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Artigo
1
Adriana Rodrigues Bezerra, 2Narciza Maria de Oliveira Arcanjo, 3Bárbara Jéssica Pinto Costa, 4Isandra de França
Medeiros
1
Graduada em Nutrição, Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN), Natal, Rio Grande do Norte- Brasil.
E-mail:arodriguesb@outlook.com;
2
Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN),
Campus Currais Novos, Rio Grande do Norte- Brasil. E-mail: narciza.arcanjo@ifrn.edu.br;
3
Mestranda em Ambiente, Tecnologia e Sociedade, Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró, Rio Grande do Norte- Brasil.
E-mail: barbarajessica3@hotmail.com;
4
Graduada em Química Industrial pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campina Grande, Paraíba-Brasil.
E-mail: isandra.medeiros@ifrn.edu.br.
RESUMO- Diante do contexto mundial é de extrema importância que a alimentação venha assegurar a satisfação das
necessidades nutricionais e da saúde da população, para isso é imprescindível que essa seja segura e de qualidade. As
boas práticas de fabricação (BPF) em serviços de alimentação buscam garantir condições higiênico-sanitárias em
conformidade com a legislação vigente, no intuito de proporcionar um alimento seguro. Essas são preestabelecidas pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) a qual objetiva a regulamentação dos setores destinados a prestação
de serviços em Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN). Buscando inferir sobre a realidade dos serviços de
alimentação, este trabalho tem como desígnio refletir sobre os resultados obtidos no que tange às condições higiênico-
sanitárias de alguns serviços de alimentação analisados outrora. Pretendendo alcançar tal propósito foi feito uma revisão
bibliográfica nas plataformas SCIELO, MEDLINE, PUBMED e BVS, baseada em 20 trabalhos acadêmicos, os quais
expressaram maior relevância dentre os diversos serviços de alimentação. A maioria dos resultados obtidos nesta revisão
estão relacionados ao manipulador de alimentos, tanto no que diz respeito a ausência de higiene pessoal, quanto na sua
necessidade de capacitação para execução das suas atividades. É possível concluir que os estabelecimentos avaliados
demonstraram algum nível de adequação. Todavia, o número de inadequação fora superior na maioria das unidades
examinadas.
Palavras-chave: Controle higiênico-sanitário. Segurança de alimentos. Boas práticas. Serviços de alimentação.
ABSTRACT- In view of the global context, it is extremely important that food will ensure the satisfaction of the
nutritional needs and health of the population. To this, is essential that it must be safe and of high quality. Good
manufacturing practices (GMP) in food services seek to ensure hygienic-sanitary conditions in accordance with the
current legislation, in order to provide safe food. These are pre-established by the National Health Surveillance Agency
(ANVISA), which aims to regulate the sectors for the provision of services in Food and Nutrition Units. Seeking to infer
about the reality of food services, this work aims to reflect on the results obtained with regard to the hygienic-sanitary
conditions of some food services analyzed in the past. In order to achieve this purpose, a bibliographic review was made
on the SCIELO, MEDLINE, PUBMED and BVS platforms, based on 20 academic works, which expressed greater
relevance among the various food services. Most of the results obtained in this review are related to the food handler,
both regarding to the lack of personal hygiene, and in their need for training to perform their activities. It is possible to
conclude that the evaluated establishments demonstrated some level of adequacy. However, the number of inadequacies
was higher in most of the units examined.
Keywords: Hygienic-sanitary control. Food safety. Good habits. Food services.
Os estudos evidenciaram certa uniformidade em de DTAs. O estudo de Mello et al. (2010) afirma que os
seus resultados. Apesar dos estabelecimentos analisados manipuladores tinham conhecimento insuficiente sobre BP
apresentarem adequações em alguns aspectos, o que e que durante a manipulação dos alimentos faziam o uso de
predominou foram as não conformidades. Mediante os adornos (anéis) e esmalte nas unhas.
resultados encontrados, podemos identificar fragilidade na Há uma correlação positiva entre as variáveis nível
segurança dos alimentos, que vão desde a escolha das de conhecimento e capacitação dos manipuladores. No
matérias-primas e ingredientes até o momento de estudo de Miranda e Baião (2011), os manipuladores não
exposição dos alimentos ao consumidor final. eram capacitados quanto aos procedimentos corretos para
Dentro dos serviços de alimentação é comum o a higienização dos equipamentos, móveis e utensílios, o
pouco grau de conhecimento dos manipuladores sobre que poderia resultar numa contaminação cruzada, um tipo
alguns aspectos pertinentes as BPM, tais como: higiene de risco comum dentro dos serviços de alimentação. Como
pessoal, contaminantes alimentares, DTAs e BP, o que exemplo dessa conduta arriscada, podemos citar a
contribui significantemente para o risco de refeições manipulação de um mesmo utensílio faca no corte de um
contaminadas e, consequentemente, para o aparecimento frango e posterior uso para corte de vegetais que serão
consumidos crus. Isso pode ser uma demonstração clara e Dentre tantos fatores determinantes de risco de
passiva de imprudência no que se refere a segurança dos contaminação alimentar encontrados nos estudos podemos
alimentos. Diante disso, vale ressaltar a importância de os destacar as matérias-primas. Alguns estabelecimentos não
manipuladores de alimentos serem conscientizados da possuíam fornecedores idôneos; ingredientes e insumos
seriedade da higienização correta, seja esta das mãos, dos eram armazenados por vezes em embalagens avariadas ou
utensílios ou equipamentos, propondo-se a garantir um próximos a produtos de limpeza, não eram respeitados os
alimento de qualidade e diminuir o risco de contaminação prazos de validade, nem havia a higienização antes do seu
para o consumidor. uso. Essas foram algumas das não conformidades
Dito isso, sugere-se um reforço na supervisão encontradas nos estudos de Lopes et al. (2016), Santos e
durante todas as etapas que compõe o processo produtivo Ferreira (2016) e Souza et al. (2019). Conforme
das refeições. Igualmente, seja desenvolvido um programa recomendação da ANVISA, quando aplicável, as
de capacitação contínuo para os manipuladores de embalagens primárias de matérias-primas e ingredientes
alimentos. Com o propósito de garantir refeições com devem passar por procedimentos adequados de limpeza
qualidade e segurança. Lopes et al. (2016) ressalta que os antes do início da sua preparação, tendo como finalidade
estabelecimentos produtores de alimentos e refeições vêm minimizar risco de contaminação.
investindo no aperfeiçoamento dos manipuladores. Nesse Apesar de Souza et al. (2019) identificar algumas
aspecto, o serviço de alimentação estudado possuía inconformidades nos estabelecimentos analisados, em sua
programa de capacitação para todos os envolvidos direta e maioria o bloco de matérias-primas, ingredientes e
indiretamente na manipulação de alimentos. embalagens apresentam-se como adequados. No que se
A RDC nº 216/2004 assegura que para garantia de refere ao conhecimento dos manipuladores sobre as BP,
um alimento seguro os manipuladores devem usar proteção fora constatado conformidade, haja vista esses passarem
nos cabelos (redes, toucas ou outro acessório). Não é por capacitação antes do início de suas atividades, embora
permitido o uso de barba, o uso de esmalte ou base, não tivesse ocorrido nenhum treinamento nos últimos seis
maquiagem ou qualquer um tipo de adorno durante o meses. Em suma, dentre os seis serviços de alimentação
processo produtivo. investigados por Souza et al. (2019) foi averiguado que
Um estudo teve como objetivo analisar um apenas metade deles se encontravam em condições
restaurante universitário no Rio de Janeiro, demonstrou sanitárias adequadas. Além disso, apesar de todos os
uma situação atípica. Os resultados encontrados com base manipuladores possuírem conhecimento sobre BP, não
em testes observacionais, por meio de questionamentos aos eram executados, isso fica claro ante sua classificação
próprios manipuladores demonstraram que estes como deficiente nesse aspecto.
apresentam altos índices de conhecimento no que se refere Em partes um fato que comprova a dificuldade das
às BP e conformidades na área pertinente ao estudo. empresas se adequarem as BP são falhas e/ou ausência na
Contudo, após a realização de análises microbiológicas nas elaboração de documentos e registros que necessitam ser
amostras coletadas, fora constatado consideráveis índices implantados no cumprimento do que exigido por lei, como
de inadequação, principalmente no tocante a higiene na o Manual de Boas Práticas e os POPs. O estudo realizado
manipulação de alimentos. Isso ocorre devido ao fato das por Garcia e Centenaro (2016) confirma essa tese, haja
noções sobre as BP não estarem sendo postos em prática. vista a ausência de documentos e registros assim como a
Esse é um tipo de situação que requer cuidados, pois pode falta do responsável técnico atuante na elaboração de
gerar um quadro de insegurança alimentar, sobretudo documentos, na capacitação dos colaboradores e na
favorecendo a contaminação cruzada, para os comensais supervisão propondo ações corretivas quando necessárias
desse estabelecimento (MEDEIROS; CARVALHO; para garantir um alimento inócuo e de qualidade. Todavia,
FRANCO, 2017). essa não é a realidade apresentada em toda UAN, Lopes et
A partir disso, outra prática exigida na promoção al. (2016) afirma que a Unidade Produtora de Refeição
de um alimento seguro é a ausência de contaminantes (UPR) por ele estudada mantem a documentação
químicos, físicos e biológicos. Nessa linha, se destaca a preestabelecida por lei como o MBP e os POPs.
necessidade de orientações no que tange a frequência e Outro cuidado necessário no combate a
procedimento correto da higienização das mãos dos insegurança alimentar se menciona ao alimento exposto
manipuladores, assim como a retirada dos adornos durante nos balcões de distribuição. Muitas vezes, pela falta de
a manipulação dos alimentos. Outro aspecto que requer barreiras de proteção nesses equipamentos, atitudes
atenção diz respeito ao uso de uniformes compatíveis com simples, como um cliente mexer no cabelo ou falar
as funções e preferencialmente de cores claras para que próximo as preparações, pode acarretar contaminação
possam ser identificados as possíveis sujidades. Sendo (GARCIA; CENTENARO, 2014). Durante a exposição
assim, manipuladores de alimentos e funcionários das refeições, os estabelecimentos precisam cumprir
responsáveis pela atividade de higienização das instalações alguns cuidados, no intuito de promover segurança e
sanitárias devem utilizar uniformes condizentes com as qualidade para o alimento, como por exemplo, garantir que
suas respectivas funções. todas as partes do alimento exposto atinjam uma
O estudo de Medeiros et al. (2013) identificou que temperatura superior a 60ºC (sessenta graus Celsius) por,
os manipuladores faziam uso de adornos pessoais e que não no máximo, 6 (seis) horas.
usavam uniformes compatíveis com a atividade. Silva et al. Segundo a RDC nº 216/2004 para produção de
(2015) também apresenta achados da mesma natureza, os alimentos deve ser utilizado somente água potável. Esta
manipuladores usavam roupas pessoais devido atraso na necessita ter sua potabilidade atestada semestralmente
compra dos uniformes. Ambas as práticas demonstram mediante laudos laboratoriais. No estudo de Souza et al.
estar em desacordo com a legislação que rege as BP. (2019) foi identificado inadequações em relação ao estado
de higiene e conservação do reservatório, pois nenhum pelo fato destes poderem gerar algum tipo de contaminação
estabelecimento realizava a higienização desses no alimento, o que poderia acarretar numa insegurança
reservatórios no intervalo recomendado, ou seja, no alimentar.
máximo de seis meses. O estudo de Lopes et al. (2016)
REFERÊNCIAS
apresenta resultados semelhantes, pois identificou falha na
higienização do reservatório de água e afirma que não são BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
feitos testes que comprovem a potabilidade da água. Em Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 275, de 21 de
contrapartida dessa inadequação, Silva et al. (2015) declara outubro de 2002. Dispõe sobre regulamento técnico de
a conformidade quanto as práticas de registros relativos à Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos
higienização do reservatório de água e laudos de Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de
potabilidade. Santos e Ferreira (2016), ratifica que o item Alimentos e a Lista de Verificação de Boas Práticas de
de abastecimento de água encontrava-se totalmente Fabricação em Estabelecimentos
adequado, conforme o que preconiza a legislação. Produtores/Industrializadores de Alimentos. Diário
Como já discutido, as BP por parte dos Oficial da República Federativa do Brasil, Poder
colaboradores na manipulação dos alimentos são de vital Executivo, Brasília, DF, 23 out. 2002. Seção 1, pág. 126.
importância no processo produtivo. Garcia e Centanaro Disponível:
(2016), pôde verificar a necessidade de capacitação desses http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RD
profissionais buscando melhor atuação no C_275_2002_COMP.pdf/fce9dac0-ae57-4de2-8cf9-
desenvolvimento das suas atribuições. Após a implantação e286a383f254 Acesso em: 10 dez. 2020.
dessa capacitação, houve uma reaplicação do checklist,
visando identificar a evolução dos aspectos nos quais BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
foram identificadas as inconformidades. Os resultados Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 216, de 15 de
obtidos por intermédio dessa nova aplicação demonstraram setembro de 2004. Dispõe sobre regulamento técnico de
aperfeiçoamento por parte dos manipuladores, acarretando Boas Práticas para serviços de alimentação. Diário
em melhores desempenhos e novos hábitos durante a Oficial da República Federativa do Brasil, Poder
realização das suas funções. Do mesmo modo, foram Executivo, Brasília, DF, 15 set. 2004. Seção 1.
evidenciadas melhorias nas condições higiênico-sanitárias Disponível:
nos aspectos pertinentes à matérias-primas, ingredientes e http://portal.anvisa.gov.br/documents/33916/388704/RES
embalagens; preparação do alimento, armazenamento e OLU%25C3%2587%25C3%2583O-
transporte do alimento preparado e exposição ao consumo RDC%2BN%2B216%2BDE%2B15%2BDE%2BSETEM
do alimento preparado. Desta feita, foi possível concluir BRO%2BDE%2B2004.pdf/23701496-925d-4d4d-99aa-
que a UAN em questão se encontra em consonância com 9d479b316c4b Acesso em: 10 dez. 2020.
os padrões estabelecidos pela ANVISA.
DENNY, D. M. T.; CASTRO, D.; MACHADO, A. R.;
Miranda e Baião (2011), analisou um
MACHADO FILHO, J. V.; WITT, G. F. Segurança
estabelecimento, o qual apresentou altos níveis de
alimentar e a governança econômica global. Revista de
conformidade, sobretudo nos quesitos de controle
Direito Internacional, Brasília, v. 14, n. 1, p. 125-141,
integrado de vetores e pragas urbanas, no qual se encontrou
maio. 2017. Disponível:
em perfeita adequação, no manejo dos resíduos e ainda no
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2972
que se refere às edificações, instalações, equipamentos,
móveis e utensílios. Contudo, exibiu déficit nas áreas de 800 Acesso em: 20 mar. 2020.
preparação dos alimentos e matérias-primas, ingredientes e FERREIRA, M. A.; SÃO JOSÉ, J. F. B.; TOMAZINI, A.
embalagens. No geral, esse serviço de alimentação está P. B.; MARTINI, H. S. D.; MILAGRES, R. C. M.;
bem classificado no rol das exigências feita pela ANVISA, PINHEIRO-SANT’ANA, H. M. Avaliação da adequação
entretanto, vale salientar que, mesmo os índices de às boas práticas em unidades de alimentação e nutrição.
inadequações não se apresentando de forma tão acentuada, Revista Instituto Adolfo Lutz. São Paulo, 70(2): 230-
esses aspectos necessitam de medidas corretivas, 235, maio. 2011. Disponível:
tencionando a segurança alimentar nessa unidade. http://periodicos.ses.sp.bvs.br/pdf/rial/v70n2/v70n2a20.pd
f Acesso em: 03 dez. 2019.
CONCLUSÃO
FONSECA, M. P.; MANFRIDINI, L. A.; SÃO JOSÉ, J.
Diante dos resultados encontrados, é possível F. B.; TOMAZINI, A. P. B.; MARTINI, H. S. D.;
concluir que existem falhas em percentuais significativos RIBEIRO, R. C. L.; SANT’ANA, H. M. P. Avaliação das
dentro dos serviços de alimentação, isso reforça a condições físico- funcionais de restaurantes comerciais
necessidade de atribuir um controle higiênico-sanitário para implementação das boas práticas. Revista Alimentos
mais eficaz. Desse modo, para conferir a qualidade do e Nutrição Araraquara, Viçosa/MG, v. 21, n. 2, p. 251-
alimento seguro se faz necessário adotar boas práticas de 257, abr./jun. 2010. Disponível:
fabricação e manipulação dos alimentos, pois essas https://www.researchgate.net/publication/49600238_AVA
ferramentas são capazes de garantir alimentos LIACAO_DAS_CONDICOES_FISICO-
sanitariamente adequados a saúde do consumidor. Visando FUNCIONAIS_DE_RESTAURANTES_COMERCIAIS_
dirimir algumas incoerências identificadas ao longo do PARA_IMPLEMENTACAO_DAS_BOAS_PRATICAS/
processo de fabricação, algumas das sugestões encontradas link/5404b65d0cf2bba34c1cfe09/download Acesso em:
nos objetos consultados nesse trabalho, de forma direta ou 03 dez. 2019.
indiretamente, preconiza a capacitação dos colaboradores,