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Geral Especial

 
Esta semana Veja também
Como foram as operações de
resgate
Sumário
Brasil
Internacional
Horror no
Geral fundo
do mar e
Sugestões para
apreciar melhor o

estupidez
vinho
Estimular a auto-
estima é essencial na
educação fora dele
Avalie a auto-estima
de seu filho Fotos AP/AFP
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dromedários bebem
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A relação entre sono
e envelhecimento
O nascimetno de seis
pandas na China
Pneus podem ter
matado 62 pessoas em
acidentes
Carros de guerra
ganham as ruas
Fama da caipirinha
aumenta a exportação
de cachaça
Músicas substituem
a campainha nos
celulares Há tragédias que o orgulho
Os cintos para o nacional transforma em
verão catástrofes de dimensões
A proibição da ainda maiores. A Rússia
propaganda de cigarros relutou durante quatro
A tragédia do angustiantes dias até aceitar ajuda internacional para os esforços
naufrágio do submarino de resgate da tripulação enclausurada nos destroços do submarino
russo
Eric Vermelho
Kursk. A embarcação movida a energia nuclear foi a pique no
sábado 12 com 118 pessoas a bordo, e até a noite de sexta-feira
Economia e
passada permanecia atolada no lodo do fundo do Mar de Barents.
Negócios
Guias
As águas naquela latitude, além do Círculo Polar Ártico, são
geladas, o mar é revolto, venta e chove forte a maior parte do
Artes e Espetáculos
tempo – condições duríssimas que contribuíram para frustrar as
repetidas tentativas russas de resolver o assunto por conta
Colunas própria. Os velhos hábitos demoram a morrer e Moscou agiu de
acordo com códigos do tempo do comunismo, cuja regra de ouro
era manter absoluto segredo sobre fiascos militares e tecnológicos,
Diogo Mainardi
não importando o número de mortos. Isso já não é possível. Na
Claudio de Moura
Rússia de hoje, cada náufrago é um ser humano, com nome, foto
Castro e família para reclamar na imprensa da ação desajeitada do
Sérgio Abranches
Estado. Com mais de uma centena de marinheiros confinados à
Roberto Pompeu de
tenebrosa escuridão numa caixa de metal, só dois dias depois do
Toledo naufrágio a Marinha resolveu admitir a ocorrência do acidente.
Sim, os 118 marinheiros estavam aprisionados no fundo do mar.
Seções E, sim, estavam sem rádio e telefone ou qualquer outro canal de
comunicação com o mundo dos vivos. Nada funcionava. A não ser
Carta ao leitor
as marteladas que os tripulantes do Kursk davam na parte interna
do casco do submarino, em linguagem de código morse.
Entrevista
Cartas
Ofertas de socorro vieram dos Estados Unidos, da Inglaterra e da
VEJA on-line
vizinha Noruega. Em lugar de ter apelado por ajuda internacional
Radar
no próprio sábado, os russos
Contexto rejeitaram a oferta na
Holofote segunda-feira. A situação já
Veja essa era então desesperadora. Só
Arc se entende essa atitude no
Notas internacionais contexto do mundo criado por
Hipertexto sete décadas de paranóia
comunista. Divulgou-se que a
Gente Tripulantes do Kursk: os marinheiros
recusa inicial ao auxílio Mikhail Kuznetsov e Vladimir
Datas
estrangeiro estaria ligada a
Cotações Sverchkariov com os filhos
dois motivos. Primeiro, receio
Para usar de que nas equipes de resgate os ocidentais infiltrassem espiões
VEJA Recomenda para observar detalhes da construção do submarino. Além disso,
Os mais vendidos informou-se que haveria o orgulho nacional russo. A Rússia não
estaria inclinada a demonstrar incapacidade de lidar com os
próprios desafios. Num lugar em que não havia listas telefônicas,
Arquivos VEJA pois se acreditava insanamente ser perigoso colocar informação
tão vital à disposição dos inimigos do Estado, é possível que as
Para pesquisar nos duas explicações sejam as verdadeiras.
arquivos da revista,
digite uma ou mais
palavras Quando o Kremlin pôs a mão no bolso para encomendar o primeiro
>> submarino da família do Kursk – uma formidável máquina de
guerra projetada para atacar porta-aviões americanos e destruir
Busca detalhada comboios de abastecimento –, os moscovitas precisavam esperar
Arquivo 1997-2000 na fila pelo privilégio de comprar pão. O país degringolou depois
Busca somente texto de arriar a bandeira soviética, em 1991, e hoje está na categoria
96|97|98|99 das nações sem dinheiro em caixa para a manutenção de grande
Os mais vendidos força militar. A poderosa máquina de guerra montada pelo Estado
soviético está fora de ação, apodrecendo em bases militares e
portos. O Kursk fazia parte de uma porcentagem ínfima do
equipamento militar soviético que ainda podia funcionar a
contento. A frota de submarinos é o derradeiro componente das
Forças Armadas russas que ainda inspira respeito ao generalato
americano. Além do arsenal nuclear, evidentemente.

O Kursk afundou durante um


exercício naval no mar gelado de
Barents, ao norte da Rússia. O
submarino tinha apenas cinco
anos de uso e era das melhores
peças do arsenal bélico russo. Os
esforços para salvar os
sobreviventes só começaram na O comandante do Kursk, Gennadi
terça-feira, quando foi possível Liachin, 45 anos, e o marujo Dmitri
reunir navios e equipamentos a Staroseltsev, 20: 118 homens a bordo
menos de 200 quilômetros de Murmansk, sede da poderosa Frota
Norte. No dia seguinte, Moscou rendeu-se e aceitou, pediu,
implorou por ajuda externa. A Inglaterra enviou seu melhor
minissubmarino, o RL5, com previsão para entrar em operação
uma semana depois do desastre.

A ineficiência do resgate russo é simbólica em vários sentidos.


Acidentes com centenas de mortes são noticiados com freqüência
sem despertar tanta atenção. Enchentes na Índia ou fome na
África matam milhares de pessoas com menos atenção que a
recebida pelo naufrágio do Kursk. Mas é outro o ponto. Desde que
a nave espacial Apollo 13 quase se perdeu no espaço com seus
três astronautas, em 1970, não se via uma tentativa de resgate de
vidas humanas ser acompanhada em escala global por tanta gente
de tantos países. Não é em número de mortes que se avalia o
impacto de um desastre na opinião pública. Quando o jato
Concorde se espatifou perto do Aeroporto Charles de Gaulle, em
Paris, semanas atrás, morreram poucas pessoas em comparação
com o número de vítimas do afundamento de uma balsa qualquer
na Indonésia. Mas o Concorde, por ser um prodígio da tecnologia
da navegação aérea, por representar um símbolo da capacidade
humana de dominar as alturas, despertou um interesse mais
agudo do que acidentes maiores. Com o Kursk aconteceu a mesma
coisa. acidente com o submarino russo já seria chocante apenas
com a transformação do barco num caixão de aço parado no fundo
do oceano, cheio de marinheiros respirando. Mas havia, além
disso, o fato simbólico de que o país dono do segundo maior
arsenal atômico do mundo – a Rússia que já mandou sondas para
os confins do espaço e construiu uma estação para orbitar a Terra
– não era capaz de resgatar 118 marinheiros a apenas 108 metros
de profundidade, a extensão de um mísero quarteirão.
O Kursk era o quartel-general da maior manobra naval que a
Armada russa realizava em cinco anos. É provável que o excesso
de gente a bordo (a
tripulação normal é de 107 AFP
homens) seja de oficiais
graduados, cujo
desaparecimento só
aumenta a angústia oficial. A
imprensa russa, fazendo eco
à indignação popular, não
cessa de perguntar como é
possível que o equipamento
de resgate não estivesse de
prontidão em manobras
desse porte. Que explicação
havia para o comportamento Em Moscou, soldados lêem sobre o
indiferente do presidente acidente com o submarino: um país
Vladimir Putin? Enquanto o indignado com as trapalhadas do governo
país atravessava a semana
atônito com a história dos tripulantes do Kursk, Putin continuava
em férias num balneário no Mar Negro. Dedicava-se a amenidades
e até escreveu uma carta a um astro famoso. Na quarta-feira, ele
deu ordem para que se aceitasse qualquer oferta de ajuda que
fosse feita. Mas só na sexta decidiu interromper as férias. Putin,
que antes de ser eleito presidente da Rússia prometia restaurar o
orgulho militar da nação, revelou-se um fiasco na prova da
semana passada. Em rede nacional de televisão, a mãe de Aleksei
Nebrasov, um dos tripulantes jovens do submarino, disse o que
todos pensavam no país. "Nós estamos indignados", afirmou ela.
"Estamos indignados porque nossos filhos ainda estão lá e
ninguém fez o suficiente para salvá-los."

Reuters

Durante as décadas da
Guerra Fria, bastava usar a
imaginação para descrever os
guerreiros que tripulavam
máquinas como o Kursk,
equipadas com mísseis
nucleares capazes de arrasar
cidades inteiras. O acidente
da semana passada mostrou
a face banal dos homens na
Velas pelos marinheiros do Kursk na Igreja
de São Nicolau, em Murmansk: demora de
barriga da máquina de
quatro dias até aceitar ajuda internacional
guerras – são na maioria
conscritos, quase
adolescentes. A mãe de um desses marinheiros, Valentina
Staroseltseva, costumava agradecer à sorte por seu filho, Dimitri,
20 anos, ter escapado do Exército e da Guerra na Chechênia e
servir no Kursk. "Nós nos referíamos a ele como nosso submarino.
Estava tranqüila porque achava que o submarino era seguro",
repete Valentina.
Os russos primeiro tentaram alcançar o submarino com um
equipamento chamado de sino, o Kolokol, que opera por controle
remoto e por cabos presos a uma plataforma na superfície.
Antiquado e difícil de ser manobrado, o aparelho mostrou-se
incapaz de se conectar com a escotilha por onde deveriam sair os
tripulantes. A segunda tentativa foi feita com um minissubmarino,
o Priz, movido por baterias antigas, que se esgotavam em apenas
três horas. Só na quarta-feira entrou em operação o que a Marinha
tem de melhor, o minissubmarino Bester. Com 50 toneladas, ele
consegue navegar contra as fortes correntes que impediram o
trabalho do sino e do Priz. O Bester pode levar vinte tripulantes de
volta à superfície em cada viagem – mas só na sexta-feira foi
capaz de se conectar à escotilha na parte traseira do submarino. O
tombadilho estava tão danificado, contudo, que a cápsula de
resgate não conseguiu estabelecer uma conexão adequada. Sem
uma junção perfeita, é impossível abrir a escotilha e entrar no
submarino. Outras escotilhas, localizadas na ré, estão igualmente
danificadas.

As câmaras do Bester permitiram filmar o tamanho do estrago. Há


um enorme buraco na parte dianteira da embarcação. Daí se intui
que a ponte de comando, localizada nessa área, deve ter sido
inundada rapidamente. É onde trabalha a maior parte da
tripulação. Estima-se que dois terços dos marinheiros devam ter
morrido nos primeiros momentos do desastre. O Kursk é dividido
em dez compartimentos estanques, exatamente para que se possa
isolar pontos alagados. Quem sobreviveu ficou no escuro, com a
temperatura baixando para próximo de zero grau. Só se pode
imaginar o horror dessas horas passadas numa caixa de aço no
fundo do mar, à espera do resgate. O barco de 14.000 toneladas
está em águas relativamente rasas. Se fosse possível colocá-lo em
pé, ficaria com mais de 40 metros acima da superfície do mar. O
que terá acontecido com o Kursk? Há duas hipóteses: explosão ou
colisão. Talvez uma colisão seguida de explosão. É possível que
um ou mais torpedos tenham explodido dentro dos tubos de
lançamento. Ou que tenha ocorrido combustão espontânea nos
tubos de ar comprimido do sistema de lastro. O almirantado russo
acredita que o submarino colidiu com outra embarcação, talvez um
cargueiro russo, que ainda não foi identificado. Não está fora de
cogitação o choque com o fundo do mar, em decorrência de
manobra desajeitada. Falta explicação para a rapidez com que
tudo ocorreu. O submarino foi projetado para flutuar, mesmo
parcialmente alagado. Por que a tripulação nem sequer teve
tempo para acionar o alarme de emergência? A Marinha
americana, que espionava eletronicamente as manobras russas,
registrou duas explosões, separadas por alguns segundos. Um
militar em Washington disse à agência Reuters que a última
comunicação do Kursk foi um pedido de autorização para disparar
dois torpedos. Terão esses torpedos sido a primeira da série de
decisões erradas que, no mar e na terra, transformaram a tragédia
dos homens do Kursk num símbolo da estupidez militar e política
da Rússia de hoje?

 
 

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