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CENTRO UNIVERSITÁRIO FARIAS BRITO

Curso de Engenharia Elétrica

FAGNER LEITE SALES

APLICAÇÃO DA TERMOGRAFIA NA MANUTENÇÃO DE EQUIPAMENTOS DO


SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA

Fortaleza – Ce
2023
FAGNER LEITE SALES

APLICAÇÃO DA TERMOGRAFIA NA MANUTENÇÃO DE EQUIPAMENTOS DO


SISTEMA ELÉTRICO DE POTÊNCIA

Monografia apresentada como Trabalho


de Conclusão do Curso de Graduação em
Engenharia Elétrica do Centro
Universitário Farias Brito como requisito
parcial para a obtenção do grau de
Engenheiro Eletricista.

Orientador: Profa. Ma. Rebeca Catunda


Pereira Machado

Fortaleza – Ceará
2023
Monografia apresentada ao curso de Engenharia Elétrica do Centro Universitário
Farias Brito – FB Uni, em Fortaleza – CE, como requisito parcial para a obtenção do
grau de Engenheiro Eletricista.

_______________________________
Aluno

Monografia apresentada em ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________
Profa. Rebeca Catunda Pereira Machado
Mestra em Engenharia Elétrica
Orientador

_____________________________ _________________________________
Prof. XXXXXXXX Prof. XXXXXXXXXXX
Mestre em Engenharia Elétrica Especialista em Engenharia Elétrica
Examinador Examinador

____________________________________________
Profa. Ma. Rebeca Catunda Pereira Machado
Coordenador do Curso de Engenharia Elétrica
Ficha Catalográfica: a ser feita pela Biblioteca da FBuni, quando o trabalho estiver
pronto – TCC II.

P924d Sales, Fagner Leite


Aplicação da termografia na manutenção de equipamentos do sistema
elétrico de potência/ Fagner Leite, 2023.

130 f. il. color.; enc.

Orientador: Profa. Ma. Rebeca Catunda Pereira Machado.


Área de concentração: Produtividade.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Centro Universitário
Farias Brito, Faculdade de Engenharia, Fortaleza, 2021.

1. Desempenho econômico e ambiental 2. Produtividade 3.


Rapadura é doce, mas não é mole I. Silva, Antonio José da (Orient.)
II. Centro Universitário Farias Brito/Curso de Engenharia de Produção
III.Título

CDD 658.78
À Deus, que é vida, amor e que a
tudo possibilita.
AGRADECIMENTOS

A Deus, pois sem Ele nada disso seria possível;


Aos meus pais, Venceslau (in memorian) e Iracema, que foram meus grandes
incentivadores aos estudos;
Aos meus irmãos Vagner e Aryanne, que sempre pude contar quando precisei;
A minha companheira Mara, por toda paciência e compreensão durante esta longa
jornada acadêmica;
Ao meu filho João Miguel, que, mesmo sem saber, foi também meu grande
incentivador;
A professora Ma. Rebeca Machado, pela paciência ao me orientar;
Aos professores examinadores, pelas contribuições ao trabalho;
A todos os professores do Curso de Engenharia Elétrica do Centro Universitário Farias
Brito – FBuni, pelos ensinamentos;
Aos colegas do Curso de Engenharia Elétrica;
A todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização deste trabalho, e
que eu não tenha citado, também o meu muito obrigado;
“Cada sonho que você deixa para trás,
é um pedaço do seu futuro que deixa
de existir.”
Steve Jobs.
RESUMO

Este trabalho tem por objetivo apresentar a termografia infravermelha como


método de manutenção preditiva para aumento da confiabilidade e disponibilidade do
Sistema Elétrico de Potência. Para isso foi realizado uma inspeção termográfica em
uma subestação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, no mês de fevereiro
de 2023, buscando detectar anomalias térmicas que pudessem comprometer o
funcionamento dos equipamentos da instalação. A inspeção foi realizada pelo
operador credenciado da instalação e utilizou-se um termógrafo da marca Flir, modelo
T540. Como resultado da inspeção termográfica realizada foi detectado uma anomalia
térmica na chave seccionadora 32S2-5, que faz parte dos equipamentos associados
à Linha de Transmissão 02S2, que atende a cidade de Cascavel/CE e região. A
inspeção detectou uma anomalia térmica Nível-2 na fase A do equipamento e uma
anomalia Nível-1 na fase B do mesmo equipamento. Foi necessária, então uma
intervenção feita pela equipe de manutenção para que pudessem corrigir a anomalia
realizando a substituição dos contatos de força das duas fases que apresentaram a
não-conformidade térmica. Após o trabalho de manutenção corretiva foi realizada uma
nova inspeção termográfica e contatou-se sucesso na atividade quando a nova
inspeção termográfica mostrou valores normais de temperatura nas três fases do
equipamento.

Palavras-chave: Termografia, Inspeção Termográfica, Manutenção Preditiva,


Sistema Elétrico de Potência.
ABSTRACT

This work aims to present infrared thermography as a predictive maintenance


method to increase the reliability and availability of the Electric Power System. For this,
a thermographic inspection was carried out in a substation of the Companhia Hidro
Elétrica do São Francisco, in February 2023, seeking to detect thermal anomalies that
could compromise the operation of the installation's equipment. The inspection was
carried out by the accredited operator of the installation and a Flir thermograph, model
T540, was used. As a result of the thermographic inspection carried out, a thermal
anomaly was detected in the 32S2-5 disconnect switch, which is part of the equipment
associated with the 02S2 Transmission Line, which serves the city of Cascavel/CE and
region. The inspection detected a Level-2 thermal anomaly on phase A of the
equipment and a Level-1 anomaly on phase B of the same equipment. Therefore, an
intervention was necessary by the maintenance team so that they could correct the
anomaly by replacing the power contacts of the two phases that presented the thermal
non-compliance. After the corrective maintenance work, a new thermographic
inspection was carried out and the activity was successful when the new
thermographic inspection showed normal temperature values in the three phases of
the equipment.

Keywords: Thermography, Thermographic Inspection, Predictive Maintenance,


Electric Power System.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Métodos de transferência de calor. .............................................................. 7
Figura 2: Transferência de calor por condução. .......................................................... 8
Figura 3: Termograma de um TP e a visualização do nível de óleo............................ 9
Figura 4: Espectro eletromagnético. .......................................................................... 10
Figura 5: Simulador de corpo negro em laboratório de calibração. ........................... 11
Figura 6: Radiação incidente em um corpo. .............................................................. 12
Figura 7: Câmera termográfica Flir T540. ................................................................. 15
Figura 8: Imagem fotográfica de um transformador de potência. .............................. 16
Figura 9: Imagem térmica do mesmo transformador de potência, porém percebe-se a
obstrução de um dos radiadores. .............................................................................. 16
Figura 10: Para-raio com anomalia térmica, diagnosticada pelo método quantitativo.
.................................................................................................................................. 17
Figura 11: Termografia comparativa. ........................................................................ 18
Figura 12: Câmera FLIR, perspectiva parte posterior. .............................................. 22
Figura 13: Câmera FLIR, perspectiva parte frontal. .................................................. 23
Figura 14: Comparativo do ajuste manual e automático da câmera. ........................ 25
Figura 15: Exemplificação de faixa de temperatura, amplitude e nível. .................... 25
Figura 16: Imagem térmica focada (à esquerda), e imagem térmica desfocada (à
direita). ...................................................................................................................... 26
Figura 17: Paleta de cores da câmera FLIR T540..................................................... 27
Figura 18: Utilização de fita isolante para referência da emissividade. ..................... 29
Figura 19 - Termograma Inicial ................................................................................. 38
Figura 20 - RIT Inicial ................................................................................................ 40
Figura 21 - Condição Normal de Operação LT 02S2 ................................................ 42
Figura 22 - Condição LT 02S2 transferida ................................................................ 43
Figura 23 - Solicitação de Intervenção ...................................................................... 43
Figura 24 - Termograma Pós-Intervenção ................................................................ 45
Figura 25 - RIT Pós-Intervenção ............................................................................... 46
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Emissividade dos componentes. ............................................................... 14


Tabela 2: Tabela de Classificação de Anomalias Térmicas. ..................................... 33
Tabela 3: Tabela de Classificação e Ações para as Anomalias Térmicas. ............... 34
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

SEP: Sistema Elétrico de Potência;


NCT: Não Conformidade Térmica;
TP: Transformador de Potencial;
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas;
CHESF: Companhia Hidro Elétrica do São Francisco;
KV: Quilovolts;
RIT: Relatório de Inspeção Termográfica;
NM: Nota de Manutenção;
SI: Solicitação de Intervenção;
ONS: Operador Nacional do Sistema.
LISTA DE SÍMBOLOS

α: Radiação Absorvida;
ρ: Radiação Refletida;
 : Radiação Transmitida;
ε : Emissividade.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1

1.1 Justificativa..................................................................................................... 2
1.2 Objetivos ........................................................................................................ 3
1.2.1 Objetivo Geral .......................................................................................... 3
1.2.2 Objetivos Específicos .............................................................................. 4
1.3 Metodologia de Pesquisa ............................................................................... 4
1.4 Estrutura do Trabalho..................................................................................... 4
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 6

2.1 Calor............................................................................................................... 6
2.2 Temperatura................................................................................................... 6
2.3 Métodos de Transferência de Calor ............................................................... 7
2.3.1 Condução ................................................................................................ 7
2.3.2 Convecção ............................................................................................... 8
2.3.3 Radiação ................................................................................................. 9
2.4 Espectro Eletromagnético ............................................................................ 10
2.5 Corpo Negro................................................................................................. 11
2.6 Emissividade ................................................................................................ 12
2.7 Fundamentos da Termografia ...................................................................... 14
2.7.1 Termografia Qualitativa ......................................................................... 15
2.7.2 Termografia Quantitativa ....................................................................... 17
2.7.3 Termografia Comparativa ...................................................................... 18
2.8 Tipos de Manutenção ................................................................................... 18
2.8.1 Manutenção Corretiva ........................................................................... 19
2.8.2 Manutenção Preventiva ......................................................................... 19
2.8.3 Manutenção Preditiva ............................................................................ 20
3 DESENVOLVIMENTO ....................................................................................... 21

3.1 Apresentação do termovisor ........................................................................ 21


3.1.1 Faixa de Temperatura ........................................................................... 24
3.1.2 Amplitude e Nível................................................................................... 24
3.1.3 Foco térmico .......................................................................................... 26
3.1.4 Paleta de cores ...................................................................................... 26
3.2 Parâmetros exigidos antes de uma inspeção termográfica .......................... 28
3.2.1 Emissividade do objeto em análise........................................................ 28
3.2.2 Temperatura Refletida ........................................................................... 29
3.2.3 Distância do objeto ................................................................................ 30
3.2.4 Temperatura e umidade do ar ............................................................... 30
3.3 Informações Sistêmicas ............................................................................... 31
3.3.1 Corrente de Inspeção ............................................................................ 31
3.3.2 Corrente Histórica .................................................................................. 31
3.3.3 Corrente Máxima ................................................................................... 31
3.3.4 Corrente Limite Operacional do Bay ...................................................... 32
3.4 A Inspeção Termográfica ............................................................................. 32
3.4.1 Classificação da Anomalia ..................................................................... 32
3.4.2 Prazos para Correção............................................................................ 33
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .......................................................................... 36

4.1 Relatórios de Inspeção................................................................................. 37


4.2 Intervenção .................................................................................................. 42
4.3 Pós-Intervenção ........................................................................................... 44
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 47

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49
1 INTRODUÇÃO

A termografia é uma técnica que está presente nas empresas de geração


e transmissão e distribuição de energia do Brasil desde a década de 1980.
Inicialmente, os elevados custos de aquisição e a pouca facilidade no manuseio
e operação dos equipamentos deixaram essa técnica subutilizada e restrita a
situações bastante pontuais, muito aquém das necessidades reais das empresas
do setor. Com o avanço rápido das tecnologias e a necessidade de métodos de
manutenção preditiva mais confiáveis, acrescentando, ainda, cobranças mais
rigorosas das agências reguladoras, a termografia passou a ter seu papel crucial
e indispensável nas empresas do setor elétrico.
Esta técnica é caracterizada por ser uma inspeção não destrutiva, feita à
distância, que permite, em tempo real, perceber as variações dos padrões de
emissão de radiação infravermelha dos equipamentos analisados. Ao fazer uma
inspeção termográfica com um termovisor, ou termógrafo, não estamos fazendo
uma medição direta da temperatura do equipamento sob inspeção, mas sim uma
medição indireta, tendo em vista que parâmetros como: emissividade de
radiação infravermelha do equipamento, temperatura, umidade do ar no
momento da inspeção, distância do objeto inspecionado e a escolha da paleta
de cores devem ser inseridos e parametrizados antecipadamente no
equipamento de medição. Também é importante captar uma imagem limpa, com
foco bem definido e sem reflexos de equipamentos adjacentes para que a
inspeção resulte numa imagem térmica que transmita à manutenção dados
relevantes, que serão analisados e tratados de acordo com a criticidade de cada
caso.
Ter uma padronização cíclica na realização das inspeções termográficas é
de suma importância para Sistema Elétrico de Potência (SEP), já que a detecção
de uma anomalia térmica permitirá prevenir uma falha no Sistema ou
desligamento em um circuito de alimentação ou linha transmissão, reduzindo o
tempo de indisponibilidade e o custo de manutenção.
O que torna tão valiosa esta técnica é a possibilidade de diagnosticar
anomalias térmicas que jamais seriam visíveis a olho nu, além da sua praticidade
para a realização das inspeções, já que as inspeções termográficas podem ser
realizadas sem a necessidade de parada dos equipamentos ou desligamento
dos circuitos elétricos, e ainda utilizando equipamentos de fácil manuseio que
entregam imagens térmicas de alta resolução e de resultado imediato.
Por todos estes motivos a técnica da termografia tem se tornado tão atrativa
no mercado global não se limitando apenas ao uso na área elétrica, mas também
sendo utilizada em aplicações nas áreas mecânicas, civil, na medicina ou para
fins militares.

1.1 Justificativa

O SEP está fundamentado em alguns pilares que estão sempre sendo


acompanhados e monitorados por diretores, gestores e agências reguladoras de
forma a buscar sempre a excelência nos seus indicadores. Dois destes pilares
são a disponibilidade e a confiabilidade do Sistema Elétrico. A discussão a
respeito deste assunto está sempre em pauta junto às empresas do ramo de
energia elétrica, tudo para que o SEP esteja cada vez mais seguro e cumpra seu
papel de levar a eletricidade ao consumidor final.
Planos de manutenção cada vez mais abrangentes e direcionados para a
eliminação de defeitos crônicos ou ainda voltados para a detecção precoce dos
problemas são desenvolvidos sempre com o objetivo da melhoria da
disponibilidade e do aumento da confiabilidade.
É nesse ponto que a termografia cumpre seu papel crucial, já que
inspeções termográficas bem realizadas são capazes de detectar as anomalias
térmicas a tempo de se programar as devidas manutenções corretivas
necessárias, com o menor impacto possível ao Sistema e ao consumidor final.
Com a termografia podemos mapear uma região de um equipamento do
Sistema, usando um termovisor, distinguindo as diferentes temperaturas por
meio da radiação infravermelha emitida pelos corpos e, com essas informações
coletadas podemos desenvolver um relatório termográfico para que se tomem
decisões de correção da NCT (Não Conformidade Térmica) em tempo hábil.
Em outras palavras, é a imagem térmica mostrada pelo termovisor que
apresenta à equipe de manutenção onde estão localizadas anomalias térmicas
dos equipamentos, sejam num conector que apresenta fadiga e não tem a
mesma capacidade de condução de corrente que antes, sejam num cabo que
perdeu sua propriedade de dissipação de calor, ou ainda num conector recém-
instalado onde não houve o ajuste de torque dos parafusos fazendo que a
resistência entre o cabo e o conector aumente. Com o termovisor podemos,
inclusive, perceber o nível de óleo isolante de alguns equipamentos, tendo um
resultado instantâneo do nível, em casos em que o indicador de nível de óleo
dos equipamentos apresente defeito.
Todos esses resultados obtidos são avaliados pelas equipes de
manutenção de cada empresa, e ajudam nas tomadas de decisões diminuindo
os tempos de correção, os impactos financeiros gerados, mitigando, inclusive,
desligamentos acidentais e aumentando a assertividade do trabalho a ser
realizado.

1.2 Objetivos

Este trabalho tem como objetivo principal apresentar a técnica da


termografia que, dentre tantas áreas que a utilizam, também é ferramenta
essencial para o bom desempenho do Sistema Elétrico de Potência.
Apresentar suas aplicações práticas, a forma como a técnica é utilizada,
os ganhos de tempo e financeiros que a termografia proporciona também fazem
parte deste estudo.

1.2.1 Objetivo Geral

Compreender as vantagens da utilização da termografia como meio para


o aumento da disponibilidade e confiabilidade do Sistema Elétrico de Potência.
1.2.2 Objetivos Específicos

- Compreender as características técnicas das câmeras termográficas;


- Abordar os parâmetros exigidos pelo termovisor para a apresentação de
uma imagem térmica;
- Analisar uma imagem térmica de forma quantitativa e comparativa;
- Categorizar os prazos de correção das anomalias térmicas de acordo
com a criticidade encontrada.
- Conhecer um termograma;
- Compreender as anomalias encontradas e analisar o plano de ação para
correção.

1.3 Metodologia de Pesquisa

O presente trabalho será feito por intermédio de pesquisas bibliográficas


e mediante o estudo de casos práticos elaborados em empresa do ramo de
geração e transmissão de energia, mais especificamente a empresa Companhia
Hidro Elétrica do São Francisco.
O estudo de caso mostrará, em detalhes, situações encontradas nas
subestações de alta tensão da Regional Norte da Companhia, ao longo do
território cearense. Mostrará também os níveis de criticidade adotados pela
companhia e os prazos exigidos para a correção das anomalias.
A abordagem utilizada, portanto, será qualitativa-quantitativa, uma vez
que serão abordados os impactos teóricos e práticos. O estudo terá natureza
exploratória.

1.4 Estrutura do Trabalho

O trabalho será composto por 5 capítulos.


No capítulo 1 traremos a introdução do trabalho com a problematização do
tema escolhido e a justificativa pelo qual iremos abordar o tema da termografia,
tão utilizada atualmente no SEP.
Já no capítulo 2 teremos a Fundamentação Teórica e, neste capítulo, o
leitor terá a oportunidade de entender os conceitos de espectro luminoso,
radiação infravermelha, emissividade de radiação dos corpos e entender o
funcionamento da câmera termográfica.
No capítulo 3 faremos o desenvolvimento do trabalho, mostrando ponto a
ponto os itens descritos nos objetivos específicos, como a construção de um
termograma, a análise de uma imagem térmica e ainda categorizar as não
conformidades térmicas de acordo com a criticidade encontrada.
O capítulo 4 apresentaremos um estudo de caso prático, realizado na
subestação Aquiraz II, da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco.
Por fim, o capítulo 5 será um capítulo de fechamento, onde estarão as
conclusões do trabalho.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Faz-se necessária a explanação de alguns conceitos teóricos para o


entendimento da termografia. Assuntos como Calor, Temperatura, Métodos de
Transferência de Calor e Emissividade serão abordados de maneira expositiva,
não sendo a proposta deste trabalho fazer uma análise equacionada sobre os
assuntos.

2.1 Calor

Calor é a transferência de energia de uma região para outra como


resultado de uma diferença de temperatura entre elas. Essa energia se origina
da agitação das moléculas das quais a matéria é constituída e sua transferência
se processa da região mais quente para a mais fria. O calor é, portanto, um
fenômeno transitório, que cessa quando não existe mais uma diferença de
temperatura, (Holst, 2000).

2.2 Temperatura

Como se sabe a matéria é constituída por moléculas adotadas


basicamente de movimento de vibração, ou seja, possuem energia cinética de
vibração que varia de uma para outra. No entanto, podemos avaliar um nível
médio de vibração para as moléculas que compõe um corpo. Moléculas mais
quentes se movimentam mais rapidamente, e moléculas mais frias se movem
mais devagar, (Quites & Lia, 2005).
Sendo assim, a temperatura é definida como nível médio da energia
cinética da vibração das moléculas ou átomos de um corpo, em outras palavras
se dois objetos estão em equilíbrio térmico com um terceiro objeto, então eles
estão em equilíbrio térmico um com o outro, (Chrzanowski, 2001).
2.3 Métodos de Transferência de Calor

São 3 os métodos de transferência de calor: condução, convecção e


radiação. Os processos de transferência de calor usam um ou mais dos 3
métodos apresentados. A figura 1 exemplifica os 3 métodos de transferência de
calor.
Figura 1: Métodos de transferência de calor.

Fonte: Grimm (2017).

Na imagem o fluido que está sendo aquecido no bule está passando por
um processo de convecção forçada, já o cabo da frigideira está sendo aquecido
num processo de condução e, por fim, a fogueira embaixo da mesa que aquece
usando o método da radiação para a transferência de calor.

2.3.1 Condução

A condução pode ser definida como o processo pelo qual a energia é


transferida de uma região de alta temperatura, para outra de temperatura mais
baixa dentro de um meio (sólido ou líquido) ou entre meios diferentes em contato
direto, este mecanismo pode ser encarado como a transferência de energia de
partículas mais energéticas para partículas menos energéticas de uma
substância devido a interações entre elas, (Quites & Lia, 2005).
Na figura 2 é possível identificar a transferência de calor por condução em
um cabo com alta resistência de contato na conexão com a chave seccionadora.
A seta indica a direção do fluxo de calor, do ponto de mais alta temperatura T1,
para áreas de menor temperatura T2.
Figura 2: Transferência de calor por condução.

Fonte: Santos (2006).

A paleta de cores também auxilia na percepção das diferenças de


temperaturas, uma vez que as maiores temperaturas estão sinalizadas pelas
cores mais vivas, no caso o amarelo, enquanto as cores mais amenas
acompanham as temperaturas mais baixas dos objetos.

2.3.2 Convecção

A convecção pode ser definida como o processo pelo qual a energia é


transferida das porções quentes para as porções frias de um fluido, através da
ação combinada de: condução de calor, acúmulo de energia e movimento de
mistura, a transmissão de calor por convecção é classificada, de acordo com o
modo de motivação do fluxo, sendo elas naturais ou forçadas, (Quites & Lia,
2005).
Quando o movimento de mistura tem meramente o lugar como resultado
da diferença de densidade causado pelos gradientes de temperatura, falamos
de convecção natural ou livre, em outras palavras, é quando somente o efeito da
gravidade atua, quando o movimento de mistura é induzido por algum agente
externo, tal como uma bomba ou ventilador, chamamos de convecção forçada,
(Quites & Lia, 2005).
A figura 3 mostra a imagem térmica de um transformador de potencial
(TP) e a visualização do nível de óleo, exemplo de um meio onde ocorre a
transferência de calor por convecção.
Figura 3: Termograma de um TP e a visualização do nível de óleo.

Fonte: Santos (2006).

2.3.3 Radiação

A transmissão de calor por radiação ocorre sem contato físico entre os


corpos, através de ondas eletromagnéticas. Sendo assim, uma fonte quente
cede calor a uma fonte fria sem que o espaço intermediário altere seu estado
térmico, na verdade todo corpo acima de 0 k é capaz de emitir radiações
eletromagnéticas, essas radiações atravessam um espaço transparente e
prosseguem sem nenhuma alteração de trajetória ou de comprimento de onda
até colidirem com um meio que lhe seja opaco. Então, haverá parcial ou quase
total absorção de radiações se transformando de energia radiante para energia
térmica, esse é o meio pelo qual o sol nos doa calor todos os dias, (Quites & Lia,
2005).
A transferência de calor por radiação é fundamento para a medição de
temperatura através da termografia infravermelha, que detecta a radiação
proveniente do objeto sob inspeção, mais especificamente a radiação
infravermelha (Santos, 2006).
2.4 Espectro Eletromagnético

Como a radiação eletromagnética é uma onda, entende-se que as


grandezas que caracterizam uma onda devem também estar associadas à
radiação eletromagnética, pode-se então dizer que a onda eletromagnética é
caracterizada por uma frequência e comprimento de onda, o olho humano não
visualiza a radiação infravermelha emitida pelos corpos, contudo somente uma
pequena faixa chamada visível, compreendida entre 350nm a 700nm, (Santos,
2006).
Dentro do espectro eletromagnético, Figura 4, a radiação infravermelha
está localizada entre a região de radiação visível e a região de radiação de micro-
ondas. Essas regiões são divididas arbitrariamente, dependendo dos métodos
utilizados para produção e detecção da radiação (Santos, 2006).

Figura 4: Espectro eletromagnético.

Fonte: Santos (2006).

Como podemos notar acima, a faixa em que os termovisores podem captar


compreende de 2 a 5 μm para aparelhos mais antigos e de 7,5 a 14 μm para
aparelhos mais novos, a radiação Infravermelha, assim como as radiações das
diferentes regiões do espectro eletromagnético, basicamente obedece às
mesmas leis, propagam-se em linha reta, refletem, refratam, são absorvidas,
interferem, apresentam espalhamento de feixe, podem ser enfocadas e viajam
no vácuo, a uma velocidade de aproximadamente 324 m/s (santos, 2006).
2.5 Corpo Negro

O corpo negro é aquele que absorve totalmente a energia que é incidida


sobre ele e ao mesmo tempo não reflete, ou transmite calor.
Gustav Robert Kirchhoff em 1860 propôs o termo Corpo Negro como
sendo, um corpo capaz de absorver toda radiação incidente, independente do
comprimento de onda, direção de incidência e sua polarização. A radiação por
ele emitida teria uma distribuição espectral dependente apenas de sua
temperatura, para tal corpo estar em equilíbrio termodinâmico, ele deveria
irradiar energia na mesma taxa em que a absorve, (AGA, 1969). Portanto, um
Corpo Negro, além de ser um absorvedor perfeito, é também um emissor perfeito
e não é um transmissor, (Groote, 2004).
Na figura 5 é possível visualizar um simulador de corpo negro utilizado em
laboratório para a calibração de câmeras termográficas.

Figura 5: Simulador de corpo negro em laboratório de calibração.

Fonte: Chesf (2018).


2.6 Emissividade

A habilidade de um corpo radiar energia é chamada emissividade. É uma


característica da superfície, que depende não apenas do tipo de material, mas
da condição da superfície e do comprimento de onda em que a radiação é
emitida, o que, por sua vez, depende da temperatura do corpo, segundo Oliveira
(2010).
Objetos reais se comportam diferente de corpos negros. A radiação
incidente em um corpo pode ser absorvida (), refletida () ou transmitida (),
conforme mostra a figura 6.

Figura 6: Radiação incidente em um corpo.

Fonte: Veratti (1984).

Quando temos um mesmo comprimento de onda, a soma dos três


coeficiente é igual a 1.

 +  +  = 𝟏 (1)

Em materiais opacos, onde  = 0, a relação se simplifica para:

 +  = 𝟏 (2)
A emissividade é a relação entre a energia irradiada, em um dado
comprimento de onda, por um corpo qualquer e um corpo negro à mesma
temperatura (Veratti, 1984).

Expressando matematicamente:

( )
𝜺= ( )
(3)

A emissividade assume valores entre 0 e 1, sendo numericamente iguais


à fração da radiação absorvida pelo corpo.

𝜺=  (4)

A emissividade é uma característica que depende primordialmente da


composição química e da textura do material, podendo variar com a temperatura
e com o comprimento da onda considerado.
Pela fórmula de Stefan-Boltzmann, e levando em consideração a
definição de emissividade, podemos concluir que a energia captada por um
observador externo (em nosso estudo será a câmera termográfica) a partir de
um corpo opaco é a somatória da energia emitida mais a energia refletida,
conforme fórmula abaixo:

𝑊 = 𝑊𝑒 + 𝑊𝑟 (5)

Abaixo podemos ver a tabela 1 com valores médios de emissividade


normalmente empregados em medições na faixa do infravermelho. Esta tabela,
além de detalhar as emissividades referentes a cada tipo de material, também
aprofunda ainda mais sua precisão quando diferencia as emissividades levando
em consideração o grau de severidade da oxidação destes materiais.
Tabela 1: Emissividade dos componentes.
Material Ligeiramente Oxidado Severamente Oxidado
Alumínio e suas ligas 0,20 – 0,40 0,67 - < 0,95
Cobre e suas ligas 0,39 – 0,50 0,78 – 0,95
Aço 0,52- 0,60 0,82 – 0,94
Porcelana 0,10 – 0,20 0,80 – 0,95
Borracha 0,70 – 0,80 0,80 – 0,95
Fonte: Contemp (2017).

2.7 Fundamentos da Termografia

Termografia é um método de aquisição e análise de informações térmicas,


obtidas através de equipamentos de medição sem contato direto.
(ENGELETRICA, 2011).
Dentre as inspeções não destrutivas, a termografia é utilizada para, através
dos raios infravermelhos emitidos pelo corpo, observar seus padrões térmicos
relacionando os com suas condições de operação, podendo ser aplicada tanto
em máquinas como em processos produtivos. (VERRATTI, 2011).
As inspeções termográficas têm como base os raios infravermelhos
emitidos por qualquer tipo de corpo, produzindo assim imagens que são
chamadas de termogramas. Os raios infravermelhos são frequências
eletromagnéticas emitidas por corpo que variam em proporção de acordo com a
temperatura do corpo. (CABRAL, 2010).
Utilizando uma câmera térmica, a localização de regiões quentes e frias é
muito facilitada. Algumas câmeras, podem fornecer termogramas em faixas de
20°C a 1500°C, fornecendo imagens de qualidade com opção de filtros que
removem ruídos gerados por exemplo pela presença do sol ou outras fontes de
calor no ambiente. Outro ponto favorável a utilização de termovisores remete a
seu pequeno tamanho, sua leveza e grande autonomia, o que permite sua
aplicação em lugares de difícil acesso. (CABRAL, 2010).
A figura 7 mostra a câmera termográfica Flir, modelo T540, e seu fácil
manuseio.
Figura 7: Câmera termográfica Flir T540.

Fonte: FLIR (2020).

A termografia é definida como uma técnica não intrusiva e não destrutiva


que apresenta a temperatura do corpo através de um termograma, obtido por
uma câmera capaz de detectar os raios infravermelhos emitidos pelo corpo. As
diferenças de temperatura presentes no objeto analisado formam um contraste
visual na imagem sem que seja necessário o aquecimento do objeto por isso, a
análise termográfica é amplamente utilizada, uma vez que permite a observação
remota dos corpos. (COSTA, 2010).

2.7.1 Termografia Qualitativa

A termografia é chamada de qualitativa quando o importante é o perfil


térmico e não os valores de temperatura. Com base nessa característica a
termografia pode ser classificado com um método que fornece dados
instantâneos. (INGRACIO, 2010).
Através da leitura qualitativa, pode se identificar a diferença de
temperatura entre pontos de um equipamento de forma eficaz, podendo ser útil
no diagnóstico de problemas como deficiências de isolamento térmicos,
problemas em mancais e transmissões mecânicas, falhas em isolamentos de
cabos elétricos, localização de entupimentos em tubulações e outros itens que
podem ser reconhecidos através da diferença de temperatura. (MEDEIROS,
2012).
A termografia qualitativa pode ser utilizada quando se quer visualizar o
nível de óleo de um equipamento, o ponto de obstrução de uma tubulação, ou
ainda a detecção de vazamentos de gás.
Na figura 8 temos a imagem real de um transformador em operação,
captada por uma câmera fotográfica convencional.

Figura 8: Imagem fotográfica de um transformador de potência.

Fonte: Chesf (2018).

Já na figura 9 é possível visualizar que o equipamento possuía um dos


radiadores obstruídos e sem realizar sua função de refrigeração. Só foi possível
esta visualização com a câmera termográfica.

Figura 9: Imagem térmica do mesmo transformador de potência, porém


percebe-se a obstrução de um dos radiadores.

Fonte: Chesf (2018).


A origem desta obstrução foi uma falha na abertura das válvulas que
comunicam o óleo isolante do tanque principal para as aletas dos radiadores. Ao
terminar uma manutenção de rotina, a equipe da manutenção havia esquecido
de abrir a válvula comunicante para iniciar a circulação do óleo por meio da
convecção natural.

2.7.2 Termografia Quantitativa

O método quantitativo é, geralmente, o segundo a ser aplicado, pois


incondicionalmente o primeiro a ser utilizado será a análise qualitativa. É através
do método quantitativo que pode se definir o nível de gravidade da anomalia
gerada pelo aquecimento do material. (INGRACIO, 2010).
Segundo Percon (2017), o objetivo deste método é estabelecer um ponto
de referência para o equipamento operando em condições normais e em bom
estado de funcionamento e, em leituras térmicas posteriores, utilizar essa
imagem referencial padrão de bom funcionamento.
A figura 10 mostra o resultado de uma inspeção quantitativa. Um para raio
de 500 KV que possui uma anomalia térmica em um ponto específico do seu
corpo isolante, onde não existe fluxo de corrente e mesmo assim possui uma
elevação de temperatura num ponto central do seu corpo.

Figura 10: Para-raio com anomalia térmica, diagnosticada pelo método


quantitativo.

Fonte: Chesf (2018).


2.7.3 Termografia Comparativa

Um outro método de análise de anomalias térmicas é o método


comparativo. Este método usa objetos adjacentes idênticos e sob as mesmas
condições para analisar a existência de uma não conformidade térmica.
Este método é bastante utilizado na área elétrica por fazer um
comparativo das três fases em análise, como é o caso mostrado na figura 11,
que correlaciona as temperaturas de três fusíveis NH.

Figura 11: Termografia comparativa.

Fonte: Percon (2017).

A figura 11 traz o caso em que a termografia comparativa percebe uma


diferença de temperatura entre as 3 fases que alimentam o equipamento. Pela
imagem térmica percebe-se que há um sobreaquecimento na fase central, e
outro sobreaquecimento ainda mais elevado na fase da direita. Em condições
normais as temperaturas deveriam estar equilibradas.

2.8 Tipos de Manutenção

A manutenção é definida como sendo um apanhado de atividades e


recursos aplicados aos equipamentos, na intenção de garantir o seu bom
funcionamento dentro dos parâmetros de disponibilidade, (Mirshawka, 1993).
O termo é utilizado para abordar a forma na qual as organizações tentam
evitar falhas, cuidando de suas instalações físicas, onde o autor enfatiza que a
manutenção é uma parte importante da maioria das atividades de produção, e
afirma ainda que em algumas operações, as atividades de manutenção serão
responsáveis por parte significativa do tempo e da gerência de produção (santos,
2006).
Ainda é comum certa confusão quanto à nomenclatura utilizada para
definir os tipos de manutenção, os nomes podem variar, mas o conceito deve
estar bem compreendido, conforme mostrado a seguir, pois permitem a escolha
do tipo mais conveniente para um determinado equipamento, instalação ou
sistema, (Comitti, 2004).

2.8.1 Manutenção Corretiva

A manutenção corretiva somente corrige as falhas sem descobrir as


causas que levaram a quebra da máquina, (Santos, 2006). Trata-se da
manutenção feita na máquina ou equipamento que por sua vez já apresenta
algum defeito ou falha em seu funcionamento, ou seja, é a execução do reparo
propriamente dito, substituindo ou reparando a peça ou maquinário
comprometido, sendo que neste caso, o reparo é feito já com o processo parado.
Isso dificulta a estimativa da produção, por não saber quando as paradas vão
ocorrer e nem o tempo gasto para o reparo, (Garrido, 2009).

2.8.2 Manutenção Preventiva

Este tipo de manutenção trata de realizar os consertos e a substituição


das peças em intervalos de tempos já estipulados ou ainda seguindo critérios
fixados no intuito de reduzir a perda dos rendimentos, sendo feita as
interferências nas máquinas ou equipamentos que ainda não apresentaram
defeitos, porém essa manutenção é feita segundo critérios já estabelecidos que
na maioria das vezes, são definidos por hora ou período de funcionamento,
(Mirshawka, 1993).
2.8.3 Manutenção Preditiva

A manutenção é feita na máquina ou equipamento através de um exame


ou teste, a fim de localizar o defeito ou ponto vulnerável e programar sua
correção em um momento propício, onde não haja prejuízos na parada da linha
de produção. Sendo assim, as falhas podem ser encontradas e corrigidas em
seus estágios iniciais, antes que se tornem falhas capazes de provocar a
interrupção no processo produtivo, podendo diminuir os custos e o tempo de
intervenção através do conhecimento prévio dos defeitos a serem corrigidos,
aumentando a disponibilidade dos equipamentos para o processo e minimizando
os riscos de acidentes e interrupções inesperadas (Santos, 2006).
Neste caso, os mecânicos que antes só substituíam peças com defeito,
passam a ser profissionais realmente qualificados e capacitados que por sua
vez, são capazes de fazer estudos e apontar quais equipamentos precisam de
atenção especial, desde uma simples operação com um engraxamento ou
lubrificação, ou até mesmo a substituição de peças com defeito, (Santos, 2006).
3 DESENVOLVIMENTO

Neste capítulo iremos discursar sobre tópicos relevantes onde será


possível entender o funcionamento de um termovisor, suas características
técnicas, as informações necessárias a serem coletadas antes de se realizar
uma inspeção termográfica.

3.1 Apresentação do termovisor

Os Termovisores são aparelhos que captam a imagem térmica e formam


os termogramas, imagens que permitem a visualização da distribuição de
temperatura da superfície focalizada (OLIVEIRA, 2010).
Em outras palavras podemos dizer que o termovisor é o equipamento que
capta a radiação infravermelha emitida pelo objeto a ser analisado e envia para
um processador que tem a função de tratar a informação e gerar uma imagem
térmica correlacionando cores e temperaturas, o chamado termograma.
É importante frisar que um termovisor não realiza a medição direta de
temperatura, o que acontece é a medição indireta, pois é o algoritmo existente
no processador da câmera termográfica que realiza a construção da imagem
térmica e exibe a temperatura dos corpos em forma de cores.
As figuras 12 e 13 mostra um termovisor da fabricante Flir, modelo T540,
que será objeto de estudo deste trabalho.
Na figura 12, apresentamos as características do termovisor, em
perspectiva posterior, conforme numeração a seguir:

1 Anel de focagem;
2 Alto falante;
3 Botão programável;
4 Botão de arquivo de imagens;
5 Tecla de navegação com toque central;
6 Botão retroceder;
7 Botão ligar/desligar;
8 Correia de mão;
9 Ecrã LCD multitoque;
10 Sensor de luz;
11 Microfone;
12 Ponto de fixação da fita para pescoço.

Figura 12: Câmera FLIR, perspectiva parte posterior.

Fonte: FLIR (2019).

Na figura 13, apresentamos as características, com vista frontal conforme


numeração a seguir:

1 Botão de focagem automática;


2 Botão guardar;
3 Ponto de fixação da fita para pescoço.
4 Receptor de laser;
5 Transmissor do laser;
6 Lâmpadas da câmera (lado esquerdo e direito);
7 Lente de infravermelhos;
8 Câmera digital;

Figura 13: Câmera FLIR, perspectiva parte frontal.

Fonte: FLIR (2019).


3.1.1 Faixa de Temperatura

É a faixa de temperatura que delimita o range de trabalho do termovisor.


Em outras palavras, a faixa de temperatura especifica o limite máximo e mínimo
de temperatura que o termovisor irá conseguir captar através da radiação emitida
pelo objeto em análise.
A faixa de temperatura é uma característica física do equipamento, que
deve ser conhecida antes da aquisição de um equipamento e que não pode ser
alterada, portanto é necessário que se tenha conhecimento das temperaturas a
serem medidas para que o termovisor possa atender a necessidade de cada
caso.
Existem termovisores com faixa de temperatura ajustada para detectar
objetos entre -20ºC e 120ºC, outros calibrados para faixa de 0ºC a 650ºC e,
ainda, calibrações especiais como a faixa de 300ºC a 1200ºC.
A faixa de temperatura pode variar de um equipamento para outro, a
depender da especificação de cada fabricante de termovisores.

3.1.2 Amplitude e Nível

A amplitude, que também é chamada de “campo”, é a parte interior da


faixa de temperatura que usamos em uma imagem. Essa amplitude pode ser
alterada manualmente ou automaticamente pelo termovisor, e vai ajudar o
inspetor a ter uma imagem térmica que mais o agrada.
Na figura 14 é possível ver uma imagem à esquerda com o ajuste
automático da câmera, já na figura à direita a amplitude de temperatura foi
ajustada para próximo da temperatura do isolador, resultando em uma imagem
bem mais nítida e com a variação de cores bem definidas, evidenciando bem
onde está localizada da não conformidade térmica.
Figura 14: Comparativo do ajuste manual e automático da câmera.

Fonte: FLIR (2019).

O segundo conceito, denominado de nível, é o ponto intermediário da


amplitude.
Na figura 15 fica fácil a visualização dos conceitos faixa de temperatura,
amplitude e nível. A Faixa de temperatura do equipamento vai de -40ºC a
+120ºC, dentro desta faixa é possível escolher a amplitude para a melhor
interpretação da imagem térmica e, por fim o ponto centra da amplitude é o nível.

Figura 15: Exemplificação de faixa de temperatura, amplitude e nível.

Fonte: Chesf (2019).


3.1.3 Foco térmico

Uma imagem térmica profissional está sempre nítida e focada, o objeto e


o padrão de calor devem ser fáceis de reconhecer.
As imagens mal focadas tendem a apresentar leituras erradas de
temperatura. Mesmo que outros parâmetros estejam definidos corretamente, é
provável que os valores de medição da imagem térmica estejam incorretos.
Na figura 16 temos o exemplo de uma imagem focada (à esquerda), com
uma temperatura máxima de TMAX=89,7ºC e uma imagem térmica desfocada (à
direita) com a temperatura máxima de TMAX=73,7ºC.

Figura 16: Imagem térmica focada (à esquerda), e imagem térmica desfocada


(à direita).

Fonte: FLIR (2019).

A diferença de temperatura entre as duas imagens da figura 16 chegou a


16,4ºC causada apenas pela falta de foco. Portanto fica claro a importância de
uma imagem nítida para a correta percepção da temperatura dos objetos.

3.1.4 Paleta de cores

A paletas de cores são as cores que na imagem. A escolha correta da


paleta de cores pode facilitar bastante a interpretação das variações de
temperatura no objeto inspecionado. A mais comum a ser utilizada no setor
elétrico á a paleta de cor “ferro”, mas existem várias outras como: arco-íris,
incandescente branco, ártico e lava.
Na figura 17 podemos visualizar a possíveis variações de paletas
disponíveis na câmera FLIR T540.
Figura 17: Paleta de cores da câmera FLIR T540.

Fonte: FLIR (2019).


A variedade de paletas de cores se dá, também, pela variedade de
possibilidades para a utilização de uma câmera termográfica. Uma é mais
indicada para utilização em objetos do sistema elétrico, outra mais indicada para
a indústria bélica e de segurança, outra, ainda, mais indicada para a área
medicinal, portanto testa-se a melhor paleta para cada situação.

3.2 Parâmetros exigidos antes de uma inspeção termográfica

Realizar uma inspeção termográfica requer alguns preparativos. Fatores


climáticos como a umidade ou a velocidade do vento, fatores técnicos como a
distância e a emissividade do objeto a ser inspecionado são fatores que afetam
o resultado final de uma inspeção termográfica.
Este tópico descreverá os parâmetros mínimos exigidos pela câmera
termográfica antes de iniciarmos uma inspeção termográfica.

3.2.1 Emissividade do objeto em análise

Ao realizar uma análise termográfica é importante entender o objeto sob


análise (alvo) e o material do qual é feito. Cada material possui uma emissividade
de radiação infravermelha diferente, sendo essa maior ou menor, que pode ser
fornecida pelo próprio fabricante ou pode estar nas tabelas que os fornecedores
de câmeras termográficas disponibilizam.
Em casos que a emissividade é desconhecida, também é possível
determinar a emissividade a partir de um objeto em que essa emissividade é
conhecida.
Deve-se usar um pedaço de fita isolante na superfície, de
aproximadamente, (6 x 3) cm. Em seguida posicionar o pedaço de fita e mantê-
la por 10 minutos nesta posição, até a estabilização da temperatura, dessa forma
pode-se inserir o valor da emissividade da fita isolante que já é conhecida
(ARAÚJO, 2014).
Na figura 18 podemos observar a aplicação da fita isolante para referência
da emissividade.
Figura 18: Utilização de fita isolante para referência da emissividade.

Fonte: Santos (2006).

A maioria dos materiais existentes possui sua emissividade conhecida,


portanto se torna mais restrita a necessidade de análise da emissividade através
do ensaio comparativo.

3.2.2 Temperatura Refletida

Este parâmetro é utilizado para compensar a radiação, das zonas


circundantes, refletida do objeto para a câmara. Esta propriedade do objeto é
designada "reflexividade". Tem papel importante nas inspeções termográficas
em que o objeto sob inspeção possui uma emissividade de radiação
infravermelha baixa.
Para se determinar a temperatura refletida, podemos usar a instrução
baseada no manual do termovisor fornecido pela FLIR Systems (2010). Deve-se
cortar um pedaço de folha de alumínio de aproximadamente (30 x 40) cm,
amassar e colocar em um papel cartão do mesmo tamanho. O papel cartão com
o alumínio deve ser posicionado no alvo, com o lado da folha de alumínio voltado
para o termovisor
Deve-se inserir no painel do termovisor a emissividade como sendo 1.0,
e a distância do alvo como sendo 1,0 metro e medir o valor da temperatura
aparente da folha de alumínio. O valor fornecido deve ser anotado para entrar
como referência, quando solicitada a temperatura refletida durante a
determinação da emissividade do material e a realização das leituras térmicas.
Um detalhe muito importante é que a temperatura refletida deve ser
idêntica à temperatura atmosférica do ambiente (ARAÚJO, 2014).
3.2.3 Distância do objeto

Para que o algoritmo do termovisor processe a irradiação coletada e


transforme em imagem térmica, é preciso o inspetor informar a distância entre a
câmera e o objeto sob inspeção.
Essa distância pode ser inserida manualmente ou pode ser calculada
automaticamente pela própria câmera termográfica.
Um detalhe importante para o uso do cálculo automático da distância é
que, em superfícies de baixa reflexão, ou se o alvo estiver inclinado, pode
acontecer de não haver retorno do feixe do laser que faz a leitura da distância,
acarretando na impossibilidade de se realizar a medição automática.

3.2.4 Temperatura e umidade do ar

Para realizar uma inspeção termográfica necessário que o inspetor insira


na câmera termográfica a temperatura e a umidade do ar no momento que está
iniciando a inspeção.
É, portanto, necessária a utilização de um termo-higrômetro que fornecerá
estas informações. Vale lembrar que é importante deixar o termo-higrômetro em
repouso, por pelo menos 1 minuto, até a estabilização total da leitura de
temperatura e umidade do ar.
Também é importante ressaltar que não é aconselhável realizar inspeção
termográfica sob chuva, neblina ou garoa. Também são desconsideradas
inspeções realizadas em condições que a velocidade do vento esteja acima de
20km/h ou 6m/s.
3.3 Informações Sistêmicas

Antes de se iniciar uma termografia num pátio de subestação, também é


necessário estar atento às condições sistêmicas, pois são elas que permitirão
fundamentar a inspeção.
As Leituras operacionais essenciais para se iniciar uma inspeção
termográfica serão detalhadas neste trabalho.

3.3.1 Corrente de Inspeção

É a corrente elétrica que flui, no momento da inspeção, pelas diversas


conexões, equipamentos ou parte deles, de um determinado bay (grupo de
equipamentos de fazem a função de transmissão).
Vale ressaltar que, para que uma inspeção seja válida, a corrente nominal
do bay, no instante da inspeção deve estar igual ou acima de 80% da sua
corrente histórica.

3.3.2 Corrente Histórica

É a média aritmética das correntes elétricas máximas registradas nos


últimos 12 meses, expurgadas as contingências, de um circuito ou bay.

3.3.3 Corrente Máxima

É o valor da máxima corrente elétrica registrada nos últimos 12 meses, no


bay em referência, expurgadas as contingências.
3.3.4 Corrente Limite Operacional do Bay

É a corrente elétrica que pode circular no bay sem ultrapassar os limites


existentes (Base de proteção, Linha de Transmissão ou equipamentos
existentes), devendo ser considerado o menor dos limites de corrente elétrica
sem o uso de fatores de sobrecarga.

3.4 A Inspeção Termográfica

As inspeções termográficas fazem parte da rotina dos Operadores de


Instalação (OPI) que trabalham 24h por dia, 7 dias por semana, em formato de
revezamento.
Normativamente todos os equipamentos da subestação devem passar por
2 inspeções termográficas mensais, respeitando o intervalo mínimo de 10 dias
entre as inspeções.
Em todas as inspeções realizadas dentro das instalações da Companhia
Hidro Elétrica do São Francisco, empresa escolhida para o nosso estudo, os
inspetores devem escolher a paleta de cor FERRO para formação da imagem
térmica e emissividade dos objetos = 0,85.

3.4.1 Classificação da Anomalia

Quando um operador de instalação habilitado e credenciado vai ao pátio


de uma subestação para realizar uma inspeção termográfica, além de
parametrizar a câmera termográfica e de coletar as informações sistêmicas do
bay que será avaliado, ele precisa estar ciente de como uma anomalia térmica é
classificada.
Tabela 2: Tabela de Classificação de Anomalias Térmicas.

Fonte: Chesf (2019).

Na tabela 2 acima, retirada de um normativo interno da Companhia, é


possível perceber a classificação de forma comparativa ou quantitativa
abrangente para conectores de equipamentos ou de interligação com fluxo de
corrente do sistema.
A análise comparativa leva em consideração a quantidade de graus
Celsius divergente, também chamado de gradiente de temperatura, quando se
compara um objeto com o similar adjacente. Em circuitos trifásicos, por exemplo,
podemos comparar se o ponto analisado de uma fase possui temperaturas
similares às outras duas.
Já a análise quantitativa leva em consideração o gradiente de temperatura
acima da temperatura ambiente no momento da inspeção.
Também é importante atentar em qual nível está aquela Não
Conformidade Térmica. A depender a evolução de temperatura podemos ter
valores Normais, Ponto Quente, Nível 1 e Nível 2. Esta classificação também é
levada em consideração pelas equipes de manutenção para estimar o tempo
máximo para correção daquela anomalia térmica. Quanto mais severo o
gradiente de temperatura, mais rápido deverá ser a sua correção.

3.4.2 Prazos para Correção

Agora que já conhecemos as técnicas para classificar uma anomalia


térmica precisamos estar atento no seu prazo para correção.
As equipes de manutenção corretiva planejam suas intervenções
conforme o nível de criticidade apresentado.
Tabela 3: Tabela de Classificação e Ações para as Anomalias Térmicas.

Fonte: Chesf (2019).

Quando o resultado da inspeção identifica temperaturas normais, nada


deve ser registrado, conforme indicações da tabela 1.
Já quando identificamos uma anomalia térmica classificada como Ponto
Quente, é gerada uma Nota/Ordem de Manutenção para que a anomalia seja
corrigida. O prazo para correção é de 360 dias.
Se a anomalia encontrada é classificada como Nível 1, também deve-se
gerar uma Nota/Ordem de Manutenção, porém o prazo para correção é de 15
dias.
No caso mais severo, onde temos NCT Nível 2 o prazo para correção é
imediato. Por questões de logística, formação de equipe ou separação de
material.
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Esta pesquisa tem o objetivo de apresentar um estudo de caso de caráter


qualitativo-quantitativo.
A empresa objeto deste estudo é a Companhia Hidro Elétrica do São
Francisco, empresa geradora e transmissora de energia elétrica, subsidiária da
Eletrobras com abrangência em todos os estados da Região Nordeste e que, no
Ceará (Regional Norte), possui um total de 18 subestações de alta tensão,
transmitindo, em algumas delas, em níveis de tensão da ordem de 500 KV.
Para este estudo de caso optamos por escolher a subestação Aquiraz II,
uma das mais importantes subestações da região metropolitana da capital
cearense, que recebe linhas de transmissão de 230 KV e realiza a conversão de
energia diminuindo o nível de tensão até ser entregue à concessionária de
distribuição de energia local em 69 KV.
A inspeção termográfica foi realizada conforme orientação dos normativos
internos da Companhia no dia 24/02/2023, e utilizou-se uma câmera
termográfica do fabricante Flir, modelo T540. Os inspetores realizaram a
inspeção em todos os equipamentos da subestação naquela data (Pátio 230 KV,
69 KV e 13,8 KV), cumprindo a segunda das duas inspeções mensais
obrigatórias.
Foi possível, então, identificar uma anomalia térmica em uma chave
seccionadora tripolar do pátio de 69 KV. A codificação operacional da chave é a
32S2-5. Esta chave seccionadora está associada à Linha de Transmissão 02S2,
que atende a cidade de Cascavel e regiões adjacentes, portanto uma Linha de
Transmissão que possui um grande número de consumidores associados.
4.1 Relatórios de Inspeção

Uma vez realizada a inspeção e identificada a anomalia térmica na chave


seccionadora 32S2-5, é necessário elaborar alguns documentos para registro da
Não Conformidade Térmica (NCT).
O primeiro dos documentos elaborados é o Termograma. Ele precisa ser
formatado antes de ser registrado. O termograma é constituído de algumas
informações básicas para localização do ponto onde encontra-se a anomalia e,
também, possui as imagens térmicas. Importante salientar que as imagens
precisam passar por um tratamento antes de serem inseridas no termograma.
O programa dedicado ao tratamento da imagem é o Flir Tools,
desenvolvida pela mesma empresa fabricante da câmera térmica.
Na realização do tratamento da imagem busca-se melhorar a coloração
da imagem, ajustar a amplitude e o nível das temperaturas nas imagens para
que se tenha a melhor compreensão possível por parte da equipe de
manutenção. Também é no termograma que descrevemos a posição e a fase a
qual foi encontrada a anomalia térmica.
Outras informações como o nome da subestação, temperatura ambiente,
umidade relativa do ar e a corrente elétrica que está passando no bay no instante
da inspeção são dados importantes que devem estar presentes no termograma.
No termograma apresentado abaixo (Figura 19) podemos perceber todas
as informações necessárias que foram citadas anteriormente.
Figura 19 - Termograma Inicial

Fonte: Chesf (2023).


Logo na parte superior do temograma podemos perceber a nomenclatura:
RIT DONFT 12.2023. Esta nomenclatura pode ser traduzida como um
documento associado ao Relatório de Inspeção Termográfica, realizada pela
equipe de inspetores do setor DONFT, e possui a sequência 12 do ano 2023.
Em seguida, na descrição é citada a anomalia na chave seccionadora
32S2-5, na fase A, especificamente no contato central da chave.
A temperatura no momento da inspeção era de 27ºC, a umidade relativa
do ar estava em 84% e a corrente do bay era de 237A.
Percebe-se também a importância de se registrar as 3 fases da chave
seccionadora, para que seja feita a análise comparativa com as fases
adjacentes.
As imagens também precisam estar no mesmo ângulo para que não se
cometa equívoco em comparar pontos diferentes do fluxo de corrente elétrica.
Pelas imagens do Termograma Inicial é possível identificar que as
temperaturas das 3 fases são: Fase A = 127,9ºC, Fase B = 82,2ºC e Fase C =
31,6ºC.
Após concluir a edição do termograma é necessário realizar a análise de
criticidade, pois é a partir da classificação da anomalia que a equipe de
manutenção saberá a gravidade e em quanto tempo deverá ser solucionado o
problema.
Para isso, um segundo registro precisa ser realizado e o termograma
precisa ser anexado no Relatório de Inspeção Termográfica (RIT). Este segundo
relatório, o RIT, tem o objetivo de realizar a classificação da anomalia mediante
a inserção das temperaturas. Como o RIT fica em ambiente de rede, qualquer
pessoa com acesso à rede corporativa da empresa pode acessar os relatórios.
A ferramenta RIT também traz mais velocidade e segurança ao processo
de termografia, já que a classificação é feita através de algoritmo virtual, usando
os mesmos parâmetros da Tabela 2 – Classificação de Anomalias Térmicas,
porém sem a possibilidade de uma análise equivocada por falha humana e num
tempo muito menor que a ação humana.

Figura 20 - RIT Inicial

Fonte: Chesf (2023).

A Figura 20 mostra o Relatório de Inspeção Termográfica e todas as


informações contidas nele.
No primeiro quadrante vemos informações como o nome do inspetor, a
instalação (subestação) que foi analisada, a codificação operacional do
equipamento com a anomalia térmica e a Nota de Manutenção (NM), que é o
número, dentro do sistema de gestão, que a equipe de manutenção usará para
rastrear a anomalia e programar sua solução.
Já no segundo quadrante do RIT, temos as informações sistêmicas do
momento da inspeção. Informações como o Limite Operacional do Bay, a
Corrente de Inspeção, a Corrente Histórica e Corrente Máxima serão
informações imprescindíveis para entender se a anomalia térmica já
compromete o fluxo de corrente pelos equipamentos do bay.
Por fim, no terceiro quadrante temos a informação mais importante do RIT,
que é a classificação da anomalia. Na anomalia encontrada a temperatura da
fase A estava em 127,9ºC. Quando comparamos com a fase de menor
temperatura (fase C) encontramos um gradiente (Delta Comparativo) de 96,3ºC,
o que já classifica a anomalia em Nível-2. Fazendo também a análise
quantitativa, onde se leva em consideração a temperatura acima da temperatura
ambiente, vamos encontrar na fase A uma anomalia Nível-1. Deve-se levar em
consideração o pior caso, portanto a fase A encontra-se com uma Anomalia
Térmica Nível-2.
Na fase B, onde a temperatura encontrada foi de 82,2ºC, podemos
detectar um gradiente (Delta Comparativo) de 50,6ºC o que já classifica a
anomalia em Nível-1. Na análise quantitativa podemos encontrar um Delta
Quantitativo de 55,2ºC, que enquadra a anomalia em Ponto Quente. Mais uma
vez considerando o pior caso podemos dizer que na fase B há uma anomalia
classificada como Ponto-Quente.
Na fase C as temperaturas estão dentro da normalidade. Tanto na análise
Comparativa quanto a análise Quantitativa as temperaturas da fase C seguem
sem anomalias.
Como foi detectado uma Não Conformidade Térmica Nível-2 na fase A o
prazo para correção da anomalia deve ser imediato.
4.2 Intervenção

No caso apresentado a equipe de manutenção da empresa foi avisada da


gravidade da situação e logo tratou de programar uma atividade.
Por se tratar do bay de uma Linha Transmissão que atende a região
metropolitana de uma capital, é necessário um estudo para que se minimize os
impactos nos consumidores.
A Figura 21 mostra a condição normal de operação de LT 02S2, que
trabalha com as chaves seccionadora 32S2-4 e 32S2-5 fechadas e o Disjuntor
12S2 fechado. Em destaque, na cor laranja, está o caminho percorrido pela
corrente elétrica em condições normais de operação.

Figura 21 - Condição Normal de Operação LT 02S2

Fonte: Chesf (2023).

Como não é desejável desenergizar toda uma cidade ou região e, para a


realização do serviço é imprescindível que a chave seccionadora esteja
desenergizada e aterrada, é necessário realizar a transferência de carga desse
bloco de consumidores para que a corrente flua por outro caminho.
Para estes casos temos a possibilidade de transferir a corrente elétrica do
bay 02S2 para que esta flua por um caminho alternativo que permita a equipe de
manutenção realizar a atividade corretiva na chave seccionadora sem tensão e,
também, sem desligar o circuito da LT 02S2, mantendo todos os consumidores
ligados.
A Figura 22 mostra o caminho alternativo da corrente, que, agora, terá a
chave 32S2-6 fechada. Com o caminho da corrente definido, poderemos abrir o
disjuntor 12S2, bem como abrir e isolar as chaves 32S2-4 e 32S2-5, que é o
objeto principal da intervenção.
Figura 22 - Condição LT 02S2 transferida

Fonte: Chesf (2023).

Depois de definida a configuração do circuito, a equipe de manutenção


emitiu uma Solicitação de Intervenção - SI para a data 25/02/2023, dia seguinte
à realização da inspeção termográfica inicial. Este tempo de 24 horas é aceitável
para que seja realizado um planejamento seguro da atividade.
Na Figura 23 temos a imagem da SI enviada ao Operador Nacional do
Sistema (ONS) solicitando a liberação para que a atividade de manutenção
corretiva aconteça.
Figura 23 - Solicitação de Intervenção

Fonte: Chesf (2023).

A liberação aconteceu e a atividade realizada pela equipe de manutenção


foi um sucesso. Durante a intervenção foi necessária a troca dos contatos de
força da chave seccionadora 32S2-5 nas fase A e B, já que as temperaturas de
127,9ºC e 82ºC, respectivamente, haviam danificado os contatos de cobre.
A intervenção teve duração de 1 hora de trabalho e, ao final das atividade
foi realizada a manobra de devolução voltando com a LT 02S2 às condições
normais de operação.
4.3 Pós-Intervenção

Mesmo após a conclusão da atividade corretiva por parte da manutenção


com a substituição dos contatos de força da chave seccionadora, não podemos,
ainda, afirmar que a anomalia térmica foi eliminada.
Uma nova inspeção termográfica deve ser realizada após, no mínimo, 2
horas que o circuito da LT 02S2 assume carga.
O resultado da inspeção também deve gerar um novo Termograma e um
novo RIT para que se possa documentar o resultado da ação corretiva realizada
por parte da equipe de manutenção e, por último dar baixa, via sistema de gestão
da manutenção, na pendência.
Como o serviço na chave foi concluído por volta de 10:00h do dia
25/02/2023, a inspeção termográfica Pós-Intervenção foi realizada algumas
horas depois, por volta de 18h, já que a equipe de operadores da instalação
aguardou a corrente do bay subir até próximo à corrente de inspeção Inicial.
A Figura 24 mostra o resultado das imagens térmicas nas 3 fases da
chave 32S2-5. É importante perceber que a Corrente de Inspeção Pós-
intervenção estava em 227A, bem similar à corrente de inspeção do termograma
inicial. Também já é perceptível que as imagens do termograma pós-intervenção
já são bem mais homogêneas, com similaridade de temperaturas nas 3 fases.
Figura 24 - Termograma Pós-Intervenção

Fonte: Chesf (2023).


Com o termograma pronto foi necessário inserir os valores de temperatura
no Relatório de Inspeção Termográfica para comprovar a correção completa da
anomalia.
A Figura 25 apresenta os valores de temperatura nas 3 fases e ratifica o
sucesso da intervenção quando apresenta os valores de temperatura como
Normais, nas 3 fases, tanto na análise Quantitativa quanto na análise
Comparativa.

Figura 25 - RIT Pós-Intervenção

Fonte: Chesf (2023).

Com as temperaturas dentro da normalidade o processo de


acompanhamento da anomalia térmica pode ser finalizado e o Relatório de
Inspeção Termográfica é alterado para o status Concluído. O registro continua
armazenado em um banco de dados e fica disponível para futuras consultas ou
auditorias.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo de caso apresentou resultados satisfatórios, uma vez que


conseguiu detectar duas anomalias térmicas na chave seccionadora 32S2-5 da
subestação Aquiraz II. Na fase A detectou uma anomalia Nível-2 e na fase B
uma anomalia Nível-1. Além de perceber as anomalias térmicas através da
câmera termográfica, este estudo mostrou também o plano de ação realizado
através de uma intervenção de manutenção para mitigar os defeitos
encontrados. A intervenção foi realizada utilizando recursos de transferência de
cargas, de modo a não incidir interrupção a nenhum consumidor que a Linha de
Transmissão estivesse atendendo. Após a realização da intervenção foi possível
ratificar o êxito dos trabalhos quando uma nova inspeção foi realizada e os
parâmetros de temperatura das três fases do equipamento estavam dentro da
normalidade.
A partir dos resultados apresentados foi possível constatar o grande
potencial benéfico que as inspeções termográficas têm para os equipamentos e
para sistema elétrico como um todo, uma vez que consegue detectar anomalias
térmicas através de inspeções não destrutivas realizadas à distância, e com o
sistema em pleno funcionamento. Soma-se esse benefício à capacidade que a
termografia tem em diminuir os desligamentos não-programados, reduzindo os
impactos não só financeiros, mas também de caráter social, afinal, evitar o
desligamento de um grande número de consumidores ou, ainda, de cidades
inteiras, tem um valor inestimável à sociedade.
Destaco também todo o trabalho de engenharia realizado pelas equipes
de manutenção, em procurar realizar o trabalho de correção em tempo hábil,
buscando otimizar o serviço através da transferência de alimentadores para que
o consumidor final não tenha interrupção da eletricidade que chega à sua casa.
Fica claro, ainda, que o sistema elétrico brasileiro tem a termografia como
um forte aliado, o qual reforça a máxima de manter o Sistema Elétrico de
Potência sempre confiável e disponível.
Por fim, foi possível, através de feedbacks de colaboradores internos e
gestores da área, afirmar a redução do número de interrupções não-
programadas, desde a implantação da inspeção termográfica nos instalações da
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco.
Este estudo buscou analisar a contribuição da termografia na manutenção
preditiva dos equipamentos do Sistema Elétrico de Potência. Assim, sugere-se
que estudos futuros possam realizar o levantamento quantitativo e financeiro da
redução dos desligamentos não-programados na empresa geradora e
transmissora de energia.
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