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História, Mundo Estranho

Como era a vida na


armada de Pedro
Álvares Cabral?
Nada de glamour: marinheiros viviam na imundície, tinham pouca
comida e dormiam ao relento.
Por Diogo Antonio Rodriguez Atualizado em 22 fev 2024, 10h42 - Publicado em 27 Maio 2013, 17h22

(Bettmann/Getty Images)
Em 9 de março de 1500, 13 navios da expedição de Pedro Álvares
Cabral deixaram Lisboa, levando 1,5 mil homens. Eram três caravelas
(naves menores e ágeis, com até 50 toneladas) e dez naus (com até
250 toneladas e capacidade para 200 pessoas). Além do tamanho, a
principal diferença era o formato das velas. A caravela foi o trunfo que
fez de Portugal uma potência marítima até o século 18. Ela era leve,
mudava de direção com agilidade, navegava rápido contra o vento e
chegava mais perto da costa do que navios maiores. Outro fator
importante para o domínio naval português foi a utilização de
caravelas armadas com canhões.
(Alexandre Jubran/Mundo Estranho)
Entediados pela viagem (cerca de um mês e meio até o Brasil), os
marinheiros criavam passatempos. Os preferidos eram apostas, como
jogos de cartas e dados. Os padres, responsáveis por manter a moral a
bordo, monitoravam a jogatina, celebravam missas e cuidavam dos
doentes, já que não havia médicos. Os barbeiros, que aparavam o
cabelo e a barba dos marujos, auxiliavam os padres no atendimento
aos enfermos. (1)

Apenas os mais graduados tinham o luxo de um quarto e uma cama.


Os marinheiros dormiam sob o castelo da popa, a estrutura mais alta
do navio. Como não cabia muita gente ali, o jeito era dormir no
convés, ao relento, em frágeis colchões de palha. Os porões eram
reservados para guardar água, mantimentos e munição. (2)

O cardápio era de matar. O principal item era biscoito água e sal duro
(600 g diários). A ração ainda incluía 1,5 litro de água e 1,5 litro de
vinho por dia e 15 kg de carne por mês. Calcula-se que seriam
necessárias 5 mil calorias por dia nessas condições, mas a alimentação
nos navios só fornecia 3,5 mil. (3)

(Alexandre Jubran/Mundo Estranho)


A sujeira reinava. Como não havia banheiros, as necessidades eram
feitas no mar ou nos porões. Ratos infestavam os navios e transmitiam
doenças. A falta de banho também contribuía para tornar a higiene a
bordo calamitosa. Não à toa, das 1,5 mil pessoas que embarcaram,
apenas 500 voltaram vivas a Portugal. (4)

As condições de alimentação e higiene eram precárias e nocivas. A


falta de vitamina C causava o escorbuto, doença que provoca perda de
dentes, dificuldades de cicatrização, anemia e hemorragias. O contato
com bichos a bordo causava diarreia e piolhos. Os males mais
frequentes eram enjoos e vômitos. O castigo para quem não cumpria
as regras nos navios era ficar no porão, tirando a água que entrava
pelo fundo da embarcação. (5)
A viagem de Cabral foi a primeira a usar sistematicamente o
astrolábio. Parecido com uma pequena roda, o aparelho mede a altura
do Sol ao meio-dia, a das estrelas à noite e fornece a latitude (posição
no eixo norte-sul da Terra). Por outro lado, a medição da longitude
(posição no eixo leste-oeste) nunca foi precisa. (6)
Cabral era o capitão-mor da armada, mas cada navio tinha um
comandante, que não precisava ser expert em navegação. Os capitães
eram pessoas próximas da corte portuguesa e do rei, dom Manuel. A
função era cerimonial e diplomática. Quem conduzia os navios eram
os pilotos, que dominavam mapas, instrumentos de navegação e
ventos. Além de marinheiros e nobres, havia escrivães, registrando
tudo. O mais famoso, Pero Vaz de Caminha, relatou ao rei dom
Manuel a descoberta do Brasil. (7)

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