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perspectiva histórica
Heloísa Barbuy*
Introdução
I. As questões
1 DAVALLON, J. (dir.). Claquemurerpour ainsi dire tout 1'univers. La mise en exposition. Paris: Centre Georges
Pompidou, 1988. p.269.
2 Não por outra razão, certamente, a conferência de abertura deste evento foi solicitada a Jean Davallon.
3 Até mesmo o ET dos filmes de ficção científica do cineasta Steven Spielberg, com sua enorme cabeça, com nova
conformação corporal decorrente do uso crescente do cérebro em detrimento de outras funções orgânicas e que pode
ser visto como uma prefiguração do ser humano futuro, até mesmo esse ET conserva a necessidade de tocar coisas e
pessoas, até mesmo ele mantém uma relação com o mundo material não intermediado. l^"
4 A ideia de que a relação física entre objetos e sujeitos pressupõe ação, performance e realiza cultura, é o ponto
central do pensamento antropológico de Jean-Pierre Warnier e seus seguidores a respeito do que seja cultura material
(cf. JULIEN, M. P.; K.OSSELIN, C. La Culture matérielle. Paris: La Découverte, 2Q05.passim).
5 A inerência da condição física ao ser humano e o museu como instrumento para ampliar a pouca consciência que
se constata a esse respeito tem sido reiterada por Ulpiano. T. Bezerra de MENESES. Ver, entre outros: MENESES,
U. T. B. "Para que serve um museu histórico?". In: MENESES, U.T.B.. (dir.) Como explorar um museu histórico. São
Paulo: Museu Paulista, 1992. p.3.
6 RÚSSIO, W. Museological Working Papers, 1980; definição revista pela autora em Cadernos museo/o'gicos, IBPC,
Rio de Janeiro, 1990, p.7: o fato museal caracteriza-se como "a relação profunda entre o Homem, sujeito que conhece,
e o objeto, parte da realidade à qual o ser humano também pertence e sobre a qual tem poder de agir, relação esta que
se processa em um cenário institucionalizado e ideal: o museu". (Agradeço a Marilucia Bottallo pela indicação desta
última referência).
não são o objeto central; são mecanismos por meio dos quais é possível experimentar a
ocorrência de fenómenos físicos que são, estes sim, o objeto central do museu. Por exem-
plo, equipamentos que, ao desencadear correntes elétricas, fazem os cabelos de quem
os aciona subirem, demonstrando assim um fenómeno que é físico, material portanto,
mas que é em si mesmo invisível a olho nu. Mesmo no caso de haver objetos originais
expostos, todo o aparato expográfico é cuidadosamente elaborado, normalmente, nos
museus de ciências, a fim de tornar claras e didáticas ideias complexas desenvolvidas no
âmbito da Ciência7.
Lembramos também dois casos de museus criados recentemente em São Paulo e
que têm recebido um grande público e gerado certa polémica no meio profissional: o
Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol. No primeiro caso, o objeto central
do museu é a língua portuguesa, algo que não é visível, que só é apreensível por meio de
sons ou de sinais escritos (sejaa_escrita apreensível pela visão, seja pelo tato). No segun-
do caso, o objeto central é o futebol, algo que é essencialmente movimento e, pensando
nas torcidas, algo que é, centralmente, emoção coletiva. Nestes casos, então, parece-me
que o uso de recursos eletrônicos é muito indicado. Seria muito empobrecedor tratar a
língua apenas com seus suportes tradicionais (como os livros) ou tratar o futebol apenas
com aqueles suportes que são, na verdade, acessórios de sua realização: camisas, chutei-
ras, bolas, taças e assim por diante. Que interesse despertariam? U—'
É claro que existe também uma questão de dosagem no uso dos recursos tecnológi-
cos. E que podem ser assumidos apenas como recursos acessórios, usados, de preferên-
cia, em recintos separados das exposições principais8, quando isto é possível. Entretanto,
um grande problema se coloca quando o uso da tecnologia se torna apenas uma estraté-
gia para atração de públicos e chegamos aí a uma segunda questão.
7 Sobre comunicação em museus de ciências, ver, entre outros, CHELINI, M. J. E. Exposições em museus de ci-
ências: reflexões e critérios para análise. Anais do Museu Paulista, São Paulo, N. Ser., v. 16, n.2, p.205-238, jul.-dez.
2008.
8 G. H. Riviere já chamava a atenção para o fato de que "a emissão visual e sonora dos aparelhos traz o risco, toda-
via, de prejudicar o ambiente dos objetos e modelos, os componentes mais importantes da exposição. Daí a necessida-
de de se realizar um isolamento acústico ou óptico dos campos a serem cobertos pelas emissões" (RIVIERE, G.H.. Lê
role du musée d'art et du musée de sciences humaines et sociales. Paris, Museum, v.25, n. 1/2, p.29, 1973).
Uma das críticas mais frequentes que se faz aos museus que usam massivamente a
linguagem que se considera a mais atual, intermediada por recursos tecnológicos, é a
transformação dos museus ernjn^ip^ecomunicação de massas, que, como tal, tornam-
se, na verdade, poderosos adestradores ou, no mínimo, idiotizantes, em sentido total-
mente contrário àquele que aprendemos ser o papel social dos museus como instrumen-
tos para a conscientização e a aquisição da cidadania.
Neste sentido, a espetacularização da cultura pode jogar o museu na vala comum
das diversões de massas que são um grande sucesso de público com pouco, porém, a di-
zer, destinadas apenas ao escape, à evasão. As exposições espetacularizadas, muitas vezes
por meio de recursos eletrônicos, podem igualar os museus aos parques temáticos, aos
filmes de ficção, aos megashows, aos jogos eletrônicos e assim por diante. Podem se tor-
nar, assim, passatempos vazios com bilheterias rentáveis e muito pouco resultado no que
diz respeito ao desenvolvimento social. Ou, pior, podem criar falsas ideias, por exemplo,
sobre a História ou sobre identidades culturais ou nacionais.
Entretanto, as diversões de massas são normalmente democráticas, no sentido de que
são acessíveis à imensa maioria. São acessíveis, entre outros aspectos, no que diz respeito
justamente à linguagem. Então, pergunta-se: talvez os museus espetacularizados possam
ter, afinal, um papel social? Ao tratarem, por exemplo, da História, poderão, minimamen-
te, promover uma conscientização a respeito do tempo, da ocorrência de mudanças e de
permanências ao longo do tempo, de diferenças culturais, simplesmente da existência de
processos históricos para pessoas que nunca pensaram sobre isso? Poderão ser, talvez, para
muitos, uma porta de entrada, um descortinar de dimensões novas e enriquecedoras?
Vemos aí que a linguagem que atrai as massas pode ser entendida como um instru-
C mento que promove seu adestramento ou sua alienação ou, em sentido oposto, como
S uma operação bem-sucedida de comunicação que consegue estabelecer diálogo com a
toaioria. E aí se pode perguntar se, para se conseguir uma comunicação eficiente, será
preciso simplificar o conteúdo das mensagens; se as exposições são, de fato, meios de
comunicação destinados a mensagens mais simples.
Chegamos então a uma outra questão que se mantém atual, relativa a uma persistente
separação entre os universos das exposições populares e das exposições eruditas (quan-
do falamos no plano intelectual); ou entre museus democráticos e museus para as elites
(no plano sócio-econômico). E esta polarização se traduz, frequentemente, no campo da
tipologia de museus, colocando-se os museus de Arte, especialmente os de Arte Contempo-
rânea, como museus de elite enquanto os outros museus, de História, Arqueologia, Antro-
pologia ou Ciências, como museus que se destinam a públicos mais populares.
A existência de diferentes grupos e classes sociais é um fato inegável e as diferenças
se traduzem, entre outras coisas, na existência de diferentes maneiras de ver, perceber o
mundo. Um outro fato é que as elites, sejam financeiras e/ou intelectuais, tendem a que-
rer manter as diferenças que a caracterizam como classe e isto tem implicações, inclusive,
em seus gostos e seus códigos visuais. Daí a realização de exposições que supostamente só
essas elites poderão compreender; que somente elas serão atraídas a visitar, a ver.
O próprio financiamento de exposições se submete, muitas vezes, a esta lógica: as
verbas são dadas para projetos ao "gosto das elites" ou para a "educação das massas".
É como se houvesse um abismo entre o gosto educado e o gosto popular. Entre o
indivíduo preparado para compreender e criar exposições altamente refinadas, que exi-
gem conhecimentos prévios, ou exposições de vanguarda, "antenadas" nos novos rumos
e tendências, que poucos têm capacidade de perceber (e isto se associa, muito frequen-
temente, às vanguardas artísticas), e um outro universo, que é o universo da maioria, do
cidadão comum, para quem as exposições de museus são oportunidades democráticas
de acesso a todo um mundo de temas e acervos, sentidos como tesouros ou como chaves
para uma riqueza cultural imensa da qual se consegue, ali, como que capturar alguns
fragmentos. Porque são visíveis. Apreensíveis.
É para esses públicos de cidadãos comuns que se organizam, então, as exposições
mais acessíveis, que usam formas de representação mais realistas, como as reconstitui-
ções de ambientes ou as narrativas cronológicas que criam um panorama lógico e enca-
deado deste ou daquele tema, de História, de Ciências, de movimentos artísticos.
São formas eficientes de comunicação, mas cria-se aí um desafio que tem sido difícil
de vencer, que é o de se conseguir tratar temas complexos com linguagens compreensíveis
e oferecer elementos que possam servir de conexões com os universos conhecidos dos visi-
tantes9, sem contudo cair em simplismos excessivos ou em falseamentos inaceitáveis.
Há museus que escolhem coletar e expor exatamente aqueles objetos que são os
mais recorrentes, isto é, os que foram mais usados e são, portanto, mais representativos
das culturas de que se quer tratar. São museus que poderíamos chamar, em sentido am-
plo, de antropológicos.
Outros museus têm como critério de coleta justamente a excepcionalidade, seja por
qualidade artística, seja por raridade das obras ou objetos que pretendem preservar e
expor.
Estas tendências seriam opostas entre si? Para uns, a chamada "peça de museu" não
pode e não deve ser algo banal. Para outros, os critérios antropológicos, que são critérios
culturais, são os mais indicados paramelhor contextualizar desde o objeto banal até o
objeto excepcional.
5. MERGULHO OU DISTANCIAMENTO?
9 Sobre a interação com os visitantes, ver CURY, M. X. Comunicação museológica: umaperspeciva teórica e metodo-
lógica de recepção. São Paulo, 2005. Tese de Doutorado — EGA. p.75ss. epassim.
Em perspectiva histórica — por ver na História uma poderosa ferramenta para o es-
clarecimento - propomos uma viagem exploratória por uma história das exposições, no
sentido de buscar subsídios para uma melhor compreensão dos museus hoje.
A plataforma de embarque serão os gabinetes de curiosidades dos séculos XVI ao
XVIII, que são microcosmos (no sentido de resumos do mundo10) constituídos em ra-
zão do fascínio e do interesse intelectual pelo mundo material, visível, que instiga seus
mentores naquele período histórico. O gabinete de curiosidades é, então, um espaço em
que coisas selecionadas são reunidas para se tornarem, também individualmente mas
10 Entre outros, SCHNAPPER, A. Lê Géant, Ia licorne, Ia tulipe: collectionsfrançaises au XVIIe siècle. Paris: Flam-
marion, 1988. p.9.
11 LUGLI, A. Naturalia et Mirabilia: lês cabinets de curíosilés en Europe. Paris: Adam Biro, 1998. p.31. (Publicado
originalmente em italiano, por Gabielle Mazzotta, em Milão, em 1983).
12 Id. Ibid. p.33-34.
A maior parte desses autores, porém, nos fala de gabinetes de curiosidades eruditos,
constituídos por professores, cientistas, clérigos, reis e nobres, que tinham, essencial-
mente, objetivos de estudo ou de deleite refinado. Mas em 1904, David Murray13, um dos
precursores no estudo dos gabinetes, já nos falava da existência também de gabinetes
de curiosidades instalados em cafés e outros ambientes populares de Londres no século
XVIII, assunto que décadas depois foi iluminado por Altick14, num estudo sobre cultura
popular urbana no qual fez ricas conexões entre temas como história do gosto popular
(preferências para diversão), interação cultural entre diferentes classes e o binómio ins-
trução-diversão (vulgarização), do século XVII ao XIX. Entre as diversões populares que
ele recupera estão esses cafés de Londres que, no século XVIII, apresentavam exposições
de curiosidades para atrair e agradar a clientela. \^~
Essas formas de exibição de coisas, sem caráter erudito, em diferentes ambientes
abertos ao público, expressa^uma_cultura da curiosidade, em âmbito popular e urbano,
que é também uma cultura visual de exposições, em sentido amplo, que Altick identifica
como uma "forma popular de baconianismo": as coisas acima das palavras, proporcio-
nando "diversão e instrução", apreendidas por um "senso popular de maravilha" e de
um "senso estético rudimentar".
Estamos, então, diante de outra das questões sobre as quais precisamos ou pode-
mos refletir atualmente: a permanência de uma separação entre exposições eruditas e
exposições populares.
Há todo um universo de transição, entre a cultura medieval e o Renascimento, no
qual os fenómenos naturais que antes eram tomados como mensagens divinas, vão pas-
sando, então, a ser conceituados como "curiosidades" e "maravilhas", isto é, caminham,
sutilmente, para a laicidade15. Nesse contexto, o desenvolvimento dos gabinetes de His-
tória Natural foi o que melhor correspondeu aos caminhos que viriam a separar, em
direções diferentes, a religião e a ciência.
13 MURRAY, D. Museums, their history ans their use. London: Routledge/Thoemmes, 1996. v.l, p.!71ss. (l.ed.
Glasgow: J. MacLehose and sons, 1904).
14 ALTICK, R. The shows of London. Cambridge-Massachusetts: The Belknap of Harvard University Press, 1978.
p.17-21.
15 LUGLI, A. Op. cit. P.52ss.
Mesmo um autor religioso como Francis Bacon (1521-1626), afirmou que havia
dois grandes livros: o Livro das Escrituras, revelador da vontade divina, que indica o que
Deus quer que os homens façam, e o Livro da Natureza (ou Livro da Criação), que expri-
me o poder de Deus, ao mostrar o que Ele fez. Para ler as Escrituras, seria mobilizada a
fé, mas para interpretar o Livro da Natureza, deveriam ser usadas apenas as ferramentas
da objetividade: observação, comparação, raciocínio lógico16.
Assim foi que a História Natural, desenvolvida nesses princípios, que são os da ra-
cionalidade científica, esteve na base de novos tipos de exposições. A experimentação
exigia coleções organizadas de modo apropriado para se realizar, isto é, precisava de um
museu-escola-laboratório no qual se pudessem ensinar os novos modos de entender o
mundo, de interpretar o Livro da Natureza, a partir da observação das coisas.
O próprio Bacon prega (ou prevê) os museus modernos em À Nova ÀfMn f ida, única
obra sua em forma de utopia, género literário em voga nos séculos XVI e XVII. Foi conce-
bida por Bacon, de acordo com as palavras de um seu discípulo (W. Rawley):
(...) a fim de poder nela apresentar um modelo ou uma descrição de um
colégio que seria fundado visando-se a interpretação da natureza e da pro-
dução de grandes e maravilhosas obras para o bem de toda a humanida-
de.17
as colorações das luzes, todas as ilusões que podem enganar a vista quanto à
figura, o tamanho, o movimento e a cor;
as Casas dedicadas aos erros dos sentidos: enganos, aparições enganosas,
fantasmas;
duas Galerias, muito longas e belas. Numa delas, expõem-se todos os tipos de
modelos e amostras, de invenções raras e importantes. Na outra, expõem-se
estátuas dos mais insignes inventores;
Na Atlântida utópica de Bacon, o conhecimento se constrói em progressão e
por isso pressupõe a preservação de tudo o que foi produzido anteriormen-
te. Ensina ser preciso que uma instituição possa atravessar os séculos para
garantir a continuidade dessa preservação, que embasa o trabalho e o conhe-
cimento de diferentes gerações.
Estavam dadas as chaves para a constituição daquele que é considerado o pri-
meiro museu moderno, um centro baconiano em Oxford, o Ashmolean Museum18.
A direção estava dada e com seu desenvolvimento ulterior, podemos dizer que o
século XVIII foi o século da História Natural, com intenso desenvolvimento dos
estudos sistemáticos da natureza. Tais estudos vinculam-se, intrinsecamente, às
classificações de espécimes, que passam a ser fisicamente organizados de acordo
com os princípios classificatórios em vigor. Daí resulta a prática das exposições
como organizações visuais correspondentes a um pensamento lógico, explicativo
da própria Natureza e assim do mundo. Tais organizações expositivas, exatamente
pela clareza lógica que a visualidade proporciona, tornam-se didáticas por exce-
lência. O ensino se dá por uma apreensão pela visão. Roland Schaer19 nos fala de
uma "experiência sensível" e João Brigola de um "pensamento visual" e de uma
"aprendizagem sensível"20. É assim que o museu se institucionaliza como centro
18 A situação do Ashmolean Museum como centro baconiano e a importância de Bacon para a história dos museus
foi apontada por Roland SCHAER. Uinvention dês musées. Paris: Gallimard, 1993.
19 SCHAER, R. Dês encyclopédies superposés. In: Chamai GEORGEL. Lajeunesse dês musées: lês muse'es de France
auXDÍe siècle. Paris: Réunion dês musées nationaux, 1994. p.38-51.
20 BRIGOLA, J. C. P. Colecções, gabinetes e museus em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gul-
benkian/Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 2003.
21 Esta é a tese central de Jonathan CRARY. Techniques ofthe observer on vision and modernity in the nineteenth
century. Massachusetts/London: October Books, 1990.
22 GEORGEL, C. La jeunesse dês musées: lês musées de France au XIXe siècle. Paris: Réunion dês musées
nationaux, 1994.
23 BARBUY, H. A Cidade-Exposição: comercio e cosmopolitismo em São Paulo, 1860-1914. São Paulo: EDUSP, 2006.
p.70-87; 227-230.
24 SCHAER., R. Dês encyclope'dies superposés, p.44.
25 BARBUY, H. A Exposição Universal de 1889 em Paris: visão e representação na sociedade industrial. São Paulo:
História Social USP/Loyola, 1999.
26 Data de abertura ao público definida por CRISPINO, L. C. B.; BASTOS, V. B.; TOLEDO, P. M. (org.). As origens
do Museu Paraense Emílio Goeldi: aspectos históricos e iconográficos (1860-1921). Belém: Paha-Tatu, 2006. p.51.
27 A criação jurídica do Museu Paulista data de 1893.
Quanto aos acervos, promoveram a inserção, nos museus, de novos tipos de objetos.
Nos museus de história, estes movimentos, associados à difusão também intensa da Nova
História, dentro e fora dos meios académicos, fizeram com que qualquer objeto do co-
tidiano mais banal passasse a ser uma peça de museu em potencial. É verdade que hoje,
lutamos com os problemas conceituais de seleção de acervos e da preservação de uma
imensa gama de objetos que veio a integrar os acervos dos museus, mas os ganhos foram
imensos.
p. Nas exposições, ganharam terreno as preocupações com as temáticas de interesse
7
, j coletivo e popular e com a comunicação e participação das comunidades envolvidas ou
Qfe^ dos visitantes (que se ensaiou chamar de usuários).
, (~ Houve e há muitas experiências com este sentido. Lembramos aqui o Museu da
Cidade de Salto (Estado de São Paulo), inaugurado em 1991 como "museu-percurso",
constituído na filosofia dos ecomuseus, concebido com a participação de representan-
tes da sociedade organizada local, sob coordenação do museólogo Júlio Abe Wakahara.
Era formado por uma sede, dois núcleos externos organizados em torno de património
histórico e ambiental existente em dois grandes parques municipais e dez pontos de re-
ferencia no espaço urbano. Foi uma experiência bem-sucedida, para os nossos padrões,
inclusive por se manter até os dias de hoje e com uma boa visitação, apesar de se resumir,
atualmente, àquela que era originalmente apenas a sua sede.
Nesta sede, por se tratar de uma cidade fabril, objetos e fotografias foram sistema-
tizados para falar da história de Salto, tendo como eixo a estreita relação entre a emer-
gência e desenvolvimento da cidade e suas fábricas; e o trabalho como atividade central
da vida cotidiana28.
Na experiência do Museu Paulista, observa-se grande interesse do público por expo-
sições que trazem objetos de uso cotidiano, que permitem estabelecer relações com os
universos pessoais de cada um, tais como ferros de passar e louça doméstica comum.
Todos esses movimentos voltados para as funções sociais dos museus representaram
um desenvolvimento muito positivo mas, em muitos casos, custaram também o preço de
28 Sobre a implantação do Museu da Cidade de Salto, ver ROSSI, A. Z.; BARBUY, H. Museu da Cidade de Salto:
projeto e implantação. Campinas, Boletim do Centro de Memória UNICAMP, v.4, n.7/8, p.53-64, jan.-dez. 1992.
* Heloísa Barbuy é Vice-diretora e Professora do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP).
Revisão
Oswaldo Vasconcelos
Produção Editorial
Ygá-Mirim Comunicação Total Ltda
Ilustração da capa
Detalhe do painel Colonização e Dependência.
Clécio Penedo, 1987
CDD 069
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