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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA E CULTURA

LEANDRO ALMEIDA DOS SANTOS

PRA EU E PRA MIM FAZER: TRAÇOS SOCIODIALETAIS


NAS CAPITAIS BRASILEIRAS

Salvador
2023
LEANDRO ALMEIDA DOS SANTOS

PRA EU E PRA MIM FAZER: TRAÇOS SOCIODIALETAIS


NAS CAPITAIS BRASILEIRAS

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Língua e Cultura do Instituto de Letras da
Universidade Federal da Bahia – UFBA – como requisito
parcial para obtenção do grau de Doutor em Língua e
Cultura.

Orientadora: Profa. Dra. Silvana Soares Costa Ribeiro


Coorientador: Prof. Dr. Rerisson Cavalcante de Araújo

Salvador
2023
SANTOS, Leandro Almeida dos. Pra eu e pra mim fazer: traços sociodialetais nas
capitais brasileiras. 2023. 262f. Tese (Doutorado em Língua e Cultura). Universidade
Federal da Bahia, Salvador. 2023.

RESUMO
Nesta tese, analisa-se o comportamento dos pronomes pessoais do caso reto eu e do
caso oblíquo tônico mim, em posição de sujeito, precedidos da preposição para, em
contextos como Isto é para eu fazer e Isto é para mim fazer, nas capitais brasileiras. O
objetivo é verificar a variação entre o eu (forma de prestígio) e o mim (forma
estigmatizada) e as possíveis influências de fatores intra e/ou extralinguísticos
condicionadores ou não do uso variável, tais como: fatores diatópicos, sociais,
linguísticos e históricos, que podem moldar a língua e, por vezes, interferir nos usos.
Como fundamentos teóricos e metodológicos, adotam-se os pressupostos da
Dialetologia – aporte principal, com ênfase no método geolinguístico pluridimensional
– e da Sociolinguística Variacionista – aporte auxiliar. Desse modo, acredita-se que a
estrutura para/pra+eu/mim+infinitivo possui um comportamento que pode evidenciar
diferentes perfis, quer seja dialetal/ horizontal, quer seja sociolinguístico/vertical. Os
corpora de análise para o estudo foram recolhidos em amostras orais do Português
Brasileiro (PB), nas décadas de 70 e 90, dados do Projeto de Estudo da Norma
Linguística Urbana Culta – Projeto NURC – e, nos anos 2000, dados do Projeto Atlas
Linguístico do Brasil – Projeto ALiB. Ao tomar por base dois importantes bancos de
dados sobre a língua portuguesa falada em solo brasileiro, ressaltam-se os critérios
metodológicos distintos, a saber: i. Projeto NURC: 307 inquéritos, a partir do Diálogos
entre Informante e Documentador (DID); Diálogos entre dois informantes (D2); e das
Elocuções formais (EF); 342 informantes, oriundos de cinco capitais – Recife,
Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre –, pertencentes as faixas etárias I –
25 a 35 anos; II – 36 a 55 anos; e III – 56 anos em diante, todos com nível universitário;
ii. Projeto ALiB: 200 inquéritos, a partir de todo o Questionários (COMITÊ
NACIONAL..., 2001), sobretudo, a questão 023 do Questionário Morfossintático
(QMS); 200 informantes, oriundos das 25 capitais, pertencentes as faixas etárias I – 18
a 30 anos – e II – 50 a 65 anos; com nível de escolaridade fundamental e universitário.
Após ampla revisão de literatura, por diferentes perspectivas – gramáticas, gerativista,
sociocognitiva, sociolinguística e dialetológica – sobre o fenômeno ora analisado,
audição dos áudios e consulta às transcrições grafemáticas, as ocorrências foram
codificadas e submetidas à análise do programa estatístico Goldvarb (2001). Os dados
submetidos à tal análise demonstraram que a distribuição sob o eixo horizontal, no que
tange à localidade, é um fator relevante para o entendimento e à compreensão desse
fenômeno no PB. Assim, no que tange ao eixo vertical, embora a forma mim –
estigmatizada, associada ao “erro” e atribuída à língua falada indígena – seja
documentada em todas as capitais, independentemente do nível de escolaridade, nota-se
que os informantes universitários, nos dois corpora, tendem ao uso da forma de
prestígio. Ademais, um fator linguístico – função sintática da oração infinitiva – e
fatores históricos – século de fundação e criação da primeira faculdade – também
exercem influência sobre as escolhas dos pronomes em estudo. Os resultados foram
dispostos em cinco cartas linguísticas, com dados percentuais e pesos relativos, a fim de
demonstrar a variação diatópica e a diastrática, por meio de critérios que facilitam o
acesso e a leitura dos dados, como a representação do não dado; a inserção de QR-code
nas cartas, que levará à análise delas em uma plataforma digital aberta, visando a um
fazer científico ao alcance de todos, fato que torna a geolinguística brasileira a pioneira
nesse quesito.
Palavras-chave: Pronomes. Dialetologia. Sociolinguística. Projeto NURC. Projeto
ALiB.
6.5.3.3 A distribuição diatópica – localidade

Por meio do controle dessa variável, buscou-se avaliar o comportamento do


fenômeno em estudo nas cinco capitais brasileiras, coincidentes nos dois corpora. Os
resultados seguem expostos na Tabela 29.

Tabela 29 – O pronome eu em posição de sujeito, nas capitais do Brasil – distribuição


conforme a localidade – agrupamento dos corpora
CAPITAL APLIC./TOTAL % PESO RELATIVO
São Paulo 8/9 88.9% 0.69
Rio de Janeiro 47/59 79.7% 0.53
Salvador 12/15 80% 0.51
Recife 5/7 71.4% 0.38
Porto Alegre 7/12 58.3% 0.25
Input: 0.811 Significância: 0.000
Fonte: Elaborado pelo autor (2023).

As capitais Recife e Porto Alegre, nas amostras analisadas, não são desfavorecedoras
ao uso do pronome oblíquo reto eu. Em contraste, as capitais sudestinas, São Paulo e Rio de
Janeiro, com pesos relativos de 0.69 e 0.53, apresentam uma leve inclinação na escolha desse
pronome. Por fim, Salvador, quanto à escolha pronominal, é a outra capital que está propensa
à escolha do eu na estrutura em análise, com peso relativo de 0.51. Nessa direção, a Carta
experimental M04 demonstra a variação espacial no agrupamento dos dados desses corpora.
Figura 37 – Carta experimental M04 – Distribuição dos pronomes eu e mim quanto à
localidade – dados do Projeto NURC e do Projeto ALiB – informantes universitários

Fonte: Elaborado pelo autor (2023).

Diante dos valores percentuais apresentados na Figura 371, em contraste com as


configurações espaciais dessas cinco capitais, isoladamente, nos corpora do Projeto NURC e
do Projeto ALiB, alguns casos específicos são notáveis, por exemplo:
i. nos anos 70, a capital Porto Alegre apresenta inclinação para usos da forma mim,
fato que se mantém nos anos 2000, no agrupamento dos corpora, com dados exclusivos dos
universitários, a forma eu figura como levemente majoritária;
ii. Rio de Janeiro, também, nesse sentido, apresenta dados divergentes, pois, nos
corpora das décadas de 70/90 e no agrupamento dos corpora dos Projetos, apenas com
informantes universitários, há predominância da forma de prestígio, eu. Nos dados do Projeto
ALiB, o percentual indica equilíbrio das duas formas pronominais em estudo; assim em
iii. Recife, Salvador e São Paulo, nas três Figuras 30, 33 e 37, são áreas de utilização
do pronome de prestígio linguístico, o pronome do caso reto, eu. Um fato a observar é que,
das cinco capitais coincidentes nos corpora, elas três são as mais antigas, quando se observa a
data de fundação.

1
A carta da figura 37 reúne os dados dos dois corpora sem identificá-los em separado

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