de
de redução de UFC/cm² e, buscando MUDD, 2009), pois o hipoclorito é
mãos de manipuladores de alimen-
evitar erros de análise devido às di- rapidamente inativado na presença
tos. Rev Saúde Pública, v.29, n.4,
ferenças entre esponjas, foi analisado de proteínas e seus resíduos (KO-
1995.
o percentual de redução de UFC/cm² TULA et al., 1997), o que pode ter

95
PESQUISA
ANDRADE, NÉLIO JOSÉ DE. Higiene na International Journal of Food Mi- transfer to foods: a review. Trends
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96
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

SURTO DE DOENÇA TRANSMITIDA POR


ALIMENTOS NOS MUNICÍPIOS DE MAUÁ E
RIBEIRÃO PIRES - SP.
Silene Maria Nunes *
Laboratório de Microbiologia Alimentar - Centro de Laboratório Regional de Santo André, Instituto Adolfo Lutz, Santo
André - SP.
Maria Cecília Cergole-Novella
Laboratório de Bacteriologia - Centro de Laboratório Regional de Santo André, Instituto Adolfo Lutz, Santo André - SP.
Monique Ribeiro Tiba
Laboratório de Doenças Entéricas - Centro de Bacteriologia, Instituto Adolfo Lutz Laboratório Central, São Paulo - SP.
Cirlei Aparecida Zanon
Iria Silvério da Silva Bento
Vigilância Sanitária Municipal de Ribeirão Pires - SP.
Ana Luiza Paschualinoto
Vigilância Epidemiológica Municipal de Ribeirão Pires - SP.
Irineu Thomaz
Aline Aparecida da Silva
Vigilância Sanitária Municipal de Mauá - SP.
Claudia Helena Walendy
Vigilância Epidemiológica Municipal de Mauá - SP.
* silene@ial.sp.gov.br

RESUMO vômito, febre e prostração, sendo que analisada segundo a metodologia pre-
apenas duas consumiram o bolo pre- conizada pelo BAM-FDA e teve como
Doenças de transmissão hídrica e parado em Ribeirão Pires, SP - Bra- resultados: Coliformes termotoleran-
alimentar (DTHA) acarretam impor- sil. Outras oito pessoas consumiram tes (NMP = 4,6x104/g); Bacillus ce-
tantes problemas econômicos e de saú- o mesmo alimento no município de reus (1,5x105 U.F.C./g) e presença de
de pública no mundo atual. Este estudo Mauá e, além dos sintomas citados, Salmonella Enteritidis em 25 gramas.
relata um surto de Doença Transmitida houve também registro de insuficiên- Clostridium perfringens, Staphylococ-
por Alimento - DTA que envolveu 12 cia renal e parada cardiorrespiratória. cus aureus e Listeria monocytogenes
pessoas de duas residências localiza- Dentre os envolvidos, uma menina de não foram isolados. Foram realizadas
das na Região do ABC paulista em oito anos veio a óbito após convulsão duas coproculturas que apresentaram
dezembro de 2012. Quatro pessoas e bronco-aspiração. O período variou resultados positivos para Salmonella
de uma residência tiveram sintomas entre 2 e 22 horas após o consumo Enteritidis. As cepas de Salmonella
de diarreia, cólica abdominal, náusea, do alimento. A amostra de bolo foi spp isoladas, tanto no alimento como

97
PESQUISA
nas fezes dos pacientes, apresentaram was found the involvement of the cake neurológicas, ictéricas, renais, alérgi-
similaridade genética e mesmo perfil as disseminator of pathogens and em- cas, respiratórias, septicêmicas e morte
de suscetibilidade aos antimicrobianos. phasized the importance of working to- (CVE, 2008).
Assim, foi constatado o envolvimento gether of sanitary and epidemiological Os serviços de vigilância sanitária
do bolo como veiculador de patógenos surveillance of both cities and public e epidemiológica municipais realizam
e ressaltada a importância do trabalho health laboratory, fundamental to elu- investigações das DTAs que têm como
em conjunto das vigilâncias sanitárias cidation of this outbreak. características as ocorrências pontuais
e epidemiológicas de ambos os muni- na população exposta ao risco, o nú-
Keywords: Salmonella Enteritidis.
cípios e o laboratório de referência em mero de pessoas afetadas, a presença
Bacillus cereus. Healthsurveillance.
saúde pública, fundamental na elucida- de diferentes sintomas, períodos de in-
ção deste surto. cubação diversos e, em casos graves,
INTRODUÇÃO podendo evoluir a óbitos nos indivídu-

D
Palavras-chave: Salmonella
os acometidos. O laboratório de saúde
Enteritidis. Bacillus cereus. Vigilância oenças transmitidas por ali- pública atua em parceria com os órgãos
sanitária. Vigilância epidemiológica. mentos - DTA constituem de vigilância na elucidação dos agen-
importantes problemas de tes etiológicos nos diferentes produtos
ABSTRACT saúde pública no mundo e materiais biológicos a serem analisa-
atual. Os alimentos preparados em dos (FRANCO & LANDGRAF, 1996;
Foodborne illness are still important domicílios têm grande influência na GERMANO & GERMANO, 2001
public health problems in the world ocorrência de surtos de DTA, devido apud PASSOS, 2008).
today. This paper reports an outbreak às falhas higiênicas na manipulação Bacillus cereus é uma bactéria ubí-
of food poisoning involving 12 people (LEITE, 2006) e também por contami- qua que pertence ao grupo de bactérias
from two residences located in the ABC nação cruzada através de utensílios e formadoras de esporos e tem sido asso-
Region, São Paulo, Brazil in Decem- ambientes contaminados. ciada a vários surtos de intoxicação ali-
ber 2012. Four people of one residence A DTA tem por conceito, uma sín- mentar. A contaminação de alimentos
had symptoms of diarrhea, abdominal drome constituída por anorexia, náuse- por este micro-organismo está ligada à
cramps, nausea, vomiting, fever and as, vômitos e/ou diarreia relacionada à ocorrência de duas síndromes distintas
prostration, and only two people had ingestão de alimento ou água contami- devido ao consumo de alimentos con-
eaten the cake. Eight others had con- nada por diversos agentes etiológicos, taminados com cepas patogênicas pro-
sumed the same food in the Mauá city dentre eles as bactérias. Surto é um dutoras de toxina emética e diarreica
and beyond the symptoms mentioned episódio em que dois ou mais indiví- (PAIVA et al., 2009).
above, there was kidney failure and duos apresentam os mesmos sintomas Salmonella spp é uma enterobacté-
cardiac arrest. Among those involved, após ingestão de alimentos de mesma ria responsável por surtos de DTA de
an eight-year-old girl has died after origem. Entre os anos de 2000 e 2015 característica severa, sendo um dos
seizure and bronchial aspiration. The ocorreram 10.666 surtos de DTA em principais patógenos envolvidos em
incubation period ranged from 2 to todo o Brasil, onde 2.107.229 pessoas surtos notificados em diversos paí-
22 hours. The cake sample was ana- foram expostas e destas 209.240 fica- ses (MAIJALA, RANTA & SEUNA,
lyzed according to the methods rec- ram doentes, o que acarretou em 155 2005; TESSARI, CARDOSO & CAS-
ommended by the FDA-BAM and had óbitos. Dos agentes etiológicos en- TRO, 2003 apud SHINOHARA et al.,
the following results: thermotolerant contrados nesse levantamento, 58,5% 2008). A presença deste micro-orga-
coliforms (NMP = 4.6 X 104 / g); Ba- não foram identificados; 14,4% foram nismo nos alimentos é um importante
cillus cereus (1.5 X 105 CFU / g) and identificados como Salmonella app; problema de saúde pública, não sendo
presence of Salmonella Enteritidis in 7,7% como S. aureus; 6,5% como E. tolerado, tanto nos países desenvolvi-
25 g. Clostridium perfringens, Staphy- coli; 3,1% como B. cereus; 2,1% como dos como nos países em desenvolvi-
lococcus aureus and Listeria monocy- C. perfringens e 7,7% por demais mento. Os sinais e sintomas podem ter
togenes were not isolated. Two stools agentes etiológicos (SINAN/SVS/MI- seus diagnósticos mal interpretados,
samples were tested for Salmonella NISTÉRIO DA SAÚDE, 2015). sobrecarregando cada vez mais o siste-
Enteritidis had been positive for both. Há cerca de 250 agentes etiológi- ma de saúde (FLOWERES, 1988 apud
Salmonella strains isolated in both cos transmitidos por água/alimentos SHINOHARA et al., 2008).
food and stools of patients has showed causando, além de sintomas como A Salmonella entérica subsp. enté-
genetic similarity and the same profile diarreia, incluindo as sanguinolentas, rica sorovar Enteritidis (SE) surgiu no
of antimicrobial susceptibility. Thus, it síndromes mais complexas como as início dos anos de 1980 e com maior

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

frequência em meados dos anos de MATERIAL E MÉTODOS o alimento (Tabela 1).


1990, sendo este patógeno um dos O período de incubação variou en-
principais agentes em relatos de sur- Uma amostra do alimento, acom- tre 2 e 22 horas, sendo que dos 12,
tos em todo o mundo (KAKU et al., panhada de ofício de solicitação de nove afetados foram hospitalizados.
1995). Segundo Wright et al. (2015), análise juntamente com o relatório Dentre os envolvidos, uma menina de
o número anual de surtos de SE au- epidemiológico dos afetados através oito anos veio a óbito após convulsão
mentou bruscamente nos anos de 1970 da vigilância sanitária municipal de e bronco-aspiração, fato esse ocorrido
e 1980, porém declinou significante- Mauá/SP, foi encaminhada para análi- em 30/12/2012, após a família ter acio-
mente após a década de 1990, estando se. No dia seguinte as vigilâncias sa- nado o Serviço de Atendimento Móvel
a SE entre o topo dos três sorovars em nitária e epidemiológica do município de Urgência (SAMU), que constatou a
casos relatados de Salmonella nos Es- de Ribeirão Pires - SP encaminharam a morte da criança e, em seguida, confir-
tados Unidos da América. Os alimen- Ficha para Diagnóstico de DTA. Am- mado a bronco-aspiração pelo Instituto
tos mais implicados na transmissão bos os documentos foram preenchidos Médico Legal.
de SE são à base de ovos e/ou gemas através de entrevistas realizadas nas A princípio houve suspeita de en-
cruas e carnes de aves mal cozidas ou residências dos afetados e familiares, venenamento por parte da família da
contaminadas de forma cruzada após bem como dos doentes atendidos e menina que veio a óbito, e a mesma
cocção (CDC, 1990; POPOFF & MI- internados na UPA e Hospital Munici- fez denúncia na delegacia do municí-
NOR 1992; ST. LOUIS et al., 1988; pais. pio de Mauá, entregando a amostra do
STEVENS et al., 1989 apud KAKU et Relato do caso - Segundo a inves- bolo suspeito para análise. Em janeiro
al., 1995, WRIGT et al., 2016). tigação das equipes das Vigilância Sa- de 2013 a delegacia acionou a equi-
De acordo com estudos realizados nitária e Epidemiológica Municipal de pe da Vigilância Sanitária Municipal,
por Germano et al. (1993 apud GUI- Ribeirão Pires e Mauá - São Paulo, o esta, por sua vez, acionou a Vigilância
MARÃES et al., 2001), somente 10% alimento envolvido foi preparado em Epidemiológica a fim de investigar da-
do número real de surtos de DTA são uma residência no município de Ribei- dos dos pacientes hospitalizados. Esse
confirmados, isso se deve ao atual es- rão Pires para a ceia de natal de 2012, caso teve ainda repercussão na mídia
tado de desenvolvimento dos serviços após o preparo de aves e outros alimen- local e televisiva.
de vigilância epidemiológica e à falta tos - bolo de coco (onde foi utilizado o Coleta das amostras – A amostra
de conscientização por parte da po- pó para preparo de bolo sabor coco), do bolo foi acondicionada em saco
pulação diante do problema. Muitos com recheio e cobertura de creme pre- plástico transparente de primeiro uso,
desses surtos, portanto, são subnotifi- parado com leite condensado e amido etiquetado e lacrado, mantida sob re-
cados. de milho e coberto com coco ralado. frigeração e, em seguida, encaminhada
O objetivo do presente trabalho foi Quatro pessoas tiveram sintomas clíni- para análise ao laboratório de micro-
caracterizar e relatar a ocorrência de cos, sendo que apenas duas consumi- biologia alimentar do Centro de La-
um surto de DTA acometendo duas ram o bolo. Após o ocorrido a dona da boratório Regional do Instituto Adolfo
famílias residentes em municípios vi- residência pediu para sua funcionária Lutz de Santo André VIII, onde foi
zinhos na região do ABC, no estado descartar o alimento suspeito, porém a identificada e mantida à temperatura
de São Paulo, em dezembro de 2012 mesma decidiu doá-lo à sua vizinha no de refrigeração até o momento da aná-
(a notificação foi realizada aos órgãos município vizinho de Mauá onde oito lise. Foram realizadas duas coprocul-
públicos em janeiro de 2013) pessoas adoeceram após consumirem turas de duas pessoas hospitalizadas

Tabela 1 – Sintomatologia apresentada pelos indivíduos afetados no surto ocorrido nos municípios de Ribeirão Pires e Mauá, 2012.

Número de pessoas doentes


Municipios Sintomas relatados
(n)

Diarreia, cólica abdominal,


Ribeirão Pires 4
náuseas, vómitos e febre
Diarreia, cólica abdominal, náuseas, vómitos,
febre e prostação, insuficiência renal, parada
Mauá 8 cardiorespiratória, convulsão, bronco-aspiração e
óbito

99
PESQUISA
no Hospital Municipal de Mauá. As Enteropatógenos, do Instituto Adolfo método de disco difusão (BAUER
amostras foram coletadas por zaraga- Lutz, de acordo com metodologia pa- et al., 1966), utilizando os seguintes
toa retal e transportadas pela Vigilância dronizada (POPOFF, 2001). O soroti- discos (OXOID) conforme recomen-
Epidemiológica do mesmo município po foi definido pela caracterização dos dações do CLSI (2011): ácido nalidí-
e encaminhadas ao laboratório de Bac- seus antígenos somáticos e flagelares xico 30µg, amoxicilina/ác. clavulânico
teriologia do mesmo Centro Regional de acordo com o esquema de White- 20/10µg, ampicilina 10µg, amicacina
de Santo André. -Kauffmann-LeMinor, 2007 (GRI- 30µg, aztreonam 30µg, ceftazidima
Análise das amostras – A amostra MONT & WEIL, 2007). 30µg, cefotaxima 30µg, ceftriaxona
de bolo foi analisada segundo as meto- Perfil genético - As amostras de 30µg, cefepima 30µg, ciprofloxacina
dologias preconizadas pelo Bacterio- Salmonella foram analisadas por Ele- 5µg, cloranfenicol 30µg, estreptomi-
logical Analytical Manual – US Food troforese em campo pulsado (PFGE) cina 10 µg, gentamicina 10µg, imipe-
and Drug Administration (BAM-FDA no Laboratório de Doenças Entéricas nem 10µg, tetraciclina 30µg, trimeto-
online), sendo pesquisados os seguin- - Centro de Bacteriologia do Instituto prim/sulfametoxazol 1,5/23,75µg.
tes micro-organismos: coliformes ter- Adolfo Lutz, Laboratório Central - SP,
motolerantes, Staphylococcus aureus, segundo protocolo padronizado pela RESULTADOS E DISCUSSÃO
Bacillus cereus, Clostridium perfrin- rede PulseNet (www.cdc.gov/pulse-
gens, Salmonella spp e Listeria mo- net/protocols.htm) (HUNTER et al., A amostra do bolo apresentou con-
nocytogenes. As amostras do material 2005). Para determinar a similaridade taminação por coliformes termotole-
fecal foram realizadas segundo a me- genética entre as cepas, os padrões de rantes (NMP = 4,6x104/g); Bacillus
todologia preconizada por Pessoa et al. restrição gerados após digestão com a cereus (1,5x105 UFC/g) e por Salmo-
(1978). enzima de restrição XbaI, foram ana- nella spp em 25 gramas. Clostridium
Identificação das cepas – As cepas lisados pelo programa BioNumerics perfringens, Staphylococcus aureus
sugestivas de Salmonella spp foram versão 5.1 (AppliedMaths®, Bel- e Listeria monocytogenes não foram
confirmadas pelo kit miniaturizado gium). Os dendrogramas para a análise isolados. As duas amostras biológicas
API 20E da Biomerieux® e com soro- da similaridade genética entre as cepas (material fecal) apresentaram resulta-
logias polivalentes flagelar e somático. foram realizados pelo método UPG- dos positivos para Salmonella spp.
Quatro cepas, duas do bolo e duas de MA (Unweighted Pair Groupusing A identificação sorológica das
pacientes, foram enviadas ao Labora- Mathematical Average Taxonomy), amostras de Salmonella spp isoladas
tório de Doenças Entéricas - Centro utilizando-se o coeficiente de Dice, de origem humana e alimentar revelou
de Bacteriologia, Instituto do Adolfo com otimização e tolerância de 1,5%. tratar-se do sorotipo Salmonella En-
Lutz, Laboratório Central - SP para Para normalização do gel, foi utiliza- teritidis. Por meio da eletroforese em
identificação do sorotipo. A sorotipa- da cepa padrão S. Braenderup H9812 campo pulsado (PFGE), tanto as cepas
gem das cepas foi realizada por testes (Figura 1). do bolo como das coproculturas, foram
de aglutinação em lâmina, com an- Teste de suscetibilidade a anti- confirmadas como sendo do mesmo
tissoros específicos para Salmonella microbianos - A suscetibilidade a clone (Figura) e apresentaram sensi-
produzidos no próprio laboratório de antimicrobianos foi determinada pelo bilidade a todos os antimicrobianos

Figura 1 - Dendrograma obtido pela análise por PFGE dos fragmentos obtidos pela digestão com XbaI das cepas de S. Enteritidis. Foi
utilizado o coeficiente de Dice com tolerância de 1,5% e UPGMA no Bionumerics. Estão indicados número da cepa/ano (Key), a fonte de
origem e o sorotipo.

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

testados, exceto ao ácido nalidíxico. as superfícies que entram em contato al. (2014) identificaram, por meio da
A investigação de um surto de DTA com os alimentos prontos para o con- técnica de PFGE, 30 surtos de DTAs
se dá por meio de três eixos principais: sumo, tais como: pias, bancadas e etc., causados por SE distribuídos no estado
(1) investigação epidemiológica re- podem propiciar a contaminação por de São Paulo, sendo 209 cepas isola-
alizada por meio de formulários com Bacillus cereus e o mesmo se multipli- das de 103 amostras de fezes e 9 de
entrevistas dos afetados no surto para car em condições adequadas de tempo alimentos.
identificação da forma de transmis- e temperatura. É fundamental, portan- Os dados apresentados no presen-
são e o provável agente etiológico; (2) to, a adoção de medidas rigorosas de te estudo revelaram que as amostras
análises laboratoriais com amostras higiene nesses locais, bem como de isoladas de SE de origem humana e
clínicas coletadas, bem como de água utensílios e equipamentos, a fim de se alimentar pertenciam ao mesmo clo-
e alimentos, conforme o caso, para a prevenir com segurança a ocorrência ne, pois apresentaram similaridade
identificação do agente etiológico; e de doenças de origem alimentar por genética (Figura 1) e mesmo perfil de
(3) investigação do ambiente onde o B. cereus. Normalmente é encontrado suscetibilidade aos antimicrobianos
fato ocorreu, para detectar os fatores em baixos níveis nos alimentos (<102 testados.
que contribuíram para as prováveis UFC/g), estando aceitáveis em termos
situações da ocorrência do mesmo de saúde pública (BRASIL, 2001). A CONCLUSÃO
(SANTA CATARINA, 2006 apud intoxicação causada por surtos de B.
WELKER et al., 2010). Os trabalhos cereus está também associada a falhas Pelas investigações sanitária e epi-
das vigilâncias sanitárias e epidemio- na conservação dos alimentos expostos demiológica sugere-se que ocorreu
lógicas de ambos os municípios envol- por tempos e temperaturas inadequa- contaminação cruzada onde o bolo foi
vidos contribuíram muito para a eluci- das, propiciando que estas bactérias preparado pois, segundo entrevistas
dação deste surto, sendo as atribuições se multipliquem a níveis significativos com os afetados, duas pessoas não co-
inerentes a cada instituição executadas (>105 UFC/g) e liberando, assim, suas meram o bolo, mas tiveram sintoma-
de maneira efetiva. toxinas que desencadeiam a doença. tologia compatível com os demais que
Dados da literatura indicam as resi- Dentre os alimentos implicados em consumiram o referido produto. Foram
dências como o local de maior ocorrên- DTA por B. cereus destacam-se pratos também preparadas, previamente, aves
cia de surtos de DTA (WELKER et al., à base de arroz, cremes, espaguetes, para a ceia de natal sugerindo contami-
2010), o que revela a necessidade de pratos à base de cereais, contendo mi- nações em pia, bancadas e utensílios.
programas educativos visando orientar lho e amido de milho, purê de batata, Quanto ao preparo do bolo e do creme,
e educar a população em geral quanto vegetais, carnes, leite e derivados e etc. ambos sofreram cocção eliminando
aos cuidados no preparo, conservação, (PAIVA et al., 2009). assim a SE, mas pode ter ocorrido a
manipulação e consumo dos alimen- Os surtos de doença de origem ali- sobrevida de esporos de B. cereus que
tos. De acordo com o levantamento mentar causados por Salmonella enté- poderia estar no amido de milho (cre-
entre 2000 a 2015 do SINAN/SVS/ rica subsp. entérica sorovar Enteritidis me) ou no pó para preparo de bolo com
MINISTÉRIO DA SAÚDE (2015), (SE) aumentaram consideravelmente posterior multiplicação e produção da
38,4% dos surtos de DTA ocorreram no final da década de 1980, tornando- toxina, sugerindo ser toxina emética
em residências; 15,5% em restaurantes -se um importante problema econômi- pelo curto período de incubação.
e padarias (similares); 11,3% em local co e de saúde pública (SILVA JÚNIOR,
O trabalho em conjunto das vigi-
ignorado; 8,7% em creches/escolas; 2001; SILVA; DUARTE, 2001 apud
lâncias sanitárias e epidemiológicas de
8,2% alojamento e trabalho; 2,8% em KOTTWIZ et al., 2010). Nos Estados
ambos os municípios e dos Laborató-
hospitais e unidades de saúde; 0,5% Unidos, 182.060 surtos causados por
rios de Saúde pública, foi fundamental
em asilos e demais locais representam SE foram principalmente associados
na elucidação deste surto.
aproximadamente 14,6%. ao consumo de ovos crus (SCHROE-
A dose infectante de Bacillus ce- DER, 2005 apud FUZIHARA et al.,
reus encontrada na amostra do bolo 2011). A FoodNET, em 2007, realizou
REFERÊNCIAS
(1,5x105 UFC/g), contribuiu para a um levantamento preliminar, quando
ocorrência do surto, uma vez que essa mostrou que a incidência de casos de BAM – U.S. FDA – Bacteriological Analytical
quantidade pode ser suficiente para a salmonelose continua elevada, sendo o Manual – United States Food and Drug
produção de toxina que desencadeia sorovar Enteritidis a ocupar, atualmen- Administration. Disponível em: <http://
o quadro sintomatológico caracterís- te, o primeiro lugar entre os sete soroti- www.fda.gov/Food/FoodScienceRese-
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102
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

INDICADORES MICROSCÓPICOS DE QUALIDADE DE


MOLHOS TIPO KETCHUP.
Vilma dos Santos Menezes Gaiotto Daros
Bruna Ferreira Caldas
Instituto Adolfo Lutz - Laboratório Regional de Santo André, Santo André - SP.
Maria Aparecida Moraes Marciano
Instituto Adolfo Lutz – Núcleo de Morfologia e Microscopia – Centro de Alimentos – Laboratório Central, São Paulo - SP
Rute Dal Col *
Elaine Cristina de Mattos
Instituto Adolfo Lutz - Laboratório Regional de Santo André, Santo André - SP.
* santoandre.cqb@ial.sp.gov.br

RESUMO constante desse tipo de alimento a of ketchup are very compromised due
fim de oferecer à população um pro- to the high percentage of samples
duto seguro e de boa qualidade. with the presence of foreign matter.
O tomate (Solanum lycopersi-
A constant monitoring of this type of
cum) é um produto agrícola impor- Palavras-chave: Tomate.
food is necessary in order to offer the
tante no mundo inteiro e também o Qualidade. Matérias estranhas.
population a safe and good quality
vegetal mais consumido no Brasil. Pelo de roedor.
product.
O ketchup especificamente, é um
produto a base de tomate, utilizado ABSTRACT Keywords: Tomato. Quality.
comumente para acompanhar pratos Foreign matter. Rodent hair.
prontos, sanduíches e saladas. Foram Tomato (Solanum lycopersicum)
analisadas 30 amostras de 13 marcas is an important agricultural prod- INTRODUÇÃO

O
diferentes, com lotes e validades ale- uct in the world and also the most
atórios, no período de julho a outu- consumed vegetable in Brazil. Spe- tomate (Solanum lyco-
bro de 2013, adquiridas no comércio cifically ketchup is a tomato product, persicum) é um produto
do grande ABC, para pesquisa de commonly used to accompany ready agrícola de grande im-
sujidades leves. Os resultados reve- meals, sandwiches and salads. We portância mundial sendo
laram que 6 amostras (20%) conti- analyzed 30 samples of 13 different também o vegetal mais consumido
nham pelo de roedor e 26 (86,6%) brands, with random lots and expi- no Brasil, considerado de grande im-
apresentaram fragmentos de insetos. ration date in the period from July portância socioeconômica segundo o
Os resultados foram também analisa- to October 2013, acquired in the Ministério da Agricultura. No ano de
dos e discutidos de acordo com as le- markets of ABC region, for light filth 2013 o produto teve uma considerá-
gislações RDC n° 175/2003, Portaria research. The results revealed that 6 vel alta em sua produção, estimado
n° 326/1997 e RDC n°14/2014. Con- samples (20%) contained rodent hair em cerca de 87,6% em relação ao
clui-se que as condições higienicos- and 26 (86,6%) had fragments of in- ano de 2012 (MAPA, 2013).
sanitárias do ketchup se encontram sects. The results were also analyzed De acordo com a legislação brasi-
comprometidas tendo em vista a and discussed according to RDC leira define-se por ketchup “o produ-
alta porcentagem de amostras com a n°175/2003, Portaria n°326/1997 to elaborado a partir da polpa de fru-
presença de matérias estranhas. Faz- and RDC n°14/2014. It is concluded tos maduros do tomateiro, podendo
-se necessário um monitoramento that the hygienic sanitary conditions ser adicionado de outros ingredientes

103
PESQUISA
desde que não descaracterizem o para os alimentos. Eles são poten- Chemists (AOAC) 16.10.05, Método
produto”. Ainda de acordo com esta ciais transmissores de doenças. A Or- 955.46B (AOAC, 2005).
resolução, ambas as designações ke- ganização Mundial da Saúde (OMS) De acordo com este método foi
tchup e catchup podem ser utiliza- já catalogou cerca de 200 doenças utilizada uma alíquota de 200g de
das para denominar o produto. Para transmissíveis por roedores (PRO- ketchup. As amostras foram homo-
a produção do ketchup é utilizado TESTE, 2014). geneizadas com 20 mL de vaselina
em média 70% de polpa de tomate A análise microscópica é uma das (líquido extrator) e adicionadas de
(BRASIL, 2005). técnicas utilizadas para aferir a qua- água destilada a 70ºC, suficiente
Tanto em culturas extensivas como lidade dos alimentos e através da para preencher o frasco armadilha de
em culturas intensivas, o tomate exi- pesquisa de matérias estranhas é pos- Wildman. A mistura foi deixada em
ge cuidados constantes, pois está su- sível avaliar as condições higienicos- repouso por 30 minutos, com agita-
jeito ao ataque de grande número de sanitárias empregadas no processo ção ocasional. Subsequentemente, o
doenças e pragas. Além das doenças de fabricação e armazenamento dos sobrenadante, camada contendo o lí-
transmitidas por fungos, contami- alimentos. quido extrator aderido das prováveis
nações químicas e físicas também Em fevereiro de 2013, circularam matérias estranhas, foi recolhido em
constituem problemas de qualida- na mídia brasileira, notícias de que a béquer de 200mL e foram adiciona-
de, implicados na cadeia produtiva PROTESTE – Associação Brasilei- dos mais 200 mL de água aquecida
dos produtos derivados de tomate. A ra de Defesa do Consumidor, havia com posterior agitação e repouso por
contaminação física está associada encontrado pelo de roedor em molho 10 minutos. Decorrido esse tempo, o
ao processo de colheita mecanizada, de tomate tipo ketchup, notificando sobrenadante foi novamente recolhi-
em que objetos estranhos são encon- a Agência Nacional de Vigilância do para eliminar tecidos de tomate e
trados no produto, como pedaços de Sanitária (ANVISA), gerando dis- o gargalo do frasco lavado com cerca
vidro, metais, etc. cussões entre o setor produtivo e os de 50mL de heptano. O líquido obti-
O pelo de roedor é uma das maté- órgãos de defesa do consumidor. do foi submetido à filtração a vácuo
rias estranhas que podem estar pre- Sendo o ketchup um produto de em papel de filtro riscado. O papel
sentes nos produtos à base de tomate, alto consumo e aceitação, verificou- foi examinado em microscópio este-
devido a condições ou práticas inade- -se a necessidade de um estudo mais reoscópico com aumento de 30x para
quadas de produção, colheita, arma- aprofundado do molho tipo ketchup a verificação da presença de sujida-
zenamento ou distribuição. A detec- em relação aos indicadores micros- des leves.
ção deste indica contato do produto cópicos de qualidade, com ênfase Foi realizada uma análise estatísti-
com roedores, seus excrementos e/ou para a presença de pelos de roedor e ca descritiva para apresentação e dis-
urina destes animais, que são consi- suas implicações. cussão dos resultados obtidos.
derados prejudiciais à saúde humana
segundo os Regulamentos Técnicos MATERIAL E MÉTODOS  RESULTADOS E DISCUSSÃO
Resolução RDC nº 175/2003, norma
utilizada como referência no período Foram analisadas para presença Das 30 amostras analisadas 26
do estudo e revogada posteriormente, de sujidades leves 30 amostras de (86,6%) continham fragmentos de
em março de 2014, pela Resolução molho de tomate tipo ketchup de 13 insetos e 6 (20%) continham frag-
RDC nº 14/2014 (BRASIL, 2003; marcas diferentes, com lotes e vali- mentos de pelo de roedor. Ressalta-
BRASIL, 2014). dades aleatórios, no período de julho -se que os fragmentos de insetos
A presença de pelos de roedores a outubro de 2013, adquiridos no co- encontrados eram pertencentes à
nos alimentos evidencia grave falha mércio das cidades do Grande ABC. Ordem Coleoptera, considerados in-
na implementação das boas práticas As amostras foram avaliadas dicativos de falhas das Boas Práticas
na cadeia produtiva, em alguma eta- quanto à presença de fragmentos de de Fabricação.
pa do seu processo de fabricação. Os inseto, ácaros e pelos de roedores e O Quadro 1 mostra os resultados
roedores (rato, ratazana e camundon- as análises foram realizadas no La- quantitativos das matérias estranhas
go) são reconhecidamente vetores boratório de Microscopia Alimentar encontradas nas amostras analisadas
mecânicos - animais que veiculam do Instituto Adolfo Lutz - Centro e sua classificação de acordo com as
o agente infeccioso desde o reser- de Laboratório Regional de Santo Legislações atuais e a aplicada no
vatório até o hospedeiro potencial, André. Para a pesquisa destas suji- momento do estudo.
agindo como transportadores de tais dades leves foi utilizada a técnica A Tabela 1 mostra como seriam
agentes, carreando contaminantes da Association of Official Analytical classificadas as amostras de acordo

104
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Quadro 1 - Resultados das matérias estranhas encontradas nas amostras e conclusão de acordo com cada Legislação.
Matéria estranha Conclusão
Fragmentos de Fragmentos de RDC 175/2003 Portaria RDC 14/2014
Amostra
inseto pelos de roedor (revogada) 326/1977(atual) (atual)
1 0 0 A A A
2 9 0 A R A
3 3 0 A R A
4 3 0 A R A
5 17 0 A R R
6 8 0 A R A
7 4 0 A R A
8 29 0 A R R
9 20 0 A R R
10 24 0 A R R
11 6 1 R R A
12 10 0 A R A
13 0 1 R R A
14 4 0 A R A
15 14 0 A R R
16 6 0 A R A
17 24 0 A R R
18 20 0 A R R
19 7 1 R R A
20 17 0 A R R
21 11 0 A R R
22 10 1 R R A
23 2 0 A R A
24 0 0 A A A
25 17 0 A R R
26 5 1 R R A
27 13 0 A R R
28 10 5 R R R
29 13 0 A R R
30 0 0 A A A

Legenda: A - amostras aprovadas; R - amostras reprovadas; Lacunas em verde - amostras aprovadas de acordo com as três
legislações; Lacuna em roxo - amostra reprovada de acordo com as três legislações.

Tabela 1 - Resultados da classificação das amostras, segundo a Legislação.

Legislação Amostras de acordo Amostras em desacordo


Resolução RDC nº 175/2003 (revogada) 24 (80%) 6 (20%)
Portaria SVS/MS n° 326/1997 (atual) 3 (10%) 27 (90%)
Resolução RDC nº 14 /2014 (atual) 17 (56,7%) 13 (43,3%)

105
PESQUISA
com cada legislação aplicada, levan- micro-organismos ou substâncias e 43,3% estariam em desacordo por
do-se em conta a o total de amostras tóxicas, decompostas ou estranhas, apresentarem fragmentos de insetos
e as quantidades de fragmentos de que não possam ser reduzidas a ní- ou de pelos de roedor acima destes
insetos e fragmentos de pelos de ro- veis aceitáveis através de processos limites.
edor. normais de classificação e/ou prepa- Para o diretor de Regulação da
Na ocasião das análises do pre- ração ou fabricação. ANVISA, a Resolução RDC 14/2014
sente trabalho, a legislação vigente Por outro lado, considerando-se a traz segurança para a população e
(Resolução RDC nº 175/2003), não Resolução RDC nº 175/2003, ape- para a indústria de alimentos, já que
relatava claramente os limites de to- nas 20% das amostras seriam con- os limites estabelecidos são seguros
lerância para as matérias estranhas denadas pela presença de fragmento do ponto de vista da saúde e basea-
consideradas prejudiciais à saúde, de pelo de roedor, uma vez que esta dos nos métodos de produção de ali-
cabendo à fiscalização avaliar os norma preconizava que a presença de mentos no Brasil (IBRAF, 2014).
resultados analíticos e classificar os pelos de roedores, independentemen- Este regulamento é válido para
produtos tomando as medidas perti- te da quantidade, tornava o produto todo e qualquer estabelecimento que
nentes. impróprio para consumo humano produz derivados de tomate, entre-
A Resolução RDC nº 175/2003, da (BRASIL, 2003). tanto nem todos atualmente dispõem
ANVISA/MS considerava como ma- Em março de 2014, foi publicada de recursos humanos, materiais,
térias estranhas prejudiciais à saúde a Resolução RDC nº 14/2014, nova tecnológicos e econômicos que evi-
humana, os insetos e outros animais legislação que dispõe sobre matérias dentemente serão necessários para
reconhecidos como vetores mecâni- macroscópicas e microscópicas em cumprir a norma em questão inte-
cos de patógenos; os excrementos alimentos e bebidas, estabelecendo gralmente.
de insetos ou de outros animais; os limites de tolerância para fragmentos O fato é que a nova regulamenta-
parasitos e os objetos rígidos, pon- de inseto e pelos de roedor e revogou ção (RDC 14/2014) é mais completa
tiagudos e/ou cortantes. A presen- a RDC nº 175/2003. Esta norma de- e detalhada do que a revogada, RDC
ça de outras matérias estranhas nos fine dois tipos de matérias estranhas, 175/2003, uma vez que estabelece
alimentos tais como insetos e seus as que indicam risco à saúde e as que limites de tolerância para fragmento
fragmentos, ovos e larvas, principal- não apresentam riscos, mas demons- de insetos (indicativos de falhas das
mente de coleópteros e lepidópteros, tram falhas no processo de produ- boas práticas de fabricação, ou seja,
ácaros, fungos filamentosos, areia, ção, manipulação ou armazenamento que não representam risco à saúde),
terra, partículas carbonizadas e inú- (BRASIL, 2014). pelos de roedor e outras sujidades.
meras outras sujidades é considerada Em seus anexos, os limites esta- Por outro lado, a indústria conta
indicativa da não adoção e/ou manu- belecidos referem-se a fragmentos com esses limites a seu favor, tendo
tenção das Boas Práticas de Fabrica- microscópicos que podem estar pre- em vista que a legislação anterior
ção e, portanto, está em desacordo sentes no processo de produção do não permitia a presença de nenhum
com a Portaria SVS/MS n° 326/1997 alimento, mas que não podem ser tipo de sujidade, e o laboratório uti-
e também com o Código de Defesa totalmente eliminados mesmo com a lizava outras legislações, tais como
do Consumidor (artigo 18, parágrafo adoção das boas práticas, considera- a Portaria SVS/MS n° 326/199710
6°) (BRASIL, 1990; BRASIL, 1997; dos, portanto, matérias estranhas ine- e também com o Código de Defesa
DAROS et al., 2010). vitáveis (BRASIL, 2014). do Consumidor (artigo 18, parágrafo
Sendo assim, de acordo com os re- Nesta nova legislação, consta 6°), para a emissão dos laudos ana-
sultados obtidos e a aplicação das Le- limite de tolerância de 1 fragmen- líticos (BRASIL, 1990; BRASIL,
gislações, verifica-se que, aplicando- to de pelo de roedor na alíquota de 1997; BRASIL, 2003; BRASIL,
-se a Portaria SVS/MS n°326/1997, 100 g de produtos de tomate, bem 2014).
90% das amostras estariam em de- como até 10 fragmentos de insetos Em um trabalho realizado com
sacordo com a norma por apresentar indicativos de falhas das boas práti- amostras de diversas marcas de ke-
fragmentos de inseto, mesmo que só cas de fabricação. Para fragmentos tchup, Lírio et al. (2010) evidencia-
indicadores de falhas das Boas Prá- de insetos considerados indicativos ram presença de pelos de roedores
ticas de Fabricação, ou fragmentos de risco não há limite, ou seja, não em 8 (10,3%) amostras pertencentes
de pelo de roedor. Essa legislação pode ocorrer sua presença (BRASIL, a 6 (23%) marcas diferentes. O nú-
institui que o estabelecimento não 2014). Sendo assim, de acordo com mero de pelos encontrados no total
deve aceitar nenhuma matéria-prima esta norma, 56,7% das amostras esta- de amostras analisadas variou de 1 a
ou insumo que contenha parasitas, riam em concordância com os limites 3, sendo que em 15 amostras foram

106
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

visualizados 1 pelo, em 4 amostras 2 analisadas pelo INMETRO seis mar- os níveis mínimos de contaminantes
pelos e em 1 amostra, 3 pelos. Foram cas nacionais e uma importada, com naturais ou inevitáveis em alimentos
encontrados, também, fragmentos o objetivo de fornecer subsídios para que não apresentam perigo para hu-
de inseto não relacionados ao risco que a indústria nacional pudesse me- manos, dentre os quais estão inclusos
à saúde em 9 (11,5%) amostras, que lhorar a qualidade de seus produtos pelos de ratos e fragmentos de inse-
variaram em número de 1 a 7 frag- e prover mecanismos para que a Vi- tos em diversos alimentos. Porém,
mentos. gilância Sanitária mantivesse o con- para tomate e seus derivados o docu-
Santos (2014) avaliou 3 marcas sumidor brasileiro informado sobre mento estabelece limites apenas para
(A, B e C) de alguns produtos de a adequação dos produtos e serviços a presença de fragmentos de insetos
tomate em relação à presença de aos Regulamentos e às Normas Téc- e fungos (FDA, 2014).
matérias estranhas e dos produtos nicas. No referido estudo, todos os De acordo com o documento su-
avaliados apenas a marca B de ex- produtos avaliados estavam em con- pracitado do FDA, a presença de pe-
trato de tomate apresentou ausência formidade com a legislação vigente e los de ratos é considerada uma con-
de sujidades, larvas e parasitos. Nas constatou-se a ausência de sujidades, taminação “estética” (ofensiva para
demais amostras, foram encontrados larvas e parasitos em 100g de amos- os sentidos), visto que não acarreta
fragmentos de inseto, pelos de roe- tra (INMETRO, 2013). riscos à saúde do consumidor, uma
dor e ácaros. Pelos de roedor foram Dados da ANVISA demonstram vez que os derivados de tomate são
encontrados em amostras de polpa de que a presença de pelos de ratos em submetidos a tratamento térmico
tomate e extrato de tomate, já frag- atomatados no período de 2004 a (pasteurização).
mentos de insetos foram identifica- 2010 para ketchup ocorreu em ape- Entretanto, vale ressaltar que os
dos em todos os produtos de todas as nas uma de 17 amostras avaliadas. roedores são vetores de patógenos
marcas, exceto no extrato da marca Em um levantamento interno reali- (vírus, bactérias e parasitas) poden-
B. Apenas o ketchup da marca C e a zado em uma indústria de atomata- do disseminá-los para os humanos
polpa da marca A apresentaram áca- dos de 2007 a 2010 foi identificada a quando estes consomem alimentos
ros. presença de pelos de ratos em 50 de ou água contaminada com suas fezes
Em 2013, a PROTESTE analisou 350 amostras de ketchup, em 142 de ou urina (MEERBURG et al., 2009).
uma marca de ketchup em que foram 914 amostras de molhos de tomates e
encontrados três pelos de roedor em em 56 de 638 amostras de extrato de CONCLUSÃO
amostra de 100 gramas do produto. tomate. Dados da mesma indústria
O problema também foi detectado demonstram a presença de fragmen- Os resultados do presente estudo
em avaliações de ketchup e molho tos de insetos em todas as amostras permitiram concluir que, de acordo
de tomate, realizadas em anos ante- avaliadas no mesmo período (SAN- com as normas atualmente em vigor,
riores. TOS, 2014). as condições higienicossanitárias
A avaliação microscópica de de- Ressalta-se que este estudo foi dos produtos derivados de tomate,
rivados de tomate é um método que realizado com diversas marcas de em especial o ketchup, encontram-se
reflete a qualidade da matéria-prima ketchup e os achados de pelo de ro- comprometidas tendo em vista a alta
utilizada e as boas práticas agrícolas edor nas diversas marcas analisadas porcentagem de amostras com a pre-
e de produção (SANTOS, 2014). podem indicar que o problema esteja sença de matérias estranhas.
No ano de 2001, foi firmada uma relacionado ao aumento, no Brasil, Além disso, evidentemente a Re-
parceria entre o Instituto Nacional de da produção de tomate para a indus- solução RDC nº 14/2014 mostra um
Metrologia, Qualidade e Tecnologia trialização, associado à mecanização equilíbrio maior entre os interesses
(INMETRO) e a ANVISA, onde al- da colheita, e a presença de roedores das indústrias em estabelecer limites
guns produtos foram selecionados nos campos cultiváveis, dentre ou- quantitativos para a presença de ma-
para o Programa de Análise de Pro- tros fatores. térias estranhas e a proteção à saúde
dutos. O ketchup foi um dos pro- O FDA, órgão que define a legis- do consumidor, tendo em vista que é
dutos elencados para análises, visto lação para alimentos e drogas nos uma norma mais detalhada em ter-
que, já naquela época, era intensiva e EUA, possui um documento intitula- mos de definições.
extensivamente consumido pela po- do “Defect Levels Handbook – The Faz-se necessária ainda uma vi-
pulação, e que envolvia questões re- Food Defect Action Levels: Levels of gilância constante do atendimento
lacionadas à saúde dos consumidores natural or unavoidable defects in foo- às Boas Práticas de Fabricação dos
(INMETRO, 2013). ds that present no health hazards for estabelecimentos que produzem
Desta forma, no ano de 2002 foram humans” no qual são estabelecidos este tipo de alimento, bem como a

107
PESQUISA
verificação periódica das condições 2003. Seção 1 INSTITUTO NACIONAL DE METROLO-
higienicossanitárias destes produtos BRASIL. Agência Nacional de Vigilância GIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA
por parte dos laboratórios que fazem Sanitária - ANVISA. Resolução RDC - INMETRO. Catchup. 2013. Dispo-
o controle de qualidade. nº 276, de 22 de setembro de 2005. nível em: <http://www.inmetro.gov.
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Methods of Analysis Of AOAC In- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância gico, v.72, n.2, p.103-170, 2010
ternational. 18th ed. Gaithersburg Sanitária - ANVISA. Resolução RDC MEERBURG BG, SINGLETON GR, KI-
(MD), 2005. nº 14 de 28 de março de 2014. Dispõe JLSTRA A. Rodent-borne diseases
BRASIL. Casa Civil. Lei nº 8.078, de 11 sobre matérias estranhas macroscó- and their risks for public health. Crit.
de setembro de 1990.Dispõe sobre picas e microscópicas em alimentos Rev. microbial., v.3, n.35, p.221–270,
a proteção do consumidor e dá ou- e bebidas, seus limites de tolerância 2009
tras providências. DO[da] República e dá outras providências. DO [da] MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECU-
Federativa do Brasil, Poder Executi- República Federativa do Brasil, Poder ÁRIA E ABASTECIMENTO – MAPA.
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Humana em Alimentos Embalados. Disponível em <www.ibraf.org.br/ Faculdade de Ciências da Saúde da
DO [da] República Federativa do vst/arquivos/153115.pdf>. Acesso Universidade de Brasília, Brasília (DF),
Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, em: 20 junho 2016. 2014

HIGIENE ALIMENTAR INDEXADA EM MAIS UMA BASE DE DADOS.

No início deste ano a Revista Higiene Alimentar foi indexada a mais uma base de dados: a VetIndex da
Biblioteca Virtual em Saúde - Medicina Veterinária (BVS-Vet)
Com esta, a Revista está agora indexada em 6 bases de dados: CAB Abstracts (Inglaterra), LILACS-
BIREME (Brasil), AGROBASE (Base de Dados Bibliográfica da Agricultura Brasileira), AGRIS
(Internacional Information System for the Agricultural Sciences and Technology), BINAGRI MAPA e
BVS-Vet (Biblioteca Virtual em Saúde).

108
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE OVOS


COMERCIALIZADOS NO MUNICÍPIO
DE MANAUS - AM.
Felipe Faccini dos Santos *
Rosemberg Lima Roberto
Stéfane Paula Costa de Holanda Lima
Jéssica Barbosa de Oliveira
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, Campus Manaus Zona Leste, Manaus – AM.
* felipefaccini@hotmail.com

RESUMO de contaminação por fungos dos ovos regions of Manaus, AM, from param-
provenientes do RS, enquanto ovos do eters perceived by the consumer and
Esta pesquisa visou analisar os as- AM tiveram as maiores porcentagens laboratory analysis. We analyzed 20
pectos relacionados à qualidade exter- de marcas de gaiola, penas, trincas e lots, five were acquired in the North
na e interna dos ovos comercializados fezes. Em relação à qualidade interna, region, four in the South and East
em quatro regiões no município de não houve diferença entre ovos pro- and seven in the Midwest region.
Manaus/AM, a partir de parâmetros duzidos nos diferentes Estados de ori- Of these, 13 lots were produced in
perceptíveis pelo consumidor e por gem analisados, com exceção da cor the State of Amazonas (AM), four in
análises laboratoriais. Foram anali- da gema. Considerando regiões da ci- Rio Grande do Sul (RS) and three
sados 20 lotes, tendo sido adquiridos dade, a Zona Sul e Zona Norte foram in Mato Grosso (MT). From each
as que obtiveram melhores e piores lot were analyzed six eggs, a total
cinco da região Norte, quatro das
resultados, respectivamente. Os ovos of 120 eggs, of the white and large
regiões Sul e Leste e sete da região
de consumo comercializados no mer- type of classification. The analysis
Centro-Oeste. Destes, 13 lotes foram
cado local demonstraram altos índices consisted of checking the egg weight
produzidos no Estado do Amazonas,
de defeitos externos, assim como bai- and evaluating the presence of dirti-
quatro no Rio Grande do Sul e três no
xa qualidade interna. Tanto a região ness (cage marks, feather, blood and
Mato Grosso. A partir de cada lote fo- feces), as well as cracks or fungal
ram analisados seis ovos, perfazendo de produção, quanto de comercializa-
ção, foram fatores que influenciaram contamination for external qual-
um total de 120 ovos, do tipo branco ity. To determine the internal quality
e de classificação tipo grande. As aná- na qualidade de ovos comercializados
no município de Manaus, AM. were checked height and albumen
lises consistiram em verificar o peso pH; height, length and pH of the
do ovo e avaliar a presença de sujida- Palavras-chave: Contaminação. yolk; weight, thickness and percent-
des (marcas de gaiola, penas, sangue Sujidades. Albume. Qualidade. age of shell. There was a high degree
e fezes), bem como de trincas ou con- Defeitos. of fungal contamination of eggs from
taminação por fungos para qualidade the RS, while eggs from AM had the
externa. Para determinar a qualidade ABSTRACT highest percentages of cage marks,
interna foram verificados altura e pH feathers, cracks and feces. Regard-
do albume; altura, comprimento e pH This research aimed to analyze as- ing internal quality, there was no
da gema; peso, espessura e percenta- pects related to external and inter- difference among eggs produced in
gem de casca. Observou-se alto grau nal quality of the eggs sold in four the different States of origin, except

109
PESQUISA
for the color of the yolk. Considering galinhas são submetidas, ou para ca- temperatura de armazenagem são fa-
areas of the city, the South Zone and racterizar a deterioração na qualidade tores fundamentais para que as salmo-
North Zone were those that obtained do ovo, durante o período de armaze- nelas passem da superfície da casca
the best and worst results, respec- namento (SANTOS et al., 2015). para as estruturas internas do ovo. A
tively. Consumption of eggs sold in Para determinar a qualidade ex- desinfecção e o resfriamento do ovo
the local market showed high levels terna podem ser avaliados: tamanho, logo após a postura são procedimen-
of external defects, as well as low peso, forma e gravidade específica tos adotados em vários países como
internal quality. Both the production do ovo; percentual, textura, espessu- medidas para reduzir a contaminação
region, as marketing region, were ra, integridade e cor da casca. A qua- e a multiplicação bacteriana (STRIN-
factors that influenced the quality of lidade interna pode ser avaliada pela GHINI et al., 2009).
eggs sold in the city of Manaus, AM. observação do tamanho e integridade Por vezes, o ovo é adquirido em
da câmara de ar, pH e percentagem de condições de higiene e de sanidade
Keywords: Contamination.
albúmen, altura do albúmen (unidade deficientes, tendo como consequên-
Dirtiness. Albumen. Quality.
Haugh), pH, percentagem, altura e cor cia o elevado número de sujidades e
Defects.
da gema, e se há presença de manchas possíveis micro-organismos, o que
no albúmen e na gema (COUTTS; constitui um risco à saúde da popula-
INTRODUÇÃO WILSON, 2007). ção, pois pode gerar uma enfermidade

O
A preservação da qualidade do ovo transmitida por alimento.
ovo é um alimento de durante a manipulação e a distribui- A pesquisa visou, assim, analisar
alto valor nutritivo, que ção depende do cuidado constante das os aspectos relacionados à qualidade
contém em sua compo- pessoas envolvidas nestas atividades. externa e interna dos ovos comerciali-
sição proteínas de alto Depois da postura, a qualidade do ovo zados em quatro regiões no município
valor biológico, ácidos graxos, em não pode ser melhorada (COUTTS; de Manaus/AM, a partir de parâme-
sua maioria insaturados, diversas WILSON, 2007) e problemas na qua- tros perceptíveis pelo consumidor e
vitaminas e minerais (COUTTS e lidade dos ovos significam grandes por análises laboratoriais.
WILSON, 2007). O ovo é resultado prejuízos econômicos. No mercado
de uma hábil transformação de com- de comercialização de ovos frescos é MATERIAL E MÉTODOS
ponentes biológicos pela galinha e preciso atender padrões rigorosos de
consiste em um alimento natural, forma a assegurar que somente ovos Segundo o plano diretor urbano e
balanceado, com um baixo custo de de alta qualidade cheguem ao consu- ambiental de Manaus, foram eleitas
aquisição e que contém a maior par- midor. quatro regiões, Norte, Sul, Leste e
te dos componentes necessários na A contaminação externa da casca Centro-Oeste, para a aquisição das
nutrição humana. O ovo comercial é do ovo é importante para determina- amostras de ovos comerciais em
um produto de uma eficiente trans- ção de sua vida útil e para a seguran- mercados varejistas locais, entre os
formação biológica feita pela poedei- ça dos consumidores (CADER et al., meses de setembro/14 e janeiro/15.
ra. Essa ave é capaz de transformar 2014). Os riscos da infecção humana Foram analisados 20 lotes, sendo
recursos alimentares de menor valor estão associados ao comércio de ovos cinco da região Norte, quatro das
biológico em alimento com alta qua- com cascas defeituosas, finas, poro- regiões Sul e Leste e sete da região
lidade nutricional para o consumo sas ou rachadas, ou sujos com fezes, Centro-Oeste. Destes, 13 lotes foram
humano (BERTECHINI, 2003). Para à falha ou inexistência de refrigeração produzidos no Estado do Amazonas
garantir estas vantagens, cuidados ao longo da produção e comércio e (AM), quatro no Rio Grande do Sul
com a qualidade devem ser tomados ao equivocado manuseio do produto, (RS) e três no Mato Grosso (MT). A
desde a produção até o consumidor ainda nos locais de produção e clas- partir de cada lote foram analisados
final. A falta de conhecimento sobre sificação (VAN IMMERSEL et al., seis ovos, perfazendo um total de
a qualidade de ovos, por parte dos 2011). A contaminação do conteúdo 120 ovos, do tipo branco e de classi-
consumidores, não gera demanda por dos ovos por salmonlas pode ocorrer ficação tipo grande.
produtos de boa qualidade. no trato reprodutor da galinha, durante Os ovos utilizados na análise fo-
A qualidade do ovo é medida para a formação do folículo da gema e/ou ram numerados de 1 a 6, em seguida
descrever as diferenças entre os ovos formação do albume no oviduto, antes pesados em uma balança de precisão
frescos, que apresentam característi- da formação da casca, propiciando a e analisados visualmente a fim de
cas relacionadas aos fatores genéticos, produção de ovos já contaminados; ou identificar e registrar possíveis de-
nutricionais e ambientais aos quais as contaminação após postura. Tempo e feitos referentes à qualidade externa.

110
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Pela análise visual verificou-se a RESULTADOS E DISCUSSÃO não forem tomados os cuidados ade-
presença de sujidades (marcas de quados. O alto índice de fungos pode
gaiola, penas, fezes e sangue) e com Em relação à qualidade externa, ter ocorrido pelo fato dos ovos serem
ovoscópio (instrumento possuidor ovos produzidos no Estado do AM, resfriados para o transporte entre RS
de fonte de luz que permite ao ob- tiveram os maiores percentuais de e AM e, quando chegam ao destino,
servador ter noções do interior para marcas de gaiola, presença de penas, ocorre oscilação na temperatura, o
o exterior do ovo) visualizaram-se fezes e trincas nos ovos (Tabela 1). A que faz com que ocorra condensação
a presença de trincas ou rachaduras. ocorrência destes defeitos está nor- de água na superfície do ovo, sendo
Após estas verificações, os ovos fo- malmente relacionada a problemas de este um facilitador para a proliferação
ram cortados com tesoura e cuidado- higiene, manutenção das instalações de micro-organismos na superfície do
samente despejou-se o seu conteúdo e com manejo de coleta, transporte e mesmo.
em uma superfície de vidro plano armazenamento para venda dos ovos Os parâmetros de qualidade ex-
para se realizar suas medições. Com nos mercados varejistas. Fato curioso terna possuem estreita relação com
o auxílio de paquímetro e tripé me- foi o maior percentual de ovos trin- a qualidade microbiológica do ovo
diu-se o diâmetro da gema, a altura cados do AM, enquanto do Estado (VAN IMMERSEL et al., 2011), por
da gema e a altura do albume; em se- produtor mais distante, RS, apresen- isso, o alto índice de problemas obser-
guida, utilizou-se a escala DSM® de tou o menor índice de ovos trincados vados é preocupante.
coloração para realizar a análise de (Tabela 1). Este dado se torna ainda Os ovos produzidos no RS foram
cor da gema. Ao concluir esta etapa mais importante, pois também foram significativamente menores que dos
da análise, os ovos foram colocados ovos do Amazonas que apresentaram outros Estados, apesar da média tam-
separadamente, gema e albume, em os maiores índices de sujidades, como bém se encontrar dentro do que é es-
Beckeres de vidro e mediu-se o pH marcas de gaiola, penas e fezes (Tabe- tabelecido pela legislação para ovos
das amostras com o auxílio de um la 1), sendo esta última um importan- do tipo grande. Com isso, o peso da
pHmetro de mesa. te veículo de micro-organismos. Esta casca acompanhou o mesmo compor-
Após a obtenção dos dados das diferença de qualidade provavelmen- tamento dos dados, o que é esperado
amostras, calculou-se o índice de te ocorreu devido a protocolos equi- pois o peso da casca acompanha o
gema pela razão entre a altura e o vocados durante uma ou mais etapas peso do ovo, mesmo que não seja na
diâmetro de gema. Foi calculada do ciclo que envolve a produção, o mesma proporção (VAN IMMERSEL
a unidade Haugh pela sua fórmula transporte e o armazenamento no va- et al., 2011).
simplificada, representada por UH= rejo. Os ovos trincados não deveriam Em relação à percentagem de cas-
100 x Log (Altura – 1,7xPeso0,37 + ser comercializados, muito menos ca, houve um comportamento inusita-
7.57) (EISEN et al., 1962). As cascas estarem a venda no comércio local, do, pois espera-se que quanto maior o
foram lavadas para remoção do albu- por estarem em desacordo com legis- tamanho do ovo, menor será a percen-
me remanescente e postas a secar em lações e apresentarem risco à saúde tagem de casca (VAN IMMERSEL
temperatura ambiente por dois dias. pública (BRASIL, 1965). Com a pre- et al., 2011). No entanto, os ovos do
Em seguida foram pesadas em balan- sença das trincas, a penetração bac- RS foram os menores em tamanho e
ça de precisão e com o auxílio de um teriana fica facilitada, favorecendo a percentual de casca, ainda assim, ob-
micrômetro Mitutoyo® realizaram- contaminação por micro-organismos tiveram os menores índices de trincas.
-se três medições para a obtenção da deteriorantes e patogênicos (WIDDI- Isso pode ter ocorrido provavelmente
espessura média da casca: na lateral, COMBE, 2009). pelo tipo de bandeja que esta empre-
no ápice e na base. As informações A prevalência de ovos com fungos sa utilizava na comercialização, que
foram analisadas segundo a natureza detectada neste estudo foi muito alta, era de polpa moldada e confere me-
de cada dado e as análises estatísticas notadamente em ovos provenientes lhor absorção de impactos. As outras
foram realizadas com a utilização do do RS, com 57,8% dos ovos anali- empresas utilizaram embalagens ou
software InStat 3.1 (Graphpad®). Os sados (Tabela 1). A ocorrência deste de plástico ou somente bandejas de
resultados das frequências de marcas defeito normalmente está relacionada polpa moldada, sem proteção na parte
de gaiola, penas, fezes, trincas, fungos às condições de estocagem dos ovos. superior.
e marcas de sangue nos ovos foram Manaus é uma cidade de temperatura Considerando os padrões de qua-
analisados descritivamente, pois não e umidade elevadas, condição ideal lidade interna dos ovos, não houve
foi possível realizar análise estatística para o crescimento de fungos, portan- diferença entre ovos produzidos nos
pela baixa ocorrência desses defeitos to, o aparecimento destes micro-or- diferentes Estados de origem anali-
em alguns dos parâmetros estudados. ganismos nos produtos é facilitado se sados, com exceção da cor da gema,

111
PESQUISA

Tabela 1 – Percentuais e médias dos valores obtidos para os parâmetros de qualidade de ovos comercializados no município de Manaus,
Amazonas, 2014-2015.
ESTADO DE ORIGEM
Parâmetro de qualidade
AM RS MT
Marcas Gaiola 74/138 (53,6%) 3/90 (3,3%) 4/48 (8,3%)
Penas 40/138 (29,0%) 7/90 (7,8%) 7/48 (14,6%)
Fezes 63/138 (45,6%) 9/90 (10,0%) 4/48 (8,3%)
Trincas 31/138 (22,5%) 5/90 (5,6%) 3/48 (6,2%)
Fungos 37/138 (26,8%) 52/90 (57,8%) 5/48 (20,8%)
Marcas sangue (%) 5/138 (3,3%) 0/90 (0,0%) 0/48 (0,0%)
Peso (g) 57,93a 55,22b 59,45a
Peso de casca (g) 6,10a 5,23b 6,19a
Espessura média (0,1mm) 38,89a 36,80b 39,38a
Percentagem de casca 10,5%a 9,5%b 10,4%a
Cor de gema 7,59a 7,89a 6,04b
Índice de gema 0,32a 0,32a 0,34a
Unidades Haugh 52,43a 61,46a 56,98a
pH Albume 9,13a 9,05a 9,10a

a, b: Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna e em cada grupo diferem entre si pelo teste de Kruskal-Wallis/
Dunn (p<0,05). AM = Amazonas, RS = Rio Grande do Sul, MT = Mato Grosso.

Tabela 2 – Médias dos parâmetros de qualidade, preço e idade de ovos comercializados em quatro regiões no município de Manaus,
Amazonas, 2014-2015.
MÉDIAS
Parâmetro Zona Centro-
Zona Norte Zona Leste Zona Sul
Oeste
Marcas de Gaiola 34/54 (63,0%) 18/60 (30,0%) 8/66 (12,1%) 21/96 (21,9%)
Pena 15/54 (27,8%) 18/60 (30,0%) 5/66 (7,6%) 16/96 (16,7%)
Fezes 26/54 (48,1%) 24/60 (40,0%) 17/66 (25,8%) 9/96 (9,4%)
Trincas 14/54 (25,9%) 11/60 (18,3%) 4/66 (6,1%) 10/96 (10,4%)
Fungo 16/54 (29,6%) 36/60 (60,0%) 8/66 (12,1%) 39/96 (40,6%)
Peso (g) 59,59a 56,82a 56,40b 58,36a
Cor da Gema 6,63c 6,89b,c 8,33a 7,19b
Unidades Haugh 45,30b 57,55a,b 60,95a 53,46a,b
Índice de Gema 0,32a,b 0,34a,b 0,35a 0,31b
Peso da Casca (g) 6,42a 5,99a,b 5,55b 6,07a,b
Percentagem de casca (%) 10,79a 10,57a,b 9,83b 10,38a,b
Espessura da casca (µm) 39,02a 39,30a 38,39a 38,54a
Preço unitário (R$) 0,43 0,39 0,37 0,44
Preço por quilo (R$) 7,22 6,86 6,56 7,54
Idade do ovo (dias) 21,87 24,17 20,85 26,44

a, b: Médias seguidas de letras diferentes na mesma coluna e em cada grupo diferem entre si pelo teste de Kruskal-Wallis/Dunn (p<0,05).

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

que está principalmente relacionada valores obtidos na Zona Norte são Foi verificado que, em geral, a
à alimentação das aves. compatíveis com aqueles obtidos idade dos ovos disponíveis para a
Ao analisar os resultados por re- por Brandão et al. (2014), desta for- aquisição pelo consumidor foi re-
gião da cidade onde foram adqui- ma, as condições de estocagem nas lativamente alta, considerando que
ridas as amostras, diferenças sig- demais regiões foram melhores que para a região o indicado é de, no
nificativas foram observadas. Os a utilizada no estudo. máximo, 25 dias (SANTOS et al.,
ovos comercializados na Zona Sul Além dos baixos valores de UH e 2015).
obtiveram menor peso em relação índice de gema, os ovos comercia- Como se vê na Tabela 2, o alto
aos demais (p<0,05), além de ter lizados na Zona Norte mostraram índice de problemas observados é
apresentado o menor valor por qui- percentuais elevados de marcas de preocupante. Além do risco à saú-
lo do produto dentre as regiões. Es- gaiola, fezes e trincas. A cada dez de pública pelo consumo de produ-
tes ovos também apresentaram os ovos adquiridos na Zona Norte de tos que deveriam ser descartados, a
maiores valores para UH (p<0,05) Manaus, o consumidor terá prova- imagem do produto ovo fica preju-
que aqueles adquiridos na Zona velmente três deles trincados (Ta- dicada, reduzindo a demanda deste
Norte, não diferindo para as demais, bela 2). Verifica-se que, embora os alimento tão nobre e de fácil acesso
enquanto para o índice de gema os ovos da Zona Sul tenham apresenta- e consumo.
valores obtidos da Zona Sul foram do maior qualidade interna e meno- Os resultados obtidos foram im-
superiores (p<0,05) aqueles adqui- res índices de defeitos externos, esta portantes para avaliar o controle de
ridos na Zona Centro-Oeste, não regiãofoi a que apresentou o menor qualidade dos ovos comercializados
diferindo dos demais (Tabela 2). preço. Em contrapartida, os ovos na cidade de Manaus/AM, o que
Esses parâmetros de qualidade estão adquiridos na Zona Norte foram os demonstrou uma ineficiência nos
ligados diretamente às propriedades que apresentaram a segunda maior protocolos de produção e/ou dis-
funcionais como produção de espu- média de preços, com os maiores tribuição e/ou comercialização dos
mas e emulsões (PISSINATI et al., índices de defeitos e os menores ovos até a aquisição pelo consumi-
2014). A diferença entre as regiões índices de qualidade. Portanto, não dor final, tornando este produto um
ocorreu, provavelmente, por causa se pode associar necessariamente o veículo potencial de agentes causa-
da temperatura de armazenamento preço com a qualidade, o que é co- dores de enfermidades transmitidas
dos ovos, pois os ovos adquiridos mumente realizado pela maioria dos por alimento.
na Zona Sul estavam em áreas re- consumidores.
frigeradas, enquanto das demais A amostra da Zona Sul apresen- CONCLUSÃO
zonas estavam em temperatura am- tou a percentagem de casca de me-
biente ou com o refrigerador des- nor valor (Tabela 2), sendo assim Os ovos de consumo comercializa-
ligado. O valor de UH e índice de mais frágil devido à espessura da dos no mercado local demonstraram
gema são influenciados pelo tempo casca. Porém como a quantidade altos índices de defeitos externos,
e temperatura de armazenamento de de ovos com trincas foi a menor assim como baixa qualidade interna.
maneira inversamente proporcional em relação a outras regiões, pode- Tanto a região de produção, quanto
(PISSINATI et al., 2014), portanto, -se concluir que, provavelmente, os de comercialização, foram fatores que
o menor tempo de estocagem e pos- funcionários dos comércios da Zona influenciaram na qualidade de ovos
sivelmente menores temperaturas Sul tiveram um melhor cuidado no comercializados no município de Ma-
durante o armazenamento dos ovos armazenamento, distribuição e ma- naus, Amazonas.
adquiridos na Zona Sul podem ter nuseio dos ovos.
sido fundamentais na diferença de Os ovos adquiridos na Zona Les-
REFERÊNCIAS
qualidade observada entre as regi- te também apresentaram altos per-
ões. Ovos estocados a 25 oC e umi- centuais para presença de fungos e
dade relativa de aproximadamente penas (Tabela 2). Devido ao fato de BERTECHINI, AG. Mitos e verdades so-
70%, perdem qualidade de forma Manaus apresentar condições ideais bre o ovo e consumo. In: Conferência
significativa já na primeira e na para o crescimento de fungos, como APINCO 2001 de Ciência e Tecnolo-
terceira semana de armazenamento temperaturas e umidades elevadas, gia Avícolas, 2003, Santos. Anais….
(BRANDÃO et al., 2014). Como a devem ser tomados cuidados ade- Santos: FACTA, 2003, v.1, p.19-26.
média de tempo de produção no mo- quados, evitando-se assim o cresci- BRANDÃO, MDM; SANTOS, FF; MACHA-
mento da compra foi de aproxima- mento destes micro-organismos nos DO, LS; SOARES, MV; OLIVEIRA, JM;
damente três a quatro semanas, os produtos. SOARES, NM; NASCIMENTO, ER;

113
PESQUISA
PEREIRA, VLA. The effect of egg- EISEN, EJ; BOHREN, BB; MCKEAN, HE. eggs from two lines of hens. Poul.
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CULTURA E SENSAÇÃO DE BEM-ESTAR INFLUENCIAM ESCOLHA DE ALIMENTOS.

Pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos, em parceria com a Universidade Federal do Rio de


Janeiro (UFRJ) e a Universidad de la República do Uruguai trabalham na validação de método de análise senso-
rial para o desenvolvimento de novos produtos, levando em conta várias dimensões ligadas ao bem-estar gerado
pela alimentação. A metodologia deve contribuir para a produção de alimentos mais saudáveis pela indústria, em
sintonia com o desejo dos consumidores.
A definição da nova escala de análise sensorial foi realizada com base em estudos qualitativos com consumi-
dores de sete países: Brasil, China, França, Portugal, Espanha, Uruguai e Estados Unidos. O objetivo é investigar as
diferenças interculturais relativas à percepção da alimentação, a partir de 31 sentenças/afirmações categorizadas
em seis dimensões principais: bem-estar geral, físico, emocional, intelectual, social e espiritual.
A pesquisa já conseguiu apontar algumas diferenças na percepção do consumidor entre os países estudados. Na
França, por exemplo, os alimentos, de forma geral, estão associados ao prazer; não é à toa que o país detém uma
das culinárias mais apreciadas do mundo. Já na China, a alimentação associa-se mais fortemente à necessidade
fisiológica do que a uma questão ligada à felicidade. O consumo de carne bovina no Uruguai remete às questões
sociais e culturais, ligadas à tradição do país. No Brasil, o café é bem mais apreciado do que em outros lugares.
O estudo contempla a percepção dos consumidores para nove alimentos: maçã, carne, cerveja, brócolis, bolo de
chocolate, café, peixe, batatas fritas e leite.
A escolha dos alimentos pelo consumidor é um processo complexo, afetado por numerosos fatores. Pode estar
relacionado ao produto como características físicas, químicas e sensoriais; ao próprio consumidor como idade,
sexo, educação, fatores psicológicos e ao contexto cultural, social e econômico. A formulação preferida pelos con-
sumidores continha o nível mais elevado de açúcar e de chocolate dentre os analisados. Esse fato levou a equipe
de pesquisadores a propor novos estudos para reduzir o teor de açúcar em alimentos, sem afetar a aceitação do
consumidor. (Embrapa Agroindústria de Alimentos, fev/2017)

114
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

EFEITOS DA IRRADIAÇÃO GAMA SOBRE A


ESTABILIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE ANÉIS DE
LULA CONGELADOS.
Flávia Aline Andrade Calixto
Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro/ Universidade Federal Fluminense, Niterói - RJ.
Eliana de Fátima Marques de Mesquita
Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Veterinária. Departamento de Tecnologia dos Alimentos, Niterói - RJ.
Marisol Antony Velloso dos Santos
Médica Veterinária.
Licínio Esmeraldo da Silva
Universidade Federal Fluminense. Instituto de Matemática. Departamento de Estatística, Niterói – RJ.
faacalixto@gmail.com

RESUMO Palavras-chave. Dorytheutis plei. processing of the product. There was


Composição centesimal. Radiação no significant change in the chemical
O principal objetivo deste traba- gama. composition of the samples.
lho foi avaliar os efeitos do processo Keywords : Dorytheutis plei.
de exposição à radiação gama (cé- ABSTRACT Squid’s rings. Gamma radiation.
sio-137) na estabilidade físico-quími-
ca de anéis de lula, Dorytheutis plei, The main goal of this research was INTRODUÇÃO
congelados. Foram investigadas 30 to evaluate the effects of exposure to

O
amostras, separadas em três grupos, the gamma radiation (cesium-137)
s moluscos da Classe Ce-
de acordo com a dose de radiação ab- in the physical-chemical stability
sorvida: 0 kGy (controle), 1,5 kGy e phalopoda, constituem
of frozen squid’s rings, Dorytheutis
3,0 kGy. Análises físico-químicas, de itens importantes do car-
plei. Thirty samples were divided
Base Voláteis Totais e pH, relevan- into three groups according to the dápio regular em muitos
tes na determinação da qualidade do absorbed radiation dose: 0 kGy países, tais como Japão, Espanha,
pescado, foram realizadas durante (control), 1.5 kGy and 3.0 kGy. Phys- Itália e Portugal, representando em
o período de seis semanas. Durante ical-chemical analysis, total volatile todo o mundo recursos pesqueiros
a estocagem, observou-se uma rela- base (TVB) and pH were relevant in valiosos. No Brasil, a captura des-
tiva estabilidade físico-química nas the determination of the fish quality ses animais tornou-se mais expres-
amostras estudadas, caracterizando control and they were carried out siva durante a década de 70, devido
um produto viável para a comerciali- during six weeks. During the storage à implantação, sobretudo na região
zação. Dentre as doses investigadas, a relative physical-chemical stability Sudeste-Sul, do sistema de pesca de
1,5 kGy mostrou-se a mais apropriada in the studied samples characterized arrasto com redes duplas (double-
para tratamento do produto. Não hou- a viable product to be commercial- -ring) (ROPER, 1984).
ve alteração significativa da composi- ized. The 1,5 kGy dose showed to be Cerca de 80% dos desembarques
ção centesimal das amostras. the most appropriate to be used in the pesqueiros de cefalópodes na costa

115
PESQUISA
sul do Brasil é de duas espécies de após a irradiação, as amostras foram Métodos Analíticos Oficiais para
lulas neríticas: Dorytheutis plei e D. transportadas até o local de realiza- Controle de Produtos de Origem
sanpaulensis. A grande parte da lula ção das análises físico-químicas. Os Animal e seus Ingredientes (BRA-
é comercializada a fresco, em feiras exemplares foram mantidos congela- SIL, 1981).
livres, peixarias e mercados, como dos em freezer até a proximidade do Carboidratos
também congelada, o que viabiliza a final do seu prazo de vida comercial Os carboidratos foram calculados
extensão do prazo de vida comercial (6 meses), quando foram iniciadas as pela fração “NIFEXT” (Nitrogen
desse alimento. Quando a lula é ven- análises de pH e BVT. Free Extract), tendo como parâmetro
dida congelada, em geral, é benefi- As determinações de bases voláteis a diferença entre 100% das demais
ciada em anéis, pelo corte transversal totais (BVT) e pH foram realizadas no frações da composição centesimal
do manto e, neste caso, o produto é Laboratório de Controle de Qualidade (OLIVEIRA et al., 1999).
denominado anéis de lula congelada. da PESAGRO-RIO. De cada amostra Valor energético total
O tratamento com radiações ioni- foi separada uma porção aleatória e Com base nos valores de car-
zantes tem como finalidade prolon- homogênea, que foi fracionada e mis- boidratos, proteínas e lipídeos, foi
gar a vida útil dos alimentos, pela turada, formando uma massa única e calculado o valor energético total
destruição microbiana ou inibição homogênea. Tal procedimento teve (VET) dos alimentos, sabendo-se
de alterações bioquímicas, sem oca- como objetivo fornecer resultados que os carboidratos e proteínas for-
sionar aumento significativo de sua mais representativos da qualidade fí- necem 4 kcal/g de energia e os lipí-
temperatura (HERNANDES et al., sico-química média das amostras. dios 9 kcal/g (FAO, 2005).
2003). Da massa triturada, separaram-se
Este estudo foi elaborado, con- seis amostras de 100 g, para realiza- Descrição estatística
siderando-se a lacuna na literatura ção das análises de BVT e pH. Uma A descrição estatística dos dados
científica sobre a carne de lula no amostra de cada grupo, por semana de está apresentada por meios paramé-
Brasil, bem como, o potencial do análise, foi descongelada em geladei- tricos (média, desvio padrão, valores
processo de irradiação para aumen- ra durante a noite. Foram realizadas máximo e mínimo, mediana e inter-
tar a qualidade higienicossanitária do uma análise de BVT e uma de pH por valo interquartílico), meios gráficos
produto, que proporcionará ao con- semana, perfazendo um período total (diagrama de caixa e hastes e gráfi-
sumidor um alimento mais seguro e de seis semanas consecutivas de mo- cos em linha) e por meios tabulares
com validade comercial estendida. nitoramento, que se iniciou a partir do (tabelas e quadros).
O objetivo deste trabalho foi ava- término da validade comercial do pro- Todas as decisões estatísticas fo-
liar a estabilidade físico-química duto estabelecido pela indústria. ram tomadas ao nível de significân-
de anéis de lula, Dorytheutis plei Foi utilizado o método de Microdi- cia de 0,05 (5%).
(BLAINVILLE 1823), congelados e fusão de Conway, baseado nos Méto-
irradiados, por meio dos parâmetros dos Analíticos Oficiais para Controle RESULTADOS E DISCUSSÃO
BVT e pH e composição centesimal. de Produtos de Origem Animal e seus
Ingredientes (BRASIL, 1981). A irradiação de alimentos pode
MATERIAL E MÉTODOS Ajustou-se o pHmetro com as so- ser usada como um método de con-
luções tampão pH 4,0 e pH 7,0, usan- servação complementar. Alimentos
Foram utilizadas 30 amostras de do-se lavagem com água destilada a que são irradiados congelados ou
anéis de lula congelados, D. plei, cada troca de solução padrão, para a secos, ou seja, com menor quanti-
provenientes do Município de Cabo calibração. Pesaram-se cerca de 50g dade de água livre, sofrem menos
Frio, Rio de Janeiro, Brasil. da amostra, as quais foram homoge- com efeitos indiretos da radiação por
As 30 amostras foram separadas neizadas com 20mL de água destila- consequência da radiólise de água
aleatoriamente e identificadas em da. Introduziu-se o eletrodo e mediu- (LANDGRAF, 2002; ORDÓÑEZ et
três grupos de 10 unidades cada: gru- -se o pH diretamente de cada amostra al., 2005; VENTURA et al., 2010).
po controle (não irradiado), grupo preparada (BRASIL, 1981). Esses efeitos secundários podem ser
irradiado com 1,5 kGy e grupo irra- maléficos para os alimentos e um dos
diado com 3,0 kGy. Os grupos foram Determinação da composição fatores limitantes da dose aplicada.
expostos a uma fonte de césio-137 na centesimal Segundo Modanez (2012), para man-
Divisão de Defesa Química, Biológi- As análises de umidade, cinzas, ter as propriedades sensoriais dos ali-
ca e Nuclear do Centro Tecnológico lipídios por extrato etéreo e prote- mentos, recomenda-se a combinação
do Exército (CTEx). Imediatamente ínas foram seguidas baseadas nos entre as técnicas de congelamento e

116
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

irradiação. Mundialmente, a irradia- controle, sugerindo uma possível ex- legislação (BRASIL, 1997), indican-
ção é utilizada em alimentos con- tensão no prazo de validade comer- do um baixo teor de degradação do
gelados por diversas finalidades cial atribuída à irradiação (Figura 1). produto e, consequentemente, pouca
(MODANEZ, 2012). Neste trabalho Os valores de pH das amostras, formação de compostos nitrogena-
optou-se por aplicá-la associada ao dispostos em gráfico em linha, na dos, característicos de deterioração
método já utilizado na comercializa- Figura 2, não se alteraram significa- por ação enzimática e microbiológi-
ção de anéis de lula, minimizando o tivamente, variando entre 6,5 e 6,7. ca.
efeito indireto da radiação e assim, Visualiza-se, ainda nesta figura, um A concentração dos íons-hidrogê-
analisar os possíveis benefícios da aumento maior do pH entre a quin- nio é quase sempre alterada quando
irradiação potencializando o método ta e sexta semana para as amostras se processa a decomposição hidro-
de conservação habitual desse produ- irradiadas. Todos os valores ainda lítica, oxidativa ou fermentativa da
to. se encontram dentro do intervalo de musculatura, sendo assim, seu valor
As medidas de BVT dos três normalidade, de 6,5 a 6,8, para pes- elevado indica atividade microbia-
grupos variaram entre 5 e 8 mg de cado (BRASIL, 1980). na de decomposição (INSTITUTO
nitrogênio por 100 g por unidade As medidas de BVT realizadas ADOLFO LUTZ, 2005). A deteriora-
testada, aproximadamente. Os valo- neste trabalho forneceram resulta- ção por ação enzimática e bacteriana
res de BVT dos dois grupos irradia- dos para todas as amostras inferio- leva à formação de compostos nitro-
dos foram sempre inferiores aos do res ao limite máximo permitido pela genados identificados na análise de

Figura 1 - Gráfico em linhas, eixo horizontal representando as semanas de determinação e eixo vertical, os valores analisados de BVT das
amostras controle, irradiados 1,5 kGy e 3,0 kGy.

Figura 2 - Gráfico em linhas, eixo horizontal representando as semanas de determinação e eixo vertical, os valores de pH das amostras
controle, irradiados com 1,5 kGy e 3,0 kGy.

117
PESQUISA

Tabela 1 - Descrição estatística da umidade das amostras.


Desvio Intervalo
Grupo n Média (%) Mínimo Máximo Mediana
padrão interquartílico
Controle 4 84,29 0,3686 83,95 84,79 84,21 0,69
1,5 kGy 4 82,96 0,2904 82,65 83,32 82,94 0,56
3,0 kGy 4 82,91 0,4268 82,56 83,50 82,79 0,78

Quadro 1 - Diferença estatisticamente significativa entre os três grupos de amostra para o valor percentual de umidade pelo teste de Mann-
Whitney.
Grupos 1,5 kGy 3,0 kGy
U=0 U=0

Controle valor-p = 0,029 valor-p = 0,029

SIM SIM
U = 6,0

1,5 kGy ------ valor-p = 0,686

NÃO

bases voláteis totais (LEITE, 2005); e irradiadas (0, 1,5 e 2,5 kGy) de ca- Considerando que os resultados
sendo assim, o aumento do teor de marões (Litopenaeus brasiliensis), encontrados na análise de pH não
BVT é considerado indicativo de de- Sireno (2004) também observou uma excederam o limite preconizado
terioração do pescado (INSTITUTO diminuição na produção de BVT pela legislação brasileira (BRASIL,
ADOLFO LUTZ, 2005). com uso da irradiação. Posterior- 1980), presume-se que as amostras
Quanto aos resultados encontra- mente, Azevedo (2005), analisando analisadas estavam próprias para
dos na análise de BVT deste traba- camarões (L. schmitti) cru com casca consumo durante todo o período de
lho, as medidas das amostras dos três resfriados e irradiados (0, 1,75 e 3,0 monitoração.
grupos apresentaram-se abaixo do li- kGy) confirmou esse achado. Estudo semelhante em carne de
mite de 30 mg de nitrogênio por 100 Em tilápias (Oreochromis niloti- rã-touro gigante (L. catesbeianus)
g, estabelecido pelo regulamento téc- cus) refrigeradas houve um cresci- resfriada, analisada no decorrer de
nico brasileiro para pescado (BRA- mento substancial do valor de BVT 21 dias, determinou variação de pH
SIL, 1997). nas amostras controle, em compara- entre 6,16 e 6,54 para o grupo con-
Oliveira (2006) encontrou um ção com aqueles medidos nas amos- trole; entre 6,36 e 6,83 para irradia-
aumento significativo de BVT na tras irradiadas com 1,0; 2,2 e 5,0 kGy dos com 3,0 kGy; e entre 6,23 e 6,66
amostra resfriada de carne de rã-tou- em 30 dias de armazenagem (SI- para o grupo com dose de 7,0 kGy,
ro gigante (Lithobates catesbeianus) QUEIRA, 2001). Esse achado difere não tendo sido encontrada variação
do grupo controle até o último dia de daquele encontrado neste trabalho, significativa entre os grupos (OLI-
análise (21º dia em armazenamento devido ao fato de as amostras terem VEIRA, 2006).
sob refrigeração), estando esse grupo sido irradiadas e armazenadas refri- Azevedo (2005) e Sireno (2004),
com valores impróprios para consu- geradas, e não, congeladas. em pesquisas realizadas com cama-
mo, não tendo sido o mesmo consta- Estudando os efeitos da radiação rões (Litopenaeus schmitti e L. bra-
tado para os grupos irradiados com ionizante associada à salga e fermen- siliensis) crus e refrigerados, res-
3 kGy e 7 kGy, sendo que a degra- tação em lulas (Todarodes pacificus), pectivamente, do mesmo modo não
dação precoce das amostras controle Byun et al. (2000) evidenciaram um encontraram diferença significativa
provavelmente deveu-se ao fato de declínio na determinação de BVT em pH entre as amostras controle e
que estas haviam sido refrigeradas e nas amostras irradiadas (2,5; 5,0 e as irradiadas com 1,75 e 3,0 kGy;
não congeladas como neste trabalho. 10 kGy) em relação ao controle, em 1,5 e 2,5 kGy, respectivamente; as
Analisando amostras refrigeradas conformidade com o presente estudo. quais exibiram médias superiores

118
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Tabela 2 - Descrição estatística da determinação de mineral das amostras.


Desvio Intervalo
Grupos n Média (%) Mínimo Máximo Mediana
padrão interquartílico
Controle 3 0,21 1,14 0,20 0,22 0,21 0
1,5 kGy 2 0,24 9,97 0,23 0,24 0,24 0
3,0 kGy 2 0,21 1,20 0,21 0,21 0,21 0

Tabela 3 - Descrição estatística da determinação de lipídios das amostras.


Desvio Intervalo
Grupos n Média (%) Mínimo Máximo Mediana
padrão interquartílico
Controle 2 0,18 2,76 0,18 0,18 0,18 0
1,5 kGy 3 0,25 3,91 0,21 0,29 0,25 0
3,0 kGy 2 0,31 2,40 0,31 0,31 0,31 0

Tabela 4 - Descrição estatística da determinação de proteína das amostras.


Desvio Intervalo
Grupos n Média (%) Mínimo Máximo Mediana
padrão interquartílico
Controle 3 14,58 0,8175 13,94 15,51 14,30 0
1,5 kGy 4 15,97 0,6137 15,40 16,76 15,87 1,16
3,0 kGy 2 16,24 0,1059 16,17 16,92 16,24 0

aos valores encontrados no presente em nível de significância de 0,05, semelhantes entre os grupos, apre-
trabalho para os três grupos pesqui- evidencia diferença estatisticamente sentando no máximo uma diferença
sados. significativa. O teste de Mann-Whi- de 0,02 entre o maior valor encon-
A irradiação gama de tilápias (O. tney, como mesma significância, trado e o menor. Não foi evidenciada
niloticus) refrigeradas forneceu re- indica diferença significativa entre diferença estatisticamente signifi-
sultados semelhantes a este trabalho o grupo controle e os grupos irradia- cativa entre os grupos pelo teste de
no que se refere ao pH, sendo que os dos, e a não diferença entre os grupos Kruskal-Wallis, em nível de signifi-
valores mantiveram-se em torno de irradiados apresentadas no Quadro 1. cância de 0,05.
6,5 para a dose de 1,0 kGy e de 6,6 Esta diferença no percentual de umi- Lipídios
para as doses de 2,2 e 5,0 kGy duran- dade nas amostras irradiadas com a Na Tabela 3 estão descritos os da-
te os trinta dias de armazenamento, testemunha pode ser proveniente de dos estatísticos do teor de lipídios
enquanto que o grupo controle exi- formação de produtos radiolíticos dos grupos de amostras.
biu valores crescentes que atingiram pela ação indireta da radiação ioni- Através do teste de Kruskal-
7,7 (SIQUEIRA, 2001). Mais uma zante sobre a água livre. -Wallis, com significância de 0,05,
vez, atribui-se a diferença ao conge- Em estudo realizado em tilápia não há diferença estatisticamente
lamento utilizado nas amostras des- (Oreochromis niloticus), as amostras significativa entre os grupos, não ca-
te trabalho, o qual evitou a elevação não irradiadas perderam a umidade racterizando perda da porção lipídica
significativa dos valores de pH do crescentemente comparadas com as pelo processo de irradiação.
controle. amostras irradiadas com dose de 1,0; Proteína
Determinação da composição 2,2 e 5,0 kGy em estocagem de 30 Os dados estatísticos provenien-
centesimal dias sob refrigeração (SIQUEIRA, tes dos resultados da determinação
Umidade 2001). de proteínas nos grupos de amos-
A descrição estatística da umidade Mineral tras estão representados na tabela 4.
das amostras encontra-se na Tabela A descrição estatística da deter- Igualmente, ao ocorrido na determi-
1. minação de mineral dos grupos de nação de lipídios e minerais, o teste
A comparação entre os três gru- amostras segue na Tabela 2. As to- de Kruskal-Wallis não evidencia di-
pos pelo teste de Kruskal-Wallis, madas apresentaram resultantes bem ferença estatisticamente significativa

119
PESQUISA
entre os grupos com significância de nas medidas desses parâmetros, ob- BRASIL. Portaria nº 185, de 13 de maio
0,05, caracterizando uma não altera- servou-se ainda uma menor taxa de de 1997. Aprova o regulamento téc-
ção nutricional do alimento com o degradação nas amostras irradiadas, nico de identidade e qualidade de
uso do processamento por radiação principalmente ao serem considera- peixe fresco (inteiro e eviscerado).
gama. dos os valores das taxas de formação Ministério da Agricultura, Pecuária
Rela (2000) cita os macronutrien- de Bases Voláteis Totais, reduzidos e Abastecimento, Brasília, DF, 1997.
tes proteínas, carboidratos e gorduras pelo tratamento com radiação gama Seção 1, p. 10282-3.
como sendo estáveis à irradiação de nas doses de 1,5 e 3,0 kGy. BYUN, MW; LEE, KH; KIM, DH; KIM, JH;
alimentos e os micronutrientes po- A dose de 1,5 kGy mostrou-se a YOOK, HS; ALN, HJ. Effects of gamma
dem ser sensíveis, especialmente as mais apropriada para promover a radiation on sensory qualities, micro-
vitaminas, como observado neste es- preservação dos anéis de lula conge- biological and chemical properties of
tudo. lados, pois, além de acarretar redu- salted and fermented squid. J. Food
Franco (1998) determinou a com- ção de BVT próxima àquela causada Protect., 63 (7): 934-9, jul.2000.
posição centesimal da lula crua ob- com a irradiação com 3,0 kGy, é mais
FAO. The Codex Alimentarius Commis-
tendo valor calórico de 87 kcal, 1,7 g econômica e por ser a metade dessa
sion and the FAO/WHO Food Standar-
de glicídeos, 16,4 g de proteínas, 1,7 última, apresenta menores chances
ds Programme. Special Publications.
g de lipídeos, e dentro da porção mi- de acarretar alterações sensoriais
Food Labelling: complete texts. FAO,
neral avaliou o teor de cálcio, fósforo perceptíveis no produto, em confor-
Roma, 2005. Disponível em: <http://
e ferro apresentando os valores de 42 midade com a legislação brasileira
www.codexalimentarius.net/web/pu-
mg, 148 mg e 1,9 mg, respectiva- para irradiação de alimentos, a qual
blications_es.jsp>. Acesso em: ago.
mente, totalizando aproximadamente estabelece que a dose aplicada seja
2007.
0,19 g da fração mineral. Das por- suficiente para alcançar a finalidade
ções estudadas neste trabalho, ape- pretendida sem acarretar prejuízos às FRANCO, G. Tabela de composição quí-
nas a fração lipídica está em discor- propriedades sensoriais e/ou funcio- mica dos alimentos. 9. ed. Rio de
dância evidente com este autor, fato nais do alimento. Janeiro: Atheneu, 1998. 307 p.
que pode ser explicado pela determi- Na determinação da composição HERNANDES, NK; VITAL, HC; SABAA
nação em anéis (porção do manto) de centesimal, não houve perda nutriti- SRUR, AUO. Irradiação de alimentos:
lula ao invés da análise de todo o mo- va do alimento, tendo sido observa- vantagens e limitações. Bol Soc Bras
lusco. Ainda Franco (1998) delimi- da uma redução no teor de umidade, Cienc Tecnol Aliment, 37 (2): 154-9,
tou as frações nutricionais de lula co- com consequente aumento do teor 2003.
zida em 92,1 kcal de valor calórico, proteico percentual. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos
22,5 g de proteína, 0,24 g de lipídeos, físico-químicos para análise de
56 mg de cálcio, 189 mg de fósforo e REFERÊNCIAS alimentos. 4. ed. Brasília: ANVISA,
2,2 mg de ferro. Neste caso, o teor de 2005. 1018 p.
lipídios da amostra é semelhante ao
AZEVEDO, LA. Análise físico-química e LANDGRAF, M. Fundamentos e perspec-
encontrado neste estudo.
sensorial do camarão cru com cas- tivas da irradiação de alimentos vi-
Semelhante estudo foi realizado
ca Litopenaeus schmitti (Crustacea: sando ao aumento de sua seguran-
com lula (Todarodes pacificus) sal-
Decapoda) irradiado. Niterói, 2005. ça e qualidade microbiológica. 87f.
gada, fermentada e irradiada com
56f. Monografia (Especialização em Tese (Livre-Docência) Faculdade de
2,5; 5,0 e 10 kGy e não houve di-
Irradiação de Alimentos) – Faculdade Ciências Farmacêuticas, Universidade
ferença na composição centesimal
de Veterinária, Universidade Federal de São Paulo – São Paulo, 2002.
comparada com a amostra controle
Fluminense, Niterói, 2005. LEITE, LC. Bioquímica marinha. In: SIM-
(BYUN, 2000).
BRASIL. Métodos analíticos oficiais PÓSIO DE BIOLOGIA MARINHA, 8.,
CONCLUSÃO para controle de produtos de origem Santos, 2005. Santos: UNISANTA,
animal e seus ingredientes. Minis- 2005. 27p..
As análises dos parâmetros BVT e tério da Saúde. LANARA, Brasília, DF, MODANEZ, L. Aceitação de alimentos
pH permitiram aferir, de forma relati- 1981. 122 p. irradiados: uma questão de educa-
vamente rápida e simples, o bom es- BRASIL. Regulamento da Inspeção In- ção. 105f. Tese (Doutor em Ciência
tado geral de conservação de todas as dustrial e Sanitária de Produtos de – Tecnologia Nuclear: aplicações) –
amostras pesquisadas, durante todo o Origem Animal. Ministério da Agri- Instituto de Pesquisas Energéticas e
período de monitoração. Com bases cultura, Brasília, DF, 1980, p.74-76. Nucleares, Universidade de São Paulo

120
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

– São Paulo, 2012. Artmed, 2005. 294 p. v.1. Litopenaeus brasiliensis (Crusta-
OLIVEIRA, ECM; OLIVEIRA, ER; LIMA, RELA, PR. Cresce o uso de irradiação cea: Penaeidae) in natura irradia-
LCO; BOAS, EVBV. Composição para conservação de alimentos. Rev dos e armazenados sob refrigera-
centesimal do cogumelo do sol de Engenharia de Alimentos, São ção. Niterói, 2004. 59f. Monografia
(Agaricus blazei). Rev Univ Alfe- Paulo, v.6, n.29, p.26-29, mar/abr (Especialização em Irradiação de
nas, Minas Gerais: Universidade 2000. Alimentos) – Faculdade de Veteri-
Jose do Rosário Vellano, v.5, p.169- nária, Universidade Federal Flumi-
ROPER, CFE; SWEENEY, MJ; NAUEN C.
72, 1999. nense, Niterói, 2004.
Cephalopods of the world: an an-
OLIVEIRA, FMC. Avaliação dos parâ- notated and illustrated catalogue of VENTURA, D; RUFINO, J; NUNES, C;
metros de bases voláteis totais e species of interest to fisheries. In: MENDES, N. Utilização da irra-
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rinária, Universidade Federal Flumi- mis niloticus). Piracicaba, 2001. AGRADECIMENTOS
nense, Niterói, 2006. 137f. Dissertação (Mestrado em À Dra. Eliane Rodrigues e a equipe do
ORDÓÑEZ, JA; RODRÍGUEZ, MIC; Ciências – Ciência e Tecnologia de Laboratório de Controle de Qua-
ÁLVAREZ, LF; SANZ, MLG; MIN- Alimentos) – Escola Superior de Agri- lidade da Empresa de Pesquisa
GUILLÓN, GDGF; PERALES, LH; cultura “Luiz de Queiroz”, Universida- Agropecuária do Estado do Rio de
CORTECERO, MDS. Tecnologia de de de São Paulo, Piracicaba, 2001. Janeiro (PESAGRO-RIO). Aos fun-
alimentos: componentes dos ali- SIRENO, M. Propriedades físico-quí- cionários da Seção de Defesa Nu-
mentos e processos. Porto Alegre: micas e sensoriais de camarões clear do CTEx.

121
PESQUISA

DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL ANTIBACTERIANO


DAS ESPECIARIAS Hibiscus sabdariffa, Carum
carvi, Sesamum indicum, Foeniculum vulgare e
Trigonella foenum-graecum.
Viniccius Silva de Almeida *
Instituto Municipal de Ensino Superior – Catanduva - SP
Isabella Biassi Geromel
Felipe Pinheiro do Prado Felinto
Universidade São Francisco - Bragança Paulista – SP
Mairto Roberis Geromel
Maria Luiza Silva Fazio
Instituto Municipal de Ensino Superior – Catanduva - SP
* vinicciusalmeida@yahoo.com.br

RESUMO Os testes foram realizados com as preto combinado com funcho (halo
especiarias individualmente e tam- de 10mm). No que se refere a B. sub-
Conhecidas pelo seu uso na culi- bém combinadas. Extratos aquosos tilis, os resultados mais significati-
nária, na medicina, festividades, das especiarias foram impregnados vos foram verificados para o extrato
óleos e ceras aromáticas, perfumes em discos de papel filtro de 6 mm de hibiscus individualmente (halo de
e atualmente como antissépticos, as de diâmetro, próprios para antibio- 17mm) e também para a combinação
especiarias são produtos naturais. grama, colocados em placas de Pe- entre gergelim preto e feno grego
Produtos aromáticos, poderosos, tri com meio de cultura apropriado, (halo de 10mm). Para a ação sobre
prazerosos e sensuais. Esses produ- semeado previamente com os se- S. aureus, destacou-se a combinação
tos estão marcados na história, como guintes micro-organismos: Bacillus entre gergelim preto e feno grego
um dos primeiros que percorreram o cereus, Bacillus subtilis, Salmonella (halo de 13mm). S. Typhimurium
globo terrestre de um lado ao outro Typhimurium, Salmonella Enteriti- foi inibida significativamente pelo
como moeda comercial. Conside- dis e Staphylococcus aureus, poste- extrato de hibiscus individual (halo
rando o mencionado, esta pesquisa riormente incubadas a 35°C/24 – 48 de 14mm) e pela combinação de hi-
teve como objetivo verificar a possí- horas. Após este período, foram con- biscus e feno grego (halo de 12mm).
vel ação antibacteriana das especia- siderados de ação antimicrobiana sig- A bactéria inibida significativamente
rias: hibiscus (Hibiscus sabdariffa), nificativa aqueles que apresentaram pelo maior número de extratos (6) foi
kummel (alcaravia)(Carum carvi), halos iguais ou superiores a 10mm. S. Enteritidis, destacando-se a ação
gergelim preto (Sesamum indicum), Com relação ao micro-organismo do extrato combinado de hibiscus e
funcho (Foeniculum vulgare) e feno B. cereus, foi constatada a ação sig- gergelim preto (halo de 21mm), hi-
grego (Trigonella foenum-graecum). nificativa do extrato de gergelim biscus individual (halo de 18mm) e

122
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

do extrato combinado de hibiscus e also for the combination between de alguns aditivos químicos em pro-
feno grego (halo de 14mm). Os me- black sesame and fenugreek (halo dutos e a alta utilização destes aditi-
lhores resultados foram observados of 10 mm). For action on S. aureus, vos têm gerado medidas legislativas
para o extrato de hibiscus individual- have featured for the combination cada vez mais frequentes em âmbito
mente e as suas combinações. between black sesame and fenugreek mundial (MOREIRA et al., 2005;
(halo of 13 mm). S. Typhimurium was IVANOVIC et al., 2012). Como con-
Palavras-chave: Antimicrobiano.
inhibited significantly by individual sequência existe uma demanda em
Condimentos. Extrato. Salmonella.
hibiscus extract (14 mm halo), and pesquisas na descoberta de compos-
by the combination of hibiscus and tos alternativos para a utilização do
ABSTRACT fenugreek (halo of 12 mm). The bac- uso de conservantes em alimentos
teria significantly inhibited by the (GUTIERREZ et al., 2009). Além
Known for their use in cooking, greatest number of extracts (6) was disso, os consumidores estão cada
medicine, festivities, aromatic oils S. Enteritidis, emphasizing the ac- vez mais exigentes em relação aos
and waxes, perfumes and are cur- tion of combined extract of hibiscus alimentos e produtos que consomem,
rently being used as antiseptics, and black sesame (halo of 21 mm), estando preocupados com a saúde e
spices are natural products. Aro- hibiscus extract individual (halo of cientes dos possíveis efeitos adversos
matic products, powerful, pleasur- 18 mm) and the combined extract of dos aditivos químicos usados na con-
able and sensual. These products hibiscus and fenugreek (halo of 14 servação dos alimentos (MACHA-
are marked in history, as one of the mm). The best results were observed DO; BORGES; BRUNO, 2011).
first who traveled the globe from one for the extract of hibiscus individu- Muitas plantas têm sido utiliza-
side to the other as commercial cur- ally and its combinations. das devido às suas características
rency. Considering the mentioned, antimicrobianas, as quais se devem
this research aimed to verify the pos- Keywords: Antimicrobial. Spices.
aos compostos sintetizados no meta-
sible antibacterial action of spices: Extract. Salmonella.
bolismo secundário. Estes produtos
hibiscus (Hibiscus sabdariffa), kum- são conhecidos por suas substâncias
mel (caraway) (Carum carvi), black INTRODUÇÃO ativas, por exemplo, os fenólicos que

I
sesame (Sesamum indicum), fennel constituem os óleos essenciais, assim
(Foeniculum vulgare) and fenugreek números micro-organismos como os taninos (NASCIMENTO et
(Trigonella foenum-graecum). The ou produtos resultantes do seu al., 2000).
tests were conducted with the spices metabolismo, como toxinas, Os temperos ou condimentos são
individually and combined. Aqueous aminas biogênicas e parasitos, substâncias de origem vegetal, ge-
extracts of spices were impregnated podem ser veiculados por alimen- ralmente usadas para conferir sabor
into paper discs 6 mm diameter filter, tos e causar doenças ao consumidor agradável aos alimentos. Eles são
suitable for antibiogram, placed in (GAVA; SILVA; FRIAS, 2010). Com utilizados como ingredientes, de-
Petri dishes with appropriate culture o decorrer dos anos, tornou-se cres- sempenhando importante papel no
medium, previously seeded with the cente a adoção de políticas que visem processo de conservação devido a
following microorganisms: Bacillus à segurança dos produtos industriali- sua capacidade bactericida e bacte-
cereus, Bacillus subtilis, Salmonella zados. Embora a indústria faça uso riostática e, dessa forma, sendo ca-
Typhimurium, Salmonella Enteriti- de diferentes técnicas para garantir a paz de prevenir a deterioração e o de-
dis, Staphylococcus aureus and sub- qualidade e inocuidade dos produtos senvolvimento de micro-organismos
sequently incubated at 35° C/24-48 alimentares, as doenças transmitidas indesejáveis. Desde a antiguidade
hours. After this period, were consid- por alimentos (DTA) continuam sen- se conhecem as propriedades bioló-
ered significant antimicrobial action do um problema de saúde pública gicas dos óleos essenciais extraídos
those who presented halos equal to (JAY, 2005). de plantas aromáticas e medicinais
or greater than 10 mm. with regard Dentre as formas de controle da (MEAD et al., 1999).
to the microorganism b. cereus, was proliferação de micro-organismos Muitas plantas têm sido utiliza-
established the significant action of em alimentos podem-se citar o uso das devido às suas características
the black sesame extract combined de aditivos químicos e a utilização antimicrobianas, as quais devem-se
with fennel (halo of 10 mm). In B. de compostos naturais como conser- à presença de compostos sintetiza-
subtilis, the most significant results vantes, utilizando ou não a tecnolo- dos no metabolismo secundário da
were recorded for hibiscus extract gia de barreira. Entretanto, a suspeita planta. Esses compostos geralmen-
individually (halo of 17 mm) and sobre os possíveis efeitos maléficos te são identificados por conterem

123
PESQUISA
substâncias ativas (NASCIMEN- em um frasco Erlenmeyer contendo contendo Ágar Nutriente. As análises
TO et al., 2000). Foi evidenciada a 90mL de água destilada estéril sen- foram realizadas em duplicata. Na
produção pelas plantas de mais de do homogeneizado posteriormente e sequência, os discos de antibiogra-
100.000 produtos naturais com peso submetido a banho em água fervente ma saturados com a solução foram
molecular muito baixo, que são des- por 60 minutos. Em seguida a amos- colocados no centro de cada placa;
critos como metabólitos secundários, tra foi filtrada em recipientes de vidro sendo as mesmas incubadas a 35°C
que se diferenciam de metabólitos estéreis e a solução obtida resfriada à por 24 e 48 horas. Após este período
primários, pois não são essenciais à temperatura ambiente. Após, foram foi possível observar e medir o halo
vida dos vegetais (DOMINGO; LÓ- obtidos os extratos combinados numa de inibição. Halos iguais ou supe-
PEZ-BREA, 2003). proporção de 10mL de cada (HB+GP; riores a 10 mm foram considerados
Levando em consideração os des- HB+F; HB+FG; KM+GP; KM+F; significativos de atividade antimi-
critos acima, este trabalho teve como KM+FG; GP+F; GP+FG; F+FG). crobiana, conforme Hoffmann et al.
objetivo avaliar a possível ação anti- Discos de papel filtro de 6mm de (1999).
microbiana de especiarias sobre bac- diâmetro, próprios para antibiograma As cepas microbianas emprega-
térias. foram adicionados à solução, sendo a das no estudo são provenientes da
mesma mantida sob agitação por 30 coleção do Laboratório de Micro-
MATERIAL E MÉTODOS minutos. Foram empregados os mi- biologia de Alimentos do Departa-
cro-organismos, Bacillus cereus, Ba- mento de Engenharia e Tecnologia
Foram utilizados extratos aquosos cillus subtilis (ATCC 6633), Salmo- de Alimentos da Universidade Esta-
de cinco diferentes especiarias. No nella Typhimurium (ATCC 14028), dual Paulista “Júlio de Mesquita Fi-
Laboratório cada amostra recebeu Salmonella Enteritidis e Staphylococ- lho” (UNESP), de São José do Rio
uma identificação: hibiscus (HB), cus aureus (ATCC 22923), previa- Preto/SP. São bactérias oriundas da
kummel (Alcaravia[KM]), gergelim mente semeados em Caldo Nutriente American Type Culture Collection
preto (GP), funcho (F) e feno grego e incubados a 35°C por 24 horas. Es- (ATCC). As análises foram realiza-
(FG). A seguir, assepticamente 10g tes micro-organismos foram seme- das no laboratório multidisciplinar
de cada especiaria foram colocadas ados na superfície de placas de Petri do IMES Catanduva, Catanduva/SP.

Tabela 1 –Determinação da ação antibacteriana de extratos aquosos das ervas: hibiscus (HB), kummel (Alcaravia[KM]), gergelim preto (GP),
funcho (F) e feno grego (FG); e suas combinações, impregnados em discos de papel filtro de 6 mm de diâmetro; incubação a 35 °C / 24 e 48
horas; expressa como halo de inibição em mm.
B. cereus B. subtilis S. aureus S. Enteritidis S.Typhimurium
24horas 48horas 24horas 48horas 24horas 48horas 24horas 48horas 24horas 48horas
HB 9 9 17 17 0 0 18 18 14 14
KM 0 0 9 9 0 0 8 8 11 11
GP 8 8 0 0 6 6 0 0 9 9
F 6 6 0 0 0 0 0 0 11 11
FG 6 6 0 0 0 0 7 7 6 6
HB+KM 7 7 9 9 7 7 10 10 11 11
HB+GP 7 7 0 0 0 0 21 21 11 11
HB+F 0 0 7 7 11 11 11 11 9 9
HB+FG 0 0 0 0 0 0 14 14 12 12
KM+GP 0 0 0 0 6 5 6 6 6 6
KM+F 0 0 0 0 0 0 0 0 6 6
KM+FG 0 0 0 0 8 8 0 0 6 6
GP+F 10 10 7 7 0 0 9 9 0 0
GP+FG 0 0 10 10 13 13 10 10 0 0
F+FG 0 0 0 0 7 7 6 6 6 6

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO Mak et al. (2013), o hibiscus inibiu REFERÊNCIAS


o crescimento dos micro-organis-
Os resultados que demonstram a mos S. Typhimurium e Klebsiella AL-NABULSI, AA et al. Use of acetic
atividade antibacteriana dos extra- pneumoneae. Em trabalho desen- and citric acids to control Salmo-
tos aquosos individuais estão apre- volvido por Diao et al. (2014) foi nella  Typhimurium in tahini (sesa-
sentados na Tabela 1. constatado que o óleo essencial de me paste). Food Microbiology. v.42,
Com relação ao micro-organis- funcho tem ação sobre S. albus, S. p.102 – 108, 2014.
mo B. cereus, foi constatada a ação Typhimurium, S. dysenteriae e E.
AYESHA, M et al. A Study of Antimicrobial
significativa do extrato de gergelim coli.
Activity of Few Medicinally Important
preto combinado com funcho (halo A bactéria inibida significativa-
Herbal Single Drugs Extracted in
de 10mm). No que se refere a B. mente pelo maior número de extra-
Ethanol, Methanol and Aqueous Sol-
subtilis, os resultados mais signi- tos (6) foi S. Enteritidis, destacan-
vents. Farmacognosia Journal. v.2,
ficativos foram verificados para o do-se a ação do extrato combinado
ed.10, p.351 – 356, 2010.
extrato de hibiscus individualmen- de hibiscus e gergelim preto (halo
te (halo de 17 mm) e também para de 21 mm), do extrato de hibis- DAVIDSON, PM; PARISH, ME. Methods
a combinação entre gergelim preto cus individual (halo de 18mm) e for testingthe efficacy of food anti-
e feno grego (halo de 10mm). No do extrato combinado de hibiscus microbials. Food Technology. v.43, p.
estudo para a identificação da ati- e feno grego (halo de 14mm). Os 148 – 155, 1989.
vidade antifúngica realizado por estudos realizados com o emprego DIAO, WEN-RUI et al. Chemical com-
Omezzine et al. (2014), foram iden- de kummel, revelaram que existe position, antibacterial activity and
tificadas ações significativas sobre ação significativa sobre micro-or- mechanism of action of essential oil
os micro-organismos F. oxysporum ganismos patógenos e deterioran- from seeds of fennel (Foeniculum
f. sp. lycopersici e F. oxysporum tes (MALHOTRA, 2012). A ação vulgare Mill.) Food Control. v.35, n.1,
f. sp. radicis-lycopercisis, a partir antimicrobiana sobre S. Enteritidis p. 109 – 116, 2014.
do extrato de feno grego. Por este também foi verificada a partir do FAOZIYAT, A et al. Antimicrobial and to-
mesmo extrato foram identificadas emprego de outras substâncias, tais xic potential of aqueous extracts of
atividades antimicrobianas sobre E. como mirtilo (SHEN et al., 2014) Allinum Sativum, hibiscos sabdari-
coli, S. aureus, P. aeruginosa e B. e a lisozima do ovo de pato (NAK- ffa and Zingiber officinale in Wistar
subtilis (AYESHA et al., 2010). NUKOOL et al., 2009). rats. Journal of Taibah University for
Para a ação sobre S. aureus, Sinergismo é observado quando Science. v.8, p.315 – 322, 2014.
destacou-se a combinação entre o efeito das substâncias combina-
GAVA, AJ; SILVA, CAB; FRIAS, JR. Tec-
gergelim preto e feno grego (halo das é maior do que a soma dos efei-
nologia de Alimentos. Princípios e
de 13mm); hibiscus e funcho (halo tos individuais (DAVIDSON; PA-
aplicações. São Paulo: Nobel, 2010.
de 11mm). Em estudos realizados RISH, 1989), situação esta que foi
observada para a ação de GP+FG GUTIERREZ, J; BARRY-RYAN, C; BOU-
por Michelin et al. (2005), a mes-
sobre B. subtilis; HB+F e GP+FG RKE, P. Antimicrobial activity of plant
ma bactéria sofreu ação de absinto
sobre S. aureus; GP+FG sobre S. essential oils using food model me-
(A. absinthium), hortelãzinho (M.
Enteritidis. O antagonismo ocorre dia: efficacy, synergistic potential and
pulegium), planta (X. violaceum),
quando o efeito de uma ou ambas interactions with food componentes.
jamelão (S. cuminii) e romã (P.
substâncias é menor quando são Food Microbiology, v.26, n.2, p.142
granatum). Em estudos realizados
aplicadas juntas do que individu- – 150, 2009.
por Joe et al. (2012) e Al-Nabulsi et
al. (2014), foram constatados resul- almente (DAVIDSON; PARISH, HOFFMANN, FL et al. Determinação da
tados da ação do gergelim sobre os 1989), o que foi constatado para a atividade antimicrobiana "in vitro" de
micro-organismos S. tiphy, Listeria ação do extrato de hibiscus e suas quatro óleos essenciais de condimen-
monocytogenes, S. aureus, Asper- combinações. tos e especiarias. Bol Centro Pesqui-
gillus niger e Penicilium sp. sa Processamento Alimentos, Curiti-
S. Typhimurium foi inibida sig- CONCLUSÃO ba, v.17, n.1, p.11-20, 1999.
nificativamente pelo extrato de IVANOVIC, J et al. In vitro controlo f mul-
hibiscus individual (halo de 14 Nos testes realizados, destacou-se tiplication of some food-associated
mm), e pela combinação de hibis- a ação dos extratos de hibiscus indi- bactéria by thyme, Rosemary and
cus e feno grego (halo de 12 mm). vidualmente e combinado sobre S. sage isolates. Food Control, v.25,
Segundo pesquisas realizadas por Enteritidis e S. Typhimurium. p.110-116, 2012.

125
PESQUISA
JAY, JM. Microbiologia de Alimentos. MALHOTRA, SK. Handbook of Her- Issues in Food Science and Tech-
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BEBIDAS SAUDÁVEIS CRESCEM MAIS QUE OS REFRIGERANTES.

Em 2016, o volume global de vendas aumentou 3% em comparação com o ano


anterior. No Brasil, entretanto, o cenário foi um pouco diferente. Impactado pela
crise, o mercado brasileiro de bebidas não alcoólicas - o 6º maior do mundo em
volume de vendas - vem sofrendo uma retração desde o início da crise econômica
em 2014. De acordo com pesquisa da Euromonitor, os refrigerantes foram os
produtos mais afetados pela crise apresentando uma contração de crescimento de
-5,3%.
Na contramão, as bebidas saudáveis apresentaram um desempenho positi-
vo em 2016: as categorias dos sucos e água engarrafada apresentaram taxa de
crescimento de 2,51% e 5,1%, respectivamente. Com uma diversidade maior
de marcas na gôndola, o consumidor passou a ser menos fiel às marcas para
garantir o consumo das categorias dos seus produtos favoritos. “Essa mudan-
ça na ‘balança do poder’ desafia as marcas a constantemente provarem seu va-
lor”, finaliza Angélica, analista da Euromonitor. (Food Ingredients,fev/2017)

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA


DE CASTANHAS-DO-BRASIL.
Alexandre Lorini *
Universidade Federal de Pelotas, Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial, Pelotas – RS.
Carmen Wobeto
Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Ciências Naturais, Humanas e Sociais, Sinop - MT.
Claudineli Cássia Bueno da Rosa
Maristela Pereira
Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Ciências Agrárias, Sinop - MT.
Sílvia de Carvalho Campos Botelho
Embrapa Agrossilvipastoril, Pós-colheita e Industrialização, Sinop - MT.
* alexandrelorini@hotmail.com

RESUMO lipídeos (63,25g.100g-1), proteína processed by producers in Itaúba


bruta (15,44g.100g-1) e minerais to- (MT). 18 samples as obtained from
Devido a poucos relatos da qua- tais (2,69g.100g-1), porém elevados 3 different locations (6 samples per
lidade das castanhas-do-brasil níveis de umidade (5,55g.100g-1), local - 3 unpeeled and 3 peeled).
oriundas do estado de Mato Gros- que podem estar relacionados The microbiological (total coli-
so avaliaram-se as condições mi- com a alta contaminação fúngica forms, thermotolerant, Escherichia
crobiológicas e nutricionais de encontrada. O descascamento in- coli and yeast and mold) and nutri-
amêndoas coletadas e beneficiadas, fluenciou na qualidade nutricional tional (weight of 100 almonds, mois-
com e sem casca, por produtores do produto, pois foram observadas ture, lipids, crude protein and total
de Itaúba/MT. Foram adquiridas diferenças significativas nas casta- minerals) quality were investigated.
18 amostras em 3 locais distin- nhas com e sem casca para os teo- The levels of thermotolerant coli-
tos (6 amostras por local - 3 com res de lipídios, proteína bruta e cin- forms were below the limit recom-
casca e 3 descascadas). Foi inves- zas entre os locais de amostragem e mended by the Brazilian law, how-
tigada a qualidade microbiológica as formas de comercialização (teste ever, high levels of molds and yeasts
(coliformes totais, termotoleran- Tukey p≤0,05). were found. The most contaminated
tes, Escherichia coli e bolores e Palavras-chave: Beneficiamento. almonds were the ones without nut-
leveduras) e nutricional (peso de Bertholletia excelsa. Fungos. Valor shells (627.27CFU.g-1). Appreciable
100 amêndoas, umidade, lipídios, nutricional. lipid levels (63.25g.100g-1), crude
proteína bruta e minerais totais). protein (15.44g.100g-1) and totals
Os níveis de coliformes termotole- minerals (2.69g.100g-1) were ob-
rantes apresentaram-se abaixo do ABSTRACT served, though the levels of moisture
limite de tolerância preconizado were high (5.55g.100g-1), which can
pela legislação brasileira, contudo Due to few reports referring to be related to the high fungal contam-
foi encontrada alta contaminação the quality of Brazil-nuts from Mato ination found. The peeling influenced
por bolores e leveduras, sendo as Grosso-Brazil (MT), it was evalu- in the nutritional quality of the prod-
amêndoas sem cascas as mais con- ated the microbiological and nutri- uct, once significant differences in
taminadas (627,27UFC.g-1). Ob- tional conditions of almonds, with nuts with and without nutshells were
servaram-se teores apreciáveis de and without nutshell, collected and found for the content of lipids, crude

127
PESQUISA
protein and ash among the sampling baixa umidade também auxilia no plásticos hermeticamente estéreis
locations and ways of commercial- controle do desenvolvimento de para as análises microbiológicas,
ization (Tukey test p≤0,05). micro-organismos no produto, já enquanto que o restante das amên-
que a contaminação é a principal doas foi triturado em liquidificador
Keywords: Beneficiation.
barreira entre a coleta e a comer- doméstico, passadas em peneira
Bertholletia excelsa. Fungi.
cialização nos mercados internos e granulométrica de aço inoxidável
Nutritional value.
principalmente externos, que estão de 20 mesch e conservadas em pa-
cada vez mais exigentes quanto à cotes de polietileno de baixa den-
INTRODUÇÃO qualidade dos produtos adquiridos. sidade em geladeira (8 ± 2°C) até

S
Um dos maiores problemas relacio- todas as análises serem realizadas.
egundo dados do IBGE nados com a produção de castanha-
(2014), em 2012, foram -do-brasil é a contaminação elevada Análises microbiológicas
produzidos 1.595t de pro- por bactérias do grupo coliforme, Realizou-se a enumeração de co-
dutos alimentícios nas já que o produto mantém prolonga- liformes totais, coliformes termoto-
florestas de Mato Grosso, sendo que da exposição a fatores ambientais e lerantes e Escherichia coli por meio
1.538t eram de castanhas-do-brasil, a condições de manipulação inade- da técnica de tubos múltiplos, onde
mostrando a forte vocação para o ex- quada na maioria das vezes. Além a amostra, devidamente diluída em
trativismo não madeireiro da Ama- disso, a contaminação por fungos, água peptonada 0,1%, foi incuba-
zônia mato-grossense. principalmente os produtores de da a 37°C em Caldo Lauril Sulfato
O município de Itaúba, reconhe- aflatoxinas como os do gênero As- de Sódio (LST) e a 45°C em Caldo
cido como a capital mato-grossense pergillus, é outro grave problema Verde Brilhante (VB) (KORNA-
da castanha-do-brasil, apresenta deste setor produtivo (PAS, 2004). CKI e JOHNSON, 2001). A conta-
alta densidade demográfica dos Ressaltando-se que as informa- gem total de fungos filamentosos e
castanhais, 11,3 árvores.ha-1 em ções da qualidade do produto são leveduras em placas foi realizada
uma área amostral de 9ha (BOTIN úteis para um diagnóstico e ações pelo método de contagem padrão
et al., 2012), quando comparada posteriores de adequações no sis- em placas, por espalhamento em
com outras regiões do bioma Ama- tema de produção, este trabalho superfície inoculando-se 0,1mL das
zônico, como do Rio Trombetas avaliou a qualidade nutricional e diluições em ágar Dicloran Glice-
(PA) e na Resex Lago do Capanã microbiológica de amêndoas de rol 18 (DG-18), com subsequente
Grande (AM), que apresentam castanhas-do-brasil comercializa- incubação a 25°C por 5 dias (BEU-
densidade de 6,8 e 12,5 árvores.ha-1 das com e sem casca no município CHAT e COUSIN, 2001).
em áreas amostrais de 125 e 49ha, de Itaúba - MT.
respectivamente (SCOLES, 2010). Análises físico-químicas
Apesar da importância econômi- MATERIAL E MÉTODOS Os teores de umidade, lipídeos e
ca das castanhas para o estado de cinzas foram determinados a partir
Mato Grosso, há poucos dados na Foram adquiridas amêndoas des- de métodos gravimétricos, enquan-
literatura relativos à qualidade das cascadas e embaladas em pacotes to que a quantidade de proteína
amêndoas coletadas e processadas de polietileno de baixa densidade bruta foi determinada por meio do
na Amazônia mato-grossense. Os (500g por pacote) e castanhas com método de Kjeldahl (INSTITUTO
procedimentos de coleta na mata, cascas a granel, em três postos de ADOLFO LUTZ, 2008). O rendi-
os processos de secagem das cas- vendas (B1, B2 e B3) do muni- mento médio das sementes foi re-
tanhas, a embalagem e o período cípio de Itaúba/MT da safra de alizado pesando-se 100 amêndoas
de armazenamento são fatores que 2012/2013. As castanhas foram co- com e sem cascas.
influenciam no teor de umidade, o letadas da mata e processadas por
qual afeta a qualidade do produto produtores da região, que emprega- Análises estatísticas
decorrente dos processos metabó- ram secagem natural para a redu- Foi utilizado Delineamento In-
licos que continuam ativos após a ção da umidade do produto, além teiramente Casualizado (DIC) em
colheita, ocasionando perdas signi- de descascamento e envase manu- esquema fatorial 2x3, ou seja, duas
ficativas na qualidade nutricional ais, para as amêndoas descascadas. formas de processamento (com e
do produto (BRACKMANN et al., Os pacotes de 500 g coletados sem casca) e três postos de venda a
2002; ÁLVARES et al., 2012). foram abertos e uma parcela das varejo (B1, B2 e B3), em três repe-
Além disso, a manutenção da castanhas foi separada em sacos tições. Os testes estatísticos foram

128
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

realizados no software Sisvar, utili- sem casca apresentaram um maior de contaminação cruzada durante a
zando o teste de Tukey consideran- número de colônias, 627,27UFC.g-1 retirada das cascas, devido a mani-
do 5% de probabilidade para com- (Figura 1). pulações inadequadas.
paração de médias (FERREIRA, Apesar da legislação não estabe- Na pesquisa realizada por Fe-
2011). lecer um padrão para a contagem ris et al. (2010), onde analisaram
de fungos em castanhas-do-brasil, amostras de castanhas-do-brasil
RESULTADOS E DISCUSSÃO a presença destes micro-organis- com e sem cascas, dos estados do
mos demonstra a baixa qualidade Pará e Amazonas, 37,8% estavam
Os níveis de coliformes totais microbiológica do produto, que contaminadas por E. coli e 41,4%
e termotolerantes nas amêndoas pode ser decorrente de condições apresentaram coliformes termoto-
foram menores que 3NMP.g-1. A inadequadas de higiene no proces- lerantes, o que difere dos resulta-
RDC 12/2001 da ANVISA, que samento ou na coleta, onde os ou- dos encontrados neste trabalho. As
estabelece os parâmetros micro- riços são amontoados no chão por amêndoas também estavam conta-
biológicos para amêndoas inteiras um tempo relativamente longo, es- minadas por fungos, já que 37,8%
ou descascadas, preconiza a tole- tando assim, expostos à contamina- apresentaram contagem de levedu-
rância máxima de 1x103NMP.g-1 ção (PAS, 2004). ras e 63% das amostras apresenta-
para coliformes termotolerantes Martins et al. (2012) encontra- ram contagem de bolores.
(BRASIL, 2001). Desse modo, to- ram valores semelhantes para fun- Para garantir uma redução sig-
das as amostras avaliadas estavam gos, ao avaliarem a qualidade das nificativa dos riscos de contami-
de acordo com os padrões exigidos amêndoas de castanha-do-brasil nação por micro-organismos se faz
pela legislação, quanto à presença comercializadas e consumidas necessária a implantação das boas
de coliformes termotolerantes, para em Rio Branco/AC, sendo que as práticas durante todo o processo de
os três pontos de comercialização e contagens de bolores e leveduras manejo das castanhas desde o cam-
para as castanhas com casca e sem variaram de 9 a 3,0x103UFC.g-1. po, processamento, armazenagem e
casca. Segundo Feris et al. (2010), a cas- distribuição (PAS, 2004).
Quanto aos resultados obtidos da ca da castanha-do-brasil é uma Quanto à qualidade físico-quími-
contagem de bolores e leveduras barreira protetora para as amên- ca das amêndoas, na Tabela 1 estão
observou-se que houve diferenças doas em relação à contaminação descritos os teores de umidade, li-
significativas (p≤0,05) apenas entre por micro-organismos, porém há pídios, proteína bruta e cinzas das
os tipos de castanhas (com casca e o risco de penetração de micro- castanhas-do-brasil oriundas de
sem casca), sendo que as amostras -organismos através de fissuras e Itaúba/MT, comercializadas com e

Figura 1 – Média da contagem de fungos filamentos e leveduras (UFC.g-1) em castanha-do-brasil com casca e sem casca, coletadas de 3
postos de venda (B1, B2 e B3) em Itaúba/MT.

129
PESQUISA

Tabela 1 - Composição nutricional das amêndoas de castanhas-do-brasil comercializadas com e sem casca, coletadas em 3 postos de venda
a varejo (B1, B2 e B3) em Itaúba/MT.
Postos de coleta
Teores médios* de umidade em g.100g-1
Processamento B1 B2 B3
Com casca 6,46 aA** 5,83 aA 4,18 aA
Sem casca 6,08 aA 4,88 aA 5,88 bB
Teores médios de lipídios em g.100g-1
Com casca 61,02 aA 63,4 aB 65,26 bB
Sem casca 62,13 aA 65,58 bB 62,1 aA
Teores médios de proteína bruta em g.100g-1
Com casca 15,6 aA 15,87 bA 15,18 aA
Sem casca 17,18 bB 13,94 aA 14,88 aA
Teores médios de cinzas em g.100g-1
Com casca 3,37 bC 2,91 bB 2,40 aA
Sem casca 2,47 aAB 2,69 aB 2,35 aA

*Teores médios de três repetições.


**Para cada parâmetro avaliado, médias seguidas de mesma letra minúscula nas colunas e maiúsculas nas linhas, não diferem
entre si (teste Tukey p≤0,05).

sem casca, coletadas em três postos et al. (2010), amêndoas intactas do produto pois, dentre estes fun-
de venda a varejo (B1, B2 e B3). apresentaram teores de minerais, gos, os do gênero Aspergillus são
Observou-se que as amêndoas in- ácidos graxos e aminoácidos pre- produtores de aflatoxinas, que
vestigadas apresentaram teores de servados em relação às que foram apresentam reconhecida ação car-
lipídeos e proteínas semelhantes danificadas mecanicamente. Além cinogênica (FREITAS-SILVA e
a outros estudos, enquanto que os disso, as diferenças observadas VENANCIO 2011).
níveis de cinzas encontraram-se entre os postos de coleta ocorre- Segundo Brackmann et al.
mais baixos e os de umidade mais ram provavelmente em função da (2002), após a colheita a respira-
elevados, uma vez que são descri- não homogeneidade no processa- ção e outros processos metabólicos
tas na literatura faixas de variação mento, visto que o descascamento dos grãos e sementes continuam
de teores de umidade e cinzas, res- foi manual. ativos, ocasionando, na maioria
pectivamente, de 2,0 a 3,15g.100g-1 Os teores de umidade das amên- das vezes, perdas significativas
e de 3,13 a 3,84g.100g-1 (GON- doas (Tabela 1) apresentaram-se na qualidade, contudo estes pro-
ÇALVES et al., 2002; SOUZA e maiores que de outros estudos, cessos podem ser reduzidos e/ou
MENEZES, 2004; FERREIRA et onde as variações encontradas fo- retardados pela redução no teor de
al., 2006; ÁLVARES et al., 2012). ram de 2,0 a 3,15g.100g-1 (SOUZA umidade, por isso a secagem é um
O descascamento influenciou e MENEZES, 2004; FERREIRA et procedimento amplamente empre-
na qualidade nutricional do produ- al., 2006), possivelmente devido gado para prolongar a vida de pra-
to, pois se verificaram diferenças aos altos níveis de umidade rela- teleira destes produtos.
significativas nas castanhas com tiva do ar na estação das chuvas
e sem casca para os teores de li- (50 a 80%), que é o período do ano
pídios nos locais de coleta B2 de coleta do produto (ROSA et al. CONCLUSÃO
e B3, de proteína bruta no B1 e 2007). Portanto, constata-se que a
B2 e maiores teores de cinzas no secagem natural não foi realiza- As amêndoas apresentaram valor
produto com casca, exceto no B3 da de forma adequada e eficiente, nutricional apreciável, porém altos
(Tabela 1). Logo, constatou-se a comprometendo assim a qualidade índices de umidade, fator que afeta
necessidade de cuidados no des- do alimento, visto que favoreceu a a vida de prateleira e a segurança do
cascamento para reduzir a quebra multiplicação de fungos. Este fa- consumo do produto, já que em am-
das amêndoas pois, segundo Silva tor é relevante para a segurança bos os métodos de processamento,

130
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

com e sem casca, apresentaram alta Estruturapopulacional.pdf>. Acesso br/bda/extveg/default.asp?t=2&z=t


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ras, sendo as amêndoas comerciali- FERIS, JPR; JUNQUEIRA, VCA; YAMA- so em: 25 maio, 2014.
zadas sem casca mais afetada. Não NAKA, BT; TANIWAKI, MH. Avalia- KORNACKI, JL; JOHNSON, JL. Ente-
foi encontrada a presença de conta- ção microbiológica de castanha- robacteriaceae, coliforms, and Es-
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131
PESQUISA

QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE QUEIJOS


MINAS FRESCAL E RICOTA COMERCIALIZADOS NA
REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS-SP.
Elaine Pereira Garcia
Francesca Aparecida Ramos da Silva
Otávio Marques de Paiva Filho
Dennis Henrique Leandro Silva
Faculdade Metrocamp Grupo Devry Brasil, Campinas - SP.
Ana Valéria Ulhano Braga *
Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia de Alimentos, Departamento de Tecnologia de Alimentos,
Campinas - SP
Silvia Andreia Morelli
Instituto Tecnologia de Alimentos, Centro de Ciência e Qualidade de Alimentos, Laboratório de Microbiologia, Campinas-
SP.
Rosana Francisco Siqueira dos Santos
Faculdade Metrocamp Grupo Devry Brasil, Campinas - SP.
* anavaleriabraga@hotmail.com

RESUMO quantificação de coliformes a 35ºC 12/2001 por causa da alta contagem


e 45ºC, E. coli, aeróbios mesófilos de S. aureus e coliformes a 45ºC. O
Os queijos minas frescal e rico- totais, bolores e leveduras, estafilo- processo de ultrafiltração do queijo
ta são alimentos derivados do leite, cocos, Salmonella sp e Listeria mo- reduziu a contagem microbiológica
muito nutritivos e muito consumi- nocytogenes. As amostras apresen- para todas as amostras exceto uma,
dos pela população em geral. Por ser taram contagens de coliformes 35ºC mostrando que mesmo após o pro-
um veículo frequente de patógenos, (13 amostras – até >1,1x10³NMP/ cesso é preciso ter boas práticas para
a contaminação microbiológica dos mL), coliformes a 45ºC (5 amostras evitar a recontaminação. A alta con-
queijos gera um grande risco de sur- – até >1,1x10³NMP/mL), E. coli (12 tagem de micro-organismos indica
tos de doenças de origem alimentar amostras – até >1,1x10³ UFC/g), falhas na higiene durante as etapas de
aos consumidores. O objetivo do aeróbios mesófilos totais (13 amos- fabricação, manipulação e transpor-
trabalho foi verificar a qualidade mi- tras acima de 106 UFC/g), bolores e te do produto. Assim boas práticas
leveduras (7 amostras acima de 106 de fabricação devem ser aplicadas
crobiológica de queijos minas frescal
UFC/g) e Staphylococcus aureus (10 aos queijos minas frescal caseiros e
e ricota comercializados na região
industriais, para se adequar a legis-
metropolitana de Campinas/SP. Fo- amostras acima de 5x10² UFC/g).
lação e não oferecer riscos à saúde
ram analisadas 20 amostras (5 queijo Em nenhuma das amostras foi detec-
pública.
minas frescal caseiro, 5 queijo mi- tada Salmonella sp. e L. monocyto-
nas frescal industrializados, 5 queijo genes. 11 amostras estiveram em Palavras-chave: Produtos lácteos.
frescal ultrafiltrados e 5 ricotas) para desacordo com a legislação RDC nº Ultrafiltração. Higienização.

132
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

ABSTRACT INTRODUÇÃO alta umidade (>55%), que é o caso

O
do queijo minas frescal e da ricota,
Minas cheese and ricotta are de- leite e seus derivados, a legislação especifica os limites de
rived from milk, are very nutritious incluindo o queijo, são 5x10² UFC/g de coliformes a 45ºC,
and widely consumed by general pop- alimentos nutricional- 5x10² UFC/g de Staphylococcus coa-
ulation. By being a common vehicle of mente completos, sen- gulase positiva e ausência de Salmo-
pathogens, the microbiological con- do importantes fontes de proteínas, nella sp e L. monocytogenes em 25g
tamination of these cheeses creates aminoácidos essenciais, peptídeos do produto (BRASIL, 2001).
a great risk of food born disease to bioativos, ácidos graxos, vitaminas O objetivo deste trabalho foi veri-
consumers. The aim of this work was (principalmente A, B2, B6 e B12) e ficar a qualidade microbiológica de
to evaluate the microbiological qual- minerais (principalmente de cálcio) queijo minas frescal e ricotas comer-
ity of minas cheese and ricotta sold (WALTHER et al., 2008). Devido a cializadas na região metropolitana de
in metropolitan region of Campinas- essa alta quantidade de nutrientes e Campinas/SP.
SP markets. 20 samples were ana- à umidade, o queijo minas frescal e a
lyzed (5 non-labeled minas cheese, ricota são ambientes adequados para MATERIAL E MÉTODOS
5 labeled minas cheese, 5 ultrafil- o desenvolvimento de diferentes gru-
trated minas cheese and 5 ricotta) pos de micro-organismos. Além de Foram coletadas 20 amostras de
for quantification of 35ºC coliforms, deteriorar o alimento, esses micro- queijo, sendo 5 de queijo minas fres-
45ºC coliforms, E. coli, aerobic meso- -organismos podem ser patógenos cal não rotulado, 5 de queijo minas
philic total count, molds and yeasts, e transmitir doenças de origem ali- frescal rotulado, 5 de queijo minas
Staphylococcus aureus, Salmonella mentar aos consumidores (FEITOSA frescal ultrafiltrado e 5 ricotas. As
sp and Listeria monocytogenes. Sam- et al., 2003). amostras foram adquiridas no co-
ples showed counts of 35ºC coliform A presença e quantidade de micro- mercio da cidade de Campinas/SP
(13 samples– up to 1,1x10³ MPN/ -organismos no queijo estão relacio- em sua própria embalagem e levadas
mL), 45ºC coliforms (5 samples – nadas com a qualidade do leite usado em caixa isotérmica ao Laboratório
up to 1,1x10³ MPN/mL), E. coli (12 como matéria-prima, eficácia do tra- de Análises Clínicas do curso de
samples - up to 1,1x10³ CFU/g), to- tamento térmico, condições de higie- Ciências Biomédicas da Faculdade
tal aerobic mesophilic (13 samples ne durante produção, embalagem e Metrocamp para serem analisadas.
above 106 CFU/g), molds and yeasts temperatura de armazenamento (FA- As amostras foram maceradas e ho-
(7 samples above 106 CFU/g) and VARO et al., 2006). mogeneizadas antes da pesagem.
Staphylococcus aureus (10 samples Nos últimos anos, os micro-orga- De cada amostra foram pesadas
above 5x10² CFU/g). In none of the nismos patogênicos como Staphylo- três unidades de 25g em bolsa esté-
samples Salmonella sp. and L. mono- coccus aureus, coliformes totais e ril, sendo uma para análise de Salmo-
cytogenes were isolated. 11 samples termotolerantes, E. coli, Salmonella nella sp, uma para análise de Listeria
were in disagreement with Brazil- spp e Listeria monocytogenes têm monocytogenes e outra para as de-
ian law RDC nº12/2001 because of sido frequentemente encontrados em mais análises. Uma das amostras foi
the high count of S. aureus and 45ºC amostras de queijo, colocando em ris- diluída em 225 mL de solução 2% de
coliforms. The process of ultrafiltra- co a saúde da população (AMORIM citrato de sódio (diluição 10-1) e fo-
tion greatly reduced microbial count, et al., 2014; APOLINÁRIO; SAN- ram feitas diluições seriadas até 10-4.
but one sample was contaminated, TOS; LAVORATO, 2014; CHESCA A partir desse material, foram feitas
showing that even after the process is et al., 2015; ECKERT; WEBBER, as seguintes análises:
necessary to have good practices to 2016; MELO et al., 2013; PEREIRA
avoid recontamination. The high mi-
et al., 2016; SOUSA et al., 2014; TO- Determinação de Coliformes
croorganism count indicates failures
ZZO; GUIMARÃES; CAMARGO, a 35 e 45ºC e E. coli: foi utilizada
in hygiene during the manufacturing
2015). metodologia dos tubos múltiplos,
steps, handling and transportation
Para garantir a segurança dos con- conhecida como Número Mais Pro-
of the product. Good manufacturing
sumidores, a legislação vigente no vável (NMP). Foi inoculado 1 mL
practices should be applied to cheese
Brasil, RDC nº12 de 2001, da Agên- em triplicada das diluições 10-1 a 10-3
to suit the legislation and do not offer
cia Nacional de Vigilância Sanitária, em tubos de Lauril Sulfato Triptose
risks to public health.
determina limites para a contagem (LST) dupla concentração que foram
Keywords: Dairy. Ultrafiltration. de micro-organismos em diferentes incubados a 35ºC/24-48h. A confir-
Hygiene. alimentos. Para os queijos de muito mação para coliformes a 35ºC foi

133
PESQUISA
feita utilizando o caldo Verde Bri- Determinação de aeróbios mesó- Determinação de Salmonella
lhante Bile 2% (VB) e para colifor- filos totais: a partir das diluições se- sp: 25g de cada amostra foram pré-
mes a 45ºC o caldo Escherichia coli riadas, 1mL foi inoculado em placas -enriquecidas em 225mL de Água
(EC). Os tubos positivos no EC fo- de Petri estéreis, onde foi adicionado Tamponada Peptonada (BPW), in-
ram estriados em Ágar Eosina Azul o Ágar Padrão para Contagem (PCA) cubadas a 35ºC/18±2h. 1mL foi
de Metileno (EMB) para confirma- e foi feita a incubação 35ºC/48h. Foi transferido para caldo Tetrationato
ção de E. coli utilizando posterior- realizada a contagem e os resultados suplementando com 0,2mL de so-
mente o teste de INVIC (Indol, Ver- foram expressos em Unidades For- lução de iodo e 0,1mL de solução
melho de fenol, Vogues Proskauer e madoras de Colônias (UFC/g) (me- de verde brilhante, e foi incubado
Citrato) (metodologia APHA descri- todologia APHA descrita em SILVA a 35ºC/24h. Também foi inoculado
ta em SILVA et al., 2010). et al., 2010). 0,1mL em caldo Rappaport vassili-
dis e incubado a 41ºC/24h. Foram
Determinação de Estafilococos Determinação de Bolores e Le- feitas estrias em placas de ágar Xi-
coagulase positiva: foi utilizada a veduras: foi utilizado o meio de lose Lisina Desoxicolado (XLD) e
técnica de superfície, onde 0,1mL das cultura Ágar Bengala Cloranfenicol ágar Hektoen Enteric (HE). As co-
diluições 10-1 a 10-3 foi inoculado na Base (DRBC), onde foram inocula- lônias típicas foram submetidas aos
superfície do meio Baird Parker (BP) e dos 0,1mL das diluições seriadas e em testes bioquímicos: TSI, LIA, citra-
incubado a 37ºC/48h. As colônias típi- seguida incubadas a 25ºC/5 dias. Foi to, indol, VMVP, ONPG e teste em
cas foram então submetidas ao teste de feita a contagem e os resultados foram ágar Rugai para identificação final
coagulase (metodologia APHA descri- expressos em UFC/g (metodologia (método ISO 6579 descrito em SIL-
ta em SILVA et al., 2010). APHA descrita em SILVA et al., 2010). VA et al. (2010) modificado).

Tabela 1 - Resultado das análises microbiológica das amostras de queijo minas frescal e ricota.
Bolores e Estafilococos
Coliformes a Coliformes a E. coli Contagem Listeria
Leveduras coagulase neg. Samonella spp
35ºC NMP/g 45º C NMP/g NMP/g Total UFC/g monocytogenes
UFC/g UFC/g
K. pneumoniae
1 >1,1x103 2,4x102 2,4x102 2,9x103 >3,0x106 >3,0x106 Ausente
P. mirabilis
2 >1,1x103 93 93 1,4x106 (est) 2,0x106 >3,0x106 Ausente Ausente
A
3 >1,1x103 1,6x102 1,6x102 1,7x106 (est) 1,4x106 2,5x106 Ausente Ausente
4 >1,1x103 >1,1x103 >1,1x103 3,6x106 >3,0x106 4,5x106 E. coli Ausente
5 >1,1x103 >1,1x103 >1,1x103 2,2x106
>3,0x10 6
2,9x10 6
Ausente Ausente
1 >1,1x103 >1,1x103 >1,1x103 7,3x106 (est) >3,0x106 5,5x105 Ausente Ausente
2 3,6 3,6 3,6 1,0x104 4,5x105 3,4x103 P. mirabilis Ausente
B 3 4,6x102 2,4x102 2,4x102 3,3x106 8,0x102 1,0x102 Ausente Ausente
4 >1,1x103 >1,1x103 >1,1x103 2,8x106
3,6x10 5
<102 K. pneumoniae Ausente
5 >1,1x103 >1,1x103 >1,1x103 >3,0x106 >3,0x106 1,4x106 Ausente Ausente
1 <3,0 <3,0 <3,0 <10 <102 9,0x102 Ausente Ausente
2 <3,0 <3,0 <3,0 <10 <10 2
<10 2
K. pneumoniae Ausente
C 3 <3,0 <3,0 <3,0 <10 <102 <102 Ausente Ausente
4 <3,0 <3,0 <3,0 <10 <102 <102 Ausente Ausente
5 <3,0 <3,0 <3,0 <10 <10 2
<10 2
Ausente Ausente
1 2,4x102 <3,0 <3,0 >3,0x106 4,7x103 2,1x103 Ausente Ausente
2 <3,0 <3,0 <3,0 3,5x106 9,0x102 4,0x102 Ausente Ausente
D 3 <3,0 <3,0 <3,0 5,5x10 (est) 1,0x10
7 5
10 K. pneumoniae Ausente
4 93 3,6 3,6 6,4x106 5,5x104 70 K. pneumoniae Ausente
5 >1,1x103 2,1x102 28 7,4x106 6,3x104 <102 K. pneumoniae Ausente

NMP: Número Mais Provável ; UFC: Unidade Formadora de Colônia ; est: estimada
A – Queijo Minas Frescal não rotulado; B – Queijo Minas Frescal rotulado; C – Queijo Minas Frescal ultrafiltrado; D – Ricota.

134
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Determinação de Listeria mo- (35%) apresentaram contagem de pneumoniae, P. mirabilis e E. coli são
nocytogenes: 25g das amostras fo- bolores e leveduras acima de 104 micro-organismos oportunistas e, em
ram diluídos em 225mL de Caldo UFC/g. Outros autores também en- pessoas com sistema imune fragili-
BLEB e foram incubadas a 30ºC/4h. contraram alta contagem desses zado, podem levar a gastroenterites
Foi então adicionados os antibióti- micro-organismos em amostras de (BROOKS et al., 2014; WANG et al.,
cos: acriflavina (0,5%), ácido nali- queijos de alta umidade (BAIRROS 2010). Vários autores relataram ter
dixico (0,5%) e cicloexemida (1%) et al., 2016; DUCTRA et al., 2014; encontrado esses micro-organismos
e reincubadas a 30ºC/44h. As estrias GARCIA et al., 2016). Essa alta con- no leite e em queijos (GRECELLÉ et
foram feitas em ágar Palcam, que foi tagem é relacionada a más condições al., 2015; KARACH et al., 2011; PO-
incubado a 35ºC/24-48h. Colônias tí- de higiene durante o processamento, ZZA et al., 2015; SOUSA JÚNIOR
picas foram submetidas aos testes de armazenamento e/ou exposição do et al., 2015).
coloração de Gram, catalase e bio- produto à venda e possível presença As amostras de queijo minas fres-
químicos (método APHA, descrito de patógenos, além de ser a principal cal que passaram por processo de
em SILVA et al. (2010) modificado). causa de deterioração de queijos re- ultrafiltrarão apresentaram melhores
duzindo sua vida de prateleira (FEI- condições microbiológicas do que
RESULTADOS E DISCUSSÃO TOSA et al., 2003). as demais amostras (Tabela 1). Esse
Um total de 50% das amostras resultado mostra que o processo de
Do total de amostras analisadas, apresentou contagem de Estafilo- ultrafiltração é eficiente para a remo-
13 (65%) apresentam contagem de cocos coagulase negativa acima de ção de micro-organismos e contribui
coliformes a 35ºC, variando entre 5x10² UFC/g. A contaminação de para a segurança do consumidor.
3,6NMP/g e >1,1x10³NMP/g, sendo alimentos por Estafilococos coagula- Mesmo com esse processamento, en-
5 (25%) com contagem de colifor- se negativa também representa risco tretanto, uma das amostras apresen-
mes a 45ºC acima do permitido pela de causar intoxicações alimentares, tou contagem de Estafilococos coa-
legislação vigente (RDC nº12), que já que algumas espécies podem pro- gulase negativa (9x10²UFC/g) e em
é 5x10² NMP/g, consideradas im- duzir enterotoxinas estafilocócicas outra foi isolado o micro-organismo
próprias para o consumo. E. coli foi (produzidas em populações eleva- K. pneumoniae. Esses resultados
caracterizada em 12 amostras (60%) das de micro-organismos sob certas mostram que, mesmo após o proces-
com contagem que variaram entre condições) (BORGES et al., 2008). so de ultrafiltração, é necessário se-
3,6NMP/g a >1,1x10³NMP/g (Tabe- Outros trabalhos (OLIVEIRA et al., guir as boas práticas de fabricação e
la 1). 2015; ROSA et al., 2015; SOUZA et higienização na indústria para evitar
A presença de coliformes a 45ºC al., 2014; YAMANAKA et al., 2014) a recontaminação do leite por mani-
nas amostras é indicativa de conta- relataram nos últimos anos a alta in- puladores ou por biofilmes em equi-
minação fecal e indica a possibili- cidência de contaminação de queijos pamentos, por exemplo, que podem
dade da presença de micro-organis- tipo minas frescal por esse micro- levar à alta contagem de micro-orga-
mos patogênicos, como Salmonella, -organismo em diferentes regiões do nismos no produto final e à transmis-
Shigella, E. coli e Yersinia (GAVA; Brasil, indicando a má qualidade da são de doenças aos consumidores.
SILVA; FRIAS, 2008). Alguns so- matéria-prima produzida e falha no Sangaletti et al. (2009) analisaram
rotipos de E. coli são patogênicos processo de produção. a quantidade de micro-organismos
pois causam infecção intestinal com Salmonella sp e L. monocytogenes de um lote de queijo minas durante
produção de toxinas muito fortes que estiveram ausentes em todas amos- os 30 dias de sua vida útil e con-
acometem até mesmo indivíduos tras, estando os produtos em acordo cluíram que é importante que sejam
saudáveis causando diarreias muito com a legislação para esses micro- produzidos com ótima condição hi-
intensas (DONNENBERG, 2002). -organismos. No entanto, outras bac- gienicossanitária pois, mesmo sob
Cepas de E. coli produtoras dessas térias como Klebsiella pneumoniae, refrigeração (4ºC), a quantidade de
toxinas foram identificadas nos equi- Proteus mirabilis e E. coli foram iso- micro-organismos mesófilos, psi-
pamentos de produção e em amostras ladas durante as análises (Tabela 1). crófilos e bactérias láticas aumenta-
de queijo minas frescal por Fonseca Esses micro-organismos são comuns ram constantemente com o passar do
et al. (2014). da microbiota de diferentes animais e tempo.
A contagem de micro-organismos chegam ao alimento através de falhas No Brasil, a produção do quei-
aeróbios totais foram observadas em na higiene durante o processamento e jo minas frescal e da ricota ainda é
13 amostras (65%) com contagem manipulação do alimento (BROOKS muito artesanal, tanto na produção
acima de 106 UFC/g e sete amostras et al., 2012; FORSYTHE, 2013). K. caseira (queijo não rotulado) quanto

135
PESQUISA
na produção em pequenas empre- padrão de produção industrial, ar- Pathotypes and Principles of Pa-
sas (queijo minas frescal rotulado e tesanal e informal. Rev Inst Adolfo thogenesis. 2. ed. London: Elsevier,
ricota – exceto os ultrafiltrados). É Lutz, v.73, n.4, p.364–367, 2014. 2002.
importante, portanto, que os órgãos APOLINÁRIO, TCC; SANTOS, GS; LA- DUCTRA, MCP; CARELI, ACO; GONÇAL-
fiscalizadores, além de fiscalizar as VORATO, JAA. Avaliação da qualida- VES, LC; PINTO, TS; MEDEIROS,
instalações e matérias-primas, atuem de microbiológica do queijo minas NMN; MARIOTINI, BCAP; OLIVEIRA,
orientando os produtores de queijos GFM. Qualidade higiênico-Sanitária
frescal produzido por laticínios do
de alta umidade quanto aos métodos
Estado de Minas Gerais. Rev Inst de queijo minas frescal artesanal e
higienicossanitários que reduzam
Laticínios Cândido Tostes, v.69, fiscalizado comercializado no Médio
a contaminação do produto final e
n.6, p.433–442, 2014. Paraíba/RJ. Proceedings of the XII
assim evite a transmissão de doen-
BAIRROS, JV; VARGAS, BL; DESTRI, K; Latin American Congress on Food
ças aos consumidores (DIAS et al.,
NASCENTE, PS. Análise de bolores Microbiology and Hygiene, v.1, n.1,
2016).
e leveduras em queijos tipo minas p.331–332, 2014.
CONCLUSÃO comercializados em feira livre. Rev ECKERT, RG; WEBBER, M. Controle de
Hig Alimentar, v.30, n.254/255, p. qualidade microbiológico de queijos
Das amostras analisadas 11 apre- 85–87, 2016. maturados comercializado na feira
sentaram contaminação microbio- BORGES, MF; NASSU, RT; PEREIRA, do pequeno produtor na cidade de
lógica por coliformes a 45ºC acima JL; ANDRADE, APC; KUAYE, AY. Cascavel-PR. Rev Hig Alimentar,
do limite permitido pela legislação Perfil de contaminação por Sta- v.30, n.252/253, p.80–85, 2016.
brasileira, estando impróprias para o phylococcus e suas enterotoxinas e FAVARO, CF; AMAKU, M; BALIAN, SC;
consumo. Isso indica que as condi- monitorização das condições de hi- TELES, EO. Determination of water
ções de higiene durante a fabricação, giene em uma linha de produção de ativity, pH, coagulase positive Sta-
manipulação, transporte ou armaze- queijo de coalho. Ciênc Rural, v.38, phylococcus counts, total and fe-
namento foram deficientes. Todas es- n.5, p.1431–1438, 2008. cal coliform counts in minas meia
sas etapas devem ser monitoradas em cura cheese sold in street markets
BRASIL. Resolução RDC no12, de 02 de
relação à higiene e temperatura para in the southern region of the city of
reduzir a contaminação microbiana. janeiro de 2001.Agência Nacional
São Paulo. Vet e Zootec, v.13, n.2,
Os produtores de queijo minas de Vigilância Sanitária (ANVISA),
p.201–207, 2006.
frescal e de ricota necessitam de DOU, 2001.
FEITOSA, T; BORGES, MF; NASSU, RT;
uma fiscalização dos órgãos gover- BROOKS, GF; MORSE, SA; BUTEL, JS.
AZEVEDO, ÉHF; MUNIZ, CR. Pesqui-
namentais mais eficiente, além de Microbiologia médica de Jawetz,
sa de Salmonella sp., Listeria sp. e
treinamento sobre boas práticas de Melnick e Adelberg. 25. ed. Rio de
microrganismos indicadores higiêni-
fabricação, escolha de matéria-prima Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
co-sanitários em queijos produzidos
e condições de armazenamento ade- BROOKS, GF; MORSE, SA; BUTEL, JS. no estado do Rio Grande do Norte.
quadas para produzir um produto se- Microbiologia Médica de Jawetz,
guro para o consumo. Ciênc Tecnol Aliment, v.23, p.162–
Melnick & Adelberg. 26. ed. Porto 165, 2003.
O processo de ultrafiltração do
Alegre: Artmed Editora, 2014.
queijo minas é muito eficiente para a FONSECA, CR; PORTES, RG; FREGONE-
redução da carga microbiana, mas é CHESCA, AC; GONÇALVES, YC; SAN- SI, RP; QUEIROZ, SRA; GODOY, SHS;
importante garantir a higiene duran- TOS, ALS; D'ANGELIS, CEM. Pa- MUNIN, FS; SOUSA, RLM; FERNAN-
te a manipulação pós processamento tógenos em queijo minas frescal e DES, AM. Ocorrência de escheri-
para evitar a recontaminação do pro- curado. Rev Hig Alimentar, v.29, chia coli potencialmente causado-
duto. n.212/213, p.90–93, 2015. ras de toxi-infecções alimentares
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136
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

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137
PESQUISA

DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE
LEITE ACIDÓFILO SABOR MANGA.
Renata Amaral Ferreira
Marcela Amaral Ferreira
Aurélia Dornelas de Oliveira Martins
Érika Gomes Sarmento
Wellingta Cristina Almeida do Nascimento Benevenuto *
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais - Departamento de Ciência e Tecnologia
de Alimentos, Campus Rio Pomba – MG.
* wellingta.benevenuto@ifsudestemg.edu.br

RESUMO acidophilic milk L. acidophilus and saúde, reduzir o risco de doenças e


mango pulp were added. The prod- apresentar efeito terapêutico frente
Este estudo teve como objetivo uct was stored at 6° C for evaluation determinados processos. Os alimen-
desenvolver e caracterizar leite aci- of the microbiological and physico- tos com tais características são de-
dófilo fermentado e não fermentado chemical characteristics at 0, 15 and nominados funcionais e dentre eles
sabor manga. No preparo do leite 30 days of production. Analyzes were podem-se destacar os probióticos
acidófilo foi adicionado L. acidophi- performed coliform at 30°C and (KUNIGK, 2009).
lus e polpa de manga. O produto foi 45°C, filamentous fungi and yeasts Alimentos probióticos possuem
armazenado a 6°C, para avaliação and lactic acid bacteria counts. The micro-organismos que desempe-
das características microbiológicas acidophilus mango flavor milk ob- nham efeitos benéficos no organismo
e físico-químicas nos tempos 0, 15 tained a short shelf life. However, the quando administrados em quantida-
e 30 dias de produção. Foram feitas lactic acid bacteria count was higher des adequadas. O mercado global de
análises de coliformes a 30°C e 45°C, than 108 CFU/g during storage pe- alimentos probióticos vem crescendo
contagem de fungos filamentosos e riod of 30 days at 4°C. nos últimos anos impulsionado pela
leveduras, e contagem de bactérias preocupação dos consumidores por
Keywords: Fermentation. Lactic
láticas. Os leites acidófilos sabor alimentos saudáveis promotores de
acid bacteria. L. acidophilus.
manga obtiveram uma curta vida de bem-estar (ESPITIA et al., 2016).
Innovation.
prateleira, entretanto, a contagem de O leite acidófilo ou acidofilado é
bactérias láticas foi superior a 108 um leite fermentado produzido me-
UFC/g durante todo o período de ar- INTRODUÇÃO
diante a inoculação, exclusivamente,
mazenamento de 30 dias a 4°C.
Com o aumento da expectati- de cultivos de Lactobacillus acido-
Palavras-chave: Fermentação. va de vida da população, aliado ao philus em leite, sendo sua principal
Bactérias láticas. L. acidophilus. crescimento exponencial dos custos função a produção de ácido lático
Inovação. médico-hospitalares, a sociedade ne- (BRASIL, 2007). O processo de
cessita vencer desafios com o desen- fabricação do leite acidófilo é se-
ABSTRACT volvimento de novos conhecimentos melhante ao do iogurte, sendo que
científicos e de novas tecnologias o leite pasteurizado é inoculado de
This study aimed to develop and que resultem em modificações im- uma cultura starter (no caso só com
characterize fermented acidophi- portantes no estilo de vida das pes- cultivos de L. acidophilus) até atin-
lus milk and unfermented with soas, como a inclusão nas dietas, de gir acidez máxima de 2%, seguido
mango flavor. In the preparation of nutrientes capazes de assegurar a de resfriamento, quebra do coágulo e

138
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

envase. Sua forma de conservação é lático foi acrescido de 4% de saca- RESULTADOS E DISCUSSÃO
a 4ºC (REIS, 2013). rose e tratado termicamente a 121°C
A polpa de manga tem grande im- por 15 minutos. Posteriormente, o Determinação das característi-
portância como matéria-prima em in- leite foi resfriado a 38°C e dividido cas microbiológicas dos leites aci-
dústrias de conservas de frutas, que igualmente em dois recipientes. dófilos
podem produzi-las durante as épocas Para o leite acidófilo fermentado, Os resultados das análises micro-
de safra, armazená-las e reprocessá- cerca de 1% de L. acidophilus pre- biológicas de coliformes totais, ter-
-las em períodos mais propícios. Ao viamente preparado foi adicionado motolerantes e fungos filamentosos
mesmo tempo também são comer- em 2 litros de leite. Após a adição e leveduras das amostras de leite
cializadas para outras indústrias que da cultura a mistura foi incubada a acidófilo fermentado e não fermenta-
utilizam a polpa de fruta como parte 38°C por 18 a 24 horas, de forma a do encontram-se na Tabelas 1, onde
da formulação de iogurtes, doces, obter acidez de 0,65% de ácido láti- observa-se que os leites acidófilos,
biscoitos, bolos, sorvetes, refrescos e co. Logo após o produto foi resfriado tanto fermentado quanto não fermen-
alimentos infantis (BENEVIDES et a temperatura ambiente, a massa foi tado, apresentaram bons resultados
al., 2008). quebrada manualmente por aproxi- em relação às análises microbiológi-
A combinação de manga com lei- madamente 3 minutos, sendo adicio- cas, indicando que foram produzidos
te não traz malefícios. Confere altas nada de 3% de polpa de manga. O seguindo-se as boas práticas de fabri-
doses de vitaminas, além de muitos produto foi armazenado em recipien- cação.
sais minerais que fazem bem ao or- tes de polipropileno e mantido a 6°C Antunes et al. (2007) elaboraram
ganismo, como fósforo, ferro, cálcio, para avaliação das características mi- leite fermentado probiótico e consta-
lipídios e proteína. crobiológicas e físico-químicas nos taram que todas as amostras apresen-
Este estudo teve como objetivo tempos 0, 15 e 30 dias de produção. taram valores de coliformes totais e
desenvolver e caracterizar leite aci- Para o leite acidófilo não fermen- termotolerantes inferiores a 3 NMP/
dófilo fermentado e não fermentado tado, cerca de 2% de L. acidophilus mL e a contagem de fungos filamen-
sabor manga, avaliando suas carac- previamente preparado foi adiciona- tosos e leveduras foi inferior a 10
terísticas microbiológicas quanto à do em 2 litros de leite. Após a adição UFC/mL, valores estes próximos aos
contagem de fungos filamentosos e da cultura a mistura foi acrescida de encontrados neste estudo.
leveduras, coliformes totais e termo- 3% de polpa de manga. O produto foi Em estudo realizado por Chaves
tolerantes e bactérias láticas além de armazenado em recipientes de poli- et al. (2014), em leite fermentado
suas características físico-químicas. propileno e mantido a 6°C, para ava- probiótico concentrado sabor maçã,
liação das características microbioló- foi observado aumento da contagem
MATERIAL E MÉTODOS gicas e físico-químicas nos tempos 0, de fungos filamentosos e leveduras
15 e 30 dias de produção. no produto, sendo o que determinou
O presente estudo foi realizado no Para verificar se os produtos aten- a sua vida de prateleira. O produto
Departamento de Ciência e Tecnolo- dem ao estabelecido na Instrução atingiu a contagem de 2×102 UFC/g,
gia de Alimentos do Instituto Federal Normativa n°46 (BRASIL, 2007) que é o máximo permitido pela legis-
de Educação, Ciência e Tecnologia foi determinado o número mais pro- lação vigente e acima deste valor en-
do Sudeste de Minas Gerais, Campus vável (NMP/g) de coliformes a 30°C contra-se impróprio para o consumo.
Rio Pomba. e termotolerantes e a contagem de Esta contaminação por fungos fila-
A elaboração dos produtos foi re- fungos filamentosos e leveduras por mentosos e leveduras provavelmente
alizada em três repetições e as aná- grama do produto (BRASIL, 2003). é devido à adição do preparado de
lises microbiológicas e físico-quimi- A viabilidade da cultura láctica foi maçã sem conservantes químicos
cas em duplicata. determinada utilizando-se meio de ou à etapa de concentração do leite
A cultura probiótica de L. acido- cultura Man Rogosa Sharpe (MRS), fermentado com auxílio de um des-
philus foi ativada por três vezes e sendo as placas incubadas a 38°C sorador.
repicada utilizando-se leite em pó por 48 a 72 horas. Em relação à determinação de
desnatado reconstituído a 12% pre- Para caracterização físico-quími- bactérias láticas, Tabela 2, observa-
viamente esterilizado. ca das amostras, foram realizadas -se que os leites acidófilos apresenta-
Para o preparo do leite acidófilo análises de pH, acidez, gordura e ram contagem superior a 108UFC/g,
fermentado e não fermentado, 4 li- proteína de acordo com o estabele- podendo ser considerados probió-
tros de leite fresco desnatado com cido na Instrução Normativa n°68 ticos, de acordo com o preconizado
acidez inferior a 0,18% de ácido (BRASIL, 2006). pela Agência Nacional de Vigilância

139
PESQUISA

Tabela 1 - Avaliação de coliformes totais, termotolerantes e fungos filamentosos e leveduras das amostras de leite acidófilo fermentado e não
fermentado sabor manga nos diferentes tempos de armazenamento a 6°C. Resultados médios de três repetições.
Tempo (dias)
0 15 30
Micro-organismos Não Não Não
Fermentado Fermentado Fermentado
fermentado fermentado fermentado
Coliformes totais (NMP/mL) < 3,0 < 3,0 < 3,0 < 3,0 < 3,0 < 3,0
Coliformes termotolerantes
< 3,0 < 3,0 < 3,0 < 3,0 < 3,0 < 3,0
(NMP/mL)
Fungos filamentosos e
2,9 x 100 3,7 x 100 3,9 x 100 4,9 x 100 8,0 x 100 7,8 x 100
leveduras (UFC/mL)

Tabela 2 - Viabilidade de L. acidophillus no leite acidófilo fermentado e não fermentado (UFC/mL). Resultados médios de três repetições.
Tempo (dias)
Produto 0 15 30
Leite acidófilo fermentado 8,95 x 108 7,99 x 108 5,50 x 108
Leite acidófilo não fermentado 2,67 x 108 2,49 x 108 2,33 x 108

Sanitária (ANVISA, 2002). acidófilo fermentado e não fermenta- consideráveis, 4,93 a 4,32 no 19º dia
Santos (2012), estudando leite fer- do encontram-se na Tabela 3. de armazenamento. A elevada acidez e
mentado probiótico desnatado adi- As amostras nos tempos 0 e 15 o baixo pH, possivelmente estão rela-
cionado de jenipapo, adicionado de dias de fabricação apresentaram aci- cionados à ação do L. acidophilus, mi-
cultura mista de Streptococcus ther- dez titulável abaixo do estabelecido cro-organismo conhecido pela grande
mophilus, Lactobacillus delbrueckii pelo Padrão de Identidade e Quali- capacidade de produção de ácido por
subsp. bulgaricus, L. acidophilus e dade de Leites Fermentados que es- fermentação. Devido à sua caracterís-
Bifidobacterium, encontrou valores tabelece valores entre 0,6 a 2,0g de tica de alta acidez, os produtos acidófi-
de 3,2x108 UFC/mL de bactéria lá- ácido lático/100g. Somente após 30 los são apreciados por um grupo restri-
tica no período de 21 dias de arma- de fabricação que foi atendido esse to de consumidores.
zenamento e próximo aos 30 dias padrão. Nos diferentes tempos foi Em estudo realizado por Santos
esse valor caiu para 107 UFC/mL. Já observado diferença (p<0,05) entre (2012) em leite fermentado probióti-
Cunha (2008) avaliou leite fermenta- as amostras. co desnatado adicionado de jenipapo,
do contendo L. acidophillus e encon- Em um estudo realizado por Cha- foram encontrados valores de pH de
trou valores maiores que 106 UFC/ ves et al. (2014), com leite fermen- 4,41, adequados para este tipo de de-
mL de bactéria lática. tado concentrado probiótico sabor rivado lácteo. Valores baixos de pH e
Segundo um estudo realizado por maçã, foi verificado que a acidez alta acidez promove sinerese no produ-
Brandão (2011) em bebida fermenta- das formulações variaram de 1,3% to e rejeição dos consumidores devido
da saborizada com polpa e salada de a 1,5%, atendendo ao estabelecido ao forte sabor ácido, além de prejudi-
fruta, a partir de soro lácteo e inulina pela legislação, que prevê que a aci- car a manutenção da microbiota natu-
utilizando L. acidophillus foi encon- dez fique na faixa de 0,6% a 2,0%. ral do produto.
trado contagens maiores que 7 log A partir dos resultados encon- Em relação ao teor de gordura, de
UFC/mL em todos os tratamentos, trados na Tabela 3, verifica-se uma acordo com o Regulamento Técnico
valor este mantido até o final de 28 redução do pH ao longo dos dias de de Identidade e Qualidade de Leites
dias de estocagem a 6°C, atendendo armazenamento dos leites acidófilos, Fermentados, os leites fermentados
assim a legislação vigente para bebi- provavelmente devido à ação do mi- são classificados em: com creme, inte-
das lácticas. cro-organismo no leite. gral, semidesnatado e desnatado, onde
Análises físico-químicas das dife- De acordo com o estudo realiza- os teores de gordura deverão ser de no
rentes amostras de leite acidófilo do por Kempka et al. (2008), durante mínimo 6%, entre 5,9 e 3,0%, entre 2,9
Os resultados das análises físico- o período de estocagem da bebida e 0,6% e no máximo 0,5%, respectiva-
-químicas de acidez, pH, gordu- láctea fermentada sabor pêssego, os mente (BRASIL, 2007). Portanto, os
ra e proteína das amostras de leite valores pH apresentaram diminuição leites acidófilos, tanto o fermentado

140
Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Tabela 3 – Resultados médios das análises físico-químicas das amostras de leite acidófilo fermentado e não fermentado sabor manga nos
diferentes tempos. Média de três repetições.

Leite acidófilo fermentado


Tempo (dias)

Análises 0 15 30
Acidez (% de ác. lático)* 0,34± 0,005 a
0,45±0,005 b
1,04±0,01 c
pH 5,52±0,01c 4,91±0,02b 4,22±0,02a
Gordura (%)** 0,27±0,005a 0,27±0,005a 0,27±0,005a
Proteína (%) 3,05±0,03 a
3,14±0,02 a
3,10±0,05a
Leite acidófilo não fermentado
Tempo (dias)
Análises 0 15 30
Acidez (% de ác. lático)* 0,25±0,005a 0,28±0,005b 1,01±0,001c
pH 6,32±0,001c 5,83±0,003b 4,29±0,001a
Gordura (%)** 0,27±0,005 a
0,27±0,00 a
0,27±0,005a
Proteína (%)*** 3,16±0,01 a
3,23±0,03 b
3,17±0,02a
Letras iguais na mesma linha indica que não há diferença significativa ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.
Legenda: * 0,6 a 2,0g de ácido lático/100g, ** máx.: 0,5%, *** mín 2,9 %.

quanto o não fermentado, sabor man- iogurte natural com leite de búfala e de buttermilk probiótico. Ciênc Tec-
ga, podem ser considerados como des- encontraram valores de 4,17 a 4,74% nol Aliment, Campinas, v.27, n.1,
natados por terem obtido valores de no de proteínas. Chaves et al. (2014), ao p.83-90, 2007.
máximo 0,3% de gordura. Não houve avaliarem leite fermentado concentra- ANVISA. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGI-
diferença significativa nos valores de do probiótico sabor maçã, verificaram LÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC
gordura das amostras com o passar do que o teor de proteína das diferentes n° 2, de 07 de setembro de 2002.
tempo, indicando que o L. acidophillus formulações variou de 5,4% a 6,2%. Aprova regulamento técnico de subs-
não é lipolítico. tancias bioativas e Probióticos Isola-
Um estudo realizado por Chaves et dos com alegação de Propriedades
al. (2014), em leite fermentado con- CONCLUSÃO Funcionais e ou de Saúde , constante
centrado probiótico sabor maçã, apre- do anexo desta resolução . DO da Re-
sentou teor de gordura das diferentes Os leites acidófilos não obtive- publica Federativa do Brasil, Brasília,
formulações entre 0,16% e 0,33%, po- ram vida de prateleira longa, pois 17 de janeiro . 2002. Seção 1, p 191.
dendo assim serem classificadas como
L.acidophillus produziram muito BENEVIDES, SD; RAMOS, AM; STRIN-
desnatados.
ácido a partir do 30° dia de produção, GHETA, PC; CASTRO, VC. Qualidade
De acordo com a Tabela 3 verifica-
indicando que estes produtos devem da manga e polpa da manga Ubá. Ci-
-se que os leites acidófilos elaborados
ser consumidos rapidamente. Pode- ênc Tecnol Aliment, v.28, n.3, p.571-
apresentaram porcentagem de proteína
-se observar também que os leites 578, 2008.
maior que 3%, estando assim dentro
acidófilos apresentaram contagem BRANDÃO, WAPLNTM; MENDONSA,
dos limites preconizados pela legis-
de bactérias lácticas superiores a 108 SNTG; BENEDET, HD; Viabilidade de
lação vigente, considerando que a re-
solução n°5 de 2000 - MAPA (BRA- UFC/g, sendo considerados probi- Lactobacillus acidophilus em bebida
SIL, 2000), estabelece mínimo de óticos e viabilizando a combinação fermentada saborizada apartir de soro
2,9g/100g. manga com leite. láctico e inulina. Rev Hig Alimentar,
Em estudo realizado por Santos v.25, n.194/195, março/abril de 2011.
(2012) em leite fermentado probióti- REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Agricultura, Pe-
co desnatado adicionado de jenipapo, cuária e Abastecimento. Instrução
foi encontrado valores protéicos de ANTUNES, AEC; MARASCA, ETG; MORE- Normativa nº 36, de 31 de outubro de
4,11+0,23, semelhantes aos reportados NO, I; DOURADO, FM; RODRIGUES, 2000. Regulamento técnico de identi-
por Cunha et al. (2005) que avaliaram LG; LERAYER, ALS. Desenvolvimento dade e qualidade de bebidas lácteas.

141
PESQUISA
DO da República Federativa do Brasil, 2007. Regulamento Técnico de Iden- potential applications in active edible
Brasília, DF, 2000. tidade e Qualidade de Leites Fermen- films and coatings. Food Research
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecu- tados. DOU, 24 outubro; 2007. Seção international, n.90, p.42-52, 2016.
ária e Abastecimento. Departamento 1. KEMPKA, AP; KRUNGER, RL; VALDUGA,
de Inspeção de Produtos de Origem CHAVES, ACSD; MAESTRI, B; HERERRA, E; DI LUCCIO, M; TREICHEL, H; CAN-
Animal. Instrução Normativa n°62 de L; SILVA, NK; RIBEIRO, DHB. Avalia- SIAN, R; OLIVEIRA, D. Formulação de
26 de agosto de 2003. Métodos Ana- ção do impacto da adição de inulina e bebida láctea fermentada sabor pês-
líticos Oficiais para análises micro- de maçã em leite fermentado probi- sego utilizando substratos alternati-
biológicas para controle de produtos ótico concentrado. Food Technology, vos e cultura probiótica. Ciênc Tecnol
de origem animal e água. DO da Re- Campinas, v.17, n.1, p.58-66, jan/mar Aliment, Campinas, v.28, p.170-177,
pública Federativa do Brasil, Brasília, 2014. 2008.
DF, 18 setembro; 2003. CUNHA, OCN; OLIVEIRA, CAF; HOTTA, KUNIGK, CJ. Probióticos e Prebióticos.
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecu- RM; SOBRAL, PJA. Avaliação físico- Rev Funcionais Nutracêuticos, 2009.
ária e Abastecimento. Departamento -química e sensorial do iogurte na- REIS, DL. Qualidade e inocuidade mi-
de Inspeção de Produtos de Origem tural produzido com leite de búfala crobiológica de derivados lácteos
Animal. Instrução Normativa n°68, de contendo diferentes níveis de gordu- fermentados produzidos no Distrito
12 de dezembro de 2006. Oficializa ra. Ciênc Tecnol Aliment, Campinas, Federal, Brasil. 2013. xi, 65 f., il.
os Métodos Analíticos Oficiais Físico- v.25, n.3, p.448-453, 2005. Dissertação (Mestrado em Saúde
-químicos para Controle de Leite e CUNHA, TM; CASTRO, FP; BARRETO, Animal) - Universidade de Brasília,
Produtos Lácteos, em conformidade PLM; BENEDET, HD; PRUDÊNCIO, Brasília, 2013.
com o anexo desta Instrução Nor- ES; Avaliação físico-química, micro- SANTOS, G; COSTA, JAM; CUNHA, VCM;
mativa, determinado que sejam uti- biológica e reológica de bebida lác- BARROS, MO; CASTRO, AA. Aval-
lizados nos Laboratórios Nacionais tea e leite fermentado adicionados iação sensorial, físico-química e
Agropecuários. DOU, Brasília, DF, 14 de probióticos. Ciências Agrárias, microbiológica do leite fermentado
dezembro; 2006. Seção 1. Londrina, v.29, n.1, p.103-116, jan/ probiótico desnatado adicionado
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pe- mar 2008 de jenipapo desidratado osmotica-
cuária e Abastecimento. Instrução ESPITIA, JP; BATISTA, RA; AZEREDO, mente. Rev Inst Laticínios “Cândido
Normativa n°46, de 23 de outubro de HMC; OTON, CG. Probiotics and their Tostes”, v.67, n.388, p.61-67, 2012.

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

AVALIAÇÃO DE PH, ACIDEZ TITULÁVEL E


CRESCIMENTO DE MASSA COLÔNICA DE GRÃOS
DE KEFIR DE ÁGUA INOCULADOS EM EXTRATO
HIDROSSOLÚVEL DE ARROZ (Oryza sativa).
Uéllina Silva Souza
Universidade Federal de Bahia, Escola de Nutrição, Salvador -BA.
Márcia Regina da Silva
Universidade Federal de Bahia. Escola de Nutrição. Depto. Ciência de Alimentos, Salvador -BA.
uellinasouza@gmail.com

RESUMO de grãos de kefir de água inoculados Palavras-chave: Alimento


em 100 mL de água filtrada + 5% de funcional. Probiótico. Extrato
O kefir é um alimento fermenta- açúcar mascavo, e outra teste, tam- hidrossolúvel vegetal.
do que compõe a categoria de ali- bém iniciando com 5% de grãos de
mentos funcionais por possuir em kefir de água inoculados em 100 mL ABSTRACT
sua composição micro-organismos de extrato hidrossolúvel de arroz +
de caráter probiótico com benefícios 5% de açúcar mascavo. As amostras Kefir is a fermented food that
à saúde humana. Tendo em vista os teste passaram por fase de adapta- makes up the category of functional
distúrbios alimentares (alergia ao lei- ção durante três dias. O período de foods by having in its composition
te de vaca e intolerância à lactose), incubação foi de 18-24horas/30ºC ± probiotic microorganisms with ben-
a diversidade nos padrões dietéticos 2ºC, e o experimento teve duração efits to human health. In view of the
(vegetarianos), as propriedades be- total de 28 dias. Os pesos de massa eating disorders (cow's milk allergy
néficas conferidas pelo consumo de colônica foram verificados no tempo and lactose intolerance), the diver-
kefir, além do valor nutritivo dos ex- 0 de fermentação e as determinações sity in dietary patterns (vegetarian),
tratos hidrossolúveis vegetais, con- de ph e acidez titulável, nos tempos 0 the beneficial properties conferred by
duziu-se este trabalho com a propos- e 18-24 horas, com as aferições sendo kefir consumption, and the nutritive
ta de avaliar o pH, a acidez titulável feitas a cada 7 dias. Os dados obtidos value of vegetable water soluble ex-
e o crescimento da massa colônica de apontaram que nas amostras teste, o tracts, this study was conducted With
grãos de kefir de água inoculados em crescimento da massa colônica foi the purpose of evaluating pH, titrat-
extrato hidrossolúvel de arroz (Oryza estatisticamente maior em relação às able acidity and colony mass growth
sativa). O extrato hidrossolúvel de amostras padrão. Entretanto, os va- of water kefir grains inoculated in
arroz foi obtido pela trituração de 2 lores de pH e acidez observados não rice water extract (Oryza sativa). The
partes de arroz cozido com 1 parte diferiram significativamente (p<0,05) water-soluble extract of rice was ob-
de água e posteriormente filtrado. O entre o padrão e o teste. Concluiu-se, tained by crushing 2 parts of boiled
experimento foi conduzido com duas portanto, que o cultivo de grãos de ke- rice with 1 part of water and subse-
amostras, ambas em triplicata, sen- fir de água em extrato hidrossolúvel quently filtered. The experiment was
do uma padrão, iniciando com 5% vegetal de arroz pode ser viável. conducted with two samples, both in

143
PESQUISA
triplicate, with a standard starting digestibilidade, os quais apresentam animal, especialmente para o cálcio
with 5% water kefir grains inoculat- comprovada ação benéfica e terapêu- e proteínas de alto valor biológico
ed in 100 mL of filtered water + 5% tica ao organismo. Já o kefir de água (COUCEIRO; SLYWITCH; LENZ,
brown sugar, and another test, also tem como substrato uma solução de 2008; ABATH, 2013).
starting with 5% of grains Of water sacarose ou extratos de frutas e do Os extratos hidrossolúveis ve-
kefir inoculated in 100 mL of water- seu processo de fermentação também getais são obtidos a partir de partes
soluble rice extract + 5% brown sug- resultam compostos com mesmas proteicas de espécies vegetais, como:
ar. The test samples went through the propriedades benéficas do kefir de oleaginosas, cereais e leguminosas
adaptation phase for three days. The leite (LOPITZ-OTSOA et al., 2006; (BRASIL, 2005).
incubation period was 18-24 hours / SCHNEEDORF, 2012). Dentre os cereais, o arroz (Oryza
30ºC ± 2ºC, and the experiment had Além dos compostos digestíveis sativa), apresenta considerável valor
a total duration of 28 days. The co- e outros metabólitos, a fermentação nutricional, com teor energético pro-
lonic mass weights were verified at do kefir resulta em produtos finais veniente de 90% do amido em sua
time 0 of fermentation and the deter- como o ácido lático, etanol e dióxido composição, rico em proteínas (7-
minations of pH and titratable acid- de carbono, sendo os dois últimos os 8%), contendo oito aminoácidos es-
ity, at times 0 and 18-24 hours, with principais responsáveis por conferir senciais, sais minerais (fósforo, ferro
the measurements being made every o sabor e aroma característicos da e cálcio), vitaminas do complexo B e
7 days. The obtained data indicated bebida (FRANWORTH, 2005; SAN- baixo teor lipídico. As bebidas à base
that in the test samples the colonic TOS, 2012). de arroz são conhecidas pelo seu sa-
mass growth was statistically larger Segundo a FAO/WHO (2003), o bor suave e levemente adocicado,
in relation to the standard samples. kefir é definido com base na compo- possuindo boa aceitação (SOARES
However, the pH and acidity values​​ sição microbiana dos grãos utiliza- JUNIOR et al., 2010; BENTO; SCA-
did not differ significantly (p <0.05) dos para fermentação e do leite fer- PIM; AMBROSIO-UGRI, 2012).
between the standard and the test. It mentado resultante. Ele se enquadra Com vista a proporcionar um “lei-
was concluded, therefore, that the na categoria de alimentos funcionais te vegetal” mais nutritivo para aten-
cultivation of water kefir grains in a por conter em sua composição mi- der a demandas específicas como as
rice water soluble vegetable extract cro-organismos de caráter probiótico mencionadas, este estudo teve como
may be viable. que promovem benefícios à saúde objetivo principal avaliar o pH, a
(BRASIL, 1999; FRANWORTH, acidez titulável e o crescimento da
Keywords: Functional food.
2005; BRASIL, 2007). massa colônica dos grãos de kefir de
Probiotic. Extract soluble vegetable.
A fermentação do leite de vaca água inoculados em extrato hidros-
por bactérias láticas modifica os solúvel de arroz (Oryza sativa).
INTRODUÇÃO seus nutrientes tornando-os mais

O
assimiláveis ao organismo, corres- MATERIAL E MÉTODOS
kefir é um alimento fer- pondendo a uma pré-digestão desses
mentado obtido a partir constituintes. Como grande parte da O presente estudo tem caráter ex-
dos grãos de kefir. Nes- lactose é desdobrada em ácido láti- ploratório de base experimental e foi
tes, há uma associação co, a depender do grau de sensibi- realizado no período de março a abril
simbiótica entre as bactérias e leve- lidade, portadores de intolerância a de 2016, nos laboratórios de Técnica
duras presentes, as quais estão envol- este componente podem fazer uso de Dietética e Bioquímica de Alimen-
vidas por uma matriz de polissacarí- leites fermentados (TERRA, 2007; tos, da Escola de Nutrição da Uni-
deos, chamada de kefiran. Os grãos ABATH, 2013; SILVA, 2013). versidade Federal da Bahia.
de kefir recebem também as denomi- Entretanto, há indivíduos que As matérias-primas utilizadas fo-
nações de kephir, kiaphur, kefer, kna- possuem restrição ao leite de vaca, ram arroz polido tipo 1 (Oryza sa-
pon, kepiand e kippi (FRANWOR- seja por questões de saúde, éticas ou tiva) e açúcar mascavo, adquiridos
TH, 2005; WESCHENFELDER et ideológicas, como os vegetarianos, no comércio local da cidade de Sal-
al., 2011). e substituem esse produto por extra- vador, Bahia. Os grãos de kefir de
Há dois tipos de kefir: o de leite e tos hidrossolúveis de vegetais, tam- água foram obtidos do Laboratório
o de água. O kefir de leite tem como bém denominados “leites vegetais”. de Probióticos do Centro de Ciências
principal substrato no processo de Estes, por sua vez, apresentam uma da Saúde da Universidade Federal do
fermentação a lactose que, sendo hi- composição nutritiva menos com- Recôncavo Baiano (UFRB).
drolisada, produz compostos de alta pleta, quando comparados ao leite Para as determinações de pH,

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

utilizou-se pHmetro modelo Ne- 2 partes de água (1:2 p/p), por um método tradicional de produção com
omed do Brasil, a temperatura foi tempo médio de 30 minutos. Em se- trocas diárias, descrito por Santos et
aferida por meio de termômetro di- guida, o produto cozido foi drenado al. (2015) (Figura 1).
gital infravermelho com mira laser e triturado em liquidificador domés- Para as amostras padrão (P) e teste
(Infraed) e o peso da massa colônica tico, por três minutos, utilizando-se (T), foram adicionados em recipien-
foi determinado por balança digital a proporção de uma parte de arroz tes de vidro esterilizados 100mL de
(Shimadzu). A acidez titulável (% cozido para duas partes de água fil- água filtrada e extrato hidrossolúvel
de ácido lático) foi determinada se- trada. O homogeneizado foi filtrado de arroz, açúcar mascavo a 5% e,
gundo as normas do Instituto Adolfo em peneira plástica fina, revestida inicialmente, grãos de kefir de água
Lutz (2008), utilizando-se solução por gaze estéril. a 5%. Os recipientes foram cober-
alcalina de hidróxido de sódio 0,1N O extrato hidrossolúvel de arroz tos individualmente com tecido tipo
e solução indicadora de fenolftaleína foi preparado a cada semana e ar- TNT, descartável. O tempo de fer-
a 1%. mazenado em potes plásticos, com mentação das amostras correspon-
Obtenção do extrato hidrosso- volume de 100mL e mantido sob deu a 18-24 horas com temperatura
lúvel vegetal refrigeração a 11°C. Para a inocula- média de 30ºC ± 2ºC.
O extrato hidrossolúvel de arroz ção, os potes, após serem retirados Previamente foi realizada a adap-
foi elaborado com base na metodolo- do refrigerador, foram mantidos em tação dos grãos ao extrato hidrosso-
gia proposta por Soares Junior et al. banho-maria, até atingir a temperatu- lúvel de arroz por três dias consecu-
(2010). Os grãos de arroz foram ini- ra ambiente, adequada para a inocu- tivos e, após este período, o tempo do
cialmente lavados em água corrente, lação dos grãos de kefir. experimento compreendeu 28 dias.
a fim de reduzir ou eliminar as su- Cultivo dos grãos As determinações do pH, acidez e
jidades do produto. Em uma panela As amostras em triplicata, padrão peso da massa colônica das amostras
de aço inox, os grãos foram cozidos (P) e teste (T), foram inoculadas com foram realizadas semanalmente, nos
na proporção de 1 parte de grãos para grãos de kefir de água seguindo o dias 0, 7, 14, 21 e 28.

Figura 1 – Fluxograma de produção artesanal do kefir de água.

145
PESQUISA
As verificações de pH e acidez RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo Lopitz-Otsoa et al. (2006),
foram realizadas em dois momentos, a quantidade kefiran liberada ao
ou seja, nos tempos de inoculação (0 O extrato hidrossolúvel de arroz longo da fermentação depende dos
hora) e de fermentação (18-24 ho- obtido apresentou coloração branca, micro-organismos envolvidos, da
ras). E os pesos de massa colônica de aspecto opaco devido à presença composição do meio de cultura, da
verificados no início de cada período do amido e de consistência pouco temperatura e do tempo de fermen-
de fermentação. densa. tação. Provavelmente, o crescimento
Para obtenção das médias das Após o período de fermentação, das amostras T esteja relacionado
amostras padrão e teste, foi utiliza- observou-se diferença significativa com a maior disponibilidade de nu-
do o software Statistics Packcage for (p<0,05) entre os pesos médios das trientes presentes no extrato vegetal
Social Science (SPSS), versão 20.0, massas colônicas dos grãos de kefir de arroz.
com posterior aplicação do teste t das amostras Padrão e Teste (Tabela Conforme os valores médios de
Student, utilizando-se o nível de con- 1). O crescimento da massa colônica pH exibidos pelas amostras avaliadas
fiança de 95%, para a comparação das culturas T foi maior quando com- (Tabela 2), os resultados apontam
das mesmas. parado com as culturas P (Figura 2). que houve diferença significativa

Tabela 1 - Médias de peso da massa colônica das amostras Padrão e Teste ao longo de 28 dias, expressos em grama, 2016.
Peso massas colônicas (g) / Tempo (Dias)

Amostras 0 7 4 21 28
Padrão 5,00a0,00) 35,2a(1,01) 63,2a(1,95) 97,4a(2,55) 116,3a(1,39)
Teste 5,00a(0,00) 38,1b(0,25) 83,7b(0,46) 149,9b(3,44) 204,8b(15,21)
Padrão (base água) Teste (base extrato hidrossolúvel de arroz)
Valores representados por Médias (Desvio Padrão) das amostras em triplicatas.
Letras minúsculas diferentes na mesma coluna indicam diferenças entre valores de (p<0,05) entre a amostra T e amostra P.

Figura 2 – Crescimento de massas colônicas das amostras P e T ao longo de 28 dias, expressos em gramas, 2016.

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Higiene Alimentar - Vol.31 - nº 264/265 - Janeiro/Fevereiro de 2017

Tabela 2 - Valores médios de pH e acidez das amostras Padrão e Teste segundo o tempo (dias), e tempos de inoculação (0h) e de
fermentação (18-24h), 2016.
Tempo (Dias)
Médias
Amostras 0 7 14 21 28
Totais
pH
P 4,30a(0,05) 4,55a(0,28) 4,31a(0,05) 3,87a(0,04) 3,74a(0,03) 4,30a(0,34)
0h
T 5,35b(0,00) 5,05a(0,05) 4,27a(0,05) 3,76b(0,01) 3,48b(0,01) 4,27a(0,81)

P 3,58a(0,00) 3,84a(0,08) 3,50a(0,04) 3,42a(0,02) 3,39a(0,01) 3,50a(0,18)


18-24h
T 3,88a(0,00) 3,86a(0,03) 3,58b(0,02) 3,44a(0,01) 3,30a(0,29) 3,58a(0,26)
Acidez (% de ácido lático)
P 0,10c(0,00) 0,05c(0,13) 0,06c(0,11) 0,12c(0,06) 0,13c(0,06) 0,10c(0,40)
0h
T 0,10c(0,00) 0,08d(0,17) 0,06c(0,11) 0,21d(0,34) 0,27d(0,36) 0,10c(1,02)
P 0,20 (0,00)
c
0,19 (0,52)
c
0,23 (0,19)
c
0,29 (0,06)
c
0,26 (0,17)
c
0,23c(0,47)
18-24h
T 0,23c(0,00) 0,18c(0,17) 0,29d(0,17) 0,38d(0,32) 0,48d(0,23) 0,29c(1,34)
P = Padrão (base água) T= Teste (base extrato hidrossolúvel de arroz)
Valores representados por Médias (Desvio Padrão) das amostras em triplicatas.
Letras minúsculas diferentes na mesma coluna indicam diferenças entre valores de (p<0,05) dentro do grupo, segundo o teste
t de Student.

(p<0,05) entre as mesmas nos dias 21 do peso do inóculo correspondeu ao encontrados para o padrão, o que re-
e 28 (tempo 0h) e no dia 14 (tempo aumento da massa colônica e, conse- força a viabilidade do uso do extrato
18-24h). quentemente, diminuição do pH. hidrossolúvel de arroz como subs-
De acordo com Otles e Cagindi Houve diferença significativa en- trato para a fermentação do kefir de
(2003), o pH final da fermentação do tre a acidez das amostras P e T no água.
kefir normalmente se encontra na fai- tempo 18-24h (Tabela 2), a partir da Os dados encontrados nesta pes-
xa de 4,2 a 4,6. O valor médio total do terceira semana. Entretanto, os valo- quisa abrem espaço para melhor ex-
pH das amostras T foi de 3,58±0,26 e res médios de ambas as amostras se ploração do cultivo do kefir de água
das amostras P de 3,50±0,18, no tem- apresentaram dentro do preconizado em outras variedades de extratos hi-
po de 18-24h, correspondendo assim pela legislação, conforme os padrões drossolúveis vegetais.
a valores abaixo da faixa referencia- de identidade e qualidade (PIQ) para Considerando os indivíduos que
da. Ambas as amostras apresentaram leites fermentados, na faixa de < 1,0 não toleram ou não fazem o uso de
queda nas medidas de pH ao longo g ácido lático/100g, tendo em vista produtos lácteos de origem animal,
do tempo de fermentação. Segundo desenvolver um produto fermentado
que a acidez do produto está relacio-
Farnworth e Mainville (2008, apud de kefir a partir de extrato hidrosso-
nada com a formação do ácido láti-
Montanuci, 2010), o pH final da fer- lúvel de arroz, segundo os resultados
co produzido durante o processo de
mentação do kefir sofre influência obtidos no presente trabalho, de-
da quantidade de inóculo utilizado. fermentação (BRASIL, 2007; WES-
monstra ser viável.
Estes autores reportam que na pro- CHENFELDER, 2011).
porção de 1:10 (grãos:leite) foram REFERÊNCIAS
encontrados valores de pH entre 3,6 CONCLUSÃO
a 3,8, enquanto que, nas proporções
de 1:30 e 1:50 (grãos:leite), foram A massa colônica dos grãos de ABATH, TN. Substitutos de leite animal
encontrados pH de 4,4 a 4,6, respec- kefir, o kefiran, apresentou um com- para intolerantes à lactose. 34f. TCC
tivamente. Ou seja, quanto maior a portamento positivo e se desenvol- (Graduação em Nutrição) – Faculdade
proporção de grãos inoculados me- veu bem no extrato hidrossolúvel de de Ciências da Saúde, Universidade
nores serão os valores de pH. Este re- arroz. de Brasília, Brasília – DF, 2013.
sultado corrobora com o presente tra- O pH e a acidez das amostras BENTO, RS; SCAPIM, MRS; AMBROSIO-
balho, considerando que o aumento testes não diferiram dos valores -UGRI, MCB. Desenvolvimento e

147
PESQUISA
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148
LEGISLAÇÃO
PERFIL TECNOLÓGICO DE
IOGURTES “TIPO GREGO”:
ROTULAGEM E MARKETING.
Alexia Grave de Andrade Valente
Gabrielle da Silva Vargas Silva
Lourran Araujo de Souza
Tamara Sarmento
Rinaldini Coralini Philippo *
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Departamento de Ciência dos Alimentos, Rio de Janeiro - RJ
* rinaldini@unirio.br

RESUMO 12% no Paraná. Dessas amostras, 48% and creamy. The information printed
informavam a temperatura de conser- on food labels are intended to iden-
Após o processo de dessoragem, vação entre 1ºC e 10ºC e instruíam o tify the origin, composition and nu-
o iogurte tipo Grego, torna-se mais consumidor a consumir o produto ime- tritional characteristics constituting
espesso e cremoso. As informações diatamente após aberto. O prazo de therefore a fundamental element for
impressas nos rótulos de alimentos validade calculado variou entre 40 e public health. The aim of this study
destinam-se a identificar a origem, a 51 dias. Percebe-se, na observação dos was to verify the origin, composi-
composição e as características nutri- rótulos, o marketing relacionado ao tion, forms of conservation and va-
cionais constituindo-se, portanto, em termo grego, que parece exercer gran- lidity of Greek yogurt, as well as the
elemento fundamental para a saúde de influência na escolha destes tipos de marketing and the level of compli-
pública. O objetivo deste trabalho foi iogurtes, uma vez que este termo sem- ance with these mandatory label-
verificar a procedência, composição, pre desctaca-se nos rótulos por cores ing information. They collected 25
formas de conservação e validade dos contrastantes ou pelo tamanho das le- labels of different brands exposed
iogurtes gregos, bem como o marke- tras que superaram em alguns rótulos o to sale in supermarkets in the city
ting e o nível de conformidade das nome de venda e marca dos produtos. of Rio de Janeiro, from July to De-
informações obrigatórias de rotula- cember 2015. As the source, 56% of
gem. Foram coletados 25 rótulos de Palavras-chave: Produto lácteo. the samples had its origin in produc-
diferentes marcas expostas à venda Leite fermentado. Conservação. ing industries located in São Paulo,
em supermercados na cidade do Rio Propaganda. 24% Minas Gerais, 12% in United
de Janeiro, no período de julho a de- States. And 48% of the samples in-
zembro de 2015. Quanto à origem, ABSTRACT formed the storage temperature be-
56% das amostras tinham sua origem tween 1° C and 10° C and instructing
em indústrias produtoras localizadas After the process of syneresis, yo- the consumer to consume the prod-
em São Paulo, 24% em Minas Gerais, ghurt type Greek becomes thicker uct immediately after it opened. The

149
LEGISLAÇÃO
expiry date calculated ranged from A função principal da rotulagem de total de 25 rótulos analisados, todos
40 to 51 days. It can be seen in the alimentos embalados é fornecer os da- apresentavam o nome, o endereço e o
observation of labels related market- dos necessários para que o consumidor CNPJ da indústria produtora. A partir
ing the Greek term, which seems to consiga escolher, consumir ou não o daí, foi visto que 56% das amostras
have great influence on the choice produto e fornecer esclarecimentos tinham sua origem em indústrias pro-
of these types of yogurts, since this que auxiliem essa escolha. Para isso, dutoras localizadas em São Paulo,
term always desctaca to the labels as informações constantes no rótulo 24% em Minas Gerais, 12% no Para-
by contrasting colors or the size of devem ser facilmente entendidas pelo ná e 8% tiveram duas indústrias pro-
letters that exceeded in some brands consumidor. dutoras descritas no mesmo rótulo e
the name of sales and marking of O objetivo deste trabalho foi verifi- seus respectivos nomes, endereços e
products. car a procedência, composição, formas CNPJ (Tabela 1). Neste aspecto, São
de conservação e validade dos iogur- Paulo é reconhecido como um estado
Keywords: Dairy product. tes gregos, bem como o marketing e
Fermented milk. Conservation. extremamente desenvolvido na área
o nível de conformidade destas infor-
Advertising. industrial, apresentando grande par-
mações obrigatórias de rotulagem e
ticipação na produção de derivados
sua consonância com os regulamentos
lácteos.
INTRODUÇÃO sanitárias vigentes.

E
Registro, lote, prazo de validade
ntende-se por iogurte o pro- MATERIAL E MÉTODOS
Todos os rótulos analisados apre-
duto cuja fermentação se re-
sentavam o Registro no Ministério
aliza com cultivos de Strep- Trata-se de um estudo descritivo,
da Agricultura SIF/DIPOA. Todos
tococcus salivarius subsp. transversal, com pesquisa de campo,
os estabelecimentos que possuem
thermophilus e Lactobacillus delbrue- com coleta das informações obrigató-
Registro ou Relacionamento no Ser-
ckii subsp. bulgaricus, os quais podem rias de rotulágem, obtidas em 25 ró-
viço de Inspeção Federal (SIF) do
ser acompanhados, de forma comple- tulos de diferentes marcas expostas à
Ministério da Agricultura, são super-
mentar, por outras bactérias acidolácti- venda em supermercados na cidade do
visionados periodicamente de acordo
cas, que, por sua atividade, contribuam Rio de Janeiro, no período de julho a
dezembro de 2015. com sua classificação e necessidade
para a determinação das característi-
Para facilitar a análise dos rótulos, determinadas pelo SIPA (Secretaria
cas do produto final. Estes micro-or-
ganismos devem ser viáveis, ativos e foram elaboradas fichas de avaliação de Inspeção de Produtos de Origem
undantes no produto final durante seu cujas informações foram organizadas Animal, atual DIPOA) do estado
prazo de validade (BRASIL, 2000). O em uma planilha com base nas in- (BRASIL, 2003).
iogurte grego é obtido a partir do io- formações obrigatórias dispostas nas Do total de amostras, 52% apre-
gurte tradicional, contudo diferenciado RDC nº 259, de 20 de setembro de sentavam o lote na embalagem.
pelo processo de dessoragem. Após 2002; na RDC Nº 360 de 23 de dezem- Segundo Instrução Normativa nº
este processo de dessoragem, o iogurte bro de 2003; e na Instrução Normativa 22/2005 do Ministério da Agricul-
torna-se mais espesso e cremoso, com nº 22/2005 do Ministério da Agricultu- tura, o “lote” é um número que faz
uma concentração de sólidos totais de ra, como observado no modelo de pla- parte do controle na produção e,
aproximadamente 24% e gorduras de nilha utilizada para avaliar as informa- caso haja algum problema, o produto
10% (VARNAM et al., 1994). ções de rotulagem (Quadro 1). pode ser recolhido ou analisado pelo
De acordo com regulamentos vi- lote ao qual pertence. Todos os itens
gentes, a rotulagem é toda inscrição, RESULTADOS E DISCUSSÕES analisados são importantes porque
legenda, imagem ou toda matéria des- permitem ao consumidor conhecer
critiva ou gráfica, escrita, impressa, es- Origem, procedência e denomi- as informações do produto que está
tampada, gravada, gravada em relevo nação dos Iogurtes tipo Grego adquirindo, assim como sua proce-
ou litografada ou colada sobre a emba- Com relação à origem e proce- dência (BRASIL, 2005).
lagem do alimento (BRASIL, 2002). dência dos Iogurtes tipo grego, do Quanto ao Prazo de Validade,

150
Quadro 1 - Modelo da planilha utilizada na avaliação das informações de rotulagens de Iogurtes Gregos.
INFORMAÇÕES DE ROTULAGEM
Marca e tipo
Denominação de venda
Outra especificação
Prazo de validade (à temperatura conforme legislação de 1°C a
10°C)
Identificação da origem
Registro MS ou MA
Informação nutricional ( ) Sim ( ) Não Se sim, descrever:
Informação nutricional complementar
Declaração dos Ingredientes ( ) Sim ( ) Não
Conteúdo líquido ______g ou ml
Porção e medida caseira
Informação sobre Aditivos ( ) Sim ( ) Não Caso sim, citar quais:
Informação sobre Glúten ( ) contém ( ) Não cintém ( ) Não Informa
Informações sobre Probióticos ( ) Sim ( ) Não Descrever conforme o rótulo
Apresentação de Imagem Ilustrativa ( ) Sim ( )Não
Informação sobre Armazenamento e/ou Consumo
Informação por Embalagem Individual ( ) Sim ( ) Não
Informação legível ( ) Sim ( ) Não
Observações

Tabela 1 - Origem informada nos rótulos de iogurtes tipo grego, consumidos na cidade
um dia após aberto (Tabela 3).
do Rio de Janeiro, 2015. Em estudos realizados por Mar-
tin (2002), iogurtes naturais foram
Origem n % armazenados em temperatura de re-
São Paulo 14 56 frigeração e analisados por 30 dias
Minas Gerais 6 24 e, a partir dos resultados, foi obser-
Paraná 3 12 vada uma diminuição do pH de 4,36
Minas Gerais e Ceará 2 8 para 4,18 e a acidez titulável variou
Total 25 100 de 0,73% (em ácido láctico) para
1,17%. O mesmo autor, concluiu que
nenhuma das amostras apresentou tal Com relação às instruções de ar- as variações de pH e acidez titulá-
informação descrita diretamente no mazenamento dos produtos, 28% dos vel, durante o armazenamento por
rótulo, tendo sido necessário calcular rótulos não informavam a temperatu- 30 dias, correspondem ao prazo de
a diferença entre a data de fabricação ra de conservação; 48% das amostras validade.
e de vencimento apresentadas nos ró- informavam a temperatura de conser- Lyrio (2008) analisou amostras de
tulos. Do total das amostras, o prazo vação entre 1ºC e 10ºC e instruíam iogurte em bandeja e registrou, em três
de validade variou entre 40 e 51 dias o consumidor a consumir o produto etapas no decorrer do seu período de
(Tabela 2). imediatamente após aberto e, por validade: 1º, 25º e 45º dia após a sua
último, 24% também informavam a fabricação, o aumento na acidez e re-
Informações sobre glúten, ar- temperatura de armazenamento en- dução do pH em todos os meses ava-
mazenamento/conservação e pro- tre 1ºC e 10ºC, mas não instruíam o liados. A média de pH variou de 4,1 a
bióticos consumidor a consumir o produto em 3,88 e a acidez titulável de 0,74 a 0,84.

151
LEGISLAÇÃO
Tabela 2 - Prazos de validade das amostras de Iogurte Greco comercializados na cidade do Rio de Janeiro, no período de julho a dezembro de
2015.
Prazo de validade (dias) Citações nos produtos (n) Percentual (%)
40 2 8%
45 21 84%
51 2 8%
Total 25 100%

Tabela 3 - Validade após aberto das amostras de Iogurte Grego, comercializados na cidade do Rio de Janeiro, no período de julho a
dezembro de 2015.
Validade após aberto n %
Consumir em um dia 7 28
Consumo imediato 12 48
Não informa 6 24
Total 25 100

Sá et al. (2007) concluem que, em continham glúten, cumprindo a de- que contêm micro-organismos vivos,
decorrência da atividade residual das terminação legal sobre a obrigatorie- ou componentes microbianos que,
bactérias lácticas a 6ºC, a acidez do dade da informação sobre a presença quando ingeridos em determinado
iogurte tende a aumentar lentamen- ou não de glúten. número, apresentam efeito benéfico
te, reduzindo a viabilidade das bac- Em relação às informações quan- sobre a saúde e bem-estar do hos-
térias. Esta atividade se intensifica to ao iogurte ser um alimento probi- pedeiro. São capazes de melhorar o
quando a temperatura se encontra ótico, ou sobre os tipos de bactérias equilíbrio microbiano intestinal pro-
acima de 6º C. Assim, para manter presentes, apenas 4% das amostras duzindo efeitos positivos à saúde do
as bactérias viáveis e as propriedades informavam sobre o tipo de bacté- indivíduo (BRASIL, 2002). Da mes-
organolépticas (sabor, textura, con- ria presente no produto, essa descri- ma forma, alimentos probióticos são
sistência) em condições favoráveis, é ta no rótulo como “Bifidobacterium definidos como alimentos contendo
necessário manter o iogurte em tem- animalis” DN 173010. Essa mesma micro-organismos que possuem efei-
peratura adequada. amostra não tinha como descrição no to favorável sobre a microflora intes-
Em relação às informações sobre rótulo o termo “iogurte” e sim “leite tinal e as funções fisiológicas do trato
a presença ou ausência de glúten, fermentado”. Na lista de ingredientes intestinal humano. Dentre os diver-
todas as amostras apresentavam tal de todas as amostras estava descrita sos gêneros que integram este gru-
informação no rótulo, apresentando a presença do fermento lácteo. Tal po, destacam-se o Bifidobacterium
assim conformidade com as normas informação deveria receber destaque e o Lactobacillus e, em particular, a
vigentes (BRASIL, 2003). Tal infor- nos rótulos dos iogurtes do tipo gre- espécie Lactobacillus acidophilus.
mação é fundamental uma vez que go ou não, uma vez que as bactérias Além dos benefícios em termos de
o consumidor pode ser portador de utilizadas são fundamentais na pro- nutrição e de saúde que proporcio-
doença celíaca, que consiste em uma dução dos iogurtes e muito importan- nam, as culturas probióticas podem
intolerância permanente, sendo a tes e benéficas também para a saúde também contribuir para melhorar o
presença do glúten prejudicial a es- humana. sabor do produto final, possuindo a
tes Do total de amostras, 24% (n=6) Os Probióticos podem ser defini- vantagem de promover a redução da
continham glúten e 76% (n=19) não dos como suplementos alimentares acidificação durante a armazenagem

152
Tabela 4 - Informações sobre a presença de aditivos na rotulagem de iogurtes tipo grego, comercializados na cidade do Rio de Janeiro.

ADITIVOS n %
Estabilizantes 18 28
Espessantes 16 25
Aromatizantes 14 22
Corantes 9 14
Edulcorantes 7 11
Total 64 100

pós-processamento (GOMES, MAL- analisados estando em conformidade informações, conforme tabela 4.
CATA, 1999). com a legislação. Esta medida ser- Do total de amostras, 22% infor-
O consumo de produtos conten- ve para orientar o consumidor sobre mavam a presença de aromatizantes
do L. acidophilus e B. bifidum têm a a porção normalmente consumida, nos ingredientes. E com relação aos
potencialidade de melhorar os movi- como fatias, unidades, potes, xícaras, corantes, 14% das amostras infor-
mentos peristálticos do intestino, au- copos e colheres de sopa, facilitando mavam a presença destes entre os
mentando a absorção de nutrientes, assim, seu entendimento. ingredientes. Sabe-se que o objeti-
prevenindo ou controlando infecções vo da adição de corantes aos iogur-
intestinais, bloqueando os receptores Ingredientes, aditivos, tabela tes de frutas é de aumentar a atração
dos patógenos, inativando os efeitos nutricional e marketing do produto, podendo os aditivos,
das enterotoxinas e favorecendo o Todos os rótulos avaliados apre- classificados como corantes, serem
desenvolvimento de micro-organis- sentaram informações nutricionais naturais ou sintéticos. Em 28% das
mos resistentes a patógenos, espe- agrupadas em um mesmo local em amostras estava descrito nos rótulos
cialmente contra Escherichia coli forma de tabela, ou linear, ambos a presença de estabilizantes na lista
(Lee et al., 1999). aprovados pela Resolução RDC de ingredientes, que têm a finalida-
nº360/039. No estudo de Matta et al. de de melhorar e manter as caracte-
Porcionamento ou medida casei- (2006), foi observada a adequação de rísticas desejáveis do iogurte, como
ra para cálculo nutricional rótulos de iogurtes (iogurtes light ou textura, viscosidade e consistência.
A porção é definida na Resolução desnatados) e barras de cereais quan- Do total de amostras, 11% declara-
RDC N°359/2003 da Anvisa/MS, to à forma de expressão da infor- vam a presença de edulcorantes em
como a quantidade média do alimen- mação nutricional, agrupada em um seus ingredientes e 25% declaravam
to que deve ser usualmente consumi- mesmo local em forma de tabela ou a presença de espessantes, como por
da por pessoas sadias e, no caso de linear, em idioma legível e visível, exemplo, Goma Guar, Goma Xanta-
iogurtes e bebidas lácteas, esta deve aos quais corroboram os resultados na, entre outros.
ser de 200g. Dentre os rótulos de obtidos no presente estudo. De acordo com a definição da
iogurte analisados, houve variação A lista de ingredientes também Portaria 540/97 da Secretária da Vi-
nas porções apresentadas de 45g até estava presente em todos os rótulos gilância Sanitária e do Ministério da
180g. A tabela nutricional baseou-se analisados, descrevendo os ingre- Saúde, que regulamentou o uso de
nas porções individuais (45g, 90g, dientes presentes, bem como seus aditivos em alimentos, edulcorantes
100g, 120g, 180g), porém tal varia- aditivos, conforme estabelecem as são substâncias diferentes dos açú-
ção nas porções, muitas vezes, difi- regulamentações vigentes sobre ro- cares que conferem sabor doce ao
culta ao consumidor a análise e com- tulagem de alimentos. Embora o alimento (BRASIL, 1997). Quando
paração entre produtos. total de amostras coletadas tenham o açúcar é retirado de um alimento,
A medida caseira foi apresenta- sido 25, todas citaram a presença de novas substâncias devem ser colo-
da em todos os rótulos de iogurtes mais de um aditivo, totalizando 64 cadas em seu lugar para devolver o

153
LEGISLAÇÃO
sabor doce ao produto e, entre outras também nos processos de coagula- REFERÊNCIAS
funções, servir de agente de volume. ção. O cálcio foi declarado em 100%
Para conferir o sabor doce são usa- dos rótulos de iogurte analisados. ANDERSON, GH. Macronutrient substi-
dos os edulcorantes (FIGUEIREDO Este se encontrava na informação tutes: definition and rationale. Nutri-
JR., 1997) e para servir como agen- nutricional. Outros nutrientes de de- tional implications of macronutrient
tes de volume são usados os polióis e claração obrigatória, segundo a mes- substitutes. Food and Chemical To-
as gomas (ANDERSON, 1998). ma Resolução, são gorduras trans e xicology, v.36, p.145-148, 1998.
Edulcorantes e espessantes são fibra alimentar. Esses foram decla-
rados em todos os rótulos avaliados, BRASIL. Agência Nacional de Vigilância
importantes na produção dos iogur-
sendo utilizadas para gorduras trans Sanitária. Resolução de Diretoria Co-
tes do tipo grego, uma vez que estes
as expressões “Não contém quanti- legiada (RDC) n. 02, de 07 de janei-
iogurtes possuem sabor mais doce
dades significativas”, “não contém” ro de 2002. Aprova o Regulamento
e textura mais firme, se compara-
e “0g”, ambas acompanhadas da in- Técnico de Substâncias Bioativas e
dos aos iogurtes que não são do tipo
dicação de não haver %VD estabele- Probióticos Isolados com Alegação
grego, o que atrai o consumidor. No
cido. Na ausência de fibra alimentar de Propriedades Funcionas e ou de
entanto, percebe-se na observação Saúde. DOU, Brasília, DF, 9 jan. 2002.
dos rótulos, o marketing relacionado utilizou-se também a expressão “Não
ao termo grego, que parece exercer contém quantidades significativas” e BRASIL, Ministério da Agricultura e do
influência na escolha destes tipos “0g”. Abastecimento. Secretaria de Defesa
de iogurtes, uma vez que este termo Agropecuária. Departamento de Ins-
peção de Produtos de Origem Animal.
sempre desctaca-se nos rótulos por
CONCLUSÃO Resolução Nº 5 de 13 de novembro
cores contrastantes ou pelo tamanho
de 2000. Padrões de Identidade e
das letras que superaram em algumas
Com base nos dados encontrados Qualidade (PIQ) de Leites Fermenta-
marcas o nome de venda dos produ-
e nas análises realizadas, a respei- dos, DOU, 15 de nov. de 2000.
tos. Face ao exposto, a regulação da
rotulagem e do marketing de alimen- to da rotulagem de Iogurtes do tipo BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecu-
tos é uma tarefa de grande relevância Grego na cidade do Rio de Janeiro, ária e Abastecimento. Instrução Nor-
e deve ser encarada com divisão de foi constatado que grande parte das mativa n° 22/2005. DOU, de 25 nov
responsabilidades entre setor públi- marcas pesquisadas estava em con- 2005.
co, privado e sociedade, visto que formidade com as legislações vigen- BRASIL. Ministério da Agricultura. Ins-
impacta diretamente nas opções de tes. truções para procedimentos opera-
consumo dos indivíduos e, conse- Todos os rótulos informavam o cionais do serviço de inspeção fede-
quentemente, na saúde dos mesmos nome, o endereço e o CNPJ da in- ral. DOU, Brasília,18 dez 2003.
(FERREIRA et al., 2015). dústria produtora, o Registro no Mi- BRASIL. Portaria nº 540, de 27 de outu-
Segundo a Resolução RDC nistério da Agricultura SIF/DIPOA, o bro de 1997. Aprova o Regulamento
nº360/03 da Anvisa/MS, a quantida- nome ou denominação de venda, as Técnico: Aditivos Alimentares - de-
de de qualquer nutriente que se con- informações nutricionais, a lista de finições, classificações e emprego.
sidere importante para manter um ingredientes e aditivos, a presença de DOU, Brasília, 28 out1997.
bom estado nutricional, segundo exi- Fermento Lácteo e a medida caseira. BRASIL. Resolução RDC n°259, de 20 de
jam os regulamentos técnicos espe- Ocorreu, porém, uma grande variação setembro de 2002 da Agência Nacio-
cíficos, pode ser declarada na tabela nas porções individuais (45g, 90g, nal de Vigilância Sanitária do Minis-
nutricional do produto. O cálcio não 100g, 120g, 180g), o que dificulta o tério da Saúde. Regulamento técnico
é exigido na legislação, mas trata-se consumidor, na comparação dos pro- para rotulagem de alimentos embala-
de um dos minerais constituintes do dutos e na avaliação dos nutrientes e dos. DOU. Brasília, DF, 20 set 2002.
leite e apresenta um papel importante preço. O estudo constatou ainda o for- BRASIL. Resolução RDC n°359, de 23
para a saúde humana. O mesmo au- te marketing da palavra grego estam- de dezembro de 2003 da Agência
xilia na termoestabilidade do leite e pada na rotulagem destes iogurtes. Nacional de Vigilância Sanitária do

154
Ministério da Saúde. Regulamen- produção Acadêmica sobre a rotula- baiano. Universidade Federal Rural
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Nacional de Vigilância Sanitária do GOMES, AMP; MALCATA, FX. Agentes MATTA, IEA; HENRIQUES, P; SILVA, Y.
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FERREIRA, JSG; SILVA, Y; MORAES, LEE, YK; NOMOTO, K; SALMINEN, S; p. 97-103, 2006.
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alimentos industrializados destina- tics. New York: John Wiley & Sons, Gordo Sólido. Escola Superior Agrá-
dos ao público infantil na perspecti- Inc. 211p, 1999. ria De Coimbra. Coimbra, 2007.
va da rotulagem. Vigil Sanit Debate LYRIO, MG. Analisar a qualidade quan- VARNAN, AH; SUTHERLAND, JP. Leche
2015;3(2):75-84. to aos aspectos físico-químicos e y produtos lácteos: tecnología,
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GUILAM, MC; BRAGA, AMCB. A ja em um laticínio no recôncavo Acribia. 476p, 1994.

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL É SUCESSO NAS REDES SOCIAIS.

Com 75 vídeos em dois canais no YouTube – 1,3 mil inscritos e 39 mil visualiza-
ções, de acordo com dados do ano passado –, a Coordenadoria de Desenvolvimen-
to dos Agronegócios (Codeagro), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do
Estado, oferece à população dezenas de opções de receitas saudáveis e de rápido
preparo, baseadas no equilíbrio nutricional e combate ao desperdício.
Desde 2015, os canais “Alimentação Saudável” e “Saudável e Barato” vêm con-
quistando cada vez mais internautas, que, além de aprenderem a se alimentar com
qualidade, praticidade e sem desperdício, têm a possibilidade de interagir, escolhen-
do ou sugerindo os temas para os próximos vídeos. Além do YouTube, o conteúdo
está disponível no Facebook, Twitter e Instagram. Todo o trabalho é desenvolvido
em parceria com o Centro de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Ce-
sans), ligado à Codeagro, responsável por ministrar cursos e palestras nas áreas
de nutrição, economia doméstica e geração de renda, com o objetivo de colaborar
com a melhoria da qualidade de vida da população. (CONSEA SP, fev/2017)

155
LEGISLAÇÃO
RESOLUÇÃO – RDC Nº 135, DE 8 DE FEVEREIRO
DE 2017 – ANVISA.
Altera a Portaria SVS/MS nº 29, dietas com restrição de lactose são para dietas com restrição de lactose
de 13 de janeiro de 1998, que apro- classificados como: que contêm quantidade de lactose
va o regulamento técnico referen- Isentos de lactose - alimentos para maior que 100 (cem) miligramas
te a alimentos para fins especiais, dietas com restrição de lactose que por 100 (cem) gramas ou mililitros e
para dispor sobre os alimentos para contêm quantidade de lactose igual igual ou menor do que 1 (um) grama
dietas com restrição de lactose. De- ou menor a 100 (cem) miligramas por 100 (cem) gramas ou mililitros
fine: por 100 (cem) gramas ou mililitros do alimento pronto para o consumo,
Alimentos para dietas com res- do alimento pronto para o consumo, de acordo com as instruções de pre-
trição de lactose - alimentos espe- de acordo com as instruções de pre- paro do fabricante”.
cialmente processados ou elabo- paro do fabricante.  Devem apresen- Esta Resolução entra em vigor
rados para eliminar ou reduzir o tar uma das seguintes declarações: após decorridos 24 (vinte e quatro)
conteúdo de lactose, tornando-os “isento de lactose”, “zero lactose”, meses de sua publicação.
adequados para a utilização em “0% lactose”, “sem lactose” ou “não Os produtos fabricados até o iní-
dietas de indivíduos com doenças contém lactose”, próxima à denomi- cio da vigência desta Resolução po-
ou condições que requeiram a res- nação de venda do alimento. derão ser comercializados até o fim
trição de lactose. Os alimentos para Baixo teor de lactose - alimentos do seu prazo de validade.

RESOLUÇÃO – RDC N° 136, DE 8 DE FEVEREIRO


DE 2017 – ANVISA.
Estabelece os requisitos para de- de 1969, que institui normas básicas coadjuvantes de tecnologia, embalados
claração obrigatória da presença de sobre alimentos. na ausência dos consumidores, inclu-
lactose nos rótulos dos alimentos, reg- Esta Resolução se aplica aos ali- sive aqueles destinados exclusivamente
ulamentando o caput do art. 19-A do mentos, incluindo as bebidas, os in- ao processamento industrial e os desti-
Decreto-Lei nº 986, de 21 de outubro gredientes, os aditivos alimentares e os nados aos serviços de alimentação.

PROCEDIMENTOS PARA REGISTRO DE PRODUTOS DE


ORIGEM ANIMAL.
Instrução Normativa nº 1, de 11 de Inspeção Federal – SIF, e por estabe- de Inspeção de Produtos de Origem
janeiro de 2017 – MAPA lecimentos estrangeiros habilitados a Animal da Secretaria Defesa Ag-
Estabelece os procedimentos para exportar para o país. ropecuária do Ministério da Agri-
registro, renovação, alteração, audi- Os procedimentos para registro, cultura, Pecuária e Abastecimento
toria e cancelamento de registro de renovação, alteração, auditoria e o – DIPOA/SDA/MAPA e solicitados
produtos de origem animal produ- cancelamento de registro, de que tra- eletronicamente em sistema informa-
zidos por estabelecimentos registra- ta esta Instrução Normativa, devem tizado disponível no sítio eletrônico
dos ou relacionados no Serviço de ser realizados pelo Departamento do MAPA: www.agricultura.gov.br.

156
AVANCOS
TECNOLÓGICOS EM PRODUTOS E SERVIÇOS

DANONINHO EM STAND-UP POUCH PODE


FICAR ATÉ 5 HORAS FORA DA GELADEIRA.
A
pós mais de dois anos de estu-
dos e pesquisas, a Danone lan-
çou o Danoninho Para Levar.
Com as mesmas característi-
cas nutricionais do famoso petit suisse
da marca, o novo produto, acondiciona-
do em doypack (bolsa plástica que fica
em pé), traz uma característica inovado-
ra e que vai de encontro a uma necessi-
dade clara: a possibilidade do consumo
fora do lar, após algumas horas fora da
geladeira. O novo Danoninho pode per-
manecer até 5 horas fora da geladeira.
A embalagem é fácil de abrir e não re-
quer colher: basta apertar para verter o
conteúdo.

VINÍCOLA SOBRE RODAS LEVA AO PRODUTOR


ESTRUTURA PARA FABRICAÇÃO DE VINHO.

I
nédita no país, a estrutura móvel pertence à Cooperativa de
Produtores de Vinho Jundiaí - AVA e possui layout próprio,
feito por um dos associados. A unidade, que utiliza o baú adap-
tado de um caminhão, inclui desengaçadeira de uva, prensas
e tonéis para bombeamento de vinho. Na instalação, também estão pre-
sentes equipamentos para filtragem da bebida, higienização, envase e
rotulagem das garrafas e plataforma de embarque para o transporte de
até 1.500 quilos.
Para realizar o processamento completo do vinho, são necessárias duas
visitas da unidade móvel ao produtor. A primeira é para separar e moer
as uvas. Após esse processo, todo o líquido é retirado e colocado em
recipientes na propriedade, para que a bebida fermente. Meses depois,
após terminada a fermentação, deve-se solicitar novamente os servi-
ços da vinícola para dar continuidade ao engarrafamento e à rotulagem.
(GLOBO RURAL, fev/2017)

158
NOTÍCIAS
FAO DIVULGA RELATÓRIO SOBRE OS
ÍNDICES DE SOBREPESO E OBESIDADE.

M
ais da metade da população brasileira está com so- dial de Saúde (OMS), o sobrepeso em adultos passou de 51,1%
brepeso e a obesidade já atinge a 20% das pessoas em 2010, para 54,1% em 2014. A tendência de aumento também
adultas. Os dados são do novo relatório da Organiza- foi registrada na avaliação nacional da obesidade. Em 2010, 17,8%
ção das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura da população era obesa; em 2014, o índice chegou aos 20%, sendo
(FAO) e da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) - Pano- a maior prevalência entre as mulheres, 22,7%. Outro dado apon-
rama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e tado pelo relatório foi o aumento do sobrepeso infantil. Estima-se
Caribe.  que 7,3% das crianças menores de cinco anos estão acima do
Segundo o documento, com base em dados da Organização Mun- peso, sendo as meninas as mais afetadas, 7,7%. (FAO, jan/2017)

DISPONÍVEL RELATÓRIO ONLINE SOBRE


SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
DOS MUNICÍPIOS.

O
Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário leiro de Geografia e Estatística (IBGE), Datasus, Cadastro Único,
(MDSA) disponibilizou o primeiro relatório de infor- entre outros.
mações sobre o tema.  O boletim tem por objetivo A ferramenta disponibiliza informações sobre a situação demo-
apresentar conteúdos com diagnósticos municipais e gráfica, de produção de alimentos, renda, saúde e nutrição, além
subsidiar a gestão das políticas voltadas à área, como a elabora- das políticas públicas existentes nos municípios. Entre os desta-
ção dos planos municipais de segurança alimentar e nutricional. ques estão o Mapa de Insegurança Alimentar e Nutricional (Ma-
O relatório online é atualizado automaticamente com os dados paInsan) e dados de obesidade do Sistema de Vigilância Alimen-
mais recentes disponibilizados por diversas fontes, como o tar e Nutricional (Sisvan). Acesse em www.mds.gov.br (Ascom/
MDSA, os ministérios da Saúde e da Educação, Instituto Brasi- MDSA fev/2017)

159
NOTÍCIAS
COMPARTILHAMENTO GLOBAL DE DADOS
DE ESPÉCIES VEGETAIS USADAS NA
ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA.

D
Um acordo de cooperação firmado entre a Empre- repartição justa e equitativa dos benefícios derivados de sua
sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) utilização, em harmonia com a Convenção sobre Diversidade
e a Crop Diversity, organização independente sem Biológica.
fins lucrativos, com sede em Bonn, Alemanha, vai Os dados serão migrados de forma automática do AleloVe-
viabilizar a migração automática de dados públicos sobre re- getal (https://www.embrapa.br/pt/alelo), responsável pela
cursos genéticos de plantas importantes para alimentação e documentação e informatização de registros gerados pelas
agricultura geradas no âmbito da Embrapa para o sistema de pesquisas de recursos genéticos de plantas para o Genesys,
informações Genesys. Um dos principais objetivos é cum- um portal mundial de informações sobre recursos genéticos
prir as exigências do Tratado Internacional sobre Recursos vegetais para alimentação e agricultura, que reúne atualmen-
Fitogenéticos para a Alimentação e a Agricultura (TIRFAA), te dados de bancos genéticos de aproximadamente 200 paí-
ratificado pelo Brasil em 2006, que estimula o compartilha- ses, abrangendo cerca de 11 milhões de registros, incluindo
mento de dados para facilitar o acesso aos acervos genéticos passaporte (espécie de “carteira de identidade” da planta),
vegetais mantidos nas diferentes instituições, com vistas à coleta, caracterização e avaliação. (EMBRAPA, jan/2017)

NOVO PORTAL MOTIVA ALIMENTAÇÃO


SAUDÁVEL.
Iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário
(MDSA) em parceria com as universidades Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e a Federal
do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o Comer Pra Quê? foi
criado para desenvolver estratégias educativas e de mobilização
para a juventude. 
Para isso, a equipe responsável pelo projeto convidou jovens
com idades entre 15 e 20 anos, de 4 cidades do país para criar
grupos de diálogo sobre temas que fazem parte da mobilização. 
Os encontros geraram mais de 30 vídeos, filmes de animação,
spots de rádio e vídeos protagonizados pelos próprios partici-

O
movimento Comer Pra Quê? lançou um portal para pantes.
aproximar os jovens do tema alimentação saudável. No portal, estão disponíveis vídeos, notícias, fotos, agenda de
A página  www.comerpraque.com.br, com diversos eventos e uma biblioteca virtual, composta por livros, publica-
conteúdos, é um espaço de conexão entre jovens, ções, músicas e obras de arte que tenham relação com a comi-
educadores, comunicadores e instituições.  da. (Bol.CAISAN, fev/2017)

160
DIA MUNDIAL DO ATUM SERÁ
CELEBRADO EM 2 DE MAIO.
C
omeçando no próximo ano, segundo proclamação da Assembléia Geral das
Nações Unidas, o dia 2 de maio será internacionalmente reconhecido como
o Dia Mundial do Atum enfatizando a vital importância socioeconômica des-
te peixe consumido globalmente. Assim, o evento iniciado pelos participan-
tes do Acordo de Nauru em 2011 ganhou a ratificação internacional para a celebração
anual do atum no dia 2 de maio. A Assembléia Geral reconheceu que o Dia Mundial do
Atum proposto, introduzido na sede da ONU em Nova York pelo representante de Pa-
lau, em nome das Ilhas Pequenas do Pacifico – Estados em Desenvolvimento, foi apro-
vado sem votação com os 193 membros confirmando seu compromisso de promover
um alerta global sobre o “papel critico do atum” na segurança alimentar e economia
de vários países, e, as “graves ameaças” existentes para a sua sustentabilidade a longo
prazo. Peter Thompson, o presidente da Assembléia Geral disse que o texto aprovado,
declarando o dia 2 de maio como o Dia Anual do Atum, foi um passo importante para
o reconhecimento do papel fundamental do atum para o desenvolvimento sustentável
e a segurança alimentar. (O INSPETOR DE PESCADO, jan/2017)

REGISTRO DE PRODUTOS
DE ORIGEM ANIMAL É
DESBUROCRATIZADO.
O
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está desburo-
cratizando o registro dos produtos de origem animal (nacionais e impor-
tados) submetidos ao Departamento de Inspeção de produtos de Origem
Animal (Dipoa). O sistema de inclusão de pedido de registro atualmente
utilizado foi desativado e já está em funcionamento o novo sistema. Para utilizar o
novo sistema acesse http://sistemasweb.agricultura.gov.br/pages/PGA-SIGSIF.html
e solicite seu cadastro.
As indústrias estrangeiras habilitadas a exportar para o Brasil também deverão obe-
decer as novas regras. Os produtos que não possuem regulamentação continuarão
a ser submetidos à análise prévia do Dipoa para registro. Com as novas normas os
produtos que possuem regulamentação terão seus registros aprovados mediante
lançamento das informações exigidas no sistema. Com essa alteração, a previsão
é que 80% dos produtos não precisarão passar por análise prévia do Dipoa. Os
registros concedidos serão constantemente auditados pelo Dipoa para garantir que
os produtos e rótulos aprovados sigam as regras determinadas pelo departamento.

A
A alteração, que faz parte do Progama Agro+, lançado pelo ministro Blairo Maggi,
dá continuidade ao processo de desburocratização e de otimização dos serviços
prestados pelo Mapa. (MAPA, jan/2017).
161

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