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Sumário

Introdução -------------------------------------------------------------------------------- 4

Descrição e Análise das Atividades Realizadas ----------------------------------- 11

Conclusões ------------------------------------------------------------------------------ 16

Auto-Avaliação ------------------------------------------------------------------------ 18

Fontes de Pesquisa --------------------------------------------------------------------- 19


Introdução

“Você pode sonhar, criar, desenhar e construir o lugar mais


maravilhoso do mundo... Mas é necessário ter pessoas para
transformar seu sonho em realidade...” (Walt Disney)

A Instituição pesquisada foi a Creche Municipal Criança do Futuro, onde


trabalho desde janeiro de 2005. Localiza-se na comunidade de Curicica, Jacarepaguá, e foi
a primeira creche a surgir na localidade, há 11 anos, sendo, portanto, muito requisitada
entre os pais de crianças em idade pré-escolar.

A clientela atendida nesta instituição é basicamente formada por moradores da


própria comunidade, e visto que a localidade é bastante heterogênea, as crianças também
apresentam características bem distintas. Alguns moram em favelas e dependem
completamente da alimentação, dos cuidados e da educação oferecidos na creche; outros
moram em casas mais confortáveis e têm na família a solução de muitas necessidades
normais ao processo de desenvolvimento.

A Proposta Político Pedagógica da creche se apóia na importância de


proporcionar à criança condições para seu desenvolvimento integral, dando ênfase à
conquista da autonomia pela própria criança, encarando-a, portanto, como sujeito ativo de
seu processo educacional.

A equipe de profissionais é formada por mulheres das mais diferentes origens e


formações e muitas destas estão na creche desde sua inauguração. Algumas são formadas
por curso superior de Pedagogia ou Letras ou por Curso Normal de nível médio. Outras
não possuem formação específica.

Durante o tempo em que trabalho com a Educação Infantil, percebi que muitas
crianças adoram desenhar. Isso se torna evidente quando notamos que tudo em suas mãos
se torna um possível material de desenho: cacos de tijolo, o vidro embaçado do carro, o
chão coberto de areia, a poeira sobre os móveis...

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O desafio dos professores que trabalham com crianças nesta faixa etária é saber
como aproveitar esse interesse apresentado por elas na arte de desenhar para ajudá-las a
desenvolver suas habilidades, fazendo a interferência adequada, no momento adequado,
sem desrespeitar a espontaneidade criadora da criança.

É possível ensinar a desenhar? Desde o século 19, duas escolas se alternaram


no dia-a-dia: a tradicional, segundo a qual, por não saber desenhar, as crianças precisam
treinar habilidades e cópia para chegar ao referencial de imagens figurativas, cada vez mais
próximas da realidade e dos modelos da arte adulta, e a renovada, que vê na produção
infantil uma forma de entender o desenvolvimento psicológico e por isso, valoriza o
desenho espontâneo, no qual o professor não deve intervir, apenas criar condições
adequadas para cada um se expressar.

Diante destas concepções, o profissional da Educação Infantil que sabe da


importância que o desenho representa para seus alunos e que trabalha para propiciar o
pleno desenvolvimento deles, se pergunta: Como e em que momento intervir na prática de
desenho da criança?

Na busca pelas respostas às minhas indagações, resolvi pesquisar o livro "A


Criança e sua Arte", de Viktor Lowenfeld, basicamente voltado para auxiliar os pais
perante o desenvolvimento das habilidades artísticas de seus filhos, mas plenamente
adaptável à situação do professor de Educação Infantil, que lida com os mesmos desafios
no percurso do desenvolvimento de sua turminha. Também consultei o livro de Edith
Derdyk, "Formas de Pensar o Desenho", que faz uma viagem no tempo, alcançando o
desenho desde seus primórdios e explicando sua utilização e importância na sociedade
atual. Por fim, me interessei pelo site da revista "Nova Escola", devido a uma matéria que
contrastava os métodos da Escola Tradicional e da Escola Construtivista.

Meus objetivos ao mergulhar nesta pesquisa são analisar o processo de


desenvolvimento das habilidades artísticas infantis, com ênfase no desenho, e descobrir
como o adulto pode contribuir de forma significativa para que este desenvolvimento
aconteça.

Para que isso ocorra, deverei dar atenção ao significado do desenho para a
criança, buscando produzir sugestões e indicações que levem ao aperfeiçoamento do
trabalho artístico com crianças em idade pré-escolar.

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O significado e a importância do desenho

“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-


lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a
vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação
sozinha não transformar a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade
muda.” (Paulo Freire)

Existem inúmeras definições, descrições e reflexões para o que possa significar a


palavra desenho e para o ato de desenhar. Geralmente, pensamos em algo que envolve lápis e
papel, como um esboço feito para explicar uma idéia ou para representar graficamente um
objeto. De acordo com o dicionário da Língua Portuguesa1, desenho é:
"A representação de formas sobre uma superfície, por meio de linhas, pontos e manchas,
com o objetivo lúdico, artístico, científico, ou técnico: um desenho de criança; o desenho
de uma paisagem, um desenho de anatomia; o desenho de um motor."
"A arte e a técnica de representar com lápis, pincel, pena, etc. um tema real ou
imaginário, expressando a forma e geralmente abandonando a cor: o desenho de um
modelo vivo; o desenho abstrato. (O desenho tende a representar o tema racionalmente,
configurando e sugerindo seus limites, enquanto a cor tende a transmitir valores de ordem
emotiva.)"
"Versão preparatória de um desenho artístico ou de um quadro; esboço, estudo.""Traçado,
risco, projeto, plano."
"Forma, feitio, configuração: o desenho de uma letra, de uma boca."

Mas para entendermos corretamente o que é desenho e ampliarmos a idéia de


riscos de lápis sobre o papel, de representações, de formas... Precisamos conhecer os
caminhos que o desenho tem feito ao longo da história humana. Desta forma, poderemos
conhecer a muitas significações que o desenho pode assumir.

1
Fonte bibliográfica: Holanda, Aurélio B., Dicionário da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Nova
Fronteira, 1991.

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Historiografia

A história do desenho começa praticamente em que começa a história do homem.


Uma prova disso é que cavernas ficaram gravados, por meio de desenhos, os hábitos e
experiências dos primitivos “homens das cavernas” que usavam as chamadas pinturas para se
expressar e comunicar antes mesmo que se estabelecesse uma linguagem verbal. Isso não
significa que o homem tenha aprendido a desenhar antes de falar; isso não se pode
determinar, pois a linguagem falada não deixa marcas em paredes como as pinturas rupestres.
Mas uma coisa é certa: a expressão por meio de pinturas facilitou a comunicação para aqueles
povos.

Com o decorrer dos séculos, o desenho assumiu as mais diversas funções. Assim,
pode-se dizer até mesmo que ele foi um precursor da linguagem escrita, da fotografia e assim,
do cinema, e até mesmo das representações cartográficas.

A arte de desenhar acompanhou o homem durante todo seu desenvolvimento,


fazendo parte de sua história. Dependendo da sociedade e da época observadas, percebemos o
desenho desempenhando diferentes papéis: ilustrando templos sagrados e tumbas, relatando
praticamente todas as histórias da vida cotidiana e mesmo da vida após a morte (segundo suas
crenças), representando deuses mitológicos, ou ainda, conduzindo navegantes por mares
desconhecidos. Hoje, é capaz de surpreender e encantar a qualquer um que se permita uma
breve contemplação.

Nos tempos antigos, o desenho ganhou status sagrado. Por exemplo, no Egito, as
tumbas e os templos eram decorados com desenhos que eram considerados tão importantes
que, alguém que merecesse uma grave condenação após a morte tinha todos os desenhos e
inscrições de sua tumba raspadas. Outros povos, como chineses, mesopotâmicos e
americanos, desenvolveram, cada qual, maneiras e significados próprios para seus desenhos,
assim como ocorreu com os gregos e romanos,que na antiguidade clássica, quando gregos e
romanos utilizaram o desenho para representar seus deuses.

Em tempos posteriores, o desenho foi útil para a representações de terras e rotas,


que tiveram início, de forma bastante primitiva, na Mesopotâmia, e serviram como

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predecessores das importantes representações cartográficas de rotas comerciais e domínios,
que ganhou fôlego com a expansão do Império Romano.

Um acontecimento realmente importante para todas as formas de desenho, foi a


invenção do papel pelos chineses, há mais de três mil anos. Até então, eram usados diversos
materiais para desenhar: blocos de barro ou argila, couro, tecidos, folhas de palmeira, pedras,
ossos de maleia, papiro, e até mesmo bambu. Acredita-se que desde o ano 5 a.C., os chineses
já utilizassem um tipo de papel de seda branco, mas próprio para o desenho e escrita, mas foi
só no ano de 105 d.C. que surgiu o papel que conhecemos hoje.

Os "utensílios" utilizados para a prática do desenho também passaram por


evoluções, até chegarem aos que conhecemos tão comumente hoje em dia. Primeiro, usava-se
os dedos, com os quais os homens das cavernas fizeram as pinturas rupestres. Depois, os
babilônicos usaram pedaços de madeira e ossos em forma de cunha para desenhar em tábuas
feitas de argila (originando as conhecidas escritas cuneiformes). Com a invenção do papiro, se
tornou necessária a utilização de ossos e madeira molhados em tinta vegetal, penas e carvão
(este também usado pelo homem das cavernas). No século XVIII, as penas passaram a ser de
metal, em 1884, a caneta tinteiro foi patenteada por Lewis E. Watterman e em 1938 foi
inventada a tão comum caneta esferográfica.

Ao mesmo tempo em que o material de desenho evoluía, o próprio desenho


evoluía junto. No Japão, no período compreendido entre 1192 a 1600, prosperavam guerreiros
que também se dedicavam às artes: os samurais. Com eles, o desenho experimenta um grande
crescimento. Neste país também se torna divulgada a famosa tinta nanquim, criada pelos
chineses, feita de um pigmento negro extraído de compostos de carbono queimado.

Assim como praticamente todas as formas tradicionais de arte, o desenho foi


bastante difundido por religiosos seja no oriente ou no ocidente. Assim, a arte mantém ainda
uma ligação com o religioso, embora no Japão tenha se popularizado a representação da
natureza e na antigüidade já se fizessem desenhos sobre a vida e as pessoas.

É no Renascimento que o desenho ganha perspectivas e passa a retratar mais


fielmente a realidade. É nesse momento que surge também um conhecimento mais
aprofundado da anatomia humana e os desenhos ganham importância científica. Mestres em
pintura da época eram também excelentes desenhistas que usavam os conhecimentos da

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anatomia buscar atribuir maior realidade às imagens através do uso de sombras, proporções,
luz e cores.

Devido a Revolução Industrial surge uma nova modalidade de desenho voltado


para a projeção de máquinas e equipamentos: o desenho industrial e em 1890 surge a primeira
revista em quadrinhos semanal da história, outra conquista para o campo do desenho.

Após a Primeira Guerra Mundial, que compreendeu o período de 1914 a 1918, as


caricaturas e charges se tornaram populares e sua utilização passa a ser cada vez mais
frequente. Com a Segunda Guerra Mundial, que ocorreu entre 1939 e 1945, não só as
caricaturas em periódicos de grande circulação, mas também as animações passam a ser
utilizadas para fazer propaganda ou para fazer críticas a um e outro sistema.

O Desenho como Arte Terapia: Meio de expressão

A Arte Terapia é um tratamento que une a arte livre ao processo terapêutico e visa
ajudar pessoas com problemas psicológicos ou com dificuldades de aprendizagem. Nela, o
paciente é estimulado a expressar seus sentimentos e emoções por meio de expressões em
vários campos da arte, estabelecendo uma conexão entre o seu mundo e o mundo exterior.

Entre as áreas exploradas pela arte terapia, o Desenho tem fornecido grande
contribuição. Isto ocorre porque, conforme dito anteriormente, os desenhos contam as
preferências, experiências e preocupações de quem os faz. Confirmando o ditado que diz:
"Uma imagem fala mais do que mil palavras", os desenhos têm sido muito úteis na
identificação dos problemas a serem tratados, principalmente no caso das crianças, que ainda
não sabem explicar o que sentem. Muitos casos de violência, agressividade, abusos,
pesadelos, ansiedade, medos... Podem ser identificados através dos desenhos feitos por uma
criança. Estes desenhos são analisados e interpretados cuidadosamente, por profissionais com
formação especializada, já que é comum que as crianças fantasiem ou reproduzam aquilo que
viram em programas de televisão.

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O psicólogo que faz uso da arte terapia na criança busca conhecê-la, bem como o
meio em que ela vive, procura estabelecer uma relação de confiança com ela, a escuta e busca
entender o que ela quer lhe dizer através de seus desenhos.

O desenho também pode ser usado na arte terapia como meio de alcançar a forma,
a precisão, o desenvolvimento da atenção, da concentração, da coordenação viso-motora, e
espacial, na concretização de pensamentos, no exercício da memória. Tem função ordenadora
e se relaciona ao movimento e ao reconhecimento do objeto.

O desenvolvimento infantil é um processo complexo que envolve transformações


diferentes, de acordo com o ritmo pessoal e características próprias de cada um, como
mudanças no comportamento, nas características, nas habilidades e limitações de cada fase da
vida. Nesse sentido, o desenho pode desempenhar um importante papel como indicador das
mudanças externas e internas das crianças, fornecendo orientações para a elaboração de um
trabalho individualizado com cada uma delas.

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Descrição e análise das atividades realizadas

“O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança


descobrir. Cria situações-problemas”. (Jean Piaget)

Muitas atividades que são desenvolvidas ao longo de um ano letivo da


Educação Infantil envolvem o desenho. Observei a execução de algumas das atividades
mais comuns do cotidiano da creche e pude tirar importantes conclusões!

Primeira Atividade

O Desenho Livre é uma atividade sempre presente na rotina de uma creche,


desde o início até o final de um ano letivo. O interessante é que se observarmos esta
atividade em diferentes fases do ano, poderemos obter diferentes resultados.

Logo no início do ano, no período de adaptação, uma folha em branco foi


entregue às crianças, junto com gizes de cera de várias cores. As produções infantis neste
momento deixaram muito clara a forte ligação existente entre a criança e sua família. Seus
desenhos, rabiscos ainda pouco reconhecíveis, representavam, quase sempre, a mãe, o pai,
os irmãos e quem mais fossem achegados a elas, evidenciando a falta que estas pessoas
lhes faziam no momento.

Com o decorrer dos meses, porém, esta dependência pareceu ir se dissipando


aos poucos e a criatividade passou a ganhar cada vez mais espaço. Os rabiscos começaram
a ganhar formas mais concretas e significativas, talvez até sofrendo certo nível de
padronização, e a família passou a ceder um espaço cada vez maior a super-heróis,
brinquedos, animais... Até, em alguns casos, desaparecer de vez!

Da metade do ano em diante, porém, pude observar que apenas o giz de cera
não é suficiente para satisfazer a então crescente curiosidade e o desejo de experimentação
das crianças. Torna-se adequado, então, oferecer às crianças não só o giz de cera, mas

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também a canetinha, o lápis de cor, o carvão, a tinta... Percebi que, com o passar do
tempo, as crianças se tornaram mais livres para criar e reproduzir de tudo um pouco!

Esta experiência constatou que o desenho pode ser uma expressão gráfica dos
pensamentos de uma criança. Suas ansiedades e tensões podem ser diminuídas à medida
que ela externa tudo aquilo que ocupa sua mente e, assim como uma pessoa se sente
melhor ao discutir com um amigo sobre um determinado assunto, a criança também se
sentirá melhor ao desenhar. Mas o contrário também é verdadeiro: um adulto pode se sentir
frustrado se não puder confiar seus problemas a outra pessoa e a criança que não desenha
terá menos uma possibilidade para se expressar e, consequentemente, um aumento na
probabilidade de se tornar tensa e inquieta.

Segunda Atividade

Durante o projeto "Água", as crianças ouviram a história "O que há no fundo


do mar?", o que lhes permitiu ter algum contato com uma variedade de animais marinhos.
Depois, a proposta foi que cada criança desenhasse o animal marinho que achou mais
interessante. Para isso, as crianças tinham à disposição os seguintes materiais: folhas
brancas, giz de cera, lápis de cor e canetinhas. Foram reproduzidos polvos, baleias,
tubarões e muitos peixinhos. O resultado foi muito variado, visto que cada criança se
encontra num nível de desenvolvimento motor. Um pequeno grupo, de 4 a 6 crianças,
conseguiu fazer desenhos que poderiam ser considerados perfeitos se levada em
consideração a idade! Estas produções dispensavam legendas, seus significados eram
claros para qualquer expectador.

Outro grupo, formado pela maioria, realizou desenhos não tão exatos, mas
compreensíveis para um observador atento. Os traços tremidos e as cores livres, comuns à
idade de 3 anos, poderiam deixar alguém confuso, mas estas crianças sabiam exatamente o
que pretendiam e podiam explicar cada risco de seu trabalho.

Um terceiro grupo, tão pequeno quanto o primeiro, moveu o lápis em riscos


circulares totalmente descomprometidos e não intencionais. Quando questionados sobre o

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que desenharam, diziam: "a mamãe!", "o cachorro!" ou qualquer coisa que lhes viesse à
mente.

Percebi em muitos destes desenhos elementos representados em proporções


maiores ou menores do que eles realmente têm. Os objetos que compõem uma cena
também poderão ou não aparecer no desenho desta criança. Isto é um aviso de que o
desenho da criança, em geral, não será uma representação objetiva. Assim como os adultos
só recordam as coisas à medida que seus conhecimentos delas e suas relações pessoais com
elas o permitem, assim também a criança expressará pelo seu desenho, suas preferências,
seu desagrados, suas emoções diante de seu próprio mundo e diante do mundo ao seu
redor. Portanto, através da representação gráfica de uma criança, pode-se adquirir uma
íntima compreensão das relações que ela estabeleceu com aquilo que ela desenhou.

Terceira Atividade

Ao trabalhar a identidade dos pequenos, a turma foi convidada a um grande


espelho que ocupa a parede da sala de aula e incentivada a olhar para si mesmos,
observando suas características e suas semelhanças e diferenças em relação aos
coleguinhas. A sugestão que cada um fizesse um Auto Retrato. O objetivo era que cada um
pudesse expressar, por meio do desenho, a visão que tem de si mesmo, além de estimular a
criatividade, o gosto pela arte do desenho e o hábito de usar esta técnica como forma de
expressão.

A atividade rendeu belos resultados, tão interessantes que foi montado um


mural na sala só para as obras produzidas! Algumas crianças souberam reproduzir suas
características de forma muito realísticas, como a cor da pele, a textura do cabelo... Já
outras preferiram desenhar não aquilo que são, mas aquilo que desejariam ser. O João
Pedro, por exemplo, desenhou um largo sorriso com aparelho nos dentes, sendo que ele
mesmo não usa aparelho! Também houve as que fizeram um rabisco rápido, sem
significado aparente e partiram para outras atividades que consideravam mais
interessantes.

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Achei que a atividade foi válida, pois muitas crianças dedicaram boa parte do
tempo à realização do desenho, e mesmo aquelas que não souberam, ou não quiseram,
desenhar exatamente o que são, conseguiram se expressar por meio do desenho, expondo
sua visão e suas preferências. Alguns retratos ficaram bem engraçados!

Percebi que quando desenha, a criança observa e procura compreender aquilo


ou aquele que está sendo representado por ela, e para isso, ela muitas vezes precisa se pôr
em seu lugar. Por isso, o desenho, assim como todo tipo de atividade criadora, contribui
para tornar o indivíduo, seja ele criança ou adulto, mais sensível àquilo com que ele lida, o
que lhe ajudará a desenvolver a importante qualidade de ser sensível às necessidades de
outros e às suas próprias. Esta sensibilidade vai além das coisas que pinta e se estende ao
material que utiliza: lápis, creiom, tintas... A criança descobre que experimentar e errar lhe
dá diferentes formas de explorar cada um deles e incorpora seus novos conhecimentos às
suas criações.

Quarta Atividade

Foi oferecida às crianças uma folha branca com um pequeno círculo no meio,
para verificar como reagiriam àquela interferência. A intenção era que eles exercitassem a
criatividade e utilizassem o círculo como parte de um desenho maior, que eles mesmos
criariam... Mas não foi bem assim que aconteceu!

Logo que a folha foi entregue e a proposta lançada, muitas crianças


reclamaram que a folha estava "usada" ou "velha" e pediram outra. Expliquei que aquele
círculo estava ali de propósito para ajudá-las a criar um desenho a partir dele. Diante da
relutância que persistiu, algumas sugestões foram lançadas, insistindo na utilização do
círculo: "E se ele virasse um sol?" ou "Ele não parece uma flor sem pétalas?". Por fim, as
crianças aceitaram que o círculo continuaria ali e foram às produções.

O resultado foi que apenas uma criança conseguiu entender, ou aceitar, a


proposta e transformou o círculo num sol, seguindo a minha sugestão. Todas as outras
fizeram desenhos ao redor do círculo, tratando-o como uma desagradável mancha no meio
do papel.

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Percebi que este tipo de atividade cerceia e confunde as idéias dos pequenos.
Quando uma criança desenha, ela pensa em algo que, muitas vezes, é visto como
insignificante para os adultos. Mas no momento em que esta criança pensa no que vai
desenhar, ela se concentra em suas experiências e conhecimentos, muitas vezes se pondo
em confronto com seu próprio "eu". Assim, ela estimula sua habilidade de raciocínio e
reflexão acerca de alguma coisa, o que é muito importante no desenvolvimento da
criatividade. Em seu desenho, poderão ser observados os elementos que ela conhece e que
lhe têm alguma importância. Quando eu interfiro em sua criação, impondo um elemento
que não tem nenhum significado para ela, isso pode lhe causar desagrado e fazê-la recuar
de sua criatividade.

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Conclusões

“O professor pensa ensinar o que sabe, o que recolheu nos livros e da


vida, mas o aluno aprende do professor não necessariamente o que o
outro quer ensinar, mas aquilo que quer aprender.” (Affonso Romano
de Sant’Anna)

Minhas pesquisas na área das atividades artísticas na Educação Infantil me


ajudaram a compreender que, visto que o desenho pode ser uma forma da criança externar
seus pensamentos, sentimentos, emoções, inquietações... devo permitir que ela tenha total
liberdade e autonomia para criar. É importante que a criança sinta neste momento que suas
obras e criações são valorizadas e respeitadas, o que lhe estimulará a empenhar-se mais e
mais pela arte de desenhar.

Atividades como cópia e cadernos de pintura, que forçam uma padronização de


figuras e colocam o desenho do adulto como modelo do "correto", podem desestimular a
criatividade infantil e desconstruir a auto-estima da criança, uma vez que ela aceitará a
idéia de que seus desenhos são imperfeitos e de que não conseguem desenhar como o
adulto.Quando a criatividade é interrompida a ponto de fazer com que a criança pare de
desenhar, ela contará com menos uma forma de se expressar, podendo-se tornar
introvertida e angustiada.

Entendi com esse estudo que é importante que eu mantenha na minha sala de
aula na creche, um cantinho com diferentes materiais, não só de desenho e pintura, mas de
artes plásticas de diversos tipos, permitindo e respeitando a espontaneidade da criança,
estimulando-a a fazer da criatividade uma prática realmente agradável e presente no seu
dia-a-dia.

Deverei respeitar os gostos e preferências de meus alunos, e nunca concluir


precipitadamente que alguém tem algum problema por não aceitar participar de algumas
atividades propostas ou por não se interessar em desenhar; talvez não seja esta a sua área
de interesse! Também não devo tentar forçar a criança que só usa um tipo de material, ou
uma cor em suas produções, a colocar em sua obra elementos que não têm significados

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para ele. Cada um tem seu jeito de criar e suas obras constroem e carregam sua identidade.
Entendi que eu não devo interferir neste processo; cada desenho deve ser capaz de contar
por si só a que criança pertence, por carregar as suas marcas.

A interferência que eu posso, e devo fazer no processo de desenvolvimento das


habilidades artísticas infantis é possibilitar o acesso das crianças às obras de arte de vários
artistas, de diferentes estilos e áreas, aumentando assim seu repertório e permitindo que
cada criança desenvolva suas preferências e encontre o seu caminho, seja ele no âmbito do
desenho ou não!

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Auto-Avaliação

“Mestre não é quem ensina, mas quem de repente aprende”.


(Guimarães Rosa)

A realização desta pesquisa não foi para mim um processo tão simples, pois
enfrentei algumas dificuldades no que diz respeito a encontrar fontes bibliográficas que
falassem sobre o tema que eu escolhi. Além disso, houve bastante confusão no
esclarecimento do que o curso estava pedindo de nós, cursistas, em relação a realização
deste relatório, pois cada um parecia ter uma idéia diferente do que era pedido e o que
chegava até nós eram idéias vagas e orientações confusas.

Passados os momentos de pressão, no entanto, posso ver todo o resultado do


meu trabalho e dizer que minha experiência e prática foram realmente enriquecidas. O
tema que eu escolhi foi um assunto real para mim, o que me incentivou a buscar as
respostas, tornando significativa a minha jornada.

A correria do dia-a-dia, com uma carga horária exorbitante e o corpo pedindo


descanso no final do dia, somado aos muitos cadernos de atividades a realizar, aos livros
que precisavam ser lidos, aos encontros quinzenais... Ufa! Fizeram muita gente desistir no
caminho, mas eu estou realmente orgulhosa de mim mesma por estar concluindo este
trabalho com tanto capricho e dedicação.

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Fontes de Pesquisa

Derdyk, Edith Formas de Pensar o Desenho. São Paulo, Scipione: 1994

Lowenfeld, Viktor A Criança e sua Arte. São Paulo, Mestre Jou: 1976

Site: www.revistaescola.abril.com.br

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