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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Disciplina: Estética e Cultura da Mídia. Semestre: 2022.2

Professora: Liliane Feitoza. Créditos: 4

Aluno: Mateus Ferreira dos Santos.

AVALIAÇÃO 1: ESTUDO DE CASO

A obra acima apresenta o interior de uma casa simples. Nele, estão


representadas cinco mulheres, quatro sentadas e uma de pé. Todas são jovens,
com exceção de uma, que pode ser localizada mais ao fundo, quase no escuro e
segurando um tecido verde e amarelo - que pode ser a antiga bandeira da
monarquia ou a nova bandeira da república. Além delas, podemos ver quatro
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crianças - três bebês e um garotinho um pouco mais velho. Duas delas


estão nos braços de duas das moças presentes no espaço: a que se localiza
sentada no lado esquerdo da pintura, dá de amamentar ao bebê, enquanto a que se
encontra levantada, à direita, parece beijar o rosto da criança que segura. No centro
da pintura, de pé, recebendo certo destaque, um jovem menino segura parte da
bandeira do Brasil com os dois braços, ele passa a impressão de que está nos
olhando de volta.
A bandeira está espalhada no chão e toma boa parte da pintura. Ela está
sendo costurada por duas das mulheres. Uma das crianças está sozinha, deitada, e
tem parte de seu corpo coberto pelo símbolo nacional. Ela segura uma das várias
estrelas que estão distribuídas pelo chão do local, e que serão costuradas na
bandeira. Na extrema direita do quadro, vemos a imagem de um senhor sentado.
Ele está no lado da sombra e quase que sendo cortado da tela. Mais ao fundo,
vemos três quadros pendurados na parede. Neles vemos as figuras de três
personagens de relevância na história do Brasil: Marechal Deodoro da Fonseca, -
que é representado na forma de um retrato oficial - Tiradentes - de camisola e com a
forca ao seu lado - e Benjamin Constant - vestido com a farda que usou na guerra
com o Paraguai. Por fim, podemos notar a presença de outros elementos que
complementam a obra, como a paisagem de montanhas, que está presente no lado
esquerdo; caixas e linhas de costura espalhadas pelo chão; uma cadeira que apoia
parte de um pedaço de madeira em formato cilíndrico, que suspende parte da
bandeira; ao fundo, um pedaço de tecido e a estátua de um santo sobre uma mesa e
entre outros detalhes.
A obra analisada chama-se “A Pátria” e foi produzida pelo pintor brasileiro
Pedro Bruno, em 1919. A pintura é positivista e apresenta traços que lembram o
impressionismo, mas possui uma imagem complexa e cheia de detalhes.
Atualmente, a tela se encontra no salão o Ministerial do Museu da República.
A pintura busca expressar a ideia do nascimento de uma nova nação, num
cenário em que o Brasil deixara de ser uma monarquia para se tornar uma república.
Cheia de referências e símbolos, boa parte do que vemos na tela - sejam
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personagens, objetos ou até mesmo técnicas de sombra e iluminação -


tenta nos comunicar algo. Segundo Portella (2019), nada está ali por acaso.

Rica em detalhes, a tela é invadida por uma luz intensa, que ilumina a
criança com a bandeira, figura central do quadro. A cena, formada
principalmente por mulheres, nos traz à mente Marianne, o símbolo feminino
da Revolução Francesa. Contrastando com áreas de sombra, a iluminação
utilizada coloca em evidência a mãe que alimenta o bebê (este
representando a República que nasce), as várias crianças, as distintas
gerações que formam uma nação onde todos se empenham em oferecer
contribuições. Quase dissolvido nas sombras, o velho representa o
passado. No quadro se destaca a luz intensa (a luz da república)
contrastando com áreas de sombra. Uma sombra sem tristeza, pois esta
simboliza um passado de glória.

A cena mostra a confecção da primeira bandeira da República brasileira.


Esta, que ocupa boa parte do campo de visão da obra, liga todos os personagens
entre si, reforçando a ideia de união e esperança nessa nova fase da nação. Ao
fundo, a mulher mais velha segura um outro tecido, também verde e amarelo, que
pode ser interpretado como sendo a antiga bandeira do Império. É nesse fundo que
Pedro Bruno retrata o passado da nação, fazendo o uso desses personagens mais
velhos para passar essa ideia, bem como apresentando nos quadros que estão
pendurados na parede, figuras que foram importantes para a história do país
(CORREA, 2019).
A obra em questão apresenta certa harmonia em sua composição. Possui
simetria na distribuição dos elementos e personagens, as cores formam uma
combinação agradável aos olhos e tudo parece estar conectado. Partindo de uma
perspectiva Aristotélica de beleza, essa característica “é uma propriedade do próprio
objeto e consiste, principalmente quando aparece como belo, na harmonia das
partes de um todo que possua grandeza e medida” . (SUASSUNA, 2012, p.31).
Aristóteles, diferente de Platão, propõe que para algo ser belo, ele não precisa estar
categorizado em uma “beleza suprema, que persiste em si mesma no mundo
suprassensível das Essências Puras”. Basta apenas apresentar harmonia entre
todas as partes do objeto em relação ao todo.
Além disso, ele defende que essa harmonia tem que apresentar grandeza,
mas também proporção e medida, sendo assim, objetos que são exageradamente
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pequenos ou exacerbadamente grandes, pertencem a outras categorias


que saem da dimensão do Belo. Ele aponta a dificuldade para observar os detalhes -
caso o objeto seja muito pequeno - e a impossibilidade de analisar o conjunto como
um todo - caso a obra seja muito grande - como fatores que contribuem para essa
classificação.
Sendo assim, a obra de Pedro Bruno, tem um valor estético, visto que suas
propriedades se enquadram dentro das características listadas por Aristóteles. A
pintura, que possui aproximadamente (1,90 x 2,78 cm), possui equilíbrio em sua
composição e suas medidas possibilitam com que ela seja observada sem muita
dificuldade. Além disso, por possuir tais atributos, estaria categorizada como uma
obra bela, segundo as classificações do autor.
No entanto, a partir de uma visão Kantiana, - que diz que a beleza está nas
percepções do sujeito e não no objeto - visto o período e o contexto em que a
pintura foi produzida, - na qual havia um grande interesse em construir um ideal de
identidade nacional - a tela talvez não teria valor estético algum.
Isso porque para o pensador, que prefere utilizar o termo “juízo de gosto”, ao
invés de “beleza”, - pois esta estaria presente no subjetivo de cada indivíduo a partir
de suas sensações ao observar uma obra - a satisfação que um produto nos causa
é algo que deve ser desprovido de interesse, ou seja, o objeto não deve ter um fim -
pois este, é ligado à utilidade e às propriedades do objeto, e o juízo “estético é
puramente subjetivo” (SUASSUNA, 2012, p. 40).
Assim, podemos concluir que para além da perspectiva Aristotélica, na qual
a proporção e a harmonia são as características que tornam essa pintura bela,
poderíamos ir além dessa percepção da beleza restrita a forma e ir para a dimensão
conceitual, trabalhando com a teoria hegeliana, na qual a beleza da obra está na
ideia que ela transmite, que supera a natureza e se manifesta no sensível.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CORREA, Paulo Celso Liberato (org.). "República em Documentos - Série


Documentos Museológicos nº 3: Pátria". Rio de Janeiro: Museu da República,
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2019. Disponível em: <https://museudarepublica.museus.gov.br/wp-


content/uploads/2019/05/republica-em-documentos_Patria_web.pdf>.Acesso em: 14
de fev. 2023.

SUASSUNA, Ariano. Iniciação à Estética. 12ª ed. Rio de Janeiro: José Olímpio
Editora, 2012.

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