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2ª Versão 2016
cft@sesaram.pt gcppcirasesaram@sesaram.pt
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
Manual de Antimicrobianos
2016
2ª Versão
Autores
Helga Natacha (Serviço de Cirurgia Geral)
Joana Nunes (Serviço de Anestesiologia)
Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT)
José Mário Durães (Serviço de Nefrologia)
Margarida Câmara (Serviço de Medicina Intensiva)
Maria Inês Correia (Serviço de Medicina Interna)
Cremilda Barros (Serviço de Ginecologia/Obstetrícia)
Maria João Borges (Serviço de Pediatria)
Graça Dias (Serviço de Medicina Interna)
Maria José Gomes (Serviço de Cirurgia Geral)
Martinha Garcia (Serviços Farmacêuticos)
Manuela Silva (Serviço de Ginecologia/Obstetrícia)
Ana Margarida Sousa (Serviços Farmacêuticos)
Miguel Silva (Serviço de Cirurgia Geral)
Cláudia Fernandes (Serviços Farmacêuticos)
Miriam Freitas (Serviço de Medicina Interna)
Mónica Caldeira (Serviço de Hemato-oncologia)
Grupo de Coordenação de Prevenção e Controlo de Infeções e de
Nuno Canhoto (Serviço de Patologia Clinica/Sector de Microbiologia)
Resistência aos Antimicrobianos (GCPPCIRA)
Pedro Vieira (Serviço de Nefrologia)
Margarida Câmara (Serviço de Medicina Intensiva)
Susana Chaves (Serviço de Medicina Intensiva)
Gonçalo Silva (Serviço de Medicina Intensiva)
Ricardo Nascimento (Serviço de Pneumologia)
Francisco Silva (Serviço de Pediatria)
Ruben Barreto (Serviço de Cirurgia Geral)
Vitor Magno (Serviço de Gastroenterologia)
Autores por Serviços
Teresa Afonso (Serviço de Patologia Clinica/Sector de Microbiologia)
Adelaide Spínola (Serviço de Medicina Interna)
Ana Paula Reis (Serviço de Infeciologia)
Revisores e Layout
António Miguel Gonçalves (Serviço de Nefrologia)
Cremilda Barros (Serviço de Ginecologia/Obstetrícia)
Carolina Gouveia (Serviço de Pediatria)
Graça Dias (Serviço de Medicina Interna)
Cícero Silveira (Serviço de Neurocirurgia)
Margarida Câmara (Serviço de Medicina Intensiva)
Claúdia Freitas (Serviço de Ginecologia/Obstetrícia)
Diana Fernandes (Serviço de Cirurgia Geral)
Filipe Bacelar (Serviço de Ginecologia/Obstetrícia)
Florentina Menezes (Serviço de Cirurgia Geral)
Índice TUBERCULOSE PULMONAR......................................................................... 235
INFEÇÕES INTRA-ABDOMINAIS ................................................................... 240
GRAUS DE RECOMENDAÇÃO E NÍVEIS DE EVIDÊNCIA ......................................5 MENINGITE BACTERIANA NO ADULTO ........................................................ 249
POLÍTICA DE ANTIMICROBIANOS ....................................................................7 ENDOCARDITE DE VÁLVULA NATIVA ........................................................... 257
ANTIMICROBIANOS DISPONÍVEIS - INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS, GUIA DE ENDOCARDITE DE VÁLVULA PROTÉSICA ...................................................... 267
ADMINISTRAÇÃO E CUSTOS ......................................................................... 12
INFEÇÃO DO PÉ DIABÉTICO......................................................................... 274
DOSES E EFEITOS LATERAIS DOS ANTIBIÓTICOS ............................................ 79
GASTROENTERITE SEVERA .......................................................................... 278
RISCO DOS ANTIMICROBIANOS NA GRAVIDEZ E SEGURANÇA NA LACTAÇÃO . 88
INFEÇÕES EM OBSTETRÍCIA ........................................................................ 283
DOSES DOS ANTIMICROBIANOS NA DOENÇA RENAL CRÓNICA ...................... 94
BACTERIEMIA ASSOCIADA A CATETER INTRAVASCULAR .............................. 285
DOSE DOS ANTIMICROBIANOS NA INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA ...................... 125
INFEÇÃO DO LOCAL CIRÚRGICO .................................................................. 294
DURAÇÃO DA TERAPÊUTICA ANTIBIÓTICA .................................................. 126
ESPONDILODISCITES ................................................................................... 300
SINOPSE DE PERFUSÕES PROLONGADAS/CONTÍNUAS................................. 132
ABCESSO CEREBRAL ................................................................................... 304
SWITCH DE ANTIMICROBIANOS DA VIA ENDOVENOSA PARA ORAL ............ 137
INFEÇÃO POR CLOSTRIDIUM DIFFICILE ........................................................ 308
ANTIBIÓTICOS INALADOS ........................................................................... 143
ISQUÉMIA INTESTINAL ............................................................................... 319
ANTIFÚNGICOS .......................................................................................... 145
INFEÇÕES BACTERIANAS ASSOCIADAS A DIÁLISE PERITONEAL ..................... 325
PROFILAXIA ANTIBIÓTICA CIRÚRGICA ......................................................... 169
INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO BACTERIANA ASSOCIADA A TRANSPLANTE
PROFILAXIA DA PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA ............................. 185 RENAL........................................................................................................ 332
PROFILAXIA DA MENINGITE MENINGOCÓCICA............................................ 186 INFEÇÃO DO TRATO URINÁRIO NA PEDIATRIA ............................................ 340
PROFILAXIA DA ENDOCARDITE INFECIOSA .................................................. 188 SÍNDROME FEBRIL NEUTROPÉNICO ............................................................ 344
PROFILAXIA NOS PROCEDIMENTOS ENDOSCÓPICOS GASTROINTESTINAIS ... 191 REATIVAÇÃO DO CITOMEGALOVÍRUS (CMV) EM DOENTES DE CUIDADOS
PROFILAXIA EM SITUAÇÕES OBSTÉTRICAS .................................................. 194 INTENSIVOS ............................................................................................... 354
Graus de recomendação
Graus de
recomendação
Grau I Existem evidências e/ou consenso geral de que determinado procedimento/tratamento é benéfico, útil e eficaz.
Grau II Existem evidências contraditórias e/ou divergência de opiniões sobre a utilidade/eficácia de determinado tratamento ou procedimento.
Níveis de evidência
Nível de evidência
A Informação recolhida a partir de vários ensaios clínicos aleatorizados ou meta-análises.
B Informação recolhida a partir de um único ensaio clínico aleatorizado ou estudos alargados não aleatorizados.
C Opinião consensual dos especialistas e/ou pequenos estudos, estudos retrospetivos e registos.
Adaptado e traduzido de www.escardio.org
Política de Antimicrobianos
Autores: Gonçalo Silva, Graça Dias, Cremilda Barros, Ana Margarida Sousa, Claúdia Fernandes, Martinha Garcia, Margarida Câmara
O Manual de Antimicrobianos foi elaborado face às solicitações de muitos colegas, especialmente dos que iniciaram a sua carreira hospitalar.
Tem como objetivo fornecer aos profissionais orientações escritas sobre diversos aspetos da antibioterapia aplicada às situações mais frequentes da prática clínica.
Considerando:
O consumo de antibióticos tem vindo a aumentar;
A antibioterapia é a única terapêutica farmacológica etiológica da infeção;
A esmagadora maioria das prescrições antibióticas é realizada de forma empírica, dado que, a antibioterapia é iniciada sem o conhecimento do microrganismo
causador da infeção, muitas vezes sem se conhecer o foco infecioso e, eventualmente, sem se ter a certeza da existência de uma infeção;
A utilização inadequada dos antimicrobianos, no que respeita ao antimicrobiano escolhido (o timing de início, a duração, via e modo de administração), é
responsável pela emergência de microrganismos multiresistentes, não só no próprio doente, mas também no ambiente onde o doente está inserido, sendo
uma das causas mais frequentes de iatrogenia;
Nos últimos anos tem-se assistido a um aumento de infeções nosocomiais por agentes multiresistentes, devido à sobreutilização dos antimicrobianos e ao não
cumprimento de medidas de prevenção e controlo das infeções associadas aos cuidados de saúde. Estas infeções têm morbilidade e mortalidade elevadas;
Os custos diretos e indiretos associados à antibioterapia são muito elevados;
Há necessidade de uma política de antimicrobianos, de forma a normalizar o uso dos mesmos e reduzir o aparecimento de resistências microbianas e a
mortalidade resultante das infeções nosocomiais.
A Comissão de Farmácia e Terapêutica do SESARAM, EPE e o Grupo de Coordenação de Prevenção e Controlo de infeções e de Resistência aos
Antimicrobianos, à semelhança do que tem sido feito noutras instituições nacionais e estrangeiras, implementou uma política de antimicrobianos em 2009. Dadas as
alterações das recomendações na utilização de antimicrobianos, a atualização do Manual de Antimicrobianos publicado em 2011, tornou-se necessária.
A Política de Antimicrobianos tem por base as recomendações nacionais e internacionais adaptadas à realidade microbiológica e disponibilidade de recursos
atual do SESARAM, EPE.
1. A prescrição antibiótica deve ser sempre considerada como um ato médico de terapêutica com riscos associados e por isso cuidadosamente ponderado o seu
risco-benefício.
a. O emprego de antibióticos deve ser restringido a doentes que tenham elevada probabilidade de estarem infetados por microrganismos patogénicos sensíveis ao
antibiótico prescrito.
b. A presença de febre, leucocitose ou aumento da concentração sérica de proteínas de fase aguda, como a proteína C reativa (PCR), não traduzem isoladamente
síndrome infecioso de natureza bacteriana, pelo que não são, por si só indicação para o início de antibioterapia.
c. Embora idealmente o diagnóstico etiológico seja estabelecido com recurso a exames microbiológicos, a suspeita de infeção e os agentes mais prováveis, podem
ser inferidos da apresentação clínica, local de aquisição da infeção, foco, características do hospedeiro e gravidade do quadro clínico.
d. Na anamnese dever-se-á incluir a pesquisa de alergia ou intolerância a antibióticos, bem como a exposição a antimicrobianos nos últimos 3 meses para evitar a
prescrição da mesma classe de fármacos.
2. Aplicação das recomendações gerais na prescrição antibiótica, tendo em consideração o tipo de doente em causa e suas comorbilidades, as características
epidemiológicas (incluindo os fatores de risco para infeção por microrganismos resistentes), o foco infecioso e os agentes etiológicos mais prováveis e as
particularidades dos antibióticos;
3. Incentivo aos estudos microbiológicos preferencialmente antes do início da antibioterapia. Os doentes com internamento hospitalar e/ou suspeita de infeção
associada aos cuidados de saúde (infeção desenvolvida em meio hospitalar, residentes em lares/instituições, frequentadores de hospitais de dia ou Unidades de
Hemodiálise) devem ter exames microbiológicos colhidos, de acordo com o foco, preferencialmente antes do início da antibioterapia. À exceção da investigação
diagnóstica de infeção associada a cateter e de realização de culturas de vigilância não se recomenda a realização de zaragatoas da pele/úlceras, estando
recomendadas nestas situações a colheita de líquido/tecido orgânico. Também não se recomendam as colheitas através de drenos.
4. Escolha de terapêutica antimicrobiana apropriada: eficaz contra o agente presumido e com boa penetração no local de infeção.
5. Terapêutica antimicrobiana adequada: dose correta, vias de administração, intervalos, timming de início e duração adequadas.
a. A antibioterapia deve ser iniciada o mais precocemente possível, constituindo situações que exijam antibioterapia urgente, na primeira hora: meningococcémias,
meningite, sepsis grave e choque séptico, infeção em doente neutropénico e sepsis em doentes esplenectomizados.
b. A presença de insuficiência hepática ou renal deve ser avaliada e dose de antibiótico diminuída de acordo com a sua via excreção, para evitar acumulação e
toxicidade. Contudo, a primeira dose de antibiótico deve ser sempre máxima para serem atingidas precocemente concentrações bactericidas, fazendo-se o
ajuste nas doses subsequentes.
6. A escolha do antibiótico deve ser feita em função do espetro de ação e das características farmacocinéticas e farmacodinâmicas, nomeadamente da penetração
no local de infeção e a sua potencial toxicidade.
7. As Penicilinas, Cefalosporinas e os Macrólidos (excetuando a Claritromicina cuja prescrição deverá ter em conta os benefícios e os riscos da sua utilização),
são considerados antibióticos seguros na mulher grávida ou em amamentação.
8. Recomenda-se nos doentes graves a otimização da terapêutica, considerando os princípios farmacocinéticos e farmacodiâmicos dos antimicrobianos:
a. Primeira administração com doses máximas, adaptando-se as doses seguintes a eventual disfunção renal e/ou hepática (situações que implicam toxicidade e
alterações da depuração dos fármacos). Doses sub-máximas são menos eficazes na erradicação microbiológica e relacionam-se com a seleção dos
microrganismos multirresistentes.
b. Os antibióticos tempo-dependente (Beta-lactâmicos - Flucloxacilina, Penicilina G, Piperacilina/Tazobactam, Ceftazidima, Cefuroxime, Cefepime, Cefotaxima;
Carbapenemos – Meropenem e Imipenem; e Glicopeptídeos - Vancomicina) deverão ser administrados em perfusão contínua/prolongada, dependendo da sua
estabilidade em solução. Deve ser considerada a disponibilidade de seringas/bombas perfusoras.
c. Os antibióticos concentração-dependente (Aminoglicosídeos – Gentamicina, Amicacina, Tobramicina e Quinolonas), em dose única maximizada e
administrados com intervalos prolongados, de forma a serem obtidos, elevados picos de concentração. A sua eficácia bactericida persiste mesmo após a sua
concentração ser sub-terapêutica, ou seja tem efeito pós-antibiótico prolongado.
d. Determinação periódica dos níveis séricos da Gentamicina e da Vancomicina com ajuste das doses e intervalos de administração, de forma a obter eficácia
clínica máxima e efeitos laterais mínimos.
9. Nos doentes com via oral disponível e funcionante e clinicamente estáveis, preconiza-se a utilização dos antimicrobianos por via oral, para os fármacos com
elevada biodisponibilidade, por via entérica.
10. Prescrição antibiótica de combinação (dupla) nas situações: terapêutica empírica de infeção provável Pseudomonas spp, infecções a Enterococcus spp,
endocardite infecciosa e meningite.
11. Prescrição antibiótica em associação: na terapêutica empírica se suspeita de infeção polimicrobiana e na terapêutica dirigida se isolamento de agentes com
diferentes padrões de sensibilidade.
12. Atendendo à realidade nacional e regional com elevado padrão de resistência às Quinolonas, ao aumento de estirpes apenas sensíveis aos Carbapenemos ou
mesmo a eles resistentes, à elevada prevalência de Staphilococcus aureus meticilinoresistentes, a Política de Antibióticos do SESARAM, EPE privilegia:
a. Terapêutica empírica de doente com infeção associada aos cuidados de saúde com fatores de risco para infeção a Pseudomonas com
Piperacilina/Tazobactam e Gentamicina;
b. Refrear o uso de Quinolonas, Cefalosporinas com atividade antipseudomónica (Cefotaxima e Ceftazidima), Aminoglicosídeos (Amicacina e Tobramicina)
em terapêutica empírica;
c. Uso de Carbapenemos em terapêutica empírica, só se falência/toxicidade/contraindicação da terapêutica de primeira linha;
d. Todas as considerações anteriores relativas à apropriação da terapêutica empírica devem ser adaptadas às situações particulares de cada doente e do
serviço de internamento (Mapa Microbiológico).
e. Em relação à apropriação da terapêutica dirigida por teste de sensibilidade aos antimicrobianos priviligia-se o seguinte esquema. Este esquema é válido para a
infeção por Pseudomonas aeruginosa, sendo genericamente o seguido para as infeções associadas aos cuidados de saúde, por microrganismos Gram negativo.
Antibióticos Sensibilidade
Piperacilina/Tazobactam S R R R R R
Ceftazidima S S R R R R
Gentamicina S S S R S R
Ciprofloxacina/Levofloxacina S S S S R R
Meropenem/Imipenem S S S S S S
Colistina S S S S S S
Antibiótico preferencial nas infeções por Pseudomonas aeruginosa para cada diferente padrão de sensibilidade aos antibióticos (coluna vertical)
f. Na terapêutica empírica e dirigida para Staphilococcus aureus meticilinoresistentes privilegia-se a utilização de Vancomicina, uma vez que é um antibiótico
bactericida e tem aprovação em resumo das características do medicamento (RCM) para os principais focos de infeção. A utilização de Linezolide está
reservada para as situações de intolerância/alergia/efeito adverso à Vancomcina, resistência à Vancomicina, switch da terapêutica IV para oral e utilização em
ambulatório.
g. Nas infeções por Sternotrophomonas maltophilia, só sensíveis ao Cotrimoxazol e Levofloxacina/Ciprofloxacina, preconiza-se a utilização de Cotrimoxazol,
como primeira linha.
h. A Nitrofurantoina e a Fosfomicina orais estão disponíveis no Formulário do SESARAM, EPE, para tratamento das infeções urinárias não complicadas, uma
vez que o agente mais frequente destas infeções (Escherichia coli) apresenta baixa resistência a ambos os antibióticos.
i. Nos doentes imunocompetentes, não é recomendado o tratamento antifúngico para isolamento de Candidas spp em amostras das vias aéreas. Nos
imunodeprimidos a terapêutica deve ser individualizada e privilegiadas as colheitas de amostras protegidas.
j. Recomenda-se a utilização de Fluconazol, no tratamento empírico das infeções a fungos, uma vez que a incidência de Candidas não albicans é baixa. A
utilização de Equinocandinas só está recomendada em doentes com instabilidade hemodinâmica e terapêutica prévia com Azóis.
13. São fundamentais as medidas de controlo do foco infecioso, como, por exemplo, a drenagem de abcessos e a remoção de dispositivos potencialmente
infetados.
14. A reavaliação da antibioterapia deve ser feita com base na resposta clínica e nos dados microbiológicos.
a. A não confirmação de infeção deve levar à suspensão da antibioterapia.
b. O teste de sensibilidade aos antimicrobianos deve orientar a de-escalação para antibiótico ativo de espectro mais reduzido. A gravidade do quadro clínico é
independente da susceptibilidade dos microrganismos aos antimicrobianos.
c. A avaliação da resposta clínica poderá permitir a de-escalação da duração da terapêutica antimicrobiana (7 a 10 dias para a maioria das situações):
i. Cistite não complicada (sem fatores de risco e não associada a cateteres) – 1 a 3 dias
ii. Pneumonia da comunidade 5-7 dias
Pneumonia nosocomial – 7 dias
iii. Infeções a Gram negativos fermentados (Pseudomonas spp, Acinectobacter spp, Stenotrophomonas spp, Burdetella spp, Burkholderia spp, Moraxella spp) – 7-
14 dias
iv. Infeções intrabdominais – 4-7 dias
v. Infeções a Staphilococcus sem bacteriémia – 7 dias
vi. Bacteriémias – 7 dias
vii. Bacteriémia a MRSA – 14-21 dias
viii. Endocardite bacteriana de válvula nativa – 4 semanas
ix. Osteomielite – 6 semanas
x. Candidémias – 14 dias após a última hemocultura negativa
15. A prescrição dos antibióticos de justificação é assistida pelo Programa de Assistência à Prescrição de Antibióticos (PAPA), auxiliando diariamente a
prescrição dos mesmos, com vista à apropriação e adequação (PO.01 PRO.044, versão Nº001, do Manual do GCPPCIRA).
a. O preenchimento on-line correto da justificação dos “antimicrobianos de justificação obrigatória”, é fundamental para a avaliação completa da indicação clínica e
validação da terapêutica;
i. Aminoglicosídeos (Gentamicina, Amicacina, Tobramicina e Estreptomicina);
ii. Penicilinas (Amoxicilina/Clavulânico 2.2g; Piperacilina/Tazobactam; Sulbactam);
iii. Tetraciclinas (Tigeciclina);
iv. Cefalosporinas (Ceftriaxone; Cefotaxima, Ceftazidima, Ceftarolina);
v. Carbapenemes (Meropenem, Imipenem, Ertapenem);
10 Política de Antimicrobianos MA.02.16
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
O PAPA para além do apoio à prescrição, também monitoriza as características da prescrição, com o objetivo de reduzir ao mínimo as prescrições inapropriadas e
inadequadas, contribuindo assim para o aumento da eficácia de utilização dos antibióticos e redução das suas complicações.
16. Acesso imediato à maioria dos antimicrobianos incluídos nestas recomendações de forma a permitir o início precoce da antibioterapia. Nos Serviços com Pyxis®
os antimicrobianos encontram-se aí disponíveis. Nos restantes serviços, o pedido dos antimicrobianos deverá ser efectuado diretamente aos Serviços
Farmacêuticos (disponível 24 horas).
17. Na profilaxia antibiótica cirúrgica recomenda-se a utilização dos antibióticos em dose dupla da habitual, 60 minutos antes do início da cirurgia (120 min nos casos
de Vancomicina) de modo a assegurar níveis tecidulares adequados na altura da incisão cirúrgica, e devendo esta estar completa antes da incisão. Nos
procedimentos cirúrgicos com duração não superior a duas horas, a profilaxia antibiótica cirúrgica é prescrita em dose única com exceção das cirurgias mais
prolongadas e nos casos de perda de sangue, que está recomendada a repetição da dose. Nos doentes de alto risco submetidos a cirurgia torácica, vascular ou
ortopédica, pode manter-se a profilaxia nas primeiras 24h (e nunca para além deste limite). A monitorização da profilaxia antibiótica cirúrgica, é efetuado ao
abrigo do Programa de Prevenção e Resistência aos Antimicrobianos, através do programa HELICS – Infeção do Local Cirúrgico e através do Programa de Apoio à
Prescrição de Antimicrobianos. O objetivo é reduzir ou anular a profilaxia antibiótica cirúrgica <24h.
18. A ocorrência de reações adversas ao medicamento (RAM), deverá ser notificada no formulário próprio do INFARMED de acordo com as boas práticas. Se a
RAM for motivo de prescrição de “antimicrobianos de justificação obrigatória”, esse facto deve ser incluído na justificação.
19. Armazenamento e controlo dos antimicrobianos: nos serviços com Sistema Pyxis® esse controlo é efectuado inicialmente através deste sistema.
Posteriormente os antimicrobianos com justificação são fornecidos peles Serviços Farmacêuticos. Para os restantes serviços, o fornecimento e controlo dos
antimicrobianos é efetuado pelos Serviços Farmacêuticos. A monitorização do consumo de antimicrobianos do SESARAM, EPE, é efetuado ao abrigo do
Programa de Prevenção e Controlo da Infeção e Resistência aos Antimicrobianos, pelo Grupo Coordenador do PPCIRA), em Dose Diária Definida (DDD/1000
habitantes e DDD/100 camas.dia), dias de terapêutica, dias livre de antibiótico, duração da antibioterapia, percentagem de doentes que realizou profilaxia antibiótica
cirúrgica> 24h, percentagem de doentes que realizou antibióticos nos 30 minutos antes da incisão cirúrgica, sendo relacionado semestralmente com as resistências
microbianas locais e com as infeções associadas aos cuidados de saúde.
Neste capítulo encontram-se de forma resumida todos os antimicrobianos que estão disponíveis no SESARAM,E.P.E.
Os antimicrobianos estão organizados por grupos terapêuticos e em tabelas de modo a otimizar a gestão da informação.
Cada grupo terapêutico é constituído por 4 secções:
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
Nesta secção apenas foram consideradas as interações com consequências clínicas significativas, classificadas de C a X conforme descrito na tabela abaixo
Nome Genérico/ Apresentação Reconstituição Diluição / Administração Estabilidade após Reconstituição / Diluição Observações
Vias de administração adequadas; Período de tempo durante o qual o Qualquer observação ou chamada
Descrição do medicamento e das Instruções de reconstituição (tipo
volumes de diluição, velocidade de medicamento mantém a estabilidade físico- de atenção, que tenha sido
marcas comerciais mais comuns de solvente, volume…)
perfusão… química considerada pertinente
A CIPROFLOXACINA ........................................................................................................................................28
CLARITROMICINA..........................................................................................................................................16
ABACAVIR ...................................................................................................................................................... 59 CLINDAMICINA ...............................................................................................................................................14
Abreviaturas e acrónimos ........................................................................................................................... 69 CLORANFENICOL ..........................................................................................................................................32
ACICLOVIR ..................................................................................................................................................... 50 CLOROQUINA .................................................................................................................................................46
ACIDO FUSIDICO .......................................................................................................................................... 31 COLISTEMETATO DE SÓDIO ......................................................................................................................27
ADEFOVIR....................................................................................................................................................... 55
ALBENDAZOL ................................................................................................................................................ 49 D
AMICACINA ...................................................................................................................................................... 5
AMINOGLICOSÍDEOS..................................................................................................................................... 5 DAPTOMICINA ................................................................................................................................................32
AMOXICILINA ................................................................................................................................................. 22 DARUNAVIR ....................................................................................................................................................60
AMPICILINA .................................................................................................................................................... 22 DIDANOSINA ...................................................................................................................................................59
ANFOTERICINA B ......................................................................................................................................... 37 DOLUTEGRAVIR ............................................................................................................................................60
ANIDULAFUNGINA ....................................................................................................................................... 37 DOXICICLINA ..................................................................................................................................................31
ANTIFÚNGICOS ............................................................................................................................................. 37
ANTIMALÁRICOS .......................................................................................................................................... 46 E
ANTIVIRICOS .................................................................................................................................................. 51
ANTIVÍRICOS PARA TRATAMENTO DE CITOMEGALOVÍRUS ........................................................... 53 EFAVIRENZE ...................................................................................................................................................60
ANTIVÍRICOS PARA TRATAMENTO DO VIH .......................................................................................... 59 ELVITEGRAVIR ...............................................................................................................................................61
ANTIVÍRICOS PARA TRATAMENTO DO VÍRUS INFLUENZA ............................................................. 54 ENTECAVIR .....................................................................................................................................................55
ANTIVÍRICOS PARA TRATAMENTO DOS VÍRUS DA HEPATITE ....................................................... 55 ERITROMICINA ...............................................................................................................................................16
ARTENIMOL.................................................................................................................................................... 46 ERTAPENEM .....................................................................................................................................................7
ATAZANAVIR ................................................................................................................................................. 61 ESPIRAMICINA ...............................................................................................................................................16
ATOVAQUONA............................................................................................................................................... 46 ESTAVUDINA ..................................................................................................................................................59
AZITROMICINA .............................................................................................................................................. 16 ESTREPTOMICINA...........................................................................................................................................5
ETAMBUTOL ...................................................................................................................................................42
B ETRAVIRINA ....................................................................................................................................................60
I PROGUANILO .................................................................................................................................................46
IMIPENEM ......................................................................................................................................................... 7
ISONIAZIDA .................................................................................................................................................... 42 Q
ITRACONAZOL .............................................................................................................................................. 37 QUININA ...........................................................................................................................................................46
QUINOLONAS .................................................................................................................................................28
L
LAMIVUDINA .................................................................................................................................................. 55 R
LEDIPASVIR ................................................................................................................................................... 55 RALTEGRAVIR ...............................................................................................................................................61
LEVOFLOXACINA ......................................................................................................................................... 28 RIBAVIRINA .....................................................................................................................................................55
LINCOSAMIDAS ............................................................................................................................................. 14 RIFABUTINA ....................................................................................................................................................42
LINEZOLIDA ................................................................................................................................................... 19 RIFAMPICINA ..................................................................................................................................................42
RIFAXIMINA .....................................................................................................................................................32
M RILPIVIRINA ....................................................................................................................................................60
RITONAVIR ......................................................................................................................................................60
MACRÓLIDOS ................................................................................................................................................ 16
MARAVIROC ................................................................................................................................................... 60
MEFLOQUINA................................................................................................................................................. 46 S
MEROPENEM ................................................................................................................................................... 7 SAQUINAVIR ...................................................................................................................................................60
METRONIDAZOL ........................................................................................................................................... 32 SOFOSBUVIR ..................................................................................................................................................55
MICAFUNGINA ............................................................................................................................................... 37 SULFADIAZINA ...............................................................................................................................................32
MOXIFLOXACINA .......................................................................................................................................... 28 SULFAMETOXAZOL ......................................................................................................................................32
N T
NEVIRAPINA ................................................................................................................................................... 60 TEICOPLANINA ..............................................................................................................................................32
NISTATINA ...................................................................................................................................................... 32 TENOFOVIR .....................................................................................................................................................60
NORFLOXACINA ........................................................................................................................................... 28 TERBINAFINA .................................................................................................................................................37
TETRACICLINAS ............................................................................................................................................31
O TIGECICLINA...................................................................................................................................................31
TIPRANAVIR ....................................................................................................................................................61
OFLOXACINA ................................................................................................................................................. 28 TOBRAMICINA ..................................................................................................................................................5
OSELTAMIVIR ................................................................................................................................................ 54 TRIMETOPRIM ................................................................................................................................................32
OUTROS ANTIMICROBIANOS.................................................................................................................... 32 TUBERCULOSTATICOS E ANTILEPROTICOS ........................................................................................42
OUTROS ANTIPARASITARIOS .................................................................................................................. 49
OXAZOLIDINONAS ....................................................................................................................................... 19
V
P VALACICLOVIR ..............................................................................................................................................51
VALGANCICLOVIR ........................................................................................................................................53
PENICILINAS .................................................................................................................................................. 21 VANCOMICINA................................................................................................................................................32
PIPERACILINA ............................................................................................................................................... 21 VORICONAZOL ...............................................................................................................................................37
PIPERAQUINA................................................................................................................................................ 46
PIRANTEL ....................................................................................................................................................... 49
PIRAZINAMIDA .............................................................................................................................................. 42 Z
PIRIMETAMINA .............................................................................................................................................. 46 ZANAMIVIR ......................................................................................................................................................54
POLIMIXINAS ................................................................................................................................................. 27 ZIDOVUDINA ...................................................................................................................................................59
PRAZIQUANTEL ............................................................................................................................................ 49
PRIMAQUINA.................................................................................................................................................. 46
AMINOGLICOSÍDEOS
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
Não existem.
CARBAPENEMOS
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
Nível
Medicamento Interação Descrição interação Observações
interação
Diminuição das concentrações plasmáticas do Evitar uso concomitante. Se indispensável
Ácido Valpróico Ácido Valpróico e consequentemente do efeito D monitorizar níveis séricos de Ac. Valpróico e/ou
anti-convulsivante adicionar outro anticonvulsivante.
O efeito de redução da eliminação é superior
Carbapenemos
para o Meropenem (56%) do que para os
(Grupo) O Probenecide compete com os Carbapenemos a X
restantes Carbapenemos (35%) pelo que a
Probenecide nível da eliminação renal (secreção tubular ativa)
gravidade da interação é superior para este. Há
diminuindo a sua excreção. D
que monitorizar o aparecimento ou agravamento
de efeitos adversos dos Carbapenemos..
Não existem.
CEFALOSPORINAS
5- Medicamentos disponíveis
CEFALOSPORINAS DE 1ª GERAÇÃO
D.C.I. F.F. Preço/UN Reserva/Just. Observações
CEFAZOLINA 1000 MG PO SOL INJ FR IV AMP. 0,68 € -
CEFRADINA 500 MG CAPS CAPS. 0,23 € -
CEFALOSPORINAS DE 2ª
D.C.I. F.F. Preço/UN Reserva/Just. Observações
CEFOXITINA 1000 MG PO SOL INJ FR IV AMP. 2,39 € -
CEFUROXIMA 125 MG/5 ML PO SUSP ORAL FR 100 ML FR 6,41 € -
CEFUROXIMA 250 MG/5 ML PÓ SUSP ORAL FR 100 ML FR 13,62 € -
CEFUROXIMA 500 MG COMP COMP. 0,21 € -
CEFALOSPORINAS DE 3ª GERAÇÃO
D.C.I. F.F. Preço/UN Reserva/Just. Observações
CEFTRIAXONA 1000 MG PÓ SOL INJ FR IM AMP. 1,16 € SIM
CEFTRIAXONA 1000 MG PO SOL INJ FR IV AMP. 0,74 € SIM
CEFTRIAXONE 500 MG PO SOL INJ FR IM AMP. 2,21 € SIM
CEFTAZIDIMA 1000 MG PO SOL INJ FR IM IV AMP. 1,08 € SIM
CEFTAZIDIMA 2000 MG PO SOL INJ FR IV AMP. 3,60 € SIM
CEFOTAXIMA 1000 MG PO SOL INJ FR IV AMP. 0,92 € SIM
OUTRAS CEFALOSPORINAS
D.C.I. F.F. Preço/UN Reserva/Just. Observações
CEFTAROLINA FOSAMILO 600 MG PÓ CONC SOL INJ FR IV AMP. 45,08 € SIM
6- Interações medicamentosas
LINCOSAMIDAS
1- Medicamentos
2- Interações medicamentosas
MACRÓLIDOS
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
OXAZOLIDINONAS
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
Est. após
N.G./Apresentação Reconstituição Diluição/Administração Observações
req./Diluição
Perfusão A solução pode variar de incolor
Administrar durante 30 - 120 minutos. a amarela. Conservar na
Linezolide
É compatível com cloreto de sódio 0,9% e Após abertura, deve ser embalagem de origem (invólucro
600 mg/300 ml (= 2 mg/ml)
Solução pronta. glucose a 5%.Não introduzir aditivos. Se utilizado imediatamente. protetor e cartonagem) até à
I.V. – perfusão
® Linezolide for administrada com outros Utilização única. utilização. ……………………
Zyvoxid
fármacos, cada um deve ser feito Armazenamento: temp.
separadamente. ambiente.
PENICILINAS
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
Medicamento Interação Descrição interação N.I. Observações
Monitorizar o aparecimento de sinais de
Metotrexato Diminuição da eliminação renal do Metotrexato C
toxicidade do Metotrexato.
Não administrar pela mesma via, e se
Diminuição do efeito do Aminoglicosídeo quando
Aminoglicosídeos D possível separar as horas da toma, de modo a
administrados simultaneamente.
reduzir a inativação do Aminoglicosídeo.
Micofenolato de Diminuição da concentração sérica dos Esta interação verifica-se em especial para as
C
mofetil metabolitos activos do Micofenolato. penicilinas de uso oral.
Penicilinas
(grupo) Esta interação é mais marcada para
Antagonistas da penicilinas associadas a inibidores das beta-
Aumento do efeito anticoagulante. C
Vitamina K lactamases, especialmente se administrados
por via oral.
Apesar de ainda aparecer descrita na
literatura, a taxa de gravidezes não desejadas
Estrogéneos Diminuição da eficácia contraceptiva. B
associadas ao uso de penicilinas não é de
valorizar.
Ampicilina
Benzilpenicilina
Ver interações descritas em “Penicilinas (grupo)”
Amoxicilina
Flucloxacilina
Piperacilina+Tazobactam Vancomicina Agravamento do potencial de lesão renal aguda D Monitorizar função renal
POLIMIXINAS
9- Medicamentos disponíveis
Não existem.
QUINOLONAS
2. Interações medicamentosas
Nível
Medicamento Interação Descrição interação Observações
interação
A absorção de quinolonas por via oral é reduzida na Usar como antiácidos antagonistas dos receptores
Antiácidos contendo
presença de iões de alumínio e magnésio, por D H2, ou fazer a administração da quinolona 2h antes
alumínio e magnésio.
formação de quelatos com o antibiótico inativando-o. ou 6h depois do antiácido.
Separar a administração oral de Quinolonas da
Possibilidade de formação de quelatos e inativação do
Sais de cálcio C ingestão de suplementos de cálcio, antiácidos
antibiótico
contendo sais de cálcio, ou leite
Quinolonas
Elevado e moderado As quinolonas apresentam risco moderado de
(Grupo) Exemplos: Amiodarona, Fluoxetina, Domperidona;
potencial de prolongamento do intervalo QTc, pelo que a sua
X Clozapina, Olanzapina; Ivabradina, Escitalopram;
prolongamento do associação com outros medicamentos com o mesmo
Lopinavir; Quetiapina; Fluconazol…
intervalo QTc. efeito aumentam o risco de arritmias.
As quinolonas têm um efeito ambíguo sobre as células Risco aumentado tanto de hipo, como de
Antidiabéticos orais de Langerhans, estimulando no início e depois inibindo C hiperglicémias. Monitorizar os níveis séricos de
a produção de insulina. glucose.
TETRACICLINAS
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
OUTROS ANTIMICROBIANOS
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
ANTIFÚNGICOS
1- Medicamentos disponíveis
AZÓIS
D.C.I. F.F. Preço/UN Reserva/Just. Observações
CETOCONAZOL 2% CR BISN 2,65 €
FLUCONAZOL 150 MG CAPS CAPS. 0,96 €
FLUCONAZOL 200 MG CAPS CAPS. 0,53 €
FLUCONAZOL 50 MG CAPS CAPS. 0,22 €
FLUCONAZOL 2 MG/ML SOL INJ FR 50 ML IV AMP. 0,92 €
FLUCONAZOL 40 MG/ML PO SUSP ORAL FR 35 ML FR 47,12 € Frasco para suspensão oral a 40mg/ml
ITRACONAZOL 100 MG CAPS COMP. 0,30 €
VORICONAZOL 200 MG PO SOL INJ FR IV AMP. 140,54 € SIM
VORICONAZOL 200 MG COMP COMP. 36,74 € SIM
EQUINOCANDINAS
D.C.I. F.F. Preço/UN Reserva/Just. Observações
CASPOFUNGINA 50 MG PO CONC INJ FR IV AMP. 493,39 € SIM
CASPOFUNGINA 70 MG PO CONC SOL INJ FR IV AMP. 685,73 € SIM
ANIDULAFUNGINA 100 MG PÓ CONC SOL INJ FR IV AMP. 433,91 € SIM
MICAFUNGINA 50 MG PÓ SOL INJ FR IV AMP. 189,27 € SIM
MICAFUNGINA 100 MG PÓ SOL INJ FR IV AMP. 364,87 € SIM
TERBINAFINA 250 MG COMP COMP. 0,12 €
POLIENOS
D.C.I. F.F. Preço/UN Reserva/Just. Observações
ANFOTERICINA B LIPIDICA 5MG/ML INJ FR 20 ML IV AMP. 142,14 € SIM Marca comercial: Abelcet®
ANFOTERICINA B LIPOSSÓMICA 50 MG PÓ SOL INJ FR IV AMP. 137,87 € SIM Marca comercial: Ambissome®
2- Interações medicamentosas
46 Antimicrobianos Disponíveis – Interações Medicamentosas, Guia de Administração e Custos MA.02.16
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
TUBERCULOSTATICOS E ANTILEPROTICOS
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
Não existem.
revestidos
50 mg + 300 mg +120 mg
Rifater ®
Pirazinamida Cápsulas
500 mg Indiferente Dispersar conteúdo da cápsula em água. Uso imediato
Pramide ®
Rifabutina cápsulas
150 mg Indiferente Dispersar conteúdo da cápsula em água Uso imediato
Mycobutin®
Usar preferencialmente a suspensão oral.
Rifampicina cápsulas
A Rifampicina é fotossensível, pelo que
300 mg Sem alimentos Dispersar conteúdo da cápsula em água
caso se opte pela dispersão do
Rifadin®
comprimido o uso deve ser imediato.
Rifampicina suspensão oral
Diluir o volume necessário em igual volume de A Rifampicina é fotossensível, pelo que o
20 mg/ml Sem alimentos
água e administrar de imediato. frasco deve ser mantido ao abrigo da luz.
Rifadin®
ANTIMALÁRICOS
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
Não existem.
OUTROS ANTIPARASITARIOS
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
Não existem.
ANTIVIRICOS
ANTIVÍRICOS PARA TRATAMENTO DE HERPES VÍRUS
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
N.G. / Apresentação Reconstituição Diluição / Administração Est. após req. / Diluição Observações
I.V. direta - após reconstituição, Reconstituição:
Aciclovir (sódico) Aciclovax ® -10 ml água p.p.i.
recorrer a uma bomba perfusora. usar de imediato
I.V. – Perfusão ou NaCl 0,9%
Administrar durante 60 min Inutilizar soluções turvas ou
Aciclovax ® Labesfal
Perfusão - diluir em 50ml de NaCl Diluição: com cristais
- Medinfar Faulviral ® - Faulviral® - solução pronta:
0,9%; (concentração ≤ a 5mg/ml) Faulviral® 12 horas a
Hospira 250mg/10ml
Administrar durante 60min. temperatura ambiente.
1- Medicamentos disponíveis
D.C.I. F.F. Preço/UN Reserva/Just. Observações
GANCICLOVIR 500 MG PO SOL INJ FR IV AMP. 59,81 €
2- Interações medicamentosas
Nível da
Medicamento Interação Descrição interação Recomendação
interação
Possibilidade de ocorrência de convulsões
Imipenem Aumento da toxicidade do Imipenem X
devida à toxicidade do Imipenem.
Ganciclovir
Redução da clearance renal de ambos os fármacos Vigilância do aparecimento de sinais de
Tenofovir C
com aumento dos seus níveis séricos. toxicidade de qualquer um dos fármacos.
Redução da clearance renal de ambos os fármacos Vigilância do aparecimento de sinais de
Valganciclovir Tenofovir C
com aumento dos seus níveis séricos. toxicidade de qualquer um dos fármacos
1. Medicamentos disponíveis
Me1dicamentos disponíveis
2. Interações medicamentosas
Não existem neste grupo medicamentos para administração por via parentérica.
1- Medicamentos disponíveis
2- Interações medicamentosas
Não existem.
Com/sem
Medicamento/Nome comercial Administração por sonda Observações
alimentos
Adefovir 10mg
Pulverizar e dispersar em 20 ml de A embalagem contém um exsicante de sílica gel, pelo que a
Comprimido Com alimentos.
água. Administrar de imediato. embalagem deve ser conservada bem fechada.
Hepsera®
O medicamento pode ser conservado no frigorífico ou
Boceprevir 200mg Não existem dados que suportem a A temperatura igual ou inferior a 30ºC durante um período máximo
Comprimido Com alimentos. administração por sonda naso- de 3 meses até ao fim do prazo de validade. Após este período
Victrelis® gástrica. fora do frio, o medicamento deve ser rejeitado, independentemente
do prazo de validade da embalagem.
Dolutegravir 50 mg Não existem dados que suportem a
Com ou sem Precaução com a toma de antiácidos. Seguro com Omeprazole e
Comprimido revestido por película administração por sonda naso-
alimentos. Ranitidina.
Tivicay® gástrica.
Entecavir 0.5mg Administrar uma hora antes ou duas horas após os alimentos,
Entecavir 1mg Pulverizar e dispersar em 20 ml de especialmente se se trata de um doente com resistência à
Sem alimentos.
Comprimido revestido por película água. Administrar de imediato. Lamivudina. Existe AIM para uma solução oral a 0.05 mg/ml,
Baraclude ® embora não disponível no SESARAM.
Lamivudina 100mg Pulverizar e dispersar em 20 ml de
Com ou sem Existe disponível no SESARAM a solução oral, a utilizar
Comprimido revestido por película água. Utilizar apenas se a solução oral
alimentos. preferencialmente em caso de administração por sonda.
Zeffix ® não estiver disponível.
Lamivudina 10mg/ml Solução oral
Com ou sem Diluir num pouco de água e
frasco de 240ml Em doentes com sonda, usar preferencialmente.
alimentos. administrar de imediato.
Epivir ®
Ledispavir + Sofosbuvir 90+400mg Não existem dados que suportem a
Com ou sem A embalagem contém um exsicante de sílica gel, pelo que a
Comprimido revestido por administração por sonda naso-
alimentos. embalagem deve ser conservada bem fechada.
película; Harvoni® gástrica.
Ribavirina 200mg Comprimidos. Pulverizar e dispersar
Comprimido revestido p/ película em 10ml de água, administrar de
Existe Autorização de Introdução no Mercado para uma solução
Copegus ®; Ribavirina Teva® Com alimentos imediato.
oral a 40 mg/ml, embora não disponível no SESARAM.
Cápsulas Cápsulas: abrir e dispersar em 20ml
Rebetol® de água.
1- Medicamentos disponíveis
ASSOCIAÇÕES
D.C.I. F.F. Preço/UN Reserva/Just. Observações
ABACAVIR 300 MG + LAMIVUDINA 150 MG + ZIDOVUDINA 300 MG COMP COMP. 9,71 €
ABACAVIR 600 MG + LAMIVUDINA 300 MG COMP COMP. 12,40 €
EFAVIRENZ 600 MG + EMTRICITABINA 200 MG + TENOFOVIR 245 MG COMP COMP. 23,61 €
ELVITEGRAVIR 150MG+COBICISTATE 150MG+EMTRICITABINA 200MG+TENOFOVIR 245MG COMP. 28,47 €
EMTRICITABINA 200 MG + RILPIVIRINA 25 MG + TENOFOVIR 245 MG COMP COMP. 20,85 €
EMTRICITABINA 200 MG + TENOFOVIR 245 MG COMP COMP. 15,29 €
LAMIVUDINA 150 MG + ZIDOVUDINA 300 MG COMP COMP. 0,84 €
LOPINAVIR 200 MG + RITONAVIR 50 MG COMP COMP. 3,00 €
2- Interações medicamentosas
Zidovudina 250mg
Abrir as cápsulas e dispersar o seu conteúdo
Cápsulas Sem alimentos Usar preferencialmente a solução oral.
em 20ml de água. Administrar de imediato.
Retrovir ®
Zidovudina 10 mg/ml Diluir o volume necessário para perfazer a A solução é viscosa pelo que se recomenda
Solução oral frasco de 200ml Sem alimentos dose em igual volume de água e administrar sempre alguma diluição para administração por
Retrovir ® de imediato. sonda.
MA.02.16 Antimicrobianos Disponíveis – Interações Medicamentosas, Guia de Administração e Custos 77
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
Abreviaturas e acrónimos
Referências
Cefalosporinas (continuação)
Adulto
750 mg - 1,5 g q 8h IV ou perf.
Contínua*
0.125 - 500 mg q 12h PO
Flebite, anemia, eosinofilia, ↑ transaminases, rash (raro), prova de Coombs + (rara),
Cefuroxima Criança (> 28dias)
leucopenia, diarreia, náuseas.
10-15 mg q12h (max 1g/dia)
PO
50 mg q8h (80 mg q8h na
meningite) IV
Adulto
1 - 2 g q24h IV
2 g IV q12h (meningite
Flebite, reações de hipersensibilidade, rash, eosinofilia, febre, leucopenia, trombocitose, ↑
Ceftriaxone purulenta)
transaminases, diarreia, náuseas, vómitos, ↑ ureia, “pseudocoledocolitíase”.
Criança (> 28dias)
50 mg q24h IV (100 mg na
meningite)
Adulto
1 g q8-12h - 2 g q4h IV ou perf.
Contínua* Flebite, reações de hipersensibilidade, rash, eosinofilia, leucocitose, ↑ transaminases,
Cefotaxima
Criança (> 28dias) diarreia, prova de Coombs positiva, ↑ TP e aPTT.
50 mg q8h IV(75 mg q6h na
meningite)
Adulto
1 - 2 g q8h – 12h IV ou perf.
Flebite, reações de hipersensibiliade, rash, eosinofilia, febre, leucopenia, trombocitose, ↑
Ceftazidima Contínua*
transaminases, diarreia, prova de Coombs +, ↑ ureia.
Criança (> 28dias)
50 mh q8h IV
Adulto
1 – 2 g q8-12h IV ou perf.
Contínua*
Criança (> 28dias) Flebite, reações de hipersensibilidade, rash, eosinifilia, prova de Coombs +, ↑ TP e aPTT,
Cefepime
não-pseudomonas - 100 mg / cefaleias, ↑ ureia.
kg / dia (divididos q8h);
pseudomonas - 150 mg / kg /
dia (divididos q8h)
Cefalosporinas (continuação)
Colite por Clostridium difficile, anemia, leucopenia, neutropenia, trombocitopenia,
Adulto tempo de protrombina (TP) prolongado, tempo parcial de tromboplastina ativada (aPTT)
600 mg IV q 12h prolongado, razão internacional normalizada (INR) aumentada, anafilaxia,
Ceftarolina fosamil
600 mg IV q 8h (pneumonia e hipersensibilidade, creatininemia aumentada, erupção cutânea, prurido, cefaleias, tonturas,
bacteremia) flebite, diarreia, náuseas, vómitos, dor abdominal, transaminases aumentadas, pirexia,
reações no local de perfusão e teste de Coombs direto positivo
Carbapenemos
Adulto
500 mg - 1 g q 6h IV
1 g q 6h IV (Pseudomonas Flebite, reações de hipersensibilidade, rash, prurido, eosinofilia, prova de Coombs +,
Imipenem aeruginosa) leucopenia, trombocitopenia, ↑ transaminases, oligúria, confusão, convulsões (↑ com
Criança (> 28dias) doses>), mioclonias, náuseas, vómitos, diarreia, colite pseudomembranosa.
60-100 mg / kg / dia (divididos
q6-8h), dose max 2-4g
Adulto
500 mg - 1 g q8h IV
2 g q8/8h IV (meningite) ou Flebite, reações de hipersensibilidade, rash, prurido, eosinofilia, prova de Coombs +,
perf. Contínua* leucopenia, trombocitopenia, ↑ transaminases, oligúria, confusão, convulsões (↑ com
Meropenem
Criança (> 28dias) doses>), mioclonias, náuseas e vómitos (sobretudo após infusão EV rápida), diarreia, colite
60 mg / kg / dia (divididos q8h); pseudomembranosa.
Meningite: 120 mg / kg / dia
(divididos q8h)
Adulto
1 g q 24h IV
Flebite, náuseas, vómitos, diarreia, ↑ transaminases, febre, rash, cefaleias, convulsões,
Ertapenem Criança (> 28dias)
eosinofilia.
30 mg / kg / dia (q12h dividido),
dose max 1g dia
Fluoroquinolonas
Adulto
200-400 mg q 8h ou 12h IV
400 mg q8h IV (Pseudomonas
aeruginosa)
250 mg q 12h PO (cistite/uretrite
não complicada)
500-750 mg q12h PO (outras Náuseas, diarreia, vómitos, dor abdominal, cefaleias, insónia, psicose, rash,
Ciprofloxacina situações) angioedema, artralgias, nefrite intersticial, ↑ transaminases, leucopenia, eosinofilia, ↑
Criança (> 28dias) creatinina, tendinite (raramente rutura do tendão de Aquiles), confusão, convulsões.
(PO) de 20-40 mg / kg / dia (q12h
dividido) */ (IV) 20-30 mg/kg/dia
(q12h dividido) *, dose max 1.5g
dia (com exceção da fibrose
quistica e ITU complicada, não
aprovado para idade <18 anos).
Náuseas, vómitos, diarreia, cefaleias, tonturas, dor abdominal, flebite, rash, alterações
Adulto
Moxifloxacina paladar, ↑ transaminases, prolongamento do QT (se hipocaliemia, hipocalcemia, outros
400 mg q24h PO
fármacos).
Adulto Náuseas, cefaleias, tonturas, exantema, pirose, anorexia, cólicas e diarreia.
Norfloxacina
400mg bid Perturbações do sono, ansiedade, nervosismo e zumbidos.
Adulto Flebite, febre, rash, náuseas, vómitos, diarreia, alteração do paladar, tonturas, cefaleias,
250 – 750 mg q24h PO/IV confusão, convulsões, fotossensibilidade, alteração do comportamento (ansiedade,
Levofloxacina
(IV/PO) 16-20 mg/kg/dia (q12h agitação), ↑ transaminases, ↑ creatinina, ↑ bilirrubina, eosinofilia, trombocitopenia,
dividido) *, dose max 75 mg dia tendinite, rutura do tendão de Aquiles (especialmente em doentes em corticoterapia).
Glicopeptídeos
Adulto
Reações de hipersensibilidade, febre, reações cutâneas, ototoxicidade, nefrotoxicidade,
Teicoplanina 12 mg/kg q24h IV (artrite séptica)
↑ transaminases e γ-GT, “red neck syndrome” (< freq do que com a Vancomicina).
6 mg/kg q24h IV
Adulto
25 – 30 mg /kg IV seguido de 15 – 20
mg/kg IV q8-12h (doente crítico). Níveis
de Vancomicina de 15-20 µg/ml
500 mg q6h EV a 1g q12/12h ou perf.
Contínua* Flebite, nefrotoxicidade, ototoxicidade, febre, náuseas, neutropenia, eosinofilia.
Vancomicina 125 mg q6h (formulação ampola IV) PO A sua infusão rápida (< 1h) pode provocar edema angioneurótico, “red neck
(Colite a Clostridium syndrome” e hipotensão.
difficile)
Criança (> 28dias)
40 mg IV dividido q6-8h (dose inicial 15
mg/kg IV q6h, se função renal normal
60 mg IVdividido q6-8h na meningite
Macrólidos
Adulto
250-500 mg q24 PO
500 mg q24h IV Náuseas, vómitos, diarreia, anorexia, flebite, ↑ transaminases (raro), rash,
Azitromicina
Criança (> 28dias) fotossensibilidade (rara), neutropenia (rara), trombocitopenia (rara).
(PO) 5-12 mg / kg / dia (uma vez por dia) /
(IV) 10 mg / kg / dia (uma vez por dia)
Adulto
500mg dia ou 500 mg q12 PO
500 mg q12 IV Náuseas, vómitos, diarreia, anorexia, flebite, cefaleias, nefrotoxicidade, neutropenia,
Claritromicina
Criança (> 28dias) ↑ transaminases (raro), trombocitopenia (rara).
15 mg / kg / dia (q12h dividido), dose max
1g
Adulto
15-20 mg/kg q 24h
250mg q 6h – 500 mg q6h IV/PO ou perf. Náuseas, vómitos e diarreia (> freq do que com os outros macrólidos), anorexia,
Eritromicina Contínua* flebite, ↑ transaminases, rash, ototoxicidade, confusão, convulsões, prolongamento
Criança (> 28dias) do QT.
(PO, IV) 40-50 mg / kg / dia (divididos
q6h)
Macrólidos (continuação)
Náusea, vómitos, obstipação, erupção cutânea, prurido, diminuição do apetite, tonturas,
Adulto
Fidaxomicina cefaleias disgeusia, distensão abdominal, flatulência, boca seca, aumento da alanina
200 mg q 12h PO
aminotransferase e reações de hipersensibilidade.
Lipopeptídeos
Adulto
4 mg/kg IV q 24h (pele e tecidos
moles)
6 mg/kg q24h IV
(bacteriémia/endocardite do
Daptomicina Obstipação, náusea, cefaleias. Aumento da CPK; falso aumento do INR.
coração direito)
12 mg/kg q 24h IV (endocardite do
coração esquerdo)
Criança (> 28dias)
6-10 mg/kg/dia IV (q24h)
Oxazolidinona
Diarreia, cefaleias, náuseas, vómitos, insónia, obstipação, rash, tonturas, febre.
Adulto
Raramente descoloração da língua, candidíase oral e vaginal, alt paladar, ↑
600 mg q 12h PO
transaminases. Mielosupressão com anemia, leucopenia, trombocitopenia ou
Linezolide 600 mg q 12h IV
pancitopenia, se tratamento> 2 semanas.Síndrome serotoninérgico em doentes
Criança (> 28dias)
medicados com inibidores dos recetores da serotonina (febre, agitação, tremores,
10 mg q8h, até aos 12 anos
disfunção cognitiva).
Outros
Náuseas, vómitos, diarreia, reações anafilatóides, rash, deposição nos dentes,
Adulto
Doxiciclina hepatotoxicidade, pseudotumor cerebri, encefalopatia, alt. Hematológicas, esofagite
100 mg q 12h PO
erosiva, (sobretudo se deglutida sem líquidos ou em decúbito dorsal), fotossensibilidade.
Adulto
150-450 mg q 6h PO
600-900 mg q 8h IV
Diarreia, colite pseudomembranosa, rash, neutropenia, eosinofilia, ocasionalmente ↑
Clindamicina Criança (> 28dias)
transaminases, hipotensão (se infusão rápida).
(PO) 30-40 mg / kg / dia (divididos
q6-8h) / (IV) 20-40 mg / kg / dia
(divididos q6-8h)
Outros (continuação)
Adulto
Fosfomicina 3 g PO (dose única) Diarreia
2g P.O. (dose única)
Adulto Tonturas, cefaleias, dores abdominais, obstipação, diarreia, flatulência, náuseas,
Rifaximina
200 a 400mg 3xdia durante 3 dias vómitos, distensão abdominal.
Adulto
Sulfadiazina Dose de carga de 4g, seguido de 2 a Cristalúria, podendo levar a insuficiência renal. Hipersensibilidade cutânea.
4g/dia
Adulto
Trimetroprim Meningite asséptica, Rash, fototoxicidade, Síndrome Steven- Johnson, hipercaliémia.
100mg 12/12h
Adulto
7,5 mg/Kg q 8h IV a 15 mg/kg Náuseas, vómitos, diarreia, sabor metálico, urticária, pancreatite, cefaleias, parestesias,
(infeções graves), não exceder 4g q neuropatia periférica severa após tratamento prolongado (pode ser irreversível), ataxia,
Metronidazol 24h convulsões, neutropenia reversível, trombocitopenia, ginecomastia, reacções tipo
500 mg q 6h PO dissulfiram após a ingestão de álcool (álcool deve ser evitado até 48h após o fim do
Criança (> 28dias) tratamento).
7.5 mg q6h IV ou PO
Adulto Cefaleias, rinite, congestãoo respiratória. Em grandes quantidades, nos doentes
Mupirocina 2%
2-3 aplicações q 24h, 5 dias azotémicos pode originar a acumulação do polielenoglicol.
Náuseas e vómitos, neuropatia periférica, pancreatite, reações pulmonares tipo ARDS,
Adulto pneumonia intersticial crónica descamativa com fibrose, colestase intrahepática e
Nitrofurantoína
100 mg q 12h PO hepatite, anemia hemolítica por deficiência de G6DF, rush, eosinofilia, síndrome com
sintomas sistémicos de hipersensibilidade (DRESS)
Náuseas, vómitos, diarreia, dor abdominal, dispepsia, anorexia, aumento da aspartato
aminotransferase (AST) da alaninaminotransferase (ALT) no soro, hiperbilirrubinemia,
icterícia, lesão hepática maioritariamente colestática; prurido, erupção cutânea
Adulto prolongamento do tempo de tromboplastina parcial activada (TTPa), prolongamento do
Tigeciclina 100 mg como dose de carga, seguido tempo de protrombina (TP); aumento da Razão Normalizada Internacional (INR);
por 50 mg q12 IV hipoproteinemia; tonturas; flebite; cefaleia; colite pseudomembranosa;
fotossensibilidade, pseudotumor cerebral, pancreatite, e acção anti-anabólica a qual
desencadeia azoto ureico do sangue aumentado, azotémia, acidose, e hiperfosfatémia;
descoloração permanente dos dentes.
*Ver sinopse de perfusões contínuas
Referências
th
Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2014, 44 Edition
Nelson`s Pocket Book of Pediatric Antimicrobial Therapy 2009, J Brandley & j. Nelson, eds., American Academy of Pediatrics, 2009.
MA.02.16 Doses e efeitos laterais dos antibióticos 87
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
O uso de antimicrobianos durante a gravidez é muito comum. De 25 a 40% das grávidas são tratadas com antimicrobianos e cerca de 5%, durante o primeiro trimestre.
A administração de medicamentos a grávidas afeta a mãe e o feto, podendo condicionar neste último teratogénese, que se define como alterações morfológicas,
bioquímicas ou comportamentais induzidas em qualquer fase da gestação e detetadas em qualquer momento da vida do indivíduo. O período de maior vulnerabilidade
situa-se entre a 8ª e 12ª semana.
A farmacodinâmica dos antimicrobianos na grávida é pouco conhecida. Em geral, a posologia recomendada para os antimicrobianos ministrados no decorrer da
gestação fundamenta-se nos estudos farmacodinâmicos realizados em animais ou adultos saudáveis, excluindo-se as grávidas. Não existem, portanto, informações
consolidadas relativas aos efeitos da gravidez sobre a farmacocinética dos antimicrobianos, incluindo sua distribuição, excreção, concentrações sericas e teciduais. As
possíveis alterações na concentração sérica de antimicrobianos administrados a grávidas refletem, de certa forma, o conjunto de mecanismos que interfere na
farmacodinâmica.
Lactação
A acidez do leite materno, em relação ao plasma, favorece a excreção dos antimicrobianos que, em geral, são bases fracas. Por outro lado, dificulta a excreção daqueles
que são ácidos fracos. Habitualmente, quando os antimicrobianos são administrados à mãe em doses terapêuticas, durante curto período, a quantidade transferida ao
lactente será pequena, não o expondo a riscos significativos.
Durante a gravidez e lactação, as infecções podem constituir complicações sérias, mas a opção terapêutica deve fundamentar-se nas características
farmacodinâmicas e nas informações disponíveis de seus efeitos tóxicos materno-fetais.
O emprego de antimicrobianos durante a gravidez e lactação requer cuidadosa avaliação da relação risco/benefício.
Categoria de risco
Antimicrobiano
Gravidez Trimeste Lactação
Aminoglicosídeos
Amicacina
Tobramicina
Estreptomicina D Desc
Gentamicina C Prec
Cefalosporinas
1ª Geração: cefalotina, cefazolina, cefradina, cefatrizina, cefaloridine, cefadroxil
2ª Geração: cefuroxime, cefoxitina, cefaclor
B Com
3ª Geração: ceftriaxona, cefoxitina, ceftazidime
4º Geração: cefepima
Penicilinas
Penicilina G: aquosa, benzatínica, sódica, potássica, procaínica
B Com
Penicilina V
Imipenem-cilastatina, meropenem, ertapenem C Desc
Penicilinas Penicilases-sensíveis
Amoxicilina, amoxicilina+ácido clavulânico B Com
Penicilinas Penicilases-resistentes
Flucloxacilina
Piperacilina (+tazobactam)
Quinolonas
Ciprofloxacina
1º C Prec
Ofloxacina (evitar lactação 4-6h após administração)
Levofloxacina (evitar lactação 4-6h após administração) C Prec
Moxifloxacina D Prec
Norfloxacina 1º D Prec
Categoria de risco
Antimicrobiano
Gravidez Trimeste Lactação
Sulfonamidas e Sulfonas
Sulfadiazina, sulfametoxazol 3º C Com
Sulfassalazina (salicilazosulfapiridina) B Prec
Macrólidos
Eritromicina B Com
Claritromicina 1º D Prec
Azitromicina B Com
Espiramicina C Com
Antimaláricos
Cloroquina, hidroxicloroquina 1º C Com
Pirimetamina C Com
Mefloquina 1º C Prec
Primaquina 1º X Desc
Quinina D Desc
Antifúnficos
Anfotericina B B Desc
Clotrimazol C Desc
Fluconazol C* Com
Nistatina B Prec
Caspofungina C Desc
Cetoconazol, Miconazole, Itraconazol, Posaconazol C Prec
Voriconazol D Desc
Micafungina D Desc
Terbinafina B Prec
Categoria de risco
Antimicrobiano
Gravidez Trimeste Lactação
Outros antiinfeciosos
Cloranfenicol 3º C Prec
Clindamicina (sistémica/vaginal) B/C Com
Ácido fusídico C Prec
Tinidazol 1º C Prec
Trimetoprim 1º C Prec
Teicoplanina X Tox
Vancomicina D Prec
Tetraciclinas: doxiciclina, minociclina D Com
Trimetroprim/sulfametoxazol C# Prec+
Polimixina (uso tópico) B/C Com
Antisséticos e antiparasitários
Cloroquinaldol, hexaclorofeno B Desc
Clorohexidina B Prec
Mebendazol B Desc
Albendazol
C Prec
Pirantel
*Se usado por períodos longos ou em altas doses +Evitar se o recém-nascido tem défice da glicose 6-fosfato desidrogenase #risco de Kernicterus em prétermos
Referências
O ajuste de dose na Doença Renal Crónica é fundamental para evitar os efeitos adversos relacionados com a sobredosagem.
O cálculo da Taxa de Filtração Glomerular (TGF) deverá ser efectuado através da equação de Cockcroft-Gault. Equação disponível em:
http://www.nephron.com/cgi-bin/CGSI.cgi
A utilização de outras equações, como a MDRD e CKD-EPI, implicam que o resultado seja multiplicado pela área de superfície corporal estimada, a
2
dividir por 1.73, uma vez que estão normalizadas para uma superfície corporal standartizada de 1.73m : TFG = (MDRD ou CKD-EPI x Superficie Corporal
/ 1.73)
Nos doentes sob Terapia Substitutiva da Função Renal, a clerance dos farmacos dependente do método de subsituição utilizado, tipo de filtro e
velocidades de fluxo. Atingir a dose apropriada requer uma apertada monitorização da resposta farmacológica, de sinais/sintomas de reacções adversas
secundárias à acumulação de farmaco, e da relação da concentração sérica de farmaco e o objectivo esperado (se apropriado).
A consulta deste manual não dispensa a leitura de literatura especializada. É frequente a divergência de opiniões nos diferentes autores quanto às doses
a utilizar. Em caso de dúvida consulte os especialistas em antibioticos do hospital (grupo PPCIRA).
Legenda:
HDF - Hemodiafiltração
SLEDD - Sustained Low Efficiency Daily Dialysis
CRRT - Continuous Renal Replacement Therapy
Dose na Doença Renal Crónica (mL/min) Dose em doentes sob Monitorização dos níveis:
Terapia Substitutiva da Função Renal Pico:
90-50 15mg/Kg/dia dividido Dialisável. Infecções urinária: 15-20 mcg/mL
em 2 doses. Dialise Peritoneal Infecções graves: 20-25 mcg/mL
7,5mg/Kg a cada 72h. Infecções life-saving: 25-30 mcg/mL
(dose máx. 1,5g/dia)
Dialisável.
50-30 7,5mg/Kg a cada 24h 7,5mg/Kg a cada 72h, nos dias Vale:
Hemodiálise e HDF de HD, faz após sessão. Se não <5 mcg/mL
30-10 7,5mg/Kg a cada 48h
for possível: extra de + 5mg/Kg
<10 7,5mg/Kg a cada 72h após HD. Notas:
. Dialisável. 7,5mg/Kg a cada Pode ser utilizado por via intra-peritoneal.
SLEDD / CRRT Administração concomitante com diuréticos de
24h.
ansa, aumenta o risco de ototoxicidade.
.
.
Ampicilina
! ! ! MUITO NEFROTÓXICA ! ! !
Anfotericina B lipossómica +
Vigiar Função Renal, Hemograma, niveis de K , Mg
2+ 2+
e Ca
Azitromicina
Cefazolina
Dose em doentes sob
Terapia Substitutiva da Função Renal
Dose na Doença Renal Crónica (mL/min)
Dialisável
1 Dialise Peritoneal
90-35 1-1.5g a cada 8h 1
500mg-1g a cada 12h
1
50-10 500mg-1g a cada 12h Dialisável (20-50%).
1
<10 500mg-1g a cada 24h Hemodiálise e HDF 500mg-1g a cada 24h nos dias de HD, faz após sessão.,
Se não for possível:
1
De acordo com a severidade da infecção extra de + 500mg após HD
Dialisável.
SLEDD / CRRT
Dose de carga de 2g seguido de 1g a cada 8h
.
.
Cefepime
90-60 0.5-2g1 a cada 8- Dialise Peritoneal Dose normal recomendada (0.5-2g1) a cada 48h
12h1
Hemodiálise e HDF Dose de carga 1g , depois 2g a cada 48-72h, pós HD.
60-30 0.5-2g1 a cada 12-
24h1 Dose de carga de 2g, seguido de 1g a cada 8h.
SLEDD / CRRT Considerar doses mais elevadas (4g/dia ou 2g de 8-8h) no tratamento de
30-10 0.5-2g1 a cada 24h
pseudomonas ou infecções que comprometam a vida.
<10 0.250-1g1 a cada 24h 1
De acordo com o local e gravidade da infecção.
1
. De acordo com o local e gravidade da
infecção.
.
.
Cefotaxima
Cefoxitina
Ceftarolina
Ceftazidima
Ceftriaxona
Ciprofloxacina
Claritromicina
Clindamicina
Doxiciclina
.
.
Eritromicina
Ertapenem
Dose na Doença Renal Crónica (mL/min) Dose em doentes sob Monitorização dos níveis:
Terapia Substitutiva da Função Renal Pico (1h após administração):
90-50 15 mg/kg a cada 24h Dialise Peritoneal 15 mg/kg a cada 72-96h1 <20-25 mcg/mL
50-10 15 mg/kg a cada 24- Dialisável.
Antes da administração:
72h1 15 mg/kg a cada 24-72h1,
<1mg/L
nos dias de HD, faz após
<10 15 mg/kg a cada 72- Hemodiálise e HDF sessão. Notas:
96h1 Se não for possível: Pode ser utilizado por via intra-peritoneal (doses
. 1 Administrar de acordo com os níveis extra de + 3,8 mg/kg após de 20-40mg/L/dia)
HD Administração concomitante com diuréticos de
ansa, aumenta o risco de ototoxicidade.
SLEDD / CRRT 15 mg/kg a cada 24-72h1
. 1 Administrar de acordo com os níveis
.
Etambutol
Flucloxacilina
Fluconazol
Dose na Doença Renal Crónica (mL/min) Dose em doentes sob Monitorização dos níveis:
Terapia Substitutiva da Função Renal Pico 1h após administração:
90-50 5-7mg/kg a cada 24h <10mg/L
1
Dialise Peritoneal 1-2.5mg/kg a cada 48-72h
50-30 1-2.5mg/kg a cada 12h Antes da administração:
Dialisável. <2 mg/L
30-10 1-2.5mg/kg a cada 24h 1
1-2.5mg/kg a cada 48-72h , nos
<10 1-2.5mg/kg Hemodiálise e HDF dias de HD, faz após sessão. Notas:
a cada 48-72h (de Se não for possível: Administração concomitante com diuréticos de
acordo com os níveis) extra de +3 mg/kg após HD. ansa, aumenta o risco de ototoxicidade
1
1
Administrar de acordo com os níveis SLEDD / CRRT 1-2.5mg/kg a cada 12h
1
. Administrar de acordo com os níveis
.
Imipenem
2
Dose na Doença Renal Crónica (mL/min/1.73m ) Dose em doentes sob
Notas:
Terapia Substitutiva da Função Renal
Organismos totalmente Organismos menos Organismos Organismos
susceptiveis susceptiveis totalmente menos A avaliação do clerance de creatinina
susceptiveis susceptiveis deve ser feita segundo a equação
70-30 500mg a cada 8h 500mg a cada 6h
250mg a 500mg a CKD-EPI.
30-20 500mg a cada 12h 500mg a cada 8h Dialise Peritoneal As doses foram calculadas para
cada 12h cada 12h
individuos com ~70Kg.
20-5 250mg a cada 12h 500mg a cada 12h 250mg a 500mg a
. Hemodiálise e HDF 1 1
cada 12h cada 12h 500mg a cada
Pode 12h a concentração de
diminuir
Ciclosporina.
Dose de carga de 1g, seguido
SLEDD / CRRT
de 250-500mg a cada 6h.
1
. Nos dias de diálise, administrar pós sessão.
.
Isoniazida
Levofloxacina
Meropenem
Metronidazol
Norfloxacina
†
Não dialisável.
De acordo com severidade da infecção SLEDD / CRRT †
400mg a cada 12-24h
†
. De acordo com severidade da infecção
Ofloxacina
Oseltamivir
2
Dose na Doença Renal Crónica (mL/min/1.73m ) Dose em doentes sob
Notas:
Terapia Substitutiva da Função Renal
>30 Dialisável.
Não é necessário ajuste de dose Dialise Na insuficiência renal
Tratamento: 30mg a cada 24h requer doses mais baixas
30-10 Peritoneal
Tratamento: 75mg a cada 24h ou 30mg a cada Profilaxia: 30mg 1x por semana de oseltamivir por
12h acumulação de
Dialisável.
Profilaxia: 75mg a cada 48h ou 30mg a cada Hemodiálise e metabolitos activos.
Tratamento: 30-75mg* após cada sessão de diálise.
24h HDF
Profilaxia: 30mg após sessões de diálise alternadas.
<10 Sem dados quanto à clerance dialítica.
Uso não está recomendado,
SLEDD / CRRT
Preconiza-se dose como se TFG 30-10mL/min.
por ausência de estudos
* De acordo com a eficácia dialítica.
.
Penicilina G
Pentamidina
Piperacilina + Tazobactam
Pirazinamida
Rifampicina
Sulfametoxazol + Trimetropim
Dose na Doença Renal Crónica (mL/min) Dose em doentes sob
Notas:
Terapia Substitutiva da Função Renal
>30 Não é necessário ajuste de dose - Na profilaxia em doentes
Não dialisável. com TFG<30mL/min, a
(PO: 800mg+160mg a cada 12-24h Dialise Peritoneal
Dose como se função renal <15mL/min administração deve ser de ¼
IV: 8-20mg/Kg por dia, dividido em 2 a 4
cp/dia, ou ½ cp 3x por
doses) Dialisável. semana
Hemodiálise e HDF
30-15 Administrar dose total nas 1ªs 24-48horas, Dose como se função renal <15mL/min
depois reduzir dose em 50% e administrar Dialisável.
a cada 24h. SLEDD / CRRT
Dose como se função renal 30-15mL/min
<15 Uso não é recomendado, mas se
necessário administrar 5-10mg/Kg a cada
24h.
.
Teicoplanina
Dose na Doença Renal Crónica (mL/min) Dose em doentes sob Monitorização dos níveis:
Terapia Substitutiva da Função Renal Pico (1h após administração):
90-50 4-7mg/kg <10mg/L
a cada 24h Dialise Peritoneal 1mg/kg a cada 72h.
Antes da administração:
50-30 1-2.5mg/kg Dialisável. <2 mg/L
a cada 12-48h
1 1mg/kg a cada 72h, nos dias de
Hemodiálise e HDF HD, faz após sessão.. Notas:
30-10 1mg/kg Se não for possível:
1
Pode ser utilizado por via intra-peritoneal
a cada 24-48h extra de +3 mg/kg após HD (doses de 6mg/L)
<10 1mg/kg Dialisável. Administração concomitante com diuréticos de
SLEDD / CRRT
1 1.5-2mg/kg a cada 24h
1 ansa, aumenta o risco de ototoxicidade.
a cada 72h
1
. Administrar de acordo com os níveis .
.
Valaciclovir
2
Dose na Doença Renal Crónica (mL/min/1.73m ) Dose em doentes sob
Terapia Substitutiva da Função Renal
50-30
1g a cada 12 h
Dialise Peritoneal Dose como se TFG < 10mL/min.
30-10
1g a cada 24h Dialisável – 30% removido em 4h de diálise.
<10 Hemodiálise e HDF Administrar dose pós-diálise nos dias de
500mg a cada 24h dialise.
SLEDD / CRRT Dose como se TFG < 10mL/min.
.
Valganciclovir
2
Dose na Doença Renal Crónica (mL/min/1.73m ) Dose em doentes sob
Notas:
Terapia Substitutiva da Função Renal
>60
Não é necessário ajuste de dose - O Valganciclovir é um pró-
Dose como se TFG < 10mL/min. farmaco do ganciclovir.
59-40 Dialise Peritoneal
Indução/Tratamento: 450mg a cada 12h Preconiza-se 450mg 1-2x por semana
- A Insuficiência Renal
Manutenção/Profilaxia: 450mg a cada 24h aumenta o risco de
39-25 Dialisável – 50% removido em 4h de mielossupressão.
Indução/Tratamento: 450mg a cada 24h Hemodiálise e HDF diálise.
Manutenção/Profilaxia: 450mg a cada 48h Preconiza-se 450mg 1-2x por semana
24-10
Indução/Tratamento: 450mg a cada 48h Provavelmente dialisável.
SLEDD / CRRT
Manutenção/Profilaxia: 450mg 2x por semana Dose como se TFG 25-10
<10
Indução/Tratamento: 450mg 2-3x por semana
Manutenção/Profilaxia: 450mg 1-2x por semana
.
.
Dose na Doença Renal Crónica (mL/min) Dose em doentes sob Monitorização dos níveis:
Terapia Substitutiva da Função Renal Administrar 1g de carga, e monitorizar niveis
90-50 IV: 15-30 * mg/Kg/dose, séricos a cada 24h:
♦ Não dialisável. -quando niveis < 10mg/L administrar nova
a cada 8-12h Dialise Peritoneal dose.
IV: 7,5 mg/Kg, a cada 48-72h* Niveis de pico: 2h após administração,
50-20 IV: 15-20* mg/Kg/dose,
Dialisável. devem estar entre 18-26mg/L.
a cada 24h Hemodiálise
1g, 2x semana.
<10 IV: 7,5 mg/Kg, Dialisável.
a cada 48-72h* HDF Dose de carga: 1g, Notas:
Depois: 500mg pós sessão A administração por via oral não tem ajuste de
Dose de carga: 15-25mg/Kg, dose.
* Administrar de acordo com os níveis SLEDD / CRRT
Depois: 1g a cada 24h Pode ser administrado por via intra-peritoneal,
na dose de 12,5 a 30mg/L.
. * Administrar de acordo com os níveis
.
.
.
Vancomicina em perfusão
A Vancomicina, segundo critérios de farmacocinética e farmacodinâmica, é um antibiótico “tempo-dependente” ou seja a sua eficácia antibiótica depende diretamente do tempo em que a
sua concentração sérica está acima da concentração inibitória mínima. Como tal, deverá ser administrada em perfusão contínua de forma a obter concentrações séricas de 20-25 µg/ml.
s
Início da administração (1ª 12 horas) – reconstituição de 500mg/50 ml de SF ou G5% ou 1g/100 ml SF ou G5%
Adaptado de: Pneumonia Nosocomial. Documento de Consenso. Revista Portuguesa de Medicina Intensiva, 2007; 14:1, 7-30 e Revista Portuguesa de Pneumologia, 2007;3:3
.
1 – Dose de carga de 1g em 60 minutos (100ml/h) se peso do doente ≤ 65 Kg ou 1,5 g (150 ml/h) se peso do doente > 65 Kg.
2 – Dilui-se 1 g de Vancomicina em 100 cc de Soro Fisiológico. A administração faz-se sempre através de cateter central.
3 - Após a dose de carga inicia a perfusão de Vancomicina conforme tabela, de acordo com a depuração da creatinina.
4 – O primeiro doseamento dos níveis séricos é feito às 12 h após o início da perfusão. O resultado deverá ser consultado uma hora após o envio da amostra para o laboratório, procedendo-se ao acerto da
perfusão segundo a tabela.
5 – Os doseamentos seguintes e o ajuste da velocidade de infusão, faz-se também de acordo com a tabela de perfusão
.
Estas perfusões devem ser efectuadas tendo em conta a estabilidade das formulações existentes na farmácia do SESARAM, EPE.
A CFT recomenda que antes do início da antibioterapia em perfusão contínua, sejam verificadas junto da Farmácia a estabilidade das
formulações disponíveis na altura.
Referências
ASHLEY, Caroline et al. (2008) The Renal Drug Handbook, 3rd Edition. United Kingdom: Radcliffe Publishing
th
GILBERT, David (2015) Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2015, 45 Edition.
Pesquisa individualizada de fármacos, disponível em: http://www.uptodate.com (entre agosto/2015 e janeiro/2016)
Referências
th
Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2014, 44 Edition
1. As infeções bacterianas devem, como regra geral, ser tratadas com cursos de terapêutica antibiótica não superiores a sete (7) dias. A evidência para
utilização desta duração de terapêutica antibiótica está resumida no seguinte quadro:
Pulmão
Pneumonia da comunidade ** IA
5-7 dias
Pneumonia hospitalar 7 dias IA
Infeções intra-abdominais
Bacteriemia primária
Resolução clínica após retirada de cateter venoso central (CVC) 0-3 dias IIb C
Meningite
Por Neisseria meningitidis ou Haemophilus influenzae 7 dias IC
2. As infeções bacterianas agudas que necessitam de mais de sete (7) dias de terapêutica antibiótica são:
A duração da terapêutica antibiótica para a resolução do quadro clínico depende do estado imunitário do doente, pelo que estas recomendações destinam-se apenas a
doentes imunocompetentes.
Consideram-se imunocompetentes os doentes que não estejam neutropénicos (<500PMN/mm3), não estejam sob tratamento imunossupressor (quimioterapia,
radioterapia ou corticoterapia de longa duração ou em doses equivalentes superiores ou iguais a 20 mg/dia de prednisolona ou a 2 mg/Kg/dia se peso inferior a 20kg, nos
últimos três meses), que não tenham imunodeficiência primária e que não tenham doença que reduza significativamente a resistência à infeção (leucemia, linfoma, SIDA).
Na infeção urinária, a utilização de um esquema de terapêutica antibiótica com duração não superior a 7 dias é também eficaz na presença de cateter urinário. No
entanto, se houver resolução lenta da sintomatologia ou bacteriemia poderá ser necessário o prolongamento da mesma (10 dias). A substituição da algália (ou mesmo a
sua retirada) após o início da terapêutica antibiótica (para remoção dos biofilmes) poderá facilitar a resolução clínica.
A bacteriúria assintomática apenas deve ser tratada na mulher grávida e nos doentes que vão ser submetidos a procedimentos urológicos e com 1 a 7 dias de antibióticos
(ver norma 015/2011 da Direção Geral da Saúde).
Designa-se por complicada,a infeção urinária associada à presença de anomalias estruturais das vias urinárias, litíase, bexiga neurogénica, algaliação permanente,
diabetes mellitus ou gravidez.
A duração da terapêutica antibiótica na pneumonia é empírica. Habitualmente é recomendado um mínimo de 5 dias, dependendo dos fármacos usados e da velocidade
de resolução dos sintomas, devendo manter-se a terapêutica antibiótica pelo menos 48h depois da resolução destes.
A duração da terapêutica antibiótica nas complicações supurativas de infeção pulmonar depende da eficácia da drenagem (percutânea ou cirúrgica) e na velocidade de
resolução clínica. A maioria dos abcessos pulmonares resolve apenas com terapêutica médica prolongada.
A duração da terapêutica antibiótica em infeções intra-abdominais está profundamente relacionada com a eficácia do controlo do foco infecioso, o qual deve ser sempre
que possível realizado. Na presença de controlo adequado do foco, são suficientes 4 a 7 dias de terapêutica antibiótica.
Nas perfurações gástricas e jejunais proximais, na ausência de malignidade ou terapêutica com antiácidos, é adequado tratar apenas durante 24 horas, desde que o
controlo do foco seja alcançado nas primeiras 24 horas.
As lesões traumáticas ou iatrogénicas do intestino reparadas nas primeiras 12 horas e sem evidência de contaminação peritoneal por conteúdo entérico podem
igualmente ser tratadas com antimicrobianos ≤ 24 horas, uma vez que a proliferação bacteriana é mínima.
A amigdalite bacteriana tem como tratamento recomendado um administração única de penicilina benzatínica; em alternativa poderá, se necessário, ser usada
terapêutica com dez dias de amoxicilina.
Lenta resolução clínica na presença de infeção de pele e tecidos moles, otite, amigdalite ou rinosinusite pode estar associada à presença de abcesso, implicando, nesse
caso, identificação e controlo do foco.
A duração da terapêutica antibiótica nos doentes com bacteriemia depende do foco primário de infeção, do agente envolvido, da possibilidade de controlo do foco e da
velocidade de resposta.
A terapêutica antibiótica deve ser prolongada em situações em que haja ou se presuma haver:
A penetração e difusão de múltiplos antibióticos no tecido osteoarticular são deficientes, pelo que concentrações eficazes são atingidas mais lentamente. O próprio
metabolismo bacteriano a esse nível (dada a escassez de nutrientes disponíveis) é lento, o que contribui para diminuir a suscetibilidade aos antibacterianos. Nestas
condições o controlo do foco é prioritário para a resolução da infeção.
Na infeção articular associada a prótese, a duração da terapêutica antibiótica deve ser prolongada, pelo menos por 2 a 3 meses e a colocação de nova prótese deve ser
protelada em pelo menos 6 semanas, após o fim da terapêutica antibiótica. A abordagem conservadora ou a substituição imediata da prótese só devem ser realizadas em
condições excecionais.
A endocardite de válvula nativa não complicada (abcesso peri-valvular, foco metastático) deve ser tratada durante 4 semanas. Este período deve ser alargado para 6
semanas na presença de alguma dessas complicações, de infeção por Enterococcus spp ou na presença de prótese valvular. Em casos selecionados de infeção de
válvula nativa não complicada causada por Streptococcus spp sensível à penicilina ou por Staphylococcus sensível à meticilina, se houver boa resposta clínica com
negativação precoce das hemoculturas, a duração da terapêutica pode ser reduzida para 2 semanas (eventualmente em combinação com um aminoglicosídeo). Na
presença de bactérias resistentes, a terapêutica poderá ser prolongada para 8 semanas. Em doentes que tenham sido submetidos a cirurgia, a terapêutica antibiótica
deverá ser prolongada duas semanas após a intervenção com terapêutica antibiótica dirigida. Se o exame microbiológico da válvula mostrar persistência dos
microrganismos, é proposto um período de 4 semanas, embora um estudo tenha demonstrado igual eficácia com 2 semanas.
Embora a avaliação clínica adequada deva constituir a base da decisão quanto á duração da antibioterapia, a utilização da evolução de biomarcadores, como a proteína
C reativa e a procalcitonina pode ajudar a individualizar esta decisão.
Fundamentação
Os antibióticos são moléculas químicas que interferem com funções vitais das células dos microrganismos, promovendo a sua morte ou a inibição do seu crescimento. In
vitro, a velocidade de morte desses organismos pode ser extremamente rápida quando expostos a concentrações eficazes de antibiótic os. No entanto, a organização dos
microrganismos no tecido infetado e a dificuldade na difusão dos antibióticos podem dificultar e atrasar a sua atividade, nomeadamente quando há formação de abcessos
ou biofilmes, necrose dos tecidos ou condicionantes ambientais que interferem com a atividade metabólica dos microrganismos, determinando diminuição da atividade de
alguns antibióticos.
A terapêutica antibiótica interfere com o microbioma do indivíduo, rompendo equilíbrios ecológicos delicados. Pode assim facilitar a proliferação de organismos mais
virulentos, que se encontram habitualmente inibidos por interação competitiva. Por outro lado, promove a desrepressão e disseminação de genes responsáveis pela
resistência aos antimicrobianos (inclusive resistência cruzada) e confere vantagem adaptativa a espécies menos suscetíveis.
Está demonstrado in vivo que o prolongamento do tempo de terapêutica antibiótica promove a diminuição progressiva da suscetibilidade dos organismos aos antibióticos
e promove a proliferação de espécies virulentas naturalmente resistentes. Alguns estudos levantam igualmente a possibilidade de que a exposição prolongada aos
antibióticos aumente não só a resistência dos microrganismos mas igualmente o número total de infeções e, em última análise, a mortalidade. Assim, o prolongamento da
terapêutica antibiótica para além dos 7 dias deve ser limitado a situações clínicas bem identificadas em que seja reconhecida essa necessidade.
Nos últimos anos foi demonstrado em diversos estudos e estabeleceu-se um consenso que a duração da terapêutica antibiótica em infeções não complicadas deve ser
reduzida a não mais de 7 dias, devendo ser promovidas doses de antibiótico que facilitem a sua ação bactericida e evitadas exposições prolongadas, assim reduzindo a
emergência de microrganismos resistentes e a ocorrência de infeções subsequentes. A duração da terapêutica antibiótica na pielonefrite é condicionada pela velocidade
de resolução clínica e pela eficácia bactericida do antibiótico selecionado. Numa metanálise, a terapêutica antibiótica de curta duração (7 dias) demonstrou eficácia igual
à terapêutica antibiótica mais prolongada, incluindo nos doentes com bacteriemia. A escolha de antibióticos com concentração elevada no rim e na urina pode ajudar a
resolver a infeção e a reduzir a duração da terapêutica antibiótica.
Vários estudos e uma metanálise confirmaram que 7 dias de terapêutica antibiótica para pneumonia da comunidade não necrotizante eram seguros e apresentavam uma
eficácia pelo menos igual a uma duração de terapêutica antibiótica maior.
Também na pneumonia adquirida em meio hospitalar foi demonstrado que 7 dias de terapêutica antibiótica têm eficácia similar a períodos mais prolongados (10-15 dias).
Paralelamente, o número de infeções subsequentes por organismos multirresistentes foi menor no grupo de doentes submetidos a períodos mais curtos de terapêutica
antibiótica. Salienta-se, no entanto, maior número de recidivas nos doentes infetados com bacilos de Gram negativo não fermentadores, mas sem que houvesse
diferença de mortalidade.
Em doentes com pneumonia e com culturas microbiológicas fidedignas negativas, a descontinuação da terapêutica antibiótica não resultou em aumento da mortalidade.
Na infeção intra-abdominal, em doentes críticos ou em que o controlo do foco é inadequado, a duração ideal da terapêutica antibiótica é incerta, dependendo da evolução
clínica, laboratorial e imagiológica do doente.
Relativamente a bacteriemia, numa metanálise em que foram excluídos os doentes com endocardite, não foi encontrada diferença entre a utilização de períodos curtos
de terapêutica antibiótica (5-7 dias) e períodos prolongados (> 7 dias), independentemente do foco de infeção. Também os estudos que avaliaram a duração da
130 Duração da Terapêutica Antibiótica MA.02.16
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
terapêutica de diferentes focos de infeção não encontraram benefício do prolongamento da mesma em função da presença de bacteriemia.
Classicamente considera-se que a presença de resposta lenta à terapêutica antibiótica, de foco persistente de infeção não drenável ou de imunossupressão são razões
para prolongar a terapêutica antibiótica.
Na bacteriemia associada a cateter venoso central, na presença de foco facilmente removível, quando há resolução clínica completa apenas com o controlo do foco,
parece não haver necessidade de terapêutica antibiótica, nomeadamente para tratamento de bactérias de Gram negativo ou Staphylococcus coagulase negativo, pelo
que esta deverá ser limitada a não mais de 3 dias. Já o isolamento de Staphylococcus aureus, mesmo em doentes assintomáticos e após exclusão de endocardite e de
focos metastáticos, implica um tratamento de pelo menos 14 dias (tempo total de terapêutica antibiótica), dado o risco de recidiva.
O tratamento antibiótico da meningite é condicionado pela velocidade de multiplicação dos agentes infeciosos, pelo risco associado à recidiva, pela difusão dos
antibacterianos através da barreira hematoencefálica e pelo risco de criação de “santuários”.
A presença de controlo inadequado do foco, nomeadamente múltiplas coleções abcedadas, que impossibilitem a drenagem cirúrgica ou percutânea (em particular na
região abdominal), persistência de material exógeno que não possa ser retirado (risco cirúrgico muito elevado), tecido necrosado não desbridável (em particular osso),
tromboflebite supurativa (4-6 semanas de terapêutica antibiótica) obriga ao prolongamento do tempo de terapêutica antibiótica, o qual deve ser guiado pela evolução do
doente, dos aspetos imagiológicos e dos biomarcadores. Esta estratégia tem eficácia limitada, devendo ser promovido o controlo do foco, sempre que possível.
Múltiplos estudos têm demonstrado que medidas integradas de gestão da política de antibióticos, nomeadamente programas de apoio à prescrição antibiótica
(antimicrobial stewardship programs) estão associadas a diminuição da prevalência de bactérias multirresistentes e à diminuição do consumo de antimicrobianos.
Referências
Norma nº 6/2014 da DGS publicada a 08/05/2014 e actualizada em 08/05/2015 – Duração de Terapêutica Antibiótica
Dados recentes sugerem que a infusão prolongada ou contínua dos Beta-lactâmicos tem eficácia superior à administração intermitente, sendo uma abordagem defendida
pelo Programa de Assistência à Prescrição de Antibióticos (PAP), do SESARAM; EPE.
A estabilidade dos antibióticos é uma preocupação. Os fatores que influenciam a estabilidade incluem a concentração do antibiótico, o diluente intravenoso (cloreto de
sódio 0.9% versus Glucose 5%), o tipo de dispositivo de infusão, e a temperatura de armazenamento.
Os Carbapenemos são particularmente instáveis e podem requerer a substituição frequente das perfusões ou o seu envolvimento em placas frias.
Uma meta-análise de estudos observacionais encontra uma redução da mortalidade nos doentes com infusão prolongada/contínua de Carbapenemos ou
Piperacilina/Tazobactam, comparando com os regimes intermitentes / standard. Os resultados foram semelhantes para regimes prolongados/contínuos, quando
considerados separadamente. Existe um benefício na mortalidade com a Piperacilina/Tazobactam, mas não com os Carbapenemos (CID 56:272, 2013). A redução da
mortalidade pode ser devida em parte à maior vigilância pelos profissionais. Um estudo pequeno, prospetivo, randomizado e controlado da perfusão prolongada versus
contínua com Piperacilina/Tazobactam e Meropenem, encontrou maior taxa de cura e tendência para a redução da mortalidade nos doentes submetidos a perfusão
contínua (CID 56:236, 213).
Cálculo da Dose do Antibiótico nos Doentes Não Obesos (usar o peso ideal)
𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙 𝑀𝑢𝑙ℎ𝑒𝑟 = 45,5 + 2,3(𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 − 152) 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙 𝐻𝑜𝑚𝑒𝑚 = 50 + 2,3(𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 − 152)
Cálculo da Clearance
(𝟏𝟒𝟎−𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆)×𝑰𝑴𝑪
𝑪𝒍𝑪𝒓 = ClCr em ml/min nos Homens. Multiplicar por 0.85 para as Mulheres.
𝟕𝟐×𝑪𝒓𝒆𝒂𝒕𝒊𝒏𝒊𝒏𝒂
Doentes Obesos
(137−𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒)(0,285×𝑃𝑒𝑠𝑜)+12,1×𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎2 (146−𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒)(0,287×𝑃𝑒𝑠𝑜)+9,74×𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎2
Homens: Mulheres: Peso expresso em Kg e altura em cm
51×𝐶𝑟𝑒𝑎𝑡𝑖𝑛𝑖𝑛𝑎 𝑆é𝑟𝑖𝑐𝑎 51×𝐶𝑟𝑒𝑎𝑡𝑖𝑛𝑖𝑛𝑎 𝑆é𝑟𝑖𝑐𝑎
Amoxicilina/Ácido Clavulânico 1.2 g em 60 min 2.2 g de 8/8h Perfusão prolongada de 1-3 h Insuficiência renal
Amoxicilina/Ácido Clavulânico 2.2 g em 60 min 2.2 g de 8/8h Perfusão prolongada de 1-3 h Insuficiência renal
2 g em 30 min Insuficiência renal ou hepática
Cefotaxima 8-12 g/dia Perfusão contínua
15 mg/Kg em 30 min grave
Ceftazidima 2 g em 30 min 6 g/dia Perfusão contínua Insuficiência renal
Gentamicina 5-7 mg/kg q 24h IV 16-24 μg/ml 0.5-1 μg/ml 1-2 μg/ml
Adaptado: Pneumonia Nosocomial. Documento de Consenso. Revista Portuguesa de Medicina Intensiva, 2007; 14:1, 7-30 e Revista Portuguesa de Pneumologia, 2007;3:3.
Cefepima 2 g (30 min) 2 g/50 ml (SF ou G5%) 4.2 ml/h (ou 6.3 ml/h) 4 a 6 g/dia
Cefotaxima 2 g (30 min) 2 g/50 ml (SF ou G5%) 8.3 ml/h (ou 12.5 ml/h) 8 a 12 g/dia
Cefuroxima 1.5 g (30 min) 1.5 g/50 ml (SF ou G5%) 6.3 ml/h 4.5 g/dia
Flucloxacilina 2 g (30 min) 2 g/50 ml (SF ou G5%) 8.3 ml/h (ou 12.5 ml/h) 8 a 12 g/dia
Penicilina G 3.000.000. U (30 min) 12.000.000 U/500 ml (SF) 42 ml/h 24.000.000 U/dia
Piperacilina / Tazobactam 4.5 g (em 30 min) 4.5 g/50 ml (SF ou G5%) 8.3 ml/h 18 g/dia
Vancomicina 1 a 1.5 g (60 min) 500 mg/50 ml (SF ou G5%) variável Ver tabela perfusão
Observações: as doses indicadas aplicam-se a situações de função renal normal; na insuficiência renal, ajustar a dose diária de acordo com a depuração
estimada do fármaco; (SF – soro fisiológico; G5% – dextrose 5% H2O)
Vancomicina em perfusão
A Vancomicina, segundo critérios de farmacocinética e farmacodinâmica, é um antibiótico “tempo-dependente” ou seja a sua eficácia antibiótica depende
diretamente do tempo em que a sua concentração sérica está acima da concentração inibitória mínima. Como tal, deverá ser administrada em perfusão contínua
de forma a obter concentrações séricas de 20-25 µg/ml.
s
Início da administração (1ª 12 horas) – reconstituição de 500mg/50 ml de SF ou G5% ou 1g/100 ml SF ou G5%
Adaptado: Pneumonia Nosocomial. Documento de Consenso. Revista Portuguesa de Medicina Intensiva, 2007; 14:1, 7-30 e Revista Portuguesa de Pneumologia, 2007;3:3.
1 – Dose de carga de 1g em 60 minutos (100ml/h) se peso do doente ≤ 65 Kg ou 1,5 g (150 ml/h) se peso do doente> 65 Kg.
2 – Dilui-se 1 g de Vancomicina em 100 cc de Soro Fisiológico. A administração faz-se sempre através de cateter central.
3 - Após a dose de carga inicia a perfusão de Vancomicina conforme tabela, de acordo com a depuração da creatinina.
4 – O primeiro doseamento dos níveis séricos é feito às 12 h após o início da perfusão. O resultado deverá ser consultado uma hora após o envio da amostra para o
laboratório, procedendo-se ao acerto da perfusão segundo a tabela.
5 – Os doseamentos seguintes e o ajuste da velocidade de infusão, faz-se também de acordo com a tabela de perfusão.
Estas perfusões devem ser efectuadas tendo em conta a estabilidade das formulações existentes na farmácia do SESARAM, EPE.
A CFT recomenda que antes do início da antibioterapia em perfusão contínua, sejam verificadas junto da Farmácia a estabilidade das formulações
disponíveis na altura.
Referências
th
Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2014, 44 Edition
O uso correto de antimicrobianos requer a revisão sistemática das prescrições, de forma a assegurar que o agente selecionado é ainda apropriado, que a continuação da
terapêutica é necessária e que a via é apropriada.
A maioria dos doentes com infecções graves, e que têm função intestinal conservada, inicialmente requer terapêutica EV nas primeiras 48h. Após este período, a
terapêutica IV pode ser alterada com segurança para via oral.
Existe uma série de vantagens que suportam a rápida alteração da forma EV para oral:
Redução da bacteriémia adquirida no hospital e infecção/flebite dos acessos venosos
Redução do trabalho médico e de enfermagem
Redução do desconforto do doente e favorecendo a mobilidade e possibilidade de alta hospitalar
Redução significativa do custo do tratamento (antibióticos, cânulas, sistemas, seringas, fluidos para diluição)
Redução do risco de efeitos adversos; os erros na preparação são maiores com as drogas parentéricas, comparativamente às formulações orais.
A maioria dos doentes não necessita de antibióticos EV.
Aqueles que necessitam, habitualmente requerem antibioterapia EV durante 24-48h.
A duração da terapêutica antimicrobiana raramente ultrapassa no total (IV e PO) mais do que 7 dias.
Via oral comprometida (vómitos, diarreia grave, gastroparésia, depressão da consciência, sem via oral/entérica disponível
Amoxicilina + Clavulânico Amoxicilina 500 + Ácido Clavulânico 125 mg 3xd Amoxicilina + Ácido Clavulânico suspensão 250/62.5
Discutir com o microbiologista: Discutir com o microbiologista:
Amoxicilina500 + Ácido Clavulânico 125 mg 3xd. Amoxicilina + Ácido Clavulânico suspensão 250/62.5
Cefotaxima/Ceftriaxone Em caso de alergia à penicilina, mudar para: Em caso de alergia à penicilina, mudar para:
Ciprofloxacina 500-750 mg 3xd, Moxifloxacina 400 mg Ciprofloxacina 500-750mg 2xd (750 mg 2xd se
1xd, Levofloxacina 500 mg 1xd Pseudomonas sp)
Claritromicina Claritromicina 500 mg 2xd de libertação prolongada Claritromicina 50 mg/ml
C – Melhoria Clínica
O – Via Oral não comprometida
Continuar com Swich da terapêutica
Vómitos
antibióticos EV Inconsciência EV para PO.
Alterações da deglutição
Desordens de malabsorção
M – Marcadores a normalizarem
Continuar Apirexia: T> 36 e <38ºC + um: Se dúvida procurar
monitorização o FC <90 bat/min aconselhamento de
o FR <20 ciclos/min Microbiologista/Farmacêutico
o TA estável
o Leuc> 4 ou <12 (se anormal,
Rever a a tendência para a
necessidade de normalização e ausência de Monitorizar a
terapêutica EV neutropenia é aceitável). evolução do
às 24h S – Indicações específicas/infecções doente
profundas (meningite/encefalite, endocardi-
te, mediastinite, abcesso/empiema, infecções
do osso e articulações, bacteriémia por
Staphilococcus aureus/bronquiectasias, im-
plantes/próteses
Referências
Mertz D, Koller M, Haller P, et al. Outcomes of early switching from intravenous to oral antibiotics on medical wards. J Antimicrob Chemother2009;64:188-99.
Laing RBS, Mackenzie AR, Shaw H, et al. The effect of intravenous-to-oral switch guidelines on the use of parenteral antimicrobials in medical wards. J Antimicrob
Chemother 1998;42:107-11.
Athanassa Z, Makris G, Dimopoulos G, et al. Early switch to oral treatment in patients with moderate to severe community-acquired pneumonia: a meta-
analysis. Drugs 2008;68:2469-81.
Cyriac JM and James E. Switch over from intravenous to oral therapy: A concise overview . J Pharmacol Pharmacother. 2014 Apr-Jun; 5(2): 83–87.
Antibióticos Inalados
Autor: Margarida Câmara (Serviço de Medicina Intensiva)
A administração de fármacos por via inalatória tem algumas vantagens, uma vez que permite a atuação direta sobre o aparelho respiratório, a possibilidade de administrar
doses mais reduzidas, com atingimento de concentrações mais elevadas na zona infetada, menor tempo de latência entre a toma e o efeito terapêutico e uma menor
quantidade e intensidade de efeitos adversos sistémicos.
Para a sua utilização, é necessária uma fórmula e um sistema de inalação adequados para administração por via inalatória.
O interesse dos antibióticos inalados tem aumentado com o aumento da incidência de infeções por bacilos Gram negativo multirresistentes.
A Pseudomonas aeruginosa, o Acinectobacter baumannii ou a Klebsiella spp suscetíveis apenas à Colistina, são uma preocupação.
A necessidade de tratamento antibiótico prolongado com redução dos efeitos adversos da via sistémica, levou ao desenvolvimento de antibióticos para o tratamento da
colonização a Pseudomonas aeruginosa, nos doentes com fibrose quística. Alguns estudos têm demonstrado nos doentes com fibrose quísica, uma ligeira diminuição da
purulência da expetoração, diminuição dos parâmetros inflamatórios, melhoria funcional tanto do pico de fluxo expiratório, como da prova da marcha aos 6 minutos.
Os estudos realizados até à data, nos doentes com bronquiectasias não secundarias a fibrose quística, demonstraram efeitos positivos na redução do número de
colónias, diminuição da quantidade e purulência do spuctum, melhoria da qualidade de vida e redução do número de agudizações, embora com escasso impacto sobre a
perda acelerada da função pulmonar e uma percentagem variável de irradicação com escassa indução de resistência.
Atualmente, a indicação mais clara no doente com bronquiectasias não secundarias a fibrose quística é a colonização crónica a Pseudomonas aeruginosa.
Existe uma variedade de formas de gerar aerossóis para a inalação: inalação por pó seco, nebulizadores a jato, nebulizadores ultra-sónicos, e mais recentemente os
nebulizadores com vibração. Estes últimos têm a capacidade de gerarem finas partículas de aerossóis e de os conduzir às vias aéreas de pequenas dimensões.
Referências
th
Sanford Guide to Antimicrobial Therapy 2014, 44 Edition
Pasteur MC. Milton D, Hill AT. British Thoracic Society Guideline for non-CF bronchiectasis. Thorax.2010;65:i1-58
Antifúngicos
Autor: Margarida Câmara (Serviço de Medicina Intensiva)
Nos últimos anos temos assistido a um aumento das infeções fúngicas em consequência do aumento do número de doentes imunocomprometidos com neoplasias,
doenças hematológicas, Vírus de Imunodeficiência Humana e ao aumento das terapêuticas imunosupressoras nos doentes com transplantes de órgãos e doenças
autoimunes.
As classes antifúngicas usadas no tratamento das infeções fúngicas compreendem os Azóis, os Polienos e as Equinocandinas.
Os fármacos disponíveis e os seus mecanismos de ação são resumidos na tabela seguinte.
Espectro de ação
C. Tropicalis S S S S S S S
R R
Cryptococcus n S S S R
Scedosporidium R
R S R R R
prolificans
S- Sensível R- Resistente * O Aspergillus terreus é resistente à Anfotericina B
Espectro de ação da Micafungina semelhante às outras Equinocandinas
* Não disponíveis
Farmacocinética/farmacodinâmica
Efeitos laterais
Antifúngicos Dose
Infeções pouco graves: 5 mg/kg/dia
Infeções graves, nomeadamente candidemia: 10 mg/Kg/dia
Redução de 50%, a partir da 2ª dose, se clearance da creatinina entre 11 e 50 ml/min
Fluconazol Redução de 50%, se em método de suporte renal contínuo; Dose pós-diálise
Níveis séricos de 6-20 mg /ml.
Sempre que possível, deve ser ministrado PO; se doente em choque ou existe má absorção digestiva ou impossibilidade de
usar a via oral, utilizar formulação EV.
Dose de carga de 300 mg q12 h, durante 3-4 dias e depois, 200-400 mg /dia
Itraconazol (não disponível)
Níveis séricos terapêuticos: mínimos> 2 mg /ml e ideais> 8 mg /ml
EV: 6mg/kg q12h (2 tomas) e depois 4mg/kg q12h para infeção por Aspergillus ou outros fungos filamentosos e 3 mg/kg
para infeções graves por Candida.
PO: 400 mg q12h (2 tomas) e depois 200 mg q12h (se peso> 40 kg); 200 mg q12h (2 tomas) e depois 100 mg q12h (se
peso <40 kg)
As cápsulas devem ser tomadas pelo menos 1 hora antes ou 1 hora depois das refeições
Voriconazol
Reduzir a dose de manutenção em 50% se insuficiência hepática grave ou moderada
Se clearance da creatinina < 50 ml/min, não utilizar a formulação EV por levar a acumulação do seu veículo - ciclodextrina
Sempre que possível deve ser ministrado PO; se doente em choque ou má absorçãodigestiva ou impossibilidade de usar
a via oral, utilizar formulação EV.
Para evitar toxicidade, níveis séricos ao 3º dia de terapêutica devem ser < 6 mg/ml
70 mg EV no 1º dia seguida de 50 mg EV /dia
Caspofungina
Reduzir para 35 mg EV dia se insuficiência hepática moderada (a partir do 2º dia)
0,5-1,0 mg/Kg /dia para tratamento de infeções por Candida
Anfotericina B deoxicolato
Não há utilidade no doseamento dos níveis séricos
Candidíase: 1-3 mg/Kg/dia
Anfotericina B lipossómica
Aspergilose: 3-5 mg/Kg/dia
Anfotericina B complexo lipídico 5 mg/kg/dia
200 mg EV no 1º dia seguido de 100 mg EV 1xd
Anidulafungina
Sem ajuste à função renal e hepática
Micafungina 100 mg q24h EV
Aspergilose invasiva refratária: 200 mg q4h ou 400 mg q12h
Posaconazol (não disponível) Candidíase orofaríngea: 200 mg dose inicial, seguido de 100 mg q24h
Profilaxia das infeções fúngicas invasivas: 200 mg q8h
Infeções a Candida
1. Profilaxia
1. Transplante de medula óssea
2. Transplante de células progenitoras
Indicações 3. Transplante de pulmão com história de infeção fúngica
4. Transplante hepático
5. Insuficiência hepática fulminante
Fármaco Fluconazol 200-400 mg/dia PO (preferencialmente) ou EV
Nota: Se alta incidência de Aspergillus spp., itraconazol e não fluconazol no transplante do pulmão
2. Terapêutica pré-emptiva ou de antecipação - terapêutica iniciada por evidência microbiológica (com exceção do isolamento nas secreções brônquicas) sem
evidência de infeção fúngica invasiva
1. Cirurgia abdominal recente com perfuração gastrointestinal recorrente ou deiscência de anastomose B-I,
Indicações
ESCMID 2012
Fármaco Fluconazol 800 mg 400 mg/dia PO ou EV
3. Terapêutica empírica
1. Candidúria em doente de alto risco (transplantado, após cirurgia abdominal ou urológica, diabético,
neutropénico, crianças de baixo peso) e com deterioração do estado clínico ou candiduria com pseudohifas
na urina, cilindros tubulares com Candida ou sinais de pielonefrite ou, ainda, candiduria persistente após
mudança de algalia.
2. Endocardite de válvula protésica provavelmente devida a Candida, mesmo que as hemoculturas sejam
Indicações
negativas
3. Doente de alto risco de infeção por Candida com crescimento de Candida em mais de 50% dos
espécimes colhidos.
4. Doente de alto risco de infeção por Candida e com febre persistente refractária a antibacterianos de largo
espectro
5. Doentes queimados com invasão da pele por Candida
Terapêutica empírica
As espécies de Candida são os agentes mais comuns nas infeções fúngicas invasivas, podendo envolver qualquer órgão e originar infeções muito graves.
A candidémia é uma causa comum de infeção nosocomial da corrente sanguínea e está associada a elevada morbilidade e mortalidade.
O tratamento da Candidíase evoluiu muito nos últimos anos, devido ao lançamento de novos antifúngicos e à melhoria na utilização dos mesmos, através de uma
utilização mais apropriada e adequada. Estas recomendações foram efetuadas com base nas recomendações da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas 2009
e da Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas 2012.
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
Remover todos os cateteres
intravasculares, se possível e não mudar
por fio guia A-II ESCMID. Se não puder
ser removido tratar com Equinocandinas,
Anfotericina B lipossómica ou complexo
lipídico B-II ESCMID.
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
Remover todos os cateteres
intravasculares, se possível e, se possível
e não mudar por fio guia A-II ESCMID. Se
não puder ser removido tratar com
Equinocandinas, Anfotericina B
lipossómica ou complexo lipídico B-II
ESCMID
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
B-III DSA
B-III IDSA
Fluconazol 800 mg (12 mg/kg) dose de carga,
seguido por 400 mg (6 mg/kg/dia) Anfotericina B complexo lipídico 5
Candidíase suspeita Ou mg/kg/d A duração da terapêutica é desconhecida.
tratada empiricamente Anidulafungina 200 mg dose de carga, seguido Ou
no doente não de 100 mg q24h IV Anfotericina B lipossómica 3-5 mg/kg/d A terapêutica deverá ser suspensa na
neutropénico (Adulto) Ou Ou ausência de testes serológicos e culturais
Casponfungina 70 mg dose de carga, seguido Anfotericina B desoxicolato 0.5-1 negativos.
de 50 mg q24h IV mg/kg/dia
Ou
Micafungina 100 mg q24h IV
B-III IDSA
Candidíase suspeita
tratada empiricamente Caspofungina 70 mg EV 1º dia, seguido por 50 B-III IDSA A duração da terapêutica é desconhecida.
no doente não mg ev 1xd
neutropénico (Adulto) Ou Anfotericina B complexo lipídico 5 A terapêutica deverá ser suspensa na
Doente instável (com Anidulafungina 200 mg EV 1º dia, seguido por mg/kg/d ou ausência de testes serológicos e culturais
doença moderadamente 100 mg ev 1xd Anfotericina B lipossómica 3-5 mg/kg/d negativos.
severa ou com exposição Ou
recente aos azóis) Micafungina 100 mg q24h IV
Terapêutica
Condição Terapêutica primária Terapêutica Comentários
alternativa
Candidíase Agentes tópicos ou Fluconazol 150 Na candidíase vulvovaginal recorrente (≥4 episódios/ano) está indicado Fluconazol
vulvovaginal mg dose única PO A-I 150 mg/semana, durante 6 semanas após o controlo inicial.
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
Nos doentes estáveis efetuar a de-
Doentes estáveis: Fluconazol 400 mg (6 escalação após alguns meses de
Caspofungina 70 mg EV 1º dia, seguido
mg/kg/dia), nos A-III; terapêutica com Anfotericina para
por 50 mg ev 1xd B-III
Fluconazol B-III
Candidíase disseminada Ou
Doentes com doença severa: Anfotericina B
crónica Anidulafungina, 200 mg dose inicial,
lipossómica 3–5 mg/Kg/dia A-III A duração da terapêutica é efetuada
seguido de 100 mg/dia B-III Ou
Ou durante meses até à resolução das lesões
Micafungina 100 mg q24h IV B-III
Anfotericina B desoxicolato 0.5-0.7 mg/kg/dia nos e deverá manter-se durante os períodos
A-III; de imunosupressão (ex. quimioterapia e
transplantação)
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
Fluconazol 400 mg (6 mg/kg) dia durante 6-
12 meses
Ou
Anfotericina complexo lipídico 3-5 mg/Kg/dia,
algumas semanas (2-6), seguido por Equinocandina ou Anfotericina B
Fluconazol 6-12 meses B-III IDSA e A-II desoxicolato 0.5-1 mg/kg/dia, algumas A duração da terapêutica geralmente é
ESCMID semanas, seguido por de 6-12 meses.
Osteomielite/Espondilodiscite
Ou Fluconazol 6-12 meses
Voriconazol 12/6 mg/kg, 6-12 semanas B-II O desbridamento cirúrgico geralmente
ESCMID está indicado C-III ESCMID
Ou
Caspofungina 100 mg 3 semanas, seguido
de Fluconazol 400 mg ≥4 semanas B-II
ESCMID
A duração da terapêutica é de pelo
menos 6 semanas.
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
Tratar até a resolução dos sinais e
Candidíase do sistema Anfotericina B lipossómica 3-5 mg/Kg/dia Fluconazol 400-800 mg (6-12 mg/kg) dia,
sintomas ou das alterações radiológicas.
nervoso central durante algumas semanas seguido de para os doentes com intolerância à
Está recomendada a remoção dos
Fluconazol 400-800 mg (6-12 mg/kg) dia B-III Anfoterina B
dispositivos intraventriculares.
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
Anfotericina B lipossómica 0.7-1 mg/kg +
Flucitocina* 25mg/kg q 6h AIII; Fluconazol 400-
800 mg (6-12 mg/kg) dia B-III IDSA;
Cirurgia na endoftalmite severa ou vitreite B-III
Ou
A terapêutica alternativa está indicada para
Anfotericina B lipossómica 3 mg/Kg/dia,
os doentes com intolerância ou falência à
durante 10 semanas + Flucitocina* 150mg/kg,
Anfotericina B e Flucitocina*.
durante 10 semanas, seguido de Fluconazol 3
Fluconazol 6-12 mg/Kg/dia, para
mg/Kg/dia, durante 5 semanas B III ESCMID
organismos sensíveis, doentes estáveis A duração da terapêutica deverá ser pelo
Endoftalmite/corioretinite Ou
com culturas negativas B-III IDSA e A-II menos de 4-6 semanas, determinados
Anfotericina B lipossómica 3 mg/Kg/dia,
ESCMID pelos exames para verificação da
durante 4 semanas + Fluconazol 6 mg/Kg/dia,
resolução.
durante 4 semanas B-III ESCMID
A aspiração vítrea diagnóstica deverá ser
Se envolvimento vítreo
efetuada sempre que a etiologia for
Anfotericina B desoxicolato 5-10 ug injeção
desconhecida.
intravitrea B-II
Ou
Vitrectomia seguida de Anfotericina B 5-10 ug,
Fluconazol 400 mg ≥2 semanas
Ou Voriconazol 100 ug, injeção intravitrea
* Não disponível
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
É fortemente recomendada a substituição
Anfotericina B lipídica 3-5 mg/kg/dia, com ou valvular na endocardite da válvula nativa,
sem Flucitocina* 25mg/kg q 6h B-III De-escalação para Fluconazol 400-800 na 1ª semana A-II ESCMID e dias na
Ou mg (6-12 mg/Kg) dia, para os válvula protésica A-III ESCMID.
Endocardite Anfotericina B desoxicolato 0.5-1 mg/kg/dia, organismos susceptíveis ou culturas Para os doentes que não podem ser
com ou sem Flucitocina* 25mg/kg q 6h B-III negativas B-III submetidos a substituição valvular, está
Ou indicado efetuar cronicamente Fluconazol
Equinocandina B-III 400-800 mg (6-12 mg/Kg) dia C-III
ESCMID
Anfotericina complexo lipídico 3-5 mg/Kg/dia
B-III A terapêutica geralmente é durante
Após estabilização, de-escalação para
Ou meses, embora não haja estudos.
Pericardite ou miocardite Fluconazol 400-800 mg/dia (6
Fluconazol 400-800 mg (6-12 mg/kg) dia B-III Está recomendada janela pericárdica ou
mg/Kg/dia) B-III
Ou pericardiotomia.
Equinocandina B-III
Anfotericina complexo lipídico 3-5 mg/Kg/dia
B-III Após estabilização, de-escalação para Está recomendada a incisão cirúrgica e
Tromboflebite supurativa Ou Fluconazol 400-800 mg (6-12 mg/kg) dia drenagem ou ressecção venosa.
Fluconazol 400-800 mg (6-12 mg/kg) dia B-III B-III Tratar pelo menos durante 2 semanas
Ou após negativação das culturas
Equinocandina B-III
Está fortemente recomendada a remoção
Anfotericina B lipídica 3-5 mg/kg/dia, com ou do pace-maker ou do desfibrilhador
sem Flucitocina 25mg/kg q 6h B-III De-escalação para Fluconazol 400-800 cardíaco A-II ESCMID.
Infeção de pace-maker,
O*u mg (6-12 mg/Kg) dia, para os Tratar durante 4-6 semanas após a
desfibrilhador cardíaco ou
Anfotericina B desoxicolato 0.6-1 mg/kg/dia, organismos susceptíveis ou culturas remoção do dispositivo.
dispositivo de assistência
com ou sem Flucitocina 25mg/kg q 6h B-III negativas B-III Para os dispositivos de assistência
ventricular
Ou ventricular que não podem ser retirados
Equinocandina B-III está indicado efetuar cronicamente
Fluconazol 400-800 mg (6-12 mg/Kg) dia
* Não disponível
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
* Não disponível
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
A Cândida no trato respiratório inferior é
Candida isolada nas Não está recomendada a terapêutica A-III
rara e requer confirmação histopatológica
secreções brônquicas
para confirmar o diagnóstico
Terapêutica
Condição Comentários
Terapêutica primária Terapêutica alternativa
O Fluconazol está recomendado na doença
moderada a severa e a terapêutica tópica
Itraconazol 200 mg/dia solução oral A-II com Nistatina está recomendada na doença
Ou moderada.
Fluconazol 100-200 mg/dia PO A-I Voriconazol 200 mg 2xdia PO B-II
Orofaríngea ou Nistatina q6h B-II Ou Tratar a doença não complicada durante 7 a
Anfotericina B desoxicolato 0.3 14 dias.
mg/kg/dia B-II
Na doença refratária, está reomendada a
suspensão de Voriconazol, Posaconazol* ou
Anfotericina B.
É preferido o Fluconazol oral.
Para os doentes incapazes de tolerar a
medicação oral, Fluconazol, Equinocandina
Fluconazol 200-400 mg (3-6 mg/kg) dia, A-I ou Anfotericina B IV.
Itraconazol 200mg/dia solução oral A-II)
Equinocandina (B-II)
Ou
Esofagite Ou Tratar 14 a 21 dias.
Voriconazol 200 mg 2xdia PO A-III
Anfotericina B desoxicolato 0.3-0.7 mg/kg/dia
B-II Para os doentes com doença refratária, está
recomendada a terapêutica alternativa,
Anfotericina B desoxicolato ou uma
Equinocandina.
* Não disponíveis
Infeções a Aspergilus
O Aspergilus é um fungo ubíquo no ambiente, com muitas espécies reconhecidas. As mais frequentes são o A. fumigatus, A. flavus, A. niger, e A. terreus.
Quando ocorre doença invasiva, geralmente esta é aguda e grave.
Está associada a fatores de risco:
Neutropenia
Corticoterapia
Quimioterapia
Pode ocorrer em doentes sem os fatores de risco acima enumerados, mas internados em Cuidados Intensivos com comorbilidades: DPOC, pós-influenzae, cirrose,
alcoolismo, pós-operatórios de alguns procedimentos e doença granulomatosa crónica.
O diagnóstico da Aspergilose invasiva é extremamente difícil. Alguns estudos recentes apontam a utilidade diagnóstica do antigénio Galactomannan no sangue.
Quando a doença invasiva é suspeitada ou confirmada, é fundamental o início precoce e agressivo da terapêutica antifúngica.
A reversão da neutropenia, se possível, é necessária para a recuperação da maior parte dos doentes.
A excisão cirúrgica tem demonstrado um importante papel na doença invasiva óssea, queimaduras, abcesso epidural e doença vítrea (B-III). A cirurgia pode ser
importante quando o tratamento antifúngico da doença pulmonar falha, particularmente quando existe atingimento de estruturas vasculares major com elevado risco
de hemorragia (C-III).
Estas decisões devem ser individualizadas com base na apresentação clínica, mas combinadas com estratégias médicas e cirúrgicas.
A terapêutica, na maioria das vezes é prolongada ao longo de meses a um ano, com individualização da duração e da resposta clínica (C-III).
Os critérios de descontinuação da terapêutica incluem:
O reinício da terapêutica nos doentes que responderam à terapêutica deve ser considerado, se os doentes necessitarem de reiniciar a imunosupressão ou terapêutica
citotóxica (B-III).
Infeção a Criptococccus
Inicialmente o Pneumocystis foi erradamente classificado como parasita, sendo atualmente classificado como fungo, baseado nas suas características genéticas e
bioquímicas.
O Pneumocystis continua a ser uma ameaça para os doentes imunocomprometidos.
O Pneumocystis jiroveci, é uma das espécies extremamente resistentes aos antifúngicos tradicionais, incluindo a Anfotericina B e aos Azóis.
Os doentes imunocomprometidos com risco de infeção a Pneumocystis jiroveci incluem os doentes com infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH),
neoplasias hematológicas e de órgãos sólidos, transplante de órgãos e aqueles com doença imunosupressora.
15-20 mg/kg
Trimetropim/Sulfametoxazol A-I
75-100 mg/Kg/dia (dividido em várias doses), Oral ou IV 1ª Linha
21 dias
Opção alternativa (aerossol raramente
Pentamidina* 4 mg/Kg/dia ou 600 mg/dia, 21 dias IV ou aerossol
utilizado)
Referências
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Practice Guidelines for the Manegement of candidiasis: 2009 Update by the Infectious Disease Society of America. CID 2009;48:503-35
Cornely OA, Bassetti M, Calandra T, Garbino J, Kullberg BJ, Meerssemen W, Akova M, Arendrup MC, Arinkan-Akdagli S, Bille J, Castagnola E, Cuenca-Estrella M,
Donnelly JP, Groll AH, Herbrecht R, Hope WW, Jensen HE, Lass-Flori C, Petrikkos G, Richardson MD, Roilides E, Verwej PE, Viscoli C, Ullmann AJ. ESCMID guideline
for the diagnosis and management of Candida diseases 2012: non-neutropenic adult patients. Clin Microbiol Infect 2012;18 (Suppl.7):19-37
Limper AH, Knox KS, Sarosi GA, Neil MA, Bennett JE, Catanzaro A, David AS. An Official American thoracic Society Statement: Treatment of Fungal Infections in Adult
Pulmonary and Critical Care Patients. Am J respir Crit Care med 2011.183. 96-128
Ostrosky KL, Pappas PG. Invasive Candidiase in the intensive care unit. Crit Care Med 2006;34:857-863
A infeção do local cirúrgico (ILC) é uma complicação comum da cirurgia, com taxas de incidência entre 2 e 20%, e está associada a elevada morbilidade, mortalidade e
custos.
Em Portugal, de acordo com os últimos resultados divulgados no Estudo Nacional de Prevalência da Infeção de 2010, a ILC representou a terceira causa de Infeção
hospitalar (IN=11,7%), com 14,3% dos casos relatados, e a sua prevalência parece crescente, nos últimos anos.
O Centers for Disease Control and Prevention definiu critérios de ILC: infeção relacionada com o procedimento cirúrgico, que ocorre no local da incisão cirúrgica ou
próximo dele (incisional ou órgão/espaço), nos primeiros trinta dias do pós-operatório, ou até um ano no caso de colocação de prótese.
O risco de infeção depende de muitos fatores relacionados com o doente (idade avançada, obesidade, diabetes e outros), assim como de fatores cirúrgicos,
nomeadamente duração e limpeza do procedimento cirúrgico.
A prevenção da ILC é muito importante e o seu sucesso depende da combinação de várias medidas básicas, incluindo a preparação adequada pré-operatória, a técnica
cirúrgica asséptica, a profilaxia antibiótica e os cuidados pós-operatórios.
A administração apropriada de profilaxia antibiótica cirúrgica reduz o risco de ILC em cerca de 80%, uma vez que a esmagadora maioria das ILC são causadas por
translocação endógena de microrganismos intestinais.
Os microrganismos que geralmente causam ILC são os da população microbiana do doente. Estas bactérias endógenas podem estar presentes em pequeno número,
mas encontram na ferida cirúrgica condições muito favoráveis à sua proliferação – hemorragia, isquemia, modificação do potencial de oxirredução – ocorrendo a infeção,
predominantemente, durante o ato cirúrgico e diminuindo o risco após o encerramento da ferida.
O objetivo da profilaxia antibiótica cirúrgica é criar um obstáculo à proliferação bacteriana, com a manutenção de níveis adequados tecidulares de antibiótico durante todo
o ato cirúrgico e assim diminuir o risco e incidência de ILC.
Estão bem definidas as situações em que é adequada a profilaxia – nos casos em que há um grande risco de infeção (cirurgia limpa-contaminada) ou em que a
morbimortalidade é significativa no caso de ILC (cirurgia cardíaca, neurocirurgia, implantação de próteses e doentes imunodeprimidos).
Nos casos de cirurgias contaminadas e sujas deve ser implementada terapêutica antimicrobiana.
A utilização desnecessária de profilaxia antibiótica não reduz a incidência de ILC e aumenta a probabilidade de aquisição de microrganismos resistentes e até, de infeção
por esses microrganismos, como tal, de mais difícil tratamento.
Fundamentação
O conhecimento da população microbiana endógena das diversas regiões abordadas cirurgicamente, assim como a identificação dos fatores de risco do hospedeiro são
dois pilares importantes para a seleção do esquema de profilaxia antibiótica. Existem, no entanto, algumas dúvidas no que concerne à discriminação dos atos cirúrgicos
que beneficiam da sua utilização, pelo que se indicam as categorias de recomendação para múltiplas cirurgias, considerando-se:
1) A categoria A caracteriza evidência a partir de ensaios clínicos aleatorizados e controlados ou de coorte bem conduzidos ou de meta-análises;
2) A categoria B com base em estudos caso-controlo bem conduzidos ou de estudos não controlados ou de evidência conflitual que parece favorecer a
recomendação; e
3) A categoria C com base na opinião de peritos ou de dados extrapolados de evidência sobre princípios gerais ou outros procedimentos.
A indicação da profilaxia antibiótica cirúrgica deve ser prescrita de acordo com (Nível de Evidência A):
1) O tipo de intervenção previsto;
2) O risco infecioso associado;
3) A existência de antecedentes alérgicos.
O antibiótico profilático deve ser selecionado, designadamente, com base na sua eficácia contra os agentes patogénicos mais frequentes para cada local, em
conformidade com as indicações desta Norma
O agente antimicrobiano para profilaxia antibiótica cirúrgica deve ser:
1. Ativo contra os microrganismos patogénicos com maior probabilidade de contaminar o local cirúrgico;
2. Administrado em dose e timing que assegurem com maior probabilidade de contaminar o local cirúrgico;
3. Seguro;
4. Administrado pelo período efetivo mais curto para minimizar efeitos adversos, desenvolvimento de resistências e custos.
A profilaxia antibiótica cirúrgica pode alterar a flora individual e institucional, levando a alteração da taxa de colonização e a aumento da resistência antimicrobiana. A
diminuição da flora microbiana comensal pode facilitar a infeção por Clostridium difficile. Os riscos são tanto maiores quanto mais prolongada é a profilaxia e quanto maior
é o número de antimicrobianos utilizados.
A cefazolina é uma cefalosporina de primeira geração, barata, pouco tóxica, ativa contra Staphilococcus coagulase negativa e alguns bacilos Gram negativo.
A cefoxitina é uma cefalosporina de segunda geração com menor atividade nos Gram positivos, mas com melhor espectro em relação a anaeróbios (Bacterioides grupo
fragilis) e bacilos Gram negativo.
Os utentes são, sistematicamente e cuidadosamente, questionados para a correta avaliação se existe uma história valorizável de alergia a antimicrobianos com impacto
na seleção dos agentes para profilaxia.
A presença, colocação ou retirada de drenos, sondas ou cateteres não é motivo de realização de profilaxia antibiótica.
Nas cesarianas, a prática tem sido a administração do antibiótico após a clampagem do cordão umbilical. A justificação subjacente a esta metodologia era a de que a
exposição fetal a antibióticos pudesse mascarar o rastreio de infeção no recém-nascido e promover a seleção de resistências. Atualmente, vários estudos mostram que,
na cesariana, a PA diminui a incidência de endometrite pós-parto e a morbilidade infeciosa materna total em comparação com a administração pós- clampagem do
cordão umbilical, sem afetar os outcomes dos recém-nascidos. Assim, o American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e a Society of Obstetricians and
Gynecologists of Canada (SOGC) emitiram, em 2010, recomendações sobre a PA na cesariana, em que se preconiza a sua administração em todas as cesarianas nos
60 minutos antes da incisão cirúrgica.
7. Na cirurgia mais prolongada ou no caso de procedimento com perda de sangue intra-operatória superior a 1500 ml, há necessidade de repetir a dose inicial cada duas
vezes a semivida do antibiótico, em doentes com função renal normal, nomeadamente, conforme a tabela abaixo (Nível de Evidência A):
i. Cefoxitina, de 2 em 2 horas;
ii. Cefazolina, de 4 em 4 horas;
iii. Cefuroxima de 4 em 4 horas;
iv. Clindamicina de 6 em 6 horas;
v. Metronidazol de 8 em 8 horas;
vi. Amoxicilina + ácido clavulânico, de 2 em 2 horas.
8. A dose inicial para PA cirúrgica é o dobro da dose usual (Nível de Evidência A). Considerar ainda:
a) No utente obeso com índice de massa corporal superior a 35, a dose de betalactâmicos é ainda duplicada (dose habitual de profilaxia x 2) (Nível de Evidência A);
b) Na prescrição pediátrica, a dose na PA cirúrgica é baseada no peso, exceto quando a dose assim calculada exceda a dose padrão recomendada (Nível de evidência
B).
9. Na verificação da administração da PA cirúrgica, aplica-se a seguinte lista de verificação (Nível de Evidência C):
a) Antibiótico ou protocolo aplicado;
b) Hora da administração do antibiótico;
c) Hora da incisão cirúrgica;
d) Hora de reforço do antibiótico;
e) Hora do fim da cirurgia.
10. Para os utentes colonizados por microrganismos MDR ou XDR no, ou perto do, local cirúrgico deve estabelecer-se uma profilaxia antibiótica cirúrgica específica (Nível
de Evidência B). A informação dos utentes com microrganismos MDR e XDR, está disponível nos “Alertas” do processo clínico electrónico, em ambiente de Internamento,
Consulta ou Serviço de urgência.
11. Nos utentes a fazer terapêutica antimicrobiana:
a) Se os antibióticos são apropriados para PA cirúrgica, prescrever uma dose extra nos 60 minutos antes da incisão cirúrgica (Nível de Evidência B);
b) Senão, prescrever a PA cirúrgica indicada para o tipo de cirurgia (Nível de Evidência A), nos termos da Norma de referência.
12. Em caso de história de alergia à penicilina (Nível de Evidência A):
a) Se a manifestação for de baixo risco de anafilaxia (exantema após penicilina), podem prescrever-se cefalosporinas;
b) Se houver alto risco de anafilaxia (angioedema, dificuldade respiratória e urticária), deve prescrever-se como alternativa a vancomicina (15mg/Kg) ou a clindamicina
(900 mg EV ou 10 mg/Kg) para profilaxia de infeção por bactérias Gram positivo;
c) Nos casos em que podem estar presentes também bacilos Gram negativo, deve associar-se a prescrição de mais um agente com atividade nestes microrganismos (ex:
aminoglicosídeo);
172 Profilaxia Antibiótica Cirúrgica MA.02.16
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
d) Se houver suspeita da presença de anaeróbios, há necessidade de adicionar à prescrição, o metronidazol ou a clindamicina, se esta não figurar já no esquema.
13. Na cirurgia de ambulatório devem ser utilizados os mesmos protocolos da cirurgia realizada em regime de internamento e apresentados no ponto 18, sendo a dose
inicial (ou de reforço, se necessária), a habitual (Nível de Evidência A).
14. Genericamente, na profilaxia antibiótica cirúrgica, não devem ser prescritas tomas adicionais de antibiótico no pós-operatório (Nível de Evidência A) (1,2,3,4,5,9).
15. Nos utentes de alto risco submetidos a cirurgia cardiotorácica, vascular, maxilofacial ou ortopédica, pode manter-se a profilaxia nas primeiras 24 horas (e nunca para
além deste limite), devendo ser implementados sistemas de alerta e de suspensão automática da profilaxia (Nível de Evidência A).
16. Os antibióticos prescritos para profilaxia antibiótica cirúrgica não devem ser prescritos para o tratamento de infeções, nomeadamente no mesmo utente (Nível de
Evidência B).
17. A presente Norma deve estar disponível e facilmente acessível (em papel ou em suporte eletrónico), nomeadamente nas salas de consulta pré-anestésica, nos blocos
operatórios, nas salas de cirurgia e nos serviços de cirurgia (Nível de Evidência C). Assim, a Norma está disponível no SESARAM, EPE em suporte electrónico, na
Proposta Cirúrgica da Plataforma da Gestão das Intervenções Cirúrgicas (Circular Informativa 072 de 30/07/2015).
18. Devem ser usados os algoritmos clínicos abaixo indicados, que espelham as indicações de primeira linha de profilaxia antibiótica para:
a) Cirurgia torácica;
b) Cirurgia endócrina;
c) Cirurgia da mama;
d) Cirurgia maxilofacial (cabeça e pescoço);
e) Cirurgia digestiva;
f) Cirurgia bariátrica (IMC> 35kg/m2);
g) Cirurgia ortopédica;
h) Cirurgia ginecológica e obstétrica;
i) Cirurgia urológica;
j) Cirurgia vascular;
k) Cirurgia de transplantação;
l) Neurocirurgia;
m) Cirurgia oftalmológica.
19. Qualquer exceção ao procedimento é fundamentada clinicamente, com registo no processo clínico.
Algoritmos clínicos
1. Cirurgia torácica (Staphylococcus, S. pneumoniae, H. influenzae, bacilos Gram negativo)
Nível de
Intervenção Antibiótico Dose inicial Posologia
Evidência
Amoxicilina +ácido clavulânico 2,2 g EV lento Dose única; se duração> 2h, repetir com
ou 1,2g A
Cefoxitina 2 g (adulto) ou 40 mg/kg (pediatria) EV Dose única; se duração> 2 h repetir 1 g
Exérese de pulmão
Alergia à penicilina com alto risco 900 mg (adulto) ou 10 mg/Kg (pediatria)
Dose única; se duração> 6h repetir 900 mg
de anafilaxia: EV lento
Dose única
Clindamicina+Gentamicina# 5 mg/Kg (adulto) ou 2,5 mg/Kg (pediatria
Amoxicilina + ácido clavulânico 2,2 g EV lento Dose única; se duração> 2h, repetir com
ou 1,2g C
Cirurgia toracoscópica Cefoxitina 2 g (adulto) ou 40 mg/kg (pediatria) EV Dose única; se duração> 2 h repetir 1 g
assistida por vídeo
(VATS) Alergia à penicilina com alto risco 900 mg (adulto) ou 10mg/Kg (pediatria) Dose única; se duração> 6h repetir 900 mg
de anafilaxia: EV lento
Clindamicina+Gentamicina# 5 mg/Kg (adulto) ou 2,5 mg/Kg (pediatria) Dose única
Timectomia Cefazolina 2 g (adulto) 30 mg/Kg (pediatria) Dose única; se duração> 4h repetir 1 g A
Colocação de pace
Cefazolina 2 g (adulto) ou 30 mg/Kg (pediatria) Dose única A
maker
Revascularização
Cefazolina 2 g (adulto) ou 30 mg/Kg (pediatria) Dose única; se duração> 4h repetir 1 g A
coronária
Se duração> 4 h repetir 1 g e depois cada
Prótese valvular Cefoxitina 2 g (adulto) ou 40 mg/Kg (pediatria) EV A
8h, durante 24h
Implantação de
sistemas de assistência Cefazolina 2 g (adulto) ou 30 mg/Kg (pediatria) EV Dose única; se duração 4h repetir 1 g C
ventricular
Traqueostomia Sem indicação para profilaxia antibiótica
Toracocentese Sem indicação para profilaxia antibiótica
Nível de
Intervenção Antibiótico Dose inicial Posologia
Evidência
Trauma torácico
Se duração> 4 h repetir 1 g e depois cada
perfurante sem Cefoxitina 2 g (adulto) ou 40 mg/Kg (pediatria) EV A
8h, durante 24h
envolvimento esofágico
Em utentes portadores nasais de MRSA para além de descontaminação nasal com mupirocina e banho com clorohexidina, deve ser ponderada a utilização de
vancomicina sistémica.
2. Cirurgia Endócrina
Nível de
Intervenção Antibiótico
Evidência
Suprarrenalectomia com
ou sem nefrectomia Sem indicação para profilaxia antibiótica.
(urina limpa)
Normalmente, sem indicação para profilaxia antibiótica. Considerar cefazolina, se doença neoplásica e risco infecioso B
Tiroide, paratiroides
elevado. C
Pâncreas Ver protocolo cirurgia digestiva pancreática.
4. Cirurgia maxilofacial (Cabeça e Pescoço) (Streptococcus, bactérias anaeróbias, S. aureus, K. pneumoniae, E. coli)
Nível de
Intervenção Antibiótico Dose inicial Posologia
Evidência
(se doença
1 g cada 2 horas no per-operatório; depois 1 neoplásica)
Amoxicilina + ácido clavulânico 2,2 g EV lento
g 6/6 h por 24 horas B (outros
Cirurgia major da
grupos)
cabeça, pescoço e oral
com incisão através da Alergia à penicilina com alto risco 900 mg (adulto) ou 10 mg/Kg
mucosa oral ou faríngea de anafilaxia: Se duração> 6 h repetir 900mg; depois 600
(pediatria) EV lento
mg 6/6 h por 24 horas
Clindamicina
+ 5 mg/Kg (adulto) ou 2,5 mg/Kg
Dose única
Gentamicina # (pediatria)
Cirurgia otológica
(cirurgia de 1 g cada 2 horas no per-operatório; depois 1
timpanomastoidite Amoxicilina + ácido clavulânico 2,2 g EV lento g 6/6 h por 24 horas B
crónica ou de
colesteatoma)
Nível de
Intervenção Antibiótico Dose inicial Posologia
Evidência
Cirurgia alveolar, ou
extração dentária não Aplicar protocolo de prevenção de endocardite bacteriana
séptica
Glândulas salivares* Sem indicação para profilaxia antibiótica B*
Amigdalectomia* Sem indicação para profilaxia antibiótica B
Microcirurgia laríngea* Sem indicação para profilaxia antibiótica B
Cervicotomia* Sem indicação para profilaxia antibiótica B
Esvaziamento
Sem indicação para profilaxia antibiótica B
ganglionar*
A frequência de infeção do local cirúrgico nestas cirurgias limpas é <1%.
5. Cirurgia Digestiva (Escherichia coli, S. aureus meticilino-sensível, Bactérias anaeróbias na cirurgia inframesocólica)
Nível de
Intervenção Antibiótico Dose inicial Posologia
Evidência
Cirurgia esofágica (sem Cefazolina 2g (adulto) ou 30 mg/Kg (pediatria) EV Dose única; se duração> 4 h repetir 1 g A
interposição de cólon);
Ou
Gastroduodenal
Cefoxitina 2 g (adulto) ou 40 mg/Kg EV Dose única; se duração> 2 h repetir 1 g
(incluindo PEG);
(pediatria)
Pancreática, Hepática
Vias biliares
Alergia à penicilina com alto risco 900 mg (adulto) ou 10 mg/Kg Dose única; se duração> 6 h repetir 900 mg
de anafilaxia: Clindamicina (pediatria) EV lento
+
Dose única
Gentamicina # 5 mg/Kg (adulto) ou 2,5 mg/Kg
(pediatria) EV
Colecistectomia Sem indicação para profilaxia antibiótica A
laparoscópica sem
factores de risco*
Nível de
Intervenção Antibiótico Dose inicial Posologia
Evidência
Anastomose bilio- A
digestiva Cefoxitina 2 g (adulto) ou 40 mg/Kg (pediatria) EV Dose única; se duração> 2 h repetir 1 g
Cirurgia colo-rectal**
Alergia à penicilina com alto risco 1 g (adulto) ou 15 mg/Kg (pediatria) EV
Cirurgia esofágica com Dose única
de anafilaxia: Metronidazol
interposição de colon
+
Prolapso retal 5 mg/Kg (adulto) ou 2,5 mg/Kg (pediatria)
Dose única
Gentamicina # EV
Apêndice***
Fístulas perianais
A
Hemorroidectomia Sem indicação para profilaxia antibiótica
Quistos Sacrococcígeos
Cefazolina 2 g (adulto) ou 30 mg/Kg (pediatria) EV Dose única; se duração> 4 h repetir 1 g A
Hérnia Alergia à penicilina com alto risco
de anafilaxia:
(com ou sem utilização 900 mg (adulto) ou 10 mg/Kg (pediatria) EV Dose única; se duração> 6 h repetir
de prótese) Clindamicina + lento 900 mg
Gentamicina # 5 mg/Kg (adulto) ou 2,5 mg/Kg (pediatria)EV Dose única
Traumatismos
abdominais que levam a Como a cirurgia colorretal A
cirurgia
* Ausência de colecistite recente, sem conversão para laparotomia, sem exploração das vias biliares, sem imunodepressão, mulher não grávida; caso exista algum fator de risco, aplicar protocolo vias biliares.
** Para além da profilaxia antibiótica sistémica, proceder à preparação mecânica do colon através de enemas e agentes catárticos e administrar antibióticos orais não absorvíveis em doses fracionadas na véspera
da intervenção (IA).
*** Apêndice normal ou macroscopicamente pouco alterado; se infeção, usar terapêutica antibiótica.
# Dose máxima: 500 mg.
6. Cirurgia Bariátrica (IMC> 35Kg/m2) (Staphylococcus, Streptococcus, bactérias Gram negativo aeróbias e anaeróbias)
Nível de
Intervenção Antibiótico Dose inicial Posologia
Evidência
7. Cirurgia Ortopédica
Nível de
Intervenção Antibiótico Dose inicial Posologia
Evidência
Cirurgia limpa envolvendo
mão, joelho ou pé sem Sem indicação para profilaxia antibiótica C
implantação de material
Nível de
Intervenção Antibiótico Dose inicial Posologia
Evidência
Correção de fratura
Cefazolina 2 g (adulto) ou 30 mg/Kg (pediatria) EV Depois 1 g cada 8 h, durante 24 h A
ortopédica composta
* Dose máxima: 2 g. **Dose máxima: 500 mg.
Nota: Em utentes portadores nasais de MRSA, para além de descontaminação nasal com mupirocina e banho com clorohexidina, deve ser ponderada a utilização de vancomicina sistémica.
12. Neurocirurgia (Staphylococcus aureus, Staphylococcus coagulase negativo, Bacilos Gram negativo)
Nível de
Intervenção Antibiótico Dose inicial Posologia
Evidência
2 g (adulto) ou 30 mg/Kg
Cefazolina Dose única A
(pediatria) EV
Craneotomia
Alergia à penicilina com alto risco de anafilaxia:
15 mg/kg (perfusão de 60 min) Dose única
Vancomicina*
2 g (adulto) ou 30 mg/Kg
Cefazolina Dose única A
Shunt de LCR (pediatria) EV
Alergia à penicilina com alto risco de anafilaxia:
15 mg/kg (perfusão de 60 min) Dose única
Vancomicina*
* Dose máxima: 2 g.
13. Cirurgia oftalmológica (Staphylococcus coagulase negativo, Staphylococcus aureus, Streptococcus, Enterococcus, P. acnes, Corynebacterium sppp,
bacilos Gram negativo)
Nível de
Intervenção Antibiótico Dose inicial Posologia
Evidência
Dose única
1 gota topicamente cada 5 -15
Neomicina-gramicidina-polimixina B min por 5 doses B
Ou Dose única
1 gota topicamente cada 5 -15
moxifloxacina min por 5 doses
Cirurgia de catarata#
+Cefuroxima 1mg intracamerular Dose única no final do
procedimento
Ou
Cefazolina no fim da cirurgia## 100 mg subconjuntival ou 1-2,5 A
mg intracamerular Dose única no final do
procedimento
# No pré-operatório, antissepsia com iodopovidona diluída a 5% (em NaCl a 0,9%) ou clorhexidina aquosa a 0,05% no fundo de saco conjuntival e córnea; antissepsia com iodopovidona a 10% nas pálpebras e
periocular (Nível de Evidência A); ## Em utentes de alto risco; se alergia a betalactâmicos, moxifloxacina 50 microg/0,1ml intra-camerular.
Referencias
Norma da DGS 031/2013 de 31/12/2013, atualizada em 18/12/2014
A peritonite Bacteriana espontânea (PBE) é definida como uma infeção do líquido ascítico sem um foco intrabdominal tratável cirurgicamente.
A profilaxia antibiótica da PBE está indicada em doentes com factores de risco, nomeadamente:
Doentes com cirrose e hemorragia gastrointestinal (reduz a mortalidade);
Doentes que tiveram mais do que um episódio de PBE (reduz a taxa de recorrência de PBE);
Doentes com cirrose e ascite e com liquido ascitico <1.5 g/dL (15 g/L) associado a alteração da função renal ou hepática. Insuficiência renal definida por
creatinina ≥1.2 mg/dL, ureia ≥25 mg/dL, ou sódio sérico ≤ 130 mmol/L. Insuficiência hepática definida como Score de Child-Pugh ≥9 e bilirrubina ≥ 3mg/dL.
Quanto maior for a duração do tratamento, maior é o risco de seleção de estirpes resistentes e menor será a probabilidade de reduzir a incidência de PBE.
A utilização contínua de um único antibiótico não parece ser a melhor opção, sugerindo-se a rotação antibiótica.
Nível de
Indicações Regime antibiótico Duração
evidência
Ceftriaxone 1g IV q24h
Cirrose e hemorragia gastrointestinal 1A 7 dias
switch para Norfloxacina 400 mg q 12h PO
Referências
Runyan BA. Spontaneous bacterial peritonitis in adults: Treatment and prophylaxis. UpToDate 2015
A meningite meningocócica ou meningite a Neisseria meningitidis é uma causa comum de meningite bacteriana em crianças e adultos.
A taxa de meningite para os contatos próximos é de aproximadamente 4 por 1000 pessoas expostas (0.4%), o que é cerca de 500 a 800 vezes superior à da população
em geral.
Está apenas indicada a profilaxia nos indivíduos com contacto íntimo ou exposição às secreções naso-faríngeas do doente.
Definição de contacto íntimo do doente com suspeita de meningite meningocócica, de acordo com a Direção Geral de Saúde.
Pessoas que, nos 10 dias precedentes à hospitalização de um doente, se encontram numa das seguintes situações:
a) Conviventes no domicílio do doente, pessoas que tenham partilhado o mesmo quarto, assim como quaisquer pessoas expostas às suas secreções orais,
nomeadamente através de beijos, partilha de escovas de dentes ou utensílios de mesa.
b) Adultos e crianças que, mesmo não tendo qualquer relação de proximidade com o doente, tenham frequentado as creches, amas ou jardins-de-infância;
c) Indivíduos que tenham tido contato estreito e frequente com o doente, em escolas do ensino básico secundário.
Em geral, não se consideram contactos íntimos os colegas cuja única relação com o doente foi o facto de frequentarem a mesma sala.
Assim, a profilaxia não está indicada para exposições breves. Isto inclui a maioria dos profissionais de saúde, a não ser que que tenham sido expostos diretamente a
secreções respiratórias (como aspiração ou entubação). A taxa de ataque nos profissionais de saúde em risco está aumentado quando comparado com a população em
geral, mas o risco absoluto é muito baixo e a profilaxia antibiótica não é recomendada para os profissionais de saúde que não foram expostos a secreções.
A quimioprofilaxia deverá ser administrada o mais precocemente possível (idealmente <24h após a identificação do caso). A quimioprofilaxia administrada <14 dias após
a exposição é provavelmente limitada ou sem valor, pelo que não é recomendada pelo United States Centres for Disease Control and Prevention (CDC).
Recomenda-se a monitorização apertada dos casos submetidos a quimioprofilaxia pelo menos durante 10 dias após a exposição, bem como a informação do indivíduo
dos sinais e sintomas da infeção meningocócica, permitindo o diagnóstico mais precoce de infeção. Não estão indicadas as culturas da orofaringe ou da nasofaringe para
decidir o início da quimioprofilaxia.
A Rifampicina não está recomendada na mulher grávida porque é teratogénica em animais de laboratório. Pode interferir com os contraceptivos orais, pelo que deverá
ser recomendado um método alternativo.
A Ciprofloxacina não está recomendada para indivíduos com <18 anos ou grávidas e mulheres em período de amamentação, porque poderá causar lesões nas
cartilagens. Contudo, a Ciprofloxacina poderá ser utilizada em crianças, quando não existe outra alternativa.
Referências
A evidência para suportar a profilaxia antimicrobiana para a prevenção da endocardite infeciosa é fraca.
1
De acordo com as recomendações da American Heart Association (AHA) Guidelines, 2007 , a profilaxia antibiótica está recomendada para os indivíduos com condições
cardíacas associadas, com elevado risco de outcome adverso relacionado com a endocardite infecciosa.
Procedimentos Observações
Dentários Procedimentos dentários que envolvem a manipulação de tecido gengival ou da região periapical dos dentes ou perfuração da mucosa
oral (ex. extração dentária ou drenagem de abcessos). Isto inclui a limpeza dentária de rotina.
Procedimentos do aparelho respiratório que envolvem a incisão ou biopsia da mucosa respiratória (ex: amigdalectomia, adenoidectomia
ou broncoscopia com biopsia).
Aparelho respiratório Os doentes submetidos a procedimentos invasivos do aparelho respiratório com infeção estabelecida devem efetuar tratamento
antibiótico ativo contra os Streptococcus viridans. Os doentes com infeção suspeita ou confirmada a Staphilococcus aureus, devem
efetuar antibiótico contra esta bactéria.
Procedimentos do aparelho gastrointestinal com infeção (ex. endoscopia digestiva com biopsia ou colangiopancreatografia endoscópica
retrógrada).
Aparelho Gastrointestinal
A antibioterapia deverá ser sensível aos Enterococcus (Amoxicilina ou Ampicilina).
A Vancomicina poderá ser uma alternativa nos doentes que não podem efetuar beta-lactâmicos.
Procedimentos do aparelho genitourinário com infeção (ex. dilatação de estruturas, inserção de cateteres e prostatectomia).
Aparelho Genitourinário A antibioterapia deverá ser sensível aos Enterococcus (Amoxicilina ou Ampicilina).
A Vancomicina poderá ser uma alternativa nos doentes que não podem efetuar beta-lactâmicos.
Pele, estrutura da pele ou Procedimentos com abordagem da pele, estruturas da pele ou tecido músculo-esquelético com infeção.
tecido musculoesquelético A antibioterapia deverá ser eficaz contra os Staphilococcus e Streptococcus beta-hemolíticos.
Cardiovascular Valvuloplastia ou procedimentos para colocação de materiais intravasculares ou intracardíacos
Dose Adulto: Clindamicina 600 mg PO; Azitromicina/Claritromicina 500 mg PO; Vancomicina 15-20 mg/kg q 8-12h, não excedendo 2g
dose
Dose Pediátrica: Clindamicina 20 mg/kg PO (não exceder 600 mg/dose); Azitromicina/Claritromicina 15 mg/kg PO; Vancomicina 15
mg/kg, dose máxima 1g
Sem alergia Penicilina e grupo de alto risco: Amoxicilina ou Ampicilina 2 g EV + Gentamicina 1.5 mg/kg 30 minutos a 1h antes do
procedimento; 6h depois, Ampicilina ou Amoxiclina 1g PO
Procedimentos Sem alergia Penicilina e grupo de risco moderado: Amoxicilina ou Ampicilina 2 g EV 30 minutos a 1h antes do procedimento ou
genitourinários e Amoxicilina 2g PO 1h antes do procedimento.
gastrointestinais
Com alergia Penicilina e grupo de alto risco: Vancomicina 1g durante 1-2h antes do procedimento + Gentamicina 1.5 mg/kg/EV ou IM.
Referências
Wilson W, Taubert KA, Gewitz M, Lockhart PB, et al. Prevention of Infective Endocarditis. Guidelines from the American Heart Association. A Guideline from the American
Heart Association Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease Committee, Council on Cardiovascular Disease in the young, and the Council on Clinician
Cardiology, Council on Cardiovascular Surgery and Anaesthesia, and the Quality of Care and Outcomes research Interdisciplinar y Working Group. Circulation 2007;
116:1736.
Sexton D. Antimicrobial prophylaxis for bacterial endocarditis. UpToDate 2015
As infeções que ocorrem após procedimentos endoscópicos são raras e presumivelmente resultam da bacteriémia resultante do procedimento ou, em casos de
procedimentos como aspiração de cisto pancreático, as infeções ocorrem por inoculação de bactérias durante o procedimento.
A bacteriémia resulta da translocação das bactérias endógenas para a corrente sanguínea através da mucosa traumatizada, inoculação de espaços ou tecidos estéreis
por contato direto com o endoscópio ou acessórios do endoscópio, contaminados. A injeção de contraste pode levar a bacteriémia pela introdução de bactérias em
espaços previamente estéreis (ex. árvore biliar durante a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica).
As bacteriémias que resultam em endocardite são raras pelo que a profilaxia da endocardite nos procedimentos gastrointestinais, não está recomendada.
A maioria dos procedimentos endoscópicos gastrointestinais não requer profilaxia antibiótica, incluindo os doentes com doença cardíaca valvular ou próteses articulares.
A profilaxia antibiótica está recomendada nos procedimentos associados a elevado risco de infeção ou nos doentes com condições que os tornam susceptíveis às
infeções pelo elevado risco de bacteriémia.
Assim, as recomendações da profilaxia antibiótica são baseadas no risco infecioso relacionado com o procedimento, bem como em fatores de risco do doente que
predispõem à infeção.
Referências
ASGE Standards of Practice Committee, Khashab MA, Chithadi KV, et al. Antibiotic prophylaxis for GI endoscopy. Gastrointest Endosc 2015;81:81Wilson W, Taubert KA,
Gewitz M, Lockhart PB, et al. Prevention of Infective Endocarditis. Guidelines from the American Heart Association. A Guideline from the American Heart Association
Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease Committee, Council on Cardiovascular Disease in the young, and the Council on Clinician Cardiology, Council on
Cardiovascular Surgery and Anaesthesia, and the Quality of Care and Outcomes research Interdisciplinary Working Group. Circulation 2007; 116:1736Nichimura RA,
Carabello BA, Faxon DP, et al. ACC/AHA 2008 guideline update on vascular heart disease: focused update on infective endocarditis: a report of the American College of
Cardiology/America Heart Association Task Force on Practice Guidelines: endorsed by the Society of Cardiovascular Anesthesiologists, Society for Cardiovascular
Angiography and Interventions, and Society of Thoracic Surgeons. Circulation 2008;118:887Meyer GW. Antibiotic prophylaxis for gastrointestinal endoscopic procedures.
UpToDate 2015.
1ª Linha: Penicilina G 5000000UI EV inicial, seguido por 2500000UI EV 4/4h até ao parto ou
Ampicilina 2g EV inicial, seguido de 1g EV 4/4h até ao parto.
Parto com exsudado positivo para Streptococcus
2ª Linha: Clindamicina 900 mg EV 8/8h até ao parto ou Eritromicina 500 mg EV 6/6h até ao parto ou Cefazolina
Grupo B
2g EV inicial, depois 1g EV 8/8h até ao parto.
Referências
Norma da DGS Nº 031/2013 de 31/12/2013, atualizada em 18/12/2014 Profilaxia antibiotica cirurgica na criança e no adulto
Uptodate - Antimicrobial prophylaxis for prevention of surgical site infection in adults
Sanford Guide - Antimicrobial Therapy, 2016
Autores: Maria Inês Correia (Serviço de Medicina Interna) e Pedro Vieira (Serviço de Nefrologia)
Introdução
As infeções do trato urinário (ITU) não complicadas assumem-se como das infeções extra-hospitalares mais frequentes, apenas após as infeções respiratórias. Perante
uma elevada incidência e uma evolução geralmente favorável considera-se uma abordagem terapêutica empírica. Nesse sentido é necessário o conhecimento das
causas que as predispõem, os microrganismos geralmente associados, bem como o perfil de resistência local, numa perspetiva de uso racional de antibióticos.
Considerando subgrupos específicos, nomeadamente crianças, grávidas, idosos, doentes com manipulação do trato urinário, comorbilidades (diabetes, estados de
imunossupressão, doença renal) ou anomalias do trato urinário, estes apresentam um maior risco inerente e/ou perfis de apresentação/agentes infecciosos distintos
exigindo, por sua vez, abordagens diferenciadas. Por outro lado, no meio intra-hospitalar, as ITU associadas a catéter urinário são a causa de infeção nosocomial mais
frequente, assumindo-se como a principal causa de bacteriémia a agentes Gram negativos e, considerando a etiologia facilmente se percebe o maior perfil de
resistências destes agentes.
Num sentido abrangente, surge a atualização deste documento com a abordagem mais recomendada nos múltiplos casos de ITU, incluindo a homogeneização da prática
diagnóstica e do uso racional da antibioterapia baseados na evidência científica.
Patogenia
Os microrganismos podem ter disseminação para o trato urinário por via hematogénea ou linfática, mas a principal, com cerca de 95% dos casos, é a via ascendente
através da uretra, especialmente de agentes de origem entérica, explicando a razão do maior risco de ITU nas mulheres e na manipulação do trato urinário.
Definição/Classificação
As ITU são habitualmente classificadas com base na sintomatologia de apresentação, dados laboratoriais e achados microbiológicos, dividindo-se normalmente em trato
urinário baixo/alto e não complicadas/complicadas/ sépsis. Como habitualmente considerado, o nível do trato urinário afectado é traduzível pela apresentação clínica em
que sintomas de disúria, poliaquiúria, tenesmo vesical e outros sintomas urinários baixos traduzem uma cistite, enquanto que a evolução para lombalgia, febre, náuseas/
vómitos representam o atingimento do trato urinário alto, com pielonefrite.
Numa tentativa ainda não validada de uniformizar a classificação de ITU a Associação Europeia de Urologia divulgou uma abordagem classificativa traduzida na figura 1.
Apresentação Clínica
Gravidade
Ur: Uretrite
Cis: Cistite 1 baixa (Cis) Factores de Risco (ORENUC)
PN: Pielonefrite 2 PN moderada
O: sem FR Patógeneos
UroS: Urossépsis 3 PN grave
R: ITU recorrente Agente
4 UroS: SIRS
5 UroS: Disfunção E: extra urinária Susceptibilidade:
orgão N: nefropatia (a) multissensível
6 UroS: Falência U: urológico (b) sensibilidade
orgão C: catéter reduzida
(c) multiresistente
Fig 1. Parâmetros de classificação de ITU e avaliação de gravidade (adaptado). Guidelines on Urological Infections. European Urology Association, 2013.
Em termos de valorização de resultados laboratoriais, consideram-se clinicamente relevantes para definição de bacteriúria e piúria, os seguintes achados:
Bacteriúria:
3
o > 10 UFC/mL de bactérias na amostra de jacto médio na cistite não complicada nas mulheres;
4
o > 10 UFC/mL de bactérias na amostra de jacto médio na pielonefrite aguda não complicada nas mulheres;
5 4
o > 10 UFC/mL de bactérias na amostra de jacto médio nas mulheres ou >10 nos homens (ou na amostra por sondagem vesical nas mulheres)
na pielonefrite aguda complicada;
o na amostra por punção suprapúbica qualquer achado bacteriano é relevante.
Bacteriúria assintomática:
5
o Achado de> 10 UFC/mL de bactérias da mesma estirpe bacteriana (por vezes só é possível a identificação da espécie) em duas uroculturas
diferenciadas por> 24h.
Piúria:
3
o Achado de 10 leucócitos por campo de grande ampliação (x400) em amostra de urina centrifugada ou por mm em amostra não centrifugada.
Abordagem diagnóstica/Tratamento
Observações
Tratamento
UC:
Cistite não complicada (sem FR) na - Suspeita de PN;
E. coli (70-95%), Staph. saprophyticus
mulher pré-menopausa Clínica + tira teste - Sintomas após 2-4 semanas de
(5-10%)
Cis 1O conclusão tx;
- Sintomas atípicos.
Fosfomicina 3g - Dose única
Observações
- Cumprir 1-7 dias (grau de evidência
Nitrofurantoína 100mg 2id 5-7 dias (se Cl Cr>60mL/min) IA);
Tratamento
Se falência tx ou recorrência em 2
Regime alternativo: semanas:
Cefuroxime 250mg 2id 7 dias
Amoxicilina+ác.clavulânico 500+125mg 3id 5-7 dias - UC;
Quinolonas (ciprofloxacina 250mg 2id 3 dias; levofloxacina 250mg 1id 3 dias) - Esquema atb diferente por 7 dias
Observações
Tratamento
Infeção Agentes
AGENTES Diagnóstico
DIAGNÓSTICO EECDCDe
ECD
ITU complicada (com FR)
Cis 1/PN 2,3 E/N/U/C
ITU complicada associada aos E. coli e enterococcus (60-75%),
Clínica + tira teste/UII Exame de imagem:
cuidados de saúde Proteus, Klebsiella, Pseudomonas e
(colher UC) Fazer na PN/UroS
Cis 1/PN 2,3 E/N/U/C Serratia sp.
Urosépsis
UroS 4,5 E/N/U/C
Ceftriaxone 1-2g/dia 1id 7-14 dias (ou Cefotaxime 2g 3id)
Gentamicina 3-5mg/kg 1id 7-14 dias - Hospitalização
- Cumprir 7-14 dias (grau de evidência
Se quadro grave/falência terapêutica inicial: IIa B), pode ser necessário até 21
Ceftazidima 1-2g 3id 7-14 dias dias e/ou 3-5 dias após
Observações
Tratamento
Observações
Tratamento
Pielonefrite na mulher grávida E. coli (80-90%), K.pneumoniae e Clínica + tira teste/UII Exame de imagem:
PN 2,3E Proteus mirabilis (<10%) (colher UC) - Preferência pela eco/uro-RMN
Ceftriaxone 1-2g/dia 1id 7-10 dias
Observações
Tratamento
Outras Situações
Observações
+ Azitromicina 1g PO dose única
Tratamento
Follow-up
± Aminoglicosídeo - Se crónica tx PO 4-6 semanas (grau
de evidência IIa C)
Crónica:
Quinolonas
Considerando a importância epidemiológica da ITU associada a catéter urinário, como a principal causa de infeção nosocomial torna-se relevante uma abordagem
específica. Em termos de definição, abarcam toda a ITU em doentes com catéter urinário permanente ou cateterizados até às últimas 48h, sendo a duração da
cateterização o factor de risco mais importante com relevo também para o risco de colonização bacteriana dos sacos de drenagem e a qualidade dos cuidados com o
cateter urinário, pelo que o saco coletor deverá ser sempre mantido abaixo do nível da bexiga e sistema conetor. Numa abordagem alternativa a sistemas de
cateterização urinária permanente, com menor risco de infeção sintomática, devem ser considerados em doentes específicos, a algaliação intermitente, sistemas
Pen’Rose ou mesmo catéteres suprapúbicos.
Na abordagem diagnóstica/terapêutica, nota para a ausência de indicação para exames culturais em doentes assintomáticos, já que a bacteriúria assintomática
geralmente não requer terapêutica (exceto, nos casos de manipulação traumática do trato urinário). No entanto, nestes doentes a semiologia de infeção geralmente é
atípica e quando esta é sugerida está indicada a realização de urocultura (ou perante sinais de gravidade também hemoculturas), com remoção do cateter urinário
quando dele não necessitam ou substituição do mesmo com o início de antibioterapia de acordo com os padrões de suscetibilidade locais, posteriormente ajustados de
acordo com resultados culturais.
Nota: Preferencialmente a amostra para urocultura deverá ser obtida após a remoção do catéter e através de um novo catéter urinário. Quando isto não é possível, a
cultura deverá ser obtida através da ponta do catéter e não através do saco de drenagem.
Referências
Mapas Microbiológicos, Ano 2014. SESARAM, Secção de Microbiologia – Serviço de Patologia Clínica
Grabe M., et al. Guidelines of urological infections. European Association of Urology, 2015
Grabe M., et al. Guidelines of urological infections. European Association of Urology, 2013
Direção Geral da Saúde. Norma nº 015/2011 de 30-08-2011 - Terapêutica de Infeções do Aparelho Urinário (Comunidade). Direcção Geral de Saúde 2011:015/2011.
Disponível em https://www.dgs.pt/normas-clinicas.aspx
Direção Geral da Saúde. Norma nº 006/2014 de 08/05/2014, atualizada em 08/05/2015 Duração de Terapêutica Antibiótica. Direcção-Geral de Saúde 2014:006/2014.
Disponível em https://www.dgs.pt/normas-clinicas.aspx
Gupta K., et al. International clinical practice guidelines for the treatment of acute uncomplicated cystitis and pyelonephritis in women: A 2010 uptdate by the Infectious
Diseases Society of America and the European Society for Microbiology and Infectious Diseases. CID, 2011
Kyriakidou KG, et al. Short versus long course antibiotic therapy for acute pyelonephritis in adolescents and adults: a meta-analysis of randomized controlled trials. Clin
Ther 2008, 30(10):1859-1868.
Lutters M, Vogt-Ferrier NB. Antibiotic duration for treating uncomplicated, symptomatic lower urinary tract infections in elderly women. Cochrane Database Syst Rev
2008(3):CD001535.
Rinossinusite Aguda
Etiologia
Geralmente de causa viral (Rinovírus, Adenovírus, Vírus Influenza e Parainfluenza) e tem resolução em 7 a 10 dias. Em 0,5 a 2,0% dos casos é complicada por infeção
bacteriana.
Agentes bacterianos mais frequentes: Streptococcus pneumoniae, Moraxella catarrhalis, Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus e bactérias anaeróbias.
Considerar Chlamydia pneumoniae e outros agentes atípicos na sinusite crónica. Fungos na etiologia alérgica e nos imunocomprometidos.
Clínica
Sintomas: presença até 4 semanas de rinorreia anterior e/ou posterior purulenta, acompanhada por obstrução nasal, dor ou pressão facial unilateral, dor à pressão facial
ou na mastigação e febre.
O padrão e duração da doença podem permitir a distinção entre a etiologia bacteriana e viral. A primeira etiologia é sugerida, quando os sintomas e sinais são
persistentes com duração de 10 ou mais dias, sem evidência de melhoria; se sintomas e sinais graves com febre e rinorreia purulenta ou dor facial com duração de pelo
menos 3-4 dias consecutivos no início do quadro clínico; ou agravamento clínico com início de febre, cefaleia ou rinorreia, ou aumento da rinorreia após infeção viral com
duração de 5-6 dias e inicialmente com melhoria. A secreção purulenta não é sinónimo de infeção bacteriana.
Antibioterapia empírica
» Duração: 5 a 7 dias.
- Levofloxacina, 500mg 24/24, p.o.
- Moxifloxacina, 400mg 24/24, p.o.
2ª Linha
» Duração: 7 a 10 dias.
- Ceftriaxone, 1 a 2gr 12/12h a 24/24h, e.v.
- Cefotaxime, 2gr 4/4h ou 6/6h, e.v.
- Levofloxacina, 500mg 24/24, p.o. ou e.v.*
Internamento
- Moxifloxacina, 400mg 24/24, p.o. ou e.v.*
» Duração: 10 dias.
1
Se idade> 65 anos; antibioterapia no mês anterior; internamento recente; infeção grave; regiões com elevada prevalência (>ou igual a 10%) de Streptococcus pneumoniae não-susceptível à Penicilina;
complicações supurativas por extensão à órbita ou intracraniana; frequentador de centro de dia; imunocomprometidos.
* Devido ao aumento das taxas de resistência às Quinolonas recomenda-se a sua utilização apenas nos casos sem outra alternativa possível.
Macrólidos, Sufametoxazol/Trimetoprim e Cefalosporinas de 2º e 3º Geração não estão recomendados pela elevada resistência do Pneumococcus.
» Em situação de não resposta à terapêutica, isto é, se agravamento após 48-72h do início da antibioterapia ou ausência de melhoria após 3 a 5 dias, considerar: presença de microrganismos resistentes, etiologia
não infeciosa, anomalia estrutural ou outras causas. Considerar realização de exame microbiológico de aspirado de seios peri-nasais e TC com contraste.
Definição
Corresponde à inflamação do ouvido médio com presença de efusão. É supurativa se houver presença de otorreia.
Etiologia
Agentes bacterianos mais frequentes são: Streptococcus. pneumoniae e Haemophilus influenzae. Menos frequentes são: Moraxella catarrhalis, Staphylococcus aureus e
Streptococcus B-hemolítico do grupo A.
Podem estar implicados vírus, como o Vírus Sincicial Respiratório, Vírus Influenza e Rinovírus.
Clínica
Sintomas mais frequentes são a otalgia e febre (nem sempre está presente). Pode acompanhar-se de diminuição da acuidade auditiva. São tipicamente unilaterais.
Sinais: presença de efusão no ouvido médio; abaulamento da membrana timpânica com eritema ou opacificação da mesma com ou sem presença de otorreia.
Antibioterapia empírica
* Devido ao aumento das taxas de resistência às Quinolonas recomenda-se a sua utilização apenas nos casos sem outra alternativa possível.
Faringite e Amigdalite
Definição
Etiologia
Maioria causada por vírus respiratórios: Adenovírus, Vírus influenza e Parainfluenza, Rinovírus, Vírus sincicial respiratório, Vírus de Epstein-Barr, Citomegalovírus,
Coxsackievírus, Echovírus, Vírus herpes simplex, Rubéola e Varicela.
Clínica
Antibioterapia empírica
Referências
IDSA Clinical Practice Guideline for Acute Bacterial Rhinosinusitis in Children and Adults, Clinical Infectious Diseases 2012;54(8):1041–5.
Acute sinusitis and rhinosinusitis in adults: Treatment. UpToDate, 2015.
Acute otitis media in adults. UpToDate, 2014.
University of Michigan Health System, Otitis Media Guideline Team, April 2013.
Diagnóstico e Tratamento da Otite Média Aguda na Idade Pediátrica. Norma da DGS: 007/2012 de 16/12/2012 atualizada a 28/10/2014.
Diagnóstico e Tratamento da Amigdalite Aguda na Idade Pediátrica. Norma da DGS: 020/2012 de 26/12/2012.
Clinical Practice Guideline for the Diagnosis and Management of Group A Streptococcal Pharyngitis: 2012 Update by the Infectious Diseases Society of America.
Treatment and prevention of streptococcal tonsillopharyngitis. UpToDate, 2015.
Introdução
O presente capítulo do Manual de Antimicrobianos do SESARAM, 2016, pretende adaptar para a realidade regional o estabelecido nas mais recentes normas e
orientações nacionais e internacionais para o tratamento da Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) em adultos imunocompetentes.
A norma nº 45/2011 da Direção Geral de Saúde aborda a gestão do doente adulto com PAC sem necessidade de internamento, nomeadamente no que se refere à
estratificação de risco, investigação etiológica e antibioterapia em ambulatório. É baseada nas recomendações das principais sociedades científicas nacionais e
2 3
internacionais sobre a PAC, nomeadamente as recomendações da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (2003), British Thoracic Society (2009), Infectious DIseases
4 5
Society of America/American Thoracic Society (2007) e Sociedad Española de Neumologia e Cirurgía Torácica (2010). Na referida norma são tidos em consideração os
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dados de resistências aos antimicrobianos dos principais agentes etiológicos de PAC em Portugal provenientes do estudo Viriato . Não havendo estudos epidemiológicos
reginais nos doentes com PAC, considera-se que a norma 45/2011 é atual e tem aplicabilidade na íntegra na região, pelo que é feita a sua síntese neste capítulo.
Para o doente com critérios de gravidade e necessidade de internamento foram adaptadas as recomendações e orientações acima referidas no que se refere à
abordagem diagnóstica e de tratamento de doente com PAC e foram também tidas em consideração as atualizações e novas recomendações disponíveis e publicadas
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desde a data de elaboração da referida norma, nomeadamente a guideline clínica nº 191 do National Institute for Health and Care Excelence (NICE) do Reino Unido
8
(2014) e respetiva revisão anotada das recomendações da British Thoracic Society (2015).
Os testes de diagnósticos e os antimicrobianos recomendados foram adaptados à realidade do SESARAM, à data da realização deste capítulo. São atribuídas as
categorias de evidência de acordo com a classificação utilizada nos respetivos documentos.
Definição
A pneumonia é uma infeção pulmonar, caracterizada por proliferação de micro-organismos a nível alveolar, frequentemente com infiltração do parênquima pulmonar. A
hipótese de diagnóstico deve ser colocada quando:
História de início agudo ou sub-agudo de:
o Febre, tosse (com ou sem expetoração) e dispneia (sintomas frequentes)
o Hipersudorese, arrepios, calafrios, fadiga, mialgias, anorexia, cefaleias, confusão mental (idoso), desconforto torácico, toracalgia de características
pleuríticas, hemoptise e dor abdominal (sintomas menos frequentes)
Objetivação de febre/hipertermia, taquipneia, hipoxémia, taquicardia e “ar séptico”
Fervores (crepitações) inspiratórios ou ruídos brônquicos na auscultação pulmonar
Macicez à percussão torácica
É considerada a pneumonia adquirida na comunidade (PAC) como aquela que acontece fora do hospital ou menos de 48 horas depois do internamento, num doente
que não estava hospitalizado nem residia em lar ou instituição equivalente.
São assim excluídas as pneumonias associadas aos cuidados de saúde (PACS), definidas como aquelas que acontecem em qualquer doente que esteve internado em
hospital de agudos por dois ou mais dias nos 90 dias anteriores à infeção, residia num lar ou instituição similar, recebeu antibioterapia intravenosa, quimioterapia,
cuidados relacionados com uma ferida ou hemodiálise nos 30 dias anteriores à infeção.
São também excluídas do âmbito deste capítulo a PAC em doente pediátrico, no doente imunocomprometido, as pneumonias a agentes anaeróbios e o tratamento dos
abcessos pulmonares.
Avaliação de gravidade
Nos doentes com diagnóstico de PAC é imperativo fazer uma avaliação de gravidade inicial, para determinação do melhor local de tratamento. Para além do critério
clínico do médico está recomendada a utilização de instrumentos clínicos como o CRB-65, o CURB-65 e o Índice de Severidade de Pneumonia (Pneumonia Severity
Index – PSI). O PSI pela sua complexidade e difícil aplicabilidade, nomeadamente fora do hospital, é excluído do presente capítulo.
O índice CRB-65 é melhor adaptado a uma utilização fora do meio hospitalar, uma vez que não obriga à realização de exames complementares de diagnóstico. Uma
pontuação superior a 1 (> 1) aponta para a necessidade de referenciação hospitalar (Serviço de Urgência) para posterior avaliação da necessidade de internamento.
Se disponível, a determinação da saturação de oxigénio por oximetria de pulso, é outra ferramenta de fácil aplicação que é indicador de gravidade e de referenciação
hospitalar. Uma saturação de oxigénio inferior a 94% é indicação para referenciação ao hospital.
Outros fatores que podem motivar o envio ao hospital são: comorbilidades pré-existentes, fragilidade, a inexistência de suporte social ou familiar no domicílio,
gravidez, a incapacidade de tomar o antibiótico pela via oral e o desejo do doente.
Existem fatores subjetivos que não são captados eficazmente pelas ferramentas enunciadas. Assim, em todos os doentes, o juízo clínico deve ser utilizado para decidir
o melhor local de tratamento. Deve ser tida em consideração a capacidade do doente para aderir ao tratamento e a existência de redes de apoio familiar e social.
A sensibilidade e a especificidade da história clínica e dos achados do exame objetivo são baixas, pelo que a confirmação do diagnóstico de pneumonia requer a
realização da radiografia torácica mostrando infiltrado do parênquima pulmonar. A radiografia permite também avaliar a gravidade da doença e a resposta ao
tratamento. Porém, na maior parte dos casos, a radiografia torácica não é obrigatória perante a suspeita de pneumonia sem necessidade de internamento. A radiografia
de tórax deve ser realizada:
Existem dúvidas quanto ao diagnóstico de PAC
O doente tem patologia pulmonar subjacente ou tem fatores de risco para desenvolvê-la (ex: neoplasia do pulmão)
MA.02.16 Pneumonia Adquirida na Comunidade 209
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
O índice CURB-65, que obriga à realização de exames laboratoriais, pode ser utilizado para diferenciar não só, a necessidade de internamento hospitalar, como o local
de internamento no hospital (enfermaria ou unidade de cuidados intensivos).
Para o tratamento ambulatório da pneumonia, geralmente não são necessários outros meios auxiliares de diagnóstico.
Em adultos imunocompetentes, a história clínica, o exame objetivo, a radiografia e o exame cultural têm sensibilidade e especificidade baixas para a identificação do
agente etiológico. Não existe também evidência que, na PAC tratada em ambulatório, a antibioterapia dirigida para um agente etiológico específico tenha melhores
resultados que o tratamento empírico, pelo que a utilidade do exame cultural da expetoração neste contexto seja questionável.
Estes exames podem, contudo, ser úteis quando a história clínica e a epidemiologia apontam para um agente que alteraria significativamente a decisão da antibioterapia
indicada. Pode ser adequado pedir um exame cultural da expetoração em pessoas com doença pulmonar obstrutiva crónica grave, doença estrutural pulmonar ou
alcoolismo (por serem fatores de risco para infeção por Pseudomonas aeruginosa e outros agentes gram negativos).
A escolha do antibiótico a utilizar deve ter em conta a realização de antibioterapia prévia nos 3 meses anteriores ao presente episódio e a presença de
comorbilidades.
Consideram-se comorbilidades significativas e com potencial influência na etiologia e história natural dos doentes com PAC:
Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica Diabetes mellitus Alcoolismo
Doença cardíaca, hepática ou renal crónica Neoplasia conhecida Esplenectomia
Recomendações para a escolha do antibótico na PAC tratada em ambulatório (fonte: Norma 45/2011 DGS)
1ª Linha Amoxicilina 500 mg 8/8h
Previamente saudáveis e sem antibioterapia nos 3 meses
anteriores Azitromicina 500 mg/dia
Alternativas Claritromicina 500 mg 12/12h
Doxiciclina 200 mg dose inicial depois 100 mg 12/12h
Amoxicilina# 1g 8/8h associada a uma das três seguintes:
Azitromicina 500 mg/dia
1ª Linha
Doentes com comorbilidades* ou aantibioterapia nos 3 meses Claritromicina 500 mg 12/12h
anteriores Doxiciclina 200 mg dose inicial depois 100 mg 12/12h
Alternativas Levofloxacina 500 mg 24/24h ou Moxifloxacina 400 mg 24/24h
*Comorbilidade: DPOC; diabetes melitus; doença cardíaca, hepática ou renal crónicas; neoplasia; alcoolismos; esplenectomia, imunocomprometido ou fármacos imunossupressores. # A Cefuroxima (250 a 500 mg
de 12/12h) é uma alternativa, caso exista intolerância
O tratamento empírico deve ser dirigido contra o Streptococcus pneumoniae, que continua a ser o agente etiológico mais identificado (apesar de a taxa de identificação
ser muito baixa) na PAC. O estudo Viriato na população Portuguesa e outros estudos internacionais, revelam uma baixa e estável taxa de resistência do S. pneumoniae
às penicilinas e outros β-lactâmicos pelo que o tratamento por via oral com 500 mg três vezes ao dia de Amoxicilina nas PAC tratadas em ambulatório é o recomendado.
O estudo Viriato também confirma que em Portugal a proporção de resistência do S. pneumoniae in vitro à Amoxicilina isolada é idêntica à da sua combinação com
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Clavulanato, pelo que a Amoxicilina isolada tem um benefício e custo-efetividade superior ao da combinação (norma 25/2011 da DGS1 ).
As infeções por Mycoplasma pneumoniae obedecem a um padrão epidémico com picos de prevalência a cada 4-5 anos, apresentam baixa mortalidade e afetam
pessoas mais jovens. As várias meta-análises de ensaios que compararam, em doentes com PAC de baixo risco, esquemas de tratamento empírico que incluíam
cobertura para micro-organismos atípicos com esquemas de tratamento empírico sem cobertura para esses micro-organismos, não encontraram benefícios no uso do
primeiro tipo de esquemas, em termos de sobrevivência ou evolução clínica. A inclusão de antibioterapia dirigida ao M. pneumoniae no tratamento empírico inicial da PAC
é considerada inapropriada pela British Thoracic Society e a Infectious Diseases Society of America/American Thoracic Society (IDSA/ATS) admite não existir evidência
para o fazer. Neste sentido, dá-se preferência pela Amoxicilina em vez de um macrólido como primeira linha em pneumonias de baixo risco. Além disso, em Portugal a
prevalência de S. pneumoniae resistente aos macrólidos é elevada.
O estudo Viriato encontrou, em Portugal, em isolados de infeções respiratórias baixas, bactérias capazes de produzir β-lactamases (por exemplo: Haemophylus
influenzae e Moraxella catarrhalis). No entanto, referências nacionais e internacionais não diferenciam entre o uso da Amoxicilina isolada e o uso da combinação com
Clavulanato. Estas parecem, portanto, ser idênticas em termos de efetividade na terapia empírica na maioria dos casos, mas não o são em termos segurança, aumento
de resistências e custo. Atualmente e com base na evidência disponível, os antibióticos β-lactâmicos devem ser considerados como tratamento empírico de eleição da
PAC em doentes que não requerem internamento.
Entre os macrólidos a escolha da Azitromicina ou da Claritromicina baseia-se no menor número de efeitos secundários frente a outras alternativas, na comodidade
posológica e na sensibilidade específica da mesma frente ao M. pneumoniae. A Doxiciclina também é ativa contra o M. pneumoniae e por isso está indicada em situação
de epidemia conhecida.
No caso de existência de comorbilidades ou antibioterapia nos 3 meses anteriores a primeira linha deverá uma associação de Amoxicilina com outro antibiótico. A
associação com Claritromicina é recomendada na orientação da BTS. As orientações de IDSA/ATS, da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e da sua equivalente
espanhola recomendam a utilização de Azitromicina ou Claritromicina. No entanto, quando existem taxas de resistência aos macrólidos superiores a 25%, a IDSA/ATS
recomenda a associação da Amoxicilina à Doxiciclina. Em Portugal, o estudo Viriato mostrou aumento das taxas de resistência aos macrólidos nos últimos anos,
chegando aos 20% em 2007 havendo indicação de que este valor continua a aumentar, mas que ainda não atingiu os 25%. Recomenda-se, assim, a associação da
Amoxicilina ao macrólido, podendo a associação à Doxiciclina ser alternativa.
A opção pelas fluoroquinolonas nos cuidados de saúde primários não é consistente nem com a evidência existente nem com os princípios de uso prudente de
antibióticos. A sua utilização está associada ao desenvolvimento de estirpes resistentes, e há risco documentado de hepatoxicidade da Moxifloxacina, pelo que se deve
ser restrito o seu uso nas infeções respiratórias. O uso de antibióticos de amplo espectro de ação para o tratamento ambulatório da PAC, nomeadamente cefalosporinas
e fluoroquinolonas, aumenta o risco de infeções associadas aos cuidados de saúde e aumenta os custos dos mesmos, pelo que deverá ser restringido a situações de
pneumonia grave, tratada necessariamente em contexto hospitalar.
A duração do tratamento recomendada deve ser de 7 dias para a maioria dos casos, exceto se prescrito: Azitromicina (3 dias); Claritromicina ou fluoroquinolona (5 ou 6
dias), caso o doente se apresente apirético há 48-72 horas e apresente critérios de estabilidade clínica:
Temperatura ≤ 37,8ºC
Frequência cardíaca ≤ 100bpm
Frequência respiratória ≤ 24cpm
Tensão arterial sistólica ≥ 90mmHg
Sat. O2 ≥ 90% ou pO2 ≥ 60mmHg
Manutenção da via oral
Sem alteração do estado mental
Para além do antibiótico deve ser prescrito o tratamento de suporte necessário. Para que seja possível manter o tratamento com segurança em ambulatório, os doentes
devem ser reavaliados até 72 horas após o início de tratamento, pelo que deve ser assegurada a acessibilidade a cuidados médicos. A reavaliação pode ditar a
realização de exames adicionais, a mudança do esquema terapêutico ou a alteração do local de tratamento.
Nos doentes anteriormente saudáveis, a febre desaparece habitualmente 2 a 3 dias depois do início da antibioterapia e a leucocitose ao 4º dia, enquanto os outros
sintomas físicos podem persistir por mais tempo. As alterações radiográficas podem persistir por 4 a 12 semanas. A variação dos critérios CRB-65 pode ser utilizada para
monitorizar a progressão.
Os doentes que não respondem ou têm uma resposta lenta ao tratamento devem ser reavaliados 72 horas depois do início do tratamento, ou antes se apresentarem
agravamento da sua situação. Nestes casos, devem considerar-se as seguintes hipóteses:
Situações não infeciosas: edema pulmonar cardiogénico, tromboembolismo pulmonar, neoplasia do pulmão, pneumopatias de hipersensibilidade ou radiação e
doenças do tecido conjuntivo.
Agente não coberto pela antibioterapia: o agente responsável é outro ou o agente foi identificado corretamente, mas é resistente ou está em foco não acessível
(abcesso ou empiema); o doente não está a fazer a medicação prescrita ou a dose ou frequência de administração estão erradas.
Sobre-infeção com um novo agente.
A reavaliação pode ditar a realização de exames auxiliares de diagnóstico adicionais, alteração do local de tratamento ou mudança de antibioterapia. São critérios para
envio aos cuidados secundários a falência da terapêutica em ambulatório, incapacidade para manter a via oral, exacerbação de uma comorbilidade pré-existente,
existência de complicações (hipoxia, derrame pleural, sepsis, encefalopatia) e outras necessidades médicas ou psicossociais (disfunção cognitiva, doença psiquiátrica,
sem abrigo, abuso de drogas, falta de apoio ou compromisso do estado funcional).
Se a evolução for favorável, deve ser repetida a radiografia do tórax cerca de 6 semanas após o diagnóstico para exclusão de uma neoplasia subjacente, especialmente
se tiver mais de 50 anos, for fumador ou em pneumonias de resolução lenta.
Em meio hospitalar, a radiografia de tórax é mandatória para confirmar ou refutar o diagnóstico de PAC. Deve ser realizada de modo a que a primeira dose de
antibiótico possa ser administrada nas primeiras 4 horas após a admissão nos doentes com o diagnóstico confirmado. Se a evolução clínica for favorável, não há
necessidade de repetir a radiografia antes da alta hospitalar. Nos doentes com fatores de risco a radiografia deve ser repetida às 6 semanas. Nos doentes com sintomas
persistentes e/ou anomalias persistentes na radiografia de controlo (às 6 semanas) deve ser considerada a realização de outros exames complementares (ex:
broncoscopia, TC torácico).
A investigação etiológica da pneumonia, através da realização de exames microbiológicos, deve ser feita a todos os doentes com pneumonia de gravidade moderada a
severa. A extensão da investigação microbiológica depende da gravidade da doença.
A realização de hemoculturas está recomendada para todos os doentes com PAC de gravidade moderada a severa, preferencialmente antes do início da antibioterapia.
O exame bacteriológico da expetoração está recomendado para todos os doentes com PAC de moderada gravidade que estejam capazes de expetorar amostras
purulentas e não tenham ainda iniciado a antibioterapia. As amostras devem ser enviadas rapidamente ao laboratório. Culturas da expetoração ou de outras amostras do
trato respiratório inferior também devem ser realizadas em doentes com PAC grave ou que não estejam a melhorar com a terapêutica instituída. Se disponível, o exame
direto da expetoração (Gram) deve ser realizado nos doentes com PAC grave ou com complicações uma vez que podem fornecer indicações rápidas quanto ao agente
envolvido.
A pesquisa de antigénio urinário para o S. pneumoniae deve realizada para todos os doentes admitidos com PAC moderada a grave.
A pesquisa do antigénio urinário para a Legionella deve ser realizada em todos os doentes com PAC grave, em todos os doentes com fatores de risco específicos e
durante surtos. Em doentes com antigénio urinário positivo, doentes com PAC grave ou durante um surto devem ser realizadas culturas para a Legionella em amostras
do trato respiratório (incluindo expetoração).
A PCR de amostras do trato respiratório é a ideal para o diagnóstico de Mycoplasma pneumoniae. Na ausência de amostra do trato respiratório, a PCR pode ser
realizada em zaragatoa da orofaringe. Os testes serológicos devem ser interpretados com cautela.
O antigénio da Chlamydophila e a técnica de PCR em amostras respiratórias invasivas devem ser realizadas em doentes com PAC grave ou com suspeita forte de
psitacose. Os testes serológicos devem ser interpretados com cautela.
Para outros agentes etiológicos de PAC (agentes atípicos ou vírus) é sempre preferível o diagnóstico por PCR aos testes serológicos. Nos doentes com PAC grave sem
agente etiológico identificado, pode ser considerada a realização de testes serológicos pareados, devendo ser sempre indicado ao laboratório a data de início dos
sintomas. Estes também podem ser considerados durante surtos ou para efeitos de vigilância epidemiológica.
A avaliação de gravidade em meio hospitalar deve ser feita através da aplicação do índice CURB-65. Doentes com pontuação> 3 devem ser considerados como tendo
PAC grave e ser reavaliados por um médico sénior para confirmação da gravidade da doença. Para doentes com pontuação 4 ou 5, o internamento em unidade de
cuidados intensivos deve ser considerado. Doentes com pontuação de 2 podem ser considerados para internamento de curta duração ou tratamento em ambulatório com
supervisão hospitalar. A reavaliação frequente da gravidade da doença é mandatória e para os doentes com PAC grave (CRUB-65> 3) a reavaliação deve ser feita a
cada 12 horas até haver melhoria clínica documentada.
A monitorização da temperatura, frequência respiratória, frequência cardíaca, pressão arterial, consciência, saturação de O2 e FiO2 deve ser realizada e registada
pelo menos 2 vezes por dia. A radiografia de tórax e a PCR devem ser repetidas ao 3º dia naqueles doentes em que a evolução não é favorável.
Doentes com PAC admitidos em UCI devem ser tratados por especialistas com treino apropriado em cuidados intensivos e em colaboração estreita com especialistas
em cuidados respiratórios. A VNI e o CPAP não estão recomendados para o tratamento rotineiro da insuficiência respiratória em doentes com PAC. Se for considerada a
sua realização, deve ser feita em ambiente de cuidados intensivos de modo a assegurar uma transição rápida para a ventilação invasiva. Os glucocorticóides e o GCS-f
não estão indicados de forma rotineira para o tratamento adjunto da PAC.
A 1ª dose de antibiótico deve ser administrada logo que o diagnóstico seja confirmado, idealmente ainda antes de o doente sair do serviço de urgência. O objetivo de
qualquer serviço deve ser o de confirmar o diagnóstico e administrar a 1ª dose de antibiótico nas primeiras 4 horas após a admissão hospitalar.
Os doentes com PAC de baixa ou moderada gravidade, mesmo que admitidos no hospital, podem ser tratados de forma segura, na maioria das situações, com
antibióticos por via oral, quer em monoterapia, quer em terapia combinada. As recomendações de antibioterapia empírica da PAC em meio hospitalar são, em regra,
similares às utilizadas para o tratamento em ambulatório. Em situações em que a via oral não está disponível, nas PACs de baixa gravidade, pode ser administrada
Benzilpenicilina ou Claritromicina em monoterapia.
Em doentes com PAC de moderada gravidade está geralmente recomendada a terapia de combinação. Em doentes intolerantes à Amoxicilina ou aos macrólidos, as
alternativas são a Doxiciclina e as fluoroquinolonas (Levofloxacina ou Moxifloxacina). Se a via oral não estiver disponível deve ser administrada Benzilpenicilina, uma
cefalosporina de 2ª (Cefuroxime) ou 3ª geração (Cefotaxime ou Ceftriaxone) em combinação com a Claritromicina.
Em doentes com PAC grave a antibioterapia deve ser administrada por via intravenosa. Está recomendada a administração de um beta-lactâmico de largo espectro
(Amoxicilina/Ac. Clavulânico) em associação com um macrólido (Claritromicina). Em doentes alérgicos à penicilina deve ser administrado uma cefalosporina de 2ª
(Cefuroxime) ou 3ª geração (Cefotaxime ou Ceftriaxone).
Gravidade
(julgamento clínico e Tratamento preferencial Tratamento alternativo
CURB-65)
Baixa gravidade
CURB-65 0 a 1 (mort.
Amoxicilina 500mg q8h vo
<3%) mas admissão Doxiciclina 200mg 1ª dose seguido de 100mg q24h vo, ou
Via oral não disponível: Benzilpenicilina 1,2g q6h ou
necessária por razões Claritromicina 500mg q12h vo
Claritromicina 500mg q12h ev
não relacionadas
diretamente com a PAC
A transição para via oral deve ser encorajada e está recomendada assim que haja melhoria clínica, apirexia por mais de 24 horas e não haja contra-indicação. Nos
doentes que fizeram cefalosporinas por via intravenosa, está indicada a transição para Amoxicilina + Ac. Clavulânico para via oral e não para cefalosporinas por via oral.
A descalação da antibioterapia é fortemente encorajada, incluindo a transição para um antibiótico de menor espectro de ação, a descalação da dose e o switch para a via
oral.
Amoxicilina 500mg a 1g q8h vo ou Claritromicina 500mg q12h vo ou Cefuroxime 0,75 a 1,5g q8h ev ou
S. pneumoniae
Benzilpenicilina 1,2g q6h ev Cefotaxime 1 a 2g q8h ev ou Ceftriaxone 2g q24h ev
C. psitaci
Doxiciclina 200mg 1ª dose seguido de 100mg q24h vo Claritromicina 500mg q12h vo ou ev
C. burneti
Fluoroquinolona vo ou ev
*Pode ser considerada a terapêutica de combinação em casos
Legionella spp Claritromicina 500mg q12h vo ou ev (ou Azitromicina)
grave com Fluoroquinolona + Macrólido ou Rifampicina
A fluoroquinolona mais estudada é a Levofloxacina
Bacilos gram negativos Cefuroxime 0,75 a 1,5g q8h ev ou Cefotaxime 1 a 2g q8h ev ou Fluoroquinolona ev ou Imipenem 500mg q6h es ou Meropenem 0,5 a 1g q8h
entéricos Ceftriaxone 2g q24h ev ev
Ceftazidima 2g q8h ev + Gentamicina ou Tobramicina (com Ciprofloxacina 400mg q12h ev ou Piperacilina 4g q8h + Gentamicina ou
P. aeruginosa monitorização de dose) Tobramicina (com monitorização de dose)
Aconselhamento PPCIRA local Aconselhamento PPCIRA local
Pneumonia de
Amoxicilina/Ac. Clavulânico 1,2g q8h ev Aconselhamento PPCIRA local
aspiração
Em doentes com derrame parapneumónico está indicada a toracocentese precoce. Aos doentes com empiema ou líquido pleural com pH < 7,2 deve ser colocado um
dreno pleural. Nos doentes com abcesso pulmonar devem ser considerados agentes etiológicos menos comuns (anaeróbios, S. aureus, bacilos gram negativos, S. milleri)
e deve ser administrado um curso de antibiótico prolongado (6 semanas).
Referências
Norma 45/2011 da Direção Geral de Saúde: Antibioterapia na Pneumonia Adquirida na Comunidade em Adultos Imunocompetentes, de 26 de Dezembro, DGS, Lisboa
Orientação 25/2011 da Direção Geral de Saúde: Utilização de Ampicilina, Amoxicilina e Amoxicilina/Ácido Clavulânico, de 28 de Junho, atualizada a 24 de Agosto de
2011, DGS, Lisboa
NICE Clinical Guideline 191: Diagnosis and management of community- and hospital-acquired pneumonia in adults, de 3 de Dezembro de
2014, National Clinical Guideline Center, Reino Unido
Annotated BTS Guideline for the management of CAP in adults 2015, Janeiro de 2015, British Thoracic Society
Pneumonia Nosocomial
Autor: Miriam Freitas (Serviço de Medicina Interna)
Definições
Ocorre ≥ 48 horas após o internamento e que não estava em incubação na altura da admissão.
Tipo de pneumonia nosocomial que ocorre em 48-72 horas após a intubação endotraqueal.
Pneumonia precoce
Pneumonia tardia
Patogénese
A patogénese está relacionada com o número e virulência dos microorganismos que atingem o trato respiratório inferior, bem como com a resposta do hospedeiro
(defesas mecânica, humoral e celular). A fonte primária de infeção é o pulmão, através da microaspiração dos microorganismos que colonizam a orofaringe (ou menos
frequentemente, o trato gastrointestinal).
Os doentes hospitalizados frequentemente ficam colonizados com microorganismos hospitalares, mais de 75% dos doentes graves, estarão colonizados em 48 horas.
Microbiologia
Diagnóstico
Tratamento
Tratamento empírico
Princípios da antibioterapia
Precoce: idealmente iniciar antibioterapia na 1ª hora após suspeita diagnóstica, sem prejuízo da colheita de amostras microbiológicas.
Apropriada: de acordo com os agentes prováveis e padrões locais de sensibilidade.
Adequada: na dose, intervalo e via de administrações corretas, com monitorização de efeitos secundários e combinada, quando indicado. Seleção e
administração de forma a assegurar concentrações tecidulares ótimas.
Maximizada: para manter propriedades bactericidas ótimas.
Combinada: em situações específicas para aumento do espetro, sinergismo ou diminuição de emergência de resistências.
1ª Linha 2ª Linha
Ceftriaxone, 2g/dia ev
Amoxicilina/ácido clavulânico, 1.2g 8/8h ev ou
Levofloxacina, 750mg/dia ev
1ª Linha 2ª Linha
*Ceftazidima, 2g 8/8h ev
ou
Piperacilina/Tazobactam, 4.5g 6/6h ev ⁱMeropenem, 1g 8/8h ev.
ou
ⁱImipenem, 500mg-1g 6/6h ev
Mais
Se suspeita de Pseudomonas
Amicacina, 20mg/Kg/dia ev.
Gentamicina, 7mg/Kg/dia ev ou
Tobramicina, 7mg/Kg/dia ev.
Se suspeita de Acinetobacter baumanni
Amicacina, 20mg/Kg/dia ev Tobramicina, 7mg/Kg/dia ev.
+ +
v v
ⁱ Colistina, 1-2MUI 8/8h ev ⁱ Colistina, 1-2MUI 8/8h ev
Se suspeita de MRSA
Se suspeita de Legionella
Levofloxacina, 750mg/dia ev.
Ciprofloxacina, 400mg /8h ev
*Cefalosporina com atividade anti-pseudomonas
ⁱ Carbapenem com atividade anti-pseudomonas
ⁱⁱEm doentes com função renal normal
ⁱⁱⁱSe insuficiência renal, impossibilidade de monitorização dos níveis de vancomicina, uso recente de vancomicina, MIC para a vancomicina> 1mg/L.
ⁱv Ajuste da dose na insuficiência renal
Infusões Prolongadas
O efeito antimicrobiano pode ser otimizado com o aumento da dose (antibióticos concentração-dependente, como os aminoglicosídeos e as fluoroquinolonas) ou com a
infusão prolongada ou contínua (antibióticos tempo-dependente, como beta-lactâmicos)
Estes regimes podem tornar a antibioterapia efetiva para os microorganimos com concentrações inibitórias mínimas (MIC) elevadas, e impedir o surgimento de
resistências.
Piperacilina-tazobactam, 3.375 ou 4.5g infusão ev. durante 4h, administrado 6/6h. Infusão contínua: 18g/24h (8.3ml/h) com dose de carga inicial de 3.375 ou 4.5g ev.
administrada durante 30min.
Meropenem, 1-2g infusão ev. durante 3h, administrada a cada 8h.
Imipenem, a infusão prolongada não é recomendada, uma vez que não se mantém estável por período prolongado.
Tratamento dirigido
Diagnóstico
Se melhoria clínica, analítica (leucocitose, proteína C reativa e procalcitonina) e radiológica, e identificação do agente etiológico: ajuste da antibioterapia de
4,5
acordo com a suscetibilidade do microorganismo continuação da antibioterapia até completar 7 dias .
A antibioterapia prolongada está reservada para as seguintes situações: bacteriémia a S. aureus, infeção metastática ou doença grave.
Se melhoria clínica e nenhum agente identificado descalação da antibioterapia com descontinuação da terapêutica para Pseudomonas e MRSA.
Se ausência de melhoria clínica e suspeita de microorganismo multirresistente antibioterapia de espetro alargado para cobertura de microrganismos
multirresistentes até isolamento do agente etiológico.
Se ausência de melhoria clínica nas primeiras 72 horas, pesquisa de infeção complicada, outros diagnósticos ou outros focos de infeção.
A antibioterapia de curta duração (7 dias) é suficiente para a maioria dos doentes com PN, PAV ou PACS não complicadas, que apresentem resposta clínica
favorável nas primeiras 72 horas.
As decisões devem ter por base, primariamente, a resposta ao tratamento, gravidade da doença, comorbilidades e fatores de risco para complicações
relacionadas com antibióticos.
Referências
American Thoracic Society/Infectious Diseases Society of America (ATS/IDSA) guidelines 2005. Am J Respir Crit Care Med Vol 171. pp 388–416, 2005
Froes F., Paiva J.A., Amaro P., Baptista J.P., Brum G., Bento H., Duarte P., Dias C.S., Glória C., Estrada H., Telo L., Silvia E., Pereira J.G., Carmo G. Normas clínicas -
Sociedade Portuguesa de Pneumologia e Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos 2007
Thomas M File et al. Treatment of hospital-acquired, ventilator-associated, and healthcare-associated pneumonia in adults 2015 – in www.uptodate.com – 28.08.2015
Pugh R, Grant C, Cooke RP, Dempsey G: Short-course versus prolonged-course antibiotic therapy for hospital-acquired pneumonia in critically ill adults. Cochrane
Database Syst Rev 2011(10):CD007577.
Norma da DGS 006/2014, atualizada em 08/05/2014. Duração de Terapêutica antibiótica
Definição
Pneumonia que ocorre em doentes submetidos à ventilação, quer através de traqueostomia quer através de intubação orotraqueal, durante pelo menos 48 horas antes
do início da infeção. Pode ser classificada como precoce, se ocorre nos primeiros 4 dias de intubação e tardia, se ocorre 5 ou mais dias após o início da intubação.
Patogenia
O desenvolvimento de PAV/PAI é determinado pela interação complexa entre a presença de factores de risco, a virulência da bactéria invasora e a imunidade do
5
hospedeiro. A presença de um tubo endotraqueal é o factor de risco mais importante . As bactérias obtêm acesso direto às vias respiratórias inferiores através de:
(1) Microaspiração, que pode ocorrer durante o ato de intubação;
(2) Desenvolvimento de um biofilme no tubo endotraqueal com bactérias tipicamente Gram negativas e fungos.
(3) Acumulação de secreções em torno do cuff;
(4) Alteração da clearance mucociliar das secreções.
Ocorre também acumulação de material patogénico ao nível de estruturas anatómicas como o estômago, seios perinasais, nasofaringe e orofaringe, com substituição da
flora por estirpes mais virulentas. Este material enriquecido em bactérias é também constantemente empurrado para as vias aéreas inferiores, pela pressão positiva do
ventilador.
Fig.1 - Formas de colonização/infeção em doentes ventilados mecanicamente 4. A-colonização oral e faríngea; B-colonização gástrica; C-doentes infetados; D-manuseamento de equipamento respiratório; E - uso
de dispositivos respiratórios; F - aerossóis de ar contaminado.
Microbiologia
O tipo de microorganismo que provoca PAV/PAI habitualmente depende da duração da intubação/ventilação mecânica. As bactérias que tipicamente provocam PAV/PAI
de início precoce incluem Streptococcus pneumoniae (e outras espécies de streptococcus), Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus meticilina-sensível (MSSA),
Escherichia coli, Klebsiella pneumonia, espécie Enterobacter, espécie Proteus e Serratia marcescens. As PAV/PAI de início tardio são caracteristicamente provocadas
por bactérias multirresistentes como Staphylococcus aureus (MRSA), Acinetobacter, Pseudomonas aeruginosa e bactérias produtoras de beta-lactamases de espectro
alargado (ESBL). A incidência exata dos microrganismos multirresistentes depende de cada instituição. Doentes com história de um internamento superior ou igual a 2
dias nos últimos 90 dias, residentes em lares, doentes sob quimioterapia ou antibioterapia nos últimos 30 dias e doentes sob hemodiálise, apresentam uma
susceptibilidade aumentada para bactérias multirresistentes. Existem bactérias frequentemente encontradas na orofaringe que podem atingir números clinicamente
significativos nas vias aéreas inferiores. Estas bactérias incluem Streptococcus viridans, Corynebacterium, Staphylococcus coagulase negativo e espécie Neisseria.
Geralmente a PAV/PAI deve-se a uma infeção polimicrobiana. PAV/PAI de etiologia fúngica ou viral tem uma incidência muito baixa, especialmente no doente
imunocomprometid.
Diagnóstico
descreveu
Até à presente data, não existe nenhum critério Gold Standard para o diagnóstico da PAV/PAI. Johanson et al. os critérios clínicos para o diagnóstico de PAV/PAI
com base no Clinical Pulmonary Infection Score (CPIS) (tabela 2). Valores de CPIS 6 demonstram uma boa correlação com a presença de PA.
De acordo com as Guidelines ATS/IDSA são considerados critérios de diagnóstico da PAV/PAI o aparecimento, de novo ou agravamento, de uma consolidação ou
3) 3
infiltrado radiográfico associado a 2 dos seguintes: temperatura> 38ºC, leucocitose (Leuc ≥ 12000 cél/mm ou leucopénia ( <4000cél/mm ), presença de secreções
purulentas.
Recentemente foi estabelecido pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention) novos critérios de vigilância para as PAV/PAI prováveis ou possíveis. De acordo
com estes novos critérios, considera-se uma Condição Associada ao Ventilador (VAC), se o doente estiver ventilado durante um período de pelo menos 2 dias de
parâmetros ventilatórios estáveis ou em decrescendo (valor mínimo de PEEP e de FiO 2), seguidos por 2 dias com parâmetros mais altos.
Sinais de infeção/inflamação (temperatura anormal, alteração do valor dos leucócitos e administração de um ou mais antibióticos durante pelo menos 4 dias) classificam o
doente como apresentando uma Complicação relacionada com Infecção Associada ao Ventilador (IVAC).
Considera-se Pneumonia Associada ao Ventilador Provável, se existe associação a secreções purulentas (de acordo com critérios quantitativos de coloração Gram) e
exames culturais positivos. Doentes com IVAC e secreções purulentas ou culturas positivas isoladas apresentam uma “possível pneumonia”; aqueles com secreções
purulentas e culturas positivas têm uma “provável pneumonia”.
Estes novos critérios não consideram os achados radiológicos. Presentemente, o novo algoritmo CDC é utilizado apenas para fins de vigilância.
Recomenda-se a todos os doentes a realização de radiografia do tórax. Alterações frequentes incluem broncograma aéreo, infiltrados alveolares, entre outros. Pode
ajudar a determinar a gravidade da doença (unilobar ou multilobar) e identificar complicações como derrame pleural ou cavitação.
Todos os doentes, antes do início da antibioterapia ou da alteração da antibioterapia (nos doentes que já se encontravam a efetuar antibióticos) devem efetuar colheita
secreções brônquicas para coloração por técnica de Gram e estudo citológico e cultural. As colheitas não devem atrasar o início da antibioterapia.
36.5-38.4ºC 0
Temperatura (ºCelsius) 38.5-38.9ºC 1
≤36 ou ≥39ºC 2
3
4000-11000/mm 0
3 3
Leucócitos (cél/mm ) <4000 ou >11000/mm 1
≥500 bastonetes 2
Sem secreções 0
Secreções Traqueais (escala visual subjetiva) Ligeiras/não-purulentas 1
Purulentas 2
Sem infiltrado 0
Achados radiográficos (excluindo ICC ou ARDS) Infiltrado difuso 1
Infiltrado localizado 2
Sem ou crescimento ligeiro 0
Resultados culturais Crescimento moderado ou abundante 1
Crescimento moderado ou abundante+isolamento Gram 2
>240 ou ARDS 0
PaO2/FiO2
≤240 e ausência de ARDS 2
Tabela 2 - Clinical Pulmonary Infection Score (CPIS)
Diagnóstico diferencial
Prevenção
Existem múltiplas recomendações para a prevenção da PAV/PAI. Estas recomendações encontram-se resumidas na tabela 5. Uma abordagem utilizando PAV/PAI-
bundles tem vindo a demonstrar uma redução nas taxas de incidência de PAV/PAI. A PAV/PAI bundle de 5 elementos, do Institute of Healthcare Improvement (IHI) inclui:
elevação da cabeceira da cama, lavagem oral com clorohexidina, profilaxia da úlcera de stress e da trombose venosa profunda, provas de suspensão diária da sedação e
ventilação espontânea. O “Feixe de Intervenções” da Direção Geral de Saúde (2015), tem 6 feixes: redução/suspensão diária da sedação, avaliação diária do desmame
da ventilação e/ou extubação, elevação da cabeceira da cama, lavagem oral com clorohexidina,manutenção dos circuitos ventilatórios e manutenção da pressão da
pressão do balão do tubo entotraqueal entre 20 a 30 cm H2O.
Lavagem de mãos com solução alcoólica Programa de vigilância do perfil dos microrganismos e criação de um “antibiograma”
Descontinuação precoce de dispositivos invasivos Programas educacionais frequentes de forma a reduzir a prescrição antibiótica desnecessária
Redução das taxas de reintubação Propagação do uso da Ventilação Não Invasiva (VNI)
Uso preferencial de intubação orogástrica vs nasogástrica Características dos Tubos Endotraqueais com possível benefício:
Elevação da cabeceira da cama (30-45º) Cuff de poliuretano
Pressão do cuff do tubo endotraqueal ~20 cm H2O Revestimento de prata/antibiótico
Traqueostomia precoce Aspiração de secreções subglótica
Alimentação duodenal em vez de gástrica Manter política de descontaminação oral
Uso de probióticos profiláticos Descontaminação digestiva seletiva
Desmame e extubação precoces
Pausas diárias da sedação
Remoção mecânica do biofilme
Tabela 3 – Medidas sugeridas para a prevenção da PAV/PAI
Tratamento
Tabela 4 – Terapêutica empírica inicial para a PAV/PAI de acordo com o tempo de início.
* Infusão prolongada ou contínua – recomendado para o doente crítico com sepsis grave/choque séptico
Microorganismo Tratamento
MRSA ver Tabela 3
Recomendada cobertura dupla. Ver Tabela 3
Pseudomonas aeruginosa
Na suspeita de Pseudomonas spp multirsistentes, associar a Colistina
Nos doentes que efetuaram previamente antibioterapia, a terapêutica empírica deverá ser efetuada com uma classe de antibióticos diferentes da efetuada, uma vez que
poderá ter havido desenvolvimento de resistência a essa classe de antibióticos.
Reavaliação
Se o doente não melhorar às 72h e foi isolado um agente patogéneo multirresistente, recomendamos a de-escalação da antibioterapia, de acordo com os testes de
sensibilidade.
A falência da antibioterapia às 72h deverá levar à procura de complicação infecciosa, de outro diagnóstico e outros locais de infeção.
Recomendamos nos doentes com melhoria clínica e com via oral funcionante a passagem da antibioterapia da via intravenosa para a oral.
A suspensão da antibioterapia poderá ser guiada pela avaliação seriada da Procalcitonina.
Prognóstico
Referênicas
American Thoracic Society, Infectious Diseases Society of America: Guidelines for the management of adults with hospital-acquired, ventilator-associated, and healthcare
associated pneumonia. Am J Respir Crit Care Med 2005, 171:388–416.
Craven DE. Epidemiology of ventilator-associated pneumonia. Chest. 2000;117:S186-7.
Oliveira J, Zagalo C, Cavaco-Silva P. Prevention of Ventilator-Associated Pneumonia. Rev Port Pneumol. 2014;20(3):152-161
Safdar N, Crnich CJ, Maki DG. The pathogenesis of ventilator- associated pneumonia: its relevance to developing effective strategies for prevention. Respir Care.
2005;50:725-39.
Zolfaghari PS, Wyncoll DL. The tracheal tube: gateway to ventilator- associated pneumonia. Crit Care 2011, 15:310–317.
Kalanuria AA, Zai W, Mirski M. Ventilator-associated pneumonia in the ICU. Critical Care 2014, 18:208
Johanson WG, Pierce AK, Sanford JP, Thomas GD: Nosocomial respiratory infections with gram-negative bacilli. The significance of colonization of the respiratory tract.
Ann Int Med 1972, 77:701–706.
Pugin J, Auckenthaler R, Mili N, Janssens JP, Lew PD, Suter PM: Diagnosis of ventilator-associated pneumonia by bacteriologic analysis of bronchoscopic and
nonbronchoscopic “blind” bronchoalveolar lavage fluid. Am Rev Respir Dis 1991, 143:1121–1129.
National Healthcare Safety Network (NHSN) July 2013 CDC/NHSN Protocol Clarifications 2013, Available at: http://www.cdc.gov/nhsn/PDFs/ pscManual/10-
VAE_FINAL.pdf Accessed Oct 2013
Youngquist P, Carroll M, Farber M, Macy D, Madrid P, Ronning J, Susag A: Implementing a ventilator bundle in a community hospital. Jt Comm J Qual Patient Saf 2007,
33:219–225.
Norama da DGS 021/2015, 16/12/2015, “Feixe de Intervenções” de Prevenção de Penumonia associada à Intubação.
Tuberculose Pulmonar
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a tuberculose (T.P.) uma emergência global em 1993 ao reconhecer a sua importância crescente como um problema
de saúde pública.
Anualmente são diagnosticados 9 milhões de novos casos no mundo. Cerca de 20% são mortais, isto é, 1.8 milhões, sendo uma das mais importantes causas de morte
evitável. A incidência de T.P. é um bom indicador da eficiência dos serviços de saúde pública.
O exame microbiológico com identificação do Mycobacterium tuberculosis (M.T.) é o único método de diagnóstico que nos permite afirmar se estamos perante um caso
de tuberculose. O exame cultural em meio líquido (sistema Bactec, MGIT960 e um meio de Middlebrook 7H12) e as técnicas de biologia molecular (sondas de ADN, ARN
e RFLP) fazem o diagnóstico bem mais rápido – menos de 1 semana – que o exame microbiológico cultural em meio sólido de Lowenstein – Jansen, método ainda em
uso pelo fator preço, mas muito demorado, cerca de 4 a 6 semanas.
A principal intervenção para o controlo da T.P. é a quimioterapia estandardizada de curta duração em toma observada diretamente (TOD), particularmente nos casos com
microscopia positiva ao exame direto da expectoração, durante a fase inicial do tratamento. Esta fase é sem dúvida essencial em termos de contágio, razão pela qual a
Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza a administração em regime de TOD.
Objetivos do tratamento:
Curar o doente
Prevenir a morte por T.P. ativa e seus efeitos tardios
Prevenir as recidivas de T.P.
Prevenir a transmissão da doença a outros indivíduos
Prevenir o desenvolvimento de resistência adquirida
A terapêutica ideal combina as ações bactericida, de prevenção de resistências e de esterilização dos diversos fármacos, devendo ser feita por um período
suficientemente longo de forma a evitar falência do tratamento e as recaídas. A escolha do esquema terapêutico baseia-se na compreensão da biologia do M.T. no
hospedeiro e na atividade específica de cada um dos fármacos e, deve ter em linha de conta a prevalência e padrão de suscetibilidade da tuberculose na comunidade em
questão.
A recomendação do uso de 4 fármacos na fase inicial é baseada na proporção geral de novos casos de tuberculose provocados por microrganismos resistentes à
Isoniazida (menos falências e recaídas). A TOD é a estratégia de procedimento inicial preferida para todos os esquemas.
Caso novo – doente que nunca recebeu tratamento para a T.P. ≥ 1 mês.
Recidiva – doente tratado com antibacilares pelo tempo previsto, com novo episódio de microscopia positiva, após ter sido considerado curado.
Re-tratamento após insucesso – doente que reinicia tratamento após se terem verificado critérios de insucesso no tratamento anterior.
Ao longo da fase inicial que normalmente consiste em Isoniazida, Rifampicina, Pirazinamida e Etambutol os bacilos são rapidamente mortos. Os doentes infeciosos
rapidamente se tornam não infeciosos (dentro de aproximadamente 2 semanas). Os sintomas diminuem. A maior parte dos doentes passam a ter microscopia negativa.
Na fase de continuação é preconizada a utilização da Isoniazida e Rifampicina habitualmente por um período de 4 meses, podendo prolongar-se até aos 7 meses, nos
casos de evolução mais lenta, quer seja clínica, quer seja bacteriológica como por exemplo nos casos em que o exame cultural é positivo aos 2 meses.
Os chamados regimes curtos, de 6 meses de duração, implicam a utilização obrigatória desde a 1ª toma dos 3 antibacilares mais eficazes que são a Isoniazida,
Rifampicina e a Pirazinamida. Qualquer outro esquema de tratamento obriga a um tratamento mais prolongado nunca superior a 12 meses.
A administração da medicação deverá ser feita por norma de manhã, numa única toma, podendo ser diária ou 3 vezes por semana. Sempre que a baciloscopia seja
positiva ao exame direto, essa administração deve ser preferencialmente em regime de toma directamente observada (TOD).
Fármaco Doses
Situações particulares:
Gravidez e amamentação
Tuberculose na criança
Insuficiência hepática
Insuficiência renal
Tuberculose extrapulmonar
Co – infeção por vírus da Imunodeficiência humana – VIH
Gravidez e amamentação
O regime terapêutico não sofre qualquer modificação relativamente aos 4 antibacilares já referidos – H/R/Z/E.
Mesmo passando a barreira placentária não parecem ter efeitos teratogénicos. A Estreptomicina (S) é o único anti-bacilar nocivo para o feto (surdez congénita) e não
deve ser utilizado. A amamentação deve ser encorajada. A concentração destes 4 antibacilares no leite materno é mínima e não deve produzir qualquer efeito tóxico na
criança/lactente.
MA.02.16 Tuberculose Pulmonar 237
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
Está recomendada a associação de Piridoxina (25 mg/dia) a todas as grávidas ou mulheres a amamentar que estejam a ser medicadas com Isoniazida.
Tuberculose na criança
O esquema de tratamento da criança é o mesmo que o utilizado nos adultos, embora com adaptação das doses segundo a tabela acima. Na meningite tuberculosa a
duração do tratamento deve ser prolongada para 9 a 12 meses. A associação de corticosteroides está recomendada não só na meningite tuberculosa, como na
pericárdica e ainda nas opacidades lobares/segmentares devidas a obstrução brônquica por linfoadenopatias.
Na ausência de baciloscopia na expectoração, prescinde-se do Etambutol sendo utilizado apenas 3 antibacilares na fase inicial – 2 meses.
Insuficiência hepática
A Isoniazida, a Rifampicina e a Pirazinamida são fármacos potencialmente hepatotóxicos que podem condicionar lesão hepática adicional em doentes com doença
hepática prévia. No entanto, uma vez que a Isoniazida e Rifampicina são os fármacos mais importantes no tratamento da tuberculose, deverão ser utilizados sempre que
possível mesmo na presença de alterações hepáticas.
Em doentes com insuficiência hepática grave, pode optar-se por um esquema que inclua apenas um agente hepatotóxico (geramente a Rifampicina) associado ao
Etambutol (12 meses) preferencialmente associado a outro fármaco (fluoroquinolona – Moxifloxacina) durante os primeiros 2 meses.
Perante a impossibilidade de utilização de qualquer um dos fármacos com potencial hepatoxicidade e desde que não hajam alterações da coagulação poderá optar-se
por um esquema que inclua Etambutol, uma fluoroquinolona e um aminoglicosídeo. Deverá tentar-se a introdução dos fármacos anteriores, assim que for possível.
Insuficiência renal
Dos 5 antibacilares mais utilizados no nosso país – H/R/Z/E/S – apenas os 2 primeiros - H/R - não necessitam de reduções das doses preconizadas, nem de alteração da
sua frequência. Relativamente aos restantes - Z/E/S - em vez de ser diminuída a dose diária, recomenda-se aumentar o intervalo de administração, por exemplo 3 vezes
por semana. Nos doentes em hemodiálise, os fármacos devem ser administrados logo após a sessão de hemodiálise.
Tuberculose extrapulmonar
Os princípios básicos que estão subjacentes ao tratamento da tuberculose pulmonar também se aplicam nas formas extrapulmonares, isto é, uma fase inicial de 4
antibacilares durante 2 meses e uma fase de continuação de 4 a 7 meses. A exceção a esta regra é a meningite tuberculosa em que é recomendada o prolongamento da
terapêutica por mais 3 meses.
O tratamento da co-infeção tuberculose e VIH são complexos e requer a experiencia no tratamento de ambas as infeções. O seu tratamento envolve 2 componentes
básicos: regime quimioterapêutico apropriado e o seguimento apertado. O tratamento da tuberculose nos indivíduos infetados por VIH é semelhante ao dos indivíduos
não infetados, no entanto, existem com frequência situações que podem condicionar a escolha do regime terapêutico, devido às interações medicamentosas e aos
efeitos secundários, particularmente dos doentes em tratamento Highly Active Antiretroviral Therapy (HAAT).
Antes de terminar este pequeno texto sobre as linhas gerais sobre o tratamento da tuberculose, não posso deixar de fazer referência à tuberculose multiresistente
(TB_MR).
Trata-se de uma forma em que o bacilo é resistente, a pelo menos, dois dos medicamentos mais importantes para o seu tratamento, que são a Isoniazida (H) e a
Rifampicina ®. É por isso, muito mais difícil de tratar do que a forma clássica (quer em número e agressividade dos medicamentos, quer em duração e em custos, que
podem ascender a mil vezes mais). Atinge todos os países, mas com maior incidência nos países de Leste europeu e sudoeste Asiático.
Em 2006, o mundo foi alertado para uma situação ainda mais grave e a que foi dado o nome de tuberculoses extensivamente resistente (TB_XDR), uma forma de
TB_MR em que, além da resistência À H e à R, observa-se também resistência a quase todos, se não todos os medicamentos utilizados para tratar a doença.
Referências
Infeções Intra-abdominais
Definição
Infeção intra-abdominal é a infeção que envolve o peritoneu e que inclui as peritonites secundárias e terciárias e os abcessos intra-abdominais. Não são consideradas as
peritonites primárias, as infeções resultantes da presença de cateteres intra-peritoneais (ex: diálise peritoneal), as infeções genito-urinárias ou outras infeções localizadas
de um órgão, que não implicam outro procedimento, nomeadamente cirúrgico e/ ou de drenagem.
Estratificação de risco
1. A terapia antimicrobiana deve ser iniciada quando um paciente recebe o diagnóstico de uma infeção intra-abdominal ou quando tal infeção é considerada provável.
Para os pacientes com choque séptico, o antibiótico deve ser administrado o mais cedo possível (A-III).
2. Para pacientes sem choque séptico, a terapia antimicrobiana deve ser iniciada no serviço de urgência (B-III).
Avaliação Microbiológica
As hemoculturas não fornecem informações clinicamente relevantes adicionais para pacientes com infeção intra-abdominal adquirida na comunidade e,
portanto, não são rotineiramente recomendadas para esses pacientes (B-III).
Para as infeções adquiridas na comunidade, não existe um valor comprovado para a coloração de Gram do material infetado (C-III).
Para infeções associadas aos cuidados de saúde, a coloração de Gram pode ajudar a definir a presença de leveduras (C-III).
Para os pacientes de maior risco, as culturas a partir do local da infeção devem ser rotineiramente obtidas, particularmente em doentes com exposição prévia
a antibióticos, que são mais propensos do que outros pacientes para abrigar patogénios resistentes (A-II).
Os antibióticos utilizados para o tratamento empírico de infeção intra-abdominal adquirida na comunidade devem ser ativos contra gram-negativos aeróbios,
bacilos facultativos e estreptococos gram-positivos entéricos (AI).
Cobertura para bacilos anaeróbios obrigatórios deve ser fornecida para infeção derivada do intestino delgado distal, apendicular e do cólon e para perfurações
gastrointestinais mais proximais na presença de obstrução ou íleo paralítico (AI).
Para pacientes adultos com infeção adquirida na comunidade de ligeira a moderada, o uso de Ticarcilina-clavulanato, Cefoxitina, Ertapenem, Moxifloxacina ou
Tigeciclina como terapia de agente único ou combinações de Metronidazol com Cefazolina, Cefuroxima, Ceftriaxona, Cefotaxima, Levofloxacina ou
Ciprofloxacina são preferíveis a regimes com substancial atividade anti-pseudomonas (AI).
Cobertura empírica de Enterococcus não é necessária em pacientes com infeção intra-abdominal adquirida na comunidade (A-I).
Terapêutica antifúngica empírica para Candida não é recomendada para pacientes com infeção intra-abdominal adquirida na comunidade (B-II).
A utilização empírica de regimes antimicrobianos com atividade de largo espectro contra organismos gram-negativos, incluindo Meropenem, Imipenem-
cilastatina, Doripenem, Piperacilina-tazobactam, Ciprofloxacina ou Levofloxacina em combinação com Metronidazol, ou Ceftazidima ou Cefepime em
combinação com Metronidazol, é recomendado para pacientes com infeção intra-abdominal de alto risco adquirida na comunidade (AI).
A utilização empírica de agentes eficazes contra Enterococos é recomendada (B-II).
O uso de agentes eficazes contra S. aureus resistentes à meticilina (MRSA) ou leveduras não é recomendado, na ausência de evidência de infeção devido a
tais organismos (B-III).
Para atingir a cobertura empírica de patógenios prováveis, podem ser necessários esquemas de combinação de fármacos, que incluem agentes com espectro
expandido contra gram-negativos aeróbios e bacilos facultativos. Esses agentes incluem Meropenem, Imipenem-cilastatina, Doripenem, Piperacilina-
tazobactam ou Ceftazidima ou Cefepime em combinação com Metronidazol. Aminoglicosídeos ou Colistina podem ser necessários (B-III).
Terapêutica Antifúngica
Terapêutica antifúngica para pacientes com infeção grave adquirida na comunidade ou infeções associadas aos cuidados de saúde, é recomendada se for
cultivada Candida a partir de culturas intra-abdominal (B-II).
O Fluconazol é uma escolha apropriada para o tratamento se for isolada Candida albicans (B-II).
Para as espécies de Candida resistentes ao Fluconazol, a terapia com uma Equinocandina (Caspofungina, Micafungina ou Anidulafungina) é apropriada (B-
III).
Para o paciente grave, a terapia inicial com uma Equinocandina em vez de um triazol é recomendada (B-III).
Terapêutica Anti-Enterococos
A terapêutica antimicrobiana para Enterococos deve ser dada quando os Enterococos são encontrados em pacientes com infeção associada aos cuidados de
saúde (B-III).
Terapia anti-Enterococos empírica é recomendada para pacientes com infeção intra-abdominal associada aos cuidados de saúde, particularmente aqueles
com infeção pós-operatória, aqueles que já receberam Cefalosporinas ou outros agentes antimicrobianos para espécies de Enterococcus, pacientes
imunodeprimidos, e aqueles com doença cardíaca valvular ou materiais protésicos intravasculares (B-II).
Terapia anti-Enterococos empírica inicial deve ser dirigida contra Enterococcus faecalis. Os antibióticos que podem potencialmente ser utilizados contra este
organismo incluem Ampicilina, Piperacilina-tazobactam e Vancomicina (B-III).
Terapêutica Anti-MRSA
Cobertura antimicrobiana empírica dirigida contra MRSA deve ser fornecida aos pacientes com infeção intra-abdominal associada aos cuidados de saúde, que
se sabe serem colonizados com o organismo ou que estão em risco de ter uma infeção devido a este organismo, por causa de falha do tratamento prévio e
significativa exposição a antibióticos (B-II).
A Vancomicina é recomendada para o tratamento de infeção intra-abdominal suspeita ou confirmada por MRSA (A-III).
Considerações farmacocinéticas
A administração diária individualizada de Aminoglicosídeos, de acordo com a massa corporal e o volume de líquido extracelular estimado, é utilizada para os
pacientes tratados com estes medicamentos para a infeção intra-abdominal (B-III).
Pacientes de baixo risco com infeção intra-abdominal adquirida na comunidade não requerem alteração da terapia, se ocorrer uma resposta clínica satisfatória
ao controlo de foco e à terapêutica inicial, mesmo que sejam relatados mais tarde patogéneos não suspeitados e não tratados (B-III).
Se forem identificadas bactérias resistentes no momento da intervenção inicial, e se houver sinais persistentes de infeção, é recomendada a terapia dirigida ao
patogéneo para pacientes com doença de gravidade mais baixa (B-III).
Devem ser usados exames de cultura e resultados de susceptibilidade para determinar a terapia antimicrobiana em infeções adquiridas na comunidade de alta
gravidade ou infeções associadas aos cuidados de saúde (B-III).
A terapêutica antimicrobiana da infeção estabelecida deve ser limitada a 4-7 dias, a menos que seja difícil atingir adequado controlo de foco. Durações mais
longas não são associadas a um melhor resultado (B-III).
Se não houver sinais de leucocitose persistente ou febre, a terapia antimicrobiana deve ser encurtada para pacientes demonstrando uma resposta positiva ao
tratamento (C-I).
Para perfurações agudas de estômago e jejuno proximal, na ausência de terapia de inibição de ácido ou malignidade, e quando o controlo de foco é realizado
no prazo de 24 h, a terapia profiláctica dirigida a cocos gram-positivos aeróbicos por 24h é adequada (B-II).
No caso de cirurgia tardia para perfurações agudas de estômago e jejuno proximal, na presença de malignidade no estômago ou na presença de terapia de
redução da acidez gástrica, deve ser fornecida uma terapêutica antimicrobiana para cobrir flora mista (por exemplo, como pode ser visto na infeção
complicada do cólon) (B-III).
Para os doentes que recuperam de infeção intra-abdominal, a conclusão do curso antimicrobiano com formas orais de Moxifloxacina, Ciprofloxacina mais
Metronidazol, Levofloxacina mais Metronidazol, uma Cefalosporina oral com Metronidazol ou Amoxicilina-clavulanato (B-II) é aceitável em pacientes capazes
de tolerar uma alimentação oral e nos doentes em que estudos de susceptibilidade não demonstram resistência (B-II).
Em pacientes com evidência clínica persistente ou recorrente de infeção intra-abdominal após 4-7 dias de tratamento, deve ser realizada uma investigação
diagnóstica apropriada. Isto deve incluir tomografia computadorizada ou ecografia. A terapia antimicrobiana eficaz contra os organismos identificados
inicialmente deve ser continuada (A-III).
A Terapêutica Antimicrobiana
Factores de Risco
Estabilidade do Antibioterapia Antibioterapia
Tipo de Infeção Associados para
doente 1ª Linha 2ª Linha
ESBL
Ciprofloxacina
Sem FR Amoxicilina/Ácido clavulânico +
Estável
Metronidazol
Extra- Com FR Ertapenem Tigeciclina
biliar Sem FR Piperacilina/Tazobactam
Meropenem ou Imipenem
Crítico
Com FR +/-
Fluconazole
Adquirida na Ciprofloxacina
comunidade Sem FR Amoxicilina/Ácido clavulânico +
Estável
Metronidazol
Com FR Tigeciclina
Sem FR Piperacilina/Tazobactam
Biliar
Piperacilina
+
Crítico
Com FR Tigeciclina
+/-
Fluconazole
Piperacilina
+
Estável - Tigeciclina
+
Fluconazole
Carbapenemo:
Associada aos Piperacilina Meropenem ou
- + Imipenem
Cuidados de Saúde
Tigeciclina +
+ Teicoplanina
Crítico -
Equinocandina: +
-Caspofungina ou Equinocandina:
-Anidulafungina ou Caspofungina ou
-Micafungina Anidulafungina ou
Micafungina
FR: factores de risco ESBL: β-lactamases de largo espectro
Doses de Antimicrobianos
Antimicrobianos Dose
Amoxicilina/clavulanato 2,2g de 6/6h
Ciprofloxacina 400mg de 8/8h
Metronidazol 500mg de 6/6h
Piperacilina/tazobactam 8/2g dose de carga, depois 16/4g por dia por infusão contínua ou 4,5g de 6/6h
Tigeciclina 100mg dose de carga, depois 50mg de 12/12h
Teicoplanina Dose de carga de 12mg/kg/12h por 3 doses, depois 6mg/kg de 12/12h
Carbapenemos
- Ertapenem 1g a cada 24h
- Meropenem 500mg de 6/6h
- Imipenem 500mg de 4/4h
Fluconazol 600mg dose de carga, depois 400mg a cada 24h
Caspofungina 70mg dose de carga, depois 50mg por dia
Anidulafungina 200mg dose de carga, depois 100mg por dia
Micafungina 100mg por dia
Antibioterapia Antibioterapia
Patologia Duração
1ª Linha 2ª Linha
Abcessos Intra-abdominais
Meropenem 1h EV q8h ou Imipenem 500 mg EV
Piperacilina/Tazobactam 4,5g EV q6h ou
q6h
perfusão contínua + Amicacina 20 mg/kg EV 7 dias
+
q24h
Amicacina 15-20 mg/kg EV q24h
Abcesso Peri-Rectal
Amoxicilina/Ácido clavulânico
1.2g EV q8h ou 625 PO q8h
(Se gravidade ligeira a moderada) Piperacilina/Tazobactam 4,5g EV q6h ou
7-10 dias
Clindamicina 600 mg EV q8h + perfusão contínua
Gentamicina 7 mg/kg q24h
(se grave com sepsis ou isquio-rectal)
Apendicite Aguda
Complicada Cefoxitina 1g EV q8h
Piperacilina/Tazobactam 4,5g EV q6h ou
Tratamento sem indicação na + 5-7 dias
perfusão contínua
catarral/supurada Clindamicina 600 mg EV q8h
Colecistite aguda
Amoxicilina/Ácido clavulânico
Com
1.2g EV q8h + 5 a 7 dias
colecistectomia/colecistostomia
Gentamicina 7 mg/kg q24h
Colangite
Antibioterapia Antibioterapia
Patologia Duração
1ª Linha 2ª Linha
Diverticulite
Amoxicilina/Ácido clavulânico
1.2g EV q8h ou 625 PO q8h
Ou
Sem supuração 7-10 dias
Clindamicina 600 mg EV q8h
+
Gentamicina 7 mg/kg q24h
Cefoxitina 1g EV q8h
Piperacilina/Tazobactam 4,5g EV q6h ou
Com supuração + 7-10 dias
perfusão contínua
Clindamicina 600 mg EV q8h
Pancreatite Aguda
Só recomendado se infeção da
necrose pancreática (geralmente Meropenem 1h EV q8h
10 a 15 dias
ocorre> 10º dia de pancreatite aguda Ou Imipenem 1g ev q6h
grave)
Patologia Aguda do Intestino Delgado com Perfuração
Sem peritonite e causa
corretamente debelada pela Amoxicilina/Ácido clavulânico 1.2g EV q8h 5-7 dias
cirurgia
Ciprofloxacina 400 mg EV q12h Piperacilina/Tazobactam 4,5g EV q6h ou
Com peritonite secundária + perfusão contínua 5-7 dias
Metronidazol 500 mg EV 6/6h Se sepsis grave ou imunodeprimidos
Peritonite fecal Terciária
Piperacilina/Tazobactam 4,5g EV q6h ou
Meropenem 1h EV q8h ou Imipenem 1g EV q6h
perfusão contínua
+ 5-7 dias
+
Amicacina 20 mg/kg EV q24h
Amicacina 20 mg/kg EV q24h
Perfuração de úlcera péptica
> 12h, sépsis, imunidade diminuída Amoxicilina/Ácido clavulânico 1.2g EV q8h 5-7 dias
Referências
Solomkin et al, Diagnosis and Management of Complicated Intra-abdominal Infection in Adults and Children: Guidelines by the Surgical Infection Society and the Infectious
Society of America, CID 2010: 50, 15 January, 133-160
Sartelli et al, 2013 WSES Guidelines for Management of Intra-abdominal infections, World J Emerg Surg, 2013, 8:3
Eckmann et al, Antimicrobial Treatment of “Complicated” Intra-abdominal Infections and the New IDSA Guidelines – a Commentary and an Alternative European Approach
According to Clinical Definitions, Eur J Med Res, 2011, 16: 115-126
Sartelli et al, Antimicrobial Management of Intra-abdominal Infections: Literature's Guidelines, World J of Gastroenterol, 7 Março 2012, 18 (9): 865-871
Manual de Antimicrobianos, Comissão de Farmácia e Terapêutica, SESARAM, E.P.E., 2011
Norma da Direcção-Geral da Saúde, Profilaxia Antibiótica Cirúrgica, Número 031/2013 de 31/12/2013
Meningite: Forma de apresentação de infeção do SNC que consiste num processo inflamatório da pia-aracnóide e do espaço subaracnoideu.
A meningite bacteriana é uma emergência médica, pelo que deverá ser efetuado todo o esforço para estabelecer a etiologia e iniciar terapêutica apropriada e adequada.
É considerada meningite da comunidade a meningite adquirida na comunidade e não relacionada com os cuidados de saúde.
É considerada meningite nosocomial a meningite com início> 48 h após a hospitalização ou até 1 semana após a alta hospitalar.
Clínica
Febre
Alteração da consciência e do estado mental
Rigidez da nuca – baixa especificidade (70%)
Cefaleias – com agravamento (sensibilidade 97% e especificidade 60%)
Irritabilidade
Letargia
Convulsões
Défices neurológicos focais
Sepsis/choque séptico
Cerca de 99-100% dos doentes têm pelo menos uma das manifestações clínicas da tríada: febre, rigidez da nuca e alteração do estado mental.
Avaliação pré-antibioterapia
1. Hemoculturas
2. Estudo do líquido cefaloraquidiano LCR*
a. Aspecto macroscópico e pressão
b. Contagem e identificação de células
c. Doseamento da glicose, proteínas e ADA
d. Exame microbiológico (direto e cultural)
e. Pesquisa de antigénios capsulares: Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae tipo B
f. Teste da tinta-da-china (Cryptococcus neoformans)
g. Detecção do genoma de agentes microbianos por PCR
h. Doseamento do lactato
* Se edema da papila, convulsões prolongadas, sinais de focalização neurológica ou coma deve ser realizado TAC ou RMN cerebral antes da realização da punção lombar (PL).
Nota: Caso não seja possível realizar PL ou fazer TAC cerebral rapidamente, devem ser colhidas as hemoculturas e iniciar terapêutica antibiótica empírica
TAC craneoencefálico - se presença de ≥ 2 critérios clínicos, lesão intracraniana, aumento da PIC e em todos os doentes neurocirúrgicos.
Idade> 60 anos
Imunodeficiência
História de lesão do SNC
História de convulsão <1 semana
Edema da papila
Alteração do nível de consciência
Incapacidade de responder corretamente a 2 questões consecutivas
Sinais neurológicos anormais: alteração dos campos visuais, paralisia facial, alteração da força dos membros e alteração da linguagem.
Bactericida
Maximizar penetração Sistema Nervoso Central
Dose máxima parenteral durante todo o curso terapêutico
Fármacos
Elevada lipossolubilidade
Baixo peso molecular
Baixa ligação ás proteínas plasmáticas
Baixa ionização em ph fisiológico
Farmacodinâmico
Tempo dependente:ß lactâmicos e Vancomicina
Concentração dependente: aminoglicosideo
Antibioterapia empírica
A antibioterapia deve ser iniciada precocemente nos primeiros 30 minutos após a presunção do diagnóstico.
A administração de antimicrobianos previamente à PL tem efeitos mínimos na citologia e na bioquímica do LCR, mas reduz a rentabilidade do Gram e das culturas.
O atraso no início da antibioterapia leva ao aumento do nº de indicadores de mau prognóstico e do outcome.
Ampicilina
Listeria monocytogenes
+
Imunossupressão Bacilos Gram negativo
Ceftazidima ou Meropenem
(incluindo Pseud. aeruginosa)
+
Vancomcina
Shunt ventriculoperitoneal
Traumatismo craniano (fractura da base e Staphylococcus aureus Vancomicina
trauma penetrante) Bacilos Gram negativo +
Intervenção neurocirúrgica recente Ceftazidima ou Meropenem
(incluindo DVE)
* Nota: De-escalar a antibioterapia quando o agente for conhecido, nomeadamente se Strept. pneumoniae: Ceftriaxone / Cefotaxima
Hipersensibilidade severa à Penicilina com função renal normal - Vancomicina + Moxifloxacina + Cotrimoxazol (se suspeita de Listeria)
Antibioterapia dirigida
Antimicrobianos Dose
Amicacina 5 mg/Kg q 8h
Ampicilina 2g EV q4h
Cefotaxima 2g EV q4-6h
Ceftriaxone 2g EV q12h
Ceftazidima 2g EV q8h
Ciprofloxacina 400 mg q 8-12h
Gentamicina 1.7 mg/Kg q 8h
Meropenem 2g EV q 8h
Flucloxacilina 2g EV q6h
Penicilina G 4MU EV q4h
Rifampicina 600 mg q 24h
Tobramicina 1.7 mg/kg q 8h
Cotrimoxazol 5 mg/Kg q 6-12h
15-20 mg/kg (dose máxima de 2g/dose ou 60 mg/dia)
Vancomicina
Ajustar para níveis de Vancomicina de 15-20 ug/mL
Algoritmo de abordagem
Sim
Hemoculturas Hemoculturas
Punção lombar/emergente urgentes
Terapêutica Terapêutica
Gram do líquido antimicrobiana Fazer punção lombar
antimicrobiana Não Sim
cefalorraquidiano positiva dirigida
empírica
Practice Guidelines for Bacterial Meningitis. 1270 – CID 2004:39 (1 November). Tunkel et al.
Avaliação da resposta
Terapêuticas adjuvantes
Dexametasona
Adultos com meningite pneumocócica
Talvez em adultos com meningite bacteriana e sinais/sintomas de hipertensão intracraneana (PLCR <30 cmH2O)
Dose: 0,4 mg/Kg q12h x 4 ou 0,15 mg/Kg q6h x 16, iniciada imediatamente antes ou concomitantemente com a primeira dose de antibióticos
Manitol
Se suspeita de meningite pneumocócica e sinais de hipertensão intracraneana
Dose: 0,25 – 1 g/Kg muito precocemente
Fenitoína sódica
Se suspeita de meningite pneumocócica e sinais de hipertensão intracraneana
Dose: 18 mg/Kg na 1ª 24 hora e depois 2 mg/Kg q8h durante 10 dias
Referências
Tunkel AR, Hartman BJ, Kaplan SL, Kaufman BA, Roos KL, Scheld WM, Whitley RJ: Practice guidelines for the management of bacterial meningitis. Clin Infect Dis 2004,
39(9):1267-1284
Tunkel AR. Initial therapy and prognosis of bacterial meningitis in adults. UpToDate 2015
Norma da DGS 006/2014 Duração da Terapêutica Antibiótica de 08/05/2014, atualizada em 08/05/2015
Estas recomendações foram efetuadas com base nas recomendações da American Heart Association, da British Society for Antimicrobial Chemotherapy e nas Guidelines
da European Society of Cardiology.
Princípios básicos
Terapêutica empírica
A terapêutica da endocardite infeciosa, deve ser dirigida ao organismo isolado nas culturas. As hemoculturas são positivas em cerca de 90% dos doentes com
endocardite infeciosa.
Colheita de hemoculturas
Nos doentes com endocardite aguda, a antibioterapia empírica deve ser iniciada após a colheita de pelo menos dois conjuntos de hemoculturas, por punção direta
periférica e se possível espaçadas 30 a 60 minutos.
A terapêutica deve ter em conta os microrganismos mais prováveis da infeção. Deve cobrir Staphilococcus (sensíveis e resistentes à Meticilina), Streptococcus e
Enterococcus.
A Vancomicina (15-20 mg/kg/dose q 8-12h, não excedendo 2g/dose) é uma escolha apropriada.
Deve se ponderada a colaboração da Cardiologia e da Cirurgia Cardiotorácica, nas situações em que se verificam complicações.
A maioria dos doentes fica apirética ao fim de 3-5 dias após o início da terapêutica apropriada.
Os doentes com endocardite a Staphilococcus aureus poderão responder mais lentamente e manter-se febris durante 5-7 dias.
Os doentes com endocardite do coração direito e embolização séptica pulmonar poderão manter-se febris durante um período de tempo mais longo.
A resposta microbiológica à terapêutica deverá ser avaliada através de hemoculturas 48 a 72h após o início da terapêutica.
Deverão ser efetuados exames seriados para a procura de sinais de insuficiência cardíaca e embolização séptica.
Duração da terapêutica
Microrganismos
Da localização da válvula
A maioria dos doentes erradicam os microrganismos com regimes de 6 semanas de terapêutica parentérica, nos doentes com:
Manutenção da terapêutica
Os doentes uma vez hemodinâmicamente estáveis, poderão completar a terapêutica intravenosa em ambulatório, com o apoio médico e de enfermagem.
Não existe evidência que suporte a realização da terapêutica oral.
Esquemas terapêuticos
Streptococcus viridans e Streptococcus bovis suscetíveis à Penicilina (MIC> 0.12 ug/mL e ≤0.5 ug/mL)
MA.02.16 Endocardite de Válvula Nativa 259
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
*Gentamicina – os níveis de Gentamicina e a função renal devem ser monitorizados pelo menos 1x/semana. A dose da Gentamicina deverá ser ajustada para concentrações de pico 3-4 ug/mL, vale <1ug/mL,
quando dividido em 2-3 doses; quando dado q24h, vale < 1ug/mL e pico 10-12 ug/mL.
** Vancomicina - Vancomicina está recomendada apenas para doentes com hipersensibilidade à Penicilina e Cefalosporinas. Ajuste da dose para níveis séricos de 15-20 ug/mL.
*Gentamicina – os níveis de Gentamicina e a função renal devem ser monitorizados pelo menos 1x/semana. A dose da Gentamicina deverá ser ajustada para concentrações de pico 3-4 ug/mL, vale <1ug/mL,
quando dividido em 2-3 doses; quando dado q24h, vale <1ug/mL e pico 10-12 ug/mL.
** Vancomicina - Vancomicina está recomendada apenas para doentes com hipersensibilidade à Penicilina e Cefalosporinas. Ajuste da dose para níveis séricos de 15-20 ug/mL.
*Gentamicina – os níveis de Gentamicina e a função renal devem ser monitorizados pelo menos 1x/semana. A dose da Gentamicina deverá ser ajustada para concentrações de pico 3-4 ug/mL, vale <1ug/mL,
quando dividido em 2-3 doses; quando dado q24h, vale <1ug/mL e pico 10-12 ug/mL. Nas situações em que o Enterococcus é resistente à Gentamicina, contactar o microbiologista.
** Vancomicina - Vancomicina está recomendada apenas para doentes com hipersensibilidade à Penicilina e Cefalosporinas. Ajuste da dose para níveis séricos de 15-20 ug/mL.
*** Duração da terapêutica recomendada: 4 semanas para os doentes com ≤3 meses; 6 semanas para os doentes com >3 meses ou que efetuaram esquemas em associação com a Gentamicina e Vancomicina.
Os doentes com endocardite a Enterococcus resistente à penicilina, aos Aminoglicosídeos e à Vancomicina, podem necessitar de substituição valvular. A taxa de cura da
terapêutica antibiótica isolada é <50%.
O Linezolide pode originar trombocitopenia reversível, especialmente após 2 semanas de tratamento. É importante monitorizar a toxicidade hematológica.
Staphilococcus
Nos Staphilococcus sensíveis à Penicilina (MIC ≤ 0.1 ug/mL) e não produtores de Beta-lactamases. A Flucloxacilina ou a Oxacilina poderá ser substituída por Penicilina 24 MUI q24h IV, dividido em 4-6 doses.
Microrganismos HACEK (Haemophilus parainfluenzae, Haemophilus aphrophilus, Actinobacillus actinomycetemcomitans, Cardiobacterium hominis. Eikenella
corrodens e a Kongella kingae)
Culturas negativas
*Vancomicina - Vancomicina está recomendada apenas para doentes com hipersensibilidade à Penicilina e Cefalosporinas. Ajuste da dose para níveis séricos de 15-20 ug/mL.
**Gentamicina – o benefício da Gentamicina não está formalmente estabelecido. O Seu uso está associado ao aumento da toxicidade renal e por esse motivo é opcional.
*** Ciprofloxacina poderá ser substituída por Levofloxacina ou Moxifloxacina. Usar com precaução em doentes <18 anos. A Ciprofloxacina não é uniformemente ativa na Bartonella spp. Nestas situações, uma
opção poderá ser a Doxiciclina.
Referências
Baddour LM, Wilson WR, Bayer AS, et al. Infective endocarditis: diagnosis, antimicrobial therapy, and management of complications: a statement for healthcare
professionals from the Committee on Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease, Council on Cardiovascular Disease in the Young, and the Councils on
Clinical Cardiology, Stroke, and Cardiovascular Surgery and Anaesthesia, American Heart Association: endorsed by the infection Diseases Society of America. Circulation
2005;111:3167
Habib G, Hoen B, Tornos P, et al. Guidelines on the prevention, diagnosis and the treatment of Infective endocarditis (new version 2009): the task Force on the
Prevention, Diagnosis, and Treatment of Infective Endocarditis of the European Society of Cardiology (ESC). Endorsed by the European Society of Clinics Microbiology
and Infectious Diseases (ESCMID) and the International Society of Chemotherapy (ISC) for Infection and Cancer. Eur Heart J 2009;30:2369
Gould FK, Denning DW, Elliott TS, et al. Guidelines for the diagnosis and antibiotic treatment of endocarditis in adults: a report f the Working Party of the British Society for
Antimicrobial Chemotherapy. J Antimicrob Chemother 2012; 67:269
Sexton DJ. Antimicrobial therapy of native valve endocarditis. UpToDate 2015
Princípios básicos
Geralmente o tratamento da endocardite de válvula protésica isoladamente com agentes antimicrobianos é difícil e muitas vezes ocorre infeção invasiva com
subsequente disfunção valvular e necessidade de substituição da prótese, em associação à terapêutica antimicrobiana.
Assim, todo o tratamento deverá ser iniciado no hospital, preferencialmente num hospital com Cirurgia Cardiotorácica e os doentes devem manter-se hospitalizados até à
resolução da febre.
Colheita de hemoculturas
É fundamental o isolamento do microrganismo, uma vez que a terapêutica antimicrobiana deverá ser dirigida ao agente etiológico da infeção: nos doentes com curso
indolente e hemodinâmicamente estáveis, o início da terapêutica poderá ser atrasada até ao conhecimento dos resultados das hemoculturas. Contudo, os doentes com
doença aguda, com instabilidade hemodinâmica, devem iniciar a terapêutica empírica logo após 3 conjuntos de hemoculturas.
Terapêutica empírica
A terapêutica empírica deve ser efetuada, tendo em conta os microrganismos presumíveis da infeção. Assim, recomendam-se os mesmos regimes de tratamento para os
microrganismos específicos, recomendados para a endocardite da válvula nativa (1 B), com exceção da endocardite a Staphilococcus. Para este microrganismo
recomenda-se o tratamento com três antibióticos bactericidas, que poderão ser: Vancomicina, Gentamicina ou Carbapenemo, associado à Rifampicina (1 B).
Posteriormente a terapêutica deverá ser de-escalada de acordo com os resultados das hemoculturas. Se as culturas se mantiverem negativas, deverá ser usado o
esquema recomendado a seguir.
Duração da terapêutica
Esquemas terapêuticos
Staphylococcus
Streptococcus viridans e Streptococcus bovis relativamente ou totalmente resistentes à Penicilina (MIC >0.12 ug/mL)
Enterococcus
Microrganismos HACEK (Haemophilus parainfluenzae, Haemophilus aphrophilus, Actinobacillus actinomycetemcomitans, Cardiobacterium hominis. Eikenella
corrodens e a Kongella kingae)
Referências
Baddour LM, Wilson WR, Bayer AS, et al. Infective endocarditis: diagnosis, antimicrobial therapy, and management of complications: a statement for healthcare
professionals from the Committee on Rheumatic Fever, Endocarditis, and Kawasaki Disease, Council on Cardiovascular Disease in the Young, and the Councils on
Clinical Cardiology, Stroke, and Cardiovascular Surgery and Anaesthesia, American Heart Association: endorsed by the infection Diseases Society of America. Circulation
2005;111:3167
Habib G, Hoen B, Tornos P, et al. Guidelines on the prevention, diagnosis and the treatment of Infective endocarditis (new version 2009): the task Force on the
Prevention, Diagnosis, and Treatment of Infective Endocarditis of the European Society of Cardiology (ESC). Endorsed by the European Society of Clinics Microbiology
and Infectious Diseases (ESCMID) and the International Society of Chemotherapy (ISC) for Infection and Cancer. Eur Heart J 2009;30:2369
Liu Catherine, et al. Clinical Practice guidelines by the Infectious Disease Society of America for the Treatment of Meticilin-Resistant Staphilococcus aureus Infectious in
Adults and Children. CID 2011;52:285-292
Karchmer AW. Antimicrobial therapy of prosthetic valve endocarditis. UpToDate 2015
Infeção do Pé Diabético
Autor: Ruben Barreto; Maria José Gomes; Miguel Silva (Serviço de Cirurgia Geral)
Definição
A infeção do pé diabético inicia-se tipicamente através de uma ferida, geralmente uma úlcera neuropática. Apesar do pé diabético poder estar colonizado com
1
microorganismos, só é considerado infetado quando apresenta 2 sinais clássicos de inflamação ou pús.
Deve-se suspeitar de infeção se os seguintes fatores de risco estiverem presentes: teste de toque ósseo com sonda positivo, ulceração> 30 dias, história de úlceras
1
recorrentes, ferida traumática, presença de doença vascular periférica, amputação prévia, pé neuropático, presença de insuficiência renal ou história de andar descalço.
Recomendações gerais
Deve ser usado a escala de avaliação do pé diabético PEDIS;
Doentes com pé diabético mas sem infeção não têm indicação para instituir antibioterapia;
O uso da zaragatoa como colheita de espécimen para estudo microbiológico não está aconselhado;
Para a escolha da antibioterapia deve ser contemplado a gravidade clínica e o agente etiológico provável.
Paralelamente ao tratamento antibiótico, deve ser associado o desbridamento, a aplicação de penso adequado e “off-load” do membro afectado.
Tabela 1 – Sugestão de regimes empíricos de antibioterapia baseados na gravidade clinica da infeção do Pé Diabético
- Ajustar conforme função renal; - Meropenem se idade> 65 anos, insuficiência renal, doença neurológica, ou suspeita de infeção por Pseudomonas; - Ertapenem apenas se baixa probabilidade de
Pseudomonas e/ou ausência de internamentos hospitalares recentes; - Linezolida - se maior gravidade, contra-indicação para administração de Vancomicina e/ou osteomielite extensa
Notas
Em doentes internados com Pé Neuropático, sem evidência de risco de vida ou amputação major, optar preferencialmente por:
o Piperacilina/tazobactam;
o Se alergia a -lacâmicos, então – Metronidazol + Levofloxacina + Vancomicina;
Em doentes internados com Pé Isquémico ou Neuro-isquémico, optar preferencialmente por Carbapenemos;
Antibióticos utilizados em situações de osteomielite:
o Amoxicilina/ácido Clavulânico
o Piperacilina/tazobactam
o Carbapenemos (meropenem, ertapenem)
o Cefoxitina
o Fluorquinolonas (ofloxacina, moxifloxacina)
o Linezolida
Associar sempre ATB dirigido ao MRSA se suspeita elevada ou isolamento recente, se prevalência de colonização ou infeção local for elevada ou se a infeção for
severa;
Rever resultados microbiológicos 3-5 dias após colheita para orientação terapêutica;
Alterar para ATB oral 48h após resolução da celulite e dos sinais sistémicos, se possível.
Monitorizar a função renal e hepática a todos os doentes internados.
Antibióticos vulgarmente utilizados em infeção do pé diabético, segundo ordem alfabética e com respetivas doses médias:
Referências
IDSA. Guideline for Diabetic Foot Infections. 2012. Available at: http://www.idsociety.org/uploadedFiles/IDSA/Guidelines-Patient_Care/PDF_Library/2012 Diabetic Foot
Infections Guideline.pdf. Accessed July 31, 2014.
Best Practice Guidelines: Wound Management in Diabetic Foot Ulcers. Wounds Int. 2013. Available at: www.woundsinternational.com. Accessed July 31, 2014.
DGS. Organização de cuidados, prevenção e tratamento do Pé Diabético. 2011;nº 003/2011:1-5. Available at:
http://www.anestesiaregional.com/uploads/media_items/avalia%C3%A7%C3%A3o-pr%C3%A9-anest%C3%A9sica-para-procedimentos-eletivos.original.pdf.
Accessed July 31, 2014.
SERRA, Luís M. Alvim. Pé Diabético - Manual para a Prevenção da Catástrofe. 2ª Edição. 2008. Lidel. ISBN 9789727575091
Gastroenterite Severa
A diarreia é uma doença muito frequente no indivíduo normal, com significativa morbilidade e mortalidade.
Etiologia
Abordagem inicial
História clínica para determinar a duraçãoo dos sintomas e a frequência e características das fezes.
Avaliação clínica para procura de sinais de depleçãoo de volume (redução da prega cutêna, hipotensão ortostática e hipotensão), febre e sinais
peritoneais.
Indicações para a avaliação diagnóstica (doença severa) – presença de um ou mais dos critérios:
Sintomas mais frequentes Micróbios mais frequentes Período de incubação Fontes de alimentos
S. aureus 1-6h Comida preparada, ex. saladas, carne
B. cereus 1-6h Arroz, carne
Vómitos
Marisco, comida preparada, saladas, sandwiches,
Virus Norwalk-like 24-48h
fruta
C. perfringens 8-16h Carne, carne de aves, molho de carne
Enterotoxigenic E. Coli 1-3 dias Água ou comida contaminada com fezes
Diarreia Viroses entéricas 10-72h Água ou comida contaminada com fezes
C. parvum 2-28 dias Vegetais, fruta, leite não pasteurizado, água
C. cayetanensis 1-11 dias Bagas importadas, mangericão
Sintomas mais frequentes Micróbios mais frequentes Período de incubação Fontes de alimentos
Diarreia inflamatória Campylobacter spp 2-5 dias Carne de aves, leite não pasteurizado, água
Salmonella não tifoide 1-3 dias Ovos, carne de aves, vaca, leite não pasteurizado,
ou sumo de frutas fresco
E. coli produtora de toxina 1-8 dias Carne moída, leite ou sumo não pasteurizado,
vegatis crús, água
Shigella spp 1-3 dias Água ou comida contaminada com fezes
V. parahemolyticus 2-48h Marisco crú
Adaptado Centers for Disease Control and Prevention. Diagnosis and management of food borne illness, a primer for physicians. MMWR Recomm Rep 2001;50 RR-2):1
Indicações para obter cultura de fezes na apresentaçãoo inicial – 3 amostras consecutivas separados de 24h
Doente imunocomprometidos
Doente com comorbilidades que aumentam o risco de complicações
Doente com diarreia severa ou diarreia inflamatória (incluindo diarreia sanguinolenta)
Doente com doença inflamatória intestinal nos quais não é possível distinguir entre agudizaçãoo da doença e infeção
Alguns trabalhadores, como por exemplo aqueles que manipulam alimentos, de forma a fornecer um resultado negativo, na resolução dos sintomas,
com o objetivo de voltar ao trabalho.
Tratamento antibiótico
Geralmente a terapêutica antibiótica não é necessária, uma vez que a diarreia, na maioria das vezes é autolimitada. Pode ser considerada em algumas situações.
Não está recomendado o tratamento antibiótico nos doentes com suspeita de infeção por E. coli enterohemorrágica (I B).
Na presença de identificação do agente etiológico a terapêutica antibiótica deverá ser baseada no teste de sensibilidade.
Referências
Gerrant RL, Van Gilder T, Steiner TS, et al. Practice guidelines for the management of infectious diarrhea. Clin Infect Dis 2001;32:331
Thielman NM, Guerrant RL. Clinical practice. Acute infectious diarrhea. N Engl j Med 2004;350:38
Wanke CA. Approach to the adult with acute diarrhea in resource-rich contries. UpToDate 2015
Infeções em Obstetrícia
Endometrite grave Clindamicina 900 mg 8/8h EV ou Metronidazol 500 mg 8/8h EV + gentamicina 1.5 mg/kg 8/8h
Infecção da episiorrafia - Grave Clindamicina 600 mg EV 8/8h + Ampicilina 1g EV 6/6h+ Gentamicina 5 mg/kg/EV
MA.02.16 Infeções em Obstetrícia 283
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
Referências
Bacteriemia associada a cateter ou bacteriemia primária é o isolamento de bactéria ou fungo em mais de uma hemoculturas (Hc) colhidas por punção periférica em
doente com cateter vascular, que apresenta sinais clínicos de infeção (febre ou hipotermia, calafrios, hipotensão, taquicardia ou leucocitose), na ausência de outro foco
infecioso e um dos seguintes:
o Isolamento do mesmo microrganismo em Hc e na ponta do cateter vascular;
o Hc quantitativas colhidas simultaneamente através do cateter e por punção periférica, com crescimento superior a 3:1 na amostra colhida através do
cateter;
o Hc colhidas simultaneamente através do cateter e por punção periférica, com detecção mais precoce do crescimento de microrganismos (>2h) na
amostra colhida pelo cateter.
Epidemiologia
Ocorre em 3 a 8% dos cateteres;
1ª causa de Bacteriemia nosocomial em Unidade de Cuidados Intensivos
o 80.000 casos /ano;
o Custo muito elevados;
Mortalidade – 0 -35%;
Factores de Risco
Hospedeiro
Doença crónica
Transplante de medula óssea
Deficiência imunitária (ex: neutropenia)
Desnutrição
Administração de nutrição parentérica total
Bacteremia prévia
Extremos de idade
Perda de integridade da pele (ex: queimaduras)
Cateter
Tipo de dispositivo intravascular
Localização do catéter
Experiência e formação do técnico que coloca o catéter
Frequência de manipulação
Duração do cateterismo
Uso de estratégias preventivas
Infusão
MA.02.16 Bacteriemia Associada a Cateter Intravascular 285
Manual de Antimicrobianos CFT/GCPPCIRA
SESARAM -EPE
Devemos supeitar de infeção relacionada com a infusão quando ocorre sepsis em doente com baixo risco ou quando ocorre um “cluster” de Bacteriemia por
microrganismo não usual.
A confirmação da infeção relacionada com a infusão, implica o isolamento do mesmo organismo na infusão e no sangue periférico (A II).
Antes de 1980, os aeróbios gramnegativo eram os microrganismos mais associados a infeções nosocomiais da corrente sanguínea.
Desde então, os aeróbios gram positivo (Ex: S. coagulase negativo. S. aureus e Enterococcus) e espécies de Candida têm aumentado a sua importância. O aumento da
incidência das infeções por Staphiyococcuscoagulase negativo explica-se pelo facto de as infeções por S. coagulase negativo serem reconhecidas e reportadas como
infeções (ao contrário de colonizações), ao uso de antibióticos de largo espectro (pressão de selecção) e ao aumento de dispositivos intravasculares.
Os Staphilococcuscoagulase negativo e os Staphilococcusaureus têm origem na pele e ao longo da superfície externa do catéter. Em comparação, as mãos dos
profissionais de saúde introduzem mais microrganismos gram negativo, durante a manipulação dos catéteres e dos tubos endovenosos.
A flora da pele tem um papel importante na colonização e provavelmente é a fonte mais importante de infeção.
Pensa-se que os organismos migram da pele, ao longo da superfície externa do catéter, e através do local de inserção do catéter. Assim, não é surpreendente que os
agentes comensais da pele, como Staphilococcusaureus e Staphilococcuscoagulase negativo, sejam muitas vezes isolados dos catéteres colonizados e em doentes com
Bacteriemia relacionada com catéter.
Os factores de risco do hospedeiro, interagindo com os catéteres endovenosos inseridos parecem ter um papel importante na adesão precoce, colonização e infecção.
Diferentes populações têm diferentes epidemiológias:
• Pseudomonas aeruginosa (queimados)
• Staphylococcusaureus (HIV são altamente colonizados na nasofaringe e pele)
• Gram - (neoplasias malignas - talvez por translocação bacteriana do intestino)
• Gram + (hemodializados)
• Pseudomonas sp, Stenotrophomonassp, Acinectobactersp, Serratiasp (dispositivos sem agulha expostos a estes patogéneos durante o banho ou duche).
A realidade do nosso hospital foi estudada em 2009 num estudo de coorte prospectivo efectuado pelo sector de microbiologia, no qual foram identificadas 44% de
Bacteriemias primárias em 578 dias de cateter.
Os agentes mais frequentes foram os Staphilococcusaureus (46%), segundo pela Klebsiellaoxytoca (18%). A percentagem de Staphylococcus resistente à Meticilina
(MRSA) foi de 9% e idêntica à percentagem das Klebsiellaspneumoniae, Enterobactercloacae e espécies de Candidas.
Dos Staphilococcusaureus, 40% foram resistentes à Meticilina.
Diagnóstico
O diagnóstico das Bacteriemias relacionadas com catéter baseia-se na avaliação clínica e nas culturas do sangue e do cateter (AII).
A suspeita de diagnóstico ocorre na presença de sinais e sintomas de infeção não atribuíveis a outro foco, que não o cateter.
Pode cursar com sepsis: febre (elevada sensibilidade e baixa especificidade); geralmente com início súbito após a infusão no cateter; a melhoria clínica pode ocorrer
após a remoção do CVC. Pode ocorrer também inflamação e pus no local de inserção do cateter (baixa sensibilidade e alta especificidade);
As complicações relacionadas com a Bacteriemia também podem ser observadas como a endocardite, a tromboflebite supurativa, a osteomielite e a infeção metastática.
Na suspeita clínica de infeção sobre catéter o diagnóstico baseia-se nos estudos culturais do sangue e do cateter.
Existe pouca evidência para a colheita de hemoculturas de todas as vias do cateter. Se não for possível a colheita de hemoculturas periféricas, devem ser colhidas> de 2
hemoculturas do cateter em tempos diferentes. As colheitas devem ser efectuadas segundo o Manual de Colheitas, do SESARAM, EPE e rotuladas com o local de
colheita e antes de iniciar o antimicrobiano (A I). A especificidade e o valor preditivo positivo das hemoculturas periféricas são superiores ao das centrais. Ambas as
hemoculturas têm um valor preditivo negativo.
Não é recomendada a colheita por rotina de hemoculturas (A II)
Não existe evidência para a cultura da ponta do cateter na ausência de suspeita de infeção.
A técnica laboratorial mais amplamente utilizada para o diagnóstico de infeção relacionada ao cateter é a semi-quantitativa, na qual é realizado o rolamento de um
segmento do cateter na placa de agar e após a incubacão por 48 horas a 37ºC é realizada a contagem do número de colónias.
As técnicas quantitativas exigem o flush do segmento do cateter com um caldo de cultura, seguido pela diluição seriada e a sementeira em placa de agar sangue.
2
Os critérios de colonização do cateter são: crescimento> 10 cfu por técnicas quantitativas ou crescimento> 15 cfu por técnicas semi-quantitativas.
O tratamento das bacteriemias primárias compreende o manuseamento do cateter (manutenção, troca ou remoção) e o início de anti-infeciosos.
Manuseamento do cateter
A natureza do patogéneo é também importante para guiar a decisão relativamente à remoção do CVC.
• Os CVC de curta duração (<14 dias) devem ser removidos na infeções causadas por S. aureus; bacilos Gram negativo; fungos; micobactérias.
• Os CVC de longa duração (> 14 dias) devem ser removidos nas infeções causadas por S. aureus; Pseudomonas aeruginosa; fungos e micobactérias.
Devem ser colhidos dois conjuntos de hemoculturas <72h de terapêutica apropriada (nos recém-nascidos á suficiente uma). A remoção do cateter não é necessária
nos doentes estáveis hemodinâmicamente, com febre inexplicada na ausência de hemoculturas positivas e na ausência de material protésico.
As hemoculturas positivas às 72 h implicam remoção do CVC
A troca do catéter por fio guia pode ser efecuada quando existe um risco elevado de complicações mecânicas ou hemorrágicas durante a cateterização, mas esta
abordagem não tem muito suporte científico.
A ponta do cateter deve ser eviada para cultura. Se o resultado for positivo ou se houver evidência de flebite, trombose ou drenagem purulenta, deve ser recolocado
o cateter noutro local.
Na presença de fungemia, o cateter deverá ser sempre removido. A sua não remoção está associada a elevada mortalidade.
Terapêutica empírica
O tratamento antibiótico deve ser instituído antes das culturas e dos resultados dos testes de suscetibilidade (empírico).
A escolha inicial dos antibióticos depende da circunstância clínica (incluindo a gravidade da doença, factores de risco para a infeção e dos patogéneos mais implicados).
Em geral os Staphylococcuscoagulase negativo são os agentes mais frequentes e alguns são resistentes à Meticilina.
O tratamento deve consistir na Vancomicina. Se presença de Staphilococcusaureuscom MIC> 1 micrograma, a Daptomicina é uma alternativa (A II).
Outros antibióticos com atividade para os Staphiylococcuscoagulase-negativo e MRSA são o Linezolide e a Ceftarolina.
O Linezolide não é um antibiótico apropriado para o tratamento empírico da BRC (A I).
Nos doentes com neutropenia ou sepsis, o tratamento empírico deverá cobrir os bacilos gram negativo (incluindo as Pseudomonas), Piperacilina/tazobactam e
Carbapenemos.
Os doentes colonizados com organismos multiresitentes devem efectuar antibióticos de acordo com a sua sensibilidade.
De-escalação da terapêutica
Staphylococcus coagulase-negativo
1ª Linha 2ª Linha
Meticilino susceptivel Flucloxacilina 2g IV q4h Cefalosporina de 1ª geração ou Vancomicina, 15 mg/kg IV q 12h ou
perfusão contínua
Meticilino resistente Vancomicina, 15 mg/kg IV q12h ou perfusão Daptomicina 6 mg/dia IV ou
contínua Linezolide 600 mg IV q12h
.
Staphylococcus aureus
Em geral, a abordagem das infeções relacionadas com cateter devido a S. Aureus consistem em remoção do cateter e terapêutica antibiótica sistémica.
Após a remoção do cateter, poderá ser colocado um novo cateter, se não houver crescimento de bactérias nas hemoculturas colhidas às 72h.
Agente muito frequente, com complicações hematogénecasfrequentes (25-30%) (B II):
o Endocardite
o Envolvimento musculo-esquelético (arterite septica, osteomielite…)
A presença de factores de risco para complicações hematogénecas, implica a sua procura através do ecocardiograma transesofágico (no 5º-7º dia após o início
da antibioterapia) (B II). O ecocardiograma transtorácico é insuficiente para excluir endocardite bacteriana (A II).
Hemoculturas mantidas positivas às 72h de AB e após ter retirado o cateter
Dispositivos intravasculares
Diabéticos/Imunodeprimidos /SIDA
Hemodialisados
Alterações valvulares que predispõem à endocardite
Atraso na remoção do cateter
1ª Linha 2ª Linha
Meticilinosusceptivel Flucloxacilina 2g IV q4h Cefazolina 2g IV q8h; Vancomicina, 15 mg/kg IV q 12h ou perfusão
contínua
Meticilino resistente Vancomicina, 15 mg/kg IV q 12h ou perfusão Daptomicina 6 mg/dia ou
contínua Linezolide 600 mg q12h ou
Ceftarolina 500 mg/IV q12h
Vancomicina + (Rifampicina ou Gentamicina) ou
Trimetropim-Sulfametoxazol 3-5mg/kg q8h
• Sem complicações
• Remoção do cateter e AB ≥ 14 dias (14-21 dias)
Enterococcus species
Em geral, a abordagem das infeções relacionadas com cateter devido a Enterococcusspecies consistem em remoção do cateter e terapêutica antibiótica
sistémica.
O ecocardiograma deve ser efetuado na presença de sinais e sintomas de endocardite (Ex. sopro de novo ou fenómeno embólico), bacteriemia prolongada ou
febre, apesar de terapêutica apropriada (ex. Bacteriemia ou febre> 72h após o início de terapêutica antibiótica apropriada), evidência radiográfica de embolização
séptica, ou presença de prótese valvular ou de corpos estranhos endovasculares (B III).
1ª Linha 2ª Linha
Daptomicina 6 mg/dia IV ou
Vancomicina, 15 mg/kg IV q 12h (A III) ou perfusão
Ampicilina resistente Linezolide 600 mg IV q12h (nos Enterococcus resistentes à
contínua ± Gentamicina, 1 mg/kg IV q8h (A II)
Vancomicina) (B II)
o Remoção do cateter e AB 7 a 14 dias, se não houver evidência de endocardite ou infeção metastática (C III)
o Manutenção do cateter e antibioterapia sistémico e de bloqueio 7 a 14 dias (AB combinada mais efectiva do que a monoterapia) (C II).
Em geral, a abordagem das infeções relacionadas com cateter devido a Bacilos Gram –negativo consistem em remoção do cateter e terapêutica antibiótica
sistémica.
Nota: Na cartamircrobiológica do SESARAM 2014aumento do Acinectobacter (Resistência 80%), apenas sensível à Tobramicina )
1ª Linha 2ª Linha
Stenotrophomonas maltophilia -
Trimetropim-Sulfametoxazol 3-5mg/kg q8h
Pseudomonas aeruginosa Piperacilina/tazobactam 4.5g IV q6h ou perfusão Imipenem 500 mg IV q6h ou Meropenem1g IV q8h;
contínua com ou sem aminoglicosídeo (amicacina
15 mg/kg IV q24h ou Gentamicina ou tobramicina
5-7 mg/kg IV q24h)
Bulkoderia cepacia Trimetropim-Sulfametoxazol 3-5mg/kg IV q8h Imipenem 500 mg IV q6h ou Meropenem1g IV q8h;
Tratamento
o Remoção do cateter (B II) e AB 7 a 14 dias (A II);
o Antibioterapia combinada empírica se presença de fatores de risco para a infeção a bactérias multiresistentes (infeção prévia a bactérias
multirresistentes, doença crítica, neutropenia, terapêutica antibiótica prévia ou presença de cateter femulral). A terapêutica poderá ser de-escalada para
monoterapia, de acordo com o TSA (A II).
Candida species
Em geral, a abordagem das infeções relacionadas com cateter devido a Candidaspeciesconsistem em remoção do cateter e terapêutica antibiótica sistémica (B
II).
• Remoção do cateter (A II). Para os doentes com candidémia, para os quais a fonte não está esclarecida, deve ser retirado o cateter e colhida a ponta do
cateter (A II)
• Terapêutica antifungica em todos os casos de candidémia independentemente da resolução da sintomatologia após retirada do cateter, ≥ 14 dias após a
última cultura negativa
1ª Linha
Candida albicans ou Candidas pp Fluconazol 400-600 mg IV q 24h, se ausência de exposição aos Azóis nos 3 meses anteriores ou Caspofungina 70 mg IV dose
inicial, seguida de 50 mg IV q24h
Duração da antibioterapia
A duração da antibioterapia poderá extender-se a 6 semanas, se os doentes tiverem próteses valvulares, mesmo que a investigaçãoo não venha a demonstrar
endocardite bacteriana.
Os doentes com Bacteriemia persistente (> 72h) após a remoção do cateter devem efetuar pelo menos 6 semanas de antibioterapia.
Nos doentes com complicações relacionadas com Bacteriemia (como tromboflebite supurativa, endocardite, osteomielite, infeção metastática), a duração da terapêutica
deve ser ajustada, dependendo da natureza da infeção.
Os antibióticos deverão ser discontinuados nos doentes com suspeita de infeção relacionada com cateter, se as culturas forem negativas e mais nenhum foco de infeção
foi identificado.
Referências
Mermel LA, Allon M, Bouza E et al. Clinical practice guidelines for the diagnosis and management of intravascular cateter-related infection.2009 Update by the
InfectiousDiseases Society of America. Clin Infect Dis 2009;49:1
Band JD. Treatment of intravascular cateter-related infections.UpToDate 2015
Fernandes P, Canhoto N, Afonso T. Suspeita de Bacteriemia relacionada com cateterização venosa central. Serviço de Patologia Clínica – Secção de Bateriologia do
SESARAMEPE.
Definição
Infeção que surge até 30 dias após um procedimento cirúrgico, ou até 1 ano, no caso da utilização de uma prótese.
Classificação
Ilustração 1
Critérios de diagnóstico
Pelo menos um
Drenagem purulenta da incisão
Cultura microbiológica positiva de fluido ou tecido colhido de forma asséptica
Sinais inflamatórios locais e febre
Deiscência ou abertura deliberada da ferida cirúrgica
Diagnóstico realizado por cirurgião, baseado na sua experiência clínica
Pontos-chave
As culturas microbiológicas deverão ser realizadas antes do início da antibioterapia;
Não devem ser feitas colheitas microbiológicas através de drenos;
Colher, de preferência, tecido orgânico e profundamente na ferida;
Evitar zaragatoas pelo elevado risco de contaminação com a flora nativa da pele;
Tabagismo
Medicações crónicas
Recomendações
1. Remoção de suturas e/ou incisão com drenagem (Nível de evidência C, Grau de recomendação I)
2. Antibioterapia indicada se resposta inflamatória sistémica, (Nível de evidência C Grau de recomendação II) sugerida da por
Eritema e edema peri-incisional> 5 cm
Tempaxilar> 38.5ºC
FC> 110 bpm
Leucocitose> 12.000
3. Antibioterapia indicada em ILC de cirurgias limpas do tronco, cabeça e pescoço, se sinais sistémicos de infeção (Nível de evidência C, Grau de
recomendação I)
5. Em cirurgias de axila, tracto gastrointestinal, períneo ou tracto genital feminino, cobrir gram negativos e anaeróbios:
Ceftazidima ou Ciprofloxacina associadas a Metronidazol (Nível de evidência C, Grau de recomendação I)
Procurar
Febre < 48h Improvável ILC Negativo outras fontes
Coloração de febre
Gram para
Sim excluir
Drenagem Streptococcus e
Doença local ou sinais Incisão e drenagem,
Clostrideo desbridamento,
sistémica locais de Positivo
inflamação iniciar penicilina ou
Não
clindamicina
Cirurgia
Temp < 38ºC
Leucocitose <
Pensos diários
12000
Eritema <5 cm
Ferida limpa Flucloxacilina
Eritema e/ou Abrir ferida tronco, cabeça, TMP-sulfa
induração cirúrgica Temp > 38ºC Pensos diários pescoço ou
Febre > 48 Vancomicina (se
Leucocitose > cultura extremidades FR)
horas
Procurar outra 12000 microbiológica
Ferida com
origem da Eritema > 5 cm iniciar
aspeto normal Ferida do Ciprofloxacina +
febre com induração antibioterapia períneo ou metronidazol
ou necrose empírica cirurgia do TGI cefalosporina +
ou GU metronidazol
Referências
http://emedicine.medscape.com/article/188988-overview#a0199
http://www.guideline.gov/content.aspx?id=13416
http://www.nice.org.uk/guidance/cg74/chapter/guidance
“Practice Guidelines for the Diagnosis and Management of Skin and Soft Tissue Infections: 2014 Update by the Infectious Diseases Society of America”, Stevens et al,
Julho 2014, CID 2014:59
http://www.uptodate.com/pt/home/grading-guide
Espondilodiscites
Autor: Cícero Silveira (Serviço de Neurocirurgia)
Na abordagem diagnóstica das espondilodiscites, há a considerar um amplo espectro de manifestações clínicas de acordo com a região vertebral comprometida
(espondilite, discite, radiculopatia, meningite, abscesso epidural, mielite, artropatia infecciosafacetária). Desta forma, a estrutura anatómica atingida pela infeção
determina critérios para o tipo de tratamento a efetuar e seu timing.
A localização anatómica mais comum é a coluna lombar (59%); subsequente: dorsal (34%) e cervical (10%).
Representam 2-4% das infeções do esqueleto, com incidência (a aumentar gradualmente) de 0.4-2.5 por 100.000/ano (ligeiramente mais elevado nos doentes VIH ( +),
mesmo naqueles não usuários de drogas injetáveis), com picos de incidência abaixo dos 20 e entre a 5ª e 7ª décadas, com predomínio no género masculino (2-5:1).
Apesar de não apresentar uma mortalidade elevada (6%) em doentes imunocompetentes, pode alcançar 20% nos imunossuprimidos e/ou VIH (+) s.
A espondilodiscite apresenta três formas de instalação:
Hematogênica (mais comum),
Inoculação direta (cirurgia ou trauma)
Contiguidade de foco séptico adjacente.
Quanto à etiologia, pode ser piogénica ou granulomatosa (micobactérias, espiroquetas, Brucellasp e fungos).
S. aureus é o agente etiológico mais comum (55-90%). Gram-negativos tais como Escherichiacoli, Pseudomonas, Salmonella, Enterobacter, Klebsiella,
Haemophilus, e Proteussão mais associados a infeções de origem gastrointestinal e genito-urinária. Algumas culturas apontam agentes fúngicos (p.ex.C. albicans). A
tuberculose vertebral é uma infeção óssea ainda frequente em países subdesenvolvidos. Em imunodeficientes/VIH (+), os Estafilococos e Estreptococos, assim como
o Micobacteriumtuberculosis, são frequentes. Em doentes submetidos a cirurgia vertebral de outras causas, a infeção pós-operatória também está associada a
Estafilococos (S. aureus, S. epidermidis) – superficial (72.6%) ou profunda (85.7%).
Factores predisponentes
Diabetes mellitus
Desnutrição e imunossupressão
Doença coronária isquémica
Idade
SIDA/AIDS
Cirurgia vertebral prévia
Infeções prévias recentes
Transplantados e insuficiência renal (hemodiálise)
Exposição/uso de dispositivos intravasculares
ambulatório quando possível. Em imunossuprimidos ou doentes VIH (+) em imunodeficiência, recomenda-se o tratamento por 12 semanas (grau II, recomendação;
nível B de evidência*). É consensual que a antibioterapia administrada em tempo inferior ou igual a 4 semanas é insuficiente para tratamento (grau I, recomendação
nível A de evidência).
De modo geral, o tratamento cirúrgico tem abordagens diferentes a considerar: a presença de défice neurológico, o tempo de doença vertebral (o abscesso epidural não-
lombar é quase sempre uma emergência neurocirúrgica!) e as co-morbilidades do doente.
Tem como objectivos: (1) facilitar uma fusão vertebral estável, ao tratar a instabilidade – aspecto onde a TC do segmento vertebral tem papel importante pela melhor
avaliação óssea e subsequente decisão da melhor via de abordagem – e corrigir a deformidade, (2) erradicar a infeção (às vezes, o relapso está associado ao “osso
necrótico” constituindo uma fonte para re-infeção ou sua persistência) – as taxas de relapso são de 0-15% nos primeiros seis meses do final de tratamento, (3) aliviar
mais rapidamente a dor e (4) preservar/restaurar a função neurológica; como grande vantagem a mobilização mais precoce do doente. As vias de abordagem têm
indicação individual e a depender do segmento da coluna comprometido. O uso de implantes metálicos vertebrais nos pacientes com instabilidade deve ser evitado nas
primeiras 4 semanas de antibioterapia.
Referências
Chang FY, Chang MC, Wang ST, et al. Can povidone-iodine solution be used safely in a spinal surgery? Eur Spine J. 2006;15:1005.
Fraser RD, OstiOL, Vernon-Roberts B. Iatrogenic discitis: the role of intravenous antibiotics in prevention and treatment. An experimental study.Spine. 1989;14:1025.
James SL, Davies AM. Imaging of infectious spinal disorders in children and adults.Eur J Radiol. 2006;58:27.
Klein JD, Hey LA, Yu CS, et al. Perioperative nutrition and postoperative complications in patients undergoing spinal surgery. Spine. 1996;21:2676.
Lee MC, Wang MY, FesslerRG, et al. Instrumentation in patients with spinal infection. Neurosurg Focus. 2004;17(6):E7.
Levi AD, Dickman CA, Sonntag VK. Management of postoperative infections after spinal instrumentation.J Neurosurg. 1997;86:975.
Mangram A, Horan T, Pearson M, et al. Guideline for prevention of surgical site infection, 1999. Center for Disease Control and Prevention (CDC) Hospital Infection
Control Practices Advisory Committee.Am J Infect Control. 1999;27: 96.
Mehbod AA, Ogilvie JW, Pinto MR, et al. Postoperative deep wound infections in adults after spinal fusion: management with vacuum-assisted wound closure. J Spinal
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Olsen MA, Mayfield J, Lauryssen C, et al. Risk factors for surgical site infection in spinal surgery. J Neurosurg. 2003;98:149.
Olsen MA, NeppleJJ, Riew KD, et al. Risk factors for surgical site infection following orthopaedic spinal operations. J Bone Joint Surg Am. 2008;90:62.
Rubinstein E, Findler G, Amit P, et al. Perioperative prophylactic cephazolin in spinal surgery: a double-blind placebo-controlled trial. J Bone Joint Surg Br. 1994;76:99.
Abcesso Cerebral
As infeções do SNC têm várias localizações anatómicas, algumas vezes correspondendo a etiologias diferentes e tempo de tratamentos diferentes. Nestas
circunstâncias, aqui será abordado apenas o abcesso cerebral (coleção fluida infeciosa intraparenquimatosaintraaxial cerebral), que pode ser primária ou secundária
(traumatismo ou cirurgia neurológica).
Epidemiologicamente, atinge mais homens que mulheres (2-3:1), com duas formas de disseminação: hematogênica (infeções pulmonares, endocardites, cardiopatias
congénitas, fístulas A-V) – a mais comum desde a década de 80 – e por contiguidade (traumatismos de face, pós-operatório de cirurgia craniana ou facial, sinusite, etc.).
Na faixa adulta, normalmente pela 3ª-4ª década; na faixa pediátrica, entre 4-7 anos.
A mortalidade atual é aproximadamente de 10% - sendo a mortalidade em abcessos fúngicos em pós-transplantados próximos a 100%, contudo ainda com morbilidade
elevada (40-50%) – epilepsia (27%), hidrocefalia (45%), deficits focais do SNC (29%), etc.
Cerca de 25% das culturas do abcesso cerebral são negativas. Em geral, o agente mais comum é do género Streptococcus e em 33-50%, os anaeróbios. Tem etiologia
múltipla em 10-30% dos casos – a maioria inclui anaeróbios do tipo Bacteroidessp.
Etiologia
Streptococcus milleri e Streptococcus anginosus Sinusite fronto-etmoidal
Bacteroides e Enterobactérias (Proteus sp) Abcesso pulmonar, otite média e mastoidite
S. aureus e Enterobactérias Pós-traumático
Strep. viridans e Actinomyces Pós-op procedimentos dentários
MSSA, MRSA, MSSE Pós- op Neurocirurgia
T. gondii
Nocardia asteroides
C. albicans
Imunossuprimidos (SIDA, pós-transplantados, etc.)
Listeria monocytogenes
Mycobacterium
Aspergillus fumigatus
A apresentação clínica é inespecífica, a maioria dos sintomas associados a presença de edema cerebral e hipertensão intracraniana (HIC) – alterações do nível de
consciência, convulsões (30-50%), sinais de focalização (hemiparesia é o mais comum). Papiledema no abcesso cerebral é raro antes dos 2 anos de vida. O recém-
nascido com abcesso cerebral geralmente não apresenta febre, mas apresenta maior frequência de meningismo que o adulto. A punção lombar (PL), quando possível de
ser realizada, é anormal em 90% dos casos, mas sem características especificas comparativamente a outras infecções do SNC.
Diagnóstico por TC cerebral (sensibilidade de quase 100%). O TC, por ser um meio mais disponível no serviço de urgências e de mais rápida execução, também pode
estadiar o abcesso cerebral:
A RM cerebral tem 100% de sensibilidade diagnóstica. A espectroscopia demonstra picos de lactato, acetato e aminoácidos. A fase de cerebrite demonstra T1W - e
T2W+; a fase capsular demonstra T1Gd+, com T1W- no centro de lesão e edema perilesional com T2W+ no edema cerebral com cápsula bem definida e centro de lesão
iso- ou hiperintenso (T2W+).
A antibioterapia recomendada para o abcesso cerebral é de 4-8 semanas, podendo estender-se até 8 semanas conforme a evolução clínica, imagiológica (TC) e
laboratorial do doente (Nível de recomendação 1B). As alterações na RMN persistem durante alguns meses. Assim, as alterações na RMN, não são por si só, critério
para continuidade da antibioterapia ou de intervenção cirúrgica. O uso de corticoides deve ser o mais restrito possível, uma vez que também prolonga o tempo de
doença. Está indicado nos doentes com efeito de massa e depressão significativa do nível de consciência (Nível de recomendação 2C). Todos os doentes com abcesso
cerebral devem fazer uso de anticonvulsivantes. A abordagem cirúrgica tem objetivo de diagnóstico etiológico por punção aspirativa e drenagem de abcesso cerebral
(alívio da HIC).
Antibioterapia
MSSA/MRSA Vancomicina 30 mg/Kg/dia, dividido em duas tomas
Trauma penetrante Enterobacteriacea +
P. aeruginosa (Ceftazidima 2g IV 8/8h ouCefotaxima 2g IV 6/6h)
(Penincilina G 5milhões IV 6/6h** ou
MSSA (S aureus)*/MRSA
Vancomicina 30 mg/Kg/dia, dividido em duas tomas **)
Pós-op/neurocirurgia MSSE (S epidermidis)
+
Pseudomonas
Ceftazidima 2g 8/8h IV*****
Enterobacter (Penicilina G 20-24MU IV dividido em 6 tomas ou Ceftriaxone 2g
Otite/mastoidite
Proteus 8/8h IV ou Cefotaxima 2g 6/6h) + Metronidazol 500mg IV 8/8h
Anaeróbios orais (Penicilina G 20-24MU IV dividido em 6 tomas ou Ceftriaxone 2g
Origem dentária
Actinomyces 8/8h IV ou Cefotaxima 2g 6/6h) + Metronidazol 500mg IV 8/8h
MSSA*
Vancomicina 30 mg/Kg/dia, dividido em duas tomas +
Cardiogénica Pneumococo #
Metronidazol 500mg IV 8/8h
H. influenzae
Anaeróbios orais (Penicilina G 20-24MU IV dividido em 6 tomas ou Ceftriaxone 2g
Sinusites
H influenzae 8/8h IV ou Cefotaxima 2g 6/6h) + Metronidazol 500mg IV 8/8h
Ceftriaxone 2g IV 12/12h
Anaeróbios orais
Infecções pulmonares +
Actinomyces
Metronidazol 500mg IV 8/8h
Anfotericina B 0.5-1mg/Kg/d
C. albicans
Fungos ou
Aspergillus&Criptococcus
Anfotericina B lipos. 3mg/Kg/d***
Sulfadiazina (carga de 75mg/Kg, depois 25mg/Kg 6/6h)
+
Pirimetamina (carga de 200mg, depois 100mg/d)
Toxoplasma **** T. gondii
Ou
Trimetropim/Sulfametoxazol (5mg/Kg de Trimetropim + 25mg/Kg
de Sulfametoxazol 2xdia)
* MRSA/MRSE: vancomicina 1g IV 12/12h ou linezolide 600mg IV 12/12h; ** alérgicos a penicilina e à nafcilina podem fazer vancomicina
*** Aumentar até 15mg/Kg/dia, consoante tolerância hepática e renal; **** reduzir dose à metade após 12 semanas de tratamento, se boa resposta terapêutica; ***** Suspeita de Pseudomonas; # Suspeita de
anaeróbios
Em situações onde não é previsível/possível identificar agente etiológico, a terapia inicial recomendada será: ceftriaxone 2g IV 12/12h + vancomicina 30 mg/Kg/dia,
dividido em duas tomas + metronidazol 500mg IV 8/8h.
5-20% recorrem dentro de 6 semanas após final de antibioterapia.
Os abcessos múltiplos, em geral de pequeno volume, são indicação para tratamento médico apenas.
Nota do Dr. Cushing a documentar entusiasmadamente os resultados de uma cultura de abcesso cerebral de criança de 7.5 anos que usou hexametilenetetramina subsequente a drenagem operatória
(13.06.1910).
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A incidência e a severidade da ICD têm vindo a aumentar nos últimos anos. O diagnóstico é baseado numa combinação de sinais e sintomas e confirmado pela evidência
laboratorial da presença de uma estirpe produtora de toxinas. A instituição de terapêutica deve ser baseada na suspeita clínica, resultados dos exames diagnósticos,
gravidade da situação clínica e de se tratar de uma primeira infeção ou de recorrência de infeção prévia.
Relatórios e estudos prévios têm sido críticos quanto aos cuidados prestados aos doentes com ICD, nomeadamente no que se refere à ausência de uma avaliação
multidisciplinar e de reavaliação frequente. Os doentes com ICD apresentam risco aumentado de desequilíbrios hidro-electrolíticos, desidratação, desnutrição e
desenvolvimento de úlceras de pressão.
O uso de fármacos anti-peristálticos está desaconselhado na infeção aguda uma vez que a diminuição da clearance da toxina do C. difficile pode fazer precipitar
situações de megacólon tóxico.
Há vários factores de risco associados ao desenvolvimento de ICD: idade avançada (≥65a), internamento hospitalar prolongado, antibioterapia prévia,
quimioterapia/imunossupressão, manipulação do tubo digestivo.
O factor de risco evitável/modificável mais importante é a exposição prévia a agentes antimicrobianos. Apesar de existirem classe de antibióticos, como as Licosaminas
(Clindamicina) e as Cefalosporinas, mais associadas com o desenvolvimento de ICD, virtualmente qualquer tipo de exposição a terapêutica antimicrobiana,
independentemente da duração e da classe, acarreta risco aumentado de ICD, uma vez que é suprimida a flora intestinal normal com risco de proliferação do
Clostridiumdifficile. Recomenda-se que em casos de ICD suspeita ou confirmada, seja revista a indicação de antibioterapia e se mantida, seja avaliada a possibilidade de
alterá-la para agentes menos associados ao desenvolvimento de ICD.
Há evidência crescente de que o uso de fármacos supressores da secreção ácida, principalmente os Inibidores da Bomba de Protões, seja um factor de risco para o
desenvolvimento de ICD, pelo que deve ser revista a justificação da sua utilização nos doentes afectados.
1
Neste capítulo do manual, o referente ao diagnóstico da ICD é adaptado da norma nº 19/2014 da DGS publicada a 19/12/2014 e actualizada em 24/03/2015 e o
referente às definições clínicas e tratamento é baseado no documento de actualização da guidelinede tratamento da infeção por Clostridiumdifficile publicado em Março
2 3
de 2014 pela ESCMID . As medidas de prevenção e controlo de infeção foram baseadas no artigo Infectioncontrolmeasures to limitthe spread ofClostridium difficile de
Vonberget al, de 2008, adotado como recomendação pela ESCMID. São atribuídas as categorias de evidência de acordo com a classificação utilizada nos respectivos
documentos.
Definições
Íleus Sinais de disfunção gastro-intestinal severa como vómitos, ausência de dejeções e sinais radiológicos de distensão intestinal
Megacólon Tóxico Sinais radiológicos de distensão do cólon (> 6cm de diâmetro transverso) e sinais de resposta inflamatória sistémica grave
Episódio de ICD
Quadro clínico compatível com ICD e evidência microbiológica de toxinas livres e a presença de C. difficile nas fezes sem evidência razoável de outra causa de diarreia
ou
Colite pseudomembranosa diagnosticada em endoscopia, após colectomia ou autópsia
Resposta ao tratamento
Presente quando a frequência das dejeções diminui ou há melhoria da consistência das fezes, os parâmetros de gravidade de doença (clínicos, laboratoriais e
radiológicos) melhoram e não há novos sinais de gravidade de doença*
Qualquer outra situação é considerada falência terapêutica
*A resposta ao tratamento deve ser observada diariamente e avaliada após pelo menos 3 dias. O tratamento com Metronidazol, em particular, pode resultar em resposta clínica só ao fim de 3 a 5 dias. Após
resposta clínica, a consistência das fezes e a frequência das dejeções podem levar semanas até atingirem o normal.
Recorrência de ICD
Quando a ICD re-ocorre até 8 semanas após o início do episódio prévio, assumindo que há resolução dos sintomas do episódio inicial após completar o tratamento
Não é viável, na prática clínica, a distinção entre recorrência de infeção por recaída e recorrência de infeção por re-infeção
ICD severa
ICD com sinais de gravidade clínica
Febre (Temp. Central> 38,5ºC)
Instabilidade hemodinâmica
Insuficiência respiratória com necessidade de ventilação mecânica
Sinais de peritonite ou íleus
Lactato sérico> 5mmol/L
Necessidade de colectomia e/ou
ICD com critérios de mau prognóstico
9
Leucocitose marcada (> 15x10 /L)
Albumina ( < 30g/L)
Elevação Creatinina (> 1,5mg/dL ou> 1,5 vezes o valor prémórbido)
Risco de desenvolver ICD severa
Idade ≥ 65a
Co-morbilidade grave
Admissão em Cuidados Intensivos
Imunodeficiência
Diagnóstico
Nos doentes internados, a requisição de estudo microbiológico de fezes para diagnóstico de ICDdeve ser efectuada nos doentes com diarreia, internados há
mais de 72h, e nos doentes admitidos com diarreia que não pode ser atribuída de forma clara a uma patologia subjacente (ex: colite inflamatória) ou a uma
terapêutica (ex: alimentação entérica, laxantes) (Cat. IB).
Na comunidade, a requisição de estudo microbiológico de fezes deve ser efectuada em todos os doentes com diarreia, com idade igual ou superior a 65 anos
(Cat. IB).
O diagnóstico precoce é essencial para prevenção e controlo da infeção nas unidades de cuidados de saúde. Em situações de suspeita de ICD, o início de
medidas de prevenção e controlo da transmissão cruzada desta infeção e de tratamento dirigido não devem ser adiados até conhecimento do resultado dos
testes laboratoriais.
A seleção dos testes deve ter em conta o tempo de resposta. É importante que o teste esteja disponível durante as 24 horas do dia e durante o fim de semana.
Algoritmo diagnóstico
Amostra de fezes
diarreicas (moldam-
se às paredes do
recipiente
Teste inicial de
rastreio GDH ou
PCR gene Toxina B*
NEGATIVO POSITIVO
Resposta sai Fazer o teste de
negativa confirmação
(na mesma amostra)
NEGATIVO POSITIVO
Resultado equívoco, Resposta sai como:
repetir colheita Clostridium difficile
produtora de toxina
Tratamento
Após o diagnóstico de ICD é mandatória a implementação das medidas de controlo de infeção (ver ponto seguinte).
As recomendações de tratamento da ICD são feitas de acordo com a categorização dos doentes.
ICD severa
Antibioterapia por via oral
Vancomicina 125mg po 4xdia 10 dias (A-I)*
¶
Fidaxomicina 200mg po 2xdia 10 dias (B-I)
§
Terapêutica cirúrgica
A colectomia total com iliostomia deve ser realizada em casos de perfuração do cólon e sinais inflamatórios sistémicos e deterioração clínica que não responde
à antibioterapia inicial (incluindo megacólon tóxico, abdómen agudo e íleus severo)
*Pode ser ponderado aumentar a dose de Vancomicina para 500mg po 4xdia 10 dias (B-II).
¶
Não há evidência que suporte a utilização de Fidaxomicina na ICD muito grave/ameaçadora da vida (D-III)
§
O tratamento cirúrgico deve ser realizado antes que a colite se torne demasiado grave. O Lactato sérico pode ser usado como marcador de gravidade (<5mmol/L)
Algoritmo terapêutico
ICD
Antibioterapia Regimes não Antibioterapia Antibioterapia Regimes não Antibioterapia ICD não severa
oral antibióticos oral oral antibióticos oral - Metronidazol
500mg 3xd ev
10d (A-I)
ICD severa
- Metronidazol - Suspensão - Vancomicina - Terapêutica - Transplante - Vancomicina - Metronidazol
500 mg 3xd de 125 mg 4xd 10d de fecal 125mg 4xd 10d 500mg 3xd ev
10d (A-1) antibioterapia + (C-III) pulso/desmam combinado (A-I) 10d (A-I)
- Vancomicina 48h de - Fidaxomicina e com com regimes - Fidaxomicina +
125 mg 4xd vigilância 200mg 2xd 10d Vancomicina de 200mg 2xd - Vancomicina
10d (B-I) clínica (B-II) (B-II) antibioterapia 10d (B-I) 500mg via
- Fidaxomicina apertada (C-II) - Metronidazol - Fidaxomicina (A-I) entérica 4xd 10d
200mg 2xd 10d 500 mg 3xd 10d 200mg 2xd 10d (B-III)
(B-I) (C-1) (B-II)
- Vancomicina - Tigeciclina 50mg
500 mg 4xd 10d 2xd ev 14d (C-III)
(C-III)
Verde: recomendação forte; Azul: recomendação moderada;
Preto: recomendação marginal
Adaptado de Debastet al, in ClinMicrobiolInfect 2014, Mar;20
Suppl 2:1-26.
A transmissão do Clostridium difficile ocorre maioritariamente por contacto direto e indireto uma vez que os esporos excretados pelos doentes afectados
sobrevivem por meses no ambiente, não são destruídos pelas soluções de base alcoólica usadas para a desinfeção das mãos e apresentam resistência aos
detergentes e alguns desinfectantes usados na limpeza ambiental.
Uma vez identificado um doente com ICD é mandatória a implementação de medidas de controlo de infeção apropriadas de modo a prevenir o alastrar da
infeção no hospital/unidade de saúde.
Educação e comunicação
Qualquer pessoa que entre no ambiente/quarto do doente, incluindo profissionais de saúde e visitas, deve ser educada quanto às características
IA
clínicas, transmissão e epidemiologia da ICD
Medidas de Isolamento
Doentes com ICD representam uma fonte de contágio para outros doentes e devem ser isolados em quarto individual sempre que possível IB
Deve ser disponibilizada uma casa de banho dedicada aos doentes com ICD IB
Se o isolamento em quartos individuais não for possível, deve ser feito isolamento em coorte. Se houver falta de capacidade, deve ser feito isolamento
IB
em enfermarias/unidades
Os doentes isolados em coorte devem ser tratados por pessoal dedicado para evitar o risco de infeção cruzada IB
As medidas de isolamento podem ser descontinuadas 48h após os doentes estarem assintomáticos e o trânsito intestinal for normal II
Higiene das mãos
Para além do uso de luvas, a limpeza meticulosa das mãos com água e sabão é recomendada para todos os profissionais após o contacto com
IB
substâncias corporais, remoção de luvas ou aventais e após qualquer tipo de contaminação
As soluções de base alcoólica não devem constituir as únicas medidas de desinfeção nas mãos no tratamento de doentes com ICD suspeita ou
IB
confirmada
Equipamento de proteção
Os profissionais de saúde devem usar luvas quando em contacto com doentes com ICD – inclui o contacto com substâncias corporais e com o ambiente
IB
contaminado (inclui a vizinhança imediata do doente)
Os aventais e batas devem ser sempre usados nos cuidados aos doentes com diarreia IB
Equipamento médico
Os dispositivos médicos, como por exemplo, as mangas dos esfingmomanómetros, devem ser dedicadas para cada doente IB
Todo o equipamento deve ser de imediato limpo e desinfetado com agente esporicida após o uso num doente com ICD IB
Os termómetros não devem ser partilhados e está desaconselhado o uso de termómetros electrónicos com bainhas descartáveis IA
Sempre que possível deve ser considerado o uso de equipamento descartável IB
Limpeza do ambiente
A desinfeção ambiental dos quartos de doentes com ICD deve ser feita com agentes esporicidas (idealmente com soluções à base de Cloro com
IB
concentrações de, pelo menos, 1000ppm)
As enfermarias devem ser limpas regularmente (pelo menos 1x/dia) com enfoque nas zonas em que há contacto frequente com as mãos IB
O pessoal de limpeza deve ser notificado de imediato após a ocorrência de contaminação com fezes, devendo a limpeza ser feita de imediato IB
As casas de banho, sanitas e arrastadeiras são zonas de maior contaminação e de maior concentração de esporos de C. difficile, pelo que a sua
IB
limpeza deve ser escrupulosa. As arrastadeiras devem ser arrumadas em ambiente seco
Após a alta/transferência de um doente com ICD a limpeza ambiental do quarto/unidade/enfermaria deve ser feita de modo exaustivo IB
Adaptado Lewis, S., Heaton K. 1997. Stool Form Scale as a useful guide to intestinal transit time. Scandinavian JL of Gastroenterology, 32, 920-924
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Isquémia Intestinal
Isquémia do cólon: Redução do fluxo sanguíneo do cólon a um nível insuficiente para manter a função metabólica celular.
É a forma mais frequente de isquémia intestinal. Cerca de 15% dos casos de isquémia do cólon desenvolvem gangrena, associada a elevada mortalidade pelo que é
imperativoum rápido diagnóstico e tratamento. Os restantes casos são normalmente transitórios e resolvem sem sequelas. Alguns destes, podem ter um curso mais
arrastado e desenvolver complicações a longo prazo, como estenose ou colite isquémica crónica.
Reversível
Colopatia: Hemorragia subepitelial e edema (reversão em cerca de 3 dias)
Colite: Mucosa ulcerada, resultante da reabsorção de edema e sangue (reversão demora semanas a meses)
Irreversível
Gangrena
Colite Fulminante
Estenose isquémica
Epidemiologia
Em Portugal, a isquémia do cólon é a principal causa de hemorragia digestiva baixa (HDB) aguda.
Incidência anual: 17.7 casos / 100.000 habitantes (EUA)
Mulheres: 57-76%
Pico de incidência:> 49 anos (aumentando com a idade, mas pode afectar qualquer idade)
Fisiopatologia
(associada a factores de risco como Doença Renal Crónica (DRC) /diálise, Doença Vascular Periférica (DVP), sépsis) apresenta um prognóstico relativamente
sobreponível à isquémia isolada do cólon direito.
Factores de risco
Diagnóstico
Clínica
Cólica súbita, dor abdominal ligeira, urgência rectal e, dentro de 24h, rectorragias, hematoquézias ou diarreia sanguinolenta.
Quando a IC pode ser precursora de IMA (IICD, FA) e a TC é negativa, a angiografia tradicional pode ser considerada.
Rx, enema, ecografia, TC e RMN: todos podem sugerir ou suportar o diagnóstico mas nenhum diagnostica em definitivo
Colonoscopia
Colonoscopia esquerda precoce (até 48h após apresentação) deve ser realizada nos casos suspeitos para confirmar diagnóstico.
Em doentes com IC grave: TC – avaliação da distribuição. Colonoscopia limitada está indicada para confirmar alterações TC – deve terminar na extremidade distal
das alterações.
Biópsias, excepo: gangrena.
Critérios de diagnóstico
Diagnóstico Clínica Colonoscopia Histologia Culturas
IC definitiva Consistente Consistente Consistente Negativa
IC provável Consistente Consistente Não realizada ou negativa em 72h Negativa
IC possível Consistente Alterações não específicas Não realizada ou negativa em 72h Não realizada
Exceções
Com apenas colonoscopia: gangrena
Com histologia: Células fantasma
Na cirurgia: gangrena
Tratamento
Isquémia do cólon moderada a grave (recomendação forte, baixo nível de evidência) dado que reduz a translocação bacteriana e a lesão de reperfusão (diminuindo a
resposta inflamatória local, gravidade e extensão da lesão do cólon).
Regime antibiótico:
Estratificação da gravidade
Factores de risco de mau prognóstico: sexo masculino, TAS <90mmHg, FC> 100bpm, dor abdominal sem HDB, ureia> 50mg/dL, Hb <12 g/dL, LDH> 350 U/L, Na <135
3
mEq/L, Leucocitose> 15 x 10 /µL.
Doença moderada: até 3 factores de risco
Doença grave:
>3 Fatores de risco
Ou um dos seguintes:
Sinais de irritação peritoneal
Pneumatose ou gás venoso portal em exame imagiológico
Gangrena na colonoscopia
Envolvimento isolado do cólon direito ou isquémiapan-colónica no exame imagiológico ou colonoscopia
Algoritmo de abordagem - Avaliação clínica (sinais vitais) e analítica (hemograma, ureia, creatinina, eletrólitos, DHL)
Doença grave
Doença ligeira Doença ligeira (qualquer doente com suspeita clínica e
(sintomas típicos e ≤1 fator de (qualquer doente com suspeita >3 fatores de risco ou um dos
risco significativo clínica e ≤3 fatores de risco seguintes:
-Sinais peritoneais no EO
- Pneumatose ou gás portal no exame
imagiológico
Colonoscopia com biópsia TC abdomino-pévica - Gangrena na colonoscopia
- IICD ou pan-cólica)
IC não-ICD IICCD
Inconsistente com IC Consistente com IC Considerar Considerar Oclusão Considerar angioTC, angioRMN ou
Colonoscopia AngioTC ou vascular angiografia mesentérica
Com biópsia AngioRMN
Fatores de risco de mau prognóstico: sexo masculino, TAS <90 mmHg, FC >100 bpm, dor abdominal sem HDB, ureia >50 mg/dL, Hg <12g/dL, DHL >350 U/L, Na
<135 mEq/L, Leucocitose > 15x103/µL
Legenda: IC – isquémia do cólon, não-ICD – não isolada ao cólon direito, IICD – isquémia isolada ao cólon direito, EO – exame objetivo, TC – to,ografia computadorizada, RMN – ressonância magnética nuclear
Referências
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Administração, 24 h antes da colocação do cateter de Tenckhoff, a todos os doentes, em dose única (salvo se contraindicação (CI))
- Mupirocina pomada
- Ponderar antibioterapia tópica com Gentamicina colírio e/ou antibioterapia per os (PO) empírica (vide adiante).
- OS com drenagem purulenta:
Terapêutica antibiótica empírica até resultados de culturas + Teste de sensibilidade aos antimicrobianos (TSA):
Se suspeita de infeção atual ou história prévia de infeção por microrganismo Gram negativo, adicionar:
- Alternativa: Ceftazidima 1 g IP id
Alterar terapêutica consoante TSA (Tabela 1), com duração mínima de 2 semanas de tratamento.
Nas infeções com resolução lenta ou por Staphylococcusaureusmeticilino-resistente (MRSA) sem resposta à terapêutica dirigida:
Monitorização do tratamento:
- Terapêutica durante mais de 3 semanas e/ou infeção do túnel, sem resposta à antibioterapia dirigida:
- Remoção do cateter peritoneal + pausa peritoneal (mínimo 2 semanas) antes da colocação de novo cateter
- Diagnóstico:
Contagem de leucócitos no efluente> 100/μL (tempo de permanência mínimo de 2 horas), com pelo menos 50% de neutrófilos.
Se tempo de permanência curto: polimorfonucleares > 50%, mesmo que a contagem células < 100/μL.
- Tratamento:
Terapêutica antibiótica empírica até resultados de culturas + Teste de sensibilidade aos antimicrobianos (TSA):
- Aminoglicosídeos incompatíveis com penicilinas (embora Aminoglicosídeos e Cefalosporinas compatíveis na mesma solução).
- Solucões contendo icodextrinacompatíveis com Vancomicina, Cefazolina, Ampicilina, Cloxacilina, Ceftazidima, Gentamicina e Anfotericina.
Alterar terapêutica consoante TSA (Tabelas 2 e 3), com duração mínima de 2 semanas de tratamento (3 semanas se peritonite grave)
Tabela 2. Antibioterapia frequente da peritonite e dose intermitente vs contínua, em doentes em programa de Diálise Peritoneal Contínua Ambulatória (DPCA). Em
doentes com diurese residual pode ajustar-se a dose.
Antibiótico Dose
20mg/kg dia
Cefazolina
(permanência longa)
30mg/kg (permanência longa)
Vancomicina Repetir 15mg/kg (permanência longa)
3-5 dias (nívelsérico> de 15ug/mL)
Fluconazol 200 mg 24 a 48 horas
Tabela 3. Antibioterapia frequente da peritonite e dose intermitente vs contínua, em doentes em programa de Diálise Peritoneal Automática (DPA). Em doentes com
diurese residual pode ajustar-se a dose.
Recorrente Um episódioo até 4 semanas antes do fim da terapia mas causada por um organismo diferente
Um episódioo até 4 semanas antes do fim da terapia causado pelo mesmo organismo ou 1 dos episódios tem cultura
Recidiva
negativa
Repetida Um episódio 4 semanas após do fim da terapia e causada pelo mesmo organismo
Peritoniteassociada a cateter Peritonite que ocorre ao mesmo tempo de uma infeção do OS pelo mesmo organismo ou se 1 dos OS tem cultura negativa
- Monitorização:
Peritonite refratária:
- Remoção do cateter peritoneal. Ponderar colocação de novo cateter no mesmo tempo cirúrgico.
- Remoção do cateter peritoneal + pausa peritoneal (mínimo 2 semanas) antes da colocação de novo cateter.
- Se recidivante – Remoção do cateter peritoneal ecolocação de novo cateter no mesmo tempo cirúrgico.
- Ampicilina 125 mg/L IP em cada troca, quando o microrganismo for sensível (mesmo se Enterococcus resistente à Vancomicina).
- Um Aminoglicosídeo (administrado IP uma vez ao dia na dose de 20 mg/L) pode ser adicionado para sinergismo.
- Excluir infeção do OS do cateter. Se presente - Remoção do cateter peritoneal + pausa peritoneal (mínimo 2 semanas) antes da colocação de
novo cateter.
- Uma quinolona oral pode ser utilizada como um dos dois antibióticos
- Excluir infeção do OS do cateter. Se presente - Remoção do cateter peritoneal + pausa peritoneal (mínimo 2 semanas) antes da colocação de
novo cateter.
Referências
Este documento consiste em recomendações de especialistas da área do Transplante Renal. Não dispensa a avaliação médica individual, nem pretende substituir o juízo
médico de cada caso particular, tendo sempre em conta o melhor interesse do doente.
O cumprimento integral ou parcial destas recomendações deverá ser realizado sempre após decisão médica e adaptado às circunstâncias particulares do doente em
questão.
Classificação da evidência
A Infeção do Tracto Urinário (ITU) é a infeção mais comum no pós transplante renal, e a maior causa de morbilidade e mortalidade associada aos transplantados renais.
Está aliada à degradação da função do enxerto, perda do enxerto, sepsis e morte.
Os agentes microbianos implicados na ITU em transplantados renais são similares ao da restante população.
Os organismos Gram-negativos são os mais frequentes (56-90%), com claro domínio de frequência para a Escherichiacoli. Outros uropatogenes Gram-negativos
comumente reportados são a Pseudomonas aeruginosa, Enterobactercloacae, Klebsiellapneumoniae e Klebsiellaoxytoca.
Os Factores de Risco para ITU nos transplantados renais, podem ou não estar diretamente relacionados com o transplante:
- Idade avançada
- Género feminino
- Refuxovésico-ureteral prévio ao transplante
- Diabetes mellitus
- Transplante reno-pancreático
- Re-transplante
- Administração de globulina antitimocítica
- Cateterização vesical
- Desenvolvimento de rejeição do enxerto e subsequente aumento da imunossupressão
- Stent uretral
Por definição a ITU sintomática no transplantado renal é considerada complicada, uma vez que apresentam não só anormalidades estruturais do tracto genito-urinário,
como também imunossupressão necessária à qual está subjacente o aumento do risco para aquisição de infeções e falência terapêutica.
As manifestações clínicas
- Polaquíúria - Febre
Ocasionalmente, os transplantados renais podem não apresentar sinais ou sintomas de ITU devido à terapêutica imunossupressora e aloenxerto sem
enervação.
Nesses doentes a infeção é detectada pela avaliação analítica e exames microbiológicos.
Os doentes transplantados com ITU apresentam na avaliação da urina nitritos, eritrocitúria, proteinúria e piúria (isto é, pelo menos 10 leucócitos num campo de grande
ampliação).
Hemoculturas são frequentemente positivas nas pielonefrites, mas não nas cistites não complicadas.
O diagnóstico diferencial de doentes com suspeita de pielonefrite é a rejeição aguda do enxerto. A presença de febre e dor é mais a favor de pielonefrite do que
rejeição aguda, mas também pode estar presente na rejeição. A piúria e bacteriúria são incomuns na rejeição. A rejeição aguda é sugerida por aumento da creatinina e
proteinúria de novo ou o seu agravamento. A Hipertensão é comum nos doentes com rejeição aguda, mas não em doentes com ITU.
Ocasionalmente pode coexistir a rejeição do aloenxerto e ITU, pelo que perante elevação da creatinina, proteinúria de novo e hipertensão, que persistem apesar da
antibioterapia, deve ser considerado uma biopsia do enxerto renal.
Remoção do cateter duplo J colocado no momento do transplante renal, logo que possível, sem ultrapassar as 4 semanas. (Nível de Evidência - III)
Evicção de Cateter Vesical e remoção ou substituição em caso de infeção (Nível de Evidência - III)
Profilaxia
A profilaxia antibiótica deve ser realizada durante os primeiros 6 a 12 meses dos pós transplante renal (Grau de Evidência I)
Trimetoprim-sulfametoxazol 800+80mg, via oral, toma única
Nos doentes alérgicos, com Nitrofurantoína 100mg, via oral, toma única diária
O uso da profilaxia antibiótica com Trimetoprim-sulfametoxazol demonstrou uma redução estatisticamente significativa da frequência das ITU bacterianas.
O uso da Ciprofloxacina também parece ser efetivo na prevenção da ITU, mas sob este regime os transplantados renais encontram-se em risco de
desenvolver pneumonia por Pneumocystisjirovecii, pelo que o uso de Trimetoprim-sulfametoxazol é preferível. Além disso é preterida para limitar o
aparecimento de resistências.
Alguns autores recomendam o uso de antibioterapia com Trimetoprim-sulfametoxazol de forma indefinida, mas não existem dados que revelem
benefícios clínicos além dos primeiros 9 meses pós-transplante. A profilaxia indefinida tem em vista não só a redução das ITU mas também a prevenção
de infeções oportunistas.
Esta terapêutica aumenta o risco de infeções (bacteriana, fúngica, viral e protozoária) e reativação de infeções (em particular o Citomegalovirus).
A profilaxia deve ser feita com Trimetoprim – sulfametoxazol, 800mg/160mg, toma única diária.
Os doentes transplantados renais com ITU recorrente (isto é, com 3 ou mais ITU por microorganismos diferentes em 12 meses) ou recidivante (isto é, ITU
resultante da não erradicação da infeção original) requerem investigação adicional para identificação da causa de recorrência, para correção e prevenção de
novas infeções.Devem ser excluídos: obstrução, refluxo vesico-ureteral, estrangulamento na junção ureterovesical e bexiga neurogénica.
O exame de primeira linha é a ecografia renal e bexiga. Nos casos de ecografia sem alterações, pode ser ponderada a tomografia computadorizada (TC),
cistoscopia (flexível ou rígida) ou estudos urodinâmicos.
Os transplantados renais devem ser rastreados por rotina para ITU com análise de urina e urocultura, uma vez que a infeção pode ser assintomática.
O diagnóstico de ITU é feito nos transplantados renais com sinais e sintomas característicos e análise de urina sugestiva (presença de nitritos, eritrócitos,
proteínas e piúria).
Perante um caso sugestivo de ITU deve ser colhida uma urocultura (Grau de Evidência III)
Na suspeita de ITU complicada devem ser colhidas 2 hemoculturas (são muitas vezes positivas na pielonefrite, mas não nos doentes com cistite não complicada)
(Grau de Evidência III)
Após completar antibioterapia está recomendado repetir a avaliação analítica e microscópica da urina e urocultura (Grau de Evidência III)
Avaliação imagiológica com ecografia abdomino-pélvica em doentes com ITU deve ser realizada (Grau de Evidência III):
A eficácia de cursos de curta duração de antibioterapia - dose única ou 3 dias - não está recomendada em transplantados (Grau de Evidência - III)
Duração da antibioterapia deve ser de pelo menos 6 semanas (Grau de Evidência - III)
Avaliação imagiológica para identificação de possível nicho e causas (Grau de Evidência - III)
A Ciclosporina e o Tacrolimus são metabolizados pelo sistema enzimático citocromo P-450. Fármacos que induzem, inibem ou competem pela mesma enzima podem
afetar os níveis sanguíneos destes agentes imunossupressores.
Trimetoprim-sulfametoxazol
Aminoglicosideos
Rifampicina
Macrólidos (eritromicina)
Quinolonas
O Trimethoprim-sulfametoxazol em baixas doses não provoca interacções adversas com a Ciclosporina, contudo em doses elevadas podem resultar num sinergismo de
nefrotoxicidade.
Outros antibióticos promovem a toxicidade da Ciclosporina e do Tacrolimus, como a Gentamicina. A Rifampicina e Eritromicina também interagem com os inibidores
calcineurina, aumentando a síntese de citocromo p45 e inibindo o metabolismo hepático da ciclosporina.
Monitorização apertada dos níveis de imunossupressores (Grau de Evidência III).
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Introdução
A infeção do trato urinário (ITU) é uma das infeções bacterianas mais frequentes nas crianças.
Atualmente, face à vacinação contra o hemophilusinfluenzae tipo b, meningococo, e pneumococo a pielonefrite aguda é a causa mais frequente de infeção bacteriana
grave em crianças com idade inferior a 36 meses com febre sem foco.
A prevalência global de ITU é 7% em lactentes e crianças pequenas (mas varia com idade, raça/etnia, sexo e circuncisão).
Mais frequente no sexo masculino até aos 3 meses e com aumento progressivo e predomínio no sexo feminino a partir de um ano de idade.
As ITU são uma importante causa de morbilidade aguda e crónica nas crianças, pelo que é fundamental o diagnóstico correto e precoce, e o tratamento adequado. A
cicatriz renal é uma das sequelas mais comuns (10-15%) e a longo prazo podem-se relacionar com HTA, proteinúria, diminuição da função renal e IRC terminal.
Definição
Infeção do trato urinário (ITU) - Crescimento de microrganismos no trato urinário (estéril) associado a sintomatologia clinica compatível. Do ponto de vista prático a
infeção com atingimento do parênquima renal denomina-se de pielonefrite aguda e quando não existe afetação renal denomina-se de infeção do trato urinário inferior ou
cistite.
Bacteriúria assintomática - Colonização da urina com o mesmo microrganismo com um número significativo de colónias ≥ 2 amostras de urina e na ausência total de
sintomas urinários e sistémicos, nem sinais de reação inflamatória das vias urinárias. Ocorre em 1-3% dos lactentes e crianças com idade pré-escolar e 1% crianças mais
velhas.
ITU simples/não complicadas: infeção causada por um agente usual num doente sem anomalias anatómicas ou funcionais do trato urinário, com função renal normal e
sem instrumentação urológica recente.
ITU complicada: infeções que ocorrem em doentes com alterações anatómicas ou funcionais do trato urinário; associada a sépsis; com massaabdominal ou vesical;
debito urinário reduzido; aumento da creatinina sérica; ausência de resposta à antibioterapia nas primeiras 48-72h e/ou ITU por um microrganismo diferente da E. coli.
Factores de risco para ITU: anomalias do trato urinário (atraso do fluxo urinário) – RVU dilatado, fimose nos lactentes, disfunção e estreitamento do trato urinário inferior
(jato urinário diminuído), instrumentação da via urinária, bexiga neurogénica e nefrolitíase.
Manifestações clínicas
Qualquer caso de suspeita de ITU requer a confirmação analítica pela sua inespecificidade diagnostica (sinais e sintomas clínicos inespecíficos), principalmente nas
crianças mais pequenas. A febre sem foco é manifestação clinica mais frequente nas crianças com idade pré-verbal (sendo responsável por 5-7% dos quadros febris em
crianças <3 anos e 18-20% nos meninos <3 meses e 15% nas meninas> 12 meses).
Em crianças pequenas podemos ter sintomas inespecíficos como febre elevada (T> 39ºC), prostração, irritabilidade, vómitos e recusa alimentar. Nas crianças mais
velhas (idade verbal) podemos ter sintomas urinários (polaquiúria, disúria, urgência miccional, incontinência urinária) associados ou não a febre e dor abdominal e/ou
lombar.
Etiologia
O agente mais frequente implicado na ITU na idade pediátrica é a Escherichiacoli, sendo responsável por mais de 75% das ITU totais e 90% nas infeções não
complicadas.
Os restantes microrganismos são responsáveis pelas ITU atípicas (maior risco de se acompanharem de patologia subjacente), são pouco frequentes e nenhum deles
chega, por si só, aos 5% das ITU. Entre eles destacam-se as enterobactérias como a Klebsiella, Proteus, Enterobacter, Pseudomonas aeruginosa e Enterococcus. O
Staphylococcuscoagulasenegativo pode originar ITU no recém-nascido e o Staphylococcussaprophyticusem mulheres jovens e adolescentes.
Diagnóstico
O diagnóstico correto da ITU em crianças é necessário para assegurar a terapêutica adequada e follow-up adequado, e deste modo evitar terapêutica e internamento
desnecessários e uma investigação mais aprofundada desnecessária.
O diagnóstico de ITU deve ser baseado nos resultados da análise sumaria da urina sugestivos de infeção e a presença de uma urocultura positiva.
Os parâmetros a valorizar na amostra de urina centrifugada, havendo suspeita de ITU, são os bioquímicos (esterase leucocitária e nitritos) e o exame microscópico
(contagem de leucócitos e bactérias).
Os critérios de diagnóstico de IU em função da positividade microbiana em colónias/mL variam conforme o modo de colheita da urina em condições de assepsia: Jacto
5 4 3
médio - ≥10 colónias/mL; Cateterismo transuretral - ≥ 10 colónias/mL; Punção vesical - ≥1 colónias/mL se Gram negativo e ≥10 colónias/mL se Gram positivo.
A escolha do método de colheita da amostra urinária depende da idade da criança (com controlo ou não de esfíncteres) e se a situação clinica requer um diagnóstico
urgente (estado tóxico).
O jato urinário médio é o método de eleição nas crianças com controlo de esfíncteres.
Nas crianças sem controlo de esfíncteres a amostra pode ser colhida por vários métodos:
Saco coletor – método não invasivo inicial em situações não urgentes para análise sumária da urina. Não é recomendado para obtenção de amostras de urina para
cultura devido ao elevado número de falsos positivos (contaminação), levando a intervenções desnecessárias. Deste modo, outra amostra deverá ser recolhida por
métodos invasivos se a amostra urinária do saco coletor sugerir ITU (nitritos positivos, mais do 5 leucócitos por campo de alta ampliação ou a presença de bactérias no
GRAM).
Cateterismo vesical
Punção suprapúbica (principalmente se rapazes não circuncisados com fimose, meninas com aderência labiais, crianças <6 meses, várias tentativas de algaliar e ainda
no caso de uretra de difícil visualização)
A presunção do diagnóstico de infeção do trato urinário superior é feita pela presença de sinais indiretos de envolvimento renal (febre, Murphy renal, leucocitose com
neutrofilia, aumento da PCR, PCT ou VS), contudo não diferenciam de forma fiável entre as crianças com cistite e crianças com pielonefrite aguda devido à sua baixa
sensibilidade e/ou especificidade. O diagnóstico definitivo é dado pela Cintigrafia renal (DMSA).
Tratamento
Considerações gerais
A antibioterapia é instituída de forma empírica, após colheita de amostra para urocultura e, logo que possível ajustada de acordo com o resultado do teste de
sensibilidade aos antibióticos.
De forma a optimizar as opções terapêuticas deveremos ter em conta vários fatores nomeadamente: os agentes patogénicos mais prevalentes em cada região; padrões
de resistência local; características do hospedeiro (agentes mais frequentes de acordo com o grupo etário; gravidade do quadro clínico; existência de patologia nefro-
urológica; terapêuticas antibióticas previamente instituídas) e ainda a farmacocinética e farmacodinâmica dos antibióticos (bactericida, boa concentração urinaria, menor
efeitos secundários e baixa capacidade de induzir o aparecimento de estirpes resistentes).
Não está recomendado o tratamento por rotina da bacteriúria assintomática. Apenas se patologia nefro-urológica ou doença crónica que condicione maior
susceptibilidade a infecções.
Via de administração
A via de administração oral é a recomendada na maioria das situações exceto se recém-nascido, numa infeção grave com compromisso do estado geral, na presença de
patologia nefro-urológica grave e na intolerância da via oral, em que a via endovenosa está preconizada.
A duração do tratamento varia entre os 7 e os 14 dias. A sociedade Portuguesa de Infeciologia Pediátrica recomenda o tratamento da ITU febril por um período de 10
dias e 7 dias na cistite. A terapêutica por via parentérica pode ser substituída por terapêutica oral após o conhecimento do TSA e/ou após 24-48 horas de apirexia,
melhoria clínica significativa e tolerância oral.
Se às 48 horas não se verificar melhoria clínica, impõe-se revisão clínica, analítica e imagiológica.
Não está indicada urocultura de controlo às 48-72 horas ou após cumprimento da terapêutica se evolução clínica favorável.
Não estão indicadas uroculturas de controlo na sequência de ITU em crianças assintomáticas, seguidas em ambulatório.
Critérios de Internamento
- Idade ≤ 3 meses;
- Mau estado geral;
- Intolerância oral;
- Más condições socio-familiares;
- Malformações do sistema urinário: RVU, uropatia obstrutiva, displasia renal, rim único.
- Ausência de resposta e/ou agravamento clínico em criança já medicada com antibiótico oral.
Fármacos de eleição
Cistite
Idade/condição Terapêutica
Lactente (1M-3M) Cefuroxime (75-150 mg/kg/dia – Aminoglicosídeo (gentamicina 10 dias
8/8h) 4-5 mg/kg/dia – 24/24h)
Lactentes (> 3M) e Ambulatório Cafalosporina 2ª geração 10 dias
criança (Cefuroxime axetil 30-40 mg/kg/dia – 12/12h)
Ou
Amoxicilina/clavulânico (80-100 mg/kg/dia – 8/8h)
Internamento S/ fatores de risco Cefuroxime (100-150 mg/kg/dia – 8/8h) 10 dias
Ou
Amoxicilina/clavulânico (150 mg/kg/dia – 8/8h)
C/ fatores de risco Cefuroxime (100-150 mg/kg/dia – Aminoglicosídeo (gentamicina 10 dias
8/8h) 4-5 mg/kg/dia – 24/24h)
Referências
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Shaikh N, Hoberman A. Urinary tract infections in infants and children older than one month: Clinical features and diagnosis. Uptodate, 2015
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NICE clinical guideline 54 – UTI in children – Surveillance Review Decision October 2013
Norma da DGS 008/2012: Diagnóstico e Tratamento da Infeção do Trato Urinário em Idade Pediátrica. 2012
Tratado de Clínica Pediátrica, João M Videira Amaral, 2ª edição, 2013
A quimioterapia citotóxica pode causar neutropenia severa e prolongada, podendo ser fatal.
A maioria dos doentes neutropénicos tem depressão da sua resposta inflamatória, estando muitas vezes ausentes sinais e sintomas de infeção. A febre, por vezes, é o
único sinal presente.
A antibioterapia no doente neutropénico febril, deve ser iniciada precocemente, de forma a reduzir a morbilidade e mortalidade.
Definições
3 3
Neutropénia: neutrófilos < 500cél./mm ou diminuição previsível < 500 cél./mm nas próximas 48h
3
Neutropénia profunda/severa: neutrófilos ≤ 100 cél./mm por mais de 7 dias
3
Neutropénia Febril: neutrófilos < 1000cél./mm + Temperatura oral ≥ 38.3ºC ou Temperatura oral ≥ 38ºC mantida no período de 1h + suspeita clínica de sépsis ou sinal
clínico suspeito de infeção mesmo na ausência de febre
Estratificação de Risco
Empírica
* Co-Morbilidades:
- Instabilidade hemodinâmica;
- Mucosite oral ou gastrointestinal que interfere com a deglutição ou causa diarreia grave;
- Sintomas gastrointestinais, incluindo dor abdominal, náuseas, vómitos ou diarreia;
- Alterações neurológicas ou do estado mental de novo;
- Infeção de cateter intravascular;
- Infiltrados pulmonares de novo, hipoxémia ou antecedentes de DPOC.
- Disfunção renal (clearance creatinina <30mL/min) e hepática (aminotransferases> 5x o valor normal) Critério de alto risco.
Formal
Características Score
Estado de doença (tipo de neoplasia e doença actual)
- Sem sintomas ou moderados 5
- Sintomas moderados 3
- Sintomas severos 0
* Score total máximo teórico de 26 Sem hipotensão (TAS> 90 mmHg) 5
MASCC score ≥ 21 Baixo Risco Sem DPOC 4
MASCC score <21 Alto Risco
Sem infecção fúngica prévia 4
Sem desidratação que requer fluidoterapia EV 3
Doente em ambulatório quando inicia febre 3
Idade <60 anos 2
História Clínica e Exame Físico: detalhados e dirigidos aos sistemas de maior probabilidade de infeção. Recomenda-se a procura de quimioprofilaxia, infeções
bacterianas ou fúngicas prévias, transfusões prévias de derivados sanguíneos, exposição a infeções e causas não infeciosas de febre. Salienta-se a pesquisa de co-
morbilidades.
Exames Complementares de Diagnóstico
Parâmetros Laboratoriais
Hemograma (com contagem diferencial de leucócitos e plaquetas) e Bioquímica geral: ureia, creatinina, clearance da creatinina, AST, ALT, GGT, FA, LDH, CK,
bilirrubina total, ionograma, magnésio, fósforo, cálcio, proteínas totais, albumina, PCR*, pró-calcitonina.* (A-III)
* Os estudos demonstram resultados inconsistentes quanto ao uso dos marcadores inflamatórios PCR e pró-calcitonina, nos doentes neutropénicos e com
neoplasia, pelo que à data, não é possível efetuar recomendações para a sua utilização.
Exames Culturais
- Zaragatoa para despiste de MRSA nasal (segundo protocolo do SESARAM EPE)
- 2 Hemoculturas (20 mL) (A-III)
Com CVC: 1 hemocultura de cada lúmen + 1 hemocultura de venopunção periférica aeróbio e anaeróbio
Sem CVC: 2 hemoculturas de diferentes venopunções aeróbio e anaeróbio
Persistência de febre após antibioterapia empírica: 2 hemoculturas (CVC ou periféricas) nas 48h seguintes
- Exames culturais dirigidos a outros focos com suspeita de infeção: fezes (especialmente nos doentes com diarreia - atenção à infeção por Clostridium difficilie –
pesquisa de toxina; a pesquisa de bactérias, ovos e parasitas nas fezes é limitada), urina, líquido cefalorraquidiano, pele, amostras respiratórias (lavado
broncoalveolar, secreções brônquicas). (A-III)
Imagiologia
- Se sinais e sintomas respiratórios Rx Tórax posteroanterior (A-III)
- Outros exames dirigidos ao foco de infeção (TAC, Ecografia)
Antibioterapia Empírica
Objetivo:
Prevenção de morbi/mortalidade grave por infeções bacterianas, até ao conhecimento dos resultados dos exames culturais, de modo a efetuar posteriormente, uma
antibioterapia dirigida ao agente etiológico da infeção.
Cobertura antibiótica para os agentes mais frequentes da Febre Neutropénica:
Gram Staphylococcus coagulase negativos, Staphylococcus aureus incluindo MRSA, Enterococcus species incluindo estirpes resistentes à vancomicina – VRS,
Streptococcus do grupo viridens, Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogens
Gram Escherichiacoli, Klebsiella species, Enterobacter species, Pseudomonas aeruginosa, Citrobacter species, Acinectobacter species, Stenotrophomonas
maltophilia
Doses e Posologia
No alargamento do espectro da antibioterapia nos doentes de alto risco ou com infeção documentada e sem resposta à terapêutica, está contemplada a associação de
aminoglicosídeos.
A pesquisa de toxina para Clostridiumdifficilae é recomendada na persistência de febre e diarreia. Deverá ser iniciado metronidazol ou Vancomicina orais, se a clínica for
sugestiva. As coproculturas para pesquisa de bactérias, ovos e parasitas não estão contempladas.
Deverá ser excluído fontes não infeciosas como causa de febre, como por exemplo, febre relacionada com fármacos, trombloflebite, neoplasia em atividade, reabsorção
de hematoma.
Infeções Documentadas
A identificação clínica ou microbiológica de um microrganismo deverá permitir a adequação antibiótica (de acordo com o mapa microbiológico local e teste de
sensibilidade).
Pneumonia
Tratar como infeção adquirida em cuidados de saúde (doentes imunossuprimidos ou que receberam antibioterapia nos 90 dias prévios) risco elevado de
microrganismos multirresistentes.
Efetuar lavado broncoalveolare biópsia pulmonar, sempre que possível.
Antibioterapia combinada com β-lactâmicos ou carbapenem associado a aminoglicosídeos ou fluoroquinolonaanti-pseudomona.
Nos casos graves, ponderar associação de vancomicina ou linezolide (suspeita de MRSA).
Enterocolite Neutropénica
Tratar em monoterapia com piperacilina+tazobactam /carbapenem ou combinação comcefalosporinaanti-pseudomonas com metronidazol. Ponderar exame imagiológico
(TAC-Abdominal).
Duração da Antibioterapia
A duração da terapêutica depende do foco de infeção e/ou do tipo de microorganismo os antibióticos devem ser mantidos pelo menos durante a neutropénia (< 500
3
cél./mm ) e/ou apiréxia (>2 dias) ou mais, se clinicamente necessário. (B-III)
3
Nos doentes que finalizam o curso terapêutico apropriado com resolução de todos os sinais e sintomas de infeção, mas persistência da neutropénia (< 500 cél./mm ),
pode ser iniciado uma fluoroquinolonaprofilática até recuperação medular. (C-III)
Antibioterapia Profilática
Recomenda-se nos doentes de alto risco com neutropénia profunda esperada. (B-I)
A levofloxacina e a ciprofloxacina são equivalentes (se mucosite oral, com risco de infeção por Streptococcusviridens, preferir a levofloxacina) necessário monitorizar o
desenvolvimento de resistências às fluoroquinolonas nos Gram . (A-II)
Não está recomendada nos doentes de baixo risco. (A-III)
Também não está recomendada a associação de um agente ativo contra Gram +. (A-I)
Baixo Risco
O risco de infeção fúngica invasiva é baixo pelo que não está recomendado o uso de terapêutica anti-fúngica empírica por rotina. (A-III)
Alto Risco
Deve ser iniciada se febre persistente ou recorrente após 4-7 dias de antibioterapia, mesmo sem evidência de infeção fúngica invasiva (Ecografia Abdominal, TAC-
Torácica e/ou seios nasais e testes serológicos com o Ag Galactomannan (não disponível no SESARAM-EPE) negativos) e com neutropénia profunda esperada> 7 dias.
(A-I)
Os dados dos estudos são insuficientes para recomendar qual o anti-fúngico para o doente que já se encontra com profilaxia para fungos filamentosos. É desejável a
alteração para outra classe de anti-fúngico. (B-III)
É aceitável uma terapêutica anti-fúngicapreemptiva em alternativa à terapêutica empírica, num subgrupo de doentes de alto risco (manutenção da febre por 4-7 dias, sob
antibioterapia de largo espectro, com estabilidade hemodinâmica, sem sinais clínicos ou imagiológicos de tórax ou seios nasais de infeção fúngica invasiva, associando-
se aos imunoensaios serológicos* também negativos). (B-II)
Doses e Posologia
Caspofungina: dose carga - 70mg EV no D1, seguido de 50mg EV/dia
Voriconazol: dose de carga - 6mg/Kg EV a cada 12h no D1, seguido de 4mg/Kg EV a cada 12h
Anfotericina B (complexo lipídico): 5mg/Kg EV/dia
Anfotericina B (lipossómica): 3 a 5mg/Kg/EV/dia
Terapêutica anti-fúngicaprofilática
Baixo Risco
Não está recomendada a profilaxia com anti-fúngico nos doentes com neutropénia esperada < 7 dias. (A-III)
Alto Risco
Está recomendada nos recetores de transplante alogénico de células progenitoras hematopoiéticas, doentes submetidos a esquema de remissão/indução ou QT de
resgate nas leucemias agudas – fluconazol, itraconazol, voriconazol, micafungina e caspofungina, são alternativas. (A-1)
A profilaxia de infeção por Aspergilus está indicada nos doentes selecionados sob esquemas de QT intensiva por leucemia aguda ou síndromes mielodisplásicos, ≥ 13
anos, cujo risco de Aspergilose Invasiva sem profilaxia é elevado. (B-1) O Voriconazol e a Caspofungina são alternativas eficazes. Baseados nos estudos de eficácia da
Caspofungina, as outras equinocandidas, Anidulafungina e Micafungina, também são igualmente eficazes.
Não está preconizada nos recetores de pré-transplante alogénico e no transplante autólogo de células progenitoras hemtopoiéticas por não ser eficaz, exceto se
episódios prévios de Aspergilose Invasiva (A-III), neutropénia antecipada prolongada por uma período> 2 semanas (C-III) ou período prolongado de neutropénia
imediatamente antes do transplante. (C-III)
Profilaxia/tratamento anti-viral
Doentes sero-positivos para HSV submetidos a transplantes de células progenitoras hematopoiéticas ou QT para leucemia aguda devem receber terapêutica profilática
com aciclovir. (A-I)
O tratamento para HSV ou VZV só está indicado se evidência clínica e laboratorial de doença viral ativa. (C-III)
Vírus Respiratórios
O rastreio serológico para os vírus serológicos (Influenza, Parainfluenza, Adenovírus, RSV e Metapneumovírus Humano) associado à radiologia de tórax convencional só
está indicado se sintomas de infeção do trato respiratório superior. (B-III)
A vacinação anual para o vírus influenza com a vacina inativada está recomendada em todos os doentes sob tratamento para doença maligna (A-II). O timing de
vacinação não está estabelecido porém a resposta serológica parece ser maior entre os ciclos de QT (> 7 dias após o último tratamento ou> 2 semanas antes do início da
QT). (B-III). O tratamento para a infeção do vírus influenza está preconizada com inibidores da neuramidase se estirpe suscetível. (A-II) O tratamento para o RSV não
está preconizado. (B-III)
O uso profilático destes fatores deve ser considerado nos doentes submetidos a QT em que o risco antecipado de febre e de neutropénia é ≥ 20%. (A-II) A sua utilização
não está recomendada no tratamento da neutropénia febril já estabelecida. (B-II) A sua utilização também é discutível nas doenças hemato-oncológicas da série mielóide.
São comuns nos doentes com febre neutropénia. Se as HC’s de CVC forem positivas cerca de 120min. antes das HC’s periféricas, é muito provável que o CVC seja a
fonte de bacteriémia. (A-II)
Para além da antibioterapia é essencial efetuar a remoção do CVC no caso de positividade para estes agentes: Staphylococcusaureus, Pseudomonas aeruginosa,
Candidaspecies, outros fungos, micobactérias não tuberculosas de rápido crescimento. (A-II)
A administração da antibioterapia deve ser prolongada aos 14 dias (no mínimo) após remoção do CVC e negativação das HC’s. A antibioterapia pode ser prolongada às
4-6 semanas nas infeções complicadas associadas a CVC (infeção profunda de tecidos moles, endocardite, trombose séptica, bacteriémia/fungémia persistente após>
72h de remoção do CVC em doente sob antibioterapia dirigida; infeção a Staphylococcusaureus). (A-II)
A remoção do cateter também é recomendada naqueles tunelizados, trombose séptica, endocardite, sépsis com instabilidade hemodinâmica e bacteriémias que
persistem por + de 72h após antibioterapia apropriada, mesmo após o isolamento de outros microorganismos (não os supracitados). (A-II)
Na bacteriémia associada a CVC por agentes Staphylococcuscoagulase negativos, o CVC pode ser mantido, devendo ser iniciado antibioterapia empírica. (B-III)
A higiene das mãos, precauções máximas de barreira estéreis e utilização de soluções anti-sépticas com clorohexidina durante a inserção do CVC são fundamentais. (A-
I)
Bibliografia
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Bow Eric and Wingard John R. Overview of Neutropenic fever Syndromes. UpToDate 2015
Bow Eric. Treatment and prevention of neutropenic fever syndromes in adult cancer patients at low risk of complications. UpToDate 2015
Wingard John R. Treatment of neutropenic fever syndromes in adults with hematologic malignancies and hematopoietic cell transplants recipients (high risk
patients).UpToDate 2015
Prophylaxis of infection during chemotherapy-induced neutropenia in high-risk adults. Prophylaxis of infection during chemotherapy-induced neutropenia in high-risk
adults.UpToDate 2015
6 - IDSA Guidelines: Clinical practice guidelines of the use of antimicrobial agents in neutropenic patients with cancer: 2010 update by the Infectious Disease Society of
America
Introdução
O CMV é um vírus com DNA dupla-cadeia da família Herpesviridae. Clinicamente pode apresentar-se como:
- Infeção primária: assintomática, sintomas inespecíficos
- Infeção latente: vírus entra num estado quiescente, podendo ser reativado
1-
A imunidade celular (linfócitos T CD4+, CD8+ e Natural Killer) tem um papel de destaque na proteção contra a reativação viral. Assim, quadros de disfunção
imunológica, frequentes em doentes de UCI, comprometem a imunidade celular e predispõem para a reativação do CMV. A admissão em cuidados intensivos e a
duração da ventilação mecânica invasiva são fatores de risco conhecidos para reativação do CMV com uma taxa estimada de 15-20%. Adicionalmente a Sépsis, o ARDS,
as transfusões de hemoderivados e corticoterapia, condicionam compromisso imunitário que pode predispor à reativação.
Continua por definir se, nestes doentes, o CMV é patogénico ou apenas um marcador/sintoma de doença. Alguns estudos, contudo, demonstraram aumento da
mortalidade, prolongamento do internamento em UCI e em meio hospitalar e aumento dos dias de ventilação invasiva. Parece, ainda, existir uma relação temporal direta
com a taxa de reativação.
Diagnóstico
O Gold Standard é Polymerase chain reaction (PCR). Esta técnica dá-nos resultados qualitativos e quantitativos e pode ser utilizada para detectar o material genómico
viral em diferentes amostras. PCR das amostras respiratórias é mais sensível, mas deve ser confirmada com PCR do sangue. As recomendações mais recentes da
Organização Mundial de Saúde recomendam um fator de conversão de forma a estandardizar os resultados em UI/mL.
Profilaxia
Não foi demonstrado benefício na profilaxia da reativação do CMV. 60-80% dos doentes vão ser expostos à toxicidade dos antivirais sem necessidade uma vez que em
muitos casos se verificou reativação independentemente da profilaxia.
Tratamento
Farmacocinética/ Administrar em bólus i.v. lento (>1h). Compatível com Dextrose em água,
Farmacodinâmica LR, SF. Necessidade ajuste à função renal. T 1/2 eliminação: 2,5-3,6h, IRC
5-28h. Excreção: Urinária
Referências
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Clari MA, Aguilar G, Benet I, Belda J, Gimenez E, Bravo D, Carbonell JA, Henao L, Navarro D (2013) Evaluation of cytomegalovirus (CMV)-specific T-cell immunity for the
assessment of the risk of active CMV infection in non- immunosuppressed surgical and trauma intensive care unit patients. J Med Virol 85:1802–1810
Ong DS, Klein Klouwenberg PM, VerduynLunel FM, Spitoni C, Frencken JF, Dekker HA, Schultz MJ, Bonten MJ, Cremer OL (2015) Cytomegalovirus seroprevalence as a
risk factor for poor outcome in acute respiratory distress syndrome. CritCareMed 43:394–400
Ong D, Spitoni C, Klein P et al. Cytomegalovirus reactivation and mortality in patients with acute respiratory distress syndrome. Intensive Care Med(2015)
Heininger A, Haeberle H, Fischer I, Beck R, Riessen R, Rohde F, Meisner C, Jahn G, Koenigsrainer A, Unertl K, Hamprecht K (2011) Cytomegalovirus reactivation and
associated outcome of critically ill patients with severe sepsis. CritCare 15:R77
Mapa Microbiológico
Autor: Nuno Canhoto; Teresa Afonso (Serviço de Patologia Clínica - Sector de Microbiologia)
Alta incidência, sendo necessária a intensificação de medidas para a prevenção e controlo deste microrganismo.
MRSA - Consequente resistência a todos os beta-lactâmicos, incluindo carbapenemes.
Ausência de resistência aos glicopéptidos e linezolida.
Klebsiella pneumoniae
Tendência para aumento de estirpes produtoras de beta-lactamase de espectro estendido (BLEE ou ESBL) a partir de 2007, ano em que a percentagem era de 4%, com
grande aumento de incidência em 2014.
Presença de BLEE = Estirpe resistente a todas as cefalosporinas e aztreonam!
Pseudomonas aeruginosa
Subida gradual das resistências aos carbapenemes, de 4% em 1991 para 19% em 2014.
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