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Rio de Janeiro
Julho 2021
Rodrigues, Carolina Medeiros Tourinho
Ferreira, Pedro Paulo
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade
muda”.
Primeiramente, gostaria de agradecer à minha família pelo apoio aos meus estudos, em
especial à minha mãe e professora Andréia Ferreira, a qual literalmente trabalhou para que eu
pudesse ter acesso a uma educação de qualidade tanto em termos de preparação para o ENEM
quanto para a vida. Com certeza a educação foi um fator que transformou meu curso da vida.
“Ninguém é relevante sozinho”.
Durante minha curta trajetória de vida até o momento, eu tive muito apoio de vários
amigos que realmente influenciaram de maneira positiva a pessoa que me tornei. À Andressa e
à Stephanie, agradeço por terem me apoiado durante todo o meu Ensino Médio e por terem me
ensinado muito mais do que alguns conteúdos escolares. Aos meus amigos Bernardo, Lucas e
Rodrigo, agradeço por terem me visto como mais do que um amigo em suas vidas e me
apoiaram como irmãos.
Muito obrigado à Fluxo Consultoria, por ter me dado a oportunidade de entender melhor
sobre o mundo da engenharia e também por ter me unido com pessoas tão especiais, como
Carolina, Júlia, Camille, Bruna, Karine, Caio, Igor, João, João Felipe, João Quinto, Eduardo,
João Nunes, Rafael, Henrique e Marcela, os quais se tornaram grandes amigos e parceiros na
faculdade, compartilhando momentos de felicidades, tristezas e indignações da vida.
“Quando sentimento significa muito, distância significa pouco”.
Um agradecimento especial às minhas amigas Luana e Isabella por terem mostrado que,
quando a amizade é forte, o tempo e a distância não são impeditivos para manter o amor e
carinho que compartilhamos.
Ao corpo docente da UFRJ, presto meus agradecimentos por terem se mantido conosco
em tempos difíceis e com situações muito adversas. Em especial, agradeço ao meu orientador
Renato Cameira pelo tempo de dedicação para a construção deste trabalho.
Por fim, mas não menos importante, agradeço ao meu melhor amigo e irmão Pedro
Henrique Ferreira por me inspirar a construir uma vida melhor para nós dois.
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.
Julho/2021
RESUMO
Julho/2021
ABSTRACT
In 2020, Brazil and the world experienced the new coronavirus pandemic. The need for distance
between people meant that many businesses had to undergo an accelerated digital
transformation to remain competitive in the market. This was the context analyzed in this work
from the literature review and analysis of official publications of government agencies and
renowned consulting firms. Thus, it was understood that Brazilian retail needed to accelerate
its digital transformation so that it could continue generating revenue and, above all, remain in
the market considering a post pandemic world, ensuring a good customer experience as a
competitive advantage.
Quadro 1: Resumo dos clusters encontrados na pesquisa do termo transformação digital. ..... 33
Quadro 2: Resumo dos clusters encontrados na pesquisa do termo Customer Experience ..... 47
Quadro 3: Indicadores da experiência do cliente e seus respectivos eixos .............................. 53
Quadro 4: Escolha das mudanças tecnológicas do varejo por meio de métricas da experiência
do cliente ................................................................................................................................ 101
Lista de Tabelas
1. Introdução 1
1.1. Motivação e Premissas 3
1.2. Objetivos 3
1.2.1. Objetivo Geral 3
1.2.2. Objetivos Específicos 4
2. Metodologia 5
2.1. Estudo Bibliográfico 5
2.2. Entrevista: Alberto Serrentino 6
3. Indústria 4.0: Tecnologias Habilitadoras 7
3.1. Breve histórico das Revoluções Industriais 7
3.2. A quarta revolução industrial 8
3.2.1. Biotecnologia 10
3.2.2. Manufatura Aditiva 11
3.2.3. Biologia Sintética 12
3.2.4. Internet das coisas (Iot) 13
3.2.5. Robótica 15
3.2.6. Cyber-physical Systems (CPS) 16
3.2.7. Inteligência Artificial 18
3.2.8. Cloud Computing 19
3.2.9. Blockchain 20
3.2.10. Realidade Aumentada 21
3.3. Cenário Internacional 22
3.4. Indústria 4.0: uma síntese 24
4. Transformação Digital e a experiência do Cliente 27
4.1. Transformação Digital 27
4.1.1. Transformação Digital: Conceito 27
4.1.2. Revisão Bibliográfica sobre o conceito transformação digital 30
4.1.3. Os cinco domínios estratégicos da Transformação Digital 34
4.1.4. Transformação Digital: uma síntese 41
4.2. Experiência do Cliente 43
4.2.1. A experiência do cliente: conceito 43
4.2.2. Revisão Bibliográfica sobre o conceito de experiência do cliente 44
4.2.3. Panorama da experiência do cliente enquanto uma estratégia atual das
empresas 47
4.2.4. Métricas de Avaliação do Foco no Cliente 48
4.2.5. Aquisição 49
4.2.6. Retenção 50
4.2.7. Eficiência 51
4.2.8. Métricas 52
4.2.9. Experiência do cliente: uma síntese 53
5. Panorama do varejo pré-pandemia no Brasil 55
5.1. Conceituação do varejo 55
5.2. Os ciclos históricos do varejo 56
5.2.1. Ciclo 1: Pré Abertura do Real 57
5.2.2. Ciclo 2: Pós Real (1994-2002) 58
5.2.3. Ciclo 3: Boom de Consumo (2003-2012) 60
5.2.3.1. A Criação da B2W 63
5.2.4. Ciclo 4: Maturidade e Produtividade (2013-2020) 65
5.2.4.1. Satisfação do Cliente como vantagem competitiva: o caso Nubank 68
5.2.5. Ciclo 5: Transformação Digital Acelerada (2020-hoje) 71
5.3. Canais de Venda 75
5.3.1. Varejo Físico (“Brick and mortar”) 76
5.3.2. Ecommerce 79
5.3.3. Omnicanalidade 83
5.4. Varejo brasileiro pré-pandemia: uma síntese 87
6. Panorama do varejo na pandemia COVID-19 90
6.1. Panorama geral e grandes números do ano de 2020 90
6.1.1. O Final do Primeiro ano da Pandemia 95
6.2. Tecnologia e a experiência do cliente no varejo durante a pandemia 97
6.2.1. Avanços nos investimentos nas mudanças tecnológicas durante a
pandemia 98
6.2.2. Principais mudanças tecnológicas no varejo durante a pandemia 99
6.2.2.1. Mudanças no meio de comunicação com os consumidores: ChatBot,
Live Chat e o Live Commerce 101
6.2.2.2. Interações de Realidade Aumentada na experimentação de produtos e
features que ajudam na tomada de decisões 104
6.2.3. Principais pontos de mudanças da experiência do cliente na pandemia 107
6.3. Tendências futuras do varejo mais digital 108
6.3.1. O novo papel da loja física 108
6.3.2. Tecnologias exponenciais 110
6.3.3. Personalização da relação com o cliente 112
7. Conclusão 114
Referências 117
ANEXO I 127
1. Introdução
O presente trabalho foi estruturado para que o primeiro capítulo seja uma introdução ao
tema proposto junto a motivação para a elaboração do trabalho, seus objetivos e a delimitação
da pesquisa. No segundo capítulo será trazida a metodologia utilizada. O desenvolvimento do
trabalho nos capítulos 3 e 4 busca introduzir as tecnologias trazidas pela quarta revolução
industrial e um estudo sobre os conceitos de Transformação Digital e Experiência do Cliente.
Com o objetivo de aplicar os conceitos abordados são desenvolvidos os capítulos 5 e 6 trazendo
o panorama do varejo pré e durante a pandemia COVID-19, grande objeto temporal de análise
do trabalho (Figura 1). Por fim, no capítulo 7 é concluído o trabalho junto a considerações finais
sobre o estudo realizado.
Em cada um dos capítulos de desenvolvimento (3, 4, 5 e 6) estão presentes tópicos de
síntese com figuras e diagramas a fim de agrupar os conhecimentos apreendidos em cada um
deles, além de facilitar a compreensão do leitor.
2
1.1. Motivação e Premissas
Este trabalho tem como motivação o estudo da situação atual do Brasil na pandemia do
novo coronavírus (COVID-19) vivida por ambos os autores no âmbito do consumo varejista. O
foco setorial do trabalho será o varejo brasileiro e o objeto de análise será as suas mudanças na
experiência do cliente por meio da aplicação de tecnologias aceleradas pelo COVID-19. Apesar
deste foco, é importante ressaltar que esta situação crítica impactou todos os brasileiros e todos
os setores da economia.
Com o advento da pandemia e os perigos da circulação do novo coronavírus, medidas
foram impostas a fim de diminuir a circulação de pessoas principalmente no que tange a lojas
físicas. Devido a isso, ambos os autores vivenciaram no ano de 2020 uma aceleração na
digitalização das empresas, seja no seu modo de operação na visão do cliente, como novas
tecnologias relacionadas ao comércio eletrônico, mas também na organização interna da
empresa, como o home office, por exemplo.
Com base na motivação acima, algumas premissas foram estabelecidas para este
presente trabalho principalmente baseando-se nos conceitos de transformação digital e
experiência do cliente. A primeira premissa é a de que os avanços da Indústria 4.0 começaram
a ter o seu reflexo de forma mais impactante e influência direta no varejo brasileiro no ano de
2020. A segunda premissa é a de que, apesar da crise na economia estabelecida, as empresas do
varejo investiram um maior volume de dinheiro em projetos relacionados com a transformação
digital. A terceira e última premissa é a de que a experiência do cliente online tornou-se o
principal foco das empresas no direcionamento destes projetos de transformação digital,
entendendo que a experiência online passou a ser a majoritária viável.
1.2. Objetivos
Os objetivos do trabalho foram expostos a seguir e divididos entre o objetivo geral e os
objetivos específicos. Enquanto o objetivo geral traz uma visão macro dos autores perante ao
trabalho, os objetivos específicos trazem uma visão mais micro e detalhada.
3
1.2.2. Objetivos Específicos
Para alcançar o objetivo geral é preciso definir os objetivos específicos deste presente
trabalho, que são seis:
1. Estudar e realizar uma síntese das tecnologias da quarta revolução industrial
2. Aprofundar no conceito de digital transformation entendendo seus principais pontos
focais de análise;
3. Estudar o conceito de experiência do cliente e seus principais indicadores na jornada do
consumidor;
4. Compreender o panorama do varejo brasileiro com seus ciclos históricos até 2020
aplicando os conceitos de avanços em transformação digital e experiência do cliente;
5. Análise e conclusões de como o varejo foi impactado pela pandemia COVID-19 no que
tange à digitalização das empresas e investimentos em aprimoramento da experiência
do cliente;
6. Estudo de tendências digitais futuras para o setor do varejo.
Este presente estudo possui como principal delimitação a análise dos assuntos principais
abordados: Quarta Revolução Industrial, Transformação Digital, Experiência do Cliente, a
aplicação e exploração destes dois últimos no varejo pré-pandemia e na pandemia. Desse modo,
foi explorado por meio da busca de artigos acadêmicos mais relevantes segundo o critério de
número de cocitações por meio da base Web of Science e com a utilização de literaturas extra-
acadêmica a fim de obter dados recentes sobre o momento vivenciado.
4
2. Metodologia
Para este presente trabalho, inicialmente foi realizado um estudo bibliográfico dos dois
eixos temáticos principais: (i) a transformação digital e (ii) a experiência do cliente. Com a
definição destes dois eixos temáticos, foi realizada uma busca separada dos termos em inglês
(digital transformation e customer experience) por meio da base Web of Science. Com os
resultados dessa busca, foi feita uma definição de clusters temáticos no software VOSviewer
(Figura 20 e Figura 26) com o critério de segmentação de matérias baseado em cocitação.
Ademais, para exposição de dados e conteúdos relativos aos anos de pandemia, 2020 e
2021, foram utilizados relatórios renomados de consultorias e empresas nacionais e
internacionais como Ebit Nielsen, Statista, Twilio, Oracle, Salesforce, Gartner e McKinsey.
Com esse viés, também foram utilizados dados sobre o varejo e indicadores econômicos de
instituições públicas como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Sociedade Brasileira
de Varejo e Consumo (SBVC), Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm),
Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Banco Central.
Em paralelo, para melhorar o embasamento, houve uma entrevista com um importante
analista do mercado de varejo brasileiro que se dedica ao estudo da transformação digital no
comércio no Brasil.
5
os cinco domínios da transformação digital mencionados no livro. O segundo livro é nomeado
como “Varejo e Brasil: Reflexões Estratégicas” do autor Alberto Serrentino, também
entrevistado para a execução deste trabalho. Esse livro foi utilizado como base para o capítulo
5 a fim de trazer uma contextualização do varejo no que tange a transformação digital e à
experiência do cliente.
6
3. Indústria 4.0: Tecnologias Habilitadoras
A Revolução Industrial 4.0 foi primordial para os assuntos abordados neste presente
trabalho, uma vez que propiciaram a possibilidade de implementação mais barata de tecnologia
nos processos das empresas. Ademais, anteciparam avanços tecnológicos que foram
implementados através da transformação digital nas empresas.
Nesta seção, serão abordados um breve histórico e os principais avanços tecnológicos
físicos e digitais advindos da Revolução Industrial 4.0. Ao final, na Figura 16, é mostrada uma
síntese das tecnologias abordadas no capítulo e um direcionamento do que será utilizado
posteriormente como aplicação neste trabalho.
A primeira, que ocorreu na segunda metade do século XVIII, foi marcada pela
substituição do trabalho artesanal pelo assalariado com o uso de máquinas, sendo o principal
7
diferencial da época a máquina a vapor, alimentada majoritariamente pelo carvão mineral.
Como característica social, a população passou a se estabelecer cada vez mais nos centros
urbanos. A segunda revolução ocorreu na segunda metade do século XIX e tem como principal
símbolo a substituição das principais fontes energéticas da época, na qual houve a mudança da
energia a vapor para a energia elétrica e de petróleo. No âmbito social houve o avanço dos
meios de transporte tanto de carga como particular e de comunicação, marcada pela invenção
do telefone. A terceira (1950-2010), foi marcada pela era digital na qual a internet foi a grande
responsável pelo surgimento de tantas outras tecnologias. Além dela, ocorreram a invenção e
desenvolvimento da microeletrônica (semicondutores) e um avanço energético limpo com
fontes nuclear, solar e eólica e a invenção do telefone celular que individualizou mais os meios
de comunicação. Nessa revolução começou-se a falar sobre a transformação digital da
sociedade (ALLEN, 2009 apud BROWN, 2021).
8
Figura 3: Fatores de Diferenciação da terceira para a quarta revolução industrial.
9
Figura 4: Tecnologias marcantes da quarta revolução industrial
Fonte: Elaboração própria adaptado de SCHWAB (2018); LIAO et al (2018) e MANESH et al, 2020
A seguir, serão apresentados resumos breves sobre estas nove tecnologias da indústria
4.0 a fim de ambientar o cenário atual no que tange o mundo digital. No capítulo 6 o conceito
dessas tecnologias será recuperado a fim de estudar sua influência na aceleração do varejo
digital.
3.2.1. Biotecnologia
É definida como uma das 9 principais tecnologias da Indústria 4.0 não porque foi criada
nesse período, mas sim porque foi intensamente desenvolvida e utilizada nos últimos 10 anos.
Ela é focada na manipulação de organismos vivos tais como microrganismos, bactérias e vírus
a fim de criar produtos comerciais (DIEHL, 2020).
A indústria começou com o desenvolvimento do método de isolamento de genes e
fragmentos de DNA para fins de reprodução dos mesmos por Stanley Cohen e Herb Boyer em
1972. A partir desse método, milhares de medicamentos como insulina e antibióticos foram
desenvolvidos ao longo dos anos (BURRIL, 2014). Apesar do foco principal da indústria ter
sido a saúde humana, ela também interfere diretamente no campo dos biocombustíveis e na
agricultura, acelerando o crescimento de plantas e desenvolvimento dos animais.
10
Dentre as tecnologias mais atuais, é possível citar os avanços tecnológicos na
engenharia genética com estudos sobre o sequenciamento do genoma humano e o consequente
aumento da precisão de diagnósticos de doenças e tudo isso a um baixo custo e em um um
menor espaço de tempo. Um dos avanços que ocorreu recentemente é o desenvolvimento das
vacinas Pfizer e Moderna utilizando moléculas de RNA mensageiro a fim de estimular a
resposta imunológica ao vírus Sars-Cov-2 (GERAQUE, 2021). A proposta dessas vacinas,
chamadas de gênicas, é estimular o próprio corpo humano a produzir a proteína do vírus. Isto
acontece por causa do avanço da biotecnologia que desenvolveu um identificador do código
genético viral que carrega instruções para fabricação das proteínas (BBC News, 2020).
11
Dentre as vantagens garantidas por esse tipo de produção estão: o custo de entrada nesse
mercado vem continuamente diminuindo, custos baixos de prototipagem, a eficiência do
processo é alta e gera poucos desperdícios e menos energia elétrica comparativamente com a
manufatura normal, alta customização devido a adaptação a diferentes materiais e a geometrias
complexas e , por fim, integração com outras tecnologias como a Inteligência Artificial na hora
de modelar o desenho digital (GAYETTE, 2019). A Manufatura aditiva pode ser combinada
com outras tecnologias potencializando o seu avanço, como é o exemplo da bio-AM, definida
como o uso de impressão 3D para fins medicinais e terapêuticos, produzindo material biológico,
entre outras práticas. Nesse âmbito, é possível observar a produção de próteses humanas, por
exemplo, diminuindo seu custo de produção e venda por meio dessa tecnologia (FERRARI,
2018).
12
Figura 6: Investimentos em empresas de Biologia sintética (2009 – 2018).
13
Figura 7: Os eixos de conexões que a IoT une
Um dos maiores avanços da IoT é fazer o mundo físico absorver informações e interagir
com os humanos através de sensores (Figura 7). Os sensores coletam dados de seu ambiente,
gerando informações e aumentando a conscientização sobre o contexto. Assim, a mudança de
seu ambiente pode ser monitorada e os objetos correspondentes podem dar algumas respostas,
se necessário (TAN e WANG, 2010). A AWS possui uma solução voltada para IoT que
recentemente se popularizou nos últimos anos com a aquisição de dispositivos com a
inteligência artificial Alexa embutida.
14
Figura 9: Sistema AWS Iot integrado com dispositivos Alexa.
3.2.5. Robótica
O termo “robô” vem do tcheco “Robota”, possui o significado “trabalho forçado” e foi
utilizado pela primeira vez em uma peça de teatro do autor Karel Capek em 1921 que retratava
a criação de máquinas para substituir o trabalho humano. Os robôs sempre estiveram presentes
em forma de entretenimento de ficção mesmo antes de serem desenvolvidos (RODRIGUES,
2020). Segundo o dicionário Cambridge, robô pode ser definido por ser uma máquina
controlada por um computador que é usada para realizar trabalhos automaticamente.
Na década de 1960 foram desenvolvidos os primeiros robôs industriais chamados de
Original Equipment Manufacturer (OEM) que otimizavam oficinas de soldagem. Com a
indústria 4.0, é evidente o avanço da robótica nas indústrias na década 2010-2020
15
principalmente ao olhar os números relativos a transporte de robôs industriais que teve um
crescimento expressivo desde 2015 (MCKINSEY 2019).
Uma aplicação recente e que foi potencializada com a pandemia covid-19 foi a criação
de robôs emocionais. A automobilística japonesa Honda lançou um programa focado em
robótica emocional Empower, Experience, Empathy e os robôs 3E-A18 e Buddy que mostram
compaixão com humanos através de interações com expressões faciais (Tech Explore, 2018).
Em 2020 na cidade de São Paulo esse tipo de robô era utilizado para triagem de pacientes com
sintomas de covid-19 (CNN, 2020).
16
a computação, a rede e processos físicos e uma evolução dos sistemas embarcados (embedded
systems). Os computadores e redes incorporadas ao CPS possuem o poder de monitorar e
controlar os processos físicos, com ciclos de feedback onde os processos físicos afetam os
cálculos e vice-versa (LEE e SESHIA, 2017). Enquanto a Internet das coisas é a conexão entre
objetos e máquinas com a internet, os CPS são máquinas as quais são controladas por algoritmos
de computação.
Em um exemplo prático, ao abordar sobre smart cities os CPS atuam como a cooperação
entre diferentes carros para garantir um fluxo eficiente de carros. Assim, todos os carros teriam
suas informações e mecanismos conectados a uma rede que rastreiam sua posição e os carros
se comunicam entre si a fim de evitar acidentes (LEE e SESHIA, 2017).
Em 2016, Elon Musk fundou a Neuralink, empresa focada em desenvolver uma conexão
entre o cérebro humano com as máquinas através do implante de um nanochip ao cérebro
humano. Esse é um exemplo aplicável do CPS pois o chip possibilitará uma conexão com a
rede que o guiará para restaurar as funções motoras do indivíduo (ROSA, 2020).
Atualmente a IoT mencionada anteriormente faz parte do campo de pesquisa dos CPS
visto que são um exemplo de aplicação de objetos inteligentes no cotidiano da sociedade
conectando-a com o mundo virtual e a internet. As descobertas advindas dos estudos feitos em
volta dos CPS levaram ao avanço das implementações da IoT. Tanto a IoT como os CPSs são
projetados para oferecer suporte a aplicativos que podem gerenciar enormes quantidades de
dados e uma ampla variedade de dados do ambiente. Os CPSs geralmente oferecem suporte a
processos da vida real e fornecem controle operacional de objetos da Iot, que permitem que
17
dispositivos físicos detectem o ambiente e o modifiquem (ZANNI, 2015). Ademais, o conceito
de CPS é comumente associado termo “ambiente phygital” que remete justamente a integração
do mundo físico com o mundo digital uma vez que as funcionalidades do mundo digital se
encontram intrínsecas a uma realidade física (MARQUES, 2010).
18
A inteligência artificial é vista de forma clara no ambiente do comércio eletrônico à
medida que é possível identificar as preferências dos consumidores de acordo com os hábitos
de navegação e consumo e proporcionar uma melhor experiência de compra ao realizar
recomendações de produtos, por exemplo. Ademais, os próprios chatbots de atendimento são
um mecanismo inteligente e toma decisões ao retornar respostas para os consumidores.
19
A agilidade se dá pela facilidade com a qual a empresa pode adquirir mais
processamento ou novas tecnologias para a sua operação, além da rapidez com a qual é possível
implantar novos serviços de tecnologia. A Elasticidade está relacionada com a modelagem da
utilização de recursos com o pagamento por eles - o consumidor pode aumentar ou diminuir a
quantidade de recursos por ele utilizado instantaneamente.
A economia de custos refere-se à utilização completa dos recursos selecionados, sem
que haja necessidade de adquirir uma capacidade maior de armazenamento do que realmente
será utilizado - além disso, os recursos físicos são compartilhados com outras empresas,
gerando economia de escala para o provedor de serviços. Por se basear em recursos digitais, há
uma facilitação de logística muito grande para a empresa contratante, pois ela não precisa mais
se preocupar com a distância entre os servidores.
Existem três tipos de cloud computing. O primeiro é o “público”, em que a infraestrutura
de armazenamento e processamento é totalmente compartilhada entre as empresas contratantes
e o custo final é variável apenas na quantidade consumida. O segundo é o “privado”, com as
mesmas características de cloud computing pública, porém toda a infraestrutura é sitiada na
própria empresa contratante, e não há compartilhamento do armazenamento. Esse tipo é mais
utilizado para empresas que armazenam dados muito sensíveis. Por fim, há o tipo “híbrido”,
como uma mistura dos outros dois. Ele oferece a mesma flexibilidade do tipo público, porém
há uma separação em que algumas operações são baseadas na infraestrutura local da empresa
(como no tipo privado) para armazenar alguns dados mais sensíveis.
3.2.9. Blockchain
F. Casino et al (2019) definiram o conceito de blockchain como um Banco de Dados
descentralizado, que pode ser organizado como uma lista de blocos ordenados, em que os blocos
ligados são imutáveis. Ao comentar sobre descentralizado, os autores deixam claro que o Banco
de Dados pode ser (i) editado por várias pessoas segundo regras e (ii) visualizado por várias
pessoas. O armazenamento do saldo histórico entre as transações de informações dificulta ao
máximo a possibilidade de fraude, o que aumenta a segurança dos processos transacionados
dentro desta tecnologia. Além da transparência das informações, a capacidade de auditoria é
igualmente aumentada.
Inicialmente, essa tecnologia ficou muito relacionada com criptomoedas (como o
Bitcoin) por facilitar as transações, além de retirar a restrição de o valor da moeda estar ligado
ao país de origem e ao governo atual - como acontece com as moedas fiduciárias. Atualmente,
20
na geração conhecida como blockchain 3.0 (Zhao et al, 2016), as possibilidades transbordam o
setor financeiro, atuando nos setores de educação, governo, saúde, gestão de dados e muito
mais.
21
Figura 14: Exemplo da utilização da realidade aumentada pela We MakeUp.
A utilização fez tanto sucesso na época que o próprio Facebook Business (plataforma
comercial do Facebook) utiliza esse caso para incentivar outras marcas a fazerem o mesmo.
Eles expõem no site que houve um aumento de 28 pontos percentuais nas vendas, com mais de
50% de aumento nos cliques de anúncio (CTR).
22
majoritária de países europeus: das 25 nações líderes, apenas 7 não estão nessa região, sendo
um deles o Estados Unidos, potência econômica mundial.
Fonte: Relatório Readiness for the Future of Production 2018 – Forum Econômico Mundial, 2018 p.10
Torna-se evidente a partir do mapa-quadrante que a maioria dos países ainda se encontra
no quadrante Nascente, ou seja, ainda está começando a desenvolver as tecnologias
mencionadas, com destaque para os países da África Subsaariana e Oriente Médio e África do
Norte que estão quase a totalidade nesse quadrante.
23
3.4. Indústria 4.0: uma síntese
O principal objetivo do presente capítulo era trazer um breve resumo das principais
tecnologias desenvolvidas na quarta revolução industrial. Como forma de sintetizar as nove
tecnologias estudadas neste presente capítulo, foi realizada uma tabela evidenciando as
conclusões-chave tiradas de cada tecnologia e uma explicação de como ela será utilizada neste
trabalho. Algumas tecnologias foram agrupadas por uma similaridade na área de conhecimento
das conclusões chave como por exemplo Biotecnologia e Biologia Sintética.
24
Figura 16: Síntese das tecnologias abordadas no Capítulo 3.
Fonte: Elaboração Própria. Baseado em: DIEHL (2020), BURRIL (2014), XIA et al. (2012) e GAYETTE (2019)
25
A partir dessa introdução das tecnologias desenvolvidas na 4IR, a seguir, no capítulo 4,
será mostrado um panorama sobre a transformação digital acelerada durante o contexto da
pandemia que se relaciona com essas tecnologias e também um panorama do que é a experiência
do cliente. Essas tecnologias mencionadas na tabela-síntese serão retomadas no capítulo 6 como
forma de mostrar as aplicabilidades no varejo brasileiro com a aceleração digital provocada
pela pandemia COVID-19.
26
4. Transformação Digital e a experiência do Cliente
Nesta seção, os conceitos de transformação digital e experiência do cliente serão
abordados com o intuito de convergir as temáticas para que, posteriormente, na seção 6, o
mercado varejista possa ser avaliado segundo esses dois conceitos.
Primeiramente, a abordagem de transformação digital será explanada ao desenvolver
cinco domínios estratégicos imprescindíveis para tal revolução. Depois, a experiência do cliente
será desenvolvida para que seja possível apresentar a visão a partir do cliente, de acordo com
três eixos importantes de métricas do relacionamento com cliente.
27
Figura 17: Progresso Tecnológico.
2. Digitalização
Definida pelo uso de diferentes tecnologias digitais para gerar mudanças no modelo de
negócio, podendo gerar novas fontes de receita, geração de valor e novas oportunidades para o
negócio (Gartner Glossary, 2021). Ela é capaz de transformar os processos da organização no
mais digital e automatizado possível por meio da implementação de diferentes projetos. Como
a adoção de um sistema CRM (Customer relationship management) para registrar e organizar
os pontos de contato da empresa com o consumidor, por exemplo.
3. Transformação Digital
A transformação digital pode ser definida como o processo normalmente vivido por
empresas no qual elas fazem usufruto da tecnologia para ocasionar mudanças estruturais e
processuais a fim de melhorar o seu desempenho. Assim, a tecnologia passa a ter um papel
estratégico no core da companhia em todos os seus domínios (RABELO,2020). Do ponto de
vista conceitual, ela não pode ser definida em uma empresa como um só projeto de
transformação digital, na verdade ela se refere ao conjunto de projetos de digitalização e de
28
digitização com o objetivo de tornar o negócio como um todo mais digital. Assim, conferindo
um termo mais abrangente, a transformação digital refere-se a mudanças estruturais na empresa
como a estrutura organizacional, evolução do produto, meios de comunicação com os clientes,
canal de vendas, tornando a tecnologia parte do DNA da empresa (Red Hat, 2021).
Segundo o relatório feito pela empresa IFS World, os investimentos em projetos de
transformação digital seguem principalmente três pilares tecnológicos: Internet das Coisas
(IoT), sistemas de Enterprise Resource Planning (ERP) e Big Data & Analytics. Esses
investimentos estão em crescimento constante desde 2017 e em 2020 atingiu o valor de U$1,78
trilhões de dólares mundialmente, mostrando um crescimento de 178% em relação a 2018, de
acordo com dados do Statista.
Figura 18: Gastos com transformação digital (2017-2020) e previsão para os próximos (2022-2024) em trilhões
de dólares
29
Figura 19: Porcentagem de respondentes de diferentes setores que afirmaram que a pandemia COVID-19
acelerou o avanço da transformação digital nas suas respectivas organizações
Segundo a pesquisa realizada pela empresa americana Twilio, 97% dos respondentes
totais do estudo afirmaram que a pandemia COVID-19 acelerou os avanços tanto em
investimentos como em execução de projetos de transformação digital. Os três principais
setores com maior porcentagem de respondentes que afirmaram esse fato foram: Tecnologia,
Energia e Saúde. Apesar de esses serem os três principais setores, os outros 5 setores da lista
apresentaram mais da metade dos respondentes afirmando esse fato também. Esses indicadores
mostram que ela está sendo acelerada nos últimos anos e teve um crescimento ainda mais
significativo no ano o qual o mundo viveu a pandemia.
31
Figura 20: Mapa bibliométrico gerado a partir do software VOSviewer
32
O cluster Vermelho, nomeado de “Estratégia Digital” com 56 publicações, possui seu
foco no ponto de vista da estratégia perante negócios digitais e traz alguns estudos de caso de
empresas, como exemplo: Audi e General Electric. Nesse cluster que o autor David Rogers
possui sua obra “The Digital Transformation Playbook: rethink your business for the digital
age” que foi muito referenciada e utilizada neste trabalho. Além disso, é ressaltado em
diferentes artigos a importância da cultura organizacional estar alinhada com os projetos de
transformação digital de uma empresa (FITZGERALD et al, 2013; BHARADWAJ, 2013).
O cluster Verde, nomeado de “Tecnologias da Indústria 4.0” com 50 publicações, traz
diferentes estudos de caso de aplicação de tecnologias da indústria 4.0 no contexto de fábricas
de manufatura e como elas estão transformando a operação das mesmas. A abordagem de lean
manufacturing é constantemente colocada em contraponto com as oportunidades da indústria
4.0 no contexto da manufatura. Ademais, são sondadas aplicações da Internet das coisas na
cadeia de suprimentos das indústrias.
Por fim, o cluster Azul, nomeado de “Metodologias de Pesquisa”, com apenas 3
publicações sendo 2 delas livros, aborda sobre diferentes metodologias para explicações de
trabalho como Estudos de Caso, por exemplo. Entende-se que suas publicações obtiveram um
alto número de co-citações e se demonstrou relevante ao termo de digital transformation
justamente pela larga presença de estudos de caso nos clusters Estratégia Digital e Tecnologias
da Indústria 4.0.
Quadro 1: Resumo dos clusters encontrados na pesquisa do termo transformação digital.
Neste presente trabalho, o cluster Tecnologias da Indústria 4.0 (Verde) mostra que a
abordagem da Indústria 4.0 para introduzir o tema da transformação digital se fez necessária no
capítulo 3, visto que o termo “transformação digital” constantemente está atrelado a aplicação
dessas tecnologias em diferentes indústrias. No caso do trabalho, ela é trazida voltada para o
33
contexto do varejo digital e com foco na experiência do cliente, que são temáticas mais recentes
(2020-2021) e não englobadas pela análise VOSviewer. Além disso, o cluster Estratégia digital
(vermelho) gerou importantes insumos para o desenvolvimento deste capítulo.
Figura 21: Cinco domínios estratégicos que sofrem mudanças na transformação digital
34
1. Clientes
Os clientes são definidos como os consumidores do produto ou serviço que uma
empresa oferta. Desse modo, há diversas formas de comunicação entre si e também entre
clientes e a empresa. Esse modo de interação define grande parte de como a reputação da marca
se posicionará no mercado, assim, é o primeiro domínio estratégico da transformação digital e
configurado como mais importante.
A transformação pode estar presente durante toda a jornada de compra do cliente
definida no funil de marketing e vendas da empresa, desde o momento do awareness, interação,
a decisão de compra até a pós-compra em si (ROGERS, 2016). É possível a implementação de
diferentes tecnologias para rastrear o cliente no meio dessa jornada, como por exemplo os
anúncios em redes sociais (Google Ads) podem realizar um grande papel na definição da etapa
de awareness. Além disso, ferramentas como o Pardot e o Salesforce auxiliam nos pontos de
contato com o cliente de modo que todas as informações ficam armazenadas em uma base de
dados de fácil acesso a diferentes funcionários da empresa.
Essa estratégia de negócio é chamada de Customer Relationship Management (CRM)
por meio de um software e possui como funções principais otimizar a gestão da carteira de
clientes por meio de um sistema, além de facilitar as campanhas de captação de clientes por
meio de e-mail marketing, por exemplo. A longo prazo, ele visa com essa gestão de clientes,
maiores índices de lucratividade e rentabilidade. Além disso, pode se integrar a outros sistemas
já pré-existentes naquela empresa como o Enterprise Resource Planning (ERP). (Gartner
Glossary, 2021).
Outro fator crucial na jornada do cliente é o ponto de comunicação dele com a
marca/empresa através dos canais de comunicação. Com a digitalização do consumo e a
formação de redes de clientes, a opinião de um cliente é difundida mais rapidamente o que
reitera a importância de as empresas terem um Customer Service rápido e efetivo (LEE e LEE,
2020).
2. Competição
Há uma clara distinção entre competição e cooperação do ponto de vista do conceito
teórico. Competidor é aquele que possui o mesmo objetivo que outra pessoa ou grupo e quer
superar ou se igualar a ele, enquanto cooperador tem o objetivo de auxiliar e colaborar
oferecendo ajuda ou trabalhando junto com alguma pessoa ou grupo. Quando essas duas
35
definições são atribuídas ao mundo dos negócios, principalmente afetado pela transformação
digital, elas se confundem e não é possível definir claramente quem são os competidores e os
cooperadores dele (ROGERS, 2016). Essa abordagem é estrategicamente definida na
elaboração da ferramenta de rede de valor, criada por Barry Nalebuff e Adam Brandenburger.
Ela expõe o conceito de que um negócio é um jogo no qual há múltiplos vencedores abordando
os vieses tanto da concorrência como da cooperação. Assim, dentro dela são definidas as esferas
Cliente, Concorrentes (Rivais de atenção e novos entrantes), Complementadores e
Fornecedores e um elemento/empresa pode se posicionar ao mesmo tempo em mais de uma
(BRANDENBURGER e NALEBUFF, 1996).
3. Dados
Esse domínio se classifica em como uma empresa produz, gerencia e utiliza a
informação para gerar dados e, posteriormente, insights a partir deles. A maioria dos dados
gerados no meio digital são desestruturados, ou seja, não são obtidos de uma maneira
sistemática e planejada e sim de uma maneira orgânica à medida que os usuários interagem
nesse meio (ROGERS, 2016). Com isso, projetos relacionados a Big Data, Inteligência artificial
e Machine Learning, adventos da quarta revolução industrial, mostram-se cada vez mais
comuns a fim de filtrar os dados recebidos e transformá-los efetivamente em insights, pois este
é o real desafio de quem trabalha diretamente com dados. A maior dificuldade não é a obtenção
deles e sim a implementação de uma cultura data-driven na empresa no meio de sua trajetória
(DAVENPORT, e BEAN, 2018). Através de uma pesquisa realizada com executivos de 57
empresas do ramo financeiro, DAVENPORT e BEAN obtiveram de resultado de que 97% deles
afirmam estar constantemente investindo em soluções ligadas a data analytics (análise de
dados). e 69% já conseguiram aplicar os resultados dos modelos preditivos em decisões de
negócios reais e obtiveram resultados mais assertivos.
37
Figura 23: Percepções de valor atrelados a Data Analytics
Apesar do estudo realizado ter sido feito com executivos somente do ramo financeiro, é
uma tendência a ser analisada em diferentes áreas do conhecimento. A empresa The Weather
Channel (TWC) é conhecida por ser um canal televisivo americano de previsão do tempo em
diferentes localidades. Com o tempo, passaram a investir em soluções voltadas para data
analytics para empresas com modelos preditivos de tempo. O Walmart foi uma das empresas
que usufruiu deste tipo de solução para planejar a demanda das lojas físicas pois enxergavam
uma alta correlação entre a previsão do tempo e o fluxo de clientes nas suas lojas (ROGERS,
2016). O que está diretamente relacionado à monetização de dados coletados abordada na
pesquisa de DAVENPORT e BEAN, em 2018.
4. Inovação
O conceito de inovação é definido por ROGERS (2016) como “o processo por meio do
qual novas ideias são desenvolvidas, testadas e trazidas ao mercado por meio de negócios”.
Enquanto para o Gartner Glossary, inovação é simplesmente definida por “novas ideias para
criação de negócios”. Como mencionado na seção 3.2 anteriormente, os fatores de
diferenciação da quarta revolução industrial (velocidade, alcance e impacto) possuem seu
impacto também no rendimento e planejamento de uma organização no que tange a inovação.
É preciso inovar constantemente na era digital, pois a rapidez com que as novas ideias são
38
colocadas em prática com auxílio da tecnologia é alta, o que abre margem para os competidores
reagirem ao que é lançado no mercado.
Tradicionalmente, a inovação era focada no produto final de uma organização porque o
processo de testes era muito custoso. Quando isto é trazido para o meio digital, a inovação não
possui um enfoque só no produto final, mas inclui aspectos relacionados a publicidade, cadeia
de distribuição e proposta de valor do produto. Além disso, nesse meio a experimentação é
menos custosa visto que muitas vezes não é preciso efetivamente encaminhar a produção de um
determinado produto e sim medir o engajamento de uma propaganda dele, por exemplo
(ROGERS,2016). Na prática, é muito utilizado o processo de comparar duas versões de uma
mesma página na internet para mensurar e gerir os resultados, chamado de “Teste A/B”
(PATEL, 2021).
A experimentação inovativa constantemente abordada junto ao tema de
empreendedorismo torna-se muito mais do que uma prática e sim uma cultura empreendedora
de experimentação. Essa cultura é cada vez mais comum até mesmo em grandes empresas já
consolidadas no mercado que desejam constantemente inovar seus produtos e serviços
(STEVENSON, 2020). Essa abordagem experiment-driven ou “test and learn” pode ser
definida como o processo de aprendizado do que funciona e do que não funciona tanto do ponto
de vista do usuário final daquele produto ou serviço como também do ponto de vista do negócio
a fim de ser economicamente lucrativo e operacionalizável (ROGERS,2016).
5. Valor
O último domínio da transformação digital é a proposta de valor que um negócio entrega
para seus clientes. No meio tradicional, a proposta de valor está diretamente ligada à atividade-
fim daquela empresa, então naturalmente empresas como a Coca-cola, por exemplo, possuiriam
a proposta de sanar a sede de seus consumidores (ROGERS,2016). Como mencionado pelo
domínio da competição, no meio digital é possível encontrar inúmeras empresas oferecendo
diferentes tipos de solução para um mesmo problema, então a proposta de valor na diferenciação
do produto torna-se cada vez mais importante. Desse modo, não necessariamente a empresa que
vende mais possui o produto que melhor atende a necessidade e sim porque gera uma proposta
de valor que transcende a solução pura do problema.
Outro exemplo visível é o caso da Nespresso. Existem diversas empresas que vendem
café, mas a marca da Nespresso transmite uma proposta de valor de sofisticação e luxo,
tornando a experiência de beber um café da marca algo desejável muito mais pela mensagem
39
emocional que transmite do que pelo propósito do café em si (FERREIRA, 2015). Em um
mercado onde os hábitos dos consumidores são fortemente voláteis à medida que novos tipos
de negócios digitais emergem, é importante sempre buscar novos caminhos de proposições de
valor. A Matriz de Ansoff se divide em três rotas principais possíveis a serem seguidas em um
mercado em declínio.
40
bem mais abrangente ao ser comparado com o das revistas em quadrinhos. Anteriormente, elas
eram o único ponto de contato com a marca e seu segmento era muito focado no público Jovem.
41
Figura 25: Síntese da transformação digital abordada em 4.1.
42
No próximo tópico será abordado o conceito de experiência do cliente e o panorama
atual de pesquisa na área. Estes dois fatores combinados: transformação digital e experiência
do cliente serão cruciais para garantir pontos de análise nos capítulos 5 e 6.
43
A teoria da experiência do cliente vem a partir de uma interação da pessoa (consumidor)
com um produto ou um serviço oferecido por uma determinada empresa (LASALLE e
BRITTON, 2003). Dessa forma, a interação se torna um fator determinante para o consumidor
decidir se irá consumir novamente naquele lugar ou não (ou ainda se indicará para outros
amigos). Os conceitos começaram a ser discutidos no final da década de 90, com Bernd Schmitt,
com o que ele chamou de Marketing Experimental (Bernd Schmitt, 1999), definindo também
experiência do cliente como o que gera valores relacionais, emocionais, sensoriais,
comportamentais ou cognitivos a partir do que o cliente passou durante os pontos de contato ao
adquirir o produto/serviço. Mais tarde, houve uma separação entre o conceito de materialismo
e experimentação a partir da compra de um serviço. Schmitt et al (2015) contam que não se
pode confundir o produto de fato que o cliente está adquirindo e a experiência que ele tem ao
adquiri-lo, comentando que ela está ligada aos pontos de contato entre o comprador e o
vendedor, sendo esses pontos cada vez melhores se antes planejados.
A literatura começou a desenvolver mais conteúdo sobre a temática a partir de 2012
como Manag Rev Q (2020) mostrou em sua revisão literária. Com uma maior atenção do
mercado para a temática “experiência do cliente” desde que entendeu que seria uma vantagem
competitiva, a academia foi mais impulsionada a gerar conteúdo, desde a ideia de experiência
do cliente até mesmo o vínculo da experiência a uma marca específica.
44
Figura 26: Mapa bibliométrico gerado a partir do software VOSviewer
Fonte: Elaboração própria
45
No cluster 1, vermelho, nomeado de “Customer-centric” com 89 publicações, está um
grupo de materiais que abordam sobre a análise a partir da percepção dos clientes, como a
ferramenta servqual - que analisa a percepção do consumidor sobre determinado produto logo
após consumi-lo - e também sobre as revisões online dos consumidores e como isso impacta a
percepção de outros consumidores. Neste cluster, também, são avaliados como os fatores de
qualidade, custo e satisfação influenciam diretamente o comportamento dos consumidores.
No cluster 2, verde, nomeado de “Customer engagement” com 66 publicações, avalia-
se o engajamento dos clientes. Nesse grupo, os conceitos de “novo marketing” considerando as
novas relações que os consumidores passaram a ter com as empresas a partir do século XXI. O
engajamento dos clientes é relacionado com processos de co-criação, quando os clientes são
envolvidos enquanto voz ativa na construção dos produtos.
No cluster 3, azul, nomeado de “Customer behavior” com 62 publicações, são
apresentados artigos voltados para o “comportamento do consumidor” enquanto um indivíduo.
Há desde estudos de caso sobre o comportamento do cliente até estruturação de modelos mais
científicos que explicam o comportamento em determinados assuntos.
No cluster 4, mostarda, nomeado de “Economia da experiência do consumidor”, com
41 publicações, há uma abordagem envolvendo a “economia da experiência”, quando a entrega
de valor por parte das empresas não se restringe mais ao produto físico, mas sim sobre todo o
processo de aquisição. Esse grupo fala explicitamente da experiência do cliente enquanto um
fator essencial para as empresas, uma vez que o produto deve ser construído já considerando a
experiência que o consumidor terá ao obtê-lo.
No cluster 5, roxo, nomeado de “Experiência do consumidor no meio físico”, com 33
publicações, encontram-se publicações voltadas ao ambiente físico e como ele pode impactar a
experiência do consumidor de maneira a convertê-lo em cliente. Foram analisados aspectos que
relacionam o espaço físico ao desejo despertado nos consumidores.
No cluster 6, azul claro, nomeado de “Valor da marca”, com 15 publicações, aborda-se
o conceito de brand equity (valor da marca) envolvido nas temáticas de experiência do cliente
e do marketing digital. Nesses artigos, é analisado como gerenciar marcas para que elas sejam
voltadas para o cliente, assim como uma marca bem estruturada e fortalecida pode criar lealdade
entre seus clientes e como isso impacta sua performance.
46
Quadro 2: Resumo dos clusters encontrados na pesquisa do termo Customer Experience
4.2.3. Panorama da experiência do cliente enquanto uma estratégia atual das empresas
As empresas Octadesk e Opinion Box, empresas que possuem soluções voltadas para
CRM e pesquisas qualitativas, respectivamente, foram responsáveis por publicar o relatório
nomeado de Customer Experience Trends (CXTrends). Ele possui seu foco principal em
mostrar os resultados de uma pesquisa qualitativa que abordou tendências e mudanças na
experiência do cliente no Brasil no ano da pandemia COVID-19.
Segundo o relatório CXTrends – 2020, 72% dos consumidores dizem que preferem
escolher uma marca porque ela as faz se sentirem especiais. Além disso, 89% dos consumidores
comentaram ter deixado de ser clientes de uma empresa após uma experiência ruim. Esses
fatores associados com a disseminação das informações fizeram com que as empresas tivessem
que investir ainda mais no Custo de Aquisição de Clientes (CAC), visto que as pessoas não
querem mais só adquirir o produto, mas querem ter passado por uma boa experiência e se
utilizam de experiências de outras pessoas para construir sua visão sobre determinada
companhia.
47
Esse panorama abriu portas para a Nubank, uma fintech que viu dentro da temática
experiência do cliente uma possibilidade de crescer. O setor bancário brasileiro tinha a
característica de ser bastante tradicional, tendo poucos e grandes players que monopolizaram o
setor por muito tempo. No entanto, devido à péssima experiência que os consumidores tinham,
com altas taxas de cartão de crédito, atendimento dificultado e demora na transformação digital,
a Nubank viu um ambiente propício para oferecer um produto construído com a visão do cliente
e que valorizava um atendimento de qualidade, humanizado e eficaz - situação não vista nos
grandes bancos comerciais.
Essa “onda roxinha” marcada pela ascensão de fintechs, liderada pelo crescimento da
Nubank, abriu os olhos do setor bancário, que hoje já transformou boa parte do seu atendimento
para o meio digital, investindo na transformação digital que facilite a vida de seus usuários, ao
poder resolver todos (ou quase todos) os seus problemas com apenas alguns toques em seus
smartphones. O investimento no cliente rendeu o prêmio do renomado website Reclame Aqui
de melhor atendimento na categoria Cartões de Crédito nos anos de 2017, 2018 e 2019.
Essa vantagem competitiva ainda é bastante nebulosa para muitas empresas que
insistem em dizer que são focadas no cliente, mas na verdade a realidade é um pouco diferente.
Enquanto 88% das empresas dizem que oferecem um atendimento eficiente ou muito eficiente,
ainda segundo o relatório CXTrends, apenas 56% dos consumidores entendem que lhes é
oferecido um atendimento eficiente ou muito eficiente. Esse dado mostra que não basta apenas
criar algumas medidas para focar no seu cliente, mas é preciso fazer com que a sua estratégia
realmente se traduza em ações percebidas pelos seus consumidores finais.
48
está focando no seu cliente e, além disso, o quanto essa transformação está impulsionando a
própria empresa em termos de faturamento e lucratividade.
A Oracle, importante empresa americana no ramo de tecnologia e informática, entendeu,
por meio do seu relatório “Customer Experience (CX): Metrics and Key Performances
Indicators”, em 2015, alguns importantes conceitos para se basear durante a sua implementação
do monitoramento da temática. Nesse relatório, a empresa expõe que vê a “Experiência do
Cliente” (CX) em três diferentes momentos: (i) aquisição (A), (ii) retenção (R) e (iii) eficiência
(E).
𝐶𝑋 = 𝐴 + 𝑅 + 𝐸
Equação de Experiência do Cliente que relaciona os três eixos
Ao comentar sobre Aquisição, a Oracle pontua que “se refere à habilidade de uma
organização de aumentar a sua base de clientes”. Sobre Retenção, é dito que “é a habilidade de
uma organização de manter e crescer com os clientes que ela já possui”. Por fim, Eficiência
“permite que a organização faça mais com menos”.
4.2.5. Aquisição
A Aquisição é o momento inicial para iniciar a trajetória da experiência do cliente em
determinada empresa. Essa área tem o objetivo de fazer com que mais pessoas sejam atraídas e
convertidas em clientes. Ela pode ser traduzida com “aumentar as vendas”. Para desenvolver a
ideia de “aquisição”, a Oracle definiu três diferentes desafios-chave de negócio para serem
superados quando se fala sobre “aquisição”.
49
Figura 27: Os três principais desafios-chave de negócio para o eixo de “Aquisição”.
4.2.6. Retenção
Embora seja muito importante fazer com que mais clientes conheçam e comprem na sua
empresa, é igualmente importante que eles se mantenham consumidores, visto que o custo de
aquisição de clientes (métrica futuramente apresentada) diminui muito, dado que você não
precisa mais se esforçar para fazer com que tal cliente conheça e confie na empresa. A retenção
50
de clientes, como o próprio nome já diz, é a ideia de manter os clientes que você já tem enquanto
fidelizados. Assim como em “aquisição”, também há três desafios-chave de negócio a serem
superados (ORACLE, 2016)..
4.2.7. Eficiência
Eficiência é um eixo paralelo à aquisição e à retenção, visto que é um direcionamento
mais operacional que foca em fazer com que a empresa consiga “fazer mais com menos” como
51
um resultado de “diminuir o custo da organização”. Também existem três desafios-chave a
serem superados.
4.2.8. Métricas
Para cada um dos desafios anteriormente explicitados, foram selecionados alguns
indicadores que traduzem os serviços e processos em números que podem ser posteriormente
monitorados e analisados. Na tabela abaixo, é possível identificar os eixos, os indicadores e o
caráter do indicador (estratégico ou operacional).
52
Quadro 3: Indicadores da experiência do cliente e seus respectivos eixos
Esses são alguns indicadores utilizados como referência para o estudo da Oracle, porém
a Usertesting, uma plataforma de “insights” sobre humanos, traz algumas outras métricas. Ao
invés de medir a satisfação geral de um determinado cliente a partir do Net Promoter Score, é
possível utilizar o indicador Customer Satisfaction Score (CSAT) ao avaliar a experiência do
cliente em determinado momento, por exemplo, quando uma empresa de viagens aéreas
pergunta especificamente qual foi a satisfação do cliente no check-in. O CSAT funciona como
a média entre as notas obtidas nos diferentes pontos de contato.
53
Figura 30: Apresentação dos conceitos-chave relacionados com a experiência do cliente.
Fonte: Elaboração Própria. Baseado em Oracle (2016)
54
5. Panorama do varejo pré-pandemia no Brasil
Nesta seção, o mercado do varejo será abordado no contexto pré-pandemia (anterior ao
ano de 2020) no Brasil. Primeiramente, haverá uma conceituação teórica de o que seria o varejo
e será feita uma análise temporal do avanço do varejo no Brasil, considerando diferentes ciclos
segundo o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) e escritor do
livro “Varejo e Brasil: Reflexões estratégicas” Alberto Serrentino.
55
O Varejo Restrito em 2019 representou 22% de todo o PIB brasileiro, movimentando
mais de R$1,6 trilhão. Na Figura 31, é possível ver a taxa de crescimento anual do Varejo
Restrito, de 2010 a 2019.
Assim, é possível concluir que a taxa de crescimento anual do varejo estava adquirindo
uma constância entre os anos de 2017 e 2019, após passar por um longo período de queda desta
taxa. A seguir, nos ciclos históricos do varejo será mostrado uma descrição mais aprofundada
da história do varejo e fatos que justifiquem a tamanha importância atualmente deste setor no
PIB brasileiro.
56
Ao final de cada um dos ciclos, será apresentada uma figura-resumo que traz os
conceitos de transformação digital e experiência do cliente e evidencia os principais
acontecimentos de cada ciclo e sua relação com os conceitos de forma sintetizada.
57
varejo se estabelecessem no país. Esse contexto possibilitou a passagem para o segundo ciclo -
Pós Real.
Figura 32: Relação dos fatos abordados no ciclo 1 com os conceitos de Transformação Digital e Experiência do
Cliente.
58
e margem de lucro. A valorização cambial permitiu também a importação de novos produtos,
favorecendo uma aliança internacional. A atividade varejista brasileira no ciclo 2 também focou
na diversificação de maneiras de compra por parte do consumidor final.
O perfil do consumidor também teve uma grande mudança. O salário mínimo teve uma
variação positiva de 23% no período de 1994 e 2002, segundo dados do IBGE, como pode ser
visto na Figura 33. No entanto, a renda per capita das famílias (dados do PNAD indicam uma
variação negativa de 1,34%) e a porcentagem de pessoas em situação de pobreza (dados do
PNAD indicam uma variação negativa de 1,99%) não mudaram significativamente, o que
configurou um grande mercado brasileiro que não estava ainda apto a ser considerado como um
bom perfil consumidor.
59
uma loja de software (Brasoftware) e a PontoFrio se instalaram no mercado de comércio
eletrônico.
No ano de 2002, a inflação já estava mais estabilizada, em comparação com o ciclo
anterior, com um aumento grande da presença do varejo internacional no país e as atividades
varejistas se encontravam mais concentradas e modernizadas.
Figura 34: Relação dos fatos abordados no ciclo 2 com os conceitos de Transformação Digital e Experiência do
Cliente.
A Figura 34 mostra que com a recuperação econômica do Brasil, o poder de compra dos
consumidores aumentou e possibilitou um maior movimento no mercado. Aconteceu também
a ascensão de um novo meio de compra: o comércio eletrônico. Já do ponto de vista do varejista,
houve uma maior utilização de sistemas de gestão voltados para organização do estoque.
60
cenário empresarial, houve um aumento expressivo também do número de empresas que
abriram capital e também de fusões e aquisições no cenário do varejo, como a fusão das Lojas
Americanas e o Submarino para formar a B2W - como comentado na seção 5.1.3.1.
Uma questão muito importante durante essa época foi a expansão do crédito para
consumo. A porcentagem de crédito para pessoas físicas em relação ao PIB foi de 9% em
dezembro de 2002 para 21% em dezembro de 2010. Houve, nesse período, a diminuição da
taxa de juros do crédito (muito motivada pela criação do crédito consignado a partir da Lei nº
10.820/2003) e o aumento do prazo de pagamento promoveram um aumento (ou “boom”) do
consumo no país (muito evidenciado pelo aumento de produção e venda de automóveis, como
é possível ver na Figura 35).
Relacionado ao varejo, também houve um grande aumento das redes de franquia e dos
shopping centers. Em relação à primeira, houve um aumento de 273% de 2003 a 2013, enquanto
que o número de shoppings centers aumentou em 153 unidades.
Grandes redes varejistas também utilizaram seu grande poder de “base de informações
de clientes, sistemas e processos de análise e concessão de crédito” (Serrentino, 2016) para
promover a oferta de produtos financeiros. Dessa maneira, foi possível conceder créditos sem
ser por meio “bancários”. Esse foi o caso da Magazine Luiza (Magalu), com o LuizaCred -
parceria da rede varejista com o banco Itaú Unibanco - para financiar os clientes da própria
Magalu. O primeiro trimestre de 2019 teve mais de R$ 8 bilhões em crédito por meio do
61
LuizaCred e no final do segundo trimestre deste mesmo ano já tinha mais de 4,6 milhões de
cartões emitidos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo.
Nesse período, com (i) maior entrada de recursos, (ii) aumento da disponibilidade de
capital de giro e (iii) redução de riscos, o varejo pode-se encontrar como “maior, mais
competitivo, internacionalizado e moderno”.
Em termos tecnológicos, as grandes corporações começaram a implementar sistemas de
ERP (Sistema de Planejamento de Recursos da Empresa) para integrar as diversas informações
de uma mesma organização para ajudar na tomada de decisões estratégicas. Além disso, em
termos varejistas, foram implementados sistemas de CRM (Sistemas de Gestão de Clientes)
para digitalizar as informações dos clientes e conseguir gerenciá-los da melhor forma possível.
A Salesforce (principal empresa de sistemas informatizados empresariais) define o CRM como
“uma gestão 360º de vendas, marketing, atendimento e todos os pontos de contato”.
Nesse ciclo também houve a expansão da capacidade de armazenamento de dados e
uma maior atenção foi dada para o relacionamento com os clientes. Foi percebido que essas
práticas informatizadas no varejo foram capazes de melhorar a experiência do cliente. De
acordo com uma pesquisa realizada em 2013 pela Salesforce, o sistema de CRM - ao oferecer
contato mais personalizado com os clientes - fez com que a satisfação dos clientes tenha
aumentado em 43%.
Uma característica muito importante deste ciclo foi a expansão do varejo eletrônico, que
se tornou “fenômeno de massa” com “volume relevante” (SERRENTINO, 2016) com um
aumento de 1785% de 2003 a 2012 como é possível ver na Figura 36. Em 2009, por exemplo,
segundo a empresa especializada no assunto E-bit, o faturamento no ecommerce foi de R$10,6
bilhões, com um aumento de 40% no resultado de 2010. (de R$ 14,8 bilhões), com mais de 23
milhões de consumidores online. Em 2012 - último ano do ciclo -, o faturamento foi de mais de
R$22,5 bilhões além da consolidação da “Black Friday”.
62
Figura 36: Evolução do Faturamento no comércio eletrônico de 2003 a 2012.
63
Figura 37: Evolução do preço das ações das Lojas Americanas ao longo dos anos.
Fonte: Google baseado em Bolsa de Valores B3. Acesso em: 30 de abril de 2021
Figura 38: Relação dos fatos abordados no ciclo 3 com os conceitos de Transformação Digital e Experiência do
Cliente
64
um aumento dos pontos de venda de varejo físico com a construção de shopping centers e rede
de franquias de lojas, além do aumento do poder de compra com o desenvolvimento da
economia.
65
Figura 40: Índice de Volume de Vendas mensal de jan/2018 a jan/2020.
Fonte: Elaboração própria. Baseado em: < https://www.ibge.gov.br/explica/pib.php> Acesso em: 02 de maio de
2021
66
Em termos comparativos, o PIB brasileiro vinha de uma grande ascensão. Durante o
ciclo 3 (2002 a 2012), o PIB cresceu 43,95% enquanto que nesse período (2013 a 2019) o
crescimento foi de -1,20%. Com isso, as grandes empresas tiveram que focar em ter “maior
rigor em análise de investimentos e alocação de recursos” (Serrentino, 2016), “melhoria nos
níveis de controle e análise de resultados e gestão por indicadores” (Serrentino, 2016) e
“melhoria em processos de gestão e operações”. (Serrentino, 2016).
O mercado tornou-se mais competitivo para atrair os consumidores. Dessa maneira, a
satisfação dos clientes tornou-se uma vantagem competitiva no mercado nacional e
internacional, com a maior valorização da experiência dos consumidores ao longo das
interações de venda. Essa vantagem competitiva foi crucial para a Nubank (caso melhor
abordado na seção 5.1.4.1 desde trabalho) no setor tradicional de bancos comerciais e para
diversas outras empresas que cresceram nesse momento de recessão do mercado.
Em termos tecnológicos, esse momento contou com a ascensão do RFID, tecnologia
que surgiu na década de 40, mas que foi mais crucial para esse período. A RFID é uma
tecnologia de identificação por radiofrequência capaz de identificar objetos, por exemplo, em
um microchip. Com o mundo com uma maior capacidade de armazenamento de dados e de
leitura analítica, a tecnologia foi fundamental para reduzir desperdícios de estoque e produção,
assim como controlar roubos e a cadeia de logística de vários produtos. Ela funciona a partir de
uma leitura de dados proporcionada pelas Tags, como é exemplificado na Figura 42.
67
lançaram a ideia do Amazon Go - uma loja em que você não precisaria passar pelo tradicional
controle dos “caixas” para o pagamento, bastaria você pegar um produto e sair. Todo esse
sistema é possível a partir do controle de radiofrequência (RFID). A primeira loja da Amazon
Go a ser aberta foi em fevereiro de 2020, em Seattle, nos Estados Unidos, para experimentação.
No entanto, ainda há alguns ajustes a serem feitos em termos de tecnologia para evitar roubos.
Outra tecnologia interessante são os Beacons. Segundo a Endeavor, os beacons são
“dispositivos minúsculos que emitem sinal por meio da tecnologia bluetooth low energy,
também conhecida como bluetooth 4.0”. Assim como o RFID, os beacons atuam no
monitoramento. Nesse caso, o monitoramento dos clientes é mais interessante, com a
identificação dos clientes no espaço físico da loja para que seja possível enviar “descontos
personalizados” a fim de impulsionar as vendas.
Para exemplificar o uso, tem-se a gigante Apple. A partir do iOS 7 - sistema operacional
do iPhone - em 2013, a empresa introduziu o uso de beacons nos aparelhos para que o usuário,
ao adentrar uma loja da Apple com um modelo antigo do iPhone, receba uma notificação para
comprar um novo celular. Caso o consumidor queira, é possível comprar o novo modelo
imediatamente a partir do seu celular.
O Banco Nubank foi fundado em 2013 por David Velez, Edward Wible e Cristina
Junqueira (atual CEO). Considerado como uma fintech - startup que busca inovar o sistema
financeiro a partir da tecnologia -, o Nubank iniciou sua oferta de cartão de crédito em 2014
com a bandeira da Mastercard, sem anuidade e com plataforma totalmente digital (duas
características bastante disruptivas para o mercado de bancos comerciais da época). No entanto,
não foram esses dois pontos que realmente popularizaram essa startup.
O Nubank, desde a sua fundação, utilizou fundamentos do Manifesto Ágil - manifesto
escrito por 17 desenvolvedores de software em 2001 que pontuaram princípios como
“satisfação do cliente” e “mudança em favor da vantagem competitiva” - e do Customer
Experience para construir todo o seu modelo de negócio. Essa situação pode ser percebida pela
maneira como o produto do Nubank foi desenvolvido e, principalmente, pela maneira como a
empresa se relaciona com os seus clientes.
O mercado de bancos comerciais no Brasil sempre foi visto como burocrático e que
pouco valorizava a interação com seus clientes. O Nubank utilizou esse panorama para investir
em marketing de relacionamento. Segundo Martins (2006), o marketing de relacionamento
68
“utiliza todas as ferramentas de marketing, buscando a construção de um relacionamento perene
e de longo prazo entre a marca e o consumidor, o qual deve transcender os procedimentos
meramente necessários à existência de uma relação comercial”. É possível perceber que o
Nubank se utilizou muito dessa estratégia para conquistar seus clientes, que passaram a ser um
vetor de divulgação da empresa.
Na Figura 43, é possível analisar um exemplo de estratégia de marketing de
relacionamento do Nubank com seus clientes. Ao perceber uma situação ruim de seu cliente, o
Nubank não só resolveu o problema como também garantiu que a cliente se sentisse especial
em seu tratamento, não sendo apenas “mais uma”. A fintech se aproveitou das redes social e do
ascendente engajamento que começou a ser impulsionado para se diferenciar dos outros bancos
comerciais.
No entanto, não basta apenas ter um bom relacionamento com os clientes, é preciso
também que a própria operação seja satisfatória para garantir uma boa imagem. Para tanto, o
Nubank criou os Xpeers - em alusão à palavra experience do inglês - que serviria não só para
atender os clientes, mas também para efetivar a sua satisfação com a experiência de utilizar os
serviços do Nubank. O atendimento do cliente - e consequentemente sua satisfação - é tão
importante que a empresa criou o X-fórum, dia em que todos os colaboradores da empresa
atuam na área de atendimento.
O fato de a empresa se dedicar tanto ao atendimento aos clientes fez com que se abrisse
uma vantagem competitiva no mercado que, unido à plataforma digital e à isenção de taxa de
cartão de crédito, fez com que todo o mercado de bancos comerciais tivesse que se adequar à
nova realidade.
69
Figura 43: Postagem de cliente sobre tratamento do Nubank
Como forma de elaborar uma síntese, semelhante aos outros subcapítulos, para o Ciclo
4 do varejo brasileiro, foi elaborada a Figura 44 relacionando os conceitos de transformação
digital e experiência do cliente.
70
Figura 44: Relação dos fatos abordados no ciclo 4 com os conceitos de Transformação Digital e Experiência do
Cliente.
● Produto
Enquanto um tema estratégico, o produto é a maneira como o próprio varejo se enxerga.
Sphon (1997) define o varejo como “uma atividade comercial responsável por providenciar
mercadorias e serviços desejados pelos consumidores”. No entanto, o varejo enquanto temática
estratégica precisa se entender como “editor de ofertas” (SERRENTINO, 2016), uma vez que
ele precisa entender o que está vendendo, para quem está vendendo e como está vendendo. Essa
“edição de ofertas” agrega valor.
72
Junto ao produto, tem-se a maneira como ele é exposto ao público por meio da
propaganda. Sant’anna (2005, p. 9) pontua que a propaganda é “um símbolo de abundância de
produtos e serviços que o progresso tecnológico colocava diariamente à disposição de todas as
classes”, despertando desejo.
● Pontos de Venda
Esse tema estratégico tornou-se ainda mais relevante no século XXI a partir do momento
em que o mundo passou a ser mais conectado. As pessoas não querem mais precisar comprar
fisicamente, as pessoas querem comprar fisicamente se quiserem. Serrentino (2016) define que
os pontos de venda precisam expelir um varejo sem conflitos, uma vez que a expansão do
mundo digital e da mobilidade ampliaram o grau de intolerância dos consumidores com
barreiras e obstáculos na relação com marcas, produtos e lojas.
Esse aspecto será melhor abordado na seção 5.3 com a análise dos canais de venda em
relação ao varejo físico, ecommerce e depois a omnicanalidade.
● Experiência
A seção 4 aborda conceitos gerais sobre a experiência do cliente e como essa temática
tem sido aplicada no contexto do século XXI. Esse conceito tornou-se um tema chave para o
varejo uma vez que a experiência está diretamente relacionada com a satisfação do consumidor,
que está relacionada com a vontade de voltar a comprar em determinada loja. Dessa maneira, a
experiência do cliente não é só um tema estratégico como é uma vantagem competitiva para o
varejo do século XXI.
Dado que um dos principais pontos de contato entre o consumidor e o varejo é o
atendimento, houve um foco muito grande para a melhoria do atendimento do setor varejista -
seja virtual ou físico - além da disponibilização de personalização do atendimento e do produto
a ser consumido.
● Digital
Com a aceleração da transformação digital, o comércio começou a adotar a
possibilidade de exercer o comércio eletrônico. No entanto, a partir do fato de os consumidores
não distinguirem a interação virtual da interação física com a mesma empresa (ou seja, para o
cliente, ele não separa em empresa física e empresa digital), houve uma dificuldade de as
empresas organizarem seu modelo de operação. O consumidor começou a exigir que ele
pudesse comprar online e trocar o produto na loja física - o que originou o conceito de
omnicanalidade que será abordado na seção 5.3.2.2. A implementação do ecommerce passou a
73
não ser mais um diferente modo de comprar os produtos, mas sim mais uma oportunidade de
adquirir o mesmo produto que a loja física.
No entanto, a implementação do varejo digital não é apenas sobre a disponibilidade de
mais um canal de venda. A possibilidade de digitalizar os processos de venda afeta também as
vendas físicas ao criar um grande centro de informações dos clientes. O avanço das tecnologias
possibilitou que as empresas possam registrar cada vez mais dados de seus clientes (e até mesmo
daqueles que ainda não foram convertidos em clientes). A capacidade de análise de dados (data
analytics) também é uma vantagem competitiva, uma vez que possibilita que o varejo direcione
suas estratégias de vendas e de produto.
● Propósito e Cultura
Esse último tema estratégico tem mais a ver com a empresa em si. O propósito se
relaciona com a missão da empresa - a razão de existir. Mackey e Sisodia (2013) apontam que
o propósito é o que mantém as organizações em pé e é o ímã que atrai as pessoas certas. A partir
de um propósito bem definido, tanto os colaboradores quanto os consumidores podem melhor
se relacionar com a marca e decidir pela sua fidelidade.
Figura 46: Relação dos fatos abordados no ciclo 5 com os conceitos de Transformação Digital e Experiência do
Cliente
74
todos os ciclos - Ecommerce - que se difundiu no Ciclo 2 e permanece até hoje - e
Omnicanalidade (Ciclo 5).
75
Figura 48: Preferência dos canais de venda no ponto de vista dos consumidores brasileiros.
A seguir, serão descritas as mudanças perante o formato dos canais de venda tanto online
como físico, que estão cada vez mais tomando características digitais.
76
Figura 49: Cinco maiores varejistas do mundo
77
forte no formato online, teve sua origem e escalabilidade no meio físico contando com grandes
lojas de departamento espalhadas pelo Brasil. Em 2019, possuía 1501 lojas em 603 cidades
brasileiras (Exame, 2019). Outro grande player no varejo físico mencionado é a RaiaDrogasil,
grupo que foi criado em 2011 com a fusão da Raia e da Drogasil, ambas redes de farmácia e
atualmente a maior do Brasil. Essa rede conta com 2.100 lojas físicas e está presente em 23
estados brasileiros (RaiaDrogasil, 2020).
Assim, é possível concluir que atualmente não há nenhum grande player o qual possui
suas operações estritamente físicas. O varejo puramente físico definido pelo termo em inglês
bricks and mortar está cada vez mais restrito a pequenas empresas, as quais possuem uma
operação restrita a poucas filiais. De qualquer forma, mesmo não obtendo um meio online em
vendas, é nítido que a presença digital das empresas é muito importante para a evolução de um
negócio, uma vez que seus consumidores estão presentes no meio digital.
Do ponto de vista da experiência do cliente, os consumidores tendem a comprar no
varejo físico por principalmente dois motivos: a facilidade de troca do produto e pela segurança
associada a ela (CNDL,2018).
Fonte: Elaboração Própria baseada em Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), 2018
5.3.2. Ecommerce
O ecommerce, também conhecido como comércio eletrônico ou comércio digital, pode
ser definido por “compra e venda de bens ou serviços pela internet e a transferência de dinheiro
e de dados para a execução dessas transações", segundo a empresa Shopify, provedora de
plataformas de ecommerce. Para a execução dessas transações independentemente do tamanho
da marca é necessária uma plataforma de ecommerce que vai possibilitar o gerenciamento de
pedidos do ponto de vista do lojista. Atualmente no mercado esses tipos de soluções são vastas
para diferentes tamanhos de empresa e operam no regime Software as a Service (Saas). Segundo
o quadrante mágico da Gartner as top 15 empresas em Digital Commerce estão sendo
representadas na figura a seguir. Das 15 abordadas, somente uma é brasileira: a VTEX
posicionada no quadrante “Visionários”.
79
Figura 52: Quadrante Mágico da Gartner para Digital Commerce.
80
Tabela 1: Top 10 empresas em receita no e-commerce
81
Tabela 2: Porcentagem de penetração no ecommerce por categoria no Brasil
82
Figura 53: Preço das ações da Magazine Luiza (MGLU3) entre 2017 e 2021.
Fonte: Google baseado em B3 - Bolsa de Valores do Brasil e Mercado de balcão. Acesso: 9 de Abril de 2021.
5.3.3. Omnicanalidade
De acordo com a definição do Sebrae, omnichannel ou omnicanalidade é a integração
de todos os canais de venda de um empreendimento, transformando o consumidor como foco e
proporcionando a melhor experiência possível para ele. O conceito oferece possibilidades aos
consumidores, de modo que eles possam realizar a pesquisa sobre o produto/serviço de seu
interesse e a compra quando lhe for mais conveniente em qualquer um dos canais.
Essa integração cria um elo entre o mundo online e o offline ao unificar a percepção de
um consumidor único que possui uma migração fácil entre os canais. Assim, do ponto de vista
do varejista é fornecida uma maior quantidade de dados sobre aquele consumidor específico e,
se bem utilizados, possibilitam um mapeamento completo da jornada de compra (CHEN, 2018).
Na seção 5.3.1 foram abordadas as vantagens intrínsecas do varejo físico, o qual permite
que os consumidores visualizem os produtos que desejam comprar e tenham mais segurança ao
efetuar a compra. Já na seção 5.3.2 foi visto o advento da tecnologia do ecommerce os quais os
varejistas podem mostrar uma ampla variedade de produtos, preços mais acessíveis e um
83
conteúdo rico com avaliações de outros consumidores. A omnicanalidade veio para unir esses
dois mundos e criar uma experiência contínua, transformando o mundo em um “showroom sem
paredes”.
No passado, as lojas físicas eram únicas ao permitir que os consumidores tocassem e
sentissem as mercadorias e proporcionam gratificação instantânea. Os varejistas da Internet,
por sua vez, tentaram cortejar os compradores com uma ampla seleção de produtos, preços
baixos e conteúdo, como avaliações e avaliações de produtos. À medida que o setor de varejo
evolui em direção a uma experiência contínua de “varejo omnicanal”, as distinções entre físico
e online desaparecerão, transformando o mundo em um showroom sem paredes
(BRYNJOLFSSON et al, 2013).
85
experiência de varejo físico (LIMA,2020). Essa técnica se dá pela integração dos estoques dos
centros de distribuição e lojas físicas por meio de uma plataforma disposta em forma de PDV
que pode ser um tablet ou smartphone ou até mesmo no computador. Assim, no PDV estará
contido todo o catálogo disponível pelas lojas físicas participantes e também o que está
disponível no centro de distribuição, possibilitando a venda de produtos que não estão
fisicamente disponíveis naquela loja específica.
A opção de BOPIS permite o consumidor que retire os produtos que está comprando
online em uma loja física de sua preferência e que possua os produtos de que necessita. Alguns
varejistas também utilizam pontos de coleta alternativos como lojas de conveniência e lockers,
por exemplo. O método BOPIS possui três benefícios principais. O primeiro deles é que o
consumidor, por estar numa interface online de compra, tem acesso a uma variedade extensa de
86
informações sobre o produto. O segundo benefício é o fato de minimizar a necessidade de
espera nas filas de caixa na loja física. Por fim, o terceiro está ligado à experiência de escolher
os produtos de maneira eficiente e de acordo com sua conveniência e, ao mesmo tempo,
desfrutar de preços mais baixos, principalmente porque evitam custos de entrega direta (KIM,
2020).
No ponto de vista do varejista, caso lide com lojas franquias é necessário configurar um
sistema de split de pagamento o qual a loja escolhida para realizar a retirada ganhe uma
comissão em cima da venda gerada pelo e-commerce. Além disso, com o aproveitamento do
estoque das lojas físicas para suprir as necessidades dos clientes, custos logísticos são
otimizados uma vez que não é necessário realizar a entrega do produto localizado no centro de
distribuição para a casa do consumidor final.
No método BOSS, as lojas físicas da rede funcionam como minicentros de distribuição
para outras lojas físicas. Assim, caso um consumidor deseje retirar um produto na loja mais
próxima (BOPIS), mas ele não está em estoque naquele momento, é possível enviar de uma
outra loja física para aquela. Nesse caso, o varejista não perde a venda por causa da localização
do produto e o consumidor final possui a experiência de retirar na loja de sua preferência.
87
Figura 57: Quadro-resumo da situação do varejo brasileiro até 2020
89
6. Panorama do varejo na pandemia COVID-19
A pandemia do novo coronavírus que assolou o Brasil no início de 2020 trouxe diversos
impactos econômicos para o país. Esses impactos econômicos - como o fechamento total e,
depois, parcial do comércio - impulsionaram uma agenda de transformação digital nas empresas
que ainda estava muito “assombrada” por um medo de inserir a digitalização e digitização em
seus processos.
Neste capítulo, os conceitos previamente abordados de (i) transformação digital e (ii)
experiência do cliente serão convergidos de maneira a explicar como a pandemia do COVID-
19 transformou a maneira como o varejo brasileiro se portava perante esses dois conceitos. De
maneira inicial, o panorama geral será apresentado para situar os principais números que
direcionaram o cenário econômico do Brasil em 2020. No final do 6.1, é possível ver como o
ano de 2020 terminou, porém ainda sem uma previsão de “volta” para o normal pré-2020.
Nos subcapítulos a seguir, 6.2 serão apresentadas as mudanças tecnológicas que tiveram
um avanço de investimentos significativo durante a pandemia COVID-19, retomando
tecnologias e práticas abordadas anteriormente nos capítulos 3 e 4. Além disso, será explicada
como que a experiência do cliente foi alterada perante essas mudanças em 6.2.3. Para tanto,
será explicitado como a pandemia impulsionou e obrigou de certa maneira, os varejistas a
alterarem suas estratégias para entrar na agenda dessas transformações.
Para finalizar, o subcapítulo 6.3 explicitará quais são as tendências futuras para o varejo
brasileiro dado o cenário atual. Neste subcapítulo, será feita uma tabela-resumo do que estudos
relevantes estão apontando como tendências futuras, além de uma entrevista realizada pelos
autores deste presente trabalho com o vice-presidente da SBVC, Alberto Serrentino.
90
Figura 58: Evolução do índice BOVESPA ao longo do tempo
Fonte: Google baseado em B3 - Bolsa de Valores do Brasil e Mercado de balcão. Acesso: 4 de maio de 2021.
Figura 60: Índice de Volume de Vendas do Varejo e da Receita Nominal do varejo brasileiro em 2019 e 2020
92
De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2013, p. 25), “mecanismo de mercado é a
tendência, em um mercado livre, de que o preço se modifique até que o mercado se equilibre -
ou seja, até que a quantidade ofertada e a quantidade demandada sejam iguais. Assim, com a
diminuição da demanda, o produtor é incentivado a diminuir seus preços em busca do equilíbrio
de mercado em que a curva da oferta deve se igualar à curva da demanda - situação essa exposta
na Figura 61 abaixo com a deflação marcada em maio de 2020.
93
Figura 62: Evolução do consumo online (ecommerce) no início da pandemia de 2020.
96
do volume de vendas foi puxada por “móveis e eletrodomésticos” de 10,6%, enquanto a maior
queda foi 30,6% com “livros, jornais, revistas e papelaria”.
O Índice de Confiança do Consumidor, coletado mensalmente pela FGV, teve sua maior
alta em 2020 no mês de setembro, com 83,9 (em termos de comparação, o indicador registrado
em setembro de 2019 foi de 87,9), porém finalizou o ano em dezembro com 78,5 motivado pelo
aumento dos casos de COVID-19 no final do ano. Também é possível observar que o indicador
já se iniciou em 2021 com números ainda mais negativos, como é possível observar na Figura
65 abaixo.
97
6.2.1. Avanços nos investimentos nas mudanças tecnológicas durante a pandemia
Para fins de obtenção de dados sobre as mudanças tecnológicas na pandemia e como ela
impulsionou investimentos em estratégias de transformação digital, foram utilizados alguns
estudos e pesquisas que serão mencionados a seguir. O estudo feito pela empresa americana
Twilio em junho de 2020 nomeado “COVID-19 DIGITAL ENGAGEMENT REPORT” que
contém uma pesquisa com mais de 2.000 executivos respondentes de 9 países diferentes:
Austrália, França, Alemanha, Itália, Japão, Cingapura, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos.
Ela é a principal fonte de dados utilizada pela renomada empresa de pesquisa e desenvolvimento
Statista no que diz respeito a relatórios sobre a aceleração digital ocorrida em 2020. Outros
estudos relevantes utilizados foram realizados pela própria empresa Statista: “Global Digital
Transformation Report” publicado em 1 de Abril de 2021.
Como visto no capítulo 4, 97% dos respondentes do estudo realizado pela Twilio,
afirmaram que a pandemia COVID-19 acelerou os investimentos e execução de projetos de
transformação digital. Ademais, nessa mesma pesquisa 43% dos respondentes afirmam que a
urgência da digitalização provocada pela pandemia COVID-19 forçou as empresas a acelerarem
de 1 a 4 anos em projetos digitais. Enquanto isso, 27% afirmam que acelerou de 5 a 9 anos
(Figura 66). Outro dado importante é que 26% dos respondentes afirmaram que o orçamento
planejado para projetos digitais aumentou consideravelmente após o início da pandemia
COVID-19.
Figura 66: Quantidade de anos que os respondentes da pesquisa afirmam que a pandemia COVID-19 acelerou a
execução e investimentos de projetos relacionados à transformação digital
98
Ao ter um olhar mais direcionado em onde está o foco desses investimentos dentro dos
setores, um estudo realizado pelo Statista, em 2020, afirma que 44% do propósito destes
investimentos é em Experiência do Cliente e 43% em Inteligência e Análise de Dados (Figura
67), aspectos que conversam com os aspectos apresentados anteriormente no capítulo 4.
Figura 67: Propósito das iniciativas que mais receberam investimentos relacionados à transformação digital.
100
Os principais pontos que foram resumidos como as principais mudanças tecnológicas
durante a pandemia do coronavírus no Brasil em 2020 foram resumidos em quatro. O primeiro
e o segundo relativos a mudanças nos meios de comunicação com os clientes nem uma jornada
majoritariamente online e as interações com a tecnologia da 4IR da Realidade Aumentada serão
aprofundados nos tópicos 6.2.2.1 e 6.2.2.2 a seguir. Os outros pontos são relativos ao
gerenciamento de dados por meio de ferramentas como o ERP e a CRM e, por último, a
utilização da IA a fim de realizar um direcionamento mais preciso de anúncios para os clientes.
A escolha feita por se aprofundar nos primeiros dois pontos foi baseada na avaliação relativa
ao impacto da experiência do cliente de acordo com as métricas (Figura 27; Figura 28; Figura
29).
Quadro 4: Escolha das mudanças tecnológicas do varejo por meio de métricas da experiência do cliente
101
para o online, naturalmente as estratégias de canais de comunicação sofreram modificações
para se adequarem às necessidades dos novos usuários do ecommerce acostumados com o
contato físico com o vendedor. Ao mesmo tempo que, com o aumento do tráfego, não era
possível, na mesma escala, aumentar o número de atendentes via Central de Atendimento da
loja. Segundo o estudo da Twilio, 35% dos respondentes afirmaram que começaram a utilizar
mais o método de Live Chat para se comunicar com seus clientes, enquanto 19% passaram a
utilizar o ChatBot a fim de filtrar assuntos e necessidades para o Live Chat.
Assim, o ChatBot utiliza a tecnologia da Inteligência artificial e Iot para tirar dúvidas
sobre produtos, pedidos e até indicar itens e oferecer descontos. Do ponto de vista do
consumidor final, gera uma experiência mais rápida pois é imediatamente atendido, uma vez
que só depende da conexão do usuário final e tem uma resposta quase imediata (GUPTA, 2015).
Os Chatbots permitem serem treinados para terem um amplo repertório de respostas e, durante
a pandemia COVID-19, foi observada a tendência de humanização dos Chatbots em avatares
definidos pelas marcas como “influenciadores digitais” (Figura 69).
Os influenciadores digitais como avatares atuam como uma personalidade no
atendimento ao cliente via ChatBot e tem o objetivo de gerar empatia e proximidade com os
clientes. Desse modo, a experiência é melhorada pois a humanização do atendimento
automático gera uma sensação de eficiência (SUTTO, 2019).
O Live Commerce chega com uma força estratégica na pandemia para os varejistas, que
se viram com o desafio de melhorar a experiência do cliente online para que ele se sinta
confortável com esse meio e continue fazendo compras. Marcas como Lojas Americanas e
Riachuelo, líderes no varejo brasileiro organizaram eventos com influencers e conseguiram
aumentar sua média de visualizações e vendas durante a live. Em relação ao meio ao qual o
Live Commerce é transmitido, em muitos casos no Brasil ele foi realizado via redes sociais tais
como o Tik Tok, Instagram ou Facebook, entretanto, para marcas grandes é observada uma
maior utilização do Youtube como plataforma. Nas redes sociais é destacada a importância
principalmente de pequenos varejistas que normalmente utilizam-se do social commerce tendo
menores custos e maior engajamento por se concentrar em um único canal. Ela é uma
ferramenta crucial para aumentar o valor percebido dos produtos vendidos, visto que garante
uma visualização e demonstração mais próxima do consumidor final
(WONGKITRUNGRUENG e ASSARUT, 2018).
103
Figura 71: Três mudanças na experiência do cliente evidenciadas no live commerce.
104
só a experiência é um fator determinante, mas o uso da tecnologia para impulsionar a
experiência é um fator ainda mais determinante para comércios digitais. A pesquisa revelou que
80% dos consumidores acreditam que a tecnologia aplicada às vendas melhorou sua experiência
de compra online.
Com a evolução do ARKit4, da Apple, todos os novos iphones podem experimentar a
Realidade Aumentada em seus telefones dentro de navegadores. Isso possibilitou que marcas
como Adidas, GAP e Burberry implementassem essa tecnologia para melhorar a experiência
dos seus consumidores nas compras online.
106
6.2.3. Principais pontos de mudanças da experiência do cliente na pandemia
Antes mesmo da pandemia já era observada a convergência de duas jornadas de compra
distintas: a online e a física através do omnichannel. Com uma presença cada vez mais digital
das marcas e o aumento do tempo do consumidor nas redes, uma jornada vai de encontro com
a outra. As marcas, então, possuem um desafio ainda maior durante a pandemia: suprir os
desejos dos clientes a qualquer hora e a qualquer lugar, mesmo com as restrições das lojas
físicas (BOMMEL, 2014).
Assim como abordado no tópico 4.1.3, a gestão dos dados tanto no varejo físico quanto
no online é ainda muito difícil de ser gerenciada mesmo com o avanço da tecnologia na indústria
4.0. Isto acontece pois há uma extensa variedade e quantidade de dados não estruturados, ou
seja, valiosas informações sobre os comportamentos e preferências dos consumidores que são,
por exemplo, capturadas em análises online e postagens em mídias sociais. Esse processo
dificulta muito o mapeamento dos indicadores de aquisição, retenção e eficiência relativos à
experiência do cliente no meio online descritos no tópico 4.2.8. Enquanto isso, empresas que
possuem sua estrutura de dados centralizada, conseguem capturar e rastrear dados com mais
assertividade e com um mindset cada vez mais data-driven e com mais chances de aumentar
sua taxa de conversão (BOMMEL, 2014).
Segundo o Relatório Varejo 2021, 62% dos consumidores entrevistados afirmam que
vão continuar a fazer mais compras no meio online mesmo após a pandemia COVID-19, o que
reflete a importância de as empresas continuarem investindo na experiência do cliente dos dois
mundos, através de uma estratégia omnichannel que os une. De acordo com o estudo da empresa
CDW, cerca de 55% dos respondentes afirmaram que a pandemia COVID-19 acelerou e
aumentou os investimentos relativos a estratégia de omnicanalidade, descrita em 5.3.3.
A consultoria McKinsey pontua que a nova jornada do consumidor será baseada em três
aspectos: (i) digitalização, (ii) segurança e (iii) dados e analytics. Entende-se que a nova jornada
de compra será parecida com a jornada “pré-COVID”, no entanto, os consumidores já estão
mais acostumados com a digitalização de serviços, uma vez que a barreira do digital já foi
quebrada. Dessa maneira, embora muitas pessoas ainda mantenham a necessidade de ir até o
local realizar a compra, existe uma parcela que deseja ver previamente na internet, outra parcela
que prefere comprar online e retirar na loja. Essas mudanças impulsionarão o fato de que as
empresas precisarão estar preparadas para uma venda “ominicanalizada” e que promova
segurança de transação e de compra, armazenando os dados nominais de todos os clientes.
107
6.3. Tendências futuras do varejo mais digital
Como mencionado em 3.2.1, o avanço no campo de pesquisa da Biotecnologia advinda
da 4IR, possibilitou a elaboração de vacinas gênicas no combate de doenças, sendo a vacina das
farmacêuticas Pfizer e BioNTech a primeira a ser aprovada e regulamentada no mundo no
combate ao COVID-19 (BBC News, 2020). Dessa forma, a partir da regulamentação e primeira
aplicação da vacina no Reino Unido no dia 5 de dezembro de 2020, era esperada que houvesse
desenvolvimento em massa e exportações dessa vacina para o mundo todo.
No caso do Brasil, a primeira vacina foi aplicada em 17 de janeiro de 2021. Não foi uma
vacina gênica, porém, o Governo brasileiro adquiriu 100 milhões de doses da vacina Pfizer
BioNTech (SATIE, 2021). Com o avanço na imunização da população brasileira, são evidentes
as perspectivas de retomada do varejo físico, sem restrições de circulação e horários de
funcionamento das lojas. Assim, são observadas diversas tendências futuras de acordo com essa
retomada, pois, como mencionado anteriormente no tópico 6.2.3, não é esperado que o
consumidor volte ao cenário anterior à pandemia, visto que a aceleração digital já ocorreu.
A seguir, veremos três pontos importantes relacionados a tendências futuras do varejo:
(1) o novo papel da loja física com a extensa abertura e maior circulação e preferência dos
consumidores, (2) tecnologias exponenciais classificadas por estudos, como o da Gartner, como
futuro do varejo e (3) uma maior personalização da experiência do cliente.
108
construída com uma arquitetura pensada em trazer conforto para a população local com traços
que remetem à sua cultura.
A loja física também se porta como o meio de tradução do propósito da marca com o
consumidor ao mostrar não só uma vitrine de produtos, mas também um local que traga
experiência para até os não-consumidores que gostariam apenas de experienciar aquele
momento. A Figura 76 traz os exemplos da marca Everlane, a qual mostra a quantidade de
garrafas de plástico recicladas para fazer cada roupa.
109
Figura 76: Exemplo da loja física da Everlane, em Nova Iorque.
Terra (2020) também traz a ideia de que a loja física deve se tornar um importante
componente da logística de vendas. O espaço físico pode ser tanto um “hub logístico” para
impulsionar a rapidez com que as entregas são realizadas quanto pode se tornar um local em
que as pessoas possam retirar produtos comprados digitalmente, ao trazer conveniência aos
clientes que moram perto dos Pontos de Venda (PDV).
Algumas marcas de roupa como Nike já estão construindo suas lojas considerando um
espaço apenas para os clientes poderem retirar seus produtos em loja, mesmo tendo comprado
online. No Brasil, as Lojas Americanas têm se utilizado da sua grande pulverização no Brasil
para poder expandir suas operações para o BOPIS.
A Farm, marca de roupas femininas do Grupo Soma, lançou no dia da internet, em 2021,
o seu aplicativo para compras online e resolveu fechar todas as lojas na segunda-feira (17 de
maio) para dar destaque à loja virtual. Essa estratégia fortaleceu a ideia de que o comércio
digital não será só mais um meio de vendas, mas sim o conjunto de toda a cadeia de vendas.
110
Para o desenvolvimento deste tópico, foram utilizados relatórios da consultoria
americana Gartner. Essa empresa possui como seu campo principal a elaboração de relatórios-
quadrantes no campo da tecnologia mapeando empresas e suas respectivas posições no
mercado. Um exemplo desse quadrante é mostrado em 5.3.2.
Gartner (2020) cita dez tecnologias ligadas ao comércio que sofrerão mudanças nos
próximos anos e terão o seu desenvolvimento acelerado (Figura 77). Elas são divididas entre
drivers da organização que são ligados a aspectos internos de operação de cada empresa e
drivers dos consumidores, relacionados a experiência dos clientes.
Figura 77: Previsões de tecnologias que vão sofrer mudanças nos próximos anos devido ao COVID-19.
111
A B2B Consumerization é o aumento do hábito de consumo relacionado a transações
empresa-empresa. Do ponto de vista do negócio, é preciso adaptar o comércio eletrônico para
esse viés de acordo com as configurações, arquitetura da ferramenta e design. A quinta
tecnologia é a Experience Commerce relacionada a aprimoramentos da experiência de compra
online e física por meio do omnichannel citado anteriormente no tópico 5.3.3.
A sexta tecnologia é a Lights-off commerce que permite que os consumidores
permaneçam consumindo mesmo quando não estão online efetuando compras. Ela remete a
processos de assinatura de recebimento de produtos e planejamento de futuras compras. A
sétima tecnologia é a de Enterprise Marketplace. Segundo o Glossário da Gartner, marketplace
é um ambiente que agrega ofertas de diversos vendedores diferentes e que possui conteúdo de
comparação de produtos e serviços como proposta de valor. Assim, segundo a previsão da
Gartner (2020), esse modelo de negócio terá um desenvolvimento acelerado nos próximos anos
no que tange a complexidade enfrentada para a configuração de plataformas do tipo
marketplace.
As três últimas tecnologias citadas são relacionadas ao conceito de “Flexibilidade e
Agilidade”, são elas Unified Commerce, Modular Structure e Configurable Business
Experience. Desde que o comércio eletrônico passou a existir, há uma dificuldade intrínseca do
negociante físico de conseguir repassar para o ambiente online a mensuração de métricas e
operação das vendas, marketing, merchandising e atendimento do cliente em sua totalidade.
Isto acontece devido a capacidade da tecnologia e limitações relacionadas a configurações de
código, UX e UI. Essas tecnologias citadas pela Gartner atuam justamente para tornar o
comércio eletrônico mais flexível e facilitar a customização das plataformas no ponto de vista
do negócio.
112
No Brasil, há alguns exemplos embrionários sendo aplicados no ambiente dos
supermercados. O mercado Pão de Açúcar lançou um aplicativo que disponibiliza descontos
personalizados para os clientes de acordo com as compras previamente realizadas pelos
clientes. Essa situação otimiza os retornos gerados a partir de descontos, pois, ao serem
personalizados, eles encontram pessoas que estariam dispostas a gastar mais em determinada
compra caso ganhassem um desconto específico.
113
7. Conclusão
O presente trabalho teve como objetivo geral analisar como a pandemia do novo
coronavírus teria impulsionado a transformação digital, em especial para melhorar a experiência
dos clientes. Devido às restrições quanto à obtenção e à leitura de dados e artigos acadêmicos
sobre o tema, uma vez que ele é muito recente, o trabalho precisou recorrer a fontes de órgãos
públicos e a estudos realizados por consultorias renomadas durante este tempo para que
houvesse um maior material de leitura e percepções sobre o tema.
Em termos de objetivos, o trabalho abordou os seis objetivos específicos pré-
estabelecidos (Figura 78). No capítulo 3, houve uma análise da Quarta Revolução Industrial
enquanto estudo para embasar o presente trabalho e uma síntese das tecnologias foi realizada.
A partir de tal estudo, foi possível desenvolver o conceito de transformação digital com seus
pontos principais de análise através da revisão bibliográfica e fontes externas relevantes
utilizadas. Paralelamente, o conceito de experiência do cliente foi igualmente analisado sob
seus principais eixos através da revisão bibliográfica e fontes externas também. Uma vez que
esses conceitos foram explorados, o varejo brasileiro, no capítulo 5, foi dividido em cinco ciclos
que foram estudados sobre as óticas da transformação digital e da experiência do cliente. Com
esse contexto, o varejo brasileiro durante a pandemia COVID-19 pode ser analisado sob os
eixos da transformação digital e experiência do cliente. Por fim, foi entendido o que entraria
como tendência futura para o setor do varejo sob a ótica das funções da nova loja física, a
personalização da experiência do cliente e com as previsões da consultoria Gartner acerca das
tecnologias (Figura 78).
114
Figura 78: Objetivos Geral e Específicos e suas respectivas localidades de conteúdo no presente trabalho
115
cobradas de estarem nesse meio. A pura digitalização não será mais uma vantagem competitiva
para um conjunto de empresas em que poucas estão no mundo digital: as empresas que ganharão
os clientes são aquelas que melhor oferecerem um serviço rápido, assertivo, confiável e com
uma boa experiência.
Os achados dessa pesquisa podem ser utilizados como base para planejamento da
transformação digital de empresas e serviços, levando como grande direcionador e diferencial
a “melhoria da experiência do cliente”. Dessa forma, as empresas podem entender quais são os
pontos que fazem a transformação digital ser impulsionada como uma vantagem competitiva
no “durante” e no “pós pandemia”.
Para trabalhos futuros, recomenda-se analisar os efeitos que essa acelerada
transformação digital gerou no mercado e também ampliar o objeto temporal analisado. Este
presente trabalho avaliou o período considerado pandemia COVID-19 entre março/2020 e
junho/2021. Recomenda-se a angariação de dados durante um período maior, visto que a
pandemia ainda está sendo vivido no momento atual de publicação deste trabalho. A Gartner
prevê que até o final de 2022 metade das empresas terão falhado na sua jornada de
transformação digital. Portanto, é importante verificar o processo que levará tal empresas ao
fracasso da transformação, considerando o dinheiro aplicado e os direcionadores de
transformação elencados. Outro caso recomendado para estudo futuro é a transformação digital
no uso da telemedicina no setor de saúde mental, uma vez que o serviço foi altamente procurado
durante a pandemia.
Vale ressaltar, no entanto, que não houve uma pesquisa estatisticamente significativa
que comprovasse as hipóteses levantadas no presente trabalho. Com isso, alguns fatores
relevantes podem ter sido deixados de fora da análise realizada neste presente trabalho. O fato
de o serviço já estar no ambiente digital (como os serviços prestados intrinsecamente pela
internet) pode afetar a análise, dado que não haverá uma transformação digital, mas sim uma
estratégia totalmente focada no redesenho para a experiência do cliente.
As empresas que dominarão o mercado são aquelas que entenderem que os seus clientes
satisfeitos podem ser utilizados como vetor de divulgação da própria marca em grandes
plataformas digitais. O ecossistema do Instagram já conta com publicidades das empresas e
com os influenciadores digitais (os quais são pagos pelas propagandas), porém as vozes das
pessoas físicas cada vez mais serão levadas em consideração por outras pessoas que buscam
recomendações.
116
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ANEXO I
127